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Centro de Ciências Exatas
Departamento de Geociências
CINTIA PEREIRA DOS SANTOS
REESTRUTURAÇÃO URBANA DE LONDRINA: a verticalização no período 2000 - 2008
LONDRINA 2008
CINTIA PEREIRA DOS SANTOS
REESTRUTURAÇÃO URBANA DE LONDRINA: a verticalização no período 2000 - 2008
Monografia apresentada ao Curso de Geografia do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, com requisito a obtenção de título de Bacharel em Geografia. Orientadora: Profª. Dra. Tânia Maria Fresca
LONDRINA 2008
Em especial a minha querida mãe, exemplo de força e simplicidade
AGRADECIMENTOS
A todos os amigos e colegas que fiz na Casa do Estudante tempo de
toda a minha permanência de graduação e bacharelado, as conversas, fofocas, ajuda
de toda espécie, e muitas, muitas boas risadas, então a todos vocês muito obrigada:
Danilo, Thalita, Heloá, Larissa, João, Aline, Viviane, Mala, Regiane, André – Moda,
Gláucia, Fabiano, Cicinho, Nikita, Marquinhos, Eduardo (Dudu), Verônica, Isabel, as
mais que queridas Chiara e Fabrizzia, Roger, Amanda,
Aos meus grandes amigos Geógrafos e aos colegas da graduação e
bacharelado que com certeza foram os melhores anos de minha vida, a todos aqueles
que sobreviveram até aqui, posso afirmar que foi muito, muito divertido e enriquecedor.
Ao Renato Carlos Duarte e Ayodele, meus grandes amigos,
incentivadores, e uma das poucas pessoas que acreditaram em mim em todo este
período, muito obrigada por tudo, tudo mesmo. Na presença e ajuda constante em
todas as dificuldades deste percurso.
A Evelise que sinto a maior falta do mundo, ao André - Cinema, a Edna
exemplo de competência e paciência de todo este tempo, e ao querido Jota (Jonatas).
A minha orientadora Profª Dra. Tânia Maria Fresca, que me ensinou a
gostar e a entender um pouco mais o espaço urbano, seu incentivo, suas sugestões e
criticas, pela enorme paciência em todo o tempo de iniciação cientifica como na
realização deste trabalho, sem deixar de esquecer sua extrema competência
profissional.
A minha família, meu irmão Anderson, Juliana, meu pai Adomicio,
minha madrinha Madalena, ao Sidney meu padrasto mais que querido, em especial
minha mãe que sempre me incentivou, mesmo querendo que eu voltasse para casa
todos os anos, muito obrigada, nada teria acontecido sem a sua existência, sua
dedicação, preocupação, e seu desprendimento muitas vezes com sua própria vida,
para fazer o melhor por mim apesar de todas as dificuldades.
Aos oficiais do Corpo de Bombeiros, sempre muito atenciosos e gentis,
na busca e coleta de dados, bem como possíveis explicações e informações.
Ao NEAA, e a todas as pessoas que se dedicam com afinco as
questões africanas e afro-brasileiras, e que um dia a Geografia possa se debruçar
veemente a esta causa – Mariana, Cristofer, Cibele, Dirce, Alex, Naiara, Tássia,
Michele, Naiane, Débura, Alisson, Sorriso (Saulo), Cris e aos professores
coordenadores: Elena, Sérgio, Gisêlda.
Aos professores do Departamento de Geociências: Jaime, Ângela
Katuta, Jeane, Ideni, e a banca examinadora deste trabalho: Profº. Dr. Fabio Alves
Cunha e Profª. Dra. Rosely Sampaio Archela.
SANTOS, Cintia Pereira dos. REESTRUTURAÇÃO URBANA DE LONDRINA: a verticalização no período 2000 - 2008. 2008. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. Londrina - PR, p. 107.
Resumo
O trabalho objetivou fazer uma discussão acerca do processo de verticalização na cidade de Londrina - PR, no período de 2000-2008 procurando entender a continuidade do processo, e os agentes imobiliários responsáveis pelo mesmo. O trabalho justifica-se pelo fato da verticalização ter provocado grandes transformações no espaço físico-territorial das grandes cidades brasileiras, num processo de crescimento acelerado mediante as imposições do capitalismo, além da complexidade do tema que envolve o processo de verticalização na cidade de Londrina. A discussão foi apoiada em autores que discute o processo de verticalização como um dos elementos de reprodução do capital. Articulou-se tal entendimento ao desenvolvimento econômico nacional no período considerado, para interpretar as razões de tão acelerada expansão dos edifícios em Londrina, angariando altas taxas de lucro no mercado imobiliário em detrimento de outros produtos.
Palavras-chave: Verticalização, Londrina – PR, Especulação Imobiliária, Investimentos
SANTOS, Cintia Pereira dos. URBAN RE-STRUCTURE OF LONDRINA : the verticalization in the period of 2000 – 2008. 2008. Monograph (Geography Bachelorship). Geoscience Department from State University of Londrina. . Londrina – PR, p. 107.
ABSTRACT
The work objected to make a discussion about the verticalization process in the city of Londrina – PR, in the period of 2000 – 2008 seeking how to understand the continuity of the process, and the real estates agents responsible for this. The work justiy it self because of the big transformations provoked by the verticalization in the physical territorial space of big brazilian cities, in a quick growing process by the capitalism imposicions, beyond the complexty of the theme that involves the verticalization process in Londrina. The discussion was supported by authors that argue the verticalization process as one of the capital reproduction elements. Such understanding was articulated to the national economic development in the considered period, to interpret the reasons of such acelereted expansion of the buildings in Londrina, attracting high taxes of profit in the real estate market in detriment of other products.
Key words: Verticalization, Londrina – PR, Speculation Property, Investment
Se há uma produção da cidade e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução dos seres humanos por seres humanos, mais do que uma
produção de objetos
Henri Lefebvre
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Esquema da apropriação da renda da terra no processo de verticalização...................................................................................................................27 Figura 2. Localização da cidade de Londrina – Paraná..................................................39
LISTA DE MAPAS
Mapa 1. Localização da cidade de Londrina – PR em relação ao norte paranaense......................................................................................................................38 Mapa 2. Projeto Inicial da Cidade de Londrina................................................................41 Mapa 3. Espacialização dos edifícios construídos na cidade de Londrina na década de 1950-1969.......................................................................................................................47 Mapa 4. Espacialização dos edifícios construídos na cidade de Londrina na década de 1960-1969.......................................................................................................................54
Mapa 5. Espacialização dos edifícios construídos na cidade de Londrina na década de 1970-1980.......................................................................................................................59 Mapa 6. Espacialização dos edifícios construídos na cidade de Londrina na década de 1981-1990.......................................................................................................................63 Mapa 7. Espacialização dos edifícios construídos na cidade de Londrina na década de 1990-2000.......................................................................................................................64 Mapa 8. Localização da Gleba Palhano na cidade de Londrina.....................................86 Mapa 9. Localização dos Edifícios com mais de 4 pavimentos na cidade de Londrina 2000 – 2008.....................................................................................................................90 Mapa 10. Edificações por número de pavimentos construídos na cidade de Londrina no período de 2000 – 2008..................................................................................................91 Mapa 11. Atuação das Construtoras na Cidade de Londrina no Período de 2000 – 2008.................................................................................................................................92
Mapa 12. Zoneamento da cidade de Londrina..............................................................101
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Volume de construções de edifícios nos primeiros anos da cidade de Londrina...........................................................................................................................36 Quadro 2. Evolução da população de Londrina no período de 1950-2000.....................42 Quadro 3. Edifícios construídos em Londrina na década de 1950.................................46 Quadro 4. Edifícios construídos na década de 1960.......................................................52 Quadro 5. Edifícios construídos em Londrina: 1970-1980..............................................56 Quadro 6. Construção de edifícios na década de 1990-2000 e o respectivo número de pavimentos......................................................................................................................65 Quadro 7. Número de Edifícios Construídos entre 1991 – 2002 na cidade de Londrina – Análise do governo FHC (1995 - 2002)...........................................................................68 Quadro 8. Quadro comparativo da política externa: FHC X LULA..................................72 Quadro 9: Ranking Mundial de cidades em construção de prédios – 2007.................................................................................................................................77 Quadro 10. Edifícios construídos na cidade de Londrina no período de 2000 – 2008.................................................................................................................................93 Quadro 11. Principais Construtoras que Produziram Edifícios na Cidade de Londrina no Período de 2000 – 2008 – Relação do Total em Área Construída.................................97 Quadro 12. Área Interna dos Apartamentos construídos no Período 2000 – 2008 na cidade de Londrina........................................................................................................105
LISTA DE FOTOS
Foto 1. Primeira Planta de Parcelamento Urbano da Cidade de Londrina.....................34 Foto 2. Edifício Soho.......................................................................................................83 Foto 3. Gleba Palhano.....................................................................................................87 Foto 4. SP Towers...........................................................................................................88 Foto 5. Construção de Edifícios na Gleba Palhano.......................................................102 Foto 6. Vista panorâmica da Gleba Palhano, na porção sudoeste da cidade de Londrina.........................................................................................................................103 Foto 7. Crescente Construção de Edifícios em Londrina..............................................103
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Total em Área Construída por m² dos Edifícios da cidade de Londrina: 2000 - 2008.................................................................................................................................90 Gráfico 2: Número de Edifícios Construídos em Londrina: 2000 - 2008 ........................95 Gráfico 3: Atuação das Construtoras no Período de 2000 –2008...................................99
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................15 2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇ ÕES..............17 2.1. O Processo de Verticalização do Espaço Urbano Brasileiro................................27 2.2. O Preço da Terra e o Processo de Verticalização nas Cidades..............................32 3. CONSTITUIÇÃO DA CIDADE DE LONDRINA E O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO .........................................................................................................33 3.1. Aspectos da Dinâmica Urbana de Londrina.............................................................33 3.2. Características da Verticalização de Londrina: 1950 – 2000...................................41 4. O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO NA CIDADE DE LONDRI NA 2000 - 2008.................................................................................................................................64 4.1. Desenvolvimento Econômico Nacional Recente e as Implicações na Indústria da Construção Civil..............................................................................................................65 4.2. A construção civil e a cidade de Londrina................................................................72 4.3. Análise do processo de verticalização na cidade de Londrina no período de 2000 - 2008.................................................................................................................................77 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ...........................................................107 BIBLIOGRAFIA....................................... ......................................................................109
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho visa contribuir para o entendimento do processo de
verticalização na cidade de Londrina no período de 2000 a 2008, tendo em vista a
importância e continuidade desta forma de produção na cidade. Tanto assim, que
chama a atenção o fato da cidade ser uma das mais verticalizadas do país e ocupar
lugar de destaque no cenário internacional em número de edifícios com mais de doze
pavimentos.
O recorte temporal adotado explica-se pelo fato de que trabalhos como
os de Passos (2007), Casaril (2008) e Paula (2006) trazem importante contribuição ao
entendimento do processo de verticalização, pois analisaram a ação dos promotores
imobiliários, a especulação imobiliária, a dinâmica espacial de localização dos prédios,
dentre outros elementos, no período 1970 - 2000. De tal modo, nos trabalhos citados o
período de estudo foi até o ano de 2000, enquanto os primeiros anos do século XXI
ainda não haviam sido estudados. Exceção foi o trabalho de Paula (2006) que centrou
sua análise na porção sudoeste da cidade de Londrina, denominada Gleba Palhano e
que se configura como uma das áreas de maior valorização atual via produção de
edifícios e condomínios exclusivos, também denominados de condomínios horizontais.
Assim, nosso trabalho procura entender a continuidade da dinâmica da
construção de edifícios que tem sido significativa na cidade, mas procurando verificar
todos os empreendimentos construídos no período, as construtoras/incorporadoras
responsáveis, a localização dos mesmos, bem como o entendimento desta
continuidade atrelado às políticas econômicas nacionais que assim o permitem.
Atrelado ao desenvolvimento econômico nacional que nestes primeiros
oito anos do século XXI tem mantido relativa estabilidade e crescimento, vários
investimentos foram realizados pela construção civil, especialmente os edifícios de
vários pavimentos, sendo beneficiados pelos programas mais recentes do governo
federal em estimular a construção civil via redução das taxas de juros para
financiamento.
Além de políticas e programas governamentais que estimulam a
construção de edifícios, procuramos ainda entender algumas das razões para a
continuidade deste processo que tem sido bastante acelerado.
Para tanto nosso trabalho contou com levantamentos, além dos
bibliográficos, com dados sobre os edifícios obtidos junto ao Corpo de Bombeiros de
Londrina, que apresentam um importante acervo de documentação dos prédios como
requisito legal e obrigatório para a concessão dos alvarás e habite-se dos mesmos. Isto
porque na Prefeitura Municipal de Londrina o processo de obtenção dos dados é por
demais moroso, tendo em vista o arquivamento dos processos e a necessidade de que
os mesmos sejam buscados um de cada vez, enquanto no Corpo de Bombeiros o
acesso aos dados é mais rápido e já está em parte em formato digital.
Desta forma, no primeiro capítulo fez-se uma discussão acerca da
compreensão do espaço urbano e suas diferentes lógicas e práticas de acumulação
capitalista na produção do solo, atrelados ao processo de verticalização, bem como os
caminhos para a extração da renda da terra e do lucro.
No segundo capítulo abordou-se estes processos em Londrina, de
modo a entender que as lógicas capitalistas não acontecem somente em âmbito
mundial, mas manifestam-se nos lugares, com proporções e particularidades.
Acrescentamos ainda alguns aspectos da verticalização da cidade em períodos
anteriores.
O terceiro e último capítulo discute o processo de verticalização na
cidade de Londrina, entre 2000-2008, apresentando mapas, gráficos, tabelas e quadros
que manifestam e espacializam a verticalização. Neste capítulo discute-se a
continuidade deste processo articulado ao desenvolvimento econômico brasileiro.
2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕ ES A análise da produção e constituição do espaço urbano que será
analisada neste primeiro capítulo será embasada no atual sistema econômico, do qual
a sociedade contemporânea está submetida, isto é, a produção, a circulação de
mercadorias, as relações sociais existentes, as atividades exercidas e o consumo no
espaço urbano, serão problematizados frente às premissas estabelecidas pelo modo de
produção capitalista.
Na constituição das cidades, manifestam-se diversas atividades
dispostas em determinados lugares - pontos da cidade, destinados aos mais diversos
usos. É desta forma, que há o uso de determinadas áreas para as construções
residenciais, construção de hospitais, fábricas e indústrias com diferentes funções, além
das áreas de lazer, áreas destinadas ao comércio, etc.
Corrêa (2003), em sua interpretação sobre o espaço urbano ressalta
que o mesmo constitui-se como fragmentado e articulado simultaneamente, “[...] cada
uma de suas partes mantém relações espaciais com as demais, ainda que de
intensidade muito variável” (CORRÊA, 2003, p. 7). Estas relações manifestam-se no
mundo do visível, do palpável, isto é, da circulação de pessoas, mercadorias, de
veículos, na construção de rodovias; estradas; residências e em diferentes áreas, com
as mais diferentes funções. E onde há também a circulação e a manifestação do
“menos visível”, do imaterial, que como ressalta (CORRÊA, 2003, p.8),
[...] No capitalismo, manifesta-se através das relações espaciais envolvendo a circulação de decisões e investimentos de capital, mais-valia, salários, juros, rendas, envolvendo ainda a prática do poder e da ideologia. Estas relações espaciais são de natureza social, tendo como matriz a própria sociedade de classes e seus processos. As relações espaciais integram, ainda que diferentemente, as diversas partes da cidade, unindo-as em um conjunto articulado cujo núcleo de articulação tem sido, tradicionalmente, o centro da cidade [...].
Como já supracitado a cidade concentra e tem as mais diversas
atividades e funções justapostas, em diferentes lugares e com diferentes usos, e é
neste contexto que entra a disputa pelo uso da terra no espaço urbano.
O solo na concepção da produção do sistema capitalista fundamenta-se
no que Singer (1978) ressalta “pelas regras do sistema capitalista” (p.21), isto é,
gerando uma determinada renda, um lucro, uma riqueza que é o que chamamos de
capital, adquirido pelos meios de produção que “[...] movimentados pelo trabalho
humano, produzem determinado valor; o valor da força de trabalho, o valor da força de
trabalho gasta e mais um valor excedente, que parece nas mãos do capitalista sob a
forma de lucro [...]” (SINGER, 1978, p. 21).
Expressando-se pelo desenvolvimento fragmentado Corrêa (2003) o
solo na urbes é direcionado as mais diferentes atividades industriais, comerciais,
residenciais e onde ao mesmo tempo são articuladas, isto é, relacionam-se nos seus
mais diferentes graus, uns com maior ou menor intensidade variando-se econômica ou
socialmente.
[...] Primeiramente por ser reflexo social e fragmentado, o espaço urbano, especialmente o da cidade capitalista, é profundamente desigual: a desigualdade constitui-se em característica própria do espaço urbano capitalista. Em segundo lugar, por ser reflexo social e porque a sociedade tem a sua dinâmica, o espaço urbano é também mutável, dispondo de uma mutabilidade que é complexa, com ritmos e natureza diferenciados (CORRÊA, 2003, p. 8).
