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Milton Menezes 1 CONSTELAÇÃO SISTÊMICA – TRANSFORME.CE 1. O que é uma Constelação? Qual a diferença entre uma Constelação Familiar e uma Constelação Sistêmica? 2. TIPOS DE CONSTELAÇÃO: Constelação Familiar o Família de Origem; o Família atual Constelações Organizacionais: o Organizações; o Grupos; Constelação Estrutural: o Tetralema; o Constelação Problema; o Constelação do tema “protegido” (oculto); Constelação Formato PNL: o SCORE; o Trajetória da vida; o Níveis Neurológicos; Constelação Sistêmica. Corpo – energia: o Órgãos; o Meridianos; o Chacras.

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Milton Menezes

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CONSTELAÇÃO SISTÊMICA – TRANSFORME.CE

1. O que é uma Constelação?

Qual a diferença entre uma Constelação Familiar e uma Constelação Sistêmica?

2. TIPOS DE CONSTELAÇÃO:

Constelação Familiar

o Família de Origem;

o Família atual

Constelações Organizacionais:

o Organizações;

o Grupos;

Constelação Estrutural:

o Tetralema;

o Constelação Problema;

o Constelação do tema “protegido” (oculto);

Constelação Formato PNL:

o SCORE;

o Trajetória da vida;

o Níveis Neurológicos;

Constelação Sistêmica.

Corpo – energia:

o Órgãos;

o Meridianos;

o Chacras.

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3. TÉCNICAS DE CONSTELAÇÃO SISTÊMICA:

Em Constelação Sistêmica, podemos utilizar, basicamente, 3 (três) técnicas

diferentes:

a) Utilizando Pessoas como Representantes: Nesta técnica, utilizamos pessoas

para representar os fatores de um sistema que está sendo constelado. Os

representantes vão utilizar as suas percepções em termos de sensações físicas,

emoções, pensamentos, impressões, impulsos, reações, etc. para expressar o

que está acontecendo com o fator real do sistema que está sendo trabalhado.

Vantagens: As pessoas tendem a expressar de forma mais intensa e fidedigna

os aspectos inconscientes que atuam no sistema favorecendo uma

identificação mais clara dos fatores determinantes do problema e dos

caminhos de solução.

Desvantagens: Dificuldade de organizar grupos de 15 a 20 pessoas para

poderem trabalhar um problema sistêmico de um cliente. Operacionalmente

dificulta a aplicação mais espontânea e pontual de uma questão no coaching ou

na terapia individuais.

b) Utilizando Objetos como Representantes (Bonecos Playmobil): Utilizamos

bonecos Playmobil, qualquer tipo de bonecos ou objetos para representar os

fatores do sistema em questão. Vamos usar a percepção do próprio cliente

para identificar e diferenciar os aspectos que estão atuando no sistema e que

estão inconscientes.

Vantagens: Podemos utilizar a qualquer momento no atendimento individual

ou em grupo sem a necessidade de recrutar outras pessoas para o processo.

Mesma eficácia do método com pessoas. Favorece uma percepção mais

“espacial “ do problema e visualização de dinâmicas no sistema, principalmente

se envolvem pessoas no problema em questão.

Desvantagens: Nem sempre o cliente tem um nível de percepção que favoreça

a aplicação desta técnica. O cliente pode interferir na descrição de suas

percepções com conteúdos conscientes, conceitos, explicações, pré-conceitos,

etc. distorcendo o resultado do método. (Para contornar este problema deve-

se aplicar a técnica com os FATORES OCULTOS par ao cliente no início da

Constelação).

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c) Utilizando Âncoras de Solo como posição para representantes: Neste método,

vamos utilizar Âncoras de Solo, ou seja, qualquer tipo de referência que possa

simbolizar os fatores do sistema e que permita uma “movimentação” e uma

mudança no “esquema corporal” do cliente na percepção das características

dos fatores. Usaremos, então o próprio cliente nesta percepção utilizando

pedaços de papel com símbolos (figuras geométricas, n’meros, letras, etc.) para

diferenciar os fatores, ou mesmo cadeiras, objetos em geral que permitam uma

mudança de posições pelo cliente para cada fator.

Vantagens: Podemos aplicar individualmente sem a necessidade de recrutar

pessoas para a atividade. Maior nível de percepção para alguns clientes que os

Bonecos Playmobil. Muito eficaz para escolhas e sistemas não humanos.

Desvantagens: Nem sempre o cliente consegue perceber as diferenças entre os

fatores de forma significativa. Possibilidade do cliente interferir com suas

impressões ou racionalizações conscientes no processo. (Para contornar este

problema deve-se aplicar a técnica com os FATORES OCULTOS par ao cliente no

início da Constelação)

4. APLICAÇÕES:

1. FAMÍLIA

2. ESTRUTURAS INTERNAS

3. DIMENSÕES DA VIDA

4. CONFLITOS/DÚVIDAS/IMPASSES

5. ALINHAMENTO

6. GRUPOS

7. ORGANIZAÇÕES

8. NEGÓCIOS

9. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO;

10. GESTÃO DE PESSOAS;

11. ÓRGÃOS E PARTES DO CORPO;

12. DIMENSÕES DA CONSCIÊNCIA

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5. OBJETIVOS DA CONSTELAÇÃO SISTÊMICA:

São 3 os principais Objetivos da Constelação Sistêmica:

a) Diagnóstico: O método da Constelação permite na grande maioria dos casos

um diagnóstico dos problemas, causas e aspectos inconscientes de um

problema sistêmico.

b) Intervenções para Solução: Pelo princípio que fundamenta a Constelação, ações

e intervenções na Constelação tendem a repercutir de forma positiva em

mudanças e soluções no Sistema Real. Às vezes, as próprias pessoas que estão

apenas observando uma Constelação, podem relatar modificações posteriores

em seus problemas pessoais pela ressonância das intervenções realizadas em

uma Constelação de outra pessoa.

c) Prospecção de Soluções: A Constelação permite em alguns casos a identificação

de caminhos de solução ou melhores opções conforme a finalidade do sistema

que se estabeleceu (tempo e situação).

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6. Aspectos Básicos do Transforme.ce:

o Problema ou Questão: é o Foco que será abordado na atividade do

TRANSFORME.CE. Conforme o tipo de Sistema que estaremos

considerando, o Foco pode ser um problema envolvendo um Grupo de

Pessoas (família, Equipe, Instituição, etc.), um Conflito, uma Decisão,

uma tomada de Consciência sobre um direcionamento na vida, um

Projeto, uma Carreira, um Negócio, um Produto, etc..

o Elementos ou Fatores: São os componentes do sistema de que trata o

TRANSFORME.CE. O importante é que a escolha dos elementos seja

compatível com a sua relevância aparente no Problema ou Questão do

Sistema.

o Representantes: São os substitutos dos Fatores reais pelos que vão

representá-los no campo de trabalho do TRANSFORME.CE. No caso da

aplicação em Grupos de Pessoas, serão escolhidos entre as pessoas

disponíveis para o trabalho. No caso da aplicação individual, serão os

objetos escolhidos para representar os Fatores reais: Bonecos

Playmobil, Outros bonecos, Objetos, etc.. A importância de que o

Cliente escolha os elementos está na Projeção que ele faz da sua

percepção (na maioria das vezes Inconsciente) do recorte do Sistema

que está sendo tratado.

o Campo de Trabalho: Espaço Físico que representará o Campo do

Sistema Real e do Problema a ser abordado no TRANSFORME.CE.

o Posição: É o “lugar” que o Cliente determina para cada um dos

Representantes dos Fatores considerados no Problema em questão. É a

Imagem Interna que o cliente apresenta do Problema, projetando-o, de

forma Inconsciente no Campo de trabalho. É importante delimitar o

espaço para dar “continência” ao processo de expressão dos conteúdos

Inconscientes.

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o Relacionamento: Relações existentes entre os Fatores e que são

expressas nas diferentes reações dos Fatores representados.

o Finalidade: Todo Sistema se caracteriza por ter uma Finalidade ou

Propósito. Mesmo que não esteja explícito, devemos considerar que o

Sistema se “movimenta” na direção da realização de seu propósito ou

Finalidade.

o Ordem: Parece que todo Sistema tem uma Ordem, mais ou menos

oculta, dependendo do tipo de Sistema, que orienta a melhor

movimentação, relacionamento e aproveitamento de cada Elemento.

o Dinâmica x Estática: Padrões que são identificados nos Sistemas na

realização de suas Finalidades. Tem relação com o tipo de

Relacionamento de cada Fator, seu Papel, sua entrada e saída no

sistema, sua Responsabilidade no Sistema, dentre outras. Os principais

aspectos no TRANSFORME.CE são:

Dar e Receber;

Pertencimento;

Padrões Assumidos;

Integridade;

Equilíbrio;

Projeções;

o Alinhamentos: Ordenação harmoniosa dos Fatores de forma a

conseguir a Solução mais Eficiente para a Finalidade do Sistema.

Normalmente, os sistemas geraram problemas quando algum tipo de

Alinhamento se perdeu: Alinhamento entre os Fatores, entre os Fatores

e o Propósito, Entre os Fatores Presentes e os Ausentes, etc..

o Solução do Sistema: Imagem Externa que traduz a melhor combinação

possível para o momento do sistema, favorecendo que ele se conduza

na realização de sua Finalidade.

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Bibliografia:

Facets of Systems Science; KLIR, George J.; Springer Verlag; 199

Teoria Geral dos Sistemas; BERTALANFFY, Ludwig Von.; Ed. Vozes;1975.

A Teia da Vida; CAPRA, Fritjof; Ed. Cultrix; 1997.

Thinking in Systems - A Primer; MEADOWS, Donella H.; Ed. Diana Wright; 2008.

7. FASES de uma Constelação TRANSFORME.CE

APLICAÇÃO TEMA FAMILIAR:

1. Pré-Clarificação com o Cliente:

a. Pedido/preocupação/ tema, problema;

b. Família de Origem. Família atual, (ambas?)

i. Pessoas de relação;

ii. Parceiros anteriores;

iii. Filhos perdidos.

c. Informações Antecedentes:

i. Morte (prematura);

ii. Exclusão ou depreciação;

iii. Doença grave/enfermidade.

d. Emoções envolvidas ao lidar com o problema;

e. Repercussões na vida em geral pelo problema em questão: família,

trabalho, dinheiro, saúde, etc.

f. Fatores Prováveis que estão envolvidos no problema Sistêmico;

g. O que o Cliente deseja com a Constelação – importância de desmistificar

o fator “mágico” da Constelação;

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2. Representação da Imagem Interna:

a. Seleção de representantes (primeiro para o cliente – Foco);

b. Guiar Representantes para as Posições da Sala;

3. Perceber e Perguntar:

a. Percepção e sentimento na Posição;

b. Melhora ou piora durante a mudança no sistema;

c. Desejos: verificar com o Representante do Fator se há um desejo ou um

impulso (corporal ou impressão) para alguma modificação, como por

exemplo: mudança da sua posição própria, alterações na disposição,

atrações e repulsas em relação aos demais Fatores, etc..

4. Trabalho Estrutural:

a. Mudança de posições um com o outro – Testes.

5. Trabalho de Processo:

a. Mudança através de palavras purificadoras, símbolos, gestos e rituais;

b. Reconhecimento, o que é;

c. Perceber, apreciar, honrar, dar, receber, devolver;

d. Prestar atenção aos limites do sistema;

e. Expressão de Elementos da Ordem do Sistema: Amor e Benevolência

(Família).

6. Alteração com o Trabalho Estrutural até que a solução da Imagem seja

alcançada.

7. Permutando o cliente: Pode acontecer mais cedo também.

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8. Tirando o Papel (dissociação dos representantes)

a. Cliente assimila a imagem da Solução (torna a imagem da solução como

Sua) e dispensa os representantes.

APLICAÇÃO TEMA GERAL:

1. Pré-Clarificação com o Cliente:

a. Pedido/preocupação/ tema, problema;

b. Sistemas da vida envolvidos no Problema:

i. Familiar;

ii. Trabalho ou Carreira;

iii. Envolve Relacionamentos Interpessoais?.

c. Informações relevantes sobre mudanças no Sistema:

i. Perdas;

ii. Crises;

iii. Momentos de transição entre equilíbrio e desequilíbrio.

d. Emoções envolvidas ao lidar com o problema;

e. Repercussões na vida em geral pelo problema em questão: família,

trabalho, dinheiro, saúde, etc.

f. Fatores Prováveis que estão envolvidos no problema Sistêmico;

g. O que o Cliente deseja com a Constelação – importância de desmistificar

o fator “mágico” da Constelação;

2. Posicionamento- Representação da Imagem Interna:

a. Seleção de representantes (primeiro para o cliente – Foco);

b. Guiar Representantes para as Posições da Sala;

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3. Perceber e Perguntar:

a. Percepção e sentimento na Posição;

b. Melhora ou piora durante a mudança no sistema;

c. Desejos: verificar com o Representante do Fator se há um desejo ou um

impulso (corporal ou impressão) para alguma modificação, como por

exemplo: mudança da sua posição própria, alterações na disposição,

atrações e repulsas em relação aos demais Fatores, etc..

4. Trabalho Estrutural:

a. Mudança de posições um com o outro – Testes.

5. Trabalho de Processo:

a. Mudança através de palavras purificadoras, símbolos, gestos e rituais;

b. Reconhecimento: o que é;

c. Perceber, apreciar, honrar, dar, receber, devolver;

d. Prestar atenção aos limites do sistema;

e. Expressão de Elementos da Ordem do Sistema: Respeito e Consideração

(Empresas), Realização e Gratidão (Carreira, profissão), etc..

6. Alteração com o Trabalho Estrutural até que a solução da Imagem seja

alcançada.

7. Permutando o cliente: Pode acontecer mais cedo também.

8. Tirando o Papel (dissociação dos representantes)

Cliente assimila a imagem da Solução (torna a imagem da solução como Sua) e

dispensa os representantes.

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DETALHAMENTO DAS ETAPAS:

1. Pré-Clarificação com o Cliente: Nesta Etapa, realizamos uma Entrevista com o

Cliente onde procuramos identificar os Fatores Sistêmicos que parecem estar

envolvidos no Problema a ser abordado. Os tópicos apresentados acima

deverão ser conduzidos de forma bem objetiva e focada na descrição do

problema, repercussões, consequências, incoerências, paradoxos, etc..

Tendo em vista a grande importância desta etapa para todo o processo da

Constelação, precisamos abordar alguns pontos extremamente relevantes para

que que a definição do problema e a escolha dos Fatores seja boa.

Em resumo, na Entrevista anterior à Constelação onde você deverá:

– Definir o Problema ou Questão que será trabalhada;

– Identificar o Sistema mais adequado para abordar na Constelação;

– Identificar os Fatores que farão parte do quadro inicial da Constelação;

– Definir qual método você vai usar (Pessoas, Playmobil ou Âncoras de

Solo).

Entrevista Inicial:

Antes de realizar a Constelação, é fundamental realizar uma rápida entrevista,

que seja FOCADA na delimitação do Tema da Constelação e na identificação do

sistema e dos Fatores deste Sistema que farão parte da Constelação.

Uma das maiores dificuldades que observamos nos alunos dos Cursos de

Constelação é da mudança de postura que o Facilitador da Constelação deve

assumir em relação a outros tipos de Entrevistas. Como muitos alunos já tem

experiências em outras formas de atendimento e que têm objetivos

específicos, pode-se correr o risco de realizarmos uma Entrevista que não

favoreça o Mapeamento do sistema e dos Fatores para a Constelação que

desejamos.

Assim, é importante que você considere estas diferenças entre os objetivos de

Entrevistas ou diálogos que ocorrem no contexto da Terapia, do Coaching e

para uma Entrevista Inicial à Constelação. Vejamos as principais diferenças:

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a) Terapia: No processo Terapêutico, normalmente, as entrevistas inicias

visam um levantamento de eventos e fatos importantes que podem estar

vinculados ao problema ou queixa que o cliente veio tratar. É chamada de

Anamnese.

Ao longo das sessões, interações verbais e diálogos tem, normalmente, o

objetivo de relacionar fatos com sintomas, estabelecer relação possível de

causa e efeito ou evento x consequências. Pretende-se que o cliente tome

Consciência destas relações para remissão do sintoma e desenvolvimento

pessoal. Buscam-se insights, contato com emoções reprimidas ou

relacionadas ao problema. Normalmente, a Terapia tem uma perspectiva

“retrospectiva”(passado). Pretende-se com os diálogos e atividades:

Mudança de atitudes, comportamentos e remissão dos sintomas.

b) Coaching: Já no processo de coaching as entrevistas iniciais e as

interações verbais e diálogos entre caoch e coachee têm outros

objetivos, tais como, relacionar fatos com padrões inadequados,

ampliar consciência do cliente quanto a possibilidades não exploradas,

identificar potenciais não ou pouco utilizados, perceber e superar

bloqueios não identificados naturalmente pelo cliente, Estabelecer

novas metas, Planos de ação, estabelecer ações de mudança. Também

buscamos insights, superação de problemas e novos padrões de

comportamento. Na maioria das vezes o coaching tem uma abordagem

prospectiva de soluções (futuro). Pretende-se com isso o

Desenvolvimento de Habilidades, Competências, Ações e Padrões mais

efetivos para os resultados que o cliente pretende.

c) Constelação: Na Constelação Sistêmica, o objetivo da Entrevista é muito

mais específico e tem relação direta com o método. Como a

Constelação se propõe a trazer à tona aspectos inconscientes e

subliminares que estão gerando ou influenciando o sistema e o

problema em questão, QUALQUER OUTRO OBJETIVO PODE INTERFERIR

OU ATÉ MESMO CONTAMINAR OS RESULTADOS DA CONSTELAÇÃO.

Nosso objetivo é APENAS, neste primeiro momento, levantar os

componentes do problema que servirão para que a própria Constelação

nos “revele” os pontos que precisam ser abordados, trabalhados,

conscientizados e transformados.

Devemos estar atentos para evitar inferências, avaliações, julgamentos,

interpretações, antecipar possíveis relações de causa e efeito entre o

problema e o contexto que o cliente traga. Este é o “papel” da própria

Constelação.

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Com isso, seu foco nesta Entrevista será:

Identificar o ambiente em que o problema ocorre, os fatores que o

cliente relaciona na experiência do problema, identificar outros

sistemas que podem estar correlacionados sejam na linha do tempo,

sejam por uma relação de interdependência.

NÃO ESTAMOS PREOCUPADOS NESTE MOMENTO COM A REFLEXÃO OU

INTERVENÇÕES DE CAUSA OU DE SOLUÇÃO. É APENAS INVESTIGATIVO E

EXPLORATÓRIO. O resultado da Constelação é que fornecerá elementos

mais ricos para todo o trabalho terapêutico ou do coaching.

Mesmo porque, muitas vezes, estamos diante do cliente pela primeira

vez e não teremos informações tão detalhadas (e nem precisamos dela

em um primeiro momento) para realizar a Constelação.

Maior atenção devem ter os terapeutas ou coachs que já atendem seus

clientes antes de uma Constelação: devem “suspender” seus juízos de

valor, suas opiniões e suas hipóteses, para não interferir no processo

natural da Constelação.

Evidentemente, nestes casos, sempre levantamos hipóteses. Não há

problema nisso. Entretanto, devemos deixar estas hipóteses ao nosso

lado (e não entre nós e o cliente) para que sejam confirmadas ou

descartadas pelos resultados da Constelação.

Após a Constelação, sim, temos condições de refletir, avaliar, propor

ações, discutir repercussões, etc. com nosso cliente.

LEMBRE-SE: O SISTEMA FOCADO TEM UMA ALMA, ELE TEM FORMAS DE DIZER O QUE

ESTÁ ACONTECENDO E O QUE ELE PRECISA. É PRECISO ESTAR ABERTO AO NOVO, AO

INUSITADO, AO INESPERADO, AO QUE ESTÁ “FORA DA CAIXA”. É PRECISO SABER

OUVIR O SISTEMA. A ESCOLHA DOS FATORES GARANTE UM MELHOR NÍVEL E

QUALIDADE DE COMUNICAÇÃO COM O SISTEMA. MAS É ELE QUEM FALA... NÓS

OUVIMOS. SÓ DEPOIS ATUAMOS.

