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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UNB FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA FAV PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS PROPAGA ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE AGRONEGÓCIO CRISE MUNDIAL NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS: OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA RODRIGO PEDROSA MAROUELLI BRASÍLIA DF AGOSTO/2009

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UNB

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA – FAV

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS – PROPAGA

ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE AGRONEGÓCIO

CRISE MUNDIAL NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS:

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A AGRICULTURA

BRASILEIRA

RODRIGO PEDROSA MAROUELLI

BRASÍLIA – DF

AGOSTO/2009

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RODRIGO PEDROSA MAROUELLI

CRISE MUNDIAL NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS:

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

AGRONEGÓCIOS (PROPAGA) DA

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, COMO

PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À

OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA

EM GESTÃO DE AGRONEGÓCIOS.

BRASÍLIA – DF

AGOSTO/2009

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FICHA CATALOGRÁFICA:

MAROUELLI, Rodrigo Pedrosa.

Crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios

para a agricultura brasileira. Rodrigo Pedrosa Marouelli. Brasília

UnB. 40 p. Monografia Universidade de Brasília/Faculdade de

Agronomia e Medicina Veterinária, 2009. Orientador: Prof., Jorge

Madeira Nogueira D.Sc.

1. preços alimentos; 2. preços; 3. desafios; 4.agronegócio.

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RODRIGO PEDROSA MAROUELLI

CRISE MUNDIAL NOS PREÇOS DOS ALIMENTOS:

OPORTUNIDADES E DESAFIOS PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA

Monografia aprovada como requisito final para

obtenção do grau de Especialista em Gestão de

Agronegócio da Universidade de Brasília - UnB.

Data de aprovação:

17/08/2009

APROVADA POR:

_____________________________________________

JORGE MADEIRA NOGUEIRA Dr. (UNB)

(ORIENTADOR)

_____________________________________________

JOSEMAR XAVIER DE MEDEIROS Dr. (UNB)

(MEMBRO INTERNO)

BRASÍLIA, 17 DE AGOSTO DE 2009.

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AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA, pela oportunidade de

capacitação ao cursar o MBA em Agronegócios da UNB.

Ao professor Jorge Madeira Nogueira, pela orientação, confiança e principalmente pelo

incentivo durante todo o desenvolvimento do trabalho.

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RESUMO

O aumento dos preços das commodities agrícolas nos últimos anos resultou em uma Crise de

Segurança Alimentar numa época em que o mundo se beneficiava de alimentos a preços

acessíveis. O aumento dos preços gerou revolta em alguns países e intervenções

governamentais, como a proibição de exportação de determinados produtos e a redução de

taxas de importação. Essas intervenções refletem a preocupação dos países mais pobres com o

impacto no aumento de preços dos alimentos, pois são nesses países que a maior parte da

renda das famílias é destinada à alimentação. Após a nova crise econômica mundial, houve a

retração dos preços das commodities agrícolas e atualmente a maior preocupação é o lado da

produção de alimentos, sendo preocupante o impacto que a queda de preços terá na oferta de

alimentos. Este trabalho analisa as causas dos aumentos dos preços das commodities agrícolas

relacionadas à oferta e demanda. Nesse sentido, pretende-se ainda enfatizar a oportunidade da

agricultura brasileira avançar num maior ritmo de produção de alimentos e ganhar novos

mercados no comércio mundial. Por fim são analisados os desafios do agronegócio brasileiro

Palavras chave: preço alimentos, crise alimentar, oferta e demanda de commodities,

agronegócios.

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ABSTRACT

The commodities price increase in the last years resulted in a Food Security Crisis in a time

that the world benefited of accessible food prices. Price increase resulted in strikes and public

interventions in some countries like banning exports of some products and decreasing import

tariffs. These interventions reflect the concern of poor countries with the impact of food price

increase, since in those countries a higher part of household´s income is used to buy food.

After the new world economic crisis, there have been the retraction of commodities prices and

today the biggest concern is about food production supply. This work analysis the causes of

commodities price rise related with supply and demand. It pretends to emphasize the

opportunity to the Brazilian agriculture to raise food production and obtain new markets in the

world trade. The Brazilian agribusiness challenges are analyzed at the end of this work.

Key-words: food price, food safety, commodities supply and demand, agribusiness.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – PIB Mundial – Taxa de Crescimento Real (%)

Figura 2 – Índice de Preços dos Alimentos

Figura 3 – Fatores que Contribuíram para o Aumento das Commodities Agrícolas

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Cotações das Commodities Milho, Soja e Trigo (em dólares por tonelada métrica)

Tabela 2 – Evolução da produção, produtividade e área colhida de cereais no mundo

Tabela 3 – Estoque Mundial de Cereais (em milhões de toneladas)

Tabela 4 – Balança comercial do agronegócio brasileiro (US$ milhões)

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRASEM Associação Brasileira de Sementes e Mudas

ANPEI Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia

das Empresas Inovadoras

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CEPEA/Esalq/USP Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP

CNA Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil

CNT Confederação Nacional do Transporte

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária

FAO Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação

FMI Fundo Monetário Internacional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MERCOSUL Mercado Comum do Sul

OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA...............................................................................01

2. OBJETIVOS........................................................................................................................02

3. CRISE GLOBAL DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS...................................................03

3.1. Conjuntura Macroeconômica.................................................................................03

3.2. O Aumento Global dos Preços dos Alimentos......................................................05

3.3. Crise Econômica e Redução Global dos Preços dos Alimentos............................07

4. IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DA CRISE................................................................09

4.1. Aumento Mundial da Demanda............................................................................ 09

4.2. Diminuição do Crescimento da Produção Agrícola...............................................11

4.3. Choques Climáticos................................................................................................13

4.4. Especulação Financeira..........................................................................................14

4.5. Diminuição das Taxas de Juros............................................................................. 15

4.6. Depreciação da Moeda Americana........................................................................16

4.7. Aumento dos Preços do Petróleo...........................................................................17

4.8. Expansão dos Biocombustíveis..............................................................................18

4.9. Diminuição dos Estoques Mundiais.......................................................................21

5. DESAFIOS AO AUMENTO DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS.................................23

6. OPORTUNIDADES PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO.................................25

6.1 Importância Econômico-Social do Agronegócio Brasileiro...................................25

6.2 Disponibilidade de Terras no Brasil........................................................................26

6.3 Capacidade de Produção e Ganhos de Produtividade no Brasil .............................27

6.4. Desenvolvimento Tecnológico Atual.....................................................................29

7. DESAFIOS PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO................................................30

7.1. Capacidade de Inovação Tecnológica....................................................................30

7.2. Deficiências de Infra-estrutura...............................................................................31

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7.3. Baixa Agregação de Valor.....................................................................................33

7.4 Tributações Elevadas...............................................................................................34

7.5. Pouca Integração das Cadeias Produtivas..............................................................34

7.6 A questão social no campo......................................................................................35

8. CONCLUSÕES...................................................................................................................36

9. REFERÊNCIAS..................................................................................................................38

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1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA

Desde 2003 os preços das commodities agrícolas aumentaram significativamente.

Alguns produtos atingiram picos históricos em 2008, resultando na chamada Crise de

Segurança Alimentar, pois até então o mundo se beneficiava de alimentos a preços acessíveis.

A Crise ressuscitou antigas preocupações. Em especial, mesmo diante dos significativos

avanços biológicos e tecnológicos, que permitiram importantes aumentos de produção de

alimentos de melhor qualidade e de preços mais baixos, existe a preocupação em atender a

crescente demanda mundial por alimentos.

O significativo aumento dos preços agrícolas tem sido uma das principais

preocupações para diversos países e organismos internacionais, devido ao impacto que os

mesmos exercem na segurança alimentar das populações mais pobres. O aumento dos preços

gerou revoltas e intervenções governamentais em alguns países, como a proibição de

exportação de determinados produtos e a redução de taxas de importação. Essas intervenções

refletem a preocupação dos países mais pobres com o impacto no aumento de preços dos

alimentos, pois são nesses países que a maior parte da renda das famílias é destinada à

alimentação.

A situação dos preços agrícolas ficou ainda mais nebulosa, no segundo semestre de

2008 com uma nova crise econômica mundial que leva à contração do comércio agrícola com

a redução do ritmo de crescimento mundial. A crise internacional alterou qualitativamente a

preocupação com a Crise de Segurança Alimentar. Os preços das commodities agrícolas se

retraíram e atualmente a maior preocupação é o lado da produção de alimentos, sendo

preocupante o impacto que a queda de preços terá na oferta de alimentos.

A presente monografia analisa as causas dos aumentos dos preços das commodities

agrícolas relacionadas à oferta e demanda. Diversos motivos elevaram os preços até meados

de 2008 e apesar da retração dos preços no início de 2009, permanece a preocupação de

futuros aumentos e da necessidade de se assegurar uma maior ofertar de alimentos. Nesse

sentido, enfatiza-se a oportunidade da agricultura brasileira avançar num maior ritmo de

produção de alimentos e superar suas deficiências.

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2. OBJETIVOS

Ao identificar as causas dos aumentos dos preços das commodities agrícolas até o

primeiro semestre de 2008, o trabalho analisa o impacto de cada uma dessas causas nos

referidos aumentos dos preços. Posteriormente são apontados os desafios que podem surgir

diante dos aumentos dos preços e conseqüentemente são identificadas as oportunidades e

apontados os desafios para o agronegócio brasileiro.

As commodities agrícolas analisadas no trabalho foram limitadas as de origem vegetal,

não levando em consideração as de origem animal. Segundo Scolari (2005), as commodities

mais importantes são os grãos (principalmente arroz, trigo, milho, centeio, sorgo, cevada,

milheto e triticale) - que ocupam uma grande área de cultivo, responsáveis por 66% da

alimentação mundial e largamente produzidas em vários países desde os tempos mais

remotos.

Objetivos Específicos:

1. Analisar o aumento global dos preços dos alimentos e suas principais causas;

2. Apontar os desafios que podem surgir diante de uma crise econômica internacional; e

3. Identificar oportunidades e apontador os desafios para o agronegócio brasileiro.

O trabalho está estruturado em oito capítulos.

