Constelação Familiar - Revista Bert Hellinger 0 a 3

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A Ser A Ser A Ser A Ser A Serviço da Vida viço da Vida viço da Vida viço da Vida viço da Vida Uma revista a serviço do trabalho Uma revista a serviço do trabalho Uma revista a serviço do trabalho Uma revista a serviço do trabalho Uma revista a serviço do trabalho com as constelações sistêmicas segundo com as constelações sistêmicas segundo com as constelações sistêmicas segundo com as constelações sistêmicas segundo com as constelações sistêmicas segundo Bert Hellinger Bert Hellinger Bert Hellinger Bert Hellinger Bert Hellinger Fascículo 0 Fascículo 0 Fascículo 0 Fascículo 0 Fascículo 0

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Constelações Familiares

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A SerA SerA SerA SerA Serviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vida

Uma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundo

Bert HellingerBert HellingerBert HellingerBert HellingerBert Hellinger

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• Prefácio à primeira edição brasileira comtrês fascículos da revista Alemã.

• Prefácio

• Sobre a origem da revista Bert Hellinger

• O que a revista Bert Hellinger oferece

• Ajudar às crianças

• Homem e mulher

• Atualidades

• Meditação

Sumário

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Prefácio à primeira edição brasileira com trêsfascículos da revista Alemã.

Em Agosto de 2005 tivemos ahonra de recebermos em Belo Ho-rizonte a visita de Bert Hellinger,após um convite para o qual nospreparamos por um ano.

Naquela ocasião, Bert nos pre-senteou com um rico workshop ba-seado no tema de relacionamentode casal, o lançamento do livro “Or-dens da Ajuda” e muitas conversaspessoais sobre diversos temas.

Naquele momento comentamoscom ele sobre sua nova revista,“A serviço da vida”, que havía-mos visto em Colônia em Maiodaquele mesmo ano. Perguntamos

a ele sobre sugestões para umarevista brasileira sobre o tema dasconstelações e se ele nos dariapermissão para traduzir artigos desua revista para o português. Aresposta como sempre foi afirma-tiva, e ainda nos deu várias su-gestões sobre a inclusão de arti-gos de autores brasileiros.

Recebemos então em Setembrouma nova surpresa, com um convi-te de Bert para um novo workshopno Brasil em 2006, desta vez como tema “Saúde e Doença na Família- o que leva à doença e o que apóiaa cura”. Aceitamos prontamente, e

Prefácio

Giordano Bruno foi considerado omaior criminoso e herético de to-dos os tempos e queimado vivo umavez que afirmou que o mundo nãoera o centro do universo e que osplanetas não giravam em torno domundo e sim em torno do sol.

Isto aconteceu há 500 anosatrás. Hoje em dia é diferente? Sim!Ninguém mais é queimado.

Se alguém, porém, ousar apro-ximar-se do limite do limite doimaginável isto é sempre conside-rado uma pertinência e para mui-tos significa um desafio. Algunsnem mesmo o suportam.

Bert Hellinger aproximou-sedeste limite, ultrapassou-o e olhoupara outra realidade, vivenciou-a,experimentou-a e nos apresentou-

a em seus cursos. Não pode dá-laa ninguém, porém é , capaz deconstruir um campo em seus cur-sos, de maneira que outros tam-bém sejam capazes de ter uma no-ção do que pode ser esta realida-de. Isto, no entanto, requer uma

determinadapostura. Algu-

mas pessoas vol-tam transformadas

após a participação em umcurso.Bert Hellinger teve a coragem

de trazer algo de novo à luz. Algoque estava velado até então e quefreqüentemente atua de maneiradestrutiva. Para muitos isto signifi-ca um ganho importante, enquantoque, para outros representa uma

grande inconveniência. Logo sur-ge um significativo campo de ten-sões. O novo, porém, apenas seapresenta, quando alguém ousaexperimentá-lo. Lá, onde o novonão existe e tudo é regido pelaordem, logo se estabelece a mo-notonia.

Bert Hellinger é um mestre daliberdade de valores, da adaptaçãoe do centro, que se une ao seuentorno e utiliza-o, deixando-o,porém, intocado. Mesmo que nin-guém possa dar nada ao outro des-ta outra realidade, penso que BertHellinger deu-nos algo valoroso eque através dele podemos apren-der algo: de onde a vida vem,como concordar com ela e comoencontrar a paz e o sucesso.

nos pusemos a trabalhar com gran-de afinco para que tudo saísse atempo do novo evento.

Essa revista sai em sua primei-ra edição no formato eletrônico.Acreditamos que as edições poste-riores possam sair em formato du-plo — eletrônico e papel.

A riqueza do material incluídonesses três fascículos e sua clarezanos surpreendem.

Esperamos que esses textos sur-preendam o leitor da mesma for-ma que nos tocaram.

Equipe Editorial – Editora Atman.

Maria-Sophie Hellinger

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Ajudar às criançasA constelação familiar já passou

por muitas mãos.Freqüentemente é utilizada demaneira positiva, outras vezes,

porém, de forma negativa.Por exemplo, quando alguém

faz referência ao meu nome e àsminhas afirmações, mesmo

estando muito longe do meuconhecimento e das ações quedele resultam. Portanto julgoser pertinente posicionar-me

para corrigir mal entendidos efalsificações.

Mas principalmente pretendooferecer um auxilio de vida parao dia a dia a um grande númeropessoas, que vai além do campoda psicoterapia. Quero mostrar

como o amor e a vida podemser mais bem sucedidos commais facilidade no dia a dia.

Sobre a origem darevista Bert Hellinger

1. Algo para você pessoalmente:Orientação em: questões de

relacionamento, de destino pessoal, ede sabedoria de vida.

2. Conselhos:...como, por exemplo, se pode ajudar

a crianças....o que pode renovar e aprofundar

relacionamentos....como o passado pode ser útil para

o futuro.

3. Respostas a questõespalpitantes:

Neste contexto trata-se sempre deapenas um ponto e uma questão –

direcionados sempre às possibilidadesimediatas.

O que a revista BertHellinger oferece:

Pais às vezes têm problemas porqueseus filhos já mais velhos molham acama durante a noite. Podemos contarhistórias para tais crianças inserindopequenas cenas, onde, por exemplo,fecha-se uma torneira de água ou con-certa-se uma calha.

Chapeuzinho vermelho, porexemplo, chega à casa da avó, querentrar pela porta e percebe que a ca-lha está pingando. Diz a si mesmo:“Antes vou concertar esta goteira”.Entra no galpão, busca um pouco depiche, pega uma escada, sobe, con-certa a goteira para que não molhe aentrada e depois desce para visitar asua avó.

Ou então no conto de branca deneve e os sete anões um pequeno anãoqueixa-se de manhã, que entrou chu-va pelo telhado durante a noite e queacordou totalmente molhado em suacama. Branca de neve lhe diz: “Con-certarei o telhado imediatamente.”Enquanto os anões trabalham, bran-ca de neve sobe no telhado, vê queapenas uma telha tinha saído do lu-gar e coloca-a de volta. Quando oanão volta para casa de noite está tãocansado que esquece de perguntarsobre o telhado. Na manhã seguintetambém se esquece, pois tudo estábem.

Um pai cuja pequena filha molha-va a cama contou estas histórias paraela e registrou um efeito imediato. Namanhã seguinte a cama da menina es-tava seca. Neste contexto observou,porém, outra coisa peculiar.

Antes, quando contavahistórias para filha, estasempre prestava atenção

para que ele as contasse exatamenteda mesma maneira sem acrescentarou retirar algo. Tratando-se destasmodificações, no entanto, não protes-tou e aceitou-as como se fizessemparte da história. Neste exemplo ve-mos que a sábia alma da criança alia-se ao narrador. A alma almeja a solu-ção sem que esta lhe seja dita aberta-mente, de modo que a criança sinta-se encorajada a colocar em prática onovo através do seu conhecimento.

É evidente que a criança perce-beu o que o pai disse pois do contrá-rio a história não teria surtido efeito.Mas como o pai não falou diretamen-te sobre o problema e respeitou osentimento de vergonha da criança,ela sentiu-se respeitada por ele tertido tamanha delicadeza com ela epôde reagir.

A criança sabe que molha a cama.Isto não precisamos lhe contar. E sabetambém que não deve molhar a cama.Isto também ninguém precisa lhe di-zer. Se lhe damos um conselho ouabordamos o seu problema sente-seinferior. Se a criança segue o conse-lho, a auto-estima dos pais aumentaenquanto que a sua auto-estima di-minui. A criança protege-se contra aperda de auto-estima recusando oconselho. Exatamente pelo fato denós termos lhe dado um conselho, àcriança precisa fazê-lo de forma dife-rente para manter sua dignidade. Adignidade é o que existe de mais im-portante para cada pessoa. Tambémpara uma criança. Apenas quando acriança sente um amor profundo noconselho pode segui-lo.

A torneira está pingando

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Resposta ao tema:Querida Maria-Sophie,

Há meio ano atrás lhe procurei e parti-cipei de uma constelação familiar por-que meu filho de 14 anos ainda mo-lhava a cama. Havia experimentadotudo com o meu filho e o havia levadopara diversos médicos, homeopatas eoutros terapeutas. Tudo sem sucesso.Durante o seminário coloquei o querelatei a cima como sendo a minhaquestão na presença de todos os parti-cipantes. Você então me disse que nãopoderia ter falado isto na presença domeu filho e em frente de outras pes-soas. Logo me irritei. Como então odeveria ter feito? Sem mais comentári-os você posicionou o menino e meposicionou como representante de suamãe e seu pai. Mostrou-se claramenteque Manuel sentia-se atraído apenas porseu pai. Logo você me perguntou so-bre o seu pai. Eu disse que havíamosnos separado e que os dois filhos doprimeiro casamento estavam comigo.Você falou que seria importante e ne-cessário para o menino que fique como seu pai. Depois você simplesmente

interrompeu a constelação. Eu fiquei in-dignada e com muita raiva de você. Nãohavia entendido nada. Até hoje não en-tendi nada. O resultado, porém, para mimé mais surpreendente: Desde esse diaManuel nunca mais molhou a cama. Mes-mo sem entender como isso atuou, agra-deço-lhe de coração.

O que deixa as crianças felizes?

Quando os seus pais alegram-se com elas.Ambos os pais. Quando ambos os paisalegram-se com a criança? Se através dacriança, respeitam e amam o parceiro –homem ou mulher - e alegram-se comele. Falamos muito sobre o amor. Como,porém, o amor revela-se da maneira maisbonita? Quando me alegro com o outroda maneira como ele é. E quandoalegramo-nos com a criança exatamentecomo ela é.

Neste caso os pais de repente pas-sam a experimentar o poder que têmsobre as crianças como uma tarefa. Prin-cipalmente as mães experimentam estepoder de maneira intensa, uma vez que,

vivem em simbiose com a criança portanto tempo. Logo não experimentammais o poder como sendo um poderpróprio e sim como um poder a serviçoda criança por um determinado tempo.Um tempo atrás estive em um cursodo qual participou, também, uma mu-lher com uma criança de cinco mesesa qual ela segurava próxima ao peito.Ela estava sentada do meu lado. Eu lhedisse: “Olhe para além da criança, paraalgo bem distante que está por trás dela.”Ela olhou para além da criança. De re-pente a criança respirou aliviada e sor-riu para mim. Ficou feliz. Assim ambostornam-se mais livres, tanto os pais quan-to as crianças. Ambos podem entregar-se mais facilmente as suas destinaçõese alegrar-se através delas e conseguemmanter o desapego necessário em rela-ção ao outro.O que é aquilo - o distante - para ondea mulher olhou? É o destino, o seu des-tino e o da criança. E é algo que estáainda mais além do destino. É algo quepermanece velado para nós. Diantedele permanecemos humildes.

Homem e MulherQuem pode dizê-lo? “Eu te amo.”? O que sepassa na alma de alguém quando diz tal frase?O que se passa na alma do outro a quem essafrase é dita?A alma de quem a diz verdadeiramente treme.Nela acumula-se algo, cresce como uma onda earrasta-o. Ele talvez se defenda contra ela pormedo sobre onde pode estar levando-o, sobrequal será o seu destino. A outra ou o outro, aquem a frase é dita, também treme. Pressente oque mudará dentro deles, as responsabilidadesque traz consigo e como determinará suas vidaspara sempre.

Eu te amoAqui deparamo-nos tam-bém com o medo da dúvidase somos capazes de suportar tal fra-se e se concordamos com ela em todasua extensão, se podemos abrir-nospara ela, independente se a dizemos ouse é dita a nós.Não existe, porém, frase mais bonita. Não existe frase quenos toca tão profundamente e nos liga tão intensamente aoutra pessoa.È, também, uma frase humilde. Através dela tornamo-nospequenos e grandes ao mesmo tempo. Tornamo-nos pro-fundamente humanos.

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Atualidades

Quando pessoas com anorexia melhoram freqüentementetornam-se bulímicas. Isto significa que comem e posteri-ormente vomitam o que comeram. Aqui se revela umaluta interna entre a vontade de partir e a de ficar. Quan-do uma menina ou uma mulher ainda não conseguiu li-vrar-se totalmente da bulimia, então come. Assim diz in-ternamente: “Eu fico.” Depois, porém, vomita a comida ediz internamente: “Eu parto”. A solução para a meninaou a mulher, que sente vontade de vomitar a comida, édizer ao pai: “Eu fico.”No caso da bulimia existem, também, outras dinâmicas.Quando a mãe diz aos filhos: “tudo que vem do pai devocês, não presta. Devem aprender apenas de mim”, isto,por exemplo, pode levar à bulimia. Então a criança acei-ta a comida da mãe, em lealdade a ela e a vomita emlealdade ao pai. Essa forma de bulimia pode ser curadaquando a criança aceita a comida de ambos os pais. Prin-cipalmente do pai.

Anorexia Bulimia(Comer e vomitar)No caso da anorexia revela-se

freqüentemente que a pessoaque tem anorexia diz interna-mente: “Prefiro ir em seu lu-gar”, no sentido de uma sal-vação. O motivo da anorexiafreqüentemente é um senti-mento de solidariedade comuma pessoa excluída ou que es-teja retirando-se ou com alguémque esteja desaparecendo ou que seja culpado de algo.Freqüentemente esta pessoa é o pai. Situações em queisto pode ocorrer são: quando o pai está mais conectadocom a sua família de origem ou se ele tende a movimen-tar-se para fora da família por outro motivo, por exemplo,por causa de outra mulher, mas também pelo desejo demorrer.

O que pode ajudar a uma pessoa com anorexia? Se opai lhe diz: “Eu fico e me tornarei feliz se você ficar entrenós.” De um modo geral uma pessoa com anorexia estámais segura perto de sua mãe. A mãe pode lhe dizer: “Se-guro-a para que fique”.

Gostaria de dizer algo sobre o amor. Algodiferente do que vocês talvez estejamesperando. Às vezes ouvimos a frase“Permaneçam no amor!” O que significaisto? Permanecer no amor? Conhecemoso amor que vincula. Através de um amorespecial estamos vinculados aos nossospais, ao nosso parceiro e também aosnossos filhos. Como estamos ligados aestas pessoas desta maneira, estamos aomesmo tempo, separados de outras.Permanecer no amor significa que tudoé amado da maneira com é, que tudo éacolhido na alma da maneira como é. Sig-nifica que concordamos com tudo damaneira como é e o amamos como é,exatamente como é. Significa também,que concordamos com toda a vida comoela é, exatamente como é: com a própriavida assim como é, com a vida dos ou-

tros, como é, com a criação assim comoé, exatamente da maneira como é.Do mesmo modo também a luta faz par-te dessa vida. A vida de cada indivíduodisputa o lugar com a vida dos outros. Sepermanecermos no amor, amamos tam-bém os opostos, a luta, a vitória e a der-rota, viver e morrer, os vivos e os mor-tos, o passado da maneira como foi, ofuturo da maneira como vem, exatamen-te como vem. Neste amor tornamo-nosamplos e entramos em sintonia e con-cordância com tudo.Este amor é a entrega para o todo. É areligião essencial. Neste amor somos re-pletos, serenos, podemos assistir a tudocomo se desenvolve, entregamo-nos aopróprio destino e respeitamos o destinodos outros e o destino do mundo. Estarentregue ao todo deste modo significa

permanecer no amor.Isto implica também emconseqüências para o nos-so dia a dia. Quem perma-nece no amor desta manei-ra pode assistir a tudo comoé: à felicidade e ao desas-tre, à vida e à morte, aoemaranhamento e ao sofri-mento. Como ama o todo e está entre-gue ao todo, uma vez ou outra, atua den-tro deste fluxo de vida, porém, semassoberbar-se permanecendo sempre emsintonia e na aceitação. Quem ajuda dessemodo, permanece isento de preocupações.E é livre. Aqueles a quem ajudam tambémsão livres. Todos possuem sempre o mes-mo tamanho e a mesma importância. Notodo não há quem seja melhor ou pior. Notodo existimos simplesmente.

Permanecer no amor

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Fechamos os olhos e recolhemos-nos aonosso centro. Vemos-nos como criançasdiante da nossa mãe e do nosso pai.Olhamo-los com a devoção com que ascrianças pequenas olham para os seuspais, com os olhos bem abertos e com oamor mais profundo. A maior entrega quejá presenciamos em toda nossa vida foiesse olhar para a nossa mãe e o nossopai. Talvez, posteriormente algo o tenhainterrompido, agora, porém, voltamos aeste amor original.

Olhamos para os pais e por detrásdeles enxergamos os seus pais, e pordetrás destes os pais destes pais, e assimem diante – no final um número infinito.

Através dessas inúmeras gerações avida flui até os nossos pais e através de-les nos alcança. É a mesma vida. Todosque a receberam e a passaram a diante ofizeram corretamente. Ninguém podiaacrescentar algo, ninguém podia retiraralgo. A vida flui em toda sua plenitudeatravessando todas estas gerações. Paraa nossa vida não faz diferença, como eracada um desses indivíduos, se foram pes-soas boas ou más, reconhecidas ou des-prezadas. No serviço à vida foram todasiguais. Dessa forma a vida também al-cançou o meu pai, a minha mãe e atra-vés do meu pai e da minha mãe chegouaté mim.

Agora abrimos o nosso coração e anossa alma para a plenitude da vida comoela nos alcançou através da nossa mãe edo nosso pai. E dizemos: “Obrigado (a).Tomo-a de vocês. Tomo-a inteiramente,pelo preço que vocês tiveram que pa-

MeditaçãoO fluxo da vida

gar e pelo preço que me custe. Seguro-a com firmeza e devoção e transmito-aem sua plenitude e nas condições emque possa e seja capaz de transmiti-la”.

Depois apoiamos-nos em nossos paisdos quais tomamos a vida por inteiro.Olhamos para frente e repassamo-lacomo sempre: a filhos próprios, a netospróprios, a todas as inúmeras geraçõesque nos seguem. Ou, se não temos fi-lhos, repassamo-la de outra maneira, emserviço à vida. A vida nos atravessa econtinua fluindo. Na medida em que nosatravessa estamos mais profundamenteligados a ela. Porque a vida, assim comoo amor flui.

A clarezaA clareza é abrangente. Desvenda oscontextos mais amplos, as circunstânci-as, as possibilidades, as conseqüências. Esempre é reconfortante. E também nãoprecisa provar nada porque embora sejaclara não tem ponto de vista. Podemosdizer também que justamente pelo fatode ser clara não possui ponto de vistauma vez que apenas o estreito necessitado ponto de vista para distinguir-se. Aclareza por ser clara é, também, ampla.

Como obtemos clareza? Primeiro namedida em que nos recolhemos para queaja espaço entre nós e a situação sobre aqual queremos adquirir clareza. Apenasassim ganhamos uma visão geral.

Em segundo lugar na medida emque não transferimos nada do nosso co-nhecimento e dos nossos desejos quepossuímos até então para a situação paraassim caracterizá-la e sim abrindo-nos deforma desprovida de intenções para quetudo possa fazer efeito sobre nós comtoda sua complexidade e suas supostascontradições. Permanecemos assim atéque se estabeleça uma ordem dinâmicadentro dessa multiplicidade diante donosso olhar interno para que o essencial,o próximo passo, o reconhecimento de-cisivo revelem-se.

Portanto a clareza não é tanto obti-da. Ela é dada àquele que é capaz deesperar de forma distanciada, porém,envolvida. Nasce daquilo que vemoscomo massa caótica, às vezes apareceem forma de relâmpago que por umminuto clareia o entorno dentro do qualtemos que movimentar-nos e seremosbem sucedidos.A clareza mantém-se enquanto agimosde acordo e muda na medida em queatuamos. Apenas quando atuamos torna-se totalmente clara. Por este motivo nãose pode ensiná-la ou mesmo prová-la nateoria. É clara para aqueles que agem deacordo com ela e é clara principalmentepara aqueles que agem conjuntamentee de acordo com ela. Aprimora-se eaprofunda-se através da ação.

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Respostas a perguntas feitaspor carta:A seguir encontram-se respostas a per-guntas que me foram apresentadas. Mui-tas das perguntas foram feitas por pes-soas que eu nem mesmo conhecia. Asminhas respostas limitam-se à essênciadas perguntas e, portanto, são breves. São,porém, respostas que demonstram umposicionamento e oferecem soluções.

Estas respostas podem ser lidas comopequenas histórias, uma vez que cadauma delas contém um destino velado.

Para um casal que não conseguiadecidir-se:Esta é uma história para vocês.Alguém ouviu dizer como é bom andarde carro, principalmente quando se estáacompanhado. Ele decide primeiro olharos diferentes modelos. Assim vai a diver-sas concessionárias, olha as ofertas e ve-rifica suas particularidades. É verdade quepara quem quer andar todos os modelosservem, existe, porém, sempre algo areclamar aqui e ali. E assim ele decideesperar mais um ano. No ano seguintefaz o mesmo e assim após três e quatroanos. No meio tempo até chegou a soli-citar férias mais longas para poder co-nhecer também os modelos de carros emoutros países. Durante todos esses anos,porém, ainda andava a pé. Mas de re-pente perdeu a paciência. Neste momen-to precisava de um carro imediatamentemesmo que não fosse o melhor nem omais novo modelo. Tinha tanta pressa emobtê-lo que atravessou um cruzamentocom o sinal aberto. Um caminhão tentoufrear, mas era tarde demais. Matou-o.

Observação: O homem certo e a mulhercerta raramente são encontrados. O bomhomem e a boa mulher geralmente sãosuficientes.

Para uma mulher que gostaria deter um homemComo você pode encontrar um homem?Respeite os homens e um deles encon-trará você.

O que deve ser levado em consi-deração na diferença de idadeAos 37 anos a diferença de idade aindanão é tamanha que chega a prejudicarum relacionamento. Você não vai quererescolher a mais nova de todas. A seguin-te orientação serve como regra: Se am-bos tem um futuro pela frente entãoexiste uma base comum para eles. Quan-do, porém, um dos parceiros já viveu oque se chamaria de “seu futuro” e o ou-tro ainda não, então o conflito está pre-destinado. Um dos parceiros sente-se naposição de ter abdicado do seu futuro ese vingará por isto. Podemos observá-loquando um homem mais velho que jáfoi casado e tem filhos relaciona-se comuma mulher mais nova.

Ultimamente muitos sepronunciaram a meurespeito,freqüentemente sem meconhecer e sem conhecero meu trabalho.Portanto...

...falarei a meu respeito pelaprimeira vez

Começarei pelo o meu passado. Vivencieio nacional-socialismo do início ao fim.Portanto sou uma das poucas testemu-nhas da época que estão vivas. Sei doque estou falando.

Ainda me lembro exatamente quan-do uma noite meu pai entrou pela portade casa após o trabalho e disse a minhamãe: “Hitler é Chanceler do Reich”. Es-tava muito apreensivo. Ele tinha umanoção do que isto significaria para nós.Pouco depois sentimos na própria peleo que significava. Morávamos em Colô-nia e num dia de domingo queríamosfazer um passeio para as montanhas.Fomos à missa matinal e quando saímosda igreja esperamos pelo bonde. Entãoum integrante da SA (Strumabteilung-tropa de assalto) aproximou-se do meupai e fez um comentário desaforado. Meupai também fez um comentário. Por con-seguinte o integrante da SA se pôs a gri-tar com o meu pai e queria prendê-lo.Neste momento o bonde chegou. Meuspais e nós – três crianças – entramos nobonde rapidamente. O condutor fechoua porta imediatamente e o bonde partiu.O integrante da SA, no entanto, subiu emsua bicicleta e aos berros seguiu o bon-de. O condutor do bonde não parou naestação seguinte e continuou até que ti-nha se livrado do homem que nos per-seguia. Os passageiros aplaudiram. Na-quela época isto ainda era possível emColônia. Mais tarde, porém, não. Naque-la época eu tinha sete anos.

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Com dez anos de idade entrei paraum internato em Lohr am Main. Parafazer o segundo grau, porém, freqüenteio colégio da cidade. Um pequeno episó-dio mostrará como era o internato paraonde eu tinha entrado. Após a adesão daÁustria à Alemanha houve um plebisci-to. Aparentemente alguns padres do in-ternato e algumas irmãs que trabalhavamna cozinha haviam votado “não”. Não era,porém, uma votação sigilosa. Os votosforam interceptados. A noite teve umagrande passeata da SA e em seguida umgrupo de integrantes da SA posicionou-se em frente à casa que era o internato.Com letras maiúsculas rabiscaram nosmuros: “Aqui moram traidores” e “vota-mos no não”. Depois quebraram cercade 200 vidraças a pedrada. As pedrasatingiram também o dormitório onde es-távamos dormindo. Na manhã seguintedois padres foram submetidos à deten-ção cautelar e nós saímos de férias.

Em 1941 este internato foi fechado. Eufui a Kassel (Alemanha) para onde osmeus pais haviam se mudado no meiotempo. Lá freqüentei o segundo grau.Aderi a um grupo pequeno do movimen-to da juventude católica que, porém,havia sido proibido muitos anos antes.Aparentemente éramos observados pelaGestapo (polícia secreta do Estado).Após a sétima série a turma inteira teveque entrar para o Arbeitsdienst (serviçode trabalho do Reich) e depois para aWehrmacht (forças armadas). Bem noinício da minha estadia no Arbeitsdienst,uma noite um dos supervisores entroupela porta, veio diretamente em minhadireção e envolveu-me em uma conver-sa. Era da Gestapo. Eu, porém, naquelaépoca não o sabia. Envolveu-me numaconversa sobre Nietsche e Hegel. Natu-ralmente, com 17 anos de idade eu sabiaapenas muito pouco a respeito. Porém,

alguma coisa, eu sabia. Então, durante aconversa, ele disse: “Hegel previu o Es-tado como o temos hoje.” E eu disse:“Pelo meu conhecimento, Hegel odiavao Estado”. Então, subitamente, ele falou:“O senhor odeia o Estado”. Logo percebique se tratava de um interrogatório daGestapo. Um ano depois a nossa turmarecebeu o certificado de conclusão dosegundo grau por correio. Eu, neste meiotempo, já servia a Wehrmacht, e estavaestacionado na França. O último ano dosegundo grau nós foi dado, uma vez que,estávamos todos na Wehrmacht. Foi,porém, requisitado um certificado deconduta do Arbeitsdienst.A mim o certificado de conclusão do se-gundo grau foi negado uma vez que nomeu certificado de conduta doArbeitsdienst estava escrito: Trata-se deum sujeito anti-social, que potencialmen-te pode prejudicar o povo. Vocês podemimaginar o que isto significava naquelaépoca? Significava: Ele está liberado paraser morto.

Tudo que hoje em dia, às vezes,acontece comigo fatalmente me lembraessa situação.

Quando a minha mãe soube do ocor-rido foi até o diretor do colégio e disse:“Meu filho está servindo na Wehrmacht.Está colocando sua vida em jogo e vocês

o negam o certificado de conclusão dosegundo grau?” O diretor envergonhou-se e entregou-lhe o meu certificado deconclusão de segundo grau. Minha mãelutou por mim como uma leoa.Eu, então, estava na Wehrmacht, ativona frente oeste. Muitos dos meus cama-radas morreram ou foram gravementeferidos. Eu mesmo, muitas vezes, esca-pei da morte por pouco. Por exemplo,quando tivemos que atravessar um cam-po minado por falta de outra saída.

Quando chegamos a Aachen fui man-dado para um acampamento emCharleroi na Bélgica como prisioneiro deguerra dos Americanos. Éramos 1600 pri-sioneiros e trabalhávamos 10 horas pordia em um enorme depósito americano.A mando de Eisenhover, porém, só rece-bíamos a metade das calorias necessáriaspara este trabalho, o que servia de casti-go para os Alemães.

Alguns de nós tiveram a coragem defugir. Foram pegos e imediatamenteposicionados contra a parede e mortos atiros. Um ano depois eu também tenteia fuga e consegui. Pouco antes do meuaniversário de 20 anos estava, finalmen-te, livre. Meu irmão, porém, permane-ceu na guerra. Eu já não corria mais peri-go porque a Alemanha havia perdido aguerra. De modo contrário não estivariaseguro. O sofrimento decorrente dos da-nos psicológicos, no entanto, está pre-sente diariamente.

Quantas pessoas que me agrediramnão vivenciaram nada parecido na própriapele e tiveram que se defender contra umsistema totalitário sob perigo de vida?

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O presenteAgora quero voltar-me para o presen-te. Porque existem tais ataques e ca-lúnias contra a minha pessoa? A prin-cipal acusação é que eu reconheço,também, um agressor como ser huma-no assim como a mim mesmo. Esta é amaior inconveniência. Como chegueia assumir tal postura?

Em primeiro lugar porque me sin-to na sucessão de Jesus. Ele sentava-se à mesa com os pecadores. Por estemotivo outros se incomodavam. Eleaboliu a diferenciação entre o bom eo mau. Por exemplo, quando disse:“Sejam misericordiosos como tambémo pai de vocês é misericordioso. Elefaz nascer o seu sol sobre maus ebons, e faz chover sobre justos e in-justos.” Este é o amor em sua essên-cia que não exclui mais ninguém.

Um segundo aspecto foi impor-tante pra mim. Eu pude ver atravésdo meu trabalho que existe uma for-te ligação entre agressor e vítima. Aprimeira vez que o percebi foi duran-te um curso em Berna. Um homemhavia posicionado sua família. De-pois disse: “Tenho que falar mais umacoisa. Eu sou judeu. Ninguém da mi-nha família, porém, morreu. Nós vi-víamos na Suíça.” Mas a sua mãe ha-via-se suicidado e ele também corriaperigo de suicídio. Era possível ob-servar que ele e sua mãe no fundoda alma estavam intimamente ligadosàs vítimas judias.

Depois eu simplesmente posicio-nei sete representantes para os judeusassassinados e atrás deles, há 2metros de distância, sete representan-tes para os assassinos. Depois deixeique os representantes das vítimas sevirassem para os agressores e nãointerferi mais. Surgiu um movimentodo fundo da alma entre vítimas eagressores. Os agressores estavamtomados por uma dor imensa. Quan-do avistaram as vítimas estenderamas mãos em direção a elas e as abra-çaram. Um dos agressores disse: “Estaé apenas uma vítima. Há outras cen-tenas de vítimas que tenho que enca-

rar.” De repente foi possível ver comovítima e agressor no fundo eram umaunidade ligados por um amor profun-do. Como isto era possível? Tanto osagressores como as vítimas puderamver que estavam entregues a uma for-ça maior que atuava por detrás de-les. Um dos agressores disse: “Sinto-me como se fosse um dedo de umamão poderosa que pertence a umpoder ao qual estou totalmente en-tregue.”

Esta foi a primeira experiênciadeste tipo. A partir desse momentoeu não pude mais enfrentar osagressores como se fossem diferen-tes ou como se fossem inumanos oucomo se não fossem, também, incen-tivados por uma força maior que atuapor detrás deles.

Apenas através do reconhecimen-to que vítimas e agressores são mu-tuamente atraídos fui capaz de servirà paz em diversos países. Primeiro emIsrael. Fui convidado três vezes paracursos em Israel. Lá eu fiz exatamen-te o que descrevi aqui. Posicionei asvítimas e os agressores uns de frentepara os outros. Também aqui foi pos-sível observar como precisavam semovimentar na direção dos outros.Não tinham como escapar deste mo-vimento.

