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    76 CI NCI A H OJE vo l. 34 n 201

    H 350 ANOS CARTAS TROCADAS ENTRE PASCAL E FERMAT DAVAM INCIO TEORIA DA PROBABILIDADE

    A medida do acaso

    da cincia: os matemticos franceses Pierre de Fermat

    (1601-1665) e Blaise Pascal (1623-1662). Antoine

    Gombaud (1607-1684), um importante cavalheiro conhe-

    cido como

    Chevalier de Mr e tambm um jogador entu-

    siasmado, discutia com Pascal temas relacionados com a

    possibilidade de sucesso em jogos de cartas. Pascal, inte-

    ressado no assunto, correspondeu-se com Fermat. Nessas

    cartas, escritas em 1654 h 350 anos, portanto , encon-

    tramos o desenvolvimento do que hoje chamamos probabi-

    lidade finita.

    Evidentemente, outros nomes famosos esto ligados

    teoria da probabilidade. A primeira obra conhecida sobre

    o assunto De ludo aleae(Sobre os jogos de azar), do mdi-

    co e matemtico italiano

    Girolamo Cardano (1501-1576),

    publicada em 1663,

    quase 90 anos aps sua morte. Trata-

    se, na verdade, de um manual para jogadores: as discusses

    sobre probabilidade ocupam pequena parte da obra. O pri-

    meiro trabalho impresso sobre teoria das probabilidades,

    de 1657, de autoria do cientista holands Christian Huy-

    gens (1629-1695): um pequeno folheto intitulado De ratio-

    ciniis in ludo aleae(Sobre o raciocnio em jogos de azar).

    Outro italiano, o fsico e astrnomo Galileu Galilei (1564-

    1642), tambm se preocupou com eventos equiprovveisou aleatrios. Em um fragmento escrito provavelmente entre

    1613 e 1623, intitulado Sopra le scorpete dei dadi(Sobre

    os jogosde dados), Galileu responde a uma pergunta feita,

    acredita-se, pelo Gro Duque da Toscana: quando trs da-

    dos so jogados, embora tanto o nmero 9 quanto o nmero

    10 possam ser obtidos de seis maneiras distintas, na prti-

    ca, a chance de se obter 9 menor do que a se obter 10.

    Como se explica isso?

    As seis maneiras de se obter esses nmeros so: (1 3 6),

    (1 4 5), (2 3 5), (2 4 4), (2 6 2) e (3 3 4) para o nmero 10 e

    (1 2 6), (1 3 5), (1 4 4), (2 2 5), (2 3 4) e (3 3 3) para o nmero

    9. Em uma anlise prolixa, Galileu conclui que, em um

    jogo de trs dados como esse em questo, as permutaes

    das trades acima devem tambm ser consideradas, visto

    que, por exemplo, (1 3 6) e (3 1 6) so duas possibilidades

    distintas. Galileu, ento, calculou que, para se formar o

    nmero 9, existem de fato 25 possibilidades e, para o n-

    mero 10, so 27 possibilidades. Da, conclui-se que mais

    fcil obter o 10 do que o 9.

    Modernamente falaramos: a probabilidade de a soma

    ser 10 de 27/216, e a probabilidade de a soma ser 9 de

    25/216. Interessante notar que a experincia dos jogadores

    tanta que so capazes de perceber, na prtica, uma dife-

    rena de probabilidade da ordem de 1/108. Espantoso!

    Trs sculos e meio atrs, a cincia

    iniciou uma jornada intelectual cujo

    objetivo era medir o acaso e, com isso,

    exercer maior controle sobre

    os fenmenos naturais. Curiosamente,

    a teoria da probabilidade contou em

    sua origem com o estmulo de questes

    levantadas pela observao e prtica

    de jogos de azar. Para que esse corpo

    terico chegasse ao atual rigor

    de sua forma e linguagem,

    foi preciso primeiramente vencer,

    alm de obstculos filosficos,

    o hiato entre a teoria e a experincia.

    H

    350

    anos

    P ode-se dizer que a teoria da probabilidade comeano sculo 17com os trabalhos de dois grandes nomesMEMRIA

    Fermat (ao lado)e Pascal (abaixo)comearam aidealizar a teoriada probabilidadeem uma trocade cartas

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