Comédie Française

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Comédie Française no século XVII A Companhia e os seus edifífios teatrais Carolina Mano Direcção de Cena 1º ano 4100155 ESMAE, IPP 2010/2011 História dos Espaços Cénicos Prof. António Moura Pinheiro 2º semestre

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Trabalho realizado no âmbito da disciplina de História dos Espaços Cénicos sobre o Teatro da Comédie Française (Paris)

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  • Comdie Franaise no sculo XVII A Companhia e os seus ediffios teatrais Carolina Mano Direco de Cena

    1 ano

    4100155

    ESMAE, IPP 2010/2011

    Histria dos Espaos Cnicos Prof. Antnio Moura Pinheiro 2 semestre

  • Histria dos Espaos Cnicos, ESMAE 2011 Comdie Franaise no sc.XVII

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    ndice:

    Introduo 3 Contexto histrico-poltico da Frana do sculo XVI e XVII 4 Teatro Francs sculo XVI e XVII 6 Produo Teatral em Frana 8 Design de cena e de edifcios teatrais 8 Companhias/Trupes 10 Pblico 11 Comdie Franaise a Companhia e os edifcios teatrais 12 A Comdie Franaise actualmente 14 Concluso 15 Bibliografia 15 Anexos 17

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    Introduo Este trabalho foi realizado no mbito da disciplina de Histria dos Espaos Cnicos. A escolha deste edifcio teatral residiu simplesmente na curiosidade de conhecer a, at ento totalmente desconhecida, grande companhia rival da pera de Paris, e a sua formao. A formao da Comdie Franaise contextualiza-se num perodo histrico, poltico e artstico que preciso ter em conta antes de analisar mais a fundo esta Companhia e os seus vrios edifcios, sendo essa estrutura que tentei seguir para o meu trabalho.

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    Contexto histrico-poltico da Frana do sculo XVI e XVII No sc. XVI, a Frana apresentava um cenrio poltico significativamente diferente de Inglaterra e Espanha. Em Espanha, a situao poltica comeou a estabilizar-se no final do sculo XV, sob o reinado de Ferdinand e Isabella, pelo que no sc. XVI o pais prosperava. Com a sucesso de Elizabeth I ao trono ingls em 1558, tambm o Reino Unido alcanava unidade e estabilidade. Em Frana, contudo, viviam-se tempos de instabilidade, em grande parte devido guerra civil que decorria entre Protestantes, os Huguenots, e Catlicos. A guerra chegou ao fim em 1594, quando Henry IV um protestante que subiu ao trono em 1589 se converteu ao catolicismo. Embora tendo renunciado ao protestantismo, ps fim ao conflito religioso ao proclamar o Decreto de Nantes, que oferecia aos no-catlicos, sobretudo aos Huguenots, igualdade e tolerncia sob a Lei francesa. Assim, no sculo XVII, a sociedade francesa pode encontrar a estabilidade e progredir. Tal aconteceu sobretudo no reinado de Louis XIV, que reinou entre 1643 e 1715. Seguindo o exemplo europeu, tambm a Frana lucrou com os descobrimentos do novo mundo, ao explorar e colonizar, por exemplo, o Canad e o territrio do Louisiana. Uma influncia fulcral e determinante na poltica e cultura francesa foi a Itlia. Tal aconteceu por uma complexidade de motivos, tendo-se comeado a desenvolver no sculo XVI quando membros da famlia Medici, os conhecidos mercadores-prncipes e patronos das artes que governaram a prspera Florena durante a Renascena italiana, estabeleceram alianas com a famlia real francesa. Henry II, rei de Frana entre 1547 e 1559, desposou Catherine de Medici, pelo que aps a morte do soberano, os trs monarcas que lhe sucederam eram todos filhos de Catherine, sendo que mesmo ela continuou a exercer uma forte influncia na corte francesa. Em 1610, quando Louis XIII herdou o trono aos 9 anos, a sua me, Marie de Medici, controlava o governo francs. Outra grande fora poltica do reinado de Louis XIII foi o Cardeal Richelieu, que muito contribuiu para promover a cultura italiana em Frana. Em 1643, um ano aps a morte do Cardeal, Loius XIII morre, sucedendo-lhe o seu filho Loius XIV com apenas 5 anos. O cardeal de origem italiana, Cardeal Mazarin, tinha ocupado o lugar do Cardinal Richelieu

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    e assumia o poder real. Como consequncia, a cultura francesa foi fortemente influenciada pela cultura italiana, o que foi especialmente evidente ao nvel do Teatro, tanto peas que eram escritas como na arquitectura dos edifcios teatrais, nos cenrios e na produo teatral. Em oposio aos teatros espanhis e ingleses, que eram caracterizados pela dramatizao por episdios, em palcos-plataforma, o teatro francs aderiu aos modelos neoclssicos e ao design italiano.

