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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO- COMPORTAMENTAL SIMONE DE BARROS A CONTRIBUIÇÃO DA TCC NO TRATAMENTO DO TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL São Paulo 2017

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CETCC- CENTRO DE ESTUDOS EM TERAPIA COGNITIVO-

COMPORTAMENTAL

SIMONE DE BARROS

A CONTRIBUIÇÃO DA TCC NO TRATAMENTO DO

TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL

São Paulo

2017

SIMONE DE BARROS

A CONTRIBUIÇÃO DA TCC NO TRATAMENTO DO

TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL

Trabalho de conclusão de curso Lato Sensu

Área de concentração: Terapia Cognitivo-Comportamental

Orientadora: Profa. Dra. Renata Trigueirinho Alarcon

Coorientadora: Profa. Msc. Eliana Melcher Martins

São Paulo

2017

Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a fonte.

Barros, Simone A Contribuição da TCC no Tratamento do Transtorno Dismórfico Corporal Simone de Barros, Renata Trigueirinho Alarcon, Eliana Melcher Martins – São Paulo, 2017. 39 f. + CD-ROM Trabalho de conclusão de curso (especialização) - Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC). Orientadora: Profª. Drª. Renata Trigueirinho Alarcon Coorientadora: Profª. Msc. Eliana Melcher Martins 1 Terapia cognitivo-comportamental, 2. Transtorno dismórfico corporal. I. Barros, Simone. II. Alarcon, Renata Trigueirinho. III. Martins, Eliana Melcher.

Simone de Barros

A Contribuição da TCC no tratamento do Transtorno Dismórfico Corporal

Monografia apresentada ao Centro de Estudos em

Terapia Cognitivo-Comportamental como parte das

exigências para obtenção do título de Especialista

em Terapia Cognitivo-Comportamental

BANCA EXAMINADORA

Parecer: ____________________________________________________________

Prof. _____________________________________________________

Parecer: ____________________________________________________________

Prof. _____________________________________________________

São Paulo, ___ de ___________ de _____

“Nunca desista daquilo que você não passa um dia sem

pensar” (Autor desconhecido)

DEDICATÓRIA

À minha família, minha fortaleza, que por

acreditar em mim, me incentivou, apoiou e

colaborou para que a realização do meu

sonho fosse possível.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, João e Alzira, pelo amor, incentivo e apoio

incondicional em todos os momentos de minha vida.

Aos meus irmãos, Helenice, Paula e Sérgio, pela motivação, força e auxílio. Vocês

são a minha inspiração!!

Ao meu filho Eduardo que, mesmo distante, continua sendo o motivo da minha luta

para me tornar uma pessoa cada vez melhor.

Aos coordenadores, Eliana Melcher Martins e Élcio Martins e todo o corpo docente,

em especial à orientadora Renata Trigeirinho Alarcon e Supervisora Lourdes Gurian,

por todo conhecimento e orientação oferecidos.

RESUMO

No cenário atual, a importância desmedida atribuída a uma estrutura corporal perfeita, constitui-se como um fator de grande risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos relacionados à aparência física ou distorções da imagem corporal. O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC), caracterizado por uma preocupação acentuada com alguma imperfeição mínima ou inexistente na aparência, comportamentos repetitivos e compulsivos e sofrimento significativo, apresenta grande incidência, mas ainda é pouco conhecido pela população geral e profissional da área da saúde. Por ser um transtorno de grande severidade, não somente pelo sofrimento e prejuízo que causa no funcionamento social, mas também pelo risco de suicídio, é imprescindível que seja divulgado e explorado, para que não passe despercebido, ou seja, subdiagnosticado, e possa ser corretamente tratado. Apesar das limitações que envolvem o TDC, a literatura pesquisada aponta que a Terapia Cognitivo-Comportamental e a farmacologia tem desempenhado um papel relevante no tratamento do transtorno, propiciando redução dos sintomas e até mesmo a completa recuperação.

Palavras-chave: Transtorno Dismórfico Corporal, Imagem Corporal, Terapia

Cognitivo-Comportamental, Dismorfofobia, Dismorfia.

ABSTRACT

In the present scenario, the immeasurable importance attributed to a perfect body structure constitutes a major risk factor for the development of psychiatric disorders related to physical appearance or distortions of body image. Body Dysmorphic Disorder, characterized by a marked preoccupation with some minimal or nonexistent flaws in appearance, repetitive and compulsive behaviors and significant suffering, presents great incidence, but is still little known by the general population and health professionals. Being a disorder of great severity, not only because of the damage it causes in social functioning, but also because of the risk of suicide, it is essential that it be disseminated and exploited, so that it does not go unnoticed or underdiagnosed, and can be properly treated. In spite of the limitations that surround the TDC, the researched literature points out that Cognitive-Behavioral Therapy and pharmacology have played an important role in the treatment of the disorder, providing reduction of symptoms and even complete recovery.

Keywords: Body Dysmorphic Disorder, Body Image, Cognitive-Behavioral Therapy,

Dysmorphophobia.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 OBJETIVO .............................................................................................................. 12

3 METODOLOGIA ..................................................................................................... 13

4 RESULTADOS ....................................................................................................... 14

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 33

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 36

9

1 INTRODUÇÃO

A hipervalorização da beleza, da aparência jovial e o culto ao corpo tem

ocupado um lugar de suma relevância na vida de muitos indivíduos atualmente.

Reforçada exaustivamente pela mídia – através das revistas, programas de TV,

produtos milagrosos, entre outros – e facilitada pela maior acessibilidade aos

tratamentos e procedimentos estéticos, a busca pela perfeição corporal assumiu

proporções avassaladoras, como se fosse requisito essencial para o sucesso e

felicidade.

Talvez por serem visivelmente mais evidentes e, consequentemente mais

exploradas, a Bulimia e a Anorexia são os transtornos comumente associados à

insatisfação corporal. Entretanto, tão perturbador e debilitante quanto ambos, é o

Transtorno Dismórfico Corporal.

O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) é caracterizado por uma excessiva

preocupação com um defeito físico imaginário ou uma anomalia minimamente

perceptível ou significativa para os demais (MENEZES et al., 2014). A percepção

distorcida da imperfeição identificada provoca sofrimento clinicamente relevante ou

prejuízo no convívio social, profissional ou em outras áreas da vida do indivíduo

(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION – APA, 2013).

Com o intuito de examinar, melhorar ou esconder o defeito reconhecido, o

indivíduo desenvolve comportamentos repetitivos ou atos mentais, que demandam

tempo e são difíceis de controlar (WILHELM, 2012).

O Transtorno Dismórfico Corporal teve sua primeira referência nas Histórias de

Herodotus sobre o mito da garota feia. Em 1891, as manifestações patológicas

relacionadas à aparência física tem sua primeira conceitualização com o termo

“Dysmorphophobia”, utilizado por Enrico Marselli. A partir de então, foi utilizado de

formas distintas: por Pierre Janet - l’obsession de la honte du corps - em 1903, por

Emil Kraeplin - dysmorphophobic syndrome – em 1909 e shubo kyofu por

pesquisadores japoneses (BODY DYSMORPHIC DISORDER FOUNDATION –

BDDF [on line]).

Por um longo período, a Dismorfofobia foi considerada sintoma de doenças

psiquiátricas tais como esquizofrenia, transtornos de humor ou de personalidade.

