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33122[2010 revista de pesquisa em arquitetura e urbanismo programa de ps-graduao do departamento de arquitetura e urbanismo eesc-usp
Ricardo TrevisanArquiteto e urbanista, professor do Departamento de Teoria eHistria da Arquitetura e do Urbanismo (DTHAU) da Faculdadede Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de Braslia(UNB), Campus Universitrio Darcy Ribeiro, Asa Norte, Caixapostal 04431, CEP 70910-900, Braslia, DF, (61) 3307-2450,[email protected]
stio: a cidade de Campinas, SP
Fundada por Francisco Barreto Leme em 14 de julho
de 1774 sob a gide das doutrinas pombalinas
no sculo XVIII , a cidade recebeu como primeiro
nome freguesia de Nossa Senhora da Conceio das
Campinas do Mato Grosso, em razo da enorme
floresta que cobria originalmente a regio, passando
a vila de So Carlos em 1797, e, finalmente, nomeadacidade de Campinas em 1842. Popularmente
conhecida como cidade das andorinhas (graas s
crnicas de Rui Barbosa), sua economia teve por base
inicial as atividades agrcolas: canavieira e cafeeira;
sendo o caf (ouro verde) e a estrada de ferro os
responsveis pelo seu acelerado desenvolvimento
urbano a partir de meados do sculo XIX. No fosse
uma epidemia de febre amarela assolar a cidade
entre 1889 e 1890, Campinas ocuparia hoje a
posio de capital do estado, no lugar da cidade de
So Paulo demonstrando sua importncia naquelecontexto histrico (RAC, 2000).
Disputas parte, o incio da vida cultura campineira,
bero do compositor Antnio Carlos Gomes
(1836-1896), reporta-nos ao Teatro So Carlos,
de 1850 (Figura 2). De arquitetura neoclssica,
o decoro desse edifcio cvico fazia-se presente
em sua fachada simtrica, nos recuos laterais
destinados a pequenos jardins e no coroamento da
fachada principal com um fronto. Demolido em
1922, foi substitudo no mesmo local pelo TeatroMunicipal Carlos Gomes (Figura 3), inaugurado em
1930, cuja arquitetura ficava aqum do requinte
apresentado pelos municipais do Rio de Janeiro e
So Paulo, ambos construdos no incio do sculo
XX. Localizado na regio central (atrs da igreja
matriz), somava-se a outros equipamentos culturais
(e.g.Clube Campineiro, de 1875; Pavilho Coliseu
Taurino, de 1905; Cine Lumire no Clube Rink, de
1906; Cine Recreio, de 1909; Cine Salo Caritas,
de 1910; Cine Repblica, de 1926 etc.), bem
como aos largos, praas e jardins que favoreciama interao social.
artigos e ensaios Centro de Convivncia de Campinas:um olhar sobre a arquitetura de
Fbio Penteado
O
Resumo
Um centro para o convvio, um convvio para as multides. Assim se revela o
Centro de Convivncia Cultural de Campinas (CCC), obra singular do arquiteto
paulista Fbio Penteado (FP), objeto de anlise e estudo deste artigo. Situado
na cidade de Campinas, sua histria remete-nos histria cultural dessa
cidade, assim como histria profissional de FP. Arquiteto de ampla produo
prtica e terica, que sintetizou no CCC conceitos imaginados e aplicados
em outras obras. Projetado em 1968, este equipamento tornou-se um marco
arquitetnico campineiro. Mas seria esse marco uma condicionante forte o
bastante para garantir seu brilhantismo enquanto edifcio pblico?
Palavras-chave:Centro de Convivncia de Campinas, Fbio Penteado, Anlise
Arquitetnica.
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Figura 1: Vista area doCentro de Convivncia deCampinas, localizado no bair-ro Cambu, centro da cidade.Fonte: Arquivo pessoal, fotocedida pelo jornal CorreioPopular em 1998.
Um dos mais prestigiados era o Jardim Pblico (criado
no sculo XIX, atual Praa Imprensa Fluminense),
sendo o primeiro da cidade, de paisagismo pitoresco(Figura 4), que se ligava ao centro da urbe por meio
da rua Conceio, demarcando um eixo composto
por ele (na extremidade leste), pelo Jardim Carlos
Gomes (de 1913), pelo Pavilho Coliseu Taurino,
pela Matriz, pelo Teatro Municipal e pela Estao
Ferroviria (na extremidade oeste) (Figura 5).
Com o desenvolvimento industrial e do setor de
servios e, conseqente, crescimento urbano na
primeira metade do sculo XX, o engenheiro
Francisco Prestes Maia, a pedido do governolocal, elaborou entre 1934 e 1938 o Plano de
Melhoramentos Urbanos (com base nos estudos
feitos pelo engenheiro Carlos William Stevenson).
Esse plano buscava no somente solucionar
problemas contemporneos, mas adequar a cidade
s infraestruturas necessrias para seu crescimento
futuro. Um dos aspectos trabalhados por Prestes foi
o fluxo virio, propondo dois anis perimetrais (a
Rtula e a Contra-rtula) que circundariam o centro
histrico da cidade, alm do alargamento das ruas
e avenidas de maior movimento, acarretando na
demolio de inmeros prdios histricos.
