Cultura Espírita No Brasil - Dorothy Jurers Abib

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ISSN 2177-661X Dorothy Jurers Abib 2011 Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011 Observação o texto foi usado na atualização do periódico Página106 CULTURA ESPÍRITA NO BRASIL Dorothy Jurers Abib RESUMO O Espiritismo nasceu das pesquisas de Allan Kardec,( pseudônimo de Léon Hippolite Denizard Rivail) com os fenômenos que aconteciam pelo mundo todo , na época de 1849 em diante e que consistia nas mesas falantes, que respondiam, por batidas de seus pés, às perguntas formuladas por algum dos presentes. Kardec, professor, aluno de Pestalozzi, dedicado às ciências e ao ensino, achava absurdo as mesas responderem com inteligência e dedicou-se a estudar os fenômenos, que acabaram com o nascimento do Espiritismo. O Brasil, que na época era culturalmente dependente da França, logo começou a receber os livros da nova doutrina em Francês, livros que eram absorvidos pelos intelectuais famosos da época, especialmente médicos, que imbuídos dos princípios de caridade que a doutrina ensinava , atendiam os pobres, atraindo-os com a sua conduta, para o Espiritismo. Apesar de todas as dificuldades a doutrina espalhou-se pelo Brasil tendo hoje uma posição consolidada. Palavras-chave: História do Espiritismo; Allan Kardec; Bases do Espiritismo SPIRITIST CULTURE IN BRASIL ABSTRACT The Spiritism was born from the researches that did Allan Kardec (pseudonymous of Léon Hippolite Denizard Rivail) with the phenomenal that happened by all the world from 1849 in front, that is the speaking table resign the foots to answer questions expressed by any one of the presents. Kardec, teacher, pupil of Pestalozzi, devoted to sciences and to the teaching considered absurd that the tables could answer with intelligence and applied one self to the study of the phenomenons, and so the Spiritualism was born. In that time, the Brazil was culturally dependent of the France, soon it begin to receive books of the new doctrine in French, they were assimilated by the famous intellectuals of that time, specially physicians, that are imbued with the charity principles teached by the Spiritism. They take care of the poors and so aroused linking to the Spiritism by that persons. In spite of all the difficulties the doctrine was disseminated by all Brazil and to day have one consolidated position. Key-words: Spititism history; Allan Kardec; Bases of Spiritism.

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Pedagogia Espírita

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    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

    Observao o texto foi usado na atualizao do peridico

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    CULTURA ESPRITA NO BRASIL

    Dorothy Jurers Abib

    RESUMO

    O Espiritismo nasceu das pesquisas de Allan Kardec,( pseudnimo de Lon Hippolite Denizard

    Rivail) com os fenmenos que aconteciam pelo mundo todo , na poca de 1849 em diante e que

    consistia nas mesas falantes, que respondiam, por batidas de seus ps, s perguntas formuladas por

    algum dos presentes. Kardec, professor, aluno de Pestalozzi, dedicado s cincias e ao ensino, achava

    absurdo as mesas responderem com inteligncia e dedicou-se a estudar os fenmenos, que acabaram

    com o nascimento do Espiritismo. O Brasil, que na poca era culturalmente dependente da Frana,

    logo comeou a receber os livros da nova doutrina em Francs, livros que eram absorvidos pelos

    intelectuais famosos da poca, especialmente mdicos, que imbudos dos princpios de caridade que a

    doutrina ensinava , atendiam os pobres, atraindo-os com a sua conduta, para o Espiritismo. Apesar de

    todas as dificuldades a doutrina espalhou-se pelo Brasil tendo hoje uma posio consolidada.

    Palavras-chave: Histria do Espiritismo; Allan Kardec; Bases do Espiritismo

    SPIRITIST CULTURE IN BRASIL

    ABSTRACT

    The Spiritism was born from the researches that did Allan Kardec (pseudonymous of Lon Hippolite

    Denizard Rivail) with the phenomenal that happened by all the world from 1849 in front, that is the

    speaking table resign the foots to answer questions expressed by any one of the presents. Kardec,

    teacher, pupil of Pestalozzi, devoted to sciences and to the teaching considered absurd that the tables

    could answer with intelligence and applied one self to the study of the phenomenons, and so the

    Spiritualism was born. In that time, the Brazil was culturally dependent of the France, soon it begin to

    receive books of the new doctrine in French, they were assimilated by the famous intellectuals of that

    time, specially physicians, that are imbued with the charity principles teached by the Spiritism. They

    take care of the poors and so aroused linking to the Spiritism by that persons. In spite of all the

    difficulties the doctrine was disseminated by all Brazil and to day have one consolidated position.

    Key-words: Spititism history; Allan Kardec; Bases of Spiritism.

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    INTRODUO

    O dia 18 de abril de 1857 considerado

    o dia no nascimento do Espiritismo, porque foi

    neste dia que veio luz a publicao de O

    LIVRO DOS ESPRITOS de Allan Kardec,

    pseudnimo do prof. Lon Hippolite Denizard

    Rivail. Esta obra foi a consequncia de estudos

    e pesquisas realizadas durante mais de trs

    anos, por Allan Kardec, dos fatos estranhos que

    comearam a ocorrer em Hydesville, EUA, em

    1848, e se espalharam como um estopim , por

    todo o mundo civilizado da poca.

    Desde sempre, os fenmenos de

    comunicao do mundo espiritual com o

    mundo material, existiram. Scrates j se

    referia ao seu daimon, como um esprito que

    o orientava. No Velho Testamento, so

    inmeras as passagens em que os espritos se

    manifestam, como por exemplo em Reis 28:7-

    25, o Samuel Saul procura a pitonisa de Endor

    e pede a ela que invoque o esprito do Profeta

    Samuel, que aparece ao rei e conversa com ele.

    Este um dos vrios episdios, em que se

    relatam fatos desta natureza. No Novo

    Testamento, tambm so vrias as situaes em

    que tal fato acontece, como por exemplo, a

    transfigurao de Jesus, que aparece ao lado de

    Moiss e Elias(Mt17:1-8; Luc 9:28-36). Nos

    Atos dos Apstolos cap. 2, est descrito o

    Pentecostes, onde os apstolos falavam em

    lnguas estrangeiras e eram entendidos, por

    todos (fenmeno que o Espiritismo chama de

    Xenoglossia). J na idade mdia Joana dArc

    um caso assaz conhecido, e no foi o nico. A

    histria da inquisio recheada de casos de

    bruxas que foram queimadas, por conversarem

    com os espritos.

