CurandoCom HistoriasGilberto Safra

45
Coleção: Pensamento Clínico de Gilberto Safra Curando com histórias A inclusão dos pais na consulta terapêutica da criança. e Edições Sobornost APRESENA!"# Gilberto Safra Este trabal$o foi ori%inalmente apresentado como &issertação de 'estrado no (nstituto de Psicolo%ia da )ni*ersidade de São Paulo+ no ano de ,-/. Era um momento em 0ue as contribuiç1es de &on ald 2 . 2innicot t eram ainda pouco assimiladas em nosso meio e acredito 0ue este foi um dos primeiros trabal$os acadêmicos no 3rasil 0ue utili4ou essa *ertente te5rica na fundamentação do trabal$o clínico reali4ado. Eu $a*ia iniciado meu percurso como clínico em ,-66+ 0uando então ti*e a oportunidade de iniciar o meu estudo da obra do pediatra e psicanalista in%lês. Encontrar a obra de 2innicott foi uma e7periência mutati*a em min$a *ida profissional+ pois recon$ecia em seus te7tos o 0ue eu irituía serem *erdades si%nificati*as para o ser $umano. Gradualmente+ min$a clínica foi sendo norteada por a0uilo 0ue aprendia com esse autor. Eram conceitos 0ue me da*am a liberdade necess8ria  para 0ue pudesse e ncontrar o meu estilo de trabal$o clínico. Como primeiro resultado desse encontro+ nasceu esse te7to 0ue procura*a apresentar um m9todo de consultas terapêuticas com crianças+ tendo as $ist5rias como meio de inter*enção. Esse m9todo continua a ser utili4ado  por mim e por outros profissi onais ainda $oe+ o 0ue nos le*ou a decidir pela publicação deste t rabal$o. ;inte anos se passaram< Embora o m9todo utili4ado $oe sea e7atamente o mesmo+ a maneira de compreendê=lo e de fundament8=lo modificou=se. Por essa ra4ão+ re*isei o te7to para 0ue ele fosse mais fiel ao 0ue penso nesta etapa de min$a *ida. A re*isão reali4ada abordou+ fundamentalment e+ determinados 17 conceitos 0ue $oe apreendo de modo mais preciso e tamb9m determinadas passa%ens te5ricas 0ue+ atualmente+ considero 0ue eram e0ui*ocadas+ # m9todo apresentado e os casos clínicos relatados continuam os mesmos. 18  N#A &#S E&(#RES Sonia No*ins>? e @leber &uarte 3arretto Sobornost é um proeto editorial 0ue nasceu de um son$o dos alunos+ cole%as e ami%os de Gilberto Safra  o son$o de *er o contedo de seus cursos e refle71es clínicas reunido tão lo%o 0uanto possí*el sob a forma de li*ros. Este %rupo+ sempre crescente+ de estudiosos e clínicos 0ue acompan$a $8 anos a e*olução do  pensamento deste professor e psi canalista+ reco n$ece a importB ncia de suas id9ias não s5 para a clínica contemporBnea como para os campos da iteratura+ Dilosofia+ ist5ria+ Reli%ião+ Antropolo%ia+ Psicolo%ia Social e Educação. Espontaneamente+ os alunos 8 *in$am %ra*ando em 8udio os cursos e conferências de Gilberto Safra desde

Transcript of CurandoCom HistoriasGilberto Safra

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 1/45

Coleção: Pensamento Clínico de

Gilberto Safra

Curando com históriasA inclusão dos pais na consulta terapêutica da criança.

e Edições Sobornost

APRESENA!"#Gilberto Safra

Este trabal$o foi ori%inalmente apresentado como &issertação de 'estrado no (nstituto de Psicolo%ia da)ni*ersidade de São Paulo+ no ano de ,-/. Era um momento em 0ue as contribuiç1es de &onald 2.2innicott eram ainda pouco assimiladas em nosso meio e acredito 0ue este foi um dos primeiros trabal$osacadêmicos no 3rasil 0ue utili4ou essa *ertente te5rica na fundamentação do trabal$o clínico reali4ado. Eu$a*ia iniciado meu percurso como clínico em ,-66+ 0uando então ti*e a oportunidade de iniciar o meu estudoda obra do pediatra e psicanalista in%lês.Encontrar a obra de 2innicott foi uma e7periência mutati*a em min$a *ida profissional+ pois recon$ecia emseus te7tos o 0ue eu irituía serem *erdades si%nificati*as para o ser $umano. Gradualmente+ min$a clínica foisendo norteada por a0uilo 0ue aprendia com esse autor. Eram conceitos 0ue me da*am a liberdade necess8ria

 para 0ue pudesse encontrar o meu estilo de trabal$o clínico.Como primeiro resultado desse encontro+ nasceu esse te7to 0ue procura*a apresentar um m9todo de consultasterapêuticas com crianças+ tendo as $ist5rias como meio de inter*enção. Esse m9todo continua a ser utili4ado

 por mim e por outros profissionais ainda $oe+ o 0ue nos le*ou a decidir pela publicação deste trabal$o.

;inte anos se passaram< Embora o m9todo utili4ado $oe sea e7atamente o mesmo+ a maneira decompreendê=lo e de fundament8=lo modificou=se. Por essa ra4ão+ re*isei o te7to para 0ue ele fosse mais fiel ao0ue penso nesta etapa de min$a *ida. A re*isão reali4ada abordou+ fundamentalmente+ determinados17

conceitos 0ue $oe apreendo de modo mais preciso e tamb9m determinadas passa%ens te5ricas 0ue+atualmente+ considero 0ue eram e0ui*ocadas+ # m9todo apresentado e os casos clínicos relatados continuamos mesmos.18

 N#A &#S E&(#RESSonia No*ins>? e @leber &uarte 3arrettoSobornost é um proeto editorial 0ue nasceu de um son$o dos alunos+ cole%as e ami%os de Gilberto Safra  — oson$o de *er o contedo de seus cursos e refle71es clínicas reunido tão lo%o 0uanto possí*el sob a forma deli*ros. Este %rupo+ sempre crescente+ de estudiosos e clínicos 0ue acompan$a $8 anos a e*olução do

 pensamento deste professor e psicanalista+ recon$ece a importBncia de suas id9ias não s5 para a clínicacontemporBnea como para os campos da iteratura+ Dilosofia+ ist5ria+ Reli%ião+ Antropolo%ia+ Psicolo%iaSocial e Educação.Espontaneamente+ os alunos 8 *in$am %ra*ando em 8udio os cursos e conferências de Gilberto Safra desde

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 2/45

,--/. A partir de a%osto de FF um %rupo bastante dedicado assumiu os custos de %ra*ar todas as aulastamb9m em *ídeo. A con*icção de 0ue este material de*eria ser preser*ado e di*ul%ado le*ou H or%ani4açãode um Acer*o Professor Gilberto Safra+ 0ue passou a disponibili4ar para consulta as fitas de *ídeo nas

 bibliotecas da P)C=SP e do (nstituto de Psicolo%ia da )SP.Por outro lado+ no E  — aborat5rio de Estudos da ransicionalidade criado pelo Prof. Gilberto Safra noinício dos anos - como um espaço multidisciplinar para a discussão de id9ias e trabal$os+ aberto H *ida paraal9m da comunidade estritamente acadêmica+ constituiu=se um %rupo de trabal$o *oltado para a transcrição ete7tuali4ação dos cursos ministrados por este professor+ a fim de torn8=los public8*eis sob a forma de li*rosE interessante obser*ar 0ue esse mo*imento espontBneoe comunit8rio em torno da pessoa do professor Gilberto Safra 911

fielmente coerente com a *isão de mundo e de ser $umano deste mestre e tamb9m com os princípios de sua pr8tica clínica e acadêmica.Por tudo isso+ 0uando foi preciso optar por um nome para este selo editorial+ naturalmente Sobornost emer%iucomo o nico possí*el+ ainda 0ue careça de e7plicação+ por se tratar de uma pala*ra pouco con$ecida.Sobornost, na lín%ua russa+ 9 um substanti*o+ cua pronncia 9 sabórnast. Refere=se ao comunit8rio+ ao 0ue

 promo*e a unidade e a conciliação+ sem preuí4o das diferenças e da liberdade. Este termo nasceu no campoda eolo%ia russa e assinala a presença do Múltiplo no Uno, ou sea+ a compreensão de 0ue o $omem 9constituído por seus ancestrais+ por seus contemporBneos e pelas %eraç1es futuras+ mas tamb9m pela nature4a

e pelas coisas 0ue fabrica e 0ue fa4em parte do mundo 0ue o rodeia. A partir dessa perspecti*a di4emos 0ue oser $umano 9 a sin%ulari4ação de toda a $ist5ria da $umanidade. Ela nos con*ida H solidariedade+ H 9tica+ aoespírito de comunidade+ dentro do respeito profundo Hs diferenças.Assim+ o termo Sob ornost ilustra bem o espírito solid8rio e comunit8rio 0ue tornou possí*el o lançamentodeste selo e ao mesmo tempo a *ocação de nossas escol$as editoriais. (sto si%nifica 0ue publicaremostrabal$os de autores+ nos diferentes campos de con$ecimento+ 0ue *en$am de encontro a essa perspecti*a de$omem e de mundo.(niciamos nosso percurso com o lançamento de duas coleç1es:I Cursos de Gilberto SafraI Pensamento Clínico de Gilberto SafraA Coleção Cursos de Gilberto Safra ser8 constituídE por li*ros or%ani4ados a partir da transcrição ete7tuali4açã dos cursos acadêmicos de %raduação e p5s=%raduação deste pro fessor+ *oltados para aapresentação e discussão do pensament e obra de importantes pensadores+ clínicos+ artistas+ fil5sofos místicose poetas+ entre outros. Nesses li*ros+ ori%inados de dis ciplinas uni*ersit8rias+ a oralidade do te7to 9 mantida

 por mei das per%untas dos alunos e das respostas do professor+ o 0ue fa deles um material muito *i*o para usode estudantes e estudic sos.12

A Coleção Pensamento Clínico de Gilberto Safraser8 constituída por li*ros com id9ias ori%inais deste psicanalista atento Hs e7i%ências da contemporaneidadefrente ao trabal$o clínico. Neles serão apresentados os fundamentos e a e*olução do pensamento deste autorcua abran%ência se estende para al9m do campo psicanalítico.(niciamos este selo editorial com estas duas coleç1es de Gilberto Safra  — para depois prosse%uirmos comoutros autores — por0ue estamos plenamente cientes de 0ue se trata de uma obra ori%inal e sin%ular+ profundamente enrai4adana pr8tica clínica+ mas 0ue tra4 importantes contribuiç1es para outras 8reas do con$ecimento.

Dundamentalmente+ todos a0ueles 0ue se preocupam com o acontecer do $omem no mundo+ sua e7istência esua tra*essia pela *ida+ encontrarão interlocução nas refle71es de Gilberto Safra. E uma obra 0ue merece ser

 publicada+ pois nela ecoa tamb9m a *o4 *i*a de %randes clínicos da psican8lise+ mas sobretudo e cada *e4mais+ as *o4es dos poetas+ dos místicos+ dos fil5sofos+ dos te5lo%os e dos artistas. A obra de Gilberto Safra seassenta na compreensão desta pala*ra 0ue re*ela nossa condição de seres 0ue compartil$am um destino:Sobornost.13

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 3/45

PREDJC(#

@leber &uarte 3arretto

Curando com histórias 9 um li*ro 0ue interessa tanto aos profissionais da 8rea clínica 0uanto Hsfamílias e principalmente aos pais. rata=se da apresentação+ bastante did8tica e clara+ de ummodelo de consulta terapêutica por meio da criação de $ist5rias infantis 0ue le*am em consideraçãoa problem8tica enfrentada pela criança.Este procedimento terapêutico+ al9m de respeitar o mundo ima%inati*o 0ue 9 fundamental a todo ser$umano+ possibilita aos pais uma participação ati*a no tratamento de seu fil$oKaL+ não s5 au7iliandona elaboração da $ist5ria+ mas contando a $ist5ria H criança. 8 tamb9m um efeito terapêutico sobreo pai e a mãe+ uma *e4 0ue estes recuperam a confiança na capacidade de promo*er odesen*ol*imento de uma criança antes paralisada por an%stias 0ue+ %eralmente+ decorrem dedificuldades dos pr5prios pais.Este trabal$o+ escrito em ,-/ como dissertação de mestrado+ mant9m+ sem d*ida+ toda suaatualidade. A0ueles 0ue têm acompan$ado o desen*ol*imento do pensamento clínico de GilbertoSafra mas ainda não con$eciam este trabal$o pioneiro+ têm a%ora+ finalmente+ a oportunidade defa4ê=lo e recon$ecer assim a sensibilidade clínica+ a capacidade criati*a e a fundamentação te5rica 8 presentes desde então. Por outro lado+ a0ueles 0ue 8 $a*iam tido contato com o material domestrado+ podem a%ora ter acesso a este trabal$o+ totalmente re*isto pelo autor+ ap5s um percursoclínico de mais de *inte anos.Cabe a%ora ao leitor conferir por si mesmo a ri0ue4a do material 0ue tem em mãos.

15

MN&(CE Nota dos Editores . ,,Pref8cio ,Apresentação ,6(ntrodução ,-

Capítulo ,

O espaço potencial e sua relação com as histórias infantis. . . . F-

Capitulo 2

Apresentação do método de consulta O

O '9todo OA entre*ista com os pais OA entre*ista com a criança /A situação ldica /,#o%o de rabiscos /

# uso da $ist5ria infantil /6Capítulo

Casos clínicos !Caso ,  — 'i%uel !

Caso 2 - ui4 "#Caso O  — cia "!Caso / - 'inam 6Caso - 'arcelo 6,Caso  — AntQnio 6Caso 6 - D8bio 6Casolia ,

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 4/45

Caso -  — ãnia Caso , 'arina 6

Capítulo $%

Conclusão -Referências biblio%r8ficas -

(NR#&)!"#Gilberto SafraAo obser*ar o 0ue a Psicolo%ia Clínica em nosso meio tem a oferecer para o atendimento da populaçãoinfantil+ notamos 0ue temos basicamente o dia%n5stico e a psicoterapia+ esta ltima sempre de lon%o pra4o ede custo muito alto.

 No trabal$o di8rio do psic5lo%o clínico+ 9 cada dia maior a necessidade de contar com procedimentos 0ue possibilitem inter*ir em momentos em 0ue+ pelo incremento da an%stia+ ocorre uma parada no processomaturacional da criança e o aparecimento de sintoma indicador de conflito+ ou na0uelas situaç1es de crise

 pro*ocadas pelo flu7o natural da *ida Kmortes+ mudanças+ separaç1es etc.L. Por outro lado+ necessitamostamb9m 0ue estes procedimentos seam passí*eis de serem usados no trabal$o institucional.

Partindo desse ponto de *ista pareceu=me+ desde o final da d9cada de setenta+ 0ue uma das soluç1es estaria naconsulta terapêutica+ na 0ual+ com uma ou no m87imo três sess1es+ tenta=se trabal$ar com a an%stiaemer%ente da *ida emocional infantil.A criança tem uma tendência espontBnea ao desen*ol*imento. No entanto sua e*olução pode sofrer alteraç1es

 por uma dificuldade de elaborar psi0uicamente seus conflitos+ acarretando a paralisação de seu crescimento ea formação de sintomas.

 Na consulta terapêutica temos a possibilidade de facilitar a elaboração da an%stia *i*ida pela criança e 0ueestea perturbando o seu desen*ol*imento+ a fim de 0ue a tendência ao amadurecimento recupere o seu cursonatural. (sto 9 feito de maneira a possibilitar 0ue a criança e seus pais possam lidar com a situação emer%entee+ dessa forma+ seam enri0uecidas as19

 possibilidades de enfrentar as dificuldades decorrentes do desen*ol*imento da criança+ ao mesmotempo em 0ue o *ínculo entre eles 9 aprofundado.Al%uns autores têm estudado e elaborado procedimentos e t9cnicas para a e7ecução deste tipo deconsulta. Assim+ arris K,-L demonstra a possibilidade de abordar problemas psicol5%icos em umtempo relati*amente bre*e+ enfocando uma situação crítica familiar. Seu m9todo consiste em trêsentre*istas e uma an8lise fmal das conclus1es. Sua t9cnica 9 basicamente o assinalamento+ sem darconsel$os+ atuando mais como continente das an%stias dos pais.2innicott K,-6,L descre*e um m9todo (Squiggle Game) pelo 0ual pretende oferecer ao cliente aoportunidade de e7pressar=se e conse%uir desta forma uma auda para o conflito 0ue *i*encia. Este procedimento 9 con$ecido entre n5s pelo nome de jogo de rabiscos, uma modalidade de trabal$oldico 0ue fa*orece o aparecimento de uma boa comunicação paciente=terapeuta e 0ue permite Hcriança surpreenderse frente H e7pressão de sua an%stia e superar a0uele momento de paralisação

do seu desen*ol*imento.É esse trabal$o 0ue me forneceu a inspiração e os conceitos necess8rios

 para o desen*ol*imento do procedimento de consulta 0ue apresento nesse li*ro.&olto K,-66L descre*e o m9todo desen*ol*ido por ela onde+ em uma entre*ista com a mãe ou os pais+ sempre com a presença da criança+ procura não s5 con*ersar com os pais mas tamb9mcomunicar=se com a criança+ e para isso+ com fre0Tência+ fornece=l$e papel e l8pis. Na mesmasessão da entre*ista+ &olto opina sobre a situação da criança para os paisU fica então a s5s com acriança e con*ersa com ela+ fa4endo coment8rios sobre os desen$os reali4ados. Seu obeti*o 9 fa4ercom 0ue o cliente ten$a al%uma compreensão dos seus conflitos+ para superar o impasse *i*ido porele na0uele momento. # trabal$o de &olto 9 sempre inspirador+ pois a sua %rande sensibilidade pessoal torna os seus relatos clínicos uma ocasião para saborear o trabal$o de uma %rande

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 5/45

 profissional. Considero &olto+ ao lado de 2innicott e Derenc4i+ os %randes clínicos na $ist5ria daPsican8lise. Embora aprecie muito os trabal$os de &olto+ não compartil$o de sua *isão de $omem ede seus conceitos te5ricos. Assim+ na fun damentaçã

desse trabal$o+ se%uirei uma perspecti*a distinta da0uela utili4ada por esta %rande clínica. No trabal$o com crianças+ obser*a=se o uso da e7pressão ldica como meio pri*ile%iado para aelaboração de *i*ências emocionais e de comunicação com o outro. Dreud K,-FFL 8 descre*e o o%ode um %aroto frente ao desaparecimento de sua mãe e salienta 0ue o brin0uedo era uma tentati*a deelaboração da an%stia sentida pela criança. @lein K,--L+ 0ue utili4ou o o%o como meio de acessoao inconsciente infantil+ afirma 0ue a criança e7pressa suas fantasias+ deseos e e7periências deforma simb5lica por meio de o%os e brin0uedos. Ao fa4ê=lo+ utili4aria os mesmos modos arcaicos efilo%en9ticos de e7pressão+ a mesma lin%ua%em com 0ue 8 nos familiari4amos nos son$os.Aberastur? K,-,L di4+ baseada em suas obser*aç1es+ 0ue+ ao o%ar+ a criança desloca para o e7teriorseus medos+ an%stias e problemas internos+ dominando=os mediante a ação. odas as situaç1ese7cessi*as para seu e%o d9bil são repetidas no o%o e isto permitiria H criança seu domínio sobreobetos e7ternos e a seu alcance+ bem como tornar ati*o o 0ue sofreu passi*amente+ mudar um final0ue l$e foi penoso+ tolerar pap9is e situaç1es 0ue na *ida real l$e seriam proibidos desde dentro edesde fora. # o%o+ como o c$iste+ conse%uiria um suborno do supere%o 0ue tornaria possí*el aliberação de sentimentos e afetos censurados.@nobel K,-66L ressalta a importBncia da proeção no brin0uedo. Em sua opinião+ se%uindo de pertoa tradição >leiniana+ por meio do o%o a criança pode proetar muitas an%stias e muitos dosconflitos+ 0ue de certa forma aparecem assim obetificados+ concreti4ados em obetos tamb9mconcretos+ 0ue podem ser manipulados+ tentando assim uma elaboração ldica.Para esses autores o o%o seria resultado de proeç1es e introeç1es+ campo de reali4ação de deseos.Para eles+ o o%o não teria importBncia em si mesmo. Seria+ desse modo+ um meio de acesso aoinconsciente. Não compartil$o desse tipo de *isão. Para mim+ se%uindo 2innicott K,-6,L+ o o%o possibilita o estabelecimento de um campo de e7periência+ de um sentido de realidade e tamb9m 9espaço pri*ile%iado do *ir a ser $umano.3uscando no re%istro ldico maneiras de au7iliar a criança na elaboração de seus conflitos+ min$aatenção *oltou=se para as $ist5rias infantis como modo de comunicação ade0uado ao

20

21

momento do processo maturacional no 0ual a criança se encontra. # conto 9 uma forma de e7pressão mais pr57ima da0uela 0ue naturalmente 9 utili4ada pela criança na or%ani4ação+ elaboração e superação de seusconflitos psí0uicos.# campo ldico foi fre0Tentemente abordado na $ist5ria da psican8lise como relacionado ao processo

 prim8rio. # o%o e a e7pressão pl8stica+ na maior parte das *e4es+ foram e0uiparados H formação de sintomas.Pes0uisando na literatura psicanalítica o uso da lin%ua%em e do pensamento pl8stico na elaboração deconflitos psí0uicos+ encontramos 0ue al%uns autores  — Dreud K,-L+ Ran> e Sac$s K,-,L+ ones K,-,L  —

estudaram o processo prim8rio utili4ado nos o%os e $ist5rias infantis+ com seus mecanismos de deslocamentoe de condensação.V Assinalaram 0ue o processo prim8rio est8 relacionado com a reali4ação de deseos+

 permitindo 0ue deseos inconscientes escapem H pressão do supere%o para encontrar e7pressão por meio deformas de manifestação pl8stica. Assim+ o processo prim8rio estaria a ser*iço de representaç1es deformadas pela ação do supere%o+ ansiedades e mecanismos de defesa. Entretanto+ outros autores assinalam 0ue o processo prim8rio poderia estar a ser*iço da e7pressão simb5lica+ como tentati*a de representar e elaborar aan%stia *i*ida pelo indi*íduo KRoland+ ,-6,L. Na mesma lin$a de ar%umentação+ o pensamento metaf5ricofoi apontado por @ris K,-FL e 'ilner K,-FL como ser*indo H função de elaboração. R?croft K,-L ampliouesta concepção ao colocar o processo de simboli4ação+ 0uando usado para inte%rar as e7periências doindi*íduo+ como parte do processo secund8rio.2erner K,-/L e Pia%et K,-FL mostraram 0ue a criança pode e costuma e7pressar=se por met8foras. Esteestilo de comunicação usado pela criança seria resultado de um sistema incompleto de formação de conceitos+

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 6/45

de um desen*ol*imento insuficiente do processo secund8rio. Nos adultos o uso da met8fora seria feito demaneira mais consciente e elaborada+ fruto de um maior desen*ol*imento da capacidade inte%rati*a+ 0ue nainfBncia se manifestaria de maneira menos completa.#s primeiros estudiosos do pensamento pl8stico dentro da literaturaWpsicanalítica tendem a descre*er o

 pensamento, # processo prim8rio 9 característico do sistema inconsciente. A ener%ia psí0uica flui pelas di*ersas representaç1es+ sem obst8culos+ se%undo os mecanismos de deslocamento e condensação+ buscando in*estir as representaç1es li%adas Hsatisfação do deseo.&iferencia=se basicamente do processo secund8rio+ pois neste a ener%ia psí0uica in*este as representaç1es de forma mais est8*el e a satisfação do deseo 9adiada. #s dois processos são paralelos H oposição entre princípio de pra4er e princípio de realidade.