No primeiro capítulo foram apresentadas a introdução e as justificativas para a escolha

do tema da pesquisa, assim como o contexto do tema escolhido. Neste segundo capítulo, são

discutidos os objetivos que se pretende alcançar com o trabalho e a forma de estruturação do

mesmo. No terceiro capitulo será analisada a conjuntura macroeconômica, o aumento global

dos preços dos alimentos e a sua posterior redução. O quarto capítulo tratará da identificação

e análise das causas da crise dos preços dos alimentos. No quinto capítulo serão apresentados

os desafios ao aumento dos preços. Posteriormente são identificadas e analisadas as

oportunidades e apontados os desafios para o agronegócio brasileiro, capítulos seis e sete

respectivamente. Por fim, o capítulo oito trás as conclusões da monografia.

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3. CRISE GLOBAL DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS

3.1. Conjuntura Macroeconômica

Desde o início do Plano Real a agricultura tem sido uma importante âncora na

estabilização da economia brasileira. Enquanto a oferta de produtos agrícolas ajudou a

controlar a inflação, as exportações de bens primários foram decisivas para o bom

desempenho da balança comercial – no primeiro momento compensando as perdas sofridas

com a apreciação do real e posteriormente levando a significativos superávits comerciais.

A primeira metade da década atual foi marcada por forte crescimento da economia

mundial. Para o Banco Mundial (2008), se os últimos 25 anos fossem divididos em dois

períodos - 1980-2000 e 2000-2005 - a taxa de crescimento nos países em desenvolvimento

aumentou de 3,2% no primeiro período para 5% no segundo (Figura 1). Um pico mais forte só

ocorreu no período de 1970-1973, quando a taxa de crescimento mundial alcançou 5,4%.

O Banco Mundial (2008) aponta para "um forte desempenho global", em conseqüência

de uma "expansão muito rápida nos países em desenvolvimento, que crescem a taxas duas

vezes maiores do que nas economias avançadas". Apesar dessa aceleração não ter sido vista

pela grande maioria dos países, não se pode afirmar que os países asiáticos (principalmente

China e Índia) tenham sido os únicos responsáveis por esse crescimento, mas todo o conjunto

dos países em desenvolvimento.

De acordo com o Banco Mundial (2008), durante os últimos 25 anos, a integração

global da economia, a diminuição brutal nos custos de transporte e comunicação, juntamente

com as reduções das barreiras comerciais, associados à integração dos mercados emergentes

aos mercados globais e avanços tecnológicos, prepararam o caminho para ganhos de

produtividade.

Helbling et al. (2008) levantaram algumas preocupações, principalmente em relação

aos mercados financeiros e sobre a expansão mundial, que poderia ser retardada pela

desaceleração da economia norte-americana, devido ao significativo declínio no mercado

imobiliário americano.

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Segundo o Banco Mundial (2008), os maiores fatores que reforçam a tendência de

crescimento econômico mundial são “a integração dos mercados globais, a abertura das

economias chinesa e indiana, a expansão da oferta mundial de força de trabalho e o impacto

das tecnologias de informação e comunicação”.

Outro fator responsável pelo elevado de crescimento foram os juros mais baixos. Os

países mais desenvolvidos, que controlam os juros, têm mantido suas taxas baixas mesmo

diante de um comportamento modesto de crescimento de seus PIBs (Produtos Interno Bruto).

Taxas de juros mais baixas proporcionaram grande liquidez ao mercado mundial, elevando o

volume de comércio entre os países nos últimos anos e beneficiando o agronegócio brasileiro.

Figura 1 – PIB Mundial – Taxa de Crescimento Real (%)

Fonte: Banco Mundial

Disponível em: http://web.worldbank.org/WBSITE/EXTERNAL/DATASTATISTICS/.html

O aumento do comércio internacional (principalmente de commodities) foi

responsável pelo Brasil ter recuperado suas contas externas, gerando superávits comerciais.

Por outro lado, o crescimento mundial alcançado pressionou os preços da energia, das

matérias primas e das commodities agrícolas, levando conseqüentemente a pressões

inflacionárias inclusive nos países do primeiro mundo que começaram a aumentar suas taxas

de juros para combatê-la.

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3.2 O Aumento Global dos Preços dos Alimentos

Segundo Matos et al. (2008), apesar dos preços reais dos alimentos terem aumentado

significativamente, os mesmos não atingiram o ápice de meados da década de 1970. Os

autores ao analisarem o Índice FAO de Preços dos Alimentos – que engloba o preço de seis

grupos de commodities no mercado internacional – entre os anos de 2000 a 2008, apontaram

que só em 2007 o índice cresceu 23% em relação ao ano anterior.

Figura 2 – Índice de Preços dos Alimentos

Fonte: FAO - http://www.fao.org/worldfoodsituation/FoodPricesIndex/en/

O forte crescimento econômico observado nos últimos anos colocou uma forte pressão

nos preços e os significativos aumentos de preços das commodities agrícolas levaram alguns

produtos a atingirem picos históricos. O aumento dos preços foi considerado por muitos como

uma crise e essa crise, apesar de ter sido passageira, pode voltar com a mesma intensidade nos

próximos anos.

A elevação dos preços dos alimentos gerou preocupação de governos e organizações

internacionais, que planejaram ações para minimizar os efeitos da subida dos preços. A

eficácia dessas foi observada pelo início da crise econômica de 2008.

A crise mundial derrubou durante 2008 as cotações das principais commodities

agrícolas, como pode ser observado na Tabela 1.

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Tabela 1- Cotações das Commodities Milho, Soja e Trigo - U$ por tonelada métrica

Mês/Ano Milho Soja Trigo

jan/07 165,10 250,39 196,07

abr/07 152,58 217,39 198,31

jul/07 147,13 277,84 238,41

out/07 164,09 380,09 335,15

dez/07 180,25 407,22 368,62

jan/08 206,53 466,73 369,59

abr/08 246,67 486,07 362,23

jul/08 266,94 553,79 328,18

out/08 182,96 345,77 237,38

dez/08 158,16 316,68 220,14

Fonte: Elaboração Própria com base em CEPEA ESALQ.

Conforme pode ser verificado na Tabela 1, os preços das commodities aumentaram

vertiginosamente durante o primeiro semestre de 2008, gerando a sensação no mundo e no

Brasil que se estaria frente a uma nova crise alimentar mundial, semelhante a que aconteceu

no mundo no início dos anos 80. Em meados de 2008 os preços da soja chegaram a U$ 553 a

tonelada, sendo que em alguns dias do mês de julho atingiram o teto de U$ 700 a tonelada. Os

preços do trigo superaram os U$ 300 a tonelada e os de milho chegaram também perto desse

valor. Cabe destacar que os preços históricos destas commodities estão por volta dos U$ 200 a

tonelada.

No entanto, após esse clímax, os preços de todas as commodities despencaram ao

ritmo da crise financeira internacional. Os preços estavam inflacionados pelo acionar dos

mercados futuros sem entrega física, que são mercados altamente especulativos. Quando os

ativos investidos nesses mercados refluíram para salvar posições em bancos e financeiras,

houve uma deflação acentuada de preços. Começa então um ciclo declinante de preços que

vai de agosto até dezembro de 2008, tanto nos mercados internacionais como no mercado

interno.

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3.3 Crise Econômica e Redução Global dos Preços dos Alimentos

O estopim da crise financeira mundial, que teve origem nos Estados Unidos da América,

foi a inadimplência do subprime - o mercado de hipotecas dos mutuários que refinanciaram

suas dívidas. Com as condições de refinanciamento ficando mais difíceis e os índices de

inadimplência se elevando, deu-se início a atual crise financeira mundial que impactou

diretamente o setor agrícola e refletiu esse impacto às variáveis macroeconômicas. Segundo

Guanziroli (2008), quando os bancos começaram a reconhecer as perdas com o subprime,

instalou-se o pânico financeiro no mundo, levando à diminuição do crédito de maneira

generalizada, gerando uma profunda crise de liquidez, que atingiu escala mundial.

Diante da crise os governos dos principais países tomaram medidas no sentido de, pelo

menos, mitigar este problema. Os governos dos principais países anunciaram cortes de juros,

pacotes fiscais e injeções de recursos de aproximadamente US$ 2 trilhões para estabilizar o

sistema financeiro. No Brasil, além da redução da taxa básica de juros, houve um aumento

dos empréstimos às empresas pelo BNDES e reduções de cargas tributárias para ajudar

setores da economia, como o automotivo e de eletrodomésticos.

A crise trouxe imediatamente falta de liquidez em todas as economias do mundo, com

empréstimos e financiamentos mais caros e reduzidos. Posteriormente se observou uma crise

de confiança tanto por parte dos consumidores, empresas e governos levando à redução do

consumo e investimentos que afetaram diretamente o nível de emprego e renda.

A baixa elasticidade dos preços na queda implica que os consumidores ainda

continuem sendo afetados pela fase da alta de preços que ocorreu até julho de 2008, afetando

suas possibilidade de consumo e a própria segurança alimentar - principalmente nas camadas

mais pobres da população. Por exemplo, a despeito das reviravoltas provocadas pela crise

financeira global, sobretudo a partir de setembro de 2008, as importações chinesas de soja

mantiveram-se firmes em 2008 e dão sinais de que permanecerão assim em 2009, apesar da

desaceleração econômica e das incógnitas que cercam o volume de estoques do país, que

voltou a aumentar nos últimos meses.

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No final de 2008, os fundamentos de oferta e demanda voltaram a prevalecer nos

principais mercados internacionais de commodities agrícolas, apesar do cenário de alta

volatilidade. Não obstante as cotações de vários grãos terem caído mais de 50% desde o

apogeu alcançado no meio do ano de 2008, os preços dos alimentos ao consumidor não

caíram necessariamente na mesma velocidade. Quando há o aumento de preços dos alimentos,

geralmente os reajustes de alta são repassados rapidamente, mas as quedas no preço das

commodities demoram a ser transferidas ao produto final.

Ao mesmo tempo em que alguns fatores apontam para uma recuperação dos preços em

2009, outros apontam para sua estagnação ou inclusive nova queda. O cenário é, portanto, de

acentuada volatilidade, o que não é bom para os produtores que ficam sem sinais claros para

planejar sua atividade. No caso brasileiro a queda de preços das commodities, no entanto, não

afetou gravemente o setor agrícola por causa da desvalorização do real frente ao dólar, que

desde o piso de R$ 1,56 em agosto de 2008, valorizou-se quase 50% até o fim de abril de

2009.

