Responsabilidade Disciplinar dos Notários e Registradores - José Renato Nalini
CORRELAÇÃO ENTRE PERFIL ANTROPOMÉTRICO, FUNÇÃO...
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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Programa de Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento
JOS RENATO CAMPANELLI FERREIRA DOS SANTOS
CORRELAO ENTRE PERFIL ANTROPOMTRICO, FUNO RESPIRATRIA E CARACTERSTICAS DO SONO
EM CRIANAS E JOVENS COM SNDROME DE DOWN
SO PAULO
2015
JOS RENATO CAMPANELLI FERREIRA DOS SANTOS
CORRELAO ENTRE PERFIL ANTROPOMTRICO, FUNO RESPIRATRIA E CARACTERSTICAS DO SONO
EM CRIANAS E JOVENS COM SNDROME DE DOWN
Orientadora: Prof Dr Silvana Maria Blascovi-Assis
SO PAULO
2015
Tese apresentada Universidade
Presbiteriana Mackenzie, como
requisito parcial para obteno do
ttulo de Doutor em Distrbios do
Desenvolvimento.
S237c Santos, Jos Renato Campanelli Ferreira dos.
Correlao entre perfil antropomtrico, funo
respiratria e caractersticas do sono em crianas e
jovens com sndrome de Down / Jos Renato Campanelli
Ferreira dos Santos. 2015.
78 f. : il. ; 30 cm.
Tese (Doutorado em Distrbios do Desenvolvimento) -
Universidade Presbiteriana Mackenzie, So Paulo, 2015.
Referncias bibliogrficas: f. 60-69.
1. Sndrome de Down. 2. Antropometria. 3.
Composio corporal. 4. Testes de funo
respiratria. 5. Sono. I. Ttulo.
CDD 616.858842
Aos meus pais Antonio Ferreira dos
Santos e Marizilda Campanelli, que me
presentearam com a vida, um par de asas,
slidas razes e sempre me fizeram
acreditar na realizao dos meus sonhos,
trabalhando muito para que eu pudesse
realiz-los despertando e alimentando em
minha personalidade, ainda na infncia, a
sede pelo conhecimento e a importncia
deste em minha vida.
A Minha esposa Camila Wenzel, pela
generosidade do seu amor,
companheirismo e incondicional incentivo
na busca dos meus sonhos, dando fora,
liberdade, me acompanhando nestes vos
(sempre) e contribuindo de maneira
insubstituvel para a estrutura das minhas
razes. Te Amo!!!
AGRADECIMENTOS
A Deus pela alegria de viver e pelas infinitas bnos a mim concedidas. minha orientadora e amiga Prof Dr Silvana Maria Blascovi-Assis meu carinho e minha gratido por saber transmitir seus conhecimentos, sua experincia e ainda apoiar-me nas dificuldades. Aos membros da Banca, Prof Dr Graciele Massoli Rodrigues, Prof Dr Rosana Farah Simony, Prof Dr Marcelo Fernandes, Prof Dr Ftima Aparecida Caromano que gentil e prontamente aceitaram o convite para avaliao deste estudo. Prof Dr Raquel Cymrot que carinhosamente nos auxiliou na anlise estatstica. Aos meus irmos Luiz Fernando e Leticia alm de seus cnjuges Laura e Rogrio que mesmo fisicamente longe sempre estiveram ao meu lado, incentivando e acreditando nesta conquista. Aos meus familiares, Edmia, Daniel, Fernanda, Luis, Juliana, Roberto, Elza, Priscila e Soni, entendendo os muitos momentos distantes por estar em busca de um objetivo. Aos amigos Olavo, Miranda, Marco e Graciele por todo incentivo e torcida. s minhas amigas e companheiras de coleta de dados Aline Bernardes de Souza e Amanda Faria Barrozo por me ajudar a tornar os muitos dias de dedicao prazerosos e produtivos, alm de Rosangela Romano por todo o auxilio no LACEM. famlia GERAR por compreender minhas ausncias e sempre apoiar minha busca. s APAES Jundia, So Roque, Carapicuba, Barueri, Itatiba, Sal to, It, Porto Feliz, Cotia e Sorocaba por tornarem possvel a realizao deste trabalho e pelo belssimo papel que exercem na sociedade. A todos os meninos, meninas e jovens com sndrome de Down das instituies envolvidas, assim como seus pais e cuidadores, uma vez que sem eles nada teria sido possvel. A todos os professores e funcionrios do programa de Ps Graduao em Distrbios do Desenvolvimento. Universidade Presbiteriana Mackenzie e CAPES pelo apoio financeiro.
O que h por traz da vida? Para entender, Ela precisa ser vista, Vivida, pesquisada... Contm momentos mgicos, Descobertos Por quem carrega idias nobres, Que tem formas especiais de reagir Conquistando rumos gratificantes! Um deles estendendo a mo Para melhorar a qualidade de vida de algum, Dando suporte sua sensibilidade, sua generosidade, Essncias prprias, Imprescindveis ao ser humano!
(Prof Antonio Ferreira dos Santos, 2015)
RESUMO
O objetivo deste estudo foi caracterizar o perfil antropomtrico de um grupo de
pessoas com sndrome de Down (SD), estabelecendo correlaes entre as
variveis de ndice de massa corporal (IMC), circunferncia de cintura (CC),
relao cintura-quadril (RCQ), percentual de gordura (%G) estabelecida a partir
da bioimpedncia (BIA) e das medidas de dobras cutneas (DC), com o pico de
fluxo expiratrio (PFE) e caractersticas do sono. Participaram do estudo 63
indivduos com SD, de ambos os sexos com faixa etria compreendida entre 11
e 25 anos, vinculados a instituies de assistncia pessoa com SD. Foram
coletados dados de peso, estatura, CC, circunferncia de quadril, DC, %G por
meio da bioimpedncia, PFE e caractersticas do sono a partir do questionrio
Children Sleep Habits Questionnaire aplicado aos pais dos participantes. Os
dados foram analisados por meio do teste de correlao de Pearson. Todas as
variveis de composio corporal apresentaram importante tendncia de
excessiva concentrao de gordura assim como forte correlao entre si. A RCQ
apresentou elevados ndices para risco de desenvolvimento de doena
coronariana e correlao com variveis de composio corporal apenas para o
sexo masculino. O PFE apresentou resultados semelhantes a outros estudos
com SD, evidenciando valores inferiores se comparados populao com
desenvolvimento tpico, porm a correlao entre as variveis de composio
corporal apenas se apresentou para o sexo masculino. As caractersticas do
sono mostraram resultados que sugerem a presena de distrbios do sono com
nmero elevado de indivduos classificados acima da nota de corte, no entanto a
correlao com as variveis de composio corporal somente foram observadas
no sexo feminino. Acredita-se que a escassez de estudos, testes e ndices de
referncia especficos para a populao com SD um importante fator que pode
interferir de maneira direta na anlise do dados. Nenhum ndice de composio
corporal deve ser utilizado de maneira isolada e todos os resultados devem ser
analisados com critrio e de maneira cuidadosa afim de que no sejam super ou
subestimados.
Descritores: Sndrome de Down; Antropometria; Composio Corporal; Testes
de Funo Respiratria; Sono.
ABSTRACT
The aim of this study was to characterize the anthropometric profile of a group of
people with Down syndrome (DS), establishing correlations between body mass
index variables, waist circumference, waist-hip ratio, body fat percentage
established as from the bioelectrical impedance and skinfold measurements, with
the peak expiratory flow and sleep characteristics. The study included 63
individuals with DS, of both sexes with age between 11 to 25, linked to DS care
institutions. Data was collected: weight, height, waist circumference, hip
circumference, body fat percentage by bioelectrical impedance and skinfold, peak
expiratory flow and sleep characteristics from the Children Sleep Habits
Questionnaire administered to the parents of the participants. Data were
analyzed using Pearson's correlation test. All body composition variables showed
marked tendency to excessive concentration of body fat with strong correlation.
Waist-hip ratio presented high levels for risk of developing coronary heart
disease and correlation with body composition variables for males only. The peak
expiratory flow had similar results to other studies on DS with lower values
compared to people with normal development but the correlation between body
composition variables performed for males only. The characteristics of sleep
showed results that suggest presence of sleep disorders with a high number of
individuals classified above the cut-off point but the correlation with the body
composition variables were observed in women only. It is believed that the lack of
studies, specific reference tests and rates for the DS population is an important
factor that can directly interfere in the data analysis. No composition index should
be used in isolation and all results should be treated with discretion and careful
manners in order that they are not over or underestimated.
Keywords: Down Syndrome; Body Mass Index; Anthropometry: Body
Composition; Sleep; Respiratory Function Tests
LISTA DE ILUSTRAES
Figura 1. Caritipo de uma pessoa sem a SD.......................................... 19 Figura 2. Caritipo de uma pessoa com a SD, causada por no
disjuno................................................................................. 19
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Equaes para transformao de valores de densidade corporal (Dc) em %G...................................................................................... 36
Tabela 2. Perfil dos participantes, quanto a idade, participao em aulas de educao fsica, participao em atividade fsica extra instituio, freqncia semanal e modalidades............................ 38
Tabela 3. Valores mdios de peso e estatura para G1 e G2............................ 40
Tabela 4. Representao dos valores percentuais de IMC para as classificaes de Eutrfico, Sobrepeso e Obesidade para G1 e G2.........................................................................................................
42 Tabela 5. Representao dos valores percentuais de classificao para
Eutrfico e Sobrepeso/Obesidade para G1 e G2.............................. 44
Tabela 6. Representao de valores mdios e desvio padro para as variveis de CC e RCQ..................................................................... 45
Tabela 7. Representao de valores mdios e desvio padro para as variveis de %G obtidos por meio das dobras cutneas e da bioimpedncia......................................................................................
47 Tabela 8. Representao dos valores percentuais referentes aos
adolescentes e jovens classificados acima dos pontos de corte para sobrepeso e obesidade....................................................... 47
Tabela 9. Representao dos valores mdios e desvio padro para a varivel de pico de fluxo expiratrio, obtida por meio do peak flow para os grupos dos sexos masculino e feminino com faixas etrias compreendidas de 11 a 14 e 15 a 25 anos........................... 48
Tabela 10. Representao dos resultados acerca da presena de problemas do sono de acordo com a percepo dos pais e resultados mdios sobre os horrios de deitar, despertar e tempo total de sono dirio para a semana e para os finais de semana....................................................................................... 50
Tabela 11. Representao dos valores mdios da soma das respostas de
cada um dos oito domnios para os grupos participantes............ 50
Tabela 12. Representao dos resultados para os testes de correlao de Pearson para as variveis de IMC e CC com as variveis de %G BIA e %G DC com valores de r e p
LISTA DE ABREVIATURAS
%G Percentual de Gordura;
BIA Impedncia Bioeltrica;
CC Circunferncia de Cintura;
CDC - Center for Disease Control and Prevention;
CEP - Comit de tica em Pesquisa;
CO2 Dixido de Carbono;
CQ Circunferncia de Quadril;
CSHQ - Children Sleep Habits Questionnaire;
CVF Capacidade Vital Forada;
Dc Densidade Corporal;
DC Dobras Cutneas;
IMC ndice de Massa Corporal;
OMS Organizao Mundial de Sade;
PFE Pico de Fluxo Expiratrio;
RCQ Relao Cintura Quadril;
SD Sndrome de Down;
WHO World Health Organization.
