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Universidade Federal do Cear
Faculdade de Medicina
Departamento de Sade Comunitria
Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva
RICRISTHI GONALVES DE AGUIAR GOMES
Construo da linha de Base dos municpios
atingidos pela Integrao de Bacias do Rio So
Francisco e Eixo das guas, no Estado do Cear
e suas implicaes na transmisso da
Esquistossomose Mansnica
FORTALEZA CE
2010
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RICRISTHI GONALVES DE AGUIAR GOMES
Construo da linha de base dos municpios
atingidos pela Integrao de Bacias do Rio So
Francisco e Eixo das guas, no Estado do Cear
e suas implicaes na transmisso da
Esquistossomose Mansnica
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
graduao em Sade Pblica / Epidemiologia do
Departamento de Sade Comunitria da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal do Cear,
como requisito parcial para obteno do ttulo de
Mestre em Sade Pblica.
Orientador: Prof. Dr. Fernando Schemelzer
Moraes Bezerra
FORTALEZA CE
2010
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RICRISTHI GONALVES DE AGUIAR GOMES
Construo da linha de base dos municpios atingidos pela Integrao
de Bacias do Rio So Francisco e Eixo das guas, no Estado do Cear
e suas implicaes na transmisso da Esquistossomose Mansnica
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Pblica do
Departamento de Sade Comunitria da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Cear, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Sade
Pblica.
Data da defesa: 13/08/2010
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Schemelzer Moraes Bezerra (Orientador)
Departamento de Anlises Clnicas/FFOE/UFC
_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Jos Ajax Nogueira Queiroz
Departamento de Patologia/FAMED/UFC
_____________________________________________________________________
Profa. Dra. Mnica Cardoso Faanha
Departamento de Sade Comunitria/FAMED/UFC
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Sempre acreditei no homem, seu potencial e sua bondade, para muitos no passa isso de
ingenuidade, para mim, mais que isso, f.
Autor desconhecido
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DEDICATRIA
Deus, a meus pais, Boanerges e Teresinha dedico os
mritos desta conquista
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AGRADECIMENTOS
A Deus, meu pai amado, pela sua imensa misericrdia, por estar presente em todos os
momentos da minha vida e por me proporcionar momentos especiais de graa e
felicidade.
Aos meus irmos, Ricardo Cleber, Cristiane e Jnior pela confiana em mim
depositada.
Em especial, a minha cunhada Socorro Maria e meu sobrinho querido, Rodrigo, por
tornarem os meus dias mais alegres e descontrados com sua presena.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Fernando Schemelzer Moraes Bezerra, a minha gratido
pela oportunidade de ser sua aluna, por sua disponibilidade e presena constante na
elaborao desse trabalho, pelas contribuies para o meu crescimento pessoal e
profissional, pelo constante incentivo e pacincia.
Ao Mestrado em Sade Pblica, sob coordenao do Prof. Dr. Ricardo Jos Soares
Pontes.
Aos pesquisadores e amigos Alberto Novaes e Carlos Henrique pelas valiosas
contribuies e por conceder-nos um olhar diferenciado ao desenvolvimento do estudo.
Ao meu chefe e amigo, Supervisor do Ncleo de Controle de Vetores/COPROM/SESA,
Asevedo Quirino de Sousa, pela amizade, apoio e compreenso, os quais permitiram
uma maior dedicao de minha parte no momento da concluso desta dissertao.
Aos meus amigos do Laboratrio de Entomologia Mdica Dr. Thomaz Arago: Graa,
Zolide, Fabricio Kassio, Joana, Helder, Raffael, Relrison, Mariza, Rita, Airton, Jos
Maria, Osas, Paulo, Marclia, Sebastio, Antnio Jos e Jorge em especial ao Barbosa
pelos ensinamentos e pelas informaes fornecidas prontamente.
O meu agradecimento especial a Vivian da Silva Gomes, Jos Hibiss Farias Ribeiro
Rafaella Albuquerque e Silva e Claudia Mendona Bezerra pela amizade, apoio,
incentivo, companhia, carinho, pelas nossas terapias, fundamentais para mim.
A todos os colegas do Ncleo de Controle de Vetores e Coordenadoria de Promoo e
Proteo a Sade da SESA.
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Lucia Maria da Silva Alencar, pelos conselhos, pela amizade e por ter me apresentado
ao meu ento orientador.
A Geziel dos Santos de Sousa, da Secretaria de Sade do Municpio de Fortaleza
(CEVEP) pela ajuda com o Arcview.
Secretaria da Sade do Estado do Cear pelas informaes cedidas.
A todos que fazem o Laboratrio de Parasitologia e Biologia de Moluscos LPBM,
Martha, Teiliane, as Marianas, Sara, Vanessa e Aninha que me receberam to bem.
Secretaria de Recursos Hdricos do estado do Cear por ter gentilmente cedido os
arquivos shape importantes para o desenvolvimento desse estudo.
E a todos que contriburam direta ou indiretamente para o desenvolvimento deste
trabalho.
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RESUMO
A esquistossomose uma doena parasitria, provocada por vermes trematdeos do
gnero Schistosoma. uma endemia mundial, ocorrendo em 74 pases e territrios,
principalmente na Amrica do Sul, Caribe, frica e Leste do Mediterrneo, onde atinge
as regies do Delta do Nilo, alm de pases como Egito e Sudo. Entre as parasitoses
humanas mais disseminadas no mundo, a esquistossomose ocupa o segundo lugar
(perdendo apenas para a malria), constituindo, no Brasil, um de seus mais graves
problemas de sade pblica. A transmisso do Schistosoma mansoni depende do inter-
relacionamento entre o ecossistema, as pessoas e suas condies sociais. Grandes
projetos de engenharia que causam alteraes no meio ambiente costumam criar
condies satisfatrias para o aparecimento de fatores de risco de introduo e
disseminao de doenas nas comunidades afetadas. O objetivo deste trabalho foi
construir uma linha de base dos municpios atingidos por dois grandes projetos de infra-
estrutura hdrica: A integrao de Bacias do Rio So Francisco nos limites do estado do
Cear e o Eixo das guas do Cear, e as implicaes sobre a transmisso de
Esquistossomose Mansnica. Os municpios pertencentes a rea de Influncia Direta
dos projetos envolvidos foram: Alto Santo, Baixio, Barro, Brejo Santo, Cascavel,
Caucaia, Chorozinho, Horizonte, Ic, Itaitinga, Jaguaribara, Jaguaribe, Jati, Lavras da
Mangabeira, Maracana, Mauriti, Misso Velha, Morada Nova, Ocara, Pacajus,
Pacatuba, Pena Forte, Russas, So Gonalo do Amarante e Umari. Foram utilizados
indicadores scio-demogrficos, scio-econmicos, educacionais, ambientais e de
sade. A anlise dos dados scio-demogrficos e scio-econmicos revelou que os
municpios prximos a Regio Metropolitana de Fortaleza apresentaram os melhores
indicadores. O hospedeiro intermedirio B. straminea encontra-se disseminado em
todos os 25 municpios dos quais 6 apresentaram casos de esquistossomose mansnica
no perodo de 2001 a 2006. Somente 8 municpios so trabalhados pelo Programa
Estadual de Controle da Esquistossomose com prevalncia variando de 0,1 a 0,8 % com
o municpio de Maracana apresentando a maior prevalncia (0,8%). Cinco municpios
da AID apresentaram bito por esquistossomose no perodo de 2001 a 2009, destes 3
no so trabalhados pelo PCE. A produo de espaos potenciais para a transmisso da
esquistossomose na AID decorrentes da implementao do referidos projetos de
transposio de bacias necessita ser mensurado.
Palavras-chave: Esquistossomose mansnica, Tranposio do Rio So Francisco, Canal da Integrao.
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ABSTRACT
Schistosomiasis is a parasitic disease caused by trematode worms of the genus
Schistosoma. It is a worldwide endemic disease, occurring in 74 countries and
territories, mainly in South America, the Caribbean, Africa and Eastern Mediterranean,
where it reaches the regions of the Nile Delta, along with countries like Egypt and
Sudan Among the most widespread parasitic infections in human world, schistosomiasis
ranks second (second only to malaria), constituting, in Brazil, one of its most serious
public health problems. The transmission of Schistosoma mansoni depends on the inter-
relationship between the ecosystem, people and their social conditions. Large
engineering projects that cause environmental changes often create good conditions for
the emergence of risk factors for introduction and spread of diseases in the affected
communities. The objective of this study was to build a baseline of the municipalities
affected by two major projects of water infrastructure: The integration of the So
Francisco River Basin within the limits of the state of Ceara and Eixo Waters of Cear,
and the implications on the transmission Schistosomiasis mansoni. The municipalities in
the Area of Direct Influence of the projects involved were: Alto Santo, Baixio, Barro,
Brejo Santo, Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Horizonte, Ic, Itaitinga, Jaguaribara,
Jaguaribe, Jati, Lavras da Mangabeira, Maracana, Mauriti, Misso Velha, Morada
Nova, Ocara, Pacajus, Pacatuba, Pena Forte, Russas, So Gonalo do Amarante e
Umari. Indicators were used socio-demographic, socioeconomic, educational, and
environmental health. The socio-demographic and socioeconomic analysis revealed that
the municipalities close to the Metropolitan Region of Fortaleza were the best
indicators. The intermediate host Biomphalaria straminea is widespread in all 25
municipalities of which 6 were cases of schistosomiasis in the period 2001 to 2006.Only
eight counties are handled by the State Program for the Control of Schistosomiasis with
prevalence ranging from 0.1 to 0.8% with the town of Maracana presenting the highest
prevalence (0.8%). Five municipalities ADI (area of direct influence) had died of
schistosomiasis in the period 2001 to 2009, these three are not operated by the State
Program for the Control of Schistosomiasis. The production potential spaces for the
transmission of schistosomiasis in the ADI following the implementation of these
projects watershed transposition needs to be measured.
