Cine cidadania

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CINE-CIDADANIA: O TRABALHO COM FILMES NA ESCOLA NUNES, Tania Teixeira da Silva (Escola Estadual Coronel Francisco Lima) SIQUEIRA, Eliane Balonecker (Escola Estadual Coronel Francisco Lima) PINTO, Maria Isaura Rodrigues (Faculdade de Formação de Professores da UERJ) RESUMO A escola exerce múltiplas funções em tempos de complexas transformações sociais e tecnológicas. Uma delas é a formação do leitor reflexivo e crítico. Esta comunicação, baseada no pensamento de Edgard Morin (2004) de que o cinema marca a existência do ser humano da mesma forma que a literatura e a música, busca apresentar uma proposta pedagógica em que o professor exerce a função de mediador no trabalho com filmes, enquanto gênero textual direcionado para a construção de valores, conceitos e comportamentos, que podem ser instrumentos de intervenção e mudanças sociais. A utilização de filmes, em aulas de língua portuguesa e literatura, pela equipe do PIBID - Letras da FFP, no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, em São Gonçalo, abriu espaço para que fossem discutidas questões que o livro didático não aborda. A oralidade desencadeou a escrita e fez surgir o interesse por outras obras cinematográficas e livros, levando a crer que, certamente, aqueles alunos não chegariam a tomar contato com aquele tipo de produção fílmica se isso dependesse da ida ao cinema na cidade. Assim, o cinema na escola pode ser útil como fator de entretenimento, mas também como linguagem plena de magia e sedução capaz de funcionar como equipamento ampliador da instrução e da educação. Palavras-chave: filme; escola; leitura

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CINE-CIDADANIA: O TRABALHO COM FILMES NA ESCOLA

NUNES, Tania Teixeira da Silva (Escola Estadual Coronel Francisco Lima)SIQUEIRA, Eliane Balonecker (Escola Estadual Coronel Francisco Lima)

PINTO, Maria Isaura Rodrigues (Faculdade de Formação de Professores da UERJ)

RESUMO

A escola exerce múltiplas funções em tempos de complexas transformações sociais e tecnológicas. Uma delas é a formação do leitor reflexivo e crítico. Esta comunicação, baseada no pensamento de Edgard Morin (2004) de que o cinema marca a existência do ser humano da mesma forma que a literatura e a música, busca apresentar uma proposta pedagógica em que o professor exerce a função de mediador no trabalho com filmes, enquanto gênero textual direcionado para a construção de valores, conceitos e comportamentos, que podem ser instrumentos de intervenção e mudanças sociais. A utilização de filmes, em aulas de língua portuguesa e literatura, pela equipe do PIBID - Letras da FFP, no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, em São Gonçalo, abriu espaço para que fossem discutidas questões que o livro didático não aborda. A oralidade desencadeou a escrita e fez surgir o interesse por outras obras cinematográficas e livros, levando a crer que, certamente, aqueles alunos não chegariam a tomar contato com aquele tipo de produção fílmica se isso dependesse da ida ao cinema na cidade. Assim, o cinema na escola pode ser útil como fator de entretenimento, mas também como linguagem plena de magia e sedução capaz de funcionar como equipamento ampliador da instrução e da educação.

Palavras-chave: filme; escola; leitura

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“Homem ao mar! Que importa! O navio não pára. O vento é suave, e o navio tem rumo a seguir. Portanto, avante! (HUGO, Victor, 2008).

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Na prática docente, o cinema pode ser útil como fator de entretenimento, mas

também como linguagem que dialoga com outras artes e proporciona leituras

diferenciadas, pois o filme, enquanto imagem-discurso, gênero textual, documento

de uma época e retrato da sociedade, é um rico recurso a ser explorado, oferecendo

oportunidades ímpares à escola de exercer seu papel de formadora de atitudes e

construtora de valores.