Uma grande experiência que fiz du-rante estas constelações foi que os mor-tos - as vítimas mortas e os agressoresmortos - podem e querem encontrar-sea não ser que seus descendentes assu-mam a questão destes mortos e quei-ram repetir todo o drama novamente.Assim impedem a reconciliação. A mes-ma experiência fiz também na Turquiano conflito entre Turcos e Armênios. Eno Japão quando posicionei vítimas eagressores de um grupo junto com asvítimas e os agressores do outro gru-po. Quando damos espaço aos movi-mentos da alma, vimos e sentimos queno fundo a alma deseja a reconcilia-ção. Quer unir o que estava, até então,separado.

O que contraria este movimento?A petulância da consciência tranqüi-la. Todos estes atos graves, todos es-ses ataques partem de pessoas queestão convencidas de que possuem a

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consciência tranqüila e de que sãoinocentes. Pensam que a sua boaconsciência dá-lhes o direito de agre-dir os outros e até aniquilá-los. Todosos grandes conflitos obtêm sua forçada consciência tranqüila. O desejo deaniquilação de um grupo contra umoutro se origina na consciência tran-qüila de cada um. Ambos os ladospossuem uma consciência diferenteque é, porém, sempre tranqüila.

Desta maneira servi a paz em mui-tos países. Na Espanha, por exemplo,existia o mesmo movimento no con-flito entre Espanhóis e Bascos. OBasco que constelou este conflito es-tava aberto para esta reconciliação.Mas no dia seguinte alguém lhe pas-sou um bilhete escondido ameaçan-do-o de morte. Por quê? Porque elequeria superar a separação.

Tive uma experiência parecidacom os descendentes dos partidos daguerra civil na Espanha. Porque oconflito continua de forma velada emuitos esperam que finalmente sepossa ter paz.

Assim foi também em vários ou-tros países. Isto me dá força de conti-nuar andando por este caminho in-dependente do que os outros falamde mim. Unir o que estava separadoé o processo essencial de cura den-tro das famílias como podemos ob-servar nas constelações familiares. Etambém entre grupos rivais.

A Serviço da VidaUma revista a serviço do trabalho comas constelações sistêmicas segundoBert Hellinger

Com artigos da revista alemã“HellingerZeit Schrift”- revista trimestralalemã de autoria de Bert Hellinger eMarie-Sophie Hellinger.

Reprodução autorizada.Direitos autorais para o português daEditora Atman.

Tradução: Filipa RichterRevisão: Tsuyuko Jinno-SpelterDiagramação: Virtual EditCoord. Editorial: Décio Fábio deOliveira Júnior

Revista 0 – edição alemã em 05/2005

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A SerA SerA SerA SerA Serviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vida

Uma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundo

Bert HellingerBert HellingerBert HellingerBert HellingerBert Hellinger

Fascículo 1Fascículo 1Fascículo 1Fascículo 1Fascículo 1

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• Prefácio

• Ajudar às crianças

• Homem e mulher

• Crescimento Interior

• Meditação

• Atualidades

• Entrevista

• História

Sumário

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Prezados leitores,

O 5º congresso internacional de constelações sistêmicas 2005 em Colônia reuniu mais demil participantes de 40 países. Mostrou de forma impressionante como a constelação familiar eas experiências novas adquiridas através desta vem sendo mundialmente reconhecidas.

Através de diversas palestras e seminários vimos o nível de diversidade com o qual a cons-telação familiar evoluiu. Para muitas pessoas tornou-se um auxílio de vida e abriu diversasportas.

A palestra com o título “Como o divino cresce em nós” proferida no último dia do congressopelo Irmão David Steindl-Rast foi particularmente comovente. Irmão Steindl-Rast é beneditinoe vive nos Estados Unidos. Sua palestra tocou os participantes de modo especial, demonstran-do que por trás de todo ato de ajuda procura realizar-se algo de essencial que transcende todosos limites impostos por nós, conectando-nos em um nível profundo. Há muito tempo os parti-cipantes esperavam por algo assim. Irmão David autorizou-me a publicar o artigo proferido emColônia nesta revista. Lendo-o terão a possibilidade de compartilhar a comoção dos ouvintesda palestra. Em outubro do ano passado eu e meu amigo Ludwig Fischer visitamos Irmão Davidno mosteiro Mount Savior em Ithaka ao norte de Nova Iorque. Eu já o conhecia de palestras emSalzburg e através de seus livros. A organização do congresso em Colônia já o havia convidadomuito antes para participar de um curso e de uma palestra em Colônia, mas Irmão David hesita-va, tendo em vista a longa viagem. Juntos, assistimos à missa no mosteiro e em seguida fize-mos uma longa caminhada. Falamos sobre “a nossa percepção de deus de hoje”. Concordamosque precisamos ter muita cautela ao interpretar ou definir nossas percepções internas. No finalda caminhada Irmão David concordou em vir a Colônia e manter o contato comigo. Este é ocontexto desta contribuição especial que encontrarão na revista.

A palestra de Antjie Krog e a troca de experiências com a mesma durante o congresso foramsimilarmente comoventes. Antjie Krog falou sobre seu trabalho na Comissão da Verdade e Re-conciliação na África do Sul que tinha como objetivo reconciliar agressores e vítimas do regimede segregação racial. Diferente de muitos relatos na Europa, a Comissão de Verdade e Reconci-liação visava contribuir para a cura e o restabelecimento do aspecto humano danificado deambas as partes. No final de sua palestra eu estava com os olhos cheios de água. Como tambémhavia vivido na África do Sul durante muitos anos o seu relato tinha um significado especial pramim. O trabalho da Comissão de Verdade e Reconciliação visava em primeiro lugar restabelecera integridade da alma, tanto das vítimas como dos agressores. Esta é restabelecida na medidaem que os agressores voltam a comportar-se humanamente e o demonstram em suas ações.Apenas nestas circunstancias vítima e agressor poderão reencontrar-se na condição de ser hu-mano, estando ambas as partes inteiras internamente. Pra mim este trabalho foi um exemplo deauxílio de vida do nosso tempo com um sentido muito profundo e que visa o futuro.

No debate seguinte eu disse que de acordo com a minha experiência a paz somente seestabelece de forma duradoura se ambos, agressor e vítima são capazes de dizer um ao outro:“Eu reconheço que sou igual a você”.

No final, auxílio de vida nos dias de hoje significa que se une o que estava separado. A revistaé uma contribuição importante para este assunto. Os artigos revelam diferentes formas de comoeste movimento pode ser reconhecido, compartilhado e realizado em cada caso individual.

Desejo-lhes que com ajuda da revista façam novas conquistas que os preencham tanto nocampo pessoal como em seus relacionamentos.

Bert Hellinger

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Ajudar às crianças

Muitas vezes crianças sabeminternamente o que precisam, nãoquerem, porém, que lhes seja dito.Deve partir de um reconhecimen-to interno próprio. Logo contamosdeterminadas histórias à criançaque a ajudam a superar dificulda-des. Contamos a história de tal for-ma que nos aliamos, amorosamen-te, ao bom entendimento da crian-ça, como a um confidente.

Estive com os negros na África doSul, durante muitos anos. Um dia meaproximei de um chefe tribal e conver-samos. Apresentou-me também a suamulher. Ele tinha quatro mulheres e mui-tos filhos com elas. Depois me falou deseus filhos, pois um deles, um menino,o preocupava. “Eu não sei o que eletem. Às vezes ele fica tão triste.”

Um dia o menino achou um amigo.Foram caminhar e encontraram mais ummenino. Este era um pouco maior queeles. Disseram um ao outro: “Agora va-mos olhar o mundo.” Mas aquele meni-no disse: “Há algo muito importante quepreciso fazer antes.” Ele havia perdidoalguém; alguém que lhe era muito que-rido. Assim disse: “Antes eu tenho queir até o seu túmulo.” Foram juntos até o

Ajudar crianças com histórias

Mais um ponto deve ser conside-rado. O inconsciente não conhece anegação. Quando por exemplo ospais falam ao seu filho “Tome cuida-do para não levar um tombo”, a almaouve: “ Tome cuidado para levar umtombo.” O “não” não é ouvido naalma. Portanto é útil formular frasesdesses gênero de maneira afirmativa,ou seja, sem utilizar o “não”. Porexemplo :” Cuide bem de você”, “che-

túmulo. Quando estavam diante dotúmulo o menino disse:” Esperem maisum pouco, ainda tenho que colher algu-mas flores. Colheu as flores e depois foiaté os outros que estavam diante dotúmulo.

De repente ele ficou triste. Fechouos olhos e pensou naquela pessoa queri-da. Depois sentou-se. E sentiu que essapessoa querida estava perto dele. Real-mente a sentiu, assim como se alguémcolocasse o braço em volta do seu om-bro e falasse: “Estou sempre perto devocê” e então ele ficou feliz.

Depois continuaram andando. Aque-le menino olhou em sua volta e de re-pente tudo estava mais bonito do queera antes. As flores eram mais bonitas.Ele ouvia os pássaros cantando e pen-

sou: Nunca os ouvi cantar tão bonito”.Eles passaram por um pé de maçã. Elecolheu uma maçã e deu uma mordida.Nunca uma maçã tinha sido tão saborosapara ele. Assim, juntos, continuaram an-dando.

À noite voltaram para casa. O chefeperguntou ao seu filho: “O que você fez?Você está totalmente mudado.” O meni-no disse: “Sim, estou. É que encontrei umtesouro que agora está sempre do meulado.”

História para um órfão

gue bem na escola”, “tome cuida-do ao utilizar a faca”. Assim sen-do, é importante formular de ma-neira positiva as frases que umacriança diz em uma história. Voudar um exemplo.

O diretor de um orfanato par-ticipou de um de meus cursos emMoscou e trouxe um menino de 12anos. O menino sentou-se do meulado e eu lhe contei uma história.

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Pais com filhos portadoresde deficiênciaPais com filhos portadores de deficiência e pais decriação que acolhem uma criança portadora dedeficiência são solicitados de maneira peculiar pelodestino dessas crianças. Freqüentemente a constelaçãofamiliar revela-nos de modo comovente como o amorcresce diante de tal tarefa e destino.

A constelação dessas famílias revela três aspectos:

Em primeiro lugar o alívio que significa para os pais quandocarregam tal destino com respeito e amor mútuo sem procurar emsi ou em outros a culpa ou os motivos pela deficiência. Por outrolado, às vezes um deles ainda está envolvido nos destinos da pró-pria família de origem e gostaria de ir embora ou é incapaz devoltar-se inteiramente ao parceiro e à tarefa em comum. A gratifica-ção, porem, é grande quando este consegue libertar-se do emara-nhado familiar através da constelação.

Em segundo lugar mostra que não existe saída de tal destino.Uma retirada isenta de conseqüências para a própria alma e vida éimpossível. As conseqüências, neste caso, são mais graves para ospais do que quando se rendem solícitos a sua responsabilidade e arenúncia relacionada à mesma.

Em terceiro lugar, a constelação familiar revela que pais biológi-cos e de criação podem, também, obter muita força e auxílio desuas famílias de origem quando, por exemplo, existem antepassa-dos com destinos parecidos. Lembrando-se deles com dignidade ereconhecimento podem obter força e proteção. Geralmente a defi-ciência é orgânica, logo muitas vezes não é possível alterá-la. Pode-se apenas abrandar as suas conseqüências. Existem, no entanto,exemplos que demonstram que uma deficiência pode, pelo menosem parte, estar fundamentada na história familiar. Por exemplo,tratando-se de autismo. Neste caso a constelação familiar revelasoluções que podem ter um efeito libertador para a criança porta-dora de deficiência.

Há um outro aspecto a ser considerado. A deficiência afeta ocorpo e a mente, a alma, porém, permanece livre. É o olhar voltadopara a alma da criança que sustenta e aprofunda o amor em seuspais biológicos e de criação.

Crianças são fiéisaos seus pais

Falei ao ajudante: “Não é uma tarefa bonita aju-dar a órfãos como você o faz?” É também uma tarefadifícil. Aparentemente difícil. Podemos deixar o solbrilhar sobre essas crianças, assim como são, e sobseus pais, assim como sempre foram. Neste instanteas crianças sentem-se como crianças de sua família.O mais importante para a criança é que saiba: “Este éo meu pai e esta a minha mãe. Eu faço parte deles eeles de mim, mesmo que já estejam mortos ou quealgo tenha sucedido”. Assim sentem-se em casa noorfanato e é simples lidar com elas.

Se auxiliarmos demasiadamente uma criança elafica zangada. Ajudamos com distância e ajudamos,principalmente, em nome dos pais. Logo é impor-tante que nos situemos abaixo dos pais. Se nos colo-carmos acima, como se fôssemos um pai ou umamãe melhor do que os pais reais da criança, ela ficazangada.

Manter-se em sintonia com os pais é a melhormaneira dos assistentes de ajudarem as crianças deum orfanato.

Esta postura compreende também que se per-mita que as crianças a eles confiadas, venham a seriguais a seus pais. Trata-se de um ponto muito im-portante uma vez que crianças querem ser iguais aseus pais. Se dissermos a uma criança “Só não fiquecomo o seu pai” ela quer tornar-se exatamente igualao pai por um sentimento de lealdade. Este é o efei-to de tais alertas na alma da criança. Se, porém, épermitido que a criança venha a ser como o seu paie essa lhe diz na alma ”eu quero ser igual a você”então o pai a olha amorosamente e talvez lhe diga“Você também pode fazê-lo um pouco diferente demim.” Através da aceitação de seus pais como elessão a criança fica livre para desenvolver-se diferen-temente, fora do campo de influência dos pais. Todacriança ama os seus pais independente de como elessão. Se a pessoa que quer ajudar a essas crianças amae respeita os pais dentro delas, elas sentem-se segu-ras. Amam os ajudantes uma vez que estes estãointernamente ligados aos seus pais e porque sabemque querendo, podem voltar internamente para osseus pais a qualquer momento.

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Homem e MulherQuando um ho-

mem encontra a mu-lher pela qual se sen-te atraído de modoespecial e quandouma mulher, ao en-

contrar este homem,se sente atraída por ele de

modo especial, os dois são atraves-sados por um sentimento de felicida-

de, até então desconhecido, e por umdesejo que deles se apossa totalmente.Sentem este sentimento de felicidade eeste desejo como amor. Quando então ohomem diz à mulher: “eu amo você” ese a mulher também disser ao homem:“eu amo você” eles se unem e se tor-nam um casal.

Porém, será este primeiro amor, quesentem um pelo outro, que confessamum ao outro, suficientemente forte, parauma união duradoura? Mesmo se após umtempo, ficar claro que os caminhos di-versos que até então percorreram, osunem de forma tão intensa apenas porum tempo? Quem sabe até por um lon-go tempo, principalmente se não foremapenas um casal e sim se tornarem pais.E se estes caminhos, porventura, maistarde apontarem para direções distintas,ainda assim os ligarão? Pois o que o ho-

mem e a mulher realmente sabem umdo outro na exaltação do primeiro amor?O que sabem da escuridão que envolvea sua origem, o seu destino e a sua de-signação especial? Quando aquilo queestava velado até então, vier à luz, a ques-tão é, o que os ajudará para que o seuamor persista e sobreviva a esta realida-de? Sentimos que esta primeira confis-são “Eu amo você” necessita sercomplementada por algo mais. Algo queprepara um casal para este estado maisabrangente, que o conduz para talamplidão e profundidade que o faz cres-cer para além deste primeiro amor. Umafrase que engloba esta dimensão maiore que os prepara para ela, seria: “Eu amovocê e aquilo que guia a você e a mim”.O que sucede, quando o homem diz àmulher e a mulher diz ao homem estafrase: “Eu amo você e aquilo que guia avocê e a mim”? De repente não olhamapenas para si e para o seu desejo, olhampara algo maior que está para além de-les. Mesmo que ainda não consigam com-preender o que esta frase exige delesde especial, e que destino aguarda cadaum deles individualmente e juntos, tra-ta-se de uma frase que prepara e possi-bilita, após o amor à primeira vista, oamor à segunda vista.

O segundo olhar

SexoA palavra sexo é uma palavra adver-

sa para a alma, pois lhe falta a alma, aprofundidade, a paixão repleta, a desco-berta do outro e o ato de reconhecer eencontrar a si mesmo no outro.

Quanta força, porem, está inerente àantiga e hoje em dia mal vista palavravolúpia. Nela sentimos o movimento, ocalor, a paixão, os corpos entrelaçados, oato de segurar-se intensamente, o abra-ço insaciável, o impulso adiante, o augee o relaxamento feliz. Em comparação aeste calor sexo é frio — é como fastfoodao lado de uma refeição farta.

Volúpia é vida, imponente em suaforça e fértil em todos os sentidos. Delaresulta algo muito além do pessoal e doauto-referente. A volúpia, porém, éincontrolável, transbordante, pois guiadae sustentada por algo maior. Nela a almase alegra.

Devemos, portanto, introduzir nova-mente esta palavra? Não. É excessiva-mente frágil como algo sagrado. O me-lhor a se fazer, no entanto, é abolir a pa-lavra sexo. Com tudo que lhe atribuímos,de qualquer modo é uma palavra desco-nhecida para a alma.

A constelação familiar não apenasrevela o que estava, até então, velado.Mostra também caminhos para a solução.O ponto crucial da constelação familiar émostrar saídas do emaranhado e guiar osas pessoas afetadas nesta jornada.

Assim como o amor à primeiravista não pode durar quando não é se-guido pelo amor à segunda vista, a solu-ção na constelação familiar apenas teráêxito se as pessoas em questão seconectarem a algo maior. Ou seja, dei-xando algo do passado para trás, consci-

entemente, e abrindo-se para algo novo,mesmo que no início lhes cause medo.O ato de saber e reconhecer, por si só,neste caso não ajuda muito. Necessita-se, além disso, de uma força especial.

A fonte de tal força é por um lado aconexão com os pais e ancestrais e poroutro o ato de inserir-se em algo maior.Quando nos rendemos a algo maior en-tramos em sintonia com o que finalmen-te nos conduzirá. Às vezes transporta-nos para além dos limites de um emara-nhado e nos liberta para um amor feliz e

repleto. Mas nem sempre. Às vezes tes-temunhamos em nós mesmos ou outrosque um limite não pode ser ultrapassa-do, ou seja, que nós ou o nosso parceirosomos incapazes de libertar-nos de umemaranhado temos que reconhecer estefato sem querer mover ou modificar algo.Num relacionamento entre casais tal fatoé percebido como morrer. Até mesmoesse ato de morrer podemos enfrentarcom amor se dizemos um ao outro: Eume amo e eu amo você com tudo quenos guia.”

Como amor e vida dão certo juntos

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7

A constelação familiar revela muitodo quanto as ligações de destino solici-tam de um casal e de seus filhos. Na cons-telação familiar o homem ou a mulherescolhe representantes para determina-dos membros de sua família a partir umgrupo de participantes e coloca-os emrelação dentro do espaço. No momentoem que tomam o seu lugar os represen-tantes percebem que se sentem igual àspessoas que representam. Isso acontecesem que saibam algo sobre elas. Atravésdos representantes uma relação com umoutro membro familiar, até então oculta,torna-se visível. Logo, a constelação fa-miliar revela que os representantes en-tram em um campo espiritual complexoque os liga aos membros familiares au-sentes. Não apenas externamente ou nasuperfície e sim em áreas onde uma for-ça que conduz a todos eles torna-se per-ceptível para os presentes. Chamo estaforça de “grande alma”.

O homem ou a mulher que estãoconstelando também são atravessadospor esta força. No momento em queposicionam toda a família entram emcontato com esta grande alma e posteri-ormente se surpreendem com o que elarevelou. Trago-lhes um exemplo. Umhomem posicionou a sua família atual,ou seja, selecionou representantes parasi mesmo, sua mulher e seus filhos. Derepente percebeu que posicionou umacriança longe dos outros e com o olharvoltado para fora o que revela que estacriança aspira sair da família. O coorde-nador da constelação perguntou ao re-presentante da criança como se sentianeste lugar e ela respondeu que se sen-tia bem ali. Mas qual o motivo desta cri-ança querer ir embora ou talvez até mor-rer? Talvez uma outra pessoa da famíliaalmejasse partir e talvez até morrer. Logoo coordenador da constelação pediu àrepresentante da mãe da criança que tro-casse de lugar com ela. Quando a per-guntou como se sentia naquele lugar elatambém respondeu que se sentia bem.Tal fato revela que a pessoa que querpartir é a mãe, seja por qual motivo for,e que a criança está disposta a assumir odestino de sua mãe em seu lugar. Logo,um fato profundamente assustar e

preocupante tanto para o homem quan-to para a mulher e a criança tornou-sevisível através da constelação.A questão é: “Como isso é possível?” Deonde vem o anseio da mulher de partir?”E se formos além, “ de onde vem o an-seio de morrer que sente no fundo daalma? ” este seria o verdadeiro significa-do se formos até as últimas conseqüên-cias. A resposta estava em um aconteci-mento na sua família de origem. Ela ti-nha uma irmã gêmea que faleceu logoapós o nascimento. Quando uma repre-sentante da irmã gêmea foi posicionadadiante da mulher na constelação, mos-trou-se claramente que sua vontade departir era o anseio profundo de seguirsua irmã na morte para unir-se a ela. Esteexemplo mostra o que significa quandofalamos de emaranhados de destino equais as conseqüências que podem acar-retar para a relação de um casal. São vín-culos de destino porque permanecemalém da nossa vontade, dos nossos cui-dados e da nossa consciência. São liga-ções de destino porque tem uma influ-ência sobre as nossas vidas que não po-demos controlar, pelo menos em quantonão tomamos consciência delas. No casorelatado não apenas a mulher estava en-volvida num emaranhado de destino mastambém o seu marido e a criança. A cri-ança porque queria assumir o destino de

sua mãe no seu lugar sem sequer saber omotivo. O marido porque seria atingidopelo destino sem possibilidade algumade tomar uma providência, caso a relaçãocom a sua mulher fracassasse devido aovínculo de destino da mesma.

Vínculos de destino Amor que liga eamor quedesvinculaQuando um homem e uma

mulher se encontram ambos

percebem que lhes falta

algo. Afinal, o que é um

homem sem uma mulher e

uma mulher sem um

homem? O homem existe

sempre em relação à mulher

e a mulher existe sempre

em relação ao homem.

Conectando-se um ao outro

recebem o que lhes falta. O

homem recebe a mulher e a

mulher o homem. É

humilhante para ambos

admitir que sentem falta

um do outro. Não é fácil,

pois reconhecem assim os

seus limites. Alguns

desejam fugir de tal

reconhecimento, o homem,

por exemplo, tentando

desenvolver em si o

feminino e a mulher

tentando desenvolver em si

o masculino. Deste modo o

homem não precisa mais da

mulher e a mulher não

necessita mais do homem.

Conseguem ser um sem o

outro.

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8

Uma relação entre um casal tem

êxito quando ambos, o homem e a

mulher, admitem que sentem falta do

outro e que precisam um do outro

para estarem plenos. Dando um ao

outro aquilo que lhe falta tornam-se

plenos e inteiros.

Através da consumação do ato se-

xual o amor entre homem e mulher

encontra sua realização. A relação de

um casal visa à consumação do ato

sexual.

É o ato de maior consumação de

vida e supera em muito qualquer ou-

tra realização, também a espiritual.

Através dele estamos em sintonia

com o essencial da vida. Pois, o que

nos compromete mais com o essenci-

al da vida e o que nos deixa crescer

mais do que a consumação sexual e

as suas conseqüências?

Mais um ponto está relacionado

a essa consumação. Através dela ori-

gina-se um vínculo. Após a consuma-

ção sexual o casal não se desvincula

mais. Portanto não podemos tratá-la

como se fosse algo aleatório. Traz

consigo amplas conseqüências.

O que um vinculo significa e qual

a sua profundidade percebemos atra-

vés da dor e do sentimento de culpa

e de fracasso que um casal experi-

menta no momento de uma separa-

ção. Não é possível separa-se sem

sentir e reconhecer o vínculo. Como

isto se reflete em relacionamentos

posteriores percebe-se através do fato

de uma criança de um segundo rela-

cionamento representar o parceiro do

primeiro relacionamento. A criança

tem os sentimentos deste parceiro e

os exprime diante dos pais. Não se

pode brincar com relacionamentos

anteriores. Eles continuam atuando.

Podemos observar também, que

quando um casal se separa e, sepa-

rados, os dois se relacionam com

outros parceiros e se separam nova-

mente, nesta segunda separação a

Amar e precisarUm relacionamento de casal rea-

liza-se quando duas pessoas necessi-tam um do outro e quando recebemdo outro o que precisam. Vejo a par-tir da sua carta que você ama o seumarido, porém, não precisa dele. Queobtém aquilo de que precisa de ou-tras fontes e que assim sendo não hábase para um relacionamento sólido.Neste caso a terapia não pode ajudar.A conseqüência lógica seria o que seumarido receia e aspira.Obs.: Diante de fatos concretos nãoprecisamos ter a consciência pesada.

Partir com respeitoVocê às vezes comportou-se

como se não precisasse de homens.Agora respeite-os e liberte-os inter-namente. Primeiro o seu marido, de-pois o seu pai e mais um ou outrohomem possível. Espere para agir atéque tudo se ajeite. Da maneira queestá me parece que é necessário per-

manecer sem ação. No entanto, fiqueatenta para que veja a lacuna que estáse abrindo.

A sintonia com o todoNão acho que seja possível redu-

zir – de uma maneira adequada – arelação a um sim ou a um não. A suavida continua inserida nas suas refe-rências e a vida dele continua inseridanas referências dele. Esses contextospodem e devem continuar válidos. Sãodemasiadamente importantes paraque sejam ignorados.

O novo pode surgir. Seja qual foro novo, precisa, porém, mostrar-seantes, após uma espera paciente. As-sim como um jardineiro que olha eavalia antes de arrancar plantas. Logoo meu conselho é: Faça aquilo quevocê faria de qualquer maneira quelhe teria correspondido, e deixe queo novo a acompanhe de longe comouma música de fundo. Mantenha-se emsintonia com o todo durante este pro-cesso.

Respostas a perguntas feitas por carta:Sobre o tema homem mulher

dor e a culpa são menores em com-

paração à primeira separação. Dian-

te de uma terceira separação a dor e

a culpa são ainda menores e após um

tempo já não importam mais. Geral-

mente em uma relação posterior os

parceiros não têm a coragem de to-

mar o companheiro novo da mesma

maneira intensa como o primeiro.

Existe uma solução para eles, se

no momento de uma separação con-

tinuarem respeitando e amando o

parceiro antigo. Nem sempre os dois

alcançam esse estado ao mesmo tem-

po. Assim permanece algo doloroso

para ambos.

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9

Crescimento InteriorA purificação

Há um tempo queria descobrir o quesignifica “grandeza”. O que faz de alguémuma pessoa com grandeza? Obtive re-sultados peculiares. A maior grandeza deuma pessoa é aquilo que a iguala a todosos outros. Isto é o maior. Qualquer des-vio para cima ou para baixo retira algo.

No decorrer do tempo a purificaçãotornou-se um conceito ou procedimentoimportante para mim. Necessitamos dapurificação da alma para atingir a gran-deza que nos iguala a todos os outros.Uma purificação que nos deixa inteira-mente permeáveis para algo diferentesem que nenhum propósito próprio in-terfira – ou interfira apenas numa exten-são reduzida. Também não devemosexagerar. No misticismo cristão a purifi-cação tem um papel bastante importan-te em diversos aspectos. Fala-se primei-ramente da purificação dos sentidos queconduz a um recolhimento interior. Esteseria um caminho. O outro seria a purifi-cação do espírito. Neste contexto purifi-

cação significa afastar algo supérfluo paraque permaneça o essencial e último.

Na purificação espiritual abdicamosdas nossas idéias, dos nossos conceitos eda nossa noção sobre o que é certo ouerrado. De repente podemos nos exporexclusivamente àquilo que se apresen-ta. Se assim nos expusermos ao múlti-plo, da forma que se manifesta, de re-pente aparece algo que é essencial. Derepente podemos captá-lo. Quando tra-balhamos com constelações familiares,por exemplo, ocorre o mesmo. Sem sa-ber nos expomos a algo. De repente mos-tra-se alguma coisa sem que tenhamosrecorrido a imagens próprias. E sentimos“sim, é isso que importa.” Quando temosum problema ou nos preocupamos comalgo experimentamos uma sensação pa-recida. Entregamo-nos ao problema comoele é sem medo e sem um propósitoespecífico até que percebemos: é assimque continua.

Então constatei: O que é a purifica-ção propriamente dita? Como se reali-za? Realiza-se na medida em que meigualo a todos. A todos. Talvez não ape-nas a todos os seres humanos e sim a

todas as criaturas, sem qualquer preten-são. Insiro-me em um todo, sendo umentre muitos, absolutamente igual eequivalente.

É claro que em tal procedimento adistinção entre o bem e o mal não existe.Ou a diferença entre agressor e vítima.

O que um representante disse aquisobre a dignidade do agressor é muitoprofundo.

Quando damos espaço a tal movi-mento, quando nos abrimos e crescemossentimos que proporcionamos, tambéma eles, a igualdade que lhes pertence.

A purificação se dá quando as dife-renças dentro de mim se dissolvem; tam-bém estas entre vítima e agressor na me-dida em que eu as acolho na minha almado mesmo modo e lhes dou um lugar. Éimpossível atingir purificação maior.

É gratificante entregar-se a tal purifi-cação. Preenche-nos. Não nos tornamosmenos. Ao contrário. Dentro desta igual-dade possuo tudo em mim, sem que euqueira. Tem-me e me carrega.

O CiúmeUma mulher de um grupo con-

tou que torturava seu marido comseu ciúme e mesmo reconhecendoque não fazia sentido não conse-guia resistir a tal comportamento.Mostrei-lhe a solução. Eu disse: “Acurto ou médio prazo você perde-rá o seu marido. Curta-o enquan-to isso!” A mulher riu e sentiu-sealiviada. Alguns dias depois omarido ligou e disse “agradeço-lhepela minha mulher.”

Há muitos anos atrás o maridohavia participado de um dos meus

cursos com sua namorada. Duranteo curso falou diante de todos os par-ticipantes e sem levar em considera-ção a dor da sua namorada, que ti-nha uma outra namorada nova e maisjovem e iria separar-se da atual mes-mo já tendo vivido com ela durante 7anos. Depois participou de outro cur-so, dessa vez com a nova companhei-ra. Durante o curso ela engravidou epouco depois se casaram.

Agora entendi o sentido dociúme da mulher. Socialmente elanegava o vínculo de seu marido coma antiga namorada e através do seuciúme reforçava seu direito de posse

em relação ao marido publicamen-te. No fundo, porém, reconhecia ovínculo e também a sua culpa.Logo o seu ciúme não era provade uma culpa do seu marido emrelação a ela e sim uma admissãosecreta de que não era digna deseu marido e que a separaçãoprovocada por ela seria a únicapossibilidade de reconhecer a li-gação ainda existente. Seria tam-bém uma prova de solidariedadecom a antiga namorada do seumarido.

Após alguns anos a reencontrei.Havia se separado de seu marido.

Olhando de Perto

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Como o divino cresce em nósIrmão David Steindl-Rast O.S.B

Nota prévia:Irmão Steindl-Rast é um professorespiritual amplamente solicitado.

Proferiu esta palestra noCongresso Internacional deConstelações Sistêmicas em maiode 2005 em Colônia e teve a

gentileza de disponibilizá-la paraesta revista. Irmão Steindl-Rast éde Viena, é membro da Ordem

Beneditina e dedicou-se também,intensamente, a outras religiões.Vive retirado em um mosteiro nos

Estados Unidos.

Tratando-se do assunto “como o di-vino cresce em nós” talvez seja apropri-ado começar com um momento de si-lêncio onde vocês possam abrir-se paraaquilo que entendem como “divino.”

Para mim as palavras decisivas nestecontexto são “em nós”. Falarei a vocêsda minha própria experiência e me vol-tarei para as suas experiências pessoais.Apelo, por assim dizer, às suas experiên-cias, já que sobre um assunto como estesó pode-se falar do ponto de vista daexperiência. Logo espero que confiramo que direi aqui através de suas própriaspercepções.