    No sculo XIX, onde de uma maneira

    assombrosa, eclodiram as cincias e filosofias,

    houve tambm um boom de manifestaes

    medinicas. Uma das mais conhecidas e

    divulgadas o caso de Hydesville. Rizzini

    (1978) refere que Andrew Jackson Davis,

    notvel mdium americano, relata que em 31

    .3.1848, acordou sentindo um hlito fresco

    perpassar por seu rosto e uma voz, terna e

    segura dizer-lheIrmo, comeou o bom

    trabalho; contempla a demonstrao viva que

    se inicia. Realmente, enquanto isso as irm

    Fox, de Hydesville, estado de Nova Iorque,

    neste mesmo dia, comearam a perceber

    pancadas em sua modesta casa, de humildes

    granjeiros. Viviam ali, os pais, e as irms Kate,

    11 anos, Margaret , de14anos e Leah,

    professora de piano em Rochester . A casa em

    que moravam era tida como mal assombrada e

    durante todo este ms de maro, a famlia foi

    atormentada por vrios rudos de origem

    desconhecida. Do meio do ms em diante, os

    rudos aumentavam, as camas balanavam,

    mveis eram arrastados. At que em 31 de

    maro de 1848, teve incio a comunicao

    ostensiva e deliberada entre encarnados e

    desencarnados. A menina Kate, aps um rudo

    muito forte, desafia o poder invisvel a repetir

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    os golpes que ela daria com seus dedos. E eles

    foram repetidos sem erro! Estava iniciada a

    comunicao aberta e franca entre os dois

    planos de vida, inicialmente por meio de

    batidas (Tiptologia). E aquele estranho poder

    declara que h cinco anos fora assassinado ali

    mesmo por dinheiro e estava enterrado a trs

    metros de profundidade, sob a adega; seu nome

    era Charles B. Rosma.(O esqueleto humano s

    foi procurado e descoberto em 1904).

    Numerosas pessoas ouviram os barulhos.

    Conan Doyle,(1960) em Histria do

    Espiritismo, relata que Robert Dale Owen,

    embaixador e membro do Congresso dos

    Estados Unidos, entrevistou a famlia Fox

    sobre os acontecimentos referidos, que

    descreve noum livro Regio em Litgio entre

    este Mundo e o Outro.

    Em Paris, principalmente, pois a

    brincadeira ocorria no mundo todo, a sociedade

    se reunia em seres muito frequentados, para

    consultar os espritos. As pessoas colocavam as

    mos, levemente, sobre mesinhas, em geral de

    trip, e a mesa comeava a se movimentar e a

    responder as perguntas feitas, atravs de

    batidas, que obedeciam a um alfabeto

    convencionado.

    Kardec era professor formado na Sua,

    no Instituto de Yverdon, do eminente educador

    revolucionrio Pestalozzi, de quem foi

    assistente.Entre os objetivos buscados na

    educao em Yverdon estavam:

    a liberdade de pensamento; a liberdade

    religiosa e a convivncia com os vrios

    credos;a religiosidade sem dogmas,

    predominantemente moral;a capacidade

    de observao emprica dos fenmenos

    naturais e da sociedade humana; o

    desenvolvimento da linguagem como

    expresso precisa e conectada com a

    realidade;o desabrochar integral das

    potencialidades humanas, resumindo em

    mos (ao concreta, desenvolvimento do

    corpo e dos sentidos) cabea (intelecto ,

    reflexo,conhecimento emprico e terico)

    e corao (sentimento,

    moralidade,religiosidade): a educao

    atravs do dilogo e da ao, da vivncia

    interior e da experincia prtica; a

    educao pelo amor.(INCONTRI, 2004,

    p.25)

    Kardec seguia fielmente estes

    princpios, nas vrias obras didticas que

    publicou em Paris, e nos cursos, muitos

    gratuitos, que oferecia aos jovens. Era cientista

    e estudioso srio, e interessou-se pelo

    fenmeno das mesas que danavam e falavam.

    Pensador profundo e observador atento e

    racional como ele era, no admitia que um

    objeto material tivesse raciocnio para

    responder s perguntas feitas pelos presentes

    nos encontros de salo, que virou modismo na

    poca.

    Nascido em 04-10-1804, tinha

    cinqenta anos,quando comeou suas

    pesquisas, organizando perguntas de fundo

    filosfico, cientfico e religioso e espalhou

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    estas perguntas por mdiuns srios, de vrios

    lugares e pases, obtendo respostas, que depois

    de analisadas, comparadas, foram compiladas

    por ele no Livro dos Espritos, depois de

    constatada a universalidade das respostas, que

    era uma condio de que ele no abria mo.

    Este livro apareceu num momento em

    que o mundo, ps Revoluo Francesa, se

    debatia entre ideias opostas, umas, de puro

    racionalismo e atesmo, inclusive o

    positivismo, negando tudo que no fazia parte

    do mundo visvel, e o espiritualismo,

    representado pelo catolicismo, que j no

    satisfazia as mentes mais inquisidoras da

    poca. A insatisfao e busca de outras

    perspectivas contriburam para a aceitao das

    manifestaes de espritos, abrindo novas

    possibilidades de crena e conduta.

    interessante observar que o Livro dos

    Espritos surgiu em 1857, e ele j fala em

    evoluo dos seres, dois anos antes de Darwin

    publicar a sua monumental obra sobre a

    evoluo. Pode-se dizer mesmo que uma

    antecipao do que ao longo do trabalho

    darwiniano comprovaria em seguida.

    De 1857 a 31.3.1869, (data da morte de

    Kardec) portanto em doze anos apenas ele

    deixa para a humanidade um conjunto de 5

    obras bsicas(chamadas hoje de Pentateuco

    Esprita), que aborda todos os rumos do

    conhecimento humano, cincia , filosofia,

    religio, relaes humanas, noes da vida aps

    a morte; O Livro dos Espritos(1857), O Livro

    dos Mdiuns (1861), O Evangelho Segundo o

    Espiritismo (1864), O Cu e o Inferno (1865),

    A Gnese(1868) Publicou ainda obras menores

    como : O que o Espiritismo, Introduo ao

    Estudo do Espiritismo . Desde 1858 a 1869

    (at a sua morte) publicou, dirigiu e escreveu a

    maior parte da Revista Esprita Jornal de

    Estudos Psicolgicos-que um riqussimo

    manancial de conhecimento da doutrina

    esprita, pois foi, como dizem alguns

    estudiosos, o laboratrio no qual ele trabalhou

    para levantar dados, problemas, situaes,

    notcias, tudo enfim que interessasse ao

    conhecimento desta doutrina. Aps a sua

    morte, foram publicados os livros Obras

    Pstumas e Viagem Esprita de 1862 com

    anotaes e observaes inditas.

    Ele sempre fez questo de afirmar que a

    Doutrina Esprita no criao sua, mas dos

    Espritos que lhes transmitiram as respostas s

    perguntas; da o nome do 1 livro: Dos

    Espritos. Ele afirma que apenas compilou as

    perguntas, ordenou-as pelos assuntos, mas

    todas as respostas, mais precisamente 1019,

    foram todas enunciadas pelos Espritos, bem

    como vrios comentrios de nomes respeitados

    de pessoas que j estavam no mundo espiritual.

    Ele tambm fez alguns comentrios, no sentido

    sempre de esclarecer e aprofundar o

    conhecimento. Ele ainda faz questo de

    esclarecer que a Doutrina Esprita no apenas

    uma religio ou uma cincia ou uma filosofia;

    ela um trip que se apoia nestes trs

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    conhecimentos: a Cincia, a Filosofia e a

    Religio.