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Observe estas recomendações nesta Etapa da Constelação:

a. Não permita que o cliente entre nos detalhes ou no histórico do

problema. Isso pode distorcer a avaliação da dinâmica atual do sistema

onde ocorre o problema;

b. Relativize a “explicação” que o cliente tem para o problema: se ele

soubesse a explicação ou o motivo, já teria resolvido o problema;

c. Utilize a regra de ouro para definir o número de Fatores que vai utilizar

na Constelação: 7 + ou – 2, ou seja, entre 5 e 9 Fatores é o número

médio, necessário para um trabalho de Constelação Sistêmica;

d. Evidentemente, você pode precisar usar menos ou mais Fatores. Porém,

menos de 5 tende a empobrecer a percepção do Sistema e mais de 9

pode trazer muitas variáveis ou aspectos de outros sistemas que podem

dispersar a percepção do problema central;

e. Dependendo do Método que você escolher usar, se você dispõe de

Pessoas ou vai precisar Bonecos Playmobil ou o Método de Mudança de

Papéis, você deve decidir neste momento se vai identificar os Fatores

no início da Constelação ou se vai manter estes Fatores “Ocultos” para o

cliente ou para os Observadores que poderão ser Representantes (no

caso de usar Pessoas);

f. Você poderá identificar Fatores “reserva” que poderão ser utilizados no

desenrolar da Constelação, principalmente se ficou na dúvida se eles

têm ou não relação ou importância no sistema considerado. Durante a

Constelação você pode “sentir” que falta alguma coisa e estes Fatores

podem ser utilizados.

Identificando o Problema ou Questão:

Para identificar o Problema ou Questão trazida pelo seu cliente, fazendo com

que fique mais potente o trabalho da Constelação você deve observar algumas

regras básicas:

a) Descrever de forma simples e objetiva o problema que o cliente traz:

evite colocar na definição do Problema, conceitos, diagnósticos,

relações complexas, etc.;

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b) Separar as opiniões do Cliente da descrição do Problema: muitas vezes o

cliente já traz uma explicação ou uma impressão do que gera o

problema. Às vezes, ele busca uma certa confirmação de suas suspeitas,

mas que na prática da Constelação que temos normalmente está

distante dos reais motivos e aspectos do problema;

c) Desfaça ilusões ou expectativas irreais: Procure saber o que o cliente

realmente busca como resultado da Constelação. Isso vai ajudar a você

a desmistificar algumas ilusões que ele tenha e pode colocá-lo em uma

perspectiva otimista mas realista do processo. Uma intervenção sempre

recomendada é: “O que você espera que a Constelação possa trazer ou

resolver para você neste problema?”

d) Sempre é recomendado sinalizar ao seu cliente que, sendo o recorte da

Constelação Sistêmica mais focado, pode ser necessária outra ou outras

Constelações, caso fique indicado na própria Constelação ou na

avaliação posterior.

Quando usar Bonecos Playmobil ou Âncoras de Solo?

Esta é uma questão importante e difícil de determinar, pois, de um modo geral,

podemos usar qualquer um dos métodos na Constelação Sistêmica de qualquer

problema ou Questão.

Entretanto, a experiência tem mostrado alguns aspectos relevantes e que

podem ajudar o Facilitador iniciante a escolher o melhor método.

Veja algumas recomendações:

a) Maior Afinidade do Cliente com o Método: Quando aplicamos a

Constelação mais de uma vez em nosso cliente, podemos identificar uma

maior afinidade ou facilidade do cliente com um dos métodos. Algumas

pessoas conseguem ter maior percepção quando usam o Playmobil

enquanto outras passam a aumentar a sua percepção sobre as diferentes

sensações que cada fator produz, ao se deslocar fisicamente e se posicionar

sobre o referencial da Âncora de Solo (Papel com símbolo, cadeira, etc.);

b) Constelações que envolvem mais fatores Humanos: Quando temos pela

frente uma Constelação que envolve mais fatores humanos e que

antevemos que poderão existir interações nos Trabalhos Estrutural e de

Processo, o uso dos Bonecos Playmobil apresentam algumas vantagens:

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i. Visão panorâmica: A visão panorâmica que o Boneco

Playmobil permite no Sistema favorece muito a percepção

da dinâmica do Sistema pelo cliente. Mesmo que o cliente

não apresente grandes percepções dos fatores a visão

panorâmica e sistêmica do problema já traz muitos

elementos de transformação e de possibilidades de

trabalhos terapêuticos e no coaching;

ii. Diálogos: O uso do Playmobil favorece a uma maior eficácia

quando temos diálogos ou rituais que fazemos entre fatores

(no uso de Âncoras de solo esta interação pode ficar um

pouco prejudicada);

iii. Percepção das mudanças nos diversos fatores a cada

movimento: Ao utilizar o Playmobil muitas pessoas

percebem mais imediatamente mudanças em outros fatores

quando promovemos um movimento ou um diálogo em um

fator. A Visão panorâmica favorece a uma percepção mais

global dos fatores e do sistema.

c) Constelações que envolvem Escolhas, Projetos ou aspectos relacionados

diretamente ao próprio indivíduo: A experiência tem demonstrado que,

em situações que envolvem dimensões mais relacionadas ao próprio

indivíduo (suas escolhas, seus projetos, seu corpo, diferenças entre

Projetos, Metas, etc. tendem a ter melhor resultado com o uso das Âncoras

de Solo. Entretanto, voltamos a afirmar, os resultados não dependem

necessariamente do tipo de método, podendo ser usado em qualquer

problema ou questão.

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2. Posicionamento- Representação da Imagem Interna: Representa a primeira

ação da Constelação Sistêmica propriamente dita. Nesta Etapa vamos orientar

o cliente a Identificar os Representantes que vão representar cada Fator

escolhido na Entrevista de Pré-clarificação como possíveis Fatores importantes

do sistema.

Consiste em:

a. Introdução e Apresentação: Se você estiver utilizando o Método com

Pessoas como Representantes, você deverá iniciar com uma pequena

introdução sore a Constelação Sistêmica, verificar quem já participou de

uma Constelação e explicar em linhas gerais o que acontece em uma

Constelação:

i. Explique como serão escolhidos pelo Cliente para serem

Representantes;

ii. Esclareça que o Observador escolhido para ser Representante,

poderá recusar participar caso não se sinta à vontade ou tenha

uma impressão de que não deva participar;

iii. Oriente os futuros Representantes da necessidade de responder

as perguntas do facilitador priorizando: Sensações no Corpo,

Sentimentos e Pensamentos. Também peça para identificarem

impressões gerais sobre movimentos, reações como aversão ou

atração com relação a um outro Fator ou movimento feito no

sistema. Que sinalizem quando sentirem alguma coisa

significativa, mas que procurem colaborar conforme a

orientação do Facilitador. Cuidado para evitar a “teatralização”

que alguns Representantes (Pessoas) podem fazer ou quererem

interpretar o que estão sentindo e não relatar o que estão

sentindo.

iv. Depois destas orientações, apresente o cliente e um breve

resumo do tipo de problema que será abordado na Constelação.

IMPORTANTE: Não dê muitos detalhes sobre o problema de

forma a não influenciar os Representantes com suas percepções

pessoais sobre problemas semelhantes ou mesmo seus pré-

conceitos sobre dinâmicas semelhantes.

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b. Abrir a Constelação: Como Facilitador, você deve estabelecer os limites

do Campo de Trabalho para o Cliente sobre onde acontecerá a

Constelação:

i. “Este aqui é o Campo de Trabalho de nossa Constelação hoje”.

(Aponte para a área destinada a acontecer a Constelação – Em

qualquer Método);

ii. “É aqui que o seu problema/questão será representado. Ele

expressa o que acontece no sistema real”.

iii. “Você está pronto (a) para começar?”

c. Seleção de representantes (primeiro para o cliente – Foco): Neste

momento, você vai orientar o cliente para que escolha dentre os

Observadores alguém que possa representar o próprio Cliente.

i. Enfatize que o Cliente escolha alguém sem qualquer tipo de

“critério” tais como sexo, cor, semelhança física, etc., mas

escolha de forma intuitiva, por impulso.

ii. Peça para que o Cliente fique de frente para o Observador

escolhido, pegue as suas mãos e olhe nos olhos do Observador.

Verifique com o Cliente se REALMENTE esta pessoa pode ser o

Representante do Fator.

iii. Caso Afirmativo: pergunte ao Observador se ele aceita ser o

Representante daquele Fator. Ao aceitar representar o Fator, o

Facilitador deve se dirigir ao Representante e dizer:

1. “Você agora não é você... a partir de agora você é o Fator

A, ou o Cliente (dizer o nome do Cliente)... você vai sentir

como este Fator, pensar como este Fator e reagir como

este Fator reage no seu sistema real...”

iv. Caso Negativo peça ao Cliente que refaça a escolha;

v. No caso do Método com Bonecos Playmobil: peça ao Cliente

para escolher um boneco ou objeto para ser o Representante

daquele Fator e depois posicione (próximo item);

vi. Se estiver usando o Método de Mudança de Papéis: Peça para o

Cliente escolher um dos Papéis com um símbolo ou mesmo

quando o Fator está identificado e posicione conforme o

próximo item.

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d. Posição: Guiar Representantes para as Posições. Nesta parte, o

Facilitador orienta o Cliente a Posicionar o Representante de cada Fator

em uma Posição no Campo de Trabalho.

i. Peça para o Cliente colocar suas mãos nas costas do

Representante e conduzi-lo pelo Campo de Trabalho,

procurando “sentir” e identificar, de forma intuitiva, a melhor

Posição;

ii. Incentive o Cliente a não estabelecer uma “regra” ou “critério”

para posicionar (perto deste, no meio do local, de frente, etc.)

mas intuitivamente.

iii. Esclareça que o Cliente pode Experimentar mais de uma Posição

até encontrar o lugar “ideal”.

3. Perceber e Perguntar: Neste momento, procuramos identificar o que o

Representante sente, desde o momento em que foi escolhido até o momento

de ser posicionado no Campo de Trabalho na Posição que o Cliente o colocou.

Há duas possibilidades de execução desta parte: o Facilitador pode ir

perguntando a cada novo Representante que é colocado na Posição o que ele

sente e o que os demais sentiram com a entrada do novo Fator OU pode-se

pedir para o Cliente Posicionar todos os Fatores e depois verificar o que cada

um sentiu ou está sentindo. Apesar de ser mais demorada, a primeira opção

oferece mais detalhes e percepção dobre as variações a cada novo Fator.

a. Percepção e sentimento na Posição: pergunta-se o que o Fator está

sentindo no corpo, os sentimentos e os pensamentos que vem quando

foi colocado na posição. O Facilitador pode checar com os demais

Fatores possíveis reações à entrada no novo Fator.

b. Melhora ou piora durante a mudança no sistema: Verificar as mudanças

observadas quando são feitas as alterações de posição ou entrada ne

novo Fator. Às vezes, depois de uma “fala” de como um dos Fatores se

sente, há uma mudança em outro Fator.

c. Desejos: verificar com o Representante do Fator se há um desejo ou um

impulso (corporal ou impressão) para alguma modificação, como por

exemplo: mudança da sua posição própria, alterações na disposição,

atrações e repulsas em relação aos demais Fatores, etc..

Milton Menezes

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4. Trabalho Estrutural: Por Trabalho Estrutural na Constelação Sistêmica

Transforme.ce, chamamos as movimentações e observações feitas a partir

destas movimentações, ocorridas e percebidas pelos Fatores. Ou seja, estamos

verificando o que acontece com a Estrutura do Sistema buscando observar qual

é o ponto de maior conflito ou maior energia, qual a tendência de maior alívio

ou tensão observado no sistema.

a. Testes: Mudança de posições um com o outro – uma das opções de

Trabalho Estrutural são os Testes. Por Testes chamamos as experiências

que o Facilitador propõe para verificar alguma impressão observada no

próprio Facilitador (hipóteses) bem como em algum dos Fatores (Desejo

de mudar de posição);

b. Mudanças de Posição: podemos sugerir mudanças de posição com

deslocamento ou mesmo com rotação (solicitar que o Fator fique de

frente para determinado ponto ou outro Fator) do corpo ou

simplesmente com o olhar para um ponto ou Fator (Olhar para o

Sucesso, por exemplo, ou para o Fator A, ou para o Projeto C, etc.).

5. Trabalho de Processo: na Constelação Sistêmica Transforme.ce, Processo

representa o trabalho feitos nas Relações entre Fatores e na Dinâmica

observada no Sistema a partir do Trabalho Estrutural. Ele é realizado com base

nos Princípios da Constelação Sistêmica Transforme.ce e procura re-ordenar,

alinhar, harmonizar, purificar, redistribuir, equilibrar, etc. esta dinâmica.

Conforme o Sistema e a situação, o Processo poderá ser completamente

diferente. O papel do Facilitador não é alcançar um determinado objetivo pré-

determinado, mas encontrar qual objetivo e princípio está sendo “mostrado”

pelo sistema.

a. Mudança através de palavras purificadoras, símbolos, gestos e rituais;

b. Reconhecimento: Processos de reconhecer a realidade ou “o que é”.

Isso tem um efeito significativo em algumas situações;

c. Perceber, apreciar, honrar, dar, receber, devolver: O Facilitador deve

promover diálogos onde possam ser atendidas estas necessidades que

fazem parte de alguns dos princípios. O Facilitador não deve se prender

ao Princípio A ou B mas ao que o sistema está “mostrando” ou

“falando” sobre suas necessidades ou o que necessita para atender às

suas finalidades. Na constelação Sistêmica Transforme.ce esta é uma

das principais diferenças para a Constelação Familiar de Bert Hellinger.

Milton Menezes

21

d. Prestar atenção aos limites do sistema: As Fronteiras Imaginárias do

Sistema devem ser observadas para se perceber se um Fator está

dentro ou fora do Sistema. Se deve ficar dentro do sistema o que está

impedindo ou se está fora e parece que deve estar fora o que fazer para

que isso alinhe ou equilibre o sistema;

e. Expressão de Elementos da Ordem do Sistema: Um dos objetivos do

Facilitador é identificar o que precisa ser feito para que o sistema fique

Alinhado em Relação ao seu Princípio Ordenador: no caso das questões

Familiares a Ordem do Amor. Entretanto, nos casos de Constelações de

sistemas Gerais ou de Fatores não Humanos, o Facilitador deve

observar o Princípio da Constelação Transforme.ce de Homeostase,

Adaptação e Desenvolvimento, para alcançar a solução. Esta Solução é

ÚNICA, ou seja, a cada Constelação, mesmo de temas semelhantes vai

ter desdobramentos próprios pois cada sistema está em um momento

de Desenvolvimento e de Consciências sobre sua existência e

Finalidades.

6. Alternância do Trabalho de Processo com o Trabalho Estrutural até que a

solução da Imagem seja alcançada: O Trabalho de Processo e o Estrutural

devem ser combinados até que se encontre uma posição de “Solução” onde os

fatores e o equilíbrio no sistema parece ter sido alcançado. Lembramos que,

algumas vezes, a Constelação não chega a uma Solução definitiva, mas a um

diagnóstico de onde está o problema e o caminho da Solução.

a. Para a Constelação Sistêmica Transforme.ce, os objetivos do trabalho

podem ser considerados:

i. Diagnóstico: a Constelação revela as causas, origens, forças,

fraquezas, necessidades, etc. do sistema em questão;

ii. Intervenção: O Trabalho de Processo e Estrutural permite uma

modificação no sistema real que promove a Solução ou o

encaminhamento da Solução efetivamente;

iii. Prospecção: Indica os caminhos que devem ser seguidos para o

futuro Alinhamento ou sucesso do sistema na busca de atender

à sua Finalidade.

Milton Menezes

22

7. Permutando o cliente: A partir do certo momento é muito útil substituir o

Representante do Cliente pelo próprio Cliente quando estamos trabalhando

com Pessoas como Representantes.

a. Podemos substituir o Representante do Cliente pelo Cliente no

momento em que alcançamos o ponto de equilíbrio do sistema: serve

para o Cliente “internalizar” e tomar consciência da Imagem da Solução

alcançada pelo Sistema na Constelação;

b. Podemos substituir antes deste ponto, quando teremos algum diálogo

entre Fatores ou a possibilidade do Cliente (real) experimentar algum

tipo de mudança ou de quebra de padrão que percebemos ser oportuno

para o Cliente ampliar suas condições de mudança e Transformação.

8. Tirando o Papel (dissociação dos representantes): Momento final onde o

Facilitador checa se o Cliente tem uma impressão positiva e de conclusão do

processo.

a. O Facilitador deve checar se todos estão se sentindo bem: uma das

indicações de que a Constelação chegou ao seu final é a experiência dos

participantes e do próprio Facilitador de uma sensação de bem estar, de

tranquilidade, de serenidade ou até mesmo de alegria, ou de dever

cumprido.

b. Ao desfazer a Constelação o Facilitador deve promover uma quebra do

padrão emocional e até físico gerado pela Constelação, se

movimentando entre os Fatores, agradecendo a participação e

provocando um movimento de giro no próprio eixo dos Representantes,

“pulinhos” antes de retornar ao lugar e que deve ser acompanhados de

expressões do tipo: Você agora não é mais este Fator... é você mesmo...

bem vindo de volta... volte par ao seu lugar sendo você mesmo agora...

etc.

9. Comentários: O Facilitador checa com o Cliente o nível de entendimento e de

percepção da dinâmica do sistema na Constelação. Evite aprofundar os

comentários. Um dos fundamentos da Constelação é a Experiência que o

Cliente tem do processo: na maioria das vezes a nossa tentativa de explicar

muito a experiência rouba o que ela tem de mais potente e eficaz. Cuidado com

as perguntas dos Representantes e Observadores sobre o caso para evitar

expor ou criar situações difíceis para o Cliente.

Milton Menezes

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8. TRABALHO ESTRUTURAL:

Por Trabalho Estrutural chamamos as Intervenções voltadas para a identificação das

reações dos Representantes, sejam Pessoas, bonecos Playmobil ou alguma das âncoras

de solo, em relação às posições relativas dos Fatores no sistema ou em relação aos

movimentos provocados para novas configurações dos Fatores no Sistema. Estas

reações são identificadas quando os Fatores são colocados no Sistema ou após algum

tipo de movimentação. O Trabalho Estrutural pode ser, então, identificar reações ou

promover mudanças nas posições para checar as reações em busca da “solução” da

questão para o sistema.

Algumas Intervenções básicas:

1. Identificar Reações dos Fatores:

Quando inserimos um Fator na Constelação ou quando promovemos alguma mudança

de posição, ou ainda após algum trabalho de Processo, podemos checar as reações do

Fator, verificando reações, mudanças para melhor ou para pior ou mudanças de

percepção nos Fatores.

a. “O que você sente quando está nesta posição?”

b. O que você sente no seu corpo depois deste movimento/diálogo/fala?

c. Se você fosse seguir o impulso do seu corpo, o que parece que ele quer

fazer? Mudar de posição? Se aproximar/ afastar do quê?

d. Qual é o Fator que mais te atrai/aversão?

2. Mudar a Posição:

Algumas vezes os Fatores ou o próprio Facilitador percebe que é preciso fazer uma

mudança de posição em algum Fator. Existem duas possibilidades para esta

Intervenção: pedir para que todos façam algum movimento que tem vontade de fazer

(ao mesmo tempo) ou pedir para que o mais incomodado faça um primeiro

movimento e acompanhar as reações desencadeadas. Evidentemente, o segundo

método requer mais tempo e é mais detalhado.

Também pode ser apenas uma mudança de: direção do olhar, distância, postura

(sentado, deitado, em pé).

a. Opção: movimento intuitivo (movimento da alma);

Milton Menezes

24

3. Incluir algo que esteja faltando:

Em algumas situações o relato dos Representantes ou a sensação do Facilitador é que

está faltando alguma coisa na Constelação. Pode ser por uma impressão do Facilitador

sobre alguma característica ou padrão que tenha sentido:

a. Uma direção ou local para onde uma ou mais pessoas olham na

Constelação;

b. O relato de um dos Fatores sobre algo que parece existir ou faltar em

um outro Fator no sistema. Isto que é visto em uma pessoa;

c. Para os que dominam técnicas cinesiológicas pode haver uma

confirmação por movimentos involuntários do Fator (catalepsia da

mão);

4. Separar o que está misturado: Mostrar o que está oculto.

Ao percebermos que há uma possibilidade ou a constatação de que algumas coisas

podem estar misturadas, devemos promover intervenções de “Separar o que está

misturado”.