Em 1965, ainda sob a influncia do Plano de
Melhoramentos, o prefeito Ruy Hellmeister Novaes
(em seu segundo mandato) foi o responsvel pelademolio do Teatro Municipal Carlos Gomes para
abertura de uma praa. Pressionado pela indignao
pblica, especialmente pela elite, a primeira soluo
empreitada por Novaes foi transformar um antigo
cinema que por sua vez era um antigo galpo de
oficina mecnica em teatro (hoje Teatro Castro
Mendes). A segunda proposta foi elaborar um
concurso de projeto para o novo teatro da cidade,
o Teatro de pera, a ser construdo no Parque
Portugal1. Sem efetivao dessa proposta e tendo
conhecimento da premiao internacional do projetode FP (Figura 6) (classificado no concurso em 2.
lugar), restou a Novaes pedir ao arquiteto um
novo projeto de teatro, agora para um local mais
centralizado, no bairro Cambu.
O Cambu surgiu como expanso natural da rea
central para o leste, caracterizando-se como bairro
residencial, distinto por casares eclticos de famlias
abastadas, localizados principalmente na avenida
Jlio de Mesquita. Contudo, foi a partir do projeto
urbanstico do engenheiro Jorge de Macedo Vieira2,
de 1945, pautado por preceitos da garden-city
1Parque Portugal ou Lagoado Taquaral foi inauguradoem 05 de novembro de 1972,na gesto do prefeito Ores-tes Qurcia como elementoespeculativo da urbanizaodessa regio da cidade.
2 Jorge de Macedo Vieiraformou-se engenheiro civil,em 1918, pela Escola Poli-
tcnica de So Paulo. Entre1917 e 1919 estagiou noescritrio de planejamentoda Companhia City. Estaexperincia possibilitou-o deter contato com as idias e ostrabalhos do ingls RichardBarry Parker (projetista da 1.Cidade-Jardim: Letchworth,Inglaterra) e, principalmente,de ter conhecimento sobreos princpios howardianosda Cidade-Jardim. Em suasobras, posteriores a esteperodo, nota-se a forteinfluncia que este iderioexerceu na formao de seu
repertrio terico. Exemplos...continua na pgina 37
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Figura 2: Fachada frontal doTeatro So Carlos, de 1850.
Fonte: RAC, 2000.
Figura 3: Fachada frontaldo Teatro Municipal CarlosGomes, de 1930. Fonte:RAC, 2000.
Figura 4:Reproduo doPasseio Pblico: paisagembuclica. Fonte: RAC, 2000.
Figura 5: Planta de Campinasem 1878. Eixo interligando:1.) Passeio Pblico; 2.) JardimCarlos Gomes; 3.) ColiseuTaurino; 4.) Matriz; 5.) Tea-tro Municipal; e 6.) EstaoFerroviria. Fonte: Arquivopessoal; mapa retirado deRAC, 2000.
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inglesa, que este bairro confirmou seu status.
Ao longo dos anos, o Cambu recebeu outros
equipamentos pblicos, como: prefeitura, escolas,
clubes etc., que somados a comrcios e servios
dinamizaram a vida local, garantindo-lhe mais um
aspecto de centralidade que de bairro meramente
residencial.
Em 1968, Ruy Novaes deu incio s obras do novo
teatro campineiro. Sob o amparo do regime militar
e do cenrio econmico favorvel (prembulos do
Milagre Econmico), o CCC surgiu como proposta
poltica para mostrar populao as benfeitorias
do governo regente. Aplicar capital em grandes
equipamentos pblicos era um modo de demonstrar a
fora do governo. Foi neste cenrio que a arquitetura
brutalista paulista se fortaleceu, sendo difundida por
meio de obras pblicas de pequeno a grande porte,
revelando sua materialidade e sua conciso.
Figura 6:Projeto do Teatrode pera de Fbio Penteado(1966). Fonte: PENTEADO,1998a.
Figura 7:Antigas quadrasutilizadas para implantaodo CCC. Fonte: RAC, 2000.
Figura 8:Rotatria confor-mada com a implantao doCCC. Fonte: Arquivo pessoal;mapa extrado do GoogleEarth.
O stio escolhido para implantao do CCC foi uma
rea compreendida por duas quadras (Figura 7).
Essas j se qualificavam como espaos pblicos:
uma apresentava o primeiro Passeio Pblico, com
exuberante vegetao, e na outra se situava a escola
municipal Cesrio Mota (de 1911, demolida com a
instalao do CCC), sendo separadas pela avenida
Jlio de Mesquita. FP teve como partido a unio
das duas quadras, desenhando-as como uma nica
quadra circular com dimetro aproximado de
150 metros (Figura 8). Quatro blocos de concreto
aparente com dimenses variadas e formas
trapezoidais e uma torre de iluminao foram
alocados, assimetricamente, prximo ao centro
da quadra, separados por escadarias irregulares.
Recuados da lateral oeste pela presena da densa
massa vegetal j existente, estes blocos configuraram
uma praa central (com nvel acima ao da rua), palco
do teatro de arena.
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Fbio Penteado: um arquitetomoderno
A polmica e a inteligncia aliam-se delicadeza,
criatividade e integridade para compor a
personalidade fascinante de Fbio Penteado. Hlio
Mattar, 1998 . (PENTEADO, 1998a)
Ao longo de sua carreira profissional, Fbio Moura
Penteado (Fig.9), protagonista desse trabalho,
foi jornalista e editor da revista Viso (1956-
1962), do jornal Arquiteto (1972-1977) e da
revista Projeto (1977-1992). Foi professor do
curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Presbiteriana Mackenzie (1961-1964). Foi contra
o regime militar. Foi militante de organismos
de representao nacional e internacional de
arquitetura, como o Instituto de Arquitetos do
Brasil (IAB; presidente entre 1966 e 1968) e a UnioInternacional de Arquitetos (UIA; membro atuante
entre 1969 e 1975). Como arquiteto e urbanista
defensor dos espaos para multides. crtico aos
esquemas programticos prefixados. favorecedor
da tcnica, de sua aplicao prtica, da liberdade
e da criatividade (PENTEADO, 1998a).