Uma das conseqüências da crise é a forte redução da produção agrícola estimada no

Brasil para 2009, que pode ser de 7% segundo as últimas estimativas do CONAB (2009). Os

preços dos insumos estavam altos em 2008 em função da forte subida no preço do petróleo

que afetou os preços dos adubos e dos combustíveis. Os produtores ao se deparar com os

custos dos insumos em valores aviltados demais, decidiram por diminuir sua área plantada ou

por mantê-la, mas com uso menor de adubos, o que prejudica os rendimentos e, portanto a

produção esperada por hectare.

Por outro lado, como já observado, há uma considerável retração nas economias

centrais e, em função disto, já se prevê que o comércio não crescerá em 2009 e esta retração

certamente afetará negativamente as exportações brasileiras. O impacto não será apenas nos

setores ligados ao comércio internacional, pois ao considerar o efeito multiplicador da queda

nas exportações, toda a economia sofrerá conseqüências significativas.

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4. IDENTIFICAÇÃO DAS CAUSAS DA CRISE

As principais causas do aumento dos preços das commodities estão resumidas na

Figura 3, onde classificamos cada uma delas como fatores de demanda (verde) e oferta

(amarelo).

Figura 3 – Fatores que Contribuíram para o Aumento das Commodities Agrícolas

1998 1999 2000 2000 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Forte aumento da demanda relacionado ao aumento da população, crescimento

econômico e aumento do consumo per capita

Diminuição do crescimento da produção agrícola

Choques

Climáticos

Especulação

Financeira

Diminuição das taxas de juros

Desvalorização do dólar americano

Aumento do preço do petróleo

Expansão Biocombustíveis

Menor Estoque Mundial

Fonte: Elaboração própria, adaptado de Trostle, R. (2008).

São apontadas nove causas para o aumento dos preços dos alimentos, apesar de alguns

autores como Von Braun (2008) e Mitchell (2008) apontarem ainda outras causas de menor

relevância. Em seguida é analisada a importância que cada uma das causas exerceu no

aumento dos preços das commodities e a provável participação isolada de cada causa e

combinada com outras.

4.1. Aumento Mundial da Demanda

O aumento mundial da demanda por alimentos tem como causas principais o aumento

da renda e o crescimento populacional, sendo que os países em desenvolvimento foram os

principais responsáveis por esse aumento.

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Estima-se que a população mundial deverá passar dos atuais 6,6 bilhões para 8,3

bilhões em 2030, sendo que o crescimento maior será na Ásia, com aumento de 1,1 bilhão de

pessoas até 2030. A população brasileira deverá alcançar 235 milhões de habitantes em 2030

(mais 62 milhões em relação a 2000).

O aumento de renda dos países em desenvolvimento resultou no aquecimento da

procura por uma maior quantidade e diferentes tipos de alimentos. Segundo Matos et al

(2008), os países em desenvolvimento aumentaram, nos últimos dez anos, o consumo de soja,

arroz e trigo em 84,7%, 9,4% e 10,4%, respectivamente. Sem dúvida esse aumento de

consumo está relacionado ao aumento da renda per capita, principalmente nos países

asiáticos, onde uma parcela significativa da população passou a se alimentar com melhor

qualidade.

Uma das razões para esse crescimento está relacionada à inclusão de uma importante

parcela da população ao mercado de trabalho, levando a um aumento crescente da demanda

por alimentos. Vale mencionar que a elasticidade renda dos alimentos é mais alta que a de

outros produtos para camadas inferiores de renda, ou seja: cada aumento da renda dos mais

pobres se traduz numa demanda por alimentos, que aumenta proporcionalmente mais do que a

renda média da sociedade.

Apesar de diversos autores, como Abbott et al. (2008) e Baltzer et al. (2008),

apontarem essa causa, Heady & Fan (2008) descartam essa hipótese ao argumentarem que

China e Índia são auto-suficientes na produção da maioria dos grãos e que o aumento da

demanda dos países acima se deu em período anterior e que algumas commodities sofreram

diminuição do volume importado nos últimos anos. Do outro lado, os autores admitem que a

crescente demanda da China e Índia por soja e seu óleo pressionou o preço dessa commodity

no mercado internacional.

Mitchell (2008) defende a idéia que o rápido crescimento da renda nos países

desenvolvidos não tenha se refletido em um grande aumento global no consumo de grãos e

que esse não tenha sido a principal causa dos aumentos dos preços dos grãos. O autor leva em

consideração três fatores: 1) que o aumento da renda tenha contribuído para o aumento da

demanda do óleo de soja devido ao aumento das importações de soja em grão pela China; 2)

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China e Índia serem exportadores de grãos desde o ano 2000, apesar das exportações terem

diminuído e o consumo aumentado nos últimos anos; e 3) o consumo mundial de trigo e arroz

cresceram 0,8 e 1,0 por cento ao ano respectivamente, enquanto o consumo de milho

aumentou 2,1 por cento (excluindo a demanda por bicombustíveis nos EUA).

4.2. Diminuição do Crescimento da Produção Agrícola

A diminuição no ritmo de crescimento da produção agrícola mundial é apontada por

alguns autores como sendo um dos fatores que podem ter levado ao aumento dos preços.

Apesar da maior demanda, existe um problema estrutural da agricultura mundial para

incrementar a oferta de alimentos já que a revolução verde praticamente já esgotou os avanços

em tecnologias e novas formas de produção são necessárias para que a dependência não seja

exclusivamente de um novo salto na produção devido a aumentos de área cultivada.

Ao analisarmos a produção mundial de cereais (arroz, trigo, milho, centeio, sorgo,

cevada, milheto e triticale), área colhida, produtividade (toneladas por hectare) produção per

capita (Tabela 2), verificamos que a produção mundial de cereais mais que dobrou entre os

anos de 1965 e 2005. Segundo Scolari (2005), a população mundial era de 3,3 bilhões de

habitantes em 1965 e em 2005 havia chegado a 6,4 bilhões – um aumento de 93,5% em

quarenta anos. No mesmo período a produção de cereais avançou de 1,019 bilhões de

toneladas para 2,2 bilhões. O aumento na oferta deveu-se ao crescimento na produtividade,

conseguida graças à revolução verde (uso intensivo de fertilizantes, irrigação, sementes

melhoradas e produtos fitossanitários).

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Tabela 2 - Evolução da produção¹, produtividade e área colhida de cereais no mundo

Ano

Produção Mundial

(em mil toneladas)

Produtividade¹

(t/Ha.)

Produção per

capita¹ (MT)

Área colhida¹

(Ha./capita)

1965 1.019.465 1,493 0,306 0,205

1975 1.413.245 1,905 0,347 0,182

1985 1.911.683 2,496 0,396 0,159

1995 2.013.428 2,716 0,355 0,131

2005 2.219 400 3,255 0,344 0,106

Fonte: Faostat (2005) e Scolari (2005)

¹ Arroz, aveia, centeio, milheto, milho, cevada, soja, sorgo, trigo, triticale.

A produção mundial de cereais per capita apresentou crescimento de quase 30% no

período 1965/1985, quando evoluiu de 0,306 para 0,396 toneladas métricas. Em 1995 recuou

para 0,355 e em 2005 voltou a cair para 0,344 toneladas métricas per capita – o que nos

permite concluir que não houve alteração significativa na produção mundial per capita.

Scolari (2005) afirma que nos últimos anos o crescimento da produtividade tem

ocorrido a taxas decrescentes - no período 1965/1990 o crescimento foi de 81% e no período

1990/2005 foi de 20%. A conclusão do autor não parece tão evidente, pois o mesmo divide o

crescimento da produtividade em dois períodos – o primeiro num espaço de 25 anos e o

segundo num espaço de 15 anos.

De acordo com Scolari (2005), a área colhida total em 1965 foi de 683 milhões de

hectares, elevando para 758 milhões em 1990, mas recuando para 681,7 milhões em 2005. O

autor conclui que a disponibilidade de terra cultivada por habitante está diminuindo ao

analisar a grande alteração percentual na área colhida per capita, que em 1965 foi de 0,205

hectares, em 1980 foi de 0,171 e em 2005 foi de 0,106 hectares. A relação área colhida por

habitante leva à conclusão que houve significativos ganhos de produtividade nos últimos 40

anos.

Page 25: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

13

4.3. Choques Climáticos

Os choques climáticos são outra explicação para o aumento dos preços, pois afetaram

principalmente a produção de trigo na Austrália e em menor intensidade nos Estados Unidos,

Rússia e Ucrânia nos anos 2005 e 2006. Apesar de a produção ter diminuído em diversos

países, a mesma foi compensada pelo aumento em outros, como na Argentina.

Para Mitchell (2008), a diminuição dos estoques de grãos leva a uma maior

volatilidade do que se causada pelas discrepâncias entre a oferta e demanda. Segundo o autor,

efeitos climáticos afetaram numa maior intensidade as culturas de trigo e milho, sendo que a

produção mundial de trigo da safra 2005/2006 atingiu o menor nível desde os anos 1970. A

Austrália sofreu uma severa seca, colhendo cerca de 60 por cento a menos de trigo e 51 por

cento menos outros grãos durante a safra 2006/2007 quando comparado à safra anterior. Se

somadas as produções da Austrália, Comunidade Européia e Estados Unidos, houve uma

produção menor de grãos de 57 milhões de toneladas que o ano anterior.

Heady & Fan (2008) afirmam que os choques climáticos oferecem outra explicação

para os aumentos de preços, especialmente no caso do trigo. Os Estados Unidos também

vivenciaram em 2006 uma colheita 14 por cento menor à do ano anterior, enquanto outros

países como a Rússia e Ucrânia, por sua vez, tiveram declínio na produção mas numa menor

intensidade. No entanto, os autores alertam ainda para a necessidade de uma melhor análise

dos dados, sugerindo que essa explicação não parece tão convincente quanto parece. Segundo

eles, o maior problema é que quedas na produção agrícola ocorrem com certa freqüência,

principalmente no caso do trigo. A produção mundial de trigo recuou 5 por cento em

2006/2007, mas também diminuiu 11 por cento em 2000/2001 e 6 por cento em 1993/1994, e

se analisada a produção norte americana isoladamente, também observamos variações

frequentes. O ano de 2007 foi marcado pelo declínio na produção de trigo em diversos países,

mas houve superproduções na Argentina, Kazaquistão, Rússia e nos Estados Unidos. De

forma semelhante essa compensação ocorreu na produção mundial de grãos, com a queda de

1,3% na produção em 2006 e o aumento de 4,7% no ano seguinte. Por essas razões, Heady &

Fan (2008) concluem que as variações de produção são recorrentes e as mudanças climáticas

não podem ser apontadas como uma das causas do aumento dos preços agrícolas.