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    Teatro Francs sculo XVI e XVII O perodo ureo do teatro francs comeou j em meados do sculo XVII, mas vrios tipos de actividade teatral se desenvolviam antes disso. O grupo religioso Confrrie de la Passion (1402) foi criado em Paris para apresentar peas religiosas. Durante um sculo apresentou dramatizaes esporadicamente, usando vrios espaos em Paris, sendo que apenas em 1548 decidiu construir o seu prprio teatro, o Htel de Bourgogne, e que pode ter sido o primeiro edifcio teatral permanente a ser construdo na Europa desde os romanos. Antes do edifcio ficar completo, as peas religiosas foram banidas de Paris, pelo que a Confrrie no pde utilizar o espao para as suas prprias produes. No entanto, como detinha o monoplio da produo teatral parisiense, os outros grupos que usassem o espao tinham que lhe pagar uma fiana. No sculo XVI, as trupes profissionais comearam a surgir noutras partes de Frana, e companhias italianas de commedia dellarte representavam em Paris e noutras cidades francesas. Estas companhias influenciaram tambm o teatro francs. O tipo de espectculo apresentado pelas trupes italianas e francesas era a farsa popular, o que muitas vezes inclua canes, danas e outro material dramtico. Pela mesma altura, formou-se em Paris um grupo literrio, a Pliade, com o objectivo de desenvolver a escrita e a cultura dramticas, e de onde saram vrias peas francesas, baseadas nos modelos neoclssicos, que se dirigiam quase exclusivamente a uma audincia composta pela classe alta, escolarizada. O humanismo, que se alastra e desenvolve por toda a Europa, contribuiu para a criao de tendncias literrias que aprofundaram o fosso entre os eruditos e o povo. Nomeadamente ao nvel da corte, onde se frequentam cada vez menos os espectculos populares, acentuando a diferena material entre a vida do povo e a dos nobres, que se juntam aos mais instrudos por necessidade e interesse, e vice-versa. Assim, na segunda metade do sc. XVI, o entretenimento da corte era uma actividade teatral com destaque. Catherine de Medici apreciava eventos reais como festivais, espectculos de corte e entradas triunfais nas cidades, o que permitiu o

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    desenvolvimento de vrios tipos de entretenimento na corte, equivalentes aos intermezzi em Itlia e aos masques em Inglaterra. Relativamente aos teatros pblicos, o homem considerado o primeiro dramaturgo profissional de Frana surgiu no final do sculo XVI, era Alexandre Hardy. De 1597 a 1632, Hardy escreveu centenas de peas de estilo melodramtico, das quais se conhecem 34. Usou mecanismos neoclssicos como mensageiros e estruturas de 5 actos, embora no prestasse ateno s exigncias neoclssicas de unidade de aco, tempo e espao. Foi um grande sucesso junto do pblico e abriu o caminho para a grande era do teatro francs que se avizinhava. Os ideais neoclssicos italianos comearam a triunfar no teatro francs a partir do sculo XVII, reflectindo-se tanto ao nvel da dramaturgia como da concepo plstica do espectculo. Contudo, no incio do sculo ainda eram muito notrias as influncias do teatro medieval nativo, nomeadamente no que diz respeito aos edifcios teatrais que no tinham arco do proscnio, nem estavam preparados para as estruturas cnicas neoclssicas. O Cardeal Richelieu, que por volta de 1620 governava o pas em nome do rei Louis XIII, incentivando e conduzindo ao absolutismo poltico, estava particularmente interessado em estabelecer normas na literatura e nas artes francesas, dando-lhes um carimbo italiano. Quando soube que alguns intelectuais franceses, da Pliade, tinham organizado um grupo literrio, sugeriu-lhes que formassem uma Academia, tendo em conta as linhas das academias italianas. Assim, em 1637 tiveram licena real e formaram a Academia Francesa, que ainda hoje existe. Foi quando a pea Le Cid, de Pierre Corneille, atacou alguns dos princpios neoclssicos fundamentais, levando a uma conturbada reaco da academia, incentivada pelo Cardeal, que as normas neoclssicas da renascena italiana passaram a prevalecer incontestavelmente na dramaturgia francesa. Jean Racine, o dramaturgo trgico que sucedeu a Corneille, destacou-se na criao de obras que incorporavam esses princpios, como Phaedra. O seu contemporneo e rival Molire, autor de Tartuffe, foi de todos os dramaturgos franceses neoclssicos aquele que mais se destacou e que mais influncia exerceu no teatro moderno. Importa realar a genialidade de Molire e Racine, na medida em que conseguiram transcender as

