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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JÉSSICA MARTINS UCHÔA A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO LAR TORRES DE MELO ACERCA DA FAMÍLIA FORTALEZA 2014.1

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE – FaC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

JÉSSICA MARTINS UCHÔA

A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO LAR TORRES DE MELO ACERCA DA FAMÍLIA

FORTALEZA 2014.1

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JÉSSICA MARTINS UCHÔA

A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO LAR TORRES DE MELO ACERCA DA FAMÍLIA

Monografia submetida à aprovação do Curso de Bacharelado em Serviço Social da Faculdade Cearense – FaC, como requisito parcial para obtenção de título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Prof.ª Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves

FORTALEZA 2014.1

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JÉSSICA MARTINS UCHÔA

A PERCEPÇÃO DOS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO LAR TORRES DE MELO ACERCA DA FAMÍLIA

Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Bacharelado em Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelas professoras. Data de aprovação: ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof.ª Ms. Rúbia Cristina Martins Gonçalves

(Orientadora)

_______________________________________________ Prof.ª Ms. Mariana de Albuquerque Dias Aderaldo

________________________________________________ Prof.ª Ms. Virzângela Paula Sandy Mendes

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À minha madrinha Maria Araci Santiago (in memoriam), pela pessoa maravilhosa

e especial que sempre foi em minha vida e que muito colaborou com meus estudos. Aos meus queridos e amados pais Maria do Socorro Martins de Castro e Francisco Uchôa de Almeida. E a todos os meus professores que contribuíram para essa longa caminhada de aprendizagem.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus, por me dar força e me guiar até aqui,

por me iluminar e me conceder muita fé para acreditar no meu potencial, pois sem

Deus eu nada seria.

Aos meus pais Maria do Socorro Martins de Castro e Francisco Uchôa de

Almeida, por todo amor, paciência, dedicação e confiança que sempre depositaram

em mim, encorajando-me para que eu pudesse caminhar em busca dos meus

objetivos.

À minha madrinha de batismo Maria Araci Santiago, que sempre me

incentivou nos estudos, durante toda minha vida escolar.

À minha orientadora, Rúbia Cristina Martins Gonçalves, que me auxiliou e

contribuiu sempre disposta a repassar seus conhecimentos que foram essenciais

para a realização desse momento tão importante da minha vida acadêmica.

A todos os meus professores que foram essenciais no meu processo de

aprendizagem e conhecimento, enquanto estudante de Serviço Social. Em especial

a banca examinadora, composta pelas professoras Mariana Aderaldo e Virzângela

Paula, as quais aceitaram participar desse momento primordial da minha formação

acadêmica.

À minha supervisora de Estágio, Maria Júlia Barros, com quem eu tive o

prazer de estagiar durante um ano e meio, sob sua supervisão, e aprender muito.

Ela colaborou de maneira ímpar na realização deste trabalho acadêmico.

A todos os meus colegas de curso, especialmente às minhas grandes

amigas que fiz durante esses quatro anos de estudo, Adriana de Freitas Oliveira,

Jamile Ramos Gomes, Marianne Barros Guimarães, Marianne de Sales Silva,

Mayara Luzia de Paiva Damasceno, Natália Maria Lopez Pinto, pois me ajudaram a

enfrentar os desafios acadêmicos, sempre com uma palavra amiga e sorrisos de

descontração, construímos uma forte amizade para vida toda.

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Ao meu amigo Alfredo Monteiro da turma que concluiu no semestre de

2013.2, o qual estava constantemente disposto a auxiliar no que estivesse ao seu

alcance para a boa realização da minha pesquisa, e é uma grande pessoa e ótimo

amigo.

Aos idosos do Lar Torres de Melo, que os quais são os sujeitos do meu

trabalho, disponibilizaram-se e contribuíram essencialmente para a efetivação da

pesquisa, como também aos funcionários que trabalham na instituição.

E à Faculdade Cearense pelo espaço de conhecimento, bem como pelos

grandes momentos que ali desfrutei.

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“Honrar o pai e a mãe não é somente respeitá-los, mas também assisti-los nas suas necessidades; proporcionar-lhes o repouso na velhice; cercá-los de solicitude, como eles fizeram por nós na infância.”

(Allan Kardec)

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RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo investigar a percepção dos idosos institucionalizados no Lar Torres de Melo acerca da família. As principais categorias que foram escolhidas são velhice e envelhecimento, família e institucionalização. Nessa perspectiva foi abordada uma síntese sobre o envelhecimento populacional, bem como a respeito de alguns fenômenos que permeiam esse processo e a observação sobre o envelhecimento, seus estigmas e estereótipos. No que concerne à categoria família foi explanado sobre a família contemporânea em seus diferentes formatos, assim como acerca da família e dos idosos em suas relações intergeracionais e, por conseguinte, do idoso em situação de institucionalização. Também se faz um breve apontamento sobre os parâmetros e critérios para o funcionamento das Instituições de Longa Permanência. A referida pesquisa trata-se de um estudo de cunho qualitativo e caráter bibliográfico, a qual coletou seus dados através da entrevista do tipo semiestruturada, realizada com 10 idosos que se encontram na faixa etária de 65 a 80 anos, com capacidade cognitiva para responder às perguntas. Observou-se através das analises dos relatos que a maioria dos idosos percebe a família de forma positiva, considerando-a como maravilhosa, e relacionam os motivos de saúde debilitada, principalmente, ao fato de residirem em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos. A maioria dos idosos concordou com a institucionalização, mas apontam que o melhor lugar para se viver seria em seus lares. No entanto, demonstram tranquilidade por morarem na instituição Lar Torres de Melo.

Palavras-Chaves: Família, Velhice, Idosos, Envelhecimento, Institucionalização.

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ABSTRACT

This research aims to investigate the perceptions of institutionalized elderly in Lar Torres de Melo about the family. The main categories that were chosen are old age and aging, family and institutionalization. From this perspective was addressed as an overview of the aging population, as well as some phenomena that underlie this process and observation about aging their stigmas and stereotypes. Regarding the family category was explained on the contemporary family in its various formats, as well as the family and the elderly in their intergenerational relationships and therefore the elderly in situations of institutionalization as well as a brief note about the parameters and criteria for the operation of long-stay institutions. Such research is in a study of qualitative nature and bibliographical, which collected its data through semi-structured interviews conducted with 10 seniors who are in the age group 65-80 years with cognitive ability to answer the questions. It was observed through the analysis of the reports that most seniors realize the family positively, considering them as wonderful, and relate the grounds of ill health the main cause of residing in a NHs. Most seniors agreed with institutionalization, but point out that the best place to live would be in their homes. However explanam tranquility while living in the institution Lar Torres de Melo.

Key Words: Family, Elderly, Elderly, Aging, Institutionalization.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANVISA - Agência de Vigilância Sanitária

AVC- Acidente Vascular Cerebral

CF - Constituição Federal

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILPIs - Instituições de Longa Permanência para Idosos

INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social

MDS - Ministério de Desenvolvimento Social

NOB/SUAS - Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social

ONU - Organização das Nações Unidas

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNAS - Política Nacional de Assistência Social

PNI - Política Nacional do Idoso

SESC - Serviço Social do Comércio

SUS - Sistema Único de Saúde

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Pessoas com quem os idosos residiam antes da institucionalização ...... 54

Tabela 2 - Decisão pela institucionalização .............................................................. 59

Tabela 3 - Tempo de residência no Lar Torres de Melo ........................................... 64

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

1 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E SUAS TRANSFORMAÇÕES ............ 18

1.1 Uma síntese sobre o envelhecimento populacional ...................................... 18

1.2 Envelhecimentos seus estigmas e estereótipos ......................................... 24

1.3 Fenômenos que permeiam o envelhecimento ............................................. 30

2 O IDOSO INSTITUCIONALIZADO: UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA. ............. 36

2.1 Família Contemporânea .................................................................................. 36

2.2 Família e idoso: relações intergeracionais .................................................. 39

2.3 Idoso em situação de institucionalização .................................................... 44

2.3.1 Parâmetros e critérios para o funcionamento das ILPIs ................................... 48

3 OS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO LAR TORRES DE MELO ............... 50

3.1 Lócus da pesquisa ........................................................................................... 52

3.2 Família ................................................................................................................ 54

3.3 Motivos da institucionalização ...................................................................... 58

3.4 Vida no Lar Torres de Melo ............................................................................ 64

CONSIDERAÇOES FINAIS..................................................................................... 70

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 73

APÊNDICES ............................................................................................................. 77

ANEXOS ................................................................................................................... 80

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INTRODUÇÃO

A população em geral, nos países do Capitalismo Periférico, incluindo o

Brasil apresentava um contingente populacional considerado jovem, porém alguns

aspectos como a baixa na fecundidade e o aumento na longevidade modificaram

aceleradamente a pirâmide etária resultando no envelhecimento populacional.

Nessa perspectiva é relevante ressaltar que, no Brasil, no ano de 1950, as pessoas

com 60 anos ou mais de idade representavam 4,2%, no entanto, no ano de 2000,

houve um aumento, passando a ser 8,6% da população de idosos. Em números

absolutos esse aumento seria de nove vezes (CAMARANO, 2005 apud

MENDONÇA, 2013).

Diante disso, aponta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) que a questão do envelhecimento modifica a situação de dependência

econômica populacional, porque de acordo com o Censo Demográfico de 2010 a

população dependente economicamente, antes composta principalmente por

crianças, se aplicará também aos idosos.

Na perspectiva do aumento demográfico no número de idosos, no Brasil,

o envelhecimento da população aparece junto de intensas transformações nas

configurações familiares, as quais se apresentam em diferentes arranjos no contexto

contemporâneo. Dentre os fatores que influenciam nesse processo de mudança

demográfica na faixa de idade da população, verifica-se a queda nas taxas de

fecundidade e na mortalidade, como também modificações no aumento de

separações e de recasamentos, e o acréscimo de pessoas que não casam,

juntando-se ao aspecto da inserção das mulheres ao mercado de trabalho,

modificando os traços até então válidos. Essas mudanças podem abalar os vínculos

e as ligações de apoio entre as diferentes gerações (CAMARANO, 2007).

Dessa forma, para entender os fenômenos que permeiam o

envelhecimento, é necessário inseri-los em um contexto histórico de relações

sociofamiliares. Segundo a Constituição Federal de 1988, a “família, o Estado e a

sociedade devem proteger e acolher as pessoas idosas, de modo a possibilitar sua

presença na comunidade, defendendo o seu bem-estar, assegurando-lhes o direito à

vida” (BRASIL, 1988, p.146).

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Nessa perspectiva, durante a fase da velhice, a família é ou deveria ser

considerada de extrema importância na vida dos idosos, visto que agrega a essa

categoria o valor de proteção e cuidados, mas se sabe que a realidade não condiz

totalmente com essa perspectiva, uma vez que a convivência com as gerações

distintas, dentre outros fatores podem levar a conflitos.

Com o processo vivenciado atualmente de uma transição demográfica

que aponta para um crescente aumento da população idosa em um ritmo

significativo e acelerado poder-se-á fazer visível também um acréscimo no número

de idosos que residem em instituições de longa permanência. No Brasil, essas

Instituições de Longa Permanência para Idosos são chamadas ILPIs (CAMARANO e

KANSO, 2010).

A partir da inserção dos idosos em Instituições de Longa Permanência,

indaga-se sobre a importância da presença constante da família, ou seja, alguns

idosos podem atribuir o sentido de família à sua convivência com as pessoas dentro

das ILPIs, na perspectiva de que podem sentir-se acolhidos, ou tratados melhor do

que no próprio convívio familiar. Porque segundo a experiência de estágio em uma

Instituição de Longa Permanência, é sabido que os casos que levam os idosos a

residirem nesse ambiente podem ser por questões relacionadas à negligência, por

parte das famílias para com eles, como os casos de violência; bem como

relacionadas à ausência de membros familiares e casos de iniciativa própria, em que

é decisão do idoso morar em uma ILPIs.

Tendo em vista esses aspectos, é que se faz o recorte deste trabalho.

Propôs-se investigar a relação de idosos institucionalizados com seus familiares no

Lar Torres de Melo, instituição sem fins lucrativos com caráter de Assistência Social

e Promoção Humana. Ela possui por missão “Assistir integralmente os idosos

buscando assegurar e preservar seus direitos através de ações concretas voltadas à

conquista da igualdade, da liberdade e de condições de vida digna1”.

A partir da experiência de estágio no Lar Torres de Melo, a qual se

prolongou durante um ano e meio, foi observada desde os primeiros contatos com

os idosos residentes na instituição, a ocorrência das mais variadas demandas que

levam à institucionalização dos mesmos idosos, tais como maus tratos, abandono ou

simplesmente o não desejo da família em assumir os cuidados com eles, bem como

1 Disponível em: <http://www.lartmelo.org.br/site/missao/>. Acesso em: 30 out. 2013, 14:00:00.

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a iniciativa própria do idoso em se abrigar na instituição. A partir das percepções das

demandas e do contato com os diferentes comportamentos desses idosos

institucionalizados e com os membros familiares de alguns dos residentes do abrigo,

surgiu o interesse em compreender características da vida de um idoso no Lar

Torres de Melo, suas concepções sobre família e acerca da situação em que está

inserido. Outros fatores contribuintes para o interesse na temática do idoso foram as

palestras assistidas no SESC (Serviço Social do Comércio), que abordavam os

vários fenômenos nos quais o processo de envelhecimento é envolto.

Perante todas essas considerações a respeito das fragilidades de

vínculos nas relações familiares, conflitos entre gerações, consequentemente

aumento no número de idosos em acolhimento institucional é que se é necessário

compreender quais as percepções que os idosos institucionalizados no Lar Torres

de Melo têm a cerca da família.

Esse estudo teve uma abordagem de cunho qualitativo, e considera o que

diz Goldenberg (2005, p. 63): “os métodos qualitativos poderão observar,

diretamente, como cada indivíduo, grupo ou instituição experimenta a realidade”.

Utilizou-se de pesquisa Bibliográfica que consiste no uso de artigos

científicos e livros que embasaram a temática em estudo, pois como afirma Gil

(2002, p. 44): “A pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já

elaborado, construído principalmente de livros e artigos científicos”.

Desse modo, esta pesquisa contempla como categorias principais velhice

e envelhecimento, família e institucionalização na perspectiva do idoso. As fontes

bibliográficas utilizadas foram Beauvoir (1990), Nery (2007), Cortelletti (2004),

Papaléo Netto (2002), Giddens (2005), Alves (2007), Sales (2004), Camarano

(2007), entre outros.

Foi realizada uma pesquisa de campo que se refere a um estudo de

cunho empírico que se realiza em determinado local com o intuito de investigar uma

dada realidade, por meio da qual, através de observações, entrevistas e ou

questionários, se obtém suporte para captar elementos que possam explicar o

fenômeno em questão (GIL, 2002).

Diante da perspectiva referida, foi executado um estudo de campo de

cunho investigativo na Instituição de Longa Permanência para Idosos Lar Torres de

Melo no qual se empregou como técnica a entrevista semiestruturada (Apêndice A)

que consiste em dialogar com o entrevistado, mas com um roteiro prévio relacionado

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ao assunto que se quer pesquisar, o qual contribui para um aspecto mais amplo de

respostas (MANZINI, 2003). Nesse sentido, as entrevistas se realizaram com uma

amostra de 10 idosos, lúcidos, orientados e independentes, com capacidade

cognitiva para responder às perguntas da entrevista, na faixa de idade de 65 a 80

anos, possuindo familiares e que tenham contato com os idosos, os quais residam

no Lar Torres de Melo há até 5 anos. Os idosos foram selecionados diante de um

universo de 220 residentes na instituição. Para a análise dos discursos foi utilizado o

critério de saturação, para que as respostas dos sujeitos não se repetissem

(PINHEIRO, 2012).

Foi empregado o tipo de estudo documental, pois se usufruiu de

documentos como relatórios anuais elaborados pelo serviço social da instituição,

que forneceu dados gerais a respeito da instituição como do objeto de pesquisa.

Também foram usados os prontuários e fichas dos idosos que foram entrevistados,

pois esses dados forneceram um apanhado mais específico em relação aos

residentes, sujeitos da pesquisa. Uma vez que segundo Gil (2002) a pesquisa

documental consiste na utilização de fontes como relatórios, arquivos documentos

institucionais, enfim possibilita um estudo mais desenvolvido de elementos

essenciais, propicia um aparato eficaz dos dados que se pretende obter.

Durante o processo de pesquisa de cunho documental, para a

adequação dos critérios da entrevista que pretendeu um recorde de 10 idosos, foi

observado que 91 idosos da instituição têm de 65 a 80 anos de idade, dentre esses,

7 não têm familiares, 42 não possuem condições cognitivas para responder às

perguntas e 32 não estão no tempo de residência determinado como critério,

achando-se portanto 10 idosos propícios para serem entrevistados, de modo que

estes concordaram em responder.

Esse estudo foi dividido quanto aos capítulos em três partes, em que o

primeiro trata do processo de envelhecimento e suas transformações, englobando

os seguintes tópicos: uma síntese a respeito do envelhecimento populacional,

envelhecimento seus estigmas e estereótipos, e os fenômenos que permeiam o

envelhecimento.

Já o capítulo segundo tem como tema ‘O Idoso Institucionalizado: Um

Olhar Sobre Família’, sendo subsidiado pelo tópico referente à família

contemporânea que apresenta seus diferentes arranjos, o tópico seguinte mostra a

família e o idoso em seus aspectos intergeracionais, por conseguinte se aplica o

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estudo que diz respeito ao idoso em situação de institucionalização e os parâmetros

e critérios norteadores para o funcionamento das Instituições de Longa

Permanência.

