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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
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Construção de conhecimentos de ação territorial: institucionalização da
interdisciplinaridade em zonas de educação para o ecodesenvolvimento1
Liliane Cristine Schlemer Alcântara Doutoranda- Universidade Regional de Blumenau – FURB. E-mail: [email protected]
Cristiane Mansur de Moraes Souza Universidade Regional de Blumenau – FURB. E-.mail: [email protected]
Carlos Alberto Cioce Sampaio Universidade Regional de Blumenau – FURB e Universidade Pontifícia Católica do Paraná – PUC-PR, [email protected]
Júlia H. Gesser
Graduanda arquitetura - Universidade Regional de Blumenau – FURB. [email protected]
Eixo temático: institucionalização da interdisciplinaridade
Resumo
Neste artigo procura-se reconhecer a importância de desenvolver competências, saberes e conhecimentos
por meio de projetos de ação territorial à luz da educação para o ecodesenvolvimento. A questão norteadora
consiste em identificar como a construção de conhecimentos em ação territorial vem favorecendo à
institucionalização da interdisciplinaridade em zonas de educação para o ecodesenvolvimento. O marco
teórico caracteriza-se pela metodologia de projetos de ação territorial, por meio da comunidade de
aprendizagem. Evidencia-se a mobilização de comunidades locais, considerando o binômio
desenvolvimento e meio ambiente, ao possibilitar a ampliação de espaços cada vez mais favoráveis, no
âmbito dos quais coletivos interdisciplinares passam a desenvolver projetos de pesquisa-ação-formação
comunitária. Frente aos resultados levantados nas experiências nas Zonas de educação para o
ecodesenvolvimento (ZEE), que fazem parte da região laboratório de educação para o ecodesenvolvimento
do Litoral de Santa Catarina (Blumenau) e Paraná (Morretes - Rio Sagrado) percebeu-se que a
institucionalização da interdisciplinaridade pode ser alcançada através de práticas que considerem uma
estreita relação entre o homem e o seu meio ambiente, sujeito e objeto, homem e natureza, entre ser e fazer,
assim como respeito às culturas locais.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade. Conhecimento. Educação para o ecodesenvolvimento.
1 Introdução
Considerando o binômio desenvolvimento e meio ambiente em toda sua complexidade, processos de
construção de conhecimentos em ação territorial são desenvolvidos, a partir de Zonas de Educação para o
1 Artigo cuja gênese está no projeto de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da doutoranda Liliane Cristine Schlemer Alcântara.
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Ecodesenvolvimento2, que fazem parte das Regiões Laboratórios de Educação para o Ecodesenvolvimento
do Litoral de Santa Catarina (Ribeirão Fidelis, Ribeirão Itoupava Central, Ribeirão Fresco e bairro
Itoupavazinha em Blumenau) e Paraná (Rio Sagrado, Morretes). Regiões laboratórios são espaços que
oportunizam o diálogo e inserção de diferentes pesquisadores, com o princípio de explorar o potencial
pedagógico de novos gestores, dialogo entre atores sociais múltiplos, formação para a cidadania,
disponibilização de dados confiáveis e construção de projetos em rede (LÉVÊQUE, 2000). Frente aos
desafios do exercício da interdisciplinaridade, em esforço de articulação entre ensino, pesquisa e extensão
tem o objetivo de formar competências locais para projetos de ação territorial em direção ao
ecodesenvolvimento territorial3.
Destaca-se que um dos desafios encontrados nesta configuração da interdisciplinaridade consiste em
mobilizar a comunidade na construção de competências considerando a complexidade dos sistemas
socioeconômicos, culturais e ecológicos. De acordo com Grimm et al.(2013), a proliferação da discussão
sobre a interdisciplinaridade no ambiente acadêmico é algo que se reporta à segunda metade do século XX,
como consequencia da percepção de que há necessidade de religar saberes e buscar seus significados e
aplicações práticas para os indivíduos e para a natureza.
Neste caso, se desenvolve competências de graduandos durante o processo, quando há valorização da
participação e da autonomia das populações, que é um dos fundamentos normativos do conceito do
ecodesenvolvimento. No contexto de metodologia proativa de planejamento interconectada com a
ecopedagogia e pesquisa participativa, oportuniza-se um ambiente, em que os próprios membros
comunitários são educandos e educados envolvendo-se em processos de ensino-aprendizagem colaborativos
na identificação de problemas comuns ao território.
Proclama-se aqui a interdisciplinaridade não só como método ou prática para produção do
conhecimento, mas também como instrumento de integração operativa na resolução dos complexos
problemas de desenvolvimento, além de aparecer com a pretensão de promover intercâmbios teóricos entre
as ciências e de fundar novos objetos científicos (LEFF, 1994).