Quero repassar o título, palavra porpalavra. Falando de “divino” refiro-meàquilo que Dorothee Sölle denomina de

MeditaçãoA fonte da vida

Imaginemos que nos dividi-mos ao meio. De um lado senti-mos o pai. Por detrás do pai sen-timos seus pais e anterior a es-tes seus avós e se seguirmos emdiante os seus bisavós. Abrimo-nos perante a força vital que nosalcança e penetra através de to-dos estes ancestrais. Sentimos asua força. Podemos seguir aindamuito mais além. Todos estes an-cestrais preencheram a vida. To-maram-na e repassaram-na. Ago-ra estão atrás de nós. Sentimoso calor que nos atravessa acom-panhando a força e talvez perce-bamos a diferença em compara-ção ao outro lado, onde tal liga-ção ainda falta. Voltamo-nos parao outro lado e sentimos a mãeatrás de nós. Por detrás da mãesentimos seus pais e depois osseus avós, bisavós e tataravós.Uma rede gigante amplamenteramificada repleta de força vitalque vem de longe através destesancestrais e nos atravessa.

Agora sentimos como estesdois fluxos de vida, o do pai e oda mãe transformam-se em umaunidade nos nosso interior. Tra-ta-se de uma unidade inconfun-dível. Sentimos o calor e a força.Talvez sintamos, também, comoessa força se acumula e almejafluir em diante, atravessando-nos, alcançando os nossos pró-prios filhos e tarefas a serviço davida. Quiçá colocamos tambémuma doença neste fluxo, seja elaqual for. Ela nos mostra que algoestá interrompido. Quer que su-peremos este abismo. Se formoscapazes de restabelecer esta li-gação sob a pressão da doençaesta cumpriu sua função.

“mais”. Mais é sempre mais. Mais em to-das as dimensões. As palavras deus e di-vino tem tamanha conotação que deve-ríamos achar outras. ”Mais” cabe exce-lentemente. “Mais” não apenas no mes-mo nível, e sim, sempre, em novos pla-nos e dimensões. Como seres humanosestamos condicionados a este “mais”.Queremos encontrar um sentido e so-mente envolvendo-nos com este “mais”podemos achá-lo.

O que quero dizer com o “divino”?Tanto dentro de nós pessoalmente comono mundo como um todo – mesmo quesem a mesma intensidade – estamos,neste momento, ultrapassando a frontei-ra para um novo entendimento deste“mais”, nos diversos níveis. Algo de to-talmente novo está rompendo caminho.Aqui também falaremos, em parte, so-bre isto.

Com relação ao crescimento em nós,como este “mais” poderá crescer “em nós”?Através da nossa consciência sobre este“mais”, ou seja, conscientizando-nos delee relacionando-nos com ele o que significaque nos envolvemos com ele. Logo, trata-se de dois pontos importantes: aconscientização e o ato de envolver-se.

O primeiro aspecto, o da conscien-tização, pertence mais à espiritualidade.O ato de envolver-se, por sua vez, per-tence mais à área da religião. Os dois as-pectos são inseparáveis, uma vez que, aconscientização e o ato de abrir-se paraa mesma estão estreitamente ligados umao outro.

Espiritualidade e religião, porém,podem ser diferenciados um do outro.Não podemos separá-los, no entanto, épossível distingui-los. Deste fato resulta,também, o nosso procedimento.

Atualidades

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Tratarei do tema da espiritualidadesobre 4 aspectos:

1.) O que é espiritualidade?2.) Qual o relacionamento da

espiritualidade com a religião?3.) O que impede ou inibe o cresci-

mento do “mais” em nós, ou seja,do divino em nós?

4.) Como podemos incentivar talcrescimento? O que podemosfazer conscientemente para in-centivar este crescimento den-tro de nós?

Voltando ao primeiro ponto: O queé espiritualidade? Sugiro que partamos dapalavra propriamente dita – espiritua-lidade – que remonta a palavra “spiritus”do latim. Traduzimo-la com a palavra“espírito”. Neste contexto espírito signi-fica espírito no sentido de “respiraçãovital”. Originalmente “spiritus” significa-va sopro de vento, respiração vital. As-sim como a palavra grega “pneuma” oua hebraica “ruach” que ambas a antece-dem. Todas significam “respiração vital”e no sentido figurado, vivacidade.

Logo, vejo espiritualidade como vi-vacidade intensificada em todas as áreasda nossa vida. É uma amplificação daextensão de nossa vivacidade.

Não vivemos sempre com amesma intensidade. A maioria de nós estámenos disposta de manhã do que à noi-te. Existem também aqueles que já demanhã tem muita energia e desesperamos outros com tamanha disposição. Onosso grau de vivacidade varia bastante.Dependendo também da fase da vida emque estamos. Quando vivemos plena-mente em todos os sentidos – e existemmomentos em nossas vidas onde estamosinteiramente vivos – temos uma noçãodo que possivelmente significa viver ple-namente a espiritualidade. Estes momen-tos ocorrem em situações diversas e sem-pre nos surpreendem. Podemos nos pre-parar para eles, porém, permanecerãoimprevisíveis.

Neste ponto preciso falar de AbrahamMaslow, conhecido pela maioria de nóspela sua hierarquia de valores. Fez umadescoberta muito mais importante. Ele a

Espiritualidade denomina e descreve como “peakexperiences” o que seria “experiência depico ou de ponta”. Vale a pena falar umpouco mais sobre como Maslow fez taldescoberta em meados do século XX.Colocou-se a questão: O que faz com quealgumas pessoas tenham tamanha viva-cidade? O que faz com que tenham ta-manha criatividade, tanta saúde? O quefaz delas pessoas de verdade, assim comogostaríamos que as pessoas fossem? Elediz: Nada na minha formação de psicolo-gia preparou-me para responder tal per-gunta. Preocupava-se sempre com do-enças da mente, porém nunca se per-guntou: o que faz de uma pessoa alguémtão saudável. Levou anos voltando-se paraesta questão e chegou a um resultadoque o surpreendeu. Há um fato comuma todas as pessoas com tamanha vivaci-dade, às vivas e às mortas que conheciaapenas através de documentos escritos:todas têm experiências místicas. Estadescrição não foi muito bem vista na li-teratura da psicologia. Logo rapidamen-te mudou a expressão para “peakexperiences”. Durante toda sua vida, noentanto, insistiu que não havia diferen-cia alguma entre “peakexperiences” e a experiên-cia mística. São a mesmacoisa.

Qual o ponto crucial emuma experiência de pico? Quetodos a fazemos. Durante suaspesquisas Maslow constatou quetais experiências não estão limi-tadas a pessoas extraordinárias eque – na medida em que é possí-vel fazer generalizações no campoda psicologia – todos as pessoas asfazem. Percebeu, porém, que amaioria das pessoas reprime-as.

Algumas pessoas queperguntou sobre as expe-riências de pico disseram-lheque jamais haviam falado sobre istoa alguém porque achavam que se trata-va de um momento de delírio. Maslowdisse: “este talvez tenha sido o único mo-mento de lucidez destas pessoas”.

Peço-lhes, agora, que lembrem deuma experiência de pico própria. O piconão precisa ser especialmente alto. De-pende da altura do planalto de onde par-tem. O que importa é que tenham umponto de referência em suas própriasvidas.

Citarei quatro pontos que deveriamcoincidir tratando-se de uma experiên-cia de pico. Não se preocupem, porém,se não verifiquem tais pontos em suaexperiência de pico, uma vez que ser-vem em primeiro lugar de referência.

Primeiro ponto: o tempo está para-do. Isto pode significar que passou umahora e eu tenho a sensação de que sepassaram apenas alguns minutos. Ouentão que passaram somente alguns se-gundos, mas que algo aconteceu queparece ter levado horas. É como se anoção de tempo estivesse desligada. Oponto decisivo é: Estamos no aqui e ago-ra, voltados inteiramente para o presen-te. Este é um aspecto importante dasexperiências de pico.

O segundo ponto é que temos umsentimento infinito de fazer parte de algo.

Não apenas em relação às pessoas,mas também em relação aos animais eplantas, às pedras, às estrelas, o mar.Quando temos tal experiência na natu-reza nos tornamos uma unidade com asárvores e as nuvens. Somos um com anatureza. Nos sentimos unidos a tudo.

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Os estreitos limites do “eu” foram rom-pidos, apagados ou desfeitos.

O terceiro ponto é que neste deter-minado momento dizemos “sim” a algu-ma coisa sem qualquer restrição. Dizemossim a tudo que é, como é. Não julgamos,simplesmente dizemos sim. Olhamos parao que normalmente denominamos debom e que normalmente denominamosde ruim. Temos a capacidade de olharpara tudo da maneira como é. Permane-ce bom, permanece ruim, mas nós pode-mos dizer “sim” a isto, assim como é. Di-zemos sim a tudo o que é.

Finalmente estamos repletos de umsentimento máximo de alegria. Mais doque alegria. Para nós alegria significa quealgo bom está acontecendo. Na experi-ência de pico a sensação de alegriaindepende do ocorrido. Às vezes temostal sensação no decorrer de situações ter-ríveis. Durante um atentado de bombasou no caso da morte de alguém. Trata-sede um sentimento de alegria que nãopossuiu, praticamente, relação com o quenormalmente chamaríamos de alegria,uma vez que a transcende amplamente.

Estes são os quatro pontos, sem or-dem obrigatória:

1.) O tempo está parado. Estamosno agora.

2.) O sentimento infinito de fazerparte.

3.) Dizemos sim a tudo que é, comoé, sem julgamento.

4.) Uma sensação máxima de alegria.

Segundo Maslow estes elementostambém são típicos tratando-se da ex-perimentação mística. Não precisam,porém, preocupar-se agora e dizer: Nãosou místico. O místico não é uma pessoaespecial, ao contrário, cada pessoa é ummístico especial.

Como então os grandes místicosdistinguem-se da massa? Deixando queesta vivência penetre em tudo que fa-zem. Outros esquecem tais acontecimen-tos ou reprimem as lembranças deles.Se cuidarmos do místico e o deixamosentrar nas nossas vidas, ele lhes dá for-ma. Este é o significado pleno deespiritualidade. Na medida em que dei-xamos que esta experiência, a experi-ência da totalidade, entre nas nossas vi-das, estamos verdadeiramente vivos, fe-lizes e presentes.

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ReligiãoComo passamos desta vivacidade –

da vivacidade da espiritualidade que nosdeixa repletos de felicidade – para a re-ligião muitas vezes aflitiva e tão menosgratificante? Da espiritualidade inevitavel-mente passamos para a religião.

Não digo, porem: para esta ou aque-la religião. Não me referia às religiõesdiversas. Refiro-me “à” religião. Todo serhumano possui esta religião.

Farei a tentativa de demonstrar-lhesnovamente através de um apelo às suasexperiências próprias como se faz a pas-sagem da experiência mística à religiãoe da lá, talvez, às religiões.

Partimos da palavra religião. A pala-vra latina para religião é “religo” e signi-fica reconexão.

Reconectar-se com a realidade mís-tica. A experiência mística cria a religião.

Agora voltamos o olhar para sua ex-perimentação mística pessoal – a expe-riência de pico. O que acontece no ins-tante após essa experiência? Durante aexperiência de pico propriamente ditaestamos simplesmente presentes. Nãopensamos em nada, não queremos nada.Sentimos tal felicidade e estamos presen-tes. No instante seguinte, no entanto, jáse manifesta o nosso intelecto e pergun-ta: O que era aquilo? É inevitável quefaçamos tal pergunta. É impossível im-pedir. Damos uma resposta que é místi-ca em sua origem. Respondemos comuma imagem, ao contrário da teologia quebusca uma resposta racionalmente coe-rente. O mito vai muito além da teolo-gia. Porém, de uma forma ou de outrareagimos à pergunta sobre o que acon-teceu. E mesmo se a religião não nos in-teressa respondemos de algum modo atal acontecimento. O nosso intelecto noscobra uma resposta sobre aquilo quevivenciamos. Este processo é, portanto,inevitável.

A partir dessa resposta desenvolve-se o ensinamento. O mito em si já com-preende ensinamentos, em sua maioriamais ricos que na teologia. Vejo a relaçãoentre mito e teologia como a relaçãoentre poesia e crítica literária. Sabemostodos, que os críticos literários após al-gum tempo interessam-se mais por ou-tros críticos literários do que pela poesiapropriamente dita. O decisivo para vocês,no entanto, continua sendo o fato que –mesmo possuindo apenas uma religião

MoralTemos que considerar mais um fato.

Após o intelecto, manifesta-se tambéma vontade de cada um e cobra: sim, é oque quero. Estar conectado a tudo dessamaneira e sentir-me tão feliz. Quero talsentimento de fazer parte de algo quetodos ansiamos tanto. Porque é assim quetemos que viver. É assim que quero vi-ver. Com tal desejo entramos no campoda moral. Aqui já começa a ética.Freqüentemente dizemos que cada umdos diversos povos do mundo tem suaprópria moral, o que mostra que a moralé algo construído e fabricado por nós. Seolharmos cuidadosamente, porém, per-cebemos que se trata sempre e em to-dos os lugares da mesma moral, seja elaprimitiva ou refinada. Comportamos-nosde maneira moralmente correta peranteo grupo de pessoas do qual fazemos par-te e do qual gostaríamos de fazer parte.

Os diferentes sistemas morais defi-nem quem pode pertencer a um deter-minado grupo. A moral determina quempertence ao grupo. Inicia-se através deum grupo pequeno, uma família peque-na ou uma família grande. Em vários idi-omas e culturas a denominação do gru-po ao qual pertencemos é idêntica àpalavra ser humano. Perante estes sereshumanos comportamo-nos de maneiramoralmente correta porque fazem partede nós, dêem oposição a outros, estra-nhos, que não fazem parte.

Ultrapassamos hoje uma barreira apósa qual não podemos mais traçar o limiteque define quem faz parte. Hoje faze-mos parte infinitamente. Portanto, todolimite que estabelecemos para definirquem faz parte é imoral. Nem mesmoos animais podem ser excluídos. O cos-mo inteiro deve ser incluído. Apenas di-ante deste conceito uma moral éjustificada e pode nos ajudar.

Resumindo: O intelecto interpreta. Odesejo compromete-nos internamente.Nós nos comprometemos alegremente:Quero viver assim para fazer parte.

pessoal – precisam processar intelectu-almente a experiência mística tendo as-sim, um ponto de partida daquilo queposteriormente torna-se um ensinamentona religião.

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RitualEm terceiro lugar entram os senti-

mentos. Os sentimentos desejam feste-jar a vivência mística e nos conduzem aoritual. Mesmo que vocês prefiram per-manecer no contexto de suas religiõespessoais, festejam suas experiências mís-ticas. Suponhamos que tiveram uma ex-periência mística no cume de uma mon-tanha específica; tiveram uma experiên-cia de pico. É bem possível que repeti-damente voltem a esta montanha quan-do possuem algum motivo para festejar.Sentem o desejo de vivenciar novamen-te tal experiência. Talvez não possamvivenciá-la da mesma maneira, porém,fazem um peregrinação para aquele lu-gar para viver mais uma vez tal experi-ência. Ou então lembram-se daquele diaem que subiram a montanha e começaráassim a estabelecer uma agenda de ritu-ais, mesmo que seja apenas um início.

Toda religião inicia-se um comuma experimentação mística de seu cri-ador. Em alguns casos, como nos deMoisés, Jesus Cristo, Buda, e de Maomé,é possível apontar claramente para aexperiência mística crucial. Em outroscasos não é possível determiná-la comtamanha precisão, mas sabemos que todareligião parte de uma experiência místi-ca de seu criador ou criadores e posteri-ormente transforma-se em ensinamentos,éticas, morais e rituais.

O coração de toda religião é areligião do coração

Após a morte destes criadores talexperimentação é transferida e susten-tada por uma comunidade. Sem comuni-dade não há religião, uma vez que o quevivenciamos é a beleza e o conforto depertencer a esta comunidade. No decor-rer do tempo a comunidade muda o sen-tido original. A passagem da experiênciamística à comunidade religiosa compara-se a uma fonte de água borbulhante quejorra do interior de uma rocha e após al-gum tempo congela no inverno dos há-bitos. O ensinamento estremece-se etransforma-se em dogmatismos, a moralou ética por sua vez transforma-se emmoralismo, o ritual vem a ser um ritualis-mo. Diante da transferência todas as reli-

giões correm o perigo de estremecerapós algum tempo.

Podemos agir contra tal processo deenrijecimento? Sim. Sempre temos a pos-sibilidade de voltar à nossa própria ex-periência mística interna – ao calor quesentimos no peito durante tal experiên-cia – e assim descongelar as estruturascongeladas de dentro para fora. A estru-tura, porém, não é apenas um obstáculo.Pode dar-nos muito conforto. Entendoperfeitamente se alguém sente o desejode rejeitar e deixar para trás as religiõesda maneira que se apresentam hoje emdia. Através da minha própria experiên-cia, porém, tenho que dizer que estasestruturas também podem nos enrique-cer muito, dando-nos, por exemplo,apoio, estabilidade, força, ligação com opassado e guiando-nos na juventude einfância. É difícil substituir tais tradições.Mas temos que renová-las, revitalizá-lase esquentá-las sempre, partindo do co-ração. O coração de toda religião é a re-ligião do coração.

Não podemos, portanto, esperar dasreligiões que sejam como um trem, ondesubimos e que por si só nos levará a al-gum destino almejado. Ao invés de ser-mos movimentados temos que movi-mentar-nos por conta própria.

Concepçõesde deus

O que impede que o divino cresçaem nós? Freqüentemente é a imagemde deus ou a concepção de deus quenos é imposta por uma determinada reli-gião ou que é transmitida por nossa reli-gião. A religião deveria apoiar aespiritualidade, muitas vezes, porém, lheobstrui o caminho. A nossa visão do mun-do e a nossa concepção de deus são com-postas por diversas suposiçõesdesordenadas e não questionadas, masmesmo assim ambas são decisivas para anossa vida, tanto no contexto daquilo queaceitamos como no que rejeitamos. Hojeem dia a nossa concepção de deus émarcada pela imaginação de que deusestá separado de nós.

Experiências místicas acrescentam e

religiões ensinam. No ensinamento inter-pretamos o “mais” que encontramos nasnossas experiências místicas. Este “mais”freqüentemente foi interpretado e utili-zado como poder. Encontramos na ex-periência mística algo poderoso algo quepossui um poder superior. As religiõesfreqüentemente interpretaram tal poderno sentido de “ter poder sobre algumacoisa”. Nesta interpretação deus é al-guém totalmente diferente de nós, al-guém que reina sobre nós e está separa-do de nós.

Neste contexto devemos tambémolhar para o nosso entendimento do pe-cado. Originalmente pecado significavadesvio e segregação. A palavra pecadoe a palavra segregação em sua origemsão ligadas uma a outra. O pecado nossepara do nosso próprio e verdadeiro eue do “mais” vivenciado. Nos ensina-mentos religiosos o pecado foi interpre-tado cada vez mais no sentido jurídico,como se tivesse alguém lá em cima aquem pertencesse o poder. Assim o po-der transforma-se na culpa e precisa sercastigado. Mas também podemos olharpara o pecado do ponto de vista históri-co, como se fosse algo que no nosso pró-prio desenvolvimento ainda não teveêxito. Através do pecado, origina-se, en-tão, o estimulo de buscar o que ainda nãodeu certo em nossas vidas e realizá-lo.

A imaginação de deus como alguémacima de nós e a quem pertence o po-der também nos distancia do conteúdooriginal dos rituais. Distancia-nos do ser-viço religioso como serviço à vida atra-vés da celebração e do trabalho. Logo oculto às vezes se iguala a uma cerimôniade corteN R. A falsificação da concepçãode deus nos impede de compreendermais profundamente o “mais”, de realizá-lo com maior força de vontade e celebrá-lo com mais alegria e criatividade.

Vida comgratidão

A questão agora é: como podemosestimular o nosso crescimento espiritual?A resposta é evidente. Renovando e ajus-tando, sempre, a nossa concepção dedeus através da experimentação viva dedeus. Possuímos tal experimentação de

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deus. Possuímos a experiência do “mais”.Ela está sempre a nossa disposição, pre-cisamos apenas cultivá-la. Comovivenciamos este “mais”? Lerei algumasfrases dos Sonetos a Orfeu de RainerMaria Rilke:

Mas para nós o existir ainda éencantado.Fontes, ainda, em cem lugares.Jogo de puras forças e aqueleque as tocase ajoelha admirado.

Estas frases aplicam-se aos dias de hojeembora o poema comece com as pala-vras:

A máquina ameaça a toda conquista...

Mesmo assim vale: Em vários pontos oexistir ainda é encantado, ainda é fonte,um jogo de puras forças e aquele que astoca se ajoelha admirado.

Podemos abrir-nos para estas forças.Existe um caminho espiritual neste sen-tido com que eu pessoalmente me iden-tifico mais. Denomino-o de “vida comgratidão”. Simplesmente viver com gra-tidão. Conscientizamo-nos de que este“mais” é a essência de tudo, a fonte detudo que existe. Dizemos sempre: Exis-te isto e existo aquilo. Tudo que existe,existe. A essência por si só não é algo. Éo nada de onde vem tudo. É a fontedivina, a fonte maternal, o fundamentomaternal de tudo que existe. É o segre-do de onde viemos e para onderetornamos. Diante desta fonte nós mes-mos nos percebemos como dádiva. Afi-nal, também possuímos algo que existe.Somos presenteados a nós mesmos. Nãonos compramos ou negociamos. Nosmomentos mais difíceis possivelmentenem nos queremos. Querendo-nos ounão, recebemos a nós mesmos de pre-sente. Diante deste presente existe ape-nas uma resposta correta e que faça sen-tido: a gratidão. Nesta gratidão encontra-mos sempre novamente o que existe: avida, o amor, tudo o que aprendemos, aalegria, a música. Temos que tomá-losassim, isto é a nossa gratidão. Nossa gra-tidão retorna ao nada que é a essênciaque dá tudo.

Como manter viva essa corrente den-tro de nós? Através da gratidão, simples-mente, e vivendo no momento.Conscientizando-se, por exemplo, dopresente que é abrir uma torneira deágua. Ou considerando o presente querecebemos ao ligarmos a luz. Se uma vezou outra vivemos em lugares onde nãohá água de boa qualidade ou luz elétrica,realmente tomamos consciência destespresentes. Ver os outros e a naturezacomo dádiva, com esta consciência, istosignifica viver com gratidão.

Agora lerei mais uma poesia curta deRilke para vocês, porque começa com apalavra “silêncio” e termina com a pala-vra “gratidão”. Aponta para o fato de quepodemos apenas encontrar essa vida comgratidão, se nos envolvemos com o si-lêncio.

OraçãoNa oração unem-se três aspectos. No

início está o silêncio. A oração do silên-cio sobre a qual não podemos dizer nada.Podemos apenas embarcar neste silên-cio para encontrar o “mais” em seu inte-rior. Quanto mais profundamente entra-mos neste silêncio, sempre mais profun-damente, mais profundamente perce-bemo-nos neste “mais”. Todos nós pos-suímos a capacidade para esta oração.

No ocidente o segundo aspecto daoração nos é mais familiar. Podemosdescrevê-lo como “viver da palavra dedeus”. Dizemos, assim, que tudo queexiste é palavra. Se existe, fala. O nadaexpressa-se em tudo que existe. Portan-to, tudo que existe é palavra divina.

Podemos nos envolver com estapalavra de diversas formas. Seja onde for,sempre que nos envolvermos com apalavra, com algo que existe, e o trata-mos com respeito, respondemos com simà palavra e pronunciamos este sim semrestrições. Sim, aqui estou. Então esta pa-lavra nos nutre. Toda palavra pode nutrir-nos se respondemos desta maneira.

POESIA

Se fosse totalmente silenciosoapenas uma vez...

Se fosse totalmente silenciosoapenas uma vezSe o fortuito e o acasoemudecesse e o riso vizinho,Se o ruído, que fazem o meussentidosnão me impedisse tanto nodespertar.

Então poderia em milpensamentospensar em você até o seu limite

e possuir você ( apenas o instantede um sorriso)e presentear você em tudo que vivecomo um agradecimento.

Rainer Maria Rilke, 22.9.1899,Berlin-Schmargendorf

Esta é uma poesia para o “mais”,uma oração para o “mais”.

O terceiro aspecto que é desconhe-cido a muitos de nós, mesmo que viva-mos dentro dele permanentemente, cha-ma-se meditatio in actione: encontrardeus no agir. No agir permanentementeencontramos deus. Pensem nas mães,pensem nos professores. Permanente-mente achamos o “mais” no agir. O agiré um mundo de orações - um mundo deorações pelo qual zelamos há séculos. Ouseja, achar o “mais” no agir.

Neste contexto revela-se o poder decura do envolvimento com este “mais”.O poder de cura que está inerente aodesejo de tentar entender este “mais”,sempre mais profundamente, de realizá-lo com maior força de vontade, celebrá-lo sempre com maior alegria ecriatividade – uma celebração da qualparticipam o mundo inteiro e todas asreligiões.

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A imagemconjunta de deus

Cada um de nós que tem uma noçãodo Budismo, por menor que seja, sabe oquão central são o silêncio e o ato demanter-se calado no Budismo. Quandoeu estudava o Budismo, às vezes achavaque havia entendido algo na conversacom o meu professor. Perguntava-o: “Éassim mesmo?” Em seguida, ele semprecomeçava a rir e respondia: é absoluta-mente correto, mas que pena que vocêo pronunciou.”

No Cristianismo temos que dizê-lo.Pertencemos às tradições da “aprovação”,ao Judaísmo, a Cristianismo, ao Islamismo.Pertencemos àqueles que são em refe-rência à palavra. A palavra nos pertence.A palavra também é um espaço de en-contro com o “mais”. Este é o nosso es-paço.

O terceiro aspecto é o da compre-ensão. Esta é a área do Hinduismo. NoHinduismo a palavra e o silêncio não es-tão em primeiro lugar. O mais importan-te é o ato de compreender. Yoga signifi-ca conexão. Yoga significa compreensão.A prática hindu une a palavra e o silên-cio no compreender. O que significa com-preender neste contexto? Que nos en-treguemos à palavra originada no si-lêncio, de tal modo, que nos conduza aolugar de onde veio: ao silêncio. Se nosentregamos à palavra e deixamos quenos guie para o silêncio, então compre-endemos. Nas nossas experiências depico, em nossas experiências místicas –voltando mais uma vez ao assunto – di-zemos: É isso. É isto que estávamos aguar-dando. Como se tivéssemos esperado poristo a vida inteira. Agora é isto.Enfatizamos o “isto”. Isto é. Isto é a pala-vra. Seja o que for: É isto.

Os Budistas dizem: isto o é. E istotambém o é . É isto também. Está tudocompreendido no silêncio, no nada, deonde vem tudo.

Os Hinduístas dizem: Porque estãobrigando. É isto. Apenas assim o com-preendemos.

Logo posso imaginar as religiõescomo uma dança de roda - e é com estaimagem que gostaria de concluir - ondedançamos todos. “É isto” independente

de como o enfatizamos, os hinduístas, osbudistas, os cristãos, os judeus, os muçul-manos, todos, inclusive as religiões liga-das à natureza. Dançamos todos a mes-ma dança. Do exterior não podemosperceber o sentido dessa dança. Olhan-do de fora vemos que os movimentosvão para direções distintas. Se, porém,seguramos-nos pelas mãos e entramosna dança, sentimos a unidade nesta dan-ça. Necessitamos, hoje, desta dança con-junta no mundo. Nela deus não está maisseparado de nós. Nela experimentamosdeus em nós e nós em deus. Esta con-cepção de deus nos une a todos.

Observação:Mais informações sobre o Irmão Steindl-Rast veja no site www.gratefulness.orgNeste site Irmão Steindl-Rast oferece con-duta espiritual em vários idiomas, entreoutros, em alemão. Há pouco tempo aEditora Herder publicou seu livro“Achtsamkeit des Herzen”ISBN 3-451-05604-6

Crianças:sobre o amorUm grupo deespecialistas entrevistoucrianças entre quatro eoito anos sobre o amor.Encontrei as respostas nomeu e-mail há pouco.

Quando minha avó adoeceu deartrites não podia mais se abaixar e

pintar suas unhas do pé. Desde entãoo meu avô o faz para ela, mesmotambém sofrendo de artrites nas

mãos. Isto é amor.

(Rebekka, 8 anos)

Quando alguém te ama, pronunciaseu nome de modo diferente. Entãovocê sabe que seu nome está seguro

na boca de quem te ama.

(Billy, 4 anos)

O amor deixa você sorrir quandoestá cansado.

(Terri, 4 anos)

Amor é quando a mamãe faz cafépara o papai e antes experimenta

para saber se está gostoso.

(Danny, 7 anos)

Amor é aquilo que está no quarto comvocê no natal quando você para de

abrir presentes e apenas ouve.

(Bobby, 7 anos)

Se quiser aprender a amar melhor,comece com o amigo que rejeita.

(Nikka, 6 anos)

Minha mãe me ama mais quetodo mundo. Além dela não existe

ninguém que à noite me beijaaté que eu durma.

(Clara, seis anos)

Amor é quando seu cachorrinho lhelambe o rosto, mesmo que você o

tenha deixado sozinho o dia inteiro.

(Mary Ann, quatro anos)

Quando você ama alguém os seuscílios abrem-se e fecham-se epequenas estrelas brilham de

dentro de você.

(Karen, 7 anos)

Aqui mais uma história de ummenino de 4 anos. Morreu a

esposa de um homem idoso davizinhança. O menino pequeno oviu chorando. Foi ao seu encontrono pátio, sentou-se no seu colo e

permaneceu perto dele.

Quando a mãe chegou e operguntou o que havia dito ao

homem idoso, respondeu:”Nada.Ajudei-o a chorar.”

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Frases para reflexão

Ordem e plenitude

Ordem é a maneira como fatoresdistintos interagem.Possui, portanto, diversidade eplenitude.

Encontra-se na troca, une odisperso,e recolhe-o na consumaçãoPossui, portanto, movimento.

Remete o transitório a uma forma,que promete continuidadePossui, portanto, duração.

Mas como uma árvore, que antesde se abater,libera o fruto que a ela sobrevive,também a ordem se movimentacom o tempo.Possui, portanto, renovação emudança.

Vibram e desdobram-se, as ordensque vivem,estimulam-nos e nos retêmpela saudade e pelo medo.

Sabedoria paraviagem

A palavra

Originalmente a palavra é falada. É dita.Através dela comunica-se algo, denomi-na-se e descreve-se alguma coisa. A pa-lavra serve à troca, é dar e receber. Re-vela algo ao outro, até então velado.Deixa-o compartilhar um assunto pesso-al e cria conexão e confiança. Não im-porta apenas o que é dito e sim como édito: o tom, a expressão, o olhar, o gesto.Somente através destes aspectos a pala-vra não é apenas ouvida, mas também évista.

Algumas palavras têm uma expres-sividade maior, um peso. Nelas um pro-cesso se condensa, um acontecimento,uma realidade estendia por muito tempo.Como, por exemplo, nas palavras pai,mãe ou filho. A palavra de peso movealgo no interior da alma, toca-a, movi-menta alguma coisa. Como no caso daexclamação “socorro” ou das simplespalavras “por favor” e “obrigada”. Mastambém as palavras “vida” ou “morte”ou “despedida” e “lar” tocam-nos e esti-mulam algo.

Tem palavras que nos penetram ena medida em que são proferidas inte-gram-nos no processo que descrevem.Por exemplo, a palavra “sopro”. Ou, tam-bém, tratando-se da palavra “árvore”.Quando a falamos, fazemos um movi-mento interno – instintivamente – quecorresponde à copa de uma árvore emforma de gesto.

A palavra falada possui uma vibra-ção que falta à palavra escrita. Logo apalavra falada necessita de tempo.Apensa assim aquilo que foi dito podeatuar. No caso da palavra escrita, pode-mos ter pressa ao lê-la. Às vezes aconte-ce que pulamos uma ou outra palavra.Neste caso, talvez, absorvamos apenas asua informação, não o seu conteúdo in-teiro. Para compreender o conteúdo dapalavra temos que pronunciá-la enquan-to a lemos e conceder-lhe o tempo quedamos à palavra falada. Por exemplo,quando lemos uma poesia. Quando di-zemos algo com peso, freqüentementetemos que dar ao outro o tempo neces-sário para que o falado possa ecoar den-tro dele, o tempo para que o ouvintepossa repetir internamente o que foi dito.Apenas assim o falado atinge a alma, ésaboreado e começa a agir. Nós, porém,somente conseguimos falar deste modo,se anteriormente a palavra agiu dentrode nós; se no instante em que a pronun-ciamos é um eco daquilo que soou den-tro de nós.Falando por si só, tais palavras são pou-cas, simples, imediatas, dirigidas, e umpresente para os outros.