Sumrio
1 INTRODUO ........................................................................................... 12
2 OBJETIVO ................................................................................................. 15
2.1 Objetivos Especficos .............................................................................. 15
3 REVISO DE LITERATURA ...................................................................... 16
3.1 Sndrome de Down .................................................................................. 16
3.2 Composio Corporal .............................................................................. 22
3.3 Funo Respiratria ................................................................................. 26
3.4 Caractersticas do Sono ........................................................................... 27
4 MATERIAL E MTODOS ........................................................................... 30
4.1 Tipo de Estudo ........................................................................................ 30
4.2 Amostra ................................................................................................... 30
4.3 Local ....................................................................................................... 31
4.4 Procedimentos ......................................................................................... 31
4.4.1 Peso ..................................................................................................... 31
4.4.2 Estatura ................................................................................................ 32
4.4.3 Circunferncias de Cintura e Quadril .................................................... 32
4.4.4 Percentual de Gordura por meio de Bioimpedncia .............................. 33
4.4.5 Percentual de Gordura por meio de Dobras Cutneas .......................... 34
4.4.6 Pico de Fluxo Expiratrio ...................................................................... 36
4.4.7 Avaliao das Caractesticas do Sono .................................................. 37
5 RESULTADOS E DISCUSSO .................................................................. 38
5.1 Peso e Estatura ....................................................................................... 39
5.2 ndice de Massa Corporal ........................................................................ 41
5.3 Circunferncia de Cintura e Relao Cintura Quadril ............................... 44
5.4 Percentual de Gordura por meio de Bioimpedncia e Dobras Cutneas... 46
5.5 Pico de Fluxo Expiratrio ......................................................................... 48
5.6 Caractersticas do Sono ........................................................................... 49
5.7 Correlaes entre variveis ..................................................................... 54
5.8 Limitaes ............................................................................................... 58
6 CONCLUSO ............................................................................................ 59
REFERNCIAS ................................................................................................ 60
ANEXO I ........................................................................................................... 70
ANEXO II .......................................................................................................... 72
ANEXO III ......................................................................................................... 73
ANEXO IV...........................................................................................................74
12
1 INTRODUO
Os primeiros estudos sobre a Sndrome de Down (SD) datam de 1866,
quando o Dr. John Langdon Down descreveu em seus relatos as caractersticas
fenotpicas deste quadro bastante especfico. No entanto, sua etiologia gentica
foi identificada apenas em 1959, pelo francs Jrme Lejeune, sendo de todas
as sndromes genticas, considerada a mais comum na raa humana (DOWN,
1886; NUSSBAUM; MCLNNES; WILLARD, 2002).
So diversas as caractersticas comuns s pessoas com essa sndrome,
tais como hipotonia generalizada, atraso global do desenvolvimento, presena de
cardiopatias e afeces respiratrias frequentes, alm de problemas metablicos
e alteraes ortopdicas. Nesse estudo, pretende-se destacar dentre as
peculiaridades fsicas dessas pessoas, a prevalncia elevada de sobrepeso e
obesidade que so descritas com base na composio corporal (MOREIRA; El -
HANIB; GUSMO, 2000; MUSTACCHI, 2000; COOLEY; GRAHAM, 2000;
CUNNIF et al., 2001; WILLARD, 2002; CASTRO, 2005; PUESCHEL, 2007,
GRILLO et al., 2009; NUSSBAUM; MCLNNES; WILLARD, 2002; RIBEIRO;
RODRIGUES, 2010).
As discusses relacionadas s temticas do sobrepeso e/ou obesidade se
destacam por remeter a relao deste quadro a fatores que contribuem de forma
direta ao aumento do risco em desenvolver doenas coronarianas como infarto
agudo do miocrdio, hipertenso arterial, alm de diabetes, doenas
pulmonares, alguns tipos de cncer, problemas renais, doena da vescula bi liar,
problemas nas articulaes, msculos e alteraes endcrinas. Tais fatos se
evidenciam normalmente a partir da adolescncia o que por sua vez pode
contribuir para a diminuio da qualidade e da expectativa de vida dessas
pessoas (PUESCHEL, 2007; MARTIN; MENDES; HESSEL, 2011).
Sendo assim, torna-se cada vez mais importante e necessrio entender os
efeitos do acmulo excessivo de gordura corporal em pessoas com SD, em
especial em estudos realizados com crianas e adolescentes (GIUGLIANO;
CARNEIRO, 2004).
Crianas com SD possuem caractersticas do aparelho respiratrio bastante
peculiares como conseqncia de vrios fatores que, associados, levam ao
desenvolvimento de anormalidades que afetam a funo pulmonar. Dentre as
13
mais comumente observadas pode-se destacar a hipotonia muscular
generalizada responsvel por gerar alteraes na caixa torcica, reduo da
fora muscular respiratria, reduo da capacidade e volume pulmonar,
obstruo das vias areas superiores. Estes fatores somados presena da
obesidade, frouxido ligamentar e sedentarismo, levaro estas pessoas a
desenvolver doenas das vias respiratrias inferiores, hipertenso pulmonar,
hipoplasia pulmonar, apnia obstrutiva do sono, infeces respiratrias, sendo
estas decorrentes do acmulo de secreo gerado pelo reduzido potencial
bronco espstico, favorecendo a proliferao bacteriana (MUSTACCHI;
ROZONE, 1990; MCGROTHER; MARSHALL, 1990; OTTO, 1998; SOARES et
al., 2004; POLICARPO; SANTOS, 2010).
Inicialmente acredita-se que a avaliao da composio corporal seja
fundamental, uma vez que a obesidade, em funo da elevada presena de
tecido adiposo principalmente na regio do tronco, seja fator de risco por
representar uma carga constante sobre o sistema respiratrio. Estudos que
demonstram as principais alteraes em indivduos obesos indicam que a
diminuio da complacncia da caixa torcica e pulmonar, diminuio da
excurso diafragmtica, reduo da capacidade vital forada (CVF) e diminuio
da capacidade de difuso do dixido de carbono (CO2) podem ser fatores
complicadores da condio respiratria (PELOSI et al., 1998).
Estudos sobre as correlaes existentes entre a composio corporal e a
fora muscular respiratria tm demonstrado que a obesidade est diretamente
relacionada s alteraes na mecnica respiratria e estas so causadas pelo
excessivo acmulo de gordura no tronco, mais especificamente no gradil costal,
diafragma e abdmen o que faz com que ocorra uma reduo na complacncia
da caixa torcica acompanhada da diminuio da excurso diafragmtica.
(MCGROTHER; MARSHALL, 1990; SCANLAN; WILKINS; STOLLER, 2002;
SANTIAGO et al., 2008).
Considera-se ainda importante, quando se estuda os transtornos respiratrios
e sua associao com caractersticas da composio corporal, a avaliao das
caractersticas do sono de pessoas com SD, uma vez que o quadro de hipotonia
muscular, combinado com o quadro de obesidade contribui de forma direta para
o surgimento da apneia obstrutiva do sono, que conseqncia da obstruo
das vias areas superiores, diminuindo a ventilao pulmonar com reduo da
14
entrega de O2 (SOARES et al., 2004). Alm disso, sabe-se que as alteraes no
padro do sono tm um impacto significativo na qualidade de vida das pessoas.
Este fato se potencializa quando consideramos crianas e adolescentes com SD,
uma vez que estes efeitos iro refletir de maneira bastante negativa nas funes
cognitivas, no desempenho escolar e de comportamento, fatores estes que
afetaro tambm seus pais e/ou cuidadores assim como professores e colegas
(GOZAL, 1998).
Considerando essas caractersticas, torna-se relevante investigar possveis
relaes entre esses fatores, com o intuito principal da promoo de sade e
bem estar para essa populao.
Acredita-se que os dados encontrados na literatura, que apontam a existncia
de correlao entre os valores elevados de ndice de composio corporal (IMC)
e de relao cintura quadril (RCQ) com valores de fora muscular respiratria
abaixo da normalidade em pessoas com sndrome de Down, sero reforados
quando comparados os dados de percentual de gordura, capacidade respiratria
e caractersticas do sono em crianas e jovens, fato este que poder contribuir
no sentido de alertar para estas caractersticas de forma precoce.
15
2 OBJETIVO
Este estudo teve como objetivo caracterizar o perfil antropomtrico de um
grupo de pessoas com SD, estabelecendo correlaes entre as variveis de
ndice de massa corporal (IMC), circunferncia de cintura (CC), relao cintura-
quadril (RCQ), percentual de gordura (%G) estabelecida a partir da
bioimpedncia (BIA) e das medidas de dobras cutneas (DC), com o pico de
fluxo expiratrio (PFE) e as caractersticas do sono.
2.1 Objetivos Especficos
Descrever os valores para sobrepeso e obesidade relacionados ao
IMC
Descrever os valores para %G para essa populao, por meio da
BIA e das medidas de DC;
Apontar riscos para desenvolvimento de doena coronariana por
meio de medidas de CC e clculo de RCQ;
Descrever os valores de PFE para essa populao;
Descrever as caractersticas do sono para os participantes a partir
de questionrio aplicado aos cuidadores;
Apresentar e discutir as correlaes propostas indicando as
limitaes para cada medida e instrumento utilizado com esta
populao.
16
3 REVISO DE LITERATURA
A reviso de literatura ser focada em aspectos descritivos da SD
relacionados composio corporal, capacidade respiratria e das caractersticas
do sono.
3.1 Sndrome de Down
Os relatos acerca da SD esto presentes na literatura h muitos anos,
com os primeiros registros datados, em relao a sua presena na histria da
humanidade, em meados do sculo XIX. Esses registros incluem pinturas entre
os anos de 1431 e 1678, nas quais crianas com SD eram retratadas com seus
traos tpicos. Outros relatos incluem a descrio dessas pessoas com enfoque
nas caractersticas fenotpicas, com nfase nos dficits intelectuais, com o uso
de termos hoje no mais empregados como idiotas do tipo mongolide ou
cretinismo furfurceo (BOFF; CAREGNATO, 2008; SCHWARTZMAN, 2009).