O terceiro capítulo é o relato sobre o lócus da pesquisa, como também

acerca do período de realização da pesquisa de campo e subdividiu-se em tópicos

quanto aos objetivos que se pretende obter nesse estudo, os quais são a respeito da

família, dos motivos da institucionalização e, por fim, da vida no Lar Torres de Melo.

A investigação traz duas temáticas complexas, como o envelhecimento

envolvendo vários aspectos que compõe essa categoria, bem como o tema da

família, uma instituição que atualmente passa por mudanças em sua conjuntura,

alterando suas relações. Sendo, portanto, uma pesquisa fundamental que pode

contribuir com aspectos sociais, uma vez que procura compreender as relações

familiares e o cotidiano vivido pelos idosos que se encontram institucionalizados.

Estudo esse instigador a ampliação da pesquisa referente a essa mesma temática.

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1 O PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E SUAS TRANSFORMAÇÕES

“Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma”

(Albert Schweitzer)

1.1 Uma síntese sobre o envelhecimento populacional

A produção literária a respeito dos significados e conceitos relacionados

à velhice tem algumas atribuições diferenciadas na história da humanidade. O termo

velhice vem repleto de significações e é modificado no decorrer do tempo. Em

algumas sociedades, como na Grécia Clássica, remonta-se a uma percepção do

velho carregada de um conceito negativo, sendo a figura do idoso tida como

subalterna e frágil, uma vez que o forte, belo e jovem era exaltado e valorizado

como era indiciado por alguns filósofos gregos (LEMOS et al., 2005).

Perpassa, em outros períodos históricos e outras sociedades, como a

China e o Japão, é dado o atributo ao idoso de indivíduo dotado de sabedoria,

sendo reconhecidos e prestigiados por poder transmitir seus conhecimentos para as

gerações vindouras. Segundo Beauvoir (1990), na civilização chinesa, todos os

membros de uma casa deviam respeito e submissão ao homem mais idoso, pois na

cultura dessa sociedade a experiência prevalece mais do que a força. O respeito às

gerações mais velhas na China ultrapassava o âmbito familiar para todos os idosos

pertencentes a essa sociedade, tanto que em alguns casos as pessoas simulavam

uma ter uma idade mais avançada para dispor de maior importância e privilégios.

Perante o que se relata sobre a velhice nas sociedades históricas

Beauvoir (1990) defende que:

Estudar a condição dos velhos através das diversas épocas não é uma empresa fácil. Os documentos de que dispomos só raramente fazem alusão a esse assunto: os idosos são incorporados ao conjunto dos adultos. Das mitologias da Literatura e da iconografia destaca-se uma certa imagem da velhice, variável de acordo com os tempos e os lugares. Mas que relação essa imagem sustenta com a realidade? É difícil determinar (BEAUVOIR, 1990, p. 109).

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A autora supracitada afirma que o envelhecimento em todos os seus

aspectos já se fazia complexo, há muito tempo atrás, desde as antigas sociedades,

e que ainda é possível encontrar-se dificuldades de estudos em relação a essa

categoria, pois as pesquisas sobre esse assunto trazem consigo inúmeras questões

envolvidas.

Referente ao aspecto particular da vida dos indivíduos é que se percebe a

complexidade da velhice, porque como declara Braga (2005 apud REZENDE, 2008)

essa etapa da vida se constitui como um processo de cunho singular e que ocorre

de diferentes maneiras, na perspectiva de que os seres apresentam um modo

diferente de viver e interagir com as relações sociais que os circundam.

Diante da heterogeneidade vinculada à velhice, segundo Goldfarb (1998)

é difícil afirmar com precisão o que é estar nessa fase? Ou o que é ser velho?

Pairando a dúvida se velhice está relacionada às limitações do corpo, ou à idade

cronológica, perdas cognitivas, tendência depressivas, ou se se trata apenas do

aspecto biológico? Enfim, os conceitos e significados são diversificados e profundos,

sendo assim é impossível fundamentar definições padronizadas para o

envelhecimento, pois no que diz respeito à pluralidade social, existem sentidos

políticos ideológicos distintos.

Devido à tamanha complexidade encontrada na velhice é que se usa

uma abordagem cronológica principalmente, para a definição da população idosa,

apontando a idade de 60 anos como um ponto inicial para países de terceiro mundo

definir a chegada da velhice (VERAS, 2003).

No Brasil, o Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) considera uma pessoa

idosa quando tem idade igual ou superior a 60 anos, fundamentando o aparato da

legalidade em vigor no país, sem se levar em consideração todos os outros

determinantes atribuídos à velhice, prevalecendo na perspectiva legal o aspecto

cronológico. A atribuição feita à velhice não se restringe ao aspecto cronológico e

biológico, uma vez que os determinantes do envelhecimento podem variar de

acordo com cada cultura, indivíduo e sociedade.

A noção de envelhecimento, segundo Messy (1999), consiste em uma

contradição, visto que, por um lado a velhice perpassa uma ideia de

enfraquecimento e desgaste, por outro ângulo traz consigo a maturação, o acúmulo

de experiências. Visto que vivemos em uma sociedade que põe o velho com o

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sinônimo de perda, percebe-se, porém que em outras culturas já mencionadas, a

vivência da velhice é considerada como um processo de aquisição e progresso.

A velhice é a constituição de um aspecto que não se pode reverter, e

que incide sobre a vida de todos, desde um bebê até um idoso. Mas no que diz

respeito ao registro do corpo, segundo Messy (1999), a caracterização dos idosos

consiste em rugas, cabelos brancos, enrijecimento, problemas na coluna, menor

reflexo, perdas cognitivas, porém os indivíduos podem apresentar esses aspectos

sem serem considerados socialmente velhos; como podem também ter bastante

idade sem se apresentar determinadas características.

Com o despertar do interesse pelas temáticas relacionadas à velhice e

envelhecimento, é interessante a conceituação do que se trata e quais as diferenças

entre as categorias. Na visão de Papaléo Netto (2002), o envelhecimento refere-se

ao processo, já a velhice consiste na fase da vida, e o velho é relacionado ao

produto final.

Sendo assim para Papaléo Netto (2002) O envelhecimento é:

Um processo dinâmico e progressivo, no qual a modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte (PAPALÉO NETTO, 2002, p. 10).

Já no que concerne ao aparecimento da velhice, este consiste no ciclo de

vida, em sua fase final, que se manifesta com aspectos de redução da força,

diminuição da capacidade funcional, limitação ou perda relacionada aos papeis

sociais, dentre outras privações. No entanto algumas dessas características se

manifestam em pessoas muito antes dessas chegarem à idade cronológica em que

se considera o inicio da velhice (PAPALÉO NETTO, 2002).

O autor citado acima compreende o envelhecimento em seus aspectos

biológicos, levando-se em consideração as determinantes patológicas que esse

processo pode desencadear, e não se remete as outras resoluções referentes ao

indivíduo em seu âmbito privado desde o inicio de sua vida.

Algumas outras questões andam juntos com a conjuntura do

envelhecimento, por exemplo, o aspecto econômico, pois existe um paradigma que

expõe que o envelhecimento anda lado a lado com as despesas isso ocorre

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principalmente porque com a chegada da velhice torna-se mais comum o aumento

de doenças que geralmente têm longa duração, em concomitante, de diagnóstico,

exames, portanto o uso de equipamentos tecnológicos de alto custo (VERAS, 2003).

No entanto os idosos não devem ser considerados um peso social uma

vez que a renda desse segmento no Brasil é baixa e ainda assim tem contribuído de

forma bastante ativa na economia do país, indicando a emergência de políticas que

promovam a distribuição apropriada da renda (BERZINS, 2003).

As modificações advindas do processo de envelhecimento enfatizam

questões ligadas as políticas de saúde e serviços prestados aos usuários idosos, no

que diz respeito à velhice são perceptíveis, segundo Veras (2003):

A prevalência das doenças crônico-degenerativas bastante expressivas entre os idosos, e entre as consequências da maior presença destas doenças no grupo, destacam-se maior tempo de internação hospitalar, a recuperação mais lenta e uma maior frequência de reintegrações e de invalidez. Todos esses fatos implicam nos custos mais elevados no tratamento de saúde desse grupo do que a demais faixas etárias (VERAS, 2003, p.12).

No entanto segundo Veras (2003) as mudanças que ocorrem com a

chegada da velhice não se resumem a questões de saúde ou maiores gastos, e sim

alterações sociais, políticas entre outras. Tendo-se, portanto a necessidade de

investimentos em várias dimensões, pois as questões referentes ao idoso fazem

exigência de uma política abrangente que se articule com os vários órgãos

governamentais, sendo que no Brasil se passou muito tempo sem se perceber o

enorme aumento demográfico no envelhecimento da população.

Na perspectiva demográfica o envelhecimento populacional se trata do

crescimento no número de idosos em que de forma expressiva amplia-se a

participação desse contingente no total da população. Sendo esse um fenômeno

considerado recente e traz consigo modificações nos aspectos sociais, econômicos,

biológicos e políticos, a partir do crescimento se faz necessário à ampliação e

efetivação de políticas públicas destinadas a esse segmento (BERZINS, 2003).

Segundo os dados apontados pelo Censo 2010 do IBGE – Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística a dinâmica demográfica brasileira vem sendo

modificada rapidamente, principalmente no que se refere à estrutura etária. A

redução nas taxas de fecundidade ocasiona a diminuição de crianças e jovens, por

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conseguinte o aumento na população de adultos e a forte propensão ao acréscimo

do número de idosos.

A Pesquisa Nacional por Amostras de Domícilios 2009 (IBGE, 2010)

apontava que o Brasil estimava uma população de 21 milhões de pessoas com a

idade de 60 anos ou mais. Com a taxa de fecundidade, inferior ao nível de

reposição da população, juntando-se ainda a fatores relativos aos avanços

tecnológicos, especialmente na área da saúde, ocasionando a longevidade do

segmento idoso, esse grupo vem ocupando um expressivo espaço na sociedade

brasileira. Nos anos de 1999 a 2009, o peso correspondente aos idosos de 60 anos

ou mais de idade no conjunto da população passou de 9,1% para 11,3%.

Esses dados, encontrados através dos indicadores sociais e

demográficos das condições de vida da população brasileira, apontados pelo IBGE

(2010), mostram que o grupo idoso é parte significativa na composição social

brasileira. Nessa perspectiva, observa-se a necessidade da inserção de várias

reivindicações inerentes a demandas contemporâneas, como as questões de saúde,

políticas públicas e do estímulo à interação do segmento idoso na vida social.

Tendo em vista o envelhecimento populacional como conquista, é

essencial à inserção e/ou ao aprofundamento de programas e políticas que

concebam e invistam nos direitos, nas exigências e na capacidade que a população

idosa traz. O estímulo será na perspectiva de promoção da qualidade na vida dos

idosos, levando-se em consideração as experiências individuais e histórias de vida

de cada idoso, incentivando o processo de inclusão e emancipação (BERZINS,

2003).

Em relação ao aumento na expectativa de vida que resulta no

envelhecimento populacional verifica-se segundo Berzins (2003) que:

Os anos vividos variam de acordo com as épocas e os lugares [...] As condições de vida influenciavam grandemente o número de anos que os homens podiam alcançar nas suas vidas. A longevidade e a expectativa de vida foram crescendo com o decorrer da história (BERZINS, 2003, p. 21.)

O fato citado acima em relação ao aumento da expectativa de vida da

população atualmente, decorre entre outros fatores dos empreendimentos nas

tecnologias e modernidades referentes a equipamentos e medicamentos que têm a

função preventiva de doenças.

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Na perspectiva brasileira a população é considerada envelhecida segundo

dados da OMS quando se atinge 7% da população como sendo de idosos,2

tendendo a crescer com o passar dos anos (COSTA, 2003).

Já na dimensão mundial se estima que a população idosa seja de

aproximadamente 629 milhões de pessoas, podendo ter um acréscimo por ano na

taxa de 2% (BERZINS, 2003).

A Organização das Nações Unidas – ONU prever, se o envelhecimento

da população continuar nesse ritmo acelerado, ocorrerá que, nos anos 2050, o

número de pessoas idosas ultrapassará ao de crianças abaixo de 14 anos. Uma vez

que a população mundial deverá elevar-se de 6 bilhões para uma média de 10

bilhões no ano de 2050, a quantidade de idosos triplicará, passando a ser de 2

bilhões, sendo, portanto, um contingente de quase 25% do mundo (BERZINS,

2003).

A despeito do processo do envelhecimento populacional, Berzins (2003)

declara:

O envelhecimento diz respeito a toda a sociedade. As crianças que nascem no Brasil de hoje têm uma expectativa de vida de 68 anos. Se essas crianças tiverem atendidas as suas condições de cidadania e dignidade no decorrer dos anos que viverão, certamente quando se tornarem idosas, terão níveis melhores de vida e de justiça social (BERZINS, 2003, p. 33).

Uma vez que os fenômenos relacionados ao envelhecimento são diversos

e conflituosos, a fase da vida inerente à velhice é caracterizada pelos mais

diferentes aspectos, sejam eles biológicos, cronológicos, psicológicos, e outros. No

entanto, a maneira como os idosos vivenciarão esse momento está ligada muito

mais aos determinantes culturais e ao contexto social vivido ao longo de suas

experiências pessoais, ou seja, da maneira como esse idoso conduziu sua

existência até o presente momento e como se deu sua interação com os indivíduos

que os circundam.

Dessa maneira são perceptíveis os impactos e as transformações que o

processo do envelhecimento populacional traz consigo, sendo imprescindível o

destaque aos desafios sofridos por esse grupo etário, pesar esses que vão muito

além de submissão econômica, resignação social, fragilidade no âmbito da saúde,

2 Disponível em:<http://www.proec.ufg.br/revista_ufg/idoso/envelhecimento.html>. Acesso em: 14 fev.2014.

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pois esses desafios consistem, principalmente, no combate a estigmas e

estereótipos atribuídos à pessoa idosa, visto que a sociedade contemporânea,

principalmente através dos meios de comunicação em geral, incita ao favorecimento

dos que são belos, jovens e produtivos, depreciando aqueles que estão fora desses

padrões.

1.2 Envelhecimentos seus estigmas e estereótipos

A compreensão referente à velhice, levando-se em consideração a

identidade do idoso, funda-se por Mercadante (2003) de modo que os atributos e

qualidade inerentes aos idosos são contrários aos atributos dos jovens, e por isso

estigmatizado por eles, uma vez que habilidades como força, memória, beleza e

produtividade, são em geral de natureza dos jovens, em contrapartida as

características contrárias a essa se encontram nos idosos.

Tendo em vista esse modelo social ideológico, que atribui características negativas aos velhos – degradação física e social – que ao fazer isso lhes nega um futuro, avaliamos como é possível para o idoso pensar novas formas de vida futura, formas alternativas para a velhice (MERCADANTE, 2003, p. 56).

Esse modelo é utilizado pelos próprios idosos para caracterizar os outros,

pois eles tendem a uma fuga particular, ou seja, referem valores negativos para

outros “velhos” e não para si em sua vivencia pessoal (MERCADANTE, 2003).

Segundo Neri (2007), a velhice é um campo que pode ser considerado

como cheio de ambivalências e dúvidas, na medida em que os sentimentos de

todos, tanto dos jovens como dos próprios idosos, são ambíguos a esse respeito,

pois a questão do envelhecimento é dotada de valores que variam entre admiração

e temor, valorização e rejeição, negação e aceitação, respeito e depreciação, e isso

vai ocorrer dependendo do aspecto que se tem contato, ou seja, da circunstância em

que se conhece ou se vivencia o envelhecimento. No entanto, quando a faixa de

idade é utilizada para se fazer análises negativas que tendem a desqualificar, não

valorizando o segmento por conta da idade, é uma circunstância determinada como

estereótipo.

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Segundo Goffman (1998 apud NERI, 2007) a definição dos estigmas

equivale a uma marca ou até mesmo uma identidade social que um grupo ou um

indivíduo detém que seja divergente do que a sociedade pressupõe de modo a ser

depreciado, desvalorizado sem se levar em conta suas outras atribuições

(GOFFMAN apud NERI, 2007).

Essas questões são dotadas de conceitos, muitas vezes com pouca

consciência da pessoa que está cometendo, pois em várias circunstâncias

concebem uma conduta desconexa, por exemplo, quando um indivíduo afirma não

ter nenhum preconceito referente ao idoso, mas constantemente faz menção a esse

segmento de modo a estigmatizá-lo e depreciá-lo. Ou também a pessoa repetir que

acredita na eficiência dos mais velhos e, entretanto, não oportunizar trabalhos a

pessoas com idade superior a 45 anos. Sendo assim é importante a observação em

torno dos atos discriminatórios estigmatizados com relação aos idosos e à

consequência que essas atitudes poderão trazer para eles (NERI, 2007).

A mesma autora defende que é bastante comum a predominância de

atitudes sociais de natureza negativa em relação à velhice e aos idosos em si, e

essas ações são cometidas, na maioria das vezes, pelos mais jovens. Os não idosos

utilizam-nas como argumentos para suas ações, alegando que os idosos são

desatualizados e ultrapassados.

As práticas discriminatórias e preconceituosas são geradas a partir de

falsos estigmas e estereótipos já anteriormente lançados sobre um determinado

grupo, por exemplo, quando se referem à fragilidade e improdutividade da pessoa

idosa, dando origem à discriminação social, utilizando a idade etária como

parâmetro. Isso decorre pelo fato de a maioria dos idosos não estarem mais

inseridos na categoria que sobrevive do trabalho, ou seja, são considerados estéreis

socialmente, podendo assim não obter alcance a quantidade de bens similares aos

que os não idosos têm aquisição (NERI, 2007).

