Choros Villa Lobos

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ESTUDOS E PESQUISAS Nº 541

Villa-Lobos e a Série dos “Choros”

Marlos Nobre *

Fórum Nacional Sessão Especial

Brasil: Estratégia de Desenvolvimento Industrial, com Maior Inserção Internacional e Fortalecimento da Competitividade.

E o Povo vai às Ruas - a Terra Treme: como entender o Espírito Moderno? Rio de Janeiro, 18-19 de setembro de 2013

* Maestro e Compositor. Versão Preliminar – Texto sujeito à revisões pelo(s) autor(es). Copyright © 2013- INAE - Instituto Nacional de Altos Estudos. Todos os direitos reservados. Permitida a cópia desde que citada a fonte. All rights reserved. Copy permitted since source cited. INAE - Instituto Nacional de Altos Estudos - Rua Sete de Setembro, 71 - 8º andar - Rio de Janeiro - 20050-005 - Tel.: (21) 2212-5200 - Fax: (21) 2212-5214- E-mail: [email protected] - web: http://forumnacional.org.br

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Villa-Lobos e a Série dos “Choros”

Maestro e Compositor Marlos Nobre

Past Presidente do Conselho Internacional de Música da UNESCO (1985/1987) Prêmio UNESCO 1979

Prêmio Tomás Luís de Victoria, Espanha (2005) Regente Titular e Diretor Artístico da Orquestra Sinfônica do

Recife (2013-)

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Em se tratando de Villa-Lobos é necessário começar a partir de um conceito fundamental: foi o único brasileiro a atingir uma verdadeira consagração e reconhecimento internacional na primeira metade do século XX, colocando-se ao lado de Stravinsky, Bartok, De Falla, Prokofiev, Messiaen e Shostakovich e recebendo de imediato o apoio de intérpretes como Arthur Rubinstein e Andres Segóvia, que passaram a divulgar internacionalmente, em seus concertos, suas obras para piano e violão.

Tivemos neste mesmo período da criação musical brasileira da música de concerto, nomes de reconhecida competência e indiscutível glória nacional como os compositores Lorenzo Fernandez, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri, Radamés Gnatalli, os quais por razões que não cabem aqui serem analisadas não conseguiram transpor os limites de nossas fronteiras, como Villa-Lobos o fez.

Um exemplo disto foi a declaração do ano de 1987, como o Ano Internacional Villa-Lobos da Música, na Assembleia Geral do Conselho Internacional da Música da UNESCO realizada em Dresden, Alemanha, em 1985. Tal fato ocorreu por minha proposição à Assembleia Geral da Organização, imediatamente após minha eleição, por aclamação, como o novo Presidente do Conselho Internacional da Música da UNESCO, que é a maior instância da Música no âmbito internacional. Em consequência a obra do nosso maior gênio musical frequentou em 1987, os mais prestigiosos palcos do mundo culminando no concerto da World Philharmonic Orchestra dirigida pelo célebre Lorin Maazel, que a meu convite, regeu os CHOROS Nº 6 para orquestra no Teatro Municipal do Rio de Janeiro em dezembro de 1986, abrindo, então as comemorações oficiais do Ano Internacional Villa-Lobos da Música.

No presente momento em que coexiste uma certa confusão em nosso país entre a música chamada popular e a música de criação (e não música erudita, como geralmente e erroneamente se intitula) a importância da obra de Villa-Lobos e seu significado profundo para nossa nacionalidade é fundamental. Talvez o único erro do nosso grande Mário de Andrade foi justamente o de intitular com o termo erudita a música de concerto no Brasil. Pois tal como não existem literatura erudita, teatro erudito nem poesia erudita em nosso país eu, portanto advogo e proponho ao presente Fórum Nacional uma moção para a definitiva exclusão do termo erudito, uma definição errônea que precisamos abolir definitivamente e que passemos a chamá-la apenas de música clássica ou música de concerto. Nos Estados Unidos a definição ainda é pior: chamam lá de “serious music”, como se a música popular não fosse “séria”, o que é um erro crasso.