Sobre a relação cinema, educação e cidadania, é importante ressaltar que “o

cinema é a arte da vida e talvez possamos, por meio dele, formar uma nova visão

educativa, na qual os tradicionais e modernos métodos de ensinar possam fundir-se

em novas possibilidades de aprendizagem”, conforme ensina Godofredo Bonadies

(2008, p. 52).

O cineasta e professor Alain Bergala elaborou um plano para a educação na

França com a inclusão do cinema. Ele vê nesse trabalho um desafio a ser

experimentado pela escola. Em A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão

do cinema dentro e fora da escola, o estudioso apresenta quatro propostas para o

professor: a) Organizar a possibilidade do encontro com os filmes; b) Designar,

iniciar e tornar-se passador; c) Aprender a frequentar os filmes e d) Tecer laços

entre os filmes. Para o cineasta, “o verdadeiro encontro com a arte é aquele que

deixa marcas duradouras” (2008, p. 100).

O filme na escola tem sido, em alguns casos, usado como pretexto para

ocupar o tempo de aula ou apresentar um conteúdo disciplinar, sem que seja

explorado de modo aprofundado. Pode-se apontar razões específicas para isso.

Primeiramente, quase sempre, os títulos comerciais disponíveis no mercado

ultrapassam o tempo de duas aulas. Segundo, a exibição não é pensada como uma

prática integrada ao planejamento anual de acordo com a proposta curricular oficial

em consonância com o Projeto Político Pedagógico da escola e o plano de ensino

do docente.

Vale acentuar que os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), aprovados

com a lei federal n.º 9394 de 1996 – a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional) conhecida como Lei Darcy Ribeiro, foram elaborados com o intuito de

orientar o professor na superação de problemas e dificuldades educacionais, através

do trabalho com temas transversais. Como explicitam os documentos oficiais, “Para

a escolha desses temas, alguns critérios foram estabelecidos visando sempre

questões sociais que podem ser trabalhadas com total flexibilidade e abertura”

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(BRASIL, 1998). Flexibilidade e abertura também implicam o desenvolvimento do ser

humano através da arte teatral e literária. No entanto, o cinema tem sido menos

privilegiado. Talvez, na rede pública, em razão da precária infraestrutura da maioria

das escolas (BRASIL, 1998).

A escola precisa, além de trabalhar a subjetividade, a alteridade e a

afetividade, dar ao sujeito condição de pensar o mundo, o outro e a si mesmo e de

discutir rumos futuros. Assim, abordar temas, como Ética, Saúde, Meio Ambiente,

Orientação Sexual, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo, além de gerar

respeito e solidariedade, é uma exigência cidadã, pois faz parte da construção do

ser humano pleno enquanto sujeito do seu tempo.

Vale atentar para o que diz Edgard Morin, quando aproxima a literatura do

cinema:São o romance e o filme que põem à mostra as relações do ser humano

com o outro, com a sociedade, com o mundo. O romance do século XIX e o cinema do século XX transportam-nos para dentro da História e pelos continentes, para dentro das guerras e da paz. E o milagre de um grande romance, como de um grande filme, é revelar a universalidade da condição humana, ao mergulhar na singularidade de destinos individuais localizados no tempo e no espaço (MORIN, 2000, p. 44).

QUEM ENSINA TAMBÉM APRENDE

Segundo Thiel, “O cinema contribui para o aprimoramento da habilidade

leitora, a construção de conhecimentos linguísticos e culturais, o estudo da estrutura

narrativa fílmica e a construção de novas referências e relações entre áreas e

discursos” (2009, p.13). Além disso, o filme, enquanto arte, solicita uma reação do

espectador, assim como promove reflexão, questionamento e produção criativa.

