_COBEQ-IC2011
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IX Congresso Brasileiro de Engenharia Química - Iniciação Científica 03 a 06 de julho de 2011 Maringá, Paraná, Brasil
*Bolsista CNPq.
ANÁLISE DO PRÉ-TRATAMENTO ÁCIDO DO BAGAÇO DO PEDÚNCULO DO CAJU
SILVA NETO*1, J.M; SILVA
2, F.L.H; LIMA
3, E.E; TORRES NETO
4, A.B.; LIMA
5 F.C.S.
1Aluno da UAEQ/UFCG
2 Professor da UAEQ/UFCG
3 Doutorando do PPGEP/UFCG-Professor
do IFPE 4
Doutorando do PPGEQ/UFCG 5Doutoranda do PPGEP/UFCG
Unidade Acadêmica de Engenharia Química - Universidade Federal de Campina Grande
Rua Aprígio Veloso, 882
58429-140 – Campina Grande – PB
e-mail: [email protected]
RESUMO – A produção de etanol com base na biomassa lignocelulósica utiliza
processos químicos (empregando ácidos) ou da biotecnologia moderna (empregando
enzimas) para a quebra de moléculas de celulose e produção de açúcares, para então
produzir o etanol por meio de processo fermentativo da biotecnologia convencional. A
estrutura complexa faz necessário submeter a biomassa a pré-tratamentos físicos e/ou
químicos antes da sua hidrólise para produção de etanol. O pré-tratamento visa à
remoção da lignina e da hemicelulose, reduzir a cristalinidade da celulose e aumentar a
porosidade dos materiais. Este trabalho teve o objetivo de estudar o pré-tratamento
ácido (antes do processo de hidrólise ácida), utilizando-se da matéria-prima bagaço do
pedúnculo do caju para a produção posterior de álcool etílico. Inicialmente foi realizada
a caracterização físico-química de bagaço de caju e em seguida foi feito um pré-
tratamento ácido a baixas temperaturas seguindo a matriz de planejamento fatorial 23
onde as variáveis foram: temperatura, concentração do ácido e razão entre massa seca e
volume de ácido. O tempo foi mantido constante e igual à uma hora. Com os resultados
das análises cromatográficas, utilizando-se do HPLC, pôde-se concluir que para
obtenção de uma maior concentração de açúcares pentoses (xilose e arabinose) o pré-
tratamento deve ser operado nas seguintes condições: temperatura igual a 120ºC,
concentração de ácido de 5% e razão de 1/8.
Palavras chave: pré-hidrólise, material lignocelulósico, celulose.
INTRODUÇÃO
Segundo krishna et al (2000) e Réczey
et al (2004), o desenvolvimento de novas
tecnologias para tratamentos dos materiais
lignocelulósicos tem sido visto com boas
perspectivas do ponto de vista econômico
ao considerar-se a sua utilização como
substrato em processos para produção de
etanol.
Segundo Campos (2003), o
aproveitamento industrial do caju visa,
basicamente, o beneficiamento da castanha
e, em menor escala, o aproveitamento do
pedúnculo. Uma das causas para esse
baixo aproveitamento está relacionada ao
tempo de deterioração do pedúnculo, o que
ocasiona excessivas perdas no campo e na
indústria.
O cajueiro (Anacardium occidentale
L.) é uma planta tropical originária do
Brasil, dispersa em quase todo o seu
território, tendo maior destaque na região
Nordeste. O seu fruto é composto por duas
partes: o fruto propriamente dito (a
castanha), que é um produto de grande
valor comercial e o pseudofruto, chamado
cientificamente pedúnculo floral, que é a
parte comumente comercializada como a
fruta.
O bagaço do pedúnculo do caju é
um resíduo lignocelulósico que é
constituído, principalmente, de
carboidratos não diretamente
fermentescíveis como celulose,
hemicelulose, e da lignina, com
concentrações baixas de açúcares
diretamente fermentescíveis como glicose,
que a levedura metaboliza
bioquimicamente em etanol com
facilidade.
Devido à crescente conscientização
ambiental sobre impactos negativos
resultantes da utilização de combustíveis
fósseis e busca por fontes renováveis de
energia, o interesse por biocombustíveis, a
exemplo do bioetanol, tem se expandido.
Nesse contexto, os materiais
lignocelulósicos têm recebido atenção
como fonte alternativa de carboidratos para
produção de etanol por serem abundantes e
de baixo custo.
O conceito bioetanol corresponde a
fabricação do etanol utilizando como
matéria-prima a biomassa lignocelulósica.
