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1 AS CRIANÇAS VÊM DO CÉU Toda criança nasce boa e inocente. Neste sentido, nossos filhos vêm do céu. Cada criança é em si única e especial. Já entra neste mundo com seu próprio destino. Uma semente de maçã se transforma naturalmente numa árvore de maçãs. Dela não brotam peras ou laranjas. Em nosso papel de pai, o mais importante é reconhecer, honrar e então dar continuidade ao processo natural e único de crescimento dos filhos. De nenhuma forma estamos incumbidos de moldá-los na pessoa que julgamos ideal. No entanto, temos a responsabilidade de apoiá-los de forma criteriosa para que possam desenvolver sua força e seus dons pessoais. Não precisamos consertar ou modificar as crianças conforme consideramos ser melhor para elas, mas suprir suas necessidades para que possam se desenvolver. Devemos propiciar o solo fértil onde brotarão as sementes de sua grandeza. Elas têm força para fazer o resto. Na semente de uma maçã está o programa perfeito do seu crescimento e desenvolvimento. Da mesma forma, o cérebro, o coração e o corpo em desenvolvimento de cada criança contêm a programação perfeita desse desenvolvimento. Em vez de pensar que precisamos fazer algo para que nossas crianças sejam boas, devemos reconhecer que elas já o são. O cérebro, o coração e o corpo de toda criança em desenvolvimento trazem a programação perfeita do seu desenvolvimento. É nosso dever de pai lembrar que a Mãe Natureza é responsável pelo crescimento e desenvolvimento das crianças. Uma vez, perguntei a minha mãe o segredo de seu método de criar os filhos e ela respondeu: “Quando estava criando meus seis meninos e uma menina, descobri, com o tempo, que poderia fazer muito pouco para modificá-los. Dei-me conta que estava tudo nas mãos de Deus. Fiz o melhor que pude e Deus fez o resto.” Essa conclusão permitiu- lhe confiar no crescimento natural. E isso não só tornou o processo mais fácil para ela, mas ajudou-a também a não interferir. É importante que cada pai tenha esse conhecimento. Se a pessoa não acredita em Deus, pode simplesmente atribuir aos

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1AS CRIANÇAS VÊM DO CÉU

Toda criança nasce boa e inocente. Neste sentido, nossos filhos vêm do céu. Cada criança é em si única e especial. Já entra neste mundo com seu próprio destino. Uma semente de maçã se transforma naturalmente numa árvore de maçãs. Dela não brotam peras ou laranjas. Em nosso papel de pai, o mais importante é reconhecer, honrar e então dar continuidade ao processo natural e único de crescimento dos filhos. De nenhuma forma estamos incumbidos de moldá-los na pessoa que julgamos ideal. No entanto, temos a responsabilidade de apoiá-los de forma criteriosa para que possam desenvolver sua força e seus dons pessoais.

Não precisamos consertar ou modificar as crianças conforme consideramos ser melhor para elas, mas suprir suas necessidades para que possam se desenvolver. Devemos propiciar o solo fértil onde brotarão as sementes de sua grandeza. Elas têm força para fazer o resto. Na semente de uma maçã está o programa perfeito do seu crescimento e desenvolvimento. Da mesma forma, o cérebro, o coração e o corpo em desenvolvimento de cada criança contêm a programação perfeita desse desenvolvimento. Em vez de pensar que precisamos fazer algo para que nossas crianças sejam boas, devemos reconhecer que elas já o são.

O cérebro, o coração e o corpo de toda criança em desenvolvimento trazem a programação perfeita do seu desenvolvimento.

É nosso dever de pai lembrar que a Mãe Natureza é responsável pelo crescimento e desenvolvimento das crianças. Uma vez, perguntei a minha mãe o segredo de seu método de criar os filhos e ela respondeu: “Quando estava criando meus seis meninos e uma menina, descobri, com o tempo, que poderia fazer muito pouco para modificá-los. Dei-me conta que estava tudo nas mãos de Deus. Fiz o melhor que pude e Deus fez o resto.” Essa conclusão permitiu-lhe confiar no crescimento natural. E isso não só tornou o processo mais fácil para ela, mas ajudou-a também a não interferir. É importante que cada pai tenha esse conhecimento. Se a pessoa não acredita em Deus, pode simplesmente atribuir aos “genes”. Está tudo nos genes.

