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Centro Universitário da Cidade Escola de Educação e Meio- Ambiente Álvares de Azevedo:Anjo ou Demônio? Por Danielle Silva dos Santos

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Centro Universitário da Cidade Escola de Educação e Meio-Ambiente

Álvares de Azevedo:Anjo ou Demônio?

Por

Danielle Silva dos Santos

Rio de Janeiro,2008.

Danielle Silva dos Santos Matricula:061110014

Álvares de Azevedo:Anjo ou Demônio?

Monografia apresentada ao curso de Letras,Português-Literatura,turma LL061T na Disciplina Projeto de Pesquisa.

Professora orientadora:Sandra Farias

RESUMO

ABSTRACT

I-INTRODUÇÃO_____________________________________________ 3

II-DESENVOLVIMENTO_______________________________________6

2.0 - A Ironia Ferina e Romântica:Álvares de Azevedo Condenado___________6

2.1 -Macário:Simpatia pelo Diabo_____________________________________9

2.2-Noite na Taverna:A ferocidade ultra-romântica_________________________14

2.3-Segunda Parte da Lira dos Vinte anos:O Anjo Caído ____________________18

2.4-A Sociedade Epicuréia e Álvares de Azevedo:São Paulo_A Villa Diodati

Brasileira__________________________________________________________21

2.5-Lord Byron:Ao mestre com carinho!__________________________________25

III-CONSIDERAÇÕES FINAIS_________________________________________30

BIBLIOGRAFIA______________________________________32

ANEXOS

Dedico este trabalho á minha família,meus amigos,professores e todas aqueles que mantêm acesa a chama do Ultra Romantismo.

Agradeço a Deus e aos professores Álvaro Marins e Tatiana Soares e principalmente á escritora Gabriella Slovick.

“O meu maior desgosto é que Deus, na realidade, não exista, privando-me assim do prazer de o

insultar mais positivamente.”(Marquês de Sade)

Resumo

Este trabalho tem por objetivo mostrar a outra face de Álvares de Azevedo e Geração Ultra-

romântica brasileira(Sociedade Epicuréia),isto é,a face da ironia e do humor,encobertas pela

melancolia que caracterizou todos os poetas românticos.

Embora essa informação seja desconhecida de muitas pessoas,a ironia e o sarcasmo de Álvares de

Azevedo fizeram o poeta ser o primeiro escritor a incorporar esses elementos na literatura

brasileira,influenciando os artistas contemporâneos.

Palavras-chaves:Ironia,Byronismo,anjo,demônio.

Abstract

This Word had the objection to show the other face of Álvares de Azevedo and Secon

Generation Brazilian Ultra-Romantism(Epicureia society),it’s the irony’s face and the, covereds of

sadness that characterized every romantic poets.

Although this information is unknown to the many people,the Alvares de Azevedo irony and

sarcasm’s done the poet became him the first writer to incorporate this elements in the Brazilian

Literature’s, influencing the contemporaneous artists.

Key-words:Irony,Byronic,angel,devil.

I- Introdução

A Literatura é uma das expressões artísticas mais utilizadas. É através da

composição poética,as vezes da prosa, por exemplo, que se confrontam os temores e se

revelam os mais profundos sentimentos e desejos da alma. É, também na literatura,

que se encontra uma definição estética e ideológica sobre os vários aspectos que

compõem a cultura obscura. Mais precisamente, podemos citar o Romantismo como a

principal referência da Cultura Obscura. Surgido no final do século XVIII, como uma

reação aos ideais Iluministas, o Romantismo traz como principais características a

potencialização das emoções e a aproximação da vida e da obra do autor.

A principal característica do Romantismo em seus três períodos é a

supervalorização das emoções pessoais: nesse estilo é o subjetivismo a palavra de

ordem. À medida que a busca dos valores pessoais se intensifica (como o culto do

individualismo), perde-se a consciência do coletivo social. A excessiva valorização do

"eu" gera o egocentrismo: o ego como centro do universo. Evidentemente, surge aí um

choque entre a realidade objetiva e o mundo interior do poeta. A derrota inevitável do

ego produz um estado de frustração e tédio, que conduz à evasão romântica.

A figura do poeta romântico no social nem sempre levou em conta sua postura

engajada o que só ocorrerá no Condoreirismo, quando Victor Hugo influenciará o

poeta baiano Castro Alves.

No Ultra-Romantismo,seguem-se constantes e múltiplas fugas da realidade: o

álcool, o ópio, os prostíbulos, a saudade da infância, as constantes idealizações da

sociedade, do amor, da mulher. O romântico foge no tempo e no espaço. No entanto,

essas fugas têm ida e volta, exceção feita à maior de todas as fugas românticas: a

morte.

Nesse cenário mórbido paulista surge a poesia de Manuel Antonio Álvares de

Azevedo, nascido em São Paulo em 12 de setembro de 1832,sua poesia tinha como

características melancolia,o desespero e a exacerbação mórbida,além de um pouco de

humor negro seguindo a linha gótica do Ultra-Romantismo, influenciado por Byron e

Musset,o jovem estudou humanidades no Colégio Pedro II no Rio de Janeiro e com

apenas 17 anos ingressou na Faculdade de Direito de São Paulo,onde conheceu

Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa,com quem formaria a Sociedade Epicuréia

que tinha como palavra de ordem a boemia.Aos 21 anos sofrendo de Tuberculose,

volta ao Rio de Janeiro para passar as férias com a família, quando uma queda de

cavalo agrava sua doença e morre em 25 de abril de 1852(domingo de Páscoa).Alguns

anos depois de sua morte precoce,sua obra é publicada,na qual se destacam:Noite na

Taverna,Lira dos 20 anos,além da peça teatral Macário.

O fascínio pela natureza, a exaltação amorosa,as especulações filosóficas,o pendor ao

misticismo,ao Indianismo,ao exótico,a tentação a se deixar levar pela morte, supremo

desaforo a uma sociedade tacanha,todas essas facetas,procedentes de fato de tantos

sonhadores reais,terão contribuído para se retratar um romântico apenas por seu

perfil de pessoas fora da realidade.

O espírito da sátira, eventualmente destilados em ironia impregna não só

panfletagens,mas também toda a lírica de Álvares de Azevedo que tal qual seus

mestres Lord Byron,Shelley,Heine e outros soube como poucos zombar de sua

condição de poeta,dos costumes de sua época e de sua escola literária,o Romantismo

que também levou poetas como ,Mario de Andrade,Carlos Drummond de

Andrade,Manuel Bandeira a ironizar e criticar o cotidiano e sua época,como no

exemplo abaixo,um protesto contra”os vates de esquina” em “O Poema do Frade”:

“Dizer que era poeta é cousa velha

No século da luz assim é todo

Que o herói assemelha.

Vemos agora a poesia a rodo!

Nem há nos botequins vermelha,

Amarelo Caixeiro,alma de lodo

Nem Bocage d’esquina,vate imundo,

Que não se creia um Dante vagabundo!”

Álvares de Azevedo,uma das figuras mais enigmáticas da Literatura mostrou

sua face mais irônica através de obras como ‘’Macário’’,’’Noite na Taverna’’ e a

segunda parte da ‘’Lira dos Vinte anos’’,talvez a morbidez,o satanismo e a ironia

de suas obras,tenham sido transferidos para sua personalidade,e esta seja a sua

face verdadeira.

Através do sarcasmo,o jovem poeta parece estar antecipando o que seria o rock

dos anos 80 no Brasil com Cazuza,Renato Russo e Legião Urbana que também

chocaram uma sociedade com suas maneiras nada convencionais de ver o mundo e fazer

poesia,enquanto Lord Byron influenciava os Rolling Stones na música Sympathy for the

Devil(Simpatia para o diabo) nos anos 70 e 80 na Inglaterra,Cazuza e o líder da Legião

Urbana eram influenciados pelo nosso byroniano mais famoso Álvares de Azevedo.