metaf5rico e simb5lico como a representação indireta e fi%urada de uma id9ia+ de um conflito+ de um deseo inconsciente. No entanto+ ao lon%o do tempo+ percebe=se 0ue+ %radati*amente+ a simboli4ação e a met8fora passam a ser consideradas pelos autores Kun%+ ,-,L como sendo mais 0ue um disfarce+ mas tamb9m como um esforço para esclarecer e representaro 0ue 9 ain da descon$ecido e 0ue s5 est8 em processo de formação. Nesta ltima posição encontra=se No? K,--L+ para0uem a simboli4ação ser*e como uma ponte entre o mundo interno e e7terno. Para ele+ esta necessidade de simboli4ação ede internali4ação do meio ambiente d8=se não s5 em termos de desen*ol*imento libidinal e no estabelecimento daconstBncia do obeto+ mas tamb9m para o desen*ol*imento de *8rias funç1es do e%o.Assim+ en0uanto o processo secund8rio funcionaria para lidar com a realidade e7terna+ o processo prim8rio 9 definido pelafunção de inte%rar no*as e7periências no sel! da pessoa.FConsidero as di*ersas formas de o%o da criança+ assim como as $ist5rias+ não s5 como um modo de encontrar e7pressão

 para deseos inconscientes+ mas fundamentalmente como um modo de colocar seus conflitos subordinados H suacriati*idade+ ou sea+ sob o domínio do eu. Parece=me imprescindí*el tal forma de e7pressão para o desen*ol*imentoco%niti*o+ ao lado do enri0uecimento da apercepção criati*aO+ a0ui definida como a capacidade da pessoa de apreender arealidade se%undo suas características pessoais. (sto si%nifica estar pessoalmente presente+ sem estar submetido ao mundoe7terno e nem tampouco interpret8=lo de forma delirante+ mas sim por meio de uma apreensão pessoal do mundo 0ue arodeia.Concordo com 2innicott K,-L 0uando afirma 0ue o o%o 9 uni*ersal e pertence H sade. Ele facilita o crescimento+ al9mF # conceito de self na literatura psicanalítica foi abordado pela escola da Psicolo%ia doE%o+ Psicolo%ia do Self e tamb9m por 2innicott. Como representantes da primeiraescola aponto o trabal$o de Gedo X Goldber% K,-6OL no 0ual estes afirmam 0ue o termoself poderia ser entendido como um sistema de mem5rias 0ue constitui aauto=representação+ como uma constelação psicol5%ica or%ani4ada e permanente+ 0ueinfluencia de forma contínua e dinBmica o comportamento do indi*íduo. Como *emos+trata=se de uma *isão 0ue aborda o self como acontecendo preponderantemente nore%istro representacional da personalidade. Se%uindo 2innicott+ utili4o o conceito de

self como fundamentalmente não representacional. Nessa *ertente+ o self 9 *isto muitomais como um conceito fenomenol5%ico em 0ue o car8ter e7periencial 9 enfati4ado.Cada no*a e7periência muda a posição da pessoa no mundo+ na relação com os outros.#u sea+ a cada %esto $8 um reposicionamento do $ori4onte e7istencial da pessoa.O Para 2innicott a apercepção criati*a 9+ mais do 0ue 0ual0uer outra coisa+ o 0ue fa4 oindi*íduo sentir 0ue a *ida *ale a pena de ser *i*ida. Contrastando com isto $8 umarelação com a realidade e7terna+ 0ue 9 de submissão+ apenas recon$ecendo=se o mundocomo al%o 0ue e7i%e adaptação. Este estilo tra4 ao sueito um sentimento de futilidade ede 0ue a *ida não *ale a pena de ser *i*ida. K2innicott+ ,-6L.FO

J

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 7/45

de au7iliar na formação de relacionamentos %rupais. # o%o 9 a forma primordial de comunicação em psicoterapia e em psican8lise. E sempre uma e7periência criati*a 0ue se d8 no continuum espaço=tempo. Euma forma b8sica de *i*er.A $ist5ria sempre te*e um lu%ar fundamental em min$a e7periência de *ida. Yuando aprendi a ler os

 primeiros li*ros+ %an$ei como presente de meu pai uma coleção em 0uatro *olumes intitulada "s Mil e Uma

 #oites, publicada pelas Ediç1es 'el$oramentos. Essa era uma coleção pela 0ual meu pai tin$a %rande estima

e 0ue me nutriu ao lon%o de min$a *ida.As $ist5rias têm sido usadas pela $umanidade+ atra*9s dos tempos+ com obeti*os medicinais+ educati*os+reli%iosos+ filos5ficos+ etc. Na cultura $indu um conto era oferecido a uma pessoa desorientada a fim de 0ueela meditasse sobre ele e pudesse ser curada por esse processo. #s Sufis usa*am e usam os contos para audaros seus discípulos a superar um conflito e7istencial e espiritual KS$a$+ ,-6L. Entre os nossos índios upi=Guaranis+ encontramos uma s9rie de contos+ con$ecidos como as endas do abuti 0ue+ se%undo Couto de'a%al$ães K,-6L+ têm o obeti*o de fa4er entrar no pensamento do índio a crença na supremacia dainteli%ência sobre a força física+ elemento importante para ampliar a capacidade adaptati*a frente H nature4a.Com os índios Caiap5s encontra=se uma s9rie de $ist5rias passadas oralmente de %eração a %eração+ ondenarram+ por meio de mitos+ a criação do mundo e o lu%ar do índio nesta cosmo*isão+ assim como o lu%ar domal+ buscando desta forma uma or%ani4ação simb5lica do mundo atra*9s da 0ual a *ida do índio ad0uiresentido Ku>es$+ ,-6L. Em todos os po*os encontramos $ist5rias e mitos por meio dos 0uais os seusmembros buscam a elaboração de an%stias comuns e a transmissão de sua cosmo= *isão+ com seus sistemasde *alores+ em relação aos 0uais buscam referência.Retomo portanto al%o dessas tradiç1es+ pois considero os contos como fenQmenos de %rande comple7idade+ 80ue abordam não s5 0uest1es fundamentais da e7istência $umana+ mas tamb9m as colocam de formaarticulada+ se%undo uma narrati*a com início+ meio e fim. Nessas narrati*as+ a pr5pria temporalidade $umanaest8 contemplada pois somos+ desde o berço+ seres 0ue iniciam+ *i*em e finali4am as diferentes e7periências0ue c$e%am ao nosso $ori4onte de *ida. E fundamental 0ue em24

toda consulta terapêutica o iniciar+ o usar e o finali4ar possam acontecer.#s mitos e $ist5rias+ desde o início+ ocuparam um lu%ar importante na Psican8lise. Dreud *oltou=se ao 'ito deEdipo para representar o 0ue obser*a*a em sua pr8tica clínica. Comentou tamb9m o si%nificado das $ist5riasde Rumpelstil4c$en+ # C$apeu4in$o ;ermel$o e # obo e os Sete Cabritos K,-,OL+ embora em sua *isãofossem principalmente reali4aç1es de deseos. ellmut$ K,-FL apresenta um caso de an8lise de uma criança+onde usa uma t9cnica interpretati*a baseada em $ist5rias+ com um obeti*o mais educati*o.

Eric$ 3erne K,-6FL começou a e7plorar a utilidade de al%uns contos de fadas para ilustrar ao paciente seu script b8sico de *ida+ os o%os nos 0uais estaria en*ol*ido e suas transaç1es predominantes. 3erne conecta oscontos com os problemas de seus clientes+ a fim de 0ue possam recon$ecer 0ue *i*em apenas um script entredi*ersas possibilidades. Se%undo o autor+ os pacientes+ atra*9s deste m9todo+ sentem=se capa4es detransformar suas relaç1es interpessoais mais tensas em outras mais espontBneas.2itt%enstein K,-L usa a t9cnica de re0uisitar ao cliente 0ue narre al%umas das $ist5rias de fadas comuns de0ue ten$a lembrança. As distorç1es 0ue essas $ist5rias sofrem sob a ação da mente do cliente são *istas comouma indicação da problem8tica pessoal do cliente frente ao problema %eral $umano apresentado pelo conto.eus$er K,-6+ ,-+ ,--L estudou o uso de contos na psicoterapia. Para ele as $ist5rias apresentamdiferentes est8%ios do desen*ol*imento $umano+ os *8rios conflitos e metas+ assim como possí*eis soluç1es edificuldades. Este autor defende a id9ia de 0ue a *erdade contida no conto não 9 relati*a mas 0ue ela se torna*i*a e operati*a no relacionamento entre a $ist5ria+ os pais e a criança.Esta tamb9m 9 a posição de 3ettel$eim K,-L+ para 0uem as $ist5rias infantis+ tratando de problemas

$umanos uni*ersais+ falam ao e%o em %erminação e encoraam seu desen*ol*imento+ en0uanto+ ao mesmotempo+ ali*iam tens1es pr9=conscientes e inconscientes.Gardner K,-6,L desen*ol*eu uma t9cnica onde cliente e terapeuta se contam $ist5rias para um fimterapêutico. Cada25

1

A

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 8/45

criança tem uma fita de %ra*ador no lu%ar da tradicional cai7a de brin0uedos+ # terapeuta começa a sessãosu%erindo 0ue estão num pro%rama de tele*isão onde se contam contos. i%a o %ra*ador+ imitando um locutordi4endo 0ue a criança ir8 compor uma f8bula. Em se%uida+ o terapeuta ir8 criar tamb9m uma $ist5ria efinali4ar8 com a moral da mesma. A criança fa4 a sua narrati*a e em se%uida o terapeuta conta a sua+ 0ue 9composta com os mesmos persona%ens usados pela criança+ mas com outra resolução. #s finais das $ist5riasdo terapeuta com fre0Tência são moralistas. # crit9rio de cura da criança 9 o fato de seus contos tornarem=secada *e4 mais similares aos do terapeuta. # m9todo apresentado 9 0uestion8*el por utili4ar=se de t9cnicas desedução+ não respeitando a sin%ularidade da criança.Ramon e outros K,-6L descre*em uma t9cnica terapêutica para crianças com problemas de conduta+dificuldades de austamento+ problemas de aprendi4a%em ou sintomas neur5ticos. Nesta t9cnica o terapeutaconta a cada criança um conto popular do 0ual a criança escol$e um persona%em para dramati4ar ou modelarem ar%ila. #s autores obser*aram 0ue+ por meio desta t9cnica+ 9 oferecida uma estimulação H simboli4ação e He7pressão de sentimentos+ o 0ue propicia uma oportunidade de elaborar problemas.Par>er e ouis K,-6L+ no processo de aconsel$amento+ utili4am os mitos e a literatura moderna. Afirmam 0ueessas modalidades de e7pressão são a%entes potenciais para canali4ar a emer%ência de aspectos profundos da

 personalidade. amb9m su%erem 0ue situaç1es de crise e de impasse são muitas *e4es an8lo%as a situaç1esdescritas em mitos e contos tradicionais dos di*ersos po*os.Claman K,-L utili4a o squigglegame, proposto por 2innicott+ em pacientes em idade de latência+ comot9cnica terapêutica para lidar com a resistência característica desta idade. Prop1e H criança 0ue+ ao lado dorabisco+ conte $ist5rias  — e o terapeuta fa4 o mesmo. # papel do terapeuta no o%o 9 permanecer emp8tico ecolaborador e focali4ar suas $ist5rias no problema e est8%io de desen*ol*imento da criança. # terapeutacompartil$a+ atra*9s de seus desen$os e $ist5rias+ seu entendimento dos problemas da criança+ su%erindo

 possí*eis soluç1es.Embora considere muito importante 0ue os contos e $ist5rias façam parte da educação de toda criança+discordo do uso

indiscriminado do conto de fadas 0uando temos como obeti*o o seu uso terapêutico+ pois para 0ue o conto possa ser usado beneficamente por uma criança 9 preciso con$ecer o momento do processo maturacional em0ue ela se encontra+ seu meio cultural+ suas an%stias. Caso contr8rio+ corre=se o risco de contar H criança uma$ist5ria 0ue intensifi0ue suas ansiedades+ ao in*9s de aud8=la na elaboração das mesmas. Esse aspecto 9 umdos desdobramentos do 0ue 2innicott nos ensinou com a concepção de apresenta$%o de objetos. Essa seriauma função importante no processo de materna%em pois+ por meio dela+ a mãe apresentaria a realidade demaneira dosada H criança+ se%undo as suas possibilidades de assimil8=la. Essa mesma função pode ser re=

situada no re%istro das ati*idades psicoter8picas e psicanalíticas+ pois tamb9m nelas o profissional precisaapresentar as situaç1es 0ue emer%em no campo transferencial+ le*ando em conta as possibilidades doanalisando de us8=las para o trabal$o 0ue estaria sendo reali4ado.Para a ati*idade 0ue reali4o nas consultas terapêuticas tomo os conceitos Zinnicottianos de espaço potencial ede fenQmenos transicionais+ pois acredito 0ue para 0ual0uer tipo de trabal$o psicoterapêutico ou psicanalítico+especialmente com a criança+ esses fenQmenos são fundamentais para 0ue uma inter*enção fecunda seareali4ada. 'aior importBncia ainda eles têm na consulta terapêutica+ pois s5 uma inter*enção acontecida noespaço potencial produ4 um efeito terapêutico mutati*o+ efica4 e r8pido+ sem sedu4ir ou submeter a criança+conse%uindo desta forma uma real cooperação dela para o trabal$o 0ue se est8 reali4ando.Apresento neste li*ro um m9todo de consulta infantil utili4ado por mais de *inte anos em consult5rio

 particular e instituiç1es+ por mim e por outros profissionais da 8rea. E um procedimento 0ue utili4a $ist5riasinfantis como meio de inter*enção+ por ser uma forma ldica de e7pressão compatí*el com a *ida mental dacriança e tamb9m pelo fato de as $ist5rias fa*orecem o aparecimento do espaço potencial e dos fenQmenos

transicionais  — fenQmenos esses 0ue são fundamentais para 0ue o trabal$o sea reali4ado sem 0ue a criança sesinta in*adida e para 0ue l$e sea possí*el retomar criati*amente o de*ir de seu self.

26

27

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 9/45

CAPM)# ,O espaço potencial e sua relação com as histórias infantis# mundo subeti*o e sua relação com o mundo e7terno têm sido amplamente estudados econceituados por diferentes psicanalistas. Enfase tem sido dada H interação desses dois campos para

a formação e o dinamismo da personalidade.E com 2innicott K,-OL 0ue temos a conceituação do espaço potencial e a descrição de sua participação na constituição da personalidade. Esta seria a terceira 8rea da *ida de um ser $umano  —

entre a realidade subeti*a e a realidade compartil$ada  — 0ue não pode ser i%norada pois constituiuma 8rea intermedi8ria de e7perimentação para a 0ual contribuem tanto a realidade interna 0uanto ae7terna.# espaço potencial d8 ao ser $umano a possibilidade de lidar com a realidade obeti*a de modocriati*o+ fa*orecendo assim um contato com o mundo e7terno de maneira ampla e saud8*el. Aoportunidade de us8=lo 9 oferecida pela primeira *e4 H criança pela mãe+ 0uando esta se adapta Hsnecessidades do bebê de forma completa+ fornecendo a ele a e7periência de ilusão+ pois para 0ue ela possa e7ercer essa função+ ela mesma precisa estar com a possibilidade de usufruir as e7periências peculiares ao espaço potencial.

8 durante a %ra*ide4 a mãe %radati*amente se identifica com o seu bebê+ o 0ue a torna bastantesensí*el Hs necessidades da criança 0ue ir8 nascer. & beb' signi!ica outras coisas para a !antasia

inconsciente da m%e, mas tale o tra$o predominante seja a disposi$%o e a capacidade da m%e de

despojarse de todos seus interesses pessoais e concentr*los no beb', aspecto da29

=

atitude materna que !oi denominado preocupa$%o materna prim*ria. K2innicott+ ,-6+ p.F-L.A mãe+ neste estado de sensibilidade aumentada+ tem a $abilidade de recon$ecer as necessidades do bebê eadaptar=se ati*amente a elas. Esta adaptação completa permite ao bebê a ilusão de 0ue cria a mãe e 0ue ela fa4

 parte dele. &esta maneira a mãe camin$a em direção H onipotência da criança e+ por meio dela+ o bebê crê narealidade e7terna+ 0ue parece se comportar de forma m8%ica. Passa então a *i*er a ilusão do controle

onipotente+ a partir de sua criati*idade prim8ria. Sem este tipo de e7periência não 9 possí*el ao bebê começara desen*ol*er a capacidade para *i*enciar uma relação criati*a com a realidade e7terna e+ se%undo 2innicottK,-6L+ at9 mesmo formar uma concepção da realidade e7terna.A adaptação da mãe ao bebê diminui %radati*amente+ H medida 0ue ele tem mais possibilidades de tolerarfrustraç1es+ o 0ue l$e permite ir recon$ecendo o elemento ilus5rio+ o ima%inar+ oo%ar o 0ue tamb9m ocapacita a perceber os obetos de forma real+ isto 9+ discrimin8=los como odiados e amados.E sob o domínio da ilusão 0ue emer%em os fenQmenos transicionais+ como uma tentati*a de ali*iar a tensão. Ea partir deles 0ue emer%ir8 o obeto transicional+ primeira possessão da criança. Com o desin*estimento doobeto transicional a capacidade de *i*er fenQmenos transicionais se irradia para todo o campo cultural+ori%inando=se dessa forma o espaço potencial+ 8rea 0ue possibilitar8 o brincar da criança+ a arte+ a reli%ião+ ousea+ a capacidade de usar os obetos culturais e a pr5pria ima%inaçãoV como meio de elaborar as 0uest1esfundamentais do e7istir $umano. Embora 2innicott nunca ten$a usado a pala*ra transicionalidade+ eu a uso

 para referir=me a toda essa %ama de fenQmenos compreendida entre a e7periência de ilusão e o uso dos

obetos culturais.Yuando a adaptação materna não 9 suficientemente boa+ o bebê+ para sobre*i*er+ necessita submeter=se aomeio ambien, # ima%inar e o son$ar diferenciam=se do fantasiar e do de*aneio+ # ima%inar e o son$araustam=se ao relacionamento com obetos no mundo real e sempre possuem uma dimensão simb5lica enri0uecedora do self. # fantasiar caracteri4a=se porser umaati*idade mental dissociada+ 0ue paralisa a criati*idade do indi*íduo. Parafraseando2innicott K,-6+ p.SflL+ di4emos 0ue o fantasiar não tem *alor po9tico+ en0uanto o son$o tem poesia em si+ isto 9+ camada sobre camada de si%nificadorelacionado ao passado+ ao presente e ao futuro+ ao interior e e7terior e sempre+ fundamentalmente+ a respeito do pr5prio indi*íduo.

te+ o 0ue o le*a a rea%irF frente ao mundo e7terno+ perdendo assim a oportunidade de posicionar=se criati*amente frente Hrealidade e sentir=se realmente *i*o.

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 10/45

 Na literatura psicanalítica *emos 0ue a importBncia do estudo da relação mãe=bebê tem sido ressaltada+ não s5 para acompreensão da constituição do self e da formação da personalidade+ mas tamb9m para a mel$or compreensão e conduçãoda relação analista=analisando no processo psicanalítico. Assim+ por e7emplo+ Dlars$eim K,-6L compara a relaçãoterapeuta=paciente com a relação mãe=bebê+ enfati4ando a necessidade de 0ue+ apesar da completa adaptação da mãe Hsnecessidades da criança+ a0uela sea capa4 de manter sua or%ani4ação psí0uica a fim de 0ue possa catalisar umdesen*ol*imento saud8*el para o seu bebê. 2innicott K,-6L+ 3alint K,-L e R?croft K,-L+ dentre outros+ têm estudadoo en0uadre terapêutico+ assim como a relação psicanalista=analisando+ apontando a importBncia de uma mel$or

compreensão das t9cnicas de maneo da criança e da influência do meio ambiente nos primeiros est8%ios dodesen*ol*imento infantil para uma mel$or compreensão do trabal$o terapêutico+8 0ue o en0uadre reprodu4iria ascaracterísticas do contato mãe=fil$o.Concordo s5 em parte com a colocação desses autores+ na medida em 0ue considero fundamental amais perder de *ista0ue o paciente ou analisando com 0uem estamos trabal$ando n%o 9 um bebê e nem tampouco somos suas mães. A*ertente de refle7ão do en0uadre e da relação analítica 0ue utili4a o paradi%ma mãe=bebê 9 til+ principalmente+ selembrarmos 0ue as funç1es 0ue a mãe e7erce para o seu bebê constituem elementos necess8rios a todos os $umanos emdiferentes etapas do processo maturacional+ em intensidade e 0ualidade diferentes das empre%adas com o bebê. odostemos necessidade de $ospitalidade+ de recon$ecimento de si+ de sermos apresentados por um #utro a diferentes aspectosda realidade ainda descon$ecidos para n5s.8 0ue se criar um estado de intimidade com o analisando+ por meio da adaptação Hs necessidades 0ue ele possui+ pois 9[*9adaptação ati*a do meio ambiente Hs necessidades da criança+ o bebê tem a oportunidade de e7perimentar acontinuidade de si ao lon%o do tempo. &estemodo ele fa4 um mo*imento espontBneo e o meio ambiente 9 descoberto sem 0ue $aa uma perda do sentido do self. Se aadaptação H criança fal$a+ resulta uma in*asão do meio ambiente+ de tal modo 0ue o indi*íduo tem de rea%ir a essa

in*asão. Assim+ acriança não conse%ue um bom desen*ol*imento do e%o+ pois sofrer8 deformaç1es em aspectos de sua personalidade deimportBncia *ital. K2innicott+ ,-6L A alternati*a a ser ou e7istir depende do rea%ir  — e o rea%ir interrompe o ser e o e7istir.

O

O,

w1

%raças a esse mo*imento 0ue teremos a possibilidade de uma comunicação si%nificati*a+ característica do espaço potencial+ na 0ual o analisando poder8 receber a inter*enção necessitada sem se sentir in*adido por ela e+ portanto+ sem ter

0ue rea%ir a ela. Cabe a0ui ressaltar 0ue a adaptação Hs necessidades do paciente não si%nifica a satisfação de deseos. Necessidade precisa ser satisfeitaU deseo+ interpretado ou maneado.OPara 0ue o trabal$o do profissional aconteça nesta 8rea criati*a de superposição entre os dois espaços  — do analisando e do

 psicanalista  — dois fatores precisam ser considerados: o tempo e a forma da inter*enção.# tempo ade0uado para se inter*ir afeta decisi*amente a fecundidade do procedimento. &e maneira %eral a inter*ençãosomente 9 feita 0uando o analisando est8 pronto para recebê=la e us8=la. Caso contr8rio+ o 0ue teremos 9 umaintensificação dos mecanismos intelectuais 0ue alienam ainda mais o paciente.# psicanalista de*e acompan$ar o analisando at9 o momento em 0ue ele+ por meio de sua comunicação+ bus0ue uma*erbali4ação ou %esto do analista 0ue re*ele o sentido de suas *i*ências psí0uicas. &e*ereu7 K,-,+ p.FlL afirma 0uecada conjunto de dados possui, de !orma mais ou menos desenolida e clara, um padr%o ou

+gestalt. Esta 0ualidade dos dados 9 denotada pelo termo [Pra%nan4\. Al%uns psic5lo%os de orientação filos5fica%est8ltica inferiram 0ue os pr5prios dados re0uerem um fec$amento ou finali4ação do padrão.2innicott K,-6,L nos mostra 0ue toda interpretação feita fora do espaço potencial atua como uma tentati*a de submeter ocliente e 9 inefica4. Uma interpreta$%o que n%o !unciona signi!ica sempre que !i a interpreta$%o em

um momento ou de uma maneira inapropriados. Kp. ,6LA possibilidade de o tempo da inter*enção ser respeitado permite ao paciente ter um *ínculo com o terapeuta e com aconsulta+ no 0ual $8 a oportunidade de ter uma e7periência 0ue+ em um momento se%uinte+ pode ser utili4ada como umasituação 0ue l$e permite inte%rar uma outra faceta de si mesmo  — e nãoO A satisfação das necessidades 9 *ital para a sobre*i*ência e para o bom desen*ol*imento do self da pessoa. # deseo 9inconsciente e+ como a necessidade+ busca a sua satisfaçãoem uma consumação para o pra4er imediato. 'as o deseo suporta a não reali4ação imediata e pode sofrer transformaç1escontinuas at9 alcançar a sua reali4ação. &olto K,-/+ pFOOL afirma: A satisfação r8pida de um deseo+ pra4er compartil$adodo %o4o esperado da comunicação+ reprodu4 na criança a confusão do deseo satisfeito com a necessidade+ com a 0ual+ emsua ori%em arcaica+ o deseo era confundido. Ainda na p. F//+ di4=nos: # deseo poder8 ser po9tico+ se fi4er uma abertura

 para a in*enti*idade

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 11/45

criadora de mediaç1es *ariadas e diferenciadas+ de modulaç1es do pra4er para si mesmo+ trocado com o pra4er de outrem+ pedido e dado+ 0ue 9 a sublimação do deseo no amor.

apenas conse%uir uma informação a mais 0ue ser8 arma4enada em seu intelecto e 0ue+ por ser dissociada+torna=se est9ril e sem *ida. (sto s5 ser8 possí*el se o psicanalista se abrir para 0ue o analisando o use parae7pressar seus conflitos e+ em se%uida+ reinte%r8=los.#utro elemento a ser considerado 9 a forma da inter*enção. 8 em ,-O a importBncia da formulação da

inter*enção era apontada por Glo*er. en$o obser*ado 0ue a forma da inter*enção 9 fundamental para 0ue oanalisando a use+ introete e reinte%re+ principalmente 0uando a ansiedade persecut5ria 9 consider8*el.Este tipo de fenQmeno 9 pr57imo da função materna denominada apresenta$%o de objeto, na 0ual a maneiracomo o obeto 9 apresentado H criança constitui um aspecto importante para 0ue ela o receba e para 0ue suaansiedade sea transformada em sentimentos toler8*eis.A possibilidade de encontrar o modo ade0uado de se apresentar o obeto Kno caso da relação analista=analisando permitir a inter*ençãoL depende da capacidade do analista de identificar=se com a criança e[metaboli4ar\ essa identificação em pensamentos e em se%uida em procedimentos inter*enti*os. Em min$ae7periência obser*ei 0ue a pr5pria criança+ com seu comportamento+ com sua lin%ua%em+ com os persona%ens0ue tra4 H consulta+ com o tipo de *ínculo estabelecido+ fornece os elementos necess8rios para se compor umaforma ade0uada H inter*enção 0ue pretendemos reali4ar.]] # analista tem a função de ser uma ponte em direção a um mundo no*o e descon$ecido e muitas *e4estamb9m temido e reeitado. Nos momentos de intensa reeição paran5ide+ o modo de inter*enção do analista

 pode ser decisi*o a fim de produ4ir a inte%ração necess8ria. A medida 0ue a forma da interpretação sur%e daconfluência entre as características de e7pressão infantil e a capacidade do analista de se identificar com acriança+ esta maneira de inter*ir 8 constitui um fenQmeno peculiar ao espaço potencial./Aapresentaçãodo obeto inclui não s5 o inicio das relaç1es interpessoais mas tamb9m a introdução de todo o mundo da realidade compartil$ada para o bebêe para a criança em crescimento. A apresentação do mundo em pe0uenas doses continua sendo uma necessidade da criança em crescimento. ̂ medida 0ue acriança cresce a mãe compartil$a ainda com ela uma porção especiali4ada do mundo+ mantendo a0uela porção pe0uena o suficiente para permitir 0ue acriança não se confunda e+ simultaneamente aumentando=a de forma 0ue a crescente capacidade da criança de usufruir o mundo sea satisfeita. K'adelene X2allbrid%e+ ,-F+ p. ,F/L