ContextosO caminho fenomenológico doconhecimento

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Entrevista com BertHellinger

16.06.1995

Percepção e intuição

Pergunta: Gostaria de falar com vocêsobre os contextos de sua terapia esobre o que significa perceberfenomenologicamente. Freqüen-temente você intui um segredo queprovoca mudanças fundamentais, semque ele possa ser definido com exati-dão. Como descreveria tal processo?

Bert Hellinger: Se lhe entendi bemvocê se refere à descrição do proces-so de conhecimento.

O primeiro ponto é que não po-demos capturá-lo com os conceitos daintuição ou a experiência. Para mim émuito mais. Pra mim a intuição é umcompreender instantâneo de como epor onde algo continua. É direcionadapara o futuro. Ela acontece no momen-to sem que eu acrescente algo.

Denomino o meu processo deconhecimento de percepção. É algototalmente diferente. Percepção sig-nifica que me exponho a um contex-to, por exemplo, que observo o queacontece, quando pessoas se referema sua consciência ou quando dizemque agem com consciência. Trata-sede um fenômeno complexo que du-rante muito tempo não havia desven-dado.Logo, durante anos, simplesmen-te deixei que agisse sobre mim e ob-servei-o com atenção concentrada, atéque de repente percebi o que “cons-ciência” significa essencialmente.

A consciência é um órgão sistêmicode equilíbrio através do qual percebe-mos imediatamente se nos encontra-mos em harmonia com o sistema ounão. Se estamos fazendo algo que nosassegura o estado de fazer parte ou seestamos colocando o mesma em riscoou anulado-o.Revelou-se, portanto, que estar com a

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consciência tranqüila significa: ainda possofazer parte. A consciência pesada signifi-ca: Devo recear que não tenho mais odireito de pertencer a um grupo. Logo,diante de uma série de fenômenos, derepente foi absorvido o essencial. Isto éo que denomino de procedimentofenomenológico. Não tem relação algu-ma com conceitos predefinidos ou como propósito de forçar algo, como, porexemplo, manter uma idéia ou tradição.É um processo simples e concentrado.Sem propósito e sem medo.

O conhecimento como processode vida

Pergunta: Muitos terapeutas sistêmicosde família têm um entendimento diferen-te sobre o que é terapia. Na visão deles ainvenção de verdades – denominam-nasde histórias - têm um papel fundamen-tal, uma vez que são da opinião que éimpossível encontrar uma verdade “ob-jetiva”, por assim dizer. O trabalho feitoaqui demonstra que talvez a palavra“achar” seja mais apropriada do que apalavra “inventar”, por exemplo, na me-dida em que constelamos e vemos quenaquele momento alguma coisa simples-mente está presente.

Bert Hellinger: A partir do momento emque nos dirigimos a algo absoluto duran-te o processo de conhecimento estamosno caminho errado. O conhecimento éum processo de vida, ele serve à vida.O conhecimento origina-se através dainteração com alguma coisa que não pre-ciso compreender como tal. Absorvo oresultado da interação. E neste contexto,por exemplo, posso ver que quando duaspessoas se expõem ao mesmo fenôme-no com o objetivo de atingir algo emrelação a este fenômeno, uma alcançamais que a outra. Se aquilo que reconhe-cemos fosse apenas algo construído, nãoseria possível distinguir se o resultado foimaior ou menor.

Existe, portanto, uma orientação emalguma coisa, que vai além da constru-ção. Na constelação familiar, por exem-plo, observamos, que os participantestem a capacidade de perceber algo queestá inerente a um sistema que nem co-

nhecem. Com conceitos construtivistasnão é possível captar tal processo. É, noentanto, inegável que existe algo de ver-dadeiro na teoria do construtivismo, nosentido em que podemos ver que algo éapenas construído e mesmo assim mui-tas pessoas tomam-no como verdadeirocomo no caso de ideologias, por exem-plo. A solução e o objetivo, porém, con-sistem justamente na possibilidade denos desvincularmos das construções e nospermitirmos de perceber mais uma vezcom precisão o que existe ali.

Ordem e efeito

Pergunta: O que exatamente faz o efeitona sua forma de terapia? O que se modi-fica com relação ao sistema, ao individuo,a sua doença e a sua cura?

Bert Hellinger: Primeiramente falarei so-bre o meu entendimento de ordem, umavez que o efeito se dá na medida emque achamos uma ordem. Quando en-contrarmos uma ordem, a ordem correta– usarei este termo extremo – isto pro-voca algo dentro de um sistema que curae traz solução.

A ordem é algo predefinido. Umaárvore, por exemplo, desdobra-se deacordo com uma ordem. Esta ordem épredefinida. Não pode sair dessa ordemporque não seria mais uma árvore. Damesma maneira o ser humano tambémse desenvolve seguindo uma ordem. Esistemas humanos desenvolvem-se deacordo com uma ordem. Estas ordens sãopredefinidas.

Alguns, porém, dizem: A ordem deveser diferente da encontrada porque de-sejam algo diferente. Reformadores domundo, por exemplo, desejam uma or-dem diferente da que encontram. Logoconstroem uma ordem que correspondeaos seus desejos e não consideram o queé a ordem predefinida. A ordempreestabelecida é algo oculto, não possoencontrá-la sem um esforço maior, mui-to menos inventá-la.

Para mim o processo de achar a or-dem ocorre na medida em que me reco-lho dentro de mim, mantendo em vista,porém, o que está na minha frente. Faço-

o de tal modo que eu não tenha nenhumpropósito e sem medo das conseqüênci-as. Quando me encontro recolhido emmim dessa forma, tenho uma ligação comalgo maior. Não posso definí-lo. Às vezesdenomino-o de alma ou grande alma; éalgo secreto de onde vem força.Conectado a isto reconheço estruturasque ajudam ou prejudicam.

Com relação à ordem eu parto doprincípio que: a ordem se revela naquiloque une por um lado e que, por outro,possibilita desenvolvimento, os dois. Nocaso de uma família onde todos se sen-tem mal quando constelamos, parto dopressuposto que ela esteja em desordem.Logo procuro a ordem que cura, que so-luciona. Ao encontrar esta ordem, vejoque se trata de uma ordem que une atodos e possibilita o desenvolvimento decada um.

É possível reconhecer tais ordens emum nível mais superficial e trabalhar comelas, ou então em um nível mais profun-do. Quando, por exemplo, encontramosordens que causam doenças e outras quecuram, uma pessoa pode trabalhar comestas ordens em um nível relativamentesuperficial, porque as conhece. Nestecaso, porém, a pessoa não trabalha par-tindo de um reconhecimento imediatoda ordem e sim recorrendo àquilo queouviu sobre a ordem ou a algo anterior-mente reconhecido. Aplica o seu conhe-cimento. Esta é uma forma de trabalharcom o conhecimento em torno de or-dens. Assim, no entanto, permaneço li-mitado na minha efetividade.

Se, ao contrário, quiser atingir algoem um nível mais profundo, tenho queme recolher muito mais profundamente.Este recolhimento dirige-se a um centrovazio. Assim encontro-me conectado aalgo que cura e que não posso explicar.Mostra-se, porém, no efeito. Ao transmi-tir o que reconheci de tal forma, vejo ime-diatamente através do efeito, se estavarealmente conectado ou não. Se, porexemplo, dá inicio a um movimento den-tro do outro ou se apenas provoca curio-sidade ou objeções e perguntas. Pode-mos, portanto, distinguir entre diferen-tes níveis.

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Concordar com o mundocomo ele é

Pergunta: Volto a falar da ordem. Tenhoa impressão que este é o ponto princi-pal onde seu trabalho é mal-compreen-dido e onde dizem que você é dogmático.Eu pessoalmente não compartilho essaopinião. Para mim você é um empiristaconfiável porque você procede de formafenomenológica. Porém, vejo também,que este trabalho exige uma postura desensibilidade e apreço. Surpreende-mecom quanta calma e recolhimento inter-no você suporta este trabalho. Tambémaqui, neste seminário, o notei. Em algunsmomentos surgem situações de peso – oque se percebe também através do pú-blico. Onde você busca a força para talpostura? Como se mantêm nessa postu-ra de recolhimento interno e clareza depercepção?

Bert Hellinger: A calma assim como apercepção derivam da aceitação do mun-do como ele é, ou seja, sem o propósitode querer mudá-lo. Em princípio esta éuma postura religiosa, pois, encaixa-se emuma totalidade maior, sem a pretensãode saber fazê-lo melhor ou poder atingirsaída melhor, do que a que as forças pro-fundas visam por sua parte. Logo, paramim o ponto de partida é concordar comtudo da maneira como é. Quando vejoalgo belo, isto para mim faz parte domundo com o qual concordo. E quandovejo algo trágico, também concordo.Concordo com ambos. É isto que deno-mino de humildade: a aceitação do mun-do como se apresenta. Apenas a aceita-ção permite-me perceber com exatidão.Caso contrário as minhas construções –usarei esta palavra – ou as minhas inten-ções ou ideologias prejudicam o meuprocesso de percepção.

Temos que considerar também o fatode que a ordem não se mostra com clari-dade e aparece de forma diferente a cadainstante. Inerente a ela está uma diversi-dade, uma plenitude. Revela-se apenasem partes. Este é o motivo pelo qualuma constelação difere-se de uma outra,mesmo que tenham situações de baseparecidas. O que, então, eu percebo nes-te determinado instante, eu digo. E en-tão alguns acham que se trata de umaafirmação geral ou uma verdade geral.Ao contrário – não é isto. Trata-se dapercepção de algo que veio a luz desta

maneira neste determinado instante. Estapercepção é valida para o instante e étotalmente transparente neste instante.Ao separar isto da percepção daquelemomento transformo-o em umensinamento, e torna-se dogmático.

Percepção integral

Pergunta: Quando se dá tanto e recebe-se tanto como é possível delimitar o seuespaço como pessoa?

Bert Hellinger: O terapeuta é capaz defazê-lo deslocando-se para um nível su-perior durante o trabalho – poderíamostambém dizer nível inferior, não faz dife-rença. A imagem, porém, do nível maiselevado é mais bonita. Quando estou nocume de uma montanha e olho em mi-nha volta não tenho a necessidade dedelimitar o meu espaço em relação anada. Vejo o que está diante de mim, souparte de um todo e não preciso estabele-cer um limite em relação a alguma coisa.Diante da plenitude não precisamos deli-mitar o nosso espaço. Quando, porém,aproximo-me demasiadamente de algu-ma coisa ou assumo algo alheio, não per-maneço na posição do mero espectador.Neste caso é difícil delimitar o espaço.

Pergunta: Após ter visto o seu trabalho,pergunto-me quantos sentidos você pos-sui. E pergunto-me especialmente: o quevocê pode passar para os outros paratreinar os seus sentidos de modo pare-cido?

Bert Hellinger: Neste trabalho os órgãosde percepção precisam estar abertos dequalquer modo. Mas, para além disso,existe algo como uma percepção inte-gral. A percepção integral torna-se pos-sível na medida em que atribuo um lu-gar a tudo, ou seja, não excluo nada. Naconstelação dou um lugar a cada um nomeu coração, também àqueles que es-tão na posição do mal ou do agressor oudiante dos quais os outros sentem ascoou medo. Dou um lugar também a eles.Logo estou conectado a uma totalidade,percebo-o como totalidade.

Também sempre olho para um serhumano como sendo parte de uma tota-lidade maior. E quando trabalho com umser humano, na função de terapeuta, naverdade, não me dirijo a sua pessoa ou

ao seu “eu”, falo, porém, a sua alma, láonde ele está conectado a algo maior. Oefeito é muito maior do que se me res-trinjo ao primeiro plano.

Como podemos treinar a percepção?Treina-se a percepção integral. A partirdesta percepção o resto dá-se facilmente.

O limite máximo

Pergunta: Gostaria de retornar à per-gunta sobre o que faz efeito. Notei quevocê exige muito do paciente e o leva atéum limite máximo. E percebi também queem um determinado ponto você pára,para que possa fazer efeito, desdobrar-se, para que a força possa agir. Você po-deria explicar mais precisamente porque o faz e como o faz?

Bert Hellinger: Sim. Com um pacienteou cliente meu, eu percorro todo o cam-po de conseqüências provenientes doseu comportamento ou dos destinos emsua família. Não me limito a algo alegreou fácil, olho também para o lado difícil,principalmente para o lado difícil. E ca-minho com ele até o limite onde ele e oseu sistema correm perigo. Acompanho-o até lá, com coragem e sem medo. Nofinal isto significa, que eu também medeparo com a possibilidade dele morrerou de algo trágico acontecer. Isto eupercorro com o paciente em todas as di-reções. Assim abranjo todo a verdade destesistema. Uma vez percorrido este campo,sei onde estão os limites do que é possí-vel ou impossível dentro deste campo.Se o paciente conhece o limite existe apossibilidade de mudança para ele. So-mente assim percebe o que é possível,tanto no lado trágico como no lado bom,e isto lhe dá força. Com esta força, en-tão, procura-se a solução viável e me-lhor para todos. Às vezes a solução signi-fica aceitar, significa que diante do limitemáximo é necessário, também, aceitar ofim e que não existe solução diferenteou mais fácil. Na maioria dos casos, po-rém, existe outra solução. Posso atingi-lamuito mais facilmente após ter caminha-do com o cliente até o limite do que te-ria sido possível antes. Agora ele vê assuas possibilidades e os seus limites epode achar o caminho apropriado commais facilidade.

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Ordem e amor

Pergunta: Gostaria de fazer uma pergun-ta sobre o “amor”. Durante o semináriovocê também disse que quando perde-mos amor, o sistema entra em desordeme quando reconhecemos o amor e o re-cuperamos o sistema pode voltar a suaordem. O que acontece neste contexto?

Bert Hellinger: Antes de entrar maisdetalhadamente nesta pergunta, gosta-ria de voltar mais uma vez ao assunto daordem. O que nos denominamos de va-lores ou de sentido é algo que serve àordem, ou seja, àquilo que serve a uni-dade e ao desenvolvimento. Por estemotivo a ordem sempre está em primei-ro lugar. Todo o restante está a serviçodesta ordem. Portanto não posso desejarmodificar a ordem através de valores,dizendo: este é o valor máximo, logo aordem deve adequar-se a ele. Não, é ocontrário. O valor segue a ordem. Tam-bém o amor segue a ordem. Está a servi-ço da ordem.

A maior expressão de amor é quan-do afirmo a um outro que ele faz parte,ou mais precisamente, quando reconhe-ço , que possuiu o mesmo direito de fa-zer parte de algo do que eu. Assim exijodele que reconheça o fato de que eu tam-bém recorro ao mesmo direito de fazerparte do que ele. Através desta aprova-ção mútua resulta um sentimento pro-fundo de união. Este é, então, o amorque desvincula.

Neste contexto existem outras for-mas de amor que atuam, por exemplo,o amor que vincula. O amor que resultado vinculo, faz com que uma criança queainda não compreende os contextos maisamplos, agarre-se a sua mãe ou ao seupai e queira permanecer junto deles aqualquer preço, mesmo que já estejammortos. Desta postura resulta a dinâmi-ca: “sigo você na morte”. Esta, porém, éuma dinâmica que prejudica o sistemaporque assim, quando um vai, mais umvai, ao invés de ao menos este ficar. Se,no entanto, a criança for capaz de reco-nhecer, que o pai continua vivo dentrodela, mesmo que já tenha morrido, ouseja, que reconheça que mesmo assimestá conectado a ela e ela a ele, então opai é reconhecido em seu direito de fa-

zer parte, mesmo estando morto. Logo acriança pode exigir do pai com amor quereconheça o direito dela de fazer parte elhe pedir: Seja amável se eu ficar, ou algoparecido, dependo da frase em cada casoparticular.

Liberdade

Pergunto mais uma vez sobre aefetividade do seu trabalho. Ultimamen-te tem se tornado muito conhecido, po-deria dizer também, que entrou para ocentro de atenções da psicoterapia. Namedida em que isto acontece aumenta anecessidade de avaliação do que você faz.Em conversas com colegas da área sur-gem, repetidamente, dúvidas e questõessobre a efetividade do seu trabalho. Ouve-se comentários como: sim, é impressio-nante; é profundo; é de certa forma comouma ação psicoterápica imediata, porém,a sua efetividade é totalmente desconhe-cida. O que também está acontecendocom o seu trabalho neste momento é queestá sendo incluído, em parte, em umoutro grande sistema. A questão é, se esteoutro sistema lhe convém. Mesmo assim,após um ou dois anos, surge também emmim, a necessidade de conferir este tra-balho para saber como atua. Existe estapossibilidade ou seria uma petulância,ou será que na verdade não estamos aaltura de fazê-lo? É parecido com ahipnoterapia onde modificamos ima-gens internas, ou tentamos modificá-lase depois deixamos que o processo sedesenvolva no subconsciente, mas emcerto ponto nos perguntamos: Faz efei-to? Ou não faz efeito?

Bert Hellinger: Considero legítima a ne-cessidade de se querer saber qual o efei-to deste trabalho. Por outro lado, paraavaliar este trabalho a pessoa tem queter feito o trabalho. Quem faz o trabalhojá recebe uma informação no decorrerdo trabalho e assim pode avaliar depoiso que ajuda e o que não ajuda. A infor-mação mais importante obtém-se nomomento da constelação. Neste momen-to vemos imediatamente o que mudou,no sentimento, no olhar, no ambiente, naforça de fazer algo. Como a pessoa de-pois utiliza a informação que recebeu, oterapeuta não pode determinar. Logo, aavaliação do trabalho após um tempo nãoé realmente confiável, uma vez que, to-dos os outros fatores que têm influência,

não podem ser considerados. Se, porexemplo, a lealdade de uma criança di-ante dos seus pais manifesta-se mais umavez e o paciente prefere morrer a acei-tar a solução, se poderia concluir que aterapia não tenha sido eficiente. Isto,porém, não é verdade. O paciente per-manece livre e pode tomar a decisão quequiser, independente da terapia.

Humildade

Pergunta: Qual o papel da humildadepara você e de certas posturas corpo-rais que expressam a humildade? Comoa descobriu?Porque é evidente que existem certasposturas que expressam humildade,também nas religiões como, por exem-plo, o ato de ajoelhar-se ou de inclinar-se profundamente.

Bert Hellinger: Observei estas posturasem situações concretas, sem referênciaa alguma religião. Primeiro observei queuma ligeira inclinação da cabeça parafrente, estimula um fluxo de energia quesobe pela coluna, ou seja, que a posturade olhar para cima bloqueia o fluxoenergético. Se inclinamos a cabeça ligei-ramente para frente a energia flui e as-sim temos maior contato com a terra.

Se alguém faz isto diante dos seuspais, e inclina-se profundamente, entãofaz valer a ordem antiga onde os paissão grandes e ele é pequeno. Na reve-rência mais profunda a pessoa inclina-seaté o chão e a frase que acompanha areverência é: “dou lhe a honra”. Uma in-clinação de tamanha profundidade geral-mente acontece diante de pai e mãe,talvez diante dos avós, raramente, po-rém, diante de outra pessoa. Ela significahumildade em sua extensão máxima.Um fato peculiar é que no instante emque alguém se expõe a tal reverênciaprofunda é capaz de, logo em seguida,colocar-se na mesma altura dos pais, sempetulância alguma.

As perguntas foram feitas porWolfgang Lenk, Johannes Schmidte Brigitte Zawieja.

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O chapéu sobre oespantalhoUm grupo de correligionários, que se jul-gavam no início da sua jornada, encon-trou-se para falar sobre os seus planos paraum futuro melhor. Todos concordaram queo fariam de modo diferente. O comum ecorriqueiro tanto quanto este ciclo contí-nuo parecia-lhes demasiadamente limita-do. Procuravam o único, o amplo e espe-ravam encontrar a si mesmos como nin-guém antes. Em pensamentos já se viamalcançando o objetivo, imaginavam comoseria e decidiram agir. “Primeiro” disseram“temos que procurar o grande mestre; por-que é assim que tudo começa”. Depoisiniciaram a sua jornada. O mestre vivia emum outro país e pertencia a um povo des-conhecido. Ouviam-se boatos estranhossobre ele, ninguém, porém, nunca tinhacerteza sobre aquilo que se falava. Do cor-riqueiro conseguiram escapar rapidamen-te, pois aqui tudo era diferente: os costu-mes, a paisagem, o idioma, os caminhos,o objetivo. Às vezes chegavam a um lugardo qual se dizia que o mestre estava lá.Mas quando queriam saber um pouco mais,ouviam que ele tinha acabado de partirnovamente e que ninguém sabia em qualdireção tinha ido. Depois, porém, num belodia, o acharam.

Trabalhava nas terras de um campo-nês. Assim ganhava seu sustento e tinhaum lugar para dormir. Primeiro não queri-am acreditar que este homem seria o mes-tre pelo qual procuravam há tanto tempo.O camponês também se mostrava surpre-

so pelo fato de acharem que esse homemque trabalhava no campo com ele fossealguém tão especial. Ele, porém, disse “Simeu sou um mestre. Se quiserem aprenderalgo de mim, fiquem aqui por mais umasemana. Então os ensinarei”. Os correligi-onários aceitaram trabalhar para o mesmocamponês e receberam comida, bebida ealojamento. No oitavo dia ao escurecer omestre chamou-os, sentou-se sob uma ár-vore e contou-lhes uma história.

“Há muito tempo atrás um jovem ra-paz refletiu sobre o que fazer de sua vida.Era de boa família, não sofria necessidadese sentia-se comprometido com algo maiore de mais valor. Assim deixou pai e mãe,seguiu os ascetas durante três anos e tam-bém os deixou. Depois encontrou Buda empessoa e logo sabia que nem isto bastava”.Ambicionava subir mais alto. Queria che-gar lá onde o ar é rarefeito e a respiraçãodifícil: onde ninguém antes dele havia ja-mais chegado. Quando alcançou este lu-gar o jovem rapaz se deteve. Era o finaldaquele caminho e ele viu que se tratavade um caminho equivocado.

Logo queria tomar a outra direção.Desceu, chegou a uma cidade, conquis-tou a mais bela das concubinas, tornou-sesócio de um comerciante abastado e logose transformou em um homem rico eprestigiado. Não havia, porém, descido atéo ponto mais baixo do vale. Permaneciaapenas na camada superior. Faltava-lhe acoragem para o desempenho máximo.Havia uma amante não havia, porém, umamulher. Teve um filho, no entanto, não erapai. Havia aprendido a arte do amor e davida, porém, não o amor e a vida propria-mente ditos. Aquilo que não aceitava eledesprezava até que não o interessava maise assim o deixava de lado.“

Neste ponto o mestre fez um intervalo. Eledisse: “Talvez reconheçam a história e sa-bem, também, como terminou. Diz-se queo homem tornou-se humilde e sábio nofinal e voltou-se para o comum. Mas doque isto adianta se antes já se havia perdi-do tanto. Quem tem fé na vida não procu-ra conquistar o distante que almejasecretamente.Ele enfrenta primeiro o comum. Caso con-trário também o que é incomum para ele –se é que isto existe – é apenas como ochapéu sobre um espantalho.“ Todos per-maneceram em silêncio. Também o mes-tre que, depois, levantou-se sem dizer nadae partiu.

Na manhã seguinte não era possívelencontrá-lo. Ainda durante a noite haviaido embora sem dizer para onde.

Agora os correligionários estavam porconta própria novamente. Alguns entre elesnão queriam acreditar que o mestre os ha-via deixado e partiram em sua procura no-vamente. Outros já quase não sabiam maisdistinguir entre seus medos e desejos e pro-curavam por qualquer caminho que fosse.

Um, no entanto, caiu em si. Retornoumais uma vez até a árvore, sentou-se edirecionou o seu olhar para bem longe atéque alcançou o silêncio interno. Buscoudentro de si tudo aquilo que o afligia ecolocou-o diante de si como alguém queapós uma longa caminhada tira a mochiladas costas antes de descansar. Sentiu-se levee livre. Ali estavam, diante dele: seus dese-jos, seus medos, seus objetivos e sua ver-dadeira necessidade. Sem olhar mais pre-cisamente e sem determinação específica,mais na posição de alguém que se entregaao desconhecido, esperava que aconteces-se por si só – esperava que tudo se aco-modasse no lugar que lhe convinha no con-texto do todo, de acordo com a sua im-portância e o seu peso. Não demorou muitoe o jovem percebeu que do lado de fora aquantidade de questões posicionadas di-ante dele diminuía. Como se algumas saís-sem de fininho como ladrões desmascara-dos em fuga. E ele realizou que tudo aqui-lo que identificava como seus próprios dese-jos, seus próprios medos e seus própriosobjetivos nunca lhe havia pertencido. Vi-nham de um lugar totalmente diferente eapenas haviam se estabelecido ali. Agora,porém, o seu tempo havia terminado.

Parecia entrar movimento naquilo querestava, ali, diante dele. O que realmentelhe pertencia retornou a ele e ocupou o lu-gar que lhe correspondia. No seu centroacumulou-se força e logo reconheceu o queera seu, reconheceu o seu objetivo adequa-do. Esperou mais um pouco até que tevecerteza. Depois se levantou e partiu.

História

20

A Serviço da VidaUma revista a serviço do trabalho comas constelações sistêmicas segundoBert Hellinger

Com artigos da revista alemã“HellingerZeit Schrift”- revista trimestralalemã de autoria de Bert Hellinger eMarie-Sophie Hellinger.

Reprodução autorizada.Direitos autorais para o português daEditora Atman.

Tradução: Filipa RichterRevisão: Tsuyuko Jinno-SpelterDiagramação: Virtual EditCoord. Editorial: Décio Fábio deOliveira Júnior

Revista 1 – edição alemã em 09/2006

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A SerA SerA SerA SerA Serviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vidaviço da Vida

Uma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhoUma revista a serviço do trabalhocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundocom as constelações sistêmicas segundo

Bert HellingerBert HellingerBert HellingerBert HellingerBert Hellinger

Fascículo 2Fascículo 2Fascículo 2Fascículo 2Fascículo 2

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• Prefácio

• O que faz feliz

• Homem e mulher

• Círculo de Amigos

• Ajudar às crianças

Sumário

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A primavera está de volta. A terraé uma criança plena de poesias;tantas... Pelo esforço que encerrao longo estudo, um prêmio lhecabia.

Assim Rilke dá as boas vin-das à terra - que se despertaapós um longo inverno - em seusSonetos a Orfeu.

A nossa alma também segueas estações, permanece, porém,igual em suas profundezas e emsua essência. Suporta o inver-no, alegra-se na primavera,transpira no verão e colhe nooutono.

Não apenas a própria alma,mas também, a alma das pesso-as com quem estamos intima-mente ligadas. Às vezes, no en-tanto, elas já podem estar noverão enquanto nós ainda per-manecemos no inverno. Ou en-tão celebram a primavera en-quanto nós já estamos na co-lheita. E vice versa.

Mas todas as estações co-nhecem umas às outras. Perten-cem ao mesmo círculo, ao mes-mo movimento em torno de umcentro comum.Complementam-se em nossos re-lacionamentos. Acrescentam aopeso a esperança, ao calor o si-lêncio, à colheita a gratidão e àalegria a celebração pelo tempoque durar.

Desse modo, os artigos e ashistórias dessa revista levam-nos pelo ciclo anual da alma edas nossas relações. Permanecemrelacionados uns aos outros etambém a uma essência. Estimu-lam e criam espaço. A base de

todos, porém, continua sendo aalegria.Mesmo que o mundo mudevelozmente,como nuvens num mosaico,tudo o que é perfeito tendede volta ao arcaico.

Sobre a mudança e o andar,ampla e livre, inda perduratua voz que vibra no ar,ó Deus da lira pura!

Nem a dor aqui se encerra,nem do amor sabemos a sorte;nem o temor do exílio da morte,

nada disso está desvendado.Somente o canto na terraserá santo e celebrado.

Assim canta Rilke em um de seusSonetos a Orfeu. Assim cantatambém a terra no poema sobrea primavera. Minha mulher Ma-ria Sophie e eu e todos os nos-sos colaboradores desejamos-lhes muita alegria com esta re-vista.

Bert Hellinger

Desejo-lhes as boas vindas

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Extratos do seminário “Auxílio devida” Germering, 09.07.2005

Esta é a questão.Quem é mais feliz?Quando fomos maisfelizes? Mais feliz, éuma criança no seioda mãe. Existefelicidade maior doque esta ligaçãoíntima? Isto também évalido para nós, hojeem dia. A nossa maiorfelicidade é a ligaçãocom a nossa mãe edepois com o nossopai. No decorrer davida, talvez, algotenha interferido quenos distanciou danossa mãe. Entãoficamos vazios. Semmãe somos pessoasvazias. Então algoestá faltando.

O sentimentode baseHá muitos anos atrás estive em Chicagoa convite de um casal de terapeutas nafunção de terapeuta visitante. Eram pes-soas maravilhosas. Seu sobrenome eraHaimowitz. Uma vez o homem disse emum grupo que toda pessoa possuía umsentimento de base. Que retorna sem-pre para este sentimento de base, poiseste é o lugar onde sente o menor stress.Cada um de nós pode perceber imedia-tamente como está o seu próprio senti-mento de base. Imaginamos, por exem-plo, um escala de menos 100 a mais 100.O homem disse que nunca podemosmudar o sentimento de base e que sem-pre retornamos ao nosso sentimento debase.

Agora confiram em vocês mesmos:Onde se situam nesta escala de menos100 a mais 100? Se é na parte abaixo dezero, e onde lá, ou se estão na parte su-perior a zero, e onde lá. Isto cada um denós sabe imediatamente. Quando olho parauma pessoa também o sei imediatamen-te. Reconhecemos imediatamente onde

O que faz felizO que deixa aspessoas felizes?

uma pessoa situa-se nessa escala.Este homem, então, afirmou que não

era possível mudar o sentimento de base.Uma das minhas descobertas decisivas,porém, foi que era possível mudá-lo sim.O modifiquei em mim mesmo e foi as-sim que percebi que era possível.

Uma vez participei de um curso. Oterapeuta trabalhou comigo pessoalmen-te. Até hoje sou agradecido a ele. Cha-mava-se Lês Kadis. Com a sua ajuda, derepente vi o que minha mãe havia feitopor mim. Fiquei muito abalado ao ver,de repente, tudo que a minha mãe haviafeito por mim. Era presente sempre. Efoi uma mulher corajosa. No contextodo Nacional-Socialismo ninguém conse-guia seduzi-la para nada. Quando me foinegado o meu certificado de conclusãoescolar sobre o pretexto de que eu eraum sujeito anti-social ela foi até o colé-gio e lutou por mim como uma leoa.Então recebi o certificado. Nesta épocajá estava no exército há um ano.

Bem, de repente percebi este fato epercebi em mim como o meu sentimen-to de base elevou-se por 75 pontos. 75pontos, podem imaginá-lo? Ou seja, a li-gação com a mãe traz felicidade. É, en-tão, um dos fatores que deixam as pes-soas felizes.

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A felicidade norelacionamentoentre casais

Onde a maioria sonha encontrara felicidade? No relacionamento adois, evidentemente. Neste contextofiz mais uma descoberta decisiva.Devo contá-la a vocês? Quando am-bos os parceiros estão em conexãocom as suas respectivas mães, entãose tornam felizes.

Algumas pessoas são solitárias.Algumas mulheres são solitárias, al-guns homens são solitários. Resumia minha descoberta em uma frase:“Sem mãe não há parceiro”. Algumaspessoas dizem: “Finalmente quero terum homem”. Não funciona assim.Primeiro temos que ter a mãe paradepois acharmos um homem. Semmãe não há homem. Evidentementeisto também se aplica ao homem: Semmãe não há mulher. Mas aqui tenhoas minhas dúvidas que algumas mu-lheres querem ocupar o lugar da mãee assim fazer o homem feliz. Nós sa-bemos qual o resultado disso.

Este então é o primeiro caminhopara a felicidade; permanecer em con-tato com as raízes e de lá expandir-see ser feliz.

Obstáculos nabusca dafelicidade

Evidentemente há muitos fatoresque contrariam a felicidade e que es-tão relacionados à nossa história fa-miliar, aos acontecimentos na famí-lia. A constelação familiar e a manei-ra como ofereço este trabalho, mos-

tram como possivelmente podemossuperar tais obstáculos do amor e dafelicidade.Muitas pessoas que são felizes têma necessidade de afirmar o contrá-rio. Por quê? Porque acham que as-sim protegem a felicidade. Muitostêm a fantasia de que devem pagarpela felicidade. É evidente que quan-to mais pagamos pela felicidade,menos temos. Isto é também umaidéia religiosa.

