Choros Ao Violao

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Transcript of Choros Ao Violao

  • ^

  • BIBLIOTHECA DA LIVRARIA DO POVO

    /%/

    mmu E mmmdo

    Modinhas BrasileirasCouteiido as mais populares, conhecidas e apreciadas

    modinhas brasileiras ^

    com a indicao das musicas com que devem ser cantadas.

    Escriptas e colleccionadas

    CATULIO DA PTxO CEARENSEAuctor do ''CANCIONEIRO POPULAR'

    '

    9^

  • 8.9,90S

    O CayaquinhoAos Amigos Galdiio e Mabio

    Meu cavaquinho choroso,temos noite de luar !

    Eu ando triste e saudoso,por isso vamos chorar.

    Bepara que a noite bellaas tuas cordas prateia ! .

    .

    Vamos rillar-lhe janella,'Que noite de lua cheia.

    As tuas cordas so fibrasde tua alma chrystallina,

    '^ vae epntar-lhe as magnas dibras

    p^ nos tbrenos^ue a noite afiua.

  • Quaresma & C. editores

    Tu tens lagrimas nas cordas,;quando em mim tu te debruas !Quantas lembranas me acordas,se sob o plectro soluas !

    Quando tristonho, indeciso,o seu rigor me maltrata,

    meu corao tranquillizo

    n'um teu gemido de prata.

    Os teus suspiros macios,

    quando tu planges sosinlio,parecem dolentes pios

    de uma ave que no tem ninho.

    Tua alma indiscreta, incauta,

    que s me entende a cano,

    conhece as queixas da flauta,

    as magnas do violo.

    Se falas em doce acorde,

    se tu gemes ao luar,

    de inveja o j>w/O se morde,]3or no poder te emitar !

    IS,xVs tuas ma^iasiransbordascpiando em mim ta te debruas TQuantos soluo ; acordas,quantos acordes soluas !

  • -1.

    ''''. '-^-

    Choros ao Violo

    Meu cavaquinlio adorado,tu no padeces sosinho !Eu tambm vivo isolado ! . .

    .

    Chora, chora, cavaquinho.

    Mais que a viola, fagueiro,tu choras no teus acceutos ! ,

    .

    Tu s o mais brasileiro

  • 6 Quaresma & C. editores

    Ao Serena

    Acorda, Indolente^que a lua fluctuana tua janella,cerrada ao luar

    !

    Em noite to bella,por ella inspirada,

    vem tu, doce amada,,de amores falar.

    Tu dormes, ingrata,com flores, primores,.

    amores sonhando,Sorrindo ao prazer!Mas eu, suspirando,chorando, carpindo,,

    saudades sentindo,s quero te ver.

    Os sons merencoreos,.saudosos, morosos,

    queixosos da lyramorrendo j vo!.Meus carmes inspira,Zulmira !... Plangendo,descanto, gemendona minha cano.

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  • Choros ao Violo

    noite estrellada,silente, cadente,

    dolente, teus cantos

    almejo escutar !So tristes meus prantos,so sanctos ! . . Desejo,no fogo de um beijo,comtigo sonhar !

    Musica o mesmo

    DO AUCTOR

    A Cano do Africano(O BATUQUE) '

    1?

    Ai como eu sei te amar, etc.

    2?

    No sinto o negro crime etc

    1- ESTEIBILHO

    Accolhe, ptria amada etc

  • 8 Quaresma & C, editores

    3?

    Eu choro o meu destino etc

    4?

    Eu sinto acerbo espinho etc

    2- ESTRIBILHO

    Eu cliro, ptria ingrata,Calado e s !

    A dor assim maltracta,longe da inz !

    Minli'alma se desatado trreo p ! . .

    O' morte, vem, me feree mata !Martha, de mim tem d ! !

    Ai, tu jiartir-me vistepara soffrer !

    Miuli'alma no resiste ! . .Quero morrer ! . .

    Penar assim triste ! . .P'ra que viver

    neste amargor sem fim ! . .

  • '-

    .y.i^- 'k:'~^\?^ >'" - =? -,;

    Choros ao Violo 9

    6?

    iSlmhB,jup tao bella etc3- ESTRIBILHO

    Accolhe os pobres cantos,que d'alma so !

    Vem dar-me os lbios santos,me extende a mo !

    Meus ais so tantos, tantos !Quebra o grilho !

    E vem seccar n'um beijo os prantosdeste meu corao.

    7?

    Quando o luar prateia etc.

    8?

    Quando a macumba chora,minh'alma v

    toda a ijassada aurora,

  • 10 Quaresma & C. editores

    E' grande esta saudade !grande esta dor ! ~-

    A tua crueldademe faz horror ! . .

    Ai, Zamhi atroz, no tens piedadedeste infeliz amor !

    9?

    Ai, Congo meu fagueiro etc

    10?

    Astros do ceo nublado etc

    .

    5- ESTRlBIiHO

    Accolhe ptria amada etc

    Do Auctor,

    OBSERVAO

    Julguei desnecessrio reproduzir por extenso todas as estrophes que o

    leitor encontrar no meu Cancioneiro Popular, e de cada uma das quaes

    apenas vae aqui o primeiro verso, para mostrar a ordem em que devem sercantados. Escrevi mais trs estribilhos, repetindo o primeiro, que cantado

    aps as duas primeiras estrophes, e no final da decima. Creio no carecer o

    leitor de mais explicao, pois que nada modifiquei.Accrescent^ mais duas

    estro^ihes, que so cantadas com a musica da primeira parte, e os trs

    estribilhos, cantados tambm com a mesma musica dos outros. A cano assaz conhecida para extender-me em outros esclarecimentos.

  • (hxos ao Violo 11

    OdioLUNDU'

    Eu tenho ganado teu sorrir. .

    .

    Paixo insaname faz sentir.

    Fico damnadoCom teu andar,pois que pasmadome faz ficar.

    Tu ja nascestep'ra meu tormento!

    Tu me perdestesem salvamento.

    Ao ver-te, estaco,ja perco a aco!Eu dou o cavacocom a perfeio !

    !

    Fico raivoso,se acaso cantas!

    No timbre airosotu me supplantas.

    No tenho calma,se tu me falas!

    Toda a miuh'almade amores ralas.

    .-:

    ..-s^m^-isfin-.-

  • 12 Quaresma & C. editores ' , |

    De mim ds cabo! .

    .

    Tudo te segue!Vai p"ra o diaboque te carregue!!

    Linda e mimosa!..Arcbanjo terno I .

    .

    Ve ser formosa.l para o inferno!

    Meus ais se fartamde te chamar

    !

    Raios te partam,mulher sem par!

    Do Auctor.

    Tu queres que eu sonhe

    !

    m

    (GONALVES DIAS)

    Tu queres que eu sonhe, que ao menos, dormindo,

  • Choros ao Violo 13

    Sonhando, percebo na mente agitadaum mar sem limites, aos raios do sol,e um marco no vejo perdido na estradacanada. . . no ve'o longnquo pharol.

    E queres que eu sonhe ! Nas aguas revoltas,se o nauta sem rumo consegue dormir,

    as vagas cruzadas, em sustos envoltas,

    s soltas, escuta raivosas bramir!

    Talvez, j)orem, sonhe que as ondas mendaceso levo domadas, que entra em seus lares,mas triste desperta, que os ventos fugaces

    nas faces a espuma lhe atira dos mares.

    Se queres que eu sonhe, que alguma alegriadormindo conhea, de um plcido amor,Vem tu como estrella de noite sombria,que enia os seus raios das noites nO horror.

    Brilhar em meus sonhos!., talvez socegado,

    scismando prazeres n'um riso dos*teus,coberto o meu roste, fugisse o meu fado,

    quebrado aos encantos de um anjo do ceos.

    Vem juncto a meu leito, quando eu fr dormido,,teu hlito insi)ire -no soffro- direi!

    E, ao menos, nas azas de um sonho mentido,perdido, arroubado, talvez diga- amei!

    Com leves toques do auctor, para poder adaptar-se musica com que cantada.

  • ''\^-'Z:J9^'^'C^y^*^' 'jWi/

    1 Quaresma & C. editores

    Meu Barco

    Meu barco veleiroe singra ligeiro

    ao sopro grosseiro

    do rijo tufo !E eu, sem receio,das ondas no meio,tomando do veio,lhe dou direca.0.

    Sem dr e sem magnas,zombando das fragas,no meio das aguassou mais do que um r ei !Os ventos me falam,as ondas me embalam,e as vergas que estalam,

    jamais receei.

    Vem, pois, minha amada,viver encantada,

    commigo embaladano barco que meu!E o nauta afamado,de ti sempre ao lado,VOTs desvelado,>^uft nauta sou eu.

  • Choros ao Violo 15

    Meu barco veleiroe singra ligeiro

    ao sopro grosseiro

    do rijo tufo!E eu, sem receio,das vagas no meio,

    nos versos me enleio

    de minha cano.

    Morena

    IVIorena, bella morena,

    vaidosa de teus encantos,desdenhas amar, creana,meus puros aflfectos, sanctos.

    Morena, sentiste

    ao romper da aurora,nos valles de Flora,perfumes de amor ?J viste a rolinha,que o canto desata,

    -e os pingos de prataa calix da flor ?

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    16 Quaresma & C. editores

    Doe-me tanto a desventurado meu viver isolado,que sonho gosos infindos,sonho viver a teu lado.

    Xa trana setiuea,na face mimosa,nos lbios de rosa,

    que esto sempre a arder,

    eu vejo o meu fado,sorrindo entre anhelos !

    Encantos to bellos

    de um negro viver,

    Nas ondas do mar*revolto,na branca areia da praia,se o teu perfil se desenha,

    de goso a lua desmaia !

    A tantos affagosno sejas esquiva,no sejas altiva,no sejas assim !De tantos tormentos,morena, tem pena !

    Morena, morena,

    tem pena de mim.

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    18 Quaresma & C. editores

    Amargura Suprema

    Pede s flores perfumes odros,pede aos astros sidreo fulgor,pede s aves poemas canoros,pede s fontes queixumes de amor.

    Pede lua serena poesia,pede s brisas queixosa cano,pede ao sol fulgurante magia,Ijede s rolas ternura e paixo.

    Pede aos echos m canto maguado,pede encantos s bellas phaleuas,sonorosa lembrana ao passado,pede amores s noites amenas.

    Pede ao mar quietao e bonana,I)ede flauta caricias, affagos,pede ao ceo, sorridente esperana,

    murmurejos s lymplias dos lagos !

    3Ias ao triste no peas um canto,que elle um ai j no pode exhalar, ! .

    .

    AfFogado nas ondas do pranto,vive o bardo em constante chorar

    !

    (IMITAO, DO AUCTOR.)

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    Choros ao Violo '~ 19

    '

    'r,:f f '- " A WalsaAmei-te em silencio, '

    sincero, constante,

    meu peito de amantebateu s por ti !"Votava-te um culto

    to puro e sagrado ...Jlas eis-me acordado ! . .

    .

    Meus sonhos perdi.

    JFoi hontem no baile !.

    .

    Teu vulto perpassa,voando na walsa,n'um gyro veloz !

    Eu triste e calado,

    '

    da sala n'um cantovertia meu pranto

    de dores, atroz !

    Teu par enlaavasnos estos dos gyros !

    .

    .

    Meus flebeis suspirosgemiam no ar !A dor latejavanas ancis do peito ! .

    .

    Meu sonho desfeito ! . .

    .

    Minh'alma a chorar !

    ^'i-^iM^r

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    ;-^X.; ." -rjJj^/^ISS^^S^RK^^lgC^^

    20 Quaresma & C. editores

    Eu vi que o maldictobeijava-te a face11'um beijo fugacede infame, traidor !Libava-te o nctardos lbios odrosii'uiis beijos sonorosde i)erfido amor.

    Meus sonhos cabiramda dor no infinito !Feliz, o maldictome via soFrer !

    A walsa, em que, infida,me foste atrozmente,

    iio sae desta lueute . .

    .

    uo posso esquecer . .

    .

    E jazem por terrade amor os delubros ! .

    .

    Teus lbios to rubros

    me foram punhal

    !

    Do ceo constelladode losea esperana,s resta a lembrana,da noite fatal

    !

    DO AUCTOK.