O que pode estar “misturado” normalmente nos sistemas:

Papéis;

Responsabilidades;

Expectativas;

Sentimentos;

Sonhos ou Projetos de outras pessoas;

Padrões Ancestrais, etc.

As intervenções não têm um formato determinado mas devem seguir e serem

coerentes para o atendimento destas necessidades (princípios) na Constelação e no

Sistema:

a. Identificações (parciais) e adoção de modelos: Perceber com o que ou

com quem um Fator pode estar “identificado”: Um filho identificado

com um avô, um projeto identificado com o dinheiro, por exemplo;

Milton Menezes

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b. Lugares ocupados: Quando identificamos que um Fator está ocupando

o lugar que, naturalmente, deveria ser ocupado por outro Fator; uma

mãe que assumiu o lugar do pai na responsabilidade de provedor, por

exemplo.

c. Confusões: Podemos constatar situações de confusão onde misturam-se

identificações diversas tornando mais perturbador para o Fator real (e

que pode ser identificado no Representante) assumir o seu próprio e

exclusivo lugar.

d. Tornar o oculto, visível: Quando identificamos algo oculto é

extremamente potente simplesmente, tornar visível o que estava

oculto. Através de diálogos e falas direcionadas pelo Facilitador,

conseguimos dar fluidez ao sistema e as forças de realização do sistema

favorecendo que busque uma nova composição mais sinérgica e eficaz.

i. “Este é o filho que tinha sido negado e excluído”.

ii. “O Fator A foi injustamente demitido e esta injustiça esteve

encoberta. Agora sabemos e reconhecemos que você foi

injustiçado. Nada pode mudar o que aconteceu com você, mas

podemos reconhecer agora que isso aconteceu”.

iii. “Este segredo fez com que você ficasse sobrecarregado com a

culpa e a responsabilidade de seus pais. Agora você sabe que

existia um segredo”.

5. Retirar ou dispensar valorizando o que não faz mais parte:

a. Quando percebemos que algo precisa ser retirado ou que precisa ser

dispensado da dinâmica, devemos proceder a um certo “ritual” para

que haja uma valorização sincera da participação anterior no sistema do

Fator que será dispensado. Não se trata de acharmos um ponto positivo

na colaboração real (de um funcionário, um ex-companheiro, etc.) mas

o reconhecimento de que havia um valor, mesmo que não precisemos

identifica-lo. Atende ao Princípio de pertencimento.

b. Metáfora do tijolo da catedral;

Milton Menezes

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Testes:

O Facilitador precisa aprender a “ler” e a “ouvir” o sistema. Conforme vai

adquirindo experiência o Facilitador acaba por perceber detalhes que uma análise

racional não consegue. Não se trata de intuição pura e simplesmente. Não se trata

apenas de experiência ou conhecimento. Mas de uma “postura” de uma atitude

diante do sistema.

Uma das formas de contornarmos as situações onde não sabemos ao certo o que

fazer é reconhecer a “Sabedoria” do sistema e realizar Testes para checar as

modificações e suas hipóteses como Facilitador.

c. Mudança de Posição: sugestões e ações de mudança de posição,

postura e olhar dos Fatores para checar as modificações no sistema;

d. Movimento autônomo dos substitutos – solicitar a mudança pela

vontade e desejo de cada Fator atendendo à impressão ou necessidade

de movimentar-se e mudarem espontaneamente de posição. Verifica se

melhora o sistema.

6. Posicionamento bem formado:

Ao realizarmos o Trabalho Estrutural, temos que ter em mente a busca do chamado

Posicionamento Bem Formado, ou seja, a estrutura em termos de posições que

oferece a melhor sensação de bem estar e de resolução possíveis.

Para isso temos que observar e checar se as posições que vamos promovendo ou

“tentando” atendem a alguns requisitos:

a. Adequado para o relacionamento necessário e para a troca?

b. Respeitar a sequência do sistema: considerar as ordens e Princípios de

Hierarquia, competência, temporal, etc. para verificar se é a melhor

posição.

c. Respeitar os limites e funções internas do sistema: buscar que as novas

posições respeitem os limites e funções de cada um, do sistema e sua

finalidade. É importante checar se a posição é mais sinérgica ou

entrópica para o sistema.

d. Observar no sistema a Hierarquia: Pais – Filhos, hierarquias, posições

sociais, patente.

Milton Menezes

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7. Posicionamento estimulador do processo:

Algumas vezes, a solução de uma Constelação passa por encontrarmos uma estrutura

de posições que garanta um estímulo para que a energia flua de forma alinhada e

progressiva, garantindo o desenvolvimento do sistema.

Algumas opções desenvolvimentos simples podem ter grande repercussão no sistema

e na solução:

a. Apoio de pessoas na retaguarda... ancestrais: Colocar Fatores

(principalmente quando envolvem pessoas) que vieram antes e que

podem assumir uma posição de suporte, “benção”, segurança na

retaguarda, etc. mudam a sensação de bem-estar, de força e de energia

no sistema. O sistema e seus fatores se sentem mais energizados e

preparados para “acontecer”.

b. Confronto entre criminoso – vítima: Quando temos situações de

conflitos polarizados, tais como vítima e algoz, agressor e agredido, etc.

podemos lançar mão de um trabalho estrutural que coloca os dois (ou

mais) fatores em uma posição de frente um do outro e promovemos

algum tipo de diálogo (veja o Trabalho de Processo) ou simplesmente

deixamos que se olhem por algum tempo como se trocassem alguma

coisa entre eles chegando a uma posição de equilíbrio. Apensa esta

ação promove uma sensação de equilíbrio e movimento à Constelação.

c. No chão – falecidos, abortados: posicionar pessoas ou fatores que já não

participam do sistema real deitados, como os familiares ou empregados

de uma empresa já mortos, pode dar um equilíbrio natural pela

constatação de que fazem parte do sistema, mas estão sem ação

efetiva.

d. Aceitar através de aceno ou de joelhos: Soluções de Aceitação da

realidade ou de destinos difíceis pode ser alcançada com o

posicionamento de um fator na posição de joelhos ou acenando para

outro determinado fator.

Milton Menezes

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8. As posições adequadas em relação a alguma coisa ou alguém:

É importante identificar se existe alguma posição em que o Fator pode ser colocado

para alcançar objetivos como suporte, confiança, segurança, força, etc. Isto pode ser

conseguido a partir da colocação de um ou mais fatores em uma certa “ordem”.

Posições possíveis:

a. Na Retaguarda: colocar um fator na retaguarda de um outro fator. Pode

ser somente a posição, pode ser com as mãos tocando os ombros, em

posição de “benção”, ou outra que pareça eficaz.

b. Aproximações (ex.: crianças) ou apoio (pais): colocar Fatores mais

próximos que tenham algum tipo de relação naturalmente verificada

naquele tipo de sistema ou que seja percebida como necessária para

aquele sistema em questão. Ex.: Pais dos Filhos, chefe da Equipe,

Clientes dos produtos, Carreira próximo do fator Sucesso, etc.

c. Ao Lado à Esquerda: Dispor os fatores em algum tipo de ordem ou

princípio (hierarquia, antiguidade, competência, etc.) em uma

sequência ao lado esquerdo de um Fator pode obter a sensação de: ser

guiado, defender o sistema para dentro;

d. Ao Lado à Direita: Idem à direita pode gerar sensação de: guiar,

defender o sistema para fora;

e. Em frente: Troca e Confronto – Posições frontais de fatores podem

favorecer o Trabalho Processual de troca e confronto;

f. Em Frente olhando na própria direção: É possível conseguir um

resultado de autorização ou permissão para seguir em frente, quando

colocamos um fator olhando para a frente. Sensação de poder ir

embora. Pode ser útil colocar um outro fator gerando benevolência

pelas costas para permitir esta saída. Este tipo de intervenção pode ser

decisivo em Constelações que tratam de projetos que tem um

desenvolvimento ao longo do tempo, para o futuro, tais como Carreira,

negócios, profissão, etc.. Depois de encontrar a solução final pode ser

interessante posicionar fatores como o Sucesso, a Meta, a Realização,

etc. olhando para uma direção que você identifique como sendo o

“Futuro”.

Milton Menezes

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9. Opções para a troca do enfoque:

Outra alternativa no Trabalho Estrutural é procurar trocar o enfoque de determinado

fator alterando a sua perspectiva e checando com o Representante o que muda na

percepção nesta nova perspectiva. Cuidado: não é uma mudança de percepção

objetiva, mas uma mudança na configuração do sistema quando mudamos a posição.

Muitas vezes, nossa razão não consegue dar conta de explicar o resultado de bem-

estar ocorrido quando fazemos um movimento “irracional” como este.

Opções de mudança de posição para mudança de enfoque:

a. Atrás, à esquerda do substituto, à direita do substituto;

b. Transmitir as experiências através dos olhos: Permitir a transferência de

experiência, de sabedoria, de responsabilidade, etc. através da troca do

olhar pode ser muito efetivo.

c. Relação consigo mesmo, lembrar-se = modificar a posição de um fator,

em relação à posição que ocupava no passado e a que ocupa no

presente, relacionar como no passado poderia ver o “hoje” como

“futuro” e voltar a ver o “passado” na perspectiva do “hoje” e também

no espaço que represente o “futuro” poder perceber como vê a

situação atual (de “hoje”) traz uma ampliação de Consciência muito

significativa para um fator e para o sistema.

Milton Menezes

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9. TRABALHO DE PROCESSO:

(Bert Hellinger, Insa Sparrer, Varga Von Kebèd, Bern Isert, Milton Menezes)

Na Constelação Sistêmica Transforme.ce, o Trabalho de Processo representa o

conjunto de Intervenções que são direcionadas à Relação entre os Fatores e à

dinâmica do Sistema na Direção da sua Finalidade.

A partir do que identificamos no Trabalho Estrutural pelo relato dos Fatores,

estabelecemos uma série de ações que visam recuperar o equilíbrio ou atingir a

solução diante dos problemas, obstáculos e conflitos observados no Estrutural.

Estas ações podem ser efetivadas por: diálogos, falas, reverências, Personificações,

Rituais, Pedidos, Entregas, Trocas, etc..

1. PEDIDOS:

Uma das formas de se realizar uma intervenção de Processo é formalizar Pedidos. São

falas que solicitamos a um ou mais Fatores que formalizam um Pedido na relação entre

fatores do Sistema. Esta espécie de ritual promove liberações e alinhamento no fluxo

do Sistema. Exemplos de Pedidos:

a. Esclarecer relações e papéis: Quando solicitamos que seja explicitado o

papel de um Fator, seja pedido que um fator deixe o outro ser o que ele

é, etc.

i. “Você vai pedir ao seu Pai que reconheça seu irmão como

membro desta família…”

ii. Você vai pedir ao ex presidente da Empresa que possa abençoar

a Empresa e a nova gestão para que a Finalidade dela, o sonho

dela seja realizado…

b. Fomentar o desenvolvimento do sistema e dos participantes: Quando

identificamos um tipo de pedido que pode ser feito para um ou mais

fatores no sentido de permitir, desembaraçar ou estimular o

desenvolvimento de um determinado sistema.

c. Possibilitar mudanças: Rituais ou diálogos provocados no sentido de

permitir que algum tipo de mudança ocorra através de libertação,

desligamento, permissão, tomar consciência de que é um obstáculo,

etc.

Milton Menezes

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2. Intervenções relacionadas diretamente aos Princípios da Constelação

Sistêmica:

Algumas Intervenções são aplicadas para contemplar diretamente o atendimento ou

checagem de algum Princípio Fundamental da Constelação Sistêmica Transforme.ce.

a. Perceber outros: Solicitar formalmente e, às vezes, solenemente, que

um fator perceba que existe um outro Fator, ou que ele sofre, ou que

ele é importante, ou que foi, etc. (dependendo do tipo de Sistema e do

momento e nível de Consciência do sistema esta solicitação pode ser

diferente).

i. Este é o seu filho abortado... quero que você diga: Meu filho... eu

te reconheço como meu filho e que você tem lugar ao meu lado.

(Exemplo)

ii. (Para o fator Trabalho) Quero que você perceba que existe este

outro fator no sistema que é a Família... sem ela você não

poderia existir... quero que você agradeça à Família pelo fato de

se sacrificar para que você (Trabalho) alcance seus objetivos...

b. Estabelecer, reconhecer (reestabelecer) uma relação:

i. Este é o seu filho abortado... quero que você diga: Meu filho... eu

te reconheço como meu filho e que você tem lugar ao meu lado.

(Exemplo)

c. Deixar-se tocar emocionalmente: Promover uma situação onde as

emoções ocultas possam se manifestar. É muito útil quando há uma

necessidade de reparação do princípio entre dar e receber, por

exemplo. Estimular que a emoção possa fluir em uma relação entre dois

fatores, o olhar frente à frente, dentre outras posições favorece esta

ação de deixar-se tocar emocionalmente.

d. Expressar e reconhecer os papéis e as relações: São diálogos e falas em

que se formaliza o reconhecimento dos papéis, da autoridade, do

direito a alguma coisa, da existência, etc.

i. Quero que você repita: Eu reconheço que você é o Fundador

desta empresa. E sempre será. E eu expresso meu respeito à sua

dedicação e empenho para que chegássemos até aqui.

Entretanto, eu quero seguir o meu destino sendo o novo

presidente desta empresa para garantir que ela cresça e

continue o seu sonho.

Milton Menezes

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e. Separar o que não combina: Ao longo das relações em um sistema,

alguns aspectos vão se deteriorando e se distorcendo nas relações,

tanto pela superposição de responsabilidades, quanto na mistura de

finalidades pessoais com as sistêmicas, gerando confusão e mistura.

Separar o que não combina é atender a uma demanda do sistema em

re-ordenar e alinhar o que está distorcido.

f. Acrescentar o que falta: É a intervenção que procura evocar a presença

de algo que falta no sistema ou em um dos fatores pelo gesto de trazer,

oferecer, construir, etc. por parte de um dos fatores que tenha força,

competência ou ascendência no sistema para acrescentar o que parecer

faltar (segurança, direção, força, etc.).

g. Transformar Lealdade (fidelidade e solidariedade) na Tristeza em

Lealdade na Realização: Principalmente em Constelações que envolvem

Grupos de Pessoas (Família, Equipes de Trabalho, etc.) é comum

acontecer de um Fator assumir uma Lealdade a um outro fator por

conta de alguma consequência ruim (injustiça, violência, humilhação,

etc.). Nestes casos, percebemos que a Lealdade é acompanhada pela

Tristeza contaminando e prejudicando o fluxo do sistema. Para

equilibrar este fenômeno, podemos promover um diálogo ou fala onde

se substitui a Lealdade na Tristeza pela Lealdade na Realização ou seja,

é como se estivéssemos estimulando para que houvesse uma

ressignificação da dor em trabalho de realização.

i. Eu fico solidário com o que aconteceu com você, mas não na dor

que você sofreu até hoje. Fico solidário e leal à você na

realização de...

h. Aceitar o Potencial recebido, realizar e viver este potencial em relação

ao ponto de partida do qual partiu e do destino que vai cumprir: Pode

ser extremamente positivo para o sistema, uma intervenção onde um

fator aceita o Potencial recebido (às vezes ainda latente) no ponto de

partida (um mestre, um pai ou avô, uma experiência de vida, um

relacionamento, etc.) e realizar uma fala pelo Representante assumindo

usar e realizar este potencial em benefício do futuro.

i. Indicadores: feedback sobre melhora ou piora do bem-estar do

participante. É possível usar um recurso vindo da Hipnose e da PNL de

solicitar do Representante o uso de uma escala de sensações para

“medir” a melhora ou piora de um estado:

Milton Menezes

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i. De 0 a 10, sendo 10 o nível mais alto que você pode imaginar

deste sentimento/sensação, etc., e 0 o nível mais baixo que você

imaginar sentir, com quanto você estaria agora?

ii. Depois de uma Intervenção: Agora, considerando uma escala de

0 a 10, sendo 10 o nível mais alto deste sentimento e 0 o nível

mais baixo que você pode imaginar sentir, qual é o nível agora

deste sentimento?

3. RITUAIS:

Rituais na Constelação Sistêmica são diálogos ou gestos realizados que representam

uma referência ou marco de mudança de um estado para outro estado através de uma

representação simbólica qualquer:

a. Retorno, troca: Um ritual de Retorno ou Troca é feito quando pedimos

para um fator se colocar diante do outro e, por exemplo, estender as

mãos e braços na direção do outro fator como se estivesse devolvendo

algo que foi tirado ou que foi assumido.

i. Essa é a responsabilidade que eu assumi em seu lugar que agora

eu te devolvo, por que é sua e não minha (faz um movimento

simulando uma “entrega” de algo invisível). Da mesma forma, eu

agora tomo de volta a minha infância que eu deixei com você

para assumir a sua responsabilidade (pode ser um movimento

de “tomada” – mais violenta – ou de entrega por parte do outro

fator para o primeiro fator, conforme o caso exija).

b. Benção, ancestrais: Um dos Rituais que pode ser usado é o da Benção.

Esta Benção representa a liberação, autorização, incentivo e apoio para

um processo do sistema que precisa continuar e ter sucesso. Pode ser

de um ou mais ancestrais para uma família depois de uma liberação de

um padrão destrutivo, uma Benção de um antigo dono de um negócio

para os seus sucessores, um pai idealista já falecido que abençoa o

trabalho também idealista de um filho, um Mentor espiritual para um

projeto profissional ou social, etc..

c. Desidentificação: Nas Constelação Transforme.ce chamamos de

Identificação quando há um processo psíquico onde um fator se

identificou de tal forma com outro que julga que sua identidade está

totalmente misturada com o outro fator. Favorecer a Desidentificação

favorece o retorno aos papéis, responsabilidades, etc. de cada fator.

Milton Menezes

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i. Pode ser feita através de um diálogo: Eu sou eu e você é você. Eu

não sou mais você...

ii. Pode ser feito com a “separação” de um fator do outro: corte de

uma ligação invisível que une, uma espada ou tesoura que corta,

etc.

iii. Também pode ser feito solicitando ao fator que está identificado

com um outro fator que dê passos “vigorosos” na direção do

outro fator e, quando estiver bem próximo, voltar-se

rapidamente na direção de onde veio e retomar ao ponto inicial.

A ideia da imagem é como se fosse até o outro fator, deixasse o

que é dele com ele e voltasse somente com sua própria

identidade. Os relatos são de um alívio, leveza, mudança de

percepção após esta desidentificação.

d. Boas Vindas, um novo começo: A partir do momento em que se

identifica uma renovação de algum padrão, a inclusão de algum fator ou

uma nova estrutura no sistema pode ser importante para aumentar a

força e o fluxo do novo processo um Ritual de Boas Vindas.

i. Procede-se pedindo ao Representante que dê boas Vindas ao

novo fator ou processo identificado na Constelação.

e. Fechamento, adeus: Da mesma forma, quando se identifica a

necessidade de que um fator tenha que ser retirado ou excluído do

sistema o Ritual de Adeus e Despedida ou Fechamento, traz uma

transição mais “suave” da situação anterior para a nova que se inicia.

Parece que isso reduz o impacto de processos mais drásticos no

equilíbrio do sistema.

f. Nascimento, morte: Quando um novo objetivo, um novo processo, um

sentimento, uma sensação (confiança, segurança, etc.) novo fator, etc. é

identificado na Constelação pode ser útil realizar um Ritual de

nascimento. Simula-se um nascimento com um movimento corporal do

Representante como se estivesse nascendo. Da mesma forma, um

encerramento pode ser realizado como um Ritual de “morte”.

g. Caminho Interrompido: Se a Constelação mostra que algum tipo de

processo ou trajetória de um sistema ou fator foi interrompido,

podemos realizar um Ritual onde concretizamos (até mesmo

fisicamente) este processo de interrupção. Pode ser a simulação de um

impedimento físico de que um fator continue a andar na direção do seu

Milton Menezes

35

objetivo, um fator como um “produto” seja seguro por um fator

(gerentes, por exemplo), etc.

h. Recursos Personificados, fontes espirituais: Quando nos deparamos com

a identificação de sentimentos, recursos de fortalecimento, coragem,

etc. na Constelação podemos usar o método da Personificação, ou seja,

pedimos ao Representante que imagine aquele sentimento ou recurso

como alguma coisa (pessoa, objeto, animal, etc.) e procedemos a um

ritual de transformação (redução, aumento, integração, dissolução).

i. Mudança, introdução em uma nova função no Sistema: Quando o

sistema se desdobra para o desenvolvimento de uma nova função de

um fator no sistema podemos fazer um Ritual de apresentação à nova

função ou novo papel.

i. “Eu te apresento ao seu filho e você assume o novo papel de pai”

ii. “Esta é a nova empresa/projeto que você vai começar.

