Cities and Waterfronts | Cidades e frentes ribeirinhas | Master thesis of Raquel Fonseca

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CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS INTEGRAÇAO INFRA-ESTRUTURAL E MULTIFUNCIONALIDADE DE ESPAÇOS E CENÁRIOS Raquel Alexandra Nogueira da Fonseca (Licenciada) Dissertação/Projeto para obtenção de Grau de Mestre em Arquitetura com especialização em Planeamento Urbano e Territorial Orientador Cientifico: Professor Doutor João Pedro Costa Júri: Presidente de Júri Doutor Carlos Francisco Lucas Dias Coelho Vogal Doutor João Pedro Teixeira Abreu Costa Vogal Doutor João Figueira de Sousa Lisboa, FA-UTL, Novembro 2012

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Master Thesis | Cities and Waterfronts: Infrastructures integration and multifunctional spaces and scenarious. Vision of Barreiro city in 21st century with climate change.

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CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS

INTEGRAÇAO INFRA-ESTRUTURAL E MULTIFUNCIONALIDADE DE ESPAÇOS E CENÁRIOS

Raquel Alexandra Nogueira da Fonseca

(Licenciada)

Dissertação/Projeto para obtenção de Grau de Mestre em

Arquitetura com especialização em Planeamento Urbano e Territorial

Orientador Cientifico: Professor Doutor João Pedro Costa

Júri:

Presidente de Júri Doutor Carlos Francisco Lucas Dias Coelho Vogal Doutor João Pedro Teixeira Abreu Costa

Vogal Doutor João Figueira de Sousa

Lisboa, FA-UTL, Novembro 2012

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Titulo:

CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS:

INTEGRAÇÃO INFRA-ESTRUTURAL E

MULTIFUNCIONALIDADE DE

ESPAÇOES E CENÁRIOS

Nome:

Raquel Fonseca

Orientador:

Arquiteto João Pedro Costa

Mestrado Integrado em

Arquitetura com especialização em

Arquitetura de Planeamento

Urbano e Territorial

Lisboa, Outubro 2012

RESUMO

A presente tese de mestrado visa enquadrar a

problemática do fenómeno global das alterações

climáticas, com a consequente subida do nível das

águas na frente ribeirinha do Barreiro.

No contexto ambiental, são alarmantes os estudos

sobre o efeito das alterações climáticas, sendo já

irreversíveis, e que preveem, entre outros, cenários

climáticos extremos de secas e cheias, assim como a

subida do nível das águas. É emergente a reconversão

e planeamento urbano prévio para áreas sensíveis a

este fenómeno, nomeadamente as zonas costeiras e

frentes ribeirinhas. O projeto urbano mostra soluções

possíveis de mitigação para diferentes cenários

climáticos, tendo em conta o futuro nível das águas,

ondulação e cheias, simulado para 2100.

Tem como premissas, aproveitar o potencial cultural e

recreativo desta área, a localização privilegiada do

Barreiro no estuário do Tejo, assim como o seu valor

ecos sistémico e paisagístico. O ensaio de diferentes

soluções para os futuros níveis de água transformam-

se em novas oportunidades ao nível do planeamento

urbano para novas formas de apropriação dos

espaços. Pretende-se integrar as infraestruturas,

criando espaços multifuncionais, que animem e

requalifiquem a futura frente ribeirinha, abrindo a

cidade para o seu rio ao mesmo tempo que são

fortalecidas as suas ligações históricas.

Palavras-chave: Estuário do Tejo + água + frentes

ribeirinhas + alterações climáticas + Barreiro

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Title:

CITY AND WATERFRONTS:

INTEGRATING INFRAESTRUCTURES

AND MULTIFUNCIONAL SPACES

AND SCENARIOS

Name:

Raquel Fonseca

Orientador:

Architect João Pedro Costa

Master’s Degree in Architecture

with specialization in Architecture

of Urban Planning

Lisbon, October 2012

ABSTRACT

This Master Thesis aims to frame the issue of global

phenomenon of climate change, with the consequent

water level rise on the riverfront of Barreiro.

In the environmental context, the studies of climate

change effects are alarming and now irreversible; they

predict, among others, extreme weather scenarios of

droughts, floods, and rising sea levels. It emerges the

reconversion and urban planning for these sensitive

areas prior to this phenomenon, such as coastal and

riverfronts. This final project shows possible mitigation

solutions for different climate scenarios, taking into

account future water levels, plus wave storms and

floods, simulated for the year 2100.

The premises focus on emphasizing the cultural and

recreational potentials of the interventional area, the

privileged location of Barreiro in Tagus Estuary, and as

well its environmental and landscaping unique value.

The essays of different solutions of water levels are

transformed in new opportunities of urban planning

and reinvented adapted urban spaces. It is intended to

integrate infrastructures creating multifunctional

spaces that animate and qualify the future riverfront.

The city is opened to its river as the historical links gets

enhanced.

Palavras-chave: Tagus Estuary + water + riverfront +

climate change + Barreiro

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AGRADECIMENTOS

Acima de tudo devo um sinal de reconhecimento ao Dr. Arquiteto João Pedro Costa sempre

disponível, pela assertividade, pela orientação, pela paciência e partilha de conhecimentos no

desenvolvimento deste trabalho.

Ao Departamento de Planeamento e Gestão Urbanística do Barreiro pela ajuda prestada e aos

moradores do Barreiro pela troca de impressões sobre o projeto urbano.

Á minha família, Jorge, Helena e Sofia Fonseca os quais dou toda a minha gratidão pelo apoio,

confiança, inspiração e motivação que sempre me deram de forma incondicional.

Aos amigos e professores dou o meu sincero agradecimento a todos aqueles que me

acompanharam e apoiaram ao longo deste extenso projeto e do meu percurso de vida

académica, pela contínua troca de experiencias de vida e de trabalho, que sem dúvida me

marcarão para sempre.

Muito Obrigada.

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ÍNDICE

01. INTRODUÇAO | pág. 11

Objetivos | Motivação e questões iniciais | Delimitação do universo de estudo | Metodologia e

estrutura de conteúdos

02. ESTADO DA ARTE | pág. 16

03. RECONVERSAO DE ÁREAS PORTUÁRIAS | pág. 20

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE CIDADES COM INFRAESTRUTURAS PORTUÁRIAS | pág. 20

3.2 METROPOLIZAÇAO E TRANSFORMAÇAO URBANA – INFRA GLOBAL E REDES LOCAIS | pág. 24

3.3 CIDADE COMO CENTRO DE CULTURA E REGENERAÇÃO URBANA | pág. 27

3.4 RENOVAÇÃO DE FRENTES DE ÁGUA E REDEFINIÇÃO DO ESPAÇO PUBLICO | pág.35

04. ÁREA DE INTERVENÇÃO – BARREIRO | pág.46

4.1 A.M.L., PORTO DE LISBOA E ESTUÁRIO DO TEJO | pág. 46

4.2 MARGEM SUL NO CONTEXTO DA AML E ESTUÁRIO DO TEJO | pág. 50

4.3 BARREIRO | pág. 56

CARACTERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO | pag. 56

ANÁLISE DE PROPOSTAS | pag. 58

05. FENOMENO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS | pag.66

5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS E ESPECIFICIDADES PARA O CASO DE PORTUGAL | pag.66

5.2 SIMULAÇÃO DA SUBIDA DO NIVEL DAS ÁGUAS – Lisboa, margem sul e Barreiro | pag. 74

5.3 ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO PARA A SUBIDA DO NIVEL DAS ÁGUAS | pag. 77

CASOS DO REINO UNIDO, ROTERDÃO E NOVA IORQUE

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06. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO | pág. 88

6.1 CONCEITO E PRINCIPIOS DE INTERVENÇÃO DO PLANO URBANO | pág. 88

6.2 CIDADE E A ÁGUA| pág. 89

6.3 ESTRUTURA VERDE | pág. 91

6.4 ESTRUTURA FUNCIONAL | pág.93

6.5 PROPOSTA DE NOVAS ÁREAS EDIFICADAS | pág.98

EQUIPAMENTO FORUM CULTURAL

CIDADE FLUTUANTE

0.7 CONCLUSÃO | pág.106

0.8 BIBLIOGRAFIA | pag.109

0.9 ANEXOS | pág. 114

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01. INTRODUÇÃO

No contexto da problemática das alterações climáticas a nível global e do fenómeno

consequente da subida do nível das águas, surge a necessidade emergente de repensar os

territórios ribeirinhos. Com o aquecimento do planeta, e a progressiva estabilização de dados de

investigações científicas internacionais, dá-se o início ao ensaio da profunda reflexão de

alternativas aos seus impactos e como irão afetar, especialmente, os rios, estuários e deltas

urbanizados.

OBJETIVOS

Este trabalho tem como finalidade a intervenção urbanística na frente ribeirinha da cidade do

Barreiro, inserido no Estuário do Tejo, na Área Metropolitana de Lisboa. O principal objetivo

consiste em investigar, discutir e desenvolver técnicas eficazes para lidar e, essencialmente,

mitigar os efeitos da mudança climática neste território. Será feita uma adaptação da cidade aos

cenários extremos previstos até então, e respondendo aos impactos transversais que serão

identificados, desenvolvendo progressivamente diferentes escalas de projeto. É portanto, um

tema com uma abordagem que tem emergido na agenda de arquitetura e urbanismo, onde são

pensados e desenvolvidos novos conceitos. Pretende-se uma construção teórica e prática de um

modelo de gestão urbana, com ações de planeamento que devem ser tomadas com antecipação

nesta ou em outras áreas similares. Pretende-se também encarar o impacto climático como um

fenómeno de imponente impacto, contudo, não nos subjugando e aceitando como uma

ameaça, mas sim uma oportunidade para renovar e repensar a vida urbana.

Para além de mitigar os impactos indicados, a proposta deve adequar-se á realidade territorial,

o projeto visa a transformação e regeneração de espaços urbanos e infraestruturas. Áreas que,

F01. Cheias em Colónia. F02.Inundação pelo furacão Katrina, New Orleans. F03. – Inundações na Suécia.

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como irão aqui ser devidamente explanadas, têm características peculiarmente sensíveis no

contexto das cidades pós-industriais, apresentando repetidamente fortes conflitos de usos e

funções. É necessário antecipar, reestruturando e intervindo no planeamento e gestão destas

áreas, tirando vantagem para criar novas formas de integrar edificado e espaço público com

usos multifuncionais, capazes de renovar e intensificar a vida urbana nestas áreas.

Ao introduzir esta problemática ir-se-á permitir desenvolver novos espaços urbanos e

ultrapassar situações presentes de conflitos de usos, infraestruturas e gestão territorial

fragmentada da cidade do Barreiro.

MOTIVAÇÃO E QUESTÕES INICIAIS

O projeto desenvolver-se-á em torno de diversas questões; Qual será a envergadura do impacto

territorial das alterações climáticas no Barreiro? Como é que a frente ribeirinha se irá comportar

de futuro ao enfrentar diferentes níveis de água? Qual a dimensão de território que é afetada e

como lidar com dias de cheias? Que património é atingido? O projeto irá resolver esta

adaptação a cenários extremos, tendo presente impactos como a subida do nível das águas até

aos 4,50 metros e a alteração dos níveis de pluviosidade. É extremamente oportuno criar um

sistema que não ponha em risco entre inúmeros outros fatores, a vida humana.

Qual será a solução mais apropriada, retrair na ocupação do território, aceitando o avanço das

águas com o possível abandono ou readaptação das edificações já construídas na margem?

Defender a margem, criando sistemas de barreira? Atacar o problema, avançando com

construções sobre as águas? Ou uma solução integrada de todas? Tomando qualquer uma das

soluções, é inequívoco que estas mudanças vão modificar abruptamente o tecido urbano e as

formas de apropriação destes espaços. Como estes se vão manter relacionados com o resto do

território urbano?

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DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DE ESTUDO

Pretende-se inicialmente uma leitura geral do que foi sendo a

ocupação da frente ribeirinha e do que é atualmente a Margem Sul

do Tejo, no enquadramento do Estuário. Depois de elaborada uma

análise são interpretadas as suas dinâmicas espaciais e zonas

funcionais do território. Esta margem do Tejo tem sido

caracterizada desde cedo como segundo plano em detrimento das

necessidades da capital. Foram-se desenvolvendo atividades e

grandes infraestruturas portuárias e industriais importantes para a

logística e consumo lisboeta, onde consequentemente se foram

fixando aglomerações populacionais pontuadas pelo território desta

margem.

Em paralelo com a reflexão teórica no âmbito das ‘Cidades e frentes

ribeirinhas’ e as ‘Cidades pós-industriais’, pretende-se desenvolver

uma investigação aplicada no território, em conjunto com a

identificação de uma área, no Estuário do Tejo, diagnosticada como

zona de perigo com a subida do nível das águas. A cidade do

Barreiro é involuntariamente um local onde todos estes

componentes estão presentes, é aqui apresentado um diagnóstico

que ajudará a enquadrar a problemática em causa e também a

suscitar pistas de projeto a aplicar na intervenção urbanística.

METODOLOGIA E ESTRUTURA DE CONTEUDOS

Para a concretização deste trabalho, procedeu-se á investigação e estudo teórico sobre a

relação de cidades e porto e cidades com frente ribeirinha. Com recurso a literatura e

monografias dedicadas ao tema e a casos com exemplos de cidades com frente rio/mar de

características de idêntica contextualização ambiental formal e conceptual. Uns exemplos em

que já se estejam a realizar estudos e projetos para lidar com o desafio da subida das águas e

F04. Silos industriais na margem sul do Tejo.

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outros que pela sua inovação e regeneração de frente ribeirinha são exemplos de estudo e

inspiração para este tema.

A partir desse estudo sistemático obtiveram-se as premissas a aplicar no exercício prático,

realizado em paralelo com base em maquetes de estudo e seguindo as fases da execução de um

projeto: conceito e matéria, proposta de inserção na cidade, proposta urbana e volumétrica,

estudo prévio e projeto de execução de um edifício marcante da proposta.

Inicialmente pretende-se uma análise do território a uma escala mais abrangente da Margem

Sul, no enquadramento do Estuário do Tejo, elaborando uma análise histórica e sensitiva do

lugar, incluindo esquemas explicativos de fluxos e fatores mais determinantes desta área, como

a evolução da sua indústria e a evolução da rede de acessos e aglomerações populacionais. No

decorrer do desenvolvimento do trabalho a escala baixou para o nível de projeto urbano e

portanto com outro entendimento, mais detalhado e focado num troço específico de frente

ribeirinha, conceptualizando um modelo de intervenção exemplar, levantando as questões

urbanas já consideradas.

Sendo vasta a área do Estuário do Tejo, é desenvolvido neste projeto uma zona em que é

emergente e interessante intervir de forma ponderada sobre o efeito da alteração do nível das

águas, onde é urgente repensar nas linhas de água do local, sendo estas as áreas mais frágeis e

inevitavelmente com consequências mais catastróficas no caso de inundação. Também lugar

onde, pelas suas características urbanas, se enquadrem na problemática da disfunção de usos,

convergência de infraestruturas e gestão territorial atual discutível. Um troço onde já tomem

lugar diferentes tipos de construção, edifícios residenciais recentes, a zona histórica, o

património cultural, assim como o património natural/paisagístico, e seja necessária uma

transformação e adaptação do tecido urbano ao novo espaço de cidade na margem.

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02. ESTADO DA ARTE

Este projeto/dissertação foi elaborado tendo como base um processo de investigação e

pesquisa que aborda diversos temas e opera a diversas escalas, são aqui sintetizados os

parâmetros que sustentaram todo o desenvolvimento do trabalho.

No primeiro capítulo, a - ‘Reconversão de áreas portuárias’ – foi indispensável compreender a

evolução histórica do legado portuário não só no contexto da cidade de Lisboa mas os processos

espaciais que aconteceram noutras cidades ribeirinhas do mundo e portanto de extrema

importância perceber como estas foram sendo construídas, expandidas e finalmente como se

deu o fim da sua era de utilização. Para tal, foi fundamental recorrer às obras de Han Meyer em

City and Port e João Pedro Costa em La Ribera entre Proyectos, Formacion y Transformacion del

Territorio Portuaria a partir del caso de Lisboa. Na obra de Han Meyer foi um considerável

contributo a análise comparativa que faz entre 4 cidades portuárias diferentes, NY, Londres,

Barcelona e Roterdão que considera como sendo cidades-porto exemplificativas de todos os

portos mundiais. Para entender a imagem antiga e atual das cidades portuárias foi também

importante a publicação de Maria Clara Mendes em Enquadramento dos processos de

reconversão dos portos e frentes de água e igualmente para entender recorrente urbanização

atual ligada ás frentes marítimas de Joan Busquets em A reabilitação das ‘Frentes de água’. A

obra de João Pedro Costa foi focada para a compreensão das especificidades da zona portuária

de Lisboa e as dinâmicas espaciais no Estuário do Tejo. A obra é um contributo para entender as

várias renovações de frentes de água que têm vindo a acontecer no território e o leque de ações

estratégicas que existe ao nível de planeamento urbano para estas áreas pós-industriais

sensíveis e expectantes que são agora devolvidas á cidade.

No capítulo da ‘Área de intervenção – Barreiro’ – foi útil e inevitável recorrer á consulta da

Cartografia Histórica em paralelo com a pesquisa documental sobre a Área Metropolitana de

Lisboa, o Estuário do Tejo e finalmente o Barreiro. Foi fundamental recorrer, aos dados da AML

pelas publicações do Atlas; as publicações do Porto de Lisboa com cartografia e planos com

propostas atuais para diversas zonas; assim como os planos de ordenamento vigentes, PROT-

AML e PDM. As publicações periódicas da revista Estuarium são impossíveis de não salientar

pelas descrições das áreas ribeirinhas de todo o Estuário, a focar o capítulo dedicado ao

território do Barreiro. A partir da pesquisa de cartas e fotografias antigas fornecidas pela

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Camara Municipal do Barreiro foi também possível perceber a evolução histórica deste

território.

No capítulo do Fenómeno das alterações Climáticas procedeu-se á pesquisa de dados científicos

de fontes fidedignas, da organização do IPCC-Internacional Panel on Climate Change, assim

como outros dados de estudos á volta do globo, não sendo as previsões da subida das águas

todas de forma igual. Foram investigadas as projeções como a United Kingdom Projections,

Climate Change in Australia, relatório CCIAM com projeções para Portugal, que formularam a

base para os cenários climáticos a aplicar nesta proposta urbana, chegando-se á conclusão de

ser uma subida com projeção máxima nas cotas 4,50 ou mesmo 5,00 metros acima do nível do

mar, em casos de cenários climáticos extremos para o ano 2100.

Neste capítulo são estudadas as estratégias de mitigação em relação á subida do nível das águas

em casos diversos á volta do globo. São de notar os exemplos dados na publicação Facing Up

Rising Up Sea-Levels: Retreat? Defend? Attack? que mostram as 3 atitudes a tomar perante este

fenómeno, no caso nas cidades inglesas. Também as publicações de Rotterdam Watercity 2035

– De Urbanisten em Roterdão e as equipas de projeto PALISADE BAY TEAM NY em Nova Iorque.

Embora para casos específicos estes ajudaram a complementar e reunir um leque de soluções-

tipo para mitigação ao fenómeno futuro e de como desenvolver comunidades resilientes e

adaptadas á subida das águas.

Na parte de proposta urbana e no desenvolvimento do equipamento cultural, assumem-se as

ideias e os princípios analisados da parte teórica, numa adaptação e compreensão do lugar em

causa, sendo o Barreiro um lugar único com especificidades muito próprias. Pretendeu-se

fundamentar algumas da decisões projetuais, pois foram pertinentes na sua análise por serem

casos e conceitos muito semelhantes.

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03. RECONVERSÃO DE ÁREAS PORTUÁRIAS

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DE CIDADES COM INFRAESTRUTURAS PORTUÁRIAS

Grandes infraestruturas deixam inevitavelmente marcas permanentes na imagem e na estrutura

das cidades, podem ser sistemas de defesa militares como antigas muralhas, caminho-de-ferro,

viadutos, diques, fábricas, noutros casos elementos aparentemente menos marcantes como

cursos de água preenchidos, antigos caminhos rurais, moinhos históricos. Todos estes, entre

outros, mesmo ao cair em desuso, ou sendo desativados parecem deixar a impressão da sua

presença por várias décadas ou mesmo seculos. Normalmente tais elementos deixam traços

bem visíveis no mapa da cidade, fazendo intrinsecamente parte da sua memória, o mesmo

acontece com o objeto de estudo aqui desenvolvido, o legado de infraestruturas portuárias.

As zonas portuárias foram sendo construídas e expandidas ao longo de seculos, pela

necessidade de atracagem de embarcações que foram sendo cada vez maiores e em maior

número. Portugal tem como exemplo marcante a sua história marítima e consequentemente o

desejo de melhorar o seu sistema de trocas de produtos e mercadorias. Desde épocas remotas,

que este sistema foi-se modificando e modernizando, com maior ênfase e mais rapidamente nos

seculos XIX e XX. Han Meyer sintetiza, de acordo com o economista Kondrarieff, as 5 fases em

que os sec.XIX e XX se podem dividir e que foram decisivas para o desenvolvimento destas

áreas:

1ª(1782-1845) - Revolução da energia; 2ª(1846-1892) - a ‘Era das infraestruturas’ quando surge

um crescente trânsito nos portos e este era o destino final da rota da transportação (os portos

não são mais construídos nas zonas rurais mas sim na cidade, o que requereu uma redefinição

da relação cidade, paisagem e infraestrutura); 3ª (1938-1948) - dá-se um crescimento na auto

F05.Terrenos industriais da Quimiparque, Barreiro. F06.Estação desativada da CP, Barreiro. F07. Aqueduto e Vale de Alcântara, Lisboa.