Eis o que é o espaço urbano: fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campos de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais (CORRÊA, 2003, p.9).
Na análise de Whitacher (2007), a cidade é a “cristalização da
urbanização” (p. 139), a cidade que conhecemos foi à condição para a realização desta
produção, em função de sua concentração espacial, e que tem um jeito característico
de produzir.
Os autores Corrêa (2003) e Whitacher (2007) caracterizam a cidade
não como um espaço de proximidade – visto na gênese das primeiras aglomerações
urbanas - onde o valor de troca era mais preponderante do que o valor de uso. Com o
advento da urbanização, assim como o processo de industrialização ocorreram
mudanças profundas nas cidades e em sua morfologia, denunciando um modelo de
cidade que não é mais contíguo e concentrado.
A produção e (re) produção do espaço urbano concretizam-se pelas
relações estabelecidas entre o público e o privado, ou seja, das relações estabelecidas
entre Estado e suas instâncias: prefeituras, órgãos de planejamento urbano, órgãos de
financiamento, aos impostos pagos pelo conjunto da sociedade; assim como pelas
empresas, indústrias e demais categorias do setor privado.
Estas relações estabelecidas entre o público e privado modelam e
estruturam o espaço urbano, o Estado como suporte dá as condições necessárias para
que a iniciativa privada possa desenvolver as suas atividades, e onde estas atuam não
somente no modelo físico e territorial sobre determinada área, mas das relações
estabelecidas sobre um determinado grupo.
Todo este processo é e foi promovido pelo fenômeno da urbanização,
onde como ressalta Giménez (2007) transformou as cidades “em grandes centros
produtivos, de inovação tecnológica, de gestão dos processos produtivos e
econômicos, bem como políticos, sociais e culturais” (GIMÉNEZ, 2007, p. 15). Para o
autor o processo de urbanização brasileira foi rápida e acelerada, e seguindo a lógica
do sistema capitalista de produção e pelo jogo de mercado imobiliário, a valorização de
terras no espaço urbano em detrimento de outras, cria áreas diferenciadas, muitas
vezes disputadas acirradamente.
É neste cenário da urbanização que as cidades apresentam um
fenômeno que lhe é bem característico, o da verticalização, tema central desta
pesquisa, que se tornou um dos fenômenos de grande expressividade.
[...] Essa urbanização, como não poderia deixar de ser, segue toda uma lógica coerente dentro do sistema capitalista e esta inserida no contexto da globalização. Ela apresenta uma dinâmica muito influenciada pelas regras de mercado. A valorização de certas áreas em detrimento de outras, os privilégios de infra-estrutura, segurança, as vias de acesso, entre outros aspectos, marcam esta realidade, o que gera um incremento da segregação espacial (GIMÉNEZ, 2007, p.16).
Na produção do espaço urbano, vários agentes são responsáveis pela
sua configuração, uns com maior poder de ação dentro das cidades, outros com menor,
porém não tão menos importantes ou sem relevância.
Desta forma, para a construção e configuração do espaço urbano nas
cidades serão apontados alguns destes agentes, ou seja, aqueles que operam, que
agem, que são sujeitos da ação, sobre a configuração e morfologia da paisagem
urbana, neste caso são eles:
• Os agentes imobiliários ou promotores imobiliários: caracterizam-se
por ser um setor bastante dinâmico, são responsáveis pela mudança no uso da
terra, trabalhando com as vendas, loteamentos, construções e outras operações,
na busca de altos lucros o que interessa é o valor de troca e não o de uso
Giménez (2007).
Na visão de Corrêa (2003), os promotores imobiliários são responsáveis pelo que
se chama de “operação-chave” no processo imobiliário, neste caso o promotor
imobiliário tem a função de incorporar, ou seja, de transformar o capital (dinheiro)
em mercadoria, neste caso o imóvel. O incorporador tem a função de tomar
todas as decisões antes de algum empreendimento ser propriamente construído
como no caso, escolher o local de localização, o tamanho de tal
empreendimento, a venda destas unidades, ou mesmo quem irá construí-lo.
A construção dos imóveis é sempre direcionada as classes de alto poder
aquisitivo, pois os preços altos permitem que os lucros tenham retorno desejável
Giménez (2007). “[...] Através de propagandas criam-se necessidades e valores
para atrair o consumidor, tais como: segurança, status, investimentos ou
qualidade de vida (GIMÉNEZ, 2007, p. 53).
Ainda para Corrêa (2003) os promotores imobiliários também têm a função de
reunir os recursos provenientes de pessoas físicas e jurídicas para o
investimento, visando à compra do solo e a construção do imóvel, além de todo
um estudo técnico realizado por diferentes profissionais, almejando maior
viabilidade econômica para a construção, além de todos os códigos que
deveriam ser respeitados para a construção física do imóvel.
O imóvel que pode ser comercializado antes mesmo de seu término, com o
advento da propaganda vinculada das mais diversas formas: jornais televisivos
ou impressos, outdoors, folhetos, etc. “[...] transformação do capital-mercadoria
em capital-dinheiro, agora acrescido de lucros [...]”, (CORRÊA, 2003, p. 20).
É interessante observar que os promotores imobiliários não fazem parte de um
único grupo ou que são vinculados somente ao processo imobiliário, mas que ora
vários outros agentes podem exercer estas funções como no caso, por exemplo,
de um proprietário fundiário que pode transformar-se em construtor ou
incorporador, além de bancos e o Estado, ou até mesmo um comerciante que
pode diversificar suas atividades que como ressalta CORRÊA (2003), pode criar
uma incorporadora, e agir como promotor imobiliário.
• Os proprietários fundiários são os donos das terras que serão ou
estarão postas a venda, a espera de melhor preço que o assegure, este
processo pode ser bem demorado, o terreno passará por um processo de
valorização até que esteja apto a ser vendido, para a obtenção do maior lucro.
Para Corrêa (2003) são os agentes mais interessados na conversão das terras
que estão na área rural para área urbana. Tem, portanto, um interesse na
expansão do espaço da área urbana, pois esta tem uma maior valoração
financeira/econômica.
• O Estado, e/ou o poder público: é o grande agente responsável pela
construção do espaço urbano, ou a área a ser dotada de infra-estrutura como,
por exemplo, o arruamento, a divisão dos lotes, a instalação de energia elétrica,
transporte, canalização e transporte da água, etc., o Estado torna-se um
essencial responsável pela segregação sócio-espacial sofrida por muitos
indivíduos nas cidades.
Como ressalta Corrêa (2003), o Estado possui uma série de instrumentos que
são destinados a fazer a regulação e controlamento da função social da
chamada propriedade urbana.
O Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257 de 10/07/2001) institui o direito de
desapropriação e precedência na compra das terras, ou seja, a regulamentação
fundiária, tais como seus impostos: fundiário e imobiliário, que variam de acordo
com a sua localização, o tamanho do empreendimento e para quais fins se
destinam o uso do solo. Desta forma, o Estado tem total poder em alocar
investimentos públicos na produção do espaço urbano, através de toda a infra-
estrutura que ele pode proporcionar para o empreendimento em suas várias
obras públicas tais como a drenagem do solo, os aterros, os desmontes, além de
outros mecanismos, tais como o crédito à habitação para seu controle. “Portanto,
o Estado é o principal agente responsável pela valorização fundiária urbana, pois
a ele cabe o papel “[...] zonear o solo (zoneamento), beneficiar o solo (infra-
estrutura), etc. [...]” (CASARIL, 2008, p. 35).
Nessa perspectiva, o Estado organiza e reorganiza as relações sociais e de produção, revela-se na planificação racional do espaço, organizando o território da produção. Desse modo, as contradições da apropriação para a realização da vida humana entram em conflito com a dos grupos sociais que exploram o espaço como condição da reprodução do capital. Dentro dessa concepção, o Estado também seria um arbitro entre as necessidades de cada classe social (SILVA, 2007, p. 22).
• As construtoras: são os responsáveis pela construção física do imóvel,
do edifício, que seleciona as firmas especializadas nas mais diversas etapas do
setor produtivo como ressalta Giménez (2007), de toda a força de mão-de-obra
trabalhadora empregada para fazer a construção do prédio, de toda a mão-de-
obra especializada, como engenheiros, arquitetos, geólogos, geógrafos, etc.
• Os industriais : ou o dono dos meios de produção ou ainda o
comerciante, é o dono do suporte de todas as atividades a serem realizadas em
determinado espaço, levando em consideração todo um aparato de melhor
lucratividade em determinado local como: acesso fácil e rápido, bons preços,
maior/bons consumidores, infra-estrutura adequada ao local Passos (2007).
• Os grupos sociais excluídos: referente às diferenças sociais existentes
na sociedade de classes no sistema de produção capitalista, no que se refere à
determinada parcela da sociedade no acesso aos bens e serviços produzidos
pelo conjunto da sociedade, Corrêa (2003) ressalta que a habitação é um desses
bens cujo acesso é bem seletivo, onde uma grande camada da sociedade não
tem acesso nem renda para comprar uma casa/imóvel, ou mesmo para o
pagamento de um aluguel de uma habitação, somando-se a isto há ocorrência
de fatores como a “subnutrição, as doenças, o baixo nível de escolaridade, o
desemprego ou o subemprego e mesmo e emprego mal remunerado” (CÔRREA,
2003, p. 29).
Ressaltaremos a grande importância deste grupo social na transformação e
configuração do espaço urbano, pois muitas das vezes por não terem condições
de ter um imóvel próprio acabam constituindo favelas, ocupações e
assentamentos irregulares etc. e acabam por evidenciar a situação de
marginalidade em que vive grande parcela da população brasileira, ocasionada
pelo sistema econômico de produção capitalista extremamente contraditório, que
privilegia e favorece as pessoas com melhores condições econômicas, e
desfavorece os que têm menos condições de requerer o básico para sua
condição e reprodução social.
Há de se ressaltar que existem outros agentes importantes no processo
e configuração do espaço urbano, porém usaremos de grande destaque as
contribuições de Corrêa (2003) para este estudo por entendermos que melhor sintetiza
suas aplicações.
A uma mudança significativa também na incorporação de terras rurais
para as áreas urbanas, que acontece em meio à,
[...] uma época de crise agrícola, com o descontentamento dos produtores, com dificuldades na produção no crédito ou na venda, o processo de conversão de terras rurais em urbanas passa a interessar mais os proprietários fundiários. Caso contrário, se o produtor ou empresário rural estiver produzindo normalmente, satisfeito com o rendimento de sua atividade, a conversão de terras encontra maior dificuldade [...] (GIMÉNEZ, 2007, p. 56).
É claro perceber que a terra tem utilidades em determinados
momentos e em diferentes atividades, conforme o jogo da economia capitalista,
causando grandes impactos e efeitos para auferir o máximo de lucros e rentabilidade
“[...] A terra funciona então como meio de produção no momento, mas também como
reserva futura [...]” (GIMÉNEZ, 2007, p. 56).
Todos os mecanismos de uso e valorização do solo, assim como os
agentes responsáveis pela constituição do espaço urbano são indicativos de como
iremos abordar o tema sobre o processo de verticalização tanto no entendimento geral
de sua manifestação no espaço urbano brasileiro, como para o caso específico para a
cidade de Londrina.
Outro aspecto importante no processo de constituição espaço
urbano - a segregação sócio-espacial - onde a terra tratada como uma mercadoria é
posta a especulação, e como uma propriedade privada dos meios de produção para a
manutenção das classes sociais existentes. “[...] Ela ocorre em uma sociedade
desigual, em que as pessoas e famílias têm diferentes níveis de renda e em que a terra
tem valores diferenciados para sua apropriação [...]” (GIMÉNEZ, 2007, p.62).
Portanto, segregação sócio-espacial - moradia - e verticalização nas
cidades estão intimamente ligadas, pois tratam-se de questões relacionados a
habitação e o uso do solo urbano na sociedade capitalista.
[...] A segregação deve ser compreendida como um processo, não como fenômeno já cristalizado, a ser observado e registrado. A segregação apresenta dinamismo e movimento, constituindo-se de fato em constante mutação e adaptação [...] (GIMÉNEZ, 2007, p. 67).
É neste sentido que o Estado caracteriza-se como grande responsável
pela segregação sócio-espacial, primeiro por não dar devida atenção às questões
habitacionais, a aqueles que necessitam de moradia, e criando cada vez mais subsídios
a empresas – construtoras, incorporadoras, etc., a construírem edifícios luxuosos, que
revelam cada vez mais os abismos sociais existentes nas formas urbanas.
2.1. O Processo de Verticalização na Produção do Es paço Urbano Brasileiro
Para nos referirmos ao processo de verticalização no Brasil, ou em
qualquer outra cidade brasileira, o retrocesso ao século XIX é extremamente
necessário. Principalmente no atento a duas cidades brasileiras de grande destaque
neste período e para este processo. Rio de Janeiro e São Paulo foram cidades que
econômica e politicamente tiveram grande destaque no país em termos de crescimento
e desenvolvimento basicamente em quase todos os níveis, sem nos esquecermos é
claro, de alguns custos drásticos dirigidos a parte da população, no que concerne a
este desenvolvimento.
Rio de Janeiro e São Paulo participaram ativamente de todo o
processo de estruturação brasileira e que durante muito tempo serviram de modelos de
crescimento para o restante do país - de base econômica brasileira o café, produto de
exportação foi juntamente com outros estados e cidades brasileiras, um dos produtos
mais importantes de nossa economia depois da cana-de-açúcar, que tem como
destaque à região nordestina.
Não se trata aqui de qualificar mais as regiões Centro-Sul no que diz
respeito ao desenvolvimento, pois é bem sabido que certos lugares, regiões e países
têm sua determinada importância para o desenvolvimento do processo econômico
capitalista, ora “esquecidos” ou estrategicamente deixados a espera e remodelados a
outras funções. Mas como iremos aqui tratar do processo de verticalização, nos
voltaremos mais para as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
É ainda nestas duas cidades que na virada do século XIX para o século
XX que serão vistos o processo de urbanização e industrialização, logicamente que
este processo será visto em todo o Brasil de formas diferenciadas e especificas para
cada estado e região, Santos (2005). Porém para a nossa análise, como já citado
anteriormente frente ao processo de verticalização usaremos as cidades de São Paulo
e Rio de Janeiro, pois serão pioneiras na existência dos edifícios altos no Brasil.
É neste cenário de crescimento avassalador, de mudanças e transformações políticas, econômicas e sociais que na primeira década do século XX se perceberá o processo de verticalização, em São Paulo
e Rio de Janeiro e posteriormente para as demais cidades brasileiras (FISCHER, 1994, p.69).
O processo de verticalização está diretamente atrelado às novas formas
tecnológicas e aperfeiçoamentos que foram conhecidas e no período pós-guerra e
juntamente ao processo de urbanização e industrialização como ressalta Fischer
(1994), há também a rápida absorção pela construção civil do concreto armado, na
elaboração e estruturação de obras arquitetônicas.
Atualmente existem várias abordagens sobre o processo de
verticalização no espaço urbano visto que é um processo que acontece principalmente
em grandes e médias cidades brasileiras, e que pode ser entendido como uma das
fases do processo de urbanização brasileira.
O processo de verticalização é entendido como a “criação de novos
solos” (GIMÉNEZ, 2007, p. 16) os quais estão sobrepostos, constituindo um local de
moradia ou de trabalho, distribuídos em diversos andares, possibilitando um maior
número populacional exercendo as mais diferentes funções. Funciona ainda com local
para moradia agrupando um maior índice possível de pessoas num mesmo local. Dessa
forma, “[...] a verticalização se insere no contexto capitalista através da valorização da
terra” (GIMÉNEZ, 20007, p. 17).
Para Salvadori (Apud FISCHER, 1994, p. 89), o processo de
verticalização não diz respeito somente a uma melhor utilização do solo nas cidades, ou
seja, na sua otimização, mas igualmente a solucionar problemas de ordem
estrutural/técnica vivido pelas grandes construções, como é o caso, por exemplo, de
“[...] cálculos estruturais, à execução de fundações, à importantíssima invenção do
elevador e, por fim, ao desenvolvimento de materiais de construção de alta resistência
e baixo preço, como o aço no caso dos Estados Unidos e o concreto armado no caso
do Brasil.”
O elevador foi importante implemento tecnológico para o
desenvolvimento da verticalização, pois possibilitou que houvesse a construção de
edifícios cada vez mais altos nas cidades.
Outro entendimento do processo de verticalização refere-se à de
construção de prédios/edifícios, com características de serem “propriedades com fins
para construção de habitações ou para fins comerciais, industriais”, com 4 pavimentos
ou mais (PASSOS, 2006, p. 46), no Brasil o fenômeno da verticalização caracteriza-se
especificamente pela constituição de moradias/habitações.
A cidade é o locus privilegiado da concentração, produção e reprodução do capital e da força de trabalho, onde as transformações sócio-espaciais são reguladas pela lógica da acumulação de capital. Num processo infindável, a cidade vai sendo produzida e reproduzida sob os mais diferentes aspectos e processos (PASSOS, 2006, p. 30).
