Cisterna-Calçadão garante produção diversificada em tempos de estiagem

2
Cisternas calçadão garantem produção diversificada em tempos de estiagem Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº2009 Junho/2014 Monsenhor Tabosa L uiza Canuto, 55 anos, é moradora da comunidade indígena de Olho D'Água dos Canutos, localizada na zona rural de Monsenhor Tabosa, cidade da região do Sertão de Crateús e distante 300 quilômetros de Fortaleza. Beneficiada em 2009 com uma cisterna de placa que armazena água para consumo, ela e o sobrinho, que mora vizinho, passaram a contar, a partir de 2012, com duas cisternas calçadão, cuja água permite às duas famílias cultivar e consumir diversos gêneros alimentícios no quintal produtivo mantido na propriedade. Formada por nove municípios, a microrregião do Sertão de Crateús, onde Mosenhor Tabosa está inserida, está inteiramente dentro da zona semiárida, a região sofre com baixos índices pluviométricos a cada ano. A escassez de água para consumo e para produção se constitui, assim, no mais grave problema para as populações residentes nessas áreas. Por isso, tecnologias de armazenamento de água como as cisternas são tão importantes para garantir a sobrevivência e atividade econômica de milhares de famílias. Os tempos em que a plantação era de apenas milho e feijão ficaram na lembrança. “Eu só produzia quando chovia. Hoje, posso cultivar essa diversidade de espécies graças à cisterna

description

Adepta da produção agroecológica, a agricultora e a família receberam capacitação onde aprenderam como conviver com o meio ambiente, cuidados com as cisternas e técnicas de aproveitamento de água. "Hoje tenho qualidade de vida e uma alimentação saudável", diz.

Transcript of Cisterna-Calçadão garante produção diversificada em tempos de estiagem

Page 1: Cisterna-Calçadão garante produção diversificada em tempos de estiagem

Cisternas calçadão garantem produçãodiversificada em tempos de estiagem

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº2009

Junho/2014

Monsenhor Tabosa

Luiza Canuto, 55 anos, é moradora da comunidade indígena de Olho D'Água dos Canutos, localizada na zona

rural de Monsenhor Tabosa, cidade da região do Sertão de Crateús e distante 300 quilômetros de Fortaleza. Beneficiada em 2009 com uma cisterna de placa que armazena água para consumo, ela e o sobrinho, que mora vizinho, passaram a contar, a partir de 2012, com duas cisternas calçadão, cuja água permite às duas famílias cultivar e consumir diversos gêneros alimentícios no quintal produtivo mantido na propriedade.

Formada por nove municípios, a microrregião do Sertão de Crateús, onde Mosenhor Tabosa está inserida, está inteiramente dentro da zona semiárida, a região sofre com baixos índices pluviométricos a cada ano. A escassez de água para consumo e para produção se constitui, assim, no mais grave problema para as populações residentes nessas áreas. Por isso, tecnologias de armazenamento de água como as cisternas são tão importantes para garantir a sobrevivência e atividade econômica de milhares de famílias.

Os tempos em que a plantação era de apenas milho e feijão ficaram na lembrança. “Eu só produzia quando chovia. Hoje, posso cultivar essa diversidade de espécies graças à cisterna

Page 2: Cisterna-Calçadão garante produção diversificada em tempos de estiagem

Realização Apoio

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

calçadão, que me permite armazenar água para irrigar a plantação”, afirma Luiza Canuto, que há dois anos passou a contar com uma cisterna de produção, obtidas por meio do programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Através de convênio entre a Articulação do Semiárido (ASA Brasil) e a Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece). Mesmo em período de estiagem, as famílias de Luiza e do sobrinho Paulo Canuto Júnior trabalham em parceria em uma área de meio hectare, onde são produzidos gêneros como milho, feijão, fava, mamão, banana, hortaliças, jerimum, melancia, berinjela, pepino, pimentão, pimentinha, siriguela, acerola e plantas medicinais como malvarisco, courama, mastruz e capim de chá, além das pimentas de cheiro e malagueta.

A família de Luiza é uma das 39 que formam a comunidade Indígena Olho D'água dos Canutos. Ela mora junto com um filho, a nora e uma neta. Ela afirma que até 2009, quando foi construída a cisterna de placa, a água para consumo tinha de ser comprada periodicamente, já que a família não dispunha de um reservatório que permitisse o armazenamento de uma quantidade maior. Adepta da produção agroecológica, ela e a família receberam capacitação onde aprenderam como conviver com o meio ambiente, cuidados com as cisternas e técnicas de aproveitamento de água. “Hoje tenho qualidade de vida e uma alimentação saudável. Economicamente, nossa situação melhorou muito, porque não gastamos mais dinheiro para comprar os gêneros alimentícios que hoje cultivamos”, pontua ela, que também procura conservar a vegetação nativa na maior parte da propriedade. Até um formigueiro recebe a atenção dela, que plantou mudas de marmeleiro e manisoba para alimentar as formigas.

Só sabe a importância de uma cisterna dessa depois que constrói e passa a produzir”, diz Luiza, que ampliou a produção do seu quintal com pequenas criações de galinhas e cabras. “Ali é onde eu me realizo”, diz ela, apontando para o cercado onde vivem os animais. Até o substrato da limpeza dos canteiros é reaproveitado na alimentação dos animais. “A palha do milho, por exemplo, a gente passa na forrageira e serve de ração para as cabras”, explica ela, que também participa das feiras da agricultura familiar municipal e estadual, onde expõe e comercializa produtos. Mesmo consideradas abaixo da média, as chuvas até agora permitiram o armazenamento de um bom volume de água nas cisternas.