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Anais da Semana de Pedagogia da UEM. Volume 1, Número 1. Maringá: UEM, 2012 1
CONSELHO DE CLASSE:
DO ESPAÇO DE AVALIAÇÃO PARA PRÁTICA PEDAGÓGICA
OLIVEIRA, Maria Ângela Simoni Vaz de 1
HIROSE, Kiyomi (Orientador)
Universidade Estadual de Maringá
Formação de professores e intervenção pedagógica
Introdução
Este artigo teve como objetivo relatar a implementação pedagógica realizada no Colégio
Estadual Brasílio Itiberê, no município de Maringá, atividade obrigatória do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, política pública de qualificação de professores do
Quadro Próprio do Magistério Público do Paraná.
A intervenção foi realizada com professores regentes de duas turmas de 6º anos do
período vespertino com o objetivo de pesquisar o Conselho de Classe. A partir da análise da
estrutura dessa instância colegiada, apresentamos encaminhamentos pedagógicos: o Conselho
de Classe enquanto espaço de reorganização das ações pedagógicas da escola, tendo como
foco a melhoria do processo ensino e aprendizagem e a reflexão da prática docente; a
participação de representantes de alunos e pais nessas reuniões.
Desenvolvimento
Procuramos buscar elementos teóricos, com embasamento científico do Conselho de
Classe e sua importância de organização e estrutura escolar para atingir os objetivos
propostos. Partimos do pressuposto de que os resultados trazidos pelos professores para serem
1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná, Pedagoga, Pós-graduada em Educação Especial
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discutidos e analisados no Conselho de Classe são, segundo Dalben (2004), fruto do conjunto
das atividades curriculares da instituição.
Um dos instrumentos elencado para a análise do Conselho de Classe foi realizar um
levantamento estatístico do percentual das notas dos alunos, para embasar as discussões e
buscar alternativas, com o intuito de superar as dificuldades apresentadas.
Para uma leitura macro dinâmica recorremos ao Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), órgão vinculado ao Ministério da Educação e
Cultura (MEC), responsável pela coleta e divulgação do Censo Escolar. O MEC também se
utiliza desses dados para realizar os diagnósticos, construir os programas e políticas
educacionais.
O INEP divulgou o Censo Escolar de 2010, retratando todas as escolas brasileiras, por
Estado, por município e por estabelecimento escolar.
O Diário do Norte do Paraná, órgão jornalístico da cidade de Maringá, de posse desses
dados no dia 13 de julho de 2011, divulgou o ranking de retenções de alunos das escolas
estaduais do município de Maringá.
A escola de nossa atuação, o Colégio Estadual Brasílio Itiberê, apresentou 22 % de
retenções no Ensino Fundamental. Índice considerado comprometedor. Foi a terceira escola
que mais reprovou.
Esse Censo Escolar provocou constrangimento ao corpo docente, ao deparar com esse
elevado número de notas abaixo da média, evasão escolar e repetência, os quais apontavam a
necessidade de uma reflexão, questionamento e avaliação do desempenho da escola, enquanto
espaço pedagógico. Essa situação pode e deve melhorar a partir da ação e atuação do
professor, da equipe pedagógica e gestão escolar.
O resultado não foi surpresa para a escola, pois os registros da avaliação escolar nos
chamavam a atenção com o baixo rendimento dos alunos, bem como as constantes
reclamações de muitos professores. Esses dados estão registrados no Relatório Final.
Esse quadro nos impõe o repensar do trabalho pedagógico, não somente dos professores,
mas de todos os envolvidos no processo escolar: diretores, pedagogos, agentes educacionais,
alunos e pais/responsáveis, pois segundo Dalben (2004, p.13), “[...] O fracasso escolar e os
elevados índices de evasão escolar e repetência tornaram-se inviáveis, apresentando-se como
entraves sérios aos processos de escolarização de massas”. Diante dessa afirmativa, necessário
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se faz contrapor para criar possibilidade de construção de processos democráticos
participativos que desvendar novas relações sociais, como forma de superar essa dicotomia.
