Cbcs Sustentável - boletim informativo do Conselho …2 março 2012 editorial Há alguns anos, o...
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b o l e t i m i n f o r m a t i v o d o C o n s e l h o b r a s i l e i r o d e C o n s t r u ç ã o s u s t e n t á v e l
março 2012
notícias 10
agenda 12
posicionamento 18
saiba mais sobre o CBCS 20
Marcelo Furtado
8
Vicente Andreu Jorge Wilheim
76
José Goldemberg
5
Esquentando para RIO+20
Orestes Marracini Gonçalves entrevista 14
2 WWW.CBCS.ORG.BR
março 2012
editorial
Há alguns anos, o Brasil abandonou o papel de pouca expressividade no cenário
internacional para assumir um lugar entre os protagonistas na economia mundial.
A ascensão proporciona visibilidade e participação mais efetiva nas decisões de
importância estratégica para o mundo. E traz, também, uma série de responsabilidades.
Uma delas diz respeito às ações efetivas de combate aos danos causados ao meio
ambiente pelos processos produtivos da indústria, da agricultura e da construção civil,
conjugados com a preservação dos recursos naturais. Torna-se necessário, portanto,
adotar atitudes que promovam a redução do consumo de água e energia, além da
mitigação da emissão de CO2, diariamente lançado em excesso para a atmosfera
pelas atividades humanas comumente praticadas nos grandes centros urbanos.
Por Marcelo Takaoka e Diana Csillag
Brasil está no centro dos holofotes mundiais e já é protagonista na agenda dos principais eventos anuais em prol da economia verde.
3março 2012
O posicionamento do Brasil diante dessas questões
é fundamental e pode impactar o direcionamento
de outros países neste segmento. Com uma imensa
biodiversidade e condições ambientais que favorecem
a geração de energia elétrica por meios renováveis,
o país tem obrigação de investir em criatividade
e desenvolvimento tecnológico para atender à
demanda com impactos ambientais reduzidos.
A Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável – RIO+20 trata-se de
um dos mais importantes encontros internacionais com
foco ambiental. O evento irá acontecer nos dias 20, 21
e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro,
concentrando as discussões sobre o tema no Brasil.
Com o objetivo de renovar compromissos políticos
para o desenvolvimento sustentável, o foco desta
conferência será a economia verde e a erradicação
da pobreza mundial. Para contribuir com o debate
o CBCS desenvolveu o posicionamento Plataforma
Global de Avaliação do Ciclo de Vida Simplificado
para Construção Sustentável, que você pode conferir
com exclusividade nas páginas 10 e 11.
Com o objetivo de contar com a participação
de especialistas atuantes em diversas áreas que
possam refletir sobre os desafios do desenvolvimento
sustentável e o encontro da RIO+20 no contexto atual,
lançamos o especial “Esquentando para a RIO+20”,
que nessa edição traz depoimentos do arquiteto
urbanista Jorge Wilheim, do Doutor em Ciências
Físicas José Goldemberg, do Diretor Presidente da
Agência Nacional de Águas (ANA) Vicente Andreu
Guillo e do Diretor Executivo do Greenpeace Brasil
Marcelo Furtado sobre o tema Habitação, Infra
Estrutura, Urbanismo e Qualidade de Vida.
A escolha da cidade de São Paulo para a
realização do encontro internacional do SBCI –
Sustainable Buildings and Climate Initiative,
vinculado ao PNUMA (Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente), da ONU, também
é um forte indicativo da importância do Brasil
no setor da construção civil sustentável mundial.
Trata-se de reunião preparatória para RIO+20 que
acontecerá nos dias 12, 13 e 14 de junho no
SESC SP e será hospedada pelo CBCS em parceria
com o Secovi-SP, a Secretaria Municipal do
Verde e Meio Ambiente, a CDHU (Companhia
de Desenvolvimento Habitacional e Urbano)
e o Ministério das Cidades e está na pauta
do nosso boletim. Confira, ainda, matéria sobre
a escolha do Brasil para sediar as celebrações
globais do Dia Mundial do Meio Ambiente (WED,
na sigla em inglês), comemorado anualmente no
dia 5 de junho.
Na seção Entrevista, o conselheiro e coordenador
do Comitê Temático Água do CBCS – Orestes
Marracini Gonçalves – irá expor os resultados
da primeira etapa de um minucioso trabalho que
está sendo desenvolvido para a unificação das
normas de sistemas prediais para uso de água fria
e água quente em edificações brasileiras. Trata-se
de um importante estudo que busca estimular o
uso racional da água e envolve todos os elos da
cadeia produtiva dos sistemas hidráulicos.
Esse número expõe, ainda, os resultados de
um importante estudo que o professor Carlos
Leite da USP SP desenvolveu sobre indicadores
de sustentabilidade urbana junto ao SECOVI SP.
Boa leitura!
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março 2012
Com o objetivo de estimular o debate e a troca de opiniões
entre diversos especialistas que possam refletir livremente
sobre o desafio do desenvolvimento sustentável e a
realização da RIO+20 no contexto atual, o CBCS traz o tema
– “Quais os desafios do desenvolvimento sustentável para
melhorias efetivas no setor da Habitação, Infra Estrutura,
Urbanismo e Qualidade de Vida?”
Confira depoimentos dos especialistas convidados pelo CBCS no aquecimento rumo a RIO+20.
Esquentado para RIO+20
5março 2012
Existe uma mobilização crescente nas universidades, organizações não governa-mentais, centros de estudos e até governos para evitar que a RIO+20 se transforme num evento puramente retórico.
A própria Assembleia Geral das Nações Unidas
pareceu resignada a dar à RIO+20 apenas este papel
quando escolheu como temas centrais do evento “eco-
nomia verde” e a necessidade de oferecer a mais de 2
bilhões de pessoas no mundo acesso a formas moder-
nas de energia. As agencias das Nações Unidas, UNEP
- Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
e a UNIDO – Organização das Nações Unidas para
o Desenvolvimento Industrial cumpriram seu papel
preparando extensos relatórios sobre os temas pelos
quais são responsáveis.
O Secretariado das Nações Unidas coletou e or-
ganizou as propostas que se originaram dos países e
outras organizações da sociedade, que servirão de base
para o documento que os chefes de Estado presentes
no Rio de Janeiro, em junho, adotarão.
Dentro da retórica, que ocupa a maior parte do
documento, existem, contudo, proposições úteis que
poderão ainda ser melhoradas até junho. Em particu-
lar, o parágrafo 70, que diz respeito à energia e abre
boas possibilidades. O que é proposto é que a taxa de
crescimento da eficiência energética dobre até 2030
e que dobre a fração de energia renovável na matriz
energética mundial também até 2030.