Apenas em 1980 foi inserida no “Manual de Diagnóstico e Estatística das Desordens

10

Mentais (DSM-III)” como Transtorno Somatoforme Atípico e atualmente é

classificada como uma manifestação do espectro do Transtorno Obsessivo

Compulsivo, devido aos pensamentos e comportamentos compulsivos (BONFIM et

al., 2016).

Apesar da prevalência e severidade deste transtorno, onde o funcionamento

psicossocial e a qualidade de vida são acentuadamente prejudicados e o índice de

suicídio é alto, estima-se que apenas 10% dos dismórficos recebam tratamento

adequado (MENEZES et al., 2014). Isto porque o TDC parece ser ainda pouco

conhecido entre o público e os profissionais da saúde.

Por existir a crença patológica de que seu defeito físico é real, os indivíduos

com TDC tendem a buscar principalmente consultórios de medicina estética,

dermatologistas ou dentistas. Quando procuram clínicos gerais ou

psicólogos/psiquiatras, geralmente não revelam seus principais sintomas devido à

vergonha de serem interpretados como sinônimo de trivialidade ou vaidade. Assim,

ao ocultarem as alterações patológicas no comportamento, demonstram apenas

sentimentos de excessiva tristeza e preocupação com a aparência física, sintomas

que são meramente subjetivos e interferem no diagnóstico. Se não especificamente

questionados pelo profissional, podem ser diagnosticados com Depressão ou Fobia

Social (VEALE, 2001).

Apesar de todas as limitações que envolvem o diagnóstico do TDC, existem

dois tipos de tratamento que, através de experiências clínicas e pesquisas, tem

demonstrado eficácia na diminuição dos sintomas e melhoria na qualidade e vida

dos indivíduos que apresentam o transtorno: medicamentos e terapia cognitivo-

comportamental (PHILLIPS, 2004).

Os medicamentos considerados de primeira linha no tratamento do TDC são os

inibidores de receptação de serotonina. Observou-se que os indivíduos que fazem

uso dos mesmos dedicam menos tempo obcecados com a aparência e tem um

controle maior sobre os comportamentos compulsivos. O sofrimento decorrente do

transtorno, os pensamentos suicidas, a raiva, o funcionamento diário e o insight

também apresentam melhoras significativas (FEUSNER et al., 2005).

No que se refere a tratamento psicológico, a Terapia Cognitivo-

Comportamental (TCC) é a única que apresenta resultados fundamentados em

pesquisa (PHILLIPS, 2017).

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O conceito de estrutura “biopsicossocial” é utilizado pelo TCC na compreensão

e determinação dos aspectos relativos à psicologia humana, entretanto, o foco

principal são os fatores cognitivos da psicopatologia, uma vez que estes são

considerados determinantes nas emoções, comportamentos e fisiologia

apresentados por um indivíduo (BAHLS; NAVOLAR, 2004).

Assim sendo, durante o processo terapêutico, os pensamentos e as crenças

nucleares disfuncionais que os sustentam (ideias sobre si, outras pessoas e o

mundo construídas durante a infância) são identificados, analisados e testados,

através da aplicação de técnicas e conceitos, de modo a desenvolver um

processamento de informação mais realista e funcional. Técnicas comportamentais e

de ativação emocional também são utilizadas (BECK, 2013).

No caso do Transtorno Dismórfico Corporal, os pensamentos relativos à

aparência, as emoções negativas (principalmente a vergonha e ansiedade)

provenientes dos mesmos e os comportamentos compulsivos utilizados para

neutralizá-las são abordados e, através de técnicas tais como Reestruturação

Cognitiva, Exposição e Prevenção de Respostas e Readaptação Perceptual, são

modificados.

A escolha do tema deu-se em função da ênfase colocada na beleza na cultura

atual, da falta de informação e divulgação sobre o Transtorno Dismórfico Corporal,

das limitações existentes no que se refere ao diagnóstico e, consequentemente, ao

tratamento apropriado para o controle dos comportamentos patológicos e o alívio do

sofrimento individual.

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2 OBJETIVO

Este trabalho teve como objetivo pesquisar o Transtorno Dismórfico Corporal

e analisar a contribuição da Terapia Cognitivo-Comportamental no tratamento do

mesmo.

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3 METODOLOGIA

O estudo foi realizado por meio de revisão bibliográfica de artigos obtidos nas

bases de dados Scielo, Bireme, Pubmed, Medline e outros encontrados no Google

Acadêmico, assim como periódicos e livros referentes ao assunto.

Foram utilizadas as palavras-chave Dismorfofobia, Transtorno Dismórfico

Corporal, Imagem Corporal, Terapia Cognitivo-Comportamental e suas

correspondentes em inglês, Dysmorphophobia, Body Dysmorphic Disorder, Body

Image e Cognitive Behavioral Therapy.

Critérios de Inclusão: trabalhos referentes ao Transtorno Dismórfico Corporal

e sobre a abordagem da TCC no quadro clínico do mesmo.

Critérios de Exclusão: trabalhos relativos a outras abordagens ou focados no

subtipo muscular conhecido como Vigorexia.

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4 RESULTADOS

A imagem corporal é a representação mental que um indivíduo faz de seu

corpo, delineada por aspectos fisiológicos, cognitivos e sociais, assim como pelo

reflexo dos desejos, atitudes emocionais e interação com os outros (PEREZ et al.,

2013).

É através do corpo que “as experiências se cruzam e se articulam, criando

uma ordem e uma hierarquia segundo as necessidades e circunstâncias que regem

a existência do indivíduo na sociedade” (SANTOS et al., 2013). A diversidade moral

e cultural da sociedade em relação à percepção e utilização do corpo também atua

como fator significativo na maneira como o indivíduo o define e nos comportamentos

necessários para que haja interação e adaptação ao meio em que vive (SANTOS

et al., 2013).

A preocupação com o corpo humano, não somente em seus aspectos

funcionais, mas também estéticos, está presente desde a Antiguidade. Há relatos de

que, na Grécia Antiga, a beleza física, assim como um intelecto desenvolvido, era

extremamente valorizada, tanto que, em determinada localidade, os recém-nascidos

que apresentassem alguma deficiência física ou mental, ou fossem considerados

fracos, podiam ser eliminados. Apesar de existir uma motivação militar para esta

prática, o ideal de padrão físico estava subjacente (KARRER, [on line]).

A importância concedida à forma física sofreu variações significativas ao

longo dos séculos. Na idade Média, com a hegemonia da Igreja Católica, o culto à

estética corporal e exposição do corpo, mesmo nas artes, foram proibidos, já que o

dualismo entre corpo, como fonte de pecado, e alma, da salvação, preponderava.

Os padrões artísticos da Antiguidade, da celebração do corpo e da beleza física,

foram resgatados apenas no período Renascentista. Entre os séculos XIX e XX,

programas de treinamento objetivando saúde e eficiência física começaram a se

propagar, mas, aos poucos, os cuidados com o corpo tornaram-se uma preocupação

predominantemente estética (KARRER, [on line]).