Cumprimente/ abrace e siga em frente com ela agora”.

4. INTERVENÇÕES SEPARADORAS E CONECTORAS:

Quando nos deparamos com alguma modificação no princípio de Interligação e

Interdependência precisamos usar Intervenções que reequilibrem este Princípio e o sistema.

São realizadas para buscar separar o que está misturado ou conectar o que está desligado.

a. SEPARAÇÃO DO QUE ESTÁ MISTURADO:

i. “Desidentificação” – dissolução da representação padrão internalizada

anteriormente: Nas Constelação Transforme.ce chamamos de

Identificação quando há um processo psíquico onde um fator se

identificou de tal forma com outro que julga que sua identidade

está totalmente misturada com o outro fator. Favorecer a

Desidentificação favorece o retorno aos papéis,

responsabilidades, etc. de cada fator.

1. Pode ser feita através de um diálogo: Eu sou eu e você é

você. Eu não sou mais você...

2. Pode ser feito com a “separação” de um fator do outro:

corte de uma ligação invisível que une, uma espada ou

tesoura que corta, etc.

Milton Menezes

36

3. Também pode ser feito solicitando ao fator que está

identificado com um outro fator que dê passos

“vigorosos” na direção do outro fator e, quando estiver

bem próximo, voltar-se rapidamente na direção de onde

veio e retomar ao ponto inicial. A ideia da imagem é

como se fosse até o outro fator, deixasse o que é dele

com ele e voltasse somente com sua própria identidade.

Os relatos são de um alívio, leveza, mudança de

percepção após esta desidentificação.

ii. Recesso de carga/culpa Devolução: Quando um fator,

principalmente um fator Humano, aparece da Constelação

sobrecarregado por alguma carga como a culpa, podemos fazer uma

Intervenção Separadora, procurando separar esta culpa em partes que

representem a responsabilidade do fator e de outros fatores ou das

circunstâncias que determinaram o desequilíbrio do sistema.

iii. Supressão da idealização (confusão): Se houve uma “idealização” de

um fator em relação a um “destino” pode ser necessário Separar o que

foi idealizado do que é real, ou seja, separar o desejo e o sonho ou

expectativa de ideal com o que é real e possível.

iv. Purificação da fonte de Mistura: Se a Fonte de determinado recurso é

identificado como um Fator ou um ponto (órgão do corpo, outro

sistema, etc.) podemos fazer uma Intervenção que pretende “limpar”

ou “purificar” a Fonte daquele recurso.

1. “Se a fonte de prosperidade é o fator dinheiro, quero que você

imagine que esta Fonte agora esteja sendo limpa, purificada...

imagine uma luz, uma energia ou um objeto que faça isso

agora... como você se sente?”

v. Clarificação da Ordem: Podemos fazer uma Intervenção que vise

separar o fluxo daquilo que ordena o sistema em questão.

vi. Tornar visível a dissimulação: Quando percebe-se um fator que atua de

forma dissimulada ou seja, que demonstra algo que não é, podemos

realizar uma Intervenção que separe “o que é do que parece ser”.

Pode ser feito como uma instrução para que se desdobre o real do que

é falso, por exemplo. Pode ser feita também pela inclusão de um outro

Representante escolhido pelo Facilitador dentre os Observadores

disponíveis para representar este desdobramento e avaliar os efeitos

nos demais fatores e no sistema.

Milton Menezes

37

b. INCLUSÃO DO QUE ESTÁ EXCLUÍDO:

Incluir o que está excluído atende a necessidade de garantir a Interdependência e Interligação

dos fatores no sistema e a de Pertencimento. Quando identificamos na Constelação que existe

algum fator que foi inadequadamente excluído no sistema é necessário realizar uma

Intervenção que, na lógica sistêmica, se faça reconhecido e pertencendo ao sistema.

i. Apreciação: Apreciar significar pedir para olhar, contemplar, considerar

a presença sem julgamento, apenas reconhecendo que está ali.

ii. Acrescentar o que falta, o que é considerado tabu, o que está fora da

vista: Acrescentar o que falta pode se direcionar para um recurso, um

valor, um rótulo, um preconceito, a inocência, a coragem, etc. Da

mesma forma pode ser algo que está fora da “visão” do sistema mas

que deve ser considerado no sistema.

iii. Reconhecer filiação: É uma Intervenção que solicita a um fator

significativo que reconheça que outro fator pertence por direito e pela

Ordem ao sistema em questão.

1. “Diga assim: Eu reconheço você como meu filho que apesar de

ser abortado, faz parte desta família. Eu te amo e lamento o

seu destino... mas quero que você assuma o seu lugar entre

nós...”

iv. Reconhecer importância: Quando a dinâmica de uma Constelação

Transforme.ce revela que um fator foi desprezado, humilhado,

desvalorizado, desconsiderado, ou algo deste gênero, devemos

realizar uma Intervenção que recoloque o devido valor e importância

ao fator. Principalmente pelos fatores que tem relevância e

ascendência no sistema.

v. Reconhecer Responsabilidade: Visa recuperar as competências ou

responsabilidades reais dos fatores que de fato eram responsáveis por

qualquer tipo de evento. Deve ser feito através de uma fala que

clarifica e nomeia a responsabilidade e os responsáveis:

1. Eu reconheço que a responsabilidade sobre o insucesso do

projeto de Mestrado foi minha e assumo isso agora diante de

você e do próprio Mestrado na sua vida... (um representante

de um pai que reconhece ter influenciado a decisão de um

filho sobre que tipo de carreira seguir).

vi. Reconhecer Autoria: Neste caso a diferença em relação à

responsabilidade está no reconhecimento da Autoria, ou seja, o autor

da ideia, do produto, da empresa, do projeto, etc..

Milton Menezes

38

10. PRINCÍPIOS DAS CONSTELAÇÕES

SISTÊMICAS:

(Bert Hellinger, Virgínia Satir, Insa Sparrer, Mathias Varga Von Kidèd, Bern Isert, Milton

Menezes)

Metaprincípios e hipóteses fundamentais no trabalho de Constelação:

Reconhecer o que está dado: Um dos princípios fundamentais nas

Constelações Sistêmicas é a necessidade de clareza quanto à realidade que é

dada pelo sistema. Cada Sistema desenvolve uma Realidade sobre seu Nível de

Consciência, seu estágio de Desenvolvimento, seu desalinhamento. Em algum

momento, a falta de clareza e de Consciência do Cliente ou de determinados

Fatores do Sistema identificados na Constelação devem ser abordados com

intervenções que simplesmente clarificam “qual é a realidade qeu deve ser

aceita”.

o O que está dado? O que deve ser aceito como realidade?

o Não-Negação da realidade: algumas vezes, principalmente quando se

trata de Fatores Humanos, pode haver uma tentativa inconsciente de

Negar aquela realidade. Isso pode acontecer por vários motivos. Na

Constelação nem sempre vamos descobrir estes motivos, mas

simplesmente recuperar a Ordem ou o Alinhamento a partir do

Reconhecimento da Realidade tal como é.

Equivalência da filiação – direito à filiação ou Necessidade de Pertencer:

Mesmo nos sistemas não humanos, há um princípio de Pertencimento do Fator

ao sistema. Quando, por algum motivo, um Fator, humano ou não humano, é

excluído ou marginalizado é necessário atuar no sentido de garantir que cada

Fator seja reconhecido como “fazendo parte” do sistema.

o Quem faz parte...?

o Cada um dos elementos do sistema faz parte. Mesmo fatores como um

produto, um projeto que está sendo substituído em uma carreira, ama

dimensão da vida, etc. fazem parte do sistema maior.

o Equivalência da filiação assegura a existência do sistema.

Milton Menezes

39

o

Princípio da Ordem Temporal: Em alguns sistemas e em algumas situações

específicas de uma Constelação é importante recompor a Ordem Temporal: a

primazia do mais velho, do anterior, do antecessor, do fundador, dos pais, do

mais experiente, do pioneiro.

o Quem é que estava antes?

o Quem veio depois?

o Ordem Cronológica direta: assegura o crescimento do sistema (perda de

espaço do membro anterior do sistema é igualada pela posição

superior, p.ex. na sucessão relativamente à herança);

o Ordem Cronológica inversa: assegura reprodução do sistema (o sistema

mais novo – ou mais dependente – precisa de maior atenção;

Dependência de crianças ou de doentes, enquanto estiverem

dependentes).

Compensação ou Necessidade de preservar o Equilíbrio entre Dar e Receber:

o Primazia do maior engajamento (responsabilidade pelo todo): quanto

maior é a responsabilidade do Fator sobre o todo maior ou mais

importante é que a troca entre Dar e Receber estejam equilibradas. Dar

e Receber tem a ver com o que cada um agrega para a Finalidade do

sistema. No caso de Famílias pode ser a troca de afeto, proteção ou

segurança, amor, liberdade, responsabilidade, etc..

o Quem é que se sente/é responsável (pelo todo)? Aspecto da Hierarquia;

o Princípio da primazia da Competência (eficácia): O mais competente

tem maior responsabilidade no que dá. O que recebe? A questão do

propósito de cada um no Sistema. Em Sistemas Gerais deve ser

considerado qual é a Finalidade e o nível de Consciência de cada

Elemento do sistema em relação ao seu papel e à sua contribuição no

resultado do sistema. As trocas nem sempre são do mesmo conteúdo.

o Quem é mais eficiente para quê? (Rendimentos e capacidades):

identificar quais fatores são mais sinérgicos e quais são mais entrópicos

para uma nova posição, papel, responsabilidade.

Milton Menezes

40

Princípio do Equilíbrio entre a Interligação e a Interdependência:

o As Relações entre os fatores deve ser de tal forma que a Interligação

não represente uma “mistura” (de papéis, sentimentos,

responsabilidades, etc.) nem a interdependência esteja comprometida

por um afastamento ou desconexão. Este Princípio vai gerar

Intervenções conhecidas como Intervenções Separadoras e Conectoras

ou “Separar o que está Misturado” e “Incluir o que está excluído”.

Princípio da Adaptação, Homeostase e Desenvolvimento do Sistema:

o Este Princípio fala de um movimento natural de Desenvolvimento de

todo sistema para níveis de Consciência superiores;

o Este Desenvolvimento se dá por um impulso de ampliação de

Consciência do Sistema que começa a demandar mudanças para

atender às novas expectativas e valores (inconscientes). O Sistema que

estava em um estado de Equilíbrio tende a se movimentar no nível mais

objetivo para lidar com estas pressões internas;

o No primeiro momento este “desequilíbrio” inicial pode ser entendido

como uma perturbação e o Sistema reage na direção de manter a

Homeostase para a Ordem anterior ou neutralizar os desequilíbrios. O

sistema reage da mesma forma quando são ações oriundas das decisões

dos fatores (Humanos) que interferem na Ordem ou comprometem a

Finalidade do Sistema;

o Quando este movimento é gerado por uma necessidade intrínseca do

sistema para o seu Desenvolvimento, há um outro movimento do

Sistema no sentido de se adaptar à nova Ordem e ao novo objetivo ou

finalidade. Há uma tendência a modificar processos, relações e posições

para atender à esta demanda ou uma Ressignificação das ações e

propósitos anteriores;

o O movimento de Desenvolvimento do Sistema se dá em duas direções:

Translação: quando o desenvolvimento se dá no mesmo nível de

Consciência em que o Sistema se encontra;

Milton Menezes

41

Transformação: quando o desenvolvimento se dá para a

ampliação da Consciência do Sistema em relação à Consciência

de si mesmo e da Finalidade ou Propósito de sua existência.

Princípio de Alinhamento do Sistema ou da Necessidade de Ordem:

o Na Constelação Sistêmica Transforme.ce, diferentemente das

Constelações Familiares, o Facilitador deve considerar que o problema,

conflito ou questão trazida representa, muitas vezes, algo que está

interferindo na Ordem ou no Alinhamento do sistema.

o Entretanto, nem sempre é a Ordem que imaginamos (Família = Amor).

Observamos na prática que a Ordem do Sistema depende de alguns

aspectos:

Tipo de Sistema;

Categoria de Valores envolvidos no Sistema (Axiologia – Estudo

dos Valores);

Nível de Consciência atual do Sistema e dos seus Fatores.

Milton Menezes

42

11. TRABALHO DE PERSONIFICAÇÃO NA

CONSTELAÇÃO SISTÊMICA TRANSFORME.CE:

Uma das inovações que promovemos no trabalho com constelações Sistêmicas foi o do

Trabalho de Personificação, normalmente utilizado nos processos terapêuticos

regressivos.

Esta contribuição vem, originariamente de Hans TenDam e que foi modificada em

nossa Metodologia da Terapia da Transformação da Consciência – TTC.

Na verdade, chamamos de Personificação uma forma de dar concretude para aspectos

subjetivos e sutis do psiquismo, permitindo uma maior possibilidade de elaboração e

de ressignificação por parte do cliente.

O objetivo é utilizar um recurso de imaginação ou de projeção para um objeto para dar

forma a um sentimento, sensação, impressão, ou qualquer outro relato de uma função

psíquica que seja uma experiência pessoal. Aliás, esta é uma das principais vantagens e

potenciais da técnica: promover uma experiência que permita uma transformação ou

ressignificação destes sentimentos, sensações, etc..

Passei a utilizar este recurso também na Constelação Sistêmica depois de inúmeros

relatos, durante a vivência, de que a pessoa (cliente ou representante) experimentava

“um peso”, “uma aflição”, “um vazio”, “os pés presos”, “um enjoo”, etc. relacionado à

posição ou ao movimento que um determinado fator tenha feito na Constelação. Na

maioria das vezes, estes relatos ficavam apenas como uma referência para mim, como

facilitador, de que um novo movimento ou uma intervenção se fazia necessária.

Entretanto, algumas vezes, observei que estes relatos tinham estreita relação com o

conteúdo a ser tratado na Constelação ou com algum tipo de caminho de resolução.

Resolvi, experimentar o uso dos recursos do Trabalho Energético com excelentes

resultados para a dinâmica do processo.

Milton Menezes

43

Metodologia:

Usamos este recurso todas as vezes em que o cliente ou representante relata algum

tipo de emoção, sensação, pensamento, impressão, etc. que seja forte, significativa e

conectada com o tema em questão, e que, por algum motivo, permanece no campo

sensorial ou mental da pessoa.

A ideia é favorecer que o cliente ou representante dê uma forma concreta a este

sentimento, sensação ou impressão de tal forma que permita a tomada de consciência

e ao processo de transformação. Essa Transformação se dá por uma redução da

intensidade, da tomada de consciência da origem, da identificação das crenças

inconscientes decorrentes desta carga, de uma ressignificação do conteúdo emergente

ou qualquer outro desfecho positivo que se apresente no momento da Constelação.

No caso em questão, da Constelação Sistêmica, como utilizamos recursos como

objetos, bonecos tipo Playmobil ou o uso de referenciais físicos (Papéis no chão,

cadeiras, áreas do chão, etc.) como representantes dos fatores do sistema, podemos

utilizar esta Técnica de 2 formas:

a) Imaginação: Solicitando ao cliente ou representante que feche os olhos e que

imagine aquela sensação, sentimento, etc. como um objeto, uma forma, um

líquido ou qualquer outra imagem que venha imediatamente na sua mente. A

partir daí, podemos pedir que nos dê informações sobre a forma, temperatura,

se tem movimento, etc. e tome consciência sobre a sua origem, se está ligada a

ele (fator) a quanto tempo, se é dele (fator) ou de outra pessoa ou fator do

sistema, qual o efeito que tem na vida do fator, etc..

Muitas vezes, destas informações, podemos até promover uma regressão indo

para a origem daquela emoção, sensação, dor, carga, etc.. Outras vezes ao

tomar consciência desta realidade psíquica o cliente ou representante relata

uma modificação desta realidade psíquica atenuando e até mesmo eliminando

a carga e seus efeitos.

b) Uso de Objetos: Ao usar bonecos e objetos, principalmente, podemos solicitar

ao cliente ou representante que identifique um outro tipo de objeto que

“represente” os sentimentos, sensações, dores, etc. relatados. Para isso, é

importante o facilitador dispor de objetos não humanos como pedras (não

preciosas coloridas e de várias formas), pequenas contas, canetas, pedaços de

papel, etc. que possa oferecer como opções para o cliente ou representante.

Milton Menezes

44

A partir do relato de que um boneco que representa uma Pessoa (o próprio

cliente, por exemplo) sente um “peso”, podemos pedir para que escolha um

objeto que represente esta sensação (uma pedra azul escuro, por exemplo) e

que posicione a pedra onde parece que ela melhor represente o “peso”. A

partir daí, podemos dinamizar o processo ampliando a consciência do cliente

sobre a carga, sua origem, seus efeitos no sistema, etc.. Favorecendo as

intervenções usadas na Constelação e a mudança dos padrões e do sistema em

geral.

Um recurso útil quando o cliente relata emoções ou sensações misturadas é

utilizar Massinha de modelar ou pedaços de papel que podem ser rasgados.

Isso porque podemos solicitar que o cliente divida em partes proporcionais ao

que sente, uma de outra emoção ou sensação. Este cuidado facilita nos

processos de Dar e Receber, Devoluções, Regressão e Transformação.

Muitas vezes, a identificação que uma emoção começou em uma situação da

infância e que deixamos aquela pedra ou pedaço de massinha “no passado”

provoca uma sensação de grande alívio e de entendimento por parte do

cliente.

Milton Menezes

45

12. MÉTODO DE POSIÇÕES: USO DE ÂNCORAS

DE SOLO COMO REPRESENTANTES DE

FATORES

Uma alternativa muito interessante quando usamos a Constelação Sistêmica

Individual, ou seja, diretamente com o cliente, é o uso de Referenciais Físicos como

Representantes.

Como sabemos, quando utilizamos a Constelação Sistêmica individualmente com

nosso cliente, ele próprio será o “representante” de todos os fatores que são

identificados com importantes no sistema. No caso de usarmos os bonecos tipo

Playmobil, solicitamos que o cliente toque o boneco para que conecte-se com as

sensações provocadas por aquele fator.

Nesta alternativa dos Referenciais Físicos, podemos identificar áreas no chão usando

pedaços de papel com alguma identificação (números, letras, símbolos, etc.) para

representar os fatores.

Seguindo os passos da Constelação sistêmica, pedimos ao cliente que “posicione” cada

um dos fatores (pedaços de papel com símbolos) em um local no chão. Depois, para

começar o Trabalho Estrutural e o de Processo normalmente.

Milton Menezes

46

Também podemos usar cadeiras que “representam” os fatores e o cliente pode sentar-

se em cada uma delas aumentando o “contato” com cada fator e a sua percepção das

sensações que cada fator em separado lhe traz.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

Obs. 1: Uma das grandes vantagens do uso dos Referenciais Físicos é que permite uma

movimentação do cliente pelo espaço físico da atividade melhorando a sua

diferenciação das sensações que cada fator apresenta no sistema.

Obs. 2: Para evitar que o cliente, principalmente os mais racionais, interfiram nas suas

percepções com seus pré-conceitos e pré-julgamentos, podemos utilizar um artifício

para bypassar a mente analítica/racional. Podemos, como facilitadores, escolher qual

símbolo representará cada fator sem o conhecimento do cliente. Anotamos este

critério de Correlação para depois, informar ao cliente. O cliente, com isso, passa a

relatar suas sensações e impressões, quando está sobre cada um dos símbolos ou

papéis, sem ter o julgamento racional a influenciá-lo. Além de mais fidedigno, este

processo acaba por oferecer maior impacto e ampliação da percepção por parte do

cliente. Conforme o facilitador for identificando oportuno, vai identificando a

correlação do Fator x Símbolo favorecendo uma reflexão e insights importantes sobre

o sistema e o problema tratado.