Aplicando as técnicas de educação positiva, os pais podem aprender a apoiar o processo natural de crescimento da criança e não interferir. Sem compreender o desenvolvimento natural da criança, os pais em geral experimentam frustrações, decepções, preocupações e sentimentos de culpa desnecessariamente, e sem saber bloqueiam ou inibem etapas do desenvolvimento dos filhos. Quando, por exemplo, o pai não entende a sensibilidade especial de um filho, não apenas se sente muito frustrado, mas transmite-lhe a mensagem de que há algo errado com ele. Essa opinião equivocada “há alguma coisa errada comigo” permanece gravada na mente do

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filho e os frutos que deveriam brotar de sua crescente sensibilidade são reduzidos.

CADA CRIANÇA TEM O SEU PROBLEMA PARTICULAR

Além de nascer boa e inocente, toda criança vem para este mundo com o seu próprio problema. Nosso dever de pai é ajudar os filhos a enfrentarem seus desafios particulares. Cresci numa família de sete filhos e, apesar de termos tido os mesmos pais e as mesmas oportunidades, cada um de nós tornou-se inteiramente diferente do outro quando adulto. Tenho atualmente três filhas com as idades de 25, 22 e 13 anos. Cada uma é e sempre foi totalmente diferente da outra, com seus diferentes conjuntos de forças e fraquezas.

Como pais, podemos ajudar nossos filhos, mas não eliminar seus problemas e desafios particulares. Com esse conhecimento, em vez de procurar mudá-los ou resolver seus problemas, podemos ter muito menos preocupações. Confiar mais tanto ajuda aos pais como aos filhos. Podemos deixar nossos filhos serem eles mesmos e concentrar-nos mais em ajudá-los a crescer com os desafios da vida. Quando os pais respondem aos filhos de uma posição mais descontraída e sincera, os filhos têm maiores oportunidades de confiar em si mesmos, nos pais e no futuro incógnito.

Cada criança tem seu próprio destino. Aceitar essa realidade dá segurança aos pais, ajuda-os a relaxar e a não tomar responsabilidade para cada problema do filho. Despendemos muito tempo e energia tentando imaginar o que fizemos de errado ou o que nossos filhos deveriam ter feito em vez de -aceitarmos o fato de que todos eles têm questionamentos, problemas e desa-fios. O papel do pai é ajudar os filhos a enfrentarem esses de-safios e a serem bem-sucedidos na luta contra eles. Lembrem-se sempre de que nossos filhos têm seus próprios desafios e dons e nada podemos fazer para modificá-los. No entanto, podemos garantir a eles que propiciaremos as oportunidades para que se tornem o melhor que puderem.

As crianças têm seus dons e desafios próprios,e nada pode ser feito para mudar quem são.

Nos períodos difíceis, quando começarmos a pensar que algo está errado com nossos filhos, devemos voltar a lembrar que eles vêm do céu. São perfeitos da maneira como são e têm seus próprios desafios na vida. Não necessitam apenas de nossa compaixão e ajuda, mas também desses desafios. Os obstáculos pessoais que precisam superar na realidade são necessários para que se desenvolvam plenamente na pessoa que podem vir a ser. Os problemas com que se defrontarem irão auxiliá-los a encontrar o apoio de que necessitam e a desenvolver seu caráter particular.

Para crescer, os filhos necessitam da solidariedade e da ajuda dos pais, mas também de seus desafios pessoais.

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Para toda criança, um processo saudável de crescimento significa um período de desafios. Aprendendo a aceitar e a entender as limitações impostas pelos pais e o mundo a seu redor, a criança pode aprender habilidades essenciais na vida, como perdoar, cooperar, aceitar, ser criativa, compassiva, corajosa, persistente, auto-suficiente, saber se corrigir, valorizar-se e renunciar à gratificação imediata. Por exemplo:

• As crianças não aprendem a perdoar se não tiverem a quem perdoar.• As crianças não aprendem a ter paciência ou a abrir mão da satisfação

imediata se tudo é feito da maneira que elas querem e quando querem.• As crianças não aprendem a aceitar seus próprios defeitos se todos que as

cercam são perfeitos.• As crianças não aprendem a cooperar se tudo sempre acontece da maneira

que elas querem.• As crianças não podem desenvolver criatividade se tudo for feito para elas.• As crianças não aprendem a ter compaixão e respeito sem que também

sintam dor e perda.• As crianças não aprendem a ter coragem e otimismo sem terem enfrentado

a adversidade.• As crianças não se tornam persistentes e fortes se tudo for fácil para elas.• As crianças não aprendem a se corrigir sem experimentar dificuldades,

fracassos ou cometer erros.• As crianças não podem sentir auto-estima ou orgulho saudável sem superar

obstáculos para alcançar algum objetivo.• As crianças não podem desenvolver auto-suficiência se não tiverem

experimentado exclusão ou rejeição.• As crianças não serão capazes de se orientar na vida se não tiverem

oportunidades de resistir à autoridade e/ou não conseguir o que querem. Os desafios e as dores do crescimento não são apenas inevitáveis de várias

maneiras, mas também necessários. Nossa tarefa de pai não é proteger os filhos dos desafios da vida, mas os aju-dar a superá-los com sucesso a fim de crescerem. Em Os filhos vêm do céu, você irá aprender novas técnicas positivas de educar seus filhos e ajudá-los a responder aos desafios e contratempos da vida. Se os pais resolverem sempre os problemas dos filhos, eles não descobrirão suas capacidades e habilidades inatas.