Nascido em 1929 na cidade de Campinas, interior
de So Paulo, FP muda-se com a famlia para o
elegante bairro de Higienpolis na capital paulista
em 1935. Graas ao alto padro de vida (neto deengenheiro ferrovirio e filho de industrial Faber-
Castell e Dako), ele pde desfrutar de algumas
regalias em sua juventude como pilotar sozinho o
avio de seu pai aos 13 anos de idade (PENTEADO,
1998a). Inicialmente, buscou na Escola de Engenharia
Industrial um futuro profissional. Sem sucesso, em
1948, entrou no curso de Arquitetura e Urbanismo
do Mackenzie3.
Formado em 1953, aos 24 anos, FP j exercia sua
profisso enquanto graduando. Destacam-se: a
casa de Domingos Solha em Campinas (1948) e
os dois edifcios residenciais em So Paulo (1951
e 1953); alm da participao clandestina no
concurso de projeto para hotel em So Carlos
(1953), elaborado em parceria com o colega de
turma Djalma de Macedo Soares (classificados em
2. lugar). Em 1954 abre seu primeiro escritrio,
projetando juntamente com o arquiteto Ringo
Kubota a Estao de Tratamento de gua para aregio do ABC, na Grande So Paulo, a qual recebeu
o prmio Governador do Estado no III Salo Paulista
de Arte Moderna.
A pedido de Eduardo Kneese de Mello, FP transferiu
em 1956 seu escritrio para a sede paulista do
IAB (onde exerce sua profisso at hoje), o que
favoreceu um intercmbio com a velha gerao
de arquitetos (Villanova Artigas, caro de Castro
Mello, Rino Levi, Arnaldo Mindlin, Oswaldo Corra
Gonalves, Miguel Forte, Lus Saia, Eduardo Kneesede Mello) e com os companheiros da nova gerao
Figura 9:Arquiteto e Urba-nista Fbio Penteado Fonte:PENTEADO, 1998a.
desta assimilao podem serverificados nos bairros, porele projetado, para as cidades
de Campinas, Atibaia, Cam-pos do Jordo e So Paulo, enos planos urbanos para ascidades novas de guas deSo Pedro (1937), Maring(1945), Cidade balneria dePontal do Sul (no executado,de 1951) e Cianorte (1955).Em guas de So Pedro possvel analisar a integra-o feita por Vieira entre ourbanismo Cidade-Jardim forma e as especificidadesnecessrias a uma CidadeBalneria funo.
3
O curso do Mackenzie eramarcado, por um lado, pelotradicionalismo arquitetnico(academicismo) defendidopelo diretor Christiano Sto-ckler das Neves, e, por outrolado, por discusses sobre ar-quitetura moderna feitas nasaulas de desenho artstico.Nessas aulas, FP encontroucolegas Carlos Millan, Jor-ge Wilheim, Roberto Aflalo,Pedro Paulo de Mello Saraiva,Djalma de Macedo Soares,Telsforo Cristfani, PauloMendes da Rocha, AlfredoPaesani, entre outros que
iriam futuramente compor abase da Escola Paulista.
...continuao nota 2
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(Carlos Millan, Jorge Wilheim, Roberto Aflalo,
Telsforo Cristfani, Paulo Mendes da Rocha,
Pedro Paulo de Mello Saraiva, David Liberskind,
Jon Maitrejean, Abrao Sanovicz, Joo Clodomiro
de Abreu, Chico Petracco, Hlio Penteado, Jlio
Katinsky e Joaquim Guedes).
Fbio fez parte da gerao de arquitetos que sonhou
projetos, reflexes e ensaios para a arquitetura
brasileira (SCHARLACH in PENTEADO, 1998a).
Valedor do trabalho em equipe, atuou com
diversos profissionais4em projetos encomendados
e em projetos para concursos nacionais e
internacionais.
Em suas obras com temas abordando os interesses
da grande coletividade urbana , FP sempre se
mostrou preocupado com a questo humana,
buscando contemplar as necessidades reais da
sociedade pela compreenso do indivduo. Procurou
extrair de cada espao projetado sua potencialidade
social e cultural. Simultaneamente, deu nfase
a necessria integrao entre a arquitetura e a
indstria (CAMARGO inPENTEADO, 1998a).
Dentre seus inmeros projetos, apresentam-se
aqui aqueles de maior relevncia para o estudo
do CCC. Projetos que em sua integralidade ou em
pormenores refletem os conceitos que o arquiteto
se valeu para elaborao do complexo cultural
campineiro, como: o Hotel Praia do Per em Cabo
Frio (1958), o Frum de Araras (1960), o Teatro
de Piracicaba (1960), o Monumento na Playa de
Girn em Cuba (1962), a Cidade dos Doqueiros
em Santos (1962), a Catedral Presbiteriana de
Braslia (1965), o Mercado do Porto em Curitiba
(1965), o Complexo Turstico de San Sebastin na
Espanha (1965), o Monumento Comemorativo aos
30 anos de Goinia (1965) e o Teatro de pera
em Campinas (1966).