    Segundo os Espritos, esta Doutrina a

    Terceira Revelao (ver a Gnese). A primeira

    Revelao, que trouxe ao homem a ideia do

    Deus nico a Lei Mosaica. A segunda

    Revelao, que trouxe a ideia de Deus-Amor

    o Cristianismo, em que Jesus tambm ensinou,

    provando-nos, a sobrevivncia do esprito; e a

    Terceira Revelao, (que no se funda em um

    homem s, Moiss e Jesus,) que traz a

    realidade da comunicao com os espritos, a

    noo da imortalidade da alma, da evoluo do

    esprito, da reencarnao, da pluralidade dos

    mundos habitados e uma viso mais profunda

    da moral de Jesus, que nos deixou o maior

    mandamento: Amar a Deus sobre todas as

    coisas e ao prximo como a si mesmo.

    A realidade da comunicabilidade dos

    espritos vem trazer a certeza de que a vida

    continua; seus relatos da vida de alm tmulo,

    os sofrimentos pelos quais passam, decorrentes

    dos erros que cometeram, e as alegrias de que

    desfrutam, consequncias da sua boa conduta,

    so um motivo vvido e racional que impelem

    as pessoas a ter em uma conduta compatvel

    com o bem. Esta comunicao com o mundo

    espiritual tambm confirma a imortalidade da

    alma; o esprito nunca morre, eterno. Se ele

    eterno e se vive para sempre, depreende-se, por

    um exerccio de lgica, que ele evolui, pois

    nada na natureza esttico: tudo caminha

    sempre para encontrar o melhor.

    E como se faz esta evoluo? Atravs

    da reencarnao, pois diante de toda uma

    eternidade, uma vida muito pouco para

    libertar os homem dos vcios, das imperfeies.

    preciso viver muitas vidas para se conseguir

    crescer como espritos, sendo cada vez pessoas

    melhores.

    E se os espritos no acabam e precisam

    reencarnar para evoluir, claro que s um

    mundo habitado no comportaria toda esta

    populao. Como diz o filsofo Cortella(2012),

    Que uma (espcie de vida) entre trs

    milhes de espcies j classificadas, que

    vive num planetinha que gira em torno de

    uma estrelinha, que uma entre 100

    bilhes de estrelas que compem uma

    galxia, que uma entre 200 bilhes de

    galxias num dos universos possveis e que

    vai desaparecer?(pg 26)

    Assim lgico e racional que se aceitar

    que outros mundos so habitados.

    E finalmente, o coroamento supremo da

    doutrina esprita o Amor, que uma Lei

    natural qual todos devem- se curvar. Deus

    Amor e s se cresce quando o amor brilhar em

    esprito, pois como diz o apstolo Pedro, na sua

    1 Epistola, 4:8 Sobretudo conservem entre

    vocs um grande amor, porque o amor cobre

    uma multido de pecados. E realmente isto

    que a doutrina esprita prega: quando se ama

    verdadeiramente, ter desaparecido nas pessoas

    o orgulho, o egosmo, a inveja, o dio, e todos

    os outros sentimentos negativos que tenha.

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    Assim toda a moral da doutrina

    fundada na do Cristo. uma regra, na doutrina,

    o que at merece um captulo do Evangelho

    Segundo o Espiritismo que FORA DA

    CARIDADE NO H SALVAO.

    Os Espritos ainda disseram que o

    Espiritismo o Consolador prometido por

    Jesus, em JO 14:15-17;26, quando Ele diz :

    Se me amais, guardai os meus

    mandamentos. E eu rogarei ao Pai, e Ele

    vos dar outro consolador, para que fique

    eternamente convosco, o Esprito da

    verdade, a quem o mundo no pode

    receber, porque no o v, nem o conhece,

    mas vs o conhecereis, porque ele ficar

    convosco e estar em vs..... Mas o

    Consolador, que o Esprito Santo, a

    quem o Pai enviar em meu nome, vos

    ensinar todas as coisas e vos far lembrar

    de tudo o que vos tenho dito.

    muito interessante o raciocnio

    lgico que Kardec mostra em A Gnese,(cap

    17,12) ao analisar o Consolador prometido.

    Ao se analisar isto pode-se perguntar:

    qual a doutrina filosfica ou religiosa oferece

    tanto consolo? Qual doutrina acalenta, na hora

    da perda de um ente querido, quando se tem a

    certeza de que ele continua a existir, e pode a

    qualquer momento, com a permisso de Deus,

    vir comunicar-se com os vivos? Qual a

    doutrina que ajuda a suportar a infausta notcia

    de que a prpria pessoa, ou um ente querido

    est condenado por uma doena incurvel? Por

    que a pessoa se aflige pela dor de uma doena

    triste, de um trgico acidente? Ou por que j

    nascem crianas, desde o bero, portando males

    terrveis, ou na extrema misria? O espiritismo

    esclarece que Deus Pai de Amor e Bondade, e

    tambm tem a Justia perfeita. Como poderia

    permitir tanta coisa ruim? Como Ele criou os

    seres humanos sendo simples e ignorantes, mas

    destinados perfeio precisam evoluir atravs

    de vrias existncias, nas quais passam por

    muitas experincias, errando e acertando, at

    conseguirem um equilbrio maior. E, nos erros

    que foram cometendo, muitas vezes,

    prejudicando o outro e a prpria conscincia,

    comeando a despertar para o bem, exige de

    todos a reparao dos erros que foram

    cometidos: assim, passa- se fome para aprender

    a ajudar o que tem fome, passa-se por

    crueldades, para aprender como a crueldade

    ruim, passa- se por doenas tristes, para

    aprender a pacincia, a valorizar a sade, que

    muitas vezes, desperdia-se em vida de

    exageros. Assim, de situao em situao,

    modificando o estado mental e espiritual, os

    homens vo crescendo como espritos, e

    tornando-se criaturas melhores.

    por isso que Kardec afirma que o

    objetivo principal do Espiritismo a melhora

    da sociedade, atravs da melhora de cada um.

    Kardec ainda afirmava que se a cincia

    descobrisse novas coisas, a doutrina

    acompanharia a cincia, porque o

    conhecimento, como os espritos, evolui

    sempre e h que se acompanhar a evoluo.

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    So frases lapidares da Doutrina

    Esprita: Trabalho, Solidariedade, Tolerncia .

    Espritas, Amai-vos e Instrui-vos. Quando

    Kardec faleceu, de um aneurisma, no momento

    da orao fnebre, proferida por Camille

    Flamarion, amigo e seguidor de Kardec, ele

    afirma que :KARDEC ERA O BOM-SENSO

    ENCARNADO (REVISTA ESPIRITA, 1869).

