Cérebro social

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Questões acerca do livro “O Cérebro Social” de Michael S. Gazzaniga 1- O autor defende que o cérebro humano está organizado em unidades modulares. Diga, de acordo com a perspectiva do autor, em que consiste este processo? De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis, para a nossa organização consciente. Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir comportamentos reais.

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Questões acerca do livro “O Cérebro Social” de Michael S. Gazzaniga

1- O autor defende que o cérebro humano está organizado em unidades

modulares. Diga, de acordo com a perspectiva do autor, em que consiste este processo?

De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades

modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades

que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma

única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e

diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a

que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em

fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas

actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais

conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e

extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em

paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis,

para a nossa organização consciente.

Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir

comportamentos reais.

A compreensão de que a mente possui uma disposição modular, insinua que parte do

nosso comportamento deveria ser considerado volúvel e que um certo comportamento poderia

não ter procedência nos nossos processos de pensamento consciente. Mas nós, seres humanos,

contrariámos isso, pois estamos providos de uma infinita habilidade de conceber hipóteses

que abonem o porquê de adoptarmos semelhantes comportamentos. Em suma, a nossa espécie

possui, no cérebro, uma componente peculiar, a que Gazzaniga chamou de “intérprete”.

Mesmo que um comportamento produzido por um desses módulos possa ser expresso a

qualquer instante durante as nossas horas de vigília, este intérprete especial adapta-se e

momentaneamente produz uma teoria para explicar a razão por que esse comportamento se

verificou.

Esta competência especial, que é uma componente do cérebro situada no hemisfério

esquerdo dominante dos seres humanos destros, vem demonstrar o quanto a realização de

comportamentos é relevante para a formação de muitas das teorias sobre o eu. A dinâmica que

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existe entre os módulos da nossa mente e o nosso módulo intérprete do hemisfério esquerdo é

responsável pela formação de crenças humanas.

À medida que ficamos mais sensíveis à intensidade do modo como o comportamento

guia as nossas convicções, mais conscientes nos tornamos da importância da estrutura social

abrangente.

Há portanto eventuais estímulos do meio exterior que podem deixar a sua marca num

dos módulos que, por sua vez, despoleta um comportamento. Uma vez posto em prática, esse

comportamento vai ter que ser interpretado, e a nova opinião sobre o valor da fidelidade que

daí resulta pode ter complicações em harmonizar-se com outros valores.

As investigações sobre o cérebro humano aludem para a hipótese de que os nossos

cérebros estão organizados de tal forma que muitos sistemas mentais coexistem naquilo que

pode ser considerado uma coligação. Há zonas identificáveis do cérebro humano que são

responsáveis por determinados raciocínios que levam a que a nossa espécie seja a única capaz

de fazer inferências que validem a faculdade única de interpretar o nosso múltiplo eu. Estas

interpretações podem, com efeito, originar crenças. A posse de crenças é um mecanismo que a

nossa espécie usa para deixar de estar incluída numa básica relação de tipo reflexo com as

gratificações e as penalizações da sociedade. Ao mesmo tempo, quando o nosso cérebro

interpretativo, que gera os nossos conjuntos pessoais de crenças, é sujeitado pela extensão e

pela assiduidade destas gratificações, corre o risco de ser vítima de novos sistemas de crenças

que se formam em consequência de ter tido que analisar reflexivamente os comportamentos

adoptados.

Relacionada com estes princípios de funcionamento do cérebro está a percepção

individual, que os humanos possuem, de que agem com livre arbítrio.

A convicção de que agimos livremente é tão forte que tem que resultar de uma

característica básica da organização do cérebro humano. A teoria de Gazzaniga é de que esta

certeza se inclui na teoria modular do psiquismo. Dado que estamos constantemente a

interpretar comportamentos produzidos pelo nosso eu, chega-se à conclusão, em larga medida

falaciosa, de que possuímos livre arbítrio.

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2- O autor apresenta no livro duas perspectivas acerca do modo de

funcionamento do cérebro e do modo como este reage à experiência. Nomeie-as e

explique-as suscintamente.

Watson defendia a teoria da tábua rasa, que afirma que todos os cérebros iniciam a

vida mais ou menos identicamente. E os seus pressupostos de vista baseavam-se em duas

considerações principais. A primeira era a de que a manipulação das contingências

(possibilidades) de recompensa pode constituir um poderoso determinante do comportamento,

especialmente nos animais. A segunda era a de a interacção com o meio ambiente confere ao

sistema nervoso a sua estrutura.

No entanto nesta altura as neurociências estavam a dar apenas os 1ºs passos e os

cientistas ignoravam em larga medida como o cérebro era constituído. De facto pode-se dizer

que Watson estava com efeito a ser encorajado pela noção biológica contemporânea de que o

cérebro era infinitamente moldável.

Nos inícios dos anos 30 a opinião vigente nas neurociências era a de que a função

antecede a forma, por ex: de que um braço teria que ser utilizado como baço antes de os

neurónios que o inervavam se tornarem específicos para aquele objectivo.

Os trabalhos de Sperry vieram ajudar a esclarecer as coisas. Ele demonstrou que as

intrincadas redes neuronais que gerem e controlam as extremidades são definidas durante o

desenvolvimento e são cuidadosamente formadas e constituídas sob o controlo de

mecanismos genéticos. As funções destes circuitos ficam estabelecidas muito cede na vida e

as suas capacidades são rigorosamente delimitadas e definidas nessa ocasião. A forma como o

cérebro adopta características psicológicas depende ñ só dos acidentes de percurso

relativamente ao meio exterior, como também da sua própria estrutura interna.

A ponta de lança da investigação de Sperry era a teoria de que os nervos se

desenvolvem de maneiras específicas até chegarem ao seu local de destino. Os nervos ao

encaminharem-se para um determinado membro foram já centralmente especificados por

intermédio de mecanismos controlados geneticamente.

O modelo de Sperry é de que a forma procede a função. (Actualmente existem várias

teorias sobre qual é exactamente o mecanismo biológico por intermédio do qual um nervo

sabe em que direcção se deverá desenvolver. A identificação do mecanismo ainda não foi

feita). Todavia não há duvida que o desenvolvimento do sistema neuronal se processa sob um

controlo genético rigoroso. A organização individual do cérebro encontra-se igualmente

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submetida a um rígido controlo genético e não é facilmente perturbada por influências do

meio exterior.

Contudo é tb importante saber que um sistema biológico em desenvolvimento, como o

sistema nervosos, está submetido a um rigoroso, embora não inteiramente completo, controlo

genético. Um número considerável de influências ambientais exercem-se sobre o organismo,

forças externas da mãe e forças do meio exterior.

3- Segundo Gazzaniga, a arquitectura básica do cérebro só pode ser modificada

na fase inicial da sua vida ou em termos negativos. Para comprovar esta afirmação

foram efectuadas experiências. Nomeie e explique duas delas.

Uma das experiências efectuadas está relacionada com o sistema visual de gatos.

David Hubel e Torsten Wiesel descobriram que existe uma organização do córtex visual

idêntica, quer no gato adulto, quer no recém-nascido, que consiste em proporções

predeterminadas de células que respondem a uma orientação particular da luz e em zonas

periféricas escuras presentes no campo de visão real do gato. Algumas das células reagem a

linhas inclinadas para a esquerda, outras para a direita, algumas na vertical, outras na

horizontal e ainda outras em orientações que se encontram dentro desses limites. Outras

características incluem o número de células que recebem informação de um só olho, por

oposição a ambos os olhos. Subsequentemente, foi demonstrado por vários investigadores que

existe um período de tempo durante as primeiras semanas de vida do gatinho em que a

exposição a um meio visual anormal pode alterar a proporção de células destinadas a detectar

linhas com uma orientação específica. Assim, se o gato recém-nascido só vir linhas com uma

orientação vertical durante as três primeiras semanas de vida, haverá mais células a reagir a

linhas dessa orientação quando o gatinho é testado às dez semanas de vida. Linhas ou

contornos apresentados em orientações não verticais tenderão a não suscitar quaisquer

reacções. Se se efectuarem estas manipulações ambientais às dez semanas, por exemplo, elas

parecem não exercer qualquer efeito na organização normal do sistema visual. O período

crítico está passado.

A outra experiência foi realizada com um pássaro macho jovem, que aprende o seu

canto com o macho adulto. Se o pássaro macho jovem for exposto ao canto antes de perfazer

o primeiro ano de idade, aprenderá a melodia correcta. Se só a ouvir depois de ter completado

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um ano, nunca mais será capaz de a aprender. O período crítico para a aprendizagem do canto

do pássaro é de um ano, o que se assemelha ao período de aprendizagem da linguagem e do

discurso nos seres humanos. Se uma criança não adquirir a linguagem até uma dada altura,

esta nunca se irá desenvolver normalmente.

4- Grande parte da actividade cognitiva humana tem lugar no córtex e, para que

este funcione com eficácia, a mielina tem de estar presente. Explique o que entende por

processo de mielinizaçao.

1.º é necessário dar uma breve explicação sobre o que é a mielina.

A mielina é uma substância que envolve os neurónios e forma em cada um deles uma

bainha – bainha de mielina. Esta bainha altera a microestrutura do neurónio e permite-lhe

transmitir os seus impulsos eléctricos mais eficazmente. Na sua ausência, o neurónio fica

vagaroso (algo que constitui um factor importante quando se está a investigar um aspecto

intrigante do desenvolvimento do cérebro como é a mielinização do córtex cerebral).

Assim sendo, para que a actividade cortical funcione com eficácia a mielinização tem de

estar presente.

Posto isto, pode dizer-se que a mielinização é a formação de uma bainha de mielina em

redor dos prolongamentos axonais das células nervosas.

O processo de mielinização ocorre lentamente, sendo que, algumas regiões do cérebro só

ficam totalmente completadas na 3.ª década da vida.

(O processo de mielinização é um processo lento e só atinge a maturidade naquelas áreas

do cérebro que são as principais responsáveis pelo conhecimento, mais ou menos na altura em

que uma competência específica se torna possível numa criança.)

Além disso, e a propósito deste assunto, o autor compara o cérebro a um computador. E

tal como um computador possui uma capacidade finita e não consegue processar mais

informação do que a que as suas unidades de memória comportam, também o organismo em

desenvolvimento só consegue executar uma tarefa psicológica quando o hardware neuronal

que possui se encontra em funcionamento.

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5- Porque é que o cérebro em desenvolvimento é tão delicado que pode ser

refreado precocemente devido a uma interrupção ou lesão?

O cérebro em desenvolvimento inerva todas as áreas, o que quer dizer que existe

projecções entre as diferentes áreas do cérebro. estas projecções num cérebro jovem podem

ser sete vezes mais densas das que existem num cérebro adulto.

lesões cerebrais, seja em que hemisfério for, durante a infância provocam um

decréscimo marcado no qi verbal. esta conclusão é retirada da comparação entre o nível de qi

de uma criança que sofreu um lesão dos seus irmãos que nada sofreram.

as lesões na cabeça com consequências a nível do qi verbal são mais significativas se

estas ocorreram antes de um ano de idade. lesões que ocorrem após este período têm menos

consequências a nível do qi verbal.

estas observações vieram desvendar a grande complexidade que está inerente ao

desenvolvimento do cérebro.

o cérebro muito imaturo está a atravessar um estádio dinâmico tão delicado que

qualquer agressão ao seu padrão de crescimento “normal” pode provocar, ou podemos até

mesmo afirmar, provoca mesmo, uma ruptura no seu potencial ascendente. se por um lado, a

lesão ocorre numa fase em que se assume que o cérebro está mais habilitado a auto-reparar-se,

por outro, este é simultaneamente um período em que o cérebro está mais vulnerável a

qualquer desenvolvimento normal. da mesma forma, as sequelas de qualquer lesão que ocorra

em qualquer altura após o primeiro ano de idade têm menos a ver com a inteligência geral e

mais com as competências específicas. isto então quer dizer, que numa idade mais prematura

as funções especializadas de cada hemisfério se estão a exprimir, e que ficam

irreparavelmente danificadas ou até mesmo perdidas na sequência duma lesão cerebral.

a ideia que daqui se retira, é que o cérebro é como se fosse um quadro constituído por

um mosaico de centros neuronais (como nos diz o próprio autor) que se interrelacionam

delicadamente num processo dinâmico durante os primeiros anos de vida. os sectores ou áreas

do cérebro que não são responsáveis pela gestão das capacidades cognitivas do adulto estão

muito activos a estabelecer estes processos cognitivos em áreas específicas do cérebro durante

o período de desenvolvimento.

o cérebro encontra-se num turbilhão de actividades. contudo tão depressa como

começa, esta actividade termina no momento que as capacidades específicas do adulto

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atingem o seu estádio final. após este sistema ter atingido a maturidade, muitas alterações a

nível da aprendizagem parecem ser restringidas.

após os primeiros anos de desenvolvimento, e por ocasião o surgimento da

adolescência do indivíduo, o cérebro fica neurologicamente constituído. os seus longos

circuitos de conexão transmitem informação de forma específica, e uma lesão nestes circuitos

provoca danos permanentes, não significando porém que uma recuperação é impossível.

contudo neste caso de lesões o que está em causa é o mecanismo de reparação. pensa-

se que as áreas não danificadas do cérebro comecem a regular o comportamento que está

perturbado ou foi apagado, normalmente através de uma nova estratégia comportamental.

então a reparação do cérebro não consiste em recuperar o tecido cerebral lesionado, mas sim

uma adaptação efectuada pelo tecido que não foi danificado. esta é a teoria “ materialista”.

