CONFLITOS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO … · Os conflitos e as guerras civis que ocorrem no mundo...
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CONFLITOS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
CONTEÚDOS
Conflitos armados no mundo
Terrorismo e fundamentalismo religioso
O papel da ONU no mundo contemporâneo
AMPLIANDO SEUS CONHECIMENTOS
A história da humanidade é repleta de conflitos de diferentes naturezas. As duas
grandes guerras mundiais, no século 20, certamente, são os principais conflitos do mundo
contemporâneo e que ocasionaram o maior número de mortos.
O término da Guerra Fria em 1991, por um breve momento, deixou a impressão de
que os conflitos – comuns durante o período – se encerrariam, juntamente com o fim das
disputas políticas e ideológicas protagonizadas e incitadas pelas duas potências, Estados
Unidos e União Soviética.
Ao contrário, o desfecho da ordem bipolar não representou o fim da violência e ainda
acirrou alguns conflitos existentes, alguns deles estimulados pelas bandeiras capitalistas e
socialistas. Vale lembrar que, apesar de nunca terem lutado diretamente, as duas potências
da época, armaram diversos países e grupos rivais, com o intuito de mostrar seu poderio
bélico para o rival.
A crise dos ideais socialistas e a hegemonia do modo de produção capitalista, a
despeito da integração econômica entre as nações, da propagação dos ideais de
aproximação dos povos e de formação de uma comunidade global, nem de longe
significaram uma garantia de segurança e paz para a população mundial. A bem da verdade
é que o desenvolvimento dos meios de transportes e de telecomunicações também
facilitaram a disseminação da violência e dos conflitos.
A interrupção da defesa assídua das ideologias capitalista e, sobretudo, socialista,
própria do cenário da antiga ordem bipolar, despertou sentimentos nacionalistas,
radicalismos, manifestações de preconceito e novas formas de tensões e resistências que,
por muito tempo ficaram reprimidos.
Se até a Guerra Fria os países se uniam em blocos e firmavam alianças e tratados,
a fim de se protegerem em eventuais conflitos; a nova ordem mundial, em contrapartida,
marca um período de aumento das tensões dentro das fronteiras dos próprios países.
Assim, o século 21 presencia questões territoriais e divergências políticas, étnicas,
religiosas e socioeconômicas, guerras civis e focos de conflitos armados em quase todos
os continentes do mundo.
Conflitos armados no mundo
Os conflitos e as guerras civis que ocorrem no mundo contemporâneo estão quase
todos concentrados nos países periféricos.
Curiosidade: Uma guerra civil é uma disputa, geralmente armada e violenta, entre dois
ou mais grupos organizados dentro do mesmo país. A guerra civil, como o nome sugere,
tem forte participação popular, com grupos distintos envolvidos em lutas armadas.
Se o número de enfrentamento entre países vem diminuindo desde a Segunda
Guerra, os conflitos no interior de um mesmo território tem aumentado de maneira
significativa. Geralmente, as tensões entre os grupos envolvem
disputas por poder e acirramento de rivalidades políticas;
disputas territoriais e reivindicações por fronteiras e territórios ocupados;
disputas por reconhecimento de territórios e emancipação política de um país;
instabilidade econômica, pobreza e desigualdades sociais;
diferenças étnicas, religiosas e culturais;
disputas por fontes de recursos naturais, tais como reservas de petróleo, gás
natural, pedras preciosas e nascentes de rios.
Figura 1 – Do Muro das Lamentações (local
sagrado dos judeus), um judeu observa o Domo da
Rocha (principal templo sagrado dos muçulmanos),
em Jerusalém. A cidade é alvo de disputas entre
judeus israelenses e palestinos muçulmanos
Fonte: Ella Hanochi/Shutterstock.com
Figura 2 – Bandeiras dos povos basco e catalão.
Ambos lutam pela independência da Espanha
Fonte: Oscar Garriga Estrada/Shutterstock.com
Figura 3 – Famílias se reúnem perto de um
caminhão-pipa para recolher água potável no Sudão
do Sul*
Fonte: Paskee/Shutterstock.com
*Saiba mais: Após anos de conflitos e guerras civis, o Sudão do Sul conquistou sua
independência do Sudão, em 2011. O país, no entanto, já nasceu como um dos mais
pobres do mundo.
O Sudão do Sul tem uma das maiores taxas de analfabetismo entre adultos do mundo e
boa parte da população não tem acesso à água potável. Antes da separação, os
sudaneses do sul sofriam perseguições religiosas do governo sudanês.
Mesmo após a separação, Sudão e Sudão do Sul disputam reservas petrolíferas e
controle de rios.
A África e o Oriente Médio1 estão entre as regiões com maior número de conflitos
armados no mundo.
Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), cerca de 40% dos conflitos
armados internos (que ocorrem no interior de um mesmo território) do mundo, ocorrem no
continente africano.
A maior parte deles, tem origem no processo de descolonização do continente, após
a ocupação imperialista europeia no século 19. Naquela época, as potências europeias
dividiram o continente, de acordo com seus interesses econômicos e traçaram fronteiras
artificiais, forjando o surgimento de suas colônias e desconsiderando o modo de vida e as
peculiaridades históricas e sociais da região.
Por muitas vezes, as potências europeias estimulavam as rivalidades entre os
diferentes grupos étnicos que habitavam as colônias. Geralmente, o poder era concedido
para um grupo considerado “superior”, fornecendo-lhes privilégios e deixando o restante da
população às margens da sociedade, muitas vezes, sem acesso a bens básicos. (Para
saber mais sobre a partilha da África, consulte o Tema de Estudo de Geografia do EM:
Ordens Mundiais: Antiga Ordem Multipolar do Imperialismo).
Com o enfraquecimento das potências europeias, após a Segunda Guerra Mundial
e o fortalecimento dos Estados Unidos e da União Soviética na Guerra Fria, muitas
metrópoles não conseguiram manter suas colônias africanas e asiáticas. O surgimento de
novos países independentes significaria o fim da presença europeia e a expansão das
áreas de influência capitalista ou socialista.