Em 1866, o mdico ingls John Langdon Down passou a descrev-la de
maneira mais especfica. Estas observaes tiveram incio com os internos de
um hospital psiquitrico, onde foram identificadas evidncias de que entre os
doentes mentais havia grupos com caractersticas distintas. Associado a isso,
Langdon Down observou que mesmo pais europeus geravam crianas com
aparncia oriental e estas, mais especificamente parecidas com crianas
originrias da Monglia. Por este motivo, surgiu a denominao mongolismo,
tendo como origem seus relatos evidenciando as caractersticas fenotpicas,
sobretudo as diretamente ligadas aos aspectos fsicos (DOWN, 1866;
NUSSBAUM; SILVA; FERREIRA, 2001; MCLNNES; WILLARD, 2002; SILVA;
DESSEN, 2002; KOZMA, 2007).
Apenas por volta de 1932, Waardenburg, um oftalmologista holands,
comeou a discutir que a SD poderia estar ligada a erros cromossmicos. Em
continuidade, diversos estudos contriburam para a evoluo das discusses
acerca desta sndrome, porm, foi somente em 1959, que o mdico geneticista
francs Jrme Lejeune, descobriu, por meio de suas observaes relacionadas
ao cultivo de clulas de pessoas com SD, a presena de um cromossomo a mais
e apenas aps isso o mesmo mdico percebeu que se tratava do cromossomo
17
21. Em conseqncia desta descoberta pode-se evoluir ainda mais e ento
descrever variaes desta mesma sndrome, a translocao e o mosaicismo
(STRAY-GUNDERSEN, 2006; BOFF; CAREGNATO, 2008; SCHWARTZMAN,
2009).
Esta sndrome recebeu diversas denominaes, entre as quais se pode
destacar: imbecilidade mongolide, idiotia mongolide, cretinismo furfurceo,
acromicria congnita, criana mal-acabada, criana inacabada e mongolismo. No
entanto, a partir de 1965, em funo de muitas crticas a respeito, a Organizao
Mundial de Sade (OMS) decidiu extinguir estes termos e apenas utilizar em
suas publicaes o termo sndrome de Down, ou trissomia do 21
(SCHWARTZMAN, 2009).
De maneira bastante bsica a SD conhecida como uma anomalia
gentica, conseqncia de uma falha na diviso celular. Paralelamente, pode-se
citar que nada do que feito antes e/ou durante a gravidez tem efeito sobre o
desenvolvimento desta sndrome, posto isto, os pais no tem responsabilidade
alguma em seu surgimento (STRAY-GUNDERSEN, 2006).
No entanto, existem muitas especulaes geradas por estudos, onde se
aponta a presena de maior probabilidade para o nascimento de crianas com
SD quando existe elevada exposio radiao. Esta informao tem sua
origem em estudos realizados na Inglaterra, onde foi associado, um nmero
maior de nascimentos de crianas com SD em regies onde se faziam testes
nucleares e por isso uma exposio expressiva radiao (SILVA; DESSEN,
2002).
O que realmente se sabe que, em meio s diversas alteraes
cromossmicas, a SD uma das que se destaca por ter um dos maiores valores
de incidncia, com cerca de 1 para cada 800 a 1000 nati vivos e por estar
presente em todas as classes sociais, etnias e pases do mundo (DOWN, 1886;
MOREIRA; El-HANIB; GUSMO, 2000; CDC, 2006; PUESCHEL, 2007;
MENDONA; PEREIRA, 2008; NETO; PONTES; FERNANDES FILHO, 2010).
Por outro lado existem evidncias apresentadas em estudos, onde o
avano da idade das mulheres pode representar uma maior predisposio para o
desenvolvimento da SD em seus bebs. Como justificativa apresentado o fato
de que o processo de formao dos vulos acontece ainda dentro do ventre da
sua me e tem sua concluso momentos antes da ovulao. Sendo assim eles
18
envelhecem concomitantemente mulher e, desta forma, este longo perodo
de espera pode de alguma maneira proporcionar a possibilidade de apresentar
relativa dificuldade no processo de separao cromossmica e ento resultar no
desenvolvimento de um vulo com 22 cromossomos, que no ir sobreviver, e
outro com 24 cromossomos e este em condies de ser fertilizado. Assim sendo,
quanto maior a idade da mulher, maior a probabilidade de vir a ter um filho com
SD (SILVA; DESSEN, 2002; STRAY-GUNDERSEN, 2006).
Em relao aos processos de formao e envelhecimento de
espermatozides, como estes acontecem por toda a vida adulta do homem,
acredita-se que a probabilidade da situao supracitada acontecer inferior,
girando em torno de 10% a 15% (STRAY-GUNDERSEN, 2006).
De uma forma bastante slida sabe-se que os seres humanos de
desenvolvimento tpico possuem 23 de pares de cromossomos, resultando em
um total de 46 cromossomos, porm nos seres humanos com SD algumas
alteraes podem acontecer. Apesar de ser bastante difundido que a SD se trata
da trissomia do cromossomo 21 e esta alterao normalmente ocasionada no
momento da diviso celular, nem todas as suas representaes tm a mesma
origem ou forma, podendo se evidenciar de trs maneiras distintas.
So elas:
- No-disjuno do cromossomo 21, onde ocorre uma diviso
cromossmica de forma errada durante a meiose o que por sua vez resulta em
um zigoto que possui em sua formao trs cromossomos 21, em conseqncia
o cromossomo extra retransmitido para cada nova clula, ao final do processo
cada uma das clulas do indivduo ir conter este cromossomo 21 extra. Este
formato da SD pode ser responsvel por cerca de 90% dos casos e comumente
conhecido por trissomia do cromossomo 21.
- Translocao, apresentada quando um cromossomo extra se separa
durante o processo de meiose e em seguida se liga a outro cromossomo, esta
ligao ocorre geralmente aos cromossomos 14 ou 21, quando da ocorrncia
desta forma denomina-se trissomia do cromossomo 21 por translocao. Esta
variao pode estar presente ou ser responsvel por cerca de 3% a 4% dos
casos.
- Mosaicismo, que se trata de um formato mais raro de desenvolvimento,
onde por algum motivo a diviso imperfeita, ao contrrio das outras formas,
19
acontece aps a fertilizao em alguma das primeiras divises celulares. Este
fato faz com que apenas algumas clulas do embrio possuam a trissomia do
cromossomo 21. Fundamentalmente, essa diferena faz com que o indivduo
carregue uma quantidade menor de caractersticas da SD. Esta rara formao
pode estar presente em aproximadamente 1% dos casos (BEIGUELMAN, 1982;
HAYES; BATSHAM, 1993; SOUZA, 2001; SILVA; FERREIRA, 2001; SILVA;
DESSEN, 2002; BISSOTO, 2005; STRAY-GUNDERSEN, 2006; PUESCHEL,
2007; KOZMA, 2007; ORNELAS; FRANCA; BOFF, 2008; SILVA et al., 2009;
FERRAZ; ARAUJO; CARREIRO, 2010; ANGLICO; PRETTE, 2011).
Nas figuras 1 e 2 esto representadas imagens dos caritipos de uma
pessoa sem a SD e outra com a SD, respectivamente.
Figura 1 - Caritipo de uma pessoa sem a SD.
Figura 2 - Caritipo de uma pessoa com a SD, causada por no disjuno.
Atualmente pode-se detectar e diagnosticar a SD ainda no perodo
gestacional, por volta da 9 semana de gestao por meio de exame do
Fonte: Stray-Gundersen (2006)
Fonte: Stray-Gundersen (2006)
20
vilocorial, ou entre as 16 e 18 semanas pela amniocentese. No entanto, o
mtodo mais seguro para o diagnstico da SD realizado por anlise
citogentica do caritipo. Apesar destes fatos, uma vez diagnosticada a
presena da sndrome, nada pode ser feito para corrigir e/ou reverter este
quadro (ORNELAS; SOUZA, 2001; SILVA; DESSEN, 2002).
Nos estudos desenvolvidos sobre a SD observa-se que, quase sempre,
inmeras caractersticas bastante peculiares so descritas e dentre elas
destacam-se:
- Inteligncia normalmente abaixo dos limites de classificao normal,
levando a uma classificao de deficincia mental leve ou moderada, alcanando
valores de 55 a 70 ou de 40 a 55, respectivamente na escala de QI, apenas uma
minoria pode vir a ser classificada com deficincia mental grave. Por outro lado
algumas destas pessoas esto dentro das classificaes tidas como normais,
com valores entre 70 e 130 (STRAY-GUNDERSEN, 2006).
Conforme estudo de Silva; Dessen (2002), somente 65% dos jovens com
SD no necessitam de ajuda para se alimentar e/ou ir ao banheiro, este
percentual diminui, ficando entre 33% e 65%, para se vestir, um percentual perto
de 50% para tomar banho e apenas 25% para lavar os cabelos. Desta forma, as
pessoas com SD permanecem dependentes de algum tipo de ajuda por mais
tempo, porm, com idades prximas aos 18 anos, praticamente metade deles
consegue atingir relativa independncia, tendo condies de realizar as
atividades citadas sem auxilio.
Paralelamente, os principais problemas de sade da pessoa com SD
ento relacionados cardiopatia congnita com valores de 40% a 50% dos
casos, hipotonia muscular generalizada em praticamente 100% dos casos,
problemas de audio apresentados em percentual entre 50% a 70% e de viso
com valores percentuais de 15% podendo chegar a 50% dos casos, alm de
caractersticos quadros de sobrepeso e obesidade (SILVA; KLEINHANS, 2006;
FLORENTINO NETO; PONTES; FERNANDES FILHO, 2010; POLICARPO;
SANTOS, 2010)
Pode-se ainda citar caractersticas comuns referentes a:
- Medidas referentes cabea, no raramente so feitas referncias
microcefalia, caracterizando em mdia um tamanho 3% inferior aos padres
normais, achatamento da parte posterior, denominada de braquicefalia alm de
21
pescoo curto com dobras aparentes, cabelos ralos e lisos, alm de face
achatada e larga.
- Olhos com aparncia oriental, bastante caractersticos das pessoas
originrias da Monglia, que de maneira mais especfica so denominados de
fissuras palpebrais oblquas, quase sempre acompanhados de dobras epicnticas,
ou seja, no canto dos mesmos, manchas na ris conhecidas como manchas de
Brushfield, principalmente presentes quando os olhos so azuis.
- Nariz, comumente pequeno, apresentado com base mais alargada, o que
torna as vias nasais menores e por isso com uma maior probabilidade de se
apresentarem congestionadas, o que por sua vez reforam sua propenso a
respirao bucal.
