Construção Sustentável

24
1. INTRODUÇÃO O conceito de construção sustentável começou a ser discutido após a crise do petróleo. Ocorrida na década de 70, a crise se consolidou pelo fato da descoberta da esgotabilidade desse produto. Com isso, em pouco mais de 7 anos o preço do barril de petróleo triplicou, que provocou o aumento do valor do produto primário de países subdesenvolvidos. A partir desse acontecimento histórico considerou-se a idéia de que projetos sustentáveis, que levassem em conta os impactos ambientais causados e que procurassem alternativas mais acessíveis e energeticamente mais eficientes, eram opções inteligentes. Inicialmente a preocupação concentrou-se na construção de edifícios energicamente mais eficientes, logo depois atentou-se para os resíduos das obras e hoje os grandes vilões do meio ambiente são os gases emitidos, como o CO 2 , que causam o efeito estufa e o aquecimento global. Na década de 1980, a ONU retomou o debate das questões ambientais. Indicada pela entidade, a primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatório Brundtland. Apresentado em 1987, propõe o desenvolvimento sustentável, que é “aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer as das gerações futuras atenderem às suas necessidades”.

description

Artigo sobre construção sustentável

Transcript of Construção Sustentável

1. INTRODUOO conceito de construo sustentvel comeou a ser discutido aps a crise do petrleo. Ocorrida na dcada de 70, a crise se consolidou pelo fato da descoberta da esgotabilidade desse produto. Com isso, em pouco mais de 7 anos o preo do barril de petrleo triplicou, que provocou o aumento do valor do produto primrio de pases subdesenvolvidos. A partir desse acontecimento histrico considerou-se a idia de que projetos sustentveis, que levassem em conta os impactos ambientais causados e que procurassem alternativas mais acessveis e energeticamente mais eficientes, eram opes inteligentes.Inicialmente a preocupao concentrou-se na construo de edifcios energicamente mais eficientes, logo depois atentou-se para os resduos das obras e hoje os grandes viles do meio ambiente so os gases emitidos, como o CO2, que causam o efeito estufa e o aquecimento global.

Na dcada de1980, aONUretomou o debate das questes ambientais. Indicada pela entidade, a primeira-ministra daNoruega,Gro Harlem Brundtland, chefiou a Comisso Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para estudar o assunto. O documento final desses estudos chamou-se Nosso Futuro Comum ou Relatrio Brundtland. Apresentado em 1987, prope o desenvolvimento sustentvel, que aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer as das geraes futuras atenderem s suas necessidades.

2. CONSTRUES SUSTENTVEIS

Para a construo civil, existem muitos debates sobre dos conceitos da construo sustentvel. Inicialmente no correto afirmar que uma obra ou no sustentvel, a definio da sustentabilidade de uma construo vem do mtodo na qual esta foi projetada, executada e na totalizao das tcnicas usadas em relao ao lugar. Sendo assim, possvel confrontar com outro projeto que uma construo mais sustentvel que a outra.

Em 1992 foi realizada no Rio de Janeiro a II Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, tambm conhecida como Rio-92. A partir desta que ganhou destaque o conceito de construo sustentvel, o qual visava uma nova estratgia ambiental direcionada produo de construes ajustadas ao meio ambiente e exigncia dos seus residentes. Nesta conferncia, foram definidas as orientaes para as estratgias locais e nacionais a aplicar na construo. Um dos aspectos particulares enfatizado neste contexto foi que se por um lado se testemunhava ao crescimento exponencial do consumo energtico dos edifcios, por outro continuava-se a assistir falta de adequao da engenharia nos projetos dos edifcios e no planejamento urbano s condies climticas locais. Em novembro de 1994, foi efetuada a Primeira Conferncia Mundial sobre Construo Sustentvel (First World Conference for Sustainable Construction, Tampa, Florida), onde o futuro da construo, no contexto da sustentabilidade, foi discutido. A construo sustentvel refere-se aplicao da sustentabilidade s atividades construtivas, sendo definida como a criao e responsabilidade de gesto do ambiente construdo, baseado nos princpios ecolgicos e no uso eficiente de recursos.