2.0 A Ironia Ferina e Romântica:Álvares de Azevedo Condenado

“O inferno é uma cidade muito parecida com Londres / Uma cidade com muita gente e muito fumo.”

(Percy Bysshe Shelley)

A ironia é um instrumento de literatura ou de retórica que consiste em dizer o

contrário daquilo que se pensa, deixando entender uma distância intencional entre

aquilo que dizemos e aquilo que realmente pensamos. Na Literatura, a ironia é a arte

de gozar com alguém ou de alguma coisa, com vista a obter uma reação do leitor,

ouvinte ou interlocutor. A ironia de situação é a disparidade existente entre a intenção

e o resultado: quando o resultado de uma ação é contrário ao desejo ou efeito

esperado. Da mesma maneira, a ironia infinita (cosmic irony) é a disparidade entre o

desejo humano e as duras realidades do mundo externo,segundo os dicionários.

Álvares de Azevedo foi um ultra-romântico como todos nós

sabemos,normalmente apenas é focada sua melancolia e sua inadequação ao

mundo,porém o jovem poeta possui características que o difere dos demais

byroneanos,pois ele foi um dos poucos que escreveu entre o indianismo de Gonçalves

Dias e os versos políticos de castro Alves.

A obra de Álvares de Azevedo exige um pouco de cautela ao ser lida,se por um lado

Lord Byron foi um de suas maiores influencias,por outro lado não se pode ignorar

uma de suas maiores contribuições para a Literatura Brasileira:o jovem byroneano

foi um dos primeiros poetas a utilizar a ironia como técnica poética ao

incorporar sua poesia a descrição de objetos cotidianos como

Conhaque,charutos,absinto,cama,livros e poemas etc. Sua ironia ainda que de forma

artificial tinha como objetivo criticar a sociedade que segundo ele e outros românticos

era retrógrada e antiquada,pelo fato de não verem o Romantismo com otimismo e a

Sociedade Epicuréia ser vista com antipatia.

Ao analisar-se a poesia de Álvares de Azevedo, percebem-se características do

ultra-romantismo, contidas no poema “Lembrança de morrer”, que conferem ao

poeta lugar de destaque no movimento literário influenciado por Byron, que em sua

obra divulga o “mal do século”.

A autora Cilaine Alves, em seu estudo intitulado “O belo e o disforme: Álvares de

Azevedo e a ironia romântica”, nos diz que “O poema em estudo, trata-se de um

poema rico em elementos, para a análise e compreensão da obra de Álvares de

Azevedo” (ALVES, 1998, p.148). Na análise que se segue a temática amorosa como

afirma João Domingues Maia, no prefácio de “Lira dos vinte anos”, é a mulher

inatingível de quem na maioria das vezes o eu lírico vela o sono, sem ousar tocá-la.

(AZEVEDO, 2001, p. 10-11).

Antonio Candido afirma, ainda na 1ª parte do livro “Lira dos vinte anos”, que

“[...] temos um poeta pleno em fé na poesia e no amor, afirmando serem espontâneos

os seus cantos, fundados nos mistérios de seu amor e solidão [...]” Ele almeja um

mundo visionário e platônico. (CANDIDO, 1978, p. 108).

Álvares tem uma identidade própria que vai além da influência byroniana,todo poeta

apesar de se inserir em um estilo ao qual é influenciado, tem identidade em seus próprios

pensamentos, cada ser humano é único e sua forma de pensar também. A fase do mal do

século é uma frustração com a decepção da revolução francesa por isso o ultra-pessimismo

além de outros fatores que nós já conhecemos mas isso não significa que no caso do

Álvares, por ter influência byroniana, ele não tenha identidade própria.

Álvares não era muito diferente do que se conhece de um espírito jovem, genial e

que vivia no século XIX. Apenas traçando um percurso século em que vivia o

poeta,poderíamos ter maior compreensão sobre sua obra.Ele era mesmo uma mistura

de anjo e de demônio com uma pitada de irreverência e notável inteligência,ou seja ao

contrario de muitos Ultra-românticos,ele sabia dosar a emoção a razão,além de sua

obra e sua vida.

Na Formação da literatura brasileira, de Antônio Cândido, assim se comenta a

relação estreita entre a obra de Azevedo e a sua vida (como aconteceria com qualquer

escritor romântico): Sentiu e concebeu demais, escreveu em tumulto,

sem exercer devidamente o senso crítico, que

possuía não obstante mais vivo do que qualquer

poeta romântico, excetuando Gonçalves Dias.(...) E

Vida

Obra

Anjo

Demônio

Melancolia

Ironia

sabemos que se a obra de um clássico prescinde

quase por completo o conhecimento do artista que

a criou, a dos românticos nos arrasta para ele,

graças à vocação da confidência e a relativa

inferioridade do verbo ante a insofreada

necessidade de expressão.(CANDIDO, 1981, p.178)

Atualmente tem suscitado alguns estudos acadêmicos, dos quais sublinham-se :"O

Belo e o Disforme", de Cilaine Alves Cunha (Ed. USP, 2000), e "Entusiasmo

indianista e Ironia byroniana" (Tese de Doutorado, USP, 2000); "O Poeta Leitor. Um

estudo das epígrafes Hugoanas em Álvares de Azevedo", de Maria C.R. Alves

(Dissertação de Mestrado, USP, 1999).

Suas principais influências são: Lord Byron, Chateaubriand, mas principalmente

Alfred de Musset.

Um aspecto característico de sua obra e que tem estimulado mais discussão, diz

respeito a sua poética, que ele mesmo definiu como uma "binomia", que consiste em

aproximar extremos, numa atitude tipicamente romântica.

É importante salientar o prefácio à segunda parte da Lira dos Vinte Anos e toda sua

face Caliban que definirá um dos pontos críticos de sua obra e na qual define toda a sua

poética e sua ironia,porem sua vida também influenciará não só seu modo de

escrever,mas também sua poética,inclusive a ironia.Como mostra o esquema abaixo:

2.1 Macário:Simpatia pelo Diabo

"Deus é uma hipótese, e, como tal, depende de prova: o ônus da prova cabe ao teísta. “

(Percy Shelley)

Embora o subtítulo se refira à música Sympathy for the Devil do grupo de rock

inglês Rolling Stones,também é perfeita para designar a peça teatral Macário de

Álvares de Azevedo,pois ambos influenciados por Goethe em Fausto colocaram o diabo

como porta voz do verdadeiro espírito ultra-romântico que possuía como característica

o deboche a igreja Católica que tanto incomodava os seguidores de Byron e Shelley.

O

jovem poeta mostra que tem domínio sobre o ateísmo ao colocar em suas obras um

caráter metafísico,assim como seu ídolo,o poeta Percy Bysshe Shelley(1792-

1822),veremos abaixo um trecho de “A necessidade do Ateísmo” de Shelley:

"Se Deus é infinitamente bom, por que temê-lo? Se ele sabe de tudo, por que precisamos informá-lo de nossas

necessidades e aborrecê-lo com orações? Se está em toda parte, por que construir templos? Se ele é justo, por que

temer que ele castigue as criaturas que ele encheu de fraquezas? Se ele é todo poderoso, como ofendê-lo, como

resistir a ele? Se ele é razoável, por que ficaria irritado com os pobres ignorantes a quem deu a liberdade de não

serem razoáveis? Se ele é imutável, por que a pretensão de querer que mude suas decisões? Se ele é inconcebível,

por que perder tempo com ele? Se ele já falou, porque o universo não se convenceu? Se conhecer sua vontade é tão

importante, por que ele não se faz claro e evidente?”(tradução nossa)

Assim como Álvares de Azevedo e Lord Byron,a banda inglesa Rolling Stones

humanizou o diabo na música Sympathy for the Devil(Simpatia pelo Diabo) contando

suas peripécias na Terra,que vai desde o julgamento de Cristo, a ascensão de Hittler, a

Revolução Russa, o assassinato do presidente Kennedy. Mais que tudo: a inversão ou

questionamento dos valores já presente na figura clássica de Lúcifer. Ambos são

homens(Lúcifer e Satã) de boas maneiras a serem recebidos com educação, o

primeiro apesar de insistir que todo policial é um criminoso e todo pecador um

santo,em Macário, todos são pecadores,ou seja,ambos são humanos como veremos nos

fragmentos da peça e da musica abaixo,supremo desaforo a Igreja:

Exemplo I:

“Por favor, deixe-me apresentar

Sou um homem rico e de bom gosto

Estive por aí por muitos anos

Roubei a alma e destino de muitos homens.