- Boca, ou cavidade oral normalmente pequena, porm, com cu da boca
profundo e lngua protrusa, os dentes podem apresentar atraso no incio do seu
nascimento e no obedecer a uma ordem normal, alm de nascerem fora de
lugar e apresentar formatos incomuns.
- Orelhas, geralmente pequenas e localizadas com baixa implantao,
tendo as vias auditivas menores e por este motivo, maior propenso em ficar
bloqueadas e assim desenvolverem problemas auditivos.
- Mos pequenas e freqentemente com dedos mais curtos, sendo o
quinto dedo levemente curvado e com apenas uma linha de flexo (clinodactilia),
alm disso, possuem tambm linha nica na palma da mo, chamada prega
palmar nica.
- Ps, chatos e largos, com a distncia entre o primeiro e o segundo
dedos aumentada e bastante caracterstica (GUSMO, 2000; ORNELAS;
SOUZA, 2001; DESSEN, 2002; CIDADE; FREITAS, 2005; STRAY-
GUNDERSEN, 2006; MOREIRA; El-HANIB; SILVA; KOZMA, 2007).
Em relao estatura bastante comum pessoas com SD apresentarem
altura inferior mdia da populao com desenvolvimento tpico, sendo em
mdia 1,57m e 1,37m para homens e mulheres, respectivamente. Alm disso,
outra caracterstica peculiar atingirem sua estatura final e/ou adulta mais cedo,
por volta dos 15 anos de idade (SILVA; DESSEN, 2002; STRAY-GUNDERSEN,
2006).
Acredita-se que o tnus muscular seja uma das caractersticas mais
importantes e de maior impacto negativo para a sade da criana com SD o que
22
associada frouxido ligamentar pode originar problemas nos ps, joelhos,
quadris, instabilidade nas articulaes cervicais e comprometimento da
articulao coxofemoral, contribuindo para que a criana demore mais tempo
para se desenvolver, ou seja, aprender a rolar, engatinhar, sentar e andar. Alm
disso, responsvel tambm por dficits relacionados fala, respirao, prtica
de atividades fsicas, entre outros. Somado a isso, pode-se ainda citar a
instabilidade atlanto-axial que se trata do excesso de mobilidade na regio do
pescoo causada pelo aumento do espao articular entre as vrtebras atlas e
axis, localizadas na base do crnio, associada ou no a m formao do
processo odontide. Na presena dessa instabilidade so contra-indicados
exerccios de mobilidade exagerada ou brusca na regio cervical. Importante
reforar que as anormalidades anatmicas e fisiolgicas encontradas nas
pessoas com SD os tornam mais vulnerveis ao desenvolvimento de infeces
respiratrias, sendo estas a principal causa de admisso hospitalar e de
mortalidade entre estas pessoas (SOARES et al., 2004; POLICARPO; SANTOS,
2010).
3.2 Composio Corporal
Conforme j apresentado, as pessoas com SD apresentam diversas
caractersticas peculiares, dentre elas malformaes, doenas e anomalias.
Estas podem estar presentes em diferentes formas, aspectos e fases de
desenvolvimento (GONZALES, 2002; BERTRAND et al., 2003; MARTIN;
MENDES; HESSEL, 2011).
Ainda de maneira bastante peculiar, as pessoas com SD diferenciam-se
das pessoas com desenvolvimento tpico, sobretudo em relao ao crescimento
e isso vem sendo observado j na fase pr-natal quando demonstram possuir
uma tendncia ao nascimento prematuro (com perodo gestacional no superior
a 37 semanas) (GORLA et al., 2011; MARTIN; MENDES; HESSEL, 2011).
Ao nascimento, as caractersticas de alterao de crescimento
apresentam valores de estatura e peso corporal inferiores ao previsto,
mantendo-se presentes no s no incio da infncia como tambm durante a
adolescncia e ao longo da vida (CRONK et al., 1998; FREIRE; COSTA;
GORLA, 2014).
23
Reforando, Martin; Mendes; Hessel (2011), em seu estudo descrevem
que, pessoas com SD, quando comparadas s sem a sndrome, aps o
nascimento, apresentam uma taxa de crescimento 20% inferior por um perodo
compreendido entre o 3 e o 36 ms de vida para ambos os sexos; 5% inferior
para o perodo dos 3 aos 10 anos para meninas e de 10% inferior dos 3 aos 12
anos para meninos. Na fase de idade que vai dos 10 aos 17 anos, esta taxa de
crescimento reduz sua velocidade ainda mais, apresentando um percentual que
varia de 27% a 50%, para meninas e meninos respectivamente.
No menos evidente do que a taxa de crescimento baixa, pode-se
observar na literatura em relao SD, frequentemente, apontamentos e
discusses acerca de uma importante tendncia ao sobrepeso e obesidade,
quando comparadas com populaes com desenvolvimento tpico (SILVA;
SANTOS; MARTINS, 2006; JOBLING; CUSKELLY, 2006; NETO; PONTES;
FERNANDES FILHO, 2010).
A obesidade, seja para a SD ou para a populao de um pas, deve ser
tratada como uma doena crnica, causada pelo excessivo acmulo de gordura,
que vem aumentando em muito a sua incidncia em diferentes populaes e nas
mais diversas faixas etrias. Alm disso, para a OMS, a obesidade alm de estar
associada, facilita o desenvolvimento de diversas outras doenas, tais como,
dislipidemias, afeces pulmonares, diabetes Mellitus, alguns tipos de cncer,
problemas renais, doena da vescula biliar, problemas nas articulaes,
msculos, hipertenso arterial e alteraes endcrinas (WHO, 2000; WHO, 2002;
FISBERG, 2005).
Ainda, Silva; Santos; Martins (2006) e Silva et al., (2009) relatam que
pessoas com SD destacam-se por fazer parte de um grupo com a prevalncia de
sobrepeso e em casos mais graves de obesidade, em nveis superiores aos
apresentados em populaes adultas, com desenvolvimento tpico.
Esses dados so reforados por estudos epidemiolgicos que
apresentam ndices de sobrepeso e obesidade somados, em torno de 45% e
56% respectivamente para homens e mulheres com SD. (MELVILLE et al., 2004;
HENDERSON et al., 2007; BHAUMIK et al, 2008; PEREIRA, 2009; SILVA et al.,
2009; NETO; PONTES; FERNANDES, 2010).
24
Por outro lado os mesmos ndices para populao com desenvolvimento
tpico, realizado por Damiani; Oliveira (2004) foram apresentados com valores de
26,2% para sobrepeso e 8,5% para obesidade.
Contribuindo de forma direta para uma evoluo negativa deste quadro e
assim agravando as dificuldades no combate a esta tendncia, as alteraes
genticas peculiares a SD dificultam a prtica de atividades fsicas de modo
regular, uma vez que as aes motoras destas pessoas so bastante limitadas,
fazendo com que este grupo desenvolva caractersticas especialmente
sedentrias, reforando o agravamento deste quadro. Esse grupo pode
apresentar deficincia de zinco, diretamente relacionado ao metabolismo dos
hormnios tri-iodotironina (T3) e tiroxina (T4), gerando o hipotireoidismo que,
quando associado a caractersticas sedentrias, pode levar a um quadro de
metabolismo basal reduzido, refletindo diretamente no organismo em forma de
aumento de peso (SILVA; KLEINHANS, 2006; PUESCHEL, 2007).
Considerando todos os prognsticos em relao obesidade para a SD,
no se pode deixar de observar que, concomitantemente, no existe um
consenso na literatura em relao ao estabelecimento para ndices especficos
de obesidade para esta populao (MARTIN; MENDES; HESSEL, 2011;
FREIRE; COSTA; GORLA, 2014).
Contudo, vale ressaltar a linha de pensamento de Pollock; Wilmore
(1993) que discutem que o excesso de peso nem sempre caracteriza um
problema para o indivduo, tendo ele ou no SD, destacando que o que de fato
representa fator de relevncia negativa para a qualidade de vida o %G.
No entanto, o que tem sido discutido na literatura de maneira recorrente
e de forma bastante especfica, a utilizao do IMC, o que para a OMS trata-se
de um importante preditor de sobrepeso e obesidade, como ferramenta de auxilio
para reforar e estabelecer tais caractersticas relacionadas populao com SD
(WHO, 2000; MARTIN; MENDES; HESSEL 2011; FREIRE; COSTA; GORLA,
2014).
Paralelamente, outra linha de discusso, questiona a maneira com que o
IMC tem sido utilizado e apresenta o fato de que esta ferramenta pode no ser a
melhor para isso, pois, no possui uma efetiva condio de distinguir os
diferentes componentes da composio corporal. Mesmo assim, ainda um
25
mtodo largamente utilizado, pois de fcil aplicao e principalmente de baixo
custo (COSTA, 2001; JANURIO; NASCIMENTO; BARAZETTI, 2008).
Corroborando podemos citar estudos de Cronk et al. (1988) e Mustacchi
(2002), onde afirmam que a peculiar caracterstica de apresentar reduo da
taxa de velocidade para o crescimento linear, reflete na baixa estatura o que por
sua vez gera menor ingesto calrica. Estes fatores tambm podem interferir no
clculo do IMC e conseqentemente alterar o diagnstico da obesidade.
As discusses encontradas na literatura acerca de composio corporal
para pessoas com SD trazem tabelas referenciais de curvas de crescimento,
IMC, relao cintura quadril, circunferncia de cintura, circunferncia de quadril
e percentual de gordura por meio da impedncia bioeltrica ou dobras cutneas,
para em seguida compar-los, quase sempre, com estudos de diferentes pases
ou grupos sem a SD, uma vez que so poucos os estudos desta natureza com
brasileiros ou latino americanos (MUSTACCHI, 2000; SANTOS;
FRANCESCHINI; PRIORE, 2006; MENDONA; PEREIRA, 2008; BARBOSA;
FERNANDES; FERNANDES FILHO, 2009; SILVA et al., 2009; PEREIRA, 2009;
THEODORO; BLASCOVI-ASSIS, 2009; RIBEIRO; RODRIGUES, 2010).
Reforando, diversos estudos apresentam o fato de que pessoas com SD
tm por caracterstica, composio corporal diferente das pessoas com
desenvolvimento tpico, posto isso, acredita-se que valores convencionais de
referncia podem no representar este grupo de pessoas da melhor forma
(MARTIN; MENDES; HESSEL, 2011; GORLA et al., 2011; FREIRE; COSTA;
GORLA, 2014).
Complementando, Mendona; Pereira (2008), discutem que estas
classificaes relacionadas obesidade h muito foram utilizadas de maneira a
potencializar esta tendncia e isso se devia utilizao confusa das
classificaes de IMC. Desta forma, o que se tem discutido no sentido de
minimizar estes erros a utilizao de padres de estatura e peso especficos
para a populao com SD, o que por sua vez reflete de forma direta em
interpretaes mais aproximadas da realidade, uma vez que este grupo de
pessoas possui caractersticas bastante especficas quanto ao biotipo e a faixa
etria, sobretudo quando o foco das discusses permeia o mbito do sobrepeso
e da obesidade (VALENZUELA; PASSARELLI; COATES, 2011; GORLA et al.,
2011; FREIRE; COSTA; GORLA, 2014).