2 Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento (ZEE) é espaço de estudo, pesquisa e práticas que alimentam a perspectiva
interdisciplinar envolvendo participativamente a comunidade em processo emancipatorio rumo a um outro (des)envolvimento. 3Termo utilizado pelo Professor Paulo Freire Vieira (Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal
de Santa Catarina), que considera o ecodesenvolvimento como processo de mudança gradual de estilos de vida. Surgido em
Estocolmo, em 1972, se popularizou a partir do Rio-92. O termo ecodesenvolvimento territorial prioriza o fundamento normativo
do ecodesenvolvimento e agrega o conceito de desenvolvimento territorial, que considera princípios de economia associados a
recursos, serviços e atores de forma territorializada.
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Neste sentido, parte-se da análise do projeto de extensão “Novos Talentos 2012”, em fase de
implantação que objetiva um processo de educação pensado a partir do cotidiano, inspirado no esforço de
educação para o ecodesenvolvimento, realizado a partir de projetos de ação coletiva que estimulam
competências e autonomia. O norteamento consiste em identificar como a construção de conhecimentos em
dado território favorece a interdisciplinaridade em ZEEs. O marco teórico caracteriza-se pela metodologia
de projetos de ação territorial, por meio da comunidade de aprendizagem. Evidencia-se a mobilização de
comunidades locais, considerando o binômio desenvolvimento e meio ambiente. Ao possibilitar a ampliação
de espaços mais favoráveis, coletivos passam a desenvolver projetos de pesquisa-ação-formação
comunitária.
Assim, o capítulo se inicia abordando os desafios do desenvolvimento territorial. Na sequencia
apresenta a educação para o ecodesenvolvimento e a metodologia por projetos. Destaca a importância da
construção de competências, saberes e conhecimentos. No contexto empírico trás experiências das Zonas de
Educação para o Ecodesenvolvimento (i) do Rio Sagrado (Morretes, PR) e (ii) Ribeirão Fidelis, Ribeirão
Itoupava Central, Ribeirão Fresco e bairro Itoupavazinha (Blumenau, SC). Finalmente as considerações
finais apresentam como a construção de conhecimentos em ação territorial vem favorecendo o exercício da
interdisciplinaridade decorrente do processo de edificação coletiva acampado por pesquisadores e
comunidade local.
2 Desenvolvimento territorial
A noção de território e desenvolvimento territorial surge do entendimento formado pela dinâmica de
atores sociais que ocupam um espaço determinado, nomeado e identificado na forma de identidade
individual e social, com referenciais familiares e profissionais (JEAN, 2010). Territórios são: “[...] entidades
socioespaciais, ou relacionadas às atividades humanas conduzidas num dado espaço”. Destaca-se ainda:
“[...] o desenvolvimento territorial faz referência a um espaço geográfico que não é dado, mas construído.
Construído pela história, por uma cultura e por redes sociais que desenham suas fronteiras” (JEAN, 2010, p.
51).
O território representa desafio quando a questão regional se manifesta, pois além da demanda de
satisfação de interesses estritamente pessoais, busca um desenvolvimento cuja identidade e cujas fronteiras
são mais ou menos estabelecidas. Esta busca de um desenvolvimento deve ser pensada em termos de
realização de suas potencialidades que não acentuem as disparidades regionais.
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Na formação do conceito de desenvolvimento territorial articula duas noções: a de desenvolvimento
e a de território, sendo que este último não se define por sua escala, mas pelo seu modo de organização e
pela maneira a qual os atores constitutivos dos territórios conseguem coordenar suas ações. Trata de uma
mudança paradigmática nos estudos sobre desenvolvimento regional, assumindo uma perspectiva
multidisciplinar como uma construção social.
As mudanças no território, suas relações sociais e sua forma de organização social são decorrentes da
internacionalização da economia (SANTOS, 1999). Estas mudanças estão diretamente ligadas à
globalização e com ela vemos o lado ruim do capitalismo e do crescimento sem critérios de sustentabilidade
do território: miséria, fome, desigualdade social ente outros.
A abordagem sustentável enfatiza a dimensão territorial do desenvolvimento, considerando as
pessoas e as instituições – envolvidas em certos segmentos de reprodução social – como atores sociais.
Considera que as comunidades devem explorar características e potencialidades próprias, na busca de
especialização de atividades que lhes tragam vantagens comparativas de natureza econômica, social, política
e tecnológica, aumentando a renda e as formas de riqueza, respeitando a preservação dos recursos naturais
renováveis.