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    grandes limitaes impostas pelo modelo neoclssico, criando peas cujo interesse ia muito alm do simples espelhar das modas e preocupaes da sua poca. Produo Teatral em Frana

    Design de cena e de edifcios teatrais Como j foi referido, cr-se que o Htel de Bourgogne tenha sido o primeiro edifcio teatral permanente construdo na Europa desde os romanos e durante cerca de um sculo foi o nico Teatro permanente fechado que existia em Paris. No tinha arco de proscnio e at ao sculo XVII as prticas eram praticamente medievais. Quando o Thatre du Marais abriu em 1634, o Bourgogne teve a sua primeira concorrncia. O edifcio do Thatre du Marais era um antigo campo de tnis convertido em teatro de forma permanente. A adaptao dos campos de tnis a Teatros j era feita de forma temporria e estes eram utilizados por algumas companhias parisienses. As influncias italianas na arquitectura dos Teatros franceses tornaram-se evidentes em 1641, quando o Cardeal Richelieu mandou construir o Palais Cardinal passou a chamar-se Palais Royal aps a morte de Richelieu. Foi o primeiro Teatro a ter arco de proscnio em Frana, bem como a ter maquinaria, destinada s mudanas de cena, tipicamente italiana. Pela dcada de 1640, o cengrafo italiano Giacomo Torelli foi trazido para Frana para fazer cenografia e instalar equipamento de mudana de cena. Uma das suas primeiras aces foi a transformao de um palcio real, o Petit Bourbon, num Teatro italiana. Com a chegada de Torelli, o design italiano e as tcnicas de mudana de cena foram estabelecidos definitivamente em Frana. Do mesmo modo e a partir da mesma dcada os modelos italianos de escrita dramtica e produo teatral foram completamente aceites. Para se manterem actualizados, tambm na dcada de 1640, tanto o Thatre du Marais,

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    como o Htel de Bourgogne foram remodelados e transformados em Teatros italiana, tendo arco do proscnio, pinturas em perspectiva, cenrio com panejamento de fundo, pernas e bambolinas sistema pole-and-chariot. Os Teatros italiana franceses eram ligeiramente diferentes dos da renascena italiana: na parede de fundo oposta ao palco havia um amphithatre, uma galeria no repartida que continha bancos simples. Tanto no Marais como no Bourgogne, haveria provavelmente um palco mais pequeno em cima do palco principal, que estava a 13 ps (cerca de 4 metros) de distncia em altura do palco principal, e que era usado para efeitos especiais, como voar. Para alm disso, no final do sc. XVII, os membros do pblico de classe alta estavam frequentemente sentados no palco. Nos anos de 1650, o interesse de Louis XIV no ballet clssico trouxe este tipo de espectculos para a corte francesa. As produes de ballet eram cenicamente bastante complexas. Para satisfazer o gosto real por efeitos elaborados, e para preparar o casamento de Louis XIV (1660), o Cardeal Mazarin chamou outro designer cnico e maquinista, Gaspare Vigarini, que decidiu pr fim ao Petit Bourbon, construindo um novo Teatro numa ala adicionada ao Palais de Tuileries, ao qual se deu o nome de Salle des Machines. Um grandioso edifcio teatral do perodo neoclssico francs foi o Comdie Franaise. Este espao serviu de sede para o Teatro Nacional francs, fundado por Louis XIV em 1680, mudando-se para um edifcio prprio em 1689. Este Teatro era outro campo de tnis convertido, mas as suas linhas de viso eram significativamente melhores que as dos espaos semelhantes da altura, porque o seu interior apresentava uma construo em forma de ferradura de cavalo, o que tirava os espectadores dos cantos ao fundo da sala, colocando-os numa rea redonda atrs e nos lados da sala, obtendo uma melhor vista para o palco. A produo teatral neoclssica dividia-se essencialmente em tragdias e comdias. O tpico pano de fundo para as tragdias era o palais volont, um cenrio neutro que servisse a aco sem particularizar pormenores. Deste modo, servia como background para todas as cenas da mesma cidade sem qualquer alterao, pelo que seria normalmente to annimo que poderia representar uma rua, uma praa, um vestbulo,

