CENTRO DE CULTURA BRASIL BOLÍVIA: uma praça, dois países, outra cultura
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C E N T R O D E C U L T U R A B R A S I L - B O L Í V I AUMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA
Trabalho Final de Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Orientador. Angelo Bucci
São Paulo, 2011
C E N T R O D E C U L T U R A B R A S I L - B O L Í V I AUMA PRAÇA | DOIS PAÍSES | OUTRA CULTURA
R E B E C A G R I N S P U M
“Crucé fronteras para llegar a estas
tierras lejanas, abandoné a mi madre,
abandoné a mi pueblo. Virgencita de
Urkupiña ilumina la luz de nuestros
días, danos la fuerza para llevar, para
llevar esta vida“.
(Canto à Virgem de Urkupiña, José
Bolivia)
AG R A D E C I M E N TO S
Agradeço à minha família pelo eter-
no apoio, aos meus amigos que me
fazem rir, ao meu orientador que me
guiou e às pessoas extraordinárias
que conheci por esse mundo afora.
Anna, Cacá, Cadu, Carol, Denise, Flor,
Jorge, Patrícia, Regis e Rogério, obri-
gada por me ajudar na realização des-
te trabalho.
S U M Á R I O
05. Introdução
06. Pela América do Sul
15. A cidade como local de encontro
16. Praça Kantuta
20. Imigração
25. Centro de Cultura Brasil-Bolívia
26. Área
35. Programa
36. Referências de projeto
39. O projeto
42. Implantação
43. Cobertura
44. 1o Pavimento
45. Térreo
46. Subsolo
47. Cortes
51. Imagens
57. Brasileiro que nem eu, que nem quem?
58. Bibliografia
I N T R O D U Ç ÃO
O presente trabalho busca reforçar
a presença de uma comunidade es-
trangeira na cidade pluricultural que
é São Paulo, abordar a questão do
“ser imigrante” na sociedade globali-
zada atual, propondo um centro irra-
diador de uma cultura distinta e que
se refaz ao se encontrar com a nossa.
Os imigrantes bolivianos que vi-
vem em São Paulo estão se misturan-
do entre os demais, estão se fazendo
cidadãos paulistanos. Vêm à procura
de melhorar de vida, mudar de vida.
Oriundos de uma cultura diferente
trazem consigo hábitos, religiões,
costumes, ideais distintos, e aqui, de
alguma maneira, tentam preservá-
los. Esse é o papel da Feira Kantuta:
todos os domingos uma praça no
Pari se transforma em um reduto bo-
liviano, se pinta de vermelho, amare-
lo e verde. Local onde o paulistano
é e se sente turista, sem sair de sua
própria cidade.
1. MENEZES, Marluci. A cidade com os imigrantes. In: Ser Imigrante. Jornal Arquitectos. Publicação Trimestral da Ordem dos Arquitectos – Portugal. Jan./Fev. /Mar. 2010.2. Idem.
Através de visitas à feira, da leitura
de trabalhos, reportagens e de docu-
mentários realizados sobre a comu-
nidade boliviana, me aprofundei no
tema e me surpreendi com a riqueza
cultural deste país. O projeto do Cen-
tro de Cultura Brasil-Bolívia foi criado
para dar forma a essa transformação
sócio-cultural. Espaço de trocas, de
aprendizado, ele se abriria não ex-
clusivamente para a comunidade
boliviana, mas para todos os interes-
sados neste acontecimento, nesta
diversidade.
A heterogeneidade de São Paulo,
tão falada e cultuada, se faz quando
absorvemos novos cidadãos, vindos
de diversos lados. São minorias que
se aventuram nessa metrópole, so-
brevivem a dificuldades, e permane-
cem. Quando inserimos essas mino-
rias, fazemos cidade: “A cidade com o
imigrante é, em síntese, uma cidade
configurada com novos e diferentes
contornos sócio-culturais e espaciais.
Pensar e atuar com a DiverCidade nos
coloca o desafio de lidar com a me-
diação entre partes e, paralelamente,
gerir a delicada relação entre o pas-
sado, o presente e o que se pretende
como futuro das cidades”1.
Reconhecendo a imigração, es-
tamos aprendendo a ser cidadãos,
incorporando diferentes grupos à
sociedade estaremos re-inventando
a cidade, re-inventando a democra-
cia2. Este trabalho apresenta-se como
uma oportunidade de se fazer uma
cidade mais democrática, plural.
As seguintes páginas contarão o
processo que percorri para o de-
senvolvimento deste projeto, com o
qual finalizo o curso de Arquitetura e
Urbanismo. É com ele que descrevo
o que aprendi nestes anos de forma-
ção, não só como arquiteta e urba-
nista, mas como pessoa.
São Paulo: mar de culturas.
5
Através de viagens, cursos, oficinas
e intercâmbio construí um forte vín-
culo com nossos países vizinhos,
aprendendo a observar suas cultu-
ras e modos de vida. O interesse de
trabalhar a América do Sul desper-
tou, principalmente, após participar
de uma oficina internacional de ar-
quitetura na Colômbia e realizar um
intercâmbio na Argentina, no qual
fiz parte da disciplina Taller Sudame-
rica, onde estudamos Puerto Quijar-
ro, cidade emergente do leste da
Bolívia, fronteira com o Brasil. Após
essas importantes experiências e di-
ferentes vivências estava claro que
esse tema seria parte do meu traba-
lho final, de um projeto que ainda
estava por vir.
Viajar é renascer em outra língua.
(Guilherme Wisnik)
P E L A A M É R I C A D O S U L
6
BOGOTÁ . CARTAGENA DE ÍNDIAS . MEDELLÍN . ZIPAQUIRÁ . MOMPOX
Foi em uma Colômbia, por mim desco-
nhecida, que aprendi que arquitetura
é sim uma ferramenta de organização
do espaço para a construção de uma
cidade democrática. Um lugar onde
o espaço público tenha, talvez, mais
qualidade que o privado. Equipamen-
tos públicos desenhados por renoma-
dos arquitetos do país inseridos em
zonas carentes, transformando e re-
qualificando espaços, antes, abando-
nados e inseguros. Medellín e Bogotá,
mais do que belas cidades, dão uma
aula sobre inclusão social e integração
das periferias à cidade, tornando-as,
inclusive, em pontos turísticos.
7
No leste boliviano a pobreza latente
sensibiliza qualquer viajante que por
ali passa. As cores dos tecidos e da
natureza se destacam entre as ruas de
terra e as casas simples. A timidez dos
moradores impede uma aproximação:
a cabeça baixa, o olhar vazio evidencia
a falta de esperança. O contato com o
rio é exíguo, apenas a atividade portu-
ária ocorre com maior intensidade. Na
Laguna Cáceres, revela-se a oportuni-
dade de desenvolver um turismo sus-
tentável, uma vez que esta é a porta
de entrada do pantanal sul-americano.
A maioria dos jovens deixa suas pe-
quenas cidades para estudar ou traba-
lhar nos centros urbanos, contribuin-
do com a impressão de estarem ainda
mais vazias. Suas carências, em todas
as dimensões, nos suscitam a urgência
de uma mudança.
PUERTO QUIJARRO . PUERTO SUAREZ
8
Buenos Aires, cidade charmosa, suas
ruas fervem a qualquer hora do dia.
Em suas praças executivos, tran-
seuntes, moradores de rua e crianças
descansam, brincam, lêem, conver-
sam. Apesar das manifestações qua-
se diárias prejudicarem o tráfego de
veículos e pedestres, revela-se uma
sociedade politizada, interessada em
lutar pelos seus direitos. A memória
dos desaparecidos da ditadura militar
está em todos os lados, é próprio da
população que não se deixa esquecer
o sofrimento de tal período, carregam
uma melancolia em sua rotina. A apro-
priação do espaço público é exemplar,
o lazer e a discussão estão nas ruas e
praças. Ali, vive-se a cidade.
BUENOS AIRES
9
Córdoba, ciudad de los estudiantes,
onde a arquitetura do presente tange
a do passado em suas praças e mu-
seus. Mar del Plata, principal porto
pesqueiro do país, é também o balne-
ário preferido dos porteños; carrega o
ar dos antigos hotéis e cassinos, agora
decadentes, foi berço dos grandes
tangueros argentinos. Rosário, a cida-
de banhada pelo Rio Paraná, revela
harmonia entre sua população e sua
arquitetura através de uma sequên-
cia de praças e programas culturais
nas margens de suas águas. La Plata, a
pequena cidade planejada, com uma
praça a cada seis quarteirões, possui o
belo e único exemplar da obra de Le
Corbusier na América Latina.