Para termos acesso ao panorama da realidade da escola, necessário se fez construir um
estudo sobre os elementos: aprovados, aprovados pelo Conselho de Classe, reprovados e
desistentes, conforme o Quadro Estatístico de 2009, 2010 e 2011, os quais encontram-se de
posse da autora.
Num primeiro momento, pensamos em fazer a coleta do material apenas da série da
pesquisa, porém constatamos que essa fragmentação poderia prejudicar o olhar integral,
amplo sobre a escola. Levantamos todos os dados para embasar futuros estudos.
Necessário se fez um recorte desses dados e apresentamos a seguir, os gráficos para o
nosso estudo, ou seja, o sexto ano escolar referente à quinta série do Ensino Fundamental da
escola:
Ano letivo de 2009:
Fonte: Colégio Estadual Brasilio Itiberê
Ano letivo de 2010:
Fonte: Colégio Estadual Brasilio Itiberê
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Ano letivo de 2011:
Fonte: Colégio Estadual Brasilio Itiberê
Ao fazermos a comparação desses três anos letivos, podemos afirmar que 2010 foi o
ano comprometedor no índice de aprovados, aprovados no conselho; a reprova foi na ordem
de 27 %. O de 2010 foi o que apresentou índices negativos, entre os três. Porém, esses dados
mostram uma melhora já no ano seguinte, em 2011.
Então, há que se debruçar em buscar, construir estratégias para que esse melhora
sensível seja perseguida em anos subsequentes.
Esses dados apresentados não são diferentes dos que o INEP divulgou: ele tomou
como fonte os dados de 2010. Portanto, ao compararmos os dados dos últimos três anos,
conforme os nossos gráficos apresentados, realmente o ano letivo de 2010 teve o desempenho
comprometedor. No ano de 2009, a escola apresentou um total de 72 % de aprovados, no ano
de 2010, o índice foi de 69 % e 2011, de 77 %.
Apesar de apresentar uma melhora de desempenho no ano seguinte aos dados do
INEP, sabemos que há a necessidade de providências pedagógicas e de gestão para que esses
índices continuem a sua ascenção de melhora significativa.
Para tanto, nesse projeto de estudo buscou-se uma reflexão não mais do senso
comum, mas conhecimentos científicos que nos apontassem novas estratégias e compreensão
para implementar práticas pedagógicas, ao analisar a função do Conselho de Classe.
A escolha desse tema de estudo justifica-se pela importância desse Conselho e por
considerá-lo um espaço que permite buscar transformação da prática pedagógica.
Segundo Cruz (2005, p.15),
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Como processo auxiliar de aprendizagem o Conselho deve refletir a ação pedagógico-educativa e não apenas ater-se a notas, conceitos ou problemas de determinados alunos. O Conselho verifica se os objetivos, processos, conteúdos e relações estão coerentes com o referencial de trabalho pedagógico da escola.
Socializar a implementação
A implementação do projeto teve início na Semana Pedagógica, realizada em julho de
2011. Foi apresentado o tema de estudo, a justificativa e os objetivos por considerar o
Conselho de Classe como uma das instâncias importantes da escola para o aprofundamento
dos conhecimentos teórico-práticos, científicos, bem como propor novas ações que
contribuam para o desempenho mais efetivo da existência desse colegiado.
As leituras e reflexões de Dalben (2004), Libâneo (2008), Cruz (2005), e outros
autores propõem a inclusão e participação de um representante de alunos e representante de
pais. Essa sugestão é sempre polêmica entre os professores e não foi diferente na escola
trabalhada.