Page 26: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

14

De acordo com Mitchell (2008), a diminuição na produção de grãos não teria sido por

si mesma, o maior motivo para o aumento dos preços. O autor afirma que os choques

climáticos somado a outros fatores, como o aumento da produção de biocombustíveis e a

diminuição dos estoques de grãos sem dúvida contribuíram para a alta dos preços.

4.4. Especulação Financeira

A especulação financeira nos mercados futuros das commodities agrícolas chegou a

ser apontada como o ápice da alta dos preços dos alimentos, além dos fatores estruturais e

clássicos. Alguns autores apontam que a especulação financeira poderia explicar não o

fenômeno em si, mas o ritmo com que a alta dos preços se sucedeu. Os fundos de

investimento teriam tido um papel fundamental na alta dos preços das commodities agrícolas

em 2006 e 2007 e na rápida queda no momento posterior. Esses fundos venderam

praticamente todos os contratos de futuros de commodities agrícolas para saldar posições de

bancos com problemas, o que teria acelerado a tendência de baixa dos preços agrícolas.

O mercado futuro envolve um vendedor e um comprador que se prontificam a

negociar uma quantidade de um produto, a um determinado preço e a ser entregue em uma

data futura. Esse mecanismo permite ao vendedor (ex. produtor) a destinar recursos a uma

cultura que lhe trará retornos satisfatórios. Esse mecanismo permite que os produtores se

beneficiem ao se protegerem de risco de queda dos preços de seus produtos ao assegurar um

preço futuro para sua cultura.

Mitchell (2008) afirma que a especulação e o aumento do número de contratos na

Bolsa de Chicago de 2002 a 2006 tenham contribuído para o aumento dos preços. O autor

afirma que o número de contratos futuros do trigo quadruplicou, apesar de não ter refletido

significativamente no aumento de preços do grão – o que levanta uma dúvida com relação ao

impacto nos preços. Uma provável razão para o aumento do preço do trigo pode estar

relacionada ao fato de produtores destinarem áreas da cultura para a produção de soja e/ou

milho para a produção de bicombustíveis. O autor admite que é difícil quantificar o impacto

nos preços e que a maioria dos estudos não encontra evidência de que o maior número de

contratos futuros tenha afetado diretamente os preços, mas pode ter levado-os a um patamar

superior.

Page 27: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

15

Para De La Torre Ugarte & Murphy (2008), a demanda especulativa teve um efeito

maior na subida dos preços agrícolas e não teria sido a causa em si. Segundo os autores, os

fundos de índices agrícolas assumiram posições em excesso ao tentar equilibrar suas carteiras

agrícolas de commodities com outros produtos, como energia e minerais. Essas posições

teriam levado dois dos maiores fundos a “segurarem” posições de 1,5 bilhões de bushels

enquanto o total de posições de todos os fundos era pouco superior a 2.2 bilhões de bushels.

Heady & Fan (2008) descartam a especulação financeira ao afirmarem que essa razão

foi apontada por muitos autores, mas que a mesma foi superficialmente analisada. Esses

autores apontam que o aumento de não produtores e especuladores no mercado futuro não

pode ser considerado como uma causa do aumento dos preços, sendo que a especulação é

mais um sintoma da volatilidade do que a causa dessa volatilidade. Estudo do Conference

Board of Canada – CBC (2008) também não encontra evidencia que a especulação financeira

tenha sido uma das principais causas do aumento dos preços das commodities. O estudo

aponta que somente quando há volatilidade no preço das commodities que os especuladores

procuram obter ganhos com as alterações de preços, e que o aumento dos negócios no

mercado futuro estaria ligado ao efeito ao invés de uma causa no aumento dos preços

agrícolas. O estudo recomenda que os governantes não se preocupem com o aumento dos

contratos futuros, mas sim em ajustar as regras da atividade.

4.5. Diminuição das Taxas de Juros

Outra hipótese está relacionada à diminuição das taxas de juros, principalmente nos

Estados Unidos, que teria levado a um aumento nos preços de diversos produtos agrícolas. A

diminuição das taxas de juros teria levado a um aumento de estoques e encorajariam

investidores a procurar contratos agrícolas ao invés de obterem os baixos retornos com os

títulos do governo americano. Claramente houve aumento da procura por ouro e petróleo, mas

não há clara evidência que o mesmo tenha ocorrido com as commodities agrícolas.

O aumento dos preços se dá basicamente pela menor oferta de determinado produto e

devido a aspectos macroeconômicos que se ajustam ao ambiente de mercado. Dentre os

aspectos macroeconômicos, o mais notável e diretamente relacionado é a taxa de cambio –

que determina como os preços mundiais são transformados em preços domésticos.

Page 28: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

16

4.6. Depreciação da moeda americana

A depreciação da moeda americana é apontada por Mitchell (2008) e Abbott et al.

(2008) como uma das causas do aumento dos preços agrícolas já que o dólar se depreciou

35% em relação ao euro do início de 2002 até meados de 2008. Abbott et al. (2008) afirmam

que o enfraquecimento da moeda americana leva a um aumento das exportações agrícolas dos

EUA (ceteris paribus). Sendo assim, a depreciação do dólar elevaria os preços das

commodities nos Estados Unidos, mas diminuiria no resto do mundo já que a maioria das

commodities (incluindo petróleo e grãos) é cotada em dólares, mas comprados em moedas

locais. Com a queda do dólar, como ocorreu nos últimos seis anos, houve o aumento dos

preços das commodities tanto de grãos quanto do petróleo, indicando para os autores, que a

relação entre a taxa de câmbio e os preços das commodities tem uma relação positiva. Os

autores encontram que de 2002 a 2007 a moeda americana se depreciou 22 por cento

enquanto o valor das exportações agrícolas se elevou em 54 por cento ao analisar o índice de

comércio agrícola da USDA e compará-lo a moeda americana corrente e deflacionada.

Heady & Fan (2008) fazem outra análise comparativa ao assumir que os EUA têm

uma importante participação no mercado agrícola internacional – principalmente em

commodities como a soja, milho e o trigo. Segundo os autores a depreciação da moeda

americana seria responsável por um aumento de 20 a 30% do índice de preços em dólar.

Mitchell (2008) calcula que a depreciação do dólar levou a um aumento de 20% (26% x 0,75)

nos preços das commodities agrícolas, assumindo uma elasticidade de 0,75 e uma depreciação

do dólar de 26% em relação às moedas asiáticas.

Para De La Torre Ugarte & Murphy (2008), a depreciação do dólar americano frente a

outras moedas pode ter parcialmente afetado os aumentos de preços em alguns países. Por

exemplo, países que tiveram uma apreciação da moeda em 30 por cento sobre o dólar, se

beneficiaram com uma queda dos preços das commodities agrícolas importadas já que essas

commodities são cotadas na moeda americana.

Page 29: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

17

4.7. Aumento dos Preços do Petróleo

Do lado da oferta, a alta do petróleo exerce influência direta na alta dos preços das

commodities, pois seus derivados são utilizados como insumos agrícolas (fertilizantes, diesel,

etc), resultando em um aumento dos custos de produção para os agricultores. Quando

analisamos as culturas de trigo e milho, vemos que os preços dos fertilizantes respondem por

20% dos custos de produção.

O forte crescimento global de 2004 a 2007 elevou o preço do barril do petróleo de 30

dólares no inicio de 2003 para mais de 140 em meados de 2008 - algo como 35 por cento

acima do recorde em 1979 em valores atuais (Figura 4).

Os altos custos do petróleo elevam os custos de transporte e aumentam os incentivos

para se produzir bicombustíveis e criar políticas em sua defesa. Para complicar, o aumento do

preço do petróleo encareceu os custos de transportes dos produtos agrícolas. E a maioria dos

países de baixa renda importa boa parte dos alimentos que consome. Para Mitchell (2008) os

preços do petróleo contribuíram para um aumento entre 15-20 por cento nos custos de

produção de alimentos e transporte nos Estados Unidos.

Figura 4 – Preço Mensal do Barril do Petróleo (FOB) - em Dólares

Fonte: Elaboração própria.

Dados disponíveis em: http://tonto.eia.doe.gov/dnav/pet/hist/wtotworldw.htm

Page 30: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

18

A produção mundial de petróleo não se elevou na mesma proporção que a crescente

demanda em todo o mundo. Os altos preços do petróleo refletiram a expectativa de que

somente esses altos preços induziriam os investimentos necessários para satisfazer a demanda,

pois os custos de investimentos para aumentar a produção seriam maiores. Outras condições

que pressionaram o valor do petróleo foram a diminuição das taxas de juros nos Estados

Unidos e a depreciação do dólar americano. Por outro lado, não existe evidencia de que esse

aumento do preço do petróleo tenha sido influenciado por qualquer commodity agrícola ou

não agrícola.

Heady & Fan (2008) afirmam que o aumento dos preços dos combustíveis e

fertilizantes tenha aumentado de 30 a 40% os custos de produção do milho, trigo e soja nos

Estados Unidos. Segundo Mitchell (2008), a alta do petróleo elevou os preços de commodities

como o milho, trigo e soja entre 20 e 30%. Para o autor, se combinadas as altas do petróleo e

o enfraquecimento do dólar americano, o preço das commodities sofreu um aumento de 35 a

40 por cento entre o ano de 2002 e meados de 2008.

4.8. Expansão dos Biocombustíveis

A influência dos preços do petróleo nas cotações das commodities agrícolas se torna

ainda mais importante ao analisarmos a elevação da participação das fontes agrícolas de

energias renováveis como busca pela menor dependência dos combustíveis fósseis. Além da

busca por essa menor dependência, a produção de biocombustíveis teve incentivos públicos

de países como os Estados Unidos, União Européia e China diante dos efeitos positivos na

redução da emissão dos gases de efeito estufa.