    Kardec foi tambm vtima de

    perseguies de todas as maneiras, por

    catlicos e ateus. A pior delas foi o chamado

    Auto-de-F , em Barcelona. Kardec recebeu

    uma comunicao oficial nestes termos:

    Hoje,9 de outubro de 1861,s 10,30 da

    manh,,na esplanada da cidade de

    Barcelona,lugar onde so executados os

    criminosos condenados ao ltimo suplcio,

    e por ordem do bispo desta cidade foram

    queimados trezentos volumes e brochuras

    sobre o Espiritismo, a saber: (segue-se a

    relao das obras). E continua o relatrio;

    Assistiram ao auto de f: um sacerdote

    com hbitos sacerdotais, com uma cruz

    numa mo e uma tocha em outra, um

    escrivo encarregado de redigir o auto de

    f....trs serventes da alfndega,

    encarregados de alimentar o fogo,um

    agente da alfndega representando o

    proprietrio das obras condenadas pelo

    bispo.

    Uma inumervel multido enchia as

    caladas e cobria a imensa esplanada onde

    se erguia a fogueira.

    Quando o fogo consumiu os trezentos

    volumes ou brochuras Espritas, o

    sacerdote e seus ajudantes se retiraram,

    cobertos pelas vais e maldioes de

    numerosos assistentes que gritavam:

    Abaixo a inquisio.!

    Vrias pessoas, a seguir, aproximaram-se

    da fogueira e recolheram as suas cinzas.

    Uma inumervel multido, enchia as

    caladas e cobria a fragmento do Livro

    dos Espritos, consumido pela metade. Ns

    os conservamos preciosamente, como um

    testemunho autntico desse ato de

    insensatez

    Kardec faz comentrios lcidos a

    respeito, inclusive levantando grave questo do

    direito internacional, j que os livros entraram

    legalmente no pas, passando pela alfndega e

    pagando todas as taxas e impostos.Kardec, ao

    saber da opinio do Bispo, pediu as

    reexportao das obras, o que lhe foi negado. E

    o Bom Senso Encarnado, concluiu os seus

    comentrios, dizendo que este auto -de f fez

    mais pela divulgao do Espiritismo, do que o

    fariam as mesmas obras queimadas, e no

    tomou nenhuma medida judicial contra este ato

    completamente ilegal (Revista Esprita, ano

    1861, ms de novembro,pg 338).

    E ele tinha razo.

    Como no podia deixar de ser, o

    Espiritismo, com tanta perseguio e estas

    idias inovadoras atraiu a ateno de muitas

    personalidades

    Entre os contemporneos e

    continuadores de Kardec, destacam-se as

    figuras de Gabriel Dellane e de Lon Denis,

    filsofo, que escreveu obras primorosas sobre a

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    doutrina esprita, numa linguagem profunda e

    potica. So seus os livros: O problema do Ser,

    do Destino e da Dor; Cristianismo e

    Espiritismo, O Grande Enigma, O Gnio

    Cltico e o Mundo Invisvel; No Invisvel;

    Depois da Morte; Socialismo e Espiritismo, O

    Porqu da Vida, etc (INCONTRI, 2004).

    Defendia o Espiritismo com vigor,

    como o fez, no ltimo Congresso Esprita de

    que participou, 1925, em Paris, quando

    queriam tirar do Espiritismo, a face religiosa,

    ao que ele se ops, com tenacidade, apesar da

    idade avanada e da doena que logo o levaria.

    O famoso escritor Victor Hugo foi

    tambm contemporneo de Kardec e um

    ardente seguidor do Espiritismo.

    Na Europa, Kardec tambm foi alvo de

    muito estudo por eminentes figuras; Ernesto

    Bozzano, filsofo, publicou , na Itlia , A crise

    da morte e Pensamento e Vontade .Csare

    Lombroso, famoso antropologista, ctico a

    princpio, cedeu s verdades da doutrina o ver

    sua me, falecida, completamente materializada

    com a ajuda de famosa mdium italiana,

    Euspia Paladino.

    Nos Estados Unidos, foi publicado um

    livro, Was Abraham Lincoln a spiritualist? de

    Nettie Colburn Maynard, traduzido por

    Wallace L. Rodrigues com o ttulo Sesses

    Espritas na Casa Branca onde se documenta

    que o presidente americano aceitava

    plenamente a comunicao com os espritos e

    fazia sesses na Casa Branca, embora estes

    fatos no fossem revelados pela mdia.

    Na Inglaterra , o mdium Dunglas

    Holmes, tornou-se famoso por levitar diante

    dos assistentes e produzir materializaes de

    espritos e aportes de objetos. O ganhador de

    um Prmio Nobel, William Crookes, membro

    da Academia Real de Cincias da Inglaterra, foi

    incumbido por esta mesma academia de estudar

    os fatos espritas para provar que eles eram

    fraude. Durante quatro anos, juntamente com

    seus assistentes e com o auxlio da mdium

    Florence Cook, de apenas 15 anos, franzina e

    doentia, que se hospedou na casa do cientista,

    j que os trabalhos eram realizados no seu

    laboratrio pessoal,conseguiu a materializao

    do esprito de Katie King,que exibia um belo

    porte fsico. Passeava pela sala apoiada no

    brao de Crookes, conversava com todos, foi

    fotografada 44 vezes, desaparecia vista dos

    assistentes e reaparecia, s vezes, ao lado da

    mdium, materializaes estas durante as quais

    ele pesava a mdium e o esprito, constatando a

    diminuio do peso da mdium, Florence, em

    400 ou 500 gramas, pela doao do seu fluido

    de ectoplasma para haver a materializao,

    enquanto o esprito materializado, pesava 400

    ou 500 gramas, o mesmo peso que faltava

    mdium; suas pulsaes eram aferidas,

    batimentos cardacos, todas as caractersticas

    investigadas, sempre divergiam, na mdium e

    no esprito materializado. Crookes chegou a

    cortar tecido do vestido do esprito, que era

  • ISSN 2177-661X Dorothy Jurers Abib 2011

    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

    Observao o texto foi usado na atualizao do peridico

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    bem mais alto que a mdium, e o tecido

    persistiu, mesmo aps a desmaterializao,

    tendo sido tambm estudado pelo cientista. Ele

    escreveu um livro, detalhando todas as

    experincias, realizadas sob o mais rgido

    controle cientfico, sob o nome de FATOS

    ESPRITAS. Seu relatrio no foi aceito pela

    Real Academia. Outro famoso estudioso, que

    se interessou por estes fenmenos foi o bilogo

    Alfred Russel Wallace,bem como o fsico Sir

    Oliver Lodge, que num discurso em 22.11.1916

    encerra-o com as seguintes palavras: Concluiu

    que a sobrevivncia estava cientificamente

    provada (INCONTRI, 2004).