    Musica da modinha Eu vi-te sorrindo, voando na walsa.

    ':'A^.

    :.': ^".'.Jv-^**l

    '^-.

  • Choros ao Yiolo 21

    Partida do Sertanejo

    Por mil dores macerado,da minlia aldeia parti,e, fugindo apaixonado,quiz esquecer-me de ti.

    Mas a saudade tyranua,que mais conturba a razo,me faz lembrar-te, serrana

    com mais anci e corao.

    'So viso de um monte alpestre,onde mil gosos frui,ficou-me a cli-ea sylvestre,

    bero amado em que nasci.

    J no vejo o gado mansoque ella vinlia apascentar,nem a fonte em que descanovinha tarde procurar.

    Parti chorando, da aldeia,toda a gente a soluar ! . .

    .

    Despontava a lua cheia ....Que prantos tinha o luar ! . . .

    .

  • .^--

    -J*-^

    '"'-

    '>;*'

    22 Quaresma & C. editores-ri*

    A deus, choa do monte, 1 . : .manso gado, amores meus ! .

    ,

    ;" :

    Saudosas nymplias da fonte !O 'noites de lua, adeus ! ',.-:.

    DO AUCTOR. -

    Musica a modinha Eu }Knii da minha terra. ' - ;

    Um Sonho

    \;.-

    t

    Tive um sonho duloroso,fui ditoso,

    fui feliz no meu sonhar !

    No te vi cruel, esquiva,mas captiva,

    sorridente a me falar ! ! ' #.

    Yi teus lbios solettrarem,suspirarem

    juras mil de sancto amor!E nos meus lbios sedentos,

    I)or momentos,

    se coUarem, meiga flor !

  • \Choros ao Violo " 2^

    Tu dizias que me amavas,protestavas

    viver s, mas s p'ra mim !Tu me deste mil venturas

    I nessas jurasque tiveram logo fim !

    Nas palavras que dizias, melodias

    dos archanjos escutei

    !

    Desse elance ao ceo de amoresquantas dores

    no senti, quando acordei

    !

    Tive um sonlio duloroso,fui ditoso,

    fui feliz no meu sonhar!

    No te vi cruel, esquiva,mas, captiva,

    sorridente a me beijar !

    Fui ditoso, mas sonhando,que, acordando, '

    vi-me escravo da illuzo ! .

    .

    Triste e s no pobre leito ! .

    .

    Frio o peito ! .

    .

    Desolado o corao !

    !

    DO AUCTK,Musica a modinha A brisa dizia rosa, de Tffi^

  • 24 Quaresma & C. editores

    Cantemos, SaudadeCantemos, Saudade,que a noite convida ! . .

    .

    Vem, ZyYt querida, ^ ^

    Commigo chorar I ..

    .

    Xas tuas seis cordasa lagrima harpeja !

    . .

    .

    Meu pranto gotteja v -^^fulgindo ao luar!

    Farpante Saudademeu peito adolora ! . .

    .

    Lembranas de outr'ora ..

    .

    do ameno gosar ! !Dos dias tecidosn'uns sonhos de ouro,desfeitos no choro,

    oado ao luar !

    E tu, que no leitomatizas teus sonhos,no ouves tristonhos,descantes de amar !Que as dores, que as magnascantando suavise .

    .

    ,

    que o pranto deslise,filtrado ao luar

    !

    &'

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  • 26 Quaresma & C. editores

    Como bello este silencio,da terra, toda harmonia,qiTe aos cos a mente arrebata,cheia de meiga poesia !Como bella a luz que brilha

    do mar na viva ardentia !Este pranto como doce,

    que entorna a melancolia!

    Esta aragem como branda,que enruga a face do mar,que na terra passa e morresem nas folhas sussurrar !

    Os sons d'areo instrumentoquizera agora escutar,

    quizera magnas pungentesneste silencio olvidar.

    Kada melhor que este prantoem silencio gottejando,

    meigo e doce, e, pouco a pouco,do corao despegado !No soro de fel, mas sanctofrescor em peito chagado !No exprimido entre dores,mas quasi em prazer coado.

  • i^^W^iff^-^^^ ; v-vr-^-^ 1,..^, ,:.-,,^'^,--:-;-- ^,.^-,.^, , :-^-,Vf^^::^-:i:-^-

    Choros ao Violo 27^

    4

    Rosa no mar

    (GONALVES DIAS

    )

    Por uma praia arenosa,

    vagarosa,

    divagava uma donzella.D largas ao pensamento.

    Brinca o ventonos soltos cabellos delia.

    Leve ruga no semblantevem n'um instante,

    que n'outro instante se alisa !

    Mais veloz que a sua idano volteia,

    no gyra, no foge a brisa.

    No virginal devanej,arfa o seio,

    pranto e riso se mistura !

    Doce rir, dos cos encanto,

    doce pranto,doce pranto que no dura.

    SSf

  • Ti?

    28 - ^ Quaresma & C. editores

    Nesse lagar solitrio,

    seu fadrio,

    de ver o mar se recreia,de o ver tarde, dormente,

    docementesuspirar na branca areia.

    Agora, qual semx^re usava,

    divagavaem seu pensar embebida.Tinha no seio uma rosa

    mui formosa,de verde musgo vestida.

    Ia a virgem descuidosa,quando a rosa

  • Choros ao Violo 29

    Vem a onda bonanosa,vem a rosa ! . .

    .

    Foge a onda, a flor tambm !Se a onda foge, a donzella

    vae sobre ella,

    mas foge, se a onda vem !

    Muitas vezes enganada,de enfadada,

    no quer deixar de insistir.Das vagas menos se espanta.

    .

    Nem com tantal^resteza lhes quer fugir.

    Xisto, o mar que se encapella,

    a virgem bellarecolhe e leva comsigo !To fallaz em calmaria,

    como a fria

    pallidez de falso amigo.'

    Xas aguas alguns instantes,

    fluctuantes,

    nadaram brancos vestidos !Logo o mar todo bonana,

    a praia cana

    Com montonos latidos.

  • 30 Quaresma & C. editores

    '

    "^.J^'^

    :

    Um doce nome querido * -;foi ouvido !. .

    .

    , ; ^ j^A

    Ia a noite em mais de meia

    !

    - ''^^^^^

    Toda a praia perlustraram, : J:-s acharam - ^

    rubra flor na branca areia.'

    Musica da modinha A hrisa dizia rosa . E- do inspi-rado Taffi, que auctordc outras primorosas, que conhecemos.

    Pastorinha

    Pastorinha, tu que fazes

    c to longe do logar,todo o dia, emquanto trazesno monte o gado a pastar ?

    Fecha-te o mundo esta selvanem delle os sons aqui vm,e tu sentada na relvatantas horas sem ningum!

  • Choros ao Violo 31

    Ka roca tens companheira,mas nesses dias que vo,

    "^

    se bem fias, fiandeira, '

    Vae-se a estriga ou cana a mo !

    Malmequeres desfolhadostens no regao e nos ps !So j folhas de cuidados,ou desejo que mal vs ?

    "i

    Ai, pastora, tu coraste,

    vejo no teu rubor,que, se o teu gado guardaste,no te guardaste do Amor !

    Ha muita sombra(TOBIAS BARRETO)

    Ha muita sombra, meu amor, no valle,_no valle agreste, em que medito a ss,muita delicia que enlanguece os olhos, muita flor para cuidar de ns.

    'j^j^- 'ft^- y:..-.-

    -^;>..., ^""^^F-^*

  • \32 ' "" Quaresma & C . editores

    Ali, ns ambos, pelo ceo guardados,do amor mais puro no encantado abrigo,tu me dirias: Em que tanto scismas,abre o teu livro, quero ler comtigo.

    De nossas almas na linguagem mystica,falando, prezos de amoroso enleio,eu te pudera desvendar minli'alma7tu me i^uderas revelar teu seio.

    ESTRIBILHO

    E nessas horas em que o ceo calmo^ao vago anlielo dos suspiros meus,

    eu juntaria tuas mos de seda,mos de creana, para orar a Deus.

    Musica da modinha J^' tarde, tarde, etc.

    '*'!'-.*'-( i^N*:,.-

  • g^r" -jk:% y' ';,'*f^ *^^'^ >:-

    Choros ao Violo 33

    Alzira"Alzira, meu anjo,meus cantos escuta !

    grande esta luctaque eu tenho por ti.Vem dar-me soccorro,que eu j)eno de amores . .

    .

    Abranda-me as dores,que a calma perdi.

    Tormentos, martyrios,

    angustias padeo,

    porque no me esqueode teu sancto amor !Vem dar-me soccorro!Escuta meus cantos . .

    ,

    Tem pena dos prantosdo teu trovador.

    Eu amo os teus olhos,teu rosto moreno,

    teu ar to sereno,

    teu lcido olhar! ...

    Eu amo teus lbios,vermelhos, corados!

    So astros banhadosna luz do luar!

  • ,jri^-?*c;.;?^^*'-\"k*fi '-ri

    -

    - -- Choros ao

  • n36 Quaresma & C. editores

    ConselhoPe na virtude, ^"^

    filha querida,

    de tua vidatodo o primor.No ds sorte,que tanto illude

    sem a virtude,

    algum valor.

    Tudo perece,nmrclia a belleza,foge a riqueza,

    esfria amor,

    mas a virtude

    zomba da sortee at. da mortedisfara o horror.

    Brilha a virtudena vida pura,qual na espessura

    do lirio a cor !Cultiva atlenta,

    ilha mimosa,sempre viosa,to linda flor.

    .^i^

  • Choros ao Violo 37

    Desditada

    Sosinha, ao desamparo ella vivianesse pobre casebre abandonado :no conhecera pae nem me : deafitar aquelle rosto macerado.

    Xenhum rapaz esbelto a convidavapara os descantes da festiva aldeiae comsigo a mesquinha suspirava:Doce Jesus, porque nasci to feia f

    Quando a lua no ceo azul surgia,

  • ')

    t

    38 ' Quaresma & C. editores

    Quem s ??

    Quem s, arclianjo sublime,mimosa flor da natura ?Da flor do prado s rainha,do prado a rosa mais pura !

    D-alva estrella scintillantese vem nascendo um claro,o teu mimoso sorrisose derrama na amplido.

    .

    De teu olliar se irradiaardente fogo de amor,da flor do prado s rainha,do prado mimosa flor.

    Deste pomar s a rosa,primorosa, ingnua flor !Tens do prado a primasia,da rosa o divino olor !

  • oChoros ao Violo 39

    Dormindo '

    Dormia ! Que somno ! Quf doce dormir

    !

    Palpita-lhe o seio, pauzado, de leve !A bocca entre-aberta ! Que dentes de nevedos lbios, a furto, lhe deixa surgir !

    Envolta, sem arte, na branca roupagem,as formas reala do corpo gentil !Em sonhos descora ! Que pallida imagem IDepois estremece ! Que somno febril

    !

    Suspira . . boceja. . murmura. . sorrio !Exhalam seus lbios o aroma do nardo ! Sim, amo-te, disse. Eu amo-te, bardo !Amemos . . e o peito com as mos comprimio.

    Arqueja .. solua., e um novo bocejo -espalha o aroma do nardo em redor !Desperta, ! Em meus braos furtava-lhe um beijo ! lMnguem me condemne, que o ro foi amor. "

  • ..

    -'i^-v- f;*!i.^j5^-;

    40 Quaresma & C. editores

    No Perg^iintes

    2o direi como eu te adoro,

    porque gemo e porque clioro,quando noite de luar !Fere a lua as chagas d'alma,mas consola, mas acalma,

    quando a geite sabe amar ! !

    2 silencio, em soledade,lembra o bardo com saudadetantos sonhos que perdeu !Suspirando, desolado,cadenceia um ai maguadono clirysol do peito seu.

    Juro ento sempre encontrares,

    da saudades nos altares,esse amor que eu te votei

    !

    Eis porque sofro e padeo,porque de ti no me esqueo,nem jamais me esquecerei ! !

  • Choros ao Violo i 41-

    O bardo sente na calmaque a lua remexe n'alma

    com seu marfineo pallor !

    A mente alada insinua ! .

    .

    Eis porque a noite de luarelembra o primeiro amor.

