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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Jornal Brasileiro de Ciência Animal – JBCA, v.3, n.6, suplemento, 2010. Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária Jornal Brasileiro de Ciência Animal - JBCA Búzios-RJ, 28-31 de outubro de 2010

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Anais do IX Congresso Brasileiro de Cirurgia e

Anestesiologia Veterinária

Congresso Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária

Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária

Jornal Brasileiro de Ciência Animal - JBCA

Búzios-RJ, 28-31 de outubro de 2010

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SEÇÃO 3 - ARTIGOS COMPLETOS

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SUMÁRIO

1. AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA CONCENTRAR

PLAQUETA EM CÃES ......................................................................................................8

2. AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA CONCENTRAR

PLAQUETAS NO GATO .. ............................................................................................. 12

3. INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA LAPAROSCÓPICA POR DOIS DIFERENTES

ACESSOS EM OVINOS ............................................................................................ 16

4. EFEITOS SISTÊMICOS E ANALGÉSICOS DAS INJEÇÕES EPIDURAIS DE

METADONA OU CETAMINA EM EQUINOS ............................................................ 20

5. EFEITOS BENÉFICOS DA SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA 7,5% SOBRE A

RESPOSTA INFLAMATÓRIA E A DISFUNÇÃO ORGÂNICA NO TRATAMENTO

INICIAL DA OBSTRUÇÃO INTESTINAL E ISQUEMIA EXPERIMENTAL ................ 24

6. HÉNIAS UMBILICAIS EM BEZERRAS NELORE PROVENIENTES DE FIV: RELATO

DE 31 CASOS ........................................................................................................... 28

7. CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E FENOTÍPICA DE CÉLULAS-TRONCO

MESENQUIMAIS DE EQUINOS ............................................................................... 31

8. EFEITOS DA DETOMIDINA E XILAZINA INTRAVENOSA EM BOVINOS................ 34

9. DIFERENCIAÇÃO CONDROGÊNICA DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS DE

EQUINOS ...................................................................................................................37

10. AVALIAÇÃO DE SOBREVIDA, ALTERAÇÕES GENITOURINÁRIAS,

COMPORTAMENTAIS E DE PESO CORPÓREO NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO

EM CADELAS E GATAS SUBMETIDAS À OVARIOSALPINGO-HISTERECTOMIA

SOB DIFERENTES MÉTODOS DE LIGADURA DO PEDÍCULO OVARIANO ..........40

11. DESCOMPRESSÃO DO NÚCLEO DA CABEÇA FEMORAL EM CÃES

PORTADORES DE NECROSE ASSÉPTICA: DOIS CASOS ................................... 44

12. ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE LESÕES ÓSSEAS CRIADAS NA PORÇÃO

PROXIMAL DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDOS À IRRADIAÇÃO COM LASER

TERAPÊUTICO DE BAIXA INTENSIDADE (INGAALP: 670NM/30MW) NAS FASES

AGUDAS E CRÔNICAS .............................................................................................49

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13. ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDAS

À OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E IRRADIADAS COM LASERTERAPIA

(INGAALP: 670NM/30MW) NA FASE AGUDA E CRÔNICA DA LESÃO ................. 53

14. ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDA À

OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E TRATADA COM DECANOATO DE

NANDROLONA ..........................................................................................................57

15. COMPARAÇÃO ENTRE OVARIECTOMIA POR LAPAROTOMIA, VIDEOASSISTIDA

E TOTAL VIDEOLAPAROSCÓPICA EM OVELHAS DA RAÇA SANTA INÊS ......... 54

16. MODELO DE TRAUMA MEDULAR CONTUSIVO EXPERIMENTAL PARA RATOS

PROMOVE LIBERAÇÃO AGUDA DE GLUTAMATO* .............................................. 57

17. INFLUÊNCIA DE DIFERENTES NÍVEIS DE PEEP NOS PARÂMETROS

CARDIOPULMONARES DE SUÍNOS SUBMETIDOS À PRESSÃO DE INSUFLAÇÃO

INTRATORÁCICA ..................................................................................................... 61

18. EMPREGO DE DUAS NOVAS TÉCNICAS DE REDUÇÃO DE PROLAPSO VAGINAL

EM VACAS................................................................................................................. 65

19. PENECTOMIA COMO TRATAMENTO DE PROLAPSO PENIANO EM JABUTI DE

PATAS VERMELHAS (GEOCHELONE CARBONARIA) ATENDIDO NO HOSPITAL

VETERINÁRIO DA ULBRA: RELATO DE CASO ...................................................... 72

20. USO DE ÂNCORA NA REDUÇÃO ABERTA DA LUXAÇÃO COXOFEMORAL.

RELATO DE CASO ……………………………………………………………………….. 77

21. OSTEOSSÍNTESE DE CABEÇA UMERAL EM PRIMATA ALOUATTA FUSCA

CLAMITANS: RELATO DE CASO ............................................................................ 80

22. TÉCNICA CIRÚRGICA PARA IMPLANTAÇÃO DE CÂNULA EM FORMA DE T NO

ÍLEO TERMINAL DE SUÍNOS ................................................................................. 84

23. INTERVENÇÃO CIRÚRGICA EM CÃO (CANIS FAMILIARIS) COM HIPOSPADIA

PERIANAL – RELATO DE CASO ............................................................................. 87

24. CRIPTORQUIDECTOMIA EM EQUINOS A CAMPO: ANESTESIA, PROCEDIMENTO

CIRÚRGICO E IMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS (2000 A 2010) ..................... 90

25. OVARIOSALPINGO-HISTERECTOMIA POR NOTES TRANSVAGINAL EM

CADELAS .................................................................................................................. 94

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26. AVALIAÇÃO HISTOMORFOMÉTRICA E DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE

MENISCOS FRESCOS E PRESERVADOS EM GLICERINA 98%. ESTUDO

EXPERIMENTAL EM COELHOS ……………………………………………………….. 98

27. PADRÃO ULTRASSONOGRÁFICO DO PARÊNQUIMA, MEDIASTINO E TÚNICAS

TESTICULARES EM BOVINOS JOVENS DA RAÇA NELORE ............................. 103

28. INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DENTÁRIO NAS CARACTERÍSTICAS DO LÍQUIDO

SINOVIAL DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM EQUINOS

.................................................................................................................................. 107

29. TRATAMENTO DA PITIOSE EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE

PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA COM ANFOTERICINA B ...................... 110

30. ANESTESIA DE RATAS SUBMETIDAS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO OVARIANO

PELO USO DO TRIBROMOETANOL OU ASSOCIAÇÃO DE XILAZINA/CETAMINA

.................................................................................................................................. 115

31. PLATAFORMA DE FORÇA NO PADRÃO ORTOSTÁTICO EM CÃES .................. 119

32. AVALIAÇÃO CLÍNICA E BIOMECÂNICA PÓS-OPERATÓRIA DA ARTICULAÇÃO

COXOFEMORAL EM CÃES .................................................................................... 122

33. CASUÍSTICA DAS LESÕES TRÁUMATO-ORTOPÉDICAS NO PERÍODO DE

FEVEREIRO DE 2007 A JUNHO DE 2010 NO SETOR DE CIRURGIA ORTOPÉDICA

DE PEQUENOS ANIMAIS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MEDICINA

VETERINÁRIA PROFESSOR FIRMINO MÁRSICO FILHO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL FLUMINENSE (HUVET-UFF) ................................................................ 125

34. CORREÇÃO CIRÚRGICA DE FENDA PALATINA SECUNDÁRIA EM UM EQUINO

COM USO DE MEMBRANA BIOLÓGICA ............................................................... 130

35. AVALIAÇÃO MACRO E MICROSCÓPICA DE NERVOS ULNARES DE EQUINOS

APÓS NEUROTOMIA E DEPOSIÇÃO DE FRAÇÃO DE CÉLULAS

MONONUCLEARES DA MEDULA ÓSSEA ............................................................ 135

36. MASTECTOMIA RADICAL A CAMPO EM VACA – RELATO DE CASO ............... 139

37. AVALIAÇÃO CIRÚRGICA E LABORATORIAL DA UTILIZAÇÃO DE PERICÁRDIO

HOMÓLOGO EM LESÕES POR ABRASÃO EM SEROSA DE CÓLON MAIOR

(FLEXURA PÉLVICA) DE EQUINOS ...................................................................... 145

38. OVARIO-HISTERECTOMIA PELO FLANCO DIREITO EM GATA – RELATO DE

CASO E DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA ................................................ 148

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39. CIRURGIAS ONCOLÓGICAS REALIZADAS EM PEQUENOS ANIMAIS NO

HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFMG ENTRE 2007 E 2009 ................................. 153

40. TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA CORREÇÃO DE INSTABILIDADE VERTEBRAL

CERVICAL EM UM POTRO .................................................................................... 159

41. BLOQUEIO DO NERVO ALVEOLAR MANDIBULAR INFERIOR UTILIZANDO

LIDOCAÍNA A 2%, EM GATOS ................................................................................162

42. LAVAGEM PERITONEAL EM UMA ÉGUA COM PERITONITE SECUNDÁRIA A

RUPTURA UTERINA – RELATO DE CASO ............................................................167

43. CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS COM PLASMA RICO EM PLAQUETAS NA

REPARAÇÃO DE DEFEITOS CRÍTICOS EM CALVÁRIA DE CAMUNDONGOS .. 171

44. INFARTO ÓSSEO ASSOCIADO À OSTEOSSARCOMA: RELATO DE CASO ...... 175

45. ULTRASSOM TERAPÊUTICO E LASER DE BAIXA POTÊNCIA NO TRATAMENTO

DE ABSCESSOS EM EQUINOS ............................................................................. 179

46. AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E SEGURANÇA DO MELOXICAM COMPRIMIDO EM

GATOS .................................................................................................................... 183

47. BUSCA ATIVA COMO MÉTODO DE DETECÇÃO DE INFECÇÃO DO SÍTIO

CIRÚRGICO NA CLÍNICA DE CÃES E GATOS DO HOSPITAL VETERINÁRIO DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA ................................................................ 185

48. RECUPERAÇÃO FUNCIONAL EM CÃES COM DOENÇA DO DISCO

INTERVERTEBRAL SEM PERCEPÇÃO À DOR PROFUNDA SUBMETIDOS AO

TRATAMENTO CIRÚRGICO: 11 CASOS (2006-2009) .......................................... 189

49. USO DO SULFATO DE ATROPINA NA RESSUSCITAÇÃO DE NEONATOS

CANINOS SUBMETIDOS À CIRURGIA CESARIANA – AVALIAÇÃO DO ÍNDICE DE

APGAR NEONATAL ................................................................................................ 193

50. EFEITO TERAPÊUTICO DE DOIS PROTOCOLOS SOBRE AS LESÕES REMOTAS

DERIVADAS DA SÍNDROME ISQUEMIA E REPERFUSÃO INTESTINAL EM

COELHOS .. .............................................................................................................198

51. AUTOMUTILAÇÃO POR SÍNDROME DA CAUDA EQUINA EM UM CÃO: RELATO

DE CASO ……………………………………………………………………………….... 201

52. AVULSÃO DO TENDÃO CALCANEAR COMUM EM CÃO – RELATODE CASO .. 204

53. ANESTESIA NO PACIENTE COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO

SUBMETIDO À CRANIOTOMIA: RELATO DE CASO ............................................ 208

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54. FOSFATASE ALCALINA SÉRICA X EXAMES RADIOGRÁFICOS EM LESÕES

OSTEOCONDRAIS DE COELHOS TRATADAS COM CÉLULAS MONONUCLEARES

E PROTEÍNA MORFOGENÉTICA ÓSSEA .......................... 210

55. MIOTOMIA CRICOFARÍNGEA PARA CORREÇÃO DE DISFUNÇÃO ESOFÁGICA

EM CÃO: RELATO DE CASO ................................................................................. 214

56. NEFRECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA PARA TRATAMENTO DE

DIOCTOFIMOSE EM CÃO – RELATO DE CASO .................................................. 217

57. REPARAÇÃO DE LESÕES INTERDIGITAIS EXPERIMENTAIS EM BOVINOS

EMPREGANDO EXTRATO DE BARBATIMÃO A 5% ............................................ 220

58. ESTUDO RETROSPECTIVO DE 689 CASOS DE DOENÇAS OCULARES

ATENDIDAS NO MUNICÍPIO DE UBERABA-MG .................................................. 224

59. PREVALÊNCIA DAS NEOPLASIAS CANINAS, DIAGNOSTICADAS POR EXAME

HISTOPATOLÓGICO, NA REGIÃO DE UBERABA ............................................... 227

60. OSTEOSSARCOMA EXTRAESQUELÉTICO CANINO – RELATO DE CASO ...... 233

61. PROTEÍNA C REATIVA COMO FATOR DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO EM

CADELAS COM E SEM PIOMETRA SUBMETIDAS À OVÁRIOSSALPINGO-

HISTERECTOMIA ................................................................................................... 237

62. ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE ABDOMEN AGUDO EQUINO NO

HOSPITAL VETERINÁRIO DE GRANDES ANIMAIS - UNB/SEAPA, NO PERÍODO

DE 2001 A 2009 ...................................................................................................... 241

63. RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL EM CÃES: ESTUDO

RETROSPECTIVO (2000 - 2010) ........................................................................... 245

64. EMPREGO DO EXTRATO DA CASCA DO BARBATIMÃO NA CICATRIZAÇÃO DE

LESÕES DE DERMATITE DIGITAL EM FÊMEAS BOVINAS DE APTIDÃO LEITEIRA

.................................................................................................................................. 249

65. EDEMA PULMONAR DE REEXPANSÃO (EPR) APÓS CORREÇÃO CIRÚRGICA DE

HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA PERITÔNEO PERICÁRDICA EM CÃO: RELATO DE

CASO ....................................................................................................................... 253

66. OSTEOSSÍNTESE DE FRATURA METAFISÁRIA DISTAL EM BUGIO (ALOUATTA

CARAYA) – RELATO DE CASO ............................................................................. 254

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AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA CONCENTRAR PLAQUETAS EM CÃES

HEMATOLOGICALEVALUATIONOFTUBEMETHODFORCONCENTRATINGDOGPLATELETS

SILVA,R.F.1,2;CARMONA,J.U.2;PAESLEME,F.O1;REZENDE,C.M.F.1

Palavras-chave: plaquetas, cães, hematológico Key words: platelet, dogs, hematological Introdução

Um dos campos da medicina, entre outras áreas na cirurgia veterinária, que mais expectativas tem levantado nos últimos anos é a terapia regenerativa, principalmente o uso de células-tronco derivadas de tecido gorduroso e a utilização de concentrados autólogos de plaquetas (APCs). Este último se apresenta como uma possibilidade economicamente viável e que oferece resultados promissores como fonte de diversos fatores de crescimento que modulam a inflamação e a cicatrização tissular. Os APCs são formados por plaquetas, leucócitos, plasma e fatores de crescimento obtidos do sangue total pela separação celular diferencial das distintas fases, o que permite obter aquela de maior interesse1. No cão descrevem-se dois métodos para obtenção do APC: o método do tubo3, 5 e o método semi-automático do dispositivo SmartPReP 2 system8. O método do tubo é de fácil realização, e são descritos vários protocolos para obter APCs, em sua grande maioria mediante centrifugações duplas e utilizando citrato de sódio como anticoagulante.

Metodologia

Para o presente trabalho foram utilizados 12 cães adultos da raça Fila Brasileiro, seis machos e seis fêmeas. O sangue foi obtido mediante venopunção cefálica com scalpe para vácuo 21 G e coletado em tubos vacutainer de uso comercial de 10 mL com solução de ácido cítrico – citrato de sódio – dextrose (ACD) em relação 1,5:8,5 com o sangue. O sangue foi submetido a uma única centrifugação a 191 g por 6 minutos. Retiraram-se com micropipeta de volume fixo de 1000 µL os primeiros 100 µL de sangue e os primeiros 900 µL de plasma, abaixo e acima da interface sangue - plasma, respectivamente. A contagem celular dos APCs foi feita por impedância volumétrica num analisador hematológico automático. Para cada amostra foram feitas três contagens, tomando-se como valor amostral a média, a qual foi comparada com o hemograma de sangue total de cada animal. Os valores hematológicos foram comparados mediante o teste t pareado, apresentando-se como média e erro padrão da média. Realizou-se o coeficiente de correlação de Pearson

1 Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos 6627, Caixa Postal 567, CEP

30123-970. Belo Horizonte, MG. 2 Grupo de Investigación Terapia Regenerativa, Departamento de Salud Animal, Universidad de Caldas, Calle 65 No

26-10, Manizales, Caldas, Colombia. [email protected]

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para determinar o grau de associação entre o numero de plaquetas no APC (PLT-APC) e os números de leucócitos (WBC), linfócitos (LYM), monócitos e alguns eosinofilos (MID), neutrófilos – eosinofilos - basófilos (GRA), hemácias (RBC) em sangue total, também entre estas células sangüíneas no sangue total e no APC.

Resultados

Os valores do sangue total e do APC demonstraram diferenças altamente significativas (p<0,01) nas contagens celulares absolutas de WBC, MID, GRA, RBC e PLT, mas não nos LYM (tabela 1). Também não houve diferenças entre o sexo e a idade dos animais e as contagens celulares na hematologia. Encontrou-se correlação fortemente negativa (ρ = -0,702) significativa (p = 0,11) entre o numero de linfócitos e de plaquetas presentes no APC (tabela 2) e não houve correlação com RBC.

Tabela 1. Resultados gerais das contagens hematológicas / µL em sangue total e nos concentrados autólogos de plaquetas de cães da raça Fila Brasileiro (apresentam-se os dados como média - erro padrão da média)

Variável Sangue total Concentrado Autólogo de Plaquetas

PLT (fragmentos x 103 / µL)

345.3 (44.93) a 515.9 (60.74) b

PCV % 44,2 (1,96) a 3,97 (1,14) b WBC (células x 103 / µL) 16.6 (2.08) a 6.9 (0.48) b LYM (células x 103 / µL) 5.05 (1.45) a 3.07 (0.27) a LYM% 26,6 (4,01) a 46,6 (5,76) b MID (células x 103 / µL) 0.79 (0.22) a 0.275 (0.04) b MID% 4,2 (0,58) a 3,9 (0,50) a GRA (células x 103 / µL) 10.7 (0.93) a 3.6 (0.54) b GRA% 69,3 (4,19) a 49,2 (5,53) b

PLT, plaquetas; PCV, hematócrito; WBC, leucócitos; LYM, linfócitos; MID, macrófagos e alguns eosinófilos; GRA, neutrófilos eosinófilos basófilos. Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente pelo teste de t (p<0,01)

Tabela 2. Coeficientes de correlação de Pearson (ρ) entre a contagem de plaquetas nos APCs e as outras contagens hematológicas / µL em sangue de cães da raça Fila Brasileiro

Variável ρ P PLT 0,946** 0,000 MID 0,819** 0,001 GRA 0,797** 0,002 LYM-APC - 0,702* 0,011 WBC 0,602* 0,038

LYM-APC, número de linfócitos no concentrado autólogo de plaquetas. * Correlação significativa ao nível 0,05. ** Correlação significativa ao nível 0,01

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Discussão O principal objetivo desta pesquisa foi desenvolver um protocolo de centrifugação simples em tubo para obter APCs de cães. Por exemplo, Jensen y col (2004) descreveram uma metodologia utilizando tubos com EDTA e, mediante centrifugação única, obtinham um incremento de plaquetas e leucócitos de 670% (1.884.000 PLT/µL) e 720% (64.200 WBC/µL), respectivamente. A nossa metodologia permite concentrar uma quantidade menor de plaquetas, mas a concentração de leucócitos é 58% inferior. Além disso, o uso de APCs com EDTA poderia provocar lesões estruturais, bioquímicas e funcionais às plaquetas10. Existem outros reportes que descrevem o uso do citrato de sódio como anticoagulante2, 3, 4, 11 para concentrar plaquetas em cão, mediante dois episódios de centrifugação, cujo produto final dê oscilo entre 400.000 a 1.300.000 PLT/µL. Nestas pesquisas, as plaquetas foram contadas manualmente (microscopia óptica) e sem apresentar nenhuma outra informação hematológica das características do APC. O método do nosso estúdio com uma única centrifugação concentra valores dentro do rango descrito para com duas centrifugações. Lei y col (2009) concluíram que a qualidade do APC está estreitamente relacionada com o anticoagulante empregado e, que nesse contexto, o uso de ACD é superior ao uso de citrato de sódio ou heparina. O anterior representa uma vantagem para o método descrito neste trabalho. A quantidade de plaquetas que se concentram com o método avaliado poderia ser suficiente para produzir efeito biológico (clínic o)9. É necessário lembrar que o mais importante de um método para concentrar plaquetas não é concentrar altos números delas, mais sim obter plaquetas vivas e inativas7. Conclusão

Com base nestes resultados, conclui-se que a metodologia empregada permite concentrar plaquetas de cão em níveis suprafisiológicos que poderiam ser aceitáveis para uso terapêutico na cirurgia veterinária. Ainda a metodologia utilizada não mostrou redução na quantidade absoluta de linfócitos associados com a concentração de plaquetas quando comparada com as contagens no sangue total. Referências bibliográficas 1. Beca T, Hernández G, Morantes S, Bascones A. 2007. Plasma rico en plaquetas.

Una revisión Bibliográfica. Av. Periodon. Implantol. 19: 39-52. 2. Bonomi S, Auada CR, Almeida F, Branco DC, Braga KB, Muramoto C, Amaku M.

2007. Plasma rico em plaquetas combinado a hidroxiapatita na formação do calo ósseo em fraturas induzidas experimentalmente no rádio de cães. Ciência Rural 37: 1045-1051.

3. Choi BH, Zhu SJ, Kim BY, Huh SH, Lee SH, Jung JH. 2005. Effect of platelet-rich plasma (PRP) concentration on the viability and proliferation of alveolar bone cells: an in vitro study. Int. J. Oral Maxillofac. Surg. 34: 420-424.

4. Ferraz VCM, Ferrigno CRA, Schmaedecke A. 2007. Platelet concentration of plateletrich plasma from dog, obtained through three centrifugation speeds. Braz J Vet Res Anim Sci 44: 435-440.

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5. Jensen TB, Rahbek O, Overgaard S, Søballe K. 2004. Platelet rich plasma and fresh frozen bone allograft as enhancement of implant fixation - An experimental study in dogs. Journal of Orthopaedic Research 22: 653–658.

6. Lei H, Gui L, Xiao R. 2009. The effect of anticoagulants on the quality and biological efficacy of platelet-rich plasma. Clinical Biochemistry 42: 1452–1460.

7. Marx RE. 2004. Platelet-rich plasma: evidence to support its usage. J Oral Maxillofac Surg 62: 489-496.

8. Thoesen MS, Vander Berg-Foels WS, Stokol T, Rassnick KM, Jacobson MS, Kevi SB, Todhunter RJ. 2006. Used of a centrifugation-based, point-of-care device for production of canine autologous bone marrow and platelet concentrates. Am. J. Vet. Res. 67: 1655-1661.

9. Weibrich G, Wilfried KGK, Rainer B, Hitzler WE, Hafner G. 2003. The Harvest Smart PRePTM system versus the Friadent-Schütze platelet-rich plasma kit. Clin Oral Impl Res 14: 233–239.

10. White G, Escolar G. 2000. EDTA-induced changes in platelet structure and function: adhesion and spreading. Platelets 11: 56-61.

11. You TM, Choi BH, Li J, Jung JH, Lee HJ, Lee SH, Jeong SM. 2007. The effect of platelet-rich plasma on bone healing around implants placed in bone defects treated With Bio-oss: a pilot study in the dog tibia. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 103: 8-12.

Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal – CETEA – Universidade Federal de Minas Gerais. Protocolo n° 125/2009.

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AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DO MÉTODO DO TUBO PARA CONCENTRAR PLAQUETAS NO GATO

HEMATOLOGICALEVALUATIONOFTUBEMETHODFORCONCENTRATINGCATPLATELETS

SILVA,R.F.3,4,CARMONA,J.U.2;MANTOVANI,P.F.1;PAESLEME,F.O1;REZENDE,C.M.F.1

Palavras-chave: plaquetas, gatos, hematológico Key words: platelet, cats, hematological. Introdução

O gato, a cada dia, ganha um espaço muito importante dentro da prática de clinica cirúrgica na medicina veterinária. Justamente na área de cirurgia veterinária, um dos campos que mais expectativas têm levantado nos últimos anos é a terapia regenerativa, principalmente o uso de células-tronco derivadas de tecido gorduroso e a utilização de concentrados autólogos de plaquetas (APCs), apresentando-se este último como uma possibilidade economicamente viável e que oferece resultados promissores como fonte de diversos fatores de crescimento que modulariam a inflamação e a cicatrização tissular. Na medicina veterinária, os APCs têm sido utilizados em cirurgia alveolomaxilar8, 9, 14, cirurgia ortopédica6, associação com enxertos e implantes3, 15, cicatrização de feridas7, transportador de fármacos, tratamento de úlceras gástricas – úlceras cutâneas crônicas – úlceras corneais e regeneração de nervos periféricos1, mas até o dia de hoje não existem relatos sobre o seu potencial uso na clínica cirúrgica do gato. Os APCs são formados por plaquetas, leucócitos, plasma e fatores de crescimento e obtidos do sangue total pela separação celular diferencial das distintas fases, o que permite obter aquela de maior interesse2 . No gato existem pouquíssimos relatos sobre a metodologia a utilizar para obter APCs.

Metodologia

Para obtenção do APC foi feita venopunção jugular com scalpe para vácuo 21 G, em 12 gatos adultos sem raça definida, seis machos e seis fêmeas. O sangue foi coletado em tubos vacutainer de 10 mL de uso comercial, com solução de ácido cítrico – citrato de sódio – dextrose (ACD), em relação 1,5:8,5 com o sangue. O sangue foi submetido a uma única centrifugação a 85 g por 6 minutos. Retiraram-se com micropipeta de volume fixo de 1000 µL, os primeiros 100 µL de sangue e os 3 Escola de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antônio Carlos 6627, Caixa Postal 567, CEP

30123-970. Belo Horizonte, MG. 4 Grupo de Investigación Terapia Regenerativa, Departamento de Salud Animal, Universidad de Caldas, Calle 65 No

26-10, Manizales, Caldas, Colombia. [email protected]

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primeiros 900 µL de plasma, abaixo e acima da interface sangue - plasma, respectivamente. A contagem celular do APC foi feita por impedância volumétrica num analisador hematológico automático. Para cada amostra foram feitas três contagens, tomando-se como valor amostral a média, a qual foi comparada com o hemograma de sangue total de cada animal. Os valores hematológicos foram comparados mediante o teste t pareado, apresentando-se como média e erro padrão da média. Realizou-se o coeficiente de correlação de Pearson para determinar o grau de associação entre o numero de plaquetas no APC (PLT-APC) e o numero de leucócitos (WBC), linfócitos (LYM), monócitos e alguns eosinófilos (MID), neutrófilos – eosinófilos – basófilos (GRA), hemácias (RBC) em sangue total, também entre estas células sangüíneas no sangue total e nos APCs.