Vale lembrar que nos documentos adotados na Conferência
do Rio em 1992, energia estava simplesmente ausente
devido à pressão dos países produtores de petróleo.
Hoje, todos reconhecem que a forma com
que usamos energia de origem fóssil (carvão,
petróleo e gás) é a principal fonte dos gases que
estão provocando o aquecimento da Terra, da
poluição do ar nas grandes cidades, de doenças
respiratórias e dos problemas de segurança
energética. O que falta nos documentos das
Nações Unidas é especificar quais as medidas
concretas que países podem adotar para atingir
as metas estabelecidas para 2030.
Em particular, o setor da Construção Civil pode fa-
zer uma contribuição importante para este fim porque
é o segmento consome entre 30% a 40% de toda a
energia consumida no mundo.
Construções mais sustentáveis poderiam reduzir
substancialmente este consumo. Os estudos
técnicos mais recentes indicam que nos países
industrializados é possível economizar até 90%
da energia usada para aquecimento/refrigeração
residencial nos edifícios antigos. Nos países em
desenvolvimento, onde se constrói muito mais
devido ao “déficit” habitacional, é ainda mais
fácil atingir estas metas.
Incluir resoluções deste tipo nas decisões a
serem tomadas na RIO+20 é o desafio que temos
a nossa frente. •
Por José Goldemberg
Energia e Meio Ambiente
Universidade da São Paulo
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março 2012
Esquentado para RIO+20
Além do fato de realizar-se no Rio de Janeiro, o Brasil tem
a oportunidade, quando não a responsabilidade, de ser
o ator principal deste evento. Os representantes gover-
namentais dos países europeus e da América do Norte,
assoberbados por uma crise sistêmica cuja face mais
dramática é a do desemprego,- não privilegiam por ora
a questão ambiental e provavelmente prefeririam que o
conclave não se realizasse agora.
A experiência brasileira do programa do álcool combus-
tível, iniciado em 1976, hoje “internacionalizado” como uso
do etanol em veículos,- deu ao Brasil uma súbita relevância,
como país capaz de inovar tecnologicamente, elaborar políti-
cas públicas ambientais e de servir de exemplo...Lembro-me
que, em 1978, fui convidado, na qualidade de Secretário
Estadual de Planejamento responsável pelas medidas de
contenção energética, a expor em Paris, em conclave da
ONU, aos 200 representantes da indústria automotiva
mundial, o que estávamos realizando: a substituição par-
cial da gasolina por álcool. A descrença foi total, pois não
estavam preparados a aceitar uma inovação vinda de país
ao sul do equador, mormente em assunto tão tipicamente
primeiro-mundista!
A imagem (e a realidade) do país mudou e tal fato
aumenta nossa responsabilidade no que tange ao
RIO+20. Embora não tenha havido suficiente debate
nacional sobre a conferência, ainda há tempo para
ventilar alguns tópicos que poderiam animar debates
e, talvez, até obter compromissos globais. Em pri-
meiro lugar, no campo ambiental e social, penso que
cabe voltar, 50 anos depois (!), à proposta de Tobin,
impondo, por acordo global, uma taxa sobre todas as
operações em bolsas, assim como um “pedágio” so-
bre todo movimento internacional de passageiros, e
outra sobre tonelagem de carga transoceânica, crian-
do-se um fundo exclusivamente destinado à solução
de questões ambientais e sociais.
Em segundo lugar, no campo tecnológico, de-
vemos seguir o exemplo de Bates que instituiu um
amplo crédito a quem se propusesse a criar um novo
sanitário; é uma tese pela qual tenho me batido há
uns 30 anos, até constantes de meu livro semi-ficcio-
nal (“Fax, mensagens de um futuro próximo”): se, no
campo da biologia e da química desenvolvermos um
produto que esteriliza e desidrata os resíduos sólidos
humanos, no local em que eles são produzidos (os ba-
nheiros de nossos domicílios e locais de trabalho), es-
taremos tornando desnecessárias as caríssimas redes
de coleta e as grandes estações de tratamento...
Em outros termos: substituiríamos finalmente a
antiga tecnologia romana da cloaca máxima por algo
mais moderno; a economia para as cidades do terceiro
mundo, muitas delas, como Lagos e Mumbai, desprovi-
das de rede de esgoto, seria imensa, avançando-se nas
políticas de saúde pública.
A Conferência, ao ventilar temas de solução possível,
mesmo reconhecendo a prioridade a ser dada à garantia
de empregos, deveria arrastar os governos a pelo menos
comprometer-se a trazer resultados quantitativos precisos
para uma data próxima. É preciso não perder a oportuni-
dade; é preciso avançar... •
Por Jorge Wilheim
RIO+20: oportunidade a ser aproveitada
Arquiteto Urbanista
7março 2012
No Brasil, 26% da água retirada dos corpos
hídricos superficiais são destinadas ao uso urbano.
Embora este setor não seja responsável pela maior
retirada e consumo de recursos hídricos, é o que
chama mais atenção da sociedade, uma vez que
o acesso à água de boa qualidade é importante
para a sobrevivência humana e exige gasto mensal
significativo das famílias.
Além disso, está cada vez mais difícil dispor de
mananciais para abastecer com folga as populações com
água em quantidade e qualidade, principalmente nas
grandes cidades. O Atlas Brasil de Abastecimento Urbano de
Água – lançado pela ANA – Agência Nacional de Águas no
ano passado, revelou que 3.059, ou 55% dos municípios
brasileiros, precisam de investimentos prioritários em
mananciais ou sistemas de produção.
Justifica-se, portanto, a necessidade de usar a
água de maneira cada vez mais eficiente no ambiente
urbano como, por exemplo, a reutilização da água
contida nos efluentes gerados. Esta é uma solução que
deve ser plenamente adotada pelo setor da construção
civil, já que para garantir a sustentabilidade
é importante que sejam observadas questões
ambientais associadas aos efluentes e resíduos
líquidos originados na atividade. O aproveitamento
desses resíduos, além de proteger o meio ambiente,
estabelece uma fonte de água alternativa.
Ações desse tipo valorizam o conceito de “substituição
de fontes”, uma solução para satisfazer demandas menos
restritivas, para liberar água de melhor qualidade para
usos mais nobres, como abastecimento doméstico. Em
1958, o Conselho Econômico e Social das Nações Unidas
estabeleceu uma política de gestão para áreas carentes de
recursos hídricos que dá suporte a este conceito: “a não
ser que exista grande disponibilidade, nenhuma água de
boa qualidade deve ser utilizada para usos que toleram
águas de qualidade inferior”.