No contexto histórico cultural atual, a preocupação com a imagem corporal

transformou-se em um fator moral de extrema relevância. A ênfase nos ideais de

corpo perfeito, beleza e juventude desencadeou uma busca desenfreada pela

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transformação da aparência, como se fosse algo crucial e determinante para a

obtenção da felicidade e realização pessoal. E a mídia assume um papel

preponderante nesta cultura. Primeiramente porque, impulsionada pelo capitalismo,

coisifica e comercializa o corpo como objeto de adoração. Ao veicular

exaustivamente a imagem do corpo desejável, seja através de revistas, internet ou

TV, interfere na capacidade individual de autoavaliação e transforma singularidades

em inadequação. Adicionalmente, o mercado da estética, que está em constante

desenvolvimento, oferece os mais variados produtos e serviços que prometem

soluções para cada parte específica do corpo (VERAS, 2010).

Dietas alimentares, programas de atividades físicas, cirurgias plásticas

estéticas, métodos mantenedores, restauradores e até mesmo transformadores da

forma física, entre outros recursos disponíveis, quando utilizados de forma saudável,

podem ser benéficos para a autoestima e alívio de certos desconfortos emocionais.

Entretanto, quando se tornam algo obsessivo, que compromete o equilíbrio afetivo,

cognitivo e comportamental, transformam-se em quadros psicopatológicos ou

psiquiátricos (VERAS, 2010).

Dentre os quadros geralmente associados à insatisfação corporal, os

transtornos alimentares, tais como a Bulimia e a Anorexia, são os mais conhecidos.

Entretanto, tão perturbador e debilitante quanto ambos é o Transtorno Dismórfico

Corporal (TDC).

O TDC caracteriza-se por uma preocupação obsessiva com um defeito

corporal inexistente, que causa um sofrimento significativo e um impacto negativo no

funcionamento psicossocial, redução da qualidade de vida e até o suicídio (BRITO

et al., 2014).

4.1 – Histórico

Apesar de estar sendo pesquisado por pouco mais de vinte anos, o

Transtorno Dismórfico Corporal teve sua primeira referência nas Histórias de

Herodotus sobre “o mito da garota feia”. Por não aceitar a aparência da filha, a

família levava a mesma diariamente ao Templo de Phoebus com o intuito de dissipar

a falta de beleza e atrativos (MENEZES et al., 2014).

Entretanto, as manifestações patológicas relacionadas à aparência física tem

sua primeira conceitualização em 1891, através do termo Dysmorphophobia,

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utilizado pelo médico psiquiatra italiano Enrico Marselli. Derivado da palavra grega

dysmorphia, o termo fazia referência ao medo da feiura, especificamente na face

(BONFIM et al., 2016).

Em 1903, o psiquiatra francês Pierre Janet faz menção a Dismorfofobia,

utilizando-se do termo l’obsessionde la honte du corps, que significa “obsessão de

vergonha do corpo”. Posteriormente, em 1909, o psiquiatra alemão Emil Kraeplin,

considerando essa condição como uma neurose compulsiva, a denomina como

Dysmorphophobic Syndrome e pesquisadores japoneses, de shubo-kyofy

(CONRADO, 2009).

O caso mais famoso de TDC foi descrito em 1918 por Freud e,

subsequentemente, por Brunswick. O “Homem dos Lobos”, assim denominado por

Freud, apresentava uma extrema preocupação com o nariz (BDDF [on line]).

Em 1970, no primeiro artigo sobre Dismorfofobia publicado em inglês, esta foi

descrita não como medo de tornar-se feio, como a etimologia da palavra sugere,

mas sim como “uma convicção irracional de ter se tornado anormal, acompanhada

do temor da reação das outras pessoas” (SILVA et al., 2013).

Por um longo período, a Dismorfofobia foi considerada sintoma de doenças

psiquiátricas tais como Esquizofrenia, Transtornos de Humor ou Personalidade. Em

1980, somente quase um século após a descrição oferecida por Marselli, é que foi

inserida no Manual de Diagnóstico e Estatística das Desordens Mentais (DSM-III)

como Transtorno Somatoforme Atípico, sem nenhum critério diagnóstico (BDDF [on

line]).

No ano de 1987, o sufixo fobia foi eliminado e o transtorno passou a ser

denominado Body Dysmorphic Disorder, recebendo critérios diagnósticos e

classificado como um transtorno somatoforme (AMERICAN PSYCHIATRIC

ASSOCIATION - APA, 1987).

Atualmente o TDC não é mais classificado como uma das manifestações dos

Transtornos Somatoformes, mas sim como uma manifestação do espectro do

Transtorno Obsessivo Compulsivo, devido aos pensamentos e comportamentos

compulsivos presentes (BONFIM et al., 2016).

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4.2 – Critérios Diagnósticos

De acordo com o DSM-V (APA, 2013), os critérios diagnósticos para o

Transtorno Dismórfico Corporal são:

A. Preocupação com um ou mais defeitos ou falhas percebidas na aparência física que não são observáveis ou que parecem leves para os outros. B. Em algum momento durante o curso do transtorno, o indivíduo executou comportamentos repetitivos (p. ex., verificar-se no espelho, arrumar-se excessivamente, beliscar a pele, buscar tranquilização) ou atos mentais (p. ex., comparando sua aparência com a de outros) em resposta às preocupações com a aparência. C. A preocupação causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. D. A preocupação com a aparência não é mais bem explicada por preocupações com a gordura ou o peso corporal em um indivíduo cujos sintomas satisfazem os critérios diagnósticos para um transtorno alimentar.

4.3 – Características Clínicas

O TDC é caracterizado por uma percepção distorcida da imagem corporal,

que leva o indivíduo a ter preocupações irracionais sobre um defeito imaginário na

aparência ou em relação a uma sutil imperfeição identificada (BONFIM et al., 2016).

Normalmente, os defeitos ilusórios ou mínimos estão concentrados na região

da cabeça e no rosto e podem referir-se à escassez de cabelos; assimetria no

formato do rosto; desproporção de determinadas partes da face como tamanho do

nariz, boca, olhos, lábios ou dentes; excesso de pelos faciais, rugas, acne,

telangiectasias, alterações na cor dos dentes ou da pele, como palidez ou rubor,

edemas, entre outros (MENEZES et al., 2014). Entretanto, qualquer parte do corpo

pode ser foco de preocupação, tais como mamas, genitais, glúteos, abdômen,

braços etc., e podem reunir também diversas áreas simultaneamente. Às vezes, a

queixa é extremamente vaga, sendo definida apenas como um sentimento de feiura

generalizada (OLIVEIRA et al. [on line]). Tais preocupações estão frequentemente

associadas ao medo da rejeição, baixa autoestima, vergonha, sentimentos de

desvalia ou desamor (PHILLIPS, 2004).

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4.4 – Características Comportamentais

A grande maioria dos indivíduos com TDC desenvolve uma série de

comportamentos característicos para reduzir a ansiedade e outras emoções

dolorosas. São comportamentos repetitivos, que se assemelham à rituais, tais como

comparação com os outros, cumprimento de rotinas elaboradas para cuidar da

aparência (pentear-se ou lavar-se repetidamente), busca de confirmação acerca do

defeito, inspeção constante da deformidade e uso do espelho. Comportamentos de

esquiva, incluindo evitação do espelho ou superfícies refletoras, alteração na postura

com o intuito de esconder ou desviar a atenção do defeito percebido, evitação de

situações públicas, eventos sociais e contato físico também são observados

(MENEZES, et al., 2014).