Resultados Não se encontraram diferenças entre o sexo e a idade dos animais para os valores hematológicos avaliados. Os valores do sangue inteiro e do APC demonstraram diferenças significativas (p<0.01) nas contagens celulares absolutas de WBC, MID, GRA, RBC e PLT, mas não nos LYM (tabela1). As correlações encontradas se apresentam na tabela 2. Tabela 1. Resultados gerais das contagens hematológicas / µL em sangue total e nos concentrados autólogos de plaquetas de gatos (apresentam-se os dados como média - erro padrão da média)

Variável Sangue total Concentrado Autólogo de Plaquetas

PLT (fragmentos x 103 / µL)

412.33 (49.59) a 1021.50 (111.55) b

PCV % 33,86 (1,39) a 2,11 (0,36) b WBC (células x 103 / µL) 10.18 (0.84) a 6.59 (0.78) b LYM (células x 103 / µL) 2.95 (0.37) a 3.71 (0.57) a LYM% 29,73 (3,22) a 55,80 (4,53) b MID (células x 103 / µL) 0.63 (0.07) a 0.26 (0.03) b MID% 6,15 (0,44) a 4,35 (0,52) b GRA (células x 103 / µL) 6.62 (0.67) a 2.64 (0.41) b GRA% 64,13 (3,08) a 39,98 (4,19) b

PLT, plaquetas; PCV, hematócrito; WBC, leucócitos; LYM, linfócitos; MID, macrófagos e alguns eosinófilos; GRA, neutrófilos eosinófilos basófilos. Médias seguidas de letras distintas diferem significativamente pelo teste de t (p<0,01) Tabela 2. Coeficientes de correlação de Pearson (ρ) entre a contagem de plaquetas nos APCs e as outras contagens hematológicas / µL em sangue de gatos

Variável ρ P PLT 0,734** 0,007 GRA -

0,731** 0,007

* Correlação significativa ao nível 0,05. ** Correlação significativa ao nível 0,01 Discussão

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Mesmo que os autores não tenham encontrado pesquisas sobre obtenção de APCs o PRP com finalidades terapêuticas no gato, existem reportes sobre métodos manuais para concentrar plaquetas felinas e avaliar in vitro o efeito de substâncias agregantes e antiagregantes. Nestes estudos se empregou citrato de sódio 3,8% como anticoagulante e incluíram-se diferentes protocolos de centrifugação que oscilaram entre 150 e 200 g e entre 10 e 20 min4,5, 10, 11,12, 13, 15. Nessas pesquisas, não se apresentaram dados sobre o número de plaquetas concentradas nem outra informação hematológica das características dos concentrados de plaquetas. Por este motivo, os autores consideram que a presente pesquisa representa um aporte ao campo da hematologia felina com utilidade clínica no campo da medicina regenerativa. Tem-se encontrado que a qualidade de um APC pode estar estreitamente relacionada com o anticoagulante empregado na sua elaboração (Lei y col 2009). Por exemplo, os concentrados de plaquetas elaborados com ACD são de superior qualidade em relação aos concentrados de plaquetas obtidos com citrato de sódio ou heparina. Esta situação aporta uma vantagem do método descrito neste trabalho. Conclusão

Com base nos resultados, conclui-se que a metodologia empregada permite concentrar plaquetas de gato em níveis suprafisiológicos que poderiam ser aceitáveis para uso terapêutico na cirurgia veterinária, muito embora a metodologia utilizada não tenha diminuído a quantidade absoluta de linfócitos nos APCs e comparada com as contagens no sangue total. Referências 1. Anitua E, Sanchéz M, Orive G, Andia I. 2007. The potential impact of the

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Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal – CETEA – Universidade Federal de Minas Gerais. Protocolo n° 125/2009.

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INSEMINAÇÃO INTRAUTERINA LAPAROSCÓPICA POR DOIS DIFERENTES ACESSOS EM OVINOS

INTRAUTERINE INSEMINATION BY TWO DIFFERENT LAPAROSCOPIC ACCESS IN SHEEPS

FERANTI,J.P.S.5;BRUN,M.V.6;ZANELLA,E.7;MESSINA,S.A. 8;GUIZZOJÚNIOR,N.4;SANTOS,F.R.9;BRAMBATTI,G.5;

Palavras-chave: videolaparoscopia, ruminante, útero.

Key words: videolaparoscopy, ruminant, uterus.

Introdução

Uma das maneiras de se intensificar o melhoramento genético é o uso de biotécnicas da reprodução. Dentre elas, a inseminação artificial se destaca por proporcionar maior amplitude de resultados, já que poucos reprodutores selecionados produzem sêmen suficiente para a grande quantidade de fêmeas que reproduzem anualmente. Verifica-se que os resultados obtidos a partir da deposição de sêmen congelado na vagina são pobres quando comparados à aplicação diretamente na luz uterina de ovinos1. Apesar de bem definidas as vantagens da inseminação laparoscópica em ovinos quando comparada à via transvaginal, com ou sem dilatação cervical com o uso de fármacos2, ainda justifica-se a busca por um procedimento minimamente invasivo que possa ocasionar menor desconforto trans e pós-operatório e com adequados resultados em relação aos índices de prenhez. Nesse panorama, o presente trabalho objetiva relatar os resultados obtidos a partir da inseminação laparoscópica intrauterina com o uso de agulha espinhal em ovinos por dois diferentes acessos.

Metodologia

Foram realizadas quatro etapas de inseminações (E1), (E2), (E3) e (E4), todas em datas distintas. Utilizou-se em todas as etapas um total de 80 ovinos fêmeas, da raça Sulfock, com peso médio estimado de 80 kg, submetidas a diferentes protocolos de sincronização de cio. O total de animais foi separado em dois grupos: (G1) e (G2). No (G1) 44 ovinos foram colocados em mesa metálica confeccionada para procedimentos de inseminação em ovinos, a qual permite a manutenção do animal em decúbito

5AcadêmicodocursodeMedicinaVeterináriadaUniversidadedePassoFundo–UPF,bolsistadeiniciaçãocientíficaPibic/CNPq.PassoFundo,[email protected];professordoMestradoemMedicinadePequenosAnimaisdaUniversidadedeFranca(Unifran)–SãoPaulo–SP.7ProfessordaUPF.8MédicoveterináriodoHospitalVeterináriodaUPF.9AcadêmicodocursodeMedicinaVeterináriadaUPF.

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dorsal, com ou sem cefalodeclive (posição de Trendelemburg). Já no G2, os 36 animais foram colocados em um brete de contenção metálica, confeccionado especialmente para esse estudo, o qual permitia a contenção do animal em posicionamento quadrupedal. No G1, introduziu-se agulha de Veress na linha média ventral por uma incisão promovida na metade da distância entre o púbis e a cicatriz umbilical, a partir da qual a cavidade foi insuflada com CO2, até se obter a pressão de 12mmHg. Após a introdução do primeiro portal (5 mm) no mesmo local, posicionou-se o paciente em Trendelemburg e realizou-se a introdução do segundo portal sob visualização direta. Um dos cornos uterinos foi apreendido com pinça de Kelly e tracionado ventralmente, permitindo a escolha do local de introdução do sêmen. Para tanto, empregou-se agulha espinhal descartável, introduzida através da pele e parede muscular até alcançar a luz uterina. Aplicou-se, com seringa hipodérmica de 1ml, aproximadamente 0,25ml de sêmen por corno uterino. Em todos os casos foi utilizado sêmen de único doador, congelado na forma de pellet, com a concentração espermática viável estimada em 50x106/0,5ml. No G2, após a assepsia cirúrgica e colocação de campos plásticos, introduziu-se a agulha de Veress na parede abdominal lateral direita por uma incisão promovida na metade da distância entre a linha dorsal e a linha mamária e entre o ponto médio desde a última costela e a protuberância ilíaca. A partir desse acesso, a cavidade foi insuflada com CO2 até se obter a pressão de 12mmHg. Após a introdução do primeiro portal (5mm) no mesmo local, realizou-se o posicionamento do segundo portal sob visibilização direta. Um dos cornos uterinos foi apreendido com pinça de Kelly e tracionado lateralmente, permitindo a escolha do local de introdução do sêmen. Empregou-se agulha espinhal descartável aplicada através da pele e parede muscular até alcançar a luz uterina. Aplicou-se, com seringa hipodérmica de 1 ml, aproximadamente 0,5 ml de sêmen no corno uterino direito sob visibilização direta. Na E1 realizou-se avaliação ultrassonográfica aos 55 dias de pós-operatório, na E2 realizaram-se aos 57 dias, na E3 e E4 não foram realizadas as avaliações ultrassonográficas, sendo considerados apenas os resultados trans e pós-operatórias imediatos.

Resultados e Discussão

Na primeira etapa (E1), os procedimentos foram realizados em 13,76+7,88min., ocorrendo complicações em três ovinos quanto à obtenção do pneumoperitônio, sendo necessária mais de uma punção com a agulha de Veress para obter a insuflação adequada. Dos 21 animais inseminados, 19 foram utilizados para considerar a taxa de prenhez e dois foram descartados, pois possuíam alterações no tamanho uterino observadas durante o procedimento. Um ovino veio a óbito no local dos procedimentos por causa desconhecida vários dias após a inseminação, não podendo se correlacionar o óbito ao procedimento pela ausência de necropsia. Cinco (26,3%) demonstraram gestação na avaliação ultrassonográfica, sendo que 40 % destes possuíam gestação gemelar, com dois embriões. Considerando-se as gestações gemelares, obteve-se a relação entre o número de animais inseminados e o número de fetos produzidos de 36,8%. Na segunda etapa (E2), foram comparados dois acessos diferentes, sendo que no G1 a inseminação foi realizada da mesma forma previamente descrita, e no G2 os animais foram submetidos a posicionamento quadrupedal e acesso pelo flanco, utilizando também dois portais e a agulha espinhal. Dos 21 ovinos que tiveram o cio sincronizado, 18 foram utilizados para considerar a taxa de prenhez. Um ovino do G2 foi descartado, pois possuía alterações no tamanho

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uterino vistas durante o procedimento. Um ovino veio a óbito durante o procedimento cirúrgico por regurgitação (G1), e outro ovino regurgitou durante o procedimento (G1), sendo necessário interromper o mesmo antes da inseminação. No G2, nas inseminações com acesso pelo flanco, foram utilizados oito animais, sendo que quatro não apresentavam gestação (50%), três apresentavam gestação de um feto (37,5%) e um animal apresentava gestação gemelar (12,5%). No G1, no qual as inseminações foram realizadas com ovinos em posição dorsal, utilizando-se 10 animais, sete não apresentaram gestação (70%), três apresentaram gestação com um feto (30%) e nenhuma gestação gemelar foi diagnosticada nos ovinos deste grupo. Os diagnósticos gestacionais foram realizados 57 dias após as inseminações através do exame ultrassonográfico. Na terceira etapa (E3), onde se utilizou técnica semelhante a E2(G2), os procedimentos foram realizados em 17,63+7,03min., ocorrendo complicações em seis animais. Em três ovinos foi necessária mais de uma punção com a agulha de Veress para obtenção do pneumoperitônio desejado (12mmHg). Em um animal não foi possível a realização do procedimento laparoscópico devido ao descolamento do peritônio do músculo transverso, impossibilitando assim a visualização do útero e ovários, bem como de seus ligamentos e vasos. Em um animal de um grupo de quatro nos quais se testava um novo acesso de introdução da agulha de Veress para obtenção do pneumoperitônio, através do posicionamento da mesma pelo 12º espaço intercostal, foi observada a transfixação da Veress através do fígado, ocasionando pequena hemorragia imensurável. Em outro, houve a punção do diafragma com a agulha, ocasionando pneumotórax, o qual foi adequadamente manejado por drenagem torácica com escalpe. Na quarta etapa (E4), também foram comparados os dois acessos, sendo no G1(n=44) realizada a inseminação pelo acesso dorsal, e G2(n=36), tendo posicionamento quadrupedal e acesso realizado pelo flanco. Os procedimentos foram realizados em 22,72+12,54min., ocorrendo complicação apenas em um animal, na qual houve o descolamento do peritônio durante a insuflação, sendo necessária a tração do útero até o espaço pré-peritoneal para então ser realizada a deposição do sêmen da luz do órgão. Todos os protocolos de tranquilização e analgesia se mostraram adequados para a realização dos procedimentos e estiveram associados a pouco desconforto dos pacientes. Além da necessidade de manutenção do bem-estar dos animais, buscam-se nas diferentes técnicas melhores resultados apropriados no que se refere aos índices de prenhez a partir do uso de analgesia preemptiva descrita, uma vez que é comprovado que o estímulo doloroso e o stress causam aumento de cortisol plasmático que pode interferir diretamente nos índices reprodutivos3. Quanto aos índices de manutenção de prenhez, considera-se aqueles obtidos na E1 e E2(G2) ainda muito baixos, mas como foram utilizados animais que haviam sido descartados da reprodução por não gestarem após monta natural e como foi utilizado sêmen congelado, já se esperavam pobres resultados quanto a esse aspecto.

Conclusão

A partir dos resultados obtidos, conclui-se que ambas as técnicas de inseminação intrauterina laparoscópica em ovinos são viáveis. Considera-se que a inseminação com o animal em posicionamento quadrupedal é tecnicamente mais difícil se comparada ao acesso laparoscópico em decúbito dorsal, porém com o aprimoramento da técnica e, na dependência dos resultados no que se refere aos índices de prenhez,

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poderá ser considerada como um procedimento alternativo para a inseminação de ovelhas, já que potencialmente poderá ser menos estressante para os animais.

Referências

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EFEITOS SISTÊMICOS E ANALGÉSICOS DAS INJEÇÕES EPIDURAIS DE METADONA OU CETAMINA EM EQUINOS

SYSTEMICANDANALGESICEFFECTSOFEPIDURALINJECTIONSOFMETHADONEORKETAMINEINHORSES

LEITE,C.R.10;GODOY,R.F.11;DUMONT,C.B.S.2;MORAES,J.M.312;XIMENES,F.H.B2;VILLAFILHOP.C.2;ALMEIDA,R.M.2

Palavras-chave: dor, analgesia, epidural Key words: pain, analgesia, epidural Introdução

Um dos grandes problemas na clínica de equinos é o manejo das dores refratárias às terapias convencionais com anti-inflamatórios não esteroidais (SYSEL et al., 1996). Além disso, sabe-se que há certo receio quanto ao uso de opioides nesta espécie, em decorrência dos possíveis efeitos colaterais, como excitação e deambulação compulsiva (BENNETT; STEFFEY, 2002). A administração de analgésicos por via epidural tem-se mostrado eficaz, promovendo boa analgesia com mínimos efeitos indesejáveis, além de permitir a utilização de doses bem inferiores às necessárias por outras vias (VALADÃO et al., 2002). Diversos fármacos com propriedades analgésicas já foram testados por esta via, dentre eles a cetamina, um antagonista dos receptores NMDA que possui grande envolvimento no desenvolvimento da hiperalgesia (DUQUE, 2001; OLESKOVICZ, 2001). A metadona é um opioide sintético que, além de possuir ação nos receptores µ, também atua como antagonista dos receptores NMDA (WAGNER, 2009). O presente estudo teve como objetivo avaliar e comparar a eficácia analgésica e os efeitos sistêmicos da metadona e da cetamina quando administradas por via epidural em equinos, após incisão de pele. Metodologia

Foram utilizados 15 animais sadios, dez fêmeas e cinco machos, sem raça definida, com idades variando de quatro a dez anos e massa corpórea média de 287 ± 37 kg. No dia precedente ao início do experimento, foi realizada tricotomia de uma área de 10x5 cm na região do 1º espaço intercoccígeo e de 20x30 cm na região caudal de ambas as coxas dos animais. No dia do experimento, na área previamente tricotomizada de ambas as coxas, delimitou-se uma linha de 10 cm de comprimento contornada por retângulos concêntricos distantes 1, 3 e 5 cm da mesma, com tinta branca lavável. Ato contínuo, realizou-se exame clínico basal, denominado T-60, pela aferição da frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (f), pressão arterial

10 Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ; 11 Universidade de Brasília, Brasília, DF; 12 Universidade Federal de Goiás, GO. Endereço para correspondência: Rua Vicente de Sousa, n°11, apto 203 –

Botafogo – Rio de Janeiro – RJ – CEP: 22251-070, [email protected].

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sistólica (PAS) e temperatura retal (TR), além da avaliação do limiar nociceptivo mecânico com filamentos de von Frey. Os filamentos foram aplicados sobre a pele nas linhas retangulares a 1, 3 e 5 cm de distância da linha central pré-delimitada, em quatro pontos (dorsal, ventral, lateral e medial), em ambas as coxas. O teste foi iniciado pelo filamento mais fino, que exerce pressão de 2,0g de força, sendo que este era pressionado perpendicularmente contra a pele do animal até que se dobrasse. Este procedimento era realizado até que o animal apresentasse reação aversiva ao estímulo mecânico ou até que se utilizasse o filamento mais calibroso, cuja pressão é equivalente a 300g de força. Após determinação dos valores basais (T-60), um bloqueio infiltrativo em cordão com 6,0 mL de lidocaína a 2% sem vasoconstritor foi conduzido na linha pré-delimitada da coxa direita, na qual, aguardado o período de dez minutos, foi realizada incisão de 10 cm de comprimento que abrangeu pele e tecido subcutâneo. Cinquenta minutos depois, todos os parâmetros foram novamente aferidos seguindo a mesma metodologia empregada no exame basal, sendo registrado o T0. Em seguida, após infiltração de 1,0 mL de lidocaína a 2% sem vasoconstritor na região do 1º espaço intercoccígeo, os equinos receberam injeções epidurais de metadona (0,1 mg.kg-1; Grupo M; n=5), cetamina (1,0 mg.kg-1; Grupo C; n=5) ou solução de NaCl 0,9% (salina; Grupo S; n=5), sendo o volume total (VT) da injeção, nos três grupos, calculado segundo a fórmula: VT = 3,4 mL + (peso em kg x 0,013) e completado com solução fisiológica 0,9% (SEGURA et al.,1998). Todas as variáveis foram avaliadas a cada 15 minutos na primeira hora após a injeção epidural, a cada 30 minutos nas próximas três horas, a cada duas horas nas oito horas subsequentes e depois às 18 e 24 horas, sendo que o teste com os filamentos de von Frey foi executado nos lados incisionado (direito) e não incisionado (esquerdo). Os dados foram submetidos à análise de variância para medidas repetidas, seguido do teste de Tukey (P≤0,05). Resultados e discussão

Os três grupos apresentaram, em todas as distâncias, diminuições significativas nos valores de limiar nociceptivo entre o T-60 e o T0 no lado incisionado, confirmando a validade do modelo álgico adotado. A partir de T0, tanto a metadona quanto a cetamina promoveram aumento do limiar nociceptivo, porém a metadona apresentou período de latência mais curto que a cetamina (15 minutos versus 45 minutos) e efeito analgésico mais prolongado, com 195 minutos de duração, contra 135 minutos da cetamina. Além disso, a metadona proporcionou efeito analgésico clínico superior ao da cetamina, promovendo limiares mecânicos mais altos em 85,5% dos tempos de avaliação, ao passo que a cetamina foi superior e equivalente à metadona em apenas 10,5% e 4% dos tempos de avaliação, respectivamente. Não houve alterações na FC, f, ou PAS em nenhum dos grupos. Os valores de TR foram maiores em relação ao T0 dos 210 aos 720 minutos nos três grupos, sem diferenças entre estes. Os animais que receberam cetamina apresentaram alto índice de ataxia (80%). Quando injetados por via intravenosa ou intramuscular, os opioides geralmente deprimem os parâmetros cardiorrespiratórios. Em contrapartida, os agentes dissociativos aplicados por estas vias tendem a aumentar a FC e PAS. Ao administrarmos estes fármacos pela via epidural, entretanto, os efeitos adversos são mínimos, pois dependem da absorção sistêmica para ocorrerem. Além disso, as doses utilizadas são inferiores, o que contribui com a redução do índice de alterações, já que a maioria delas são dose-dependentes (LEIBESTEDER et al., 2006). Em relação ao aumento da TR, se for considerado que este parâmetro seguiu o mesmo padrão de alteração nos três grupos e que as aferições foram iniciadas pela manhã e

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continuaram no decorrer do dia, sugere-se que este acontecimento ocorreu em razão da temperatura ambiente mais elevada nas observações a partir de 210 minutos. Resultado similar foi obtido no trabalho realizado por Oleskovicz em 2001 com injeção epidural de cetamina em equinos. O fato de a metadona ter promovido analgesia superior e mais duradoura à da cetamina provavelmente deve-se à sua multiplicidade de mecanismos de ação, pois, além de ser agonista dos receptores opioidérgicos µ, é antagonista dos receptores NMDA e ainda atua inibindo a recaptação de noradrenalina e serotonina na fenda sináptica, prolongando seus efeitos e estimulando, deste modo, as vias modulatórias descendentes (MONTEIRO et al., 2008). A ataxia observada no grupo que recebeu cetamina pode ser explicada pela ação do tipo anestésico local de seu isômero S(+), resultante do antagonismo NMDA, que ocasiona a redução do influxo de sódio, diminuindo a despolarização dos neurônios e promovendo, desta forma, o bloqueio motor (DUQUE, 2001). Conclusões

Nas condições experimentais adotadas, concluiu-se que a metadona e a cetamina, nas doses utilizadas pela via epidural, não provocaram efeitos sistêmicos adversos e promoveram efeito analgésico em equinos, sendo indicadas no tratamento da dor nesta espécie. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética no Uso Animal da Universidade de Brasília, sob protocolo de número 100236/2009. Referências

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EFEITOS BENÉFICOS DA SOLUÇÃO SALINA HIPERTÔNICA 7,5% SOBRE A RESPOSTA INFLAMATÓRIA E A DISFUNÇÃO ORGÂNICA

NO TRATAMENTO INICIAL DA OBSTRUÇÃO INTESTINAL E ISQUEMIA EXPERIMENTAL

BENEFICIALEFFECTSOF7.5%HYPERTONICSALINESOLUTIONONTHEINFLAMMATORYRESPONSEANDORGANDYSFUNCTIONINTHEINITIALTREATMENTOFEXPERIMENTAL

INTESTINALOBSTRUCTIONANDISCHEMIA

ZANONI,F.L.13;MORENO,A.C.R.14;BENABOU,S.1;CRUZ,J.W.M.C.1;MARTINS,J.O.15;ROCHAESILVA,M.1;SANNOMIYA,P1.

Palavras-chave: Obstrução intestinal; Solução salina hipertônica; Interações leucócito-endotélio. Key-words: Intestinal obstruction; Hypertonic saline solution; Leukocyte-endothelial interactions. INTRODUÇÃO

A sepse, o choque séptico e a disfunção de múltiplos órgãos e sistemas são condições de alta morbidade e mortalidade, associadas a uma grande variedade de condições clínico-cirúrgicas graves, como o politraumatismo, as grandes queimaduras e os procedimentos cirúrgicos extensos (1). As infecções ocorrem, usualmente, a partir dos pulmões, do trato geniturinário e gastrintestinal (2). Os principais patógenos associados à sepse de origem gastrintestinal são as bactérias gram-negativas, sendo a Escherichia coli o agente infeccioso mais freqüente (3). Estudos demonstram que a solução salina hipertônica melhora a hemodinâmica (4,5), a microcirculação (6) e modula o sistema imune (7,8), atenuando a resposta inflamatória associada ao choque e trauma (9). Neste estudo avaliou-se o efeito da solução salina hipertônica (NaCl, 7,5%) seguido de enterectomia no tratamento da obstrução intestinal e isquemia. MÉTODOS

Ratos Wistar machos (250 – 300 g) anestesiados (pentobarbital sódico, 50 mg/kg, i.p.) foram submetidos à obstrução intestinal e isquemia, conforme descrito anteriormente (10) (OI, ligadura ao nível do íleo terminal seguida de ligadura de ramos da artéria mesentérica correspondentes à irrigação de 7 – 10 cm do íleo). Duas horas após, os animais foram randomizados em: OI sem tratamento (OI); OI tratado com Ringer lactato (RL, 4 mL/kg, i.v.); e OI tratado com solução salina hipertônica (SH 7,5%, 4 mL/kg, i.v.). Vinte e quatro horas após os procedimentos cirúrgicos iniciais, os 13 Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo;

14 Departamento de Análises Clínicas, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, Universidade de São Paulo;

15 Departamento de Imunologia, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo. e-mail: [email protected]

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ratos obstruídos (OI, RL e SH) foram submetidos à enterectomia. Ratos controles falso-operados (FO) foram submetidos somente à lapatotomia. Os seguintes parâmetros foram analisados: 1) cultura bacteriana (E. coli) em amostras de linfonodos mesentéricos, fígado, baço e sangue; 2) análise das interações leucócito-endotélio na microcirculação mesentérica por técnica de microscopia intravital; 3) expressão de moléculas de adesão endoteliais (P-selectina e ICAM-1) por imuno-histoquímica; 4) quantificação das citocinas e quimiocinas CINC-1 e CINC-2 no soro por enzimaimunoensaio; 5) histologia intestinal; 6) bioquímica sérica; 7) gasometria, hematócrito, lactato, glicose e leucograma; 8) insulina e corticosterona e; 9) sobrevida. RESULTADOS

O tratamento com SH reduziu a bacteremia, a incidência de animais com amostras positivas para E. coli (57%) e a quantidade de colônias bacterianas (p<0,05) comparado ao tratamento com RL ou aos animais não tratados (OI). As interações leucócito-endotélio (Tabela) e a expressão das moléculas de adesão, P-selectina e ICAM-1, reduziram-se após tratamento com SH seguido de enterectomia a valores observados no grupo controle FO (p>0,05). Ambos os tratamentos, SH e RL, associados à enterectomia normalizaram as concentrações séricas de CINC-1 e CINC-2 (p>0,05). Alterações de PaCO2, pH, lactato e glicemia normalizaram-se após o tratamento dos animais com SH ou RL seguido de enterectomia. A hipoinsulinemia registrada nos ratos OI foi prevenida pelo tratamento dos animais com SH ou RL. As concentrações séricas de corticosterona normalizaram-se após tratamento dos animais com SH associado à enterectomia. A magnitude da lesão intestinal, evidenciada por dano da membrana basal, edema, congestão e presença de células inflamatórias foi menor no grupo tratado com SH comparado ao tratamento com RL, ambos associados à enterectomia. As concentrações de uréia, creatinina e a atividade das enzimas hepáticas normalizaram-se após tratamento com SH e enterectomia. Houve um aumento significativo da sobrevida dos animais (86%, 15 dias) e no ganho de peso corpóreo (p>0,05 vs FO) no grupo tratado com SH seguido de enterectomia. CONCLUSÕES

A estabilização de ratos submetidos à OI com SH associada à enterectomia resultou em aumento significativo da sobrevida dos animais. A SH reduziu a resposta inflamatória local (interações leucócito-endotélio e expressão de moléculas de adesão na microcirculação mesentérica e lesão intestinal) e sistêmica (concentrações séricas de CINC-1 e CINC-2, disfunção renal e hepática). A SH pode representar uma nova estratégia no tratamento inicial da obstrução intestinal estrangulada.