(..) Prazer em conhecê-lo

Espero que adivinhe meu nome.

Mas o que está te intrigando

É a natureza de meu jogo(...)

“Então se encontrar-me

Seja cortêz,

Seja simpático e tenha bom gosto

Use de toda polidez que conhece

Ou então detruirei sua alma.”

(Rolling Stones,Sympathy for the devil,1965?-1969-trad.nossa)

Exemplo II:

“Macário: És O diabo em pessoa. Para ti nada há bom.

Pelo que vejo, na criação só há uma perfeição, a tua.

Tudo e mais nada vale para ti.

Substância da soberba, ris de tudo o mais embuçado

no teu desdém.

Há uma tradição, que quando Deus fez o homem,

veio Satã achou a criatura adormecida,apalpou-lhe o

corpo,achou-o perfeito e deitou-lhe ali as paixões.

Satã:Essa história é uma mentira.O que Satã pôs

ali foi o orgulho.E o que são vossas virtudes humanas

Senão a encarnação do orgulho?

(Macário-ato primeiro)

Em Macário, as narrativas são difusas e os relatos não são muito claros para o

leitor, da mesma forma que não são muito claramente vividos pelas personagens.

Deve ficar claro que o leitor ao entrar em contato com as histórias pela ótica de

Macário, que por sua vez, as vezes as verá pela ótica de Satã, o símbolo do mal. Sabe-

se que o satanismo, a queda para o mal, constitui um dos principais elementos do

ultra-romantismo de Byron e Musset, o chamado "mal do século".

Por isso é importante esclarecer o lado do pólo do mal que predomina na obra em

questão, é personificado em especial pelas imagens do libertino e da mulher perdida, a

prostituta, aquele que é o seu oposto complementar: o pólo do bem, manifestado

através da mulher anjo, e a idéia do amor como regeneração de todos os vícios, enfim,

das mais preciosas ambições amorosos e libertárias dos que seguem a linha do

Byronismo.

Segundo alguns teóricos,Macário seria o inicio de “A Noite na Taverna”,essa

hipótese é contestada por muitos professores e críticos,isso ocorre devido à

semelhança de caráter da personagem Macário com os personagens da Noite na

Taverna,e por causa da perdição.Outro problema a ser discutido a respeito da peça é

sua classificação,talvez pelo fato de não ter sido feita para ser representada,mas

lida,como a maioria das peças teatrais surgidas na época do Romantismo.

De difícil classificação quanto ao gênero, oscila entre o teatro, o diário íntimo e a

narrativa (composição livre, meio diálogo, meio narração), que se estabelece através

do diálogo entre Satã e Penseroso, tendo por centro os vícios e desatinos da cidade

grande.Misturando ficção e realidade,Álvares de Azevedo não perde a oportunidade

de criticar São Paulo,a cidade do “Spleen”,como ele mesmo se referia nas cartas

endereçadas a mãe e a irmã.

Macário narra a saga de um jovem que viaja à cidade a estudos e, em uma de

suas paradas pelo caminho, faz amizade com um estranho que se trata de ninguém

menos que o Satã em pessoa aqui apresentado como um jovem da mesma idade de

Macário e se torna seu colega de boemia que ao final da peça o levará a presenciar

uma orgia,cujo cenário é o mesmo de A Noite na Taverna,estabelecendo assim um

vinculo entre a peça teatral e o livro de contos.A peça retrata um ambiente totalmente

obscuro povoado por viciados,bêbados e prostitutas,em uma estrutura que se

alternam cenas exteriores e interiores,narração dialogada e solilóquios.Segundo

Antonio Candido:”Macário é o Álvares de

Azevedo,byroniano,ateu,desregrado,irreverente,universal:Penseroso,o Álvares de

Azevedo sentimental,crente,estudioso e nacionalista.Aquele por contraste situado em

São Paulo,este,na Itália.”

A obra prima escrita em dois atos envolve os planos real e onírico,o que parece

estar antecipando a teoria de Freud a respeito dos sonhos e o surrealismo misturado

as criticas sociais de Franz Kafka. Podemos ver que a prosa gótico-romântica tem em

sua característica principal uma afronta ao relacionamento e o materialismo burguês

e atinge as zonas mais escuras e antilógicas do subconsciente, onde se fundem os

instintos de morte/vida, libido e terror, antes mesmo de Freud surgir. O trecho

selecionado é a descrição da cidade de São Paulo,apresentada em uma ótica realista e

critica,que de certa forma retoma a má vontade que Álvares de Azevedo vivia em

relação a cidade que o aborrecia como confessava nas cartas endereçadas a sua mãe.

Satã leva Macário em seu burro para a cidade de São Paulo nesta parte pode-se

observar a extrema ironia com que Satã ridiculariza a sociedade paulista do século

XIX e o fato de Macário comparar a mulher ao diabo e as críticas à hipocrisia

religiosa:

“..Macário:Esta cidade deveria ter o teu nome.

Satã:Tem o de um santo: é quase o mesmo.

Não é o hábito que faz o monge. Demais,

essa terra é devassa como uma cidade,

insípida como uma vila e pobre como uma aldeia.

Se não estás reduzido a dar-te ao pagode, a

suicidar-te de spleen, ou a alumiar-te a rolo, não

entres lá. É a monotonia do tédio. Até as calcadas!

(...)

Satã:São intransitáveis. Parecem encastoadas as tais pedras.

As calçadas do inferno são mil vezes melhores.

Mas o pior da história é que as beatas e os cônegos

cada vez que saem, a cada topada, blasfemam tanto

com o rosário na mão que já estou enjoado

Admiras-te? Por que abres essa boca espantada?

Antigamente o diabo corria atrás dos homens,

hoje são eles que rezam pelo diabo.

Acredita que faço-te um favor muito grande em preferir-te

à moça de um frade que me trocaria pelo seu Menino

Jesus e a um cento de padres que dariam a alma,

que já não tem,por candidatura.

O ultra-romantismo foi um movimento de origem católica,por esse motivo a

figura do diabo está divinizada,idealizada,uma vez que ele é adversário não só de Deus

mas também de toda a humanidade.O diabo azevediano é um misto de demoníaco e

angelical,ou seja, a escola byroniana redimiu essa figura polêmica.Satã é belo,mas a

presença dos pés de bode denuncia sua presença,como foi convencionado após o Sabá.

Na verdade o Satanismo não é o culto do demônio, diabo, capeta, enfim nada do

gênero. O Satanismo é um culto a uma entidade mais próxima dos seres humanos,uma

entidade que além de ser superior é um ser com emoções e sentimentos como os

humanos por isso pensam que os leitores atuais rotulam os ultra românticos de

satanistas que é o culto ao diabo,pois essa entidade gosta de festas, vinhos, orgias,

sente amor, raiva,entre outros sentimentos humanos,exatamente como os antigos

gregos com seus deuses: Baco,Hécate,Hades,Perséfone que eram os deuses que

habitavam a terra e que parecem proteger os byronzinhos que cultuavam o ceticismo

e os prazeres carnais.Pires de Almeida retrata como os ultra-românticos,tais como seu

poeta maior,Álvares de Azevedo costumavam ironizar a igreja,cultuando o diabo:

“Assim é que não se tratava verdadeiramente de uma missa negra com sacrifícios

humanos;isto é,não se imolavam criancinhas nessas noitadas libertinas,

verdadeira missa negra,estava submetida a ritual que era paródia do sacrifício da

missa cristã,mas paródia a Satã,bem que oficiada por legítimos

sacerdotes...”