A cidade constitui-se como um importante locus para a produção do
processo de verticalização induzida pelo modo de produção capitalista, transformando a
paisagem urbana e suas relações.
Para melhor entendimento a figura 1 exemplificará como é extraída a
renda da terra no processo de verticalização.
EDIFÍCIOS
CASA
CASA
FIGURA 1. Esquema da apropriação da renda da terra no processo de verticalização Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Cada apartamento ocupado por uma família e/ou um indivíduo representa uma casa em um espaço horizontal. Evidenciando assim a extração da renda da terra, paga por cada um destes moradores, como se estivessem morando em uma casa. No caso de um andar possuir 4 apartamentos, a renda da terra será extraída de todos igualmente, sendo extremamente lucrativo tal processo.
SOLOS SOBREPOSTOS
De um modo simplificado, a renda da terra, no processo de
verticalização é extraída em “cada andar”, ou seja, cada proprietário, de cada
apartamento/atividade exercida paga a mesma quantia do que se estivesse sozinho em
um outro terreno (dito horizontal). Além disso, os chamados serviços disponíveis para a
manutenção do edifício como é o caso do condomínio, serviços de limpeza e prover, tal
como sala de ginástica, sauna, sala de jogos e outros “privilégios” que o edifício pode
oferecer, constitui-se como diferencial no valor do imóvel.
A verticalização tem-se caracterizado como um elemento responsável pelas modificações morfológicas e funcionais da paisagem urbana. Conceituado como a multiplicidade do solo urbano, é realizada a partir da implantação de elevadores. Esta também é responsável pelas modificações morfológicas urbana, uma vez que é produzido solo adicional (os andares), possibilita a multiplicação do mesmo, havendo assim uma revalorização do espaço (PAULA, 2006, p. 26).
A figura 1 apresenta como a renda da terra é extraída no processo de
verticalização, e desta forma pode-se perceber como é lucrativo a construção de um
prédio dotado de máxima infra-estrutura, mesmo que os lucros tenham que ser obtidos
em um prazo maior do que outras mercadorias, pois esta (a construção de
prédios/edifícios) leva um determinado tempo (meses ou anos, por exemplo), para ficar
pronto e entrar no processo de circulação e venda dos imóveis, mas é importante
ressaltar que por muitas vezes antes do término da construção o empreendimento está
completamente vendido.
Ainda em relação à figura 1 Somekh (1997), esclarece que a
verticalização é
[...] definida como a multiplicação do solo urbano, possibilitado pelo uso do elevador. A essa idéia associam-se a característica da verticalidade, o aproveitamento intenso da terra urbana (densidade) e o padrão de desenvolvimento tecnológico do século XX, demonstrando-se a relação verticalização/adensamento (SOMEKH, 1997, p. 44).
Os primeiros prédios foram construídos para atender a demanda dos
comerciantes, ou seja, o comércio em primeiro momento era o grande responsável pelo
uso de prédios nas grandes cidades para atender os mais variados tipos de serviços, e
se constituindo também como sede de várias empresas. Posteriormente – visto como
possibilidade de maior lucratividade, também foram incorporados e transformados em
moradia/habitação e utilizados pela grande quantidade da classe média ligada ao meio
artístico/cultural, funcionários públicos e pelas indústrias que monopolizavam as
famílias a ficarem mais próximas aos locais de trabalho Somekh (1997).
Com as constantes mudanças no padrão de vida da classe média os
apartamentos foram se ajustando as suas “necessidades”, seus novos hábitos e
padrões, a diminuição da família nuclear possibilitou que houvesse uma diminuição na
área interna dos apartamentos bem como um local de moradia para apenas um
indivíduo.
O que não se pode perder de vista, é a grande quantidade de
elementos que estão envolvidos na construção dos edifícios nas grandes e médias
cidades. O primeiro deles é a ideologia que se transmite ao adquirir um apartamento
para se morar: a segurança, o status, o conforto, a mobilidade, pois sempre se está
perto ou em áreas de fácil acesso; o segundo é a chamada qualidade de vida
proporcionada. Mas é só nas décadas de 1970 e 1980 que a construção de edifícios
será utilizada por famílias de renda inferior, promovido pelos conjuntos habitacionais.
O processo de verticalização no Brasil começa no período do século
XIX onde as principais cidades ícones desta transformação urbana foram Rio de
Janeiro e São Paulo,
[...] Naquele período, as cidades referidas representavam a economia mais dinâmica e em expansão no país, com a agricultura cafeeira de exportação; eram locais de crescimento das atividades terciárias ligadas ao capital bancário, para a exportação de matérias – primas e importação de produtos industrializados; transformavam-se em centros de atração de correntes migratórias externas e mais tarde internas [...] (PASSOS, 2006, p.07).
O processo de verticalização vem acompanhando a um acelerado
processo de industrialização em grandes cidades brasileiras em destaque na passagem
do século XIX para o século XX. Porém o consumo de apartamentos efetivamente se
deu a partir do início da década de 1920 como ressalta Ramires (1998).
Mais que a questão da verticalização nos grandes centros urbanos e de
toda uma infra-estrutura desenvolvida para atender a uma determinada produção do
espaço, trata-se da questão da moradia, ou seja, o novo estilo da habitação no país,
pois este novo conceito difundido nas grandes e médias cidades correlaciona-se com o
uso do solo na sociedade capitalista e no espaço urbano, além das mudanças na
configuração espacial nas cidades.
Para (RAMIRES, 1998, s/p) “[...] a habitação é uma mercadoria especial
[...]”, ou seja, é diferente de outras mercadorias que são postas ao consumo dos
indivíduos, é colocado em determinados momentos com um custo bastante elevado, há
o uso de financiamento para a sua aquisição, além de possuir um longo período para
construção, exigindo do capital um prazo bem maior quando comparado a outras
atividades produtivas, e com a margem de lucro muito maior, desde o momento de sua
fabricação até o momento de sua circulação.
A verticalização brasileira tem sido apontada por vários estudiosos como uma das características da urbanização brasileira, cuja evolução atingiu ritmo e magnitude sem precedentes, colocando o Brasil em posição de destaque no cenário internacional, tendo tal processo destinado prioritariamente à habitação, contando com os edifícios destinados aos serviços apenas nas principais ruas comerciais das médias e grandes cidades (PASSOS, 2007, p. 33).
E como bem explicitado por Maricato (1987), a habitação no modo de
produção capitalista “é o componente mais importante da cesta de consumo que não é
suprida através das formas capitalistas de produção e comercialização, para a grande
maioria dos trabalhadores” (p. 21).
As áreas reservadas para tais construções são as melhores e dotadas
de toda uma infra-estrutura proporcionada, onde capital estatal e privado andam juntos
para a composição do produto final, que será usufruído por pessoas com médio e
elevado poder aquisitivo nos grandes centros urbanos.
Num primeiro momento morar em um apartamento não era uma boa
opção, pois eram associados a cortiços onde geralmente só habitavam pessoas pobres
e sem condições financeiras de morar em outros locais.
Somekh (1997) aponta para o fato de que quando o processo de
verticalização na cidade de São Paulo deslanchou no período da década de 1920, o
processo era bem seletivo comportando apenas pequena parcela da sociedade que
poderia usufruir deste novo estilo de morar. Já na cidade do Rio de Janeiro, os aluguéis
se constituíam muito caros por localizarem-se frente às praias da cidade.
Morar em apartamento não era uma opção barata. Os edifícios construídos na época eram sempre para aluguel. Quem os ocupava nesse período era uma elite cultural, que aceitava os novos padrões de modernidade, ou uma classe média imigrante, principalmente orientais, que já conhecia esse tipo de moradia em paises de origem, ou ainda funcionários públicos ou de empresas que alugavam apartamentos para seus funcionários, como, por exemplo, o edifício da Light na Xavier de Toledo, ou os edifícios dos Institutos de Pensão (SOMEKH, 1997, p. 144).
Os estudos sobre o processo de verticalização nas cidades brasileiras
tiveram destaque pós anos de 1980, sendo marco das mudanças na paisagem urbana.
Além de causar grandes impactos na construção civil, das novas tecnologias, e da
difusão do elevador, pequenas e médias cidades brasileiras sentiram a grande
alteração do uso e do valor do solo, já “[...] para os grandes centros urbanos, a
verticalização é considerada importante na medida que favorece, até certo ponto, a
otimização do uso do solo, principalmente nas áreas centrais já completamente
ocupadas [...]” (PASSOS, 2007, p. 42).
A verticalização ainda é resultante de um processo entre as
múltiplas faces do capital, como o fundiário, o produtivo, o imobiliário, o financeiro.
A explicação do fenômeno da verticalização como ressalta Somekh
(1997) é essencial no contexto do século XX. Para o Estado, por exemplo, surge como
uma ação de controlamento de governos municipais na aplicação do zoneamento das
cidades em especial da área urbana que através de suas instâncias desenvolve as
idéias sobre o planejamento, e nas políticas de gestão territorial.
A verticalização trata-se de um dos marcos da reestruturação das
cidades, direcionados a especulação imobiliária e uma valorização do solo na urbes, a
localização, e toda a conjuntura local para a construção de edifícios relacionam-se aos
futuros lucros, almejados sempre em primeiro plano.
2.2. O Preço da Terra e o Processo de Verticalizaçã o
Para Somekh (1997) o espaço urbano é um produto social, ou seja, a
ação de atividades geram determinado valor que então é produzido pela cidade, já o
preço da terra urbana é uma criação ou condição social.
Entendemos que para a captação do solo para a construção do edifício
deve ser o preço mais baixo possível, e se a terra estiver em perímetro rural “[...] em
geral vale muito pouco se comparada com a terra urbana, o que maximiza
sobremaneira os lucros com esta operação” (GIMÉNEZ, 2007, p. 75).
Como já ressaltado em momentos anteriores toda a ideologia passada
de se ter uma boa qualidade de vida, conforto e até mesmo a idéia de higienização para
se morar em um edifício é parte caracterizante e específica para que os agentes
responsáveis por esta operação venham a ter maiores lucros com este
empreendimento.
Morar em um edifício é situar-se em locais estratégicos para que estas
características possam coexistir, o local de moradia em um apartamento deve ser um
local valorizado socialmente, e onde os requisitos básicos e essenciais como a
locomoção fácil e rápida, e uma infra-estrutura adequada recebem um percentual da
sociedade que pode pagar por estas benesses.
Como ressaltado anteriormente, vários agentes são responsáveis tanto
pelas transformações no espaço urbano como no processo de verticalização, os
agentes imobiliários, os consumidores, as construtoras, as incorporadoras e onde o
Estado é um dos agentes mais importantes para o cumprimento desta ação, pois ele é
“[...] o disciplinador, o orientador, e às vezes, até o executor desse processo [...]”
(GIMÉNEZ, 2007, p.77).
A depender de como o Estado pode atuar na diferenciação dos
locais a serem beneficiados, e a qual classe podem se destinar determinados
benefícios é criado um processo de desigualdade em que grupos são mais favorecidos
em detrimento de outros pelo fator de influência econômica e social.
É o que (GIMÉNEZ, 2007, p. 78), evidencia como a segregação, na
medida em que há uma separação de classes,
[...] As populações de diferentes níveis de renda tende a ocupar diferentes áreas, de acordo com suas possibilidades financeiras. Ocorre que, uma localidade que passa por um processo de verticalização tem seus espaços valorizados, fato que acaba por excluir os grupos de menor renda desse lugar causando o seu afastamento das áreas mais valorizadas.
Neste sentido, o Estado através de seus subsídios disponibiliza todo o
suporte ao processo de verticalização. Atrelando-se a empreiteiras, promotores
imobiliários, incorporadoras, construtoras, etc. de grande influência, assim como
determinada parcela da sociedade que pode pagar por estar em locais diferenciados.
O mercado imobiliário é importante agente no preço da terra e
valorização do solo, pois em momentos recessivos da economia como analisa Somekh
(1997), é um bem que atrai muitos investimentos.
Verticalizar, adensar no começo do século em São Paulo, não era só otimizar um investimento. A forma simbólica assumida de arranha-céus representou de um lado a introdução do progresso na cidade, de outro um processo de internacionalização: a entrada dos Estados Unidos na economia brasileira (SOMEKH, 1997, p. 116).
É importante salientar a presença dos planos urbanísticos para o bom
aproveitamento das propriedades na área urbana a serem transformadas em áreas de
construção de edifícios.
3. CONSTITUIÇÃO DA CIDADE DE LONDRINA E O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO 3.1. Aspectos da Dinâmica Urbana de Londrina 1950 – 2000
Londrina é uma cidade ainda muito jovem, formada por muitas etnias de
várias partes do mundo como ressalta Almeida (2004) e onde sua localização é
marcada pelos rios Paranapanema – Paraná – Tibagi – Ivaí, esta cidade do norte do
Paraná foi inteiramente revestida de mata tropical, onde no século XVI recebeu os seus
primeiros exploradores, onde nela ainda se encontrava a presença de indígenas.
Segundo Almeida (2004) a cidade de Londrina tem seu início no ano de
1929, onde a CTNP – Companhia de Terras Norte do Paraná foi a grande responsável
pelo loteamento e venda das terras rurais, além de todo o empreendimento de
ocupação e viabilização de seus compradores no local denominado, Patrimônio Três
Bocas. “[...] A instalação do município se daria apenas 5 anos mais tarde, através do
Decreto Estadual assinado pelo interventor Manoel Ribas, em 3 de dezembro de 1934”.
Sua instalação foi em 10 de dezembro do mesmo ano, data que se comemora o
aniversário da cidade (ALMEIDA, 2004, p. 11).
Desenhada como um tabuleiro de xadrez a cidade de Londrina foi
assim contando com 250 quadras onde suas medidas tinham aproximadamente 10.000
m² cada, para uma estimativa de abrigar 20.000 habitantes Paula (2006).
O café grande produto de exportação brasileiro deu o grande impulso
para a expansão da cidade de Londrina, físico-territorial e populacional aumentando em
muito o número de suas construções.
Traçando um perfil cronológico da constituição da cidade de Londrina a
década de 1930 é marcada pelo cultivo do café, desencadeando a abertura de novos
loteamentos fora dos limites traçados pela primeira planta da cidade, como ressalta
Passos (2006). Tanto o especulador de terras quanto o sitiante foram importantes no
processo de expansão das fronteiras da cidade. Já na década de 1940, a formação da
área central da cidade deu um panorama de como a cidade estender-se-ia a mais do
que os limites estabelecidos na planta original, assumindo fortes traços de
desenvolvimento, tem a sua consolidação de cidade administrativa e de serviços
prestados. A década de 1950 foi marcada pela expansão da cidade como um todo,
considerada uma das décadas mais importantes para o desenvolvimento estrutural da
cidade, onde toda uma configuração territorial existente foi modificada, dotada de
asfaltamento das ruas, ampliação no setor de serviços do qual a cidade necessitava
FOTO 1: Primeira Planta do Parcelamento Urbano da Cidade de Londrina Fonte: BORTOLOTTI, João Baptista, 2007 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
para o seu desenvolvimento, e pela substituição de casas de madeira para casas de
alvenaria, etc.
Toda esta conjuntura propiciou à cidade crescimento em ritmo bem
acelerado, o café como a produção de outros gêneros agrícolas, deu o impulso para o
seu desenvolvimento, desta forma a cidade de Londrina desde a sua constituição já
criava características de uma economia forte e crescente.
Todas as prerrogativas adotadas para o contexto da região foram de grande relevância para o sucesso da ocupação do Norte novo do Paraná. Sendo, Londrina a cidade pioneira desse processo, que através de sua rápida evolução urbana, imprimiu marcos de modernidade, sendo o precoce processo de verticalização de suas edificações um dos responsáveis dessa postura de vanguarda, garantida e viabilizada pelo excedente oriundo da pequena produção mercantil agrária e urbana (CASARIL, 2008, p. 85-86).
Nesta dinâmica de desenvolvimento, e de condições de melhoria como
um todo, a cidade vai evidenciando em sua paisagem a construção de várias casas e
tão logo o surgimento de seus primeiros edifícios, atestando sua riqueza e
prosperidade.
A cidade de Londrina é marcada por um crescimento muito acelerado
desde o início de sua constituição, como apresentado no quadro 1 onde será
apresentado o volume de suas construções, neste primeiro momento evidenciam-se o
volume da construção de suas casas.
QUADRO 1: Volume de construções nos primeiros anos da cidade de Londrina Fonte: PRANDINI, Neyde, 1954 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos
Ano Número de construções
1940 2.224
1944 3.708
1949 5.000
1950 6.214
Desde o início de sua constituição a cidade de Londrina, apresenta-se
como uma cidade caracterizada pela segregação urbana, tem-se áreas mais
valorizadas em detrimento de outras, obrigando uma população com menor ou nenhum
poder aquisitivo a residir fora do perímetro urbano da cidade, com terrenos de baixo
preço e desvalorizadas comercialmente, a grande conseqüência do aumento desta
população foi devido à ocupação de áreas limites que não foram inscritas no projeto
inicial da CNTP.