O fomento à integração inter e transdisciplinar do conhecimento científico e a construção de um
vasto sistema de educação para o desenvolvimento territorial sustentável destacam-se, portanto, como um
requisito suplementar de inegável importância estratégica (VIEIRA, 2003).
O desenvolvimento territorial, numa visão ideal, favorece a emergência de valores universalistas,
baseados na identidade das culturas e dos territórios; ele reforça a coesão social, os vínculos de proximidade
e de solidariedade comunitárias, viabilizando assim a promoção da equidade, do respeito à diversidade, da
solidariedade, da justiça social, do sentimento de pertencimento e de inclusão social (COUDEL&
TONNEAU, 2010, p. 449).
Diante deste contexto, pressupõe-se que o desenvolvimento territorial venha acompanhado de uma
educação para o ecodesenvolvimento, no qual pressupõe competências, saberes e conhecimentos, por meio
de comunidades de aprendizagem (SAUVÈ, 1999). Sugere-se que o desenvolvimento de competências para
a ação territorial é definido como a capacidade de agir, um caminho no processo de desenvolvimento
territorial (COUDEL& TONNEAU, 2010).
3 Educação para o Ecodesenvolvimento
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No contexto da Conferência de Estocolmo e como parte das iniciativas de criação e implementação
do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), coube a Maurice Strong cunhar o termo
“ecodesenvolvimento” em 1973. Por meio deste conceito, buscava-se caracterizar uma “ideia-força” que
fosse capaz de direcionar, de forma criativa, iniciativas de dinamização econômica sensíveis aos fenômenos
da degradação do meio ambiente e da marginalização social, cultural e política. Pensavam-se inicialmente
nos desafios suscitados pela situação característica das zonas rurais dos países em desenvolvimento.
Esta concepção essencialmente antitecnocrática, ou bottom-up (de baixo para cima) preconizava uma
gestão mais racional dos ecossistemas locais, gestão esta que deveria incluir a valorização do know-
how e da criatividade endógena das comunidades. Desta perspectiva, longe de serem antinômicos, o crescimento econômico e a preservação do uso ecologicamente sustentado dos recursos naturais e do
espaço corporificam duas dimensões passíveis de serem integradas (VIEIRA, 1995, p.7).
Esta versão inicial do conceito de ecodesenvolvimento foi reelaborada e expressa, no ano seguinte, a
partir de Ignacy Sachs (Apud SACHS, 1974, IN: LEFF, 1998) que cunhou o termo como um
desenvolvimento aplicável a projetos localizados não só em áreas rurais, mas também urbanas, oposto à
diretriz mimético-dependente tradicionalmente incorporada pelos países pobres, orientado prioritariamente
pela busca de satisfação de necessidades básicas e pela promoção da autonomia das populações envolvidas
no processo.
Na concepção de Sachs (2007) o ecodesenvolvimento deve valer-se de estratégias que busquem o
melhor uso possível dos recursos específicos de cada ecossistema com o intuito de satisfazer as necessidades
básicas das populações interessadas. Portanto, o ecodesenvolvimento é um desenvolvimento que leva em
consideração as potencialidades locais, ou seja, é um desenvolvimento endógeno.
O conceito de ecodesenvolvimento proposto por Sachs, segundo Vieira (2007), designa:
[...] um novo estilo de desenvolvimento e um novo enfoque (paticipativo) de planejamento e gestão,
norteado por um conjunto interdependente de postulados éticos, a saber: atendimento de necessidades
humanas fundamentais (materiais e intangíveis), promoção da auto-confiança (self-reliance) das
populações envolvidas e cultivo da prudência ecológica (VIEIRA, 2007, p. 12).
Deste modo, o conceito de Ecodesenvolvimento se apresenta em dois momentos: no primeiro, trata-
se de um novo estilo de desenvolvimento aplicável a projetos localizados em áreas rurais e urbanas
orientado prioritariamente pela busca da satisfação de necessidades básicas e pela promoção da
autoconfiança (self-reliance) das populações envolvidas no processo; no segundo, o conceito designa
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também um enfoque participativo de planejamento e gestão de estratégias plurais de intervenção, adaptadas
a contextos socioambientais específicos.
A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas impede com frequencia de
operar o vínculo entre as partes e a totalidade. Este deve ser substituído por um modo de conhecimento
capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto.