CÓRDOBA . MAR DEL PLATA . ROSÁRIO . LA PLATA
10
A pequena Montevideo não esconde
as belezas de suas ruas, casas e edifí-
cios antigos. Parece que se parou no
tempo. Aquela conhecida cidade de
população velha, agora abre espaço
para os jovens que o conquistam com
sua arte, dedicação e simpatia. Uma ci-
dade calma que dá as costas ao Rio de
La Plata, parece não querer quebrar a
harmonia de uma vida interiorana e se
contenta com o apelido de hermano
chico de Buenos Aires. Atlântida apa-
rece nas curvas dos tijolos da Igreja de
Eladio Dieste. Punta del Este, o famoso
e requisitado balneário uruguaio, fora
de temporada, se transforma em uma
cidade fantasma. Em suas ruas vazias
só o vento intenso se faz ouvir.
MONTEVIDEO . ATLÁNTIDA . PUNTA DEL ESTE
11
Surge aos pés dos Andes a Santiago
moderna. O céu azul, sem nuvens
brinda a paisagem do Rio Mapocho
que atravessa a cidade. O verde dos
bairros contribui para a boa qualida-
de de vida que ali se revela. A cidade
dos cachorros de rua começa a in-
centivar mais as atividades culturais
a fim de promover a vida urbana,
oferecendo diversas opções de lazer.
Famosa pela arquitetura contempo-
rânea, seus projetos são destaques
no panorama arquitetônico atual e
fazem valer os elogios.
SANTIAGO
12
La espina dorsal del planeta es mi cordillera 3
Nossa colonização nos fez sempre
contemplar os “países desenvolvi-
dos”, apreciá-los e os ter como exem-
plo. Aprendemos a nos enxergar atra-
vés de outro olhar que não o nosso.
Na arquitetura ocorre o mesmo, ten-
demos a admirar o outro e almejar
ser semelhante. São inúmeros livros,
revistas e web sites que nos colocam
o outro como modelo, como inova-
dor. É inegável a qualidade de proje-
tos e estratégias que desenvolvem,
porém nossa realidade é outra, nosso
clima, geografia, língua e tradições
são outros. Devemos sim conhecer
o alheio, mas, antes, reconhecer o
que nos é próprio, assim interpreta
o escritor colombiano Gabriel García
Márquez: “Es compreensible que insis-
tan en medirnos con la misma vara con
que se miden a sí mismos, sin recordar
que los estragos de la vida no son igua-
les para todos y que la búsqueda de
la identidad propria es tan sangrienta
3. “A espinha dorsal do planeta é minha cordilheira“. Trecho da música Latinoamérica do rapper porto riquenho Calle 13. 4. “É compreensível que insistam em nos medir com a mesma vara com que medem a si mesmos, sem recordar que os estragos da vida não são iguais para todos e que a busca da indentidade própria é tão sangrenta como foi para eles. A interpretação da nossa realidade com esquemas alheios apenas contribui a sermos cada vez mais desconhecidos, cada vez menos livres, cada vez mais solitários...“. Trecho retirado de: LARRAÑAGA, María Isabel de; PETRINA, Alberto. Arquitectura e identidad en la Argentina. In: TOCA, Antonio (ed.), Nueva Arquitectura em America Latina: presente y futuro. México: Ediciones G. Gili, S.A. de C.V., 1990.
5. WISNIK, Guilherme. Latinoamerica: Notas de viagem. In: O Brasil não existe!: Ficções e canções. São Paulo: Publifolha, 2010.4. “Eu não acredito que os sul-americanos, ou os paraguaios, ou os asuncenos, ou os deste bairro temos melhores ou piores possibilidades. Temos uma herança, um mundo que foi desenvolvido por nossos antecessores, e temos a obrigação de transformá-lo.“ Entrevista do arquiteto paraguaio Solano Benítez ao documentário argentino Proyecto Brasilia. Disponível em: <http://proyectobrasilia.com.ar/>. Acesso: 02/03/2011.
como lo fue para ellos. La interpretaci-
ón de nuestra realidad con esquemas
ajenos solo contribuye a hacernos cada
vez más desconocidos, cada vez menos
libres, cada vez más solitários...”4.
A América do Sul é um concen-
trado de países e culturas, dos quais
também fazemos parte, que muito
pode nos surpreender. Apesar das
diferenças, os problemas e as realida-
des que o Brasil enfrenta, são simila-
res aos demais países da sul-america-
nos: tomando-se em conta uma foto
da periferia de São Paulo, ela vai ser
muito parecida à periferia de Bogotá,
Argentina, Equador, Uruguay, Chile,
etc. Então, “qual a distância entre o
Brasil e a América?”, nos questiona
o arquiteto Guilherme Wisnik em
suas notas de viagem pela Améri-
ca Latina5. Nossa língua, diferente
das demais do grupo, aparece como
principal obstáculo para uma maior
integração. É importante que não se
Canción con todos
Salgo a caminar
por la cintura cósmica del sur,
piso en la región,
mas vegetal del viento y de la luz;
siento al caminar
toda la piel de América en mi piel
y anda en mi sangre un río
que libera en mi voz su caudal.
Sol de Alto Perú,
rostro, Bolivia, estaño y soledad,
un verde Brasil,
besa mi Chile, cobre y mineral;
subo desde el sur
hacia la entraña América y total,
pura raíz de un grito
destinado a crecer y a estallar.
Todas las voces todas,
todas las manos todas,
toda la sangre puede
ser canción en el viento;
canta conmigo canta,
hermano americano,
libera tu esperanza
con un grito en la voz.
(A. Tejada Gomez e Cesar Isella)
faça disso uma limitação.
A herança dos tempos de colônia
ref lete-se na economia, na carência
social, na desordem e corrupção. No
passado, arrancaram nossas rique-
zas, nos desenvolvemos de mãos
atadas ao outro. Não somos países
novos, mas sim, como coloca o ar-
quiteto Paulo Mendes da Rocha,
recém descobertos no plano do
conhecimento. Nossos índios e as
civilizações pré-colombianas bem
habitaram, desenvolveram e cons-
truíram nessas terras. Muito foi apa-
gado e esquecido. Entretanto ainda
podemos identificar nossas singula-
ridades. Resgatar e evidenciar o que
nos é próprio.
“Yo no creo que los sudamericanos, o
los paraguayos, o los asuncenos, o los
de este barrio tengamos mejores o pe-
ores posibilidades. Tenemos una heren-
cia, um mundo que fue desarrollado
por nuestros antecesores, y tenemos la
13
7. “Gostaria ver um mundo onde as diferenças e as semelhanças sejam autênticas e não forçadas [...] Que existam diferenças, mas não as impostas por condições econômicas; que existam semelhanças, mas não as causadas por carência de imaginação.“ In: ZOHN, A. (1990). Arquitectura e identidad (em uma perspectiva vista desde México). In: TOCA, Antonio (ed.), Nueva Arquitectura em America Latina: presente y futuro. México: Ediciones G. Gili, S.A. de C.V., 1990.8. 28/07/1874 – 8/08/1949.9. MELENDI, Maria Angélica. Da adversidade vivemos ou uma cartografia em construção. Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais. Disponível em: <http://www.ig.art.br/territorialidades/archivos/doc_texto_71.doc>. Acesso em: 31 de out. 2010.
10. Manifesto da disciplina Taller Sudamerica da Faculdade de Arquitetura, Desenho e Urbanismo da Universidade de Buenos Aires. Disponível em: <http://www.tallersudamerica.net/>. Acesso: 14/02/2011.11. BARDI, Lina Bo, (1990). Uma aula de arquitetura. Em: RUBINO, Silvana; GRINOVER, Marina (orgs.), Lina por escrito. São Paulo: Cosac&Naify, 2009.12. ROCHA, Paulo Mendes. América, arquitetura e natureza. Em: ARTIGAS, Rosa (org.). “Paulo Mendes da Rocha”. São Paulo: Cosac & Naify, 2000.13. SANTOS, Milton. “A natureza do espaço. Técnica e Tempo”. Razão e Emoção. 4.ed. São Paulo: EDUSP, p. 337. 2008.
“Nuestro norte es el Sur. No debe haber norte para nosotros, sino en oposición al Sur. Por eso ahora ponemos el mapa al revés y entonces ya tenemos la justa idea de nuestra posición [...]. Desde ahora, el extremo alongado de Sudamérica apun-tará insistentemente para el Sur, nuestro Norte”
(El Norte es el Sur, 1935, Joaquín Torres García)
obligación de tranformarlo.”6
Aproveitando as ferramentas que
temos, a terra que pisamos, a tec-
nologia que criamos, conhecendo
como cada lugar tenta resolver suas
questões seria possível nos desen-
volver revelando uma identidade,
não necessariamente diferente ou
igual, mas verdadeira.