Exemplo

Eu sou felizMulher: Três irmãos do meu pai fale-ceram quando crianças. O pai do meupai faleceu cedo e o meu pai também.Morreu de câncer com 49 anos.

Hellinger: Quando acontece algo as-sim em uma família, então, o amorperante a família freqüentementecobra que compartilhemos taldestino.

Para mulher: Feche osolhos. Agora imagine to-dos esses mortos. Pri-meiro o seu pai e o paido seu pai e os irmãosmortos do seu pai.Diga a eles: “Vejovocês. Carrego-os nomeu coração. Eu amovocês.”Depois olhe para alémdeles, para bem longe,para o destino deles.Enquanto você dirige oolhar para além deles,para o destino deles,eles também se voltampara o seu destino – comamor. E também o desti-no olha para eles comamor. Depois dão as costasa você e viram-se apenas

para o destino deles. Junto com o des-tino lhe dão as costas novamente evoltam-se para algo por detrás do des-tino, algo grande de onde tudo veme para onde tudo retorna. Lá está guar-dado.

Se agora você falasse a um deles: ”Embreve irei ao encontro de vocês por-que os amo”, eles a ouvem?Depois você olha para o seu própriodestino junto com os seus filhos. Evocê diz a este destino: “Sim”. O seudestino também lhe dá as costas evolta o seu olhar para outro lugar,para algo maior.Agora você se volta para os seus fi-lhos e diz a eles: “Podem confiar emmim. Eu fico.” E para o seu maridovocê diz o mesmo. Ele ficará feliz sedizer isto a ele. Olhe em seus olhos ediga: “Eu sou feliz.”

Para o grupo: Agora o marido e osfilhos estão bem.

Para a mulher: E como você está?Mais livre, mais solta.

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Felicidadeatravés dabenevolênciapara todos

O que faz com que aspessoas sejam felizes? Oque me faz feliz? Comome torno feliz?Voltando-me para todasas pessoas de maneirasimilar. Voltar-me paraelas não significa amartodas elasemocionalmente.Significa que me voltopara elas com respeito eamor espiritual. Que mevolto para elas ao andarcom um movimentocriativo que atua pordetrás de tudo e quedirige-se a tudo damesma forma. Não épossível imaginá-lo demodo diferente.

Quando deixo de voltar-me para alguémperco a minha felicidade. Como umapessoa exclui uma outra? Sentindo-semelhor. Quando se sente melhor. Todosque se sentem melhor excluem alguém.Todos que avaliam alguém de formanegativa ou julgam-no, excluem-no. Essasuperioridade resulta da moral. Se refle-tirmos um pouco, notamos que esta su-

perioridade estende-se a tal ponto queos outros – supostamente superiores emfunção da moral – digam: “Este pode vi-ver e este não”. Não é incrível, tal petu-lância, por detrás da moral? Felizes, po-rém, estas pessoas moralistas não são.Seguramente não.A felicidade resulta do ato de voltar-separa todos. Este ato de voltar-se para to-dos é uma realização e uma tarefa para avida inteira. É a realização essencial danossa vida. Em princípio não é diferenteda benevolência para todos. Quero bema todos os seres humanos. Sintam o quese passa no interior de vocês ao exerci-tarem esta postura. Existe, talvez, umaou outra pessoa com a qual estejam abor-recidos. Agora vocês a olham e dizem:“Lhe quero bem em todos os sentidos.”

Vejo através de algumas expressõesque já estão mais felizes. A benevolên-cia traz felicidade. Querer mal a alguém,ao contrário, traz a infelicidade. Não ape-nas a do outro e sim a nossa própria.

É possível verificar a benevolênciadentro de nós e renová-la.

Freqüentemente confiro a minha pró-pria benevolência. Percebi que quandofico inquieto ou ansioso não permaneçoconectado com a minha alma e o meucoração. Isto vocês também percebemimediatamente. Então, à noite, sento-me– se não tiver tempo à noite o faço namanhã seguinte o mais tardar – e me per-gunto: “A quem neguei a minha benevo-lência?” De repente estas pessoas apare-cem diante de mim, no meu interior. Tor-no a voltar-me para elas com benevolên-cia. Com benevolência, simplesmente,sem julgamento e com benevolência.Então fico calmo novamente. Esta é umaoutra maneira de ser feliz, simplesmente,através da benevolência.

O instanteQuero, agora, falar mais um pouco sobrea felicidade. Qual o segredo da felicida-de? Onde se realiza a felicidade? No ins-tante. Toda a felicidade reside no instan-te. O que contraria a felicidade? O des-vio do instante. O olhar para trás ou oolhar para a frente. Então, esquece-se o

instante. Com o instante esquecemos tam-bém, a felicidade do instante. Permane-cer no instante é uma tarefa difícil que,podemos treinar.

Fechem os olhos. Toda a vida aconteceno instante. Apenas no instante. Manifes-ta-se no instante com toda a sua força.No instante – agora – a vida é repleta.Então abrimos o coração para este mo-mento, alegramo-nos com este momen-to, agradecemos por este momento.

No instante não há lamento, tambémnão há medo. Todo medo concentra-seno futuro, todo lamento reside no passa-do. No instante vivemos sem lamento esem medo.

Porque as crianças freqüentementesão tão felizes? Por que permanecem,apenas, no instante.

Quero fazer mais um comentário so-bre o instante. Viver de instante para ins-tante, significa também, morrer de ins-tante para instante. Deixamos o antigopara trás. Isto é a despedida. O exercíciode viver no instante significa que domi-no a arte de esquecer tudo. Ainda não oaprendi, às vezes, porém, imagino o quesignifica esquecer tudo.

Don Juan nos livros de CarlosCastaneda aconselha-nos de esquecer asua história, esquecê-la totalmente. Seconseguirmos fazê-lo, isto significaria fe-licidade.

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TrabalhoHomem: Trata-se do assunto tra-balho.Hellinger:O problema “trabalho”pode ser resolvido facilmente.Hellinger posicionaprimeiramente o homem edepois uma representantepara o trabalho de frentepara ele. A representantepara o trabalho da um passopara trás e vira-se.

Hellinger: Não me admira você nãoter trabalho. Ele não gosta de você.O trabalho não gosta de você. Estáaborrecido com você porque vocênão o respeita. O trabalho foge devocê. Isto, porém não é culpa dotrabalho. Mas, quem era o trabalho?Homem: Era algo que está muitodistante de mim. Não era um mo-vimento de aproximação.Hellinger: Quem era isto aqui, o tra-balho? Era a sua mãe. Sem mãe nãohá trabalho. O que você fez a ela?Homem: No momento sinto queestá de costas pra mim.Hellinger:Minha pergunta foi bemconcreta.Homem: Eu fui embora.Hellinger: O que isso quer dizer?Homem: Tenho pouco contatocom ela. Virei-lhe as costas.Hellinger: O que você fez a ela?Homem: Dei lhe as costas.Hellinger para o grupo: Acho quevai permanecer desempregado.Não há nada que se possa fazer.Sem mãe não há trabalho.Quem dá as costas paramãe dá as costas para otrabalho – e o trabalholhe dá as costastambém.

Tomar os paisinteiramenteHellinger para o grupo: Gostaria de dizer mais umacoisa neste contexto.

Às vezes olhamos para a nossa mãe e o nossopai e pensamos: algo não estava certo. Eles não eramperfeitos. Temos umas exigências bastante peculia-res em relação aos nossos pais, como se tivessemque ser iguais a deus. Não exatamente iguais, umpouco melhor ainda, evidentemente. É assustador oque causamos aos nossos pais com tamanhas expec-tativas. E depois ainda nos sentimos no direito detomar satisfação deles já que não foram iguais a deus.Porque foram comuns, com erros; quase os mesmoserros que nós temos e assim nós crescemos e nostornamos capazes de enfrentar a vida. Apenas por-que os pais eram comuns e cometiam erros nós nostornamos capazes de enfrentar a vida. Eu fiz umaexperiência peculiar. Eu, comigo mesmo. Contei-lhesanteriormente como o meu sentimento de base cres-ceu. Acolhi a minha mãe no meu coração, por intei-ro. O estranho era: Tudo aquilo do que eu achavaque pudesse reclamar e que eu achava que poderiater sido melhor, permaneceu do lado de fora. Muitoestranho. Quando tomamos o nosso pai e a nossamãe para dentro do nosso coração, assim como elessão, eles permanecem inteiramente no nosso cora-ção e sem aquilo que criticávamos. É uma experiên-cia bonita. E também ajuda quando a conto assim.

Para o homem: Você fez algo a elaque a machucou. Feche os olhos.O homem coloca as mãos emfrente do rosto e começa asoluçar.Hellinger após um tempo: A suamãe ainda é viva?Homem: Sim. O meu pai já faleceu.Hellinger: Então você ainda temuma chance. Agora você entrou emcontato com ela. Bom, muito bom.Vou lhe fazer algumas sugestõesconcretas. Você escreve uma cartapara ela. Depois percorre a sua in-fância desde o seu nascimento eolha para tudo que a sua mãe fezpor você, o tempo todo. Isto vocêescreve para ela e que você vaiguardar tudo no seu coração. Tudoque ela lhe deu você guarda noseu coração.O homem faz um movimentoafirmativo com a cabeça.Hellinger: Exatamente. Depois, nofinal você escreve mais uma coisa:Sempre que você precisar de mim,pode contar comigo.O homem está muito emocionado.Hellinger: Agora, em breve vocêencontrará trabalho.Os dois começam a rir alto.Hellinger para o grupo: ele ficoufeliz. Muito bom. As mães nos fa-zem felizes, sem dúvida.Para o homem: está bom, vamosdeixar aqui.

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A reconciliação

Esta reflexão precedeua constelação familiarde um homem cujoavô acompanhou umtransporte de detidosde um campo deconcentração no finalda guerra e morreuneste trem durante umatentado a bomba.

Agressores só encontram a paz ao ladodas vítimas. Podem apenas aproximar-se das vítimas se estas lhes dão um lugar.Aqui pudemos observar como isto foidifícil para as vítimas. Uma das vítimaspermitiu o contato com agressor. Apósesse contato os dois ficaram em paz. Arepresentante desta vítima olhou para asoutras vítimas que ainda não estavam empaz, convidando-as a fazerem o mesmo.Elas não podiam dar um lugar ao agressor.

A quem isto prejudica? Prejudica asvítimas quando se negam a fazer estemovimento.

Então posicionei um representantepara a Alemanha. Existe mais um aspec-to que obstrui o caminho de reconcilia-ção entre vítima e agressor: a Alemanhaou mais especificamente, os alemães.Neste contexto gostaria de fazer um pe-queno exercício com vocês.

Fechem os olhos e imaginem que ine-vitavelmente fazem parte da Alema-nha, que pertencem a este campo es-piritual. Todos fazem parte desse cam-po espiritual, os agressores, as víti-mas, todos os entusiasmados,N R to-dos fazem parte deste campo da mes-ma maneira. Expomos-nos a eles, atodos eles, aos entusiasmados, tam-bém àqueles que falaram que nãosabiam de nada ou àqueles que sedistanciam como se não pertencessema este campo. E nos expomos aosagressores e a todos os soldados evítimas em todos os lados. Expomos-nos amplamente, por inteiro e total-mente abertos. E compartilhamos comeles também o sentimento. Dizemosa eles: “Eu reconheço, sou comovocês, sou igual. Presto-lhes uma re-verência em minha alma, a todosvocês, com humildade e amor. Nomeu coração unem-se o sofrimento e

a culpa, tudo, da maneira como foi.”Depois olhamos para além deles emdireção a algo maior que está além detudo e a que todos pertencem da mes-ma forma e estavam igualmente entre-gues – onde todos são igualmente aco-lhidos. Diante deste poder paramos,sem movimento, com devoção e semperguntas, ficamos ali, simplesmente.

A partir do momento em que alguémdo presente deixa em paz os que per-tencem ao passado, quando não ad-quire mais nada dessas pessoas eelas, por sua vez, podem seguir seupróprio caminho, então encontram apaz. Portanto é grave quando algu-mas pessoas acham que ainda preci-sam fazer algo para os mortos. Vin-gar-se, por exemplo, ou assumir algumproblema no seu lugar ou compensaralguma coisa. Então, envolvem-se emalgo que não lhes diz respeito. Este éum dos motivos que levam à infelici-dade e ao desastre. Talvez deva expli-

car um pouco mais precisamente oque atua por detrás disto.

Um dos meus reconhecimentos maisdecisivos foi a respeito do funciona-mento da consciência. Trouxe-a, porassim dizer, do céu para a terra. Per-cebi, de repente, que a consciência éum instinto, e não algo espiritual. Umcachorro também possui uma consci-ência. Perceberam que um cachorrode vez em quando também tem umaconsciência pesada? Ou seja, a cons-ciência é algo instintivo. Encontramo-la somente em grupos ou rebanhos.Se um membro do rebanho fez algoque o pudesse excluir do rebanho,fica com a consciência pesada. Logomuda o seu comportamento para fa-zer parte novamente.

Transferindo isto para o ser hu-mano funciona assim: a nossa cons-ciência nos vincula ao grupo impor-tante para a nossa sobrevivência. Vin-cula-nos especialmente a este grupo,mas também, a todos os outros gru-pos com os quais queremos manteruma ligação.

A consciência é um órgão instin-tivo de percepção. Podemos compa-rar a consciência ao sentido respon-sável pelo equilíbrio. O sentido res-ponsável pelo equilíbrio também é umórgão instintivo de percepção. Atra-vés dele sabemos imediatamente seestamos em equilíbrio ou não. Deforma parecida podemos perceberatravés da nossa consciência se ain-da podemos fazer parte ou não. As-sim que fizermos algo que possivel-mente nos exclua temos a consciên-cia pesada. Logo mudamos o nossocomportamento para podermos fazerparte novamente. Quando podemosfazer parte nos sentimos felizes e ino-centes. Este é, em principio, o anseiomais profundo de todo ser humano:fazer parte. Não existe, portanto, malmaior do que ser excluído.

Como punimos os criminosos?Através da exclusão evidentemente.Nós os mandamos para a prisão ouos matamos. A exclusão é o pior queexiste. O maior bem é fazer parte.Sabemos então, através da consciên-cia o que é bom para nós e o grupo eo que é ruim para nós e o grupo.

Eu reconheço que sou igual a você

NR com o nazismo

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Uma outra percepção decisiva que fiz éque existem duas consciências, uma emprimeiro plano e uma outra em segundaplano, escondida. Na nossa cultura nãopercebemos a existência desta outraconsciência. É uma consciência arcaica.É a consciência mais antiga, precede aconsciência moral que sentimos. Estaconsciência é uma consciência de gru-po. Empenha-se para que determinadasregras dentro do grupo sejam respeita-das. A primeira regra é: esta consciêncianão permite a exclusão. Com a consci-ência moral excluímos os outros na me-dida em que nos sentimos melhores doque eles. Nesta outra consciência isto nãoexiste. Todos aqueles que fazem partetêm o mesmo direito de pertencer. Esta éuma lei fundamental desta consciência.

Imaginem agora os bandos, as pes-soas que viviam em bandos. Alguémpodia excluí-las? Isso era imaginável? Aconsciência os manteve unidos. Ninguémpodia ser excluído. Seria a pior coisa parao bando. Nem cogitavam tal hipótese.Todos faziam parte. E o que se fazia com

A felicidade cegaQuero explicá-lo mais detalhadamente.Uma criança faz tudo para poder fazerparte. O fato de fazer parte lhe é maisimportante que a própria felicidade e aprópria vida. Muitas pessoas sacrificam aprópria vida para fazerem parte, porexemplo, soldados e outras pessoas quelutam por alguém. Nós dizemos que sãocapazes de sacrificar a sua vida para acomunidade. Trata-se, porém, do desejode fazer parte. Em que circunstâncias umapessoa é especialmente honrada? Se ti-ver arriscado a sua vida para fazer algoem favor do grupo ao qual pertence.

Para fazer parte, às vezes, uma pes-soa diz determinadas frases interiormen-te: Por exemplo, diz a sua mãe falecidaou ao seu pai falecido ou ao seu irmãofalecido: “sigo-lhe”. Por detrás desta afir-

mação atua um amor profundo. É umamor, porém, que leva para a morte. Ouquando uma criança percebe que sua mãeou o seu pai deseja morrer, então diz in-ternamente: “Eu vou no seu lugar” E de-pois talvez morra ou fique doente. Po-demos observá-lo, por exemplo, no casoda anorexia. A pessoa anoréxica diz emseu coração: “Prefiro que eu vá no seulugar,querido papai.” Normalmente é istoque diz. Na maioria das vezes o faz parao pai. Isto é amor e esse amor origina-sena consciência.

Se estas crianças ou estes adultosdepois morrem, todos eles têm a consci-ência tranqüila. Sentem-se inocentes eainda ficam felizes. Meu deus, que felici-dade! E que tragédia para a pessoa a quedizem: ”Melhor eu do que você!” Como

A felicidade é mais do que um sentimentode inocência

os assassinos? Se tivessem sido cristãosteriam matado-os ou mandado-os para odeserto.

Ainda existem, porém, grupos pri-mitivos. Através deles revela-se do queesta consciência original é capaz. Anopassado conversei com um cacique indí-gena no Canadá. Falou-me que em sualíngua não existe palavra para “justiça”.Não possuem uma consciência como nósa conhecemos. Com esta consciênciaestariam imediatamente gritando por jus-

tiça. Encontram-se em sintonia com aconsciência original. Perguntei ao cacique:” O que fazem então com um assassi-no?” Ele respondeu:” Este é adotado pelafamília da vítima. “ Portanto aqui nãoexiste exclusão. Nesta cultura não existeexclusão. Vivem em sintonia com a cons-ciência arcaica.

Esta consciência também atua emnós, porém, de forma que não a perce-bemos. Como atua? Quando excluo al-guém do meu coração fico como estapessoa. Igual. E mais, posteriormente al-guém do grupo terá que representar oexcluído através de identificação, semsaber. Este é o emaranhado. Resulta daconsciência arcaica.

Esta consciência arcaica segue umsegundo princípio que diz: Todos aque-les que chegaram depois, chegaram de-pois em todos os sentidos. Isto significaque todos aqueles que vieram antes temprioridade sobre os que vieram depois.Por este motivo ninguém que chegouposteriormente pode assumir algo parauma pessoa que já estava lá antes. Toda

se sente o pai se a filha lhe diz interna-mente: ”Morro no seu lugar”? Torna-sefeliz com tal afirmação?

Esta agora é a dinâmica que vem daconsciência que por um lado faz com quenos sintamos felizes e inocentes e pelooutro é contra a vida. Ela, porém, nãoestá em sintonia com a vida. A felicidadeverdadeira esta em sintonia com a vida.

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violação desta regra é punida com umdesastre. A violação desta regra leva aodesastre.

Quando alguém diz: “Sigo-lhe” estáviolando a regra. Quando alguém diz:”Assumo esta responsabilidade em seulugar” está violando a regra. Mas viola aregra de consciência tranqüila. O pecu-liar é que as duas consciências se con-trariam.

Como atingimos a felicidade? Dandopreferência à consciência arcaica. Isto sig-nifica a renúncia da inocência diante daconsciência moral. A consciência arcaicaexige mais. Logo estamos conectados amuito mais pessoas.

Tragédias, todas as tragédias e todasas tragédias familiares resultam do fatode uma pessoa que nasceu depois assu-mir de consciência tranqüila uma respon-sabilidade de uma pessoa que nasceuantes. Por exemplo, vingando-a ou atra-vés do desejo de assumir algo no lugarde um antecessor. Todas as tragédias ter-minam com a derrota do herói mesmoque este tenha agido de consciência tran-qüila e por amor.

Logo, a felicidade é mais que o sen-timento de inocência. Muito mais. E éuma realização. Uma realização da almaatravés do reconhecimento.

A grandefelicidadeÉ evidente que os moralistas ficamenraivecidos quando relato estasminhas conclusões e falo sobre assuas conseqüências diretas. Isto re-vela mais um aspecto da outra cons-ciência. Esta consciência que nos ligaao nosso grupo também nos separados outros grupos. Ainda mais: criahostilidade entre nós e os outros gru-pos. Todas estas hostilidades origi-nam-se da consciência tranqüila. Odesejo de destruição que se mani-festa em alguns de vocês é suporta-do pela consciência tranqüila. Feli-zes, porém, vocês não são. Mas tal-vez reconheçamos melhor o que sig-nifica a grande felicidade.

A plenitudeQuando um homem e uma mu-

lher encontram-se pela primeira vez,sentem-se atraídos um pelo outro,freqüentemente de modo irresistível. En-xergam-se como indivíduos, eu e você.Por detrás do homem, porém, estão tam-bém sua mãe e seu pai, seus avôs e seusirmãos e tudo que aconteceu nesta famí-lia. Um sistema completo. Tenho a ima-gem de que o sistema inteiro que se si-tua por detrás do homem espera pelamulher. Não apenas o homem. O mes-mo aplica-se à mulher. Quando ele vê amulher precisa saber que por detrás delaestão o seu pai, a sua mãe, seus avôs eseus irmãos, um sistema inteiro. Este sis-tema aguarda o homem. Ambos os siste-mas esperam talvez poder finalizar algoque permaneceu sem solução no passa-do. Neste contexto o sistema do homemnão olha apenas para a mulher. Olha tam-bém para o seu sistema. Os dois sistemasingressam em uma comunhão de desti-nos e talvez queiram solucionar algo es-

Separação com amorUm casal pode permanecer unido,

se os parceiros admitem mutuamente opróprio caminho e quando os seus cami-nhos não são muito distintos.

Quando as direções divergem de talmodo que a comunhão no futuro é ques-tionada, a separação pode tornar-se ne-cessária em favor da lealdade consigomesmo e com o próprio destino. E nin-guém precisa sentir-se culpado. Nestecaso leva-se aquilo que se tomou de bomdo parceiro para o próprio futuro e per-mite ao parceiro que ele leve para o seufuturo o que recebeu de bom de nós. Ese rende à dor que toda separação deum parceiro importante traz.

Confiar na percepçãoDa maneira que você escreve, uma ins-tância importante no seu interior pareceperceber que o relacionamento não tem

pecial dentro desta comunhão, finalmen-te solucioná-lo.

Portanto não existe relacionamentoa dois como muitas vezes o imaginamos.O relacionamento a dois é um sonho.Estamos todos inseridos em um campo,em uma família maior. Se alguém foi ex-cluído na família da mulher ou na famíliado homem, como por exemplo, antigosparceiros ou uma criança abortada oudada ou uma criança portadora de defici-ência ou então alguém da família dequem se sentia vergonha, então o mem-bro familiar excluído está presente na re-lação nova e na família nova. Por estemotivo, os dois, homem e mulher, preci-sam incluir o membro excluído na famí-lia nova. Somente assim os dois estarãolivres para o seu relacionamento.

Respostas por cartaTema: Relacionamento de casal em crise

futuro enquanto uma outra instância ten-ta convencer a primeira instância de quesua percepção é equivocada. Isto é tudoque ouso dizer.

Dar e receberExistem diferentes possibilidades parasolucionar o problema sobre o qual fa-lou. Uma seria você assumir o seu mari-do como sendo o homem da sua vida edeixar outros relacionamentos para trás.Por exemplo, a relação com os pais. Umaoutra possibilidade seria você não ape-nas perguntar-se o que deseja para você,mas também o que quer dar a ele. Te-mos que levar em consideração, porém,que a gravidez é um período excepcio-nal onde a mulher e suas necessidadesestão em primeiro plano de maneira quevocês precisam reorientar-se apenas apósa gravidez.

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Vibrando juntosÀs vezes podemos ajudar a alguém comuma única frase. Como podemos fazê-lo? Vou explicá-lo agora e vocês podemsentir quais são os caminhos de ajudaneste contexto.Utilizarei uma imagem.

Imaginem que trabalhe com um casal.Aqui está o homem e ali está a mulher.Ambos vibram em uma tonalidade pró-pria. A sua tonalidade. Todos temos anossa própria tonalidade. Embora soemdiferente vibram juntos. Isto é uma rela-ção em sintonia. Neste contexto, porém,ocorre algo a mais na alma. Se permane-cerem apenas nesta tonalidade não ésuficiente. Ambos expandem-se ao mes-mo tempo para os tons mais agudos desua tonalidade. Quanto mais se expan-dem, mais se assemelham. Este seriaentão um plano espiritual onde podemvibrar juntos. Vocês conseguiram acom-panhar?

Quando tiverem filhos podem procederdo mesmo modo. Toda criança tem umatonalidade própria. Vocês vibram comsuas tonalidades e com os tons mais agu-dos de suas tonalidades. De repente vi-bram juntos nos tons agudos.

Tem outro fator, porém, a ser considera-do. Existem também tons mais graves queestão direcionados para o fundo. Isto nãopode ser conferido matematicamente. Éapenas uma imagem. A alma, porém, osente. Também na profundeza é possí-vel vibrar junto.

Porque contei isto? Em primeiro lugarporque nos faz felizes quando podemossentir essa imagem e vibrarmos junto. Masquando alguém me procura pedindo aju-da também me sintonizo com a sua to-nalidade para vibrar com ele. Não me sin-tonizo, porém, com exatamente o mes-mo tom e sim com os tons mais agudosonde de repente vibramos juntos. Entãoentra um componente espiritual. Atra-vés dessa vibração às vezes perceboimediatamente o que importa na resolu-ção do problema. Freqüentemente éapenas uma frase, às vezes até apenasuma palavra. É tudo o que é necessário.

Esta forma de ajuda e de auxílio de vidaé a maior intensificação deste trabalho. Érepleta de dedicação e respeito sem quese desenvolva uma relação. Cada umpermanece no seu campo individualmen-te e mesmo assim durante pouco tempoos dois vibraram juntos. Depois posso merecolher. Isto pode apenas ocorrer atra-vés da benevolência. Então funciona.

O passadobrilhaHellinger para o grupo: Do meu ladoestão sentadas duas irmãs. Uma me fa-lou que o avô morreu porque foi intoxi-cado com gás. Estava internado em umaclínica neurológica e aparentementemorreu no programa de eutanásia.

Para as irmãs: Fechem os olhos. Ima-ginem o seu avô. Quando me sintonizo

com este contexto imaginoque existe uma força que oenvolve com muitoamor, com um

amor especial e que seu rosto brilha.Quando também a expressão no rostodas irmãs muda: Exatamente.Agora preciso continuar mais um pouco.Do seu lado estão os seus assassinos.Todos que participaram, também envol-tos pelo mesmo amor. E os seus rostostambém brilham.Para uma das irmãs que luta com seussentimentos: E quando o seu rosto brilha?Após um tempo: Finalmente ponha delado esta clava em que está escrito “avô”.Novamente após um tempo: Depoisvocê vira as costas para todo o passadoe fica pequena.Para o grupo: Através deste passado ele-vou-se e ergueu-se.Para esta irmã: Você não precisa disto.A felicidade permanece do lado dos pe-quenos.Quando também o seu rosto começa abrilhar: Acho que posso deixar isso aqui.Está bem?As irmãs fazem um movimento afirma-tivo com a cabeça.

Como o avô vai ficar feliz! Tudo de bompara vocês.

Para o grupo: O que fiz agora? Entreiem sintonia com a tonalidade do avô.Como deve sentir-se quando elas se com-portam dessa forma? Pobre avô. Um fatotorna-se explícito neste exemplo. Enquan-to olhamos apenas para estas relações:eu e você e para a nossa família não ob-temos o essencial. Temos que olhar paraalém disso, para algo maior para que pordetrás de tudo o essencial possa atuar. Elá ninguém está mal. E ninguém estámelhor ou pior que o outro. Como épossível? Neste campo as nossas distin-ções morais de culpa e inocência não têmimportância. Por quê? Tudo que ocorre,o bom e o mal originam-se no mesmomovimento. De onde mais poderiam vir?É inimaginável. Neste movimento tudoé correto e importante exatamente comofoi. Ninguém era melhor ou pior. Nenhumdestino foi mais fácil ou mais difícil. To-dos iguais. Esta é uma postura religiosa.Não é uma crença. É apenas uma postu-ra repleta de respeito diante de algo in-compreensível. Apenas ali obtemos aforça de finalizar algo dessa maneira eservir à vida que ainda resta.

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A criança feridaHellinger para o grupo: Hoje de ma-nhã falei algo sobre o sentimento debase.Para um homem que está sentado doseu lado: Onde se situa o seu senti-mento de base? Em menos 50. Você écapaz de sentir como é no momento?Isto não são julgamentos. É apenasum indício. Faltam muitos em suaalma que não acharam lugar ali. Fe-che os olhos.

O rosto do homem transforma-se norosto de uma criança pequena deses-perada.

Para este homem: Permaneça comovocê está.Para o grupo: Quando olhamos parao seu rosto vemos o rosto de umacriança que deve ter em torno de 4anos. Nesta idade aconteceu algo trá-gico com a criança. A criança estavacompletamente desesperada.

Para o homem: Permaneça exatamen-te assim.Para o grupo: Farei um exercício comele e vocês podem participar do exer-cício. Contarei uma história.

Alguém pensa: que bom, finalmenteo fim de semana chegou e está fazen-do um dia bonito. Hoje me farei umpresente. Algo bonito. Sai de casa e

sente o ar fresco. O sol brilha e elavai para fora. Passeia por camposverdes saturados, atravessa uma pon-te, continua andando e chega a umafloresta. Entra no escuro da floresta,abre um caminho pela mata densa ealcança uma clareira. Deita-se na gra-ma, olha para o céu, vê as árvores nobalanço do vento, ouve os pássaroscantando e o murmurar de um riachopor perto. Depois fecha os olhos eadormece.

Ele sonha. No sonho volta a suainfância, vê-se como criança peque-na, vê tudo que aconteceu com estacriança e tem compaixão com ela.Assim dorme e sonha durante muitotempo. Depois acorda, esfrega osolhos, senta-se olha para frente e vêuma criança pequena a alguma dis-tância dele.

Quando chega mais perto vê queé ele mesmo quando era pequeno.Esta criança tem medo dele. Não temcoragem de aproximar-se mais. Ele es-pera com cuidado e sem se mexerpara que a criança tome confiança.Após um tempo a criança aproxima-se lentamente. Ele a olha e vê que acriança está ferida gravemente. Espe-ra mais um pouco e chora com a cri-ança. A criança agora tomou confian-ça. Ele a toma em seus braços delica-damente e olha em seus olhos. Aca-

ricia as suas feridas, leva-a até o ria-cho e lava as ferida na água transpa-rente. Isto faz bem à criança. Ele asuspende novamente, a segura e vol-ta até a clareira com ela.

De repente a criança começa afalar com ele. Diz a ele o que querdar a ele, equivalente ao fruto de todoseu sofrimento. Ele toma tudo que acriança lhe dá – tudo – o pequeno etambém o grande.

Depois vê que a criança fica can-sada. Ele a deita na grama delicada-mente. A criança fecha os olhos. Per-cebe que agora a criança deseja mor-rer. Ele espera acontecer, olha paraela mais uma vez com amor e lhe diz:” Obrigado por tudo. Guardo-o nomeu coração e farei algo bonito como que você me deu, em lembrança àvocê.”

Lentamente vira de costas e dei-xa a criança para trás, em paz. Abrenovamente um caminho pela mata,sai da floresta, continua andando echega a uma encruzilhada. Sente qualé a direção e dá o próximo passo.Após um tempo para o homem: Ago-ra a criança sorri para você. Voudeixá-lo aqui. Isto poderá atuar pormuito tempo em sua alma.

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Para que orelacionamento a doisdêem certo trêsaspectos sãonecessários. Cada umé importante por si sóe nenhum podesubstituir o outro.

A relação sexualO primeiro aspecto é a relação sexual. Éimprescindível para o relacionamento adois que ela dê certo uma vez que o re-lacionamento entre um casal direciona-se para a união sexual. Ela é o que im-porta essencialmente, porque apenasatravés da relação sexual a vida conti-nua. Na relação sexual o amor e a vidacondensam-se. Ela é o auge do nossodesenvolvimento. Na relação sexual, noamor que se expressa através dela e evi-dentemente no instinto que nos conduz

Homem e Mulherà relação sexual atua a força de maiorpotência que conhecemos. Toda a vidavisa à continuidade. Está destinada à con-tinuidade e torna-se plena quando alcan-ça a continuidade. Por este motivo a for-ça que atua por detrás é a força vital es-sencial. E evidentemente é também amaior força espiritual, uma força supre-ma – usarei uma imagem para descrevê-la – a força que mais se assemelha aDeus. Nela manifesta-se o que existe demaior no mundo – o divino – da maneiramais concreta possível. Justamente pelofato de estarmos entregues a esta forçaatravés do nosso instinto ela revela-secomo algo que independe de nós e nostranscende. Logo o primeiro aspecto dorelacionamento entre um casal é que oamor sexual dê certo.

