CULTURA ASSOCIADA DE FEIJÃO COM MARACUJA- EFEITOS DEDENSIDADES POPULACIONAIS DO FEIJOEIRO

EDSON FERREIRA DE CARVALHO *

comprised the sole crops of bean andpassionfruit and association of two, four, si x,and eight rows of beans between passionfruit'srows. The productivity and yield componentsof passionfruit weren't influencied by beansdensities populations. The associated croppingof eight rows of beans with passionfruitpermitted a more efficient use of the land anda higher grain yield per hectare.

RESUMO

Instalou-se um experimento, em Rio Branco, AC,a fim de se estudar os efeitos de diferentes densidadespopulacionais do feijão (Phaseolus vulgaris L.) emconsórcio com o maracujá amarelo (Passiflora edulisf. flavicarpa Oen.) durante o período de junho a agos-to de 1990, no início da- estação seca. O experimentoenvolveu o monocultivo do feijão e maracujá e o con-sórcio de duas, quatro, seis e oito fileiras de feijoeiroentre linhas de maracujá. A produtividade e os compo-nentes de produção do maracujá não foram influencia-dos pelas densidades populacionais do feijão. O cultivode oito linhas de feijão, em consórcio com maracujá,permitiu o uso mais eficiente da terra e maior produ-ção de grãos por hectare.

INDEX TERMS:Crop association, crop management, Phaseolusvulgaris, Passiflora edulis f. flavicarpa.

TERMOSPARAINDEXAÇÃO:Consorciação, manejo de culturas, Phaseolusvulgaris, Passiflora edulis f. flavicarpa INTRODUÇÃO

SUMMARY

ASSOCIATEO CROPPING OF BEANS ANOPASSIONFRUIT EFFECTS OF BEANSPOPULATION OENSITIES.

In arder to study the effects of differentbeans (Phaseolus vulgaris L.) population densi-ties on associated cropping with passionfruit(Passiflora edulis f. flavicarpa Den.) an experi-ment was carried out in Rio Branco, State ofAcre, in the months of june to july 1990, atthe beginning of dry season. The experiment

A associação de culturas é prática muitousada pelos pequenos agricultores, o que permi-te entre outros, o uso. eficiente da terra, aobtenção de duas produções concomitantemen-te, a redução de riscos e a diversificação dadieta alimentar.

O maracujá tem grande importância pelasqualidades gustativas de seus frutos e pelas qua-lidades farmacodinâmicas e alimentares de seusuco (MANICA8). O maracujá é muito cultiva-do no Acre, onde seus frutos alcançam bonspreços no mercado de Rio Branco.

O maracujá é cultivado em espaçamentoslargos, deixando amplas faixas de solo semaproveitamento. A utilização dessas faixas como cultivo de outra cultura, como o feijoeiro,

* Prof. Adj. - Universidade Federal do Acre. Dep. deCi~ncias Agrárias. CEP 69900 - Rio Branco-AC.

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o feijão foi cultivado entre fileiras de mara-cujá amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpaDen.) com um ano e sete meses de idade condu-zido em espaldeira. O espaçamento do feijoeirofoi de O,5m entre linhas, semeando-se 15 se-mentes por metro linear. O espaçamento entrefileiras de maracujá foi de 4,Om e de 3,Om entreplantas. O cultivar de feijão utilizado foi o ca-rioca.

O feijão foi irrigado por aspersão nos perío-dos de deficiência hídrica, sempre que se teznecessário.

As características agronômicas avaliadas dofeijão foram: altura de planta, "stands" inicial efinal, número de vagens por planta, número degrãos por vagem, peso de 100 grãos (g) e produ-ção de grãos (kg.ha-1). No maracujá foi avaliadoo número de frutos por planta, peso de fruto(g), diâmetro de fruto (cm) e produção defrutos (kg. ha-1 ).

Para avaliar a eficiência do consórcio, utili-zou-se o índice de equivalência de área (IEA),calculado do seguinte modo:

constitui alternativa viável para conservação dosolo, uso racional da área, redução de custos egeração de renda adicional.