Buscamos em Libâneo (2008, p.114), o fundamento da proposta, quando ele assegura
que:
A exigência da participação dos pais na organização e gestão da escola corresponde a novas formas de relações entre escola, sociedade e trabalho, que repercutem na escola nas práticas de descentralização, autonomia, co-responsabilização, interculturalismo. De fato, a escola não pode ser mais uma instituição isolada em si mesma, separada da realidade circundante, mas integrada numa comunidade que que interage com a vida social mais ampla.
Gadotti (1997, p.35) posiciona-se afirmando que:
A autonomia e a gestão democrática da escola faz parte da própria natureza do ato pedagógico.[...] Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de mentalidade de todos os membros da comunidade escolar. Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do Estado e não uma conquista da comunidade. A gestão democrática da escola implica que a comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou, menos ainda, os
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meros receptadores dos serviços educacionais. Na gestão democrática pais, mães, alunas, alunos, professores e funcionários assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola.
O autor ainda enfatiza que (p.66) :
O aluno aprende quando ele se torna sujeito de sua própria aprendizagem. E, para ele se tornar sujeito de sua própria aprendizagem, ele precisa participar das decisões que dizem respeito ao projeto da escola, projeto esse inserido no projeto de vida do próprio aluno (grifo nosso). Não há educação e aprendizagem sem sujeito da educação e da aprendizagem. A participação pertence a própria natureza do ato pedagógico.
A justificativa da proposta foi a necessidade de avaliar o impacto dos resultados
obtidos com a implementação dessa nova postura de organização do trabalho. Optamos em
desenvolver esse trabalho somente com as 5ª séries/6º anos do Ensino Fundamental do
período vespertino, como campo de experiência. Após, implementar às outras séries.
Os professores presentes consideraram importante o estudo do tema, manifestaram-se
em concordância ao trabalho, mas questionaram a participação de representantes de pais e
alunos.
Artigas e Balzer (2010, p. 4), fundamentam que a questão da participação usuária na
gestão da escola básica tem a ver, em grande medida, com as iniciativas necessárias para a
superação da atual situação de precariedade do ensino público.
Paro (1999, p. 57) vai além da realidade escolar, ao afirmar que:
Ao lado dessa questão, um importante elemento tem sobressaído que, embora tenha a ver com o conceito de participação enquanto instrumento de controle democrático do Estado, extrapola-o, em certo sentido: trata-se da percepção de que, para funcionar a contento, e escola necessita da adesão de seus usuários (não só de alunos, mas também de seus pais ou responsáveis) aos propósitos educativos a que ela deve visar, e que essa adesão precisa redundar em ações efetivas que contribuam para o bom desempenho do estudante.
Libâneo (2008, p.138-139) menciona a participação da comunidade pois
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[...] possibilita à população o conhecimento e a avaliação dos serviços oferecidos e a intervenção organizada na vida da escola. De acordo com Gadotti e Romão (1997, p.16), a participação influi na democratização da gestão e na melhoria da qualidade de ensino. Participação significa a atuação dos profissionais da educação e dos usuários (alunos e pais) na gestão da escola.
De acordo com os professores da nossa instituição escolar, a presença dos
representantes de alunos e pais, poderia inibir as discussões do grupo, ao justificarem que
consideram sigilosas algumas das informações presentes nessas reuniões. Deduzimos que são
aquelas que dizem respeito a cada aluno, que a nosso ver, deveriam ser tratados com os
interessados, se não nessa reunião, pelo menos em outro momento individual. Mostraram,
ainda, certa insegurança quanto a presença de alunos porque temem que as discussões
extrapolem, de modo incorreto, à comunidade escolar por parte dos alunos presentes. Alguns
professores tiveram essa experiência em outros estabelecimentos de ensino e relatam que o
resultado não foi satisfatório.
Na nossa implementação também ficamos preocupados com a violência e o bullying,
fenômenos que parece estar se banalizando no ambiente escolar, que também interferem na
dinâmica escolar. Daí porque a nossa preocupação em conversarmos com os alunos
representantes de classe e com as turmas, informando o motivo da presença deles e as
atribuições e responsabilidade de cada segmento. O aluno/pai representante precisa ter ética e
compromisso em relação a função delegada a ele, por isso é importante a escolha
consciente do representante de turma e insistir na nova função de participações nos colegiados
escolares.