Existem ainda estratégias de camuflagem, que são elaboradas de acordo com

a região identificada como imperfeita. A seleção cuidadosa e minuciosa de cores e

características das roupas, acessórios e penteados, bem como a preocupação

desmedida com o ângulo do perfil, cabeça baixa, uso das mãos e evitação do sorriso

são algumas a serem mencionadas (BRITO et al., 2014). Tais comportamentos são

denominados comportamentos de segurança, pois exercem a função de reduzir ou

evitar emoções dolorosas ou prevenir que algo de ruim aconteça, como ser

humilhado ou envergonhado (BJORNSSON et al., 2010).

Os indivíduos com sintomas mais graves de TDC, na tentativa de desviar a

atenção e a preocupação com a própria aparência, tendem a apresentar

comportamentos impulsivos, colocando em risco à própria saúde. São

comportamentos heteroagressivos ou autoagressivos, tais como agressão ao

cirurgião, o uso e abuso de substâncias químicas, endividamento devido à aquisição

desmedida de produtos destinados à aparência, exercícios físicos excessivos,

desejo obsessivo de submeter-se a procedimentos estéticos e cirúrgicos e tentativa

de suicídio (BRITO et al., 2014).

Outros comportamentos extremos associados são o skin picking

(dermatilomania), tricotilomania e os denominados DIY (do it yourself), que

consistem em tentativas de alterar, de forma dramática, o defeito percebido. O uso

de super cola, esparadrapo e pregadores de roupa para afinar o nariz, tentativas de

realizar a própria cirurgia e a exposição excessiva do corpo a tipos de bronzeamento

natural e artificial também são observados (BRITO et al., 2014).

19

As preocupações excessivas, intrusivas e indesejadas consomem tempo

significativo (em média 3 a 8 horas por dia) e geralmente são difíceis de controlar ou

resistir (PHILLIPS, 2004). Estas, associadas aos comportamentos repetitivos,

comprometem as atividades diárias do indivíduo e, consequentemente, causam

prejuízos significativos nas áreas pessoal, social e ocupacional (RAMOS, 2004).

O prejuízo psicossocial está presente em praticamente todos os casos e

pode variar de moderado (por exemplo, esquiva de algumas situações sociais) até o

extremo incapacitante (por exemplo, ficar recluso em casa). Esquivar-se de eventos,

ocasiões e contextos sociais, em que preocupações e sentimentos aversivos

possam ocorrer, resulta em isolamento e depressão, o que prejudica seriamente o

funcionamento social (PEREZ et al., 2013).

O desempenho acadêmico e ocupacional também é comprometido, uma vez

que os pensamentos, comportamentos e a insegurança em ser visto diminuem a

concentração e produtividade (PHILLIPS, 2004).

4.5 – Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

O TDC está comumente associado à timidez, medo de rejeição, ansiedade,

esquiva social, humor deprimido, neuroticismo, perfeccionismo e baixa autoestima,

bem como sintomas de vergonha, desvalia e desamor (PHILLIPS, 2004).

Os insights referentes às crenças do TDC podem variar de bom até

ausente/delirante, onde o indivíduo está convicto de que sua aparência é anormal e

o defeito realmente existe. Além disso, a maioria apresenta ideias ou delírios de

referência, acreditando que são alvo de atenção especial ou ridicularização por parte

dos outros em função de sua aparência (APA, 2013).

4.6 – Etiologia

A etiologia do TDC é ainda pouco conhecida, uma vez que estudos

especificamente destinados a esta questão são escassos. Entretanto, pesquisas

realizadas até então, em algumas áreas como: genética, neuroanatomia,

neuropsicologia, farmacologia, entre outras, apresentam resultados que contribuem

como hipóteses preliminares na elucidação do processo etiológico mais provável

ligado aos sintomas do TDC (FEUSNER et al., 2008).

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4.6.1- Genética e Hereditariedade

Os padrões de hereditariedade observados evidenciam o desempenho de

fatores genéticos como relevantes na etiologia do TDC. Dentre os portadores de

TDC, 8% tem algum membro familiar com esse diagnóstico durante a vida, o que

representa 4 a 8 vezes a prevalência na população geral (APA, 2013).

Um estudo familiar realizado demonstrou que o TDC compartilha

hereditariedade com o Transtorno Obsessivo Compulsivo, uma vez que 7% dos

pacientes com TDC tem algum familiar de primeiro grau com TOC (SILVA et al.,

2013).

4.6.2 – Funcionamento Neurocognitivo

Estudos sobre o funcionamento do cérebro dos portadores de TDC

demonstraram resultados relativos ao funcionamento neurocognitivo. Uma das áreas

que apresenta anormalidade está relacionada à memória. Em um estudo, ao serem

solicitados a copiar e recordar um desenho complexo, os indivíduos lembraram-se

das partes mais específicas do mesmo, ao invés da estrutura como um todo, o que

indica possível deficiência na memória visual, que pode ser influenciada por

estratégias de organização pobre e marcada por um desequilíbrio entre o

processamento de informações locais e globais (LAI et al. [on line] ).

Esses resultados corroboram as observações clínicas de que indivíduos com

TDC focam excessivamente em características específicas de sua aparência, o que

reforça as preocupações com efeitos pequenos ou inexistentes (BJORNSSON et al.,

2010).

Outros estudos demonstraram que pacientes com TDC exibem um

processamento seletivo de ameaça e distração por sugestões emocionais em geral e

por palavras (ex: atratividade e beleza) e situações relacionadas às suas

preocupações atuais em particular (FEUSNER et al., 2008). Também apresentam

falhas em reconhecer expressões relacionadas às emoções, pois tendem a

identificar erroneamente expressões neutras como coléricas, assim como interpretar

cenários neutros como ameaçadores, quando reconhecidos como autorreferentes

(LAI et al. [on line]). Tal fato pode ser um indício do motivo pelo qual indivíduos com

TDC apresentam ideias ou delírios de referência, ou seja, pensamentos de que

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estão sendo julgados negativamente ou rejeitados por sua aparência, o que

consequentemente reforça suas preocupações relativas à crença de feiura e

indesejabilidade social (FEUSNER et al., 2008)

4.6.3 – Neuroquímica

Muitos estudos abertos e controlados, realizados a partir do uso de

medicamentos denominados inibidores de receptação de serotonina, resultaram em

diminuição dos sintomas do TDC em geral, reduzindo a frequência e severidade das

preocupações relativas à aparência, assim como auxiliando no alívio do stress

emocional, pensamentos suicidas e melhorando o insight em relação à doença. Tais

resultados, ainda que sugiram o envolvimento do sistema serotonérgico na

fisiopatologia do transtorno, não confirmam que pacientes com TDC possuem baixo

nível de serotonina ou que níveis anormais de serotonina causam TDC (LAI et al.

[on line]).

4.6.4 – Fisiopatologia

Diversos tipos de estudos têm demonstrado que os indivíduos com TDC

apresentam anormalidades no processamento visual. Utilizando-se da técnica de

Ressonância Magnética e alguns estímulos visuais especificamente definidos, o

padrão de ativação cerebral entre indivíduos saudáveis e indivíduos com TDC foram

comparados.

Alguns estudos do processamento visual de faces, direcionados à observação

da frequência espacial, foram realizados por meio da exposição de ambos os grupos

a fotografias das quais algumas foram digitalmente alteradas para remover altas e

baixas frequências espaciais, contendo assim, informações holísticas ou detalhadas,

respectivamente (LAI et al. [on line]).