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mobilidade e com a concentração das atividades económicas é lançada a base para formar as

áreas metropolitanas; 4ª (1949-1998) - com a globalização e internacionalização da indústria,

juntamente com a ‘Era dos escritórios’, criam uma nova fase determinante para as atividades

portuárias porque definiu papéis e tarefas diferentes para cada porto – hierarquia de portos –

em que uns se tornam principais, os portos maiores, e por sua vez os portos que servem áreas

continentais (há portos especializados e distribuídos, e que juntos formam uma rede portuária);

5ª (1999-2048) - na última fase a qualidade é primordial, assim como o contacto em rede e as

infraestruturas estarem em constante mutação, torna-se cada vez mais importante a rapidez da

informação.1

Efetivamente, o crescimento económico do sec.XIX, trouxe mutações a que a indústria de então

não podia mais responder. As novas técnicas de transporte e armazenagem exigiram outro tipo

de equipamentos e espaços também maiores, assim como as alterações na logística e nos

sistemas de transportes, que em conjunto conduziram ao abandono destas áreas.

Paralelamente, as relações entre cidade e porto foram-se degradando no decorrer dos tempos,

criando uma barreira tanto física, na falta de integração destas áreas por falha de planeamento

urbano, como ate mesmo social, por serem zonas que foram estigmatizadas como perigosas até

muito tarde e vistas tanto como um fascinante microcosmo a um foco assustador de

marginalidade2. A visão menos positiva relativamente a áreas portuárias foi-se modificando e

vários têm sido os esforços de planeamento para reunir a população com o seu porto, contudo a

barreira que estas zonas criaram é especialmente difícil de ‘coser’ com o tecido urbano e

reconciliar estes espaços com a envolvente.

A fase temporal em que nos encontramos sugere que ambos, a cidade e o porto, estão cada vez

mais relacionados um com o outro, formam juntos a paisagem urbana, espalham-se pelo

território da paisagem original. As zonas de antigos portos assumem posições estratégicas na

cidade, onde há ligações entre novas funções residenciais e trafego, e entre redes locais e redes

globais.3 A aliança porto-industria, que durou mais de um século e isolou grandes frentes de

1 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.21

2 Idem, pp.32

3 Idem, pp.24

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água, dá lugar a aliança porto-logística e exige uma reflexão mais profunda e a reorganização

destas áreas.4 São por isso, como se irá aqui desenvolver, áreas de grande interesse urbanístico

e na maioria dos casos são territórios expectantes de desenho urbano integrador.

Para observar melhor a relação entre as cidades e os seus portos, Han Meyer, na publicação City

and Port, analisa 4 cidades portuárias que considera exemplificativas a nível mundial no

planeamento urbano. A maioria das cidades portuárias da América do Norte, pelo exemplo de

Battery Park City e South Street Seaport em Nova Iorque, são penínsulas com uma grande linha

de costa, em que ao longo dela de distribuem repetidos sistemas de cais, orientados em linha

reta em relação a terra. Os cais são a continuação da rede viária urbana sob a água. As docas

gigantescas de Inglaterra normalmente encontram-se fora do contexto urbano, sendo as

Docklands de Londres e a sua expansão, o tipo de porto que supera as demais. As cidades-porto

do norte da Europa distribuem-se ao longo dos deltas, em que foram construídos diques e

represas para proteger as cidades de inundações, que são o fator principal da sua existência.

Roterdão e o caso de estudo de Kop van Zuid é sem dúvida um exemplo esplêndido onde se

pode observar uma cidade em constante mutação, pela alternação da relação entre terra e mar

e pelas estruturas-barreira que impedem o rio de avançar. Nos portos do mediterrâneo, vistos

do mar, são geralmente baias que a cidade parece naturalmente abraçar e conceber o porto

com maior detalhe. São portos de aparência mais ‘natural’, como é exemplo o caso da

revitalização do porto histórico e frente ribeirinha de Barcelona. Todos estas cidades portuárias

têm vindo a observar as suas antigas zonas portuárias degenerarem, deteriorar ou caírem em

desuso, mesmo se localizando perto dos centros urbanos.

O porto de Lisboa não é um porto mediterrâneo comum, como se irá sintetizar noutro capítulo,

é apresentado por Han Meyer como gesamtkunst-werk, uma identidade arquitetónica. São

dispostas ao longo da margem várias secções incongruentes de infraestruturas portuárias que

vão sendo renovadas embora com um certo alheamento em relação aos espaços envolventes,

como encontrado aparentemente em Veneza e Génova.5 A Ribera industrial de Lisboa apresenta

4 Luís Bruno Soares, Frentes de Água, in: Estuarium, nº5, AML, Lisboa, 2004, pp.7

5 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.116-120

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uma grande extensão e a sua formação foi particularmente rica e diversificada que em partes e

momentos distintos, teve processos bastante variados.6 Estas secções de zonas portuárias que

vão acontecendo ao longo da frente de água são interessantes do ponto de vista da diversidade

e multiplicidade de espaços criados.

A dificuldade de comparação entre o estudo das cidades-porto prende-se: nas características

territoriais, a forma e geografia, e tipologia da infraestrutura portuária; nas dinâmicas espaciais,

atividades económicas e principais atores sociais intervenientes; e nos processos administrativos

seguidos, nos quais se encontram diversas soluções para cada caso específico. Por exemplo, o

corredor portuário e as infraestruturas de acessibilidade que separam a cidade do rio em

Amesterdão e Lisboa não são iguais pela morfologia de cada uma; Boompjes em Roterdão e

Jonashafen em Hamburgo não têm comparação possível na forma e na sua posição na cidade7;

assim como temos uma dimensão de áreas metropolitanas como as de Nova Iorque e Londres

serem estrondosamente maiores que Roterdão e contudo não existir cidade com mais trocas

comerciais portuárias do que esta, fazendo de Roterdão atualmente o maior porto do mundo8.

Apesar dos vários fatores, o ponto em comum das cidades portuárias e os posteriores projetos

de reconversão urbana é na natureza da dinâmica de formação e de transformação, e nas suas

principais características. Existem dimensões urbanísticas comuns que podem ser identificadas,

no que respeita ao seu papel na transformação das cidades.9

6 João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.55

7 João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.2-5

8 As proporções de dimensão e trafego dos portos foram sempre se alterando, sendo que no sec.XVI a

rede de cidades portuárias do Mediterrâneo era o maior sistema de trocas do mundo, deixando mais

tarde esse papel para a Inglaterra e Holanda. No sec.XIX Nova Iorque ultrapassa os restantes e é em 1960

que Roterdão é considerado o maior porto do mundo. Han Meyer, City and Port, pp.52

9 João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.61

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‘Nor can differences in economic developments and territorial conditions explain the recent

emphasis on the cultural quality of urban planning transformations of these areas. regardless of

whether port activities are relocating, declining, or growing; and regardless of whether port

cities have bays, piers, docks, or tidal harbors; harbors everywhere - and specially older ones -

are being discovered as areas vital do the cultural quality of the city.’10

3.2 METROPOLIZAÇAO E TRANSFORMAÇAO URBANA – ENTRE INFRAESTRUTURA GLOBAL E

REDES LOCAIS

Desde os anos 60, que se percebeu que a organização funcional do sistema urbano não tinha

mais os limites confinados, estes limites aumentaram para uma área muito maior. Para além das

alterações associadas á navegação, houve alterações na logística e na estrutura do sistema de

transporte, que enfatiza a integração, coordenação e expansão das várias componentes e do

sistema intermodal.11 Os portos fazem parte de cadeias logísticas, com ligações que se desejam

serem competitivamente cada vez mais rápidas.

A palavra logística aparece nos anos 70 e tornou-se primordial para a economia dos anos 80. É

introduzido o porto como eixo logístico, e passa a ser parte integrante do sistema entre terra

mar e ar. Sem as electronic highways, a boa coordenação com outros sistemas de transporte,

não há contacto com o ritmo internacional e este tipo de infraestrutura passa a ser inconcebível.

A reavaliação das zonas funcionais da cidade está associada a um conceito complexo, a

liberdade de trocas é feita com mercadoria, mas também com serviços e ideias, assim como leis

de oferta e procura. A função da cidade como mercado e como ponto principal não está tão

claramente identificada numa zona geográfica concreta, como era antes na praça principal ou

no porto de uma cidade. A cidade não está ligada só a um sítio, mas uma combinação de

diversas atividades, e graças á tecnologia, tudo está perto. A distância física é cada vez menos

importante, a realidade virtual e rapidez veio acabar com a necessidade de se sair sequer da

residência, o que trouxe toda uma nova problemática e desafios ao desenho urbano e á função

10

Han Meyer, Port and City, 1999, pp.59

11 Maria Clara Mendes, Enquadramento dos processos de reconversão dos portos e das frentes de água in:

Ar, n.º 4, Faculdade de Arquitetura da UTL, Lisboa, pp.11

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do espaço publico. A cidade tornou-se mais difusa, uma metrópole moderna, ou mesmo

megametrópole.

Com o desenvolvimento das redes de transportes nos sec.XIX e XX, seguido do abandono e

declínio das zonas portuárias, deixa-nos a questão de como redesenhar a relação da cidade com

a infraestrutura e paisagem. Esta questão pode-se dividir em duas partes: entre infraestrutura

global e redes locais e entre o lugar e o programa.12 A primeira questão prende-se pelas áreas

portuárias serem agora zonas em que duas funções urbanas se encontram: a função residencial,

ou o lugar onde se vive e se passa tempo; e a função de tráfego a outro nível, ou a cidade como

parte de um sistema interlocal e rede de transportes. A inovação tecnológica trouxe o efeito de

combinar redes de grande escala com as redes locais. A renovação urbana destas áreas terá de

responder a várias questões, criar um bom clima na logística dos serviços, relacionar a área de

intervenção com a cidade e atender tanto a aspirações nacionais/internacionais, larga escala,

com o urbanismo de pequena escala – escala do lugar.13 A questão entre o lugar e o programa

prende-se na relação entre terra e água e as mudanças de relação entre estas pela construção

de infraestruturas portuárias. Será que o rio, oceano, baia, ou estuário tem uma conotação

urbana específica que desenvolva um plano vantajoso? Qual é o significado do porto para a

cultura da cidade?

SIGNIFICADO DA ÁGUA E VISÃO DAS ÁREAS PORTUÁRIAS

12 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.56

13 Em dois estudos das cidades de NY e Roterdão, é enfatizada a importância de serem colocadas

pequenas e médias empresas para vários estratos sociais e em rede de partilha. São a chave para

adicionar valor extra aos projetos de frentes de água. .Han Meyer, Port and City, 1999, pp.48

F08. Royal Victoria Dock, Londres, 1933. F09. Tânger, porto multicultural/multifuncional, 1970.

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O sec.XIX e início do séc.XX viram ser cultivado um estigma das zonas portuárias. O significado

da água no planeamento tornou-se objeto de opiniões diversas e conflituosas, por um lado era

um elemento necessário pela finalidade das infraestruturas, mas era um espaço com

experiencias contraditórias para a comunidade. Os portos eram estações de transbordo, ‘sujas’,

com misturas de atividades, pessoas e funções. Visitar um porto significava ver um museu vivo

de cultura e antropologia, pelo microcosmo de nacionalidades, culturas e grupos étnicos. Esta

visão, do porto ser objeto de condenação moral e foco de poluição, sem dúvida manteve o

desdém, difamação e falta de interesse da população em geral por estas áreas, aliado ao facto

de ser um campo de tensão entre dois níveis de escala muito diferentes.

Começando pela noção de fonte de perigo, esta ideia começa a mudar pelo oceano ser visto

como um elemento saudável e a vastidão da água não ser mais encarada com medo, mas como

desafiante. A imensidão deste elemento e as ligações que se propiciam pelas redes, fazem das

frentes de água uma das poucas possibilidades de retratar uma relação direta entre a cidade e

largas estruturas encontradas na natureza. Seja quais forem as explicações sociológicas,

culturais ou psicológicas, a água tornou-se num elemento catalisador da vida urbana moderna

que hoje é recorrente nos espaços de recreio e lazer, e um modelo recorrente de urbanização

contemporânea.14

O desejo da frente água se tornar num elemento harmónico, tem sido um tema comum no

planeamento urbano, recorrente na história do modernismo, começando por tecer o seu

caminho romântico no séc. XIX, com cafés, plantações e ‘promenades’ á beira-rio; a visão de Le

14 Joan Busquets, A reabilitação das ‘Frentes de Água’, in: Estuarium nº3, Lisboa, 2003, pp.5

F10. F11. - Visão de Le Corbusier para Alger, 1930. F12. Visão de Le Corbusier para o Rio de Janeiro, 1930.

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Corbusier para Alger, Buenos Aires e Rio de Janeiro; Roterdão e a ‘Janela para o rio’ no plano de

reconstrução pós-guerra; e atualmente um foco de atração urbana por excelência.15

De acordo com Luís Soares este elemento tornou-se importante para a competitividade

territorial e reforça as diferenças e a atratividade entre cidades costeiras (periféricas) para as

continentais (centrais) e das cidades do sul para as cidades do centro e norte da Europa, pelo

conforto climático. Com efeito, a Área Metropolitana de Lisboa, pela localização privilegiada e

uma frente de água tão diversificada, tem elevado potencial nestas áreas.16

3.3 CIDADE COMO CENTRO DE CULTURA E REGENERAÇÃO URBANA

‘(…) is simply impossible to control urban life with rational planning models. Because the ‘soft

city’ is more important than the ‘hard city’, the material city.’17

Ao descrever uma cidade podemos localizá-la no mapa e quantificar dados estatisticamente, são

sem dúvida informações objetivas, contudo a complexidade da vida urbana não é sentida dessa

forma, em cada sítio, em cada forma, em cada edifício, muitos mais significados são captados e

15 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.30-34

16 Luis Bruno Soares, Frentes de água, in: Estuarium nº7, Lisboa, 2004, pp.5

17 Han Meyer refletindo sobre o livro Soft City, 1974 de Jonathan Raban onde explica o fim do domínio

funcionalista no planeamento urbano - Han Meyer, Port and City, 1999, pp.18

F13. Parque das Nações. 714. Docas de Alcântara. F15. Moinhos de vento e praia de Alburrica, Barreiro.

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importantes ao ponto de serem reconhecidos, memorizados, valorizados e representativos de

um lugar.

As aspirações de um plano urbano são incompatíveis com ideias e modelos puramente

racionais. Identidade cultural, um termo que começa a ser mais usado desde os anos 80, não só

no planeamento e arquitetura, mas em discussões e reformas políticas, por contraponto ao

modelo funcionalista, torna-se numa referência no novo modo de pensar o urbanismo. O

conceito de identidade cultural e valor cultural moldaram a mentalidade e também as formas

urbanas, estruturas e funções nos planos – o pós-modernismo.18 Este critério cultural, que se

sobrepõe ao racionalismo, é claramente menos evidente que o anterior, mais equivoco e

suscitável de divergências, mas também mais enraizado do ponto de vista da sensibilidade

humana.

Nos anos 60, depois dos primeiros resultados do urbanismo funcionalista, surgiram as primeiras

duvidas e criticas, tanto por leigos como profissionais. A função primária, sendo o funcionalismo,

falhava por não pensar na sensibilidade humana dos espaços. O que veio em seu lugar? Surgem

novas formas conceptuais, denominadas como Projeto Urbano, ou Design urbano. O plano não

depende de uma função específica, a forma e estrutura tem um significado cultural, que não se

altera se o uso da cidade se modificar. A função do espaço urbano deixa de ser o ponto de

partida mais óbvia.

O desenvolvimento do espaço urbano é visto com relativa autonomia, com a sua própria

dinâmica. Existe distinção entre os vários layers, cada um com a sua dimensão e dinâmica, que

complementa o seu papel na cultura da vida quotidiana duma certa região. A história dos rituais

diários dessa civilização, rotinas, hábitos, cultura, é uma história que tem um processo muito

mais enraizado e prolongado do que por exemplo a história de técnicas de manufatura, ou

relações politicas e militares, que são inconstantes. Em suma, em vez de o plano querer alcançar

primeiro objetivos económicos e sociais, a pesquisa de projeto visa encontrar e legitimar, com

uma boa base, o plano urbano em si.

18 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.19

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30

Pelo facto da cidade tradicional ter mudado, vários centros urbanos perderam importância,

dado o ritmo do mercado e constante mudança de equipamentos e atividades. Agora os

esforços convergem para melhoramentos urbanos no âmbito de tornar os centros tradicionais

em sítios de ‘urbanismo culturalizado’. É essencial dar enfase á cidade como sendo uma peça de

arte única no mundo, comparando com outras cidades. A denominada ‘specific cultural identity

of the city’ parte dos objetivos das estratégias urbanas promoverem a cidade com uma nova

imagem e fazer dela parte de uma rede internacional de cidades globais e cidades informativas.

Traduzindo-se num plano, é importante existirem espaços de lazer dedicados á cultura, turismo,

atividades recreativas, com museus, galerias, teatros, festivais, centros de compras. Por sua vez

este urbanismo cultural tem o efeito em cadeia de atrair novos negócios e restaurar a antiga

centralidade da cidade.19

Um novo design para uma nova infraestrutura ou a reorganização e reconversão da

infraestrutura existente tem envolvido a sua importância cultural, que afinal, é mais importante

do que a função inicial que formou a base da sua construção.

‘Design large-scale infrastructure in such a way that the local situation thus created leaves the

function of the infrastructure itself and, at the same time, lends added value to the immediate

urban context’20

A cultura tornou-se num catalisador e motor de regeneração urbana. Esta encontra-se presente

nas cidades das mais ínfimas formas. A reconversão de usos é uma resposta de reabilitação e

conservação do património, adaptando a arquitetura existente às necessidades de uso

contemporâneo. A reabilitação pode ser mais ou menos interventiva, sabendo que este tipo de

requalificação permite principalmente articular a dimensão histórica com a intervenção. O

objeto histórico deixa de ser uma mera estrutura parada no tempo para voltar a ser reativada.

19 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.44-46

20 Idem, pp.382

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No caso de Palau del mar em Port vell, Barcelona, foi tomada a opção da reconversão de uso do

edifício histórico, os antigos armazéns converteram-se em museu e espaços comerciais.

As características do antigo edifício do séc.XIX e as

arcadas que o ligam ao espaço exterior tornaram

possível criar estabelecimentos de restauração. O edifício e o espaço envolvente ganham valor

acrescentado, com mais vivência e visitantes, que por terraços e esplanadas contemplam a nova

marina.

A proposta de Terry Farrell para a Battersea Power Station em Londres visa a reconversão do

edifício histórico num espaço verde e cultural, hoje um marco famoso da cidade londrina. Este

projeto é interessante porque se contrapõe a outros planos existentes que, de forma comum,

F16. F17. F18. Reconversão dos antigos armazens de Palua del Mar para Museo de Historia da Catalunya e Departamento de Bienestar y Familia de la Generalitat de Catalunya.

F19. Planta da proposta de Terry Farrell. para a antiga Estação de Energia, Londres. F20. Vista do rio

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desenvolvem e adicionam edifícios de uso misto á antiga estação de energia.

Ao contrário de outras propostas que requerem grande investimento, este plano alternativo é

sustentável do ponto de vista ecológico e económico, adequando-se ao local e respeitando a

memória do edifício. A partir do rio, o edifício mantem toda a grandeza da sua forma, no

entanto no seu interior, pelo simples ato de substituir as paredes laterais do edifício por

colunatas, surge um parque público usado para lazer e eventos ocasionais.21

No quadro do urbanismo cultural, o foco virou-se para a qualidade do espaço publico a partir

dos anos 80 e 90. Os espaços públicos tornam-se importantes no âmbito político, sendo que

como constatamos atualmente, os atores intervenientes convivem lado a lado. A questão que

aqui se prende é perceber se este enfoque no espaço público é uma verdadeira renovação ou se

trata apenas de um ‘embelezamento’. Frequentemente, a motivação principal vem do comércio

e de interesses só especulativos, meras variations on a theme park.22

A corrente da culturalização de trocas comerciais faz com que se privatizem grandes áreas

urbanas o que faz desaparecer o espaço publico como ele deveria ser. A exploração comercial e

a maneira como esta é suportada por promotores e autoridades locais, faz com que se criem

espaços para usufruto de um certo público-alvo, o que vai inevitavelmente excluir certos grupos.

É inevitável isto acontecer nos tempos modernos? Acontecerá em todo o lado?23

21 Em http://www.terryfarrell.co.uk/ acedido a 1 de fevereiro de 2012

22 Termo usado por Han Meyer em que compara os espaços públicos a superficiais parques temáticos

23 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.44

F21. Esquema da reconversão da fábrica em parque urbano. F22. Vista das colunatas.

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Existem duas escolas de pensamento sobre a transformação de que hoje é alvo o espaço

público. A primeira defende que este desapareceu, por via do desenvolvimento do sector

publico se comportar agora como uma empresa privada, na medida em que as suas iniciativas e

concretizações são vistas mais como ‘produtos’ de negócio em que tudo é quantificado e

avaliado economicamente. Há maior interesse em aumentar o valor imobiliário do que qualificar

realmente os espaços.

A segunda escola é mais positiva, ao contrário das redes locais dependerem das redes

internacionais, o que acontece é precisamente o inverso, as redes económicas da região e o

revivalismo local é mais importante para a reconversão da economia. Depois de termos

assistido a uma vida citadina acelerada da população, constantemente preocupada com a

rapidez da informação, constatamos também a sua desaceleração, por aqueles que procuram a

cidade para passar o tempo. Esse facto deve-se por varias processos como pelo turismo, por

migrações de grupos entre estratos sociais, o desemprego e a precaridade. A linha que separa os

dois estados na cidade é muito ténue e rapidamente se passa de um para o outro, o que prova

que o domínio público existe, o espaço em que os dois mundos veem interesse.24

No âmbito de reconversão de grandes infraestruturas urbanas, temos como excelente exemplo

a linha férrea de Nova Iorque para espaço público – NY HIGH LINE – desenhada por colaboração

com o atelier James Corner Field Operations é hoje um exemplo de sucesso.

A estrutura histórica da linha férrea sobrelevada esteve sob ameaça de demolição mas foi

mantida pela organização Friends of High Line em conjunto com o New York City Department of

24 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.48-52

F23. Localização da linha férrea NY. F24. Vista aérea do parque sobrelevado. F25. Vistas interiores do parque por entre edifícios.

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Parks & Recreation. Cerca de 1.6km foram transformados em espaço publico por cima das ruas

de Manhatan. O percurso vai sendo animado por vários níveis de plataformas, onde vão

surgindo diferentes tipos de plantações e espaços de estar de onde se observa a cidade de

múltiplas perspetivas. Ao longo do ano vão acontecendo atrações culturais, com instalações

temporárias e eventos musicais. Este caso é igualmente bem-sucedido porque estimulou

consequentemente o desenvolvimento imobiliário nos bairros adjacentes.25

O mesmo conceito de reconversão acontece no projeto para

a estação de metro desativada, Williamsburg Bridge Railway

Terminal também em Nova Iorque, transformada pelo Studio

RAAD num parque verde subterrâneo.