26
3.3 Funo Respiratria
Alm dos j citados acometimentos relativos composio corporal,
existem ainda outros, diretamente relacionados funo respiratria. Desta
forma, a literatura discute a importncia da sua avaliao no sentido de
proporcionar condies para a preveno ou diagnstico precoce, uma vez que
reduzidos volumes pulmonares podem estar diretamente relacionados ao
acmulo excessivo de secrees, em virtude do baixo fluxo expiratrio; fatores
estes que, combinados com a diminuio da fora muscular expiratria, esto
associados presena reduzida de um mecanismo de defesa conhecido como
tosse, relacionado com a contrao dos msculos abdominais, acessrios da
expirao, utilizados para auxiliar e aumentar o fluxo expiratrio (McGROTHER;
MARSHALL, 1990; SCANLAN; WILKINS; STOLLER, 2002; VENKATESHIAH;
IOCHIMESCU, 2007).
Complementando, estes problemas e/ou doenas respiratrias, ainda
podem ter ligao com a obesidade, responsvel direta pelo excessivo acmulo
de gordura no gradil costal, diafragma e abdome que, combinados hipotonia
muscular generalizada, vias areas estreitadas, hipoplasia mandibular e
hipertrofia de adenide e amidala, alm de outros prejuzos, podem causar de
forma bastante evidente alteraes na mecnica respiratria. Esses adventos,
somados reduo da fora da musculatura respiratria, podem levar no
apenas a um maior consumo de oxignio para a respirao, como tambm
refletir em muitos aspectos relacionados qualidade de vida, que vo desde
reduo na qualidade do sono at um nmero maior de visitas em hospitais e
internaes (DONNELLY et al., 2004; SHOTT et al., 2006; SANTIAGO et al.,
2008; SHIRES et al., 2010 SCHUSTER; ROSA; FERREIRA, 2012).
Ainda reforando a mesma linha de raciocnio, esta reduo da fora na
musculatura da regio do tronco, pode afetar de forma direta a eficincia do
sistema respiratrio e assim levar estas pessoas a desenvolver infeces
respiratrias, as quais, de acordo com vrios estudos, so responsveis pelos
elevados casos de hospitalizao e at morte das pessoas com SD (OTTO,
1998; ZINI; SOARES et al., 2004; SALVIO et al., 2007, RICALDE, 2009;
SANTOS; LOBO; LOURENO, 2009).
27
Soares et al. (2004) e Silva; Kleinhans (2006), mostram que a hipotonia
muscular, assim como diafragmas fracos, alm de presentes como protagonistas
no desenvolvimento dos problemas respiratrios, atuam de forma incisiva para
uma baixa e ineficaz responsividade dos reflexos de tosse, na diminuio da
capacidade de expectorao, acmulo excessivo de muco e importantes
alteraes posturais.
Para Ribeiro et al. (2003) e Silva; Kleinhans (2006), a hipotonia muscular
combinada frouxido ligamentar, levam a uma importante alterao na
configurao da caixa torcica, o que em estgios crnicos reduz ainda mais a
fora muscular respiratria, contribuindo consideravelmente para o
desenvolvimento de infeces respiratrias.
Dentre as anormalidades e acometimentos apresentados no aparelho
respiratrio, principalmente por crianas e adolescentes com SD, pode-se de
acordo com a literatura, evidenciar, obstruo das vias areas superiores,
doena das vias respiratrias inferiores, hipertenso pulmonar, hipoplasia
pulmonar, apnia obstrutiva do sono, imunodeficincia (SOARES et al., 2004,
SILVA; KLEINHANS, 2006; NETO; FERNANDES FILHO; PONTES, 2009).
Posto isso, para que se possa pensar em detectar estes acometimentos
de forma precoce e assim contribuir de maneira mais eficiente para melhora na
qualidade de vida destas pessoas, torna-se de extrema importncia discutir as
questes relacionadas avaliao das condies respiratrias e entender a
relao destas com as demais caractersticas (sobrepeso, obesidade, baixa
estatura, elevados valores de IMC e %G). Essas caractersticas presentes na SD
podem acarretar prejuzos evidentes na sade e nas funes realizadas no dia a
dia destas pessoas, incluindo a qualidade do sono.
3.4 Caractersticas do Sono
Considera-se ainda importante, quando se estuda os transtornos
respiratrios e sua associao com a composio corporal, observar e avaliar de
maneira bastante atenta as caractersticas do sono destas pessoas, uma vez
que o quadro de hipotonia muscular, combinado com o quadro de obesidade
contribui de forma direta para o surgimento da apnia obstrutiva do sono, que
28
conseqncia da obstruo das vias areas superiores, diminuindo a passagem
de oxignio aos alvolos (SOARES et al., 2004).
Problemas relacionados ao sono so relativamente comuns em crianas,
Richman (1981), em seu estudo mostra que 20% das crianas de dois anos
possuem dificuldades em manter uma noite de sono, acordando regularmente
durante a noite.
Complementando, Stores (1993) relata estudo de Rutter et al. (1970)
onde o mesmo apresenta valores onde at 20% das crianas continuam a ter
vrios problemas de sono at aproximadamente os 12 anos de idade.
Paralelo a este quadro, pode-se observar que estes problemas tendem a
potencializar seu quadro quando se trata de crianas com dficit intelectual,
especialmente as com SD, sejam elas crianas, adolescente ou jovens adultos e
entre estes problemas esto a manuteno do sono, ronco e sintomas de
distrbios respiratrios (STORES et al., 1998; LEVANON; TARASIUK, 1999;
COTTON; RICHDALE, 2006; BRESLIN et al., 2011).
Ainda, pode-se evidenciar os momentos de deitar para dormir, o incio do
sono, a sua manuteno e o acordar pela manh como os de maior importncia
e estes frequentemente citados pelos pais de crianas com SD como os que
exigem maior ateno sendo os mais conturbados na rotina (BRESLIN et al.,
2011).
Na mesma linha, laboratrios de estudos polissonogrficos tem relatado
que a presena de apnia obstrutiva do sono tem tido uma incidncia bastante
alta para pessoas com SD, sendo observados com uma frequencia variando em
torno de 30% e 79% (DYKEN et al., 2003.; SHOTT et al., 2006).
No entanto vale considerar que Fitzgerald; Paul; Richmond (2007) em
seu estudo discutem que em crianas com SD, cujos pais em seus relatos
apontaram a presena de ronco, a prevalncia da apnia obstrutiva do sono
chegou ao 97%. Desta forma, acredita-se que em funo de to elevado indice
se torna essencial a aplicao de uma avaliao das caractersticas do sono
para estas pessoas.
Aspecto importante e que no se pode deixar de mencionar, que as
caracteristicas peculiares, assim como alteraes no padro do sono em relao
ao que normalmente entendemos como saudvel, tem sensvel impacto nas
caractersticas do sono e este fato por sua vez reflete de forma significativa na
29
qualidade de vida destas pessoas e de seus familiares. Tais aspectos se
potencializam quando se considera crianas e adolescentes com SD, uma vez
que estes efeitos iro impactar de maneira bastante negativa nas funes
cognitivas, no desempenho escolar e no comportamento e ainda afetar a
qualidade de vida de seus, professores, colegas, pais e/ou cuidadores, levando
em alguns casos ao surgimento de depresso materna (STORE, 1993; GOZAL,
1998; BRESLIN et al., 2011).
Ainda os mesmos autores mostram que h mais de uma dcada e de
maneira bastante positiva, tem-se realizado estudos relativos as caractersticas
do sono em pessoas com SD, sobretudo tendo como foco a aplicao de
questionrios para seus pais. E por sua vez estes estudos tem apresentado uma
srie de fatores que podem servir de objeto de estudo para possveis solues e
assim contribuir de maneira incisiva na qualidade de vida destas pessoas.
30
4 MATERIAL E MTODOS
4.1 Tipo de Estudo
Trata-se de uma pesquisa transversal, correlacional e descritiva, que
combina reviso de literatura sobre o tema com pesquisa de campo.
4.2 Amostra
Participaram deste estudo, 63 adolescentes e jovens com SD, com faixa
etria compreendida entre 11 e 25 anos, vinculados a instituies de assistncia
e apio SD, alm de seus respectivos pais ou cuidadores principais. Essa
amostragem pode ser considerada de convenincia, uma vez que os
participantes frequentavam instituies da regio na qual o pesquisador tinha
acesso facilitado.
O estudo obteve aprovao do Comit de tica em Pesquisa (CEP) da
Universidade Presbiteriana Mackenzie, sob CAAE 03791212.3.0000.0084 e
Nmero do Parecer: 120.459 (anexo I).
Para os adolescentes e jovens adultos com SD, foram utilizados como
critrios de incluso, encontrar-se dentro da faixa etria compreendida entre 11 e
25 anos, estar vinculados a alguma Instituio de assistncia pessoa com SD.
Foram considerados critrios de excluso a presena de cardiopatias no
corrigidas, disfunes hormonais comprovadas por exames clnicos e a presena
de outros diagnsticos clnicos como leses neurolgicas ou ortopdicas que
pudessem impedir e/ou comprometer a livre movimentao. Para os pais apenas
foi solicitado que, em algum dos dias de coleta, comparecessem na instituio
para que pudessem responder ao questionrio relativo s caractersticas do sono
de seus filhos.
Com o propsito de atender os objetivos propostos e facilitar o
entendimento dos resultados, foram considerados como adolescentes aqueles
com faixa etria compreendida entre 11 e 14 anos e jovens, todos aqueles com
faixa etria compreendida entre 15 e 25 anos (BRASIL, 1990; BRASIL, 2013).
31
4.3 Local
Fizeram parte das coletas 10 instituies de apoio s pessoas com
sndrome de Down de 10 municpios do interior do Estado de So Paulo (Jundia,
So Roque, Carapicuba, Barueri, Itatiba, Salto, It, Porto Feliz, Cotia e
Sorocaba), as instituies foram contatadas previamente e aps uma visita de
apresentao, autorizaram a realizao da pesquisa. Os equipamentos
utilizados para coleta de dados foram levados aos locais de coleta, excluindo
desta maneira o deslocamento dos participantes.