Tabela. Interações leucócito-endotélio na microcirculação mesentérica

FO OI RL SH

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Enterectomia

Leucócitos Rollers (10 min) 128 ± 5 182 ± 3ª 193 ± 9ª 88 ± 7b

Leucócitos Aderidos (100 µm de extensão venular)

3 ± 0 11 ± 1ª 10 ± 1ª 5 ± 1

Leucócitos Migrados (5.000 µm2) 1 ± 0,2 10 ± 0,7ª 8 ± 0,3ª 3 ± 0,2

Velocidade de rolamento do leucócito (µm/s)

19 ± 2 13 ± 0b 16 ± 1 21 ± 1

Número de leucócitos no sangue periférico (mm3)

13.664 ± 601

15.800 ± 845 15.493 ± 641 14.079 ± 453

Razão neutrófilo/linfócito 0,3 ± 0,01 0,7 ± 0,13 1,4 ± 0,4b 0,8 ± 0,24

As análises foram realizadas 48 horas após o início dos procedimentos. Os valores representam a média ± epm de cinco animais/grupo na análise da microcirculação e de sete animais/grupo na análise do leucograma. ap<0,001, bp<0,01 por comparação ao grupo FO. REFERÊNCIAS

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Protocolo de pesquisa nº 169/05, aprovado pela CAPPesq–HC–FMUSP Apoio financeiro: Fapesp (04/15964-6) e Pronex (66.11251998-2)

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HÉNIAS UMBILICAIS EM BEZERRAS NELORE PROVENIENTES DE FIV: RELATO DE 31 CASOS

UMBILICALHERNIASINNELORECALVESPROCEEDINGOFIVF:REPORTOF31CASES

RIBEIRO,G.16;PEREIRA,W.A.B.17;NUNES,T.C.18;PATELLI,T.H.C.19;SOUZA,F.A.A.20;MONTELLONETO,J.S.5

Palavras-chave: hérnia umbilical, bezerros, FIV.

Keywords: umbilical hernia, calves, IVF.

Introdução

Hérnia umbilical é a insinuação através do anel umbilical não involuído de órgãos e estruturas da cavidade abdominal envolvidos pelo peritônio1. As hérnias umbilicais podem ocorrer em todos os animais domésticos, especialmente suínos, bovinos e equinos, podendo ser passíveis ou não de redução. Uma hérnia é redutível se o conteúdo herniário puder retornar ao abdômen; as hérnias não redutíveis o são devido à existência de aderências entre o conteúdo herniário e o saco herniário interno ou pelo encarceramento das vísceras pelo anel herniário2. O diagnóstico é simples e basicamente clínico, fundamentado no exame semiológico local, com o bovino em posição quadrupedal1. No entanto, o exame ultrassonográfico permite a avaliação das estruturas umbilicais, extra e intra-abdominais, caracterizando exatamente a extensão do problema e o possível envolvimento de outras estruturas como o fígado e a bexiga urinária, reduzindo os riscos durante a cirurgia e precipitando a eutanásia nos casos com prognóstico ruim, a fim de evitar custos para o proprietário3. Um tratamento conservativo para hérnias umbilicais redutíveis em animais de seis a 12 semanas de idade pode ser realizado através da aplicação de uma bandagem elástica ao redor do abdômen, que deve ser mantida durante três a quatro semanas, enquanto o anel umbilical se reduza espontaneamente4. Caso não venha a ocorrer espontânea recuperação da hérnia umbilical ou nos casos de hérnia encarcerada, fica indicada a correção cirúrgica2. O sucesso do tratamento depende dos cuidados pós-operatórios, diâmetro do anel herniário, tamanho e peso dos animais, presença de inflamação no local e da resistência dos tecidos localizados nas bordas do anel herniário5,6. O objetivo desse trabalho é relatar a ocorrência frequente de hérnias umbilicais em bezerras da raça nelore provenientes de fertilização in vitro (FIV), caracterizando o tipo de hérnia encontrado e o tratamento que tem sido utilizado. Foram atendidas, no período de um ano, 17 bezerras no Hospital Veterinário de Uberaba/MG e 14 em propriedades particulares para tratamento cirúrgico de hérnia umbilical. Todos os animais eram da raça nelore, provenientes de fertilização in vitro 16 Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). Endereço: Rua

Sales Júnior, 507, São Paulo/SP, CEP 05083-070. E-mail: [email protected] 17 Professor de clínica médica de grandes animais da Universidade de Uberaba/MG. 18 Anestesista do Hospital Veterinário de Uberaba/MG. 19 Professora de clínica médica de grandes animais da Uenp, Bandeirantes/PR. 20 Médico veterinário autônomo.

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(FIV). Após jejum hídrico e alimentar de 24 horas, as bezerras foram tranquilizadas com 0,2mg/Kg de xilazina a 2% via intramuscular e posicionadas em decúbito dorsal. A região ao redor do umbigo foi anestesiada com cloridrato de lidocaína a 2% e o campo operatório foi preparado para uma cirurgia asséptica. Uma incisão de pele de aproximadamente 10 cm foi realizada sobre a linha média do abdômen e o tecido subcutâneo ao redor do saco herniário foi divulsionado até o anel umbilical. Em apenas dois animais (6,5%) o anel estava aberto o suficiente para permitir a redução do conteúdo herniado sem a abertura do saco herniário (hérnias redutíveis). Em todos os outros animais, foi necessária a abertura do saco herniário, que foi precedida por uma pequena incisão na linha média, caudal ao anel, para que o interior do saco pudesse ser inspecionado antes da abertura, garantindo a integridade do conteúdo. Em oito animais (25,8%), o conteúdo herniado era o omento e no restante dos animais (67,7%) o saco herniário continha uma bolsa repleta de urina, que se comunicava através do úraco com a bexiga urinária. Em alguns casos, artérias e veias umbilicais também estavam presentes. Após a ligadura, estas estruturas foram seccionadas e o saco herniário foi removido próximo ao anel. A cavidade abdominal foi suturada com fio inabsorvível (nylon de pesca 0,60) e pontos de sobreposição (imbricação lateral ou sutura de Mayo). A incisão de pele foi suturada com pontos simples separados e fio inabsorvível e, em seguida, o espaço morto foi abolido com sutura cutânea horizontal de colchoeiro interrompida. As bezerras receberam no pós-operatório 20.000UI/Kg de penicilina e 2,2mg/kg de flunixim meglunime, intramuscular durante sete dias. O curativo da ferida cirúrgica foi realizado através da limpeza dos pontos com gaze embebida em povidine tópico, seguida da aplicação de spray cicatrizante durante dez dias, quando os pontos de pele foram retirados. Embora muitas hérnias umbilicais possam ser secundárias a infecções no umbigo, é sabido que existe um fator hereditário relacionado às hérnias congênitas. No entanto, muitos proprietários estão dispostos a tolerar a ocorrência das hérnias umbilicais em função do melhoramento genético que visa ao aumento da lactação ou da velocidade de crescimento dos animais (o mesmo pode ser dito em relação à ocorrência de cistos ovarianos, problemas conformacionais, partos distócicos etc.). Além disso, já foi observado que bezerras clonadas apresentam maior probabilidade de apresentar hérnias e infecções umbilicais que poderiam estar relacionadas com uma diferença no colágeno da parede ventral do abdômen desses animais7. A correlação de hérnias umbilicais com a fertilização in vitro ainda não foi relatada, sendo necessários estudos para elucidar melhor a influência das biotecnologias da reprodução no desenvolvimento dos animais. Enquanto isso, muitas cirurgias corretivas estão sendo realizadas. A técnica cirúrgica descrita neste trabalho apresenta algumas modificações em relação às técnicas já descritas. Uma incisão elíptica ao redor do saco herniário externo é o tipo de incisão cutânea freqüentemente recomendada nos livros2,8, porém não foi a adotada, uma vez que esse tipo de incisão comprometeria demasiadamente a estética umbilical dos animais zebuínos, que possuem umbigo longo e pendular. Ao contrário, uma incisão cutânea retilínea sobre a linha média foi capaz de manter a conformação natural dos animais. A amputação do saco herniário interno está indicada nos casos de hérnia encarcerada. Havendo a expectativa de que o saco herniário interno não possa ser seccionado sem que ocorra lesão do conteúdo herniário, o abdômen deve ser aberto ao longo da linha alba em posição imediatamente cranial ao anel herniário2. Ao contrário do que relata a literatura, em todas as cirurgias citadas neste trabalho, nas quais a abertura da cavidade abdominal foi necessária, a incisão foi realizada imediatamente caudal ao anel herniário, com o intuito de facilitar a identificação e ligadura do úraco o mais próximo possível da bexiga. Esse procedimento foi muito útil para o objetivo proposto e não trouxe complicações. A ressecção da parte mais cranial da bexiga urinária junto

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com o úraco é sempre indicada9, no entanto, não foi realizada em nenhuma das cirurgias porque exigiria que incisão fosse ampliada. A herniorrafia utilizando a sutura de sobreposição de Mayo8 com fio inabsorvível sintético (nylon de pesca 0,60) foi totalmente satisfatória, uma vez que não foi relatada a ocorrência de recidiva em nenhum dos animais operados. Segundo a literatura2,8, o tecido subcutâneo deve ser suturado em padrão contínuo, porém verificou-se na primeira cirurgia que essa sutura comprometia a estética do umbigo pendular dos animais zebuínos, deixando-o com aparência enrugada e retraído próximo ao ventre. Na segunda cirurgia, não foi realizada a abolição do espaço morto, o que resultou em grande acúmulo de seroma pós-operatório, que foi drenado através de uma punção com agulha. A partir da terceira cirurgia, optou-se então por uma sutura percutânea com pontos separados. Esse tipo de sutura permitiu uma boa abolição do espaço morto, impedindo a formação de seroma, e apresentou um ótimo efeito plástico. Enfim, conclui-se que a técnica cirúrgica consagrada para a redução de hérnia umbilical em grandes animais, muito bem aplicada para equinos e bovinos europeus, não está adequada para a correção desse problema nos bovinos zebuínos, de forma que as modificações sugeridas neste trabalho podem ser adotadas com segurança.

REFERÊNCIAS

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CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA E FENOTÍPICA DE CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS DE EQUINOS

MORPHOLOGICALANDPHENOTYPICALCHARACTERIZATIONOFEQUINEMESENCHYMALSTEMCELLS

RIBEIRO,G.21;MASSOCO,C.O.22,LACERDANETO,J.C.23.

Palavras-chave: caracterização, células-tronco, equinos.

Key words: characterization, equine, stem cells.

INTRODUÇÃO

Atualmente, têm-se trabalhado na busca da caracterização morfofuncional das células-tronco na espécie humana, com o intuito de otimizar sua aplicação no tratamento de doenças. No entanto, em medicina veterinária o conhecimento sobre estas células ainda é bastante limitado e elas estão sendo utilizadas com a hipótese de que suas características essenciais, como tempo de multiplicação e potencial de diferenciação, sejam as mesmas para todas as espécies1. Porém, segundo Fraser et al.2, pode-se dizer que células-tronco provenientes do tecido adiposo e da medula óssea de um mesmo indivíduo são similares, mas não são idênticas, pois se observam algumas diferenças no modelo geral de diferenciação. As células-tronco têm sido largamente utilizadas por médicos veterinários na clínica de equinos, fazendo parte do tratamento de lesões do sistema locomotor como tendinites e desmites. Entretanto, ainda são desconhecidos fundamentos básicos referentes à caracterização dessas células, sejam de origem medular ou adiposa, e há poucas publicações a respeito de quais são os marcadores de membrana que identificam as células-tronco mesenquimais na espécie equina. Alguns autores têm relatado a necessidade de número determinado de células-tronco para promover o reparo de um tecido musculoesquelético lesado. Muschler e Midura3 estimaram que 70 milhões de células progenitoras fossem necessárias para produzir um centímetro cúbico de osso. Em outros estudos, avaliando-se o reparo de tendões e ligamentos, o número de células-tronco utilizadas mostrou-se também bastante elevado4,5. O primeiro passo na produção de um número de células-tronco mesenquimais suficiente para o tratamento de um tecido lesado passa, primeiramente, pelo conhecimento das características de crescimento destas células em cultura6. Assim, diante da ausência de trabalhos que indiquem a caracterização do tipo celular conhecido e utilizado como célula-tronco mesenquimal equina, o objetivo do presente trabalho foi estudar as características morfológicas e imunofenotípicas de células mononucleares coletadas da medula óssea e do tecido adiposo de equinos e mantidas em diferentes meios de cultivo. Cinco cavalos adultos foram submetidos à coleta de medula óssea do esterno e, em seguida, de tecido adiposo da região glútea próxima à inserção da cauda. As

21 Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU, São Paulo/SP. Endereço: Rua Sales Júnior, 507, São

Paulo/SP, CEP 05083-070, [email protected] 22 Sócia-proprietária do Laboratório de Patologia Clínica da Hípica Paulista, São Paulo/SP. 23 Professor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da Unesp, Jaboticabal/SP.

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amostras foram processadas para o isolamento de células mononucleares e cultivadas em meio DMEM suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB) ou em meio AIM-V. As culturas foram observadas uma vez por semana em microscópio de luz invertida, com o intuito de se realizar análise qualitativa que consistiu na descrição tanto da morfologia das células como do aspecto geral do cultivo celular. As unidades formadoras de colônia (CFU) foram contadas nos dias cinco, 15 e 25. A primeira análise imunofenotípica foi realizada no terceiro dia de cultivo primário, antes do descarte das células sobrenadantes, ou seja, ainda com as células totais, e repetida nos 18º e 37º dias de cultivo. Os marcadores de superfície testados foram CD11c, CD14, CD4, CD8, CD3, CD45, CD34 e STRO-1. Observou-se, tanto nas amostras obtidas a partir da medula óssea quanto do tecido adiposo, uma população celular de aspecto fusiforme aderida ao fundo da garrafa de cultivo. Estas células eram morfologicamente semelhantes às células-tronco mesenquimais apresentadas em outros estudos com humanos e animais, descritas como células de aspecto estrelado ou células semelhantes a fibroblasto7. As amostras provenientes do tecido adiposo apresentaram maior celularidade em meio DMEM suplementado com SFB nas primeiras duas semanas. A partir deste momento não se verificou mais diferença em relação às amostras mantidas em meio AIM-V sem SFB. Em relação à expansão celular, observou-se no decorrer do cultivo que as amostras de células-tronco mesenquimais obtidas do tecido adiposo (CTM-AD) sempre atingiram a confluência de 90% antes das amostras de células-tronco mesenquimais obtidas da medula óssea (CTM-MO), de modo que as replicações celulares de CTM-AD ocorreram a intervalos médios de três dias, enquanto que de CTM-MO ocorreram a cada cinco dias aproximadamente. Estas observações corroboram os achados de Colleoni et al. 8 indicando que, em equinos, as células provenientes do tecido adiposo apresentam maior capacidade de proliferação em cultura que as células obtidas da medula óssea. Além disto, foi possível observar que as células do tecido adiposo mantiveram populações celulares mais homogêneas enquanto as células da medula óssea apresentaram cultivo heterogêneo por mais tempo. Em relação à contagem de CFU, não foram observadas diferenças entre as amostras de mesma natureza cultivadas em meios diferentes. Entretanto, verificou-se diferença significativa entre as amostras de CTM-AD e de CTM-MO, de forma que as amostras oriundas da medula óssea apresentaram maior número de CFU do que as amostras de tecido adiposo nos três momentos avaliados, sugerindo capacidade superior de formação de colônias. Vidal et al.1 também observaram que populações obtidas de tecido adiposo não formam tantas colônias como as células da medula óssea e distribuem-se de maneira mais uniforme e mais aderida à placa de cultivo, como foi observado neste trabalho. Entre os oito marcadores utilizados neste trabalho, os mais encontrados no primeiro momento da avaliação imunofenotípica, tanto nas amostras de CTM-MO como nas amostras de CTM-AD, foram CD34 e CD45. Os marcadores CD3 e STRO-1 apresentaram a terceira maior porcentagem nas amostras de CTM-MO e de CTM-AD, respectivamente. CD14 e CD11c foram identificados em porcentagens de ocorrência menores para ambos os grupos, e os marcadores CD4 e CD8 apareceram em porcentagem mínima nas amostras de CTM-MO e não foram identificados nas amostras de CTM-AD. Aos 18 dias de sub-cultivo, os resultados indicaram maior porcentagem de células positivas para o marcador STRO-1, tanto nas amostras de CTM-MO quanto nas amostras de CTM-AD, que apresentaram valores ainda maiores. As células marcadas com CD34 e CD45 diminuíram significativamente, enquanto houve aumento de CD14. Os marcadores CD3 e CD4 foram encontrados em quantidades semelhantes nas amostras de CTM-MO e estavam ausentes nas amostras de CTM-AD. Não foram encontradas células positivas para CD8 e CD11c em nenhuma das amostras avaliadas. Na última avaliação, as células positivas para

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os marcadores CD3, CD4, CD8 e CD11c não estavam mais presentes em nenhuma das amostras. Observou-se diminuição expressiva das células CD34+ e CD45+, com valores significativamente menores nas amostras de CTM-AD. O segundo marcador mais encontrado foi CD14, em quantidade superior nas amostras de CTM-MO, e a maioria das células analisadas neste momento da cultura eram positivas para STRO-1 em ambos os grupos, sendo que uma porcentagem superior foi encontrada nas amostras de CTM-AD. A observação dos resultados obtidos nas três avaliações indica que o perfil fenotípico da população de células obtidas a partir da medula óssea e tecido adiposo de equinos sofre modificações no decorrer do tempo de cultivo celular.

Trabalho aprovado pelo CEBEA (Comissão de Ética e Bem-Estar Animal, UNESP/Jaboticabal). Protocolo nº 013041-5.

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7. ZUK, P. A.; ZHU, M.; MIZUNO, H.; HUANG, J.; FUTRELL, J. W.; KATZ, A. J.; BENHAIM, P.; LORENZ, H. P.; HEDRICK, M. H. Tissue Engineering, v.7, n.2, p.211-28, 2001.

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EFEITOS DA DETOMIDINA E XILAZINA INTRAVENOSA EM BOVINOS EFFECTSOFINTRAVENOUSDETOMIDINEANDXILAZINEINBOVINE

RIBEIRO,G.24;DÓRIA,R.G.S.25;NUNES,T.C.26;GOMES,A.L.3;PEREIRA,W.A.B.3;QUEIROZ,F.F.3;VASCONCELOS,A.B3.

Palavras-Chave: bovinos, detomidina, xilazina.

Keywords: bovine, detomidine, xylazine.

Introdução

A xilazina foi o primeiro agonista α2 a ser utilizado clinicamente na medicina veterinária e consagra-se como o composto mais usado para imobilizar ruminantes, exercendo efeito sedativo, analgésico e relaxante muscular. Os efeitos da xilazina resultam da ativação de adrenorreceptores α2 pré-sinápticos localizados no sistema nervoso central (SNC), o que reduz as transmissões interneuronais de norepinefrina. A xilazina também atua nestes mesmos receptores, localizados em tecidos periféricos como o trato gastrintestinal, útero, rins, aparelho cardiovascular, respiratório, fígado e pâncreas, promovendo efeitos adversos como bradicardia, bradipneia, timpanismo ruminal, poliúria, salivação e hiperglicemia1. Os ruminantes são extremamente sensíveis à xilazina, sendo esta dez a 20 vezes mais potente em ruminantes que em outras espécies2. A detomidina é um agonista α2 que apresenta maior especificidade aos receptores adrenérgicos, associada a uma sedação e analgesia mais intensa e prolongada, se comparada diretamente com a xilazina. Estudos têm demonstrado que, assim como com a xilazina, a profundidade e a duração da sedação e analgesia promovidas pela detomidina são dose dependentes3. Em doses clínicas, a potência de um fármaco agonista α2 está relacionada à seletividade ao receptor adrenérgico, sendo que quanto mais potente um fármaco for, menor a dose e volume necessários para alcançar níveis similares de sedação4. A detomidina esteve indisponível durante muitos anos no mercado brasileiro e foi reintroduzida apenas no ano de 2008 por um laboratório de produtos veterinários, com sua apresentação farmacêutica recomendada para uso exclusivo em equinos. O objetivo deste trabalho foi avaliar comparativamente os efeitos comportamentais, motores, cardiovasculares, respiratórios, digestórios e variações de temperatura induzidas pela administração intravenosa de xilazina ou detomidina em bovinos. Foram utilizados dez bovinos, sem raça definida, com aproximadamente um ano de idade, considerados hígidos, após exames clínicos e laboratoriais, com peso corpóreo médio de 200 ± 50kg, distribuídos em dois grupos experimentais: grupo xilazina (GX), representado pelos dez animais que receberam administração intravenosa de xilazina1 ; e grupo detomidina (GD),

24 Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas). Endereço: Rua

Sales Júnior, 507, São Paulo/SP, CEP 05083-070. E-mail: [email protected]

25 Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da UNIC, Cuiabá/MT.

26 Hospital Veterinário de Uberaba/MG.

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correspondendo aos dez animais que receberam administração intravenosa de detomidina2. Os mesmos animais participaram dos dois grupos experimentais, respeitando-se um intervalo de pelo menos um mês entre cada procedimento. Os animais foram submetidos a jejum alimentar de 24 horas antes do início do experimento. Após 15 minutos destinados à adaptação dos animais em tronco de contenção, os parâmetros basais (T0) foram aferidos. A frequência cardíaca (FC; bpm) e os movimentos ruminais (MR; mpm) foram avaliados com auxílio de estetoscópio e a frequência respiratória (ƒ; mrpm) pela observação da movimentação do gradil-costal. Utilizou-se um cateter, introduzido na artéria auricular, que fora previamente canulada, para mensurar a pressão arterial média (PAM; mmHg), obtida pela leitura direta em manômetro. A temperatura retal (T; oC) foi avaliada com termômetro clínico convencional. As respostas comportamentais foram avaliadas observando-se a presença ou ausência de ataxia ou decúbito; ptose palpebral; estado de alerta ou sedação, caracterizado pela ausência de reação à movimentação manual na frente dos animais e ao bater de palmas e, também, pela redução da altura da cabeça em relação ao solo (H), mensurada com auxílio de régua fixada à parede do tronco, observando-se a distância do chão ao lábio inferior dos animais. Avaliou-se também a presença de salivação e micção. Colheu-se sangue venoso, da veia jugular, para que fosse dosada a concentração sanguínea de glicose (valor basal e 60 minutos após a administração dos fármacos). Subsequentemente, o GX recebeu, via intravenosa, 0,1mg.kg-1 de xilazina e o GD recebeu, via intravenosa, 10µg.kg-1 de detomidina. Os parâmetros mencionados foram reavaliados aos cinco (T5), dez (T10), 20 (T20), 30 T(30), 40 T(40), 50 T(50) e 60 T(60) minutos após a administração dos fármacos. O estudo foi conduzido de maneira cega, ou seja, um pesquisador não envolvido com a colheita dos dados foi o responsável pelo abastecimento das seringas com xilazina ou detomidina, de forma que os avaliadores não obtivessem conhecimento de qual fármaco estava sendo administrado. Os dados, obtidos na fase experimental, foram submetidos à análise de variância para repetições múltiplas (RM ANOVA), para os dados paramétricos (FC, FR, PAM, T, MR, H, glicose sanguínea), seguido pelo teste de Student-Newman-Keuls. Entre os grupos, nos diferentes intervalos, foi realizado pelo teste-t de Student. Os dados não paramétricos (ataxia/decúbito, ptose palpebral, estado de alerta/sedação) foram analisados pelo teste de Mann-Whitney. As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas quando p≤0,05. Em relação à avaliação cardiorrespiratória dos bovinos após a administração intravenosa de xilazina e detomidina, houve redução da frequência cardíaca, durante os 60 minutos de avaliação nos dois grupos experimentais e redução da frequência respiratória, durante 60 minutos no grupo xilazina e 40 minutos no grupo detomidina. A pressão arterial média, durante os 60 minutos da avaliação experimental, apresentou-se reduzida no grupo xilazina. No grupo detomidina, apresentou uma elevação aos cinco minutos após a administração do fármaco, tendo permanecido dentro dos valores considerados fisiológicos nos demais tempos experimentais. A redução da motilidade ruminal foi fato observado nos dois grupos experimentais, sendo mais prolongada no grupo em que se administrou xilazina. Neste estudo pôde ser observado que os dois agonistas α2, via intravenosa, promovem sedação em bovinos, a qual permanece por um período de até 60 minutos e é caracterizada por ausência de resposta a estímulos manuais e bater de palmas, redução da altura da cabeça em relação ao solo e ptose palpebral. Também se observou que ambos os fármacos promovem ataxia em bovinos, sendo que apenas a xilazina induziu decúbito em 100% dos animais. A hipersiália apresentada por bovinos após a administração de agonistas α2, referida por alguns autores tratar-se apenas de uma diminuição do reflexo de deglutição, com acumulação de saliva na cavidade bucal5,6, foi evidenciada neste estudo em todos os animais, após a administração da

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xilazina e da detomidina, sendo mais prolongada após a administração da primeira (60 minutos). O efeito diurético dos agonistas α2, que ocorre, provavelmente, devido à diminuição da produção de vasopressina5,6, embora tenha sido observado nos dois grupos, foi mais evidente no grupo detomidina, o qual também apresentou maior elevação da glicemia após 60 minutos da administração do fármaco. Enfim, observou-se que a xilazina, via intravenosa, em bovinos, promove uma sedação mais intensa e prolongada que a detomidina, e ao mesmo tempo induz a uma maior quantidade de efeitos indesejáveis como salivação, decúbito, redução das frequências cardíaca e respiratória, pressão arterial média, motilidade ruminal e temperatura, sendo estas alterações, da mesma forma, mais prolongadas. Estes resultados se contrapõem à literatura, que salienta o fato de que, embora a detomidina seja um fármaco mais seletivo aos receptores adrenérgicos do tipo α2 do que a xilazina, as diferenças farmacodinâmicas, em doses equipotentes, são mínimas, exceto pela duração da ação dos fármacos7. Sugere-se, então, o desenvolvimento de estudo que busque a dose equipotente entre a xilazina e a detomidina para bovinos. Supõe-se, com este estudo, que exista uma diferença entre espécies em relação aos efeitos da xilazina e detomidina, uma vez que a detomidina, via intravenosa, na dose de 10 µg.kg-1 promove sedação sem causar decúbito, apresentando efeitos adversos menos intensos e por um período de tempo mais curto que a xilazina, o que a torna um fármaco conveniente para a realização de procedimentos cirúrgicos com o animal sedado e em estação.