(ALMEIDA, 1969,p 65)

Ainda que Álvares de Azevedo tenha tido como referência literária "os clássicos

europeus", suas obra e teoria teatrais expressaram certa inadequação a estes

parâmetros usando, algumas vezes, a metáfora do selvagem. Segundo nossa visão, o

autor percorreu um caminho criativo cujo ponto de partida, a cultura européia, o

reconduziu à vida brasileira primitiva ou primordial: situado nos trópicos, Macário

faz de sua semelhança com Fausto anomalia, pois toma um rumo imprevisto se

confrontado com o "clássico alemão. Muitas vezes consideradas cópias mal-acabadas

dos cânones europeus, as obras nacionais podem nos apresentar, contudo, novas

formas justamente porque falharam no ato da reprodução. É o que se diz sobre

Álvares de Azevedo cuja obra é considerada suficientemente boa para figurar entre os

cânones brasileiros, mas é, por outro lado, entendida como fragmentária ou

inacabada se comparada às regras canônicas da composição literária.

2.2 Noite na Taverna:A Ferocidade ultra-romântica

“A vida é como o vinho: se a quisermos apreciar bem,

não devemos bebê-la até à última gota.”

(Lord Byron)

A taverna no século XIX era onde Eros e Psique tinham encontro marcado com

Hades e Tanathos,era o local favorito da juventude da epoca,para muitos o ambiente

da perdição.Porém, na taverna do livro de contos “A Noite na Taverna”,também há o

encontro com Baco e Momo(deus da sátira e da ironia na mitologia grega).

Embora de forma implícitas a sátira e a ironia estão presentes nos contos apesar

dos tons obscuros que o autor colocara nas narrativas,daí surgem os equívocos ao

estudar suas obras.Uma forma já definida na literatura convencional é o chamado

Conto Gótico que foi criado na época do romantismo.Os sentimentos de solidão do

autor surgiam através de determinados símbolos,que,muitas vezes,se tornam objetos

de interpretação psicológica,como por exemplo,um castelo em ruínas, para que ele se

assemelhe ao vazio da pessoa,sugerindo assim que a arte apenas tem importância a

medida em que possibilite a identificação do autor enquanto ser social,sendo este

individuo necessariamente o autor e acidentalmente o leitor.

Essa definição foi definida por em meados dos anos 20 por Howard Philips

Lovecraft em seu ensaio ‘’O Horror sobrenatural na Literatura’’ foi aceita alguns

anos após sua morte em 1937 por diversas entidades de literaturas vigentes.

Se analisarmos o livro de contos de Álvares de Azevedo seguindo a teoria de

Lovecraft,ainda continuaremos com a mesma imagem equivocada que tanto

caracteriza os livros didáticos,pois segundo o escritor e critico literário norte

americano a taverna caracterizaria a perdição e o desejo sexual do homem,como

pode-se perceber nas personagens:Solfieri,Bertram,Genaro,Johan,Claudius Herman e

outros que aparecem apenas para fazer companhia aos convivas,como

Archibald.Movidos pela imaginação exacerbada, os contos apresentam os desvarios

do poeta envolvido por uma conturbação febril.

Marcada pelo mal do século, apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo,

satanismo e atração pela morte,ironia somada a maldade e a violência,uma vez que

todos os personagens aparecem embriagados.Essa ironia transparece a mentalidade

irônico- dionisíaca romântica de estar sempre embriagado de imaginações.A ironia de

Álvares de Azevedo é tipicamente britânica por influencia de Byron,portanto estranha

a cultura latina-americana.Visivelmente artificiais, as narrativas desta obra recebem

certa dose de magia e coerência por envolver o leitor.

E se as histórias relatadas não são verossímeis, pelo menos disfarçam suas

incoerências pela atração com que o autor conduz sua imaginação, de modo que quase

parecem reais, colocando-as envolvidas por uma onda infindável de orgias deboches,

sátiras, paixões transfiguradas, relatadas pela pequena galeria de personagens

boêmios que vão tomando a palavra.

Das páginas de Noite na Taverna vão surgindo relatos impregnados de um clima

surreal e anormal. Os personagens normalmente são marcados por tragédias,a obra

pode ser considerada um livro de contos,embora haja um fio narrativo que une todas

as histórias,ou seja,a taverna.

Embora as ironias estejam bastante escassas neste livro de contos,podemos perceber

uma parte do humor negro que tanto caracterizou o jovem poeta,como o nome da

espanhola Ângela,o nome contrasta totalmente com os assassinatos que ela comete ao

longo do conto de Bertram,revelando que a mulher é a perdição de um homem e a

ironia a rigidez da sociedade que não permitia ás mulheres outra vida senão a

doméstica:

”Foi insana minha vida com aquela mulher!Era um viajar sem fim.

Ângela vestira-se de homem:era um formoso mancebo assim.

No demais ela era como todos os moços libertinos que batiam

a taça na dela...”

(Bertram)

A bebida funciona como refugio para a confusão que representa a realidade pra um

ultra-romântico que no Brasil chega a ser uma caricatura do byronismo

original.Antonio Cândido critica a artificialidade da escola byroniana:

"Quando porém os jovens tentaram criar artificialmente um estilo de vida byroniano

e copiar o tom de seus livros, o resultado foi quase sempre desastroso.

Os estudantes de São Paulo, com suas blasfêmias exteriores e retórica decorada,

suas pobres orgias à luz de lamparina, regadas a cachaça, ao som da magra viola

sertaneja,não criaram atmosfera para outra coisa senão a paródia. Álvares de Azevedo

no círculo estreito da Academia,”a república”,os bailes provincianos,as férias na Corte

foi bastante pueril nas três obras acentuadamente byronianas, onde o tom coloquial,

a aisance insinuante das digressões do modelo, a sua maestria no jogo de contrastes,

se tornam incoerência palavrosa e sem nexo, com os seus condes e cavaleiros

grotescos as suas mulheres fatais, num artificialismo de adolescente escandecido.

No Conde Lopo surgem todos os piores e mais vulgares chavões românticos,

com tão pasmosa minúcia, que se poderia aplicar a ele o que disse um critico americano

outra obra:- "é tão má, mas tão má, que quase chega a ser boa."

(CANDIDO,1978,p 188-189)

A literatura gótica no Brasil, entretanto,não só por causa de elementos estranhos a

cultura,como castelos e florestas obscuras,também não se desenvolveu por causa da

intelectualidade brasileira que sempre foi preponderantemente positivista. Segundo

Lovecraft os povos, para criarem obras fantásticas de terror sobrenatural, deveriam

ter certa “inclinação” para o deslumbramento diante do irracional, afirmando que a

França e seu povo, por exemplo, seriam racionais demais para tanto,chega a alinhavar

os judeus no rol dos povos possuidores de uma mitologia, com seus golems, dybbuks e

outras criaturas, capaz de inspirar o terror sobrenatural: “Um ramo florescente da literatura fantástica, posto que até

recentemente muito pouco conhecido, é o dos judeus,

que perdurou e prosperou em obscuridade à custa de sombria da magia,

da literatura apocalíptica e a cabala oriental. A mente semita,

como a céltica e a teutônica, parece possuir tendências místicas marcadas;

e a abundância da tradição de horror que sobrevive oculta nos guetos

e nas sinagogas é provavelmente maior do que se imagina. (...)

O folclore judaico conservou grande parte do terror e do mistério

do passado, e quando estudado de modo mais completo e provável que venha a

exercer considerável influência na literatura do sobrenatural.” (LOVECRAFT, 1987, p. 44-45)

Apesar de ser bastante preconceituosa a teoria do escritor norte-americano está

próxima da literatura brasileira principalmente no que diz respeito a Álvares de

Azevedo em” A Noite na Taverna” mentalidade artística brasileira é descendente de

Victor Hugo e sua visão política.

