Cidade Como Unidade Da Cultura
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In: Synesis. Petrpolis, v. 1, 2003, Pp. 77-112.
CIDADE COMO UNIDADE DA CULTURA*
Andr BOTELHO**
O homem que primeiro erigiu uma porta ampliou, como o primeiro que construiu uma
estrada, o poder especificamente humano ante a natureza, recortando da continuidade e infinitude do espao uma parte e conformando-a numa determinada unidade segundo
um sentido
Georg Simmel, "Ponte e Porta", 1904
Mutvel, conquanto sempre eloqente, a imagem da cidade no feita apenas de
pedras, mas de homens, e so os homens, todos os homens, que atribuem valores s
pedras. Cada um de ns, habitantes de cidades, sugere Giulio Carlo Argan, trazemos
dentro de ns "mapas de um espao-cidade" e "registros de um ritmo do tempo urbano"
que constituem, na verdade, o "sedimento inconsciente das nossas noes de espao e
de tempo". Diz Argan:
evidente que se nove dcimos da nossa existncia transcorrem na cidade, a cidade a fonte de nove dcimos das imagens sedimentadas em diversos nveis da nossa memria. Essas imagens podem ser visuais ou auditivas e, como todas as imagens, podem ser mnemnicas, perceptivas, eidticas. Cada um de ns, em seus itinerrios urbanos dirios, deixa trabalhar a memria e a imaginao: anota as mnimas mudanas, a nova pintura de uma fachada, o novo letreiro de uma loja; curioso com as mudanas em andamento, olhar pelas frestas de um tapume para ver o que esto fazendo do outro lado; imagina e, portanto, de certa forma projeta, que aquele velho casebre ser substitudo por um edifcio decente, que aquela rua demasiado estreita ser alargada, que o trnsito ser mais disciplinado ou at mesmo proibido naquele determinado ponto da cidade; lembra-
*Este artigo foi originalmente apresentado como trabalho de aproveitamento do curso Modernidade e ps-modernidade ministrado pelo Prof. Dr. Octvio Ianni no programa de Doutorado em Cincias Sociais do Instituo de Filosofia e Cincias Humanas da UNICAMP no primeiro semestre de 1998. **Doutor em Cincias Sociais (UNICAMP) e Pesquisador do Centro de Estudos Brasileiros (IFCH/UNICAMP).
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se de como era aquela rua quando, menino, a percorria para ir escola ou quando, mais tarde, por ela passeava com a namorada; ou o famoso incndio, o crime de que falaram todos os jornais, etc (ARGAN, 1993: 232).
Em seu devir histrico, a cidade moderna deu forma a uma "ideologia urbana"
que, como sugere ainda Argan, constitui-se da dialtica da "cidade ideal" e da "cidade
real" que reflete, num plano mais amplo, as freqentes dificuldades da cidade moderna
em se agregar e funcionar independente da cidade antiga. Ao definir a cidade como
acmulo ou concentrao cultural, esta ideologia urbana, contudo, considera no apenas
os termos de uma histria da ideologia do poder, mas tambm toda a vivncia dos
indivduos e da sociedade (Ibidem).
A cidade moderna vem se constituindo em tema de reflexo desde pelo menos a
Primeira Revoluo Industrial. Esse processo, que tanto em termos analticos quanto
programticos chega ao auge no sculo XIX, desenvolve-se, portanto, paralelamente a
prpria formao da cidade como fenmeno histrico. No debate sobre modernizao,
modernidade e mesmo modernismo na passagem do sculo XIX ao XX, as
transformaes urbanas ganharam tanta relevncia que a cidade, sugere Beatriz Sarlo,
tornou-se ela mesma objeto de debate esttico- ideolgico (SARLO, 1988: 28).
As formas de expanso urbana, por sua vez, se definiram socialmente em funo
de uma srie de fatores associados Revoluo Industrial: descobertas cientficas,
transformaes demogrficas, formao dos modernos estados nacionais, movimentos
de massa etc. No que se refere ao crescimento populacional, por exemplo, nunca
demais lembrar que a populao vivendo em cidades de mais de cem mil habitantes
aumentou, no mundo em geral, em 250% na primeira metade do sculo XX
(WILLIAMS, 1989: 370). Algumas imagens fecundas foram, nesse processo de
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formao histrica, associadas de modo aparentemente definitivo cidade: dinheiro e
lei, nos sculos XVI e XVII; riqueza e luxo, no sculo XVIII; turba e massas, no sculo
XIX; mobilidade e isolamento, no sculo XX (IDEM, 1989: 388).
Todavia, o fundamental a se perceber nas imagens da cidade, como sugere
Raymond Williams, que elas constituem, na verdade, maneiras de nos colocarmos
diante de todo um desenvolvimento social e que, muito freqentemente, sintetizam uma
atitude mais ampla em relao prpria "transio capitalista". Diz o autor:
O capitalismo, enquanto modo de produo, o processo bsico por trs da maior parte da histria do campo e da cidade que conhecemos. Ao longo de sculos, seus impulsos econmicos abstratos, suas prioridades fundamentais no campo das relaes sociais, seus critrios de crescimento, lucro e prejuzo vm alterando nosso campo e criando os tipos de cidades que conhecemos. Em suas manifestaes finais, sob a forma de Imperialismo, ele alterou o mundo (IDEM, 1989: 404).2
Este artigo objetiva expor e discutir os traos fundamentais que compem a
imagem ou idia de cidade que serve de base s formulaes de Carl E. Schorske em
Viena Fin-de-Sicle: Poltica e Cultura (1961). Embora figure no prprio ttulo da obra
atravs do seu referente geo-poltico, Viena, a idia de cidade de Schorske no se deixa
vislumbrar primeira vista, seno de modo fragmentrio o bastante para comprometer-
lhe a forma, isto , seus traos em extenso, profundidade e densidade. Como quando
um fragmento mvel de vidro colorido observado num caleidoscpio, reflete-se sobre
um jogo de espelhos produzindo um nmero infinito de combinaes de imagens de
cores variadas, assim tambm a idia de cidade de Schorske reflete-se em cada um dos
captulos do livro dedicados anlise de diferentes ramos da atividade cultural - msica,
2Essa compreenso global do autor, por assim dizer, traz uma implicao metodolgica fundamental para a sua teoria da cidade: a de no se tomar a "cidade" de modo abstrato, como um grande problema isolado, limitado ao contraste com uma imagem de "campo"; sendo necessrio, ao contrrio, examinar suas
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literatura, psicanlise, artes plsticas, planejamento urbano desenvolvidos, no por
acaso, como se pode constatar conforme avanamos a leitura da obra, em Viena.
como se Viena acabasse por conferir unidade ao prprio estudo de Schorske.
Essa sugesto implica em discutir a seguinte problemtica: em que medida, embora
tematizada indireta e progressivamente numa sucesso rpida e, s vezes, cambiante de
impresses, Viena constitui no apenas o ambiente social onde se desenvolveram as
tramas entre poltica e cultura analisadas pelo autor em diferentes expresses da alta
cultura vienense finsecular, mas acaba, sobretudo, tomando feio prpria como um
modelo ou arqutipo que permite ao autor reunir os diferentes fragmentos atravs dos
quais a modernidade se manifesta, remetendo-os totalidade de uma experincia
social?