O conceito de educação para o desenvolvimento nos territórios, na perspectiva do desenvolvimento
territorial, tem incorporado o debate contemporâneo sobre educação e desenvolvimento. Ao lado destes tem-
se experiências de educação para o desenvolvimento territorial, como é o caso da Universidade Camponesa
(Unicampo), um dos territórios mais pobres da região Nordeste do país (COUDEL& TONNEAU, 2010), as
Zonas de Educação para o Ecodesenvolvimento da Lagoa de Ibiraquera (Garopaba e Imbituba, SC)
(VIEIRA, FIKRET & SEIXAS, 2005) e da Microbacia do Rio Sagrado (Morretes, PR) (SAMPAIO et al.,
2010, GRIMM, et al., 2013b), que são exemplos de experiências inovadoras de educação para o
desenvolvimento territorial sustentável.
Esta metodologia de aprendizagem cria as condições que favorecem a união dos projetos e a
realidade socioambiental, focando nas problemáticas socioambientais locais (SAUVÉ, 1996; COUDEL&
TONNEAU, 2010). A pedagogia por projetos contribui com o desenvolvimento de conhecimentos
significativos ao contexto imediato (SAUVÉ, 2001, p, 118-122; MORIN, 2005).
A metodologia por projetos é fundamentada na aprendizagem e no compartilhamento de
conhecimentos tradicionais e científicos (SAUVÉ, 1996; COUDEL& TONNEAU, 2010), transformando-se
em estratégia particularmente apropriada na educação para o ecodesenvolvimento. Esta coaduna com a
perspectiva de aprendizagem social do desenvolvimento compartilhado, sendo, ainda, apropriada para o
desenvolvimento territorial sustentável no sentido de desenvolvimento solidário (JEAN, 2010).
4 Construção de conhecimentos, competências e saberes
A aplicação da interdisciplinaridade não se dá somente no âmbito teórico ou científico, mas
ultrapassa as fronteiras disciplinares fazendo pontes tanto entre níveis distintos de realidade, como entre
diferentes formas de conhecimento. É no âmbito interdisciplinar que os desafios epistemológicos se
apresentam e a estratégia entre saberes diversos deve propor o encontro entre teoria e prática, para responder
aos desafios complexos (GRIMM et al., 2013b).
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Acredita-se que o processo de ensino e aprendizagem não é outra coisa que adquirir e processar
informação (BONDIA, 2002). Entretanto, parte-se do pressuposto que este processo se dá pela experiência
(saber tradicional) e pela prática, que conduz a transformação e a emancipação dos atores.
Se a educação se dá através da experiência, entende-se que só se aprende fazendo. Como tão bem
Freire (1987, p. 39) esclarece: “Já agora ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a sim
mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Neste sentido, as competências
dizem respeito às decisões e às ações decorrentes deste processo. O que diferencia uma competência de um
dado conhecimento é que ela se inscreve na ação e, portanto, sempre pressupõe a mobilização de um
componente de natureza procedural (COUDEL & TONNEAU, p.451).
Visto desta forma, os processos de pesquisa-ação são práticas concebidas para viabilizar a construção
de mecanismos coletivos. A construção de competências na educação para o ecodesenvolvimento para
mobilização social depende necessariamente de um projeto.
A interdisciplinaridade e a diversidade de pontos de vista, discursos e práticas da educação
ambiental, desde, evidentemente, as opções pedagógicas são coerentemente desenhadas e contextualmente
adaptadas e justificadas dentro de um marco de referência explícito. O espaço da educação ambiental
corresponde em Sauvé (1999, p. 67) a três esferas inter-relacionadas que permitem identificar a área de
educação específica e multidimensional da educação para o ecodesenvolvimento.
A primeira é a esfera pessoal (o "eu"). A área onde a identidade individual se desenvolve através de
confronto com si (características, capacidades, limites), que gera a autonomia e responsabilidade pessoal,
onde se aprende a aprender, aprender a se relacionar, autodefinição e outras esferas.
A segunda esfera é da alteridade, onde as pessoas interagem com outros, com os indivíduos ou
grupos sociais. Aqui é desenvolvido sentido de pertença, de grupo, bem como o sentido de responsabilidade
para com os outros. Aqui também encontra-se, por exemplo, a cooperação relacionada com a educação, as
relações interculturais, paz, democracia, direitos humanos e solidariedade internacional.
Finalmente, a terceira área é a da educação ambiental. É a esfera das relações com o ambiente
biofísico, mediada pelas relações pessoais e sociais. O meio inclui os elementos que não pertencem
especificamente à área da alteridade humana. É outro tipo de alteridade, educação e responsabilidade que
pode expandir ética ecocêntrica. Esta terceira área é sobre relacionamentos com outros seres vivos,
elementos biofísicos e fenômenos de ecossistemas de ocorrência natural, feito pelo homem ou uma
combinação de ambos (que são mais comuns, porque a natureza e cultura se misturam dentro de realidades
ambientais).
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Nesta área de interação desenvolve na pessoa a sensação de ser parte de um padrão global de vida.