6- São descritos estudos realizados sobre a dissociação cerebral em pacientes

com lesões do foro neurológico, que foram a base para a elaboração da teoria modular.

Refira do que se trata a dissociação cerebral.

Este termo de dissociação foi adoptado para descrever um procedimento cirúrgico no

qual são cortadas as conexões nervosas entre o hemisfério direito e o hemisfério esquerdo.

Estas cirurgias foram efectuadas primeiro em gatos e macacos por Sperry e Myers, em que

tinham como objectivo isolar os trajectos neuronais através dos quais a informação visual

apresentada a um dos hemisférios se integrava na que era apresentada ao outro, eles

pretendiam desvendar quais os percursos responsáveis por essa integração. Em 1940, um

Neurocirurgião William Van Wagenen, efectuou está cirurgia em 26 pacientes epilépticos,

através da operação pretendiam controlar quais queres futuras crises a um único hemisfério

cerebral, deixando o outro isento de crises e em controlo, de modo a que o paciente não

sofresse uma convulsão generalizada. O corpo caloso é seccionado em uma ou em duas fases.

Nas primeiras operações realizadas por Wagnen , a comissura anterior era a de desligar os

dois hemisférios, a actividade conclusiva que começava num dos hemisférios não se

propagaria ao outro, deixando assim um dos hemisférios isento de convulsões e em controlo

do corpo.

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7- Tendo em conta que um dos passos na dissociação cerebral consiste num corte

ao nível do corpo caloso, refira as implicações que esta ruptura suscita.

Antes de mais, julgo ser necessário definir corpo caloso. Segundo Gazzaniga, o

corpo caloso é, nos mamíferos a ponte que liga os dois hemisférios. É assim um

enorme feixe de fibras nervosas e que no caso de seccionamento cirúrgico do

cérebro é de fácil acesso. Segundo os estudos de Gazzaniga e Roger Sperry, estes

chegaram à conclusão que quando se divide o cérebro ou seja se secciona o corpo

caloso, os hemisférios não comunicam pois ficam separados, logo as funções da

linguagem se localizarem normalmente no hemisfério esquerdo, a pessoa só é

capaz de falar de coisas que o hemisfério esquerdo desconhece. Por exemplo: se se

mostrar à pessoa com o cérebro dividido estímulos que só vê no hemisfério direito,

esta não é capaz de o descrever verbalmente. Se se der ao hemisfério direito a

oportunidade de responder sem ter de falar, então comprova-se que o estímulo foi

registado. Se se introduzir na mão esquerda, que é a que envia informação sobre o

tacto ao hemisfério direito, alguns objectos, o paciente é capaz de identificá-los e

escolher o que faz par com uma imagem vista pelo hemisfério direito. Isto

significa que o hemisfério direito pode relacionar a percepção táctil de um objecto

com a lembrança de como o via momentos antes e escolher o objecto correcto. A

mão direita, pelo contrário, não pode fazer isto porque a sua informação sobre o

tacto vai para o hemisfério esquerdo que não viu o objecto.

Pode então concluir-se através das experiências realizadas que com o

seccionamento do corpo caloso, que liga os dois hemisférios origina 2 sistemas

mentais separados, cada um dos quais com a sua capacidade de aprender, recordar,

sentir emoções e funcionar.

8- Refira o primeiro caso clínico em que foi efectuada a primeira dissociação

cerebral e quais as consequências desta operação.

De acordo com Gazzaniga o cérebro do Homem está organizado em unidades

modulares e por essa modularidade entende-se que há no nosso cérebro diferentes unidades

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que operam em paralelo. Refere que a mente não é um todo indissolúvel, operando de uma

única maneira para resolver todos os problemas. Aquilo que se passa é que há muitas e

diferentes unidades específicas e identificáveis da mente que processam toda a informação a

que estão expostas. A ampla e rica informação que acomete ao nosso cérebro é dissociada em

fragmentos, sobre os quais diversos sistemas iniciam de imediato a trabalhar. Estas

actividades modulares funcionam com frequência independentemente dos nossos eus verbais

conscientes. Isto não significa que elas sejam “inconscientes” ou “pré-conscientes” e

extrínsecos à nossa aptidão de separar e entender. Serão antes, processos que se sucedem em

paralelo com o nosso pensamento consciente e que concorrem, de maneiras identificáveis,

para a nossa organização consciente.

Estas unidades modulares relativamente autónomas podem anular e produzir

comportamentos reais.

A compreensão de que a mente possui uma disposição modular, insinua que parte do

nosso comportamento deveria ser considerado volúvel e que um certo comportamento poderia

não ter procedência nos nossos processos de pensamento consciente. Mas nós, seres humanos,

contrariámos isso, pois estamos providos de uma infinita habilidade de conceber hipóteses

que abonem o porquê de adoptarmos semelhantes comportamentos. Em suma, a nossa espécie

possui, no cérebro, uma componente peculiar, a que Gazzaniga chamou de “intérprete”.

Mesmo que um comportamento produzido por um desses módulos possa ser expresso a

qualquer instante durante as nossas horas de vigília, este intérprete especial adapta-se e

momentaneamente produz uma teoria para explicar a razão por que esse comportamento se

verificou.

Esta competência especial, que é uma componente do cérebro situada no hemisfério

esquerdo dominante dos seres humanos destros, vem demonstrar o quanto a realização de

comportamentos é relevante para a formação de muitas das teorias sobre o eu. A dinâmica que

existe entre os módulos da nossa mente e o nosso módulo intérprete do hemisfério esquerdo é

responsável pela formação de crenças humanas.

À medida que ficamos mais sensíveis à intensidade do modo como o comportamento

guia as nossas convicções, mais conscientes nos tornamos da importância da estrutura social

abrangente.

Há portanto eventuais estímulos do meio exterior que podem deixar a sua marca num

dos módulos que, por sua vez, despoleta um comportamento. Uma vez posto em prática, esse

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comportamento vai ter que ser interpretado, e a nova opinião sobre o valor da fidelidade que

daí resulta pode ter complicações em harmonizar-se com outros valores.

As investigações sobre o cérebro humano aludem para a hipótese de que os nossos

cérebros estão organizados de tal forma que muitos sistemas mentais coexistem naquilo que

pode ser considerado uma coligação. Há zonas identificáveis do cérebro humano que são

responsáveis por determinados raciocínios que levam a que a nossa espécie seja a única capaz

de fazer inferências que validem a faculdade única de interpretar o nosso múltiplo eu. Estas

interpretações podem, com efeito, originar crenças. A posse de crenças é um mecanismo que a

nossa espécie usa para deixar de estar incluída numa básica relação de tipo reflexo com as

gratificações e as penalizações da sociedade. Ao mesmo tempo, quando o nosso cérebro

interpretativo, que gera os nossos conjuntos pessoais de crenças, é sujeitado pela extensão e

pela assiduidade destas gratificações, corre o risco de ser vítima de novos sistemas de crenças

que se formam em consequência de ter tido que analisar reflexivamente os comportamentos

adoptados.

Relacionada com estes princípios de funcionamento do cérebro está a percepção

individual, que os humanos possuem, de que agem com livre arbítrio.

A convicção de que agimos livremente é tão forte que tem que resultar de uma

característica básica da organização do cérebro humano. A teoria de Gazzaniga é de que esta

certeza se inclui na teoria modular do psiquismo. Dado que estamos constantemente a

interpretar comportamentos produzidos pelo nosso eu, chega-se à conclusão, em larga medida

falaciosa, de que possuímos livre arbítrio.

9- Quais as conclusões que se retiram relativamente às funções específicas de

cada hemisfério após a dissociação destes.

W.J. foi o 1º a revelar assimetrias interessantes naquilo que é designado por acto

visuo-espacial. Ao mostrar uma imagem a W.J. de um cubo e ao pedir-lhe que desenha-se. A

sua mão esquerda não teve qq problema em executar a tarefa. Mas já a mão direita se mostrou

incapaz de o fazer. O q nunca fora antes observado era a presença de uma função num dos

hemisférios paralelamente à sua ausência no outro.

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A descoberta mais relevante era a dissociação de competências entre os dois

hemisférios. Daqui Gazzaniga concluiu que o hemisfério esquerdo é dominante no que diz

respeito aos processos da linguagem e que o hemisfério direito é dominante em termos das

tarefas visuo-estruturais. No entanto nos anos seguintes este conceito sofreu uma revisão

radical. Levy e Sperry afirmaram que o hemisfério direito estava especializado em processos

holistas e que o esquerdo era necessário p processos analíticos. Contudo Bogen revelou-se

mais prudente na interpretação dessas mesmas novas experiências. Preferia a expressão

“apositivo vs proposicional”, querendo com isto significar que o hemisfério direito recebe

estímulos e apõe-nos, ou compara-os, com informação anterior, funcionando de uma forma

mais automática e directa.

Seja como for, Levy, Bogen, Travarthen e Sperry estavam convencidos de que as

diferenças entre os hemisférios direito e esquerdo eram reais e que deveriam ser entendidas à

luz do modo como tratavam, a informação.

Deste modo torna-se importante analisar as experiências que deram origem a estas

teorias. Numa das experiências utilizava-se aquilo a q se designa por figuras quiméricas. São

figuras com forma de duas meias-faces que, juntas, formam uma face completa, mas em que a

metade esquerda é o retrato da pessoa A e a metade direita o retrato da pessoa B. Indivíduos c

dissociação cerebral eram convidados a fixar um ponto no ecrã e então a figura quimérica era

projectada. Deste modo, o hemisfério esquerdo via a meia-face direita da pessoa B e o

hemisfério direito via a meia-face esquerda da pessoa A. Após a apresentação do estimulo,

pedia-se ao individuo que escolhesse, de um conjunto de faces, aquela que ele tinha visto.

Aquelas que eles seleccionavam eram, todas elas, as faces inteiras normais das meias faces.

Os resultados revelam que as faces apresentadas ao hemisfério direito eram

+frequentemente alvo de reacção do que aquelas que eram apresentadas ao esquerdo. Foi tb

comunicado que o hemisfério esquerdo dos indivíduos com dissociação cerebral revelava

grandes dificuldades em associar nomes às faces apresentadas durante a experência. Isto era

devido ao facto de o analisador das formas, que estava activo para este processamento de

estímulos, se encontrar no hemisfério direito e de o mecanismo de designação, localizado no

esquerdo, não conseguir coordenar as duas competências respectivas. Afirmavam igualmente

q qd o hemisfério esquerdo desses indivíduos era solicitado a descrever as faces, eles referiam

características especificas tais como se a figura tinha bigode ou usava óculos. Julgou-se que

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isto comprovava a natureza analítica do hemisfério esquerdo qd em comparação c a análise

holista fornecida pelo hemisfério direito.

No entanto, há várias outras interpretações possíveis deste tipo de experiência. O facto

de os indivíduos favorecerem os estímulos do hemisfério direito não significa

necessariamente que o hemisfério direito esteja a reagir mais afirmativamente devido à

existência de um analisador de formas especializado. A razão poderia ser a de que ele

impõem-se simplesmente pq é capaz de reagir a estímulos daqueles, dado que é por definição,

um sistema de competências marcadamente limitadas.

Em 2º lugar, a observação de que os pacientes tinham dificuldade em associar nomes a

rostos, carece totalmente de sentido. Bem como a observação de que a discrição das faces

efectuada pelo hemisfério era analítica.

Para que se obtivesse uma maior margem de segurança, através da comparação de

varias interpretações de dados, efectuaram se + experiências.

Os 1ºs estudos foram efectuados por Joseph LeDoux e gazzaniga. Com o caso de W.J.

poder-se-ia afirmar que as descobertas eram comprovativas-, em que a mão esquerda, q é, ao

nível motor, aquela que é mais controlada pelo hemisfério direito, especializado neste tipo de

tarefas, é + hábil em desenhar do q a não esquerda, maioritariamente comandada pelo

hemisfério esquerdo, ou o da linguagem.

Qd Sperry, Bogen e Gazzaniga inicialmente apresentamos estes resultados, a nossa

ideia era q a diferença residia +propriamente na excussão da tarefa. Havia algo de especial na

faculdade do hemisfério direito em captar uma imagem visual e em instruir o sistema motor

do cérebro sobre como desenhar a figura correspondente ou como dispor os blocos de modo a

estes condizerem com o diagrama. O hemisfério possuía qq capacidade de ligação senso-

motora q o esquerdo não tinha. Sentiam q não era uma questão de o hemisfério direito ser

superior em termos de percepcionar os próprios objectos.

Anos depois trabalhando com os pacientes de Dartmouth, LeDoux e Gazzaniga

fizeram a investigação necessária e os resultados vieram basicamente confirmar a noção de q

o hemisfério direito estava especializado em algo no âmbito da execução, mas que não era

superior em termos da simples apresentação dos estímulos visuais.

