Cultura da honra

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CULTURA DA HONRATraduzido do original em inglês CULTURE OF HONOR

© Copyright 2009 by Danny SilkChara Editora © 2015

Publicado no Brasil por Chara Editora com a devida autorização de DESTINY IMAGE® PUBLISHERS,INC. P.O. Box 310, Shippensburg, PA 17257-0310.

1ª edição em português © 2015 Chara Editora — Abril de 2015. Todos os direitos em língua portuguesareservados.

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Coordenação editorial: JB CarvalhoSupervisão editorial: Lana Lopes

Tradução: Idiomas & Cia/Maria Lucia Godde CortezCopidesque e revisão: Idiomas & Cia/João Guimarães, Edna Guimarães, Ana Lacerda e Daniele Ferreira

Diagramação: Julio Fado

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Dados da Catalogação Internacional na Publicação (CIP)

S584c Silk, Danny

Cultura da honra: vivendo em uma atmosfera sobrenatural/Danny Silk; tradução de Idiomas &Cia/Maria Lucia Godde Cortez.

Brasília: Chara Editora, 2017.

2200Kb, ePub.

Título original: Culture of honor

ISBN: 978-85-61860-11-0

1. Reino de Deus - Fundamentos. 2. Liderança - Aspectos religiosos. 3. Vida cristã. I. Título.

CDD 234.2 CDU 230.112

Elaborada por: Maria Aparecida Costa Duarte CRB/6-1047

Chara EditoraSia Sul trecho 2, Lote 390/400 - Brasília – DF

Contato: (61) 3346-2121www.editorachara.com.br

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DEDICATÓRIA

À Bethel Church: obrigado por seus incansáveis esforços e participação nestegrandioso experimento chamado Bethel.

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AGRADECIMENTOS

Bill Johnson e Kris Vallotton, obrigado por sua liderança corajosa!

Equipe administrativa sênior da Bethel, vocês são os “mestres” que fazemtudo isso funcionar. É uma honra eterna trabalhar ao seu lado.

Allison Armerding, você nunca deixa de maravilhar-me por dedicar sua vidaa honrar os outros. Obrigado por fazer isso por mim!

Dann Farrelly e Andre Van Mol, serei eternamente devedor do dom deanálise crítica de vocês.

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ELOGIOS AO LIVRO

Deus está restaurando na igreja nestes dias a mentalidade do Reino, e aquelesque “a captarem” se moverão sob a ordem bendita do governo de Deus. Estelivro é tanto uma indicação desse processo quanto um esclarecimento da questãoestratégica da honra, pois ela se relaciona com a maneira como os cristãostrabalham juntos na igreja. O capítulo 2, intitulado “O Funil Que Vem do Céu,é uma leitura absolutamente obrigatória para aqueles que não apenas seperguntam por que os cinco ministérios não estão operando como esperávamos,mas para todos os que não levam a sério essa abordagem vital da vida da igreja. Acontribuição de Danny para a igreja do Reino ajudará todos nós a navegarmosjuntos na aventura da vida do Reino.

Jack TaylorPresidente do Dimensions Ministries

Melbourne, Flórida

Neste livro, Cultura da Honra, Danny Silk desenterra os antigos fundamentos doReino de Deus. Com grande sabedoria e percepção, ele examina e explica osblocos de construção fundamentais de uma sociedade sobrenatural e constrói aestrutura de uma vida cristã poderosa. Este é mais que um livro; é um manifestode reforma, destinado a tornar-se um clássico que será uma referência para asfuturas gerações. Cultura da Honra é leitura obrigatória para todo crente sério. Éessencial que este livro seja difundido em todos os seminários do país!

Kris VallottonLíder associado sênior da Bethel Church

Redding, CalifórniaAutor de diversos livros,

inclusive The Supernatural Ways of Royalty eDeveloping a Supernatural Lifestyle

O pastor Danny Silk escreveu um livro maravilhoso compartilhando um dosvalores essenciais da igreja Bethel na Califórnia, que tem sido fundamental para

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o avivamento que a Bethel tem experimentado por alguns anos. Creio que a“cultura da honra”, como Danny a apresenta, pode trazer e manter o avivamentoe a reforma para qualquer pessoa que viva esse princípio bíblico. Recomendoenfaticamente este livro.

Ché AnnPastor sênior e fundador da Harvest Rock Church

Pasadena, Califórnia

Às vezes, leio um livro, outras vezes, tenho a impressão de que éo livro que me lê!Cultura da Honra é um desses livros. Quero viver este livro! A Bethel Churchtem sido como um céu aberto por muitos anos, portanto, sou grato por fazerparte dessa família. O Reino de Deus é um “negócio de família”, e neste livroDanny Silk nos dá o DNA do céu na terra. Cultura da Honra destina-se a ser umclássico que será lido e vivido de geração em geração. Leia o livro, e deixe que olivro leia você!

Dr. Leif HetlandPresidente da Global Mission Awareness

Florence, Alabama

Cultura da Honra é um livro revolucionário que transformará os paradigmas deliderança tão predominantes em toda instituição, inclusive na igreja. Creio queDanny Silk captura a essência da maneira como Jesus liderava Seus discípulos ecomo os discípulos lideravam como apóstolos na igreja primitiva por meio dahonra.Cultura da Honra transformará o seu modo de pensar a respeito da liderança e amaneira como você lidera. Você aprenderá a ser um líder que delega poder pormeio dos valores essenciais práticos do Reino que são ensinados neste livro. Oalcance de sua liderança irá aumentar à medida que você aplicar os princípiosbíblicos da honra.Todo líder deve ler este livro! Todo líder de igreja deve ler este livro! Todomarido e toda esposa devem ler este livro! Todo pai e toda mãe devem ler estelivro! Todos devem ler este livro!E depois, devem lê-lo novamente!

Kevin DedmonAutor de The Ultimate Treasure Hunt: Supernatural Evangelism

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Through Supernatural Encounters e Unlocking Heaven: Keys toLiving Naturally Supernatural

Danny prendeu minha atenção desde o primeiro capítulo, com a impressionantedemonstração de como a queda bombástica e chocante de uma liderança foiredimida por intermédio da aplicação de uma cultura de honra. Tanto na suaplenitude de conteúdo quanto na sua forma incrível de composição, este é omelhor livro de todos os autores da Bethel até o momento. O chamado e odesafio de Danny são para que a igreja viva deliberadamente revestida de poder etransmitindo poder na Nova Aliança, por meio de uma cultura compassiva,segura, libertadora e cujos relacionamentos sejam livres do medo, do legalismo,do controle, da vergonha e do impotente complexo de vítima. De maneira firmee tranquilizadora, Danny explica com clareza a base bíblica, os modelosconceituais e as aplicações bem-sucedidas — no nível da congregação, daliderança, da família e também individual. Este livro é um catalisador para atransformação.

André Van Mol, MD Médico de família

Presbítero da Bethel Church em ReddingVice-presidente do Pray North State

Sou grato por Danny Silk ter nos dado em Cultura da Honra a “receita” decomo éa espinha dorsal de um avivamento de mais de dez anos, que rapidamentetem se transformado em um movimento quejáimpacta as nações do mundo. Emquarenta anos como cristão, nunca testemunhei um “movimento” que tenha sesustentado por mais de dez anos. Isso não aconteceu por falta de dons ou deunção, pois eles estavam presentes em abundância em outros movimentos, maspor falta de entendimento da “cultura da honra” que permite aos líderes e seusseguidores florescerem na atmosfera de revestimento de poder que ela gera.

Andrew SievrightPresidente do Heroes of the Nations

Há muitíssimo tempo a igreja tem necessitado de uma reconstruçãogovernamental. Precisamos não apenas ter as nossas noções do “governo do

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Reino” redefinidas em seu conceito e estrutura, como também precisamos ter anossa definição da linguagem do coração do Reino revista e expressa novamente.É a partir dos nossos corações que falaremos e, portanto, viveremos. Em seu livroCultura da Honra, Danny Silk contribui em muito ao nos dar uma abordageminspirada, informada e criativa para entendermos como deve ser a essência dacultura do Reino. Sua percepção e construção inteligentes irão levá-lo a ter seuspróprios momentos de revelação. “Pessoas livres não podem viver juntas semhonra”, é uma verdade inegociável que necessita ser aplicada. Este livro talvezseja um dos mais significativos já produzidos na Bethel Church. Éuma leituraessencial para aqueles que desejam frutificar no sobrenatural. Essa frutificaçãoserá resultado do contexto da honra.

David CrabtreeLíder sênior da DaySpring Church

Castle Hill, New South Wales, Austrália

Em 2003, quando entrei em contato pela primeira vez com a Bethel Church ecom este avivamento, minha vida e ministério passaram por uma transformaçãotremenda e, às vezes, dolorosa, principalmente porque eu estava profundamenteimerso em religiosidade e legalismo. Ver e experimentar o sobrenaturalrealmente me impressionou e fez com que eu questionasse minhas convicções evalores essenciais. Vi milagres e curas, mas também vi liberdade, amorincondicional, capacitação, aceitação, confronto saudável, e muitos outroselementos de uma “cultura de honra” genuína que não havia feito parte daminha vida. Foi realmente a cultura da honra em cada uma dessas “pessoasestranhas” — como elas me pareceram em princípio — que me impulsionou afazer a escolha de aceitar o avivamento e de submeter-me a essa transformação, ea tudo o que ela significa.Cerca de um ano depois, conheci Danny Silk, a quem considero um dos porta-vozes mais capacitados da cultura da honra desse avivamento impressionante. Elese tornou um dos meus melhores amigos e uma das pessoas mais influentes emminha vida e ministério. Com ele, aprendi o que é a cultura da honra. E tambémaprendi que ter um avivamento sem ela é como derramar vinho novo em odresvelhos.Toda pessoa precisa aprender e abraçar o conteúdo deste livro, seja ela líder ou

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não, seja ela crente ou não. É urgente que cada um de nós esteja sintonizadocom a cultura da honra, enquanto vemos o Céu invadir a terra.

Angel NavaPastor sênior da Seeds of Life Church (Semillas de Vida)

La Paz, México

Este livro pode virar seu mundo de cabeça para baixo e ajudá-lo a expandir oReino de Deus onde quer que você vá. A “cultura da honra” abordada neste livrotem o poder para conduzir você em uma aventura que resultará natransformação de sua vida, de sua igreja e de sua cidade.Ao ler este livro, esteja preparado para ser desafiado a reformular seupensamento, a rever suas ideias e práticas cristãs, “a ser transformado pelarenovação da sua mente”. Ao fazer isso, você estará mais equipado paratransformar a cultura em que vive.

Dr. Pete CarterLíder sênior da North Kent Community Church

Reino Unido

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Talvez os sentimentos contidos nas páginas seguintes não estejam aindasuficientemente em moda para lhes garantir um favor geral; o longo hábito de nãopensar que uma coisa seja errada lhe dá o aspecto superficial de ser certa, e ergue deinício um temível brado em defesa do costume. Mas o tumulto não tarda emarrefecer. O tempo cria mais convertidos do que a razão.

Thomas Paine, Senso ComumFiladélfia, Pensilvânia

14 de fevereiro de 1776

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UPREFÁCIO

ma mulher adúltera foi lançada aos pés de Jesus. Ela sabia que a puniçãopara o seu pecado era o apedrejamento público. O fato de ter sidosurpreendida no próprio ato apenas aumentava a vergonha e

intensificava seu medo de uma morte dolorosa. Seus acusadores se levantaramconfiantes porque a Lei de Deus sustentava a posição deles. Eles seguravam aspedras que em breve tirariam sua vida, enquanto ela esperava pela demonstraçãode indignação por sua total desconsideração ao padrão de santidade de Deus.Então o Mestre começou a escrever na areia.

Não sabemos o que Ele escreveu. Tudo o que sabemos é que a atmosferacriada pelos escritos do “doador da graça” desarmou completamente osacusadores da mulher. Eles fugiram enquanto a graça de Deus expulsava osjulgamentos dos homens tão depressa quanto a luz desaloja as trevas. Essa é asuperioridade da graça.

Ninguém precisou dizer à mulher para colocar sua fé em Cristo. A atmosferacheia de graça fez da fé em Jesus sua reação mais lógica. Talvez seja por isso queo apóstolo Paulo nos ensinou que a fé é “segundo a graça” (Romanos 4:16). Agraça é a atmosfera criada pelo amor que torna a fé a única reação razoável.

Poucas coisas me deixam mais maravilhado do que uma demonstraçãoautêntica da graça de Deus. Toda vez que a presença de Deus permite que umapessoa se torne livre de problemas que duraram toda uma vida, não se podeevitar ficar assombrado com um Salvador tão maravilhoso. Mas a graça vai alémda cura do passado: ela também nos lança em nosso destino divino.

Li este manuscrito com grande alegria. Mas também o li com muitaslágrimas ao relembrar as situações impossíveis que enfrentamos juntos comofamília na igreja. Eram tipos de problemas que só Deus podia curar. E Ele o fez,uma vez após a outra. É essa mesma graça que goteja das páginas deste livro. Nãoé uma nova teologia. É apenas uma manifestação mais clara do plano original —o coração de Deus revelado na pessoa de Jesus Cristo. Mas essa é apenas metadeda história, pois a graça éapenas uma das expressões dessa força revolucionária doReino de Deus manifesto na terra — a cultura da honra.

Quando ensino sobre a cultura da honra, quase todas as pessoas dizem

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Quando ensino sobre a cultura da honra, quase todas as pessoas dizem“amém” para demonstrar que já creem nela e a apoiam. Logo após a mensagem,as pessoas me dizem que também possuem uma cultura de honra. Mas a reaçãoémuito diferente quando elas têm a chance de vir à nossa igreja, a BethelChurch, por uma semana ou duas e observar a interação entre a equipe e afamília da igreja. Invariavelmente, todas elas saem nos pedindo que, por favor,lhes ensinemos a desenvolver a cultura da honra como um modo de vidareformador. Dar honra realmente libera a vida de Deus em uma situação.

Muitas pessoas vivem em atmosferas destituídas de honra e buscamdesesperadamente a nossa ajuda para criarem essa cultura. Pastores costumamnos pedir para ensinarmos suas igrejas e equipes a demonstrarem honra. Anecessidade é real, e o desejo é genuíno. Mas essa cultura nunca é construída emtorno do que “eu necessito”. Ela é construída em torno do que “eu posso dar”. Ese não aprendermos a dar isso àqueles que menos merecem, continuaremos aviver em um ambiente sem honra.

Eu absolutamente amo este livro, Cultura da Honra. Esperei por muitotempo para ver esse modo de vida revolucionário capturado e colocado empalavras. Embora muitos da minha equipe ensinem sobre esse tema, Deus deu aDanny Silk a melhor linguagem para expressá-lo. E os tesouros que ele conquistapara o Mestre por meio de suas percepções maravilhosas estão se tornandolendários. Ao levar a presença de Jesus, que nos dá poder, em tudo o que faz,Danny vive para mostrar o valor de Deus em cada pessoa a quem serve, nãoimporta que posição ela tenha em sua vida.

A igreja precisa de uma reforma radical. Creio que este livro faz parte dareceita de Deus para tratar essa necessidade. À medida que tivermos êxito,estaremos posicionados para ajudar a levar as cidades do nosso mundo àtransformação. E será uma transformação por meio da honra — aquela quetransmite tão lindamente a graça de Deus.

Bill JohnsonPastor sênior da Bethel ChurchRedding, CalifórniaAutor de O Poder Sobrenatural de Uma Mente Transformada eQuando o Céu Invade a Terra

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EPRÓLOGO

ntendo que neste livro desafio o que muitos consideram como verdade,pois reorganizo paradigmas muito antigos. Apesar disso, vejo-meavançando com ousadia em uma trajetória para trazer luz sobre

váriostópicos que hámuito têm sido mantidos em um tipo de trevas pela minhaamada comunidade, a igreja. Por ser o primeiro cristão em minha família,existem muitas tradições culturais que não afetaram diretamente a minha vida oufamília. E também há muitas tradições que ainda não foram firmadas em meucaráter nem fortaleceram meu legado. Infelizmente, considero algumas dessastradições altamente injustas e creio que elas são uma representação negativaDaquele que passei a conhecer como meu Senhor. A “cultura da honra” é umaconcorrente para esses valores essenciais e abordagens muito antigos que se podefacilmente encontrar na cultura da igreja cristã contemporânea.

Não tenho a intenção de desrespeitar ninguém ao apresentar este ponto devista. Ele confronta e redefine o que conhecemos sobre liderança, autoridade edisciplina na igreja, literalmente há séculos. Por favor, saiba que tenhoconsciência de que tudo isso ainda é uma “grande experiência” na Bethel Churche que temos muito a aprender sobre como exercer a mordomia de um ambientede liberdade. Ainda assim, apresentarei o que aprendemos até agora.

Paz!

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NINTRODUÇÃO

estas páginas, você encontrará o que um de meus amigos chama de“receita”. Os ingredientes dessa receita são um conjunto de crenças epráticas. Os passos dessa receita combinam os ingredientes de tal maneira

que eles criam algo poderoso — um ambiente incomum na terra hoje. É umambiente que atrai e abriga a presença de Deus. Nós, da Bethel Church, emRedding, Califórnia, chamamos esse ambiente de a cultura da honra. Isso nãosignifica que é somente a nossa “receita” que cria uma cultura que abriga apresença de Deus, mas podemos dizer-lhe que é algo que funciona.

Quando Deus fala sobre honra pela primeira vez nos Dez Mandamentos, Elepromete que a nossa recompensa por honrarmos nossos pais será uma longavida. Na Bethel Church, cremos que essa ordem revela um princípio de honraem geral. Costumamos dizer: “A vida flui através da honra”.

O princípio da honra especifica que reconhecer com exatidãoquem as pessoas são nos posicionará para dar a elas o que mereceme para receber o presente de quem elas são em nossas vidas.

A honra gera relacionamentos que dão vida e promovem vida. O segredoaqui é “reconhecer com exatidão quem as pessoas são”. Só podemos fazer issoquando reconhecemos as identidades e os papéis que Deus deu a elas. Éisso quevemos na afirmação de Jesus: “Quem recebe um profeta, no caráter de profeta,receberá o galardão de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá ogalardão de justo”.[1]Nomes e títulos são importantes. Mãe, pai, filho, filha,apóstolo, profeta, cristão, ser humano — esses nomes definem o papel e aidentidade de uma pessoa e, quando usados corretamente, estabelecemrelacionamentos designados por Deus onde “recompensas” específicas são dadase recebidas para nos edificar e fortalecer.

Uma cultura de honra é criada na medida em que uma comunidade aprendea discernir e a receber as pessoas em suas identidades dadas por Deus. Ao longodeste livro, exploraremos alguns dos “nomes” que nos permitiram estabelecertipos de relacionamentos muito específicos na comunidade Bethel. São esses

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relacionamentos que atraem e sustentam o derramamento da presença e dopoder de Deus em nosso meio. Os nomes “apóstolo”, “profeta”, “mestre”,“pastor” e “evangelista” e suas respectivas unções, mentalidades e dons distintoscriam uma rede de relacionamentos destinada a trazer o foco e as prioridades doCéu à terra. Nomes como “filhos livres” e “filhos da luz” definem a maneiracomo devemos honrar uns aos outros e nos relacionar uns com os outros,particularmente quando tratamos de áreas de comportamento e relacionamentosque precisam de disciplina e restauração. Nomes descritivos como “realeza”,“riqueza” e “benfeitor” moldam a forma como nos relacionamos com os nossosrecursos e com a comunidade mais ampla que a igreja é chamada a se conectar eabençoar com o amor e o poder do Céu.

Em uma cultura de honra, os líderes lideram com honra, tratandocorajosamente as pessoas de acordo com os nomes que Deus lhesdáe não deacordo com os apelidos que elas recebem de outras pessoas. Eles as tratam comofilhos e filhas livres e não como escravos; como justos, e não como pecadores;como ricos, e não como pobres. Os líderes também reconhecem a independênciadessas pessoas nas diversas unções que Deus distribuiu entre seus líderes e deacordo com o projeto divino para cada uma, como uma equipe que gera um“funil” que desce do Céu à terra. Eles lideram ensinando e pregando umEvangelho que reconhece com exatidão a identidade de Deus como bom, comoamor e como shalom, e procuram por manifestações claras dessas realidadescomo sinais de que a presença de Deus é realmente bem-vinda na cultura. E nasegurança e liberdade que cresce à medida que a Sua presença aumenta, os lídereslideram desenvolvendo formas de ajudar as pessoas a conviverem umas com asoutras em uma cultura livre. Eles têm ferramentas para o confronto que sãocompatíveis com as identidades dadas por Deus às pessoas. Eles são motivadospela paixão por proteger e aumentar as conexões que Deus está construindoentre nós. Finalmente, os líderes em uma cultura de honra lideram o povonaturalmente, estendendo a honra do Reino à comunidade mais ampla e criandoformas para que nossas cidades experimentem a vida que flui entre nós.

A vida flui através da honra. O fruto que se manifesta claramente quando seestabelece uma cultura de honra é que a vida de ressurreição de Deus começa afluir para as vidas, os lares e as comunidades, trazendo cura, restauração, bênção,alegria, esperança e santidade. Se não vemos esse fruto, então precisamos nosperguntar se estamos realmente honrando aqueles que nos cercam como

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devíamos. Como você verá nas páginas seguintes, estou convencido de queexistem alguns padrões de relacionamento na igreja que se baseiam em versõesfalsas de quem as pessoas são, cujo conceito precisamos confrontar e derrubar seesperamos ver a vida abundante crescer em nosso meio.

Minha oração e esperança é que este livro o guie enquanto você busca osingredientes e passos para criar uma cultura ao seu redor que receba a presençade Deus. Não há dúvidas de que este livro é apenas um começo, mas é umgrande começo!

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S

CAPÍTULO 1

UMA CULTURA SOBRENATURAL

“Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito”, diz o Senhor dosExércitos.

Zacarias 4:6

e você já ouviu falar da Bethel Church, em Redding, Califórnia, é provávelque tenha escutado testemunhos dos eventos sobrenaturais que ocorrem aliregularmente, particularmente dos milagres de cura. O que você talvez não

tenha ouvido é que esses acontecimentos sobrenaturais estão diretamenterelacionados à cultura sobrenatural que a comunidade dos santos na Bethel temdesenvolvido há mais de uma década. O coração dessa cultura é a convicção deque Jesus foi o modelo de vida cristã para nós. Jesus explicou que todas as coisassobrenaturais que aconteciam por meio dele fluíam diretamente de Sua relaçãoíntima com Seu Pai, e essa mesma relação foi o que Ele veio nos dar porintermédio de Sua morte e ressurreição. Portanto, manter um estilo de vidasobrenatural, em que os sinais e maravilhas nos seguem, depende totalmente devivermos a nossa verdadeira identidade como filhos e filhas de Deus. Armadoscom essas verdades, os líderes da Bethel entendem que o seu papel principal écapacitar os santos para conhecerem a Deus e para andarem na plenitude dequem o Pai diz que eles são. Àmedida que esses valores foram ensinados edemonstrados, um grupo de pessoas cresceu com fé e coragem para trazer o Céuà terra.

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Para ajudá-lo a entender a cultura de capacitação sobrenatural da Bethel,quero lhe mostrar como ela é. Vou compartilhar algo que aconteceu em nossaEscola de Ministério Sobrenatural há sete anos. A partir desse incidente, centenasde outros como ele foram acrescentados à lista, mas essa história em particular éo caso clássico ao qual nos referimos quando ensinamos nossa equipe a criar umlugar seguro. (Essa expressão será explicada em maiores detalhes no capítulointitulado “A Prioridade Máxima da Liderança”.)

Para definir o cenário dessa história, preciso mencionar que cada membro danossa equipe tem grande alegria em nossos formandos do primeiro ano. Temosmuito orgulho do zelo e do amor deles pelo avivamento. Depois de cada recessode verão, nossa equipe entrevista os formandos que retornam para o segundoano, e isso sempre reacende o entusiasmo deles em passarem outro ano com aspessoas incríveis que chamamos de nossos alunos. Esses alunos do segundo anosão os melhores e se tornamlíderes da nossa nova leva de alunos do primeiro ano.

Houve um ano em que tivemos dois alunos de primeiro ano, pessoasincríveis, que eram líderes de louvor e de outras atividades ministeriais. Depoisde se formarem no primeiro ano, eles decidiram se casar em dezembro, apósfrequentarem o segundo ano. Então, eles se inscreveram no segundo ano e foramaceitos. É claro que foram — eles são incríveis!

Pouco depois do início do segundo ano, Banning Liebscher, pastor dosegundo ano, procurou-me e disse:

— Temos um problema. Tenho dois alunos que me confessaram quefizeram sexo durante o verão.

Perguntei-lhe o que ele iria fazer. Então Banning disse:— Bem, se fazer sexo fosse tudo o que aconteceu, esse não seria um grande

problema. Eles pararam cerca de um mês antes de a escola recomeçar e estãorealmente arrependidos. E eu realmente acreditei naquele cara quando ele medisse isso.

— O que mais está acontecendo? — perguntei.— Acabei de descobrir que ela está grávida — ele disse.Bem, essa era uma situação mais complicada — uma aluna solteira, grávida,

do segundo ano da Escola Bethel de Ministério Sobrenatural, andando peloscorredores. Isso era algo que teríamos de explicar. Percebi certo temor nos olhosde Banning. Ele sabia que teríamos de retirar esses dois alunos da escola. Essa eraa primeira vez que ele, comolíder, tinha de enfrentar um cenário tão extremo.

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Eu disse:— Vamos nos encontrar com eles e conversar sobre isso.Assim, Banning e sua pastora assistente Jill entraram em meu gabinete,

acompanhados dos dois alunos. Ora, eu não os conhecia e eles não meconheciam. Nenhum deles fez contato visual comigo quando entrou no meugabinete. A cabeça deles estava baixa e seus olhos fitavam o chão. Ficou claro queeles estavam absolutamente envergonhados do que haviam feito, e eles entraramesperando que nós os puníssemos pelos seus erros. Eles não apenas acreditavamque mereciam ser julgados pelo pecado que cometeram, como também estavambem conscientes da convicção generalizada de que os líderes da igreja devemproteger o grupo maior dos poucos rebeldes. Eles sabiam que tinham sidorebeldes e que aquela provavelmente seria “a conversa”. O que mais poderíamosfazer senão lhes dizer que os amávamos e lhes mostrar a saída?

Dei início ao processo, dizendo:— Muito obrigado a vocês dois. Vocês não me conhecem nem sabem o que

vai acontecer. Obrigado pela abertura e confiança que vocês acabam dedemonstrar. Não tomamos nenhuma decisão porque realmente não sabemosqual é o problema. Vocês querem tomar um copo d’água? Vocês estão bem?

Depois que responderam, dirigi-me ao rapaz.— Agora, preciso lhe perguntar qual é o problema.Ele olhou para Banning, perplexo, e perguntou:— Banning não lhe contou o que aconteceu? Ele não falou com você?Pude perceber que a pergunta o deixara desconfortável.— Sim, falou. Banning conversou comigo — respondi.Ele perguntou:— Você quer que eu diga?— Se você sabe qual é o problema, eu quero que você me diga — eu disse.

Meu pressentimento era de que ele provavelmente ainda não sabia qual era oproblema.

— Fizemos sexo neste verão — um monte de vezes! — ele exclamou.— Ora, eu pensei que vocês tivessem parado de fazer isso.Ele disse:— Sim, paramos totalmente. Paramos há cerca de um mês antes do início

das aulas.

— Então, qual é o problema? — Perguntei novamente, tentando fazer com

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— Então, qual é o problema? — Perguntei novamente, tentando fazer comque ele buscasse mais profundamente em seu coração qual era o problema.

— Bem, ela está grávida — ele disse, procurando a informação seguinte quetalvez eu não soubesse.

Perguntei:— Bem, há alguma coisa que possamos fazer a respeito?— Não! — Ele respondeu enfaticamente, transmitindo-me a mensagem clara

de que o aborto não era uma opção. Ele estava claramente frustrado com asminhas perguntas. Aparentemente, ele não esperava ter de pensar tanto ao longodesse processo. Ele havia previsto uma punição, mas aquela conversa o estavapegando completamente de surpresa.

— Tudo bem, então qual é o problema? — Perguntei mais uma vez.Ele olhou para mim por alguns instantes, sacudiu a cabeça e disse:— Não creio que eu esteja entendendo a pergunta.Eu ri. Banning e Jill riram. Todos nós rimos. Ninguém parecia saber qual era

o problema, e todos estavam se perguntando onde eu queria chegar com a minhapergunta.

Finalmente eu disse:— Se fôssemos passar o nosso tempo hoje resolvendo um problema, que

problema seria?— Não sei.— Perguntei se ele havia se arrependido.— Sim. É claro que sim — ele respondeu, como se essa não fosse uma

pergunta difícil.— De que você se arrependeu? — Perguntei.Depois de uma longa pausa, ele admitiu:— Não sei.Eu disse:— Tudo bem. Bem, isso é parte do problema, não é? Como você pode se

arrepender de um problema se não sabe que problema é esse?— Estou conseguindo entender o que você está dizendo. Éverdade.— Então, precisamos encontrar um problema aqui para resolver — eu disse.

— É sobre isso que temos de tratar. Deixe-me fazer-lhe mais algumas perguntas.Meu plano era simplesmente fazer perguntas a ele. Eu não iria dizer-lhe o

que eu pensava ou falar-lhe o que pensar. Não estava tentando convencê-lo dosmeus pontos de vista impressionantes ou da minha percepção poderosa. Eu

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estava em busca da glória, da sabedoria e da capacidade daquele jovem. Elaprecisava vir à tona a fim de que ele pudesse se lembrar de quem era nessa casa. Avergonha do seu erro havia feito ele se esquecer de quem era. Ele pensou que erauma dessas pessoas que precisavam ser chutadas e cuspidas, e estava pronto paraque a nossa liderança o expulsasse para o meio da rua. As perguntas oconduziram, com a ajuda do Espírito Santo, a percorrer o seu interior em buscada sabedoria e do conhecimento que havia dentro dele e encontrar uma soluçãoque transformasse sua vida para sempre.

Dei mais algumas ideias para ele.— Diga-me, você sabia que não era uma boa ideia dormir com a sua

namorada?— Eu tinha plena convicção disso.— Bem, então, o que aconteceu?— Não sei — ele abaixou a cabeça, rompendo o contato visual.Dei a ele uma escolha para considerar e uma oportunidade de continuar a

conversa comigo.— Você não sabe, ou não está querendo pensar mais sobre isso?— Bem, provavelmente foi porque nós ficávamos acordados até tarde,

assistindo a filmes na casa dela.— Você acha? — Ergui as sobrancelhas.— Mas eu tentei ir embora. Eu quis sair várias vezes. Eu dizia a ela que não

devíamos estar naquela situação. Não devíamos estar ali fazendo aquilo. Dizia aela que havíamos ido longe demais da última vez, e que não devíamos fazer isso.

Ele olha para ela timidamente, ela está franzindo os lábios e seu rosto estáruborizado, mas o medo do desconhecido e de estar naquela sala a mantém emuma espécie de paralisia verbal.

Ele continua:— Ela ficava muito zangada comigo! Ela me dizia palavras duras e que eu a

estava rejeitando, e as coisas se tornavam um inferno nos dias seguintes. Entãoeu simplesmente não dizia mais nada e ficava ali. Não estou dizendo que eu nãogostei ou que não tive participação nisso. Tive sim, e muito. Simplesmente nãovalia a pena brigar com ela por isso.

— Certo. Então o que você está me dizendo é que você estava maispreocupado com o fato de ela ficar zangada com você do que em fazer o seutrabalho em protegê-la de você.

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— Lentamente, ele respondeu:— Sim.— Então o que você está me dizendo é que quando está com pessoas

zangadas acaba deixando que elas controlem quem você é. É isso que está mefalando?

— Sim — ele disse timidamente.— Então tudo o que é preciso para você abandonar o seu caráter e a sua

integridade é que alguém fique zangado com você.— Sim — ele estava começando a ter uma revelação.Perguntei:— Cara, é este o problema?— Sim.— Assim, se pudéssemos achar uma solução para esse problema, isso faria

com que o nosso tempo hoje valesse alguma coisa para você?— Totalmente.Ele levantou os olhos novamente e fez contato visual, querendo esconder um

sorriso. Eu pude perceber que ele estava inseguro por se sentir melhor quandoaquele deveria ser um processo que o faria sentir-se pior com o que ele haviafeito.

— Fantástico. Então vamos trabalhar nisso — eu disse, com um grandesorriso em meu rosto.

A sala inteira sentiu um ar de esperança. Banning e Jill estavam sorrindo. Eupude sentir a expectativa deles e seu senso de responsabilidade em ajudar aquelejovem a lidar com o problema que ele acabara de identificar. Mas, em vez disso,voltei-me para a garota, que havia assistido a todo o processo com seu namorado.Eu podia ver que ela não queria passar pela mesma coisa. Seus braços e pernasestavam cruzados e seu queixo encostado no peito. Ainda assim, aventurei-me.

— Qual é o problema?— Não sei — ela rebateu depressa, na defensiva.— Você não sabe ou tem medo de pensar sobre isso?— Não sei.Eu disse calmamente:— Posso ver que você está assustada. Não quero que tenha medo. Realmente

quero ajudá-la a descobrir o que está fazendo com que você acrescente tanta dorà sua vida. Você vai me deixar ajudar?

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Para poupar tempo, vou cortar o diálogo e dizer simplesmente quefinalmente chegamos à revelação de que ela não confiava nas pessoas. Essa erauma fortaleza em sua vida, a qual se mostrava em inúmeros comportamentos.Ela lutava contra a desconfiança, e isso impedia que ela permitisse que as pessoasabençoassem a sua vida com palavras. Diversos alunos haviam tentado tratar dasituação deles durante o verão, mas ela não permitia que isso afetasse as suasdecisões. Ela se sentia como se aquelas pessoas estivessem querendo controlá-la, eo seu medo a cegava, impedindo-a de ver o cuidado e a preocupação que sentiampor ela. Esse problema devastara sua vida por muitos anos. Aquela jovem tinhamedo, tinha tendência de isolar-se, muitas vezes era teimosa e se protegia dosoutros. Fui até o fundo do problema com ela por meio do mesmo processo:perguntas. Eu só fazia perguntas — muitas e muitas perguntas, mas as perguntascertas.

Fazer as perguntas corretas da maneira certa é uma das chaves para se criarum lugar seguro. Um confronto bem-sucedido depende do quanto as pessoasque estão sendo confrontadas se sentem seguras. Se ignorarmos a necessidadedelas de um lugar seguro, nós as predispomos a agir como pessoas egoístas, nãoamorosas, que se colocam na defensiva, que colocam a culpa em outros e queestão mais interessadas em salvar a sua própria pele do que em consertar os errosque cometeram. Então perdemos completamente quem elas realmente são e asculpamos por seu comportamento. Um processo que respeita a necessidade deconfiança e honra terá um resultado totalmente diferente, porque permitirá queas pessoas sejam livres — livres do controle, da punição e do medo. É assim queconfrontamos de acordo com o padrão do Reino. (Exploraremos esse processomais plenamente em um capítulo posterior.)

Tínhamos duas pessoas na mesma situação com dois problemas totalmentediferentes. Ele tinha medo que as pessoas ficassem iradas com ele, e ela temia queas pessoas a controlassem. Quando descobrimos esses problemas, eles nãoesperavam mais ser decapitados por eles. Havíamos criado um lugar seguro paraeles serem eles mesmos, as pessoas incríveis que realmente são. Então era hora deajudá-los a consertar seus problemas e libertá-los da vergonha do erro.

Fiz outra pergunta:— Quem é afetado por esses problemas na vida de vocês? É como se vocês

passassem por uma sala com um grande balde de tinta e o deixassem cair. A tintase espalhou por todo o lugar. Quem ficou sujo de tinta?

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Eles começaram a se lembrar das pessoas a quem amavam, das pessoas queainda não sabiam que ela estava grávida. Aqueles que os amavam, queacreditavam neles e que os tinham honrado. Estes eram os relacionamentos queeles queriam proteger: seus pais, irmãos, líderes da Escola de Ministério e líderesem casa. Sua pequena igreja local levantara uma oferta mensal para ajudar apagar a mensalidade escolar do casal. A moça tinha um irmão novo convertidoque a considerava uma pessoa incrível. Aqueles dois representavam Jesus para ele.

Foi como se Banning, Jill e eu pudéssemos ver aqueles dois lembrando todasessas pessoas uma após a outra, e quando elas vinham às suas mentes, elesentendiam o quanto aquela situação iria feri-los. Eles choraram enquantorelacionavam os nomes, finalmente sentindo a dor que aquele problema criaraem suas vidas. Nossa equipe ficou sentada em silêncio, reconhecendo que aquelaera a tristeza segundo Deus de que a Bíblia fala.[1] Ela estava conduzindo aquelesdois ao arrependimento, então precisávamos deixá-la fazer a sua obra e produziro seu fruto.

Eles continuaram a soluçar. Nenhum tipo de ameaça ou punição poderia tercriado o que estava acontecendo dentro deles naquele instante. Era algo lindo, etudo aconteceu de dentro para fora. Ninguém os obrigou a ver nada. Ninguémtentou convencê-los a se arrepender. Tudo isso veio à tona porque confiamosque eles tinham muito amor e respeito dentro deles, e porque fizemos asperguntas certas.

Depois que eles relacionaram as pessoas que seriam mais afetadas com anotícia da gravidez, Banning, Jill e eu mencionamos algumas pessoas que elesnão incluíram, pessoas que eram importantes para nós. Perguntei:

— E quanto ao restante dos alunos do segundo ano? Como eles serãoafetados por isto?

— Esta notícia irá afetá-los totalmente. Eles são nossos colegas de turma —disse ele.

Mas ela retrucou:— Alguns deles se importarão, mas a maioria nem sequer precisa saber disso!— Ah, isto é mais um pouco do mesmo problema? — perguntei a ela.— O quê? — ela perguntou, parecendo não entender.— Esta é mais uma vez em que você acha que precisa defender-se das pessoas

que provavelmente mais se importam com você?— Não sei — disse ela, sabendo que havia sido flagrada.

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— Você não sabe ou você entende o que estou dizendo?— Entendo o que está dizendo — ela admitiu.— Bom. Obrigado por considerar isso. Agora, e quanto aos alunos do

primeiro ano que veem vocês como líderes nesta comunidade? Como eles serãoafetados por este problema? — dirigi-me especificamente a ela com essapergunta.

— O quê? Eles são um monte de estranhos para nós! Por que eles seriamafetados por isto? — Ela bradou, irritada com a minha audácia.

Mas o namorado dela disse:— Você está certo. Devemos ser líderes nesta escola. Eles serão totalmente

afetados por nós e pelo que fizemos.Perguntei a ela o que achava desse ponto de vista. Ela não gostou, mas

concordou que isso poderia afetar alguns deles.— Poderia ou irá afetá-los? — perguntei a ela. Eu estava comprometido em

pressioná-la todas as vezes que aquele problema de confiança e vulnerabilidadetentasse impedi-la de mostrar o melhor de si mesma na situação.

— Irá! — Ela deixou escapar, seguido de um meio sorriso para me agradecerpor não deixar que ela contornasse a situação.

Então perguntei:— O que vocês vão fazer? Vocês criaram um problemão aqui. Sabemos

quem está sujo de tinta. O que vocês vão fazer para limpar isso?Eles percorreram a lista e começaram a propor soluções.— Vamos telefonar para os membros da nossa família e vamos escrever

cartas a essas pessoas. Vamos informá-las do que está acontecendo, arrependidos,e pedir que nos perdoem.

Perguntei a eles:— De quanto tempo vocês precisam?Depois de conversarem entre si, ele disse:— Uma semana. Queremos uma semana para poder entrar em contato com

a nossa família e consertar o problema.— Tudo bem — eu disse. — Vamos esperar e cuidar dos alunos da Escola

de Ministérios envolvidos no problema mais tarde.E assim eles fizeram o que haviam dito. Ao longo da semana, entraram em

contato com os membros de sua família e com os líderes de sua igreja e tambémprocuraram os pastores Bill Johnson e Kris Valloton, além de alguns membros

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da equipe da escola. Aquelas pessoas não estavam mais prestes a ser expulsas daescola. Aquelas não eram mais pessoas que mereciam ser punidas. Eles sedepararam com um rio de reações amorosas e de apoio por parte de quase todasas pessoas que abordaram. Houve algumas reações desfavoráveis, mas aquelecasal recebeu graça mais do que o suficiente.

Veja, a vergonha é removida por meio do amor. A vergonha tenta manter aspessoas presas em seus erros convencendo-as de que não há nada que elas possamfazer, que são impotentes. Quando removemos amorosamente a vergonha desobre eles, aqueles dois se tornaram poderosos novamente, enfrentaram asconsequências e corrigiram seu erro. Tudo o que eles podiam fazer era consertarseu erro. Eles não podiam mudar o passado, mas podiam ir até aqueles a quemamavam e pedir perdão. Ao pedir perdão, eles estavam dizendo: “Por favor,permitam que eu manifeste o meu amor por vocês e proteja este relacionamento.Por favor, deixem-me consertar o meu erro”. O amor lançou fora o medo deles eos tornou poderosos outra vez.

Na semana seguinte, eles voltaram à escola. Banning e Jill encontraram umintervalo no horário das aulas. Banning ligou para o meu escritório e me pediupara ir até o segundo ano e facilitar a “limpeza”. Eu sabia o quanto isso poderiaser difícil para alguns dos alunos. Sabia que alguns deles não conseguiriam lidarcom o que estava prestes a acontecer, por isso me propus a colocar aquelaexperiência em um contexto no qual eles considerassem refletir ao longo dosminutos e meses seguintes. Reuni a turma e disse: “Tudo bem, venham aquitodos vocês. Muitos de vocês talvez nunca tenham vivido o que acontecerá aqui.Antes que digam uma palavra, quero que todos vocês se lembrem de algo muitoimportante. Pode ser tentador julgar estes dois pelo que eles vão contar a vocês.Portanto, por favor, lembrem-se disto: cada um de vocês que está nesta sala, semexceção, é um indivíduo desprezível sem Jesus em sua vida. Por favor, tenhamisso em mente enquanto ouvem o que eles têm a compartilhar com vocês. Se umde vocês fizer algum julgamento a respeito deles, quero que venham e conversemcomigo pessoalmente, antes que eu ouça isso de outra pessoa com quem vocêsconversarem”.

Então fiz sinal para que o casal viesse à frente. O jovem começou dizendo:“Quero pedir perdão a esta turma porque sei que somos parte de vocês e quevocês são parte de nós. Durante o verão acabamos fazendo o que não devíamos, eagora vamos ter um bebê”.

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Fiquei chocado com a humildade e a vulnerabilidade dele. Ele estavarealmente se arrependendo diante daquele grupo de colegas. Ele continuoudizendo: “Descobri um problema em minha vida que eu não sabia que tinha. Eletem causado muitos problemas para mim. Estou trabalhando nisso. Agora tenhomais esperança do que jamais tive em resolver esse problema. Mas é assim que ascoisas estão, é isto que está acontecendo”. Ele explicou tudo que acontecera. Elaficou em pé ao lado dele, humilde e aberta, e depois que ele terminou, ela fez omesmo.