25 http://www.thehighline.org acedido em 1 de Fevereiro 2012.

F27. Vista atual da estação subterrânea,

espaço de intervenção.

F28. Proposta para espaço de lazer pelo

Studio RAAD.

F26. Esquemas das várias secções de espaço público.

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A área envolvente neste projeto que carece de espaços públicos e a reconversão da

infraestrutura tornam-se uma oportunidade única para criar uma ‘bolsa de ar’ na cidade. Entre

outros, o projeto prevê o uso de tecnologia solar para proporcionar luz e permitir o crescimento

de vegetação no subsolo.26

Concretamente, estes exemplos fundamentam o efeito potenciador na cidade pela simples

reconversão de espaços ou de edificado. Deste modo eficaz estes espaços são devolvidos á

cidade.

26 http://raadstudio.com/ acedido em 1 de Fevereiro 2012.

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3.4 RENOVAÇÃO DAS FRENTES DE ÁGUA NA CIDADE PÓS-INDUSTRIAL E REDEFINIÇÃO DO

ESPAÇO PUBLICO

O ‘renascimento’ do urbanismo, em que as cidades portuárias ganham o papel principal, as

antigas zonas portuárias são redescobertas como as zonas ideais para o desenvolvimento de

novo urbanismo, o urbanismo de frentes de água. Foi em finais dos anos 50, que na América do

Norte se dá início ao processo de renovação das frentes de água, associado á desindustrialização

e aos fatores já descritos, alterações no mercado e logística, que tornou inapropriadas as antigas

docas. Os casos de estudo que marcaram a primeira geração de renovação de frentes de água

foram Inner Harbour em Baltimore EUA nos anos 60, e em Toronto nos anos 70, com o

Harbourfront Project.

Nos anos 70, o planeamento de

áreas portuárias dá-se na Europa,

com a renovação urbana das

Liverpool Docklands, e na década

seguinte com o desenvolvimento das

London Docklands Development

Corporation (LDDC).27 As docas

londrinas fecham, e os estaleiros

navais passaram a localizar-se em Tilbury, nesse seguimento é criado a LDDC pelo Governo. A

zona de Isle of Dogs, 1.95 km² de aterro que abrange West India, Millwall e East India Docks, é a

primeira a sofrer alterações de reconversão usufruindo da nova infraestrutura de transporte, a

27

João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.2-5

F29. LDDC (área cinza escuro) e Isle of Dogs (amarelo), Londres.

F30. F31. Vistas de Isle of Dogs, zona residencial. F32. Zona empresarial de Canary Wharf.

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linha ferroviária Docklands Light Railway. Esta renovação urbana, mais tarde desenvolvida por

Canary Wharf28, tornou-se numa zona empresarial com espaços comerciais e blocos de

apartamentos privados de alto valor imobiliário, um pouco á semelhança do que aconteceu na

zona da Expo 98 em Lisboa. É atualmente dos centros empresariais mais importantes da capital.

A renovação das docas londrinas serviu de modelo a outros países europeus como Roterdão,

Barcelona, Génova, Amesterdão, Hamburgo, Antuérpia, Oslo, Helsínquia e até mesmo por

tentativa em Lisboa (POZOR). A revisão de planos para antigas zonas portuárias na Europa, têm

agora o objetivo em comum de integrar estas zonas com a cidade.

‘The plan for the Kop van Zuid was one example of renewed search for a mutual relationship

uniting city, river and port. It represented an attempt to reawaken the city’s awareness of the

river and the port.’ – Han Meyer

A renovação urbana de Kop van

Zuid em Roterdão começou nos

anos 80, teve como premissa a

deslocação do centro da cidade

para sul. É desenvolvido o

conceito de novo centro

portuário e a sua integração na

paisagem urbana, natural e de

recreio, sendo essa a principal

característica de Roterdão. O rio

constitui o principal elemento

que estrutura a cidade. O espaço

abre-se na sua imensidão graças

28 Canary Wharf – Http://www.canarywharf.com/ acedido em 1 de Fevereiro 2012.

F33. F34. Vistas do plano kop van Zuid, Roterdão. F35. Ligação de Waterstad e Kop Van Zuid pela ponte Erasmus (a amarelo).

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ao rio, e às zonas antigas que se regeneraram e que continuam ainda em transformação.

A zona ribeirinha é o domínio público mais atraente na cidade e na região, onde vão sendo

criadas soluções temporárias de espaços públicos. Um dos objetivos principais é o constante

desenvolvimento de novas formas de ligar a população ao rio, e duplicar a população

residente.29

Na ‘cidade das torres’ dos países baixos, a nova centralidade é reforçada pela integração de

equipamentos de nível superior, ou seja, não só edifícios de nível municipal mas equipamentos

estratégicos e de nível nacional. A integração é feita com a criação de 400.000m2 de serviços

terciários em Wilhelminapier, integrando serviços portuários, a nova ligação norte-sul, novos

equipamentos culturais e novas áreas habitacionais. Os novos empreendimentos surgem na

forma de construção em altura, tanto porque expressam a nova identidade arquitetónica da

cidade moderna, pela devastação que a cidade sofreu na II grande Guerra, mas porque é feita

no local certo, junto às infraestruturas urbanas que conduzem ao centro da cidade.30 A ponte

29 Martin Aarts - Acelerar Roterdão. Estuarium 16. pp.5-8

30 Idem, pp.8

F36. Wihelminapier - Nova área habitacional e de serviços, e edifícios em altura desenhados por arquitetos de renome internacional. F37. Instituto Holandês do Arqº Jo Coenen, na zona cultural Waterstad. F38. Praia fluvial temporária e ponte Erasmus sobre o rio Maas.

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Erasmus com o seu desenho de obra de arte simboliza o reencontro da cidade com o rio, assim

como uma importante ligação entre o triângulo cultural com a margem norte – Waterstad –

onde novos equipamentos culturais foram criados, a cidade não está mais dividida.

‘A realização de operação de renovação de frentes de água deve ser enquadrada na filosofia

mais alargada de modernização das infraestruturas portuárias, ferroviárias, aeroportuárias ou

militares, tanto pela hipótese de existir uma ligação direta entre as duas transformações, como

pelo facto de, pelo menos, ser o processo de modernização das infraestruturas o responsável

pelo despoletar da operação de renovação ou por a operação de renovação justificar a adoção

de tratamentos singulares qualificados no desenho das novas infraestruturas.’31

Há diferentes estudos sobre os vários tipos de ações destas operações: os seus aspetos culturais

(Baudouin, Collin, 1994), o papel do lazer e do turismo (Craig-Smith, Fagence, 1998), a

integração na relação porto-cidade (AIVP e outros), sobre o papel das renovações na evolução

das cidades (Han Meyer), estas operações como espaços de oportunidade (Busquets; Kreukles),

e remodelação do património industrial (Dir.Rinio Brutomesso).

João Pedro Costa caracteriza a contribuição das operações especiais de renovação de frentes de

água no desenvolvimento urbano (…) entendidas como operações especiais / projetos urbanos,

paralelas ao planeamento dos «master plans».32

Defendendo e sistematizando as diferentes dimensões urbanísticas da renovação de frentes de

água, sintetiza um conjunto de ações comuns verificadas em diversas operações que não têm

necessariamente de ocorrer em simultâneo. Os projetos urbanos têm uma tripla ação, a

primeira por ação paralela á modernização de infraestruturas, também a renovação de frentes

de água como modelo exemplar de intervenção no espaço publico e a renovação de frentes de

água como ação estratégica de planeamento da cidade. Esta ultima ação é interessante de ser

explorada pelas ramificações de ações a que se associa, pela possibilidade de criação de novas

centralidades, de dar uma nova imagem e dinâmica para a cidade, ter uma estratégia urbana

mais alargada no tempo, por poder haver renovação de frentes de água como uma nova cidade

31

João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.6

32 Idem, pp.4

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40

de cultura, lazer e turismo e finalmente trabalhar o desenho destas áreas como uma

oportunidade para a reconversão de património industrial/portuário.33

No ambito do concurso internacional de planeamento urbano para a estação portuária

Kaohsiung em Taiwan, a proposta vencedora do atelier De Architekten Cie para a estação e

porto antigo abandonados é ao criar um novo bairro urbano centrado num parque linear,

destacar o património cultural e histórico do território.

33

João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.4-16

F40. Diagrama das 3 zonas principais da proposta urbana, De Architekten Cie.

F39. Corte transversal do plano Kaohsiung, mostrando o parque urbano e edifícios novos adjacentes.

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41

O desafio passa pelo equilíbrio entre o desejo de preservação/revitalização cultural e a

introdução de um novo desenvolvimento urbano, estabelecendo continuamente conexões entre

os espaços. A linha ferroviária é designada como monumento histórico, transformando-se de

uma barreira urbana a um excelente conector urbano. É proposto edificado novo de uso misto,

áreas comerciais, regeneração de edifícios industriais para estúdios

de artistas e galerias e linha ferroviária reconvertida em parque

urbano.34

O cais portuário de Chicago, construído em 1914 e localizado junto da baixa da cidade, fora

concebido como zona de transportação e desde cedo que se pretendeu ser uma área com

atividades diversas. Depois de sofrer várias alterações, e englobando progressivamente mais

usos no edificado, os dois edifícios históricos principais, Headhouse e Auditório, sobreviveram.

Recentemente, aquando do seu centenário, é interessante analisar as propostas versáteis de

usos de espaço público que são lançadas para a sua renovação. De um modo geral, visam uma

solução integrada de espaços multifuncionais, em prol da população e do turismo; o cais como

uma experiencia histórica e ao mesmo tempo um destino contemporâneo.

34De Architekten Die - http://www.cie.nl/home.aspx acedido a 1 de março 2012.

F41. Vista do parque urbano. F42. Diagrama. F43. Planta.

F44. Vista Oeste do cais de Chicago, Municipal Pier, 1914. F45. Navy Pier e antigo cais de embarque. F46. Localização.

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42

Em todas as propostas percebe-se a

importância da multifuncionalidade de

espaços ao longo da frente ribeirinha. Ao

serem criadas mais atividades na frente de

água é reforçada a ligação da infraestrutura

existente, o cais e as pessoas.

A proposta de Aedas Architects visa criar uma serie de

espaços interativos ao longo do cais, entre edifícios, jardins,

passeios, teatros e outras atividades ao ar livre.

Os jardins na margem de cidade criam uma ‘fusão entre

estruturas e meio ambiente’, com espaços de cultura lúdica

e de relaxamento. Desta forma são ‘escavadas’ reentrâncias

na grande plataforma pedonal de madeira, diretamente no

lago Michigan. O espaço pode ser usado todo o ano,

piscinas no Verão e ringues de patinagem no Inverno. Para

maior vivência noturna, o passeio é todo iluminado ao

longo de percursos e canais, com geometria inspirada no

‘skyline’ de Chicago.35

35Aedas Architects - http://www.aedas.com/

F47. Vista Este da proposta de Aedas Architects. F48. Atual do cais de Chicago.

F49. F50. F51 – Vistas da proposta.

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43

Na proposta da equipa de UrbanLab e !melk é criado

movimento ao longo de todo o cais numa serie de

‘ondas topográficas’ a dois níveis de percurso, com o

intuito de unificar atualmente o espaço fragmentado.

Estes vão-se abrindo para espaços de estar, espaços de

passagem, pontos de observação, zonas de atividades

com contato com a natureza.

No extremo do cais, onde há espaços aquáticos sobre o lago,

são criados lagos menores entre estruturas flutuantes onde

se recria o habitat de peixes – ‘Resort Fish’ – fazendo uma

gradual aproximação da terra para a água36.

O desenvolvimento de frentes de água tem crescido de tal forma, por designers, gestores

imobiliários, experts de marketing, que pelo mundo inteiro a informação tem vindo a aumentar

e a especular-se sobre como desenvolver e melhorar as redes de frentes de água. Contudo nem

todas as fórmulas são fórmulas de sucesso, alguns projetos de larga escala acabam em desastres

imobiliários, outros têm de ser modificados a médio prazo.

Jan Oosterman identifica cinco diferentes manifestações históricas no domínio público: espaço

sagrado, espaço seguro, espaço democrático, espaço comercial, e espaço heterogéneo de

36 Urban Lab – Architecture + Urban Design - http://www.urbanlab.com/urban/navypier.html

F52. Os dois níveis de percurso na frente de água ao longo do cais. F53. Planta. F54. Piscinas e lagoas com habitat de espécies na ponta extrema.

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44

tráfego. A nova dimensão dos tempos modernos permite que o espaço público preencha todas

estas funções simultaneamente.37

O plano pode ser usado para seguir um certo programa, mas também de oferecer espaço numa

perspetiva de longo prazo, para futuras mudanças programáticas, o que lhe dá valor

acrescentado. É necessário prestar mais atenção às possibilidades no design espacial que

funcionem em mais do que uma escala.

Os novos desafios aos planeadores urbanos passam pelo conhecimento e perícia para desenhar

novas fórmulas de multifuncionalidades de espaços, a adaptação às características específicas

do território, coordenação integrada de disciplinas; capacidade de antecipar condições culturais

na cidade, reconhecendo e reagindo consoante vários domínios – público, social e privado; uma

só qualidade cultural não existe, o planeador tem de criar um plano que inclua várias formas e

usos capazes de oferecer várias interpretações de ‘qualidade cultural’.38

37 Han Meyer, Port and City, 1999, pp.28

38 Idem, pp.388

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45

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46

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47

04. ÁREA DE INTERVENÇÃO – BARREIRO

4.1 A.M.L., Porto de Lisboa e o estuário do Tejo

O Estuário do Tejo está inserido na área metropolitana de Lisboa – AML – a mais ocidental das

cidades europeias, onde cerca de 3 milhões de pessoas habitam e se deslocam diariamente,

num espaço diminuto por comparação com o todo nacional, fazem desta região o motor de

desenvolvimento de Portugal.39 Sendo palco de diferentes interações sociais e económicas

adquiridas ao longo da história, o território apresenta características únicas e dispares á medida

que o percorremos:

‘A AML concentra uma diversidade de paisagens, entre o urbano e o rural; diversidade de

culturas herdadas do passado; diversidade de património cultural edificado, com mais de 5000

elementos classificados; e por fim diversidade de património natural, com as Reservas Naturais

39 Na AML fazem parte 18 municípios, correspondendo a 3,3% do território continental do país. A

população ativa é cerca de um milhão e cem mil pessoas, 25% do total nacional, onde estão 30% das

empresas nacionais, e a contribuição de 36% para o PIB Nacional. AML – dados de Território. Data de

consulta 9 de Abril 2012. Disponível em http://www.aml.pt/

F55. Portugal no contexto mundial. F56.Localização da área de intervenção - Barreiro no contexto da AML. Limites da AML (vermelho) e o Estuário do Tejo. F57. AML no contexto sul europeu.

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48

dos dois estuários do Tejo e do Sado, os dois Parques Naturais de Sintra-Cascais e da Arrábida e

ainda a zona de Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica.’40

O Estuário do Tejo é o maior do país, e dos mais importantes da costa atlântica europeia. A

Reserva Natural abrange uma vasta área de zonas húmidas como a superfície estuarina, sapais

(presente no Barreiro), lamas, salinas, mouchões e terrenos agrícolas, e é habitat de

importantes espécies de fauna e flora.41

Do comércio para a indústria, e posteriormente para o segmento dos serviços, conta-se a

história da atividade ribeirinha dominante da Área Metropolitana, no decurso de dois séculos.

Vários troços ribeirinhos do Estuário, um dos quais será aqui mais detalhado com o exemplo do

Barreiro, viram o declínio de grandes zonas industriais que marcaram o último século assim

como a descentralização de funções para outros portos originando uma quebra drástica de

algumas atividades económicas. Contudo, este facto foi libertando importantes zonas portuárias

e permitindo a sua reutilização e regeneração de espaços para a cidade.42

É impossível não salientar as vantagens do ótimo posicionamento estratégico do país e do

Estuário, como porta de entrada em ligações transoceânicas e servindo de ponte entre três

40

Estuarium. AML promove conferência sobre Cidades e Portos. nº 5 2004. Lisboa, AML. pp.2

41 O estuário tem uma área total de 325km2, em que 261km2 são cobertos por água, e com uma largura

máxima de 15km. A Reserva Natural ocupa 14.560ha. Estuarium. AML promove conferência sobre Cidades

e Portos. nº 5 2004. Lisboa, AML. pp.3

42 Estuarium. A importância de uma estratégia Cidade-Porto na revitalização da Cidade de Lisboa. nº 9

2005. Lisboa, AML. pp.1/4.

F58. Moinhos de Alburrica. F59. Baixa lisboeta. F60. Doca de Alcântara. F61. Parque Natural Arrábida-Setúbal.

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49

continentes – Europa, África e América – no panorama internacional. O mar português, não só

por ser um país de tradição marítima, tem vastas potencialidades económicas assim como em

espaço de cultura, turismo e lazer. Como veremos estes são os fatores estratégicos para onde

convergem os esforços da AML e a Administração do Porto de Lisboa.

A AML afirma-se cada vez mais como uma das regiões mais competitivas no turismo do país, e

também na procura internacional, onde se destacam o domínio de alguns ‘produtos’ que têm

vindo a aumentar, ‘citybreaks’43 ligados ao turismo cultural, o turismo de congressos e o turismo

de cruzeiros. Esta região, em constante mutação, centra os seus objetivos para criar polos de

inovação e de desenvolvimento tecnológico, incremento de novas indústrias competitivas,

crescimento de um terciário especializado, a modernização dos seus portos, as plataformas

logísticas, a projeção do novo aeroporto internacional, a ligação a rede europeia de alta

velocidade e a organização de grandes eventos internacionais.44 A localização periférica em

relação ao espaço europeu e a sua relevância pela dimensão oceânica que o país tem, já se

constatou ter fortes vantagens que não podem ser ignoradas, é necessário potenciar de diversas

formas as relações externas entre Portugal e o mundo.

A área de jurisdição do Porto de Lisboa é a autoridade portuária do Estuário, abrange os 11

concelhos que têm os seus limites com o rio Tejo e que circundam o Estuário, 43km de frente de

água em ambas as margens.45 Após a cidade ter assistido á industrialização, no processo pós-

industrial, os objetivos concentram-se em revitalizar e regenerar as frentes ribeirinhas do

Estuário e ligar a população ao rio.

FRENTE RIBEIRINHA DE LISBOA

A fim de caracterizar a frente ribeirinha de Lisboa, esta difere de acordo com a identificação dos

vários troços que tiveram processos e tratamentos distintos. João Pedro Costa define 6

43

Citybreaks é um produto turístico estratégico que faz parte dos objetivos do PENT para Portugal.

Consiste na atividade turística de curta duração para visitar várias atrações de uma cidade – 10 produtos

estratégicos para o desenvolvimento do turismo em Portugal. Turismo de Portugal, Ip. Lisboa 2006

44 AML – dados de Território. Disponível em http://www.aml.pt/

45 APL - Oeiras, Lisboa, Loures, Vila Franca de Xira, Benavente, Alcochete, Montijo, Moita, Barreiro, Seixal

e Almada, 43km de frente de água em ambas as margens.

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50

processos diferentes configurando como padrões, de acordo com a riqueza e a diversidade

geográfica, morfológica e a competência administrativa das diferentes zonas. A distinção inicial

é feita por 3 momentos de processos de formação, a zona ocidental e central, a zona oriental e

um terceiro território, constituído pelos grandes complexos industriais do arco ribeirinho sul, na

margem sul do Tejo.

É difícil configurar uma regra aplicada em toda a frente estuarina no período pós-industrial, por

ser uma área muito extensa e variável de território. Esta conheceu vários momentos que

tiveram atitudes distintas de projeto – no programa, na linguagem arquitetónica e também no

modo de lidar com a herança de património histórico e industrial.46

A transformação dos diversos troços da orla pós-industrial em Lisboa foi muitas vezes transposta

para projetos reais no território mas também em projetos que ficaram pelas intenções por falta

de verbas do Estado, debates públicos e até mesmo projetos pendentes que são retomados.

46

João Pedro Costa, La Ribera Entre Proyectos. Formación y Transformación del Territorio Portuario, a

partir del caso de Lisboa, Barcelona, 2006, pp.298-299

F63. Plano Alcântara-Rio F64. Proposta Ribeira das Naus. F65. Terminal de Cruzeiros em Santa Apolónia.

F62. Planta de melhoramentos do Porto de Lisboa, 1946.

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51

Existem atualmente projetos já executados, outros em curso e outros ainda em estudo e/ou

pendentes nos concelhos ribeirinhos, revelando uma vontade conjunta entre organismos, a

Administração do Porto de Lisboa e respetivas autarquias, de requalificar estrategicamente

todas as margens. Alguns projetos exemplo disso na margem norte na cidade de Lisboa são:

Pedrouços-Algés, Plano de reestruturação de Alcântara-Rio, a Ribeira das Naus, a transformação

do Terreiro do Paço, o Terminal de Cruzeiros em Santa Apolónia e a zona ribeirinha oriental.

4.2 MARGEM SUL NO CONTEXTO DA AML E ESTUÁRIO DO TEJO

Enquadramento geográfico e formas de ocupação

A disposição do relevo, desde logo permite a existência de fachadas litorais soalheiras e

abrigadas dos ventos frescos de Norte. A Costa do Estoril e da Arrábida constituem exemplo

disso. No quadro da AML, estas são áreas mais agradáveis, de clima mais ameno. Não é, por

isso, de estranhar que a costa do Estoril desde cedo se tenha afirmado como a faixa litoral de

excelência, escolhida pela nobreza ou pela classe mais abastada para ai instalar segunda

residência ou se fixar. Um desenvolvimento similar na costa da Arrábida, com idênticas

condições climáticas, não foi possível pois o relevo não o permite, apenas se desenvolvendo

pequenos núcleos como Sesimbra. Uma outra razão impediu uma ocupação mais densa na área

metropolitana de Lisboa Sul foi a acessibilidade. Até a construção da Ponte 25 de Abril, o Tejo

constituiu uma fronteira relativamente difícil de transpor, o que dificultou a ocupação de outra

fachada litoral abrigada: a Costa da Caparica.47

A ocupação na margem sul do tejo ganhou maior dimensão á medida que novas redes viárias se

concretizaram, a principal seguramente a primeira travessia do Tejo com a ligação entre as duas

margens, que impulsionou o desenvolvimento económico.