Durante a conferncia foi sugerido pelo professor Kibbert o termo construo sustentvel para expor as responsabilidades da indstria da construo ao conceito e aos objetivos da sustentabilidade. Foram propostos seis princpios para a sustentabilidade na construo, so eles: minimizar o consumo de recursos; maximizar a reutilizao dos recursos; utilizar recursos renovveis e reciclveis; proteger o ambiente natural; criar um ambiente saudvel e no txico; fomentar a qualidade ao criar o ambiente construdo. A construo ganhou normas prprias no campo da sustentabilidade, por meio do sistema ISO. So elas as normas ISO 21930 (2007) - Sustentabilidade na construo civil Declarao ambiental de produtos para construo e ISO 15392 (2008) Sustentabilidade na construo civil Princpios gerais. do Comit Tcnico da ISO, tambm, o seguinte conceito de obra sustentvel:Edificao sustentvel aquela que pode manter moderadamente ou melhorar a qualidade de vida e harmonizar-se com o clima, a tradio, a cultura e o ambiente na regio, ao mesmo tempo em que conserva a energia e os recursos, recicla materiais e reduz as substncias perigosas dentro da capacidade dos ecossistemas locais e globais, ao longo do ciclo de vida do edifcio. (ISO/TC 59/SC3 N 459) Atualmente o desafio , na verdade, buscar de um equilbrio entre meio ambiente, justia social e viabilidade econmica. Aplicar o conceito de desenvolvimento sustentvel buscar em cada atividade formas de diminuir o impacto ambiental e aumentar a justia social dentro do oramento disponvel.2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS E A CONSTRUO CIVILAtualmente, o ser humano est acostumado a uma srie de comodidades e conforto, tornando-se dependente de eletrnicos, automveis, estradas, aeroportos e tudo que envolva tecnologia. A produo destes luxos est fundamentada em um fluxo constante de materiais: recursos naturais so extrados, transportados, processados, utilizados ou consumidos e descartados. Por isso, apesar de a construo civil ser reconhecida como uma das mais importantes atividades na contribuio para o desenvolvimento econmico e social do pas, a grande geradora de impactos ambientais, visto que, se utiliza de matria-prima em grande escala, modifica paisagens e gera um volume considervel de resduos.

Exemplo disso a constatao de que os detritos derivados da construo, reformas e demolies so depositados em locais inadequados dentro da zona urbana, afetando o trnsito, sistemas de drenagem, deteriorao de reas de proteo permanente, proliferao de agentes transmissores de doenas, degradao da paisagem urbana. PINTO (1999) estimou que algumas cidades brasileiras, a gerao dos resduos est entre 41 a 70% da massa total dos resduos slidos urbanos. A abundncia de resduos est relacionada ao desperdcio de materiais que produzido na realizao de empreendimentos da indstria da construo civil. A construo civil tambm contribui para o impacto na mudana climtica, pois se usa uma grande quantidade de materiais cermicos, cimento, ao, vidro, que so produzidos a alta temperatura, usando energia fssil e, em algumas situaes, lenha obtida de desmatamento ilegal. A energia tambm muito consumida devido disperso espacial dos locais de extrao de matria-prima e do sistema de transporte de materiais a grandes distncias. De acordo com INDUSTRY AND ENVIRONMENT (1996 apud JOHN, 2010a), o autor avalia que cerca de 80% energia utilizada na produo de um edifcio consumida na produo e transporte materiais. Sendo assim, exigida a reduo das emisses de gases do efeito estufa e a adaptao do ambiente construdo cidades, pontes, estradas , pois muitos dos efeitos previstos no podero ser mais evitados.