Sobre a gestão participativa, Lück (2009, p.17) nos diz que:
Sob a designação de participação, muitas experiências são promovidas, várias das quais, no entanto, apresentam algumas vezes, resultados mais negativos do que positivos. [...] Isto ocorre quando em nome da construção de uma sociedade democrática ou da promoção de maior envolvimento das pessoas nas organizações, promove-se a realização de atividades que possibilitem ou até condicionem a sua participação, sem contudo estarem orientadas para a melhoria efetiva dos resultados educacionais e formação dos alunos.
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Ainda, segundo a autora (2009), toda pessoa tem influência no contexto de que faz
parte, apesar de muitas vezes não ter consciência disso. Essa falta de consciência do poder de
participação que tem, traz resultados negativos para a organização social e para as próprias
pessoas que constituem o ambiente escolar. A participação, em seu sentido mais pleno,
caracteriza-se por uma força de atuação consciente.
Foi sugerido pelo coletivo escolar do Colégio Estadual Brasílio Itiberê, que durante a
implementação do Projeto, que somente o aluno representante participasse das reuniões de
Conselho de Classe. Portanto,
Essa necessidade de ampliar a participação da comunidade escolar nos Conselhos de
Classe, também tem sido de órgãos superiores da estrutura administrativa de estado, tanto é
que, no início de 2012, as escolas estaduais do Estado do Paraná foram orientadas para
realimentar o Regimento Escolar dos Estabelecimentos de Ensino, pensando na ampliação
para a participação de pais/responsáveis nesse órgão colegiado.
Nas orientações dos Núcleos de Ensino do Estado do Paraná (NRE) para a elaboração
dos Regimentos Escolares, sugeria-se na seção IV, Art. 27, que o Conselho de Classe
Integrado (CCI), tivesse a participação da equipe de direção, da equipe pedagógica, da equipe
docente, da representação facultativa de alunos e pais de alunos por turma e/ou série.
Em um levantamento realizado com 30 escolas estaduais no município de Maringá, 24
estabelecimentos de ensino afirmaram que não há representatividade de alunos em seus
Conselhos de Classe. Quanto a participação de representantes de pais, somente uma escola
tem um representante da Associação de Pais, Mestres e Funcionários (APMF), mas apenas no
Conselho Final.
Grupo de Trabalho em Rede (GTR)
O GTR constitui uma atividade do PDE, que se caracteriza pela interação virtual entre
os Professores PDE e os demais professores da Rede Pública Estadual. Um dos objetivos do
GTR é a socialização do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola elaborado pelo
Professor PDE com seus pares. No espaço virtual denominado Fórum, todos os participantes
devem interagir com os demais cursistas inscritos.
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Nessa atividade do GTR lançamos questões para discussão com os pares cursistas e
elencamos dois temas: a participação de representantes de alunos/pais nos Conselhos de
Classe e o programa Stop Motion.
Apresentamos um dos temas:
A LDB 9394/96 estabelece a Gestão Democrática como um dos princípios da educação nacional (Art. 3º, inciso VIII). Tendo como foco a gestão democrática e a realização do Conselho de Classe numa perspectiva participativa. Fundamente o seu parecer sobre a inclusão de um representante de pais de alunos e um aluno representando seus pares; se essa prática é assumida na sua escola. Relate a sua experiência.