Mas, para que ocorra uma produtiva reflexão sobre o filme e uma efetiva

indagação sobre o mundo, é preciso que o professor assuma a função de mediador

entre o objeto artístico e o aluno, cujo repertório cultural necessita ser ampliado. O

filme contribui para compor o currículo, principalmente, do ensino médio e oferece

espaço para uma leitura mais profunda e reflexiva sobre a sociedade. Nesse

sentido, observe-se o que é dito na proposta da apresentação do Projeto O Cinema

vai à escola da Secretaria de Educação de São Paulo:Assuntos delicados e complexos como preconceito, violência, exclusão

social, sexualidade, injustiça, entre tantos outros, fazem parte do cotidiano dos jovens e de seus professores que, como todos nós, têm dificuldades em lidar com eles. Os filmes permitem que nos aproximemos deles de uma maneira ímpar: testemunhamos situações chocantes, que nos obrigam a

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refletir, observamos modos de vida, que nos aguçam a curiosidade, presenciamos diálogos, que nos despertam para o nosso próprio preconceito (FDE, 2008, p. 3).

No Rio de Janeiro, a Secretaria de Estado de Educação oferece o Programa

Cinema para Todos que estimula e democratiza o acesso dos alunos e professores

da rede estadual às salas de cinema, provocando debates e reflexões dentro e fora

da sala de aula. Além disso, promove cursos para o professor aperfeiçoar a sua

prática pedagógica.

O filme enquanto linguagem é um gênero textual que contribui para o

aprimoramento das aulas, possibilitando diferentes níveis de leitura que vão dos

mais superficiais aos mais profundos. Mas para o bom êxito do trabalho, convém

que, antes de iniciar qualquer ação com filmes, o professor se questione sobre o que

deseja, de fato, atingir com determinada projeção. É necessário fazer-se as

seguintes indagações: “O que eu quero com o filme? Em que essa atividade se

relaciona com o conjunto de minha disciplina e da área curricular? Quais são os

limites e as possibilidades que essa atividade tem para o grupo de alunos em

questão? (FDE, 2008).

O cine-aula deve ser marcado, com antecedência, pois requer tempo para a

projeção e o debate, que precisa vir logo em seguida. É necessário que, entre eles,

não ocorram aulas intervalares. Nesse contexto, o espaço específico para a

projeção ou a própria sala de aula são importantes, bem como o empenho do

professor na conscientização de que não se trata de puro entretenimento (ver o

filme), mas de uma atividade que, embora seja prazerosa, exige atenção e

compromisso com a construção de sentidos (ler o filme).

Nesse aspecto, saber distinguir o procedimento de “ver” da ação de “ler” é

fundamental tanto para o professor-mediador quanto para o aluno. Ver é olhar para

tomar conhecimento. Ler é mais que isso, importa observar, refletir e atribuir sentido.

A recepção de um filme não é passiva. O espectador também lê as imagens na tela

e constrói sentidos para os vários contextos imagéticos que lhe despertam emoções,

sensações e reações.

Alguns fatores são imprescindíveis na análise de textos fílmicos. O primeiro

deles é o fator de validação. Como ocorre na análise do texto literário, da letra de

música ou da peça teatral, a interpretação deve encontrar fundamentação no próprio

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texto e a interação autor-texto-leitor precisa efetivar-se. Por isso, o exercício de

leitura de imagens é uma prática a ser desenvolvida com auxílio do professor.

Esse é um grande desafio, pois, embora não se exija que o professor seja um

especialista da arte fílmica, ter um conhecimento básico sobre os seguintes

aspectos torna-se necessário: a) Elementos visuais que compõem a imagem (cor,

movimento, cena, jogo de luz, claro/escuro, planos, enquadramentos, etc); b)

Elementos sonoros (trilha sonora, música de fundo, tom das vozes, sotaques,

ruídos) e c) Elementos audiovisuais, ou seja, a relação entre a imagem e o som

(THIEL, 2009, p. 15).

Thiel sugere os alguns passos no preparo de atividades com filmes:

Atividades anteriores à projeção. Trata-se de atividades preparatórias para

inserir o aluno no contexto de recepção do filme. Aqui é preciso apresentar e situar o

filme com informações do tipo gênero, data de lançamento, aspectos importantes,

algumas curiosidades, prêmios, idioma original etc.

