CIRCUITO MONTE MOCHUARA: PROPOSTA DE...
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Djeana Rocha Almeida¹ Ronald Pereira Silva²
Maionny Soares Quieza Dallapicola³ Gabriel Lecoque Francisco4
Pedro Nascimento Nunes5 Clebson do Carmo dos Santos6
Universidade Federal do Espírito Santotodos
[email protected]¹ [email protected]²
[email protected]³ [email protected] [email protected]
CIRCUITO MONTE MOCHUARA: PROPOSTA DE PLANEJAMENTO NA
REGIÃO RURBANA DE CARIACICA
INTRODUÇÃO
Cariacica é um dos 78 municípios do estado do Espírito Santo, localizado na região
metropolitana da Grande Vitória. O município possui uma área de 279,98 km²,
correspondente a 0,60% do território estadual, limitando-se ao norte com Santa
Leopoldina, ao sul com Viana, a leste com Vila Velha, Serra e Vitória e a oeste com
Domingos Martins. Tem uma população de 348.933 habitantes, segundo o censo de
2010, sendo que 95% estão na área urbana.
A maioria dos bairros de Cariacica cresceu sem um planejamento devido e tem
limitações de infraestrutura, o que prejudica o desenvolvimento local.
Na década de 1950, o grande destaque foi o início do parcelamento do solo em
Cariacica: 26 loteamentos localizados próximos a BR 262 foram aprovados e deram
ainda mais espaços para a concentração populacional. Já na década de 1960, foi
desenvolvido um plano de expansão da Cofavi, que foi aprovado pelo governo federal.
O crescimento populacional como resultado do crescimento econômico da região,
inerentes à falta de planejamento no desenvolvimento do território. A situação criada
desencadeou sérios problemas sociais e ambientais que afetaram o município. Nesse
período a população cresceu 156%, saindo de cerca de 39 mil habitantes em 1960 para
101 mil em 1970. (CARIACICA, 2011)
A ocupação de forma desenfreada e com precária infraestrutura continuou nas décadas
de 1970 e 1980, mais 25 loteamentos foram aprovados para proprietários que tinham
intenção de investir na área industrial. Na década de 1980, Cariacica começa a sofrer
com o desaquecimento da sua economia e isso acarreta consequências negativas,
refreando o desenvolvimento do município. Há uma diminuição da oferta de trabalho, o
que intensifica o processo de ocupação desordenada, houve aumento do número de
favelas no município.
Cariacica possui em seu território um maciço granítico denominado de Monte
Mochuara. Bastante utilizado para visitação e passeios, a rocha granítica mede 724
metros de altura. O monte tem em sua história lendas indígenas e de visitantes
franceses, segundo alguns escritores e historiadores, os indígenas chamavam-no
Mochuara, a pedra irmã, em alusão ao Monte Mestre Álvaro, na Serra. Como símbolo
cultural (e religioso) destaca-se a Igreja Matriz de Cariacica-Sede, que homenageia o
padroeiro do município, São João Batista, e que é protagonista da história cariaciquense,
sobretudo ao se tratar dos antigos índios e os jesuítas. Estes dois elementos são chaves
para a proposta que será apresentada neste trabalho.
A autora Raquel Tardin, em seu texto Espaços Livres: Sistema e projeto Territorial,
destaca a importância da manutenção dos marcos históricos para reforçar as relações
entre as comunidades:
Embora possa haver inúmeras razões para sua permanência, seja um lugar de práticas comunitárias que se manteve ou, simplesmente, como uma propriedade esquecida de acordo com sua significação para a comunidade local, os marcos históricos poderiam reforçar as relações entre a comunidade e seu entorno físico, e sua conservação e avaliação contribuiriam para manter vivo o passado, além de permitir a preservação dos espaços livres.
OBJETIVOS
Buscando aproveitar a proximidade do urbano com o rural, entre Cariacica-Sede e a
região do vale do Mochuara, é proposto neste trabalho, um circuito que integra as duas
regiões. Tal conexão foi planejada de modo a propiciar uma nova opção de lazer para a
comunidade local e um atrativo para os demais interessados a partir da exploração
sustentável e saudável do ambiente rural, unindo atividades físicas/esportivas e gozo da
paisagem natural, usufruindo da beleza do ambiente rural de Cariacica e, sobretudo, da
contemplação do imponente Monte Mochuara.
Neste sentido, conectar significa atuar nos espaços referência e nos demais espaços
livres a fim de estabelecer ligações entre as peças do sistema. Os espaços conectores são
estratégicos para o projeto do sistema, onde as áreas de conexão, que atenderiam tanto
funções biofísicas como perceptivas, podem ser planejadas previamente para sua
ordenação. Para tanto, se prioriza a conquista da maior continuidade possível entre
espaços livres, o que favorece o desenvolvimento e a recuperação de seus atributos e de
seus respectivos processos em busca de paisagens que mantenham suas funções
essenciais (Tardin, 2008).