Mas voltemos a Villa-Lobos e sua criação maior, em minha opinião, sua maior contribuição criadora no panorama da música do século XX: a série

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monumental dos 14 Choros, pela sua complexidade e exigência instrumental, invenção, arrojo técnico e liberdade no tratamento orquestral e instrumental. Evidentemente a estadia em Paris entre 1923 até o segundo semestre de 1930 proporcionou a Villa-Lobos o contato fecundo com o meio efervescente desta que era, à época, a capital mundial da cultura e da música sobretudo. Neste ambiente Villa-Lobos iria conviver com Prokofiev, Messiaen, Rubinstein, Milhaud, Florent Schmitt, Segovia e encontrar o grande Diaghilev na casa de Prokofiev que queria música de Villa-Lobos para um ballet baseado em suas Cirandas o que não se concretizou em virtude do repentino falecimento do famosíssimo empresário russo. É mais que evidente que o impacto das obras de Prokofiev, Debussy, Ravel mas sobretudo da Sagração da Primavera de Stravinsky, estimularam a imaginação de Villa-Lobos ao conceber sobretudo sua série dos CHOROS. Foi também neste período em Paris que a editora francesa Max Eschig começou a publicar suas obras, por iniciativa de Arthur Rubinstein, que tornaria célebre Villa-Lobos com sua interpretação eletrizante do Polichinelo. Era uma época onde se sucediam em Paris, as primeiras audições de obras de Ravel, Debussy, Prokofiev, Shostakovich, Poulenc, Milhaud, sempre em um ambiente efervescente, brilhante, de enorme excitação criativa. Foi esse meio musical, onde se fazia a música contemporânea em altíssimo nível e diariamente, que Villa-Lobos se inseriu e teve os estímulos fundamentais para a criação da série dos CHOROS.

Em primeiro lugar passamos à enumeração de cada um dos Choros e sua peculiar instrumentação informando logo que o compositor os escreveu no período de 1920 a 1928. Mas a cronologia da série é muito peculiar de Villa-Lobos ,pois conforme ele mesmo declarou em entrevista, às vezes lhe vinha uma ideia de uma obra do grupo dos “Choros”, mas sendo a mesma mais revolucionária na textura e na forma, preferia dar-lhe um número mais elevado na sequência. Assim, muitas vezes, a cronologia real das obras não está diretamente expressa no ano que foi composta, nem no número de cada CHORO.

A INTRODUÇÃO AOS CHOROS para grande orquestra por exemplo é datado de 1929 e foi composto como uma espécie de Abertura Sinfônica usando alguns dos elementos melódicos e rítmicos mais característicos dos Choros nº 3 e nº 14.

O CHOROS nº 1 é para violão solo escrito em 1920, portanto 9 anos antes da peça de introdução da série. Este CHOROS nº1 foi dedicado ao grande compositor popular carioca Ernest Nazareth e exalta em clima fortemente sincopado o clima dos chorões cariocas. É uma das peças mais belas escritas para o violão, instrumento que naquela época ainda não tinha o prestígio de que hoje disfruta. Foi portanto Villa-Lobos quem colocou em alto patamar este instrumento

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contando com a ajuda do grande Andres Segóvia a quem dedicaria depois a série de seus famosos 12 Estudos.

O CHOROS nº 2 foi escrito em 1924 escrito para flauta e clarinete, um diálogo sentimental evocando também os seresteiros cariocas. Apesar de muito característico em suas sonoridades evocativas, ainda é uma peça bem simples, não deixando ainda adivinhar as proporções monumentais que a série de Choros iria tomar paulatinamente, ano a ano.

O CHOROS nº 3 escrito em 1925 tem como subtítulo Pica-Pau e é escrito para clarinete, saxofone, fagote, 3 trompas, trombones e coro masculino, utilizando o tema Noza-ni-na, uma canção dos indígenas Parecís, registrado por Roquette Pinto. É notável a utilização de efeitos onomotapaicos usando as sílabas do texto, um procedimento que Villa-Lobos ampliaria depois em obras como o futuro Choros 10.

O CHOROS nº 4 para três trompas e 1 trombone foi escrito em 1926 e o próprio Villa-Lobos gostava de dizer ser este o mais característico da série em função da estruturação formal da peça e da ousadia do compositor na utilização de glissandos e efeitos em surdina. Nesta peça o compositor já começa a soltar sua poderosa imaginação criativa, marca registrada do seu gênio criador.

O CHOROS nº 5 composto também em 1926, é para piano solo intitulado Alma Brasileira, sendo uma das primeiras obras na qual Villa-Lobos, sem utilizar qualquer tipo de referência folclórica ou popular, cria uma nova atmosfera típica do Brasil seresteiro e essencialmente nacional. É uma das obras do compositor mais célebres e das mais frequentadas e gravadas por pianistas em todo o mundo.