Aqui encontra-se integração da educação ambiental e educação econômica, ambos ligados às relações do
indivíduo e da sociedade com a "casa"-oikos. A educação ecológica ajuda a conhecer e compreender nossa
"casa" e encontrar dentro dela um "nicho" adequado. A educação econômica nos ajuda a gerir as nossas
relações de consumo, gestão e exploração do meio ambiente, considerado como uma "casa" (na verdade, não
é questão de manejo ambiental, mas nossas escolhas e comportamentos em relação ao meio ambiente).
Neste contexto, uma perspectiva de desenvolvimento territorial por meio da educação para o
ecodesenvolvimento, “está sujeita a um projeto social relevante, a luz do contexto cultural e biorregional,
cujo objetivo é uma reconstrução harmônica das relações entre pessoas, sociedade e ambiente” (SAUVÈ,
1999, p.75). O desenvolvimento territorial e o acesso á terra é uma das condições básicas para esta alteração.
Deste modo, uma proposta educativa interdisciplinar para um futuro sustentável demanda de uma
relação entre humanidade e seu meio ambiente, sujeito e objeto, homem e natureza, entre ser e fazer, assim
como respeito às culturas locais.
Uma metodologia de projetos interdisciplinares que busque e privilegia a participação da
comunidade, para ter êxito necessita da aplicação do saber entre diferentes áreas do conhecimento. Neste
contexto os trabalhos desenvolvidos no território do Litoral de Santa Catarina (Ribeirão Fidelis, Blumenau)
e Paraná (Rio Sagrado, Morretes), fortalecem a identidade das disciplinas e a maturidade de seu
relacionamento. A interdisciplinaridade promove intercâmbios teóricos entre as ciências e funda novos
objetivos científicos, constituindo prática para produção do conhecimento.
4 Resultados da experiência em Zonas de Educação para o Ecodesenvolvimento
4.1 Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento do Rio Sagrado, Morretes (PR)
A experiência aconteceu no âmbito do projeto intervivencia universitária, Zona de Educação para o
Ecodesenvolvimento do Rio Sagrado, e encontrou possibilidades de prática em função do financiamento do
Edital n. 23/2008 lançado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
juntamente com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o Fundo Setorial do Agronegócio (CT-
Agronegocio) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), edital este encampado pela Universidade
Regional de Blumenau (FURB) e apoiado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).A experiência está
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fundamentada no objetivo maior de aproximar a comunidade da universidade, admitindo a importância da
conexão entre conhecimentos tradicionais e científicos na busca por soluções integrais a problemas
cotidianos – inerentes à própria sociedade complexa em que se vive.
O ecodesenvolvimento visualiza na prática estas dificuldades, desde a década de 1970. Este esforço
de fazer-se praticar se move em torno da intenção de promover a inserção de um fundo de problematização
ética nas questões socioambientais, ultrapassando as barreiras do meio científico e passando a constituir-se
em privilégio compartilhado entre academia e comunidades locais. E esta é questão que depende da atuação
de diversos atores que sejam sujeitos do desenvolvimento de seus territórios, conscientes de suas reais
necessidades e potencialidades (GRIMM et al., 2013).
Projetos interdisciplinares têm papel fundamental de abarcar pesquisadores das mais diversas áreas
de formação (figura 01) “buscando responder aos problemas gerados pelo avanço da ciência moderna
disciplinar caracterizada como fragmentadora e simplificadora do real” (Almeida, 2011, p 54). A
interdisciplinaridade, neste caso, pode ser observada em sua complexidade e diversidade onde exercício de
critica e justificação aproxime necessariamente o cientista e suas reflexões das realidades comunitárias. O
programa de extensão se propõe a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, envolvendo grupo
multidisciplinar de pesquisadores que inclui estudantes do programa de pós-graduação em desenvolvimento
regional (mestrado e doutorado) com formação em engenharia ambiental, turismo, economia, sociologia,
geografia, administração, biologia, acadêmicos da graduação dos cursos de Arquitetura da FURB,
provenientes da iniciação científica, além de membros comunitários.
Figura 1 – Formação acadêmica dos pesquisadores do Programa – Nível de Pós-
graduação. Fonte: Dias, 2010.
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A integração de alunos de diversos cursos exercita a análise coletiva típica da discussão
interdisciplinar, e abordagens diferentes o mesmo objeto de estudo, ao mesmo tempo em que constroem
duas dissertações e teses, atuam de forma pró-ativa na construção da sociedade em processo de pesquisa-
ação-formação comunitária.
Deste modo, a universidade assume papel fundamental na elaboração e implementação de projetos
voltados ao ecodesenvolvimento, fortalecendo suas relações com a comunidade, integrando ensino, pesquisa
e extensão, desenvolvendo conhecimentos por meio de projetos de ação.
