COMO SE RESOLVE DRAMA FALTA DE … aumentar salários, ampliar a oferta de formação. deslocalizar...

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Suporte: Jornal País: Portugal Period.: Mensal Âmbito: Regional Pág: 4 Cores: Cor Área: 25,00 x 33,00 cm² Corte: 1 de 3 ID: 71385814 01-09-2017 "Daqui a dez anos não vamos ter gente para trabalhar. Não sei como vai ser" CONCEIÇÃO DIAS CE0 DO GRUPO SONIX/ DIASTEXTIL "Temos ampliado a nossa oferta formativa, levando-a às instalações das empresas" SÓNIA PINTO DIRETORA GERAL DO MODATEX PERGUNTA DO MÊS Textos de Carolina Guimarães e Jorge Fiel ilustração: Cristina Sampaio COMO SE RESOLVE O DRAMA DA FALTA DE COSTUREIRAS. Chegou a hora de dar respostas. A mais engenhosa, deixada em cima da mesa por Paulo Melo, consiste em deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valorizar as peças produzidas pelo valor acrescentado do detalhe e trabalho especializado que incorporam. Mas não há uma única solução milagrosa, capaz de por si só resolver o drama aflitivo da escassez de costureiras. O cocktail de propostas aqui apresentado contempla dignificar a profissão de costureira, aumentar salários, ampliar a oferta de formação. deslocalizar produção e - por que não? - importar mão-de-obra... "Na têxtil, a mão-de- obra é fundamental. Não sobrevivemos sem costureiras. Não somos um setor robotizável" PAULO MELO PRESIDENTE DA ATP aqui a dez anos não vamos ter gente para traba- lhar. Não sei como vai ser", desabafa Conceição Dias. Preocupada com a falta aflitiva de mão-de-obra especializada, a CEO do grupo Sonix/DiasTêx- til, organizou um curso interno de formação de costureiras. Co- meçaram 23 raparigas, acaba- ram três. Pelo sim pelo não, até porque mulher prevenida vale por duas, têm andado a comprar pequenas confeções de que era cliente, para que passem a tra- balhar a 100%. Os SOS vêm de quase todo o lado. "Se quiser hoje uma cos- tureira a saber trabalhar não a consigo encontrar", garante Al- berto Sousa, da Shirtlife. "Basta ligar para qualquer empresa de confeções que logo confirmam que há vagas para costureiras", refere Paulo Vaz, diretor-geral da ATE "Nestes últimos dois anos, registou-se uma procura cres- cente de mão-de-obra na in- dústria têxtil, sobretudo de costureiras, e a resposta é insu- ficiente. É cada vez mais difícil encontrar pessoas para traba- lhar", concorda João Costa, vi- ce-presidente da ATP. "Começamos a ter um pro- blema que é o da falta de pes- soas para trabalhar", lamenta Rui Carneiro, presidente da As- sociação Empresarial de Paços de Ferreira, dando como exem- plo uma ação de formação com 20 costureiras, em que ficaram 30 vagas por preencher. A única voz dissonante neste coro, é de José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel (Marco de Cana- veses) : "Há três ou quatro anos sentia dificuldades em arranjar costureiras. Agora não. Resol- vi o problema com formações internas e aliando-me a outras entidades para aliciar as pessoas a virem trabalhar para a têxtil". O setor ainda tem um pro- blema de imagem, que prejudi- ca a sua capacidade de atração de mão-de-obra. "Deixamos denegrir a nossa imagem a tal ponto que ela deixou de ser ape- lativa para os jovens", lamenta Isabel Furtado. Artur Soutinho, CEO do gru- po MoreTextile, assina por bai- xo. A ITV é muito competitiva e tecnologicamente avançada, mas não é essa a perceção que têm do setor a maioria da popu- lação, em particular os jovens, o que explica a fraca procura do curso de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, apesar da pressão existente do lado da oferta, já que as empresas pre- cisam deles como de pão para a boca. Sónia Pinto, diretora-geral do Modatex, sabe que há um problema cultural subjacen- te a este fenómeno: "Um dos fatores que está na origem do desinteresse pelo trabalho em indústrias como a têxtil é a possibilidade de arranjarem emprego em áreas, com outro estatuto. Muita gente prefere o comércio, mesmo com horários dificeis.". José Armindo apresenta uma visão mais otimista do assunto: "Há 10 ou 15 anos, trabalhar na têxtil era a última solução, o úl- timo escape. Hoje sinto que os meus colaboradores já têm orgu- lho em trabalhar numa fábrica". A diretora-geral do Modatex reconhece que o crescimento das exportações, o aumento das encomendas e as exigências crescentes de qualidade acen- tuaram a dimensão do problema da falta de mão-de-obra particu- larmente notória em relação às costureiras. "Temos ampliado a oferta formativa, levando-a às insta- lações das empresas, através do programa Formar para Empre- gar, ou criando extensões de formação em locais onde a ITV tem maior implantação", expli- ca. Sónia que dá pistas para a des- dramatização do fenómeno do elevado número de desistências dos cursos de costureiras. "Há formandas que deixam os cursos antes de os concluí- rem porque no entretanto re- ceberam propostas de trabalho financeiramente mais vantajo- sas", diz Sónia Pinto chamando ainda a atenção para o facto de a maior parte destas ofertas virem de empresas têxteis: "Ou seja, nem sempre o facto de desisti- rem é sinónimo de que não são aproveitadas pela ITV". Soluções? Não há uma só, mi- lagrosa, que resolva tudo. Mas há várias, como, por exemplo, tomar mais glamoroso trabalhar na têxtil. Um exemplo? Os jeans Aly John, da Lamosa, levam na etiqueta a assinatura da costurei- ra que os produziu mais a data em que os concluiu... Virgínia Abreu, CEO da Crispim Abreu, põe a tónica na necessidade de melhorar o am- biente de trabalho nas empresas - organizando piqueniques, jogos de futebol, atividades ao ar livre -, criando momentos de descon- tração para libertar o stress do dia. "O trabalho tem de ser uma coisa boa, as pessoas têm de gos- tar do que fazem e sentirem-se bem no seu local de trabalho. Senão entram numa rotina ne- gativa e tudo piora, tanto a nível pessoal como profissional", afir- ma Virgínia. Uma maior dignificação da profissão de costureira é uma das soluções avançadas pela CEO da Crispim Abreu: "Ainda há um es- tigma muito negativo à volta das confeções. É necessário valorizar as pessoas. Devia ser possível atribuir um grau a pessoas, que embora não tenham um curso superior, são artesãos e sabem fazer muito bem uma coisa. E, gradualmente, os salários têm de melhorar. No futuro, uma boa costureira deveria ganhar tanto como um professor em início de carreira". João Costa está de acordo: "As remunerações vão ter de melhorar. De nada serve termos formações se não há pessoas in- teressadas em aprender ou traba- lhar no setor. Há obviamente os constrangimentos dos mercados e dos preços, mas, na medida dos possíveis, é necessário aumentar os salários".