4.4 Procedimentos
Todos os procedimentos seguiram as normas do CEP e a realizao das
coletas nas instituies, assim como a utilizao dos dados dos sujeitos
selecionados, ocorreu mediante autorizao e assinatura das cartas de
informao instituio e aos sujeitos da pesquisa e dos termos de
consentimento livre e esclarecido, ressaltando a liberdade de qualquer um deles,
tanto a instituio como os pais de abandonar a pesquisa, caso julgassem
oportuno, independente da fase em que a pesquisa se encontrava (anexos II e
III).
Complementando, todas as instituies participantes disponibilizaram
para as coletas, uma sala onde foi possvel montar todo o set para realizao
dos procedimentos necessrios.
A fim de que os dados propostos fossem coletados com o rigor
necessrio, os seguintes protocolos foram adotados:
4.4.1 Peso
A determinao do Peso (massa corporal) foi realizada por meio de uma
balana mecnica modelo clnico da marca Filizola, com preciso de 100g e
capacidade de at 150 kg. Para a mensurao desta varivel, os indivduos
foram orientados a permanecer em posio ortosttica (em p) de costas para a
escala da balana, com afastamento lateral dos ps estando a plataforma entre
os mesmos, em seguida, foi solicitado aos avaliados, colocar-se sobre e no
32
centro da plataforma da balana, com o olhar fixo na linha do horizonte (plano de
Frankfurt) e com os braos relaxados ao longo do corpo. Foi realizada uma nica
medida e esta com os indivduos trajando o mnimo de roupa possvel, ou seja,
shorts para os meninos e para as meninas shorts e camiseta e todos
obrigatoriamente descalos (MATSUDO, 2005).
4.4.2 Estatura
Para a realizao da medida da estatura, que se caracteriza pela
distncia existente entre o vrtex (ponto mais alto da cabea) e a regio plantar,
foi utilizado um estadimetro porttil da marca Sanny com faixa de medio
entre 0 e 210 cm com tolerncia de erro de 1mm, fixado a parede. Os
avaliados foram orientados a assumir a posio ortosttica (em p), mantendo os
ps unidos, descalos e mantendo os braos relaxados ao longo do corpo, para
a concluso da medida deveriam ainda estar em contato com a parede onde o
equipamento encontrava-se instalado, as superfcies posteriores do calcanhar,
cintura plvica, cintura escapular e regio occipital, a cabea posicionada no
plano horizontal de Frankfurt, com os olhos direcionados linha do horizonte.
Aps isso a medida foi realizada com o cursor em angulo de 90 em
relao a escala, e o indivduo em apnia inspiratria com o intuito de minimizar
possveis variaes, foram realizadas trs medidas considerando-se a mdia das
mesmas como valor real da altura total (MATSUDO, 2005).
4.4.3 Circunferncias de Cintura e Quadril
As medidas de CC e CQ foram realizadas com a utilizao de uma trena
antropomtrica inelstica com 200 cm de comprimento da marca Cardiomed.
Para a realizao da medida da CC os indivduos avaliados, foram
orientados a permanecer em posio ortosttica, com o abdmen relaxado e os
braos tambm relaxados ao lado do corpo. No momento da mensurao os
indivduos foram orientados a realizar abduo de ombros permit indo que o
avaliador posicionasse a fita antropomtrica horizontalmente em volta da sua
cintura, de acordo com o padro de referncia anatmica que est localizado na
33
regio mais estreita do tronco entre o ltimo arco costal e a borda superior da
crista ilaca (BRAY; GRAY, 1988; ROSS; CARR; CARTER, 1999).
Na medida de CQ, os avaliados foram orientados a permanecer em
posio ortosttica, com os braos relaxados ao lado do corpo e ps unidos,
mantendo o msculo glteo relaxado, em seguida a fita antropomtrica foi
posicionada ao redor do quadril, horizontalmente alinhada regio de maior
protuberncia posterior do glteo, tendo a regio da snfise pbica como
referncia anterior (NORTON; OLDS, 1996).
4.4.4 Percentual de Gordura por meio de Bioimpedncia
A avaliao do % de G por BIA foi realizada com a utilizao de um
ohmmetro tetrapolar (medidor de resistncia eltrica, onde a unidade de medida
o ohm) modelo: Quantum II de marca: RJL Systems, dotado de dois eletrodos
emissores e dois eletrodos receptores colocados no dorso da mo, no punho, no
p e no tornozelo do avaliado, todos no hemicorpo direito (LUKASKI et al., 1986;
HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).
Para a realizao das medies os indivduos eram colocados deitados
em decbito dorsal sobre uma superfcie no condutora de eletricidade (maca).
Os eletrodos foram posicionados e ento o equipamento acionado, emitindo
desta maneira uma corrente eltrica imperceptvel (indolor) de baixa intensidade,
sendo de 800 A a uma freqncia de 50 Khz. Esta corrente por sua vez seguia
o caminho do eletrodo fonte (emissor) at o eletrodo de captao (receptor)
(HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).
Complementando, para a correta realizao do procedimento e posterior
anlise dos resultados, foi necessrio que os indivduos obedecessem aos
critrios que seguem: jejum (inclusive sem a ingesto de gua) por pelo menos 4
horas; absteno de atividades fsicas intensas por 24 horas; realizar mico
pelo menos 30 minutos antes da avaliao; absteno de bebidas alcolicas nas
ltimas 48 horas; absteno de medicamentos diurticos nos ltimos 7 dias e
manter pelo menos 5 a 10 minutos de repouso absoluto (decbito dorsal) antes
de efetuar as medidas. Durante a fase de aquisio dos dados pelo equipamento
o avaliado deveria permanecer completamente imvel (LUKASKI et al., 1986;
HEYWARD; STOLARCZYK, 2000).
34
Aps a coleta, os dados referentes resistncia e reatncia gerados,
foram inseridos no software do fabricante do equipamento de BIA, juntamente
com os valores de peso, estatura, idade e sexo de cada participante, para que
ento fossem obtidos os valores referentes ao %G.
4.4.5 Percentual de Gordura por meio de Dobras Cutneas
A mensurao das dobras cutneas foi realizada com a utilizao de um
adipmetro cientfico da marca Lange, com preciso de 1 mm, de acordo com os
critrios de padronizao internacional, estas medidas foram realizadas no
hemicorpo direito do avaliado. Para efeito dos clculos posteriores necessrios
foram utilizadas as mdias aritmticas das trs medidas como valor real da DC
(HARRISON et al., 1991).
Antes do incio dos procedimentos para mensurao das DC, os pontos
anatmicos (referncias) foram identificados por meio de palpao e marcados
com caneta dermogrfica. No momento da mensurao o avaliado foi orientado a
permanecer em posio ortosttica, com os ps afastados na largura dos ombros
e o peso igualmente divido entre as duas pernas (LOHMAN; ROCHE;
MARTORELL, 1988).
O avaliado foi solicitado a manter a musculatura adjacente ao local da
mensurao relaxada em seguida a dobra foi destacada entre o polegar e
indicador do avaliador, a presso dos dedos utilizada pelo avaliador, conforme
protocolo foi suficiente para destacar das estruturas mais profundas, uma
completa camada dupla de pele com os tecidos subcutneos adjacentes, de
forma que as faces externas da dobra permanecessem paralelas, desta forma a
dobra permaneceu destacada at o final da leitura da medida e correta retirada
do adipmetro do local.
A leitura da medida foi realizada dois segundos aps a liberao total do
gatilho do adipmetro o que coincidiu com o momento em que o ponteiro parava
ou reduzia significativamente sua velocidade. As mensuraes foram realizadas
de maneira alternada para que desta forma se evitasse uma tendncia de
aproximao dos valores por parte do avaliador. Todas as dobras cutneas
foram destacadas diretamente sobre a pele seca, sem vestimenta ou loes.
35
Para as medidas especficas de cada uma das dobras os seguintes
critrios foram seguidos: DC Bicipital Medida no eixo longitudinal do brao, na
sua face anterior, no mesmo nvel da linha utilizada para a mensurao das
dobras cutneas do trceps e da circunferncia do brao. DC Tricipital Medida
na metade da distncia entre a projeo lateral do processo acromial da
escpula e a borda inferior do olecrano e da ulna, que ser estabelecida pelo
uso de uma fita mtrica, estando o cotovelo flexionado a 90. DC Subescapular
Medida imediatamente abaixo do ngulo inferior da Escpula, que por sua vez
ser determinado por meio de palpao, o adipmetro ser colocado em um
ngulo de aproximadamente 45. DC Peitoral Medida 1 centrmetro abaixo da
linha axilar anterior em mulheres e em homens, no ponto mdio entre a linha
axilar anterior e o mamilo. DC Supra-ilaca Medida imediatamente acima da
crista-ilaca superior, na linha imaginria horizontal que passa pela cicatriz
umbilical e a linha axilar mdia, pinada com o adipometro em 45. DC
Abdominal Vertical Medida a trs centmetros da borda direita e um centmetro
abaixo da cicatriz umbilical, ao final de uma expirao. DC da Coxa mdia
Medida no ponto mdio entre a dobra inguinal, no ponto mais inferior da crista
ilaca anterior, e a borda proximal da patela, esta dobra deve ser mensurada
verticalmente e o avaliado dever permanecer com o joelho direito
semiflexionado e o peso corporal sobre a perna esquerda.
Aps a realizao das medidas, para se obter o %G foi necessrio
primeiramente calcular a densidade corporal (Dc) por meio das frmulas
(JACKSON; POLLOCK, 1985):
Sexo feminino, Dc =
1,097 - 0,00046971 ( 7 DC) + 0,00000056 ( 7 DC)2 - 0,00012828 (Idade)
Sexo masculino, Dc =
1,112 - 0,00043499 ( 7 DC) + 0,00000055 ( 7 DC)2 - 0,00028826 (Idade)
Em seguida os valores de densidade corporal foram inseridos em
equaes especficas para cada faixa etria, para ento serem transformados
em %G, conforme representado na tabela 1:
36
Tabela 1. Equaes para transformao de valores de densidade corporal (Dc) em %G
Idade Sexo Equao
7-12 Masculino [(5,30/Dc) - 4,89] x 100
Feminino [(5,35/Dc) - 4,95] x 100
13 - 16 Masculino [(5,07/Dc) - 4,64] x 100
Feminino [(5,10/Dc) - 4,66] x 100
17 - 19 Masculino [(4,99/Dc) - 4,55] x 100
Feminino [(5,05/Dc) - 4,62] x 100
20 - 80 Masculino [(4,95/Dc) - 4,50] x 100
Feminino [(5,01/Dc) - 4,57] x 100
4.4.6 Pico de Fluxo Expiratrio
A avaliao do PFE foi realizada com o uso de um aparelho peak flow
meter modelo medicate da marca: Fyne Dynamics graduado em l/min com escala
de medida entre 60 a 900 l/min, munido de bocal descartvel.
