COHN, Leila. Anatomia Emocional

11
COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEÇÃO BRASIL-LATINOMÉRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba: Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponível em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm. Acesso em: ____/____/____. CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botânico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected] Página | 1 ANATOMIA EMOCIONAL: O CORPO COMO UM PROCESSO SUBJETIVO A PSICOLOGIA FORMATIVA DE STANLEY KELEMAN Leila Cohn RESUMO Este artigo apresenta a Psicologia Formativa de Stanley Keleman dentro do paradigma contemporâneo da Vida enquanto um sistema evolutivo interconectado e auto- organizador. O presente trabalho apresenta o conceito de corpo enquanto um processo subjetivo, herdado e formado, em contínua transformação e insere a Metodologia Formativa no processo evolutivo, destacando a capacidade humana de auto-influência através do esforço muscular voluntário Palavras-chave: Corpo, psicologia formativa, anatomia emocional, cérebro, esforço muscular voluntário. Introdução Neste trabalho apresento o pensamento de Stanley Keleman, criador da Psicologia Formativa e Diretor fundador do Center for Energetic Studies, em Berkeley, California 1 . Gostaria de iniciar contando um pouco da minha história com Stanley Keleman no Center for Energetic Studies em Berkeley, que levou à fundação do Centro de Psicologia Formativa do Brasil no Rio de Janeiro em 1995. Meu primeiro contato com Stanley Keleman se deu quando li Emotional Anatomy em 1986, então recentemente publicado nos EUA. Fiquei profundamente impressionada com a sua solidez teórica e linguagem inovadora. A visão do ser humano como um processo corporificado subjetivo, auto- organizador e em evolução me cativou imediatamente. Decidi aprender aquele trabalho e me mudei para a California onde permaneci durante seis anos estudando e trabalhando com Stanley Keleman no seu Center for Energetic Studies em Berkeley. Em 1992, já membro do Professional Group do CES, comecei a gestar com Stanley o projeto da sua vinda ao Brasil e o estabelecimento de uma parceria para o desenvolvimento do trabalho formativo aqui. Esta parceria resultou na fundação em 1995, do Centro de Psicologia Formativa do Brasil no Rio de Janeiro, onde ensino o trabalho formativo desde então, 1 Ver biografia de Stanley Keleman em www.psicologiaformativa.com.br

description

anatomia estudo

Transcript of COHN, Leila. Anatomia Emocional

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 1

    ANATOMIA EMOCIONAL: O CORPO COMO UM PROCESSO SUBJETIVO A PSICOLOGIA FORMATIVA DE STANLEY KELEMAN

    Leila Cohn

    RESUMO Este artigo apresenta a Psicologia Formativa de Stanley Keleman dentro do paradigma contemporneo da Vida enquanto um sistema evolutivo interconectado e auto-organizador. O presente trabalho apresenta o conceito de corpo enquanto um processo subjetivo, herdado e formado, em contnua transformao e insere a Metodologia Formativa no processo evolutivo, destacando a capacidade humana de auto-influncia atravs do esforo muscular voluntrio Palavras-chave: Corpo, psicologia formativa, anatomia emocional, crebro, esforo muscular voluntrio.

    Introduo

    Neste trabalho apresento o pensamento de Stanley Keleman, criador da Psicologia

    Formativa e Diretor fundador do Center for Energetic Studies, em Berkeley, California1.

    Gostaria de iniciar contando um pouco da minha histria com Stanley Keleman no Center

    for Energetic Studies em Berkeley, que levou fundao do Centro de Psicologia

    Formativa do Brasil no Rio de Janeiro em 1995. Meu primeiro contato com Stanley

    Keleman se deu quando li Emotional Anatomy em 1986, ento recentemente publicado

    nos EUA. Fiquei profundamente impressionada com a sua solidez terica e linguagem

    inovadora. A viso do ser humano como um processo corporificado subjetivo, auto-

    organizador e em evoluo me cativou imediatamente. Decidi aprender aquele trabalho e

    me mudei para a California onde permaneci durante seis anos estudando e trabalhando

    com Stanley Keleman no seu Center for Energetic Studies em Berkeley. Em 1992, j

    membro do Professional Group do CES, comecei a gestar com Stanley o projeto da sua

    vinda ao Brasil e o estabelecimento de uma parceria para o desenvolvimento do trabalho

    formativo aqui. Esta parceria resultou na fundao em 1995, do Centro de Psicologia

    Formativa do Brasil no Rio de Janeiro, onde ensino o trabalho formativo desde ento,

    1 Ver biografia de Stanley Keleman em www.psicologiaformativa.com.br

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 2

    tendo formado uma equipe de profissionais que atualmente integra o quadro do Centro.