Pode acontecer que os empecilhos da vida venham a fortalecer seus filhos de maneira especial e extrair o melhor de cada um. Quando uma borboleta emerge do casulo, há uma grande luta. Se alguém cortasse o casulo para evitar essa luta, a borboleta logo morreria. A luta para sair do casulo é necessária para formar os músculos de suas asas. Portanto, sem essa luta ela jamais poderia voar e, ao contrário, morreria. Da mesma maneira, para que

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nossos filhos cresçam fortes e possam alçar vôo neste mundo, eles precisam de determinados tipos de luta e de um tipo de apoio especial.

Para superar seus desafios particulares, cada filho necessita de um tipo de amor e apoio especiais. Sem esse apoio, seus pro-blemas se tornarão maiores e distorcidos, beirando, às vezes, doenças mentais e comportamentos criminosos. Como pais e educadores, é tarefa nossa apoiar os filhos de modo especial para que eles se tornem mais fortes e saudáveis. Se interferirmos para tornar tudo fácil demais, eles serão uns fracos, mas se formos excessivamente rigorosos e não os ajudarmos bastante, eles estarão sendo privados do que necessitam para crescer. Eles não podem fazer isso sozinhos. Não poderão crescer e desenvolver todas as habilidades que conduzem ao sucesso na vida sem a ajuda dos pais.

AS CINCO MENSAGENS DA EDUCAÇÃO POSITIVA

São cinco as mensagens positivas importantes para ajudar seus filhos a descobrirem em si o poder de enfrentar os desafios da vida e desenvolver plenamente seu potencial interno. Neste li-vro iremos examinar uma variedade de técnicas novas para criar os filhos, baseadas na comunicação de cada uma das seguintes mensagens:

1. É certo ser diferente.2. É certo cometer erros.3. É certo expressar emoções negativas.4. É certo querer mais.5. É certo dizer não, mas lembre-se de que quem manda são o pai e a mãe.

Vamos estudar cada uma dessas mensagens em maiores detalhes.

1. É certo ser diferente. Cada criança é única. Tem suas virtudes, necessidades e desafios particulares. Os pais devem ser capazes de identificar suas necessidades especiais e procurar atendê-las. Em geral, os meninos têm determinadas necessidades não tão importantes para as meninas. Da mesma forma, as meninas têm necessidades que podem não ser tão importantes para eles. Além disso, cada criança, independentemente do gênero, tem necessidades especiais ligadas aos seus desafios e tendências particulares.

As crianças também são diferentes na maneira de aprender. É essencial que os pais entendam essa diferença, senão podem começar a comparar os filhos e a se sentirem frustrados sem razão. Quando se trata de aprender uma tarefa, as crianças podem ser de três tipos: as que correm, as que andam e as que sal-tam. As que correm, aprendem muito rápido. As que andam, aprendem de maneira contínua e demonstram claramente que estão progredindo. Finalmente, há as que saltam. Essas são mais difíceis de educar. Não parecem estar aprendendo nada ou progredindo, e um dia dão um salto e conseguem. São como uma florescência tardia. Aprender para elas toma mais tempo.

Os pais sabem como é importante expressar amor de forma adequada a cada gênero. As meninas, por exemplo, em geral precisam de mais carinho, mas os meninos, quando o recebem demais, têm a sensação de que não

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confiam nele. Os meninos precisam receber mais demonstrações de confiança, enquanto as meninas, quando as recebem demais, podem entender que não estão tendo bastante carinho ou atenção. De forma equívoca, os pais tendem a dar às filhas o que os meninos necessitam, ao passo que as mães tendem a dar aos filhos o apoio que as meninas necessitariam. Entender as diferentes necessidades de meninos e meninas ajuda os pais a criar os filhos com maior sucesso. Além disso, faz com que pai e mãe discutam menos a respeito da maneira de cada um educá-los. Os pais são de Marte, e as mães são de Vênus.

2. É certo cometer erros. Todos os filhos cometem erros. É perfeitamente normal e esperado. Cometer erros não significa que haja algo de errado com você, a menos que seus pais reajam como se você fosse uma pessoa que não deveria errar. Errar é natural, normal, e está dentro da expectativa geral. Os filhos aprendem isso, antes de tudo por meio de exemplos. Os pais podem ensinar esse princípio com mais eficácia deixando -claro que reconhecem seus próprios erros no relacionamento com os filhos e no deles.