No caso de P.S. nos dias imediatamente a seguir á operação não se detectava

ascendência de um hemisfério sobre o outro. No entanto ao repetir-se os testes (estimulo

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quimérico) após 1ano, o hemisfério direito revelou-se + afirmativo ao longo desses testes e

deu a maior parte das respostas.

O mesmo resultado estava agora a ser detectado em grande nº de outros pacientes,

Gazzaniga pergunta-se pq?

O hemisfério esquerdo e o direito coabitam o mesmo crânio. No sistema nervoso

existe aquilo a que se chama “o percurso final comum”, um conceito que se refere ao grupo

de neurónios que partem do cérebro para inervar os braços e as pernas. Fazer corresponder

imagens de formas, faces e coisas semelhantes é algo que o cérebro direito consegue fazer.

Como regra não tem competência verbal. Assim, é estabelecido um acordo táctico: o

hemisfério esquerdo trata da linguagem e o direito executa as tarefas de correspondência mais

simples. Este tipo de solução comportamental pode induzir erradamente a pensar que as

formas de pensamento ou especialização dos hemisférios estão a ser atacadas qd, de facto não

estão.

Qt á generalização da observação informal de que os indivíduos c hemisférios

separados têm enormes dificuldades em associar nomes a rostos, conclui-se que tb isso não

passava de uma observação espúria. Em testes explicitamente efectuados p verificar se um

hemisfério tinha ou não mais dificuldade em fazer corresponder um nome a uma face, o

hemisfério esquerdo revelou ser tão capaz disso como o direito.

Em todo o caso continua a ver rumores persistentes de que pacientes c lesões do lado

direito sentem uma grande dificuldade de lembrarem-se de rostos normais que na maioria das

vezes se assemelham.

Num conjunto de estudos levados a cabo por Robin Yin, conclui-se que o hemisfério

direito desligado era excelente em detectar estes rostos, enquanto o desempenho do

hemisfério esquerdo se revelaria medíocre. Os pacientes V.P. e P.S. que possuíam

competência verbal tanto no hemisfério direito como no esquerdo, e J.W., que só a possuía no

hemisfério esquerdo, foram submetidos a testes neste âmbito. Em todos os pacientes o

hemisfério esquerdo executou esta tarefa imperfeitamente. Já o hemisfério direito considerou

este trabalho simples e efectuou-o bem.

A plasticidade do hemisfério direito aplicada a esta tarefa parece não estar presente na

percepção facial do hemisfério esquerdo. Este estudo parece confirmar a hipótese de que

existe, no hemisfério direito, um sistema especializado para controlar este tipo de

processamento de estímulos. Em pesquisas posteriores descobriu-se que esta aptidão especial

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não é especifica p os rostos em si mesmos, mas antes p os estímulos que ultrapassam a

capacidade do sistema verbal em descrever a sua natureza.

Robert Nebes e outros chegaram à conclusão de que o cérebro direito era superior em

termos de aprender informação visual, na medida que ele parecia ser capaz de sintetizar os

elementos das figuras com maior eficácia.

Existe vários problemas c estas interpretações. Uma critica é apresentada Pela

DªMilner e pelo se colega Taylor que descobriram que a mão esquerda era capaz de

reconstruir formas tácteis sem sentido c mt maior acuidade do que a direita. 2ºestes há uma

propensão natural do cérebro p que possibilita à mão esquerda processar informação táctil de

difícil verbalização melhor do que a mão direita.

LeDoux e Gazzaniga reproduziram estes resultados em alguns pacientes, e a

propensão para processar informação táctil não verbal parece ser uma propriedade real e

superior do hemisfério direito. Mas o q tb demonstraram era q a assimetria não estava na

apreensão perceptiva em si mesma. Assim sendo, se o teste fosse totalmente efectuado na

modalidade visual, não se detectariam quaisquer assimetrias. Ou seja se a imagem de uma das

figuras irregulares de arame fosse apresentada quer ao hemisfério esquerdo quer ao direito, qq

deles conseguia apontar p a figura de arame correcta.

Estes foram os resultados que obtiveram c alguns pacientes, no entanto houve casos

em q não se detectou qq assimetria fossem quais fossem as circunstâncias.

10- Será que todos os pacientes revelam o mesmo tipo de assimetria

esquerda/direita neste tipo de tarefas?

Nem todos os cérebros estão organizados da mesma maneira. O cérebro possui uma

natureza modular e portanto muita da investigação sobre a dissociação cerebral deveria ser

encarada como uma técnica para revelar essa modularidade. Ou seja, para o autor, o mais

importante não é que o hemisfério direito faça isto ou que o esquerdo faça aquilo. Para ele, é

sim extremamente importante que, ao estudar pacientes cujos hemisférios cerebrais estão

desligados, podem-se observar determinadas faculdades mentais isoladamente. Por

conseguinte, é evidente que existem assimetrias no processamento de informação. Alguns

hemisférios revelam a assimetria e outros não. Há investigadores que sugerem que ela é de

natureza perceptual, enquanto que outros afirmam que se encontra ligada a uma resposta mais

Page 15: Cérebro social

manual. O autor interroga-se se ela não será mais aparente do que real e utiliza uma metáfora

do foro informático: será que essas assimetrias reflectem uma diferença de software ou uma

diferença mais estrutural, ou seja, de hardware entre ambos os hemisférios? Em vez de

pensarmos que o hemisfério direito possui um módulo especializado para o processamento

dessa informação, pode acontecer que o hemisfério esquerdo, naqueles casos em que se

constata que a sua capacidade natural para codificar um estímulo não o está a conseguir fazer

correctamente, atribua mais recursos a esta tentativa e, em consequência, se concentre menos

na simples tarefa de atentar naquelas características base do estímulo que permitiriam uma

subsequente correspondência perceptiva. O hemisfério direito, que não possui um aparelho de

gerar hipóteses tão rico, investe todos os seus recursos na simples tarefa em mãos e, como

resultado, comparativamente com o hemisfério esquerdo, ganharia pontos no que diz respeito

à tarefa perceptiva apoiada pela memória. De acordo com o autor, esta interpretação do

fenómeno é a que consegue actualmente explicar praticamente todas as questões relativas à

dicotomia esquerda/direita.

11- Explique por que é que os casos dos pacientes J.W.; V.P. e J.S. são

considerados casos raros.

Segundo Gazzaniga, estes três seres humanos são extraordinários. Isto porque possuíam

competência linguística no hemisfério direito.

É preciso ter em conta que o hemisfério direito está encarregue de funções tais como por

exemplo: a formação de imagens, a percepção das relações espaciais, exploração visual e

espacial, (orientação espacial e topográfica), reconhecimento de rostos, a atenção.

Enquanto que o hemisfério esquerdo é responsável por exemplo: pela linguagem, leitura,

escrita, cálculo, memórias verbais.

PS sofre de epilepsia. O seu nível de inteligência era médio/baixo e revelou-se normal

em todos os testes antes de lhe ter sido feita a operação de dissociação cerebral.

Conseguia facilmente identificar a informação sensorial apresentada, quer no seu campo

visual esquerdo quer no direito. O mesmo não acontecia com a informação táctil dirigida,

quer à mão esquerda quer à direita.

Page 16: Cérebro social

(A informação auditiva não pode ser testada devido a uma perda de audição pré-

existente no ouvido direito.)

Após um mês da operação foram-lhe feitos novamente testes ao corpo caloso.

Todas as faculdades usuais estavam presentes, (tal como a especialização lateral para

desenhar cubos, dispor blocos e outras capacidades do hemisfério direito). E, enquanto o seu

hemisfério esquerdo conseguia expressar-se verbalmente acerca das suas experiências, não o

conseguia fazer relativamente ao que se passava no hemisfério direito.

No entanto, ele podia compreender a linguagem no seu hemisfério direito. Além disso,

PS conseguia executar ordens que tinham sido dadas ao hemisfério direito. Portanto, o seu

hemisfério direito revelava-se capaz de reagir a comandos verbais.

No caso VP, quando o autor a conheceu, já havia sido submetida à operação. Neste caso,

esta tinha sido efectuada em duas fases – primeiro a metade anterior do corpo caloso e depois

a metade posterior – (em que a metade anterior do corpo caloso fora seccionada

aproximadamente 10 semanas antes de o mesmo ser feito à metade posterior).

O seu hemisfério direito estava especializado em determinadas tarefas e o seu hemisfério

esquerdo não tinha conhecimento do que se passava no direito.

Tal como PS, VP possuía uma enorme competência linguística no hemisfério direito. VP

também conseguia executar ordens, embora a princípio não conseguisse falar a partir do seu

hemisfério direito, era capaz de escrever mensagens sobre a informação que era apresentada

ao seu hemisfério direito desligado.

JW é um outro caso referenciado pelo autor.

Tal como PS e VP, JW conseguia compreender a linguagem no seu hemisfério direito,

mas no geral não era tão competente (hábil). Apesar disto, ele apresentava todas as outras

características habituais da separação dos hemisférios.

Portanto, o que o autor concluiu com estes três casos foi que: após a intervenção

cirúrgica, é normal verificar-se que o hemisfério esquerdo continua a possuir as suas

faculdades de discurso. A informação apresentada ao campo visual apropriado ou os objectos

que são colocados na mão direita, tudo isto é identificado com a facilidade habitual.

Page 17: Cérebro social

Mas, à excepção destes casos apresentados (PS, VP e JW), a informação projectada no

hemisfério direito não obtém qualquer reacção. O hemisfério direito não possui a faculdade da

linguagem e, a par com isso, revela uma inactividade impressionante.

(Isto não significa que estes hemisférios direitos não possuam sistemas especializados.

Podem-nos ter, só que torna-se praticamente impossível demonstrar a sua existência num

sistema cerebral que é tão incapaz de reagir abertamente).

(Em testes efectuados a estes pacientes, sabia-se que a informação apresentada a um só

hemisfério do paciente ficava inacessível ao outro (e esta ideia foi tomada como modelo de

como a consciência procede com a informação gerada por um esquema mental inconsciente).

Numa experiência (feita a estes pacientes) foram dadas instruções ao hemisfério direito

para que produzisse uma determinada resposta. O hemisfério esquerdo observou a resposta,

mas não sabia porque ocorria. Depois perguntavam ao paciente porque tinha reagido como

reagiu, mas como só o hemisfério esquerdo sabia falar, a resposta verbal reflectia a

compreensão que este hemisfério tinha da situação. Por vezes o hemisfério esquerdo dava

explicações como se soubesse porque ocorria a resposta. O paciente atribuía explicações a

situações como se tivesse percebido introspectivamente a causa da resposta, quando não era

isto que acontecia.

O hemisfério esquerdo é confrontado com a tarefa de ter que explicar um comportamento

que não foi originado por si, mas sim pelo hemisfério direito dissociado.

Chegou-se então à conclusão que as pessoas podem fazer muitas coisas por razões sobre

as quais não estão conscientes, porque o comportamento produz-se mediante mecanismos

cerebrais que funcionam inconscientemente, e uma das principais tarefas da consciência é

fazer com que a vida do indivíduo seja coerente, criando um conceito do eu. Portanto, o ser

humano é normalmente impelido a interpretar comportamentos reais e a construir uma teoria

sobre a razão porque eles ocorrem.)

Page 18: Cérebro social

12- De que modo o hemisfério esquerdo interpreta as actividades iniciadas pelo

hemisfério direito?

O autor para tentar responder a esta questão, baseou-se em várias experiências que ele

próprio realizou, de entre elas vou explicar uma que é muito relevante para se saber o modo

como o hemisfério esquerdo interpreta respostas do hemisfério direito.

Não se solicitou ao hemisfério direito que fornece-se uma resposta real, isto é que não

executa-se um movimento realmente corporal. Em vez disso fornece-se uma lista de palavras

ao hemisfério direito, estas palavras são palavras que o paciente conhece e fazem parte da

vida deste. Em seguida pede-se ao hemisfério direito que numa escala de sete pontos

relativamente a preferência, que atribua um valor a cada palavra. Neste pré - teste a resposta

do hemisfério direito baseia-se em apontar para um conjunto de sete cartões onde se

encontram as sete opções. Rapidamente se notou que o hemisfério direito gostava mais de

umas palavras do que outras.

Numa outra fase do teste, não é permitida a resposta manual. Em seu lugar, o

hemisfério esquerdo tem que se exprimir verbalmente após cada palavra ter sido emitida para

o hemisfério direito e atribuir uma classificação de um a sete à palavra. Neste caso, o

hemisfério esquerdo não tem realmente conhecimento de qual a palavra apresentada. Quando

tenta adivinhar, fá-lo em relação a algum sentimento que é gerado pelo hemisfério direito e

possivelmente comunicado ao esquerdo através dos restantes percursos cerebrais. A avaliação

efectuada pelo hemisfério esquerdo, das palavras apresentadas ao hemisfério direito foi

praticamente idêntica à que tinha sido directamente dada pelo hemisfério direito. Esta

experiência veio revelar que um sistema mental independente, neste caso o hemisfério direito

consegue reagir emocionalmente a um estímulo. Ele atribuiu uma valência, ou valor a um

estímulo, e esse valor quer positivo, quer negativo, consegue ser comunicado ao sistema

verbal do hemisfério esquerdo, sem que no entanto, o hemisfério esquerdo consiga dizer que

estímulo foi aquele que desencadeou a resposta emocional específica.