Observa-se neste sentido, que quanto maior o envolvimento dos pesquisadores com a comunidade –
se, mais estímulo posterior destes pesquisadores na implementação das ações que emergiram das discussões
durante as etapas do projeto, igualmente maior são as possibilidades de continuação dos trabalhos propostos
junto a estes territórios.
4.2 Zona de Educação para o Eecodesenvolvimento do Ribeirão Fidelis, Ribeirão Itoupava Central,
Ribeirão Fresco e bairro Itoupavazinha (Blumenau, SC)
Surgido a partir da experiência na Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento do Rio Sagrado,
(Morretes, PR) o programa Novos Talentos, edital 55/2012 CAPES, “Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior”, intitulado “Ecoformação e Literacia Informacional para a Educação Cientifica”,
é um projeto Institucional da Universidade Regional de Blumenau (SC) que aproxima a universidade da
comunidade escolar, oferecendo uma série de oficinas para alunos e professores da rede pública de ensino
básico a partir de trêssubprojetos: literacia informacional e educação cientifica; educação para o
ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar e ciclo de formação para ecoformação e biodiversidade.
O subprojeto “Educação para o ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar” é uma iniciativa
do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e do Curso de Arquitetura da FURB e
inaugura forma inovadora e contextualizada de abordar a relação entre características econômicas das
sociedades e produção do espaço.
O grupo Análise Ambiental (FURB), cadastrado no CNPq, vem atuando em conjunto com o Núcleo
de Ecossocioeconomia (NEcos/UFPR e PUC-PR), construindo trajetória de atuação em avaliações
participativas dos problemas socioambientais, integrando o trabalho de alunos da graduação e pós-graduação
e atores sociais locais.
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Este ambiente de pesquisa-ação se traduz no contexto da Zona de Educação para o
Ecodesenvolvimento – ZEE, de caráter emancipatório e interdisciplinar. Dentre os projetos, realizados ZEE
e coordenados pelos grupos de pesquisa acima citados, destacam-se dois que foram determinantes para a
elaboração do subprojeto Educação para ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar (FURB), em
Blumenau, para o edital 55/2012 programa Novos Talentos:
(1) o programa de extensão institucional (FURB) “Diagnóstico Socioambiental Participativo da Microbacia
hidrográfica do Rio Sagrado (Morretes, PR), na ZEE” (2009-2010), e sua continuidade em 2011 e 2012 com
título: Programa de Extensão Rural – Fortalecimento dos modos de vida das populações locais:
oportunizando conhecimento aos jovens das comunidades do Sudoeste da Microbacia do Rio Sagrado,
Morretes (PR). Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento, um recote geográfico da área de Preservação
Ambiental (APA) de Guaratuba, Reserva da Biosfera (ReBio) da Floresta Atlântica.
(2) o projeto Intervivência Universitária: oportunizando conhecimentos aos jovens das comunidades do Rio
Sagrado (Morretes, PR) Edital MCT/CNPq/CT-AGRONEGÓCIO/MDA - Nº 23/2008 - Programa de Honra
de Estudos e Práticas em Ecossocioeconomia, em 2009 coordenado pela FURB e em 2010 pela UFPR-
Litoral, parceria com a Universidade Austral do Chile.
A abordagem do programa de extensão “Diagnóstico Socioambiental Participativo da Microbacia do
Rio Sagrado”, utilizou a bacia hidrográfica como unidade de planejamento, tendo como objetivos: a)
elaboração de análise socioambiental participativa e b) construção de metodologia de monitoramento de
indicadores socioambientais participativos. O Estudo da realidade geográfica e socioambiental local
realizado pelo programa de extensão diagnóstico (1) citado deu subsídio aos planos de ensino do (2)
Programa de Honra.
O Programa de Honra (2009-2010) teve o objetivo principal de estimular a divulgação e apropriação
de conhecimentos (geral e especializado) na formação dos jovens residentes na localidade, a partir de
oficinas, realizadas em quatro períodos de férias escolares, abordando os seguintes temas: associativismo;
saúde e meio ambiente; turismo comunitário; teatro; agroecologia; resgate da cultura local; áreas vulneráveis
à ocupação humana; bioconstrução; etc.
Com o envolvimento simultâneo dos pesquisadores no programa diagnóstico socioambiental
participativo (FURB) e no Programa de Honra (FURB-UFPR) a equipe adquiriu experiência para atuar no
programa Novos Talentos, edital 55/2012 e trazer a ZEE para Blumenau. O Município de Blumenau requer
atenção por se tratar de recente palco de processos socioambientais que resultam em paradoxo: um dos mais
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altos IDH registrados entre as regiões metropolitanas brasileiras versuscomunidade altamente vulnerável aos
eventos climáticos extremos: 68 enchentes em período de 150 anos.