Descrevendo os resultados de forma sucinta, observou-se que os

participantes com TDC apresentaram hiperatividade anormal do hemisfério cerebral

esquerdo, na rede de processamento facial, que inclui o giro temporal, parietal e

frontal inferior, assim como uma ativação anormal da amigdala, mediante imagens

de frequência espacial normal e baixa. A predominância da atividade cerebral do

hemisfério esquerdo sugere maior codificação e análise de detalhes em detrimento

22

ao processamento holístico (FEUSNER et al., 2010a ). Tais anormalidades podem

ser associadas às aparentes distorções perceptuais dos indivíduos com TDC, que

tendem a focar em detalhes especificamente aflitivos da aparência facial e perdem o

contexto da face como um todo (FEUSNER et al., 2008).

Um estudo realizado com imagens de casas demonstrou uma diminuição da

atividade das regiões do processamento visual secundário em resposta às imagens

de baixa frequência espacial, o que fornece evidências de um processamento

holístico anormal e sugere uma deficiência no processamento visual geral, que pode

contribuir com as distorções perceptivas (LAI et al. [on line]).

Outro aspecto do processamento visual em pacientes com TDC que tem sido

estudado refere-se à habilidade diferencial dos mesmos na percepção de falhas ou

assimetria facial. A percepção de distorções na imagem digital de suas próprias

faces, a detecção mais precisa das mudanças em traços estéticos de outras faces e

a facilidade em identificar outras faces que se apresentavam espacialmente

invertidas mais rapidamente que os grupos controle, indicam que indivíduos com

TDC tem uma sensibilidade aumentada em detectar detalhes, o que conduz os

mesmos a perceber defeitos que são leves ou imperceptíveis para os demais (LAI

et al. [on line]).

Alguns estudos foram realizados com o intuito de examinar a estrutura

cerebral, mas os resultados observados apresentaram pouca consistência entre si.

Existe alguma evidência de assimetria no volume do caudado – maior à esquerda –

e aumento do volume total de substância branca em relação a grupos controle, o

que pode contribuir para a sintomatologia apresentada (FORLENZA e MIGUEL,

2012 Cap. 21, Shavitt et al.).

4.6.5 – Fatores Socioculturais e Psicológicos

Pesquisas sobre fatores ambientais de risco para o desenvolvimento do TDC

são escassas e a maioria dos estudos apresentam limitações metodológicas.

Todavia, existem alguns aspectos da história de vida de indivíduos com TDC que

parecem ser comuns e poderiam ter relevância em seu desenvolvimento: altas taxas

de negligência e abuso sexual, emocional e físico durante a infância e bullying

(KREBS et al., 2017), educação rígida ou pais superprotetores, poucos amigos

durante a fase escolar; ganhos secundários e famílias em que se dá maior ênfase

23

em conceitos estereotipados de beleza e influências culturais (FEUSNER et al.,

2010b).

4.7 – Prevalência

Estudos epidemiológicos do TDC constataram a prevalência ponto de 2,4%

na população geral. TDC é comumente encontrado em consultórios clínicos, sendo 9

a 15% em dermatologia, 3 a 53% em cirurgia cosmética, 8% entre pacientes adultos

de ortodontia, 10% em pacientes que procuram cirurgia facial ou maxilofacial, 8 a

37% em indivíduos com TOC, 11 a 13% com Fobia Social, 26% com Tricotilomania,

14 a 42% com Depressão Maior Atípica e 48% em adolescentes (APA, 2013).

Tais estimativas, entretanto, podem não ser fidedignas pelo fato de que

muitos indivíduos com TDC, devido à vergonha de sua aparência e preocupação

exacerbada com a mesma, não comunicam seus sintomas ao médico.

4.8 – Dados Demográficos

A idade média do início do transtorno ocorre na adolescência (entre 16 e 17

anos), mas a idade mais comum de início é 12 a 13 anos, quando os sintomas

subclínicos geralmente começam. As preocupações subclínicas usualmente se

desenvolvem gradualmente, com aumento e diminuição dos sintomas, até atingir o

transtorno completo, ainda que existam possibilidades de início súbito e até mesmo

na idade adulta. O TDC parece ser crônico, embora uma melhora seja provável

quando tratado. A probabilidade de tentativas de suicídio, de apresentar maior

comorbidade e ter início gradual é mais frequente em adolescentes (APA, 2013).

Em relação ao gênero, observa-se que o TDC atinge o indivíduo do sexo

masculino e feminino com aproximadamente a mesma frequência (de 1:1 a 3:2) e as

características clínicas são similares. Entretanto, os homens tendem a apresentar

preocupação em relação ao tamanho dos músculos, cabelos e genitais e as

mulheres tem uma probabilidade maior de apresentar um transtorno alimentar

comórbido (AHMED, 2016 a).

Não existem dados indicativos de relação entre TDC e raças e culturas, mas

os valores e preferências culturais podem exercer influência sobre o conteúdo dos

sintomas até certo ponto (APA, 2013).

24

4.9 – Comorbidades

Fobia Social, Transtorno Obsessivo Compulsivo, transtornos relacionados ao

abuso de substâncias e Transtorno Depressivo Maior são comórbidas ao TDC,

sendo a última a mais comum, com o início geralmente posterior à manifestação do

mesmo (APA, 2013).

4.10 – Diagnóstico Diferencial

De acordo com Greenberg et al. (on line), para que o paciente receba

tratamento adequado e tenha a possibilidade de melhoria, é importante que o TDC

não seja erroneamente diagnosticado como qualquer dos transtornos abaixo:

- Transtorno Obsessivo Compulsivo: quando as preocupações e

comportamentos repetitivos focam somente na aparência, TDC deve ser

diagnosticado;

- Transtornos Alimentares: quando um indivíduo de peso normal preocupa-se

com o peso ou em ser gordo e não se encaixa nos critérios diagnósticos para um

transtorno alimentar, TDC deve ser diagnosticado. Entretanto, preocupações com o

peso podem ocorrer no TDC. Em caso e comorbidade, ambos devem ser tratados;

- Transtorno de Ansiedade de Doença: os indivíduos com TDC não se

preocupam em ter ou adquirir uma doença grave e não apresentam níveis

particularmente elevados de somatização;

- Transtorno Depressivo Maior: diferentemente do Transtorno Depressivo

Maior, o TDC é caracterizado por uma proeminente preocupação com a aparência e

comportamentos repetitivos em excesso. Porém, o Transtorno Depressivo Maior e

os sintomas depressivos parecem ser secundários ao sofrimento e ao prejuízo

causado por esse transtorno;

- Transtorno de Ansiedade: ansiedade social e evitação estão presentes nas

fobias sociais, agorafobia e transtorno de personalidade evitativa, porém no TDC são

ocasionados pela vergonha e constrangimento em relação ás falhas percebidas na

aparência;

- Tricotilomania e Dermatilomania (skin picking): quando a remoção de pêlos

ou o ato de causar ou agravar lesões na própria pele tiver como intenção melhorar

os defeitos percebidos na aparência, TDC deve ser diagnosticado;

25

- Transtornos Psicóticos: diferentemente dos transtornos psicóticos, as

crenças delirantes são sobre a aparência;

- Síndrome de Referência Olfativa: preocupação focada na crença de emitir

um odor desagradável não é um sintoma do TDC.

4.11 – Avaliações e Diagnóstico

O TDC, apesar de sua prevalência e severidade, ainda recebe

frequentemente um diagnóstico errôneo ou até mesmo passa despercebido. Um dos

fatores que parece estar relacionado à ocorrência de tal fato é o conhecimento

restrito que, tanto o público como os profissionais da área da saúde, possuem

acerca do transtorno (VEALE, 2001).