Os projetos para o Hotel Praia do Per (com
participao de Ringo Kubota e da paisagista Rosa
Kliass)e para o Frum de Araras (com Jos Ribeiro)
(Figura10) revelam um aspecto que se encontra em
vrios de seus trabalhos. Trata-se da praa aberta,
a praa para o povo. Em ambos os projetos, FP
agenciou os blocos edilcios de modo a criar um
espao de convvio, que permitisse o fluxo contnuo
dos usurios, sem qualquer tipo de barreira, alm
do contato direto com a natureza. Neste sentido,
o arquiteto procurou adequar o ambiente s
condies de seus usurios, tornando-o mais acessvel
e humano, para que todas as camadas da sociedade
pudessem apropriar-se do espao e nele sentir-se
vontade (PENTEADO, 1998a).
Figura 10:Maquete do F-rum de Araras (1960). Fonte:PENTEADO, 1998a.
4Jos Ribeiro, Aldo Calvo,Ringo Kubota, Rosa Kliass,Luiz A. Vallandro Keating,Stipan Dragutin Milicic, Al-fredo Paesani, Teru Tamaki,Csar Sampedro, RobertoLoeb, Eduardo de Almeida,Tito Lvio Frascino, Jos Borelli
Neto, Maria Giselda Visconti,Ubirajara Giglioli, Vasco deMello, Jos Carlos Ribeirode Almeida, Hrcules Me-rigo, Waldemar Tietz, LusAlfredo Falco Bauer, KenjiFuruyama, alm de auxliotcnico do escritrio OswaldoMoura Abreu.
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Figura 11:Esboo do Monu-mento da Playa de Girn emCuba,1962. Fonte: PENTEA-DO, 1998a.
No Monumento na Playa de Girn em Cuba
(Figura11), caracterizado por Konkusai Kentiku como
o grito de vitria de uma multido, repentinamente
congelada no espao (in PENTEADO, 1998a),
FP com apoio de profissionais como Aldo Calvo,
Ubirajara Giglioli, Jos Ribeiro, Tito Lvio Frascino,
Vasco de Mello, Jos Carlos Ribeiro de Almeida e doescritrio Oswaldo Moura Abreu fez a integrao
entre a criatividade arquitetnica e a tecnologia
industrial. Destinado a celebrar a vitria contra a
invaso norte-americana baa dos Porcos, em
Cuba, o edital do concurso organizado pela UIA
exigia uma praa para 30 mil pessoas e um museu,
onde seriam guardadas as armas conquistadas do
inimigo. O partido adotado por FP e equipe consistia
em enterrar as armas com a fundao do projeto,
marcar a praa com um monumento, composto
pelo entrelaamento de inmeras vigas de concreto(com at 90 metros de comprimento), e com um
palanque. Ficou com o 2 posto, sendo classificado
pelo jri como simples, integrado paisagem local e
perfeitamente dentro das condies do concurso
(PENTEADO, 1998a). Em resumo de seu memorial
descritivo, resultam-se as clebres frases: De longe
paisagem. De perto monumento. A praa o
povo., oportunas para descrever o CCC.
J nos projetos para a Cidade dos Doqueiros
em Santos (com Jos Ribeiro, Roberto Loeb, e oescritrio Oswaldo Moura Abreu) (Figura12), para a
Catedral Presbiteriana de Braslia (com Jos Ribeiro)
(Figura13), para o Mercado do Porto em Curitiba
(com Jos Ribeiro) (Figura14) e para o Monumento
Comemorativo aos 30 anos de Goinia (com Jos
Ribeiro) (Figura15) encontram-se outros conceitos
recorrentes: a centralidade, a planta em leque e os
eixos radiais. Na Cidade dos Doqueiros, um lagoartificial criado prximo ao paredo da antiga
pedreira se torna o ponto para onde convergem
as barras residenciais, conformando um leque
entremeado por espaos de comrcio e servios.
Na Catedral, de um ponto marcado no cho (altar)
partem as radiais que organizam o espao entre
cheios (platia) e vazios (corredores de acesso). No
Mercado, FP resgata no passado a idia de praa como
espao de trocas, enclausurando-a por blocos (lojas)
implantados de modo escalonado. No Monumento,
uma praa central o palco para as arquibancadaslindeiras, separadas por ruas de concreto que
cortam a praa em direo cidade.
O escalonamento presente na implantao dos
projetos se faz presente tambm na posio vertical,
como se observa nos projetos para o Complexo
Turstico de San Sebastin na Espanha (com Alfredo
Paesani, Haron Cohen, Eurico Prado Lopes e Jos
Ribeiro) (Figura16) e na torre de 300 metros de
altura (1991) prevista para ser construda no vale
do Anhangaba (com Csar Sampedro, DavisonBecato e Lus Antnio Pompia).
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Figura 12:Vista da Cidadedos Doqueiros em Santos(1962). Fonte: PENTEADO,1998a.
Figura 13:Maquete com im-plantao da Catedral Pres-biteriana de Braslia (1965).Fonte: PENTEADO, 1998a.
Figura 14: Implantao doMercado do Porto em Curiti-ba (1965). Fonte: PENTEADO,1998a.
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Figura 15:Maquete do Mo-numento Comemorativo aos30 anos de Goinia (1965).Fonte: PENTEADO, 1998a.
Figura 16: Maquete doComplexo Turstico de SanSebastin na Espanha (1965).Fonte: PENTEADO, 1998a.
Figura 17: Croqui com a vistado Teatro-Praa de Piracicaba(1960). Fonte: PENTEADO,1998a.