    Outros nomes de respeito no meio

    cientfico se somam a estes: Crawford (fsico),

    Verley (engenheiro), Barret ( fsico),

    Hislop(lgico e tico) Myers (psiclogo),

    Mapes e Hare (qumicos), Barkas (gelogo,

    Morgan(matemtico), Gibier (microbiologista),

    Flammarion (astrnomo), Zoellner

    (astrnomo), Ochorowicz (psiclogo), Geley

    (Bilogo), Faraday (fsico), Baro de

    Reichenbach (sbio qumico austraco),

    Morselli (neurologista) e Charles Richet

    (mdico e fisiologista). Sobre Richet,

    interessante saber que ele foi o criador da

    METAPSIQUICA , definida por ele, como

    cincia que tem por objeto fenmenos

    mecnicos ou psicolgicos devidos a foras que

    parecem inteligentes ou a poderes

    desconhecidos, latentes na inteligncia humana

    .Contudo, ao final da vida, ele afirma:

    A explicao esprita muito simples.

    Poder-se-ia dizer que ela se impe pela

    simplicidade e mais adiante acrescenta:

    No hesito em afirmar que esta

    explicao a mais simples e todas as

    outras empalidecem ao lado

    dela.(RIZZINI, 1978, p.40 )

    Outro nome que no pode ser esquecido

    o de Albert de Rochas, diretor do Instituto

    Politcnico de Paris, pesquisador que escreveu

    o excelente livro Exteriorizao da

    Sensibilidade, traduzido por Jlio de Abreu

    Filho, e publicado pela editora Edicel.

    No sculo XX, o Espiritismo sofreu

    uma decadncia na Europa e nos Estados

    Unidos. Nos estados Unidos foi completamente

    desvirtuado, mas os mdiuns continuaram a

    agir, mas tambm usando fraude, ganncia,

    cobrando das pessoas crdulas, uma coisa que

    Kardec jamais admitiu, pois dizia que a

    mediunidade um dom gratuito e portanto: dai

    de graa, o que de graa recebeste. Neste

    ordenamento dele est embutido o princpio da

    caridade. Assim, o mdium, que o

    intermedirio entre o plano espiritual e o plano

    fsico, jamais pode usar a mediunidade como

    fonte de sustento ou de enriquecimento.

    Na Europa, a situao assumiu outro

    aspecto; as guerras, as dificuldades extremas

    afastaram as pessoas da doutrina; em alguns

    pases, a ditadura impedia manifestaes

    religiosas, como Salazar, em Portugal, Franco

    na Espanha, Mussolini, Tito, etc. Nestes pases

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    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

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    tem-se notcias, de testemunhos de pessoas que

    a viveram nesta poca, que o espiritismo era

    praticado s escondidas.

    O ESPIRITISMO NO BRASIL

    O Brasil, por razes histricas e

    culturais, recebia da Frana todas as novidades

    que apareciam, mesmo porque os nossos

    intelectuais iam estudar naquele pas, ou

    bebiam o conhecimento atravs de livros

    franceses.

    A moda das mesas girantes e falantes,

    que empolgavam a Amrica do Norte, a Europa

    e parte da sia,entrou no Brasil em meados de

    1853 . Os singulares fenmenos eclodiram

    quase que simultaneamente, na Corte, no Rio

    de Janeiro, no Cear, em Pernambuco e na

    Bahia.Figuras ilustres da ptria, como o

    Marqus de Olinda,os Viscondes de Uberaba e

    de Monte Alegre, o Baro de Cairu (Bento da

    Silva Lisboa), o Conselheiro Barreto Pedroso, o

    monsenhor Joaquim Pinto de Campos, o

    magistrado Dr. Henrique Veloso de Oliveira,

    o historiador Alexandre Jos de Melo Morais, o

    Dr. Sabino Olegrio Ludgero Pinho, o prof,

    Dr..Jos Maurcio Nunes Garcia, os Generais

    Jos Incio de Abreu Lima e Pedro Pinto, etc,

    foram alguns dos homens notveis da poca

    interessados na observao e no estudo dos

    incipientes fenmenos espritas, ento

    complementados por assombrosos diagnsticos

    e curas de doenas que se obtinham por

    intermdio de sonmbulos, e de cuja

    veracidade deram testemunho inmeros outros

    polticos, mdicos e pessoas gradas na

    sociedade, conforme o noticirio publicado nos

    jornais daquele tempo

    (WANTUIL,1981,pg563).

    Mas foram as mesas falantes e girantes,

    em torno das quais se reuniam as senhoras e

    senhores da sociedade, que assim se divertiam,

    que atraiu, como no resto do mundo a ateno..

    O Dr.J.Grasset chama de poca herica das

    mesas girantes, o perodo de gestao do

    espiritismo. Da Corte de 1860, um ilustrado

    francs, o Prof.Casimir Lieutaud, poeta e

    contista, diretor fundador de um Colgio, onde

    lecionava a lngua francesa, autor do

    apreciadssimo Tratado Completo da

    Conjugao dos Verbos Franceses, Regulares

    e Irregulares (1859) dava a pblico a primeira

    obra de carter esprita impressa no Brasil ( e

    qui: na Amrica do Sul) Les temps sont

    arrivs. Seguiu- se a esta , em portugus, a

    brochura de Allan Kardec intitulada O

    espiritismo na sua mais simples expresso

    traduzida do francs por Alexandre Canu. Trs

    edies sucessivas, todas impressas em Paris,

    saram em 1862, o mesmo ano do lanamento

    da 1 edio francesa, fato este que chamou a

    ateno do Codificador. (WANTUIL, 1981,pg

    564)

    Assim, poucos anos aps a publicao

    do Livro dos Espritos, que trazido para o

    Brasil era lido, em francs, por muitos

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    intelectuais da poca. Mentes luminosas como

    Bittencourt Sampaio, Guillon Ribeiro, Bezerra

    de Menezes, Joaquim Carlos Travassos, Luis

    Olmpio Teles de Menezes logo abraaram a

    doutrina esclarecedora, que lhes atendia s

    inquisies mais profundas.

    O Dr. Joaquim Carlos Travassos,

    renomado mdico, filho de portugueses, foi o

    primeiro brasileiro a traduzir, sob o

    pseudnimo de Fortnio, o Livro dos Espritos

    para o portugus, a partir da 20 edio

    francesa, publicado em janeiro de 1875, pela

    primeira editora de obras espritas no Brasil, a

    BL Garnier, fundada em 1844, no Rio de

    Janeiro, por Baptiste-Louis Garnier, um jovem

    empreendedor de 21 anos, recm chegado da

    Frana. O Dr. Travassos traduziu ainda outras

    obras de Kardec e mantinha correspondncia

    em francs, com o Sr. Leymarie, que assumira

    a direo da Revista Esprita

    (WANTUIL,1981,407).