O amor docoraçãoExiste um segundo aspecto. É o amor docoração. O amor sexual é mais bem su-cedido quando se origina no amor queparte do coração, quando é uma realiza-

Como o nosso relacionamento a dois dá certo

ção do amor do coração. O amor prove-niente do coração é uma realização pró-pria. A sexualidade existe também semeste amor e este freqüentemente existesem a sexualidade. Ambos são realiza-ções próprias, o amor sexual e o amorproveniente do coração.

A vidaconjuntaAgora entra um terceiro aspecto que é avida conjunta. A vida conjunta pode exis-tir sem a sexualidade. Às vezes podeexistir também sem o amor. Às vezesvemos casais que permanecem juntos,embora não se amem verdadeiramentee de coração. A vida conjunta, porém, éum bem precioso. É também precisoespecialmente aprendê-la e realizá-la.

Quando estes três aspectos se jun-tam, o amor sexual, o amor que parte docoração e também a vida conjunta comtudo que faz parte – a troca, a ajudamútua, o apoio – então a vida em casaltem êxito. Então crescemos no relacio-namento a dois.

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Amor queperduraO amor que tem êxito é algo humanoe quase comum. Ele reconhece queprecisamos de outras pessoas e quedefinhamos sem elas. Quando reco-nhecemos isto mutuamente damosalgo ao outro e recebemos algo dele.Alegramo-nos por estar recebendoalgo e alegramo-nos por poder daralgo a alguém. Na medida em quecontinuamos dando e recebendo comrespeito mútuo, com benevolência ecom o desejo que tanto o outro comonós mesmos estejamos bem, compre-endemos o que significa amar huma-namente.

Este amor inicia-se com o relacio-namento entre homem e mulher. To-dos os relacionamentos posterioresprovêm desse amor. Ele é a base detodas as relações humanas e nós so-mos conduzidos a ele, irresistivelmen-te. Porque o homem precisa da mu-lher para estar inteiro e a mulher pre-cisa do homem para estar inteira. Éum forte desejo que os leva um aooutro. Este desejo às vezes denomi-nado pejorativamente de “instinto” é

o movimento mais potente que a vidapossui. Ele leva a vida para diante.Por este motivo, este desejo e este an-seio são as forças mais profundamenteligadas à essência original da vida.Reconhecendo este fato tornamo-nosuma unidade com a essência originalda vida dentro deste amor. Este amore esta atração conectam-nos com aabundância da vida. Quem se abrepara este amor é solicitado. Tanto amaior felicidade quanto o maior so-frimento partem desse anseio e des-se amor. Nele crescemos.

Quem se envolveu com esteamor, transborda após um tempo.Esse amor transcende amplamente orelacionamento a dois, por exemplo,quando esse amor traz filhos. Entãoeste amor continua através do amordos pais em relação aos seus filhos.E o amor que as crianças experimen-tam retorna para os pais. Assim ascrianças crescem até que elas mesmasprocurem um homem ou uma mulhere o fluxo da vida continua fluindoatravés deles. Logo, onde o amor seinicia, com o passar do tempo eleengloba cada vez mais. Abrange tam-bém outras pessoas. Mas apenas apóstermos experimentado-o interiormen-te como algo humano e dito “sim” aele. Neste sentido o grande amor éalgo comum. Este amor possuiu for-ça e perdura.

A felicidadeplenaMeu tema era: o que faz as pessoas feli-zes? O que acontece, porém, com tudode pesado que as pessoas vivenciam?Nos Sonetos a Orfeu de Rilke existe umpoema sobre o lamento. È assim:

Só no espaço do louvor, o lamentopode soar, ninfa da fonte do medo,pairando sobre nosso tormento;lágrima clara no mesmo rochedo

que suportas altares e portais.Vê: sustenta nos ombros potentesa certeza de que ela seria a maisjovem dentre as irmãs no sentimento.

Júbilo professa, saudade confessa;só a queixa ainda aprende. Sem pressa,desvela, noites a fio, o mal atroz.

De repente, inexperiente e curva,ergue a constelação de nossa vozpara os céus que seu sopro não turva.

De repente a queixa estava feliz. Issolhes parece conhecido, essa história daqueixa ou da acusação? Ou a questão dascobranças, desvelar noites a fio o malatroz? Evidentemente esta é a receitapara a infelicidade.

Quero falar mais precisamente sobreeste aspecto, exercitar como se abre ca-minho para a grande felicidade.

A felicidade está relacionada ao cres-cimento. Crescimento interno. Quantomais crescemos internamente mais reali-zados ficamos. Existe uma felicidade leveque é alegre e jovial. Uma felicidadebonita. E existe uma felicidade silencio-sa. Que simplesmente encontra-se emsintonia. Esta felicidade possui força enunca acaba. Não é ameaçada.

O ponto principal é: crescimentonecessita de dois componentes. De umlado de nutrição e do outro de resistên-cia. Todo crescimento impõe-se contra aresistência. A árvore mais antiga do mun-do está na Califórnia no topo de umamontanha, totalmente desgrenhada comuma aparência assustadora. Ela tem 3500anos de idade. Qual das árvores felizes

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pode aproximar-se dela em termos deforça? A imaginação geral da nossa cultu-ra do bem-estar é que somos alimenta-dos, alimentados, alimentados. Recebe-mos, recebemos e recebemos e assimtornamo-nos felizes.

Depois existem os conceitos sobreo que seria uma infância feliz. Quais seri-am os bons pais? Eles dão e dão e dão.Este são os bons pais. Esta é a imagemideal. E imaginem se eles não tivessemdado suficientemente. Seria o motivo dosmeus problemas. A culpa é deles. E de-pois canto um cântico de lamento sobreos meus pais a vida toda.

O que acontece neste instante?Tudo que acontece, da maneira comoaconteceu, foi uma chance para a forçae o crescimento – se eu concordar.A partir do momento em que eu concor-do com algo aquilo se torna algo bom.Através do ato de concordar torna-se algobom e transforma-se em força. Se recu-sar a aceitá-lo ou me lamentar eu o per-co. Perco qualquer pessoa sobre a qualme queixo. Se me queixar em relaçãoaos meus pais perco-os. Que vida mise-rável seria esta, vida miserável.

Fechem os olhos. Este é um exercí-cio para ficarmos felizes. Agora olhempara sua mãe e o seu pai, como são, exa-tamente como são. Alegram-se com elesexatamente como são. E vocês dizem

“sim” a eles como são e “obrigado” portudo.

Algumas coisas foram diferentes da-quilo que talvez desejávamos. Olhempara aquilo que foi doloroso ou pesado edigam: “Sim, da maneira como foi tomo-o no meu coração. Farei algo disso. Cres-ci através desses acontecimentos. Obri-gado.”

Assim percorremos a nossa vida, co-meçando na infância e olhamos para tudoaquilo de que queremos livrar-nos. Porexemplo, uma doença ou uma pessoa edizemos: “Eu acolho você no meu cora-ção assim como é. Cresço através devocê. Você me mostrou e me deu algoimportante.”

Depois olhamos para nós mesmos,por exemplo, para uma culpa e dizemos:”Sim você faz parte de mim. Através devocê recebo uma força e uma suavidadeespecial. Você pode permanecer comigo.”

De repente, inexperiente e curva,ergue a constelação de nossa vozpara os céus que seu sopro não turva

Muitas pessoas querem ser perfeitascomo deus. Almejam ser como deus.Uma vez um anjo realmente desejava serigual a deus. Sabem em que se transfor-mou? Em um diabo.

Amor e ordem

O que é maior e o que émais importante, o amorou a ordem? O que vemantes? Muitos achamque amandosuficientemente tudoentra na ordem correta.Muitos pais, porexemplo, pensam queamando os filhossuficientemente, estesse desenvolvem damaneira como os pais odesejam. Muitas vezes,porém, os pais sãodecepcionados apesar doseu amor.Aparentemente o amorpor si só não basta.

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O amor precisa encaixar-se emuma ordem. A ordem é predetermi-nada em relação ao amor. É assimtambém nas outras áreas da nature-za: Uma árvore desenvolve-se segun-do uma ordem interna. Não é possí-vel modificá-la. Apenas seguindo estaordem ela poderá desdobrar-se. As-sim é também com o amor e os rela-cionamentos com o próximo: podemapenas desenvolver-se no contexto deuma ordem. Esta ordem é predeter-minada. Se soubermos algo sobre asordens do amor, o nosso amor e osnossos relacionamentos terão maispossibilidades de realizar-se plena-mente.

A primeira ordem do amor emuma relação a dois é que o homem ea mulher são equivalentes emborasejam distintos. Se reconhecerem estefato o amor terá uma chance maior.

A segunda ordem diz que os mo-vimentos de dar e receber precisamestar equilibrados. Se um precisar darmais que o outro a relação está dese-quilibrada. Ela necessita deste equi-líbrio. Se a necessidade de compen-sação entre o que se dá e o que serecebe une-se ao amor, ambos osparceiros retribuem com um poucomais ao outro do que receberam paralhe compensar. Assim a troca entreeles cresce e com ela a felicidade con-junta.

Esta necessidade por compensa-ção existe também no lado negativo

da relação. Quando um parceiro cau-sa algum mal ao outro, este tem a ne-cessidade de fazer o mesmo. Sente-se machucado. Portanto, acredita tero direito de machucar, também, ooutro. Esta necessidade é irresistível.

Muitos que sofreram uma injusti-ça sentem-se no direito de tambémcausar algum mal a outro. Logo,acrescenta-se mais um aspecto à ne-cessidade de compensação: a sensa-ção de que através da injustiça queme foi causada obtenho direitos es-peciais. Logo, não causamos ao ou-tro apenas o mesmo mal que ele noscausou e sim um pouco mais. Mascomo foi causado um mal maior aooutro este por sua vez também se sen-te no direito de retribuir esse mal no-vamente e como se sente neste direi-to retribui com um mal um poucomaior ainda. Assim a troca negativaintensifica-se em um relacionamento.

No lugar da felicidade cresce a in-felicidade neste tipo de relacionamen-to. Podemos reconhecer a qualidadede um relacionamento verificando sea troca entre o dar e receber realiza-seprincipalmente pelo bem ou pelo mal.

A questão é: Qual seria a solu-ção? Existe uma solução? A soluçãoseria mudar da troca na área do malpara a troca na área do bem. Como,porém, isto pode funcionar?

Existe um segredo: Vingamo-nosdo outro com amor. Isto significa quetambém lhe causamos um mal, po-

rém, um mal um pouco menor. Logoa troca no campo do mal termina eambos podem começar a dar e rece-ber algo bom novamente. Este é umaspecto importante da ordem doamor. Se o conhecemos e agimos se-guindo-o é possível mudar muitascoisas para o bem dentro de uma fa-mília.

Mais uma outra ordem do amorprecisa ser considerada uma vez queignorada terá amplas conseqüências.

Uma mulher que se julga ser me-lhor que sua mãe não tem respeitopelos homens. Ela não compreendeos homens e em princípio não preci-sa deles. Uma vez que acha que émelhor que sua mãe isto geralmentesignifica: Sou a melhor mulher parao papai”. Logo já possui o seu ho-mem e não precisa de outro.

Como uma menina torna-se capazde se transformar numa mulher e derespeitar e ter um homem? Posi-cionando-se ao lado de sua mãecomo sendo a menor.

O contrário também é valido paraos homens: um homem que não res-peita o seu pai e se julga melhor parasua mãe do que o seu pai não temrespeito pelas mulheres. Já tem umamulher e não precisa de outra.

Como se torna capaz de ser umhomem e de respeitar e ter uma mu-lher? Posicionando-se ao lado do seupai como sendo o menor.

Logo o homem aprende a respei-tar a mulher através do pai e a mu-lher aprende a respeitar o homematravés da mãe.

O que acontece, no entanto, seum homem que é o filhinho da ma-mãe casar-se com uma mulher que éa filhinha do pai? O filhinho da ma-mãe não é confiável para a mulher ea filhinha do pai não é confiável parao homem. Têm pouco respeito umpelo outro.

Logo em primeiro lugar é neces-sário que na família de origem sejaestabelecida a ordem de maneira queo filho respeite o seu pai e a filha res-peite a sua mãe.

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Após os seminários deconstelação familiarsempre constatamos queenergeticamente aspessoas sentem-se muitobem, que estão repletasde confiança e vontadede agir. Esse campoenergético em váriaspessoas perdura pormeses ou anos e emoutras se estende apenaspor semanas ou dias,

Círculo de Amigos

dependendo dos camposaos quais as pessoas seexpõem no dia-a-dia.

Por este motivo procuramos encontraruma maneira fácil de prestar auxílio devida de modo que estas pessoas tenhama possibilidade de manter por mais tem-po esse campo e essa força que obtive-ram em um final de semana. Para quesejam capazes de buscar forças para odia-a-dia regularmente e renovar estecampo continuamente. Logo tivemos aidéia de constituir um círculo de amigosHellinger. Neste meio tempo foram cons-tituídos vários círculos de amigosHellinger por toda Europa e outros seencontram em formação. Vejawww.hellinger-international.com/indexFreund.htm.

Por umpedaçinhode pão

Observação:Georg Sauler enviou-me este textopor ocasião do meu aniversáriode 80 anos. Refere-se a uma cenada ópera Fidélio de Beethoven.Leonore, esposa de Florestanprocura o marido em seu cárceredisfarçada de ajudante docarcereiro e dá um pedaço depão e um gole de vinho aodefinhado.Seguem o texto e a partitura damúsica.

O pequeno gole na jarra e o restode pão que o carcereiro e seu aju-dante estendem ao prisioneiro po-lítico condenado à morte abalam-noprofundamente em sua escuridão.“Seu túmulo é iluminado” nesta cho-cante cena ágape. Comovido pro-cura por palavras de gratidão e ain-da totalmente anestesiado pela bon-dade dos dois aflui do seu interiorum canto de louvor.

Via de regra, o quanto que nós,filhos e filhas, recebemos dos nos-sos pais. Quantas milhares de refei-ções de amor. Nas constelações fa-miliares, quando é possível pode-mos vivenciar o processo profundoque pode ser iniciado através daredescoberta de pai e mãe. De re-pente ouvimos a respiração. Umbrilho nos olhos da filha ou do filhonos deixa vislumbrar a volta para umcampo apaziguado.

Existe um canto de gratidão aospais?

A partitura para tenor em“Fidelio” Terceto n° 13 cabe per-feitamente para entoar o hino aospais, em voz alta ou sussurrada.Agradecimentos a Ludwig e seulibretistas.

Encontrem e ganhem novosamigos para vida toda!

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O que vem à luz nocomportamento dascrianças e que muitasvezes é tão aflitivo é algonecessário dentro dosistema que os outrosfamiliares, porém, negam.A criança o assume paraos outros. Olha com amorpara os excluídos. Pordetrás de todo essecomportamento atua umamor oculto. Portanto, notrabalho com criançasdifíceis não voltamos oolhar para a criança e simpara onde a criança olha.Assim inicia-se ummovimento. Ummovimento de cura quelibera a criança, pois osoutros passam a olharpara onde devem olhar.Logo a criança nãoprecisa mais olhar para láno lugar deles ecomportar-se de acordo.No trabalho de ajuda àscrianças este é oprocedimento essencial.

Imaginem só o que acontece com váriasdestas crianças. São tratadas e medicadascomo se de algum modo não estivessembem. Na verdade fazem algo pelos ou-tros, pelos grandes. Por este motivo estaforma de ajudar às crianças deu início a

algo novo e abre inúmeras possibilida-des totalmente novas. Apenas, porém,se não olharmos para as crianças e simcom elas para onde são levadas e paraaquilo que querem fazer pelos adultos.Assim aliviamos as crianças. Os pais e osoutros envolvidos é que precisam mu-dar. Precisam olhar justamente para aquiloque não olharam. Assim inicia-se um de-senvolvimento. Um desenvolvimento decrescimento. Primeiro nos pais. Só depoisos filhos ficam livres.

A ordemIsto é pedagogia sistêmica. Uma pe-

dagogia totalmente diferente. Este é osegredo deste trabalho. É auxílio de vidade uma forma especial. Aqui ajudo cri-anças a saírem de um emaranhado e es-tabeleço a ordem em seus sistemas fa-miliares.

Quando um sistema está em desor-dem ocorre sempre o mesmo: Pessoasque fazem parte são excluídas. Tambémfazem parte de um sistema todas as víti-mas de membros dessas famílias. Se umapessoa participou da morte de outros,talvez de forma muita culposa então es-tes mortos fazem parte do sistema. Elesestão presentes. Atuam e manifestam-se,freqüentemente através de uma criança.A criança então volta o seu olhar para lá.Se os outros, porém, não voltarem o olharpara lá, não adianta. Aqueles a quem real-mente diz respeito é que precisam olharpara lá. Logo, estabelece-se a ordem nosistema que estava em desordem.

Ordem significa sempre integrar oque foi excluído. Aqui se encontra o focodo meu trabalho, agora e no futuro. Sig-nifica auxílio de vida desse modoabrangente. Abre o nosso olhar para ou-tros contextos onde se torna mais fácilajudar às crianças e evidentemente tam-bém aos seus pais.

LeonoraTudo o que eu posso oferecer avocê é um restinho de vinho quetenho em minha jarra. Beba! É cla-ro que é apenas um pouco de vi-nho, mas eu lhe dou com prazer.

FlorestanVocê receberá a recompensa emum mundo melhor, o céu o trouxeaté mim.Oh, obrigado! Você me reanimoudocemente; não posso retribuir obenefício, não posso.

LeonoraEste pedacinho de pão – sim, hádois dias eu o estou carregando.Aqui, tome o pão – pobre homem!

FlorestanOh, eu lhe agradeço! – Obrigado!Obrigado!Você receberá a recompensa emum mundo melhor, o céu o trouxeaté mim.Oh, obrigado! Vocês me reanimoudocemente; não posso retribuir obenefício, não posso.Oh, que eu não possa recom-pensá-lo!

Ao grande Bert Hellinger, que hávários anos revitaliza de forma vir-tuosa, no mundo inteiro, onde exis-te a necessidade, a homenagem eo respeito aos pais, minha cordialretribuição divina pelo seu 80º ani-versário.

Entretanto quem não gosta tantoassim de Bert Hellinger, talvez oajude Jesus Sirach, um professorsábio da velha Jerusalém (aprox.175 a.C.):“Quem honra o seu pai, expia fal-tas. E quem respeita a sua mãe seassemelha a um colecionador detesouros.”(Sir.3/3-4)

Georg Sauler

Ajudar às CriançasO amor oculto da criança

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A filha nãoquer estudarHellinger para uma mulher: Qual é oassunto?Mulher: Minha filha não quer ir à escola.Está no quarto ano escolar. Recusa-secada vez mais de ir à escola e de sair decasa de um modo geral.Hellinger: E o pai da criança?Mulher: O pai é muito mais novo queeu. Nunca ficamos muito juntos. Agoratentamos nos separar. Muitas vezes o in-cluí no assunto, ele, porém, tem muito aresolver consigo mesmo.Hellinger: Quanto mais novo ele é?Mulher: 22 anos.Hellinger: 22 anos mais novo? É mesmo?Bem, então começarei com a filha.

Hellinger escolhe umarepresentante para a filha e deixaque ela se posicione. A filhamovimenta os dedos de formainquieta e esfrega as mãos. Depoisolha para o chão. Helllinger pedeque se sente mais uma vez por ummomento e escolhe umarepresentante para a mãe da

criança. Esta representante vira acabeça para o lado. Depois olhapara o chão e no meio tempo cerraos punhos. Agacha-se e esfrega ochão com uma mão como seuquisesse limpar algo. A outra mãoela fecha em forma de punho.Agora Hellinger pede àrepresentante da filha que seposicione novamente a algumadistância da mãe. A mãe continua

esfregando o chão.

Hellinger para a representante da filha:Diga a sua mãe “Eu cuido de você”.

A mãe segue esfregando o chão eenquanto o faz olha para a filha. Afilha aproxima-se da mãe. Esta ficade costas e agora esfrega o chãocom as duas mãos. Olharapidamente para a filha, mas, dá-lhe as costas novamente. A filhaabre os braços como se quisesseajudar a mãe. A mãe agora estáajoelhada e quase toca o chão coma cabeça. Continua esfregando o

chão com as duas mãos.

Hellinger para os representantes apósalgum tempo: Está bem. Obrigada avocês.Para a mulher: Ficou claro para vocêporque a filha quer ficar em casa?Mulher: Ela me protege. Quer me ajudar.Hellinger: Sim, ela tem medo que vocêmorra ou se mate.A mulher faz um movimentoafirmativo com a cabeça e começa achorar.Mulher: Você pode me ajudar? Para quedireção devo olhar?Hellinger: Não posso me intrometer. Exis-te um segredo que preciso respeitar.A mulher respira fundo e faz ummovimento afirmativo com a cabeça.Mulher: Eu sei.Hellinger: Evidente que sabe. Mas eu nãoquero saber. E não devo saber. A sua fi-lha, porém, também o sabe. Pelo menoso sente.A mulher continua respirandoprofundamente e faz um movimentoafirmativo com a cabeça.Hellinger após algum tempo: Você pode

fazer um exercício com a sua filha. Demanhã antes de a escola começar vocêdiz a ela: ”Pode confiar em mim. Hojeeu fico.” Antes que ela vá à escola. Namanhã seguinte você o diz também:“Hoje eu fico. Pode ir tranqüila ao co-légio.”A mulher ri aliviada.Hellinger: Está bem?Mulher: Obrigada.Hellinger para o grupo: Parece ser umproblema e ele é: grande amor. A crian-ça está repleta de amor.

OlharLuz turva não escurece o vidro claro,o vidro turvo, porém, escurece a luzclara.

Reconhecimento adquire-se através dasintonia.

A esperança turva o olhar.

O ceticismo atua como a fé: ambossubstituem o olhar.

O costume contraria o olhar do novo.Ele dissolve o emaranhamento em algopassado daquele que tem a coragem deolhar e libera-o das conseqüências.

O que existe de fato é indescritível.Quem o vê, porém, sabe.

Vivenciar significa: perceber o que é.

Entramos no sol e já está claro.

Iluminação tem o mesmo efeito comose muitos se inclinassem para um cen-tro de luz.

Em um balde de água imaginamos omar, porém, sem realizá-lo.

Beleza necessita devoção.

A disponibilidade de olhar muitas ve-zes é obstruída pelo fato de que ex-perimentamos aquilo que é trágico paranós como obrigação e o vivenciamoscomo um sentimento de inocência;e porque experimentamos o olhar quenos mostra a solução como traição emrelação a uma ordem e o vivenciamoscomo culpa.

Frases para reflexão

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Sabedoria paraViagemO ato de voltar-separa o outroQuando me volto para um outro ser hu-mano ou para um objeto ou uma tarefa,distancio-me de mim, direciono-me parao outro ou para aquilo outro, sou atraídapor ele, percebo-o com atenção aproxi-mo-me dele com interesse e amor,conecto-me a ele internamente e torno-me um com ele por um momento.O ato de voltar-se para alguém esquecede si, porém, sem perder-se. Estou, porassim dizer, fora de mim comigo mesmo.

Como isto é possível? O ato de voltar-separa alguém parte da alma, movimenta-se com a alma, atinge algo de essencialno outro, no objeto, na tarefa. Esta es-sência, porém, jamais é algo externo. Estáalém daquilo que percebemos com osnossos sentidos, está inserido em algoabrangente, onde eu e o outro ou aquilooutro a que me volto, encontramo-nos.Através do ato de voltar-se plenamentepara o outro tornamo-nos mais do queéramos antes. Talvez a vida e sua consu-mação sejam exatamente o ato de vol-tar-se para o outro constantemente. Ondeo movimento de voltar-se para alguémestiver interrompido o tempo que ne-cessitamos para recuperá-lo é um tem-po perdido. Dentro deste movimento,porém, o tempo passa voando e nós ovivenciamos como sendo repleto.

Nota depensamento

A dinâmica de trocaPelo fato de o mundo girar em torno

de si próprio, o dia e a noite se revezame pelo fato de girar em torno do sol exis-te a mudança das estações com mais oumenos quantidade de luz, frio ou calor.

Como existe a dinâmica de troca

existem início e fim, nascimento e mor-te, ascensão e declínio e existem tam-bém o bem e o mal. Pois também entreo bem e o mal existe uma dinâmica derevezamento. Um transita para o outro enão existe sem o outro.

Por este motivo nós também nãosuportamos um sem o outro. Por exem-plo, não suportamos a alegria sem a dor,o silêncio sem o trabalho e a vida sem amorte. A força criativa atua tanto em umquanto no outro do mesmo modo. Des-sa forma atua também o divino, a forçaoriginal, em torno da qual no final tudogira – se é que podemos ousar ir tão lon-ge em pensamento. A força original estáisenta dessa dinâmica de troca. Isto écomo eu o imagino. Ela é o centro emtorno do qual tudo gira da mesma formae, portanto é infinitamente silenciosa.Esta é a minha imagem.

É evidente que isto são apenas ima-gens através das quais tentamos aproxi-mar de nós o essencial. Portanto falta-lhes a certeza. Estas imagens, porém, têmum efeito na alma, um efeito reconfor-tante. Podemos nos orientar nestas ima-gens internamente e durante toda dinâ-mica de troca olhar para este centro. Po-demos nos deixar cair lentamente nestemeio e durante qualquer dinâmica de tro-ca permanecer dentro dele recolhidos eem silêncio.

Isto também existe em relação aobem e ao mal? Principalmente aí. Porquenada nos distancia mais do nosso centroque o bem ou o mal. Os dois. E o queatrai ambos para a mesma força? O amor.Porque o amor reside neste centro.

Em assuntopróprio

O ato de guiarQuem guia toma a dianteira. Guia

aqueles que estão dispostos a seguí-lo.Por que estão dispostos a seguí-lo? Por-que lhes indica o caminho para um des-tino que para eles também é importantee os conduz nesta jornada.

Quem guia precisa saber através daexperiência para onde leva o cami-

A Serviço da VidaUma revista a serviço do trabalho comas constelações sistêmicas segundoBert Hellinger

Com artigos da revista alemã“HellingerZeit Schrift”- revista trimestralalemã de autoria de Bert Hellinger eMarie-Sophie Hellinger.

Reprodução autorizada.Direitos autorais para o português daEditora Atman.

Tradução: Filipa RichterRevisão: Tsuyuko Jinno-SpelterDiagramação: Virtual EditCoord. Editorial: Décio Fábio deOliveira Júnior

Revista 2 – edição alemã em 01/2006

nho.Isto se aplica principalmente ao cam-po espiritual. Significa que aqueles queo seguem precisam ter certeza que elejá percorreu este caminho antes, pelomenos uma parte.

Como um guia em uma área especí-fica, sabe que está apto a guiar os outrose que pode ou até deve guiá-los? Por-que ele mesmo é guiado.

Porque se encontra em sintonia comum movimento espiritual que o toma eque ele segue com coragem e ação.

Aqueles que são guiados também sãotomados por este movimento espiritual.Seguindo o guia, seguem, também, estemovimento. Isto, porém, também signi-fica que podem apenas seguir aquele queos guia, o tempo e a distância em queele permanecer em sintonia com talmovimento. Assim que se desviar domovimento o guia perde o dever e odireito de guiar. E perde os seguidoresque permanecem em sintonia com a for-ça criativa que conduz a todos.

Quem guia em sintonia com esta for-ça criativa, ao mesmo tempo guia emsintonia com aqueles que o seguem. Istosignifica que é também guiado por elese que pode confiar neles, assim comoeles confiam no guia. Apenas, porém,enquanto eles também permanecerem emsintonia com tal movimento espiritual. Deoutro modo precisa separar-se de seusseguidores. Mas também aqui em sintoniacom o movimento que o conduz.

Esta é a forma onde se revela com maiorclareza se o outro sabe e pode guiar.

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• Prefácio

• Homem e Mulher

• Ajudar as Crianças

• Pais

• Ordens do Amor

• Meditação

• Frases de Reflexão

• Examinar de Perto

• Sabedoria a Caminho

• O Futuro

Sumário

A Serviço da VidaFascículo 3Bert Hellinger

Com artigos da revista alemã“HellingerZeit Schrift”- revista trimestralalemã de autoria de Bert Hellinger eMarie-Sophie Hellinger.

Reprodução autorizada.Direitos autorais para o português daEditora Atman.

Tradução: Tsuyuko Jinoo-SpelterDiagramação: Virtual EditCoord. Editorial: Décio Fábio deOliveira Júnior

Revista 3 – edição alemã em

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Sejam bem-vindos!

O tempo preenchido exige uma transição. Quando o passado está concluído,

cede espaço ao próximo passo para o crescimento. Justamente porque está

concluído, existe o novo espaço. Portanto, após a realização, o olhar dirige-se

para frente. Contudo, o tempo preenchido pode somente ceder espaço àquilo

que está vindo, quando nós o colocamos em nossa alma e coração, como algo

que nos pertence, não importando o que possa ter sido. É válido, por exemplo,

em relação a um trecho de vida que terminou e – especialmente – também em

relação a um relacionamento.

A ajuda à vida é, em primeira instância, uma ajuda aos relacionamentos.

Todo relacionamento é um relacionamento a prazo. Por isso, depois de um

certo tempo fica preenchido. O cerne desta revista será o crescimento em

nossos relacionamentos, pois algo anterior pôde ficar no passado e concluído.

Talvez um relacionamento anterior também possa e deva ceder espaço a um

outro, porque somente dessa forma nossa vida atinge a sua plenitude.

Os relacionamentos entram em desordem quando algumas pessoas que

também fazem parte foram excluídas e não são mais respeitadas. Foi-lhes

recusado o reconhecimento e o amor. O que resulta disso é a desordem que

continua nos relacionamentos presentes, por exemplo, no relacionamento de

casal e no relacionamento com os próprios filhos. O segundo ponto principal

desta revista é como reencontrar a ordem e dar espaço ao amor por todos.

Logo estará chegando a bela época das férias para muitas pessoas. O

que a torna especialmente bela? Temos mais tempo para o outro nas nossas

relações. O que lhes faz bem, e como é simplesmente fácil renová-las e

devolver o primeiro lugar à alegria existente dentro delas – nesta revista vocês

encontrarão também sugestões e ajuda relativas a isso.

A felicidade começa no espírito. O espírito tem principalmente fome

pela felicidade. A mesa está ricamente coberta também para ele nesta revista.

Outra boa notícia. Esta revista “A serviço da vida” também está sendo

publicada em outros países: no Paraguai, na Argentina, no Brasil, Itália e Polônia.

Outros países seguirão. Para mim, isso é um estímulo para permanecer o mais

próximo possível daquilo que ajuda imediatamente.

Minha esposa Maria Sophie e nossos colaboradores lhes desejam bons

votos. Com esta revista queremos lhes dar alegria e algumas sugestões para o

dia-a-dia do amor. Algumas delas deixa aflorar em nós também um sorriso. Por

exemplo: a melhor solução para um problema é algumas vezes um desvio.

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Vínculos antigos permanecem

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Hoje em dia, pensamos muitas ve-zes – e também nos comportamosdessa forma – que no relaciona-mento de casal trata-se apenas dohomem e da mulher. Os dois seamam, sentem-se atraídos um pelooutro e se tornam um casal. Nessasituação perdemos facilmente a vi-são de que ambos provêm de umadeterminada família. Cada um denós tem outros pais e outros ante-passados. Em cada família aconte-

Em uma família, aqui num sentido am-plo, incluindo todos os ancestrais, todosestão vinculados uns aos outros, comose tivessem uma grande alma em co-mum. Podemos denominá-lo também deum campo espiritual. Nessa grande almatodos permanecem presentes, todosaqueles que um dia pertenceram, inclu-sive os mortos, todos os mortos. Os fi-lhos abortados e os irmãos que morre-ram cedo também. Todos fazem parte,também aqueles que rejeitamos e dosquais não queremos saber de mais nada.Permanecem presentes nesse campo.Todos estão em ressonância mútua comtodos os outros nesse campo.

ceu algo diferente. Essas realidadesatuam no relacionamento de casal.Ambos os parceiros provêm de seupróprio campo espiritual, um ou-tro campo familiar, que os toma aserviço de muitas maneiras. Porisso, nenhum dos dois é livre.