E mais ainda: j que esse andamento no livro, como na msica, s pode ser
deliberado, isto , se Viena acaba por conferir unidade perspectiva analtica de
Schorske, porque de alguma maneira - que importa fixar -, a cidade, como uma
entidade poltico-cultural referida totalidade de uma experincia social, pode ser
pensada no plano analtico (e tambm programtico) como uma categoria mais
heurstica que tendo a histria como base de compreenso, permite reconstituir as
diferentes partes da vida social declaradamente independentes de um todo. Andante ma
non tropo.
Creio que esta hiptese pode nos conduzir s questes terico-metodolgicas
centrais da obra de Carl E. Schorske. Neste artigo, a idia de cidade do autor ser
apreciada atravs da sua discusso da experincia de reforma urbana de Viena como
problema do planejamento urbano entendido nos seus prprios termos, isto , como
interaes e, atravs delas, o contexto maior de um processo histrico mundial, no qual, numa nova dimenso, tanto a cidade quanto o campo possam receber novas definies.
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atividade cultural e poltica, bem como registro do nascimento do modernismo urbano.
Quero dizer: expresses sobre a vida e a forma urbana que, enquanto projeo de
valores sociais no granito e no espao, constituem registros particularmente coesos de
um conceito to voltil como o de modernidade.
A CULTURA LIBERAL AGONIZANTE
A Europa do sculo XX, na maioria dos campos da atividade intelectual, proclamou orgulhosamente sua independncia em relao ao passado [...] Nos ltimos cem anos, porm, o "moderno" serve-nos para diferenciar nossas vidas e nossos tempos de tudo o que o precedeu, de toda a histria enquanto tal. A arquitetura moderna, a msica moderna, a filosofia moderna, a cincia moderna - todas se definem no a partir do passado, e na verdade nem contra o passado, mas em independncia do passado. A mentalidade moderna tornou-se cada vez mais indiferente histria porque esta, concebida como uma tradio nutriz contnua, revelou-se intil para ela (SCHORSKE, 1988: 13).
Nesta abertura de Viena Fin-de-Sicle, Carl Schorske sintetiza de modo
admirvel todo o motivo, como aquilo que pe em movimento, do programa intelectual
que dar desenvolvimento ao longo do livro. Referimo-me sentena: "a mentalidade
moderna tornou-se cada vez mais indiferente histria". Naturalmente, tratando-se de
um historiador da cultura e das idias, ela se torna ainda mais emblemtica e, talvez, at
mesmo dramtica. Pode-se mesmo dizer que nessa sentena reside o ncleo da
problemtica construda por Schorske, e que distendendo-a em direo aos diferentes
ramos da alta cultura vienense finsecular, o autor buscou apreender-lhe a forma
especfica, em suas ambigidades, contradies e paradoxos prprios. Seu objetivo
fundamental passa a ser, ento, perseguir um maneira de elucidar a gnese, os
significados e as limitaes desta autoproclamada indiferena da mentalidade moderna
em relao histria, de modo que para ns, hoje, torne-se ainda possvel compreender
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melhor as implicaes e significados das nossas atuais afinidades com aquela idia.
Trata-se, como se v, de um programa intelectual subversivo com claras implicaes
sobre as concepes do papel do artista e da arte, dos intelectuais e das idias na
sociedade que, desconfia criativamente da aparncia autoproclamada do objeto que
submete anlise: a cultura a-histrica do nosso sculo.
Digamos ento que, para Schorske, a "modernidade", tal qual se lhe apresenta,
constitui um processo ainda inconcluso de desintegrao social poltica do passado e da
perspectiva histrica a ele associado, de fragmentao generalizada, em meio ao qual a
alta cultura burguesa ingressou, desde o final do sculo XIX, num "turbilho de
infinitas inovaes" procurando, cada um dos seus ramos, declarar-se como "partes"
especializadas, independentes e autnomas de um "todo" formado pela histria. A
"modernidade", em Viena Fin-de-Sicle, sobretudo ps-nietzschiana: uma cultura
pluralizada e radicalmente crtica e ctica em relao a crena iluminista da histria
como um processo interdependente da razo. Diz Schorske:
Na centrfuga implacvel da transformao, forjaram-se os conceitos que fixariam no pensamento os fenmenos culturais. Os produtores da cultura, e tambm seus crticos e analistas, caram vtimas da fragmentao. As diversas categorias elaboradas para definir ou orientar qualquer uma das correntes na cultura ps-nietzschiana - Irracionalimso, subjetivismo, abstracionismo, angstia, tecnicismo - no tinham a virtude de se prestar a generalizaes, e tampouco permitiam qualquer integrao dialtica convincente com o processo histrico, tal como era entendido antes. Todas as buscas de um equivalente, plausvel para o sculo XX, daquelas categorias abrangentes, mas heuristicamente indispensveis, como "o Iluminismo", pareciam condenadas a soobrar na heterogeneidade da substncia cultural que, supostamente, cabia-lhes explicar. Na verdade, a prpria multiplicidade de categorias analticas com que os movimentos modernos se definiam tinha se convertido, para empregar a expresso de Arnold Schoenberg, em "uma dana fnebre dos princpios" (IDEM, 1988: 15).
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A crtica de Schorske parece centrada, como facilmente se pode depreender do
trecho acima citado, nos prprios aspectos metodolgicos do conhecimento, ou, se
quisermos, numa espcie de epistemologia da produo e da anlise da alta cultura do
nosso sculo. Sua nfase no processo de redefinio das funes intelectuais das
disciplinas acadmicas por vias que acabaram por enfraquecer suas correlaes sociais,
deflagrado nos anos 1950, sugere de modo brilhante como a especializao acadmica
constitui, na verdade, apenas o prprio "paralelo analtico" do pluralismo cultural que,
em tese, ainda lhes caberia explicar. Nesse sentido, sugere Schorske:
Nos campos mais importantes para o meu interesse - literatura, poltica, histria da arte, filosofia -, os estudos dos anos 1950 estavam se afastando da histria como base de compreenso [...] Assim, por exemplo, os novos crticos da literatura, quando chegaram ao poder na academia, substituram os praticantes do historicismo literrio, que predominavam nos departamentos ingleses antes da Segunda Guerra Mundial, por especialistas voltados para uma anlise atemporal, interna e formal. Na cincia poltica, medida que retrocedia o New Deal, os interesses normativos da filosofia poltica tradicional e a preocupao progmtica com questes da poltica pblica comearam a ceder ao reinado a-histrico e politicamente neutralizador dos comportamentalistas. Em economia, os tericos de orientao matemtica ampliaram seu domnio em detrimento dos institucionalistas mais antigos, de orientao social, e keynesianos de orientao poltica. Mesmo num campo como a msica, uma nova cerebralidade, inspirada por Schoenberg e Schenker, comeou a destruir as preocupaes histricas da musicologia. Sobretudo em filosofia, disciplina outrora marcada por uma grande conscincia do seu carter e continuidade histricos, a escola analtica contestou a validade das questes tradicionais que, desde a Antigidade, tinham interessado aos filsofos. Com vistas a uma operao mais pura e restrita nas reas da linguagem e lgica, a nova filosofia rompeu os laos com a histria em geral e o passado especfico da disciplina. Assim, nos vrios campos acadmicos profissionais, a linha diacrnica, o fio de conscincia que ligara as buscas atuais s preocupaes passadas de cada campo, ou fora cortada ou estava se desfazendo. Enquanto declaravam sua independncia do passado, as disciplinas acadmicas se tornaram, simultaneamente, cada vez mais independentes entre si. Longe de fornecerem quaisquer premissas unificadoras ou princpios de coeso que abarcassem a multiplicidade da cultura contempornea, as disciplinas autnomas reforaram o
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pluralismo cultural com a especializao acadmica, seu paralelo analtico (IDEM, 1988: 15-6).