Conclusão:

As inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral levam-nos, todas elas, a

concluir que o cérebro está organizado de forma modular e cada um dos módulos é capaz de

produzir comportamentos independentes. Uma vez emitidos esses comportamentos, o sistema

verbal do hemisfério esquerdo interpreta-os e elabora uma teoria sobre o seu significado.

Page 19: Cérebro social

O hemisfério esquerdo dominante está empenhado na tarefa de interpretar tanto os

nossos comportamentos mais evidentes como as reacções emocionais menos manifestas, que

são produzidos por estes módulos independentes mentais do nosso cérebro. Ele elabora teorias

sobre o porquê da ocorrência desses comportamentos e fá-lo devido àquela necessidade do

sistema cerebral em manter a coerência em todos os nossos comportamentos.

Para finalizar, podemos ainda dizer, que o cérebro está organizado em termos de

módulos de processamento independentes, e cada um deles gera comportamentos. Estes

comportamentos que tanto pode ser internamente executados como externamente orientados

são então interpretados por procedimentos especiais não linguísticos, normalmente presentes

no hemisfério esquerdo. O módulo «interprete» vai então comunicar a hipótese que formulou

acerca da relação causal entre os factos, aos centros de linguagem localizados também no

hemisfério esquerdo, ao qual chamamos de hemisfério «falador».

13- Diga a que conclusões chegou o autor após as inúmeras experiências em

pacientes com dissociação cerebral.

Chegou-se a conclusão que quando se divide o cérebro deixa de existir comunicação

entre os dois lados do cérebro, devido ao facto das funções da linguagem se localizarem

normalmente no hemisfério esquerdo, a pessoa só é capaz de falar de coisas que o hemisfério

esquerdo conhece.

Geralmente um paciente com dissociação cerebral consegue nomear a informação que

lhe é apresentada no campo visual direito, mas não quando ela é no esquerdo.

As inúmeras experiências em pacientes com dissociação cerebral leva-nos todas elas a

concluir que o cérebro está organizado de forma modular e que cada um dos módulos é capaz

de produzir comportamentos independentes. Uma vez emitidos esses comportamentos, o

sistema verbal do hemisfério esquerdo interpreta-os e elabora uma teoria sobre o seu

significado.

Page 20: Cérebro social

14- No livro, o autor apresenta um exemplo de um sujeito que ao fim de um dia

em que tudo parece estar a correr bem, acorda na manhã seguinte deprimido sem que

haja aparentemente qualquer razão para tal facto. Refira, de acordo com o autor, o

porquê desta mudança.

Como afirma Gazzaniga, este é um exemplo da vida quotidiana, segundo este o

cérebro mental está organizado em centenas ou até mesmo milhares de sistemas de

processamento modulares, e que esses módulos só conseguem habitualmente exprimir-

se através de actos reais e não de uma comunicação verbal, assim estes sistemas têm a

capacidade de recordar-se de acontecimentos, armazenar as reacções afectivas a esses

acontecimentos e reagir a estímulos associados a uma lembrança específica.

Gazzaniga explica esta mudança dizendo que um módulo não verbal foi de alguma

forma activado e em que as associações emocionais dos acontecimentos armazenados

nesse módulo foram comunicados ao sistema emocional do cérebro; pois todos os

seres humanos estão constantemente a ser condicionados no sentido de ter reacções

emocionais específicas, e os módulos do cérebro que armazenam, essa informação

podem ser activados e levados a exprimirem-se por diversas razões.

Assim neste caso especifico de depressão matinal de terça-feira é um humor negativo

que se sente, o que leva a que este comece a interpretar mais negativamente os

acontecimentos anteriores mesmo sendo neutros ou até mesmo positivos, como

resultado de ter que explicar essa disposição. Este caso, é um caso evidente de subtis

manipulações de humores e o modo como eles interagem para assim fazer alterar as

nossas opiniões sobre coisas, pessoas e acontecimentos. Mas a sua teoria estende-se a

comportamentos manifestos e é dado o seguinte exemplo: um homem casado que

acredita na fidelidade vai a uma festa. Bebe uns copos a mais e vai para a cama com

Suzy. O que ele fez foi participar num comportamento que vai contra aquilo em que

acredita. Como é que vai explicar o seu comportamento? De acordo com o autor, o que

aconteceu foi a alteração do seu juízo de valor sobre a fidelidade no casamento, ou

seja muitas pessoas são conseguem viver num estado de desacordo entre uma crença e

um comportamento, através de um poderoso mecanismo psicológico, algo terá de

ceder e, normalmente é a crença.

Page 21: Cérebro social

15- Em que consiste o teste Wada?

No teste WADA é injectado um anestésico de curta duração nas artérias do cérebro.

Devido ao modo como os vasos como os vasos cerebrais estão organizados, o produto

espalha-se por um dos hemisférios e não pelo outro. Esta técnica permite que se adormeça

temporariamente um dos hemisférios enquanto o outro permanece acordado. Foi concebida

com o objectivo de assegurar ao neurocirurgião que o hemisfério que, à partida parece ser

dominante em termos de linguagem, o é na realidade. O teste tem como resultado que o

hemisfério esquerdo, normalmente aquele que possui competência verbal, fica incapaz de

responder a ordens verbalizadas ou de produzir discurso. Quando o anestésico é injectado no

hemisfério não dominante, estes processos não são atingidos. Acontece por vezes que há

surpresas, e é muito importante que se esteja completamente seguro sobre qual dos

hemisférios é dominante em termos da linguagem, caso se esteja a contemplar uma

intervenção cirúrgica.

Nesta experiência, do teste WADA, o paciente está deitado totalmente consciente,

numa marquesa, esta é comandada electronicamente de modo a que o paciente possa ser

deslocado na horizontal sob a maquina de raios X, para permitir que o seu corpo e a sua

cabeça sejam fotografados.

Originalmente colocava-se uma agulha directamente na carótida, uma artéria que

percorre a parte lateral do pescoço. A carótida, uma artéria que percorre a parte lateral do

pescoço. A carótida esquerda constitui a principal alimentação do hemisfério esquerdo e a

carótida direita a do hemisfério direito. Este método deixou de ser usado porque, em alguns

casos, a agulha trazia uma substância (chamada placa) da parede da artéria que era em seguida

introduzida no cérebro, causando um bloqueio ou um enfarte que culminava num acidente

vascular cerebral. Actualmente é colocado um cateter numa artéria da perna em direcção ao

pescoço para finalmente, alcançar a carótida num dos lados do cérebro. Deste modo, se a

introdução da agulha na artéria fizer com que uma placa se solte, é uma artéria da perna que

fica bloqueada, algo muito menos grave do que um bloqueio numa das artérias do cérebro.

O neurorradiologista insere o cateter e acompanha o seu percurso até ao cérebro,

guiando-o através das artérias e afastando-o de desvios e becos sem saída. O paciente observa

o progresso do cateter pelo mesmo monitor que o medico.

Page 22: Cérebro social

Quando finalmente o cateter chega ao seu destino, está tudo a postos para se dar inicio

ao teste WADA. As mãos do paciente são mantidas no ar. Quando o produto começa a fazer

efeito, a mão do lado oposto ao do hemisfério anestesiado cai, num estado de paralisia

temporária. O outro hemisfério está acordado, tal como o aparelho motor do lado oposto do

corpo.

16- Lesões na zona parietal direita podem originar uma grande diversidade de

perturbações, como por exemplo, a translocalização em que o módulo funciona

deficientemente. Explique por que é que o módulo passa a funcionar deficientemente?

O cérebro esta organizado de tal modo que a informação se encontra armazenada em

módulos. Estes módulos podem efectuar cálculos, recordar, sentir emoções e agir. A forma

em que existem faz com que não lhes seja necessário estar em contacto com os sistemas de

linguagem natural e cognitivo, subjacentes ao acto consciente. Em sentido mais amplo, aquilo

que são considerados actos conscientes, são as recordações verbalmente etiquetadas que estão

associadas às interpretações que atribuímos aos nossos comportamentos.

A paciente Mrs Smith é um dos exemplos que aponta na direcção da teoria modular.

Esta apresentava lesões na zona parietal direita. Lesões situadas nesta região podem originar

uma grande diversidade de perturbações, entre as quais a tranlocação. Ela era uma doente do

Dr. Jerome Posner, do Memorial Sloan-Kettering em Nova Iorque. Este telefonou a

Gazzaniga um dia a dizer que tinham de ir ver esta doente e, devido aos seus sintomas

gravaram em vídeo a sessão de testes.

Mrs. Smith encontra-se no Memorial Hospital para ser submetida a uma intervenção

cirúrgica ao cérebro. Embora fosse uma mulher inteligente, com grande encanto e vivacidade,

julgava estar em Freeport, no Maine. Um dia na converssa com Gazzaniga este perguntou-

lhe onde estava, e ela respondeu-lhe, que estava em Freeport, no Maine, ele apontou para os

elevadores e perguntou-lhe o que era aquilo; ela respondeu: aquelas coisas são elevadores,

nem calcula quanto me custou pô-los na minha casa. Mas respondeu também sabe uma coisa

desde que aqui cheguei para ser operada ao cérebro, não havia médico que não me pergunta-

se onde eu estava, e eu respondia que estava spr em Freeport, no Maine. Cada vez que eu

dizia isso corrigiam-me e afirmavam que eu me encontrava no Memorial Sloan-Kettering, em

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Nova Iorque. Qd isto já se arrastava hà uma semana, Dr. Posner disse-me p eu responder que

estava em Nova Iorque. No fundo, eles não se importavam nada se eu acreditava nisso ou não.

Este é um caso de uma mulher inteligente com um módulo a funcionar

deficientemente como resultado da sua lesão cerebral. A contribuição desse módulo consistia

em fornecer informação sobre a sua localização em tempo real no espaço. Ou seja, a

disfunção desse módulo forçava-a a ter que explicar determinados factos bizarros

relativamente á sua localização no espaço, algo que ela fazia sem hesitação.

17- O hemisfério direito do Homem não possui habitualmente a faculdade da

linguagem. Os três pacientes referidos pelo autor anteriormente (J.W.; P.S. e V.P.), por

razões ainda não muito claras, possuem competência linguística no hemisfério direito e

dado que os dois hemisférios estão desligados, este afirma que se consegue estudar

aquilo que a linguagem confere ao sistema neuronal que habitualmente não a possui.

Permitirá a linguagem que o hemisfério direito faça tudo aquilo que ela permite ao

esquerdo?

Nestes três pacientes, o sistema de linguagem aparenta ser muito fluido. Todos eles possuem

um léxico rico, não sendo o do hemisfério direito significativamente diferente do do esquerdo.

Dois dos pacientes conseguem também efectuar um certo processamento sintáctico e dois

deles possuem competência verbal e linguística no hemisfério direito. Um exemplo fascinante

de um caso ocorrido com J.W., que é um paciente que compreende tanto a linguagem escrita

como a falada com o seu hemisfério direito, embora não consiga, por enquanto, falar a partir

dele. O autor emite uma palavra para o seu hemisfério direito e, para que ele indique se captou

a palavra e os seus vários significados, o autor pede-lhe apenas que desenhe com a sua mão

esquerda uma imagem da palavra que o autor mostrou. O paciente protesta que a instrução do

autor não tem sentido, porque o hemisfério esquerdo não viu absolutamente nada e assim,

como é que ele pode desenhar seja o que for? O autor tenta persuadi-lo e diz ao paciente para

deixar a sua mão esquerda tentar. Assim, ele desenha com toda a precisão uma imagem que

representa a palavra emitida, que foi bicicleta. No entanto, o paciente diz que não sabe por

que desenhou aquilo e que o desenho da bicicleta lhe parece um pássaro. Esta é uma situação

experimental em que o hemisfério esquerdo não viu nada. Ele não recebeu qualquer estímulo.