Key words: Schistosomiasis mansoni, Inter-basin water tranfer on the San Francisco river, Channel
integration.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AID - rea de Influncia Direta
CIPP Complexo Industrial e Porturio do Pcem
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica
IPECE - Instituto de Pesquisa Estatstica e Econmica do Estado do Cear
PCE Programa de Controle da Esquistossomose
PROGERIRH - Projeto de Gerenciamento e Integrao dos Recursos Hdricos Cear
RIMA - Relatrio de Impacto Ambiental
RMF - Regio Metropolitana de Fortaleza
SEINFRA Secretaria de Infra-estrutura do Estado do Cear
SIG Sistema de informaes Geogrficas
SIS-PCE Sistema de Informao do Programa de Controle da Esquistossomose
SRH Secretaria de Recursos Hdricos
WWTP - Wanjiazhai Water Transfer Project (Projeto de Transferncia de gua de
Wanjiazhai)
SMHS - Snowy Mountains Hydroelectric Scheme (Esquema Hidreltrico de Snowy Mountains) SOHIDRA - Superintendncia de Obras Hidrulicas - Cear
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Nmero de municpios da rea de estudo e percentual de acordo com o
porte populacional, Brasil, 2000. 51
Tabela 02. Renda per capta e Produto interno Bruto por municpio da AID 52
Tabela 03. Municpios com casos de Esquistossomose Mansnica trabalhados pelo
Programa Estadual de Controle da Esquistossomose na AID. 59
Tabela 04. Prevalncia da Esquistossomose Mansnica nos municpios trabalhados
pelo Programa Estadual de Controle da Esquistossomose na AID, no perodo de 2000
a 2008. 63
Tabela 05: Nmero de bito por esquistossomose, segundo o ano de ocorrncia e
municpio de residncia na AID, 2001 a 2009 64
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Distribuio do Schistosoma mansoni no mundo 17
Figura 2: Conchas das espcies hospedeiras do S. mansoni que ocorrem no
Brasil: A) Biomphalaria glabrata (Say, 1818); B) Biomphalaria tenagophila
(Orbigny, 1835); C) Biomphalaria straminea (Dunker, 1848)
19
Figura 3: Desenho esquemtico do ciclo evolutivo de S. mansoni 20
Figura 4: Reao granulomatosa aos ovos do parasito. 22
Figura 5: Formas clnicas da Esquistossomose Mansnica: A) Dermatite cercariana;
B) Forma Hepatoesplnica. 22
Figura 6: Mtodo parasitolgico Kato-Katz 24
Figura 7: reas endmicas e focais da esquistossomose mansnica. Brasil, 2004 26
Figura 8: Regio Semi-rida. Agncia Nacional de guas, 2009 32
Figura 9: Snowy Mountains Hydroelectric Scheme-SMHS. Construo da represa
Murray 2, Austrlia, 1967 34
Figura 10: Localizao da Transposio Tajo-Segura., Espanha, 1973. 36
Figura 11: Mapa da extenso total do rio So Francisco 38
Figura 12: Mapa esquemtico do Eixo das guas 42
Figura 13: Mapa do Estado do Cear, mostrando os municpios por onde passaro os
projetos da interligao de bacias do Rio So Francisco e o Eixo das guas 49
Figura 14: Populao residente nos municpios da rea de estudo. Brasil, 2000 53
Figura 15: Percentual de cobertura de abastecimento de gua e instalaes sanitrias
nos municpios da AID 54
Figura 16: Mapa da cobertura de abastecimento de gua e instalaes sanitrias nos
municpios da AID. 54
B
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Figura 17: ndice de desenvolvimento municipal dos municpios pertencentes a AID 56
Figura 18: Populao residente de 5 anos ou mais por alfabetizao dos municpios
pertencentes a AID 58
Figura 19: Proporo de alfabetizados por municpio em relao a populao total
residente de 5 anos ou mais 58
Figura 20: Precipitao mdia anual na AID no ano de 2006. 58
Figura 21: Tipos de Vegetao encontrados no estado do Cear. 59
Figura 22: Hipsometria estado do Cear. 60
Figura 23: Distribuio da Biomphalaria straminea nos municpios estado do Cear 61
Figura 24. Distribuio da B. straminea, leitos perenizados e principais audes nos
municpios da AID do Rio So Francisco no Cear e Eixo das guas,. 62
Figura 25. Exames realizados e percentual de positividade para Esquistossomose
Mansnica, Cear, 1997 2006. 63
Figura 26. bitos por Esquistossomose no Estado do Cear de 1990 a 2009. 63
Figura 27. Municpios com casos de Esquistossomose localizados na AID.
64
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SUMRIO
1. INTRODUO.............................................................................................................. 16
1.1. Esquistossomose .................................................................................................. 17
1.2. Hospedeiros intermedirios ............................................................................... 18
1.3. Ciclo Evolutivo..................................................................................................... 19
1.4. Transmisso.......................................................................................................... 20
1.5. Manifestaes clnicas da doena........................................................................ 21
1.6. Diagnstico............................................................................................................ 23
1.7. Epidemiologia........................................................................................................ 24
1.7.1. Fatores ambientais e o risco da transmisso da
Esquistossomose......................................................................................................
27
1.8. Nordeste Semi-rido e a busca pela gua........................................................... 29
1.9. Transferncia de guas entre Bacias Hidrogrficas.......................................... 33
1.9.1. O Rio So Francisco e o projeto de Integrao de bacias hidrogrficas
para o Nordeste Setentrional...............................................................................
37
1.9.2. O projeto Eixo das guas do Cear........................................................ 41
2. JUSTIFICATIVA......................................................................................................... 43
3. OBJETIVOS................................................................................................................... 45
3.1 Objetivos especficos ................................................................................................ 46
4. MATERIAIS E MTODOS......................................................................................... 47
4.1. Desenho do estudo................................................................................................. 48
4.2. rea do estudo....................................................................................................... 48
4.2.2. Municpios localizados na rea de Influncia Direta das obras de
integrao de bacias do Rio So Francisco para o Nordeste Setentrional e o
Eixo das guas do Cear.
49
4.3. Indicadores do Estudo .......................................................................................... 50
4.3.1. Dados Demogrficos e Scio-econmicos .................................................. 50
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4.3.2. Dados educacionais...................................................................................... 50
4.3.3. Dados ambientais e de pluviosidade........................................................... 50
4.4. Distribuio espacial do Hospedeiro intermedirio........................................... 50
4.5. Identificao das reas de transmisso da Esquistossomose Mansnica j
existentes......................................................................................................................... 50
4.6. Softwares utilizados................................................................................................. 51
4.7. Arquivos em formato Shapefile.............................................................................. 51
4.8. Aspectos ticos......................................................................................................... 51
5. RESULTADOS............................................................................................................... 52
5.1. Anlide de dados Demogrficos e Scio-econmicos............................................ 53
5.2. Anlise de dados Educacionais............................................................................... 56
5.3. Anlise de dados de Pluviosidade e dados Ambientais ....................................... 58
5.4. Distribuio do molusco hospedeiro intermedirio no estado do Cear............. 61
5.5. Identificao das reas de transmisso da Esquistossomose Mansnica j existentes...................................................................................................................
62
6. DISCUSSO.................................................................................................................. 66
7. CONCLUSO................................................................................................................ 77
8. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS......................................................................... 79
9. ANEXOS......................................................................................................................... 88
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INTRODUO
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18
1. INTRODUO
1.1 Esquistossomose
A esquistossomose uma doena parasitria, provocada por vermes trematdeos
do gnero Schistosoma. Atualmente, existem seis espcies de Schistosoma (Schistosoma
mansoni, Schistosoma hematobium, Schistosoma japonicum, Schistosoma intercalatum,
Schistosoma mekongi e Schistosoma malayensis) que podem provocar doena no
homem, sendo que no continente americano existe apenas S. mansoni. (Ministrio da
Sade, 2007). uma endemia mundial, ocorrendo em 76 pases e territrios,
principalmente na Amrica do Sul, Caribe, frica e Leste do Mediterrneo, onde atinge
as regies do Delta do Nilo, alm de pases como Egito e Sudo. (WHO, 2002)
Entre as parasitoses humanas mais disseminadas no mundo, a esquistossomose
ocupa o segundo lugar (perdendo apenas para a malria), constituindo, no Brasil, um de
seus mais graves problemas de sade pblica (DIAS, 1992).
Figura 1: Distribuio do Schistosoma no mundo
Fonte: Gryseels et al., 2006
Os principais fatores que contriburam para propagao da esquistossomose foram os
movimentos migratrios, a explorao inadequada de recursos hdricos, a ampla
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distribuio dos hospedeiros intermedirios, a longevidade da doena, problemas
sanitrios e a falta de educao sanitria (MACHADO 1982, SILVA 1983, AMARAL e
PORTO 1994).
1.2 Hospedeiros intermedirios
Os caramujos transmissores da esquistossomose mansoni no Brasil pertencem ao
Filo Mollusca, Classe Gastropoda, Subclasse Pulmonata, Ordem Basommatophora,
Famlia Planorbidae, Gnero Biomphalaria. So discides e apresentam uma depresso
que lembra o umbigo. (NEVES, 2005)
J foram identificadas dez espcies pertencentes ao gnero Biomphalaria no
Brasil. So elas: Biomphalaria glabrata, Biomphalaria tenagophila, Biomphalaria
straminea, Biomphalaria amazonica, Biomphalaria peregrina, Biomphalaria
occidentalis, Biomphalaria intermedia, Biomphalaria schrammi, Biomphalaria oligoza
e Biomphalaria kuhniana. Destas, apenas as trs primeiras foram encontradas
eliminando cercrias na natureza, sendo, portanto, transmissoras da esquistossomose
mansnica nas Amricas. A B. amazonica e a B. peregrina foram infectadas em
laboratrio, mas nunca foram encontradas com infeco natural (SOUSA; LIMA, 1990)
A B. glabrata apresenta concha de at 40 mm de dimetro por 11 mm de largura,
seis a sete giros arredondados; periferia arredondada, tendendo para a direita, o maior
molusco da famlia Planorbidae. encontrado numa faixa continua em todos os estados
brasileiros situados entre o Rio Grande do Norte e o Paran, tendo sido descritos focos
no Par, Maranho e Piau. Constitui-se o mais eficaz vetor da esquistossomose, com
taxas de positividade de at 70% (LIMA 1995).
A B. tenagophila apresenta concha com at 35 mm de dimetro por 11 mm de
largura, sete a oito com carena em ambos os lados, porem mais acentuada a esquerda.
Est mais restrita ao sul do pas, entretanto, tambm encontrada no oeste do
Matogrosso do Sul, sul da Bahia e leste do Rio de Janeiro at o Rio Grande do Sul
(LIMA, 1995).
A B. straminea concha com at 16,5 mm de dimetro por 6 mm de largura,
arredondados, crescendo mais rapidamente em dimetro, as vezes apresentando leve
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20
angulao esquerda. encontrada em quase todas as bacias hidrogrficas do Brasil.
a espcie predominante no nordeste do Brasil, principalmente na regio do semi-rido,
sendo a nica das espcies transmissoras encontradas no Cear (LIMA, 1995).
Figura 2: Conchas das espcies hospedeiras do S. mansoni que ocorrem no Brasil: A) Biomphalaria
glabrata (Say, 1818); B) Biomphalaria tenagophila (Orbigny, 1835); C) Biomphalaria straminea
(Dunker, 1848).