32

OO

# fundamental 9 0ue+ ao entrarmos em contato com a criança+ ela sea considerada e tratada de acordo comsua idade e seus meios e7pressi*os. &e outro modo ela fica impossibilitada de se e7pressar e ser autêntica e+

ao in*9s de o espaço terapêutico ser facilitador do seu desen*ol*imento+ ele cria uma situação 0ueincrementar8 os mecanismos de alienação de si mesma.Com fre0Tência+ 0uando a forma e7pressi*a da criança não 9 respeitada+ ela rea%e rompendo a comunicação+intensificando=se dessa forma a resistência. Rodri%u9 K,-+ p. ,OL tamb9m aponta este problema 0uandodi4: Creio que a resist'ncia da crian$a em parte se dee a que o analista, ao interpretar, sai do jogo

e assume o papel did*tico do terapeuta que est* interpretando.E fundamental na consulta 0ue se utili4e a forma mais ade0uada de inter*enção+ de modo 0ue esta %uarde ascaracterísticas da e7pressão infantil e possa tamb9m ser utili4ada pelos familiares da criança+ en0uanto estanecessitar dela. As $ist5rias infantis preenc$em esses re0uisitos+ na medida em 0ue podem *eicular umcontedo ade0uado ao momento do processo maturacional no 0ual se encontra a criança+ de uma formacoerente com o seu modo de e7pressão. Pode=se mesmo obser*ar 0ue as $ist5rias fa4em parte do cotidiano dacriança+ em suas brincadeiras+ pois a criança busca+ por meio delas+ elaborar suas an%stias+ con$ecer omundo e obter a satisfação inerente aoo%ar. As $ist5rias são um claro e7emplo dos fenQmenos transicionais

em 0ue+ no mundo do [fa4 de conta\+ a criança procura ali*iar as tens1es decorrentes do contato da realidadeinterna com a e7terna+ facilitando o desen*ol*imento do e%o e do sentido de realidade+ pois constituem umfenQmeno facilitador da capacidade simb5lica.34

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 12/45

* CAPM)# FApresentação do método de consulta

O &étodo'este tipo de trabalho 9 dese8*el 0ue se possa contar com a família da criança e 0ue ela seara4oa*elmente ade0uada para 0ue possa colaborar no processo de auda H criança e+ assim+ aprender

a perceber e a lidar com os momentos de crise 0ue possam emer%ir ao lon%o do seudesen*ol*imento. Nesse trabal$o tem=se como norma+ sempre 0ue possí*el+ inte%rar a família ao processo de auda Hcriança+ pois considero 0ue tamb9m a0uela sai beneficiada se participa ati*amente do processo derecuperação da criança. en$o obser*ado 0ue os pais+ 0uando tra4em uma criança ao consult5rio doanalista+ *êm com um sentimento de fracasso+ 0ue pode le*8=los a não s5 odiar o terapeuta+ mastamb9m a pr5pria criança. Yuando são con*idados a trabal$ar com o fil$o e obser*am o seu pro%resso+ recuperam a autoconfiança como pais e o relacionamento com a criança 9 distensionado pela diminuição da ansiedade persecut5ria e depressi*a+ o 0ue em su8 9 terapêutico para ambos.Por essa ra4ão+ na consulta terapêutica+ aconsel$o sempre ter uma entre*ista inicial com os pais dacriança+ dei7ando para estes a decisão de tra4er ou não a criança. Nesta entre*ista o terapeuta de*e procurar ou*ir as suas 0uei7as e an%stias de forma compreensi*a+ e*itando o desen*ol*imento de

ansiedades persecut5rias e de*e colocar=se como um colaborador+ sem assumir um papel paternalista.Em um se%undo momento entre*ista=se a criança+ con*ersando com esta+ se ela assim o desear+ ouusando material ldico como meio de comunicação. Não 9 tão importante neste encontro 0ue acriança fale o 0ue se passa com ela+ mas 0ue possa comunicar o seu conflito a al%u9m 0ue estea l8 para compreO

endê=la+ atra*9s da lin%ua%em 0ue desear Kldica+ %r8fica+ dram8ticaL.Ap5s esse encontro+ o terapeuta con*ersa no*amente com os pais e procura transmitir o 0ue foicompreendido da problem8tica da criança+ usando os e7emplos de seu comportamento 0ue eles pr5prios relataram na primeira entre*ista. Esse recurso au7ilia os pais a compreenderem a criançamais profundamente+ a partir das situaç1es 0ue são paradi%m8ticas de suas preocupaç1es. &epois0ue estes puderam pensar e compreender mel$or a an%stia da criança discutem=se meios deinter*enção para aud8=la. Entre estes utili4amos sempre as $ist5rias infantis como uma maneira de*eicular um contedo interpretati*o H criança+ 0ue possa ser utili4ado pelos pais para au7ili8=la.Para aplicação do m9todo de consulta a0ui apresentado 9 necess8rio ressaltar 0ue al%uns pressupostos b8sicos de*em ser le*ados em conta para 0ue o procedimento sea realmente fecundo.)ma consulta pode ser til H criança mas 9 e*idente 0ue+ para ser usada por ela de maneirasatisfat5ria+ necessitamos de um meio ambiente minimamente ade0uado ao seu desen*ol*imento.&e*ido H bre*idade do trabal$o ser8 necess8ria uma ação conunta com a família ou outro %rupo ao0ual a criança pertenç+a.E necess8rio dia%nosticar o %rau de perturbação 0ue uma criança apresenta para saber se neste tipode trabal$o poderemos dar a ela o tipo de auda 0ue necessita. Na consulta iremos abordar apenas aan%stia emer%ente em um determinado momento de *ida da criança. Não se tem a pretensão dereali4ar por meio dela um trabal$o 0ue s5 seria possí*el por meio de um processo psicanalítico. #0ue muitas *e4es ocorre 9 0ue+ atra*9s da consulta+ temos a oportunidade de pre*enir 0ue an%stiasintensas le*em a or%ani4aç1es defensi*as 0ue desencadeiem um funcionamento neur5tico nacriança.endo em *ista a classificação psicopatol5%ica proposta por @nobel K,-66L+ os fenQmenosre%ressi*os da infBncia são classificados como:,. -rocessos regressios normais aparecem ao lon%o do desen*ol*imento e+ apesar de seremconsiderados pelos pais como anormais+ são na *erdade fenQmenos normais.

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 13/45

F. -rocessos regressios reatios sur%em em uma criança 0ue+ embora *en$a se desen*ol*endonormalmente+ rea%e a

acontecimentos e7ternos 0ue para ela são e7cessi*os+ obri%ando os pais ou adultos respons8*eis aatender suas necessidades.O. -rocessos regressios desestruturantes $8 uma desestruturação da personalidade da criança+ 0ue

*in$a se desen*ol*endo bem. (sto le*a a criança a or%ani4aç1es de 0uadros neur5ticos e+ Hs *e4es+ psic5ticos./. -rocessos regressios reestruturantes a criança sofre um processo re%ressi*o se*ero+ em 0uea0uilo 0ue foi con0uistado em termos de desen*ol*imento 9 perdido+ le*ando=a at9 mesmo aestruturar=se em uma modalidade de or%ani4ação 0ue não corresponde nem H sua idade nem a seuní*el psicol5%ico.# procedimento de consulta a0ui apresentado 9 mais til e eficiente para as crianças com idadesentre três e do4e anos+ cuo dia%n5stico pode ser classificado nas cate%orias , e F e+ com menorfre0Tência+ na cate%oria O. Na0ueles casos 0ue apresentam %ra*es processos re%ressi*osdesestruturantes e reestruturantes+ a consulta ser8 til para audar a criança em um determinadomomento no 0ual a an%stia se intensifica pelas circunstBncias da *ida Kmorte+ mudança+separaç1es+ nascimento de irmãos+ etc.L.

en$o obser*ado 0ue a consulta 9 especialmente ben9fica na0uelas situaç1es em 0ue a criança *ema ela 8 0uando os sintomas começam a sur%ir em decorrência de um acontecimento crítico+ emdeterminado momento de sua *ida. Nesses casos $8 a possibilidade de a situação de encontro ter umcar8ter pre*enti*o+ na medida em 0ue e*ita 0ue modos patol5%icos de resol*er o conflito seestruturem.Parece 0ue+ nesses momentos+ o impacto da situação de *ida pro*oca uma crise em 0ue a criançanecessita buscar recursos para solucionar o conflito+ muitas *e4es recorrendo a formas maisre%ressi*as de funcionamento. E neles 0ue temos maior possibilidade de audar a criança+ pois+como afirma Caplan K,-/+ p.lL+ a crise 0 um per1odo transitório que apresenta ao indi1duo tanto

uma oportunidade de crescimento dapersonalidade, quanto o perigo de crescente ulnerabilidade

ao distúrbio mental, cujo des!echo, em qualquer caso determinado, depende em certa medida do seu modo de controlar a situa$%o. E ustamente aí 0ue+ por meio da consulta+ temos a oportunidade

de au7iliar a criança a encontrar meios mais ade0uados de elaborar o conflito ou a crise.36

37

A entre(ista com os pais Na entre*ista com os pais têm=se dois obeti*os b8sicos:lidar com a ansiedade 0ue eles nos apresentam e obter dados da dinBmica familiar e de aspectos dodesen*ol*imento da criança.E necess8rio lembrar 0ue 0uando os pais tra4em uma criança a um profissional+ ao lado do deseode encontrar auda+ *êm mobili4ados por ansiedades persecut5rias e depressi*as moti*adas peladificuldade da criança e pelo contato com o profissional+ em 0uem %eralmente proetam obetos

internos persecut5rios. al ansiedade dificulta a possibilidade de audarem a criança+ pois esta setorna tamb9m um obeto com 0ualidades persecut5rias+ na medida em 0ue+ com os sintomas 0ueapresenta+ mobili4a nos pais ansiedades e an%stias. Pela dificuldade 0ue encontram para lidar comas perturbaç1es de sua criança+ muitas *e4es acabam sentindo como colocado em risco seu *alor econfiança en0uanto pais. Nosso primeiro obeti*o consiste pois em lidar com as ansiedades paternas.Para isso 9 til+ na primeira parte da entre*ista+ permitir aos pais e7porem a problem8tica dacriança+ li*remente+ para 0ue possam e7pressar suas an%stias e preocupaç1es a respeito. E precisoacompan$ar as *erbali4aç1es dos pais de forma compreensi*a+ inter*indo 0uando a ansiedade de

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 14/45

tipo persecut5rio ou depressi*o tornar=se muito intensa. Cabe ressaltar 0ue esta inter*enção nãonecessita ser uma interpretação da transferência com o psicanalista. # fundamental 9 manear aansiedade para 0ue a relação de trabal$o com o profissional não se altere. E possí*el inter*ir nasituação sem 0ue a fala ou o %esto do analista soe como uma [interpretação\. 'uitas *e4es o psicanalista pode ser*ir de e%o au7iliar+ refletindo unto com os pais sobre a situação de sofrimentoda criança e relacionando=a com os aspectos da realidade 0ue parecem contribuir para o incremento

da sintomatolo%ia da criança. &essa maneira 9 possí*el conse%uir um alí*io da ansiedadeapresentada por eles+ para 0ue possam continuar a relatar as suas preocupaç1es.A se%unda parte da entre*ista s5 começa realmente 0uando a ansiedade dos pais esti*erra4oa*elmente contida e+ desta forma+ as ansiedades paran5ides e depressi*as esti*erem no limitedo toler8*el e as capacidades de refletir e elaborar encontrarem=se mais li*res. S5 então ser8 ben9fico formular 0uest1es 0ue bus0uem esclarecer ou le*ar os pais a refletir sobre as

informaç1es comunicadas durante a entre*ista. Estas 0uest1es têm por obeti*o obter informaç1essobre a criança e a $ist5ria familiar para 0ue sea possí*el le*antar $ip5teses sobre as dificuldadesencontradas pela criança e pela família ao lon%o do processo maturaconalE til 8+ nessa entre*ista com os pais+ di4er a eles o 0ue se pensa a respeito da situação apresentada+das possí*eis causas da problem8tica+ para 0ue tamb9m ten$am a oportunidade de opinar sobre a

condição apresentada. Yuando assim 9 feito+ com fre0Tência os pais recordam=se de outrosepis5dios da *ida da criança ou da *ida familiar 0ue esclarecem+ compro*am ou 0uestionam as$ip5teses apresentadas. Por este meio temos a cooperação dos pais no trabal$o desde o início docontato+ e*itando 0ue *eam o psicanalista como uma fi%ura paternalista+ 0ue represente confiança+se%urança e con$ecimento e fa4endo com 0ue+ ao contr8rio+ possam encar8=lo como umcolaborador+ al%u9m 0ue se disp1e a refletir com eles sobre a situação apresentada. Com esse tipode maneo da entre*ista os pais costumam se sentir mais estimulados a utili4ar seus recursos+e*itando assim a intensificação dos sentimentos de fracasso e dependência.Al%umas *e4es nos deparamos com pais e7cessi*amente perturbados para poderem participar do processo de forma mais ati*a. Nestes casos a função da entre*ista de*e ser ali*iar as ansiedadese7cessi*as+ a fim de diminuir a $ostilidade inconsciente em relação H criança e ao profissional+ semesperar uma cooperação maior com o trabal$o a ser reali4ado+ o 0ue e*identemente redu4ir8

si%nificati*amente a possibilidade de a criança poder ser audada no modelo de consulta proposto.E preferí*el reali4ar esta entre*ista com ambos os pais+ não s5 pela possibilidade de se con$ecer ascaracterísticas psicodinBmicas de cada um deles+ mas tamb9m para aud8=los a lidar com asansiedades mobili4adas pela situação da criança e para ressaltar a responsabilidade 0ue ambos têmem relação ao fil$o. 8 no contato telefQnico se esclarece 0ue se desea a presença dos dois. Noentanto+ se um dos pais afirma 0ue não pode *ir H sessão+ mesmo assim aceitamos reali4ar aentre*ista e anotamos este dado como uma informação si%nificati*a para a compreensão dadinBmica familiar e da problem8tica da criança. Normalmente 9 interessante 0ue+ nesta primeira entre*ista+ *en$am somente os pais+ para 0ue se possa ocupar em primeiro lu%ar do maneo da sua ansiedade. Por9m+ se a criança for

38

39

tra4ida+ o trabal$o se reali4a ainda assim+ com ela na sala. Para isso 9 til ter disponí*el materialldico para 0ue a criança possa brincar durante a sessão. Yuando isto acontece+ por meio do o%o+ acriança complementa a entre*ista com a e7pressão ldica do tema 0ue est8 em foco. No final deste primeiro encontro e7plicamos aos pais e H criança+ se esta esti*er presente+ 0uenecessitamos *er a criança so4in$a na pr57ima entre*ista+ 0uando reali4aremos untos al%umasati*idades para poder compreendê=la mel$or e *erificar a consistência das $ip5teses discutidas at9então. Ap5s a mesma+ *oltaremos a con*ersar com os pais em outra sessão+ 0uando então

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 15/45

discutiremos formas de au7iliar a criança. Caso a criança não estea presente nesta entre*ista+ o 0ue9 mais comum+ pedimos aos pais 0ue e7pli0uem a ela 0ue *irão con*ersar com uma pessoa 0ue procurar8 compreendê=la e para isso reali4arão al%uns o%os untos.A entre(ista com a criança

 No contato com a criança+ 9 necess8rio ter fle7ibilidade suficiente para ade0uar a situação deentre*ista H0uela criança em particular. Pelas características e*oluti*as e pela an%stia *i*ida+ a

e7pressão por meios ldicos 9 a forma peculiar da criança K2innicott ,-OL e nos atemos a essemodo de comunicação+ se esta 9 a possibilidade 0ue ela apresenta. (sto por0ue estamos interessadosem fornecer a ela um espaço KpotencialL onde possa se comunicar+ ser compreendida+ mas sem serin*adida. Assim ela ter8 a oportunidade de se surpreender com a comunicação da0uilo 0ue aan%ustia e da0uilo 0ue ocasionou uma parada no seu desen*ol*imento. Nesse encontro teremos tamb9m a oportunidade de compreender o 0ue acarretou a problem8tica0ue a trou7e H consulta e as or%ani4aç1es defensi*as 0ue precisou mobili4ar para lidar com as suasan%stias. (sto ser8 necess8rio para 0ue+ em um terceiro momento+ possamos orientar os pais econstruir a $ist5ria 0ue poder8 ser til H criança.Geralmente+ crianças de três a oito anos adotam como meio predominante de comunicação ae7pressão ldica e crianças com idade acima de oito anos costumam comunicar=se bem*erbalmente. Em al%uns casos 9 necess8ria a utili4ação de al%um procedimento 0ue fa*oreça a

comunicação da criança e para isso prefiro utili4ar o o%o de rabiscos proposto por 2innicott.

A situação l)dica# contato inicial com a criança 9 bastante importante pois+ a partir daí+ 8 começa a se estruturar o *ínculo e asituação de consulta+ # fato de encontrar um profissional descon$ecido 9 para a criança uma situaçãoansi5%ena+ 0ue tende a ser intensificada pela crise na 0ual se encontra. Por esta ra4ão a conduta do

 psicanalista+ ao entrar em contato com a criança+ 8 de*e ter uma função terapêutica pois+ neste primeirocontato+ a sua atitude8 *eicular8 uma mensa%em a ela.# profissional de*e então+ desde o início+ ser franco+ compreensi*o+ nunca sedutor. abitualmente secumprimenta os pais e em se%uida a criança+ de forma natural. E importante+ 8 na sala de espera+ obser*ar acriança+ procurando apreender o seu modo de ser por meio de sua atitude+ postura e %estos+ para+ a partirdesses elementos+ basear nossa apro7imação na compreensão de sua sin%ularidade+ de tal forma 0ue Possamoster um comportamento sintoni4ado Hs suas características+ e*itando in*adi=la. Esse modo de manear a

situação se relaciona não s5 com a 0uestão da apresentação do obeto+ mas tamb9m com a função especular+em 0ue o nosso modo de nos apro7imar dela reflete o 0ue ela 9.Em se%uida n5s a con*idamos para nos acompan$ar H sala de atendimento. A0ui tamb9m+ muitas *e4es+

 podem ocorrer situaç1es 0ue necessitam maneo  — 0uando+ por e7emplo+ a criança se recusa a entrar. Nessasituação se pode permitir 0ue a mãe entre e fi0ue+ en0uanto a criança necessite dela+ # 0ue normalmenteocorre 9 0ue+ H medida 0ue a consulta transcorre e a an%stia da criança *ai sendo trabal$ada e contida+ ela sedesli%a da mãe+ permitindo 0ue esta se afaste e muitas *e4es nem mesmo notando 0uando ela assim o fa4.Caso a criança necessite da mãe durante todo o tempo da sessão n5s permitimos 0ue isso ocorra+ inte%randomais esta informação H compreensão 0ue estamos tendo da criança e de sua família.)ma *e4 na sala de atendimento+ os brin0uedos encontram=se sobre a mesa e+ mostrando=os H criança+di4emos a ela 0ual a ra4ão da sua *inda H consulta e 0ue ac$amos necess8rio con$ecê.la para *er seentendemos o 0ue se passa com ela+ para poder aud8=la. &i4emos 0ue+ para isso+ podemos con*ersar ou

 brincar untos. Por essa ra4ão+ e7plicamos+ os brin0uedos estão l8 e ela pode us8=los do eito 0ue 0uiser.

40

41

A ra4ão de+ lo%o no início+ situarmos a criança dentro da 0uei7a da consulta+ se de*e ao fato de 0ue+ao *ir ao encontro com o profissional+ al9m de ter con$ecimento consciente de sua problem8tica+ elamanifesta ao lon%o da sessão uma necessidade de ser audada e de buscar al%u9m 0ue possacompreendê=la. Esse aspecto se refere ao fato de o analista se tornar obeto subeti*o emdecorrência da esperança 0ue a criança tem de 0ue ele sea al%u9m 0ue possa au7ili8=la em suas

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 16/45

dificuldades. E til portanto 0ue+ desde o início+ ela ten$a con$ecimento claro de nossos obeti*os+ pois ter8 maior oportunidade de colaborar na comunicação de suas an%stias ao analista e+ destaforma+ poder us8=lo em suas necessidades de desen*ol*imento.E7emplo: )ma criança de 0uatro anos *eio H consulta por manifestar di*ersos sintomas+comportamento a%ressi*o com as outras crianças+ sempre deseando morrer e não ter nascido+ etamb9m terror noturno.

 Na primeira sessão+ ap5s ter e7plicado a ra4ão de sua consulta+ imediatamente foi em direção aos brin0uedos e começou a brincar. Pe%ou uma bacia c$eia de 8%ua e+ com a%itação+ foie7perimentando todos os brin0uedos sobre a mesa+ colocando=os dentro da bacia+ um por um.Paralelamente+ di4ia:2ual n%o a!unda3 2ual n%o a!unda3 Seu tom de *o4 demonstra*a an%stia. At9 0ue tomou um pedaço de madeira e+ percebendo 0ue não afunda*a+ bateu palmas+ demonstrando contentamento.omou um soldadin$o e tentou coloc8=lo sobre a madeira+ mas este sempre caía na 8%ua. Yuandoisto acontecia+ %rita*a: Socorro4 Socorro4 5ai morrer4 -recisa de um amigo para salar ele4 &i4iaisto ol$ando para o analista e para outro soldadin$o+ sobre a mesa. # terapeuta pe%ou então osoldadin$o sobre a mesa e o mer%ul$ou na 8%ua. &epois pe%ou os dois soldadin$os com a mesmamão e os colocou sobre a madeira 0ue flutua*a+ di4endo: 6, ele est* se sentindo soinho, sem ajuda.

 -recisa de algu0m para conersar e n%o !icar com tanto medo. & menino ol$ou o 0ue o

 profissional fa4ia e se mostrou satisfeito. Repetiu o o%o mais 0uatro *e4es+ at9 0ue ficou sentado aolado do analista+ sem di4er nada+ como 0ue descansando+ at9 o final da $ora.Aberastur? K,-FL tamb9m aponta 0ue+ desde a primeira $ora+ a criança comunica 0ual a suafantasia inconsciente sobre a enfermidade ou conflito pelo 0ual 9 tra4ida H consulta e+ na maior parte dos casos+ sua fantasia inconsciente de cura. Su%ere

0ue 9 fundamental 0ue+ desde o primeiro momento+ se assuma a função de psicoterapeuta pois isto auda acriança a se situar como paciente e a tornar consciente o 0ue mostrou como fantasia inconsciente.

 Na consulta terapêutica 9 importante estarmos atentos H comunicação da criança para re%istrar 0ual a an%stia0ue ela 0uer nos transmitir e podermos inter*ir+ se necess8rio+ no momento ade0uado+ tendo como obeti*omostrar a ela 0ue a compreendemos  — e con*ersarmos a respeito da an%stia+ se ela assim necessitar.# profissional+ nessa situação+ não 9 s5 um obser*ador+ mas participa amplamente do processo. E necess8rio0ue ele estea l8 para ser usado pelo paciente na tentati*a deste de e7pressar suas an%stias e necessidades. E

importante+ neste tipo de trabal$o+ 0ue se estea disponí*el para brincar+ tendo em mente 0ue 9 atra*9s da brincadeira 0ue se criar8 um espaço potencial+ lu%ar do encontro necess8rio para 0ue a criança colo0ue a sua0uestão fundamental sob o domínio de seu %esto.# analista a0ui 9 a0uele 0ue+ com sua presença+ assinala os pontos nodais da sessão+ ou sea+ os momentos nos0uais a an%stia 9 e7pressa pela criança de maneira intensa e condensada. E*entualmente nesses momentos+um di8lo%o pode sur%ir entre o profissional e a criança sobre as 0uest1es 0ue a perturbam. E dese8*el 0ueestas con*ersas seam feitas utili4ando o pr5prio *ocabul8rio da criança.A criança %eralmente usa+ em seu *ocabul8rio+ um conunto de pala*ras 0ue+ por meio de uma obser*açãomais atenta+ percebemos serem pala*ras sobredeterminadas+ 0ue e7pressam uma rede de si%nificados e7tensae 0ue de certa forma comp1e o seu idioma pessoal. Entre essas pala*ras encontramos al%umas 0ue e7pressam+de modo pri*ile%iado+ as an%stias b8sicas da criança. Assim+ por e7emplo+ um menino de no*e anos+ em suas

 brincadeiras e desen$os+ sempre se referia a um persona%em c$amado [Donte\. Se%undo ele+ era um animalcom forma de cac$orro+ uma mistura de cac$orro+ lobo e raposaU 0uando desen$ado+ era representado na cor

 preta e de boca *ermel$a. Por suas associaç1es+ o [Donte\ representa*a os aspectos *ora4es e a%ressi*os desua personalidade. Ap5s ter ocorrido a inte%ração desses aspectos em seu sel!, a criança disse: & 7onte

irou uma !onte.