No Acre, o feijão é cultivado no final doperíodo chuvoso para evitar a "meia" do fei-joeiro (Thanatephorus cucumeris) que, em con-dições de elevada umidade relativa do ar, preci-pitação e intensa nebulosidade pode dizimarcompletamente a plantação (CARDOSO &LUZ3).

O cultivo do feijoeiro durante o período debaixa precipitação pluviométrica (maio-agosto)é postulado como escape seguro à incidência da"meia" e ao ataque da "vaquinha" (Cerotomasp.), que é praga devastadora na região. No en-tanto o agricultor deve irrigar a lavoura nos pe-ríodos de deficiência hídrica.

O uso de consórcios empregando-se compo-nentes não recomendados, população de plantasinferior à ideal, semeadura em épocas inadequa-das, espaçamentos incorretos, entre outros cons-tituem os fatores responsáveis pela baixa efi-ciência dos consórcios.

É, portanto, objetivo deste trabalho avaliaro cultivo de feijão durante o período de baixaprecipitação pluviométrica e determinar amelhor densidade populacional de feijão emconsórcio com maracujá.

MATERIAL E MÉTODOS

Produção da Cultura AI EA = no consórcio

Prodçução da Cultura Aem Monocultivo

Produção da Cultura Bno Consórcio

Produção da Cultura Bem Monocultivo

Os dados das caracteristicas agronômicasobtidos foram submetidos à análise de variânciae as médias comparadas pelo teste de Tukey a5% de probabilidade.

o experimento foi conduzido em área ex-perimental da Universidade Federal do Acre, nomunicípio de Rio Branco (situado entre os pa-ralelos de 11°00' e 70000'S e os meridianos de66°30' e 74°00' Wgr.), no período de junho aagosto de 1990, em solo Podzólico Vermelho-_Amarelo de textura argilo-arenosa, pH 6,0,Ca + Mg = 3,4 meq.100g-1, P = 27ppm eK = 96ppm. Em razão da boa fertilidade natu-ral do solo não se usou corretivos nem fertili-zantes.

O delineamento experimental foi o de blo-cos casualizados com quatro repetições. Os tra-tamentos foram: d}Jas, quatro, seis e oito linhasde feijão cultivadas entre fileiras de maracujá eas duas culturas em monocultivo. Cada parcelaconstou de quatro plantas de maracujá e umadada densidade populacional de feijão. Cadafileira de feijão mediu 5m. Considerou-se comoárea útil a formada pelo número de fileiras cor-respondentes a cada tratamento, desprezando-se 0,5m em cada extremidade. No plantio sol-teiro de feijão, cada parcela constou de dez fi-leiras, cada uma com 5m. Considerou-se comoárea útil as oito fileiras internas, eliminando-se0,5m em cada extremidade.

1R6 Ciên. Agron., Fortaleza, 20(1/2): pág. 185-190 junho-dezembrof1989

R ESU L T ADOS E DISCUSSÃO

OS dados mensais de temperatura média eprecipitação pluviométrica total encontram-sena Figura 1. Tais dados oscilaram em torno dasmédias normais da região, no período em quefoi realizado o experimento.

A análise de variância revelou que nãohouve efeito (p > 0,05) das populações deplantas de feijão sobre as características agronô-micas do maracujá.

Quando duas ou mais espécies de plantascrescem juntas há competição entre elas porluz, água, gás carbônico e minerais. O feijoeiro,provavelmente, não competiu com o maracujápor fatores de crescimento, nas condições emque foi realizado o experimento. Como o solo

D T~MPERATURA MÉDIA

[llI] PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA

30 45uo-«5

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20 30

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10 15

o oJUN JUL AGO

Figura 1 - Temperatura Média e Precipitação Pluviométrica Total dos Meses de junho, julho e agosto. RioBranco-AC, 1990.

apresentou boa fertilidade e a deficiência hídri-ca foi corrigida sempre que se fez necessário,pode se supor que o feijão não exerceu compe-tição nem por nutrientes nem por água, o que éevidenciado pela ausência de efeito das popula-ções de plantas de feijão sobre as característicasprodutivas do maracujá (Tabela 1).

