Cultura, Consumo e Identidade
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Cultura, consumo e identidade
Metafísica não é um termo normalmente associado à atividade de consumo,
certamente esses dois termos parecem ser considerados pólos opostos: o primeiro se
relaciona com princípios básicos, especialmente no que diz respeito a ser e saber, o
segundo, se relaciona com a rotina; a prática e o mundano (O que é característico do
mundo real). A conexão entre os dois termos pode ser possível quando se busca a
pergunta de por que o consumo ocupa um lugar central em nossas vidas, em outras
palavras, por que as atividades geralmente associadas ao termo “consumo” como
procura; compra e utilização de bens e serviços que atendam a nossas necessidades ou
satisfaçam nossos desejos são consideradas importantes? Porque, certamente, em geral é
assim que são consideradas pela maioria da sociedade, como centro de suas vidas.
Para responder a pergunta “por que consumimos” existe uma série de respostas
aceitas, que vão da satisfação de necessidades até a emulação de outros; a busca do
prazer; a defesa ou a afirmação de um status etc. Pode-se concluir que, o consumo,
talvez esteja suprindo uma função mais importante do que apenas satisfazer motivos ou
intenções específicos que incitam seus atos individuais, é possível que o consumo tenha
uma dimensão que o relacione com as mais profundas e definitivas questões que os
seres humanos possam fazer, questões essas que são relacionadas com a natureza da
realidade e com o verdadeiro propósito da existência.
Dois aspectos cruciais no tocante ao consumismo moderno são: 1º- O lugar central
ocupado pela emoção e pelo desejo, junto com um certo grau de imaginação, o processo
de querer e desejar se torna básico no consumismo moderno. A força motriz que
impulsiona tal sociedade é a demanda do consumidor e isso depende que o consumidor
esteja a todo tempo renovando seu desejo por bens e serviços. A habilidade do
consumidor de “querer”, “desejar” e “ ansiar por algo” que sustenta a economia das
sociedades modernas desenvolvidas. 2º- O individualismo, ainda nas sociedades mais
modernas e capitalistas existem esferas significativas de consumo coletivo, que são os
bens e serviços consumidos pela comunidade como exemplo a defesa ou a lei e a ordem.
Ou que são propriedades da comunidade e, depois, alocados a indivíduos em vez de
comprados no mercado aberto( Exemplo, moradia governamental). Se torna claro que
um aspecto característico do consumo moderno é a extensão em que produtos e serviços
são comprados pelos indivíduos para uso próprio, isso contrasta com padrões do
passado em que esses itens eram adquiridos por grupos sociais e eram alocados aos
indivíduos por instituições governamentais, outra característica do consumo moderno é
a ideologia associada ao individualismo pois os indivíduos decidem por si mesmo que
produtos e serviços devem consumir. O consumidor moderno está, na sua natureza,
mais preocupado em saciar vontades do que satisfazer necessidades, em outras palavras,
o consumo moderno está mais ligado a emoções e auto-afirmações do que a razão e ao
calculismo.
A identidade definida pelo desejo é a questão de diversas discussões sobre o
consumismo moderno no qual se dá a ênfase ao significado de consumir em relação a
afirmação; à confirmação ou até mesmo à construção da identidade. A idéia difundida é
que o “eu” contemporâneo ou pós moderno é excepcionalmente flexível, em outras
palavras, as pessoas ao fazerem uso da grande e constante oferta de novos produtos na
sociedade de consumo moderna estão regularmente engajadas no processo de recriar a si
mesma. Inicialmente adotando e posteriormente trocando de identidades e estilos de
vida. Conclui-se que as atividades dos consumidores devem ser entendidas como uma
resposta à postulada “crise de identidade”, e também como uma atividade que serve
apenas para intensificar essa crise. Atualmente as pessoas não se identificam, apenas,
por um status que ocupa e nem são definidas por hobbies e interesses pessoais, o
conceito de identidade tribal não deixa de ser significante, ainda mais depois do 11 de
Setembro, tangente a esse tema surge a resposta para a pergunta “Quem sou eu?” que
ainda continuará incluindo algumas definições básicas como sexo; raça; nacionalidade;
etnia e religião, mas certamente esses identificadores não são mais do que uma moldura
de parâmetros daquilo que consideramos ser. Contudo, a proliferação de escolhas,
característica da sociedade consumidora moderna, é essencial para que se crie uma
identidade para os indivíduos pertencentes a essa sociedade.