Dreud K,-FF+ p. F6L nos di4+ em " 8nterpreta$%o dos Sonhos "s palaras s%o tratadas com

 !req9'ncia pelo sonho como

42

43

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 17/45

 se !ossem coisas e so!rem ent%o uni:es, deslocamentos, substitui$:es e condensa$:es, como a

representa$%o de coisas. & resultado desses sonhos 0 a cria$%o de !orma$:es erbais

 singular1ssimas e ;s ees muito c<micas. No mesmo te7to+ mais adiante+ afirma Kp. !*+, &s jogos

erbais nas crian$as tratam as palaras como objetos, inentando noos idiomas e palaras

compostas arti!iciais= constituem neste ponto a !onte comum para o sonho e para as psiconeuroses.

Ao utili4ar as pala*ras empre%adas pela criança estamos usando representaç1es 0ue+ pela0uantidade de si%nificados 0ue possuem+ pro*ocam intensa mobilidade psí0uica. &esta formaestamos sedimentando o 0ue c$amamos de espaço potencial+ 8 0ue+ respeitando a lin%ua%em dacriança+ estamos abdicando da imposição de nossa forma de e7pressão sobre a0uela da criança+ permitindo assim 0ue+ tamb9m no plano *erbal=ldico+ $aa um espaço no 0ual ela possa semanifestar.Ao lon%o da sessão ldica encontramos três momentos distintos 0uanto H forma e intensidade dacomunicação da criança. Em uma primeira parte da sessão+ ap5s o en0uadre ser estabelecido+ acriança a%e como 0ue estruturando o campo de comunicação. Ela anda ao redor da sala+ e7plora omaterial ldico H sua disposição+ obser*a o analista e ensaia tipos de o%os. Esse momento 9 paralelo ao descrito por 2innicott K,-/FL como período de $esitação no o%o da esp8tula.Em um se%undo momento o brincar ad0uire uma confi%uração pl8stica estruturada. Poderíamos

di4er 0ue a criança cria uma composição na 0ual a comunicação 0ue procura transmitir 8 est8*eiculada. Esse 9 o momento em 0ue a sessão atin%e um 8pice na manifestação emocional. # o%oda criança+ neste instante+ tem um *alor e uma função e0ui*alentes a uma estrutura onírica. Essemomento corresponde ao brincar com a esp8tula no o%o apresentado por 2innicott K,-/FL. E nestemomento 0ue a inter*enção do analista 9 mais frutífera+ se assinalar a comunicação reali4ada pelocliente. Se isto ocorrer+ a criança ter8 tido a oportunidade de *i*er uma e7periência em 0ue pQde sesentir compreendida+ conse%uindo+ por meio de seu o%o+ colocar a sua 0uestão sob o domínio deseu %esto. (sto fa4 com 0ue+ ao sair do consult5rio+ ela estea diferente da maneira como entrou.Ap5s este período ocorre uma terceira fase+ em 0ue o assunto tratado %an$a no*os detal$es em seu brincar e+ %radati *amente

ela ir8 assinalando+ com sua atitude e com o desin*estimento do o%o+ 0ue o trabal$o na0uela sessãofoi reali4ado. Neste ponto da sessão ela fica como 0ue repousando+ # processo todo+analo%icamente lembra a e7periência de um bebê sendo alimentado: ele est8 faminto+ 8*ido porencontrar o obeto 0ue o satisfaçaU ao entrar em contato com o seio materno+ apalpa=o+ busca=o coma boca+ at9 0ue a comunicação se estabelece+ fa*orecida pela atitude recepti*a da mãeU uma *e4 0uea satisfação 9 conse%uida+ o bebê repousa ao lado do seio.# processo de amamentação não 9 s5 uma satisfação da fome+ mas tamb9m uma e7periência pra4erosa. E tamb0m um momento no 0ual o bebê+ por meio de seu %esto e da oferta do seio pelamãe+ re=estabelece a e7periência de confiança. A e7periência da continuidade de si 9 re=estabelecdae 9+ portanto+ tamb9m um processo enri0uecedor do self e do e%o infantil. &o mesmo modo+ uma boa consulta não s5 le*a a criança a um aumento da confiança da possibilidade de ser audada+ mastamb9m promo*e um enri0uecimento do sentido de si mesma pela reinte%ração dos aspectos 0ueesta*am dissociados de seu self.O -oo de rabiscos

Em al%uns casos+ principalmente no atendimento de latentes+ $8 a necessidade de utili4ar procedimentos 0ue audem a criança a reali4ar sua comunicação. Nestes casos+ o o%o de rabiscos+como proposto por 2innicott K,-6,L+ propicia a reali4ação de um bom contato com o paciente. Nesta aborda%em 9 fundamental 0ue o analista ten$a fle7ibilidade suficiente para se encontrar como paciente+ 8 0ue esse 9 um m9todo 0ue e7i%e tamb9m a participação do profissional.Sobre a mesa da sala colocam=se fol$as de papel+ se possí*el de di*ersos taman$os+ al9m de l8pis para a criança e para o terapeuta.# contato se inicia e7plicando a ra4ão da consulta ao paciente+ narrando de forma bre*e as 0uei7asapresentadas por seus pais. Em se%uida di4emos a ele 0ue+ para tentar aud8=lo+ usaremos um o%o.

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 18/45

&escre*emos as características do mesmo+ di4endo: #ós amos !aer rabiscos= um de nós come$a

 !aendo um rabisco sobre o papel, o outro trans!orma esse rabisco em alguma coisa, algum

desenho. 6m seguida, o outro !a um rabisco,

44

45

quem tinha rabiscado desenha e assim nós continuamos, um de cada e. 5ale qualquer coisa,

qualquer desenho. 2uem come$a3

A%uardamos a reação da criança+ permitindo 0ue ela estruture a situação da forma como l$e parecermel$or. As primeiras reaç1es da criança 8 nos informam sobre o seu modo de ser. 'uitas *e4es o paciente se encontra demasiadamente inibido ou perse%uido para at9 mesmo responder H nossa per%untaU neste caso+ re%istramos o fato e iniciamos n5s mesmos+ rabiscando o papel e o oferecendoa ele para 0ue o transforme. Em se%uida pedimos H criança 0ue faça um rabisco para 0ue n5s possamos transform8=lo em um desen$o. )ma *e4 0ue o rabisco ten$a sido usado por n5s+ fa4emosoutro+ entre%ando a ela o papel para 0ue o transforme+ e assim prosse%uimos at9 o final da consulta.&amos H criança total liberdade de e7pressão. Al%umas *e4es+ por e7emplo+ a criança começa umrabisco e o termina com um desen$o e isto+ naturalmente+ 9 permitidoU outras *e4es a criança pensa

em um desen$o e nos pede 0ue a audemos a reali48=lo e assim o fa4emos.Este procedimento não tem re%ras pr9=estabelecidas. # m9todo+ na *erdade+ 9 recriado com cadacriança para 0ue *8 ao encontro do seu modo de ser em particular. Neste tipo de trabal$o sefi7armos as re%ras impedimos 0ue o paciente compon$a a situação se%undo o seu estilo.

^ medida 0ue os desen$os são reali4ados+ *amos dispondo=os sobre a mesa ou sobre o c$ão+ a fimde termos uma *isão panorBmica do trabal$o at9 então reali4ado. Com fre0Tência a criança retomaum dos desen$os 8 produ4idos e o recria ou o associa com um no*o 0ue est8 fa4endo.A medida 0ue o processo continua+ os pontos de an%stia do paciente se re*elam atra*9s dos temas0ue se repetem nos desen$os+ da0ueles 0ue são mais elaborados pela criança+ de um outro reali4adoem fol$a de maiores dimens1es+ da transformação de um rabisco acompan$ada de dramati4ação+ dari0ue4a de associaç1es relacionadas com uma produção em particular. udo se passa como se a

criança+ por meio de recursos não=*erbais+ sublin$asse os elementos importantes de sua produção.Se o analista esti*er atento a essas comunicaç1es e comentar o 0ue assim fica ressaltado+ *er8 acriança ampliar as suas associaç1es+ muitas *e4es contando um son$o ou um epis_ r

dio de sua *ida com um *alor 0uase onírico+ 0ue sinteti4ar8 as suas an%stias e modos de funcionamento maisimportantes e fundamentais. Esse 9 o momento em 0ue a criança se surpreende comunicando as suas

 principais an%stias. 2innicott K,-6,L esclarece 0ue+ ao lado do *alor proeti*o deste m9todo+ ele tamb9m temum *alor terapêutico. Esta forma de abordar a criança fa*orece 0ue ela reinte%re aspectos importantes de seuself+ muitas *e4es temidos. Ao lado do profissional ela pode se apro7imar dessas e7periências e e7press8=las aal%u9m 0ue estea disposto a acol$ê=las+ # analista oferece o seu relacionamento para 0ue a criança o use afim de criar a descoberta de si mesma. E assim 0ue ela entra em contato com o núcleo de seu próprio ser

 para achar assim uma renoa$%o, um renascimento. K'ilner+ ,-6+ p. ,L.O uso da $ist5ria infantil

 No m9todo a0ui apresentado tem=se como obeti*o 0ue+ no contato com o psicanalista+ a criança ten$a aoportunidade de comunicar as suas *i*ências psí0uicas a al%u9m disposto a compreendê=las. # instrumentoutili4ado por ela para essa comunicação *ai depender do seu modo de ser e da sua idade+ 8 0ue apenas%radati*ament ela ir8 ter domínio da lin%ua%em *erbal.Essa esp9cie de e7periência tem ação terapêutica pois 9 tentando comunicar suas an%stias a al%u9m 0ue acriança conse%ue superar dissociaç1es de seu self+ o 0ue em si mesmo 9 ben9fico+ por0ue 9 por meio destetrabal$o 0ue ela ter8 a possibilidade de transformar suas e7periências em elementos toler8*eis e passí*eis deserem colocados sob domínio de seu %esto.

 Nosso trabal$o se caracteri4a por usar a $ist5ria para tentar inter*ir na situação de *ida da criança a fim de0ue ela possa superar um impasse em seu processo de amadurecimento+ para 0ue não necessite reali4ar uma

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 19/45

or%ani4ação defensi*a patol5%ica ou mesmo criar um sintoma 0ue intensifi0ue seu sofrimento.VPodemos obser*ar 0ue a criança aspira pela possibilida.. de de encontrar um sentido para as suas e7periências0ue inteConsideramos uma estruturação patol5%ica o tipo de funcionamento 0ue impede 0ue oindi*iduo ten$a uma *ida criati*a+ 0ue faça uso de sua [apercepção criati*a\+ suamaneira pessoal de colorir a realidade e7terior+ 0ue pode proporcionar o sentimento de 0ue a *ida *ale a pena de ser *i*ida+ e a descoberta do pr5prio [eu\. Aausência desintomas pode ser sade+ mas não 9 *ida. Com 2innicott K,-L+ afirmamos 0ue ari0ue4a da 0ualidade de *ida+ ao in*9s da sade Kausência de sintomasL+ est8 nos

est8%ios pri*ile%iados do processo maturacional.

/

/6

%re as di*ersas facetas destas *i*ências. # efeito ben9fico de ter comunicado a al%u9m suas an%stias pode serampliado se for dada H criança uma composição na 0ual os aspectos fundamentais de suas an%stias esteamor%ani4ados em uma narrati*a 0ue l$e dê um $ori4onte possí*el de superação das mesmas. A narrati*a insereas situaç1es de *ida no re%istro da temporalidade $umana+ de maneira 0ue cada conflito ou impasse acontecee em se%uida tende a uma resolução ou fim. Na narrati*a o *ir a ser $umano est8 de*idamente contemplado.(sto 9 possí*el por meio do uso das $ist5rias infantis pois al9m de serem um instrumento ldico e transicional+elas permitem H criança encontrar um sentido+ dentro de uma estrutura de relaç1es+ para as suas e7periências.E dese8*el+ ao utili4ar estas $ist5rias+ sempre inserir nelas possí*eis soluç1es do conflito. Para isso se pode

terminar a $ist5ria com uma con*ersa entre os persona%ens  — 0ue representam a criança e um dos pais ou umsubstituto dos pais  — na 0ual este ltimo mostra=se compreensi*o+ aceitando os impulsos da criança ou l$eassinalando meios de lidar com eles. " crian$a necessita particularmente que lhe sejam dadas sugest:es em !orma simbólica sobre a maneira como ela pode lidar com suas quest:es e crescer a

 salo para a maturidade. K3ettel$eim+ ,-+ p. ,LCremos 0ue para 0ue a $ist5ria sea efeti*amente til ela de*e conter a an%stia b8sica da criança+ suasor%ani4aç1es defensi*as+ o tipo de relação obetal e um persona%em 0ue funcione como um obetocompreensi*o+ 0ue aude na inte%ração do self. Por esta ra4ão+ na entre*ista reali4ada+ obser*amos o modo deser do paciente+ suas an%stias fundamentais+ suas or%ani4aç1es defensi*as+ suas relaç1es de obeto+ a fim de0ue+ com essas informaç1es+ possamos compor a $ist5ria 0ue l$e poder8 ser til.

 Na composição da $ist5ria tentamos usar sempre os persona%ens por 0uem a criança tem maior afinidade+ por0ue normalmente são representantes de uma s9rie de condensaç1es e identificaç1es reali4adas por ela e poresta ra4ão *eiculam de forma mais fecunda a mensa%em 0ue deseamos transmitir.

Para a elaboração da $ist5ria+ con*ocamos os pais para uma entre*ista+ ap5s termos tido o contato com acriança. Nessa entre*ista temos como obeti*o au7iliar os pais a terem uma

compreensão mais ampla de seu fil$o e a assimilarem um m9todo 0ue os aude nas dificuldades dacriança.Sempre 0ue possí*el prefiro dei7ar aos pais a tarefa de audar na elaboração das an%stias de seusfil$os. (sto por0ue+ como mencionado anteriormente+ ao tra4er uma criança H consulta+ sãomobili4adas intensas ansiedades persecut5rias e depressi*as+ principalmente concernentes Hsfunç1es paternas. Por essa ra4ão+ ao darmos a oportunidade aos pr5prios pais de trabal$ar com seusfil$os+ estamos tendo tamb9m um efeito ben9fico na restauração dessas funç1es. (sto permite 0ue atensão e $ostilidade 0ue e7istiam no relacionamento deles com as crianças possam diminuir+mel$orando sensi*elmente o *ínculo entre eles.

&essa forma+ nesse contato com os pais+ ap5s o encontro com a criança+ 9 interessante c$amar aatenção deles para a lin%ua%em pr9=*erbal da criança. abitualmente passa desaperce bido aos pais0ue o brincar+ o fantasiar+ 9 tamb9m uma forma de lin%ua%em+ um meio de comunicação. &e umaforma %eral+ a importBncia do brin0uedo 9 minimi4ada em nossa cultura+ predominando umamentalidade 0ue o considera [infantil e pouco importante\. Assim+ em primeiro lu%ar+ procuramosres%atar unto aos pais o *alor do brin0uedo como forma de comunicação+ a fim de 0ue possam *ir aentender as ansiedades e comunicaç1es da criança.Geralmente necessitamos apresentar al%uns e7emplos do si%nificado de al%umas brincadeiras ou o%os da criança para 0ue os pr5prios pais comecem a fa4er associaç1es com outros epis5dios ou

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 20/45

 brin0uedos de si%nificados similares. Neste ponto da entre*ista+ fre0Tentemente os pais tra4em*8rios outros e7emplos de comunicação de seus fil$os e de si mesmos do tempo em 0ue eramcrianças+ 0uando sentiam an%stias semel$antes Hs de seus fil$os. Este 9 um momento importante pois 9 a0ui 0ue se abre a possibilidade de os pais compreenderem os fil$os a partir de processosemp8ticos. Aspectos de sua infBncia 0ue esta*am dissociados são inte%rados e passí*eis de seremusados a fa*or do aumento da compreensão e do contato com seus fil$os. Nesses momentos o

analista necessita ser continente e aud8=los a perceber o 0ue e7iste de semel$ante e diferente emrelação Hs e7periências do fil$o. (nclusi*e 9 til lembr8=los 0ue 9 por terem tido an%stiassemel$antes 0ue podem compreender e (i=

r48

49

dar mel$or com seus fil$os. Por meio desse di8lo%o buscamos ampliar a discussão dos moti*os 0ueori%inaram o pedido de consulta+ at9 0ue ten$am compreendido de forma clara o funcionamento da criança.

)ma *e4 0ue este obeti*o ten$a sido alcançado+ passamos para um outro momento da entre*ista+ onde untos*amos compor uma $ist5ria 0ue *ise audar a criança.Elaboramos a $ist5ria unto com os pais+ criando tamb9m outras *ers1es do mesmo tema. # obeti*o+ ao fa4erisso+ 9 0ue eles possam não s5 criar uma $ist5ria 0ue sea til ao fil$o na0uele momento+ mas tamb9maprender um m9todo por meio do 0ual possam ali*iar a an%stia da criança em outras situaç1es+ 0uando istofor necess8rio.Esta etapa da criação das $ist5rias em diferentes *ers1es unto aos pais 9 outro momento em 0ue a sessãomostra=se terapêutica tamb9m para eles+ pois o elemento ldico fa*orece 0ue possam res%atar funç1es muitas*e4es es0uecidas no seu passado+ 0ue l$es permitem utili4ar a capacidade ima%inati*a e criati*a paraelaboração de an%stias de forma ldica. al capacidade relaciona=se com os fenQmenos transicionaisdescritos por 2innicott+ onde a ilusão usada criati*amente permite ao indi*íduo não s5 a reinte%ração doimpulso e elaboração de conflitos+ mas tamb9m a re*itali4ação do self+ *isto a0ui como possibilidade dee7istir pessoal e criati*amente.F

 Neste momento os pais são encoraados a brincar no*amente+ criando $ist5rias a fim de ampliar as suas possibilidades de o%o para 0ue a inte%rem em suas funç1es paternas. Nessa situação sur%e entre os pais e oanalista o espaço potencial+ como campo de o%o e do *ir a ser. unto com as $ist5rias os pais le*am tamb9mda entre*ista a recuperação da possibilidade de estarem nesse espaço criati*o.Sem d*ida a função ldica a0ui descrita 9 um fenQmeno marcante na infBncia 0ue+ de certa forma+ 9 rele%adoa um se%undo plano na *ida adulta em fa*or da capacidade intelectual 0ue+ 0uando e7cessi*amente

 pri*ile%iada+ afasta a pessoa do contato consi%o mesma e torna a e7istência do ser $umano mais 8rida e poucocriati*a. Penso 0ue 9 na capacidade de brincar 0ue se encontra o %erme do pensamento intuiti*o e criati*o+ tãoneF É no brincar e t%o somente no brincar, que a crian$a ou o adulto 0 capa de ser criatio,

que o indiiduo descobre o sel!.,. 5inculado a este !ato, temos o !ato de que somente no

brincar a comunica$%o 0 poss1el, e>ceto a comunica$%o direta (!undirse) que pertence ;

 psicopatologia ou a um e>tremo de imaturidade K2innicott+ ,-6L.

cess8rios não s5 na elaboração de an%stias+ mas tamb9m no *i*er criati*o: brincar 0 uma

e>peri'ncia criatia e 0 uma e>peri'ncia no continuum espa$otempo, uma !orma b*sica de ida.K2innicott+ ,-L)ma *e4 0ue a $ist5ria estea pronta+ os pais são aconsel$ados a us8=la diariamente+ contando=a para a criança. &e um modo %eral *oltamos a ter um encontro com eles um mês e meio a dois mesesdepois+ para 0ue se *olte a discutir o 0ue ocorreu durante o período de uso da $ist5ria. 3aseados nasreaç1es 0ue a criança apresentou+ su%erimos então possí*eis modificaç1es no contedo+ na forma da$ist5ria narrada ou no modo como foi contada.A maneira como a criança rea%e H $ist5ria 9 muito si%nificati*a. )m dos fenQmenos mais curiosos 9a0uele 0ue acontece 0uando a $ist5ria *ai ao encontro das necessidades da criança:

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 21/45

ela a escuta muito atentamente e pede para ser no*amente contada+ sempre 0ue necessita dela. Comfre0Tência+ a criança+ depois de ou*ir o conto di*ersas *e4es+ e estando pronta para inte%rar ocontedo do mesmo+ costuma comentar: 5oc' est* !alando de mim, n%o 03

#s pais de um menino de cinco anos+ 0ue tin$a intensa $ostilidade ao irmão menor+ usaram umconto para lidar com a situação+ 0ue comunica*a esta $ostilidade. &epois de al%um tempo prepara*am..se para no*amente contar uma $ist5ria com o mesmo tema+ mas foram surpreendidos

 pela criança 0ue di4ia: #%o, euj* n%o tenho tanta raia do irm%oinho= conta outra história. Podemos afirmar 0ue a pr5pria criança auda+ muito+ os pais no trabal$o de assinalar o 0uanto e 0uando a $ist5ria 9 til.Casos 0ue ap5s dois meses não apro*eitam a $ist5ria de*em ser re*istos+ pois com fre0Têncianecessitam de outro tipo de trabal$o. Geralmente são crianças 0ue necessitam de uma psicoterapia para terem os seus conflitos elaborados.emos como norma solicitar aos pais 0ue entrem em contato com o analista a cada 0uatro ou cincomeses para 0ue se acompan$e o desen*ol*imento da criança e assim se possa detectar possí*eisdificuldades 0ue ela *en$a a encontrar e+ dessa maneira+ sea possí*el au7ili8=la a super8=las e acontinuar o seu processo de amadurecimento.

,

CAPM)# O

Casos clínicosAfirmei anteriormente 0ue+ a partir da obser*ação da criança+ se comp1e uma $ist5ria 0ue *8 ao encontro doseu modo de ser. Sabemos 0ue o estilo de ser de cada pessoa 9 nico e sin%ular. &esta forma+ com cada

 paciente+ o m9todo necessita ser recriado para se ade0uar Hs características da0uele caso em particular. Paraisso a e7periência do profissional 9 fundamental pois 9 a partir dela 0ue ser8 estabelecido um referencialinterno 0ue indicar8 o camin$o mais ade0uado a ser tril$ado em cada caso. E este referencial interno 0ue

 permitir8 ao profissional um posicionamento facilitador do processo de amadurecimento da criança.

A se%uir descre*erei al%uns casos para e7emplificar aaplicação do m9todo de consulta em diferentes situaç1es.Caso * - 'i%uelPrimeira consultaDui procurado pelos pais de 'i%uelV 0uando este tin$a três anos e sete meses. 'i%uel era um menino 0ue+se%undo os pais+ *in$a apresentando+ nos ltimos oito meses+ medo intenso de estran$os+ principalmente$omens. Yuando se depara*a com um estran$o busca*a ref%io no colo de um dos pais.A criança fre0Tenta*a o par0ue infantil e seus pais foram aconsel$ados a procurar auda+ 8 0ue tamb9m ocontato com os cole%as esta*a alterado+ pois o menino se mostra*a passi*o+ fica*a 0uieto e não re*ida*a0uando al%uma criança o ataca*a+ passando %rande parte do tempo na escola sem falar, #s nomes dos pacientes são fictícios.

53

#utro sintoma apresentado por este menino era um medo intenso de barul$os+ tais como bombin$as+ tro*ão+ be7i%a estourando+ etc.# parto de 'i%uel foi natural+ a termo+ e ele foi amamentado no seio materno at9 os cinco mesesU o controledos esfíncteres foi reali4ado com um ano e sete meses. Apresentou al%uns problemas intestinais+ de*idos auma infecção+ por *olta dos dois anos de idade.'i%uel não era o nico fil$oU tin$a uma irmã de um ano e três meses+ por 0uem no início mostrou certaambi*alência mas+ se%undo o relato dos pais+ em se%uida aceitou=a bem.Ambos os pais trabal$a*am. &urante o período em 0ue esta*am fora do lar+ 'i%uel e sua irmã fica*am com aa*5 materna. Se%undo relato da mãe+ ap5s o nascimento do menino+ ela ficou sem trabal$ar durante os seis

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 22/45

 primeiros meses+ para cuidar do fil$o. Na entre*ista com os pais+ en0uanto relata*am os sintomas e os dados de desen*ol*imento de seu fil$o+ foi possí*el obser*ar 0ue se mostra*am ansiosos e perse%uidos. # pai fica*a mais calado+ sempre tentando passara pala*ra H esposa+ di4endo: 6la sabe melhor o que se passou. " mãe+ mais a%itada+ com fre0Tência nomeio de seu relato+ di4ia: "cho que os pais 0 que precisam de terapia= ou ainda: & que a gente tier

 !eito errado, oc' nos di.