Convidei um dos alunos, Brandon, que exercia um papel paternal na turma,para vir orar por eles, perdoá-los e restaurá-los a um padrão celestial derelacionamento com o restante da turma. Quando ele se levantou, 47 outrosalunos — toda a turma — se levantaram com ele e cercaram aqueles dois,apoiando-os. Alguns começaram a chorar. Brandon fez orações de perdão eamor. Ele os recebeu de volta à comunhão com a comunidade da turma. Outrapessoa disse a eles o quanto eles os amavam, e agradeceram a eles por não saíremda escola. Outro aluno agradeceu a eles por confiarem na turma abrindo suasvidas.

Então os alunos profetizaram sobre eles e sobre o bebê. Eles aceitaram o bebêna comunidade. Toda a turma chorou em conjunto. Foi realmente ummomento impressionante. Fiquei perplexo com a reação, mas ao mesmo tempoeu sabia que aquelas pessoas e todos eles eram impressionantes!

A turma se sentiu muito mais leve enquanto as pessoas se abraçavam esorriam em meio aos rostos cobertos de lágrimas. Então alguém do primeiro anoentrou e disse:

— Ei! O primeiro ano também precisa fazer isso.— Vocês querem fazer isso agora? — perguntei.Eles disseram:— Podemos sim.— Tudo bem, vamos lá.Eu fui na frente. Quando os dois se dirigiram para a sala do primeiro ano, os

47 alunos do segundo ano os seguiram. Os alunos do primeiro ano não puderamevitar a consciência de uma tremenda presença entrando em sua sala de aula. Acomitiva de 47 alunos enfileirou-se ao longo das paredes da sala como umexército de anjos da guarda enquanto aquele casal se colocava em pé diante de100 estranhos e se arrependia.

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Pedi a Kevin Drury, um pastor que havia tirado um ano de licença doministério para vir para a BSSM (Escola Bethel de Ministério Sobrenatural), paraorar por eles, abençoá-los e perdoá-los. Quando ele se levantou, os 100 alunosdo primeiro ano se levantaram e se reuniram ao redor do casal para orar eabençoá-los. Kevin começou a orar e a profetizar sobre eles, quebrando amaldição da vergonha e da ilegitimidade sobre aquele bebê e cortando o acessolegal do inimigo para destruir aquela criança por meio da vergonha. Foi umtempo poderoso de amor e reconciliação.

Cem estranhos abraçaram e amaram aquele casal naquele dia. Eles haviamfeito tudo o que podiam para reparar o seu erro e seguiram em frente comoalguns dos principais exemplos entre os nossos alunos do segundo ano durante orestante do ano.

Eles se casaram meses depois, e pouco depois trouxeram a sua filha aomundo. Mas desde o dia em que a menina nasceu, ela lutou por sua vida. Haviaalgo errado com seu sangue, e ela morria dia a dia. Sua luz estava se apagando.Eles estavam morando em um hospital para crianças com necessidades especiaisna Carolina do Norte, de onde nos enviavam notícias de que o bebê estavamorrendo. Onde quer que estivéssemos quando esses relatórios chegavam,inclusive nos cultos de nossa igreja e nas reuniões de equipe, nós orávamos. Maso estado dela continuou a piorar por semanas.

Havia um tom de desespero no último telefonema que recebemos daquelamãe de primeira viagem. “Ela vai morrer. Os médicos disseram que ela não vaipassar desta noite. Por favor, orem!” Depois desse telefonema, lembrei-meespecificamente da oração de Kevin e fiz menção a ela. Lembrei-me de que nãohavia vergonha sobre aquela criança. Lembrei-me de que o inimigo não tinhadireito sobre aquele bebê. Lembrei à nossa equipe o processo de restauração peloqual eles passaram. Nossa equipe orou durante a nossa reunião e declarou que aoração de Kevin cancelou a vergonha. A morte e a destruição não tinhamjurisdição sobre a vida daquela criança.

No dia seguinte, recebemos uma ligação.“Os médicos não sabem o que aconteceu, mas eles estão chamando o nosso

bebê de ‘o bebê Lázaro’”, disse uma mãe muito entusiasmada. Até o dia de hoje,a garotinha deles está viva e bem. Ela é forte, linda e cheia de vida.

No ano seguinte, aquela mesma jovem mãe foi uma das palestrantes em umareunião do terceiro ano. Ela se levantou e, em meio a lágrimas, disse: “Quero

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apenas agradecer aos líderes desta casa. Vocês transmitem a força e a vida destacultura a todos os que entram nela. Vocês edificam a força nas outras pessoas.Vocês nos deram uma herança. Nunca mais seremos os mesmos por vocês teremlidado com a nossa situação da maneira que o fizeram. Vocês jamais saberão aprofundidade que isso nos afetou. Vocês nos deram vida em uma situação quepoderia facilmente ter nos tirado dos trilhos por muitos anos. Vocês nos deramum relacionamento pelo qual estamos dispostos a morrer. Obrigada!”

A recuperação milagrosa daquela criança não pode ser chamada de outracoisa senão de sobrenatural. Mas o ambiente no qual ela ocorreu é o quesimplesmente chamamos “Bethel”. Como mencionei, este está se tornando umlugar conhecido por seus muitos testemunhos milagrosos. Mas são as históriasdas pessoas que compõem essa cultura milagrosa que ilustram o estilo de vida eos relacionamentos que realmente criam um ambiente que atrai o Céu à terra.Este livro trata da nossa cultura. Sem entender os valores essenciais que nosconduzem, você não entenderá o fruto que estamos colhendo.

No coração dessa cultura está o valor da liberdade. Não permitimos que aspessoas usem essa liberdade para gerar caos. Temos limites, mas usamos esseslimites a fim de abrir espaço para um nível de expressão pessoal que traga àsuperfície o que realmente existe dentro das pessoas. Quando são dadas escolhasàs pessoas, isso revela o nível de liberdade com o qual elas estão preparadas paralidar. Quando as pessoas descobrem a sua verdadeira capacidade de domíniopróprio e de responsabilidade, então elas têm a revelação e a oportunidade queprecisam para crescer rumo à liberdade que Deus deseja para cada um de Seusfilhos e filhas.

Porém, antes de começarmos a explorar os valores essenciais da culturaBethel, sinto que é importante compartilhar com você nossa estrutura deliderança. Nossa liderança é responsável por capacitar e equipar os santos com arevelação e a transferência de unção que eles necessitam para exercer sualiberdade em um lugar seguro, mas creio que temos tido êxito nisso porquenossos líderes estão alinhados com a unção apostólica e profética. Explicarei essestermos e como eles funcionam no capítulo seguinte.

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C

CAPÍTULO 2

O FUNIL QUE VEM DO CÉU

Não há nada como voltar a um lugar que permanece imutável para descobrircomo você mesmo foi transformado.

(Nelson Mandela, estadista da África do Sul)

reio que um dos principais fatores que mantiveram a Bethel Church emum estado de preparação e mordomia para o derramamento do Espírito éo “odre” da liderança da igreja, que foi estabelecida com um fundamento

apostólico e profético e como uma expressão da graça de cada um dos demais cincoministérios descritos em Efésios 4:11 — pastor, mestre e evangelista. Acredito queisso é verdade porque eu, como membro dessa equipe, vi em primeira mão comoessas diversas unções tratam de uma parte essencial da identidade e propósito daigreja por meio de suas áreas específicas de foco e motivação. Sem uma expressãocompleta e madura dessas graças que equipam os santos, o povo de Deus nãopode ser preparado adequadamente para receber o que Deus está derramando eliberar isso para o mundo que o cerca.

Estou convencido de que um dos motivos pelos quais os principais líderes daigreja passam pelo ciclo desalentador de ver os grandes derramamentosgradualmente voltarem à rotina normal é a falta de entendimento acerca doscinco ministérios, bem como de sua própria unção e chamado ministerial — ede como essa unção se molda à direção de sua igreja. Espero neste capítulo e aolongo deste livro estabelecer um fundamento para a compreensão desses papéis e

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unções, a fim de que os líderes possam começar a ter acesso à graça que Deusdepositou neles e a administrá-la.

Antes de fazer isso, para que você não pense que todos os líderes da Bethel jánasceram sabendo que foram chamados para o ministério e exatamente comoDeus os ungiu, quero contar a história do meu próprio chamado pastoral.

Minha história como líder da igreja teve início em março de 1995. Naquelaépoca, eu estava trabalhando em um orfanato chamado Remi Vista, em Mt.Shasta, na Califórnia. Eu havia acabado de concluir oito anos de faculdade eestava completando o meu Mestrado em Serviço Social na Universidade UC-Sacramento. Minha esposa Sheri, nossos filhos Brittney, Levi e Taylor e eufinalmente estávamos prontos para seguir a minha carreira em terapia de casais ede família. Ao longo daquela jornada extremamente estressante de oito anos,Sheri tinha o hábito de brincar: “Mostre-me o dinheiro!” Estávamos prontospara começar a receber algum tipo de pagamento.

Em um fim de semana de março, fizemos nossa viagem anual de duas horaspelas estradas montanhosas rumo ao lar: a Mountain Chapel em Weaverville,Califórnia. Sheri e eu crescemos nessa pequena comunidade e frequentamos amesma escola juntos ali. Tínhamos muitas lembranças daquela pequena cidadeda época que ainda “não éramos cristãos”. E ambos havíamos aceitado o Senhorno ministério de Bill Johnson em Mountain Chapel, um no mês seguinte aooutro.

Participar dos cultos na igreja em Weaverville era sempre muito agradávelpara nós. Essa viagem específica, como todas elas, foi marcada por uma grandecomunhão. Aproveitamos para saber as novidades da vida de muitos amigos ecompartilhamos com eles todos os acontecimentos atuais da nossa própria jovemfamília. Após o culto naquele domingo, Kris Vallotton convidou Sheri e eu paraalmoçarmos porque ele tinha uma “proposta” para nós. Estávamos animadosapenas em fazer contato com mais um amigo querido, mas também com certezacuriosos para descobrir a respeito dessa nova ideia que Kris tinha na manga eque, como ele nos deu a dica, poderia transformar totalmente as nossas vidas.

Depois de um pouco de conversa corriqueira, ele nos perguntou se sabíamosque Bob Johnson, irmão de Bill, estava deixando a Mountain Chapel paracomeçar uma nova obra em Redding. Não sabíamos disso. Então ele prosseguiu,nos informando que ele tinha permissão de Bill e da direção da igreja para nosperguntar se consideraríamos a possibilidade de substituir Bob como o novo

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pastor associado abaixo de Bill. Minhas mãos e meu nariz começaram a ficarfrios. Eu podia ver a boca de Kris se mexer, mas não conseguia ouvir o que eleestava dizendo. Fiquei em choque. Dissemos-lhe que precisaríamos de algumtempo para pensar.

Lembro-me de ficar deitado naquela noite ao lado de Sheri no escuro total.Estávamos em silêncio, o que era raro, já que Sheri, um processador verbal deúltima geração, ainda estava acordada. Finalmente, em meio ao silêncio e àescuridão, ela perguntou:

— Você está pensando no que eu estou pensando?— Sim — eu disse, e começamos a rir nervosamente. Não podíamos

acreditar no que estava acontecendo.Alguns meses depois, mudamos com a nossa família para Weaverville, para

que as crianças pudessem começar a escola em setembro. Continuei a trabalharem Mt. Shasta e dirigia para casa nos finais de semana. Em novembro, iniciei nomeu novo cargo na equipe em Mount Chapel. Mas entre esses dois eventos, algointeressante aconteceu.

Em um domingo de setembro, Bill e Beni Johnson nos chamaram aogabinete de Bill para conversar. Imaginamos que haveria muitas dessas“pequenas conversas” para nos ajudar a nos orientar, para nos manterinformados a respeito da nossa nova posição e para nos explicar as coisas,considerando que estávamos chegando ali completamente novos e semtreinamento para o ministério. Porém, estávamos enganados.

Observamos que Bill e Beni pareciam estar rindo nervosamente quandocomeçamos a reunião. Beni começou a conversa nos dizendo o quanto estavamfelizes por estarmos ali. Ela disse que eles nunca haviam sentido a paz que agorasentiam e que estavam muito confortados com a nossa presença na equipe. Ela eBill falaram acerca de nossos dons pastorais e disseram que as pessoas seriamamadas e bem cuidadas sob a nossa liderança. Senti algo se mover dentro demim enquanto eles continuavam falando, mas não era orgulho ou uma grandesatisfação. Era medo. Quanto mais eles falavam conosco, mais eu sentia essasensação aumentar. A bomba finalmente caiu quando Beni disse:

— Temos sentido que o Senhor vai nos mudar daqui. Temos sentido isso hámuitos anos, mas até agora nunca conseguimos nos sentir bem quanto a quemconfiaríamos para liderar a igreja. Bem, agora que vocês estão aqui, nós nossentimos muito aliviados.

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Eu podia sentir o sangue se esvair do meu rosto, ficando lívido. Parecia queeu iria desmaiar. Será que eu havia acabado de ouvir o que pensava que tinhaouvido? Meus pensamentos corriam na minha mente. Você acha que voltei aquipara arruinar a igreja que amo, o lar onde fui salvo? Você tem ideia do que seriapastorear esta igreja de radicais na pequena cidade onde você cresceu como umincrédulo? Você está brincando?!

Bill e Beni estavam rindo. Estou certo de que o meu rosto estava congeladode choque e terror, apesar dos meus maiores esforços para esconder o que sentia.De repente, tive um pensamento claro. Qual era o prazo que eles tinham emmente para essa mudança?, perguntei.

— Vocês estão falando em se mudar daqui a cinco anos? Três anos?Beni respondeu:— Fevereiro. Achamos que sairemos em fevereiro. Não temos ideia do

motivo, mas esse é o mês que sempre nos vem à mente.— Fevereiro do ano 2000? — sussurrei.— Não — ela riu. — Fevereiro, daqui a seis meses. 1996.Àquela altura, pensei que com certeza iria desmaiar ou vomitar.Essa foi a última “pequena conversa” a respeito de nossa subida a bordo do

navio. E como haviam dito, seis meses depois eles partiram. A Bethel Churchentrevistara Bill em dezembro daquele ano, 1995, oferecendo-lhe uma posiçãocomo pastor sênior. Ele informou a eles que precisava “treinar” um novo pastorem Mountain Chapel e que necessitaria de algum tempo. “Fevereiro”, ele disse aeles, “será a data mais próxima que poderei vir para Bethel”. De uma hora para aoutra, estávamos passando para o papel de liderança como pastores. Suponhoque podíamos ter dito não, mas sabíamos que o Senhor tinha um plano.

Depois da nossa reunião com Bill e Beni naquela manhã de setembro,porém, fiquei furioso. Eu estava totalmente furioso, principalmente porqueestava muito assustado. Eu pensara que iríamos para Weaverville aprender com o“Pastor Mestre”. Essa esperança havia sido desfeita em alguns instantes e, derepente, se transformara em uma... promoção inesperada e aterrorizante.Esforcei-me para dominar meus medos dizendo a mim mesmo: Talvez Deusesteja nisto. Talvez Ele vá ficar aqui, mesmo que Bill saia. Talvez isto acabe bem.Talvez Ele fique comigo. Talvez seja isto que Ele estava tentando me dizer há trezeanos.

Treze anos antes, eu tinha 21 anos de idade e havia acabado de entregar meu

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Treze anos antes, eu tinha 21 anos de idade e havia acabado de entregar meucoração ao Senhor. Comecei ajudando Kris Vallotton, que já era líder na igrejaem Mountain Chapel, com o grupo jovem do colegial. Certo dia, Kris profetizouisto para mim: “Um dia você pastoreará aqui em Weaverville”. Eu mal podiaimaginar algo assim naquela época, mas fiz o meu melhor para fazer a palavra secumprir procurando um seminário pelo qual eu pudesse pagar. Depois de algumtempo de esforço infrutífero, porém, desisti. Dois anos depois, esqueci-metotalmente daquela palavra — até que ela reascendeu novamente em minhamente no início do processo de retorno a Weaverville. Com o tempo, essapalavra se tornou a arma com a qual combati meus temores e inadequações.

Lembrar que “Ele está comigo” mudou a minha maneira de encarar tudoaquilo. Depois de perdoar Bill por me atrair para uma situação da qual eu nãopodia fugir, comecei a ver o que ele viu em mim — uma unção pastoral. Eu nãoa chamava assim, mas comecei a reconhecer que a paz e o conforto que ele eBeni mencionaram na nossa “pequena conversa” naquele dia realmente vinhamdessa unção que eles podiam ver em nossas vidas. Eles sabiam que os nossoscorações estariam focados nas pessoas. Nós garantiríamos que o rebanho deles, aspessoas em quem eles investiram dezessete anos de suas vidas, receberia o melhorde nós.

Felizmente, eles estavam certos. Como pastor, passei a ensinar e a pregar combase no meu histórico em aconselhamento. Comecei construindo nos corações ena mente do povo a verdadeira identidade como filhos muito amados de Deus.Minha agenda estava cheia de compromissos para me encontrar com pessoas.Casais, famílias, pais, homens e mulheres iam continuamente ao meu gabinetepara serem curados e fortalecidos. Nossa equipe de liderança deu início a umasérie chamada “A Busca pela Liberdade”, começando uma jornada para curar asferidas e as mentiras do passado de seus membros. Um dos nossos presbíterosteve uma transformação radical durante esse período, que levou toda a nossaigreja a outro nível de cura, libertação e comunhão.

O tipo de crescimento que acabo de descrever é a paixão da unção pastoral. Opastor precisa saber que as pessoas estão saudáveis e fortes. Ele ou ela sabe que oEvangelho adquire vida à medida que os santos aplicam e manifestam overdadeiro amor e liberdade em suas vidas. Essa unção permite que Deus cultiveo Seu coração no Seu povo. O Bom Pastor entra em ação por meio da unção dospastores.

Bill e Beni sabiam que sua igreja vivia há anos sem uma forte unção pastoral.

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Bill e Beni sabiam que sua igreja vivia há anos sem uma forte unção pastoral.A unção apostólica de Bill havia se tornado mais forte ao longo da décadaanterior, e o seu foco estava cada vez mais concentrado nas preocupações do Céudo que nas preocupações humanas. Seu pastor associado e irmão, Bob Johnson,carregava uma forte unção evangelística, por isso seu foco eram os perdidos. E ooutro líder com uma forte unção na igreja era um profeta, Kris Vallotton. Cadauma dessas unções desvia a atenção e a prioridade dos santos e a coloca sobreoutra área, como explicarei em maiores detalhes em um instante.

Entrar nesse “vácuo” pastoral foi um pouco impetuoso. Por eu não estarsubstituindo o apóstolo, mas trazendo uma nova perspectiva que atendia anecessidades diferentes, foi fácil para a igreja me valorizar e me receber comolíder. Lembro-me de Bill me dizendo que a transição da liderança erasobrenatural, descrevendo-a como algo que acontecia com uma “suavidadeassustadora”. Ele estava certo. A Mountain Chapel estava pronta para o que aunção pastoral traria. Nós dois esperávamos ter muito mais adversidades aenfrentar com sua saída, depois de seus dezessete anos como líder sênior. Masnão houve nenhuma. Essa foi a minha primeira lição acerca da compreensão danatureza e da importância de cada membro dos cinco ministérios. Desde então,o Senhor apenas continuou a construir sobre esse importante entendimento.

As Cinco Unções

Creio que posso apresentar melhor os atributos das cinco unções descrevendo oque poderia acontecer se todas elas chegassem juntas à cena de um acidente deautomóvel:

O pastor é o primeiro a sair do carro. Ele vasculha o local paraavaliar a situação e começa a fazer uma triagem com a intençãode aplicar os primeiros socorros às vítimas feridas. Ele recolhecobertores, casacos, água e qualquer coisa que possa encontrarpara dar conforto a elas. Ele avalia a situação para ver sealguma coisa representa uma ameaça à segurança tantodaqueles que estão recebendo cuidados quanto daqueles queforam atraídos à cena do acidente. Ele conversa com cadapessoa para descobrir seu nome, seu estado civil e se ele ou elatem filhos. Reúne informações dos sinais vitais e qualquer

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informação de contato de emergência disponível a fim deajudar a equipe de emergência quando ela chegar. Ele traz umasensação de calma à situação, e cada pessoa ali tem umsentimento genuíno de cuidado e conexão com o pastor. Ele sepergunta se não deveria ter sido médico.

O mestre é o próximo a entrar em cena. Ele estuda a situação afim de entender o que causou o acidente. Ele recua, observa ospadrões das marcas de pneus e a distância que cada carroavançou antes e depois do impacto, avaliando a velocidade decada veículo no ponto de impacto. Com base no seu profundoconhecimento do manual do motorista e das leis de trânsito,ele desenvolve uma teoria sobre quem foi o culpado. Suaconclusão é a de que, acima de tudo, os motoristas precisam demais treinamento e muito provavelmente teriam grandesbenefícios se fizessem aulas obrigatórias e cumprissemexigências contínuas de atualização.

O evangelista chega à cena e pergunta a todos os que estãodeitados seguros, em um lugar confortável (graças ao pastor):“Se você morresse em resultado das suas lesões, sabe para ondeiria — o céu ou o inferno?” Então ele observa que há umgrande aglomerado de espectadores e de pessoas em seus carrosque estacionaram para observar. Ele começa a se dirigir àmultidão com a mesma pergunta. “Não há garantia de quevocês chegarão em casa em segurança. Vocês sabem para ondeiriam?” As pessoas entregam seus corações ao Senhor bem ali,ao lado da estrada. Ele explica a todos esses novos crentes que omaior presente que se pode dar a outra pessoa é o presente dasalvação. Ele as treina para levar outros a Cristo e ora para queo batismo no Espírito Santo venha sobre todas elas. Depois elediz: “Uau, isso foi tremendo!” e decide que irá comprar umrádio de polícia quando voltar à cidade.

O profeta sabia que isso iria acontecer porque teve um sonhocom aquela cena na noite anterior. Pelo fato de que todos osenvolvidos no sonho sobreviveram ao acidente, ele repreende o

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espírito de morte e declara com grande fé e unção que todosviverão e ninguém morrerá. Ele também proclama que háanjos cercando a cena do acidente e ora para que os olhos docoração de todas as pessoas sejam abertos para ver no Espírito.Então ele anda pelo local e começa a invocar o destino de vidasobre diversas pessoas. Ele libera o espírito de revelação dentrodo grupo. E finalmente, e muito naturalmente, ele começa aperguntar em volta para descobrir quem está no comando dacena. Quando ele descobre quem está no comando, elediscerne se aquele é o líder escolhido por Deus ou não. Ou sedescobre que ninguém está no comando, ele indica um líder.

O apóstolo ora pelos feridos. Ele convida o toque sobrenaturalde cura de Deus a entrar em cena. Ele começa a contartestemunhos de quando esteve no cenário de acidentes deautomóveis e testemunhou o poder de Deus se manifestarnessas situações. O nível de fé das pessoas começa a aumentar.Então ele pergunta se alguém sente calor em suas mãos. Eleconvida os que levantaram as mãos a orar pelos outros, a fimde que eles sejam curados. Ele demonstra a todos que estãopróximos que o Reino do céu está às portas. Então ele abreuma escola para “aqueles que chegam às cenas de acidentes decarro” e os envia por todo o mundo para fazerem sinais emaravilhas.

Espero que essa ilustração ajude você a entender a realidade de que cada unção étambém uma mentalidade. Cada unção determina como uma pessoa perceberá asdiferentes circunstâncias e situações, e como ela agirá em resultado disso,propondo distintas soluções aplicáveis para cada situação. Nenhuma unção émais importante ou mais correta que a outra. Elas são simplesmente os dons deDeus para a Sua igreja, a fim de ajudar a trazer a perspectiva do Céu à terra.

Apóstolos e Profetas

Antes de explicarmos as cinco principais unções em maiores detalhes,juntamente com seus pontos fortes e fracos, deixe-me indicar a base bíblica tanto

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para os ofícios quanto para a ordem de prioridade do apóstolo e do profeta:

Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros dessecorpo. A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos;em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois,operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos,variedades de línguas...[1]

Paulo estabelece claramente uma ordem de prioridade nessa passagem, a qualestá relacionada às esferas do sobrenatural que correspondem a cada ofícioespecífico. Como você pôde observar na ilustração anterior, a unção que estásobre o apóstolo e o profeta cria uma perspectiva focada principalmente emperceber o que está acontecendo no Céu e trazer isso à terra. O mestre estáfocado em ser capaz de descrever tudo o que aconteceu com exatidão, e oevangelista e o pastor estão focados nas pessoas. Cada uma dessas áreas de foco éessencialmente importante, mas a fim de que elas funcionem juntas como Deuspretendeu, precisam se relacionar uma com a outra de acordo com a ordem deprioridade dele. As áreas de foco celestial vêm em primeiro lugar e influenciam asáreas de foco terreno.

Quando Paulo coloca os apóstolos em primeiro, os profetas em segundo e osmestres em terceiro, ele está descrevendo um fluxo. O fluxo passa por intermédiodo mestre, é liberado em milagres e cura, e em seguida continua por meio desocorros, governos e línguas. Tragicamente, em muitas igrejas de hoje, as práticasde ensino, socorros e governos tiveram seu aspecto sobrenatural totalmentedestituído. Parece que esses dons foram retirados da lista e separados do fluxo dosuprimento sobrenatural do Céu. Na verdade, foi exatamente isso que aconteceu.Para proteger esse fluxo, a igreja precisa ser fundamentada sobre líderes quecarreguem um valor essencial primordial pelo aspecto sobrenatural.

Em vez de ter o apóstolo e o profeta como o fundamento da cultura daigreja, nos dias de hoje a igreja tem colocado na direção do leme em sua maiorparte o mestre, o pastor ou o evangelista. Infelizmente, separar efetivamente osobrenatural do ministério desse modo afetou drasticamente a compreensão geraldo verdadeiro papel de cada unção. Hoje, na maioria das igrejas, o papel de ummestre é afirmar claramente e com exatidão as verdades da Bíblia em umamensagem teologicamente saudável, no esforço de construir segurança nas vidasdos crentes. O papel do pastor é criar uma igreja que tenha fortes valores e

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sistemas familiares estabelecidos, a fim de alimentar um caráter forte erelacionamentos fortes. O papel do evangelista é enfatizar o crescimento da igrejae treinar seus membros a compartilharem sua fé, levando outros a Cristo.

O problema é que esses são modelos de liderança focados na terra. Sem ofluir da graça dos apóstolos e profetas, que não estão apenas focados em ver oque está acontecendo no Céu, mas também em liberar essa realidade aqui naterra, esses modelos irão inevitavelmente nos levar a focar no que sabemos queDeus fez no passado e a perder o que Ele está fazendo agora. Esses modelos noslevam a nos importarmos mais com o conhecimento do que com a experiência.

É ainda mais difícil evitar esse desequilíbrio quando vivemos em umasociedade que está permeada por ele. A maioria das escolas, faculdades euniversidades da nossa terra abraçou uma visão mundial dualista que separa oconhecimento da experiência. Essa visão de mundo reduz o objetivo do ensino àmera transmissão de informação. Esse paradigma certamente está presente naigreja, e o resultado é que grande parte do ministério de ensino da igreja hojeestá destituído de revelação e poder sobrenatural. Ele está limitado ao que podeser feito com base na autoridade e nos recursos da terra.

Mas a unção quíntupla de ensino, um dos dons de Cristo, o qual deixou paranós o modelo exato do que cada unção faz, é muito diferente. Jesus exerceu Seudom de ensino tanto pregando quanto demonstrando Sua mensagem commilagres. Aqueles que experimentaram o Seu ensino ficaram chocados com oquanto ele era diferente, e era diferente porque, diferentemente de seus outrosmestres, Jesus ensinava com autoridade.[2] Cristo é o modelo que define oministério do ensino da igreja, e as consequências do Seu modelo de ensino éque se não levarmos as pessoas à realidade palpável e sobrenatural do Evangelho,não temos autoridade para ensiná-lo.

Entendo que o tipo de governo que estou descrevendo, no qual existe umaordem de prioridade clara nos diversos papéis, é difícil de entender e abraçar nacultura norte-americana e mundial. Nosso estilo de governo democráticodestina-se a manter todos os seus membros governantes em um sistema derestrições e inspeções no qual cada ramo do governo deve prestar contas a outroramo, a fim de que nenhum legislador, juiz ou presidente possa adquirir ocontrole de todo o governo. Entendo isso e valorizo esse princípio em ummodelo terreno. No entanto, está escrito claramente na Bíblia: “...primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiro mestres...”.

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Creio que grande parte da igreja tem ignorado essa porção das Escrituras e temusado modelos com base nos governadores da terra, na tentativa de duplicar oCéu. Mas apenas o modelo do Céu pode reproduzir o Céu na terra.

Quando usamos outros modelos, a igreja se torna nada mais do que aspessoas já esperam de suas experiências terrenas. Esse é um erro enormefundamental, com sérias consequências. Creio que fomos ludibriados! Quandousamos os sistemas de governo dos homens para definir ou reproduzir o Céu,começamos a percorrer o caminho de aplicar um sistema inferior. O Céu não seconformará a um sistema inferior nem duplicará um sistema inferior. O Céuprecisa ser a fonte.

Na passagem de 1 Coríntios 12 citada, Paulo apontou para o modelo degoverno do Céu. Ele define claramente uma ordem para o ministério da igreja,acerca da qual, ao longo dos meus vinte anos como cristão, poucas vezes ouvialém do ambiente no qual geralmente convivo. Essa ordem é apoiada por Efésios2:17-22:

E, vindo, evangelizou paz a vós outros que estáveis longe e paztambém aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temosacesso ao Pai em um Espírito. Assim, já não sois estrangeiros eperegrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Elemesmo, Cristo Jesus, a pedra angular; no qual todo o edifício, bemajustado, cresce para santuário dedicado ao Senhor, no qualtambém vós juntamente estais sendo edificados para habitação deDeus no Espírito.

A “família de Deus” literalmente repousa sobre o fundamento da liderançados apóstolos e profetas. Esse projeto permite que o Corpo de Cristo sejaedificado em um “santuário” e finalmente se torne uma “habitação de Deus noEspírito”. Não é isso que desejamos?

Como tenho afirmado, a falha crucial que vejo no projeto norte-americanopara a estrutura e o governo da igreja, embora não se limite ao nosso país, é adesordem, o que significa que os papéis e os relacionamentos dos líderes estão forade ordem de acordo com a Bíblia. Os fundamentos e a liderança da maioria dasigrejas de hoje consiste em pastores, mestres e administradores. Temos conferidopoder ao grupo errado de pessoas da lista de 1 Coríntios 12, fazendo delas os

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líderes principais, e o raciocínio que está por trás dessa decisão não é espiritual,mas sim terreno. Tiago 3:13-18 nos adverte contra essa prática de trazer asabedoria da terra para dentro das nossas vidas:

Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão desabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelocontrário, tendes em vosso coração inveja amargurada esentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra averdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes éterrena, animal e demoníaca. Pois onde há inveja e sentimentofaccioso, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. A sabedoria,porém, lá do alto, é, primeiramente, pura, depois, pacífica,indulgente, tratável, plena de misericórdia e de bons frutos,imparcial, sem fingimento. Ora, é em paz que se semeia o fruto dajustiça, para os que promovem a paz.

Quando o Céu é o modelo da nossa cultura, o resultado principal é a paz. Apaz é o objetivo do Céu porque ela é a qualidade principal do governo de Deus.Mas as formas desordenadas de governo às quais todos nós nos acostumamoscriam não a paz, mas o controle, que é o objetivo pretendido por elas. O homemtem o objetivo oposto ao Céu. A estrutura de liderança da terra é motivada pelodesejo de proteger o governo daqueles que estão no cargo. Quando estruturamosprimordialmente o ambiente da casa de Deus para proteger a vontade daspessoas, saímos do caminho da “sabedoria do alto”.

A fim de compreendermos quão grave é o fato de fazermos as coisas deacordo com o raciocínio humano em vez de fazê-las de acordo com o raciocíniodo Céu, precisamos apenas nos lembrar de uma das mais fortes repreensões dosevangelhos: a repreensão que Jesus fez ao Seu bom amigo Pedro. Se você selembra, Pedro tentou convencer Jesus a não morrer na cruz. Pedro queriaproteger o que ele considerava como algo bom. Sua principal preocupação emotivação foi manter aquele benefício atual fluindo para a terra. Jesus voltou-separa ele e disse: “Para trás de Mim, Satanás!... Pois tu não cogitas das coisas deDeus, mas das coisas dos homens”.[3] Aquele não foi um dos melhores momentosde Pedro, mas essa é uma palavra clara para todos nós que estamos observando.O Céu é o modelo — não a terra.

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“Primeiramente Apóstolos...”

Você provavelmente ouviu o termo ministério apostólico ser mais usado nosúltimos anos. Estou confiante de que ouviremos e veremos mais desse ministérionos anos que estão por vir. Esse termo é algo que precisa ser definido bem noinício neste livro, porque farei referências frequentes a ele daqui em diante. Aofazer uso desse termo, estarei me referindo aos objetivos e alvos primordiais daliderança do apóstolo, e portanto, aos objetivos com os quais todas as pessoas queestão debaixo da liderança do apóstolo se alinham.

Quando Jesus ensinou os discípulos a orar, Ele disse uma frase fundamentalpara os valores essenciais deles. Ele lhes disse para orar: Venha o Teu reino. Sejafeita a Tua vontade assim na terra como no céu.[4] As instruções de Jesus osensinaram a ansiar pelo Céu na terra. Creio que esse valor essencial é o objetivoprimordial do ministério do apóstolo. Os líderes apostólicos estão focados noCéu, e a missão deles é ver a realidade sobrenatural do Céu estabelecida na terra.Eles anseiam por ver a evidência do toque do Céu no ambiente que lideram ouinfluenciam. Ter essa motivação como o fundamento de uma igreja leva a umaênfase inteiramente diferente nas prioridades de governo da igreja. O apóstolofará da presença de Deus, da adoração a Deus e da agenda do Céu as prioridadesmáximas no ambiente. Um governo apostólico destina-se a proteger essasprioridades.

O apóstolo Paulo refere-se a si mesmo como o chefe de construção em 1Coríntios 3:10. Essa é uma tradução da palavra grega architeckton, a palavra daqual deriva-se a palavra “arquiteto”. Isso descreve perfeitamente o papel doministério apostólico. É como se o próprio Deus tivesse dado projetos a certosindivíduos para reproduzirem o Céu na terra. Com esse projeto, a unção doapóstolo contém uma qualidade que estimula e desperta as diversas unções naspessoas que o cercam, trazendo-as para fora. À medida que os que estão ao redordo apóstolo começam a manifestar sua própria unção única, isso cria umambiente de “encarregados” que ajudam o “chefe de construção” a realizar osprojetos do Céu.

A seguir estão algumas das características-chave de um ambiente e culturaapostólicos:

A adoração e a atividade sobrenatural são prioridades no ambiente e no estilo

de vida dos santos, porque a presença de Deus é a prioridade máxima.

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Os santos são enviados, como Jesus foi, para destruir as obras do diabo,inclusive a doença, a enfermidade e a aflição. Os santos vivem para demonstrar atodas as pessoas da terra que Deus é sempre bom e que o diabo é sempre mau.

O Reino de Deus é “alegria no Espírito Santo”.[5] Portanto, a igreja deve serum lugar de extrema e abundante alegria.

Deus deseja que aqueles que ainda não o conhecem entrem em umrelacionamento com Ele no qual a ênfase principal seja o amor, e não meramenteo serviço.

O Corpo de Cristo está sendo edificado e equipado para se tornar umaNoiva gloriosa e vitoriosa, independente de como as condições da terra possamparecer atualmente.

A igreja deve criar despertamento e impacto global.As gerações posteriores devem ser equipadas para compreender e demonstrar

a revelação do Reino. Na Bethel Church, fazemos uma leitura específica no momento das ofertas

que declaramos juntos, como congregação, sobre a nossa região todos osdomingos. Há alguns anos, Mike e Debbie Adams se mudaram para Redding deoutro Estado para frequentar a Escola Bethel de Negócios Sobrenaturais. Depoisde passar um tempo conosco e absorver nossa cultura, Debbie escreveu o que setornou carinhosamente conhecido como nossa “segunda leitura para oofertório”. Ela realmente resume melhor o que entendo por ministérioapostólico:

Ao receber as ofertas de hoje, cremos em Ti para:

Céus abertos, Terra invadidaDepósitos abertos e milagres criados

Sonhos e visõesVisitações angelicais

Declarações, transferências de unção e manifestações divinasUnções, dons e chamados

Posições e promoçõesProvisões e recursos

Para irmos às naçõesAlmas e mais almas

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De todas as geraçõesSalvas e libertas

Carregando consigo o avivamento do ReinoObrigado, Pai, porque quando uno o meu sistema de valores ao Teu, Tu

derramas FAVOR, BÊNÇÃO e AUMENTO sobre mim para que eu tenha mais doque o suficiente para colaborar com o Céu para ver Jesus ter a Sua PLENA

RECOMPENSA!ALELUIA!

Um ambiente apostólico é um lugar empolgante, porque o foco no Céu

permite que a oração, a adoração, os milagres, os sinais e as maravilhas se tornemnormais em nossas vidas diárias. Entretanto, há uma área em particular que opapel do apóstolo não se destina a tratar diretamente: as necessidades daspessoas. Você se lembra do que os apóstolos disseram quando foramconfrontados com as necessidades das pessoas em Atos 6:4? “E, quanto a nós, nosconsagraremos à oração e ao ministério da palavra”. Eles estavam agindo comoapóstolos. As necessidades crescentes das pessoas eram uma distração para opapel e a unção deles. Não é que eles não se importassem com as pessoas, afinal,eles realmente fizeram algo para garantir que homens de qualidade de suacomunidade cuidassem dessas necessidades. Mas um apóstolo precisa ter aliberdade para buscar o Céu se ele quiser efetivamente cumprir o seu chamadoapostólico.

O Lado Negativo

Quando um apóstolo busca cumprir o seu chamado sem ter ao seu redor asgraças dos outros ministérios estabelecidas, diversos problemas reais semanifestam no ambiente e ameaçam o sucesso do líder apostólico. Manifestaçõesincomuns não encontradas na Bíblia, cenários e questões sem precedentes, umfoco desconfortável no sobrenatural e uma desatenção evidente para com asnecessidades das pessoas começam a gerar problemas para qualquer líderapostólico. Tudo que as pessoas conseguem ver é a distância crescendo entre elase o apóstolo. À medida que as necessidades das pessoas não são atendidas, elaspodem começar a se ressentir com a forma que o apóstolo está decidindo usar oseu tempo. Viagens, reuniões, relações com outros líderes apostólicos e tempos

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de oração parecem um grande desperdício de tempo quando as necessidades daspessoas estão gritando em seus próprios ouvidos.

Já ouvi pessoas dizerem: “Sinais e maravilhas são ótimos. Os milagres sãoincríveis. Fico feliz por todas essas pessoas cegas que agora podem ver. Masvamos para outra igreja onde eles cuidem das pessoas, onde eles ensinem aBíblia, onde eles sejam menos emocionais. Esta igreja nem sequer tem umplanejamento para ajudar os novos membros a se encaixarem”. Isso pode parecerpequeno, mas é uma reclamação real que afasta as pessoas de um líder apostólicoe de um ambiente de avivamento depois de algum tempo. Céus abertos e portasdos fundos abertas são o lado doce e o lado amargo da liderança apostólica. Épor isso que eles precisam do apoio do restante da equipe.

“Em Segundo Lugar Profetas...”

A peça vital seguinte no governo de uma cultura de avivamento é o papel doprofeta. Essa é a próxima peça da tubulação que bombeia o Céu até a terra. Ofundamento está incompleto sem a presença da unção profética. Deus enfatiza opapel crucialmente importante do profeta ao longo das Escrituras:

Ouvi-me, ó Judá, e vós, moradores de Jerusalém: Crede no Senhorvosso Deus, e estareis seguros; crede nos seus profetas, e prosperareis.[6]

O sucesso é construído a partir do valor que damos às vozes proféticas nonosso ambiente, porque a nossa prosperidade vem por intermédio da nossaconcordância com a cultura do Céu, e os profetas esclarecem a realidade dessacultura para nós e nos convidam a entrar nela. Nossa experiência com a liderançaprofética na cultura da Bethel Church veio de muitas formas diferentes. Onúmero de vozes proféticas que fizeram parte da formação do nosso caminho edestino como igreja parece enorme, desde Bob Jones a Bobby Conner, passandopor Dick Joyce a Dick Mills, de Mario Murillo a Michael Ratliff, de Jill Austin aJohn Paul Jackson; de Paul Cain a Patricia King, Larry Randolph, Mahesh eBonnie Chavda, Iverna Tompkins, Cindy Jacobs, Wes e Stacy Campbell, eRolland e Heidi Baker. Juntamente com essas vozes proféticas globais enacionais, mais outras vozes locais e regionais igualmente importantes moldaram

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a nossa cultura e destino, entre elas Wendall McGowen, Mary Andersen,Deborah Reed, Dan McCollam, Judy Franklin, Nancy Cobb, e muitos outros.

Kris Vallotton é o escultor principal do ambiente profético da Bethel. Ele éuma dádiva de Cristo para a nossa casa e para o Corpo de Cristo. Seu papelcomo profeta no nosso ambiente cultivou a nossa expectativa de descobrir asalturas e profundidades das boas-novas. O Evangelho é mais do que as palavrasda Bíblia. Ele é uma realidade que precisa se desenvolver na vida de cada crente,e uma das principais maneiras de isso acontecer é por intermédio do ministérioprofético, que tome posse das promessas do Reino para destinos individuais e oschama à realidade por meio da declaração profética. (Em seu livro TheSupernatural Ways of Royalty [Os Caminhos Sobrenaturais da Realeza] Krisapresenta ao mundo os valores essenciais e a revelação pelos quais ele estabeleceuuma cultura profética na Bethel.)

A liderança e a influência de Kris como profeta também moldou a nossaexpectativa da presença de Deus. Precisamos que alguém nos mantenha emexpectativa e conscientes da realidade sempre presente do Reino. Os apóstolosnos mantêm crendo, mas os profetas nos mantêm na expectativa de que Deusestá vindo. As maneiras dinâmicas pelas quais Deus fala ao profeta, inclusive porsonhos, visões e êxtases, criam a consciência do envolvimento de Deus conosco.Essas ferramentas sobrenaturais produzem um grande aumento da sensibilidadepara com a atividade e os planos do Céu.

Porém, mais do que nos tornar conscientes do Céu por intermédio de suasexperiências, a unção que está sobre o profeta realmente nos prepara para termosas nossas próprias experiências celestiais. Mateus 10:41 nos diz: “Quem recebe umprofeta, no caráter de profeta, receberá o galardão de profeta...”. O que é essegalardão? O galardão é ver e ouvir o que o Espírito está fazendo e dizendo. Aunção profética carrega uma dimensão de vidência, que dá às pessoas a visão paraver aquilo que antes da influência do profeta era invisível.

Jesus, que foi o modelo do ofício de profeta, andava por toda parte dandouma visão sobrenatural às pessoas o dia inteiro. Ele costumava perguntar aosSeus discípulos e aos que o cercavam: “Não considerastes nem compreendestesainda?”[7] A resposta era sempre “não”, porque Jesus estava apresentando a esseshomens uma visão inteiramente diferente da vida, principalmente para os líderesreligiosos daquele tempo. Mas essa pergunta levou aquelas mesmas pessoas a

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começarem a procurar algo que elas nunca haviam considerado ver antes. Oresultado foi que elas receberam olhos para ver.