A poluio do ar tambm ocasionada pelos sistemas produtivos de alguns materiais da construo civil, por exemplo, na queima de materiais cermicos, h liberao de monxido de carbono (CO), dixido de carbono (CO2), xidos de nitrognio (NOx), xidos de enxofre (SOx), amnia (NH3) e metano (CH4). Esses gases quando liberados em excesso no apenas causam a degradao do meio, mas tambm prejudicam a sade humana. Outro exemplo a produo do cimento, responsvel por cerca de 5% da emisso de dixido de carbono mundial, apesar do aprimoramento de tcnicas e equipamentos ainda h danos registrados nas fbricas.

Do mesmo modo o ser humano responsvel pelo desvio da gua de seu ciclo natural, na agricultura, no consumo humano, na urbanizao, gerando eroses no solo, modificao do fluxo natural, comprometimento do curso dgua, perturbaes de habitats, impermeabilizao do solo, aumento na velocidade da vazo superficial. Desta forma teremos a cada dia mais enchentes, alagamentos, desmoronamentos de encostas e morros, em algumas reas j h perodos de secas, de baixa umidade do ar. Estima se que a populao urbana de pessoas crescera de 1,8 milhes para 5,5 bilhes at 2025, ou seja, a populao triplicar e necessitar de uma demanda maior de gua, mas, da mesma forma lanara para o meio ambiente uma imensa quantidade de resduos.

Alm dos impactos j citados, a construo civil um grande consumidor de recursos naturais no-renovveis, e esse aumento devido ao crescimento populacional urbano, a intensa industrializao e o avano do poder aquisitivo da populao em geral. Devido a estes fatores esto ocorrendo grandes alteraes no meio ambiente, as quais vm comprometendo negativamente a qualidade do solo, ar e os recursos hdricos. O consumo de agregados naturais varia de 1 a 8 t/hab.ano, sendo 6 t/hab.ano no Reino Unido e 220 milhes de toneladas no Brasil para a confeco de concreto e argamassa. Consome cerca de 66 % da madeira produzida, sendo que a maioria de produto no provm de florestas ambientalmente manejadas (JOHN, 2010b). A degradao do meio ambiente exclusivamente causada pelo ser humano, sendo responsabilidade deste a anlise dos impactos ambientais, bem como a avaliao das conseqncias de algumas de suas aes. Se cada um tomasse suas responsabilidades poderamos prevenir certos danos e manter a qualidade de determinados ambientes. O desafio dos engenheiros civis consiste em avaliar os custos numa perspectiva equilibrada no seu ciclo de vida, mais do que pensar apenas no custo de investimento. Quando se consegue poupar energia, aumentar a durabilidade, poupar gua e ao mesmo tempo aumentar a produtividade, as caractersticas de sustentabilidade do projeto e dos materiais so muito fceis de justificar. A organizao no-governamental, WWF (World Wildlife Fund), publicou em 2006, um estudo sobre como a humanidade est usando (e abusando) da Terra. Foram analisados os dados mundiais de o uso desmedido da gua, o irracional consumo de energia e o descontrole na produo de lixo. Suas concluses so espantosas: atualmente, estamos fazendo uso dos recursos da Terra ao extremo materiais, espao e gua esto sendo rapidamente consumidos, e a habilidade da Terra de absorver efetivamente nosso lixo e poluio est reduzindo-se em grande velocidade. Se continuarmos a viver do modo em que vivemos, nosso planeta em breve ir secar e talvez se torne muito quente e poludo para se viver.2.2 EM DIREO A SUSTENTABILIDADE: LEGISLAO, CERTIFICAES E SELOSA certificao de Edifcios Verdes realizada por entidades no governamentais como a USGBC (United States Green Building Council), que desenvolveu um sistema de classificao chamado LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) que mundialmente aceito e reconhecido. No Brasil, recentemente, foi criado o GBC ( Green Building Council Brasil), entidade que ser responsvel pela adaptao dos critrios do LEED para as condies e realidades brasileiras.