1.3 - Ciclo Evolutivo
A eliminao de ovos nas fezes de portadores da esquistossomose mansnica
pode levar a contaminao de colees hdricas e a liberao de uma forma
intermediria, o miracdio, infectante para moluscos do gnero Biomphalaria (PASSOS
et al., 1998)
O miracdio um organismo muito mvel quando em meio aqutico, graas aos
numerosos clios que lhe revestem a delgada cutcula e ao seu sistema muscular.
Decorridas 48 horas aps a penetrao do miracdio no interior do molusco hospedeiro
intermedirio, este perde a mobilidade e se transforma num esporocisto primrio,
contendo de 50 a 100 clulas germinativas. Cada uma dessas clulas dar origem a
quatro esporocistos secundrios, e estes, por um processo de reproduo assexuada, dar
origem a milhares de cercrias. Finalmente, aps quatro a sete semanas da infeco do
molusco, este comea a liberar as cercrias. sob a forma de cercrias que o S. mansoni
infecta o hospedeiro definitivo, penetrando ativamente na pele do homem, por meio de
ao combinada da secreo ltica das glndulas anteriores e dos movimentos
vibratrios intensos. Uma vez nos tecidos do hospedeiro definitivo, as cercrias perdem
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21
a cauda e se transformam em esquistossmulos. Estes caem na circulao sangunea e
/ou linftica, atingem a circulao venosa, indo at o corao e os pulmes, retornando
posteriormente ao corao, onde so lanados atravs das artrias aos pontos mais
diversos do organismo. O fgado se constitui o rgo preferencial de localizao do
parasito, onde estas formas jovens se diferenciam sexualmente e crescem, alimentando-
se de sangue. Ainda imaturos, os parasitos migram para a veia porta devido suas
tributrias mesentricas, onde completam a evoluo. A partir da terceira semana da
penetrao das cercrias ocorre a migrao dos vermes para as veias mesentricas. Os
vermes adultos se localizam nos ramos terminais das veias mesentricas onde acontece
o incio das posturas. Ainda imaturos os ovos migram da luz do vaso para a luz
intestinal, provocando assim hemorragias e reas de inflamao responsveis pelo
aparecimento das diarrias muco-sanguinolentas e outros distrbios gastrointestinais.
Uma fmea de S. mansoni produz cerca de 300 ovos dirios, dos quais 25% a 35% so
eliminados pelas fezes. Os ovos que no conseguem atingir a luz intestinal por ficarem
retidos nos tecidos, ou porque foram depositados em vasos de outros rgos, como o
fgado bem como aqueles que refluem para o parnquima heptico so os responsveis
pela formao de microgranulomas que posteriormente podero ocluir, total ou
parcialmente, o fluxo sanguneo ocasionando toda sintomatologia da doena em suas
formas mais graves. A maturao concluda, assim, organiza-se ento em seu interior
o embrio que denominado miracdio, iniciando ento novo ciclo (COELHO, 1970).
Figura 3. Desenho esquemtico do ciclo evolutivo de S. mansoni
Fonte:http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/filo-platelmintos/imagens/ciclo-do-schistosoma-
mansoni-p.jpg
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/filo-platelmintos/imagens/ciclo-do-schistosoma-mansoni-p.jpghttp://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/filo-platelmintos/imagens/ciclo-do-schistosoma-mansoni-p.jpg
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1.4 Transmisso
A esquistossomose a mais grave forma de parasitose cujo bito ocorre devido a
extensa fibrose decorrente da presena em parnquima heptico de ovos do S. mansoni,
o agente causal. Aps o reconhecimento da doena no pas, a esquistossomose comeou
a ser vista como de potencial importante, principalmente devido a sua gradativa
expanso, em funo de movimentos migratrios em direo a reas com precrias
condies de saneamento bsico, constituindo a rea endmica inicial da infeco
(NEVES, 2005).
A transmisso da Esquistossomose mansnica hoje reconhecida em importantes
reas metropolitanas do nordeste do Brasil, no centro-oeste da frica e na regio central
da China. Quando emigrantes rurais com uma elevada prevalncia vo para uma rea
peri-urbana, existe um alto risco de transmisso da doena devido contaminao
dessas massas de gua naturais (OMS, 1994).
O contato com a gua contendo cercrias considerado como fator essencial para
a infeco humana, a qual pode ter vrias razes classificadas como domsticas,
recreacionais, ocupacionais e religiosas. O risco de ocorrer a infeco pode variar com a
hora do dia em que ocorreu o contato, a durao da exposio e a rea da pele exposta
(MOTT, 1980; JORDAN, 1993).
A esquistossomose tambm est associada ao padro de emprego nas reas peri-
urbanas. Os pequenos pomares, hortas irrigados so oferecidos como emprego ao
emigrante rural que j foi, na maioria das vezes, um pequeno agricultor. Como a
esquistossomose endmica na maioria dessas reas, o trabalhador se j no estava
infectado, corre o risco de contrair a doena (OMS, 1994)
1.5 Manifestaes clnicas da doena
A infeco humana por S. mansoni induz diferentes manifestaes clnicas
caractersticas. A fase aguda surge entre a quarta e dcima semana aps exposio s
cercrias e caracteriza-se por manifestaes toxmicas durante a migrao da larva e no
perodo inicial de postura dos ovos. Alguns indivduos aps a exposio podem
apresentar manifestaes cutneas do tipo urticria (Fig. 5). A hepatomegalia
freqente nessa fase. Nesse perodo o doente, em geral, apresenta diarria caracterstica
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com a presena de muco e sangue. Os sintomas da fase aguda, tais como os surtos
febris, tosse seca e persistente sem sinais pulmonares apreciveis, desaparecem
espontaneamente aps o tratamento (BOROS, 1989).
A fase crnica apresenta-se sob as formas clnicas intestinal, hepatointestinal e
hepatoesplnica compensada ou descompensada. A forma intestinal a mais freqente
encontrada em pacientes cronicamente infectados. Nesta forma, os sintomas so
geralmente brandos, com perda de apetite, dispepsia e desconforto abdominal
(SAVIOLI et al., 1997).
A forma hepatoesplnica caracteriza-se pelo aumento considervel do bao e do
fgado. Na forma hepatoesplnica compensada, as leses hepticas caracterizam-se por
fibrose peri-portal com vrios graus de obstruo dos ramos intra-hepticos da veia
porta. O aumento do bao se deve a dois fatores principais: 1) hiperplasia dos elementos
do retculo endotelial da polpa vermelha e 2) congesto passiva determinada pela
hipertenso porta (REY, 1991).
Na forma hepatoesplnica descompensada, o quadro clnico caracterizado pela
fibrose periportal podendo resultar no bloqueio da microcirculao porta e
desenvolvimento de circulao colateral. Esta manifestao acomete uma porcentagem
pequena da populao infectada, variando de 1 a 10%, dependendo da rea de estudo
(ANDRADE & VAN MARCK, 1984)
Figura 4. Reao granulomatosa aos ovos do parasito.
Fonte: http://www.proto.ufsc.br/downloads/graduacao/esquistossomose_med.pdf
B
http://www.proto.ufsc.br/downloads/graduacao/esquistossomose_med.pdf
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Figura 5. Formas clnicas da Esquistossomose Mansnica: A) Dermatite cercariana; B) Forma
Hepatoesplnica.
Fonte: http://www.grupoescolar.com/a/b/05B25.gif
http://www.grupoescolar.com/a/b/05B25.gif
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1.6 Diagnstico
Para fins de diagnstico da esquistossomose mansnica, o mtodo parasitolgico
mais utilizado em inquritos fundamenta-se no encontro dos ovos do parasito nas fezes
do paciente pela tcnica de Kato-Katz, mas esta se mostrou pouco eficiente com cargas
parasitrias baixas (indivduos que eliminam menos de 100 ovos/g fezes). Isso ocorre
devido baixa sensibilidade do mtodo Kato-Katz, que depende diretamente da
quantidade de fezes examinadas e do nmero de ovos eliminados pelo portador
(KAMNAMURA, et al, 1998).
Apesar da ampla distribuio dos moluscos e as freqentes oportunidades do
contato humano com a gua, as altas taxas de transmisso s devem ocorrer em poucos
locais. O nmero de ovos por grama de fezes que fornece a intensidade de infeco,
deve ser considerado ao se tentar classificar os nveis de endemicidade. Com as devidas
ressalvas, poderamos considerar regies de mdia e alta endemicidade aquelas com
prevalncia superior a 10%, com mais de 120 ovos por grama de fezes e presena de
indivduos com quadro clnico da esquistossomose. rea de baixa endemicidade seria
aquela com prevalncia inferior a 10%, com a maioria dos infectados assintomticos e
eliminando menos de 96 ovos por grama de fezes (DIAS et al., 1994).
A fmea acasalada do S. mansoni elimina diariamente cerca de 200 ovos pelas
fezes. Assim, a probabilidade de uma lmina do mtodo de Kato detectar a infeco por
um casal de vermes (200 ovos/fmea - 200g fezes/dia - 42mg de fezes examinadas)
seria de cerca de 1/24. Portanto, principalmente para controle de cura, aps
quimioterapia, deve-se pedir vrios exames de fezes para se ter certeza da cura
parasitolgica. O controle de cura por exames de fezes deve ser feito aps trs meses da
administrao da droga devendo-se considerar a possibilidade de reinfeces (NEVES,
2005).
Para levantamentos epidemiolgicos, recomenda-se a tcnica quantitativa de
Kato-Katz. Apesar da grande variao diria no nmero de ovos eliminados por
paciente, quando se trabalha com populao, a mdia reflete com bastante preciso a
carga parasitria da comunidade. Por outro lado, a quantificao desta carga parasitria
indispensvel para se ter elementos para avaliar a eficcia de medidas profilticas
(quimioterapia, aplicao de moluscicidas, saneamento bsico, etc.) (NEVES, 2005).
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26
O diagnstico laboratorial da doena pode ser feito atravs do exame
parasitolgico de fezes, biopsia retal, determinao e identificao de antgenos e
determinao de indicadores bioqumicos e patolgicos que esto associados a infeco
por S. mansoni. As tcnicas de diagnostico parasitolgico de fezes variam
consideravelmente quanto a sensibilidade, dependendo da quantidade de fezes
examinadas, do numero de ovos excretados e fatores inerentes a perda intrnseca
durante a realizao do procedimento (GARGIONI ET AL., 2008).
Figura 6. Mtodo parasitolgico Kato-Katz.
Fonte: PCE/SESA-CE, 2009
1.7 Epidemiologia
A epidemiologia da esquistossomose em suas linhas gerais bem conhecida. Ela
no , necessariamente, uniforme dentro de um pas endmico e quase impossvel de
ser comparada entre pases. Sua epidemiologia to variada quanto a ecologia humana
e o ambiente no qual a esquistossomose ocorre. Os parmetros epidemiolgicos, como
prevalncia, incidncia, intensidade de infeco e morbidade, variam, amplamente,
mesmo dentro de uma regio (DIAS, 1994).