A maneira de conceber a própria identidade é relativamente nova, levando em conta o
tempo histórico. Para os nossos pais e avós a identidade estava muito mais ligada ao
status e à posição que ocupavam em várias instituições e associações como família;
trabalho; religião; raça, etnia e nacionalidade, não considerando quanto o gosto pessoal.
Segundo April Benson sobre o tema fazer compras e consumir “Fazer compras é um
processo interativo no qual dialogamos não só com as pessoas, lugares e coisas, mas
também com partes de nós mesmos. Esse processo dinâmico, ao mesmo tempo que
reflexivo, revela e dá forma a partes de nós mesmos que de outra forma poderiam
continuar adormecidas... O ato de comprar é um ato de auto-expressão, que nos permite
descobrir quem somos.”. O gosto de cada indivíduo é inquestionável, no sentido de que
não podem ser legitimamente contestado por outra pessoa.
Em busca da segurança ontológica o primeiro ponto a ser discutido é que as pessoas
na verdade mudam seu padrão de gostos ou preferências, isso não representa uma
mudança na maneira pela qual a identidade é concebida. Trata-se do self sendo definido
pelo desejo, ou do nosso perfil sendo traçado por nossas preferências. Certamente
mudanças de conteúdo tornam-se perfeitamente compreensíveis quando se deixa de
focalizar a natureza e o conteúdo da identidade individual para focar na necessidade
humana de reafirmar a realidade do self, isso porque o consumo também pode ser visto
como uma resposta ontológica ou à angústia existencial.
A sociedade atual vive em uma cultura em que a realidade é equiparada à intensidade
da experiência e atribuída tanto à fonte de estimulo quanto àqueles aspectos de nossa
existência que reage a ele, logo, aplicando essa doutrina à questão da identidade e do
self, conclui-se que é através da intensidade do sentimento que os indivíduos adquirem a
confiança de que necessitam para superar sua angústia existencial e se convencerem de
que estão de fato “vivos”. Evidentemente ninguém precisa fazer compras para
empreender sua busca por identidade e significado, e muito menos para se assegurar da
realidade da própria existência. Qualquer experiência que propicie a oportunidade de
uma forte reação emocional pode servir a esse propósito, contudo, fazer compras é um
contexto ideal para continuar a busca por significados. A moda se torna de suma
importância, pois é um mecanismo de introdução regular e controlada de “novos”
produtos, despertando o desejo natural e quase imperceptível dos consumidores de,
regularmente, buscarem mudanças significativas em suas “identidades”.
A visão do mundo da Nova Era e a metafísica consumista levanta questões no que diz
respeito a mudança cultural e à natureza da sociedade contemporânea. O movimento
possui muitas subdivisões, sendo geralmente uma fusão de ensinos metafísicos de
influência oriental, de linhas teológicas, de crenças espiritualistas, animistas e
paracientíficas, com uma proposta de um novo modelo de consciência moral,
psicológica e social além de integração e simbiose com o meio envolvente, a Natureza e
até o Cosmos. As crenças e atitudes da Nova Era estão atualmente tão difundidas em
nossa sociedade e em sua cultura que já domina todas as áreas da vida.
Há três paralelos principais traçados entre a metafísica subjacente ao consumo
moderno e a visão de mundo da Nova Era, 1º- É o que Roy Wallis chama de
individualismo epistemológico, é a hipótese de que a autoridade emana do self, e de que
não há autoridade verdadeira fora dele, a experiência pessoal constitui a mais alta
autoridade. 2º- Há um idealismo ou emanacionismo ontológico comum aos dois, é a
crença em que a realidade consiste em mente e espírito, e não em matéria. 3º- É o fato
de que partilham uma filosofia basicamente “mágica” segundo a qual o “mundo
material” está em geral subordinado diretamente ao poder dos pensamentos e desejos
humanos.