47 FERNANDES, Olívia. Diversidade regional e dinâmicas demográficas: AML 2001-2025. 2008. pp.5

F66. Imagem atual das praias da Costa da Caparica. F67. Vista de Almada antiga.

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52

Até então pequenos

núcleos tinham

expressão, como em

Cacilhas, Almada, onde

se faziam já as

travessias do Tejo via

fluvial. A presença do

estuário nestes

conselhos ribeirinhos

impulsionou a criação

de núcleos piscatórios,

dedicados a atividades

económicas primárias, essencialmente junto á margem do rio, como podemos comprovar no

território pelos aglomerados populacionais atualmente em Almada, Seixal, Barreiro e Montijo.

O seu povoamento começou por ser estruturado

a partir de quintãs ou casais, como é o caso do

Barreiro e Seixal. Almada teve um núcleo

histórico central implantado mais cedo pela

localização da fortificação militar na cidade e

também por desde sempre ter mais proximidade

com o centro de Lisboa, onde a travessia do Tejo

é mais curta.

Após a estruturação da rede viária principal, a ponte 25 de Abril (1966), a estrada que liga ao sul

(atualmente a A2) e a rede ferroviária que ligou o Sul do país ao Barreiro, determinou o início da

atividade económica que viria a ser a imagem principal desta margem pela implementação da

indústria, que abastecia e complementava economicamente a outra margem.

F68 A F71 – Cartas Militares 1:50.000 de 1902, 1930, 1966 e de 2002.

F72.Principais acessibilidades da área envolvente da área em estudo - Barreiro. Ligações fluviais (azul), rodoviárias (preto), ferroviárias (tracejado) e Metro (laranja).

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53

Os vestígios do passado operário ligado às grandes indústrias são visíveis nos concelhos de

Almada, os estaleiros navais da Lisnave (1961), no Seixal, com a Siderurgia Nacional (1960) e no

Barreiro com a antiga CUF e Quimigal (desde 1908, mais tarde parque industrial-empresarial da

Quimiparque).

O fim do domínio das colónias africanas, seguinte á Revolução de 25 de Abril de 1974, Lisboa

perde importância não só política, como económica e social. A crise económica, claramente

instalada desde Outubro de 1973, acentuou o declínio da capital: a falência do modelo fordista,

nitidamente concentrado á volta de Lisboa (Amadora, Loures, Vila Franca e Margem Sul do

Tejo), a perda do mercado colonial e o fim da economia de guerra, contribuíram para uma

quebra da capitalidade de Lisboa.48

Com a terciarização dos serviços e a

suburbanização nos concelhos, a margem sul

admite a posição de subúrbio relativamente á

capital, dependente desta. Embora

abrangendo zonas sazonais de veraneio e já

algo exploradas do ponto do vista turístico,

como a Costa da Caparica (Almada), Sesimbra e

Arrábida (Setúbal), é um território

maioritariamente de ‘cidades-dormitório’,

onde, tal como o concelho de Sintra, a

população ativa se desloca diariamente para

fora do concelho, as migrações pendulares. Entre outros, os objetivos convergem atualmente

para fixar mais empresas nos concelhos, as autarquias pretendem tornar a margem sul mais

apelativa ao recentrar e reforçar a competitividade destas áreas da metrópole.

Em dados demográficos da população, hoje a margem sul possui mais concelhos com mais

jovens, mas a margem norte possui mais concelhos com menos idosos49. De forma consensual,

48

GASPAR, Jorge. Inserção da AML no País, na Península Ibérica e na Europa. Enquadramento geográfico

do Atlas da AML. 2003. pp.31

49 FERNANDES, Olivia. Diversidade regional e dinâmicas demográficas: AML 2201-2025. 2008. pp.24

F73. Terrenos industriais expectantes da margem sul.

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54

estão a acontecer mais nascimentos principalmente no concelho de Almada, seguido do Seixal,

no contexto da AML, mas no entanto, o caso do Barreiro é excecional, em que assistimos ao

envelhecimento da população.

PROT-AML

Na proposta do PROT, quatro prioridades

são essenciais: a sustentabilidade

ambiental pela revalorização da água como

elemento principal na valorização da

paisagem e a revitalização do meio rural; a

qualificação metropolitana,

entre outras pelo

desenvolvimento de novas

centralidades metropolitanas

e o ordenamento da logística;

a coesão sócio territorial para

garantir a igualdade de

oportunidades no acesso aos

equipamentos, á habitação e

aos serviços, é

empregabilidade e ao

emprego; e a organização do

sistemas metropolitano de

transportes com uma

coordenação intermodal no

território.50

50

PROT-AML, pp.17-32, 2002

F74. PROT-AML 2001 - Esquema do Núcleo central e dos Polos inseridos nos raios de 10, 20 e 30 km.

F75. PROT-AML atual - Esquema global do modelo territorial, 2010.

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55

ARCO RIBERINHO SUL

O projeto embrionário proposto para a capital e suspenso até então é a ambiciosa reconversão

do Arco ribeirinho Sul, considerado por João Pedro Costa como o único exemplo de proposta á

escala de «projeto de metrópole». Faseando-se numa ação conjunta e coordenada no Estuário

do Tejo, incorpora a transformação dos grandes complexos industriais precisamente da

Margueira, em Almada, a Siderurgia no Seixal e Quimiparque no Barreiro, numa intervenção de

grande escala na frente-rio e que teria um papel transformador ao nível duma metrópole.

O projeto pretendia uma ação concertada no território da margem sul, a coordenação entre

programas de grandes infraestruturas de acessibilidade e transporte metropolitano; a gestão

coordenada da criação de novas centralidades metropolitanas, com programas específicos para

cada uma das três áreas; e induzir o desenvolvimento de áreas urbanas adjacentes nesta

margem.

Este projeto de intervenção implementaria o conceito desejado do PROT-AML, intervindo de

forma convergente nos territórios expectantes da margem sul, os complexos industriais, o que

daria um protagonismo maior no cenário do sistema metropolitano de centralidades,

infraestruturas e grandes equipamentos.

Dada a evolução imprevisível da estrutura metropolitana, o arco ribeirinho será também o

vértice da zona de crescimento populacional do pais nas próximas décadas, forçando assim o

desenvolvimento acelerado em que é essencial planear para evitar erros cometidos no passado

SIDERURGIA NACIONAL, SEIXAL QUIMIPARQUE, BARREIRO

TERRENOS DA MARGUEIRA, ALMADA

F76. Vista aérea do Arco ribeirinho sul. Terrenos pós-industriais expectantes, Almada, Seixal e Barreiro.

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Tese de Mestrado | CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS Multifuncionalidade de espaços e cenários no Barreiro

56

(…) o desenvolvimento desta área implicara desde logo colmatar os fatores de penalização da

margem sul do tejo, que são essencialmente as acessibilidades, a educação e formação, e as

debilidades quanto as valências cientificas e tecnológicas que todavia persistem.

LOPES HERNANI – MARGUEIRA, ALMADA

O efeito indutor da articulação das grandes infraestruturas e equipamentos metropolitanos

seria tao importante quanto a coordenação de grandes intervenções ambientais e urbanísticas

dos 3 grandes complexos industriais, gerando uma dinâmica de desenvolvimento geral que a

história urbana de lisboa necessita.

PORTO DE LISBOA – PIRANET

O Plano integrado da rede de infraestruturas de apoio á náutica de recreio no estuário do tejo

pretende: criar uma rede integrada de infraestruturas, com critérios de sustentabilidade

ambiental e social e complementada com uma oferta de atividade de serviços de apoio

qualificada; a desconcentração da oferta ao longo do estuário através de novas infraestruturas

na margem sul; distribuir as atividades de recreio, desporto e turismo náutico, envolvendo

parceiros públicos e privados; revitalizar as frentes ribeirinhas; promover e realização de

eventos culturais, desportivos e de turismo ligados ao rio, estuário e ao mar, de caracter

internacional e contribuir para o uso qualificado das margens do estuário51

51

PIRANET - Plano Integrado da Rede de Infraestruturas de Apoio à Náutica de Recreio no Estuário do

Tejo. IV Seminário Internacional de náutica de recreio e desenvolvimento local. APL 2010

F77.Proposta para a Margueira, Almada. Arqº Richard Rogers. F78.Proposta para a Quimiparque. Atelier Risco.

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57

4.3 BARREIRO - CARACTERIZAÇAO DO TERRITÓRIO – Património histórico, industrial e

paisagístico

A área de intervenção insere-se no município do Barreiro, pertencente às frentes ribeirinhas das

freguesias do Barreiro, Verderena e Santo André (de Norte para Sul). O território ribeirinho tem

os limites naturais pelo rio Tejo, a Norte e a ribeira de Coina, a Poente, partilhada com o Seixal.

Identificam-se um conjunto de áreas de valor histórico e patrimonial, os quais estarão na base

da estruturação da proposta para a nova frente-rio.

Tem início numa simples aldeia ribeirinha que estrutura o seu povoamento a partir de quintãs

ou casais, com vestígios que datam desde o séc. XIII. A população instala-se com atividades

ligadas á pesca, salicultura, moagem, cultivo da vinha e abate de lenha. Nas duas margens dos

esteiros da ribeira de Coina, funcionavam moinhos de maré que fabricavam farinha para

biscoitos, subsistiram ate ao séc. XIX e alguns até aos dias de hoje na zona de Alburrica do

Barreiro Antigo. Este ecomuseu vivo é considerado hoje um ex-libris único.

F79. Barreiro, Carta de 1816, séc. XIX. Zona de intervenção de proposta urbana (a vermelho). F80. Aproximação ao primeiro núcleo de fixação de população no Barreiro. Sistema dos Moinhos de maré.

RIO TEJO

Ribeira de COINA

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Tese de Mestrado | CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS Multifuncionalidade de espaços e cenários no Barreiro

58

No séc. XIX o Barreiro começa a perder as

suas características piscatórias e

tradicionais com a instalação do eixo

central das comunicações ferroviárias

entre o Norte e o Sul do país, em (ano …), o

primeiro troço ferroviário até então. Essa

ligação foi determinante para a entrada de

indústrias químicas em 1907,pela CUF-Quimigal (…), que desenvolveu economicamente e

exponencialmente esta região, não falando na mais-valia para a capital. Á volta deste núcleo

central das fábricas surgiram bairros operários (companhia da UNIÃO FABRIL) que alojaram

famílias do Algarve e Alentejo.

Em 1960, a malha urbana continua a crescer, assim como o desenvolvimento da indústria que

ganha cada vez mais terreno. O Barreiro torna-se cidade em 1984 com o pico de sempre com

88.000 habitantes (censo de 1981).

F81. Carta de 1902. F82. Carta de 1930. F83. Carta de 1960.

1930 1960 1990

F84. Evolução da ocupação do território, Barreiro. Autoria própria.

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59

‘Os contingentes de migrantes, provenientes, sobretudo, das planícies do Sul, transportam

consigo a força de trabalho e uma importante tradição comunitária, a qual, no ambiente fabril,

transforma-se em tradição associativa e mutualista. A história do Barreiro é, também, a história

dos movimentos sociais e operários em Portugal.’52

O passado industrial deixou vários vestígios e marcos históricos que podemos considerar

património cultural, uma herança da industrialização portuguesa. Com a terciarização e

suburbanização do concelho, o núcleo antigo do Barreiro é hoje fundamentalmente uma área

residencial degradada, em processo de desertificação. Hoje em dia com a indústria desativada,

criou-se um enorme vazio urbano que pode e está a ser explorado com novos projetos. Do

ponto de vista urbanístico os núcleos parecem ignorar o rio, não se abrindo para ele, fecham-se

nas suas praças vivem virados para dentro, desde a pequena encosta do alto de São Francisco

até se encontrar com a comunidade ribeirinha. O núcleo histórico do Barreiro, que faz parte da

zona de intervenção, necessita de uma requalificação urbana de qualidade que reconcilie a

ligação da população com o rio, tal como acontecia outrora.

ANÁLISE DE PROPOSTAS – BARREIRO E ÁREAS ENVOLVENTES

A frente ribeirinha do Barreiro faz parte, na maioria do território, da jurisdição terrestre da APL.

É delimitada a zona pertencente a este órgão, desde o Passeio Ribeirinho Augusto Cabrita até a

zona do cais de transportes fluviais. Têm havido importantes diálogos e acordos entre as partes,

APL e CMB, o que tem facilitado e melhorado significativamente o concelho. O município tem

sido alvo de estudos, onde têm sido projetados e executados planos, uns a nível de

52 AML. Atlas da AML. 2003. ISBN-98655-7-4. pp.222

F85 e F86. Legado do passado industrial do concelho. Terrenos da Quimiparque.

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60

requalificação local, novos acessos locais e outros de maior dimensão, projetos de grandes

infraestruturas ao nível nacional, projetando o Barreiro do futuro como um importante

catalisador de sinergia para a AML.

O projeto da TTT53 tem o objetivo de ligar a cidade de Lisboa á Península de Setúbal,

consequentemente ligado ao projeto do Novo Aeroporto de Lisboa54, sendo tudo ambições

ainda de ‘papel’, presentemente adiadas pela crise financeira do país e a paralisia capacidade

interventiva. Contudo, tais não deixam de ser projetos a serem aqui considerados, pela sua

envergadura e a importância da sua possível concretização, que podem e deverão ter

continuidade no seu desenvolvimento, pois entre outros, impulsionam a requalificação e

implementação de projetos de menor escala nas áreas locais, terrenos expectantes como no

Barreiro. Existem diferentes planos e programas para zonas diversas, que são parte integrante

da área de intervenção.

Os instrumentos de

ordenamento do

território são

fundamentais para

perceber o modelo de

uso do solo atual e

futuro. Embora tendo

em consideração a sua

desatualização e os

conceitos utilizados na

sua delimitação, com a

REN - Reserva

Ecológica Nacional, a RAN – Reserva Agrícola

Nacional e a carta de Ordenamento, com o PDM como instrumento em vigor (com os

importantes corredores verdes e a estrutura ecológica).

53 TTT – Projeto da 3ª travessia rodoferroviária sobre o rio Tejo

54 NAL - Futuro aeroporto

F87. Carta de limitações de Ordenamento do Território.

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61

Hoje em dia com a indústria desativada no concelho criou-se um enorme vazio urbano - Espaços

industriais e áreas de reconversão - que pode e está a ser explorado com novos projetos, ligado

a grandes infraestruturas de estratégia nacional (Plano de Urbanização da Quimiparque e zona

envolvente) ligando esta zona á prevista futura travessia sobre o Tejo.

F88. Plano Diretor Municipal do Barreiro, 1994.

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62

No quadrante essencialmente do ‘corredor e da envolvente da terceira travessia do Tejo’, tem

havido uma procura incessante de soluções para os terrenos da Quimiparque, assim como pelo

esforço de diálogo entre investidores. Foi feito um estudo prévio e elaborado o Plano de

Urbanização do Território da Quimiparque e Áreas Envolventes (PU), plano este com cerca de

300 hectares, ao abrigo do Plano de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de

Lisboa (PROT-AML). Os limites deste PU não englobam a frente ribeirinha aqui em análise, á

exceção da zona atual de interface do cais de barcos e a linha ferroviária do Barreiro. É

importante referir que esta área é um importante foco de momento e faz parte da estratégia já

abordada do arco ribeirinho sul que reconhece o Barreiro como uma futura centralidade no

alargamento de Lisboa para Sul. O plano prevê a recolocação do cais de embarque, marinas,

grandes zonas empresariais e habitacionais.55

55 http://www.risco.org

F89. Plano de Urbanização do Território da Quimiparque e Áreas envolventes (PU) F90. F91. Vistas da maquete.

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63

No âmbito das acessibilidades, estão a ser implementados novos projetos, alguns já em curso. O

projeto MST, um projeto intermunicipal que arrancou em 2003, envolve os concelhos de

Almada, Barreiro, Moita e Seixal, inclui na 3ª fase a linha 4 Fogueteiro-Seixal-Barreiro, com

interface principal no Barreiro, ao lado do atual zona de cais. Está projetada uma ponte

ferroviária que vai criar uma ligação mais fácil entre os dois Concelhos, hoje mais distantes pela

Ribeira de Coina.

Também estão a ser concluídas obras na estrutura viária que liga os concelhos da Margem Sul,

um desejo de á muito dos municípios desta Península. Será concluída a ligação viária a CRIPS -

Circular Regional Interna da Península de Setúbal. O troço que se configurar numa alternativa a

EN 10 entre o Seixal e Barreiro por ponte. Mais uma importante acessibilidade para o Barreiro e

o presente caso de estudo.

F92. Área de intervenção e outros projetos em curso. F93. 794. Programa POLIS, já executado.

PROGRAMA REPARA ALBURRICA

PROURB REABILITAÇÃO NUCLEO HITÓRICO

MST

RECONVERSÃO QUIMIPARQUE

TTT

MST

PROGRAMA POLIS

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64

O Projeto Municipal para a Reabilitação de Áreas Urbanas 2007 - PROURB, faz um diagnóstico

com orientações para uma estratégia na zona do Barreiro Antigo. Nesse seguimento é elaborado

um programa ’Politicas de Cidade – Parceria para a Regeneração Urbana – Barreiro Velho’,

apontando para três eixos estratégicos para a regeneração do Núcleo Antigo do Barreiro. Faz

parte desta frente ribeirinha do Núcleo do Barreiro Antigo o Passeio Augusto Cabrita,

atualmente ainda sob jurisdição da Administração do Porto de Lisboa (APL), com obras

finalizadas em 2009. Este projeto melhorou significativamente esta frente-rio onde atualmente

se podem encontrar moradores e espaço publico mais utilizado.

O projeto REPARA – Regeneração Programada da Área Ribeirinha de Alburrica de 2006 visa a

dinamização turística da zona dos moinhos de maré, a criação de um ‘cluster’ no tema da

aquacultura e a revitalização socioeconómica. Projeto ainda não está iniciado.

Com o Programa POLIS 2001, executaram-se obras no Parque Recreativo da Cidade, o fecho da

retenção marginal da Avenida da Liberdade e o Parque da Cidade com o novo passeio marginal

e ciclovia pela frente ribeirinha nas freguesias de Verderena e Santo André, frente de rio que faz

parte da zona aqui em análise.

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65

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66

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67

05. FENOMENO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS E ESPECIFICIDADES PARA O CASO DE PORTUGAL

O FENÓMENO DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

O tempo é o estado da atmosfera, que é caracterizado por diversos valores como, a

temperatura, a precipitação, o vento, a pressão atmosférica, a nebulosidade e a humidade.

Numa linguagem mais compreensível, é definido pelo ‘tempo médio’, ou seja constitui uma

descrição estatística, em termos da média e da variabilidade durante grandes intervalos de

tempo, meses a milhões de anos. Sendo assim, a mudança climática corresponde a uma

variação dos valores médios que caracterizam o tempo, durante um período suficientemente

grande que assim o justifique como mudança climática. Estudos paleoclimáticos revelam que

durante milhões de anos o clima tem variado.

A mudança climática pode se suceder por forças naturais ou antropogénicas. As mais causas

naturais mais importantes são através de alterações no equilíbrio energético da atmosfera, de

variações na luminosidade do sol e nas variações nos parâmetros que definem a orbita da terra.

Mudanças que ocorrem muito lentamente em grandes períodos de tempo são responsáveis pela

alternância dos períodos glaciares e interglaciares.

Atualmente o Homem contribui para a aceleração da mudança climática através de emissões de

gases com efeito de estufa (GEE) e das alterações no uso do solo (como a desflorestação). A

combustão de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) está a adicionar

abusivamente carbono á atmosfera, modificando a temperatura média global pelo efeito

‘cobertor’ sobre o planeta. Desde o início da revolução industrial que a emissão de CO2 é a

principal causa do efeito de estufa, estimando-se em 75% por combustão de combustíveis

fósseis e o restante devido às alterações do uso do solo.

TIPOS DE IMPACTOS

O fenómeno das alterações climáticas tem vindo a ser divulgado com progressiva convicção,

sendo contínuo alvo de estudos cada vez mais aprofundados, por ser um tema de discussão de

vanguarda e ser eminente os seus impactos a nível global. É urgente a população ser alertada

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68

para os impactos climáticos, que irão afetar já irreversivelmente a vida humana. São uma das

maiores ameaças ambientais, sociais e económicas que o planeta enfrenta.

Os recursos hídricos, as zonas costeiras, a agricultura, a saúde humana, a energia, a floresta e

biodiversidade, as pescas, os seguros, o turismo, os solos e áreas urbanas, dentro de outros

temas que estão implicitamente ligados ao clima, irão sofrer amplamente com estas alterações.

Embora os impactos sejam muito diversos, este trabalho se debruça sobre o seu efeito nas

zonas costeiras.

IMPACTO SOBRE AS ZONAS COSTEIRAS E SUBIDA DO NIVEL DAS AGUAS

O aquecimento da atmosfera está a causar o derretimento de gelo de calotes polares na

Antártica e a expansão das águas oceânicas, o que sendo uma mudança ambiental catastrófica

transformando o equilíbrio ambiental, causará a subida no nível das águas de forma muito

rápida e também com relativa previsão, pela instabilidade e natureza deste tipo de dados. As

previsões não são iguais para todo o globo, tendo ligeiras alterações entre zonas.

A subida do nível das águas porá em perigo as zonas costeiras com a perda de território e a

erosão da costa assim como a população e construções que se encontram nesse limiar. Em

diversos casos as alterações climáticas são acompanhadas por fenómenos meteorológicos,

designadamente tempestades e secas e, com elas, inundações e escassez de água.

F95 – Esquema da causa da subida do nível das águas.