Para ALVES et. al 1998, a Esquistossomose pensada pelos rgos pblicos
como uma doena diretamente ligada s condies de saneamento e maneira de viver
das populaes situadas em reas endmicas. Produzida por trematdeos, organismos
(metazorios) endoparasitos, a transmisso do Schistosoma mansoni depende do inter-
relacionamento entre o ecossistema, as pessoas e suas condies sociais. O contato
humano com as colees de gua doce e de superfcie, adequada vida dos moluscos
hospedeiros intermedirios (o caramujo), a presena de pessoas parasitadas, a densidade
B
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27
da populao de caramujos, os hbitos de poluio fecal do ambiente e condies
econmicas (como a disponibilidade de gua domiciliar e condies sanitrias), so
fatores que determinam, em diferentes nveis, as medidas dessa infeco.
Segundo FAVRE e colaboradores 2001, nas numerosas colees hdricas da
rea endmica que as populaes humanas, por questes econmicas e socioculturais,
exercem grande parte de suas atividades domsticas, de lazer e de higiene pessoal. As
condies ambientais, associadas falta de saneamento bsico, como rede de esgoto
sanitrio, abastecimento e tratamento de gua para consumo, bem como intensa
locomoo das comunidades, criam condies propcias manuteno da transmisso e
expanso da esquistossomose.
A mortalidade da Esquistossomose Mansnica relativamente baixa, mas sua
patologia crnica e capacidade de desabilitar so enormes. Estima-se que 200 milhes
de pessoas estejam infectadas, onde 120 milhes so sintomticos e 20 milhes sofrem
severamente com a doena (WHO, 2002).
No Brasil, a doena popularmente conhecida como xistose, barriga dgua
ou mal-do-caramujo, atingindo milhes de pessoas, considerada uma das maiores
regies endmicas dessa doena em todo o Globo. A transmisso ocorre em 19 estados,
numa faixa contnua ao longo do litoral, desde o Rio Grande do Norte at a Bahia, na
regio Nordeste, alcanando o interior do Esprito Santo e Minas Gerais, no Sudeste. De
forma localizada, est presente nos estados do Cear, Piau e Maranho, no Nordeste;
Par, na regio Norte; Gois e Distrito Federal, no Centro-Oeste; So Paulo e Rio de
Janeiro, no Sudeste; Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, na regio Sul (figura
7). As prevalncias mais elevadas so encontradas nos estados de Alagoas, Pernambuco,
Sergipe, Minas Gerais, Bahia, Paraba e Esprito Santo (REY, 1991).
Acredita-se que a esquistossomose tenha sido introduzida no Brasil entre os anos
de 1550 e 1646 no litoral, quando os primeiros escravos africanos chegaram Bahia e
Recife. A parasitose permaneceu incgnita at 1907, quando o mdico baiano Piraj da
Silva, registrou pela primeira vez a esquistossomose mansnica no pas (AMARAL e
PORTO 1994).
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28
Figura 7. reas endmicas e focais da esquistossomose mansnica. Brasil, 2004.
Fonte: GT-Esquistossomose/CDTV/CGDT/SVS/MS
A diversidade dos fatores que envolvem a transmisso da esquistossomose
dificulta de forma importante o seu controle pelos servios de sade. As aes de
controle da doena no Brasil vm sendo adotadas de maneira sistemtica e abrangente
desde 1976. Ao longo das trs ltimas dcadas os Programas de Controle da
Esquistossomose (PCE) passaram por diversas fases onde foram feitas tentativas de
medicalizao macia dos portadores, conjugadas com outras aes preventivas
consideradas importantes (AMARAL; PORTO, 1994).
O controle nacional da esquistossomose foi implementado no Brasil, em 1975,
pela Superintendncia de Campanhas de Sade Pblica (SUCAM), com a criao do
PECE (Programa Especial de Controle da Esquistossomose), que direcionou suas
atividades para o tratamento quimioterpico em massa com oxamniquina. O controle de
moluscos vetores, atravs da aplicao de moluscicida (niclosamida), foi levado a efeito
em menor escala e de forma irregular. Saneamento, abastecimento de gua e educao
em sade, foram medidas implementadas em menor frequncia. As atividades do PECE
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29
seguiram trs fases operacionais: a) preparatria, onde a rea de trabalho era definida e
o inqurito parasitolgico inicial, realizado; b) de ataque, na qual as medidas de controle
eram colocadas em prtica; c) de vigilncia, que previa avaliaes peridicas e o
tratamento quimioterpico para casos novos e/ou no-curados. Em 1980, o PECE
perdeu as caractersticas de Programa Especial, tornando-se um programa de rotina do
Ministrio da Sade. As aes de controle restringiram-se a quimioterapia em massa e
estimularam a participao de outros rgos de Sade Pblica (Fundao Servio
Especial de Sade Pblica- FSESP, Instituto Nacional de Assistncia Mdica e
Previdncia Social - INAMPS e Secretarias Estaduais de Sade) no diagnstico e
tratamento dos portadores da infeco. Em 1990, o PCE foi reestruturado e passou a ser
dirigido pela Fundao Nacional de Sade (FNS), que se originou da fuso da SUCAM
com a FSESP. O PCE adotou a localidade como unidade epidemiolgica e no mais o
municpio, tendo os seguintes objetivos: a) reduzir a prevalncia nas localidades a nveis
inferiores a 25%; b) reduzir a incidncia e a prevalncia de casos hepatoesplnicos e
morte causada pela infeco esquistossomtica; c) controlar a transmisso em focos
isolados; d) prevenir a expanso da esquistossomose para reas indenes (FAVRE,
2001).
No Cear, tem-se conhecimento da existncia da esquistossomose desde o
perodo de 1920 - 1925, quando MACIEL encontrou um percentual de 2,8% de casos
em 141 marinheiros cearenses examinados no Hospital Naval do Rio de Janeiro
(MACIEL, 1925 e 1936). A seguir, existem subsdios oferecidos por ALENCAR, 1940
que realizou o primeiro inqurito coproscpico no Estado, constatando casos autctones
no Vale do Acarape quando foi encontrada uma positividade de 12,2% em 199 amostras
da cidade de Redeno e arredores (TIMBO; LIMA, 1999).
O Inqurito Helmintolgico Escolar, promovido pelo Ministrio da Sade,
realizado por PELLON e TEIXEIRA no perodo de 1950 a 1953, e que no Cear foi
realizado por ALENCAR em 1940 - 49 totalizou 40.462 exames com uma positividade
de 390 casos, e um percentual total para o Estado de 1%. Dentre as regies onde foram
encontradas pessoas com esquistossomose, mostraram-se mais atingidas Pacoti, com
31,4%, e Redeno, com 62,2%. A esquistossomose foi encontrada em 20 localidades,
de 19 municpios, sendo 3 na regio litornea, 5 na regio das serras, 3 no Vale do
Cariri, 1 no Serto do Cariri, 1 no Vale do Jaguaribe, 2 no baixo Jaguaribe, 1 no mdio
Jaguaribe e 3 no Serto. (ALENCAR, 1947).
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30
1.7.1 Fatores ambientais e o risco da transmisso da Esquistossomose
A partir do conhecimento sobre a dinmica do processo sade-doena, ou do
conhecimento do processo histrico, espao e temporal dos determinantes do estado de
sade at o aparecimento de determinadas doenas em uma comunidade, pode-se
estabelecer razes de causalidades atravs de determinados indicadores de risco e
correlacion-los com os principais fatores ambientais, sociais e biolgicos identificados
pelas mudanas do estado de sade para o aparecimento de doenas nas comunidades
(BARCELLOS & BASTOS,1996).
LACAZ et al. (1972) enfatizam que, para se entender a interao de uma
doena, em qualquer populao humana, faz-se necessrio avaliar o homem no seu
ambiente fsico, biolgico e scio-econmico. Nota-se que a insuficincia dos servios
de saneamento, a aglomerao humana em determinadas reas e a habitao
inadequada, colaboram para o surgimento de doenas como o caso da
esquistossomose, que tm relao direta com o ambiente degradado.
O estudo das condies de vida e sade segundo o tipo de insero espacial dos
grupos humanos torna-se uma alternativa metodolgica para a identificao e anlise de
suas necessidades e, conseqentemente, para a superao das iniqidades (PAIM,
1997).
Grandes projetos de engenharia que causam alteraes no meio ambiente
costumam criar condies satisfatrias para o aparecimento de fatores de risco de
introduo e disseminao de doenas nas comunidades afetadas. Esses fatores devem
ser previamente detectados, uma vez que a avaliao da experincia acumulada em
diferentes projetos, permite inferir que a magnitude dos impactos sobre a sade dessas
populaes est diretamente relacionada com a deteco precoce dos riscos e a
conseqente implementao de aes de controle e preveno de doenas nestas
comunidades (CERNEA E MCDOWELL, 2000).
O caso mais antigo e bem documentado de alteraes ambientais causadas por
empreendimentos de infra-estrutura hdrica o da barragem de Akosombo, construda
no Rio Volta, no Gana, no princpio dos anos 60. O conseqente lago artificial, com
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31
linhas de costa particularmente longas, atraiu muitos povoadores novos, seduzidos pelas
importantes oportunidades de pesca que surgiram de imediato, na fase eutrfica depois
da criao do reservatrio. A prevalncia da esquistossomose entre os moradores
adultos das margens do lago, contudo, subiu de 1,8% para 75% (e entre as crianas
atingiu 100%) durante um curto perodo de tempo, aps a concluso da construo da
represa (CERNEA E MCDOWELL, 2000).
Passados mais de 20 anos, as mesmas observaes foram feitas em relao s
comunidades de plantao de arroz na rea Richard Toll, da Bacia do Rio Senegal, aps
a construo da barragem de Diama. Esta barragem impede a entrada de gua salgada,
uma intruso que, muitas vezes, subia pelo rio em vrias centenas de quilmetros,
durante a estao seca, permitindo a explorao de solos agrcolas frteis. A Avaliao
do Impacto sobre a Sade foi feita, mas na ausncia do hospedeiro intermedirio do S.
mansoni, a esquistossomose no foi considerada um risco significativo. Contudo, depois
de iniciada a irrigao do arroz e da cana-de-acar, a prevalncia da esquistossomose
na populao local disparou at 100% (SOUTHGATE, 2001).
OLIVEIRA 2007, em seu estudo que discute o impacto sobre a sade que a
construo de grandes represas hidreltricas pode causar s comunidades originais e seu
entorno, afirma que um dos efeitos deletrios sade mais freqentemente observados
um aumento na prevalncia da esquistossomose ao redor da rea de reservatrio de
represas. A construo de represas pode criar ambiente ecologicamente favorvel
introduo do reservatrio do S. mansoni.