2.3-Segunda Parte da Lira dos Vinte anos:O Anjo Caído

“Parece cocaína mas é só tristeza, Talvez venha a

ser tarde.

Muitos temores nascem do cansaço e da solidão

E o descompasso e o desperdício herdeiros

são

Agora da virtude que perdemos. “

(Renato Russo-Há tempos)

Segundo a teologia católica, o Anjo Caído ou Anjo Decaído é um anjo que

cobiçando um maior poder, acaba se entregando "às trevas e ao pecado". O termo

"anjo caído" indica que é um anjo que caiu do Paraíso. O Anjo Caído mais famoso é o

próprio Lúcifer, também conhecido como Satanás ou Diabo. A idéia de anjos caídos

fornece a explicação para a existência do inferno e de demônio na religião católica,e

essa será a ideia para Alvares de Azevedo na segunda parte da Lira dos Vinte

Anos,enquanto na primeira parte temos a pureza,aqui temos a sátira ferina.

“O humorismo se reúne á delicadeza sentimental,mórbida e triste para

a descrição poética da vida diária,transfigurando a constelação

de objetos,pormenores, hábitos,que formam o ambiente de cada um.”

(CANDIDO,1978,pg 190)

È possível dividir a Lira dos vinte anos em duas grandes partes.Na primeira

parte,temos uma visão erótica ingênua do amor e, Mário de Andrade, em seu já citado

estudo sobre os poetas românticos, buscando comprovar sua tese de que o medo de

amar dilacerava Álvares de Azevedo, fez um cuidadoso levantamento dos momentos

em que o eu-poético tremia nas poesias do autor, sobretudo, diante da amada. Na

estrofe anteriormente destacada, ao veicular a voz do cânone, o eu poético também

treme, e treme duas vezes,demonstrando a consciência de que sempre se tratou de

fingimento: lá, na poesia monofônica, canônica, um fingimento que se escamoteava,

aqui, um fingimento que se revela, por se inserir em um texto auto-irônico, que desdiz

o já dito.Para continuar tratando da desconstrução do eu. Segundo Machado de Assis

em sua critica literária feita na Semana Literária de 1866(seção do Jornal Diário do

Rio de Janeiro):

“...Como poeta humorístico, Azevedo ocupa um lugar muito distinto.

A viveza, a originalidade, o chiste, o humour dos versos deste gênero são notáveis. Nos "Boêmios",

se pusermos de parte o assunto e a forma, acha-se em Azevedo um pouco daquela versificação de Dinis,

não na admirável cantata de Dido, mas no gracioso poema do Hissope.

Azevedo metrificava às vezes mal, tem versos incorretos,

que havia de emendar sem dúvida; mas em geral tinha um verso

cheio de harmonia, e naturalidade, muitas vezes numeroso, muitíssimas eloqüente.

Ensaiou-se na prosa, e escreveu muito; mas a sua prosa não é igual ao seu verso.

Era freqüentemente difuso e confuso; faltava-lhe precisão e concisão.

Tinha os defeitos próprios das estréias, mesmo brilhantes como eram as dele.

Procurava a abundância e caía no excesso. A idéia lutava-lhe com a pena,

e a erudição dominava a reflexão. Mas se não era tão prosador como poeta,

pode-se afirmar, pelo que deixou ver e entrever,

quanto se devia esperar dele, alguns anos mais.”

Manuel Antônio Álvares de Azevedo foi um homem que sofrera muito em sua curta

vida, movido por pensamentos, sabendo que morreria cedo pois não havia cura para a

tuberculose. Começou a questionar a vida,daí o caráter metafísico de suas

obras.Entendia toda a diferença sobre o céu e o inferno, porem influenciado por Lord

Byron. Cultivou também o tema da morte e do escapismo, quase sempre expressos

num tom triste e amargurado.Seus poemas expressam uma concepção de amor que

ora idealiza a mulher, identificando-a como um anjo, ora representa-a envolvida por

um grande erotismo e sensualidade. Na segunda parte , ele mesmo diz "Cuidado,

leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos

encontrar um mundo novo(...)". E de fato, temos um outro Álvares de Azevedo. Mais

consciente de seu procedimento poético, mais irônico, mais sensual e com um erotismo

mais acentuado e mais maduro,talvez essa seja sua face verdadeira segundo

testemunhas da época em primeira,corresponderia à fase expansiva em que o artista é

ingênuo, inspirado e imaginativo,ou seja, um paradigma da estética romântica.

Priorizando a segunda parte de A Lira dos Vinte anos,o jovem poeta mostra uma face

mais brasileira,através de seu sarcasmo e a acidez de seu humor,mostrando seu

conceito de brasilidade ao ultra-romantismo,por isso não podemos dizer que ele

negou totalmente a latinidade,pelo fato de ser homem da metrópole,o Byron brasileiro

não conheceu o Brasil floresta e sim a emergência do Brasil urbano,como sendo um

precursor da tendência do Rock Brasileiro nos anos 80,como podemos ver em ambos

os textos abaixo que ironizam as convenções amorosas:

ExemploI:

“Eu moro em Catumbi.Mas a desgraça

Que rege minha vida malfadada

Pôs lá na rua do Catete

A minha Dulcinéia namorada.”

(Namoro a Cavalo_Lira do 20 anos segunda parte)

Exemplo II:

“Eu tô perdido

Sem pai nem mãe

Bem na porta da tua casa

Eu tô pedindo

A tua mão

E um pouquinho do braço”

(Maior abandonado_Cazuza)

Os melhores escritos de Álvares de Azevedo tratam de um Brasil próprio de um

estudante de Direito,afeito a galhofa e á brincadeira,desta forma o rapaz impregnou

de brasilianismo alguns de seus textos.Pires de Almeida em A Escola Byroniana fala

da ambigüidade ultra-romântica de Álvares de Azevedo e seus companheiros da

Sociedade Epicuréia:

“....Mas a qual dos gêneros afeiçoar-me?À byroniana,libérrima,cambaleante,ébria

e ao mesmo tempo altiva,arrogante,galgando com Manfred os cimos nebulosos?

enlevando-me na compreensão do remorso,personificado em Caim?

comprazendo-me no tédio constante da vida como em Child Harold? Ou

pender-me para o gênero satânico,doentio e bizarro que imortalizou Baudelaire e Leopardi?

Não me conviria talvez ensaiar os assombrosos efeitos,os violentos lances das tragédias

românticas de Victor Hugo?Quem sabe?...”(ALMEIDA, 1969,p 35)

Ora, a oclusão do sujeito em si próprio é detectável por um fenômeno bem conhecido:

o devaneio, o erotismo difuso e obsessivo, a melancolia, o tédio, o namoro com a

imagem da morte na figura feminina, a depressão, atitudes masoquista: como a auto-

ironia demostram desfigurações todas de um desejo de viver que não logrou sair do

labirinto onde se aliena o jovem crescido e em fase de estagnação,uma vez que o poeta

contava apenas dezessete ou dezoito anos quando escreveu o livro de poemas,na suíte

Idéias Intimas,Álvares de Azevedo deixa ainda mais explicita sua veia cômico-

biográfica,o herói ou seria anti-herói?,é um estudante como ele que vive em meio a

livros de Direito,a idolatria de grandes poetas mundiais ás crises da adolescência:

‘’A mesa escura cambaleia ao peso

Do titâneo Digesto,e ao lado dele

Child Harold entreaberto ou

Lamartine mostra que o Romantismo

Se descuida e que a poesia sobrenada

Sempre ao pesadelo clássico do estudo...”