A inserção de Londrina na dinâmica produção agrícola de gêneros alimentícios diversos, matérias-primas e café; realizados em pequenos e médios estabelecimentos rurais; com predomínio da força de trabalho familiar; produção destinada ao mercado; a exigirem da cidade atividades como transporte, armazenagem, beneficiamento, comercialização, sistema bancário, dentre outras, criaram as condições para que o núcleo urbano fosse sendo rapidamente produzido. Não deixa de ser sintomático o fato de que ao final da década de 1930, já serem produzidos os primeiros loteamentos fora dos limites da planta original elaborada pela CNTP, ao norte da mesma (PASSOS, 2006, p. 40).
MAPA 1: Localização da cidade de Londrina – PR em relação ao norte paranaense Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Figura 2: Localização de Londrina - Paraná Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Pela grande participação comercial da cidade sendo grande
exportadora de café e pelo seu setor terciário em franco desenvolvimento, Londrina
viveu um momento áureo e de grande expansão.
A construção de edifícios se deu como uma forma de demonstrar a
riqueza que a cidade estava gerando neste período, e como exemplo de outras cidades
brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro. Londrina também passa a ser uma cidade que
começa a construir prédios de vários andares “[...] não como índice de falta de espaço,
MUNICÍPIO DE LONDRINA
ESTADO DO PARANÁ
BRASIL
mas atestando a riqueza da cidade e sua chegada a uma base de princípio de
maturidade” (PRANDINI, 1954, p.67).
Como ressalta Passos (2006), ao mesmo tempo em que temos a
produção do espaço urbano da cidade de Londrina pela especulação imobiliária e
fundiária, as desigualdades sociais do ponto de vista da moradia também são acirradas.
De acordo com Prandini (1954), os primeiros edifícios registrados na
cidade de Londrina datam da década de 1950, onde somava-se 96 edifícios com 2
pavimentos e três prédios de 8 andares em construção, na data referida, porém o
período de mais destaque caracteriza-se entre os anos de 1970 a 1980 como ressalta
Casaril (2008), no qual veremos a seguir.
Devido às grandes transformações ocorridas com maior intensidade no
campo a partir da década de 1960, com a modernização do mesmo pelas máquinas e
outros implementos, fizeram com que grande parte dos trabalhadores do campo,
fossem expulsos de suas terras por não se adequarem mais, ao novo sistema de
manuseio da terra. Muitas famílias dirigiram-se aos grandes e médios centros urbanos
tendo que adequar-se a nova realidade imposta, onde também neste mesmo período
registra-se o crescimento urbano e industrial pelo qual passou todo o país.
Para atestar a mudança populacional que ocorreu na cidade de
Londrina Passos (2007), fez um levantamento da população urbana em relação a
população rural, cerca de 52% da população concentrava-se na área rural, em 1960
43,24,%, e já na década de 1970 a mesma começa a se destacar na área urbana
concentrando 72% da população total da cidade.
Hoje com os dados populacionais do IBGE (2008), a cidade de Londrina
tem uma população de 505.184 habitantes, um crescimento bastante rápido se
considerado o ano de constituição da cidade.
O quadro 2 mostra a evolução populacional na cidade desde a década
de 1950.
Para (TAKEDA, 2004, p.100), o processo de verticalização na cidade de
Londrina, “busca justificar a cidade como moderna”, isto é, enumerar elementos onde a
cidade poderia comparar-se com as grandes cidades brasileiras, tanto em importância
econômica como na sua configuração espacial.
MAPA 2: Projeto Inicial da Cidade de Londrina Fonte: MÜLLER, Nice Lecocq, 2007
Escala Aproximada: 1: 25.000
ANOS POPULAÇÃO
TOTAL
POPULAÇÃO
URBANA
POPULAÇÃO
RURAL
1950 71.412 34.230 37.182
1960 132.821 77.382 57.739
1970 215.576 156.352 59.224
1980 292.790 257.859 34891
1991 390.100 366.676 23.424
2000 446.822 422.573 22.249
2008 505.184 _ _
Quadro 2: Evolução da população de Londrina de 1950 – 2000 Fonte: IBGE: 1950 – 2008, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Esse intenso e rápido aumento populacional é um dos fatores
fundamentais para a grande expansão físico-territorial de Londrina mediante ação de
diferentes agentes produtores da cidade que impulsionaram a especulação imobiliária e
a segregação sócio-espacial.
3.2. Processo de Verticalização na Cidade de Londri na: 1950 – 2000
A década de 1950 no Brasil foi marcado inicialmente pela gestão de
Vargas, que assume a presidência da República em janeiro de 1951, onde duas
correntes de pensamento existentes para o desenvolvimento do Brasil precisavam ser
decididas, a primeira era a desnacionalização, ou seja, a vinculação da economia
brasileira ao capital estrangeiro e outra vinculada à manutenção das riquezas nacionais,
e o desenvolvimento de uma economia nacional forte e centralizada, onde ao oposto da
primeira corrente era o desvinculamento total ao monopólio de capital estrangeiro Silva
(1992).
Ao posicionamento a ser tomado, decidiu-se então optar por uma
posição não tão rígida e que beneficiasse de certa forma aos dois paises envolvidos na
questão: Brasil X Estados Unidos, desta forma o Governo de Getúlio caracterizou-se
por facilitar investimentos de capitais privados estrangeiros, juntamente com os de
capital nacional.
Com base em empréstimos de bancos norte-americanos inicia-se então
programas que irão investir em infra-estrutura como energia, transportes, e o
desenvolvimento industrial, como as industrias de base como siderurgia, petroquímica,
etc.
Foi neste contexto de investimentos industriais, que a cidade de
Londrina, beneficiou-se na construção de edifícios. Há de se ressaltar que o Brasil
neste momento começava a ter sinais do desencadeamento de uma crise, pois a alta
inflacionária gerada por muitas emissões para atender a indústria, tendia a muitas
tensões, alem disto, “[...] O custo de vida atingia proporções insuportáveis,
notadamente para a classe operária. Isso avolumava as tensões sociais, já que os
reajustes salariais eram esporádicos e não acompanhavam a inflação [...]” (SILVA,
1992, p. 271).
Diferentemente das ocorrências no cenário nacional a cidade de
Londrina dentre todas as cidades criadas pelos projetos da CTNP, passa a ter neste
período uma alta taxa de urbanização verificada pelo seu alto desenvolvimento
econômico, dado à produção e exportação do café e no que concerne ao crescimento
do setor secundário e no setor de serviços onde se observava cada vez mais o
melhoramento de suas infra-estruturas Fresca (2002).
A década de 1950 é o período de maior expansão físico-territorial,
econômica e populacional, vistos até então na história da cidade de Londrina;
economicamente apresentava-se como uma das cidades mais importantes na produção
e exportação agrícola, sendo considerada mundialmente como a “capital mundial do
café”, além de outros gêneros alimentícios (FRESCA, 2002.p. 240). É neste momento
que os vazios urbanos eram ampliados, e que a segregação sócio-espacial torna-se
uma das características mais importantes da cidade.
Os edifícios foram construídos na cidade de Londrina como fator de
modernidade, e de riqueza que também caracterizavam esta fase como os “anos
dourados”. “Portanto, os edifícios altos representam muito bem o sentido dessa
modernidade, pois trouxe a partir da construção dos mesmos, sucessivas inovações
cientificas e tecnológicas ao ambiente urbano londrinense logo em suas primeiras
décadas” (CASARIL, 2008, p. 103).
É também neste período que as casas que antes eram feitas de
madeira foram sendo substituídas pelas casas de alvenaria, vindas juntamente com
toda uma melhora em infra-estrutura, como asfaltamento de ruas, iluminação pública,
abertura de vias, transporte etc.
Lembrando outras cidades brasileiras a cidade de Londrina também
tem a localização de seus edifícios no centro da cidade como sendo o local de maior e
melhor infra-estrutura urbana, destacando assim que todos aqueles com melhores
condições financeiras ali fixavam suas moradias.
O quadro 3 mostra a crescente construção de edifícios na cidade de
Londrina no período de expansão de seus “anos dourados”, e como ressalta Passos
(2005) um dos grandes prismas entendedores para a expansão dos edifícios na cidade
de Londrina, foi pelo elemento “modernizador”, ou seja, como ressaltado anteriormente
se comparado aos pólos industriais e urbanos das grandes e médias cidades
brasileiras.
O mapa 3 apresentado evidencia um maior número de construções no
centro da cidade, isto deve-se ao fato de melhor localização e infra-estrutura
adequados a suprir necessidades existentes no período. A maioria dos edifícios
construídos atendiam tanto ao comércio e serviços como para habitação.
As construtoras e incorporadoras responsáveis pela construção dos
edifícios na cidade de Londrina no período de 1950 – 1959 foram a Construtora Brasil
S. A.; Construtora de Londrina Ltda.; Construtora Comercial e Industrial – COMASA S.
A. (de Curitiba); Construtora Brasília; Construtora Bresslau e Bastian Ltda.;
Incorporadora Alvorada e Construtora Veronesi, a de maior destaque no período. Com
forte influência na construção civil em seu país de origem (Itália), a família Veronesi
liderada por Arturo e filhos Remo e Rômulo estabeleceram grandes parcerias na
construção civil na cidade de Londrina que culminaram nos empreendimentos: Folha de
Londrina; Centro Comercial, entre outros Casaril (2008).
Além das construtoras supracitadas de grande participação no período,
destaca-se a atuação do Estado local na aprovação de leis municipais que passou a
regular o uso do solo na cidade de Londrina entre os anos de 1951 - 1955 Casaril
(2008).
QUADRO 3: Edifícios construídos em Londrina na década de 1950 Fonte: PAULA, 2006; CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Como ressalta Casaril (2008) a cidade de Londrina desde o início
de sua constituição tornou-se uma cidade-referência e centro de abastecimento para as
demais cidades vizinhas, tornando-se também principal local para o comércio de
produtos agrários e terras, e deslanchando assim todo o seu processo terciário com
transações financeiras, empréstimos, investimentos, etc. Assim como planejar e criar
Nome do Edifício Ano de Inauguração Número de Pavim entos
Santo Antonio 1950 11
Autolon 1951 6
Sahão 1952 9
Sul Brasileiro 1952 14
Monções 1953 9
Drogasil 1953 5
Souza Coelho 1954 8
Bosque 1955 18
Conjunto Centro
Comercial
1955
18
Madagascar 1955 7
Manella 1956 10
Tókio 1956 14
América 1957 15
Alvorada 1957 14
Denes 1958 8
TOTAL 166
MAPA 3: Espacialização dos Edifícios Construídos na década de 1950-1969 Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
uma rede de cidades para atendimento e abastecimento para que fossem garantidas as
condições necessárias ao negócio agrário paranaense Arias Neto (1998).
A construção dos edifícios na década de 1950 tem a singularidade de
serem construídos para atender uma demanda do comércio na cidade, isto é, um forte
vinculo ligado ao setor de serviços, a evidenciar as grandes lojas e boutiques, dando
referência a tendência internacional Casaril (2008).
O ano de 1955 tem maior destaque no período com edifícios de 15
pavimentos ou mais e também de maior área construída com cerca de 28.627,20 m²
verificando assim edifícios muito altos na cidade, somando-se cerca de 29,40% da
construção em todo o período.
A década de 1960 por sua vez foi impactada com perda de ritmo de
crescimento e por processos diversos, o país foi controlado pelos militares a partir de
1964.
O regime militar no Brasil foi marcado por uma grande crise econômica,
onde a inflação, entendido como - aumento geral dos preços - resultante na perda do
poder aquisitivo da moeda chegou a índices gigantescos, mas que em contrapartida
recebeu muitos investimentos estrangeiros e empréstimos realizados pelos governos.
A inflação de 31% anual – índice altíssimo considerando a época -, devido ás constantes emissões monetárias e a divida externa, a desvalorização da moeda, a falta de correspondência entre o aumento dos salários e o aumento do custo de vida, as tensões sociais decorrentes destes fatores, as violentas disparidades regionais, a existência de bolsões de miséria, os constantes êxodos de nordestinos e camponeses de outros estados que procuravam as cidades industrializadas para fugirem à miséria do campo e as exigências do capital monopolista [...] (SILVA, 1992, p.281).
Entre 1968 – 1973, o período conhecido como milagre brasileiro foi de
recuperação econômica, regressão e estabilização do índice inflacionário, e altas taxas
de crescimento industrial e econômico - foi fundado o Plano Econômico de
Desenvolvimento (PND), que visava transformar o país numa potência econômica
capaz de competir com outros países no setor industrial Silva (1992).
Em suas ambigüidades o período do “milagre econômico” trouxe para o
país além de grandes empréstimos externos, investimentos de multinacionais,
achatamentos salariais, e uma abertura a economia estrangeira, o crescimento
avassalador das desigualdades sociais, e o aumento considerável da concentração de
renda.
Segundo Fresca (2002), a cidade de Londrina como em todo o norte do
Paraná foram afetados como as transformações econômicas que ocorreram em todo o
país, num primeiro momento toda esta área tinha a característica de ser o local da
expansão pioneira, pela incorporação de novas terras, e uma densidade demográfica
que estava em crescimento bem como a expansão de uma forte produção
agropecuária, e responsável pela grande base econômica de nosso país: o café, “[...]
apoiada numa estrutura dimensional de pequenos estabelecimentos rurais, e
predomínio da força de trabalho familiar [...]” (p. 245) onde com as mudanças ocorridas
no campo com os novos implementos tecnológicos para o manuseio do solo permitiu
que estas relações fossem alteradas.
Londrina começa então voltar-se para outro foco de suas atividades
tanto no campo com outras culturas; a soja e o trigo e conseqüentemente uma drástica
diminuição na produção de gêneros alimentícios, e na área urbana onde as atividades
comerciais, a prestação de serviços e o setor financeiro começam a ter pontos de
destaque no comando da economia local Paula (2006).
No período seguinte, década de 1960 há uma evolução na construção
dos edifícios construídos na cidade de Londrina, fazendo uma comparação com o
período da década de 1950, segundo Casaril (2008), foram construídos 45 edifícios, ou
seja, mais que o dobro se comparado a década anterior.
A década de 1960 foi decisiva na reestruturação urbana da cidade de
Londrina, este novo direcionamento se deu pela grande população migratória que
acabara de chegar a cidade. É neste momento que como ressalta Fresca (2002) a partir
de medidas e leis federais surge em Londrina a COHAB-LD para tratar das questões
habitacionais, cria-se a Lei de Zoneamento para a cidade, bem como a incorporação de
outras áreas que não estavam previstas no projeto inicial da constituição da cidade
devido à expansão da malha urbana.
Como ressalta Paula (2006) é neste período de mudança efetiva da
funcionalidade urbana que surgirão prédios de cunho comercial, para atender uma nova
expectativa da cidade, como é o caso, por exemplo, do edifício Júlio Fuganti, que
localiza-se no centro da cidade na rua Souza Naves onde concentram-se atividades
estritamente comerciais.
Marcada pelo regime militar a década de 1960, mais precisamente no
ano de 1964, foi registro de uma alta inflacionária próxima de 100%, onde a dívida
externa alcançava seus 3 bilhões de dólares, e não eram concedidos créditos
internacionais para a compra de importações como, por exemplo, o petróleo. Desta
forma o governo criou o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG), onde garantiu
considerável baixa nas taxas de inflação, estabilizada a 20 e 25% ao ano Silva (1992).
[...] redução drástica do déficit publico, eliminando as despesas não-essenciais; controle do credito ao setor privado; aprimoramento do sistema tributário para aumentar a arrecadação dos impostos e, como não podia de fugir da regra, a adoção de uma política de achatamento salarial (SILVA, 1992, p.303)
Relacionada a medidas para a questão habitacional, por exemplo, o
Sistema Financeiro de Habitação (SFH), contribuiu para que as classes altas brasileiras
pudessem especular no mercado imobiliário, “[...] e para o vertiginoso desenvolvimento
da construção civil [...]” (SILVA, 1992, p. 306), também é criado sob a Lei de número
4.380 de 21/08/64 o BNH (Banco Nacional de Habitação), que surge como uma
possibilidade de solução dita empresarial, encontrando em vários fatores e medidas de
ordem técnica e nos dizeres dos novos líderes do regime militar “[...] soluções
politicamente neutras” e lhe seria destinado à competência para, “[...] promover a
construção e a aquisição de casa própria, especialmente para as classes de menor
renda” (AZEVEDO e ANDRADE, 1982, p. 61).
O BNH concedia empréstimos a construtoras aumentando lucros das
mesmas na medida em que aceleravam as construções e reduziam custos, podendo
assim usar dinheiro público para seus empreendimentos. Abria-se créditos a população
a longo prazo para que pudessem adquirir seus imóveis, e é desta maneira que grande
parte da camada assalariada saía em desvantagem pois os salários eram reajustados
anualmente em quanto que as parcelas de crédito eram reajustadas trimestralmente.
O quadro 4 a seguir mostra o número de edifícios construídos na
década de 1960 e o número da percentagem em Londrina.
Observa-se que foi nos anos de 1965 e 1968 que houve maior número
de construção de edifícios, mas com forte participação daqueles com poucos
pavimentos. Só na última data citada é que os edifícios de elevado número de
pavimentos cresceu. Mas, mesmo em período conturbado econômica e politicamente,
45 novos edifícios foram construídos na cidade.