A elevação do preço do petróleo fez com que os biocombustíveis se tornassem viáveis

e uma rápida solução contra os aumentos dos derivados de petróleo. A demanda por

biocombustíveis aumentou desde 2003 e é apontada por muitos autores como uma forte razão

para o aumento de preços de diferentes commodities (milho, soja, trigo, arroz, etc),

especialmente se considerado o efeito substituição.

Segundo Trostle (2008), a utilização do milho para produção de etanol saltou de 1

bilhão de bushels em 2002/2003 para uma estimativa de 3,1 bilhões na safra 2007/2008. Esse

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19

aumento levou os EUA a destinar 24 por cento da produção do grão para a produção de

etanol, enquanto na safra 2002/2003 só 10 por cento do grão tinha o mesmo fim. Ao analisar

os dados da quantidade de milho produzida nos EUA destinada à produção de etanol, Trostle

(2008) afirma que foram poucos os efeitos no mercado mundial nas décadas de 1980 e 1990.

Oliveira (2008) também aponta que o aumento do milho no mercado internacional,

devido à produção de etanol pelos EUA, causou aumento nos preços do arroz, soja e trigo já

que muitos produtores direcionaram a produção agrícola para o milho.

Segundo Heady & Fan (2008), apesar do forte aumento da produção de milho nos

Estados Unidos destinada à produção de etanol, a indústria americana de biocombustíveis foi

responsável por 70% desse aumento de produção entre os anos de 2004 e 2007. Em 2008, o

anúncio do Departamento de Agricultura de Estados Unidos em incentivar a produção de

etanol com base na utilização de milho é que pressionou ainda mais o preço do grão. Outros

estudos indicam que os biocombustíveis tenham resultado num aumento de 60 a 70% no

preço do milho e ao redor de 40% no preço da soja.

Benjamin & Bigot (2007) identificam os fatores que alteram o equilíbrio entre a oferta

e a demanda por produtos agrícolas no longo prazo, ao analisar commodities como trigo,

milho, sorgo, triticale, arroz, soja e girassol. Os autores utilizam um modelo de equilíbrio

parcial específico para as culturas mencionadas – WEMAC (World Econometric Modeling of

Arable Crops) e identificam que mesmo que os incentivos para produção de biocombustíveis

influenciam significativamente os mercados, há outros fatores que também impactam os

mercados – como o crescimento dos países em desenvolvimento.

Os autores ainda apontam sobre as possíveis conseqüências de um fortalecimento do

mercado mundial de etanol, onde o Brasil é o maior produtor mundial de etanol com a

utilização de cana-de-açúcar e o custo de produção de um litro de etanol com a cana-de-

açúcar seria 50% menor que o produzido nos EUA utilizando o milho.

Matos et al. (2008) analisam a relação da produção de etanol a partir da cana-de-

açúcar no Brasil e a evolução da produção brasileira de grãos. Os autores afirmam não haver

correlação direta da produção de etanol com os preços dos alimentos, pois “o aumento da

Page 32: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

20

produção nacional de etanol não resultou em queda na quantidade de grãos produzidos

internamente”.

De La Torre Ugarte & Murphy (2008) apontam que a demanda por bicombustíveis se

intensificou entre 2004/2005, pressionando ainda mais os baixos estoques de grãos e

conseqüentemente os preços entre 2005/2006. Para os autores, há estimativas que variam

desde um pequeno percentual até setenta por cento no “peso” dos biocombustíveis no

aumento dos preços das commodities agrícolas.

Segundo um estudo recente publicado pelo Banco Mundial (2008), 65% da alta no

preço dos alimentos se deve à demanda de matérias-primas para a produção de

biocombustíveis, sendo o milho o principal responsável.

Mitchell (2008) afirma que no ano de 2007, cerca de sete por cento de toda a oferta de

óleos vegetais foi utilizada para a produção de biodiesel e que um terço do aumento dos óleos

vegetais foi devido ao biodiesel. Segundo o autor, enquanto a União Européia elevou suas

importações de 4,4 para 6,9 milhões de toneladas de óleos vegetais entre 2000 e 2007, os

Estados Unidos elevaram suas participações de 1,7 para 2,9 toneladas no mesmo período.

Esses dados nos mostram que os americanos tiveram um aumento percentual superior aos

Europeus, basicamente pela política existente de aumentar o uso dos biocombustíveis. A

produção de etanol de cana-de-açúcar também é analisada por Mitchell (2008), que afirma

que a produção brasileira de etanol não contribuiu de forma significativa para os aumentos

recentes dos preços agrícolas, já que a produção aumentou rapidamente nos últimos anos mas

as exportações de açúcar quase triplicaram desde o ano 2000.

O Brasil destina cerca da metade de sua produção de cana para produzir etanol e a

outra metade para produzir açúcar. Nos últimos anos, a produção de açúcar foi grande o

suficiente para aumentar a produção de 17.1 milhões de toneladas no ano 2000 para 32,1

milhões de toneladas em 2007 e elevar as exportações de 7,7 para 20,6 milhões de toneladas

no mesmo período.

Page 33: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

21

4.9. Diminuição dos Estoques Mundiais

A diminuição dos estoques, que tradicionalmente está associada a choques como a

seca ou outro problema climático, pode ter influenciado a volatilidade dos preços. A

diminuição dos estoques pode simplesmente refletir o aumento da demanda ou diminuição da

produção. Os biocombustíveis foram fortemente apontados como a causa da diminuição dos

estoques de milho, enquanto problemas climáticos afetaram mais a produção de trigo.

Heady & Fan (2008) apontam causas que podem ter influenciado a diminuição dos

estoques. Primeiro, apontam os altos estoques e baixos preços até o ano 2000 que levaria à

natural diminuição dos estoques. Segundo, a diminuição dos estoques seria uma estratégia

para aumentar a eficiência das firmas e o próprio estoque de alguns países. Essa razão é difícil

ser apontada como relevante para o aumento dos preços agrícolas.

A OCDE (2006) e o Banco Mundial (2008) prevêem um período de redução nos

estoques mundiais de alimentos em relação aos níveis do início da década. Esses organismos

internacionais estimam que essa redução deverá se estender, no mínimo, até 2017 dependendo

do produto e até aquele ano os preços se manterão elevados, encerrando um período de mais

de 20 anos de comida barata.

Tabela 3 – Estoque Mundial de Cereais (em milhões de toneladas)

ANO 2004 2005 2006 2007 2008* 2009**

TOTAL EM TONELADAS 418.4 470.1 468.8 430.5 444.6 531.5

* Estimativa / ** Previsão

Fonte: FAO

O caso do milho se agravou em função do anúncio do ambicioso plano do governo

americano de produção de biocombustíveis, tendo como base o milho, com o objetivo de

substituir em 20% o consumo de gasolina por etanol derivado do milho em 10 anos. Para

tanto, a oferta de milho deveria aumentar de aproximadamente 30 milhões de toneladas em

2006 para 110 milhões de toneladas em 2016, o que levou os estoques mundiais de milho a

baixarem 15% em comparação à média 2002-06 (Guanziroli, 2008).

Page 34: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

22

A FAO considera que uma redução de 17 por cento dos estoques mundiais levaria ao

menor nível já atingido no mundo – o que equivaleria à demanda mundial de dois meses.

Uma das razões para a redução dos estoques estaria relacionada à decisão de 1996 do governo

norte-americano em eliminar as políticas de gestão de estoques existentes desde a década de

30 .

A nova política norte-americana estaria em deixar a cargo do setor privado a

manutenção dos estoques de grãos. Como os Estados Unidos são grandes produtores e

exportadores de diversos produtos agrícolas, tal política contribuiu para influenciar os níveis

de estoque e de preços em todo o mundo. Assim como os Estados Unidos, a União Européia

também abandonou a manutenção de estoques como uma ferramenta de política agrícola e

essa orientação foi dada pelo Banco Mundial e FMI aos países menos desenvolvidos.

Segundo De La Torre Ugarte & Murphy (2008) essa política insistia no fato da

globalização ser benéfica ao reduzir as necessidades dos países manterem estoques, já que

sempre haveria oferta em algum país do mundo. Na prática houve mudanças na agricultura

como no setor industrial, que passou a trabalhar com a quantidade necessária de insumos para

produzir e reduzir custos com esses estoques. Segundo os autores, a redução de custos através

de menores estoques não foi suficiente para elevar significativamente os preços agrícolas,

pelo fato do menor nível de estoque dos últimos 25 anos não ter levado à imediata alta dos

preços.

Mitchell (2008) acredita que de 35 a 40 por cento do aumento das commodities

agrícolas teve como causa a combinação dos altos preços do petróleo, fertilizantes e custos de

transporte e da moeda americana. Esses fatores seriam responsáveis por 25-30 por centro do

total do aumento dos preços, enquanto os restantes 70-75 por cento teriam como causa os

bicombustíveis, menor nível dos estoques, substituição de culturas cultivadas, especulação

financeira e entraves às exportações.

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23

5. DESAFIOS AO AUMENTO DOS PREÇOS DOS ALIMENTOS

No final de 2007 a FAO fez um alerta sobre a necessidade de medidas urgentes para

proteger as populações pobres diante do aumento dos preços dos alimentos. O documento da

FAO ressalta que a segurança alimentar está sendo adversamente afetada pela escalada dos

preços dos alimentos básicos decorrente de estoques baixos devido às secas, inundações,

mudanças climáticas, preço elevado do petróleo e demanda crescente para biocombustíveis

(FAO, 2007).

A segurança alimentar era compreendida como uma questão de disponibilidade

insuficiente de alimentos, principalmente nos países pobres, incapazes de produzir a

quantidade necessária. Segundo Valente et al (2007), para enfrentar esse problema foram

adotadas duas estratégias: assistência alimentar a partir dos excedentes dos países ricos e

indução da Revolução Verde, para aumentar a produtividade das lavouras com o emprego de

novas variedades e uso intensivo de insumos químicos. Foi essa Revolução Verde que

proporcionou ganhos de produtividade, gerando excedentes, aumento dos estoques e

diminuição de preços, mas não diminuiu o número de famintos do mundo, até porque a

mudança tecnológica na agricultura induziu o êxodo rural com graves conseqüências sociais e

econômicas.