    ^o me perguntes se a maguafaz os olhos rasos d' agua,

    como os sinto agora aqui ! !as minhas nocturnas preces,cmquanto de mim te esqueces,eu me recordo de ti

    !

    DO AUCTOR

    Musica da modhiha Sympathia um sentimento, de-.

  • '#^:55{!?SM'S^- : ,'1Wi^^

    42 Quaresma & C. editores

    A cor Morena(IMITAO)

    A cr mais bella,mais linda, amena,s tu, cannella

    da cr morena !

    A cr da luapura e serena

    no cliega tua,

    cr morena

    !

    cr do dia,minha pequena,falta a poesia

    da cr morena !

    Branca, nevada,

    alva aucena,

    s a creada .da cr morena !

    cr do leite,cr de quem pena,falta o enfeite

    da cr morena.

  • v^'3._^-T:_;-._..vr---.'i-r^;T- ,-^-^-^..-;;,~.-t

    .=^:-^T,

    , Choros ao Violo ' 43^

    Ningum de gosto,minha Sirena,despreza o rosto

    da cr morena !

    S ella s dores,feroz, condemna !

    ,

    Mata de amoresa cr morena!

    E deste modote adoro, Helena ! .

    .

    Sou todo, tododa cr morena !

    ESTRIBILHO

    Perea. o cravo,

    morra a aucena,

    que eu sou escravo

    da cr morena.

    DO AUCTOir

  • ' >.'

    44 Quaresma & C. editores

    2L. ...

    A bocca de minha amante uma flor delicada . . .

    Aps os meus beijos quentesfica pendida e murchada.

    Dentre as flores do vergel,^ a mais pura e vermelha,eu sou a cpida abelha,que liba o seu doce mel !

    Xo creio que haja pincel,nem colorido brilhante

    que dm o tom provocante,a nota impressionadora.

    .

    E' um pedao de auroraa bocca de minha amante.

    Os seus dous globos de neve-tem duas manchas escuras ! . . ,.Duas cerejas maduras ! . .

    .

    seu gosto no se descreve !A cintura fina e breve !A perna bem contornada !Tem uma cousa estimada,>

  • Choros ao Violo . 45

    A essa flor tenho afecto,pois quando est murcha e tristeaos beijos meus no resiste . .

    .

    seu revigor completo !Sou jardineiro dilectodos seus canteiros virentes.Ha milhes de pretendentes,mas a flor caprichosa,s tem vida e est viosaaps os meus beijos quentes.

    Quando os meus lbios presente,abre as ptalas de rosa ! . .

    .

    E' mais que o mel saborosa,seu perfume rescendente !Depois, em anci crescente,se contorce a flor amada,ene exhausta, extenuada,e mais dizer eu no ouso ...s direi que, aps tal goso,fica pendida e murchada.

    ( Tom de fado )

  • 46 Quaresma & C . editores

    Minha Saudade

    Eu deite aquella saudade,primorosa e linda flor ! !Mas ri,o tiveste piedadedo emblema do meu amor

    .

    A minlia flor, coitadinlia !tinha de ser infeliz ! !Cedo se foi por ser minha ! .

    .

    ,

    Tinha em meu peito a raiz !

    Cultivava os seus encantos,quando era tenro boto !Por brisas tinha os meus cantos,por terra o meu corao !

    Perdeste a minha saudade,uma flor to linda assim !

    !

    Sem ella agora quem ha dete dar lembranas de mim !

    ESTRIBILHO

    Oh, quem me dera, Sanctinha,ai, quem me dera essa flor !Perdeste-a s por ser minha !Que ser de meu amor !

  • '-^'""-

    Choros ao Violo 47

    O Acalentar da Neta

    Dorme, dorme, minlia neta,

    "

    seno no sou tua amiga,dorme que eu te embalo o beroe te canto uma cantiga

    .

    Yae a bella dona AuzendaCaminho de Palestina,leva traje de romeiro,com seu bordo e esclavina.

    Dona Auzenda, Dona Auzenda,em sabendo que s fugida,tua me cahir morta,e tuas irms sem vida

    .

    Pouco importa a Dona Auzendaquem na Hespanha morra ou viva,yae em busca de su' alma,que em Palestina captiva.

    De l lhe vieram cartase uma carta lhe dizia :

    Teu amigo, dona Auzenda, chora de noite e de dia.

  • !i"^l.^3pw,:.^Vr.4^S^^.'^pW--

    48 Quaresma & C. editores

    As cadas no lhe pezam,pezas-llie tu, porque scismaque ha de morrer sem mais verte,liem ver-te quer na mourisma.

    Dorme, dorme, minha neta,e tu fuso, fia, fia,

    que eu canto minha canda,ao p da Virgem Maria.

    Tendeu jias e arrecadas,comjHou bordo e esclavinae trajada de romeiroja demanda a Palestina.

    Vae pedindo pelas portas,l)or soes e chuvas caminha ;trabalhos no a quebrantam,com elles vae mais asinha.

    Uma tarde, era sol posto,quando avistou uma ermida,era de Xossa Senhora,

    me dos homens se apj)ellida.

    Os soccos descala porta,ajoelha com f viva,jiedindo lhe restituasu' alma, que faz caj)tiva.

  • ^-d?:^:^WW?^^':'^t^^ -'::' }'' " :%, ^''V - ' -' /"f^^i; -

    Choros ao Violo 49

    Os olhos da Virgem Santaderam mostras de affligida :ergueu-se um vento da serraque toda tremeu a ermida.

    Coitada de dona Auzenda,mais triste sae do que vinha :cerrou se-lhe logo a noite . .

    .

    e ella nos bosques sosinha !

    Queria andar e no pde,que o grande escuro a tolhia;necessitava encostar-se,

    tinha medo, no dormia.\

    K'uma raiz pousa a face,o corpo em folhas reclina,

    com suas penas conversa,

    coitada da peregrina.

    Perdi a terra e o palcio,perdi a me que l tinha,I)erco-me agora a mim mesma,e o que j)rocurando vinha.

  • 50.

    Quaresma & C. editores ii '

    Do Geraldo, do Geraldo,s a f no perdida, I'

    .

    pois tu sabes que te adoro,

    e eu sei como sou querida.

    Peo ao meu anjo da guarda,se hei-de aqui ficar perdida,que v levar-te por sonliosesta minlia despedida.

    Assim dizia a formosadona Auzenda de Moliua,e ao dizer anjo da guardalembrou-lhe a irm pequenina.

    Dorme, dorme, minlia neta,e tu, fuso, fia, fia,

    que eu canto minha canda,e sou da Virgem Maria.

    Ento dos olhos canadoslhe borbotou a dor viva, ^

    ouvio folhas abanadas,e viu uma luz esquiva.

    ^

  • Choros ao Violo 51

    Logo para aquella parte,porque o pavor a conquista,

    em joelhos, com mos postas,de relance extende a vista.

    E viu uma sombra grande,que mui devagar caminha

    ;

    quiz rezar, benzeu-se errado,no deu com a Salve Rainha.

    O andar do phantasma branconenhum ruido fazia

    ;

    parou e poz nella os olhos;

    mas eram terra . . . no via.

    Extendeu-lhe os braos longos,e co' uma voz, como brisa,

    lhe diz : Eu sou do Geraldo,que em mim j se no divisa.

    Tu buscavas o captivo,eu procuro a peregrina,

    tu'alma quer Deus que estejacom meu corpo em Palestina.

    i;

    -/BRAR1C

  • ".l - '"^^r^Jf^vif-^'''^'!'^''

    52 Quaresma & C. editofes

    Os nossos anjos da guardaderam palavra sem lingua,que a mela noite aqui mesmofindaria-a nossa mingua.

    Deus, alma envia um corpo,6 ao corpo uma alma envia . .

    .

    Ja estas finaes palavras

    dona Au'.enda no ouvia./

    Dorme, dorme, minlia neta,e tu, fuso, fia, fia,

    que eu canto ao p da candaque accendo Virgem Maria.

    Tinha dado meia-noitee dona Auzenda cahira:ai, jaz morta dona Auzenda,que tantas penas sentira !

    Quem ha de enterrar seu corponessa noite desabrida,

    ou quem aos j)s da Senhoraa ir sepultar na ermida 1

  • Choros ao Violo 53

    Nessa noite, meia noite,indo o septe-estrello acima,calou de repente as vozesmocho que maguas lastima.

    E o gallo, que por taes horas,com seu canto reza incita,bateu as azas caladoao p do leito do ermita.

    Tocou sem mo a sineta,abriu-se a porta da ermida,as velas do altar accesas,a Senhora mui garrida.

    Entrou a orar um extranho .

    .

    peregrino ou peregrinaque de tudo dava mostras .

    .

    e falava em Palestina.

    Se ia ou rinha, nunca o disse,

    cxuando o ermita o requeria,

    que ora falava em ser volta,

    . ora falava que se ia.

  • i4 Quaresma & C . editores

    E disse: a Deus me encommendapor trs, mais trs, e trs dias,que ao cabo de uma novenafindaro mil agonias.

    Ora, nessa mesma noite,

    qyiz a bondade divinaque outra grande novidadesuccedesse em Palestina.

    Da cova de do Geraldo, meia noite precisa,surgiu um coriDO defunto,que a todos atemorisa.

    Dorme, dorme, minha neta,e tu, fuso, fia, fia,

    que eu canto minha canda,oua-me Virgem Maria !

    E veio um' alma voando,que pelos ares foi vista,Nossa Senhora a guiava,vinha-lhe um anjo na pista.

  • :b-"

    Choros ao Violo 55

    Metteu-se dentro ao finado,

    e o finado cobrou vida;poz-se com o anjo a caminho, Senhora era j'ida.

    Como a novena acabava^ao cabo do nono dia,vinha pela ermida entrandooutro romeiro porfia.

    E este, assim como o primeiro^muito ao velho desatina,que tambm no ce na contase romeiro ou peregrina.

    Os dous romeiros se olhavam,e a me dos homens sorria !O ermita estava pasmado,e um padre moo surgia.

    Por debaixo do roquete

    que era neve sem mentira,

    reluziam duas azas,

    ambas de prata e saphira.

    "#'

    tS

  • 56 Quaresma & C. editores

    Tomou-llies as mos direitascom signaes de muita estima,e disse : conjungo-vos,e poz-llie a estola por cima.

    Nove nuos eram passados,e aps uove nuos, um dia,quando, ao dar da meia noite,l na porta se batia.

    Como se abriu a caijella,logo entrou por ella acimaum caixo com dous defuntos,todo de obra muito j)rima.

    Vinham ambos abraados,com mostras de quem dormia,com c'ras de flores brancas,e ningum os l trazia.

    Mos que pegavam a argollaram mos que se no viam,nem se enxergava i^essanos cantares que se ouviam.

  • Choros ao Violo 57

    Dorme, dorme, minha neta,6 tu fuso, fia, fia,

    que eu canto minha candaao p da Virgem Maria.

    Poi escripta esta memoriaii'uma taboa bem polida,qne ainda agora em Biscayavae-se ver quella ermida.

    A campa ficou sem nomes,mas toda a gente dizia

    que era Auzenda e So Geraldo,filhos da Virgem Maria. (

    Por devoo que esse parcom o sancto rosrio tinha,

    inda por morte casaram,sendo a Senhora madrinha.

    Dorme, dorme, minha neta,que tenho a rccada finda !Amanh, querendo a Virgem,te direi outra ma:s linda-

  • 58 Quaresma & C. editores ^ %;

    Y Saindo . .

    .

    LUNDU'

    Senliora don Josepha,no supporto mais a espiga ! . .

    .

    O feijo vae muito caro ..

    .

    v saindo de barriga.

    Estou na isga, senhora!

    fui hontem desempregado !Eu ando mesmo a nn. .

    .

    v j saindo de lado.

    Ha mais de quatro semanasa minha vida desanda ! . .

    .

    A carne secca fidalga . ,

    .

    v j saindo de banda.

    No queira passar misria;

    se tem algum pretendente,agarre Q.paio de geito

    G v saindo de frente.

    ^-

  • ^*-

    Choros ao Violo 5^

    Saia ! saia ! . . . sem demora ! . .

    .

    saia jd'aqui, mulher !De lado, barriga, ou frente,de banda. . . como quizer.