O profeta e o apóstolo podem conviver de uma maneira excepcional porqueambos estão observando o Céu e recriando na terra o que veem ali. Eles devemtrabalhar juntos, como um arco e flecha, em busca dos mesmos objetivos. Nãohá dúvidas de que essa é a razão pela qual eles são o fundamento da igreja doNovo Testamento.

“Em terceiro Mestres...”

Em seguida temos os mestres. Como mencionei, o mestre é geralmente aceitocomo o nível de unção mais elevado em nossas igrejas ocidentais. Mas a verdadeé que essa não é a unção mais elevada, mas apenas o terceiro nível de unção. Écomo um “C” em uma escala de classificação. Ela mantém a igreja apenas nonível médio em seus efeitos e influência. Felizmente, nossa necessidade eoportunidade de fazer uma “subida de categoria” na unção para um “A” estáaumentando.

Antes de avançar um pouco mais nesse tema dos mestres, preciso confessarque as informações contidas aqui não satisfarão as necessidades dos mestres queestão lendo este livro. Para a maioria dos mestres, este assunto precisaria ter umlivro inteiro dedicado a ele, porque os mestres necessitam de muita informaçãoantes de poder concluir praticamente qualquer coisa. Respeito essa característicados mestres, por isso não vou tentar me esforçar muito para convencer os mestresde que estou certo ou de que eles estão errados. Vou simplesmente apresentar arazão pela qual creio que cometemos um grande erro ao fazer do mestre a maisalta unção que atua na liderança da maioria das nossas igrejas.

A cultura da igreja atual valoriza grandemente a segurança que sentimosquando somos capazes de provar que aquilo a que dedicamos nossa vida é certo.Para afirmar a nossa fé, supomos que devemos ser capazes de defender uma causae levá-la a uma conclusão lógica. Mas o fato é que a nossa necessidade de tantacerteza vem de uma grande incerteza. Quando o Céu para de se manifestar naigreja, os cristãos precisam provar de alguma forma que eles estão certos porseguirem a Jesus. Quando o poder do Evangelho é substituído por argumentos,todos deveriam se preocupar. Mas quando as pessoas são curadas em seus corposde câncer, paralisia, tumores e doenças mentais, não exigimos um argumento. O

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fato de uma pessoa experimentar o toque do Céu passa a ser a prova suficiente deque Jesus é quem Ele diz que é.

O fato é que quando a igreja insiste em ter uma cultura lógica, exigimos umevangelho lógico e, portanto, nos voltamos para os mestres. A maioria dosmestres hoje está focada na Palavra de Deus escrita. Eles acreditam que a Palavrade Deus é a fonte da vida e da verdade na terra. O valor que eles dão à Palavra émuito superior à necessidade deles pelo sobrenatural. Eles são os advogados,escribas e fariseus do nosso tempo. Eles são os melhores em brandir a “Espada”.O mestre tem uma necessidade profunda e impulsiva de estar certo, e vê omundo predominantemente em termos de “bíblico” e “antibíblico”. Pelo fato deque o foco do mestre está na Palavra, a unção do mestre influencia a igreja afocar na Palavra. Por favor, não me entenda mal. Não estou querendodesvalorizar a Bíblia. Mas quero que entendamos o quanto o Céu se tornoupouco importante por causa desse erro e desordem terríveis. Quando os mestresse tornaram a principal influência sobre a igreja, voltamos nossa atenção para alei.

Quando focamos unicamente na Palavra, com o tempo acabamos lutandoentre nós mesmos acerca da Palavra. Começamos a dividir o Corpo de Cristoentre os que estão “certos” e os que estão “errados”. Cada mestre é compelido aestar certo. Como Paulo disse aos coríntios, temos “muitos mestres” no Corpode Cristo.[8] E quando os mestres discordam, e muitos deles discordam entre si,há divisão. Os líderes defendem sua causa doutrinária e sua teologia, um após ooutro, levantando uma bandeira para provar o seu ponto de vista e refutar osdemais.

Qual é então o papel do mestre na igreja, se não é provar que os cristãosestão certos ao crer no que creem? Para que os mestres exerçam o seu verdadeiropapel na cultura da igreja, eles primeiramente terão de estar dispostos a buscarum estilo de vida sobrenatural. Eles terão de se sentir insatisfeitos com aarmadura dos seus argumentos e com a sua teologia destituída de vida. Elesprecisarão aumentar a sua coragem de correr o risco de fracassar e viver uma vidaque é incapaz de responder a todas as perguntas de seu mundo. Os mestresprecisam abraçar o mistério.

A unção que está sobre os mestres sempre fará com que eles valorizemgrandemente a instrução. Eles serão aqueles que acreditam que a maioria dosproblemas pode ser resolvida com um treinamento e informando as pessoas de

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acordo com a Bíblia. Mas a verdadeira mudança que eles anseiam por versomente virá sob a liderança de uma cultura apostólica e profética. Em umacultura sobrenatural, os mestres ensinarão com resultados sobrenaturais.

Quando Jesus ensinava a uma multidão sobre o Reino dos Céus, Ele semprelhes mostrava o Reino. Seus discípulos viviam todos os dias em uma experiênciainterminável de sala de aula. Jesus levou o modo de ensino de “mostrar e dizer” aum nível inteiramente novo. Nossos mestres precisam colocar novamente emseus planos de aula a parte da “demonstração”. Ouvi Bill Johnson dizer muitasvezes: “Jesus é a teologia perfeita”. Concordo com ele. Se Jesus ensinou dessemodo, então significa que isso é algo bom. Se Jesus não tivesse feito nadasemelhante ao que estamos fazendo, seria melhor nos perguntarmos “O que saiuerrado?”

Os mestres devem pegar a paixão e a revelação dos apóstolos e dos profetas enos mostrar como ela se torna uma verdade que aplicamos em nossas vidas. Opapel do mestre é ajudar a reproduzir os processos do sobrenatural e depoistreinar e equipar os santos para cooperarem com esses processos. O amor à Bíbliae o conhecimento que os mestres têm os ajudam a transmitir processoscomplexos com analogias e aplicações simples.

Randy Clark, da Global Awakening, é um exemplo primordial para mim dealguém que tem o dom de ensino e que o usa para ajudar o mundo e a igreja aentender o sobrenatural. Embora ele seja um líder apostólico, seu dom de ensinoopera naquela unção superior. Portanto, ele usa o seu entendimento da Bíblia,da História, da Teologia e das pessoas para conectar revelações misteriosas à vidaprática diária. Seus modelos para treinamento de pessoas para orarem pelosenfermos são métodos altamente eficazes e excelentes de mobilização de equipesde oração para ministrarem a grandes grupos em suas cruzadas. Crentes quenunca oraram por outros para que fossem curados em toda a sua experiênciacristã, após algumas horas de treinamento, começam a ver um milagre após ooutro.

Uma cultura de avivamento de sucesso tem mestres que perpetuam osobrenatural nela. Os dias de ensinar as nossas experiências limitadas acabaram.Agora precisamos aprender o quê e como o Céu está fazendo todos os dias atodos.

Onde os Pastores se Encaixam?

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Ah, os amados pastores! Onde encaixaremos esse outro papel que tem ajudado acompletar a desordem no governo da igreja? Pastor Sênior ou Pastor Principal.Que título estranho quando olhamos para a lista que Paulo estabeleceu em 1Coríntios 12. Na verdade, se você olhar para essa lista, verá que o pastor nemsequer é mencionado, muito menos numerado. Como então o “Pastor Principal”é o título da pessoa mais importante na estrutura da igreja? Tenho uma ideiasobre isso.

Quando um grupo de pessoas se reúne, seja uma família, uma comunidade,uma empresa, uma escola ou uma igreja, não demora muito para que esse grupose organize de tal maneira a ter as suas necessidades atendidas. Imagine a cena desobrevivência de um filme: o navio afunda, o avião cai e as pessoas estãoperdidas. As prioridades são comida e água, abrigo, segurança, e depois aesperança de resgate. Quanto mais o resgate demora, mais outra prioridade sedesenvolve: quem vai nos liderar? O voto geralmente vai para aquele que tem oplano mais agressivo para salvar o grupo, o “Indiana Jones”, digamos assim. Seisso não funcionar, então o grupo começa a pensar a tentar sobreviver por umlongo prazo. O novo líder que eles escolhem para liderá-los durante aquele longoperíodo é muito mais compassivo, firme, prático e previsível. Esse líder garantiráque as necessidades das pessoas sejam atendidas. Ele garantirá que elas sejamcivilizadas e estejam seguras. Ele será o pastor delas.

Os pastores surgem como líderes em longo prazo, quando toda esperança deresgate se vai. As pessoas se reúnem em torno de um líder que elas acreditam quecuidará das suas necessidades particulares. Isso é evidenciado na política e nosnegócios, assim como nas igrejas. Se o foco principal das pessoas estiver nelasmesmas, elas elegerão um líder que tenha o mesmo foco. Quando a questãopassa a ser sobrevivência em longo prazo, as pessoas procuram por uma unçãopastoral em seu líder. Simples assim.

Se os pastores não estiverem ligados aos apóstolos e profetas, porém, então aliderança deles só levará as pessoas a recolocarem o foco em si mesmas. E opastor terá de dar a elas uma alternativa natural para uma vida sobrenatural.Quando alguém com uma unção pastoral é o líder principal, as pessoas esperamser o centro do universo. E infelizmente, o pastor tem sucesso por algum tempoem responder a essa expectativa, geralmente seguindo-se o esgotamento.

Mas quando a unção pastoral está ligada ao apóstolo e ao profeta, isso geraoutra peça vital do fluxo do Céu para a terra. Esses líderes atenciosos e

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compassivos são a solução necessária para o problema da “porta dos fundos”, queos apóstolos e profetas têm em seus ambientes de liderança. Em uma cultura deavivamento, os pastores levam liderança às pessoas. A unção pastoral gera grandefavor junto às pessoas por causa da conexão que os pastores desenvolvem comelas. Eles são os líderes que estarão nas vidas delas, em suas casas e em suasfamílias. São os líderes que se sentarão com elas e resolverão problemas nocasamento. São os líderes que saberão a respeito das dificuldades delas noemprego ou na criação de filhos adolescentes.

Se os pastores puderem aprender a manter o foco no Céu e nas pessoas,então eles serão aqueles que trarão uma cultura de avivamento às vidas diáriasdos santos. Manter esse foco equilibrado requer esforço, porque os pastoresnaturalmente querem que as pessoas se sintam amadas, discipuladas, conectadase protegidas. Mas quando os pastores são submetidos à liderança apostólica, elessão capazes de desenvolver células, por exemplo, sem fazer dos grupos celulares ofoco primordial da igreja.

Com a expansão do propósito e da visão, os pastores passam a ser muitomenos territoriais e a exercer menos poder. Permitir que outros pastorestrabalhem ao lado do apóstolo não significa dar uma oportunidade para acompetição ou a ameaça. Ao contrário, quando os pastores exercem seu chamadodebaixo de uma unção apostólica, podem liderar muito mais pessoas, porque elasnão precisam mais do poder da presença do pastor.

Os pastores levam a presença substancial de Deus às vidas das pessoas. Elesligam as pessoas ao ambiente sobrenatural criado pelos apóstolos e profetas. Emvez de conduzirem as pessoas a si mesmos e depois lhes mostrar o amor que elestêm por aqueles que sofrem, os pastores começam a conduzir as pessoas àpresença de Deus a fim de que elas possam encontrar ali as soluções para osproblemas da vida. É motivo de satisfação para o pastor ver os santosencontrarem os pastos verdejantes da liberdade e do consolo proporcionadospelo ministério apostólico.

“E Quanto aos Perdidos?”

Os evangelistas formam o fim do funil que garante que o fluxo do Céu —partindo dos apóstolos e passando pelos profetas, mestres e pastores — chegueao seu alvo pretendido: os que estão em trevas. A unção do evangelista faz comque ele se concentre nas almas que ainda não conhecem Jesus como a

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preocupação e a motivação primordial do ministério. E falando de forma realista,a não ser que o ministério da igreja esteja alcançando aqueles que ainda nãoconhecem o Senhor, a função das outras unções é bastante sem propósito. Talvezseja essa convicção que, de modo bastante estranho, faça com que os evangelistassejam cristãos que parecem estar irados com os outros cristãos! Pode ser umaeterna frustração para aqueles que carregam essa unção ver que estamospromovendo outro estudo bíblico ou almoço de comunhão na igreja, enquantoas pessoas da cidade estão perecendo na condenação eterna. Isso simplesmentenão faz sentido algum para eles.

Mas o fato é que estamos todos no mesmo time. Ficar frustrados uns com osoutros não nos ajuda a fluir juntos, então, qual é a solução? Creio que é hora doministério de evangelista — que alcança tanto os não salvos quanto prepara ossantos para fazerem o mesmo — estar mais profundamente integrado aospropósitos maiores do ministério apostólico.

É fácil acreditarmos que qualquer um pode conduzir outra pessoa a Cristo.Temos uma grande fé de que quando oramos com alguém para que ele aceiteJesus, a pessoa realmente nasce de novo, bem ali, na mesma hora. A grandemaioria da igreja cristã, atualmente, acredita que isso é verdade. Esse conceito sóvem ganhando força desde que foi apresentado há várias centenas de anos noavivamento. Ele foi captado por mestres e pastores e preservado entre as pessoasda igreja. Hoje, os metodistas, batistas e outros evangélicos são os campeões dasalvação em todo o mundo, e praticamente toda denominação cristã enviamissionários para levarem a mensagem da salvação aos confins da terra. A culturade muitas igrejas tem uma prática de evangelização entre as pessoas. Os mestres aensinam e os pastores a encorajam. Os evangelistas anunciam aonde quer quevão: “Precisamos sair e ganhar almas!” Mas a questão maior é: “E depois?”

O objetivo da igreja é fazer o Reino do Céu invadir a terra, e não levar aspessoas não salvas a invadirem a igreja. A cooperação entre todos os donsministeriais é a única maneira de realizar o objetivo primordial da igreja.Precisamos cooperar com o Espírito Santo para montar, de modo cuidadoso edeliberado, a tubulação que faz fluir o Céu e todo o seu poder e liberdade para aterra. Quando fizermos isso, o conceito da importância de que toda igreja cristãdeve estar plenamente equipada com todos os dons ministeriais para que o Reinodo Céu “vaze” de nossas vidas, logo será tão amplamente aceito quanto a ideia defazermos uma oração de salvação.

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A Honra É a Ferramenta

A honra é a ferramenta que une toda essa tubulação. Esse “funil” é, na verdade,uma rede de relacionamentos nos quais o “fluxo” que estou descrevendo sócontinua fluindo na medida em que aprendemos a reconhecer esses papéis eunções dados por Deus, liberamos as pessoas para atuar neles e depois recebemoso que elas têm a dar. Aqueles que são chamados a operar em uma unçãoquíntupla, como a minha história pessoal mostra, precisam dos outros cincoministérios, principalmente dos profetas e apóstolos, para identificar essasunções. Nenhum de nós pode se “auto-indicar” para assumir uma posição noReino. Deus unge uma pessoa, e o Seu Espírito no restante da equipe cria umtestemunho corporativo que reconhece a unção de Deus e recebe a pessoa em suaposição. Somente atos de honra como esses podem estabelecer e sustentar essesrelacionamentos.

O projeto dos cinco ministérios para a liderança é obviamente um projeto deequipe, portanto o conceito do “exército de um homem só” claramente não éuma expressão desse projeto para a liderança da igreja. O mesmo acontece com oestilo de liderança burocrático, homogêneo, de “todo mundo pode fazer todos ostrabalhos” — ele tampouco se aplica à igreja. Diversas unções contribuem, cadauma ao seu modo, para algo inteiramente único no projeto de trazer o Céu àterra, e isso requer uma atitude de honra (e não democrática) que diz: “Você temalgo que eu não tenho, e preciso do que você tem”.

Quando os líderes dos cinco ministérios são um modelo desse tipo de honraentre eles, então “equipar os santos” se torna uma questão de estender a honraliberando cada crente individual para viver sua identidade e destino únicos. Cadacrente passa a entender sua importância no relacionamento com todo o Corpo, ea convicção começa a se manifestar entre as pessoas: “Eu carrego algo queninguém mais carrega. Eu preciso desenvolver e liberar os meus dons para aigreja e o mundo e fazer a minha parte para trazer o Céu à terra”. A honrareveste as pessoas de poder.

É hora de todos na igreja começarem a honrar aqueles que têm uma dascinco unções, principalmente entre aqueles que têm as cinco unções! Apóstolos,profetas, mestres, pastores e evangelistas precisam honrar uns aos outros ereceber um ao outro com o “nome” correto. Os líderes da igreja e os crentesigualmente precisam entrar em um relacionamento correto com o governo doCéu. À medida que fizermos isso, essas coisas que estão em desordem serão

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restauradas ao seu lugar de direito e serão ligadas ao sistema central no fluir dofunil.

A honra tem passado por tempos difíceis em nossa cultura. A independênciaé adorada. Focamos nos nossos relacionamentos particulares com Deus e temosdificuldade em reconhecer a autoridade espiritual e em considerar os outros maisimportantes do que nós mesmos. O resultado é que estamos cortados do fluir doCéu. O crescimento notável que a Bethel Church tem experimentado nosúltimos dez anos é um testemunho da diferença notável que as pessoas estãovendo em um ambiente no qual o funil está conectado e as pessoas estãoentrando no fluxo.

Como Moisés derramando óleo sobre a cabeça de Arão, Deus estácontinuamente derramando vida, alegria, saúde, paz e todas as outras bênçãos doCéu dentro do Seu funil. Os muitos efeitos maravilhosos de um ambiente cheiodo sobrenatural são impactantes. “Melhor apertar os cintos”, é a sensação quemuitos têm quando experimentam uma igreja onde o Céu enche o ambiente. É aexperiência poderosa de um odre que é perfeitamente capaz de carregar e liberaro derramamento que Deus nos prometeu desde o começo — um derramamentopara o qual fomos criados. Mas somente a honra edificará esse odre, o manteráintacto e fará com que nos envolvamos com o que está dentro dele.

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A

CAPÍTULO 3

GOVERNANDO A PARTIR DO CÉU

... O governo está sobre os Seus ombros... Para que se aumente o Seu governo evenha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o Seu Reino, para o estabelecer e ofirmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos

exércitos fará isto.(Isaías 9:6-7)

mensagem deste capítulo é um ataque ao coração do Acusador. Mas,primeiro, tenho de lhe fazer uma pequena advertência porque vouescandalizar você por alguns instantes. Vou confundir todo o seu

paradigma de justiça. Vou trazê-lo para fora, vou rir dele, vou fazer cócegas nelee depois vou chutá-lo escada abaixo. Tudo bem? Você vai ter de correr atrás delepelas escadas se quiser tê-lo de volta.

Imagine isto. Seu filho que está na quinta série vem até você e diz: “Aqui estáo meu boletim”. Você pega o boletim dele, abre-o, e ali está um zero. Seu filhoda quinta série tirou zero. Ughhh! O espírito de medo se manifesta em você,assim como aconteceria com o coração de todo pai ou mãe. “Um aluno daquinta série com um zero! Ele está condenado. Condenado! É o fim. Não sepode tirar um zero no ensino fundamental!”.

Sem dúvida, com o medo apertando o seu coração, tudo em que vocêconsegue pensar é: Como posso controlar os resultados dessa criança na escola?Poderíamos achar isso acerca de qualquer bom pai ou mãe. Como você pode

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controlar seu filho para atingir o seu objetivo, porque você o ama? Isso faz parteda lição de amor que a maioria de nós passamos para os nossos filhos: Aquilo queamamos, tentamos controlar.

Eu gostaria de apresentar outra opção. Imagine o pai ou a mãe indo até acriança e dizendo: “Nãããão! Um zero na quinta série? Temos um pioneiro! Vocêse adiantou aos acontecimentos, eu sabia que isso ia acontecer com você. Sóquero que você saiba que sua mãe e eu conversamos. Nós tomamos uma decisãoe queremos que você saiba: vamos amá-lo apesar de quantos anos demore paravocê ser aprovado na quinta série. E filho, nós pensamos em mais uma coisa: sevocê repetir apenas mais dois anos, sua irmãzinha estará na sua turma com você.Você e ela poderão ir a festas de aniversário juntos, etc.”

Seu filho vai olhar para você nos olhos e dizer: “Anos?”“Hã-hãn”.“Eu não vou levar anos para ser aprovado na quinta série!” E para a sua

surpresa, o problema se instala no coração daquele que, desde o início, deveriaser o dono dele.

A maneira como criamos nossos filhos quando eles cometem erros refletemuito claramente o que acreditamos sobre o fracasso humano, particularmentesobre o pecado. Muitos de nós pensamos que o pecado, os erros e o fracasso sãomais poderosos que o amor de Deus por nós. Muitos de nós pensamos que ofracasso humano é aquela força poderosa que tenta nos vencer, e que, portanto,precisamos manifestar um aparente poder sobre ela por intermédio da parceriacom o espírito de medo! Mas quando os discípulos queriam invocar fogo sobre amultidão que foi desrespeitosa com Jesus, o Mestre apenas sacudiu a cabeça. “Vósnão sabeis de que tipo de espírito sois”.[1] Além disso, 2 Timóteo 1:7 nos diz quenão recebemos esse espírito de medo, mas de poder, de amor e de moderação, oudomínio próprio. Note que não é um espírito de “domínio dos outros”.

Quando temos medo do pecado dos outros, isso nos deixa loucos diante dopecado. Não somos nós mesmos. Não somos nós mesmos quando estamoslidando com os erros dos outros. Essa coisa estranha acontece conosco, e oresultado é que acabamos dando um nome negativo à criação de filhos e àliderança. Você sabe quantas pessoas estão fazendo aconselhamento por causa derelacionamentos danosos com a liderança? É uma experiência bastante familiarpara nós ver líderes cooperarem com um plano demoníaco motivado peloespírito de medo. Quando somos confrontados com os erros das pessoas, com

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algo que talvez não possamos controlar bem ali naquele instante, ficamosassustados e exercemos a nossa autoridade com o espírito errado.

Então projetamos em Deus a ideia de que Ele está com tanto medo dopecado quanto nós. Mas de que exatamente Deus está com medo, afinal? Denada. Exatamente — de nada. Ele não tem medo de nada porque o amor lançafora o medo, e Ele é amor.[2] Ele é o amor. Se você não está sentindo o amorquando Ele está presente, algo está errado, porque Ele é isto — amor! Quandovocê está sentindo medo, isso não é Deus.

Então, temos de decidir algo: que parcerias vamos fazer quando estivermosna presença do pecado? Era isso que fazia Jesus parecer um gênio. Jesus podiaentrar e sair da vida dos pecadores. Ele entrava em um bar com prostitutas eladrões, e dizia: “Ei, pessoal, como vocês estão? Sabe, havia um rabino, umsacerdote e um pregador batista...”. E as pessoas o adoravam! Elas diziam: “Nãosei quem é esse cara, mas eu o amo, amo, amo!”

Mas os fariseus reagiam mais ou menos assim: “Olhe aqui, leproso. Toqueeste sino quando se aproximar, porque você me assusta. Ui, uma mulhermenstruada! Ui, pessoas mortas! Onde podemos nos esconder? Para ondepodemos ir? Vamos entrar no templo. Não pingue seu suor sobre mim, nada desuar em mim!” Jesus tinha o amor em cada poro, mas os fariseus nem sabiam doque ele se tratava. Assim, diante do pecado, os fariseus tinham medo, masquando Jesus estava diante do pecado, Ele era a solução, o remédio. Ele erapoderoso!

Não Podemos Ser Punidos

Por intermédio da cruz, Jesus apresentou algo ao mundo que ainda nãoentendemos. Ele fez com que cada um de nós não pudesse ser punido. Nãopodemos ser punidos! Essa afirmação não é uma questão de pensamentopositivo, embora provavelmente você já tenha ouvido isso ser pregado. É nossateologia alcançar os perdidos. “Entre no Reino do Céu livre e purificado dos seuspecados”. Declaramos isso de todos os púlpitos da terra.

Mas o pecado não precisa ser punido. Ele não precisa ser controlado. Ele nãoé uma força poderosa. O problema é que nós não cremos nisso. É fácil pregarsobre alguma coisa. Difícil é vivê-la!

Vamos considerar um pouco do que o apóstolo João tinha a dizer sobrecomo lidamos com o pecado após a cruz:

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Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, sealguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, ojusto.[3]

João mencionou algo sobre o que não falamos o suficiente. Pelo menos, eunão tenho ouvido essa mensagem há muito tempo. Ele disse: “Temos umadvogado em Jesus Cristo. Temos o melhor advogado da cidade. Vamos sairdesta”. Jesus está bem ali conosco em cada momento para ajudar a garantir avitória. Ele venceu o pecado em nossas vidas. Depois de afirmar esse ponto devista, João segue em frente e passa o restante do livro explicando que, por causada cruz, a nossa vida não tem mais a ver com tentar pecar, mas com cumprir omandamento que nos ordena amar. Mas só conseguiremos cumprir omandamento de amar à medida que realmente entendermos o que a vitória queJesus conquistou significa:

E ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelosnossos, mas também pelos de todo o mundo.[4]

Ora, esse versículo apresenta alguma coisa, mas você precisa saber o quesignifica a palavra propiciação, certo? Ela tem de significar alguma coisa paravocê. Você não pode simplesmente ler por alto e dizer: “Blá, blá. Blá. Seja lá oque for, deve ser algo... algo velho”. Propiciação é a palavra para reparação. Elepagou o resgate. Isso quer dizer literalmente que Jesus satisfez a ira de Deus paracom o pecado. A morte de Jesus na cruz satisfez a necessidade de Deus de puniro pecado no homem. Quando Jesus foi para a cruz e entregou Sua vida como osacrifício perfeito, Ele pôs fim a uma condição insaciável. Ele tambémapresentou uma realidade totalmente diferente com base em um relacionamentototalmente distinto entre Deus e a humanidade. Ele removeu a necessidade depunição. Ele removeu o medo do nosso relacionamento com Ele.

Diz 1 João 4:18: “No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa omedo, porque o medo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado noamor” (NVI). Se quisermos conduzir as nossas comunidades ao avivamento econstruir uma casa para a presença do amor, temos de saber como interagir unscom os outros de tal maneira que elimine a opção da punição, a necessidade decontrolar as pessoas quando elas falharem. Quando estamos na presença do

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pecado e reagimos com medo e controle, isso nos faz parecer tolos. Seria bomaprendermos isso. Seria bom quebrar a nossa concordância com isso. Aquelesque pecam não precisam ser punidos. Temos de encontrar uma resposta para asvidas reais das pessoas que nos cercam, as vidas reais das pessoas quepastoreamos, as vidas reais das pessoas das comunidades em que vivemos — umaresposta para o pecado que não inclua punição.

A Bifurcação na Estrada

Creio que a principal coisa que nos ajudará a mudar a nossa reação ao pecado éadquirirmos uma compreensão mais profunda da nova aliança que Cristoestabeleceu para nós. O apóstolo Paulo era apaixonado por nos mostrar quetemos a escolha de viver em dois tipos de relacionamentos diferentes com Deus,e quando não entendemos a natureza desses relacionamentos, isso geraproblemas. Em Gálatas 3, Paulo pergunta aos gálatas: “Quem os enfeitiçou? Oque aconteceu com vocês? Quem enganou vocês? Quem permitiu que vocêsalterassem completamente o seu sistema de crenças?” Então, ele diagnostica oproblema: “Vocês estão tentando praticar duas alianças. Vocês estão tentandoviver em dois acampamentos”.

Em Gálatas 4, ele distingue a Velha e a Nova Aliança, comparando-as aosdois descendentes de Abraão. Ismael, o filho da escrava Agar, representa a VelhaAliança, e Isaque, o filho de Sara, a mulher livre, representa a Nova Aliança. EmGálatas 4:30 ele cita Gênesis: “Lança fora a escrava e seu filho, porque de modoalgum o filho da escrava será herdeiro com o filho da livre”. Em outras palavras, asduas alianças não podem coexistir no mesmo lugar. Ou você é um escravo sob alei, ou você é um filho livre. Não há comunhão entre o amor e o medo. Vocênão pode ter os dois; você precisa escolher.

Ele conclui identificando aqueles que abraçaram Cristo: “E assim, irmãos,somos filhos não da escrava, e sim da livre”.[5] O versículo seguinte, Gálatas 5:1,diz: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vossubmetais, de novo, a jugo de escravidão”. Em outras palavras, o apóstolo estádizendo: “Tudo bem, vocês têm duas opções. Se quiserem, vocês podem viveruma vida protegendo seu relacionamento com as regras. Mas se vocês quiseremdedicar sua vida a preservar seu relacionamento com as regras, vocês estarão naVelha Aliança”.

O motivo pelo qual Paulo está tão preocupado é que essas duas alianças

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O motivo pelo qual Paulo está tão preocupado é que essas duas aliançasdiferentes produzem resultados diferentes. Anteriormente em sua carta, elemenciona que havia repreendido Pedro, que deveria saber o que era certo, portentar levar os crentes gentios a obedecerem às regras da Velha Aliança, e depoisexplica por que isso estava causando problemas:

Nós, judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios,sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei,e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido emCristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e nãopor obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.“Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmostambém achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministrodo pecado? Claro que não! Porque se torno a edificar aquilo quedestruí, a mim mesmo me constituo transgressor. Porque eu,mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus.Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, masCristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivopela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo se entregoupor mim. Não anulo a graça de Deus, pois se a justiça é mediantea lei, segue-se que Cristo morreu em vão”.[6]

Ele está dizendo que quando começamos a obedecer às regras da VelhaAliança, nos permitimos ser definidos como aqueles para quem essa aliança foidada, a saber, os pecadores. Quando nos definimos como pecadores, nós, pordefinição, merecemos ser julgados e punidos. Quando protegemos o nossorelacionamento com as regras, o resultado não pode ser nada a não ser punição.Não apenas isso, quando escolhemos essa aliança sabendo que Cristo já tratoucom o problema do pecado e abriu o caminho para nós nos relacionarmos com oPai como filhos e filhas, então estamos realmente dizendo que a morte de Cristofoi sem propósito e estamos nos abstendo da única coisa que pode nos salvar: agraça. Agora você pode ver por que Paulo estava tão irritado com Pedro.

Infelizmente, o mesmo problema ainda precisa ser tratado em muitas dasnossas igrejas. O declínio da unção do mestre acontece quando ela eleva o ensinodas regras e o torna supremo no ambiente, levando as pessoas a seguirem e acultivarem um relacionamento com as regras, em vez de um relacionamento com

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Cristo. Dizemos: “Ei, não se trata de religião, mas de um relacionamento”.Promovemos essa ideia em adesivos para carros e camisetas. Mas veja como amaioria dos ambientes eclesiásticos reage quando alguém quebra as regras. Todasas reações se voltam a pastorear a pessoa de volta a um relacionamento corretocom as regras. A punição é a ferramenta por excelência para restaurar uma pessoaa um relacionamento correto com a cultura das regras.

O problema é que em Cristo não recebemos, de fato, um relacionamentocom as regras, mas um relacionamento com o Espírito, um relacionamento decoração para coração, um relacionamento que pratica o amor. Em Romanos 7,Paulo fala sobre duas leis — a lei do pecado e a lei da vida em Cristo — e declaraque a lei do Espírito de vida em Cristo nos libertou da lei do pecado e da morte,da lei do relacionamento com as regras. Mas esse não é o relacionamento ou arealidade para muitas pessoas. A maioria das pessoas tem um relacionamentocom as regras, por isso o comportamento delas é motivado pelo medo dapunição e não pelo amor.

Vou lhe dar um exemplo simples. Você está dirigindo pela estrada. Todosestão seguindo o fluxo do trânsito... Exceto um sujeito que está se desviandopara lá e para cá. Esse sujeito está indo um pouco mais rápido que o fluxo dotrânsito. Quando você se dá conta, há um carro da polícia rodoviária vindo pelavia de acesso. Lá está ele. Todos estão extremamente cientes de que o carro depolícia está bem ali. “Ah, meu Deus, há um policial ali. Vou me atrasar. Nãocalculei isso quando programei o meu tempo de viagem. O que vou fazer?!” Écomo: “Tubarão na água! Tudo bem, pessoal, quem ele vai pegar?” E todosaceleram, certo? Não. Geralmente não. Todos diminuem a velocidade. “Vouficar atrás dele. Vou desacelerar. Vamos todos ficar atrás dele”. Por quê? Todosquerem proteger seu relacionamento com as regras e evitar a punição. Quando opolicial encosta o carro e detém o sujeito ou sai da estrada, todos voltam a “fluircom o trânsito”.

É claro que todos sabem que as leis do trânsito são boas e devem serrespeitadas. Do mesmo modo, Paulo explica que a lei de Deus é boa no sentidode que ela revelou o poder do pecado em sua vida e a sua necessidade deredenção. Esse foi o propósito da Velha Aliança. Entretanto, a lei em si não podetrazer essa salvação. Somente na morte de Cristo podemos morrer para o pecadoe ser livres para viver de acordo com uma lei diferente.

Paulo disse:

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Porque, no tocante ao homem interior, tenho prazer na lei deDeus; mas vejo, nos meus membros, outra lei que, guerreandocontra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecadoque está nos meus membros... Quem me livrará do corpo destamorte?[7]

Ele continua dizendo:

Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu,de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas,segundo a carne, [aquela que morreu com Cristo], da lei dopecado.[8]

No capítulo anterior, ele nos dá uma chave para nos conduzirmos a andar narealidade que nos tira da Velha Aliança e nos leva para a Nova: “Considerai-vosmortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus”.[9] Essa palavraconsiderar significa considerar a evidência e fazer um julgamento. O veredito deDeus sobre todo crente é que estamos mortos para o pecado em Cristo.

Paulo explica que a lei era apenas para os pecadores. Considerando queestamos mortos para o pecado em Cristo, fomos libertos de uma vida destinada aproteger uma relação com as regras. Romanos 8:1 nos diz: “Agora, pois, jánenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que andam de acordocom o Espírito e não de acordo com a carne”. A nossa experiência de vida semcondenação acontece de acordo com a maneira como andamos. Não passamospor condenação quando andamos, não de acordo com um relacionamento comas regras, mas de acordo com um relacionamento de amor. Não poder serpunido é o resultado de andar, através da fé e da graça, em um relacionamentocom o Espírito. Tudo tem a ver com a minha conexão de coração para coração,com a minha união, com a minha atenção a um relacionamento com Cristo.

À medida que andamos no Espírito, a pergunta que devemos fazerconstantemente é: como a minha vida está afetando o nosso relacionamento?Manter a lei da vida em Cristo significa que eu me administro a fim de preservare proteger a minha relação com o coração dele. Não se trata de viver para meproteger do castigador quando quebro as regras. Muitos de nós acreditamos quequando Jesus disse: “Se me amais, guardareis os Meus mandamentos”,[10] Ele

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queria dizer: “Se vocês Me amam, vocês Me deixarão controlá-los”. Se eu aindativer uma mentalidade formada a partir da lei do pecado e da morte, ouço Jesusdizer: “Mantenha o seu relacionamento com as Minhas regras!”

Uma perspectiva do Antigo Testamento faz com que João 14:15 soe comooutra tentativa de Deus nos controlar. “Se você Me ama, obedecerá aos meusmandamentos.” O problema é, logicamente, que não existe uma lista demandamentos de Jesus. Podemos tentar criar uma no esforço de proteger o nossorelacionamento com as regras dele, mas esse não é o ponto desse versículo. Jesusnão está querendo apresentar o Novo Antigo Testamento àqueles que Elemorreu para libertar!

Mas quando ouvimos essa ordem com a nossa mentalidade da lei de Cristo,na verdade, nós ouvimos: “Se você Me ama, esse amor irá se refletir na maneiracomo você trata as coisas que Eu lhe disse que são importantes para Mim. Aforma como você se comporta no nosso relacionamento será uma indicação clarapara Mim do seu amor. O que você vai fazer? Não quero controlá-lo e não tenhocontrole sobre você. Foi por isso que Eu lhe dei o espírito de domínio próprio. Éa sua atenção com o nosso relacionamento a fim de criar e manter a intimidadeque manifesta a lei da vida em Cristo. Intimidade é como você aprende o que éimportante para Mim, e se você Me ama, você ajustará o seu comportamentopara proteger o Meu coração”.

No Sermão do Monte, Jesus fez algumas declarações que se parecemterrivelmente com uma versão mais rígida das velhas regras. Na verdade, o tipode comportamento que Ele descreveu é impossível para qualquer pecador. MasJesus não estava dando aquelas ordens a pecadores — Ele as estava dando aosfilhos e filhas da Nova Aliança que teriam acesso a uma natureza inteiramentenova e a uma graça sobrenatural. Ele estava simplesmente descrevendo comoessas novas pessoas se comportariam. Lembre-se de que a Velha Aliança era umaaliança externa, um sistema de controles destinado a manter os pecadores nalinha. Mas a Nova Aliança é uma aliança interna para filhos e filhas a quem, porcausa da sua nova natureza, pode ser confiada a responsabilidade de segovernarem e que têm acesso ao poder do domínio próprio por intermédio doEspírito Santo. O comportamento que Jesus descreve é evidência do podersuperior que os filhos e filhas da Nova Aliança têm para andar em justiça.

É lógico que enfrentamos desafios ao aprender a andar no Espírito, mas essesnão são os desafios que enfrentamos quando estamos querendo cumprir as

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regras. Eles são os desafios de morrer para nós mesmos e de exercer o nossodomínio próprio para permanecermos ligados ao fluir da graça de Deus que noscapacita a viver vidas livres do pecado. Assim, de certa forma, essa lei de Cristo émuito mais difícil do que simplesmente seguir o “fluxo do trânsito”. Mas asrecompensas são infinitas porque é aí que entra o Reino. A lei que governa oReino é a lei de Cristo, a lei do amor, e não a lei do cumprimento de regras.Quando nos alinhamos com o amor, o Reino do amor se manifesta em nossasvidas. O ponto que Paulo procura provar é: “Se vocês não têm amor, se vocêsnão têm isso, vocês não têm nada”.[11] Não existe vida nas regras. Você pode serexcepcionalmente obediente às regras, mas não manifestar a vida do Reinoporque não há vida nas regras.

Se você acha que tem um relacionamento com Jesus e o amor não está semostrando nos seus relacionamentos com as pessoas, então não sei o que vocêtem. Se você não pode cultivar relacionamentos de coração para coração epraticar a intimidade com as pessoas, adivinhe quem está seguindo quem? Sevocê não conhece a Deus, Ele se parecerá muito com você. Você o inventará, evocê será uma estrela do rock nesse relacionamento. Quando não sabemos quemDeus é, isso acontece porque não conhecemos o Seu amor nem sabemos como oSeu amor funciona, então ficamos assustados e o transformamos (e ao nossorelacionamento com Ele) em algo que já conhecemos.

E adivinhe o que vamos ensinar aos nossos filhos? Vamos ensinar aos nossosfilhos o que já sabemos. Não vamos ensinar aos nossos filhos um relacionamentode ligação de coração para coração. Não vamos ensinar intimidade aos nossosfilhos. Não vamos ensiná-los a administrar a metade deles de “nós” se vivemos avida em um relacionamento de cumprir regras. Você sabe o quanto édesanimador ter um relacionamento com as regras? Pergunte ao seu filhoadolescente. Ele lhe mostrará.

A verdade é que damos a todos os que fazem parte do nosso círculo deinfluência o que conhecemos, e isso contribui para o desenvolvimento de umacultura de relacionamento que é guiada por regras ou guiada pelo amor. E sóuma cultura promove a honra, porque apenas ela reconhece com exatidão aplenitude da identidade que Deus nos deu. Não existe cultura da honra sem umaconvicção forte de que somos filhos e filhas livres da Nova Aliança, e nãoescravos da Velha. Precisamos fazer o que for preciso para abraçar corajosamenteessa verdade de quem somos, andar nela e passar a conhecê-la como a nossa

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realidade. Só então poderemos criar e transmitir vida, amor e liberdade — oReino — aos que nos cercam. Sempre transmitimos o que conhecemos e o quetemos. Se tudo o que conhecemos é medo e controle, e é isso que continuamosvendo no nosso ambiente, então precisamos corrigir as nossas convicçõesessenciais sobre nós mesmos, o pecado e a obra da cruz.

Geração após geração, as pessoas da igreja têm vivido a vida tentandoproteger um relacionamento com um livro de regras. Você pode até dizer quenão é assim, mas o que acontece quando alguém quebra as regras? Esse é o seutermômetro. O que acontece quando alguém transgride o que você está vivendopara proteger? É nesse momento que essa cultura vai se manifestar. Esse é o seuteste. O que acontece quando o Joãozinho traz um zero para casa no boletim?Sua reação é a evidência do quanto as regras são importantes para você.

Quando entramos em pânico diante do pecado, isso é evidência do quanto asregras são importantes para nós. Eu diria que temos evidência suficiente paragarantir que as regras são extremamente importantes em grande parte da culturada igreja. É hora de olharmos para essa evidência e admitirmos que as nossasreações temerosas contradizem diretamente a mensagem de Cristo quepregamos. A Bíblia é clara ao dizer que temos duas opções — podemos escolherproteger as regras e criar uma cultura religiosa ou proteger os nossosrelacionamentos e criar uma cultura de amor. E só uma dessas opções representaa aliança que Cristo morreu para fazer conosco.

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P

CAPÍTULO 4

FILHOS DA LUZ MUITO AMADOS

Frequentemente damos às crianças respostas para lembrar em lugar de problemaspara resolver.[1]

(Roger Lewin, Teórico Científico)

orque noutro tempo éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor; andaicomo filhos da luz...”.[2] Paulo faz uma declaração impressionante e

apresenta uma revelação penetrante com essa afirmação. Muitos cristãos estãoempacados na revelação apresentada na primeira metade desse versículo.Acreditamos que a “natureza” do homem é trevas, por isso tivemos uma grandedificuldade no período de transição entre as trevas e a luz do Novo Testamento.Nós nos demoramos tanto na mentalidade de enganoso é o coração, mais do quetodas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?,[3] que falhamos em cultivar averdade de que somos “filhos da luz”. Sim, um dia fomos trevas, mas essanatureza mudou completamente. O nosso medo do pecado precisa ser removidoe as nossas ofensas desarmadas antes de permitirmos que o Céu governe na terrapor meio de nós.

Quando as pessoas pecam, isso é ofensivo. Quando as pessoas quebram asregras, isso é ofensivo à natureza humana. O mundo fica ofendido com opecado. Veja as manchetes do seu jornal:

“Estrela de Hollywood vai para a cadeia.”“Não, ela não vai para a cadeia.”

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“Sim, ela vai voltar para a cadeia.”“Ela encontrou Deus na cadeia.”“Ela abandonou Deus na cadeia.”“Sabe aquele sujeito do rádio, de quem a maioria de nós nunca ouviu falar

até que ele fez uns comentários raciais infames, vamos crucificá-lo publicamente,chutando-o escada abaixo e fazer uma votação nacional para despedi-lo.”