Os alunos poderão fazer pesquisas sobre os diferentes gêneros de filmes

(drama, ficção científica, documentário, terror, suspense), sobre cineastas, sobre o

surgimento do cinema, sobre a época de determinado filme, sobre o modo de

elaborar cartazes de divulgação e ainda dedicarem-se à construção de uma

máquina de projeção e à votação de nomes para a sala-cine.

Atividades durante a projeção. É importante que a turma receba orientações

para a leitura do filme. Pode-se solicitar que se preste atenção a determinados

personagens e suas transformações durante o filme, a determinadas cenas e

palavras, que são recorrentes nos diálogos, aos efeitos visuais e à impressão de

realidade gerada com o trabalho de montagem, à trilha sonora etc.

Atividades posteriores à projeção. Os alunos devem checar as anotações e,

depois de um tempo, separar um ou dois aspectos a serem comentados com os

colegas. O professor levará um ou dois temas tratados no filme para debate em sala

de aula.

Nessas atividades, é importante que o aluno realize algumas ações práticas

para exercitar a criatividade e melhor compreender o filme, entre elas figuram a

produção de um diário de cinema, a interpretação de uma cena, o desenho de um

cartaz para o filme, a organização de uma premiação, a criação de uma campanha

publicitária fictícia (imagem e slogan), a produção de tirinhas a partir da narrativa

fílmica e a apresentação resumida do filme em um jornal falado.

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O professor precisa aproveitar esse momento em que a oralidade oferece

novas ideias ao pensamento, para direcionar as atividades para o desenvolvimento

da escrita. Algumas práticas são prazerosas, como por exemplo: escrever a

biografia do protagonista, uma carta sugerindo uma mudança de atitude do

protagonista, uma sinopse para o filme, uma resenha crítica, um artigo opinativo,

uma lista com as razões que teriam levado o filme a participar da premiação do

Oscar da escola, um bilhete convidando a família para ver o filme no final de

semana. O aluno pode ainda indicar falas que não foram ouvidas no momento de

exibição do filme e descrever a cidade-cenário do filme, isso entre muitas outras

situações de escrita.

Formação do repertório. É importante que o professor sugira outros filmes e

livros adaptados para o cinema para que o aluno possa ampliar o seu repertório de

leitura.

Valorizar os trabalhos dos alunos, colocando-os no mural da escola serve de

motivação para que todos se disponibilizarem a participar das aulas com mais gosto

e entrega à construção do conhecimento.

Faz-se necessária também uma leitura intertextual ou interdisciplinar do filme.

Sugere-se a busca de um poema, provérbio ou texto que dialogue com a mensagem

do filme. A busca de correlações com assuntos dados em outras matérias, como

História, Geografia, Filosofia, Sociologia, Biologia também contribui para o

enriquecimento da prática docente.

Para cineasta russo Serguei Eisenstein, “o cinema é o começo de um

segundo período literário” porque o cinema, em busca de novas histórias para

contar, voltou-se para a apropriação da palavra literária. O número de obras

literárias adaptadas é imenso e continua a crescer. Com isso, o cinema atua como

renovador da literatura, uma vez que o processo de adaptação resulta sempre em

uma nova obra (Eisenstein in SILVA, 2012, p. 181).

Na contemporaneidade, momento em que as artes passeiam pelo hibridismo,

tanto o cinema influencia a arte da palavra como sofre forte influência da literatura,

“redimensionando a palavra escrita e metamorfoseando-a em imagens e sons, com

linguagem própria: a linguagem fílmica” (THIEL, 2009, p. 46).

Diante do exposto, fica evidente que o trabalho pedagógico com filmes na

escola revela-se bastante proveitoso, mas precisa de planejamento para tornar-se

eficaz.