Essas matérias-primas são provenientes de
sobras e resíduos de produtos naturais
como o sabugo e a palha do milho, o
bagaço, as pontas e as palhas da cana-de-
açúcar (Bastos, 2007).
A estrutura complexa e compacta faz
necessário submeter a biomassa a pré-
tratamentos físicos e/ou químicos antes da
sua hidrólise para produção de etanol. O
pré-tratamento visa à remoção da lignina e
da hemicelulose, reduzir a cristalinidade da
celulose e aumentar a porosidade dos
materiais, de maneira a tornar a celulose
susceptível à hidrólise. Independentemente
do processo de hidrólise empregado (quer
ele seja ácido ou enzimático), uma etapa de
pré-tratamento é imprescindível.
É no pré-tratamento que se consegue
diminuir a quantidade de pentoses (xilose e
arabinose) do resíduo, açúcares não
fermentescíveis no processo de
fermentação alcoólica utilizando-se da
levedura Saccharomyces cerevisiae.
Entretanto, há alguns microrganismos que
possuem a capacidade de fermentar
pentoses para a produção de etanol, são
eles: Pichia stipitis, Candida shehatae e
Pachysolen tannophilus.
Desta forma, este trabalho teve como
objetivo estudar o processo de pré-
tratamento ácido, utilizando-se do bagaço
do pedúnculo do caju como matéria-prima
lignocelulósica. O pré-tratamento ácido
tem a finalidade de, em temperaturas
amenas, quebrar a hemicelulose em xilose
e arabinose (pentoses), diminuindo-se
assim a concentração destes no processo
posterior de hidrólise ácida para quebra da
celulose em glicose e posterior
fermentação alcoólica do licor hidrolisado.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho foi desenvolvido no
Laboratório de Engenharia Bioquímica da
Unidade Acadêmica de Engenharia
Química da Universidade Federal de
Campina Grande – PB.
Material
Foi utilizado o bagaço de caju in
natura, adquirido da indústria de produção
de sucos, FRUTNAT, localizada na cidade
de Campina Grande, Paraíba.
O bagaço foi descongelado e uma parte
do material foi lavada em água corrente.
Após a lavagem o bagaço foi levado à
secagem em leito fixo à temperatura de
55°C. Quando a massa nas bandejas
atingiu massa constante com o passar do
tempo, o material foi retirado e
armazenado, indicando uma secagem
completa. Após a secagem o bagaço, tanto
lavado como sem lavar, foi moído para
reduzir o tamanho e armazenado em
sacolas plásticas.
A Figura 1 mostra o aspecto do
resíduo do pedúnculo do caju lavado e sem
lavar, respectivamente, após a secagem e
moagem.
Figura 1- Resíduo seco do pedúnculo do
caju sem lavar e o lavado,
respectivamente.
Caracterização do Bagaço do Caju:
Análises Físico-Químicas
Uma amostra do bagaço foi
coletada para ser feita a sua caracterização,
que consistiu em analisar umidade, pH,
sólidos solúveis, açúcares redutores.
celulose, lignina e hemicelulose.
Tabela 1: Metodologias Utilizadas na
Caracterização do Bagaço do Caju
Pré-tratamento (Pré-Hidrólise)
Realizou-se um pré-tratamento nas
amostras, utilizando-se de ácido sulfúrico
da marca VETEC. Nesse pré-tratamento
foi feito uma pré-hidrólise ácida a baixas
temperaturas por uma hora, adaptação do
processo de VISSER (2008) no estudo da
produção de bioetanol usando biomassa de
pinhão manso, seguindo a matriz de
planejamento fatorial mostrada na Tabela
2.
Tabela 2: Matriz de planejamento
fatorial 23 utilizada no pré-tratamento.
Experimento Temperatura Concentração
de ácido
Razão*
1 -1 -1 -1
2 +1 -1 -1
3 -1 +1 -1
4 +1 +1 -1
5 -1 -1 +1
6 +1 -1 +1
7 -1 +1 +1
8 +1 +1 +1
9 0 0 0
10 0 0 0
* Massa seca/Volume de ácido
O planejamento experimental foi
realizado com o bagaço de caju lavado,
onde o mesmo encontrava-se com
concentrações mínimas de açúcares.
Na Tabela 3 estão expressos os
valores reais e os níveis codificados dos
fatores estudados nos 10 experimentos.
Tabela 3: Valores reais e níveis dos
fatores estudados para o planejamento
fatorial
Os níveis reais foram definidos
conforme Torres Neto (2010), ao estudar a
pré-hidrólise ácida da palma forrageira.