“Professor de escola molesta criança.”“Policial viola a lei.”As pessoas amam essas coisas. “Espere, deixe-me ler! Não vou comprar o seu

jornal, exceto se houver algo ofensivo nele.” É natural ficar ofendido quandoalguém quebra as regras. Colocamos as pessoas na prisão e as chamamos deofensores. Nossa sociedade está cheia de pecadores cometendo pecado e,naturalmente, nossa sociedade está presa a um relacionamento com as regras.Algumas pessoas definem seu relacionamento com as regras quebrando-as. Amensagem que elas desejam transmitir é: “Não serei controlado”. Mas sem umrelacionamento com o amor, a única opção que a nossa sociedade tem édescobrir uma maneira de viver a vida dentro do confinamento das regras.

Muitas regras exigem muitos juízes, e as pessoas amam fazer o papel de juiz.É para isso que são as manchetes e as edições de notícias, para nos ajudar emnossas habilidades de juízes. Imagine a imensidão de pessoas que se sentam todasas noites para assistirem suas TVs com uma atitude de julgamento erepugnância. Agora, considere quantas dessas pessoas são cristãs.

Nós, como crentes vivendo nesta cultura mais ampla, precisamos estarcientes dos esquemas do inimigo. Temos de estar cientes do quanto é natural serofendido, e o que a ofensa nos causa. O que a ofensa faz com você é que elajustifica que você retenha o seu amor. Eu posso reter o meu amor de vocêquando você quebra regras, porque as pessoas que falham são indignas de amor,e elas merecem ser punidas. Na verdade, punição é reter o amor. E quando euretenho o amor, a ansiedade preenche o vazio, e um espírito de medo dirige omeu comportamento para com o ofensor.

Quando temos medo, queremos controlar, e as nossas reações ao pecado dasoutras pessoas são um conjunto de controles que nos ajudam a sentir que aindaestamos no comando. As práticas típicas da família, das igrejas e do governo sãoum conjunto de séries de comportamentos chamados de “punições” diante deum ofensor, exigindo que ele passe por essas punições, a fim de provar que a

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família, as igrejas e o governo ainda estão no comando do ambiente. Ao fazerisso, ajudamos a confirmar a crença, na pessoa que optou por pecar, de que ela éincapaz para mudar e para assumir a responsabilidade pelo seu comportamento.Todo esse negócio é justamente aquilo de que Jesus morreu para nos livrar. Elenos apresentou um mundo totalmente novo com outro caminho inteiramentediferente.

Um Homem Segundo o Coração de Deus

Embora tenha vivido sob a Velha Aliança, Davi era um homem que valorizava oseu relacionamento com Deus mais do que as regras. E em 2 Samuel podemosperceber o que aconteceu a esse homem quando ele as quebrou. Em 2 Samuel 11lemos a história do dia em que Davi deveria ter ido para a guerra, mas ficou emcasa. Ele ficou em casa e mandou Joabe ir trabalhar.

Uma tarde, levantou-se Davi do seu leito e andava passeando noterraço da casa real; daí viu uma mulher que estava tomandobanho; era ela mui formosa.[4]

Ele perguntou: “Quem é aquela?” E disseram: “Bem, aquela é a mulher deUrias”. Urias o hitita era um dos valentes de Davi — um do círculo íntimo, umdos seus amigos. E então lemos em 2 Samuel 11:4: “Então, enviou Davimensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se deitou com ela”.

Se sabemos alguma coisa sobre Bate-Seba, sabemos que ela era uma mulherimpressionante. Como sabemos disso? Por causa de com quem ela era casada.Urias era brilhante. Ele não teria se casado com uma mulher atirada. Davi atomou, levou-a para o seu quarto e se deitou com ela. É muito provável queDavi tenha violentado Bate-Seba.

Esse mesmo versículo segue em frente dizendo: “Tendo-se ela purificado dasua imundícia, voltou para sua casa” — apenas para enviar algum tempo depoisuma mensagem a Davi dizendo que estava grávida. Ora, isso não aconteceu emum fim de semana. Isso levou meses. Isso foi antes de terem criado os testes defarmácia, em uma época que não se podia antecipar essa notícia. Estou certo deque ela esperou até ter certeza para dizer ao rei que estava grávida, portanto deveter sido meses depois.

Quando Davi descobriu, ele disse: “Onde está Urias? Ei, vão procurá-lo e

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Quando Davi descobriu, ele disse: “Onde está Urias? Ei, vão procurá-lo evamos dar a ele um tempo de folga. Ah, Urias! Como é bom ver você! Vamos lá,tragam-no aqui. Urias, que homem incrível você é, venha cá. Eu gosto muito devocê. Obrigado por tudo o que você está fazendo apoiando o esforço da guerra.Agora, vá dormir com a sua mulher. Ouvi dizer que ela engordou porque temcomido muito ultimamente. Acho que ela está meio angustiada. Talvez vocêqueira consolá-la. Preciso de ajuda para encobrir a consequência do meupecado”.

Mas Urias não quis fazer isso. Davi mandou comida para ele. “Ei, sabe deuma coisa, vá e alegre-se”. Mas Urias dormiu nos degraus diante da casa do rei.Ele não quis ir para casa. Ele disse: “Por que eu iria dormir com minha mulherem minha cama quando os homens estão deitados em um campo? Não irei”.

Davi pensou: Maldição! Um homem de caráter. Eu não esperava por isto.Então ele decidiu: “Ei, vamos fazer uma festinha. Vamos ver se conseguimosembriagá-lo. Talvez se conseguirmos embriagá-lo, possamos fazer com que elefique fora de si e então podemos fazê-lo encobrir o meu pecado. Urias! Ei, cara,eis aqui um pouco de vinho, o melhor que tenho. Quer que eu encha de novopara você? Aqui está, companheiro. Por que eu dei a você a taça grande? Bem, éuma taça de honra. É, é isso aí”.

Naquele momento, Urias realmente dormiu em uma cama — nos aposentosdos criados. O que Davi ia fazer? “Está certo, tudo bem. Meu tempo está seesgotando aqui. Ela vai dar à luz em breve e eu preciso resolver isto. Olhe, Urias,pegue este bilhete e o entregue a Joabe. Tome a sua sentença de morte e aentregue ao seu comandante”.

Isso não aconteceu em um fim de semana. Essa não foi apenas uma pequenaaberração no caráter de Davi. Davi estava praticando algo. Sem duvidar, Joabeenviou Urias para a frente de batalha, recuou as tropas, e ele foi morto. Omensageiro voltou e Joabe disse: “Diga a Davi que perdemos alguns homensmuito bons nesta batalha. Se ele ficar irritado com você, diga a ele: ‘Ah, e porfalar nisso, Urias morreu’”.

Então o mensageiro voltou com a mensagem: “Perdemos bons homens... eUrias morreu”. Davi disse: “Sabe, pessoas boas morrem. Diga a Joabe: ‘Pessoasboas morrem em batalha. Faz parte da guerra. Tomem a cidade amanhã’. Istodeixará Joabe feliz — ele gosta de matar”.

Você conhece a história. A esta altura, já era hora de confrontar a situação. Oprofeta Natã foi até ele e disse: “Cara, é você!” Então Davi passou sete dias se

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arrependendo de cara no chão, e a criança morreu como Natã disse queaconteceria. Então lemos em 2 Samuel 12:24: “Então, Davi veio a Bate-Seba,consolou-a e se deitou com ela; teve ela um filho a quem Davi deu o nome deSalomão”.

Então... hummm. Sim, o Senhor tirou a vida da criança. Mas algo não estábem entendido aqui. Onde está a punição do “Antigo Testamento” nessahistória — uma punição que realmente “se encaixe no crime”? O Reino não foiretirado dele como aconteceu com o rei Saul. Ele também não foi derrotado poruma nação inimiga nem levado cativo. Sua família ficou marcada para semprepelos atos de Davi. Mas geralmente não sentimos o peso do que Davi fez comUrias e Bate-Seba, porque Deus disse que ele era um homem segundo o Seucoração. Mas quem entre nós quer ter Davi como o nosso pastor nos dias atuais?

Precisamos entender que se Davi fosse o presidente dos Estados Unidos, eleseria equivalente a um Bill Clinton dos nossos dias — exceto pelo fato de queBill Clinton nunca matou nenhum de seus amigos nem se casou com a esposa deseu amigo. Você se lembra de ficar ofendido com Bill Clinton? Você se lembrade ter se alegrado ao pensar na punição de Bill Clinton? Você percebe qual é areação natural ao pecado que existe no homem?

Há outros exemplos na Bíblia dignos de nota, exemplos que desafiam asexpectativas da justiça criada pelas regras. Veja Abigail. Ela era uma mulherinsubmissa, basicamente. Ela fez o que seu marido Nabal havia se recusado afazer: pegou as coisas de seu marido e as entregou a Davi, que estava muitoirritado. Davi estava indo matar Nabal, mas Abigail reverteu a situação, e isso fezdela uma mulher rebelde e insubmissa — de acordo com as regras. E qual foi areação? Deus matou seu marido estúpido e ela se casou com Davi.[5]

E houve Pedro. “Pedro, você vai Me negar.”“Ah, isso jamais acontecerá. Eu jamais O negarei.”“Antes que o galo cante.”“Nunca acontecerá.”“E sabe de uma coisa? Se vocês Me negarem diante dos homens, Eu os

negarei diante de Meu Pai.”Sem dúvida, Pedro O negou. E o que Jesus fez?“Pedro, Você Me ama?”“Sim.”

“Pedro, Você Me ama? Pedro, você vai proteger as coisas que Eu lhe disse

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“Pedro, Você Me ama? Pedro, você vai proteger as coisas que Eu lhe disseque são tão importantes para Mim? Pedro, você vai administrar a sua vida de talmaneira a Me proteger?”

“Sim, Senhor. Sim, eu vou.”[6]

E temos a mulher adúltera. Qual foi a resposta de Jesus para ela? Vá e nãopeques mais.[7] Uau! Isso vai deixar uma marca! Ou não, na verdade, com certezanão. Pelo menos não o tipo de marca que o restante das pessoas estava esperandodeixar nela.

Qual É a Diferença?

Então, por que Deus reagiu de forma diferente com essas pessoas? Por que Davie Pedro tiveram um resultado diferente do que mereciam? Por que eles tiveramuma resposta diferente das outras pessoas que cometeram os mesmos erros? Qualera a diferença entre Davi e Saul, por exemplo? Bem, Saul simplesmente nãomatou todos os que devia matar. Qual foi a diferença entre Pedro e Judas? Pedronegou Jesus três vezes, enquanto Judas o traiu uma vez. Na verdade, a verdadeiradiferença é algo extremamente importante, e não está no pecado deles, mas simno que eles fizeram depois. É o arrependimento. Mas o arrependimento sófunciona quando a prioridade do ambiente é uma relação de coração paracoração.

O arrependimento não satisfaz as regras quebradas. O arrependimento nãofuncionará em um ambiente onde estamos protegendo um relacionamento comas regras. Em um ambiente movido pelas regras, o arrependimento tem umsignificado diferente. Ele significa a sua disposição em me deixar puni-lo. Vocêestá arrependido quando permite que eu imponha as minhas punições a você. Eo problema do coração, que o levou a cometer o erro em primeiro lugar, nunca étratado, porque o problema do relacionamento e do amor nunca é abordado. Aatitude geral para com alguém que está arrependido em uma cultura regida pelasregras é: “Você submeteu a sua vontade a mim no nosso ambiente. Porém,nunca poderei confiar em você, porque você provou ser alguém que quebraregras, e isso ficará na minha memória por muito tempo. Até que eu comece aesquecer o quanto fiquei chocado com você, nunca poderei lhe dar podernovamente”. Essa atitude é o que rege o que chamamos de “processo derestauração”.

Mas o verdadeiro arrependimento é um dom. Ele não é a sua opção. Não é o

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Mas o verdadeiro arrependimento é um dom. Ele não é a sua opção. Não é oseu chamado. É um dom que surge em um relacionamento. Não há lugar para oarrependimento nas regras, somente para a punição. Se você quebrar as nossasregras, então pagará o preço. É assim que funciona. Você paga o preço para aliviaras ansiedades das pessoas que fazem parte do ambiente e que vivem de acordocom as regras. Se você cometer o crime, então terá de pagar o preço. Quandopraticamos isso na igreja, estamos nos permitindo ser definidos pelos limites dogoverno da terra. Quando você quebra a lei, o melhor que o governo da terrapode fazer é dizer: “Nós os ferimos o suficiente para que vocês se acalmem”.

O dom do arrependimento gera a oportunidade para a verdadeirarestauração. Na verdade, ele é absolutamente necessário para curar umrelacionamento que foi ferido por um comportamento pecaminoso. Overdadeiro arrependimento só pode vir por intermédio de um relacionamentocom Deus, no qual entramos em contato com a graça do Senhor para mudar.Davi passou sete dias no chão se arrependendo diante de Deus. Saul tambémtentou arrepender-se diante de Samuel por quebrar as regras. Mas quando Davise levantou do chão, ele era outro homem. Como sabemos disso? Ele nunca maisfez o mesmo. Não houve outra Bate-Seba.

Então, o que é a verdadeira restauração? Um velho significado da palavra“restauração” é “encontrar alguém com uma linhagem real que foi removido dotrono e depois restaurar essa pessoa a esse trono, a uma posição de honra”. Mascolocar um monarca de volta em seu lugar de autoridade raramente é o quechamamos de “processo de restauração” quando lidamos com os líderes da igrejaque quebraram regras. Muitos líderes que caíram deixaram suas igrejas oudenominações e foram em busca de um “novo começo”. Isso significa que elesencontram um grupo de pessoas que não têm medo que eles quebrem as regrasoutra vez.

Mas quando Deus restaura aqueles que se arrependeram, o processo derestauração dele é como restabelecer um membro da família real ao seu lugar dedomínio e honra. O crente restaurado pode dizer: “Agora sou um filho de Deusoutra vez”. A restauração para o crente é sempre uma restauração derelacionamento, porque a restauração é definida pela cruz, e restaurar umrelacionamento foi o que a cruz fez. Depois que João declarou que Jesus setornou a propiciação pelos nossos pecados, ele concluiu: “Se Deus assim nosamou” — isto é, se Deus estava tão disposto a proteger o Seu relacionamentoconosco em vez de proteger o nosso relacionamento com Suas regras — “também

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nós devemos amar uns aos outros” (1 João 4:11). Em outras palavras, devemosamar uns aos outros dessa mesma forma. O padrão do governo do Céu éaprendermos a cultivar e proteger o nosso relacionamento com Deus, com oamor e uns com os outros. E se não pudermos fazer isso, não refletiremos o Céupara a sociedade em que vivemos. Apenas teremos regras mais rígidas que nosofendem mais depressa, e julgaremos com mais frequência e ficaremos famosospor sermos juízes ofendidos.

Jesus nos deu uma chave para ficarmos livres da lei que nos mantém presos aum modelo de governo terreno, particularmente de como esse modelo reage aopecado. Em minha opinião, o motivo pelo qual um ambiente apostólico eprofético é tão importante é porque ele renova constantemente e refrigera anossa consciência e confiança nos valores essenciais do Céu, para podermostrazê-los à terra. Parece claro para mim que o melhor que podemos fazer em umambiente onde os mestres e pastores lideram, é simplesmente justificar ocomportamento equivocado de utilizar modelos terrenos para lidar com o povode Deus. Quando começarmos a aplicar os valores essenciais do Céu à culturadas nossas congregações e famílias, entre eles esse valor essencial de que nãopodemos ser punidos, creio que essas culturas serão verdadeiramente reformadas.As pessoas experimentarão vida de uma maneira completamente nova.

Cheio de Luz

Quero lhe contar uma história que resume o que é a restauração celestial. Umamigo meu, um pastor e mestre — um dos mestres mais capazes e brilhantes queconheço pessoalmente — chamou-me um dia e disse: “Estou com um problema.Tenho um líder de adoração que acaba de confessar para a sua esposa umrelacionamento imoral. Isso acontecia havia anos. Era com a melhor amiga daesposa dele. Na verdade, ele e sua esposa foram os mentores dessa mulher e domarido dela quando o casal veio para a igreja e assumiu uma posição na equipetrabalhando com a juventude. Ele acaba de contar para a esposa, e eles estãosaindo de férias amanhã”.

“Não sabemos o que fazer, porque ele não é apenas um líder de adoraçãoqualquer. Esse cara é impressionante. Ele tem levado nossa igreja a novas alturasem Deus. Durante os últimos quatro anos, a unção em nossa igreja aumentou.Iniciamos uma escola de ministério, e ele e sua esposa dirigem essa escola. Este é

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o nosso terceiro ano. Praticamente dobramos o número de matrículas em nossaescola em três anos. Esse casal é pioneiro na criação de um ambiente fantástico.”

Esse pastor havia me telefonado porque ele sabia algo. Ele sabia o que tinhade acontecer quando a verdade aparecesse, porque ele sabia o que costumaacontecer em nossas igrejas quando você quebra as regras e está em umrelacionamento com elas. Eles tinham de fazer aquele homem passar pelo“processo de restauração”. Mas esse pastor também sabia que o processo derestauração que tínhamos na Bethel Church era diferente do que ele sempreconhecera. Então ele perguntou se eu estava disposto a me encontrar com essecasal primeiro e depois dar a ele alguma ideia de como agir.

Eu disse: “Ficaremos felizes em nos encontrarmos com eles”. Minha esposaSheri e eu nos encontramos com o casal cerca de dois dias depois. Quando elesentraram, a esposa parecia estar chorando há uma semana. Ele parecia ter sidoarrastado pelo fundo do carro durante as oito horas de viagem que fizeram pelaestrada. Ele estava simplesmente arrasado de vergonha. Sabia que havia destruídoseu relacionamento com as regras, e sabia que precisava ser punido. Ela estavasimplesmente devastada — seu coração estava partido. Toda a confiança que elaum dia teve estava destruída; cada pedacinho da vida que ela vivera até aquelemomento estava perdido e transformado para sempre. Ela ia perder o seuprecioso ministério na igreja. A vida dela havia terminado por causa do incrívelegoísmo dele.

Então simplesmente nos sentamos e os ouvimos por alguns minutos, e ele fezo melhor que pôde para nos dizer o quão terrível ele era. “Sabem, vocês têm deentender, eu sabia o que era certo. Eu sabia o que estava fazendo. Eu estavaescondendo aquilo. Havia uma guerra dentro de mim e eu tive esse problema avida inteira. Há dezoito anos, quando nos casamos e ela estava grávida do nossoprimeiro filho, cometi adultério com a melhor amiga dela também.” Elecontinuou tentando nos convencer de que merecia ser punido.

Então, Sheri profetizou algo sobre ele. Ela disse: “Vejo uma mão saindo docéu, segurando um cabo e virando uma chave, e então todas as luzes se acendem.É como se você estivesse cheio de luz, e tudo está completamente diferente. Éisso que o Senhor vai fazer”.

Ele disse: “É muito gentil da sua parte dizer isso. Apenas não posso acreditarnisso agora. Sinto-me a um milhão de quilômetros de distância disso nestemomento”.

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Estamos assistindo ao choque entre dois reinos: o reino do medo e o reinodo amor, o reino da liberdade e o reino do controle, o reino da luz e o reino dastrevas. O reino terreno que esse casal conhecia era gravemente limitado em seupoder para restaurar um filho da luz. Mais uma vez, a verdade é: “Um dia vocêsforam trevas. Agora vocês são luz. Vivam como amados filhos da luz”.[8] Mas osamados filhos da luz não podem ser governados pelas trevas, nem mesmo pelasmelhores trevas que pudermos encontrar. Por mais misericordiosas, justas,capitalistas e democráticas que as trevas sejam, elas não podem governar os filhosda luz.

Sheri e eu tínhamos o objetivo de convidá-los a experimentar o poder de umambiente apostólico que tornou os recursos do Céu permanentementedisponíveis. Estávamos cientes de que tínhamos acesso ao recurso da luz em umaatmosfera que requer luz. Quando o Céu invade a terra, ele vence as limitaçõesdo homem natural e das perspectivas naturais.

Não acreditávamos que o que aquele homem havia feito era evidência da suaverdadeira identidade. Paulo disse que um dia fomos trevas, mas agora somos luz.Só porque você tem trevas em você, isso não muda a sua verdadeira identidade.

Um amigo e eu estávamos andando pela propriedade de Mountain Chapelum dia. Estávamos tentando decidir onde construir o prédio da nova igreja.Enquanto caminhávamos, pisei em uma tábua e um prego entrou no meu pé.Levantei o pé e vi que havia uma tábua presa embaixo do meu sapato. Eu podiaver claramente que um prego entrara no meu pé. Mas nem por um instantepensei: “Sou um prego!” E quando um filho da luz descobre que há trevas dentrode si, isso levanta a questão: “O que você vai fazer? O que você vai fazer?”

Como líderes, podemos ajudar as pessoas nessa situação ficando ao lado delase ajudando-as a ter a convicção de que isso é o que Deus está lhes pedindo.Precisamos transmitir a mensagem: “Não é o meu trabalho controlá-lo. Eu nãoestou assustado. O que você vai fazer?”

Então, iniciamos o processo de restauração com esse casal fazendo algumasperguntas. Levamos a nossa luz conosco. Viver em um sistema de governoapostólico nos ajuda a naturalmente extrair luz do Céu para os nossosrelacionamentos pastorais. Portanto, temos um processo que cura os nossosrelacionamentos com as pessoas que quebram as regras. Isso nos torna poderososdiante do pecado. Não temos medo do pecado. O pecado não é nada! O pecadoé trevas! Basta um giro da chave e clique — acabou!

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Então fiz a pergunta que faço a todos nesta situação:— Qual é o problema?Ele me olhou como se eu estivesse bêbado, porque ele pensava que havia

feito um trabalho excelente me dizendo qual era o problema.— Acabo de lhe dizer. Sou um miserável promíscuo, fantasiado de filho da

luz. O que você quer dizer com “qual é o problema”?— Qual é o problema? Você não sabia que fazer isso era uma má ideia? —

perguntei.— Sim — ele respondeu.— Você não sabia que quando sua esposa ou seu pastor descobrissem isso, a

coisa iria acabar mal? — Inclinei-me para a frente em minha cadeira.— Sim — ele respondeu novamente.— Mas, assim mesmo, você seguiu em frente? — Insisti.— Sim — ele não tinha certeza se eu estava me preparando para dar um soco

no seu nariz ou o quê.— Então, qual é o problema? — perguntei novamente.— O quê? — ele perguntou, com a testa franzida e a boca puxada para um

lado.— Qual é o problema que levou um homem a provocar tamanha destruição

em sua família, na igreja que ele ama e na sua paz com Deus? O que faria umhomem chegar a esse ponto? Qual é o problema?

— Não sei — ele respondeu desanimado.— Você se arrependeu?— Sim — ele respondeu com um fervor firme, embora o seu tom o traísse e

mostrasse uma dúvida de que esse arrependimento estivesse pronto para passarpor um teste.

— De quê? — perguntei, encurralando-o.Ele olhou para mim, sem saber se eu estava a favor dele ou contra ele, e

respondeu:— Não sei.— Era isso que eu estava pensando. Como essa situação pode mudar se você

nem sequer sabe como se arrepender? — perguntei.— Não sei — ele disse, resignado.— Era isso que eu estava pensando também!

Sheri e eu estávamos olhando para aquele homem a partir de uma

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Sheri e eu estávamos olhando para aquele homem a partir de umaperspectiva de luz. Pretendíamos resolver aquele problema a partir de umcontexto celestial, porque aquilo fazia parte da nossa cultura. Era natural paranós abordarmos o pecado e o fracasso a partir de uma perspectiva que tornaDeus mais poderoso que o pecado. O homem, no entanto, estava convencido deque ele era trevas. Ele sabia que o governo da terra estava esperando para julgá-lo. Ele concordava com o paradigma da terra e estava pronto para aceitar o seuveredicto de julgamento. Era o nosso trabalho fazê-lo passar a ver a si mesmo apartir de outro ponto de vista. Ele precisava acreditar que era um filho da luzmuito amado.

— Mais uma vez. Qual você acha que é o problema aqui? — perguntei.— Eu realmente não sei.A esta altura do confronto, eu não sabia qual era o problema também. Então

decidi explorar um pouco.— Bem, diga-me uma coisa. Como é a sua relação com a sua esposa? —

perguntei, sabendo que era improvável que ele tivesse uma ligação muito fortecom ela. O adultério geralmente é um sintoma de que um casal tem problemasde intimidade um com o outro.

— Nós não temos uma relação, ou uma relação muito forte — elerespondeu tristemente.

— Qual é a linguagem de amor da sua esposa? — perguntei. Eu queria ver seele sabia como amar sua esposa.

— Palavras de encorajamento — ele disse, olhando para ela.A esposa, soluçando, disse:— Em dezoito anos, ele quase nunca disse que me ama.Finalmente estávamos chegando a algum lugar. Eu podia ouvir os

perseguidores do céu gritando em meus ouvidos. Eu sabia que aquele homem eraum homem apaixonado. Aquele homem estava levando o ministério deles agrandes alturas em unção. A igreja deles havia crescido incrivelmente ao longodos anos, e era vibrante e cheia de vida sob a liderança daquele homem. Então eudisse:

— Sua esposa se sente amada quando você a enaltece por meio de palavras, evocê não consegue balbuciar um “eu te amo” para ela. Enquanto isso, ela oassiste liderar as massas cantando “Eu te amo” para Deus. É isso que você estáme dizendo?

Eu podia ver que ele não estava me acompanhando, então procurei ajudá-lo

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Eu podia ver que ele não estava me acompanhando, então procurei ajudá-lonovamente a ver a contradição que estava vivendo.

— Deixe-me ver se entendo o que você está me dizendo. Você lidera pessoasna adoração e na busca apaixonada pelo coração de Deus. Você escreve cançõesque expressam essa paixão e esse amor incrível por Deus. Mas você não direcionanada dessa força para a sua esposa. E quanto aos seus filhos?

— Não consigo dizer “eu te amo” a ninguém, nem mesmo aos meus filhos— ele disse em meio às lágrimas. — Eu sou exatamente como o meu pai. Meupai também não consegue expressar amor por ninguém.

Havíamos acabado de encontrar o problema. Ficamos sentados ali um poucoperplexos. Aquele era o fundo do poço que ninguém de fora dessa famíliaconhecia ou havia experimentado. Mas também tínhamos outro problema. Eunão sabia o que fazer em seguida. Ficamos sentados em silêncio, interrompidosapenas pelo som de choro e de narizes fungando. Então, de repente, recebi umapalavra do Senhor. Eu não sabia se era uma palavra de sabedoria ou uma palavrade conhecimento ou o que era. Tudo que soube foi que eu não sabia o que fazerantes de recebê-la. Inclinei-me para a frente, agora confiante de que esta era achave. Perguntei:

— Você está querendo me dizer que só pode amar aquilo que você acha queé perfeito?

Ele olhou para mim, fez uma pausa e disse:— Não.— Deixe-me dizer isto de novo. Você está me dizendo que só pode se

arriscar a amar onde não existe chance de fracasso? Você está me falando que sópode amar o que você acredita ser perfeito, para que não haja possibilidade de semagoar?

Sua esposa entendeu claramente o que eu estava perguntando, e novaslágrimas começaram a descer.

Ele olhou para mim como se eu o tivesse atingido no nariz com um jornalenrolado.

Perguntei novamente:— Você está me dizendo que não pode arriscar o seu coração em nada que

possa não ter um resultado perfeito?Ele começou a sacudir a cabeça, mas então começou a sacudi-la

negativamente. De repente ele disse:

— Fui enganado. É exatamente isso que eu detestava em meu pai. Fui

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— Fui enganado. É exatamente isso que eu detestava em meu pai. Fuienganado! — ele disse duas vezes seguidas.

Então, a esta altura, convidei-o para passar alguns minutos perdoando ao seupai. Depois que ele fez isso, uau! Ele se virou para a sua esposa e disse com umasinceridade total:

— Eu amo você tanto. Eu sinto muito!Em um instante toda a sala se acendeu. Aquilo nos fez ter vontade de cantar:

Sou livre finalmente, Sou livre finalmente! Obrigado, Deus Todo-Poderoso! Sou livrefinalmente! O Céu me tocou!

Ele continuou confessando para a sua esposa:— Eu amo você. Eu amo você. Eu não sabia o que havia de errado comigo...Quando ele disse isso, o semblante de sua esposa mudou completamente. A

desesperança deixou a sala enquanto aquela mulher começou a experimentaraquilo que alguns minutos antes ela pensava que só iria acontecer no Céu. E elaestava certa. É lá que eles guardam essas coisas. Nós apenas tínhamos de ir buscarum pouco delas e trazê-las à terra. Depois de alguns instantes eles eram um casalde pombinhos apaixonados, sentados ali abraçados.

Foram dois milagres que aconteceram naquela manhã. Um foi o dom doarrependimento que o atingiu e o nocauteou. E o outro foi a disposição dela emperdoá-lo em um instante. Em um instante, as luzes se acenderam e ele tinhauma vida completamente nova — eles tinham um casamento novo em folha.Então ficamos sentados ali simplesmente observando-os. Foi estranho. Massimplesmente deixamos isso acontecer.

Ele disse:— Sinto-me como se as luzes de repente tivessem se acendido. Posso ver

como nunca pude ver antes. Sinto que estou cheio de luz!Simultaneamente, todos nós nos lembramos da Palavra que Sheri dera a ele

anteriormente quando estávamos juntos. Conversamos e oramos mais com eles,e Sheri profetizou sobre eles novamente. Foi um tempo glorioso que passamoscom pessoas maravilhosas.

Momentos depois, ele disse:— Sabem... Eu realmente não sei se deveria me sentir tão feliz! Sinto-me

esperançoso. Sinto-me tão feliz. Mas sinto-me mal por me sentir feliz.Um olhar curioso atravessou o seu rosto e ele perguntou:— Bem, agora que sou um homem diferente, o que a liderança da minha

igreja vai fazer comigo?

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Essa era uma pergunta muito boa. Por mais que eles fossem uma igreja comum grupo maravilhoso, eu tinha certeza de que eles teriam uma visão diferenteda situação. Felizmente, tínhamos uma vantagem fundamental para nos ajudar aguiar aquele processo a uma conclusão de sucesso: o pastor deles. Como eu disse,o pastor principal deles era um mestre — um mestre forte, dos cinco ministérios.Portanto, ele tinha uma forte necessidade de estar certo e de entender o queDeus estava fazendo. Mas felizmente, ele reconhecia isso sobre si mesmo e haviaentendido que poderia reduzir o teto da unção de todo o seu mundosimplesmente fazendo com que a sua necessidade de estar certo e de entendertudo fosse o guia principal da sua liderança, da sua vida e das suas decisões.Aquele homem tinha tirado a tampa da sua vida colocando-se debaixo de umministério apostólico, o que abriu espaço para a unção de uma liderançaapostólica e profética em seu ambiente. Esse é um dos motivos pelos quais elenos telefonou pedindo ajuda. Como eu disse, ele conhecia o que acontece aquiem nossa igreja.

Aquele casal voltou para casa e não ouvi falar deles por algum tempo,principalmente porque eu havia levado um grupo da nossa equipe pastoral parauma caminhada. Havíamos estado fora por quatro dias. (Quando falo em“caminhada”, quero dizer que fizemos uma caminhada de 3.200 quilômetros demochilas nas costas. Consumimos oitenta trutas em três dias. Na verdade, foimais uma viagem do que uma caminhada. No ano anterior, eu os levara em umaexcursão de 61 quilômetros percorrendo seis lagos pelos Alpes Trinity. Nossaequipe se refere a essa viagem como “A Marcha da Morte de Danny”. Aquilo foiuma caminhada.) Quando voltamos para casa, fui direto para o chuveiro porqueeu realmente precisava disso. O telefone tocou quando passei por ele. Nuncaatendo o telefone quando estou em casa, principalmente se for um número quenão conheço, como foi o caso. Mas por algum motivo, atendi.

— Alô?Era o meu amigo pastor. Ele disse:— Danny! Ei, tenho tentado falar com você!— Sim — eu disse. — Estive fora.— Você tem um minuto? Eu gostaria de lhe fazer algumas perguntas a

respeito do casal que enviamos até você.Como sabia que ele não podia sentir o meu cheiro pelo telefone, eu disse:— É claro!

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— Ah, ótimo! — disse ele, como se soubesse que eu iria falar isso. —Estamos com você no viva-voz agora na nossa reunião de presbitério. Estamosprocurando resolver esta situação. Ouvimos falar sobre as ideias que vocêscompartilharam com eles. Gostaríamos que você falasse um pouco sobre elas.

— Sem problema.Aceitei a ideia de que o chuveiro com o qual eu havia sonhado durante toda

a viagem teria de esperar. Meu amigo primeiro compartilhou algumas das ideiasque a diretoria deles havia abordado. O plano básico era algo parecido com isto:

Informar à congregação o que estava acontecendo e pedir queeles orassem pela restauração daqueles líderes.

Fazer uma pausa nas funções do casal por alguns meses, paraque eles pudessem trabalhar em seu casamento.

Rever o progresso deles depois de três a seis meses e, caso fossefavorável, reintroduzi-los lentamente no ministério.

Esse é o modelo “da terra para o Céu”, que sei que a maioria das igrejastentará colocar em prática. É o melhor que a terra pode fazer para construir aconfiança e a credibilidade novamente nas pessoas. Ele se destina primeiramentea consolar as pessoas, e depois a tratar da vida do líder. É difícil admitir, masquando a unção do líder sênior está focada primordialmente nas pessoas, entãoas necessidades das pessoas governam o ambiente. Mais uma vez, isso é apenas omelhor esforço da terra para gerar justiça, igualdade ou outro consolo humanonecessário.

Quando aquele casal esteve no meu gabinete algumas semanas antes, euhavia compartilhado um modelo “do Céu para a terra” para lidar com a situação.Eles foram encorajados ouvindo sobre o processo, mas perceberam que seria umesforço quase impossível para os líderes deles aceitarem aquilo. Percebi que meuamigo pastor queria entender o que eu compartilhara com eles. O que elerealmente queria dizer com aquele telefonema, mesmo sem ter dito, era: “Creioque entendo o que você compartilhou com eles. Quero chegar onde você está.Quero tratar essa situação à luz do Céu e não segundo as trevas dos modelos daterra. Apenas não tenho certeza de como provar isso biblicamente”. Anecessidade de “provar” algo biblicamente fazia parte da limitação dele, umalimitação que fortalecia o seu foco como mestre, mas reduzia sua capacidade de

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lidar com outras prioridades no que se referia a outras tarefas da liderançadiferentes do ensino. Ele reconhecia essa limitação e estava se esforçando parareceber a perspectiva de outra unção, a fim de reconhecer e agir com base nasprioridades do Céu para aquela situação.

Ele disse:— Realmente gostaríamos de ter algumas informações para nos ajudar a

tomar a nossa decisão.— Tudo bem, bom, eis o que vejo — comecei. — Vejo que durante os

últimos quatro anos você teve um homem que conduziu a sua congregação aocoração de Deus, e Deus tem derramado a Sua bênção sobre a congregação.Cada vez mais pessoas passaram a ser atraídas para a liberdade que está crescendono seu ambiente. Vejo que nesses quatro anos você gerou novos ministérios quesão abençoados e estão transbordando de vida e vigor. E em todo esse tempo,você teve um líder que era um grande mentiroso, desprezível e imoral, que viviauma vida dupla. Você lhe deu aumentos e o capacitou, assim como aumentou ainfluência dele no seu ambiente mais e mais.

Agora, o que você tem é um homem que está na melhor forma espiritual desua vida. Ele voltou para casa depois daquela semana de férias um homemtransformado. Ele foi para casa, reuniu seus filhos, pediu que se sentassem,olhou-os nos olhos e disse: “Por favor, perdoem-me. Tenho retido o meu amorde vocês a vida inteira. Sinto muito. Eu apenas amo vocês. Eu apenas adorovocês”. Ele derramou amor sobre seus filhos pela primeira vez na vida deles edepois os convidou para falar a qualquer momento em que eles sentissem esseamor diminuindo. Toda a família deles está se enchendo de luz.

Então, continuei:— Esse homem se arrependeu. Ele é um homem transformado. Mas porque

agora vocês conhecem o que estava oculto durante os últimos quatro anos,acreditam que precisam puni-lo. Se vocês fizerem isso, então não teria sidomelhor que ele tivesse continuado sendo um mentiroso desprezível, umprisioneiro do seu cativeiro, em benefício de sua igreja? O que vocês vão fazercom a verdade? Aquele homem não precisa de punição, de remoção, de férias, deuma licença, de uma liminar ou de qualquer coisa dessa natureza. Aquelehomem precisa prestar contas a alguém para garantir que ele mantenha a luzacesa. E ele precisa limpar a sujeira que fez.

Eles disseram:

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— Bem, isto traz à tona outra questão. Pretendíamos fazer com que elecomparecesse diante da congregação para contar o que aconteceu à igreja, comomedida de prestação de contas. O que você pensa a esse respeito?

Eu disse:— Bem, deixe-me ver se entendo. Fazer isso, ao que me parece, é como se ele

tivesse um galão de tinta, o tivesse deixado cair e tivesse respingado em toda asua equipe de presbíteros, sobre este outro casal, sobre você e sobre a esposa e afamília dele. Agora, vocês querem dar ao homem um balde de tinta de 1.800litros e uma granada como uma forma de limpar a sujeira que ele fez. Ora, eusou totalmente a favor das pessoas assumirem a responsabilidade pelos seus atos.Apenas não entendo por que vocês criariam um caos ainda maior do que o quejá têm. Creio que esse caos pode ser corrigido de maneira bem fácil, e creio queele pode ser restaurado muito facilmente. É o que penso.

Houve um enorme silêncio do outro lado da linha. Um deles fez outrapergunta sobre alguma coisa, e isso foi tudo. Eu disse:

— Deus abençoe a todos. Preciso ir tomar um banho.Isso aconteceu em agosto de 2006. Três meses depois, na Reunião Leader’s

Advance da Bethel Church, encontrei com meu amigo pastor e ele disse: “Vocênão vai acreditar no quanto eles estão se saindo maravilhosamente bem. Pareceque toda a família dele ressuscitou dos mortos. A luz e o cuidado que entrounaquela casa são de tirar o folego”. Ele disse também: “Lidamos com a situaçãoexatamente como você sugeriu. É tremendo e está dando certo!” Enquantoescrevo este livro, isso faz aproximadamente dois anos e todos eles estão ficandomais fortes.

O diabo está trabalhando para nos destruir, e o modelo “da terra para oCéu” geralmente o ajudará a realizar o seu objetivo na igreja. Sei que nãoestamos tentando ser destrutivos, mas estamos confinados às nossas limitaçõesterrenas quando nossos líderes principais são mestres, pastores, administradores eevangelistas, que não foram ligados ao fluir da unção e da revelação em umgoverno apostólico.

Por favor, entenda uma coisa. Não estou propondo que “mantenhamos ascoisas em família” como uma forma de lidar com os comportamentos destrutivosentre os cristãos na igreja. Se você acender a luz e vir que alguém precisa ir para acadeia, não envie uma equipe ministerial para lidar com essa pessoa, chame apolícia! Enquanto eu era o pastor sênior em Weaverville, denunciei cinco pessoas

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ao Serviço de Proteção à Criança, e duas delas foram encarceradas. Não tenhoproblemas em envolver as autoridades públicas nas situações quando sei que aigreja não pode responsabilizar as pessoas nem dar a elas o nível de abordagemnecessário para que elas fiquem bem. Precisamos estabelecer limites definidos,como a Bíblia ensina, para lidar com as pessoas que não se arrependem. Mastambém precisamos aprender a parar de ter de punir as pessoas que searrependem.

Não estou dizendo que vamos dar a elas permissão para “sair livres dacadeia”. Mas em vez de puni-las, chamamos as pessoas para andarem na suaidentidade superior e na sua responsabilidade como filhos da luz, em vez deesmagá-las ainda mais, confinando-as a viverem como pecadores. Quando o Céunos confronta nos nossos erros, é como o Senhor encontrando Jó: “Prepara-tecomo homem!”[9] Andar na luz não é para os fracos. Requer uma profunda fé noamor de Deus e no poder da Sua graça para nos dar o que precisamos paramudar.

Uma cultura de disciplina é construída na igreja para proteger o que aspessoas pensam — o que elas pensam sobre os líderes e o que elas pensam sobreaqueles que falham. Mais uma vez, quando o conforto ou as expectativas daspessoas são a preocupação principal dessa cultura, e quando a convicção essencialé que as pessoas que cometem erros são pecadoras, e não filhos, então adisciplina simplesmente não será administrada da maneira do Reino, pois apreocupação principal na cultura do Reino é: “Venha o Teu Reino Seja feita aTua vontade assim na terra como é no Céu”.

O propósito principal da punição é aliviar a ansiedade das pessoas.Procuramos chamar isso de justiça, mas é simplesmente o medo do homemtomando conta dos líderes que precisam ficar a favor das pessoas. Como vimosnas vidas de Davi e de Pedro, a justiça de Deus é desconcertante para os lídereshumanos. Só podemos entender isso quando abrimos mão de querer proteger onosso relacionamento com as regras. Quando começamos a proteger umrelacionamento com a lei da vida em Cristo, nosso objetivo nunca é aplacar omedo, mas restaurar um relacionamento partido e fazer a vida e o amor fluíremnovamente. E só existe um processo que realmente faz isso. Há satisfação porintermédio do arrependimento. Precisamos perder o nosso medo do pecado e onosso medo do homem, e precisamos parar de punir aqueles que se arrependem.

Foi para a liberdade que Jesus nos libertou.[10] Ele nos deu um caminho para

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Foi para a liberdade que Jesus nos libertou.[10] Ele nos deu um caminho paraficarmos livres do jugo de escravidão às regras e nos oferece um modo paravivermos nossas vidas protegendo os nossos relacionamentos — primeiramentecom Deus e depois com as nossas famílias e com os que estão dentro da nossaesfera de influência. Nossos filhos são aqueles a quem influenciamos maisprofundamente. Eles refletem claramente em suas próprias ações aquilo que lhesmostramos como modelo. Quando nossos filhos não precisam ser punidos pelopecado deles e começam a aprender que a prioridade quando eles falham érestaurar o relacionamento, e não aplicar a punição, eles começam a cultivar umalto valor pelos relacionamentos como a prioridade em nossa cultura. É assimque ensinamos as pessoas a viverem uma vida de amor e liberdade, e é assim queaprendemos o poder da confiança e da intimidade.

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D

CAPÍTULO 5

A PRATICA DA LIBERDADE - DESENVOLVENDO UMAMENTALIDADE PRÓSPERA

Não posso me dar ao luxo de ter um pensamento em minha mente que não estejana mente Dele.

(Bill Johnson, Bethel Church)

epois que meu filho mais velho, Levi, terminou a oitava série na EscolaCristã Bethel, ele enfrentou a decisão de onde iria cursar o ensinomédio. Sua irmã mais velha, Brittney, havia iniciado em uma escola

pública e terminou o ensino fundamental tendo aulas em casa. Mas estudar emcasa não era uma opção para Levi, porque ele queria jogar futebol americano.Então ele nos perguntou se poderia frequentar uma escola secundária pública.