Atividades como pescaria e recreao aqutica, alm da falta de saneamento,
favorecem a infeco humana e mantm o ciclo de vida do parasito causador da
esquistossomose. Os canais de terra e lagos para diverso so um excelente criadouro
para muitas espcies de vetores (BASAHI, 2000).
1.8 Nordeste Semi-rido e a busca pela gua.
A gua o recurso natural mais importante e participa e dinamiza todos os ciclos
ecolgicos; os sistemas aquticos tm uma grande diversidade de espcies teis ao
homem e que so tambm parte ativa e relevante dos ciclos biogeoqumicos e da
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diversidade biolgica do planeta Terra. O Homo sapiens alm de usar a gua para suas
funes vitais como todas as outras espcies de organismos vivos, utiliza os recursos
hdricos para um grande conjunto de atividades, tais como, produo de energia,
navegao, produo de alimentos, desenvolvimento industrial, agrcola e econmico.
Entretanto, 97% da gua do planeta Terra est nos oceanos e no pode ser utilizada para
irrigao, uso domstico e dessedentao. Os 3% restantes tm, aproximadamente, um
volume de 35 milhes de quilmetros cbicos. Grande parte deste volume est sob
forma de gelo na Antrtida ou na Groelndia. Somente 100 mil km3, ou seja, 0,3 % do
total de recursos de gua doce est disponvel e pode ser utilizado pelo homem. Este
volume est armazenado em lagos, flui nos rios e continentes e a principal fonte de
suprimento acrescido de guas subterrneas (TUNDISI, 2003).
Recurso natural indispensvel vida dos homens, a gua transformou-se num
bem absolutamente necessrio e essencial para a sobrevivncia de agrupamentos
humanos, comunidades, coletividades, cidades e naes que dela dependem tanto para
existir simplesmente quanto para satisfazer as suas necessidades sociais e econmicas
(MACHADO, 2003).
A disponibilidade de gua doce constitui-se num recurso estratgico neste inicio
de milnio. A gesto de recursos hdricos ultrapassou, na atualidade, as fronteiras
poltico-administrativas das naes e ganhou dimenses continentais e globais,
tornando-se um tema supranacional e de alta complexidade. Entende-se que a
expectativa de que possa faltar gua em determinadas regies do planeta poder fazer
com que a gua se torne a commodity mais disputada nos anos vindouros. Segundo
dados do Banco Mundial, oitenta pases enfrentam atualmente graves problemas por
falta ou escassez de gua. Pases como Arbia Saudita, Israel, Tunsia, Imen, Egito,
Etipia, Haiti, Ir, Lbia, Marrocos, Om, Sria e frica do Sul esto na lista das regies
carentes em recursos hdricos. Ao mesmo tempo, observa-se tambm que a populao
mundial cresce muito rapidamente em reas onde a gua j escassa.
Ao longo do ltimo sculo, no Brasil, as grandes massas de gua foram
consideradas como ddivas da natureza, reservatrios inesgotveis, capazes de fornecer
gua pura eternamente e de receber e absorver quantidades ilimitadas de rejeitos
provenientes das atividades humanas. Mas, com o crescimento acelerado da populao,
a urbanizao das cidades, o desenvolvimento industrial e tecnolgico e a expanso das
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33
reas agrcolas, as poucas fontes disponveis de gua esto comprometidas ou correndo
risco (MACHADO, 2003).
O fenmeno da escassez de gua est caracterizado pelo fato de 80% das
descargas dos rios ocorrerem nos setores ocupados por 5% da populao, enquanto os
20% restantes devem abastecer 95% do contingente, cuja parcela urbanizada j atinge
os 75%, conforme dados do censo de 2000 (IBGE, 2001).
Como se no bastasse esse desequilbrio geogrfico, a gua no Brasil est
tambm ameaada pela poluio, pela eroso, pela desertificao e pela contaminao
do lenol fretico. Rios, riachos, canais e lagoas foram assoreados, aterrados e
desviados abusivamente, e mesmo canalizados; suas margens foram ocupadas, as matas
ciliares e reas de acumulao suprimidas. Regies no passado alagadias, com
pntanos, mangues, brejos e vrzeas foram, primeiro, aterradas e, depois,
impermeabilizadas e edificadas. Imensas quantidades de lixo ou resduos slidos
acumulam-se dentro e/ou nas margens de rios, riachos, lagos e baias. Com isso, a
drenagem urbana no Brasil se tem tornado catastrfica: a cada vero, a chuva paralisa as
grandes cidades nos dias de maior intensidade de precipitao trazendo, em seu rastro,
as epidemias de leptospirose. Quando no enchente, so desmoronamentos de
encostas. Para complementar esse quadro dantesco, a falta de saneamento leva o Brasil
a conviver ainda, em vastas regies, com epidemias e endemias provocadas por agentes
patolgicos transmitidos pela gua, como a dengue, a esquistossomose e a malria
(MACHADO, 2003).
O Nordeste semi-rido caracteriza-se por ser uma regio pobre em volume de
escoamento de gua dos rios. Essa situao pode ser explicada em razo da
variabilidade temporal e espacial das precipitaes e das caractersticas geolgicas
dominantes, onde h predominncia de solos rasos baseados sobre rochas cristalinas e
conseqentemente baixas trocas de gua entre o rio e o solo adjacente. Essa
caracterstica causa uma forte dependncia da interveno do homem sobre a natureza,
no sentido de garantir, por meio de obras de infra-estrutura hdrica, o armazenamento de
gua para abastecimento humano e demais usos produtivos (GARJULLI, 2003; CIRILO
et al, 2008).
O semi-rido nordestino dadas suas caractersticas possui uma densa rede de rios
temporrios. A maior exceo o Rio So Francisco. Esse grande rio, porm, nasce na
Serra da Canastra, em Minas Gerais, e s aps centenas de quilmetros de percurso
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34
entra na regio Nordeste. Outros rios permanentes so encontrados no Maranho, no
Piau e na Bahia, com destaque para o Rio Parnaba. Os rios de regime temporrio so
encontrados na poro nordestina que se estende desde o Cear at a regio setentrional
da Bahia. Entre esses, destaca-se o Jaguaribe, no Cear, pela sua extenso e potencial de
aproveitamento: em sua bacia hidrogrfica se encontram alguns dos maiores
reservatrios do Nordeste, como Castanho e Ors (CIRILO et al, 2008).
O estado do Cear tem 93% de seu territrio inserido na regio do semi-rido
brasileiro. Com caractersticas tpicas desta regio, o estado apresenta mdia
pluviomtrica anual de 800 mm, distribuda irregularmente durante o ano, e evaporao
mdia de mais de 2.000 mm. Associado a estes fatores, todos os rios so intermitentes e
a disponibilidade de recursos hdricos subterrneos limitada (TEIXEIRA, 2003).
uma regio que apresenta elevada dependncia dos recursos naturais e os
piores indicadores sociais do pas. Essa problemtica est associada a uma teia completa
de fatores, que se fortalecem mutuamente. Dentre esses fatores, encontram-se as
condies agroclimticas, a disponibilidade de recursos naturais do Semi-rido e o
ordenamento fundirio, alm de fatores scio-econmicos como as deficincias de
educao, o uso de prticas produtivas inadequadas, o baixo de nvel de tecnologia
utilizado, o desenvolvimento de atividades muito dependentes do clima em reas de
condies climticas desfavorveis, alm de outros (CEAR, 2008).
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35
Figura 8. Regio Semi-rida. Agncia Nacional de guas, 2009
Uma forma de solucionar o dficit hdrico em bacias a importao de gua por
meio da transferncia dentro de uma mesma bacia ou entre bacias hidrogrficas
diferentes (BANCO MUNDIAL, 2005).
Grandes obras hdricas de transporte de gua foram concludas, esto em
construo ou foram projetadas para abastecer as cidades do semi-rido e dar suporte s
atividades produtivas nos ltimos anos. o caso, por exemplo, do Canal da Integrao,
no Cear, destinado a conduzir gua desde o reservatrio de Castanho, o maior do
Nordeste fora da bacia do Rio So Francisco (capacidade de 6,7 bilhes de metros
cbicos) at a regio de Fortaleza, ao longo de 225 quilmetros. Outro exemplo a rede
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de 500 quilmetros de adutoras do Rio Grande do Norte. Em ambos os casos, trata-se de
aproveitamento de reservas hdricas no territrio de cada Estado. (CIRILO, 2008).
1.9 Transferncia de guas entre Bacias Hidrogrficas.
O interesse por sistemas de transferncias de gua aumenta na medida em que
sua disponibilidade diminui ou a demanda para diferentes usos aumenta em uma dada
bacia hidrogrfica. Projetos dessa natureza compreendem prtica antiga: h registros de
transferncia de gua para agricultura na Espanha desde o sculo XV (LUND &
ISRAEL, 1995).
Nos Estados Unidos a mais antiga das transposies de Bacias o Grand River
Ditch Project, foi construda em 1892 para transpor gua dos mananciais do rio
Colorado para o rio Cache La Poudre, por meio da gravidade atravs de canais.
(PORTO, 2000).
Na Austrlia foi construdo, entre 1949 e 1974, o Snowy Mountains
Hydroelectric Scheme - Sistema Hidreltrico das Montanhas de Snowy SMHS,
projeto que coleta e armazena a gua que normalmente fluiria do leste para o litoral
sendo desviada do rio Snowy para os rios Murray e, objetivando irrigao, gerao de
energia e o abastecimento urbano do sudeste australiano Murrumbidgee. O SMHS
constitudo por 16 reservatrios, 7 usinas, 1 estao de bombeamento, 145 km de tneis
e 80 km de adutoras. Atualmente o sistema continua a exercer um papel vital no
crescimento e no desenvolvimento da economia nacional, abastecendo mais de 70% de
toda a energia renovvel disponvel para o leste do pas, considerando as horas de pico
de demanda para as cidades de Sydney, Brisbane, Canberra, Melbourne e Adelaide.
Acrescenta-se que a agricultura irrigada praticada nos vales dos rios Murray e
Murrumbidgee representa de 25 a 30% da renda e emprego regional (SHRE, 2004).
No nordeste da China dficits hdricos vinham prejudicando a irrigao,
aumentando o custo de produo industrial e diminuindo a disponibilidade de gua dos
habitantes em vrias cidades na provncia de Shanxi, com uma populao de,
aproximadamente, 30 milhes de pessoas. O crescimento econmico do pas tambm
vinha estimulando a demanda de gua e o uso da capacidade da infra-estrutura existente.