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Suporte: Jornal

País: Portugal

Period.: Mensal

Âmbito: Regional

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Área: 25,00 x 33,00 cm²

Corte: 1 de 3ID: 71385814 01-09-2017

"Daqui a dez anos não vamos ter gente para trabalhar. Não sei como vai ser"

CONCEIÇÃO DIAS CE0 DO GRUPO SONIX/ DIASTEXTIL

"Temos ampliado a nossa oferta formativa, levando-a às instalações das empresas"

SÓNIA PINTO DIRETORA GERAL DO MODATEX

PERGUNTA DO MÊS Textos de Carolina Guimarães e Jorge Fiel

ilustração: Cristina Sampaio

COMO SE RESOLVE O DRAMA

DA FALTA DE COSTUREIRAS.

Chegou a hora de dar respostas. A mais engenhosa, deixada em cima da mesa por Paulo Melo, consiste em deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valorizar as peças produzidas pelo valor acrescentado do detalhe e trabalho especializado que

incorporam. Mas não há uma única solução milagrosa, capaz de por si só resolver o

drama aflitivo da escassez de costureiras. O cocktail de propostas aqui apresentado

contempla dignificar a profissão de costureira, aumentar salários, ampliar a

oferta de formação. deslocalizar produção e - por que não? - importar mão-de-obra...