Bem, essa era uma decisão familiar, porque afetaria toda a nossa família.Nossos problemas variavam desde o transporte para a escola até a confiança.Também sabíamos que essa decisão estabeleceria um precedente para o nossofilho mais novo, Taylor. A maior preocupação para nós era o fato de que, naescola pública, Levi se depararia com a liberdade e com opções com as quais elenunca se deparara. Mais do que nunca, precisamos tomar a decisão certa. AEscola Cristã Bethel tinha cerca de 140 alunos quando Levi estudava ali, sendoque 40 desses alunos representavam as turmas de ensino médio e 15 eram daturma de oitava série. A escola pública que ele queria frequentar tinha 500calouros e um total de 1.800 alunos — metade da população de Weaverville, a

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pequena cidade onde ele havia crescido. Além de ter de se acostumar com umaescola maior, ele estaria se mudando do ambiente de uma escola cristã queapoiava os valores essenciais da nossa família, para uma escola pública, ondeparecia que ele estaria vivendo praticamente no cenário de praia de um programade TV para adolescentes. Aquela definitivamente não era a nossa praia!

O novo nível de consequências para as escolhas que Levi faria em sua vidaencarava a mim e a Sheri. Será que acreditávamos que Levi nos protegeria com assuas decisões? Será que o nosso coração confiava nele? Estávamos dispostos apermitir que a jornada de aprendizado dele nos afetasse tão profundamentequanto aquelas decisões poderiam nos afetar? Estávamos dispostos a correraquele risco com um menino vulnerável de 14 anos?

Primeiramente, afirmamos a ele que aquela ideia nos assustava. Depoislembramos a ele o quanto poderíamos nos transformar em pessoas viciadas emcontrole quando estávamos assustados. E, finalmente, perguntamos como elepretendia nos proteger ao tomar a decisão sobre aquela etapa. Nosso futurocalouro franziu a testa e começou a perceber que era um participante poderosonessa conversa e nessa decisão. Ele pensou por um instante e depois declarousimplesmente: “Serei esperto... e não vou partir o coração de vocês”.

Uau! Esta era a resposta certa. E nós acreditamos nele.O verão anterior ao seu ano como calouro começou com práticas de futebol

americano à tarde no calor abrasador de Redding, Califórnia. Levi começou atrabalhar duro para entrar para o time, cercado pelos outros setenta calouros queestavam tentando o mesmo. Quando a estação dos jogos começou, o treinadorinstruiu os jogadores calouros a assistirem a um jogo do time da escola. Elequeria reforçar a ideia deles sobre como jogar no time da escola secundáriamostrando como os “meninos grandes” jogavam.

No dia em que o técnico pediu que os alunos fizessem isso, Levi chegou emcasa e nos disse: “O treinador quer todos nós no jogo esta sexta-feira à noite,para assistir ao time da escola jogar. Posso ir?”

Quando olhei nos olhos de Sheri, pude ver que ela estava pensando. Elaestava pensando o mesmo que eu. Estávamos tendo, os dois, flashbacks sobre oque havíamos feito nos jogos de futebol da escola secundária — e posso garantirnão tinha nada a ver com jogos de futebol! Nós nos voltamos e olhamos paraLevi. Sabíamos que não podíamos lançar sobre ele nenhum dos nossos erros daadolescência, mas ainda assim estávamos assustados com as inúmeras

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possibilidades que existiam naquela noite de sexta-feira esperando para tentá-lo.Então eu disse: “Filho, estamos muito assustados, mas você pode ir”.

“Posso ir!” ele gritou, sacudindo a mão no ar como um jogador que acaba demarcar um ponto. “De verdade? Posso ir? Maravilha!”

Eu estava certo de que ele não havia me ouvido dizer que estávamosassustados. Ele estava animado demais em se reunir com os seus colegas de timena sua busca por aprender mais sobre futebol. Levei-o ao jogo e concordei empegá-lo às 10 da noite. Àquela hora, voltei ao campo e com o dom da tecnologiaque é o telefone celular, encontrei-o. Ali estava ele, bem onde disse que estaria.Meu coração ficou aliviado porque toda a minha noite de preocupação forainútil. Ele saltou para dentro da caminhonete e me contou tudo que aprenderanaquela noite. A maior parte tinha a ver com o quanto os uniformes e oscapacetes do time da escola eram legais.

Estacionamos em casa e saímos da caminhonete. Enquanto nos dirigíamospara dentro de casa, Levi esticou-se, tocou o meu braço e disse: “Papai, obrigadopor confiar em mim”.

“De nada, Levi”, eu disse. “Obrigado por nos proteger esta noite, filho.”“De nada.”

O Poder do “Nós”

Levi sabe que ele carrega uma tremenda responsabilidade no nossorelacionamento. Ele sabe que ninguém pode fazer o papel dele entre “nós”, a nãoser ele. Ele sente o peso do “nós” sempre que está fora vivendo a sua liberdade.Ele sabe que é livre para fazer o que estiver no seu coração. O coração delepertence a ele, por isso ele deve administrá-lo. E porque está no coração deleproteger o relacionamento dele com sua mãe e seu pai, ele toma decisõesconsiderando como essas decisões vão nos afetar.

Isso é treinar alguém para a liberdade. Paulo falou sobre isso do seguintemodo com os coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm”.[1]

A liberdade faz com que a nossa responsabilidade pessoal venha à tona. Ou noselevamos com ela ou perdemos a nossa liberdade. A única maneira de cultivar aliberdade é através da experiência e do aprendizado em lidar com um númerocrescente de opções. Administrar opções cada vez maiores é a maneira comoexpandimos nossas vidas para uma abundância cada vez maior.

Jesus disse que o ladrão é aquele que vem para roubar, matar e destruir. É o

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Jesus disse que o ladrão é aquele que vem para roubar, matar e destruir. É odiabo que nos apresenta limitações, que remove as nossas opções e nos faz termedo de viver uma vida livre. Mas Jesus veio para que tenhamos vida, e vida emabundância.[2] O desejo do coração de Jesus é nos oferecer uma vida de opçõesilimitadas.

Abundância, liberdade e escolhas são maneiras de descrever uma condição daalma que precisamos dominar se quisermos viver uma cultura de avivamento.Desenvolver e expandir uma mentalidade próspera é a chave essencial para onosso sucesso em trazer o Céu à terra — e fazer com que ele permaneça na terra.As práticas da prosperidade são exercícios de abundância. Se desejamos sermordomos dos recursos do Céu, precisamos primeiramente aprender a praticaruma mentalidade de abundância.

Abundância Gera Liberdade

O primeiro erro que muitos crentes cometem quando alguém menciona aprosperidade é compará-la às riquezas. Mas a ideia de que o dinheiro tornaalguém próspero é como sugerir que segurar uma bola de futebol faz de você umzagueiro da primeira divisão. As riquezas ou o dinheiro são condições externas ea prosperidade é uma realidade interna. O nosso interior sempre se manifestaráno nosso exterior.

Durante muitos séculos, uma falácia religiosa tentou governar a mente doscrentes e convencê-los de que as riquezas são a raiz de todo o mal e, assim,quanto mais pobre você for, mais espiritual você será. De algum modo, deacordo com essa mentalidade, ser um cristão pobre, fraco, humilde e seminstrução é algo que Deus está encorajando no Céu. Seria o mesmo que vocêincentivar os seus filhos a serem dependentes da assistência social e expulsos daescola. Estou plenamente ciente de que, nas últimas décadas, a igreja passou parao extremo oposto e experimentou um “Evangelho da Prosperidade” que levoumuitos a buscarem carros luxuosos e estilos de vida confortáveis em vez de estilosde vida poderosos e o Consolador. Entretanto, uma mentalidade de prosperidadenão tem a ver com dinheiro ou idolatria. Tem a ver com liberdade.

Deus e Abrão

Para ajudar a definir uma mentalidade de prosperidade, quero lhe apresentar

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Para ajudar a definir uma mentalidade de prosperidade, quero lhe apresentaruma jornada pela qual Deus conduziu Abraão. Nessa jornada, Abraão começoucomo “Abrão” e finalmente se tornou “Abraão” quando Deus o fez passar porum processo que extraiu toda a medida da grandeza que Deus planejara para avida dele. Quando esse processo teve início, Abrão já era um homem rico. Eletinha muitos bens e muitas terras e era fiel na mordomia de sua riqueza. Ele eraum homem cujo exterior já se equiparava ao seu interior. Mas para que Deus olevasse ao nível seguinte, Ele apresentou um conjunto poderoso de instruções epassos que expandiram Abrão interiormente.

Ao apresentar a jornada de Abrão, quero desafiar você a abraçar esse mesmoprocesso em sua vida. Esse é o processo que nos permite confrontar a nossaprópria mentalidade e as limitações que trazemos conosco para o nossorelacionamento com o Céu. Limitamos a nossa vida em Deus tão facilmente ecom tanta frequência justamente porque não vemos aquilo que nos impede.

Em Gênesis 12 lemos sobre a primeira interação de Deus com Abrão:

Ora, o Senhor disse a Abrão: “Sai-te da tua terra, da tuaparentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. Efar-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teunome; e tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem,e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditastodas as famílias da terra”.[3]

Essa é uma apresentação e tanto! Desde o princípio, Deus deixou claro queiria transformar a vida de Abrão de algo que ele achava muito bom em algo queele nunca poderia imaginar: “Em ti, Abrão, serão benditas todas as famílias daterra”.

No Novo Testamento, o apóstolo Paulo nos conectou a essa mesmapromessa. Ele escreveu em Gálatas que se você está em Cristo, você é semente deAbraão e herdeiro da promessa que foi dada a Abraão.[4] Portanto, porintermédio da sua vida, também, todas as famílias da terra serão abençoadas. Éisso que você carrega no seu DNA. É isso que você carrega no nome de seu Pai ena sua identidade como filho do Altíssimo Deus.

Quatro Chaves para uma Nova Liberdade

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Existem quatro aspectos-chave para o processo que Deus iniciou com Abrão emGênesis 12. O primeiro aspecto está no nome de Abrão. Costumamos nosconcentrar no fato de que Abraão significa “pai de muitas nações”. Mas éimportante considerar que Abrão significa “pai exaltado”. Um pai exaltado não éapenas um pai. Abrão não era apenas um sujeito comum. O seu próprio nomerevela que ele estava disposto a assumir uma posição mais elevada, com maisresponsabilidade do que um pai comum. Esse era o sujeito com quem Deusestava trabalhando: “Pai Exaltado”. Do mesmo modo, aqueles de nós queestamos avançando para entender e carregar a unção e o avivamento que estãoacontecendo hoje, precisamos entender que Deus nos pediu para assumirmosum nível de responsabilidade maior do que as pessoas comuns. Entender essaresponsabilidade é o que nos molda para sermos pessoas que estão dispostas aseguir a Deus até um lugar cujo construtor e arquiteto é Deus.[5]

O segundo aspecto do processo vivido por Abrão é a primeira coisa que Deusdisse a ele, e quero que você observe isto como se Deus estivesse dizendo omesmo a você. Ele disse: “Abrão, quero que você saia do seu país”. Em outraspalavras, Deus disse: “Quero que você saia da sua terra. Quero que você deixe oseu território, a sua geografia. Quero que você saia dos limites que você passou aaceitar como o seu esconderijo, a sua segurança, a sua esfera de conforto einfluência”.

Em um mover de Deus, uma das mensagens que ouvimos repetidamente é ade que Deus quer que saiamos da nossa zona de conforto. O motivo pelo qualdevemos sair da nossa zona de conforto é porque precisamos não ter nada comonosso apoio, exceto Deus, se quisermos ter acesso à prosperidade do Céu.Recentemente preguei na Conferência Spiritual Hunger (Fome Espiritual) emSpokane, Washington. Heidi Baker era uma das palestrantes, e em uma de suasmensagens ela lembrou gentilmente aos presentes ali que muitos de nós temosum “Plano B” pronto para seguir caso Deus não apareça. Ela explicou que issomata a nossa fome. Quando canalizamos os nossos recursos para prover o nossopróprio conforto em lugar de canalizá-los em direção às agendas do Céu, issotambém paralisa os céus. A mentalidade de prosperidade, a mentalidade que nosprepara para participarmos do fluir do Céu à terra, é uma mentalidade queabraça a ordem de Cristo de buscarmos o Reino em primeiro lugar, sabendo queDeus cuidará das nossas necessidades e desejos.

O terceiro aspecto do processo de Abrão foi a afirmação seguinte de Deus:

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O terceiro aspecto do processo de Abrão foi a afirmação seguinte de Deus:“Quero que você deixe a sua família”. É interessante observar que quando Abrãoobedeceu a Deus, ele levou sua família com ele. Mas por que Deus estavadizendo claramente: “Estou dividindo a sua família”? Bem, nossa família defineas circunstâncias do nosso nascimento. Você e eu adquirimos uma identidade apartir daqueles com quem crescemos, e é muito difícil essa identidade mudar e seexpandir quando ela já está estabelecida na percepção daqueles que nos cercam.

É mais ou menos assim: digamos que você seja o mais moço de uma famíliade cinco filhos. Embora você seja adulto, todos ainda o veem como o“Joãozinho!” Quando você chega para as reuniões de família, eles o agarram, serevezam esfregando sua cabeça e desmanchando seu cabelo, e dizem: “Como vaio nosso Joãozinho? Como vai você, Joãozinho?”

“Mas papai, eu sou o principal executivo da IBM”.“Eu sei, filho, mas você vai ser sempre o nosso Joãozinho.”Você carrega uma identidade particular em um ambiente cheio de pessoas

que lhe são muito familiares. Toda vez que você está com elas, elas olham paravocê de uma maneira que diz: “Há, há! Olhe para você! Você nunca vai fugir dacaixa onde o colocamos”. Ora, essa identidade pode ser uma caixa muitoconfortável. Você pode ser respeitado e admirado por sua família. Mas arealidade é que só Deus, Aquele que projetou cada um de nós, entende a nossaverdadeira identidade e chamado. E para descobrir e se tornar quem Ele noscriou para sermos, precisaremos ir além dos limites do que a nossa família esperade nós.

O Senhor nos diz, como Ele disse a Abrão: “Quero que você saia dos seuslimites físicos e geográficos, e quero que você saia dos seus limites de autoridade.Quero que você saia do território onde você passou a se sentir confortável equero que você saia da identidade que tem origem nas pessoas que estão maisfamiliarizadas com quem você foi”.

E, por fim, o quarto aspecto desse processo que precisamos avaliar é o fato deque Deus nos diz, assim como disse a Abrão: “Quero que você saia da casa de seupai”.

Essa questão de sair da casa do seu pai é o ponto que quero focar durante orestante deste capítulo. A casa do nosso pai é o lugar onde recebemos aidentidade do nosso pai, a cobertura do nosso pai e, particularmente, o statuseconômico do nosso pai. Por exemplo, digamos que você nasceu em uma famíliacujo pai é um trabalhador humilde que ganha 15 dólares por hora. Sua mãe

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ficou em casa criando você e seus quatro irmãos, e tinha um negócio de venda deprodutos pela internet. A renda anual da família combinada era por volta de 50mil dólares por ano. Essa experiência colocou você em uma classesocioeconômica, e essa classe socioeconômica lhe deu uma lente através da qualvocê vê o mundo e os recursos em sua vida. Você funciona naturalmente dentrode uma classe específica de pessoas. Você identifica o que é valioso, o que épossível, e o que circunstâncias diferentes significam por meio da sua classesocioeconômica.

Nossa classe socioeconômica geralmente vem com um acompanhamento —um grupo de pessoas que confirmam o que acreditamos que é verdade e o quevemos como valioso. Estamos cercados de pessoas que veem o mundo como nósvemos: nossos vizinhos, os amigos dos nossos pais, nossos amigos mais chegadose nossas escolas. Todas essas pessoas, juntamente com inúmeros reforçosculturais dos quais praticamente não estamos conscientes, criam o nosso“normal”, e geralmente, não temos motivos para pensar que as coisas são deoutra maneira. Todos nós julgamos ou ridicularizamos as outras classes e nosapegamos à nossa como se fosse a única classe verdadeira, a única verdadeiravisão do mundo. Para muitos de nós, nossos olhos ainda não foram abertos parao fato de que existem outras formas de ver o mundo além da que conhecemos.

Então, o que quero apresentar a você em seguida é algo que espero que abraa sua consciência para a maneira como você vê as coisas agora e a forma como asua nova identidade, a sua verdadeira identidade, está destinada a ver as coisas.Espero expor e confrontar o modo como você vê as coisas, porque você foichamado para ser rei. Você foi chamado para ser um príncipe ou uma princesa.Você é realeza. Você é próspero de um modo que está além da sua imaginaçãomais incrível. Contudo, a não ser que você pense como uma pessoa próspera,não será capaz de lidar com a sua identidade, o seu papel, a sua responsabilidadee os seus recursos.

Chamados para Ser Reis

Provérbios 28:16 diz: “O príncipe falto de inteligência multiplica as opressões, mas oque aborrece a avareza viverá muitos anos”. Deixe-me afirmar isso assim: “Umpríncipe que não se vê como um benfeitor punirá os outros com o seu poder,mas aquele que detesta o lucro obtido com violência ou controlando os outros

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construirá um legado duradouro”. Quando um príncipe pensa como um pobre,ele vive como um grande e poderoso sobrevivente.

O pobre aprende uma lição poderosa na vida, que é como continuar vivoneste planeta. A visão socioeconômica de mundo do pobre é completamentedefinida e governada pelo medo de que os seus recursos diários se esgotem. Equando você dá a alguém que foi treinado para sobreviver um acordoempresarial ou um contrato esportivo profissional, ou um bilhete de loteriavencedor, ele se torna um supersobrevivente. Ele tem grandes recursos, mas osutiliza para se proteger em vez de usá-los para beneficiar outros, porque eleacredita naturalmente que é para isso que os recursos são. Ele vê o mundo comoalgo que está ali para servi-lo. Ele é um oportunista. O que ele não entende éque, empregando mal os seus recursos, ele está oprimindo os que o cercam. Eledestrói sua vida e, muitas vezes, as vidas daqueles que o cercam, porque sua visãode mundo foi formada com base em como sobreviver, e não em como prosperar.

Como crentes, todos nós corremos o risco de sermos príncipes que pensam evivem como pobres. Se não formos renovados em nosso pensamento, não apenasestaremos abusando do grande poder e responsabilidade que nos foram dados,como nem sequer estaremos cientes de que estamos fazendo isso.

Pobreza, Classe Média e Prosperidade

Todos nós somos restringidos pela visão de classe que recebemos na casa donosso pai. Para entender essas restrições e identificarmos tanto a maneira comopensamos quanto o modo como deveríamos pensar, vou lhe mostrar três visõesde classe socioeconômica: uma visão que olha através da lente da pobreza, umavisão que olha através da lente da classe média, e uma visão que olha através dalente da prosperidade. Vou lhe apresentar como cada uma dessas classes vê eexperimenta as coisas de uma forma completamente diferente.

Ao fazer este exercício, quero que você entenda que a visão de classe com aqual você concorda muito provavelmente seja a sua. Você possivelmente tambémtem uma teoria de por que as outras duas estão erradas. Nesse caso, tudo bem,porque todos os que estão lendo este livro farão o mesmo. Não vamos discutir oque é certo ou errado. Quero simplesmente lhe dar a oportunidade de perceberque, embora você agora seja próspero como um filho ou filha do Rei dos reis,talvez, como muitos de nós, você não carregue uma lente de prosperidade paraenxergar a sua vida.

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Na página a seguir, há um quadro elaborado pela Dra. Ruby Payne, extraídode seu livro intitulado Understanding a Framework of Poverty (Compreendendo oEsquema da Pobreza). Esse livro é um esforço para diagnosticar e tratar algumasdas principais causas que estão por trás dos fracassos do sistema educacional nasescolas das cidades do interior do Texas. Ao fazer essa pesquisa, o interesseparticular da Dra. Payne era levar os professores da classe média acompreenderem melhor e a influenciarem as crianças pobres em suas salas deaula. Ela afirmou que, pelo fato de a visão de mundo e as experiências de vidados professores e dos alunos serem completamente diferentes, os professores nãotinham o poder de educar as crianças que não pertenciam à sua própria classesocioeconômica. Assim, a Dra. Payne deu início a um sistema de apresentar aosprofessores outro conjunto de valores, convicções e motivações, capacitando-osassim a “saírem” das suas próprias limitações e alcançarem uma visão de classesobre a qual eles nada sabiam.

Em seu livro, a Dra. Payne ilustra como as diferentes classes experimentam eveem o mundo. Quando o li, achei a análise feita por ela extremamente perspicaze útil para a compreensão dessas diferenças. Ela faz um ótimo trabalhodescrevendo como todos nós vivemos em mundos muito diferentes enquantocompartilhamos do mundo em que vivemos. Esse quadro descreve o que cadaclasse mais valoriza em diversos aspectos da vida. Mais uma vez, ao rever ostópicos a seguir, creio que você se sentirá confrontado ao constatar o queconsidera como mais valioso e também será desafiado pelos valores das outrasclasses. Depois de apresentar esse quadro, selecionarei alguns desses tópicos paradetalhá-los melhor, no esforço de lhe mostrar por que precisamos “sair da casado nosso pai” e nos alinharmos com a nossa nova “casa do Pai”.

Esquema para Entender a Pobreza por Ruby K. Payne, PhD[6]

Pobreza Classe Média Riqueza

Bens Pessoas Coisas Exemplares únicos de objetos,marcas, legados

Dinheiro Para ser usado, gasto Para ser administrado Para ser reservado, investido

Personalidade É para diversão.O senso de humor éaltamente valorizado

É para aquisição eestabilidade. A realização éaltamente valorizada

É para relações. As relaçõesfinanceiras, políticas e sociais sãoaltamente valorizadas

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Ênfase Social Inclusão social daspessoas de quemgostam

A ênfase está naautossuficiência e naautonomia

Ênfase na exclusão social

Comida A quantidade é maisimportante

A qualidade é maisimportante

A apresentação é maisimportante

Roupas Estilo individual eexpressão dapersonalidade

Qualidade e aceitaçãopelos colegas, a marca éimportante

Senso e expressão artística, oestilista é importante

Tempo O presente é maisimportante

O futuro é maisimportante

Tradições e história

Educação Valorizada comoabstrata, mas não comorealidade

Crucial para subir a escadado sucesso e para ganhardinheiro

Tradição necessária para fazer emanter conexões

Destino Acredita no destino,mas se sente impotentepara mudá-lo muito

Acredita na escolha; tempoder para mudar ofuturo com boas decisões

Seus membros têm a obrigaçãomoral de agir de determinadamaneira (noblesse oblige)

Pobreza Classe Média Riqueza

Linguagem Sobrevivência Negociação Redes de Comunicação

EstruturaFamiliar

Matriarcal Patriarcal Qualquer um que tenhadinheiro

Visão deMundo

Local Nacional Internacional

Amor Depende de se gostar Depende das realizações Depende da posição social e dasconexões

Força motriz Sobrevivência,relacionamentos,diversão

Trabalho, realização Relações financeiras, políticas esociais

Gostaria de observar com mais atenção os tópicos comida, destino, visão de

mundo e força motriz — primeiramente para analisar as diferenças entre essasperspectivas de classes mais claramente, e em segundo lugar para perceber ainfluência dessas perspectivas em nós como crentes na igreja. Feito isso,poderemos reconhecer onde precisamos nos alinhar com o Céu. Todas as 14áreas mencionadas no quadro anterior são interessantes, por isso espero que aminha análise dessas quatro encoraje você a avaliar as demais e fazer o mesmotipo de comparação.

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Pobreza Classe Média Riqueza

Comida A quantidade é maisimportante

A qualidade é maisimportante

A apresentação é maisimportante

Escolhi a comida em primeiro lugar apenas por diversão. É uma experiência

tão diária que pensei que poderíamos rir de nós mesmos por um instante. O fatoé que a maneira como nos relacionamos com a comida indica muito sobre aforma como nos relacionamos com todos os recursos por meio dos quaissuprimos as nossas necessidades básicas.

Quando vamos a um restaurante com a mentalidade de pobreza, temos certaexpectativa. Vamos ali porque eles nos darão quilos e mais quilos de comida:

“Se vou gastar dinheiro saindo para comer, quero sair de láempanturrado.”

“Ei, Bob! Vamos àquela lanchonete hoje à noite. Adoramosaquele lugar. Eles nos dão porções enormes para qualquerprato que peçamos. É ótimo!”

“Vamos ao self-service. Vamos ao self-service porque é um lugaronde você come tudo o que puder por um preço único. Elesvão lamentar por eu ter entrado ali, com certeza!”

Quando nossa principal preocupação é a sobrevivência, nossorelacionamento com a comida é um relacionamento de acúmulo. A ideia de quenão temos certeza de quando vamos comer de novo não precisa corresponderexatamente à realidade para que nos comportemos como se assim fosse. Com umsistema de crenças fundamentado na prioridade da sobrevivência, vivo umaexperiência que atende à minha necessidade de “quantidade” quando merelaciono com a comida: coma à vontade e pague barato!

Quando cultivo o impulso de acumular, quer eu esteja acumulando comidaou outra coisa, isso efetivamente me impede de ser generoso com alguém —exceto com aqueles que acho que estão piores do que eu mesmo. Tenho amigasque são garçonetes. Um consenso geral entre elas é de que a “multidão dodomingo à tarde” é o pior grupo de pessoas para atender. Eles são tipicamenteexigentes, irritantes e sovinas com as gorjetas. Infelizmente, os cristãos que têm

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mentalidade de pobreza saem para almoçar depois da igreja e compartilham suavisão limitada do Céu com a sua comunidade.

Digo que costumamos ver uma mentalidade de pobreza em operaçãoquando levantamos uma oferta na igreja. É mais ou menos assim que acontece:“Hoje vamos lhes mostrar um vídeo de crianças famintas na África. Essascrianças estão muito piores do que vocês. Vamos tocar uma música de adoraçãotriste e lhes mostrar cenas trágicas para vocês se sentirem mais culpados porguardar seu dinheiro e tenham menos medo de dá-lo. Obrigado pela suagenerosidade”.

A classe média é mais do que livre para comer sempre que desejar. Osrecursos deles lhes dão muito mais opções. Portanto, a quantidade não é umaforça motriz para escolherem o que querem comer. A classe média recomendaum restaurante assim:

“Ah! Você precisa ir lá. Eles têm o melhor frango cordon bleudo mundo! É muito bom. Eles também têm o melhor filé quejá comi na minha vida. E o molho... Ah, é muito bom. É umpouco caro, mas é muito bom, você precisa experimentar”.

“Ah, sim, já experimentamos esse lugar quando abriu, mas estámeio sujo agora. Então, estamos frequentando este outro lugarque é muito mais limpo, e a comida é ótima.”

O valor dado à comida é determinado pela sua qualidade. Se não é saboroso,então a classe média irá rejeitar. Mas se for delicioso, eles pagarão a mais evoltarão depois. Eles sabem que podem escolher onde gastar o seu dinheiro epreferem ter qualidade, tanto na comida quanto no serviço, ou simplesmentenão irão ser clientes daquele lugar no futuro. Nem recomendarão o local para osseus amigos e a sua família.

A visão dessa classe geralmente aparece na maneira como os crentes escolhemuma igreja. A classe média sabe que tem opções. Eles podem frequentar qualquerigreja da cidade. Então, é melhor que a qualidade da experiência seja boa ou elesnão ficarão ali. Como foi o ensino? Como é o berçário? Eles têm um programainfantil de qualidade nesta igreja? Qual é a dificuldade de estacionamento nestaigreja? Eles foram gentis e amigáveis quando chegamos? Eles entendem quepodemos escolher qualquer igreja da cidade, por isso é função deles manter o

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nosso dinheiro e nós por aqui? Eles sabem que conhecemos as pessoas destacidade? Eles sabem que podemos ir para outro lugar, certo?

Os ricos são como pássaros estranhos para a maioria de nós. Eles podem ter aquantidade que quiserem da comida da mais alta qualidade que possam desejar.Portanto, eles veem a comida como uma obra de arte, algo que deve ter uma boaapresentação:

“Se a comida não me impressionar na maneira como éapresentada, então não estou no lugar certo. Elegância, estilo ebeleza são o que fazem valer a pena frequentar umestabelecimento. Então, quando chegar a hora de comer, façacom que isso me diga alguma coisa!”

Todos os que servem comida aos ricos competem na maneira de se vestir. Osrestaurantes dos ricos não têm cozinheiros; eles têm artistas e escultores criativosque trabalham na cozinha. Agora, se um sujeito pobre entra em um restaurantepara ricos, ele ficará chocado com o tamanho da porção delicada coberta por ummonte de “ervas”. Ele provavelmente ficará furioso e pensará que está sendoroubado quando descobrir que aquele leve chuvisco custa uma semana do seusalário. As perspectivas das nossas classes nos predispõem a nos relacionarmoscom os recursos de determinada maneira. Se temos pouco, então não esperamosmuito mais além de termos as nossas necessidades mais básicas supridas. Mas setemos mais do que o suficiente, então esperamos que até a experiência diária decomer seja um encontro com a beleza.

Os crentes que têm uma visão de mundo de riqueza esperam muito mais dasua experiência com Deus do que a salvação. Embora isso seja bom e eles estejamfelizes por estarem indo para o Céu, esses crentes estão muito conscientes decomo deve ser a vida na terra. Eles sabem que há mais provisão, mais beleza,mais poder e mais alegria de uma fonte que jamais poderia se esgotar, então elesse certificam de que estão vivendo isso todos os dias, o dia inteiro. Qualquercoisa menos do que isso seria ridícula.

Pobreza Classe Média Riqueza

Destino Acredita no destino, masse sente impotente paramudá-lo muito

Acredita na escolha; tempoder para mudar o futurocom boas decisões

Seus membros têm a obrigaçãomoral de agir de determinadamaneira (noblesse oblige)

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A impotência é um dos principais efeitos da pobreza. Quando as pessoas

vivem em um ambiente destituído de recursos, elas logo sentem as restriçõesmuito reais da limitação. A falta de opções faz com que elas se sintam comovítimas, como se suas vidas estivessem determinadas por forças externas maispoderosas. O resultado é que elas vivem supersticiosamente, acreditando queuma força que não podem controlar determina sua vida. Elas acreditam nodestino, na ideia de que a vida é algo que simplesmente acontece, e que o seutrabalho é fazer o melhor possível para se adaptar aos fatos. Acreditar no destinoé como dirigir à noite com os faróis desligados. Você não pode realmente fazermuito acerca do que acontece, então simplesmente procura impedir que o seucarro sofra perda total com aquilo que você possa atingir.

O destino é opressivo para os pobres, porque uma força externa tem todo opoder e os deixa sem poder algum. Os pobres são escravos de suas vidas, e osentimento de impotência naturalmente produz ansiedade, levando os pobres aprocurarem consolo colocando suas esperanças em uma mudança deacontecimentos provocada pela sorte. Não são os ricos que compram bilhetes deloteria; são os pobres que querem um resgate milagroso das condições de suasvidas que eles não podem mudar. A vida tem a ver com sobreviver dentro docontexto do seu nascimento, e todos os que eles conhecem têm a mesmamentalidade. Os jovens podem escapar desse contexto, mas as esperanças dosmais velhos entre eles foram esmagadas pela vida cruel de pobreza — e elesacreditam que isso seja imutável. Eles podem conhecer algumas pessoas dotadas e“abençoadas” que escaparam dessa opressão, mas a maioria está presa em umconjunto de limitações que as mantiveram cativas por gerações.

Quando os crentes veem o seu destino em Deus através de uma visão declasse de pobreza, vivem uma vida natural e não sobrenatural, permanecendopresos aos problemas naturais sem esperança de intervenção celestial. Elesaprendem a culpar a Deus, que tem o poder para fazer alguma coisa a respeito desua situação desesperadora, mas que opta por não fazer nada. Enquanto vivemum Evangelho sem poder, eles criam uma teologia para comprovar essaexperiência, uma teologia na qual o Céu é muito semelhante à terra, Deus émuito semelhante a eles, e o resultado de suas vidas é predeterminado. O destinochama-se “vontade de Deus” e uma vida de limitações e destituída de poder échamada de “humildade” e “perseverança”. Essas são virtudes que devemos

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alcançar e estabelecer como modelo — afinal, está na Bíblia, então deve serverdade.

O grande “bilhete de loteria” a cada nova geração é o Arrebatamento. Já queDeus aparentemente não é poderoso o bastante nem está inclinado a mudar ascircunstâncias deles, o que lhes dá esperança é a ideia de que Ele está planejandoresgatá-los dessas circunstâncias. O conceito de ser poderoso ilude os quepertencem a essa classe de pobreza porque a vida em Deus não é uma experiênciasobrenatural, mas é apenas mais do que eles têm experimentado até agora.

A classe média, por sua vez, tem uma interação muito mais poderosa com avida. Eles acreditam que seus destinos e a qualidade de suas vidas sãoinfluenciados pelo fato de que eles têm escolhas. Ter opções cria uma expectativade liberdade, e o acesso a recursos produz uma expectativa de que a pessoa tempoder para mudar o ambiente acrescentando a ela. Quando se deparam comproblemas, as pessoas da classe média esperam ser capazes de mudar um sistemaou a maioria das limitações, a fim de seguir em frente com o desejo dentro delas.A classe média acredita que os sonhos podem se realizar. Ela acredita que podeter qualquer coisa que quiser, desde que continue fazendo escolhas sábias eseguindo práticas morais e saudáveis. Ela acredita que é seu direito viver livre eque possui o poder que necessita para preservar essa liberdade. Antes de tudo, aclasse média patrocina as guerras e as economias. Ela pode escolher entre a vida ea morte, ou a quantidade de impostos que irá pagar para proteger a sualiberdade.

Mas a classe média também sofre limitações. Há um teto na quantidade dedinheiro ao qual ela tem acesso, um limite ao poder sobre o ambiente dela. Apolítica, a mídia e a educação são as esferas de influência e de poder para os quaisela se volta em busca de ajuda para melhorar a sua vida. Quando essas fontes seesgotam, as pessoas da classe média procuram consolo na construção de algonovo em cada uma dessas áreas, para que a futura geração possa tentar umamudança. Um novo prédio, uma nova campanha, uma nova especialidade noslevará mais longe rumo ao sucesso na realização e no cumprimento do nossodestino.

A maioria dos crentes nos Estados Unidos está presa na visão de classemédia. Geralmente, somos conhecidos pelos nossos esforços para manipular oambiente que nos cerca. É muito tentador querer fazer as pessoas pensaremcomo nós. Afinal, amamos as pessoas e desejamos o melhor para elas. Esperamos

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que as pessoas conheçam a Jesus e tenham o que nós temos. Pretendemos que aspessoas venham à nossa igreja e que a qualidade das nossas vidas esteja disponívela todos. Queremos que o nosso Evangelho encha as transmissões de rádio etelevisão, seja ensinado em todas as escolas e legislado nos mais elevadosgovernos da nação. Talvez a única coisa com a qual os crentes de classe médiaconcordem é com essa visão do Evangelho como um remédio social e políticopara todos os males. A Coalizão Cristã como um movimento político pareceuuma ótima ideia na época e ainda pode parecer para alguns. Muitos de nósadoraríamos ouvir Rush Limbaugh, Oprah ou Bono dizerem “Deus” ou “Jesus”mais uma vez.

Os ricos, por sua vez, vivem uma existência sem limites, onde não há falta denada. Ninguém lhes impede de conseguir o que desejam em sua mente ecoração. Os ricos estão acostumados a conseguir as coisas do seu jeito. Seja o quefor que peçam, eles recebem. Essa situação produz uma mentalidade que poucosexperimentam — uma mentalidade de abundância. Ter mais do que vocêpoderia usar e viver nessa realidade constrói um senso de obrigação dentro davida da classe rica. Eles veem o seu papel na vida como um papel de noblesseoblige. Esse é o termo francês para a ideia de que as pessoas que nasceram nanobreza ou nas classes sociais superiores devem se comportar de forma honrada egenerosa para com os menos privilegiados.

A mentalidade da riqueza é uma mentalidade de generosidade. Eles veem ofavor e o privilégio de suas vidas como uma responsabilidade de levar capacidadee cuidado ao ambiente que os cerca. Destino, para os ricos, é dedicar suas vidasem longo prazo em benefício da sociedade e da geração em que vivem. Elesvivem para honrar a bravura de seus ancestrais e para ampliar a herança dafamília para os seus descendentes. Os ricos entendem que a prosperidade deve seexpandir se precisa durar.

Quando nós, como crentes, começarmos a cultivar uma visão de mundo daclasse rica, veremos o que os apóstolos e profetas veem. Veremos e teremosacesso aos recursos absolutamente ilimitados do Céu. Também veremos queesses recursos são uma herança, algo a que temos acesso porque fomosenxertados na linhagem real de Deus. Essa identidade é o que define a nossaresponsabilidade de usar esses vastos recursos para beneficiar os que nos cercam.Quando começarmos a crer na inesgotabilidade do que temos e naresponsabilidade do que fomos chamados para fazer com isso, passaremos a

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conhecer e a experimentar a realidade da promessa de que receberemos tudo oque pedirmos.[7] O sobrenatural invadirá as nossas vidas e finalmenteperderemos a ansiedade, que tem sido parte tão grande da nossa cultura noCristianismo — ansiedade que naturalmente é consequência de vivermos umavida na qual não experimentamos todas as realidades que enchem as páginas daBíblia que professamos crer e viver.

Espero que você possa perceber que “deixar a casa do nosso pai” e entrar nanova casa do nosso Pai, automaticamente transporta nossas vidas para outraexperiência diferente da que os nossos pais viveram. Embora valorizemos eentendamos o legado daqueles que vieram antes de nós, não estamos ansiandopelos dias antigos. Não estamos orando para que voltemos à igreja do “Livro deAtos”. Você pode imaginar o líder da empresa General Electric dizendo: “Tudobem, rapazes, precisamos voltar aos dias gloriosos da vela. Mãos à obra! Levem-nos de volta!”

Pobreza Classe Média Riqueza

Visão de Mundo Local Nacional Internacional

Todos nós temos uma visão do mundo. Ela é o conteúdo e a dimensão com

os quais nos preocupamos enquanto vivemos nossas vidas. A internet e atelevisão a satélite ajudaram a expandir nossa consciência dos assuntos globais,mas cada classe continua com a sua própria prioridade no que se refere à visão domundo.

A classe pobre vê a vida localmente. Pelo fato de que os recursos são escassos,eles não podem se dar ao luxo de se preocupar com muita coisa fora da sua esferade responsabilidade imediata. Um bairro, uma aldeia, uma cidade ou parte deuma cidade é o perímetro de preo-cupação e investimento para a mentalidade dapobreza. As igrejas que possuem uma mentalidade de pobreza veem o mundo nocontexto da sua congregação, da sua propriedade, da sua denominação ou do seuprograma de missões. Ela está limitada ao que eles podem beneficiar diretamenteou ao que pode beneficiá-los diretamente.

Os indivíduos da classe média tendem a se preocupar mais com a sua nação,porque eles se sentem mais afetados com a situação do clima econômico epolítico nacional. Votação, notícias nacionais e previsões econômicas sãopreocupações sobre as quais eles assumem a responsabilidade mais prontamente

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para investir. As igrejas de classe média são aquelas que fazem as campanhas de“saia e vá votar” e que garantem que os cristãos saibam quem são os candidatos.Os temas de oração estão voltados para o clima social e político da nação.

A classe rica pensa internacionalmente. Essas pessoas são investidasglobalmente, por isso elas estão entusiasticamente conscientes de como aatividade nos lugares de todo o mundo afeta a economia global. A mentalidadeda riqueza entende o “quadro maior”, e como uma comunidade global, precisater êxito assim como as comunidades nacionais e locais.

Os crentes que têm uma visão de mundo rica viajam. Eles investem suasvidas em uma macroinfluência. Creio que Randy Clark oferece um veículo comoninguém mais que eu conheça para dar aos crentes uma experiência de visão demundo rica. Há um poder em viajar para outras nações, juntando-se a outroscrentes para ver o Céu tocar a terra enquanto você pratica o ministério demilagres e cura, que promove uma expectativa ilimitada em sua vida. Isso ajudavocê a se conectar ao fato de que o Evangelho, a Igreja e o Reino de Deus sãorealidades globais. É uma demonstração prática do comissionamento que Cristonos deu de “ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”.[8] Suavisão de mundo se expande à medida que você percebe que a agenda e osrecursos do Céu se destinam a impactar o globo, e que você foi chamado para serparceiro desse quadro global.

Pobreza Classe Média Riqueza

ForçaMotriz

Sobrevivência, relacionamentos,entretenimento

Trabalho,realização

Financeira, política, relaçõessociais

O que motiva você? Por que você se levanta de manhã? Vemos uma série de

motivações nas diferentes classes sociais. Cada uma tem o seu próprio conjuntode valores essenciais fundamentados no que as impulsiona ao longo da vida. Aforça motriz para cada classe está arraigada em como elas veem o mundo ondevivem e como se relacionam com os recursos.

Para as pessoas da classe pobre, a preocupação diária com a sobrevivência écomo uma bússola para as suas decisões, e pelo fato de que acreditam comconvicção em sua impotência, essas decisões geralmente seguem o curso deencontrar o caminho de menor resistência a fim de evitar a dor. A busca peloprazer e a fuga começa a cada dia, porque a vida carrega muita dor.

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A importância dos relacionamentos para os pobres é a experiência do amor ea conexão social que eles oferecem. Sua família e seus bons amigos são o seumundo e eles costumam estar juntos durante boa parte de suas vidas. Construirrelacionamento entre os vizinhos é natural e esses relacionamentos são vitais,porque eles geralmente oferecem uma via de recursos para a sobrevivência.Infelizmente, porém, a tensão dos recursos limitados e o ímpeto pelasobrevivência geralmente levam ao detrimento e ao abuso nos relacionamentos.

O entretenimento oferece um método fantástico de escapar da dureza darealidade da pobreza. A capacidade de um indivíduo entreter outros comhabilidade, humor ou música, o projeta para os lugares mais desejáveis na classepobre. O valor do entretenimento e dos que atuam nesse ramo faz com que essegrupo produza a ambos.

Quando a força motriz dos crentes é a sobrevivência e escapar da dor, elesvivem em um caos contínuo. Divórcios, adolescentes rebeldes, violênciadoméstica e crises financeiras são a cultura do lar. A ansiedade e o medoameaçam devorar qualquer coisa que tente crescer nesses ambientes domésticos.As igrejas movidas por essa força motriz lutam para criar um ambiente decrescimento e avanço, tendendo, em vez disso, a construir um legado de conflitoe contenda. Geralmente, os recursos são a fonte de contendas. Como acontececom muitas nações que gastam décadas em guerras civis, essas igrejas sãoincapazes de se recuperar da última batalha com as autoridades governantes. Osdespojos esfarrapados do que um dia foi um lugar rico em recursos tendem amarcar os destroços de uma igreja cuja força motriz é a sobrevivência.

A capacidade de realizar é a força motriz da classe média, o que explica porque esse grupo em geral é mencionado como a “classe trabalhadora”. A classemédia dá valor àqueles que estão trabalhando para contribuir para a melhoria dasociedade. Poucas coisas são tão vergonhosas ou ofensivas para a classe médiaquanto as pessoas que não trabalham para ganhar a vida. Trabalhar duro paraganhar a vida está no topo do sistema de valores dessa classe devido ao valor queela dá às coisas, ao planejamento do futuro e à realização. A educação, apersonalidade e até a linguagem são motivadas pela necessidade da classe médiade ter êxito em subir a escada do sucesso por intermédio do trabalho.