Nesse período, norte-americanos e soviéticos aproveitaram-se da fragilidade dos
europeus para incentivar o processo de descolonização e independência dos africanos e
asiáticos. Até então, o único elemento que unificava essas colônias, especialmente na
África, era a presença do colonizador. Quando elas se tornaram independentes, cada novo
Estado africano não possuía uma nação, mas sim várias nações, dentro de seus territórios.
A consequência para esse complexo cenário foi a eclosão de sangrentas guerras
civis e étnicas após os processos de independências. À época, Estados Unidos e União
Soviética indiretamente estimularam ainda mais as diferenças entre os grupos rivais. Foi o
caso de Moçambique e Angola.
1 Região que engloba países do oeste da Ásia e do nordeste da África.
As duas ex-colônias portuguesas passaram por processos de independência
extremamente violentos entre grupos pró-soviéticos e pró-americanos, culminando em
guerras civis que duraram décadas e mataram milhões de pessoas.
Figura 4 – Edifício crivado de balas na cidade de Huambo (Angola), em 1975, durante a Guerra Civil Angola,
que culminou na independência do país, em relação à Portugal
Fonte: jlrsolsa In: Wikimedia Commons
Além de Angola e Moçambique, Ruanda, República Democrática do Congo, Costa
do Marfim, África do Sul, Burundi, Uganda e, mais recentemente, Sudão (que resultou na
fragmentação do país e no surgimento do Sudão do Sul, em 2011) também presenciaram
conflitos violentos.
O Oriente Médio também é uma região de tensão e concentra inúmeros focos de
conflitos. O principal e mais antigo deles é a “Questão Palestina”, que opõem israelenses
(judeus) e palestinos (muçulmanos), na luta por territórios.
Saiba mais: Em 1947, a ONU aprovou um plano de partilha da região da Palestina e a
formação de dois Estados: um judeu e outro palestino. Porém, essa divisão acabou por
não privilegiar os palestinos, que eram maioria (80% da população) e receberiam pouco
menos da metade dos territórios.
Figura 5 – Plano de partilha da Palestina, proposto pela ONU, em 1947
Fonte: Fundação Bradesco
Os judeus logo aceitaram a proposta e, em 1948, fundaram o Estado de Israel, que foi
prontamente contestado pelos palestinos e países árabes vizinhos.
A questão eclodiu em um conflito entre israelenses e árabes, em 1949, com vitória dos
primeiros. Como resultado dessa guerra, Israel (que tinha apoio militar e financeiro dos
Estados Unidos) acabou ocupando boa parte das áreas que foram estabelecidas para os
palestinos, em 1947. Ao término do conflito, aproximadamente meio milhão de palestinos
tiveram de deixar a região em que viviam para refugiar-se em países árabes vizinhos.
Nos anos seguintes, os palestinos organizaram movimentos para retomar os territórios
ocupados por Israel, o principal deles foi a Organização pela Libertação da Palestina
(OLP) sob liderança de Yasser Arafat.
Desde então, os países árabes vizinhos e os palestinos (de religião islâmica) disputam
com os israelenses (de religião judia) a devolução e o reconhecimento do território
palestino – é o caso da Guerra dos Seis Dias (1967) e da Guerra do Yom Kippur (1973).
Ambas foram vencidas por Israel e serviram para demonstrar o poder norte-americano e
o perfil expansionista das forças armadas israelenses, que passaram a reprimir
duramente os grupos pró-Palestina.
Figura 6 – Expansão de Israel sobre os territórios palestinos
Fonte: Fundação Bradesco
Na década de 1990, houve tentativas de assinaturas de acordos de paz e a possiblidade
de devolução de parte dos territórios aos palestinos.
Figura 7 – Selo comemorativo que relembra a cena histórica que reuniu Yitzhak Rabin (ex- Primeiro
Ministro de Israel), Bill Cliton (ex-presidente dos Estados Unidos) e Yasser Arafat (ex-líder da OLP) durante
a assinatura do Primeiro Acordo de Oslo, em 1993. Dentre outras medidas, o acordo de paz previa a
devolução de territórios aos palestinos. Contudo, Yitzhak Rabin foi assassinado por um extremista judeu
antes da conclusão do acordo
Fonte: neftali/Shutterstock.com
No entanto, a situação está longe de ser resolvida. Em meio a esse longo conflito, Israel
se tornou um Estado aos moldes das nações ocidentais. Isto é, além de legitimidade
política, os israelenses criaram um forte esquema militar que garante o exercício e a
manutenção da sua soberania na região. Além disso, organizaram uma estrutura que
garante os direitos fundamentais e os princípios de cidadania para o seu povo, de modo
que mais famílias judias, que ainda vivem espalhadas pelo mundo, se sintam atraídas a
migrarem para Israel.
Essa medida deixa milhares de palestinos às margens da sociedade, vivendo como
refugiados em um território que, em 1947, havia sido concedido a eles pela ONU. É por
esse motivo que se diz que os palestinos são refugiados em seu próprio território.
Sob a justificativa de combater o terrorismo e proteger suas fronteiras, Israel adota
medidas para oprimir e controlar todos os povos não judeus que estão sob o seu domínio
militar.
Figura 8 – Muro que separa os palestinos na cidade de Belém, na Cisjordânia
Fonte: Ryan Rodrick Beiler/Shutterstock.com
Desse modo, esses conflitos ainda estão longe de terminar, principalmente com a atual
política de isolamento que o Estado de Israel vem impondo aos palestinos.
Dentre as medidas, está a construção de muros para isolar a população palestina dos
judeus israelenses. Parte dos territórios ocupados pelos palestinos, na Cisjordânia, está
cercado por enormes muros de concreto e a população se vê obrigada a viver isolada
nessas comunidades restritas, sob forte vigilância do exército israelense.