O projeto Wanjiazhai Water Transfer Project Projeto de Transferncia de gua de
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Wanjiazhai WWTP foi construdo com o objetivo de melhorar o abastecimento e a
qualidade da gua, reduzir o consumo de gua subterrnea e controlar a intruso salina
nas cidades litorneas, aumentar o desenvolvimento econmico, atenuar a pobreza e
aliviar a escassez hdrica de trs reas industriais: Taiyuan, Pingsuo e Datong. Desde os
primeiros estgios de implementao, em 1998, o projeto contou com a realizao de
reformas institucionais, medidas de controle da poluio, manejo de resduos
industriais, coleta de esgoto e estratgia de tratamento (BANCO MUNDIAL, 2005).
Figura 9. Snowy Mountains Hydroelectric Scheme-SMHS. Construo da represa Murray 2,
Austrlia, 1967
Fonte: http://www.snowyhydro.com.au/photo.asp?pageID=215&parentId=345&i=0
Na Europa, em pases onde o direito de uso da gua superficial concedido pela
autoridade da bacia ou agncia pblica, tm sido desenvolvidos acordos de
transferncias envolvendo fluxos de gua em larga escala. Citam-se como exemplos
Rhone-Barcelona e Tajo-Segura, na Espanha, ambas para abastecimento urbano e
irrigao (BALLESTERO, 2004).
http://www.snowyhydro.com.au/photo.asp?pageID=215&parentId=345&i=0
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A adutora que interliga o rio Tajo ao Segura foi planejada em 1933 e as obras
completadas em 1973. O objetivo do projeto foi transferir gua da bacia do rio Tajo,
localizada na vertente do oceano Atlntico da pennsula Ibrica, para a bacia do rio
Segura, uma regio seca situada no sul da Espanha, ao largo do mar Mediterrneo. A
gua partiu de um conjunto de grandes reservatrios (Entrepenas, Buendia e Bolarque)
e foi transferida a uma distncia de 286 km por meio de um sistema composto por rios,
canais e reservatrios (BALLESTERO, 2004).
Segundo Banco Mundial 2005, este projeto desenhado como um programa de
desenvolvimento regional mostrou-se, por um lado, bastante ineficiente gerando vrios
aspectos negativos como:
Destruio de milhares de hectares de vegetao nativa;
Decrscimo na vazo ecolgica;
Sria degradao da qualidade da gua do rio Tajo proveniente de lanamentos
de efluentes da cidade de Madri. O rio Tajo, em seu trecho mdio, um dos mais
poludos da Europa e em sua grande parte no satisfaz aos parmetros requeridos para
irrigao;
A vegetao ribeirinha foi profundamente alterada pela poluio e a flora e a
fauna aqutica foram destrudas;
A adutora tem facilitado a passagem de espcies de peixe de uma bacia para
outra, o que tem conduzido extino de espcies de peixes endmicos na regio (90%
das espcies aquticas da pennsula Ibrica so exclusivamente endmicas de cada bacia
especfica).
As repercusses sociais e econmicas decorrentes do projeto foram:
Na bacia receptora, a transferncia gerou grande expectativa, o que provocou
desenvolvimento insustentvel nos setores do turismo e da agricultura;
O crescimento exponencial da demanda de gua e o uso excessivo de pesticidas
e fertilizantes tm degradado o solo e poludo os corpos dgua.
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Figura 10: Localizao da Transposio Tajo-Segura., Espanha, 1973.
Fonte: http://campusvirtual.unex.es/cala/epistemowikia/index.php?title=Trasvase_Tajo-Segura
No Brasil existem vrios casos de transferncia de gua entre bacias. Entre eles
podem ser citados: (a) a inverso do curso do rio Alto Tiet para a Baixada Santista,
executada pela antiga Companhia Light na dcada de 50; (b) a transposio das guas
das cabeceiras do rio Piracicaba para abastecimento da Regio Metropolitana de So
Paulo, executada pelo antigo Comit de Meio Ambiente, Segurana e Produtividade do
Sinduscon/SP COMASP na dcada de 70; (c) o sistema Coremas - Me dAgua no
estado da Paraba; (d) a transposio do rio Paraba do Sul, executada tambm pela
Light na dcada de 50, para produzir energia eltrica prximo ao Rio de Janeiro e para
abastecimento da regio metropolitana desta cidade, (e) a transposio de guas da
bacia do rio Jaguaribe para a Regio Metropolitana de Fortaleza, atualmente em
execuo pelo estado do Cear por meio da Secretaria de Recursos Hdricos do Estado
do Cear/Superintendncia de Obras Hidrulicas SRH/SOHIDRA e, (f) a transposio
http://campusvirtual.unex.es/cala/epistemowikia/index.php?title=Trasvase_Tajo-Segura
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40
das guas do rio Paraguau para abastecimento da Regio Metropolitana de Salvador,
no estado do Bahia (BANCO MUNDIAL, 2005).
No Cear, o sistema concebido, chamado de Eixo de Integrao Castanho
RMF, capta no aude Castanho e, por meio de um nico bombeamento nas
proximidades do aude, segue por gravidade entre canais e adutoras por cerca de 250
km at a RMF e o porto do Pecm, situado 60 km a oeste de Fortaleza (CEAR, 2008 ).
O primeiro trecho foi construdo com recursos do Projeto de Gerenciamento e
Integrao dos Recursos Hdricos PROGERIRH, financiado pelo Banco Mundial e
concludo em 2004. Esta etapa, com 55 km de extenso, interliga os audes Castanho e
Curral Velho, bem como refora o abastecimento para consumo urbano da cidade de
Morada Nova, disponibilizando gua para o desenvolvimento de projetos hidroagrcolas
por meio da integrao de seus recursos com os da bacia do Banabui. Os trechos 2 e 3
tambm so parte do projeto PROGERIRH e apresentam 46 e 66 km de extenso,
respectivamente. O trecho 2 se inicia no aude curral Velho e vai at a Serra do Flix. O
trecho 3 se inicia na Serra do Flix e desgua no aude Pacajus, que faz parte do
Sistema de Abastecimento da RMF. O trecho 4, com uma extenso de
aproximadamente 34 km, segue do aude Pacajus ao aude Gavio, efetuando um by-
pass ao sistema atual elevatrio Pacajus-Erer-Pacoti. O trecho 5 destinado ao
suprimento industrial do Porto do Pecm, apresentando cerca de 55 km de extenso
(CEAR, 2008).
Outra situao hoje vivenciada no Brasil o incio das obras para transposio
de guas do rio So Francisco (BRASIL, 2000) para os Estados do Cear, do Rio
Grande do Norte, da Paraba e de Pernambuco.
1.9.1 - O Rio So Francisco e o projeto de Integrao de bacias
hidrogrficas para o Nordeste Setentrional
O rio So Francisco, tambm chamado de Opar, como conhecido pelos
indgenas, ou popularmente de Velho Chico, nasce em So Roque de Minas, na Serra
da Canastra, no estado de Minas Gerais, a aproximadamente 1200 metros de altitude,
atravessa o estado da Bahia, fazendo sua divisa ao norte com Pernambuco, bem como
-
41
constituindo a divisa natural dos estados de Sergipe e Alagoas, e, por fim, desgua no
Oceano Atlntico, drenando uma rea de aproximadamente 641.000 km e atingindo 2
830 km de extenso (BRASIL, 2004).
F
igura
11.
Mapa
da
extens
o total
do rio
So
Francis
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O Projeto de Integrao do Rio So Francisco com Bacias Hidrogrficas do
Nordeste Setentrional um empreendimento do Governo Federal, sob responsabilidade
do Ministrio da Integrao Nacional MI, destinado busca de soluo para os graves
problemas acarretados pela escassez de gua na regio, que inviabilizam a
sobrevivncia em condies dignas dessas populaes, gerando situaes de pobreza e
misria (BRASIL, 2004).
Dois sistemas independentes, denominados EIXO NORTE e EIXO LESTE,
captaro gua no rio So Francisco entre as barragens de Sobradinho e Itaparica, no
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.pnghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/2b/Saofrancisco.png
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Estado de Pernambuco. Compostos de canais, estaes de bombeamento de gua,
pequenos reservatrios e usinas hidreltricas para auto-suprimento, esses sistemas
atendero s necessidades de abastecimento de municpios do Semi-rido, do Agreste
Pernambucano e da Regio Metropolitana de Fortaleza. As bacias hidrogrficas
beneficiadas so as do rio Jaguaribe, no Cear; do rio Piranhas-Au, na Paraba e Rio
Grande do Norte; do rio Apodi, no Rio Grande do Norte; do rio Paraba, na Paraba; dos
rios Moxot, Terra Nova e Brgida, em Pernambuco, na bacia do rio So Francisco
(BRASIL, 2004).
No horizonte final do projeto, haver retirada contnua de 26,4 m3/s de gua, o
equivalente a 1,4% da vazo garantida pela barragem de Sobradinho (1.850 m3/s) no
trecho do rio onde se dar a captao. Essa vazo ser destinada ao consumo da
populao urbana de 390 municpios do agreste e do serto dos quatro Estados do
Nordeste setentrional. Nos anos em que o reservatrio de Sobradinho superar sua
capacidade de acumulao, o volume captado poder ser ampliado para at 127 m3/s,
contribuindo para o aumento da garantia da oferta de gua para mltiplos usos
(BRASIL, 2004). A Figura 10 representa o esquema geral do projeto, evidenciando os
Eixos Norte e Leste, estruturas principais do sistema, bem como reservatrios que
devero receber as guas e traado aproximado das adutoras a serem interligadas.
O Eixo Norte foi projetado para uma capacidade mxima de 99 m3/s e dever
operar com uma vazo contnua de 16,4 m3/s, destinada ao consumo humano. Os
volumes excedentes transferidos sero armazenados em reservatrios existentes nas
bacias receptoras: Atalho e Castanho, no Cear; Armando Ribeiro Gonalves, Santa
Cruz e Pau dos Ferros, no Rio Grande do Norte; Engenheiro vidos e So Gonalo, na
Paraba; Chapu e Entremontes, em Pernambuco (BRASIL, 2000).
O Projeto de Transposio de guas do Rio So Francisco Trecho I Eixo
Norte localiza-se nos Estados de Pernambuco e Cear, desenvolvendo-se a partir do
Rio So Francisco a montante da Ilha Assuno, no municpio de Cabrob em
Pernambuco, em direo cidade de Salgueiro, atravessando a divisa com o Estado do
Cear no tnel Milagres-Jat. A extenso total aproximada at o ponto de entrega, o
Reservatrio de Jat no Estado do Cear, de 141 km. (BRASIL, 2000)
No Trecho II, um significativo volume de guas, cerca de 50 m3/s, procedente
do Reservatrio Cuncas, ser aduzido, no sentido nordeste, para o riacho Tamandu,
http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v22n63/a05fig11.gif
-
43
formador do rio Piranhas. Neste ponto, ocorrer um dos mais importantes eventos de
mistura faunstica, no qual sero conectadas a biota resultante da mistura das guas da
bacia do rio So Francisco e cabeceiras da bacia do rio Jaguaribe com a biota do curso
superior do rio Piranhas. Neste evento a mistura de biotas considerada como de alta
relevncia (BRASIL, 2004).