Em uma família de classe média, os pais trabalham para criar oportunidadespara os seus filhos terem uma educação que lhes permita conseguir um empregoque pague bem. Quando o filho encontra essa carreira, o círculo está completo.

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Esses filhos então trabalham e se tornam bem-sucedidos para poder enviar seusfilhos para uma boa escola que lhes dê a oportunidade de conseguir um empregoque pague bem. O amor é dispensado nesse sistema. Quando um filho fracassaem completar o círculo, os pais têm dificuldades para se sentirem bons pais, e adinâmica da família sofre certa confusão e, às vezes, divisão, porque um filhoquebrou o ciclo.

Motivados pela realização, os crentes da classe média têm um Evangelho de“obras” que os faz trabalhar para Deus. Ele lhes deu uma “boa educação” naigreja e agora espera que eles sejam trabalhadores de sucesso no Seu Reino. Osplanos e objetivos da igreja da classe média são cheios de obras e realizações.Quanto mais realizamos “para Deus”, mais bem-sucedidos somos no ministério.

A igreja da classe média é muito semelhante a uma empresa, e capacitaaqueles que são bons homens e mulheres de negócios ou grandesempreendedores. Eles geralmente se reúnem em torno de um empreendedor desucesso para colocá-lo na liderança: “O Dr. Fulano de Tal é o nosso líder porqueele tem inúmeras credenciais e endossos por parte de outros líderes cristãosaltamente empreendedores que todos nós conhecemos e respeitamos”. Semperceber, acabamos vivendo um Evangelho de amor condicional. Essa ideia seinfiltra no ambiente porque estamos tão ocupados celebrando osempreendedores que não vemos como tratamos aqueles que não estão“mostrando resultados”. No fim, todos entendem que Deus ama a todos nós,mas que Ele realmente ama aqueles que são bem-sucedidos. E essa mensagem éreforçada por toda a nossa cultura de classes.

Os ricos têm uma força motriz que, mais uma vez, não faz muito sentidopara as outras classes. Eles saem da cama de manhã para estabelecer e fortalecersuas conexões com outros transformadores do mundo. Os ricos entendem queexistem poucos tomadores de decisão poderosos que fazem do clima econômico,social e político global o que ele é. Eles estão muito preocupados em ter conexõescom esses tomadores de decisão e trabalham para estar tão próximos delesquanto possível.

Os ricos não desperdiçam suas vidas trabalhando em um emprego. Eles nãoestão treinando os seus filhos para conseguirem um emprego. Em vez disso, elesenviam seus filhos para escolas as quais outros transformadores poderosos domundo enviam seus filhos. As relações são a força motriz da classe alta. Eles

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acreditam que não é o que você sabe, mas quem você conhece e quem conhecevocê que o torna bem-sucedido.

Proteger e desenvolver esses relacionamentos uns com os outros lhes ajuda asaber o que está acontecendo em todo o mundo. Os líderes mundiais na política,nas finanças e na sociedade estão optando por passar o seu tempo uns com osoutros por uma razão: sabendo que eles dirigem a porção maior dos recursos domundo, eles trabalham para proteger o ímpeto da sua classe governante e de seusmembros. Eles entendem coisas que as outras classes não entendem. Eles viveramvidas sem limites e sabem o que é preciso em termos de caráter eresponsabilidade para manter a liberdade viva ao longo desta geração e dapróxima. Os ricos farão tudo que for possível para ensinar seus filhos a lidarem,protegerem e passarem adiante os segredos de viver com liberdade ilimitada.

Os crentes que abraçam a prioridade e o poder das relações investirão o seutempo e a sua energia em construir relacionamentos com outros avivalistas einvestirão em treinar seus filhos para fazer o mesmo. Eles farão sacrifícios paraestar onde a unção de Deus está sendo derramada. Eles estudarão eexperimentarão as obras e maravilhas de Deus que estão acontecendo em todo oglobo. Eles não ficarão satisfeitos em “trabalhar” para Deus, mas não pararão atéque Ele derrame recursos ilimitados por intermédio da vida deles nas vidas dosque os cercam. Os crentes que têm a mentalidade da riqueza estão unindo seuscorações a líderes apostólicos e proféticos em todo o mundo e dirigindo asenergias, os recursos e o tempo de suas vidas para o sucesso desses líderes. Elessabem que para que o conhecimento da glória do Senhor cubra a terra como aságuas cobrem o mar, a igreja precisa ser cheia até transbordar como um todo.

Aqueles que têm recursos ilimitados não estão focados nesses recursos comofins em si, mas em investi-los nas coisas que realmente importam: pessoas,legados culturais, beleza. Eles estão buscando causas “dignas” — coisas dignas dehonra. É por isso que os crentes que carregam uma mentalidade de prosperidadecriam uma cultura de honra. Como a maioria das coisas na vida cristã, a honranão é uma ideia, mas uma prática, uma prática de dar. Os crentes com umamentalidade de prosperidade não praticam “atos de bondade aleatórios”; elesabraçam o estilo de vida de benfeitores. E eles acham uma causa digna, um lugarpara demonstrar honra, em todas as pessoas que encontram. Isso, afinal, é o quea cruz, que liberou os recursos do Céu a nós, nos ensina a ver nas pessoas.

Todos os motivos da classe pobre e da classe média para dar não podem se

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Todos os motivos da classe pobre e da classe média para dar não podem secomparar ao que Deus fez por nós ao enviar o Seu Filho, porque Ele não enviouJesus por piedade ou porque queria algo de nós, e certamente não porque nósmerecíamos isso. Deus deu à raça humana a honra suprema tornando-se um denós. Então Ele nos deu a honra ainda maior — em Sua morte e ressurreição, Eleabriu o caminho para nós nos tornarmos um com Ele. E para aqueles de nós querecebemos esse dom exorbitante de Deus, é a nossa honra suprema imitar Aqueleque nos honrou convidando pessoas para a generosidade de Deus e dando a elasa oportunidade de provarem o que nós experimentamos.

Bill Johnson costuma declarar: “Devemos às pessoas um encontro comDeus”. Devemos a elas essa honra. A honra é dada com base em quem as pessoassão; não no que elas mereceram ou mesmo no que elas necessitam. Toda pessoaque você encontra é alguém que Cristo honrou com Sua vida, morte eressurreição. Ela talvez não saiba quem realmente é do ponto de vista eterno, masnós sabemos, e quando temos uma mentalidade de riqueza e um coração dehonra, nós a trataremos de acordo com essa verdade.

Espero que você consiga ver que um crente que tem uma mentalidade deprosperidade é um dos componentes mais importantes para trazer o Céu à terra.Essa mentalidade não apenas nos treina para vermos as nossas circunstânciasimediatas a partir de uma perspectiva ilimitada, como também nos fundamentanas nossas relações tanto com o Corpo de Cristo global quanto com as geraçõesque vieram antes de nós e com as que virão depois. Isso nos permite lançar foraas restrições do nosso passado e criar uma herança para os nossos filhos, a fim deque deixar a casa do pai e entrar na nova Casa do Pai não seja um abismo tãodifícil de atravessar para eles.

Você pode imaginar como nossos filhos poderiam viver se eles fossemtreinados desde o nascimento para andar na liberdade ilimitada do Reino? Vocêpode imaginar uma geração cujo sonho é beneficiar o mundo que a cercaaprendendo a administrar e a dar a outros os recursos ilimitados etransformadores do Reino?

Gênesis 12:1-3 diz:

Ora, disse o Senhor a Abrão: “Sai da tua terra, da tua parentela eda casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti fareiuma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sêtu uma bênção! Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei

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os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias daterra.”

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T

CAPÍTULO 6

A PRIORIDADE MÁXIMA DA LIDERANÇA

No amor não há medo; ao contrário o perfeito amor expulsa o medo, porque omedo supõe castigo. Aquele que tem medo não está aperfeiçoado no amor.

(1 João 4:18, NVI)

homas Jefferson recebeu o crédito por dizer: “Pessoas livres são as maisdifíceis de liderar”. Isso é extremamente pertinente para os líderes daigreja, porque as pessoas livres são exatamente o grupo que eles foram

chamados a liderar.Infelizmente, muitos líderes da igreja não dominaram as dificuldades de

liderar pessoas livres. Para liderar pessoas livres, precisamos estabelecer umambiente para que elas adquiram liberdade e um governo para que elasmantenham essa liberdade. Geralmente, o ambiente clássico das igrejas não éconhecido por nenhuma dessas duas coisas. As pessoas que observam de fora nãoesperam manter sua liberdade quando estiverem dentro da “instituição”. Aquelasque realmente entram, na maioria das vezes, estão dispostas a abrir mão de tudoque tiverem para se livrarem da sua dor. Quando essas pessoas aprendem queDeus é um senhor que quer controlá-las, como acontece tantas vezes, isso me fazdesconfiar que os líderes da igreja não entenderam o nosso próprio Evangelho deliberdade. Um Deus controlador, que usualmente é representado por umaliderança eclesiástica controladora, simplesmente não é o Deus das boas-novas.

Como a liderança da igreja pode produzir liberdade e não mais regras? Como

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Como a liderança da igreja pode produzir liberdade e não mais regras? Comopodemos extrair o melhor dos seres humanos e manter isso na superfície, atémesmo quando lidamos com os problemas e imperfeições deles? Podemoscapacitar outros e liberá-los para viver sua melhor natureza e a partir dasverdadeiras razões pelas quais eles estão vivos? Será que assumiremos aresponsabilidade, como líderes, pais e empregadores cristãos, de aprender aextrair os sonhos e os destinos das pessoas que lideramos?

Deixe-me lhe mostrar um exemplo de como liderar pessoas livres (isso podelhe ser familiar se você já leu meu livro Amando Nossos Filhos no Propósito).Minha filha Brittney tinha 14 anos de idade. E, como a maioria das meninas de14 anos de idade, ela fazia uma ideia completamente diferente da ideia de minhaesposa do que significava lavar a louça. Por esse motivo, eu costumava ouvir aconversa entre elas, que era mais ou menos assim:

Sheri dizia: “Britt, está na hora de lavar a louça”.E Britt respondia: “Já vou, só um minuto”.Aquele minuto se transformava em vinte, e Sheri falava novamente: “Britt,

está na hora de lavar aquela louça”.Britt rebatia a bola dizendo: “Estou fazendo o dever de casa como você

mandou!” ou “Estou no telefone! Só mais um minuto”.Esse diálogo fez parte do nosso ritual noturno por vários meses. Era como se

elas duas não conseguissem chegar ao dia seguinte sem essa troca verbal.Inúmeras vezes, Britt se comprometia verbalmente a lavar a louça, apenas parafalhar e deixar minha esposa acordar pela manhã e se deparar com a louça suja.Existem várias coisas que minha esposa não gosta nesta vida: injustiça, sushi,filmes de terror e louça suja. Ela realmente não quer acordar e ver a louça suja!

Finalmente, isso aconteceu pela última vez. Britt foi se deitar tarde em umasexta-feira à noite e esqueceu de lavar a louça. No sábado de manhã, ela e Sheritiveram uma pequena conversa a respeito disso pouco depois que Sheriencontrou a louça suja. Eu pude ouvir a “pequena conversa” delas do outro ladoda casa. Quando terminou com Brittney, Sheri veio me dizer o que haviaacontecido. Eu lhe disse que já ouvira. Enquanto isso, a amiga de Brittney,Rebecca, apareceu em casa e estava visitando Brittney em seu quarto. QuandoSheri e eu fomos procurar Brittney para discutir a situação da louça, descobrimosque, sem nos avisar, Britt e Rebecca haviam saído de casa e descido a rua até acasa de Rebecca. Sheri me olhou com fogo nos olhos. De repente, parecia que a

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cabeça dela estava explodindo em chamas, seu crânio se abrira e um dragão saíado alto da sua cabeça. O dragão olhou para mim e disse:

— O que você vai fazer?— Eu? — respondi, abafando um sorriso.— Sim! — disse o dragão. — O que você vai fazer a respeito da sua filha?— Agora você quer que eu lide com esta situação? É isto que você está

dizendo?— Sim! — disse o dragão, cuspindo fogo.Então eu corri e lavei a louça.Agora, “lavar a louça” na nossa casa envolvia tirar a louça da pia e colocar na

máquina de lavar. Isso foi tudo o que fiz. Devo ter levado seis minutos. Talvez.Brittney e Rebecca voltaram para casa arrumadas, com maquiagens e rabos

de cavalos iguais. — Mamãe, papai, posso ir ao shopping com Rebecca e a mãedela?

Pensei que todos nós iriamos ver o dragão novamente, mas, em vez disso,Sheri estava mordendo o lado da mão, um sinal de que ela iria lidar com todaaquela questão. Eu disse:

— Brittney, querida. Eu lavei a louça para você.Ela disse:— Papai, isso não é justo! Eu ia lavá-la! Argh!Britt começou a dar pequenos saltos que na verdade não a faziam sair do

chão, mas que pretendiam comunicar a ideia de que ela não gostou do que estavaacontecendo.

Rebecca observou a conversa com um olhar confuso no rosto. Ela finalmenteperguntou a Britt:

— Você está com problemas? Como você sabe que está com problemas?Ninguém está gritando.

Brittney disse:— Ele vai trocar de tarefa comigo!— Querida, qual tarefa você gostaria de trocar comigo? Você gostaria de tirar

o lixo para mim ou de limpar o galinheiro?— Arghh! Bem, posso olhar?— É claro que pode! É claro que você pode escolher qual você vai fazer.E assim eu dei poder à criança. Eu queria que ela se sentisse poderosa junto

de mim. E lá foi ela.

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Para aqueles que não sabem, despejar o lixo é uma experiência cultural emnossa cidade, Weaverville. Se as latas de lixo fossem deixadas do lado de fora,acabariam com os cachorros, gatos ou guaxinins dentro deles, por isso tínhamosde colocar o lixo em uma área cercada. A porta do galpão tinha uma janela, equando eu via os sacos de lixo pela janela, eu sabia que era hora de levar o lixopara o depósito. Era um trabalhão, de modo que eu sempre esperava que um demeus filhos trocasse de tarefa comigo.

Britt abriu a porta do galpão. Dez milhões de moscas começaram a voar aoredor do seu rosto. — Nojento!

Rebecca quase começou a correr para trás, gritando: “O que estamos fazendoaqui fora?” Brittney cuspiu uma mosca e revirou os olhos. Então ela foi até ogalinheiro. Quando chegou lá ela estava bem zangada e chutou as galinhas aoentrar.

— Galinhas estúpidas! — Ela abriu a gaiola e ficou totalmente enjoada como cheiro.

Então ela voltou para casa e me disse:— Galinheiro.— Que ótimo, Britt! Obrigado! — Respondi, animado por não ter de fazer

aquela tarefa desta vez. Então perguntei:— Agora, você gostaria de fazer isso hoje, ou amanhã após a igreja?— Posso fazer amanhã? Realmente? Posso ir ao shopping hoje com Rebecca?— É claro, se você quiser.— Eu posso! Ah, papai! Obrigada! Obrigada!Você deve estar pensando: “O quê? Você permite que um transgressor saia?

Você deixa o pecador escapar da punição devida? Seu filho pode ter liberdade eprivilégio sem primeiro experimentar o sofrimento que lhe ensina uma lição?Você não sabe que é necessário derramamento de sangue para expiar o pecado?Como essa criança vai aprender a lição?

Espere um pouco. A história não terminou.Assim, lá foram elas para o shopping e se divertiram muito. Na manhã

seguinte, fomos à igreja e quando voltamos, estava chovendo muito. Por quê?Porque Jesus me ama! Brittney estava tentando ser invisível.

Disse-lhe:— Ei, Britt, querida! Você gostaria de usar as minhas botas de borracha ou

esses chinelos bonitos que você está usando?

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— Suas botas de borracha.— Você quer usar a minha capa de chuva ou este suéter bonito que você está

vestindo?— A sua capa de chuva.— Você quer usar o forcado ou a pá?— Provavelmente vou precisar dos dois.E lá foi ela. Uma... Duas... Três horas depois, ela entrou, arrastando a pá e o

forcado. Britt tinha pedaços de palha pendurados na cabeça ensopada.Encontrei-a na porta dos fundos e perguntei se precisava de algo.

Ela disse:— Acabei.— Ótimo. Muito obrigado.— Tudo bem! — E ela foi tomar banho.Algum tempo depois, naquela semana, ouvi Sheri dizer:— Brittney, lave aquela louça.Então ouvi Brittney dizer:— Arghh! Só um minuto!Então me levantei e disse:— Britt, eu vou lavá-la para você!Assim que saí do sofá, ela veio voando pela casa, gritando:— Fique longe da minha louça!Eu sorri e disse:— Ei, estou apenas tentando ser útil. Mas se você precisar que eu faça o seu

trabalho para você, estou aqui.Há um modo de liderar as pessoas para serem livres que permite que a

responsabilidade pessoal venha à tona. Para liderar assim, no entanto, precisamosconfiar nas pessoas. E sempre me impressiona o fato de que, quando confiamosque as pessoas perceberão a sabedoria de suas próprias escolhas, então vemosuma pessoa se tornar cada vez melhor nos nossos relacionamentos. As pessoasquerem que confiemos nelas e elas querem ser livres.

Crie um Lugar Seguro

Por que você acha que as pessoas livres são tão difíceis de liderar? Bem, posso lhedizer que o problema de liderar pessoas livres está ligado a uma questão sobre ouniverso em que os filósofos e teólogos trabalharam por séculos. Ela está ligada

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ao fato de que Deus, o líder do universo, nos criou para ser livres. Na verdade,Deus nos confiou a liberdade. C. S. Lewis apresentou um relato resumido dessasituação em seu livro Cristianismo Puro e Simples:

Deus criou coisas que tinham livre-arbítrio. Isso significacriaturas que podem ir para o lado certo ou errado. Algumaspessoas acham que podem imaginar uma criatura que era livre,mas não tinha possibilidade de errar; eu não posso. Se algumacoisa é livre para ser boa ela também é livre para ser má. É olivre-arbítrio que torna o mal possível. Por que, então, Deuslhes deu livre-arbítrio? Porque o livre-arbítrio, embora torne omal possível, também é a única coisa que possibilita que valhaa pena ter amor, bondade ou alegria. Um mundo de autômatos— de criaturas que funcionam como máquinas — não valeriaa pena ser criado. A felicidade que Deus pretende para as Suascriaturas mais elevadas é a felicidade de estar livre evoluntariamente unidas a Ele e umas às outras, em um êxtasede amor e prazer que sequer se compara ao amor maisavassalador entre um homem e uma mulher nesta terra. E paraisso eles precisam ser livres.

É claro que Deus sabia o que aconteceria se eles usassem aliberdade da maneira errada: aparentemente, Ele achou quevalia a pena correr o risco.[1]

A dificuldade em liderar pessoas livres é o risco — o risco de que elas usem aliberdade da maneira errada. Mas diferentemente de Deus, muitos de nós naigreja não entendemos por que o risco vale a pena. A ameaça da liberdade malutilizada parece maior que o prêmio da verdadeira liberdade. E, por causa disso,ficamos assustados. Esse medo pode ser endêmico em sociedades supostamentelivres. Nos Estados Unidos, suposto líder do mundo livre, o medo crescedesenfreado. Nós, como crentes, precisamos ter acesso a algumas coisas bastantepoderosas se quisermos resistir ao medo na nossa cultura e mostrar confiança aDeus e às pessoas. Também necessitamos inserir em nosso sistema de crenças ovalor que o Céu dá à liberdade.

Como Lewis indicou, todo o valor da liberdade, todo o propósito da

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Como Lewis indicou, todo o valor da liberdade, todo o propósito daliberdade, é o amor. Quando usamos a nossa liberdade para amar, comopretendido, a nossa liberdade e a liberdade dos que nos cercam são protegidas ecultivadas. Como líderes, precisamos realizar muitas coisas, desde definir arealidade a ensinar objetivos produtivos. Mas a prioridade do Céu é muito clara:“Se vocês não tiverem amor... vocês serão apenas barulhentos”.[2] Os líderes queextinguem o amor no processo de atingir objetivos talvez consigam atingir asprioridades da terra. Mas os objetivos mais elevados do Céu exigem quecultivemos e preservemos o amor, e assim a liberdade, pois não se pode ter amorsem liberdade. Deus é amor, e o Seu Reino é um reino de liberdade. Será porisso que a Bíblia nos diz: “O Senhor é Espírito, e onde o Espírito de Deus está, aí háliberdade”?[3] Esse versículo está dizendo que quando Deus aparece, as pessoas sesentem livres. Se isso não está acontecendo, precisamos perguntar por quê. Porque a liberdade não está surgindo em mais lugares? Seria porque muitas pessoas,inclusive os líderes, entendem mal o objetivo da liderança de Deus em nossasvidas?

Quero propor que o objetivo da liderança de Deus em nossas vidas e, porconseguinte, o objetivo dos líderes da igreja, é criar um lugar seguro paradescobrirmos quem somos e por que estamos aqui. Um lugar seguro é um lugaronde o medo da liberdade mal utilizada não consegue se levantar e nosintimidar, impedindo-nos de arriscar a confiar e a amar nos nossosrelacionamentos uns com os outros. Um lugar seguro é o que é cultivado quandoa liberdade é expressa através do amor. A essência do amor é segurança e conexão.Se as pessoas não se sentem seguras para ser elas mesmas e não têm uma sensaçãode conexão com as pessoas que as cercam, então é difícil convencê-las de que elasestão em um lugar amoroso.

No entanto, não vamos experimentar um lugar seguro com Deus e com oSeu povo enquanto não entendermos e acreditarmos que é isso que Deus querpara nós. Minha experiência é a de que a maioria das pessoas, inclusive oscristãos, pensa que Deus quer que nós entremos na linha, que fiquemos na linhae que sejamos bons. Abraçamos a ideia de que Ele é paciente, mas ainda está aum passo da ira. Para muitas pessoas, Deus é um personagem assustador,imprevisível e duro. Mas considere o que Deus disse por meio do profeta Isaías:“Porque os montes se retirarão, e os outeiros serão removidos; mas a minhamisericórdia não se apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida, diz

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o Senhor, que se compadece de ti”.[4] As montanhas e os outeiros serão removidos?Você pode imaginar assistir uma montanha sendo removida? Você podepresumir o que seria preciso para que isso acontecesse? Exigiria mais que umpouco de violência, algo muito assustador.

Deus está dizendo que Ele não é imprevisível. Ele quer que estejamoscompletamente seguros da Sua atitude para conosco: “A minha misericórdia nãose apartará de ti, e a aliança da minha paz não será removida”. Deus quer quetenhamos uma certeza bendita, uma verdade que nos posiciona paraprocurarmos a liberdade que vem até nós quando Jesus aparece. Essamentalidade, essa expectativa e essa segurança nos permitem ser livres onde querque estejamos.

Seja qual for a tese que você defenda contra Deus, sejam quais forem aspassagens bíblicas que você use para defendê-la, seja o que for que você faça paraconstruir uma realidade diferente, a bondade e a paz de Deus nunca serãoretiradas de você. Essa palavra “paz” é literalmente a palavra shalom. Temosdiversas definições poderosas para essa palavra. Veja o que diz o DicionárioHebraico de Strong:

07965 shaw-lome; seguro, bem, feliz, amigável; saúde,prosperidade, paz, bem.

Observe que a primeira definição de shalom é “seguro” ou “segurança”.Nossa aliança com Deus é um lugar seguro. O poder dessa realidade é que nós,como seres humanos, florescemos na segurança. É por isso que shalom tambémsignifica “saúde” e “integridade”. Os efeitos substanciais da presença de Deusestimulam as partes mais profundas do melhor que há em nós. É por isso que Elediz que a Sua aliança é para o nosso bem-estar e não para a nossa calamidade.[5]

Sua aliança gera paz, felicidade, segurança e plenitude, e ela nunca será tirada denós. Quando Ele se faz presente, a Sua presença é um lugar seguro.

Isso são boas-novas! Vá em frente e sorria. Quando o Senhor se faz presente,a Sua atmosfera está carregada de shalom.Ele leva um lugar seguro a todos oslugares onde se manifesta. Nunca deixo de me impressionar ao ver quantaspessoas querem defender a tese de que Deus é assustador. Mas isso acontece. Épor isso que nós, como líderes da Bethel Church, entendemos que uma dasnossas principais funções é declarar a verdadeira natureza e atitude de Deus para

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conosco regularmente. Quase todas as vezes que fazemos isso, podemos sentirque isso confronta diretamente o pensamento errado no ambiente. Muitas vezes,ouvi Bill Johnson declarar a uma congregação que Deus está de bom humor,apenas para ouvir risos nervosos irromperem por todo o lugar, como se dizendo:“Ah, ah! Nunca pensei em Deus desta forma”. Eu mesmo já fiz esse comentárioem alguns lugares, dizendo: “Deus está de bom humor!” Quando digo isso,posso ver a confusão nos olhos de algumas pessoas. É como se elas quisessempegar o seu Antigo Testamento e gritar: “Não, nesta parte da Bíblia Ele nãoestá!” Sim, Ele está! Ele está de bom humor, do começo ao fim, e você podedefender essa tese também.

Não deveria ser necessário tanto esforço mental para entender essa verdade,já que Jesus veio e apresentou uma Nova Aliança. E isso foi há dois mil anos. Jádeveríamos ter entendido isso a esta altura. Deus está muito familiarizado com oSeu projeto original para nós, de precisarmos de um lugar seguro. O Jardim doÉden era esse lugar. Fomos projetados para necessitar de liberdade. Estamos nanossa melhor forma quando estamos seguros, quando estamos felizes, quandonos sentimos saudáveis e quando temos paz. Se a nossa paz ou segurança éperturbada, então o nosso corpo físico inicia um processo de paralisação donosso melhor e começa a nos preparar para mostrarmos o nosso pior. Funcionamais ou menos assim:

Deus colocou esta pequena glândula dentro do nosso cérebro chamadaamígdala. Ela é uma massa de núcleos em forma de amêndoa localizada nofundo dos lobos temporais do cérebro. Essa glândula é importante paradeterminar as reações emocionais, principalmente aquelas associadas ao medo.Quando alguém faz alguma coisa ameaçadora ou inesperada, quando você não sesente seguro, a sua amígdala é ativada e começa a inundar o seu corpo com estasmensagens: reaja, defenda-se, desapareça, lute ou fuja. Essas são algumas dasreações nas quais mostramos o nosso pior. Não é preciso ser um cientista espacialpara descobrir que as pessoas que estão assustadas não estão no seu melhormomento criativo. Se você já esteve perto de uma pessoa que está se afogando eestá apavorada com o medo de morrer, você sabe que seria uma boa ideia manterdistância. Jogue uma corda ou um pau, mas não deixe que essa pessoa se segureem você ou você se tornará uma boia. Ah, sem dúvida a pessoa pedirá desculpasdepois, se você sobreviver! Mas as pessoas apavoradas não estão pensando naequipe, na família, na igreja ou em qualquer pessoa além delas mesmas. O medo

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é um elemento perigoso para os seres humanos. A maioria deles não o administrabem.

Como você pode perceber, quando não nos sentimos seguros é provável quenos tornemos perigosos, permitindo que o medo comece a dirigir o nossocomportamento. E imagine o que acontece quando o líder é dirigido pelo medo.Muitos líderes, não apenas os líderes cristãos, são bastante tensos. O mesmo seaplica a muitos pais. Quando precisam ir a algum lugar com seus filhos, muitospais ficam tensos desde o momento em que dizem: “Está na hora de sair!” Sevocê é um pastor que está se preparando para a manhã de domingo, há uma boachance de você estar tenso. Se existe alguma coisa importante acontecendo, e oresultado importa para você, há uma boa chance de você levar a tensão com vocêpor onde for. Isso é muito comum.

É claro que outra palavra para tenso (ou estresse, ou ansiedade) é medo. E esteé o ponto: quando temos medo por dentro, há grandes chances de levarmos essemedo para os que estão do lado de fora. Como pessoas, quer crentes quer não,somos criativos e espirituais por natureza. Somos condutores espirituais ecriamos uma atmosfera, uma realidade, um espírito, por assim dizer, ao redor denós. Mas só podemos reproduzir do lado de fora aquilo que está do lado dedentro. Se nossos pensamentos e sentimentos estiverem cercados por um espíritode medo, embora estejamos pensando que o estamos escondendo facilmente,não conseguiremos mascarar a ansiedade que permitimos viver dentro de nossasvidas.

Infelizmente, muitas pessoas se acostumam a viver em um ambiente no qualaqueles que estão no comando são tensos. A maioria de nós é treinada bem cedona vida a pensar que as pessoas que estão no comando não são seguras e podemnos ferir. Às vezes, aprendemos que as pessoas poderosas vão nos magoar. Desdeas nossas primeiras experiências na infância, até a nossa mais recente interaçãocom uma figura de autoridade, construímos um conceito sobre o que esperar deDeus, a figura de autoridade por excelência. Se o que aprendemos foi medo,imagine o que as nossas amígdalas estão fazendo durante todo o tempo em queestamos na presença de pessoas poderosas. O que isso está fazendo com o nossopotencial em Deus? Como nos tornaremos íntegros, livres ou saudáveis vivendosob essas condições?

A resposta é simplesmente que isso não acontecerá. Mas a boa notícia é que asituação está mudando. O Céu, o reino de amor e liberdade, está invadindo a

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terra, e o amor está confrontando diretamente o medo que nos governou. Omedo e o amor são inimigos. Esses dois espíritos não ocuparão o mesmo lugarjuntos. O amor e o medo são como luz e trevas... Água fresca e água salgada...Bênção e maldição. E um deles precisa vencer. O amor lança fora o medo.[6] Oamor não apenas lança fora o medo; ele gera segurança e shalom. Esse é o frutoque vemos em um ambiente apostólico. O medo sai da vida das pessoas. Aliberdade cresce na adoração e nos nossos relacionamentos uns com os outros àmedida que o povo começa a entender que há um lugar seguro em Deus.

Como indiquei no primeiro capítulo, criar um lugar seguro é a condiçãoessencial para uma cultura de avivamento. O fato de que os milagres, os sinais emaravilhas não apenas aconteceram em nosso meio, mas têm continuado aacontecer por anos, aponta para o fato de que algo foi estabelecido — um odrede pessoas e relacionamentos saudáveis que se manifestam e carregam a shalomdo Céu. E como expliquei no segundo capítulo, há uma ordem para a liderança,uma estrutura que sustenta o fluir da realidade celestial da graça nas vidas daspessoas e promove os valores e as verdades essenciais de uma liderança apostólica.É muito importante que o nosso líder esteja declarando regularmente a bondadede Deus sobre nós. Se os líderes acreditam que Deus é bom e que está de bomhumor, então o povo o seguirá e aprenderá que isso é verdade para ele.

Quando os líderes entendem que a sua prioridade máxima é tornar a casa deDeus um lugar seguro, então, à medida que as pessoas encontram o lugar seguroda aliança de Deus em suas vidas e o seu potencial, a unção e a criatividade delascomeçam a se manifestar na superfície, e haverá espaço para manifestar essascoisas na igreja. Se os líderes puderem criar um ambiente onde as pessoas possamse sentir amadas, seguras e livres para serem elas mesmas, então começaremos amudar o mundo com o Reino dos Céus. Então estaremos no nosso melhormomento. Então confrontaremos os principados e potestades que têmgovernado o planeta.

Honra e Conflito

A honra é um dos valores essenciais mais vitais para criar um lugar seguro ondeas pessoas possam ser livres. A honra protege o valor que as pessoas dão àquelesque são diferentes delas. Esse valor essencial é central em uma cultura apostólicaporque, como vimos no capítulo 2, o padrão dos cinco ministérios é construídoquando entendemos, valorizamos e abrimos espaço para as diferentes graças que

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repousam sobre diferentes pessoas e fluem por intermédio delas. As pessoas livresnão podem viver juntas sem a honra; em contrapartida, a honra só pode serusada com êxito entre pessoas poderosas que tenham um verdadeiro senso deresponsabilidade pessoal em preservar a liberdade ao redor delas. Precisamos sercapazes de ser nós mesmos nesta vida e nessa comunidade, juntos.

Como você provavelmente deve estar ciente, altos níveis de liberdade podemgerar conflito, geralmente porque nos relacionamos com pessoas que estãovivendo de uma maneira que incomoda as nossas amígdalas. Sem o valoressencial da honra, descobrimos que o nosso desconforto perto daqueles queoptam por viver de uma forma que nós não faríamos nos leva a impedir aliberdade deles. É típico, por exemplo, que quando um adolescente começa aexplorar a sua liberdade, seus pais fiquem com medo. O medo se origina do fatode que o filho está escolhendo opções que os pais jamais escolheriam ou nãoescolheriam novamente para si mesmos. A guerra é sobre o quanto o filho podeser diferente a ponto de se diferenciar de seus pais e o quanto os pais podemmanter o filho parecido com eles. Quanto mais o filho se afasta da maneira comoos pais vivem, mais provável será que os pais entrem em cena e retirem asescolhas do filho. O resultado é conflito. Mas quando o adolescente e os paispraticam a honra, que promove amor e confiança, o medo não tem permissãopara governar as decisões deles, e a liberdade pode ser preservada.

Obviamente, quando falo sobre diferentes maneiras de viver, não estoudizendo que a imoralidade ou a transgressão do nosso relacionamento com Deussão opções viáveis para qualquer um de nós. Mas muitos cristãos discordamsobre como viver. Quando as pessoas começam a andar em liberdade, elas dirãoe farão coisas que demonstram a todos ao redor que a conformidade não é umaprioridade. Isso bate de frente com muito da nossa experiência da cultura cristã.Mais uma vez, não estou defendendo a tese de que as pessoas sejam rudes, semconsideração ou teimosas, mas estou procurando apontar para o fato de que aspessoas livres não estão terrivelmente interessadas em usar uma máscara diantede ninguém.

Desde a maneira como nos vestimos até o estilo de música que ouvimos, sebebemos álcool ou não, se falamos português ou evangeliquês, até o fato de se osdons do Espírito estão em operação hoje ou não, a realidade é que a liberdadetrará as nossas diferenças à tona e gerará atrito dentro de uma comunidade.Quando as pessoas que nos cercam não estão mais protegendo os nossos

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paradigmas, as nossas amígdalas são ativadas. É assim que muitas vezes acabamosmostrando aos outros o nosso pior lado.

Como você pôde perceber, a cultura da honra tanto promove um lugarseguro, quanto, ao mesmo tempo, cria um ambiente de grande conflito. Aquestão é se aprenderemos a usar a honra para enfrentar o conflito quando elesurgir. O conflito não é necessariamente ruim. Na verdade, quando o conflitopassa, a vida muito provavelmente se vai com ele. Às vezes, esperamos que a pazsignifique a ausência de conflito, mas a verdadeira paz é sempre o resultado davitória. E não consigo pensar em uma vitória que não tenha começadoprimeiramente com uma luta.

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N

CAPÍTULO 7

CONFRONTANDO SEGUNDO O MODELO DO REINO

É mais difícil fazer as pazes com um amigo ofendido do que capturar umacidade fortificada. As discussões separam os amigos como um portão trancado com

barras de ferro. (Provérbios 18:19, New Living Translation, tradução livre)

ão haverá cultura da honra sem o uso ativo do confronto eficaz. Ahabilidade de combinar estes dois elementos relacionais — a honra e oconfronto — é a chave para manter-se um ambiente de graça. Por favor,

concentre-se neste capítulo. Ele lhe ajudará imensamente a gerar o que acreditoque seja a sua esperança.

Paulo escreveu aos gálatas extensamente sobre o fato de que somos um povoque foi chamado para andar em liberdade e amor por intermédio do governointerno do Espírito de Deus. Mais uma vez, essa ideia não é nova; apenas pareceque nós, assim como os gálatas, temos dificuldade em entendê-la. Abordamosuma parte do que Paulo escreveu ao falar de por que não podemos ser punidos, eessa convicção é fundamental para praticarmos o confronto segundo o modelodo Reino. Para o nosso propósito aqui, vamos rever a descrição que Paulo faz denós como herdeiros maduros:

Digo, pois, que, durante o tempo em que o herdeiro é menor, emnada difere de escravo, posto que é ele senhor de tudo. Mas está sob

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tutores e curadores até ao tempo predeterminado pelo pai. Assim,também nós, quando éramos menores, estávamos servilmentesujeitos aos rudimentos do mundo; vindo, porém, a plenitude dotempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob alei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de querecebêssemos a adoção de filhos. E, porque vós sois filhos, enviouDeus ao nosso coração o Espírito de seu Filho, que clama: “Aba,Pai!” De sorte que já não és escravo, porém filho; e, sendo filho,também herdeiro por Deus.[1]

Não somos mais escravos, mas filhos! Nossa condição de vida passou danecessidade de um guardião e mordomo (controles externos) para a de filhospoderosos e livres do Deus vivo.[2] E muito mais é exigido para atuar naliberdade de ser uma pessoa poderosa e rica do que nas limitações de um escravo.

Você se lembra do filme Matrix? Em seu primeiro encontro com Morfeu,Neo ouve: “Você é um escravo, Neo. Como todos os outros, você nasceuescravo, nasceu dentro de uma prisão que você não pode cheirar, provar outocar. Uma prisão para a sua mente”. Então ele oferece a Neo a liberdade dessaprisão — a pílula vermelha. Mas quando Neo desperta no “mundo real”, ele seencontra em uma mesa de cirurgia com todo tipo de coisas saindo dele. Morfeuexplica que eles estão reconstruindo os seus músculos, pois ele nunca os usouantes. Essa é uma imagem dramática, porém bastante clara, do que acontececonosco, que nascemos “em cativeiro sob os elementos do mundo”, paraentrarmos na vida de liberdade.

Como escravos, seguimos o caminho da menor resistência, onde não eraexigido que assumíssemos a plena responsabilidade pelo nosso pensamento ecomportamento. Nunca desenvolvemos os músculos morais para lidar comopções ilimitadas. Mas no “mundo real” do Reino, espera-se que os filhos e filhasde Deus não apenas sejam livres, mas também entendam por que são livres e queeles exerçam essa liberdade visando o propósito dela — o amor. Como Paulocontinua dizendo:

Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useisda liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos

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outros, pelo amor... Digo, porém: andai no Espírito e jamaissatisfareis à concupiscência da carne.[3]

Nosso sucesso em usar a liberdade para amar se resume em andar no Espírito.Por esse motivo, se como líderes quisermos edificar um povo que pode lidar coma liberdade, então nossos métodos de liderança precisam amadurecer para tratarcom o espírito do homem e não simplesmente com o seu comportamento.

Paulo continua dizendo: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta,vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que nãosejas também tentado”.[4] Ele está dando instrução para o que fazer quando algumde nós por acaso passar por alguém que caiu em um buraco. No capítuloanterior, Paulo descreveu aqueles que são guiados pelo Espírito e expressam oSeu caráter (fruto) em suas vidas. Aqui ele se dirige a “vós, que sois espirituais”— aqueles que sabem e demonstram o amor e o caráter de Deus — e declara quedevemos lidar com essas situações com um “espírito de brandura”, que é um dosfrutos do Espírito.

Também devemos ser muito cuidadosos com o preço de julgarmos as outraspessoas. Como Jesus ensinou, o mesmo julgamento que emitimos sobre opecado de outra pessoa será medido e usado em nós.[5] Julgar os outros pinta umenorme alvo em nossos rostos e dá ao inimigo a oportunidade de se voltar contranós.

“Um espírito de brandura” é uma expressão importante. Ela descreveespecificamente a atitude de coração da pessoa que realiza o confronto. Abrandura é o termo perfeito para descrever a atitude que devemos ter para comaqueles que cometeram erros ou falharam de alguma forma. Brandura nãosignifica ser bom, nem quer dizer ser educado. O coração brando é a convicçãode que “eu não preciso controlar você”. Imagine você se aproximar de um veadoquerendo domesticá-lo. Se esse veado por um instante pensar que você pretendecapturá-lo, então tudo está perdido. Aqueles de nós que conhecemos o coraçãode Deus devemos ter a convicção em nosso interior, a cada confronto, de quenão tentaremos controlar a pessoa que está com problemas. Essa é a primeira e amais importante habilidade a ser desenvolvida. E também a mais difícil.

O domínio da brandura começa em nosso sistema de crenças. Será queacreditamos que podemos controlar os outros? Vamos rever a maneira simples detestar isso. O que acontece com você quando outra pessoa não permite que você

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a controle? Você fica irado? Você interpreta isso como desonra? Você encontrauma maneira de se justificar punindo-a? Um sim a qualquer dessas perguntasexpõe o fato de que você ainda acredita na mentira de que pode e deve controlaras pessoas. O confronto segundo o modelo do Reino requer que você searrependa disso e comece a permitir que os outros controlem a si mesmos.

Eu tinha uma expectativa secreta de que o avivamento eliminaria todos osproblemas do meu ambiente, e com o tempo essa expectativa acabou serevelando. Um dia, senti uma onda de incredulidade vir sobre mim, porque osproblemas das pessoas estavam me cercando — adultério, abuso infantil, vícios,mentiras e outras coisas mais. Pensei comigo mesmo: Se Deus está realmente aquie o Seu Reino está vindo, então por que tantas pessoas ainda estão com as vidas tãoarrasadas? Essa pergunta fez com que eu pensasse sobre o Reino de Deus comoeu nunca pensara. O Céu é um lugar onde Deus controla todas as escolhas? Equanto ao Jardim? Aquele lugar certamente tinha opções!

Então percebi que também há escolhas negativas no Céu. Tem de haverescolhas negativas no Céu, porque ele é um lugar livre. Lúcifer encontrou umaescolha ruim. Desde então, ouvi Bill Johnson dizer muitas vezes: “A graça emuma cultura dá ao pecado que habita no coração das pessoas a oportunidade dese manifestar”. Quando vivemos em um lugar de amor e aceitação e estamosaplicando o amor incondicional de Deus às vidas das pessoas em todo o tempo,o pecado que está dormente em suas vidas ou contra o qual elas têm lutado ouescondido, sairá à luz e acabará no chão.

Creio que podemos aprender uma lição sobre a cultura da graça observandoa evolução da criação de porcos. Os porcos são famosos pela sujeira e pelo cheiro.Durante séculos, as fazendas de porcos eram os ambientes mais desagradáveisque se pode imaginar. Pelo fato de que os porcos não têm uma maneira naturalde esfriarem seus corpos, os fazendeiros providenciavam um buraco de lama paraos porcos, a fim de impedi-los de superaquecerem. Esses buracos de lama, ondeos porcos chafurdavam durante boa parte do dia, finalmente ficavam cheios deurina e fezes porque... Bem, parece que os porcos não encontravam umbanheiro. Se você já esteve perto de uma pocilga, conhece o odor forte quepermeia toda a área e que se espalha até tão longe quanto o vento pode levá-lo.Imundície, doenças, bactérias e infecções são coisas que se encontram aos montesnesses lugares.

Mas nos últimos tempos, alguém decidiu separar os porcos dessa sujeira. Em

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Mas nos últimos tempos, alguém decidiu separar os porcos dessa sujeira. Emlugar de aceitar que a sujeira faça parte da criação de porcos, hoje os fazendeirosconstroem instalações projetadas para proteger os porcos de tudo que édesagradável. Em vez de usar lama para esfriar os porcos, eles usam água. O chãoe as áreas onde os porcos vivem têm drenos e sistemas de enxágue que levamembora os dejetos. Os porcos agora podem viver em ambientes limpos e ser tãohigiênicos quanto os animais domésticos. Isso era inimaginável há muito poucotempo, e ainda não se tornou universal; muitos criadores de porcos ainda usamos antigos métodos porque os novos sistemas são muito caros.