Figura 9 – Soldados israelenses controlam o trânsito de palestinos em Belém, na Cisjordânia
Fonte: Ryan Rodrick Beiler/Shutterstock.com
Além da Questão Palestina, a região do Oriente Médio concentra outros focos de
tensão, seja por disputas territoriais e controle político, disputas religiosas, existência de
povos apátridas e/ou pelo controle de recursos hídricos2 e reservas de petróleo.
Saiba mais: Os povos que se identificam como uma nação, porém não possuem um
Estado que os represente, tampouco um território próprio e independente, são chamados
de apátridas, isto é, sem pátria.
Geralmente, esses povos se submetem às leis e ao controle de outros Estados-nação,
mantendo relações conflituosas (violentas ou não) com eles. É o caso dos curdos,
conhecidos como a maior nação apátrida, com cerca de 30 milhões de pessoas.
Apesar de possuírem identidade própria, os curdos não possuem uma organização-
administrativa que os represente e estão distribuídos entre os territórios da Armênia,
Azerbaijão, Irã, Iraque, Síria e Turquia.
Figura 10 – Território reivindicado pelos curdos para a formação do “Curdistão”
Fonte: Fundação Bradesco
2 Vale lembrar que Oriente Médio é uma região desértica com grande escassez hídrica. Por esse motivo, o controle das nascentes dos rios e dos mananciais é uma questão política e socioeconômica fundamental, tendo em vista a sobrevivência da população e o desenvolvimento das atividades econômicas dos países.
Há anos, esse povo reivindica a independência desses seis países e a constituição de
um Estado-nação, com território reconhecido internacionalmente, e organizado
politicamente, com seu povo e suas instituições próprias: o Curdistão, o país dos curdos.
O Oriente Médio é o berço das três religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo
e Islamismo) e, por isso, uma área de grande diversidade étnica, religiosa e cultural. A
região ainda é foco das grandes potências por concentrar mais da metade das reservas de
petróleo do mundo. Desta forma, qualquer instabilidade política na região, interfere nos
preços e nas exportações para os países dependentes desse recurso.
É por esse motivo que os conflitos no Oriente Médio despertam interesse e sofrem
inúmeras intervenções internacionais.
Por fim, resta lembrar que apesar de um número considerável de conflitos estar
concentrado na África e no Oriente Médio, outras áreas também abrigam focos de tensão
tão complexos quanto os mencionados.
Para se ter uma ideia, a América Latina é palco de um conflito que já dura décadas
e envolve guerrilheiros das FARCS (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupos
paramilitares e o governo colombiano. A questão envolve o controle de territórios do país,
além da produção de cocaína e o tráfico de drogas.
Figura 11 – Protesto em Bogotá contra a atuação das FARCS em território colombiano
Fonte: Jess Kraft/Shutterstock.com
O continente asiático também presencia inúmeros conflitos, como a questão dos
tibetanos, povo apátrida que luta pela independência do Tibete em relação à China e os
grupos separatistas de minorias étnicas que buscam independência do Nepal.
Figura 12 – Manifestação pró-independência do Tibete, durante os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008
Fonte: tkachuk/Shutterstock.com
Há ainda um conflito extremamente delicado, que envolve o Paquistão e a Índia pelo
controle da região da Caxemira, na fronteira entre os dois países. A relação conflituosa
entre os dois países chama atenção do mundo, uma vez que ambos são detentores de
armas nucleares e de destruição em massa.
A Europa também abriga inúmeros conflitos de cunho separatistas, como o caso
dos bascos (que lutam pela independência da França e da Espanha), os católicos da Irlanda
do Norte (que querem se separar do Reino Unido e se unir a Irlanda) e dos chechenos (que
lutam pela independência da Rússia).
O fim da Guerra Fria mergulhou a região dos Balcãs, no sudeste europeu, em
inúmeros conflitos étnicos-religiosos e movimentos separatistas que desencadearam –
entre os anos de 1991 e 2006 – na fragmentação da Iugoslávia em seis novos países:
Sérvia, Montenegro, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina e Macedônia. Há ainda a
região do Kosovo que luta pelo reconhecimento de sua independência da Sérvia, declarada
em 2008.
Figura 13 – Refugiados kosovares retornam para Djakovica (Kosovo) após a guerra de independência com a
Sérvia, em 1999. O Kosovo se declarou independente em 2008, mas ainda aguarda reconhecimento da ONU
Fonte: Northfoto/Shutterstock.com
Terrorismo e fundamentalismo religioso
O terrorismo, tal como conhecemos no mundo contemporâneo, é o nome dado às
ações violentas (físicas e psicológicas) realizadas por um indivíduo, por um grupo de
pessoas ou pelos Estados, e objetivam pressionar e chamar a atenção de governantes,
instituições e da população para uma causa (política, ideológica, religiosa, econômica, etc.).
Os atos terroristas buscam desestabilizar a ordem vigente e chamar a atenção da
sociedade e também da mídia. Por essa razão, os alvos dos atentados costumam ser a
própria sociedade civil, a fim de se criar uma situação de medo e temor generalizado.
As ações terroristas típicas incluem tortura, sequestros, explosões com bombas
(estações de metrô, aeroportos, shoppings) e ataques suicidas.
No início do século 21, o grupo Al-Qaeda (“a base”, em árabe) ficou mundialmente
conhecido pelos atentados terroristas praticados contra os Estados Unidos, no dia 11 de
setembro de 2001.
Figura 14 – Escombros dos edifícios do World
Trade Center, em Nova Iorque, que caíram após os
atentados do dia 11 de setembro de 2001
Fonte: Larry Bruce/Shutterstock.com
Figura 15 – Nova torre do One World Trade Center,
em Nova Iorque, inaugurada em 2014
Fonte: Allard One/Shutterstock.com
Após os ataques – assumidos por um de seus líderes, o saudita Osama Bin Laden
– o grupo se tornou um dos mais temidos do mundo. A marca da Al-Qaeda é o uso
indiscriminado da violência e do medo, além do fato dela atuar em rede sem um líder único
e uma estrutura hierarquizada, com várias células espalhadas pelo mundo.