Inspirado no selo francs HQE, o AQUA - Alta Qualidade Ambiental foi desenvolvido pelos professores da Escola Politcnica e pela GEA Construction- Global Environmental Alliance for Construction -, uma associao voltada para o compartilhamento de informaes e conhecimento cientfico entre pases que, alm do Brasil, inclui Frana, Itlia e Lbano, entre outros.

A idia de elaborar um referencial tcnico brasileiro surgiu a partir do projeto de ps-doutoramento de Ana Rocha Melhado e acabou se tornando um convnio internacional. Manuel Carlos Martins, coordenador executivo do AQUA, explica a escolha pelo modelo francs: "Os franceses esto bem avanados em termos de certificao para construes sustentveis, ento pegamos o processo amadurecido. Alm disso, a Frana tem uma histria de parceria com a Poli e se disps a abrir todo o seu trabalho para que pudssemos aproveit-lo. A Europa mais abrangente e profunda em questes ambientais e nossa identificao foi maior com eles".

Atualmente existe no Brasil o Selo Azul, do Banco Caixa Econmica Federal, um reconhecimento de que o empreendimento foi realizado com sustentabilidade e est sendo aprovado pela Caixa. Com o selo, espera-se incentivar o uso racional de recursos naturais na construo, reduzir o custo de manuteno dos edifcios e, conseqentemente, na despensa mensal do morador. Como medidas aliadas ao selo na induo do setor de construo civil com sustentabilidade esto o uso de madeira com origem legal, o incentivo financeiro para sistemas de aquecimento solar de gua e a medio individual de gua e gs nos edifcios.

2.2.1 CERTIFICAO LEED

um sistema de certificao do Conselho de Greenbuilding dos Estados Unidos (USBGC), que avalia construes verdes, ou seja, sustentveis. Green Building so edificaes nas quais foram aplicadas medidas construtivas e procedimentos que buscam o aumento da sua eficincia no uso de recursos, com foco na reduo dos impactos scio-ambientais. Deste modo englobam: localizao; projeto; construo; operao e manuteno; remoo de resduos; renovao da edificao ao final de sua vida til. Para conseguir o selo construo sustentvel o engenheiro precisa seguir risca os critrios estipulados pelo LEED, divididos em cinco grandes reas: desenvolvimento local sustentvel, uso racional da gua, eficincia energtica, seleo de materiais e qualidade ambiental interna. Antes, durante e depois da obra, representantes do Conselho de Greenbuilding dos Estados Unidos (USBGC) avaliam o desempenho do empreendimento, atravs de questionrios e relatrios tcnicos. Ao final, os dados so transformados em pontos num ranking, que podem ou no resultar na certificao. Pretendendo obter a certificao LEED de uma edificao, primeiramente, o projeto deve ser registrado junto ao USGBC para indicar se atender a todos os pr-requisitos exigidos para atingir uma determinada pontuao. A certificao s ser efetivada aps a construo do prdio e a confirmao de que os pr-requisitos foram atendidos. De acordo com o nmero de pontos obtidos por uma determinada edificao, esta poder ser certificada em uma das seguintes classificaes: Platinum (platina), Gold (ouro) ou Silver (prata). As pontuaes do LEED so divididas nos seguintes grupos: Certificao LEED ( 26 - 32 crditos); LEED Prata( 33 - 38 crditos); LEED Ouro( 39 - 51 crditos); LEED Platina ( 52 - 69 crditos).2.2.2 CERTIFICAO GBC

OGreen Building Council Brasil, umaorganizao no governamentalque surgiu para auxiliar no desenvolvimento da indstria daconstruo sustentvel no Pas, utilizando as foras de mercado para conduzir a adoo de prticas de Green Building em um processo integrado de concepo, construo e operao de edificaes e espaos construdos. A certificao internacional de empreendimentos sustentveis LEED, desenvolvida pelo USGBC e promovida pelo GBC Brasil em territrio nacional, posto que ajuda na implantao dos conceitos sustentveis na obra, bem como agrega valor de mercado, diminuio dos consumos gerais do empreendimento e implica no estabelecimento da legitimidade de um processo especfico validado por uma terceira parte independente.