Quando os filhos vêem seus pais pedirem desculpas com freqüência, aos poucos aprendem a ser responsáveis por seus próprios erros. Em vez de ensinar os filhos a pedir desculpas, eles dão o exemplo. Os filhos aprendem com exemplos, não com pregações. Não apenas aprendem a ser mais responsáveis, mas, pelo fato de perdoarem continuamente os erros dos pais, aprendem aos poucos a importante habilidade de perdoar.

Os filhos entram neste mundo com a capacidade de amar os pais, mas não podem amar ou perdoar a si próprios. Eles aprendem a amar a si próprios pela forma como são tratados pelos pais e pela reação deles a seus erros. Quando os filhos não são submetidos a constrangimentos ou punições por seus erros, têm maiores chances de aprender a habilidade mais importante: a capacidade de amar a si mesmos e aceitar suas deficiências.

Essa habilidade se aprende pela repetida experiência de ver que mesmo cometendo erros os pais ainda são amados. O ato de repreender ou punir os filhos impede-os de desenvolver o amor-próprio ou a capacidade de perdoar a si próprio. Em Os filhos vêm do céu, os pais aprenderão alternativas mais eficazes para surras, repreensões e punições que incluem novas formas de pedir em vez de mandar, recompensar em vez de punir e dar suspensões em vez de bater. Essas novas técnicas positivas de educar os filhos são descritas em maiores detalhes a partir do Capítulo 3 até o oitavo. As suspensões, se aplicadas regularmente e de forma correta, são um meio de intimidação tão poderoso quanto as surras e punições.

3. É certo expressar emoções negativas. Emoções negativas, como raiva, tristeza, medo, dor, frustração, decepção, preocupação, constrangimento, ciúme, mágoa, insegurança e vergonha, não apenas são naturais e normais, mas uma parte importante do crescimento pessoal. As emoções negativas são aceitáveis e devem ser sempre comunicadas.

Os pais devem aprender a criar oportunidades apropriadas para que os filhos possam sentir e expressar suas emoções negativas. Embora essas emoções sejam sempre aceitáveis, a forma pela qual são demonstradas, o momento e o lugar em que são expressas pelas crianças é que nem sempre são apropriados. Explosões de raiva constituem uma parte importante do

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desenvolvimento da criança, mas ela precisa aprender quando e onde exprimi-las. Por outro lado, você deve ter certeza de que não está acalmando o seu filho para evitar uma explosão de raiva, do contrário as explosões surgirão quando você não tiver a oportunidade de aplicar-lhe uma suspensão e lidar com o problema à mão de forma mais eficaz.

Novas técnicas de comunicação devem ser aprendidas e exercitadas com as crianças para que elas desenvolvam a consciência do que estão sentindo, do contrário podem sair do controle dos pais, resistir à sua autoridade e fazer cenas com sentimentos reprimidos. Neste livro, os pais aprendem a lidar efetivamente com seus próprios aborrecimentos. O que eles reprimem, os filhos irão exprimir em acréscimo aos seus próprios sentimentos de contrariedade. Esse princípio explica por que os filhos perdem o controle nas horas mais inconvenientes, principalmente em momentos de tensão e pressão, quando estamos tentando controlar nossos próprios sentimentos.

A educação positiva envolve o cuidado de não deixar os fi-lhos se sentirem responsáveis pelo que os pais sentem. Quando as crianças captam a mensagem de que seus sentimentos e necessidades de compreensão e afeto subjacentes aos dos pais são inconvenientes, começam a ocultar seus sentimentos e a afastar-se do seu verdadeiro eu e de todas as dádivas advindas de serem autênticas.

Pais “esclarecidos”, que reconhecem a importância dos sentimentos, muitas vezes cometem o erro de ensinar os filhos a conhecer os sentimentos compartilhando em excesso suas próprias emoções. A melhor maneira de ensinar os filhos a terem consciência é escutá-los com empatia, ajudando-os a identificar esses sentimentos. A melhor maneira de os pais compartilharem seus próprios sentimentos negativos é contar histórias da época em que estavam crescendo e o que sentiram em relação a alguns desafios da vida. A desvantagem de os pais compartilharem com os filhos os seus próprios sentimentos negativos é que faz com que as crianças se sintam excessivamente responsáveis. Essas crianças assumem demasiada culpa e se desligam de seus próprios sentimentos. Com o tempo podem se afastar totalmente dos pais e deixar de falar com eles.

