Chamuças de Bacalhau 12a

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Chamuças de Bacalhau Just forr the pleasurrre. Exames e namoradas para corrigir. Ghats de Pushkar ao pôr-do-sol. Chai Banana. Adieu, Adieu. 1

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Aventuras na India

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Chamuças de BacalhauJust forr the pleasurrre. Exames e namoradas para

corrigir. Ghats de Pushkar ao pôr-do-sol. Chai Banana. Adieu, Adieu.

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XIIWe Will Always Have Pushkar

-So, arre ziu interrested by me orrr not?-Interested BY you???? Oh meu Deus o que é que ele quer dizer com isso? E, jasús mas

que pronuncia, parece que estou no ALLO ALLO. Mas não, estou só à frente do Antoni, o Sol passa-lhe rente aos

olhos azuis, aquece o mini gatinho que dorme ferrado no meu colo e foge a sete pés da taça gelada do meu “Hello To The Queen”. Neste momento o francês olha para mim com um ar de desafio algo infantil. De onde é que isto surgiu?

Ah já sei, ele já estava aí há uma hora a tentar corrigir exames sobre o laicismo: “como é que se explica a indianos, cuja mentalidade é mais supersticiosa que a própria religião, a ideia de um Estado Laico, estás interessada em mim ou não?”. Foi mesmo assim, só com uma vírgula de intervalo, que se quebrou o gelo. E eu estava contente com a resolução da questão.

Não obstante, fiz uma cara de parva e disse muito chocada “Mas tu afinal gostas de mim, Ohhh”. Devo acrescentar que esta posturazinha vinha eu aprendendo com os vidoclips da hindi Mtv. Que é a da mulherzinha sabida mas tímida, vulgo falsa-parva-nada-púdica. Depois de muitos elogios à minha tão fascinante pessoa tivemos de concordar que as festinhas iam continuar a ser para o gato. Que não valia a pena aprofundar o efémero. O bom da Índia era isso mesmo, provar e imaginar. Ele não foi muito na conversa e declarou que se tivesse mais tempo não desistia nem por nada. A não ser quando a namorada chegasse de França para o visitar, que ia ser daí a 3 dias.

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-Namorada chegasse de França para te visitar?!?!?! Ah meu canalha. Homem é homem ein?

-Ohh mais c’est just forrr the pleasurre!-Olha lá, não tinhas por aí muito exame para corrigir?! Ein?

Homens!

A Rita tinha ido a Ajmer com “o do Gamão” e depois de uma tertúlia literária pós divórcio com o Antoni, decidi que o meu top branco já precisava de ver sabão. Neste caso champô. Quis a fortuna que ao lava-lo com as calças roxas, ficasse lilás! Só dá para rir. Estranho era que o top continuasse branco, não é verdade?

Almoçamos num jardinzinho perfeito, um esparguete à bolonhesa de se lhe tirar o chapéu. Apesar de pouparmos no quarto as refeições eram sempre sumptuosas. E eu cambaleava de sono. Passei assim a tarde a dormir a sesta. Consta que o Antoni decidiu na mesma altura que também estava com sono e lá se foi enfiar. O que aconteceu não vem neste livro, escusam de procurar.

Depois disso demos uma volta por Pushkar, fomos até aos ghats que circundavam o lago. Havia pombas, macacos e pessoas ao calhas. Já não sentíamos aquela hostilidade das grandes cidades. Antes uma paz perpétua naquela luz laranja, ao som dos sinos do pôr-do-sol.

Voltei e pedi um Chai. Andava viciada em Chai. Tinha aprendido que não podia beber aquilo e esperar que soubesse a Chá. Chai sabia a Chai. Era uma das lições da Índia. Não pré-conceber as coisas. Aprecia-las como elas são. Suponho que sempre que nos encontramos em frente a algo novo começamos logo a fazer paralelismos com as coisas que já conhecemos. Lá não funciona.

Portanto agora bebia Chai. E sempre que o empregado me via dizia “Chai Banana” e ria-se muito. E lá me trazia as coisas num pratinho mais o mini gato que ia à procura para me dar. E eu lia, sentada nos almofadões à volta do pátio, comia bananas e bebia Chai, enquanto os franceses jogavam xadrez.

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Não havia obrigações, só fazíamos o que queríamos, quando queríamos. Todas as horas eram boas para comer ou dormir. E como toda a gente estava ali porque queria não havia nada parecido com frustração. Imaginem um sítio com pessoas que não querem estar em mais lado nenhum, isso é Pushkar.

Decidimos ir jantar a um hotel chique. Era mais ou menos como o nosso mas com uma decoração caríssima. E pareceu-nos bastante presunçoso. Olhámos de lado para as pessoas e fomo-nos sentar a um cantinho. Comemos batatas gratinadas com grão e saí de lá cheia de rolos de papel higiénico roubados da casa de banho. Não se falou muito ao jantar e isso não soube mal. Quando voltámos ao nosso hotel já era tarde, despedimo-nos do Antoni porque o fim-de-semana tinha chegado ao fim e ele tinha que voltar para as aulas e para a namorada. Nessa noite já tinha quarto para dormir. Graças aos deuses, que número impar nunca foi o meu forte.

Lembro-me de pensar no estranho que eram estas relações de viagem. Intensas mas passageiras. Algumas como nuvens pesadas mas nem sempre chovendo. Não havia tempo para grandes tristezas, iam como vinham. Que todas as relações fossem assim.

Adieu Antoni. We will always have Pushkar, seu cafajeste!

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