    Nesses timos 20 anos Stanley e eu continuamos desenvolvendo um trabalho conjunto

    tanto em Berkeley quanto no Rio de Janeiro, perodo no qual formamos tambm uma

    profunda amizade. H cinco anos Keleman iniciou os pequenos grupos para Estudos

    Intensivos, composto por ele e pelas pessoas que dirigem os institutos que desenvolvem

    o trabalho formativo na Europa e no Brasil, com o intuito de passar o seu legado. Nestes

    encontros estudamos em profundidade durante vrios dias em um contexto ntimo e

    pessoal. Entre outras coisas, esses encontros geraram recentemente uma srie de

    entrevistas com Stanley Keleman, produzidas pelo Centro de Psicologia Formativa do

    Brasil em 2012 e 2013. At o momento as entrevistas deram origem a sete video-clips

    atualmente disponveis no You Tube. Cocluindo, o que apresento aqui o resultado de

    um percurso de 26 anos de estudo e trabalho, que tornou-se tambm uma forma de viver

    e pensar. Espero assim contribuir de alguma forma para o conhecimento do processo

    humano em uma perspectiva evolutiva.

    O conceito de corpo atravs do tempo

    Passaremos brevemente pelo conceito de corpo atravs do tempo. Estudos

    arqueolgicos (Gimbutas 1989, pp 81, Gadon 1990 pp 63) indicam que no perodo

    Neoltico o ser humano vivia integrado aos ciclos da Natureza, realizando ritos de

    fertilidade, morte e renascimento; o corpo era considerado sagrado e fonte de vida. A

    Terra e o corpo eram sagrados, ambos fontes de Vida. Na Antiguidade ainda era comum

    medicar-se conjuntamente para os males do corpo e da alma, no havendo uma

    separao entre ambos. Sculos mais tarde, na Idade Mdia, durante a transio das

    culturas pags para o Cristianismo, foi-se gradativamente instintuindo uma separao

    entre corpo e esprito, este ltimo passando a ser enaltecido e sacralizado e o primeiro

    desvalorizado e demonizado. No sculo XVII, com o surgimento da cincia, assistimos

    objetificao do corpo e consolidao da separao entre corpo e alma. A valorizao

    da afirmao de Descartes Penso logo existo, na qual a existncia se funda na

    capacidade de pensar --- aqui um evento descorporificado --- coincide com a

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 3

    transformao do corpo em objeto de estudo (cientfico). Isto foi possvel graas

    possibilidade de dissecao de cadveres, prtica que passou a ser permitida pela Igreja,

    uma vez que o corpo fora dessacralizado e destitudo de subjetividade.

    Com o advento da Revoluo Industrial no sec XVIII instituiu-se o conceito de corpo-

    mquina, sintnico a um modelo econmico que criava a produo em linha de montagem

    e necessitava de corpos para produzir, desconsiderando sua realidade de seres vivos.

    Esta viso mecanizada do corpo se estendeu atravs dos sculos, consolidando nos

    sculos XX e XXI um modelo de corpo produtivo, acelerado (para acompanhar as

    transformaes de uso do tempo) e esttico. Atualmente, com o desenvolvimento da

    biotecnologia, temos tambm o corpo modificado, seja por intervenes estticas, seja

    pelo uso de prteses teraputicas, pelo desenvolvimento das pesquisas com clulas

    tronco, pelas intervenes da reproduo assistida, ou pela modificao gentica.

    Vivemos um tempo de produo, acelerao e de intervenes no corpo natural.

    Paralelamente porm, no sec. XIX, em continentes distintos, William James e

    Sigmund Freud voltaram a reunir corpo e esprito. James, nos seus estudos em

    psicofisiologia, afirmou que as emoes humanas so geradas a partir das aes do

    corpo, apresentando uma tese revolucionria acerca da fisicalidade dos processos

    subjetivos humanos (2010, pp 306-307). Freud, por sua vez, afirmou que as pessoas

    fazem sintomas no corpo em resposta a conflitos emocionais, e apresentou os estudos

    sobre histeria (1893, pp 29).

    No incio do sec XX, dando seguimento aos estudos em psicanlise, Wilhelm Reich

    foi pioneiro no desenvolvimento das abordagens teraputicas que conectam o corpo e a

    realidade emocional.