Ctico, por um lado, com relao a possibilidade dos mtodos analticos
autnomos das diversas disciplinas poderem vir a fornecer alguma caracterizao geral
satisfatria da alta cultura moderna, e crtico, por outro lado, do modo tradicional de
utilizao dos seus instrumentos pelos historiadores da cultura, como "meros reflexos
ilustrativos de desenvolvimentos polticos ou sociais, ou como elementos ideolgicos"
(IDEM, 1988: 16), Schorske procura delinear um novo programa intelectual
qualificado para integrar duas linhas fundamentais usualmente consideradas em
separado pela historiografia: uma "diacrnica" para estabelecer a relao de um artefato
cultural com expresses anteriores no mesmo ramo de atividade; outra "sincrnica"
para avaliar a relao do contedo do objeto de anlise com outras coisas que,
simultaneamente, vm surgindo em outros ramos da cultura. Em sntese, pode-se dizer
que seu programa consiste na tentativa de substituir uma postulao prvia de
categorias abstratas, pela busca emprica de pluralidades como condio para se
encontrar novos "modelos unitrios da cultura". Programa a que Vinea Fin-de-Sicle
procura responder, e, como estamos sugerindo, principalmente atravs da idia de
cidade como unidade da cultura e da poltica. E, no menos importante, programa
voltado particularmente para a anlise da "modernidade". Sugere Carl Schorske:
Ao que o historiador deve renunciar agora, e principalmente ao enfrentar o problema da modernidade, a postulao prvia de uma categoria geral abstrata - o que Hegel chamou de Zeitgeist, e Mill de "a caracterstica da poca". Se antigamente essa percepo intuitiva de unidades foi til, agora devemos nos dispor a empreender a busca emprica de pluralidades, como condio prvia para encontrarmos modelos unitrios na cultura. Entretanto, se reconstituirmos o curso das transformaes nos diversos ramos da produo cultural, seguindo suas modalidades prprias, poderemos adquirir uma base mais slida para determinar as semelhanas e diferenas entre eles. Isso, por sua
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vez, poder nos levar s preocupaes e formas comuns de enfrentar as experincias, que unem os homens como produtores de cultura num espao social e temporal condividido (IDEM, 1988: 17-8).
VIENA: ESPAO E TEMPO SOCIAL CONDIVIDIDOS
Seguindo as modalidades prprias dos diversos ramos da produo da alta
cultura para compreender tanto suas transformaes internas quanto as relaes
sincrnicas entre eles, Carl Schorske procura atingir o "terreno para a fertilizao dos
elementos culturais, e base de sua coeso", isto , "uma experincia social em comum,
no seu mais amplo sentido" (IDEM, 1988: 18). Buscando traos comuns para a cultura
ps-nietzschana pluralizada, Schorske chega a Viena como "campo de trabalho" atravs
de uma combinao de diferentes fatores.
O principal deles teria sido, segundo o autor, o crescente interesse nos Estados
Unidos no perodo do entreguerras pela ustria pr-1918 como "estado multinacional
fracassado" e, posteriormente, pelos produtos cultuais, artistas e intelectuais austracos
daquele perodo: Sigmund Freud, Gustav Klimt, Oskar Kokoschka, Camillo Sitte, Otto
Wagner e Arnold Schoenberg entre outros que instigavam a imaginao dos norte-
americanos da gerao de Schorske. O problema, segundo o autor, que esse crescente
interesse no se fazia acompanhar por uma reflexo crtica sobre as implicaes da
transposio de um quadro de referncias, ou "emprstimos" de uma cultura para outra.
Este o fato que o teria levado a investigar, no seu contexto social e poltico de origem, o
pensamento que tanto atraia seus contemporneos e a ele prprio.
Entidade social razoavelmente pequena, mas surpreendentemente coesa e rica
em termos de criatividade cultural, Viena no Fin-de-Sicle teria sentido profundamente
os abalos da desintegrao social e poltica da modernidade, e seus grandes inovadores
intelectuais vivenciando de modo igualmente intenso a tenso entre a herana paterna
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dos valores aristocrticos e a convico modernizante do individualismo burgus,
acabariam por romper, de modo mais ou menos deliberado, seus laos com a
perspectiva histrica to importante para a cultura liberal novecentista em que foram
gerados. Uma "revolta edpica coletiva" na cidade de Freud com srias implicaes
para seus intrpretes posteriores:
os novos produtores culturais na cidade de Freud definiam-se reiteradamente em funo de uma espcie de revolta edpica coletiva. Mas os jovens estavam se revoltando, no tanto contra os pais mas contra a autoridade da cultura paterna que lhes fora legada. O que atacavam numa frente ampla era o sistema de valores do liberalismo clssico predominante em que foram criados. Em vista dessa crtica ubqua e simultnea sua herana liberal e racional, sada dos vrios campos de atividade cultural, a abordagem internalista nas disciplinas especficas no bastaria para dar conta do fenmeno. Pelo contrrio, essa transformao geral, e at sbita, do pensamento e valores entre os produtores culturais sugeria uma experincia social comum a exigir novas avaliaes. No caso vienense, esse contexto foi dado por uma evoluo poltica e social altamente condensada (IDEM, 1988: 21).