Muitos dos indivíduos com TDC não procuram ajuda e aqueles que assim o

fazem tendem a consultar, em primeira instância, dermatologistas ou cirurgiões

estéticos. Entretanto, quando buscam o auxílio de um clínico geral, psicólogo ou

psiquiatra, geralmente não revelam espontaneamente suas preocupações relativas à

aparência, seja por tentar ativamente escondê-las, por vergonha ou

constrangimento, ou devido à presença de um insight pobre. A omissão dos

sintomas, associada ao conhecimento limitado do qual os profissionais dispõem,

pode resultar em uma classificação equivocada dos sintomas do TDC em outras

desordens que são comorbidades comuns, tais como Depressão ou Transtorno de

Ansiedade (KREBS et al., 2017).

A falha no diagnóstico pode ser extremamente perigosa, pois os pacientes

estão em crescente risco de suicídio ou de repetidas intervenções cirúrgicas para

corrigir os defeitos imaginários (AHMED, 2016 a).

Apesar destes desafios diagnósticos, existem algumas ferramentas que

auxiliam na avaliação e diagnóstico preciso do TDC (International OCD Foundation,

PHILLIPS, 2017):

- Body Dysmorphic Disorder Questionnaire (BDDQ): composto por quatro

itens, baseados nos critérios diagnósticos do DSM-IV, utilizado para avaliação;

- Structured Clinical Interview for DSM-IV (SCID): instrumento breve e

semiestruturado, administrado pelo médico (O SCID para DSM-V ainda não está

disponível);

- BDD Diagnostic Module; similar ao SCID;

26

- Body Dysmorphic Disorder Examination (BDDE): entrevista clínica

semiestruturada, composta por 34 questões, utilizada para avaliar presença e

severidade de um sintoma característico do TDC;

- BDD – YBOCS: instrumento semiestruturado, composto por 12 itens,

utilizado para investigar a sintomatologia relacionada à obsessão e compulsão nos

pacientes com TDC. Por ser de longa duração e exigir treinamento especializado

para aplicação, não é muito viável para o uso em consultório (RAMOS; YOSHIDA,

2012);

- The BDD Symptom Scale (BDD – SS): instrumento de auto-avaliação, criado

para diferenciar, para cada grupo de sintomas, o número de sintomas comprovados

e a severidade dos mesmos (AHMED, 2016);

- Brown Assessment of Beliefs Scale: entrevista semiestruturada,

administrada pelo médico, composta por sete itens através dos quais os delírios em

TDC e outras desordens que são caracterizadas por falsas crenças, são acessados

(PHILLIPS, 2017) .

4.12 – Tratamento

O tratamento do Transtorno Dismórfico Corporal pode incluir intervenções

farmacológicas, Terapia Cognitivo-Comportamental e outras intervenções

psicossociais um bom funcionamento social (AHMED, 2016 b).

4.12.1 – Medicação para o TDC

A categoria os medicamentos considerada de primeira linha no tratamento do

TDC são os chamados inibidores de receptação de serotonina (SRI). São

medicamentos antidepressivos que auxiliam na redução do sofrimento das

compulsões, na frequência e intensidade das obsessões referentes ao defeito

percebido e ainda melhora o insight (FEUSNER et al., 2005).

Atualmente, não existem medicações específicas para o tratamento da TDC

que tenham a aprovação da FDA (Food and Drug Association) e pesquisas sobre

outras medicações são limitadas, mas estudos e experiências clínicas sugerem que

SRIs são seguros e efetivos para a maioria dos indivíduos com TDC. Em algumas

pessoas, os sintomas desaparecem completamente com a administração de SRIs,

27

mas caso a resposta ao medicamento não seja o suficiente, aumento da dose ou

tentativa com outro medicamento são recomendados (International OCD Foundation,

PHILLIPS, 2017).

4.12.2 – Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)

A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma vertente da psicoterapia,

proposta e desenvolvida pelo psiquiatra americano Dr. Aaron Tempkin Beck e

colaboradores no início da década de 60 que, apesar de utilizar o conceito da

estrutura “biopsicossocial” na determinação e compreensão dos fenômenos relativos

a psicologia humana, constitui-se como uma abordagem que focaliza o trabalho

sobre os fatores cognitivos da psicopatologia (BECK, 2013).

Seu princípio básico é de que as representações dos eventos internos e

externos, e não o evento em si, determinam as respostas emocionais e

comportamentais, as quais refletem formas idiossincráticas de processar

informações e representar o real. Assim, tem como objeto de estudo principal a

natureza e a função dos aspectos cognitivos, ou seja, o processamento de

informação, que é o ato de atribuir significado a algo (WRIGHT et al, 2008).

Um dos principais objetivos do processo terapêutico cognitivo-

comportamental é identificar e corrigir as distorções cognitivas que estão afetando a

parte emocional e comportamental do indivíduo e, a partir daí, desenvolver modos

eficientes que façam com que o mesmo possa enfrenta-los. As técnicas cognitivas

utilizadas são as que procuram verificar os pensamentos que são automáticos, testá-

los e depois fazer as devidas substituições das distorções cognitivas, enquanto que

as comportamentais são utilizadas para modificar os comportamentos inadequados

que estão relacionados aos distúrbios apresentados no momento (BECK, 2013).

4.12.2.1 – Terapia Cognitivo-Comportamental para o TDC

O modelo da Terapia Cognitivo-Comportamental do TDC abrange os

aspectos biológicos, psicológicos e socioculturais do desenvolvimento e manutenção

do transtorno e baseia-se em experiências clínicas e pesquisas que demonstram

que indivíduos com TDC focam excessivamente em pequenos detalhes de sua

aparência ao invés do conjunto. Adicionalmente, superestimam o significado e

28

importância da imperfeição identificada e são propensas a interpretar pequenos

defeitos como grandes defeitos pessoais. Tais interpretações autodestrutivas afetam

a autoestima e promovem sentimentos negativos, os quais o indivíduo procura

neutralizar através de rituais e comportamentos de evitação. Visto que tais

comportamentos reduzem temporariamente os sentimentos dolorosos, eles são

reforçados e mantém as crenças desadaptativas e as estratégias de enfrentamento

(HARTMANN et al. [on line]).

Por ser uma terapia focada nos pensamentos (cognições), que tem como

pressuposto que os mesmos são responsáveis pelas emoções, comportamentos e

percepção do mundo, a TCC tem demonstrado ser de grande valia no tratamento do

TDC e é o único tratamento psicológico legitimado por pesquisas (GREENBERG [on

line]).

O processo terapêutico tem início com uma avaliação do TDC e sintomas

relacionados, através do questionamento direto e específico sobre as preocupações,

pensamentos, comportamentos e deficiências (HARTMANN et al. [on line]).

Com a orientação do terapeuta e o auxílio de uma ckecklist com o nome das

diferentes partes do corpo, o indivíduo identifica as áreas de insatisfação, explica o

que acredita ser defeituoso em cada parte, como gostaria que fossem e o nível de

sofrimento que causam, proporcionando ao terapeuta uma visão mais clara das

preocupações. Posteriormente, busca o significado pessoal ou hipóteses acerca das

imperfeições (ex: o indivíduo atribui ao defeito em seu nariz o significado de que vai

ficar sozinho e sem amor) e identifica a emoção dominante associada ao

pensamento a respeito das mesmas. As suposições obtidas são utilizadas na

reestruturação cognitiva e experiências comportamentais (VEALE, 2001).