Por meio das contribuições das pedagogas inscritas na plataforma, percebemos que nas
escolas que atuam há uma resistência do corpo docente, não diferente da nossa escola, quanto
a participação dos representantes dos segmentos já mencionados. Algumas professoras
participantes tiveram essa experiência em sua escola. Selecionamos fragmentos de alguns
relatos:
Professora 01: “No colégio onde trabalho, o Conselho de Classe também é participativo. Porém, muitos representantes consideram suas representatividades como uma maneira de "acabar com professor" e saem da salinha como os mesmos a definem aos gritos, anunciando que "ferraram o professor" (sic). Professora 02: “No Colégio em que atuo realizamos o Conselho de Classe participativo porém, encontramos resistência por parte de alguns docentes em aceitar esta prática, e o problema torna-se muito maior após as discussões, quando chegado o momento de apresentar medidas para sanar os problemas levantados.” Professora 03: “Infelizmente em minha escola não temos essa prática, algum tempo tivemos a participação dos alunos, o que foi muito bom, pois discutíamos as situações que apresentavam problemas e em muitas delas já elencávamos soluções, tudo isso feito em parceria com os alunos. No entanto não conseguimos ir em frente, pois o que ainda encontramos é uma resistência muito grande por parte do professor em ter o aluno como participante.” Professora 04: “Na escola em que trabalho existe o conhecimento teórico sobre o Conselho de Classe Participativo, ou seja, garantir a participação de alunos e pais, mas na prática o que tem acontecido é a realização de um pré-conselho com toda a turma e o professor monitor. Partindo-se do pressuposto que o Conselho de Classe é participativo e democrático, é dado aos alunos a oportunidade de levantar hipóteses e sugestões a partir ou não do roteiro apresentado. Professor monitor e representante de turma registra em relatório as reflexões da
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turma e no Conselho através da Equipe Pedagógica, é lido a todos presentes no Conselho,pois, ainda encontramos resistência em ter alunos e pais como participantes.“
Essas intervenções nos comprovam que há resistência do corpo de professores que se
sentem ameaçados em suas funções, enquanto autoridade no comando de sua sala de aula. Por
outro lado, o próximo depoimento nos remete que há necessidade de se repensar e construir
alternativas que nos auxiliem a buscar soluções para o aprendizado do aluno.
Professora 05: “Já passei por duas experiências distintas na realização de Conselhos de Classe participativos, com a presença de alunos. A primeira foi a inclusão de alunos representantes de classe no momento do Conselho de Classe de sua turma, contudo encontramos alguns entraves e tivemos até alguns prejuízos. Para que os alunos possam participar e que essa participação surta um efeito positivo, deve ser feito um trabalho anterior, um preparo e amadurecimento muito além de um simples encontro e instruções (que realizamos e que não foi o suficiente). A segunda experiência foi muito satisfatória, trazendo muitos benefícios a todos os envolvidos. Realizamos o Conselho de Classe na própria classe, com a presença de todos os professores da turma e todos os alunos. Falamos o que precisava ser dito e nos colocamos sempre como parceiros do processo, questionando aos alunos, seus pontos de vista sobre o processo de ensino-aprendizagem, dificuldades e avanços, enfim, foi uma experiência muito boa e surtiu efeitos positivíssimos, pois os alunos acreditam que no Conselho de Classe os professores só “falam mal” dos alunos.”
O depoimento da professora vem de encontro com o que Cruz (2005, p.16) afirma: que
o Conselho de Classe é um espaço de reflexão pedagógica em que o professor e o aluno se
situem conscientemente no processo que juntos desenvolvem.
Desta forma, as discussões presentes no Conselho de Classe devem ser socializadas
com as demais instâncias colegiadas que fazem parte do processo educacional. Mas isso não é
função do aluno ou pai representante participantes nos Conselhos de Classe, uma vez que
poderia haver distorção das discussões. Essa responsabilidade deve ser atribuída a pedagogos,
professores representantes e gestores, uma vez que essa tarefa é pedagógica. O aluno eleito
deve participar da devolutiva do resultado do Conselho de Classe na sua turma, juntamente
com o professor, uma vez que foi escolhido para exercer a representatividade do grupo.