A insegurança alimentar só foi reconhecida no final dos anos 80 e não tinha origem na

oferta, mas na pobreza que inviabilizava o acesso aos alimentos. Foi nessa década que o

conceito passou a envolver também os aspectos nutricionais e sanitários, passando a ser

denominada segurança alimentar e nutricional. Chegou-se, então, ao conceito de segurança

alimentar caracterizada pela situação em que todos têm acesso físico e econômico à

alimentação adequada, sem risco de desabastecimento.

Essa definição envolve três aspectos: disponibilidade, estabilidade e acesso.

Disponibilidade significa que, em média, a oferta de alimentos é suficiente para atender às

necessidades de consumo de toda a população. Estabilidade refere-se à probabilidade mínima

de que o consumo de alimentos possa cair abaixo do nível adequado de abastecimento, como

resultado de variações da oferta. Acesso está relacionado à capacidade de produzir ou

Page 36: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

24

comprar os alimentos necessários, dado que, mesmo em presença de abundância e

estabilidade da oferta, muitos podem passar fome por insuficiência de recursos.

Se por um lado o aumento dos preços das principais commodities agrícolas eleva a

inflação e trás preocupação aos governantes, por outro o agricultor poderia se beneficiar da

alta dos preços e se beneficiar com uma maior renda. A parte negativa da história é que nem

todos os preços de produtos agrícolas subiram no ritmo e proporção do arroz, milho, trigo e

também da soja. Além disso, o preço dos insumos agrícolas disparou para níveis nunca antes

vistos. O fosfato, matéria-prima básica para a produção de fertilizantes, subiu 149,7% no

mercado internacional no comparativo do primeiro trimestre de 2008 com o mesmo período

do ano anterior. Essa alta superou em muito o petróleo, que teve um aumento de cerca de 60

por cento no mesmo período. Outros insumos também aumentaram como o preço das

sementes, da mão-de-obra e das máquinas agrícolas.

Segundo o Banco Mundial (2008), o aumento dos preços não será pontual, devendo os

países encontrar meios de aumentar a produção de alimentos e proteger as camadas da

população mais pobres. Se um país é importador líquido de alimentos, sua população será

mais afetada pelos aumentos dos preços, já que a maior parte de suas rendas é destinada à

aquisição de alimentos, o que leva a uma redução da renda e conseqüentemente afetando a

saúde das camadas mais necessitadas.

Outro ponto é que o aumento dos preços pode criar conseqüências negativas até para

os países exportadores líquidos de alimentos, que pode ter uma redução em sua balança

comercial, dependendo da composição dos produtos que importam e exportam.

Page 37: crise mundial nos preços dos alimentos: oportunidades e desafios ...

25

6. OPORTUNIDADES PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

6.1 Importância Econômico-Social do Agronegócio Brasileiro

No aspecto social, a agricultura é o setor econômico que mais ocupa mão-de-obra, ao

redor de 17 milhões de pessoas, que somados a 10 milhões dos demais componentes do

agronegócio, representa 27 milhões de pessoas no total (37% dos empregos brasileiros). A

agricultura também ocupa mais mão-de-obra em relação ao valor de produção: para cada R$ 1

milhão de produção, o número de ocupados, em 1995, era de 182 para a agropecuária, 25 para

a extração mineral, 38 para a construção civil. (Scolari, 2005).

Segundo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA (2006), o agronegócio é o

maior negócio mundial e brasileiro. No mundo, representa a geração de U$ 6,5 trilhões/ano e,

no Brasil, em torno de R$ 350 bilhões. O agronegócio é responsável por 33% do Produto

Interno Bruto (PIB) e 42% das exportações totais, segundo a CNA (2006). A maior parte

deste montante refere-se a negócios fora das porteiras, abrangendo o suprimento de insumos,

o beneficiamento/processamento das matérias-primas e a distribuição dos produtos.

No contexto da recente crise mundial, o agronegócio minimizou os desequilíbrios das

contas externas do Brasil, contribuindo para saldos comerciais positivos (Tabela 4).

Tabela 4 – Balança comercial do agronegócio brasileiro (US$ milhões)

Ano Exportações Importações Saldo

2000 US$ 20,6 US$ 5,7 US$ 14,8

2001 US$ 23,8 US$ 4,8 US$ 19,0

2002 US$ 24,8 US$ 4,4 US$ 20,3

2003 US$ 30,6 US$ 4,7 US$ 25,8

2004 US$ 39,0 US$ 4,8 US$ 34,1

2005 US$ 43,6 US$ 5,1 US$ 38,5

2006 US$ 49,5 US$ 6,7 US$ 42,8

2007 US$ 58,4 US$ 8,7 US$ 49,7

2008 US$ 71,8 US$ 11,8 US$ 59,9

Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

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26

6.2 Disponibilidade de Terras no Brasil

Na maioria dos países grande parte das florestas já foi derrubada e praticamente não

existem mais áreas de reserva para serem utilizadas na expansão da fronteira agrícola. Em

vários países asiáticos e africanos, onde existe uma demanda reprimida muito grande por

alimentos, a oferta de terras apropriadas para cultivos é baixa. Em muitas situações, já houve

enorme degradação e o saldo ambiental é uma enorme poluição de resíduos e rejeitos

ambientais. A capacidade de absorção e de regeneração do meio ambiente (também chamada

de resiliência) pode estar seriamente comprometida, pois é muito difícil controlar a

degradação ambiental em países de baixa renda e com forte crescimento populacional.

Segundo Matos et al., (2008), o Brasil possui uma área total de terras de 835,5 milhões

de hectares dos quais 284,2 milhões (34% da área total) são utilizados para a agricultura. Para

efeito de comparação, outros grandes produtores mundiais como a China e Estados Unidos

utilizam um percentual maior de suas áreas totais. A China destina 59% de toda sua área

(932,7 milhões) para a agricultura, enquanto os Estados Unidos utilizam 45% da área total

(915,9 milhões) para a agricultura.

O Brasil possui o potencial para se consolidar como o maior país agrícola do mundo,

devido à disponibilidade de terras aráveis. Dessa forma, a produção agrícola brasileira (grãos,

frutas e cana-de-açúcar) está presente em 62,9 milhões de hectares, ainda disponíveis 330,8

milhões de hectares de pastagens e terras não utilizadas (Matos et al., 2008).

Segundo Scolari (2005), em 1961 a agricultura utilizava 4,5 bilhões de hectares, o que

representava 34,5% da área total mundial de terras de 13,0 bilhões de hectares. No ano 2000,

5,0 bilhões que hectares eram utilizados na agricultura, equivalendo a 38,3% de toda a área.

Por sua vez, Borlaug (1997) estimou que 1,3 bilhão de hectares não cultivados no mundo

poderiam ser destinados ao uso da agricultura. Para o autor, a América do Sul teria

disponíveis 50% da área total, principalmente nos cerrados do Brasil, Colômbia e Venezuela e

44,6% estariam na África.

Sem dúvida, o Brasil seria o país com maior possibilidade de tanto aumentar sua área

agrícola como obter significativos ganhos de produtividade, enquanto em outros países a

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27

tecnologia disponível e as condições de produção (logística, infra-estrutura, mão de obra, etc)

ainda não são adequadas. Segundo Scolari (2005), os países desenvolvidos estariam limitados

tanto na expansão da fronteira agrícola quanto na tecnologia disponível, além de nesses países

a alimentação representar uma parcela pequena da renda da população.

Para Scolari (2005) seria possível o Brasil incorporar mais 45,9 milhões de hectares ao

processo produtivo de modo sustentável, aumentando a área de terras protegidas e as áreas de

florestas. Tal incorporação aumentaria a área total da agricultura para 321 milhões de

hectares, ocupando menos de 39% da área total de terras no país.

Segundo o mais recente estudo realizado pelo WWF Brasil (2009), há no país pelo

menos 70,8 milhões de hectares que podem ser destinados à exploração agrícola sem que os

produtores avancem no bioma amazônico ou firam a atual legislação que protege o que restou

do cerrado brasileiro. A área calculada é um pouco menor do que as estimativas de 90 milhões

ou 100 milhões de hectares que circulam em eventos ligados ao agronegócio. Para o WWF

Brasil boa parte da área potencial estimada é formada por pastos degradados localizados em

regiões agrícolas já consolidadas (16,1 milhões de hectares), e a mudança de perfil depende

de uma política de incentivos inexistente no Brasil.

6.3 Capacidade de Produção e Ganhos de Produtividade no Brasil

Ao comparar a produção de cereais no mundo entre os anos de 1965 e 2005, Scolari

(2005) apresenta números interessantes. Em 1965 a produção mundial de cereais foi de 1.019

bilhões de toneladas em uma área colhida de 682.9 milhões de hectares, o que resulta em uma

produtividade media de 1.493 kg/ha. No ano de 2005, com uma população 93% maior que 40

anos atrás, a área colhida foi de 681.7 milhões de hectares e uma produção de 2.219,4 bilhões

de toneladas, resultando numa produtividade media de 3.255 kg/ha.

O aumento de produtividade nos últimos 40 anos se deu em grande parte devido à

disponibilidade de recursos naturais (terra e clima), insumos de melhor qualidade (sementes

fiscalizadas, fertilizantes, defensivos, etc.) e mão de obra barata e abundante.

A produção agrícola brasileira apresentou tendência de crescimento linear ao longo

dos anos, passando de 57,90 milhões de toneladas em 1990/91 para 143,28 milhões nas

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28

projeções da safra 2007/08, evolução de 147,46%. Já a área plantada apresentou oscilações no

período analisado, mostrando um crescimento de 24,29%, o que revela o incremento da

produtividade agrícola no Brasil nas últimas décadas. Em 1961, a produtividade média era de

389 kg/ha., em 1980 era de 478 kg/ha., em 1990 era de 636 kg/ha. e em 2004 era de 785

kg/ha. Segundo Matos et al (2008), houve uma estabilidade ou até mesmo um pequeno

declínio na produção per capita.