REFERÊNCIAS

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DIFERENCIAÇÃO CONDROGÊNICA DE CÉLULAS-TRONCO

MESENQUIMAIS DE EQUINOS CHONDROGENICDIFFERENTIATIONOFEQUINEMESENCHYMALSTEMCELLS

RIBEIRO,G.27;MASSOCO,C.O.28,LACERDANETO,J.C.29

Palavras-chave: células-tronco mesenquimais, equinos, TGF-beta.

Keywords: mesenchymal stem cells, equine, TGF-beta.

Introdução

O reparo de lesões em tecido cartilaginoso permanece ainda como um desafio clínico expressivo. A lesão da cartilagem articular apresenta limitado potencial de reparo e grandes defeitos não cicatrizam espontaneamente. Quando a lesão se estende ao osso subcondral, o processo de reparo é esporádico, sendo a cartilagem articular original substituída por fibrocartilagem e tecido cicatricial, os quais são estruturalmente inferiores à arquitetura hialina da cartilagem articular normal1. Os tratamentos convencionais para os defeitos cartilaginosos incluem técnicas de estimulação da medula, como a perfuração subcondral, e artroplastias. Infelizmente essas opções, bem como as estratégias desenvolvidas recentemente usando enxertos osteocondral, pericondral e periosteal não resultam em completa regeneração da arquitetura hialina original e a articulação é incapaz de suportar o peso e atividade física por períodos prolongados1. Entre as estratégias terapêuticas desenvolvidas pela engenharia de tecidos, a implantação de condrócitos representa uma alternativa promissora diante das técnicas tradicionais. Contudo, o uso de condrócitos alógenos carrega o risco inerente da reação autoimune. O uso de condrócitos autógenos elimina este risco, mas é limitado pela falta de locais adequados do doador e a necessidade de grandes amostras de cartilagem doada. Em virtude destas dificuldades, outras fontes precursoras de condrócitos têm sido estudadas e a utilização de células-tronco mesenquimais parece ter aplicabilidade óbvia, visto que são células progenitoras pluripotentes capazes de se diferenciar em muitos tipos celulares, incluindo condrócitos2. Os fatores que induzem o desenvolvimento das células-tronco mesenquimais de equinos em condrócitos ainda não são bem conhecidos. Em estudos com células-tronco mesenquimais realizados em indivíduos da espécie humana, a diferenciação condrogênica foi estimulada por meio do tratamento das células com fator de crescimento transformante β1 (TGF-β1)1,3,4. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito condrogênico do TGF-β1 sobre

27 Professora de clínica cirúrgica de grandes animais da FMU, São Paulo/SP. Endereço: Rua Sales Júnior, 507, São

Paulo/SP, CEP 05083-070, [email protected]

28 Sócia-proprietária do Laboratório de Patologia Clínica da Hípica Paulista, São Paulo/SP.

29 Professor do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da Unesp, Jaboticabal/SP.

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células-tronco mesenquimais de equinos obtidas a partir da medula óssea e tecido adiposo e mantidas em dois diferentes meios de cultivo. Cinco cavalos adultos foram submetidos à coleta de medula óssea do esterno e, em seguida, de tecido adiposo da região glútea próxima a inserção da cauda. As amostras foram processadas para o isolamento de células mononucleares, utilizando-se gradiente de densidade Ficoll. Após 72 horas de cultivo primário e remoção das células não aderentes, as amostras foram cultivadas em dois tipos de meios de cultivo diferentes: meio DMEM acrescido de 10% de soro fetal bovino (SFB) ou meio AIM-V sem SFB. Os meios de cultivo foram trocados a cada três dias e, no vigésimo quinto dia, foi adicionado 10ng/ml de TGF-β1 aos meios DMEM e AIM-V, mantendo um grupo controle sem TGF-β1 para cada meio. Depois de seis dias, avaliou-se os efeitos do TGF-β1 sobre as culturas. A contagem de unidades formadoras de colônia (CFU) foi realizada antes e após a introdução do TGF-β1. Para detectar o número de células em apoptose ou necrose, foi utilizada a técnica de citometria de fluxo proposta por LORA et al.5, e os marcadores utilizados foram a anexina V marcada com isotiocianato de fluoresceína – FITC, para identificação das células em apoptose, e o iodeto de propídeo, para identificação das células em necrose. As avaliações foram realizadas no vigésimo quinto dia de cultivo, antes da adição do TGF-β1, e seis dias após. A diferenciação condrogênica foi avaliada por meio de análise citoquímica a fim de identificar a presença de proteoglicanas sulfatadas, tipicamente encontradas na matriz cartilaginosa e que podem ser visualizadas com o uso da coloração Alcian Blue em pH ácido6. Os resultados foram analisados por meio do teste Tukey-Kramer de comparações múltiplas7. Para a realização dos testes foi utilizado o programa GraphPad Prism 3.0. O limite de significância adotado foi de 5% (p≤0,05). Os resultados obtidos mostraram que a suplementação do meio de cultivo com TGF-β1 aumentou significativamente o número de colônias formadas em culturas de células-tronco mesenquimais de equinos provenientes tanto da medula óssea quanto do tecido adiposo. A diferenciação condrogênica é caracterizada pela formação de nódulos celulares entremeados a uma matriz extracelular constituída de colágeno tipo II e proteoglicanas sulfatadas. Estas proteoglicanas sulfatadas podem ser especificamente detectadas pela coloração Alcian Blue1. Neste trabalho, uma coloração azulada ao redor das células foi verificada tanto nas culturas de células-tronco mesenquimais obtidas da medula óssea quanto nas culturas de células-tronco mesenquimais provenientes do tecido adiposo, seis dias após o início do cultivo com TGF-β1, confirmando a presença de proteoglicanas sulfatadas e a atuação deste fator na indução condrogênica, uma vez que as amostras controle não foram coradas. O potencial condrogênico do TGF-β1 sobre culturas de células-tronco mesenquimais de equinos também foi observado em estudos2,8 utilizando células obtidas da medula óssea, mas ainda não havia sido utilizado em cultura de células obtidas de tecido adiposo de equinos. Observou-se ainda que o meio de cultivo pode exercer influência sobre a porcentagem de ocorrência de necrose ou apoptose celular e que a presença do TGF-β1 é capaz de alterar a prevalência do tipo de morte celular, exercendo efeito indutor de apoptose em culturas de células-tronco mesenquimais de equinos. Esta atividade indutora de apoptose do TFG-β1 sobre diversos tipos celulares também foi relatada por outros pesquisadores9,10 e poderia ser interpretada como benéfica quando o destino das células em cultivo é a aplicação clínica, pois sabe-se que durante o processo de necrose ocorrem danos às células vizinhas e reação inflamatória local, enquanto na apoptose os corpos apoptóticos são rapidamente fagocitados e removidos sem causar processo inflamatório11.

Trabalho aprovado pelo Cebea (Comissão de Ética e Bem-Estar Animal, Unesp/Jaboticabal). Protocolo nº 013041-5.

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AVALIAÇÃO DE SOBREVIDA, ALTERAÇÕES GENITOURINÁRIAS, COMPORTAMENTAIS E DE PESO CORPÓREO NO PÓS-OPERATÓRIO TARDIO EM CADELAS E GATAS SUBMETIDAS À OVARIOSALPINGO-

HISTERECTOMIA SOB DIFERENTES MÉTODOS DE LIGADURA DO PEDÍCULO OVARIANO

EVALUATION OF SURVIVAL, GENITOURINARY, BEHAVIORAL AND WEIGHT CHANGES AFTER LATE SURGICAL PROCEDURE IN DOGS AND

CATS SUBMITTED TO OVARIOSALPINGOHISTERECTOMY TROUGH DIFFERENT METHODS OF OVARIAN PEDICLE LIGATURE

PARDINI, L.M.C.30, LIMA, A.F.M.31, LUNA, S.P.L.32

Palavras-chave: Cadelas. Gatas. Ovariosalpingohisterectomia.

Key-words: Bitches. Cats. Ovariosalpingohisterectomy.

INTRODUÇÃO

A falta de conscientização sobre a posse responsável de animais como cães e gatos e a carência de programas governamentais e sociais destinados ao controle do número de animais leva à reprodução excessiva, gerando um grande número de animais não domiciliados ou errantes.

Para a diminuição da população animal, é fundamental o controle reprodutivo, principalmente por meio da esterilização cirúrgica, cuja técnica é a ovário-histerectomia nas fêmeas. Quando realizada em animais saudáveis, é considerada um procedimento seguro e de rotina, com baixa incidência de morbidade e mortalidade1 , além de reduzir a susceptibilidade a enfermidades como neoplasias mamárias e doenças reprodutivas2. Entretanto, pode estar associada a diversas complicações, decorrentes da intervenção anestésica e cirúrgica ou dos efeitos sistêmicos da privação do estrógeno, já que os hormônios gonadais influenciam a reprodução e o desenvolvimento esquelético, físico e comportamental de animais imaturos3.

A obesidade é tida como um dos principais pontos negativos da esterilização cirúrgica4. Estudos sugerem que há um pequeno ganho de peso em fêmeas castradas5, entretanto isto pode ser controlado por exercícios e dieta6.

30 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária da FMVZ – Unesp, Botucatu.

31 Doutorando do Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da FMVZ – Unesp, Botucatu. 32 Professor titular do Depto. de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária da FMVZ – Unesp, Botucatu.

Correspondênciapara/Correspondenceto:LucianaMouraCamposPardini.RuaJoaquimdoAmaralGurgel,331.Vila

Assumpção.CEP:18606‐020.Botucatu‐SP,Brasil.E‐mail:[email protected]

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O aumento da ocorrência de incontinência urinária em cadelas é um forte argumento contra a castração e tem sido associada à gonadectomia em cadelas7.

A dermatite perivulvar é frequentemente associada à esterilização cirúrgica em cadelas, particularmente quando realizada antes da puberdade, dado ao desenvolvimento insatisfatório da vulva. Entretanto, não existem estudos comparativos da incidência em cadelas inteiras e castradas8.

OBJETIVOS

Objetivou-se neste estudo monitorar o período pós-operatório tardio de fêmeas das espécies felina e canina castradas em projeto de extensão universitária, com o intuito de avaliar os benefícios e a incidência de efeitos adversos.

METODOLOGIA

Foram utilizadas 178 fêmeas, 135 caninas e 43 felinas, provenientes da campanha de castração realizada pela FMVZ-Unesp-Botucatu em parceria com a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, a Prefeitura Municipal de Botucatu e de outros municípios do Estado e a Associação Protetora dos Animais de Botucatu nos anos de 2006 e 2007. As informações foram obtidas através de telefonemas aos proprietários que foram questionados se o animal encontrava-se vivo ou morto (causa da morte e quanto tempo após a cirurgia ela ocorreu), se ocorreram alterações físicas (ganho de peso, aparecimento de incontinência urinária e dermatite perivulvar) e alterações comportamentais negativas (apatia, agressividade, agitação excessiva) ou positivas (tranquilidade, docilidade, diminuição do comportamento de perambulação).

Os animais foram divididos em grupos de acordo com a espécie e a técnica cirúrgica: - 55 fêmeas caninas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica conservativa, utilizando-se lacre plástico (3), fio de náilon (27) ou de seda (25). - 80 fêmeas caninas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica minimamente invasiva, utilizando-se lacre plástico (59), fio de náilon (14) ou de seda (7). - Oito fêmeas felinas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica conservativa, utilizando-se fio de náilon (6) ou de seda (2).

- 35 fêmeas felinas submetidas à ovário-histerectomia pela técnica minimamente invasiva, utilizando-se lacre plástico (4), fio de náilon (30) ou de seda (1).

-

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram que, entre as 55 cadelas submetidas à ovário-histerectomia conservativa, houve seis (10,9%) mortes, bem como entre as 80 fêmeas submetidas à ovário-histerectomia minimamente invasiva, houve também 6 (7,5%) mortes. Ainda entre as cadelas, 87 (64,44%) apresentaram ganho de peso

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após a cirurgia, apenas uma (0,74%) apresentou incontinência urinária e quatro (2,96%) apresentaram dermatite perivulvar. Alterações de comportamento positivas foram relatadas em 38 (28,15%) cadelas e alterações de comportamento negativas em seis (4,44%). Portanto, 91 (67,40%) fêmeas não apresentaram alterações de comportamento.

Já entre as gatas, das oito fêmeas submetidas à ovário-histerectomia conservativa, 100% permaneceram vivas, enquanto entre as 35 fêmeas submetidas à ovário-histerectomia minimamente invasiva, houve seis (17,14%) mortes.

Ganho de peso foi relatado em 25 (58,14%) gatas, incontinência urinária em uma (2,32%) gata e dermatite perivulvar em duas (4,65%) gatas. Alterações de comportamento positivas ocorreram em 20 (46,51%) fêmeas, alterações de comportamento negativas em nenhuma fêmea (0%) e 23 (53,49%) fêmeas não apresentaram alterações de comportamento.

O presente estudo avaliou a incidência da obesidade pós-castração de forma bastante subjetiva, sem a pesagem dos animais. As informações sobre alterações decorriam de uma avaliação visual realizada pelo proprietário. Constatou-se que 64,44% (87/135) das cadelas e 58,14% (25/4) das gatas engordaram.

Frequentemente a obesidade é tida como decorrência de um aumento do apetite e do sedentarismo em animais castrados9. A diminuição nos níveis de hormônios sexuais após a gonadectomia poderia explicar o ganho de peso, que posteriormente poderá se transformar em obesidade, pois, apesar de não serem reguladores primários do metabolismo, os hormônios gonadais influenciam o peso corpóreo, atuando diretamente nos centros cerebrais que controlam a saciedade, ou indiretamente, alterando o metabolismo celular4.

Devido a tais alterações no metabolismo, cães esterilizados são mais predispostos a apresentar sobrepeso ou obesidade que cães intactos. Estudos indicam que o risco de surgimento da obesidade em fêmeas esterilizadas é duas vezes maior que em fêmeas intactas10. Fêmeas esterilizadas são seis vezes mais propensas a serem obesas e 1.2 vezes mais propensas a apresentar sobrepeso quando comparadas a fêmeas intactas11.

A obesidade e o sobrepeso estão associados a uma série de problemas de saúde em cães e gatos. Animais com excesso de peso são mais predispostos a desenvolverem hiperadrenocorticismo, ruptura do ligamento cruzado, hipotireoidismo, doença do trato urinário inferior, diabete mellitus, pancreatite e neoplasias12.

De forma geral, 50 a 70% dos cães adultos diminuem em 50 a 90% comportamentos negativos como monta e perambulação e 25% diminuem a agressividade contra animais e pessoas após a castração13. Neste estudo, 28,15% das cadelas e 46,51% das gatas apresentaram alterações de comportamento para melhor, demonstrando que, entre as cadelas, a porcentagem manteve-se semelhante à do estudo citado, enquanto que, em relação às gatas, a porcentagem foi maior. Embora a esterilização retire as gônadas dos animais, ainda há a presença de hormônios esteroides circulantes. Estes são provenientes da adrenal, e talvez por isso alguns efeitos dos hormônios sexuais ainda se expressem14.

A incontinência urinária, originada pela falta de estrógeno no organismo da fêmea, ocorre com maior frequência em cadelas castradas com peso superior a 20

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kg, sendo mais prevalente em algumas raças, principalmente Boxer e Mastife15. A incontinência urinária ocorre em 12,5% das cadelas com peso corporal elevado (>20 kg) e em 5% das cadelas de baixo peso (< 20 kg)16. No presente estudo verificou-se uma incidência muito menor, apenas uma cadela (0,74%) apresentou o problema. Entre as gatas avaliadas, também confirmou-se um único caso (2,32%). No entanto, tal achado depende do tempo de acompanhamento da fêmea no pós-operatório e pode se manifestar cerca de dois a três anos após a cirurgia.

A incontinência urinária é de etiologia multifatorial e pode estar associada a outros fatores ligados ao sexo, como a posição da bexiga (intrapélvica ou intra-abdominal), o diâmetro e o comprimento da uretra e também a raça. O estrógeno aumenta a afinidade dos receptores adrenérgicos no esfíncter uretral a neurostransmissores simpatomiméticos, alterando o tônus do esfíncter, portanto a administração de dietilbestrol nas fêmeas pode corrigir problemas de incontinência urinária decorrente do hipoestrogenismo4.

Em fêmeas, as dermatites perivulvares e as vaginites são frequentemente associadas à esterilização cirúrgica, particularmente quando realizada antes da puberdade, dado ao desenvolvimento insatisfatório da vulva, no entanto não existem estudos comparativos da incidência em fêmeas inteiras e castradas8. O recesso vulvar e excesso de pele podem promover o acúmulo de urina e secreções vaginais, favorecendo o crescimento bacteriano e a inflamação local, o que pode resultar não apenas em dermatite perivulvar mas também em vaginite ascendente4.

Na espécie felina o efeito da castração sobre a incidência de dermatite perivulvar foi clinicamente insignificante17, corroborando com os achados deste estudo, já que apenas duas (4,65%) gatas apresentaram o problema.

CONCLUSÃO

O presente estudo demonstrou que a taxa de mortalidade dos animais submetidos à ovário-histerectomia tanto pela técnica conservativa quanto pela técnica minimamente invasiva não apresenta importância significativa, já que nenhuma morte esteve diretamente relacionada ao procedimento cirúrgico. Conclui-se também que o ganho de peso ocorreu na maioria dos animais, podendo ser controlado com dietas e exercícios físicos, enquanto a dermatite perivulvar e a incontinência urinária não apresentaram índices relevantes. A maioria dos animais demonstrou alterações de comportamento para melhor ou manteve a mesma índole de antes do procedimento cirúrgico. Portanto, a esterilização cirúrgica é um método de grande importância no controle da superpopulação de cães e gatos e seus efeitos adversos são pequenos quando comparados à grandeza de seus benefícios.

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DESCOMPRESSÃO DO NÚCLEO DA CABEÇA FEMORAL EM CÃES PORTADORES DE NECROSE ASSÉPTICA: DOIS CASOS

FEMORAL HEAD CORE DECOMPRESSION IN DOGS WITH AVASCULAR NECROSIS OF THE FEMORAL HEAD: 2 CASES

LINS, B.T.33,34; PRADA, F.S.1; GUARNIERO, F. 1; SELMI, A.L.2; SANTOS, S.S.2

Palavras-chave: Necrose asséptica da cabeça do fêmur, Descompressão do núcleo da cabeça do fêmur, Cão.

Key-words: Femoral head asseptic necrosis, dogs, Femoral head core decompression, Dog.

INTRODUÇÃO

A necrose asséptica da cabeça do fêmur foi descrita em humanos de forma isolada por Legg, Calve e Perthes no ano de 1910 (GUARNIERO et al., 2005). A doença também ocorre em cães, com maior incidência nas raças miniaturas como Pinscher, Poodle, Yorkshire. Acredita-se que alterações na vascularização da epífise proximal do fêmur resultem em aumento da atividade osteoclástica e consequente reabsorção óssea. O suprimento sanguíneo da epífise proximal do fêmur é realizado pelas artérias circunflexas lateral e medial e ramos da artéria femoral. Em cães de pequeno porte, esse suprimento sanguíneo parece ser mais vulnerável ao aumento da pressão intra-articular e intraóssea, fato que pode resultar em interrupção do fluxo sanguíneo para a epífise proximal do fêmur. O diagnóstico é confirmado com base nas alterações radiográficas, que podem variar de pequenas áreas líticas na epífise proximal do fêmur até o completo remodelamento e fratura dessa região (GUARNIERO et al., 2005). O tratamento preconizado até o momento para cães portadores de necrose asséptica é a ressecção da cabeça e colo femorais. O procedimento de descompressão do núcleo da cabeça femoral tem sido empregado com índices de sucesso satisfatórios em crianças portadoras de necrose asséptica (DEFINO et al., 1991). O procedimento consiste na perfuração de orifício na região do colo e cabeça femorais, de forma a se promover redução da pressão intraóssea, com conseqüente alívio da dor e revascularização da região (PENEDO et al., 1993; RANCANTI et al, 1998; MONT et al., 2004). O presente estudo tem por objetivo descrever o emprego da técnica de descompressão do núcleo da cabeça femoral em cães e seus resultados preliminares.

33 Instituto de Ortopedia e Traumatologia – Faculdade de Medicina Universidade de São Paulo.

34 Universidade Anhembi Morumbi: Rua Conselheiro Lafaiete, n.64, Brás. SP. [email protected]

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MATERIAIS E MÉTODOS

Dois cães da raça Yorkshire Terrier, ambos machos, com aproximadamente oito meses de idade e histórico de claudicação leve de membro pélvico há aproximadamente 15 dias. Ao exame clínico, foi verificada intensa dor à abdução e extensão do quadril em ambos os pacientes. À avaliação radiográfica, foram visibilizadas pequenas áreas líticas com aproximadamente 5 mm de diâmetro em região de epífise proximal do fêmur. Aos demais exames pré-operatórios, não foi observada nenhuma alteração digna de nota. Após consentimento dos proprietários, os pacientes foram submetidos à descompressão do núcleo da cabeça femoral. Para a intervenção cirúrgica, a indução anestésica foi realizada com propofol (4mg.kg-1), após a medicação pré-anestésica com maleato de acepromazina (0,05mg/kg-1) associado a cloridrato de morfina (0,3mg.kg-1) e manutenção anestésica realizada por sevoflurano. Logo após a indução anestésica, os animais receberam uma dose de cefalotina sódica de 30 mg kg-1 por via intravenosa. Os cães foram posicionados em decúbito lateral e, após preparo do campo cirúrgico, foi procedida a abordagem craniolateral ao fêmur proximal de acordo com a técnica descrita por PIERMATTEI & JOHNSON (2004). A cortical lateral do fêmur foi exposta após a tenotomia parcial do músculo vasto lateral em seu ponto de origem, próximo ao trocanter maior. Um túnel ósseo foi perfurado, com broca de 1.5mm acoplada à perfuratriz elétrica, do colo femoral em direção à cabeça femoral. Para tal procedimento, realizou-se a mensuração radiográfica prévia da distância do trocanter maior até a superfície articular da cabeça femoral, de forma a se evitar a penetração articular e lesão iatrogênica da cartilagem articular. Os fragmentos ósseos presentes na broca foram coletados para avaliação histopatológica. Em seguida foi procedida a sutura de aproximação do músculo vastolateral com pontos simples interrompidos, empregando-se náilon 2-0, seguida de síntese da fascia lata e tecido subcutâneo com padrão contínuo simples e poliglecaprone 25 3-0 e pele em padrão interrompido simples com náilon 3-0. No período pós-cirúrgico, foi prescrito meloxican (0,1mg.kg-

1/sid) por via oral durante três dias e preconizada a troca de curativos a cada 12 horas.

RESULTADOS

Os procedimentos anestésico e cirúrgico ocorrem sem complicações nos dois pacientes. O tempo cirúrgico para realização da descompressão do núcleo da cabeça femoral foi de aproximadamente 20 minutos em ambos os casos. À avaliação radiográfica pós-cirúrgica, constatou-se uma perfeita orientação do túnel ósseo, sem penetração articular nos dois animais. Durante a avaliação, no período de 24 horas após a intervenção cirúrgica, ambos os pacientes apresentaram deambulação normal, porém com discreto desconforto à palpação do quadril. Aos 30 dias, não foi observado nenhum sinal de desconforto ou redução da amplitude de movimento do quadril em ambos os pacientes. As avaliações radiográficas após 60 dias do procedimento cirúrgico não evidenciaram quaisquer alterações de remodelação e/ou reabsorção na região de epífise proximal do fêmur. A avaliação histopatológica demonstrou a presença de material amorfo e baixa celularidade, representada por um pequeno número de osteoclastos.

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DISCUSSÃO

A descompressão do núcleo da cabeça femoral tem sido empregada com sucesso em crianças portadoras de necrose asséptica da cabeça do fêmur (DEFINO et al., 1991). Os autores não têm conhecimento de relatos anteriores do emprego da técnica em cães. O alívio da sintomatologia no período de 24 horas imediatamente após o procedimento cirúrgico nos pacientes relatados, de forma similar ao descrito em humanos, pode estar relacionado à redução da pressão intraóssea (PENEDO et al., 1993; RANCANTI et al, 1998; MONT et al., 2004). Os resultados obtidos durante o seguimento de 60 dias parecem demonstrar o efeito benéfico do procedimento cirúrgico de descompressão do núcleo da cabeça femoral na redução da reabsorção e remodelamento da cabeça femoral. O procedimento cirúrgico é tecnicamente simples, de baixo custo e não necessita de instrumental ou implantes específicos (PENEDO et al., 1993). Entretanto, alguns pontos necessitam ser observados. Deve-se preconizar uma abordagem mínima à região proximal do fêmur, a fim de se promover menor comprometimento da vascularização dessa região. A orientação do sentido de perfuração constitui o ponto mais crítico da técnica, principalmente em virtude do pequeno porte dos pacientes acometidos. Para se evitar lesão iatrogênica à articulação do quadril, foi realizada uma criteriosa observação radiográfica do fêmur proximal, com mensuração prévia do ângulo de inclinação do colo femoral e do comprimento do túnel ósseo até o osso subcondral da cabeça femoral como parâmetros de orientação durante o ato cirúrgico. O auxílio de fluoroscopia, como realizado em ortopedia humana, pode viabilizar a realização do procedimento de forma minimamente invasiva (PENEDO et al., 1993). Entretanto, este é um recurso que não é disponibilizado na prática dos autores. Sendo assim, a orientação por um guia de perfuração fixado ao fêmur proximal pode ser de grande valor para o correto posicionamento durante a perfuração óssea.

O procedimento de descompressão do núcleo da cabeça femoral é uma técnica de tempo cirúrgico diminuto e que não exclui a possibilidade de futura ressecção da cabeça e colo femoral ou substituiçào total da articulação. O caráter minimamente invasivo do procedimento favorece a rápida recuperação do paciente e minimiza o risco de infecção pós-opertória. Diferentemente do procedimento realizado em crianças, a utilização de enxerto ósseo vascularizado parece ser um ponto complexo em virtude do tamanho do túnel ósseo e necessidade de técnicas de microcirurgia para anastomose vascular, e por isso não foi empregada. Uma alternativa possível seria o preenchimento do túnel ósseo por enxerto ósseo esponjoso autógeno. Os resultados preliminares associados a um bom prognóstico e a ausência de progressão da doença refletem a possibilidade de emprego do método em uma população de cães portadores de necrose asséptica sem alterações radiográficas avançadas, como alternativa ao procedimento de ressecção da cabeça e colo femorais, entretanto, os resultados a longo prazo ainda precisam ser estabelecidos.