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69

Foram elaborados estudos com base nos dados do GCM56 e IPCC57, com projeções quantitativas

para a temperatura, precipitação, subida do nível das águas e casos de cenários extremos58. Tal

como noutros casos á volta do globo, foi notado que á medida que o nível das águas sobe, os

casos de inundação associados a tempestades são altamente prováveis de aumentar na sua

intensidade, na frequência e na duração. Para Nova Iorque a projeção de subida, no caso mais

extremo, é aproximadamente de 70 inches (1,77m) para 2090.59 Também importante referir que

num cenário extremo as temperaturas prevêem-se subir até 7.5˚ e a precipitação média anual

aumentar até 10%, no ano 2080. Para este caso específico existe ainda o fenómeno agravante

da ocorrência, embora pouco frequente, de furacões.60

Para o Reino Unido faz-se uma previsão de subida das águas de 0.76m no ano de 2095, e como

cenário extremo 1.90m61. A aceleração deste processo tem vindo a crescer com cerca de

1,7mm/ano no séc. XX, e mais precisamente 3mm/ano desde a década de 90 até hoje. Estão já a

56 Global Climate Model (CGM) é um modelo matemático a nível planetário que serve para fazer

simulações da atmosfera e oceanos da Terra.

57 Internacional Panel on Climate Change (IPCC) foi formado em 1988 pelo World Metereological

Organization (WMO) e pela United Nations Environment Programme (UNEP), é o órgão de consulta

internacional sobre mudança climática.

58 Descrição plausível de como o futuro se pode desenvolver, com base num conjunto coerente e

internamente consistente de hipóteses sobre forças motrizes fundamentais. São uteis para fornecer uma

visão das implicações da evolução e ações no futuro. Descrição de CLIMATE RISK INFORMATION – NPCC.

Nova Iorque. 2009

59 TABELA 10 - corresponde ao cenário mais extremo do rápido degelo dos calotes polares. CLIMATE RISK

INFORMATION – NPCC. Nova Iorque. 2009. pp.53

60 Convocada pelo Mayor Michael Bloomberg, o NY Panel on Climate Change (NPCC) é composto por

cientistas e especialistas de Lei, segurança e gestão de risco. O NPCC informa o Mayor e a cidade sobre as

questões relacionadas com as mudanças climáticas, está a desenvolver uma série de livros para a

adaptação da cidade às alterações climáticas por tarefas principais urgentes nas infraestruturas e a

desenvolver estratégias de adaptação.

61 United Kingdom Climate Projections 09 (UKCP09) - http://ukcp09.defra.gov.uk/

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70

ser estudadas hipóteses de planeamento urbano e arquitetura para casos de cenários climáticos

extremos, tendo em conta o grande impacto que vai ter neste extenso território62.

Um dos efeitos climáticos a reter deste exemplo é, entre outros, a vulnerabilidade económica

do valor das propriedades nas zonas de risco. As casas ficam com pouco ou quase sem qualquer

valor de mercado, o que agrava particularmente a situação da falta de fundos e recursos do

Estado para a defesa da linha de costa inglesa, que já gastou quantias consideráveis.63

Este caso alerta para o facto de ser urgente encontrar soluções sustentáveis para as zonas

costeiras e para a regeneração económica, no qual é extremamente necessária a ação dos vários

intervenientes no solo, Estado, investidores privados e população, já que os recursos são

escassos e os custos praticamente impossíveis de serem sustentados apenas pelo Estado.

Num estudo para a Austrália foi estimado que a subida aumente entre 0,50m-1,40m ou até

mesmo 2 metros até ao fim do séc.XXI64. Também neste território se está já a evidenciar um

clima de temperaturas extremas com um aumento de noites quentes e ondas de calor, e um

decréscimo de dias frios. Os atuais valores são previstos sofrer uma subida contínua ao longo do

tempo de acordo com os cenários do IPCC-SRES. É previsto o processo de acidificação dos

oceanos, pela crescente absorção de dióxido de carbono, o que causará impactos negativos nas

espécies marinas.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

As alterações climáticas constituem um desafio importante nas primeiras décadas deste

seculo, assim como é emergente ter, o quanto antes, uma visão a médio e longo prazo de

impactos e soluções.

62O Reino Unido tem cerca de 12,000km de costa, um perímetro muito superior a vários países da Europa

como a Itália (7,600km), Espanha (4,964km), França (3427km), Portugal (2147km) ou Holanda (451km).

Cerca de 10 milhões de pessoas em 5,5 milhões de propriedades estão em zonas de risco de inundação,

com cerca de 2,60m acima do nível medio do mar ou de rio.

63Somente para manter os atuais sistemas frágeis de proteção de costa, o estado inglês gasta

£500milhoes. Estimou-se que as casas irão perder até £4 bilhões/ano em 2035 por causa de inundações.

64 Climate change in Australia (2009) – www.climatechangeinaustralia.gov.au/resources.php

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71

Proteger a natureza e a biodiversidade é importante, não apenas pelo potencial paisagístico do

ambiente natural, mas sobretudo porque os nossos recursos alimentares estão ameaçados pela

desertificação e pela perda de espécies vegetais e animais e da diversidade genética. A gestão

dos recursos hídricos e uma estratégia geral tem de ser pensada, abraçando este novo desafio

num esforço global entre os vários intervenientes do território, que terão de estar informados,

comprometidos e envolvidos com esta mudança.

O mundo e organizações políticas estão já a tomar medidas no sentido de mitigar e desacelerar

os efeitos climáticos. A UE está a recorrer e a valorizar produtos e atividades que resultem em

níveis inferiores de emissões de gases para a atmosfera. Este desafio uma vez superado

permitirá melhorar a qualidade do ar e terá benefícios económicos, tornando a União Europeia

menos dependente das importações de petróleo e gás e menos vulnerável ao aumento do preço

dos combustíveis fósseis. Torna-se também por isso urgente apresentar soluções sustentáveis.

É importante que Portugal tome medidas internas coerentes, na área do ordenamento do

território, promovendo os transportes coletivos, na área da conservação de energia e eficiência

energética, a par das energias renováveis mais sustentáveis.

PORTUGAL - CLIMA ATUAL E FUTURO

Com um clima mediterrânico, Portugal tem uma temperatura média anual entre os 7˚C nas

zonas altas e região centro e 18˚C na costa sul. De acordo com o relatório SIAM I a taxa de

aquecimento tem tido uma tendência crescente, e um aumento da temperatura mínima diária,

ou seja a amplitude térmica diária tem vindo a decrescer. A partir de vários GCMs mostra que

houve aumento risório de 1˚C na segunda metade do séc.XX, mas para 2100 a projeção já passa

para 4˚C a 7˚C. No período 2080-2100 estima-se que nos Invernos as temperaturas mínimas

médias passem dos atuais 2˚C e 12˚C para 6˚C e 16˚C, assim como a temperatura média máxima

nos Verões, que sofre ainda mais alterações, na ordem dos 9˚C, chegando a temperaturas de

mais de 38˚C. Há um aumento em todo o país de dias com mais de 35˚C. Na região de Lisboa

estima-se que o número de dias quentes passe de 8 para 50 dias de muito calor.65

65

F.D.Santos, K.Forbes, R.Moita (2001) Mudança Climática em Portugal. Cenários Impactes e Medidas de

adaptação – SIAM Gradiva, Lisboa, pp.8

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72

A precipitação média anual atualmente é cerca de 900mm com variações no território, e é de

notar a tendência para cenários de precipitação cada vez mais extremos já na segunda metade

do séc.XXI. Prevê-se que haja um aumento de dias consecutivos de seca e também um aumento

de dias de precipitação acumulada. Os dias de precipitação intensa tendem a ser mais severos e

a acumular-se no Inverno. Estima-se que haja uma diminuição de 100mm anuais, com um

aumento exponencial nos meses de Inverno e decréscimo nos meses da Primavera. A

precipitação aumentará cerca de 20% a 50% no Inverno, decrescendo no resto dos meses do

ano, como por exemplo na Primavera, menos 30%, e no Outono, 35% a 60%. Concluindo

estamos em alerta para casos de cenários climáticos extremos, ora de seca ora de forte

ocorrência de cheias.

PORTUGAL - ZONAS COSTEIRAS

A costa portuguesa (Continente e Ilhas) estende-se por 1,846km apresentando tipos muito

diversos, praias, arribas, zonas húmidas e costas artificiais. Cerca de 75% da população vive

nesta zona, coincidindo com as grandes cidades do país, como é o caso de Lisboa, Porto, Aveiro,

Setúbal e Faro. Cerca de 85% do PIB português é gerado na costa o que denota a importância

económica destes lugares em relação ao resto do território. A pressão urbanística é portanto

mais intensa gerando conflitos entre as várias partes, colidindo interesses tanto entre atividades

económicas como na preservação de ecossistemas. As zonas costeiras serão potencialmente

afetadas com as alterações climáticas, sendo que estão diretamente afetadas pela subida do

nível das águas assim como a alteração do regime das ondas. O relatório SIAM apresenta os seus

impactos mais marcantes: aumento do risco de inundação e a deslocação de zonas húmidas,

aceleração da erosão costeira e o aumento das inundações associadas a tempestades. É

também importante referir a intrusão salina nos aquíferos de água doce e a penetração de água

salgada nos estuários. Numa análise de vulnerabilidade da costa, com o efeito de 0,5m a 1m de

nível de subida das águas, foi concluído que existe risco de perda de 67% da zona de costa

portuguesa e são largamente recomendadas ações de proteção para cerca de 26% destes casos.

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73

Portugal terá um território bastante afetado com este fenómeno, sendo que atualmente já

perde 1 metro por ano pelo recuo da linha de costa.66

Num horizonte de 2100 são lançados números para casos de cenários extremos, em que não

somente se dará a subida do nível das águas, entre 1m a 2m (no pior cenário), mas também

ocorrerão simultaneamente outros fatores agravantes. Até 2080 a costa portuguesa sofrerá um

movimento vertical negativo em cerca de 0.10 a 0.20m pelos movimentos isostáticos e

tectónicos. 67 Na situação de preia-mar elevada, ou seja na maré alta, a subida prevê-se entre

1.50m e 2.10m, a ondulação no estuário (de 0.30m a 0.80m), a ocorrência de cheias com uma

sobre-elevação meteorológica (até 0.43m), o que permite ensaiar cenários de subida das águas

no Estuário do Tejo para próximo das cotas 4,50 ou mesmo 5,00 metros.

66

F.D.Santos, K.Forbes, R.Moita (2001) Mudança Climática em Portugal. Cenários Impactes e Medidas de

adaptação – SIAM Gradiva, Lisboa, pp.12

67 Idem, pp.13

F96. Simulações de cenários possíveis de subida do nível das águas.

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74

BACIA HIDROGRÁFICA DO TEJO

O Rio Tejo é o maior da Península Ibérica, com um percurso de 1038Km dos quais 230Km são

em território português. Na zona da foz é quando o rio tem maior expressão ao nível do caudal e

largura. Em Portugal, a bacia apresenta vários empreendimentos hidroelétricos como o de

Belver, Bouça, Cabril, Castelo de Bode, Fratel, Maranhão e Montargil. Este rio impõe-se pelo seu

património natural, histórico e cultural, embora fique aquém do desejável ao falar da qualidade

da água, com níveis de poluição consideráveis mas que estão atualmente a melhorar. As

atividades tradicionalmente desenvolvidas no Estuário estiveram ligadas à exploração dos seus

recursos naturais, como a pesca, a produção de ostras e outros bivalves e a extração de sal. O

Estuário do Tejo é utilizado como "nursery" por várias espécies piscícolas e inúmeras aves

marinhas. A Reserva Natural do Estuário do Tejo é uma zona ecologicamente protegida, com

uma área de 14.560hectares.

Na Bacia do Tejo situam-se 13 Concelhos em que na margem Sul do Estuário o desenvolvimento

industrial concentra-se essencialmente nos concelhos do Barreiro e do Seixal. Nestes concelhos

predominam as indústrias da metalurgia, indústria química, indústria de adubos e pesticidas,

indústria automóvel e agro-indústria. Por outro lado é no Porto de Lisboa, margem norte, que se

movimenta a maior quantidade de mercadorias no país, servindo como autoestrada marítima

que transporta pessoas e mercadorias.

O estuário do Tejo constitui a transição entre o norte húmido e o sul seco. Esta e a bacia do

Douro são as de maior dimensão e também com maior população, que consequentemente têm

uma maior necessidade de água. Especificamente para o estuário do Tejo, prevê-se uma

significativa redução do escoamento médio anual em 2100, na ordem dos 10% a 30%. Ou seja,

irá existir maior escassez de água afetando a população e a irrigação de campos agrícolas nos

meses quentes, ao contrário do Inverno que compensará o caudal no resto do ano. O

aquecimento da atmosfera irá também degradar a qualidade da água pelas temperaturas serem

altas e pelo menor volume de escoamento na bacia. 68

68

F.D.Santos, K.Forbes, R.Moita (2001) Mudança Climática em Portugal. Cenários Impactes e Medidas de

adaptação – SIAM Gradiva, Lisboa, pp.10

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75

5.2 SIMULAÇÃO DA SUBIDA DO NIVEL DAS ÁGUAS – LISBOA, MARGEM SUL E BARREIRO

Fazendo uma simulação de subida para 5 metros no Estuário do Tejo, vemos que a margem sul

será fortemente afetada por perda de território, em detrimento da margem norte, muito

embora em Lisboa existam casos consideravelmente problemáticos em zonas mais densificadas

e com importantes infraestruturas no funcionamento da capital (Algés, Belém, Alcântara, Cais

do Sodré, Marvila e Beato).

Desde a Cova do vapor, Trafaria, até Cacilhas, Almada, o futuro nível das águas não será

significativamente problemático dado que este território caracteriza-se por formação geológica

muito inclinada, o que criou desde sempre a pouca densidade populacional e de edificado ao

longo deste troço de margem. Já de Cacilhas para Este nota-se uma afetação maior no território,

coincidindo com zonas mais densificadas e áreas de importante valor paisagístico e eco

sistémico do Estuário. As principais áreas afetadas são, Cacilhas e Margueira em Almada, a baía

do Seixal e Amora, a ribeira de Coina, afetando a margem do Seixal e Barreiro, as frentes

ribeirinhas da Moita e Montijo, a base aérea do Montijo, Alcochete e inundando grande parte

das lezírias ribatejanas. Também na frente marítima oceânica, é de considerar as zonas alagáveis

desde a frente de praia da Costa da Caparica até á Arriba Fóssil.

F97. Áreas inundáveis na AML. Subida do nível do mar = 2m+1.90m (maré) + 1.1m (ondulação mais elevação meteorológica)

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76

Numa aproximação ao território em estudo consideram-se as áreas vitais na estrutura funcional

atual da cidade do Barreiro dadas como inundadas e outras fortemente ameaçadas por

inundação e cheias, tanto para o caso de subida de 4,50 como para 5 metros de cota máxima.

O concelho do Barreiro e esta

zona em específico tornam-se

um interessante objeto de

estudo precisamente pela

quantidade e diversidade de

elementos que ficam afetados na frente ribeirinha, as infraestruturas de transporte (fluvial,

ferroviário e viário), elementos considerados como património histórico/industrial (moinhos de

Alburrica, moinhos de maré, estação e linha ferroviária da CP, igreja matriz, núcleo histórico da

cidade), elementos naturais e paisagísticos (praia de Alburrica, zonas de sapal), equipamentos

(Escola, Bombeiros, Clube Naval, Complexo de Piscinas municipais) e edifícios que estão ao

longo da margem e para além desta que ficarão com pelo menos um piso de

comércio/habitação de uso inviabilizado pela subida do nível da água.

A fig. (94) mostra, numa projeção de 2100, o futuro intervalo da subida de água com a

intercalação da subida e descida das marés normais, que será entre o nível 2.00 (azul) e a subida

F98. Simulação das ÁREAS AFETADAS ao nível de 2.00 (azul), 4.50 (azul claro) e 5.00 metros (azul muito claro). F99. Frente ribeirinha do Barreiro atual.

EDIFICADO NOVO

INFRAESTRUTURAS QUIMIPARQUE

INTERFACE: CP, BUS, FLUVIAL ANTIGA ESTAÇAO CP

LINHA FÉRREA

PASSEIO AUGUSTO CABRITA COMPLEXO DE PISCINAS

NUCLEO HITÓRICO

MOINHOS DE VENTOS/MARÉ QUINTA BRAMCAMP ESCOLA SECUNDARIA PRAIA DE ALBURRICA

FRENTE AV. MIGUEL PAIS

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diária da maré ao nível 4.50 (azul claro) que num caso de cenário extremo, ondulação, cheias e o

pior cenário de subida global das águas, chegará ao nível 5.00 (azul muito claro).

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5.3 ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO PARA A SUBIDA DO NIVEL DAS ÁGUAS

REINO UNIDO

A equipa de engenheiros e arquitetos do Reino Unido publicou um estudo que mostra as

diferentes posturas de estratégia para planeamento urbano perante a subida das águas.

Tomemos como um dos seus exemplos, a cidade de Hull.69

A primeira estratégia (fig.) é permitir que a água suba

naturalmente e lentamente vá inundando a cidade –

recuar – numa gestão de processo que vai recolocando

lentamente as infraestruturas e habitações em zonas mais

seguras a uma cota mais elevada e livre de perigo. Este

método tem a desvantagem de se dar como perdido o

investimento feito outrora em infraestruturas, o

património histórico que esteja na margem e a perda de

toda a área que passa a ser reclamada pelo mar. Porem, desse investimento que é feito em

novas infraestruturas pode ser compensado pela não construção de uma defesa da costa.

Também é atenuada a força das ondas para o interior da cidade, porque a margem vai

absorvendo bem a sua energia, ao que vai permitir criar zonas de diversidade de espécies de

fauna e flora, salinas e zonas pantanosas, no fundo um novo espaço verde onde eventualmente

se podem desenvolver atividades recreativas ligadas á água e á nova paisagem.

69

Kingston Upon Hull com o cenário SLR, 2100 – 2m. Institution of civil engineers UK - Facing up to Rising

Sea-Levels: Retreat? Defend? Attack? Building Futures /RIBA, ICE. 2009.

CIDADE DE HULL, REINO UNIDO – F100.Estratégia de RECUO. F101. Estratégia de DEFESA. F102. Estratégia de AVANÇO.

F103. Hull perante a estratégia de RETRAIR.

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Na estratégia de defesa de linha de costa (fig.), assegura-

se que a água não penetre na zona construída, o que

requer uma construção barreira no limite da margem.

Este método torna-se bastante dispendioso, e lançam-se

questões de como esta barreira poderia ser viável

economicamente. Outra desvantagem é a barreira reduzir

a facilidade de acesso á agua, de estragar os habitats na

margem e desregular a normal sedimentação das areias no litoral. Porem a vantagem é óbvia, as

construções já feitas serão salvaguardadas, e edifícios e infraestruturas não têm de ser

recolocados.

A questão do muro-barreira pode ser contornada de forma a equilibrar a despesa do Estado,

criando atividades e comércio e assim dando uma dupla função ao muro, num investimento

público e privado de forma faseada. As conclusões dizem que o custo do investimento na

construção de uma defesa é igual ao custo dos estragos pelas inundações, ou seja é necessário

que o setor privado seja inevitavelmente incorporado. Poder-se-á incluir a função comercial e

residencial nesta estrutura nova e torna-la desejável para a fixação de pessoas.

A opção de ‘ataque’ passa por avançar para além da atual linha de costa. Esta reduz a

necessidade de expansão para o interior da cidade mas sim construir sobre as águas, num

conceito que envolve maior convívio com a água, pois

estariam mais diretamente ligados cidade e população.

No entanto, atuar no território somente com esta

estratégia deixa a cidade vulnerável á inundação no qual

teria de ser pensado paralelamente outro sistema para a

margem. As soluções passam por desenvolver novas

estruturas sobre a água, edifícios e acessos pala fíticos ou

flutuantes. Este método oferece extrema flexibilidade e

F104. Hull perante a estratégia de DEFESA.

F105. Hull perante a estratégia de AVANÇO.

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dinâmica á cidade, com possíveis plataformas de habitação/equipamentos que mostrariam á

população novas perspetivas de apropriação do espaço.70

Efetivamente este caso mostra as estratégias possíveis de serem tomadas a médio-longo prazo

no âmbito do planeamento e gestão das frentes ribeirinhas. Com efeito, a visão de futuro de

qualquer das três opções é de facto possível e exequível numa cidade, não obstante haverem

diferenças para cada território e por conseguinte fatores diferenciadores que direcionem para

cada tipo de solução, adaptar, resistir ou mitigar. Uma profunda análise do território é fulcral

para tomar decisões tão amplas, assim como os recursos existentes. É preciso explorar

totalmente o potencial da água em solo urbano.

ROTERDÃO

A ameaça que representa as alterações climáticas para uma cidade como Roterdão é crescente

e de grande dimensão, sendo eminentes os impactos vindo de quatro direções: o mar, o rio, o

céu e a terra. Apesar da posição atraente da cidade na foz do rio Maas e integrado no delta

holandês, hoje a própria presença da água ainda é dificilmente percetível na cidade. O estudo

‘Watercity 2035’, feito em 2005, com estas premissas, explora as possibilidades de ampliar as

70

Institution of civil engineers UK - Facing up to Rising Sea-Levels: Retreat? Defend? Attack? Building

Futures /RIBA, ICE. 2009.

F106. Proposta Rotterdam Watercity 2035 em que se mostra a relação de novos edifícios com o rio.

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qualidades agradáveis da água para todos os habitantes em cinco perspetivas: (1)O aumento do

nível do mar é contrabalançado com uma obra de defesa que confina a cidade no interior dos

diques e outra fora dos diques, sendo que nos diques exteriores é permitida a inundação

periódica; (2)O rio Maas torna-se no principal domínio publico, ao longo e no qual as pessoas

possam viver. A habitação flutuante sobre o rio passa a fazer parte do vocabulário urbano, em

que as casas adaptam-se sempre á alternância das marés e possíveis cheias; (3)É feita uma

articulação entre os sistemas de transportes em terra e por água, numa rede de transportes

públicos mais abrangente; (4)É proposta uma separação estrutural da descarga das águas

pluviais da rede de esgoto da cidade, em que a retenção, armazenamento e descarga de água da

chuva se tornará visível e audível no espaço público; (5)Destacam o potencial ecológico de

diversificar as margens do rio.71

Esta proposta, pelo método de defender e avanço de construção sobre a água, ajuda na

compreensão de defesa do património construído importante e introduz novas formas de

71 Rotterdam Watercity 2035 – De Urbanisten - http://www.urbanisten.nl/wp/?portfolio=watercity-2035

F109. Maashaven, uma das comunidades flutuantes. F110. Vista da maquete. F110. Transporte público integrado com a água.