Para demonstrar mais uma vez a competência linguística do seu hemisfério direito, o autor

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pediu a J.W. que em vez de desenhar a palavra emitida, desenhe a imagem daquilo que se

costuma pôr por cima dela. A palavra emitida foi cavalo e o desenho foi uma sela. Depois

pede-se ao paciente que desenhe a palavra emitida e ele desenha o cavalo, exclamando que

aquilo então era uma sela. Se alguém observasse o modo como o hemisfério direito de J.W.

responde às questões, diria que ele possui os requisitos necessários para ser consciente no

sentido humano da palavra. E, no entanto, este hemisfério, embora tenha todas essas

capacidades linguísticas, não consegue fazer uma simples inferência. Se o autor apresentar as

palavras alfinete e dedo ao seu hemisfério direito para que J.W. as combine de modo a obter

um novo significado ou fazer uma simples inferência dessas duas palavras, o hemisfério

direito fracassa. A tarefa é simples, porque a palavra sangrar encontra-se defronte do paciente

a par com outras opções possíveis. Se for a partir do hemisfério direito, ele responde ao acaso,

enquanto que o seu hemisfério esquerdo considera a tarefa trivial. E mais espantoso ainda é

que se for emitida a palavra sangrar, o hemisfério direito consegue defini-la. Apresenta ainda

outras incapacidades importantes, como o não resolver puzzles geométricos simples. O que

concluir? Primeiro, que um sistema de linguagem rico não significa necessariamente que

exista conhecimento. A linguagem enquanto linguagem pouco significado tem. Há outros

sistemas que coincidem com a linguagem e que são os que efectuam os verdadeiros cálculos e

as tomadas de decisão. A linguagem apenas transmite os resultados destes outros processos

que existem concomitantemente com ela no hemisfério esquerdo, mas que parecem estar

ausentes do hemisfério direito. Existem sistemas neuronais únicos no hemisfério esquerdo dos

seres humanos que compelem o sistema cerebral, que comunica com o meio exterior, a

conferir sentido aos diversos comportamentos produzidos pelos seres humanos. Inerentes a

este processo encontram-se as crenças das pessoas sobre a natureza do seu eu, que se tornam

tanto mais multidimensionais quanto mais diversificados forem os comportamentos dos

módulos mentais. Ainda de acordo com o autor, a presença de crenças na nossa espécie

resulta da forma como o cérebro está construído.

Page 25: Cérebro social

18- Relativamente à forma como o cérebro exprime as recordações, o autor

apresenta o exemplo do seu próprio pai, que sofreu um AVC no hemisfério esquerdo,

resultando daí aquilo que os psicólogos designam por “dissociação”. Explique este caso

específico.

O AVC que o pai do autor sofreu no hemisfério esquerdo, embora pequeno, foi o

suficiente para o deixar incapacitado temporariamente.

Em 24 horas, um homem enérgico e vibrante transformou-se numa pessoa às portas da

morte. Ficou totalmente afásico e incapaz de obedecer a uma instrução, quer escrita quer

falada, por mais simples que fosse.

Subitamente, todo este processo começou a regredir e com o passar dos dias todas as

suas faculdades regressaram.

O que realmente lhe tinha acontecido era que o AVC tinha sido afinal um enfarte num

pequeno ramo arterial de uma das artérias cerebrais posteriores, e o efeito reticular causara

mais propriamente uma dilatação do tecido contíguo do que uma lesão real. À medida que

essa dilatação diminuía, o tecido neuronal e as redes circundantes começaram novamente a

funcionar.

Posto isto, durante o período de convalescença do senhor, o autor resolveu fazer-lhe uma

série de observações.

Pediu ao pai que identificasse uma série de objectos do quarto em que se encontrava.

Tudo corria bem até que lhe mostrou um cravo. Neste caso o senhor disse então que não sabia

o que isso era. No entanto, o mais extraordinário era que foi capaz de dizer que era uma flor e

de a descrever. Mesmo após o autor ter pronunciado três palavras, sendo uma delas a palavra

cravo, continuou a não conseguir associar a palavra à flor. Depois do autor lhe dizer que a

resposta certa seria cravo, continuou a não conseguir associar a palavra à flor.

Passados alguns momentos Gazzaniga perguntou ao pai se se lembrava de qual era a flor

que tinha plantado na sua casa no fim-de-semana anterior. Não conseguiu dizer qual era, no

entanto fez uma descrição pormenorizada do local e dia em que a tinha plantado, assim como

quem estava presente nesse momento.

Page 26: Cérebro social

O facto dele ser um excelente jardineiro e da flor em causa ser uma das suas preferidas,

não contribuiu para que a situação melhorasse. Mesmo depois do autor ter dito o nome tudo

continuou na mesma.

Cerca de seis horas mais tarde, o senhor começou a dizer o nome de cada uma das

plantas da sala onde se encontrava, o seu género e espécie, voltando tudo ao normal.

Esta fase específica é, portanto, chamada pelos psicólogos por “dissociação”. Entre aspas

porque na verdade a dissociação que ocorreu deu-se devido ao AVC e não devido a uma

operação de dissociação aos hemisférios.

O autor explica este fenómeno. O pai do autor não conseguia dizer o nome da flor, no

entanto, era capaz de fornecer todas as outras informações acerca dela.

O que acontecia era que os circuitos, módulos que processam estes aspectos do estímulo,

se encontravam a funcionar. O que não funcionava era o módulo, ou o circuito neuronal, que

armazenava o nome.

(Não era apenas uma simples questão de identificação porque, embora ele conseguisse

designar outros objectos com facilidade, não reconhecia um objecto em particular, mesmo que

alguém lhe dissesse o seu nome.)

Este tipo de observação não só apoia a tese da modularidade, como também sugere que

as modularidades são altamente específicas. O tempo, o espaço, o afecto entre outras

dimensões de um estímulo têm todos que estar codificados, e aparentemente estão-no em

diferentes áreas do cérebro.

19- O autor apresenta o caso do paciente H.M. que sofria de epilepsia não

controlada. Naquela época (1950) pensava-se que a remoção cirúrgica do hipocampo

iria mitigar esta doença. No entanto, os efeitos na sua memória foram devastadores.

Explicite tais consequências.

H.M. Foi um dos primeiros doentes epilépticos e dos últimos a ser submetido a uma

intervenção cirúrgica deste género.

Como é característica dos amnésicos, h.m. Não se conseguia lembrar de nada por mais

de dez minutos. Uma série de testes formais à memória foi-lhe ministrada, e esses testes

vieram confirmar a sua história clínica qualitativa e forneceram os perfis quantitativos exactos

da sua profunda patologia. A partir desses resultados chegou-se à conclusão que havia um

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fundamento neurológico real para a concepção dos psicólogos experimentais de um processo

faseado na formação da memória. Haveria então um sistema de memória de curto prazo que

recebia a informação nova, a testava e em seguida a transferia para ser armazenada na

memória de longo prazo. A estrutura que está profundamente envolvida nesta transferência da

memória de curto prazo para a armazenagem de longo prazo é o hipocampo. H.m. Consegui-a

evocar acontecimentos passados pois a sua memória de longo prazo estava intacta, e recordar-

se de informação recente num curto espaço de tempo, cerca de dez minutos, mas não

conseguia transferir essa informação do sistema de curto prazo para o de longo prazo. Esta

análise demonstrou que uma lesão cerebral específica numa região específica (o hipocampo)

produzia uma amnésia anterógrada. Todos aqueles acontecimentos ocorridos após a lesão se

ter verificado eram codificados na memória, na medida em que a lesão provocara uma

disfunção no sistema cerebral que consolida a informação.

H.m. Aprendeu a «desenhar ao espelho», ou seja, aprender a melhorar as suas aptidões

gráficas ao olhar para figuras geométricas através de um espelho que invertia a percepção das

formas. Deste modo, quando a mão guiava o lápis para o canto esquerdo de um rectângulo,

era reflectida no espelho como movendo-se para o direito. H.m. Aprendeu a executar esta

tarefa, conseguindo manter a sua boa execução de um dia para o outro, embora não se

recordasse de que a efectuara anteriormente.

Podemos concluir deste exemplo, que uma espécie qualquer de informação tinha

conseguido inserir-se no se cérebro e que o fracasso em armazená-la não era total. As tarefas

que h.m. Tinha originalmente que executar implicavam uma componente motora muito forte,

constituindo uma prova de que a memória relativa aos actos motores era diferente daquela que

dizia respeito a acontecimentos mais episódicos.

20- Como aparecem os problemas de memória?

Problemas de memória são vulgares nos idosos e manifestam-se na demência.

Aparecem em alcoólicos e como resultado de traumatismos cranianos. Verificam-se muitas

vezes problemas de memória após uma paragem cardíaca, na sequência de acidentes

cardiovasculares, no aparecimento de tumores cerebrais e em inúmeros outros problemas, tais

como herpes simplex encephalitis.

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21- Refira os progressos da neurorradiologia referidos no livro.

A TAC (tomografia axial computorizada) foi inventada pelos ingleses e parcialmente

financiada pelos Beatles. Este dispositivo tornasse bastante notável, e tem como

função fazer incidir os raios x e quase todos os planos e cabeça que se torna necessário

estudar para detectar a presença de tecido patológico, por exemplo os pacientes de

memoria podem através da TAC ser neurologicamente melhor definidos, ou seja

podem detectar em que tecido está a patologia e assim poder-se fazer um tratamento

eficaz. Contudo a TAC regista apenas as lesões ínfimas ou seja podem estabelecer-se

correlações ilegítimas entre uma perturbação de memória e as estruturas cerebrais que

são responsáveis por ela, podendo assim deixar escapar totalmente lesões reais, não

são por isso, suficientemente precisas.

No entanto, existe um outro dispositivo, o aparelho de tomografia por emissão de

positrões, também conhecido por Pet scanner, que tal como a TAC, tira fotografias do

cérebro vivo em diversos planos, no entanto a TAC apresenta perfis do modo como o

cérebro está na realidade a funcionar, isto através de uma medição precisa de

parâmetros biológicos como o nível de fluxo sanguíneo, o metabolismo celular ou o

volume de sangue que é fornecido a áreas especificas. Tudo é efectuado por meio de

câmaras especiais, sensíveis à radioactividade que foram estrategicamente colocadas

em torno da cabeça de modo a poderem detectar-se compostos marcados de

radioactividade que foram previamente injectados ou inalados pelo paciente.

Assim estes compostos como visam medir coisas diferentes assim também são

diferentes quanto à sua natureza química, mas tem em comum a facto de os químicos

os terem formulado como compostos emissores de positrões, ou seja um composto

emite um positrão que vai colidir com um electrão e é aniquilado.

Desta colisão resultam 2 raios gama que saem em seguida do tecido cerebral num

ângulo de 180º, a câmara sensível à radiação detecta esses raios e transmite-os para um

enorme computador que, por sua vez calcula em que local do cérebro esse

acontecimento se deu, é reconstruída assim uma imagem que pode dizer-se que é um

mapa metabólico do cérebro vivo. Um outro dispositivo de imagiologia fez a sua

entrada na medicina, este baseado no princípio de Ressonância Magnética Nuclear

(NMR); as imagens que este aparelho consegue produzir são deslumbrantes e expõem

detalhes prodigiosos da estrutura anatómica. Revela por exemplo, se numa pessoa com

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dissociação cerebral, esta é ou não total. Pode dizer-se em jeito de conclusão que neste

momento existe uma tecnologia médica que permite uma medição mais sensível das

patologias cerebrais o que facilita também a utilização para a localização dos nossos

módulos ocultos, por exemplo o PET desvendou patologias cuja a detecção através da

TAC havida falhado completamente.

22- Como é que a relação entre a energia psicológica e a energia biológica

poderão estar deterioradas no caso de amnésia?

Talvez porque alguns dos processos psicológicos automáticos, como a codificação

temporal da informação, tentem reunir os recursos energéticos diminuídos de um cérebro

lesionado. Podendo haver nos pacientes um decréscimo global da actividade biológica do

cérebro representado por uma redução geral do fluxo sanguíneo. Uma possibilidade é a de que

estes marcadores biológicos possam permitir a identificação dos módulos específicos que

participam nos diversos aspectos do funcionamento da memória.

23- Especifique a forma como Gazzaniga adapta a teoria de Freud à teoria

modular.

Sempre houve teorias acerca do comportamento humano, as mais importantes das quais forma

formuladas por Freud.

A sua teoria geral da psicodinâmica abunda em hipóteses sobre as causas subjacentes

ao nossos comportamento e sobre as nossas vidas privadas mentais. Um dos princípios

básicos da teoria freudiana é o de que os processos inconscientes são importantes na

orientação do comportamento. Estes processos inconscientes podem reflectir atitudes que nós

não desejamos admitir que possuímos. E, no entanto, muitos dos nossos actos são explicados

por essas atitudes e pela nossa necessidade de satisfazer esses impulsos. À sua maneira, Freud

pressagiou/anteviu muita da moderna teoria cognitiva. Ele recusava-se a aceitar a noção de

um processo consciente unificado e já defendia, no princípio deste século, um sistema mental

diversificado e compartimentado.

Gazzaniga diz que se pode facilmente adaptar as ideias de Freud à teoria dos módulos

se for substituído o seu conceito de “processo inconsciente” pela ideia que expõem de

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“módulos mentais co-conscientes mas não verbais. Porém, uma tendência para reagir ou uma

decisão para actuar, por parte de um módulo mental não verbal, não é inconsciente. É até

muito consciente, muito capaz de realizar um acto. Uma das suas características, a de não

poder comunicar internamente com os sistemas de linguagem e de conhecimento do

hemisfério dominante, não devia ser codificada de “inconsciente”. A não ser com aquela

única correcção à formulação de Freud, muito daquilo que ele afirma que é importante na vida

mental pode ser analisado à luz dos modernos termos mecanicistas.

Na actual psicologia experimental, começou recentemente a ser posto em evidencia o

conceito de processamento inconsciente. Operacionalmente, isto significa que estão a ser

aplicados aos pacientes estímulos experimentais, a que eles são incapazes de referir

verbalmente, mas que, no entanto, influenciam no modo como reagem subsequentemente. É a

versão científica do velho fenómeno da percepção subliminal.