2.2.3 SELO AQUA

As preocupaes com os impactos ambientais gerados pelos edifcios, durante as fases de planejamento e construo, ou durante a operao, so cada vez maiores. Tanto que j existem vrios selos internacionais para verificar os recursos consumidos, as emisses de carbono e os resduos gerados pelas edificaes, bem como o conforto e a sade das pessoas que convivem ali. Para isso, feita uma avaliao sobre o grau de sustentabilidade dos edifcios, baseada em critrios especficos de cada selo.

O AQUA o primeiro selo que levou em conta as especificidades do Brasil para elaborar seus 14 critrios - que avaliam a gesto ambiental das obras e as especificidades tcnicas e arquitetnicas. So eles: Eco-construo, que engloba relao do edifcio com o seu entorno, a - escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos e o canteiro de obras com baixo impacto ambiental. Gesto da energia, da gua, dos resduos de uso e operao do edifcio e - manuteno: permanncia do desempenho ambiental. Confortohigrotrmico, acstico, visual e olfativo. Sade qualidade sanitria dos ambientes; do ar e da gua.

2.2.4 SELO AZUL DA CAIXA

um sistema de classificao da sustentabilidade de projetos ofertado no Brasil, desenvolvido para a realidade da construo habitacional brasileira. Este no um aspecto menor, pois solues adequadas realidade local so as que aperfeioam o uso de recursos naturais e os benefcios sociais. Do ponto de vista do desenvolvimento sustentvel, somente os problemas so globalizados, ou seja: problemas globais, solues locais.

A metodologia do Selo foi desenvolvida por uma equipe tcnica da CAIXA com vasta experincia em projetos habitacionais e em gesto para a sustentabilidade. Um grupo multidisciplinar de professores da Escola Politcnica da Universidade de So Paulo, Universidade Federal de Santa Catarina e Universidade Estadual de Campinas que integrava uma rede de pesquisa financiada pelo Finep/Habitare e pela CAIXA atuou como consultor, organizando, inclusive, um workshop que contou tambm com a participao de entidades representativas do mercado.2.3 OBRA RESPONSVELQuanto mais sustentvel uma obra, mais responsvel ela ser por tudo o que consome, gera, processa e descarta. Sua caracterstica mais marcante deve ser a capacidade de planejar e prever todos os impactos que pode provocar, antes, durante e depois do fim de sua vida til.2.3.1 CIMENTO:A cada tonelada de clnquer emitida no ambiente 0,6 toneladas de dixido de carbono (CO) um dos gases causadores do efeito estufa. Os cimentos CPIII ou CPIV suprem parte do clnquer por resduos da produo siderrgica. Estes cimentos possuem menor impacto ambiental em sua fabricao, com comportamento similar aos cimentos tradicionais. um cimento compatvel com todas as etapas da obra. Mas pesquisas indicam que ele mais resistente, estvel e impermevel em relao ao cimento comum, pois seu processo de hidratao ocorre mais lentamente. E, como demora mais para curar, o CPIII previne fissuras trmicas. Tais caractersticas o tornam ideal para fundaes, lajes e pilares.

O CPIII existe no Brasil desde 1952, mas, at pouco tempo atrs, era alvo de preconceito dos construtores por conter resduos industriais. Porm, suas vantagens ambientais vm mudando esse quadro e hoje ele j representa mais de 17% do consumo de cimento no Brasil. Na regio Sudeste, as principais cimenteiras fabricam o produto: Votorantim, Holcim, Camargo Corra, Lafarge e Joo Santos. Vale lembrar que no Sul os grandes fabricantes produzem o cimento pozolnico (CPIV), que emprega resduos das termoeltricas e tem desempenho semelhante ao do CPIII.2.3.2 BRITA E AREIA:

Produzidas a partir da reciclagem de resduos de construo e demolio (RCD). Podem ser empregadas em concreto para uso no-estrutural, em contra pisos, para argamassa de assentamento, pavimentao, para base e sub-base.Dois teros dos resduos slidos de construo e de demolio so restos ou entulhos de alvenaria ou de concreto. Essa a possibilidade que se proporciona indstria do concreto de aumentar a produtividade dos recursos naturais, utilizando agregados grados derivados desses resduos.