O padrão de desenvolvimento socioeconômico e socioespacial predominante, com o aumento da
utilização dos recursos e dos espaços naturais e aumento populacional em áreas urbanas, convertem eventos
naturais em problemas sociais (MATTTEDI et al., 2009). Para compreender este paradoxo é necessária ter
em conta processos interligados como a colonização e identidade étnica, o desenvolvimento econômico
baseado na indústria têxtil, a produção do território urbano, a progressiva destruição ambiental e a questão
das enchentes.
Assim, este grupo de pesquisa vem cruzando informações geológicas e geomorfológicas locais sobre
a vulnerabilidade ambiental à ocupação urbana, no perímetro urbano norte de Blumenau, e têm evidenciado
que áreas de encosta na Serra do Mar correspondem aquelas de maior vulnerabilidade a escorregamentos e
que estão sendo ocupadas desordenadamente. Fato que agrava mais a possibilidade de deslizamentos,
podendo se repetir tragédias ambientais com perdas humanas e materiais.
O edital Novos Talentos4 abriu possibilidade de se atuar no aprimoramento e melhoria do ensino de
ciências ambientais nas escolas públicas de Blumenau, podendo fomentar a formação de atores sociais e
multiplicadores de lideranças que venham a trabalhar preventivamente nas comunidades de áreas de risco e
ainda que promover a transformação da comunidade local na perspectiva da edificação de uma sociedade
mais justa e igualitária, através do modelo associativista.
Desenvolver oficinas que abordem a temática socioambiental incluindo, sobretudo prevenção de
desastres naturais e forma de disseminação do modo associativista para professore e alunos das
escolaspúblicas em particular a escola Rodolf Hollenwerger – Fidélis, indica inserção da proposta em
contexto microrregional, que possibilita esforço de reflexão sobre temas socioambientais em ações de
inserção dos conceitos de ecodesenvolvimento sobre cotidiano em ações práticas (SAUVÉ, 2011). O
conceito de ecodesenvolvimento designa enfoque participativo de planejamento e gestão de estratégias
adaptadas a contextos socioculturais e ambientais específicos.
O objetivo principal do subprojeto educação para o ecodesenvolvimento com enfoque
interdisciplinar está em realizar aproximar a universidade da rede de ensino básico e favorecer a formação
4 MANSUR DE M. S., C.; SAMPAIO, C. A. C.; AUMOND, J. J.; FLORIT, L. F., O.; Programa Institucional Novos Talentos
FURB: educação e literacia informacional: Ecoformação e Literacia Informacional para a Educação Cientifica, Subprojeto:
Educação para o ecodesenvolvimento com enfoque interdisciplinar: Zona de Educação para o Ecodesenvolvimento de Blumenau
(SC). CAPES, edital 55/2012.
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de competências em gestão de projetos locais, orientada para projetos de melhoramento da qualidade do
meio ambiente de vida.
A ação está dividida em três etapas que compreendem: (i) Educação para prevenção de desastres
provocados pelas mudanças climáticas para alunos e professores de educação básica; (ii) Educação para o
fortalecimento do cooperativismo orientada na sustentabilidade na produção e consumo de alimentos
orgânicos; (iii) Construção de competências para projetos de ação territorial, zona de educação para o
ecodesenvolvimento de Blumenau.
Os resultados esperados deste projeto promovem a formação de multiplicadores de lideranças/atores
locais para a mobilização de competências e saberes para ações por meio de projetos de desenvolvimento
territorial.
5 Considerações Finais
Os conhecimentos desenvolvidos nas Zonas de educação para o ecodesenvolvimento (ZEE), que
fazem parte da região laboratório de educação para o ecodesenvolvimento do Litoral de Santa Catarina
(Blumenau) e Paraná (Morretes - Rio Sagrado) se aplicam a “agente de mudança" para descrever quatro
caminhos de ação universitária de apoio ao desenvolvimento: (a) fornecer modelo de práticas sustentáveis
para sociedade; (b) ensinar a lidar com problemas complexos e exercícios sistema de pensamento; (c)
realizando práticas baseadas em pesquisas-atividade, e (d) promover e reforçar a colaboração entre
indivíduos e universidades situadas como agentes transdisciplinares (PEER & STOEGLENNER, 2013,
p.6).