As folhas das plantas de maracujá situaram-se num plano superior ao dossel do feijão, ondeocorreu maior insolação, razão pela qual asplantas do feijoeiro não influenciaram o apro-veitamento da radiação solar pelo maracujá.

Port,sto, as populações de feijoeiro não pre-judicaram a produtividade do maracujá, com-provando que este não sofreu concorrência coma leguminosa. É possível que as ervas daninhasconcorram mais com o maracujá que o feijãoem consórcio.

A produção de maracujá foi baixa, pois, noperíodo em que se realizou o experimento, nãoera época de produção. Embora o maracujá flo-resça durante a maior parte do ano na região,nessa época ocorre grande queda de flores.

A análise da variância mostrou efeito signi-ficativo (p < 0,05) das populações de plantasde feijão sobre a altura de plantas, número devagens por planta, número de grãos por vageme produção de grãos. Não houve efeito das den-sidades populacionais defeijão sobre os "stands"inicial e final e peso de 100 grãos.

Não houve ataque da "vaquinha" nem inci-dência da "meia" do feijoeiro em níveis signifi-cantes, provavelmente, em razão da baixa preci-pitação pluviométrica e umidade relativa do arna época em que foi realizado o experimento.

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TABELA 1

Médias dos Dados das Caracter(sticas Agronómicas do Maracujazeiro em Monocultivo e Consórcio com Feijoeiro.Rio Branco-AC., 1990.

~1'6;rn Número de Fileiras do Feijoeiro

13,3255,02

15,2952,59

16,4250,83

5,85 6,12 6.37 5,61 4.81

Ikg.ha:'\

696,98 670,08 665,72695,52 670,58

o "stand" final da cultura do feijão foimuito bom, oscilando entre 80 e 89%.

O tratamento "oito fileiras" de feijão apre-sentou menor número de vagens por planta queos demais (Tabela 2). Como as plantas nesse tra-tamento apresentaram maior crescimento vege-tativo causado pelo sombreamento das plantasde maracujá, houve menor alocação de totoas-similados para formação de vagens. Dados deLOPES et alii6 mostraram que o número devagens por planta decresce com a redução nadensidade do fluxo radiante e que o menornúmero de vagens nas plantas sombreadasindica que houve maior aborto de flores evagens, possivelmente em virtude do baixo teorde carboidratos e de outras alterações no meta-bolismo das plantas na época da floração e noinício da formação das vagens.

A altura das plantas em monocultivo e con-sorciadas em duas e quatro fileiras foi menorque nos demais tratamentos, possivelmente, emrazão do menor sombreamento causado pelasplantas de maracujá e do menor sombreamentodas fileiras vizinhas (Tabela 2). Normalmente, aredução do nível de radiação solar causa alonga-mente do caule das plantas (LOPES et alii6). Oaumento da altura das plantas sombreadas é de-vido ao maior alongamento dos entre-nós e aoaumento da dominãncia apical (LOPES7). Estaúltima aumenta quando as plantas são cultiva-das sob baixos níveis de luz, possivelmente emrazão do decréscimo de fotoassimilados e doaumento do nível de auxinas (PHILLIPS9). Asplantas de feijão das fileiras próximas às do ma-racujá, mais sombreadas, apresentaram maiordesenvolvimento vegetativo.

TABELA 2

Médias dos Dados das Características Agronômicas do Feijoeiro em Monocultivo e Consórcio com Maracujá.Rio Branco, Ac.1990 (*)

39.53 b 53,10a 59,00 a

13,49 a 14,17 a 14,50 a 13,78 a 14,13 a

11,OOa 12,67 a 12,44 a 11,33a

3,89 a

3,37 b

11.44a

4,13 a 4,22 a 4,28 a 2,61 b

4,37 a 5,23 a 4,59 a 3,47 b

Altura da Planta(cm)

"Stand" Inicia!(N.o plantas.m-1)

"'Stand" Final(N.o plantas.m-l)

N.o de VagensPlanta-1N.o de GrãosVagem-1Peso de 100 Grãos

(g)Produção(kg.ha-1)

23,96 a 25,64 a 23,88 a 26,53 a 24,88 a

1.439,65 a 422,10 e 779,43 d 13,46 c 1.316,46 b

( *) Médias seguidas da mesma letra, na linha, não diferem significativamente, ao n(vel de 6% de probabilidade,pelo teste de Tukey.