A produtividade da pessoa idosa, sob a ótica capitalista, segundo

SENNETT (2007, p. 109), está ligada ao “[...] período de vida produtiva que está

sendo cumprido para menos de metade da vida biológica, com os trabalhadores

mais velhos, deixando o cenário muito antes de estarem física ou mentalmente

incapazes”. Essa perspectiva é evidenciada por dois ângulos, o primeiro consiste no

capitalismo, em meados do século XIX, no qual há predileção pela contratação dos

mais jovens, principalmente em fábricas ocorria por conta da mão de obra barata, ou

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seja, a juventude trabalhava recebendo remuneração inferior a do adulto. No que

concerne ao capitalismo contemporâneo, ainda ocorre o favoritismo para com a mão

de obra mais jovem, pelo mesmo motivo citado, no entanto é mais recorrente em

lugares pouco desenvolvidos no mundo. Atualmente a outra causa de contratação

jovem se dá por conta de preconceitos atribuídos às pessoas mais velhas, quanto à

sua competência no mundo do trabalho.

Sobre o aspecto em destaque anteriormente, Sennett (2007) menciona

que:

Um número recente da California Management Review, por exemplo, tentou explicar os aspectos positivos da juventude e os negativos da idade nas organizações flexíveis. Fez isso afirmando que os trabalhadores mais velhos têm esquemas mentais inflexíveis e são avessos ao risco, além de não terem a simples energia física necessária para enfrentar as exigências da vida no local de trabalho flexível (SENNETT, 2007, p. 110).

Nesse contexto, flexibilidade é compatível à juventude, enquanto rigidez

refere-se à idade avançada. Sennett (2007) mostra que a atitude de preconceito com

os mais velhos, no mundo do trabalho, tem como serventia para os capitalistas o

sentido de que os trabalhadores com mais idade são possíveis presas fáceis a

demissões quando ocorrem novos empreendimentos. Na compreensão dos

trabalhadores mais velhos, o preconceito em relação à idade mais avançada, é de

que na proporção que se aumenta a experiência, mais se é desvalorizado, pois o

que um trabalhador de mais idade apreendeu com o passar do tempo em relação a

uma certa empresa ou propriamente sobre sua profissão, pode vir a dificultar as

renovações impostas pelos chefes, já que no entendimento das empresas os

trabalhadores jovens têm atitudes mais flexíveis em relação a arriscadas mudanças,

como também tendem à subalternidade instantânea.

Segundo Neri (2007), no contexto do trabalhista a discriminação já existe

com as pessoas a partir dos 40 anos. Nessa perspectiva se vê, no artigo 27 do

Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003), que esse segmento detém de prioridade em

vagas de concurso publico. No entanto o preconceito que esse idoso poderá vir a

sofrer no trabalho faz com que essa prerrogativa se trate de uma ilusão. Desse

modo, o próprio estatuto é de maneira implícita uma forma de preconceito, posto que

põe em pauta a existência da velhice como dependente financeiramente, não

capacitada e doente, tendo de ser protegida por instituições.

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Os estereótipos existentes em nossa sociedade não creditam capacidade

aos idosos na perspectiva de trabalho, acreditando que são menos competentes do

que os mais jovens, porém, segundo Giddens (2005), muitos idosos estão se

opondo e rebelando-se contra esse tratamento discriminatório e estão conhecendo

outras atividades e aproveitando novas maneiras de se autorrealizar.

Butler (1969 apud NERI) acredita que as atitudes advindas do preconceito

surgem na medida em que grupos detentores de determinados poderes discriminam

outras categorias de pessoas pelo fato de elas não deterem os mesmos atributos

dos primeiros. Nessa perspectiva os indivíduos sofrem preconceito na maioria das

vezes por serem pobres, negros, gordos ou magros, deficientes físicos,

homossexuais ou sofrem discriminação por conta da religião que são adeptos, no

caso dos idosos sofrem preconceitos fundamentado na faixa etária, pois a sociedade

contemporânea supervaloriza a juventude que aos olhos sociais é onde está o que é

belo e produtivo (BUTLER apud NERI, 2007).

A discriminação por idade não se resume apenas a caracterização de

estereótipo danoso referente à negação e sim de caráter piedoso utilizando-se de

protecionismo em relação aos idosos. Nesse sentido, acaba havendo a confusão de

que para se cuidar bem de uma pessoa idosa deva-se privar-lhes de toda sua

independência, mesmo quando o idoso apresenta plena capacidade. Sendo que as

ações compassivas, só tendem a prejudicar a desenvoltura do idoso, acentuando a

desigualdade social, e avançando em mais situações de preconceitos (BALTES,

1996; PAVARINI e NERI 2000; apud NERI, 2007)

Neri (2007) destaca que algumas disposições referendadas, por exemplo,

no estatuto do idoso podem ser considerados estereótipos com característica de

piedade tendendo a atrapalhar o idoso em detrimento da proteção, pois no artigo 3°

o idoso tem prioridade na efetivação de seus direitos:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 2003, p. 8).

No entanto, na perspectiva de Neri (2007), o que se observa no Brasil é

que o atendimento de forma imediata subordina-se à classe social e posição

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econômica dando ênfase as desigualdades sociais presentes no país, visto que não

é difícil de ver idosos pouco favorecidos economicamente nas filas do SUS (Sistema

Único de Saúde) e do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).

Perante o que foi relatado, observa-se que o processo do

envelhecimento, que teria de ser tratado como mais uma fase da vida de forma

natural, é complexo, uma vez que com o envelhecimento surgem vários fenômenos

e um deles refere-se às questões dos estigmas e preconceitos que o idoso sofre na

sociedade contemporânea, tendo a discriminação como uma ameaça a saúde e ao

bem-estar dos idosos, podendo ser causa de patologias principalmente de natureza

psíquica. Nesse sentido, é perceptível que a discriminação por idade é presente em

nossa sociedade, uma vez que se utilizam muitos métodos para atrasar ou esconder

a idade mais avançada, e as pessoas fazem de tudo para afastar-se cada vez mais

do envelhecimento (MOREIRA, 2008).

No que concerne ao trato que a sociedade atual tem para com os seus

idosos é que Beauvoir (1990) ressalta:

[...] a sociedade destina ao velho seu lugar e seu papel levando em conta sua idiossincrasia individual: sua impotência, sua experiência; reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática e ideológica da sociedade em relação a ele. Não basta, portanto, descrever de maneira analítica os diversos aspectos da velhice: cada um deles reage sobre todos os outros e é afetado por eles; é no movimento indefinido desta circularidade que é preciso apreendê-la (BEAUVOIR, 1990, p.16).

Torna-se fundamental a adoção de medidas eficientes que combatam

ações de preconceito e discriminação em relação aos idosos, pois os estereótipos

negativos tendem a distanciar o idoso do mundo, dificultando a interação dele com

os outros indivíduos sociais. Deve ocorrer a mudança no sentido da valorização do

idoso como cidadão independente reconhecido diante da sociedade (ALVES, 2013).

Existe outro modo de preconceito que pode deturpar ou disfarçar

avaliações negativas, e, portanto confundir os idosos, para Palmore (1990) esse

aspecto denomina-se como preconceito positivo. Esse processo pode contribuir com

a ilusão dos idosos na formação de falsas expectativas de ação e competência,

sendo prejudiciais à saúde do idoso, pois ele pode se sentir inferior perante novos

desafios de natureza intelectual. Podem também acreditar ter maior disposição

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sexual e física do que de fato têm, arriscando-se a decepções, desapontamentos, e

até mesmo adoecer (PALMORE apud NERI, 2007).

Segundo Levy (2001 apud NERI, 2007) a naturalização do preconceito

ocorre quando nem o idoso e nem mesmo quem está cometendo sente o peso de

sua atitude, por exemplo, modo de tratamento que supostamente é carinhoso como

vovozinho(a), velhinho(a), tio(a), termos esses que podem esconder preconceitos

velados (LEVY apud NERI, 2007).

Neri (2007) aponta que as atitudes discriminatórias e os estereótipos

impedem os idosos a acessar aos recursos sociais podendo causar complexo de

inferioridade, baixo autoestima e isolamento por parte do idoso.

Sociedades que excluem seus idosos oferecem poucas oportunidades às novas gerações de construir relações saudáveis com a própria velhice e prejudicam a continuidade cultural. A solução para essas ocorrências depende mais de ações que se cumprem e acompanham no dia-a-dia do que do voluntarismo ocasional dos idosos ou dos profissionais que os atendem, ou mesmo da existência de leis, decretos ou estatutos (NERI, 2007, p. 44).

As práticas de preconceito e exclusão em relação ao idoso muitas vezes

não ocorrem ou são mascaradas, meramente porque existem leis, as quais

teoricamente têm a função de proteger esse segmento, dos atos referidos. No

entanto, as relações entre as diferentes gerações deveriam ocorrer de modo positivo

sem ser preciso o uso de intervenções da lei.

Para Hass (2006) algumas circunstâncias podem ser essenciais no

sentido de diminuir ações de preconceito em relação à velhice são elas: capacidade

de se colocar na posição de idoso, conhecimento sobre a velhice e suas questões,

interagir com idosos, capacidade de perceber a competência dos idosos entre outras

(HASS apud NERI, 2007).

É notório, na sociedade atual, o preconceito que o segmento idoso sofre,

por conta da idade, pois no parâmetro capitalista valorizam-se apenas os que

produzem bens econômicos, apresentam com o formato de padrão de jovialidade e

beleza presente nas grandes mídias e os que representam vigor e saúde física e

mental, de modo que se pressupõe que grande parte da população idosa não está

inserida, sendo essa avaliação uma forma de preconceito, essas ações são, em sua

maioria, atos velados. Na perspectiva do atual contexto social não se acredita na

capacidade do idoso em seus diversos âmbitos, mas esse grupo em sua maioria

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apresenta suas potencialidades advindas de experiências acumuladas de um

conhecimento de vida em todos os seus aspectos que deviam ser valorizados e

repassados para as gerações futuras como aquisição de aprendizagem e

fortalecendo a comunicação e convivência intergeracional.

Perante o relatado, compreende-se que o tema do envelhecimento e suas

relações trazem consigo multiplicidades de fatos complexos, pois essa categoria

abrange variados fenômenos que serão melhor explanados a posteriori.

1.3 Fenômenos que permeiam o envelhecimento

Um grande triunfo na humanidade reside na queda na mortalidade, ou

seja, na ampliação no tempo de vida das pessoas, acarretando no envelhecimento

populacional, esse fenômeno por sua vez abrange uma multiplicidade de aspectos.

Diante de tamanha complexidade, faz-se necessária uma observação das

características presentes no envelhecimento (PEREIRA, 2005).

A questão do envelhecer vem merecendo um importante destaque, pois

os desafiadores fenômenos que perpassam o processo do envelhecimento dizem

respeito à responsabilidade da família, do Estado e da sociedade para com o idoso

(CORTELLETTI, 2004).

Tendo em vista as preocupações com o fenômeno da velhice, Cortelletti

(2004) aponta que na primeira Assembleia Mundial sobre o envelhecimento, a qual

foi convocada pela ONU em 1982, participaram 125 países, mostrando o interesse

internacional em relação a esse assunto. A Assembleia se deu em Viena. A

aprovação do Plano de Ação Internacional é o que tem conduzido às ações

referentes à questão do envelhecimento nas últimas décadas. No ano de 2002,

realizou-se a segunda Assembleia Mundial sobre a Questão do Envelhecimento, e

seu Plano de Ação consistia na garantia de que todos pudessem envelhecer com

dignidade e de forma segura, e com participação ativa dos idosos na sociedade com

todos os seus direitos assegurados.

O conceito de velhice é muito difícil de definir, uma vez que, no que se

refere ao processo do envelhecimento os fatores internos, ao modo de vida que

podem determinar, pode ser diferente para cada indivíduo, acelerando ou retardando

esse processo. E no que se trata desse aspecto no Brasil a vivência da velhice

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ocorre na maioria das vezes de forma pouco satisfatória e até mesmo precarizada,

pois o Estado e a Sociedade não estão preparados para lidar com as necessidades

que o idoso possa vir apresentar.

É fundamental a compreensão de que as representações sociais dadas à

velhice vão se modificando no decorrer do tempo e em decorrências das novas

necessidades que o ser idoso vem apresentando, tais como as novas políticas

sociais, que se adeque ao novo modelo sócio-histórico vigente (PEREIRA, 2005).

No entanto, segundo Lopes (2007), o envelhecimento traz um aspecto a

ser considerado como urgente, trata-se do fato de o indivíduo idoso revisar o seu

trajeto pessoal e observar o que ele tem ainda a conquistar, na procura de novas

experiências, outros projetos, uma nova trajetória.

De acordo com Giddens (2005), o processo de envelhecimento em si traz

consigo algumas possibilidades e muitos desafios a ser enfrentados, pois à medida

que os indivíduos vão envelhecendo passam a defrontar-se com agregações de

problemas de natureza emocional, econômica e física, os quais, muitas vezes, são

de difíceis soluções. No entanto, a experiência da velhice é vivenciada de diferentes

maneiras por cada pessoa, ou seja, existem variações no que concerne à

apropriação do significado do que é ser velho para cada indivíduo que está nessa

fase, e são essas distintas experimentações que podem atuar na maneira de como o

ser idoso conservará sua autonomia condicionando a satisfação e bem-estar.

É importante a análise do que o restante da população estará pensando

para a população idosa, uma vez que para Lopes (2007) a tendência é de que essa

população aumente cada vez mais, ou seja, o que podemos dispor precaver e

anteceder para os idosos do futuro, através dos saberes atuais. Um primeiro passo é

necessário enfatizar a temática do envelhecimento sem silêncios ou temores, e a

partir disso se formular uma consciência de caráter coletivo para a obtenção da

compreensão quanto à aquisição do direito conquistado pelos idosos, ampliando a

autonomia desse segmento e auxiliando na tomada de decisões.

Não obstante, o estigma de que o envelhecer aborda uma imagem ligada

à inércia, problemas físicos e morte, podem roubar a autonomia dos idosos fazendo-

lhes acreditar que são incapazes, quando na verdade dados epidemiológicos

mostram que a maioria do segmento idoso não cessa a mobilidade para as

atividades básica do dia a dia (CAMARANO, 2006 apud LOPES 2007).

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Na perspectiva de Lopes (2007), o aspecto de dependência e sofrimento

da população idosa, muitas vezes, advém da cultura, uma vez que o modelo vigente

que se inscreve de velhice traça um perfil de filantropia, pena, negando-lhes o

reconhecimento perante a sociedade, transpondo a população idosa a uma imagem

frágil e sem autonomia, sendo extremamente necessário o rompimento com o

aspecto cultural de que o idoso tem um destino a se cumprir na experiência da

velhice.

Na sociedade contemporânea em que se valoriza o que é jovem e belo,

os idosos tendem a ser postos de lado, no entanto é recente um novo paradigma em

relação à velhice que consiste em mudanças no comportamento dos idosos,

buscando sua autonomia e valor, pois os indivíduos mais velhos estão assimilando

uma maior atuação política, tornando-se um forte grupo nessas questões

(GIDDENS, 2005).

Como salienta Lopes (2007), na atuação do segmento idoso, vários

aspectos surgem como importantes e benéficos na vivência da velhice, tais como o

tempo livre, a sabedoria advinda da experiência, independência econômica, os

direitos sociais que incluem as prioridades em fila e assentos de ônibus, a

gratuidade na passagem, descontos em eventos, as conquistas nas opções de lazer.

Esses direitos fazem com que a chegada da velhice não seja percebida somente

pelo processo cronológico e biológico.

O otimismo pelo idoso, na vivência do que é ser velho, está inteiramente

ligado ao aspecto do reconhecimento por parte da sociedade contemporânea para

com o ser idoso. O Estado, por sua vez, deverá estar sempre ampliando sua

atuação no sentido de mediar ações que darão suporte de inclusão aos idosos, por

exemplo, a comparecer com frequência aos espaços públicos de modo seguro e

com todo o aparato necessário, sendo essa uma dimensão que pode resgatar o

bem-estar no cotidiano do idoso, podendo reduzir algum tipo de sofrimento psíquico

(LOPES, 2007).

O Estado amparado pelo Estatuto do idoso, com toda certeza, avançou

nas melhorias na qualidade da vida, quando em seu artigo 4º aponta que “nenhum

idoso poderá ser vítima de negligência, discriminação, violência, crueldade ou

opressão” (BRASIL, 2003, p. 9).

Não é difícil, por outro lado, ver denúncias sobre situações ruins

enfrentadas pelo segmento idoso em virtude de más condições econômicas em

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consequência das baixas aposentadorias, como também por residirem em

instituições mal administradas, sendo, portanto dever do Estado e da sociedade

cultivar a consciência sobre as diversas conjunturas encontradas na velhice para

não prolongar aspectos de sofrimento e desigualdade, empenhando-se na

efetivação dos direitos dos idosos (LOPES, 2007).

Referente às questões econômicas vivenciadas na velhice, há o

enfrentamento da possível perda de rendimento que tende a acarretar uma queda

no padrão de vida dos idosos, isso é resultante da passagem do trabalho ativo, ou

seja, indivíduo que se sustenta do trabalho, para o idoso que vive da renda advinda

da aposentadoria (GIDDENS, 2005).

Nessa perspectiva Giddens (2005), alude a uma pesquisa realizada por

MILNE et al. (1999) sobre o estilo de vida dos idosos no Reino Unido:

Evidências de dois mundos distintos. No primeiro estrato, composto por indivíduos que estão nos primeiros anos de aposentadoria e que vivem com uma pensão num lar compartilhado, há um estilo de vida razoavelmente confortável. No segundo estrato, composto por pessoa acima de 80 anos que vivem sozinhas e com poucas economias, as pessoas podem sofrer de pobreza aguda. O estudo revelou que metade da população mais idosa, com 80 anos ou mais, vive com 80 libras por semana ou menos. Sendo a ansiedade relacionada ao dinheiro a segunda preocupação, perdendo somente para o declínio da saúde, considerada a principal preocupação dos que responderam ao levantamento (apud GIDDENS, 2005, p.147).