F107. Muros de defesa da cidade. F108. Diversidade ecológica que vai surgindo nas margens.

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habitar, integrando a água na cidade como uma vantagem e não um entrave. O elemento água é

conciliador entre edificado e espaço público e fator sempre presente na vivência humana.

NOVA IORQUE

A área metropolitana da cidade de Nova

Iorque é hoje a maior dos EUA, com uma

população de cerca de 20 milhões de

habitantes. New York - New Jersey Upper

Bay é um largo estuário portuário banhado

pelo rio Hudson que liga ao Oceano

Atlântico. A vasta área que o estuário

ocupa, 20 square miles (cerca de 32.000m²),

circunda áreas urbanas hoje altamente

densificadas.

Foi feito um estudo por iniciativa de várias equipas de projeto, desenvolvida ao longo de 3 anos,

constituídas por arquitetos, engenheiros, planeadores, professores e estudantes - PALISADE BAY

TEAM NY - numa colaboração com o MOMA (Museum of Modern Art). Este projeto dedicou-se a

imaginar a transformação da cidade face á mudança climática. As áreas aqui desenvolvidas são

zonas adjacentes ao rio (fig.), Brooklyn, Staten Island, New Jersey e Manhattan. A base de

subida das águas foi estimada, de um modo geral, com 4 feet (aproximadamente 1,20m),

contudo pontualmente nas simulações, preveem piores cenários de fenómenos climáticos.

NY – F113. Percurso de transportes fluviais no estuário. F114. Zonas de cota mais alta no Estuário. F115. Localização das 5 zonas de desenvolvimento das equipas de projeto – PALISADE BAY TEAM.

F112. Simulação da Ilha de Manhattan, sob inundação, NY.

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‘The need to address these risks provides an opportunity to rethink the relationship between

infrastructure, ecology, and society in the urban environment‘.72

Neste estudo afirma-se que até então a solução convencional, como resposta á inundação, tem

sido a chamada hard engineering73, fortificando as cidades e protegendo bens imóveis da linha

de costa. Se este método persistir, criar-se-á a longo prazo uma longa barreira entre a terra e as

águas, fazendo as zonas pantanosas se desvanecer. Esta erosão de zonas húmidas fará com que

não só diminua a variedade de flora e fauna mas também irá eliminar a ‘zona intermédia’ que

naturalmente amortece o impacto dos fluxos da ondulação e das marés e que diminui o risco de

inundação. O caso do furacão Katrina no país mostrou como este planeamento é também muito

caro, arriscado e ineficaz. As premissas deste projeto envolvem o que chamam de ‘soft

infraestruture’74, em que criam um sistema de defesa, mas também novos espaços recreativos

na água, pensados para a agricultura, ecologia e desenvolvimento urbano. Efetivamente, como

poderá haver uma adaptação da cidade á entrada da água e ser aproveitado o seu potencial no

meio urbano, aliando-se á ecologia.

‘Natural ecologies are resilient; forests grow back after fires, animals recover from illness and

wetlands return to equilibrium after severe storms.’

As propostas que foram lançadas pelas equipas desenvolvem novas alternativas de projetos

diversificados e sustentáveis, associadas a este método que pressupõe um menor impacto

ambiental, e por serem propostas que envolvem diversas áreas e profissionais – solução

multidisciplinar.

72

Palisade Bay Team. Guy Nordenson and Associates, Catherine Seavitt Studio, Architecture

Research Office. On the water – Palisade Bay. Nova Iorque, 2009

73 Hard engineering é o termo inglês usado para definir um método de interrupção controlada dos

processos naturais, usando estruturas feitas pelo homem. Exemplo disso são barreiras/paredões de

betão.

74 Soft infraestruture é o termo inglês que designa um método ‘suave’ de engenharia, com premissas

ecológicas e práticas para reduzir a erosão e conseguir a estabilização e segurança da linha de costa ao

reforçar o habitat natural, tendo um menor impacto visual e um orçamento mais económico.

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Concretamente no plano, os 3 objetivos principais são: (1) construir um arquipélago de ilhas e

recifes ao longo dos baixios rasos do estuário para amortecer as correntes mais fortes, bem

como incentivar o desenvolvimento de novos habitats; (2) revitalizar a zona portuária através

da conceção de uma linha de costa com pontões que vão alternando pântanos de maré, parques

e cais para desenvolvimento recreativo para a comunidade; (3) promulgar fórmulas de

zoneamento que se adaptem aos cenários extremos para aumentar a resiliência e desenvolver

o comprometimento da comunidade na nova cidade.

Como exemplo, na frente de Manhattan, com uma

previsão de 6 feet (1,80m), cerca de 20% da ilha será

inundada, e é proposto que o espaço verde, o que a

subida das águas irá criar, inunde e se ramifique pelas

ruas, sendo tomada como uma vantagem esta invasão

ao espaço de cidade. Com efeito, não é construído

nenhum sistema de bloqueio das águas, em que se

propõe ser recortado um novo limite da margem,

mantendo a circulação de ruas existentes e

acrescentando uma nova rede viária sobre a água,

cerca de 3200m² de área a mais, podendo ser usada

como formula para a restante margem. Dentro da

cidade nasce um novo conceito de rua, os passeios

mantêm-se de ambos os lados, por onde passará por

baixo o sistema elétrico e de esgotos, deixando no

centro das ruas florescer nova vida vegetal, pelo

material permeável de que é feita.

O espaço verde não só potencia novos habitats de fauna e flora mas também é benéfico para a

cidade que carece de espaços abertos. Esta zona vai-se dividindo progressivamente até a água,

em diferentes espaços recreativos.

Na zona 1, a área delimitada será 95% submersa em dias de fenómenos extremos. A proposta

baseia-se em criar uma ‘paisagem anfíbia’, com percursos sobre parques de água. É criada uma

F116. Zona 0 - Proposta para a frente de Manhattan. F117. Zona 1 – Paisagem ‘anfíbia’ que vai alternando os percursos consoante as marés, atividades recreativas na água e edifício Water lodge.

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margem dinâmica, puxando a terra para a água e vice-versa, numa estrutura ‘tentacular’, onde

se desenvolvem diferentes usos para os 4 pontões.

Na zona 2, que ficará 85% submersa, existem atualmente dois longos cais desativados. A equipa

propõe criar ‘cais recicláveis’, um destinado a um centro de pesquisa e outro com edifícios

residenciais. As vias são de energia solar e a imagem principal desta área baseia-se na criação de

grandes ‘recifes vidrados’, ou seja piscinas artificiais sobre o rio que vão dinamizando os espaços

e onde se recriam os habitats de espécies aquáticas.

A zona 3 é a ‘cidade flutuante’ – Aqueus City - onde se projetam sete longos cais conectados por

pontos de embarque, com barcaças flutuantes de diferentes usos, bibliotecas, mercados, etc. É

proposto um novo sistema de edifícios ecológicos, tratando cada um dos esgotos e lixo. As

residências estão todas ligadas por passadeiras permeáveis de vários patamares que vão

limpando as águas, não deixando passar os cheiros da subida das marés. A particularidade

destes edifícios são também os terraços para uso público, com a dupla função de serem usados

para casos de emergência em inundações, assim como os vários pisos do edifício que vão

ficando ou não submersos.

F118. Zona 3 - Cidade flutuante com terraços públicos interligados. F119 F120. Plano para Tokyo de Kenzo Tange, Floating Cities, 1960.

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Este projeto refere-se ao Plano de Tóquio por Kenzo Tange em 1960 – Floating Cities – arquiteto

laureado com o Prémio Pritzker. O urbanista japonês visionário propõe uma matriz linear

organizada na baía de Tóquio, para ser uma extensão da expansão descontrolada que a cidade

estava a presenciar. No desenho urbano expressam-se as suas noções de ordem estrutural,

expressão urbana e espaços de comunicação. É feita a segregação do espaço de peões do

trafego automóvel, numa organização hierárquica consoante velocidades e usos do espaço.75

Sendo este plano uma estratégia de adaptação/recuo em relação á subida da água, ele confere

ao mesmo tempo um avanço sobre as águas, e mostra como esta pode coexistir em vários tipos

espaços de cidade, habitação em residências flutuantes, usufruto de espaços públicos

interativos. É muito interessante a dinâmica da multifuncionalidade de usos e atividades que

estes espaços proporcionam, numa paisagem para a nova geração de nova-iorquinos, que

associa os recursos presentes ao mesmo tempo que valoriza a identidade e o património

cultural do lugar.

Com efeito, a análise do território é primordial para o tipo de estratégia a aplicar, pelos casos de

exemplo nos 3 países concluímos que o reconhecimento de elementos arquitetónicos e

atividades económicas do próprio lugar são fatores diferenciadores, únicos, que podem ancorar

as intenções e ações do plano urbano. Recuar, defender ou avançar face á subida das águas,

dependerá sempre muito de uma reflexão dos elementos presentes, edificados ou paisagísticos,

que se podem ou não se devem perder.

Inevitavelmente haverá um reajuste no que concerne á própria identidade arquitetónica do

lugar, é um facto que o território será sempre profundamente modificado, com qualquer que

seja a solução, mesmo se optando pela mais simples adaptação á inundação. A paisagem não

será mais a mesma no horizonte de 2100.

É emergente pensar com inovação e criatividade sobre soluções económicas sustentáveis e

apresentar respostas em que as várias partes interessadas interajam e atuem em conjunto, já

que os custos não são possíveis de serem sustentados apenas pelo Estado, por exemplo com o

retorno de investimentos públicos e privados.

75 KENZO TANGE http://www.tangeweb.com/

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Tem de existir uma visão estratégia de longo curso, tomada o quanto antes, concretamente no

uso dos solos e o diálogo entre autarquias e instituições. É uma vantagem haver um faseamento

na execução dos planos e para as diferentes escalas de intervenção. A comunidade precisa estar

mais comprometida com esta mudança, estar ocorrente dos riscos, e ser assim incentivada a

fazer parte deste longo processo, que se quer o menos penoso possível e com o melhor

resultado possível.

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06. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO – BARREIRO

6.1 CONCEITO E PRINCIPIOS DE INTERVENÇÃO DO PLANO URBANO

A proposta urbana incide em encarar a subida da água como uma oportunidade única para

reorganizar/requalificar o tecido urbano do Barreiro, potenciar o seu património cultural e

paisagístico com os recursos locais e a adição de novas áreas de edificado já adaptáveis á

alternância e á presença da água. Para tomar forma aos objetivos várias medidas são adotadas.

O plano urbano assenta os seus princípios em soluções economicamente mais sustentáveis.

Para o fazer, é tido em conta que o desenvolvimento e gestão destas áreas terão

inevitavelmente múltiplos fundos, sustentados pelo Estado e investidores privados, que terão a

sua quota-parte de importância para o sucesso desta estratégia de longo prazo. Sem a iniciativa

privada seria dificilmente sustentável uma solução de planeamento desta dimensão, pelo que

foi decisivo diversificar os usos e edificado, pelo que temos intervenientes no ramo imobiliário,

hoteleiro e empresarial que torna possível economicamente esta escala de intervenção.

A sustentabilidade, do ponto de vista ecológico, é também alcançada ao serem criadas áreas

que propiciam a educação ambiental a população que precisa ser incentivada a repensar novas

formas de vida e de conduta mais autossustentáveis. Em prol desses ideais parte principal da

proposta incide em introduzir zonas diferenciadas de espaço público e habitações ecológicas –

zonas de cultivo coletivo e edificado sobre a água.

A gestão do realinhamento da linha de costa deixa áreas que são inevitavelmente sacrificadas

para o rio e outras que são mantidas e defendidas. Essa gestão é feita precisamente pela

importância do que é aqui considerado ser património cultural e histórico, e portanto

merecedor de ser preservado, o núcleo antigo da cidade, os moinhos históricos de vento e de

maré, a praia de Alburrica, a antiga estação e caminhos-de-ferro. A frente ribeirinha com

edificado relativamente recente, mais a montante da ribeira de Coina, que é igualmente afetada

pela subida da água, é tomada a opção da não intervenção. A linha de defesa toma várias

formas e vai tendo uma disposição sinuosa e irregular ao longo das diferentes zonas de

intervenção dinamizando toda a proposta de nova frente-rio.

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Tendo em conta a preservação de áreas protegidas de habitats naturais pertencentes á REN, há

o desejo constante de enaltecer o património paisagístico único que tem Alburrica e a

consequente necessidade de o defender da subida da água. Propõe-se manter os elementos

históricos, os icónicos moinhos de vento e moinhos de maré, a Quinta Braamcamp, assim como

parte da praia, a zona de veraneio da cidade. As áreas de caldeira e sapal, e respetivos moinhos

fazem parte de um sistema cíclico, uma estrutura natural que deve ser mantida; é valorizada no

plano urbano com a sua preservação e reabilitado o seu antigo sistema para criar energia eólica

e hidráulica. Em prol da preservação ambiental é feita a construção de plataformas sobrelevadas

sobre esta área especial, servem paralelamente para a observação de habitat natural de

espécies, vegetação, praias e restingas.

Refletiu-se sobre a atividade ribeirinha a as antigas ligações da cidade com a sua frente-rio, por

conseguinte houve a necessidade de fortalecer esta antiga proximidade; é conseguido ao

facilitar os acessos interior-margem da cidade e pontuando a frente com espaços

multifuncionais, equipamentos culturais e espaços de lazer, que animam e reúnem a população

nestas áreas contiguas á água.

É necessário comprometer a comunidade com os riscos e o processo da mudança da costa e isso

abrange inevitavelmente a população apreender novos modos de vida em modelos diferentes

de habitação e espaço público na água. A proposta abrange novas áreas urbanas, edifícios de

futuro, com a vantagem de serem soluções anfíbias, e portanto adaptadas aos níveis da água.

As novas áreas edificadas sobre a água exemplificam sobretudo um sistema modular que pode

ser repetido noutras zonas do globo, mostrando á população positivamente soluções de como

viver com a água e como a cidade se pode adaptar á mudança.

6.2 CIDADE E A ÁGUA

Construção/alteração do território – métodos de defesa e mitigação á subida da água

Para fazer face á subida da água e futura inundação são propostos diferentes sistemas de

adaptação na cidade, relativos á diversidade de zonas que se encontram na margem. Na gestão

do realinhamento de costa foram consideradas áreas de valor paisagístico, histórico e cultural

que são elementos a preservar. Já as áreas que serão sacrificadas ao mar, embora parcialmente,

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localizam-se na zona de edifícios de cércea mais alta e também mais recente da cidade, ficam

mais a montante na ribeira de Coina.

De Norte para Sul, a primeira zona – Núcleo histórico – terá uma intervenção de defesa que é

disposta paralelamente á marginal Avenida Bento Gonçalves, onde atualmente já existe o

grande e alongado espaço publico que comunica com o rio. A intervenção consiste num muro-

barreira que se interliga com o espaço verde existente e que admite diversas formas ao longo da

margem, rampas e plataformas que conectam espaços e equipamentos desportivos. Alguns dos

equipamentos já existem, e desta forma serão requalificados e unidos a um corpo central

comum. A dinâmica de espaço público e edifício vai sendo pontuada horizontalmente e

verticalmente, atingindo a cota de 6 metros acima da cota atual para salvaguarda dos níveis de

inundação. A comunicação com o rio manter-se-á e será desta forma beneficiada e melhorada

pelo ‘muro-vivo’ com diversidade de atividades e plataformas de observação do estuário.

A área ribeirinha de preservação ambiental, na interseção do rio e a ribeira de Coina, que vai

desde a Avenida Bento Gonçalves á linha de caminhos-de-ferro e da Avenida Miguel Pais aos

moinhos e praia de Alburrica, será preservada. Os moinhos de vento e de maré contam a

história do passado rural do concelho, pertencem á memória do lugar e considerando-os

elementos de identidade e marca da cidade, pelo seu valor paisagístico histórico e cultural, são

mantidos na sua totalidade. A localização dos moinhos (de maré e de vento) e os níveis de cota

mais alta das aglomerações de areia, dão a base para delinear a linha de defesa, que pretende

igualmente preservar parte da praia da cidade. A ligação da população ao rio será aqui direta

com zonas de praia e lazer, e também mais próxima dos elementos históricos e dos sapais. A

linha de defesa faz parte de uma rede de percursos pedonais/ciclovia que percorrem os espaços

a um nível sobrelevado.

O atual de cais de embarque, terminal de caminhos-de-ferro, terminal de autocarros e

estacionamento que seria uma área inundada, fará uma barreira em relação á água e dá lugar a

novos equipamentos, interface, empresarial e cultural. Esta zona sendo central e de interface de

transportes terá um papel importante na rede de distribuição de acessos da cidade, onde a

interação com a água é o principal mote da proposta de edificado e espaço publico.

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O território a sul de edificado, que vai desde a plataforma de interface á rua (bla bla bla), fará a

barreira da água pela própria delimitação do edificado. Considerou-se que pela proximidade da

linha de edifícios na marginal e a construção que formou grandes blocos de frente-rio, esta

apresenta uma linha de defesa quase ‘natural’ á entrada da água, que apenas pontualmente

terá de ser cozida com pequenos muros-barreira. Desta forma, os pisos térreos dos edifícios da

margem serão sacrificados, embora mantendo os acessos verticais pelas ruas anteriores. Os

muros-barreira que cosem os blocos são pontualmente, rampas de acesso viário entre a cidade

e a nova cidade sobre a água, espaços públicos-miradouro com acesso pedonal ou

prolongamentos de equipamento já existente. Com a rede viária e de espaços públicos se

mantem a ligação dos dois níveis de cota em que as acessibilidades já existentes no interior da

malha urbana manter-se-ão sobre novas vias marginais sobre a água, sobrelevadas.

6.3 ESTRUTURA VERDE – A estrutura ecológica urbana e a zona de preservação ambiental

Rede ecológica e área da Reserva natural

Parte da área protegida da REN será mantida por uma linha de defesa, englobando edifícios

históricos, que se delimitará por um percurso pedonal/ciclovia. A área é pensada para zona de

lazer, onde se alia a paisagem histórica a atividades recreativas e turísticas. A vegetação natural

e parte da extensa linha de areia que circunda os moinhos de Alburrica são protegidas da subida

das águas e configura-se a algo semelhante a um lago delimitado, mas este regulado por diques

nas suas extremidades onde se assegura a circulação e nivelação da água.

A área de preservação que fica fora dos diques será gradualmente inundada e num horizonte de

2100, seguindo o percurso natural, irá criando um diferente coberto vegetal, com zonas de sapal

como hoje existem. Esta zona vegetal irá atenuar a força da ondulação, que naturalmente

acontece em direção á margem. No espaço protegido de Alburrica são projetados passadiços

leves sobrelevados que percorrem o espaço verde e de areal, salvaguardando o coberto vegetal

e observação do ambiente natural em diversos eixos visuais. Estes acessos são facilmente

visíveis da cidade porque são a continuação da rede viária atual.

Rede de espaços verdes – grandes corredores verdes urbanos

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No âmbito de espaços verdes urbanos, espaços que se analisaram serem uma necessidade no

Barreiro, conferem 3 áreas principais, que ficam agora conectadas. A primeira localiza-se no

corredor verde da marginal da Avenida Bento Gonçalves, que faz a importante ligação do núcleo

histórico do Barreiro com o rio, e que fará a ligação com os terrenos industriais da Quimiparque,

em que é projetado um grande corredor verde e direção á margem.

A segunda área verde, a central da proposta, configura-se no parque verde da antiga linha de

caminhos-de-ferro fazendo a importante conexão do coração da cidade em direção ao rio e aos

equipamentos culturais e de transporte na margem. Paralelamente, e não menos importante, o

corredor cose a malha urbana e tem o importante papel de unir as franjas de cada lado da linha

férrea, hoje um problema de barreira visual e físico na cidade. Esta área verde tem diversos usos

e tratamentos paisagísticos, com a possibilidade de, pela dimensão que tem, incorporar

diferentes campos de cultivo agrícola para serem usados de forma comunitária e em prol da

educação ambiental da população. Este importante corredor urbano dedicado, entre outros, á

reintrodução e incentivo do tema da agricultura e do comprometimento dos cidadãos no

projeto, é pontuado com alguns edifícios, já existentes, com usos que coadunam com o tema

ambiental. O edificado que será para este fim é, um mercado municipal, edifícios dedicados a

cultivos especifico, entre outros requalificados para pequenas indústrias de manufatura e

comércio local.

A última zona já existe, mas é hoje de difícil perceção para quem percorre o território e passa na

Avenida Miguel Bombarda – o parque da Cidade – que pela proposta da rede viária/pedonal e a

abertura de um momento de entrada para a Avenida tornar-se-á mais percetível. O parque

urbano, amplo e com diversas atividades fica assim beneficiado.

Estando os parques verdes naturais e urbanos finalmente interligados, temos uma leitura de

zonas verdes mais fluida e percetível ao percorrermos a cidade, concretamente e

propositadamente pela frente ribeirinha. Facilmente os transeuntes chegam do primeiro ao

último parque, sem perderem a noção da identidade geral da cidade pelo tipo de tratamento de

espaços, mesmo ao observar áreas naturais e parques urbanos diversos. A dinâmica ao longo da

frente-rio convida a percorrer o itinerário a pé ou de bicicleta, também a regularidade do declive

e como veremos, a colocação de equipamentos na margem complementam esta ambição.

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94

6.4 ESTRUTURA FUNCIONAL

ZONA 1. FRENTE RIBEIRINHA DO NUCLEO ANTIGO DO BARREIRO

O eixo verde da frente ribeirinha do Barreiro antigo configura-se num ‘muro-vivo’ que faz a

defesa da subida da água do Passeio Augusto Cabrita. Os espaços públicos são dinamizados e

diversificados por usos e intercalarem diferentes níveis de cotas, por rampas e passagens, sendo

sempre a cota 6.00 coma a mínima.