Enquanto o homem busca um espaço social, muitas vezes iludido quanto às

possibilidades concretas de atingi-lo, o ultra-romântico afasta-se;opta pela fantasia ao

invés da realidade, entrega-se aos seus próprios fantasmas, oculta-se do mundo

passando a ser ele mesmo o seu mundo geram condicionamentos e feridas ao tentar

adaptar-se ou seja essa ironia é fruto de uma inadaptação a essa sociedade com o cruel

com o diferente,Álvares na primeira parte é anjo de luz,agora é anjo caído.

2.4- A Sociedade Epicuréia e Álvares de Azevedo:São Paulo_A Villa Diodati Brasileira

“Hoje é dia de vinho e mulheres, alegria e risadas. Véspera de sermões e muita água mineral.

(Lord Byron)

Os jovens paulistanos do século XIX, bastante influenciados por Lord Byron,cuja

admiração, levou esses rapazes a criar a Sociedade Epicuréia,que para os atuais

estudiosos era uma tentativa frustrada de imitar o célebre encontro de Lord

Byron,Percy Shelley,Mary Wollstonecraft(mais tarde Shelley),Claire Clairmont e

John William Polidori em 1816,na noite de tempestade em Villa Diodati(Genebra-

Suiça) encontro o qual nasceram “Frankenstein” de Mary Shelley e “O Vampiro” de

John William Polidori,também costuma-se ouvir historias absurdas envolvendo sexo e

drogas,enquanto os ingleses se divertiam lendo as bizarras histórias do clássico de

terror alemão “Fantasmagoriana”,nossos rapazes tinham por diversão imitar seu o

desvairado lorde e tentar escrever histórias de terror cujos resultados foram

desastrosos.Antonio Candido em A Formação da Literatura Brasileira mostra como

seria o Romantismo ideal:“Pessimismo,humor negro,perversidade,de mãos dadas com ternura,

singeleza,doçura,nestes poetas é o que devemos procurar.

Considerados em bloco,formam um conjunto em que se manifestam

características mais peculiares do espírito romântico...”

(CANDIDO,1978,p 150)

Seguindo as idéias de Epicuro que pensava que a dor e o prazer eram a melhor

maneira de medir o que era bom ou ruim, a morte era o fim do corpo e da alma e

portanto não deviamos temer os deuses,ou seja a escola ultra-romantica que

infelizmente como Alvares de Azevedo,não deixou muitos registros escritos sobre sua

ironia,que se encontra mais nos gestos,cuja idolatria ultrapassou todos os limites do

racional como Pires de Almeida conta em A Escola Byroniana no Brasil:

“...A pena hesita descrever o complexo dos sacrilégios,os excessos

a que se entregavam aqueles precussores do simbolismo

contemporâneo,aqueles imitadores conscientes de Byron...”

(ALMEIDA,1969,p 64)

A ironia ultra-romântica também pode ser percebida nas atitudes de seus

seguidores,não apenas nas panfletagens, nossos byronianos se assemelhavam aos seus

ídolos britânicos Byron e Shelley justamente pelo fato de terem atraído a antipatia de

seus imperadores(Rei George na Inglaterra),até nosso imperador D.Pedro II

manifestou antipatia pelos “byronzinhos” como ficaram conhecidos os rapazes

seguidores do desvairado lorde inglês:

“Não se pode imaginar de byronzinhos que pululavam de toda parte,em seu tempo,e muito

depois,escanhoados,frisados,com o traço de desdém na comissura do lábio superior

estudando-lhe ao espelho,o franzimento das sombrancelhas,

o colarinho aberto e o nó da gravata flutuante.”

(ALMEIDA,1969,p 102)

A mal ladrilhada São Paulo não representava quase nada aos candidatos á fama

literária,mas os fieis seguidores de Byron dominavam a cidade que apesar do

calçamento ruim eram comuns os passeios ao Parque da Luz ou até a várzea(atual

Marginal Tietê),que era como o Lago Gêneva para esses jovens,um relato de uma

cidade insípida e sem poluição,Álvares de Azevedo em cartas endereçadas a família

registro todo seu desapontamento em relação a cidade de São Paulo,a cidade do

Spleen com a mesma ironia que ira caracterizar sua obra principalmente em

Macário.Pires de Almeida mostra o quanto o byronismo mudou os rumos da

literatura brasileira apesar de sua marginalização:“Byron havia criado uma nova escola que trazia seu nome e essa escola

,consubstanciando uma crise na alma humana no começo

do século décimo nono, prolongou-se até nossos dias passando por modificações parciais

,tomando denominações diversas sendo que estes ideais,é indiscutivelmente

o byronismo a mais palpável e artística significação.”

(ALMEIDA,1969,p 97).

Enquanto na obra de Baudelaire,o spleen aparece ligado ao macadame(calçamento

de pedra britada),símbolo de modernidade em Paris,a ironia ocorre justamente em

esforço das reformas urbanísticas e dos esforços da civilização,o mesmo ocorre com os

ídolos do poeta,Byron,Shelley e Musset.

O spleen de Álvares de Azevedo em São Paulo era diferente,era estimulado pela

falta de civilização que o Romantismo contestava,a provinciana São Paulo nunca seria

como a Corte(Rio de Janeiro),mas permitia ao filho família se imaginar como um

vagabundo,livre para namorar uma lavadeira,a musa impensável para alguém de alta

classe como ele:

“...É ela! É ela! - murmurei tremendo,

E o eco ao longe murmurou — é ela!

Eu a vi... minha fada aérea e pura —

A minha lavadeira na janela!

Dessas águas-furtadas onde eu moro

Eu a vejo estendendo no telhado

Os vestidos de chita, as saias brancas;

Eu a vejo e suspiro enamorado!

Esta noite eu ousei mais atrevido

Nas telhas que estalavam nos meus passos

Ir espiar seu venturoso sono,

Vê-la mais bela de Morfeu nos braços!

Como dormia! Que profundo sono!...

Tinha na mão o ferro do engomado...

Como roncava maviosa e pura!...”

O poema Vagabundo da suíte Spleen e Charutos retrata um dos disfarces do

poeta,alias sua universalidade ao retratar um estudante que talvez fosse ele ou um de

seus amigos como Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães que conhecera na Chácara

dos Ingleses,a Villa Diodati nacional:

 “Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,

Fumando meu cigarro vaporoso,

Nas noites de verão namoro estrelas,

Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso...

 

Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;

Mas tenho na viola uma riqueza:

Canto à lua de noite serenatas...

E quem vive de amor não tem pobreza...”

Essa vida férica não aparece nas cartas à mãe,mas o poeta não recua diante da

temática namoro,para ele as moças paulistas e a cidade tinham muito em comum,ou

seja ambas era insípidas,assim como o Lago Geneva de Byron.

Álvares assim como todos os homens que levam a vida em pontos de vista

semelhantes com o de Byron, acabou tornando-se adepto do sarcasmo, e por

conseqüência blasfemando contra todos aqueles que pensavam que suas atitudes eram

erradas, típicas de adolescente burguês ou seja, seu alvo eram pessoas hipócritas e de

idéias retrógradas.

2.5 -Lord Byron:Ao mestre com carinho!

“Depois da guerra de Tróia nunca houve ninguém mais disputado do que eu.”

(Lord Byron)

O polêmico Lord George Gordon Noel Byron nasceu em 22 de janeiro de 1788,

em Londres. Apesar de nascer em família rica, seu pai, Capitão John Byron, era um

"bon-vivant" que destruiu toda a riqueza. Com 10 anos, Byron herda o título

nobiliárquico de um tio-avô, tornando-se o sexto Lord Byron. Em sua adolescência,

Byron foi tomando consciência de seu poder. Possuidor de carisma, beleza e poder de

sedução, ele logo começou a aproveitar seus dons. Envolveu-se com colegas,

empregadas, professores, prostitutas e garotas que adoravam um título de nobreza.

