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154 Summa Phytopathol., Botucatu, v. 35, n. 2, p. 154, 2009 Ocorrência de Alternaria brassicicola em crambe (Crambe abyssinica) no estado do Paraná Solange Monteiro de Toledo Piza Gomes Carneiro, Euclides Romano, Tatiana Marianowski, Jaqueline Pereira de Oliveira, Tiago Henrique dos Santos Garbim, Pedro Mario de Araújo Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, Rodovia Celso Garcia Cid, Km 375, Caixa Postal 481, CEP 86001-970, Londrina, PR. Autor para correspondência: Solange M. de Toledo Piza Gomes Carneiro, email: [email protected] Data de chegada: 26/06/2008. Aceito para publicação em: 06/09/2008 1597 COMUNICAÇÕES Crambe (Crambe abyssinica Hochst. ex Fries) é uma planta de ciclo anual, pertencente à família Brassicaceae cujas sementes contém cerca de 35-60% de óleo. É nativa do Mediterrâneo e cultivada em algumas regiões tropicais e subtropicais pelo interesse industrial no óleo extraído das sementes, e mais recentemente para produção de óleo para biodiesel. O crambe vem sendo plantado nas estações experimentais do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, nos meses de março a junho. Inspeções realizadas em agosto de 2007 nos plantios experimentais, em Londrina, verificou-se a presença de manchas escuras em toda a parte aérea das plantas. Os sintomas observados caracterizavam-se por numerosas manchas pequenas, quase pretas, que ao se desenvolverem coalesciam e adquiriam formato circular, ocorrendo a formação de halo clorótico. No pecíolo da folha e na haste da planta ocorria escurecimento e a formação de manchas pretas alongadas. Sobre algumas lesões desenvolviam-se estruturas típicas do gênero Alternaria . O isolamento do patógeno foi feito desinfestando o tecido afetado e plaqueando em meio de cultura V- 8. A incubação foi feita à 24ºC no escuro, e a partir de colônias desenvolvidas foi obtida cultura monospórica para teste de patogenicidade. O teste de patogenicidade foi realizado em plantas da cultivar FMS Brilhante, em diferentes estádios de desenvolvimento, inoculadas entre 20 e 47 dias após a semeadura. O inóculo foi produzido repicando o fungo para placas de petri com o meio de cultura V-8, as quais foram mantidas em incubadora à 24ºC no escuro por cerca de 10 dias. A suspensão de esporos foi ajustada para a concentração de 2x10 4 conídios/mL e pulverizada sobre as plantas. O tratamento testemunha foi pulverizado com água destilada, e todas as plantas foram mantidas em câmara úmida por 24 horas. Os sintomas iniciaram-se 2 dias após a inoculação e desenvolveram-se em todas as plantas inoculadas (Figura 1). O fungo foi reisolado completando os postulados de Koch. A identificação da espécie Alternaria brassicicola foi feita c om base em Ellis (1971) pela observação das estruturas e medindo-se o tamanho e contando-se o número de septos de 100 esporos. O patógeno apresentou colônias marrom-escuro quase pretas, os conídios em cadeias (4-6), com 1 a 9 septos transversais, até 3 septos longitudinais e até 2 septos oblíquos, com comprimento médio de 25mm (10-42,5mm) e largura média de 11,8mm (7,5-17,5mm) e apêndice quase inexistente. Alternaria brassicicola é relatada como a mais séria doença do crambe nos Estados Unidos (Oplinger et al., 1991. Alternative field crops manual – crambe. 10p. Disponível em: <http://www.hort.purdue.edu/newcrop/afcm/ crambe.html>. Acesso em: 09/06/2008) e como é um importante patógeno das brássicas no Brasil, este fungo possui o potencial para se tornar um obstáculo ao cultivo do crambe. Figura 1. Sintomas de Alternaria brassicicola em folhas de crambe e conídios do patógeno.