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ATIVIDADES PLANEJADAS E DESENVOLVIDAS: RESULTADOS OBTIDOS

As atividades a serem descritas foram planejadas e aplicadas pela equipe do

PIBID - Letras da Faculdade de Formação de Professores da UERJ, no ano de

2014, no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, situado no município de São

Gonçalo. Para atender à proposta do Currículo Mínimo de estudo do gênero

romance no ensino fundamental (9º ano), foi projetado o filme O Contador de

Histórias (Brasil, 2009), filme nacional premiado pela Organização das Nações

Unidas. Trata-se de um filme biográfico, cujo enredo conta a história de um contador

de histórias: O filme se passa na década de 1970, iniciando sua ação na cidade de Belo Horizonte. O então garoto Roberto Carlos Ramos vive com a mãe e seus nove irmãos em uma favela. A mãe decide levá-lo para a Febem, acreditando em melhores oportunidades para o filho, inclusive dele se tornar um doutor. Na instituição, Roberto Carlos usa sua criatividade para conseguir mais comida e atenção, e também aprende a impor moral entre os internos. Mas, ao se tornar adolescente, é transferido para outra instituição onde as regras são mais rígidas. Para fugir de castigos físicos, ele e outros internos descobrem o mundo das drogas e de pequenos delitos, fugindo sempre, em toda oportunidade. Seu comportamento é rotulado como irrecuperável pela instituição. Nesse momento de sua vida, aparece a pedagoga francesa Margherit Duvas que, aos poucos, com palavras carinhosas e atitudes educadas, vai conquistando o menino supostamente irrecuperável. Ela o adota, lhe dando a chance de se alfabetizar, estudar e dar asas à sua criatividade. Ambos vão viver na França. Após concluir seus estudos, Roberto Carlos retorna à Febem, como educador. Ali começa sua história com outras crianças e adolescentes. Ele vai adotando-os e criando uma família numerosa, com vinte filhos adotivos. Alguns ditos irrecuperáveis, como ele, pelas instituições (SINOPSE. Academia Brasileira de Cinema).

As habilidades e competências a serem desenvolvidas nas disciplinas de

Língua Portuguesa e Produção Textual eram: “estudar o gênero textual romance,

estrutura da narrativa. Identificar o sentido especializado do termo romance

diferenciando-o do uso comum do termo. Relacionar características físicas e

psicológicas dos personagens à sua composição como um todo. Estabelecer as

diferenças estruturais entre romance, conto e crônica” (SEEDUC, Conexão

professor).

Atividades anteriores à projeção. Pedimos aos alunos que pesquisassem

sobre o contador histórias. Fizemos um levantamento sobre quem hoje ainda ouve

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histórias em casa. Alguns alunos disseram que somente, na escola, nas séries

iniciais, ouviram histórias e que chegaram a ganhar de presente livros. Eles

mencionaram contos de fadas, heróis infantis e histórias em quadrinhos. Falamos

sobre a televisão onde vemos e acompanhamos as novelas. Lembramos dos

noticiários que reconstituem casos de violência.

Atividades durante a projeção. Pedimos a turma dividida em grupos que

prestasse atenção a determinadas cenas: as cenas de infância de Roberto com a

mãe, as cenas da FEBEM, as cenas de rebeldia de Roberto, as cenas de Roberto

na adolescência, ao ser adotado e ao atingir a idade adulta. Apesar de o filme

apresentar algumas cenas de humor, percebeu-se claramente o quanto foram

impactantes as cenas da infância de Roberto, os maus-tratos que o menino sofreu e

a sua rebeldia. Mesmo com a quebra e passagem para a cena final, em que é

apresentado o professor de pedagogia e contador de histórias em que Roberto se

transformou, reinou um silêncio expressivo ao final do filme.

Atividades posteriores à projeção. Todas as cenas foram muito discutidas e

alguns alunos relacionaram a antiga FEBEM com o atual Instituto Padre Severino

(RJ). Eles mesmos explicaram o objetivo da escola de acolher jovens infratores a

outros colegas que não a conheciam. Debateu-se a questão da droga, da pobreza

sem opção, da amizade e da rua, no caso das crianças abandonadas.

Falamos do idioma francês e da comida que Roberto gostava “coq au vin” , um

prato típico da culinária francesa, feito à base de carne de frango e vinho.