Com relao tipologia teatro, FP sempre contou
com a parceria do cengrafo e fotgrafo Aldo
Calvo5. Desde sempre refutou o modo acadmico
e elitista dado a estes equipamentos pblicos. Para
ele, os teatros deveriam conter uma viso coletivista,
atendendo a todas as camadas da sociedade, sem
restries de horrios. Seu primeiro projeto foi o
Teatro de Piracicaba (com Jos Ribeiro e Aldo Calvo)
(Figura 17) um ensaio para os prximos: pera e
CCC cuja composio nasceu com a idia de uma
praa que fosse praa e teatro -, culminando em
um teatro descoberto que pudesse [...] ser desfrutado
pela populao no apenas quando houvesse um
espetculo programado, mas sim todas as horas do
dia (PENTEADO, 1998a). Para a proposta do Teatro
de pera em Campinas (com Alfredo Paesani, Teru
Tamaki, Aldo Calvo), Fbio dividiu o programa em
trs partes: um teatro de pera (prdio principal),
um teatro de Comdia e um teatro ao ar livre (entre
os dois edifcios) com o palco localizado numa ilha
artificial dentro da lagoa. Os dois teatros seriam
interligados por galeria subterrnea, atendendo
aos servios requeridos para as apresentaes. Este
projeto, realizado para um concurso, foi classificado
em 2. lugar, porm ganhou, no mesmo ano, a
Grande Medalha de Ouro como melhor projeto para
teatro na I Quadrienal Mundial de Teatro, realizada
em Praga, ento Tchecoslovquia, que contou com
a representao de 28 pases.
Assim, esse breve panorama sobre a vida profissional
de FP, com um olhar direcionado sobre algumas
de suas obras, abre caminho para uma leitura
mais compreensvel do CCC projetado entre
1967 e 1968 na parceria de Aldo Calvo, Jos Luiz
Paes Nunes, Alfredo Paesani, Falco Bauer e Teru
Tamaki, com projeto estrutural do escritrio Oswaldo
Moura Abreu.
5Italiano radicado no Brasil,Aldo Calvo foi um grandemestre para FP. Trabalhoutambm com arquitetoscomo Affonso Eduardo Rei-
dy (no MAM, Rio de Janeiro),Oscar Niemeyer (no TeatroNacional, Braslia), alm dorestauro do Teatro Amazonasem Manaus.
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CCC: um projeto singular
O lugar da vida cotidiana livre de frmulas
convencionais, um vasto espao social, fraterno,
desenhado com beleza, para este sculo de multides.
Ceclia Scharlach, 1998. (PENTEADO, 1998a)
Como j mencionado, o motivo da construo do
CCC foi a demolio do Teatro Municipal Carlos
Gomes, em 1965, pelo prefeito Ruy Novaes, como
parte das reformas urbanas contidas no Plano de
Melhoramentos de Prestes Maia. A ausncia desse
equipamento deixou a cidade de Campinas rf de
espaos para apresentaes artsticas. A soluo mais
coerente foi criar um novo teatro, primeiramente
localizado no Parque Portugal.
A idia de um Teatro de pera (1966) foi aceita
pela sociedade, porm arquivada pelo poder pblico
municipal aps a divulgao dos resultados do
concurso. Neste mesmo perodo, o Itamaraty foi
responsvel por enviar os trs primeiros colocados
para uma exposio mundial de teatros no leste
europeu, obtendo como resultado a premiao do
projeto de FP (2. lugar no concurso campineiro).
Assim, um projeto bom para o mundo, no seria
bom para Campinas? (PENTEADO, 1998a). Com
conhecimento do fato, o prefeito Novaes delegou
a Fbio a tarefa de projetar um teatro para 500
lugares na regio central da cidade.
O complexo do CCC surgiu, segundo o autor
(PENTEADO, 1998b), de uma reflexo sobre a
temtica teatro. O que era teatro no Brasil?
Como deveria ser? Na tradio cultural, este espao
servia populao, principalmente de maior poder
aquisitivo, em temporadas especficas (apresentaes
de peas, peras, concertos etc.) Com base em
levantamento realizado, FP identificou nos teatros
existentes, como no Municipal de So Paulo, por
onde passam dois milhes de pessoas todos os dias,
um desconhecimento social de suas funes cvicas e
culturais. Para FP isso poderia mudar. Um edifcio com
este programa deveria possibilitar maior integrao
entre a populao e a cultura. A importncia no
estaria no desenho do prdio, mas sim no modo
como ele seria utilizado por todos os cidados,
justificando, portanto, os gastos do dinheiro pblico
com um equipamento de tal porte. Que seja a idia
de um teatro dessacralizado, integrado ao cotidiano
da cidade (PENTEADO, 1998a).
Conceituado em conjunto com Jos L. P. Nunes6, o
CCC nasceu da necessidade de construir um espao
de encontro [...] espao que se abre para o encontro
das pessoas, para o contato com as coisas da cultura
e do teatro (PENTEADO, 1998a). O partido adotado
rompia com a idia tradicional de prdio de teatroao ser subdividido em quatro blocos com diferentes
usos (foyer/administrao, teatro, restaurante/bar e
sala para exposio), interligados por uma galeria
semi-enterrada (prevista como uma calada coberta
que permitiria aos pedestres cortar caminho e,
concomitantemente, ter contato com a cultura)
(Figura 18). Esses blocos, na superfcie, adquiriram
formato de arquibancadas que se voltavam para
um centro, a praa, iluminada por uma torre de 25
metros de altura (Figura 19). Tudo isso detalhado
em 600 pranchas.