Selecionamos depoimentos que nos confirmam que o assunto tem sido preocupação de
professores e escolas, em fase de construção do caminho de gestão quanto a participação
ampliada:
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Professora 06: “Concordo que muitos representantes não entendem qual é o seu papel no Conselho de Classe. Mas, segundo Libâneo (2006) “A participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática, possibilitando o envolvimento de todos os integrantes da escola no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar.” Sabemos que a participação precisa ser construída e o Conselho de Classe é um dos espaços onde os alunos e pais podem começar essa construção, de forma processual. Precisamos também aprender a valorizar os pequenos avanços para prosseguir nessa caminhada. E nesse sentido, avaliando a participação dos alunos nos Conselhos de Classe em 2012, no colégio em que atuo, já foi possível perceber que a participação já foi com foco no conteúdo, metodologias, etc.” Professora 07: “No colégio onde atuo, já tivemos a experiência de realizar Conselho de Classe participativo, na gestão anterior. Só que não era com apenas um representante de pais e de alunos e sim eram convidados os alunos de cada turma e seus pais juntamente com os professores da referida turma, equipe pedagógica, direção e direção auxiliar. Não em todos os bimestres, os professores, a equipe pedagógica e a direção decidiam juntos em qual bimestre realizar. Trazia resultados positivos. “ Professora 08: “O Conselho de Classe é um importante instrumento que deve ou deveria estar a serviço da aprendizagem. Porém, como a Gestão Democrática é um exercício e não se impõe simplesmente por força da lei, penso ser necessário avançarmos muito nesta compreensão. Infelizmente na escola onde trabalho não temos a participação de pais e alunos no Conselho de Classe, mas com um olhar bem utópico, acredito que esta é uma realidade a ser construída e concretizada com o esforço e amadurecimento de toda a comunidade escolar.”
Professora 09: “Olá Maria Ângela, li o seu projeto e a proposta de intervenção pedagógica e fico feliz por saber que estamos caminhando embora com inúmeras dificuldades na mesma direção. Concordo plenamente que o Conselho deve ser este momento para discutir estratégias para superar os problemas levantados. Há dois anos realizamos o Conselho de Classe democrático e participativo, posso dizer que as mudanças ocorrem lentamente, mas é preciso começar e acima de tudo persistir.”
Segundo Artigas e Balzer (2010), o objetivo dessas reuniões é de que cada um assuma
sua responsabilidade em relação ao processo ensino-aprendizagem e de avaliação,
reorientando a ação pedagógica de todos, professores, pedagogos e pais.
Dessa forma, caberá aos professores que repensem a reorganização dos
encaminhamentos em sala de aula, retomada de conteúdo, oferta de recuperação, registros de
avaliação, frequência, conteúdo e ações realizadas ao longo do processo. Os pedagogos
precisam se comprometer em acompanhar as ações pedagógicas (hora-atividade), mediação
quanto ao que está proposto nos documentos escolares (Plano de Trabalho Docente, Projeto
Político-Pedagógico,Regimento Escolar), compromisso ético-político em relação ao seu
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trabalho. E, por fim que os pais acompanhem a vida escolar dos filhos/educandos (fatores que
interferem ou impossibilitam), participação nas decisões das instâncias colegiadas relativas à
melhoria da qualidade do processo educativo. Por outro lado, o compromisso dos alunos no
comparecimento às aulas, compromisso com as atividades propostas, participação nas
decisões das instâncias colegiadas relativas à melhoria da qualidade do processo educativo.
Na medida em que cada instância resolver assumir o compromisso com a instituição
escolar, o coletivo da dinâmica do Conselho de Classe poderá ter a dinâmica de instância que
esteja conectada com o processo de desempenho dos alunos que buscam nela o seu
desenvolvimento intelectual e social para a sua vida.
Considerações Finais
Pesquisas, estudos e avaliações realizadas no campo educacional mostram que a
maioria dos alunos das escolas públicas apresenta um desempenho insatisfatório.