“Me gustaría ver um mundo donde
las diferencias y las similitudes sean
auténticas, no forzadas [...] Que existan
diferencias, pero no las impuestas por
condiciones económicas; que existan
similitudes, pero no las causadas por
carencias de imaginación.”7
O artista uruguaio Joaquín Torres
Garcia8 após 43 anos vivendo em Pa-
ris e Madri regressa à Motevideo e
traduz sua experiência e seu ponto
de vista, compreendendo sua iden-
tidade latina ao desenhar “El Norte
es el Sur”, uma imagem-manifesto,
em 1935. Neste, o artista desenha a
América do Sul invertida, apontando
para o Norte: “Colocar o Pólo Sul na
parte superior do mapa, convencio-
nalmente usada para indicar o Norte,
produz uma mudança de sentido. Os
navios subirão para o Sul e descerão
até o Norte: o Leste; o oriente verme-
lho — como corresponde — estará
à esquerda. Muito mais que um jogo
engenhoso, o deslocamento semân-
tico dos pontos cardeais produz múl-
tiplas associações simbólicas. A nova
bússola que aponta ao Sul indica
também um lugar ao que se ascende,
o paraíso. Descer ao Norte é também
uma descida aos infernos“.9
Como fez Torres Garcia, também
devemos inverter a ordem, desmis-
tificar a “América do Sul terceiro
mundista”. Entendendo a arquitetura
como ferramenta de opinião10 , uma
arte coletiva e sócio-política11 , deve-
mos fazer um esforço para integrar
conhecimentos e estudos, pensar em
um sistema de ações e estratégias,
que ajudariam a melhorar as nossas
cidades, e que suprissem as carên-
cias sociais, “trata-se de estabelecer
territórios reconfigurados para que
os altos ideais humanos se efetivem.
É uma resistência contra a miséria”.12
Através de publicações, conferên-
cias, discussões, estudos de campo
e oficinas, tramar-se-ia uma coalizão
da potência que é a nossa porção da
América. Como coloca Milton Santos,
“o mundo, porém, é apenas um con-
junto de ‘possibilidades’, cuja efeti-
vação depende das ‘oportunidades’
oferecidas pelos lugares“13. Devemos,
assim, romper as fronteiras.
14
Viver a cidade. A cidade, lugar de
mobilidade, encontros, é um espaço
para todo o tipo de atividade de prá-
ticas urbanas14. Local de trocas, nas
ruas é possível ver o outro, o diferen-
te. Esses intercâmbios enriquecem
nosso modo de pensar e ensinam a
respeitar e a admirar aquilo que pode
não ser comum para nós. O espaço
público sempre foi o lugar de encon-
tro, de comércio e de circulação: “é
um espaço aberto, uma multiplicida-
de de imagens, um espaço no qual a
vida mesma é o espetáculo”15.
A cidade, cada vez mais voltada
para interesses privados, diminui
as possibilidades desses encontros
uma vez que muitos desses palcos
de atividades e interações passaram
a serem controlados e regulados para
“garantir” a segurança dos cidadãos16 .
A predominância do tráfego de
veículos sobre pedestres limita ainda
mais o espaço dedicado à vida públi-
Ver, encontrar, interagir.
14. PERAN, Martín. Post-it city. ciudades ocasionales. POST-IT city : ciudades ocasionales = cidades ocasionais = occasional urbanities : [exposición = exposiçao] / CCCB, SEACEX. Madrid : Turner, D.L. p. 9-12. 2009.15. MOSSET, Inés. Paisaje Latinoamericano. 1ª Ed. Córdoba: I+P Editorial, 2005. Pg. 64.
16. GEHL, Jean; GEMZOE, Lars. Novos espaços urbanos. Barcelona : Gili, 2002. pg. 13.17. PERAN, Martín. Post-it city. ciudades ocasionales. POST-IT city : ciudades ocasionales = cidades ocasionais = occasional urbanities : [exposición = exposiçao] / CCCB, SEACEX. Madrid : Turner, D.L. p. 9-12. 2009.
ca. Caminhar ou andar de bicicleta,
atos de prazer da vida urbana, tor-
nou-se difícil, perigoso e desagradá-
vel, a cidade passa a ser vista através
de uma janela de veículo, geralmente
parado no trânsito.
O espaço de uso coletivo é a ci-
dade democrática. “A cidade como
feito social existe, na medida em que
existe a possibilidade de produzir a
valorização dos espaços públicos. A
vida das cidades, as relações entre
os habitantes, têm sentido enquan-
to existam espaços articuladores e
promotores de vínculos sociais. Essa
valorização do público, sua conside-
ração e tratamento dentro da trama
urbana como feito integrador e nive-
lador social, solicita uma atualização
permanente”17 . É um mecanismo de
aumento do direito à cidade.
As atividades que acontecem nas
ruas, a apropriação temporária de
um certo espaço de maneira criativa,
gera dinâmicas que justamente nos
emociona, nos integra, ao caminhar
pela cidade e deparar com situações
imprevisíveis. Enxergar a potencialida-
de desses intercâmbios e revelar seus
potenciais é a beleza da vida urbana.
A abertura de mais um espaço pú-
blico para a cidade de São Paulo, vol-
tado à população menos privilegia-
da, é um dever que tomei ao iniciar
esse trabalho. Envolver diferentes
grupos da sociedade, ocasionar esse
encontro é uma maneira de ativação
do espaço urbano.
Seguindo esse caminho, buscando
na cidade uma atividade temporária
com a qual pudesse contribuir com
um projeto urbano de arquitetura,
conheci a feira Kantuta.
A C I DA D E CO M O LO C A L D E E N CO N T R O
15
O chamado “cantinho boliviano“,
a feira Kantuta acontece aos domin-
gos no bairro Pari, região central de
São Paulo, a poucos metros da es-
tação de metrô Armênia. Ponto de
encontro dos imigrantes bolivianos,
a feira teve seu início na Praça Padre
Bento, em frente à Igreja Santo Anto-
nio do Pari, no mesmo bairro, a cerca
de quinze anos atrás. Foi a senhora
Berta Valdés quem instalou na pra-
ça a primeira barraca de churrasco
de anticucho (coração de boi no es-
peto). Sem conhecer a língua e sem
amigos, Berta não poderia imaginar
que sua barraca seria início de um
local que reviveria a cultura de seu
país de origem.
Entretanto, com o crescimento da
feira e do movimento em torno dela,
os moradores da região fizeram um
abaixo-assinado para sua retirada,
por conta da desorganização e lixo
que causava nas imediações. Após
18. A feira foi regulamentada em 24 de setembro de 2004.19. SILVA, Maria A. Moraes; MENEZES, Marilda A. de. Migrantes temporários: fim dos narradores? In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. p. 83.
Flor Kantuta
a sugestão da subprefeitura, alguns
feirantes se organizaram formando a
Associação Gastronômica, Cultural
e Folclórica Boliviana Padre Bento e
conquistaram, em junho de 200218 ,
a praça entre as ruas Pedro Vicente,
Cannot e Olarias, que, até então, não
possuía nome, e, logo, foi batizada
como Praça Kantuta – a f lor Kantuta
é típica da região andina e possui as
três cores da Bolívia, vermelho, ama-
relo e verde.
São 90 barracas e cerca de 100 fei-
rantes associados que contribuem
com uma mensalidade à Associa-
ção, já que esta é responsável pela
manutenção, apoio e segurança da
feira. Há comércio de artesanatos,
comidas típicas e, inclusive, barbe-
aria. Além de comércio, há aula de
música, aula de português, aula de
taekwondo para as crianças e os im-
portantes campeonatos de futebol
na quadra da praça, a “Cancha Praça
Kantuta” (hoje desativada pelas más
condições em que se encontra). Por
ser um local que concentra muitas
pessoas, é possível observar na pra-
ça representantes de diferentes igre-
jas, evangélicas e católicas, que bus-
cam difundir suas religiões e cultos
e conquistando novos seguidores.
Os eventos são organizados a par-
tir do calendário boliviano, porém
são comemorados aos domingos,
quando acontece a feira. As festas
têm uma grande importância, uma
vez que faz o “elo entre espaços e
tempos distintos [...] representa o
momento da recriação de relações
de sociabilidade”19 , é o reencontro
com a própria cultura, com suas ra-
ízes. É possível assistir a apresenta-
ções de danças típicas como a dia-
blada, a morenada, a cueca, os tinkus,
os tobas e os caporales, além da dis-
tinta indumentária que desfilam.