    Seguindo a linha de pesquisa que integra biologia e subjetividade, os seculos XX e

    XXI tem sido palco do desenvolvimento dos estudos em neurocincia, os quais buscam

    estabelecer uma equivalncia entre mente e crebro, ensaiando uma reintegrao entre

    os processos subjetivos humanos e sua realidade biolgica. Vrios autores interessados

    na fisicalidade da conscincia vem desenvolvendo pesquisas que aprofundam esta viso.

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 4

    Dentre eles, Keleman ( 1996-2014), Edelman (1998, 2006) e Damasio (1999) afirmam que

    o corpo a matriz de todos os processos mentais.

    A viso do corpo enquanto um processo subjetivo: a relao entre estrutura

    corporal e experincia emocional

    Stanley Keleman o criador da Psicologia Formativa, uma abordagem calcada na

    noo do corpo enquanto um processo subjetivo constantemente formando a si mesmo.

    Ao longo de mais de quarenta anos de prtica clnica e de pesquisa sobre a vida do corpo

    e suas conexes com todos os aspectos da experincia humana, Keleman criou uma

    linguagem, um corpo terico e uma metodologia que pem um fim ao dualismo corpo-

    mente, unindo estreitamente biologia e psicologia como parte de um contnuo formativo

    que inclui a multi-dimensionalidade e a complexidade do processo humano.

    Para fins deste trabalho, apresentaremos o pensamento de Stanley Keleman e seu

    conceito de corpo. A Psicologia Formativa concebe o corpo como um processo vivo,

    subjetivo, evolutivo, em contnua transformao e organizao de si mesmo. Somos

    criaturas corporificadas e passamos por uma srie de formas ao longo da vida, um

    contnuo de transformaes do nascimento morte. Estas formas so parte de um

    processo organizador que corporifica emoes, pensamentos e experincias em uma

    estrutura (Keleman, 2009, pp 2). O ser humano simultaneamente biolgico, pessoal e

    social. O corpo humano emocional, cognitivo, lingustico e cultural. Para a Psicologia

    Formativa, toda experincia humana corporificada e est fundada em uma organizao

    anatmica. Isto inclui o sentir, o pensar, o imaginar e o sonhar. Concebemos anatomia

    como uma realidade pulsante, multidimensional, rtmica, plstica e em constante

    movimento; de forma alguma uma estrutura esttica.

    A realidade anatmica-emocional e a plasticidade somtica

    Keleman v o corpo como um contnuo anatmico-emocional contendo vrias camadas de organizao, cuja arquitetura e modos de funcionamento compem a experincia subjetiva. Em outras palavras, o corpo, com suas camadas de histria herdada e formada, constitui a fonte da subjetividade humana. (Cohn, 2007, pp 21)

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 5

    A arquitetura dos nossos espaos internos envolve uma relao dinmica entre

    tecidos pulsantes e est organizada em diferentes graus de tnus, velocidade e presso e

    gerando no indivduo uma experincia interna de si mesmo, um estado emocional e

    cognitivo e um tipo de presena no mundo. Segundo o postulado da Psicologia Formativa

    toda organizao anatmica gera uma experincia subjetiva, portanto podemos afirmar

    que todas as posturas humanas so per si anatmico-emocionais.

    Partindo ento do princpio de que anatomia e experincia emocional constituem

    uma realidade inseparvel, podemos pensar que alteraes na organizao anatmica

    ensejam tambm mudanas no estado emocional. Deste modo, uma mesma pessoa tem

    diferentes experincias de si em diferentes situaes na vida, experincias estas que

    esto fundadas em posturas corporais (organizaes anatmicas) distintas. Tomando por

    princpio o fato de sermos seres dotados de plasticidade somtica, afirmamos tambm

    que todo indivduo pode influenciar a experincia de si mesmo atravs de pequenas

    alteraes voluntrias na sua postura muscular. A psicologia formativa trabalha com o

    princpio da capacidade humana de auto-influncia atravs do uso do esforo muscular

    voluntrio (EMV) com gestos e posturas.