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    ou um palcio. Para as comdias, o chambre quatre portes era o cenrio tpico. Pouco divergia do palais volont a no ser pelo facto de figurar a arquitectura domstica, geralmente no interior, enquanto que o palais volont era mais formal. Contudo, a unidade espacial, defendida pelas teorias neo-clssicas, nunca foi totalmente adoptada, pois em algumas peas os cenrios mudavam com a mudana de actos, ao passo que noutras uma cortina ou bambolina seria aberta para revelar outro lugar atrs daquele que foi previamente mostrado.

    Companhias/Trupes As companhias francesas do sculo XVII estavam organizadas tendo em conta um plano de partilha, segundo o qual todos os membros regulares participavam na gesto da companhia, dividindo entre si os lucros obtidos. O nmero de membros variava consoante a prosperidade da companhia. Antes de 1650 eram geralmente entre 8 a 12 membros; aquando o regresso de Molire a Paris, em 1658, a sua trupe inclua 10 membros, passando para 12 em 1659. Quando a Comdie Franaise se formou, em 1680, 21 aces foram divididas entre 27 membros (17 aces completas, 7 aces de 50%, e 3 de 25%). Tambm a aco recebida por um actor variava segundo a importncia que tinha para a companhia. Deste modo, os membros pertencentes companhia dividiam-se entre socitaires (o equivalente aos accionistas da actualidade), pensionnaires (actores que trabalhavam para a companhia, recebendo um salrio fixo) e o doyen (o actor com mais anos de serviona companhia desempenhava o papel de chefe). Com algumas alteraes, este modelo continua a ser seguido na Comdie Franaise ainda hoje. Relativamente s companhias existentes em Paris no sculo XVII, destaca-se a que estava organizada de forma permanente - desde 1629 - no Htel Bourgogne; a sua concorrente sediada no Thatre du Marais, a qual s comeou a actuar definitivamente no edifcio permanente a partir de 1635; uma trupe de commedia dellarte, sob a direco de Tiberio Fiorillo, encontrou residncia permanente na cidade; a trupe de Molire, sediada no Palais Royal, com imensa popularidade entre 1658 e 1673.

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    No virar do sculo XVII para o sculo XVIII, duas trupes parisienses detinham privilgios monopolsticos: a Comdie Franaise e a pera, dividindo entre si a produo dramtica. O vigor dos primeiros anos foi substitudo por um esprito de conservadorismo. Em vez de procurarem novos campos de explorao artstica, os socitaires olhavam para o passado em busca de standarts que guiassem a sua aco. Contudo, durante a sua longa histria, a Comdie Franaise preservou o melhor do reportrio dramtico clssico francs Corneille, Racine e Molire distinguindo-se por uma vasta tradio nas representaes clssicas.

    Pblico Antes da fundao da Comdie Franaise, a maior parte das companhias de teatro francesas actuava apenas 3 vezes por semana para o pblico, sendo que mesmo estas performances pblicas no atraam grandes audincias. Depois de 1680 os espectculos passaram a ser dirios, mas mesmo com o seu monoplio, a Comdie Franaise s conseguia encher o teatro com 20% a 25% da sua capacidade em termos de pblico. Em Paris, os espectculos decorriam inicialmente ao incio da tarde, mas a partir de 1680, a Comdie Franaise alterou esse horrio para as 17h. O pblico que ia ao teatro abrangia todos os estratos da sociedade. Contudo, a partir do sculo XVII tornou-se progressivamente mais caro ir ao Teatro, pelo que o pblico das classes trabalhadoras foi diminuindo. Os bilhetes de entrada eram apenas para os homens; as mulheres sentavam-se nas caixas ou no anfiteatro, dependendo da sua condio econmica e social. Os espectadores estavam no fosso, de p, podendo mover-se livremente. Havia ainda quem se sentasse no palco, geralmente pessoas das classes mais altas.