Para a realizao da avaliao os indivduos foram orientados a
permanecerem sentados em uma cadeira com as costas apoiadas no encosto,
joelhos fletidos a 90, ps apoiados no cho, mos segurando o bocal, alm da
utilizao de um clipe nasal durante a realizao da manobra. Em seguida foram
orientados a realizar a partir de uma inspirao mxima, uma expirao forada
mxima, curta e explosiva (PARREIRA et al., 2007).
Com o intuito de facilitar o entendimento dos participantes com SD, para
a realizao da manobra foi complementado o protocolo com a frase Assopre
uma vela o mais rpido possvel (SANTIAGO et al., 2008).
Para estabelecer os valores de coleta e posterior anlise, foram
realizadas trs medidas (com um intervalo de repouso de 1 minuto entre cada
manobra), sendo que a manobra era repetida at que a diferena entre elas no
fosse superior a 20L/min. Para os propsitos das nossas anlises foi
considerada a medida de maior valor (GIANINIS et al., 2013).
Foram ainda realizadas medidas de fora muscular respiratria por meio
da utilizao de um manovacumetro, no entanto esses dados foram
desprezados no estudo pela falta de compreenso dos participantes, no sendo
possvel sua aplicao de acordo com os critrios de padronizao.
37
4.4.7 Avaliao das Caractersticas do Sono
Para a avaliao das caractersticas do sono, foi utilizado o questionrio
Children Sleep Habits Questionarei (CSHQ) de Owens; Spirito; Mcgrinn, (2000)
em verso traduzida, adaptada e validada para o portugus por Silva et al.
(2011) de forma a avaliar os padres e caractersticas do sono de acordo com
informaes disponibilizadas pelos pais.
Este modelo subdivide-se em oito domnios (Resistncia em ir para a
cama, Incio do sono, Durao do sono, Ansiedade associada ao sono,
Despertares noturnos, Parassonias, Perturbao respiratria do sono e
Sonolncia diurna). Cada um desses domnios contm perguntas mais
especficas e suas respostas so classificadas em trs nveis conforme sua
ocorrncia do comportamento: Habitualmente = 5 vezes ou mais por semana, s
vezes = 2 a 4 vezes por semana e Raramente = 1 vez durante a semana ou
nunca acontece. O escore total possvel do CSHQ de 103, podendo variar
entre 33 a 103. Levando-se em considerao resultados apresentados entre
amostras populacionais e clnicas, a nota de corte utilizada para caracterizar
possveis distrbios do sono de 41 pontos, o que identifica corretamente 80%
do grupo clnico (OWENS; SPIRITO; MCGRINN, 2000; SILVA et al., 2014).
O CSHQ (anexo IV) um questionrio que foi desenhado originalmente
para crianas, baseado nas perturbaes mais comuns do sono peditrico
(LOUREIRO; REBELO; PAIVA, 2011; SILVA et al., 2011).
38
5 RESULTADOS E DISCUSSO
Para um melhor entendimento dos dados coletados, o grupo de
adolescentes e jovens participantes foi dividido de acordo com o sexo e idade,
sendo:
G1 (n=30): faixa etria entre 11 e 14 anos, sendo 14 do sexo masculino
(idade mdia de 12,36 1,22 anos) e 16 do sexo feminino (idade mdia de 12,44
0,89 anos);
G2 (n=33): faixa etria entre 15 e 25 anos, sendo 26 do sexo masculino
(idade mdia de 18,46 2,77) e 7 do sexo feminino (idade mdia de 19,29
2,69).
Realizou-se ainda um levantamento acerca do perfil de atividades fsicas
praticadas pelos meninos e meninas que compunham os grupos G1 e G2, sendo
possvel observar que a maioria participava de aulas de educao fsica na
prpria instituio e alguns, de atividades fsicas fora do espao institucional.
Para os dez que no tinham essa participao, os pais no citaram
nenhuma restrio fsica ou problemas de sade que pudessem justificar,
apenas disseram que seus filhos no gostavam e/ou no queriam participar, uma
vez que todas as instituies ofereciam aulas de educao fsica. Outros motivos
apresentados para que seus filhos no praticassem atividade fsica de alguma,
foram: nunca terem pensado neste assunto e/ou estimulado seus filhos para a
prtica de atividade fsica, alm da falta de tempo para levar e buscar, assim
como a falta de condies financeiras.
Esses dados esto representados na tabela 2.
Tabela 2. Perfil dos participantes, quanto a idade, participao em aulas de educao fsica,
participao em atividade fsica extra instituio, freqncia semanal e modalidades.
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino
Faixa Etria 11-14 anos 11-14 anos 15-25 anos 15-25 anos
N 14 16 26 7 Idade 12,36 (1,22) 12,44 (0,89) 18,46 (2,77) 19,29 (2,69)
Educao Fsica 11 13 19 6
Freqncia 2 2 2 2
Atividade Fsica 4 3 4 0 Freqncia 2,8 2 3 0
Modalidade Natao (3)
Tnis (1)
Ballet (1) Natao(1)
Caminhada (1)
Natao (3) Academia (1)
---------
39
Acredita-se que os nmeros apresentados em relao participao destes
adolescentes e jovens nas aulas de educao fsica sejam relativamente elevados,
considerando o fato de que estas atividades fazem parte da rotina das instituies e
somado a isso podemos tambm considerar o papel dos professores que por sua
vez estimulam esta participao, apoiados na importncia que tais atividades
exercem sobre a qualidade de vida dessas pessoas. Por outro lado, com relao
participao em atividades fsicas extra instituio, pode-se observar que os
nmeros apresentados so substancialmente inferiores, por diferentes motivos.
No entanto importante salientar que, naturalmente, as pessoas com SD
apresentam baixo interesse em praticar atividades fsicas, tal fato pode ser
conseqncia das dificuldades motoras peculiares sndrome, que quando
somadas as tendncias de sobrepeso e obesidade tendem a potencializar estas
caractersticas, principalmente quando comparadas as pessoas com
desenvolvimento tpico (EBERHARD; ETERRADOSSI; RAPACCHI, 1989;
PUESCHEL, 1990).
Corroborando, pode-se ainda considerar o panorama do estilo de vida que
estas pessoas levam, somado ainda o sedentarismo, as baixas taxas de
metabolismo basal e os inadequados hbitos alimentares, muitas vezes incentivados
e/ou negligenciados pelos prprios pais que simplesmente no tem acesso as
informaes necessrias para reverter este quadro (PUESCHEL, 2007; CHAVES;
CAMPOS; NAVARRO, 2008; GIARETTA; GHIORZI, 2009).
Ainda em relao importncia da prtica de atividade fsica, estudos
mostram que programas dessa natureza, com freqncia semanal de trs vezes
por semana para adolescentes, tiveram impacto significativo em relao
reduo no percentual de gordura corporal (ORDOES-MUNOZ; ROSETY;
RODRIGUEZ, 2006).
5.1 Peso e Estatura
Em relao s variveis antropomtricas para G1 e G2, os valores
mdios de peso (representados em quilograma) e altura (representada em
metros) esto representados na tabela 3.
40
Tabela 3. Valores mdios de peso e estatura para G1 e G2
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino
Faixa Etria 11-14 anos 11-14 anos 15-25 anos 15-25 anos
Peso 56,41 (21,43) 53,00 (11,74) 70,54 (14,70) 62,03 (20,91)
Altura 1,45 (0,11) 1,41 (0,07) 1,55 (0,07) 1,41 (0,06)
Quando o foco de discusso est direcionado s variveis de peso e
estatura, importante lembrar que pessoas com SD possuem caractersticas
bastante peculiares, sendo normalmente observados os valores de crescimento
diferentes aos apresentados em grupos de pessoas com desenvolvimento tpico.
Alm disso, pode-se afirmar que esta caracterstica se apresenta desde o
nascimento at a idade adulta (CRONK et al., 1998; FREIRE; COSTA; GORLA,
2014).
Confirmando este fato, alguns estudos demonstram que pessoas com SD
tendem a atingir sua estatura final mais cedo, por volta dos 15 anos de idade,
com valores de medidas inferiores populao com desenvolvimento tpico,
sendo em mdia 1,57 m para o sexo masculino e 1,37 m para o sexo feminino
(SILVA; DESSEN, 2002; STRAY-GUNDERSEN, 2006).
Valenzuela; Passarelli; Coates (2011) ressaltam que os valores finais
para estatura podem sofrer variaes decorrentes de diferenas tnicas e
ambientais, desta maneira apresenta em seu estudo que os valores relativos
estatura ficaram entre 142 e 155 cm para o sexo masculino e entre 150 e 165 cm
para o sexo feminino. No mesmo estudo, demonstram que os valores de estatura
em holandeses ficaram em mdia 165 e 155 cm para meninos e meninas
respectivamente e para os americanos os valores ficaram em mdia 153 e 145
cm para meninos e meninas, respectivamente.
Paralelamente a isso, quando observa-se os valores relacionados
varivel peso, de acordo com Cronk et al. (1988), pessoas com SD, tendem a
apresentar curvas de ganho de peso relativamente semelhantes as pessoas com
desenvolvimento tpico.
No entanto quando estas duas variveis so relacionadas com o
propsito de se estabelecer o IMC, para entender a existncia de tendncia a
caractersticas relacionadas ao sobrepeso e a obesidade, vale atentar-se ao fato
de que valores de referncia convencionais podem ser utilizados de maneira
equivocada, uma vez que existem importantes diferenas para a curva de
41
estatura, que especificamente neste caso se encontra reduzida, podendo ser
este um fator capaz de induzir de forma equivocada, quadros de sobrepeso e
obesidade entre as pessoas com SD.
5.2 ndice de Massa Corporal
Com o propsito de complementar os dados coletados acerca do peso e
estatura, relacionou-se estes valores, a fim de gerar os resultados para o IMC
que, de acordo com a WHO (2000), trata-se de uma importante e confivel
ferramenta para se entender e discutir questes relacionadas ao sobrepeso e a
obesidade.
No entanto, vale ressaltar, que apesar do IMC ser bastante utilizado,
devido fcil e rpida aplicao alm do baixo custo, o mesmo no tem
condies de abranger todos os fatores relativos composio corporal, uma
vez que no difere todos os seus componentes (JANURIO; NASCIMENTO;
BARAZETTI, 2008; SILVA et al., 2009).
Alguns estudos tm visto com cautela e at mesmo questionado a
fidedignidade do IMC para diagnosticar excesso de gordura corporal e
aproveitam para evidenciar que este ndice no deveria ser utilizado como nica
ferramenta para discutir questes relacionadas a sobrepeso e obesidade, ainda
mais quando se tem como foco de estudo um grupo com caractersticas to
peculiares como a SD (RICARDO; ARAJO, 2002; BERGMAN et al., 2011;
FREIRE; COSTA; GORLA, 2014).