Em relação às questões ligadas ao declínio da saúde, é evidente que com

o passar do tempo e aumento na idade, aspectos ligados a dificuldades na saúde se

acentuam. No entanto, não se pode relacionar incapacidades ou doenças em

consequência do processo de envelhecimento, tendo em vista que também existem

diversos fatores sociais que podem desencadear danos físicos, porque algumas

perdas ou separações de cunho afetivo e viés econômico, como afastamentos de

familiares e amigos, perdas de emprego, tendem a provocar danos à saúde de uma

pessoa. Diante do referido, percebe-se, portanto, que não necessariamente o

envelhecimento é sinônimo de doenças, porquanto, no geral, se sabe que há

pessoas com idade de 65 anos ou mais que gozam de ótima saúde, quando também

se sabe da existência de jovens não sadios (GIDDENS, 2005).

Com referência às relações familiares intergeracionais, a questão é

preocupante, porque a idealização com relação à compreensão, proteção e ao

carinho atribuídos à família, presentes no Estatuto do Idoso, não necessariamente

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são cumpridos à risca, sendo muitas vezes necessária a agregação de novos

arranjos sociais e novos desafios (LOPES, 2007).

Como aponta Camarano (2006 apud LOPES, 2007) existem e ainda estão

surgindo novas configurações familiares e que a renda advinda da aposentadoria

dos mais idosos se tornam essenciais para as residências brasileiras.

Os conflitos entre gerações são comuns muitas vezes porque atualmente

é frequente encontrar em uma mesma residência quatro gerações diferentes,

existindo também não só atritos mais posicionamentos solidário dos netos para com

os avós mediando conflitos dos idosos com a geração do meio (LOPES, 2007).

Os aspectos presentes no Estatuto do Idoso determinados para as

famílias, em muitas situações, passam longe do que é definido por lei, pois através

de dados pesquisados por Minayo (2003 apud LOPES, 2007) menciona que:

No contexto familiar, as agressões são em geral praticadas pelos próprios filhos homens ou parentes próximos que residem no mesmo local, muitos deles dependentes químicos. A situação social e econômica atual complica ainda mais esse panorama, já que muitos filhos desempregados e suas famílias sobrevivem com os parcos ganhos dos idosos aposentados, invertendo a situação esperada de proteção. A falta de redes de apoio social soma-se a este quadro em que tensões e conflitos são inevitáveis (LOPES, 2007, p. 148).

O idoso pode até denunciar, os abusos, a violência, os insultos, as

discriminações as lesões, porém ele se apresenta incapaz de dar continuidade às

vias legais após a queixa judicial, pois teme as possíveis rejeições que poderá sofrer

no ambiente familiar (CHAVES, 2002 apud LOPES, 2007).

Com tantos fenômenos e diante de tanta complexidade observa-se que a

mídia contemporânea está colaborando para modificar as imagens atribuídas a

velhice, pois, como aponta Lopes (2007) a inserção de muitas propagandas que

mostram idosos felizes, autônomos em atividades nunca vistas antes. Sendo a

propaganda um importante instrumento de atenção aos novos avanços e

capacidades positivas da velhice, distinguindo-se da imagem que nos é costumeira.

Segundo Lopes (2007), dado o complexo enredo em que o processo do

envelhecimento e seus fenômenos atuam, é essencial a atenção e o cuidado para

essa fase da vida, incluir programas que se voltem para as questões ligadas ao

tema juntamente com o segmento interessado, ou seja, os idosos, com o intuito de

que eles possam atuar de forma independente sobre suas vidas, como cidadãos

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emancipados que são. Sendo assim a questão do envelhecimento populacional

necessita de uma nova organização na administração que se segue, nos vários

âmbitos: familiar, estatal e social como um todo, para atender com qualidade as

demandas dos diferentes idosos com suas características e peculiaridades. Pode-se

considerar que a família biológica não se torna necessariamente a que vai cuidar do

idoso, posto que novos arranjos de família surgem na sociedade atual:

Dessa forma, é fundamental identificar o núcleo afetivo de referencia que substitui o parentesco tido como natural nos cuidados aos que envelhecem. Novos arranjos indicam um idoso que sai do espaço restrito da família e, consequentemente, surge num espaço de responsabilidade da sociedade. Portanto é essencial que todos, Sociedade e Estado, pensem e adaptem seus espaços sociais para abrigar idosos. A conscientização da sociedade para um envelhecimento que seja continuação e consequência de um modo de vida anterior exige programas voltados para o resgate permanente da capacidade criadora que há no ser humano, independentemente da sua faixa etária (LOPES, 2007, p. 151).

De acordo com Giddens (2005), verifica-se que o envelhecimento pode

ser visto por muito como uma fase boa, com perspectivas e espaços de

emancipação, não sendo apenas uma etapa de reflexão, mas também de

aprendizado, com a promoção de mais incentivo ao otimismo e positividade em

relação às pessoas mais velhas advindos da sociedade e do próprio segmento.

Compreendemos, por conseguinte, que são muitos os obstáculos

enfrentados pela população idosa, uma vez que a vivência da velhice no país é

repleta de desafios a serem combatidos por eles em suas individualidades, mas

também é estritamente necessário para que haja a satisfação desse segmento, o

suporte do Estado, da sociedade e da família na efetivação de direitos e no respeito

a essa população que contribui tanto histórica, como socialmente, para o

desenvolvimento do país. Ou seja, o reconhecimento do valor dos idosos como

cidadãos autônomos sujeito de seus direitos.

É relevante ressaltar que dentre os inúmeros fenômenos que o

envelhecimento acarreta consigo, o desafio inerente às relações familiares que

trazem ao seu redor, questões como as mudanças na conjuntura da família, os

conflitos de diferentes gerações, e aspectos como a institucionalização dos idosos

em Instituições de Longa Permanência, que serão explanados no próximo capítulo.

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2 O IDOSO INSTITUCIONALIZADO: UM OLHAR SOBRE A FAMÍLIA.

“Na minha velhice, não me rejeiteis; ao declinar de minhas forças não me abandoneis” (Sl 70,9)

2.1 Família Contemporânea

Diante do que foi abordado no capítulo anterior, compreende-se que o

idoso na contemporaneidade encontra-se envolto por múltiplos fenômenos, dentre

esses, um dos que mais influenciam a perspectiva do envelhecimento são as

questões relativas à família, essa categoria social será abordada neste tópico em

diferentes âmbitos e conceitos.

Segundo Prado (1981), há variações nos tipos de famílias, e a natureza

das relações familiares tende a se modificar com decorrer do tempo. Para a autora,

um dos maiores aspectos envolvidos na transformação apresentada pela família são

a questão econômica e a distribuição dos papéis sociais atribuídos para homens e

mulheres, sendo esse um aspecto relevante no aparecimento de novos parâmetros

familiares encontrados na contemporaneidade. Na perspectiva dessas novas

conjunturas, por exemplo, há casais que se constituem de uma grande família,

agregando relações geracionais em casa, e após a morte dos mais velhos, a família

se torna nuclear, posteriormente a isso quando os filhos saem de casa a família

passa a ser conjugal, ou seja, apenas um casal morando no mesmo ambiente

doméstico. Há também os casos de mulheres separadas ou viúvas que se casaram

novamente com outros parceiros, passando a compor uma família reconstituída. As

transformações ocorridas com os parâmetros de família decorrem também de

aspectos culturais, pela associação a determinadas culturas distintas.

Nesse sentido, Prado (1981) nota a família como sendo “uma instituição

social variando através da História e apresentando formas e finalidades diversas

numa mesma época e lugar” (PRADO, 1981, p. 12).

Nos moldes tradicionais, a família grande era unida e detinha de

princípios sólidos. Advém disso o estereótipo de um valor conservador e idealista,

pois ao penetrarmos na cultura da História social com relação à família, verificamos

que há um mínimo de exemplos que compõe as famílias tradicionais desse modo

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real como ela se propunha ser. A família como as demais instituições sociais tende a

apresentar características positivas no que se referem à solidariedade, ao amparo e

afeto. No entanto, existem as questões negativas que são as coerções, imposições

através de leis e costumes, tendendo a gerar ambivalências entre os integrantes e

divergências entre gerações (PRADO, 1981).

A concepção de família para Sarti (2002) demonstra que:

Na família, dão se os fatos básicos da vida: o nascimento, a união entre os sexos, à morte. É a esfera da vida social mais naturalizada pelo senso comum, onde parece que tudo se dá de acordo com a natureza, porque a família regula atividades de base biológica como o sexo e a reprodução humana. A família constitui então um terreno privilegiado para estudar a relação entre a natureza e a cultura (SARTI, 2002, p. 40).

A autora citada acima demonstra o fato de que a família é a primeira

instituição conhecida por todos os indivíduos e é a que perpassa por toda a fase da

vida nos diversos âmbitos.

Para Szymanski (2002), com relação aos moldes tradicionais cada família

detém códigos implicando em uma cultura própria, utilizada para sua comunicação

interpretando as imposições e leis inerentes aos seus membros. Entretanto, esses

significados não se expressam no cotidiano o que ocorre é um conjunto de

sentimentos e emoções que se unem no contexto familiar e cultural, formando ações

que compõem esse universo da família.

Segundo Giddens (2005), existe a tradicional família nuclear, consistindo

em um ambiente em que um casal adulto mora junto com seus filhos, o que constitui

um eixo doméstico. Contudo, acredita-se que a predominância na família nuclear foi

desgastando-se com o tempo. Nesse ponto de vista, é interessante a consideração

de que as “famílias” realçam distintas variedades na sociedade. Já nas

configurações atuais, nota-se o aumento na chamada família ampliada, a qual se

configura quando a parentela próxima, como, por exemplo, avós, sobrinhos, tios,

irmãos primos moram no mesmo ambiente além de um casal com seus filhos.

Nas perspectivas atuais, as teorias aderem ao rompimento com modelos

rígidos e conservadores dessa instituição social.

O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de organização, com crenças, valores e práticas desenvolvidas na busca de soluções para as vicissitudes que a vida vai trazendo. Desconsiderar isso é

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ter a vã pretensão de colocar essa multiplicidade de manifestações sob a camisa de força de uma única forma de emocionar, interpretar, comunicar (SZYMANSKI, 2002, p. 27).

O surgimento das novas configurações familiares vem despertando cada

vez mais o interesse de pesquisas nessa área principalmente no que diz respeito no

campo da sociologia. Nas ultimas décadas, são aspectos de estudo as famílias

homossexuais, as relações monoparentais, e as famílias reconstituídas, dentre

outras transformações nas relações sociais contemporâneas (GIDDENS, 2005).

No caso de famílias homossexuais, Prado (1981) define como duas

pessoas com o mesmo sexo que moram juntas e com crianças adotadas ou

advindas de relacionamentos anteriores, ou em casos de inseminação artificial em

mulheres.

As relações monoparentais consistem em uma família formada por

apenas um dos genitores que pode ser divorciado, viúvo, solteiro e mora com seus

filhos (SANTOS, 2008).

Segundo Fonseca (2002), na área da antropologia, nos últimos séculos

há uma grande variedade no que diz respeito à dinâmica familiar. Apesar dessas

variedades nos conceitos de família, acredita-se que não existe um parâmetro

absoluto de evolução da família.

Bilac (2002) destaca que é visível, tanto nas áreas da sociologia como no

campo da Demografia, as produções empíricas dos conceitos relacionados à família,

no entanto deixa a desejar nas interpretações concretas referentes aos novos dados

levantados, das transformações observadas na categoria família e de como essa

face de família moderna se articula com as anteriores.

Dentre os fatores, o que modificou a dinâmica das famílias tradicionais

para a então chamada família moderna foi a Revolução Industrial, pois com o

processo de industrialização distanciou-se da família a atribuição de fator de

produção de força de trabalho, dirigindo-se, assim, a característica da reprodução

social distanciando também o poder do chefe para com os outros membros. Nessa

perspectiva, a mulher passa a se inserir no mercado de trabalho, modificando dessa

forma a relação de hierarquia. Nesse sentido, outra perspectiva consiste na

diminuição dos membros familiares que decorrem da contenção de natalidade e

pelas condições de vida vigente. No contexto de transformações, o casamento perde

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a função de forma exclusiva de união legítima, pois outros modelos de famílias, que

não surgem do casamento, aparecem e com o apoio do Direito (SANTOS, 2008).

Diante dessas diversificações nos modelos familiares é que se percebe a

superação dos padrões tradicionais de família que apontavam para um modelo em

que se tinha um chefe de família - que nesse caso era o homem – no qual este se

inseria no mercado de trabalho de modo a sustentar a esposa e os filhos, enquanto

a participação feminina consistia em atividades de casa não remuneradas e

cuidados com os filhos (SARACENO, 1995 apud SALES, 2004).

Diante da complexidade dada à categoria família mais ainda em seu

aspecto contemporâneo, Bilac (2002) aponta para a possibilidade de se chegar a um

conceito de família, não sendo essa apenas uma função solitária de uma das

ciências humanas, tais como na história ou sociologia, uma vez que para se abordar

um objeto tão complexo como é a família atualmente, caberia à construção de

estudos interdisciplinares, sendo talvez a possibilidade de se evitar um emaranhado

de respostas em que se obtivessem os estudos sobre família.

Para Sarti (2002) a categoria família não é um todo uniforme, e sim um

espaço de relações distintas, de modo que as variações abrangem de maneira

diferente cada uma das partes componentes das relações familiares.

Diante da complexidade que os autores atribuíram à categoria família, em

seu sentido amplo, é que no tópico seguinte será abordada essa categoria

juntamente com a perspectiva do idoso, correlacionada ao contexto familiar.

2.2 Família e idoso: relações intergeracionais

A perspectiva do envelhecimento, inter-relacionada com as questões

familiares, principalmente em seu contexto contemporâneo, aborda um emaranhado

de aspectos, como por exemplo, as relações domésticas entre gerações distintas,

como o idoso é visto pelos membros de sua família e o modo que eles a veem.

Segundo Alves (2007), as questões relacionadas à família com

perspectiva nos estudos sobre a velhice no Brasil, passaram a ganhar ênfase em

meados da década de 70, coincidindo com os novos deslocamentos das pessoas

idosas, como, por exemplo, as mulheres mais velhas que passaram a residir

sozinhas. Esse contexto modificou a composição da família tradicional com o viés de

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hierarquia para a então família moderna, sendo esta última direcionada ao

individualismo, ou seja, à realização particular dos integrantes principalmente dos

mais jovens, acarretando em tensões entre as gerações.

Contrapondo o individualismo da família moderna, existem aspectos

ligados ao relacionamento entre avós e netos, havendo uma possível troca de

atenções entre as gerações em contraponto ao individualismo da família conjugal

que se delimita apenas a pais e filhos. Nesse sentido, em muitos casos os avós têm

essencial importância na vida de seus netos, já no que concerne aos filhos há

normalmente a reprodução de conflitos. O que ocorre no âmbito doméstico, muitas

vezes, é a ajuda mútua entre as gerações, mesmo com a presença de tensões, essa

troca de amparo se faz presente no convívio domestico e familiar entre as diferentes

gerações (ALVES, 2007).

Conforme Alves (2007), os vínculos conjugais no que se refere aos idosos

têm bastante relevância, quando se quer tratar das famílias brasileiras e seus

idosos, e atenção a também questão de gênero, que se insere de forma essencial

ao entendimento da velhice, já que muitas mulheres idosas moram sozinhas, e isso

não consiste necessariamente estado de abandono familiar, podendo ter, sim,

companhia dos membros de sua família. Já os homens, na maioria das vezes, ao

chegar à velhice são cuidados essencialmente por suas esposas, ou por filhos e

filhas.

As configurações contemporâneas relacionadas à família, segundo Alves

(2007), sugerem que:

A redução do número de filhos e a instabilidade maior dos laços conjugais observadas hoje entre as gerações mais jovens podem indicar que, no futuro esse suporte vindo da família nuclear tenha que ser revisto, tanto para os homens quanto para as mulheres. Talvez o percentual de idosos sem apoio ou com apoio de não parentes e não co-residentes aumente. Isso significa que a sociedade e os indivíduos devem se preocupar desde já com a disponibilidade de auxílios não baseados no vínculo conjugal e na parentalidade para as gerações de velhos do futuro (ALVES, 2007, p. 128).

A citação anterior demonstra uma característica que já está ocorrendo na

sociedade atual, e poderá se acentuar nos próximos anos, que se refere aos idosos

que ao chegar nessa fase da vida não são cuidados por familiares ou parentes, e

sim por outras instituições, em decorrência de aspectos propriamente advindos da

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contemporaneidade, de uma sociedade capitalista com arranjos bem diferentes da

tradicional família nuclear.

Alves (2007) diz que os domicílios brasileiros apresentam uma

característica de que 71% dos idosos são os chefes de família, esse aspecto é tido

principalmente como suporte econômico, ou seja, o sustento das residências, muitas

vezes, advém da aposentadoria, do trabalho que alguns idosos ainda realizam ou

através de pensões recebidas por esse segmento. Em sua grande maioria, os

idosos contribuem com as despesas da família, porém com a idade o poder da

opinião dos idosos vai diminuindo no contexto familiar, passando a ter menos

relevância para os outros componentes da família, havendo assim certa contradição,

tendo em vista que um viés aponta por um lado o idoso como chefe material, mas

por outro, o idoso opina menos nas decisões familiares. Sendo essa uma

característica expressiva, no que se refere às relações familiares intergeracionais, e

a posição do idoso em sua vida social. Verifica-se a partir desses dados que a

opinião do segmento mais jovem é mais importante que a palavra dos mais velhos,

invertendo a concepção de que a geração mais velha é mais experiente e dotada de

sabedoria.