ANO NOME DO EDIFÍCIO Nº DE PAVIMENTOS 1960 Rosseto 11 1960 Piauí 4 1961 Caminhoto 13
1961 Hotel Bourboun 9 1961 Miguel Bespalhok 8 1961 Santa Helena 12 1961 São José 4 1962 Júlio Fuganti 12 1962 Hotel Varsóvia 5 1962 Hospital Santa Casa 4 1963 Glória 13 1963 Hotel Coroados 4 1963 Mônaco 13 1963 Marcília 4 1964 Cinzia 24 1964 União 11 1965 Arthur Thomas 17 1965 Banco BNCO 4 1965 Campinas 4 1965 Central 4 1965 Hotel Cristal 6 1965 Ohara 12 1965 Prost de Souza - a 4 1965 Prost de Souza - b 4 1965 Prost de Souza - c 4 1965 Prost de Souza - d 4 1965 Rádio Londrina 9 1965 Ribeiro Pena 12 1966 Santa Mônica 17 1967 Canadá 4 1967 Elizabeth 4 1967 Wille Davids 15 1968 Adma Caram 22 1968 Ângela 4 1968 Erica 4 1968 Guanabara 4 1968 Leda - A 4 1968 Leda - B 4 1968 Itaipu 10
1968 Jamile Caram 15 1968 Panorama 13 1968 Regina 16 1969 Dona Adelaide 4 1969 Sona Ana 4 1969 Tuparandi 17
TOTAL 396
QUADRO 4: Edifícios construídos na década de 1960 Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
O mapa apresentado evidencia a espacialização dos edifícios na
cidade de Londrina no período de 1960-1969, onde ocorre a primeira desconcentração
destes do centro em direção a outras áreas da cidade, aumentando a expansão das
áreas limítrofes da área urbana. Este é o período marcado pelas mudanças físico-
territoriais na cidade de Londrina, caracterizado pela grande migração populacional do
campo brasileiro em direção as cidades. Desta forma, devido a investimentos do
governo nacional, bem como as políticas locais foram construídos neste período muitas
habitações populares, como mencionado anteriormente.
Os anos de maior destaque dos edifícios construídos neste período
trata-se do ano de 1965, totalizando um número de 12, onde representa cerca de
26,67% do total de edifícios construídos, em seguida aparece o ano de 1968 com um
total de 11 edifícios onde representa um total de 24,45% do total, em seguida 1966 com
apenas 1 edifício construído.
Como já supracitado a década de 1960 é marcada pelo dobro de
construções se comparado ao período anterior Casaril (2008).
O que vem a caracterizar também a década de 1960 na construção de edifícios é
o aparecimento dos edifícios construídos em regime de Condomínios, sistema de
construção onde o valor do edifício fica a preço de custo, ou seja, determinado grupo de
pessoas reúne-se em prol de construir um edifício, no qual cada pessoa paga pelo valor
da parcela a ser destinada para a construção do empreendimento, diminuindo-se assim
maiores gastos com a obra, o andamento e conclusão da mesma depende do
investimento a ser destinado, e se não houver atrasos para estes pagamentos.
O processo de verticalização, bem como o desenvolvimento de
várias áreas produtivas brasileira é o reflexo de como a economia estava reagindo e
como conseqüentemente cada governo a administrava. Este é o caso da década de
1960 onde a desvalorização da moeda, levou a uma queda do poder aquisitivo parte da
população e conseqüentemente de empresas e indústrias de capital nacional.
O ano de 1964 marca o inicio do regime militar no Brasil, isto
causou uma mudança estratégica no processo econômico brasileiro. Essencialmente
agrário e rural, para um desenvolvimento baseado nas indústrias, com interligação
entre as diferentes Regiões do país, isto é, implementação de obras públicas como a
construção de vias federais e municipais e no desenvolvimento mais expressivo das
áreas urbanas.
A década de 1960 marca um período de grande inflação no país
onde empresas passaram a ter uma redução em seus lucros, e assim tomaram
medidas nas quais elevaram seus preços, numa tentativa de que com isso o governo
brasileiro aumentasse suas compras no setor privado, bem como a ampliação e
aumento para pedidos de crédito Passos (2007).
A origem deste processo como ressalta a autora supracitada foi em
função do período da II Guerra Mundial onde a escassez de mercadorias, e com “largas
emissões” (p. 81) de moeda fizeram com que desequilíbrios nas contas externas
desestabilizassem economias em todo o mundo.
É neste período que a construção civil, os alimentos e a indústria
têxtil foram os setores da economia brasileira que mais sentiram os efeitos da inflação.
No que concerne, os alimentos e a indústria têxtil foram as que sentiram o peso da
perda do poder de compra dos salários, e onde a construção civil, área que tinha
determinados privilégios dentro da economia nacional foi afetada pela redução das
obras públicas em todo o país, criando assim benefícios para que empresas
MAPA 4: Espacialização dos Edifícios Construídos na cidade de Londrina na década de 1960 Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
estrangeiras se instalassem no país e obtivessem acesso fácil a financiamentos e a
empréstimos.
Com a crise do petróleo em 1973, o Brasil sofre os efeitos da alta dos
preços já que importava cerca de 80% do produto, atingindo consideravelmente a sua
balança comercial, desta forma o processo do “milagre econômico” brasileiro começa a
deflagrar.
A verticalização na cidade entre 1970 – 1980 é marcado pelos
conjuntos habitacionais que por ora se localizavam na porção norte da cidade, local de
maior expressão, mas que em outras áreas também foi qualitativa a participação da
construção dos edifícios, período em que vieram a incorporar as áreas que não faziam
parte do perímetro urbano em seu projeto inicial, portanto incorporando áreas rurais à
malha urbana.
Os conjuntos habitacionais surgiram para atender a uma demanda
populacional que estava crescendo cada vez mais na cidade, e precisavam ser
resolvidas as questões habitacionais.
Em relação à porção norte da cidade, em meados dos anos de 1970, inicia-se a construção de conjuntos habitacionais, incorporando novas áreas a malha urbana, processo este que teve prosseguimento nos anos de 1980 e 1990, com pequenas mudanças nas formas de incorporação e dos agentes responsáveis Esta área até meados dos anos 1980, foi incorporada basicamente pelo poder público, num processo contínuo de construção de conjuntos habitacionais, havendo destaque nos anos de 1990, para uma intensa proliferação de loteamentos particulares. Os agentes produtores deste espaço foram em geral pequenas construtoras que se associou com os proprietários fundiários e com imobiliárias para revenda de terrenos [...] (PAULA, 2006, p. 55).
É o período que marca a fase final do chamado “milagre econômico”, e
onde inicia-se o processo de recessão no país, que culminara em 1980 como a “década
perdida”, período em que os índices de crescimento no país eram inexpressivos, se
comparado ao período anterior.
Há uma forte desaceleração da economia e do crescimento, pois com a
inflação houve a permissão para que esta voltasse a crescer vertiginosamente. Como
estratégia o governo mantinha elevadas taxas de juros internamente, no intuito de com
isso conter a fuga de capitais e estimular um alto grau de endividamento com as
empresas internacionais.
O contexto da década de 1970 tanto para a cidade de Londrina, como
em todo o país vai experimentar um intenso processo de crescimento econômico, o que
para a construção dos edifícios vai dar continuidade a uma posição precoce desde o
inicio de sua constituição.
Uma das explicações para o número significativo de edifícios em Londrina no terceiro período de verticalização seria a questão da inflação, pois como já mencionamos a inflação realizava a depreciação da moeda o que levava poupadores e investidores a aplicarem seus rendimentos na construção civil, visando obterem maiores rendas. Conseguiam com a verticalização urbana, mediante a construção de um edifício a multiplicação do solo urbano e ao mesmo tempo a (re) produção de seus capitais (CASARIL, 2008, p. 149).
ANO NÚMERO DE EDIFÍCIOS CONSTRUÍDOS
1970 7 1971 5 1972 7 1973 21 1974 11 1975 14 1976 18 1977 20 1978 6 1979 7 1980 23 Total 139
QUADRO 5: Edifícios Construídos em Londrina: 1970-1980 Fonte: Paula, 2006 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
A efetivação dos edifícios construídos na cidade de Londrina no período
de 1970 – 1980 é um marco para a construção civil, em especial para as construções
de edifícios de habitações populares.
As construtoras mais importantes no período são: Brasília, Plano’s,
Mavillar, Plaenge, Khouri, Dinardi, Cebel, Santa Cruz Engenharia Ltda., Quadra,
Simamura Daiua House/ Artenge, Brastec.
Passos (2007) ressalta em sua pesquisa que na década de 1970
construtoras de destaque na atualidade, já estavam presentes. É o caso, da
construtora Plaenge que construiu 3 edifícios, ressaltando-se que esta construtora
iniciou suas atividades no ano de 1970 na cidade de Londrina, também local de sua
origem.
Conhecido como o período de maior recessão na história do país, o
início da década de 1980 é marcado por uma série de medidas tais como: incentivos
fiscais, subsídios para as exportações, desvalorização absurda da moeda brasileira em
1983, o que em primeiro momento causou um superávit na balança comercial Silva
(1992), ocasionando um “[...] superendividamento interno e externo, do aumento do
déficit público e da inflação galopante. (SILVA, 1992, p. 321).
A aceleração inflacionaria gerava um sério dilema para o governo Sarney, pois o pulo do patamar de 230% para 450% anulava a perspectiva de estabilização, apesar da boa performance da economia brasileira em 1985 e o inicio de 1986, momento em que empresários recomeçaram a investir no setor de produção (SILVA, 1992, p. 321).
Período de uma crise social-econômico onde vários setores da
economia estavam paralisados, porém somente o setor da construção civil foi o menos
afetado dentre todos, tanto isto justifica-se que no ano de 1986 verificou-se um
crescente número de edifícios construídos na cidade de Londrina. Conhecida como a
“década perdida” a década de 1980 foi o reflexo aos períodos anteriores de estagnação
econômica no qual o país perpassava.
É neste período que vários planos para estabilização econômica
surgiram, a destacar temos:
• Plano Cruzado, no governo de José Sarney em 1986,
trocando a moeda de cruzeiro para cruzado, congela os preços por
determinado tempo, os salários corrigidos em 60% em relação a
variação ao custo de vida, o que causou um aquecimento
econômico momentâneo da economia, em que as vendas de
produtos de consumo duráveis aumentaram cerca de 33,2% e a
taxa de desemprego caiu para 4,4%.
As taxas de crescimento baixas e a perda do desenvolvimento
nacional acentuada retomaram a taxa inflacionária vivida em
momentos anteriores acompanhada por uma alta taxa de juros. O
setor da construção civil recuperava-se lentamente.
• Plano Bresser (1987) iria promover o congelamento dos
salários, dos preços e dos alugueis por três meses, porém as taxas
de juros foram mantidas para que houvesse uma inibição da
especulação e o aumento do consumo de bens duráveis.
Como o plano anterior o Plano Bresser não atingiu seus objetivos, pois
pela lógica com os preços congelados rapidamente houve uma grande procura para o
consumo tanto dos alimentos como em produtos de bens duráveis.
Em 1988 o setor da construção civil concentrou as suas atividades na
participação da iniciativa privada, e desta forma houve construções de imóveis de alto
padrão e de grandes empreendimentos voltados para o comércio, na construção de
edifícios os índices gerais atingiram por volta de 21,6% do mesmo ano, e a
incorporação responsável pela aquisição de terras, por exemplo, ficou em torno de
7,6% Passos (2007).
Na cidade de Londrina, houve um desenvolvimento bem acentuado no
que diz respeito ao processo de verticalização, como ressalta Casaril (2008) temos:
• Período de maior construção de edifícios;
• Grande atuação da construção dos edifícios sob o sistema
de condomínios, citado anteriormente;
• Atuação de órgãos públicos como a COHAB-LD (Companhia
de Habitação de Londrina), INOCOOP-PR (Instituto de Orientação as
Cooperativas Habitacionais), IPE (Instituto de Previdência do Estado), CAAPSML
(Caixa de Aposentadoria e Previdência da Prefeitura Municipal de Londrina) e
MAPA 5: Espacialização dos Edifícios Construídos na Cidade de Londrina entre 1970 - 1980 Fonte: Casaril, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
COHABAN (Cooperativa Habitacional Bandeirantes) que deram subsídios e suporte
para a construção dos edifícios.
A grande quantidade de edifícios construídos no período demonstram
as implantações, de vários planos de estabilização econômica. O Plano Cruzado
propiciou a baixa de juros nas poupanças Casaril (2008) fazendo com que boa parte da
população obtivesse bens de consumo duráveis (automóveis, televisores,
apartamentos, etc).
Fato bastante importante deste período é a diminuição da área interna
dos apartamentos onde a uma mudança no mercado consumidor a utilizar os
apartamentos como moradia, isto é, edifícios sendo construídos para uma classe de
poder aquisitivo mais baixo, como demonstrado anteriormente onde órgãos públicos
unem-se para a construção dos edifícios, e onde há a participação também de pessoas
que compram os apartamentos como forma de obterem maiores lucros, os chamados
rentistas.
As principais construtoras deste período foram: Mavillar com cerca de
32 edifícios construídos, Brastec com 14 edifícios, Galmo com 14, Khouri com 8,
Quadra, Dinardi com 7 edifícios, Maranata, Cruciol com 9 edifícios, Garpan, e Danadi
Fogaça e Cia.
A década de 1990 é marcada pelo governo Collor, onde novamente o
país foi surpreendido com novo pacote de medidas econômicas que tinha como
elementos fundamentais Silva (1992);
� Reforma monetária com o retorno do cruzeiro como moeda
nacional;
� Bloqueio quase que total dos ativos financeiros das pessoas
físicas e jurídicas;
� Reforma administrativa que implicava na extinção de
empresas estatais, e de vários órgãos administrativos,
formulando se uma privatização da economia;
� Abertura e redução das dificuldades para as importações,
com o objetivo de aumentar a base tributária;
� Congelamento parcial e controlado dos preços;
� Fixação dos salários, aluguéis e outros rendimentos.
Neste quinto momento de análise temos novamente uma
desaceleração no número de edifícios construídos na cidade de Londrina, devido ainda
a taxas inflacionárias muito altas.
Com a ascensão do então presidente da República Fernando Affonso
Collor de Mello a taxa inflacionária atingiu 81% onde houve novamente a modificação
da moeda Cruzeiro para Cruzado Novo, momento também de implantação do Plano
Collor sendo mais tentativa de estabilidade econômica onde a poupança foi confiscada
e a economia tem forte recessão, principalmente para a construção civil.
A construção de edifícios foi lenta e houve um decréscimo com apenas
78 edifícios se comparado ao período anterior, porém as construções já caracterizam
uma aparência mais arrojada e de importante aspecto de modernidade.
A década de 1990 do ponto de vista da verticalização, com a ascensão
de Collor e a imposição de seu plano econômico resultou inicialmente em redução do
número de prédios. Mas em 1991 a construtora Santa Cruz Engenharia Ltda. Foi
responsável pela produção de 134 edifícios de 4 pavimentos. Da mesma forma outras
construtoras centraram suas ações em empreendimentos com 4 pavimentos como foi o
caso do residencial Bourbon com 10 prédios, Residencial Ouro Verde com 19 edifícios,
Residencial Catuaí com 16 edificações, Residencial das Américas com 89 etc.
Mesmo assim 559 edifícios foram construídos entre 1991 – 2000,
conforme quadro a seguir.
Observa-se que a exceção do ano de 1991, aos demais apresentam
relativa estabilidade em termos de variação numérica. Em parte a continuidade da
verticalização foi garantida pelas iniciativas e políticas governamentais adotadas que
garantiram condição para a atuação da construção civil. Especialmente após 1994,
quando se teve o Plano Real que impôs relativa estabilidade inflacionária.
MAPA 6: Espacialização dos Edifícios Construídos na Cidade de Londrina na Década de 1981-1990 Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
MAPA 7: Espacialização dos Edifícios Construídos na Década 1990 – 2000 Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
ANOS 04 PAVIMENTOS
05 A 08 PAVIMENTOS
09 A 14 PAVIEMENTOS
15 E MAIS PAVIMENTOS
TOTAL P
PERCENTAGEM
1991 165 25 13 13 216 3
38,64%
1992 21 14 5 2 42 7
7,51%
1993 33 8 13 11 65 1
11,36%
1994 0 8 10 10 28 5
5,01%
1995 3 6 10 4 23 4
4,11%
1996 9 13 11 13 46 8
8,23%
1997 16 20 11 10 57 1
10,20%
1998 8 6 9 9 32 5
5,72%
1999 4 10 3 3 20 3
5,58%
2000 6 10 8 6 30 5
5,37%
TOTAL 265 120 93 81 559 1
100,0%
% 47,41% 21,47% 16,63% 14,49% 100,0%
QUADRO 6: Construção de Edifícios na Década de 1990 – 2000 e o Respectivo Número de Pavimentos Fonte: CASARIL, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
4. O PROCESSO DE VERTICALIZAÇÃO NA CIDADE DE LONDRI NA 2000-2008
Neste quarto capítulo iremos abordar a fase mais recente do
processo de verticalização na cidade de Londrina no período de 2000-2008. O recorte
temporal desta pesquisa justifica-se pelo fato de Paula (2006), Passos (2007) e Casaril
(2008) terem desenvolvido trabalhos de grande importância relacionados a esta
temática, e que contribuem para o entendimento do processo de verticalização na
cidade de Londrina, de sua gênese até o ano de 2000. Sendo assim, são os anos
iniciais da presente década do século XXI que ainda não foram estudadas, razão pela
qual estamos efetuando esta pesquisa.