Um exemplo do potencial produtivo brasileiro a ser destacado é o avanço da

agricultura no cerrado do Centro Oeste brasileiro. Considerado por muito tempo como um

bioma de solos pobres e vegetação sem valor comercial, o cerrado passou a ganhar

importância a partir da década de 1970, época em que passou a ser considerado uma

possibilidade de expansão de fronteira agrícola, mas que apresentava empecilhos que exigiam

estudo e investimos para elevar sua produtividade. A nova fronteira do cerrado foi possível

graças ao uso de fertilizantes e a utilização da calagem e do gesso agrícola. (WWF, 2009)

De acordo com Gasques et al. (2004), o Brasil é o país que possui a maior

produtividade mundial na agropecuária. Comparado com os Estados Unidos, a China e outros

países, o Brasil poderia ampliar a produção sem expandir a área plantada, aumentar o uso de

insumos ou elevar o emprego de mão de obra. Uma das conclusões do estudo é de que o

agricultor executa cada vez mais tarefas e serviços em menos tempo (produtividade da mão de

obra) e mostra que esse foi o item com a maior taxa de desenvolvimento médio anual desde

1975, 4,09%. Segundo os autores, no ranking das taxas de produtividade, o segundo maior

índice é o da terra (3,55% ao ano), em terceiro lugar fica com o capital aplicado (3,37%) -

indicador de que a mesma quantidade de recursos, máquinas e equipamentos pode fazer mais

por uma área a cada ano que passa. Nos últimos 33 anos, o produto agropecuário (tudo que a

agricultura e a pecuária produzem em um ano) cresceu a uma taxa média anual de 3,68%. Em

contrapartida, o índice que mede a expansão de insumos teve variação de 0,01% e, o de uso

das terras, 0,12% no período.

O estudo de Gasques et al. (2004) evidencia que a mecanização no campo foi

relevante, mas não foi determinante para uma produtividade maior que a de outros países. O

fator crucial que proporcionou um salto nos resultados foi melhoramento genético de plantas e

animais, permitindo aumento expressivo de toneladas por hectare.

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29

A mesa farta dos brasileiros é conseqüência direta da alta produtividade no campo. À

medida que o produtor consegue obter, com menos custo, maiores níveis de produtividade,

aumenta a oferta de alimentos diminuindo a pressão nos preços ou escassez de produtos.

6.4. Desenvolvimento Tecnológico Atual

Sem nenhuma sobra de dúvidas as inovações tecnológicas foram as principais

responsáveis pelo desenvolvimento do agronegócio nacional. Além das inovações

tecnológicas ocorridas na maquinaria agrícola, houve evolução no consumo de calcário,

fertilizantes e insumos químicos (principalmente nos produtos fitossanitários), nas praticas

culturais de manejo das lavouras e na utilização de novos materiais genéticos, mais produtivos

e mais resistentes ao ataque de pragas e doenças.

Os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento agropecuário do país coordenado pela

Embrapa são à base do sucesso da produção agrícola brasileira. A incorporação efetiva da

região dos cerrados para a produção de grãos e carne, só foi possível a partir das inovações

tecnológicas geradas a partir de 1980. Os programas de melhoramento genético das principais

instituições de ciência e tecnologia do país tiveram sucesso e conseguiram disponibilizar

novas variedades mais produtivas para todas as culturas importantes e para todas as regiões

produtoras.

Segundo Scolari (2005), o Brasil é que o país dispõe de moderna legislação sobre a

geração, proteção, registro, certificação, produção e comercialização de sementes e mudas,

um eficiente sistema de produção e comercialização de sementes básicas e certificadas e uma

entidade de classe representada pela ABRASEM. O autor ainda destaca a boa capacidade

instalada de fabricação de equipamentos agrícolas no país, e que está se tornando um grande

centro mundial de produção e exportação, atendendo toda a demanda interna e ainda gerando

excedentes para exportar.

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30

7. DESAFIOS PARA O AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

7.1. Capacidade de Inovação Tecnológica

O mundo é um espaço econômico global e muito competitivo, onde a revolução

tecnológica é permanente e contínua, com descobertas científicas e avanços tecnológicos

acelerados e significativos, com novos métodos de produção e novos produtos, com muitas

cadeias produtivas integradas. Os países mais desenvolvidos são líderes na geração de

conhecimento e no processo de inovação de produtos de alta tecnologia, reservando aos

demais países um papel secundário. Neste ranking, o Brasil está numa posição intermediária,

ocupando a 27ª posição (2003) na exportação mundial de produtos de alta tecnologia (Scolari,

2005).

Nos países mais desenvolvidos os investimentos em ciência, tecnologia e inovação são

elevados, representam uma parcela significativa do Produto Interno Bruto (PIB), existe um

arcabouço legal adequado e modelos de gestão proativos, com forte participação de recursos

do estado na geração de novos conhecimentos, expressiva participação do setor privado

principalmente na inovação tecnológica, predomina uma cultura empresarial moderna e

empreendedora e existe um forte mercado de tecnologias.

Segundo a ANPEI (2005), o Brasil é responsável por 1,9% do PIB mundial e por 1,7%

da produção científica mundial, mas é detentor de apenas 0,2% das patentes. Somente um

pequeno percentual da ciência produzida é transformado em patentes e/ou pedidos de patentes

e ocorre uma grande concentração de cientistas nas universidades e/ou nos institutos públicos.

Além disso, o país investe pouco em Pesquisa e Desenvolvimento (P & D): o setor público

investe 0,6% do PIB em P & D e as empresas privadas investem 0,4% do PIB, percentual

muito menor do que ocorre nas empresas privadas em países como Coréia (1,9%) e Estados

Unidos (1,8%) e o setor público investe um pouco mais, 0,6% do PIB. A produção científica

nacional cresce 8% ao ano, a produção científica na agricultura é uma das maiores no mundo,

a formação de doutores evolui a 14% ao ano, mas a taxa de inovação tecnológica na indústria

brasileira não chega a 1% ao ano. O “gap tecnológico” em alguns setores da economia tem

aumentado em que pese os fortes investimentos feitos recentemente na importação de

tecnologias.

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31

Segundo Scolari (2005), em 2005 o Brasil caiu oito posições no ranking internacional

de competitividade (GCI) com relação à 2004, ficando em 65º lugar no mundo, sendo o 5º

país no ranking latino americano. Nos sub-índices verifica-se o baixo desempenho em

inovação, com o 50º lugar em tecnologia; ficou ainda pior em instituições públicas na 70ª

posição e em ambiente macroeconômico em 79º lugar.

Gasques et al. (2004) estimaram que na produtividade total na agricultura brasileira o

papel da pesquisa é muito mais importante do que o papel do crédito. Os impactos gerados

pelos lançamentos de cultivares da Embrapa (algodão, arroz, feijão, milho, soja e trigo) foram

estimados e o excedente econômico encontrado foi de R$ 5,7 bilhões, o que gera um valor

agregado de quase R$ 12 bilhões. Igualmente importantes são os serviços de extensão rural e

assistência técnica.

7.2. Deficiências de Infra-estrutura

Embora o Brasil seja líder mundial na produção de diversas commodities agrícolas,

existem sérios riscos de o país sofrer um pesado revés se os problemas relacionados à infra-

estrutura logística não forem solucionados. O agronegócio é justamente o que mais sofre com

a ineficiência dos canais de transporte, cujas deficiências são responsáveis por prejuízo

correspondente a 16% do PIB, segundo estudo do Centro de Estudos de Logística da

Universidade do Rio de Janeiro. Segundo a Confederação Nacional dos Transportes – CNT

(2003) há 80 anos, o País conta com a praticamente a mesma malha ferroviária; pequena

parcela (apenas cerca de 10%) das rodovias seria, segundo essa fonte, pavimentadas, e destas,

a maioria (mais de 80%) estaria em precário estado de conservação.

Este conjunto de dificuldades impõe aos exportadores brasileiros custos adicionais e

reduzem a competitividade. Os custos médios de transporte nos Estados Unidos (maior uso de

ferrovias e hidrovias) e na Argentina (menores distâncias rodoviárias), nossos maiores

concorrentes, são menores em 24 dólares por tonelada de soja e derivados exportados. Em

2003 as exportações do complexo soja alcançaram 35.978 mil t, significando custos

adicionais de 860 milhões de dólares (Scolari, 2005).

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32

Segundo Caixeta (2006) o transporte rodoviário representa 60% das cargas, 20% são

ferroviários e 15% hidroviário, existindo 160.000 km de rodovias pavimentadas contra apenas

30.000 de ferrovias. Mesmo assim a densidade é muito baixa, 19 km de rodovias por 1.000

km quadrado versus 397 km nos EUA e 1.491 km na França. Isto faz com que seja necessária

a utilização do modal rodoviário para o transporte de grande parte da produção de soja

brasileira, mesmo quando se trata de longas distâncias. O problema desta predominância

também se dá pelo baixo aproveitamento de transportes mais baratos e maiores custos de

transporte.

As principais rodovias de escoamento da produção sempre estão em estado precário de

conservação e muitos trechos rodoviários são quase intransitáveis na época das chuvas. Os

maiores gargalos ocorrem na região centro-oeste, principalmente nas rodovias secundárias de

acesso às zonas de produção onde quase todos os trechos não são pavimentados. As estradas

federais administradas pela União são na sua maioria considerada deficientes, existe

insegurança no transporte rodoviário, com elevado número de acidentes, a frota já está

ficando obsoleta, a regulação é deficiente, as regras de acesso a atividade são limitadas e a

fiscalização rodoviária é precária.

A malha ferroviária de transporte de carga agrícola é velha, obsoleta, mal conservada e

extremamente limitada. Existem poucos trechos ferroviários operacionais, não existem ramais

secundários nem infra-estrutura de transbordo de carga seca nas principais zonas produtoras.

Existem numerosos pontos críticos nas linhas principalmente nos centros urbanos e

interligação deficiente com zonas portuárias, resultando em tempo de trânsito muito elevado e

baixa capacidade operacional. Não existe disponibilidade nem de locomotivas nem de vagões

ferroviários adicionais, devido à demanda de outros setores como siderurgia, cimento,

celulose e papel, ferro gusa e químicos derivados do petróleo. Já as hidrovias, embora sejam o

meio mais barato de transporte, são pouco utilizadas e quase inexistentes.

Os portos brasileiros são antigos, mal dimensionados, mal equipados, obsoletos, mal

localizados, de difícil acesso, pouco operacionais e caros. Embora a privatização tenha

contribuído para a modernização dos portos, o excesso de mão-de-obra é apontado por manter

os padrões de produtividade baixos.