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ANÁLISE HISTOPATOLÓGICA DE LESÕES ÓSSEAS CRIADAS NA PORÇÃO PROXIMAL DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDOS À IRRADIAÇÃO

COM LASER TERAPÊUTICO DE BAIXA INTENSIDADE (InGaAlP: 670nm/30mW) NAS FASES AGUDAS E CRÔNICAS

HISTOPATHOLOGIC ANALYSIS OF BONE LESIONS CREATED PROXIMAL PORTION OF TIBIA RATS SUBMITTED TO IRRADIATION WITH LOW-INTENSITY LASER THERAPY (InGaAlP: 670nm/30mW) IN ACUTE AND

CHRONIC PHASES

MOTA, F.C.D35, BELETTI, M.E36, OKUBO, R37, BELO, M.A.A1, EURIDES, D2, FATORETTO, L.A1

Palavras-chave: histopatológia, laserterapia de baixa intensidade, osteotomia

Key Words: histopathology, low-intensity lasertherapy, osteotomy

Introdução

A não consolidação óssea é um dos principais problemas encontrados na ortopedia, sendo a condição inicial para o desenvolvimento da pseudartrose, e esta por sua vez1, ainda é responsável por alto número de complicações, pois nem sempre se observa a sua cura, mesmo após a aplicação de recentes técnicas cirúrgicas2. O laser de baixa intensidade vem sendo utilizado nos últimos anos como um coadjuvante na osteogênese por atuar na melhoria das propriedades mecânicas do calo ósseo, pois aumenta o número de osteoblastos e fibroblastos no calo da fratura3, estimulando desta forma a síntese da matriz óssea4. Apesar dos vários estudos, os efeitos do comprimento de onda, tipo de feixe, nível e intensidade de energia e regime de exposição do laser terapêutico continuam não explicados. Alem disso, não existem determinações especificas de dosimetria e mecanismo de ação para os diferentes tipos celulares5.

Objetivo O presente estudo teve por objetivo avaliar os resultados histopatológicos da

radiação do laser de baixa intensidade na fase aguda e crônica da reparação de falhas ósseas criadas na extremidade proximal da tíbia de ratos Wistar.

35 Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Av. Hilário da Silva Passos 950, Parque Universitário.

Descalvado, SP. 13690-000, Brasil. [email protected]

36 Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

37 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo USP).

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Metodologia

Foram utilizados 63 animais, machos, com peso médio de 300 g e idade entre 12 e 15 semanas. Os animais foram anestesiados com a associação de cloridado de quetamina 10% (0,2 ml/kg) e cloridado de xilazina 2% (0,07 ml/kg), aplicados por via intramuscular. Em seguida, com o auxilio de uma broca acoplada a uma minirretífica de baixa rotação, sob irrigação constante de solução fisiológica, foi criada uma falha óssea de 2 mm de diâmetro com profundidade total, aproximadamente 8 mm distal à articulação do joelho do membro direito. Após a cirurgia, os animais foram divididos em três grupos, com 21 animais cada sendo:

- O grupo I: Grupo controle, submetidos à osteotomia, receberam o protocolo de aplicação com o equipamento desligado. Este grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório.

- O grupo II: Grupo agudo, submetidos à osteotomia, receberam o protocolo de aplicação do laser de baixa intensidade, 24 horas após a lesão. Este grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias receberam um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove sessões; e os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.

- O grupo III: Grupo crônico, submetidos à osteotomia, receberam o protocolo de aplicação do laser de baixa intensidade, no quinto dia após a lesão. Este grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias receberam um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove sessões; e os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.

O aparelho foi programado com laser de Índio Gálio Alumínio Fósforo (InGaAlP), com comprimento de onda de 670nm e potência de 30 mW (continuo), com aplicação em varredura, abrangendo toda a área da lesão a uma dose de 90 J/cm2 por um período de quatro minutos e 33 segundos. Os animais de ambos os grupos foram submetidos à eutanásia no final dos respectivos dias de observação, com sobredose de tiopental sódico por via intraperitoneal. As tíbias foram dissecadas e desarticuladas proximalmente à articulação do joelho e distalmente à articulação társica. Em seguida, peças sofreram descalcificação por passagem de corrente elétrica em ácido tricloroacético 8%, e foram processadas conforme técnica de rotina. Os cortes histológicos foram corados pela hematoxilina e eosina, tricrômico de Malori e coloração de Shorr modificada.

Resultados

O grupo controle apresentou as seguintes características histopatológicas: aos nove dias, o centro da lesão estava preenchido por fragmentos ósseos e coágulo sanguineo em fase de reabsorção. Perifericamente, notava-se tecido conjuntivo bastante celular, com presença de fibroblastos, macrófagos, osteoclastos e ostoblastos. Aos 17 dias, apresentava de forma geral intensa invasão de tecido conjuntivo denso no interior da lesão, com pouca formação de tecido ósseo. E os

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analisados aos 28 dias apresentavam a lesão totalmente preenchida por tecido ósseo, com característica de ossificação endocondral, sendo que em alguns animais podiam se notar pequenas áreas de tecido conjuntivo denso. Grupo II (submetido à terapia laser 24 horas apos a lesão): aos nove dias, o centro da lesão estava preenchido por fragmentos ósseos e coágulos em fase de reabsorção, de forma semelhante ao grupo controle também analisado aos nove dias, no entanto em fase mais avançada. O centro da lesão e a periferia apresentavam intensas áreas de ossificação, sendo basicamente do tipo endocondral. Aos 17 dias notava-se a lesão totalmente preenchida por osso endocondral. Todos os animais analisados no período de 28 dias apresentavam a lesão totalmente preenchida por osso, não sendo possível nesta fase identificar qual o tipo. Grupo III (submetido à terapia laser no quinto dia apos a lesão): aos nove dias, apresentavam resultados bastantes semelhantes aos do grupo controle, também observados por este período, com inicio do processo de ossificação intramenbranosa e pequenas áreas de ossificação endocondral. Aos 17 dias, notavam-se no local da lesão áreas de ossificação endocondral e tecido conjuntivo denso, sendo este em maior quantidade. Aos 28 dias os resultados eram semelhantes aos do grupo II, com a lesão totalmente preenchida por osso.

Discussão

Nesta pesquisa a maior formação óssea observada histologicamente ocorreu nos grupos II e III analisados aos 17 dias de pós-operatório. A este resultado atribuímos a ação da terapia laser de baixa intensidade, que atua aumentando a atividade de reabsorção e formação óssea em fraturas6, por estimular a formação de osteoides e o aumento do número de osteoblastos e sua ativação na síntese da matriz óssea4, aumentando desta forma incorporação de cálcio intracelular5. Já a diferença entre os grupos II e III, ocorreu provavelmente pelo fato do laser atuar estimulando a proliferação e ou a diferenciação de células mesenquimais osteoprogenitoras ainda imaturas, não tendo efeito em áreas onde predominam células maduras já diferenciadas3.

Conclusão

O laser de baixa intensidade auxilia no processo de consolidação óssea, sendo seus efeitos mais predominantes quando ele é aplicado na fase aguda das lesões.

Referências

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Trabalho aprovado pelo CEP/Unicastelo (Comitê de Ética em Pesquisa – Unicastelo) de acordo com o protocolo: 2466-2686/09

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ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDAS À OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E IRRADIADAS COM LASERTERAPIA (INGAALP: 670NM/30MW) NA FASE AGUDA E CRÔNICA

DA LESÃO

ANALYSISOFMECHANICALPROPERTIESOFTIBIARATSSUBMITTEDTOCIRCULAROSTEOTOMYANDIRRADIATEDWITHLASERTHERAPY(INGAALP:670NM/30MW)INACUTEANDCHRONIC

INJURY

MOTA,F.C.D38,BELETTI,M.E39,OKUBO,R40,BELO,M.A.A1,EURIDES,D2,FATORETTO,L.A1

Palavras-chave: propriedade mecânica, laser de baixa intensidade, osteotomia

Key Words: mechanical property, low-intensity laser, osteotomy

Introdução

O laser de baixa intensidade vem sendo utilizado nos últimos anos como um coadjuvante na osteogênese1, pois atua na melhoria das propriedades mecânicas do calo ósseo, aumentando o número de osteoblastos e fibroblastos no calo da fratura e estimulando, desta forma, a síntese da matriz óssea2. Apesar dos vários estudos, os efeitos do comprimento de onda, tipo de feixe, nível e intensidade de energia e regime de exposição do laser terapêutico continuam não explicados3. Alem disso, não existem determinações especificas de dosimetria e mecanismo de ação para os diferentes tipos celulares4. As propriedades mecânicas são atributos que caracterizam o material analisado. A rigidez é definida como força necessária para obter uma deformação elástica (maior a dureza do material). Fase elástica é aquela em que o material deformará somente enquanto a carga estiver sendo aplicada, retornando ao seu tamanho e dimensões originais quando a carga for removida. Tensão máxima é o valor máximo da força, dividida pela área de secção transversa do objeto5.

Objetivo

38 Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Av. Hilário da Silva Passos 950, Parque Universitário.

Descalvado, SP. 13690-000, Brasil. [email protected]

39 Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

40 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo USP).

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O presente estudo teve por objetivo avaliar as propriedades biomecânicas da tíbia de ratos submetidas à osteotomia por escareação e tratadas com o laser de Índio Gálio Alumínio Fósforo (InGaAlP) nas fases agudas e crônicas da lesão.

Metodologia

Foram utilizados 63 animais, machos, com peso médio de 300 g e idade entre 12 e 15 semanas. Os animais foram anestesiados com a associação de cloridado de quetamina 10% (0,2 ml/kg) e cloridado de xilazina 2% (0,07 ml/kg), aplicados por via intramuscular. Em seguida, com o auxilio de uma broca acoplada a uma minirretífica de baixa rotação, sob irrigação constante de solução fisiológica, foi criada uma falha óssea de 2 mm de diâmetro com profundidade total, aproximadamente 8 mm distal à articulação do joelho do membro esquerdo. Após a cirurgia, os animais foram divididos em três grupos, com 21 animais cada um, sendo:

- O grupo I: Grupo controle. Submetidos à osteotomia, os animais receberam o protocolo de aplicação com o equipamento desligado. Este grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animais cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório.

- O grupo II: Grupo agudo. Animais submetidos à osteotomia, que receberam o protocolo de aplicação do laser de baixa intensidade, 24 horas após a lesão. Este grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias receberam um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove sessões; e os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.

- O grupo III: Grupo crônico. Submetidos à osteotomia, os animais receberam o protocolo de aplicação do laser de baixa intensidade, no quinto dia após a lesão. Este grupo foi subdividido em três subgrupos de sete animas cada um, analisados aos nove, 17 e 28 dias de pós-operatório. Sendo que os animais analisados por nove dias receberam um total de quatro sessões; os observados por 17 dias, um total de nove sessões; e os mantidos por 28 dias, um total de 19 sessões.

O aparelho foi programado com laser de Índio Gálio Alumínio Fósforo (InGaAlP), com comprimento de onda de 670nm e potência de 30 mW (continuo), com aplicação em varredura, abrangendo toda a área da lesão a uma dose de 90 J/cm2 por um período de quatro minutos e 33 segundos. Os animais de ambos os grupos foram submetidos à eutanásia no final dos respectivos dias de observação, com sobredose de tiopental sódico por via intraperitoneal. As tíbias foram dissecadas e desarticuladas na altura do joelho e do tarso. Após limpas, foram embebidas em solução fisiológica 0,9% e congeladas. Anteriormente aos ensaios mecânicos, as peças eram colocadas na geladeira para descongelar. Os ensaios mecânicos foram realizados em uma Máquina Universal de Ensaios (MUE) (EMIC®, modelo DL10000). As tíbias foram submetidas ao ensaio mecânico de flexão em três pontos. A carga foi aplicada transversalmente à tíbia em sua face posterior, através de um pino superior sobre um acessório de latão com espaçamento de 10 mm entre os apoios. Esta distância foi determinada para melhor acoplamento da tíbia em relação ao acessório e para que a força de aplicação recaísse sobre o local de fratura. Os ensaios foram realizados utilizando uma célula de carga de 50 kgf. A velocidade utilizada para a aplicação de carga foi de 1 mm/min,

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com pré carga de 5 N e tempo de acomodação de 30 segundos para todos os ensaios. Os valores registrados pela MUE foram transcritos para o programa Tesq versão 1.0, no qual foram calculadas as propriedades mecânicas de tensão máxima e a rigidez. Todos os dados quantitativos obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e teste Tukey com o nível de significância de 5% (p<0,05). Toda a análise estatística foi realizada pelo programa GraphPad Prism® versão 5.0.

Resultados

Em relação à tensão máxima e à rigidez (tabela), nenhuma comparação demonstrou diferença estatística significativa.

Discussão

Apesar de não haver diferença estatística, o grupo II (agudo) apresentou maiores valores de tensão máxima em relação aos demais grupos nos períodos de nove e 17 dias. Visto que os ossos com maior composição de tecido fibrocartilaginoso e menos ossificados tendem a ser mais fracos6, atribuímos estes resultados a uma fase mais avançada do processo de consolidação, observada no grupo agudo durante a análise destes períodos e promovida pela ação do laser de baixa intensidade que estimula a proliferação e ou a diferenciação de células mesenquimais osteoprogenitoras ainda imaturas, levando a uma ossificação endocondral mais prematura3.

Conclusão

Nesta pesquisa não foi observado diferença estatística entre os grupos analisados, no entanto podemos constatar que o laser de baixa intensidade tende a aumentar as propriedades mecânicas, principalmente quando aplicado na fase aguda das lesões.

Referências

1. Garavello-Freitas, I. et al. (2003). Low-power laser irradiation improves histomorphometrical parameters and bone matrix organization during tibia wound healing in rats. Journal of Photochemistry and Photobiology,.70: 81-89.

2. Silva Junior et al. (2002). Computerized morphometric assesment of the effect of low-level laser therapy on bone repair: an experimental animal study. Journal of Clinical Laser Medicine & Surgery, 20: 83-87.

3. Marino, JAM. (2003). Efeito do laser de baixa potência no sobre o processo de reparação óssea em tíbia de rato. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 107p.

4. Coombe, AR. et al., (2001). The effects of low level laser irradiation on osteoblastic cells. Clinical Orthopaedics and Related Research, 4: 3-14.

5. Souza, SA. (1974). Ensaio mecânico de materiais metálicos. Edgard Blücher: 13-58.

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6. Lurger, EJ., et al. (1998). Effect of low-Power Laser Irradiation on the Mechanical Properties of Bone Fracture Healing in Rats. Journal of clinical laser medicine & surgery, 22: 97-102.

Trabalho aprovado pelo CEP/Unicastelo (Comitê de Ética em Pesquisa – Unicastelo) de acordo com o protocolo: 2466-2686/09.

Tabela: Tabela de valores (média ± desvio padrão) das diferentes análises biomecânicas segundo os grupos experimentais e os períodos de tempo analisados.

Grupos Tensão máxima (N/m2) Rigidez (N/mm)

I 3419331 ± 129517 284,80 ± 63,78

9 dias II 3817048 ± 165110 286,05 ± 9,42

III 3496061 ± 235463 282,09 ± 24,59

I 3889131 ± 177548 300,29 ± 52,47

17 dia II 4133334 ± 190551 324,85 ± 12,40

III 3610022 ± 566372 295,75 ± 9,56

I 4893996 ± 604780 365,19 ± 33,14

28 dias II 4995820 ± 557305 372,87 ± 14,51

III 5105094 ± 161281 379,67 ± 57,63

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ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DA TIBIA DE RATOS SUBMETIDA À OSTEOTOMIA POR ESCAREAÇÃO E TRATADA COM

DECANOATO DE NANDROLONA ANALYSIS OF MECHANICAL PROPERTIES OF TIBIA RATS SUBMITTED TO

CIRCULAR OSTEOTOMY AND TREATED WITH NANDROLONE DECANOATE

MOTA,F.C.D41,REBELLATO,K.R1,PRADO,E.J.R1,MORAES,A.C1,OKUBO,R42,BELO,M.A.A1,EURIDES,D43.

Palavras Chaves: propriedade mecânica, decanoato de nandrolona, reparo ósseo. Key Words: mechanical property, nandrolone decanoate, bone repair.

Introdução

A reparação óssea é um processo de cicatrização especializado que envolve a regeneração do osso1. No entanto, o processo de reparação óssea pode ser interrompido em virtude do fracasso de uma de suas fases, o que resulta em distúrbio de consolidação2. Estudos têm demonstrado que os andrógenos esteroides podem estimular diretamente a proliferação e diferenciação das células ósseas3. Dentre as drogas formadoras de massa óssea, podemos citar o decanoato de nandrolona, um esteroide anabólico com poucos efeitos androgênicos, apresentando um perfil de efeito colateral aceitável4. Este esteroide parece agir estimulando as células ósseas através do aumento e diferenciação dos fatores de crescimento (FGF, IGF-1, TGF-β) nas células osteoblásticas5. As propriedades mecânicas são atributos que caracterizam o material analisado. A rigidez é definida como força necessária para obter uma deformação elástica (maior a dureza do material). Fase elástica é aquela em que material deformará somente enquanto a carga estiver sendo aplicada, retornando ao seu tamanho e dimensões originais quando a carga for removida Tensão máxima é o valor máximo da força dividida pela área de secção transversa do objeto6.

41 Universidade Camilo Castelo Branco (Unicastelo). Av. Hilário da Silva Passos 950, Parque Universitário.

Descalvado, SP. 13690-000, Brasil. [email protected]

42 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), Universidade de São Paulo USP).

43 Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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Objetivo

O presente estudo teve por objetivo avaliar as propriedades biomecânicas da tíbia de ratos submetidas à osteotomia por escareação e tratadas com o esteroide androgênico decanoato de nandrolona.

Metodologia

Foram utilizados 56 ratos albinus, de linhagem Wistar, machos, com peso médio de 400 g e idade entre 12 e 15 semanas. Os animais foram anestesiados com a associação de cloridado de quetamina 10% (0,2 ml/kg) e cloridado de xilazina 2% (0,07 ml/kg), aplicados por via intramuscular. Em seguida, com o auxilio de uma broca acoplada a uma minirretífica de baixa rotação, sob irrigação constante de solução fisiológica, foi criada uma falha óssea de 2 mm de diâmetro com profundidade total, aproximadamente 8 mm distal à articulação do joelho do membro esquerdo. Após a cirurgia os animais foram divididos em 2 grupos de 28 animais cada um.

- Grupo I: grupo controle. Submetidos à osteotomia, os animais receberam a aplicação de 0,04 mL de óleo mineral (Nujol®), que corresponde ao mesmo volume do esteroide aplicado no grupo tratado. Os animais deste grupo foram divididos em dois subgrupos e analisados aos dez e 20 dias pós-cirúrgico. Os animais analisados aos dez dias receberam duas aplicações do óleo mineral, sendo a primeira aplicação realizada no segundo dia pós-lesão e repetida no sexto dia. Os analisados aos 20 dias receberam quatro aplicações, sendo a primeira aplicação realizada no segundo dia pós-lesão e repetida no sexto, décimo e 14° dia.

- Grupo II: grupo tratado. Os animais foram submetidos à osteotomia, recebendo a aplicação de 5 mg/kg do esteroide decanoato de nandrolona (Deca durabolin®), que corresponde a um volume total de 0,04 mL por rato. Os animais deste grupo foram divididos em dois subgrupos e analisados aos dez e 20 dias pós-cirúrgico. Os animais analisados aos dez dias receberam duas aplicações do hormônio, sendo a primeira aplicação realizada no segundo dia pós-lesão e repetida no sexto dia. Os analisados aos 20 dias receberam quatro aplicações, sendo a primeira aplicação realizada no segundo dia pós-lesão e repetida no sexto, décimo e 14° dia.

Os animais de ambos os grupos foram submetidos à eutanásia no final dos respectivos dias de observação, com sobredose de tiopental sódico por via intraperitoneal. As tíbias foram dissecadas e desarticuladas proximalmente à articulação do joelho e distalmente à articulação társica. Após limpas, foram embebidas em solução fisiológica 0,9% e congeladas. Anteriormente aos ensaios mecânicos, as peças eram colocadas na geladeira para descongelar. Em seguida, eram obtidas as medidas do comprimento e peso ósseo do perímetro da área de fratura das tíbias. Os ensaios mecânicos foram realizados em uma Máquina Universal de Ensaios (MUE) (EMIC®, modelo DL10000). As tíbias foram submetidas ao ensaio mecânico de flexão em três pontos. A carga foi aplicada transversalmente à tíbia em sua face posterior, através de um pino superior sobre um acessório de latão com espaçamento de 10 mm entre os apoios. Esta distância foi determinada para melhor acoplamento da tíbia em relação ao acessório e para que a força de aplicação

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recaísse sobre o local de fratura. Os ensaios foram realizados utilizando uma célula de carga de 50 kgf. A velocidade utilizada para a aplicação de carga foi de 1 mm/min, com pré-carga de 5 N e tempo de acomodação de 30 segundos para todos os ensaios. Os valores registrados pela MUE foram transcritos para o programa Tesq versão 1.0, onde foram calculadas as propriedades mecânicas de tensão máxima e a rigidez. Todos os dados quantitativos obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e ao teste de Tukey com o nível de significância de 5% (p<0,05). Toda a análise estatística foi realizada pelo programa GraphPad Prism® versão 5.0.

Resultados

Os valores de tensão máxima apresentaram diferenças estatísticas significativas (p<0,05) entre os grupos controle e tratado analisados aos 20 dias de pós-operatório. Já na propriedade mecânica de rigidez não foram encontradas diferenças estatesticas entre os grupos experimentais (tabela).

Discussão

A análise da propriedade mecânica tensão máxima, executada neste trabalho, mostrou diferença estatística do grupo tratado quando comparado ao grupo controle analisado ao 20° dia de pós-operatório, o que pode ser explicado pela maior fixação de cálcio promovida pela aplicação do decanoato de nandrolona, fortalecendo o tecido ósseo5.

Conclusão

Os resultados deste estudo indicam que o tratamento com o andrógeno esteroide decanoato de nandrolona na dose de 5mg/kg promove o aumento da propriedade mecânica tensão máxima, o que sugere uma maior fixação de cálcio ao tecido ósseo.

Referências

1. Haverstock, BD; Mandracchia, VJ. (1998). Cigarette smoking and bone healing implications in foot and ankle surgery. The Journal of Food e Ankle Surgery, 37: 69-74.

2. Mandt, PR; Gershuni, DH. (1987). Treatment of nonunion of fractures in the epiphyseal-metaphyseal region of long bones. Journal of Orthopaedic Trauma, 1: 141-151.

3. Kasperk, CH. et al. (1998). Androgens directly stimulate proliferation of bone cells in vitro. The Endocrine Society, 134: 176-178.

4. Frisoli Junior, A. et al. (1997). O tratamento da osteoporose no paciente idoso deve ser o mesmo que o da pós-menopausa? Revista Brasileira de Reumatologia, 37: 210-216.

5. Pardini, D. ( 1999). Terapêutica de Reposição Hormonal na Osteoporose da Pós Menopausa. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia, 43: 428-432.

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6. Souza, SA. (1974). Ensaio mecânico de materiais metálicos. Edgard Blücher:

13-58.

Trabalho aprovado pelo CEP/UNICASTELO (Comite de etica em pesquisa – UNICASTELO) de acordo com o protocolo: 2497-2717/09. Tabela: Tabela de valores (média ± desvio padrão) das diferentes análises biomecânicas segundo os grupos experimentais e os períodos de tempo analisado

Grupos Tensão Máxima (N/m²) Rigidez (N/mm)

Subgrupo

10 dias

I 1,79x1010 ± 2,55x109 428,07 ± 84,90

II 2,07x1010 ± 7,02x109 433,08 ± 83,36

Subgrupo

20 dias

I 2,95x1010 ± 7,3x109 565,67 ± 126,67

II 4,12x1010 ± 1,07x109 575,06 ± 97,56

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COMPARAÇÃO ENTRE OVARIECTOMIA POR LAPAROTOMIA, VIDEOASSISTIDA E TOTAL VIDEOLAPAROSCÓPICA EM OVELHAS DA

RAÇA SANTA INÊS COMPARISONBETWEENOVARIECTOMYLAPAROTOMY,VIDEOASSISTEDANDTOTALLY

VIDEOLAPAROSCOPYINSANTAINESEWES

TEIXEIRA,P.P.M.1;PADILHA,L.C.1;MOTHEO,T.F.1;SILVA,M.A.M.1;FLÔRES,F.N.1,LOPES,M.C.S.1;VICENTE,W.R.R.441

Palavras-chave: Ovelhas, ovariectomia, videoassistida, total videolarosópica.

Introdução

A videolaparoscopia é um procedimento minimamente invasivo, havendo vários estudos do seu emprego em pequenos ruminantes (BOURÉ, 2005). Assim, o seu uso em ovariectomias tem grande importância na tentativa de causar o mínimo de estresse ao animal, não interferindo na produção (LUNA, 2008; FITZPATRICK, et al., 2006). O objetivo deste trabalho foi comparar a ovariectomia convencional com procedimentos por vídeolaparoscopia em ovelhas da raça Santa Inês adultas, avaliando o trans e pós-cirurgico entre as técnicas.

Utilizaram-se 18 ovelhas adultas da raça Santa Inês, divididas em grupos submetidos à ovariectomia por laparotomia (OL, n=6), à ovariectomia videoassistida (OVA, n=6) e à ovariectomia total videolaparoscópica (OTV, n=6). Após um jejum de 36 horas, os animais passaram pelo processo anestésico através da administração de 0,5 mg/kg de diazepam (IM) e 2 mg/kg de tramadol (IM) como medicação pré-anestésica (MPA) e, posteriormente, indução com proporfol (IV) na dose de 6 mg/kg, mantendo com infusão continua de proporfol na dose de 0,5 mg/kg/min. (IV) mais bôlus e infusão de cloridrato de lidocaína 1 mg/kg (IV) e 1mg/kg/min. IV. As ovelhas foram posicionadas em decúbito dorsal, posteriormente em trendelenburg para o GVA e o GTV. Foi executado o preparo asséptico e realizado o bloqueio local por infusão de lidocaína na linha de incisão e botões anestésicos da entrada dos portais laparoscópicos.

A OL foi executada com uma incisão inguinal na linha média de 10 cm na pele e muscular, para a localização do útero e, em seguida, exteriorização de um ovário. Devido à dificuldade na localização do trato genital interno, em alguns casos foi necessária a palpação vaginal por um auxiliar, assim encontrando o corpo do útero entre as outras vísceras. Uma vez exposto o ovário, foi feita a ligadura dos pedículos 44 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/Universidade Estadual Paulista (FCAV/Unesp – Campus

Jaboticabal). End: Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n., FCAV, Unesp, Jaboticabal. Setor de Obstetrícia.