Figura 16 – Osama Bin Laden, um dos mentores dos atentados do 11 de Setembro de 2001, que matou cerca
de 3 mil pessoas. O terrorista saudita foi capturado no Paquistão, e morto pelas tropas americanas, em maio
de 2011
Fonte: Wikimedia Commons
Curiosidade: Além dos atentados de 11 de setembro que ocorreram nos Estados Unidos,
os grupos terroristas islâmicos reconhecem a autoria de outros ataques como o de:
11 de março de 2004 em Madri (Espanha).
7 de julho de 2005 em Londres (Inglaterra).
Primeira semana de janeiro de 2015 em Baga (Nigéria).
13 de novembro de 2015 em Paris (França).
22 de março de 2016 em Bruxelas (Bélgica).
14 de julho de 2016 em Nice (França).
Os atentados de 11 de setembro e, mais recentemente, as ações do Estado Islâmico
(ISIS) provocaram uma onda islamofóbica (islã = relativo à religião islâmica; fobia = medo)
no mundo. Desde 2001, é muito comum que o mundo ocidental generalize as informações
e confunda as ações terroristas dos grupos extremistas com as práticas religiosas pregadas
pelo Islamismo.
Saiba mais: O Islamismo, religião que surgiu no Oriente Médio, no século 7, prega que
seus fiéis devem orar diariamente, amar ao próximo e praticar caridade. Os muçulmanos,
como são conhecidos os seguidores da religião, acreditam na existência de um único
deus – Alá – que transmite sua mensagem de amor e paz por meio de seus profetas.
Maomé é considerado o último profeta da fé islâmica.
Para os muçulmanos, foi ele quem recebeu os ensinamentos de Alá, por meio do arcanjo
Gabriel, com a missão de propagá-los pelo mundo.
A palavra islã pode ser traduzida por submissão e está relacionada à palavra árabe
salam, que significa paz.
Os ensinamentos religiosos do Islamismo concentram-se em um livro sagrado chamado
Alcorão.
Com cerca de 1,5 bilhão de seguidores no mundo, o Islamismo é a segunda religião
com mais fiéis e aquela que mais ganha adeptos fora dos limites do mundo árabe.
Analisando seus ensinamentos, é possível perceber que essa religião praticamente não se
diferencia das demais, portanto, discriminar e hostilizar seus seguidores é um ato
preconceituoso.
Dentro do Islamismo, tal como as demais religiões do mundo, existem muitos
grupos, alguns deles com pontos de vistas extremamente divergentes. Os grupos radicais,
geralmente conhecidos como fundamentalistas, pregam que os ensinamentos sagrados
sejam seguidos à risca e alguns deles fazem uso de atos terroristas. Assim, o
fundamentalismo não é exclusividade dos muçulmanos, tampouco, representam a essência
dessa religião.
Além da Al-Qaeda, o Estado Islâmico (ISIS) e o Boko Haram são grupos extremistas
pautados no fundamentalismo islâmico. Da mesma forma, o Kach Kahane Chai é um grupo
fundamentalista judaico, por exemplo. Vale ressaltar, entretanto, que nem todos os grupos
fundamentalistas praticam atos terroristas.
Saiba mais: O Estado Islâmico, internacionalmente conhecido por ISIS, é um braço
dissidente da Al-Qaeda e surgiu no ano de 2003, no Iraque, com o nome Al Qaeda no
Iraque (AQI), agindo contra tropas norte-americanas, que invadiram o país naquele ano.
No ano de 2006, o grupo foi praticamente extinto, sendo rebatizado como Estado Islâmico
do Iraque (EII). Em 2010, estendeu sua atuação para a Síria e passou a ser reconhecido
como Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS) ou Islamic State in Iraq and Syria (ISIS).
Em 2013, também passaram a ser reconhecidos como Estado Islâmico do Iraque e do
Levante (EIIL).
Figura 17 – Um militante do Estado Islâmico carregando a bandeira do grupo
Fonte: Wikimedia Commons
Em 2013, o grupo ganhou força e representatividade na luta contra o governo sírio de
Bashar Al-Assad. A partir de então, intensificaram sua atuação e controlaram áreas de
extração de petróleo, hidrelétricas, bancos, bases militares, chegando a ocupar cidades
inteiras.
Em 2014, após controlarem territórios iraquianos e sírios, se autodenominaram Estado
Islâmico e proclamaram um califado3 nas regiões conquistadas, sem reconhecimento
internacional. O grupo também assumiu algumas regiões da Líbia, em 2015.
O Estado Islâmico controla áreas onde os governos estão fragilizados e atrai milhares de
jovens do mundo todo, sobretudo europeus de origem árabe-muçulmana, vítimas de
preconceito, discriminação e xenofobia nos países ocidentais. Sem perspectivas e
colocados às margens da sociedade, muitos desses jovens são atraídos pelo discurso
de defesa do califado e das leis islâmicas.
Figura 18 – Região reivindicada pelo Estado Islâmico. O grupo tem a pretensão de instaurar um estado, na
área destacada, pautado por leis regidas por preceitos fundamentalistas
Fonte: Wikimedia Commons
O Estado Islâmico reivindica a autoria de diversos atentados terroristas no mundo.
A ação brutal do Estado Islâmico é responsável direta pela crise humanitária na Síria e
pelos mais de 4 milhões de refugiados no país. Além dos alvos ocidentais, o califado
também reprime duramente os muçulmanos contrários ao fundamentalismo do grupo.
Apesar de não se envolver diretamente, justamente por condenar o regime do então
presidente Bashar Al-Assad, os Estados Unidos lideram uma coalizão internacional que
busca combater o grupo por meio de bombardeios aéreos e destruição de bases dos
líderes do Estado Islâmico.
3 O califado é um regime político orientado pelo fundamentalismo islâmico e pelo extremismo na interpretação dos preceitos do Alcorão.