A par com isto encontra-se a noção dos processos automáticos. À medida que novas

informações vão sendo armazenadas nos nossos cérebros, processos automáticos asseguram a

sua marcação de acordo com o momento, no tempo, em que ocorreram. Atribuir uma ordem

temporal às informações é um processo inconsciente que, no entanto, ocorre normalmente

durante o estádio de vigília consciente.

24- Holtzman e Gazzaniga efectuaram uma experiência com J.W. com o objectivo

de esclarecer questões sobre os processos inconscientes relacionados com a teoria

modular. Explique suscintamente em que consistiram essas experiências.

Foi pedido a J.W. que fixasse um ponto e emitiu-se um 1 ou um 2 no hemisfério

esquerdo ou no direito. Quando o número é projectado no hemisfério esquerdo é identificado

verbalmente sem dificuldade. O que é intrigante é que, tendo o hemisfério esquerdo do sujeito

conhecimento de que o hemisfério direito também está a ver um 1 ou um 2, consegue dizer

com precisão qual dos dois números está a ser projectado no hemisfério direito quando se faz

o teste a este. Por várias razões sabe-se que o hemisfério direito de J.W. não possui

competência verbal. Mas, de alguma forma o hemisfério direito consegue formular o

comportamento verbal correcto no esquerdo. Será possível que o hemisfério direito tenha tido

acesso ao sistema verbal/motor esquerdo e aí depositado a informação correcta para a resposta

verbalizada, mas que essa informação não esteja acessível ao processo consciente do

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hemisfério esquerdo? Este estudo sugere que ao se emitir o número 1 ou 2 para o hemisfério

esquerdo, se ele é capaz de aceder à informação no sistema de linguagem, deveria também ser

capaz de acertar na resposta correcta. Porém, ele não o consegue. Neste tipo de tarefa, o

hemisfério esquerdo actua aleatoriamente. Esta dissociação evidencia que um sistema

consciente não tem acesso a toda a informação que rege aquilo que se considera ser uma

reacção consciente.

25- Em que consiste o fenómeno visão cega?

A “visão cega” é uma patologia observada em doentes que sofreram lesões nos centros

visuais corticais do cérebro.

Pensa-se que as áreas do cérebro que processam a informação visual se encontram nos

lobos occipitais, localizados na região posterior do crânio.

»»» A informação chega a esses centros por intermédio da retina que, (através de uma

intrincada rede de relés neuronais no seu próprio seio,) envia a informação em primeiro lugar

para o corpo geniculado lateral. Este é uma estrutura laminar (em camadas) no tálamo e

constitui a primeira paragem no caminho para o (todo poderoso) córtex visual primário. Este

(córtex visual primário) recebe informação exclusivamente do mesencéfalo, do corpo

geniculado lateral e que, após processar essa informação, ele envia para outras áreas corticais

a fim de ser submetia a uma análise posterior.

Segundo esta representação simplista que o autor apresenta, do sistema visual, quando

um indivíduo sofre uma lesão no lobo occipital fica cego. A ligação mais importante entre o

olho e as outras regiões do cérebro fica interrompida devido à lesão.

No entanto, os primeiros relatos clínicos sobre a “visão cega” afirmavam que estes

pacientes conseguiam ver imperfeitamente nessa vasta mancha cega. E, o que era mais

interessante na natureza dessa visão, era o facto de eles conscientemente afirmarem que não

conseguiam ver nada. No entanto, se se lhes pedisse que apontassem, quer com os olhos, quer

com as mãos, para um estímulo apresentado na mancha cega, tanto a mão como os olhos se

desviavam para a direcção correcta, daí o termo “visão cega”.

Sintetizando, os pacientes que sofrem de “visão cega” têm lesões no lobo occipital e

ficam cegos e quando lhes é solicitado que apontem com os olhos e com a mão para a

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direcção de um estímulo apresentado na mancha cega, desviam os olhos e a mão na direcção

correcta.

26- Qual a contribuição da experiência efectuada a B.H. que sofria de visão cega

para um melhor conhecimento do cérebro?

B.h. Era uma mulher que tinha sofrido de aneurisma no lobo occipital direito. Ia ser

submetida a uma intervenção cirúrgica para a reparação da artéria deteriorada e durante a

operação, dada a localização do aneurisma, teriam de ser sacrificados segmentos dos lobos

occipital direito. Como consequência, partes da visão do seu campo visual esquerdo tornar-se-

iam não funcionais ou cegas, embora as suas outras estruturas visuais permanecessem intactas

e normais. Sofria então de visão cega como denomina o autor.

Holtzman com o seu medidor de olhos contribuiu para que a experiência se realizasse.

Este sistema consiste num dispositivo altamente sensível que mede a posição exacta dos

olhos. Holtzman com o seu dispositivo queria limitar estímulos visuais apenas à mancha cega

que resultara da lesão cirúrgica. Se a luz dos estímulos se propagasse para a parte sã da retina,

qualquer afirmação de processamento visual em termos de visão cega ficaria comprometida.

Com este aparelho, se o paciente move os olhos de modo a que o estímulo fique dentro da

zona sã da retina, o computador detecta o movimento no seu início e imediatamente apaga a

emissão do estímulo.

A experiência baseava-se então em quatro x dispostos em forma de um quadrado eram

apresentados à mancha cega do campo visual do paciente. Seguindo uma determinada

instrução, um dos quatro x era iluminado, devendo o paciente mover os seus olhos na sua

direcção. Observou-se que quando o teste era feito no seu campo visual bom ela executava-o

na perfeição. Contudo quando b.h. Tentou efectuar a experiência com a luz na mancha cega

do seu campo visual, e foi de facto incapaz de levar a cabo, sem ser após de milhares de

tentativas.

B.h. Possui-a também todas aquelas estruturas ou seja, os outros módulos. E daqui

surge o porquê destes não se encarregarem de executar esta tarefa? Pensou-se então que talvez

o módulo localizado na parte mediana do cérebro só funcionasse quando recebia informação

do córtex visual que se encontra por cima. Ou seja é devastador um módulo trabalhar

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isoladamente. Em geral os módulos funcionam como parte de um sistema interactivo

alargado.

Baseando-se em também noutras experiências feitas em pacientes com dissociação

cerebral, notou-se que o hemisfério esquerdo não conseguiu comunicar verbalmente qual dos

x tinha sido iluminado no campo visual esquerdo. O campo visual esquerdo projectar para o

hemisfério direito não trouxe qualquer surpresa, mas a surpresa foi a descoberta de que

quando o hemisfério esquerdo era solicitado a mover os olhos para o x no campo visual

direito, que correspondia ao x que estimulara o hemisfério oposto, os olhos deslocavam-se

para a posição correcta. Dava então a entender que os módulos sub corticais conseguiam

desempenhar esta tarefa e que o faziam fora do mecanismo de controlo consciente. Deste

modo constatou-se o modo como a informação sobra a localização espacial é tratada por um

só destes módulos e como ele controla os olhos permitindo uma resposta coordenada.

Confirmou-se ainda que os módulos que tratam a informação espacial são diferentes

dos que manipulam a informação perceptual. Por exemplo, se no caso de termos os x

tivéssemos figuras geométricas, a comparação entre os hemisférios deixava de ser possível,

pois os módulos sub corticais apenas tratam da informação espacial, não da geométrica.

27- Cortando-se o corpo caloso em duas secções, pode-se estudar o fenómeno de

transferência parcial. J.W. é um exemplo deste processo. Explicite este caso.

J.W. foi o primeiro paciente a ser submetido a uma intervenção e em que foi

acompanhado em todos os passos do processo.

Apenas se cortarem parte dos cabos neuronais porque permite examinar a

possibilidade de uma transferência parcial da informação, isto é, se são apenas alguns dos

módulos que conseguem comunicar do hemisfério direito para o esquerdo.

1º foi efectuado a J.W. um teste pré-operação, em que eram projectadas palavras e

imagens de toda a espécie para cada um dos hemisférios e, tal como um cérebro intacto e

normal o faria, o hemisfério esquerdo conseguia comunicar instantaneamente a informação

visual que era apresentada exclusivamente ao direito. Verificaram que todos os cabos entre os

seus hemisférios estavam a funcionar.

De seguida J.W. foi submetido a operação em que 1º seccionaram a parte posterior do

corpo caloso, ao fazer-se isto esta a desligar a parte do sistema visual que normalmente

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transmite para o hemisfério esquerdo a imagem sensorial real de um estimulo que foi

apresentado ao hemisfério direito. Os dois lobos occipitais deixam geralmente de conseguir

comunicar directamente entre si a informação sensorial primária. Neste caso especifico os

estímulos do hemisfério direito registavam uma precisão de apenas 28 %. Contudo, com o

passar do tempo, essa passagem aumentou e J.W. chegou a conseguir identificar bastante bem

os estímulos apresentados ao hemisfério direito. Concluíram com este caso que não parecia

estar a haver transferência da informação- base sobre o estimulo.

O hemisfério esquerdo obtém pedaços de informação e em seguida arrisca uma

resposta sobre aquilo que o estímulo poderá ser.

Ex: palavra “cavaleiro ” e o hemisfério esquerdo, o que possui competência verbal,

desenvolveu uma estratégia para lidar com determinados aspectos cognitivos do estímulo, que

pareciam não estar a ser transmitidos, e respondia:”Tenho uma imagem na minha mente, não

consigo dizê-la.”

Algumas semanas depois completaram o seccionamento do feixe de fibras e J.W.

perdeu a faculdade de identificar os estímulos apresentados ao hemisfério direito. Era como se

os diversos módulos do hemisférico direito que processavam as associações cognitivas dos

estímulos tivessem deixado de ter acesso aos restantes feixes de fibras entre os hemisférios.

Mas convém salientar que J.W. é um caso pouco comum pois o seu hemisfério direito

é capaz de processar estímulos verbais.

28- Refira as conclusões retiradas das experiências efectuadas a J.W.; P.S. e V.P.?

As conclusões retiradas das experiências efectuadas foram elaboradas após os

pacientes terem sido submetidos (NMR) em que nos casos de J.W. e P.S. revelaram

estar totalmente dissociados, em que a imagem mostrava nitidamente que o corpo

caloso tivera sida completamente seccionado, porém no exame NMR do paciente V.P.,

este revelou inadvertidamente que o cirurgião tinha poupado uma porção diminuta do

corpo caloso posterior e uma porção igualmente pequena do corpo caloso anterior,

estes dois segmentos encontram-se afastados um do outro e estão implicados em

diferentes funções, o posterior em funções visuais.

Tal como acontecia com J.W., V.P. não efectuava a transferência de informação

perceptual, o que levava a pensar que não restara parte do corpo caloso suficiente que

desse azo àqueles processos, desta forma pensa-se que o corpo caloso anterior possa

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estar implicado na transferência da informação semântica neste tipo de casos. Por

exemplo V.P. é incapaz de ajuizar se duas palavras uma das quais apresentada ao

hemisfério esquerdo e outra ao direito, estão relacionadas.

29- Para explicar a forma como os preconceitos humanos se enraízam, ou, pelo

contrário desaparecem do nosso sistema de crenças o autor recorre à teoria de

dissonância cognitiva de Festinger. Explique em que consiste esta teoria.

Compreender os processos mentais que dão origem a crenças como preconceitos

permite-nos estabelecer um elo entre a nossa actual compreensão dos mecanismos cerebrais e

aquilo que sabemos acerca dos processos psicológicos.

Muitas das nossas crenças, sobretudo as que adquirimos no princípio da nossa vida,

são-nos impostas mecanicamente.

Porque as pessoas não conseguem viver num estado de dissonância entre uma crença e

um comportamento real, algo terá que ceder, e é normalmente o valor da crença. Este é o

ponto fundamental da teoria da dissonância cognitiva de Festinger. O estado de dissonância

não é tolerado pelo organismo.

Estes conflitos surgem, 2º Gazzaniga, porque o nosso cérebro está estruturado em

módulos independentes, cada um dos quais é passível de acção e de executar actividades que

testam e contratestam as crenças que estão a ser mantidas pelos sistemas de linguagem e do

conhecimento do nosso hemisfério esquerdo dominante. O conflito é produzido por um

módulo mental que formula um comportamento, modulo esse que consegue funcionar

independentemente do sistema dominante, baseado na linguagem, do hemisfério esquerdo.

30- Aquilo que, todavia, nunca fica bem claro na teoria da dissonância é a razão

pela qual um organismo adopta, à partida, um comportamento que é antagónico a uma

crença. Por que razão surgem todos estes conflitos?

2ºFestinguer a teoria da dissonância refere que quando uma crença e um comportamento

entram em conflito, ou a crença muda para se adaptar ao comportamento, ou é o

comportamento que se altera para se harmonizar com acrença. É normalmente a crença que

sofre a modificação.

Page 36: Cérebro social

Segundo Gazzaniga o nosso cérebro está estruturado em módulos independentes, cada

um dos quais é passível de acção e de executar actividades que testam e contratestam as

crenças que estão a ser mantidas pelos sistemas da linguagem e do conhecimento do nosso

hemisfério esquerdo dominante. O conflito é produzido por um módulo mental que formula

um comportamento, modulo esse que consegue funcionar independentemente do sistema

dominante, baseado na linguagem, do hemisfério esquerdo.

