Cortica Outras Aplicacoes

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  Universidade de Évora – Departamento de Química Paulo Mourão CORTIÇA:  OUTRAS APLICAÇÕES A cortiça, material nobre e ancestralmente utilizado (3000 anos a.C.), apresenta posição fundamental na economia nacional. A nível mundial Portugal lidera a produção de cortiça, constituindo os produtos directos e indirectos da actividade corticeira uma das principais  parcelas da nossa carteira de exportações. Além desta vertente puram ente económica (floresta e industria), nunca é demais relembrar a função social e ecológica desta cultura (Montado de Sobreiro). Estas últimas manifestam-se fixando as populações nas zonas rurais e simultaneamente contrariando o avanço da desertificação e assegurando a estabilidade do ecossistema mediterrânico (fauna e flora) e em especial do  Montado Alentejan o .  Nesta perspectiva tudo o que puder ser feito para alargar o leque de aplicações deste material contribuirá decisivamente para conter a ameaça que paira sobre esta espécie  protegida (Sobreiro). Este pequeno apontamento mostra o que está a ser feito neste domínio  pelo Departamento de Química e o Centro de Química da Universidade de Évora. Assim, além das tradicionais aplicações da cortiça com as quais nos cruzamos com alguma frequência (essencialmente rolhas e aglomerados de múltiplas aplicações), outras há que têm surgido, provavelmente menos conhecidas, desde novas aplicações na indústria automóvel até fonte de substâncias para a industria farmacêutica, passando por aglomerados rígidos muito  próximos em termos de comportamento da madeira, indú stria aeroespacial, age nte de limpeza, agente aglomerante, acessórios de moda, vestuário, entre muitas outras. Este enorme leque de aplicações resulta da feliz coincidência de num material natural estarem reunidas inúmeras  propriedades ímpares, que passam por uma excelente capacidade de isolamento térmico, eléctrico e acústico; uma admirável resposta quando submetida à compressão, à tracção e torção, e finalmente, não menos importante resposta quando em contacto com líquidos. Este comportamento exemplar e extraordinário da cortiça resulta claramente da sua estrutura alveolar tridimensional semelhante à de um favo de mel e à sua composição química [1,2].  Nos nossos laboratórios avançou-se com a utilização dos desperdícios de indústria corticeira e também dos trabalhos de poda e manutenção do sobreiro no campo, para a  produção de um material de valor acrescentado, o CARVÃO ACTIVADO [3]. De forma 1

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Distintos tipos de aplicaciones de cortica

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  • Universidade de vora Departamento de Qumica

    Paulo Mouro

    CORTIA: OUTRAS APLICAES

    A cortia, material nobre e ancestralmente utilizado (3000 anos a.C.), apresenta posio

    fundamental na economia nacional. A nvel mundial Portugal lidera a produo de cortia,

    constituindo os produtos directos e indirectos da actividade corticeira uma das principais

    parcelas da nossa carteira de exportaes. Alm desta vertente puramente econmica (floresta

    e industria), nunca demais relembrar a funo social e ecolgica desta cultura (Montado de

    Sobreiro). Estas ltimas manifestam-se fixando as populaes nas zonas rurais e

    simultaneamente contrariando o avano da desertificao e assegurando a estabilidade do

    ecossistema mediterrnico (fauna e flora) e em especial do Montado Alentejano.

    Nesta perspectiva tudo o que puder ser feito para alargar o leque de aplicaes deste

    material contribuir decisivamente para conter a ameaa que paira sobre esta espcie

    protegida (Sobreiro). Este pequeno apontamento mostra o que est a ser feito neste domnio

    pelo Departamento de Qumica e o Centro de Qumica da Universidade de vora. Assim,

    alm das tradicionais aplicaes da cortia com as quais nos cruzamos com alguma

    frequncia (essencialmente rolhas e aglomerados de mltiplas aplicaes), outras h que tm

    surgido, provavelmente menos conhecidas, desde novas aplicaes na indstria automvel at

    fonte de substncias para a industria farmacutica, passando por aglomerados rgidos muito

    prximos em termos de comportamento da madeira, indstria aeroespacial, agente de limpeza,

    agente aglomerante, acessrios de moda, vesturio, entre muitas outras. Este enorme leque de

    aplicaes resulta da feliz coincidncia de num material natural estarem reunidas inmeras

    propriedades mpares, que passam por uma excelente capacidade de isolamento trmico,

    elctrico e acstico; uma admirvel resposta quando submetida compresso, traco e

    toro, e finalmente, no menos importante resposta quando em contacto com lquidos. Este

    comportamento exemplar e extraordinrio da cortia resulta claramente da sua estrutura

    alveolar tridimensional semelhante de um favo de mel e sua composio qumica [1,2].

    Nos nossos laboratrios avanou-se com a utilizao dos desperdcios de indstria

    corticeira e tambm dos trabalhos de poda e manuteno do sobreiro no campo, para a

    produo de um material de valor acrescentado, o CARVO ACTIVADO [3]. De forma

    1

  • simples trata-se de um material com propriedades especiais que permite a sua utilizao em

    inmeros domnios que implicam a separao e/ou a purificao tanto de lquidos como

    de gases, fazendo para isso uso da sua estrutura porosa e simultaneamente das suas

    caractersticas qumicas. Do vastssimo leque de aplicaes destes materiais destacam-se as

    utilizaes no domnio industrial, que incluem a recuperao de gases poluentes,

    armazenamento de gs natural, separao de gases, incluso em baterias de io ltio, e no

    menos importante, a purificao, descolorao e desodorizao de lquidos, do ar, de produtos

    qumicos e de alimentos, entre outros [4]. Entre os lquidos merecem destaque a gua para

    consumo humano, as guas residuais e industriais e outras bebidas comerciais [5].

    Rolha

    lomerado

    Carvo Activado

    Ag

    Entre os vrios materiais porosos, os carves activados, pelas suas propriedades e

    mltiplas aplicaes, representam um campo de investigao fundamental, tanto ao nvel da

    sua caracterizao como da produo. Os carves activados preparados a partir dos

    desperdcios da cortia foram testados e caracterizados recorrendo tanto a gases (azoto,

    benzeno) como a lquidos (substncias cancergenas), tendo revelado frequentemente uma

    performance muito interessante, que por vrias vezes se situou ao nvel do que oferecido

    pelos carves activados comerciais [3].

    Esta contribuio vem abrir mais uma janela para um potencial uso dos desperdcios de

    cortia, contribuindo assim decisivamente para a valorizao e explorao de uma rvore

    fundamental na agricultura portuguesa, o Sobreiro.

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  • 3

    Bibliografia

    [1] Gil, L., Cortia: Produo, tecnologia e Aplicao, INETI, Lisboa (1998).

    [2] Fortes, M.A., Rosa, M.E. e Pereira, H., A Cortia, IST Press, Lisboa (2004).

    [3] Mouro, P.A.M., Desenvolvimento de Carves Activados a partir de Cortia, Tese de

    Doutoramento, Universidade de vora (2005).

    [4] Marsh, H., Heintz, E.A. e Rodriguez-Reinoso, F. (Eds.), Introduction to carbon

    technologies, Universidad de Alicante (1997).

    [5] Bansal, R.C., Donnet J.-B. e Stoeckli, F., Active Carbon, Marcel Dekker Inc., New York

    (1998).