Essa confusão – de entender que as pessoas são terroristas porque são
muçulmanas – está na base do preconceito e da xenofobia, provocando um intenso debate
sobre as restrições à entrada de refugiados de origem árabe e religião muçulmana em
países europeus e nos Estados Unidos. (Para saber mais sobre a xenofobia, consulte o
Tema de Estudo de Geografia do EM: Fluxos Migratórios: migração no mundo).
Figura 19 – Refugiados sírios pedem ajuda nas ruas de Istambul, na Turquia
Fonte: Oleg D/Shutterstock.com
Combater o terrorismo é uma preocupação justa e que tem o objetivo de preservar
a vida de pessoas inocentes. No entanto, é fundamental entender que nem todo muçulmano
é terrorista, para evitar injustiças contra aqueles que também se opõem à ação violenta de
grupos extremistas.
O papel da ONU no mundo contemporâneo
A Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada em 24 de outubro de 1945,
em São Francisco (EUA), com o objetivo de garantir a paz entre as nações e a segurança
internacional, promover a justiça e o desenvolvimento, além de eliminar as desigualdades
socioeconômicas no mundo.
É a maior organização supranacional4 do mundo, composta por 193 Estados
Membros. Em 1945, a entidade foi formada por 51 Estados Membros fundadores.
4 Supranacional: o que está além da esfera nacional; ou que pertence a um organismo ou a um poder que extrapola, ou transcende, o Estado-nação.
A entidade é sucessora da Liga das Nações, criada em 1920 e que foi extinta,
oficialmente, em 1946.
Curiosidade: Tendo fracassado em suas tentativas de paz e de impedir novas guerras, a
Liga das Nações deixou de se reunir em 1942, sendo oficialmente extinta em 1946.
No entanto, a concepção da entidade foi reformulada e, com término da Segunda Guerra
Mundial, seus princípios diplomáticos serviram de base para o surgimento da maior
organização supranacional do mundo, a ONU (Organização das Nações Unidas), em
1945.
A ONU surgiu após o término da Segunda Guerra Mundial, em um cenário em que
as nações, sobretudo as vitoriosas, tentavam evitar a eclosão de uma nova guerra nas
proporções dos combates anteriores.
A principal sede da ONU fica em Nova Iorque, nos Estados Unidos, e, por meio de
reuniões, encontros e assembleias, os representantes dos países nas entidades discutem
e definem projetos e ações de interesse internacional.
Figura 20 – Sede da ONU, em Nova Iorque, nos Estados Unidos
Fonte: Osugi/Shutterstock.com
As demais sedes ficam em Genebra (Suíça), Viena (Áustria), Nairóbi (Quênia),
Addis Abeba (Etiópia), Bangcoc (Tailândia), Beirute (Líbano) e Santiago (Chile), além de
escritórios regionais em outros países do mundo.
A entidade é composta por seis órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho
de Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, a Corte Internacional
de Justiça e o Secretariado.
Além desses órgãos, ainda fazem parte outras agências, programas e fundos, tais
como: a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura),
a UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância), a OIT (Organização Internacional
do Trabalho), a FAO (Organização de Alimentação e Agricultura), a OMS (Organização
Mundial da Saúde), o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o
PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), o ACNUR (Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), o FMI (Fundo Monetário
Internacional), dentre outros.
Curiosidade: o Brasil é um dos 51 Estados Membros fundadores da ONU e, desde 1947,
é sempre o primeiro país a discursar no encontro anual da Assembleia Geral, que reúne
todos os membros da entidade. Naquela ocasião, o então ministro das Relações
Exteriores Oswaldo Aranha foi o representante escolhido para presidir a Segunda
Assembleia Geral.
Anos mais tarde, já sob forte influência da Guerra Fria e dos antagonismos que
marcavam o período, o embaixador brasileiro Cyro de Freitas-Valle, foi o primeiro a
discursar, deixando as vaidades das duas potências em segundo plano.
Mesmo sem um motivo claro que explique o porquê do Brasil ser o primeiro a discursar,
anualmente, o país é convidado a abrir as sessões da Assembleia Geral.
Em 1997, essa tradição foi oficializada pelo Secretariado da ONU, que estabeleceu que
a ordem dos oradores deve preservar as “tradições existentes” na entidade.
Por conta dessa ordem, em 2011, a então presidente Dilma Rousseff foi a primeira mulher
a fazer o discurso de abertura do órgão.
Por buscar garantir a paz entre os povos e as nações, a ONU, desde sua formação,
tem legitimidade para atuar na resolução de conflitos internacionais e guerras civis. Além
disso, a entidade também se incumbe de cuidar de outras questões preocupantes para o
mundo contemporâneo, tais como, aumento da pobreza e das desigualdades sociais,
escassez e má distribuição de alimentos, escassez hídrica e de outros recursos naturais,
problemas ambientais e destruição da biodiversidade, desrespeito aos direitos humanos e
a soberania dos Estados, disseminação de organizações terroristas. Todos esses
problemas, de certa forma, estão na base do desencadeamento de conflitos.
Todos os Estados-nação exercem soberania sobre seus territórios e seus povos e,
por isso, não existe nenhuma força além deles. Nesse sentido, a ONU não existe para se
sobrepor às decisões internas de cada país, mas para garantir a igualdade entre eles.
Ainda assim, é patente que, tal como os demais organismos internacionais, a ONU
é influenciada diretamente pelos interesses e decisões das grandes potências do mundo.
O mundo contemporâneo mostra que, mesmo com o fim da bipolaridade, o jogo de
força entre os países e as relações estabelecidas entre eles envolvem muitos interesses
que, por vezes, impedem tomadas de decisões que beneficiem a todos.
Em razão disso, muitas tomadas de decisões no âmbito internacional expressam
interesses geopolíticos e econômicos, que nem sempre são neutros e colocam os países
no grau de igualdade idealizado pela ONU.
Para se ter um exemplo dessa neutralidade parcial, basta observar a organização
do Conselho de Segurança (CSNU).