Acresce que o carter socialmente circunscrito e coeso da elite vienense, com
sua constituio ambgua entre provincianismo e cosmopolitismo, tradicionalismo e
modernismo - produto do atraso histrico do liberalismo na ustria, iniciado depois de
todos os outros pases da Europa Ocidental, embora tenha sido o primeiro a entrar em
crise -, permitiria ainda, segundo Schorske, um estudo mais coerente do
desenvolvimento intelectual dos incios do sculo XX. Sobre o papel do atraso
histrico, ou da formao tardia, embora talvez de forma mais rpida e definida, do
liberalismo na ustria, sugere Schorske:
A era da ascendncia poltica da classe mdia liberal na ustria, iniciada depois de todos os outros pases da Europa Ocidental, foi a primeira a mergulhar em profunda crise. O governo efetivamente constitucional durou, num clculo otimista, quatro dcadas (1860-1900). Mal comemorou-se a vitria e vieram os recuos e derrotas. Todo o processo se passou em tempo exguo, numa densidade desconhecida em todos os outros pases europeus. Na Frana, a questo ps-liberal da "modernidade" da cultura surgiu na esteira da
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Revoluo de 1848, como uma espcie de autocrtica de vanguarda por parte da burguesia, e lentamente se difundiu, com muitos avanos e retrocessos, da poca do Segundo Imprio at as vsperas da Primeira Guerra Mundial. Na ustria, porm, na maioria dos setores, os movimentos modernos surgiram nos anos de 1890, e duas dcadas depois tinham atingido sua plena maturidade. Assim, o desenvolvimento de uma nova alta cultura na ustria pareceu se dar numa estufa aquecida pela crise poltica. A ustria atrasada, em sbito trabalho de parto, tornou-se, como disse um dos seus poetas, "o pequeno mundo onde o grande realiza seus testes". Ser possvel encontrar na anlise da obra dos inovadores culturais, traos da experincia do eclipse e derrota poltica do liberalismo? Ter essa experincia destrudo a crena na alta cultura herdada para alm do nvel meramente poltico? (IDEM, 1988: 21-2).
Uma das implicaes mais importantes da questo do atraso seria, segundo
Schorske, o prprio desenvolvimento tardio de uma subcultura inicitica ou
vanguardista, afastada dos valores polticos, ticos e estticos da classe mdia alta -
uma "alienao" tardia dos intelectuais em relao aos outros setores da elite que, como
veremos atravs do caso da reforma urbana de Viena na rea da Ringstrasse, smbolo
maior da cultura do liberalismo no pas, e das reaes crticas ao seu desenvolvimento,
se mostraria decisiva para a obra dos inovadores intelectuais em meio ao eclipse da
cultura do liberalismo. Antes, no entanto, preciso verificar no que consiste
efetivamente, segundo Schorske, a herana cultural legada aos inovadores intelectuais
da Viena Fin-de-Sicle. Ou, em outros termos: quais valores formavam a "cultura
liberal" austraca?
Como na maioria das naes europias, o liberalismo austraco conheceu sua
"fase herica" na luta contra o absolutismo e a aristocracia. Tendo chegado ao poder
nos anos 1860, os liberais moderados estabeleceram um regime constitucional,
transformando as instituies do Estado segundo os princpios do constitucionalismo e
os valores culturais da classe mdia, ainda que muitas vezes baseado em expedientes
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no democrticos, como o direito de voto restrito para o poder legislativo. Durante seus
vinte anos de governo, a base social dos liberais jamais deixou de ser frgil, restrita que
estava praticamente aos alemes e judeus-alemes da classe mdia urbana cada vez
mais identificadas com o capitalismo. Dessa situao decorreria, entre outros fatores
capitais, a necessidade dos liberais, desde o incio, partilharem o poder com a
aristocracia e a burocracia imperiais.
Nos anos 1880, no entanto, novos grupos sociais que passavam a reinvidicar sua
participao poltica, como os camponeses, artesos e operrios urbanos, e os povos
eslavos, comearam a se organizar em partidos polticos de massa, social cristos e
pangermncios anti-semitas, socialistas e nacionalistas eslavos, para fazer frente a
hegemonia liberal. Em 1895, a prpria Viena, bastio do liberalismo, cairia sob um
vagalho social-cristo que culminaria, em 1900, com a derrota liberal, em nvel
nacional, do poder poltico parlamentar, do qual nunca mais viria a se recuperar
(IDEM, 1988: 27-8).
A cultura liberal tradicional teria se concentrado, segundo Schorske, no
"homem racional" cujo domnio cientfico e controle moral sobre si mesmo, conforme
se acreditava, deveria criar a "boa sociedade". A morte violenta do mundo novecentista,
com a Primeira Guerra Mundial, colocava de modo acentuado para a intelligentsia, o
problema da natureza do homem numa sociedade em desintegrao. A crise da cultura
liberal marca o nascimento de uma nova criatura mais complexa, no apenas um animal
racional, mas de sentimentos e instintos, e mais inconstante: o homem psicolgico,
medida onipresente em nosso sculo para toda a cultura. O autor sugere que o
aparecimento deste novo homem, em Viena, se daria justamente a partir da prpria
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crise poltica da cultura liberal. Os artistas e intelectuais austracos dos anos 1890 eram,
portanto, frutos dessa cultura liberal "ameaada".
Distinguindo dois conjuntos de valores na cultura liberal da segunda metade do
sculo XIX, um moral e cientfico, outro esttico, Carl Schorske sugere que a cultura
austraca tradicional, ao contrrio da alem, por exemplo, no era moral, filosfica ou
cientfica, mas basicamente esttica:
Foi dela que se originou a receptividade vida artstica, por toda uma classe, e, ao mesmo tempo, no nvel individual, a sensibilidade a estados psquicos. No incio do sculo XX, cultura moralista corrente da burguesia europia se sobreps, na ustria, uma Gefhlskultur (cultura dos sentimentos) que a minou com o seu amoralismo (IDEM, 1988:28).
Essa cultura esttica tradicional foi, segundo o autor, absorvida pela burguesia
ascendente que, ao contrrio das burguesias francesa e inglesa, no conseguiria destruir
e tampouco se fundir totalmente com a aristocracia. Disso decorre que, no final do
sculo XIX, a prpria funo da arte estava sendo alterada para a sociedade de classe
mdia de Viena:
A vida da arte se tornou um sucedneo da vida da ao. Com efeito, medida que a ao civil se mostrava cada vez mais vazia, a arte se convertia quase numa religio, fonte de sentido e alimento do esprito (IDEM, 1988: 30).
O esteticismo dominante na vida social vienense finsecular que em outros
lugares da Europa assumiria a forma de protesto contra a civilizao burguesa, tornou-
se, na ustria, uma expresso dessa prpria civilizao: a afirmao de uma atitude
em relao vida onde ideais sociais ou ticos no tinham nenhum papel importante
(IDEM, 1988: 281). Esta atitude esttica fundamental conformaria, naturalmente, uma
"viso esttica da vida" cuja conexo com a realidade exterior se daria pela recepo
passiva das sensaes por parte dos indivduos, assim, transformados em cultores que
acabariam por fazer da arte sua nica fonte de valor vital.