    Na Revista Esprita de 1864,ms de

    Julho, Kardec publica uma crnica extrada do

    Jornal do Comrcio do Rio de Janeiro,

    publicada em 23 de setembro de 1863 e faz o

    seguinte comentrio final:

    Constatamos com satisfao que a ideia

    esprita faz sensveis progressos no Rio de

    Janeiro,, onde conta numerosos

    representantes fervorosos e devotados. A

    pequena brochura O Espiritismo em sua

    expresso mais simples, publicada em

    portugus, no contribuiu pouco para ali

    espalhar os verdadeiros princpios da

    doutrina.(Revista Esprita-1864, 211-212)

    Na Bahia, a figura luminar de Olmpio

    Teles de Menezes fundou o Grupo Familiar do

    Espiritismo., em 17 de setembro de 1865,

    considerado o primeiro e legtimo agrupamento

    de espritas no Brasil, destinado igualmente a

    orientar a propaganda e incentivar a criao de

    outras sociedades semelhantes pelo resto do

    pas. Menezes, ao lado de valorosos

    companheiros j tinha entrado em lutas

    ferrenhas com a Igreja, atravs do Arcebispo,

    que queria impedir as publicaes que ele fazia

    no jornal A poca Literria, fundado por ele.

    Na revista Esprita, de novembro de 1865,

    Kardec expressou, em torno do fato, a justa

    satisfao que lhe ia na alma, projetando-se

    assim, pela primeira vez, no cenrio mundial, o

    nome do Brasil.(WANTUIL, 1981 pg.568).

    Teles de Menezes fundou ainda, o Eco dAlm-

    Tmulo, em 8 de maro de 1869, o primeiro

    jornal esprita que se consagraria s aos

    interesses da doutrina.

    Como se percebe, o Espiritismo, desde

    os primeiros tempos aclimatou-se muito bem

    no Brasil, constituindo hoje o maior

    contingente esprita do mundo e do Brasil que,

    a partir de fins do sculo passado, irradia-se

    pelo mundo do sculo XXI.

    Aqui se encontra uma grande questo:

    por que o Brasil assimilou to bem a doutrina, a

    ponto de hoje contar com 3.800 milhes de

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    espritas, de acordo com o ltimo censo do

    IBGE (2010). Estima-se que este nmero deve

    chegar a 20 milhes, porque muitos, embora

    frequentem os centros espritas, acreditem na

    reencarnao, por tradio, ainda se declaram

    catlicos ou protestantes. Segundo a Federao

    Esprita Brasileira h 14.000 centros espritas

    cadastrados.

    preciso procurar a resposta questo

    acima colocada, na formao do povo

    brasileiro.

    Segundo o socilogo paulista Reginaldo

    Prandi, professor da USP, autor de Os mortos

    e os vivos, da Editora Trs Estrelas:

    Quando o espiritismo se

    constituiu no Rio de Janeiro e na Bahia,

    voc j tem ali as religies afro-brasileiras,

    funcionando a todo o vapor e toda a

    tradio indgena, dos pajs e da pajelana,

    do xamanismo, a idia de que os espritos

    ajudam. De um lado voc tem isto. De

    outro lado tem uma intelectualidade que

    queria se libertar da dominao catlica

    (http://www.iphi.org.br/sites/filosofia_brasil/Darcy_

    Ribeiro_-_O_povo_Brasileiro-

    _a_forma%C3%A7%C3%A3o_e_o_sentido_do_Bras

    il.pdf, Recuperado em abril de 2013.)

    Incontri (1995), considera que um dos

    aspectos do povo brasileiro, que favoreceu o

    desenvolvimento do espiritismo que:

    Somos um povo medinico, naturalmente

    interexistencial, um povo de f talvez

    pelas heranas indgena e africana, talvez

    tambm porque tm se reencarnado aqui

    espritos j com uma sensibilidade flor

    da pele. E isto no se pode atribuir

    ignorncia, falta de escolaridade, como

    poderiam pretender os que so avessos

    idia da espiritualidade. Mesmo entre

    aqueles que se deixaram convencer pelo

    discurso do materialismo nas

    universidades de maior renome, rarssimos

    so os inteiramente refratrios idia

    religiosa.....O antroplogo norte-americano

    David Hess(1991) revela a mesma

    impresso, notando a quantidade de

    intelectuais brasileiros que acabam

    mostrando qualquer inclinao religiosa.

    Diramos que esta predisposio cultural

    ou espiritual do povo brasileiro favorvel

    ao enraizamento cada vez maior do

    espiritismo,, permitindo uma vivncia

    medinica que embase as convices

    filosficas e religiosas. (INCONTRI, 2004,

    pg.124)

    Na obra Religiosidade

    Enfoques diversos de Geraldina P. Witter (org-

    2009), encontra- se vastas informaes de

    como a religiosidade presente na vida das

    pessoas, nas mais variadas situaes, idades,

    apresentando dados de pesquisa nacionais e do

    exterior, algumas indicativas de atuao

    concomitante em amis de uma religio, ou

    mudanas ao longo da vida.

    Darcy Ribeiro, coloca que a grande

    presena no Brasil, de 1851 a 1930, de

    contingentes migratrios, que influenciaram na

    constituio racial e cultural das reas sulinas,

    no teve maior relevncia na fixao das

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    caractersticas da populao brasileira e da sua

    cultura. Quando comeou a chegar a populao

    nacional j era to macia numericamente e to

    definida do ponto de vista tnico, que pde

    iniciar a absoro cultural e racial do imigrante

    sem grandes alteraes do conjunto. O Brasil

    nasce e cresce como um povo novo, afirmando

    cada vez mais essa caracterstica em sua

    configurao histrico-cultural. O assinalvel

    no caso brasileiro que, por um lado, a

    desigualdade social, expressa racialmente na

    estratificao pela posio inferiorizada do

    negro e do mulato e por outro lado, a

    homogeneidade cultural bsica, que transcende

    tanto as singularidades ecolgicas regionais,

    como as marcas decorrentes da variedade de

    matrizes raciais, como as diferenas oriundas

    da provenincia cultural dos distintos

    contingentes. O conjunto, plasmado com tantas

    contribuies essencialmente uno enquanto

    etnia nacional, no deixando lugar a que

    tenses eventuais se organizem em torno de

    unidades regionais, raciais ou culturais opostas.

    Uma mesma cultura a todos engloba e uma

    vigorosa auto definio nacional, cada vez mais

    brasileira, a todos anima (RIBEIRO, pg. 243)

    Socilogos e antroplogos reconhecem

    a capacidade brasileira de convivncia pacfica

    entre diferentes religies, culturas e etnias. O

    Brasil tem, verdade, uma dvida histrica

    para com os indgenas e negros, que passaram

    por processos de escravido, extermnio,

    aculturao, discriminao social etc. Mas

    ainda se comparado com outros pases da

    Europa e das Amricas, no possvel negar

    que o Brasil se mostra mais acolhedor com

    diferentes etnias, mais flexvel na convivncia

    de diferentes religies, mais aberto e

    ecumnico. Esta tendncia histrica do

    brasileiro ser fundamental para a criao de

    uma conscincia religiosa universalista, para a

    qual o espiritismo tem uma grande contribuio

    a dar. ( INCONTRI, 2004, pg 124).

    Estas caractersticas que fazem do

    povo brasileiro, um povo diferente, j mostrava

    seus aspectos definidos, em fins do sculo XIX

    e a pobreza constitua um grande contingente,

    principalmente aps a abolio da escravatura.