Milton Menezes

47

13. VISÃO SISTÊMICA:

Tenho defendido que um dos fatores de maior importância no desenvolvimento do ser

humano está na necessidade do indivíduo ter mais consciência das consequências das

suas ações nas outras dimensões de sua vida e na vida das outras pessoas.

Estas colocações estão baseadas na consideração de uma realidade em que os

sistemas e os subsistemas que compõem esta realidade estão interligados. Essa é e

essência da Visão sistêmica.

Esta perspectiva Sistêmica já é considerada uma necessidade pela ciência tradicional

no sentido de poder oferecer respostas para algumas questões que são verdadeiros

desafios para o conhecimento humano.

A Visão Sistêmica da realidade vem substituindo a Visão Mecanicista utilizada

tradicionalmente pelas ciências. A utilização de um paradigma diferente se impõe pela

constatação da complexidade das relações entre as diversas variáveis componentes

dos sistemas encontrados no nosso dia a dia. Além de complexas, identificamos cada

vez mais que, estes sistemas parecem estar interconectados e, com isso, uma

mudança em um dos sistemas provoca reações em outros tantos sistemas, mostrando

que estamos vivendo em um mundo ligado em Rede.

As próprias Redes Sociais (como o Twiter, Facebook, etc.) começam a expressar uma

realidade que parece governar uma outra dimensão, um tipo de substrato sutil na qual

todos os sistemas estão inseridos.

O desenvolvimento das Telecomunicações, do Processamento de dados, digitalização,

dentre outras contribuições do conhecimento, tem aumentado a percepção desta

conexão e das suas implicações na vida.

Nas Organizações, a complexidade das relações entre fatores produtivos, de gestão,

participação no mercado, atendimento das necessidade e expectativas dos

consumidores, instrumentos de investimento, pesquisa, etc. vem desafiando os

modelos a encontrar soluções que permitam intervenções mais adequadas e eficazes

para se alcançar os resultados pretendidos.

Milton Menezes

48

Uma definição sistêmica:

Tradicionalmente tem-se identificado este fenômeno e a necessidade de se

compreender os princípios que o regem. As definições mais usadas, particularmente

no campo organizacional, dão conta da Visão Sistêmica como a capacidade do

indivíduo compreender o todo, a partir da identificação das partes de um contexto ou

sistema, percebendo a interação e a interferência de uma parte sobre as demais.

Este conceito, apesar de coerente, apresenta um problema verificado nas primeiras

tentativas de aplicá-lo: como perceber a interação e a interdependência dos

elementos de um sistema ou entre os subsistemas dos quais participa?

A dificuldade principal está na incapacidade de nossa mente analítica estabelecer

padrões estáveis de comparação diante de relações tão complexas de causalidade

entre estes elementos.

Quando fixamos nossa atenção em um dos elementos e verificamos a repercussão que

tem nos demais elementos e na finalidade do sistema, temos uma visão fragmentada

que deve ser revista quando passamos a refletir sob a perspectiva de outro elemento

do sistema. Ao fazer esta mudança, percebemos que, muitas vezes, as relações

levantadas anteriormente não são mais coerentes e devem ser revistas.

Mais complexas ainda são as relações entre alguns elementos de sistemas que

parecem ter uma relação dialética, ou seja, enquanto influenciam o sistema também

são influenciados por ele, numa dinâmica difícil de se apropriar pela mente racional.

Então como fazer para pensar e compreender o todo pela análise das partes se temos

tantas dificuldades de relacionar as partes e o resultado do todo?

Agir Local, Pensar Global:

Levando esta questão para o ambiente corporativo: como levar nosso colaborador a

ter uma percepção do todo, enquanto age no seu subsistema mais imediato? Como

fazer para que consiga Agir Localmente e Pensar Globalmente?

Tive a experiência em uma Organização no segmento de Construção e Estruturas

Metálicas, composta de várias empresas, que mantinham suas atividades

complementares no mercado. Um dos Valores usados pela empresa era descrito como

"Atuação em Rede". Em uma de minhas primeiras intervenções junto ao grupo de

executivos das Unidades de Negócio, pude verificar a dificuldade que enfrentavam na

aplicação prática deste valor. Mesmo entre os Líderes Empresários responsáveis pelas

unidades de Negócio, a atuação entre as Unidades era de muito mais competição que

de cooperação.

Milton Menezes

49

Vários seminários, encontros, reuniões e Treinamentos já tinham sido realizados.

Todos tinham o conceito na ponta da língua. Mas, uma coisa é TERMOS a

INFORMAÇÃO, outra coisa é TER a CONSCIÊNCIA da atuação em Rede. Este foi o

principal ponto de minha consultoria durante o Desenvolvimento daqueles executivos.

Visão sistêmica como Competência Essencial:

A constatação de que os elementos dos sistemas estão intimamente interligados e

interdependentes é possível ao observarmos situações muito próximas a nós. Como

nosso próprio corpo.

Como falei anteriormente no exemplo da feijoada, temos uma correlação complexa

entre as diversas funções orgânicas que refletem no estado de saúde geral do

indivíduo. A psicossomática, vem demonstrando que estas correlações são mais

complexas e abrangentes do que julgávamos. Determinadas variações emocionais

persistentes, podem gerar desequilíbrios orgânicos como problemas gástricos, do

sistema cardíaco, problemas de pele ou de queda de cabelo, dentre muitos outros.

Na realidade corporativa, temos verdadeiros desafios de compreender as variáveis que

interferem na Economia e nos Negócios. A interface entre as variações no mercado,

nas Bolsas de Valores pelo mundo, Decisões Políticas e Econômicas, Padrões dos

Consumidores, Competitividade, etc..

No nível do comportamento, podemos refletir no nosso modelo de entendimento do

funcionamento do psiquismo numa nova perspectiva e perguntar se ele pode

contribuir com o desenvolvimento desta Competência Essencial.

As pesquisas na Psicologia Transpessoal, sobre os modelos de psiquismo baseados nos

Níveis de Consciência, mostram que o indivíduo é capaz de acessar seus diversos níveis

de consciência e que em cada um deles teremos um conjunto de necessidades e de

percepções diferenciada.

Isto quer dizer que, em cada estado de consciência, temos a percepção de atuar numa

realidade e temos um senso de identidade diferente, ou seja, nossa percepção de

quem somos é modificada em cada nível destes. Uma das conclusões destas pesquisas

é de que a Consciência humana é um continnum, ou seja, não há limites definidos

entre os níveis que atuam simultaneamente, dependendo da nossa percepção e do

deslocamento de nosso sistema de atenção concentração.

A consequência deste modelo é que estamos interligados a todas estas realidades o

tempo todo, inconscientemente. Com isso, estamos, em algum nível, conscientes de

nossa ligação com os demais elementos dos sistemas.

Milton Menezes

50

Essa proposta de psiquismo é que nos faz considerar então a Visão Sistêmica como

uma Competência Essencial, disponível e passível de desenvolvimento. Dependendo

do nível de consciência em que o indivíduo se encontra e da aplicação do método

adequado, poderemos ampliar a consciência desta interligação e desta

interdependência.

O desenvolvimento desta Competência Essencial se mostra fundamental para o

Profissional do Futuro porque:

a) É vital para o aumento da percepção da conectividade dos sistemas em que

atuamos;

b) influencia o desenvolvimento de várias outras Competências Essenciais;

c) Podemos desenvolver a Visão Sistêmica do indivíduo a partir do nível de consciência

em que ele está para níveis mais complexos de interligação e interdependência, em

cada caso e em contextos mais gerais;

d) Otimiza sua atuação para alcançar resultados cada vez mais "ecológicos".

Como desenvolver esta Competência Essencial?

Os estudos dos Princípios e Leis que regem os sistemas humanos e não humanos têm

contribuído de forma significativa para o entendimento e desenvolvimento de nossas

metodologias.

Estes estudos propõem que temos duas formas de abordar a perspectiva de sistemas:

pela análise racional das partes ou pela apreensão do funcionamento do sistema

como um todo, fenômeno único, irredutível às partes.

A Análise racional das partes em sistemas mais elaborados não consegue trazer uma

compreensão efetiva e confiável dos sistemas. A análise das partes nem sempre

oferece esta condição. Tomemos como exemplo um carro. A observação pura e

simples da análise das partes e peças do carro não nos dá a noção clara do sistema

"carro".

Milton Menezes

51

A complexidade das relações entre os elementos componentes do sistema impede a

conclusão racional dos efeitos das variações de cada um destes elementos sobre os

demais e sobre o sistema como um todo. Além disso, podemos acrescentar a

complexidade dada pela dinâmica dos sistemas entre si e dos subsistemas.

Dois dos princípios que regem os sistemas podem nos dar a noção desta

complexidade. Um deles é o Princípio da Contração, ou seja, os sistemas são

compostos de subsistemas interligados. O outro é o Princípio da Expansão. Ele diz que

os sistemas fazem parte de outros sistemas maiores. Também interligados.

A conclusão inquietante é que, se é assim, temos sistemas do mais micro ao mais

macro e todos eles interligados.

Vamos dar um exemplo bem geral.

Uma Pessoa pode ser representada por um dos seus sistemas: o Corpo. O Órgãos são

subsistemas assim como os tecidos, as funções psicológicas, o sistema endócrino (que

já é um sistema menor composto de vários elementos: glândulas, hormônios, vias de

condução, etc.).

A Família também é um sistema e tem as Pessoas, nesta perspectiva, como um

subsistema. As famílias de origem do pai e da mãe formam outra rede de subsistemas,

assim como os ancestrais.

A Empresa é um sistema composto de várias Pessoas (subsistemas), Processos,

Produtos, etc..

A Sociedade é um sistema com as Empresas como subsistema, além do Governo,

Cidadãos (que também são membros de famílias), Economia (Consumidores são

subsistemas e também membros de Famílias e Pessoas), Saúde, Cultura, etc. que

também são subsistemas e sistemas em si mesmos.

Como podemos ver, se fizermos recortes diferentes, cada elemento poderá ser

considerado um sistema ou um subsistema, pertencendo a vários sistemas

simultaneamente. Isso nos faz concluir que modificações em um elemento de um

sistema pode afetar uma cadeia imprevisível de efeitos. Um provérbio hindu afirma

que quando movemos uma folha de grama estamos mudando o Universo.

Por estes exemplos, concluímos que a mente analítica, a partir de uma avaliação

racional da rede de relacionamentos é incapaz de compreender todas as interligações

e seus efeitos entre os elementos dos sistemas e entre os sistemas.

Milton Menezes

52

A Percepção do Sistema como um Todo

O outro método de abordar a perspectiva dos sistemas, o da Apreensão do todo,

garante uma compreensão do resultado e, principalmente, da Função do Sistema.

Porém, nesta perspectiva, perde o entendimento dos detalhes das relações parciais

entre os elementos.

Por exemplo, compreendemos a finalidade do Corpo e de um Carro, por uma preensão

total, quando nos deparamos com eles diante de nós, em funcionamento. Esta

percepção global tende a oferecer elementos importantes que a análise racional não

dá.

Esta apreensão da perspectiva global do sistema acaba nos dando uma sensibilidade

maior para detectar os efeitos de certas variações permitindo aproximações dos

subsistemas de origem, mesmo sem oferecer os detalhes que somente a avaliação

analítica permite.

Por exemplo, podemos avaliar uma série de sintomas no nosso corpo - azia, enjoo,

dores abdominais - que, em conjunto, podem nos levar a uma conclusão de que as

causas podem estar relacionadas a certos subsistemas, por exemplo no Sistema

Digestivo. Da mesma forma, a perda de desempenho de um carro, pode nos levar a

identificar que os problemas podem estar no sistema de alimentação de combustível

ou no motor.

Temos visto que o desenvolvimento da Competência Essencial da Visão Sistêmica deve

ser realizada procurando contemplar as duas formas de abordar a compreensão dos

sistemas. Começando com a Percepção do todo mais ampla, passamos à análise das

partes, só que enriquecida com a apreensão do sistema todo.

Este modelo, apesar de muito lógico, apresenta dificuldades significativas de

construirmos métodos que permitam esta apreensão global com níveis razoáveis de

praticidade, objetividade e precisão.

A Transformação da Consciência e a Visão sistêmica:

Diante da importância e da necessidade de desenvolvermos uma metodologia que

contemplasse estes dois caminhos, procuramos usar dos recursos que dispúnhamos na

experiência nos Programas de Desenvolvimento Pessoal.

Milton Menezes

53

A Metáfora da Árvore e da Floresta

Podemos partir de uma analogia entre as relações que temos, como pessoas, com os

demais sistemas em que interagimos. Usamos a metáfora da Árvore e da Floresta.

Assim, procuramos estimular, primeiramente, os indivíduos a saírem da perspectiva da

Árvore e serem capazes de ampliar sua percepção para elementos da Floresta. Em

seguida procuramos fazer com que voltem a perceber a nova perspectiva da Árvore,

enriquecida pela da Floresta.

As Ações para o desenvolvimento da Árvore devem estar ligadas às da Floresta. Caso

contrário perde o sentido fazer algo para manter ou melhorar o desempenho da

Árvore mas que, paradoxalmente, comprometa a sobrevivência da Floresta da qual ela

faz parte. A partir desta primeira ampliação de percepção propomos a análise das

relações entre as partes. A experiência tem mostrado que este retorno acaba

identificando com muito mais precisão, as ações e elementos de fato relevantes na

otimização dos sistemas.

Seguindo na analogia da Árvore x Floresta, procuramos sempre que possível, continuar

o processo aumentando a percepção da Floresta x Árvore, para Floresta x Árvore x

Outras Árvores Próximas, para depois acrescentarmos o sistema de águas, chuvas,

temperaturas, etc..

Um aspecto que temos observado como fundamental neste processo é a avaliação e a

percepção do Alinhamento dos elementos do sistema com seus Resultados ou

Finalidade.

O entendimento da importância do Alinhamento no funcionamento dos sistemas nos

levou a desenvolver instrumentos para trabalhar o Alinhamento entre os diversos

sistemas (ou subsistemas) tais como o Alinhamento de Equipes de um Setor na

Empresa, dos diversos Setores da Empresa, passando também pelo Alinhamento dos

Valores da Empresa com os Resultados ou objetivos estratégicos.

Milton Menezes

54

Este tipo de desenvolvimento acaba despertando uma maior consciência sobre os

sistemas em que temos alguma influência, aumentando nossa possibilidade de tomar

decisões mais ecológicas e resultados mais eficientes para todos os sistemas. É claro

que este processo é tanto maior e mais abrangente quanto maior for o nível de

consciência do indivíduo do processo e maior for a sua posição estratégica no sistema.

Desenvolvendo a visão Sistêmica:

O trabalho de desenvolvimento da Visão Sistêmica como Competência Essencial deve

buscar aumentar o máximo possível o nível de consciência do indivíduo sobre a sua

interação nos sistemas e, consequentemente, a responsabilidade de seus atos,

projetos e empreendimentos nos demais sistemas.

No ambiente organizacional, temos procurado desenvolver atividades que levem o

colaborador a ampliar esta consciência da sua influência nos processos e equipes além

dos seus.

Cada vez mais, os gestores são chamados a participar com suas opiniões e pareceres

em decisões que não dizem respeito ao seu departamento ou equipe diretamente. Em

função da sobrecarga de trabalho e de reuniões intermináveis, este processo acaba

sendo prejudicado pois a participação destes gestores fica sendo pró-forma, não

agregando realmente sua perspectiva ou experiência àquele outro sistema.

Ao ampliar a consciência da sua Responsabilidade na relação entre os sistemas, o

gestor tende a aprimorar sua percepção identificando mais rapidamente quando uma

decisão sua poderá interferir em outros sistemas fazendo com que suas ponderações

levem a resultados mais ecológicos e eficientes.

Na aplicação de nossos métodos procuramos, então, levar os indivíduos a uma

ampliação de consciência desta interação, não só pela via da informação e da reflexão

mas procurando aumentar a capacidade de perceber efetivamente o fluxo do sistema.

Uma das formas que temos encontrado de favorecer esta apreensão do todo com um

método viável e prático foi com a criação do Método que chamei de CONSTELAÇÃO

TRANSFORME.CE.

Usando a lógica das Constelações Organizacionais, mas de forma mais dinâmica e feita

sob medida para diversas situações diferentes, este Método permite uma perspectiva

do funcionamento dos sistemas que estão sendo considerados, evidenciando relações

e fatores que não estão disponíveis à avaliação racional. Ou se está, o método tende a

enriquecer a avaliação racional trazendo uma percepção mais sutil dos fatores

implícitos que podem estar gerando os problemas ou que sejam fundamentais na

solução e aperfeiçoamento dos sistemas.

Milton Menezes

55

O que é um SISTEMA?

Conceito

• Sistema pode ser definido como um conjunto de elementos interdependentes

que interagem com objetivos comuns formando um todo, e onde cada um dos

elementos componentes comporta-se, por sua vez, como um sistema cujo

resultado é maior do que o resultado que as unidades poderiam ter se

funcionassem independentemente. Qualquer conjunto de partes unidas entre

si pode ser considerado um sistema, desde que as relações entre as partes e o

comportamento do todo sejam o foco de atenção.

• O Sistema é um conjunto de partes interagentes e interdependentes que,

conjuntamente, formam um todo unitário com determinado objetivo e

efetuam determinada função.

Principais características dos Sistemas:

a) Expansão e Contração dos Sistemas:

“Todo sistema se contrai, ou seja, é composto de subsistemas (e isto ocorre infinitamente)”.

Os elementos de um sistema são também sistemas. Por exemplo, o motor de um carro também é um sistema. E desta forma, cada subsistema também possui as 4 características básicas. E se os elementos são sistemas, então eles também são formados por subsistemas (e isto se repete infinitamente). Exemplo: o motor de um carro é formado de subsistemas como injeção, pistões, partida, etc.

“Todo sistema de expande, ou seja, é parte de um sistema maior (e isto ocorre infinitamente)”.

Por exemplo, o sistema “carro” é parte de um sistema maior de tráfego, que por sua vez pode ser considerado subsistema de uma cidade e assim infinitamente.

Milton Menezes

56

b) Parte de um sistema maior: Os sistemas são complexos de elementos

colocados em interação. Essas interações entre os elementos produzem um

todo que não pode ser compreendido pela simples investigação das várias

partes tomadas isoladamente.

“Quanto maior a fragmentação do sistema (ou seja, o número de subsistemas), maior será a necessidade para coordenar as partes”. Por isto, ninguém vê peças pequenas (como parafusos) quando pensa em elementos de um carro. A razão disto é que é mais fácil visualizar menos sistemas e entender sua integração; por esta razão, as pessoas procuram agrupar os elementos em subsistemas. O número de subsistemas é arbitrário e depende do ponto de vista de cada

pessoa ou de seu objetivo. Por exemplo, um carro pode ser visto formado por 2

subsistemas somente (motor e estrutura); já outras pessoas poderão subdividir

um carro em parte elétrica, motor, rodas, chassis, carroceria e estofamentos.

c) Interdependência entre as partes: uma organização não é um sistema

mecânico, no qual uma das partes pode ser mudada sem um efeito

concomitante sobre as outras. Em face da diferenciação das partes provocadas

pela divisão do trabalho, as partes precisam ser coordenadas por meio de

integração e de trabalho. Uma variedade de subsistema deve cumprir a função

do sistema e as suas atividades devem ser coordenadas. – divisão de trabalho,

coordenação, integração e controle;

Obs.: O número mágico 7 ± 2 Na década de 40, pesquisadores de psicologia concluíram que as pessoas normais possuem uma certa capacidade de processamento de informações. Uma das descobertas é que podemos gerenciar de 5 a 9 subsistemas (por isto, o número 7 + 2 e 7 – 2). Isto quer dizer que uma pessoa consegue gerenciar melhor uma equipe com 5 a 9 membros. Ou que devemos subdividir os sistemas de 5 a 9 partes para poder entender melhor o todo. Se tivermos mais de 9 elementos, teremos dificuldade para gerenciar os subsistemas ou entender o sistema como um todo. Abaixo disto, estamos com capacidade ociosa.

Esta regra é seguida na área de dividir um sistema baseado em tecnologia em

subsistemas. Ou exemplo na área, é que devemos colocar de 5 a 9 opções no

menu (interface) de um sistema automatizado.