    DO AUCTOR

    Os Bichos

    O' freguezia, olha os bichos,

    que eu tive um sonho de truz !Teremos hoje na ponta : guia, burro ou avestruz.

    Pode dar a borl)oleta,se der no moderno o co !Mas ser o touro ou tigre,se nelle der o leo.

    No salteado affianoque ser cabra ou cavallo

    .

    Agora o melhor palpiteser talvez vacca, glio.

    V

  • ^.\ R- T^^stiJ^s--w-E^^^i^?^-: ^

    60 Quaresma & C. editores

    Quem arriscar uo macaco,jogue u'um bicho de pllo,mas ao certo no affirmo,porque pode ser camelo.

    Coelho, gato, carneiro,

    tambm nos merecem f !Mas no ser muito espertoquem deixar o jacar.

    O porco hoje o bichano-que tenho mais carregado,mas o peru vae na ponta,

    jogo mais acertado.

    Ser tolo e multD toloquem no comprar no elephante !

    ,

    Esse bicho de massada ! . .

    .

    Bem pde dar o tratante.

    jVIeus bons freguezes, o urso !No pavo ! Alerta, alerta !Freguezia joga nelle,que jogas hoje na certa.

  • ^^jjicSw^ji-^i;- '".

    Choros ao Violo 61

    Mas quem quizer fazer jogosem medo de ser logrado,jogue firme e sem receiono vinte e quatro o veado !

    Ser tolo todo aquelle,pois que apenas um lhe sobra,que perder por um somente,deixando de lado a cobra.

    Do Auctor.

    Beijo CriminosoLundu

    Sinh, ficaste enfadadapor um beijinho te dar ?Xo foi por querer, te juro,foi s j)ara te zangar !

    Xo brigues assim commigo,que mal te fez esse beijo 1E' s por isso que agora

    to brava, Sinh, te vejo ?

    'Ster^;2i3^-.*.T/'-

  • ;;>.-: -Sr ,-

    "

    V. -, " i. ;.. >'"_.

    " V -- ' -- ; /"'" ^

    62 Quaresma & C. editores

    Se tu no fechas a bocca,se no deixas de falar,eu vou com quatro ou seis beijosa tua bocca fechar !

    Mas, se quietinha ficares,conforme eu peo e desejo,eu juro no mais beijar-te,sellando a jura n'um beijo.

    ESTKIBILHQ

    Um beijo, sinh, crime !E' se atirar no escarco !Mas dez, vinte, trinta beijosnos faz subir para o co.

    As Borboletas AzuesLUNDU'

    Queres saber j)orque os poetas,iue tanto gostam de luz,nos dizem que as borboletasmais bellas so as azues !

    ,--T;^.??jii7.

  • SStf^-v '^^:'^ '^^^-ir^''.>^

    Choros ao Violo 63

    Eu vou dizer-t'o sem medode infringir a lei vedada,desde que a causa segredo

    s entre gente inspirada.

    Deus pretendendo de estrellasornar o noturno vo,pensou, e, para fazel-as,

    deu uns piques pelo co.

    E, quando os furos se abriram,por onde jorrou a luz,desses recortes sahiramas borboletas azues.

    Cimes

    (LUNDU')

    Desterra teus vos cimes,festejo a quantas so bellas !Mas sempre a rainha deliass tu, Armania cruel

    !

    ^:^..'ji-;5_.'t?"-^^^. -.,. .-. -*-. .^-.-- ."-,^-:a-- -r-f- -f.--_-^,.:: - _-J!.=?-?i..-S::u-:-L:-'-^^^^:r^^ ^-^-v3..v.-> . ; -' ' ' -.'.'-^^^'-^-Z- ^'!'&-^. -S:.--^.^: :i^^:^.

  • .-S27".f.^'-"f'

    64 Quaresma & C. editores

    De teu semblante as lindezas,adoro n'outros semblantes,

    so meus i)assos inconstantes,

    meu corao fiel.

    No t'o nego, com Armiafalo s vezes em segredo

    ;

    no t'o nego, este arvoredoviu-me com Lilia brincar :

    porem com Lilia s brinco,por ter nos brincos teus modos !De Armia os segredos todosos teus me fazem lembrar.

    Fartei, confesso, e tu viste,

    dous beijos ou trs a Estella.

    .

    Gabavam-me os beijos delia,quiz ver se eram como os teus.

    Toquei no seio de Tirsede rosa uns botes fechados !

    Tu s bella em teus enfados,quiz ver como era nos seus !

    Se a Ismene pedi cabello,foi s por tambm ser louro,fui rico do teu thezouro,sem o obter da tua mo !

  • Choros ao Violo 65

    Amo em Gertruria o teu riso,amo^os teus olhos em Jonia

    ;

    l^rzo nas cartas de Aoniatua escripta e descripo.

    Um s corao me coube,e tu s a flor das bellas !

    Nem mesmo entre os braos deliaste fora infiel jamais !Por distraco tenho s outras

    vezes mil teu nome dado,

    e at hoje inda a teu ladono tive enganos eguaes !

    Quanto mais julgas, ingrata,perder a tua conquista,

    tanto mais se augmenta a listados teus triumphos sem par !De^ meu corao te queixasserem sem conto as rainhas !

    So escravas, que no tinhas;

    que vo teu carro i)uxar.

    Dez Analias te abandono,Jonias duas, seis Themires,e aps estas quantas viresde semblante encantador !

    i^

  • :: : J-v: ,.:^-- %-

    66 Quaresma & C. editores

    Armnia ! . . . sobre ureas rodas,por tuas rivaes levada,

    has de subir coroadaao Capitlio do Amor,

    TroTas ao Sereno

    No quero ser teu escravo,porque temo e com razo,que a liberdade me prendas,

    prendendo-me o corao.

    Eu jurei no mais amar-te,no te ter mais amizade,mas agora muito tarde,ja no tenho liberdade.

    Vae-te, carta ventifrosa,

    ^-^ae ver a quem quero bem IDiz -lhe que fico chorandopor no poder ir tambm.

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    Choros ao Violo ^^ 67

    Eu ando morto, alquebrado

    .

    se vivo to triste assim,

    porque vago sem rumo,

    pois j no sei nem de mim.

    O' rio que vaes correndo,busca ver um bem que adoro,se te faltarem as aguas,

    leva as lagrimas que choro.

    A lua, o sol, as estrellas,os astros todos brilhando,

    no tm a luz de teus olhos,quando me esto namorando.

    Costumei tanto os meus olhosa namorarem os teus,

    que de tanto confundil-os,

    j nem sei quaes so os meus.

    C rosa que ests murchando,que perdes a rubra cr,U tambm me vou finando,mpallideo de amor.

    r'"^''...-.;--'"^- '-i'

  • 68 Quaresma & C. editores

    Eegato, no corras tanto,modera o andar ligeiro,meus ais escuta e te juroser no curso companheiro.

    Camlia, tua belleza110 perfume nos illude !Tu s a belleza morta,que no tem cheiro a virtude.

    E' tua bocca idealum palcio com jardim.

    .

    .

    As portas so de coral,os degros so de marfim.

    Quem me dera l mandar,como arauto do Desejo,um pagem de seda e ouro,que tem o nome de Beijo.

    ( TO 31 DE FADO )

    #?

    \-

  • Choros ao Violo 69

    Eulina

    Eulina formosa, gentil, engraada, .

    -dos anjos amada vivia feliz !Tranquilla dormia, tranquilla acordavai vida enfeitava de bello matiz.

    Prazeres fruir da paz no regao,seu peito de ao ningum dominava,somente verdade seus cultos rendia,

  • 70 Quaresma & C. editores

    Atraz de um rochedo, foi louca e chorando,---'-;-:.!--'';' or-

    nado! suspirando, seu rosto occultar,"sf/L

    mas logo tristonha sahiu lacrimosa, : ' . :;^:.^f

    e foi vagarosa caminho do mar. .''^t

    K"a praia deserta conchinhas catava,no seio as guardava com toda a affeio,mas eis que em furores o mar se encapella^

    e logo a procella despede o trovo.

    A louca no teme ! No foge tormenta \A onda rebenta e leva-a comsigo !Foi lirio que as dores s teve por paga,o seio da vaga por triste jazigo ....

    Morreu Maria*

    ( IMJTAlO ) '^^

    As sombras descem ' ^^-^

    da serrania, ;)Wos ventos gemem :

    -^M IjMorreu Maria ! , ; '-^ ,it5 o

    ; * ':*' V^''

    ', :>;lv'!:H/"

  • Choros ao Violo^ 71

    As brisas passamno fim do dia,dizendo s flores

    :

    Morreu Maria

    !

    A fonte choran'uma agonia,

    porque, saudosa,

    Morreu Maria.

    A terna rolaque amor carpia,

    tristonha arrulha

    Morreu Maria !

    A branca lua,que ao mar sorria,diz, entre nuvens :.

    Morreu Maria.

    Vsper espontatriste e sombria,,

    porque, na terra,

    morreu Maria.

    r ".--L-'

    \

  • ......

    ''-j,:-f^'i;rf:'a^^p:,wgf^^^ssex^p---^..y ^5-,

    72 Quaresma & C. editores

    Chora o cyprestena louza fria,

    gemendo s auras :Morreu Maria !

    Fugiu da terratoda a alegria,

    s porque a mortelevou Maria.

    Solua a lyra

    triste elegia ! .

    .

    Minh' alma chora !Morreu Maria !

    Feral saudade,vem ser meu guia !Chora em minh' alma ! . ^Morreu Maria ! !

    Do Auctor,

  • '^^i--^'' i'
  • ^-^-^i'^-^^^^^^^^-^^-

    74 ' Quaresma & C. editores

    Nem te recordas,desses protestos !

    .

    Gelados restosno peito teu

    !

    Hoje, sonhando,te quero ainda !Amor no finda,quando paixo !Eras o anjodo bardo triste !Porque fugiste

    do corao 1 !

    Eu fui to loucocrendo nas phrazescruis, fallazes,

    que j te ouvi. .

    .

    Que importa agoraviver soffrendo,

    se vou morrendode amor por ti I

    Mas se devias,no pranto eterno,

    mostrar-me o inferno

    de teu rigor.

  • Choros ao Violo 75

    porque primeirome ver fizeste

    a luz celeste

    de um co de amor ?

    BO AUCTOR

    Yae, suspiro

    Casta saudade,

    vem dar-me alento,leva-lhe agora

    nlfeu sentimento.

    Conta meus males,

    meus ais doridos,

    e meus suspiros

    tristes, sentidos.

    Dize-lhe as maguasque eu sofifro agora,

    e que por ella

    minha alma chora.

  • 76 Quaresma & C. editores

    Dize que eu vivo

    nesta espessura

    curtindo as ancis

    desta amargura.

    V se esquecido .lhe estou na mente !

    Conta-lhe tudo

    que o peito sente.

    Dize que eu vivo

    soltando ais ! .

    .

    Que estas saudadesso immortaes.

    ESTRIBILHO

    Parte, suspiro,

    no te constranjo !Demanda os laresdesse meu anjo.

    Moifieaa pelo aucton

  • Choros ao Violo 77

    Fado Portuguez

    Nem te leimbras, Maricas,daqullas nossas faantas ? .

    .

    cando os meus olhos te biram,estabas a assar questanhas.

    Cando os meus olhos te biram,meu curao te aduou,e na qudia dos vraosminh' alma preza icou.

    Palavras num eram dietas,rola o cacete no aire,

    int que fai ovrigueiadopruma janella a seltaire.

    Seltando domingo in terrabou a tosca da Curada,e cumbido um marinheiro,mandei bir uma canada.

  • 78 Quaresma & C. editores

    Cando o Z pe mo no leme,bai gritando : oh, alto l !

    O r'-paz nunca se temedas boltas que o mundo d.

    Turrada e mais turradas,turradas na quero mais,

    pur cauza das tes turradas

    as filhas perdem ses pes.

    Meninas cando eu murreri,grabai M na sipultuiria :Aqui jaz um pgudista,qui murreu sem ter bintuiria.

    Eu sou cantor luxinoli,cando bejo a minha vella !Bou murreri apexunado .

    .

    .

    N, quero a bida sem ella.~

    O bento truie um r'cadoque a minha vella enbiou !A vrisa lebou-li um veijoda i alma qu c ficou.

    t'tf-^:^i'

  • Choros ao Violo 79

    CaimeSj o grande cantoridas glorias de Portugali,pagou tambam seu balori -na enxerga d'um hospitali.