A concepção, segundo Beauvoir (1990), de que o velho se apresenta

como um indivíduo “estranho” perante os demais seres, embasa-se na concepção

de que:

O velho – salvo exceções – não faz mais nada. Ele é definido por um exis, e não por uma práxis. O tempo o conduz a um fim – a morte – que não é o seu fim, que não foi estabelecido por um projeto. E é por isso que o velho aparece aos indivíduos ativos como uma “espécie estranha”, na qual eles não se reconhecem. Eu disse que a velhice inspira uma repugnância biológica; por uma espécie de autodefesa, nós a rejeitamos para longe de nós; mas essa exclusão só é possível porque a cumplicidade de principio com todo empreendimento não conta mais no caso da velhice (BEAUVOIR, 1990, p. 266).

Existia, até há alguns anos, certo equilíbrio no que diz respeito à

conjuntura do idoso e da criança, na perspectiva de que o ser adulto não constitui

relação recíproca com os segmentos anteriores, pois não é difícil a constatação da

existência de criança notável para sua idade, como também do velho com ações

incríveis para sua idade. Porém, na concepção do adulto é válido para a sociedade o

investimento na criança, pois ela se apresenta como um ser ativo em seu futuro. No

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entanto, encara-se o velho como um peso sem tanto valor, às vezes, por conta da

sua não mais contribuição econômica, ou por ele está doente acarretando em gastos

e maiores responsabilidades para os membros familiares (BEAUVOIR, 1990).

Segundo Beauvoir (1990), o indivíduo adulto age para com o idoso de

modo a submetê-lo às suas tiranias, de forma indireta, visto que o adulto não se

arrisca a passar ordens de maneira clara. Portanto, as atitudes de um adulto

juntamente com a cumplicidade dos outros membros familiares consistem em vencer

a resistência e vigor do idoso, tratando-os com uma prudência excessiva,

prejudicando a autonomia do idoso, certa complacência com tom de ironia, um

tratamento de modo a infantilizar o idoso, e lhes omitindo fatos, quando não lhes

enganam por total, como é o caso do convencimento direcionado ao idoso para ele

aceitar residir provisoriamente em uma casa de repouso, quando na realidade o

idoso poderá ser abandonado de forma perpétua por esse familiar.

Diante do referido, Beauvoir (1990) assinala:

O que caracteriza a atitude prática do adulto para com os velhos é sua duplicidade. O adulto inclina-se até certo ponto à moral oficial que vimos impor-se nos últimos séculos, e que o obriga a respeitar os velhos. Mas ele tem interesse em tratar os idosos como seres inferiores, e em convencê-los de sua decadência. Irá aplicar-se em fazer sentir a seu pai as deficiências e incapacidades deste, a fim de que o velho lhe ceda a direção dos negócios, poupando-o dos conselhos e se resignando a um papel passivo. Se a pressão da opinião o obriga a assistir seus velhos pais, ele pretende governá-los a seu modo: terá tanto menos escrúpulo quanto mais os julgar incapazes de tomarem conta de si próprios (BEAUVOIR, 1990, p. 268).

Desse modo, percebe-se que o adulto trata o idoso em meio a coerções,

sem deixar transparecer a autonomia das pessoas da terceira idade, fazendo-as

acreditar que são incapazes e ineficientes, e que por isso eles próprios passam a

achar que são totalmente dependentes, deixando assim suas funções de costume.

Outro aspecto referente às relações de família e seus idosos, existem os

casos apontados por Beauvoir (1990) de que quando se há uma relação de afeto e

amor entre os genitores e seus filhos, os últimos são os prováveis cuidadores e se

empenham na atenção a seus progenitores na velhice, no entanto a influência e até

mesmo imposições dos respectivos cônjuges dos filhos poderá restringir a

dedicação para com os pais.

Com relação às crianças muitas delas amam e têm respeito pelos idosos.

No entanto, segundo Beauvoir (1990) as crianças de classes menos favorecidas,

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essas tendem a zombar dos velhos, pois veem nos idosos a chance de afronta aos

indivíduos adultos que os tiraniza.

Em outra perspectiva, Beauvoir (1990) menciona a cumplicidade que

pode haver entre uma geração mais jovens para com os idosos, e essa

solidariedade se dá porque os jovens sentem-se tão bloqueados pelos adultos como

os idosos e isso acentua a indignação dos jovens com os adultos como também

aumenta a reciprocidade deles com o segmento idoso.

Porém, segundo Beavoir (1990), em outros casos os velhos são vistos

pelos jovens de uma forma distinta do que foi referido logo acima, pois:

[...] se os avós constituem uma carga para a família, os jovens acham injusto terem que se impor sacrifícios para prolongar a existência deles. No cruel e encantador filme espanhol El cochecito, a jovem esperava com impaciência a morte do avô: ela cobiçava o quarto que ele ocupava. Esse rancor se estende frequentemente a todos os velhos. Os jovens invejam os privilégios econômicos ou sociais deles, e acham que estão bons para o lixo. Menos hipócritas que os adultos, manifestam mais abertamente sua hostilidade (BEAUVOIR, 1990, p. 270).

De acordo com a percepção de Beauvoir (1990), o grande crime social

está no tratamento que se aplica a maior parte dos indivíduos, em momentos de

suas vidas como a juventude e na velhice. É por culpa da sociedade que a velhice

pode ser considerada uma fase fisicamente sofrida, moralmente disforme, porque a

sociedade é pré-fabricantes de circunstâncias miseráveis para a população idosa,

visto que esses segmentos passam a ser submissos, alienados, quando não são

fatidicamente tratados como “refugos”, sobras.

Essa desconsideração referente ao velho ocorre pelo fato de que a

sociedade apenas se importa com os indivíduos na proporção que estes produzam

economicamente e rendam para a coletividade, e os jovens têm essa função, pois

passam por esse processo no momento em que adentram socialmente, percorrendo

a aflições semelhantes a do velho quando rejeitado de sua vida social. Nessa

perspectiva, quando passamos a entender quanto à conjuntura em que se inserem

os velhos, não nos satisfazemos em apenas solicitar melhores condições, e sim a

observação de todo um sistema que está ao redor desse cenário, e a partir disso a

contestação deverá ser enérgica e ousada, para uma transformação eficaz na vida

dos idosos (BEAUVOIR, 1990).

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Na perspectiva de Tier (2004), no que se refere à relação familiar com a

saúde do idoso, tem-se que:

Ainda que a família não esteja relacionada diretamente a doença e a dependência, o crescimento da população idosa indica o aumento no número de pessoas em situação de saúde frágil, apresentando debilitação e dependência. Na maioria das vezes, a grande quantidade de cuidados dispensados ás pessoas idosas, debilitadas acaba sendo de responsabilidade da família [...] A responsabilidade que os filhos têm para com seus pais está fundamentada na perspectiva de uma reciprocidade esperada, que se manifesta na retribuição pelo cuidado recebido na infância e no amor filial (TIER, 2004, p. 332).

Nesse sentido, a família é/ou deveria ser o auxílio principal na proteção

de um idoso que se encontra fragilizado em seus mais diversos aspectos,

caracterizando, portanto, o espaço familiar como o ambiente ideal para a realização

dessa responsabilidade (TIER, 2004).

Desse modo, a família é por lei a categoria a qual seria necessária para

oferecer aos seus idosos suporte em um envelhecimento saudável físico e

psicologicamente, no entanto, em sua maioria, devido a diversos fatores, conflitos

familiares, atritos de diferentes gerações, entre outros, os quais contribuem

atualmente para outras questões a serem observadas como é o caso da

institucionalização de idosos nas ILPIs.

2.3 Idoso em situação de institucionalização

A institucionalização dos idosos, segundo Cortelletti (2004), certifica-se

como uma ação em que a sociedade passa a desconsiderar os indivíduos no

instante que eles não são mais produtivos, já não possuem tanta saúde quanto

antes, dentre outras perspectivas que levam à habitação em Instituições de Longa

Permanência.

De acordo com Araújo (2009), as instituições asilares são consideradas o

modelo antigo de atenção aos idosos quando eles se encontram fora do seio

familiar, no entanto essas dirigem os seus residentes ao retraimento, solidão,

ociosidade, apatia mental e física.3

3 A institucionalização da velhice se iniciou com uma prática assistencialista, predominando na sua

implantação a caridade cristã. Somente no início do século XX as instituições tiveram seus espaços

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Cortelletti (2004) entende que o processo de institucionalização dos

idosos tende a mudanças nas representações sociais, as quais se transformam na

medida em que os idosos passam de indivíduos ate então produtivos à condição de

não produtividade econômica, outra característica consiste nas mudanças nas

relações familiares, pelo possível rompimento de vínculos, levando a certo tipo de

afastamento social. E essa mudança de paradigma leva a conjuntura social do idoso

a ser definida pelo cenário institucional.

Na perspectiva de Cortelletti (2004) as instituições asilares caracterizadas

como:

[...] uma comunidade que reside sob o mesmo teto e utiliza os mesmos espaços físicos, e por outro, como uma organização formal, estruturada funcionalmente, com hierarquias definidas pela divisão de trabalho interno. Mesmo apresentando diferentes denominações, possui, em comum, a função de propiciar o atendimento por meio de hospedagem permanente, assistência a saúde de forma direta ou indireta e algumas atividades de ocupação e lazer (CORTELLETTI, 2004, p. 18).

Para Cortelletti (2004), a tomada de decisões dentro de um instituição

asilar, chamada hoje de Instituição de Longa Permanência, consiste na equipe

organizadora e dirigente que determina as resoluções institucionais de acordo com

suas conveniência e interesses, sem levar em consideração as vontades dos idosos,

ou seja, daqueles que são os usuários dos serviços prestados. O processo de

institucionalização desempenha na vida dos idosos mais do que uma variação de

localidade física, e sim as novas relações e configurações que esse novo espaço

poderá representar para os residentes.

Diante do referido, Cortelletti (2004) diz que a situação de

institucionalização pode ser de difícil compreensão para o idoso, uma vez que essa

é uma ocasião de ruptura dos vínculos afetivos que o idoso mantinha até então,

sendo agora necessária a criação e estabelecimento de outras relações sociais,

porém o idoso inserido na determinada circunstância, tende a estar fragilizado e

desestimulado por conta da perda de papeis sociais e de suas ocupações

anteriores, o que pode acarretar em graus diversos de angustia, inquietações

ordenados: as crianças em orfanatos, os loucos em hospícios e os velhos em asilos, mas a velhice já se configurava como um problema social. A institucionalização era reflexo da pobreza individual e familiar, e o termo asilo cristalizou-se como sinônimo de instituição para idosos pobres (CAMARANO, 2007, p. 172)

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provenientes da ansiedade, e isso ocorre dependendo da história pessoal de vida de

cada um (CORTELLETTI, 2004).

Na perspectiva de (CORTELLETTI, 2004), o idoso tende a se conter em

seu próprio mundo por muitas vezes não saber o que lhe espera em seus dias e

pela ociosidade que a fase da velhice é capaz de trazer e essa circunstância pode

acarretar em uma instabilidade social, uma vez que as relações interpessoais do

indivíduo poderão apresentar resultados negativos à saúde psíquica do idoso.

Segundo Araújo (2009), não é recente o aparecimento de Instituições de

Longa Permanência, porém com os já ditos novos parâmetros da sociedade

contemporânea o número de ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos)

vem aumentando consideravelmente uma vez que as demandas por esses serviços

só tendem a aumentar, ainda mais quando se trata das mudanças demográficas que

consideram o Brasil como um país de idosos.

Nesse sentido Welfer (2010) aponta que as ILPIs precisam atuar de

modo que:

Devem organizar seus serviços com o intuito de atender as múltiplas necessidades físicas e emocionais de seus residentes. O desafio que se impõe é garantir uma equipe interdisciplinar, com formação gerontológica que qualifique assistência prestada, objetivando a promoção da saúde, a manutenção da autonomia do idoso, a sua qualidade de vida e a dignidade no viver e morrer e também as condições de trabalho e satisfação dos profissionais envolvidos (WELFER, 2010, p. 86).

Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social4 - (MDS) o acolhimento

institucional consiste em um serviço que utiliza tipos diferentes de equipamentos que

podem ser direcionados para indivíduos que possuam vínculos rompidos ou em

fragilidade com suas famílias. O acolhimento institucional atua no sentido de garantir

proteção integral a determinado segmento.

Nessa perspectiva, o MDS registra que o acolhimento institucional tem

por função prestar atendimento de modo a favorecer o convívio familiar e

comunitário, e as normas de convivência se compõem de modo a garantir a

autonomia dos residentes.

4 Disponível em:<http://www.mds.gov.br/falemds/perguntas-frequentes/assistencia-social/pse-protecao-

social-especial/servicos-de-alta-complexidade/servico-de-acolhimento-institucional>. Acesso em: 10 fev. 2014.

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Segundo informações colhidas no Lar Torres de Melo, existem 11

instituições para idosos na cidade de Fortaleza e 21 espelhadas no estado do

Ceará. Nessa perspectiva, Araújo (2009) assinala que é extremamente necessário à

compreensão de como ocorre o processo de institucionalização dos idosos, para

que essa modalidade seja uma alternativa que assegurem a população idosa

satisfação, qualidade de vida e bem-estar, ou seja, as instituições devem desfazer o

que os chamados asilos trouxeram em sua história, e sim tornar-se uma escolha

sem amarras na vida desse segmento.

Conforme Michel (2012), as Instituições de Longa Permanência através

de estudos recentes estão sendo reconhecidas de outras formas, diferente do que

eram consideradas na literatura mais antiga pertinente a essa temática, porque

atualmente as ILPIs hoje aparecem como uma alternativa de acesso e atenção à

saúde, como também segurança e amparo social.

Desse modo, compreende-se que as Instituições de Longa Permanência,

na sociedade contemporânea, dotada do envelhecimento populacional, recebem

como função “cuidar de idosos necessitados, de várias modalidades de serviços em

face das perdas funcionais que tornaram problemática a vida a sós com a família”

(TIER, 2004, p. 333).

O Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) conceitua a assistência oferecida

pelas instituições de longa permanência quando o idoso não tiver nenhum vínculo

familiar, e não possuir recursos financeiros. Atualmente uma modalidade mais atual

de situação dos idosos que está aparecendo nas ILPIs, são os casos de

institucionalização por iniciativa própria, em que o idoso escolhe por sua vontade a

morar em instituições de longa permanência.

Dentre as diversas motivações que levam a um idoso a ser

institucionalizado, Espitia (2006) diz:

Agravamento da pobreza, os conflitos geracionais, a intensidade dos laços familiares no decorrer de suas vidas, a saída de membros da família para o mercado de trabalho e o aparecimento e/ou agravamento de determinadas patologias que geram certo grau de dependência, assim como o rompimento de laços afetivos (ESPITIA, 2006, p. 53).

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Tendo em vista a importância atribuída às instituições de longa

permanência para os idosos que foram abandonados, com rompimentos de vínculos

familiares, ou em contextos de saúde debilitada em que a família não possui

condições financeiras nem tempo para atenção ao idoso, pela real falta de algum

membro familiar, ou em perspectiva de vontade de residir em uma ILPIs, enfim os

diversos fatores que acarretam no processo de institucionalização, levando-se em

consideração que essas instituições atualmente têm por finalidade o amparo aos

idosos no que concerne ao contexto social, à saúde, à segurança e ao bem-estar

desse segmento, faz-se, portanto, necessária a reflexão tanto acerca da importância

estrutural desse novo ambiente como das novas relações sociais que se farão

presente na vida dos idosos.

2.3.1 Parâmetros e critérios para o funcionamento das ILPIs

Na Agencia de Vigilância Sanitária – ANVISA a Legislação das ILPIs

apresenta o estabelecimento de parâmetros e critérios para o funcionamento das

atividades das Instituições de Longa Permanência (MICHEL, 2012).

Nessa perspectiva apresenta-se uma síntese sobre o regulamento técnico

no que diz respeito ao funcionamento das instituições em pauta, que tem por

objetivo:

Assegurar as condições mínimas de funcionamento das instituições de atendimento ao idoso com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, de modo a garantir a atenção integral, defendendo a sua dignidade e os seus direitos humanos (HENRIQUES, 2004, p. 2).

Em relação às características das Instituições de Longa Permanência

para Idosos, as ILPIs caracterizam-se como um ambiente que pode ser mantido por

organizações não governamentais, bem como também através da modalidade

governamental, a qual se propõem a “assegurar a atenção integral em caráter

residencial com condições de liberdade e dignidade, cujo público alvo são as

pessoas acima de 60 anos” (HENRIQUES, 2004, p. 2). Ou seja, idosos que

possuam ou não familiares, possam ter o amparo das instituições, sejam pagando-

as (particulares), ou não, como as de natureza governamental.

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As ILPIs podem disponibilizar as modalidades assistenciais quanto ao

grau de dependência física e cognitiva dos idosos (HENRIQUES, 2004).

A dependência I – relacionada aos idosos que não são dependentes

mesmo que necessitem de algum aparato (equipamento).

Dependência II – refere-se àqueles idosos com a dependência

funcional, ou seja, precisam de auxílio em qualquer ação de autocuidado, como:

alimentação, higiene pessoal, mobilidade.

Dependência III – destina-se a idosos totalmente dependentes, ou seja,

àqueles que necessitam de absoluta assistência, com atenção e cuidados

específicos em todas suas atividades.