Numa apreenso mais ampla do contexto, a
configurao urbana do entorno recebeu um estudo
de zoneamento, prevendo o crescimento vertical
das edificaes. Aprovado pela prefeitura, e no
respeitado pelo setor privado, este zoneamento
consistia em construes com at oito pavimentos
e trreos com loggie ocupados com equipamentos
ligados cultura (e.g.bares, bibliotecas, oficinas,
restaurantes etc.) (Figura 20).
Assim como os teatros da Grcia antiga, criou-se
na parte externa do complexo um teatro de arena
para oito mil espectadores composto por quatro
arquibancadas conformadas pelas coberturas, em
forma de degraus, dos edifcios previstos. Esse teatro
foi emoldurado, no lado oeste, pela massa vegetal das
rvores da Praa Imprensa Fluminense e, no lado leste,
por dunas artificiais, estrategicamente posicionadas
como elementos acsticos. Completando esse
conjunto, todo em concreto aparente, foi alocada a
torre, como apoio luminotcnico ao teatro de arena
e marco visual na paisagem urbana (Figura 22).
Por meio de acessos localizados nos blocos do
foyer e restaurante, chega-se ao interior do CCC. A
partir da entrada principal (foyer), h dois caminhos
possveis pelas galerias semi-enterradas: um a direita,
que permite o ingresso sala de teatro com 500
lugares considerada uma das melhores salas,
tecnicamente, do Brasil (PENTEADO, 1998b) ,
e outro a esquerda, que leva o usurio sala de
exposio (Figura 21). Esses caminhos se conectam
novamente no bloco do restaurante, fechando assim
6Jos Luiz Paes Nunes foi re-dator de msica, artes plsti-cas e de arquitetura no jornalO Estado de So Paulo e narevista Viso.
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Figura 18: Planta interna:1.) Entradas; 2.) Galeria; 3.)Foyer; 4.) Teatro; 5.) Restau-rante; e 6.) Sala de Exposio.Fonte: Arquivo pessoal; re-
produo a lpis.Figura 19:Planta externa:1.) Teatro de Arena e 2.)Torre de Iluminao. Fonte:Arquivo pessoal; reproduoa lpis.
Figura 20: Corte (Teatro-Sala de Exposio). Detalhedos edifcios circunvizinhoscom gabarito delimitado etrreo livre. Fonte: PENTEA-DO, 1998a.
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o circuito. A galeria foi um modo encontrado por FP
para separar pessoas e veculos, dando continuidade
quilo que antes se fazia presente (a transposio
desse espao dada pela avenida Jlio de Mesquita),
mas agora enriquecido com exposies artsticas
permanentes. No nvel do mezanino espaos foram
reservados para a administrao (bloco do foyer),para sede da Orquestra Sinfnica Municipal (bloco
do teatro) e para um bar (bloco do restaurante).
De imediato, a proposta de um teatro inusual no
foi assimilada pela populao campineira, havendo
inclusive campanhas oposicionistas executadas por
jornais da cidade7. Contudo, esse corpo estranho
no cenrio urbano transformou-se num marco
arquitetnico da cidade, uma obra singular da
arquitetura moderna paulista. Mas, seriam essas
qualidades fruto das referncias utilizadas diretaou indiretamente pelo autor?
Figura 21:Galeria internado CCC: Sala de Exposio.Fonte: PENTEADO, 1998a.
Figura 22:Torre de Ilumina-o como marco na paisagemda cidade. Fonte: PENTEADO,1998a.
DNA Arquitetnico: as refernciasprojetuais do CCC
Na gnese do CCC identificam-se trs possveis razes
arquitetnicas: a obra do autor, a aluso a formas
da natureza e a influncia do movimento moderno
(nacional e internacional) sobre seu repertrio.
Primeiramente, o Centro de Convivncia transparece
uma continuidade na adoo de conceitos
empregados por FP em projetos anteriores, como: a
monumentalidade, a tcnica, os materiais aparentes,
a centralidade e a nfase no espao pblico. Seja
no Hotel de Per ou no Frum de Araras, com suas
praas abertas; no Monumento na Playa de Girn,
com suas marcantes vigas de concreto; nos projetos
para Cidade dos Doqueiros, Catedral Presbiteriana
e Mercado de Curitiba, com suas centralidades
fortemente demarcadas; no Complexo de San
7Reportagens de poca so-bre a construo do CCC,encontradas nos jornais: Di-rio do Povo e Correio Po-pular (principais peridicosda cidade), revelam pedidospara derrubada do prdio en-
quanto era erigido na PraaImprensa Fluminense.
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Sebastin, com seu escalonamento vertical; ou no
Monumento para Goinia, com suas arquibancadas
trapezoidais. Todos eles apresentam partes intrnsecas
ao edifcio campineiro. Porm, onde se encaixam
os projetos de teatro?
Uma analogia mais subjetiva, mas no menos
importante, a comparao de seus teatros com
formas naturais, especificamente com flores.
nessa leitura que reunimos o Teatro de Piracicaba,
o Teatro de pera e o CCC como obras irms. As
flores de concreto (PENTEADO, 1998a) de FP
so semelhantes por apresentarem os mesmos
elementos: um receptculo distinto (o centro), que
brota do solo com mais ou menos preponderncia,
donde parte a corola (as lminas ou blocos perifricos)
(Figura 23). Assim, esses teatros, antigos botes
Figura 23:Os teatros (Pira-cicaba, pera, CCC) de FPcomo flores de concreto.Fontes: Flores - Arquivo pes-soal; Teatros - PENTEADO,1998a.
fechados na mente do arquiteto, desabrocham
para o espao urbano, revelando suas similaridades
e qualidades!