Os agregados reciclados, tm maior porosidade o que necessariamente exige maior quantidade de gua para uma mesma trabalhabilidade da mistura, afetando as propriedades mecnicas. Esse problema pode ser diminudo com o uso de misturas homogeneizadas de agregados naturais e reciclado e com o uso de aditivos redutores de gua (superplastificantes).2.3.4 ARGAMASSA POZOLNICA: A cal pozolncia composta por cal hidratada e leucofilito, utilizada como agente plastificante em argamassas de emboo. Acrescentando gua a cal pozolnica 24 horas antes do preparo da argamassa com cimento e areia, garante se argamassa melhores ndices de aderncia comparados argamassa preparada somente com cal hidratada.

O desempenho sustentvel da cal, se deve ao fato de ser minrio finamente modo sem a necessidade de queima e emisso de CO2 na atmosfera, no contribuindo assim para o efeito estufa.

2.3.5 MADEIRAS Devem ser utilizadas madeiras certificadas, como a certificao fornecida pelo Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (certificado FSC) para identificar os produtos provenientes de florestas manejo de forma responsvel, conciliando a extrao com a conservao dos recursos naturais e biodiversidade. Comprar somente madeiras ou produtos de madeireiras com no mnimo 50% de madeira certificada. Por exemplo: Rodaps, forros, esquadrias, degraus de escadas.

2.3.6 TINTAS, VERNIZES E IMPERMEABILIZANTES As tintas base de terra e minerais so 100% naturais, isentas de solventes qumicos, portanto isentas de COVs (compostos orgnicos volteis). So produtos de baixo impacto ambiental, no geram poluio atmosfrica ou prejudicam a camada de oznio. Tm ainda baixo odor. So de excelente cobertura e aceita pigmentao, depois de seca permitem a respirao da parede, ajudando assim no controle da umidade relativa do ar nos ambientes internos.

O verniz um produto elaborado base de leos e resinas vegetais, bicomponente, com catalizador, sem cheiro e atxico aps a cura, foi desenvolvido para oferecer proteo a peas de madeira, mveis etc. O produto no libera odores volteis no ambiente aplicado e nem mesmo na atmosfera, e nem causa dores de cabea tanto para o aplicador como para usurio.2.3.7 TELHADOS VERDES So coberturas com vegetao natural. Tem como benefcio reduo do efeito do calor, controle das enchentes pela absoro de parte das guas das chuvas pela cobertura e seqestro do CO2 da atmosfera, alm de poderem trazer conforto trmico para o ambiente interno da edificao. Telhados verdes tm tipicamente uma fina camada de solo (de 150-300 mm ou mais) que pode suportar uma grande variedade de plantas ou at algumas espcies de rvores e frutas.Contribui tambm para a formao de um mini ecossistema, atraindo borboletas, joaninhas e pssaros. Mantendo a umidade relativa do ar entorno e para formao de um microclima, melhorando no s a qualidade de vida do morador como da vizinhana. Alm do aumento da rea verde fazendo com que haja um resgate de carbono da atmosfera pela vegetao, combatendo assim o aquecimento global.2.3.8 TELHADOS BRANCOS So coberturas pintadas de branco ou claras, que tm uma reflexo solar alta, diminuindo sensivelmente os efeitos da incidncia solar. Aumentar a reflexo solar das superfcies urbanas reduz o seu respectivo ganho de calor, diminui a temperatura e evita a transferncia de calor para a atmosfera.Um estudo recente do Laboratrio Nacional Lawrence Berkeley, na Califrnia, mostrou que pintar os telhados de branco combate o aquecimento global. Explica-se: enquanto as coberturas escuras absorvem 80% do calor, as claras refletem at 90% da luz solar. Com isso, cidades com mais tetos brancos sofreriam menos com as ilhas de calor. Alm disso, eles diminuem a temperatura interna, o que pede menos ar condicionado e reduz as emisses de CO2. "Um telhado branco de 100 m compensa cerca de 10 toneladas de gs carbnico, o equivalente emisso anual de uma tpica casa americana", afirma Marcos Casado, do GCB. . "No Brasil, essa soluo teria um efeito maior se inclusse as fachadas, como se faz na costa mediterrnea h sculos", diz Roberto Lamberts, especialista em eficincia energtica em edificaes.2.3.9 PAREDES VERDES So fachadas com vegetao natural. So utilizadas plantas trepadeiras ou que crescem em vasos, tanto em paredes externas quanto internas, auxiliam na melhoria do ar, no ambiente interno e no sombreamento externo. Essa parede retm os poluentes, oxigenam e umidificam o ar, alm de diminurem a poluio sonora.2.3.10 MATERIAIS RECICLVEIS