Outro aspecto essencial a ser considerado que o IMC varia de maneira
bastante importante conforme a idade cronolgica das pessoas, podendo
apresentar, principalmente na infncia e na adolescncia menor exatido para o
diagnstico do sobrepeso e da obesidade, desta forma o Center for Disease
Control and Prevention (CDC), assim como a American Academy of Pediatrics
recomendam a utilizao de curvas especficas para crianas e adolescentes
(WANG; WANG, 2002; CDC, 2006; LOVEDAY; THOMPSON; MITCHELL, 2012).
Corroborando, outros autores apresentam em seus estudos a informao
de que como no existem equaes para predio de obesidade que sejam
estabelecidas como padro para a populao com SD, o mais adequado seria a
42
utilizao de mtodos direcionados a faixa etria estudada (PINHEIRO et al.,
2003; FARIA, et al., 2004; BERTAPELLI et al., 2011).
Sendo assim considera-se que a referncia mais adequada seja a
recomendada por Cole et al. (2000) que foi elaborada considerando
especificamente a faixa etria, representando referencial que vai dos 2 aos 18
anos, tendo como suporte dados de vrias etnias como Brasil, Gr Bretanha,
Hong Kong, Estados Unidos entre outras. Importante salientar que, para o
presente estudo, a varivel idade foi considerada como anos completos
(JANURIO; NASCIMENTO; BARAZETTI, 2008; FREIRE; COSTA; GORLA,
2014).
Aps esta faixa etria, o mais indicado so os padres estabelecidos
pela OMS para populao adulta, com classificaes para sobrepeso os valores
>25Kg/m2 e para obesidade os valores >30Kg/m2. (WHO, 2000; SILVA et al.
2009)
Os valores mdios de IMC encontrados na amostra estudada foram para
G1, sexo mascuino, de 26,58 9,48 Kg/m2 e para a mesma faixa etria no grupo
feminino, o valor de 26,34 4,18. Para G2 os resultados foram de 29,35 6,41 e
30,95 9,69 respectivamente para meninos e meninas, conforme detalhado na
Tabela 4.
Tabela 4. Representao dos valores percentuais de IMC para as classificaes de Eutrfico, Sobrepeso e Obesidade para G1 e G2
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino
Faixa Etria 11-14 anos 11-14 anos 15-25 anos 15-25 anos
Eutrfico 21,43% 12,50% 15,38% 14,29%
Sobrepeso 42,86% 56,25% 42,31% 42,86%
Obesidade 35,71% 31,25% 42,31% 42,86%
Ainda, pode-se citar estudo de Silva, et al. (2009), que demonstra para seus
grupos com idade mdia de 26,4 8,4 para o sexo masculino e 23,8 5,9 para o
sexo feminino, resultados de IMC 27,68 5,97 e 29,67 6,65 respectivamente.
Complementando, da mesma maneira, Silva; Santos; Martins (2006)
demonstram valores mdios para IMC de 29,4 8,5 e 30,4 6,4 para os meninos e
meninas respectivamente, em seus grupos com idade mdia de 24,10 3,1 para o
sexo masculino e 23,2 3,5 para o sexo feminino.
No entanto para a finalidade de classificao em relao a eutrfico,
43
sobrepeso e obesidade, quando observa-se os resultados utilizando as tabelas de
referncia sugeridas por OMS (1997) e Cole et al. (2000), os resultados observados
foram para a faixa etria de 11 a 14 para o sexo masculino de 21,43% de eutrficos,
42,86% de indivduos com sobrepeso e 35,71 de obesos, para a mesma faixa etria
do sexo feminino os resultados foram de 12,50% para eutrficos, 56,25% para
classificados com sobrepeso e 31,25% para obesos, ainda para a faixa etria de 15
a 25 anos para o sexo masculino os resultados foram de 15,38% para eutrficos,
42,31% para sobrepeso e 42,31% para obesidade, complementando, os resultados
para o sexo feminino para a mesma faixa etria os resultados foram de 14,29% para
eutrofia, 42,86% para sobrepeso e 42,86% para obesidade, assim como segue
representado na tabela 4.
Em seu estudo Freire; Costa; Gorla (2014) classificam seu grupo com
faixa etria de 7 a 17 anos com valores de 34,48% em meninos e 30,43% em
meninas para sobrepeso e valores de 18,97% para meninos e 36,96% para
meninas para obesidade. Ainda da mesma maneira, para o grupo at 18 anos
Myrelid et al. (2002) classificam seus participantes com valores de 31% e 36%
somados para sobrepeso e obesidade para os sexos masculino e feminino
respectivamente.
Silva; Santos; Martins (2006) observaram a presena de 29,4% de
eutrficos, 26,5% de sobrepeso e 44,1% de obesos para o sexo masculino e
para o sexo feminino os resultados foram de 19,4% de eutrficos, 25,8% de
sobrepeso e 54,8% para obesidade, dados que corroboram com este estudo.
Considerando as curvas antropomtricas propostas por Cronk et al.
(1988), que determinam percentis especficos para SD, representando massa por
idade (M/I) com classificao de indivduos com baixo peso Percentil < 5,
eutrficos Percentil 5-95 e sobrepeso/obesidade Percentil > 95, pode-se
observar pela tabela 5 que quando so considerados os valores especficos para
a SD, o nmero de indivduos classificados como sobrepeso/ obesidade
bastante inferior aos resultados observados quando a referncia a tabela
especfica para pessoas com desenvolvimento tpico (COLE et al., 2000).
Vale ressaltar que estas curvas foram desenvolvidas para idade at 18
anos, sendo assim os indivduos com idade superior foram classificados de
acordo com os valores referentes a 18 anos.
44
Tabela 5. Representao dos valores percentuais de classificao para Eutrfico e Sobrepeso/Obesidade para G1 e G2 segundo Cronk et al (1988)
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino
Faixa Etria 11-14 anos 11-14 anos 15-25 anos 15-25 anos
Eutrfico 78,57% 81,25% 92,31% 71,43%
Sobrepeso/ Obesidade
21,43% 18,75% 7,69% 28,57%
Da mesma maneira, em seu estudo Zini e Ricalde (2009), tambm utilizaram as
curvas de Cronk para a sua avaliao e encontraram valores de 55,6% para
eutrofia e 27,8% para excesso de peso.
Por outro lado Valenzuela, Passarelli e Coates (2011) referem-se ao estudo
de Styles et al., realizado em 2002, no qual so propostas curvas de crescimento
especificas para pessoas com SD adaptadas s curvas de referncia da
populao geral inglesa (1990), com base no mtodo de Cole et al., (2002). Para
este estudo foi observada tendncia ao sobrepeso e obesidade com valores de
30% para crianas e 20% para adolescentes.
Paralelamente, Myrelid et al, (2002), desenvolveram curvas especficas para a
populao sueca com SD para peso, estatura e IMC, representadas em
percentis, onde por sua vez foi observada prevalncia do sobrepeso/obesidade
aps dez anos de idade, com percentuais variando entre 31 e 36% da amostra.
De acordo com Valenzuela, Passarelli e Coates (2011) nos ltimos trinta anos
diferentes curvas especficas para a populao com SD foram desenvolvidas,
sobretudo com a inteno de minimizar a influencia de fatores biolgicos, tnicos
e ambientais.
Ainda vale ressaltar que conforme Martin; Mendes e Hessel (2011) as
referencias antropomtricas apresentadas em curvas pndero-estaturais so
consideradas relativas a uma determinada populao, pois revelam
caractersticas peculiares consequentes dos seus determinantes genticos e da
influncia de fatores ambientais. Os mesmos autores reforam ainda a
necessidade de estudos especficos para a populao brasileira, considerando
as diferentes faixas etrias e as diferentes regies.
5.3 Circunferncia de Cintura e Relao Cintura Quadril
Foram realizadas as medidas das CC e CQ, gerando valores referentes ao
45
valor correspondente da RCQ (medida de CC dividida pelo valor da CQ), que
juntamente como os valores isolados da CC, proporciona condies de realizar
anlises relacionadas ao risco destes indivduos desenvolverem doenas
coronarianas. Os resultados seguem representados na tabela 6.
Tabela 6. Representao de valores mdios e desvio padro para as variveis de CC e RCQ
Sexo Masculino Feminino Masculino Feminino
Faixa Etria 11-14 anos 11-14 anos 15-25 anos 15-25 anos
CC 84,44 (22,07) 85,03 (11,35) 94,37 (14,31) 91,50 (21,86)
RCQ 0,92 (0,10) 0,89 (0,12) 0,94 (0,06) 0,87 (0,08)
Fato de extrema importncia para os propsitos deste estudo considerar
que, embora a RCQ, assim como a circunferncia de cintura sejam recomendadas
pela OMS como importantes ndices para o monitoramento de doenas
cardiovasculares, sobretudo por estarem diretamente relacionadas ao acmulo de
gordura visceral, vale lembrar que a relao destes ndices com o percentual de
gordura em SD ainda no esta estabelecida. (SILVA et al., 2009).
As Diretrizes Brasileiras de Obesidade 2009/2010, apresentadas pela
ABESO, (2009) consideram que, apesar de a RCQ ser um dos ndices mais
utilizados para avaliao da obesidade central em pessoas com desenvolvimento
tpico, enfatizam que em 1990, este ndice passou a ser observado com mais
cautela, por se tratar de uma medida relativa que poderia sofrer alterao, aps
processos de perda de peso. Ainda assim a OMS considera este ndice como um
importante preditor da sndrome metablica, sendo, considerados como pontos de
corte os valores de 0,90 para homens e 0,85 para mulheres.
Por outro lado, Silva et al. (2009) concordam que estes ndices associados a
outros relacionados a composio corporal, como por exemplo o IMC e o percentual
de gordura, podem se tornar importantes no sentido de indicar a presena de
obesidade em SD.
Em relao circunferncia de cintura, a OMS estabelece como valores de
corte para o risco de desenvolvimento de doena coronariana, os ndices superiores
a 94 cm para o sexo masculino e 80 cm para o sexo feminino. Porm, a Iternational
Diabetes Federation em 2005, referida nas Diretrizes Brasileiras de Obesidade
2009/2010, considera que tais ndices sofrem importantes interferncias em relao
idade e etnia e sugere que, para a populao sulamericana, sejam utilizados os
46
valores de corte 90 cm para o sexo masculino e 80 cm para o sexo feminino
(ABESO, 2009).
Considerando esses estudos sobre a aplicao das medidas de CC e RCQ,
principalmente relacionados faixa etria e a especificidade do grupo aqui
estudado, optou-se por considerar para fins de discusso os valores referentes
faixa etria compreendida entre os 15 e 25 anos para ambos os sexos.
Conform