CEP: 14.884-900. Jaboticabal – SP. e-mail: [email protected]

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ovarianos por transfixação e exéreses acima do ponto, sendo o mesmo procedimento realizado para o outro ovário. Foi fechada a muscular com pontos simples contínuo, intercalado com simples separado, em seguida realizando a síntese da pele por pontos simples separados.

A OVA foi executada por três portais laparoscópicos, dois com cerca de 10 cm cranial ao úbere e 5 cm lateral a linha média, um à direita e outro à esquerda, e o terceiro na linha média 30 cm cranial ao úbere. Fez-se um incisão para facilitar a introdução do primeiro trocáter de 5mm, com válvulas para insuflação para o estabelecimento do pneumoperitônio com CO2, utilizando pressão intrabdominal (PIA) variando de 5 a 8 mmHg, e velocidade de insuflação de 5 L/min. Foi feita a introdução do segundo trocater de 10 mm e terceiro trocáteres de 5 mm. Após a colocação dos trocáteres, o endoscópio foi transferido para o terceiro trocáter para melhor visibilizar o local de trabalho. Uma vez obtida a visão interna da cavidade, fez-se introdução pelo primeiro e segundo trocáteres da passagem de pinças atraumáticas modelo Babcock, sendo que o útero, tubas e bursas ováricas foram manipulados, permitindo a apreensão dos ovários, exteriorizando-os pelo portal de 10 mm e fazendo a ligadura e exérese semelhante à OL. Foi realizada uma pressão manual no abdome dos animais para a retirada do excesso de CO2 restante da insuflação da cavidade e em seguida foi executada apenas a dermorrafia com um a dois pontos “U” separados para cada local da entrada dos trocáteres.

A OTV foi realizada por dois portais laparoscópicos, um 10 cm ao úbere, 5 cm à direita da linha média e outro 20 cm ao cranial ao úbere na linha média, sendo este para um laparoscópio com canal de trabalho. Assim, tendo um portal a menos que a OVA. Também se fizeram incisões para os portais e assim introduzindo o primeiro trocáter de 5 mm com válvulas para insuflação para o estabelecimento do pneumoperitônio semelhante a da OVA. Após a outra incisão de pele foi colocado um segundo trocater de 10 mm, através do qual se introduziu o laparoscópio como canal de trabalho. Obtendo-se a visão da cavidade, pelos dois canais foram introduzidas duas pinças atraumáticas modelo Babcock, também para manipulação e apreensão dos órgãos reprodutivos e visualização do ovário. Com a pinça do primeiro canal de trabalho, se apreendeu e posicionou o primeiro ovário, visualização do pedículo ovariano e pelo segundo canal se introduziu uma pinça coaguladora bipolar (Lina PowerBlade – WEM Ribeirão Preto-SP) fazendo exérese intrabdominal e retirada do ovário pelo portal laparoscópico de 10 mm. O mesmo procedimento foi feito para o segundo ovário, sendo o auxílio para a retirada do CO2 e a dermorrafia semelhante à OVA.

Após todos os procedimentos cirúrgicos, os animais receberam oxitetraciclina LA na dose de 20mg/kg de peso vivo. No transcirúrgico foi cronometrado o tempo de cirurgia para cada técnica, bem como possíveis transtornos que dificultem o procedimento. A fim de averiguar o estresse pós-cirúrgico dos animais, foi estabelecida uma escala para verificar comportamento sugestivo de desconforto doloroso, fazendo um escore dos seguintes itens: curvatura do dorso, deslocamento com dificuldade e diminuição no apetite. Foi atribuída uma pontuação de 0-3 para cada quesito, somando um total de 9. Havendo sido efetuado também o acompanhamento semanal do peso.

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Os dados foram expressos em médias + desvio padrão e submetidos à análise de variância (ANOVA), comparados pelo teste de Tukey (P<0,05).

Como o tamanho do trato genital da ovelha apresenta desproporção ao tamanho das vísceras gastrointestinais, existe uma grande dificuldade de se localizar os ovários dentro da cavidade. Isto resultou no tempo de cirurgia de 75,83±29,5 min. para a OL, 40±13,04 min. para a OVA e 27,5±2,887 para a OTV, havendo diferença estatística entre a OL e as técnicas de vídeolaparoscopia, contudo não ocorrendo diferença entre OVA e OTV (p<0,05 para OVA vs OL, p<0,01, para OL vs OTV e p>0,05 para OVA vs OTV). Resultado semelhante ocorreu nas pontuações da escala de dor, que foram de 6,3±1,2 (OL), 0,3±0,5 (OVA) e 0,3±0,5 (OTV), p<0,05 para OVA vs OL, p<0,01 para OL vs OTV e p>0,05 para OVA vs OTV. O peso não variou significativamente durante o período de avaliação (30 dias) para nenhuma das técnicas (p>0,05).

Ambas as técnicas videolaparoscópicas foram menos invasivas, pois se executaram incisões menores que na OL, sendo que o uso de um laparoscópio com canal de trabalho, utilizado na OTV, subtraiu um portal. Esse benefício foi observado também em comparação de cistotomias convencionais e laparoscópicas em carneiros e ovariectomias em vacas (FRANZ et al., 2009). Ainda que o protocolo anestésico promova analgesia, as técnicas videolaparoscópicas apresentam menos desconforto doloroso em relação à OL. Embora o estresse doloroso não cause alteração no peso, os animais submetidos à OVA e OTV apresentaram melhor pós-cirurgico que os submetidos à OL.

A OVA e a OTV apresentaram grande vantagem em relação OL por ser um processo minimamente invasivo, proporcionando mínimo desconforto e ótima recuperação das ovelhas, sendo recomendado, pois causa mínimo estresse e decréscimo na produção animal.

Referências

1. BOURÉ L (2005). General Principles of Laparoscopy. Vet Clin Food Anim 21, 227–249.

2. Fitzpatrick J., Scott M., NolanA. 2006. Assessment of pain and welfare in sheep. Small Rumin.Res. 62:55–61

3. FRANZ S et al. (2009). Laparoscopic-assisted cystotomy: an experimental study in male sheep. Vet. Med., 54, (8): 367–373.

4. LUNA SPL (2008). Dor, senciência e bem-estar em animais. Ciênc. vet. tróp. (11)1:17-21.

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MODELO DE TRAUMA MEDULAR CONTUSIVO EXPERIMENTAL PARA

RATOS PROMOVE LIBERAÇÃO AGUDA DE GLUTAMATO*

AMODELOFCONTUSIVESPINALCORDINJURYFORRATSPROMOTEACUTERELEASEOFGLUTAMATE

FUKUSHIMA,F.B.451;LAVOR,M.S.L.1;CALDEIRA,F.M.C.1;ROSADO,I.R.1;SILVA,J.F.1;ASSUMPÇÃO,A.L.F.V.1;MELO,E.G.1

Palavras-chave: trauma medular, excitotoxicidade, glutamato Key words: spinal injury, excitotoxicity, glutamate Introdução

O trauma medular espinhal (TME) agudo é um evento catastrófico que acomete tanto humanos quanto animais e pode resultar em sequelas permanentes no indivíduo1. Na medicina veterinária, em especial, além do sofrimento, as lesões espinhais muitas vezes acarretam a eutanásia do animal2. Neste contexto, modelos experimentais com metodologias variadas foram desenvolvidos para compreender os mecanismos envolvidos na injúria à medula e, assim, possibilitar o desenvolvimento de protocolos terapêuticos. O primeiro modelo de TME contusivo foi descrito por Allen em 1911 e consistia em um peso em queda livre sobre a medula espinhal. Este modelo apresentou modificações ao longo dos anos, a fim de se desenvolver técnica reprodutível, simples e de baixo custo1,3,4. Diversos estudos e observações clínicas de injúria medular aguda demonstraram a ocorrência de um processo denominado lesão primária, geralmente de natureza irreversível, decorrente da transferência de energia cinética do trauma para a medula espinhal. Em seguida, são observados eventos secundários, que também contribuem para as consequências do traumatismo e abrangem uma seqüência de reações bioquímicas e celulares. Dentre os mecanismos de lesão secundária que se estabelecem minutos ou horas após uma lesão traumática, destaca-se o aumento da concentração de aminoácidos excitatórios no ambiente extracelular, em especial o glutamato5. A estimulação excessiva de receptores pelo glutamato, principalmente N-metil-D-aspartato (NMDA), inicia eventos celulares que induzem a morte neuronal próxima à área de lesão. A ativação glutamatérgica de receptores específicos aumenta o influxo neuronal de cálcio, que exerce papel crucial na regulação intracelular de sódio e potássio, na ativação de diversas enzimas fundamentais ao metabolismo e na sobrevivência neuronal, bem como na liberação de neurotransmissores na fenda sináptica6. Deste modo, o objetivo deste trabalho foi validar um modelo experimental de trauma medular espinhal

45 Escola de Veterinária - Universidade Federal de Minas Gerais. *Projeto Financiado pelo CNPq . e-mail:

[email protected]

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contusivo em ratos, desenvolvido pela Escola de Veterinária da UFMG, através da dosagem de glutamato no líquido cefalorraquidiano e de avaliação clínica da capacidade motora em campo aberto. Metodologia

Foram utilizados 21 ratos machos adultos, pesando em média 350g. Os animais receberam ração comercial para roedores (Nuvilab® CR-1, Nuvital Nutrientes S/A) e água ad libitum, sendo submetidos a ciclos de claro-escuro de 12 horas. Os animais foram distribuídos em três grupos: controle (n=5), laminectomia (n=8) e trauma (n=8). No grupo controle (CT), os animais foram anestesiados com isoflurano em máscara e, após atingirem plano anestésico cirúrgico, foi realizada a punção no espaço atlantooccipital para colheita de 80 µl de líquor, seguida de eutanásia por sobredose de tiopental sódico (Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda.). Nos grupos laminectomia (LM) e trauma (TR), os animais foram anestesiados de igual forma e posicionados em decúbito esternal no aparato para trauma medular com aquecimento, de modo a manter constante a temperatura corporal. Seguiu-se incisão

de pele e de tecido subcutâneo na linha média dorsal e incisão e afastamento lateral das inserções dos músculos epiaxiais. Foram realizadas a ostectomia do processo espinhal de T12 e a retirada da lâmina dorsal (laminectomia) da respectiva vértebra. No grupo LM foi realizado apenas este procedimento e no grupo TR, após a abertura da lâmina dorsal e visualização da medula espinhal, o aparato foi ajustado de modo a permitir o posicionamento da haste metálica no centro na laminectomia. A haste graduada em intervalos de 5 mm foi confeccionada de aço inoxidável, com peso de 10g, extremidade de 2,3 mm de diâmetro e bordas arredondadas. O trauma mecânico foi provocado sobre a dura-máter pela queda livre da haste metálica a uma altura de 150mm. Após a contusão, realizou-se a aproximação dos músculos seccionados, redução de espaço morto e sutura de pele. Ao término do procedimento cirúrgico, os animais foram mantidos em plataforma de aquecimento até completa recuperação anestésica. Após 50 minutos do trauma medular, três animais dos grupos LM e TR foram novamente anestesiados com isoflurano para colheita de líquor e eutanásia, como descrito para o grupo CT. As amostras de líquor foram imediatamente processadas para dosagem enzimática dos níveis de glutamato. A técnica consistiu na avaliação da fluorescência emitida devido à produção de NADPH na presença de glutamato desidrogenase e NADP+7. A emissão da fluorescência foi medida em um espectrofluorímetro (Shimadzu RF-5301 PC) com excitação ajustada no comprimento de onda de 360 nm e emissão em 450 nm.

Adicionalmente, cinco animais dos grupos LM e TR foram utilizados para classificação do TME através da avaliação da capacidade motora em campo aberto8. Os animais foram filmados durante três minutos e os vídeos foram apresentados a dois observadores, sem conhecimento do grupo a que pertenciam, caracterizando estudo duplo-cego. Estes animais receberam 5mg/kg de cloridrato de tramadol a cada oito horas (Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda), por via oral, para controle da dor pós-operatória.

Para análise estatística, os dados referentes aos níveis de glutamato foram convertidos em logaritmo e submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Student-Newman-Keuls (SNK). Os escores da capacidade

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motora foram analisados pelo teste de Mann-Whitney, sendo adotado como nível de significância 5%.

Resultados

O aparato descrito no presente estudo permitiu a realização de trauma medular contusivo experimental reprodutível em ratos, de grau moderado a grave. Tal fato foi confirmado pela alteração significativa do escore BBB de deambulação em campo aberto 24 horas após o trauma. No grupo LM, a mediana do escore BBB foi 21 e, no TR 1. Adicionalmente, observou-se aumento significativo na concentração de glutamato no líquor dos animais do grupo CT (3,8±1,5 pmol/g de proteína), em relação ao LM (56,6±18,4 pmol/g de proteína) e ao TR (159,4±55,0), bem como entre LM e TR (Fig.1) (p<0,01). Discussão

A avaliação da capacidade locomotora pela escala BBB mostrou déficit neurológico de moderado a grave (escore 1) apenas no grupo TR, caracterizado por paraparesia dos membros posteriores, com movimentação discreta de uma ou duas articulações8. Com relação à dosagem de glutamato, houve neste grupo aumento agudo significativo, que levou ao quadro de excitotoxicidade, caracterizado na literatura por aumento do influxo de cálcio e morte celular6, o que pode justificar tal exame clínico. Por outro lado, a elevação deste neurotransmissor no grupo laminectomia provavelmente ocorreu devido ao estímulo doloroso provocado pela própria intervenção cirúrgica, sem contudo evidenciar redução da capacidade motora (escore 21). Este resultado era esperado, já que a laminectomia foi realizada de forma cautelosa, de modo a não causar lesão iatrogênica. Conclusões

O aparato desenvolvido pela Escola de Veterinária da UFMG é capaz de realizar trauma medular contusivo experimental moderado a grave, com liberação aguda de glutamato.

Figura 1: Concentração de glutamato no líquor de ratos nos grupos controle, laminectomia e trauma (p<0,01).

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INFLUÊNCIA DE DIFERENTES NÍVEIS DE PEEP NOS PARÂMETROS CARDIOPULMONARES DE SUÍNOS SUBMETIDOS À PRESSÃO DE

INSUFLAÇÃO INTRATORÁCICA

INFLUENCEOFPEEPONCARDIOPULMONARYPARAMETERSINPIGSUNDERGOINGVIDEO‐ASSISTEDTHORACOSCOPYWITHDIFFERENTINTRATHORACICINSUFFLATIONPRESSURES

CAVALCANTI,R.L.46;SERPA,P.B.47;QUEIROGA;L.B.1;CROSIGNANI.N.1;GEHLEN;K.1;ESTRELLA,J.P.1&NATALINI;C.C.48

Palavras-chave: PEEP, parâmetros de oxigenação, pressão de insuflação torácica. Keywords: PEEP, oxygenation parameters, intrathoracic insufflation pressure. Introdução

A adequada visualização e manipulação cirúrgica em videotoracoscopia requerem o colapso total ou parcial do pulmão ipsilateral, geralmente obtido pela intubação pulmonar seletiva (IPS)1. No entanto, IPS é uma técnica de custo elevado e de execução laboriosa, principalmente em espécies de menor porte por suas características anatômicas2. Uma alternativa à IPS é a ventilação pulmonar não seletiva (VPNS), associada à insuflação torácica (IT) com dióxido de carbono (CO2) no hemitórax do pulmão ipsilateral, o que acarreta alterações cardiopulmonares significativas1,3. Neste caso, a PEEP frequentemente melhora a oxigenação arterial1. A PEEP pode, entretanto, acarretar prejuízos à hemodinâmica, com reflexos na oxigenação arterial, de acordo com as pressões empregadas4. Baseando-se na hipótese que tanto a pressão de IT (PIT) quanto a PEEP podem interferir na oxigenação arterial, este estudo objetivou averiguar os impactos da associação de diferentes valores de PIT (0 e 5 mm Hg) e de diferentes valores de PEEP (5 e 10 cm H2O) em seis suínos (18,5 ± 1,38 Kg), machos e fêmeas, submetidos à toracoscopia do hemitórax direito com ventilação pulmonar convencional e anestesia geral inalatória com isoflurano (1,3 - 1,5 V%). Materiais e métodos: cateterização da artéria pulmonar através de um cateter de Swan-Ganz e um monitor multiparamétrico foram

46 Programa de Pós-graduação em Fisiologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);

47 Faculdade de Veterinária (Favet), UFRGS;

48 Departamento de Farmacologia - Instituto Ciências Básicas da Saúde (ICBS), UFRGS e Centro de Pesquisas do

Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Endereço para correspondência: [email protected]

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utilizados para monitorar os parâmetros hemodinâmicos durante o experimento, além da cateterização da artéria metatársica dorsal para colheita de sangue arterial. Os dados basais (controle) foram obtidos sob VM, sem uso de PIT com CO2 e PEEP. Cada animal foi anestesiado uma única vez, recebendo quatro tratamentos e servindo como seu próprio controle. A indução anestésica foi realizada com bolus de propofol, pela via intravenosa (5 mg/kg). Ato contínuo, os animais foram posicionados em decúbito dorsal, conectados ao circuito anestésico reinalatório e instrumentados para registro dos parâmetros das variáveis estudadas. Após a estabilização do plano anestésico, administrou-se pancurônio (0,1 mg/kg, IV) com início imediato da ventilação controlada à pressão com uma FiO2 de 1, objetivando-se a manutenção do valor de ETCO2 entre 35 e 45 mm Hg. Os parâmetros estudados incluíram pressão parcial de oxigênio no sangue arterial (PaO2), conteúdo arterial de oxigênio (CaO2)49, diferença alvéoloarterial de oxigênio (AaDO2), saturação arterial (SatO2), frequência cardíaca (FC), índices cardíaco (IC)50 e sistólico (IS)51, pressão arterial sistólica (PAS), média (PAM) e diastólica (PAD) e transporte de oxigênio (DO2)52. Os tratamentos foram divididos em cinco momentos (M), com modificação dos níveis da PIT e da PEEP, sendo cada momento separado por um período de tempo necessário para estabilização dos parâmetros fisiológicos: M0 (controle); M1 (PEEP 5 e IT 0); M2 (PEEP 10 e IT 0), M3 (PEEP 5 e IT 5) e M4 (PEEP 10 e IT 5). Equalização da pressão intrapleural com a pressão atmosférica (M1), assim como insuflação intratorácica, foram obtidas pela inserção de um trocarter valvulado de 12 mm no terço médio do oitavo espaço intercostal do hemitórax direito. Os resultados foram submetidos à análise de variância para medidas repetidas a fim de avaliar os efeitos do tratamento nas variáveis estudadas (p < 0,05). Resultados e discussão: O uso de PIT de 5 mm Hg associada à PEEP de 5 cm H2O (M3) produziu redução significativa da PaO2, do CaO2, além de aumento na AaDO2; a SatO2, no entanto, não se modificou. As variáveis hemodinâmicas, IC, IS, FC, PAS, PAD, PAM, bem como a DO2 não apresentaram diferença significativa em nenhum momento no decorrer dos tratamentos propostos. Os resultados demonstram que a PEEP de 10 cm H2O manteve valores superiores de oxigenação arterial em relação à PEEP de 5 cm H2O quando PIT de 5 mm Hg foi empregada, sugerindo possível mecanismo de reabertura de alvéolos atelectásicos e manutenção do arcabouço alveolar pela PEEP em M45. No presente estudo, obstante o fornecimento de oxigênio a 100%, foi possível perceber que, apesar da queda acentuada e progressiva dos valores da PaO2, os valores do CaO2 declinaram em proporção menor, visto que a SatO2 também reduziu de forma moderada, com as médias sempre acima do valor de 92%. Além disso, a fórmula do CaO2 prevê que seu maior participante constitui-se no oxigênio transportado ligado à hemoglobina (Hb), visto que a quantidade de oxigênio transportado aos tecidos em estado dissolvido normalmente é pequena6. Corroborando com Barton et al. (1996), que estudaram a patofisiologia do pneumotórax de tensão em suínos, houve redução significativa da PaO2 em M3, que, segundo este mesmo autor, pode ser explicada pelo aumento da fração do shunt

49 Conteúdo arterial de oxigênio (mL/dL) = (1,39 x concentração da hemoglobina (g/dL) x saturação de oxihemoglobina no sangue arterial, (%)) + (pressão parcial de oxigênio no sangue arterial x 0,003) 50 Índice cardíaco (L/min x m2) = débito cardíaco/área de superfície corpórea 51 Índice sistólico (L/min x m2) = índice cardíaco/frequência cardíaca 52 Disponibilidade de O2 (mL/min) = conteúdo arterial de oxigênio x débito cardíaco x 10

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intrapulmonar, resultando em perfusão sem ventilação7. O shunt, neste caso, pode ser consequência da compressão pulmonar e diminuição da área disponível para trocas gasosas pelo aumento da PIT, gerando áreas de atelectasia6. Adicionalmente, no presente estudo, os efeitos da PEEP – principalmente quando da utilização de 10 cm H2O - resultaram em, ao menos, manutenção da oxigenação arterial, com os valores médios da PaO2 permanecendo sempre acima de 60 mm Hg, bem como a SatO2 acima de 90%, valores superiores aos limites críticos para a ocorrência de hipoxemia arterial. Com a observação dos resultados dos parâmetros de oxigenação, pôde-se depreender que houve queda significativa do CaO2 quando PIT de 5 mm Hg foi empregada associada à PEEP de 5 cm H2O, e não de 10 cm H2O. Essa queda deveu-se, em maior parte, à redução da PaO2 neste tratamento o que, consequentemente, elevou a AaDO2, indicando incapacidade pulmonar de promover a adequada oxigenação do sangue arterial8. Mesmo em vista da queda do CaO2, esta redução não produziu valores de SatO2 média inferior a 90% pelas características da curva de dissociação da hemoglobina6. A IT com CO2 aumenta o colapso pulmonar no hemitórax ipsilateral; entretanto, pelo fato de a caixa torácica ser fechada, a IT aumenta a PIT, resultando em deterioração hemodinâmica pela redução do RV e do DC9. Da mesma forma, a utilização de PEEP pode trazer efeitos adversos para a hemodinâmica mediante o aumento da PIT, impedindo o RV e, consequentemente, causando diminuição do enchimento ventricular direito4,10. Entretanto, no presente estudo, o aumento da PIT, acarretado tanto pela PEEP quanto pela IT com CO2, , não culminou em impacto relevante na hemodinâmica. Em vista da manutenção dos parâmetros hemodinâmicos no presente estudo, bem como do CaO2, o total de oxigênio transportado que, por sua vez, é dependente do DC e do CaO2 não se alterou de forma significativa com os tratamentos propostos. Conclusões

A utilização de PEEP de 5 cm H2O associada à PIT de 5 mm Hg direita com CO2 resulta em significativo comprometimento dos parâmetros de oxigenação, em suíno submetido à toracoscopia sob ventilação não-seletiva e FiO2 = 1 sem, no entanto, acarretar hipoxemia arterial. Por outro lado, a utilização de PEEP de 10 cm H2O associada à PIT direita com CO2 de 5 mm Hg produz melhora na oxigenação arterial, em relação ao uso de PEEP de 5 cm H2O. A associação de PEEP de 5 e 10 cm H2O às PIT direitas de 5 e 10 mm Hg de CO2 não afeta de forma significativa a homeostase hemodinâmica e o DO2, em suíno submetido à toracoscopia sob ventilação não seletiva. Comissão de ética: estudo aprovado pelos comitês técnico e de ética do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA - UFRGS) sob o protocolo nº 07.288. Referências

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EMPREGO DE DUAS NOVAS TÉCNICAS DE REDUÇÃO DE PROLAPSO VAGINAL EM VACAS

EMPLOYMENTOFTWONEWTECHNIQUESFORREDUCTIONOFVAGINALPROLAPSEINCOWS

EMPLEODOSNUEVASTÉCNICASPARALAREDUCCIÓNDELPROLAPSOVAGINALENVACAS

HELLÚ,J.A.DEA.53;TONIOLLO,G.H.54

RESUMO

Entre as principais afecções da vagina dos animais domésticos destaca-se a inversão e prolapso vaginal, caracterizado pela saída da parede do órgão através da vulva, podendo ser em maior ou menor grau. Os tratamentos instituídos para correção dessa patologia dependem da gravidade de cada caso. Algumas técnicas convencionais como Caslick, Buhner, Flessa ou Mondino-Merck têm sido amplamente utilizadas, sem que apresentem êxito na correção definitiva do problema. Tendo ciência da casuística da patologia nos bovinos, entende-se a necessidade da proposição de novos tratamentos na correção definitiva da patologia. Com este trabalho objetiva-se, portanto, propor duas novas técnicas cirúrgicas na correção do prolapso vaginal, denominadas vaginectomia parcial e vaginopexia dorsal em vacas zebuínas. O estudo foi conduzido a campo, em diversas propriedades, dependendo da casualidade, em vacas zebuínas, em idade reprodutivae que apresentam a patologia. Até o presente momento, foram realizadas 321 cirurgias pela técnica de vaginectomia parcial com 90% de cura e 214 cirurgias pela técnica da vaginopexia dorsal, onde 98,6% obtiveram a cura de forma satisfatória. Os resultados ainda são parciais, mas tudo indica que há uma grande chance de sucesso dessas técnicas no tratamento do prolapso vaginal nos bovinos.

Palavras-chave: cirurgia; prolapso vaginal; vaginectomia; vaginopexia.

ABSTRACT

Among the main diseases of domestic animals include vagina, vaginal prolapse and inversion, which is appointed by the exit wall of the body through the vulva that can be greater or lesser degree. Treatments instituted for correction of this pathology depend

53 Doutorando Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Campus de Jaboticabal

Travessa José Coelho de Freitas, 1679 – Centro – Patrocínio Paulista-SP - [email protected]

54 Orientador: professor doutor titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, junto ao

Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal

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on the severity of each case and some conventional techniques such as Caslick, Buhner, Flessa or Mondino-Merck have been widely used, without presenting successful definitive correction of the problem. Taking science series of pathology in cattle, it is understood the necessity of the proposition of new treatments in the permanent correction of pathology. This work aims, therefore, propose two new surgical techniques for correction of vaginal prolapse, called partial vaginectomy and dorsal vaginopexy and Zebu Breed cattle. The study was conducted in the field on various properties, depending on chance, in Zebu Breed cows in reproductive age presenting pathology. To date 321 surgeries were performed by the technique of partial vaginectomy with 90% cure and 214 surgeries by the technique of dorsal vaginopexy, where 98.6% were healing satisfactorily. The results are still partial, but everything indicates that there is a greater chance for success of these techniques in the treatment of vaginal prolapse in cattle.