Deve ser incentivado o uso de materiais reciclveis, material reciclado e materiais com componentes reciclados. Por exemplo: Alguns tipos de carpetes utilizam em parte de sua composio material obtido a partir da reciclagem de PET ou de borracha reciclada, assim como outros materiais como telhas, tapumes, porcelanatos, divisrias internas de fibrocimento sem amianto, pisos elevados, blocos de concreto entre outros.

2.3.11 PAVIMENTAO PERMEVELPermite a infiltrao da gua no solo, contribuindo para o ciclo hdrico, controle de enchentes e menor efeito de ilha de calor. Entre as solues possveis, temos o piso inter-travado de concreto.Os pavimentos permeveis devem ser utilizados em obras e loteamentos novos com o objetivo de diminuir a sobrecarga na rede pluvial bem como evitar o transporte de poluentes aos corpos dgua. Do mesmo modo devem ser incentivados em reas consolidadas da cidade velha, auxiliando assim a reabilitao ambiental das bacias hidrogrficas.

A capacidade de infiltrao do solo original fundamental para determinao da eficcia da tcnica. A pavimentao permevel tem o objetivo de manter os poluentes no local no solo ou outro local subjacente a pista, e permitir o escoamento da gua para recarga de guas subterrneas, evitando problemas de eroso pela vazo excessiva. Capturam os metais pesados, impedindo-os de serem levados a jusante e acumulando no ambiente. Nos espaos porosos, os microrganismos tem tempo para digerir os leos de automveis deixando de existir como um poluente.2.3.12 PAISAGISMO NATIVO aquele tipo de paisagismo com plantas nativas que requerem menor utilizao de gua para a irrigao. Alm de contriburem para a restaurao e a conservao da biodiversidade.Para tanto, necessrio desenvolver, acima de tudo, um projeto paisagstico inovador, implantando a filtragem e o reaproveitamento da gua, alm das belas flores e folhas fundamentais valorizando o uso da vegetao local contribuindo para conservao ambiental, utilizao de energias alternativas, reciclagem de materiais e que desempenham funo ecolgica, tais como: piso drenante com fibra de coco para minimizar enchentes, piso antimpacto feito com pneu triturado para a prtica de esportes. Produtos biodegradveis para controle de pragas e doenas. Preparo do terreno com responsabilidade, as reas abertas que iro sofrer qualquer movimentao de terra devem seguir procedimentos preventivos para conter assoreamento dos rios e problemas de eroso.O nmero de etapas a serem observadas para se chegar a uma obra sustentvel e responsvel grande, uma vez que a mesma , conforme o escritor e filsofo italiano Umberto Eco, aberta, mutvel e em permanente evoluo e melhoramento. Como prerrogativa da construo sustentvel recomenda-se a aceitao de dois elementos-chave: sua complexidade e sua pluralidade. Uma obra sustentvel jamais pode ser copiada sem deixar de ser fiel a si mesma, pois um sistema vivo, que obedece ao princpio de que cada organismo tem sua prpria necessidade de interao com o meio. No h, portanto, uma receita de bolo para uma obra sustentvel, mas pontos em comum que devem ser atingidos, de conformidade com a mxima da Rio-92: Pensar global e agir local.3. ESTUDO DE CASO

