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Confúcio e os Clássicos Chineses Prof. Antonio Menezes Departamento de Letras Orientais FFLCH-USP

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Confúcio e os Clássicos Chineses

Prof. Antonio Menezes

Departamento de Letras Orientais

FFLCH-USP

Sumário

• Primeira Parte

– A Época de Confúcio

– As Escolas de Pensamento da China Antiga

– Confúcio e os Clássicos Chineses

– Principais Conceitos e Temas Confucianos

• Segunda Parte

– Etapas do Confucionismo

– Confúcio no Ocidente

– Indicações Bibliográficas

Cronologia Geral do Império Chinês

As primeiras Dinastias: Xia, Shang e Zhou

Dinastia Xia (夏) c.2070–c.1600 a.C. Fundador: Da Yu (大禹) Capital: Yangcheng Obs: dinastia legendária conforme o Shujing ou Shangshu Dinastia Shang (商) c.1600-1028 a.C. Capital: Anyang Também conhecida por Yīn (殷) Obs: artefatos de bronze, jade, fragmentos oraculares e cerâmica Dinastia Zhou (周) 1028–256 a.C. Zhou do Oeste (西周 1028–772 a.C.) - Rei Wu e o Duque de Zhou Capital: Luoyang Zhou do Leste (東周 772-256 a.C.) Capital: Chengzhou Obs: Mandato do Céu (天命 tiānmìng)

A Época das 100 Escolas de Pensamento

Período Primavera e Outono 春秋 [chūnqiū] 772 – 481 a.C.

Período Estados Combatentes

战国 [zhànguó] 481 – 256 a.C.

Principais Escolas de Pensamento

儒家 Rú Jiā

“Escola dos Letrados” – Confucionismo Confúcio, Mêncio, Xunzi

道家 Dào Jiā

“Escola do Tao” – Taoismo Laozi, Zhuangzi

墨家 Mò Jiā

“Escola de Mò” – Moísmo Mozi

法家 Fǎ Jiā

“Escola da Lei” – Legismo Hanfeizi

Os Principais Pensadores

Dinastia Zhou do Leste 772 – 256 a.C.

Pensadores Chineses Pensadores do Ocidente

Primavera e Outono 春秋 772 – 481 a.C. Estados Combatentes 战国 481 – 256 a.C.

Laozi (604? – ? a.C.) Confúcio (551 – 479 a.C.) Mozi (479? – 381? a.C.) Hanfeizi (? – 233 a.C.) Xunzi (300?-235? A.C.) Mêncio (371? – 289? a.C.) Zhuangzi (369? – 286 a.C.)

Heráclito (540 – 486 a.C.) Sócrates (470 – 399 a.C.) Platão (427 – 347 a.C.) Aristóteles (384 – 322 a.C.)

Obs: a tabela acima corresponde a Era Axial (800 e 200 a.C.) período em que, segundo Karl Jaspers (1883-1969), surgem as bases do Pensamento Religioso e Filosófico que irão fundar as Civilizações do Ocidente e do Oriente.

Vida de Confúcio

孔夫子 (551–479 a.C.)

Confucius

• Nasceu em 551 a.C. no Estado de Lu (atual província de Shandong, China) numa família de origem nobre mas empobrecida;

• Seu nome de família era 孔丘 Kǒng Qiū, seu nome literário era 仲尼 Zhòngní, sendo mais conhecido como 孔子 Kǒng Zǐ (Mestre Kong) ou 孔夫子 Kǒng Fūzǐ (Grande Mestre Kong) latinizado para Confucius;

• Orfão de pai ao nascer, perdeu a mãe na adolescência. Trabalhou em diversos ofícios, destacando-se na administração dos celeiros oficiais; Posteriormente foi governador da cidade de Qufu mas abandonou o cargo por discordar das atitudes de seu superior;

• Dotado de grande inteligência e vontade de aprender, dedicou-se ao estudo dos Clássicos da antiguidade, visitando os arquivos oficiais da capital;

• Dedicou-se ao ensino como professor itinerante, sem contudo conseguir um posto oficial; Retorna ao Estado de Lu e passa a cuidar da edição dos Clássicos;

• Ao morrer em 479 a.C. tinha 72 discípulos que preservaram e transmitiram sua doutrina, que se tornará um dos fundamentos da civilização chinesa.