O Pai pagou o mais alto preço para colocar à nossa disposição um novosistema para tratar com as nossas sujeiras. Se a humanidade pode encontrar umamaneira de criar porcos limpos e está disposta a pagar o preço, então certamenteo custo do sangue de Jesus pode realizar o desejo do coração do nosso Pai paranós. Jesus declarou: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado”.[6]

Estamos limpos!Portanto, seria melhor que tivéssemos um mecanismo em nossa cultura cristã

que lide eficazmente com o pecado quando ele aparece bem na nossa frente. Sejaqual for o motivo, passamos a esperar que a igreja seja um lugar onde não vaihaver nenhum pecado. Isso simplesmente não é verdade. Se não soubermoscomo lidar com o pecado, então não saberemos como lidar com as pessoas.Criamos inevitavelmente uma cultura da lei, a fim de impedir as pessoas depecar. A mensagem dessa cultura é: “Contenha o seu pecado dentro de você.Não o mostre a mim; eu não sei lidar com ele”.

Lembre-se de que essa era a fala dos fariseus. Eles eram famosos por ter medodo pecado, em grande parte devido ao fato de que o único remédio para opecado nos dias deles era aplicar vários níveis de punição. O medo da puniçãogovernava o coração deles, os seus relacionamentos e a sua cultura. Jesus, noentanto, tinha um grupo de companheiros improváveis. Eles eram ladrões,coletores de impostos e prostitutas da época. Comparado aos outros líderesreligiosos daquele tempo, Ele era como o “Jesus de Vegas”. Ele não tinha omenor medo do caos que as pessoas faziam em suas vidas e de permitir que elasestivessem com Ele. Até mesmo as pessoas que passaram três anos andandopessoalmente com Jesus ainda cometiam erros na noite da Sua crucificação. Mas,finalmente, o Seu amor e a maneira como Ele liderava as pessoas as capacitou ase erguerem acima dos seus erros e problemas.

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Se quisermos cultivar uma cultura da graça, precisamos ter maneiras eficazesde lidar com os problemas das outras pessoas. Necessitamos de ambientes queretirem os dejetos para longe das pessoas em vez de fazer deles parte de quem elassão. Nossos métodos precisam retirar os dejetos, porém, sem reforçar aexpectativa de que as outras pessoas nos controlem e de que nós controlemos osoutros. Como já afirmei, ninguém pode nos controlar. Já estamos muitoocupados tentando controlar a nós mesmos. Assim, também carecemos deformas que nos capacitem a administrar a nós mesmos na presença dos problemasdas outras pessoas. Nosso poder e nossa paz estão fundamentados em sermoscapazes de manter a nossa liberdade uns com os outros por intermédio dodomínio próprio. Sem a prioridade no domínio próprio, vivemos reagindoconstantemente uns aos outros, o que gera uma cultura de culpa eirresponsabilidade que nos leva a agir mais ou menos assim: “A sua coisa disparaa minha coisa, e não sei o que fazer quando você faz isso. Pare com isso! Agoravou culpar você pelo que faço. Se você não fizer isso, eu não terei de fazeraquilo”.

As pessoas terão de volta o seu poder mais rapidamente em uma cultura comlíderes poderosos que liderem em liberdade e honra. Essa cultura valorizaaltamente o confronto, um valor que deriva do entendimento de que nãoconsertar os erros gera um ambiente tóxico para todos. Entretanto, querodescrever o que é o confronto e o que ele não é, porque existe uma confusãosobre esse ponto que criou um caos ainda maior que o confronto maladministrado causou. Vou lhe mostrar passagens na Bíblia nas quais elefuncionou lindamente. Oro para que você receba uma transferência da verdadeno seu pensamento acerca de como abordar o problema do pecado nas vidasdaqueles que o cercam e de como administrar a si mesmo nos relacionamentos.

Objetivos do Confronto

Primeiramente, vamos identificar os objetivos do confronto. Eles devem estar noseu coração e motivá-lo quando você realizar um confronto. O confronto tem aver com trazer alguma coisa à luz. Quando eu vou até você com um espírito debrandura, eu estou indo para acender as luzes para que você tenha aoportunidade de ver. Mais uma vez, brandura significa que eu não precisocontrolar você. Esse confronto não é uma tentativa de forçá-lo a fazer algumacoisa. É um esforço amoroso para lhe mostrar, face a face, o que quem sabe você

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não esteja vendo ou talvez não saiba sobre suas ações, ou sobre como você estáafetando o mundo que o cerca. A brandura ajudará a ansiedade a permanecer embaixa e o amor a aumentar nesse processo de confronto.

Tradicionalmente, confronto e conflito são sinônimos. Essas palavras ativampensamentos de luta e ofensa. Com frequência, as pessoas que se importam umascom as outras acabam feridas, e o culpado nessas lutas é o controle. Os objetivoserrados causarão um resultado indesejado. Portanto, é importante identificar eentender os objetivos corretos do confronto:

Apresentar as consequências de uma situação a fim de ensinar efortalecer.

Trazer à tona o que as pessoas esquecem acerca de si mesmasquando falham.

Fazer um convite a fortalecer um vínculo de relacionamentocom alguém.

Aplicar pressão estrategicamente a fim de expor áreas queprecisam de força e graça.

Deixe-me explicar como apresentar as consequências a fim de ensinar efortalecer. Mais uma vez, esse objetivo não poderá ser alcançado enquanto vocênão lidar com sua convicção de que pode controlar os outros. Não devemos terintenção alguma de fazer com que a pessoa faça algo. Em vez disso, esse processoajudará a pessoa a perceber o problema que ela criou e a enxergar um aliado útilem você.

Em segundo lugar, precisamos entender que há uma diferença entre umaconsequência e uma punição, e ser cuidadosos em apresentar a primeira.

Muitos de nós somos confrontados nesse ponto porque ouvimos a puniçãoser chamada de disciplina. Todos nós sabemos que disciplina é algo bom — aBíblia indica claramente que o amor e a disciplina estão ligados.[7] Infelizmente,o que chamamos de disciplina parece muito com punição, e nós a sentimoscomo uma punição. Isso nos ajuda a mascarar o nosso medo e a justificar a nossanecessidade de controle. Não há poder dado àquele que recebe essa disciplina.Aquele que administra a disciplina exige a obediência completa daquele que estásendo disciplinado, e aí está a diferença entre a disciplina que na verdade épunição e a disciplina por meio das consequências. As consequências são

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diferentes da punição, porque com as consequências o poder é dado àquele quecausou o problema.

O processo do confronto segundo o Reino é um processo de capacitação, enão de dominação. Quando uma pessoa falha e produz uma consequência poressa falha em sua vida, o confronto conduz e capacita a pessoa a reparar o erro.Um dos nossos ditados na Bethel Church é: “Sinta-se tão livre para criar umagrande confusão quanto você estiver disposto a arrumá-la depois”. Isso não é umanúncio irreverente de irresponsabilidade. É simplesmente um recado a todosque diz que a responsabilidade pessoal é exigida nesse ambiente. Ninguém ficaráempacado no seu erro, mas ninguém será capaz de corrigir um problema quevocê criou tão bem quanto você.

Na Bethel, nossa intervenção está em estabelecer a expectativa que as pessoas,motivadas pelo respeito nos relacionamentos, responderão por ter domínio porsuas escolhas e as consequências que virão delas. Essa resposta somente é possívelquando as pessoas souberem que são livres. Elas são livres para jogar fora a coisatoda. Somente elas podem escolher honrar e respeitar a sua comunidade erelacionamentos.

Se tirarmos essa opção porque queremos controlar o resultado, então nósretiramos o poder das pessoas e criamos vítimas impotentes e irresponsáveis.Vítimas impotentes nunca possuem nada e não transformam suas circunstâncias.Portanto, os nossos confrontos devem ter o objetivo da capacitação ou dorevestimento de poder desde o começo. O nosso processo de confronto indicaráas conse-quências das escolhas das pessoas e lhes oferecerá força e sabedoria emvez de controle e punição.

No primeiro capítulo deste livro, contei a história de um casal de alunos donosso ministério que ficaram grávidos durante as férias de verão entre o primeiroe o segundo ano. Como você deve se lembrar, apresentei o processo queatravessamos com eles como um exemplo de como fazemos a maioria dosconfrontos em nossa cultura. Nossa equipe e eu tivemos um grande respeito ehonra por aqueles dois alunos. Nossa prioridade era proteger o nossorelacionamento com eles enquanto lhes mostrávamos algo que eles não estavamvendo: o problema e as suas consequências. Durante o confronto, buscávamos eprotegíamos esses objetivos. Sabíamos que o confronto traria para eles umatremenda percepção, sabedoria e entendimento, à medida que os ajudávamos aresolver o problema e a corrigir seu erro. Também os capacitamos de uma

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maneira que trouxe esperança e alegria, o que fortaleceu a ambos em meio aoprocesso de correção do erro.

Nosso processo com aquele casal também ajudou a revelar e a confirmar asverdadeiras identidades deles como filho e filha do Rei dos reis, atingindo assimo objetivo seguinte do confronto: trazer à tona o que as pessoas esquecem sobre simesmas quando falham. Em uma cultura de regras, as pessoas não apenas esperamser punidas quando falham, como também ficam oprimidas pelo poder davergonha. De acordo com o tamanho do erro delas ou da sensibilidade delas aofracasso, a vergonha cria raízes no coração e na mente daqueles que falham. Ora,a vergonha não é apenas um sentimento; é um espírito. É um espírito que ataca aidentidade dos indivíduos. Esse espírito mente para as pessoas e as leva aacreditar que o mau comportamento delas tem origem em quem elas são: “Vocênão falhou; você é um fracasso. Você não cometeu um erro: você é um erro!”

Nossos dois alunos são pessoas incríveis. Eles cometeram um grande erro eainda continuam sendo pessoas incríveis. As pessoas que queríamos ver aparecerdurante o nosso confronto eram as melhores pessoas que eles têm dentro deles. Avergonha havia se decidido a cobrir essas pessoas e procurava destruí-las. Nossotrabalho era trazer o melhor deles à tona e depois lhes apresentar a realidade dasituação, sabendo que o melhor deles tomará as melhores decisões e transformaráa tragédia em triunfo. Por termos começado com esse objetivo, fazia sentidopermitir que aquelas pessoas se manifestassem e confiar nelas. Se tivéssemos tidoa necessidade de puni-los, teríamos acabado colaborando com a vergonha eexigindo que eles assumissem uma posição de impotência que nos permitissecontrolá-los e fazer com que eles realizassem os nossos desejos.

A grandeza que habita no centro de cada crente deve vir à tona se quisermosverdadeiramente representar o nosso Pai do Céu. Vestir-se com o manto davergonha e da culpa não apenas é impróprio para nós como Seus filhos e filhas,como é uma armadilha de impotência. Estender a mão para as pessoas e trazer atona suas verdadeiras identidades é um ato de amor que viverá por muito maistempo que o aguilhão do fracasso e das consequências. As pessoas podem ver epensar quando a identidade delas está livre do medo e da vergonha. Vez apósvez, vimos a grandeza daqueles que cometeram erros assumir o comando etransformar o mal em bem. E com isso, vemos os nossos relacionamentos dealiança serem fortalecidos e aprofundados.

Este é o nosso próximo objetivo no confronto: fazer um convite para

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Este é o nosso próximo objetivo no confronto: fazer um convite parafortalecer um vínculo de relacionamento com alguém. Precisamos ver o processo detrazer um problema à luz como um convite para praticar os nossosrelacionamentos de aliança. Pode parecer que a nossa prioridade é resolver umaquestão ou mudar um comportamento. Mas, na verdade, o confronto segundo oReino é um teste da aliança entre duas ou mais pessoas, e esse relacionamento ésempre a prioridade máxima. Quando mantemos as outras pessoas responsáveispela maneira como elas estão nos afetando, ou afetando a comunidade que ascerca, expomos os níveis de confiança que temos com esses indivíduos. Quandotestamos a relação entre nós por meio do confronto, aprendemos a verdadeiraforça da nossa aliança com outra pessoa.

Com frequência, encontramos relações fracas e frágeis quando confrontamos.Às vezes, é chocante o pouco valor que as pessoas dão ao seu relacionamentoconosco. Outras vezes, isso simplesmente confirma o que pensávamos eesperávamos encontrar.

A confiança é a chave para um confronto bem-sucedido. Sem ela,descobriremos as nossas limitações rapidamente. Se e quando descobrirmos queum confronto não está indo bem, a primeira coisa a ser verificada é o nível deconfiança. Quando a confiança é baixa, a ansiedade geralmente é alta. Quando aansiedade aumenta, nossa prioridade no encontro muda para a autopreservação,na maioria das vezes procurando controlar um ao outro. Se tivermos alguémdiante de nós que acredita que precisa se proteger de nós, então não estaremosfalando à grandeza dele, mas sim às suas táticas de sobrevivência. Para terconfiança, a pessoa que confrontamos precisa acreditar que estamos a favor delae que protegeremos os seus melhores interesses ao longo do confronto.

Nossos dois alunos eram totalmente estranhos para mim quando nosencontramos naquele dia. Antes da nossa conversa em meu gabinete, eu nuncahavia falado com nenhum deles. Aqueles dois estavam apostando todas as suasfichas ao entrarem no gabinete de um completo estranho — um estranho quetinha o poder para puni-los, nada menos que isso. Cientes da posiçãoextremamente vulnerável deles, eu agradeci por confiarem em mim. Vergonha,ansiedade e a expectativa da punição eram elementos contrários a nós desde oprincípio. Pedi aos líderes da escola para estarem presentes na reunião conoscopara que eu pudesse “tomar emprestada” a confiança que o casal já tinhaconstruído junto a eles. Eu sabia que precisava estabelecer a confiança antes de

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poder aplicar qualquer pressão sobre eles na esperança de encontrar a fonte doproblema.

Nosso objetivo final é aplicar pressão estrategicamente a fim de expor as áreasque necessitam de força e graça. Precisamos encontrar os “pontos de rachadura” etrabalhar para começar a restaurá-los. A minha melhor analogia para “aplicarpressão” vem dos meus primeiros anos de vida adulta em uma loja de pneus.Uma das minhas funções era consertar os pneus furados. Eu levantava ocaminhão com um macaco, retirava a roda do caminhão, tirava o aro e separavao anel, retirava o pneu da roda e a câmara de ar furada. Então eu ligava amangueira de ar à válvula da câmera interna e a enchia de ar — muito mais ar doque ela podia conter quando estava dentro do pneu. Quando a câmara eraesticada à sua capacidade máxima, eu a levava para um tanque cheio de água ecomeçava a submergir partes dela sob a água. Enquanto eu mantinha partes dacâmara de ar debaixo d’água, eu a girava em minhas mãos e procurava umacoisa: bolhas. Eu estava tentando encontrar o “ponto da rachadura” por onde oar estava vazando. Assim que eu localizava de onde as bolhas vinham, eu marcavao local e começava a reparar o pneu furado.

Esse processo só funcionava se eu enchesse a câmara de ar com pressãointerna suficiente. O “ponto de rachadura” nunca se revelava se eu não aplicassea pressão certa. A pressão externa jamais exporá o “ponto de rachadura” dealguém. Gritar com ele, ameaçar cortá-lo em pedacinhos, persuadi-lo ouinterrogá-lo nunca me ajudarão a encontrar o lugar que precisa de cura. Essetrabalho é realizado de dentro para fora.

O confronto é o processo de aplicar pressão na vida de outra pessoa,deliberadamente, para expor os pontos de rachadura. Precisamos encontrar essespontos se quisermos transformar os ciclos de destruição nos quais as pessoascostumam viver. Não podemos tomar decisões diferentes e produzir umresultado diferente até que saibamos o que está errado.

Isaías 1:18 diz: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor: ainda que os vossospecados são como a escarlata...”. Embora os seus pecados estejam visivelmente portoda parte, Deus diz: “Podemos fazer alguma coisa a respeito”. Há esperança. Eo que é mais importante, Deus diz: Vinde e arrazoemos. A emoção, a natureza e odesejo de Deus é que venhamos. Nesta palavra “arrazoemos”, o Senhor nosconvida a olharmos juntos alguma coisa para corrigi-la. “Venha, vamos ver istojuntos para trazer correção. Você está vendo o que Eu vejo? Espero que sim,

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porque até que você veja, o que Eu digo não fará nenhum sentido para você. Sevocê não vir o que eu estou vendo, todo o Meu conselho não fará o menorsentido para você. Você vê o que Eu vejo? Você está Me ouvindo?”

Deus não precisa nos controlar, e Ele não tem medo do nosso “ponto derachadura”. Ele sabe que a única maneira de realmente mudarmos é quandoformos livres para mudar.

Gerando Pressão Interna

O poder do confronto vem de dentro para fora. Não é um trabalho deconvencimento ou uma tática manipuladora para fazer com que alguém façaalguma coisa. Não pode ser! Ele precisa ser genuinamente motivado de dentro seesperamos que tenha efeito. Um erro comum que cometemos é levar alguém adizer algo mágico do tipo: “Sinto muito”. Se você já tentou fazer com que doisirmãos consertassem algum problema que criaram um com o outro ordenando“Peça desculpas”, então você sabe que isso não funciona. Eles dirão o que forpreciso para se livrarem do problema e seguirem em frente; você pode ver nosolhos deles e ouvir na voz deles que eles estão longe de se reconciliarem com esseexercício. As soluções para a mágoa e a ruptura em um relacionamento vêm docoração. Chegar ao coração exige um processo que gera pressão interna.

Há um exemplo brilhante no livro de Jó. Jó passou por um tempo difícil emsua vida. Seus amigos bem-intencionados foram até ele e fizeram o melhor quepodiam para gerar pressão em Jó de fora para dentro. Cada amigo tinha umponto de vista que foi transmitido a ele como um sermão. Suas suposiçõesdolorosas quanto a qual poderia ser o problema só aumentavam a impotência e ador do sofrimento de Jó. Embora seus amigos tivessem feito o melhor paraajudá-lo, eles só pioravam as coisas a cada diálogo.

Finalmente, no capítulo 38, o Senhor de todos apareceu. Se alguém tinhauma percepção profética ou uma palavra de conhecimento sobre qual eraexatamente o problema, esse alguém era o próprio Deus. Com certeza, se alguémpodia entender bem aquilo, seria o Deus Onisciente. Mas Aquele que sabe todasas coisas fez algo muito diferente:

Depois disto, o Senhor, do meio de um redemoinho, respondeu aJó: “Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem

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conhecimento? Cinge, pois, os lombos como homem, pois eu teperguntarei, e tu me farás saber”.[8]

Deus iniciou Sua intervenção na situação repreendendo a multidão deconjeturadores. “Quem é este que escurece os Meus desígnios com palavras semconhecimento?” Na essência, Deus apareceu e disse: “Calem a boca! Todos vocês,fiquem quietos!” Em seguida, Ele usou o segredo da pressão interna: “Eu teperguntarei, e tu Me farás saber”. Que gênio tremendo! O processo de fazerperguntas inteligentes dá início à máquina de combustão interna nos sereshumanos.

É um processo que evita acionar as defesas naturais que empregamos contraas pessoas que pretendem nos controlar. As pessoas podem sentir a armadilha dasperguntas que se destinam a controlá-las. A maioria de nós tem experiências comfiguras de autoridade que querem que respondamos às perguntas delas“corretamente”. Esse processo de confronto causa medo e elimina o que podeacontecer quando as pessoas se sentem seguras.

As perguntas certas dão início à jornada interna que leva as pessoas a umencontro com a Verdade. Deus adverte Jó de que esse processo irá prová-lo aomáximo. “Cinge, pois, os lombos como homem!” Vindo do Rei da Glória, essecomentário faria qualquer um perder todo o controle sobre suas funçõescorpóreas. Mas esse é o processo do confronto segundo o modelo do Reino.

Minha esposa e eu fomos a um rodeio há algum tempo com alguns amigos.Conseguimos os melhores lugares da arena. É bom ter amigos ricos. Nós nossentamos próximos à cabine do anunciante. Eu podia olhar por sobre oparapeito e ver os cavaleiros de touros logo ali abaixo de mim. Vi quando umdaqueles caubóis estava se alongando. Ele colocou a perna na cerca como umabailarina ou como um ginasta. Sua bota estava acima de sua cabeça. Foi entãoque percebi que aqueles sujeitos eram atletas. Acho que eu nunca havia pensadonisso. Eles estavam se preparando como homens. Porque você sabe o que estavaprestes a acontecer. Ooa! Eles estavam prestes a entrar no redemoinho.

Deus disse: “Lá vamos nós! Prepare-se como um homem. Eu vou lhe fazer asperguntas e você vai me responder. Há coisas boas em você, Jó, e Eu vou chamaressas coisas para fora”. É assim que Deus lida com alguém a quem Ele ama. Esseé o tipo de confronto que causa libertação. Deus aplicou pressão, mas Ele fez issocom um espírito de brandura, no sentido de que, por intermédio das Suas

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perguntas, Ele transmitiu claramente a mensagem de que não precisava controlarJó. Ele protegeu a oportunidade para Jó descobrir o que realmente estavaacontecendo dentro dele, convidando-o a envolver a sua vontade no processo.

Vemos Jesus demonstrar esse processo várias vezes. Ele perguntou a umhomem que era obviamente tão cego que o seu primeiro nome era Cego —Cego Bartimeu: “O que queres que Eu te faça?”[9] E, é claro, o Cego Bartimeurespondeu: “Quero recuperar a minha visão!” Por que o Senhor fez umapergunta tão óbvia? Ou por que, quando Ele se aproximou do homem coxo noTanque de Betesda, que estava ali havia dezoito anos esperando o anjo agitar aágua, Ele perguntou: “Queres ser curado?”[10] Por que o Homem cujo ministériode cura tinha uma taxa de sucesso de 100% parou e fez perguntas queaparentemente tinham respostas óbvias?

Aqui está o poder da pressão interna. Jesus sabia que aquele homem nascerapara ser livre. Se não temos o poder para escolher, então nunca seremosresponsáveis pela escolha. Deus joga segundo as Suas próprias regras e o Seupróprio projeto — Ele honra a maneira como nos fez. Na sua presença háliberdade, para pensar, decidir e sermos os donos das nossas vidas.

Jesus parou e fez àqueles homens essas perguntas, porque existe uma linha.Há uma linha de demarcação — ela marca onde a vida de alguém para e a deoutro começa. Se acreditamos que podemos controlar os outros ou que devemosdemonstrar o nosso grande amor, então não existe linha. Sua vida me pertencequando eu quero alguma coisa de você. Mas se eu quiser honrar a sua vida e oseu domínio próprio, então deve haver uma linha onde eu paro e você começa. Aprática de limites saudáveis entre as pessoas é um tópico que foi bem discutidoem outros livros, portanto não vou me aprofundar nele aqui. Mas queroenfatizar o lugar crucial dos limites para dar poder às pessoas durante umconfronto.

As perguntas certas atendem a uma série de grandes benefícios em umconfronto bem-sucedido, inclusive os objetivos que já discuti:

Elas estimulam o pensamento dentro do indivíduo que tem oproblema.

Elas permitem que a pessoa tenha uma oportunidade deelaborar a maior parte dos pensamentos sobre o problema dedentro para fora.

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Elas ajudam a pessoa a ter acesso à sua grandeza e demonstrá-ladurante o confronto.

Elas lembram à pessoa coisas que ela tende a esquecer sobre simesma quando falha.

Elas demonstram o relacionamento de aliança entre as duaspartes.

Elas permitem que a pessoa que faz o confronto continuesendo uma aliada.

Quem É “Confrontável”?

Em Gênesis 18 há uma história maravilhosa a respeito de dois amigos. É ahistória a respeito de Abraão e Deus. É um exemplo absolutamenteimpressionante para mim do fato de que Deus é uma pessoa real. Ele não é umespectro cósmico perfeito que não precisa de mim nem me tolera. Ele não é o“Chefão que está lá em cima” que se as coisas não saírem do Seu jeito alguémtem de morrer. Leia isto:

Tendo-se levantado dali aqueles homens, olharam para Sodoma; eAbraão ia com eles, para os encaminhar. Disse o Senhor:“Ocultarei eu a Abraão o que estou para fazer, visto que Abraãocertamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serãobenditas todas as nações da terra?”[11]

Deus estava a caminho para destruir Sodoma. Mas primeiro Ele iriaconsultar o Seu amigo Abraão, que poderia ter algo a dizer sobre isso. Deus dissea ele que o clamor contra Sodoma era grande e que Ele precisava fazer algumacoisa a respeito. Abraão ficou perplexo! Qual foi a reação dele?

E aproximando-se a Ele, disse: “Destruirás o justo com o ímpio?”

Abraão então continuou a fazer mais perguntas:

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“Se houver, porventura, cinquenta justos na cidade, destruirásainda assim e não pouparás o lugar por amor dos cinquenta justosque nela se encontram? Longe de ti o fazeres tal coisa, matares ojusto com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio; longe de ti.Não fará justiça o Juiz de toda a terra?”[12]

Deus ficou ali, sendo confrontado por Abraão, e respondeu: “É, você estácerto. Eu pouparia a cidade por cinquenta justos”. Isso é profundo! Deus éconfrontável! Isso é raro, porque a “liderança” que estamos acostumados a vergeralmente é inconfrontável. Classicamente, interpretamos confrontar aliderança como uma desonra.

Diante da reação de Deus, Abraão seguiu em frente. Como um leiloeiro, elereduziu gradualmente o tamanho do grupo necessário para que Deus tivessemisericórdia da cidade: “Tudo bem, 40... 30... 20... 10?” Ele lançou algumasperguntas e esclareceu que não pretendia ser desrespeitoso ao longo do caminho.No fim, “Tendo cessado de falar a Abraão, retirou-se o Senhor, e Abraão voltou parao seu lugar”.[13]

Abraão confiava em Deus e Deus confiava em Abraão. Se o próprio Deus seabriu para ser confrontado por um homem, isso leva à pergunta: quem estáacima de ser confrontado? Um ambiente seguro deve ser cheio de pessoas livres epoderosas, ou logo será um lugar inseguro controlado por aqueles que pensamque têm todo o poder.

O Ingrediente-chave É a Confiança

Se você sabe que eu o valorizo muito, então você pode me convidar a dar aminha opinião. Se você confia que eu tenho o seu melhor interesse no meucoração, então poderemos construir um relacionamento de aliança maisprofundo por meio do confronto. Se você tiver a mínima desconfiança de que eunão o respeito ou o valorizo, você se protegerá contra a minha ajuda. Oproblema clássico da dinâmica pais/adolescentes é que, à medida que a criança setorna um jovem ou uma jovem, ele ou ela pode sentir o desrespeito que os paistêm por sua capacidade de pensar e de tomar decisões. Por sentir que não tem aconfiança dos pais, ele ou ela resiste ao confronto.

A natureza do confronto é a verdade. O propósito de criar pressão externa é

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A natureza do confronto é a verdade. O propósito de criar pressão externa éencontrar a verdade, e não obter uma confissão. As pessoas que não conseguemconfiar não mostrarão a ninguém a verdade do que está se passando dentro delas.Elas se sentem mais seguras mantendo o “lugar de rachadura” escondido. Épreciso um lugar seguro para expor uma área vulnerável, uma área que precisa decura. Por esse motivo, importa menos que o confrontador acredite que temgrande autoridade e deve receber confiança e importa mais que aquele que estáassustado acredite que é cuidado e protegido.

Na essência, o confronto é um exame. É um procedimento que confia emoutra pessoa para olhar para alguma área da sua vida que você talvez não conheçaou não entenda. Ele é tanto vulnerável quanto necessário, se esperamos construirvidas saudáveis e viver em paz. Isso me lembra de quando fiz 40 anos. Foinaquele ano que fiz o meu primeiro verdadeiro exame físico. Minha médica mepediu para tirar a roupa e debruçar-me sobre a mesa. Eu sabia que isso iriaacontecer; simplesmente não conseguia encontrar uma maneira de fingir que nãoseria realmente como eu havia ouvido falar. A luva de borracha e a vaselina nabandeja ao meu lado fizeram-me perceber isso. O procedimento seria invasivo! Efoi, sem dúvida, uma invasão que ia e vinha. Eu mal conseguia olhar minhamédica nos olhos. Um riso nervoso tomou conta de mim como se eu tentassedisfarçar meu incômodo. Eu disse: “Devo contar à minha esposa o que acaba deacontecer?”

Minha médica riu comigo, depois ela disse: “A sua próstata está lisa. Isso ébom. Eu o vejo daqui a um ano mais ou menos”.

O rei Davi falou sobre isso, deste modo:

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conheceos meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau eguia-me pelo caminho eterno.[14]

Jesus é o Grande Confrontador. Não é coincidência que Ele não tenha medona presença dos erros das pessoas nem tenha medo de confrontar essas pessoascom uma invasão amorosa da verdade. Quer fossem os Seus discípulos, o jovemrico ou a mulher junto ao poço, Ele era capaz de ajudar as pessoas aidentificarem o que estava se passando abaixo da superfície melhor do quequalquer um. E, ao mesmo tempo, as criancinhas iam correndo para Ele comoum “lugar seguro”. As crianças identificam naturalmente as pessoas que se

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sentem seguras. Uma das chaves para o domínio de Jesus no confronto é que asSuas interações com as pessoas eram motivadas pela compaixão. Lembro-me deBill Johnson dizendo: “Se confrontar outra pessoa não faz você sofrer, entãoprovavelmente você está tendo a atitude errada”.

O confronto e a capacitação andam de mãos dadas em uma cultura dehonra, e a misericórdia, a compaixão e a coragem são as qualidades necessáriaspara manter um fluxo saudável desses dois elementos em seu ambiente. Oconfronto bem-sucedido constrói relacionamentos e fortalece vínculos dealiança. Ele é uma arte construída sobre certas habilidades, mas o que é maisimportante, é um estilo de vida que flui das suas convicções e valores essenciais.Quanto mais você estabelecer os objetivos do Céu para o confronto em seupensamento, mais estará posicionado para liberar o Céu quando for precisoconfrontar alguém.

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H

CAPÍTULO 8

REVOLUÇÃO PARA REFORMAR, REFORMARPARA TRANSFORMAR

Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águascobrem o mar.

(Habacuque 2:14)

ouve um tempo na história das nossas nações em que era consideradonormal e aceitável possuir outros seres humanos. Adotamos e passamosadiante uma visão e uma prática cultural de que a escravidão era

“necessária” para o nosso comércio e famílias funcionarem. Escravizávamos,vendíamos, oprimíamos e puníamos as pessoas como animais porque isso era“normal”.

O aspecto mais difícil dessa tragédia é o fato de que ela era bíblica. Tanto oAntigo quanto o Novo Testamento aparentemente toleram e mostram a bênçãode Deus sobre os proprietários de escravos. O apóstolo Paulo instruiu os escravosa se submeterem aos seus senhores.[1] Ele não deu sequer uma dica acerca dissoser uma enorme injustiça e uma ofensa ao paradigma do Céu. Jesus não instruiuos Seus discípulos dizendo “deixa o Meu povo ir” nem fez uma campanha contraa escravidão.

Ou será que fez? Ele introduziu o Seu ministério afirmando que fora ungido“para proclamar libertação aos cativos”.[2] Mais tarde, Ele comissionou todos osque quisessem segui-lo a imitarem o Seu exemplo. Isso deixa cada geração de

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crentes com a pergunta acerca de como fazer isso. Como podemos transgredir anossa própria Bíblia e, principalmente as nossas tradições, para encontrar umlugar mais elevado de honra e liberdade para as pessoas? Geralmente, isso requeruma guerra. Como a história dos Estados Unidos comprova, às vezes é precisouma guerra civil.

Harriet Beecher Stowe lutou contra essa questão em seu livro A Cabana doPai Tomás. Ela disse:

Escrevi o que fiz porque, como mulher e mãe, eu ficavaoprimida e de coração partido com as tristezas e a injustiça quevia, porque como cristã eu sentia a desonra ao Cristianismo. Efiz isso porque, como alguém que ama o meu país, eu tremiadiante do dia da ira que viria.[3]

Muitos historiadores consideram A Cabana do Pai Tomás uma influênciasignificativa nos acontecimentos que levaram à Guerra Civil norte-americana,que resultou na abolição da escravidão nos Estados Unidos. Quando AbrahamLincoln finalmente encontrou-se com Harriet, ele lhe disse: “Então você é apequena mulher que escreveu o livro que fez esta grande guerra!”[4] Mas o irmãode Stowe e seu companheiro abolicionista, Henry Ward Beecher, deu a outrohomem o crédito pela destruição da escravidão. Quando perguntaram a Beecherapós a Guerra Civil: “Quem aboliu a escravidão?” ele respondeu: “O ReverendoJohn Rankin e seus filhos fizeram isso”.[5]

John Rankin nasceu no Condado de Jefferson, no Tennessee, e foi criado emum lar rígido calvinista. Em 1800, o oitavo ano da vida de Rankin, sua visão domundo e a sua fé religiosa foram profundamente afetadas por duas coisas: osavivamentos do Segundo Grande Despertamento que estava varrendo a regiãodos Apalaches, e a maior rebelião de escravos organizada (embora malsucedida)da história dos Estados Unidos até aquele momento, liderada por um homemescravizado, Gabriel Prosser, que foi executado com 27 de seus conspiradores.Ann Hagedorn escreveu:

Para Rankin, os acontecimentos do seu oitavo ano ecoaramprofundamente. Em sua memória, a história de um homemperdendo sua vida na busca pela liberdade sempre se misturaria

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com as muitas noites de manifestação nas florestas do Leste doTennessee. Viria um tempo em que Rankin poderia olhar paratrás e saber que as paixões do verão de 1800 inspiraram o seupróprio despertamento particular.[6]

Convencido como estava de que o impulso do Evangelho era erradicar aopressão do mundo, em particular a escravidão, Rankin lutou profundamentecontra os trechos da Bíblia que pareciam admitir a escravidão — trechos dasEscrituras que eram ensinados em muitos púlpitos dos seus dias. Finalmente, eleresolveu esse conflito determinando que o equilíbrio da Palavra ensinava queDeus nunca pretendeu que a humanidade fosse escravizada, e que era dever detodo homem e mulher justos buscar os mais elevados propósitos de Deus para ahumanidade. Em um discurso para uma delegação de sociedadesantiescravagistas, ele disse:

As Escrituras representam todos os homens como tendonascido de um pai em comum — todos como “feitos de umsangue”... Por conseguinte, todos foram criados igualmentelivres. Sejam quais forem os direitos que o primeiro homemtinha, todos os seus filhos devem ter. Deus não criou escravos.Ele deu a todos os homens os mesmos direitos originais...

(...) Que a igreja universal, como o exército do Deus vivo,erga-se em ajuda ao Senhor contra os poderosos, que a sua vozseja ouvida como a voz de muitas águas, proclamandolibertação aos cativos e abertura da prisão àqueles que estãopresos. Que a igreja proclame que as fontes venenosas da morteserão secas, os rios de angústia deixarão de correr e a tristeza eos suspiros desaparecerão. A união nesta grande obra prepararáa igreja para o nascimento da glória milenar, quando aliberdade será universal e o cântico do amor redentor subirá decada língua.[7]

A paixão que nasceu no coração de Rankin quando menino finalmente olevou a enfrentar corajosamente perigos de toda espécie, desde multidões iradasque atiravam ovos podres e jornais caluniadores, até ataques físicos diretos a si, à

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sua família e à sua propriedade. Ele não apenas era destemido e impossível de serdetido ao pregar a mensagem de liberdade, mas também em vivê-la. Ele e suafamília continuamente utilizavam seu tempo e recursos para ajudar escravosfugitivos a alcançarem a liberdade — sua casa e seu nome estavam entre os maisconhecidos na Estrada de Ferro Subterrânea — e para apoiar outrosabolicionistas nos seus esforços para fazer o mesmo. Como testemunhou HenryWard Beecher, que observou o heroísmo de Rankin em primeira mão, amensagem e o exemplo desse único homem eram tão poderosos e tinham tãogrande alcance, que o desmantelamento de todo um sistema de opressão, umsistema que muitos, até aqueles que o desprezavam, acreditavam ser impossívelremover, foi creditado a ele.

A vida de John Rankin é evidência de que quando o Céu toca a terra comavivamento, ele produz algo dentro de uma pessoa: uma visão de como Deuscriou o mundo para ser e um clamor para fazer parte da restauração de todas ascoisas, até o dia em que “a liberdade será universal”. Encontrar o Deus vivo ereceber uma revelação fresca do Seu coração nos dá uma maior fome pelaliberdade em nossas próprias vidas e exige que “libertemos os cativos”. Esseapetite nos leva a ir além das normas culturais e nos alimenta com uma coragemsobrenatural para ignorar a perseguição contra nós daqueles que desejam manteras coisas como são. O avivamento desperta a vida nas pessoas para irem contra oslimites da sociedade. Ele clama às partes mais profundas da humanidade e grita“Liberdade!” tão alto que o mesmo grito sai de nossas bocas. O avivamentodesperta a revolução e a revolução promove a reforma.

É nesse contexto que estamos posicionados como um movimento em nossageração. Vivemos os dias de surgimento de uma reforma. Não toleraremos maiso estado atual de uma existência governada externamente. Não aceitaremos maisser treinados na impotência. Não viveremos mais como servos e escravos. Amotivação religiosa da iminente ira de Deus e os ideais de uma vida pequena nãosão mais uma opção para nós. Somos filhos e filhas do Altíssimo. Estamos emtreinamento para reinar como nunca. Agora, esperamos ser poderosos, vivendouma vida abundante em Cristo até que os reinos desta terra se tornem o Reinodo nosso Deus.

Tenho o privilégio de liderar a Escola Bethel de Transformação. Essa escoladá às pessoas um vislumbre por trás dos bastidores da cultura de liberdade queestamos construindo na Bethel Church. Desde que a iniciamos em 2005,

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tivemos mais de cem igrejas que fizeram esse treinamento de aventura de quatrodias e viram o que estamos fazendo aqui. Sem exceção, cada líder de cada escolaperguntou: “Como vamos conseguir fazer isso em nossa igreja?” Quero dizerque, se você também está fazendo essa pergunta, você não está sozinho.

Quero compartilhar um testemunho a respeito de um homem, um bomamigo meu, que fez essa mesma pergunta. Steve Doerter, um pastor da Carolinado Norte, envolveu-se com a cultura da Bethel Church há dois anos. Elecomeçou a ouvir nossas mensagens e a vir a algumas conferências, levando osprincípios que estava aprendendo para a sua congregação e para os seus demaislíderes. Esses princípios representavam algumas mudanças significativas paraaquelas pessoas. A igreja historicamente era batista, havia se tornado nãodenominacional e agora, sob a liderança de Steve, buscava mais liberdade e poderdo que tinham tido até então. Entretanto, eles ainda não conheciam o que eleexperimentara na Bethel Church, e assim, achavam muito difícil estar emsintonia com ele.

Ele se perguntava: Como vou fazer esta coisa avançar? Finalmente, ele decidiucompartilhar com seus líderes o que estava buscando levando-os à ConferênciaAvançada para Líderes na Bethel Church. A Conferência Avançada para Líderesé uma conferência apenas para convidados, para aqueles líderes que têmrelacionamento com outros líderes da nossa rede. É um tempo poderoso paratodos os participantes.

Uma noite, na conferência, minha esposa Sheri e eu estávamos sentados àmesa de jantar com Steve, sua esposa Joyce e sua diretoria. Eles eram um grupobastante amigável, mas obviamente não entendiam muito do que estavaocorrendo ao seu redor. Uma das coisas que acontecem na conferência é que osnossos alunos da Escola de Ministério Sobrenatural servem às mesas. Essesalunos estão constantemente “sob a influência” do Espírito Santo, e naquelanoite em especial, os nossos garçons ficaram extremamente “embriagados”. Elesestavam felizes, extremamente felizes. Por fim, os líderes de Steve perguntaram:

— O que há de errado com essas pessoas?Respondi:— Eles apenas estão felizes, e estão embriagados.— Eles estão embriagados? — eles perguntaram.Então, eu expliquei:

— Veja, há um sujeito, o nome dele é Georgian Banov. Ele está lá em cima

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— Veja, há um sujeito, o nome dele é Georgian Banov. Ele está lá em cimaem outra sala de jantar orando pelas pessoas, e imagino que todos que estão láem cima estão embriagados a esta altura. Vocês deveriam subir até lá e ver isso!Vocês devem ir dar uma olhada, chegar perto o bastante para ver isso.

Eles disseram:— Bem, nós gostaríamos de fazer isso. Gostaríamos de ir ver o que é isto.E lá foram eles.O que soube depois disso foi que eles finalmente formaram o seu próprio

conselho — seu próprio conselho de ex-anciãos batistas! Na vez seguinte em quevi aquelas pessoas distintas, o cabelo delas estava todo desgrenhado e um delesestava com a perna da calça enfiada dentro do sapato. Foi então que pudeperceber que Steve estava ganhando ímpeto com a sua equipe de líderes.

Desde que sua equipe veio àquela conferência, houve diversos milagressignificativos na igreja deles. Tumores cancerosos desapareceram no corpo deuma mulher. Milagres financeiros, curas interiores e libertações agora fazemparte das experiências do dia a dia dessa igreja. Mas um milagre chamou a minhaatenção.

Havia um garotinho de três anos chamado Pablo que foi diagnosticado comum distúrbio de desenvolvimento incluído em dos aspectos do autismo. Ele eratão agitado que sua mãe não conseguia abraçá-lo, beijá-lo ou ser afetuosa com elede modo algum. Ele se contorcia para sair dos braços dela ou dos de qualquerpessoa e fugia deles o mais rápido possível. Ele só conseguia dizer frases de umapalavra de cada vez. Ele era incapaz de dizer seu nome ou idade e não tinhaqualquer conceito de cores ou formas. Ele era altamente sensível à textura dacomida — a ponto de cuspir qualquer alimento que fosse introduzido e assim sócomia uma textura de alimento de cada vez. Ninguém conseguia tirá-lo de casa,nem mesmo para ir ao shopping, por causa da cena que ele fazia. Quando eleficava perturbado ou ansioso, começava a bater com a cabeça no chão ou naparede. Ele ignorava a presença das pessoas que o cercavam e ficavacompletamente aprisionado no seu próprio pequeno mundo particular. Elenunca dormira uma noite inteira em sua vida; ele geralmente acordava às duasou três da manhã e ficava em pé pelo restante da noite.

Você pode imaginar o quanto seus pais estavam esgotados depois de trêsanos de sono inconstante. Ele tinha um irmão que morria de medo dele. Umagrande divisão foi gerada naquela família por causa da condição do filho deles.

O pastor Steve levantou-se em uma manhã de domingo para entregar a

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O pastor Steve levantou-se em uma manhã de domingo para entregar amensagem. Ao chegar ao púlpito, o Senhor falou com ele “audivelmente” nopúlpito. Então ele mudou a mensagem e chamou seu novo sermão de “Deus éBom, e Eu o Recomendo Enfaticamente”. Ele começou a falar sobre a bondadede Deus, a fidelidade de Deus e o coração de Deus para com as pessoas. Nãodemorou muito e eles estavam contando testemunhos e ativando a fé das pessoasali. Ao final da mensagem, eles começaram a orar pelos que queriam ter o queacabara de ser profetizado nos testemunhos. A mãe de Pablo se levantou emfavor de seu filho e diversos líderes impuseram as mãos sobre ela. Elescomeçaram a ordenar a cura e a liberação de milagres, a liberação do Céu, nasituação de sua família.