Relata*am 0ue a a*5 materna era muito rí%ida com 'i%uel e 0ue tenta*am l$e e7plicar 0ue era necess8riodei7ar o %aroto brincar mais H *ontade+ mas a a*5 sempre 0ueria pQr uma roupa mais 0uente+ com medo 0ue omenino ficasse doente. " gente acaba n%o diendo nada para n%o criar con!us%o.Era e*idente pelo relato e comportamento dos pais 0ue tin$am colocado o analista no lu%ar da0uele 0ue ul%ae 0ue di4 o 0ue 9 errado.Eu tin$a como obeti*o+ na entre*ista+ diminuir a ansiedade persecut5ria dos pais a fim de 0ue pudesse serconcreti4ada uma aliança de trabal$o.F (sto era necess8rio pois+ caso contr8rio+ at9 poderiam reali4ar otrabal$o su%erido+ mas seria para aplacar al%u9m 0ue na0uele momento esta*a no lu%ar doF A aliança de trabal$e 9 a relação racional e relati*amente não neur5tica entre cliente e analista+ 0ue torna possí*el a cooperação decidida do cliente nasituação terapêutica.Se%undo Greenson K,-6L+ não 9 precisamente um procedimento t9cnico e nem um processo terapêutico+ mas 9 necess8rio para a eficiência de ambos.

obeto persecut5ro+ o 0ue não seria til para o fil$o ou para o relacionamento entre eles+ pois seriaum *ínculo marcado pelo medo e pela $ostilidade+ e não pela intenção de audar ou cuidar.

A inter*enção foi feita sem interpretação transferencial+ assinalando o 0uanto esta*am se culpando+con*ersando em se%uida com eles a respeito das *8rias circunstBncias 0ue influenciam a emer%ênciade um sintoma.(sto foi feito na entre*ista nos momentos em 0ue manifesta*am sinais de maior an%stia. Drente aorelato deles+ le*antei a $ip5tese de 0ue $a*ia dificuldade de 'i%uel em lidar com sentimentosa%ressi*os. Doi esclarecida a necessidade de um contato com a criança para *erificar a $ip5tese e planear formas de aud8=la.Seunda consulta No dia marcado+ 'i%uel *eio+ tra4ido por seus pais. Ao *er o analista na sala de espera+ mostrou=seamedrontado e se escondeu atr8s de sua mãe. # analista cumprimentou os pais e o menino+con*idando=o a entrar. 'i%uel se escondeu atr8s do pai. Doi solicitado 0ue um dos pais entrasse como menino na sala de o%os. Sua mãe se le*antou e+ tomando a mão do menino+ disse:

5amos er os brinquedos do tio. A criança concordou+ se%uindo a mãe e e*itando ol$ar o analista.Ao entrar na sala+ a criança ol$ou os brin0uedos+ por tr8s da mãe+ e disse 0ue 0ueria ir embora. Suamãe sentou em uma das cadeiras+ mas 'i%uel lo%o a dei7ou so4in$a na sala+ camin$ando para ocorredor+ para em se%uida permanecer encostado na parede. # analista e a mãe a%uardaramapro7imadamente de4 minutos+ mas a an%stia de 'i%uel esta*a tão intensa 0ue ele fica*a paralisado. Nem se apro7ima*a da mãe e nem *olta*a H sala de espera.# analista tomou al%uns carrin$os e um tren4in$o+ camin$ou para a porta+ onde podia ser obser*ado pelo menino e+ pondo os brin0uedos no c$ão+ brincou com eles. # menino deu al%uns passos paratr8s+ mas ficou ol$ando atentamente. &epois de al%uns instantes+ o analista se diri%iu ao corredorcom os carrin$os+ usando o c$ão e as paredes como estradas+ sempre tomando o cuidado de não seapro7imar demasiadamente de 'i=

/

%uel+ para 0ue este não se sentisse mais perse%uido do 0ue 8 esta*a. Neste ponto o menino parecia bastanteinteressado+ a ponto de se me7er e se apro7imar para obser*ar o o%o+ 0uando o analista passa*a por um pontodifícil para 0ue ele *isse o 0ue se passa*a na brincadeira.Em um desses momentos+ o analista tomou um dos carrin$os e o empurrou na direção de 'i%uel. Eleobser*ou o carrin$o se apro7imar e+ 0uando o brin0uedo esta*a ao alcance de sua mão+ ol$ou para ele e emse%uida para o analista di*ersas *e4es+ mostrando=se $esitante em pe%ar ou não o carrin$o. Por fim+ resol*eu

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 23/45

 pe%8=lo e começou a brincar com ele+ primeiro ao redor do lu%ar onde esta*a encostado+ depois ampliando um pouco mais o espaço. # analista se apro7imou de 'i%uel por meio de um outro carrin$o+ at9 0ue seu carroficasse paralelo ao do menino. 'i%uel o se%uiu at9 onde esta*am os outros carrin$os e o tren4in$o.

 No inicio+ o o%o foi silencioso e depois foi acompan$ado de um barul$o de [brumm\+ feito com a boca porambos. Gradati*amente a criança se mostrou mais H *ontade e sentou no c$ão+ pedindo 0ue o analista usasse otrem. Assim foi feito e 'i%uel se apro7imou com o carrin$o+ pro*ocando uma trombada e fa4endo com a

 boca um barul$o de e7plosão. Repetiu o o%o *8rias *e4es e a cada uma demonstra*a um pra4er maior+%ar%al$ando ap5s cada se0Tência. A mãe de 'i%uel *oltou para a sala de esperaU o menino a obser*ou+ mas

 pareceu não se importar.'i%uel per%untou se o analista tin$a tinta. Este respondeu afirmati*amente e *oltou H sala de o%os paraapan$ar o material pedidoU o menino o se%uiu. Em se%uida pe%ou al%umas fol$as de papel e passou tinta sobreelas. A tinta escorreu pela mesaU 'i%uel ol$ou o analista+ buscando obser*ar a reação deste e di4endo emse%uida: #%o !a mal, n03

o%ou a tinta sobre o c$ão+ en0uanto pula*a sobre o *idro+ procurando 0uebr8=lo+ e disse: 5oc' sabe que eu

tenho uma irm%inha3 # analista confirmou e per%untou a ele como era ela.# menino respondeu di4endo0ue era c$orona+ 0ue fa4ia muito barul$o e não dei7a*a nin%u9m dormir. Pe%ou em se%uida os brin0uedossobre a mesa+ o%ou tudo para cima de maneira desordenada , com muitos %ritos+ e tentou 0uebrar outros*idros de tinta. udo foi feito com muita e7citação e muitas %ar%al$adas do menino. &i4ia 0ue era o %i%ante0ue amassa*a tudo+ cami n$and

 pela sala com o corpo contraído para parecer 0ue era muito %rande. A sessão terminou aí e elecamin$ou para a sala de espera+ imitando o %i%ante para os seus pais.Como *emos+ a paralisação de 'i%uel era defensi*a. ;isa*a impedir a e7pressão de suas fantasiasa%ressi*as e s8dicas+ pois temia ser punido por elas. E interessante re%istrar 0ue+ no início da sessão+o outro foi *isto com temor+ como se fosse o [%i%ante 0ue amassa tudo\ e de 0uem era preciso estarafastado. No final da sessão+ o menino era o [%i%ante\.Ao ir embora+ 'i%uel esta*a *isi*elmente mais li*re+ descontraído e com semblante feli4. Penso0ue isso se de*eu não s5 H possibilidade da e7pressão de impulsos at9 então muito inibidos mas principalmente ao fato de 0ue+ ao e7press8=los+ pQde brincar com eles e+ dessa forma+ o 0ue eratemido passou a estar sob o domínio da criati*idade do menino.'ilner K,-FL afirma 0ue o pensamento metaf5rico 9 re%ressi*o e primiti*o mas+ 0uando sob ocontrole do e%o+ pode ser*ir a funç1es adaptati*as importantes. Se uma criança tem a e7pressão de

seus impulsos inibida+ ela não pode entrar em contato com eles para tentar elabor8=los e represent8=los. Concordo com 'ilner mas enfati4o a importBncia do o%ar para 0ue os aspectos temidos do self possam ser colocados em de*ir+ subordinados ao %esto da criança.Cabe tamb9m assinalar a importBncia do espaço potencial para 0ue esse processo pudesse ocorrercom este menino. No início obser*amos 0ue o contato não pQde acontecer de*ido H intensidade dasansiedades persecut5rias. Na0uele momento 0ual0uer inter*enção correria o risco de serinterpretada pela criança como uma intrusão+ com conse0Tente aumento da ansiedade persecut5ria.# possí*el era mostrar 0ue 0ueria me comunicar e 0ue esperaria por eleU s5 no momento em 0ue eledemonstrou 0ue esta*a pronto para se comunicar 9 0ue foi possí*el arriscar maior apro7imação+ o%ando para ele o carrin$o. Em se%uida o pr5prio menino buscou um maior contato no momentoem 0ue ampliou o seu espaço+ apro7imando=se da [fronteira ima%in8ria\ entre ele e o analista. Estefoi o momento em 0ue foi necess8rio cru4ar a [fronteira\ e apro7imar=se da criança para 0ue o

intercBmbio se estabelecesse e ocorresse a comunicação.56

57

Em termos de contedo ele dei7ou claro 0ue tin$a impulsos s8dicos+ mas particularmente diri%idosH irmã. E 9 ao redor deste ncleo 0ue a $ist5ria de*eria acontecer. A !igura do %i%ante de*eria serusada como persona%em do conto por ser a representação 0ue para esta criança tin$a maiorsi%nificado. # %i%ante era ao mesmo tempo e7pressão do seu deseo de ser %rande e tamb9m

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 24/45

representante do seu temor de ser onipotentemente destruti*o. a*eria a possibilidade de se criaruma $ist5ria com o mesmo tema+ mas usando outro persona%em+ como por e7emplo um dinossaurofero4+ mas este persona%em não teria tanta fecundidade 0uanto o [%i%ante 0ue amassa tudo\ tin$a para 'i%uel. Por meio de uma $ist5ria 0ue incluísse esse persona%em+ $a*eria possibilidade deassinalar para o menino 0ue $a*ia um ambiente 0ue não se destruía com sua a%ressi*idade./erceira consulta

 Na entre*ista com os pais+ em um outro dia+ foi discutido o 0ue o analista pensa*a sobre 'i%uel+tentando transmitir a eles 0ue a criança se sentia muito a%ressi*a e fica*a muito assustada+ sendonecess8rio encontrar al%uma maneira de e7pressar e de brincar com o 0ue sentia para transformar oimpacto dessas *i*ências.]] A mãe tin$a presenciado parte do o%o+ o 0ue facilitou a compreensão do 0ue esta*a sendodiscutido. Yuando isto não ocorre+ descre*emos bre*emente o comportamento da criança na sala de o%o+ para 0ue os pais possam acompan$ar e contribuir para a discussão. Eles lo%o comentaram 0ue'i%uel não tin$a muito espaço para brincar pois mora*am em um apartamento e temiam 0ue ele pudesse estra%ar os m5*eis da sala de estar. Con*ersando a respeito+ resol*eram dei7ar parte da 8reade ser*iço para 0ue ele pudesse brincar com tintas+ 0ue era o seu brin0uedo preferido.Em se%uida construiu=se a $ist5ria 0ue teria como obeti*o audar 'i%uel a elaborar os seusconflitos. A $ist5ria se%uia o padrão:

Era uma *e4 um menino c$amado oão4in$o 0ue *i*ia em uma casin$a nas montan$as+ com mamãee papai. 'as oão4in$o não %osta*a de ser pe0ueno+ ele 0ueria ser %rande e poderoso como um%i%ante+ para poder andar e

amassar todas as casin$as de 0ue ele não %osta*a.)m dia+ nasceu uma irmã4in$a. oão4in$o ficou c$ateado e com rai*a+ por0ue ac$a*a 0ue ia ter 0uedi*idir todos os seus brin0uedos com ela. Aí sim 9 0ue ele 0ueria *irar um %i%ante amassa=tudo+ para amassar tudo 0ue esti*esse na frente dele+ at9 a irmã4in$a. 'as oão4in$o tamb9m %osta*a demamãe e papai e não 0ueria destruir a casin$a onde mora*a e nem a irmã4in$a de 0uem ele %osta*aum pou0uin$o. Então ele ficou com medo de 0ue ia mesmo *irar um %i%ante e amassar tudoU elenem 0ueria se me7er+ com medo de amassar al%uma coisa.'amãe e papai *iram 0ue al%uma coisa esta*a acontecendo com o oão4in$o e per%untaram a ele o

0ue se passa*a. Ele esta*a com muito medo+ mas mesmo assim contou. 'amãe e papai disseram aele 0ue isso era assim mesmo+ 0ue a %ente 0uando 9 pe0ueno fica com *ontade de amassar tudo por0ue 0uer ser %rande e+ se nasce uma irmã4in$a+ ai 9 0ue a %ente fica bra*o mesmo. &isseram aele 0ue podia ficar bra*o e 0ue um dia ia crescer+ como mamãe e papai.oão4in$o ficou ali*iado por0ue percebeu 0ue ele podia se me7er 0ue não amassa*a nada+ por0ueele não era um %i%ante. A rai*a sim+ fica*a muito %rande+ mas isso não era assim tão peri%oso.Esta $ist5ria foi contada a 'i%uel por seus pais duranteapro7imadamente um mês e meio+ pelo menos uma *e4 duranteo dia. No início ela era usada pouco antes de o menino se preparar para dormir. &epois 'i%uelcomeçou a pedir 0ue contassema história do menino que queria ser gigante al%umas *e4es durante o dia.Ap5s este período o analista entre*istou no*amente os pais para obter uma a*aliação de como o

 processo e*oluía. #s pais tra4iam notícias de 0ue o medo de estran$os diminuía %radati*amente e0ue+ na escola+ os professores obser*a*am 0ue ele esta*a mais li*re nos brin0uedos+ buscando maisfre0Tentemente o contato com as outras crianças.Yuando 'i%uel soube 0ue os pais *in$am ao consult5rio+ 0uis *ir tamb9m+ mas os pais serecusaram a tra4ê=lo. Ap5s este contato com os pais+ uma no*a entre*ista foi marcada+ 8 0ue ele$a*ia demonstrado deseo de *ir.

58

59

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 25/45

 Na consulta com 'i%uel+ ao ser c$amado na sala de espera+ respondeu prontamente+ *indo aoencontro do analista com al%uns brin0uedos na mão: eram carrin$os+ tintas e massa de modelar.Ao entrar na sala de o%os+ 0uis brincar de trombada+ reali4ando e7plos1es 0ue produ4ia o%ando os brin0uedos para cima. Espal$a*a tinta pelo c$ão e sobre o rosto+ di4endo fre0Tentemente: -ode

 sujar, n03 Parecia na0uela sessão necessitar e7plorar se de fato não seria casti%ado ou se a0uele o%o não era realmente peri%oso. Estas id9ias foram *erbali4adas para ele+ numa lin%ua%em

ade0uada H idade do menino.Ap5s esta sessão foram mantidos contatos telefQnicos com os seus pais+ 0ue informa*am como oseu fil$o se desen*ol*ia. #s sintomas desapareceram e+ pelo 0ue era relatado pelos pais+ 'i%uel parecia desen*ol*er=se bem.rês anos depois do atendimento+ recebemos uma carta dos pais de 'i%uel afirmando 0ue ele esta*a bem e alfabeti4a*a=se de forma satisfat5riaU em ane7o $a*iam en*iado uma fol$a de papel escrita pelo menino para o analista.

Caso 201ui

Primeira consulta

A consulta com os pais de ui4 foi reali4ada 0uando este tin$a oito anos e sete meses de idade. #encontro ocorreu por0ue ele apresenta*a dificuldades de aprendi4a%em+ principalmente emmatem8tica e or%ani4ação espacial. Al9m disso era pouco afeti*o+ afasta*a=se 0uando al%u9m seapro7ima*a para l$e fa4er carin$o e era fec$ado e tímido+ detestando 0uando era elo%iado.ui4 tin$a mais dois irmãos+ um %aroto de 0uator4e anos e uma irmã de de4eno*e anos. Eleadmira*a e in*ea*a o irmão+ se comparando fre0Tentemente com ele e sempre ac$ando 0ue tin$a poucas 0ualidades frente a ele. # pai de ui4 era profissional liberal e e7tremamente e7i%ente como desempen$o escolar dos fil$os.Al%uns anos antes do nascimento do menino+ a a*5 materna tin$a falecido e+ 0uando do seunascimento+ se espera*a 0ue *iesse uma menina+ para 0ue pudesse ser dado H criança o

nome da a*5. Ap5s o nascimento de ui4+ seu irmão adoeceu e sua mãe passa*a a maior parte do

tempo com o irmão+ en0uanto o pai cuida*a dele. Yuando completou dois anos+ seus pais *iaaram para o e7terior+ ficando fora do país durante três meses. &urante este período ui4 foi cuidado pelaa*5 paterna. Nesta 9poca o menino rea%iu e se 0uei7ou da falta dos pais.&urante a entre*ista a mãe se mostrou muito culpada+ c$orando %rande parte do tempo e serecriminando+ di4endo ser seca e não conse%uir demonstrar afeto. # pai+ por sua *e4+ afirmou 0ue ofil$o era *a%abundo e 0ue o %rande problema era a pre%uiça. Drente a cada colocação do pai+ a mãeabana*a a cabeça+ demonstrando 0ue não concorda*a.# pai de ui4 di4ia 0ue $a*ia sido criado na dure4a e 0ue isso tin$a sido muito bom para ele+ poisa%ora era um $omem respons8*el. Por esta ra4ão ac$a*a 0ue este era um bom m9todo de educaçãoe 0ue $oe em dia $a*ia muitos modernismos 0ue estra%a*am a criança.a*ia um duplo problema: de um lado+ $a*ia a necessidade de se trabal$ar para 0ue a mãediminuísse a intensidade das auto=acusaç1esU de outro+ $a*ia a recusa do pai em aceitar a

importBncia do sofrimento do menino.Em primeiro lu%ar foi dito ao pai 0ue ele parecia pensar no futuro de seu fil$o e acreditar 0ue+ sendoduro+ poderia aud8=lo a se tornar respons8*el+ mas possi*elmente esti*esse acreditando 0ue tentarcompreender o seu fil$o o le*aria a não ter limites na educação dele. No entanto se uma criança seencontra tensa e se $8 a possibilidade de compreendê=la+ 9 possí*el+ desta forma+ aud8=la a diminuira tensão. Doi per%untado ao pai se+ 0uando pe0ueno+ não sentia deseo de con*ersar com o seu paisobre o 0ue sentia. Com a per%unta ele se mostrou pensati*o+ ficando in0uieto e respondendo emse%uida: ?e !ato. Ap5s este coment8rio+ permaneceu em silêncio.A primeira parte da *erbali4ação+ diri%ida ao pai+ tin$a a função de l$e transmitir a mensa%em de

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 26/45

0ue ele não esta*a sendo acusado e 0ue a sua preocupação era entendida. A se%unda parte foi umae7plicação com o obeti*o de c$amar a sua atenção para o fato de 0ue a an%stia intensa paralisauma pessoa. No terceiro momento+ com a 0uestão 0ue foi formulada+ se espera*a 0ue ele pudesserefletir sobre o relacionamento 0ue $a*ia tido

60

61

com seu paiO+ 0ue parecia na0uele momento estar afastado de sua consciência+ e 0ue parecia alterar o *ínculo0ue ele tin$a com o fil$o.&urante a con*ersa com o pai+ a mãe se mostra*a atenta+ acompan$ando o 0ue era dito. Em se%uida+ elaobser*ou 0ue+ se pudesse entender o fil$o+ iria aud8=lo bastante+ pois as pessoas têm necessidade de sesentirem compreendidas. (sto tamb9m parecia ser uma mensa%em ao marido. No entanto+ pelos obeti*os daconsulta+ foi usada esta oportunidade para l$e mostrar 0ue era *erdade 0ue a compreensão auda*a a ali*iar atensão+ e 0ue isto era tamb9m *8lido para a auto=compreensão.Em resposta ela disse 0ue se sentia muito culpada pelo 0ue se passa*a com o fil$o+ 0ue sempre se ac$a*aculpada de tudo e 0ue se sentia bem parecida com ele+ pois tamb9m sempre se ac$a*a ruim e incapa4.Assinalamos 0ue ela esta*a presente H consulta+ procurando entender o fil$o e 0ue isto parecia não ser le*adoem conta na a*aliação 0ue fa4ia de si mesma. Ela sorriu e comentou 0ue es0uecia de re%istrar 0ue tamb9m

 procura*a audar o fil$o.Com maior possibilidade de se con*ersar sobre os procedimentos a serem adotados para o trabal$o com ui4+

 pois a an%stia 0ue sentiam parecia estar em ní*el toler8*el+ descre*emos o 0ue seria reali4ado a se%uir. Doimarcado então um $or8rio para 0ue ui4 *iesse a uma entre*ista.Se%unda consultaui4+ na sala de espera+ tin$a uma aparência de desBnimo. Ao ser c$amado+ camin$ou sem $esitação H sala de

 o%os+ mas arrasta*a os p9s ao in*9s de andar e+ ao mesmo tempo+ se desloca*a encostando o lado direito docorpo na parede. Na sala l$e foi dito+ sucintamente+ o moti*o da consulta+ e7plicando 0ue poderia usar omaterial 0ue se encontra*a l8+ como 0uisesse. #l$ou ao redor+ obser*ando o 0ue e7istia na sala+ per%untandoem se%uida: # que oc' quer que eu !a$a3 Doi respondido 0ue poderia fa4er o 0ue 0uisesseU ele disse 0uenão tin$a nen$uma id9ia e+ em se%uida+ per%untou para 0ue e7istiam pap9is e tintas na sala. a*ia *8rios

 brin0uedos e o%os sobre a mesa+ mas ele parecia particularmente interessado no papel e nas tintas.O Somos constituídos em presença do #utro. # modo de ser de al%u9m nos conta a $ist5ria de suas relaç1es com as pessoas 0ue l$e foram si%nificati*as.

'ostrando=se $esitante+ ol$a*a fi7amente para o material %r8fico. Ap5s al%uns minutos+ disse: #que oc' quer que eu desenhe para oc'3 No*amente l$e foi dito 0ue poderia desen$ar o 0ue0uisesse. Apro7imando=se da mesa+ pu7ou papel+ pe%ou a tinta %uac$e preta e per%untou: Como

abre3 # analista se limitou a repetir a per%unta.ui4 disse 0ue era necess8rio tirar a tampa+ estendendo o *idro para o analista. Este l$e disse 0ue podia abrir a tinta so4in$o.# menino facilmente abriu o *idro+ ol$ou para o analista e per%untou: Como que eu pinto3 # pincelesta*a ao lado das tintas e de ui4. # analista respondeu 0ue ele poderia pintar com o 0ue 0uisesse.#l$ando demoradamente para a mesa+ pe%ou o pincel e começou a desen$ar. &esen$ou um robQ+ pe%ou a fol$a e a entre%ou ao analista. Este disse então: -or que oc' est* me dando o seudesenho3 ui4 me7eu os ombros+ tentando di4er 0ue não sabia. Dicou al%um tempo em silêncio e

disse: 5oc' quer que eu !a$a mais alguma coisa3 Neste momento o contato parecia paralisadoU o menino procura*a apenas se adaptar Hs e7pectati*as0ue ele ima%ina*a 0ue o analista tin$a a seu respeito. Parecia um menino submetido+ sem se sentir permitido a ter %esto ou e7pressar os pr5prios deseos. Yueria a%radar a al%u9m e+ neste sentido+ odesen$o do robQ era bastante si%nificati*o+ 8 0ue ui4 funciona*a de fato como um robQ+esperando ser pro%ramado.Doi necess8rio fa4er uma inter*enção para 0ue o processo de comunicação prosse%uisse. Doi dito aele 0ue se assemel$a*a ao robQ+ pois ac$a*a 0ue sempre precisa*a per%untar ao outro o 0ue fa4er+ por0ue tin$a medo de ser desapro*ado.

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 27/45

ui4 ou*iu a inter*enção+ tomou a fol$a de papel e o %uac$e e começou a desen$ar+ di4endo: 2ue

cor eu uso3 Não $ou*e resposta. &esen$ou três aeroportos: um %rande+ um m9dio+ um pe0ueno.Comenta 0ue no %rande podia aterrisar o Concorde+ no m9dio o &C=,# e+ no pe0ueno+ o teco=teco.Afirma 0ue ele era o aeroporto pe0ueno+ o irmão o m9dio e o pai o %rande. &esen$a bombas sobreos aeroportos+ di4endo 0ue esta*a $a*endo uma %uerra+ por0ue um 0ueria o aeroporto do outro.Ap5s o o%o *erbali4ou 0ue %osta*a de o%ar futebol+ mas 0ue seu irmão o%a*a bem mel$or+ pois

era muito bom+ al9m de

F

O

ser mel$or na escola. Per%untado sobre o 0ue ac$a*a de si mesmo+ respondeu 0ue não era bom em nada. Em se%uida pe%ou a bola de futebol e brincou com esta+ c$utando contra a parede. Ap5s este o%o+ a sessão foi encerrada.Doi possí*el obser*ar como ui4+ na ltima parte da sessão+ se compara*a ao pai e ao irmão+ sentindo=se sempreinferiori4ado+ o 0ue desperta*a $ostilidade em relação a essas fi%uras. Por sua auto=estima alterada+ procura*a se submeterao outro+ na tentati*a de ser *alori4ado por al%u9m./erceira consulta]] Na entre*ista com os pais+ reali4ada ap5s o encontro com ui4+ se procurou+ em primeiro lu%ar+ au7ili8=los a teral%uma compreensão do sofrimento do menino+ con*ersando com eles sobre a concepção 0ue ele tin$a de si mesmo e dacomparação 0ue fa4ia de si em relação aos outros. 3usca*a se adaptar ao deseo de al%u9m+ com o obeti*o de ser*alori4ado. #s pais contribuíram com a con*ersa+ tra4endo fatos do cotidiano 0ue auda*am a esclarecer a problem8tica deseu fil$o.A $ist5ria construída com os pais foi:)m menino pensa*a em ser um robQ e para isso fica*a s5 parado+ esperando 0ue al%u9m pedisse coisas para ele+ por0ueum robQ est8 sempre tentando a%radar al%u9m+ e o menino=robQ 0ueria ser importante para as pessoas.Ele pensa*a 0ue s5 assim seria feli4 e 0ue se ficasse sendo s5 um menino não seria bom para nada e nin%u9m %ostariadele.As *e4es o menino fica*a no canto+ s5 pensando como seria bom ser outra pessoa  — o irmão+ o cole%a+ al%u9m 0ue eleac$asse le%al.'as+ na *erdade+ ele não era feli4 sendo um menino robQ+ por0ue ele tamb9m tin$a *ontade de o%ar+ brincar+ fa4er ascoisas 0ue desea*a./ Dreud K,-FFL afirma*a 0ue o ideal de e%o 9 o substituto do narcisismo perdido dainfBncia. @o$ut K,-/L+ em relação ao mesmo tema+ afirma 0ue o psi0uismo sal*a parte da e7periência perdida da

 perfeição narcisica %lobal+ atribuindo=a a um obeto arcaico+ a ima%o parental ideali4ada )ma *e4 0ue todo o poder e bem=

a*enturança estão untosa%ora no obeto ideali4ado+ a criança sente=se *a4ia e impotente 0uando não recebe a apro*ação deste obeto. Compreendoo fenQmeno de modo diferente. Em meu modo de *er 9 fundamental 0ue a criança ten$a recon$ecida a sua sin%ularidade

 pelas fi%urassi%nificati*as. A criança tem necessidade de ser amada pelo 0ue 9. Se+ por al%uma ra4ão+ essa e7periência não acontece a0uestão do *alor de si se coloca como uma 0uestão

 amais solucionada Ken0uanto o recon$ecimento de si não acontecer *erdadeiramenteL.