O Conselho de Segurança é o órgão máximo da entidade e tem a responsabilidade
de manter a segurança e a paz entre as nações. Dentre todas agências, programas e
órgãos, o conselho é o único com poder decisório, isto é, todos os membros da ONU devem
aceitar e cumprir suas decisões.
Desde sua formação, o Conselho de Segurança é formado por cinco membros
permanentes, que possuem direito de barrar todas as decisões, e dez membros que se
revezam a cada dois anos e não possuem direito de veto.
A composição do órgão remete à organização política do pós-Segunda Guerra
Mundial, quando a ONU foi criada. Estados Unidos, Rússia, Reino Unido e França, nações
vitoriosas da guerra, além da China, são as nações que compõem o conselho em definitivo
e possuem direito de veto. Isto é, de uma organização formada por mais de 190 países,
apenas cinco têm o poder explícito de decidir sobre questões de interesses universais.
Curiosidade: Logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos se
colocaram à frente de um projeto de combate ao terrorismo internacional e captura à
Osama bin Laden. Para tanto, tropas norte-americanas e aliadas invadiram o
Afeganistão, em 2001, e o Iraque, em 2003, a procura de terroristas e armas de
destruição em massa.
A ação de invadir o Iraque foi contestada pelo Conselho de Segurança da ONU, por meio
do veto de França, Rússia e China; mesmo assim, o país foi invadido, em 2003. Três
anos depois, o presidente Saddam Hussein foi capturado e enforcado, sem que as armas
fossem encontradas.
O Brasil, já na época da Liga das Nações, pleiteava uma vaga permanente no
Conselho Executivo5 da entidade. Desde 2004, de forma mais enfática, articula com outros
países um projeto que sugere reformulações na organização do Conselho de Segurança,
a fim de que se aumente o número de membros permanentes. Juntamente com Japão,
Alemanha e Índia, o Brasil formou o G4, que defende mudanças no conselho, tendo em
vista a nova configuração geopolítica, sobretudo após o fim da Guerra Fria.
Japão e Alemanha, terceira e quarta maiores economias do mundo – porém os
maiores derrotados da Segunda Guerra – não são membros fixos do conselho porque
sofreram duras sanções com o término do conflito, em 1945.
Passados mais de meio século do final dessa guerra, a estrutura do conselho se
mantém, fazendo com que muitos países questionem a efetividade do órgão diante das
inúmeras mudanças pelas quais o mundo passou, desde então.
O principal argumento daqueles que defendem a realização de uma ampla reforma
é que a organização do Conselho de Segurança é pouco representativa diante da situação
política e econômica do século 21.
Como resposta, o governo brasileiro ouve, desde então, que é preciso consolidar
alianças estratégicas, sobretudo, na América Latina, de modo que o país dê mostras de
sua influência e força política com nações vizinhas. Não é à toa que nos últimos anos, o
Brasil buscou estratégias para reafirmar sua presença e liderança em missões de paz
comandadas pela ONU.
5 O Conselho Executivo da Liga das Nações tinha funções semelhantes ao atual Conselho de Segurança da ONU.
Com isso, o país pretende evidenciar sua diplomacia e política externa ao prestar
assistência à população de nações fragilizadas por guerras, catástrofes naturais e
problemas socioeconômicos. Logo, é preciso salientar seu engajamento para afirmar-se
como um interlocutor ativo na resolução de conflitos e na manutenção da segurança
internacional.
Curiosidade: A maior e mais famosa missão de paz chefiada pelo Brasil é a MINUSTAH
(sigla em francês para Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti). Essa
missão, desde 2004, busca manter a segurança e a estabilidade no país, após a
deposição do então presidente, Jean-Bertrand Aristide.
Liderada pelo Brasil desde o início, a missão conta com tropas militares de outros 18
países, dentre eles: Argentina, Canadá, França, Portugal, Peru e Turquia.
Figura 21 – Soldado brasileiro em Porto Príncipe, no Haiti
Fonte: Agência Brasil In: Wikimedia Commons
Em pouco mais de 10 anos, o Brasil enviou cerca de 15 mil militares para o país. No
começo de 2013, a ONU e as forças armadas brasileiras deram início à redução gradual
do efetivo militar.
A expectativa era de que as tropas se retirassem totalmente do Haiti em 2016, contudo,
em virtude da passagem de um furacão no Caribe, a missão foi renovada até outubro de
2017.
A nova ordem mundial e a Globalização pressupõem a multipolaridade, a integração
e a cooperação entre os povos e, nesse sentido, espera-se que as organizações
internacionais, sobretudo a ONU, consigam eliminar as inúmeras e persistentes diferenças
socioeconômicas, bem como encontrar soluções para conflitos e demais questões que
beneficiem toda a população mundial, sem distinção de poder político ou econômico.
Apesar de muitas potências ainda colocarem seus interesses acima das
necessidades da comunidade internacional e das decisões recomendadas pela ONU, a
entidade ainda mostra-se fundamental para o estabelecimento de relações internacionais
justas, pacíficas e democráticas em virtude da manutenção de uma paz duradoura.
ATIVIDADES
1. Explique a origem dos principais conflitos armados e guerras civis do continente africano.
2. Sobre os conflitos armados no mundo, avalie se as afirmativas a seguir são falsas “F” ou
verdadeiras “V”:
[__] Após a Guerra Fria, os conflitos armados no mundo diminuíram, devido ao aumento do
número de polos de poder.
[__] Os conflitos e as guerras civis que ocorrem no mundo contemporâneo estão quase
todos concentrados nos países periféricos.
[__] Geralmente, as tensões entre os grupos envolvem diferenças étnicas, religiosas e
culturais.
[__] A África e a América Latina estão entre as regiões com maior número de conflitos
armados no mundo.
[__] Desde o fim da década de 1940, israelenses e palestinos disputam o território da
Palestina, Oriente Médio.
[__] Os povos que se identificam como uma nação, porém não possuem um Estado que os
represente são chamados de fundamentalistas.
[__] Os atos terroristas buscam desestabilizar a ordem vigente e chamar a atenção da
sociedade e também da mídia.