Entretanto, foi na identificao em seu repertrio,
influenciado por mestres modernistas nacionais e
internacionais e.g. Oswaldo A. Bratke, Affonso
E. Reidy, Oscar Niemeyer, Villanova Artigas, Alvar
Aalto e Vladimir Tatlin , que se decifrou o maior
nmero de cdigos genticos. A comear pelo
purismo das formas arquitetnicas de seu bom
amigo Oswaldo Arthur Bratke (PENTEADO, 1998a),
ou pela esttica da exoestrutura serial em concreto
aparente de Affonso Eduardo Reidy, empregada nas
obras para a Escola Brasil-Paraguai, em Assuno
(1952), e para o Museu de Arte Moderna, no Rio
de Janeiro (1954).
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A referncia a Oscar Niemeyer perceptvel desde o
gerenciamento do programa multifuncional voltado
cultura, trabalhado pelo veterano arquiteto no
conjunto para o Parque do Ibirapuera (1951), at
o partido recorrente de semi-enterrar alguns de
seus edifcios (e.g.a Oca do Ibirapuera, de 1951,e a Catedral de Braslia, de 1958), apelidado aqui
carinhosamente de arquitetura do tatu. Incluem-
se ainda, como DNA arquitetnico do CCC, os
volumes trapezoidais que Oscar atribuiu aos prdios
do Auditrio, no Ibirapuera (1951), do Museu de
Arte Moderna de Caracas, na Venezuela (1955) e
do Teatro Nacional, em Braslia (1960).
Como ressonncia internacional, encontra-se a
produo do arquiteto Alvar Aalto, considerado por
FP uma referncia em sua formao (PENTEADO,1998a). Dentre os aspectos trabalhados pelo arquiteto
finlands (MUSEU, 1983), e dispondo o CCC como
obra comparativa, trs se destacam: a planta em
leque, os degraus e o anfiteatro. A comear, a planta
em leque utilizada por Aalto no Sanatrio de
Paimio (1929), nos Conjuntos Residenciais em Sunilla
(1937), em Kauttua (1939) e em Bremen (1951) e
nos Centros Culturais em Wolfsburg (1951) e em
Siena (1966) se torna evidente nos projetos de FP
para a Cidade dos Doqueiros, para o Mercado em
Curitiba, para o Monumento em Goinia e para oCCC. Em seguida, o conjunto de degraus trabalhado
por Aalto no Centro Comunitrio de Sayntsalo
(1945) e no Conselho Municipal de Seinioki (1960)
(Figura 24), que no CCC separa os quatro blocos e a
torre de iluminao, por Sigfried Giedion descrita
como elemento de construo do espao que
acentua de modo mais intenso as relaes entreos volumes fechados e a rea aberta [...] escada
que se ergue do solo como a base dilatada de uma
pirmide cortada. [...] Trata-se, afinal de contas, de
uma escada? No haveria usurios suficientes para
justificar racionalmente suas dimenses. A escada
est l porque tem de estar l. Constitui um quarto
elemento cujas estratificaes conferem nfase
adicional inter-relao de volumes (GIEDION,
2004). Por fim, os anfiteatros aaltianos, construdos
na Universidade Tecnolgica de Otaniemi (1949) e
no Museu de Artes de Jutlndia (1972) e previstospara o Museu de Artes de Bagd (1958) e para o
Centro Cultural de Siena (1966), so, assim como
no complexo campineiro, coberturas de edifcios
desenhadas como degraus.
Como adendo, o construtivismo russo, com a
valorizao da estrutura enquanto plstica
arquitetnica perceptvel no Monumento de
Vladimir Tatlin ao 3. Congresso Internacional
Comunista em 1919 (Figura 25) reflete-se no
CCC, especificamente no desenho da torre deiluminao.
Figura 24: Vista dos de-graus do Conselho Munici-pal de Seinioki (1960), deAlvar Aalto. Fonte: GIEDION,2004.
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Figura 25: Monumento 3. Internacional (1919), deVladimir Tatlin esquerda e a Torre de Iluminao doCCC (1968) de FP direita.Elemento estrutural comoelemento plstico. Fontes:
Monumento - GIEDION,2004; CCC - Fotos pessoais.
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Mas e a influncia de Artigas?
Sim, esse foi um mestre pelo qual Fbio nutriu
especial apresso. Mais do que por sua arquitetura,
Villanova Artigas foi para FP um exemplo de vida,
como ele prprio cita: Se o Niemeyer o poeta das
curvas, Artigas o professor das linhas retas. Muitos
dos meus projetos no tinham linhas paralelas,
pareciam confusos, e at o deixavam, s vezes,
meio aborrecido. Para mim, ele foi durante muitos
anos uma referncia marcante de vida, mais que
de arquitetura (PENTEADO, 1998a).
Ps-ocupao e algumasconsideraes finais
Sempre me pareceu muito importante comentaros projetos a partir de suas memrias, mas me
intrigava verificar que, se elas continham quase sempre
conceitos com intenes humansticas de grande
beleza, essas intenes dificilmente permaneciam
presentes no produto final, na obra construda. Fbio
Penteado, s/d. (PENTEADO, 1998a)
Aproprio-me dessas palavras para digressionar em
sentido oposto. Se at este instante o Centro de
Convivncia de Campinas foi analisado como uma
obra singular, de um arquiteto respeitvel e de umalinhagem nobre da arquitetura moderna, a sua ps-
ocupao nos revela algo contraproducente.