    Ex-escravos no tinham como sobreviver,

    viviam pelas ruas , na ociosidade necessitados

    de tudo. (ABIB -2004) . Por outro lado, os

    intelectuais, principalmente mdicos,

    assumindo o Espiritismo, abraavam esta

    pobreza sem recursos, atendendo-os, dando-

    lhes remdios e o Evangelho Segundo o

    Espiritismo, que condena todo e qualquer tipo

    de discriminao. Nas biografias destes

    personagens, encontra- se um Bezerra de

    Menezes que d o seu anel de grau de mdico a

    uma me para que compre os remdios de que

    seu filho precisava, porque ele no tinha, no

    bolso, nenhum dinheiro. E este caso no

    nico. Todos os mdicos que aderiram ao

    Espiritismo atendiam , de graa, a esta pobreza

    abandonada, como se infere das biografias

    destas personalidades.

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    Consequentemente, estes pobres

    buscavam o motivo desta bondade quase

    desconhecida, e o encontravam no Espiritismo,

    que com isso se tem esparramado pelas

    diversas classes sociais, desde os intelectuais

    aos mais miserveis dos cidados.

    Em Mato, avulta a figura de Caibar

    Schutel, farmacutico, que do Rio de Janeiro,

    instalou-se na pequena povoao paulista,

    levando-lhe as bnos de sua bondade.

    Contribuiu de modo positivo para que o

    povoado se elevasse a municpio, tendo sido o

    primeiro presidente de sua Cmara Municipal ,

    cargo equivalente hoje a Prefeito(1889) Era

    respeitado por todos, chegando a comprar com

    seus prprios recursos o prdio para a

    instalao da Cmara Municipal. Leopoldo

    Machado em sua obra Uma Grande Vida

    (1952) afirma que Mato o perdeu, e o poltico

    sem perder o bem feitor e alm disso ganhou

    um apstolos.

    Converteu-se ao Espiritismo e em 15 de

    julho de 1905 fundou o Centro Esprita

    Amantes da Pobreza, atual Centro Esprita O

    Clarim, o primeiro em toda a regio daquela

    zona paulista e em 15 de agosto de 1905,

    fundou o jornal O Clarim, jornal mensal que

    referncia at hoje no meio esprita. Em 15 de

    fevereiro de 1925 lanou a Revista

    Internacional do Espiritismo que est no ano

    LXXXVIII, nmero 3, em abril de 2013 e hoje

    o rgo oficial do Conselho Esprita

    Internacional (CEI), publicada em vrias

    lnguas. Ajudava os pobres, dando-lhes

    remdio de graa, reservava na sua casa local

    para acolher doentes. Recebeu o ttulo de Pai

    da Pobreza, escreveu muitos livros e sustentou

    muitas polmicas religiosas com os padres da

    sua poca.

    Em Sacramento, Minas Gerais, nasceu

    outra figura maravilhosa, Eurpedes Barsanulfo

    em 1880 e a faleceu em 1918. Mdium

    exemplar, produzia curas admirveis e era

    procurado por muitas pessoas, de todas as

    regies. Fundou o Grupo Esprita Esperana e

    Caridade, de que, em 2 de abril de 1907, se

    originou o Colgio Esprita Allan Kardec,

    cuja matrcula chegou a 200 alunos. Milhares

    de pobres e rfos, receberam ali uma educao

    primorosa, gratuitamente. Seu trabalho, na

    educao reconhecido e o primeiro Colgio

    Esprita do Brasil, talvez do mundo, funciona

    at hoje, como exemplo de educao

    diferenada.

    O surgimento do mdium Francisco

    Cndido Xavier outro fator importantssimo

    na doutrina esprita no Brasil. Nascido em

    Pedro Leopoldo, Minas Gerais a 2 de abril de

    1910, faleceu em Uberaba a 30 de junho 2002.

    Estudou at o 4 ano primrio trabalhou durante

    32anos na Escola Modelo do Ministrio da

    Agricultura, em Pedro Leopoldo e em Uberaba

    e sempre viveu do seu salrio. Segundo o Prof

    Rubens Romanelli foi o maior autodidata que

    conheceu.

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    Sua primeira obra psicografada

    Parnaso de Alm Tmulo, escrita por 56 poetas

    desencarnados, brasileiros e portugueses, entre

    1931 e 1932. Esta obra, levada por um amigo

    Federao Esprita Brasileira foi logo publicada

    e gerou exaustivos exames de literatos e

    especialistas e todos confirmaram a temtica, o

    estilo , o vocabulrio etc dos poetas que ali se

    apresentavam.

    Escreveu mais de 400 obras, conhecidas

    no mundo inteiro e muitas traduzidas para

    ingls, francs, esperanto, espanhol, japons,

    alemo russo, tcheco, italiano, grego, hngaro e

    polons, sendo que todos os direitos autorais

    foram doados a instituies de caridade: ele

    no usufruiu de um centavo.

    Cientistas do mundo todo, que

    pesquisam estes fatos, submeteram Chico a

    exaustivos exames, todos confirmaram a sua

    autenticidade. A primeira dissertao de

    mestrado, que tem o Chico por tema a da

    ProfAngela Maria de Oliveira Lignani (2002)

    na Faculdade de Letras da Universidade

    Federal de Minas Gerais (UFMG).

    Hercio Marcos, em sua obra Lealdade,

    Ed. IDE relata que, com base em mensagem

    psicografada de Chico, o MM Juiz da causa

    absolveu o ru, depois que a assinatura da

    mensagem da vtima inocentado o ru, foi

    autenticada por peritos de grafia.

    Os livros de Chico abrangem vrios

    aspectos do conhecimento humano; muitos dele

    explicam coisas, que s recentemente, a cincia

    comprovou. Os livros de cartas de alm-tmulo

    so muito procurados, pois ele consolou

    milhares de pessoas que iam sua procura, em

    busca de notcias de seus queridos

    desencarnados e as cartas recebidas eram

    selecionadas e publicadas.

    Pode- se afirmar , sem medo de erro, que

    a Cultura Esprita no mundo e no Brasil, se

    divide em duas eras: antes e depois de Chico

    Xavier.

    A cultura esprita no Brasil , e quando se

    diz no Brasil, diz-se no mundo, j que o

    espiritismo l fora tmido e importado do

    nosso Pas, tem um cunho mais religioso,

    embora na origem, Kardec fazia questo de

    esclarecer que ela uma doutrina cientfica,

    filosfica e religiosa.