    Vamos entender como isto acontece: estamos organizados corporalmente em uma

    anatomia pulsante, com um movimento contnuo de expanso e contrao, presente em

    todas as camadas do corpo: clulas, tecidos, rgos e sistemas. Somos capazes de

    influenciar voluntariamente os graus de contrao e expanso muscular de uma postura

    (estrutura), e alterar sua dinmica organizativa. Costumamos fazer isto involuntariamente no

    nosso dia-a-dia quando passamos de um corpo a outro em diferentes situaes, por

    exemplo: no momento do despertar temos um corpo menos tonificado, uma estrutura mais

    macia e expandida; ao sarmos para trabalhar organizamos mais tnus, mais firmeza

    ficando mais concisos e focados. A mesma plasticidade somtica que nos permite passar de

    um corpo a outro involuntariamente ao longo do dia, nos permite faze-lo tambm

    voluntariamente. A capacidade voluntria muscular e cortical nos permite afetar posturas e

    comportamentos involuntrios, sejam eles herdados ou habitualmente formados. A

    metodologia formativa trabalha com micro movimentos voluntrios, ativando a relao entre

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 6

    corpo e crebro para influenciar padres de ao. Este dilogo entre msculo e crtex

    possibilita o exerccio da auto-regulao voluntria e a influncia sobre o comportamento.

    EMV : Esforo muscular voluntrio e a metodologia formativa

    O surgimento do sistema nervoso no processo evolutivo possibilitou ao organismo

    regular o seu comportamento, a princpio involuntariamente, mas posteriormente tambm

    de forma voluntria. O desenvolvimento e a sofisticao do sistema nervoso na jornada

    evolutiva propiciou a criao de comportamentos adaptativos cada vez mais eficientes.

    O desenvolvimento do crtex cerebral se deu ao longo de um largo perodo de

    tempo e foi concomitante a outros processos nos primatas, como a sofisticao do

    sistema motor, o bipedalismo, o desenvolvimento do esforo muscular voluntrio e o

    fenmeno da oposio dos polegares que possibilitou fazer a pina entre os dedos das

    mos, fundamental para a fabricao de ferramentas. Neste perodo ocorreu tambm nos

    homindeos o desenvolvimento do aparelho fonador, a gesticulao e o surgimento da

    linguagem, aprofundando a intensidade das interaes sociais e a transmisso de

    experincias entre os indivduos. (Foley, 1998, pp 61-66)

    O desenvolvimento da capacidade motora voluntria e o crescimento e sofisticao

    do cortex cerebral possibilitaram a modulao voluntria do comportamento humano. No

    decorrer do tempo isto propiciou a ampliao do leque de possibilidades de expressso

    humana, onde gestos instintivos como por exemplo agarrar, originaram uma srie de

    gestos afetivos como segurar, tocar e acariciar, gerando novas formas de ser-no-mundo e

    afetando as interaes sociais. A psicologia formativa entende que a evoluo do ser

    humano abrange a possibilidade de modulao voluntria do ato motor, o que permite

    afetar a intensidade dos estados emocionais e facilita a criao de novos

    comportamentos, desdobrados voluntariamente a partir do ato original.

    A interao do cortex cerebral com a sua matriz, o corpo, permite ao ser humano

    modificar voluntariamente padres de ao, emoo, comportamento e pensamento e

    desta forma, ser agente da sua prpria evoluo.

    No grande escopo da evoluo humana, podemos dizer que inicialmente houve uma

    fase de adaptao e sobrevivncia ao meio ambiente (fase nmade, com locomoo em

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 7

    busca de alimentos), depois uma era de interveno e modificao do meio ambiente

    (desenvolvimento da agricultura, domesticao dos animais e construo de abrigos) e

    atualmente, nos encontramos em um perodo de alterao do meio ambiente interno, no

    qual operamos transformaes em ns mesmos (vide o desenvolvimento de modos de

    interveno teraputica no Ocidente a partir do sec XIX e as prticas milenares de

    meditao desenvolvidas no Oriente).

    A metodologia formativa est fundada na relao recproca entre corpo e crebro.

    Sabemos que as aes do corpo so mapeadas no crtex atravs da organizao de

    conexes sinpticas e sabemos tambm que a repetio continuada de aes motoras

    (comportamentos) fortalecem as sinapses que as acompanham, consolidando assim

    seus mapas cerebrais e estabilizando o comportamento (Edelman, 2000, pp 54-63).

    Assim se faz o aprendizado e assim tambm se formam os hbitos.