"Na têxtil, a mão-de- obra é fundamental. Não

sobrevivemos sem costureiras. Não somos um setor

robotizável"

PAULO MELO PRESIDENTE DA ATP

aqui a dez anos não vamos ter gente para traba-lhar. Não sei como vai ser", desabafa Conceição Dias.

Preocupada com a falta aflitiva de mão-de-obra especializada, a CEO do grupo Sonix/DiasTêx-til, organizou um curso interno de formação de costureiras. Co-meçaram 23 raparigas, acaba-ram três. Pelo sim pelo não, até porque mulher prevenida vale por duas, têm andado a comprar pequenas confeções de que era cliente, para que passem a tra-balhar a 100%.

Os SOS vêm de quase todo o lado. "Se quiser hoje uma cos-tureira a saber trabalhar não a consigo encontrar", garante Al-berto Sousa, da Shirtlife. "Basta ligar para qualquer empresa de confeções que logo confirmam que há vagas para costureiras", refere Paulo Vaz, diretor-geral da ATE

"Nestes últimos dois anos, registou-se uma procura cres-cente de mão-de-obra na in-dústria têxtil, sobretudo de costureiras, e a resposta é insu-ficiente. É cada vez mais difícil encontrar pessoas para traba-lhar", concorda João Costa, vi-ce-presidente da ATP.

"Começamos a ter um pro-blema que é o da falta de pes-soas para trabalhar", lamenta Rui Carneiro, presidente da As-sociação Empresarial de Paços de Ferreira, dando como exem-plo uma ação de formação com 20 costureiras, em que ficaram 30 vagas por preencher.

A única voz dissonante neste coro, é de José Armindo Ferraz, CEO da Inarbel (Marco de Cana-veses) : "Há três ou quatro anos sentia dificuldades em arranjar costureiras. Agora não. Resol-vi o problema com formações internas e aliando-me a outras entidades para aliciar as pessoas a virem trabalhar para a têxtil".

O setor ainda tem um pro-blema de imagem, que prejudi-ca a sua capacidade de atração de mão-de-obra. "Deixamos

denegrir a nossa imagem a tal ponto que ela deixou de ser ape-lativa para os jovens", lamenta Isabel Furtado.

Artur Soutinho, CEO do gru-po MoreTextile, assina por bai-xo. A ITV é muito competitiva e tecnologicamente avançada, mas não é essa a perceção que têm do setor a maioria da popu-lação, em particular os jovens, o que explica a fraca procura do curso de Engenharia Têxtil da Universidade do Minho, apesar da pressão existente do lado da oferta, já que as empresas pre-cisam deles como de pão para a boca.

Sónia Pinto, diretora-geral do Modatex, sabe que há um problema cultural subjacen-te a este fenómeno: "Um dos fatores que está na origem do desinteresse pelo trabalho em indústrias como a têxtil é a possibilidade de arranjarem emprego em áreas, com outro estatuto. Muita gente prefere o comércio, mesmo com horários dificeis.".

José Armindo apresenta uma visão mais otimista do assunto: "Há 10 ou 15 anos, trabalhar na têxtil era a última solução, o úl-timo escape. Hoje sinto que os meus colaboradores já têm orgu-lho em trabalhar numa fábrica".

A diretora-geral do Modatex reconhece que o crescimento das exportações, o aumento das encomendas e as exigências crescentes de qualidade acen-tuaram a dimensão do problema da falta de mão-de-obra particu-larmente notória em relação às costureiras.

"Temos ampliado a oferta formativa, levando-a às insta-lações das empresas, através do programa Formar para Empre-gar, ou criando extensões de formação em locais onde a ITV tem maior implantação", expli-ca. Sónia que dá pistas para a des-dramatização do fenómeno do elevado número de desistências dos cursos de costureiras.