São propostas zonas de estar diferenciadas, como um anfiteatro ao ar livre, uma zona dedicada

á observação da paisagem natural das caldeiras, onde se pode observar a paisagem natural de

Alburrica, ou simplesmente plataformas fixas/flutuantes e espaços de estar –‘ terraços frente-

rio’. A barreira também interliga os usos de edificado existente com novos usos dentro da

temática do desporto, já aceites e desejados pela população nesta zona. O sistema de barreira

de uso misto ora se configura num muro, atenuado visualmente por rampas e acessos, ora é

edifício, aproveitando o nível de cota. É assim reforçada a rede de equipamentos desportivos

que já existe, os campos de jogos agora em maior número, o complexo de piscinas agora

1

2

3

4

5

F121. Zonas de intervenção do plano urbano.

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Tese de Mestrado | CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS Multifuncionalidade de espaços e cenários no Barreiro

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expandido sobre a água e o skatepark. As lojas e pequeno comércio localizam-se onde já existe

restauração, e vem também colmatar a necessidade da maior permanência de pessoas nesta

zona.

ZONA 2. POLO TURISTICO E PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM

A zona turística é pontuada sob a área de preservação ambiental, e é construída de forma

ecológica – edifícios eco lodges – em que se pretende não interferir com o coberto vegetal e

apresentar uma proposta turística diferenciada neste lugar. Também a proximidade dos

equipamentos desportivos e da zona de lazer da praia de Alburrica é um fator determinante.

Nesta reconversão, a Quinta Braamcamp é mantida e são reabilitados os edifícios antigos

pertencentes a esta antiga Família e a Fábrica Corticeira. Deste modo, a reconversão será ligada

ao agroturismo que desenvolverá nesta área e darão apoio.

Como já anteriormente referido, o valor paisagístico de Alburrica é inigualável e único do

Estuário do Tejo, no qual está integrado o sistema antigo de caldeiras e moinhos de vento e de

maré. Neste projeto Alburrica é mantida e defendida da subida das águas mas também o

sistema, que ainda é possível de ser recuperado, será perspetivada na vertente educacional com

a reconversão da atual Escola Secundária para Centro de Pesquisa de Energias Renováveis.

ZONA 3. POLO CULTURAL, EMPRESARIAL E ZONA DE INTERFACE

O plano propõe uma área de plataforma logística – zona intermodal - na centralidade principal

de interseção entre o corredor verde central e a água, onde está atualmente uma área dispersa

e de conflito entre meios de transporte. Esta nova plataforma integra o metro MST, o transporte

fluvial e o terminal de autocarros, de forma a facilitar o transbordo entre transportes. Esta zona

incorpora também edifícios de serviços e comércio, pela inequívoca vantagem da localização

pelos meios de transporte.

A zona logística tem proximidade da zona cultural, esta integra o equipamento de exceção

principal – Fórum cultural – integrado com o antigo terminal da estação de caminhos-de-ferro.

As áreas estão distintamente divididas pelas linhas férreas, agora corredor verde, que

fisicamente fazem a sua separação arborizada. A área confere também uma zona de comércio,

localizado pontualmente pelo espaço publico enquadrado pelo equipamento cultural. A sua

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localização é inequívoca pela proximidade com a caldeira e a zona de lazer da área de

preservação de Alburrica. A proximidade do sistema de interface com o Fórum e posteriormente

a zona de lazer será benéfica, tanto para a fácil perceção da sua presença, de terra ou chegando

de barco, como para a rápida mobilidade entre equipamento e transporte, que estando algo

distante estará perto o suficiente para suscitar curiosidade na sua visita. Esta zona é projetada

para ser um elemento marcante, numa projeção do Barreiro do futuro, um ponto referencial no

Estuário do Tejo e para outras cidades. O equipamento especial pontua a frente ribeirinha

estuarina, porque tal como este a cidade tem igualmente características e história que

pertencem só a este único lugar.

ZONA 4. CORREDOR VERDE DE PRODUÇÃO E USO RESIDENCIAL

Ao longo do corredor verde central localiza-se parte da aposta de novas áreas residenciais, faz-

se agora a união dos dois lados da antiga linha férrea, antes sem acessos transversais, agora com

um amplo parque urbano. O projeto MST também é inequivocamente um fator importante para

o fácil desenvolvimento de residências e pequeno comercio nesta área.

A zona verde é projetada também com o intuito de produzir e de serem partilhadas experiências

entre a comunidade sobre diversos cultivos de hortícolas e árvores. Ao longo desta zona são

requalificados antigos armazéns para escolas e espaços de aluguer no sentido da venda de

produtos e educação ambiental.

O espaço verde é alimentado por um sistema de canais que pelo tratamento da água facilitarão

as regas; o transporte de produtos e mercadorias pode e deve continuar a ser aproveitado

nalgumas linhas de caminhos-de-ferro que são mantidas na totalidade do percurso.

ZONA 5. EXPANSÃO DA CIDADE SOBRE A ÁGUA

A zona residencial configura-se como um exemplo modular de adaptação á subida da água –

edifícios anfíbios, ou a cidade sobre água. As residências e acessos secundários são fixos,

contudo as plataformas de espaços públicos e semiprivados flutuam e portanto adaptam-se a

situações de emergência. A expansão da cidade é projetada a partir de vias já existentes sobre a

água, que desembocam em pequenos cais de embarque para uso local, onde são posicionados

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diferentes usos, mini mercados, bibliotecas itinerantes, piscinas naturais, e assim

sucessivamente.

Os edifícios apesar de terem tipologias e configurações privadas têm a cobertura como espaço

público e portanto utilizável em caso de emergência ao longo de todos os edifícios que estão

ligados, por habitantes/visitantes.

Nas vias secundárias é assegurado estacionamento, em que se pretende gradualmente que o

automóvel seja posto de lado e utilizado o barco privado/coletivo. Os edifícios têm cais próprio

que pode ser expansível consoante a afluência de moradores.

ACESSIBILIDADES

REDE CICLOVIA/PEDONAL

Como proposta assente em princípios de sustentabilidade, foi assegurada uma rede de acessos

pedonais e de ciclovia que percorrem toda a frente ribeirinha e espaços intervencionados, zonas

residenciais, de recreio, de equipamentos. Este fator fora dos mais importantes para o desenho

LINHA MST

REDE VIÁRIA PRINCIPAL

REDE VIÁRIA LOCAL

REDE PEDONAL/CICLOVIA

F122. Novas acessibilidades.

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urbano da proposta, que conta como sendo um fator diferencial e singular do espaço, sendo

que, em certos momentos este é o meio de comunicação único que liga as diversas partes do

plano. Sistema de rampas e a fácil mobilidade para peões e ciclistas são aqui assegurados.

É de notar que uma proposta que pretende solucionar o fenómeno da subida da água na cidade,

tem de abranger e integrar cada vez mais soluções que potenciem o transporte na cidade sem o

consumo de carbono.

REDE VIÁRIA

A rede viária que circunda a frente ribeirinha, que vai desde o núcleo histórico á zona de

interface, manter-se-á intacta, pois esta toma e tomará uma posição ‘á parte’ do circuito

pedonal principal porque faz-se pelas ruas posteriores á linha de edifícios da margem. Embora

sempre mantendo a ligação visual e acessos com o rio, está suficientemente longe para não

interferir com os espaços públicos nas margens, dedicados às pessoas.

Já na zona residencial nova – cidade flutuante, a rede viária tem de ser assegurada, com a

subida da água e é construída de forma sobrelevada, mantendo pontualmente os necessários

acessos por rampa com o interior da cidade.

Pontualmente nas zonas verdes, como no parque verde central, a circulação viária é mínima e

está desenhada em detrimento do peão. Existem zonas restritas a residentes na cidade

flutuante, e circulação condicionada á atividade hoteleira da Quinta Braamcamp.

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6.5 PROPOSTA DE NOVAS ÁREAS EDIFICADAS

PROPOSTA TURISTICA

A zona de edifícios para uso turístico – eco lodges - está sob a área de proteção ambiental, mas

de forma regulada e restrita. Os edifícios têm um nível de pisos mínimo e a sua estrutura

pretende não interferir no coberto vegetal da área protegida, ao invés, pelas características do

edifícios e a rede de percursos sobrelevados mostram um modelo exemplar de sustentabilidade,

gerado pelos princípios ecológicos de lixo e esgotos. Os 14 novos edifícios pretendem-se

camuflar pela área verde. A sua localização no meio natural pretende ser um elemento de

turismo diferenciado e único, que pode e é uma vantagem para o desenvolvimento económico

da zona.

A localização dos alojamentos turísticos nesta área foi determinada também pela proximidade

dos equipamentos desportivos e de lazer, assim como a praia de Alburrica e as caldeiras que

podem funcionar como verdadeiras ‘piscinas naturais’. Os edifícios e percursos pretendem ser

aprazíveis de serem visitados tanto de verão como de inverno, por mudança do coberto vegetal,

pela proximidade dos equipamentos principais e a magnifica visão estuarina e do sapal, que tem

uma vista privilegiada.

PROPOSTA DE EQUIPAMENTOS PUBLICOS - elementos de união

Como fora extensamente pesquisado noutros capítulos, a dinâmica da frente ribeirinha está

diretamente ligada com a localização estratégica de equipamentos, desta forma a proposta é

F123. F124. Situação atual e proposta urbana – novas áreas edificadas.

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diversificada e vai sendo pontuada na margem. Dependendo da área, por elementos de

relevância cultural, comercial ou desportiva, os equipamentos na margem marcam e celebram o

‘reencontro’ da cidade com o rio. Essa característica única que as cidades ribeirinhas têm em

vantagem a outras cidades é de terem a oportunidade única de potenciar uma ligação mais

direta do homem e o meio ambiente.

EQUIPAMENTO - FORUM CULTURAL

A localização e configuração do equipamento cultural convergem na ambição deste se tornar

num ponto referencial na frente ribeirinha do Barreiro, por diversos fatores. Este equipamento

celebra o encontro da cidade com o rio que parte do novo eixo visual (antiga barreira) vindo do

centro da cidade por uma extensa zona verde agora animada de espaços públicos e novas

residências, um novo pulmão da cidade que desemboca num edifício publico e mirante sobre o

Estuário; é um ponto central de toda a proposta de barreira da frente ribeirinha, tendo maior

proximidade com todas as zonas, núcleo do Barreiro antigo, novas residências, alojamentos

turísticos; tem boa acessibilidade viária, pedonal e marítima, o que torna esta zona propícia ao

desenvolvimento de um equipamento de exceção, perto da plataforma de interface e de fácil

perceção da sua presença; alia-se á reconversão e reabilitação do edifício desativado da estação

terminal de caminhos-de-ferro, um edifício que merece reconhecimento e a sua preservação.

Apesar do estado de conservação da pré-existência se encontrar atualmente em relativo bom

estado, a antiga estação está atualmente desativada, quase em processo devoluto, e á margem

dos circuitos quotidianos da cidade. Para além de ser uma zona que está ameaçada com a

subida do nível das águas, a partir da análise do Plano de Urbanização da Quimiparque, vemos

que esta não teria qualquer valor adicional, e continuaria a ser um ponto distante nos circuitos

citadinos.

PROGRAMA FLEXIVEL

A base programática do equipamento é adaptável e pretende acolher diversos tipos de

programas e eventos. Pretende-se ser uma extensão espacial da estação agora reconvertida em

centro de exposições e adicionados outros espaços qualificados para mostrar e desenvolver

cultura. A solução passa necessariamente pela consideração do programa mais adequado às

características arquitetónicas da preexistência e às necessidades locais.

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A imagem do equipamento e a disposição dos volumes está relacionada com a alternância de

avanços e recuos que acontecem no espaço público com as linhas de caminhos-de-ferro, desta

forma com avanços e recuos sobre o Tejo. Os espaços públicos são dinamizados pela relação do

edifício com a água e inundações propositadas em algumas zonas. No espaço publico que

antecede a rampa para o miradouro, nascem os canais que vão alimentar e sustentar o extenso

espaço verde da cidade.

ENTRADAS, FOYER E EXPOSIÇÕES/EVENTOS

O fórum cultural incorpora assim, o elemento de entrada principal do edifício, a estação

terminal reconvertida em corredor de exposições temporárias. Este edifício é o momento de

entrada que sugere ao visitante/espectador a continuação do seu percurso para o novo

equipamento que surge em sequência. Pelo respeito á sua essência arquitetónica e pelo valor

patrimonial são salvaguardadas a sua fisionomia, a disposição dos compartimentos, a gare

alongada, a estrutura, a materialidade e a imagem. Feita uma analogia á antiga entrada e saída

de comboios é mantida a ligação e a possibilidade da entrada de grandes objetos de arte e

mercadoria por painéis adaptáveis e amovíveis na fachada e nos percursos transversais no

interior da antiga gare.

O foyer, por sequência, é o local ideal para pequenas exposições, receção central e o momento

de transição entre o restante programa e a preexistência, por estas características é um espaço

de materialidade diferente e distinta para o restante edifício. O ‘hall-rótula’ delimita-se entre a

preexistência, outro espaço polivalente de exposições temporárias/permanentes, a biblioteca, a

cafetaria, o teatro ao ar livre, o auditório/salas de conferências e o espaço polivalente de

eventos.

O equipamento é colocado numa cota inferior em relação á preexistência. Os dois espaços de

exposições/eventos têm a particularidade de poderem funcionar em conjunto ou

autonomamente, por diferentes entradas e áreas de serviço, caso seja desejável. O bloco

polivalente de eventos no piso inferior é inundável ou circulável dependendo das marés.

A partir do novo parque verde da cidade, no seguimento das antigas linhas de caminhos-de-

ferro converge no importante eixo visual que determinou a colocação de uma ‘moldura’ sobre o

Tejo. Este enquadramento é feito por rampa, vencendo a cota da barreira de água e oferecendo

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um espaço público de teatro/eventos ao ar livre que é mirante sobre o rio. Desta área

facilmente se tem acesso também ao foyer de pé direito duplo e á área de cafetaria.

BIBLIOTECA E AUDITÓRIO

A colocação e conceção da biblioteca foi concretamente no piso superior, pela zona do edifício

que é privilegiada com a paisagem estuarina, dado o espaço de estar e de silêncio que lhe

desejáveis. Os pátios que estão nos dois blocos de exposições/eventos nos pisos inferiores não

só mantem a iluminação natural permanente sobre todo o espaço construído, mas ganham aqui

um duplo objetivo de interligar o programa. O espectador/visitante que está na biblioteca tem

perceção do espaço expositivo em baixo, juntando-se dois espaços de silêncio e de ligação entre

programas culturais semelhantes.

O auditório foi concebido pela direção da paisagem sobre Lisboa e é preparado para funcionar

uma ou as duas salas em conjunto, consoante a dimensão do evento/conferencia.

CIDADE FLUTUANTE - Expansão da cidade para a água

Parte da proposta pretende diferenciar-se pela introdução de um novo modelo de área

residencial – edifícios anfíbios. Com base no estudo de exemplos já executados, este modelo

pretende ser exemplar no caso da expansão ou a sua repetição noutras zonas.

O sistema apresentado de cidade flutuante configura-se na verdade por uma rede de edifícios

com estrutura de implantação imóvel, apenas o espaço público e semiprivado flutua e assegura

assim a circulação e sobrevivência dos habitantes em casos de inundação. Os edifícios são

próximos e ligados entre si pelos terraços que são projetados para manter indefinidamente a

sua habitabilidade mesmo sem o espaço público do piso térreo existir. O primeiro piso mesmo já

estando sobrelevado, caso não seja transitável em algum momento de precipitação extrema,

cheias ou ondulação, tem a opção de ser socorrido pelo espaço público móvel ou pelo terraço.

A zona residencial está projetada com o intuito de abranger dois dos objetivos principais, um de

enquadramento da paisagem e ser um modelo de habitações de emergência. A nova zona é

tanto agradável de ser percorrida por habitantes como visitantes pelo espaço público de dois

níveis de plataformas, por ser um modelo de habitação multifuncional que está preparado para

os casos de cenários extremos, que se preveem acontecer.

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A eventual expansão do Barreiro para o rio, neste caso a ribeira de Coina, é aqui ensaiada. Este

conjunto residencial representa um protótipo do estilo de habitação que se pondera para o

futuro. O planeamento urbano e a arquitetura para este tipo de construções, como já vimos,

será uma opção sensata de investigar, testar e desenvolver dada a imprevisibilidade da evolução

da subida do nível das águas. O facto de a cidade estar por cima da água, requer

inevitavelmente uma mais estreita ligação dos habitantes com o seu rio e meio natural nos seus

circuitos quotidianos.

As acessibilidades e ligações diretas com a cidade consolidada são muito importantes para

determinar a integração da nova cidade que se vai construindo sobre a água, assim como uma

hierarquia viária. A espinha dorsal que circunda toda a frente ribeirinha toma aqui a forma de

viaduto sobre a água, não se configurando numa barreira mas uma continuidade de acesso

principal sobre a água.

ESPAÇO PUBLICO

As vias secundárias de menores dimensões são destinadas á circulação de moradores e

visitantes, estas desembocam sempre em cais flutuantes onde decorrem diversos programas

recreativos, biblioteca, mini mercado, piscinas naturais.

O espaço público admite várias formas, pelas plataformas flutuantes nas extremidades de cada

pontão/cais de embarque, zonas onde as vias secundárias estreitas terminam e se abrem para o

rio com diversos programas públicos; no espaço semiprivado das plataformas flutuantes

pertencentes a cada bloco residencial, que se querem igualmente com diversidade

programática, mais dedicada ao lazer: parques infantis, campos de jogos, piscinas fluviais; e

finalmente os espaços interligados entre todas as coberturas do edificado, projetado para

gradualmente se passar a usar este nível superior de espaço publico em detrimento da rua fixa

mas de cota mais baixa e insegura. A cobertura dos edifícios é utilizada como espaço público e

para situações de emergência de casos de cenários climáticos extremos que vão acontecer no

futuro.

A estrutura de cada bloco é feita de cima para baixo ou seja, o espaço público principal

encontra-se numa cota segura na cobertura e daí para baixo á medida que se adquirir uma

residência mais perto do nível da água maior o risco de inundação.

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As tipologias propostas são flexíveis, de T4 a estúdios, para famílias, ou mesmo pessoas

singulares que se interessem em iniciar novas formas de habitar e de mobilidade. Os blocos são

equipados com cais de embarque privado/publico e podem se ir expandindo cada vez mais á

medida que se comece a usar este meio de transporte privado.

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07. CONCLUSÃO

Nos últimos anos o Barreiro tem sido foco de diversos planos e propostas urbanísticas, pela

proximidade com Lisboa e o Estuário do Tejo, pelas zonas de preservação ambiental únicas que

ainda mantem intactas e principalmente por ser um ponto estratégico que faz parte do arco

ribeirinho sul, alvo onde se exercem atualmente várias pressões e interesses pela prevista

construção da terceira travessia do Tejo.

No Plano de Urbanização da Quimiparque procuram-se resolver questões técnicas, a

reconversão de áreas portuárias/industriais numa proposta arrojada e ambiciosa da comumente

denominada projeção de uma ‘cidade de futuro’, cosmopolita, dedicada á fixação de grandes

empresas, comércio e novas residências. Permanece a incerteza e a indecisão da sua execução

no contexto atual financeiro do país. Depois da análise crítica das propostas urbanas para o

território refletiu-se sobre a sua ineficácia no contexto atual e mais, todas falham pela carência

de propostas que tenham em conta questões ambientais reais de futuro. Como tem vindo a ser

aqui explicitado, as consequências para o meio ambiente e urbano do fenómeno do

aquecimento global são dadas como certas, estas com mais ou menos exatidão de se

concretizaram a médio ou a longo prazo serão catastróficas e irão modificar as cidades como

hoje as conhecemos. Tomando consciência deste fenómeno a partir de então teremos de tomar

atitudes de projeto e planeamento urbano que se coadunem e mitiguem o fenómeno da subida

do nível das águas.

Entende-se também que a memória do Lugar, associada á sua carga histórica e identitária do

Barreiro deve ser preservada, pelo que no desenvolvimento do plano urbano a proteção da

linha de costa se definiu partindo da certeza de defender elementos históricos que são impares

no Estuário e mesmo no mundo. Concretamente a área de preservação de Alburrica, o ex-libris

natural desta área protegida, fora sempre esquecido e alheado dos circuitos citadinos por

outros planos. Na presente proposta de planeamento este sistema natural é reabilitado,

reorganizado, reaproveitado como sistema vivo e objeto de estudo para a educação (com a

reconversão da Escola tecnológica de Energias renováveis) e finalmente com um valor adicional

pela exploração turística da Quinta Braamcamp. Alburrica deixa de ser um sítio atualmente em

declínio e mau estado de conservação, para ser usufruído e um espaço devolvido á cidade. A sua

extensão programática é agora não só abrangida por todos os moradores do concelho como

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para qualquer utilizador. Estas mais-valias vão de encontro o desejo recorrente de densificar

equilibradamente esta área e liga-la finalmente com a malha urbana da cidade.

A proposta de defesa da linha de costa pretende-se que ofereça á cidade do Barreiro espaços de

diversos níveis programáticos que vêm colmatar as carências e falhas que o funcionamento da

cidade apresenta em cada zona. Procurou-se qualificar e dinamizar a frente ribeirinha, mas

também conectar zonas distantes entre corredores verdes e parques da cidade que se ligam ao

rio.

A proposta de novos programas nos usos, passa pela reabilitação/reconversão de edifícios

antigos que ficam deste modo mantidos e em prol de um novo ideal de cidade, mais

sustentável, em que a população está mais comprometida e interativa com o meio ambiente.

Desta forma reabilitam-se alguns edifícios, um deles a Estação antiga da CP, em que se propõe o

equipamento cultural/artístico principal, um marco que se pretende ser diferenciador na cidade

e capaz de gerar maior afluência de pessoas. Nesta plataforma central pretende-se gerar uma

sinergia positiva entre vários programas que se juntam, ao ligar o sistema intermodal, o

equipamento cultural e pequenas e médias empresas.

A proposta de novas áreas residenciais servem para unir pontos da cidade, a primeira zona que

ladeia os dois lados da antiga linha férrea, que se configura agora num parque verde agradável

que cose a malha urbana e quebra a barreia visual; e a segunda zona residencial que liga a

malha urbana sobre a água e se configura num protótipo diferente e espontâneo de cidade de

futuro onde é agradável viver com a água.

19 893 Palavras

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110

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ANEXOS

ANEXO 01.