No caso de Londrina, como em muitas cidades brasileiras o processo
de verticalização não está atrelado à questão do déficit habitacional, mas ao processo
de especulação imobiliária, à renda da terra e a um produto (imóvel) criado para
determinado mercado consumidor, com poder aquisitivo elevado a pagar pelos
apartamentos sofisticados e com importante acesso à infra-estrutura.
Construtoras e incorporadoras empenham-se para que a venda de
apartamentos seja efetivada como grande sucesso utilizando-se, por exemplo, da
denominada qualidade de vida, a segurança implícita e explicita vinculada aos
empreendimentos, ao conforto e comodidade proporcionada pelos apartamentos e
adaptados aos desejos e “necessidades” dos consumidores, bem como a localização
dos mesmos em áreas socialmente valorizadas.
Para discutir o processo de verticalização na cidade de Londrina no
período delimitado, correlacionaremos inicialmente ao contexto geral da economia
nacional e sua ligação com a construção civil, evidenciando as principais implicações
da dinâmica econômica para a construção de edifícios na cidade.
Do mesmo modo serão analisados os dados obtidos junto ao Corpo de
Bombeiros realizados em 2007/2008, no que se refere ao total de edifícios construídos,
construtoras, área edificada, proprietários, etc. A sistematização e análise dos dados
estarão dispostos em forma de quadros, tabelas, gráficos e mapas que espacializam os
edifícios construídos, bem como a atuação das construtoras e incorporadoras
responsáveis por estes empreendimentos.
4.1. Desenvolvimento Econômico Nacional Recente e a s Implicações na Indústria da Construção Civil
Neste tópico analisaremos aspectos do processo recente de
desenvolvimento econômico brasileiro, no período de atuação dos governos Fernando
Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio da Silva (LULA), de modo a entender as
implicações para a construção civil.
Nas análises de Paula (2006) e Passos (2007), fatos importantes do
processo econômico brasileiro são destacados, em especial ao período que antecede a
ascensão de FHC ao seu 1º mandato à presidência da República.
No governo de Itamar Franco (que assumiu a presidência do país
após o “impeachment” de Collor) FHC assumiu o Ministério da Economia, com a
responsabilidade de conter mais uma crise econômica, elaborou o Plano Real que de
imediato foi valorizado em 15 % em relação ao dólar.
Depois de anos de grande inflação e sucessivas crises econômicas,
enfim o país teve uma possibilidade de estabilização da economia com o novo plano, e
é neste sentido que FHC ganhou credibilidade e tornou-se presidente da República em
1995, cumpridos os 4 anos de seu 1º mandato e reeleito para a gestão de 1999 - 2002.
Devido à alta valorização do real, que ficou equiparado ao dólar,
então provocou ampliação das taxas de importações para o país, abrindo enorme
dificuldade para as empresas nacionais que não conseguiram competir com os
produtos estrangeiros, muitas empresas enfraquecidas foram vendidas, fusionadas ou
encerraram suas atividades.
As empresas que não foram vendidas sentiram rapidamente os
efeitos da crise, provocando para as mesmas, em escalas diferenciadas: abertura de
falência; perda do controle acionário; dificuldades na produção, devido à alta taxa de
juros; queda nas exportações, devido ao câmbio flutuante; fusão e aquisição por parte
do capital internacional das empresas brasileiras.
Em relação à construção civil, o setor encontrava-se em sérias
dificuldades, desde o período de governo de Fernando Collor de Mello que significou o
confisco dos
[...] ativos monetários disponíveis em instituições financeiras com o objetivo de extinguir a especulação em operações financeiras e estoques de mercadorias, provocou um choque deflacionário que reduziu a liquidez da economia, dificultando o crescimento dos índices inflacionários mediante a uma brusca redução do consumo. Tais medidas provocaram uma recessão profunda iniciada em 1992 que afetaram bruscamente a construção civil, interrompendo a grande seqüência da expansão na construção de edifícios em Londrina (PASSOS, 2007, p. 127).
A estabilidade econômica tão esperada, logo deu sinais de fragilidade
onde para a cidade de Londrina, pôde-se constatar que a década de 1990, mais
especificamente entre 1995 a 1998 teve-se os menores investimentos e pequeno
número de edifícios - período este governado por FHC.
Para Passos (2007) o período referido foi um grande choque negativo
para o setor da construção civil, em especial para o setor imobiliário.
O quadro 7 retrata a queda no número total das construções de
edifícios na cidade de Londrina nos dois mandatos de FHC.
ANOS 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 TOTAL
QDE 185 25 34 8 6 13 19 13 7 22 14 14 360
QUADRO 7: Número de Edifícios Construídos entre 1991-2002 na cidade de Londrina – Análise do governo FHC (1995-2002) Fonte: PASSOS (2007); SANTOS (2008) Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos
O quadro permite verificar que entre 1991-2002 ocorreu a construção
de 360 edifícios com mais de 4 pavimentos. Mas deste total deve-se ressaltar que 134
Governo FHC 2º mandato
1999 - 2002
Governo FHC 1º mandato
1995 - 1998
edificados em 1991, correspondem a um grande empreendimento da construtora Santa
Cruz Passos (2006).
O governo de FHC mediante suas políticas econômicas não foi
satisfatório para o país, sendo marcado por muitas privatizações, além de duas crises
cambiais, a primeira em 1999; e em 2002 quando o risco Brasil alcançou 2.400 pontos,
uma inflação de 14%, e o preço do dólar estava em torno dos R$ 4, Silveira (2008).
Segundo Veríssimo (2000) no governo FHC em sua 1ª gestão ocorreu o
Fórum da Construção Civil, que contou com a participação do então ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – Alcides Tápias, Veríssimo (2000).
Neste fórum estimou-se que no período FHC eram empregados cerca de 13,5 milhões
de trabalhadores, Veríssimo (2000) na construção civil. Mas apesar do elevado número
e das propostas que giravam em torno do setor imobiliário, o déficit habitacional para
famílias carentes sempre esteve longe de ser resolvido.
Marcado por uma gestão extremamente neoliberal, FHC no início do
ano de 2003 entregou a seu sucessor Luiz Inácio da Silva (LULA), um país marcado
pela venda de muitas empresas nacionais, e uma significativa taxa inflacionária.
Para efetivas mudanças LULA propôs em sua gestão, algumas medidas
que primariam pelas questões sociais Silveira (2008), igualmente - a inclusão social,
aos programas sociais e ao desenvolvimento econômico.
A devastação do neoliberalismo provocada pelo governo anterior
causou nos primeiros anos do governo LULA pequenos e inexpressivos índices de
crescimento, sendo considerada a sua primeira gestão pouco satisfatória.
Decorridos os primeiros quatro anos de presidência, LULA reelegeu-se
e implementou em 28/01/2007 o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que
primavam pelas políticas econômicas, “[...] planejadas para os próximos 4 anos
seguintes, e que tem como objetivo acelerar o crescimento econômico no Brasil,
prevendo investimentos totais de R$ 503 bilhões até 2010, sendo uma de suas
prioridades a infra-estrutura [...]” (www.fazenda.gov.br).
A estrutura do PAC é composta por cinco blocos,
(www.fazenda.gov.br),
1. Medidas de infra-estrutura, incluindo a infra-estrutura social,
como habitação, saneamento e transporte em massa, sendo este o
principal bloco do programa;
2. Medidas para estimular o crédito e financiamento;
3. Melhoria do marco regulatório na área ambiental;
4. Desoneração tributária;
5. Medidas fiscais de longo prazo.
Este é o quadro econômico apresentado para o 2º mandato do governo
LULA. As ações propostas pelo PAC, deverão ser implementadas no período de 2007 –
2010, assim como mostra a estrutura do programa (www.fazenda.gov.br).
A meta é obter um crescimento do PIB em torno de 5% ao ano. Isso devera ser
alcançado contornando-se os entraves para o desenvolvimento e com o resultado do
papel “indutor” do setor público, já eu cada R$ 1,00 investido pelo setor público gera R$
1,50 em investimentos privados. Os investimentos de R$ 503 bilhões, até 2010, se
constituem na espinha dorsal do programa de aceleração do crescimento econômico.
Esse conjunto de projetos de infra-estrutura publica devera ajudar a acelerar os
investimentos privados (TOKARSKI; SIMÃO, 2006, p. s/p).
Os investimentos serão aproximadamente da ordem de R$ 67,8 bilhões
para os próximos quatro anos, “[...] investimentos das estatais, financiamentos dos
bancos oficiais e investimentos privados, para atingir o total previsto de R$ 503 bilhões
no período do programa, entre 2007 e 2010” (www.fazenda.gov.br).
Os investimentos serão priorizados da seguinte forma: Rodovias;
Hidrovias; Ferrovias; Portos; Aeroportos; Saneamento; Recursos Hídricos. A origem do
dinheiro advém de R$ 219,20 bilhões de empresas estatais sendo que destes R$ 148,7
bilhões serão investidos pela Petrobrás (empresa de economia mista), com orçamentos
da União e da Seguridade serão R$ 67,80 bilhões e R$ 216,9 bilhões pela iniciativa
privada, induzidos pelos investimentos públicos já anunciados (www.fazenda.gov.br).
Para a infra-estrutura social e urbana serão destinados:
- R$ 8,7 bilhões para o projeto Luz para Todos;
- R$ 40 bilhões para projetos de saneamento básico;
- R$ 106,3 bilhões para projetos de habitação;
- R$ 3,1 bilhões para metrôs;
- R$ 12,7 bilhões para recursos hídricos.
Tokarski; Simão (2006) traçam um perfil geral do quadro econômico do
governo LULA em relação à construção civil, em especial ao setor imobiliário.
Beneficiada por um pacote governamental que inclui redução de impostos, mais segurança para os credores e um orçamento recorde para financiamentos habitacionais – quase R$ 17 bilhões-, a construção civil experimenta, após seguidos anos de estagnação, o tão sonhado espetáculo do crescimento. No primeiro trimestre, o setor registrou uma forte expansão de 7%, movimento duas vezes mais forte que a alta do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas pelo país no mesmo período (TOKARSKI; SIMÃO, 2006, s/p).
Os dados ainda revelam que no ano de 2006 a taxa de crescimento do
setor da construção civil chegou em torno de 10% e a maior contribuição foi do
segmento imobiliário, responsável por uma receita de R$ 75 bilhões anuais,
empregando no período cerca de 15 milhões de trabalhadores entre vagas diretas e
indiretas, Tokarski; Simão (2006).
O setor imobiliário foi o carro-chefe do forte crescimento da construção
civil, rendendo no ano de 2006, ¼ do faturamento total, e das obras públicas, cerca de
45% Tokarski; Simão (2006). Os materiais de construção também movimentaram R$ 50
bilhões e alcançou a margem de 7% no total das vendas, devido à desoneração do
governo nos Impostos sobre Produtos Industrializados (IPI), como azulejos, tintas,
portas e janelas; dados da Associação Brasileira de Indústria de Materiais de
Construção (Abramat).
De acordo com dados da Abramat, de janeiro a maio deste ano houve queda de
2,16% nas vendas da indústria de material de construção. No entanto, se forem
considerados apenas os produtos incluídos na lista de desoneração de IPI, houve um
crescimento de 5,42% nas vendas. “O Governo está certo em investir na construção
civil. Isso não é gasto, é beneficio”, afirma Fox. Segundo o executivo, uma pesquisa
mostra que, nos Estados Unidos, cada dólar aplicado no setor traz um investimento de
US$ 18 na economia como um todo. “O efeito multiplicador é muito grande e rápido”
(TOKARSKI; SIMÃO, 2006).
No quadro 8, Almeida (2008) traçou um perfil comparativo entre as
políticas externas e as práticas diplomáticas entre FHC e LULA, que consideramos de
suma importância para o entendimento das conseqüências impostas ao país, mediante
tais medidas governamentais.
Fernando Henrique Cardoso 1999-2002 Luiz Inácio Lul a da Silva 2003-2004
Multilateralismo e Conselho de Segurança das Nações Unidas*
Multilaterlaismo moderado; ênfase no
direito internacional, mas aceitação tácita
dos “mais iguais”; relações com outras
potencias médias; candidato não-insistente
a uma cadeira permanente no CSNU*.
Forte multilateralismo; soberania e
igualdade de todos os países;
alianças com outras potências médias
e economias emergentes; grande
prioridade na conquista de uma
cadeira permanente no CSNU*.
OMC, negociações comerciais multilaterais e coopera ção Sul-Sul
Participação plena, ativismo moderado;
interdependência econômica e abertura ao
investimento direto estrangeiro; diálogo
mas sem real coordenação com os países
do Sul.
Participação plena, forte ativismo;
soberania econômica nacional e
políticas setoriais de
desenvolvimento; alianças
estratégicas (G-20; G-3, com África
do Sul e Índia).
Globalização e capitais voláteis
No começo, um novo “Renascimento”; sim
a Davos, relações cordiais; sequer
cogitado para ir a Porto Alegre; depois,
limitações, devido às assimetrias e a
volatilidade dos capitais; aceitação
implícita do Consenso de Washington e
suas premissas; sustentabilidade
econômica.
No começo, “um novo mundo é
possível”; sim enfático a Porto Alegre,
um sonoro Não a Davos; depois,
buscando um diálogo realista com os
dois mundos; recusa explícita do
consenso de Washington (consenso
de Buenos Aires); preferência pela
sustentabilidade social.
FMI e condicionalidades
Abordagem não-ideológica; relações
cooperativas durante as turbulências
financeiras (três pacotes de apoio
preventivo: 1998, 2001, 2002); aceitação
enquanto for necessário.
PT opôs-se a qualquer acordo, no
começo; depois, aceitação relutante e
desconfiança silenciosa (novo acordo
em 2003); tolerar, apenas e tão
somente enquanto for absolutamente
indispensável.
Brasil como líder
Visto como resultado da preeminência
econômica e limitado à região; modulação
em função das percepções dos parceiros
regionais (Argentina); consciência dos
limites estratégicos e das capacidades
econômicas do Brasil; cooperação com a
África.
Um dos grandes objetivos políticos,
não limitando apenas à região; pode
ser conquistado com o ativismo
diplomático e as alianças
estratégicas; não existem limitações
aparentes em função de fatores
“reais”; solidariedade com a África.
Características gerais
Integração ao mundo globalizado; desejo
de uma “globalização com face humana”;
abordagem tradicional da diplomacia;
diplomacia tem um papel acessório no
desenvolvimento; diálogo com outros
líderes mundiais, buscando um melhor
ambiente cooperativo para o
Participação num mundo globalizado
com preservação da soberania
nacional; política externa criativa
(“ativa e altiva”); diplomacia tem um
papel substantivo na conformação do
“projeto nacional”; liderança regional e
internacional para mudar
desenvolvimento.
substantivamente e trazer justiça ao
mundo (“nova geografia comercial”).
QUADRO 8: Quadro comparativo da política externa: FHC X LULA Fonte: ALMEIDA, Paulo Roberto de, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Para Martins (2005), o atual governo adota uma,
[...] terceira via que busca estabelecer um ‘neoliberalismo social’. Na base deste neoliberalismo social está a recuperação da capacidade dos gastos do Estado para viabilizar as políticas sociais compensatórias. A estratégia para isso é a contenção e o controle da dívida pública. Mas a sua grande contradição é a de que esta contenção se desenvolve por meio da expansão dos superávits primários governamentais (oriundos das diferenças entre suas receitas e gastos) para reduzir os déficits operacionais (que incluem o pagamento de juros) e seus efeitos cumulativos sobre a dívida. A necessidade de obtenção de superávits fiscais é intensificada pela manutenção de uma política monetária ortodoxa, que prioriza o combate a inflação e eleva os juros [..] (MARTINS, 2005, s/p).
Diante desta análise Martins (2005) ressalta que o governo LULA
prioriza o comprometimento com o desenvolvimento, isto é, atrelados as metas de
geração de emprego, e as políticas compensatórias, mas que infelizmente estes
objetivos estariam longe de serem concretizados, em especial ao combate a fome e a
miséria.
Segundo Gazeta Mercantil (2003), o setor da construção civil no
governo LULA, caracterizou-se por uma elevada taxa no déficit habitacional brasileiro,
de cerca de 12%. “A maioria dos recursos contingenciados é proveniente de emendas
parlamentares, muitas vezes usadas como moeda de troca para obter favores políticos”
(GAZETA MERCANTIL, 2008, s/p).