Um centro para o convvio, um convvio para as
multides. Um sonho de 1966, que se tornou
realidade em 1968, e virou pesadelo ao abrir suas
portas em 1976. Mesmo que houvesse intenes
humansticas no projeto, isto no garantiu, em
sua vida enquanto espao pblico, uma integrao
scio-cultural. Inmeros percalos, desde sua
construo at sua gesto, desqualificaram os
conceitos originais.
O sucessor do prefeito Novaes, Orestes Qurcia
(mandato: 1969-1972), interrompeu as obras pela
metade. Somente foram retomadas quatro anos
mais tarde por Lauro Pricles Gonalves (mandato:
1973-1976), quando a parte executada j havia sido
comprometida pelas intempries. At recentemente
o conjunto era vtima de permanentes goteiras,
conseqncia do concreto mal executado
(PENTEADO, 1998a). Igualmente criticados pelo autor
foram: o uso de materiais imprprios para decorao
(como lustres de cristal colocados internamente
para resgatar uma ambincia de teatros clssicos),
a colocao de portas nas entradas (limitando o livre
acesso s galerias semi-enterradas), o acabamento
plstico dado aos blocos de concreto aparente, a
ausncia de gradis nas arquibancadas do teatro
externo e a no concluso das instalaes eltricas.
No mesmo sentido, o planejamento do entorno do
CCC, contemplado inicialmente com um zoneamento
especfico, foi deturpado pela dinmica imobiliria
especulativa. Prdios residncias com mais de 20
pavimentos emolduraram a praa, interferindo na
acstica do teatro de arena e privatizando o espao
trreo (previsto como espao voltado ao lazer e
cultura). As dunas gramadas localizadas na parte
leste, implantadas para melhorar a acstica do teatro
de arena, deram lugar a um estacionamento pblico
(no existente no projeto original).
Em pesquisa realizada anos atrs8, o CCC era
lembrado pelos moradores da cidade apenas como
um teatro o teatro interno ou como o local da
Feira Hippie (feira de artesanatos que ocorre aos
sbados e domingos na rea de estacionamento).
O teatro de arena, por deficincias projetivas e pelo
desenvolvimento de sua vizinhana, cedeu espao
para usos inapropriados (e.g.consumo de drogas,
assaltos, vandalismo contra o patrimnio pblico
etc.). Foi inclusive proposto a FP seu fechamento
por grades, alm do policiamento permanente
(PENTEADO, 1998b).
Apesar de marco arquitetnico da cidade de Campinas
e referncia da escola paulista de arquitetura, o CCC
no trouxe em sua histria ps-ocupacional, como
em seu perodo embrionrio, resultados expressivos.
J de conhecimento que na ltima gesto municipal
(2001-2004) esse equipamento ficou fechado por
longos meses para reformas e remodelaes dos
espaos pblicos com a retirada do estacionamento,
a troca do piso em todo o entorno da praa por blocos
de concreto em duas cores, a repintura das paredes
e o ajardinamento dos canteiros. Seria a soluo?
Ou camos na mesma prtica de maquiar edifcios
para escamoetar problemas de origem poltico-social
e, porque no, arquitetnico. O projeto, enquanto
idealizao de reflexes pessoais, merece um grau
maior de contextualizao ao real. Sem perdermos
a criatividade, ns arquitetos devemos projetar
nas utopias, nos sonhos, realidades paupveis.
8Essa pesquisa foi elaboradae executada pelo autor des-te artigo em 1998 quandodesenvolvia seu trabalho deconcluso de curso no De-partamento de Arquiteturae Urbanismo da Escola deEngenharia de So Carlos daUniversidade de So Paulo(EESC-USP), sob a orientaodo professor Miguel Antnio
Buzzar.
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Community Center of Campinas: a look to the architecture of FbioPenteado
Ricardo Trevisan
Abstract
A center for socializing, a living for the masses. Thus is revealed the Cultural Community Center of
Campinas (CCC), particular work of architect Fbio Penteado (FP), the object of analysis and study of this
article. Situated in the city of Campinas, it history takes us to the cultural history of this city, as well as
the professional history of FP. Architect with extensive practice and theory production, who synthesized
at CCC concepts imagined and applied in other works. Designed in 1968, this equipment has become
an architectural landmark for Campinas. But would this mark a constraint strong enough to ensure his
brilliance as a public building?
Keywords:Community Center of Campinas, Fbio Penteado, architectural review.
Centro de Convivencia de Campinas: una mirada a la arquitectura de FbioPenteado
Ricardo Trevisan
Resumen
Un centro para la socializacin, una convivencia para las masas. As se seala el Centro de Convivencia
Cultural de Campinas (CCC), obra particular del arquitecto Fbio Penteado (FP), el objeto de anlisis y
estudio de este artculo. Situado en la ciudad de Campinas, su historia nos lleva a la historia cultural de estaciudad, as como a la historia profesional de FP. Arquitecto de produccin prctica y terica extensiva, que
hay sintetizado en lo CCC los conceptos concebidos y aplicados en otros trabajos. Proyectado en 1968,
este equipamiento se ha convertido en un marco arquitectnico para los habitantes de Campinas. Pero
esto supondra una restriccin bastante fuerte para garantizar su brillantez como un edificio pblico?
Palabras clave:Centro de Convivencia de Campinas, Fbio Penteado, anlisis arquitectnico.