Nesta perspectiva, a educação para o ecodesenvolvimento visa a conservação da biodiversidade, a
auto-realização individual e comunitária estando em direção a educação para cidadania, através de processos
educativos/participativos que promovam o desenvolvimento em todas as suas dimensões e
fundamentalmente como qualidade de vida, processo que se preconiza através do projeto de extensão ligado
a esta pesquisa. Este conceito leva em conta que na prática não existe ecodesenvolvimento sem educação
para o ecodesenvolvimento (SACHS, 1980).
Os resultados que atendem a proposta de metodologia de pesquisa-ação, focada nas comunidades de
aprendizagem por meio da pedagogia de projetos atendem:
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A necessidade de construir uma trajetória equilibrada na seleção dos temas, recursos, produção,
cultura, educação, dinâmicas sociais na orientação dos projetos de pesquisa-ação por meio da
educação para o ecodesenvolvimento, propiciando compreensão maior do processo;
A apreensão desses projetos como um dos fios condutores, levará a estruturar os encontros,
aprimorando o desenvolvimento de competências e saberes relativos aos processos de produção,
apreciação e investigação que fundamentam a prática docente, discente e comunitária na educação
para o ecodesenvolvimento e da prevenção de riscos (aplicabilidade);
O entendimento do caminho metodológico traçado para melhor compreender a relação teoria/prática
e os tipos de conteúdos trabalhados nas diferentes situações de ação/pesquisa e aprendizagem (como
fazer), desenvolverão as comunidades de aprendizagem para a disseminação destes projetos em
outras comunidades.
Dentro desta perspectiva, os alunos passam a dispor de um conjunto de conhecimentos teóricos e
práticos sobre o ecodesenvolvimento, o que lhes permite analisar e relativizar os efeitos negativos do
homem no meio ambiente. Ao mesmo tempo, por meio da comunidade de aprendizagem, fomentam-se
competências e saberes para ações e projetos de desenvolvimento.
Entende-se que não há desenvolvimento territorial sem trabalho realizado junto às populações para se
chegar a visão comum e compartilhada do diagnóstico da situação e meios a serem mobilizados para gerir de
forma sustentável o futuro planejado em conjunto.
O programa de extensão tem como objetivo aproximação da universidade da realidade social e
ambiental das comunidades onde as escolas estão inseridas. Na busca incessante de integrar os
conhecimentos científicos com os conhecimentos tradicionais para a solução de problemas ambientais
enfrentados pela sociedade.
O programa parte da construção da aprendizagem, saberes e conhecimentos por meio das
comunidades de aprendizagem, pela metodologia de elaboração de projetos trabalhados através de oficinas,
ministrados por professores, alunos da graduação e da pós-graduação, no compromisso de desenvolver
pessoas, com base na educação para o ecodesenvolvimento, como uma estratégia para um desenvolvimento
territorial sustentável, criando as comunidades de aprendizagem.
O desafio consiste em mobilizar a comunidade do território na construção de um modelo em
constante transformação, considerando a interdisciplinaridade e a complexidade dos sistemas sociais,
políticos, econômico, ambientais e culturais, mobilizando competências, saberes e conhecimento.
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Mais do que isto, emancipar seus atores, sem a imposição de princípios e dogmas, mas de arranjos
pedagógicos a serem construídos e reconstruídos constantemente. Neste sentido, como Freire (1987, p. 38)
afirmou, somos um projeto inacabado:
[...] a educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com a libertação não podem
fundar-se numa compreensão dos homens como seres “vazios” a quem o mundo encha de conteúdos;
não pode basear-se numa consciência especializada, mecanicistamente compartimentada, mas nos
homens como “corpos conscientes” e na consciência como consciência intencionada ao mundo. Não
pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da problematização dos homens em suas relações com o mundo (FREIRE, 1987, p.38).
Percebe-se neste contexto, que o conceito de interdisciplinaridade permanece irredutível a uma única
apreensão retórica e que a sua prática é exercida mais por iniciativas individuais ou por equipes de
educadores do que procedimentos generalizados e incorporados às práticas pedagógicas.
Deste modo, frente à questão norteadora deste artigo que consiste em identificar como a construção
de conhecimentos em ação territorial vem favorecendo a institucionalização da interdisciplinaridade em
zonas de educação para o ecodesenvolvimento, conclui-se que a institucionalização da interdisciplinaridade
pode ser alcançada através de práticas que considerem uma estreita relação entre o homem e o ambiente.
Este papel cabe às universidades, que servem como agentes de mudanças no contexto do
desenvolvimento territorial sustentável, considerando formas colaborativas de pesquisa e educação em
ambientes de aprendizagem informais. Não somente pela transferência de conhecimentos, mas pela geração
conjunta entre ciência e saberes locais na apropriação das competências para a ação territorial sustentável.
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