Para aumentar a oferta de água e melhorar a gestão
da demanda em ambientes urbanos, são necessários
investimentos em desenvolvimento tecnológicos e ações
como reuso, reciclagem, redução de perdas e desperdícios,
minimização da geração de efluentes e medição
individualizada, associadas a práticas conservacionistas.
Práticas relacionadas à conservação de água podem e
devem ser reforçadas quando da formação de profissionais
de engenharia e por empreendedores imobiliários, que
devem ressaltar que a diferença de preço de venda pode
ser compensada com a diminuição dos custos condominiais,
já que a água é o segundo item em importância econômica
nos condomínios, perdendo apenas para mão de obra.
Grandes edifícios devem implementar programas
de conservação de água para subsidiar síndicos
na escolha de ações técnicas apropriadas e
economicamente viáveis para otimizar o uso da água,
resguardando a saúde dos usuários e o perfeito
desempenho dos sistemas envolvidos.
Esse tipo de ação contribui, com certeza, para uma
economia verde, foco de discussão da RIO+20, e deve ser
o objetivo de todas os países, principalmente de economias
em franca expansão, como a brasileira. •
Reúso de água na construção civil: uma solução que vale a pena
Por Vicente Andreu Diretor-presidente da Agência Nacional de Águas
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março 2012
A RIO+20 ocorre num momento complexo. O mundo
está mais inseguro devido às crises econômicas, sociais
e políticas varrendo a Europa, Américas, Oriente
Médio e Ásia.
Davos e a sociedade civil organizada estão de
acordo em um ponto: O sistema econômico atual
está falido e falta visão e liderança para desenvolver
um novo modelo. Davos promove uma reforma e o
Fórum Social Mundial pede uma revolução estrutural.
A juventude ao redor do mundo está indignada
com a desigualdade, a falta de oportunidade e a au-
sência de perspectiva de um futuro sustentável. Estão
ocupando as praças e ruas na Europa, EUA, e no
mundo Árabe. O Brasil, Índia e China são lembrados
de que com poder vem a responsabilidade.
Os jovens querem que a RIO+20 seja 1%
sobre o processo oficial e 99% sobre o engaja-
mento público para realmente transformar o
curso insustentável do nosso planeta.
O Marco Zero, documento com as primeiras
diretrizes do encontro, se tornou um balde de
água fria para todos que acompanham esse pro-
cesso. Se observarmos o que foi feito em 1992
e em 2002 (a RIO+10), veremos que 20 anos se
passaram e os governos não implementaram o
dever de casa. Os temas presentes são os mes-
mos. O que todos querem é que, dessa vez, o
resultado não seja apenas a repactuação de pro-
messas acordadas anteriormente, mas a ação.
Em 2012, o Brasil passou a ser a sexta maior
economia do mundo e segue entre os cinco maiores
poluidores do mundo. O país permanece desigual e
injusto. Tem governo forte, oposição anêmica, cor-
porações poderosas e uma sociedade civil fraca e
fragmentada. Ou seja, um país sem pesos e contra-
pesos suficientes para garantir o balanço de forças no
debate democrático e pela sustentabilidade.
O debate do Código Florestal demonstrou um
grande fosso entre o parlamento e a população.
O Congresso aprovou com ampla maioria o novo
código que promove a anistia aos desmatadores
e libera as motosserras para cortarem ainda mais
nossas florestas. Entretanto, a maioria dos brasilei-
ros (80%) segundo pesquisa do Datafolha (junho
2011), defendem a proteção das florestas e rios e
79% apoiam o veto pela Presidenta Dilma.
Por Marcelo Furtado
RIO+20 deve as respostas às ruas e não no carpete
Diretor-Executivo Greenpeace Brasil
Esquentado para RIO+20
9março 2012
A aventura off-shore do Pré-Sal colocará o
país entre os cinco maiores produtores de
petróleo do mundo com emissões no mes-
mo nível que o desmatamento ocupa hoje. O
mundo verá um custo econômico e de vidas
muito mais elevado devido aos impactos das
mudanças climáticas. Portanto, a questão
não será a quantidade de petróleo que ti-
vermos em reserva, mas o fato que o mundo
não poderá queimar combustíveis fosseis.
O Brasil tem a possibilidade de liderar um salto
tecnológico. O investimento feito para promover o
desmatamento e a poluição poderia ser utilizado
para promover um novo paradigma de desenvolvi-
mento, baseado em energias limpas, sem desma-
tamento, com empregos verdes e descentes para
um planeta justo e igualitário.
Para isto, necessitamos de novas pontes entre os
diferentes atores da sociedade civil, governos, aca-
demia e setor privado engajados com a cidadania e
a transformação de nossa realidade.
No Greenpeace, nosso compromisso principal
é com a cidadania. Portanto, no ano da RIO+20,
vamos priorizar as conversas e ações que estarão
acontecendo nas ruas. Vamos articular uma mo-
bilização com a sociedade brasileira exigindo da
presidente Dilma Rousseff o veto ao projeto do
Código Florestal aprovado na Câmara Federal e
no Senado. Vamos promover uma lei popular pelo
fim do desmatamento. Vamos engajar a sociedade
para promover a energias limpas como solar, eólica,
biomassa e pequenas centrais hidroelétricas para
gerar a energia que necessitamos para promover
nosso desenvolvimento.
No ano da RIO+20 estamos comemorando 20
anos de atuação no Brasil. Este é um momento
para celebrar esta rica história cheia de vitórias
desde a proibição da importação de lixo tóxico;
a luta dos transgênicos; a moratória do mogno,
soja e carne; da luta pela revolução energética e
contra as usinas nucleares; e da obtenção de uma
meta de emissões de gases de efeito estufa para
o Brasil. Entretanto, melhor que falar do passado
é construir o futuro, sobre a criação de um Brasil
verde. A RIO+20 deve responder a este dilema e
não se reduzir a uma conversa no carpete”. •
O Brasil tem a possibilidade de liderar um salto tecnológico.
O investimento feito para promover o desmatamento e a poluição
poderia ser utilizado para promover um novo paradigma de
desenvolvimento, baseado em energias limpas, sem desmatamento,
com empregos verdes e descentes para um planeta justo e igualitário.