Recorremos ao MEC/PDE (BRASIL, MEC; PDE, 2008), quando afirma que os
resultados do Saeb e da Prova Brasil evidenciam, com clareza e objetividade, o desempenho
dos alunos da educação básica. E continua, que o direito à educação, que durante longos anos
no Brasil significou o direito de matrícula em alguma escola, depois dos avanços recentes e da
reflexão sobre direitos individuais consagrados na Constituição Federal de 1988, significa
hoje o direito ao aprendizado.
Pensar a escola enquanto espaço de produção de conhecimento cientifico e tendo
como foco a melhoria da qualidade de ensino deve ser uma busca permanente de educadores,
gestores e outros responsáveis.
É necessário que o coletivo escolar se desperte para o espírito científico, aprofunde o
seu conhecimento sobre a escola e estabeleça ações que viabilizem a melhoria da qualidade
do ensino.
Por meio do programa PDE/PR, no qual fomos beneficiadas como partícipes, fizemos
uma extensa leitura e estudos sobre o tema Conselho de Classe. Por meio do GTR, pudemos
constatar muitas contribuições de professores. Todo esse esforço nos evidenciou a necessária
a retomada nos estabelecimentos de ensino sobre a real função da instância Conselhos de
Classe, uma vez que a maioria das escolas ainda não atende aos objetivos a que se propõe.
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A nova implementação do Conselho de Classe Participativo não se efetivará num
espaço curto prazo, pois há resistência das escolas (professores) na ampliação da participação
da comunidade escolar por diversas razões. Pelas manifestações de professores no GTR, esta
discussão não pode mais ser considerada isolada, no vazio e nem individual. Ela precisa ser
ampliada e discutida, enfrentada e materializada no interior das escolas.
Lück (2009, p.18) argumenta que a gestão participativa é fundamental para melhorar a
qualidade pedagógica do processo educacional das escolas na medida em que se desenvolve
objetivos comuns à todos que dela fazem parte: a busca pela melhoria da qualidade de ensino.
É necessária uma organização do coletivo escolar que demanda formação continuada e
discussões de como iniciar esse trabalho. A proposta pode ser implementada e segundo
Saviani (2006, p.60), "[...] é necessário abalar as certezas, desautorizar o senso comum",
precisamos disponibilizar mais tempo de estudos, formação continuada e experimentarmos
novos caminhos, só assim veremos uma escola diferente.
Tão importante quanto a reorganização das discussões e encaminhamentos do
Conselho de Classe, é imprescindível que o pedagogo ocupe a sua função. Saviani (1985. p.
28) nos diz que “é o profissional que domina sistemática e intencionalmente as formas de
organização do processo cultural que se dá no interior das escolas”.
Cabe ao pedagogo, dominar as formas por meio do qual o saber sistematizado é
convertido em saber escolar. Um dos caminhos para efetivação dos avanços em relação ao
conselho de classe é o pedagogo fazer uso do espaço que é função sua, minimizando as
chamadas funções atípicas, que são muitas na dinâmica escolar.
Podemos afirmar que esse recurso atingiu os seus objetivos pois ele fez parte das
atividades apresentadas no Mostra Cultural (Colégio Estadual Branca da Mota) e Show de
Talentos (Colégio Estadual Brasilio Itiberê).
Ao finalizar este PDE temos a convicção de ter apenas começado a superar as funções
atípicas do pedagogo, compreendido que há necessidade de ultrapassar a fase do senso
comum do cotidiano escolar por meio das produções científicas.
Essa clareza também nos impõe a outra reflexão de que o Conselho de Classe
Participativo só atingirá os seus objetivos quando também o pedagogo se preocupar em
assessorar os professores em suas atividades pedagógicas, que atendam aos interesses,
realidades e vivências e aprendizagem dos seus alunos.
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REFERÊNCIAS
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