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154 Summa Phytopathol., Botucatu, v. 35, n. 2, p. 154, 2009

Ocorrência de Alternaria brassicicola em crambe (Crambe abyssinica) no estado do Paraná

Solange Monteiro de Toledo Piza Gomes Carneiro, Euclides Romano, Tatiana Marianowski, Jaqueline Pereira deOliveira, Tiago Henrique dos Santos Garbim, Pedro Mario de Araújo

Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, Rodovia Celso Garcia Cid, Km 375, Caixa Postal 481, CEP 86001-970, Londrina, PR.Autor para correspondência: Solange M. de Toledo Piza Gomes Carneiro, email: [email protected] de chegada: 26/06/2008. Aceito para publicação em: 06/09/2008

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COMUNICAÇÕES

Crambe (Crambe abyssinica Hochst. ex Fries) é uma planta deciclo anual, pertencente à família Brassicaceae cujas sementes contémcerca de 35-60% de óleo. É nativa do Mediterrâneo e cultivada emalgumas regiões tropicais e subtropicais pelo interesse industrial noóleo extraído das sementes, e mais recentemente para produção deóleo para biodiesel. O crambe vem sendo plantado nas estaçõesexperimentais do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR, nos mesesde março a junho. Inspeções realizadas em agosto de 2007 nos plantiosexperimentais, em Londrina, verificou-se a presença de manchasescuras em toda a parte aérea das plantas. Os sintomas observadoscaracterizavam-se por numerosas manchas pequenas, quase pretas,que ao se desenvolverem coalesciam e adquiriam formato circular,ocorrendo a formação de halo clorótico. No pecíolo da folha e nahaste da planta ocorria escurecimento e a formação de manchaspretas alongadas. Sobre algumas lesões desenvolviam-se estruturastípicas do gênero Alternaria . O isolamento do patógeno foi feitodesinfestando o tecido afetado e plaqueando em meio de cultura V-8. A incubação foi feita à 24ºC no escuro, e a partir de colôniasdesenvolvidas foi obtida cultura monospóric a para tes te depatogenicidade. O teste de patogenicidade foi realizado em plantasd a c ultivar F MS Brilhante, em diferentes es tád io s d edesenvolvimento, inoculadas entre 20 e 47 dias após a semeadura.

O inóculo foi produzido repicando o fungo para placas de petricom o meio de cultura V-8, as quais foram mantidas em incubadoraà 24ºC no escuro por cerca de 10 dias. A suspensão de esporos foiajustada para a concentração de 2x104 conídios/mL e pulverizadasobre as plantas. O tratamento testemunha foi pulverizado comágua destilada, e todas as plantas foram mantidas em câmara úmidapor 24 horas. Os sintomas iniciaram-se 2 dias após a inoculação edesenvolveram-se em todas as plantas inoculadas (Figura 1). O fungofoi reisolado completando os postulados de Koch. A identificação daespécie Alternaria brassicicola foi feita com base em Ellis (1971) pelaobservação das estruturas e medindo-se o tamanho e contando-se onúmero de septos de 100 esporos. O patógeno apresentou colôniasmarrom-escuro quase pretas, os conídios em cadeias (4-6), com 1 a 9septos transversais, até 3 septos longitudinais e até 2 septos oblíquos,com comprimento médio de 25mm (10-42,5mm) e largura média de11,8mm (7,5-17,5mm) e apêndice quase inexistente. Alternariabrassicicola é relatada como a mais séria doença do crambe nos EstadosUnidos (Oplinger et al., 1991. Alternative field crops manual – crambe.10p. Disponível em: <http://www.hort.purdue.edu/newcrop/afcm/crambe.html>. Acesso em: 09/06/2008) e como é um importantepatógeno das brássicas no Brasil, este fungo possui o potencial parase tornar um obstáculo ao cultivo do crambe.

Figura 1. Sintomas de Alternaria brassicicola em folhas de crambe e conídios do patógeno.