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    Comdie Franaise a Companhia e os edifcios teatrais No ano 1673, em Paris, havia cinco trupes profissionais, apoiadas pelo governo francs: a de Molire, a companhia de pera de Lully, a trupe de commedia dellarte e as companhias no Htel de Bourgogne e de Marais. Aps a morte de Molire nesse mesmo ano, Louis XIV ordenou que a sua trupe se fundisse com a companhia do Thatre du Marais. O Marais foi ento abandonado e o Palais Royal foi reformulado para dar lugar pera. Em 1680, houve uma nova ordem real de consolidar a companhia de Bourgogne com a de Molire-Marais, transferindo para a nova companhia o monoplio da representao do reportrio dramtico francs falado. Surgiu assim o primeiro Teatro Nacional do mundo, um marco histrico para o Teatro Ocidental. Para distinguir esta companhia da Comdie Italienne, que tambm estava sediada em Paris, a nova companhia foi chamada de Comdie Franaise. Durante os primeiros 9 anos de funcionamento, a Comdie Franaise usou o espao do Thatre de Gungaud. Pouco se sabe deste edifcio localizado na rua de Gungaud, (ocupado pela trupe Marais-Molire entre 1673 e 1680, e depois pela Comdie Franaise de 1680 a 1689), apenas que foi construdo em 1670 pelo Marquis de Sourdac, sendo conhecido tambm por servir de espao para as produes experimentais de pera de Lully entre 1671 e 1673. Em 1672, Lully obteve, por Louis XIV, o monoplio das performances musicais em Paris, e aps a morte de Molire, tomou o controlo do Palais Royal onde a companhia de Molire estava a residir -, que estava a cargo da viva de Molire, usando-o como espao para a sua Academia Real de Msica e Dana, mais conhecida como pera de Paris. A Comdie Franaise recebeu ordens para abandonar a rua Gungaud em 1687, tendo-o feito apenas 1689, quando encontrou um novo espao, um antigo campo de tnis da Etoile na rua Neuve-des-Fosss, no quarteiro de Paris St. Germain-des-Prs. Remodelado pelo arquitecto Franois dOrbay por 200,000 libras, este empreendimento deixou a companhia em dvida durante muitos anos. Serviu de espao para a Comdie Franaise at 1770. Este novo edifcio teatral, com uma arquitectura caracterstica do

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    perodo neoclssico francs, ficou com o nome da companhia era o Comdie Franaise. DOrbay ignorou as paredes exteriores do campo de tnis e construiu dentro delas um auditrio em forma de ferradura de cavalo, o que permitia que as linhas de viso fossem significativamente melhores que as dos espaos semelhantes da altura. Ao retirar os espectadores dos cantos, ao fundo da sala, colocando-os numa rea redonda atrs e na parte lateral da sala, obtinha-se uma melhor vista para o palco, ainda que essa visibilidade fosse sempre condicionada pelos limites do arco do proscnio, bem como a plateia que estava sentada no palco, o que impedia que o espectculo fosse feito em profundidade. Este edifcio tinha j um arco de proscnio a separar o bloco do mundo do espectculo, com funes e preocupaes artsticas, do mundo do pblico, com funes e preocupaes sociais. Contudo, a ideia da quarta parede no era to severa como a da Itlia renascentista, uma vez que ainda era habitual haver pblico sentado em cima do prprio palco, o que no permitia a distanciao necessria. No plano do cho encontrava-se um fosso, o parterre, sobre o qual foi construdo um anfiteatro, levantado cerca 6 ps (cerca de 1,8 metros) acima deste. Pelas paredes, dois nveis de 19 caixas amontoadas numa galeria no repartida serviam tambm de plateia. O auditrio tinha capacidade para 2000 lugares. O palco tinha cerca de 41 ps (12,5m) de profundidade, por 54 ps (16,5m) de largura, mas a rea de representao era bastante restringida pelos espectadores que se encontravam no palco. Alguns bancos eram colocados no fosso de orquestra, que no era usada pelos msicos devido a objeces levantadas por Lully, devido ao monoplio que detinha com a pera. Quando os msicos eram precisos, estes ficavam localizados na parte de trs do auditrio. O palco estava equipado com panejamento de fundo, pernas e bambolinas, mas como as mudanas de cena eram raras, a maquinaria de cena era mnima. Este palco reflecte as mudanas que ocorreram nas prticas teatrais desde 1630. Em Le Mmoire de Mahelot, Laurent, et dAutres Dcorateurs, confrontam-se os relatos de Mahelot, feitos em 1634 e 1635, com os de Laurent, que datam de 1678 e 1686, sendo possvel verificar essas mudanas, nomeadamente no que diz respeito tendncia para uma maior simplicidade no final do sculo XVII. No tempo de Laurent, a maior parte dos cenrios representavam um espao nico. A cortina de fundo podia ter brechas para