Comportamentos característicos, tais como o uso do espelho, camuflagem e

outros já anteriormente mencionados, também devem ser identificados e explorados,

pois são de grande importância para a terapia e para a construção de experimentos

comportamentais para testar as crenças. Atenção especial também deve ser

concedida ao grau de ansiedade social e evitação, uma vez que, dependendo da

natureza das crenças, indivíduos tendem a evitar situações públicas ou sociais ou

relações íntimas. Assim, uma avaliação minuciosa deve ser realizada e o grau de

angústia ou ansiedade, vivenciado quando recursos tais como comportamentos de

segurança ou uso do álcool não estão presentes, classificados numa escala de 0 a

100. Comportamentos de segurança contribuem para a inabilidade em refutar

29

crenças e promovem o uso do espelho para constatar a efetividade da camuflagem,

portanto devem ser abordados para que os indivíduos possam aprender a enfrentar

situações públicas sem os mesmos (VEALE, 2001).

É importante ressaltar que, em consultório, o TDC muitas vezes não é

detectado, visto que indivíduos sentem-se envergonhados ou constrangidos em

revelar os sintomas. Portanto, deve-se atentar a indícios tais como aparência (ex:

cicatrizes devido ao skin picking), ideias ou delírios de referência (ex: os outros falam

de mim devido ao meu defeito), ataques de pânico (ex: ao olhar-se no espelho),

comportamentos (ex:camuflagem), depressão, abuso de substâncias, ansiedade

social, ideação suicida e reclusão domiciliar (HARTMANN et al. [on line]).

Técnicas de Entrevista Motivacional, desenvolvidas por William R. Miller e

Stephen Rollnick e adaptadas para o uso em TDC, devem ser incorporadas quando

o paciente demonstrar relutância em tentar a Terapia Cognitivo-Comportamental ou

crenças altamente delirantes em relação à aparência. Empatizar com a angústia

relacionada à imagem corporal (ao invés de questionar a validade das crenças),

empregar o questionamento socrático, discutir as discrepâncias entre os sintomas e

objetivos do paciente também são medidas importantes a serem adotadas pelo

terapeuta (HARTMANN et al. [on line]).

Após a avaliação e definição dos sintomas, o terapeuta deve proporcionar ao

paciente uma psicoeducação. A psicoeducação é a ferramenta ou procedimento que

tem como característica fornecer ao paciente dados a respeito de seu diagnóstico

(no caso o TDC), ilustrar conceitos que são fundamentais para a estruturação da

TCC, impulsionar o processo de aprendizagem, melhorar a eficácia da terapia e

auxiliar no desenvolvimento de habilidades para modificar cognições, controlar os

estados de humor e fazer mudanças comportamentais produtivas. O terapeuta pode

utilizar de todos os recursos técnicos e didáticos disponíveis, sejam recursos

audiovisuais, artísticos, manuais, ou outros que a sua criatividade permitir (WRIGHT

et al, 2008).

Inicialmente, o terapeuta deve oferecer informações acerca do TDC, tais

como a diferença entre imagem corporal e aparência, sintomas comuns e

prevalência (HARTMANN et al. [on line]). Adicionalmente, deve explicar o ciclo

obsessivo-compulsivo, onde os pensamentos criam emoções aflitivas e, para aliviar

ou prevenir tais emoções, o paciente desenvolve comportamentos compulsivos, que

por sua vez reforçam a associação entre os pensamentos intrusivos relativos ao

30

defeito percebido e os sentimentos negativos sobre a aparência (FEUSNER et al,

2005).

A partir de então, terapeuta e paciente desenvolvem um modelo

individualizado do TDC, baseado nos sintomas apresentados (padrões de

pensamento e comportamentos que mantém o transtorno) e incluindo teorias sobre

os fatores biológicos, psicológicos e socioculturais que contribuíram para o

desenvolvimento dos problemas relacionados à imagem corporal. Explorar os fatores

que estão presentes na vida atual do paciente que contribuem na manutenção das

preocupações com a imagem corporal, incluindo os desencadeadores de

pensamentos negativos, interpretação dos mesmos, reações emocionais, estratégias

de enfrentamento desajustadas, também assume um papel relevante no

delineamento do tratamento (HARTMANN et al. [on line]).

O principal objetivo da TCC é auxiliar o paciente na identificação dos

pensamentos contraproducentes, desenvolver crenças mais flexíveis e,

consequentemente, modificar comportamentos e emoções (GREENBERG et al. [on

line]).

Estando o paciente comprometido e engajado no processo terapêutico e

disposto a tentar alternativas, o terapeuta pode escolher uma variedade de

estratégias, dentre as quais se destacam: reestruturação cognitiva, exposição e

prevenção de respostas, readaptação perceptual e prevenção de relapsos (AHMED,

2016b).

4.12.2.2 – Estratégias terapêuticas para o TDC

- Reestruturação Cognitiva: identificação e avaliação dos pensamentos e

crenças disfuncionais e erros cognitivos e desenvolvimento de pensamentos

alternativos. O terapeuta apresenta ao paciente as distorções cognitivas mais

comuns no TDC, entre as quais estão Pensamento Dicotômico, onde os eventos e

pessoas são vistos em termos de tudo-ou-nada (ex: meu nariz torto me faz horrível)

e Leitura Mental, onde imagina-se que sabe tudo o que os outros pensam, sem ter

evidências suficientes (ex: as pessoas me acham feio). A partir de então, incentiva o

paciente a monitorar seus pensamentos baseados na aparência e identificar as

distorções cognitivas presentes. Após desenvolver tal habilidade, o paciente, em

conjunto com o terapeuta, dá início à avaliação de seus pensamentos disfuncionais,

31

examinando as evidências que os comprovam ou refutam, assim como a utilidade

dos mesmos. (HARTMANN et al. [on line]).

A partir desta visão mais racional, terapeuta e paciente desenvolvem

pensamentos mais realistas e práticos que substituam, de forma sistemática, os

irracionais e não adaptativos (FEUSNER et al., 2005).

Subjacentes aos pensamentos disfuncionais encontram-se as crenças

nucleares (ideias sobre si, os outros e o mundo, desenvolvidas no início da infância

e consideradas como verdades absolutas) e, para que haja progresso e manutenção

de ganhos em longo prazo, é necessário que sejam identificadas e abordadas.

Geralmente, elas emergem durante o processo de reestruturação, mas podem

também ser identificadas através da Técnica da Seta Descendente, que consiste no

questionamento constante, por parte do terapeuta, sobre as consequências das

crenças do paciente até que a crença nuclear ou central seja alcançada (ex: tenho o

nariz enorme e torto e, se as pessoas perceberem, não vão gostar de mim, logo não

sou digno de amor). As crenças centrais mais comuns no TDC incluem “não sou

digno de amor” ou “sou inadequado”. As crenças centrais negativas podem ser

abordadas através da reestruturação cognitiva, experimentos comportamentais e

estratégias tais como a Torta da Autoestima, que auxilia o pacientes a ampliar a

base de sua autoestima através da visualização de aspectos que não estão

relacionados à sua aparência (HARTMANN et al. [on line]).