Se além disso, um deles ou até am-bos tiveram um relacionamento fir-me anterior e desses relacionamen-tos também têm filhos, esse passado

os liga de formas múltiplas. Essepassado liga-os aos filhos e tambémao pai ou à mãe desses filhos. Pre-cisamos presumir que cada umquer e deve permanecer nessas li-gações de uma certa forma. Ne-nhum deve esperar do outro que re-nuncie a esses vínculos. Algumasvezes isso se mostra quando o casalembora queira, não consegue viverjunto.

Ao mesmo tempo, existe nesse campoum movimento que quer reunir o queestava separado. Dois movimentos dife-rentes servem a esse objetivo. Por exem-plo, algumas vezes uma pessoa viva sen-te-se atraída em direção aos mortos. Eeles se unem na morte. Freqüentementeeste movimento é um movimento deamor. Contudo, ao invés de conduzir àvida, conduz à morte.Entretanto, aqui existe também um ou-tro movimento, um outro amor, que nosconserva em vida. Por exemplo, possoincluir com amor em mim, em minhaalma alguém que estava excluído. Ao in-vés de me atrair para a morte, ele proteje

a minha vida, porque foi reconhecido.Esse é o movimento contrário, um movi-mento curativo.Pelo fato de estarmos inseridos em tan-tas relações, algumas vezes a ilusão determos uma vida feliz e realizada nãopode ser cumprida. Justamente porqueestamos conectados. Entretanto, se con-cordamos com esses vínculos do desti-no, não importa o que exijam de nós,ganharemos uma profundeza especial. Éuma profundeza através da renúncia. E éclaro que nesse momento também nostornamos adultos. Nós nos tornamos maishumanos, inseridos em algo maior e te-mos uma outra força.

Os campos espirituais

Homeme

Mulher

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Eu vejo o relacionamento de casal aindaem um outro contexto. Cada sistema fa-miliar carrega um destino especial e temuma desordem especial. A desordemsurge quando nem todos aqueles quefazem parte são reconhecidos como per-tencentes. Então os que não foram reco-nhecidos pressionam para serem reco-nhecidos. Sob a pressão desse campo umacriança precisa representar mais tardeesse excluído sem que tenha consciên-cia disso. Por exemplo, freqüentementeum parceiro anterior dos pais ou dos avósfoi excluído, talvez porque tenha morridocedo. Talvez uma mulher tenha falecidodurante o parto. Essas pessoas não sãomais vistas nesse sistema,freqüentemente porque o seu destinocausa medo nos outros. Contudo, fazem-se notar mais tarde numa criança. Contu-do, a criança não sabe que está emara-nhada no destino de uma outra pessoa.Se esse problema, que alguém estejaexcluído ainda não está resolvido na fa-mília, essa criança procura, quando estáadulta inconscientemente um parceiroque a ajude e à sua família a resolveresse problema. Portanto, o sistema damulher procura através da mulher, no sis-tema do marido a solução para um pro-blema não resolvido. E talvez o inversotambém. O marido e o seu sistema pro-

A comunidade de destinoContrariando as idéias que temos freqüentemente do amor romântico, num relacionamento atuam

ainda muitas outras forças. No amor romântico os dois estão de certa forma apaixonados um pelo outro,

apaixonados significa, não vêem nada. Estão tão fixados um no outro que o entorno permanece exclu-

ído. O amor romântico não se mantém por muito tempo porque o entorno logo se mostra.

curam através da mulher e do seu siste-ma, uma solução para o seu problema.Com isso ambos começam uma comuni-dade de destino, na qual procuram porum solução no outro.Eu vivenciei na Suíça um exemplo evi-dente. Um homem tinha um irmão quemorrera de inanição na guerra. A famílianão tinha tido o suficiente para comer. Ohomem estava intimamente ligado ao ir-mão e tinha medo de morrer de fome,que isso viesse a ser também o seu des-tino. Então, o que fez? Ele se casou comuma mulher que era anorética. Ela deve-ria morrer de fome por ele.Portanto, tais tipos de emaranhamentoexistem. Algumas vezes levam a dimen-sões que parecem monstruosas. Aqui umexemplo de um curso para casais emWashington. Uma mulher veio sem omarido para uma constelação de casal.Eu posicionei em frente a ela um repre-sentante do marido. O marido começoua tremer pelo corpo todo, realmente comum medo mortal. Eu perguntei a ela. “Você já pensou alguma vez em matá-lo?” Ela disse. “Sim.” A filha dela que tam-bém estava presente já havia tentado osuicídio. Portanto, nessa família existia umgrande potencial de agressividade. Quan-do algo assim vem à luz, alguns ficamtentados a dizer: “Que mulher ruim.” Eu

não digo isso. Disse a ela: “Algo especialdeve ter acontecido em seu sistema.”Depois de uma pausa, disse: “Meu paiparticipou da produção da bomba atô-mica.” E acrescentou: “Eu me perguntotambém, porque me casei com um ja-ponês.” Então qual foi o emaranhamentoaqui? A guerra entre os Estados Unidos eo Japão continuou nesse casamento. Enenhum deles tinha consciência disso.Isso são comunidades de destino. Algu-mas vezes elas levam também à morte.Quando reconhecemos esses vínculos dodestino, de repente se mostra uma boasolução para ambos os parceiros. Entãoencontram a paz. Este casal ficou muitobem depois. Depois disso a filha foi dire-to para o Japão. Lá estudou e desabro-chou.O relacionamento de casal e qualqueroutra relação humana íntima é de umaprofundidade inacreditável. Se nós todosnos expusermos às suas dimensões, en-contraremos um outro tipo totalmentediferente de amor e relacionamento.Muito mais profundo e direcionado a to-dos.Como disse, para a ordem é sempre im-portante que o que foi excluído até entãoseja reunido. Esse é o movimento princi-pal que leva à ordem nos relacionamen-tos e para a felicidade de todos.

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Os homens e asmulheres sãodiferentes

Pois bem, o homem entende muito pou-co de mulheres. Vocês já viram um ho-mem que realmente entendesse algo demulheres? Vocês já encontraram umamulher que dissesse: “Meu marido meentende.”? E o inverso é naturalmente amesma coisa. As mulheres não entendemmuito dos homens. Senão, não ficariamcontinuamente tentando mudá-los.Portanto, quando um homem e umamulher se encontram, encontram algoestranho, algo que eles próprios não pos-suem, algo que também não entendem,mas de que precisam. O homem precisada mulher. Senão, para que que ele éum homem? Sem a mulher ele não é umhomem. E inversamente, a mulher pre-cisa do homem. Pois, sem o homem elanão é uma mulher. A mulher se torna umamulher somente através de um homem.Ou? Todo o resto é provisório.Portanto, duas pessoas diferentes se en-contram. Elas se completam mutuamen-te, sem se entender, sem se entender naprofundeza. Por isso, a tensão num rela-cionamento de casal permanece a vidainteira. O homem sempre se admira coma sua mulher e a mullher se admira como seu marido. Isso torna o seu relaciona-mento vivo.

O crescimento norelacionamento do casalVou dizer, de maneira geral, ainda algo mais sobre

relacionamentos de casal e o crescimento. O

crescimento é sempre uma ampliação. Quem cresce,

precisa colocar algo de fora para dentro de si. Cresce

com aquilo que antes estava fora dele. Cresce,

colocando-o para dentro de si.

No momento que um homem encontrauma mulher, reconhece que é incomple-to. Precisa renunciar à sua convicção deque como homem sozinho é um ser hu-mano completo. E com a mulher é amesma coisa. Quando encontra um ho-mem, percebe que ser só mulher não éo suficiente. É necessário ainda algo di-ferente. Precisa renunciar à convicção deque é a única incorporação certa do serhumano. Pois, de repente alguém total-mente diferente que também é certo,está à sua frente. Ambos são certos, masdiferentes. Quando reconhecem isso, re-nunciam às suas convicções e tornam-se humildes. Isso significa que reconhe-cem que são necessitados. Quando am-bos reconhecem isso no outro, enrique-cem. E crescem.O crescimento significa: eu tomo paradentro de mim, o que até agora era es-tranho para mim e que me desafia a re-nunciar à minha convicção. Ambos fazemisso mutuamente, o homem e a mulher.E crescem com isso. Isso é crescimento.

As famílias tambémsão diferentes

Agora se acresce que o homem provémde uma outra família diferente da mu-lher e a mulher de uma outra família di-ferente da do homem. Ambas as famíliassão diferentes. Freqüentemente o ho-

mem olha com desdém para a família damulher e a mulher olha com desdém paraa família do marido. Os dois talvez se di-gam: “Minha família é melhor.” E ela é amelhor para nós porque estamos vincu-lados a ela. Sendo necessário que sejaassim. Pois, sem ela não poderíamos so-breviver.

Entretanto, essas famílias são diferentesuma da outra. Assim como o homem écerto, embora não seja uma mulher, eembora a mulher seja certa, embora nãoseja um homem, assim também a famíliado homem é certa e a família da mulheré certa, embora sejam diferentes entresi. Mesmo assim, cada um precisa reco-nhecer a família do outro como equiva-lente. Com isso, renuncia a algo. Assimcomo o homem, em primeiro lugar, re-nuncia um pouco à sua convicção de queunicamente o homem é o ser humanocerto, ele também renuncia à convicçãode que só a sua família é a certa. E oinverso. Ambos tomam algo diferentepara dentro de si e crescem com isso.

Como isso é importante se torna óbvioquando o casal tem filhos e precisa sedecidir como eles devem ser educados.Então algumas vezes existe uma com-petição entre os valores familiares de ume os do outro. Também aqui cada umdeles precisa renunciar a algo. Dessa for-ma encontram em um nível superior algoem comum, que é maior do que se reco-nheceram como os únicos certos. Issotambém é crescimento.

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Isso existe também em muitos relacio-namentos de casal. Um dos parceiros estápreso em algo e o outro não sabe o por-quê. Muitas vezes é algo de sua famíliade origem. Contudo pode ser tambémuma outra coisa que o prende. Algumasvezes é um aborto provocado que oprende e o afasta do relacionamento, tal-vez até exista um anseio pela morte,dentro de si.O outro gostaria muito de ajudá-lo, massente que não consegue. Ficar paradoaqui sem fazer nada, é difícil. Ele precisareconhecer que as suas forças não bas-tam ou que a sua compreensão não bas-ta para ajudar o outro. Aqui a postura in-terna adequada é: Eu concordo com asituação como ela é – com todas asconsequências para ele e para mim. Nes-se momento chego a uma sintonia comalgo maior. Então posso esperar. Depoisde um certo tempo talvez surja algumasolução e algo curativo. Algumas vezesnão surge nada. Então talvez haja a se-paração. Cada um segue então a sua fi-nalidade, da forma que lhe foi determi-nada.Algumas pessoas pensam que isso é ruim,que uma outra solução teria sido melhor.Nós compreendemos quando elas sen-tem esse anseio. Mas nos é permitido?Nos é permitido termos essas idéias?

Estar em sintonia com os nossos limitesQuando encontramos alguém numa situação difícil, freqüentemente

desejamos uma boa solução para ele. Queremos ajudá-lo. Entretanto,

podemos e devemos fazer isso? Algumas vezes sentimos que não

podemos e nem devemos. Algo dentro de nós nos proíbe. Então

precisamos reconhecer que chegamos a um limite.

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A força original

Em relação a isso existem profundascompreensões de Rilke. Uma delas ele ateve bem cedo, quando ainda era bemjovem. Ele escreve em um curto poemano seu manual de orações: “A vida detodos é um presente”. A vida de todos éum presente: minha vida é um presen-te, a vida de meu parceiro é um presen-te, a vida de meus pais é um presente, avida de meus filhos é um presente, to-das as vidas da natureza são um presen-te. O que isso significa?Atrás de nossas vidas atua uma força ori-ginal, uma origem ou uma fonte originalde todas as vidas, que atua da mesmaforma em todas as vidas e também so-fre. Portanto, se o parceiro sofre, sofrenele uma outra força maior. Poderíamostambém dizer, em primeiro plano: Deussofre nele. Em todas as criaturas sofredo-ras Deus também sofre. E inversamente.Se alguém destrói, por exemplo, um as-sassino ou um soldado numa guerra, gru-pos de bandidos ou não importa o quefor: Quem age aqui? Eles é que agem?Ou Deus age através deles? Nós nos de-fendemos contra essa idéia. Entretanto,devemos fazer isso? Existe uma outrareflexão que se aproxima mais dessa re-alidade e corresponde mais a ela? E qualo efeito que isso tem quando concorda-mos com essa reflexão: Deus sofre emtudo e age em tudo, da mesmo forma? Adestruição e a construção, a doença e orestabelecimento ou a destruição e o pro-gresso é um jogo alternado inacreditávelque se realiza em tudo: O que aconteceé um movimento divino. O conjunto dosofrimento e da alegria, da destruição eda construção e da vida e da morte é umjogo alternado divino. A mesma força atuaem ambos.

E esse jogo alternado faz o mundo avan-çar. Toda a criatividade vem de um talconflito, no qual existem ambas as coi-sas: a derrota e a vitória. O mundo avan-ça dessa forma.

A serenidade

Quando nos submetemos a essa obser-vação, precisamos prescindir totalmentede nós, de que nós indivíduos fossemosimportantes, de que nosso sofrimentofosse importante, de que nossa tristezafosse importante ou nossa felicidade. Oude que nosso sucesso fosse importanteou nossa vida ou nossa morte. Eis umpoema de Rilke relativo a isso:

Existe alguém que toma tudo nasmãos, de forma que escorre comoareia pelos seus dedos.Ele escolhe a mais bela das rainhas ese deixa esculpir no mais branco dosmármores,Deitado tranquilamente na melodia deum manto;E deita os reis com as suas mulheres,moldadas pela mesma pedra.

Existe alguém que toma todos na mãocomo se fossem lâminas desgastas quese quebram.Não é nenhum estranho pois ele morano sangue,Que é a nossa vida e murmura edescansa.Eu não posso acreditar que ele façaalgo injusto.Contudo ouço que muitos falamcoisas más sobre ele.

De repente, ficamos inacreditavelmenteserenos. Olhamos para tudo, como é, econcordamos com isso. Ficando serenosdessa forma, entramos em sintonia comesse movimento, como ele é. Então algomaior se realiza em nós. Não mais o trivi-al, mas algo grande: a sintonia com o todocomo ele é. Nessa sintonia podemosencontrar um outro ser humano como eleé, exatamente como ele é. Concordarcom isso, tal como é, seu sofrimento esua alegria, sua vida e sua morte, isso nosleva a entrar em sintonia com os grandesmovimentos. Desviamos o olhar de nósmesmos. O que é ainda o meu eu nessecontexto? Então seremos carregados poralgo infinito.

O paraíso

Ainda uma compreensão importante. Afelicidade está à espera, fora do paraíso.O crescimento só existe fora do paraíso.O criativo começa depois que fomosexpulsos do paraíso. O grande amor co-meça, depois que o amor paradisíacopassou.

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Após décadas de observação e experi-ência, para mim o essencial que faz par-te da felicidade se reduziu em três pala-vras. Nestas três palavras, quando sãosentidas e ditas no momento certo, estáo segredo da felicidade em um relacio-namento de casal.

SimA primeira palavra já alude em relaçãoao início do dia em um relacionamentode casal. Por que nos alegramos com ooutro? Porque concordamos com ele, dojeito que ele é. Essa alegria também con-tagia o outro. A palavra, que está por trás,significa: “Sim.” Sim, para o outro, simpara mim, sim para a situação, como elaé, e sim para a felicidade.É claro que algumas vezes existe algoque está em oposição a isso, uma deter-minada idéia. Em nossa sociedade preci-samos pagar por quase tudo. Muitos ima-ginam que nada é gratuito, tudo precisaser pago. Por isso, começam a pagar tam-bém pela sua felicidade. Ao invés de olharpara o outro e se alegrar com ele, pa-gam a felicidade com o dinheiro. Comisso perdem o outro de sua vista – e tam-

Agora vou falar do dia-a-dia do relacionamento de casal. Como se inicia o novo dia no

relacionamento de casal? O marido olha para a mulher e a mulher olha para o marido e suas faces

começam a iluminar. Eles se alegram um com o outro. Isso não é um belo início de um dia novo em

um relacionamento de casal? Portanto, o amor ilumina, e se mostra na iluminação. A expressão mais

bela do amor é quando um se alegra com o outro. Dessa forma é que começa o dia de um

relacionamento de casal. Eles se olham e se alegram com o outro, do jeito que ele é. Exatamente do jeito

que ele é. A felicidade é se alegrar mutuamente com o outro e fazer algo com isso, dando e recebendo...

Então o dia não vai ser suficientemente longo porque sempre flui algo novo entre eles. Isso é crescer.

O dia-a-dia do relacionamento de casal

bém a vista para a felicidade. Eles ficamapenas com uns trocadinhos na mão. E étudo que resta da alegria e da felicidade.Existe um instinto profundo em nós, querecebe força da idéia de que preciso pa-gar por tudo que recebo. Sobretudo pelafelicidade. Contudo, enquanto ficamospensando que já estamos pagando o su-ficiente, a felicidade já desapareceu.Essa idéia de que precisamos pagar portudo, existe também perante Deus. Atra-vés de grandes sacrifícios e peregrina-ções e instituições de caridade e tudo omais possível pagamos Deus pela felici-dade agraciada. Ele fica feliz se pagarmospor isso? Ele se preocupa com aquilo quepagamos? Essa é uma idéia estranha.Certa vez tinha um participante numcurso meu que tinha comprado umMercedes. Entretanto, ele não conseguiausufrui-lo, era uma felicidade grande de-mais para ele. Em sua família só se podiacomprar carros da Volks – os antigos. Umdia na autoestrada de repente um carrobateu na traseira de seu carro. Então elerespirou aliviado. Finalmente tinha pagopela sua felicidade.Não lhes parece ser algo conhecido? Issoé praticamente diário. Muitos pagam otempo todo. Eles pagam pela felicidadee pagam pela culpa.

Por favorSe o marido ofende a sua mulher, porexemplo, através de uma observação

malvada, fica sentido e paga por isso. Elefica mal, diz por exemplo, para a mu-lher: “Hoje não vou comer nada, hoje vouficar de jejum.”, embora ela tenha cozi-nhado muito bem. Portanto, ele expiapelo que fez. Como se contorna esse taltipo de expiação? Através de uma únicapalavra.Portanto, o marido ofendeu a mulher. Elenão a viu. Ele até esqueceu o seu aniver-sário. Algo assim é terrível. Alguns esque-cem também o dia do casamento. Entãoa mulher olha para ele e fica triste. Oque ele deve fazer agora? Ele deve ex-piar? Ele deve bater no seu peito, emsinal de minha culpa? Não. Ele olha paraela e diz: “Por favor”, simplesmente “Porfavor”. Eu sinto muito. “Por favor”. Entãoo coração dela se abre e a felicidade temnovamente uma chance.

ObrigadoJá mencionei duas das três palavras má-gicas para a felicidade: “Sim” e “Por fa-vor”. Existe ainda uma palavra especial-mente bela. Essa palavra é: “Obrigado.”Simplesmente “Obrigado.” Em um rela-cionamento de casal existe durante o diainteiro centenas de ocasiões onde nosalegramos com algo e dizemos: “ Obri-gado.” Reciprocamente.Essas são então as três palavras mágicaspara um relacionamento de casal feliz epleno. Podemos nos nutrir com elas, mes-mo quando algo difícil se nos apresentar.

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Existe um exercício para isso, comopodemos nos conformar com essadecepção. Poderíamos, por exem-plo, sentar à noite e pegar cincofolhas de papel, no mínimo três, ecomeçar a imaginar o parceiro eescrever tudo aquilo que ele nospresenteou. Cinco longas páginas,mas elas não são o suficiente. Quan-to mais tempo escrevemos, quantomais começamos a iluminar. Esseé um belo exercício.

A decepçãoPor que um parceiro fica decepcionado com o outro? Porque

esperava do outro algo que este não lhe podia dar. Tinha uma

expectativa em relação ao outro que, entretanto, vai além do

normal. Essa expectativa provém freqüentemente da infância.

Freqüentemente foi uma expectativa em relação à mãe. Então,

de repente, ficamos decepcionados.

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Exercício com uma mulher, cujo marido

se suicidou seis meses após a separação.

Hellinger: Para onde ele quis ir com a

sua morte? – Para a sua mãe.

Mulher: Faz sentido.

Hellinger: Os subterfúgios da alma são

estranhos. Eu não me surpreendo abso-

lutamente com mais nada. A alma é um

labirinto no qual podemos nos perder

facilmente. Nele nos orientamos por um

fio condutor, que seguramos nas mãos o

tempo inteiro. Dessa forma conseguimos

lidar com isso. Um labirinto é escuro. Não

adianta nada ficar de olhos abertos aqui,

mas apenas nos atermos ao fio condutor.

Vamos tateando pelo fio condutor e nos

dirigindo para frente, centímetro por cen-

tímetro. Cada batida de coração é um

centímetro a mais. E seguimos a batida

do coração.

Eu simplesmente imagino isso. Procuro

imagens para a alma, pelas quais posso

me orientar no labirinto do amor. Segui-

mos então a batida do coração. Cada ba-

tida está com você: “Por favor, por favor,

por favor.” Esse “por favor” nos reporta à

infância e, em primeiro lugar, é claro, à

Respostas por carta para o tema:Relacionamentos em crise

Pensamento secretoPara algumas pessoas é difícil compre-ender que também aquilo que pensame planejam secretamente atua num sis-tema, sobretudo se está simultaneamen-te em contraposição ao que dizem e fa-zem.

O momentoO seu companheiro lhe dá um sinal evi-dente que não quer se decidir por você,e seria bom se você levasse isso a sério.Entretanto, desfrute o relacionamentoenquanto durar.

Exemplo: o labirinto da almamãe: “Por favor.” Nós tateamos no escu-

ro e vamos para frente, com a imagem

da mãe perante os olhos e dizemos: “Por

favor, por favor.” Cada “por favor” é um

passo para frente.

Então a batida do coração fica um pouco

mais rápida. Os passos ficam um pouco

maiores. Entretanto, ainda continua es-

curo. A cada passo e a cada batida do

coração você diz: “Obrigada.” E diz ao

seu falecido marido: “Obrigada.”

Então comece a respirar mais profunda-

mente, a cada “obrigada.” Inspire e ex-

pire profundamente. Entretanto, ainda

continua escuro no labirinto. Devo conti-

nuar a andar com você no labirinto do

amor?

Mulher: Por favor.

Hellinger: Sim, com prazer. Agora a cada

passo vem um ”Sim.” É um sim bem es-

pecial. Um sim para a vida e um sim para

a morte, para ambos. Você diz sim para a

sua vida e sim também para a morte de

seu marido. Esta morte pertence à vida

dele. Sim.

Agora olhe para o seu marido atual e diga

também para ele: sim.

Um cão atado a umacorda longa preferevoltarEm primeiro lugar é confiar que algumascoisas se tornam boas como por si só,quando ficamos quietos. Por exemplo,quando você libera internamente o seumarido, assim como o seu filho. Quandovocê fica em silêncio dentro de si, umaboa força poderá se desenvolver neles.

A concordânciaAs relações entre os seres humanos têmsucesso, da maneira como são, e não damaneira que deveriam ser.

A seriedadeLeve a sério a observação de seu maridode que ele não te ama mais. Encaminheo divórcio. Procurar um apartamento emudar é ele que precisa, em primeirolugar. Somente se ele se recusar, é quevocê vai empreender algo.

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A realização da vida

A realização da vida é algo simples. A realização da vida é:

obrigado, por favor, sim. Isso é a realização da vida. Em muitas

situações, não importa como sejam, dizemos: sim, por favor,

obrigado. Nessas palavras estão contidas o mais simples. O grande

e profundo amor entre o homem e a mulher é o mais simples que

existe – se simplesmente puder ficar com o sim, por favor, obrigado.

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O amor que sabeA idéia de que devem e podem assumiralgo pelos pais ou ancestrais faz partedo pano de fundo que causa dificulda-des aos filhos. Isso leva a problemas in-termináveis para eles. E de certa formatambém para os pais. Para entendermosisso é necessário que saibamos algo so-bre a diferença entre as diversas consci-ências.

A boa e a má consciênciaNós sentimos a nossa consciência comoboa e má consciência, como inocência eculpa. Muitos pensam que isso teria a vercom o bom e o mau. Contudo, não é

Ajudar as Criançasassim. Isso tem a ver com o vínculo àfamília e com a separação dela. Cada umde nós sabe, intuitivamente, com a ajudade sua consciência, o que deve fazer parafazer parte dela. Uma criança sabe, intui-tivamente, o que deve fazer para per-tencer à família. Se se comportar de ma-neira correspondente ela tem uma boaconsciência. Uma boa consciência signi-fica então: eu sinto que tenho o direitode pertencer.Se uma criança se desvia disso ou se nósnos desviamos disso, temos medo deperder o pertencimento. Sentimos essemedo como uma má consciência. Umamá consciência significa, portanto: tenhomedo de ter colocado em jogo o meudireito de pertencer.

Sentimos a boa e a má consciência deformas diferentes em diferentes grupos.Até as sentimos de forma diferente, con-forme cada pessoa. Por isso temos, porexemplo, em relação ao pai uma consci-ência diferente da que temos em rela-ção à mãe e na profissão uma outra cons-ciência diferente da que temos em casa.Portanto, a consciência muda continua-mente porque temos de grupo a grupoe de pessoa a pessoa uma outra percep-ção, pois de grupo a grupo e de pessoaa pessoa o que devemos fazer ou deixarde fazer é algo diferente, para podermospertencer.Com a ajuda da consciência também di-ferenciamos aqueles que nos pertencemdaqueles que não nos pertencem. Na

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medida em que a consciência nos vincu-la à nossa família, ela nos separa de ou-tros grupos ou pessoas e exige de nósque nos separemos deles. Por isso, devi-do à nossa consciência temosfreqüentemente sentimentos de rejeiçãoe até de inimizade em relação a outraspessoas e a outros grupos. Essa rejeiçãotem a ver com a necessidade dopertencimento e tem pouco ou quasenada a ver com o bom e o mau.Portanto, essa consciência é uma consci-ência que sentimos. Com a ajuda dessaconsciência, diferenciamos entre o bome o mau, mas sempre apenas em rela-ção a um determinado grupo.

O emaranhamentoContudo, existe ainda uma outra consci-ência oculta, uma consciência arcaica,uma consciência coletiva. Essa consciên-cia segue outras leis diferentes daquelasditadas pela consciência que sentimos. Éa consciência do grupo. Essa consciênciavela para que numa família todos se sub-metam a determinadas ordens que sãoimportantes para a sua sobrevivência eunião.Em primeiro lugar, o que faz parte des-sas ordens, é que cada um que pertencetem o mesmo direito de pertencer. Con-tudo, sob a influência da consciência quesentimos, algumas vezes excluímos al-gumas pessoas da família. Por exemplo,aqueles que pensamos que são maus,também aqueles dos quais temos medo.Nós os excluímos porque pensamos quesejam perigosos para nós.Contudo, através dessa outra consciên-cia oculta, aquilo que fazemos de boaconsciência, seguindo a consciência quesentimos, será condenado. Pois esta ou-tra consciência não tolera que alguém sejaexcluído. Entretanto, se isso acontecer,alguém será posteriomente condenado,sob a influência dessa consciência ocul-ta, a imitar e representar um excluído emsua vida, sem que tenha consciência dis-so. Denomino essa ligação inconscientecom uma pessoa excluída de“emaranhamento”.

Por isso, podemos entender quemuitos filhos, os quais pensamos queestão se comportando de forma estranhaou estariam em perigo de se suicidar, ouse tornam drogadictos ou não importa o

que seja, estão conectados com umapessoa excluída. Estão emaranhados comessa pessoa. Por isso só podemos ajudá-los se eles e outras pessoas na famíliativerem em seu campo de visão essapessoa excluída, colocando-a novamen-te na família e no próprio coração. De-pois disso, os filhos estarão liberados doemaranhamento.Para ajudar esse tipo de filhos, outrosmembros familiares que até então igno-raram essas pessoas precisam finalmen-te olhar para elas. E aqueles com os quaisestavam zangadas ou rejeitaram precisamse dedicar a elas com amor e acolhê-lasnovamente na família. Esse é o pano defundo para muitas dificuldades que ascrianças têm, e também a preocupaçãoque algumas vezes seus pais têm porelas.

O amor cegoContudo, existe para essa consciênciaoculta ainda uma outra lei. Essa lei tam-bém traz dificuldades às crianças. Essa leiexige que aqueles que pertenceram an-tes à família, tenham precedência emrelação àqueles que vieram mais tarde.Portanto, existe entre os membros ante-riores e os posteriores uma hierarquia.Essa hierarquia precisa ser obedecida.Contudo, muitas crianças tomam a liber-dade de assumir algo pelos pais paraajudá-los. Com isso transgridem a hierar-quia. Então a criança diz para a mãe oupra o pai, sob a influência dessa consci-ência, frases internas, tais como:” Eu as-sumo isso por você. “Eu expio por você.”“Vou adoecer em seu lugar.” “Vou mor-rer em seu lugar.” Tudo isso acontece poramor, mas por um amor cego. Esse amorcego leva às drogas ou a perigo de vidae comportamentos agressivos. Entretan-to, estes tipos de comportamento e es-ses perigos têm a ver com a tentativa deassumir algo pelos pais. Essa ordem éviolada e ferida dessa forma.

A ordemQuando ficamos sabendo dessa ordem,podemos restabelecê-la novamente. Issosignifica, por exemplo: os pais assumemas conseqüências de seu próprio com-portamento, de seu próprio

emaranhamento e os carregam sozinhos.Então a criança estará livre. Ela não pre-cisa assumir nada daquilo que é da alça-da dos outros.Contudo, a transgressão da ordem de ori-gem é castigada duramente por essaconsciência oculta. Toda criança que ten-ta assumir algo pelos pais ou por outrosque vieram antes dela, fracassa. Nenhu-ma tentativa de assumir algo pelos paistem sucesso. Está sempre fadada ao fra-casso e, na verdade, para todos os en-volvidos. Nós precisamos saber disso. Porisso, ajudamos as crianças a se soltaremdessa intromissão. Ao invés de olhar paraas crianças, olhamos primeiro para os paise deixamos que eles mesmos resolvamos problemas. Se os pais resolverem isso,os filhos se sentem livres. Eles ficam no-vamente tranqüilos e se sentem acolhi-dos.Portanto, estas são duas leis básicas quedevemos ter no nosso campo de visão eestar em acordo interno quando se querajudar crianças difíceis.

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Nós entramos no nosso corpo e senti-mos aquilo do que queremos nos livrarno nosso corpo. Por exemplo, uma dor,uma doença, uma tensão, algo que nãose sente em casa conosco ou não se sen-te acolhido por nós.Nós entramos nessa dor ou nessa doen-ça e dizemos: “Sim. Eu agora a colocoem minha alma e em meu coração.” Nósentramos nesse órgão ou nessa doençaou nessa dor e sentimos: Para onde essador ou esse órgão olha? Para que pessoa?Essa dor ou essa doença diz a essa pes-soa: “Eu te amo. Eu a trago à me-mória. Eu te represento.” Comesse órgão, com essa dor oucom essa doença olhamospara essa pessoa e di-

Eu tomo você em meu coraçãoVou fazer com vocês uma meditação, para que possamos sentir o

que significa: alguém foi excluído e alguém é incluído. Farei isso

em vários níveis, começando pelo nível físico.

zemos a ela: “Eu te amo também. Agoracoloco você em meu coração e na mi-nha família e no meu corpo.” – E senti-mos o efeito.Depois que tivermos colocado essa pes-soa em nossa alma, no próximo nívelolhamos para o nosso parceiro e suasdores. Olhamos para o parceiro e olha-mos com as suas dores para essa pessoaque foi esquecida ou excluida em suafamília. Em seu lugar dizemos para essa

pessoa.” Eu te amo. Eu te coloco em meucoração e na minha alma.” Aqui precisa-mos saber que algumas vezes o nossoparceiro representa alguém que foi ex-cluído em minha família, e com isso estáa serviço de meu sistema.Sigamos agora para mais um outro nível.Olhamos para os nossos filhos e nos per-guntamos quando se comportarem demodo estranho ou quando estão doen-tes: para quem estão olhando na famíliados pais? Quem trazem à memória comseu comportamento ou sua doença?Olhamos com eles para essa pessoa edizemos a ela: “Sim, eu também te amo.Eu também lhe dou agora um lugar emminha alma. Você pode estar e perma-necer conosco.”