    A metodologia somtico-emocional desenvolvida por Keleman (1987, pp 21-31) est

    baseada em princpios neuroanatmicos e fisiolgicos e fundamenta-se nas propriedades

    de plasticidade e variabilidade do corpo e do crebro. O mtodo formativo trabalha com

    micro movimentos voluntrios, intensificando e desintensificando posturas musculares e

    ativando o dilogo entre o corpo e o crebro para influenciar a experincia emocional. Por

    exemplo, para modular um padro de comportamento ansioso trabalhando com os

    exerccios formativos, a pessoa far o modelo muscular da ansiedade (postura ou gesto),

    e em seguida ir aumentar e diminuir a intensidade muscular da postura ansiosa em

    passos distintos e discretos. Cada passo (grau) ao longo do contnuo da ansiedade

    configura uma organizao anatmica e emocional diferenciada com um padro de tnus,

    pulso e velocidade prprios e uma experincia subjetiva tambm prpria daquele

    comportamento. A repetio da prtica --- ir e vir voluntariamente em graus distintos ao

    longo do contnuo da organizao muscular da ansiedade --- ir proporcionar pessoa

    uma gama de experincias emocionais distintas: sub-organizaes muscular-emocionais

    voluntariamente formadas, derivadas do comportamento ansioso original, habitual e

    involuntrio. Este ir e vir voluntariamente nas gradaes musculares da ansiedade

    possibilita tambm pessoa diminuir voluntariamente o grau de intensidade deste padro.

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 8

    Deste modo, o indivduo pode escolher uma alternativa mais satisfatria em relao ao

    padro original. Neste leque rcem-criado de gradaes, aps selecionar uma postura

    (comportamento) mais satisfatria, o sujeito pode pratica-la repetidamente na vida

    cotidiana, usando-a em diferentes situaes. A repetio da ao motora fortalece suas

    conexes neurais e estabiliza o comportamento. A consolidao de um novo

    comportamento configura uma nova memria emocional-motora.

    A relao entre corpo e crebro e a capacidade de auto-influncia voluntria

    Sintetizando, atravs do uso de micro movimentos voluntrios o sujeito pode criar

    gradaes na intensidade muscular-emocional de uma postura habitual e reorganizar o

    seu comportamento. Por comportamento, entendemos uma forma anatmica em

    movimento, gerando experincias emocionais, cognitivas e imaginativas. O trabalho

    formativo usa o esforo muscular-cortical voluntrio para modular a intensidade de um ato

    muscular e criar sub-organizaes distintas em padres de comportamento habituais.

    Estas sub-organizaes --- formas somticas distintas com experincias subjetivas

    distintas --- constituem uma variedade de possibilidades de comportamento, um novo

    repertrio de comportamentos diferenciados (Keleman 2009, pp 2-4). A criao de uma

    variedade de intensidades musculares-emocionais no-idnticas gerando possibilidades

    de comportamento distintas, porm similares, aumenta o leque de opes de uma pessoa

    frente a situaes conhecidas e desconhecidas, representando assim um empoderamento

    e um aumento na sua autonomia de viver.

    Atravs da repetio do comportamento selecionado ao longo do tempo, o indivduo

    pode estabelecer sua permanncia e estabilizao atravs da rede biolgica. A descrio

    acima consistente com a afirmao de Edelman de que

    a seleo de grupos neurais em mapeamentos globais ocorre em um circuito dinmico que relaciona continuamente gestos e posturas a vrios tipos de sinais sensoriais. Em outras palavras, a estrutura dinmica de um mapeamento global mantida, revigorada e alterada atravs da atividade motora e de ensaios motores contnuos. (Edelman 2000, pp. 96).

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 9

    A consolidao de novos comportamentos forma novas memrias motor-emocionais,

    distintas da experincia original; no caso exemplificado acima, podemos dizer que uma

    pequena diminuio na intensidade da ansiedade altera a experincia que a pessoa tem

    de si mesma, bem como sua percepo do mundo, possivelmente um ambiente agora

    menos intimidador ou ameaador. A possibilidade de ir e vir voluntariamente em um

    contnuo de graus disitintos de ansiedade permite pessoa escolher como quer estar

    presente, selecionar a postura muscular-emocional e repeti-la para consolidar a sua

    representao cortical, fortalecendo assim a rede sinptica correspondente e formando

    uma nova memria: Fulana menos ansiosa. Este mesmo exerccio pode ser aplicado

    para modular uma gama de comportamentos e experincias, tais como: regulao da

    raiva, impulsividade, depresso, compulso, agitao, rigidez, timidez, etc.

    A psicologia formativa trabalha com a propriedade motora voluntria do crtex

    cerebral para acessar, diferenciar e modular experincias emocionais, narrativas e

    comportamentos, organizando tambm novas conexes sinpticas e circuitos neurais.