Confucionismo: Principais Obras (四書五經)

Os “Cinco Clássicos” (五 經)

易經 Yì Jīng “O Livro das Mutações” (I Ching)

詩經 Shī Jīng “O Livro das Odes”

禮記 Lǐ Jì “O Livro dos Ritos”

書經 Shū Jīng “O Livro da História”

春秋 Chūn Qiū “Anais da Primavera e Outono”

樂經 Yuè Jīng “O Livro da Música” (perdido)

Os “Quatro Livros” (四 書)

論語 Lùn Yǔ “Os Analetos”

大學 Dà Xué “O Grande Aprendizado”

中庸 Zhōng Yóng “A Doutrina do Meio”

孟子 Mèng Zǐ “O Livro de Mêncio”

Confucionismo: Principais Conceitos

禮(礼) [lǐ] O Rito

義(义) [yì] A Justiça

德 [dé] A Virtude

智 [zhì] A Sabedoria

仁 [rén] A Benevolência, Humanidade

孝 [xiào] A Piedade Filial

孔夫子 (551–479 a.C.)

Confucius

A regra de ouro:

“O que não desejas para ti, não faça aos outros”.

Analectos XV, 24

Temas Confucianos: Quadro Comparativo

Confucionismo Taoismo

Confúcio

禮(礼) [lǐ] O Rito

義(义) [yì] A Justiça

德 [dé] A (Potência da) Virtude

智 [zhì] A Sabedoria

仁 [rén] A Benevolência, Humanidade

孝 [xiào]A Piedade Filial

道 (dào) A norma moral, o caminho do bem.

Mêncio

A tendência idealista

“a natureza humana é originalmente boa”

Xunzi

A tendência realista

“a natureza humana é originalmente má”

Laozi

道 [dào] O Tao (absolutizado)

Definições provisórias: “o curso da natureza, o

curso da vida, o fluxo cósmico”

Obs: Em Confúcio, a palavra 道 [dào] designa a

norma moral. Nas Artes Tradicionais Japonesas

o 道 [do] constitui um caminho de

aperfeiçoamento pessoal. Ex: Judo, Kendo,

Kado, Chado etc.

Zhuangzi

為無為 (为无为) [wèi wú wèi]

“atuar o não-atuar”

Temas Confucianos: A questão da Sabedoria

No quadro da Literatura Sapiencial da Era Axial,

Confúcio representa a tendência otimista em

relação à Sabedoria.

(cf. Salmos 1 – Os dois caminhos)

1 É feliz quem não segue o conselho dos maus,

não se detém no caminho dos pecadores

nem toma parte nas reuniões dos zombadores,

2 mas na lei de Javé encontra sua alegria

e nela medita dia e noite.

(...)

6 Pois Javé conhece o caminho dos justos,

mas a senda dos maus leva à ruína.

Confúcio: O saber em função do bem.

No quadro da Literatura Sapiencial da Era Axial,

Laozi representa a tendência pessimista em relação

à Sabedoria.

(cf. Eclesiastes 1, 13-14 e 18 – Vaidade da Ciência)

13 Eu me propus pesquisar e investigar com sabedoria tudo o

que se faz debaixo do céu. Esta é uma ocupação penosa que

Deus impôs aos homens, para que a ela se apliquem.

14 Vi todas as coisas que se fazem debaixo do sol: tudo é vaidade

e correr atrás do vento.

(...)

18 porque muita sabedoria, muita aflição; quem aumenta o

saber aumenta a dor.

No extremo, essa tendência leva ao

anti-intelectualismo.

Confucionismo: A importância das 5 Relações

君君,臣臣,父父,子子 jūn chén fù zi príncipe ministro pai filho

Analectos XII, 11

1. Príncipe e Ministro (soberano e súdito)

2. Pai e Filho

3. Marido e Esposa

4. Irmão mais velho e Irmão mais novo

5. Amigo (mais experiente) e Amigo (menos experiente)

CCTV – Mensagem de Boas Festas para o Ano Novo Chinês de 2015 (01:30)

Temas Confucianos: o Mandato do Céu

• A via sapiencial (moralmente construída) como preparação para a via espiritual;

• A relação entre o Homem e Deus como momento central da existência.