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março 2012
A cidade de São Paulo candidatou-se e foi eleita para se-
diar em 2012 o encontro internacional anual do SBCI (da
sigla em inglês Sustainable Buildings and Climate Initiative),
cujo objetivo é analisar, debater e propor ações para re-
duzir o impacto da construção de empreendimentos no
meio ambiente. O evento acontecerá nos dias 12, 13 e
14 de junho em São Paulo, no SESC Pinheiros.
“Vinculado ao Pnuma (Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente), da ONU, o SBCI congrega
os stakeholders chaves do setor da construção civil
(indústria, negócios, governo, autoridades locais, ins-
tituições de pesquisa, universidades, especialistas e
ONGs) e trata especificamente da sustentabilidade em
assuntos relacionados à edificação e ocupação urbana,
especialmente no que diz respeito à preservação de
recursos naturais, disseminação de conhecimentos e
implantação de novas tecnologias para promover as
melhores práticas na área”, afirma o presidente do CBCS,
Marcelo Takaoka, que atualmente também exerce a
função de presidente do conselho do SBCI.
Resultado de uma parceria do CBCS com o
Secovi-SP, a Secretaria Municipal do Verde e Meio
Ambiente, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano) e o Ministério das Cidades, a
reunião anual do SBCI irá congregar os mais impor-
tantes nomes do setor da construção civil sustentável
em âmbito mundial para discutir soluções, já que o
setor é responsável por uma parcela significativa do
consumo de recursos naturais e das emissões globais
de CO2. Na ocasião serão realizadas as discussões
preparatórias para RIO+20 - Conferência das Nações
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
“O evento acontece num momento muito opor-
tuno, uma vez que antecede a RIO+20, programada
para 20 a 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro.
São grandes as chances de o setor imobiliário levar
alguma proposta concreta para essa grande discus-
são global sobre o futuro do planeta e de todos nós”,
considera o vice-presidente de Sustentabilidade do
Secovi-SP, Ciro Scopel.
notícias
Reunião preparatória para RIO+20 acontecerá em junho no SESC SP e será hospedada pelo CBCS em parceria com o Secovi-SP, a Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e o Ministério das Cidades.
São Paulo é eleita para sediar encontro internacional de construção sustentável
11março 2012
São Paulo se reinventa rapidamente, extrapolando o
desenvolvimento urbano formal quando observado o
contexto informal de suas grandes favelas, por exem-
plo. Esse cenário de transformações e a discussão
em torno da sustentabilidade da maior megacidade
brasileira são abordados na pesquisa “Indicadores
de Sustentabilidade Urbana”, desenvolvida junto
ao Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
sob a liderança do professor Carlos Leite.
O docente apresentou o trabalho em turnê pelos
Estados Unidos no último mês de dezembro. Foram
quatro palestras: Columbia University, City University
of New York, New York University e Parsons the
New School, todas em Nova Iorque. A pesquisa
contempla dois laboratórios: de Observação de
Sustentabilidade Urbana e de Co-criação de Soluções
Urbanísticas em Territórios Informais, este aplicado
em Heliópolis, maior favela paulistana.
O primeiro laboratório sinaliza parâmetros para
São Paulo, que passa por um processo de recicla-
gem contínua do território, por meio do levan-
tamento de 176 indicadores de sustentabilidade
urbana, agrupados em 9 temas, 34 subtemas e 85
grupos. Os temas foram: infraestrutura e construção
sustentável; governança; mobilidade; habitação;
oportunidades; planejamento e gestão da terra;
serviços e equipamentos; questões ambientais; e
segurança urbana e inclusão social.
Já o segundo, em parceria com a Academia
de Arquitetura de Amsterdã (Holanda) e a Parsons
Nova Escola de Design de Nova Iorque (EUA), além
do apoio da Secretaria Municipal de Habitação e
de associações comunitárias de Heliópolis, está
voltado para uma região de cerca de 100 mil ha-
bitantes. A iniciativa trabalha ideias para a melhora
urbanística e de qualidade de vida da favela a par-
tir de dentro, propondo que os moradores sejam
criativos co-criadores de ações e mudanças após
identificarem potencialidades e oportunidades. Visa,
com isso, criar um espaço público que reforce as
interações sociais locais sem que seja preciso re-
mover pessoas dali.
Docente na graduação e na pós do Mackenzie,
Carlos Leite, pós-doutor pela California Polytechnic
State University (Estados Unidos), lançará em breve
o livro “Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes”,
pela editora Bookman.
Pesquisa apresentada nos EUA explora a megacidade paulista e sua maior favela.Estudo “Indicadores de Sustentabilidade Urbana”, coordenado pelo professor Carlos Leite, inclui laboratório voltado para Heliópolis.
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março 2012
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) anunciou recentemente que o Brasil, dono
de uma das economias que crescem mais rápido no
mundo, será a sede das celebrações globais do Dia
Mundial do Meio Ambiente (WED, na sigla em inglês),
comemorado anualmente no dia 5 de junho.
O tema deste ano: “Economia Verde: Ela te inclui?”
convida o mundo a avaliar onde a Economia Verde
está no dia-a-dia de cada um e estimar se o desenvolvi-
mento, pelo caminho da Economia Verde, abrange os
resultados sociais, econômicos e ambientais necessá-
rios em um mundo de 7 bilhões de pessoas, que deve
chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050.
O Brasil foi sede do WED em 1992, durante a
Cúpula da Terra, quando chefes de Estado, líderes mun-
diais, oficiais de governo e organizações internacionais
se encontraram para reorientar, recalibrar e traçar um
caminho rumo ao desenvolvimento sustentável.
“Ao celebrar o WED no Brasil em 2012, estamos
voltando às raízes do desenvolvimento sustentável
contemporâneo para criar um novo caminho que re-
flita as realidades, mas também as oportunidades do
novo século”, declarou Achim Steiner, Subsecretário
Geral da ONU e Diretor Executivo do PNUMA.
“Três semanas após o WED, o Brasil receberá a
RIO+20, onde líderes mundiais e nações se reencon-
trarão para desenhar um futuro que faça do desen-
volvimento sustentável uma prática bem-sucedida
– um futuro que pode fazer crescer economias e gerar
trabalhos decentes sem pressionar os limites do pla-
neta”, adicionou.
O Brasil tem o quinto maior território do mundo,
com quase 8,5 milhões de Km² onde vivem mais de
200 milhões de pessoas, o que o torna o quinto país
mais populoso do mundo.
Em anos recentes, o Brasil deu grandes passos
para resolver problemas como o desmatamento da
Amazônia por meio do monitoramento da região.
Estimativas mostram que o Brasil alcançou uma
redução significativa de gases causadores de efei-
to estufa como resultado da redução das taxas de
desmatamento.