Apesar das dificuldades do dia-
P R AÇ A K A N T U TA
16
a-dia, da má qualidade de vida, do
trabalho intenso dos imigrantes
bolivianos, “a riqueza e o brilho das
tradições culturais, por um lado, e
o esforço de organização, por ou-
tro, demonstram a busca do grupo
por um lugar de destaque na socie-
dade paulistana, que em geral os
vê apenas como força de trabalho
barata para a indústria das confec-
ções, e não como sujeitos sociais
portadores de direitos, valores, tra-
dições, ritmos e sabores”20. As dan-
ças que aqui se realizam revelam a
identidade desses imigrantes, não
só como um resgate de suas ori-
gens, mas também com o fato de
serem bolivianos numa terra estran-
geira, no Brasil.
A Associação também dá apoio
aos imigrantes recém chegados, e
ajuda à procura de emprego, através
de um mural onde são dispostas as
oportunidades. Cabe ressaltar que
essa organização é realizada por vo-
luntários da própria comunidade.
A sede da Associação funciona
em um pequeno “puxadinho“ e não
possui uma infra-estrutura adequa-
da: uma sala e dois banheiros sem
iluminação e ventilação natural ne-
cessária. Foi cedido pela prefeitura
e se encontra dentro do terreno vizi-
nho, onde funciona uma Unidade Bá-
sica de Saúde (UBS), que atualmente,
tenta recuperar tal espaço. As ativi-
dades apenas ocorrem aos finais de
semana, pois, segundo o presidente
da Associação, Wilson Ferreira Cam-
pos, faltam voluntários para realizar
aulas.
Existem mais três associações de
bolivianos na cidade: A Associação
dos residentes bolivianos (ADRB),
fundada em 1969; o Círculo Boli-
viano, fundado em 1975; e o Centro
dos Residentes Cruzenhos, fundado
em 1980. Há quatro rádios piratas
no bairro, entre elas a Oficial Clube,
94,3 FM e a Vanguarda, 103,9 FM,
que transmitem músicas bolivianas
e informações da comunidade e da
Bolívia, onde se escuta espanhol, ai-
mará, quéchua21 e até guarani. Tam-
1720. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 59.
21. Na Bolívia, as línguas indígenas andinas aimará e quéchua são consideradas oficiais, junto ao castelhano, e faladas por mais de 3,5 milhões da população.
22. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil). Pg. 37.23 CAMARGO, Beatriz. Kantuta é um pedaço de Bolívia na capital paulista. Repórter Brasil, São
Paulo, jul./2006. Disponível em: <http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=668>. Acesso em: 18 out. 2010.
bém, existe uma publicação mensal,
a revista Pachamama, revista de la
comunidad boliviana, que traz infor-
mes, eventos e oferta de serviços
para comunidade boliviana. “A cria-
ção de diferentes formas de organi-
zação entre os imigrantes é um sinal
de que o processo migratório já se
consolidou.”22
Em torno de duas mil pessoas
visitam a feira, e nos dias festivos
podem chegar a três a quatro mil,
segundo a Associação. São empa-
nadas, salteñas, buñelo (massa de
trigo frita), ají (tipos de pimentas),
diferentes tipos de batatas (como a
ch’uñu) e pães, apí (bebida quente
de milho), cerveja paceña, chica de
mani (refresco de amendoim), re-
fresco de linhaça, mocochinchi (re-
fresco de pêssego), f lautas de pã,
malha de lã de lhama, aguayo (teci-
do típico andino de listras coloridas),
bolsas típicas, pôster do presidente
boliviano Evo Morales junto a ban-
deiras do Brasil, dvd’s com progra-
mas de humor boliviano, cartões
telefônicos para chamadas interna-
cionais, entre outros tantos produ-
tos de origem boliviana e também
peruana. A música fica por conta
do dj e muitas vezes de grupos de
músicas tradicionais que animam a
feira. Somente se escuta espanhol
neste local, realmente parece que
está em outro país. Roberto, jovem
boliviano que vive no Brasil há sete
anos completa: “Cada pessoa que
vem aqui pode contar uma história
diferente de como chegou ao Brasil,
de como encontrou trabalho. São
muitas histórias bonitas que ficam
escondidas”.23
Todos os domingos a partir das
11h00 até às 20h00 centenas de bo-
livianos enchem a pequena praça
Kantuta. Uma das únicas opções de
lazer para estes imigrantes é o local
onde podem encontrar compatrio-
tas, namorar, informar-se sobre a
família que permaneceu no país de
origem, degustar comidas típicas,
ouvir e dançar músicas bolivianas e
latinas e comprar produtos andinos.
A feira Kantuta tenta recuperar
a imagem do imigrante boliviano
visto como índio, pobre e escravo,
apresentando a cultura desse país e
suas riquezas. É a integração entre
brasileiros e bolivianos em uma pra-
ça de São Paulo.
FESTA DE ALACITAS
Tive a oportunidade de visitar a
Festa das Alacitas do ano de 2011,
organizada pela Associação Gastro-
nômica, Cultural e Folclórica Boli-
viana Padre Bento. Foi realizada no
Clube Regatas Tietê, e não na praça
Kantuta, pelo tamanho da festa, dos
eventos que ali se realizaram e pela
grande quantidade de visitantes, em
sua totalidade, bolivianos.
Segundo o convite da festa divul-
gado pela associação: “Alasita vem
da língua aymará e significa compra-
me. A feira de Alasitas é uma ativida-
de econômica própria dos indígenas
aymarás e mestiços que habitam na
cidade de La Paz (Bolívia). Durante
a colonização existiam diversas fei-
ras indígenas que acompanhavam o
calendário agrícola e as festividades
católicas. A feira de Alasitas nasce
como parte do culto ao Ekeko que
é o Deus da abundância, que traz
prosperidade e bens materiais, ne-
cessários para a vida.
A festividade da Nossa Senhora de
La Paz, celebrada os dias 23, 24 e 25
de janeiro desde 1800 com atos litúr-
gicos católicos, contou com a parti-
cipação de todos os setores do povo
paceño e indígenas aymarás, dançan-
do e vendendo miniaturas de mó-
veis, roupas, ferramentas, alimentos,
utilidades domésticas e animais. De
1859 a 1865 a feira de Alasitas con-
verteu-se num espaço de exibição de
belos trabalhos em miniatura.
As miniaturas segundo o pensa-
mento andino, são portadoras de po-
deres mágicos e símbolos profundos,
e trazem a fertilidade e abundância
de bens materiais.
Existe o costume de comprar as
miniaturas às 12:00 hs do dia 24 de
janeiro, levá-las ao Yatiri (religioso)
para colocar incenso e abençoá-las
na igreja católica. Segundo a tradição
esta é a hora sagrada. Se tivermos fé
o nosso desejo se cumpre.”
As cores, as miniaturas da “casa
dos sonhos“ e dos carros, as noti-
nhas de dólares e reais, os porqui-
nhos, se cobriam de significados. Os
grupos se reuniam na grama, dispu-
nham as miniaturas compradas em
um círculo, chamavam o padre que
as abençoavam, e logo, benziam jo-
gando cerveja por elas.
As danças que foram apresentadas,
além de encantarem pelos movimen-
tos, pelas vestes e pelos adornos,
mostravam uma distinta coreografia.
A festa toda foi um belo espetáculo.
A questão da imigração está pre-
sente em diversos países, principal-
mente nas grandes metrópoles, que,
muitas vezes, não sabem como lidar
com a situação. A exploração nos pa-
íses subdesenvolvidos determina um
limite à liberdade de mobilização: por
conta da falta de oportunidades que
seus países oferecem, os imigrantes
se dirigem aos países desenvolvidos,
enquanto esses adotam políticas res-
tritivas à sua entrada, “a mobilização
forçada e a imobilização forçada são
dimensões da mesma violência“.25
No caso da migração latina, os
principais destinos são Brasil, Argen-
tina e Chile. O professor Percival Tira-
peli26 nos conta que no Brasil, a imi-
gração dos povos latino-americanos
deu-se a partir de 1950, quando chi-
lenos e peruanos foram atraídos pelo
desenvolvimento econômico gerado
com a criação de Brasília. Outros f lu-
xos migratórios, incluindo de brasi-
“Respeitando e divulgando as culturas dos
grupos imigrantes, estaremos aprendendo
a viver democraticamente numa sociedade
plural” .24
24. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. In: SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil).25. VAINER, Carlos B.. Migração e mobilidade na crise contemporânea da modernização. In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. pg. 28.