    Se me xair na taludao surteio do Xatalidou ao demo a bersalliada,bou ser rei de Portugali.

    Quem ser que est cantandoto linda cano de fado !E' de certo um ruxinoli,ou um t' -nor constipado

    .

    Do fado sou cantadori,cum elle fui envallado !At na oira da morte,eu quero cantari o fado.

    S,-;.:-.-^'

  • S^" Quaresma & C. editores '- ^ "^^S*

    Este Tango(Imitao)

    Este tango um rato matreiroa roer o po duro no armrio !EUe vale um monto de dinheiroVale um conto . . . talvez de vigrio

    Este tango um livro bichado,

    nm rabo de gato ladro, um queijo j velho e mofado, a tranca de velho porto.

    E' a car de feia coruja um pinto no ovo gorado,

    feijoada com meia bem suja,ou um banco de pinho quebrado.

    E' chapu de gatuno, seboso, um sacco de estopa vasio,um cigano feliz, cabuloso,

    um turco gemendo com frio.

    **

  • Choros ao Vioiao 81

    E' a ponta de gasto cigarro,o casaco de antigo poeta, um leno banliado em catharro,

    a cara de um besta e pateta.

    Este tango parece a careca

    de um velhote que ainda pachola,ou parece uma horrivel rabeca

    de qualquer tocador mariola.

    E' cartola cuspida, amassada,que j sabe e conhece o que vaia, a cara de velha, engelhada, &

    uma bota sem salto e cambaia.

    E' um tanho medonho, um jambo; am velho e furado lenol,

    este tango parece ura molambo,ou a tampa de um grande ourinol.

    Este tango parece um canudo,um capo affogado n'um sacco, um j)reto africano beiudo,

    este tango parece um buraco.

  • 82 . Quaresma & C. editores

    E' um gallo pellado, uma cobra,

    uma canja de sapo inda tenro,este tango parece uma sogra

    a metter o cacete no genro.

    E' purgante qne a gente aborrece,

    uma lata de graxa de frango,

    este tango com tudo parecemas s no se parece com um tango !

    Tem a feia carranca de um frade,uma cara exquesita e cannica ! . .

    .

    E' o rubro nariz de um abbade. . .

    .

    E' a cara da peste bubonica . .

    .

    Do AUCTOR.

    Musica do lun Esta poJJca um dente de velha.

  • Choros ao Violo 83

    Falsa juraTu me juraste constncia,fidelidade e ternura,

    afifeio sincera e pura,

    amor que nunca tem fim !Tu me juravas que o peitoos meus carinhos guardava que tua alma escutavaminha dor no bandolim !

    De noite^ quando nas cordasdo meu sonoro instrumentodeixava que o pensamentose alasse aos astros do co,tu vinhas sobre a janelladebruada, em mago encanto,ouvir a voz de meu canto,mais altivo que um tropho.

    Meu bandolim pipilava,ii'um doce e dbil anceio,seguindo o meu devaneioque a brisa levava alem !Ai, que ventura suprema,

    m dor acerba mudada !Ai, que tristeza aceradaagora ferir-me vem !

  • 84 Quaresma & C. editores

    ESTRIBILHO

    Perdi meus sonlios dourados,no tenho mais illuso !Os sonhos foram-se. . . as magnasficaram no corao.

    Tu dizes

    Tu dizes que ando triste,qne s me vs a scismar,pois como queres que eu ria,

    se eu soffro por te adorar !

    Tu dizes que em minha frontev-se um sulco de amargura,porque no vens apagal-ocom teu riso de ventura !

    Tu dizes que meus olharesse cobrem de espesso vo,mas com teu beijo olorosono queres mostrar-me o ceo !

    Do AUCTOR

  • Choros ao Yiolo 85'

    '#

    Tu dizes que as miulias falasso echos da minlia dor,mas no queres alentar-me

    n'um raio de teu amor.

    Tu dizes que eu vivo em trevas,a carregar minha cruz,porque negas um carinho,

    que seja esperana e luz ! !

    Tu dizes que neste fado,nem sou vivo, nem sou morto,

    mas no queres em minh'almaaccender um s conforto.

    ESTRIBILHO

    Se, pois, no queres que eu rivaneste constante penar,

    4a-me logo um desengano

  • 86 Quaresma & C. editores .^r

    O soldado

    You p'ra guerra destemido,na victoria s pensando

    ;

    vidas mil irei ceifando,vencedor, jamais vencido.Morrerei, mas te adorandoneste peito enternecido.

    Kos combates, sempre ousado,no valor serei constante !

    Bubro sangue palpitantefaz a gloria do soldado.Mas est' alma soluamenteno te esquece, anjo amado !

    Ko receio a guerra crua,nem bramidos do canho : de ferro o corao,quando empunho a espada nua.Tu me deste uma orao,qual penhor, lembrana tua !

    'i^'-:-'>-

  • Choros ao Yiolo 87

    O combate o peito isoladas ternuras da piedade . .

    .

    Combater com feridadenossas magnas no consola,mas acalma-se a saudadenas dolncias da viola.

    Geme a ptria consternada,por feroz inimigo oppressa ! .

    .

    You luctar, que a dor no cessanesta vida amargurada ! .

    .

    No te esqueas da promessa,,que lias de sempre ser amada.

    Fiime, erecto luctareicontra o fado ingrato e vario !

    Vou, que o ronco funerriodo canho j a escutei ! .

    .

    A bandeira 6 meu sudrio !Pla ptria morrerei.

    O furor da guerra enleia,vou luctar, mas sem temor !-

    Quando a ptria geme, anceia,ningum j)ensa mais no amor !Fica em paz, minh' aldeia !Adens, Lydia, minha flor !

  • 88 Quaresma & C. editores

    Para a teus ps vir depor,

    louros mil irei colhendo ! .

    .

    Pois teu nome irei dizendo

    das metralhas no fragor !

    Mas o peito vae ardendono claro do teu amor !

    Guarda pois os votos meus,no te afflijas, oh, tem calma !

    Guardarei bem firme os teus I .Se vencer, tua a palma.

    Yem me dar um beijo d'almaneste ledo e triste adeus . .

    .

    Musica

  • Choros ao Violo 89 / i

    A' Matriz so vindas freiras, ;lquantas em So Bento havia: - itodo o altar um ramalhete;

    o pavo galas vestia. ^

    Mas nem no altar se enlevava, 1I

    nem no povo se revia '

    Britaldo, filho mancebo ^do que em Nobancia regia

    .

    Curiosidade o l trouxedo muito que ouvio de Iria;nunca vio freira to linda,

    nem sancta de egual Valia

    .

    Logo em a vendo foi cego,de quanto o ceo nella ria,Iria, toda da gloria,Britaldo todo de Iria.

    Desde aquela negra hora,perdeu comer e alegria;sonha as noites acordado,no cuida em ai todo o dia.

  • \ 4

    90 Quaresma & C . editores

    Promette amor e segredo,

    j)romette ouro e pedraria,a prpria vida promette,

    se ella acceital-a queria.

    Marido quer a donzella,porem de mr jerarcljia,quer delicias e riquezas,

    mas no ouro e pedraria.

    Quer Jesus por seu esposo,por sogra a Virgem Maria,o ceo por palcio e hortas,

    os aujospor companliia.

    Gastado dos vos desejos,

    morrer Britaldo se via :

    geme seu pae Castinaldo,

    chora sua me Cssia.

    Todo o povo anda pasmado,que d ver tal louania,annos to verdes, murchados,

    pender para a terra fria.

  • Choros ao Yiolo 91 r'

    Chegou a nova ao Mosteiro,lastimou

    -se a ba Iria :deu-lhe licena a abbadessade ir ver a quem se morria.

    Entrou manso ao p do enfermoque nada mais ver queria,e disse-lhe : Sus Britaldo !

    Elle acordou e tremia.

    Reconhecendo ser ella,recobrou nova alegria

    :

    dos olhos, faces e boccalogo a morte sacudia.

    Ambos os braos alava,como d'antes no sohia,e por julgal-a rendida,abraal-a j queria.

    Como que foram serpentes,ella os braos lhe fugia :

    e contra o fogo da carnesanctas razes lhe dizia.

  • 92 Quaresma & C^ editores

    E vendo que s razes sanctas

    o doente se rendia,

    foi pr-llie as mos na cabea,

    e disse com f mui pia :

    Nome do Padre e do Filho

    e do espirito que alumia,

    accuda-te o anjo da guarda,salvete a Virgem Maria.

    Palavras no eram dietas,

    Britaldo mui so se erguia,

    e vendo-a que se apartava,

    com esta fala a seguia:

    Da morte, sim, me lias salvado,

    no do Amor de que morria !

    No sei se favor, se damno

    o que ora me lias feito. Iria.

    Que se jamais se me saamor terrestre de Iria,

    qual a vida que me lias dado,

    morte crua eu te daria.

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  • ~.';1^' " 1

    )i Quaresma & C. editores

    Misturava o sumo verdecom palavras que sabia

    com seu bafo peoulieuto

    o sumo se denegria.

    Daquella infernal peonhatemp'rou a mesa de Iria! .

    .

    Iria estava innocente. . .

    Nada supx)unha e comia

    .

    Comidas que teve as hervas,logo o ventre lhe crescia,

    comofoi crescendo o ventre,logo o seio se lhe enchia.

    O parecer do semblantede panno se lhe cobria,mostras de dona pejadanenhuma lhe fallecia.

    Poi Britaldo te^r a occultoscom um que na terra havia,

    acostumado a alugar-seem qualquer malfeitoria.

    -4S

  • Choros ao Violo 95

    Sus, Bano, vamos, lhe disse

    ba nova eu te daria,que houveras tu ouro e prata

    se a ferro morresse Iria.

    ^

    Quantas monjas tem So Bento,tantas eu te mataria !D-me agora o que promettes,que ella morta, eu posto em via.

    Hecebido o ouro e prata, faanha se partia :soube em que parte da cercaaso ^e a colher teria.

    lN"as horas mortas da noite,quando do coro saa,alli vinha ajoelhadahorar mais rezas Iria

    !

    Bano, por livrar do somno,que no esperar-lhe crescia,n'uma pedra, manso e manso,

    a afiada espada afia.

  • 96 Quaresma & C. editores

    Detem-se, que ouviu i^assadas !surge, olha em redor, espia. .

    .

    e n'uma lagem mui brancade joelho avista Iria,

    Jesus, esposo desfalma, sancta Virgem dizia: celestes postetades !

    anjo, meu casto guia !

    Tirae do escndalo o povoe o Convento da agonia,e que eu morra . . . . Eis mo de ferroque a garganta lhe tolhia.

    Estas palavras nialdictas

    nos seus ouvidos rangia : Britaldo agora te mata,

    Britaldo, entendes, Iria ?

    E logo um tenir de ferro,uma espada que luzia,a garganta attravessada,

    o corxjo em terra batia . .

    .

  • Choros ao Violo U

    O sangue que borbotava

    !

    E um lume que ao cet subiae, em roda delle, mil anjoscom celeste melodia.

    o corpO da virgem martyrl vae na corrente fria,

    ni dos hbitos sagrados,que desde a infncia trazia.

    De sangue vae purpuradapor mais nobre galhardia,dado aos ventos o cabello,que era as velas que trazia.

    Todos os anjos e archanjos(Ja celeste jerarchiano fundo d'aquellas aguastrabalharam todo um dia.

    Lavraram-lhe um moimentode pedra mui luzidia,depois cantaram exquiasde extremada melodia.

    M

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    98 Quaresma & C. editores

    Sobre a campa lhe entalharam -

    Um lettreiro que dizia :Livre da terra, aqui pouzaa virgem mui sancta Iria

    .

    Diya

    Pendem da fronte mimosa,sobre teus hombros divinos,s cabellos ondulados, '

    setinosos, negros, finos.

    Scintillam langues de amorolhos tmidos de luz . .

    .

    Fiquei cego de paixo,quando os meus nelles depuz.

    Dorme-lhe o coUo veladosob a nitente cambraia,apenas desenha a forma,quando oflfegante desmaia.