Segundo o relatório do PNUMA chamado Economia
Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável
e a Erradicação da Pobreza, o Brasil tem tido uma posi-
ção de destaque na construção de uma economia que
inclui a reciclagem, a energia renovável e a geração
de empregos verdes.
Brasil será sede do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2012
Anúncio oficial foi feito pelo Diretor Executivo do PNUMA e pela Ministra do Meio Ambiente do Brasil durante coletiva de imprensa realizada na sede do PNUMA em Nairóbi.
agenda
13março 2012
A indústria de reciclagem do Brasil gera um retorno
de dois bilhões de dólares, ao passo que reduz as
emissões de gases de efeito estufa em dez milhões de
toneladas. Só no Brasil, na China e nos Estados Unidos,
a reciclagem, em todas as suas formas, já emprega
doze milhões de pessoas.
O Brasil é também líder na produção sustentável
de etanol como combustível de veículos e está se
expandindo em outras formas de energia renovável
como a eólica e solar. Recentemente, a construção
de 500.000 novas casas com instalações de paineis
solares no Brasil gerou 300 mil novos empregos.
“Nós estamos muito felizes por sediar as celebrações
globais pelo meio ambiente. O Dia Mundial do Meio
Ambiente no Brasil será uma grande oportunidade para
apresentar os aspectos ambientais do Desenvolvimento
Sustentável nas semanas que antecedem a Conferência
RIO+20”, declarou a Ministra do Meio Ambiente do
Brasil, Izabella Teixeira, que esta semana está partici-
pando da Sessão Especial do Conselho Administrativo
do PNUMA em Nairóbi, Quênia.
“A história do Brasil, com a complexidade de sua
economia diversa e dinâmica, a sua riqueza de recursos
naturais e seu atual papel nas relações internacionais,
oferece uma perspectiva única por meio da qual um
resultado amplo e transformador se tornará possível
na RIO+20”, adicionou Achim Steiner. “O forte com-
prometimento do Brasil com a equidade social e seu
papel de destaque entre economias desenvolvidas e
em desenvolvimento, pode guiar e moldar debates”.
“O conceito contemporâneo de desenvolvimento
sustentável nasceu no Brasil e podemos considerar que
o potencial que esse modelo apresenta para respon-
der a desafios e oportunidades futuras será definido
no Brasil daqui a quatro meses”, completou Steiner.
As celebrações do WED no Brasil, na semana do
dia 5 de junho, é parte de milhares de eventos que
acontecem no mundo todo. O WED 2012 vai enfa-
tizar o modo como ações individuais podem ter um
impacto exponencial, com uma variedade de atividades
que vão desde uma maratona até mutirões de limpeza,
competições entre blogueiros, exibições, seminários,
campanhas nacionais e internacionais.
Confira mais informações no site do WED:
www.unep.org/wed
Veja também o relatório Economia Verde:
www.unep.org/greeneconomy
Em português: www.pnuma.org.br
O tema deste ano: “Economia Verde: Ela te inclui?” convida o mundo a avaliar onde a Economia Verde está no dia-a-dia de cada um e estimar se o desenvolvimento, pelo caminho da Economia Verde, abrange os resultados sociais, econômicos e ambientais necessários em um mundo de 7 bilhões de pessoas, que deve chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050.
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março 2012
entrevista
O conselheiro e coordenador do Comitê Temático Água, Professor Orestes Marracini Gonçalves
traz em bate papo exclusivo com o CBCS Notícias #2 detalhes e resultados da primeira etapa
concluída de um minucioso trabalho que vem sendo desenvolvido em busca da unificação das
normas de sistemas prediais para uso de água fria e água quente em edificações brasileiras.
Resultado da integração de toda a cadeia produtiva do setor, o estudo aponta para a
evolução em busca de melhores índices de consumo e uso racional da água.
Prof. Orestes Marracini Gonçalves
15março 2012
Como surgiu a ideia de unificar as normas de sistemas prediais de água fria e de água quente?Até o presente momento, conta-se com duas normas: uma para
os sistemas prediais de água quente e a outra para o de água
fria. A intenção de unificar os dois procedimentos normativos
já existe há muito tempo e então pensou-se em transformar
as duas normas em uma só. Levando em consideração que as
normas dos dois sistemas prediais evoluíram durante muitos
anos lado a lado, sem a necessária integração, os parâmetros
estabelecidos ficaram diferentes, o que não faz sentido.
Por exemplo, diferentes velocidades de escoamento de água
fria e de água quente podem provocar diferentes pressões em
cada um dos dois sistemas, junto aos pontos de utilização, o
que dificulta o ajuste da temperatura da água no nível ade-
quado ao uso final e, consequentemente, resulta no descon-
forto dos usuários e desperdício de água. Situações como esta
mostravam que era importante unificar estas normas.
E como foram os primeiros passos para o debate pró-unificação?Existem dois momentos: o pré-CBCS e o pós-CBCS. A ideia da
unificação normativa foi retomada com a criação do Comitê
Temático Água, do CBCS, que estabeleceu parceria com a ANA
– Agência Nacional de Águas logo no início das suas atividades.
A partir daí, desenvolveu-se um programa de ações que levou
a resultados positivos. Uma das atividades desenvolvidas pelo
CT Água, por exemplo, foi a realização de reuniões e oficinas
de trabalho que apontaram a necessidade da revisão de do-
cumentos normativos com o objetivo de incorporar critérios
que contemplem a redução da demanda e o uso racional da
água. Foi então que ficou evidenciado que o melhor caminho
seria o da unificação das normas com o objetivo de melhorar
o desempenho dos sistemas prediais de água, incluindo re-
quisitos que promovam o uso racional da água.
Afinal de contas os parâmetros de projeto da nova norma
unificada devem considerar, por exemplo, a evolução do de-
sempenho dos materiais e componentes de sistemas hidráulicos
prediais, convencionais e economizadores, um conjunto de
soluções construídas setorialmente pela indústria nacional
nos últimos 15 anos, que contou também com o apoio de
profissionais que atuam no CBCS.
As reduções dos indicadores de consumo e da demanda de
água obtidas em diferentes tipologias de edifícios mostram que
o comportamento dos sistemas prediais em uso tem se alterado
sensivelmente e os requisitos e critérios de projeto permanece-
ram os mesmos, o que indica a inadequação da concepção e
do dimensionamento dos elementos destes sistemas. Com as
alterações observadas ao longo do tempo, as normas ficaram
para trás e passaram a demandar revisão.