O CHOROS Nº 6 escrito para Orquestra igualmente em 1926, é a primeira obra que começa a ampliar a concepção da série, não só em sua dimensão (pela primeira vez utiliza a grande orquestra) mas pela transformação de elementos seresteiros em melodias de invenção do compositor. Parte Villa-Lobos do essencial tanto melódica como harmonicamente dos chorões cariocas e transforma a matéria inicial em música sinfônica do mais elevado calibre. A peça só foi estreada no Rio em 1942 e eu tive o prazer de dirigi-la com a Orquestra da Ópera de Nice, em 1982 e gravá-la com a Orchestre de la Suisse Romande também sob minha direção, um ano depois. É uma peça avassaladora, de um ímpeto irresistível. O célebre regente Lorin Maazel também a gravou ao vivo em 1985 para o selo AUVIDIS/Paris, por sugestão minha ao reger a obra a meu convite no Rio de Janeiro em dezembro do mesmo ano com a World Philharmonic Orchestra.

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O CHOROS Nº 7 para flauta, oboé, clarinete, saxofone alto, fagote, violino e violoncelo, tem como subtítulo Septimino e utiliza inicialmente reminiscências temáticas ameríndias desembocando depois em evocações melódicas e rítmicas à maneira dos chorões cariocas, com melodias arrastadas e fascinantes. Em minha opinião é esta obra, um dos pontos altos do estilo composicional do compositor e também de toda a série dos Choros.

O CHORO nº 8, foi escrito em 1925 sendo uma das obras mais densas de toda a série. Escrito para dois pianos e orquestra é fortemente influenciado por reminiscências do Carnaval carioca, sobretudo como evocação sublimada das sonoridades soberbas desta festa popular. O tratamento dos pianos é bem diferenciado, acentuando o aspecto percussivo no 2º piano sendo o 1º piano tratado com relevo solista. Toda a obra que começa ritmicamente marcada pelo instrumento percussivo caracaxá, lança sucessivamente uma expressividade muito peculiar derivada das raízes populares do choro carioca e especialmente com reminiscências do nosso grande compositor popular Ernesto Nazareth, uma referência permanente em Villa-Lobos. A impressão de toda a obra é que um grande sopro criador passou deixando sua marca poderosa em nossa imaginação.

O CHORO nº 9 escrito para orquestra em 1929 era nas palavras do próprio Villa-Lobos, “criação sem alusões extemporâneas, não existindo nela nem ficção, nem recordações, nem fatores temáticos transfigurados. Apenas ritmos e sons mecânicos”. Entretanto isso não impediu o compositor de usar uma combinação fantástica e inédita de instrumentos como o tamborim, o casco de tartaruga, o surdo (tambor grave típico das escolas de samba), o camisão (um instrumento de percussão inventado por Villa-Lobos) e o bombo. Ritmicamente a variedade métrica, alternando compassos regulares em 3/4 e 5/8 dão extraordinário interesse e enorme variedade à textura de toda a obra, uma das melhores invenções do gênio villalobiano.

Chegamos então ao CHOROS nº 10, um exemplo típico do gênero e possivelmente o mais importante e mais bem realizado de toda a série.

Tornou-se igualmente o mais popular da série dos “Choros” e uma recentíssima apresentação da obra no célebre Festival PROMS em Londres, com a Orquestra Simón Bolivar e Coro Simón Bolivar dirigido pelo hoje célebre Gustavo Dudamel, levou a plateia de cerca de 5.000 espectadores ao delírio, um verdadeiro triunfo para nosso grande compositor e para a arte brasileira. Com o subtítulo de Rasga Coração é escrito para grande orquestra e coro misto, tendo Villa-Lobos utilizado a melodia de uma modinha com este nome do compositor popular de choros cariocas, Catulo da Paixão Cearense. A introdução para toda a orquestra é de uma invenção maravilhosa, onde Villa-Lobos pinta, com rara

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percepção, a própria essência musical da alma brasileira usando com maestria os diferentes naipes instrumentais em constante diálogo. Quando finalmente, após um fascinante motivo rítmico do fagote explode no coral a melodia sustentada por interjeições onomatopaicas a força da música leva o público ao delírio tanto pela magia da orquestra quanto da massa vocal em um efeito irresistível. É o perfeito retrato de um Brasil ideal, profundo, impossível de ser descrito em palavras e somente possível de ser percebido pelo poder especial da música pura.

O CHORO nº 11 de 1928 para piano e orquestra é o mais extenso de toda a série e mostra um dos processos mais peculiares deste compositor. Explico de maneira breve: em geral as grandes obras sinfônicas dos grandes mestres do passado, sobretudo na grande tradição europeia, são construídas de acordo a uma forma de certa maneira previamente estabelecida: a forma Sonata. Esta forma que na orquestra denomina-se Sinfonia, ampliou-se consideravelmente nas sinfonias de Mahler, Bruckner e Shostakovich. Mas a base formal A-B-A (exposição, desenvolvimento, re-exposição) embora ampliado em proporções gigantescas mantinha-se intacto, mantendo-se também a sensação de continuidade.