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O perodo liberal de Viena e sua crise coroam um esforo de meio sculo pela
unio da burguesia aristocracia, do "novo" ao "velho", ou do "moderno" ao
"tradicional", por meio de uma cultura esttica. Alm do patronato das artes de
espetculo, slida tradio no pas, outra das principais vias de assimilao cultura
aristocrtica - e da qual nos ocuparemos a seguir - foi a arquitetura. Assimilao quase
mimtica no caso da Ringstrasse, pois projetando os valores aristocrticos em pedra e
no espao numa nova Viena reconstruda para o perodo liberal, a burguesia ascendente
dos anos 1860, pagando histria o seu tributo, o fez, inevitavelmente, sob forma
secularizada, individualista e distorcida. Diz Schorske:
os dirigentes liberais, numa reconstruo urbana que excedia de Paris sob Napoleo III, tentaram desenhar seu caminho numa histria, numa linhagem, por meio de edifcios grandiosos inspirados por um passado gtico, renascentista ou barroco que no lhes pertencia (IDEM, 1988: 29).
A RINGSTRASSE E O DEBATE SOBRE A BOA CIDADE
Ao chegarem ao poder, em 1860, os liberais austracos fizeram de Viena no
apenas seu bastio poltico e capital econmica, como tambm o centro de irradiao
da vida intelectual e da sua alta cultura. Para tanto, comearam a remodelar a cidade
sua prpria imagem. O centro da reconstruo urbana foi a Ringstrasse: um vasto
complexo de edifcios pblicos e, principalmente, residenciais particulares que ocupava
uma ampla faixa de terra que separava a antiga cidade interna e os subrbios. Mas a
Ringstrasse foi mais: encarnando em espao e pedra um feixe de valores sociais,
tornou-se um "conceito". Diz Carl Schorske:
Graas sua escala e homogeneidade estilstica, a "Viena da Ringstrasse" converteu-se num conceito para os austracos, uma forma de invocao mental das caractersticas de uma poca, equivalente
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noo do "vitoriano" para os ingleses, "Grnderzeit" para os alemes ou "Segundo Imprio" para os franceses (IDEM, 1988: 43).
No final do sculo XIX, quando a intelligentsia austraca iniciava a sua "revolta
edpica coletiva" contra a autoridade da cultura liberal em que fora gerada, a
Ringstrasse passou a ser o centro simblico das suas crticas
Como o "vitorianismo" na Inglaterra, o "Ringstrassenstill" virou um termo pejorativo totalmente genrico que toda uma gerao de filhos descrentes, crticos e esteticamente sensveis usava para rejeitar seus pais adventcios e autoconfiantes (IDEM, 1988: 43-4).
Mais importante ainda, seria que na prpria "forja da Ringastrasse", como diz
Schorske, dois pioneiros do pensamento moderno sobre a cidade e sua arquitetura,
Camillo Sitte e Otto Wagner, moldariam suas idias sobre a vida e forma urbana cuja
influncia ainda vigora entre ns. Identificada ao ideal da cidade comunitria, a crtica
de Sitte influenciaria diretamente reformadores recentes como Lewis Mumford e Jane
Jacobs. Radicalmente utilitrias em suas premissas bsicas, as concepes de Wagner,
por sua vez, so reverenciadas pelos funcionalistas modernos. preciso enfatizar que
em suas concepes antagnicas, Sitte e Wagner trouxeram ao pensamento sobre a
cidade as objees "arcastas" e "modernistas" civilizao novecentista que estavam,
simultaneamente, sendo levantadas em outros setores da vida austraca. Isto , em sua
teoria urbana e desenho espacial, Sitte e Wagner deram relevo aos dois traos
principais da emergente alta cultura austraca do sculo XX: a sensibilidade aos
"estados psquicos" e a preocupao com as potencialidades e conseqncias negativas
da "racionalidade" como guia da vida do indivduo e da sociedade.
Projeo de valores em pedra e no espao, a Ringstrasse em si pode ser
considerada uma expresso visual forte dos prprios valores de uma classe social: a
burguesia liberal ascendente. Por isso, antes das crticas de Camillo Sitte e Otto Wagner
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como precursores do modernismo urbano, vejamos em linhas gerais o projeto da
Ringstrasse.
Projetada para ocupar uma enorme extenso de terra livre no centro de Viena
que havia funcionado durante sculos como cinturo de proteo e zona de defesa da
capital imperial, a Ringstrasse foi, ironicamente, como sugere Schorske, um
desenvolvimento moderno como conseqncia do "atraso" histrico da cidade, pois,
nessa esplanada, com efeito, Viena mantivera suas fortificaes medievais muito tempo
aps as outras capitais europias terem demolido as suas.
A Revoluo de 1848 foi, esclarece Schorske, o fenmeno que redefiniria,
poltica e militarmente, o papel dessa esplanada na vida da cidade, a qual h muito
havia deixado de definir os seus limites geogrficos. Ao mesmo tempo em que resultou
num aumento das reivindicaes polticas e econmicas da utilizao civil da antiga
zona de defesa, ento sob a jurisdio do exrcito imperial austraco, a Revoluo de
1848 teria revitalizado tambm sua importncia estratgica: s que o "inimigo" em
questo, agora, no era mais um invasor estrangeiro, mas, como diz o autor, um "povo
revolucionrio". A premissa de uma ameaa revolucionria por parte do "proletariado
dos subrbios e locais distantes" sobre a corte foi sistematicamente cultivada e
divulgada pelo exrcito imperial para justificar suas pretenses administrativas e de
controle da zona de defesa sobre a qual mais tarde se ergueria a Ringstrasse.
Assim, num primeiro momento, entre os anos 1861-1865, a Ringstrasse
comeou a ser projetada para separar o antigo centro dos novos subrbios. Conciliando
consideraes militares e desejos civis na escolha de um imponente bulevar em forma
circular e escala monumental, a Ringstrasse (literalmente "rua em anel") foi planejada
para ocupar o antigo cinturo de defesa como uma longa artria larga que cercasse
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totalmente a cidade interna e permitisse uma dinamizao ao deslocamento de homens
e materiais. Numa palavra: de um "cinturo de isolamento militar", a rea ocupada pela
Ringstrasse se converteu num "cinturo de insulamento sociolgico" (IDEM, 1988: 51).
Em 1867, no entanto, quando recomea o segundo ciclo do planejamento da
Ringstrasse, os desenvolvimentos polticos haviam transformado o regime neo-
absolutista austraco numa monarquia constitucional. Esses acontecimentos polticos
modificariam radicalmente os prprios contedos e significados da Ringstrasse: agora
ela deveria expressar a vontade de uma nova classe social dirigente atravs de uma
srie de edifcios pblicos que exprimissem os valores de uma "Pax Liberalis":
No desenvolvimento da nova Ringstrasse, o terceiro estado celebrou na arquitetura o triunfo do Recht constitucional contra o Mach imperial, da cultura secular sobre a f religiosa. No foram palcios, casernas ou igrejas que dominaram a Ring, mas sim centros do governo constitucional e da alta cultura. A arte da construo usada na antiga cidade para exprimir a grandeza aristocrtica e a pompa eclesistica, agora se tornava propriedade comum dos cidados, exprimindo os aspectos vrios do ideal cultural burgus numa srie de chamados Prachbauten (edifcios de esplendor) (IDEM, 1988: 50).