Dizer a uma criança, por exemplo, “Tenho medo que você caia se subir nessa árvore” surte o efeito gradual de fazer a criança se sentir manipulada e controlada por sentimentos negativos. Em vez disso, o adulto deveria dizer: “Não é muito seguro subir em árvores. Você só pode subir quando eu estiver por perto.” Essa solução não é apenas mais eficaz, mas também ensina a criança a não tomar decisões baseadas em emoções negativas. A criança coopera não para proteger o pai do desconforto de sentir medo, mas porque o pai lhe pediu para fazer algo.

Os pais podem ajudar os filhos a desenvolver cada vez mais a consciência dos seus sentimentos demonstrando empatia, reconhecimento e ouvindo-os com atenção, não compartilhando seus sentimentos íntimos. Às vezes, mesmo o fato de perguntar diretamente às crianças como elas se sentem, ou o que elas querem, pode lhes dar demasiado poder. As novas técnicas de ouvir devem ser usadas para extrair informações sobre os sentimentos de uma criança pequena, entender sua vontade e suas necessidades. Os pais “tolerantes” aprenderão a não se deixarem levar ou manipular pela vontade e os sentimentos das crianças. Os pais “exigentes” conhecerão muitas das formas pelas quais inconscientemente podem censurar os sentimentos

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negativos dos filhos.Aprendendo a sentir e a comunicar emoções negativas, a criança aprende

de forma mais eficiente a sentir-se como pessoa, separada do pai, a desenvolver uma consciência forte de si própria e a descobrir aos poucos em seu interior uma abundante criatividade, intuição, amor, direção, confiança, alegria, compaixão, consciência e capacidade de se corrigir depois de cometer um erro. Todas essas avançadas habilidades da vida, que fazem a pessoa brilhar neste mundo e conseguir grande sucesso e realização, vêm do contato com os sentimentos e da capacidade de liberar os sentimentos negativos. As pessoas de sucesso sentem suas perdas, mas se recuperam, porque têm capacidade de se livrar dos sentimentos negativos. A maioria das pessoas que não alcança sucesso na vida é insensível a seus sentimentos íntimos, toma decisões baseadas em sentimentos negativos ou simplesmente se prendem a atitudes e sentimentos negativos. Em qualquer caso, estão impedidas de realizar seus sonhos.

4. É certo querer mais. É comum as crianças serem chamadas de erradas, egoístas ou mimadas por desejarem mais ou se aborrecerem quando não conseguem o que desejam. Os pais se apressam a ensinar aos filhos as virtudes da gratidão em vez de permitir-lhes querer mais. “Agradeça o que você tem” é a resposta imediata ao desejo da criança de ter mais.

As crianças não sabem até que ponto é aceitável pedir e nunca se deve esperar que saibam. Mesmo adultos, ainda temos dificuldade em determinar quanto podemos pedir sem ofender, parecer muito exigentes ou mal-agradecidos. Se os adultos têm dificuldade, com certeza não se deve esperar que as crianças não tenham.

As técnicas da educação positiva ensinam as crianças a pedir o que desejam de forma respeitosa. Ao mesmo tempo, os pais aprendem a dizer não sem se sentirem perturbados. Os filhos se sentem à vontade para pedir o que desejam, sabendo que não serão repreendidos. Eles também admitem que o simples fato de pedir não significa que irão conseguir o que desejam.

Sem se sentir à vontade para pedir o que desejarem, as crianças jamais saberão com certeza o que podem ter e o que não podem. Além disso, ao pedir o que desejam, elas rapidamente desenvolvem habilidades de negociações incríveis. A maioria dos adultos não sabe negociar. Só pedem quando esperam um sim. Se recebem um não, em geral simplesmente o aceitam e se afastam submissos, ressentidos e em silêncio, ou visivelmente zangados.

Quando as crianças têm liberdade para pedir o que desejam, sua força interior para conseguir o que querem tem a chance de aflorar. Ao chegar à idade adulta, elas não aceitarão um não como resposta. Quando crianças, aprendem a negociar e quase sempre conseguem motivar o pai a lhes dar o que desejam. Há uma grande diferença entre ser manipulado por um filho lamuriento e ser motivado por um que é brilhante negociador. A educação positiva, portanto, mantém todas as negociações sob controle e estabelece os limites até aonde podem chegar.