Esse é um movimento extremamente salutar, porque estimula
a evolução constante do setor e o consumidor só tem a ganhar.
Já aconteceram outras tentativas de unificar as normas para água quente e fria. Por que o senhor acredita que funcionará desta vez?Praticamente todos os elos da cadeia produtiva dos sistemas
hidráulicos prediais estão envolvidos no atual processo de uni-
ficação das normas. As entidades setoriais interessadas no tema,
que patrocinaram a elaboração do texto base da nova norma,
são a Abrasip, associação das sociedades de engenharia de
projeto e de consultoria de sistemas, o SindInstalação, sindi-
cato das empresas instaladoras e montadoras de sistemas, o
SindusCon SP, sindicato das empresas construtoras, o SECOVI-SP,
sindicato das empresas de real estate, a ASFAMAS, associação
dos fabricantes de materiais e componentes de sistemas pre-
diais e saneamento, a ABRAFAC, associação de gerenciadores
de facilities, que operam os edifícios durante a fase de uso, e o
CBCS com foco nas questões relacionadas à conservação e uso
racional da água. Como pode-se constatar, nesta nova etapa as
entidades se mobilizaram e trabalharam para que o texto fosse
consistente e contivesse requisitos relevantes para o adequado
desempenho dos sistemas prediais de água fria e quente.
Logicamente no desenvolvimento dos trabalhos surgiram
pontos de conflito, devidos aos diferentes impactos em cada
16 WWW.CBCS.ORG.BR
março 2012
um dos elos da cadeia . No caso CBCS, os requisitos referen-
tes à segurança, à qualidade da água e dos componentes dos
sistemas e à gestão da demanda e economia dos insumos
água e energia foram pontuados e trabalhados no novo texto.
Podemos citar como exemplos, o estabelecimento de cri-
térios de projeto de reservatórios envolvendo a estagnação da
água, a facilidade de manutenção e a diminuição dos volumes
a serem armazenados, decorrente das medidas de redução
do consumo, tais como a utilização de aparelhos sanitários
convencionais de melhor desempenho e dos economizadores.
De que forma a norma unificada trata a qualidade da água consumida no dia a dia?O texto base proposta tem um item dedicado à proteção sani-
tária e preservação da potabilidade da água nos reservatórios
de água. Os requisitos de desempenho e os procedimentos de
projeto e instalação tratam da proteção contra a incidência da
luz, da estanqueidade e da estagnação da água. Outro aspecto
relacionado à qualidade da água envolve os cuidados para evitar
a ocorrência de conexão cruzada, ou seja do contato da água
potável com água de outras origens, provenientes de diferentes
elementos do sistema predial ou de outros subsistemas do edifício.
E como o texto aborda o aproveitamento de água não-potável?É usual entender-se que a conservação e uso racional da água
aborda apenas a redução da demanda de água potável, seja pela
implementação de medidas de redução do consumo de água
ou pela utilização de água proveniente de fontes alternativas.
Na conservação de água também é necessário trabalhar for-
te e atentamente na manutenção dos padrões de qualidade da
água, seja ela potável ou não-potável. Usa-se água não-potável
para fins específicos, onde a água potável não é necessária.
Entretanto a cada finalidade específica de uso deve-se associar
um padrão de qualidade de água. Na gestão da oferta desta
água não-potável, ação esta realizada nos programas de con-
servação de água, o padrão de qualidade deve ser mantido e
garantido. Veja que quando emprega-se fontes alternativas de
água nos sistemas prediais, o gestor de facilities passa a assumir
a função de produtor do insumo, e consequentemente a respon-
sabilidade sobre risco sanitário de contaminação.
Considerando necessário um maior embasamento técnico
e gerencial para a sua inclusão neste texto normativo, as enti-
dades envolvidas na elaboração da norma unificada recomen-
daram que o uso de água proveniente de fontes alternativas
deve ser tratado em norma específica, concebida para esta
finalidade. Assim, a norma unificada de sistemas prediais de
água, fria e quente, trata unicamente do uso da água potável.
De que forma a nova norma aborda o tema do uso racional da água?Os requisitos e práticas estabelecidos no texto base da norma
unificada fundamentam-se nos seguintes três princípios: bom
desempenho dos sistemas, uso racional da água e energia e
garantia da qualidade da água.
O texto base proposto incorpora elementos tecnológicos e
gerenciais importantes para o uso racional da água, que de-
vem ser considerados na concepção e dimensionamento dos
sistemas hidráulicos prediais.
No projeto dos sistemas, a topologia da rede de distribuição
interna de água deverá possibilitar a setorização de áreas de con-
sumo, de forma a facilitar a medição do consumo, a operação e
a manutenção dos subsistemas e componentes. Nos programas
de uso racional é imprescindível para a gestão da demanda de
água a obtenção e avaliação dos indicadores de consumo por setor
de interesse específico, o que será possível com a instalação de
hidrômetros setorizados, de leitura local ou remota. O exemplo
mais comum é o da medição individualizada de água em edifício
residencial e comercial, em que o setor medido é a unidade autô-
noma, seja ela o apartamento ou a unidade comercial.
entrevistaProf. Orestes Marracini Gonçalves
17março 2012
Com a mudança da topologia das redes prediais e com o em-
prego de metais e louças sanitárias de melhor desempenho e de
consumo reduzido, é recomendável utilizar novos modelos de
projeto e dimensionamento que melhor representem essas mu-
danças. A norma unificada recomenda o emprego de métodos
probabilísticos e de simulação para a determinação das vazões
de projeto e do consumo de água, em substituição aos modelos
atuais de base empírica, como é o caso do método dos pesos
para o cálculo das vazões nos sistemas de água fria e quente.
A redução das pressões dinâmicas de operação do sistema
resultará na diminuição das vazões unitárias dos aparelhos
sanitários, com a consequente redução do desperdício e do
consumo diário de água. O novo texto base estabeleceu um
valor máximo para a pressão dinâmica da água no ponto de
utilização, a montante da peça de utilização, significativamente
inferior à pressão estática máxima.
Comparado com o normas de água fria e de água em vi-
gência, o texto proposto aborda os aspectos do uso racional
da água de forma mais efetiva.
Como tem sido os comportamentos das interfaces nesses debates? Há desafios?O processo de elaboração e discussão da norma unificada foi
longo e pode-se considerar que teve duas fases distintas. Na
primeira fase as entidades colocavam suas visões, os pontos
de interesse de cada segmento e externavam preocupações
com o aumento de atribuições e de custos devidas à imple-
mentação de novos requisitos normativos. Numa segunda fase,
com a evolução dos trabalhos, as convergências vieram e o
ambiente tornou-se propício para o estabelecimento de um
texto normativo que atende adequadamente às necessida-
des dos usuários dos sistemas predais de água fria e quente.