[__] Os conflitos no Oriente Médio despertam a atenção das grandes potências porque a
região concentra mais da metade das reservas de petróleo do mundo.
3. (FATEC – 2011) “Palavras de ordem, símbolos, propaganda, atos públicos, vandalismo
e violência são, atualmente, manifestações de hostilidade frequentes contra estrangeiros
na Europa. Os países onde mais intensamente têm ocorrido conflitos são Alemanha,
França, Inglaterra, Bélgica e Suíça.”
(MOREIRA, Igor e AURICCHIO, Elizabeth. Construindo o espaço mundial. 3.ª ed.
São Paulo: Ática, 2007, p. 37. Adaptado.)
Sobre o fenômeno social enfocado pelo texto, é válido afirmar que se trata de conflitos
a) civis e militares, relacionados às formas históricas de exploração dos países do chamado
Terceiro Mundo.
b) ligados ao nacionalismo, ao racismo e à xenofobia, no contexto globalizado das grandes
migrações internacionais.
c) entre imigrantes das diversas nacionalidades que invadem a Europa, atualmente, na
disputa por empregos e por melhores condições de vida.
d) culturais, principalmente causados pelo conflito armado entre países católicos e
protestantes, mas também, sobretudo, conflitos contra países islâmicos.
e) étnicos e sociais decorrentes das dificuldades de desenvolvimento de países europeus
em continuar a sua industrialização nos setores tecnológicos de ponta.
4. (UFT – 2011) O número de refugiados em todo o mundo aos cuidados do Alto
Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR/ONU) está em cerca de 10,4
milhões de pessoas, como apontam os últimos dados divulgados pelo ACNUR, em 2010.
Abaixo estão listados os 10 (dez) principais países de refúgio e de origem dos refugiados,
segundo o ACNUR:
Pelos dados apresentados no quadro acima, é correto afirmar que
a) o continente americano teve o maior número de países de refúgio entre os 10 (dez)
principais apontados pelos dados do ACNUR em 2010, dada a estabilidade econômica e a
existência de uma democracia consolidada.
b) o continente europeu, dada a estabilidade financeira e política, é a porção do globo que
mais recebe refugiados, o que explica que países europeus estejam entre a maioria
apontada entre os 10 (dez) principais países de refúgio do ACNUR.
c) a ausência de países da Oceania na lista dos 10 (dez) principais países de refúgio e de
origem de refugiados implica em afirmar que este continente é uma área do globo ausente
de conflitos e envolvimentos políticos com a população de refugiados.
d) os continentes asiático e africano são áreas do globo onde os conflitos étnicos, culturais,
econômicos e políticos ocorrem com grande intensidade, o que faz com que concentrem o
maior número de países de origem de refugiados.
e) os conflitos étnicos, políticos, religiosos e econômicos reorganizam a todo instante as
fronteiras políticas entre os Estados-Nações tendo a distribuição da população de
refugiados em todo o mundo, influenciado diretamente nesse processo.
LEITURA COMPLEMENTAR
Principais grupos terroristas da atualidade
Não há, ao menos por enquanto, uma definição oficial no plano internacional sobre
o que é propriamente o terrorismo, mas se pode considerar como terrorista todo e qualquer
ato ou organização que utilize métodos violentos ou ameaçadores para alcançar um
determinado objetivo político. Assim, sequestros, atentados a lugares públicos e privados,
ataques aéreos, assassinatos ou outras formas de agressão podem ser relacionados com
o terrorismo.
Como veremos, as definições de terrorismo são tão imprecisas que alguns grupos
são considerados terroristas por alguns países e não por outros. A emergência desses
grupos vem sendo uma tônica nos últimos tempos, sobretudo com a emergência do atual
contexto da Nova Ordem Mundial. Todavia, a atuação dessas organizações é antiga, a
exemplo do atentado de Sarajevo, em 1914, organizado pela organização Mão Negra e que
culminou na morte do herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando.
A seguir, destacaremos as organizações que são mais frequentemente
mencionadas como os maiores grupos terroristas da atualidade, ou seja, apenas aqueles
grupos que ainda se encontram em atividade. Não se trata de um ranking, haja vista que é
difícil dizer qual grupo é mais importante ou mais perigoso.
Al-Qaeda: Com nome que significa “a base” em árabe, essa é a organização terrorista mais
conhecida do mundo, sobretudo em razão dos atentados às torres do World Trade Center,
em 11 de setembro de 2001. Ela é majoritariamente composta por muçulmanos
fundamentalistas e tem por objetivo erradicar a influência ocidental sobre o mundo árabe.
Foi criada em 1980 para defender o território do Afeganistão contra a URSS, que buscava
expandir o domínio socialista sobre o país. Inicialmente essa organização contava com o
apoio dos EUA, mas rompeu relações com esse país no início da década de 1990.
Boko Haram: o significado do seu nome é “a educação não islâmica é pecado”, sendo às
vezes traduzido também como “a educação ocidental é pecado”. O Boko Haram é também
uma organização antiocidental que objetiva implantar asharia (lei islâmica) no território da
Nigéria. Ela foi fundada em 2002, mas ganhou notoriedade maior em 2014 com o sequestro
de centenas de jovens, além de uma série de atentados que resultou em uma grande
quantidade de mortes. Os atentados mais radicais iniciaram-se em 2009, quando o então
líder e fundador, Mohammed Yusuf, foi assassinado pela polícia nigeriana.
Hamas: apesar de não ser considerado como um típico grupo terrorista por alguns
analistas, o Hamas — sigla em árabe para “Movimento de Resistência Islâmica” — é temido
pela maioria das organizações internacionais e Estados, sendo por isso classificado como
tal. Ele atua nos territórios da Palestina, tendo como objetivo a destruição do Estado de
Israel e a consolidação do Estado da Palestina. O seu braço armado é uma frente chamada
de Al-Qassam, além de configurar-se também como um partido político que, inclusive,
venceu as eleições em 2006 e que hoje controla a Faixa de Gaza. Países apoiadores do
Hamas, como Turquia e o Qatar, não consideram o grupo como uma entidade terrorista,
mas sim uma frente política legítima.