Ao permitir que uma criança peça algo a mais, você está lhe concedendo a dádiva de dirigir a intenção e o poder na vi-da. Muitas mulheres atualmente se sentem impotentes porque nunca tiveram permissão para pedir mais. Foram ensinadas a se preocupar mais com o que os outros precisavam e se censuravam por se aborrecer quando não conseguiam o que desejavam ou

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necessitavam.Uma das habilidades mais importantes que um pai ou uma mãe pode

ensinar a uma menina é a maneira de pedir mais. A maioria das mulheres não aprendeu essa lição quando criança. Em vez de pedir mais, elas pedem mais de forma indireta, dando mais e esperando que alguém lhes retribua sem ter que pedir. Essa incapacidade de pedir diretamente impede-as de conseguir o que desejam na vida e em seus relacionamentos.

Enquanto as meninas precisam pedir permissão para querer mais, os meninos precisam de um tipo especial de apoio quando não conseguem mais. Em geral, os meninos fixam uma meta muito alta e os pais tentam convencê-los a desistir de seus propósitos, porque querem evitar que se decepcionem. Eles não percebem que mais importante que atingir metas é ser capaz de lidar com as decepções de modo que possam se le-vantar novamente e prosseguir em direção a elas. Da mesma forma que as meninas precisam de muito apoio para pedir o que desejam, os meninos necessitam de apoio extra para identificar seus sentimentos e conviver com eles. Com os meninos, isso se consegue da melhor maneira perguntando-lhes pelos detalhes do que aconteceu e ao mesmo tempo tendo o máximo cuidado para não oferecer algum conselho ou “ajuda”. Até mesmo uma empatia exagerada pode provocar neles uma reação de silêncio sobre o que aconteceu.

As mães quase sempre cometem o erro de perguntar demais. Quando pressionados a falar, muitos meninos silenciam. Quando recebem sugestões de como agir, os meninos, principalmente, recuam. Num momento em que ele já está se sentindo abatido, não vai querer ninguém o fazendo sentir-se pior ao dizer-lhe como solucionar o problema ou o que ele fez para contribuir para tal.

Se, por exemplo, ele está decepcionado porque não se saiu bem numa prova e a mãe diz, de forma carinhosa, “Acho que se você tivesse assistido menos à televisão e estudado mais teria se saído melhor. Você é muito inteligente, só não está aproveitando o que tem”, com toda certeza ela julga estar sendo carinhosa, mas nesse contexto está claro o motivo que leva o filho a não confessar à mãe o que o incomoda. Ela deu conselhos sem ser solicitada, e ele se sente criticado e também considerado incapaz de resolver seu problema.

5. É certo dizer não, mas lembrar-se de que quem manda são os pais. É necessário permitir que as crianças digam não, mas igualmente importante é elas saberem que estão sob a direção e os cuidados dos pais. Além da permissão para querer mais e negociar, a permissão de dizer não, na realidade, confere poder aos filhos. A maioria dos pais teme dar a eles mais esse poder porque o considera uma facilidade para torná-los mimados e exigentes. Um dos maiores problemas hoje em dia com os filhos é dar liberdade demais. Os pais percebem que os filhos merecem mais poder, mas não sabem como manter a autoridade. A menos que empreguem outras técnicas de educação positiva, como suspensões coerentes, a fim de manter a cooperação, os filhos se tornarão muito exigentes, egoístas e irritados. Quando os pais detêm o controle, dar mais poder aos filhos é um recurso eficaz.

Deixar que as crianças digam não lhes dá abertura para expressar seus sentimentos, descobrir o que querem e então negociar. Não significa que você irá sempre fazer o que o seu filho quer. Mesmo que uma criança rebelde possa dizer não, não significa que possa fazer o que quiser. O que os filhos sentem e

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querem será levado em consideração, e esse fato, em si, muitas vezes os torna muito mais cooperadores. E o mais importante: dizer não permite que a criança coopere sem ter de reprimir seu verdadeiro eu.

Há uma grande diferença entre amoldar a vontade de uma criança e negar suas vontades. Amoldar suas vontades significa mudar o que ela quer para aquilo que seus pais querem. Negá-las significa reprimir suas vontades e seus sentimentos e submetê-las à vontade dos pais. A submissão leva à anulação da vontade da criança. Quando um cavalo está machucado, ele se torna submisso e portanto coopera, mas também perde grande parte do seu espírito de liberdade.

Uma análise das práticas de educação na Alemanha antes do nazismo mostra que as crianças eram severamente repreendidas e punidas diante dos outros quando resistiam à autoridade. Não tinham permissão para se opor ou dizer não. Num olhar retrospectivo, podemos observar claramente como o fato de anular a vontade da criança pode, em escala muito maior, torná-las de forma irracional e impiedosa, seguidoras de líderes autoritários fortes porém maníacos. Quando a pessoa não tem um ego forte, é presa fácil da manipulação e do abuso dos outros. Sem uma consciência forte de si própria, a pessoa será sempre atraída a situações e relacionamentos abusivos, devido a seus sentimentos de desvalorização e medo de afirmar sua própria vontade.