Em 2003 foi anunciado um pacote de R$ 5,3 bilhões, Gazeta Mercantil
(2003), destinados a construção e reforma de moradias para aproximadamente 359
famílias; 67% destas recebiam menos de cinco salários mínimos, e apesar dos números
consideráveis foram insuficientes para diminuir o déficit de quase 6 milhões de
unidades habitacionais.
A maior cadeia produtiva da indústria da construção civil, segundo a
Construbusiness (2003) revela que a cada ano o déficit habitacional aumenta em 12%,
resultando em cerca de 700 mil famílias brasileiras sem moradia. “[...] Dessa forma na
pior das hipóteses, necessitamos de aproximadamente R$ 10,4 bilhões para a
construção de 700 mil habitações anuais, o que manteria nossa atual situação [...]”
(GAZETA MERCANTIL, 2003, s/p)
4.2. A Construção Civil e a Cidade de Londrina
A situação econômica do país nos últimos anos tem sido favorável a
construção civil, principalmente no que diz respeito à construção de edifícios para
consumidores de alto poder aquisitivo, que constituem a demanda solvável para tais
mercadorias.
Esta fase favorável a produção de edifícios articulou-se à aspectos da
política habitacional nos anos de 2007/2008 com a redução da taxa de juros para
financiamentos de imóveis novos e usados. Só para se ter uma idéia a taxa média de
juros tem oscilado entre 8 a 10% a.a. para imóveis de até R$ 120.000,00.
Segundo Meneguel (2007) é deste modo que Londrina ganha destaque
no cenário nacional. Neste setor o destaque são os edifícios, onde Londrina é
considerada atualmente como a 11ª cidade no mundo em número de edifícios com mais
de 12 pavimentos/andares, e maior número de edifícios por habitante, de acordo com a
pesquisa realizada pela empresa alemã Emporis Buildings que monitora mais de 10 mil
prédios em todo o planeta.
Ainda de acordo com a pesquisa, o quadro 9 revela o ranking mundial
de cidades recém-verticalizadas na construção de prédios X habitantes, evidenciado a
presença de um prédio para cada 1.121 habitantes na cidade de Londrina, bem como
demonstrado para outras cidades, Meneguel (2007).
Uma série de reportagens na imprensa londrinense tem dado destaque
à expansão da construção civil, registrado nos últimos anos na cidade. De acordo com
Meneguel (2008), se a média mensal for mantida e os projetos aprovados pela
prefeitura, o ano de 2008 fechará com recorde de construções, superando o ano de
2000 que teve significativo número de edifícios construídos na cidade de Londrina.
Das verbas liberadas pela Secretaria Municipal de Obras cerca de
750,9 mil m² já foram construídos, que equivalem a aproximadamente 75 quarteirões,
representando por mês cerca de 107,3 mil m² em construção, “[...] se o ritmo se
mantiver, 2008 fechará com quase 1,3 milhão de m² de obra. Desde 2000, a maior
área de construção foi em 2007, totalizando 842,6 mil m²” (MENEGUEL, 2008).
De acordo com e delegado do Sindicato da Habitação e dos
Condomínios (Secovi), a construção civil na cidade está em ritmo acelerado desde o
ano de 2005, mas afirma que o ano de 2008, está sendo um recorde tanto nas
construções quanto nas vendas, “tudo o que é lançado na cidade vende. Nada fica
sobrando, devido à melhora da economia, aos juros baixos e a legislação que esta cada
vez mais segura”, (MENEGUEL, 2008).
Para o vice-presidente do Sindicato da Construção Civil de Londrina (Sinduscon), se a
economia do país continuar crescendo entre 4% e 5% e a inflação baixar, a
aceleração na construção civil pode durar pelos próximos 4 anos, Meneguel (2008).
Empresas diretamente ligadas à construção civil começam a investir em
seus produtos para acompanharem o crescimento da construção civil, como exemplo, a
empresa de elevadores Atlas Schindler situada na zona norte da cidade de Londrina
que em parceria com EUA, China e Suíça têm desenvolvido uma nova geração de
elevadores para suprir a demanda. A dupla - qualidade e eficiência - dos novos
produtos servirão aos empreendimentos imobiliários. Dos investimentos
disponibilizados pela empresa, a soma já ultrapassa mais de R$ 10 milhões, Horta
(2008).
Destacam-se modelos “altamente espaçosos, com mais segurança,
economia e menor nível de ruído” afirma o diretor de produto da Atlas Schindler
(HORTA, 2008, s/p). O novo equipamento também dispensa a casa de máquinas
considerado como importante diferencial, pois amplia as possibilidades da
CIDADES PRÉDIOS/HABITANTES
1ª Benidorm (Espanha) 178
2ª Balneário Camburiú (SC – BR) 424
3ª North Sydney (Austrália) 518
4ª Miami Beach (EUA) 639
5ª Macau (China) 763
6ª Honolulu (Havaí) 881
7ª Hong Kong (China ) 906
8ª Arlington (EUA) 933
9ª Vancouver (Canadá) 1.017
10ª Vitória (Espírito Santo – BR) 1.051
11ª Londrina (Paraná – BR) 1.121
12ª Cingapura 1.155
13ª Bilbao (Espanha) 1.180
14ª Santa Cruz de Tenerife (Espanha) 1.295
15ª Cádiz (Espanha) 1.305
QUADRO 9: Ranking mundial de cidades em construção de edifícios com mais de 12 pavimentos – 2007 Fonte: MENEGUEL, Stella (2007)
construção – o espaço nobre da cobertura fica livre para ser utilizado como um novo
andar ou área de lazer, além de facilitar a adaptação para imóveis que foram
construídos sem elevadores. O sistema de tração também foi redimensionado e
instalado na parte superior da caixa onde corre a cabina no último piso. A economia é
de quase 80% em relação aos sistemas tradicionais, pois os novos modelos têm
acionamento elétrico, Horta (2008).
Desta forma, a relação entre empresas e investimentos gerados em
torno de setores da construção civil e de maquinários diferenciados, traduzem-se em
novas formas de divisão e territorialização do trabalho, das formas capitalistas de
produção.
[...] esses imperativos supõem a permanente negociação da empresa com o poder público e com outras empresas, para redefinir seu comportamento político e os setores e lugares que lhe interessam. É desse modo que se definem e redefinem as localizações, as topologias de empresas (SANTOS, 2004, p. 153).
O fato da empresa de elevadores Atlas Schinder ter impulsionado o
projeto de uma nova linha de seus produtos, juntamente com uma modernização da
produção já existente, diz respeito às políticas regulatórias que manifestam tanto na
economia – no aquecimento da construção civil – quanto dos subsídios concedidos pelo
Estado para estas empresas, como mostra o depoimento do diretor comercial e
marketing da Atlas Shindler “a gente identificou que algo diferente estava acontecendo
e o anseio era a modernização do processo construtivo, porque grandes volumes
seriam solicitados, e o desempenho do mercado é bastante sólido e deve ficar por um
bom tempo” (HORTA, 2008, s/p.).
Londrina é uma cidade em potencial para a construção de edifícios de
alto padrão, é nisto que apostam as construtoras e incorporadoras como Plaenge e a A.
Yoshi, presentes no mercado imobiliário e que tem investimentos pesados em mão-de-
obra em seus empreendimentos.
Para evitar a falta de mão-de-obra, devido ao grande volume de suas
construções, e a pouca especialização dos mesmos, estas construtoras tem oferecido
cursos gratuitos de formação e qualificação profissional. A parceria com Serviço
Nacional de Indústria (Senai), oferece cursos de pedreiro, assentadores de azulejo e de
piso cerâmico. “Nós temos que fazer algo hoje para não ter falta de mão-de-obra lá na
frente. Em doze meses teremos o dobro de serviço que há hoje” afirma o gerente de
Engenharia da construtora Plaenge (HORTA, 2008, s/p.).
A construtora A. Yoshi adota a mesma estratégia, mas com um
diferencial, a qualificação de mulheres. “As mulheres estão conquistando espaço em
várias áreas, mas ainda estão à margem da construção civil. Acreditamos que elas
podem ter o perfil para isso”, afirma o gerente de Recursos Humanos da A. Yoshi, o
gerente esclarece que a idéia surgiu depois de bons resultados, onde as mulheres eram
contratadas para a limpeza final dos apartamentos a serem entregues aos futuros
moradores. O curso de pedreiro azulejista é uma qualificação exclusivamente oferecida
às mulheres (MENEGUEL, 2008, s/p.).
O Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil (Sintracon) defende
igualmente a qualificação de mão-de-obra para a construção civil na cidade, e garantem
que desta forma o número de empregos deverá aumentar - para isso exigiram junto ao
Conselho Municipal de Trabalho a realização de alguns cursos, como assentador de
gesso acartonado, operador de grua, pedreiro, azulejista e eletricista, Horta (2008).
Seminários, eventos e encontros que envolvem as discussões acerca
do processo da construção civil na cidade de Londrina também movimentam o cenário
deste momento favorável da economia brasileira, reunindo sindicatos como o
Sinduscon/Norte (Sindicato da Indústria da Construção Civil), do Sindiccon/Norte
(Sindicato das Indústrias de Lajes e Pré-Moldados, do Sindicer (Sindicato das Indústrias
de Olarias e Cerâmicas para a Construção do Paraná) e de órgãos públicos como a
Universidade Estadual de Londrina (UEL).
Londrina também é destacada como o 35º município no país em
potencial de consumo elevado, de acordo com os números da pesquisa Brasil em
Foco/IPC (TARGET, 2008) ficando atrás apenas da capital paranaense.
O consumidor de elevado padrão gasta aproximadamente R$ 6,4
bilhões - média de R$ 12,8 mil por pessoa em produtos e serviços com maior valor
agregado, onde o aspecto do preço não se torna mais um fator tão importante.
Segundo dados da pesquisa, o consumo per capita de Londrina é 21% acima da média
nacional e mostra que este percentual esta longe de ser esgotado, caracterizando
assim o volume de grandes empreendimentos estarem na cidade.
De maneira geral, os financiamentos e créditos imobiliários nestes
últimos quatro anos têm aumentado numa velocidade constante em todo o país e em
especial na cidade de Londrina, dados da superintendência da Caixa Econômica
Federal – CEF (2008) do norte do Paraná onde indicam que desde o ano de 2006,
houve uma elevação de quase 14% ao ano na quantidade de contratos firmados,
apresentado pelos fatores positivos da economia nacional. Segundo o superintendente
regional da CEF no Norte do Paraná, houve um crescimento do estoque de créditos
imobiliários na região de cerca de R$ 31,1% quando comparado com o primeiro
quadrimestre do ano de 2007, no mesmo período de 2008 o valor foi ultrapassado de
R$ 404,6 milhões para R$ 530,6 milhões, englobando pagamento de parcelas, quitação
de contratos habitacionais e novos financiamentos contraídos Saris (2008).
De acordo com Saris (2008), nos primeiros quatro meses de 2007 o
número de contratos foi de 30.058, e no mesmo período de 2008 foi de 34.434 cerca de
14,55%. Dos 24.434 contratos computados pela CEF no primeiro quadrimestre do ano
de 2008, referem-se a imóveis residenciais – prontos ou ainda em construção, além de
unidades que passaram por reformas ou ampliação do imóvel, sendo que a cidade de
Londrina responsável por 45% do total.
De acordo com o superintendente regional da Caixa Econômica Federal
do norte do Paraná, o mercado imobiliário está muito aquecido, e tem potencial para
crescer ainda mais, previsões estas baseadas na comparação do crédito imobiliário
com o Produto Interno Bruto (PIB), que atualmente está em torno de 1,7%, enquanto
que nações como a Espanha, Chile e México, cujo modelo econômico é semelhante ao
brasileiro, esse percentual e bem maior, respectivamente, 44%, 15% e 11%, o
superintendente ainda afirma que há um déficit de 8 milhões de unidades habitacionais
Saris (2008).
Os financiamentos imobiliários contraídos pela população de média e
alta renda são realizados com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimos (SBPE), os dados são do (BANCO CENTRAL, 2008). Entre os anos de
2005 e 2007, o número de financiamentos para aquisição e construção de imóveis
cresceu 280% no país, sendo que no ano de 2005 foram financiados mais de R$ 4,792
bilhões, e no ano de 2007 foram contabilizados mais de R$ 18,252 bilhões, devendo-se
isso aos juros baratos em termos de mercado, afirma o imobiliarista e presidente do
Sindicato dos Corretores de Imóveis de Londrina (Sincil). O valor das parcelas são
regressivas ano a ano e o sistema prevê uma amortização crescente do valor
financiado.
A classe média tem a maioria dos financiamentos de imóveis com
valores em contratos que variam de R$ 70 mil e R$ 150 mil, em segundo lugar vem à
classe baixa com financiamentos de até R$ 70 mil e em terceiro lugar a classe alta com
contratos acima de R$ 150 mil Saris (2008).
Como já supracitado nos últimos anos os financiamentos e
investimentos vem sendo direcionados a uma parcela da população de alto poder
aquisitivo enquanto o déficit imobiliário para famílias de baixa renda, não são supridos
pelos órgãos públicos responsáveis. Como afirma a superintendência da CEF, que há
um déficit muito grande para imóveis bem abaixo dos R$ 70 mil, ou para aqueles que
não tem a possibilidade de adquirir um imóvel, onde a disputa pela construção dos
imóveis fica a cargo das instituições privadas.
4.3. Análise do Processo de Verticalização na Cidad e de Londrina no Período de 2000-2008
A fim de entendermos a espacialização e as mudanças ocorridas no
processo de verticalização na cidade de Londrina, o item a seguir faz uma análise dos
dados colhidos junto ao Corpo de Bombeiros (Setor de Vistorias – Vila Nova /LD), desta
forma todos os projetos arquitetônicos com edifícios acima de 4 pavimentos estarão
tabulados.
A primeira evidencia ao analisar a construção de novos edifícios na
cidade é a sua relativa desconcentração. Os novos edifícios estão sendo construídos
em maior numero em outras áreas da cidade, de grande valorização imobiliária.
Ao contrário da análise do terceiro capítulo deste trabalho as áreas de
construção de novos edifícios localizam-se fora da área central da cidade,
diferentemente do seu no início dos anos de 1950 – há logicamente algumas exceções,
conseqüência de alguns espaços vazios na área central, que estão em processo de
construção dos edifícios ou de uma área que será desocupada e que porventura
abrigará este novo empreendimento imobiliário. É o exemplo, desta edificação nas
imediações centrais da cidade, conforme foto 2.
A área de grande destaque observada para a construção dos prédios é
a chamada Gleba Palhano, alvo de estudo de Paula (2006), onde trata-se de uma área
de reserva de valor, onde juntamente com a construção do Shopping Catuaí desde a
década de 1990, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade do Norte
do Paraná (UNOPAR) e outras universidades, torna-se hoje uma das áreas mais
valorizadas da cidade, e que nos últimos anos tem sido alvo das construções dos
edifícios e de condomínios luxuosos horizontais.
[...] Estas obras foram executadas pelo poder público mediante pressão das construtoras e incorporadores, que requeriam a construção da mesma por garantir fluidez do trânsito e infra-estrutura em suas terras previamente adquirida. Os discretos congestionamentos da Avenida Maringá proporcionaram pressão pública em direção a instalação de infra-estrutura com recursos públicos. Outro fator que permitiu a valorização da área foi questão ambiental que algumas construtoras incorporam em relação ao Lago Igapó, que devido a ocupações no seu
Foto 2: Construção de edifício na área central da cidade, localizado na rua Paranaguá, Edifício Soho, 600 – ano de construção 2008 Fonte: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
entorno, acarretou diversos processos erosivos e a degradação do lago. Desta forma houve a necessidade do esvaziamento e limpeza do Lago para torná-lo novamente de qualidade (PAULA, 2006, p. 75).
O mapa 8 a seguir mostra a localização da Gleba Palhano na cidade de
Londrina – PR, localizada na porção sudoeste da cidade, bem como a foto 3 mostra
uma visão parcial do local.
Foram feitos levantamentos dos prédios construídos na cidade bem
como suas características físicas; área interna, área total construída, para que fins se
destinam os edifícios (uso misto ou residencial). Em exemplo destes edifícios,
destacamos o SP Towers localizado na Av. São Paulo com Rua Piauí, com um total de
18 pavimentos, tendo a data do edifício de 2003 com uma área total construída de
34.805,15 m², sendo proprietária e responsável pelo empreendimento a construtora
Quadra, uma das principais construtoras em destaque na cidade de Londrina na
construção de edifícios, foto 4.
Pesquisa realizada por Paula (2006) foi traçado um perfil dos
moradores dos edifícios localizados na Gleba Palhano, estes caracterizam-se por
serem profissionais liberais como juízes, professores, arquitetos, engenheiros, além dos
funcionários que trabalham em setores privados, donos de estabelecimentos, etc.,
fazendo parte de um grupo seleto da sociedade londrinense.