ENTREVISTA AOS LOCAIS – BARREIRO

ANEXO 02.

MAQUETE FINAL

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ANEXO 01.

ENTREVISTA LOCAL aos moradores da zona de intervenção e/ou munícipes NOME, IDADE. ANOS DE MORADOR NO CONCELHO. 1.Ana Casaca, 33 anos. Morador á 25 anos. 2. Ana Marques, 32 anos. Morador á 32 anos. 3. António Cameira, 48 anos. 4. Bruno Cavaleiro, 31 anos. Morador á 31 anos. 5. Cátia Amaro, 32 anos. 6. Cristina Ortigoso, 44 anos. Morador á 44 anos. 7.David Moreira, 36 anos. Morador á 36 anos. 8.Olga Marques, 24 anos. Morador á 24 anos. 9.Maria Guerreiro, 60 anos. Morador á 30 anos. 10.Marta Marques, 18 anos. Morador á 12 anos. 11.Pedro Guilherme, 42 anos. Morador á 42 anos. 12.Sara Marques, 21 anos. Morador á 21 anos. 2.Tem conhecimento do PU previsto para o Barreiro, ligando á 3ª travessia do Tejo? Quais acha que são as principais modificações que vão acontecer na cidade? 1. Sim. Facilidade de acesso a Lisboa, com um tempo mais reduzido para o mesmo. Melhor qualidade de vida. 2. Não. Não me parece que o custo compense qualquer modificação. 3. Sim. Modificações paisagistas, urbanas e na rede rodoviária com aumento significativo de trafego. 4. Sim. A principal mudança, se vier a acontecer, será uma maior proximidade a Lisboa, tanto no caso da 3ª travessia seja ferroviária ou rodo e ferroviária. Outro aspeto importante será um potencial desenvolvimento da antiga zona industrial, neste caso como zona de lazer. 5. Sim. Não sei 6. Sim. Se for efetuada a 3ª travessia decerto revitaliza a economia do concelho mas consequentemente também o custo de vida deverá subir e em consequência dessa ligação aumentaria também o número de habitantes. 7. Não. Na facilidade de transportes e mais indústria. 8. Sim. Maior acessibilidade, mais emprego, mais atratividade 9. Não, não sei 10. Sim 11.sim. Uma troca cultural mais plena com Lisboa 12.sim, mais trânsito. LINHA FÉRREA E ESTAÇÃO TERMINAL DA CP 3.Usa o comboio para se deslocar no Barreiro? 1. Nunca 2. Sim 3.Nunca 4. Nunca 5. Nunca

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6. Nunca 7. Nunca 8. Esporadicamente 9. Nunca 10. Nunca 11. Nunca 12. Nunca Como provavelmente já terá conhecimento, a linha de comboios, como a conhecemos agora, vai ser alterada. Os caminhos-de-ferro vão ser destruídos, e passará a existir uma nova linha de Metro á superfície (MST) ligando-se ao Seixal. 4.O que acha desta situação? Porquê? 1. Não considero muito correto, pois a linha existe há muitos anos, penso que seria preferível melhorá-las criando condições de a tornar mais útil. 2. Acho que esta mal, porque poderia ser aproveitada. 3.Acho mal, porque apesar da modernização com a rede de Metro, o acesso a outros destinos que hoje é feito pela CP vai ficar limitado, senão eliminado. Também os acessos a pontos culturais da cidade vão ser penalizados com esta inovação. 4. Sem opinião. 5. Se for para melhorar concordo. 6. É um marco histórico, faz parte da identidade do concelho e foi o fator mais determinante no seu desenvolvimento, deveria sofrer obras de restauro e servir a nova linha. 7. Seria positivo ter melhores ligações mas negativo se perder a ligação para Setúbal. 8. Acho bem, no entanto há que garantir a continuidade da existência de uma estação de comboios no Barreiro, com ligação a Setúbal e ao Algarve, que pode ser aproveitada da terceira travessia do Tejo. 9. Acho mal porque gosto do comboio que é um transporte útil e faz parte da história do barreiro. 10. Mal, podem usá-la para melhorar a vista. 11.Acho mal terem mandado a baixo a ponte que ligava ao seixal. 12. Sem opinião. 5.Esta linha, hoje em dia, acha que é uma barreira visual no Barreiro? (por exemplo, se há um género de casas e habitantes de cada lado da linha? É difícil de passar de um lado para o outro? A linha divide muito os espaços?) 1. Não. Em qualquer dos pontos de passagem da linha a mesa é feita de forma bastante acessível, não existindo alteração no tipo de residência. 2. Divide mas só em termos visuais, não me parece que para os habitantes haja problema. 3. Não acho que seja uma barreira. 4. Acho que é uma barreira. 5.a área circundante é mal tratada. 6. É de facto uma barreira visual, a área circundante é mal cuidada. 7. Limita alguns espaços urbanos e a mobilidade. 8. Dentro do Concelho não sinto que seja uma barreira, embora por vezes a volta para atravessar (de carro) tenha que ser maior, mas nada de muito grave. 9. Funciona sem grandes obstáculos 10. -

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11. Não, eu uso bicicleta 12. Divide um pouco mas não cria obstáculos em demasia. 6.E se esta linha de carris se tornasse num parque verde amplo e pedonal ligando-se á zona ribeirinha do cais? Seria benéfico? Usufruía deste espaço? 1. Seria muito benéfico e seria muito bom poder usufruir deste espaço. 2.Seria benéfico sim, não sei se usaria. 3.Sim, provavelmente. 4. Sim, seria benéfico e iria com certeza usufruir deste espaço. 5. Sim claro, quanto mais espaços verdes melhor. 6. Todo o espaço verde é bem-vindo e muito utilizado pela população, o parque da cidade é disso exemplo. 7. Apenas se a linha não fosse mesmo necessária. 8. Com o Barreiro igual ao que é hoje em que o espaço verde era apenas a área ocupada pela CP? Provavelmente não (nem benéfico nem usufruía). 9. Não considero muito benéfico 10. Seria benéfico e usaria 11. Sim para andar de bicicleta 12.Sim seria benéfico. Usaria. 7.Se existisse um circuito ciclovia/pedonal, para desporto ou simplesmente para lazer, usaria? 1. Semanalmente 2. Semanalmente 3.Esporadicamente 4. Semanalmente 5. Semanalmente 6. Semanalmente 7. Nunca 8. Semanalmente 9. Diariamente 10. Esporadicamente 11. Semanalmente 12. Esporadicamente 8.Considera possível usar futuramente uma ciclovia no seu quotidiano, para trajetos curtos, a pé ou de bicicleta, deixando de usar tanto o automóvel? Porquê? 1. Sim, porque torna as deslocações mais fáceis e mesmo mais saudável. 2. Não seria viável no meu caso. 3.Sim porque era mais amigo do ambiente e poupava dinheiro. 4. Sim, se existirem condições de segurança e se o percurso da ciclovia for adequado ao trajeto que necessito. 5. Não 6. Não. Trabalho em Lisboa, o tempo que demoraria a pé até ao terminal dos barcos, seria mais um fator de demora. 7. Não. 8. Sim. Só não o faço agora porque não existem percursos com segurança para o fazer. 9. Sim, já ando muito a pé. 10. Sim 11. Sim já o faço

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12. Na minha zona não esta prevista ciclovia pelo que ainda não posso abdicar de carro e autocarro. 9.Que outro transporte utiliza no Barreiro? (barco, BUS , carro, outros) Quais e com que frequência? (Diariamente/Semanalmente/Esporadicamente/Nunca) 1. Barco- Esporadicamente; BUS- esporadicamente; carro - diariamente 2. Barco, BUS, carro – diariamente 3. Bus - diariamente 4. Esporadicamente 5.barco, BUS e carro 6. barco - diariamente; BUS - Semanalmente 7. Carro 8. Barco – esporadicamente, BUS – diariamente; Carro - esporadicamente. 9. Nunca 10. BUS e carro 11. Carro e bicicleta - diariamente 12.barco , BUS e carro. 10.Costuma utilizar os espaços verdes ou parques que tem ao pé de casa? Para que? 1. Sim, para fazer algumas caminhadas. 2. Sim 3. Sim para passear e desfrutar da natureza e também utilizar aparelhos de recreação existentes nos parques 4. Para passear a pé. 5. sim porque gosto de andar. 6. Sim, para caminhadas ou simplesmente para desfrutar a paisagem. 7. nao 8. Sim (mas já é concelho da Moita – Parque José Carlos Afonso) para lazer. 9. sim para caminhar 10. sim, lazer 11. para correr 12. sim, lazer 11.Acha que esse espaço que existe perto da sua residência é suficiente? Porquê? 1. Não, seria importante que houvesse mais espaços verdes. 2. Sim 3.Sim, porque é grande e bem estruturado. 4. Sim, neste momento o Barreiro conta com um número de espaços verdes e parques em número aceitável. 5. sim é um espaço tranquilo. 6. O espaço é ótimo, mas o número de habitantes, justificava mais um. 7. sim 8. Para as vezes que lá vou, é suficiente mas às vezes era bom ter mais opções (por perto). 9. sim 10. sim é suficiente 11. sim é suficiente 12. sim

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12.Pratica algum desporto? Gostava de praticar?Qual? 1. Não 2. Não pratico mas gostava. Voleibol. 3.Nao mas gostava. Basketball. 4.Sim. Futebol e Ténis 5. Gosto de correr. Atletismo 6. Não, Sim. Natação. 7. não. Sim mas não tenho tempo. 8. Se considerar ginásio como desporto, sim. Ginásio – Cardiovascular/musculação. 9. Não por motivos de sáude. 10. não, gostava. Surf. 11. Atletismo. 12. Ginásio. ZONA DO CAIS FLUVIAL/ ESTACIONAMENTO/ TERMINAL DE COMBOIOS 13.Utiliza o transporte fluvial? Como se desloca até lá? 1. Esporadicamente. Autocarro ou carro. 2. Diariamente. Autocarro ou carro. 3.esporadicamente. Autocarro ou carro 4. Esporadicamente. De carro ou de autocarro 5.diariamente. Autocarro 6. Dia-a-dia. Autocarro. 7. Nunca. 8. Esporadicamente. Carro ou Bus. 9. Carro. 10. Esporadicamente. Carro ou bicicleta. 11. Esporadicamente. 12. Diariamente. Carro ou bicicleta. 14. De que gosta ou não gosta no estacionamento? 1. Da falta de lugar. 2. Não gosto que seja pago. Gosto do estacionamento ser em espinha. 3. Não gosto do custo muito elevado. 4. É insuficiente para o número de pessoas que usam o barco. Um aspeto positivo é o preço do parque que me parece bastante razoável. 5. Não utilizo 6. Não utilizo. 7. Não utilizo. 8. Ou é perto e paga-se (não gosto), ou é perto e é em terra batida (buracos, poeira, poças de água) ou é longe (junto aos edifícios) e consoante a hora difícil de arranjar (não gosto mas era esta a hipótese que utilizava quase sempre). 9. Sem opinião. 10. Não gosto do custo 11. Sem opinião. 12. Não gosto do custo

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15.O que mudava no cais de embarque? 1. Acho que está muito bem assim 2. Nada. 3.Ser possível transportar viaturas. 4. Não me ocorre nada a alterar. 5. Um centro comercial. 6. Uma esplanada que aproveitasse a beira-rio 7. Sem opinião. 8. Nada 9. Sem opinião. 10. Sem opinião. 11. Sem opinião. 12. Parque sem pagamento 16.O que mais ama nesta zona da cidade? 1. A proximidade com o mar 2. Apreciar a paisagem. 3. Apreciar a paisagem. 4. Gosto muito do Rio. 5. A praia fluvial 6. A paisagem dos moinhos de maré 7. - 8. A antiga estação de passageiros. 9. A praia e zona dos moinhos 10. - 11. A proximidade com lisboa 12. Nada em especial 17.O que gostava que o cais também tivesse? E se o cais fosse também um parque com outras atividades? 1. Seria importante o cais ter mais comércio, não estar tão isolado. Seria uma mais-valia. 2.Animação. Era bom! 3. Mais lojas. Seria agradável. 4. Não me ocorre nada a alterar. O cais de embarque tem um parque relativamente perto, feito no âmbito do programa POLIS. 5. Um centro comercial. Sim. 6. Loja de conveniência ( o pingo doce fica demasiado afastado). Não: o tráfego de viaturas em hora de ponta, já causa alguma confusão 7. - 8. Nada em especial. Não consigo imaginar o cruzamento de funções. 9. Era agradável. 10. Animação. era bom! 11. Nada a acrescentar 12.Animação. Depende das atividades 18.Gosta de espaços públicos com água ou que comtemplem a água, num rio ou mar? Gostava de viver mais perto do rio/mar? Porquê?

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1. Sim. Porque sempre vivi perto do mar tendo desenvolvido uma relação de proximidade com o mar. 2. Sim. Não, gosto do sítio onde moro. 3. Sim. Sim o meu sonho é no futuro viver numa casa perto do rio/mar 4. Sim. Sim. 5. Sim. Sim pela paisagem 6. Sim. Sim, porque aprecio a paisagem 7. Sim. Não. 8. Sim. Não. Por causa da maré vazia. 9. Sim. já vivo suficientemente perto. 10. Sim, muito. Sim. 11. Sim. Já vivo suficientemente perto 12. Sim. Sim é relaxante e teria uma vista bonita PASSEIO AUGUSTO CABRITA O Passeio Augusto Cabrita tem alguns espaços verdes, uma ciclovia, campos de desporto, clube de vela, alguns cafés e esplanadas e de noite alguma movimentação noturna de bares. 19.Conhece o Passeio Augusto Cabrita? É perto de sua casa? 1. Sim. Sim. 2. Sim. Não. 3. Sim. Sim 4. Sim. Não. 5.Sim. Sim. 6. Sim. Não. 7. Sim. Não. 8. Sim. Sim. 9. Não. 10. Sim. Não. 11. Sim. Sim. 12. sim. Não Se conhece: 20.Costuma procurar aquele espaço para fazer que tipo de atividades? 1. Para caminhar aos fins-de-semana 2. - 3. Para passeio e desfrutar dos cafés e esplanadas 4. - 5. Caminhadas 6. Caminhadas ocasionais 7. - 8. Lazer 9. - 10. - 11. Olhar para lisboa 12. - 21.O que mais gosta neste espaço ribeirinho?

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1. De todo o espaço em si, penso que atualmente está mais organizado e muito mais agradável 2. A vista e o muro. 3. Puder desfrutar mais de perto do rio e a ampla vista sobre a cidade de Lisboa. 4. Da vista para Lisboa, que considero a mais bonita. 5. Gosto de tudo 6. Tudo 7. - 8. Relação com o rio e espaços confortáveis. 9. - 10. Vista 11.Vista 12. Vista e tranquilidade 22.O que menos gosta neste espaço ribeirinho? O que gostava que fosse? 1. Penso que está bem desta forma, melhorou muito com o passar dos anos. 2. Não está muito limpo. 3. A falta de civismo das pessoas com animais. 4. A envolvente da zona do Barreiro Velho, que me parece algo degradado e que com um projeto de recuperação urbanístico teria muito a ganhar. 5. - 6. - 7.- 8. Obstáculos tipo bares que ocupam o espaço, funcionando apenas de noite. 9. - 10. - 11.A temática – ‘barreiro velho’. 12. É mal frequentado. 23.Conhece o complexo de Piscinas Municipais (no Passeio Augusto Cabrita)?Frequenta: 1. Nunca. 2. Sim. Nunca. 3. Esporadicamente 4. Sim. Frequenta: Nunca 5. Não. 6. Nunca – está degradado 7. Nunca. 8. Sim. Frequenta: Nunca 9. Não. 10. Sim. Nunca 11. Não. Nunca 12. Sim. 24.Se tivesse á sua disposição, um complexo de piscinas maior e com mais qualidade, consideraria frequentá-lo? Porquê? 1. Sim, porque gosto muito de natação e se as condições fossem melhores seria muito mais agradável usufruir destas. 2. Sim.

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3. Sim porque aumentaria a oferta de serviços, os horários seriam mais acessíveis. 4.Talvez. 5. - 6. Sim! Existe apenas mais uma piscina q tem boas condições mas é mto pequena. 7. Não 8. Não. Não ligo ao desporto natação. 9. - 10. - 11. Sim 12. Sim, porque é um desporto que faz bem a saúde. O Barreiro tem vários vestígios que fazem parte do património deste local 25.Acha que os edifícios deviam ser preservados/requalificados? Porquê? 1. Sim, porque fazem parte da história do conselho, tendo acompanhado várias gerações, a sua requalificação seria muito útil. 2. Sim. Faz parte do património. 3. Sim. Porque para alem de ser um ponto de atração turístico, é muito importante preservar o património arquitetónico que qualifique a localidade e a cidade tem elementos que são únicos a nível nacional. 4.Sim. Estes tipos de edifícios fazem parte das várias fases da história do Barreiro. 5. Sim. 6. Sim. Fazem parte da história do concelho, recuperados podem fomentar interesse turístico, abandonados ou demolidos descaracterizariam a cidade. 7. Sim. Ajudaria a preservar a história da cidade 8. Sim (alguns com adaptação de novas funções) 9. Sim. Para preservar a história do concelho 10. Sim. É histórico. 11. Sim. Gosto de história 12. Sim. Fazem parte da história do barreiro, são património valioso 26.Diga-me por favor o grau de importância que acha que cada um destes elementos tem, e que considera importante preservar e requalificar, pelo seu valor cultural no Barreiro: (Muito importante/Importante/Pouco importante/Nada importante) Antiga Estação da CP (1857): 1. Muito importante 2. Importante 3. Muito importante 4. Importante 5. Importante 6. Muito importante 7.- 8. Muito importante 9. Muito importante 10. pouco importante 11. Muito importante 12. pouco importante

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Linha de caminho-de-ferro (os primeiros que fizeram a ligação até ao sul do país): 1. Muito importante 2. Importante 3. Muito importante 4. Importante 5. – 6. Pouco importante 7. Pouco importante 8. Pouco importante 9. Muito importante 10. Importante 11.Pouco importante 12. Pouco importante Museu e oficinas da CP: 1. Muito importante 2. Importante 3. Muito importante 4.Pouco importante 5. muito importante 6. Muito importante 7. Pouco importante 8. Importante 9. Muito importante 10. Importante 11. Muito importante 12. - Moinhos de maré (na zona ribeirinha): 1. muito importante 2. muito importante 3. Muito importante 4. Muito importante 5. Muito importante 6. Muito importante 7.importante 8. Importante 9. Muito importante 10. Muito importante 11. Muito importante 12. Muito importante Moinhos de vento (na língua de areia na zona ribeirinha): 1. muito importante 2. muito importante 3. Muito importante 4. Muito importante

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5. Muito importante 6. Muito importante 7.importante 8. Muito importante 9. Muito importante 10. Muito importante 11. Muito importante 12. Muito importante Igreja Nª Sª do Rosário: 1. Muito importante 2. Pouco importante 3. Importante 4. Importante 5. Muito importante 6. Muito importante 7. Nada importante 8. Muito importante 9. Pouco importante 10. Nada importante 11.Nada importante 12. Nada importante 27.Dos elementos em questão, qual é o que considera mais emblemático? (escolha um deles que representasse um ícone do Barreiro) Porquê? 1. Moinhos de maré. 2. Moinhos de maré. 3. moinhos de maré pela importância que tiveram no passado e pela beleza arquitetónica. 4. Os moinhos. 5. os moinhos porque fazem parte da historia do concelho. 6. Moinhos de maré – Já fazem parte do imaginário dos camarros, aqueles perfis são já um ícone do Barreiro. 7. Moinhos de maré. 8. Os moinhos de vento já estão “entranhados” como emblemáticos. 9. Estação antiga da CP. 10. Moinhos de vento e de maré 11. Moinhos de vento 12. Moinhos de vento e de maré 28.Frequenta a praia perto dos moinhos de Alburrica? 1. Nunca 2. Nunca 3.Algumas vezes por ano 4. Nunca 5. Várias vezes do ano 6. Algumas vezes por ano 7. Nunca

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8. Algumas vezes por ano mas não para fazer praia! 9. Várias vezes do ano 10. Nunca 11. Uma vez por ano 12. Nunca 29.Acha que esse número de vezes que frequenta a praia tem a ver com qualidade da água? A limpeza da praia? Outros? 1. Sim 2. Sim, pela pouca qualidade e limpeza. 3.tem a ver com a beleza da área. 4. Tem principalmente a ver com a qualidade da água. 5. Sim com a falta de qualidade da água mas o espaço é ótimo. 6. Tem a ver com a falta de qualidade da água porque o espaço é opimo e a areia também. 7. - 8. Qualidade da água. 9. Só frequento para fazer caminhadas a água não inspira confiança 10. - 11. Não 12. Sim não tem qualidade nenhuma 30.Que equipamentos consideraria necessários nesta zona do Barreiro? 1. Construção de mais creches, pavilhões desportivos e mesmo um centro comercial onde fosse possivel fazer compras, visto que o que foi construído não trouxe qualquer utilidade aos habitantes, uma vez que continuamos a ter de nos deslocar a outras localidades para efetuar compras. 2. Considero todos importantes. 3. Uma escola, uma biblioteca e gostaria de ver um pavilhão gimnodesportivo. 4. Talvez um pavilhão, pois os restantes existem nas proximidades ou mesmo no local. 5. Gostava de mais zonas de restauração. 6. Seria interessante aproveitar essa zona para restauração e talvez um espaço onde se pudessem organizar concertos/ feiras temáticas. 7. - 8. Pavilhão de desporto e/ou pista de atletismo 9. - 10. - 11. - 12. Escola, creche, pavilhão gimnodesportivo, biblioteca.

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Tese de Mestrado | CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS Multifuncionalidade de espaços e cenários no Barreiro

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ANEXO 02

VISTAS GERAIS DO PLANO URBANO – FRENTE RIBEIRINHA DO BARREIRO

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Tese de Mestrado | CIDADES E FRENTES RIBEIRINHAS Multifuncionalidade de espaços e cenários no Barreiro

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ZONA 01. NOVO PASSEIO AUGUSTO CABRITA

ZONA 02. ALBURRICA ZONA 03. 04 CORREDOR VERDE | INTERFACE

ZONA 05. CIDADE FLUTUANTE