Ele esta*a tão acostumado a ser robQ+ 0ue 8 at9 anda*a como um robQ. # pai dele começou a perceber 0ue ele sofria e um dia c$amou o menino para con*ersar. # pai+ na con*ersa+ percebeu 0ueo %aroto se sentia uma porcaria+ por0ue 0ueria ser maior+ %rande como o irmão e como o papai+ enem percebia 0ue ele tamb9m ia crescer e 0ue+ mesmo sendo menor+ sabia fa4er coisasinteressantes+ como brincar. E 0ue ele+ mesmo pe0ueno+ era amado. # pai tentou e7plicar tudo isso para ele. E o menino ficou pensando se *alia a pena continuar a ser robQ.Este foi o padrão de $ist5ria utili4ado. Na se%unda *e4 0ue a $ist5ria foi contada a ui4 por seu pai+ele disse: 5oc' est* !alando de mim. # pai confirmou. A partir desse momento foi possí*el ao paicon*ersar diretamente com o fil$o sobre os conflitos 0ue ele apresenta*a. )m dos coment8rios 0ueui4 fe4 nesta ocasião foi di4er ao pai 0ue não era tão bom na escola como o irmão. # pai

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 28/45

respondeu 0ue de fato o irmão se saía mel$or+ mas isso não si%nifica*a 0ue não %ostasse deletamb9m.Esta con*ersa audou a estreitar o *ínculo entre pai e fil$oU o %aroto se tornou mais li*re nas brincadeiras e tamb9m sua $ostilidade se e7pressou mais claramente. No entanto+ ap5s umaobser*ação posterior+ notou=se 0ue a confiança em si mesmo não esta*a bem estabelecida e 0ue uma psicoterapia seria dese8*el. #s pais aceitaram a su%estão e+ pouco tempo depois+ ui4 iniciou um

 processo psicoter8pico.A consulta ser*iu para eliminar o foco de tensão mais intenso e possibilitou 0ue os pais do meninoficassem menos perse%uidos+ o 0ue fa*oreceu 0ue aceitassem uma psicoterapia para o fil$o+ para0ue este ti*esse a oportunidade de ter um desen*ol*imento mais satisfat5rio. # efeito maior daconsulta foi para o pai do menino+ 0ue não s5 pQde inte%rar aspectos de sua relação com seu pr5prio pai+ 0ue esta*am at9 a0uele momento dissociados+ mas tamb9m pQde+ por meio da $ist5ria+ re=encontrar um canal de comunicação com o seu fil$o e+ desse modo+ di4er a ele 0ue o ama*a.Caso 0 1)cia

 Neste caso não $ou*e contato do analista com a criança. Ele ser8 narrado a fim de e7emplificar autilidade das $ist5rias

/

nas situaç1es em 0ue 9 necess8rio dar uma assistência psicol5%ica de forma bre*e e sem as condiç1es ideais para ummel$or atendimento.rata*a=se de uma menina de no*e anos de idade+ cia+ 0ue mora*a em uma cidade distante de São Paulo e+ no momentoda consulta+ não $a*ia possibilidade de sua *inda a São Paulo+ mesmo 0ue por uma nica *e4.A auda foi procurada por sua tia 0ue mora*a em São Paulo e entrou em contato com o profissional para narrar o caso+ afim de tentar conse%uir uma orientação para audar a sobrin$a.# pai de cia tin$a falecido recentemente e+ desde o ocorrido+ a menina não tin$a e7pressado nen$um tipo de emoção.cia era de família simples e tin$a mais dois irmãos:uma moça de de4essete anos e um rapa4 de de4eno*e. # pai de cia era um $omem *iolento no trato com os fil$os e osespanca*a com fre0Tência+ principalmente 0uando alcooli4ado. A menina tin$a muito medo de seu pai e se ape%a*a mais Hmãe.Ap5s a morte do pai+ cia fica*a calada e se recusa*a a comer. Yuando al%u9m l$e per%unta*a se esta*a triste+ respondia

0ue não. A noite seu sono era a%itado e acorda*a com fre0Tência+ tendo pesadelos. Na cidade onde a família mora*a não e7istia ser*iço de psicolo%ia+ mas a tia 0ueria fa4er al%o pela criança. Entretanto nãoera possí*el tra4er a menina a uma consulta para 0ue se fi4esse um dia%n5stico do 0ue ocorria com ela.Drente a estes fatos+ o analista optou por tomar os dados parciais do relato da tia e os con$ecimentos de psicopatolo%ia

 para tentar au7iliar cia por meio de uma $ist5ria.Doi montada a se%uinte $ist5ria com este obeti*o:Era uma *e4 uma %atin$a c$amada 'imi 0ue *i*ia com a %ata mamãe e o %ato papai. As *e4es+ o %ato papai saía para

 buscar sardin$as para a família e *olta*a ner*oso. A %atin$a 'imi %osta*a de brincar e de pular. E o %ato

@lein K,-6+ p. //L nos di4 a respeito do luto: # maior peri%o para o sueito de luto pro*9m da re*ersão contra simesmo do 5dio 0ue nutria para com a pessoa amada perdida. )ma das formas como se e7pressa o 5dio na situação de luto9 o sentimento de triunfo sobre a pessoa morta. #s deseos de morte da criança contra os pais+ os irmãos e as irmãs secumprem 0uando morre uma pessoa amada+ por0ue o morto+necessariamente+ cm certo sentido+ representa as fi%uras importantes mais recuadas e carre%a portanto al%uns dos

sentimentos correspondentes a elas. Então a morte+ embora acabrun$adora por outras ra41es+ 9 sentida de certo modocomo uma *it5ria+ ori%inando um triunfo e+ portanto+ um aumento do sentimento de culpa.

 papai Hs *e4es fica*a bra*o e da*a umas mordidas na %atin$a 'imi para ela ficar 0uieta. A %atin$a+ nessesmomentos+ c$ora*a e fica*a com rai*a do %ato papai.)m dia o %ato papai morreu e a %atin$a 'imi ficou bastante assustada+ ficou c$ateada de Hs *e4es ter ficadocom rai*a do papai. A%ora ela percebia 0ue tamb9m %osta*a dele. Ela ficou tão aborrecida 0ue nem tin$a mais*ontade de comer sardin$as.A %ata mamãe ficou preocupada e resol*eu con*ersar com a %ata fil$in$a. Nesta con*ersa a %ata 'imi ficousabendo 0ue+ Hs *e4es+ o %ato sente rai*a e %osta ao mesmo tempo+ e 0ue ela não era ruim por isso. 'imi

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 29/45

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 30/45

marcado um encontro com 'inam.Seunda consulta

'inam entrou na sala de o%os sem dificuldades. #bser*ou os obetos sobre a mesademoradamente.Doi e7plicada a ela a ra4ão da0uela consulta. A menina e7plorou cada um dos brin0uedos e escol$euos bonecos+ com os 0uais formou uma família. Em se%uida+ pe%ou o fo%ão4in$o e as panelas para

criar uma co4in$a e com as massin$as de modelar fe4 a comida.Em um se%undo momento ela era mãe de todos os bonecos e cuida*a deles+ dando de comer.En0uanto fa4ia comida+ a 8%ua Hs *e4es derrama*a sobre a mesa e ela+ lo%o em se%uida+ busca*a um pano para en7u%ar o 0ue tin$a sido mol$ado. Procura*a dei>ar a sua casinha bem em ordem.

Em determinado momento tomou um camin$ão onde colocou os seus !ilhos para passear. Nesse passeio uma das rodin$as do camin$ão casualmente caiu. Neste momento o o%o 9 interrompido pela an%stia+ 0ue ad0uiriu proporç1es intensas. 'inam se inibiu+ ol$ou assustada o brin0uedosobre o c$ão+ di4endo 0ue 0ueria ir embora e não 0ueria brincar mais. # analista inter*eio+ di4endo0ue ela parecia assustada por0ue a roda do camin$ão tin$a caído e 0ue possi*elmente ela esta*aac$ando 0ue tin$a destruído o camin$ão. 'inam continuou $esitante durante al%um tempo+ at9 0uetrou7e o carrin$o com a roda para o analista+ para 0ue este a colocasse no*amente. Como se trata*ade uma tarefa 0ue ela poderia reali4ar+ o analista l$e disse 0ue ela parecia acreditar 0ue s5 destruía e

0ue não podia consertar+ e a con*idou a tentar.

-

A menina ficou parada al%uns instantes+ at9 0ue resol*eu tentar+ conse%uindo recolocar a roda nocarrin$o. (sto feito+ parecia estar ali*iada. omou o camin$ão com os bonecos e continuou o passeioda família de bonecos+ at9 0ue a sessão terminou.erceira consulta&urante a primeira parte da entre*ista com os pais+ se con*ersou sobre o modo de ser de 'inam.Doi comentado 0ue ela temia ser incapa4 de sentimentos construti*os e ac$a*a 0ue os obetosfacilmente se destruiam. &esea*a ser como a mãe e procura*a ser ordeira ao e7tremo+ como uma

tentati*a de controlar o 0ue ima%ina*a ser a sua capacidade destruti*a.#s pais *erbali4aram 0ue tin$am pensado muito a respeito do 0ue $a*ia sido con*ersado na primeira entre*ista e ac$a*am 0ue funciona*am de maneira semel$ante ao 0ue na0uele momento sediscutia a respeito da fil$a.Dormulou=se uma $ist5ria 0ue pudesse ser til a 'inam+ 0ue se%uiu o se%uinte padrão:Era uma *e4 uma princesin$a 0ue *i*ia no castelo com o rei+ seu pai+ e a rain$a mãe. A princesin$a*i*ia em um 0uarto relu4ente+ por0ue para ela tudo precisa*a estar em ordem. #s brin0uedos 0ueela tin$a+ nem %osta*a de usar+ pois tin$a medo 0ue se estra%assem. Ali8s+ esta princesin$a tin$amedo 0ue tudo se estra%asse+ at9 o rei papai e a rain$a mamãe.A princesin$a Hs *e4es son$a*a em como seria bom 0uando ela pudesse ser como a rain$a+ usar os*estidos 0ue a rain$a usa*a+ sentar na0uele trono 0ue ela ac$a*a tão bonito... 'as 0uando elacomeça*a a son$ar+ lo%o fica*a com medo+ por0ue temia 0ue se son$asse estar no lu%ar da rain$a

mãe+ al%uma coisa ruim pudesse acontecer com a rain$a.'as um dia a rain$a mãe+ *endo 0ue a princesin$a nem brinca*a e Hs *e4es nem dormia de tão preocupada+ con*ersou com ela e per%untou H princesin$a o 0ue se passa*a. A princesin$a falou:A$< Eu ten$o tanto medo 0ue as coisas se estra%uem e 0ue *ocê e o papai morram<...A rain$a mãe falou: A$< A%ora eu entendo. Sabe+ fil$in$a+ Hs *e4es a %ente fica c$ateada e comrai*a por muitas coisas. ;ocê pode+ Hs *e4es+ at9 ficar com rai*a de mim+ por0ue %ostaria de sentarno meu trono+ mas não 9

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 31/45

 por isso 0ue eu *ou morrer. E não 9 s5 por0ue *ocê fica c$ateada 0ue uma coisa 0uebra. Eu sei 0ue *ocê ficatriste 0uando as coisas estra%am por0ue *ocê %osta delas e tamb9m de mamãe e papai.A princesin$a respirou ali*iada e ficou satisfeita por perceber 0ue não era tão [estra%ona\ assim.Essa $ist5ria foi contada *8rias *e4es a 'inam por seus pais+ principalmente ap5s um pesadelo ou ummomento de an%stia.Se%undo informaç1es dos pais+ os pesadelos dei7aram de ocorrer+ 'inam ficou menos man$osa e passou a

 brincar mais li*remente. Neste caso+ um fator importante na boa e*olução parece ter sido resultado de umamel$or condição psicol5%ica dos pais para lidar com o 0ue se passa*a. A $ist5ria+ na *erdade+ tin$a au7iliadoa menina e tamb9m os pais+ pois essa era uma família em 0ue a mentalidade predominante era depressi*a.a*ia um temor da *italidade+ 0ue era compartil$ado por todos. Ao contar a $ist5ria para a criança os paiseram beneficiados tanto pelo contedo da mesma 0uanto pelo fato de 0ue+ ao obser*arem a e*olução da fil$a+reafirma*am para si mesmos as suas capacidades de cuidar.Caso !  — &arcelo

Primeira consulta'arcelo era um menino de no*e anos de idade. ;eio H consulta por apresentar medo de dormir nos ltimostrês meses. Yuando a $ora de dormir se apro7ima*a+ fica*a ansioso e com medo+ di4endo 0ue temia morrer aoadormecer. Procura*a in*entar t9cnicas 0ue o cansassem ao e7tremo+ a fim de poder dormir por e7austão.'arcelo tin$a uma irmã menor+ com seis anos de idade+ com 0uem tin$a um bom relacionamento. Com asoutras crianças era um menino ale%re e brincal$ão e fa4ia ami%os com facilidade.

 No contato com adultos era um pouco inibido+ sempre temendo ser repreendido. Nesses momentos a suainiciati*a se blo0uea*a e ele se mostra*a submetido.

70

71

 Na escola+ 0uando pr57imo da professora+ se apresenta*a mais passi*o+ temendo uma atitude crítica por partedela.Seus pais se mostra*am preocupados com o 0ue ocorria com o fil$o e di4iam 0ue procura*am ser ami%os dosfil$os.&emonstra*am certa an%stia por se sentirem perdidos 0uanto H mel$or forma de educ8=los. in$am sidocriados em lar de educação rí%ida e sabiam 0ue não era o mel$or para os fil$os+ pois ac$a*am 0ue a educação0ue tin$am recebido fa4ia com 0ue se sentissem inibidos  — e não 0ueriam 0ue os fil$os ti*essem as mesmas

dificuldades. No entanto recea*am 0ue+ sendo mais liberais+ pudessem preudicar o desen*ol*imento dascrianças. A maior preocupação demonstrada esta*a na 8rea da se7ualidade.Yueriam 0ue o analista l$es apontasse a mel$or forma de educação e as possí*eis respostas 0ue se podia darfrente Hs per%untas das crianças+ 0ue os embaraça*am. 8 $a*iam lido *8rios li*ros sobre educação+ mascontinua*am perdidos e 0ueriam+ na consulta+ receber consel$os e saber se de*eriam ser mais rí%idos ouliberais. Eles busca*am um modelo de como de*eriam ser como pais e+ desta forma+ dei7a*am de lado ascaracterísticas 0ue tin$am como pessoas. in$am tentado se adaptar a *8rios modelos e continua*am

 perdidos+ pois suas identidades de pais não esta*am enrai4adas na0uelas 0ue eram as suas características reais.E+ no*amente+ 0ueriam 0ue+ na entre*ista+ o analista l$es desse um no*o modelo.Estes pontos foram abordados com eles+ mostrando=se como se aliena*am de si mesmos e perdiam o 0ue erafundamental no e7ercício das funç1es maternas e paternas. Nesta con*ersa sentiram necessidade de e7pressar+em tom de desabafo+ al%uns dos sentimentos 0ue tin$am em relação aos pr5prios pais+ tais como submissão+$ostilidade+ etc. &emonstraram deseo de serem para os fil$os os pais 0ue deseariam ter tido.

Doi e7plicado a eles 0ual o procedimento a ser utili4ado para au7iliar a criança e marcada uma entre*ista como menino.Seunda consulta

 Nesta entre*ista empre%ou=se como procedimento o o%o de rabiscos. &e início+ ap5s serem dadas asinstruç1es+ o menino preferiu 0ue o analista reali4asse o primeiro rabisco. (sto feito+ ao entre%ar o rabisco para0ue ele o completasse+ 'arcelo disse 0ue não tin$a id9ia do 0ue fa4er. Ap5s certo tempo de $esitação+

 pediu 0ue o analista reali4asse o desen$o+ # entre*istador concordou+ fa4endo um pei7e. Ao fa4er outrorabisco e entre%ar ao menino+ este fe4 uma flor. 'arcelo fe4 o seu traço e o analista o transformou em umcamundon%o. Este+ por sua *e4+ fe4 um rabisco+ por meio do 0ual 'arcelo desen$ou um pato. Da4endo um

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 32/45

rabisco para o analista+ este o utili4ou para fa4er um 5culos. Com o rabisco do analista+ 'arcelo fe4 umfantasma. Neste ponto+ o entre*istador per%untou ao menino se tin$a medo de fantasma. Ele respondeu 0uenão+ mas 0ue tin$a medo de dormir e não acordar mais+ por0ue era ainda criança e tin$a muitas coisas 0ue0ueria fa4er e tin$a medo 0ue não desse tempo. Pedindo a ele 0ue e7emplificasse+ respondeu 0ue ia %an$arum carro de controle remoto no Natal+ mas tin$a medo de morrer antes. En0uanto fala*a+ fa4ia outro desen$oe+ com o l8pis+ fura*a a fol$a di*ersas *e4es.# analista per%untou se ele tin$a pesadelos. Respondeu 0ue al%umas *e4es. # ltimo deles era uma luta deespadas com um robQ do espaço+ em 0ue o robQ ia mat8=lo+ mas no momento final ele conse%uiu destruir orobQ. (n0uirido sobre a ra4ão da luta+ respondeu 0ue não sabia. Yueria fa4er al%uns desen$os de a*ião para oanalista e desen$ou mais um. Parecia %ostar do desen$o e fe4 então outro+ de um a*ião maior.

 Nesta sessão 'arcelo e7pressou uma intensa an%stia de castração6 como conse0Tência da competição com afi%ura paterna. (sto se manifesta*a pelo medo de morrer e de não ser capa4 de crescimento e de reali4aç1esfuturas./erceira consulta

 Na entre*ista com os pais tin$a=se como obeti*o aud8=los a compreender o 0ue se passa*a com o fil$o+ para0ue pudessem utili4ar os procedimentos 0ue seriam su%eridos.Doi dito a eles 0ue 'arcelo esta*a preocupado+ temendo não alcançar reali4aç1es 0ue para ele eram indíciosde 0ue crescia e se torna*a $omem. Nesta idade era natural 0ue se comparasse com $omens adultos+

 principalmente o pai e+ na medida em 0ue se percebia em des*anta%em+ sur%ia certa dose de $osti6Aan%stiadecastração no menino sur%e como uma ameaça paterna em resposta Hs

suas ati*idades se7uais e deseos incestuosos. Est8 tamb9m relacionada com onarcisismo+ pois o falo 9 considerado pela criança como aspecto fundamental da ima%em do e%o e a sua perda implica uma ferida narcísica. 2innicott afirma0ue o meninonecessita da oposição paterna para 0ue ele não ten$a 0ue usar da inibição de seusimpulsos+ na falta da função paterna.

6F

6O

lidade e competição. 'arcelo temia ser casti%ado por ter tais sentimentos+ principalmente emrelação ao pai. Na sua fantasia seria punido com a morte+ o 0ue impossibilitaria o seu futuro.Drente a esta colocação o pai comentou 0ue podia entender o 0ue se passa*a pois 0uando era pe0ueno costuma*a competir com os outros meninos. Podia=se perceber como a 0uestãoapresentada por 'arcelo tin$a dimens1es trans%eracionais pois os conflitos 0ue os seus pais tin$am

com seus pr5prios pais dificulta*am 0ue pudessem ter a presença necess8ria para 0ue 'arcelocolocasse em o%o seus sentimentos competiti*os. enta*am ser diferentes de seus pais para dar a'arcelo a oportunidade de não precisar *i*er relaç1es de submissão. No entanto falta*a a 'arcelo aoposição necess8ria para 0ue manifestasse as suas fantasias de competição+ sem temor de destruir o pai.Construiu=se uma $ist5ria 0ue tin$a como persona%ens índios+ por ser esse um campo de interessedo menino:Era uma *e4 um indio4in$o 0ue *i*ia em uma tribo de %uerreiros e caçadores. A medida 0ue osindio4in$os cresciam+ eles podiam c$e%ar a ser %uerreiros ou caçadores. E 0uando c$e%a*a o dia de poderem ser aceitos como %uerreiros ou caçadores eles tin$am 0ue matar um a*ali e tra4er para atribo. Aí era um dia de festa: todos comemora*am+ pois mais um indio4in$o tin$a *irado caçador.# indio4in$o ro*ão4in$o son$a*a com o dia em 0ue seria caçador+ como todos+ principalmente

como o índio RelBmpa%o A4ul+ 0ue era seu pai. As *e4es ele brinca*a de lutar com as 8r*ores. )ma*e4 at9 brincou 0ue uma delas era seu pai+ o RelBmpa%o A4ul. uta*a com essa 8r*ore e brinca*a0ue *encia. Então ele se assustou muito por0ue percebeu 0ue 0ueria derrotar RelBmpa%o A4ul e eletamb9m %osta*a do pai. Dicou preocupado e com medo de ser casti%ado por isso. Dicou com medode 0ue+ se dormisse na sua cabana+ pudesse morrer e nunca c$e%ar a ser como o RelBmpa%o A4ul.oda noite+ antes de dormir+ era um pesadelo+ de tanto medo. ro*ão4in$o esta*a tão assustado 0ueresol*eu con*ersar com RelBmpa%o A4ul.Seu pai e7plicou a ele 0ue não fa4ia mal 0ue+ Hs *e4es+ 0uisesse derrotar o RelBmpa%o A4ul+ 0uenin%u9m o casti%aria por issoU essa *ontade s5 mostra*a como ele 0ue=

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 33/45

ria ser um bom caçador. &epois disso RelBmpa%o A4ul começou a ensinar o fil$o como se usa*a o arco eflec$a e como se caça*a. ro*ão4in$o ficou muito feli4 e nunca mais te*e medo de dormir. At9 um dia+0uando ficou sendo o caçador ro*ão.A $ist5ria foi contada pelo pai de 'arcelo antes 0ue este dormisse. Ele escuta*a a $ist5ria com muitointeresse+ # medo de dormir s5 desapareceu oito dias depois. Na se0Tência passou a solicitar mais a presençado pai nas brincadeiras+ 0ue costuma*am ser de mocin$o e bandido+ policia e ladrão+ etc. )m mês e meiodepois+ o medo tin$a desaparecido completamente.Caso "0 Ant4nio

Primeira consultaAntQnio era um menino de sete anos 0uando seus pais procuraram um profissional para con*ersar sobre asdificuldades do fil$o. AntQnio era descrito como um %aroto triste 0ue sempre di4ia não ter ami%os ou 0uenin%u9m %osta*a dele e 0ue a professora o perse%uia. 'uitas *e4es c$ora*a por0ue se ac$a*a uma porcaria.

 Na entre*ista os pais di4iam não 0uerer *er o fil$o sofrer tanto. A mãe c$ora*a com fre0Tência+ di4endo 0uedoía muito *er 0ue o fil$o tin$a os mesmos problemas dela+ pois sempre tin$a=se sentido inferior a todomundo+ nunca conse%uindo fa4er ami4ades. &i4ia 0ue sofria muito por sempre se *er H parte. Não 0ueria 0ueo fil$o passasse pelas mesmas dificuldades.# pai recrimina*a a esposa+ ac$ando 0ue ela e7a%era*a e acredita*a 0ue+ com o passar do tempo+ os

 problemas passariam.A busca de um profissional foi precipitada por um epis5dio ocorrido na escola+ no 0ual a professora domenino tin$a dado uma nota bai7a a ele e comentado 0ue ele esta*a mal+ na frente da classe.AntQnio *oltou para casa c$orando+ di4endo 0ue a professora o tin$a $umil$ado na frente dos cole%as. A mãedo %aroto se É dese8*el 0ue a $ist5ria sea contada por a0uele+ pa ou mãe+ ao redor do 0ual oconflito parece estar mais a%udo+ pois o ato mesmo de contar a $ist5ria fa4 com 0ue arelação sea posicionada em re%istro mais fa*or8*el H resolução do impasse.