26. TIRAPELI, Percival (pesquisa e textos); SILVA, Manoel Nunes da Silva (fotografias). São Paulo, Artes e Etnias. São Paulo: Editora Unesp; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007,pg. 341.27. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 2.
leiros, ocorreram durante as ditadu-
ras latino-americanas, por questões
políticas, ideológicas e econômicas.
Ainda segundo Tirapeli, a partir dos
anos 80, a migração latina tinha por
objetivo a área médica, os cursos
de pós-graduação e contratação de
executivos e funcionários de empre-
sas multinacionais. Hoje em dia, os
imigrantes, geralmente, “são aceitos
com reservas e, muitas vezes, recha-
çados antes mesmo de chegarem ao
seu destino final, como se fossem
possíveis ‘criminosos’. Porém, eles
têm algo em comum: acalentam o
sonho de uma vida digna para seus
filhos, ainda que seja numa pátria
estrangeira e às vezes em condições
adversas”.27
São Paulo, desde muitos anos,
concentra milhares de estrangeiros
oriundos de diversos lados, atraídos
pelo desenvolvimento industrial e
pela oferta de serviços existentes e
oportunidades variadas que a cidade
oferece. A cidade recebe esses imi-
grantes e, de sua maneira, os acolhe,
promovendo uma mistura de raças e
culturas enriquecedora. Em suas ruas
se encontram e se desencontram di-
versos sotaques, traços, músicas, co-
midas e rituais, formando o mosaico
dessa metrópole heterogênea.
Os números da migração Bolívia-
São Paulo são confusos. Enquanto o
Consulado da Bolívia na cidade de São
Paulo calcula entre 50 e 60 mil a cifra
de imigrantes bolivianos clandesti-
nos, o Ministério Público calcula em
200 mil não documentados. Boa par-
te dos migrantes recorre à migração
clandestina, pelo acesso limitado e
pela falta de informação sobre os pro-
cedimentos e requisitos migratórios.
Também se encontra grande número
de imigrantes bolivianos nas cidades
fronteiriças: Corumbá (MT), Guajará-
Mirim (RO) e Foz do Iguaçu (PR).
I M I G R AÇ ÃO
20
Ponto de partida, a Bolívia é um
país de belas paisagens naturais,
marcado por diferenças e rivalidades
etnoculturais e apresenta os mais
baixos índices de desenvolvimen-
to humano (IDH) entre os países da
América Latina. Segundo o Instituto
Nacional de Estadística de Bolívia28, o
INE , da população total do país, cer-
ca de onze milhões de habitantes, a
maioria é jovem e urbana. As cidades
mais populosas são: La Paz e El Alto,
no altiplano, Cochabamba, na região
central e Santa Cruz de la Sierra, no
oriente boliviano. É um país pluricul-
tural, formado por diferentes etnias,
onde, ainda segundo o INE, cerca de
60% da população total é indígena.
“As relações etnoculturais entre as
várias classes sociais que compõem
a sociedade boliviana são marcadas
pelo ‘preconceitos’ herdados do pe-
ríodo colonial, os quais por sua vez
acabam se reproduzindo em um
Todos os domingos milhares de imi-
grantes tailandesas e filipinas que tra-
balham como empregadas domésticas
em Hong Kong se reúnem nas calçadas
dos grandes edifícios empresariais do
centro da cidade (na foto ao lado, tér-
reo do edifício do banco HSBC, projeto
do arquiteto Norman Foster). Único dia
de lazer, elas se encontram para fofocar,
comer, fazer as unhas, cortar o cabelo e
descansar. Os maus tratos que sofrem
pelos patrões e o constante preconcei-
to de que são vítimas, podem ser, de al-
guma maneira, esquecidos quando elas
encontram uma maneira de se firmarem
como pessoas comuns, mesmo estando
longe de suas famílias, de sua cultura.
novo contexto sociocultural”.29
Pelas dificuldades econômicas e
sem melhores perspectivas, milhares
de bolivianos migram em busca de
trabalho. Em São Paulo, grande parte
desses imigrantes partiu de La Paz,
Cochabamba, Oruro, Potosí, Santa
Cruz e Beni. Sendo a maioria jovens,
solteiros e com nível escolar médio,
mas, também, há uma porcentagem
de profissionais liberais, como mé-
dicos, professores, dentistas, enge-
nheiros, entre outros. Parte desses
imigrantes reside nos bairros centrais
da capital paulista, sobretudo Brás,
Bom Retiro, Pari, mas também em
bairros mais longínquos como Vila
Maria, Vila Guilherme, Guaianases e
São Mateus.
Atraídos pelas oficinas de costura
ligadas à indústria da moda paulista
e pelas promessas de bons salários,
os trabalhadores bolivianos procu-
ram os chamados coyotes, que agen-
FOTO
MA
RIN
A R
AG
O
28. Disponível em <http://www.ine.gob.bo/>. Acessado em 28/04/2011.29. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série
Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 11.
ciam, desde a Bolívia, a vinda a São
Paulo. Entretanto, quando chegam, a
realidade é outra: o custo da viagem
é debitado do mísero salário que
irão receber, assim como a estadia
e alimentação que a oficina conce-
de. Ou seja, este imigrante quando
chega para trabalhar, já se encontra
endividado e devendo favores aos
empregadores.
Nas oficinas, muitas vezes, são sub-
metidos a condições de trabalho se-
mi-escravo, em jornadas que podem
chegar a 18 horas sob o sistema de
cama-quente, sem poder sair às ruas
por dias (ou meses em casos extre-
mos) para evitar as denúncias de que
são ameaçados pelos donos desses
estabelecimentos clandestinos (em
geral, bolivianos, brasileiros e core-
anos). Se receberem um salário, este
é calculado pela quantidade de pe-
ças de roupas feitas, sendo 10% do
valor recebido pelo dono da oficina
NAV
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007.
Com uma fronteira de mais de 3.000 km, os principais pontos de travessia são as regiões fronteiriças de Guajará-Mirim, no
estado de Rondônia; Cáceres, no estado de Mato Grosso; e Corumbá, em Mato Grosso do Sul.
de costura, cerca de R$0,10 a R$0,50
por peça, assim, o salário varia entre
R$150,00 a R$500,00.
O caso apresentado a seguir de-
monstra a brutalidade desse sistema:
“Miguel, natural de Cochabamba,
trazido por uma brasileira para traba-
lhar em sua oficina de costura com
promessa de que ganharia U$500,00
mensais. Tendo entrado clandestina-
mente no Brasil, foi levado para seu
cativeiro, durante a noite, na rua São
Caetano (região central), onde per-
maneceu por três meses sem sair.
Quando aí chegou, a mulher que o
trouxe disse que se tratava de ‘outro
burro no curral’. Miguel calou-se e se
perguntava sobre o significado dessa
expressão. Seus companheiros, tam-
bém bolivianos, lhe disseram que a
mulher não os pagava e tampouco os
deixava sair, com medo de que bus-
cassem outro serviço. Seu dia-a-dia
era totalmente dedicado ao trabalho.
Levantava-se às seis horas da manhã
e se parava uma hora apenas, para
alimentar-se com a pobre comida
que lhe era oferecida. Para minorar
a solidão e as agruras do dia-a-dia,
uma farta coleção de músicas boli-
vianas e latinas era posta à sua dispo-
sição, pois a música mantinha vivos
nele os vínculos com a terra natal e
o sonho de poder voltar um dia para
os familiares, quem sabe um pouco
melhor do que saíra. Porém, no dia
6 de abril de 2001, não suportando
mais tamanha humilhação, ele to-
mou a decisão de fugir. Ajudado pe-
los companheiros, pulou o alto muro
do cativeiro num dia em que sua
‘patroa’ tinha ido a uma festa. Com
muito medo, caminhou a pé várias
horas até uma delegacia de polícia,
onde permaneceu até o dia amanhe-
cer. No dia seguinte foi encaminhado
à Polícia Federal e de lá à Pastoral dos
Migrantes, onde permaneceu por al-
2230. SILVA, Sidney A. da. Virgem Mãe Terra: festas e tradições bolivianas na metrópole. São Paulo: Hucitec/Fapesp, 2003., pg. 38.
guns dias até o regresso à Bolívia”30.
Geralmente, o ambiente de traba-
lho é pouco ventilado e a comida
com que são alimentados é rala, de
modo a prejudicar a saúde desses
trabalhadores, que se predispõem
à doenças contagiosas, como a tu-
berculose. Temendo serem levados
à polícia, por falta de documentos,
os doentes não procuram postos de
saúde, e permanecem isolados nas
oficinas.