O funcionamento da instituição está condicionado ao licenciamento pela Vigilância Sanitária do Estado, do Distrito Federal ou do Município, assim como o registro junto ao Conselho do Idoso, em conformidade com o Parágrafo Único, Art. 48 da n.° Lei 10.741 de 2003 (HENRIQUES, 2004, p. 3).

Segundo o Regulamento da ANVISA, quantos aos recursos humanos das

Instituições de Longa Permanência, estas últimas devem dispor de um responsável

técnico, que esteja apto nas áreas da saúde e social, ou seja, tenha curso de

formação, e que obtenha conhecimento na área de gerontologia, para

responsabilizar-se pela instituição juntamente com as autoridades sanitárias de uma

determinada localidade. A equipe multiprofissional que deve atender, nas ILPIs, é:

Assistentes Sociais, Psicólogos, Odontólogos, Terapeuta Ocupacional,

Fonoaudiólogo, Educador Físico, de acordo com o plano de atenção a saúde.

De acordo com as atribuições gerais e requisitos da legislação estar legalmente constituída: Promover integração dos idosos, nas atividades desenvolvidas pela comunidade local; Favorecer o desenvolvimento de atividades conjuntas com pessoas de outras gerações; Promover condições de lazer para os idosos, tais como: atividades físicas, recreativas e culturais; Celebrar contrato formal de prestação de serviço com o idoso, ou seu responsável legal ou Curador, em caso de interdição judicial, especificando o tipo de serviço prestado, bem como os direitos e as obrigações da entidade e do usuário em conformidade com inciso I artigo 50 da Lei n° 10.741 de 2003 (HENRIQUES, 2004, p. 4).

Conforme a Legislação, as ILPIs devem comunicar à Secretaria Municipal

de Assistência Social, bem como também ao Ministério Público toda situação de

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abandono familiar sofrida pelo idoso, ou casos de ausência da identificação civil

dele.

As instituições de longa permanência precisam estimular programas que

previnam e reprimir a todo tipo de violência contra o segmento idoso, residentes. É

necessário também o incentivo e promoção por parte das ILPIs, para a presença e

cooperação da família como de toda a comunidade para a dedicação e cuidado com

os residentes. Aos idosos que tiverem com complicações na saúde, os

representantes técnicos da instituição devem promover a internação dos residentes

nos hospitais e comunicar as famílias e os representantes legais quanto ao ocorrido

(HENRIQUES, 2004).

Em suma, quanto à área física das instituições, precisa disponibilizar

ambiente para o desenvolvimento de interação entre os idosos e seus familiares,

atendimento de acordo com cada necessidade dos residentes; é essencial também

um espaço para atividades esportivas, sociais entre outras (HENRIQUES, 2004).

Diante da responsabilidade inerente as instituições de longa

permanência, e do sentido que essas instituições têm na vida dos idosos, é que se

faz necessário à compreensão a respeito da concepção que os idosos atribuem ao

sentido de família, e sobre a sua real situação enquanto idosos institucionalizados

em uma ILPIs.

3 OS IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS NO LAR TORRES DE MELO

No presente capítulo, discorre-se sobre o momento extremo da pesquisa,

fazendo um aprofundamento do estudo realizado na Instituição, ou seja, no lócus da

pesquisa e das análises realizadas a partir das respostas dadas pelos sujeitos

pesquisados, e a reflexão teórica inter-relacionada com os apontamentos

encontrados no estudo do campo em análise.

As entrevistas foram realizadas durante os meses de abril e maio de

2014, no Lar Torres de Melo. Através de dados fornecidos pelo Serviço Social da

instituição, observa-se que nesse período foi encontrado um universo de 220 idosos.

Esse estudo teve uma abordagem através da pesquisa qualitativa com os idosos,

para a execução investigativa em que se empregou como técnica a entrevista

semiestruturada. A escolha dos idosos que foram entrevistados ocorreu diante de

alguns critérios, quais sejam: uma amostra de 10 idosos lúcidos, orientados e

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independentes, com capacidade cognitiva para responder às perguntas da

entrevista, que estejam na faixa de idade de 65 a 80 anos que tenham familiares e

que possuam contato com os mesmos, que residam no Lar Torres de Melo há até 5

anos, porque normalmente os vínculos familiares ainda se encontram bastante

fortalecidos, bem como ter disponibilidade para a entrevista e concordar com a sua

realização, os idosos foram informados que na pesquisa constaria pseudônimos

bíblicos escolhidos com o intuito de que suas reais identidades não fossem

divulgadas e como comprovação de autorização, assinaram um Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice B).

Durante a pesquisa documental, o serviço social da instituição colaborou

bastante autorizando e informando através das fichas dos idosos quais os que se

adequavam aos critérios para a realização das entrevistas. Esse primeiro processo

facilitou muito na busca direta aos idosos que fariam parte dos entrevistados.

Na primeira visita, realizou-se entrevista com 2 idosos, primeiramente um

idoso que estava em frente ao seu apartamento que se localiza no residencial de

nome Solidariedade. Ele aceitou responder às perguntas com muito entusiasmo e

feliz, pois mencionou ter recebido nesse mesmo dia, alta da radioterapia que há

algum tempo estava fazendo. Posteriormente, uma idosa que se encontrava no

refeitório da instituição, mostrou-se bastante solícita e animada para responder às

perguntas da entrevista.

Na segunda ida ao campo de pesquisa, foram colhidos relatos de 4

idosos, as quais 3 encontravam-se no refeitório após o lanche da tarde e

disponibilizaram-se a responder às perguntas sem nenhuma objeção. Nesse mesmo

dia realizou-se a entrevista com 1 idoso que estava em seus aposentos e concedeu

a entrevista, porém bastante desanimado. Ele não se levantou, ficando deitado em

sua cama, pois já teve AVC (Acidente Vascular Cerebral) há algum tempo e, desde

então, sente fortes dores em uma das pernas.

E, na terceira visita, foram entrevistados os 4 idosos que faltavam para

completar a amostra. Cada um deles respondeu às perguntas em frente aos seus

respectivos apartamentos. Dois deles habitam no residencial Solidariedade, e dois

no residencial Magalhães, todos demonstraram bastante contentamento e bom

humor, colaborando em responder aos questionamentos.

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3.1 Lócus da pesquisa

O Lar Torres de Melo localiza-se na Rua Júlio Pinto, 1832, Bairro

Jacarecanga, Fortaleza, Ceará. Esta instituição é uma associação civil de direito

privado, sem fins lucrativos, de caráter exclusivo de Assistência Social e promoção

humana. Sucede no tempo e espaço o asilo de mendicidade do Ceará, fundado em

10 de Agosto de 1905, tendo 108 anos de atuação na área de abrigamento de longa

permanência para pessoas idosas.

A estrutura organizacional do Lar Torres de Melo contempla quatro áreas:

social, saúde, nutrição e gestão. Sua equipe multiprofissional é composta de três

assistentes sociais e 5 estagiários de Serviço Social, uma médica e 5 voluntários em

residência, três enfermeiros, uma terapeuta ocupacional, duas psicólogas

voluntárias, uma nutricionista e 2 voluntárias, dois fisioterapeutas com 2 voluntários

e uma farmacêutica. Além dos profissionais auxiliares e os de apoio administrativo

que se distribuem em diversas áreas, tais como social, saúde, serviço de

alimentação, serviços gerais e de segurança, uma equipe composta em média por

120 profissionais, e ainda os cuidadores dos idosos dependentes que são aqueles

que necessitam de cuidados específicos e os voluntários que são as pessoas da

comunidade que se disponibilizam a ajudar em algumas tarefas de cuidados aos

idosos.

A estrutura física da instituição é ampla, com salas apropriadas para os

profissionais. À instituição possui duas enfermarias a masculina e a feminina onde

se encontram os leitos dos idosos dependentes, ou seja, aqueles que necessitam de

maiores cuidados e atenção. O abrigo conta com duas alas de residenciais, que são

o residencial Magalhães e o Solidariedade, em que em cada quarto moram quatro

idosos, todos os quartos tem um banheiro. A menos de um ano foi construída uma

ala que é o chamado casarão, é um espaço onde residem os idosos

(semidependentes). E ainda existem os residenciais particulares. A instituição é

contemplada por uma quadra em que se realizam as atividades sociais. O Lar Torres

de Melo é bastante amplo tendo muitas janelas que facilitam na ventilação (Cf.

Anexo A). Utiliza-se de ar condicionado apenas nas salas fechadas, existem muitas

rampas para facilitar a locomoção dos idosos cadeirantes e dos demais que

possuem dificuldades para andar.

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A instituição tem por missão, “prestar assistência integralmente à pessoa

idosa buscando assegurar e preservar seus direitos através de ações concretas

voltadas a conquistas da igualdade, liberdade e condições de vida digna”.5

Em relação à política geral da instituição, atende as modalidades de

proteção social básica oferecendo serviços de convivência e fortalecimento de

vínculos. O abrigo oferece principalmente o serviço de proteção social especial de

alta complexidade de acolhimento institucional, seguindo o que determina a

PNAS/2004 (Política Nacional de Assistência Social) e NOB/SUAS/2005, (Norma

Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social) bem como atende as

orientações da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais/2009. Norteia a

instituição a Constituição de 1988, Estatuto do idoso e Política Nacional do Idoso. Os

recursos empregados na instituição são captados por convênios, doações,

parcerias, por programas e projetos.

No momento anterior a institucionalização dos idosos, eles devem passar

por uma avaliação de saúde, feita por médicos e enfermeiros, e a avaliação social,

realizada pela assistente social. A avaliação se realiza com propósito de saber se o

idoso encontra-se nos critérios da instituição como também para saber sobre a

família dos idosos, pois se tenta preservar o vínculo familiar, para se saber o grau de

dependência desse idoso.

Os idosos com grau de dependência 1 são aqueles independentes, os

quais não precisam de cuidados específicos, apenas recebem uma supervisão

cotidiana. Esses idosos encontram-se nos apartamentos residenciais. Já os idosos

com grau 2 são aqueles com dependência funcional em até três atividades do dia a

dia, mas sem comprometimento cognitivo, e os com grau 3 são aqueles idosos que

requerem assistência total para a realização de atividades de autocuidado e

acompanhamento cognitivo, normalmente os idosos dessas duas últimas

modalidades encontram-se abrigados nas enfermarias.

Além dos idosos que residem no Lar Torres de Melo, ocorre também a

interação com 100 idosos moradores dos bairros vizinhos, que estão inseridos no

Programa Conviver, o qual consiste em disponibilizar, por duas vezes na semana,

alguns dos serviços e das atividades oferecidos pela instituição.

5 Disponível em:<http://www.lartmelo.org.br/site/missao/>. Acesso em: 10 jan. 2014.

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O Lar Torres de Melo encontra-se atualmente com 220 idosos. No geral,

as principais motivações que levam à residência dos idosos na instituição são por

conta da impossibilidade de assistência familiar, assim como pela própria iniciativa

do idoso que opta por morar em uma ILPI, e casos de inexistência da família, tendo

também em menor frequência as situações de idosos abandonados, ex-moradores

de ruas.

As motivações que levaram os idosos participantes da pesquisa a serem

institucionalizados, juntamente com outras questões, como as relações familiares,

afetivas de um idoso residente no Lar Torres de Melo, aspectos estes que serão

mais detalhados nos tópicos a seguir.

3.2 Família

Diante das perspectivas apreendidas na pesquisa de campo, quanto à

estrutura e organização da instituição, indaga-se sobre o contexto dos idosos

direcionados para as questões da família, dos motivos da institucionalização e de

como é a vida deles no Lar Torres de Melo.

No que se refere à categoria família foi abordada questões pertinentes à

relação dos idosos com seus familiares, se recebem visitas e a frequência dessas,

se realizam visitas a algum membro familiar, com quem os idosos residiam antes da

vinda ao Lar Torres de Melo, após a institucionalização, como ficou a relação dos

residentes com sua família e qual a percepção dos idosos acerca da família.

Desse modo para uma melhor compreensão do perfil dos entrevistados, a

tabela abaixo mostra com quem os idosos residiam antes da institucionalização.

Tabela 1 - Pessoas com quem os idosos residiam antes da institucionalização

Pessoa com poder de

decisão N.º absoluto Porcentagem %

Filhos 2 idosos 20 %

Cônjuges 2 idosos 20 %

Sozinhos (a) 1 idoso 10 %

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Fonte: Próprio autor - Pesquisa Direta, Abril/ Maio de 2014.

Observa-se que antes da institucionalização a maioria dos idosos

residiam com seus cônjuges e filhos totalizando em números absolutos 4 idosos

(40%), desses, três são homens e uma é mulher. A quantidade de 2 idosos

moravam somente com os filhos (20%), sendo um idoso e uma idosa, e 2 idosos

residiam somente com os cônjuges (20%), apenas uma idoso morava sozinho (10%)

e uma única idosa residia com os irmãos (10%).

Desse modo, verifica-se que há, em maior quantidade, pessoas que

contavam em seu ambiente doméstico com a presença dos companheiros (as) e

filhos demonstrando até então vínculos com seus membros familiares. Uma idosa

por não ter tido filhos e nem ter casado relatou morar com os seus irmãos, e um

único idoso morava sozinho.

Diante das entrevistas, as respostas fornecidas constam diferentes

depoimentos e atribuições relatados pelos idosos. A princípio a maioria deles conta

com qualidades direcionadas às suas respectivas família, como os que consideram

seus familiares como maravilhosos, e a declaração da frequência de todo final de

semana receber visita da família, bem como alguns idosos frequentemente a

visitam, e dentre outros significados determinam suas famílias como unida e

maravilhosa, como se vê a seguir (informação verbal)6:

Senhora Gabriela – Estou com 74 anos, tenho 4 filhos dois homens e duas mulheres, tenho um casal de netos e um casal de bisnetos. Eu e minha família temos uma relação maravilhosa, [...] Recebo visita dos meus filhos todo mês dos netos e dos bisnetos. Agora em Maio vou passar o mês todinho lá, todos os anos eu vou duas vezes por ano, mas quando eu vou eu passo muitos dias. [...] Depois que eu vim pra cá a relação com minha família não mudou muito não, pelo menos não pra mim, até mais porque a gente tem vontade de ver, de passar o dia, e eu acho bom quando eles

6 Nesta seção do presente trabalho, serão apresentados depoimentos dos idosos participantes da

pesquisa. A fala de cada um deles será introduzida pelo vocativo Senhor ou Senhora mais o nome do idoso seguido da idade. Os depoimentos reproduzem a linguagem própria dos idosos.

Cônjuges e filhos 4 idosos 40%

Irmãos 1 idosa 10%

Total 10 idosos 100 %

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aparecem por aqui. [...] A minha família é maravilhosa, ainda hoje se eu fosse mais nova, ainda ia ter outro filho.

Senhor Felipe – 73 anos tenho 9 filhos [...] A minha família significa muito para mim, eles são bacanas, me consideram, querem bem a mim, eu quero bem a “tudim”, então a minha família é maravilhosa Graças a Deus, é fora de sério.

Senhora Madalena – 80 anos, eu não tenho filhos, tenho 3 irmãos duas mulheres e um homem, Graças a Deus eu vivo bem com a minha família, é uma relação boa, fui para lá sexta feira santa e voltei segunda-feira, foi muito bom por lá. [...] É muito bom ter uma família, minha família é pequena, mas é boa Graças a Deus, nós somos unidas, então família pra mim tem o significado de união.

Senhor Abraão – 78 anos, [...] tenho um casal de filhos, minha relação com a minha família Graças a Deus é uma maravilha, só amor e paz, tudo tranquilo, eu recebo visita quase todos os fins de semana, [...] só é difícil eu visitar eles, me acostumei ficar aqui, me acomodei, mas eu já cheguei a ir visita-los, mas demora um pouco. Eu morava antes com a minha mulher e minha filha, nossa relação não mudou é a mesma coisa, gosto muito dos meus filhos, então pra mim minha família significa muito, tudo de maravilhoso.

Senhora Vitória – 75 anos, tenho uma relação boa com meus filhos, passo a semana aqui e no final de semana vou para casa, eu recebo visitas, mas geralmente sou eu que vou, passo uns 5 dias aqui e depois vou, mas quando não estou querendo ir aí meus filhos vem, eu tenho 7 filhos, e antes de eu vim pra cá morava com minhas filhas, e não mudou nada depois que eu vim morar aqui, elas continuam sendo boas pra mim, e significam tudo pra mim.

Senhor Joel – 72 anos, eu tenho 5 filhos, uma relação boa com a minha família, muito boa, recebo visitas com frequência e eu os visito também, menos do que eu gostaria mas visito, [...] a relação com a minha família depois que eu vim pra cá continuou do mesmo jeito. Sendo assim posso falar que o significado da minha família pra mim é que ela é boa.

Senhor Rafael – 70 anos, eu tenho um filho que é casado, [...] às vezes vem aqui me ver, e liga pra mim quase todo dia, minha relação é ótima com meu filho e minha ex-mulher, mãe dele, ela telefona, vem aqui demais, sempre recebo visita deles com frequência, eu não visito eles não, mas eu telefono sempre. Antes de eu vim morar aqui estava morando com a minha segunda mulher que tive, e a relação com a família mudou um pouco antes de eu vim morar aqui, mas eu ainda me dou bem com essa ex- mulher somos amigos. [...] Família é muito importante, eu gosto da família, da minha família apesar de não moramos juntos.

Verifica-se, nas falas acima, que existe por parte dos idosos um

sentimento de amor e admiração para com seus familiares, pois se referem à família

principalmente atribuições de elogios, foi possível perceber a partir desses relatos

que nem todos os idosos após a institucionalização têm os relacionamentos

familiares modificados de forma negativa, ou que esse processo possa romper os

vínculos, portanto observa-se que, nesses casos, há a manutenção deles.