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33

No caso de terminais privados, principalmente aqueles especializados em grãos,

podem ser considerados relativamente modernos e eficientes, tanto com relação aos

equipamentos quanto com relação à movimentação das cargas. Mas, a gestão portuária como

um todo no Brasil, delegada a estados e municípios, nem sempre pode ser considerada

eficiente, uma vez que muitas vezes atende a interesses políticos em detrimento da eficácia e

eficiência.

7.3. Baixa Agregação de Valor

Como já explicitado anteriormente, os produtos do agronegócio são responsáveis por

uma parcela importante na formação do PIB, os mesmos estão altamente concentrados na

exportação de produtos de baixo valor agregado como café, soja em grão, torta e óleo de soja,

madeira, açúcar e carnes.

Segundo Scolari (2005), nas exportações nacionais de 2004, esses itens participaram

com US$ 52,05 bilhões, equivalente a 53,8 % do total das exportações. Em termos de

participação percentual, os produtos básicos responderam por 29%, os semimanufaturados por

14% e os manufaturados por 55%. Segundo o autor, no período 1970/1995 os preços dos

produtores alimentares básicos, aí incluídos soja e carne, tiveram em média uma redução

anual nos preços pagos pelos consumidores de 5,25% - que para manter a renda dos

produtores seria necessários aumentos de produtividade, sem aumentos nos custos de

produção.

O autor aponta que a agregação de valor na produção poderia ser por meio de produtos

diferenciados e que tivessem uma marca comercial forte. A criação de "selos verdes" e "selos

sociais", acoplados a marcas fortes pode ser uma forma de comercializar em mercados

específicos, como o café da Colômbia, o azeite de oliva da Espanha, o presunto de Parma, o

chocolate da Suíça, o frango do Brasil. Por exemplo, uma tonelada de trigo exportada pode

ser comercializada por menos de 200 dólares enquanto que uma tonelada de trigo na forma de

massas prontas ou biscoitos pode alcançar mais de 1.500 dólares. Da mesma forma, é mais

interessante para o país não exportar soja em grão e exportar farelo e óleo de soja, agregando

valor no processamento industrial dentro do país.

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34

7.4 Tributações Elevadas

Outro obstáculo ao desenvolvimento pleno do agronegócio está relacionado ao sistema

tributário. Na política tributária o Brasil possui mais de 30 modalidades de impostos federais,

estaduais e municipais, que incidem sobre bens e serviços, sobre a renda, sobre a propriedade,

sobre o comércio exterior e sobre a folha de pagamento de pessoal, que elevam a carga

tributária total para 36 a 38% (Scolari, 2005).

A elevada carga tributária onera substancialmente o custo de produção do

agronegócio, reduz a competitividade do país no comércio internacional, é muito complexo e

complicado e qualquer tentativa de modificação gera conflitos políticos entre estados,

governo e empresários.

Com uma economia aberta ao exterior, isto é, com possibilidade de exportar e

importar qualquer produto do agronegócio, a carga tributária deveria ser compatível com a

dos nossos competidores. Como os concorrentes brasileiros, inclusive no Mercosul, têm

impostos baixos, fica difícil ao produtor do Brasil competir nos mercados externos e às vezes

no próprio mercado interno porque os produtos importados chegam mais baratos.

7.5. Pouca Integração das Cadeias Produtivas

Ainda predomina no país uma visão tradicional da agricultura, entendida como um

setor fornecedor de matérias primas para o setor industrial e não como um setor integrante de

um segmento mais amplo e parceiro importante no processo de transformação e agregação de

valor dos produtos do agronegócio. Algumas cadeias produtivas servem de exemplo por

possuírem certa integração, como carne de aves, carne de suínos e tabaco, onde o segmento

industrial assume certas responsabilidades, garantindo a compra dos produtos (aves, suínos e

fumo) e o fornecimento de insumos sob relações contratuais.

Segundo Scolari (2005), quando integradas, as cadeias produtivas podem ser mais

eficazes e mais eficientes, aproveitando melhor os recursos físicos, humanos e financeiros em

várias etapas de produção e processamento. A integração além de reduzir custos de produção,

pode auxiliar na padronização, classificação e rastreabilidade de muitos produtos, facilitando

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35

sobremaneira a certificação de processos produtivos e ajudar a criar diferenciais de mercado

para vários produtos.

Para expandir no comércio internacional principalmente de commodities

agropecuárias, é necessário existir cultura empresarial com visão estratégica de cadeias

produtivas integradas globalmente (suprimento, produção, processamento, distribuição e

consumo), alterando a visão do setor agrícola como um setor de fornecimento de produtos

primários para os demais setores da economia.

7.6 A questão social no campo

Apesar dos avanços econômicos obtidos por meio do agronegócio, ainda existe uma

série de problemas sociais no interior do país e em regiões rurais que esses avanços não

conseguiram equacionar. Existe um consenso de que não é possível a redução da pobreza sem

um vigoroso e sustentado crescimento macroeconômico por longos períodos de tempo.

Mas os resultados em termos de redução da pobreza só se fazem sentir em médio

prazo e desde que acompanhados de políticas micro-econômicas e políticas sociais

específicas. No curto prazo a saída pode ser um programa racional e objetivo de reforma das

estruturas produtivas no campo, com o redesenho das escalas de produção e dos produtos

gerados pela agricultura das pequenas e média propriedades rurais, conjuntamente com o

estabelecimento de políticas sociais específicas, para a educação e profissionalização dos

trabalhadores da zona rural, visando criar novas oportunidades de renda e emprego fora da

atividade primária de produção. A ação dos movimentos sociais em prol da reforma agrária,

de forte cunho ideológico, deve continuar existindo. Mas, à medida que houver um

crescimento econômico sustentado, com a criação de novos empregos nas cidades, a

tendência é de diminuição do número de pessoas envolvidas nos acampamentos e

manifestações, onde parcela significativa dos atores envolvidos é de desempregados urbanos.

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36

8. CONCLUSÕES

A importância do agronegócio na economia brasileira e a posição que ele chegou ao

cenário mundial atual são indiscutíveis. O Brasil é um importante exportador de alimentos,

com tendência de se manter firme nesse mercado no futuro – a participação de suas

exportações agrícolas no comércio mundial é quase o dobro da verificada no início da década

de 1990, enquanto a participação dos demais produtos tem mostrado certo declínio.

Os significativos aumentos de preços das commodities agrícolas levaram alguns

produtos a atingirem picos históricos em 2008, resultando em uma crise nos preços dos

alimentos numa época em que o mundo se beneficiava de alimentos a preços acessíveis. A

atual revolução verde praticamente já esgotou o seu arsenal de tecnologias e um novo padrão

produtivo está longe de garantir a sua nova gestação. Necessariamente, um novo salto na

produção terá que vir acompanhado de aumentos de área cultivada, o que leva certo tempo até

acontecer, e nos avanços da biotecnologia – que possibilitará grandes avanços na

produtividade brasileira.

No presente trabalho identificamos as principais razões que levaram ao aumento dos

preços das commodities agrícolas nos últimos anos. Diversos fatores contribuíram para esses

aumentos de preços, como a diminuição do crescimento da produção agrícola e o aumento da

demanda, principalmente pelos países em desenvolvimento, desde o fim da década de 1990.

Outros fatores pressionaram os mercados mais intensamente nos últimos dois anos, como a

maior procura por biocombustíveis, condições climáticas adversas, a desvalorização da moeda

americana, o aumento do preço do petróleo e a diminuição dos estoques mundiais.

Concluímos que o maior responsável pelo aumento dos preços foi o estímulo à produção de

biocombustíveis a partir da utilização de grãos.

Os produtores brasileiros se beneficiaram dessa escalada de preços pelo país ser um

grande exportador de alimentos, mas isso não significa que goze de uma situação de

segurança e menos ainda de soberania alimentar. Uma das conseqüências da crise é uma

possível redução da produção agrícola mundial devido aos altos preços dos insumos

(principalmente fertilizantes e combustíveis) em 2008. Os produtores foram obrigados a

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diminuir a área plantada ou utilizar menores quantidades de adubos, o que resultará numa

menor produtividade de suas lavouras.

Devido às reviravoltas provocadas pela crise financeira global e diante das previsões

de desaceleração econômica, existem fatores que apontam para uma recuperação dos preços

em 2009, outros apontam para a estagnação ou até nova queda. O cenário para 2009 é de

acentuada volatilidade, o que não beneficia nem os consumidores nem produtores e indica que

não estamos no ambiente confortável de excedente de alimentos das décadas de 1980 e 1990.

Atualmente existem indicadores que os fundos de hedge e outros investidores

institucionais de grande porte, voltaram a despejar recursos no mercado agrícola, ajudando a

impulsionar os preços das commodities em meio ao atual enfraquecimento do dólar

americano. Uma repetição da crise dos alimentos do ano passado, quando preços em forte

ascensão desencadearam distúrbios em alguns países, porém, parece improvável. Apesar da

recuperação dos preços agrícolas nos meses recentes, os preços internacionais da maioria das

commodities agrícolas estão abaixo dos auges de 2008, em uma indicação de que muitos

mercados estão retornando lentamente ao equilíbrio. As empresas do setor de alimentos estão

adotando medidas de precaução, construindo posições no mercado futuro de commodities para

se protegerem contra aumentos de preços adicionais.

A produção mundial de grãos deverá ficar abaixo do consumo em 2009/10, mas o

preço do petróleo, que se retraiu no fim de 2008, deve se manter estável ao redor dos US$ 50 –

US$ 70 dólares/barril durante 2009. Esse preço seria um alívio aos produtores agrícolas, que

teriam menores custos de produção e transporte para seus produtos, e um menor incentivo à

produção de biocombustíveis com a utilização de grãos (principalmente milho e soja).

O agronegócio brasileiro vislumbra excelentes oportunidades no futuro, com potencial

significativo de ganhos econômicos e sociais. Alguns pontos fortes devem ser enfatizados: a

existência de milhões de hectares de terra que podem ser incorporados ao processo produtivo,

clima favorável, a existência de recursos humanos qualificados, boa capacidade de gestão na

produção e comercialização e bom nível de desenvolvimento tecnológico da agricultura –

proporcionando ao país se tornar um dos maiores produtores e exportadores mundiais de

alimentos.

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9. REFERÊNCIAS

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