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-- -N.o Frutos.Planta-1Peso de Fruto

(9)Diâmetro de Fruto

(cm)Producão

ção de pelo menos uma cultura, principalmenteaos pequenos e médios produtores (CARDOSO& RIBEIRO4).

O cultivo do feijão na época de baixa preci-pitação pluviométrica mostrou-se prom issor,desde que o agricultor possua condições de irri-gá-lo. A produtividade obtida nesse período foibem superior à média obtida no Estado doAcre, que é de 600kg.ha-1.

TABELA 3

I-ndices de Equivalência de Area

Número de Fileiras de Feijão EA

DuasQuatroSeisOito

1.251.541.731.87

CONCLUSÕES

a) A produtividade e as característicasagronômicas do maracujá não foram influencia-das pelo aumento do número de linhas de fei-joeiros;

b) O cultivo de oito linhas de feijão entreas fileiras de maracujá apresentou maior produ-tividade de grãos o maior índice de equivalênciade área;

c) Os índices de equivalência de área foramaltos, mostrando a eficiência do consórcio ma-racujá-feijão no aumento da produção de ali-mentos por unidade de área, e

d) O cultivo do feijoeiro em período debaixa precipitação pluviométrica é promissor.desde que o agricultor possa irrigá-lo.

REFER~NCIAS BIBLIOGRAFICAS

o número de grãos por vagem decresceunos tratamentos "seis" e "oito" fileiras defeijão (Tabela 2). Resultados semelhantesforam obtidos por ARAÚJ02. Esse autorobservou tendência dos feijoeiros dos sistemasassociados alocarem mais assimilados na partevegetativa que na reprodutiva, havendo reduçãona produção de vagens por planta e no númerode sementes por vagem.

O peso de grãos é um fator de herdabilida-de- relativamente elevada, característica genéticado cultivar, sendo pouco influenciada pelos tra-tamentos.

A produção de feijão aumentou à medidaque aumentou o número de fileiras de feijãoentre as linhas de maracujá (Tabela 2). Os acrés-cimos na produção foram de 85, 43 e 18%,quando se passou de duas para quatro, de qua-tro para seis e de seis para oito fileiras de feijãoentre as linhas de maracujá, respectivamente.

Verifica-se, na Tabela 2, que o cultivo deoito linhas de feijão entre fileiras de maracujáproporcionou a maior produção de feijão, em-bora neste tratamento houvesse menor produ-ção de vagens por planta e menor número degrãos por vagem, em razão do maior crescimen-to vegetativo. O maior número de fileiras deplantas compensou a redução desses componen-tes de produção. Há um efeito de compensaçãoentre esses componentes, fazendo com que, ca-da vez se aumente um deles, ocorre redução emoutro ou outros.

Na avaliação da eficiência do consórcio,utilizou-se o índice de equivalência de área(IEA) para cada esquema de cultivo de feijãoem associação com maracujá (Tabela 3). Nota-se que todas as combinações de consórcioforam eficientes, porquanto todas deram IEAmaior que 1,0. Os IEA aumentaram com oincremento do número de linhas de feijão entreas fileiras de maracujá.

Verifica-se que, em qualquer esquema deconsórcio, as produções de feijão sempre consti-tu(ram um ganho extra. Observa-se também queo aumento do número de linhas de feijoeiroproporcionou o uso mais eficiente da terra.

Outros autores, trabalhando em diferentespaíses e em diferentes sistemas de consórcio defeijão com outras culturas, verificaram que essasassociações culturais permitem o uso mais efi-ciente da terra e melhores retornos econômicos(CIAT5, AI DAR & VIEIRA'). Outra vantagemda associação de culturas em relação ao mono-cultivo é a redução dos riscos ocasionados porfatores edafoclimáticos, assegurando a produ-

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