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Camarano (2007) revela que, mesmo que haja os laços familiares

referentes a pais idosos e filhos adultos dissociados por não residirem no mesmo

ambiente, isso não irá significar que haverá uma diminuição da relevância da família

para a atenção e do apoio dados aos seus integrantes. Podendo apenas indicar uma

nova composição e compartilhamento de responsabilidades dos cuidados entre a

família o Estado e o mercado, pois em muitos casos os membros familiares estão

com pouca disponibilidade para assumir a execução de cuidar dos seus membros

dependentes.

A minoria dos idosos mencionou que a visita da família como sendo

regular e que não recebia tanta atenção por parte dos membros familiares antes da

institucionalização, também que essa fragilidade nos vínculos continuou após a

vinda dos idosos para a instituição. Ou seja, as relações familiares já se

encontravam frágeis antes mesmo dos idosos residirem no Lar Torres de Melo.

Desse modo Beauvoir (1990) mostra que mesmo que a maioria dos

idosos conservem os vínculos para com seus familiares, os idosos tendem a se

afastar dos membros da família, e isso ocorre muitas vezes como uma forma de

defesa por sofrerem possíveis destratos, os idosos acreditam que só podem contar

consigo próprio (informação verbal)7.

Senhor Ezequias – 73 anos tenho 5 filhos,[...] Depois que eu vim morar aqui a minha relação com minha família continuou praticamente do mesmo jeito, já que eu quase não me comunicava com os filhos, só com a mais velha que eu morava com ela, mas não me dava bem com a filha dela a minha neta, e por isso vim embora pra cá para o Lar. Bom na verdade família deveria ser uma irmandade, onde todos se gostam, os filhos gostam dos pais, gostam dos irmãos, mas na minha família não vejo muito isso não, então o significado que dou para a minha família é regular.

Senhor Pedro – 75 anos, tenho 3 filhas [...], a minha relação com minha família é meio lá meio cá, a dois meses atrás eu estive na casa de uma filha e ela me tratou meio assim, parece que estava pensando que eu ia ficar por lá, aí eu disse vou voltar logo pro Lar, eu recebo visitas as vezes de mês em mês mais ou menos assim, não visito por causa da dor que eu sinto na perna por conta de um AVC que tive e daí de lá pra cá nunca mais fui nada. [...] A relação da família comigo de antes para agora não mudou nada, é a mesma coisa, antes não se preocupavam comigo mesmo [...].

Senhor Jonas – 78 anos, [...] Eu não sei o que posso dizer sobre eles porque eu não consigo entender a gente vivia bem e daí não sei porque minha mulher foi para casa de uma irmã dela por uns dias, aí lá ficou e não fez conta de mim, de voltar pra casa, aí pronto até hoje, por isso que pra mim família é muito complicada.

7 Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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A percepção de alguns dos idosos entrevistados é de que, apesar do

contato que têm com suas famílias, essas relações estão fragilizadas, que há

presença de conflitos intergeracionais e relatam que até podem receber visitas vez

ou outra, mas que é pouca a atenção recebida por eles, e por isso percebem suas

famílias como regular, razoável e complicada.

No relato do senhor Ezequias verifica-se a presença do conflito entre as

diferentes gerações dentro do ambiente doméstico, pois ele alega a condição maior

para que ele fosse residir na instituição foi fato de não ter um bom convívio com sua

neta.

Nessa perspectiva, Beauvoir (1990) aponta que família do segmento

idoso, sendo ela de outra geração como, por exemplo, filhos e netos estão longe de

se empenhar em sensibilizar-se quanto à destinação de seus antepassados.

Nesse sentido Debert (1999 apud CAMARANO, 2007) destaca que a

vivência no mesmo ambiente doméstico entre gerações distintas, filhos, pais idosos

e netos, não assegura, os cuidados, atenção e respeito necessário e ainda não

extingue a presença de maus tratos e violência nessas relações.

Alguns aspectos que compõem a situação vivenciada individualmente no

cotidiano de cada idoso, antes mesmo do processo de institucionalização, trazem

diferenciadas determinantes referentes às relações familiares, pois como se pôde

observar, na pesquisa, a maior parte dos idosos possui um bom relacionamento

familiar. Mesmo após a residência em uma ILPIs, os vínculos são mantidos sem

grandes modificações. Por outro lado, e em menor quantidade, contrapõem-se os

idosos que afirmam já ter fragilidade nas relações com a suas famílias antes mesmo

de habitarem a instituição e perduram, após a esse processo.

3.3 Motivos da institucionalização

Dentre os objetivos, da referida pesquisa, um deles é conhecer quais os

motivos que levaram os idosos a serem institucionalizados. Nessa perspectiva,

algumas perguntas foram direcionadas no sentido de saber quem decidiu que o

idoso deveria ser institucionalizado e se houve a concordância por parte dele, e

quais os motivos que o levou a residir no Lar Torres de Melo.

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59

Nesse sentido a tabela abaixo compõe conforme os depoimentos dos

idosos, quem foram os precursores que decidiram pela institucionalização de

determinado idoso.

Tabela 2 - Decisão pela institucionalização

Fonte da decisão N.° Absoluto N.º Relativo

O próprio idoso 3 idosos 30 %

Filhos (a) 3 idosos 30%

Irmãos (a) 1 idosa 10 %

Cônjuge e filhos 1 idoso 10%

Vizinhos (a) 1 idoso 10%

O idoso juntamente com a família 1 idoso 10 %

Total 10 idosos 100 %

Fonte: Próprio autor - Pesquisa Direta, Abril / Maio de 2014

Observa-se que o número de idosos que decidiu sozinho por residir no

Lar Torres de Melo é igual a 30%, ou seja, 3 idosos, e os casos em que a

institucionalização foi decidida por outros chega a 70 %.

Diante do exposto podemos identificar as situações em que o idoso

sozinho decidiu residir no Lar Torres de Melo, mediante as falas dos seguintes

idosos (informação verbal)8:

Senhora Gabriela – 74 anos. Eu mesma que decidir vim pra cá por causa da bebedeira do meu companheiro, aí eu saí escondida de casa, mas se eu lhe disser que eu nunca me arrependi eu estou mentindo, já me arrependi várias vezes, porque se eu tivesse na minha casa, meu filho não tinha essa besteira de dizer que era melhor pra mim por causa da minha “diabete, pressão alta” [...] eles nem sabiam que eu vinha quando vieram saber eu já estava arrumada pra vim pra cá, mas como eu disse de vez em quando eu me arrependo, é minha filha porque a gente morar com várias naturezas diferentes é difícil. [...]

Senhor Ezequias - 73 anos. Fui eu mesmo quem decidir vim morar aqui, porque eu queria ter mais liberdade, de sair andar pra onde eu quisesse, ver os meus amigos, em casa eu não podia ter nada disso, quando eu saia, era “cuidado com o carro, com a calçada, com isso com aquilo” faziam de mim como se fosse uma criança, e eu apesar de ter 73 anos, sou muito lúcido e muito ativo.

8 Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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Senhor Jonas – 78 anos. Foi eu mesmo que quis vim pra cá, eu já estava decidido. Eu já estava a 25 anos morando só, já estava com a saúde meio assim, foi por motivo de doença, eu estava operado e me internei no hospital, aí perguntaram sobre a minha família, então eu disse a eles que era muito difícil o contato, só vejo casualmente e então depois eu procurei aqui né, porque já não dava pra morar mais sozinho.

As falas (informação verbal)9 a seguir representam os idosos que foram

institucionalizados por decisão dos filhos.

Senhor Pedro – 75 anos. Foram elas, minhas filhas que decidiram, eu fiquei doente né, fui para o hospital e depois fui pra lá, pra casa delas. Aí eu gritava sentindo dores horríveis por conta da doença, e elas decidiram pra que eu viesse pra cá. Os motivos foi por causa do AVC que tive ai eu também achei melhor ficar aqui.

Senhora Vitória – 75 anos, eu estou aqui porque vim fazer um tratamento de artrose no meu joelho, e fisioterapia [...] a minha vinda pra cá foi por uma questão de saúde. Eu já trabalhei aqui e agora eu vim pra cá pra fazer esse tratamento, [...] A minha filha que decidiu que eu deveria vir, ela atualmente trabalha aqui, eu concordei porque ela disse mãe se a senhora não for fazer fisioterapia a senhora vai ficar com suas pernas duras sem poder andar, por isso estou aqui.

Senhor Abraão – 78 anos, quem decidiu que eu deveria vim pra cá foi a minha filha, ela disse “papai vamos lá o senhor passa só um mês”, mas acabou que já estou aqui há 5 anos, mas eu concordei plenamente em vim, os motivos que me trouxera foi porque eu estava viciado em jogo e bebida, todo dia ia jogar em casa de jogos e bebia também, ai eu chegava 9 horas em casa passava o dia todo jogando, aí minha filha disse que isso não estava dando certo. [...] passava 2 dias e 2 noites jogando, já estava esgotado então foi a melhor coisa que minha filha fez pra mim.

É observável que independente de ter sido o próprio idoso o precursor da

decisão de institucionalizar-se, ou os filhos dele o tenham feito, é relevante destacar

que as motivações normalmente que levaram à resolução de morar no Lar Torres de

Melo foram por motivos de problemas com a saúde as quais a maioria dos idosos

relataram, como também se pode perceber na alegação dos filhos para que seus

idosos permaneçam na ILPI, pois em seus antigos lares não poderiam ter o suporte

e os cuidados adequados que recebem na instituição.

Nesse sentido, levam-se em consideração as questões como a saúde

pública que pela constituição deveria ser universal e de qualidade, mas acaba não

se efetivando de fato, conduzindo os idosos a saírem muitas vezes do convívio da

9 Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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família, pois esta última não tem condições econômicas de prover um tratamento

privado, e não possui disponibilidade para cuidar de um idoso que se apresenta

doente.

Segundo Lebrão e Duarte (2007), em sua pesquisa SESC pela Fundação

Perseu Abramo, a maioria dos idosos concordam que há muitos avanços

tecnológicos, nos recursos, equipamentos para exames e medicamentos, no campo

da saúde, porém muitos observam que existe uma piora no atendimento e nos

serviços dos hospitais, dificultando as condições de melhora dos idosos.

Nesse sentido, a maioria dos idosos atribui a isso o motivo principal, para

a dissociação da convivência familiar no mesmo ambiente, e nessa perspectiva

todos esses foram convencidos e concordaram com a família de que a instituição

seria o melhor lugar para o tratamento das doenças, embora isso não signifique que

prefiram estar na instituição a estar em casa, no próprio convívio familiar, como se

pode observar nas falas a seguir (informação verbal)10:

Senhora Madalena – 80 anos. Foi a minha sobrinha que falou com as minhas irmãs, e elas decidiram que eu viesse pra cá, eu nem sabia que vinha, mas quando eu soube foi o jeito querer, né? Porque eu estava muito doente, se fosse para eu escolher eu ia preferir ficar morando lá em casa, [...] Assim eu tive que vim por causa da saúde mesmo, porque tive trombose, foi só por causa disso porque se eu não tivesse, eu estava na minha casa.

Senhor Joel – 72 anos. Quem decidiu que eu deveria morar aqui foi minha família, ex-mulher e filhos, eu não tinha escolha se eu tivesse eu não concordaria em vir, pelo menos não naquele momento, eu vim porque não tinha mais condições de permanecer com minha família [...] Eu tive uma emergência de saúde então fui levado ao hospital por causa de uma crise urinária,[...] acontece que nessa emergência do hospital foi constatado uma crise de diabetes muito séria, descontrolada, eu passei a ter crises de hiperglicemia muito frequentes , e nessa crises eu incomodava tinha pesadelos e ficava caminhando pela casa a noite e acordava todo mundo, então eu me transformei em uma pessoa bastante incomoda e por isso se reuniram e me pediram que deixasse a casa e foi aí que vim parar no Torres de Melo.

Senhor Rafael – 70 anos, eu e minha irmã decidimos que eu deveria vim morar aqui, porque aqui eu ia ter tudo, então eu concordei plenamente, eu vim porque estou doente, há 20 anos eu tive um AVC, e não pude mais andar, por isso eu vim pra cá e estou aqui há 5 anos.

Conforme os depoimentos anteriores, percebe-se que, apesar de os

idosos terem concordado em residir no Lar Torres de Melo pelos motivos de uma

10

Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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saúde debilitada, eles prefeririam estar em suas respectivas casas, no convívio

doméstico de suas famílias.

Desse modo, Camarano (2007) cita que os idosos na época em que

nasceram tinham uma perspectiva de que a família e somente ela, detém a função

de cuidar dos seus membros familiares mais velhos. Como também é expresso pela

Constituição Federal de 1988, e ainda enfatizado pela Política Nacional do Idoso, e

pelo Estatuto do idoso, o aspecto de que a família é a principal responsável pelos

cuidados do grupo em questão.

Nesse sentido, podemos identificar que, embora alguns idosos sintam-se

bem morando na instituição, eles acreditam que o melhor lugar onde poderiam

morar era realmente em seus lares, porque como já foi visto a maioria dos idosos

atribuem grande importância e qualificam positivamente suas famílias, sendo para a

maior parte do segmento idoso, a melhor companhia que poderiam ter nessa fase da

vida.

Em outra perspectiva, dos dez entrevistados, dois colocaram o alcoolismo

como principal razão para a institucionalização, a idosa Gabriela, por exemplo,

declarou (informação verbal)11 que foi morar no Lar Torres de Melo porque seu

companheiro bebia muito, e ela já não aguentava essa situação, por isso tomou a

iniciativa de deixar sua casa e ir morar na instituição. Já o senhor Felipe (informação

verbal)12 declarou que ele foi morar na instituição porque estava bebendo

descontroladamente, e uma vez que sua esposa trabalhava, ela não poderia lhe

impedir de consumir álcool.

Senhora Gabriela – 74 anos. Eu mesma que decidir vir pra cá por causa da bebedeira do meu companheiro, aí eu saí escondido de casa [...] Eu só vim mesmo por causa da bebida dele, mas foi besteira minha, digo logo, porque se eu tivesse ficado ainda hoje tava na minha casa tranquila.

Senhor Felipe – 73 anos. Quem me indicou pra vim pra cá foi a minha vizinha, e eu já tava doido pra vim mesmo (risos), aí que concordei em vim, o motivo era porque eu bebia muito, eu tava muito acabado, minha mulher vivia trabalhando e em casa não dava pra eu ficar mais por causa da bebida, ai pra eu me tratar melhor vim pra cá.

11

Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

12 Idem

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Segundo esses dois idosos o incentivo principal da institucionalização foi

ainda por uma questão de saúde, trata-se do vício do alcoolismo. No entanto, na fala

da idosa Gabriela de 74 anos, ela demonstra que por algumas vezes se sentiu

arrependida de ter tomado a decisão de morar no Lar Torres de Melo, e deixa se

perceber que, deveria ter aguentado o vicio do companheiro e não ter abandonado a

casa, ou seja, reforça o que foi mencionado anteriormente de que os idosos apesar

de muitas vezes encontrar-se em meio a diferentes conflitos relativos à família, ainda

assim compreendem o ambiente doméstico de seus respectivos lares como o lugar

melhor para se viver.

O senhor Felipe já demonstra que ele mesmo estava com vontade de ir

residir na instituição, e que para ele seria melhor, uma vez que sua esposa passava

o dia trabalhando e estava cada vez mais viciado na bebida, aponta a instituição

como um refugio do álcool por meio da qual ele se mantém distante, podendo se

tratar melhor.

Segundo Senger et al. (2011), é recorrente o consumo abusivo de álcool

por pessoas com idade superior a 60 anos, visto que nessa fase os idosos passam a

ser mais suscetíveis a intensificar esse uso, pois nessa etapa, surgem modificações

decorrentes do envelhecimento, como solidão, mudanças econômicas, privações

sociais, ocasionando, muitas vezes, uma diminuição da autoestima, tornando esse

segmento propenso ao exagero no consumo de álcool e tabagismo.

Entende-se, portanto, que para os idosos o que levou a eles e/ou a família

deles a tomar a decisão de residir em uma ILPIs, decorre principalmente por

questões de saúde, para as quais, na instituição, os idosos seriam mais bem

assistidos do que em seu ambiente familiar. E em seguida a esse motivo aparece o

alcoolismo, também, como fator motivador da procura por uma Instituição de Longa

Permanência, nesse caso o Lar Torres de Melo é onde esses idosos acreditam ser

uma localidade que os manteria longe desse vício.

Em continuidade, o tópico seguinte aborda o objetivo de conhecer como é

a vida de um idoso no Lar Torres de Melo e suas percepções acerca da situação em

que está inserido.

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3.4 Vida no Lar Torres de Melo

Foi indagado aos idosos sobre como é suas vidas na instituição Lar

Torres de Melo, e como eles se sentem morando lá, foram feitas perguntas a

respeito do tempo de institucionalização, os aspectos que mudaram em suas vidas

após a habitação no novo ambiente, se estão adaptados ao Lar, e como se deu esse

processo de adaptação.

Dessa forma, observa-se a seguir uma tabela do tempo, na qual os idosos

não aparecem identificados pelos nomes completos, mas pelo nome pelos quais são

comumente chamados no dia a dia, considerando os anos de institucionalização no

Lar Torres de Melo, que cada um deles apresenta.

Tabela 3 - Tempo de residência no Lar Torres de Melo

Identificação dos Idosos Tempo em anos

Abraão 5 anos

Ezequias 4 anos

Felipe 4 anos

Gabriela 5 anos

Joel 1 ano

Jonas 4 anos

Madalena 5 anos

Pedro 5 anos

Rafael 5 anos

Vitória 4 anos

Fonte: Próprio autor - Pesquisa Direta, Abril/Maio de 2014

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A maioria dos idosos encontra-se residindo na instituição no tempo de

quatro a cinco anos, totalizando nove, demonstrando o aspecto de que apesar de a

maior parte dos idosos irem para as ILPIs principalmente pela perspectiva de um

tratamento de saúde, seja uma fisioterapia, ou pelos cuidados nutricionais

oferecidos, já que a saúde se configura como a principal condicionante, no entanto,

percebe-se que os idosos se mantêm na instituição, talvez sem nenhuma

perspectiva ou probabilidade de voltar à antiga casa, isto é, após serem

institucionalizados, provavelmente permanecerão no Lar Torres de Melo, mesmo

tendo família e possuindo contato com ela.