- Exposição e Prevenção de Respostas (ERP). A ERP é uma técnica na

qual o paciente é exposto à situações que causam emoções negativas –

principalmente vergonha e ansiedade – com o intuito de habituá-lo gradativamente à

esses sentimentos (FEUSNER et al., 2005), auxiliar na redução das compulsões e

diminuir gradualmente a esquiva (AHMED, 2016).

Inicialmente, paciente e terapeuta discutem o papel que os comportamentos

compulsivos e de esquiva, identificados durante a construção do modelo

individualizado do TDC, assumem na manutenção do transtorno. Em seguida,

ambos desenvolvem uma hierarquia das situações evitadas e causadoras de

ansiedade, da mais leve à mais intensa. Por serem desafiadoras, é importante que o

terapeuta tenha um fundamento consistente para as exposições e legitime a

ansiedade do paciente, enquanto o guia e incentiva em direção à mudança

(HARTMANN et al. [on line]).

32

Durante as exposições, o paciente deve permanecer nas situações até que o

sentimento negativo diminua em até 50% em relação ao nível inicialmente atribuído,

sem realizar quaisquer comportamentos compulsivos (FEUSNER et al., 2005).

No que se refere aos comportamentos compulsivos, o paciente deve ser

incentivado a monitorar a frequência e o contexto em que eles surgem e, em

seguida, utilizar-se de estratégias de resistência e redução dos mesmos até eliminá-

los (HARTMANN et al. [on line]).

- Readaptação Perceptual. Pacientes com TDC possuem um relacionamento

complexo com o espelho e superfícies refletoras, pois oscilam entre evitar ver o seu

reflexo ou ficar horas examinando minuciosamente as áreas consideradas

imperfeitas, o que mantém as crenças e os comportamentos disfuncionais. Além

disso, pacientes tendem a envolver-se em um diálogo interno carregado de emoções

e críticas. Através da Readaptação Perceptual, o paciente aprende a descrever o

seu corpo, enquanto mantém uma distância social do espelho, de uma maneira

objetiva e desprovida de críticas, é estimulado a abster-se de rituais tais como tocar

as áreas do corpo que o desagradam ou olhar fixamente para as mesmas, e é

incentivado a expandir sua atenção para aspectos do ambiente no qual se encontra

(HARTMANN et al. [on line]).

- Prevenção de Recaída. O tratamento termina com a Prevenção de Recaída

focada no reforçamento das habilidades adquiridas durante o processo terapêutico e

com o auxílio no desenvolvimento de planos futuros. É importante assegurar o

paciente de que o TDC é geralmente crônico e que, caso haja uma recaída, isso não

significa um fracasso (FEUSNER et al., 2005).

O terapeuta recomenda que o paciente disponibilize algum tempo

semanalmente para rever suas habilidades e definir novos objetivos e oferece

sessões ocasionais com o intuito de acessar o progresso e rever habilidades que se

fizerem necessárias (HARTMANN et al. [on line]).

33

5- DISCUSSÃO

A valorização cultural da beleza tem assumido proporções estratosféricas na

sociedade atual. Em um contexto, saturado de estímulos visuais que divulgam

enfática e exaustivamente o ideal e corpo perfeito e onde inúmeras opções de

tratamentos estéticos se configuram disponíveis e acessíveis, observa-se uma

distorção dos valores considerados como responsáveis pela felicidade e realização

pessoal e uma busca ilimitada pela transformação. Tais exigências pautadas neste

conceito refletem não somente na autoestima de um indivíduo, mas também são

fatores de extremo risco para a saúde física e mental.

Ainda pouco conhecido e explorado, o Transtorno Dismórfico Corporal

caracteriza-se por uma preocupação obsessiva com alguma imperfeição sutil ou

imaginada na aparência e pela alta frequência de comportamentos compulsivos,

desenvolvidos para aliviar a vergonha ou ansiedade, que causam sofrimento

significativo, prejuízo no funcionamento social, redução da qualidade de vida e até o

suicídio.

Embora tenha sido conceitualizado há muito tempo, o TDC foi reconhecido

pela Associação Americana de Psiquiatria somente em 1980, quando foi

caracterizado como um transtorno somatoforme, e deslocado para a categoria do

espectro Obsessivo-Compulsivo em 2013. Contudo, sua etiologia ainda é obscura.

Os resultados obtidos a partir de algumas pesquisas realizadas com o intuito

de elucidar essa questão sugerem que fatores genéticos e neuroquímicos,

anormalidades no processamento visual e alterações na estrutura cerebral possam

estar subjacentes aos sintomas do TDC. Fatores ambientais tais como negligência e

abuso infantil e bullying, assim como características de personalidade e fatores

sociais, são também considerados relevantes no desenvolvimento do transtorno.

Tais resultados, entretanto, constituem apenas hipóteses e pesquisas adicionais são

necessárias.

Limitações também estão presentes no que diz respeito à incidência.

Constatou-se um alto índice do transtorno na população geral, em clínicas que

oferecem procedimentos estéticos, indivíduos que apresentam outros transtornos

psiquiátricos como TOC, Fobia Social, Depressão Maior Atípica e Tricotilomania,

assim como em adolescentes. Essas estimativas, entretanto, podem não ser

34

fidedignas devido à relutância dos indivíduos em comunicar os seus sintomas e a

escassez de conhecimento por parte dos profissionais.

No que diz respeito ao tratamento, a administração de inibidores de

recaptação de serotonina e a Terapia Cognitivo-Comportamental tem se destacado

por sua eficácia na redução dos sintomas e até mesmo por promover uma completa

recuperação.

35

6- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ampliar e divulgar o conhecimento sobre o Transtorno Dismórfico Corporal é

imprescindível, sobretudo nos dias atuais, onde a aparência física recebe destaque

e incontáveis tratamentos estéticos são possíveis.

Uma preocupação excessiva com um efeito mínimo ou imaginado na

aparência é um forte indício o transtorno e deve ser minuciosamente investigado.

Trivializar ou subdiagnosticar esse sintoma pode incorrer, tanto na acentuação do

mesmo, como em sérios prejuízos sociais, redução da qualidade de vida e até o

suicídio.

Infelizmente, pesquisas relacionadas ao TDC ainda são escassas, mas

através da literatura consultada, observou-se que a farmacologia e a Terapia

Cognitivo-Comportamental tem demonstrado eficácia no tratamento do mesmo.

Identificar os pensamentos contraproducentes e desenvolver crenças mais

flexíveis, modificar comportamentos e atenuar emoções são os objetivos principais

da TCC e é, através da utilização de técnicas como Reestruturação Cognitiva,

Exposição e Prevenção de Respostas, Readaptação Perceptual, Prevenção de

Recaída e Psicoeducação que isso se faz possível.

36

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ANEXO

Termo de Responsabilidade Autoral

Eu Simone de Barros, afirmo que o presente trabalho e suas devidas partes

são de minha autoria e que fui devidamente informado da responsabilidade autoral

sobre seu conteúdo.

Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de

Conclusão de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental, sob

o título “A Contribuição da TCC no Tratamento do Transtorno Dismórfico

Corporal”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de Estudos em Terapia

Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e coorientador de quaisquer

ônus consequentes de ações atentatórias à "Propriedade Intelectual", por mim

praticadas, assumindo, assim, as responsabilidades civis e criminais decorrentes

das ações realizadas para a confecção da monografia.

São Paulo, __________de ___________________de______.

_______________________

Assinatura do (a) Aluno (a)