A mãe de Pablo creu nas orações e foi para casa, após o culto. Ela chegoutarde naquela noite e acordou de manhã, sem perceber que, pela primeira vez emtrês anos, todos haviam dormido a noite inteira! Ela acordou e pensou: Algumacoisa está mudando. Ela foi até seu filho e perguntou:

— Qual é o seu nome?Ele respondeu:—– Pablo.Ela perguntou:— Quantos anos você tem?— Três.As pessoas que ficaram com ele enquanto ela estava fora começaram a contar

que mudanças como aquela aconteceram desde o dia anterior — os milagrescomeçaram assim que ela recebeu oração. Meses depois, Pablo ainda estádormindo a noite inteira. Ele não bate mais com a cabeça em lugar nenhum. Eleagora diz o seu nome, sua idade e pode interagir em 80% das perguntas quealguém lhe faz. Os especialistas que trabalhavam com ele esperavam que ele sópudesse se comunicar com frases de uma palavra e por meio da linguagem desinais. Ele agora está falando com frases completas. Ele sabe a diferença entrequatro cores e sabe os nomes das outras. Ele sabe a diferença entre um círculo eum quadrado e um paralelogramo. (Nem eu sei o que é um paralelogramo!) Eleconsegue contar até 20. Ele está cantando canções. Ele está começando a brincarcom outras crianças por curtos períodos. A mãe o levou ao McDonald’s paraalmoçar sem qualquer incidente. Eles podem segurá-lo, abraçá-lo e beijá-lo e serafetuosos com ele.

A terapeuta que estava visitando a casa da família e trabalhando com Pablo

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A terapeuta que estava visitando a casa da família e trabalhando com Pablochorou ao dizer à mãe o que estava testemunhando acontecer com ele. Ela nãoconseguia compreender aquela melhora drástica em apenas três curtas semanas.Mas o principal para essa mãe, o motivo pelo qual ela escreveu tudo isso, foi quea diretora da escola que Pablo frequenta foi encontrar-se com ela no seu carroum dia, chorando. Ela disse: “Isso foi nada mais nada menos que um milagreque aconteceu na nossa cidade”.

Revolucionários

Quero lhe mostrar por que o Céu está invadindo a terra. Uma revolução estáacontecendo, e você é uma testemunha dela. Na verdade, se você chegou até esteponto neste livro, então muito provavelmente você é um participante dela. Vocêé um revolucionário! Seu envolvimento como revolucionário vai nos conduzir ànossa próxima grande reforma na igreja. Estamos no meio de uma grandetransformação. O Céu está infiltrando o Corpo de Cristo e está ativando apaixão e os corações daqueles que passaram a esperar por mais.

Todos os anos em nossa Conferência Avançada para Líderes, perguntamos:“Quem está aqui pela primeira vez nesta Conferência?” Metade da sala levanta amão. Ficamos perplexos todas as vezes. Como metade da sala é composta denovos participantes, sempre? A lista fica cada vez mais e mais longa, e a sala ficacada vez menor. Há um movimento se desenvolvendo, e cada vez mais e maispessoas estão ouvindo acerca do Céu sendo derramado sobre a terra. Em todos oslugares onde os membros da nossa equipe ministram, as pessoas nos dizem: “OCéu está sendo derramado sobre a terra, e a nossa cidade está começando a ouvirsobre isso”.

Há algo poderoso acontecendo em todo o globo. De repente, não estamosmais nos sentindo tão únicos. Igrejas em todo o mundo estão experimentando asmesmas coisas que nós. Os testemunhos da invasão do Céu são cada vez mais emais comuns. Mas a parte animadora é que essas histórias não estão vindoapenas da África, da Ásia e da América do Sul, mas também das igrejas locais detodos os Estados Unidos. Estamos começando a nos sentir como parte de umimpulso, parte de um movimento, parte de uma transformação.

Antes que eu use a palavra “revolucionário” muito mais, deixe-me dar-lheuma definição diretamente do dicionário:

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Revolução: mudança impetuosa, penetrante e muitas vezesviolenta de ordem social ou política, por um segmento detamanho considerável da população de um país (EncartaEncyclopedia).

Essa definição praticamente está pedindo para ser associada a Mateus 11:12:“... o Reino do céu sofre violência, e os homens violentos o tomam pela força”. Àmedida que o Reino avança em avivamento, ele está gerando a destituiçãoimpetuosa de um governo na igreja, o desafio impetuoso de uma ordem social aqual muitos de nós temos sido confinados ao longo da nossa experiência naigreja. Há uma maneira de fazer as coisas que têm impedido o Céu de incendiara terra. Mas um número crescente de pessoas de toda a terra disse: “Basta! Jáestamos fartos disso!” E isso deu início a uma revolução. Iniciamos umarevolução que está levando a uma reforma, e uma reforma é simplesmente isto:

Reforma: 1. Melhorar (uma lei ou instituição) corrigindo osabusos (Farlex Dictionary).

As instituições se desenvolvem porque a maneira de fazer as coisas se tornatão confortável, tão previsível, tão rotineira, que não temos mais de pensar, nãotemos mais de nos arriscar e não temos mais de acreditar. Tudo se transformasimplesmente em uma questão de rotina, e assim vamos levando nossa vidacristã, porque essa é a forma que sempre fizemos as coisas. Uma reforma é algoque vem e pergunta: “Por que você está fazendo o que faz? Você percebe que oque está fazendo não está funcionando? Tudo que você estabeleceu em suastradições precisa mudar. E agora, o que você vai fazer?” A resposta é que vamoster de criar algo que nunca vimos antes. E quando a reforma se completa, elagera transformação:

Transformação: Uma mudança completa ou dramática emforma ou aparência (Encyclopedia.com).

Nossa transformação demonstra ao mundo algo totalmente novo, algo queninguém nunca viu. Estamos vivendo em um tempo, em uma época e em umgoverno que nos permite mudar. Vivemos uma postura e um relacionamentocom a nossa cidade que é completamente diferente do passado. Entretanto,

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preciso ser sincero acerca de um elemento necessário nessa transformação quepode ser uma quebra de confiança para muitas pessoas. É comum as pessoasdizerem: “Queremos mudar. Queremos que as coisas sejam diferentes. Fomos auma conferência e as coisas agora vão ser diferentes. Compramos a série devídeos e agora, companheiro, as coisas vão ser diferentes por aqui”. Entretanto,há uma peça que está faltando. As pessoas têm toda uma série de “vacas sagradas”no mundo delas que não querem se mover.

Alguém prendeu um folheto na porta da minha casa recentemente. Era deuma igreja da nossa vizinhança. Ele dizia: “Não Somos Como Todas as OutrasIgrejas”. Eu o abri porque esperava que fosse verdade. Na frente do folheto haviauma foto do pastor e de sua esposa, o “Sr. e Sra. Ed Jones”. Abaixo dessa fotohavia fotos de outros casais, “Sr. e Sra. Tom Smith, Sr. e Sra. Ozzie Wald, Sr. eSra. Harry Chin, Sr. e Sra. etc...” Quando li isso, pensei: Há duas pessoas em cadauma dessas fotos, e apenas um nome. Para onde foi ela? Ela desapareceu. Sabe deuma coisa? Isto não é diferente coisa nenhuma. Na verdade, é a mesma velhabobagem. Quanto mais uma mulher se aproxima dessa igreja, mais ela desaparece.Este é um lugar assustador para uma mulher.

A igreja é uma das últimas instituições da nossa sociedade que praticam osexismo livremente e “biblicamente”. Por algum motivo, ainda é toleradodesonrar e retirar o poder das nossas mulheres. O folheto era uma mentira.Aquela igreja não era diferente da maioria das igrejas. Puxa! Dizer que tudo édiferente é muito fácil: “Não estamos fazendo as coisas como todas as outrasigrejas, como nossos avós faziam”. É, mas parece a mesma coisa e a sensação é amesma. A mesma ansiedade e controle ainda estão lá. E acabamos soando comoum desses políticos tolos, daqueles que vão trazer “mudanças” e imediatamenteinstituem “a mesma coisa”! Os revolucionários sabem que a transformação vemquando finalmente estamos dispostos a fazer um “churrasco com as vacassagradas”.

Mudanças de Governo

No capítulo 2, apresentei algumas das mudanças de governo que são necessáriaspara que o Céu flua para a terra. A transformação teve sucesso na Bethel Churchquando colocamos em prática este novo conjunto de valores e paradigmasessenciais. O governo que está tipicamente instituído nas nossas igrejas e temestado ali por séculos é aquele a que me referi como governo pastoral, cuja

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diretriz é pastoral, com os seguintes personagens no leme: pastores,administradores, mestres, e até evangelistas. Mais uma vez, os problemascomeçam nas prioridades desse governo:

Governo Atual/Prioridades Atuais:

Pastores – Pessoas

Administradores – Coisas

Mestres – Doutrina

Evangelistas – Mensagem da Salvação

A primeira prioridade em um governo pastoral são as pessoas. Qual é o nívelde segurança, de conforto e de felicidade das pessoas no ambiente da nossaigreja? Precisamos saber isso, porque sabemos que essas pessoas têm escolhas, e senão estiverem felizes neste ambiente, elas irão para outro. Podemos fingir quenão nos importamos, mas esse sistema de governo se importa com os “traseirosnos assentos”.

A prioridade seguinte são as nossas coisas. Em um governo pastoral, hámuitos ensinos sobre mordomia e acerca de cuidar do nosso dinheiro, da nossavaga de estacionamento, do nosso prédio e das nossas coisas. Essas são as forçasmotrizes desse modo de “fazer igreja”.

A próxima prioridade, a doutrina, nos leva a focar no certo e no errado, naverdade e no erro. Essa atitude diz: “O que é certo ou verdadeiro é tudo queensinamos, e o que é errado é ensinado por todos os outros na cidade quediscordam de nós”. Acabamos querendo ensinar às pessoas a se defenderemcontra outros cristãos, a defenderem suas vidas como crentes e a defenderem suaescolha de igreja e sua participação nessa igreja em particular.

O Evangelho da salvação é a última prioridade. Levar as pessoas a serem salvasé geralmente a única atividade sobrenatural no ambiente pastoral. Mas sem apresença do sobrenatural, acabamos ensinando aos convertidos: “Você era umpecador, você fez uma oração, e agora a graça de Deus foi aplicada à sua vida.Seus pecados foram perdoados, mas você ainda é um pecador e estamos de olhoem você”.

Os valores essenciais desse ambiente fluem da unção e da estrutura de sualiderança. Por exemplo, eis um valor essencial que tem sido propagado

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liberalmente entre as congregações da nossa nação: “Deus está sempre certo,portanto seja como Ele. Seja uma das pessoas mais difíceis do planeta de se lidar.Nós lhe ensinamos a verdade, e não ouse considerar nada a não ser o que lheensinamos porque você pode ser enganado. Alguém pode lhe apresentar a ideiade que o sobrenatural faz parte do Reino do Céu. O ‘sobrenatural’ é sempresuspeito e é cheio de enganos. Só o diabo tem poder sobrenatural na terra”.

Esses valores essenciais criam um ambiente centralizado nas coisas quepodem ser provadas e controladas. Esse tipo de ambiente se infiltrou nas igrejasem toda a terra, e estou certo de que todos vocês que estão lendo um livro comoeste desejam dar um tempo nesse modo de fazer as coisas. Se você se encontraem um governo pastoral, você terá alguns problemas ao querer introduzir valoresessenciais contrários a esse ambiente.

Essas prioridades que mencionei não são más, assim como a infância não émá. Elas fazem parte de um Cristianismo inferior, por assim dizer. Mas umsistema que efetivamente impede os crentes de crescer produz sintomas dedesordem. As pessoas não crescem como Deus planejou em um ambientepastoral porque, no fundo, o governo pastoral define seu povo como pecadoresdesenvolvendo a sua salvação. Isso significa que não somos confiáveis e quesomos essencialmente servos esperando por novas instruções. Nossas vidas sãodefinidas por uma lista divina de “tarefas a realizar”. Por mais difícil que issopossa ser, algumas vacas sagradas precisam ir para a “grelha”.

É assustador dizer que a doutrina não é a parte mais importante do nossorelacionamento com Deus. E sugerir que a mensagem da salvação não éprimordial pode parecer heresia. Mas até que estejamos dispostos a reorganizar onosso pensamento, a sermos renovados na nossa mente, o ontem determinará onosso amanhã.

Precisamos ter permissão no ambiente das nossas igrejas para desafiar as vacassagradas dos nossos dias, como Jesus o fez. Lembre-se de que Jesus veio econfrontou os judeus, o povo do Seu tempo que sabia mais sobre Deus do queninguém. Ele repreendeu o caso de amor que eles tinham com sua própriainterpretação de Seu Reino. Infelizmente, a maioria deles recusou o convite delepara o churrasco das vacas sagradas, e não deveríamos ficar surpresos se algosemelhante acontecer quando começarmos a fazer o mesmo em nossa geração.Mais uma vez, uma das principais coisas que precisamos confrontar é a questãoda ordem na Casa de Deus, e fazemos isso com a Bíblia:

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E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundolugar profetas, em terceiro mestres, depois milagres, depois dons decurar, socorros, governos, variedades de línguas.[8]

Não entendo como isso foi ignorado por tantos anos na nossa abordagem dogoverno da igreja de Deus. Não vejo como Paulo poderia ter deixado isso maisclaro do que “primeiramente... depois... depois”. Para onde isso foi?

Como um ambiente pastoral se tornou o nível supremo da igreja? O “pastor”nem mesmo está na lista. Ele não é sequer o quarto item. Assim, todas as nossasvacas precisam morrer, principalmente aquelas que estão passeando diante dosnossos olhos, ou o que é pior, aquelas que estão na nossa sala de jantar.

Lembro-me de ter assistido a um programa sobre leões no DiscoveryChannel, certa noite. Ele mostrava dois leões lutando em um campo, um leãovelho e um leão jovem. O leão jovem venceu o velho e ganhou o primeiro lugarcomo líder. Foi triste ver o antigo líder do bando ir embora mancando ao pôr-do-sol do Serengueti. Ele estava desgastado pelas batalhas de anos defendendosua posição, com a face coberta de cicatrizes. O que aconteceu em seguida foi,creio eu, tanto interessante quanto bárbaro. A primeira coisa que o leão jovemfez como novo governante do bando foi atacar e matar todos os filhotes do velholeão. Foi chocante ver aquele animal enorme quebrando os pescoços dadescendência do antigo líder. Esse ato fez com que todas as fêmeas entrassem nocio para que o novo líder pudesse gerar uma linhagem inteiramente nova — umalinhagem que carregaria o seu DNA.

Eu vi Bill Johnson fazer isso. Fique comigo por apenas um minuto. QuandoBill chegou à Bethel Church, a Bethel tinha um governo pastoral, dirigido porum evangelista. Quando Bill foi convidado para uma entrevista para a posição delíder sênior, a comissão de presbíteros disse: “Achamos que você é o cara”.

Ele disse: “Só virei para cá se esta comissão estiver 100% de acordo que euvenha”.

Eles ficaram perplexos. “Nunca tivemos um voto unânime desta natureza”,eles lhe disseram.

Ele disse que não viria a não ser que o voto fosse unânime. Esta foi aprimeira de muitas mudanças que ele exigiria desse governo. Eles o chamaram devolta e disseram: “Ei, é um milagre. Pela primeira vez, um voto unânime!”Naquela época, a igreja tinha duas mil pessoas. Nos dois anos seguintes, Bill a fez

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decair para cerca de mil pessoas. Enquanto isso, o governo pastoral, que existirapor cerca de cinquenta anos, agonizava: “Aaaahhhhhhh!” Havia um novo xerifena cidade e um novo governo estava sendo estabelecido. O resultado foi que asprioridades iam mudar. Aqueles presbíteros merecem tanto crédito quanto Billpor uma transformação de sucesso. Eles seguraram as pontas durante a revoluçãoe todas as baixas da guerra. Eles venceram durante a reforma de como as coisasseriam feitas por aqui. Vivemos hoje nessa transformação.

O novo governo que Bill introduziu estava alinhado com o que Pauloestabeleceu: “primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas, em terceiromestres...” e por meio disso introduziu um novo conjunto de prioridades noambiente da Bethel Church:

Novo Governo/Novas Prioridades:

Apóstolos – Céu

Profetas – Mundo Espiritual

Mestres – Expressar o Reino

Operadores de Milagres – Atividade Sobrenatural dos Crentes

Nesse governo, as prioridades têm a ver com o Céu, com a presença de Deuse com o projeto do Céu sendo reproduzido na terra. Há um novo valor essencialpara a atividade do mundo espiritual, para que os santos tenham os olhos e osouvidos abertos pelo profeta, para ouvir a batida do coração do Céu e teremconsciência da atividade do terceiro Céu, o que invalida as estratégias do diabo.Sinais, maravilhas e milagres levam as pessoas a ter encontros com Deus quemudam radicalmente a maneira como a vida é vivida aqui na terra. Não é maisum ambiente de medo e reação, mas um lugar para se estabelecer de formaproativa a arquitetura e o projeto do Céu na terra — para fazer da oração“Venha o Teu Reino, seja feita a Tua vontade, assim na terra como no Céu”uma realidade na vida dos crentes e da comunidade que os cerca.

Mais uma vez, o papel do mestre nesse novo governo não é mais o de quererconstruir uma rede defensiva para os crentes contra outros crentes, ou até para oscrentes contra as seitas. A função do mestre é ajudar as pessoas a verem na Bíbliao Céu e um Deus sobrenatural em operação na terra. Eles dão às pessoas umcontexto bíblico para entender os apóstolos e profetas e seus valores essenciais.

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Eles nos ensinam que esses líderes projetam um lugar onde o Céu continuasendo a prioridade, onde qualquer coisa pode acontecer, e acontece. Se as pessoasnão entenderem o que está acontecendo, elas terão medo e procurarão um lugaronde estejam novamente no comando. Os mestres ajudarão a trazer esseentendimento e a reduzir a ansiedade do povo de Deus que pode impedir queeles entrem na experiência de tudo o que está disponível na Sua presença.

Não irei rever o papel dos pastores em um ambiente apostólico, mas querodar atenção ao papel seguinte que Paulo menciona nessa lista em particular: osoperadores de milagres. Creio que “operadores de milagres” é outra descriçãopara o papel do evangelista em um governo apostólico. Creio que perdemos aconexão entre esses dois papéis porque, sem a liderança dos apóstolos e profetas,os operadores de milagres geralmente não conseguem atuar nos seus papéis. Masem um ambiente apostólico, os apóstolos e profetas atraem o sobrenatural para oambiente, e os operadores de milagres começam a apertar todos os botões paraver o que pode acontecer. Eles trazem a prioridade da atividade sobrenatural paraas vidas práticas diárias dos crentes, assim como para as vidas de todos os da suacomunidade, juntamente com um alto valor pela proteção dessa atividade. Elesproduzem uma difusão da disposição de se correr riscos e de viver na dimensãodo impossível.

À medida que o odre novo da liderança apostólica for estabelecido, umanova onda de evangelismo será liberada por intermédio dos operadores demilagres. Durante o século passado, a igreja enfatizou a prática do evangelismo.Pessoas como D. L. Moody, William Booth e Charles Finney ensinaram a igrejaa “ganhar pessoas para Cristo”. Essa experiência trouxe muitos para o Reino —muitos crentes mencionam isso quando dão o seu testemunho da salvação.Também é algo que a maioria dos cristãos modernos é treinada para fazer emsuas congregações locais.

Mas os operadores de milagres estão trazendo uma nova prática deevangelismo para o ambiente da igreja. Esses radicais da fé estão liberando“encontros com Deus” em todo lugar aonde vão, seja no local de trabalho, sejanas esquinas das ruas, no supermercado, no restaurante ou no shopping. Curas,milagres, palavras de conhecimento, ministério profético, e revelação celestialestão levando as pessoas a Jesus em rebanhos. No lugar de onde venho,chamamos essas pessoas de “caçadores de tesouros”.

Esse ministério revolucionário chamado “caçadores de tesouros” está

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Esse ministério revolucionário chamado “caçadores de tesouros” estávarrendo o globo. Kevin Dedmon, autor de The Ultimate Treasure Hunt (A Caçaao Tesouro por Excelência), treinou milhares de pessoas para fazerem essa obrasobrenatural. Resumindo, funciona assim: eles oram juntos e recebem uma “listados tesouros” do Céu. Essa lista tem coisas como nomes, lugares, cores deroupas, dor em áreas específicas do corpo, doenças, situações nas vidas daspessoas, gênero e todo tipo de outras “pistas”. A equipe então sai pelacomunidade para encontrar o seu “tesouro”. Assim que um “caçador detesouros” localiza alguém que está na lista, ele se aproxima da pessoa e lhe mostraque ela está na “lista dos tesouros”. Nesse momento, o “caçador de tesouros”pergunta se há algo pelo qual ele possa orar pela pessoa. Todas as vezes que issoacontece, o Céu abala essas pessoas. Deus se manifesta com poder! Sinais,maravilhas e milagres são o testemunho progressivo da caça ao tesouro.

Nossa comunidade chegou a um ponto em que as pessoas estão naexpectativa de um encontro com Deus. Uma equipe de líderes de outracomunidade veio à Escola de Transformação Bethel e acabou fazendo uma caçaao tesouro na nossa cidade com um de nossos alunos do segundo ano da Escolade Ministério Sobrenatural. Enquanto estavam em uma loja de departamentospopular da cidade, eles abordaram um homem que se encaixava em um dos itensda “lista do tesouro”. Quando eles lhe disseram que ele estava na lista e que,portanto, era um dos tesouros de Deus, ele exclamou: “Ouvi falar sobre isso. Eusempre quis ser o tesouro que vocês encontrariam!”

O homem recebeu com entusiasmo o que Deus tinha para ele e a equipeseguiu em frente até o tesouro seguinte. Não houve discussões sobre teologia,nem ameaças de morrer e ir para o inferno. Esse encontro foi simplesmente umlembrete simples e poderoso de que Deus está vivo e ama aquele homem.Embora muitas pessoas entreguem seus corações a Jesus nesses encontros, essenão é o objetivo principal. A prioridade é que os crentes sejam canais na terrapara que o Céu aconteça. Estamos criando oportunidades para que os projetosdo Céu sejam expressos.

Transformando as Cidades com a Honra

Outra prioridade de uma missão apostólica é deixar o Reino transbordar sobre acomunidade, em vez de fazer a comunidade vir para a igreja. Essa prioridade é

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motivada pela honra e por uma mentalidade próspera, que nos leva a procurarmaneiras de beneficiar aqueles que nos cercam.

É impressionante observar o que pode acontecer quando você tem milalunos invadindo a nossa comunidade todas as semanas fazendo evangelismo ecaça ao tesouro. Mas quero lhe falar sobre um amigo meu que está vendo oprojeto se desenvolver em sua cidade no México. O nome dele é Angel Nava. Elee sua esposa Esther lideram uma igreja e uma escola de ministério sobrenaturalna parte sul de Baja California, em uma cidade chamada La Paz. Em 2003, elesencontraram outro casal que virou o mundo cristão que eles conheciam tão bemde cabeça para baixo.

Denny e Danette Taylor foram enviados da Bethel Church para iniciar umaescola de ministério sobrenatural em La Paz. A primeira tarefa deles eraencontrar as pessoas que Deus estava convidando para se tornarem oscatalisadores do avivamento na sua cidade, abraçando e reproduzindo o queexperimentamos em Redding. Por meio de uma série de acontecimentos, elesconheceram Angel e Esther Nava. Os anos seguintes se tornaram umtestemunho de como a cultura da honra transforma uma cidade.

Lembro-me da transformação absoluta que aconteceu primeiramente na vidadesse casal, que estava pastoreando uma boa e tranquila igreja por alguns anosantes de conhecer os Taylors. Quando viu pela primeira vez o poder de Deus emoperação em uma reunião com Bill Johnson e Kris Vallotton, Esther soube quehavia descoberto o motivo pelo qual estava viva. Angel, no entanto, tinha medodas manifestações sobrenaturais e não queria nada com elas. Mas o Senhorlentamente o levou a um estado de curiosidade e finalmente a uma condição emque ele reconheceu que o Céu estava invadindo sua cidade.

Entretanto, com esse reconhecimento veio também a percepção de que se elevoltasse seu coração para o avivamento, isso lhe custaria tudo. Primeiramente, eleperderia seu relacionamento com a sua liderança; os que supervisionavam suaigreja com base em um paradigma pastoral se retirariam de sua vida se ele sevoltasse para o sobrenatural. Ele também sabia que diversos dos seus amigospastores mais chegados sairiam simultaneamente. Ainda assim, ele e Esther sepropuseram a fazer tudo que fosse necessário para receber Deus e o Céu em LaPaz.

O primeiro passo foi começar a apoiar os esforços de Denny e Danette paralevar uma escola de ministério sobrenatural para a cidade. Ao fazer isso, eles

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imediatamente começaram a ver curas e milagres. No primeiro ano da escola,eles viram uma mulher ressuscitar dos mortos. Por mais novo e empolgante queisso fosse na vida e no ministério deles, o coração de Angel estava voltado paraver sua cidade transformada. Ele devorava todo o material que conseguia com osprofessores da Bethel. Ele queria entender melhor o que era necessário para queo Céu fosse bem-vindo no México. Ele começou a perceber que Deus eram bem-humorado e queria que as pessoas conhecessem o Seu amor. Ele tambémacreditou que sua grande cidade poderia experimentar Deus de forma mais eficazse ele ajudasse Jesus a sair da igreja e entrar na cidade.

Mas como ele poderia fazer isso? Tudo o que conhecera até aquele momentoera como ir para a cidade e trazer as pessoas para a igreja. Mas onde ele colocariaum quarto de milhão de pessoas? Ele precisava mudar sua estratégia. Angelprecisava encontrar uma maneira de ser o “fermento na massa” de La Paz.

O México não tem um sistema de doação de sangue eficaz. Eles têm umfuncionário do governo, que é responsável por receber doações, mas ninguémdoa. É habitual entre os cidadãos mexicanos ter de encontrar seus própriosdoadores se precisarem de uma cirurgia. Angel teve uma ideia. Ele foi aodepartamento de doação de sangue local e falou com o novo diretor sobre comoestavam indo as coisas ali. Ciente de que as coisas avançavam lentamente, Angelfez algumas perguntas acerca de como a doação de sangue funcionava em La Paz.Na semana seguinte, ele compartilhou com sua congregação a nova estratégia detransformação da cidade: “Vamos nos tornar os maiores doadores de sangue danossa cidade. Sigam-me”.

Angel tornou-se o líder da doação de sangue em sua cidade. Os membros dacongregação atualmente doam sangue três vezes ao ano. Conhecendo a naturezacompetitiva das igrejas, Angel convidou outras igrejas e pastores para fazer parteda doação de sangue. Atualmente, diversas igrejas competem para ser as quedoam mais sangue todos os anos. O resultado foi que La Paz agora é líder noEstado em doação de sangue, e o novo diretor do banco de sangue recebeu umprêmio do governo pelo aumento nas doações. Angel fez com que aquele oficialdo Estado parecesse um gênio. O resultado foi que aquele homem quer queAngel tenha êxito.

Foi divertido para Angel apresentar à sua comunidade de crentes umparadigma de prosperidade no qual eles se tornaram os benfeitores da cidade,servindo a ela de uma maneira que doa vida. Mas ele queria levar isso a outro

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nível. Ele e Esther começaram a fazer trabalhos assistenciais em algumas dasaldeias indígenas no continente. Eles ensinaram seu povo a servir aos pobres e aamar aqueles que nunca poderiam fazer nada para retribuir o favor.

Entretanto, a igreja deles não é como uma igreja norte-americana. Lá osrecursos materiais são escassos e as pessoas vivem uma vida modesta. Angelensinou seu povo a dar e a servir de maneiras que pareciam impossíveis à mentenatural. Eles agora estão levando o povo a novas alturas em amor, serviço esacrifício. Eles estão exportando milagres, cura e generosidade para os Estadosque os cercam.

Permanecendo fiel a esse modelo, Angel teve outra “ideia de Deus” de causarimpacto em sua cidade. Seus filhos frequentam uma escola particular católica emLa Paz. Essa escola particular possui um orfanato associado a ela, e o padre daescola também está envolvido com esse orfanato. As conversas de Angel com opadre o informaram sobre algumas das necessidades dos órfãos; ele soube queuma das maiores necessidades deles eram sapatos novos.

Ora, os protestantes e católicos mexicanos são como cão e gato. Eles nãoconvivem bem. Não há comunhão uns com os outros e parecem não valorizarmuito uns aos outros. Os protestantes antagonizam os católicos e têm inúmerasjustificativas para desprezá-los. Há uma separação intensa entre esses doiscampos. Mas quando Angel compartilhou com sua congregação que o orfanatocatólico precisava de sapatos, a igreja decidiu comprar pares suficientes desapatos novos para todos os órfãos — 70 pares. Eles não compraram sapatosbaratos. Ao contrário, compraram Nikes. O proprietário de uma loja de sapatoslocal, que era crente, descobriu o gesto deles e disse que queria entrar nessenegócio. Ele concordou em vender os sapatos para a igreja a preço de custo.

A igreja de Angel ficou tão empolgada em abençoar os órfãos católicos quelevou isso ao nível seguinte. Eles convidaram as crianças para irem à sua igrejaum domingo de manhã para que pudessem apresentar os presentes como família.O padre e as crianças não sabiam o que a igreja de Angel pretendia, masinesperadamente o padre concordou em levar todas as suas crianças para a igrejaprotestante Semente de Vida em um domingo de manhã. Isso nunca acontecerana história do México!

No culto, a igreja levou as coisas a um nível ainda maior de extravagância.Eles queriam que aquelas crianças sentissem a honra e o amor que Deus tem porelas. Famílias que Angel e Esther sabiam que não podiam comprar bicicletas para

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os próprios filhos estavam se reunindo para levantar recursos para dar umabicicleta de presente para o orfanato. Eles alinharam cadeiras na frente da igreja efizeram as crianças se sentarem e lavaram os pés das crianças e depois lhespresentearam com os novos sapatos. Então, as crianças da igreja de Angel ficaramatrás de seus convidados e profetizaram sobre eles. Lágrimas correram dos olhosde todos na sala. Angel então convidou o padre para sentar-se em uma cadeira.Ele lavou os pés do padre diante do povo. O padre não conseguia acreditar noque ele e suas crianças estavam vivendo. Nenhum deles jamais seria o mesmo.

A escola de ministério em La Paz continua a crescer e a igreja continua aconstruir novas estruturas para expandir sua capacidade. Eles estão formandoequipes de cura, equipes proféticas, operadores de milagres, e estão ensinando opovo sobre o Céu e o sobrenatural. Os alunos começaram a ministrar osobrenatural à congregação. Não há volta! Tudo isso está se tornandorapidamente a vida cristã normal para eles. A assistência aos necessitados nacidade está fluindo, e os milagres estão acontecendo nos ambientes da vida diáriacomo escolas, lojas e calçadas. O Céu está invadindo a vida diária de La Paz.

Angel e Esther continuam a crescer em sua própria fé e caráter. Eles estãoaprendendo sobre o amor e a intimidade um pelo outro e por sua família. Estãoaprendendo sobre cultivar a liberdade e a honra como líderes. Eles lideram acriação de um lugar seguro para as pessoas que até então acreditavam que a vidase resume a sobreviver. Eles estão desafiando uma cultura empobrecida a extrairos recursos ilimitados do Céu. Eles estão transmitindo poder aos impotentes,esperança aos desesperados e liberdade aos cativos. A transformação em que elesestão vivendo agora está se tornando uma realidade transformadora para os queos cercam. Eles são catalisadores do Céu.

Mais recentemente, Angel e Esther levaram a reconciliação entre protestantese católicos a um nível histórico. Em outubro de 2008, recebi este e-mail deAngel:

Apenas uma breve nota para compartilhar como a reunião da noite passadafoi um sucesso. Cerca de três mil pessoas se reuniram na praça do governo em LaPaz, a maioria delas pessoas católicas, mas muitos crentes também. Todos nósnos reunimos para orar pelo México no primeiro evento desse tipo. Nuncahavíamos tido católicos e crentes orando juntos em nosso país. Ao final doevento, ergui minha voz para pedir perdão aos católicos porque havíamosconstruído muralhas em vez de pontes. Uma grande ovação foi ouvida quando

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abracei o bispo. Mas foi ainda mais poderoso ver crentes e católicos se abraçandoe expressando perdão e reconciliação.

Um dos momentos mais poderosos para mim foi no final da reunião,quando minha esposa Esther e eu estávamos descendo da plataforma, e encontreiuma multidão de pessoas esperando por mim para me abraçar e agradecer...Todas elas eram católicas.

Sei que este é um novo dia... E coisas novas estão prestes a acontecer aqui.O avivamento está aqui. Estamos fazendo história. Semanas depois dessa reunião de oração sem precedentes, o padre local

informou a Angel que o seu bispo estava doente e internado no hospital. Elesabia que o ministério de Angel testemunha muitas pessoas curadas. Ele pediu aAngel para visitar o bispo no hospital e liberar o poder de cura de Deus sobre ele.Angel ficou honrado e encorajado com essa demonstração de confiança e favor.Ele está em contato regular e tem um relacionamento com o bispo agora, e elessão bons amigos. Um novo entusiasmo está no ar acerca da cura e da parceriaentre protestantes e católicos na cidade deles.

Mas a mudança não vem sem um preço. Enquanto eu visitava os Navas nomês seguinte, Angel recebeu uma ligação de um grupo de pastores protestantescontrários a essa associação com os católicos. O líder do grupo disse que ele eoutros estariam indo a La Paz na semana seguinte e queriam encontrar com elepara discutir a sua recente “reunião de oração” com os católicos. Aquele líderdeixou claro que eles não estavam felizes com o que ele havia feito. Na verdade,eles estavam indo para fazê-lo arrepender-se do seu erro.

O pedido público de desculpas de Angel aos católicos foi a parte maishumilhante e preocupante — eles queriam que ele retirasse seus comentários epedisse desculpas a eles imediatamente. Seus próprios amigos, seus irmãos emCristo, estavam irritados por ele levar cura à sua comunidade. Esse seria umconfronto e um teste de sua honra uns pelos outros. Depois do meu retorno deLa Paz, recebi este e-mail de meu amigo Angel:

Na quinta-feira, encontrei-me com os pastores [locais], comoeu lhe disse que faria. Foi muito bom. Eles vieram com umhumor e um espírito muito bom. Eles apresentaram os pontoscom os quais não concordavam. O problema é a maneira comoeles retratam Deus e a igreja. A mentalidade religiosa não

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permite que eles vejam Deus se movendo além das “nossasigrejas”. Confrontei a mentalidade deles e eles não tiveramrespostas para as minhas perguntas. Tivemos uma reviravoltana situação, principalmente porque, independentemente dasnossas diferenças, no fim da reunião o relacionamento entreeles e nós foi fortalecido.

Eles conseguiram preservar seus relacionamentos, mesmo diante dasdivergências. Este pode ser o milagre seguinte que veremos em La Paz: líderescristãos que discordam e continuam honrando e amando uns aos outros. Atransformação se manifesta em uma região quando os líderes podem revelar asprioridades do Céu, o que leva as pessoas a fazerem o mesmo. Angel e Estherestão levando uma cidade inteira a um período de transformação. Eles estãodeixando uma impressão e um impacto poderosos sobre os funcionáriosmunicipais, os proprietários de empresas, os cidadãos locais e os líderes de outrasigrejas. Agora estão somando forças com o prefeito, o governador do Estado e apolícia. Sim, o alvo seguinte de Angel é a polícia do México. Jesus!

Construindo uma Estrutura de Honra

Aqueles de nós que experimentamos o atual avivamento sabemos sobre osmilagres que estão acontecendo. Nós os vemos crescer todos os dias em todo omundo. Agora, precisamos construir uma estrutura para transformar nossascomunidades, nossas cidades e nossas nações. O avivamento global não terá umimpacto duradouro se não virmos os valores essenciais do Céu surgirem nosgovernos das nossas nações.

Não quero dizer que simplesmente vamos eleger pessoas que dizem que sãocrentes e frequentam a igreja. Quero dizer que precisamos construir umparadigma que convide uma nação a ser salva em um dia. Costumamos colocarno governo aqueles que protegerão o que é importante para nós. Elegemoslíderes em nossa nação que protegerão a nossa economia, a nossa segurança e osnossos direitos. O ingrediente-chave que está faltando é um governo que protejaas prioridades do Céu e a presença de Deus na nossa terra.

Às vezes, gostamos de acreditar que estamos fazendo isso nas nossas igrejas,exceto por uma realidade evidente: a presença e o poder de Deus estão ausentesem muitas das nossas igrejas. Portanto, estamos simplesmente criando governos

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eclesiásticos que protegem as nossas preciosas tradições e teologias. Osobrenatural não está em lugar algum na maioria das grandes denominaçõescristãs da nossa terra. Os incrédulos teriam de ser tolos para entrar em parceriacom a igreja e correr o risco de tornar todo o país tão limitado quanto a maioriadas igrejas é!

A cultura da honra não se limita a dar aos líderes da igreja mais controle.Espero que eu tenha deixado claro que ela se resume em se livrar do controle eem cultivar o domínio próprio e a liberdade. A igreja deve estar na liderança paratrazer mais liberdade à terra. O Céu está pedindo para invadir a prisão queencarcera tantas pessoas, seja a depressão, seja a dor, a doença ou o medo. Nossopapel é eliminar essas coisas em nossas vidas, lares e comunidades eclesiásticas afim de levarmos aos outros a paz, a alegria, a liberdade e o amor queencontramos para nós mesmos.

Minha oração é que este livro tenha despertado a sua esperança em enxergarque a honra é um fator poderoso para recebermos aquilo que o Céu estáderramando na nossa geração. Sem um aumento da prática do amor, de honraros relacionamentos que enfatizam liberdade ilimitada e de oportunidadeilimitada para todos os envolvidos, muito provavelmente assistiremos a esseavivamento passar pelas nossas mãos e ter de ser reiniciado por outra geração.Somos privilegiados por viver em um momento tão lindo da história dahumanidade. Vamos honrá-lo!

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NOTAS

Introdução1. Mateus 10:41.[voltar]

Capítulo 11. 2 Coríntios 7:10.[voltar]

Capítulo 21. 1 Coríntios 12:27-28.[voltar]2. Ver Marcos 1:22.[voltar]3. Mateus 16:23 NVI.[voltar]4. Mateus 6:10.[voltar]5. Romanos 14:17.[voltar]6. 2 Crônicas 20:20.[voltar]7. Marcos 8:17.[voltar]8. Ver 1 Coríntios 4:15.[voltar]

Capítulo 31. Lucas 9:55.[voltar]2. Ver 1 João 4:8,18.[voltar]3. 1 João 2:1.[voltar]4. 1 João 2:2.[voltar]5. Gálatas 4:31.[voltar]6. Gálatas 2:15-21.[voltar]7. Romanos 7:22-24.[voltar]8. Romanos 7:25.[voltar]9. Romanos 6:11.[voltar]10. João 14:15.[voltar]11. 1 Coríntios 13:2-3, paráfrase do autor.[voltar]

Capítulo 4

1. Judy A. Braus e David Wood, Environmental Educational in the Schools: Creating

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1. Judy A. Braus e David Wood, Environmental Educational in the Schools: CreatingPrograms That Work Peace Corps Information Collection & Exchange. Manual M0044(agosto de 1993), 37.[voltar]2. Efésios 5:8.[voltar]3. Jeremias 17:9.[voltar]4. 2 Samuel 11:2.[voltar]5. Ver 1 Samuel 25.[voltar]6. Ver Mateus 10:33; Mateus 26:34-35; João 21:15-17.[voltar]7. João 8:11.[voltar]8. Ver Efésios 5:8.[voltar]9. Jó 38:3.[voltar]10. Ver Gálatas 5:1.[voltar]

Capítulo 51. 1 Coríntios 6:12.[voltar]2. João 10:10.[voltar]3. Gênesis 12:1-3.[voltar]4. Ver Gálatas 3:29.[voltar]5. Hebreus 11:10.[voltar]6. Ruby K. Payne, PhD, A Framework for Understanding Poverty (Highland, TX: Aha!Process, Inc., 2005), 59.[voltar]7. Ver João 14:13.[voltar]8. Marcos 16:15.[voltar]

Capítulo 61. C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples, São Paulo, SP; Martins Fontes, 2014.[voltar]2. 1 Coríntios 13:1, paráfrase do autor.[voltar]3. 2 Coríntios 3:17, NVI.[voltar]4. Ver Isaías 54:10.[voltar]5. Ver Jeremias 29:11.[voltar]6. Ver 1 João 4:18.[voltar]

Capítulo 71. Gálatas 4:1-7.[voltar]2. Ver Gálatas 3:25-26.[voltar]3. Gálatas 5:13,16.[voltar]4. Gálatas 6:1.[voltar]5. Ver Mateus 7:1-2.[voltar]

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6. João 15:3.[voltar]7. Ver Hebreus 12:6.[voltar]8. Jó 38:1-3.[voltar]9. Marcos 10:51.[voltar]10. João 5:6.[voltar]11. Gênesis 18:16-18.[voltar]12. Gênesis 18:23-25.[voltar]13. Gênesis 18:33.[voltar]14. Salmos 139:23-24.[voltar]

Capítulo 81. Ver Efésios 6:5; Colossenses 3:22.[voltar]2. Lucas 4:18.[voltar]3. Joan D. Hedrick, Harriet Beecher Stowe: A Life (Nova Iorque: Oxford University Press,1994), 205.[voltar]4. Charles Edward Stowe, Harriet Beecher Stowe: The Story of Her Life (Whitefish, MT:Kessinger, 2005), 203.[voltar]5. Ann Hagedorn, Beyond the River: The Untold Story of the Heroes of the UndergroundRailroad (Nova Iorque: Simon and Schuster, 2004), 274.[voltar]6. Ibid., 22-23.[voltar]7. Ibid., 106.[voltar]8. 1 Coríntios 12:28.[voltar]

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RECURSOS

Hagedorn, Ann. Beyond the River: The Untold Story of the Heroes of theUnderground Railroad. Nova Iorque: Simon and Schuster, 2004.Lewis, C. S. Mere Christianity. Nova Iorque: HarperCollins, 2001.Payne, Ruby K. A Framework for Understanding Poverty. Highland, TX: aha!Process, Inc., 2005.Stowe, Charles Edward. The Life of Harriet Beecher Stowe: Compiled From HerLetters and Journals. Boston: Houghton Mifflin, 1889.Stowe, Charles Edward. Harriet Beecher Stowe: The Story of Her Life. Whitefish,MT: Kessinger, 2005.

LEITURAS RECOMENDADAS

A Life of Miracles, por Bill JohnsonEscola de Profetas, por Kris VallottonBasic Training for the Supernatural Ways of Royalty, por Kris VallottonDeveloping a Supernatural Lifestyle, por Kris VallottonHere Comes Heaven, por Bill Johnson e Mike Seth