Key-words: surgery, vaginal prolapse; vaginectomy; vaginopexy.

INTRODUÇÃO

Nos ruminantes, é na vagina que o sêmen é depositado, sendo que a maior parte do plasma seminal é expelida ou absorvida. O canal do parto, local onde há a passagem do feto e seus invólucros, também tem a função de excretar as secreções cervicais, endometriais e tubáricas2.

Entre as principais afecções da vagina dos animais destaca-se a inversão e prolapso vaginal1,3,4,5, sendo descrita como uma patologia dos ruminantes associada ao terço final da gestação e ao puerpério, quando pode estar associada ao prolapso uterino1,4. O canino é a única espécie que apresenta a patologia sem que a causa esteja relacionada à gestação, mas sim em resposta do tecido vaginal ao aumento da concentração de estrógenos durante o proestro e estro4.

O prolapso vaginal é designado pela saída da parede do órgão através da vulva, podendo ser em maior ou menor grau, dependendo do caso. Sua etiologia está relacionada com o aumento do estrógeno circulante nas últimas semanas da gestação, o que induz ao relaxamento dos ligamentos pélvicos e perineais, associado ao aumento uterino gravídico, levando ao prolapso. Há que se considerar também que outras condições predispõem à patologia. A genética, presença de múltiplos fetos, traumas prévios na região perineal, idade avançada, piso do estábulo excessivamente inclinado, cistos ovarianos, alimentação rica em estrógenos e obesidade contribuem para o aparecimento do problema1,6,7.

Uma nova modalidade de patologia na obstetrícia é descrita por Prestes, et. al. (2008): o prolapso vaginal que não está associado à gestação nos bovinos, incluindo animais nos quais foram observados casos extremos de prolapso total da vagina com exteriorização da cérvix, contrariando todas as definições para esta patologia, até então, somente observada em animais prenhes. O prolapso em não gestantes pode ter origem multifatorial, algumas vezes não sendo possível ser estabelecida a causa. Geralmente ela está ligada a uma vaginite, que pode ser causada tanto por lesões vaginais devido ao acesso ovariano via transvaginal em técnicas de aspirações foliculares, quanto, nos animais elite, como consequência do regime alimentar e do

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sedentarismo, quando os animais acumulam gordura em excesso, provocando aumento de pressão intrapélvica e períneo, principalmente quando estão em decúbito. Essa exteriorização da mucosa vaginal quando em contato com fezes ou com a cama dos animais pode levar a uma inflamação local, que vai levar ao aumento do peristaltismo na tentativa de expulsar os corpos estranhos, levando à exteriorização de segmentos ainda maiores da mucosa vaginal.

O tratamento instituído para correção dessa patologia depende da gravidade de cada caso. Algumas técnicas convencionais como as de Caslick, Buhner, Flessa ou Mondino-Merck têm sido amplamente utilizadas para o tratamento, sem que apresente pleno êxito na correção definitiva do problema, já que as recidivas geralmente acontecem6,7.

Considerando-se estas afirmativas e tendo ciência da casuística da patologia nos bovinos, entende-se a necessidade da proposição de novos tratamentos na correção definitiva da patologia.

Com este trabalho objetiva-se, portanto, propor duas novas técnicas cirúrgicas na correção do prolapso vaginal, denominadas vaginectomia parcial e vaginopexia dorsal em vacas zebuínas.

METODOLOGIA

O estudo será conduzido a campo, em diversas propriedades, dependendo da casualidade, em zebuínas com idade reprodutiva. Os animais que apresentarem a patologia serão selecionados, permanecendo sempre em suas propriedades, recebendo a alimentação que está adaptada e água ad libidum.

O diagnóstico do prolapso vaginal será realizado por meio da anamnese e dos sintomas. O estágio que se encontra o prolapso deverá ser estabelecido, podendo assim, ser eleita a técnica cirúrgica adequada para o tratamento (Tabela 1 e Figura 1).

Tabela 1 – Definição da técnica cirúrgica.

Estágio do prolapso Técnica cirúrgica

1° estágio ou Grau 1 (Fig. 1) Vaginectomia parcial

2° estágio ou Grau 2 (Fig. 2)

Vaginopexia dorsal 3° estágio ou Grau 3 (Fig. 3)

Previamente ao procedimento cirúrgico, os animais serão submetidos a jejum alimentar e hídrico por um período de 12 horas. Deverá ser realizada a tricotomia e assepsia na região sacrococcígea, movimentando a cauda para cima e para baixo

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para identificação do local e então, colocada uma agulha em ângulo de 45 graus com a coluna vertebral. Após inserção da agulha, deverá ser depositado 0,1 mL de anestésico no canhão da agulha e, quando alcançar o espaço epidural, haverá sucção do líquido. Não haverá resistência para injeção do anestésico se a agulha estiver bem posicionada. Administrar entre a primeira e segunda vértebra coccígea 1 mL para cada 100 kg de peso corporal do anestésico Bloc55 (equivalente a 0,2 mg/kg lidocaína e 0,004 mg/kg de xilazina), mantendo o animal em posição quadrupedal.

Na técnica cirúrgica vaginopexia dorsal, sobre o músculo glúteo médio e o músculo gluteobíceps (locais das incisões), serão realizados três botões anestésicos com 10 mL de Bloc, sendo aplicados 5 mL superficialmente e 5 mL profundamente na musculatura, com auxílio de seringa e agulha 40 x 1,2 estéreis.

Vaginectomia parcial

A técnica da vaginectomia parcial será destinada ao tratamento do prolapso vaginal de primeiro estágio, onde é realizada a exérese do tecido flácido da mucosa vaginal e dos tecidos adiposos perivaginais que estão parcialmente prolapsados.

Após a devida contenção do animal e a realização do protocolo anestésico, será feita a antissepsia de toda a região perineal e vaginal com degermantes e antissépticos (PVPI). Com auxílio de pinças de Kocher, será exteriorizado o tecido vaginal acometido e realizada novamente a antissepsia da mucosa com iodopolividona. Com uma pinça de conchectomia, será fixado o tecido a ser retirado, próximo à mucosa vaginal íntegra. Na sequência, será utilizada uma linha de sutura de hemostasia com o fio absorvível Vicryl nº 256 no tecido íntegro que se localiza atrás da pinça. Assim, com auxílio de um bisturi elétrico57 será retirado todo o tecido acometido e realizada a aproximação da parede vaginal incisada com uma sutura simples contínua, utilizando Catgute cromado nº 4.

Finalmente, as pinças serão removidas, reposicionando a vagina e verificando se há algum sangramento e se o meato urinário não foi obstruído.

Vaginopexia dorsal

A vaginopexia dorsal destina-se ao tratamento do prolapso de segundo e terceiro estágio, no qual toda a vagina, cérvix e até mesmo o útero podem estar prolapsados. A técnica visa a fixar a parede vaginal nos ligamentos sacrotuberais, evitando assim que o prolapso ocorra.

Com os animais em posição quadrupedal, devidamente contidos, será realizada a anestesia epidural, antissepsia do períneo, vagina e de toda região caudal e tuberosidade sacral com degermante. Se o tecido vaginal estiver prolapsado, será preciso reposicioná-lo. Serão necessárias três incisões para a fixação da vagina. Para

55Bloc–ProdutosVeterináriosJ.A.

56Polycryl.

57Medcir–BM560.

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isso, deve-se realizar a tricotomia da região sobre os músculos glúteos, estendendo-se paralelamente às vértebras sacrais e caudais, desde a tuberosidade sacral até a tuberosidade isquiática, medindo aproximadamente 4 cm de largura. A seguir serão realizados três botões anestésicos na região tricotomizada, aplicando 5 mL superficialmente e 5 mL profundamente. Com o bisturi serão feitas três incisões na pele no sentido craniocaudal, de aproximadamente 3 cm cada uma, com 5 cm de espaçamento entre elas.

Em seguida, será inserido um espéculo vaginal tubular no reto do animal, prendendo-a ao ânus com fio de nylon nº 258, em sutura de bolsa de fumo. Essa medida facilitará a localização e deslocamento do reto no momento da sutura vaginal, evitando a sua transfixação. Ato contínuo, será colocada a mão pela vagina do animal, desviando-a do reto e posicionando sua parede dorsal próxima ao ligamento sacrotuberal. Deve-se então introduzir uma abraçadeira de nylon59 presa a uma agulha do tipo Gerlach longa no local da primeira incisão, orientando-a pela musculatura e pelo ligamento sacrotuberal até alcançar a luz vaginal, onde é desconectada. Ainda pela mesma incisão, introduz-se do mesmo modo a agulha até alcançar a luz vaginal, conectando e levando a abraçadeira novamente à incisão superior, onde serão unidas as duas extremidades, lacrando-a e retirando a ponta excedente.

A incisão será aproximada com a utilização de ponto simples separado com fio inabsorvivel nylon nº 2, deixando a abraçadeira sob a pele. Repete-se a mesma operação nos outros dois pontos incisados, obtendo assim, uma adequada fixação da vagina, diminuindo a chance de recidivas.

As abraçadeiras poderão causar rejeições em alguns animais, facilitando a ocorrência de abscessos que podem fistular no dorso ou na vagina do animal; neste caso as mesmas serão removidas. As abraçadeiras permanecerão por um período de 60 a 90 dias, para que haja fibrose local, fixando a vagina ao ligamento sacrotuberal. Nos casos em que não se observa rejeição, não será necessário retirá-las.

Pós-operatório

No período pós-operatório será administrado 1 mL para cada 40 kg de peso vivo de Diclotril60 pela via intramuscular a cada 24 horas durante sete dias, o que corresponde a 2,5 mg de Cloridrato de Enrofloxacina e 0,75 mg de Diclofenaco de Sódio.

Além disso, os animais ficarão alojados em piquetes, isolados de outros animais, por sete dias, sendo administrado um cicatrizante repelente nas feridas cirúrgicas.

Na técnica da vaginopexia dorsal, os pontos são retirados dez dias após o

58Polysuture.

59Foxlux–380x5mm.

60ProdutosVeterináriosJ.A.

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procedimento cirúrgico.

RESULTADOS PARCIAIS

Até o presente momento foram desempenhadas 535 cirurgias para redução do prolapso vaginal em bovinos, sendo que 321 delas foram realizadas pela técnica de vaginectomia parcial (60%) e 214 pela técnica da vaginopexia dorsal (40%), não ocorrendo nenhuma complicação durante os períodos trans e pós-operatório.

A técnica “vaginectomia parcial” mostrou-se eficiente em 90% dos casos, permitindo a cura de forma satisfatória.

Nos animais que apresentavam prolapso vaginal de 2º e 3º estágio e foram tratados pela técnica cirúrgica “vaginopexia dorsal”, em 98,6% dos casos a correção da afecção foi plenamente satisfatória.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados ainda são parciais, mas tudo indica que há uma grande chance de sucesso dessas técnicas no tratamento do prolapso vaginal nos bovinos. A técnica em questão é o tema de doutorado do Prof. Mestre José Abdo de Andrade Hellú.

REFERÊNCIAS

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5 Prestes NC, Alvarenga FCL. (2006). Obstetrícia Veterinária. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan Ltda, 149-155.

6 Prestes NC et al. (2008). Prolapso total ou parcial de vagina em vacas não gestantes: uma nova modalidade de patologia? Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, 32(3), 182-190.

7 Toniollo GH, Vicente WRR. (2003). Manual de obstetrícia veterinária. São Paulo: Varela. 124p.

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Figura 1 – A: Prolapso de Grau 1, B: Prolapso de Grau 2, C: Prolapso de Grau 3.

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PENECTOMIA COMO TRATAMENTO DE PROLAPSO PENIANO EM JABUTI DE PATAS VERMELHAS (GEOCHELONE CARBONARIA)

ATENDIDO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA ULBRA: RELATO DE CASO

PENECTOMYASTREATMENTOFPENISPROLAPSEINREDFOOTEDTORTOISE(GEOCHELONECARBONARIA)ATULBRAVETERINARYHOSPITAL:CASEREPORT

INGRIDHÖRLLESCHEIN¹,TATIANAREGINALICHMANN¹,SABRINACASTILLOTABAJARA¹,JAIRORAMOSDEJESUS²,KARINEGEHLENBAJA3

RESUMO

O Geochelone carbonaria, mais conhecido como Jabuti de patas vermelhas, é um quelônio de hábitos terrestres encontrado em zonas tropicais da América do Sul. Dentre as patologias de grande frequência e importância nesta espécie está o prolapso peniano, que acomete os quelônios quando mantidos em cativeiro. Muitas vezes, os animais são atendidos tardiamente, com exposição dos tecidos prolapsados, já comprometidos. Nestes casos, opta-se pela amputação do pênis. Este trabalho descreve o caso de um Jabuti de patas vermelhas com prolapso peniano atendido no Hospital Veterinário da Ulbra, Canoas. Como o tecido apresentava-se desvitalizado e frio, indicando isquemia, optou-se pela penectomia. Foi realizada anestesia geral deste paciente com o uso de butorfanol e quetamina pela via intramuscular e manutenção com uso de isoflurano para realizaçaõ da penectomia. O tratamento cirúrgico promoveu a resolução do prolapso peniano. O paciente apresentou uma recuperação pós- operatória rápida, com retorno às atividades normais. Descritores: Jabuti, quelônio, penectomia, prolapso, pênis.

Introdução

A criação de quelônios como animais de estimação está trazendo-os cada vez mais para a clínica veterinária².

A espécie Geochelone carbonaria, cujo nome vulgar é “jabuti de patas vermelhas”, pertence à classe Reptilia, subclasse Anapsida (animais com o teto do crânio sólido, sem aberturas atrás do olho). Esta família é representada por doze gêneros e cerca de quarenta espécies, todas terrestres 6.

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Os jabutis de patas vermelhas são quelônios de hábitos terrestres6, esta espécie é protegida por lei, sendo amplamente criada em cativeiro, e, representa uma grande proporção dos pacientes atendidos na clínica de animais silvestres 7.

O estudo destes répteis vem ganhando cada vez mais importância, tanto por questões conservacionistas quanto pelo aumento do interesse por sua utilização como animais de companhia7.

No Brasil, o Jabuti de patas vermelhas é, provavelmente, o quelônio que mais tem sido mantido em cativeiro como animal de estimação devido a fatores culturais e amplo comércio ilegal8. Uma das mais freqüentes causas de doenças ou processos patológicos entre estes animais são as péssimas condições de manejo a que na maioria das vezes são submetidos9. Enfermidades associadas ao sistema reprodutor, como distocia, prolapso peniano, prolapso da cloaca, cólon, bexiga e oviduto, são um dos principais problemas que acometem esses animais quando mantidos em cativeiro1,7 .

O pênis é um órgão copulatório bem desenvolvido, de tecido fibroso, largo e único; consiste da glande e de dois corpos cavernosos que formam uma calha por onde passa o sêmen. A musculatura retratora mantém o órgão copulador posicionado no assoalho ventromedial do proctodeo3,5,10.

O tecido peniano é altamente vascularizado e quando invertido, sai do proctodeu e é introduzido na cloaca da fêmea, tornando-se ingurgitado. O ducto deferente segue ao lado do ureter até a cloaca e passa pelo sulco ventral. O músculo retrator peniano traz o pênis de volta para a cloaca5,10.

Os quelônios tem sistema circulatório porta-renal³. As artérias ilíacas internas, em cada antímero, bifurcam-se enviando um ramo para os genitais, outro para a cloaca e um para a bexiga urinária em ambos os sexos6 .

Na cópula, o órgão é exteriorizado por pressão sanguínea. A exposição prolongada do pênis com consequente lesão por abrasão e traumatismo é um problema comum em jabutis. O pênis dos quelônios difere dos mamíferos por não possuir uretra, sendo, portanto um órgão com função unicamente copuladora³.

O prolapso de pênis é relativamente freqüente nos jabutis5. Quando não há retração, ocorrem traumatismos, lesões e edemas que podem evoluir para isquemia, necrose e toxemia4.

As causas para esta condição são múltiplas, tais como trauma, inflamação, infecção, hiperparatireoidismo secundário nutricional, déficit neurológico ou traumático envolvendo o músculo retrator peniano ou esfíncter cloacal, parasitas intestinais, cálculo vesical ou cloacal e separação forçada durante a cópula5.

Nos estágios iniciais de prolapso peniano é possível a redução do edema e a reposição para dentro da cloaca4 ,5.

A apresentação clínica mais comum é de um estágio mais avançado, pois os animais são trazidos tardiamente. Nestes casos, o pênis prolapsado apresenta acentuado edema, com possíveis áreas de necrose e infecções bacterianas, tornando

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a redução do prolapso impossibilitada e contraindicada. Sendo indicado o tratamento cirúrgico de amputação peniana, pois a necrose do pênis causa toxemia, septicemia e morte4,5,³.

O procedimento é realizado, em geral, com o animal sedado e com anestesia epidural. Após assepsia, o pênis é exposto e os corpos cavernosos são ligados individualmente com ligaduras em massa com fio absorvível durável. Os pontos e amputação são realizados cranialmente ao tecido sem vitalidade, que deve ser todo removido. São feitas suturas na extremidade do coto antes de posicioná-lo no interior da cloaca³.

No pós operatório, recomenda-se tratamento antibiótico amplo espectro via parenteral, fluido e soluções antissépticas ou cremes cicatrizantes no local da incisão, antiinflamatório, analgésico e a manutenção do paciente em ambiente que forneça conforto térmico³.

O objetivo deste trabalho é descrever um caso de prolapso peniano em Jabuti de patas vermelhas (Geochenole carbonaria) atendido no HV-Ulbra, tratado cirurgicamente através da amputação peniana.

Relato de caso

Foi atendido no HV-ULBRA, um quelônio, espécie Geochelone carbonaria, cujo nome vulgar é “jabuti de patas vermelhas”, macho, 6 anos, 1,6 Kg de peso, oriundo do Zoológico de Canoas-RS. Durante anamnese o proprietário relatou que o animal apresentava prolapso peniano já há alguns dias, não sabendo se havia histórico de parasitismo, cópula com fêmea ou algum tipo de trauma.

O exame clínico evidenciou prolapso peniano, este apresentava-se eritematoso, de aspecto friável, sem secreção purulenta, apresentando grave edema, mucosa fria, com escoriações e provável comprometimento vascular.

Foi realizada coleta de amostra sanguínea. O exame demonstrou valores fisiológicos normais para a espécie, porém apresentou raros heterófilos tóxicos, rubrícitos policromatofílicos e linfócitos ativos.

O quelônio foi internado recebendo: enrofloxacina na dose de 5mg/kg pela via intramuscular à cada 12 horas e cetoprofeno na dose de 2mg/kg pela via intramuscular à cada 24 horas. Foi realizado lavagem abundante com solução fisiológica, sendo feita compressa com gelos em cubos e colocada em sua superfície açúcar, com o intuito de diminuir o edema da área prolapsada, para posterior amputação peniana.

O animal foi encaminhado para o bloco cirúrgico. Recebendo como medicação pré-anestésica butorfanol na dose de 0,2 mg/kg/IM e quetamina na dose de 30mg/Kg, ambos sendo aplicados na região muscular do membro anterior direito. A indução foi realizada com o agente volátil isoflurano. O animal foi intubado e o plano anestésico foi mantido com isoflurano.

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O paciente foi posicionado na mesa cirúrgica em decúbito dorsal, a protrusão foi elevada pelo auxiliar do cirurgião com tração manual, e, foi realizado duas ligaduras, transfixando o pênis, nos dois corpos cavernosos, com fio categute 0. O tecido prolapsado foi pinçado com clamp intestinal de Doyen caudalmente as ligaduras e, a amputação foi realizada com transecção da massa com auxílio de um bisturi. O tecido em excesso foi removido com auxílio de uma tesoura de mayo, e, a mucosa foi suturada com mesmo fio em uma sutura contínua simples. O coto foi inspecionado quanto à sangramentos, e o restante do pênis foi reposicionado em seu local de origem.

O procedimento cirúrgico teve duração de 10 minutos. Aproximadamente 3 minutos após o término do procedimento, o paciente já apresentava-se com reflexo de deglutição, e aos 4 minutos, o paciente apresentava-se com reflexo positivo ao pinçamento cutâneo. Após 10 minutos, o paciente apresenta-se com reflexo de retirada do pescoço.

No pós-operatório imediato foram aplicados enrofloxacina e cetoprofeno. O paciente foi liberado do bloco após 20 minutos do término do procedimento. Foi encaminhado ao setor de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) préviamente aquecido, para que conseguisse recuperar-se completamente da anestesia. Após sua recuperação anestésica, o animal teve alta e retornou ao zoológico da cidade, sendo indicado manter o tratamento com enrofloxacina e cetoprofeno.

Discussão

Em quelônios, é necessária a diferenciação de prolapso peniano de prolapso de cloaca, bexiga e intestino5. O exame clínico e resultado de exames laboratoriais convergiram para o diagnóstico de prolapso peniano. Conforme a grande maioria dos autores este tipo de patologia é muito comum nesta espécie3,4,5.

O prolapso peniano é um dos principais problemas que acometem esses animais quando mantidos em cativeiro1,7. Uma das condições para que isso ocorra é o péssimo manejo ambiental e alimentar a que são submetidos1,5,7,9. Neste caso, o animal era mantido em cativeiro no zoológico da cidade.

Neste relato de caso, após o prolapso peniano, não houve retração peniana, e, segundo a literatura, nestes casos podem ocorrer traumatismos, lesões e edemas que podem evoluir para isquemia, necrose e toxemia4.

As causas para esta condição são múltiplas, como trauma, inflamação, infecção hiperparatireoidismo secundário nutricional, déficit neurológico ou traumático envolvendo o músculo retrator peniano ou esfíncter cloacal, parasitas intestinais, cálculo vesical ou cloacal e separação forçada durante a cópula5. Não foi descoberta a causa deste prolapso no caso em questão.

A limpeza do pênis prolapsado e a redução do edema com compressas frias parecem resolver o problema em grande parte dos casos quando associados com sutura da cloaca5. Neste relato, o uso de compressas frias foi realizado para minimizar a inflamação pós cirúrgica, pela redução prévia do edema, pois a amputação era necessária pela isquemia peniana. De acordo com a literatura consultada, em

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estágios mais avançados, como na maioria dos casos, quando os animais são trazidos tardiamente com exposição dos tecidos que se apresentam edemaciados5, com áreas de necrose, infecções bacterianas e exsudato inflamatório, torna-se impossível a redução do prolapso do pênis4.

O procedimento é realizado, em geral, com o animal sedado e com anestesia epidural. È realizada assepsia, o pênis é exposto e os corpos cavernosos são ligados individualmente com ligaduras em massa com fio absorvível durável³. Neste caso, não foi realizada anestesia epidural, porém o paciente mostrou-se em um bom plano anestésico para a cirurgia e teve uma recuperação rápida pós cirúrgica.

No pós operatório recomenda-se tratamento antibiótico amplo espectro via parenteral, fluido e soluções antissépticas ou cremes cicatrizantes no local da incisão, antiinflamatório, analgésico e a manutenção do paciente em ambiente que forneça conforto térmico³. Foi utilizado antibioticoterapia e antiinflamatório parenteral, contudo não foi utilizado agentes tópicos, diferente do sugerido.

Conclusão

Casos de prolapso peniano em jabutis de patas vermelhas são comuns na rotina clínica de animais silvestres. É necessário um diagnóstico preciso para que seja possível identificar e remover a causa deste prolapso, determinando o estágio e a severidade da doença. Apesar da terapia clínica ser recomendada, somente a amputação de fato gerará a cura do paciente quando houver comprometimento tecidual irreversível.

Neste caso o procedimento cirúrgico promoveu a resolução da doença e uma melhora rápida do paciente, que voltou a se alimentar normalmente. Frente à gravidade do quadro com o qual o animal se apresentou, a evolução foi considerada muito favorável.

Acreditamos que realizando o estudo desses animais, elucidando caso clínico e cirúrgico de prolapso peniano, facilitará o entendimento da fisiologia reprodutiva destas espécies, possibilitando uma atuação mais efetiva e precisa do clínico e cirurgião veterinário.

Referências

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USO DE ÂNCORA NA REDUÇÃO ABERTA DA LUXAÇÃO COXOFEMORAL. RELATO DE CASO

Useofanchorinopenreductionofcoxofemoralluxationindogs.Acaserepor

MEIRELLESV.M.61;SPOSITOG.C.62;PADILHAFILHOJ.G.63

Palavras-chave: âncora, luxação coxofemoral, cães.

Key Words: anchor, coxofemoral luxation, dogs.

Introdução

A luxação coxofemoral (LCF), também denominada como luxação de quadril, é uma lesão traumática comum, representando cerca de 50% a 90% de todas as luxações articulares1,2,3,4 sofrida por cães, geralmente resultante de traumatismos externos na pelve5. A luxação craniodorsal é o deslocamento traumático mais comum em pequenos animais6.7. Ao exame físico, o animal poderá apresentar dor à palpação, deformidade, crepitação e movimentação anormal ou limitada do membro pélvico acometido8, 3. Para o diagnóstico, são sugeridas as projeções ventrodorsal e laterolateral a fim de definir o tipo de luxação9. O diagnóstico diferencial inclui subluxação aguda da articulação CF secundária a displasia CF (DCF), fratura da fise da cabeça femoral, fraturas de colo femoral e acetábulo 4. O tratamento da luxação coxofemoral objetiva a estabilização da articulação para que ocorra reparação do tecido mole e recuperação funcional do membro8. Muitos métodos foram descritos para o tratamento da LCF. Eles dividem-se em redução fechada9, para recolocar a cabeça do fêmur dentro do acetábulo ou redução aberta, a qual é realizada por meio de cirurgia10,4. Dentre as técnicas cirúrgicas pode-se destacar a capsulorrafia, transposição trocantérica, cápsula prostética ancorada, suturas íliofemorais, pino transacetabular, pino moldado em cavilha, como formas de salvamento da articulação. Como opção para salvar a deambulação, pode-se optar pela ressecção da cabeça e colo de fêmoral2,8, 3. Este trabalho objetiva reportar um caso onde foi realizada técnica intra-articular para a redução da LCF com o uso de uma âncora. Esta técnica consiste em uma substituição do ligamento redondo da cabeça do fêmur por uma prótese, para manter a redução da articulação até o tecido periarticular fibroso estar maduro o

61 Pós-graduanda (doutorado) Cirurgia Veterinária/FCAV/Unesp-Jaboticabal

62 Médico veterinário anestesista/HV-Unip-SJC

63 Prof. Ass. Dr. CCPA /FCAV/Unesp-Jaboticabal. E-mail: [email protected]

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suficiente para manter a redução da articulação. A âncora é afixada ao acetábulo por meio de uma chave especial.