Além do exaustivo trabalho, os
imigrantes bolivianos são constan-
temente alvos de preconceito e xe-
nofobia por parte dos brasileiros que
desconhecem suas raízes étnicas e
culturais: “para a sociedade brasileira
o imigrante é simplesmente ‘o boli-
viano’, com toda a carga negativa
que esta identidade carrega“.31
A falta de documentação é um
grande problema enfrentado por es-
ses imigrantes clandestinos, uma vez
TERRITÓRIO
MIGRAÇÕES SONHOS
MITOS
DIVERSIDADE
ORIGENS
MEMÓRIA
INTEGRAÇÃO
RITOS
que o órgão oficial encarregado é a
própria Polícia Federal, o que causa
grande constrangimento pela situa-
ção ilegal em que estão, e, também
pela demora da expedição dos docu-
mentos que são analisados em Bra-
sília, que podem durar alguns anos.
Desse modo, sem documentos, não
conseguem alugar um imóvel, abrir
uma conta bancária, estudar, validar
seus títulos acadêmicos ou votar.
O sonho de uma vida melhor vi-
rou pesadelo? Pode-se dizer que sim,
mas “a medida que em que o grupo
se organiza na cidade e amplia seus
vínculos com a pátria mãe, através de
investimentos, comércio de produtos
e viagens para passar férias, o sonho
do retorno definitivo passa a ser uma
possibilidade cada vez mais remota
para os mesmos, que apostam tudo
no futuro de seus filhos. Nesse sen-
tido, tal sonho passa a ser uma reali-
dade tangível na medida em que eles
conseguirem enviar pelo menos um
de seus filhos para cursar uma facul-
dade em seu país de origem. E para
mantê-los lá é preciso permanecer
aqui, sempre um pouco mais, já que
a tendência parece ser a transforma-
ção do provisório em permanente“.32
A Pastoral dos Migrantes, impor-
tante base para os grupos de imi-
grantes, os acolhe, ajuda e assessora
na busca de emprego, casa e docu-
mentação. Também abre espaço para
realização de festas e eventos da co-
munidade. Em troca, exigi-se a parti-
cipação nas atividades da pastoral e
seguir as obrigações religiosas.
A maioria dos bolivianos é católica,
a devoção aos santos e às virgens aju-
dam a enfrentar os desafios do dia-a-
dia. Mas é pelo culto à Pachamama
que agradecem, fazem pedidos e se
fortalecem. “Pacha, enquanto espa-
ço, subdivide-se em três níveis cos-
mológicos: o mundo de cima, Alax
23
31. SILVA, Sidney A. da. Etnia, Nação e Regionalismos no jogo identitário entre os imigrantes bolivianos em São Paulo. In: Simpósio Internacional Migração: nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999, São Paulo/SP. Caderno de Resumos do Simpósio Internacional Migração:
nação, lugar, dinâmicas territoriais, 1999. v. I. p. 126.32. Idem, pg. 133.
Pacha, o mundo daqui, Aka Pacha, e
o mundo de baixo, Manqha Pacha. É
neste mundo, e, portanto numa po-
sição intermediária, que se encontra
a Pachamama, definida como Mãe
Terra, ou mais precisamente mãe da
totalidade humana ou fonte da vida.
Essa é a razão pela qual é imprescin-
dível oferecer-lhe presentes em dife-
rentes situações através do ritual da
Ch’alla, porque Ela sente fome, sede
e, quando não atendida pode ficar
enfurecida e não atender aos pedi-
dos”33. Esse culto inserido no meio
urbano da cidade, ressignifica-se: a
casa, local de moradia e do árduo
trabalho é a Pachamama - “Esta casa
é uma Pachamama. Então temos que
nos recordar dela sempre, pois ela
nos cria dia após dia, no trabalho, na
família, nas wanas (crianças) e em nós
mesmos”.34
Para Milton Santos, a memória para
os imigrantes é inútil, uma vez que
“Se diz Pachamama à terra, porque nos
dá a produção. É uma realidade, nos dá a
produção. Aí cresce a batata, o trigo, tudo. É
a Pachamama, é uma realidade.
Enquanto Jesus Cristo, Deus, não é uma
realidade. Onde se pode ver Jesus Cristo,
Deus? Não existe.
Pachamama é nosso deus, nossa crença,
onde na realidade vemos crescer a batata,
as frutas a laranja, tudo é a Santa Terra. Eu
semeio nela, vivo nela, como dela. É uma
realidade”. 36
suas lembranças de outro meio
pouco lhe servem na luta cotidia-
na, são necessárias novas experi-
ências, novas descobertas: “a me-
mória olha para o passado. A nova
consciência olha para o futuro. O
espaço é um dado fundamental
nessa descoberta. Ele é o teatro
dessa novação por ser, ao mesmo
tempo, futuro imediato e passado
imediato, um presente ao mesmo
tempo concluído e inconcluso,
num processo sempre renovado“35.
Assim, esses imigrantes bolivianos,
uma vez estando no Brasil, absor-
vem outra cultura, reformulam seus
modos de vida e de pensar.
24
33. SILVA, Sidney A. de. Bolivianos. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. – (Série Lazuli, imigrantes no Brasil), pg. 62.34. Idem.35. SANTOS, Milton. “A natureza do espaço. Técnica e Tempo”. Razão e Emoção. 4.ed. São Paulo: EDUSP, p. 328. 2008.
36. Depoimento de uma senhora boliviana no documentário Pachamama. In: ROCHA, Erik; MARTINS, Daniela; EDDE, Leonardo. Pachamama. Produção de Daniela Martins e Leonardo Edde, direção de Erik Rocha. Rio de Janeiro, Urca filmes e Aruac Produções, 2008. Dolby Digital 5.1., 100 min, cor.
C E N T R O D E C U LT U R A B R A S I L - B O L Í V I A
Sensibilizada pelos dados apresen-
tados anteriormente, decidi desen-
volver um projeto que abrangesse
essa população de imigrantes boli-
vianos que já está se miscigenando,
construindo novos vínculos em São
Paulo. Seria um espaço de conheci-
mento do outro, onde cada um bus-
caria sua identidade latino-america-
na.
Pensando que São Paulo contém
muitas comunidades latinas, esse
local seria o primeiro de uma série.
Há toda uma América do Sul (sem
falar de outros países de outros con-
tinentes) na nossa cidade, temos que
conhecê-la, conhecer-nos. Criar um
lugar onde paulistano, boliviano,
nordestino, coreano, negro, branco,
rico e pobre se encontrariam e des-
cobririam semelhanças, conviveriam
diferenças.
Buscando eliminar preconceitos
e promover uma integração latino-
americana, nasce o Centro de Cultura
Brasil-Bolívia.
25
E S C A L A P E S C A L A M
Á R E A
26
27
8
9
10
12
13
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6
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CEFET8
EMEF9
ABRIGO SÍTIO DAS ALAMEDAS10
FAVELA12
ABRIGOS CASA SAMARITANO,ASSOCIAÇÃO MULHER VIDA13
GALPÃO CMTC15
GALPÃO SPTRANS16
HORIZONTAL DE BAIXO E MÉDIO PADRÃO17
CLUBE DA POLÍCIA MILITAR18
FÁBRICA BELA VISTA7
PRAÇA KANTUTA1
TERRENO PROPOSTO2
CEI3
AMA-UBS4
SEMAB-SECRETARIA ABASTECIMENTO5
CONJUNTO HABITACIONAL6
EMEI11
CLUBE COMUNIDADE DO PARI14
E S C A L A G
O terreno escolhido para abrigar o
Centro, localiza-se em frente à Pra-
ça Kantuta, na rua Pedro Vicente, no
bairro do Canindé, parte do distrito
do Pari, que integra a Subprefeitura
da Mooca. É um dos menores distri-
tos da capital, possui uma população
de 14.824 pessoas, abrange uma área
de 2,9 km², e conta com mais de 400
anos.37
Bairro misto, tem predominância
de estabelecimentos industriais e co-
merciais38. Abriga muitos descenden-
tes e imigrantes, princialmente pela
oferta de empregos, atualmente nas
idústrias de confecção. Possui uma
boa infra-estrutura, porém faltam
espaços verdes e equipamentos de
lazer e cultura. Se trata de um bairro
consideravelmente plano, por se en-
contrar na várzea do Rio Tietê, e “bai-
xo”, já que possui em predominância
casas térreas e prédios de dois ou
três andares entre galpões e gara-
gens de ônibus.