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Nós imaginamos que estamos perantetodos as pessoas que nos pertencem:nossos irmãos, nossos pais e seus irmãos,nossos avós, nossos bisavós e ainda mui-tas outras pessoas com as quais estamosespecialmente ligados, como, por exem-plo nosso parceiro e nossos próprios fi-lhos. Todos nós formamos um círculo enos seguramos pelas mãos. Todos olhamuns para os outros. Utilizemos o tempototal, até que tenhamos olhado todos etodos nos tenham olhado. Nós nos per-mitimos sentir o efeito que tem em nós,em nossa alma e no nosso corpo.Então imaginamos que cada pessoa des-se círculo uma após a outra entra no cen-tro e é olhada por todas. Para isso tam-bém permitimos utilizar o tempo total.No final, nós também entramos no cen-tro do círculo e deixamos ser olhados portodos com amor. Depois voltamos nova-mente para o círculo.Todos continuam se segurando pelasmãos. Então fecham os olhos. Eles todosse soltam e se permitem recair na ori-gem que acolhe e sustenta a todos. Naprofundeza da origem nos tornamos umcom todas as pessoas que existiram. Elasestão ainda presentes em nós e na nossaalma em comum. Nessa grande alma to-dos estamos acolhidos. Nela estamos emcasa.

A grande almaPara a seguinte meditação

precisamos de um pouco mais de

tempo. Podemos também fazê-la em

mais dias. Com a grande alma

quero dizer aqui a alma

comum que nos liga aos

nossos antepassados e no

final até a todos os seres

humanos, os vivos e os mortos.

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Hellinger para uma mulher, cuja filhasofreu uma lesão durante o parto e fa-leceu cedo: Gostaria, neste contexto, defalar algo sobre a culpa. Não no sentidomoral, isso está bem longe de mim.Freqüentemente nos sentimos culpadosporque alguém, de certa forma, foi pre-judicado por nossa causa. Por isso,freqüentemente também temos em re-lação a um aborto provocado um senti-mento de culpa. Pode ser também queuma mãe tenha um sentimento de culpaquando durante o parto uma criança so-fre uma lesão, que talvez tenha levado auma deficiência permanente.

Freqüentemente as mães se sentem res-ponsáveis e culpadas por isso.

Existem dois modos de lidar com umaculpa desse tipo. Um deles é o sentimen-to de culpa. O sentimento de culpa sig-nifica que eu não olho para a pessoa emrelação a qual me sinto culpado, mas paramim. Eu lamento algo e penso que po-deria e deveria ter agido de outra forma.Então tenho um sentimento de culpa.

Esse sentimento de culpa é umsubstitutivo para a ação. Quem se senteculpado dessa forma, não age. Permane-ce passivo.

Existe ainda um outro modo de lidar coma culpa. Olhamos para aquilo que acon-teceu, do jeito que é, do jeito que acon-teceu e dizemos: “Eu concordo com issodo jeito que foi. Eu também concordocom as conseqüências, todas as conse-qüências, não importa o que resultar dis-so para mim e para os outros. Nessemomento não temos mais nenhum sen-timento de culpa, mas ganhamos a forçapara fazer algo, geralmente fazer algo debom. Com isso a culpa leva a uma boaação, e também estará acolhida de umaboa forma.

Em relação à culpa existe algo ainda para

PaisGolpes do destino

se pensar, principalmente quando senti-mos culpa. Atrás desse sentimento deculpa muitas vezes existe uma arrogân-cia. Pensamos que éramos livres para fa-zer algo de uma outra forma.Agora olhe para além dessa criança mor-ta. Imagine que ela está deitada à suafrente. Agora olhe para bem longe dessa

criança – para o seu destino que é maiordo que você. Peça ao destino para en-carregar-se dela e de você também, tan-to de uma quanto da outra. Você perce-be a diferença? Lá, essa criança deficien-te que está morta encontra a calma e apaz. Lá, todos estão acolhidos - da mes-ma forma.

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Vou dar um exemplo bem simples. Comoestão os filhos sobre os quais os pais sepreocupam? Esses filhos vão bem ou mal?Têm mais ou menos força para viver?Contudo, muitos pais pensam que sepreocupam com os filhos por amor. Masos filhos poderão respirar aliviados se ospais renunciarem ao poder do amor como qual acham que podem e devem in-terferir no destino deles. Portanto, emrelação ao amor é melhor olharmos parao amor que serve à vida, levando aquiloque está próximo e com o qual nos pre-ocupamos, para algo maior.

Certa vez, veio para o meu curso umamãe com seu bebê de cinco meses. Elaestava sentada ao meu lado e apertava acriança no peito. Eu disse a ela: “Olhepara além da criança, para longe.” Ela fezisso. Ela olhou para além da criança, paralonge. De repente o bebê respirou fun-do e aliviado. Ele se virou para mim, sor-rindo.

Portanto, o amor tem uma medida. Con-tudo, não são apenas os pais que algu-mas vezes perdem a medida do amor.São principalmente os filhos que perdema medida do amor. Eles não a conhecem.Então assumem algo pelos pais porquepensam que poderiam salvá-los com isso.Essa é uma idéia inacreditável. Mas, osfilhos são assim.

Ordens do AmorA medida do amor

Em relação ao amor existem, muitas vezes, certasdificuldades. Uma dificuldade com o amor é que a elese liga a idéia de que ele tem poder. Por exemplo, quecom a sua ajuda pode-se mudar um destino. Essa idéiaé arrogante. Ao invés de servir ao amor, muitas vezes seopõe a ele.

Isso tem a ver com o fato de que a crian-ça não conhece a ordem essencial doamor, isto é, que aqueles que vieramantes têm precedência em relação aque-les que vieram depois. Isso significa: ospais têm precedência perante os filhos,o primogênito tem precedência em re-lação ao segundo filho, etc. É válida en-tão uma ordem original. Essa ordem ori-ginal proíbe que uma criança se preocu-pe pelos pais, ou até que os queira salvar.

Existem duas dinâmicas básicas do amor,desse amor cego das crianças que seopõe à vida. A primeira dinâmica é, queuma criança diga a um de seus genitores,se um deles morreu cedo, ou também

para um irmão ou irmã que morreu cedo:“Eu sigo você.” Por exemplo,freqüentemente um gêmeo quer seguiro irmão gêmeo ou a irmã gêmea namorte. Isso é amor, mas um amor que seopõe à vida. Não é um amor através doqual a vida pode ter êxito.

Então existe ainda uma continuação des-sa dinâmica, quando uma criança perce-be que um dos pais quer partir ou mor-rer. Pois, de fato, também freqüntementeum dos pais quer ir embora ou morrerseguindo a dinâmica “Eu sigo você.” En-tão a criança lhe diz internamente: “Euvou no seu lugar.” Isso também é amor,mas um amor que leva à morte.

Aqui faz parte das ordens do amor querespeitemos o destino de cada um, dojeito que é, sem interferir nele, nemmesmo com a vontade de interferir. Esteé um amor totalmente diferente. É umamor que sabe e tem força. Ele podeconservar a distância e deixar o outroseguir o destino que lhe foi determina-do. Também nos deixa seguir o nossopróprio destino sem querer mudá-lo atra-vés de uma preocupação exagerada.

Portanto, vemos que o grande amor queserve à vida exige algo de nós. Ele exigeprincipalmente a renúncia ao poder.

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No início de nossa vida está o amor denossos pais como casal. Nós somos o fru-to de seu amor. O primeiro passo denosso amor para os nossos pais é quenós olhemos para eles como nossos paise tomemos a nossa vida como um pre-sente. Então olhamos para além de nos-sos pais para a fonte de todas as vidas etomamos nossa vida dessa fonte, comoela vem de lá para nós. Esse amor signi-fica: tomar, tomar como vem, sem restri-ções e sem excluir nada. Totalmente, daforma que vem desses pais e dessa fon-te para nós.

Aprendendo a amar

Gostaria de dizer algo sobre as ordens do amor norelacionamento a dois. Quem espera norelacionamento a dois principalmente por algo parasi, no sentido de que o parceiro está presenteprincipalmente para si, ainda não está pronto paraum relacionamento a dois. Pois no amor existe umdesenvolvimento. Esse desenvolvimento precisapreceder ao relacionamento.

Quando alguém faz censuras aos seuspais ou quando tem expectativas emrelação a eles que vão para além daquiloque as pessoas comuns podem presen-tear, não toma mais sua vida em sua ple-nitude. Com isso fica empobrecido emsua alma já no início de sua vida. Esseamor começa com o tomar a vida, comoela vem desse amor de nossos pais paranós. Esse tomar a vida plenamente, comoela vem é um amor muito profundo.É certo que nossos pais estão inseridosem muitas coisas. Um dia também foramfilhos e também provêm de uma deter-

minada família. Eles também foram mar-cados por essa família e ganharam umaforça especial. Também um desafio es-pecial chega para eles de sua família. Elespertencem a uma determinada cultura ea um determinado idioma e religião. To-das essas circunstâncias pertencem à vidadeles e à nossa também. Nós tomamosessa vida de nossos pais sob essas cir-cunstâncias exatas nas quais eles tiveramque viver e concordamos com eles: “Sim,eu os tomo dessa forma como meus pais,e vocês podem me ter dessa forma comoo filho de vocês.”

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Então imaginamos o que os nossos paisnos deram e presentearam através demuitos anos. Eles nos sustentaram, nosvestiram, nos protegeram. Eles semprepensaram em nós e se perguntaram: “Deque é que a criança precisa?” E eles fica-ram preocupados conosco durante mui-tos anos. Nós tomamos deles e dizemos:“Obrigado, eu tomo de vocês dessa for-ma com tudo que está ligado a isso – epelo preço total que custou a vocês. Tam-bém pelo preço que me custou atravésdas circunstâncias e dificuldades que exis-tiram, que vocês tiveram e que eu tive.A minha vida vale esse preço. Eu tomoassim, como recebi de vocês e faço algodisso, algo do qual vocês, como meuspais, vão se alegrar. Vocês devem saberque eu tomei de vocês, em sua plenitu-de, e fiz algo disso.”

MeditaçãoEu amo vocês dessa formaNós podemos fazer um pequeno exercício emrelação a isso. Imaginamos que estamos perantenossos pais como crianças, como criançaspequenas. Nós olhamos para eles, como criançaspequenas olham para os seus pais, com um amor ededicação inacreditáveis. Crianças pequenasolham para seus pais com dedicação — totalmentededicados a eles. E agora olhamos dessa formapara nossa mãe e para nosso pai, como são,exatamente como são. Nós dizemos a eles: “Sim, euamo vocês dessa forma, como vocês são. Vocês sãomeus pais. Você é minha mãe. Você é meu pai, e eusou a criança amada de vocês.”

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Ainda algo se opõe a esse tomar. Porqueos pais são comuns, tão comuns comonós também, fizeram muitas coisas erra-das. Existem aqueles pais que batem nosseus filhos. Existem também situaçõesonde houve abuso de crianças. Então umacriança assim censura os pais e diz tal-vez: “Não quero saber mais nada devocês” , ou não importa como se com-portam. Eles recusam o amor e pensamque teriam direito a isso.

Ver os pais como seres humanosAlgumas vezes algo se opõe a esse tomar os pais dojeito que são, e tomar tudo aquilo que vem deles, isto é,uma expectativa em relação a eles, que vai para muitoalém do que seres comuns podem dar. Nós oscolocamos, por assim dizer, ao lado de Deus e ficamoszangados com eles se não são como o querido Deus.Isso não é estranho? Essa expectativa impede quetomemos tudo o que nossos pais deram e queremrealmente dar para nós.

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Entretanto, algumas reflexões sobre Deusajudam a vida se as observarmos maisexatamente. Por exemplo, recentemen-te algo surpreendente me abriu os olhos,que, na verdade, Deus é imperfeito, e,com efeito, necessariamente. Se, portan-to, até Deus deve ser imperfeito, os nos-sos pais precisam então ser perfeitos?Quero esclarecer mais precisamente oque isso significa. Atrás da vida, atrás detudo que se move, uma força criativa estáatuando. Isso é compreensivel. Não po-demos imaginar isso de uma outra for-ma. Essas forças não vêm de nós. Elasvêm de outro lugar. Essas forças criativassão criativas porque o que veio antes eraimperfeito. O criativo pressupõe o im-perfeito. Portanto, esse movimento cria-tivo ou esse movimento divino é sem-

O imperfeitoNeste contexto ainda fiz algumas reflexões sobre Deus. Podemos fazer

todas as reflexões possíveis sobre Deus. Elas todas não estão certas.Pois quem sabe realmente algo sobre Deus?

pre incompleto. Freqüentemente tam-bém é falho. Freqüentemente ele seencaminhou para a direção errada de for-ma que surgem conflitos em relação àdireção certa. Através do conflito e dadiscussão chegamos à compreensão emdireção ao que deve ser o próximo pas-so. Nós não temos essa compreensãopartindo de nós ou de nossos conflitos.O próprio movimento criativo necessitado imperfeito e até do errado para a con-tinuação de seu desenvolvimento.Nossos pais também estavam inseridosnum movimento assim, imperfeito, comerros e também com culpa. Agora pode-mos entrar em vibração nesse movimentoimperfeito e concordar com ele, tambémcom o “mau” (entre aspas). Na medidaem que concordamos com ele e entra-

mos em vibração com esse movimento,chega do imperfeito algo melhor, umanova força. Isso é válido para tudo quevivenciamos como crianças, sem diferen-ciação. Tão logo aceitemos isso comoparte de um movimento criativo da vidaem algo maior e concordamos com ele,como foi, não importa o que tenha exi-gido de nós. Então se comprova no finalque tudo foi bom para nós, não importao que tenha acontecido. Serviu ao nossocrescimento. Então nos expomostambem ao ruim e ao pesado e concor-damos com isso. Nós dizemos: “Sim, issofoi parte de um movimento criativo. Tudoque foi ruim, me impulsionou para algonovo e melhor. Porque eu concordo comisso também, isso se tornou uma forçapara mim.”

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Freqüentemente os filhos querem darcedo demais. Eles amam os pais equerem fazer algo por eles, algo quenão é de sua alçada. O que vale aquié que o que precisam fazer principal-mente é tomar ao invés de dar. To-mar, tomar, tomar é o início de todo

O movimento básico do amorPortanto, o movimento básico do amor, o início do amor é: Tomar, tomar, tomar,tudo como é, simplesmente tomar. Quanto mais tomamos, tanto maisenriquecemos. Esse é o início do amor. Se nós tivermos tomado muito, o amortransborda. Contudo, não antes.

o amor que serve à vida.

Mais tarde, mais ou menos aos 20anos, a criança não agüenta mais sim-plesmente tomar. Agora ela quer fa-zer algo. Então encontra um parceiroe está pronta e capaz de dar. Não émais só tomar como uma criança. Já

tomou tanto que agora também podedar. Então existe o intercâmbio amo-roso total do dar e tomar recíprocoentre o homem e a mulher.

Isso é a medida sobre uma ordem im-portante para o relacionamento en-tre o homem e a mulher.

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Essa mãe compareceu a um curso meu.Em uma constelação veio à luz que ela,secretamente, ansiava morrer. Até entãotinha consciência de sempre ter deseja-do ir embora e finalmente deixar tudoatrás de si. O que estava ligado a essedesejo veio à tona na constelação. Umairmã sua nascera morta. Ela havia sidoesquecida na família e nem sequer tinhaum nome. Então a mulher colocou a suairmã no coração e sentiu a sua boa força.O seu desejo de ir embora e de morrer,cessou.Quando voltou do curso para casa, Marionestava sentada à mesa, com a avó, nacozinha, jogando dados. Ela olhou brevepara cima e disse para a mãe que estavaentrando: “Mamãe, hoje vou dormir sozi-nha.” Foi assim e permaneceu assimdepois.

Relato de Günter Schricker

Ajudou“Mamãe, hoje vou dormir sozinha”

Uma mãe solteira descreve seus problemas com a filha de nove anos que se sentemuita angústia: “Todas as noites ela vem para a minha cama. Eu preciso levá-lapara a escola e buscá-la pontualmente. Mesmo quando preciso levar um cesto de lixopara baixo, ela sempre precisa ir comigo.”

Pequenas histórias

desse tipo podem

contam muitas coisas

para aqueles que

trabalham com as

constelações. Em

relação às

transformações

durante um curso, as

faces vivas e os olhos

radiantes, um

participante

comentou com as

seguintes palavras:

“Eu acho que estou

num resort de

beleza.”

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A iluminação é oconhecimento da ordem.

A verdade puraé mentira.

Em relação ao certo, oencontrar é difícil e oentendimento fácil.

A fé exige a negação daquiloque sabemos – e daquilo que

não sabemos

Frases para reflexãoO conhecimento

O sábio suporta a puraverdade como uma vaca em

relação à cerca de aramefarpado, enquanto existir

algo para comer, ficaafastada, depois procura

uma fenda.

A preparação para oencontrar é freqüentemente

uma renúncia.

Apenas de olhos fechadospodemos ter “grandes“

idéias”.

A ordem éavassaladora.

A auto-confiança é oconhecimento de seu próprio

caminho.

Os sabichões precisam depouco conhecimento.

O que é certo ninguémprecisa defender, e o que não

é, também não.

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A serenidade é quando alguém pode deixar algo. Por exemplo, uma preocupação, a revolta

do coração depois de uma ofensa, uma humilhação, uma calúnia.

Sereno também é aquele que pode deixar os sonhos antigos, as reivindicações antigas, as

censuras antigas e com isso liberar o seu coração, de forma que ele fique calmo, sereno e

disposto para aquilo que é possivel e nos está sendo presenteado agora.

Por isso, sereno é também aquele que perdoa no sentido de que algo

pode ficar no passado, sem rancor.

Essa serenidade é força sem emoções, disposição centrada para o que vem e para o agora.

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A serenidade

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A raiva se expressa de diferentesformas. De uma forma que ajudaou que assola, de uma forma forte ou fraca. Vou examinar de perto algumas formas da raiva.

Examinar de perto

A raiva

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1. Alguém me agride ou me faz umainjustiça e eu reajo a isso, de formacorrespondente, com cólera e raiva.Essa raiva me possibilita defender oume impor com força. Me habilita aagir, ela é positiva e me fortalece. Essaraiva é objetiva e por isso, adequa-da. Ela se extingue tão logo tenhaatingido a meta.

2. Eu fico enfurecido e zangado por-que percebo que não tomei o quepoderia e deveria ter tomado; quenão exigi o que poderia ou deveriater exigido ou que não solicitei o quepoderia ou deveria ter solicitado. Aoinvés de me impor etomar e buscar oque me faz fal-ta, fico en-

furecido e zangado com aqueles dosquais não tomei; exigi ou solicitei,mas que poderia ou deveria ter to-mado, exigido ou solicitado. Essa rai-va é um substituto para a ação e aconseqüência de uma ação omissa.Ela paralisa, torna incapaz, enfraquecee freqüentemente perdura por muitotempo.A raiva atua de modo similar a umaresistência ao amor. Ao invés de ex-pressar o meu amor, ainda por cimafico zangado com aqueles que euamo. Essa raiva remonta à infânciaquando surge como conseqüência deum movimento interrompido. A

vivência anterior é repetida em situa-ções posteriores, retirando-lhe a força.

3. Estou zangado com uma pessoaporque lhe fiz algo de mal, mas nãoquero admitir isso. Com essa raiva euresisto contra as conseqüências deuma culpa. Eu a atribuo a uma outrapessoa. Essa raiva também é umsubstituto para a própria ação. Ela mepermite permanecer passivo. Ela meparaliza e me enfraquece.

4. Alguém me dá tantas coisas boas egrandes que não posso mais devol-ver. Isso é difícil de suportar. Então

resisto ao doador e seus regalos,ficando zangado com ele. Essa

raiva se expressa como cen-sura, por exemplo, dos fi-lhos contra os pais. Ela setorna um substituto parao tomar e agradecer. Elanos paralisa e nos esva-zia. Ou isso se expressacomo depressão. A de-pressão é o outro lado dacensura. A depressão tam-bém serve como substitu-to para o tomar e agrade-cer e dar. Ela nos paraliza e

nos esvazia. Ela também seexpressa como uma tristeza

que permanece durante longotempo após uma separação,

quando ainda devo tomar e agra-decer aos mortos ou ao que está se-

parado de mim ou como no terceirotipo de raiva, admitindo a própria cul-pa e suas conseqüências.

5. Algumas pessoas possuem umaraiva, que assumem de outras e paraoutras pessoas. Por exemplo, quan-do em um grupo, um participante re-prime sua própria raiva, depois deum certo tempo um outro membro dogrupo fica zangado, na maioria dasvezes, o mais fraco, que não teria ne-nhum motivo para isso. Nas famílias,esse membro mais fraco é a criança.Por exemplo, se a mãe está zangadacom o pai, mas reprime a sua raiva,

uma criança vai ficar zangada com ele.O mais fraco é freqüentemente nãoapenas o portador mas também o alvoda raiva. Por exemplo, quando umsubordinado está zangado com o seusuperior, mas reprime a raiva em re-lação a ele, muitas vezes descarregaa sua raiva em um mais fraco. Ouquando o marido fica zangado com asua mulher, mas reprime a sua raivaem relação a ela, uma criança expiano lugar dela.Muitas vezes a raiva não somente étransferida de um portador para umaoutra pessoa, por exemplo, da mãepara a criança, mas também étransferida de um forte para um fra-co. Então a filha direciona a raiva queassumiu da mãe em direção ao pai,mas para alguém em relação a qualse sente mais à altura, por exemplo,ao próprio marido. Em grupos, a rai-va assumida não se dirige à pessoaforte, por exemplo, o coordenador deum grupo, mas para um membro fra-co, que se torna o bode expiatóriopara o forte.Em relação à raiva assumida osagressores estão fora de si e se sen-tem orgulhosos e pensam que têmrazão. Mas agem partindo de umaforça de um outro e de uma razão deum outro e permanecem sem suces-so e fracos. Também as vítimas daraiva assumida sentem-se fortes epensam que têm razão, pois sabemque sofrem injustiça. Contudo, elastambém permanecem fracas e seusofrimento infrutífero.

6. Existe uma raiva que é virtude ecompetência. É desperta, uma forçade imposição centrada para algo quedeve se transformar, que se expõe deforma ousada e sábia, também peran-te os difíceis e poderosos. Entretan-to, ela é sem emoção. Se for necessá-rio, também faz algo ruim ao outro,sem medo e sem estar zangado comele. Ela é agressividade como ener-gia pura. Ela é o fruto de uma longadisciplina e exercício; mas quem a ti-ver, a tem sem esforço. Ela se expressatambém como uma ação estratégica.

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Para começar ele nos liga a nós mesmos.De repente ouvimos o murmúrio de nos-so sangue, a batida do coração, o pedidode nosso pulmão, a lamentação de nos-so fígado ou de nosso intestino. Senti-mos o desejo pela reunião como umexpectativa centrada, ouvimos o soarconjunto de todas as células como umagrande sinfonia e escutamos admirados,com devoção. O que soa mais fundo epleno do que esta grande sinfonia? Comoé que poderemos algum dia ficarmos far-tos de ouvir isso?Contudo, o espaço do silêncio se abreainda mais e nós ouvimos nossa alma.Ela nos conduz muito para além dos li-mites de nosso corpo, em direção a to-dos com os quais estamos conectadosatravés de nossa alma. Nela ainda estãoem casa. Eles permanecem presentes, nosdizem algo, solicitam algo, nos presentei-am com algo, olham para nós e esperampor nós. Eles estão simultaneamente pró-ximos e distantes de nós. Na presençadeles a nossa alma fala com muitas vozes,como um coro a várias vozes.Entretanto, algumas dessas vozes não

Sabedoria a caminhoO silêncio

O silêncio é o presente.

Ele ocorre entre aquilo

que foi e aquilo que vem.

Nele algo pára: a

percepção do mundo

externo, o fluxo dos

pensamentos, o diálogo

interno, a preocupação

com a próxima ação a

ser feita. Nós a liberamos

do espaço do silêncio.

Distanciando-se deste

espaço, abre-se para

outras coisas, tornando-

se amplo. Pois o silêncio

une.

estão ainda em sintonia. Ainda não en-contraram o som puro. Se ouvirmos tam-bém essas vozes, depois de um certotempo ficam límpidas e claras. Pois agrande canção só se realiza depois quecada uma das vozes for ouvida. Ou fa-lando mais exato, só depois de ouvirmoscada uma das vozes, também aquela queparece destoar, a canção toda se realizapara nós e se realiza em nós mesmos.Se abrirmos nossos olhos no silêncio eolharmos e ouvirmos ao que está ao nos-so redor, os animais e as árvores e tam-bém a menor flor singela. Entretanto, semruídos na plenitude do silêncio.Sim, o grande silêncio é poderoso e altoà sua maneira. Algumas vezes dizemosque Deus se recolheu e nós falamos en-tão do silêncio divino. Uma palavra podesoar de forma mais poderosa do que essesilêncio? E, algumas vezes, entre os se-res humanos o silêncio não é a respostamais clara, mais sublime, a mais válida?Podemos vencer o silêncio, mas apenaspor um tempo. Ele espera por nós, algu-mas vezes, por longo tempo. Não pode-mos escapar dele por muito tempo.

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O FuturoAs constelaçõesfamiliaresespirituais

O que no início dasConstelações Familiares seapresentou como algo bemsimples, está alcançando,nesse ínterim, umadimensão que nos desafiade uma forma que, noinício, ainda não tinhasido possível prever. É umadimensão espiritual que seimpõe, algumas vezes,com uma força quepressiona para osbastidores a abordagemanterior das ConstelaçõesFamiliares,ultrapassando-a.

Isso provoca medo em algumas pesso-as. Elas prefeririam se ater aos primórdiosdas Constelações Familiares, por assimdizer, neutralizar essa nova dimensão,unindo as constelações familiares a ou-tros métodos e em parte também subor-dinando-as.O primeiro choque para muitos foi quenas constelações familiares espirituais, namaioria dos casos, não era necessário umaconstelação no sentido habitual e sim, quea constelação habitual algumas vezes blo-queava o caminho para uma solução pro-funda.

Os primórdios dasconstelações familiaresEstou falando aqui das constelações fa-miliares onde o cliente escolhia, dentrode um grupo, representantes para osmembros de sua família e os colocavauns em relação aos outros num espaço.Depois se perguntava aos representan-tes como se sentiam no seu lugar. Desuas respostas surgiam indicações para oque ainda deveria ser modificado na cons-telação ou se alguém ainda tinha que seracrescentado.Dessas constelações resultaram as pro-fundas compreensões das ordens do amordentro das relações humanas. Essas com-preensões foram um avanço. Elas abri-ram, em muitos níveis, novas possibili-dades de solução e de ajuda, que anteseram inacessíveis.

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A consciênciaA compreensão decisiva, porém, a ver-dadeira, a compreensão que revirou tudo,não veio das constelações familiares.Contudo, ela indicou uma direção às cons-telações familiares, para a qual foram sedesenvolvendo cada vez mais e cujo fi-nal ainda não pode ser previsto. Essacompreensão foi uma compreensão es-piritual. Ela me foi presenteada em umcaminho do conhecimento espiritual. É acompreensão de como a nossa consci-ência atua. Não apenas a nossa consci-ência que sentimos como uma consciên-cia boa ou má. Foi, principalmente, acompreensão de uma consciência, quenos é amplamente inconsciente, que se-gue outras leis diferentes da nossa cons-ciência consciente.

O campo espiritualSomente esta compreensão abriu a por-ta para este campo espiritual, que ligatodos os membros de uma família de umaforma que deixa cada um se tornar odestino do outro. A família é sentida aquinum sentido amplo que inclui tambémaqueles que atuam com seus destinos nosparentes consagüíneos.Este campo espiritual, se for deixado a simesmo, resiste a transformações. Dessaforma, por exemplo, o que não ficousolucionado em uma geração, será repe-tido de uma forma semelhante na gera-ção seguinte. Pois o não solucionado ligaos membros familiares uns aos outros,dando-lhes com isso segurança, a segu-rança da pertinência.O que é isso, isso que sustenta e seguraesse campo espiritual e causa a repeti-ção do não solucionado? É a consciência.

Os movimentosda alma

Contudo, através de uma nova forma dasconstelações familiares foi revelada umaoutra dimensão desse campo espiritualcomo algo que atua. Ela interrompe a re-petição do não solucionado e abre cami-nhos de solução para além da consciência.

O procedimento foi muito simples. Aoinvés de constelar uma família no senti-do habitual, foram posicionadas somen-te uma ou duas pessoas. Primeiro, ou ocliente sozinho ou ainda uma outra pes-soa, com a qual estava em conflito, queele, por exemplo, rejeitara. De repenteforam apanhados por um movimentosem que pudessem resistir a ele. Essemovimento sempre seguia na mesmadireção. Ele unia o que antes estava se-parado. Portanto, no final, sempre era ummovimento de amor.O decisivo nisso foi que não havia mais anecessidade de quase nenhuma condu-ção de fora. A alma procurava e encon-trava a solução por si mesma, quando lhedeixávamos seu espaço e seu tempo,freqüentemente de uma forma totalmen-te imprevisível, freqüentemente tambémpara além das habituais ordens do amor.Contudo, somente quando o condutor daconstelação estava em sintonia com essadimensão da alma e se deixava levar porela. Como? Quando ele também, ultra-passando os limites da consciência dei-xava encontrar dentro de si com amor oque estava separado.Primeiro eu denominei essa forma daconstelação familiar “movimentos daalma”. Também pensei que vinham deum campo espiritual que liga os mem-bros familiares uns aos outros de formafatal. Mas depois de um certo tempo semostrou que aqui atua uma dimensãoespiritual, para além do campo anímicoda consciência. Elas já eram o início dosmovimentos do espírito.

Os movimentosdo espírito

Para onde os movimentos do espíritoconduzem e como nós entramos emsintonia com eles e como atuamos es-tando em sintonia com eles, em primei-ro lugar experimentaremos em nós pes-soalmente em um caminho do conheci-mento, um caminho do conhecimentoespiritual e depois em nossas ações emsintonia com o espírito. Nessas açõesconduzimos na medida em que o espíri-to nos conduz.

Qual é aqui a compreensão espiritualbásica, a compreensão que leva adiante?O movimento do espírito é um movi-mento criativo que leva ao movimentoe conserva em movimento tudo aquiloque se movimenta e como se movimen-ta. Por isso todo movimento como ele é,é desejado por esse espírito. Este espíri-to está por trás de cada movimento comoele é, e está dedicado a ele como é. Quementra em sintonia com esse movimentosó pode então entrar em sintonia comele e permanecer em sintonia com ele,se ele também estiver dedicado e per-manecer dedicado também a todos damesma forma como é. Principalmente sepermancer dedicado a todos os sereshumanos como eles são, também a suafamília, também a seu destino, tambéma sua culpa.Aqui se torna visível aquilo que no finalsignifica para nós e para as constelaçõesfamiliares se seguirmos os movimentosdesse espírito ou, falando mais exatamen-te, se esses movimentos nos impulsio-narem e se nós entrarmos em sintoniacom eles.

O futuro dasconstelações

familiaresPodemos voltar novamente atrás, anteri-ormente a essas compreensões? Somen-te pagando um preço alto. Qual é essepreço? Nós voltamos à esfera da consci-ência e em um movimento contra o amor.Eu me coloquei nesse caminho do espí-rito, pessoalmente e no meu trabalho. Oque isso significa para as constelaçõesfamiliares, tenho mostrado desde há al-gum tempo em todos os cursos que ofe-reço, principalmente, pela primeira vez,nos cursos de treinamento. Eu descrevoeste caminho também em meus livros,sobretudo os últimos. Nos DVDs, porexemplo em: Aprendendo com BertHellinger, um curso de treinamento emSalzburg, 5 DVDs, e em áudio no CD,por exemplo, em Viagens Interiores: Ocaminho, 8 CDs.Este caminho leva a um outro futuro dasconstelações familiares, as constelaçõesfamiliares espirituais.

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