A concepo espacial que inspirou o projeto da nova Ringstrasse seria, informa
Schorske, "novo e original": praticamente invertendo o procedimento barroco - no qual
o espao servia apenas como cenrio para dar relevo aos edifcios que o cercavam -, os
projetistas da Ringstrasse utilizaram os edifcios para dar relevo ao espao horizontal.
Isto , a rua, de formato polidrico, seria o nico elemento no vasto complexo que
levaria uma vida independente, sem subordinar-se a nenhuma outra entidade espacial.
A avenida, assim, funcionava como o nico princpio de coeso organizativa:
As diversas funes representadas pelo edifcios - a poltica, a educao e a cultura - so expressas como equivalentes na organizao espacial. Centros alternados de interesse visual, no se relacionam entre si de nenhuma forma direta, mas apenas em seu confrontamento solitrio da grande artria circular, que leva o cidado
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de um edifcio a outro, de um aspecto da vida a outro. Os edifcios pblicos flutuam desorganizados num meio espacial cujo nico elemento estabilizador uma artria de homens em movimento (IDEM, 1988: 54).
Esse senso de isolamento e ausncia de relaes criado pela disposio espacial
dos edifcios acentuava-se, segundo Schorske, com a diversidade de estilos histricos
em que eles foram executados. "Na ustria, como em outros lugares", diz Schorske, "a
classe mdia triunfante foi peremptria em sua independncia do passado, quanto ao
direito e cincia. Mas sempre que lutou para expressar seus valores na arquitetura, ela
retrocedeu para a histria" (Ibidem). A verdade da sociedade industrial tinha de ser
envolta nos tecidos dos estilos artsticos pr-industriais e, no caso de uma nova classe
social ascendente, era como se a "erudio histrica" pudesse preencher o vazio de uma
"tradio histrica".
Levada a sustentar a prioridade esttica na construo urbana, a burguesia
liberal concebeu e executou cada edifcio da Ringstrasse num estilo histrico pensado
como adequado sua funo. Assim, por exemplo, o edifcio da universidade foi
concebido em estilo renascentista "para proclamar a filiao histrica entre a cultura
racional moderna e o ressurgimento do ensino secular depois da longa noite de
superstio medieval" (IDEM, 1988: 58).
Mas a Ringstrasse foi, sobretudo, planejada como uma rea residencial
coroando o empenho da Comisso de Expanso da Cidade em aproveitar o setor
privado para criar a base financeira para a construo pblica.3 Revelada como fruto da
era do individualismo liberal, a Ringstrasse foi concebida para se tornar o habitat da
3"O planejamento da Ringstrasse foi controlado pelos habitantes prsperos e profissionais liberais, cuja instalao e glorificao constituam as metas fundamentais do seu projeto. O decreto imperial que regulava seu programa de desenvolvimento excluiu o resto da cidade do mbito da Comisso de Expanso da Cidade, assim entregando-o aos solcitos cuidados dos construtores particulares. O
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nova classe social ascendente de Viena que, no meio sculo que seguiu a 1860,
executou edifcios que, na verdade, deveriam preencher uma funo social de
"representao". E tanto a organizao espacial como os estilos estticos exprimiam
suas necessidades, aspiraes e prestgio social. Em sntese:
Tomados em conjunto, os edifcios monumentais da Ringstrasse expressavam bem os valores mais elevados da cultura liberal reinante. Sobre os remanescentes de um champ de Mars, seus devotos tinham erigido as instituies polticas de um estado constitucional, as escolas para educar a elite de um povo livre, e os museus e teatros que levariam a todos a cultura que redimiria os novi homines de suas baixas origens. Se era difcil o ingresso na velha aristocracia dos livros genealgicos, j a aristocracia do esprito estava teoricamente aberta a todos, atravs, das novas instituies culturais. Elas ajudavam a forjar o elo com a cultura mais antiga e a tradio imperial, para fortalecer aquela "segunda sociedade", s vezes chamada "o mezanino", onde burgueses em ascenso se encontravam com aristocratas dispostos a se adaptar a novas formas de poder social e econmico, um mezanino onde a vitria e a derrota se transmutavam em compromisso social e sntese cultural (IDEM, 1988: 63).
Isso posto, vejamos o debate sobre a boa cidade, atravs das perspectivas
antagnicas de Camillo Sitte e Otto Wagner no contexto da Viena finsecular, o qual
formaria aquilo que Schorske chamou de "o nascimento do Modernismo Urbano".
Expresso paradigmtica da cultura liberal austraca do sculo XIX, a
Ringstrasse, como foi dito, tornara-se o centro das crticas da intelligentsia vienense
finsecular. Crticas que, como sustenta Schorske, ultrapassavam o plano puramente
arquitetnico, uma vez que estavam baseadas em temas e atitudes sociais mais amplas.
Nesse sentido, reagindo principalmente sntese entre "beleza historicista" e "utilidade
moderna" dos construtores urbanos de meados do sculo XIX, Camillo Sitte e Otto
Wagner, cada um a seu modo, refletiram, na verdade, sobre a questo mais ampla, e
certamente tambm mais complexa, da dissonncia na relao entre "estilo" e "funo"
planejamento pblico se baseava num sistema de grade indiferenciada, exercendo controle apenas sobre a altura dos edifcios e a largura das ruas" (SCHORSKE, 1988: 45).
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- ou, em termos mais sociolgicos, entre aspirao cultural e contedo social
caracterstica da civilizao novecentista - questo que tambm estava sendo levantada,
em Viena, por outras reas culturais.
Mas se a sntese entre "beleza historicista" e "utilidade moderna" dos prdios da
Ringstrasse era incmoda para ambos os crticos, os caminhos que seguiram para
realizar suas crticas e propostas foram no apenas divergentes mas opostos. Na
verdade, Sitte e Wagner j haviam partido de concepes e premissas antagnicas sobre
a "boa cidade". Enquanto Sitte criticava o sacrifcio da tradio histrica em favor das
exigncias da vida moderna, Wagner denunciava o mascaramento da "modernidade" e
suas funes por detrs das cortinas estilsticas histricas.
O "artstico" e o "moderno" eram, para Camillo Sitte, de algum modo termos
antitticos. "Moderno", para ele, como ficou expresso na sua obra Der Stdtebau [A
Construo Urbana], de 1889, referia-se, acima de tudo, aos aspectos tcnicos e
racionais da construo urbana. Todavia, longe de combater o "historicismo" dos
edifcios monumentais da Ringstrasse, Sitte queria, ao contrrio, estend-lo do edifcio
individual para todo o seu entorno espacial. Sua crtica a Ringstrasse realiza-se, assim,
a partir da perspectiva da "construo humanizada" que, rescindindo, num certo
sentido, a nostalgia de um passado desaparecido com as aldeias medievais, postulava a
integrao entre arquitetura e homem numa unio comunitria. A praa seria a prpria
expresso desse ideal de comunidade atravs do qual Sitte vislumbrou a redeno da
cidade moderna do "nosso sculo matemtico" e do reinado tirnico da rua:
O que se deveria fazer com a Ringstrasse? Sitte apresentou propostas especficas. Criaria praas, ilhas de comunidade humana em meio ao oceano gelado do espao dominado pelo trfego. frente de vrios dos grandes edifcios - a Votivkirche, o Parlamento e outros -, ele props a construo de ramificaes a partir da estrutura central, que formariam uma praa, a qual emolduraria a fachada principal [...] O
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resultado sempre seria a interiorizao do espao, sua transformao de meio ilimitado em volume definido. O fluxo a esmo da Ringstrasse seria contido em pequenos represamentos de dimenses gratificantes. Sitte, assim, desenvolveu uma espcie de funcionalismo psicolgico da praa, para contrabalanar o funcionalismo da rua voltado para o movimento. Empregou modelos histricos de praas, no para simbolizar uma funo, como no caso dos estilos arquitetnicos dos edifcios da Ringstrasse, mas para recriar a experincia da comunidade dentro do quadro de uma sociedade racional (IDEM, 1988: 81-2).