Estado Islâmico (EIIS): o Estado Islâmico no Iraque e na Síria (EIIS) é um grupo terrorista
jihadista que age nos dois referidos países, tendo surgido em 2013 como uma dissidência
da Al-Qaeda, inspirando-se nesse grupo. O seu líder é Abu Bakr al-Baghdadi, que liderou
a Al-Qaeda no Iraque em 2010 e que havia participado da resistência à invasão dos Estados
Unidos ao território iraquiano em 2003. O objetivo do EIIS é a criação de um emirado
islâmico abrangendo os territórios da Síria e do Iraque.
Talibã: o grupo Talibã é um grupo político que atua no Paquistão e no Afeganistão, também
preocupado com a aplicação das leis da sharia. O grupo comandou o Afeganistão desde
1996 até 2001, quando os EUA invadiram o país após os atentados de 11 de setembro.
Com a retirada das tropas estrangeiras, o grupo vem fortalecendo-se e retomando o
controle de boa parte do território afegão.
ETA: seu nome é uma abreviação em basco para “Pátria Basca e Liberdade”. Trata-se de
um grupo terrorista separatista que visa à criação de um Estado com a independência do
País Basco em relação à Espanha. Criado em 1959, o grupo organizou vários atentados ao
longo de sua história, mas vem gradativamente reduzindo o seu arsenal militar, tendo um
provável fim nos próximos anos em razão da sua não aprovação por parte da população
basca, que deseja a independência local sem o uso de armas.
IRA: o Exercíto Republicano Irlandês também é um grupo militar separatista que objetiva a
separação da Irlanda do Norte do Reino Unido e sua anexação à República da Irlanda.
Surgido no início do século XX e responsável por milhares de mortes por meio de atentados,
o grupo depôs armas em 2005 depois de uma negociação firmada na década de 1990.
Atualmente, o grupo utiliza meios políticos para o seu objetivo, mas ainda é considerado
como uma ameaça à paz e à segurança internacionais.
FARC: as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia é o único entre os grandes grupos
terroristas da atualidade a declarar-se de esquerda, tendo surgido em 1964 como um braço
informal do Partido Comunista da Colômbia. Assim como o Hamas, não são consideradas
como grupo terrorista por muitos países. As FARC lutam pelo controle da Colômbia,
alegando combater a hegemonia ideológica dos Estados Unidos sobre o país, atuando
principalmente em guerrilhas, sequestros e controlando o tráfico de drogas. Recentemente,
a organização vem firmando com o governo colombiano alguns acordos de paz sob a
mediação diplomática da Venezuela.
Além desses grupos, existem dezenas (ou até centenas) de outros grupos terroristas
de menor porte espalhados pelo mundo. Alguns outros grupos não mencionados aqui, tais
como o Emirado do Cáucaso e os Tigres de Liberação do Tâmil Eelam, não constam na
lista por terem sido recentemente derrotados ou terem perdido seus líderes ou interrompido
suas atuações.
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itan.jpg>. Acesso em: 19 out. 2016. 11h30min.
GABARITO
1. A maior parte dos conflitos do continente africano tem origem no processo de colonização
(durante a ocupação imperialista europeia) e, mais tarde, na descolonização.
Durante o século 19, no Imperialismo, as potências europeias dividiram o continente de
acordo com seus interesses econômicos e traçaram fronteiras artificiais, forjando o
surgimento de suas colônias e desconsiderando o modo de vida e as peculiaridades
históricas, sociais e culturais da região. Por muitas vezes, as rivalidades entre os diferentes
grupos étnicos eram estimuladas.
Já no processo de descolonização, durante a Guerra Fria, com o objetivo de ampliar suas
áreas de influência, Estados Unidos e União Soviética, continuaram estimulando os
conflitos. Para tanto, nas guerras travadas no continente, as duas potências armavam os
grupos rivais. A consequência para esse complexo cenário foi a eclosão de sangrentas
guerras civis e étnicas.
2.
[F] O desfecho da ordem bipolar não representou o fim da violência e ainda acirrou alguns
conflitos existentes.
[V]
[V]
[F] A África e o Oriente Médio estão entre as regiões com maior número de conflitos
armados no mundo.
[V]
[F] Os povos que se identificam como uma nação, porém não possuem um Estado que os
represente são chamados de apátridas.
[V]
[V]
3. Alternativa B.
Comentário: O fenômeno social enfocado pelo texto aborda conflitos ligados ao
nacionalismo, ao racismo e à xenofobia, no contexto globalizado das grandes migrações
internacionais.
Desde o acirramento dos atentados terroristas, os países europeus vêm se colocando
contrários à migração de imigrantes de origem árabe, por acreditarem que esse fluxo
imigratório acaba por aumentar o número de terroristas no continente. Desde então, é
comum ver manifestações civis e de partidos políticos contra a presença islâmica. Essa
descriminação está na base do preconceito e da xenofobia (aversão ao estrangeiro), ao
entender – erroneamente – que todos os árabes de religião islâmica são terroristas.
4. Alternativa D.
Comentário: De acordo com a tabela, Ásia (sobretudo o Oriente Médio) e África são os
continentes onde os conflitos étnicos, culturais, econômicos e políticos ocorrem com grande
intensidade, o que faz com que concentrem o maior número de países de origem dos
refugiados. Dos 10 países citados (como países de origem), oito deles estão localizados na
Ásia e na África.
As razões para os conflitos são variadas, dentre elas, é possível citar: disputas por poder e
acirramento de rivalidades políticas; disputas territoriais e reivindicações por fronteiras e
territórios ocupados; disputas por reconhecimento de territórios e emancipação política de
um país; instabilidade econômica, pobreza e desigualdades sociais; diferenças étnicas,
religiosas e culturais; disputas por fontes de recursos naturais.