Duas lições foram aprendidas neste processo.
A primeira delas refere-se à importância da produção e
organização do conhecimento para embasar as atividades
de regulamentação e normalização técnica. É fundamental
que aconteça uma maior aproximação entre as entidades de
pesquisa e inovação com as entidades e empresas do meio
produtivo, com o objetivo de prospectar, gerar e organizar o
conhecimento tecnológico nesta área.
A outra lição é que as entidades envolvidas no desenvolvi-
mento de normas técnicas de procedimentos de projeto e implan-
tação de sistemas, como é o caso da norma de sistemas prediais
de água fria e quente, devem se reunir numa periodicidade es-
tabelecida, que em minha opinião não deve ser superior a dois
anos, para avaliar a necessidade de atualização do documento
normativo, em função das inovações observadas no período e
da evolução das exigências dos usuários destes sistemas. •
Praticamente todos os elos da cadeia produtiva dos sistemas hidráulicos
prediais estão envolvidos no atual processo de unificação das normas.
As entidades setoriais interessadas no tema, que patrocinaram a elaboração do texto base
da nova norma, são a Abrasip, o SindInstalação, o SindusCon SP, o SECOVI-SP, a ASFAMAS, a
ABRAFAC, e o CBCS que traz o foco nas questões relacionadas à conservação e uso racional da água.
18 WWW.CBCS.ORG.BR
março 2012
Posicionamento CBCS para RIO+20
Relevância do temaDe acordo com UNEP-SBCI, globalmente os edifícios são
responsáveis por 40% do consumo anual de energia e res-
ponsáveis por até 30% do consumo de energia relacionado
à emissão de gases de efeito estufa. Coletivamente, o setor
da construção é responsável por um terço do consumo de re-
cursos naturais, incluindo 12% de todo o uso de água doce,
e pela produção de até 40% de resíduos sólidos.
De acordo com UNEP - Climate Neutral Network o transporte
pessoal e comercial consome cerca de 20% da oferta global de
energia sendo que 80% dos quais provenientes de combustíveis
fósseis. A Infraestrutura de transporte contribui para o desenvolvi-
mento econômico e social permitindo o comércio e proporcionando
oportunidades de emprego, educação e lazer.
Esses dados são estimativas globais. Quantificações por
país e setor produtivo são necessários para identificar os
principais impactos de cada setor.
PropostaPropomos o estabelecimento de um painel internacional, reu-
nindo empresas, governos, academia e ONGs, para estabelecer
uma Plataforma Global de Avaliação do Ciclo de Vida Simpli-
ficada (ACV-s), que priorize os principais desafios da agenda
socioambiental global e que seja capaz de tornar-se numa
ferramenta para a tomada de decisão com base no desenvol-
vimento sustentado do setor da construção civil.
A visãoA promoção da sustentabilidade exige que as decisões de aqui-
sição de produtos considerem os múltiplos impactos ambientais
e sociais ao longo do ciclo de vida dos produtos. Até o momen-
to a quantidade de informações sobre estes impactos é muito
limitada, de acesso caro e difícil. Na maioria dos países em de-
senvolvimento informações de produtos locais, são inexistentes.
Esta carência de informações afeta todos os níveis de decisão,
da elaboração de planos em nível nacional e internacional, ao
comunitário e individual, passando por decisões de consumo,
inclusive no âmbito do comércio internacional.
Esta realidade limita seriamente o engajamento efetivo da in-
dústria, do comercio, do setor público e dos consumidores em geral
na promoção da sustentabilidade, tal como previsto na Agenda 21.
O contextoA Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), promovida há várias décadas
pela UNEP, já é a ferramenta padrão para quantificar o impacto
ambiental de produtos. A integração de impactos sociais dentro do
seu escopo vem sendo trabalhada. Seu conceito é bem estabelecido
e normatizado. A ferramenta procura integrar todos os fluxos am-
bientais (entradas e saídas de materiais nos processos produtivos),
permitindo calcular os impactos ambientais e identificar os mais
relevantes em cada produto, o que pode fundamentar intervenções
acertadas no processo. Entretanto, com a abrangência proposta a
ACV é de implantação cara e complexa, pois exige a medição de
uma grande quantidade de variáveis, muitas das quais requerem
complexo aparato e recursos humanos altamente especializados,
que não estão disponíveis em muitas regiões e além do alcance
financeiro de boa parte dos agentes econômicos.
Estes fatos têm impedido a disseminação da ACV. Estão dispo-
níveis no mercado internacional algumas poucas bases de dados
comerciais. Estas bases incluem dados oriundos principalmente
de países desenvolvidos e menos ainda que detalhem empresas
(declaração ambiental de produto). Apenas poucos países pos-
suem bases de dados publicas e gratuitas. De uma forma geral
a velocidade de atualização e lenta, o que leva a tomada de
decisões com dados desatualizados. A maior parte dos dados
não esta detalhada em nível de empresas, pois a sua aplicação
esta fora do alcance técnico e econômico da maioria delas. Esta
carência elimina a possibilidade de escolha de fornecedor base-
ada em critérios ambientais. Em consequência a seleção baseada
em preço e desempenho técnico continua predominante. Esta
Plataforma Global de Avaliação do Ciclo de Vida Simplificado para Construção Sustentável
19março 2012
carência de informações impede a concorrência baseada em
sustentabilidade e em muitas situações faz com que ganhem
mercados fornecedores com práticas insustentáveis. Em resumo,
a ausência de informações de impactos ambientais em nível de
empresa impede que o mercado promova a sustentabilidade.
O desafioÉ, portanto, prioritário construir um sistema público aberto
gratuitamente para toda a sociedade que gerencie um conjunto
mínimo de informações quantitativas, consistentes, verificáveis e
confiáveis que de suporte às decisões de aquisição de produtos
com base em múltiplos critérios, baseado no conceito de analise
do ciclo de vida, simplificado. Este sistema deve ser desenvol-
vido, implantado e gerenciado de forma transparente por uma
coalização que reúna órgãos governamentais, empresas e o
terceiro setor. A eficácia deste sistema cresce proporcionalmen-
te ao número de produtos e empresas que dele participam. As
chances de sucesso crescem se este sistema for de implantação
e manutenção tão simples que o torne viável em pequenas em-
presas de países em desenvolvimento. A simplicidade facilita a
atualização dos dados, outra chave da sua eficácia.