Esse compromisso de Sitte com a herana artstica de um passado desaparecido,
no entanto, como chama ateno Schorske, no constitua simplesmente uma "nostalgia
romntica erudita", mas tambm uma prerrogativa do prprio "atraso histrico" da
ustria que, por sua vez, revela muito sobre as formas pelas quais a "modernidade" se
realizaria no pas:
Na ustria, a cultura e a sociedade de uma era pr-industrial, mesmo que na defensiva, ainda estavam extremamente vivas no sculo XIX, e Sitte tinha nelas suas razes. Para reformadores ingleses da poca, como Ruskin e Morris, a questo era reviver a cultura morta do arteso e do ofcio. Na ustria atrasada, a questo no era reviver, mas sobreviver: preservar uma sociedade artesanal ainda viva, mas mortalmente ameaada. Sitte proveio dessa classe artes. Sintetizou em si os novos conhecimentos e as tradies do ofcio (IDEM, 1988: 82).
Ao papel desta perspectiva artesanal no processo de formao terica de
Camillo Sitte como arquiteto, Schorske acrescenta a importncia das idias do
compositor alemo Richard Wagner em torno da glorificao da comunidade artes
medieval alem, em oposio sociedade capitalista moderna, e a misso regeneradora
do artista da fragmentao da vida moderna atravs de um mito integrador. Sitte define
o papel do planejador urbano, como Wagner definiria o do compositor, como um
regenerador da cultura que "refaz nossas vidas reelaborando nosso ambiente". Diz o
autor:
Assim armado, Sitte dedicou sua vida a promover o ideal wagneriano na crtica urbana e a reordenar o ambiente feito pelo homem. Na concepo wagneriana sobre a funo do artista na sociedade
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moderna, todos os ingredientes da obra e perspectiva de Sitte encontram seu lugar: sua lealdade classe artes, qual serviu como educador, erudito e propagandista, revivendo e divulgando suas realizaes artsticas do passado como forma de legitimar a continuidade de sua existncia, e seu compromisso em trazer todas as artes relevantes para a realizao de um projeto arquitetnico ou urbano. Enfim, Sitte tomou a idia wagneriana de obra de arte total como modelo social para o futuro e a transps do drama musical para a cidade propriamente dita (IDEM, 1988: 87).
Mas, enquanto Camillo Sitte buscava, como um personagem siegfriediano,
sintetizar erudio histrica e tradio artesanal numa misso social esttica para recriar
a experincia da comunidade no contexto de uma sociedade racional, outra idia to
profcua quanto esta na formao da mentalidade do planejador urbano moderno se
esboava atravs do polmico manual Arquitetura Moderna (1895) de Otto Wagner
que, ao contrrio do heri do drama musical wagneriano, encarnava um empreendedor
moderno que toma a ruptura com a tradio como premissa para construir uma nova
sociedade, como o heri do Fausto de Goethe que ao matar um casal de campons
virtuoso buscava, na verdade, romper com velha ordem. Em sntese, pode-se dizer que
Otto Wagner trabalhou na direo contrria de Sitte: pela afirmao burguesa da
tecnologia como ideal do mundo moderno e pelo carter fundamentalmente prtico do
homem moderno. Diz Schorske:
Dessa forma, ao final da era da Ringstrasse, enquanto Sitte evocava modelos visuais do passado comunitrio para se contrapor anomia do urbanismo moderno, Wagner procurava novas formas estticas para exprimir as verdades da urbanidade febril, determinada, capitalista a que de bom grado se entregava. Como arquiteto e polemista, como professor e terico da cidade, Wagner surgiu da cultura da Ringstrasse como o modernista par excellence (IDEM, 1988: 90).
Buscando, como no caso de Camillo Sitte, a base social e as relaes
intelectuais do pensamento de Otto Wagner para lanar luz sobre sua crtica dos
princpios urbansticos e arquitetnicos que presidiram as edificaes da Ringstrasse,
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Schorske considera que o envolvimento de Wagner com projetos de engenharia urbana,
por um lado, e sua participao no Movimento Seccessionista, o "Art Noveau" de
Viena, e nele a influncia do pintor Gustav Klimt, por outro, constituem os principais
elementos da sua formao como terico e estilista funcional da construo urbana
moderna. Wagner buscou, sobretudo, uma nova linguagem visual para exprimir sua
poca que celebrasse o tecnolgico como cultura. E j que a economia moderna parecia
tornar inevitvel a expanso ilimitada da cidade Wagner concentrou suas propostas na
idia da rede de transportes como a chave do planejamento urbano: Pois a ferrovia
municipal vinha substituindo a grande avenida, como smbolo da grandeza e progresso
urbano, assim como, na era da Ringstrasse, a avenida substitura a praa (IDEM, 1988:
97).
COMO TEBAS NA BOCA DA ESFINGE
A cidade o agente civilizador da modernidade. E, como tal, ela
fundamentalmente uma realidade histrica em permanente transformao, tanto em si
mesma, quanto em suas relaes. Sua especificidade, quer como geografia, quer como
metfora, tem fomentado novas formas de sociabilidade, de sensibilidades, de
pensamento e esttica. E, ainda que em suas diferentes configuraes histricas a cidade
no corresponda inteiramente a um produto de decises plurais socialmente tomadas,
mas sim impostas pelas prioridades de um modo de produo, ela concentra, como que
paradigmaticamente, utopias e concepes distintas da vida social. Estas esto
permeadas pela celebrao, crtica, ironia ou rejeio do esprito fustico da civilizao
tecnolgica que a formou.
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Camillo Sitte, o "arcasta romntico", e Otto Wagner, o "funcionalista racional"
representam duas perspectivas profcuas da teoria e da prtica urbanista moderna que
nasceram como componentes irreconciliveis do legado da Ringstrasse. Sitte, pela
tradio alem, adotou o historicismo da Ringstrasse para fazer avanar seu projeto de
restaurao de uma cidade comunitria. Wagner, por uma afirmao do utilitarismo
moderno e da verdade prtica da burguesia, adotou como essncia a dinmica primria
da rua. Diz Schorske:
Embora ambos se rebelassem, de maneiras divergentes, contra a sntese incmodo da Ringstrasse entre beleza historicista e utilidade moderna, ambos se mantiveram fiis a um dos valores cardeais dos construtores burgueses liberais da cidade: a monumentalidade. Sitte desenvolveu suas propostas de reforma para a Ringstrasse projetando praas como quadros espaciais que poriam em relevo os grandes edifcios pblicos. Wagner mediu o xito do planejador urbano enquanto artista pela sua capacidade de elevar a uniformidade monumentalidade (IDEM, 1988: 115).