Análises de Açúcares no Licor Pré-
Tratado
As análises de açúcares foram
realizadas através de cromatografia
líquida, utilizando-se do HPLC. Os dados
do cromatógrafo e as condições das
operações foram as seguintes:
cromatógrafo Líquido equipado com uma
Parâmetros Analisados Metodologia
Umidade BRASIL (2005)
pH BRASIL (2005)
Sólidos solúveis BRASIL (2005)
AR MILLER (1959)
Celulose UPDEGRAFF (1969)
Lignina UPDEGRAFF (1969)
Hemicelulose SILVA (1998)
Nível
-1
Ponto
Central
Nível
+1
Temperatura (ºC) 90 105 120
Concentração (%v/v) 1 3 5
Razão(m/v) 1/8 1/10 1/12
bomba modelo ProStar 210 (Varian);
Injetor manual com loop de 20µL;
Detector de índice de refração modelo
ProStar 356 (Varian); Coluna analítica de
aço inox Hi-Plex H (300mm x 7,7 mm;
Varian); Temperatura da coluna de 65ºC;
Fase móvel: água miliQ com vazão de 0,6
ml/min;Tempo de análise: 15 minutos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 4 apresenta os valores
encontrados para umidade, pH, sólidos
solúveis,açúcares redutores. celulose,
lignina e hemicelulose.
Tabela 4: Caracterização físico-química
do bagaço do caju lavado e sem lavar.
A caracterização do bagaço seco do
pedúnculo de caju visa conhecer sua
composição com relação ao conteúdo de
nutrientes. Comparando com dados
encontrados por Torres Neto (2010) ao
estudar a hidrólise ácida da palma
forrageira, verifica-se que os valores de
celulose (24,6%), lignina (24,6%) e
hemicelulose (15,1%) encontrados para o
bagaço do caju lavado são superiores aos
encontrados para a palma, onde foi
encontrado 20,39% de celulose, 4,77% de
lignina e 5,93% de hemicelulose.
Com relação ao teor de sólidos
solúveis, os bagaços apresentaram valores
diferentes, sendo 0,1 °Brix para o bagaço
lavado e 9,6 °Brix para o sem lavar. Esta
diferença está associada ao fato de que as
lavagens feitas no resíduo do pedúnculo de
caju retiraram boa parte destes sólidos.
Análise do Pré-Tratamento
Os resultados das análises do pré-
tratamento estão apresentados na Tabela 5.
Tabela 5: Resultado das Análises do
Pré-Tratamento
As Equações 2, 3, 4 e 5 apresentam o
modelo da regressão dos dados
experimentais do planejamento fatorial 2³
para as respostas de glicose, xilose,
arabinose e a soma de arabinose e xilose.
Glicose = 337,07 + 86,14.T +18,22.C –
52,7.Ra – 45,44.T.C – 48,32.T.Ra –
17,34.C.Ra (2)
Xilose = 489,19 + 102,52.T + 119,84.C –
54,97.Ra – 43,24.T.C – 90,42.T.Ra –
51,28.T.Ra (3)
Arabinose = 663,21 + 98,78.T + 751,82.C
– 128,55.Ra + 52,37.T.C – 198,1.T.Ra –
112,04.C.Ra (4)
Arabinose + Xilose =1152,36 + 201,35.T +
871,71.C – 183,46.Ra – 288,58.T.Ra –
163,37.C.Ra (5)
Os coeficientes em negrito
apresentados nas regressões são
estatisticamente significativos ao nível de
90% de confiança e T, C e Ra representam
a temperatura, concentração do ácido e
razão massa seca do bagaço/ácido,
respectivamente.
Os coeficientes de determinação (R2)
dos modelos da regressão foram 86,7%,
Parâmetros
Analisados Unidade Lavado Sem
lavar
Umidade % 8,87 9,72
pH - 6,69 4,39
Sólidos solúveis % 0,1 9,6
AR % 0,31 25,53
Celulose % 24,6 -
Lignina % 24,6 -
Hemicelulose % 15,1 -
Glicose
(ppm)
Xilose
(ppm)
Arabinose
(ppm)
Xilose+
Arabinose
1 184,46 221,65 9,33 230,98
2 494,60 514,96 138,29 653,25
3 296,78 471,31 1272,24 1743,55
4 524,50 949,77 2330,81 3280,58
5 160,70 216,07 12,46 228,53
6 376,89 505,79 69,13 574,92
7 303,02 618,72 1547,34 2166,06
8 238,11 377,38 1093,37 1470,75
9 446,08 565,62 58,38 624,00
10 345,53 450,59 100,75 551,34
81,9%, 82,3% e 84,5% para as respostas
glicose, xilose, arabinose e soma das
pentoses (xilose e arabinose)
respectivamente.