Milton Menezes

57

d) Homeostasia versus adaptabilidade: a homeostasia(auto regulação) garante a

rotina e a permanência do sistema, enquanto a adaptabilidade leva a ruptura, à

mudança e à inovação. Rotina e ruptura. Estabilidade e mudança. Ambos os

processos precisam ser levados em consideração para garantir a sua

viabilidade. – tendência a estabilidade e equilíbrio X tendência ao atendimento

de novos padrões;

e) Fronteiras ou limites: é a linha imaginária que serve para marcar o que está

dentro e o que está fora do sistema. Nem sempre a fronteira de um sistema

existe fisicamente. –fronteiras permeáveis- sobreposições e intercâmbios com

os sistemas do ambiente.

f) Morfogênese – capacidade de se modificar, de determinar o crescimento e as

formas da organização, de se corrigir e de obter novos e melhores resultados;

g) Resiliência - capacidade de o sistema superar o distúrbio imposto por um

fenômeno externo.

h) Sinergia - esforço simultâneo de vários órgãos que provoca um resultado

ampliado. A soma das partes é maior do que o todo (2 + 2 = 5 ou mais);

i) Entropia - conseqüência da falta de relacionamento entre as partes de um

sistema, o que provoca perdas e desperdícios. É um processo inverso a sinergia,

a soma das partes é menor que o todo (2 + 2 = 3). A entropia leva o sistema à

perda de energia, decomposição e desintegração.

(http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_geral_de_sistemas)

Referência de Autores para os Princípios Gerais de Sistemas: Pontos de Alavancagem Locais para intervir em uma Sistema Donella Meadows

Milton Menezes

58

14. A PSICOLOGIA TRANSPESSOAL:

HISTÓRICO:

A partir do desdobramento da Psicologia da Filosofia, várias escolas ou abordagens surgiram com o objetivo de pesquisar esse complexo objeto de estudo que é o psiquismo humano. Cada uma das linhas teóricas, com suas respectivas aplicações práticas, tem determinado a base de entendimento e concepção de indivíduo psicológico em toda a nossa ciência ocidental. Durante a década de 60, porém, houve um questionamento sobre as limitações que as

linhas teóricas até então desenvolvidas vinham trazendo. Apesar das inúmeras e

inquestionáveis contribuições oferecidas, essas linhas de pensamento eram incapazes

de oferecer explicações completas para a totalidade das experiências humanas.

Com a ampliação do campo de observação das experiências humanas, os

pesquisadores começaram a descobrir fenômenos que acabaram resultando no

aparecimento da Psicologia Transpessoal. Tratavam-se das chamadas experiências de

pico:

“As pessoas que gozam de excepcional saúde psicológica, tendem a viver aquilo

que chamamos de ‘experiências de pico’: experiências de expansão da

identidade e de união com o universo, breves porém extremamente intensas,

cheias de sentido e júbilo, além de benéficas.”(Walsh & Vaughan, 1997, p. 16).

Os pesquisadores concluíram que muitas dessas experiências podiam ser en-contradas

nas práticas de diversas tradições orientais que, aparentemente, possuíam métodos

próprios para levar os indivíduos a induzi-las deliberadamente. As experiências eram

identificadas como expansões da personalidade, com mudanças nas percepções da

realidade objetiva que pautava o paradigma newton-cartesiano contemporâneo. A

esse movimento, chamado por seus fundadores de “4 a . força em Psicologia” (Tabone,

1992), chamou-se Psicologia Transpessoal.

Milton Menezes

59

A DÉCADA DE 60 E OS ALUCINÓGENOS

Os estudos humanistas e transpessoais não ocorreram isolados de um contexto socio-

cultural. Ambos foram influenciados e, ao mesmo tempo influenciaram, um período de

grandes transformações na cultura ocidental de modo geral. Algumas dessas

mudanças diziam respeito ao nascimento de um movimento de defesa do potencial

humano e ao questionamento do sonho materialista, já que não tinha sido possível,

até então, promover níveis de satisfação que as metas de sucesso exterior e posses de

bens materiais tinham “prometido”. São dessa época movimentos de contra-cultura,

como o movimento hippie, e os de caráter questionador dos comportamentos sexuais,

que tiveram participação importante na evolução dessas novas disciplinas

transpessoais. A busca por modos de vida alternativos fizeram com que o ocidente

experimentasse a disseminação de diversas práticas asiáticas.

Muitas dessas práticas, que tinham sido consideradas patológicas ou destituídas de

sentido, agora eram consideradas meios para vivenciar estados ampliados de

consciência e geradores de profundas mudanças de valores e condutas. Práticas de

meditação, respiração, Yoga etc. passaram a ser utilizadas por uma minoria

significativa da população oferecendo material para os pesquisadores que se

interessaram pelos estados alterados de consciência atingidos durante essas práticas,

como objeto de estudo das novas disciplinas transpessoais.

Entretanto, foram as drogas psicodélicas que exerceram o maior impacto nas

pesquisas transpessoais, pois provocaram experiências de estados alterados de

consciência que ampliaram a concepção sobre a plasticidade e potencialidade do

psiquismo além do nosso estado habitual de vigília.

Seja como resultado dos movimentos de contra-cultura, já citados, seja pelos

efeitos observados, nos EUA, nos soldados que retornaram da guerra do Vietnã, o uso

indiscriminado dos alucinógenos possibilitou aos pesquisadores vasto material de

observação de estados incomuns de consciência. Os hospitais e a própria sociedade

passaram a se preocupar com as conseqüências desse uso indiscriminado no

comportamento do indivíduo em sociedade. As drogas ditas psicodélicas — do grego,

“que alteram a mente” — promovem alterações psíquicas nos indivíduos afetando,

Milton Menezes

60

principalmente, as percepções visuais. Daí serem chamadas de “alucinógenos” numa

alusão aos sintomas alucinatórios descritos dela Psiquiatria.

Diversas culturas pelo mundo, utilizaram plantas capazes de provocar alterações nos

estados mentais habituais, buscando experiências transcendentais (místico-religiosas)

e/ou para despertar potencialidades criadoras.

Entre as principais substâncias alucinógenas usadas podemos citar a mescalina que

tem como fonte natural o cactus peyote, a psilocibina, um alcalóide derivado dos

chamados cogumelos sagrados mexicanos e, principalmente, o LSD (Dietilamida do

ácido lisérgico) droga semi-sintética, derivada da cravagem do centeio. Destas drogas,

o LSD foi o mais utilizado pelo seu alto poder alucinógeno e pela maior facilidade de

controle, em laboratório, das dosagens utilizadas nas pesquisas.

Nas pesquisas com os alucinógenos, temos que destacar dois nomes como dos mais

importantes: Aldous Huxley e Stanislav Grof. Já em 1954, Aldous Huxley era

considerado um dos maiores nomes da fenomenologia psicológica induzida por

alucinógenos.

Entretanto, é Stanislav Grof — tcheco naturalizado americano — que se tor-nará um

dos mais respeitáveis pesquisadores do LSD e outros alucinógenos.

Como Grof, inúmeros pesquisadores (Ring, 1978; Assagioli, 1982; Lilly, 1983; Wilber,

1996) passaram a dedicar-se ao estudo de uma nova Cartografia da Mente.

QUARTA FORÇA EM PSICOLOGIA:

Antes da Psicologia Transpessoal outras importantes revoluções conceituais marcaram

a Psicologia e a psicoterapia do século XX:

Milton Menezes

61

1ª FORÇA: Behaviorismo ou Psicologia Comportamental: John B. Watson “Psychology

as the behaviorist views it” (1913). A psicologia é um ramo puramente objetivo e

experimental das ciências naturais. Segundo ele, somente o comportamento manifesto

era possível de ser validado cientificamente. Objetivo: predição e controle do

comportamento manifesto.

2ª FORÇA: Psicanálise: Criada por Sigmund Freud; identificação da dinâmica

Inconsciente sistematizada. Ênfase na patologia e no sofrimento diante da própria

impotência e limitação humana. Carl G. Jung : Copérnico da Psicologia.

3ª FORÇA: Psicologia Humanista - Humanismo/Existencialismo: Surge como reação ao

behaviorismo (visão mecanicista) e à psicanálise (ênfase ao intrapsíquico e a

patologia); ênfase no aqui e agora, na auto realização, valorização da consciência dos

sentimentos e valorização das relações sociais no entendimento do ser humano e suas

patologias. A visão do Ser Humano no humanismo é a de um ser criativo, com

capacidades de auto-reflexão, decisões, escolhas e valores. Abraham Maslow é

considerado fundador desse movimento.

4ª FORÇA: Psicologia Transpessoal - a partir das idéias exaradas na psicologia

humanista surgiu a 4ª força. Maslow acreditava que vivenciar o aspecto transcendente

era importante e crucial em nossas vidas. Pensar de forma holística, transcendendo

dualidades como certo, errado, bem ou mal, passado, presente e futuro é

fundamental. Maslow declarava que sem o transcendente ficaríamos doentes,

violentos e niilistas, vazios de esperança e apáticos. Algo maior do que somos e que

seja respeitado por nós, e ao qual nos entregamos num novo sentido não materialista.

Vitor Frankl, Stanislav Grof, James Fadiman e Antony Sutich uniram-se a Maslow e

oficializaram, em 1968, a Psicologia Transpessoal, enfocando o estudo da consciência e

o reconhecimento dos significados das dimensões espirituais da psique.

Milton Menezes

62

OBJETIVOS E PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:

Psicologia Transpessoal: amplia a visão humanista pela inclusão e valorização da

dimensão espiritual do ser humano.

Orientação transpessoal: Tem como conceito fundamental a “autotranscendência”.

Psicoterapia Transpessoal: a capacidade humana para a “autotranscendência”, além da

“auto-realização”, é reconhecida como a etapa final do desenvolvimento humano.

(Vaughan, 1980 e Sutich, 1980).

A Psicologia Transpessoal objetiva estudar os vários estados de consciência1 por que

passa o homem, assim como as suas relações com a realidade, com o comportamento

e valores humanos (Weil, 1982).

Não se trata, como pode parecer a princípio, de uma negação da Psicologia ocidental.

A Psicologia Transpessoal caracteriza-se por um ajuste da Psicologia ocidental ao

paradigma emergente, encontrado nas principais escolas filosóficas orientais.

PESQUISAS COM ESTADOS AMPLIADOS DE CONSCIÊNCIA (EAC):

1954, Aldous Huxley - um dos mais renomados conhecedores da fenomenologia

psicológica induzida por alucinógenos - em sua obra “As Portas da Percepção”,

despertou o interesse pelas drogas alucinógenas como fonte de pesquisa profunda da

mente humana e considerou tais drogas “modificadores do espírito”.

1 O uso do termo Consciência remete a uma diversidade de conceituações. Na Psicologia

Transpessoal o termo Consciência designará a capacidade humana de mobilizar a atenção/percepção do

meio ambiente, a auto-percepção e a estrutura que atua sobre as informações e estímulos captados pelos

sentidos básicos. Os estados alterados de consciência serão as variações do estado dito “normal” ou de

“vigília”.

Milton Menezes

63

Stanislav Grof: Um dos mais respeitáveis pesquisadores do LSD e outros alucinógenos.

A partir de 1956, observou os efeitos dos psicodélicos em mais de 2000 sessões

psicoterápicas.

Pelo estudo criterioso e sistemático dessas experiências transpessoais tornou-se necessário o estabelecimento de um mapeamento da psiqué mais abrangente que os existentes. Com a ampliação dessas pesquisas constatou-se que muitos dos estados alterados de consciência experimentados pelos indivíduos assemelhavam-se a alguns estados descritos por práticas milenares da filosofia oriental — Vedanta, Yoga e religiões orientais — que também indicavam ser a consciência multidimensional e estratificada em níveis distintos.

Os diversos estados alterados de consciência — meditação, hipnose, sonhos, técnicas

psicoterápicas etc. — podem ser estudados através de seus vários indicadores como as

ondas alpha, theta e delta, movimento rápido dos olhos, EEG (Eletroencefalograma),

atividade dos hemisférios cerebrais, dentre outros2.

Algumas dessas pesquisas (Walsh & Vaughan, 1997) compararam os parâmetros

psicofisiológicos dos estados de consciência obtidos por práticas da meditação, do

xamanismo e da Yoga com os experimentados pelos quadros esquizofrênicos,

demonstrando que os perfis são completamente diferentes, excluindo a possibilidade

de que os estados alterados, obtidos por aquelas práticas, fossem considerados

patológicos.

Dentro desse enfoque, a consciência do Eu pode mudar de estado, seja através de

auto ou hetero-indução, a partir de um deslocamento da atenção para um outro nível

de consciência que não o habitual, chamado de “estado de consciência ordinário” ou

de vigília”. Esse nível é utilizado como referencial para se determinar os demais níveis

de consciência, por isso chamados de alterados3.

2 Para maiores detalhes sobre essas pesquisas, o leitor poderá recorrer às obras de WALSH &

VAUGHAN, 1997; GOLEMAN, 1988; ORNSTEIN, 1972. 3 A nomenclatura de “alterados” tende a causar uma impressão de desequilíbrio, desajuste ou

patologia, sendo muitas vezes substituída por termos sinônimos como incomuns, alternativos,

“outros”.

Milton Menezes

64

Todas as experiências que envolvem algum tipo de expansão ou extensão da

consciência são chamadas de experiências transpessoais:

“... a experiência transpessoal envolve uma expansão ou extensão da consciência além das limitações usuais do ego e das limitações de tempo e espaço, como são percebidas no mundo tridimensional.” (Grof, 1987, p. 129).

CARTOGRAFIAS DO PSIQUISMO - PRINCIPAIS AUTORES:

GROF:

Stanislav Grof — tcheco naturalizado americano — um dos mais respeitáveis

pesquisadores do LSD e outros alucinógenos.

Doutor em Medicina e Filosofia, Grof realizou, a partir de 1956, mais de duas mil

sessões psicoterápicas sob efeito do uso controlado do LSD, conduzidas por ele próprio

e mais mil e setecentas conduzidas por seus colaboradores espalhados por vários

pontos do mundo. Grof (1987) afirma que o resultado de suas experiências sugerem a

existência de dimensões da mente humana que a pesquisa psicológica não explorou

satisfatoriamente.

Seus trabalhos (GROF, 1987, 1994, 1997) consistiam na aplicação controlada de

dosagens mínimas de LSD nos sujeitos de pesquisa que eram, imediatamente após,

submetidos a uma sessão psicoterápica de base analítica.

Pelas alterações de percepção e de relatos dos sujeitos e pela semelhança de relatos

entre os inúmeros sujeitos, Grof identificou padrões de modificação na percepção da

realidade objetiva, que se repetiam de forma consistente. Suas conclusões davam

conta de níveis diferentes da consciência que sugeriam uma mente estratificada, onde

cada nível apresentaria sua especificidade.

Milton Menezes

65

Depois de algum tempo, Grof deixou de utilizar o LSD passando a desenvolver um novo

método conhecido por Respiração Holotrópica que mistura hiperventilação continuada

e uso de música evocativa de EAC’s. Grof observou que esse método gerava EAC’s

semelhantes aos verificados com o LSD, confirmando os resultados de suas pesquisas

sobre os níveis de consciência:

Dois modelos diferentes de explicar a Consciência Humana:

Consciência Hilotrópica: Estado de Consciência orientado para a matéria (hylé).

Envolve a pessoa como se ela fosse uma sólida entidade física com fronteiras bem

definidas e um campo sensorial limitado, vivendo em espaço tridimensional e tempo

linear, no mundo de objetos materiais.

Consciência Holotrópica: Estado de Consciência orientado para a totalidade / inteireza

(holos). Identificação com um campo da consciência sem limites definidos e que tem

ilimitado acesso experiencial a diferentes aspectos da realidade, sem a mediação dos

sentidos. Há várias alternativas para percepção de tempo e espaço.

Grof, obviamente, não nega a relação estreita entre certos aspectos da consciência

com a estrutura física cerebral, exemplificada nos efeitos na consciência provenientes

de lesões, infecções, tumores ou derrames nessa área do organismo. Entretanto, para

Grof, isso não representa necessariamente que a consciência é um subproduto do

cérebro. Grof apresenta, para ratificar seu ponto de vista, uma interessante analogia

com um aparelho de televisão (Grof,1987, p.15; Grof, 1994, p.17).

Na psicoterapia experiencial profunda: o material biográfico não é lembrado ou

reconstituído, ele pode ser plenamente revivido. Engloba emoções, sensações físicas,

elementos pictóricos do material envolvido e dados provenientes de outros sentidos.

Sistema COEX (ou Sistema de experiência condensada) : constelação dinâmica de

memórias (e de material de fantasia associado) que tem como denominador comum

forte carga emocional.

Milton Menezes

66

Na verdade, ao longo de suas pesquisas, Grof observa que o sistema COEX não governa

apenas o material inconsciente do nível biográfico mas pode ser considerado um

princípio geral de funcionamento do psiquismo, com raízes profundas na experiência

do nascimento biológico do indivíduo e também nos domínios mais profundos da

consciência humana.

EXPERIÊNCIAS TRANSPESSOAIS:

1- EXTENSÃO ( OU EXPANSÃO) EXPERENCIAL DENTRO DA “REALIDADE OBJETIVA”

A- EXPANSÃO TEMPORAL DA CONSCIÊNCIA:

Experiências Perinatais;

Unidade Cósmica;

Engolfamento cósmico;

“Sem-saída” ou inferno;

Conflito Morte-renascimento;

Experiência Morte-renascimento;

Experiências Embrionárias e fetais;

Experiências Ancestrais;

Experiências Coletivas ou raciais;

Experiências Filogenéticas (evolucionárias);

Experiências de “encarnações passadas”;

Precognição, clarividência e “viagens no tempo”.

B- EXPANSÃO ESPACIAL DA CONSCIÊNCIA:

Transcendência do ego em Relações interpessoais;

Identificação com outras pessoas;

Identificação Grupal e Consciência Grupal;

Identificação Animal;

Identificação Vegetal;

União com a Vida e com toda a Criação;

Consciência da Matéria Inorgânica;

Consciência Planetária;

Consciência Extraplanetária;

Experiências “fora do corpo”, viagens clarividentes, “viagens espaciais” e telepatia.

Milton Menezes

67

C- CONSTRIÇÃO ESPACIAL DA CONSCIÊNCIA, CONSCIÊNCIA DE ÓRGÃO, TECIDO OU

CÉLULA.

2- EXTENSÃO (OU EXPANSÃO) EXPERENCIAL ALÉM DA ESTRUTURA DA “REALIDADE

OBJETIVA”:

Experiências de outros Universos e de Encontros com seus habitantes;

Experiências Arquetípicas;

Experiências de Encontros com divindades bem-aventuradas e furiosas;

Ativação dos chackras ;

Consciência de Mente Universal;

Vácuo Supracósmico e Metacósmico.

UMA NOVA VISÃO DE HOMEM:

RESUMO DAS PRINCIPAIS PESQUISAS EM EAC:

• Visão pluridimensional da consciência;

• Consciência como um continuum;

• Consciência não é um epifenômeno da matéria;

• Consciência Cósmica como base da estrutura;

• Senso de identidade diferenciado em cada nível de consciência;

• Níveis, Faixas e Experiências Transpessoais.

Milton Menezes

68

CARTOGRAFIA GERAL - Principais Estruturas das Cartografias do Psiquismo:

Regiões Pessoais da Consciência:

Consciência de VIGÍLIA: conteúdos usuais regidos pelo tempo linear, pensamento

analítico, cinco sentidos;

PRÉ-CONSCIENTE: conteúdos facilmente acessados a partir de uma simples evocação

direta, estão parcialmente ligados à vigília;

INCONSCIENTE PSICODINÂMICO: conteúdos ligados a experiências, sentimentos,

pulsões, desde o nascimento até o momento da vida atual. ICS freudiano. Emergem

sob a forma de sintoma;

INCONSCIENTE ONTOGENÉTICO: vivências intra-uterinas, zona de transição entre o

pessoal e o transpessoal (Grof e as MPB’s);

Regiões Transpessoais da Consciência:

INCONSCIENTE TRANSINDIVIDUAL: Envolve experiências além dos aspectos do

indivíduo consciente / Ego / pessoa:

Experiências Ancestrais: explorações da própria linhagem genética, episódios da vida

de seus ancestrais;

Experiências de Encarnações Passadas: experiências que ultrapassam a linha

biográfica, biológica e do ego da personalidade atual. Há um vínculo com a evolução

da própria consciência (Individualidade);

Milton Menezes

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Experiências Coletivas e raciais: experiências que ocorrem através de várias culturas

que já existiram, como se houvesse um inconsciente coletivo ou racial contenedor de

toda a história da humanidade. (Vera Saldanha, Psicoterapia Transpessoal, p. 68);

Experiências Arquetípicas: ICS coletivo de Jung, imagens primordiais, arquétipos ou

símbolos universais da experiência humana;

INCONSCIENTE FILOGENÉTICO: experiências da própria evolução do planeta, tanto

orgânicas quanto inorgânicas. Consciência de órgão, tecido, célula, consciência animal,

vegetal e inorgânica, Consciência planetária;

INCONSCIENTE EXTRATERRENO: domínio da consciência que se estende além de nosso

planeta: experiência de estar fora do corpo, encontro com entidades espirituais e

guias. Onde ocorrem fenômenos de Percepção Extra Sensorial, clarividência, possessão

por espíritos. (Vera Saldanha, Psicoterapia Transpessoal, p. 69);

SUPERCONSCIENTE: percepção ampla da realidade, através de sentimentos de

apreensão intuitiva da realidade, de compaixão, de equanimidade. Eu Superior.