Em 1805, arrumou um emprego em Cambridge mas nunca trabalhava, já que esta era

a moda para os descolados da época. Era o tédio, o "spleen". Era a forma que os,

então, românticos viviam a vida, e da qual Byron foi o mestre supremo. Escrevia

versos e mais versos e gastava muito dinheiro. Após entrar na "Trinity College" de

Cambridge, em 1807, publica seu primeiro livro de poesia, Hours of Idleness (Horas

de ócio), mal recebido pela crítica da prestigiosa Edinburgh Review. Em 1815 casa-se

com Anne Milbanke. Muda-se para a Suíça em 1816, após o divórcio de Lady Byron,

causado pela suspeita de incesto do poeta com sua meia-irmã Augusta Leigh,nesse

mesmo ano ocorre o famoso verão obscuro que dá origem ao clássico

Frankenstein(Mary Shelley) e O Vampiro de John Polidori.

Em 1819 começou o poema herói-cômico Don Juan, sátira brilhante e atrevida, à

maneira do século XVIII, que deixaria inacabada. No mesmo ano ligou-se à condessa

Teresa Guiccioli, seguindo-a a Ravena onde, juntamente com o irmão dela, participou

das conspirações dos carbonários.

A obra e a personalidade romântica de Lord Byron tiveram, no início do século

XIX, grande projeção no panorama literário europeu e exerceram enorme influência

em seus contemporâneos, por representarem o melhor da sensibilidade da época,

conferindo-lhe muito de sedução e elegância mundana,ou seja sua sátira era uma

forma de se vingar da civilizada Inglaterra,com a selvageria de seus versos.

Em meio a toda essa agitação existencial, que se tornou o paradigma do homem

romântico que busca a liberdade, Byron escreveu uma obra grandiloqüente e

passional. Encantou o mundo inicialmente com seus poemas narrativos folhetinescos,

em que não faltam elementos autobiográficos, como Childe Harold's Pilgrimage, e

depois o assustou com a faceta satírica e satânica que apresenta em poemas como Don

Juan e Beppo.Em novembro de 1821, tendo fracassado o movimento revolucionário

dos carbonários, Byron partiu para Pisa. Em 1822 fundou, com Leigh Hunt, o

periódico The Liberal. Foi a seguir para Montenegro e daí para Gênova. Nomeado

membro do comitê londrino pela independência da Grécia, embarcou para aquele

país em 15 de julho de 1823, a fim de combater ao lado dos gregos, os turcos, onde

escreveu o drama The Deformed Transformed (O Deformado Transformado), em

1824.

Passou quatro meses em Cefalônia e viajou para Missolonghi, onde morreu

em 19 de abril de 1824, após contrair uma misteriosa febre que após a exumação

descobriu-se que morrera de Sífilis.O aspecto triste do ultra-romantismo de Lord

Byron ocorre por causa de sua breve e conturbada vida que foi marcada por

acontecimentos trágicos,como a morte de sua filha Allegra aos 5 anos de idade e

à depressão,pois no Romantismo,a vida e obra de um escritor se fundem

tornando-se uma só,esse é um dos fatores que levam a uma visão equivocada

das obras românticas,daí o maior destaque do Spleen(baço,órgão que na época

era considerado a sede da melancolia).

Byron teve influencias de Jonathan Swift e Alexander Pope que nos séculos

XVII e XVIII na Inglaterra,cuja poesias serviam a uma finalidade instantânea,pois

sua guerra de panfletos prenunciando a dos jornais,iam interferir diretamente nos

rumos da disputa política,esse foi o recurso que os antecessores do temido e

odiado lorde utilizaram.Com essa mesma técnica,o poeta boêmio impôs a sátira

como gênero de primeira importância a todo o Romantismo europeu,com reflexos

também no Brasil.

Foi a sátira que fez Byron,cujas ofensas e chacotas eram aguardadas com

avidez pelo publico,um disputado autor de best-sellers. Ironia é a palavra para

entender Byron, um crítico contumaz da sociedade que o cercava, usando a

palavra para estocar a hipocrisia reinante em uma Inglaterra em que a decadência

reinava misturada a aristocracia.

É interessante ver como Byron (ainda com um pouco mais de 20 anos e antes

de se tornar celebridade devido a Childe Harold's Pilgrimage) simplesmente

satiriza grande parte dos escritores/poetas de seu tempo,ou seja,os grandes

nomes da literatura britânica de seu tempo como Coleridge, Wordsworth, nem

Walter Scott - que depois viria a se tornar amigo do poeta), devido às críticas

desfavoráveis de Hours of Idleness (Horas de Ócio).

A zombaria e os gracejos não devem ser levados apenas como escárnio, mas

com uma crítica visionária.Byron se auto-ironizava, ou seja ele mesmo era a

piada, um belo exemplo do próprio aristocrata ridicularizado por própria sua

pena,uma ironia leve provando que apenas com gestos também pode-se chocar

uma determinada sociedade, como ele mesmo afirmou:”Minha melancolia é um

misto de muitos e variadissímos ingredientes”.,segundo foi publicado na Folha de

São Paulo,nos anos 50:

Porém Lord Byron não apenas foi apenas o espírito da sátira personificado,também

foi alvo de seu próprio estilo,como podemos ver em “O Vampiro” de John William

Polidori,seu médico e amigo que estava presente na noite em Villa Diodati.

O vampiro Lord Ruthven é uma critica explicita a Byron,uma vez que o vampiro da

literatura gótica é a mais rica metáfora da sede desumana do humano pelo

humano,pois o tresloucado lorde inglês simplesmente em sua breve vida trouxe

desgraças na Inglaterra do século XIX,sobretudo as mulheres,como no trecho abaixo

a explicita ousadia de Polidori ao satirizar seu lorde que no final do século XIX

inspiraria Bram Stocker a criar “Drácula” tornando popular a figura do vampiro

sedutor:

  ”Há tempos, durante um Inverno em Londres, apareceu no meio onde tudo se dissipa,

nas muitas assembléias que a moda reúne aqui nesta época, um lorde que se fazia notar

muito mais pelas suas singularidades do que pela linhagem.

Os seus olhos passeavam-se pela alegria geral que o rodeava

com a indiferença de quem se sabe impossibilitado de a partilhar.

Dir-se-ia que somente o sorriso gracioso da beleza seria

capaz de lhe atrair as atenções, mas, mesmo assim, apenas para o destruir

com um olhar nos belos lábios que lhe davam origem,

gelando de pavor secreto um coração onde até ai só a idéia

do prazer reinava. As pessoas que experimentavam

esta penosa sensação não podiam saber a sua proveniência...”

Polidori reforça essa critica ao escrever a relação do vampiro com as mulheres

deixando explicito a relação de Byron com as mulheres,pois muitas que se envolveram

com o poeta sedutor acabavam sendo mal vistas pela sociedade inglesa:

“As mulheres mundanas, ávidas de uma celebridade aviltante, disputavam-no acerbamente, sem que nenhuma

obtivesse dele o mínimo sinal de preferência. Lady Mercer, que desde o casamento

tivera a vergonhosa glória de ofuscar, nestes meios, a conduta tumultuosa de todas as suas rivais, lançou-se ao

ataque e fez tudo o que pôde para atrair as suas atenções. Mas a impudência de Lady Mercer fracassou, e ela viu-

se obrigada a renunciar. Contudo, se ele não concedia sequer um olhar às mulheres mundanas que encontrava

diariamente, a beleza não lhe era porém indiferente. Apesar disso, interessado como parecia estar tão-somente

pelas mulheres virtuosas ou pelas raparigas inocentes, fazia-o com tanto recato que poucas pessoas estavam ao par

das suas relações com o belo sexo. A sua conversação tinha um encanto irresistível e, ou porque conseguisse

desfazer a má impressão que inspirava à primeira vista, ou devido ao seu desprezo aparente pelo vício, era tão

solicitado pelas mulheres cujas virtudes domésticas são o ornamento do seu sexo, como pelas outras que o

desonram... “(trad.nossa)

A metáfora de Polidori significava de que Byron era um destruidor de

lares,reforçando a frase de uma de suas amantes Lady Caroline Lamb que o

classificava como Mad,Bad and Dangerous to know(louco,mal e perigoso de se

conhecer).