Amoldar o próprio desejo e a própria vontade é cooperar, submeter o próprio desejo, e a própria vontade é obedecer. As práticas de educação positiva procuram tornar os filhos cooperadores, não obedientes. Não é saudável as crianças seguirem a vontade dos pais de maneira insensível e irracional. Dar permissão à criança para sentir e verbalizar sua resistência quando ela ocorrer não apenas a ajuda a desenvolver o senso de si própria, mas também torna-a mais cooperadora. A criança obediente apenas segue ordens, ela não pensa, sente ou contribui para esse processo. A criança que gosta de cooperar coloca todo o seu ser em cada interação, e dessa forma habilita-se a crescer.

As práticas da educação positiva visam a criarcrianças cooperadoras, não crianças obedientes.

As crianças que cooperam podem ainda querer o que desejam, mas o que mais querem é agradar aos pais. Permitir que as crianças digam não não significa dar-lhes mais autonomia, mas, na verdade, com isso os pais ganham mais poder. Cada vez que as crianças resistem aos pais e eles mantêm o controle, as crianças podem sentir que quem manda são os pais. Essa é a principal razão que torna a prática de aplicar suspensões às crianças tão valiosa.

Quando as crianças se comportam mal ou se negam a cooperar, estão simplesmente sem controle. Estão fora do controle dos pais. Não estão cooperando com a vontade e o desejo deles. Para fazer voltar sua vontade de cooperar, o pai ou ao mãe deve recuperar o controle sobre elas tomando-as nos braços e colocando-as em suspensão. Deus faz as crianças pequeninas para que os pais possam levantá-las e mudá-las de lugar.

Numa suspensão, as crianças têm a liberdade de resistir e expressar todos os seus sentimentos, mas ainda estão restritas à suspensão com tempo

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marcado. De modo geral, a criança deve ter um minuto de suspensão para cada ano de vida. Uma criança de quatro anos deve levar uma suspensão de quatro minutos. O refreamento propiciado por uma suspensão é o necessário para a criança sentir mais uma vez a segurança de estar sob o controle dos pais e sentir sua ligação com eles como seus superiores. Os sentimentos negativos se dissipam automaticamente e a criança sente novamente o saudável desejo de agradar e cooperar.

Os pais excessivamente tolerantes ou que não dão suspensões suficientes aos filhos sem querer estão tornando seus filhos mais inseguros. As crianças começam a sentir que elas têm poder para controlar e, como elas não estão preparadas para essa função (embora gostem do poder), sentem-se inseguras. Imagine-se tendo que assumir a responsabilidade de admitir duzentos operários para construir um prédio em seis meses. Ou tendo que operar uma pessoa com hemorragia para retirar uma bala de revólver porque ela acaba de ser atingida. Se você não foi treinado para qualquer uma dessas funções, vai sentir-se de repente muito inseguro. Quando as crianças começam a sentir a sensação de ser o chefe, ao mesmo tempo começam a se sentir muito inseguras e exigentes.

Uma criança exigente ou “mimada” geralmente precisa de mais suspensões. Um adolescente (menino ou menina) mimado pode precisar de mais que uma suspensão no quarto. Em alguns casos, passar um tempo fora com um responsável num país em desenvolvimento, numa reserva florestal com um guia, ou na casa de um tio, tia ou avô preferido ajuda o adolescente a reencontrar seu verdadeiro eu e sua necessidade de sentir-se sob a responsabilidade de alguém. Sentir-se sem alguém que tome conta dele e depender de outra pessoa é humilhante para o adolescente. Eles podem voltar a sentir necessidade dos pais e do desejo de agradá-los.

Para se sentirem seguras as crianças devem sentir que são ouvidas, mas saberem sempre que não têm voz de comando.

As crianças são basicamente programadas para uma diretiva básica. No fundo, elas querem agradar aos pais. As técnicas de comunicação da educação positiva fortalecem essa diretiva primária para que as crianças estejam ainda mais dispostas a seguir a vontade e o desejo dos pais. Para contrabalançar essa tendência de curvar-se, as crianças devem ter liberdade de resistir e dizer não. Essa resistência permite-lhes desenvolver uma saudável consciência de si mesmas.

As crianças que não tiveram essa oportunidade passam por uma fase de rebeldia desnecessária ao se aproximarem da puberdade. Embora o adolescente ainda necessite de direção na vida, ele sente uma necessidade imensa de fazer exatamente o contrário a qualquer vontade ou desejo dos pais se não tiver desenvolvido o senso de si próprio.