Contudo esta teoria tem outras facetas. Outra das suas implicações é que uma das

vantagens de o cérebro estar organizado do modo como Gazzaniga propõe é permitir que os

nossos princípios estejam constantemente a ser testados e contratestados. O ser humano que

reage e que explora terá maiores probabilidades de estar continuamente a reavivar as suas

crenças, ao passo que o sedentário/parado/inactivo as terá em menor grau. Se o cérebro fosse

um sistema monolítico, com todos os módulos numa completa intercomunicação interna,

então o valor que atribuímos às nossas crenças nunca se alteraria. E a cultura humana estaria

assim destinada a repetir os movimentos das gerações anteriores de uma forma reflexa. Por

conseguinte, o incessante duelo entre o conhecimento e o comportamento, tão activo na

formação de princípios de cada um de nós, emerge como uma característica muito especial da

nossa espécie.

A teoria da dissonância cognitiva foi formulada à mais de 25anos, e tem resistido à

passagem do tempo, os progressos na investigação do cérebro não só sublinham a sua

validade, como também sugerem que o ser humano que adopta um comportamento poucas

oportunidades teria para um mecanismo alternativo de controlo. O organismo esforça-se por

obter coerência entre as crenças que articula e os seus actos. O hemisfério esquerdo

interpretativo e dominante tenta manter ordem e coerência entre os seus módulos mentais, (o

seu círculo eleitoral mental).

Um 2ºaspecto importante da teoria da dissonância, que tem sempre que se verificar

para que esta se revele eficaz, é o de que as pessoas devem adoptar livremente o

comportamento que entrará em dissonância com uma crença anterior. Por ex. se alguém for

forçado , sob ameaça de morte, a cometer um crime, não é de surpreender que a anterior fé da

pessoa na lei e na ordem fique intacta. Se, no entanto, alguém for facilmente induzido a

cometer um primeiro crime, a sua atitude perante esse tipo de comportamento irá muito

provavelmente alterar-se e ele passará a considerar afinal este acto como não tão responsável.

Page 37: Cérebro social

Cohen demonstrou que uma justificação externa é insuficiente para adoptar aquilo que

os investigadores (Festinger e Carlsmith) designaram por comportamento contra-atitudinal.

Na experiência Cohen, solicitou a estudantes de Yale que escrevessem um ensaio sobre a

actuação da polícia. Todos os estudantes haviam condenado vigorosamente o comportamento

da polícia qd esta dispersara um manifestação de estudantes, pois consideravam que ela se

comportara de uma forma demasiado brutal. Os estudantes foram distribuídos por 4grupos,

um dos quais recebia 10dólares pelo ensaio, o 2ºgrupo 5, o 3º1 e o ultimo apenas 50centimos.

Após terem acabado de escrever o ensaio, procedeu-se à medição das atitudes de cada um dos

grupos em relação à polícia. Os estudantes pertencentes ao grupo que recebera a menor soma

de dinheiro (justificação externa para as suas acções) eram os mais positivos em termos

daquela atitude, ao passo que os outro grupos tinham alterado as suas opiniões em menor

grau, sendo que o grupo dos 10 dólares praticamente não as modificara.

Os estudos revelam que um comportamento tem que ser fortemente percepcionado

como de livre vontade para ter autoridade quando participa na modificação de uma crença.

Aqueles comportamentos cuja execução é percepcionada como devendo-se maioritariamente,

a pressões exteriores, não desencadeiam o processo de redução de dissonância e, como tal,

não ameaçam o sistema de crenças.

31- As teorias mais modernas defendem que a nossa espécie é pessoalmente

responsável pelas suas acções e que nós possuímos livre arbítrio. Explicite o conceito de

livre arbítrio.

A suposição mais directa e relevante da questão do livre arbítrio partiu do inglês Donald M.

Mackay. Ele defende que a nossa espécie é pessoalmente responsável pelas suas acções e que

nós possuímos livre arbítrio. Ele desenvolve a noção de indeterminação lógica, uma

característica particular de uma máquina de processamento de informação tal como o cérebro

humano, que encarna um agente cognitivo e é este facto que vem possibilitar o conceito do

livre arbítrio. A tese de Mackay aceita o pressuposto da civilização ocidental de que a

consciência pessoal é produto de um sistema cognitivo unificado e a acção humana é o

resultado de um sistema cerebral monolítico. No entanto, esta formulação pode ser adaptada à

teoria dos módulos mentais individuais, em que cada um é passível de acção e resposta. A sua

análise podia conferir a indeterminação lógica a qualquer um dos módulos mentais do

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cérebro. Mas, se por um lado, o raciocínio de Mackay parece conferir bases cientificas sólidas

ao conceito de livre arbítrio, por outro lado carece da realidade psicológica que o autor

procura, pois não engloba a questão de se saber por que razão os comportamentos

autoproduzidos têm influencia nas crenças pessoais, enquanto os condicionalismos expostos

do exterior não o têm. Para o autor, o livre arbítrio resulta do facto de o ser humano acreditar

que age livremente em 99% dos seus comportamentos, o que implica que o comportamento

despoletado por um módulo tenha de ser justificado pelo sistema de crenças da pessoa. Isto

sugere que um sistema composto por módulos mentais que agem independentemente uns dos

outros, mas que juntos formam uma confederação mental, atribui muito provavelmente a um

sistema cognitivo a tarefa de definir e assegurar uma teoria sobre os actos desta. Faz parte

deste processo o livre arbítrio do organismo, porque sem ele o sentido psicológico dominante

dos seres humanos seria que a vida mental é um caos gerado ao acaso e que nada pode ser

justificado, muito menos um comportamento inconsciente.

32- O autor debate as implicações da teoria modular sob a perspectiva

arqueológica. Refira que conclusões retirou o autor da análise destes vestígios

arqueológicos?

Ao estudar a pré-história é possível procurar dados ou pistas de universais primitivos que

podem não só contribuir para a descoberta de variáveis cerebrais ou culturais que expliquem a

cultura humana, como também, realçar mecanismos cerebrais emergentes, responsáveis pela

especialização de funções no hemisfério esquerdo.

A teoria do autor é de que os vestígios arqueológicos sugerem que as áreas específicas do

cérebro evoluíram de modo a poderem desempenhar funções específicas, que por seu lado,

vieram dar origem a novas faculdades na nossa espécie.

Estas faculdades, como as da inferência e da estética, estão manifestamente presentes no

Homo sapiens sapiens. Sendo que, podemos fazer remontar as suas origens até ao Homo

erectus, senão mesmo mais longe. Isto porque, a par com o desenvolvimento da capacidade de

inferência e tudo o que esta implicava em termos de progressos mais rápidos e mais eficazes

contra os mistérios do meio ambiente, surge uma apetência estética. Os objectos não tinham

apenas que ser eficazes a um nível funcional, mas também tinham que ser atraentes.

Page 39: Cérebro social

As posteriores capacidades cognitivas surgiram lentamente.

Na pré-história, o homem primitivo estava mais apto a produzir reacções associativas do

que a fazer inferências, porque não havia história nem experiência anterior. (Havia apenas

uma reacção subjectiva aos acontecimentos e o conflito era praticamente inexistente porque

todos comungavam da mesma informação e, como tal, desenvolviam as mesmas crenças em

relação à natureza e ao mundo.)

Porém, no momento em que a inferência (deduções/induções/conclusões) se tornou

possível, nasceu o homem moderno, destinado a um modo de vida bastante árduo.

A faculdade de fazer inferências levou à formação de crenças, não só sobre o seu próprio

comportamento, mas também sobre o seu grupo. Isto também fez com que o Homem se

tornasse independente das influências do meio ambiente.

Portanto, as áreas específicas do cérebro (módulos) evoluíram de modo a poder

desempenhar funções específicas que, por sua vez, vieram dar origem a novas faculdades na

nossa espécie (como a inferência e a estética que remontam ao Homo erectus.)

Nada acontece em termos psicológicos até a região cerebral apropriada no cérebro

humano moderno em evolução se ter tornado psicologicamente funcional.

33- Quais as teorias que visam explicar as mudanças que ocorreram na

progressão ascendente das realizações humanas em tempo real?

Estas são duas teorias que visam explicar o modo como se deu a evolução humana.

Segundo a teoria de pernas para o ar um organismo possui um conjunto de

capacidades de resposta geneticamente controladas e estas podem ser apropriadamente

moldadas e seleccionadas pelo lugar/meio onde vive o organismo.

Após variadíssimas experiências efectuadas em animais, nas organizações sociais de

várias espécies, consegue-se explicar claramente as complexidades sociais do seu

comportamento. Os animais que fizeram parte desta experiência como é o caso das formigas,

dos lobos e dos babuínos, vivem uma relação dinâmica e largamente recíproca com o meio,

porque a sua inteligência não é suficiente para qualquer outro tipo de existência. Ou seja, eles

não são capazes de se isolar do um meio ambiente de uma forma significativa, dando a certeza

que o meio exerce um papel poderoso e determinante na selecção das capacidades máximas

destes organismos.

Page 40: Cérebro social

Esta perspectiva esclarece determinados processos do mundo biológico. Na opinião do

autor é uma teoria inadequada para explicar a evolução humana.

Segundo a teoria de cima para baixo as alterações geneticamente induzidas no cérebro

são o elemento chave da história do homem. A crescente capacidade do cérebro humano para

fazer inferências, que os veio-o diferenciar de tudo o que tinha existido anteriormente no reino

animal. A capacidade de inferência que consiste em combinar duas variáveis novas numa

hipótese sobre as prováveis causas dos acontecimentos, é igualmente o substrato da

formulação de crenças. Esta capacidade de fazer inferências é uma capacidade somente capaz

de ser feita pelo homem, e a faculdade que mais provavelmente se liga a determinados

sistemas específicos do cérebro humano. A posse desta faculdade libertou o homem do rígido

domínio do meio ambiente. Com o aparecimento do cérebro mais complexo do homem de

neanderthal e, por último do homo sapiens sapiens ou homem moderno, a faculdade de fazer

inferências desabrochou até atingir o seu ponto máximo actual, em que a inferência se tornou

tão automática como qualquer reflexo neuronal periférico.

34- Foi David Premack que enunciou a importância das preferências enquanto

motivação para acção. Serão as preferências assim tão importantes na motivação do

comportamento?

Este autor fez várias experiências, uma delas foi com macacos e todas as experiências

ele concluiu que uma resposta mais provável vem reforçar uma resposta menos provável e

nunca inversamente. As preferências nos seres humanos podem ser sistematicamente

manipuladas por um psicólogo inteligente. Podem ser reforçadas, invertidas, diluídas. Embora

baseadas em sistemas muito antigos do cérebro, elas desempenham um papel crucial nos

complexos processos psicológicos que contribuem para a formulação das crenças humanas.

35- Como se processam as crenças no cérebro?

Gazzaniga após ter realizado os estudos com pacientes do foro neurológico, defende

que o cérebro está organizado em unidades (módulos) que funcionam de uma relativamente

independente e que trabalham em paralelo, ou seja, quando a informação invade o nosso

cérebro é decomposta em fragmentos sobre os quais diversos sistemas começam logo a

trabalhar. Estas actividades funcionam na maioria das vezes independentemente dos nossos

eus verbais conscientes e de forma paralela com o nosso pensamento consciente. No que diz

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respeito aos sistemas de crenças, os estudos desenvolvidos são na sua maioria da

responsabilidade de escritores e filósofos e poucos de investigadores científicos. No entanto,

os estudos recentes vieram alterar este ponto de vista, essencialmente aqueles que incidem

sobre os pacientes com lesões do foro neurológico. A este respeito, Gazzaniga defende que o

nosso cérebro tem uma componente especial, que apelida de “Interprete”, que é responsável

pela elaboração de infinitas teorias para explicar comportamentos considerados inconstantes

produzidos pelo nosso eu. A dinâmica que existe entre os módulos da nossa mente e o nosso

“intérprete”, que se encontra no nosso hemisfério esquerdo, é responsável pela formação de

crenças. Crenças estas que funcionam para a nossa espécie como um mecanismo para deixar

de estar inserida numa simples relação tipo reflexo com recompensas e penalizações da

sociedade. No entanto, podem ser alteradas através da nossa percepção pessoal de que agimos

livremente e em resposta a uma série de pressões sociais.

36- Por que surgiram as crenças religiosas?

A natureza e a origem das crenças religiosas possuem uma história intrigante e

interpretável que frisa a centralidade de um mecanismo psicológico localizado no cérebro.

Gazzaniga diz que as crenças religiosas eram inevitáveis e que tiveram que surgir assim que o

intérprete do hemisfério esquerdo se desenvolveu e começou reflexivamente à procura da

consistência e de compreensão. Arquitectaram-se explicações e criaram-se instituições para

gerir e regulamentar as questões da existência humana e da origem cósmica. Uma vez

implementadas, e dado o seu forte poder coercivo, estas instituições continuaram vivas.