Em relação ao que foi perguntado aos idosos sobre suas vidas na

instituição em questão, a metade deles alegou sentir-se bem, tranquilos, e felizes,

explanam sobre bom atendimento que recebem da equipe de profissionais que os

atende, e que não se sentem sozinhos morando no Lar, como demonstra os relatos

a seguir (informação verbal)13:

Abraão – 78 anos, Já estou aqui há cinco anos, aqui a minha vida é mil maravilhas, tem uns moradores meio chatos, mas nem ligo, a minha vida mudou aqui sabe, parei de beber, parei o jogo, to com mais saúde, mudou tudo né, mudou para melhor. Eu demorei a me acostumar, no 1º mês, eu ficava pensando, tinha dias que me sentia triste, aí com o tempo fui me acostumando.

Senhor Ezequias – 73 anos, esse ano completa quatro anos que estou morando aqui, bom aqui na casa minha vida é ótima, aqui eu tenho um bom atendimento, assim que eu cheguei fui bem atendido por todos aqui, o serviço médico, o Serviço Social, a parte da enfermagem me avaliaram muito bem , nesse tempo que estou aqui no Lar já fui operado no hospital do câncer por duas vezes. O que mudou quando eu vim pra cá foi, que eu acho que fiquei mais alegre, mais amigo dos amigos, brinco mais vou a festas, antes eu não fazia nada disso, mais feliz de estar aqui do que antes. [...]

Senhor Felipe – 73 anos, eu vim pra cá em 22 de junho de 2010, quatro anos. Minha vida aqui é um paraíso, Graças a Deus, aqui eu sou muito tranquilo, não esquento com nada, tenho amizade com todo mundo, me dou bem com todos, saio à hora que eu quero sair, tenho liberdade Graças a Deus. [...] Quando eu vim pra cá mudou minha vida para melhor pela questão de tratamento pela minha saúde, aí aqui é bem melhor. Assim que entrei já gostei daqui, fiz logo amizade.

Senhor Jonas – 78 anos, estou morando aqui a 4 anos, minha vida aqui é boa porque aqui eu não moro mais só como antes, porque 25 anos que passei só , não são 25 dias, aí eu gosto de morar aqui, no começo não, mas de lá pra cá eu venho achando bom , porque as pessoas aqui são pessoas boas, são educadas com a gente, faz a gente ter alegria, sentir que tá feliz, então eu me sinto bem aqui. Muita coisa mudou quando vim morar, aqui

13

Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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porque é um lugar muito diferente com muitas pessoas e antes eu estava sozinho [...]

Senhora Vitória - 75 anos, estou morando aqui há quatro anos, e eu me sinto bem Graças a Deus, bem mesmo porque eu durmo, eu como, eu vivo tranquila. Depois que eu vim não mudou nada ficou a mesma coisa, eu me acostumei aqui rápido né porque como trabalhei aqui, já conhecia os termos todos então me adaptei bem rápido.

Observa-se que esses cinco idosos consideram a vida na instituição como

tranquila, e ressaltam o trabalho da equipe dos profissionais que lá atuam, na

perspectiva de um bom atendimento que esta equipe realiza para com eles, e ainda

relatam ter uma adaptação de certa forma rápida, expressando um alívio em morar

na instituição em detrimento de estarem a morar sozinhos, ou sem os cuidados

adequados, tendo o Lar Torres de Melo como um local em que suas vidas mudaram

para melhor.

No entanto, embora a maioria dos idosos tenha uma boa concepção de

sua vida após a institucionalização, alguns deles comentam a vontade de estarem

em sua casa ao lado dos seus familiares (informação verbal)14:

Senhora Gabriela – 74 anos, estou residindo há cinco anos na instituição, eu me sinto bem morando aqui Graças a Deus, [...] minha vida aqui é tranquila. Aqui mudou porque eu perdi minhas responsabilidades de antes, mas hoje eu quero ir pra casa e não posso porque meu filho não me recebe de gosto. Eu demorei de 8 meses a 1 ano pra me adaptar, foi um processo bem demorado.

Senhora Madalena – 80 anos, estou aqui há cinco anos, minha vida aqui é boa, mas eu só estou aqui por causa da atenção e do atendimento dos profissionais daqui. Porque se não já estaria em casa com minhas irmãs. Depois que vim, num mudou nada não, as minhas irmãs continuam sendo boas para mim, demorei muito tempo pra me acostumar aqui.

Como demonstra as falas acima, as duas idosas, dizem ter uma vida

considerada boa, no entanto nota-se nos relatos delas a vontade de estar em casa,

e não em uma ILPI. Visto que, como indaga a senhora Gabriela a vontade de voltar

para sua casa, mas não poder porque o seu filho não a recebe. Anteriormente foi

exposto que esta idosa não voltava para sua casa porque seu filho dizia a ela que a

instituição era o melhor lugar para Gabriela tratar de sua saúde, sendo este o

aspecto que ele utiliza como barreira para que sua mãe não volte a residir com ele.

14

Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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Em contrapartida, três dos entrevistados informaram de forma um pouco

desapontada a sua vida na instituição, demonstrando que a situação deles não é tão

feliz (informação verbal)15:

Senhor Pedro – 75 anos, moro aqui há uns 5 anos já. Tenho uns 2 ou 3 amigos que vêm aqui e vão comprar alguma coisa pra mim, porque não posso sair por causa dessa dor na perna que está danada, aqui eu me sinto mais ou menos né por causa dessa dor. Mas minha vida não mudou muito não quando vim pra cá, [...] Eu me acostumo com tudo, me adaptei rápido aqui.

Senhor Rafael – 70 anos, eu moro aqui há cinco anos, eu não gosto mais aceito morar aqui, respeito a todos. O que mudou foi só que eu era casado e separei, mas nada, eu me adaptei rápido aqui tranquilamente.

Senhor Joel – 72 anos, Já estou aqui há 1 ano. É eu sou uma pessoa de origem extremamente pobre, mas sempre batalhei por uma oportunidade melhor na vida, trabalhei muito e aqui eu me vejo em uma situação ociosa, numa vida inútil porque eu não faço mais nada do que eu fazia antes, e antes eu tinha uma vida muito ativa, desafiadora, então eu não tinha consciência de idade, não me sentia como idoso, e quando eu me vejo aqui, vejo uma situação de que todas aquelas experiências, todas aquelas vivencias desapareceram de repente é como acordar de um pesadelo, assim eu me sentir aqui, eu tive uma certa dificuldade de me adaptar a isso, a essa nova realidade, crises existenciais serias, mas sempre alimentei a possibilidade de dar a volta por cima. Na verdade eu ainda estou me adaptando todos os dias me adaptando.

Os idosos acima deixam claro que não gostam de morar na instituição,

mas isso não tem a ver com o atendimento que recebem, e sim outros aspectos

como problemas sérios de saúde, dores que não cessam fazendo com que a vida

possa ser sofrida, ainda mais quando não se possui a atenção e o carinho da família

como é o caso do idoso Pedro, que mencionou no decorrer da entrevista o fato de

suas filhas nunca terem se preocupado com ele, nem mesmo antes da

institucionalização.

Já o idoso Rafael não disse as razões exatas para não gostar de vida na

instituição, mas é relevante destacar o fato de que ele há vinte anos teve um AVC

(Acidente Vascular Cerebral), desde então nunca mais pôde andar, sendo, portanto

cadeirante. Durante a entrevista, ele determina essa situação como responsável por

ele não se encontrar contente o tempo todo, mas o idoso aparentemente demonstra

entusiasmo nas palavras e simpatia.

15

Discursos dos idosos participantes da pesquisa.

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Já o senhor Joel relata sobre a sua vida antes da institucionalização,

menciona que ele trabalhava e tinha uma vida bastante movimentada, mas que

depois que foi residir no Lar Torres de Melo, esse fato se modificou. Ele afirma que

enquanto institucionalizado se sente em uma situação de ociosidade, e ainda

observa que antes ele não tinha consciência de sua idade, não se via como um

idoso por conta do trabalho que realizava e da agitação de sua vida. Todavia, após ir

residir no Lar ele, percebeu que ele já era um idoso, com algumas limitações devido

a problemas de saúde. Joel está há um ano na instituição, e ainda não se encontra

adaptado ao novo ambiente, relatando que essa adaptação se dá a cada dia que

passa.

Segundo Beauvoir (1990) as pessoas que apreendem uma velhice

beneficiada, são aquelas que detêm diversos interesses e que se adaptam a

diferentes situações de forma mais simples do que as demais pessoas. No entanto a

autora afirma que é difícil para o indivíduo abdicar daquilo que um dia foi o ponto

central em meio as suas preocupações, por exemplo, o trabalho que se exerce

durante toda a vida, e muitas vezes ao deparar-se sem a ocupação que lhe é era de

costume pode demonstrar não ter mais nenhum propósito a produzir.

Diante de tudo o que foi exposto, observa-se que, referente aos aspectos

no que diz respeito às atribuições que os idosos do Lar Torres de Melo conferem a

suas famílias, vê-se se que a maioria deles a definem de modo a qualificá-la

positivamente, sendo poucas as exceções que não o fizeram, demonstrando que

as percepções dos idosos que residem em uma instituição de Longa Permanência,

só podem ser analisadas de forma individual, levando-se em considerarão as

relações familiares e o cotidiano da vida de cada indivíduo de forma privada, pois

cada um traz em sua história de vida elementos particulares diferenciados.

Na perspectiva da motivação que levam os idosos a residir e também a

permanecer no Lar Torres de Melo, é unânime o aspecto da saúde, uma vez que,

nessa fase da vida, as pessoas, normalmente, encontram-se um pouco mais

debilitadas, exigindo cuidados e precauções que as famílias não podem oferecer

pelos mais diversos motivos, incluindo o descaso da saúde pública no Brasil que

acaba favorecendo a dissociação do idoso de seu eixo familiar, entre outros

aspectos, incluídos nessa mesma conjuntura de fragilização da saúde, os quais

levam à institucionalização do idoso.

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69

Ao que se refere à percepção dos idosos, considerando a vida que eles

têm no Lar Torres de Melo, percebe-se diferentes concepções acerca do contexto

em que estão inseridos, visto que cada um tem uma observação diferenciada para

o estado atual de suas vidas enquanto idosos institucionalizados.

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CONSIDERAÇOES FINAIS

Na pesquisa apresentada, objetivou-se investigar as percepções dos

idosos que se encontram institucionalizados em relação à categoria família, bem

como quais os principais motivos que levaram à institucionalização destes mesmos

idosos, visto que no Brasil há um aumento demográfico no número desse segmento.

O estudo bibliográfico trouxe questões ligadas ao envelhecimento em

seus principais aspectos, à família contemporânea e suas novas configurações, e

como esses novos arranjos familiares podem influenciar na perspectiva dos

cuidados e da atenção ao idoso, e o contexto de idosos acolhidos em ILPIs.

As mudanças no capitalismo contemporâneo, tais como a falta de tempo

e de suportes econômicos e sociais alteram as relações familiares, principalmente

no que se refere aos idosos. Levando consequentemente a uma maior demanda por

vagas em Instituições de Longa Permanência, no contexto de pouca oferta de

serviços verificada na pesquisa.

O estudo teve como campo de pesquisa a Instituição de Longa

Permanência para idosos Lar Torres de Melo, e a partir do que a pesquisa propôs foi

possível entender qual a percepção dos idosos institucionalizados em relação à

família, após esse momento de dissociação da vida doméstica. Nessa perspectiva

foi observado que a maioria dos idosos compreende sua família como uma

instituição maravilhosa e unida, e que mesmo não morando juntos, há uma boa

relação entre eles. Desse modo contrapõe-se o que alguns teóricos trazem de que

todas as famílias, ao procurarem uma ILPIs para o idoso, estão lhe abandonando.

No entanto sabe-se que existem esses casos. Poucos idosos atribuíram um sentido

negativo a sua família, e quando os fizeram a consideraram como regular,

conotando que as relações familiares já se encontravam fragilizadas antes mesmo

da institucionalização, alegando conflitos intergeracionais com filhos e netos. Mas

como já foi explanado no geral, a perspectiva em torno da família por parte dos

idosos é de um bom relacionamento.

A realidade dos idosos quanto aos motivos que os levaram a residir em

uma Instituição de Longa Permanência encontrou-se um achado até então não

percebido nos três períodos de estágio nessa instituição, consiste na

institucionalização de muitos dos idosos devido a problemas de saúde que eles

adquirem com a idade, não podendo mais ser cuidados em suas residências ou não

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tendo mais condições de morar sozinhos, como era o caso de alguns. Nesse sentido

essa condição em relação à saúde dos idosos, de certa forma, os quais se

encontram debilitados, foi o principal aspecto motivador tido por eles para o

processo da institucionalização. Alegando a não condição econômica e falta de

tempo da família em atender a esses problemas, ocorridos principalmente nessa

fase da vida, levantando nesse caso a questão da saúde pública no país, e da sua

baixa efetividade.

Compreendeu-se também, como condição de um idoso ir residir em uma

Instituição de Longa Permanência, o vício do álcool. Assim, os idosos preferem estar

na instituição para fugir dos vícios, encontrando-se acolhidos e tranquilos em um

local que não terão acesso a essa prática ou fugir de familiares que exerçam o

mesmo tipo de prática, como é o caso de uma das idosas que relatou ter escolhido

morar na instituição a viver ao lado de seu companheiro que é alcoolista.

Quanto ao outro objetivo da pesquisa, que consiste em compreender qual

a percepção dos idosos a respeito de suas vidas enquanto residentes no Lar Torres

de Melo, observa-se que os idosos se encontram bem adaptados à instituição. Eles

avaliaram como um ambiente tranquilo, e que suas vidas lá é boa, pois relatam o

eficiente atendimento que recebem dos profissionais em todos os seus âmbitos.

É possível perceber através de alguns depoimentos a satisfação em

residir na instituição em detrimento de situações como morar sozinho, nessa fase da

vida, que para alguns pode ser bastante delicada, principalmente quando são

surpreendidos com algum problema de saúde e que por conta disso não se

encontram mais em condições de morar em um ambiente sozinho, sem nenhum

auxílio ou cuidado. Alguns dos idosos alegam sentir-se mais felizes após residirem

no Lar Torres de Melo que antes quando moravam com seus familiares, porque

relatam liberdade e alegria ao se fazer novos amigos.

Em contrapartida, outros idosos esclarecem que apesar de se sentirem

bem no Lar Torres de Melo, prefeririam estar convivendo em suas casas ao lado de

suas famílias. Entre outras situações, em que o residente da instituição se sente

ocioso, por ser essa uma condição muito diferente do que já foi vivido anteriormente

a esse processo. Ou alegam certa insatisfação em suas vidas pela razão de estarem

com a saúde bastante debilitada.

O estudo em questão consiste em uma pequena parte da grande

quantidade de idosos institucionalizados em todo o país, mas que se apreendeu

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achados muito importantes e necessários à realização de novas pesquisas que

busquem analisar como estão se efetivando as políticas de assistência ao idoso

principalmente no que diz respeito à saúde desse segmento.

Este estudo buscou durante todo seu processo colaborar para a reflexão

de forma real sobre o contexto do idoso que se encontra institucionalizado, e de

como ele se sente diante dessa nova conjuntura, observando como esse segmento

percebe sua família e da importância que essas relações têm para com os idosos.

Observando-se que o processo do envelhecimento em suas diversas questões

ultrapassam o âmbito teórico e que além da teoria existe uma realidade vivida

cotidianamente pelo segmento idoso e pelo meio social que o circunda. Nesse

sentido, é relevante como contribuição para a instituição pesquisada, uma maior

busca no fortalecimento dos vínculos familiares, visto que se percebe a grande

necessidade que essas relações demandam para os usuários da instituição.

É necessária a ênfase de que este estudo se fez amplamente

enriquecedor, no âmbito pessoal e profissional uma vez que o conhecimento

adquirido em sua perspectiva teórica e prática foi muito importante e estimulador

para o interesse da realização de futuras pesquisas ligadas ao tema do idoso, com

algumas novas curiosidades e indagações.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1. Qual a sua idade?(Família)

2. O senhor(a) tem família (filhos), quantos?

3. Como é a sua relação com sua família?

4. O senhor(a) recebe visita dos seus familiares? (frequência)

5. O senhor(a) visita seus familiares? (frequência)

6. Com quem o senhor(a) morava antes de vir para o LTM?

7. Depois da vinda ao abrigo como passou a ser sua relação com sua

família?

8. Qual a percepção que o senhor(a) tem de família? (Motivos da

institucionalização)

9. Quem decidiu que o senhor(a) deveria ser institucionalizado? E o

senhor(a) concordou em vir morar na instituição?

10. Quais os motivos que levou o senhor(a) a residir na instituição?

(Vida no Lar Torres de Melo)

11. Há quanto tempo está residindo na instituição?

12. Como se sente morando no Lar Torres de Melo e como é sua vida na

instituição?

13. Quais os aspectos mudaram na sua vida após vir morar no Lar Torres

de Melo?

14. O senhor (a) está adaptado ao Lar Torres de Melo? Como se deu esse

processo de adaptação?

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

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ANEXOS

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ANEXO A - Vista da entrada da instituição, o Lar Torres de Melo