Observando-se as equações acima,
pode-se verificar que, em todos os
modelos, a média apresentou coeficiente
estatisticamente significativo. A variável
concentração de ácido foi estatisticamente
significativa para a resposta Arabinose,
Equação 4, e para a soma de pentoses,
Equação 5.
Como o planejamento fatorial teve a
finalidade de verificar a influência das
variáveis temperatura, concentração de
ácido e razão no pré-tratamento do bagaço
do caju, buscando maximizar a
concentração de pentoses no licor tratado,
reduzindo desta forma estas substâncias no
bagaço residual, para, em trabalho
posterior, hidrolisar este sólido para
quebra da celulose em glicose e posterior
fermentação alcoólica do licor hidrolisado,
apenas a resposta soma de pentoses foi
analisada estatisticamente para estudo.
A Tabela 6 apresenta a ANOVA da
resposta soma (arabinose + xilose).
Tabela 6: ANOVA para a resposta da
soma (arabinose + xilose)
R² = 84,54%
F calculado = 4,37
F tabelado = 4,05
Através dos dados da Tabela 6,
verifica-se que o modelo é estatisticamente
significativo, ao nível de 90% de
confiança, pois a razão de Fcalculado por
Ftabelado é igual a 1,08, e está acima de
1,0 (Rodrigues e Iemma, 2005), mas o
modelo apresenta falta de ajuste, conforme
comparação do Fcalculado e Ftabelado
(falta de ajuste pelo erro puro). O modelo
da soma de pentoses não pode ser utilizado
para uma predição, mas pode ser usado
para verificar tendências.
A Figura 2 apresenta a superfície de
resposta da influência da razão e da
temperatura sobre a soma de pentoses
(arabinose e xilose) no licor pré-
hidrolisado fixando-se a concentração de
ácido no nível superior (5%).
Figura 2: Influência da razão e da
temperatura sobre a soma de pentoses
(arabinose e xilose) no licor pré-
hidrolisado fixando-se a concentração
do ácido no nível superior (5%).
Observando-se a Figura 2, pode-se
verificar que o maior valor do somatório,
2860,83 mg/L, foi obtido operando-se o
pré-tratamento na temperatura no nível +1
(120ºC) e razão no nível menor (-1), 1:8,
confirmando o maior valor observado na
Tabela 5 (experimento 4). No experimento
4, da Tabela 5, nota-se, que são os níveis
que maximizam a soma de xilose e
arabinose, apresentando valor de 3280,58
mg/L. No modelo de regressão dos dados
da soma de pentoses, obtém-se 2860,83
mg/L, uma diferença de 419,75 mg/L
Fonte de
Variação
Soma de
Quadrado
Graus de
Liberdade
Quadrado
Médio
Teste
F
Regressão 7552313 5 1510462,6 4,37
Resíduo 1381550 4 345387,5
Falta de ajuste 1378910 3 459637
Erro Puro 2640 1 2640 174,1
Total 8933863 9
(12,8%) do valor experimental. Esta
diferença confirma que o modelo da
regressão apresenta uma concordância da
tendência, mas há uma falta de ajuste.
É óbvio que o pré-tratamento busca
uma maior quebra da hemicelulose em
xilose e arabinose e uma menor quebra em
glicose que é o açúcar fermentescível na
fermentação alcoólica, utilizando-se da
levedura industrial tradicional de usina de
álcool. Em trabalho futuro, o licor pré-
tratado com ácido será separado do bagaço
remanescente do processo. O licor será
encaminhado para o estudo de produção de
xilitol e etanol, utilizando os açúcares
xilose e arabinose e o bagaço encaminhado
para o processo de hidrólise ácida para
quebra da celulose em glicose e posterior
estudo da fermentação alcoólica para
produção de etanol.
CONCLUSÕES
Com base nos resultados deste
trabalho pode-se concluir que:
A variável concentração de ácido foi
estatisticamente significativa para a
resposta Arabinose.
Maiores concentrações de xilose e
arabinose encontradas no pré-tratamento,
se deu nas seguintes condições:
temperatura igual a 120ºC, concentração
de ácido de 5% e razão de 1/8.
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Ao CNPq pela bolsa de Iniciação
Científica.