Relembramos que, ao final, Roberto aparece entre os vinhedos franceses. Foi

possível relacionar a simbologia da uva com a prosperidade e celebração da vida, o

que justifica o fato de se usar vinho para brindar.

Depois do debate, os alunos comentaram oralmente as características físicas

e psicológicas dos personagens (Roberto e Magherit). Trabalhou-se a tipologia

descritiva. O emprego dos tempos e modos verbais foram alvo de atenção nas

descrições elaboradas pelos alunos por escrito.

A correspondência entre o filme e o livro foi discutida. O conceito de

adaptação como releitura foi trazido para debate. Os alunos estabeleceram paralelos

entre as duas obras e identificaram as etapas da narrativa em ambas, com a ajuda

do professor.

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Outras obras literárias adaptadas para o cinema foram mencionadas e seus

enredos sintetizados. Os alunos interessaram-se pela história de Dom Casmurro e

pediram que o romance fosse lido em sala de aula.

PALAVRAS FINAIS

É impossível expressar na íntegra o quanto as atividades comentadas

motivaram a turma para a execução de várias práticas escolares. Percebemos que o

debate sobre o filme levou espontaneamente à escrita e suscitou o interesse por

outras obras cinematográficas e livros.

Nas ações docentes planejadas pela equipe do PIBID - Letras da UERJ/FFP,

no Colégio Estadual Coronel Francisco Lima, o trabalho com a linguagem do cinema

mostrou-se eficaz na abertura de caminhos para momentos de alegria e emoção,

além de gerar discussões de temas fundamentais para o desenvolvimento integral

do educando.

Assim, o cinema na escola pode ser útil como fator de entretenimento, mas

também como linguagem plena de magia e sedução capaz de funcionar como

equipamento ampliador da instrução e da educação.

REFERÊNCIAS

BERGALA, Alain. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema

dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CEAD-LISE-FE/UFRJ, 2008.

BONADIES, Godofredo. In: FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA

EDUCAÇÃO. São Paulo: FDE, 2008-2009.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais.

Brasília: MC/SEF, 1998.

EISENSTEIN, Serguéi. Da literatura ao cinema: uma tragédia americana. In: SILVA, Thais

Maria Gonçalves da. Reflexões sobre adaptação cinematográfica de uma obra

literária. Florianópolis: Anu. Lit., Florianópolis, v.17, n. 2, p. 181-201, 2012.

Domínio: https://periodicos.ufsc.br. Acesso em 25.8.2015.

FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Caderno de cinema

do professor: um, dois, três e quatro. [Parte integrante do Projeto “O cinema vai à

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escola - a linguagem cinematográfica na Educação”, do Programa “Cultura é

Currículo”]. São Paulo: FDE, 2008-2009.

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio

de Janeiro: Bertrand, 2000.

___________. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Trad. Flávia

Nascimento, Rio de Janeiro: Bertrand, 2004.

NIETZSCHE, Friedrich. Escritos sobre educação. Rio de Janeiro: Ed. PUC – Rio;

São Paulo: Loyola, 2003.

SILVA, Thais Maria Gonçalves da. Reflexões sobre adaptação cinematográfica de

uma obra literária. Florianópolis: Anu. Lit., Florianópolis, v.17, n. 2, p. 181-201, 2012.

Domínio: https://periodicos.ufsc.br. Acesso em 25.8.2015.

THIEL, Grace Cristiane & THIEL, Janice Cristine. Movie takes: a magia do cinema

na sala de aula. Curitiba: Aymará, 2009.

HUGO, Victor. Os Miseráveis. Trad. José Angeli. Rio de Janeiro: Scipione, 2008.

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www. cinemaparatodos .rj.gov.br/ . Acesso em 25.8.2015.

www.culturaecurriculo.fde.so.gov.br. Acesso em 25.8.2015.

www.academiabrasileiradecinema.com.br. Acesso 25.8.2015.