Apreensão intuitiva da unidade e da relação homem-cosmo.

VÁCUO ou MENTE: É um estado de puro ser. A consciência funde-se com a mente

Universal. Integração com a totalidade.

Milton Menezes

70

Principais Estruturas das Cartografias do Psiquismo:

VIGÍLIA

PRÉ-CONSCIENTE REGIÕES

ICS PSICODINÂMICO PESSOAIS DA

ICS ONTOGENÉTICO CONSCIÊNCIA

ICS TRANSINDIVIDUAL

ANCESTRAL

RACIAL/COLETIVO REGIÕES

VIDAS PASSADAS TRANSPESSOAIS

ARQUETÍPICAS DA

CONSCIÊNCIA

ICS FILOGENÉTICO

ICS EXTRATERRENO

SUPERCONSCIENTE

VÁCUO / MENTE

Milton Menezes

71

15. Kurt Lewin:

a. Cada um olha o grupo como um todo e lhe dará papéis, funções, a partir de

suas necessidades;

b. A necessidade organiza o grupo;

c. O grupo, como um todo, é o espaço vital, é o lócus onde o comportamento

ocorre.

d. O espaço vital é o universo do psicológico, é o todo da realidade

psicológica, contem a totalidade dos fatos possíveis, capazes de determinar

o comportamento do indivíduo; inclui tudo o que é necessário à

compreensão do comportamento concreto de um ser humano individual

em um dado meio psicológico e em um determinado tempo. O

comportamento é função do espaço vital.

e. Campo é uma noção dinâmica e não estética, daí que é sempre possível

uma permanente comunicação entre os diversos subsistemas (pessoas)

dentro de um campo ou de um espaço vital.

f. Propriedade de Permeabilidade: comunicação interpessoal de inconscientes

ou a reação em cadeia pela qual o grupo entende estranhamento o que

está se passando com cada um de seus membros.

g. O grupo convive o tempo todo com um tríplice processo: o do Indivíduo e

que este percebe como seu próprio, o do Outro membro do Grupo e que o

cliente percebe como não sendo seu, e o que cada um percebe como sendo

um processo do grupo como tal.

h. O terapeuta pode e precisa estar atento a esse tríplice processo como algo

que ocorre no espaço vital grupal, onde tudo pertence a todos. Será sua

capacidade de distinguir, de intuir que o fará perceber a força ou o vetor

presente no campo. Essa força tem: direção, energia e um ponto de

aplicação. Tal fenômeno ocorre dentro do espaço vital.

i. Para Lewin estamos lidando com 3 conceitos básicos: redução de tensão,

satisfação de necessidades e solução de problemas.

Milton Menezes

72

BIBLIOGRAFIA:

Psicologia Transpessoal

FRANKL, Victor E. – Em Busca de Sentido – Petrópolis, Ed. Vozes, 1991.

GROF, S. - Além do Cérebro - São Paulo, MacGraw-Hill, 1987, pág. 139

GROF, S. - A Mente Holotrópica - Rio de Janeiro, Rocco, 1994

GROF. S. e GROF, C. (Orgs.) - Emergência Espiritual - Crise e Transformação Espiritual -

São Paulo, Cultrix, 1995.

GROF, Stanislav & GROF, C. — A Tempestuosa Busca do Ser — São Paulo, Cultrix, 1995.

GROF, Stanislav – A Aventura da Autodescoberta – São Paulo, Summus, 1997.

GROF, Stanislav – O Jogo Cósmico – Explorações das Fronteiras da Consciência Humana

– São Paulo, Editora Atheneu, 1998.

GROF, Stanislav; BENNETT, Hal Z. - A Mente Holotrópica - Rio de Janeiro, Rocco, 1994

GROF, Stanislav - Psicologia do Futuro – Niterói, RJ, Heresis, 2000.

LILLY, John — The Center of the Cyclone — New York, Julian Press, 1983.

SALDANHA, V. – A Psicoterapia Transpessoal – Rio de Janeiro, Record, Rosa dos

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TABONE, M. - A Psicologia Transpessoal - São Paulo, Cultrix, 1992.

TART, Charles — A Abordagem Sistêmica da Consciência — In WALSH, R. & VAUGHAN,

F., Caminhos Além do Ego — Uma Visão Transpessoal — São Paulo, Editora Cultrix,

1997.

WALSH, Roger & VAUGHAN, Frances — Caminhos Além do Ego — Uma Visão

Transpessoal — São Paulo, Editora Cultrix, 1997.

WEIL, Pierre — A Revolução Silenciosa — São Paulo, Editora Pensamento, 1982.

WEIL, Pierre – A Consciência Cósmica – Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 1999.

WILBER, Ken — O Espectro da Consciência — São Paulo, Editora Cultrix, 1996.

Milton Menezes

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Bibliografia CONSTELAÇÃO:

HELLINGER, Bert – A Simetria Oculta do Amor – São Paulo, Cultriz, 2005.

HELLINGER, Bert – Ordens do Amor – São Paulo, Cultriz, 2008.

STAM, J. Jacob – A Alma do negócio - Goiana, Ed Atman, 2012.

HELLINGER, Bert - Um Lugar para os Excluídos – Belo Horizonte, Ed. Atman, 2014.

HELLINGER, Bert – Constelações Familiares –O Reconhecimento da Ordem do Amor –

São Paulo, Ed Cultrix, 2010.

HELLINGER, Bert – Desatando os Laços do Destino – Constelações Familiares com

Doentes deCâncer - São Paulo, Ed. Cultrix, 2006.

Milton Menezes

74

16. CAMPOS MORFOGENÉTICOS E RUPERT

SHELDRAKE:

Rupert Sheldrake:

Enquanto na Universidade de Cambridge, em conjunto com Philip Rubery, descobriu o mecanismo de transporte polar de auxina, o processo pelo qual o hormônio vegetal auxina é realizado pela parte aérea para as raízes. De 1968 a 1969, com base no Departamento de Botânica da Universidade da Malásia, Kuala Lumpur, ele estudou as plantas da floresta tropical. De 1974 a 1985 foi Diretor e fisiologista de plantas fisiologista Consultor no International Crops Research Institute para os Trópicos Semi-Áridos (ICRISAT), em Hyderabad, na Índia, onde ajudou a desenvolver novos sistemas de cultivo agora amplamente utilizados pelos agricultores. Enquanto na Índia, ele também viveu por um ano e meio no ashram do padre Bede Griffiths em Tamil Nadu, onde escreveu o seu primeiro livro, A Nova Ciência da Vida. De 2005-2010, ele foi o Diretor do Projeto de Perrott-Warrick, financiado pelo Trinity College, em Cambridge. Ele também é membro do Instituto de Ciências Noéticas, perto de San Francisco, e professor visitante e diretor acadêmico do Programa de pensamento holístico no Instituto de Pós-Graduação em Connecticut. Livros por Rupert Sheldrake: A Nova Ciência da Vida: A hipótese da causação formativa (1981). Nova edição de 2009 (em os EUA publicado como Ressonância Mórfica) A Presença do Passado: Ressonância Mórfica e os Hábitos da Natureza (1988) O Renascimento da Natureza: o Greening de Ciência e Deus (1992) Sete Experimentos que poderia mudar o mundo: A Do-It-Yourself Guia para Revolucionária Ciência (1994) (Vencedor do Livro do Ano, do Instituto Britânico para Invenções Sociais)

Rupert Sheldrake é biólogo e autor de mais de 80 artigos

científicos e 10 livros. Estudou ciências naturais na

Universidade de Cambridge, onde foi bolsista da faculdade

de Clare, foi agraciado com o Prémio Universidade de

Botânica. Ele, então, estudou filosofia e história da ciência na

Universidade de Harvard, antes de retornar a Cambridge,

onde ele se tornou um Ph.D. em bioquímica. Como o

pesquisador Rosenheim da Royal Society, ele realizou uma

pesquisa sobre o desenvolvimento das plantas e do

envelhecimento das células do Departamento de Bioquímica

da Universidade de Cambridge.

Milton Menezes

75

Cães que sabem quando seus donos estão chegando em casa, e outros poderes inexplicáveis de Animais (1999) (Vencedor do Livro do Ano da Rede britânica Scientific and Medical) O sentido de estar sendo observado, e outros aspectos da mente estendida (2003) Com Ralph Abraham e McKenna Terence: Trílogos na borda do Oeste (1992), republicado como Criatividade Caos, e Consciência Cósmica (2001) A mente evolucionária (1998) Com Matthew Fox: Graça Natural: Diálogos sobre Ciência e Espiritualidade (1996) A Física dos Anjos: Explorando o reino onde a ciência eo espírito se encontram (1996)

Citações do próprio Rupert em sua Autobiografia:

“A primeira coisa que fizemos no Departamento de Bioquímica era matar os

organismos que estávamos estudando e depois triturá-los para extrair o DNA, as

enzimas, e assim por diante.”

“Então, um amigo que estava estudando literatura me emprestou um livro sobre

filosofia alemã contendo um ensaio sobre os escritos de Goethe, o poeta e botânico.

Eu descobri que Goethe, no final do século XVIII e início do século XIX tinha tido uma

visão de um tipo diferente de ciência, uma ciência holística que a experiência direta

integrada e compreensão. Não envolveu quebrando tudo em pedaços e negar a

evidência dos sentidos de cada um.”

“Tive a sorte de conseguir uma bolsa de estudos na Universidade de Harvard, onde

passei um ano estudando filosofia e história. Livro de Thomas Kuhn, A Estrutura das

Revoluções Científicas recentemente tinha saído e que tinha uma grande influência

sobre mim, me deu uma nova perspectiva. Isso me fez perceber que a teoria

mecanicista da vida era o que Kuhn chamou de paradigma, um modelo aceito

coletivamente da realidade, um sistema de crenças. Ele mostrou que os períodos de

mudança revolucionária envolveu a substituição de scientificparadigms velhos por

novos. Se a ciência mudou radicalmente no passado, então talvez ele poderia mudar

de novo no futuro. Eu estava muito animado com isso.”

Milton Menezes

76

“Enquanto eu era um estudante de pós-graduação lá me deparei com um grupo

chamado os filósofos Epifania, que estavam ligados a um mosteiro anglicano chamado

Comunidade da Epifania. Este grupo de filósofos, físicos e místicos explorou as ligações

entre experiência mística, filosofia e ciência - e ainda o fazem. Isso era exatamente o

que eu estava interessado, e eu achei isso um grupo muito útil e inspirador.”

“Então, quando me juntei aos filósofos da Epifania, o aspecto cristão não me interessa

muito. Mas eu estava interessada na exploração de novas idéias na teoria quântica,

filosofia da ciência, a parapsicologia, medicina alternativa, e da filosofia holística da

natureza. Estes foram alguns dos temas que estavam discutindo na década de

sessenta.”

“Eu estava começando a explorar a tradição holística na biologia, que é uma tradição

minoritária, mas está sempre lá. Eu comecei a formular a idéia de ressonância mórfica,

a base da memória na natureza, a principal coisa que eu venho trabalhando desde

então. A idéia veio a mim em um momento de introspecção e foi extremamente

emocionante.”

“A razão principal para assumir o cargo em Hyderabad era que eu queria ser na Índia.

Eu já tinha se interessado na filosofia indiana e começou a fazer meditação

transcendental. Eu fui atraído para as tradições hindus. Então eu fui para a Índia, viveu

lá, e trabalhou na pesquisa agrícola. Eu adorava estar na Índia.”

“Quando eu conheci Bede Griffiths, ele fez a ponte entre o cristão e as tradições

orientais muito mais fácil para eu atravessar. Eu fui e livedin seu ashram por um ano e

meio, e então eu escrevi o meu primeiro livro, A Nova Ciência da Vida, que eu a ele

dedicado.”

“Uma das minhas principais preocupações é a abertura da ciência. Outra está

explorando as conexões entre ciência e espiritualidade, e estou particularmente grato

pela oportunidade de fazer isso com Matthew Fox.”

Milton Menezes

77

Campos Morfogenéticos

Havia um arquipélago no Pacífico povoado apenas por macacos. Eles se alimentavam

de batatas, que tiravam da terra. Um dia, não se sabe porque, um desses macacos

lavou a batata antes de comer, o que melhorou o sabor do alimento. Os outros o

observaram, intrigados, e aos poucos começaram a imitá-lo. Quando o centésimo

macaco lavou a sua batata, todos os macacos das outras ilhas começaram a lavar suas

batatas antes de comer. E entre as ilhas não havia nenhuma comunicação aparente.

Essa história (fictícia) exemplifica uma teoria criada pelo fisiologista inglês Rupert

Sheldrake, denominada teoria dos campos morfogenéticos. Segundo o cientista, os

campos mórfogenéticos são estruturas invisíveis que se estendem no espaço-tempo

e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.

Todo átomo, molécula, célula ou organismo que existe gera um campo organizador

invisível, ainda não detectável por qualquer instrumento, que afeta todas as unidades

desse tipo. Assim, sempre que um membro de uma espécie aprende um

comportamento, e esse comportamento é repetido um número de vezes suficiente, o

tal campo (molde) é modificado e a modificação afeta a espécie por inteiro, mesmo

que não haja formas convencionais de contato entre seus membros. Isso explica

porque, no exemplo, todos os macacos do arquipélago de repente começaram a lavar

suas raízes, sem que houvesse comunicação entre as ilhas.

Mas outros exemplos na natureza - desta vez verdadeiros - ilustram bem uma

organização invisível no comportamento dos animais. Pegue um gato, por exemplo.

Separe-o do convívio com outros gatos poucos dias após o nascimento (algo

Milton Menezes

78

infelizmente comum) e crie-o isolado. Ele vai ter todas as características

comportamentais de um gato, as brincadeiras, inclusive o cacoete de só fazer as

necessidades na areia (se tiver areia no lugar, claro). Quem ensinou isso? Milhares de

anos de evolução, dirão os Darwinistas. Deus, dirão os Criacionistas. Mas nem um nem

outro explica a questão: Quem ensinou isso ao gato que foi criado fora do convívio dos

outros de sua raça milenar?!

A ciência dá um valor muito alto aos genes. É uma verdadeira panacéia: se não

sabemos explicar algo, simplesmente "culpamos" os genes. Exemplo disso é o processo

de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento

embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais,

dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual

órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo

e no momento adequado? A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou

inativação de genes específicos, e que tal fato depende das interações de cada célula

com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e

o meio ambiente). Tal formação do embrião acontece com precisão tanto aqui quanto

na China, tanto no frio como no calor, tanto na poluição e radiação de NY, quanto nos

bucólicos campos da Escócia...

A biologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível

tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O

código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a

seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macro-moléculas. Os genes

ditam essa estrutura primária e ponto. "A maneira como as proteínas se distribuem

dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos

organismos não estão programadas no código genético", afirma Sheldrake. "Dados os

genes corretos, e, portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de

alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que

enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar

que a casa se construa espontaneamente."

A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os

tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada pelos campos morfogenéticos, uma

estrutura espaço-temporal que direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma

espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes, um papel

semelhante ao da planta de um edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações

Milton Menezes

79

dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode

ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os

campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação

com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de

ressonância entre os campos.

Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro

fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos

campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por

exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num

organismo completo.

Tal organismo parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar

sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas.

Sheldrake já realizou várias pesquisas para provar que o corpo possui um campo

mórfico e, quando se perde uma parte desse corpo, o campo permanece. Um exemplo

é uma das experiências que fez: Uma pessoa que não tem parte do braço age como se

estivesse empurrando o membro fantasma através de uma tela fina. Do outro lado da

tela, uma outra pessoa tenta tocar o braço fantasma. De acordo com Sheldrake, as

duas pessoas envolvidas na experiência são capazes de sentir o toque. É uma prova

(subjetiva) de que alguma coisa do braço ainda existe concretamente, e não apenas no

cérebro da pessoa que o perdeu.

Milton Menezes

80

Depois de muitos anos de estudo e pesquisa chegou-se à conclusão de que a chave

desse mistério estaria numa espécie de memória: uma memória coletiva e

inconsciente que faz com que formas e hábitos sejam transmitidos de geração para

geração.

O campo morfogenético seria uma região de influência que atua dentro e em torno

de todo organismo vivo. Algo parecido com o campo eletromagnético que existe em

volta dos imãs. Para o cientista, cada grupo de animais, plantas, pássaros etc., está

cercado por uma espécie de campo invisível que contém uma memória, e que cada

animal usa a memória de todos os outros animais da sua espécie. Esses campos são o

meio pelo qual os hábitos de cada espécie se formam, se mantém e se repetem. No

exemplo dos macacos, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos

agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa

a ser compartilhado por toda a espécie.

O processo responsável por essa coletivização da informação foi batizado por

Sheldrake com o nome de ressonância mórfica. Por meio dela, as informações se

propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória

coletiva.

Os seres humanos também têm uma memória comum. É o que Jung chamou de

inconsciente coletivo. A respeito disso, Sheldrake lança uma luz sobre a questão da

existência de vidas passadas: Ele diz que, às vezes, as pessoas podem entrar em

sintonia com as memórias de uma outra pessoa que existiu no passado. Isso não

significa que elas foram realmente aquela pessoa, mas que se teve acesso à memória

dela.

Então, o campo morfogenético é algo que está dentro de nós, e fora de nós. Nos

envolve e nos define, está presente em nossos pensamentos, e nossas atitudes. Pode

estar por trás do Id; Pode ser a Força. O inconsciente coletivo; O Shaktipat; Em

essência, o Tao; Ou mesmo Brahma! O Reino dos céus!

Os campos morfogenéticos também são responsáveis por aquela sensação que a

maioria das pessoas tem quando sente que está sendo observada.

Milton Menezes

81

Sheldrake explica: "Entrevistei alguns detetives particulares, pessoal da vigilância na

polícia, pelotões antiterrorismo da Irlanda do Norte e outras pessoas cuja atividade é

observar outras pessoas. A maior parte destes observadores profissionais está muito

consciente desse fenômeno, e alguns daqueles que operam sistemas de segurança em

shoppings, edifícios, aeroportos e hospitais também estão muito conscientes desse

efeito. Em uma das principais lojas de departamento de Londres, os detetives da loja

disseram que podiam olhar as pessoas na loja através de uma TV, e quando viam

alguém roubando, um gatuno, muitas vezes perceberam que, se olhassem para essa

pessoa muito intensamente, pela tela da TV, a pessoa começava a olhar a seu redor

procurando as câmeras escondidas e depois devolvia o que tinha tirado e saía da loja.

Um segurança em um hospital disse que onde isso dava mais certo era com uma

câmera oculta que cobria uma área onde as pessoas iam fumar, embora não fosse

permitido fumar no hospital, mas quando ele observava os fumantes através da

televisão de circuito fechado eles imediatamente começavam a parecer constrangidos

e apagavam seus cigarros e saíam dali. Portanto, há muitas experiências práticas. No

SAS britânico, que são as forças especiais usadas para tomar de assalto terroristas em

embaixadas e lugares semelhantes, parte do treinamento ensina que, se você está se

aproximando cuidadosamente de uma pessoa por trás, para esfaqueá-la nas costas,

você não deve olhar fixamente para as costas dela, porque é quase certo que, se o

fizer, ela vai se virar. E a primeira lição que um detetive particular aprende sobre seguir

alguém é que você não olha para quem está seguindo, porque se olhar, ele vai se virar

e seu disfarce terá sido descoberto".

Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma

atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais

indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo

básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo.

Sheldrake apresenta um exemplo desconcertante dessa propriedade: "Quando uma

nova substância química é sintetizada em laboratório, não existe nenhum precedente

que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das

características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou

pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se

efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que

isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a

Milton Menezes

82

ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do

mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do

mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que

aconteça novamente em experimentos futuros."

Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado

tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of

Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta

pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist

elogiava o trabalho como "uma importante pesquisa científica", a Nature o

considerava "o melhor candidato à fogueira em muitos anos".

A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nos

trabalhos de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi

generalizar essa ideia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos,

aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs

também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de

explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber

os impactos que tal processo teria na vida humana. "Experimentos em psicologia

mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam", informa

Sheldrake.

Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou

que uma figura oculta numa ilustração em alto contraste torna-se mais fácil de

perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas. Isso foi verificado numa

pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983.

Numa universidade inglesa, alguns pesquisadores conseguiram provar que as palavras

cruzadas dos jornais são muito mais fáceis de resolver quando feitas no dia seguinte à

publicação original.

Esse fenômeno é muito comum entre os químicos. Quando um deles tenta cristalizar

um novo composto leva muito tempo para conseguir um bom resultado. Mas a partir

desse momento em outros lugares do mundo muitos outros químicos conseguem

cristalizar o mesmo composto num tempo muito mais curto.

Milton Menezes

83

Isso explicaria o porquê da geração dos anos 80 ter tido facilidade de programar o

videocassete, e a geração de 90 dominar o computador e o celular?

Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem

imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no

domínio da educação. "Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância

mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado", conjectura Sheldrake.

E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de

Nova York, dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham.

Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de

Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou

transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo

reducionista de Sigmund Freud.

"A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou

mal", afirmou Sheldrake, "Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina,

pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas".

O Trecho abaixo foi retirado da transcrição de uma Palestra de Sheldrake em Portugal:

EXPERIMENTO DO CACHORRO

Deixe-me dar um exemplo do tipo de histórias que temos em nosso banco de dados,

sobre um cachorro que sabe quando seu dono está chegando em casa. Essa é de uma

pessoa no Havaí:

"Meu cachorro Debby sempre fica esperando na porta uma meia hora antes de meu

pai chegar em casa do trabalho. Como meu pai estava no exército, ele tinha um

horário de trabalho muito irregular. Não fazia diferença se meu pai ligava antes, e uma

época eu achei que o cachorro reagia à chamada telefónica, mas isso obviamente não

era o caso, porque às vezes meu pai dizia que estava vindo para casa mais cedo, mas

tinha que ficar até mais tarde. Às vezes ele nem telefonava. O cachorro nunca se

enganava, portanto eu eliminei a teoria do telefone. Minha mãe foi a primeira pessoa

Milton Menezes

84

que notou esse comportamento. Ela estava sempre preparando o jantar quando o

cachorro ia para a porta. Se o cachorro não fosse até a porta, nós sabíamos que papai

ia chegar mais tarde. Se ele chegasse tarde, o cachorro mesmo assim o esperava, mas

só quando ele já estivesse no caminho de casa".

Temos agora em nosso banco de dados cerca de 580 relatos de cachorros que fazem

isso, e cerca de 300 relatos de gatos que fazem isso, com esse tipo de qualidades. O

cético de carteirinha irá dizer "bem, é apenas uma rotina", mas na maioria dos casos

não é uma rotina (se fosse as pessoas nem notariam). O próximo argumento do cético

de carteirinha é "bom, o que deve acontecer é que as pessoas da casa sabem quando o

dono está vindo e com isso seu estado emocional muda, e o animal capta essa

mudança através de deixas sutis". Bem, é claro que isso é possível se as pessoas

realmente prevêem que alguém está vindo para casa, seu estado emocional pode

mudar, elas podem ficar excitadas ou talvez deprimidas e o animal pode captar essa

mudança emocional e reagir a ela. Mas, em muitos dos casos, as pessoas na casa não

sabem quando a outra está vindo para casa, é o animal que lhes diz, e não elas que

dizem ao animal.

Quando eu estava discutindo esse assunto com Nicholas Humphrey, meu amigo cético

disse: "bem, tudo isso ainda não elimina a possibilidade de que eles ouvem o barulho

do motor do carro, um motor de carro familiar a 30, 40 quilômetros de distância", e eu

disse: "isso é obviamente impossível". E ele: "pelo contrário, apenas demonstra como

a audição dos cachorros é aguçada". Foi essa discussão que levou à ideia de fazer um

experimento. Eu disse: "OK, e se eles vierem para casa de táxi, ou no carro de um

amigo, ou de trem, ou de bicicleta da estação em uma bicicleta emprestada, para que

não haja sons familiares?" E ele disse: "nesse caso, o cachorro não reagiria", e desde a

publicação deste livro eu já descobri muitos cachorros, gatos e outros animais que

fazem isso.

Telefonamos para pessoas escolhidas aleatoriamente usando técnicas padronizadas de

amostragem e perguntamos se elas tinham animais. Dos donos de animais, havia mais

donos de cachorros do que de gatos na maior parte das localidades. Perguntávamos:

então "seu animal parece saber previamente quando um membro da família está

vindo para casa?" Aproximadamente 50% dos donos de cachorro em todas as

localidades disseram que sim - em Los Angeles foram mais de 60% - e podemos ver

através desses resultados que os gatos em todas as localidades fazem isso menos que

os cachorros.

Milton Menezes

85

Nos primeiros experimentos que foram feitos, pedíamos às pessoas que anotassem em

um caderno o comportamento do cachorro, mas os céticos disseram: "bem, assim

você tem uma tendência subjetiva". Portanto, agora nós fazemos uma fita de vídeo de

todos os experimentos. Temos uma câmera de vídeo em tripé, apontando para o lugar

onde o cachorro ou o gato esperam pela pessoa que vem para casa. Há um controle de

tempo na câmera e ela fica funcionando por horas. Então, temos horas de filme que

irão mostrar se o cachorro ou o gato vão até a janela, e por quanto tempo ficam lá, um

registro objetivo e perfeito. O que vou lhes mostrar é um vídeo de um desses

experimentos que foi feito com um cachorro com que trabalhei principalmente na

Inglaterra. O cachorro chama-se JT e o nome de sua dona é Pam. Quando Pam sai, ela

deixa JT com seus pais, que vivem no apartamento ao lado do dela. Eles observaram há

muitos anos que JT sempre ia para a janela quando Pam estava a caminho de casa, ou

quase sempre. Esse experimento foi filmado profissionalmente pela televisão estatal

austríaca, e foi filmado com duas câmeras, para que pudéssemos ver o cachorro e a

pessoa que estava na rua ao mesmo tempo. E foi combinado que eles escolhessem as

horas de sua vinda para casa de maneira aleatória, que nem ela mesma soubesse

previamente, que ninguém soubesse previamente; e ela viria para casa de táxi, para

eliminar a possibilidade de sons de carros familiares. Esse, portanto, é um experimento

que foi realizado dentro dessas condições.

Na vida real, Pam não vem para casa em horas escolhidas aleatoriamente, e que ela

própria desconheça previamente. Quando está no trabalho, ou quando sai para fazer

compras ou visitar amigos, ela vem para casa em vários momentos diferentes, e nós

monitoramos regularmente as horas em que ela volta, mais de 200 experimentos

foram monitorados, temos dezenas deles em vídeo. O cachorro nem sempre reage,

cerca de 85% das vezes JT realmente espera por ela quando ela está vindo para casa,

cerca de 15% ele não o faz. Analisamos as ocasiões em que ele não faz, a maioria das

vezes ocorreu quando a cadela do apartamento vizinho estava no cio. Isso mostra que

JT pode se distrair. Isso também ocorreu algumas vezes quando havia visitas na casa

ou outro cachorro, e algumas vezes sem nenhum motivo. De qualquer forma, JT

normalmente reage quando Pam decide que vai para casa. No filme vê-se que ele não

começa a reagir quando ela entra no táxi, e sim quando ela estava pronta para ir para

casa. Na vida real ele não reage quando ela entra no carro para ir para casa, e sim

quando ela começa a se despedir dos amigos e pensando "bem, vou-me embora". Ele

parece captar essa intenção dela. É bem verdade que JT vai até a janela

ocasionalmente quando Pam não está a caminho de casa, normalmente porque vai

latir para um gato que passa na rua ou está olhando alguma coisa que está

Milton Menezes

86

acontecendo do lado de fora. Nesses gráficos incluímos todos esses casos, embora

fique claro no vídeo que ele não está esperando, mas como os céticos dizem que, se

você usar evidência seletiva isso demonstra que você inventou a coisa toda, não

fizemos nenhuma seleção aqui. Às vezes há uns trechos barulhentos, quando ele vai

até a janela de qualquer maneira, mas podemos ver que isso é a média de 12 ocasiões

diferentes quando ela estava fora por mais de 3 horas. O tempo que ele está

esperando na janela é maior quando ela está no caminho de casa do que quando ela

não está. Vemos um pequeno aumento antes de ela ir para casa que, a meu ver, tem

relação com esse efeito antecipatório.

JT está obviamente esperando por ela principalmente quando ela está no caminho de

casa. O que é claro nesses gráficos é que JT não vai para a janela com mais frequência

quanto mais tempo ela estiver fora. Ele obviamente está muito mais na janela aqui,

quando ela está no caminho de volta, do que nos períodos correspondentes aqui.

Esses efeitos têm uma enorme significância estatística. Vários tipos de análise

mostram significâncias que vão mais além da escala de meu computador. Esses efeitos

são do tipo p é menor que .00001.

Esses resultados foram amplamente publicados na Grã-Bretanha, nos jornais, e - é

claro - foram criticados pelos céticos, que estão sempre prontos para dizer que nada

semelhante poderia ocorrer. Um dos céticos mais ativos na Grã-Bretanha, cujo nome é

Richard Wiseman, disse que eu não tinha usado procedimentos adequados, não os

tinha registrado de forma adequada, etc. Eu fiz também muitos experimentos com

horas de retorno aleatórias. Pam tem um pager em seu bolso que eu ativei por

telefone de Londres e ela vem para casa em momentos verdadeiramente aleatórios,

usando um desses pagers da Telecom. De qualquer forma, ele criticou os detalhes,

então eu disse: "Tudo bem, por que você mesmo não faz o experimento? Eu organizo

tudo para que você possa fazê-lo com o mesmo cachorro. Emprestamos uma câmera

de vídeo, Pam irá onde você quiser, o seu ajudante ficará observando-a". Na verdade,

então, o próprio Wiseman filmou o cachorro e ficou no apartamento dos pais da Pam,

enquanto seu ajudante ia com a Pam para pubs, ou outros lugares, até que em um

momento determinado aleatoriamente fosse decidido que eles voltariam para casa.

Eles checavam o tempo todo para garantir que não haveria chamadas telefônicas

secretas, nenhum meio de comunicação invisível, nenhuma fraude ou trapaça.

Wiseman é um mágico, e ele é um desses céticos que está sempre afirmando que tudo

pode ser feito por trapaça ou ilusionismo. Bem, ele mesmo esteve lá, e eles estavam se

Milton Menezes

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protegendo de tudo, e ele realizou três experimentos com Pam na casa de seus pais, e

esses foram os resultados dos três experimentos que ele fez, usando todos seus

controles rigorosíssimos, seu próprio procedimento aleatório, e outras coisas mais (os

resultados são exatamente iguais aos outros; o público ri). Portanto, esses resultados

são sólidos, mesmo com um cético, que ao fazer o experimento na verdade não quer

que ele dê certo. Atualmente realizo uma série de experimentos em Santa Cruz,

Califórnia, com um tipo de periquito italiano que mostra o mesmo tipo de reação: eles

guincham quando o dono está vindo para casa, e obtemos quase o mesmo tipo de

gráficos, mostrando que os guinchos vão aumentando de intensidade quando o dono

está a caminho de casa em horas aleatórias.

Um cão e um ser humano, quando formam uma união entre eles, são parte de um

grupo social. Os cães são animais intensamente sociais, eles descendem dos lobos que

têm uma vida social intensa. Portanto, eu acho que o que ocorre quando uma pessoa

sai de casa, é que ela ainda continua conectada pelo campo mórfico da família, do qual

o cão é parte. O campo mórfico se estica, por assim dizer, mas eles ainda estão ligados

por esse campo mórfico, e é devido a essa conexão contínua invisível que a informação

pode viajar, as intenções da pessoa podem afetar o cachorro em casa.

Portanto, eu interpreto tudo isso em termos de campos mórficos. É claro, outras

pessoas podem querer interpretá-lo em termos de outras coisas, e pode ser que isso

esteja relacionado com a não-localidade quântica, ninguém sabe. Existem na física

quântica, fenômenos não-locais misteriosos, sistemas que foram conectados como

parte do mesmo sistema, e quando são separados retêm essa conexão não-local e não

separável à distância. Bem, uma pessoa e um cachorro, que estiveram conectados por

terem vivido juntos como companheiros, quando se separam podem ter uma conexão

não-local semelhante. Mas ninguém sabe se essa não-localidade quântica se estende

aos fenômenos macroscópicos ou não.

MEMÓRIA COLETIVA

Acho que esses campos têm uma espécie de memória, essa é minha ideia de

ressonância mórfica, o que significa que cada tipo de campo mórfico tem uma

memória de sistemas passados semelhantes, por meio de um processo de ressonância

através do espaço e do tempo. Os campos são locais, estão dentro e ao redor do

Milton Menezes

88

sistema que eles organizam, mas sistemas semelhantes têm uma influência não-local

através do espaço e do tempo, oriunda da ressonância mórfica, que dá uma memória

coletiva para cada espécie. Não tenho tempo de explicar os detalhes da teoria da

ressonância mórfica, a não ser para dizer que cada espécie neste planeta teria uma

memória coletiva. Todos os ratos extrairiam memórias da memória coletiva de ratos

anteriores. Se ratos aprenderem um novo truque no laboratório, outros ratos em

outros locais deveriam ser capazes de aprender o mesmo truque mais rapidamente.

Haja evidência, que eu discuti em meus livros, de que isso realmente ocorre.

No reino humano, se as pessoas aprendem uma nova habilidade, como windsurf, ou

andar de skate, ou programação de computador, o fato de que muitas pessoas já

aprenderam a mesma coisa deveria fazer com que fosse mais fácil para os outros

aprenderem. Bem, essa é uma teoria que, claramente, é muito polêmica, e eu a

descrevi em detalhe em meus livros A New Science of Life e A presença do Passado. Já

houve um número considerável de testes experimentais, e quando um número grande

de pessoas está envolvido, eles dão resultados positivos; com uma amostra pequena

(20, 30 pessoas) aprendendo algo novo, os resultados são às vezes positivos e às vezes

não significativos. Esses efeitos são relativamente pequenos e difíceis de detectar no

contexto de variações individuais. Mas há certos tipos de evidência que surgiram

espontaneamente, que são relevantes aqui, e um deles está relacionado com testes de

QI. Como vocês sabem, os testes padrão de QI vêm sendo ministrados por muitos anos

para medir a inteligência e esses mesmos testes são aplicados ano após ano. Foram

feitos estudos para examinar a contagem de testes de QI no decorrer do tempo;

quando examinamos o desempenho absoluto nesses testes - e aqui estamos falando

de testes feitos por milhões de pessoas - os testes mostram um efeito muito

interessante que foi descoberto pela primeira vez por James Flynn, e portanto é

chamado de Efeito Flynn: há um aumento misterioso e inesperado nas porcentagens

do QI com o correr do tempo. Aqui temos um gráfico mostrando resultados de testes

de QI, tirado de um número recente da revista Scientific American. As porcentagens

aumentaram uns três por cento a cada década, não só nos Estados Unidos, mas

também na Inglaterra, na Alemanha e na França. Por que o QI é uma questão polêmica

na psicologia, tem havido muita discussão sobre a razão pela qual isso aconteceu:

melhor nutrição, escolas melhores, mais experiência com os testes, e assim por diante.

Mas nenhuma dessas teorias foi capaz de explicar mais do que uma fração desse

efeito. O próprio Flynn, após 10 anos pensando sobre isso, e testando todas essas

explicações, chegou à conclusão que o efeito é desconcertante, não há explicação para

ele na ciência convencional. No entanto, é apenas o tipo de efeito que seria de se

Milton Menezes

89

esperar com a ressonância mórfica. Não é porque as pessoas estão realmente ficando

mais inteligentes, mas o que está acontecendo é que elas simplesmente estão mais

eficientes quando fazem os testes de QI, e eu acho que isso ocorre porque milhões de

pessoas já fizeram os mesmos testes.

Fontes: IPPB: A memória da natureza;Revista Galileu

Referência: Site de Rupert Sheldrake;O Renascimento da Natureza: o

Reflorescimento da Ciência e de Deus; Rupert Sheldrake - Ed. Cultrix;Caos,

Criatividade e o Retorno do Sagrado: Triálogos nas Fronteiras do Ocidente; Ralph

Abraham, Terence McKenna e Rupert Sheldrake - Ed. Cultrix/Pensamento;A

revolução da consciência - novas descobertas sobre a mente no século XXI; Francisco

Di Biase e Richard Amoroso - Ed. Vozes; (1994). Seven experiments that could

change the world. Londres, Fourth Estate;(l998). The sense of being stared at:

experiments in schools. Journal of the Society for PsychicalResearch, 62, p. 311-323;

(1998). Experimenter effects in scientific research: how widely are they neglected?

Journal of Scientific Exploration, 12, p. 73-78; (1999). The sense of being stared at

confirmed by simple experiments. Biology Forum, 92, p. 53-76;(1999). Dogs that

know when their owners are coming home. Londres, Hutchinson;(1999). How

widely is blind assessment used in scientific research? Alternative Therapies, 5, p. 88-

90.

CAMPOS MÓRFICOS:

“O sentido deste termo é mais geral do que o de campo morfogenético e inclui outros

tipos de campos organizadores; (...) os campos organizadores do comportamento

animal e humano, dos sistemas sociais e culturais e da atividade mental, podem ser

considerados como campos mórficos com uma memória inerente.” (A Presença do

Passado, p. 163)

Milton Menezes

90

“OS SETE EXPERIMENTOS QUE PODERIAM MUDAR O MUNDO”

– Editora Cultrix

1º. Experimento: Relação entre o Animal de Estimação e o seu Dono.

2º. Experimento: Como os Pombos voltam para casa.

3º. Experimento: Organização dos cupins e Cupinzeiro.

4º. Experimento: Mente Contraída e mente Expandida (EQM, Projeção, “Olho Grande”,

Sensação de ser Observado, etc.).

5º. Experimento: Membros Fantasmas.

6º. Experimento: Ilusão da Objetividade.

7º. Experimento: Efeitos das Expectativas do Experimentador (Efeito Placebo).

Milton Menezes

91

17. Holons e Holoarquia:

“Arthur Koestler propôs o termo holon para indicar estes organismos, que são todos

constituídos pos partes, assim como partes de todos superiores: ‘Cada holon possui

uma tendência dual para preservar e afirmar a sua individualidade enquanto todo

quase autônomo e para funcionar como uma parte integrada de um todo maior

(existente, ou em evolução). Esta polaridade entre tendências para a auto-afirmação e

para a integração é inerente ao conceito de ordem hierárquica’. Batizou de holoarquia

esta hierarquia encaixada de holons.

(...)

A abordagem organicista encorajou uma busca de princípios gerais aplicáveis a

organismos ou ‘sistemas’ a qualquer nível de complexidade. Este é o objetivo da teoria

geral dos sistemas, que foi fortemente influenciada pela cibernética – a teoria da

comunicação e do controle, com os conceitos fundamentais de transferência de

informação e feedback.” (A Presença do Passado, p. 141)

Níveis sucessivos de uma hierarquia encaixada de unidades mórficas, ou holons. Em

cada nível, os holons são Todos contendo Partes, que são elas mesmas, Todos

contendo holons de nível inferior, etc.. Este diagrama poderia representar partículas

subatômicas em átomos, em moléculas, em cristais, ou células em tecidos, em órgãos,

em organismos.