    Ilustrao: Criao de variaes na intensidade da expressso muscular-emocional e no padro

    pulsatrio

    (foto do livro Anatomia Emcional)

    Concluso:

    Ao usar o esforo muscular voluntrio para criar uma variedade de intensidades em

    uma atitude emocional, criamos tambm novas sinapses e circuitos neurais. Isto implica

    em uma reorganizao de mapas cerebrais e conexes neuromusculares --- que agora

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 10

    integram uma rede maior de circuitos --- e um aumento no repertrio de comportamentos

    e experincias emocionais. A capacidade de auto-influncia voluntria permite que o

    sujeito regule a si prprio e forme para si alternativas viveis em relao a padres

    habituais de comportamento. A possibilidade de auto-regulao e auto-influncia

    voluntrias retira o sujeito do lugar de impotncia e vitimizao em relao a seus

    prprios padres de ao ou experincias emocionais, empoderando-o na condio de

    agente do prprio viver.

    A prtica com os micro movimentos cria uma diversidade de modos de agir, sentir e

    pensar, que configuram novas formas de ser e se relacionar no mundo e permite ao

    indivduo escolher como deseja estar e agir em diferentes situaes. Ter disponveis para

    si uma variedade de formas de agir entre as quais se possa optar em momentos distintos

    pode ser uma experincia profundamente libertadora. O uso da capacidade de auto-

    influncia voluntria confere ao sujeito uma autonomia no viver. Neste sentido, podemos

    afirmar que o trabalho com os micromovimentos voluntrios possibilita ao sujeito ser um

    participante ativo na prpria evoluo e formar uma nova narrativa para si mesmo.

    Reorganizar a narrativa da sua histria permite re-significar a sua experincia e constitui

    parte integrante da reorganizao do viver. Narrativas, experincias internas e aes

    musculares formam o trip do viver humano. Podemos influencia-los voluntariamente para

    tornar a vida mais satisfatria.

    REFERNCIAS Cohn, Leila. Psicologia Formativa: Um caminho evolutivo, in Caderno de Psicologia Formativa. Rio de Janeiro: Centro de Psicologia Formativa do Brasil, 2007 Damasio, Antonio. The Feeling of What Happens: Body and Emotion in The Making of Consciousness. New York: Harcout Brace, 1999. Edelman Gerald, Tononi, G. A Universe of Consciousness. New York: Basic Books, 2000 Foley, Robert. Os Humanos Antes da Humanidade. Sao Paulo: UNESP, 1998. Freud, Sigmund. Estudos de Histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1978

  • COMO REFERENCIAR ESSE ARTIGO

    COHN, Leila. Anatomia emocional: o corpo como um processo subjetivo. A psicologia formativa de Stanley Keleman. In: ENCONTRO PARANAENSE, CONGRESSO BRASILEIRO, CONVEO BRASIL-LATINOMRICA DE PSICOTERAPIAS CORPORAIS, XIX, XI, III, 2014. Anais. Curitiba:

    Centro Reichiano, 2014. [ISBN 978-85-87691-24-8]. Disponvel em: www.centroreichiano.com.br/artigos_anais_congressos.htm.

    Acesso em: ____/____/____.

    CENTRO REICHIANO Av. Pref. Omar Sabbag, 628 Jd. Botnico Curitiba/PR Brasil - CEP: 80210-000

    (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]

    Pgina | 11

    Gadon, Elinor. The Once and Future Goddess. San Francisco: Harper & Row, 1990 Gimbutas, Maria. Goddess Remembered. New York: Harper & Row, 1991 James, William. The Principles of Psychology vol II. USA: Digireads. com Books, 2010 Keleman, Stanley. Emotional Anatomy, Berkeley: Center Press, 1985 _____________ Embodying Experience. Berkeley: Center Press, 1987 _____________ Taking Charge of Your Life. Mimeo Berkeley: Center Press, 2009 _____________ Taking Charge of Your Life. Mimeo Berkeley: Center Press, 2013

    AUTORA

    Leila Cohn / Rio de Janeiro / RJ / Brasil - Psicloga - CRP 05/8164, MA East-West Psychology, CIIS, SF - CA. Trabalha com Stanley Keleman no Center for Energetic Studies em Berkeley, California desde 1988. Membro do Center for Energetic Studies Professional Group desde 1992 e do Kelemans Advanced Studies International Group desde o seu incio em 2009. Diretora fundadora do Centro de Psicologia Formativa do Brasil em 1995 e Coordenadora do Programa de Educao Profissional em Psicologia Formativa neste Centro. Reconhecida por Stanley Keleman para o ensino da Psicologia Formativa internacionalmente. E-mail: [email protected] Site: www.psicologiaformativa.com.br