    \- V

  • Choros ao Violo - ^ 49

    Qual uma estatua marmrea,fria, muda, indifferente,nos lbios erra-lhc o riso,

    riso de escarneo pungente.

    Sobre o seio alabastrinotraz o symb'lo de Jesus !Se eu pudesse, nos seus braos,morreria at sem luz

    .

    Teus Juramentos

    Onde esto teus juramentos,onde est tua affeio,onde esto aquellas jurasque me fez teu corao ?

    Muitas vezes de teus lbios,desses lbios de carmim,eu ouvia mil protestosde s amares a mim.

  • 100 Quaresma & C. editores

    No corao da mulhernunca existiu a paixo !

    .

    Por dentro risos fingidos,

    mas por fora ingratido.

    t_

    -

    -,^.r< -.

    Onde esto, teus juramentos, ^^?' i:;onde est tua affeio, . 'A-Uonde esto aquellas juras ':-?!que me fez teu corao ? ;%^ -'?*

    No Posso

    Descauo, socego e calma,

    se foram quando eu te vi !Agora soffrer calado ! . .

    .

    Ko posso viver sem ti

    !

    Os meus penares futurosB'um breve instante previ,pois hoje, meu lindo archanjo,Bo posso Y iver sem ti

    .

    \'*,-;.

  • -^W^'^'

    Choros ao Violo Ol

    Pois antes de ver-te, eu juro,que nenhum mal conheci !Mas mesmo soflfrendo agora,no posso viver sem ti.

    Estou bem certo, meu anjo,que para amar-te nasci

    !

    Eis porque digo e redigo:

    no- posso viver sem ti.

    Depois dessa tarde, ingrata,quantos males j soffri

    !

    Agora soffrer sosinho !2o posso viver sem ti !

    Eulina

    Chora, minh'alma,que morta Eulina !Quanta amargura ! .

    .

    -Que horrvel sina.

    V ';

    ^:'^a

  • 162 Quaresma & C. editores

    Ai, quem me deramorrer tambm !Perdi Eulina,meu doce bem.

    Tanta belleza,

    alma to para,tudo sumiu-sena sepultura.

    Pois l na campalhe votarei

    toda a amizadeque llie jurei !

    Quanta saudade

    !

    Que negra sina !Chora, minh'alma

    !

    E' morta Eulina ! .

    ,

    :^.

  • i.A- -- -. ^-.^r^r -^ ' ' - -J7."--^

    Choros AO Violo~

    103

    Se eu escuto

    Se eu escuto na matta florente

    um soluo de um'ave perdida,Vem-me logo lembranas de um anjo,de uma bella por mim to querida.

    Se eu escuto de tarde um gemido,da fontiuha de lmpidas aguas, .eu recordo meus dias risonhos,

    e suspiro de or de de magnas.

    Se nas brisas de noite encantada,

    ouo s vezes um canto de amor,

    sinto n'alma saudade de um anjo,por quem gemo e suspiro de dor.

    Se no mago arrebol matutinoouo ao longe saudosa cano, -

    Vem-me logo reeordos dos temposem que tu me tiveste affeio !

    j*-'

    Modificada pelo auctoi\

  • ^:'-::,,;5-,

    104c

    s^'W"

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    . a.-,*?-

    Quaresma & C. editores

    '%,

    Meu Casamento

    E' triste, mas vou contar

    omo foi meu casamento:

    Ao pae da minha futuracontf i meu procedimento.

    O velho pergunta logose eu podia me casar,se podia dar vestidose sapatos p'ra cal(.ar.

    Uespondi-lhe sem demora,com toda a sinceridade:

    descanse, que a sua filha

    no passa necessidade

    .

    s.

    Trabalho de noite e dia,tenho a minha profisso,no tenha susto, lhe peo,que eu toco bem violo. ^=*^^

    ^' ^%

  • Choros ao Violo 105

    Sua.fh por modinhas, louca, chora, suspira!

    No tenha susto, 'meu sogro,que eu sei cantar n'umaj^ra.

    Casei-me afinal, e digoque foi um bello successo!

    lo riam da m^ figuraque fiz, no riam, vos peo.

    .X-

    o chapu do meu casriotinha mais sebo que palha!Com seus sessenta buracos",pareciam uma cangalha.

    A gravata, meus senhores,era um leno de rap!

    As botas novas mostravam.os cinco dedos do p!

    *

    .v_

    A camisa que eu vestianesse dia de funco,

    mandei fazel-a do panno-do sacco do meu violo.

    -*"-J -

  • JZ -^^-i^-^i*,:^

    -\

    106 Quaresma & C. editores

    A casaca era ja velha, >v.mas foi do panno melhor! '

    Aluguei-a por trs lonas \n'um gorduroso Belchior.

    O collete, vos affirmo,era de linho bem puro .mas estava um tanto sujo, "

    pois achei-o n?um munturo.

    A cala estava na hora,tinha mais de um remendo,e minhas meias cheirosasestavam da cr do cho

    .

    A

    As luvas eram modernas,estavam mesmo na Jiora!

    Quando calcei-as, sahiramos cinco dedos de fora

    .

    S vos peo que no joguemsobre mim cruis desdns.Do casrio o colarinhocustou-me quatro vintns.

    -M

    ''4

  • Choros a ViolSo 107

    Afinal a fatiotade que o povo ja se ria.em leilo fora comprada !

    .

    Trs patacas no valia.

    A noiva com que caseide rica no tinha nada,para entrar na casa santa,

    foi com uma saia emprestada

    ,

    Indo em caminho da igreja,riu-se farta a garotada,por ver os noivos chibantesu'uma carroa quebrada.

    O jantar que eu tinha em casapara dar aos convidadoseram canja de doisgaliosque morreram empestados.

    Dous frangos ja meio podres,que apresentei como caa,

    e para as damas eu tinhalitro e meio de cachaa

    .

    X

    x-

  • 108 Quaresma & C. editores

    Quatro velhas compoteiras,como enfeite, como adorno,

    c dentro da frigideiraum grande gato de forno

    .

    Eis a historia do casrio,que me trouxe atrapalhado!Depois da festa trs dias,cada um foi p'ra seu lado

    .

    Modinha modificada pelo auctor.

    ""-"^"-:/:'

    Alya e Morena

    Lelia pallida e bella como a lua

    occulta a meio em gase nebulosa;coUo e mo de alabastro transparente, - " i^lllbios tingidos de punicea rosa.

    '^r,i ^.

    E' morena Leonor, como da tarde . ^^-^'^'-iQffMO vo cinzento que sombreia a terra; - 'CWS^^-

    ;' ' fz'-':^'^como o crepusc'lo que vises povoam,

    doces sonhos de volpia encerra.

    V.

    -"e-^S-r t -^'-;h?m.S-;

  • Choros ao Violo . 109

    ,--

    Olhos azues, profundos como o ether,_

    onde o interno pensar brilha sem vo, ^3 ' ^como as vozes do rgo, como o incenso, . " c^^SLelia nos leva o pensamento ao ceo. \

    . t

    Os olhos de Leonor so cor da noite, ii -^

    tem, como a vaga, chispas.de ardentia. - - :^ V;^Dizem no langue brilho das pupillas ^1 /segredos que advinha a phantasia. J"

    ;^ ^^

    De ouro cendrado a coma, em desalinho,sobre os hombros de Lelia se desata,como os raios do sol beijando a alvurado alpino gelo ou de nitente .prata.

    Como as azas do crvo, como a noiteso negras as madeixas de .Leonor,e em espiraes luzentes se devolvempor sobre o collo de morena cr.

    O meigo olhar de Lelia me enfeitia!Fascina-me Leonor, com seu sorriso !Ah ! Morrer com Leonor fora bem doce !E com Lelia viver, um paraiso !

    --tJV!

    i.':.&/->"T\i^'.:--:

  • 1.

  • Choros ao Violo 111

    Ah! dize que vens dos mundosdas flores de que t incensas,

    abrir as rosas das crenas

    'um i^eito de crenas n.

    Vem, formosa, abre em meu peitoquella flor de chimeras,de que vivi n'outras eras,vida de muito sentir,quando, a teu seio abrigadominhas crenas embalava,

    meus olhos alongava

    para as bandas do porvir.

    Olha o prado ! O prado verde !..Aos palpites dos desejos,os amantes colhem beijos, sombra dos laranjaes, os cupidinhos das flores,os colibris inconstantes,

    a exemplo dos amantes,se beijam nos cafezes

    .

    Mas eu, agora seii crenas,a alma estril de flores,a vida farta de dores,e a mocidade sem f,

    '^

  • 112 Quaresma & C. editores |'

    ' "'

    I.^. "

    "

    " '" MM. '^^

    seguindo a sombra do tdio, ; . i ^ ^i-Mif:SOU, no meio dos ditosos, i ";< "ifer-como entre arbustos viosos,

    mirrado tronco de p !

    . f

    '-.' '*^ "~--

    .-""-

    '"

    D, virgem, que se renovem ? ,' ;^.em meu seio as primaveras / "^^^

    d'aquellas saudosas eras,.""^M

    e as crenas que j perdi ! -j.^Mas tu foges ! No me queres ! - ;-.;~%^wrVou profanar-te os regaos ! '

    -?-V^i

    Vem tu, noite, abre-me os braos, '':--::'^^'que eu tambm anoiteci. _ . , '^-

    A Nossa AmizadeA nossa amizade,ai

    !j se acabou !

    Assim foi a rosaque se desfolhou.

    Eu fui n'um jardimcolher uma flor,

    somente i)'ra dar-te,

    qual terno penhor.

  • Choros ao Violo 113

    A nossa amizade,meu bem, se acabou !Assim foi a rosaque, cedo, murcbou.

    Da flor que me destede tantos carinhos,fiearam-me apenasagudos espinhos.

    A nossa amizadebem cedo acabou,foi como a rosinhaque se desfolhou.

    ESTEIBILHO

    Perdoa, donzella,que Deus perdoouquando Magdalenaa seus ps chorou.

    'fSs^&^^Sifcs;?: , . - -iS ij i3i*'-ii,'%:\;Si

    :

  • 114 Quaresma & C. editores

    Ultima Yontade

    lia minha modestissima penumbra, . 4

    .

    beijo-lhe o rosto claro e a trana leve,branca e loira, meu Deus, o sol e a neve , :;;n'uma pureza ideal que me deslumbra.

    j 1 : ^^^J.

    Por isso docemente desabrochanas urzes da minh' alma endurecida,lor aberta nas fendas de uma rocha,

  • Choros ao Violo 115

    x^m^^".Serenata

    --,/".

    y-rU

    r/^.^-^

    t Murmura O trepido arroio, :'^;^;alem, na veiga, distancia, :'-'r^"^'^^:]e das auras a fragrncia,

    ,

    V| Tem embalsamando a rua !. V . ^Canta alegre na guitarra '

    o trovador namorado,da terra aos ceos elevado ^nos frescos beijos da lua.

    Olha que noite formosa ^ "^^ :^f^': para iconversa de amores

    !

    ' ".^ #

    Desata o lao de flores r ^^_jf

    ?|Mal sabes tu quanto eu amo - ^ "

    '

    ver teus compridos cabellos ^ .- '^^desfiazerem-se em novellos > |

    ,sobre teu coUo de neve. J i^

    -

    ":.''^ -^

    '

    ----- J-a

    Olha as estrellas, que lindas !Parece no azul celeste

    que Deus com ellas se veste,por essa noite, de gala !

    -,t

    - Vr

  • 's^^;>^^ -:- ''^;';r\:3^-^^^^^^3^'^^i^^^r^-

    116 Quaresma & C. editores - f - '>;

    Acorda, acorda ! A guitarra V .- * "vique por ti geme e suspira, j j;^ %^nas ancis do amor delira, i .de tanto cantar estala. . - -^ .|ir^

    Cantemos, que a lua bella, -- ^.^'emquanto a noite o consente,

    -^iC

    nesta guitarra dolente,

    que geme sob as meus dedos !Descerra as amplas vidraase, pelas grades que vejo,vem receber neste beijodo meu amor os segredos !

    Alminha

    J que assim Amor me ordena,Anninlia sempre hei de amar,que s pde a dura morteda memoria te arrancar !Emquamto viver, te juro,liei de sempre te adorar.

    vC/.