Em análise aos dados referentes aos anos de construção dos edifícios,
apresentam-se muitos edifícios sem o nome das construtoras envolvidas no projeto,
revelando a existência do sistema de condomínios ou preço de custo que é,
[...] a contratação de uma construtora por um grupo de condôminos, para efetivar
a edificação. A execução da obra ocorre de acordo com a capacidade financeira dos
proprietários, que pagam mensalmente uma parcela equivalente ao rateio do custo da
mesma. Essa parcela é definida em comum acordo entre condôminos e construtora,
com reajuste anual. A empresa construtora administra a aplicação dos recursos,
prestando conta mensalmente aos representantes do grupo ou a qualquer condômino,
sendo considerada uma forma de construção segura e econômica. Atribui-se ao
sistema, a vantagem da menor incidência de impostos. Executa-se a obra sem que haja
a necessidade do recolhimento de alguns impostos como PIS e COFINS, já que todo o
recurso utilizado na obra é do grupo de condôminos, não estando sujeita à tributação
como uma empresa normalmente constituída [...] (PASSOS, 2007, p.76).
MAPA 8: Localização da Gleba Palhano na Cidade de Londrina Fonte: PAULA, 2006 Org. SANTOS, Cintia Pereira dos
Foto 3: Vista parcial da Gleba Palhano, na porção sudoeste da cidade de Londrina Fonte: CRISTAL, Juliane (2008)
Passos (2007), ainda nos revela que a economia feita neste tipo de
empreendimento é da ordem de 8% a 9% em impostos, mas que todos os encargos
são rigorosamente recolhidos, como é o caso, dos encargos trabalhistas. As parcelas
dos condôminos são ajustadas de acordo com o índice do CUB – Custo Único Básico,
reflexos da variação dos preços da construção civil, divulgado pelo Sinduscon
(Sindicato da Construção Civil).
O mapas 9, 10, 11 são a espacialização dos edifícios construídos
na cidade de Londrina no período de 2000-2008. O mapa 9 refere-se ao total de
edifícios na cidade de Londrina, como marcadamente temos a sua desconcentração
desde o período de 1950, e construídos principalmente para uso residencial de alto
padrão. Logo após o mapa 10 revela-nos a quantidade de pavimentos, este é, portanto
um importante indicativo na medida em que quanto maior um prédio e a quantidade de
Foto 4: SP Towers, localizado na rua Piauí, data de construção do edifico 2003, com 20 pavimentos
apartamentos, maior é a extração da renda da terra, já o mapa 11 é a relação das
principais construtoras no período supracitado.
O quadro 10 sistematiza a quantidade de edifícios construídos no
período e 2000-2008, quanto a quantidade de pavimentos: 4 pavimentos, 5 a 9, 10 a 14
e mais de 15 e total de área construída respectivamente.os anos de maior destaque
são 2000, 2007, 2003 e 2008 respectivamente com 521.465,66 m², 187.051,37 m²,
172.508,13 m², 134.469,66 m².
Mapa 9: Localização dos Edifícios com Mais de 4 Pavimentos por Ano na Cidade de Londrina Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos; CRISTAL, Juliane; CASTRO, Paulo Henrique de, 2008
Mapa 10: Edificações por Número de Pavimentos Construídos na Cidade de Londrina no Período de 2000 - 2008 Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos; CRISTAL, Juliane; CASTRO, Paulo Henrique de, 2008
Mapa 11: Atuação das Principais Construtoras no Período 2000 - 2008 Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos; CRISTAL, Juliane; CASTRO, Paulo Henrique de, 2008
ANOS Nº DE ED.
ATÉ 4 PAV.
ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA
Nº DE ED. COM 5 - 9
PAV.
ÁREA TOTAL CONSTRUÍDA
Nº DE ED. COM 10 - 14
PAV.
AREA TOTAL CONSTRUÍDA
Nº DE ED. COM MAIS DE 15 PAV.
AREA TOTAL CONSTRUÍDA
TOTAL DO
NÚMERO DE
EDIFÍCIOS
TOTAL DA ÁREA
CONSTRUÍDA POR ANOS
2000 2 3.736,32 m² 10 24.850,80 m² 5 25.273,85 m² 5 41.918,89 m² 22 521.465,66 m²
2001 2 2.015,78 m² 4 16.361,78 m² 3 17.195,76 m² 5 84.864,69 m² 14 141.443,01 m²
2002 2 9.226,44 m² 4 11.681,86 m² 4 25.559,71 m² 4 25.861,61 m² 14 70.087,46 m²
2003 1 1911,85 m² 5 10.769,03 m² 4 23.769.86 m² 7 136.056, 99 m² 17 172.508,13 m²
2004 2 5.652,36 m² 3 11.891.15 m² 1 6.526,84 m² 1 25.545,64 m² 7 49.615,99m²
2005 3 29.579.40 m² 2 10.310,49 m² 2 13.830,83 m² 3 39.720,14 m² 10 93.440,56 m²
2006 2 11.446,87 m² 1 2.574,23 m² 1 4.474,74 m² 3 48.569,87 m²
7 67.062,44 m²
2007 3 30.793,12 m² 1 6.406,25 m² 1 5.217,76 m² 9 135.287,12 m² 14 187.051,37m²
2008 _ _ 1 4.298,86 m² 4 26.800,83 7 28.215,99 m² 12 134.469,66 m²
Quadro 10: Edifícios construídos na cidade de Londrina no período de 2000-2008 Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
Os gráficos 1 e 2 apresentam o total de edifícios construídos no
período de 2000-2008 e a área construída.
De um total de 115 edifícios construídos na cidade de Londrina no
período de 2000-2008, cerca de 30,34% traduzem a lógica do sistema de
condomínios, onde não aparecem o nome das construtoras, sendo um dos maiores
percentuais em comparação com outras construtoras atuantes no período.
O quadro 11 apresenta a atuação de algumas das construtoras
mais importantes no período por m².
É nítido a grande quantidade de área construída denominada por
edifícios no sistema de condomínios, sendo melhor o preço a seus consumidores,
logo após tem-se destaque para as construtoras Plaenge, A. Yoshi e FMM, esta
última tem característica empreendimentos para classe de pequeno poder
aquisitivo atender as COHAB’s.
Gráfico 2: Total em área construída por m² entre os anos de 2000 - 2008 Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
ANOS M²
2000 521.465,66 m²
2001 141.443,01 m²
2002 70.087,46 m²
2003 172.508,13 m²
2004 49.615,99 m²
2005 93.440,56 m²
2006 67.062,44 m²
2007 187.051,37 m²
2008 134.469,20 m²
Gráfico 3: Número de Edifícios Construídos em Londrina: 2000 - 2008 Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
ANOS Nº DE EDÍFCIOS
2000 22
2001 14
2002 14
2003 17
2004 7
2005 10
2006 7
2007 14 2008 12
ANO 2000 Condomínios 17.418,62 m² Meta 9.939,72 m² Maranata 9.902,10 m² Brasil Sul 8.715,33 m² Mavillar 6.339,21 m² ANO 2001 Condomínios 42.865,30 m² Plaenge 39.439,53 m² A. Yoshi 25.989,27 m² ANO 2002 Condomínios 24.875,76 m² Serteg 17.426,58 m² Artenge 10.134,04 m² ANO 2003 Plaenge 74.919.83 m² Quadra 45.561,83 m² Condomínios 42.731,21 m² Saconato 5.988,714 m² ANO 2004 Condomínios 10.272,25 m² Morena 8.145,74 m² MRV construções 4.111,96 m² Santos Jr. 1.540,40 m²
ANO 2005
FMM 25.673,67 m² Artenge 13.157,40 m² Condomínios 10.330,59 m² Mavillar 7.065, 51 m² Santos Jr. 3.905,73 m²
ANO 2006
Plaenge 30.484,04 m² Condomínios 21.395,22 m²
ANO 2007 FMM 25.745, 00 m² A. Yoshi 21.633,68 m²
ANO 2008 Condomínios 32.548,97 m² Quadra 17.534,65 m² Quadro 11: Principais Construtoras que Produziram Edifícios na Cidade de Londrina no período de 2000-2008 – Relação do Total em Área construída Fonte: Corpo de Bombeiros, 2007/2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
O Gráfico 3 relaciona todas as construtoras atuantes no período de
2000-2008 na cidade de Londrina, em relação ao total de edifícios construídos
pelas mesmas, o total de aproximadamente 40 edifícios para o sistema de
condomínios é um exemplo de grande parte destes empreendimentos, logo após
teremos Plaenge com 10, Santos Jr., A.Yoshi e Quadra Construtora com 6
edifícios, FMM e Mavillar respectivamente com 5 edifícios.
Gráfico 1: Atuação das Construtoras no Período 2000 - 2008 Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
"Tres O" 1 A. Yoshi 6 Artenge 3 Brasil Sul 4 Cebel 1 Condomínios 40 Constrenge 1 Extruturex 1 FMM 5 Galmo 1 Maranata 3 Mavillar 5 Meta 3 MMD 1 Montese 1 Montosa 1 Morena 1 Moro 1 MRV 3 Plaenge 10 Quadra 6 Rehad 1 Royal Loteadora
1
Saconatto 2 Salonorte 1 Santos Jr. 6 Serteg 3 Soma 1 Vectra 2 TOTAL 115
Em relação à área definida para a construção dos edifícios na cidade
de Londrina, os fatores internos e externos influenciam e marcam as formas e os
usos da ocupação do solo na cidade, de acordo com o Plano Diretor (1998).
O mapa 12 indica o zoneamento da cidade e para que fins se
destinam cada área. As áreas destinadas à construção de novos edifícios, estão
englobadas entre as 6 áreas residenciais distribuídas pela zona urbana, apoiada nos
seguintes critérios: densidade demográfica, infra-estrutura, e a superestrutura
existentes, sítio natural, bem como às condições preexistentes ou a serem criadas
para a futura área habitacional Plano Diretor (1998).
A área R1 (residencial 1), por exemplo, corresponde a área da Gleba
Palhano (área demarcada no mapa), estritamente residencial com baixa densidade
populacional, vertical coletiva, bem como a área R3, que permite a habitação vertical
coletiva, com até 2 a 4 pavimentos, com média densidade Plano Diretor (1998).
Mapa 12: Zoneamento da Cidade de Londrina Fonte: IPPUL – Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Londrina, 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos, 2008
Características importantes foram constatadas na análise feita sobre a
construção de edifícios na cidade de Londrina no período de 2000-2008 tais como:
• Altura dos edifícios construídos é superior ao estipulado pelo Corpo de
Bombeiros – que prevê a segurança dos indivíduos (toda a sociedade)
relacionada aos riscos de acidentes com aeronaves, e demais
problemas.
• Número inferior de projetos aprovados no Corpo de Bombeiros em
relação à crescente construção de edifícios na área estudada, (fotos 4,
5 e 6).
Foto 4: Construção de Edifício na Gleba Palhano FONTE: CRISTAL, Juliane (2008) Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
Foto 5: Vista da Gleba Palhano e a construção de edifícios FONTE: CRISTAL, Juliane (2008) Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
Foto 6: Crescente construção de edifícios FONTE: CRISTAL, Juliane (2008) Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
Ao serem analisados os dados dos edifícios construídos na cidade
de Londrina no período de 2000-2008 constatou-se que a maioria dos
empreendimentos imobiliários estão irregulares do ponto de vista de suas
construções para o Corpo de Bombeiros que faz uma análise dos projetos contra-
incêndios. O contrário para a Prefeitura da cidade, que recebe as primeiras
documentações para licenciamento da área a ser construída.
A primeira impressão pela leitura e análise dos dados demonstra um
número elevado de edifícios para Londrina nos anos de 2007 e 2008. Foi constatado
no Corpo de Bombeiros um número bem abaixo de edifícios visíveis empiricamente
na paisagem urbana, principalmente nos locais de grande crescimento dos
empreendimentos imobiliários.
De acordo com informações obtidas junto ao Corpo de Bombeiros
(2008) no setor de vistorias a maioria das construtoras e incorporadoras não
respeitam prazos para que seus empreendimentos sejam construídos regularmente,
ou seja, depois que o laudo do projeto seja vistoriado, e feitos possíveis correções é
que se iniciam as obras.
Na maioria dos casos os projetos são entregues ao Corpo de
Bombeiros para análise, mas os empreendimentos imobiliários há muito tempo estão
sendo construídos e totalmente vendidos, com exceções de obras públicas.
Na maioria dos casos detecta-se erros na construção dos edifícios,
principalmente no que diz respeito à altura dos mesmos - estipulada em lei – mas
que porventura serão corrigidos ou às não. Quando ocorre a fiscalização/vistoria, o
edifício já foi construído e totalmente vendido, o que do ponto de vista da lei é
totalmente irregular, pois a legislação e o poder público permitem tais brechas.
Extremamente espaçosos, os apartamentos para uma classe de
poder aquisitivo alto tem a área interna de seus apartamentos bem amplos,
evidencia-se isto pelo numero reduzido de apartamentos por andar 1 ou 2 no
máximo este é um fato de que cada vez mais presente: área interna maior a atender
os requisitos de quem pode pagar pelos mesmos.
No quadro 12 são evidenciados a área interna dos mesmos, com
destaque para o ano de 2008 onde esses números são mais acentuados.
ANOS ÁREA DE ATÉ 100
m² DE 100 – 300 m² MAIOR QUE 300
m² SEM DADOS TOTAL DE
EDIFÍCIOS
2000 6 12 3 1 22
2001 3 9 2 - 14
2002 2 9 2 1 14
2003 4 8 5 - 17
2004 1 3 3 - 7
2005 4 4 2 - 10
2006 3 3 1 - 7
2007 - 2 7 2 12
2008 2 2 10 - 15
Quadro 12: Área Interna dos Apartamentos Construídos no Período 2000-2008 na Cidade de Londrina Fonte: Corpo de Bombeiros – Setor de Vistorias – (Vila Nova/LD), 2007- 2008 Org.: SANTOS, Cintia Pereira dos (2008)
Em análise a área interna dos apartamentos destacamos o ano de
2008, onde os apartamentos construídos tem mais que 300 m² de área interna,
evidenciando que o padrão dos índices nos últimos anos foi mudando
consideravelmente, e a atuação das construtoras tem sido decisivos para a
construção dos mesmos a satisfazer os futuros compradores. Tanto assim que entre
2000 – 2008, cerca de 30% dos apartamentos estão em faixa acima de 300 m², isso
significa que as construtoras estão buscando mercado consumidor de mais alto
poder aquisitivo além de parcela destes imóveis serem produzidos no sistema de
condomínios fechados.
Mais uma vez verificamos fortes investimentos no mercado
imobiliário de Londrina por parcela da população com poder aquisitivo, alternativa de
valorização e/ou preservação de seus bens, rendas ou altos salários.
Tais procedimentos implicam na continuidade da especulação
imobiliária ao invés de investimentos produtivos em outros setores.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A verticalização se configura como um dos processos de produção e
reprodução do espaço urbano direcionados prioritariamente para a habitação.
Atrelado a oferta de habitação para diferentes grupos e frações sociais, o processo
de verticalização iniciado na década de 1950 em Londrina, prosseguiu ao longo de
mais de meio século e no momento atual ganha novo destaque em termos
quantitativos e qualitativos. Sendo assim, este trabalho constituiu-se uma
contribuição para o entendimento da dinâmica espacial e os agentes
transformadores da cidade de Londrina.
Na cidade de Londrina destacam-se as construtoras Plaenge, A.
Yoshi, Sertenge, e Quadra Construtora como as principais na construção de
empreendimentos na cidade no período considerado. Tratam-se de construtoras
locais, cuja atuação não resume à cidade, atuando em escala nacional e regional. É
o caso da Plaenge e da Yoshi que tem atuado em escala nacional. Recentemente
construtoras de outras cidades estão direcionando suas atividades para Londrina, a
iniciarem maior disputa pelo mercado consumidor, como é o caso da Fit, oriunda de
Curitiba iniciando empreendimento nas imediações do Shopping Catuaí, composto
por quatro edifícios.
A maioria dos prédios produzidos entre 2000 - 2008 são de
construtoras, mas vários deles chamados condomínios, representaram cerca de
35% dos edifícios construídos na cidade, principalmente próximos à área central e
na Gleba Palhano, porção sudoeste da malha urbana.
A continuidade da intensa verticalização na cidade no período
considerado pode ser entendido a partir das políticas governamentais em estimular a
indústria da construção civil mediante redução das taxas de juros para o
financiamento, tendo em vista a importância deste setor na geração de empregos. O
Programa de Aceleração do Crescimento, implantado pelo Governo Lula a partir de
2007 criou condições para tais empreendimentos. Mas deve-se entender que
parcela importante destes foi adquirido por consumidores de maior poder aquisitivo
que o estão fazendo não como uma necessidade de aquisição de imóveis para
residirem, mas para investimentos especulativos. De tal modo que ao invés de
concentrarem seus recursos em investimentos produtivos - mas é bom frisar que as
oportunidades ainda não estão muito definidas e claras – optam pela continuidade
do processo de especulação imobiliária. E tem sido para este filão de mercado
consumidor que as principais incorporadoras e construtoras de Londrina tem atuado,
construindo edifícios cujos apartamentos ostentam áreas internas relativamente
grande e apresentando qualidade de acabamento de alto padrão. Assim, quem são
estes consumidores? Esta é uma das questões que deixamos pontuados para o
desenvolvimento de novos trabalhos de modo a entender outra face do processo de
verticalização da cidade de Londrina.
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