O local do projeto a ser desenvol-
vido é destinado a equipamento de
infra-estrutura e considerado como
parte de uma zona mista de alta den-
sidade. Em suas imediações há a CE-
FET (Centro Federal de Educação Tec-
nológica de São Paulo); a UBS/AMA
Pari (Unidade Básica de Saúde e As-
sistência Médica Ambulatorial); três
escolas públicas federais e estaduais;
um conjunto habitacional composto
por três blocos; uma fábrica de bis-
coitos; três albergues para morado-
res de rua, mulheres e terceira ida-
de; uma favela de pequeno porte; o
clube da comunidade do Pari; clube
da CMTC; dois galpões vazios perten-
centes à CMTC e SPtrans; comércios,
serviços e residências horizontais.
Também vale destacar a proximidade
com o Terminal Rodoviário Tietê e da
estação de metrô Armênia.
28
37. Dados retirados do site da Prefeitura de São Paulo. Disponível em <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/mooca/historico/index.php?p=435>. Acessado em 30/11/2010.
36. Segundo o mapa de Uso e Ocupação do Solo elaborado pela EMPLASA. Disponível em <http://www.emplasa.sp.gov.br/>. Acessado em 30/11/2010.
9
1 2 3
4
5
6 7
8
10
11
12
R. CANINDÉ
ZONEAMENTO
MO ZM 3a
ZONA MISTA DE ALTA DENSIDADE - a
MO ZM 3b-01
ZONA MISTA DE ALTA DENSIDADE -b
ZEIS 3
font
e: S
ecre
taria
Mun
icip
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abita
ção
e D
dese
nvol
vim
ento
Urb
ano
SEH
AB
PRAÇA KANTUTA
29
PRAÇA KANTUTA + FEIRA PRAÇA KANTUTA + FEIRA + TERRENO PROPOSTO
30
PRAÇA KANTUTA +TERRENO PROPOSTO + EIXOS VISUAIS PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO + EIXOS VISUAIS + NOVAS CONEXÕES
31
PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO PRAÇA KANTUTA + TERRENO PROPOSTO = NOVA PRAÇA
32
ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS
33
ESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS + PISO PÚBLICOESPAÇO PÚBLICO EXISTENTE + ABERTURA DE NOVOS ESPAÇOS
+ PISO PÚBLICO = AMPLIAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO
34
435m²
150m²
48m²
215m²
245m²
45m² 45m² 45m² 45m²
85m²
43m²
85m²
165m²
CENTRO DE APOIO AO IMIGRANTE
CENTRO DE REFERÊNCIA
AUDITÓRIO
RÁDIOS
RESTAURANTE /CAFÉ
BIBLIOTECA
SALAS DE AULA
ADMINISTRAÇÃO
BANHEIRO PÚBLICO
QUADRA ESPORTIVA
. cultura boliviana
. história da Bolívia
. histórias da migração Bolívia-Brasil
. cozinha
. refeitório
. balcão café
. quadra poliesportiva
. 2 vestiários
. arquibancada
. apresentações
. palestras
. projeções
. 336 lugares
. central de empréstimos
. livros e periódicos
. área de leitura
. internet livre
. cabines telefônicas
. aula de português
. aula de espanhol
. aula de música
. oficina de moda
. brinquedoteca
. recepção/triagem
. cadastramento
. setores de apoio (habitação, emprego, saúde e documentação)
. recepção
. sala presidente
. sala vice-presidente
. sala reuniões
. banheiro feminino
. banheiro masculino
. banheiro para portadores de deficiência física
. 4 estudios
. arquivos
P R O G R A M A
35
SESC Fábrica Pompéia
Lina Bo Bardi (1977), São Paulo
Como principal referência, a rua in-
terna do SESC revela justamente o
que se busca no projeto em questão.
Um espaço animado, de constante
transitoridade, local de diversas ativi-
dades e encontros.
Lina
Bo
Bard
i. Sé
rie A
rqui
teto
s Br
asile
iros.
Inst
ituto
Lin
a Bo
e P
.M.B
ardi
MASP - Museu de Arte de São Paulo
Assis Chateaubriand
Lina Bo Bardi (1958), São Paulo
O local de encontro do paulistano:
no MASP se confunde o que é rua e
o que é calçada. É palco de diversas
manifestações e atividades abertas
ao público.
R E F E R Ê N C I A S D E P R O J E TO
36
Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São
Paulo, FAUUSP
Vilanova Artigas (1961), São Paulo
Um grande céu protege os
volumes que formam os espaços da
faculdade. Não há portas. As rampas
conectam os meios-níveis, tudo flui
nesse edifício-cidade.
O salão caramelo é centro das mais
variadas atividades.
É vivo.
Centro de información y
documentación Sergio Larrain
García-Moreno
Teodoro Fernandez, Smiljan Radic e
Cecilia Puga (1994), Santiago, Chile
Dispondo o programa em desnívieis,
o projeto ganha ambiências e visuais
interessantes.
Quem está ao nível da rua, observa
os nichos criados no andar
rebaixado, que concentra os usos
que necessitam de menos ruídos. 37
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59.
Baño Público - Pabellones Públicos - Parque de la Independencia
Rafael Iglesia (2003), Rosário - Argentina
Como parte de um conjunto de pavilhões, o banheiro demarca o ingresso
ao parque, como uma lanterna. Sua localização privilegiada, o fechamento
em vidro U-Glass, revela a inversão que o arquiteto propõe para um
equipamento de infra-estrutura, normalmente recluso, seu destaque.
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nº71
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104
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5.
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Parque Biblioteca León de Grieff
Giancarlo Mazzanti (2007), Medellín -
Colômbia
A biblioteca faz parte de um sistema
de bibliotecas parques, implantadas
na periferia de Medellín.
Além de um equipamento de
qualidade, o projeto dispõe de três
blocos que se unem por uma rua
interna, conectando diferentes usos.
Disponível em <http://plataformaarquitectura.cl/>. Acessado em 29/11/2010.
38
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O desenvolvimento do projeto do
Centro de Cultura Brasil-Bolívia partiu
da idéia de reforçar a presença dos
imigrantes bolivianos na praça Kan-
tuta, conquistada por eles. Garantir
um espaço em que possam aconte-
cer diversas atividades, bem como a
feira e as festas aos domingos.
Com o crescente número de vi-
sitantes atraídos pela feira, a praça
pede por mais espaço. Utilizando o
terreno vazio em frente à praça foi
possível ampliá-la, como uma exten-
são do piso, passando por cima do
asfalto da rua, abrindo uma nova pra-
ça, onde a rua é o palco. As ativida-
des poderiam ocorrer ali, ou em ou-
tro lugar, é livre. As barracas da feira
não devem ter uma localização fixa,
elas podem formar diferentes com-
posições neste novo espaço.
Pensando nas atividades que se
desenvolvem no entorno da praça
– abrigos, escolas, posto de saúde e
clube comunitário – teve-se a idéia
de desenvolver um “piso público”: re-
movendo os muros que delimitam os
terrenos, jardins novos e existentes
dividiriam as atividades – apenas nas
escolas adotar-se-ia um fechamento
durante a semana, pela segurança
dos alunos, porém com cercas e não
muros, garantindo alguma transpa-
rência entre os ambientes, e seriam
abertos aos finais de semana para
que a comunidade também possa
usufruir de tais espaços. Para marcar
ainda mais esse quarteirão público, a
partir da rua Pedro Vicente, esquina
com a rua Carnot, até a rua Olarias,
esquina com a rua Araguaia, o nível
da rua alcançaria o nível da calçada,
permitindo a livre transitoriedade de
pedestres. A passagem de veículos
seria demarcada apenas com o as-
falto, e, na nova praça, balizadores
retráteis indicariam o caminho – du-
rante a feira, sem o trânsito de carros,
O P R O J E TO
39
A RUA É O PALCO
37. A antena se localizaria a poucos metros da rádio, próximo aos abrigos para moradores de rua.
esses balizadores seriam abaixados
ao nível do piso, desaparecendo em
meio aos transeuntes.
A arquibancada aberta, desenha-
da como extensão do piso, possibi-
lita diferentes vistas da praça e do
bairro, explorando novas visuais. A
maioria das danças típicas bolivianas
possuem distintas coreografias, não
permanecem dançando em um lo-
cal, ocupam todo o espaço que há,
se misturam entre os espectadores,
resultando em uma nova dança. A
arquibancada pode revelar esses mo-
vimentos, a partir de diferentes altu-
ras. Alguns degraus foram estendidos,
criando nichos, onde, por exemplo,
um grupo pode se sentar em roda.