    Como se explica esta questo? Incontri

    (2004) esclarece que o caldo cultural da

    histria brasileira predominantemente

    religioso- leia-se catlico), com pouca tradio

    cientfica e filosfica, porque enquanto as

    universidades, nas Amricas (do norte, do sul e

    central) j existiam desde o sec XIX (Mxico,

    sec XVI e Harvard, nos EUA do sec XVIII,

    no Brasil, s no sec XX elas comearam a

    surgir. E nas universidades que

    tradicionalmente tm-se desenvolvido as

    cincias e tem-se proposto os movimentos das

    idias filosficas. Tambm a instruo popular

    altamente deficiente. Nas duas pontas do

    processo cultural e educativo o Brasil ficou

    margem da histria durante cinco sculos: na

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    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

    Observao o texto foi usado na atualizao do peridico

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    ponta da pesquisa acadmica e na ponta da

    instruo pblica. A primeira desenvolve a

    cincia e a segunda pode fazer o povo crtico e

    consciente politicamente. Pode- se formular a

    hiptese de que o Espiritismo cresceu no

    Brasil, pelas influncias medinicas dos povos

    indgenas e africanos. Mas foi por causa da

    herana catlica e de ausncia de tradio

    cientfico-filosfica e pedaggica, que o

    espiritismo assumiu no Brasil apenas o carter

    de religio, em que pesem alguns expoentes do

    pensamento esprita brasileiro que

    compreenderam o seu verdadeiro carter.

    Atualmente, apesar de tantas

    dificuldades enfrentadas, o espiritismo assume

    um papel na cultura brasileira., exportando o

    espiritismo para o mundo tambm. Graas aos

    livros de Chico Xavier e o incansvel desvelo

    do mdium baiano Divaldo Pereira Franco, que

    transformou o mundo sem fronteiras para a sua

    divulgao do espiritismo, existe hoje o

    Conselho Esprita Internacional, sediado em

    Paris, que promove Congressos Internacionais

    pelo mundo todo, sendo ltimo realizado em

    maro do corrente ano (2013) em Cuba, que se

    diga de passagem o reduto mais antigo do

    Espiritismo na Amrica do Norte. A CEI ainda

    tem um canal de TV no Brasil que transmite ao

    vivo, os congressos e atividades realizados,

    palestras seminrios, permanecendo no ar,

    muitas horas por dia alm de sites de jornais e

    revistas na Internet, blogs etc.

    Em cada estado do Brasil h uma

    Federao Esprita estadual, que congrega os

    centros espritas da regio, promovendo

    congressos, seminrios workshops, semanas

    espritas, Feiras de livros, eventos espritas

    noticiados por jornais de grande circulao, no

    meio interessado. As atividades todas tm,

    como pblico alvo no s os adultos,mas

    crianas e jovens.

    Na parte artstica h corais, teatros,

    peas teatrais e filmes produzidos com a

    temtica esprita, alm de exposio de quadros

    de pinturas medinicas. O mercado editorial

    esprita o que mais livros vende, tanto o

    interesse despertado. A Feira Anual do Livro

    de So Bernardo, neste ano chegou a vender 10

    mil exemplares. Segundo Prandi poucas

    religies tm relao to forte com os livros e

    a leitura.

    Os centros espritas tm muitas

    atividades de assistncia social: creches, lar

    para rfos e idosos, enxoval da me pobre etc.

    Em alguns h cursos de alfabetizao de

    adultos, ensino profissionalizante(em parceria

    com o Senai), etc. Alguns centros tambm

    fundaram hospitais de fogo selvagem ,

    hospitais psiquitricos. Os atendimentos so

    todos gratuitos. Nos casos de hospitais h

    convenio com o SUS.

    A despesa com todas estas atividades

    assumida pelos centros, cuja receita provm

    dos associados (a menor parte) e das atividades

    voluntrias dos seus freqentadores, como

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    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

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    almoos e jantares beneficentes, bazares de

    artesanato, lanchonetes, feiras do livro, livrarias

    fixas nos centros, etc.

    Apesar do carter mais religioso que

    professam, no se comemoram festas

    religiosas, exceto o Natal, em alguns centros.

    Comemora-se em geral, o dia da fundao da

    casa e h comumente a semana esprita, com

    atividades mais culturais, como palestras,

    debates, exposies.

    Existe entre os espritas um lema

    importante: Educar para Evoluir. Ento a

    preocupao com a educao grande, baseado

    na Pedagogia Esprita, da qual o nosso maior

    expoente o filsofo Jos Herculano Pires

    (1985), que tem uma obra exatamente com este

    ttulo: Pedagogia Esprita, da editora Edicel.

    A educao esprita oferecida nos

    centros espritas, acontece em cursos sobre a

    doutrina (iniciativa pioneira da Federao

    Esprita do Estado de S. Paulo, desde a sua

    fundao,nos idos de 1936 ) e de Evangelho,

    em geral com aulas semanais e cursos de

    durao variada. Mas ela se espraia por todas

    as atividades de cada Centro, no hbito da

    disciplina, na vivncia diria dos preceitos e da

    tica esprita, na convivncia harmoniosa e

    pacfica com todos.

    No Paran h uma Universidade

    Esprita, muito procurada. As Faculdades

    Integradas Esprita, orientadas por uma

    filosofia espiritualista, tica e crist, face s

    necessidades da sociedade contempornea, tem

    por misso desenvolver e difundir o

    conhecimento cientfico e cultural,

    promovendo a formao integral de

    profissionais comprometidos com o Ser

    Humano e a Natureza, priorizando os conceitos

    fundamentais da filosofia educacional esprita e

    a fraternidade em todos os nveis de relao.

    No Brasil, crescem ainda as Associaes

    dos vrios profissionais espritas, como a AME

    ( Ass. Mdica Esprita) de cunho mais

    cientfico e que est sendo implantada em

    vrios pases da Europa e nos EUA, a AJE

    (Ass.de Juristas Espritas) e associaes de

    Magistrados, Delegados de Polcia, de

    Psiclogos, de Fonoaudilogos, de

    Fisioterapeutas, de Artistas, etc todas espritas.

    Estas associaes, alm de se dedicarem ao

    estudo e divulgao da doutrina, promovem

    meios especficos de ao, dentro de suas

    especialidades. A jurdica, por exemplo,

    oferece servios de orientao legal aos centros

    espritas, como estatutos e outras, e procura

    tambm trabalhar junto ao legislativo, em leis

    que de alguma forma sejam afetas doutrina. A

    dos psiclogos estuda tambm as

    possibilidades de terapia de vidas passadas. E

    assim, cada uma nas suas especialidades vo

    buscando o lado mais cientfico e filosfico da

    doutrina.

    Enfim, a doutrina esprita levanta o vu

    do conhecimento e descortina para o homem

    uma nova viso do universo e do seu lugar,

    dentro dele, a sua origem e o seu destino, como

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    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

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    ser imortal. O esprita convicto, mesmo diante

    de grandes tropeos, no teme o futuro, pois

    sabe que, pela bondade de Deus, cumprir o

    seu caminho evolutivo, rumo felicidade.

    E como no explica Pires( 1991, p. ):

    Cada ao, cada sentimento, , pensamento

    e anseio das criaturas humanas pesa na

    balana de todos os destinos. E isso se

    comprova diariamente, na vida particular

    e na vida coletiva do homens. No vivemos

    por viver, mas para existir na

    transcendncia

  • ISSN 2177-661X Dorothy Jurers Abib 2011

    Brazilian Cultural Studies v. 2, n. 2, p. 106-124 , Jul/Set. 2011

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