    'i

    s*

  • Choros ao Violo - 117

    A bella rosa do prado,o suspirar da rolinliame fazem lembrar, saudoso,da minlia querida Anninha.Sua fala era to terna

  • 118 Quaresma & O. editoresi^1a^lII^I^MJfc^ I II II I IHtmM.MI.M IMHm.MM

    No te esqueas que juramosjunto aos ps do Eedenx)torsincera e firme amizade,sancto, eterno e firme amor.

    No Fujas

    Nas horas negras da noite,se vires um vulto ao lado,

    no fujas, no tenhas medo,escuta o que diz maguado.

    Se o ceo, de horrores coberto,bramir na voz do trovo,se algum chegar a teu leito,no fujas, no tema^ no.

    Quando a noite fr bem calma

    ,

    e brilhar no ceo a lua,

    se um beijo queimar-te a face,no fujas com a face tua. '

    -.f''

  • Choros ao Violo 119

    Se onvires queixas sentidas

    da brisa na flor, na veiga,: no fujas, no te apavores,

    p os teus rigores ameiga. -

    O vulto que te acompanha,que segue, fiel, teus passos,s vive de teus olhares,dos beijos, dos teus abraos

  • .:>^''

    120 Quaresma & C. editores

    E qual rola perdida sem ninhoeu proscripto que a ptria adorou,

    gemeria meus fundos lamentosque ao bulicio meu peito calou.

    Mas se alem do sepulcliro geladotem noss'alma outra vida sem fitn,u terei tua imagem querida,sempre e sempre bem juncta de mim.

    -

  • Choros ao Violo .. 121

    A noite bellal A baunilha''deita aromas ao 1aar

    !

    Anda, nap ouviste, filha?Meu bandolim. . . vae buscar!Das minhas dores maguadas,pelas auras perfumadas,quero expandir as toadasque noite fazem chorar.

    ESTRIBILHO

    Ai, que vida, que cansao,

    que triste lidar sem fim! '

    Tudo a fora de meu brao .

    .

    Ningum se condoe de mim

    X

    Queres que eu chore?

  • 122 Quaresma &C. editores

    Queres que eu gema, gemerei contente !Queres que eu sofra, soffrerei por ti ! ,Queres que eu fuja, fugirei, te juro ! ;Queres que eu fique, ficarei aqui !

    Queres que eu caia de joelho em terra,timido escravo, juncto a ti serei

    !

    Mas se me ordenas que te adore louco, ' - '

    de Amor no throno serei mais que um rei.

    -'f*

    Sou pobre artista, que no pode amar-te,que no te pde revelar amor !Por isso, bella, penarei calado,soffrendo embora lacerante dor.

    Humilde, pobre, sem ventura e tristeno tenho a gloria de poder te amar !

    E' dura a vida do modesto artista,que as dores sente sem poder falar*

    *"?''~^.fisM^^^'. - ''^''^* ""'

  • Choros ao Vilo 125

    f-K. Analia

    Vem, Analia, ver a aurora,surgir cheia de belleza !Ve^i gosar alegrementeos mimos da natureza.

    Eepara como formosa,

    a rosa ibrindo em boto ! . *

    V como as flores mais vivas,falando de amor esto ! .

    V como lindo este quadro,do romper de um bello dia,quando em tudo a natureza^ .respira amor e poesia

    .

    Por entre as flores odoras .

    ternos, meigos passarinhos,desprendem seus doces cantos,acalentando os filhinhos.

    Onde quer brilhem teus olhos,louco amor tudo respira !

    Vem, Analia carinhosa,ouvir o som desta lyra.

    !.;:

    "i^iJ&^^fefe-^S-^MSiS^^^^^v-" wvji^;^ii^S^^:l-

  • 124 Quaresma & C. editoresa

    Eu te amaya

    3Iullier, eu te amava com ternos afifectos,

    no mundo existia somente por ti ITeus passos seguia bem triste e calado !pois triste chorava, chorando vivi.

    .*;'

    :^'^y-

    Jurei-te constncia, ternuras infindas,

    jurei adorar-te com muito fervor,mas tu nem ouviste meus votos sinceros,

    meus puros affectos, meus cantos de amor.

    Por outro deixaste quem tanto te amava,fugiste do peito que ainda s teu !Nem mais tu te lembras do tempo passado,do tempo da infncia, que ha muito morreu.

    Perdido na vida que passo to longedos teus lindos olhos de brilho sem fim,You triste morrendo, de dor alquebrado,porque te esqueceste bem cedo de mim !

  • Choros ao Violo - 125

    y-

    Esquecimento e Saudade.'

    ' (Para recitar) ' v

    A soltar uns gemidos d amargura,que a cada instante n'um momento arranca,eu vi pouzada uma pombinha brancana cruz singela de uma sepultura.

    Em derredor brotara o triste goivo,e, l dentro, dormia o eterno somno,fazia um mez apenas, no abandono,um pobre moo, qie morrera noivo.

    Ms quem gemia assim sua desdita,naquella cruz de mrmore, pouzada ?ra a alma desse noivo, transformadano corj)o esbelto da pombinha afflicta.

    A noi^a lhe fizera uma promessa,que o consolou bastante na agonia:

    ir visitar-lhe a campa . . e j naor ia !

    ,

    esquecera-o i3or outro bem depressa.

  • . 'r ._,.-.- r',',..-

    126^

    Quaresma & C. editores

    E assim ficava alli horas inteiras, a 5'sempre a carpir craz enegrecida - da prpria sepultara, ora esquecida,e quasi occulta pelas trepadeiras.

    1

    i.i;.^'

    Passa um morcego, as azas rufiam no ar.Tendo a pombinha, para a cruz investe,e, firmando-se ao galho de um cypreste,assim pergunta n'um sorriso alvar:

    O que fazes ahi, nesse retiro,sempre a gemer, gemer constantemente ?Fala. E a pombinha branca, em voz dolente^respondeu : Tu no vs ? Gemo e suspiro !

    ls^^'

    df

    Ora, deixa-te disso. . . Que lembrana ! .vae-te embora d'aqui! disse o morcego.No vs que me perturbas o socego,que aqui dentro no ha mais esperana ?

    No ! Nunca mais l Aqui apenas medrao esquecimento em todo o seu requinte

    !

    Quem entra c, no dia ja seguinte.

    fica esquecido sob a fria pedra ! .-'^ * o

    -'-fii :

    :'L:>^%it^^S^^'^1^'^t^!^e.Stj^"\>,

  • Choros ao Violo 127

    Disse, e fagiti, deixando em grande assombroa pombinha a gemer juntito ao salgueiro ICantarolando alem, vinha o coveiro," f -

    trazendo a p sinistra e a enxada ao hombro.

    V - *

    .*':;-"

    ;^^--,\

    Ficou deserta a cruz! 'Na immensidade,pouco a pouco, perdeu-se inda um lamento !Era esse atroz morcego O Esquecimento !

    '=;^ E essa pombinha branca era A Saudade.

    A. Lamego.

    -V J no existe

    t- -i J nSto existe 'minha querida,vem, morte crua,

    roubar-me a vida.

    Aquelle affecto

    que eu possuia

    jaz sob a terra .na campa fria

  • 128 Quaresraa & C. editores

    L mesmo aindalhe votarei

    toda a ternuraque lhe jurei.

    Qual linda rosaque a foice corta,

    minha Marliajaz hoje morta.

    Vem morte ingrata! '"-^-y,

    meu mal renova! ' .leva meu corpo

    !

    :

    '

    p'ra mesma cova !

    ESTRIBILHO

    Neste momento,

    nesta agonia,

    vou ter com ella

    na campa fria.

    w

  • Choros ao Violo / 129

    Lucinda

    Sem ti no vivo,morro sem ti

    !

    lasci captivo,

    preso nasci

    .

    S tu, Lucinda,podes ditosofazer-me ainda,

    n'um mar de gozo.

    Ai, quem me deranos meus espinhosa primaverados teus carinhos !

    Mas tu chasqueasdo meu amor !Feroz, me enleiasno teu rigor.

    ; ''^-.^i-^^ S-.-r

  • 130 Quaresma & C. editores

    Meus ternos cantos - ' ' ~\ " ^ ^j^;:'

    tu repelliste ! . . ^ . :^-^-S tenho prantos v?^=^'na vida triste ! -^: .

    ESTRIBILHO

    Vem, morte dura,vem me levar !

    Cesse a amargurado meu penar !

    A morte sonho

    Como o orvalho da noitebusca o carinho da flor,assim minh'alma, em delirio,uspira i)or teu amor !

    Mas teu desprezo, insensata,me fere, me abate e mata.

    -1.- ''.'^'

  • Choros ao Violo 131

    Mas se eu pudesse encontrarnos teus lbios um sorrir,

    minha ventura seriade bello e rseo porvir !

    Mas com tanta crueldade,nem, sequer, tens caridade !

    Permitta Deus que algum diamais feliz eu possa ser,pois a penar neste mundo,prefiro logo morrer.

    A morte sonho douradopara quem desprezado

    .

    Eu morrerei em teus braosfeliz, sorrindo sem dor,

    meus lbios aos teus junctinhos,n'um beijo quente de amor !

    Mas tudo sonho dourado,que hei de morrer desprezado !

    ^.^vt

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    ^^^'^r^f^^Spi^f' -'- f^

    132 Quaresma & C. editores

    Um Accidente

    N^uina uoite de luarfui flanar ( bis

    na Praa da Acclamao...Quaudo bispo uma velhota

    ua maciota ( bisvindo a mim, de sopeto.

    Fiquei todo atrapalhado,pois levado

    fora alli por um derrio ! .

    .

    Mas a velha, que sorria,me dizia ;

    Ora, moo, deixe disso !

    Quiz fugir ! Mas, reflectindo,fui sorrindo,

    sem dizer-lhe no ou sim !E s p'ra ver-lhe o carSo,

    disse ento :Vosminc que quer de mim

    ^; . /:

    .i

  • -^J*l-**^^**^

    Choros ao Violo 133

    A velhota, que se agasta,diz-me : Basta !

    Do senhor no quero nada !jyias agora vendo-a fria,

    lhe dizia :

    minha velha, que massada !

    2isto a velha ento suspira

    e se atira

    toda cheia de ternura !E fincando-se ao pescoo,

    me diz : Moo,quero ser sua roxura !

    As cousas estavam nisto,quando avisto

    minha bella rapariga !De prompto mudando a telha,

    disse : velha,v saindo de barriga.

    isto chega a minha amada

    !

    A damnadada velhota, n'um gemido,diz

    -lhe : J d'aqui se ponha,sem vergonha !

    Este moo meu marido.

  • "'rP3^^!?T^4?'S;^';"'^*V*^

    134 Quaresma & C. editores ...i

    X ' .iLogo ento com fora a empurro,

    dou tal murrono maldicto do canho,que a velliota, como um raio,

    n'um desmaiofoi de ventas para o cMo.

    Que se macliucou pensando,me acalmando,

    quiz a peste levantar !

    Mas a velha, gorda e m,deu um tra ...

    um trabalho de matar.

    Consideravelmente modificada pelo aucUyr do liiTOpw no lhe ter sido possivel encontrar o original.

    8o estes versos cantados com a musica antiqussima a '**

    cano: Seu soldado n,o me prenda, no me leve para o -

    quarteL "

    A musica apenas um pretexto : quasi que recitada, ijTodos os versos de trs syllabas so bisados. ;;

    ,-^!,.A;.-

  • Choros ao Violo 135

    Beijo Quente j

    Tu no te ponhas com luxo ! . .

    .

    No me queres dar um beijo ?Mas se as orelhas te puxo,corada logo te vejo.

    Vem dar-me agora a beijoca^que outro dia te pedi !

    No fujas de mim, Nonoca^que mal fazer posso a ti ?

    Perdoa se eu te aborreo"

    com phrazeados queixosos,pois eu, meu bem. no me esqueodos teus43eijinhos cheirosos !

    Que mel que banha os teus lbios,que os pode assim perfumar fPois bem : respondam-me os sbios,,se em beijos podem falar.

  • 136 Quaresma & C . editores

    Quem der um beijo de amor.

    -^. 'v

    em ti, boquinha florida, ; -trar no lbio um calor,que ba de durar toda a vida. -

    .. ;

    Por isso que eu peo agora

    um s beijinho dos teus,e minh'alma j te imj)lorapelo amor que tens a Deus !