Circuito
A bicicleta possui considerável importância para prática de atividades físicas e de lazer,
e tem sido intensificado o seu destaque como meio de transporte não poluente e
otimizador do uso do espaço nas vias.
“os ciclistas não magicamente transcedem os alienantes impulsos do capitalismo e do consumismo através de suas opções de transporte e de certa maneira eles são alienados de toda alta tecnologia, da alta velocidade da realidade moderna. Os ciclistas, no entanto, desenvolvem uma conexão e percepção únicas do espaço material, que são impossíveis de atingir atrás do volante do carro (...). A massa Crítica amplifica esta experiência individual e cria um inteiro novo espaço social através da mobilidade coletiva” (FUNESS apud LOPES, 2010, p.86).
Pela Rodovia José Sette (ES-080), o circuito parte da Praça Marechal Deodoro da
Fonseca e chega na Estrada de Roças Velhas, onde o usuário poderá usufruir do espaço
e dos atrativos de um parque municipal pensado a ser construído na propriedade que
pertence ao Estado. Mais adiante, há duas propriedades com potencial de visitação, a
propriedade Roças Velhas e a Estância Vale do Mochuara, esta última que já se localiza
na rota que perfaz o circuito. O último ponto para o passeio com bicicleta seria a
proposta de um bicicletário que seria implantado no Sítio Junato, uma propriedade
particular que abrigaria o posto de bicicletas para os ciclistas que prefiram continuar o
circuito caminhando. Assim, o circuito terminaria com caminhada a partir do posto de
bicicleta no Sítio Junato até os pés do Monte Mochuara. Esse trajeto possui superfície
inclinada, o que justifica a não utilização de bicicletas. Em uma propriedade também
particular, a ideia é a proposta da construção de um mirante, em uma localização
estratégica em que é possível ter vista panorâmica da porção (sud)oeste do município de
Cariacica e leste/nordeste de Viana.
Fará parte do circuito a implantação de uma ciclovia, que considerando o sentido
Mirante, será do lado direito da estrada, cujo intuito será não obstruir a vista de
contemplação para o Monte Mochuara.
“Os fundos cênicos podem ser transformados rapidamente mediante a ocupação dos espaços livres. Nesse contexto, se destacam as superfícies edificáveis entre a paisagem observada e os pontos de observação das vistas parciais, os “corredores visuais” (Laurie, 1975), que, na realidade, correspondem a grande parte dos espaços livres da planície e coformam lugares que mereciam uma atenção urbana a fim de permitir a manutenção de determinadas vistas.” (TARDIN, 2008, p. 154).
Fará parte também da intervenção, revegetação (conforme mostrado no mapa acima)
com o objetivo de propiciar um passeio mais agradável ao usuário, não só quanto à
questão paisagística mas, também, no que diz respeito a um conforto térmico propiciado
pela arborização. Este projeto prevê desapropriação da faixa/área que perfaz essa
intervenção, visto que o espaço atual da estrada não é suficiente para a proposta deste
projeto.
Posto de aluguel de bicicletas
O circuito contará com pontos de apoio, sendo que o primeiro será no local de partida,
mais especificamente na área onde atualmente há uma academia popular, em terras
públicas pertencentes à Prefeitura Municipal, ao lado do Posto de Saúde de Cariacica-
Sede e da Delegacia da Polícia Civil. A ideia é incorporar àquele espaço uma estrutura
que abrigará uma pequena sede de aluguel de bicicletas, que será administrada pela
Prefeitura. A ideia para este local consiste em reestruturar o espaço, juntamente com a
travessa Muniz Freire, que liga aquela área à praça. O projeto prevê que o posto de
aluguel de bicicletas abarque informações visuais em sua estrutura de modo a informar
e convidar as pessoas a conhecerem e usufruir do circuito, o que acontecerá a partir de
placas e cartazes, além de um folder que poderá ser ali distribuído para as pessoas.
Fotografia 1: Área de implementação do posto de aluguel de bicicletas
Complexo do Parque Municipal
Como forma de integrar a população local ao espaço do Vale do Mochuara propõe-se a
criação de um complexo que compreenderia um parque municipal. O parque abrigaria
uma sede (administrativa) de apoio ao passeio de bicicleta, uma sala de exposição
histórica e cultural, uma academia popular, um parque infantil e uma área para skate. A
criação do parque garantiria a preservação da mata ciliar do rio naquela área.