"Há formandas que deixam os cursos antes de os concluí-rem porque no entretanto re-

ceberam propostas de trabalho financeiramente mais vantajo-sas", diz Sónia Pinto chamando ainda a atenção para o facto de a maior parte destas ofertas virem de empresas têxteis: "Ou seja, nem sempre o facto de desisti-rem é sinónimo de que não são aproveitadas pela ITV".

Soluções? Não há uma só, mi-lagrosa, que resolva tudo. Mas há várias, como, por exemplo, tomar mais glamoroso trabalhar na têxtil. Um exemplo? Os jeans Aly John, da Lamosa, levam na etiqueta a assinatura da costurei-ra que os produziu mais a data em que os concluiu...

Virgínia Abreu, CEO da Crispim Abreu, põe a tónica na necessidade de melhorar o am-biente de trabalho nas empresas - organizando piqueniques, jogos de futebol, atividades ao ar livre -, criando momentos de descon-tração para libertar o stress do dia.

"O trabalho tem de ser uma coisa boa, as pessoas têm de gos-tar do que fazem e sentirem-se bem no seu local de trabalho. Senão entram numa rotina ne-gativa e tudo piora, tanto a nível pessoal como profissional", afir-ma Virgínia.

Uma maior dignificação da profissão de costureira é uma das soluções avançadas pela CEO da Crispim Abreu: "Ainda há um es-tigma muito negativo à volta das confeções. É necessário valorizar as pessoas. Devia ser possível atribuir um grau a pessoas, que embora não tenham um curso superior, são artesãos e sabem fazer muito bem uma coisa. E, gradualmente, os salários têm de melhorar. No futuro, uma boa costureira deveria ganhar tanto como um professor em início de carreira".

João Costa está de acordo: "As remunerações vão ter de melhorar. De nada serve termos formações se não há pessoas in-teressadas em aprender ou traba-lhar no setor. Há obviamente os constrangimentos dos mercados e dos preços, mas, na medida dos possíveis, é necessário aumentar os salários".

Rosario
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"No futuro, uma boa costureira deueria ganhar tanto como um professor em início de carreira"

VIRGÍNIA ABREU CEO DA CRISPIM ABREU

`As remunerações uão ter de melhorar. Na medida dos possíueis, é necessário aumentar salários"

JOAO COSTA VICE- PRESIDENTE DA ATP

"A solução passa também por fazer com que o setor seja mais atrativo, nomeadamente ao ní-vel salarial. Trata-se de remune-rar justamente os trabalhadores e compensá-los consoante a formação e as responsabilida-des que têm", reconhece Paulo Melo.

O presidente da ATP deixa em cima da mesa uma sugestão engenhosa: "Em alguns casos, vamos ter de deixar de olhar só para o custo/hora e passar a valo-rizar as peças fabricadas, porque hoje em dia, em Portugal, produ-zimos com valor acrescentado, onde há muito detalhe e traba-lho especializado envolvido, e é isso que é valorizado".

O recurso à deslocalização é uma das hipóteses elencadas por Paulo Melo: "Não podemos deixar de olhar para o passado e ver o que fizeram países, como a Itália, que foi deslocar a produ-ção. O ideal seria albergar tudo, mas nem sempre isso é possível e o setor ressente-se, principal-mente com o crescimento dos últimos anos".

"A mentalidade das costurei-ras também tem de mudar. Elas têm de perceber as mudanças. Mas os empresários têm de as acarinhar, porque este setor não sobrevive sem elas. Na têxtil, a mão-de-obra é fundamental. Não somos um setor robotizá-vel", conclui Paulo Melo.

O cocktail de soluções apre-sentado para desatar este nó contempla dignificar a profis-são de costureira, aumentar os salários, ampliar a oferta de formação, deslocalizar parte da produção, reconverter jovens com formações sem procura no mercado (os alemães estão a fazer cursos de seis meses com bastante sucesso) e, por que não, importar mão-de-obra especiali-zada?

"O país está a envelhecer. A população está a diminuir. Com este inverno demográfico inter-no, se o país quer continuar a crescer tem de ir buscar gente a qualquer lado...", resume Artur Soutinho, da MoreTextile. T

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