Essa espécie de arena livre poderia ser
também utilizada para teatros, shows,
apresentações diversas e exibições de
filmes ao ar livre.
Aproveitando a forma da arqui-
bancada, abaixo desta, cria-se um
auditório fechado, com capacidade
para um público de 336 pessoas. Um
local mais reservado para palestras,
apresentações, aulas e projeções.
Também nesse volume se encontra
o centro de referência da cultura
boliviana: dados sobre a Bolívia, sua
história e cultura, e os movimentos
de imigração ao Brasil, conformariam
diferentes exposições, organizadas
pela própria comunidade, onde cada
um poderia contar sua história, suas
impressões e suas realidades.
A quadra esportiva foi reposicio-
nada em um sentido norte-sul (atual-
mente é leste-oeste) e rebaixada três
metros gerando duas arquibancadas
por seu comprimento, além de possi-
bilitar a vista de quem está no nível
da praça. Visto que os campeonatos
de futebol são muito importantes
para a comunidade, foram desenha-
dos dois vestiários, ao lado da qua-
dra, garantindo infra-estrutura para
tal atividade.
No nível da rua, ao lado da gran-
de arquibancada, está o volume do
restaurante e das rádios. Local para
degustar comidas típicas bolivianas,
durante toda a semana, ou tomar um
rápido café no balcão, o restaurante
se abre nesse “piso público”, possibi-
litando a vista para a cidade. Quatro
estúdios de rádios, no nível acima do
restaurante, abrigariam as rádios da
comunidade, atualmente piratas, que
passariam a funcionar como rádios li-
vres. A transparência desses estúdios
com vista para a praça permitiria aos
transeuntes observar e conhecer os
radialistas, interagir com eles. Fun-
cionaria como uma vitrine de um
meio de comunicação37.
Na outra lateral da grande arqui-
bancada, três volumes se relacionam:
banheiro público, centro de apoio ao
imigrante, biblioteca e salas de aula.
No térreo, o banheiro público, para
centro de referência
restaurante
salas de aula
arquibancada
rádios
centro de apoio ao imigrante
banheiro público
biblioteca
quadra esportiva administração
auditóriovestiários
TÉRREO
10 PAVIMENTO
IMPLANTAÇÃO
SUBSOLO
41
atender a grande quantidade de visi-
tantes à feira, com clara referência ao
projeto do arquiteto argentino Rafael
Iglesia38, possui uma planta particu-
lar: em um zigue-zague de cabines,
divide o prisma de fechamento em
vidro U-Glass em feminino e mas-
culino. A iluminação garantida e a
qualidade do espaço colocam tal in-
fra-estrutura, muitas vezes relegada,
como uma peça de arquitetura, tão
importante quanto as outras.
A biblioteca, espaço de conheci-
mento, do aprofundar, se coloca em
um volume simples, de um pavimen-
to, com uma lateral fechada também
com vidro U-Glass, para iluminação
da área de leitura. Além das funções
de leitura, empréstimo de livros e
periódicos, esse espaço também
comporta uma área de internet livre
e duas cabines telefônicas para rea-
lização de chamadas internacionais.
A cobertura da biblioteca acontece
como pátio das salas de aula, locali-
zadas no nível superior. Quatro salas
de aula, conectadas por um corredor,
se apresentam como espaço livre
para o aprendizado. Ali, bolivianos
poderiam receber aulas de portu-
guês, como também poderiam en-
sinar o castelhano aos brasileiros.
Abrir-se-ia um local de trocas de co-
nhecimento: aulas de música, costu-
ra, desenho, artesanato, entre outras.
Intercambiar. Uma das salas abrigaria
a brinquedoteca, espaço de ativida-
des para as crianças da comunidade.
As salas dispõem de ventilação cru-
zada e iluminação natural controlada
por brises horizontais.
Acima dos banheiros, compondo
o mesmo volume, está o centro de
apoio ao imigrante. Local que daria
assistência aos imigrantes em busca
de documentação, emprego ou mo-
radia, facilitando os entraves burocrá-
ticos, e também local para denúncias
e reclamações.
Próximo aos abrigos de moradores
de rua, o terreno ocupado pela pe-
quena favela passaria abrigar mais
dois volumes de moradia, e um ter-
ceiro volume onde funcionaria uma
creche e um bicicletário público.
Para facilitar a circulação de veículos
e pessoas no entorno, a rua Projeta-
da, paralela à rua Pedro Vicente, foi
estendida ao encontro da rua Pascoal
Ranieri, criando mais uma conexão
com a avenida Cruzeiro do Sul. Para
tal, seria necessária a remoção de um
anexo de um edifício pertencente à
Secretaria Municipal de Cultura.
38. Pabellones Públicos , Parque de la Independencia, Rosário, Argentina, 2003.
S I T UAÇ ÃO AT UA L
I M P L A N TAÇ ÃO
CO B E R T U R A
1 O PAV I M E N TO
T É R R E O
S U B S O LO
CO R T E S
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I M AG E N S
51
Essa questão, título de uma expo-
sição39 que tive a oportunidade de
visitar em um passeio escolar há al-
guns anos, ficou marcada como uma
constante dúvida até hoje. Quem sou
eu? Quem é o brasileiro? Ao pergun-
tarmos a diferentes brasileiros sobre
suas origens, cada um terá uma his-
tória distinta. Foram imigrantes de
diversos lados, que aqui se mistu-
raram entre índios e escravos. Uma
grande mistura. Somos uma mescla
de povos, de traços e culturas. Somos
todos mestiços: “Nós, brasileiros, nes-
se quadro, somos um povo em ser,
impedido de sê-lo. Um povo mestiço
na carne e no espírito, já que aqui a
mestiçagem jamais foi crime ou pe-
cado, nela fomos feitos e ainda con-
tinuamos nos fazendo”40. É um povo
em constante “fazimento” segundo o
antropólogo Darcy Ribeiro41.
São os encontros e desencon-
tros de povos que até hoje, através
39. Título da exposição organizada em homenagem ao fotógrafo franco-brasileiro Marcel Gautherot (Paris, 14 de julho de 1910 — Rio de Janeiro, 8 de outubro de 1996) no Museu da Casa Brasileira, em 1999, São Paulo.40. RIBEIRO, Darcy. “O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil”. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995, pg. 447.41. Antropólogo, ensaísta, romancista e político (Minas Gerais, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997).
da constante mobilidade, formam
o nosso povo. Os imigrantes boli-
vianos apresentados nesse estudo,
também fazem parte desse povo
brasileiro, uma vez que estão crian-
do raízes nesta terra, constituindo
uma família, realizando seu trabalho,
se refazendo. Eles já não são apenas
bolivianos, já absorveram novos cos-
tumes, aceitaram um novo modo de
vida. Eles também são brasileiros. A
praça Kantuta e o Centro de Cultura
Brasil-Bolívia é a marca dessa nova
miscigenação.
Acredito que uma vez que uma
pessoa entra em contato com outra
cultura, através das mais variadas for-
mas - filmes, viagens, comidas, músi-
cas, arte, feiras, trabalhos, livros, en-
tre outros - e isso o marca, sensibiliza,
vai formar parte da sua pessoa. São
fragmentos diversos que compõem o
ser humano. Eu não sou apenas bra-
sileira: quando vou a um restaurante
japonês, eu sou um pouco japonesa;
se me deparo com uma apresenta-
ção de música peruana em uma cal-
çada qualquer da cidade, eu sou um
pouco peruana; se assisto a um filme
iraniano, eu sou um pouco iraniana.
Essa é a beleza do ser humano, é sa-
ber ver, ouvir, sentir e aprender. As-
sim, quando um cidadão paulistano
vai visitar a feira Kantuta, ele também
sairá de lá um pouco boliviano.
O homem é por si curioso, sempre
está atrás de algo novo. Com a faci-
lidade de trocas de informações na
nossa sociedade globalizada, é pos-
sível descobrir cada vez mais novas
culturas, outros hábitos, entrar em
contato com o que nos é novo. E se
aprendermos a conviver com o dife-
rente, a Terra ainda dará muitas voltas.
Ao respeitar o outro, também estou
me respeitando. A troca é mútua, por-
que o outro também sou eu.
B R A S I L E I R O Q U E N E M E U, Q U E N E M Q U E M ?
57
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B I B L I O G R A F I A
58
REBECA GRINSPUM
Trabalho Final de GraduaçãoFaculdade de Arquitetura e UrbanismoUniversidade de São PauloOrientador Angelo Bucci