A sede de apoio ao circuito de bicicleta comportaria uma sala com técnico na área de
saúde (para medir pressão e dar instruções de hidratação entre outros), sanitários,
bebedouros e funcionária como centro de informações turísticas da região. Com relação
à sala de exposição, esta se destinaria a expor a história da região, através de relatos dos
moradores mais antigos do bairro de Cariacica-Sede e entorno, de fotos antigas, e de
artefatos guardados pelas famílias por gerações, uma vez que:
As relações entre o espaço e a cultura são, pois, múltiplas e põem em questão fenômenos que são ao mesmo tempo materiais e imateriais, objetivos e subjetivos, tradicionais e modernos, particulares e universais, coletivos e individuais. (CASTRO; GOMES; CORRÊA, 2012)
Figura 1: Planta da proposta do parque
A academia popular prevista para o parque se destina a atividade física das pessoas que
passarem pelo local, seja atletas, turistas ou a população de uma maneira geral. Já o
parque infantil e a área para realização de práticas de skate são necessidades constatadas
corriqueiramente na área urbana, principalmente nos centros antigos onde existem
poucos locais de lazer para crianças e jovens. As necessidades destes espaços foram
levantadas conforme questionário aplicado à população.
O parque também seria instrumento de integração da área urbana com a rural, onde se
preservaria a paisagem e as matas ciliares que hoje são pouco percebidas na região.
Buscando realizar ressocialização das detentas do presídio feminino, a manutenção e
limpeza do parque seria realizada pelas mesmas.
Para a instalação do parque, sugere-se que o atual traçado da estrada de ferro litorânea-
sul seja desviado para a borda leste do parque, de modo a não interferir em sua
instalação e não dividir a propriedade leiteira de Roças Velhas ao meio.
Posto de Apoio “Junato”
Tendo em vista que o percurso não é somente destinado a atletas, o posto de apoio no
sitio do Junato, visa a estabelecer um ponto de parada particular onde os visitantes
possam deixar suas bicicletas e continuar o percurso a pé rumo ao mirante.
A ideia é que neste ponto de apoio se tenha banheiros, água e local para estacionamento
das bicicletas. Além de orientação de como continuar o percurso rumo ao mirante, e
comunicação com o posto na sede, por causa de eventuais imprevistos como: acidentes,
problemas mecânicos nas bicicletas entre outros. Ele será um ponto privado, portanto
toda infraestrutura cabe ao dono do sitio.
Mirante
Para a proposta do Mirante, a sua localização seria em uma altitude de 290 metros, o
que favoreceria uma vista privilegiada da região, que abriga mata atlântica. Esse projeto
fomenta uma parceria com a iniciativa privada, visto que, as alterações seriam
arquitetadas em uma área particular, dependendo de deliberação do proprietário.
Figura 2: Vista lateral do mirante (projeção)
Figura 3: Planta baixa do mirante
.
Mapa 1: Proposta geral de intervenção
METODOLOGIA
No dia primeiro de março de 2014, foi realizada uma pesquisa em Cariacica Sede com
os moradores locais, procurando conhecer a opinião dos cidadãos sobre os seguintes
aspectos: espaços de lazer, segurança, estrutura do bairro, mobilidade, os presídios ali
instalados, atuação da prefeitura e o projeto conexão Mochuara e seus equipamentos de
apoio. Segue abaixo os resultados adquiridos com a pesquisa:
Foi possível constatar, conforme o gráfico 1, que a maioria delas estão insatisfeitas com
a atuação do poder público municipal na região, assim como mais de 80% dos
entrevistados acham boas as ideias da criação de um circuito turístico na região do vale
do Mochuara, a criação de um parque municipal e de um circuito de bicicleta. Em
relação à importância dos espaços do vale do Mochuara para práticas de turismo e lazer,
há uma divisão mais equilibrada na opinião dos entrevistados; 31% acham regular e
25% acham ruim, entretanto, a frequência de acesso à região não é boa; mais da metade
respondeu como ruim a constância de acesso à área do vale.
Os resultados das entrevistas mostram que há uma carência em explorar as
potencialidades que Cariacica-Sede e a região do vale do Mochuara têm. Em detrimento
disso, a ideia de se criar um circuito que melhoraria o acesso e faria a comunidade local
acessar com mais frequência e ter como opção de lazer a área rural de Cariacica.
A proposta, de acordo com Tardin (2008), é conectar, “unir os espaços” urbano e rural
através da integração dos mesmos pelo circuito de bicicleta. E articular, “relacionar os
tecidos urbanos, ou parte dos tecidos que não apresentam interação entre si”, de modo a
população local se aproprie das terras do Estado na Zona Rurbana para fins de esporte e
lazer. Além de desfrutarem da paisagem do maciço do Mochuara. A ideia é articular
este espaço livre com o cotidiano da população de modo que ele passe a ser visível e
relevante para a comunidade local.
BIBLIOGRAFIA
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TARDIN, Raquel. Espaços Livres: sistema e projeto territorial. Rio de Janeiro:
7Letras, 2008.