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    permitir as sadas dos actores, uma vez que as entradas laterais eram tapadas pelos espectadores que ficavam no palco.

    A Comdie Franaise actualmente Desde 1770, a Comdie Franaise tem vindo a ocupar espaos como a Salle des Machines, o Thatre de la Rpublique (actualmente a Salle de Richelieu), e o Odon que tem sido constantemente oferecido e retirado na histria da companhia. Nos dias de hoje, dispe de mais duas salas: o Thtre du Vieux-Colombier e o le Studio-Thtre. Actualmente tem sede na Salle de Richelieu, este sim um Teatro tipicamente italiana, com a perfeita separao entre o local destinado ao pblico e o local destinado ao mundo da produo artstica. Sendo um dos mais reputados do mundo, este espao o resultado de conflitos e paixes da Frana no final do Iluminismo. Pensado pelo Duque de Chartres para ser uma pera, este edifcio foi construdo pelo arquitecto Victor Louis, sem perturbar a harmonia do Palais-Royal. Em 1791, parte da trupe da Comdie Franaise, reunida em torno do trgico Talma, investiu pela primeira vez nesta sala, ento rebatizada de Teatro da Repblica, enquanto os restantes membros da Companhia produziam no Thtre de la Nation, futuro Odon. Aps as divises revolucionrias e o incndio no Odeon, a trupe reconstitudainstala-se definitivamente neste espao em 1799. No sculo XIX, a obra de Prosper Chabrol (1860-1864) completou o volume original, aumentando a escadaria de honra e o foyer onde o pblico se confronta com as esculturas em mrmore de Voltaire e Molire. Em Maro de 1900 um incndio destruiu o teatro. A destruio total da sala evitada graas resistncia da estrutura metlica que a suporta. Neste seguimento, para fazer cumprir as regras de segurana e aumentar o conforto dos espectadores, o nmero de lugares, que antes se aproximava dos 2000, reduzido para o nmero actual de 862.

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    Concluso

    Com este trabalho sinto que aprendi bastante em relao Histria de Frana no sc XVI e XVII, mas acima de tudo fiquei com uma noo muito mais consistente do que aconteceu ao nvel do Teatro francs no mesmo perodo. Percebi tambm a importncia de uma instituio como a Comdie Franaise na sua relao com o conceito de Estado absolutista, na medida em que este foi o primeiro Teatro Nacional, ganhando uma responsabilidade muito superior no que diz respeito imagem do Teatro francs a partir de ento. Compreendi tambm que esta responsabilidade, associada prpria imponncia do edifcio tende a tornar a Companhia mais rgida e conservadora em vez de potenciar o efeito desejado de procura e inovao. Contudo, tem tambm um papel determinante no que diz respeito transmisso histrica e recriao do que de melhor se criou no perodo neoclssico francs. Ao elaborar o trabalho tive algumas dificuldades em conseguir definir claramente a que tipo de arquitectura cnica correspondiam os primeiros espaos da Comdie Franaise, uma vez que estes edifcios foram construdos num perodo de transio, no qual a rigidez do neoclassicismo arquitectnico italiano no tinha sido totalmente atingida, havendo algumas diferenas fundamentais entre os Teatros italiana franceses e italianos.

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    Bibliografia Livros Berthold, Margot (2005). Histria Mundial do Teatro. Editora Perspectiva S.A. Wickham, Glynne (1992). A History of the Theatre. Phaido Press Limited Brown, John Russel (1995). The Oxford illustrated History of Theatre. Oxford University Press Wilson, Edwin; Goldfarb, Alvin (1994). Living Theatre, a History. Black Dot, Inc. Roy, Alain (1992). Dictionnaire raisonn et illustr du Thatre a lItalienne. Actes-Sud Papiers Websites Site oficial da Comdie Franaise_ http://www.comedie-francaise.fr/

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