Muitos pais não admitem que os filhos devem se afastar deles nesse momento e que a rebeldia é perfeitamente normal. A rebeldia é apenas uma reação normal das crianças que não tiveram o apoio necessário na fase anterior. Quando as crianças tiveram a experiência de dizer não, mas depois cooperaram com os pais, elas adquirem um senso saudável de si mesmas e não sentem necessidade de rebelar-se na puberdade. Podem se afastar, mas não se rebelam, e continuam retornando em busca do amor e do apoio dos

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pais.As práticas da educação positiva também exploram os meios de melhorar a

comunicação com aqueles adolescentes que não foram criados com essas cinco mensagens. Nunca é tarde para ser um grande pai e estimular a cooperação nos filhos. Não importa quando comece a aplicar essas cinco men-sagens da educação positiva, você tem o poder de melhorar a comunicação, despertar a cooperação e extrair dos seus filhos o que eles têm de melhor.

UMA VISÃO DE POSSIBILIDADES

Ser um excelente pai não é fácil, mesmo com a máxima compreensão das cinco mensagens da educação positiva. É um processo no qual se aprende à medida que ele se desenvolve. Ser pai o conduz além dos limites que você pretende. Além disso, não importa o quanto você fez de bom. Sempre irá se surpreender em território desconhecido, ponderando consigo mesmo: “E agora, faço o quê?” Então é necessário uma visão nítida das possibilidades. Felizmente, você pode voltar a este guia quantas vezes quiser. Quando houver algo que pareça não estar funcionando, ou você não souber o que fazer, volte a ler as diferentes mensagens da educação positiva. Você vai descobrir o que está errado e sentir-se mais preparado para fazer a coisa certa.

Não adquirimos muita prática ao nos preparar para a função de pais ou aperfeiçoar nossas habilidades de educação. De repente nos deparamos com a assustadora responsabilidade de cuidar de uma criança vulnerável e não estamos sempre certos de saber o que é melhor para ela. Mesmo lembrando-nos sempre de que as crianças vêm do céu e que elas têm potencialmente seu destino único, seu futuro está literalmente em nossas mãos. A forma como nos comportamos e cuidamos delas tem influência decisiva em sua capacidade de manifestar todo seu potencial com sucesso.

Ser pai exige um imenso compromisso de nossa parte, mas com certeza nossos filhos valem o esforço. Os pais apenas “recuam” ou se retiram da função de educar os filhos quando não sabem o que fazer ou quando o que eles fazem parece tornar as coisas piores. Estudar esses princípios de educação tão fáceis de entender (mas nem sempre fáceis de lembrar) fará você lembrar-se sempre de que sua presença e sua participação são necessárias, e que fazendo alguns ajustes pode conseguir dar a seus filhos o que eles necessitam.

Lembre-se sempre de que ninguém pode fazer isso melhor que você. Embora seus filhos venham do céu, também vêm de você e precisam de você. Aprender a educar os filhos é o conhecimento mais valioso que uma pessoa pode adquirir se planeja constituir uma família. Sem entender o que é a educação positiva, a maioria dos pais não tem idéia de como eles próprios são importantes para os filhos e para o futuro deles. Não somente os filhos saem perdendo, mas também os pais.

Ser pai é uma tarefa difícil, mas também a mais gratificante. Ser pai é uma responsabilidade assustadora e uma grande honra. Sabendo agora o que os filhos realmente precisam receber dos pais, podemos entender em sua plenitude o quanto a ajuda deles é necessária. Uma consciência nítida dessa responsabilidade nos permite sentir a verdadeira dignidade de ser pai e o orgulho de fazer o que é necessário para cuidar de nossa família.

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Ao entregar-se totalmente aos novos princípios da educação positiva, você estará sendo um bravo pioneiro a explorar um território desconhecido, um herói que ousa criar um mundo novo e, o mais importante, proporcionando a seus filhos as oportunidades de grandeza que você nunca teve.

Mesmo com este guia de lado, você ainda irá cometer erros, mas depois poderá usar esses erros para ensinar aos filhos a importante prática do perdão. Não podemos dar sempre aos filhos o que eles necessitam ou querem, mas podemos ajudá-los a responder às decepções de maneira saudável, o que os tornará mais fortes e confiantes. Você nem sempre será capaz de atendê-los quando eles precisarem de você, mas saberá como responder a seus sentimentos e necessidades não atendidas de forma a curar suas mágoas e fazer com que eles mais uma vez sintam o seu amor e o seu apoio. Colocar em prática as cinco mensagens da educação positiva e lembrar-se sempre de que os filhos vêm do céu o ajudarão a oferecer-lhes a melhor preparação possível para realizarem seus sonhos. E isso é o que todos os pais querem para os seus filhos.