Para facilitar a sua adoção por diferentes países, sua implan-
tação deve ser progressiva, começando com dados de insumos
básicos em escala nacional evoluindo de forma a abranger parcela
crescente dos produtos e, finalmente, incorporando resultados
de empresas individuais. A quantidade de aspectos ou impactos
incluídos deve ser evolutiva, permitindo que países, empresas e
seus clientes aprendam no processo. Para permitir o comércio
internacional deve ter uma metodologia padronizada, com bases
interligadas e de acesso universal.
Embora este tipo de sistema de suporte a decisão seja importante
para todos os setores da economia, ele é particularmente prioritário
para o setor da construção, que é responsável pela maior parcela
de consumo de recursos naturais, geração de resíduos e consumo
de energia e também pela qualidade de vida da população.
Análises de desempenho ambiental de produtos continuam
sendo feita através de metodologias proprietárias (selos verdes),
baseadas em critérios que promovem soluções consideradas
de menor impacto e que foram eleitas pelos seus autores. Em
consequência estas ferramentas dão resultados incoerentes
entre si e não permitem minimizar os impactos negativos em
todos os projetos. Em mercados onde existem múltiplos selos é
possível aos agentes de mercado selecionar a ferramenta mais
conveniente. A adoção de selos elaborados em outras realida-
des e países reduz ainda mais a eficácia destas iniciativas, e
podem levar a decisões incorretas, pois as diferenças da agen-
da socioambiental entre países e regiões é muito grande. Uma
simples comparação do conteúdo de CO2 da eletricidade, que
varia uma ordem de grandeza entre diferentes países evidencia
este limite. Metodologias de certificação que tenham por base
informações quantitativas dos impactos ao longo do ciclo de
vida dos produtos efetivamente empregados na construção, ma-
nutenção e uso poderão vir a fornecer resultados consistentes
e relevantes. As ferramentas BIM facilitam a realização desta
analise, desde que existam os dados.
Um exemplo de sucesso na quantificação de impactos é a abor-
dagem do GHG Protocol que tem ganhado a adesão de empresas,
mesmo em países em desenvolvimento. A metodologia abre a
possibilidade de usar dados que podem ser coletados com certa
facilidade, mas também oferece modelos de estimativa genéricos
de aplicação mais fácil, embora com resultados mais conservadores.
A metodologia é também apoiada por um crescente número de
manuais e ferramentas dedicados a processo produtivos específicos
e adaptações por diferentes países, o que facilita a sua aplicação.
Espelhando-se no GHG Protocol, o desenvolvimento de uma
metodologia simplificada de análise do ciclo de vida é uma alter-
nativa para viabilizar as medições de impacto ambiental, tornar
os dados acessíveis e escalar rapidamente o hábito de basear as
decisões em critérios ambientais múltiplos.
ConclusãoPortanto propomos o estabelecimento de um Painel Internacional
formado por empresas, governos, academia e ONGs, para estabelecer
uma Plataforma Global de Avaliação do Ciclo de Vida Simplificada
(ACV-s), por meio de uma metodologia de análise que contempla os
principais desafios da agenda socioambiental global para tornar-se
uma ferramenta para a tomada de decisão com foco no desenvol-
vimento sustentado do setor da construção civil.
20 WWW.CBCS.ORG.BR
março 2012
saiba mais sobre o CBCS
O CBCS, como entidade de estudos e
geração de conteúdo em seu segmento,
está presente no ambiente virtual e mantém
contas oficiais no Twitter e Facebook,
gerenciadas pela equipe de assessoria de
comunicação. No Twitter, ultrapassamos os
900 seguidores. No Facebook, já são mais
de 3.000 amigos e 320 fãs. São espaços
de debate e discussão de ideias, além de
divulgação das ações do CBCS e de matérias
publicadas na imprensa com participação
dos conselheiros e diretores. Confira!
O LabEEE – Laboratório de Eficiência Energética
em Edificações da UFSC – Universidade Federal de
Santa Catarina, parceiro do CBCS, foi o homena-
geado do Prêmio Pini 2011 como a Iniciativa Social
de Destaque 2011. A premiação concedida pelo
Grupo Pini, editora de publicações do mercado
da construção civil, foi motivada pelos projetos
desenvolvidos pelo centro de pesquisas, entre eles
o sistema de etiquetagem, que classifica imóveis
de acordo com seu nível de eficiência energética.
Fundado em 1996, o LabEEE é coordenado pelo
professor e conselheiro do CBCS Roberto Lamberts
e atualmente vive fase de expansão em pesquisas. O
sistema de etiquetagem, que já é referência nacional,
será ampliado e, com apoio do Ministério de Minas
e Energia, dará origem ao CB3E – Centro Brasileiro
de Eficiência Energética em Edificações. Trata-se de
uma nova entidade que será dedicada a atividades
complementares à etiqueta, como a elaboração de
normas para medir as propriedades térmicas e óticas
dos materiais usados na construção civil.
Acompanhe e curta o CBCS nas mídias sociais
Prêmio Pini 2011 faz homenagem ao LabEEE/UFSC
21março 2012
Conselho Deliberativo 2011-2012
Presidente do Conselho Deliberativo
Marcelo Vespoli Takaoka
Conselheiros
Adriana Levisky
Carlos Eduardo Garrocho de Almeida
Cristina Montenegro
Fabio Feldmann
Leôncio Pedrosa
Marcelo Vespoli Takaoka
Olavo Kucker Arantes
Orestes Marracini Gonçalves
Paulo Itacarambi
Paulo Machado Lisboa
Rachel Biderman
Roberto de Souza
Roberto Lamberts
Ubirajara Freitas
Vahan Agopyan
Vanderley Moacyr John
Vera Fernandes Hachich
Diretoria
Diana Csillag
Paola Torneri Porto
Wilson Saburo Honda
Conselho Fiscal
Titulares
Mário Sérgio Pini
Roberto Aflalo
Márcia Mikai Junqueira de Oliveira
Suplentes
Rubens de Almeida
Francisco Ferreira Cardoso
Valério Gomes Neto
Jornalista responsável
Clarissa Turra - Mtb 52086/SP
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Secretaria
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Direção de Arte
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CT Água
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Lucia Helena Oliveira
Marina Ilha
CT Avaliação
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CT Energia
Roberto Lamberts
CT Economico Financeiro
Marcelo V. Takaoka
CT Materiais
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Vera Hachich
CT Projeto
Paulo Lisboa
Adriana Levisky
Eloise Amado
CT Urbano
Alex Abiko
expediente CBCS