6/

6

 —

irritou e foi H escola para reclamar do comportamento da professora. Como resultado+ as duas se

desentenderam. Ap5s este epis5dio os pais resol*eram procurar auda para o %aroto mas 0ueriam0ue o profissional inter*iesse tamb9m na escola+ para 0ue não *oltassem a ocorrer situaç1es como adescrita acima. # analista l$es e7plicou 0ue não faria isso e 0ue s5 se propun$a a con*ersar comeles e com AntQnio sobre a dificuldade 0ue sur%ia. A mãe do menino esta*a bastante alterada ec$ora*a+ ao mesmo tempo em 0ue procura*a dene%rir a professora com seus coment8rios.Doi *erbali4ado 0ue a sua $ostilidade em relação H professora esta*a intensa. A mãe per%untou aoanalista 0ual era a sua opinião da ra4ão de estar tão alterada. Doi respondido 0ue ela parecia sesentir $umil$ada com o ocorrido+ da mesma forma 0ue o fil$o. Em se%uida se con*ersou sobre aauto=estima 0ue possuíam e da necessidade de serem *alori4ados. No momento se%uinte focali4ou=se o ideal ele*ado de si mesmos 0ue busca*am alcançar. Com esta discussão foi encerrada aentre*ista e marcado um encontro com AntQnio.Seunda consulta

# menino *eio H entre*ista acompan$ado do pai. Ao ser c$amado na sala de espera parecia inibido+mas acompan$ou o analista H sala de o%os.Ap5s o estabelecimento do en0uadre AntQnio tomou uma fol$a de papel e desen$ou um a*ião. Emse%uida comentou 0ue al%o 0ue ele %ostaria de aprender era fa4er um a*ião de papel. Per%untou aoanalista se este podia fa4er um para 0ue ele *isse.# entre*istador tomou uma fol$a de papel e começou a dobrar para fa4er o a*ião. AntQnio pe%outamb9m uma fol$a e foi dobrando+ tentando imitar as dobraduras do analista.)ma *e4 pronto o a*ião+ o menino pe%ou o seu trabal$o e o o%ou+ para *er como *oa*a. Parecianão estar satisfeito. omou outro papel e+ desmanc$ando a sua dobradura e a do analista+ procurou

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 34/45

fa4er outro a*ião+ mais perfeito+ %uiando=se pelas dobraduras anteriores. Este se%undo a*iãoconstruído por ele *oa*a mel$or e ele ficou feli4. Comentou 0ue precisa*a decorar como se fa4ia oa*ião+ por0ue não 0ueria es0uecer mais. Com este obeti*o dobrou *8rias fol$as+ construindoa*i1es+ at9 0ue por fim ac$ou 0ue $a*ia aprendido. &isse: "gora euj* sei. 2uero er quem ai !aer

um ai%o melhor do que o meu. Esta*a c$eio de si e or%ul$oso.

&isse então ao analista 0ue 0ueria fa4er um campeonato para *er 0ual dos dois faria um a*ião mel$or. Assimfoi feito e+ nos momentos em 0ue *encia+ di4ia ao analista: 5oc' n%o 0 de nada4 @eu ai%o 0 só uma

 porcariainAja. Yuando perdia se mostra*a triste e en*er%on$ado. 'uitas *e4es+ 0uando isto acontecia+amassa*a o seu a*ião+ di4endo 0ue precisa*a fa4er outro.# 0ue ele demonstra*a era 0ue s5 podia ficar satisfeito se reali4asse um a*ião in*encí*el. Ele tin$a+ assimcomo os pais+ um ideal de e%o altíssimo.-Ao terminar a sessão+ camin$ou em direção ao pai 0ue o espera*a+ di4endo a ele 0ue tin$a aprendido a fa4era*i1es e mostrando os a*i1es 0ue tin$a construído. Seu pai comentou:Bh, !ilho4 2ue ai:es mi>uruca que oc' !e... & menino ficou desapontado e se retirou com seu pai./erceira consulta

 Na entre*ista com os pais enfocou=se o ideal 0ue todos busca*am alcançar. Doi e7plicitado 0ue AntQnio busca*a atin%ir o impossí*el e+ como resultado+ se sentia fracassado+ sem *alor+ por0ue para ter *alor s5 sendoo maior+ capa4 de derrotar a todos.

A $ist5ria utili4ada foi:)m menino c$amado Paulin$o son$a*a em um dia ser um piloto de a*ião muito importante+ pois acredita*a0ue assim todos iriam ac$ar 0ue ele era uma pessoa le%al.Yueria ser um piloto+ mas 0ue pilotasse um a*ião supersQnico. Aí sim+ ele seria uma pessoa importante.entou+ tentou+ o tempo passou+ at9 0ue conse%uiu subir no seu primeiro a*ião supersQnico. Ele esta*ae7ultante. Partiu e l8 foi ele+ mais r8pido 0ue o som.A *ia%em terminou e ele desceu. udo tin$a dado certo+ mas al%uma coisa não esta*a bem e ele não esta*afeli4. Ainda não se ac$a*a le%al. Yuem sabe se ele pilotasse um fo%uete`... 'as no fundo sabia 0ue não iriaadiantar.Aos poucos foi percebendo 0ue assim ia ficar sempre triste. Nem tin$a ami%os por0ue sempre 0ueria ser omais importante e derrotar a todos.-.@o$utK,-/Lsu%ere 0ue a perfeição do narcisismo prim8rio da criança 9 perturbada pelas ine*it8*eis fal$as do cuidado maternal+ mas a criança tenta sal*ara e7periência ori%inal de perfeição atribuindo=a+ por um lado+ a uma ima%em %randiosa e e7ibicionista do self o self %randioso  — e+ por outro lado+ a umoutro admirado: a ima%o parental ideali4ada.

6

66

Ao lon%o do tempo !oi descobrindo 0ue+ mesmo não sendo o mel$or piloto do mundo+ poderia ser feli4 se pudesse ser um piloto 0ue %ostasse de pilotar 0ual0uer a*ião+ para poder curtir as suas *ia%ens. Por0ue sesempre 0uisesse o m87imo+ amais ficaria satisfeito.A $ist5ria foi contada por seus pais a AntQnio por duas semanas. #bser*ou=se 0ue a ansiedade do meninodiminuiu durante esse período. No entanto+ não $ou*e mudanças si%nificati*as na sua maneira de serelacionar com os outros. Doi su%erida uma psicoterapia mas os pais de AntQnio não aceitaram a proposta.Yuatro anos mais tarde+ no*amente+ os pais de AntQnio entraram em contato com o analista+ por insistência dofil$o. Nesta oportunidade+ AntQnio esta*a bastante deprimido e disse aos pais 0ue 8 esta*a cansado e 0ue0ueria con*ersar com al%u9m outra *e4+ como tin$a feito 0uando pe0ueno+ e pediu 0ue os pais telefonassem

 para o analista. A partir daí AntQnio foi encamin$ado para uma psicoterapia para 0ue ti*esse uma auda maisade0uada ao seu funcionamento.

 Nesse caso podemos perceber 0ue+ de*ido H mentalidade familiar+ o uso das $ist5rias tin$a pouca possibilidade de aud8=lo a superar as suas dificuldades. A consulta se mostrou si%nificati*a+ pois deu aomenino uma e7periência 0ue l$e assinalou o foco de seus problemas+ o 0ue possibilitou 0ue ele concebesse a

 possibilidade de ser audado  — o 0ue ocorreu anos mais tar de.

Caso 56bio

Primeira consulta

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 35/45

D8bio era um menino de três anos e oito meses 0uando

seus pais procuraram auda psicol5%ica para ele. Seus pais eram o*ens e se mostra*am interessadose deseosos de con$ecer maneiras de aud8=lo. Al9m de D8bio tin$am mais uma menina de cincoanos de idade+ 0ue parecia se desen*ol*er bem.# nascimento de D8bio foi turbulento: assim 0ue nasceu precisou tomar transfus1es de san%ue e

 permanecer no $ospital para poder sobre*i*er. A mãe descre*ia o período como muito di=

fícil para todos e a cena do fil$o no $ospital+ com agulhas na cabe$a, tin$a sido difícil de suportar.D8bio+ desde o início+ se mostrou uma criança an%ustiada. Yual0uer epis5dio de barul$o maisintenso+ ou mesmo uma assadura+ o le*a*a a c$orar desesperadamente+ sendo difícil acalm8=lo.)ma das dificuldades 0ue apresenta*a ocorria na $ora de dormir+ pois c$ora*a intensamente+ principalmente 0uando era colocado no berço e a lu4 era apa%ada.#s pais acredita*am 0ue ele tin$a medo de cair+ pois se a%arra*a ao colc$ão e ao tra*esseiro+ol$ando ao redor+ aterrori4ado. No colo adormecia facilmente+ mas no momento em 0ue eracolocado no berço+ no*amente se an%ustia*a. As *e4es di4ia ter medo do buraco. 'arcou=se umaentre*ista com o menino.Se%unda consulta

 No dia marcado ele compareceu com seus pais. Yuando foi c$amado H sala de espera+ se recusou aacompan$ar o analista. Entrou na sala de o%os com a mãe. No primeiro momento ficou no colo+ ol$ando os brin0uedos de lon%e. Parecia in*esti%ar oambiente. # analista abriu os *idros de tinta e desen$ou sobre uma fol$a de papel um bebêdormindo em uma cama. D8bio parecia interessado no desen$o. Assim 0ue ficou pronto foi entre%ueao menino. Este o ol$ou demoradamente e disse H mãe: & nen' ta dormindo, n03" mãe sorriu edisse 0ue sim. D8bio desceu do colo da mãe+ pediu ao analista um *idro de tinta e pintou o papelcom o seu dedo+ usando um pouco de tinta. Pe%ou o *idro de tinta e pQs na 8%ua da bacia. #l$andoo *idro afundar+ disse: Bh4 t* a!undando. A partir deste momento foi colocando todos os obetos na bacia+ procurando *er 0ual nadaa. Dica*a muito desapontado 0uando al%um afunda*a. A se%uir busca*a colocar os brin0uedos 0ue afunda*am sobre os 0ue flutua*am. De4 este tipo de o%o at9 ofinal da sessão+ 0uando se retirou com a mãe.

D8bio demonstra*a a sensação 0ue tin$a da falta de suporte+ de sustentação+ uma das *i*ências 0ueno início do desen*ol*imento 9 proporcionada pela mãe+ 0ue d8 ao bebê a sensação

L

78

79

de estar sendo amparado.V No caso+ a mãe de D8bio parecia bem ade0uada e afeti*a. Este tipo dean%stia não poderia ser e7plicado por uma dificuldade por parte da mãe mas sim pela intensidadeda an%stia pro*ocada pelas primeiras e7periências de *ida desta criança.a*ia a necessidade de poder representar de al%uma forma essas an%stias a fim de 0ue+ por meio

delas+ fosse possí*el transformar a0uelas primeiras *i*ências traumati4antes em

 o%o.

/erceira consulta

 Na entre*ista se%uinte com os pais foi descrito o processo acima mencionado. Doi construída uma $ist5ria para serutili4ada com D8bio:Era uma *e4 um meninin$o 0ue *i*eu durante muito tempo na barri%uin$a de sua mãe. 8 era 0uentin$o e tin$a tudo 0ue

 precisa*a. 'as um dia c$e%ou o momento de sair da barri%uin$a para poder *i*er e para poder *er como era o rosto da

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 36/45

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 37/45

sofrimento fetal. (sto trou7e an%stia para a mãe+ 0ue desea*a um parto normal. Ap5s a cesariana+te*e medo 0ue a menina pudesse ter ficado preudicada. S5 depois 0ue o pediatra a reasse%urou+di4endo 0ue tudo esta*a bem+ 9 0ue ela conse%uiu se acalmar. Na entre*ista com o analista os pais esta*am muito persecut5rios. &i4iam 0ue s5 *in$am procurarum profissional por0ue 8 não sabiam o 0ue fa4er com a fil$a. Sentiam=se fracassados+ pornecessitar buscar a auda de al%u9m.

Doi discutido com eles o temor 0ue tin$am de não serem bons pais+8 0ue+ a cada acontecimento+*iam em risco a confiança 0ue tin$am em si mesmos Kcomo paisL. Por meio deste tipo de con*ersa+foi possí*el mostrar a eles como esta preocupação os dei7a*a ansiosos+ o 0ue torna*a difícil lidarcom as dificuldades 0ue sur%iam no cuidado com os fil$os. Neste caso preferimos *erbali4ar aan%stia dos pais diretamente por0ue eles a trou7eram de forma mais clara no relacionamento como analista.Se%unda consultaAo ser c$amada na sala de espera lia se recusou a entrar com o analista e a mãe a acompan$ou Hsala de o%os.Ao entrar com sua mãe per%untou para 0ue ser*iam todos a0ueles brin0uedos sobre a mesa. A mãerespondeu 0ue esta*am l8 para 0ue ela brincasse+ para con*ersar com o tio. Ela se diri%iu para amesa e+ pe%ando um fo%ão4in$o+ massa de modelar e panelas+ montou uma co4in$a+ onde preparou

comida+ 0ue a sua mãe de*eria comer. (n*ertia os pap9is: ela era a mãe+ e sua mãe a fil$a.

Este o%o continuou durante al%um tempo+ at9 0ue a mãe l$e disse 0ue brincasse com a boneca. Amenina aceitou a sua su%estão. lia trata*a a boneca com muita se*eridade: di4ia 0ue a bonecasua*a tudo+ não obedecia+ bri%a*a com o irmão4in$o e a cada *e4 0ue ral$a*a com a boneca+acaba*a a espancando e pondo de casti%o.A sua mãe+ 0ue at9 esse momento obser*a*a+ comentou: #ossa, !ilha, que m%e mais braa4 lia ol$ou para a mãe e sorriu+ um tanto 0uanto sem %raça+ edisse: 6la 0 muito desobediente4

'udou então o o%o e resol*eu brincar de escolin$a com as bonecas. lia decidiu ser a professora.Passou lição para as bonecas e entre elas $8 uma boneca 0ue 9 m8 aluna e lia+ a%ora professora+tratou a boneca com a mesma *iolência demonstrada no o%o anterior. Em determinado momento

rodou a boneca+ o%ando=a contra a parede para casti%8=la.Em se%uida utili4ou as tintas para pintar e desen$ar e fe4 um monstro perigoso. Comentou 0ue elesolta faísca e mata as pessoas.Yuando foi a*isada do final da $ora+ dobrou o papel e o colocou na bolsa da mãe. A mãe comentou:5' l* se esse monstro n%o ai !aer bagun$a na minha bolsa... lia ri e as duas dei7am oconsult5rio.As características reais da mãe de lia não correspondiam H0uelas da mãe apresentada em seu o%o.A mãe do o%o parecia ser o resultado do compromisso do supere%o de lia com o seu sadismo./erceira consulta

 Na entre*ista com os pais foram focali4ados o sadismo de lia e o padrão de punição 0ue apareciaem seus o%os+ 0ue era bastante *iolento. Em se%uida se discutiu a concepção 0ue lia tin$a sobresi mesma+ de al%u9m ruim e m8+ 0ue poderia *ir a ser casti%ada de forma *íolenta.

A $ist5ria criada para au7iliar a menina a lidar com essas ansedades foi esta:Em um pal8cio+ em um reino distante+ *i*ia uma princesin$a muito feli4. Certo dia+ a rain$a disse para ela: Princesin$a+ *ocê *ai %an$ar uma irmã4in$a.

82

83

Caso :0 /;n-a

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 38/45

A princesin$a ficou surpresa e não %ostou muito. Afinal+ ela *i*ia tão feli4 0ue não 0ueria outrameninin$a no pal8cio+ me7endo nos brin0uedos dela.At9 0ue um dia nasceu uma irmã4in$a. )m dia a irmã4in$a esta*a brincando e a princesin$a esta*acom rai*a por a0uele bebê ter nascido+ 0uando de repente a irmã4in$a caiu e se mac$ucou. A princesin$a ficou muito assustada+ ac$ando 0ue a rai*a dela era tão forte 0ue tin$a feito a irmã4in$acair. Ela ficou ac$ando 0ue era um monstro peri%oso e 0ue s5 sentindo rai*a das pessoas 8 as

dei7a*a mac$ucadas. E toda *e4 0ue *ia al%u9m mac$ucado na rua fica*a com medo 0ue a rai*adela tin$a mac$ucado mais uma pessoa e tin$a receio de ser casti%ada.A princesin$a8 não tin$a pa4+ at9 0ue um dia ela esta*a c$orando de medo e uma corua 0ue esta*a perto ou*iu e per%untou o 0ue ela tin$a. A princesin$a contou tudo para a corua e a corua disse aela 0ue sentir rai*a não mac$uca*a nin%u9m+ mesmo por0ue a princesin$a não era nen$uma bru7a.A princesin$a contou para a sua mãe e a rain$a disse 0ue as pessoas sentiam rai*a mesmo e 0ue nãoera por0ue tin$a sentido rai*a da irmã4in$a 0ue ela tin$a se mac$ucado. A princesin$a ficou feli4 por saber 0ue não era o monstro 0ue pensa*a ser.A $ist5ria foi contada pelos pais a lia. Ap5s dois meses+ o medo desapareceu. &urante este período era comum lia per%untar a seus pais e a*5s se sentiam rai*a.A consulta foi til para uma maior inte%ração da a%ressi*idade da menina+ 8 0ue antes a concepção0ue ela tin$a de si mesma era de al%u9m onipotentemente destruti*a. 'as o comportamento

controlador 0ue ela tin$a com seus pais persistiu+ assim como a dificuldade de seus pais em colocarlimites. Por essa ra4ão a menina foi encamin$ada para um processo psicoter8pico e seus pais paraum processo de orientação+ pois a problem8tica da menina e as dificuldades dos pais de lidaremcom ela eram acentuadas.

Primeira consultaBnia era uma menina de oito anos de idade 0uando *eio H consulta. Era fil$a nica de pais separados. A mãede Bnia procurou auda ap5s separar=se de seu marido.8 al%um tempo os pais da menina se relaciona*am mal+ com bri%as constantes. Nos ltimos tempos+ o pai deBnia tin$a começado um no*o relacionamento+ 0uando por fim a separação ocorreu. Ap5s uma bri%a+ o paida menina arrumou as malas+ e7plicou H fil$a 0ue iria embora+ mas 0ue continuaria sendo seu pai. Deito isto+se retirou+ *oltando al%umas *e4es ao anti%o lar para *er a fil$a.Se%undo o relato da mãe+ no dia do ocorrido+ Bnia parecia assustada+ mas não c$orou com a partida do pai.

Yuando interpelada sobre o assunto+ di4ia 0ue não se importa*a+ por0ue o pai era um c$ato e não %osta*adela.,F Ap5s apro7imadamente três semanas+ começou a se isolar mais+ se recusando a brincar com as outrascrianças. Ao mesmo tempo começou a apresentar um comportamento pedante. emendo 0ue a situaçãoacarretasse al%um tipo de problema para a fil$a no futuro+ a mãe da menina resol*eu procurar auda

 profissional. Na entre*ista com a mãe+ esta di4ia 0ue tin$a muita $ostilidade pelo pai de Bnia+ mas ac$a*a 0ue seriaimportante para a sua fil$a 0ue continuasse a se relacionar com o pai de forma satisfat5ria.Antes da separação o comportamento de Bnia não apresenta*a problemas e seu desen*ol*imento pro%rediade forma ade0uada.Se%unda consulta

 Na entre*ista com a criança obser*ou=se 0ue era uma menina esperta e bastante e7pansi*a mas+ de fato+ suaforma de andar+ falar e ol$ar tin$a al%o de pedante.Entrou na sala de o%os sem problemas+ pedindo e7plicaç1es sobre a ra4ão da sua presença na0uela situação+

# analista e7plicou o moti*o da consulta e a menina rea%iu com uma e7pressão de desd9m #l$ou duranteal%um tempo os obetos so,F Ri*ire K,-6L aponta 0ue o despre4o e a depreciação do obeto perdido têm como funçãorefrear os deseos do sueito. &esta forma ele empre%a internamente a força de seudesapontamento e dos seus sentimentos *in%ati*os Ksua a%ressi*idadeL a fim de poder passar sem o obeto deseado. ;olta com isso a a%ressi*idade contra si mesmo e contraseus pr5prios deseos pelo obeto.

/

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 39/45

 bre a mesa e disse 0ue 0ueria brincar de rain$a.Com uma das cadeiras fe4 um trono e com duas fol$as de papel sulfite+ uma coroa. # analista era ocriado e tin$a 0ue obedecer todas as ordens da rain$a 0ue eram+ por e7emplo+ buscar coisas paraela+ limpar o 0ue era pedido e acompan$8=la onde 0uer 0ue fosse. Yuando anoitecia+ o criado fica*atrancado em um 0uarto+ de onde não podia sair at9 0ue a rain$a abrisse a porta+ 0uando então o o%orecomeça*a.

Ser [rain$a\+ para Bnia+ l$e da*a a ilusão de 0ue podia manter o controle sobre o outro. &estaforma o outro era o seu prisioneiro e+ portanto+ não tin$a autonomia 0ue pudesse c$e%ar a feri=la+caso as opç1es do outro se opusessem Hs suas./erceira consulta

 Na entre*ista com a mãe foi elaborada uma $ist5ria para au7iliar a menina:Era uma *e4 uma menina 0ue mora*a na beira do cais com sua família. )m dia seu pai resol*eutomar um barco e *iaar para outro país+ onde então passaria a *i*er. A menina ficou triste esentindo falta do pai. 'as era muito duro sentir saudade e por isso ela ficou di4endo para si mesma0ue não %osta*a dele e não sentia falta. &urante o dia ela son$a*a em ser a rain$a do castelo+ poisima%ina*a 0ue aí mandaria em todo mundo e nin%u9m mais iria embora sem 0ue ela 0uisesse. &estaforma nunca mais sentiria falta de al%u9m.)m dia ela ou*iu uma %ritaria perto de sua casaU lo%o foi *er o 0ue esta*a acontecendo. Era a

carrua%em da rain$a 0ue passa*a por l8. A menina ficou muito curiosa por *er a rain$aU afinal+ elatin$a tanta *ontade de ser uma rain$a.'as 0ual não foi a sua surpresa ao perceber 0ue a rain$a esta*a c$orando. A menina correu atr8s dacarrua%emU 0ueria saber por 0ue a rain$a c$ora*a. Dinalmente alcançou a rain$a e+ %ritando+ per%untou a ela por0ue c$ora*a. A rain$a parou e e7plicou 0ue sentia muita saudades do rei+ 0uetin$a *iaado 8 $8 muitos dias.A menina ficou surpresa. Então+ at9 a rain$a sentia saudades... A menina começou a perceber 0uenão tin$a eito: todos sentiam saudades. Dicou pensando em seu pai e+ de fato+ a saudade 0ue sentiadele era %rande...

A mãe de Bnia contou a ela este conto por três meses. No início os sintomas se intensificaramainda mais e ela tornou=se mais arro%ante. Ap5s dois meses+ começou a per%untar 0uando o pai *iria

*isit8=la+ o 0ue estaria fa4endo+ e passou a admitir 0ue sentia falta dele. A medida 0ue isto ocorreu+ aarro%Bncia foi desaparecendo e ela *oltou a se relacionar de forma satisfat5ria com as outrascrianças.Cinco meses ap5s a primeira entre*ista com a criança+ marcou =se um no*o contato com ela. Nestasessão a menina não brincou+ apenas con*ersou com o analista e comentou 0ue+ no início+ ela tin$aficado com muita rai*a do pai e 0ue de fato tin$a saudades dele+ mas s5 tin$a percebido isto maistarde.Caso *#0 'arinaPrimeira consulta

#s pais de 'arina procuraram auda profissional 0uando ela esta*a com no*e anos. 'arina era umacriança adotada e+ at9 a data da consulta+ não $a*iam contado a ela sobre a sua ori%em.A mãe adoti*a de 'arina não podia ter fil$os. Por essa ra4ão ela e o marido resol*eram adotar uma

criança. A menina foi adotada com seis meses de idade+ 0uando seus pais adoti*os tin$am 0uatroanos de casados.&urante o seu desen*ol*imento+ ocorreram al%uns períodos onde te*e enurese+ mas este sintoma$a*ia sido superado por ocasião da consulta.#s pais de 'arina apresenta*amse ansiosos por0ue ac$a*am 0ue era o momento de contar H fil$a a$ist5ria de sua ori%em. emiam 0ue+ no futuro+ al%u9m pudesse l$e contar+ sem 0ue esti*esse preparada. A ur%ência de contar H menina aparecia intensificada por0ue nos ltimos tempos ela di4iade *e4 em 0uando 0ue n%o era boba e 0ue 0ueriam en%an8=la.Seus pais sentiam 0ue $a*ia necessidade de con*ersar com a criança. ;in$am H consulta para tentar

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 40/45

discutir com um profissional a mel$or maneira de fa4er isso+ pois temiam 0ue ela não pudessesuportar a con*ersa. Na *erdade a dificuldade maior ocorria com eles+ pois temiam perder o amorda fil$a ao contar a *erdade a ela.&urante a entre*ista enfocou=se este receio para 0ue ti*essem condiç1es de con*ersar com a fil$a.'ostrou=se a eles como ima%ina*am 0ue o relacionamento entre eles e a fil$a era

86

87

fr8%il e como não confia*am no amor da fil$a. Con*ersou=se tamb9m sobre a concepção 0ue tin$am de simesmos+ como pais.Ap5s ficarem mais calmos+ foi elaborada uma $ist5ria 0ue pulessem contar H fil$a e 0ue conti*esse a $ist5riada adoção da menina. Este era um caso onde o conto não era s5 diri%ido H criança mas+ certamente+ seria tiltamb9m aos pais. Eles necessita*am dele como uma forma indireta de contar a *erdade+ 8 0ue a ansiedade

 persecut5ria fica*a muito intensa se tentassem contar de uma outra forma.A $ist5ria utili4ada era sobre um casal de pais 0ue 0ueria muito ter um fil$o s5 deles e 0ue saíram pelo mundo

 buscando uma criança de 0uem %ostassem e 0ue passaria a ser o fil$o deles. A criança foi crescendo e elesac$aram 0ue esta*a na $ora 0ue ela soubesse a *erdade+ mas 0ueriam tamb9m 0ue ela soubesse 0ue eles%osta*am muito dela. )m dia contaram a ela e todos ficaram mais ali*iados por0ue 8 não tin$a nada 0uefosse se%redo.&urante a sessão os pais ensaiaram contar a $ist5ria al%umas *e4esU isto parecia ter uma funçãoreasse%uradora.#s pais tentaram contar a $ist5ria H fil$a. Esta+ ao ou*ir os primeiros trec$os+ disse 0ue não 0ueria saber de$ist5rias. Seus pais respeitaram o pedido da mesma. No dia se%uinte+ a menina pediu 0ue contassem a$ist5ria. Assim o fi4eram e a %arota ou*iu silenciosamente. Em se%uida+ per%untou se esta*am falando dela eos pais confirmaram.A partir desta e7periência+ a menina passou a fa4er *8rias per%untas sobre a sua ori%em. #s seus pais

 procuraram responder todas as 0uest1es sinceramente.Yuatro meses depois+ a situação entre eles tin$a se re%ulari4ado e a a%itação da menina tin$a desaparecido.