    Depois que o primeiro beijome deste na tua casa,

    nasceu-me logo um desejo..

    .

    pois tenho os lbios em braza.

    Do AUCTOR.Musica o mesmo

    O Pereg*rino(PAULO EIE)

    Sou peregrino, os vestigiossem conta do meu bastoatraz de mim se apagaramno livro do corao !

    \

    /Tsi^^tS:

  • Choros ao Vioiao 137

    No guardo memoria alguma,^ue fora guardar em vo.

    A pedra, beira da estrada,em que, suando, sentei,

    no meu incessanta gyro

  • 138 Quaresma & C. editores

    Se alguma cousa hoje amasse,Serias tu, meu bordo !

    Tu, que nesta negra vidano lias de me abandonar ! .

    .

    Tu, que sustentas meus passos !Tu, que me falas do lar !

    -y-^"::

    Tu, que nunca me trahiste !

    Tu, que s me vs cliorar ! l^'^

    Adeus ! e mais esta vezem ti, amigo, me inclino !

    Separar-nos vae a morte,

    mas, desde ja, te destino

    para indicio, para a cruz

    da cova do peregrino.

    Musica e C. Mi.

    .

    --;-; / '

    kl

  • Choros ao Violo 139

    Mulher, escutaMulher, escuta meus cantos,mulher, no sejas assim !Vem aparar os meus prantos !Ingrata, tem d de mim.

    Eu vou viver solitriofagir do mundo enganoso,e, cumprindo este fadrio,morrer ao longe saudoso !

    Irei soffrer no deserto

    sem que me possas ouvir !

    O teu amor foi-me incerto. . .

    .

    E' fora de ti fugir.

    Chorei por ti noite e dia,desfiz-me em prantos e ais !

    Minhas dores escondia ! .

    .

    E tu cruel mais a mais 1

    ESTRIBILHO

    Eu parto, mulher, eu parto,Tou viver na solido !

    De maguas estou bem farto !Levo cheio o corao . .

    .

    '*te2'^*" " -"''- ':-'--^

  • >,T', *^ ,- ^ c 2*.' ^

    ' f

    140 Quaresma & C. editojes

    Perdo, Francelina

    Perdo, Francelina, se o peito do bardom novos'amores tornou- se infiel,

    pois tenho o remorso pungindo minli'alma,meus lbios se embebem na esponja do fel.

    Amei uma virgem, to bella, to pura,to cbeia de encantos, to cbeia de amor,nos laos traidores, cahi prisioneiro . ,

    .

    Confesso, no nego que fui peccador.

    Por ella deixei-te, varri teus amores.

    da mente illudida n'um louco sonhar !Qual misero escravo seus,ps osculava,perdido, humilhado, sem mesmo corar.

    "V

    Agora que eu volto saudoso, mas triste,porque teus afifectos vilmente deixei,onsente que um beijo deponha em teu coUo,que as minhas loucuras bem caro paguei.

    Eendido, vencido, qual monstro me rojo,qual pallido escravo, pedindo perdo,trazendo no peito remorso invencivel,

    trazendo em minh'alma mais forte paixo.

    '''': ':

  • -^.'i'V^^-,

    ^x,:''' :'

    Choros ao Violo 141

    Eu parti...

    Eu parti de rainha terrapara ver se me esquecia

    desta paixo que no peitoaugmentava noite e dia.

    Eu julguei fosse possivelda memoria te varrer,mas no crendo na morena,em quem mais eu hei de crer ?

    Vim buscar distante deliadoce allivio minha dor,mas maior minha magua,cresceu-me mais este amor !

    ESTRIBILHO\

    Adeus morena bella

    !

    E' triste o meu sofrer !

    De ti, morena ingrata,no posso me esquecer.

    9*i,

  • 142 Quaresma & C. editores

    No te amo maisVou deixar-te, que minfalmaJ tem soffrido demais

    !

    Prosternado eu te adorava. , .'

    Mas, mulher, no te amo mais !

    Sob o guante dos ludibrios,dos ecleos infernaes,I>enetrei no tetro averno .

    .

    .

    Mas, mulher, no te amo mais !

    Cuspinhado, pobre, atadon'um supplicio de punhaes,rastejei aos ps, vilmente ....Mas, mulher, no te amo mais !

    >- --

    -3

    Tudo um dia se anniquila . .

    .

    Nossas dores so mortaes !.. .

    .

    Eu te amei perdidamente..

    ,

    Mas, mulher, no te amo mais !!,

    Volvo ao sol da Liberdade,Cessem, pois, meus tristes ais !

    J te quiz, j te amei muito . .

    .

    Mas, mulher, no te amo mais !

    DO AUOTOR

    ' r:

  • f,

    Choros ao Violo - ^^ 143

    J no posso

    J no posso soffrer os martyrios%ue at hoje, chorando, soffri,de penar vou morrer muito moo, preciso que eu fuja de ti.

    Minhas crenas se foram murchando,os meus olhos seccaram por fim,

    mas nas minhas cruis amargurasnem, sequer, tu pensavas em mim.

    J no posso com tantos rigores, *

    quero agora sem ti descanar,

    que estes' males que o peito abafaram,no me podem de todo matar.

    ESTEIBILHO

    Viverei c distante tranquillo,pois que emfim do sonhar acordei,mas vim s,, que minha alma fugio-mequando o beijo primeiro te dei.

    Muito modificada pelo auetor

  • 144 Quaresma & C. editores

    O Capang^a Eleitoral _MELIOSIBUS ANNIS

    *-

    -

    Foram-se os tempos em que as honras tive . f^.^^d^alto fidalgo, de marquez at ! % 'Era meu sceptro meu cacete dextro, CSt;meu tlirouo, as caras onde eu punha o p ! ' ^=4^-

    Quantas victorias no contei nos dias

    do meu reinado que j l se vo !Cartas eu dava, bajulado eu era . .

    .

    tinha excellencias n'uma eleio !

    Fugir fazia de meus pulos cuerasdez mil urbanos . . . sempre fui de lei

    !

    Ka cabeada esbodeguei mil caras,n-uma rasteira muitos tombos dei

    !

    Quando eu pulava, qual cabrito novo,gingando frente de uma procisso,alasabria n'um volteio doido ! . .

    .

    Eodopiava mais do que um pio.

    N'um. passe breve da navalha minha,pelo gostinho de estreal-a s,

    riscava um trao de unio com sanguen'um gordo ventre, sem pezar nem d !

    F- ,:;:

    , 1

    "

  • Choros ao Violo 145

    Tive taes honras, que na prpria egreja,tirei sem magoas, muita vida ruim

    !

    A minha faca no fazia graas ...Deos parecia recear de mim

    !

    No tinha pernas no sambar sestroso,quando a creoula avelludando o olhar,se desfolhava em contraces dengosas,e vinha o peito de paixo magoar

    !

    Mas, ai d'aquelle que a tentar quizesse

    !

    N'um bello samba sempre fui tt

    !

    Fazia o "cujo" dr no cho dois beijos.

    ,

    sacava a "bicha" sem mais nada. , . f!!.

    Mas se a creoula desse corda ao cabra,pagava caro por querer trahir

    !

    Pois o meu ferro sempre alerta e prompto,nunca fez graas p'ra ningum sorrir

    !

    Eu fui turuna e fui moleque "cuera, , |"destabocado", mas, aos meus, leal! ' iNo ]), no ferro e no cacete dextro. .

    .

    fna capangagem nunca vi rival

    !

    ^1Meu nome lego s tradies da ptriaAltos poderes com a cabea eu dei ! . .

    .

    10-r

  • 146 ' Quaresma & C. editores

    De muita "besta" fiz um deputado,Da monarchia "fui" segundo rei!

    Deixo meu nome s tradies da ptria

    !

    Eu fui "naga" destemido.. .

    ol

    !

    A minha gente nem do rei temia,quando eu nos rolos espalhava o p

    !

    Hoje estou velho, esbandalhado e pobre,mas a "faceira" (*) trago sempre c!Foram-se os tempos de prazer,, de glofias.mas m.uito sangue derramei eu j

    !

    Arrebatou-me a magestade um diaum chefe ingrato Sampaio Ferraz !Fui p'ra Fernando de Noronha logo...Que um raio o parta e que me deixe em paz

    DO AUTOR

    Musica do Nasci como nasce, com brevissimasmodificaes.

    (*) A faca.

    FIM

  • i^-'

    NDICE

    O cavaquinho 3Ao sereno 6O batuque 7O dio IITu queres que eu sonhe 12Meu barco 14

    ' Morena 15.Quando os meus olhos .

    .

    17Amargura suprema .... 18A valsa 19Partida do sertanejo ... 21Um sonho 22Cantemos, saudade 24Consolao nas lagrimas 25Rosa no mar 27Pastorinha 30Ha muita sombra 31

    ' Alzira 33Conselho 36Desdichada 37Quem s 38Dormindo 39No perguntes 40A cr morena 42X. ..: 44Minha saudade 46O acalentar da neta .... 47V saindo 58Os bichos 59Beijo criminoso 61As borboletas azues .... 62Cimes 63

    '; Trovas ao sereno 66Eulina 69Morreu Maria 70E's m yT,Vae, suspiro 75Fado portuguez yy

    Pags. Pags.

    Este tango 80Falsa jura 83Tu dizes . 84O soldado 86Sancta Iria 88Diva 98Teus juramentos 99No posso 100Chora minh'alma que morta Eulina loi

    Se eu escuto 103Meu cazamento 104Alva e Morena 108De Tarde iioA nossa amizade 112Ultima vontade 114Serenata 115Anninha 116No fujas 118Eu quizera 119Magoas 120Queres que eu chore? 121'Analia 12^Eu te amava 124Escjuecimento e saudade 125J no existe 127Lucinda . 129A morte sonho 130Um accidente 132Beijo quente 135O peregrino 136Mulher escuta 130Perdo, Francelina 140Eu parti 14 1No te amo mais 142J no posso 143O capanga eleitoral .... 144

  • LIVRARIA QUARESMA editora

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    PENSAMENTOS dos grandes vultos da Litteratura Universal sobreO amor O casamento A paixo A amisade A afFeio Abelleza O cime O dio, etc, etc. Um grosso volume bem im-presso em Paris, com linda capa em chromo-lithographia . 2S000

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    O PHYSIONOMISTA ou arte de conhecer o caracter, o gnio, as incli-naes, as qualidades e os sentimentos moraes das mulheres pelaphysionomia, segando Lavater e Gall. Um grosso volume com grandenumero de retratos de todos os typos de mulheres. .

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    MODINHAS BRAZILEIRAS

    OANCtONCIRO POPULAR de modinhas brazileiras, organisado pelo Sr. Catullo da Paixo Cea.rense, distincto moo, conhecido poeta e prosador, excellente jirofessor de lin^uas nome quetoda a gente conhece e tem applaudido.

    O avtor reuniu pacientemente as mais bellas poesias populares que se prestam para o cantoModinhas), emendou-as de modo qtje combinassem 3s palavras e a mu- -ca: indicou em cadauma a nusica com que deve ser cantada. Desse modo, o livro tornou-se admirvel e precioso.

    Neste volume encontram-se as mais bellas modinhas populares, coou sjj -m : Tenho sau-dadei de Maura ; * Primavera ; L para as bandas do Norte, no serto de minha terra ; Bor-boleta meus amores ; O Perdo ; Gosto de ti porque gosto ; V que amenidade ; O Vagabundo ;e centenas e centenas de outras modmhas, cada qual mais linda. Um grosso volume de mais de200 paginas, com bonita capa 3$ooo

    LYRA SRAZILEIRA. Repertrio de modinhas pojtulares, escriptas c coUecionadas por Catullo daPaixo Cearense. Um grosso volume com luxuosissioia capa colorida i$ooo

    CHOROS AO VIOLO, ultimo livro de modinhas, de Catifllo da Paixo Cearense. Um vo-lume l$ooo

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    O CANTOR de modinha^ brasileiras, contendo to4gens: Foi um Passos l da Estrada de Ferro; OCinco de Novembro ou a morte do Marcch U Biticncoiirt ; Perda > Kmilia ; A Gargalhada ; AGuerra de Ca