A obra estudada se localiza no interior do municpio de Santo ngelo, tem trs pavimentos e com uma rea total de 220,00 metros quadrados, o proprietrio do arquiteto Antonio Warpechowski Neto, que chama a edificao de Ecocasa, totalmente construda com materiais reciclveis e ecologicamente correta, nas figuras 01 e 02 podemos observ-la. A criao do projeto foi determinada por um fator que preocupa o proprietrio, a escassez de recursos naturais sendo que a escolha da tcnica aliou a praticidade e a conscincia ecolgica, esse o caso especfico das telhas e placas elaboradas a partir da reciclagem de caixas acartonadas Tetra Pak, que uma tecnologia existente no mercado h quase dez anos e um elemento construtivo alternativo, fabricado do descarte das caixas de leite. A importncia deste produto reciclado est no fato de que se utiliza como matria prima o alumnio e o plstico de embalagens descartadas.

Figura 1 Fachada Frontal

Figura 2 - FachadaAlm disso, na Ecocasa os pilares e vigas de concreto, comum na construo civil foram substitudos por peas de madeiras reaproveitas de outras construes, foram utilizadas tambm no piso, forro e nas escadas. Nas figuras 03 e 04 podemos notar os detalhes da estrutura que ser revestida com as placas, j na figura 05 observa-se a estrutura do telhado que ira suportar as telhas.

Figura 3 Pilares Figura 4 Vigas

Figura 5 Detalhamento cobertura

As paredes e o telhado foram revestidos com as placas Tetra Pak, anteriormente j citadas. Na figura 6, mostra as telhas e na figura 7 as placas formando as paredes.

Figura 6 Cobertura

Figura 7 Paredes externas

As aberturas, o piso e forro so de origem de demolio, antes de serem colocados foram lixados, e pintados novamente. Como podemos ver abaixo nas figuras 8, 9 e 10.

Figura 8 Forro

Figura 9 Aberturas

Figura 10 Piso Enfim, o que se prope a incentivar a produo destes materiais constituem uma nova tecnologia que oferece benefcios estruturais e tcnicos, devido a ser um produto alternativo com melhores propriedades, como pudemos constatar neste artigo. Alm disso, traz uma srie de benefcios econmicos e sociais, relacionado ao menor custo de mercado e gerao de empregos relacionados coleta seletiva e ao processamento dos materiais, possibilitando o resgate da cidadania dos envolvidos e benefcios ambientais, pois incentiva a reciclagem das embalagens longa vida, proporcionando um melhor aproveitamento destes materiais, evitando disposio em lixes e aterros sanitrios. Assim como o uso de material de demolio diminui o impacto ambiental causado dia a dia pela construo civil, sendo j um pequeno passo para um mundo mais sustentvel e mais correto.4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICASJOHN, V. M. Desenvolvimento sustentvel, construo civil, reciclagem e trabalho multidisciplinar. Artigo. So Paulo: PCC-EPUSP. Disponvel em . Acesso em: 04 de agosto de 2010 a.

JOHN, V. M. A construo, o meio ambiente e a reciclagem. Artigo. So Paulo: PCC-EPUSP. Disponvel em . Acesso em: 04 de agosto de 2010 b.JOHN, V. M. Boas prticas para habitao mais sustentvel. So Paulo : Pginas & Letras - Editora e Grfica, 2010.PINTO, T. P. Metodologia para a gesto diferenciada de resduos slidos da construo urbana. So Paulo, 1999. Tese (doutorado) - Escola Politcnica, Universidade de So Paulo, 189p.