O Mestre disse: “Aos quinze anos, orientei minha mente para aprender. Aos trinta, plantei meus pés firmemente no chão. Aos quarenta, não tinha mais dúvidas. Aos cinquenta, conhecia a vontade do Céu [天命]. Aos sessenta meu ouvido estava sintonizado. Aos setenta, sigo todos os desejos de meu coração sem transgredir nenhuma regra”. Analectos II, 4

Temas Confucianos: Críticas à irreverência e a irreligiosidade

Zigong desejava eliminar o sacrifício de um carneiro na Cerimônia da Lua Nova. O Mestre disse: “Amas o carneiro, eu amo a cerimônia.” Analectos III, 17

De acordo com o ritual, deveríamos nos inclinar no pé da escada; hoje em dia as pessoas se inclinam no topo da escada, o que é rude. Embora contrariando o uso geral, inclino-me no pé da escada. Analectos IX, 3

Etapas do Confucionismo

• Confucionismo Primitivo ou Original período de formação e difusão do pensamento de Confúcio.

• Confucionismo de Estado adotado em 140 a.C. como ideologia oficial na dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.).

• Neo-Confucionismo tendência racionalista de Zhu Xi da dinastia Song (960-1279) e adotado como base para os Exames Oficiais (tornando-se a nova ortodoxia).

• Confucionismo da República da China (1912) tendência agnóstica e pragmática, aliada ao projeto de modernização da China, unindo a “ciência do Ocidente e a cultura

do Oriente (confucionismo)”.

• Confucionismo da República Popular da China (1949) – Período de Mao Zedong e Revolução Cultural (1966-1976):

crítica a Confúcio como ideólogo do feudalismo

– Período de Deng Xiaoping (1978) ao momento atual: recuperação do pensamento de Confúcio como base para construção da “Sociedade Harmoniosa”.

Zhu Xi (1130-1200)

Criticar Lin Biao e Confucio (1973-1976)

A revalorização do Confucionismo na China

Profa. Yu Dan - Confucius from the Heart: Ancient Wisdom for

Today's World (2009) Editora Best Seller

Filme “Confucius” (2010)

Largo da China, Curitiba-PR (2017)

Museu Nacional da China (2011)

Confúcio no Ocidente: Encontros e Desencontros

Primeira tradução (parcial) dos Clássicos Chineses - 1687

Sinofilia séculos XVI e XVII

Sinofobia séculos XVIII e XIX

• Christian Wolff (1679-1754)

• G. W .Leibniz (1646-1716)

• Immanuel Kant (1724-1804)

• G. W. F. Hegel (1770-1831)

Filosofia da História

• F. W. Nietzsche (1844-1900)

Kant the "Chinaman of Konigsberg"

Confúcio no Ocidente: Tradutores dos Clássicos Chineses

Rev. James Legge (1815– 1897) - Sinólogo escocês, membro da London Missionary Society e primeiro professor de chinês de Oxford (1876). Entre 1879 e 1895 publicou The Chinese Classics (em 5 vols.). Segue a interpretação do Neoconfucionismo.

Joaquim Guerra (1908–1993) - Jesuíta português e missionário na China e em Macau. Traduziu todos os Clássicos Chineses entre 1979-1988. Segue a interpretação do Confucionismo Primitivo.

Confúcio no Ocidente: Reintegração

(2015) (2016) “The Philosophers' Football Match” in Monty Python Live at

the Hollywood Bowl (1982)

O Livro das Mutações (I Ching)

Richard Wilhelm Editora Pensamento

Mestre Alfred Huang Editora Martins Fontes

François Jullien Editora 34

Os Analectos de Confúcio

Simon Leys Editora Martins Fontes

D. C. Lau Editora L&PM,

Coleção Pocket n.533

Giorgio Sinedino Coleção Folha – Grandes Nomes do Pensamento

v.26

Sobre o Pensamento Chinês

Profa. Anne Cheng Editora Vozes

Profa. Karyn L. Lai Editora Madras

Lin Yutang (1895-1976) Editora Globo

Documentário: Vida e Obra de Confúcio

Título Original Confucius, Words of Wisdom

Produção A&E Home Video

Ano 1998, 2005

Duração 45 min

Biography Confúcio, Palavras de Sabedoria https://www.youtube.com/watch?v=yaGYuoH-rqQ

Documentário “Vida e Obra de Confúcio” (2005) – 45min.

Bibliografia Básica

CHENG, Anne. História do Pensamento Chinês. São Paulo: Vozes, 2008.

FAIRBANK, John K. e GOLDMAN, Merle. China: Uma Nova História. Porto Alegre: LP&M, 2006.

LIN, Yutang. A Importância de Compreender. Porto Alegre: Globo, 1962.

MENEZES Jr, Antonio J. B. de. Os Analectos – Guia Bibliográfico da FFLCH (2016) http://fflch.usp.br/guia_bibliografico