A fama esta que principiara em 1812, quando do lançamento de um de seus mais

renomados poemas, o épico de viagem Childe Harold’s Pilgrimage, que em poucos dias

o levaria do quase anonimato (seus primeiros trabalhos haviam tido alguma

repercussão entre os críticos, mas pouca junto ao público) à notoriedade, como

evidencia o depoimento de Benita Aisler, uma entre seus muitos biógrafos,

confirmando, aliás, sua previsão de que teria mais de uma pessoa a escrever sobre sua

vida,como Pires de Almeida que deixou muitas impressões sobre Byron em A Escola

Byroniana no Brasil,abaixo veremos uma delas:“Um desiludido,e um descrente,sim;altamente elegíaco,Byron não era um saciado,

um cínico:sua vida não implicava desdém pelos atrativos do mundo,a ele cuja imaginação

pairava nas regiões siderais.

Nesse fervilhar de seu espírito,nesse desconcerto

de sua existência,o tresvairado poeta encontrava o objetivo de

suas produções,que traçava incendido

com a pena ainda fumegante de álcool.”

( ALMEIDA,1969,p36)

A obra e a personalidade romântica de Byron tiveram, no início do século XIX,

grande projeção no panorama literário europeu e exerceram enorme influência em

seus contemporâneos, por representarem o melhor da sensibilidade da época,

conferindo-lhe muito de sedução e elegância mundana,sua ironia leve e racional fugia

completamente dos escritos irônicos e selvagens de Shelley,o ateu.

Ao colocar Byron como um vampiro,Polidori rompeu com o estereotipo que os

cânones literários fizeram sobre o poeta lorde que o pintavam como uma pessoa

triste,porém infelizmente sua vida particular encobriu toda sua obra,o sarcasmo

inteligente que tanto irritou a Inglaterra de sua época deixou seu legado em Álvares

de Azevedo que se tivesse vivido mais alguns anos provavelmente superaria seu

mestre.

III-CONSIDERAÇÕES FINAIS: Álvares de Azevedo Absolvido

O equivoco na obra de Álvares de Azevedo ocorre a partir do momento em que as

imagens literárias são transformadas em meros símbolos de interpretação

psicológica,ou seja,há uma redução da representação literária romântica a uma mera

sublimação de uma vivencia frustrada por parte do autor,ou seja,sugere-se que a arte

só tem importância na medida em que possibilite a identificação da situação do

individuo enquanto ser social,no caso de Álvares,ele mesmo,no caso de Lord

Byron,sua vida tornou-se literatura,encobrindo suas obras.

Álvares de Azevedo com toda sua subjetividade,era como um Sócrates

romântico,uma vez que sua ironia assim como a do filósofo grego tinha como objetivo

a reflexão de seus leitores,porém ao contrário do filosofo grego que fazia perguntas no

intuito de mostrar a ignorância humana em seus discípulos,a poesia de Álvares de

Azevedo desempenhava esse papel no leitor.

A sátira e a ironia,como se vê pela amostragem,buscavam em todos os domínios da

vida,alvos contra os quais guerrear.São gêneros que envelhecem precocemente,pois

sua exata compreensão depende,com muita freqüência,do entendimento, do contexto

de saber que pessoas que fatos e situações e muitas vezes até objetos estão ali em

questão.Apesar disso,o Romantismo europeu que nos forneceu os modelos básicos dos

gêneros citados,quanto no Romantismo brasileiro,que foi ao mesmo tempo,sofisticado

e brejeiro,são eles que ilustram com mais simplicidade e clareza os princípios mais

ativos da ideologia byroniana.

Apesar disso,a arte pode funcionar como um instrumento de auto-

conhecimento,mas antes de tudo é a representação simbólica de uma filosofia,mesmo

que o autor esteja inconsciente dessa simbologia,não encontrando portanto suas

formas necessárias de expressão. Em variáveis graus de intensidade,praticamente

todos os poetas da época do Ultra-romantismo seguiram alguma vez a via da ironia e

do humor para deixar marcas cravadas de seu entendimento terreno com o dia a dia

das pessoas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA,Pires de. A Escola Byroniana no Brasil.São Paulo.Conselho Estadual de

Cultura.1969.

LOVECRAFT,Howard Philip.O Horror Sobrenatural na Literatura.Tradução de

João Guilherme Linke.Rio de Janeiro.Francisco Alves.1987.

CANDIDO,Antonio. Formação da Literatura Brasileira.São Paulo.EDUSP,1978.

AZEVEDO, Álvares de. Álvares de Azevedo. Sel. notas, est. biogr. hist. e crít.

Bárbara Heller, Luís Percival Leme de Brito e Marisa Lajolo. São Paulo: Abril

Educação, 1982.

(Literatura Comentada) Revista Nossa História,n 3 publicação:Biblioteca

Nacional.Riode Janeiro.ano:2004 - Idem,n 8.

INTERNET:

www.spectrumgotic.com.br

www.vampirusbrasil.com.br

www.wikipedia.com

www.speculum.com.br

www.carcase.com

ANEXOS

Simpatia pelo Demônio(Rolling Stones)

Por favor, deixe-me apresentarSou um homem rico e de bom gostoEstive por aí por muitos anosRoubei a alma e destino de muitos homens.

Estava lá quando Jesus CristoTeve seu momento de indecisão e dor.Certifiquei me de que PilatosLavasse suas mãos e selasse seu destino.

Prazer em conhecê-loEspero que adivinhe meu nome.Mas o que está te intrigandoÉ a natureza de meu jogo.

Estava por perto em São PetersburgoQuando vi que estava na hora de uma mudança.Matei o Czar e seu ministrosAnastazia gritou em vão.

Montei em um tanqueMantive a posição de GeneralQuando a guerra relâmpago enfureceuE os corpos fediam.

Prazer em conhecê-loEspero que adivinhe meu nome.Mas o que está te intrigandoÉ a natureza de meu jogo.

Assisti com alegriaEnquanto seus Reis e RainhasLutaram por dez décadasPelos Deuses que criaram.

Gritei alto"Quem matou os Kennedys?"Quando, no final das contas,Fui eu e você.

Por favor, deixe-me apresentar

Sou um homem rico e de bom gosto.Deixei armadilhas para os trovadoresQue acabaram mortos antes de alcançar Bombay.

Prazer em conhecê-loEspero que adivinhe meu nomeMas o que está o confundindoÉ a natureza de meu jogo.

Assim como todo policial é um criminosoE todos os pecadores são santosE cabeças são caudas.Simplesmente me chame de LúciferPorque preciso de algum nome.

Então se encontrar-meSeja cortêz,Seja simpático e tenha bom gostoUse de toda etiqueta que conheceOu então tomarei sua alma.

Prazer em conhecê-loEspero que adivinhe meu nomeMas o que está o confundindoÉ a natureza de meu jogo.

Maior Abandonado(Cazuza)

Eu tô perdidoSem pai nem mãeBem na porta da tua casaEu tô pedindoA tua mãoE um pouquinho do braço

Migalhas dormidas do teu pãoRaspas e restosMe interessamPequenas poções de ilusãoMentiras sinceras me interessamMe interessam, me interessam

Eu tô pedindoA tua mãoMe leve para qualquer ladoSó um pouquinhoDe proteçãoAo maior abandonado

Teu corpo com amor ou nãoRaspas e restos me interessamMe ame como a um irmãoMentiras sinceras me interessamMe interessam

Migalhas dormidas do teu pãoRaspas e restosMe interessamPequenas poções de ilusãoMentiras sinceras me interessamMe interessam, me interessam

Estou pedindoA tua mãoMe leve para qualquer ladoSó um pouquinhoDe proteçãoAo maior abandonado