Villa-Lobos criava nos CHOROS, segundo um método próprio e o mais difícil de manter a unidade do discurso musical, puramente com sons e sem auxílio da palavra: o método da criação contínua. Neste caso fazia-se necessário ao compositor inventar continuamente, sem usar dos artifícios da repetição, desenvolvimento e transformação habituais dos moldes clássicos. E isso faz Villa-Lobos em uma peça como o Choros 11, exemplar neste sentido, onde, com elementos musicais extraídos da natureza do Brasil, a construção e a arquitetura da obra não obedecem mais aos ditames do método clássico para unificar o discurso musical. Resumindo o conceito: o compositor tem de inventar continuamente, em um esforço de criação sem volta. Esse processo é o mais difícil para qualquer criador e somente um grande gênio consegue a necessária lógica discursiva, logrando a compreensibilidade da obra. Também é neste CHORO nº 11,onde a dissonância ocupa um lugar inédito na produção do nosso compositor, que a esta altura de sua vida já envoluía esteticamente em relação ao meio em que vivia. Obra de grande dificuldade de execução teve o privilégio de ser estreada pela Orquestra Sinfônica de Boston, uma das cinco grandes dos Estados Unidos.

As obras seguintes, o CHOROS nº 13 (1929) e o CHOROS nº 14 (1928) tiveram seus manuscritos extraviados e nunca foram estreados. É possível até que Villa-Lobos (como era seu hábito em outras séries) tenha planejado escrevê-los, detalhando sua instrumentação e sua construção, mas jamais tenha encontrado o

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tempo necessário para efetivar a finalização real da partitura. Fica a interrogação do fato para ser talvez esclarecido e talvez solucionado no futuro pelos musicólogos estudiosos da obra do nosso gênio nacional.

O CHOROS nº 13 conforme consta nas anotações de Villa-Lobos seria destinado para duas Orquestras e banda e o CHOROS nº 14 para Orquestra, Banda e Coros .

Villa-Lobos ainda escreveria os DOIS CHOROS BIS (1928) para violino e violoncelo, mas o fez sem querer que integrassem a série dos Choros que concebeu anteriormente.

Em minha opinião a série monumental dos 12 CHOROS escritos por Villa-Lobos são a espinha dorsal de sua obra e representam a sua maior contribuição à música do século XX.

Neles Villa-Lobos cria através de um dos processos mais novos na criação musical, ou seja, o processo da criação contínua opondo-se às facilidades então em voga do conceito de um neo-classicismo nacionalista que não daria frutos de relevo em nossa música. Muitas obras criadas nesse último sistema ou estética, baseavam-se em um compromisso entre as formas clássicas e um conteúdo brasileiro resultando em Sinfonias e Concertos de pouca relevância no âmbito nacional e nenhuma importância no plano internacional.

Na composição dos CHOROS Villa-Lobos utilizou com total êxito um sistema muito pessoal de tratar a matéria musical em um processo de criação contínua, expandindo-a por sua vez em objetos musicais que, nele, tinham a força da natureza fincada nas tradições populares, folclóricas, ameríndias, imaginárias e mágicas do Brasil. Aliás é esse um ponto fundamental o do “realismo mágico” já antecipado genialmente na obra de Villa-Lobos. Ao afirmar certa vez que “o folclore sou eu”, não fazia mais do que dizer claramente que ele absorvera de tal maneira e tão instintivamente a chama criativa do Brasil, que a tinha incorporado indelevelmente em sua própria mente criadora. Assim ele reinventava o folclore, ele o transformava, ele o queimava no fogo de sua própria invenção. Isto ele realizou admiravelmente, como ninguém antes dele tinha feito em nosso país, nesta série admirável dos seus 12 CHOROS.

Curiosamente, após fixar sua residência no Brasil vindo de Paris, a criação de Villa-Lobos tomaria rumos diferentes e sua música afastou-se consideravelmente da linha estética dos Choros. Ao compor a série das Bachianas Brasileiras (um curioso amálgama de Bach com o Brasil musical) tomava Villa-Lobos o rumo neo-clássico, uma estética totalmente ausente anteriormente em sua produção. Seria tal fato uma consequência do meio musical brasileiro na época, pouco afeito às

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audácias estéticas e que ele via serem tão naturalmente aceitas e praticadas internacionalmente durante sua estadia em Paris? Mas esse seria outro e também interessante tema para outra palestra e colocamos aqui um ponto final, exaltando os 12 CHOROS, como sua contribuição maior à música do Brasil, das Américas e do século XX .