Como parte deste projeto, sero construdos canais, tneis e 22 novos
reservatrios: Tucutu, Angico, Terra Nova, Serra do Livramento, Mangueira, Negreiros
e Milagres, a serem implantados no riacho Terra Nova, afluente da margem esquerda do
rio So Francisco, no Trecho I; Jati, Logradouro e Cuncas, a serem implantados na
bacia do rio Jaguaribe, no Trecho II; Santa Helena, a ser implantado no rio Caio Prado,
afluente da margem esquerda do rio Salgado, tributrio do rio Jaguaribe, no Trecho III;
Panela Dgua, dos Mandantes e Salgueiro, a serem implantados no riacho Mandantes,
afluente da margem esquerda do rio So Francisco, no Trecho V; Cacimba Nova,
Bagres, Copiti, Moxot, Barreiros e Campos, a serem implantados no riacho dos
Mandantes, afluente da margem esquerda do rio So Francisco, no Trecho V; e
Tamboril e Parnamirim, a serem implantados no riacho da Brgida ( BRASIL, 2004).
Em adio, alguns reservatrios j existentes sero reformados para sua
participao no sistema.
No Estado do Rio Grande do Norte, o aude Armando Ribeiro Gonalves
responsvel pelo abastecimento de uma grande quantidade de municpios das bacias do
Piranhas-Au, Apodi e Cear-Mirim por meio de quatro grandes sistemas adutores que
esto em operao: Adutora de Mossor, Adutora Serto Central/Cabugi, Adutora Serra
de Santana, Adutora do Mdio Oeste. Em complemento, a Adutora do Alto Oeste,
quando concluda, atender maior parte dos municpios da bacia do Apodi, captando
gua no aude Santa Cruz, um dos reservatrios que devero receber aporte de gua do
Projeto So Francisco (CIRILO, 2008).No Estado da Paraba, o Eixo Leste do Projeto
So Francisco, de acordo com dados do Ministrio da Integrao, permitir o aumento
da garantia da oferta de gua para os vrios municpios da bacia do Paraba, atendidos
pelas adutoras do Congo, do Cariri, Boqueiro e Acau. O Eixo Norte possibilitar a
garantia de abastecimento de diversos municpios da bacia do Piranhas, atendidos por
sistemas tais como Adutora Coremas/Sabugi e Canal Coremas/Souza (CIRILO, 2008).
No Estado de Pernambuco, os eixos Norte e Leste, ao atravessarem o seu
territrio, serviro de fonte hdrica para sistemas adutores existentes ou em projeto,
-
44
responsveis pelo abastecimento de populaes do serto e do agreste: Adutora do
Oeste, j com a maior parte do sistema operando (estando os ltimos ramais em
licitao, as adutoras podero ter reforada sua capacidade de atendimento a partir de
integrao com o Eixo Norte); Adutora do Paje, com a primeira fase em licitao
iniciada no princpio de 2008; Adutora do Agreste/Frei Damio, ainda em projeto e
Adutora de Salgueiro, que opera h cerca de trinta anos e que, pelo crescimento da
demanda, necessita no presente de complementao (CIRILO 2008).
1.9.2. - O projeto Eixo das guas do Cear
No Estado do Cear, o Canal da Integrao (capacidade de 22 m3/s), interligar o
aude Castanho s bacias do Banabui (maior afluente do Rio Jaguaribe) e
Metropolitanas (CIRILO, 2008).
Eixo das guas ou Canal da Integrao compreende cinco trechos constitudos
por um conjunto de obras composto por uma estao de bombeamento, canais, adutoras,
sifes, e tnel que realiza a transposio das guas do Aude Castanho para a Regio
Metropolitana de Fortaleza (RMF), reforando o abastecimento, numa extenso de
255,94 km, inclusive na RMF e Complexo Industrial e Porturio do Pecm, fazendo a
integrao das bacias hidrogrficas do Vale do Jaguaribe e da Regio Metropolitana
(FIGURA 02) (CEARA, 2008).
O aude Castanho no Cear tem capacidade de armazenar 7 bilhes de m3 de
gua e foi construdo com duas grandes finalidades: fornecer gua para uma grande
regio, incluindo a cidade de Fortaleza (com 2,4 milhes de habitantes) e porto do
Pecem; e, controlar as cheias do rio Jaguaribe em anos de chuvas intensas, que afetavam
milhares de pessoas que habitam as margens do Baixo Jaguaribe e na cidade de Aracati
(PINHEIRO & CARVALHO, 2010).
O Eixo Castanho-RMF tem seu incio imediatamente jusante da barragem do
Aude Castanho, derivando sua vazo diretamente da tubulao da tomada dgua do
respectivo reservatrio. A transposio, ento, realizada at o Aude Pacoti (trechos I,
II e III), reservatrio integrante do Sistema de Abastecimento de gua da Regio
Metropolitana de Fortaleza (SARMF) e da at ao reservatrio Gavio (trecho IV) onde
terminar o sistema adutor principal. O percurso estende-se ao longo de
aproximadamente 200 km. O prolongamento do sistema adutor para a zona Oeste de
-
45
Fortaleza, entre o aude Gavio e Porto do Pecm (trecho V), apresenta um
desenvolvimento adicional de cerca de 55 km (CEARA, 2008).
Ao final do seu percurso, o Canal da Integrao ter passado por doze
municpios, Nova Jaguaribara, Morada Nova, Russas, Ocara, Pacajus, Horizonte,
Guaiuba, Pacatuba, Itaitinga, Maracana, Maranguape, Fortaleza, irrigando pelo menos
33 mil hectares e garantindo gua para o Complexo Industrial do Pecm e os distritos
industriais de Maracana, Horizonte e Pacajus (CEARA, 2008).
-
46
Figura 12. Mapa esquemtico do Eixo das guas
Fonte: SRH-CE, 2002
-
47
JUSTIFICATIVA
-
48
2 Justificativa
A construo de empreendimentos de infra-estrutura hdrica geralmente causa
modificaes na composio da fauna em sua rea de influncia. Estas modificaes
tm direcionado pesquisas para os vetores de doenas endmicas, visto que podem
favorecer a transmisso em reas de baixa endemicidade ou propiciar a instalao de
novos focos de doenas. Dessa forma, a ocorrncia da Esquistossomose Mansnica pode
ser potencializada, tanto pela expanso espacial resultante dos movimentos
populacionais, quanto pela construo de barragens e o aproveitamento das mesmas
para obras subseqentes, como irrigao. O conhecimento da variao espacial e
temporal da incidncia da doena, aliado s situaes ambientais, importante para o
planejamento de aes de preveno e controle.
No Cear, dois grandes projetos hdricos em fase de construo envolvendo mais
de 25 municpios, levaro gua do Rio So Francisco entrando em Jati, extremo sul do
estado at o Complexo Industrial-Porturio do Pecm (CIPP) no municpio de So
Gonalo do Amarante.
No existem estudos que avaliem o surgimento de espaos potenciais de
transmisso da Esquistossomose Mansnica no mbito dos projetos de infra-estrutura
hdrica no estado do Cear.
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49
OBJETIVOS
-
50
3 OBJETIVO GERAL
Construir uma linha base dos municpios atingidos por dois grandes projetos
hdricos: A integrao de Bacias do Rio So Francisco no estado do Cear e o Eixo das
guas, e as implicaes sobre a transmisso de Esquistossomose Mansnica.
3.1 - Objetivos especficos
Traar o perfil demogrfico, scio-econmico e ambiental de 25 municpios
sob influncia direta das obras de integrao de Bacias do Rio So Francisco
no estado do Cear e o Eixo das guas;
Descrever a situao epidemiolgica e o perfil da esquistossomose mansnica
nos municpios que sofrero influncia direta com as referidas obras;
Levantar a ocorrncia do hospedeiro intermedirio da esquistossomose
mansnica na rea de influncia direta dos projetos em estudo.
-
51
MATERIAIS E
MTODOS
-
52
4 MATERIAIS E MTODOS
4.1 Desenho do Estudo
Trata-se de um estudo ecolgico, no qual sero analisados dados secundrios de
prevalncia da Esquistossomose Mansnica, dados demogrficos, scio-econmicos e
ambientais.
4.2 reas de estudo
A rea de estudo compreende os municpios que sofrem influncia direta de dois
empreendimentos de infra-estrutura hdrica: a Integrao de Bacias do Rio So
Francisco nos limites do estado do Cear e o Eixo de Integrao Castanho Regio
Metropolitana de Fortaleza (RMF) Complexo Industrial e Porturio do Pcem (CIPP).
O Projeto de Integrao do Rio So Francisco com as Bacias Hidrogrficas do
Nordeste Setentrional prev a construo de dois canais: o Eixo Norte que levar gua
para os sertes de Pernambuco, Cear, Paraba e Rio Grande do Norte e o Eixo Leste
que beneficiar parte do serto e as regies agreste de Pernambuco e da Paraba
(BRASIL, 2004)
O Eixo Norte, a partir da captao no rio So Francisco prximo cidade de
Cabrob PE, percorrer cerca de 400 km, conduzindo gua aos rios Salgado e
Jaguaribe, no Cear; Apodi, no Rio Grande do Norte; e Piranhas-Au, na Paraba e Rio
Grande do Norte (BRASIL, 2004).
O Eixo das guas ou Canal da Integrao compreende cinco trechos
constitudos por um conjunto de obras composto por uma estao de bombeamento,
canais, adutoras, sifes, e tnel que realiza a transposio das guas do Aude
Castanho para a Regio Metropolitana de Fortaleza (RMF), reforando o
abastecimento, numa extenso de 255,94 km, inclusive na RMF e Complexo Industrial
e Porturio do Pecm, fazendo a integrao das bacias hidrogrficas do Vale do
Jaguaribe e da Regio Metropolitana (CEAR, 2008)
A rea do estudo ocupa uma posio centro-oriental no Estado do Cear, sendo
composta por trs regies distintas, uma representada pela Bacia do Salgado, outra
representada por parte Bacia do Jaguaribe, onde encontra-se posicionado o aude
Castanho, uma das fontes hdricas do empreendimento ora proposto. A outra regio
-
53
representada pelas Bacias Metropolitanas abriga em seu territrio a Regio
Metropolitana de Fortaleza, bem como o Complexo Industrial Porturio do Pecm
CIPP.