O autor diz também que a aceitação destas crenças que-não-são-deste-mundo se deve a

uma outra capacidade do cérebro humano que é a aptidão para o pensamento mágico. Isto é, a

existência no cérebro humano de uma zona que, quando lesionada, causa alterações profundas

no psiquismo humano. Uma lesão nessa região, que pode ocorrer por inúmeras razoes, tende a

provocar a modificação em três comportamentos. Este “síndroma do lobo temporal” foi

primeiramente descrito pelo já falecido Norman Gerschwind, da Harvard Medical Scool. Na

sua forma básica, a lesão cerebral causa uma intensificação das convicções religiosas, um

desejo de escrever aprofundadamente (hipergrafia) e a prática de actividades sexuais bizarras.

A realidade deste síndroma não é nada divertida. Aquilo que nos interessa é a vertente

do comportamento religioso deste síndroma. Não somente são as convicções religiosas que se

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tornam mais intensas, mas também a forma que elas tomam que se torna irregular, fazendo

com que a pessoa mude rapidamente de um sistema de crenças para outro sem causa aparente.

O processo cerebral que permite a interpretações não-cerebrais e magicas dos acontecimentos

que estão normalmente subjacentes nas historias da criação religiosa está mais diligente do

que nunca. Aparentemente não interessa qual o credo que é alvo deste processo. De uma certa

forma, a lesão cerebral liberta os pacientes das suas histórias pessoais, predispondo-os a

aceitar qualquer sistema de crenças. Estes fenómenos clínicos sugerem que se pode criar, no

cérebro, um equilíbrio dinâmico entre sistemas que formulam hipóteses e sistemas que

aceitam essas explicações como satisfazendo critérios racionais. O estado normal permite um

certo grau de crenças não-racionais e magicas. O estádio doente e desinibido baixa de tal

forma os critérios de aceitação, que rapidamente a adesão e a mudança de crenças se torna a

norma.

37- Explique em que consiste o síndroma do lobo temporal.

O síndroma do lobo temporal, foi primeiramente descrito por Gerschwind. Este diz

respeito a uma zona no cérebro que quando lesionada, causa alterações profundas no

psiquismo humano. Uma lesão nesta região, que pode ocorrer por inúmeras razoes, tende a

provocar uma modificação em 3comprtamentos. A lesão cerebral causa uma intensificação

das convicções religiosas, um desejo de escrever aprofundadamente (hipergrafia) e a prática

de actividades sexuais bizarras. 2º Gazzaniga não há qualquer razão para que uma lesão num

destes comportamentos deva afectar os outros dois.

Todavia não são somente as convicções religiosas que se tornam mais intensas, mas

também a forma que elas tomam que se torna irregular, fazendo com que a pessoa mude

rapidamente de um sistema de crenças para outro sem causa aparente. O processo cerebral que

permite as interpretações não-racionais e mágicas dos acontecimentos que estão normalmente

subjacentes nas histórias da criação religiosa está mais activo do que nunca. De uma certa

forma, a lesão cerebral liberta os pacientes das suas istórias pessoais, predispondo-os a aceitar

qualquer sistema de crenças. Estes fenómenos clínicos sugerem que se pode criar no cérebro,

um equilíbrio dinâmico entre sistemas que formulam hipóteses e sistemas que aceitam essas

explicações como satisfazendo critérios racionais. O estado normal permite um grau de

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crenças não-racionais e mágicas. O estado doente e desinibido baixa de tal forma os critérios

de aceitação, que rapidamente a adesão e a mudança de crenças se torna a norma.

38- Gazzaniga analisou as teorias da criação dos povos Egípcio e Mesopotâmio,

que foram geradas na mesma altura mas diferiam no meio físico em que o cérebro

estava inserido. O que é que ele concluiu?

Concluiu que tal como o homem moderno, os primeiros seres humanos possuíam a

capacidade de albergar crenças mágicas que provinham de experiências pessoais e que estas

diferiam amplamente consoante o clima e o meio em que viviam. Portanto, o homem

primitivo direccionou a sua mente para questões acerca das causas primeiras e as suas ideias

desenvolveram-se a partir das suas experiências pessoais, oriundas do meio ambiente em que

estava inserido. Embora diferentes, a comunhão geral de informação assumiu a forma de um

sistema de inferências localizado no cérebro e a progressão das ideias foi singularmente a

mesma, porque as duas propunham um universo unificado, ordeiro e governado por uma força

supraordinária e lógica.

39- Por que razão a nossa espécie insiste em ter crenças religiosas?

Gazzaniga baseia-se no pressuposto de que há qualquer coisa na nossa espécie (uma

propriedade do nosso cérebro) que a torna propícia a aderir a uma crença de nível superior

àquele que percepciona em seu redor. O mecanismo psicológico atravessa o sistema de

inferências e concretiza-se pelo processo de simbolismo e pela capacidade do cérebro humano

em aceitar crenças mágicas.

O autor defende que a nossa propensão para ter crenças religiosas provém (directa e

reflexivamente) da capacidade especial do nosso cérebro para fazer inferências, assim como

da sua particular aptidão para aceitar o pensamento mágico.

Para além disso, dado que, em determinado ponto, o sistema não pode continuar

indefinidamente a fazer novas inferências sobre a estrutura do mundo, ele vai ter que apostar

numa delas.

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E no preciso momento em que o faz, a informação sobre a possível falácia (engano) dos

pressupostos implícitos na crença seleccionada, passa a ser ignorada. (Ou, mais

conservadoramente, o limiar de aceitação de nova informação eleva-se mercê do natural

dissabor associado com o não acreditar.)

(É desagradável porque,) sem uma crença em qualquer tipo de ordem, perdura uma

sensação de irregularidade, de instabilidade e de falta de controlo.

A nossa espécie tem que ter uma crença. Ela guia, ela controla, ela dita as regras do

comportamento. Todos nós formulamos, claramente, uma sobre nós próprios. (Não é muito

difícil imaginar como poderíamos ter também uma crença sobre acontecimentos

extrapessoais.)

No geral, segundo o autor, a religião proporciona uma prescrição bastante razoável para

a vida em sociedade. Aquelas máximas que todos nós conhecemos: ama o teu próximo,

partilha, sê bom, não cobices os bens materiais dos teus amigos, e assim sucessivamente,

todas elas podem ser úteis na interacção com os outros.

Todos os crentes têm mais ou menos estes pontos de vista e, além disso, para governar

uma sociedade, todos estes conceitos são extremamente úteis e positivos.

Na realidade, é a plausibilidade destes aspectos práticos mais universais que leva, à

partida, a que as pessoas se sintam dispostas a aceitar a vertente mágica.

(Assim, é através do processo de avaliação, que o aspecto mágico da crença vai

assumindo uma importância cada vez maior.)

O autor diz mesmo que se os crentes conseguissem aperceber-se de que não há

praticamente diferença nenhuma na aplicação dos princípios fundamentais dos seus credos,

talvez pudessem então começar a discriminar (discernir) a vertente mágica como ela na

realidade é.

40- Por que é que se pensa que a forma como o cérebro humano está organizado

conduz a nossa espécie a procurar a diferenciação, ou seja, uma identidade

independente?

Isto tem a ver com a capacidade de interpretar do hemisfério esquerdo, que está

sempre muito atarefado a fazer a triagem dos comportamentos produzidos a partir dos nossos

inúmeros módulos cerebrais. O hemisfério esquerdo está sempre constantemente a arranjar

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teorias para explicar os acontecimentos, tanto internos como externos, que ocorrem à nossa

volta. É por causa desta estrutura que nós temos uma causa seja para o que for que nos

acontece.

No entanto a maior parte das coisas não acontece como desejaríamos, e nesse caso

gostamos de encontrar causas externas para justificar o nosso descontentamento. Num

exemplo dado pelo autor em que se no território de uma pessoa azul entrar uma pessoa verde,

a pessoa azul acaba por ter alguém a quem incriminar. Este é o mecanismo através do qual se

forma a maioria dos preconceitos.

41- Gazzaniga refere que só o hemisfério esquerdo possui a capacidade de fazer

inferências. Comente.

Os estudos sobre o cérebro revelam que o nosso sistema cognitivo está organizado de

uma forma modular. Isto significa que existe um vasto número de sistemas relativamente

independentes no cérebro que processam a informação proveniente do mundo exterior. O

cérebro humano possui uma capacidade particular, um sistema especial que se encontra no

hemisfério esquerdo, que interpreta os diversos comportamentos desses módulos e, através

dessas interpretações, constrói crenças. O hemisfério esquerdo está permanentemente a

elaborar teorias sobre as relações causais entre acontecimentos elementares que transpiram no

interior e no exterior da nossa cabeça. Estas interpretações são reflexivamente efectuadas pelo

hemisfério esquerdo, porque ele, e só ele, possui a capacidade de fazer inferências. Fazer

inferências significa ir para além da informação fornecida e aprender as relações entre os

elementos. Esta capacidade para fazer inferências existe independentemente do sistema de

linguagem em si, ou seja, é a linguagem que relata as suas actividades, mas não é a linguagem

enquanto linguagem que faz o trabalho, isto é outro factor que aponta para um cérebro

modular.

42- Existem dois importantes pressupostos implícitos sobre o melhor modo de os

humanos responderem aos desafios sociais. O pressuposto básico da nossa cultura é

aquilo que o autor designa por ponto de vista externo e outra que é o ponto de vista

interno. Explique suscintamente estas duas teorias.

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A teoria do ponto de vista “externo” é a que para conseguir lidar com os múltiplos

problemas da vida – problemas que se consideram de tal modo complexos que são vistos como

estando para além da capacidade individual de os enfrentar com êxito - cabendo assim à

sociedade deveria fundar estruturas, agencias ou instituições que ajudassem a gerir problemas

dos indivíduos, ou seja coisas e pessoas podem ser orientadas e resolvidas por intermédio da

administração externa da circunstancias e bens materiais, e em que os seres humanos

assumem reagir a este auxilio vindo do exterior de um modo positivo. Na nossa sociedade

actual existe uma agência, um grupo de aconselhamento ou um sistema de apoio emocional

para todos os problemas que se possam conceber. De certa forma isto constitui um simpático

indicador de benevolência da nossa sociedade, na sua preocupação com os seus membros,

porem outros consideram-no como uma medida do sentimento de culpa da nossa sociedade

relativamente à abundância geral e outros ainda como uma manifestação de um grupo de

interesses especiais. O pressuposto psicológico mais importante na teoria externa é o de que o

organismo é basicamente sensível às contingências de recompensas provenientes do exterior e,

além disso, de que a maior parte dos comportamentos humanos pode ser explicado através da

observação dos condicionalismos do meio em que o indivíduo está inserido. Por sua vez a

teoria do ponto de vista “interno”, esta reconhece que as crenças pessoais são os guias mais

indicados para acção individual e que, ao atribuir a responsabilidade ao indivíduo, os grupos

sociais funcionam melhor. Uma das ideias-chave é a de que a responsabilidade individual e

não de qualquer sistema social. Sistemas sociais que removem a centralidade ao individuo, que

se auto percepciona como agindo livremente, torna-se o impulso destrutivo de uma cultura

orientada do exterior. Assim os partidários desta teoria tendem a ser contra uma resposta social

e centralizada a um problema individual, estão mais inclinados a pensar que no longo prazo os

seres humanos ficarão melhores preparados para gerir as pressões e as tensões da vida

quotidiana a um nível individual e que edificar sistemas de apoio social que absorvem o

sentido de responsabilidade individual e o transferem para uma instituição externa é pouco

saudável para a espécie (por exemplo em vez de haver varredores de rua, as pessoas deveriam

ter interiorizado o conceito de que deitar o lixo para o chão é um comportamento errado). O

individuo reage aos problemas da vida convocando os valores de uma vida inteira que estão

interiorizados e que enfantizam, tanto quanto possível a confiança nas soluções pessoais e na

responsabilidade individual. Aqui a noção chave é a de que quando as pessoas são

consideradas responsáveis pelas suas próprias decisões e acções, tornam-se singularmente

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aptas a responder aos reveses da vida. O partidário desta teoria acredita que a nossa espécie

deveria capitalizar a capacidade de emancipação dos seres humanos, a faculdade de fazer

inferências que ultrapassam as relações imediatamente percepcionadas e, através deste sistema

de gerar hipóteses, formar crenças e dado que as crenças são constituídas por comportamentos

reais, a gestão de recompensas culturais é extremamente importante para o funcionamento de

uma sociedade saudável.

Pode ser generalizada de modo a sugerir que as sociedades quando há menos

organização centralizada. As sociedades funcionam melhor quando os indivíduos são

pessoalmente responsabilizados pelas suas acções.

Assim, o pressuposto mais importante na teoria “interna” é o de que essas crenças

individuais aos factores externos de recompensa e penalização. Fica assim, presente na mente

humana, aquilo a que podemos chamar de representação supraordinária que é livre de se

sobrepor a uma reacção humana às contingências do meio.

Em suma, deste modo o autor acredita que uma sociedade se torna mais compassiva e

humana quando os seus cidadãos sentem que fazem parte dos problemas que atormentam a sua

vida e a única forma de os aproximar desses problemas é estruturar a sociedade em que eles

possam geri-los a um nível individual e espera que, após o esclarecimento de algumas razões

orgânicas porque a nossa espécie formula e acalenta crenças, todos aqueles cuja crença se

opõe às crenças dos outros se tornem mais tolerantes e compreensivos.