Quando em 1898, o arquiteto austraco Adolf Loos comeara a perceber toda a
fora de uma conjuntura moderna, persistente at hoje, no pde lhe dar forma apenas
como "crtica", como haviam feito os urbanistas e arquitetos da gerao precedente, a
de Camillo Sitte e Otto Wagner, mas como stira. E o fez de modo original no seu Die
Potemkinsche Stadt (A cidade Potemkin), sua stira Ringstrasse. Argumentava Loos
que j que o arquiteto originrio da cidade - como ele prprio - era algum desarraigado
por definio, e, portanto, categoricamente alienado do vernculo rural, ele no podia
mais compensar essa perda pretendendo herdar a cultura aristocrtica do classicismo
ocidental como os arquitetos da Ringstrasse e, em grande parte, seus crticos
posteriores haviam feito ao afirmarem a idia de monumentalidade.
Aquela srie de edifcios monumentais da Ringstrasse que, como demonstra
Schorske, procuravam expressar o Bildungsideal da ustria Liberal - universidade,
museu, teatro, pera -, como a demonstrar que a arte, outrora confinada ao palcio
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deixava de servir apenas como expresso da grandeza aristocrtica ou da pompa
eclesistica, isto , extravasava para a praa do mercado tornando-se acessvel a todos,
havia se transformado apenas em um "ornamento" da propriedade comunitria de uma
cidadania ilustrada. Sugere Loos:
Quando passeio pela Ring, tenho sempre a impresso de que um moderno Potemkin quis levar algum a acreditar que fora transportado para uma cidade de aristocratas. Tudo aquilo que o Renascimento italiano pde produzir em termos de manses nobres foi roubado para criar para Sua Alteza, o povo comum, uma Nova Viena que s pode ser habitada por aquelas pessoas cuja posio lhes permite ter um palcio inteiro, desde os pores at os canos das chamins (Apud FRAMPTON, 1997: 105).
A cidade moderna tornou-se o lcus privilegiado das tenses e conflitos entre o
"novo" e o "antigo" que constituem a base dialtica, por assim dizer, da nova
conscincia coletiva caracterstica, segundo Walter Benjamin, da "modernidade" como
produto social da prpria experincia urbana: o novo impregnado do antigo e que j
contm em si o princpio de sua obsolncia, o novo que comea a revelar seu verdadeiro
rosto quando se trona antiquado (BENJAMIN, 1971). O tema cidade est, assim, tanto
histrica quanto ontologicamente, relacionado ao da "modernidade" (IANNI, 1996). A
cidade, numa palavra, tornou-se "cultura da modernidade": ao mesmo tempo centro da
ordem social existente e fronteira criadora da sua transformao (BRADBURY &
McFARLANE, 1989: 77). Noutros termos, como sugeriu Eric Hobsbawm, as idias
sobre a cidade (na medida em que esta no seja um mero palco para a exibio do poder
e da glria de algum monarca) so as idias nas quais os homens - a partir do Livro do
Apocalipse - tentaram expressar suas aspiraes em torno das comunidades humanas
(HOBSBAWM, 1998: 96-7).
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E Carl Schorske nos persuade a compreender a cidade como o lcus privilegiado
no apenas dos conflitos, mas tambm dos arranjos entre tradio e modernidade e, nesse
passo, da capacidade que as representaes da cidade tem em condensar o fundamental
da estrutura de uma sociedade e da sua insero na dinmica internacional do
capitalismo. Ns, leitores de Viena Fin-de-Sicle, somos interpelados pela narrativa num
sentido talvez surpreendentemente prximo ao do flneur que, na gratuidade do seu
errar annimo pela urbe moderna, pode, em meio a multido, observar, estranhar e
reconstruir a partir do detalhe a prpria modernidade.
Encerrando a experincia individual e social dentro da cidade, livro urbano, o
conjunto de personagens, temas e problemas proposto por Schorske, assim como, a
organizao das suas relaes pela narrativa, confluem para Viena como forma de
rearticulao do passado. Neste passo, a meu ver, a contribuio fundamental do autor:
um certo sentido de unidade vislumbrado na idia de cidade para a reconstruo das
experincias de uma sociedade com suas diferentes formas de cultura. Idia de cidade
que, no entanto, na medida em que o autor explicita os concretos contedos sociais das
suas diversas representaes, ganha estatuto de fora social que se institucionaliza e
forma a cultura poltica no apenas de um espao, mas de um tempo. Assim, as imagens
de Viena mostraram-se fecundas tambm como metforas das formas possveis de
articulao entre Estado e Sociedade, assim como da identidade social dos artistas e
intelectuais.
Em suma, Carl Schorske mostra com seu brilhante estudo que a sensao do
movimento acelerado da histria tornava urgente para a intelligentsia vienense
finsecular a divulgao das suas idias sobre a "boa cidade", tanto quanto para ns, seus
herdeiros, diretos ou indiretos, coloca-se ainda hoje o desafio de investigar aquela nova
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conscincia coletiva formada como produto social da experincia urbana, de que fala
Walter Benjamin. E talvez neste nosso Fin-de-Sicle, ns possamos dar algum passo
frente na direo de uma compreenso mais profunda da questo na medida em que nos
deixarmos persuadir - como o Kublai Khan de Italo Calvino se deixou persuadir por
Marco Plo - pela idia de que de uma cidade, no aproveitamos as suas sete ou
setenta e sete maravilhas, mas a resposta que d s nossas perguntas. - Ou as perguntas
que nos colocamos para nos obrigar a responder, como Tebas na boca da Esfinge
(CALVINO, 1990: 44).
BIBLIOGRAFIA
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Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, V. 16-7, Jan-Maro de 1971. BRADBURY, M. & McFARLANE, J. Modernismo: Guia Geral, 1890-1930. So Paulo: Companhia das Letras, 1989. CALVINO, I. As cidades invisveis. So Paulo: Companhia das Letras, 1990. FRAMPTON, K. Histria crtica da arquitetura moderna. So Paulo: Companhia das Letras, 1997. IANNI, O .Cidade e Modernidade em Neo-liberalismo e globalizao: impacto nas profisses. Servio Social do Comrcio SESC/SP. So Paulo: novembro de 1996. SARLO, B. Una Modernidad perifrica: Buenos Ayres, 1920 y 1930.
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So Paulo: Companhia das Letras; Campinas: Editora da UNICAMP, 1988
WILLIAMS, R. O Campo e a cidade: na histria e na literatura.
So Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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COMO TEBAS NA BOCA DA ESFINGE