A unidade de anlise o municpio e o critrio de incluso adotado foi
municpio pertencente a rea de influncia direta dos dois empreendimentos de infra-
estrutura hdrica dentro dos limites do estado do Cear
A rea de Influncia Direta (AID) de ambos os projetos de Integrao de bacias
abrange o conjunto das reas dos municpios atravessados pelos Eixos de conduo da
gua. Considera os limites dos municpios onde esto localizadas as obras de aduo e
os rios e audes receptores (BRASIL,2004; Cear, 2008).
4.2.1 Municpios localizados na rea de Influncia Direta das obras de
integrao de bacias do Rio So Francisco para o Nordeste Setentrional e o Eixo
das guas do Cear.
De acordo com os projetos originais de Integrao do Rio So Francisco e do
Eixo de Integrao Castanho - RMF, os seguintes municpios sofrero influncia direta
com a construo de barragens, adutoras, audes etc: Alto Santo, Baixio, Barro, Brejo
Santo, Cascavel, Caucaia, Chorozinho, Horizonte, Ic, Itaitinga, Jaguaribara, Jaguaribe,
Jati, Lavras da Mangabeira, Maracana, Mauriti, Misso Velha, Morada Nova, Ocara,
Pacajus, Pacatuba, Pena Forte, Russas, S. Gonalo do Amarante e Umari, como mostra
a figura 13 (CEAR, 2008; BRASIL 2000).
Ic
Morada Nova
Russas
Jaguaribe
Mauriti
Caucaia
Alto Santo
Barro
Ocara
Jati
Cascavel
Jaguaribara
Umari
Itaitinga
S. Gonalo do Amarant
Lavras da Mangabeira
Misso Velha
Brejo Santo
Limite municipal.shp
Municpios AID
e
-
54
Figura 13. Mapa do Estado do Cear, mostrando os municpios por onde passaro os projetos da
interligao de bacias do Rio So Francisco e o Eixo das guas.
4.3 Indicadores do Estudo
4.3.1 Dados Demogrficos e Scio-econmicos
Os dados demogrficos e scio-econmicos foram obtidos atravs do Instituto
Brasileiro de Geografia Estatstica IBGE (Censos dos anos de 1991 e 2000) e do
anurio do Cear publicado pelo Instituto de Pesquisa Estatstica e Econmica do
Estado do Cear IPECE, ano 2009.
4.3.2 Dados educacionais
Os dados relativos a educao foram obtidos atravs do Instituto Brasileiro de
Geografia Estatstica IBGE (Censos dos anos de 1991 e 2000) e do Anurio do Cear
publicado pelo Instituto de Pesquisa Estatstica e Econmica do Estado do Cear
IPECE, ano 2009.
4.3.3 Dados ambientais e de pluviosidade
Os dados scio-ambientais e de pluviosidade foram coletados atravs do Atlas
Eletrnico da Secretaria de Recursos Hdricos do Estado do Cear, 2009.
4.4 Distribuio do molusco hospedeiro intermedirio no estado do Cear.
Os dados acerca do hospedeiro intermedirio Biomphalaria straminea foram
obtidos atravs do Programa Estadual de Controle da Esquistossomose - PCE da
Secretaria da Sade do Estado do Cear.
4.5 Identificao das reas de transmisso da Esquistossomose Mansnica j
existentes.
-
55
A identificao de reas de transmisso j existentes foi realizada atravs de
coleta de dados do Sistema de Informao do Programa Estadual de Controle da
Esquistossomose, SIS-PCE, da Secretaria da Sade do Estado do Cear.
-
56
4.6 - Softwares utilizados.
Um banco de dados foi construdo utilizando-se o programa Excel 2007. Os
arquivos com extenso shp (shape file) foram analisados por meio de um sistema de
consulta com base em SIG (Sistema de Informaes Geogrficas), que armazenou todos
os dados espaciais para manipulao e ligao dos atributos descritivos s feies
grficas, permitindo a visualizao. O programa utilizado para esse fim foi o Arcview
3.3, onde os resultados foram expressos em forma de mapas temticos e tabelas.
4.7 Arquivos em formato Shapefile (shp)
Os arquivos shp necessrios para compor alguns mapas temticos foram cedidos
pela Secretaria de Recursos Hdricos do Cear.
4.8 Aspectos ticos.
O projeto de pesquisa em sua fase anterior a execuo foi submetido aprovao
do Comit de tica em Pesquisa COMEPE, da Universidade Federal do Cear em
conformidade com a portaria 196/1996, do Conselho Nacional de Sade do Ministrio
da Sade. Para a coleta de dados foi solicitada a autorizao do Ncleo de Controle de
Vetores da Secretaria de Sade do Estado do Cear SESA obtendo-se parecer
favorvel em ambas instituies.
Foi dispensada desse estudo a obrigatoriedade do uso do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, pois foram utilizados apenas dados secundrios.
Protocolo n 34/2010.
-
57
RESULTADO
S
-
58
5 RESULTADOS
5.1. Anlise de dados Demogrficos e Scio-econmicos
Dos vinte e cinco municpios pertencentes a rea de influncia direta do projeto
de Interligao de Bacias do Rio So Francisco no estado do Cear e o Eixo das
guas, cerca de 48% so municpios que apresentam populao inferior a 50.000
habitantes como est mostrado na Tabela 01.
Tabela 1. Nmero de municpios da rea de estudo e percentual de acordo com o porte
populacional.
Agrupamento At 10.000 De 10.001 a 50.000 De 50.001 a 100.000 De 100.001 a 500.000 Total
Municpios 5 12 6 2 25
% 20 48 24 8 100
Porte populacional
Fonte: IBGE, 2001.
A populao residente na rea de influncia direta AID dos dois projetos de
infra-estrutura hdrica em estudo totaliza 1.283.799, correspondendo a 15,70% da
populao total do estado do Cear que de 8.185.286. A figura 14 mostra a
distribuio da populao residente na AID dos projetos em estudo.
Municpios fora da AID
Populao
5791 - 9992
9993 - 23340
23341 - 41653
41654 - 65783
65784 - 316906Municpios fora da AID
Populao
5791 - 9992
9993 - 23340
23341 - 41653
41654 - 65783
65784 - 316906
-
59
Figura 14. Populao residente nos municpios da rea de estudo. Brasil, 2000.
Em relao aos municpios com abastecimento de gua e instalaes sanitrias
encontrou-se que dos 25 municpios apenas o municpio de Nova Jaguaribara possui
cobertura de 100% de abastecimento de gua isso se deve ao fato da cidade ter sido
previamente planejada para abrigar os moradores da antiga Jaguaribara que foi
submersa em virtude das obras de construo do aude Castanho. Dez municpios
possuem cobertura acima de 90% de abastecimento de gua e o municpio com a pior
cobertura Pacatuba com apenas 28,80% dos domiclios com abastecimento de gua
encanada (Figura 15). Observou-se que 10 (40%) dos 25 municpios no possuem
instalaes sanitrias segundo dados da SEINFRA Secretaria de Infra-estrutura do
Estado do Cear, 2006. A figura 16 mostra o mapa da cobertura de gua e
abastecimento dos municpios da AID.
Figura 15. Percentual de cobertura de abastecimento de gua e instalaes sanitrias nos municpios da
AID.
Municpios fora da AID
Abastecimento de gua
28.8
28.8 - 71.1
71.1 - 82.2
82.2 - 91.6
91.6 - 100Municpios fora da AID
Instalaes sanitrias
0 - 7.8
7.8 - 26.9
26.9 - 51
51 - 87.5
-
60
Figura 16. Mapa da cobertura de abastecimento de gua e instalaes sanitrias nos municpios da AID.
A tabela 02 apresenta os ltimos dados publicados acerca da renda per capta e o
PIB dos municpios da AID. Os municpios pertencentes a regio Metropolitana de
Fortaleza como Maracana , Caucaia, Horizonte, Pacajus e Cscavel so os que
apresentam a melhor renda enquanto que Baixio, Umari, Penaforte e Jati na mesorregio
Sul do estado do Cear tem a menor renda (Figura 16). Os municpios de Maracana e
Horizonte aparecem com o PIB mais elevado e Misso Velha, Baixio e Lavras da
Mangabeira apresentam PIB inferior a 2 milhes.
Tabela 02. Renda per capta e Produto interno Bruto por municpio da AID
MUNICPIO RENDA PER CAPTA PIB
Maracana 2.196.619.64 11.329.85
Caucaia 1.036.991.92 3.411.49
Horizonte 504.107.07 11.587.34
Pacajus 366.959.74 7.090.05
Cascavel 354.053.87 5.604.78
Russas 301.187.75 4.701.87
Pacatuba 198.255.16 3.266.09
Morada Nova 183.281.12 2.701.75
Brejo Santo 141.302.63 3.407.51
Ic 135.449.06 2.122.76
Jaguaribe 110.248.07 3.001.99
Mauriti 96.866.11 2.231.06
Itaitinga 90.600.66 2.727.21
Misso Velha 63.208.03 1.822.08
Lavras da Mangabeira 60.844.83 1.932.44
Chorozinho 52.799.82 2.548.13
Barro 50.940.89 2.496.74
Ocara 50.760.84 2.237.74
So Gonalo do Amarante 46.048.48 2.593.99
Alto Santo 37.405.99 2.265.38
Jaguaribara 35.663.01 3.808.52
Jati 18.182.83 2.418.90
Penaforte 18.098.08 2.451.65
Umari 17.300.91 2.421.06
Baixio 11.630.29 1.964.91
O IDM ndice de Desenvolvimento Municipal tem como objetivo principal
mensurar os nveis de desenvolvimento alcanados pelos municpios. Sua elaborao
utiliza um conjunto de 30 indicadores, abrangendo quatro grupos: i) Fisiogrficos,
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fundirios e agrcolas; ii) Demogrficos e econmicos; iii) Infra-estrutura de apoio; e iv)
Sociais. A partir da, so calculados ndices para esses grupos, sendo depois
consolidados em um ndice de desenvolvimento para cada municpio. Observando os
dados da figura 17, observa-se que Umari, Jati, Alto Santo e Misso Velha figuram
entre os municpios com IDM inferior a 20% enquanto que Maracana e Horizonte
apresentam os melhores ndices (acima de 50%). A capital cearense possui IDM de
89.56% (IPECE, 2006).
Figura 17. ndice de desenvolvimento municipal dos municpios pertencentes a AID
5.2 Anlise de dados Educacionais
A populao alfabetizada de 5 ou mais anos de idade nos municpios que
abrangem a AID bastante varivel e est representada na Figura 18 . O municpio de
Caucaia o que apresenta o maior nmero, com cerca de 170.000 alfabetizados. O
municpio de Baixio apresenta 3.348 alfabetizados.
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Figura 18. Populao residente de 5