 Neste caso a função da $ist5ria foi *eicular o 0ue todos 8 sabiam+ mas tin$am medo de *erbali4ar. Doi uminstrumento 0ue disponibili4ou a *erdade na0uela família. Por ser um meio indireto de comunicação+ a$ist5ria propiciou 0ue a *erdade pudesse ser dita sem 0ue a car%a emocional fosse demasiado intensa para ser

suportada.88

CAPM)# (;

Conclusão

&esde a infBncia desen*ol*e=se+ %radati*amente+ a capacidade da criança de criar o obeto subeti*o+ perceberos fatos e7ternos e as manifestaç1es da sua realidade psí0uica+ para em se%uida alcançar a possibilidade de

 brincar e colocar sob o domínio de sua criati*idade as 0uest1es 0ue atra*essam o seu ser.Para 0ue essas possibilidades seam alcançadas de modo ade0uado 9 fundamental a pro*isão ambiental

 proporcionada pelo cuidado materno no início da *ida da criança+ baseada na identificação emocional da mãecom seu fil$o. Este fenQmeno acontece por meio de um processo de re%ressão na mãe+ pois a partir daí elater8 a capacidade de compreender as manifestaç1es emocionais do bebê e ir ao encontro das suasnecessidades. # cuidado materno 9 reali4ado de tal forma 0ue o e%o da mãe complementa o e%o infantil e d8=l$e força e estabilidade. K2innicott+ ,-LGradualmente+ em decorrência do cuidado materno e do amadurecimento+ a criança ir8 se liberando do apoiodo e%o materno e alcançando+ desse modo+ maior autonomia. Nesse processo a criança parte da dependência

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 41/45

absoluta e camin$a para a dependência relati*a+ em direção H independência+ , em um ritmo 0ue+ para sersaud8*el+ não de*e superar o flu7o do processo de seu amadurecimento.Com o passar do tempo+ a criança introeta o cuidado materno+ podendo assim continuar seu desen*ol*imentosem referir=se fre0Tentemente H mãe. Na *erdade+ a independência nunca 9 totalmente alcançada+ pois a

 pessoa necessita continua=

Para 2innicott K,-6L+ no início do desen*ol*imento da criança+ $8 uma dependência total com respeito ao meio fisico e emocional 0ue 9 oferecido a ela+

sem 0ue ela ten$a nen$uma consciência da dependência. Gradualmente camin$a em direção H independência+ ainda 0ue a dependência sempre reapareça.Este pro%resso constitui uma e7pressão da tendência inata de crescer+ mas sempre sendo necess8rio 0ue al%u9m se adapte Hs necessidades da criança.

-

mente do outro+ para neste relacionamento poder encontrar o 0ue necessita para o pr57imo passo emseu *ir a ser.'uitas *e4es ocorre 0ue determinados conflitos ou an%stias não puderam ser elaborados pelos paisda criança e+ por esta ra4ão+ 0uando ela e7pressa a0uela an%stia+ sea no re%istro *erbal ou não=*erbal+ os pais ficam impossibilitados de audar a criança a lidar com as suas e7periências. Nestesmomentos sur%e o sintoma+ como uma maneira de manifestar o conflito 0ue dete*e a criança em seu percurso e7istencial. en$o obser*ado 0ue no momento em 0ue a criança pode colocar em de*ir asua an%stia+ por meio de seu %esto+ *erbal ou não=*erbal+ o sintoma apresentado desaparece para

dar lu%ar a uma maior capacidade de fruir do cotidiano.# processo de colocar a an%stia sob o domínio do %esto criati*o acontece de modo mais fecundona relação com um outro+ no espaço potencial+ situação em 0ue a criança 9 respeitada em suasin%ularidade. Nos casos de consultas estudados notou=se 0ue+ no contato com as crianças+ $a*ia um período muitoimportante para o bom andamento do trabal$o a ser reali4ado. Era o momento 0ue precedia acomunicação propriamente dita. Neste momento a criança obser*a*a o ambiente e o analista e passa*a por um período de $esitação na sua apro7imação do profissional. )ma *e4 0ue este tempoera respeitado+ a criança apro7ima*a=se e reali4a*a a comunicação de sua an%stia. 2innicottK,-6,L e @$an K,-66L estudaram este período de $esitação+ descre*endo=o como a matri4 para aemer%ência da ilusão e do espaço potencial.# %rande *alor das $ist5rias est8 e7atamente neste ponto pois+ por meio delas+ tem=se a

oportunidade de apresentar H criança al%umas id9ias sobre os seus conflitos e ainda assim respeitaro seu tempo+ o seu período de $esitação. E+ desta forma+ facilitar o aparecimento do espaço potencial no momento em 0ue os pais contam a $ist5ria H criança.Assim+ a criança pode optar 0uando recon$ecer 0ue al%uns dos aspectos descritos na $ist5ria pertencem H sua realidade psí0uica+ sem 0ue se sinta in*adida por um contedo bruscointerpretati*o+ frente ao 0ual necessitaria rea%ir+ perdendo assim a oportunidade de maior inte%raçãodo sentido de si mesma+ 0ue poderia ter nascido do encontro com o outro.)m e7emplo claro deste fenQmeno aparece no caso , 0uando+ ap5s um período de $esitação *i*ido pelo menino+ ele

resol*e aceitar o carrin$o oferecido pelo analista. A partir daí notamos 0ue um processo rico decomunicação acontece de modo satisfat5rio.

As $ist5rias infantis+ por falarem da criança por meio de persona%ens e7istentes no campo daima%inação+ recriam o fenQmeno de ilusão 0ue o paciente pode usar como parte de seu o%o+ para0ue colo0ue em de*ir o 0ue o an%ustia*a.ou*e a oportunidade de acompan$amento de dos casos atendidos por um período de três acinco anos+ o 0ue permitiu 0ue os efeitos deste tipo de trabal$o fossem obser*ados ao lon%o dotempo+ tanto nos pais 0uanto nas crianças. Ap5s a primeira consulta+ os pais fre0Tentemente busca*am uma se%unda entre*ista+ 0uando um problema diferente do primeiro sur%ia com a criançaou com outro fil$o. Com o passar do tempo+ eles começa*am a criar suas pr5prias $ist5rias.Assimila*am um m9todo para au7iliar psicolo%icamente al%um de seus fil$os+ o 0ue os auda*a a

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 42/45

enfrentar com mais recursos as suas an%stias de tipo depressi*o+ au7iliando=os a sedimentar+ demaneira mais consistente+ a confiança nas suas funç1es paternas. No campo da psicolo%ia infantil seria til 0ue se desen*ol*esse maior nmero de trabal$os em 0ueos pais pudessem participar no tratamento da criança. &este modo teríamos a possibilidade deatender um maior nmero de crianças+ al9m de audar ao mesmo tempo os pais a estabelecer aconfiança em seus pr5prios recursos.

Por outro lado+ nas crianças tratadas por esse m9todo+ foi obser*ado um aprimoramento daconsciência da realidade psí0uica e o nascimento ou fortalecimento da concepção de poderem seraudadas por um outro. Assim+ 0uando se sentiam an%ustiadas+ busca*am os pais para 0uecontassem uma $ist5ria+ por0ue estaam nerosas. )m menino disse a seus pais+ ap5s obser*ar oirmão4in$o+ 0ue em um período de sua *ida c$ora*a demasiadamente+ 0ue ele precisaa ouir umas

histórias porque estaa chorando demais.

#utras crianças+ ap5s terem=se beneficiado de uma consulta terapêutica+ anos depois+ 0uando eramno*amente in*adidas por an%stia intensa+ pediam aos pais 0ue fi4essem uma no*a consulta+ pois precisa*am de auda.#utro fenQmeno interessante de ser re%istrado 9 o tipo de *ínculo 0ue se estabelece com o analista.As crianças+ ap5s terem estado na sala de consultas+ al%umas *e4es *olta*am a ela meses ou anosdepois. No entanto %uarda*am na mem5ria o 0ue

90

91

$a*ia acontecido na primeira *e4 e a primeira parte da no*a consulta era uma repetição dos o%osreali4ados na primeira entre*ista e+ em se%uida+ real4a*am a no*a comunicação. A passa%em dotempo não $a*ia desfeito a 0ualidade do *ínculo 0ue tin$a sido construído anos antes+ em um nicocontato. Cremos 0ue este fenQmeno se de*e ao fato de o encontro ter sido feito dentro do espa$o

 potencial. E7periências deste tipo não s5 tornam parte do inconsciente consciente+ mas tamb9m propiciam uma *i*ência de enri0uecimento do self+ pela oportunidade 0ue te*e a criança de usar oespaço e o *ínculo oferecidos pelo analista+ para recri8=los se%undo o seu modo de ser.Esses são fenQmenos criati*os+ 0ue enri0uecem o self da criança com um sentimento de maior

confiança na *ida+ pela consciência de 0ue a an%stia pode ser elaborada com a auda de um outro.

&e fato+ este tipo de e7periência parece reprodu4ir a e7periência com o seio materno+ na 0ual o bebê+ com fome+ busca oseio como fonte de alimento+ pra4er e conforto+ recriando o seio a cada mamada. A cada *e4 se nutre o corpo com o leite eo self com a e7periência satisfat5ria+ le*ando a criança+ por um acmulo dessas e7periências+ H noção de confiança econstBncia entre os inter*alos da mamada.Yuanto ao relacionamento da criança com a $ist5ria obser*ou=se 0ue+ desde o início+ a criança recon$ece 0ue se est8falando dela. No entanto+ ela s5 o admite no momento em 0ue o assunto do 0ual trata a $ist5ria est8 sob o domínio do e%oe ela est8 pronta a admitir 0ue o conto representa parte de suas *i*ências psí0uicas.Este m9todo mostrou=se limitado na0ueles casos em 0ue a dificuldade emocional dos pais era acentuada.F Nestassituaç1es não $a*ia possibilidade de os pais se ocuparem da criança+ pois esta*am tomados pelas pr5prias dificuldades.Yuando se tentou aplicar o m9todo com este tipo de família obser*ou=se 0ue eles distorciam a $ist5ria construída noconsult5rio+ %rande parte das *e4es omitindo a parte da $ist5ria 0ue *erbali4a*a a an%stia. Concluí por estas e7periências0ue o m9todo tem sua utilidade redu4ida com pais seriamente perturbados+ os 0uais+ por

F 2innicott K,-L considera 0ue 9 possí*el di*idir os clientes 0ue c$e%am ao consult5rio para a consulta em três %rupos: KaL os 0ue estão inte%rados desde dentroU KbL os 0ueincluem um elemento desinte%radorU KcL os 0ue se caracten4am por uma desinte%ração ambiental 0ue 8 se con*erteu emuma realidade. No primeiro %rupo o trabal$oreali4ado limita=se a ser complementar ao dos pais. No se%undo caso o clínico de*edesen*ol*er uma dinBmica para fa4er frente ao elemento desinte%rador. No terceiro%rupo seria necess8rio um trabal$o de reor%ani4ação ambiental+

intensas ansiedades persecut5rias+ acabam tendo suas percepç1es do outro e de si mesmos muito alteradas. No entanto+ a consulta com os pais+ nestes casos+ pode ter como obeti*o aud8=los a minimi4ar as suas an%stias+ a fim de0ue pro*idências mais ade0uadas possam ser tomadas para au7iliar a criança. Nestas situaç1es tem=se como obeti*o da

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 43/45

consulta o encamin$amento para uma orientação de pais ou terapia de lon%o pra4o dos pais eou da criança.A %rande *anta%em do m9todo est8 em dar a possibilidade de atendimento a um %rande nmero de casos em um tempo

 bre*e+ sendo sobretudo indicado para o trabal$o institucional. em=se acompan$ado o uso desta aborda%em em al%umasinstituiç1es e o m9todo tem=se re*elado eficiente no trabal$o com uma população numerosa.)m fator importante 9 o aspecto pre*enti*o deste tipo de trabal$o pois+ por meio dele+ 9 possí*el au7iliar a criança aelaborar as suas an%stias para 0ue estas não se con*ertam em fatores perturbadores do seu processo maturacional.E*itamos assim 0ue or%ani4aç1es defensi*as preudiciais H criança se estruturem ou se efeti*em como tais.

)ma situação 0ue consideramos interessante para estudos posteriores 9 a0uela na 0ual a criança passou por e7periênciastraum8ticas nos primeiros dias ou meses de *ida+ em um período em 0ue não $a*ia a possibilidade de representar oocorrido+ por não estar ainda desen*ol*ida a capacidade psí0uica ou mental para isso. i*emos oportunidade de obser*artrês casos nestas condiç1es Kum deles 9 o caso 6L+ em 0ue se utili4aram as $ist5rias para audar a criança a fa4er o trabal$ode representação. Nos três casos os resultados foram satisfat5rios+ $a*endo rapidamente um alí*io das an%stias e dossintomas. Cremos 0ue isto se de*e ao fato de a criança+ com o uso do conto por seus pais+ apropriar=se de sua $ist5ria+relacionando=a Hs suas an%stias decorrentes do período da situação traum8tica.OO 2innicott descre*eu os suportes ambientais necess8rios para o desen*ol*imentoemocional na primeira infBncia. Este conceito foi por ele aplicado H psican8lise

 propriamente dita+ onde a base de um ambiente=suporte por parte do analista permite Han8lise ir al9m das psiconeuroses para atin%ir elementos mais profundos efundamentais da personalidade. Acredita*a 0ue era somente 0uando o bebê ou o

 paciente esta*a sendo sustentado 0ue o %esto *erdadeiramente espontBneo+ a re*elaçãodo eu para o eu+ poderiam sur%ir e ser sentidos polo bebê ou polo paciente como sendose%uros. K;er 2allbrid%e+ ,-FL É nesta etapa da necessidade do suporte 0ue o e%o

 passa do estado de não inte%ração a uma inte%ração estruturada+ de modo 0ue a criançaad0uire a capacidade de e7perimentar a an%stia associada com a desinte%ração. Para0ue isso sea possí*el a criança precisa ter acesso H representação de suas e7periências afim de inte%r8=las+ para 0ue possam estar disponí*eis para o seu %esto. Nos casos citadosacima+ a $ist5ria pareceu funcionar como um obeto por meio do 0ual a criançarepresenta e encontra o $oldin% para a sua e7periência.

92

-O

8 necessidade atualmente de maior nmero de estudos sobre m9todos 0ue possam abre*iar o tempo doatendimento psicol5%ico e 0ue seam passí*eis de serem utili4ados na pre*enção de dificuldades 0ue poderãointensificar=se ao lon%o do desen*ol*imento da criança.

E necess8rio 0ue o analista ten$a fle7ibilidade na eleição do procedimento 0ue ir8 empre%ar para 0ue possa seadaptar H situação concreta do paciente+ sem 0ue se perca a 0ualidade do atendimento. Com 2innicott K,-Lse poderia afirmar 0ue+ na %rande maioria dos casos+ conse%uimos audar a criança no conte7to 8 e7istente.

 Naturalmente+ este 9 o nosso obeti*o+ não apenas por essa ser uma opção econQmica+ mas por0ue+ sendo o larsuficientemente bom+ ele 9 o lu%ar ade0uado para a criança ser tratada e se desen*ol*er.94

L

REDERNC(AS 3(3(#GRJD(CAS

A3ERAS)R+ A. -sican*lise da crian$a= teoria e t0cnica. Porto Ale%re+ Artes '9dicas+ ,-,.3A(N+ '. C$an%in% t$erapeutical aims and tec$ni0ues in ps?c$oanal?sis. 8nt. D. -sEch.F"nai.

B, ,,6F/+BHIJ.

3ERNE+ E. Khat do Eou saE a!ter Eou saE helio3 NeZ or>+ Gro*e Press+ ,-6F.3EEE('+ 3. " psican*lise dos contos de !ada. Riode aneiro+ Pa4 e erra+ BHLJ.

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 44/45

CAPAN+ G. -rincipies o! preentie psEchiatrE. NeZor>+ 3asic 3oo>s+ ,-/.CA'AN+ . $e s0ui%%le draZin% %ame in c$ild ps?c$ot$erap?. "mer. D. o! -sEchother., ggg(;+ BHLJ.

C#)# &E 'AGAAES. & selagem. 3elo ori4onte+Ed. (tatiaia+ Ed. )ni*ersidade São Paulo+ ,-6.

&E;EREA)g. G. Some criteria for t$e timin% ofconfrontations and interpretations. lnt. D. o! -sEch. "nal., 88, BHIB.

&##+ D. -ediatria e psican*lise. Rio de aneiro+ ha$arEd.+ BH

,-/.

&##+ D. #o jogo do desejo. Rio de aneiro+ ha$ar Ed.+

DARSE('+ A. $e separation of mana%ement from t$e t$erapeutic settin% in a paranoid patient. 8nt. D.o! -sEch.

 "nal.,/LIIH, BHN

DRE)&+ S. &bras completas. 'adrid+ Editorial 3iblioteca Nue*a+ ,-FF.GAR&ENER+ R.A. $erapeutic communication Zit$c$ildren: t$e mutual stor? tellin% tec$ni0ue. NeZ or>+ Anenson+ ,-6,.

95

GE&#+ E. X G#&3ERG+ A. Modeis o! the mmd, a psEchoanalEtic theorE. C$ica%o+ $e)ni*ersit? of C$ica%o Press+ ,-6O.G#;ER+ E. $e *e$icle of interpretation. 8nt. D. o! -sEch. "nal., BB, ,-O.GREENS#N+ R.R. @0cnica E pr*tica del psicoanalisis. '97ico+ Si%lo ;einteuno Editores S.A.+,-6.ARR(S+ '. $erapeutic consultation. D. o! Child -sEchother., /, ,-.E)SCER+ .E. " psEchiatric studE o! mEths and !airE tales. 3oston+ C$arles C. $omas+ ,--.E)SCER+ .E. $e meanin% of fair? tales and m?t$s. Con !inja -sEchiatric, 8(HJ), ,-.E)SCER+ .E. (ntroduction to m?t$s and fair? tales. 6>istential -sEchiatric, ,:,-+ ,-.)G=E')+ . *on. #n t$e tec$ni0ue of c$ild anal?sis. 8nt. D.o! -sEch."nal., 88, ,-F,.#NES+ E. @he theorE o! sEmbolism. ondon+ 3ailliere indali e Co7+,-,. KCol. Papers on Ps?c$o=Anal?sisL.)NG+ C. ransformaciones ? símbolos de la libido. 3uenos Aires+ Paid5s+ ,-,.@AN+ '. '. R. -sican*lise teoria t0cnica e casos clinicos. Rio de aneiro+ Drancisco Al*es+,-66.@E(N+ '. X RE;(ERE+ . "mor, ódio e repara$%o. São Paulo+ (ma%o Ed.+@E(N+ '. -sican*lise da crian$a. São Paulo+ Ed. 'estre ou+ ,--.,-6.@E(N+ '. Contribui$:es ; psican*lise. São Paulo+ Ed. 'estre ou+ ,-6.

@N#3E+ '. -siquiatria in!antil psicodinamica. 3uenos Aires+ Paid5s+ ,-66.@#)+ . Sel! e narcisismo. Rio de aneiro+ ha$ar+ ,-/.@R(S+ E. -sEchoanalEtic e>plorations in art. NeZ or>+ (nternational )ni*ersit? Press+ ,-F.)@ES+ A. Mito e ida dos 1ndios caiapós. São Paulo+ Pioneira+ Ed. )ni*ersidade São Paulo+,-6.'AN#N(+ '. A teoria como !ic$%o. Rio de aneiro+ Campus+ ,-F.

8/19/2019 CurandoCom HistoriasGilberto Safra

http://slidepdf.com/reader/full/curandocom-historiasgilberto-safra 45/45

'(NER+ '. Aspects ofs?mbolism in compre$enson of t$e not self. 8nt. D. o! -sEch. "nai.,B, ,-F.'(NER+ '. Encabal%amiento de círculos. (n: ?.7. Kinnicott. 3uenos Aires+ rieb+ ,-6.

 N#+ P. A re*ision of t$e ps?c$oanal?tic t$eor? of t$e primar? process. 8nt. D. o! -sEch. "nal,, :,=6+,--.#CA'P#+ '. . S. e col. # processo psicodiagnóstico e as t0cnicas projetias. São Paulo+ 'artinsDontes+ ,-,.

PAR@ER+ .. Classical and e7istential comparati*e uses of m?t$ and modern literature: a stud? ofconcernin% persons in boundar? situations. ?issertation "bstracta 8nternational,BH, ,-6.P(AGE+ . -laE, dreams and imitation in childhood. NeZ or>+ Gro*e Press+ ,-F.P(CER=G##&EN#)G+ E. Chiidren tell stories an anaiEsis o! !antasE. NeZ or>+ (nternational)ni*ersit? Press+,-O.RAC@ER+ G. #n t$e formulation of t$e interpretation. 8nt. D. o!-sEch."nal., O88, ,-,.RA'#N+ E. X 3AARA;+ . A neZ approac$ to creati*e ps?c$ot$erap? b? inte%ration of fol> le%ends+drama and cla? modelin%. Con!inia -sEchi= trio, F,:,OO=-+ ,-6.RAN@+ #. X SACS+ . ,@he signi!icance o!psEchoanalEsis !or the mental sciences. NeZ or>+

 Ner*ous and 'ental &iseases Pubi. Co.+ ,-,.R#&R(G)E+ E. X R#&R(G)E+ G.. 6l conte>to dei proceso anal1tico. 3uenos Aires+ Paid5s+ ,-.R#AN&+ A. (ma%er? and s?mbolic e7pression in dreams and art. 8nt. ei. -sEch. "na ,. , I, ,-6F.RCR#D+ C. $e nature and function oft$e anal?stVs communicaton to t$e patient. 8nt. D. o! -sEch. "nal.,37, ,-.SCADER+ R. "spects o! internaliation. NeZ or>+ (nternational )ni*ersit? Press+ ,-.SA+ ,. Pistórias dos ?eri>es. Rio de aneiro+ No*a Dronteira+ ,-6.SARPE+ D.E. Cautionar? tales. 8nt. ei. o! -sEch. "nal., Q/, ,-/O.2A3R(&GE+ &. X 'A&EE(NE+ &. Oimite e espa$o, uma introdu$%o ; obra de ?. K. Kinnicott.Rio de aneiro+ (ma%o+ ,-F.2ERNER+ . Comparatie psEchologE o! mental deelopment. NeZ or>+ (nternational )ni*ersit?Press+ ,-/.

96

97

2(NN(C#+ &.2. 6l proceso de maduración en ei nino. 3arcelona+ Ed.aia+ ,-.2(NN(C#+ &.2. a relacion inicial de una madre con su beb9. (n:  Oa !amilia E ei desarroilo dei

indi1duo. 3uenos Aires+ Ed. orm9+ ,-6.2(NN(C#+ &.2. @he !amilE and indiiduai deeiopment. ondres+ a*istoc>+ ,-.2(NN(C#+ &.2. Pla?in%: its t$eoretical status in clinical situation.  8nt. D. o! -sEch. "nal., /H, ,-.2(NN(C#+ &.2. Consultation in child psEchiatrE. ondon+ o%art$ Press+ ,-6,.2(NN(C#+ &.2. # brincar e a realidade. Rio de aneiro+ (ma%o+ ,-6.2(NN(C#+ &.2. ?a pediatria ; psican*lise. Rio de aneiro+ Drancisco Al*es+ ,-6.2(GENSE(N+ G. Mlirchen, traume, schicRsale. &usseldorf=@5ln+ &iederilin ;erla%+ ,-.98