Um cão macho, SRD, sete anos de idade, pesando 21 kg foi atendido com histórico de trauma por atropelamento. Após os primeiros socorros, foi diagnosticada através de radiografia simples LCF craniodorsal direita. Após a avaliação clínica e exames laboratoriais, o animal foi então submetido à cirurgia. Para realização desta técnica, foi realizada a abordagem craniolateral à articulação CF com tenotomia parcial dos músculos glúteos médio e profundo. Após a exposição da articulação, a cabeça do fêmur foi rotacionada lateralmente para que a fóvea pudesse ser visualizada e um túnel foi perfurado através da mesma e abaixo do colo femoral até sair ventralmente ao terceiro trocânter. O túnel foi feito com uma broca de 3,2 mm. Após a perfuração do fêmur, o acetábulo foi identificado e limpo e a perfuratriz foi então introduzida para criar um orifício na borda proximal da fossa acetabular, com o diâmetro de 3,2mm para a introdução da âncora de 4 mm. Esta âncora foi produzida em aço inoxidável, tendo sido desenvolvida uma chave especial longa e canulada para a sua introdução. O fio de poliéster trançado n° 5 foi acoplado à âncora e à chave especial. A âncora foi introduzida no orifício realizado na borda acetabular com a chave especial. As extremidades do fio foram transpassadas pelo orifício perfurado no fêmur e, por meio de tração destas, a luxação foi reduzida. Para a realização do nó, foi utilizado um botão de aço inoxidável com um orifício para cada extremidade do fio. Capsulorrafia foi realizada com suturas simples interrompidas. A musculatura foi aproximada, e a sutura do tecido subcutâneo e pele foram realizadas de modo padrão. O animal iniciou o apoio do membro operado após 48 horas da cirurgia, e após dez dias já caminhava normalmente sem sinais de claudicação.

Esta técnica pode ser considerada um meio de reparo fisiológico, não requerendo imobilização pós-operatória da articulação, da mesma forma como o pino moldado em cavilha11,12,8,13. Também possui as mesmas indicações e pode ser realizada em qualquer caso de LCF traumática, principalmente para aqueles animais que possuam injúrias ortopédicas múltiplas ou com luxações crônicas, já que proporciona uma imediata recuperação e uso precoce do membro acometido. Mas não seria indicada quando houver DCF, como citam alguns autores em relação ao pino moldado em cavilha12,8,14.

A técnica é de fácil execução, não exigindo secção de nenhum músculo glúteo por não necessitar de uma ampla exposição do acetábulo, já que a âncora é introduzida por meio de uma chave especial própria para ela. Estudos com um maior número de cães, incluindo pequeno, médio e grande porte devem ser realizados para uma comparação efetiva com as outras técnicas já existentes.

REFERENCES

1- BRINKER, W.O., PIERMATTEI, D.L., FLO, G.L. Diagnóstico e tratamento dos estados ortopédicos do membro posterior. In: Manual de Ortopedia e Tratamento das fraturas dos Pequenos Animais. São Paulo : Manole, 1986. p. 282-293.

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JornalBrasileirodeCiênciaAnimal–JBCA,v.3,n.6,suplemento,2010.

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OSTEOSSÍNTESE DE CABEÇA UMERAL EM PRIMATA ALOUATTA FUSCA CLAMITANS: RELATO DE CASO

HUMERALHEADOSTEOSYNTESEINPRIMATEALOUATTAFUSCACLAMITANS:CASEREPORT

OSTEOSÍNTESISDELACABEZAHUMERALENPRIMATAALOUATTAFUSCACLAMITANS:REPORTEDECASO

CARNEIRO,L.Z.64;MISTIERI,M.L.A.65;FLÔRES,F.N.66;COSTAA.67

Resumo Um primata de vida livre pertencente à subespécie Alouatta fusca clamitans foi apresentado ao Hospital de Clínicas Veterinárias com fratura de cabeça umeral. O animal foi submetido à estabilização cirúrgica da fratura por meio de dois pinos de Steinmann cruzados. No entanto, a escassa literatura sobre a espécie levou à necessidade de adaptações de técnicas e doses utilizadas para a espécie canina, tanto para o acesso cirúrgico como para os procedimentos anestésicos e prescrições pré e pós-operatórias. Este trabalho objetiva descrever as técnicas e protocolos medicamentosos aplicados ao primata, com intuito de divulgá-los. O animal voltou à vida em grupo em cativeiro, após cicatrização óssea e evolução clínica satisfatórias. Palavras-chave: fratura umeral, animal selvagem

Abstract A wild primate, belonging to Alouatta fusca clamitans subspecies, was presented to Veterinary Policlinic showing a humeral head fracture. The animal was submitted to surgery and the fracture stabilized using two crossed Steinmann pin, of 1,5 mm of diameter each. The surgical and anesthesiological procedures, preoperative and postoperative prescriptions were performed according to the literature for dogs, once no literature concerning similar techniques and dosages for this subspecies were found. This report intends to publish the chosen techniques and protocols. The primate was able to return to life group in captivity, after a satisfactory bone healing and good clinical evolution.

Key-words: humeral fracture, wild animal

64 Médico veterinário autônomo; e-mail: [email protected]; rua 3050, 216, Bal. Camboriú/SC, CEP: 88330308,

tel.: (47)33614886 cel.: (49)99989139. Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Santa Catarina,

Lages.

65 Professora adjunta Universidade Federal do Pampa, Campus Uruguaiana, RS

66 Doutoranda FCAV Unesp- Jaboticabal, SP

67 Médico veterinário autônomo, SC

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Introdução

O bugio-ruivo é uma espécie de primata arborícola, não saltadora, cuja subespécie Alouatta fusca clamitans é encontrada desde o sul do Espírito Santo até o Rio Grande do Sul1,2. Por viverem em grupos, primatas estão constantemente sujeitos a traumatismos decorrentes de brigas, os quais podem ocasionar lesões mais graves, tais como fraturas 3,4,5. No entanto, fraturas de ossos longos são consideradas raras e geralmente fatais 6.

Embora o tratamento cirúrgico possa ser a única chance de sobrevida para primatas portadores de fraturas, procedimentos invasivos em animais silvestres são, em geral, desafiadores devido à escassez de trabalhos disponíveis na literatura. Assim, é importante que todos os dados referentes às prescrições terapêuticas, anestesiológicas e demais procedimentos sejam publicados e sirvam de referência para futuros pacientes 7.

O presente trabalho relata o sucesso da osteossíntese de cabeça umeral em um exemplar de bugio-ruivo, bem como seu manejo pós-cirúrgico e anestesiológico.

Relato de caso

Encontrado à beira de uma rodovia, um primata adulto de vida livre da subespécie Alouatta fusca clamitans (bugio-ruivo) foi encaminhado ao Hospital Veterinário para avaliação, com suspeita clínica de atropelamento.

Ao exame físico, o animal apresentou discreta apatia e desidratação, pequenas lacerações de tecidos moles na cavidade oral e impotência funcional do membro anterior esquerdo, bem como crepitação óssea na região proximal do úmero. Ao exame radiográfico mediolateral simples, observou-se fratura transversa completa da cabeça umeral esquerda. O animal recebeu fluidoterapia por via subcutânea (25ml/Kg) durante dois dias e analgesia (cloridrato de tramadol 4 mg/kg TID e meloxicam 0,1 mg/kg SID) durante cinco dias, associado a repouso absoluto e manutenção do animal em gaiola. Efetuou-se limpeza diária dos ferimentos da cavidade oral com solução fisiológica e alimentação na forma pastosa, adequada a espécie.

Com a melhora clínica do animal, foi realizado o procedimento cirúrgico para correção da fratura, após dez dias da chegada do animal. Após sedação com midazolam (0,5mg/kg) e cetamina (8mg/kg) via intramuscular, foi instituída cateterização venosa e, por meio de indução com máscara de isoflurano, procedeu-se a intubação endotraquel com sonda tipo murphy nº 5,0. A manutenção anestésica foi realizada com isoflurano 1,5 CAM. Frequência cardíaca e respiratória, eletrocardiografia e pressão arterial invasiva foram monitorados e permaneceram estáveis durante todo o procedimento.

Após ampla tricotomia e antissepsia da região, procedeu-se o acesso cirúrgico à articulação do ombro, que foi obtido por acesso craniolateral, prolongado distalmente, à semelhança do efetuado para a espécie canina8. Procedeu-se a redução dos fragmentos (Figura 1A) e sua estabilização com a inserção de dois pinos de Steinmann cruzados, de 1,5 mm de diâmetro, como ilustra Figura 1B. A síntese foi efetuada em quatro planos: sutura simples separada da cápsula articular com poliglactina 910, calibre 4-0; sutura simples contínua da fáscia muscular e tecido subcutâneo, com mesmo fio; e sutura intradérmica cotínua com mononylon 3-0. Ao exame radiográfico notou-se bom alinhamento ósseo.

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Foi administrado ao animal cefalexina 30 mg/kg BID durante sete dias, meloxicam 0,1 mg/kg SID durante cinco dias, cloridrato de tramadol 3 mg/kg TID durante três dias, além de limpeza diária da ferida cirúrgica com solução fisiológica. O primata foi mantido em repouso absoluto em gaiola por 30 dias. Então, procedeu-se o exame radiográfico, sob anestesia geral (tiletamina-zolazepam 5mg/kg via IM), em duas projeções. Foi observada adequada redução dos fragmentos e não foi mais visibilizada a linha de fratura, caracterizando-se união óssea após 40 dias da cirurgia (Figura 1B). Após 45 dias da cirurgia, o primata conseguiu se manter suspenso pelo membro operado e começou a ser reintroduzido à vida em grupo em cativeiro.

Após sete meses do procedimento cirúrgico, notou-se restrição de amplitude na extensão do cotovelo esquerdo em cerca de 30° em relação ao membro não operado e a extensão cranial do membro relevou diminuição em cerca de 50° da amplitude do movimento. Não foi observada atrofia da musculatura da região. Radiograficamente, nenhuma alteração em relação à avaliação executada 30 dias após a cirurgia foi observada.

Figura 1A: Fotografia da redução trans-cirúrgica dos fragmentos ósseos de primata portador de fratura de cabeça umeral esquerda. Notar a linha de fratura (setas).

Figura 2A: Imagem radiográfica em projeção craniocaudal da articulação do ombro esquerdo de primata, 30 dias após o procedimento cirúrgico para correção de fratura umeral. Notar que a linha de fratura (setas tracejadas) não é mais vizibilizada, os

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implantes permanecem bem colocados. Também é possível observar calcificação do músculo bíceps braquial (seta contínua).

Discussão Para a realização dos procedimentos anestésicos e cirúrgicos descritos no

presente relato, foi necessária a adaptação de técnicas e doses aplicadas a pacientes caninos, pois não foram encontradas dosagens ou relatos de acesso cirúrgico ou estabilização óssea em indivíduos da espécie Alouatta fusca clamitans. Nenhuma complicação foi observada e o protocolo de analgesia foi eficaz para a manutenção do bem-estar do animal.

Sabe-se que fraturas de cabeça umeral podem cursar com necrose asséptica da cabeça umeral devido à interrupção da vascularização desta estrutura10,11. Esta foi uma preocupação da equipe envolvida no procedimento, pois foi necessária a espera de dez dias para melhora clínica do paciente e realização do procedimento. Este longo período poderia ter inviabilizado a revascularização do fragmento, o que impossibilitaria a união óssea e a reabilitação do animal. Contudo, a união óssea foi observada já aos 30 dias de pós-cirúrgico, e a reavaliação clínica e radiográfica após sete meses da cirurgia não indicou nenhuma suspeita de tal complicação.

Com relação ao acesso cirúrgico, verificou-se que, embora os primatas sejam providos de clavícula, tal particularidade não interferiu no acesso cirúrgico e adequada exposição da linha de fratura. Quanto ao método de estabilização empregado, a principal complicação dos pinos de Steinmann para estabilização é a migração dos implantes12. Outros métodos são considerados mais estáveis, tais como placas e parafusos13,14, fixadores externos15 e hastes diafisárias16, porém, mediante o pequeno tamanho do fragmento ósseo estabilizado, tais métodos não foram factíveis. Os exames radiográficos realizados após o primeiro e o sétimo meses da intervenção cirúrgica não demonstraram nenhum sinal de migração dos implantes. Este fato, associado à cicatrização precoce da fratura, permite ressaltar que o método escolhido foi eficiente.

O estabelecimento de um programa de reabilitação foi inviabilizado devido ao estresse causado pela manipulação ao primata. As discretas limitações de amplitude de movimento não impediram, no entanto, satisfatória locomoção e convívio em grupo do primata em cativeiro, especialmente pelo fato da espécie não ser saltadora.

Conclusão

O método de estabilização e o manejo pós-cirúrgico empregados foram eficientes para a obtenção da consolidação óssea, tornando possível a reintrodução do primata à vida em grupo em cativeiro.

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TÉCNICA CIRÚRGICA PARA IMPLANTAÇÃO DE CÂNULA EM FORMA DE T NO ÍLEO TERMINAL DE SUÍNOS

SURGICALTECHNIQUEFORIMPLANTATIONOFT‐SHAPEDCANNULAINTHETERMINALILEUMOFPIGS

MAYER,D.M.68;FONSECA,B.P.A.69;CARVALHO,T.A.70;BORGES,A.P.B.2;MENESES,R.M.71;FAVARATO,L.S.C.2;FERREIRA,C.L.72

Palavras-chave: técnica cirúrgica, ileostomia, fistulação, nutrição. Key-words: surgical technique, ileostomy, fistula, nutrition Introdução

Os recentes avanços da seleção genética na suinocultura têm propiciado a obtenção de animais com maior capacidade para ganho de peso e com menor consumo1, fazendo com que os médicos veterinários e zootecnistas procurem utilizar uma técnica para determinar a digestibilidade. Com suínos, o método mais utilizado para determinar a digestibilidade dos alimentos é o da coleta de digesta do íleo terminal pela cânula T simples. Esta técnica tem apresentado vantagens, como por exemplo, simplicidade da cirurgia, menor período de recuperação pós-cirúrgico e menor alteração da fisiologia digestiva, quando comparada às outras técnicas de avaliação nutricional2. Apesar da canulação ileal em suínos estar se tornando uma prática bastante utilizada, há poucos relatos sobre a técnica de colocação e suas possíveis complicações. O uso de valores de digestibilidade ileal na formulação de dietas aumenta o número de alimentos que podem ser utilizados na formulação, sem prejuízos na qualidade nutricional da dieta, possibilitando a utilização de subprodutos oriundos da indústria de alimentos humanos, reduzindo o custo da produção de suínos3. O objetivo deste trabalho foi descrever a técnica para implantação da cânula em forma de T no íleo terminal de suínos, as complicações e as alterações que possam vir a surgir no pós-operatório. Para realização deste experimento foram utilizados 13 suínos machos castrados, predominância da genética PIC Agroceres, com média de 2,6 meses de idade e média de peso de 22 kg ± 3kg, oriundos do Setor 68 Médica Veterinária, especializanda em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais, Departamento de Veterinária (DVT),

Universidade Federal de Viçosa (UFV) – Viçosa-MG, [email protected];

69 Médica veterinária, professora adjunta, DVT, UFV – Viçosa-MG;

70 Médico veterinário, doutorando em Nutrição de Monogástricos, Departamento de Zootecnia (DZO), UFV – Viçosa-

MG;

71 Médico veterinário, especializando em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais, DVT, UFV – Viçosa-MG.

72 Estudante de graduação em Medicina Veterinária, UFV- Viçosa-MG

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de Suinocultura do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa (UFV), MG. O experimento foi realizado no Centro Cirúrgico de Grandes Animais, do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa. No pré-operatório, os animais foram submetidos a jejum alimentar de 15 horas e jejum hídrico de seis horas. Utilizou-se como antibiótico a enrofloxacina na dose de 5mg/kg, via intramuscular, sendo aplicada em cada animal cerca de meia hora antes de entrar no centro cirúrgico. O tratamento teve continuidade por sete dias após o implante da cânula, reduzindo a dose para 2,5mg/kg após o terceiro dia de pós-operatório. A cânula foi confeccionada de Technyl (marca registrada da Rhodia), reforçada com fibras minerais e/ou sintéticas, onde visa diminuir o peso específico e principalmente aumentar a resistência mecânica. Foi realizada sua esterilização com imersão em solução de formaldeído 40% por 30 minutos, sendo lavada com solução fisiológica estéril antes do uso. Os animais receberam acepromazina na dose de 0,1 mg.kg-1, e diazepam na dose de 0,5 mg.kg-1, por via intramuscular, como medicação pré-anestésica (MPA). Previamente à indução anestésica foi realizada a cateterização da veia marginal da orelha e administração de solução de NaCl a 0,9% na velocidade de 6 mL.kg-1.h-1. A indução da anestesia foi realizada com a administração de tiopental, na dose de 12,5 mg.kg-1, por via intravenosa. Os animais foram então posicionados em decúbito lateral esquerdo. Em seguida, foi posicionada uma máscara com tamanho apropriado ao porte do animal e fornecido oxigênio (FiO2 100%) com fluxo inicial de 15 mL.kg-1.min-1. A manutenção da anestesia foi realizada com isofluorano, diluído em 100% de oxigênio, por meio de vaporizador calibrado. A concentração do isofluorano fornecida foi ajustada de forma a manter estável o plano anestésico, iniciando-se em 2,5%. Ato contínuo, foi realizada anestesia local infiltrativa com 5 mL de lidocaína 2% no local da incisão cirúrgica. Foi feita uma incisão de pele no flanco direito de aproximadamente 10 cm de comprimento. Os músculos oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome foram incisados na sequência. Realizou-se a identificação e secção do peritônio. Após a abertura completada, o ceco foi localizado e exteriorizado pela incisão abdominal e, em seguida, identificou-se a prega ileocecal, visando à localização e exteriorização da porção terminal do íleo. Uma sutura em “bolsa de fumo” foi realizada, com fio de nylon n°2,0 para delimitar o local da colocação da cânula. Uma incisão de aproximadamente 5 cm foi realizada no centro da “bolsa”, envolvendo todas as camadas do intestino.Por meio desta incisão, a base da cânula foi inserida. Depois foram tracionados os cabos do fio da sutura em “bolsa de fumo” e os nós completados. Foram ainda utilizados quatro pontos invaginantes de reforço ao redor da cânula para evitar qualquer tipo de vazamento de conteúdo ileal e causar peritonite. Efetuou-se outra incisão na parede abdominal a aproximadamente 10 cm caudodorsal à primeira incisão abdominal, imediatamente cranial à tuberosidade coxal e, com o auxilio de uma pinça de Allis, o cilindro da cânula foi tracionado pela incisão, posicionando a base junto à parede abdominal. A arruela retentora foi rosqueada de modo a não forçar a pele, ajustada conforme a evolução do edema pós-operatório em cada animal. Foi realizada uma sutura em padrão Sultan para as camadas da parede abdominal, com fio de nylon n°2,0 seguido de uma sutura em Wolf para pele, com o mesmo tipo de fio de sutura. Após a cirurgia, os animais foram mantidos em baias individuais de alvenaria, medindo 1,95x1,05, dotadas de bebedouro tipo chupeta, comedouros semiautomáticos e com lâmpada de 100W ligadas 24 horas por dia, uma para cada animal. No pós-operatório, foi administrado flunixin meglumine - 2mg/kg, por via intramuscular, a cada 24 horas por cinco dias. Os pontos foram retirados em oito dias e a limpeza com solução de Dakin era realizada todos os dias pela manhã. Foi medida a temperatura retal dos animais todos os dias até a retirada dos pontos, e depois duas vezes por semana. A tampa era aberta a cada dois dias. Inicialmente, foi fornecida pequena quantidade de ração,

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sendo aumentada gradativamente até o estabelecimento do consumo normal. A indução e manutenção da anestesia foi considerada satisfatória para a execução cirúrgica. Edema pós-operatório ocorreu em 84,6% dos animais nos primeiros dois dias, desaparecendo gradativamente ao longo dos dias seguintes, sem comprometer a cicatrização. A ferida cutânea cicatrizou por primeira intenção em todos os animais. A inflamação ao redor da cânula ocorreu em todos os animais devido à secreção nos primeiros dias e ao fato de alguns deles deitarem sobre ela, o que promovia irritação da pele, sendo 15,4% considerado inflamação severa. Foi utilizado ungüento® ao redor da cânula e a inflamação reduziu em 84,6% dos animais. O extravasamento de conteúdo ileal foi observado em seis animais, dos quais dois foram encaminhados para eutanásia devido à não recuperação, mesmo sendo tratados com ceftiofur (5mg/kg). Os outros quatro animais melhoraram e foram utilizados em experimentos seguintes. Diarréia foi observada em 77% dos animais, principalmente a partir do quinto dia do pós-operatório, justificada pela manipulação excessiva dos animais, visto que são animais que se estressam facilmente. A temperatura dos animais apresentou variação entre 37,5°C e 39,5°C, porém a faixa de normalidade para a espécie é de 39°C ± 0,5°C 4 . A temperatura de um animal que tinha diarréia manteve-se dentro da normalidade. Outro animal alimentava-se muito pouco, e a temperatura estava dentro da normalidade. Outro, ainda, apresentou extravasamento de conteúdo ileal ao redor da cânula, causando grande inflamação na pele, e mesmo assim a temperatura dele manteve-se entre 37°C e 38°C, concluindo que a temperatura não serviu de parâmetro para relatar peritonite neste experimento. O maior problema relacionado ao uso das cânulas T simples é o entupimento que ocorre logo no primeiro dia pós-cirúrgico5, sendo que esse problema não ocorreu, pois elas foram abertas e limpas no primeiro dia e depois a cada dois dias até o final do experimento. A cirurgia é considerada simples e pouco invasiva, quando comparada aos demais métodos cirúrgicos para a determinação da digestibilidade ileal de nutrientes, permitindo a realização dos ensaios de digestibilidade após recuperação cirúrgica de 14 dias 6. A cirurgia para implantação da cânula T simples em suínos é de fácil realização. As complicações que foram observadas enfatizam a necessidade de maiores cuidados nos primeiros 15 dias de pós-operatório. A limpeza ao redor da cânula deve ser feita diariamente, reduzindo a inflamação e evitando dermatites.

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INTERVENÇÃO CIRÚRGICA EM CÃO (CANIS FAMILIARIS) COM

HIPOSPADIA PERIANAL – RELATO DE CASO

SURGICALINTERVENTIONINDOG(CANISFAMILIARIS)WITHPERIANALHYPOSPADIAS–CASEREPORT

HORTA,R.S.731;RODRIGUES,A.A.M.1;PEREIRA,L.C.1;COSTA,M.P.1;LAVALLE,G.E1;CARNEIRO,R.A1.

Palavras-chaves: hipospadia, anormalidades congênitas.

Key-words: hypospadias, congenital abnormalities.

Introdução

Hipospadia é uma alteração do desenvolvimento embrionário na qual a uretra se abre ventralmente e em posição proximal ao orifício normal1. É uma patologia rara, mais frequentemente relatada em machos e geralmente acompanhada de outras anomalias congênitas como criptorquidismo2. As hipospadias podem ser classificadas anatomicamente em glandular, peniana, escrotal, perianal ou anal, conforme a localização da abertura uretral1. O diagnóstico é feito no exame físico e os sinais clínicos incluem, além das anormalidades anatômicas visíveis, incontinência urinária, hematúria e disúria4. A correção cirúrgica depende da localização e severidade das lesões, sendo desnecessária em alterações discretas5. A castração é sempre recomendada devido à possibilidade de envolvimento genético6. Nos casos mais severos, recomenda-se o fechamento do orifício prepucial e a excisão dos genitais externos com anomalias4. Foi atendido no Hospital Veterinário da UFMG um cão (Canis familiaris) macho, da raça Pastor alemão, com cinco meses de idade, pesando 14,3kg, que apresentava uma anomalia congênita com má-formação dos órgãos genitais. Ao exame físico foi observada uma exposição da mucosa genital com atrofia peniana, não união do escroto e do prepúcio e abertura do óstio uretral ventralmente ao ânus (Fig. 1), caracterizando uma hipospadia perianal acompanhada de falha no desenvolvimento da uretra peniana, pênis, prepúcio e escroto. Devido à severidade do quadro e exagerada exposição de mucosa, foi recomendada a castração do animal e amputação peniana. O exame de risco cirúrgico, feito dez dias antes da cirurgia, incluiu hemograma, dosagem de uréia e creatinina sérica e testes de hemostasia (tempo de protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada). Apesar de ter sido observada uma baixa contagem de plaquetas (140 x 103 céls/µL), não foram observadas alterações nas provas de hemostasia. O animal foi internado para a cirurgia, permanecendo oito horas em jejum alimentar e seis horas em jejum hídrico. A 73 Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais. – [email protected]

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medicação pré-anestésica foi realizada com acepromazina e meperidina por via intramuscular. O paciente foi medicado com cefalotina por via endovenosa e foi realizada uma tricotomia ampla da cartilagem xifóide ao púbis e da região lombossacral para realização de anestesia epidural no espaço intervertebral entre a 7ª vértebra lombar e a 1ª vértebra sacral, utilizando morfina e lidocaína sem vasoconstritor, mediante indução do animal com propofol (5mg/kg). Após a antissepsia do campo e colocação dos panos cirúrgicos estéreis, foi realizada a orquiectomia bilateral, sendo necessárias duas incisões longitudinais parapenianas pré-escrotais, uma vez que não ocorreu a união do escroto no desenvolvimento embrionário. Cada testículo foi pressionado para avançar na área pré-escrotal, sendo exteriorizado após incisão da fáscia espemática e túnica vaginal parietal. Com o auxílio de uma pinça hemostática fixada no epidídimo, foi possível separar com os dedos o ligamento da cauda do epidídimo na túnica vaginal, expondo os testículos, epidídimos e respectivos cordões espermáticos. Cada cordão espermático foi ligado com uma “ligadura em figura de 8” utilizando fios de poliglecaprone-25, corado em violeta, calibre 1-0. Em seguida foi realizada a transecção acima das ligaduras e remoção dos testículos. A redução do espaço morto foi feita com sutura simples contínua, utilizando o mesmo tipo de fio usado na ligadura dos vasos. A pele foi suturada com padrão simples separado, utilizando-se fios de nylon calibre 3-0. Para amputação do pênis, foi feita uma incisão elíptica ao redor do prepúcio e do pênis, preservando pele para o fechamento da ferida. O pênis foi então dissecado no sentido craniocaudal, a partir da parede corporal, e amputado de maneira cuneiforme após a ligadura dos vasos prepuciais e penianos dorsais (caudais ao local de amputação desejado), também com fios de poliglecaprone-25. A redução do espaço morto foi feita em duas camadas com suturas interrompidas simples, seguida de uma sutura simples contínua utilizando o mesmo tipo de fio da hemostasia. A sutura de pele foi feita com fio de nylon calibre 3-0 seguindo o padrão de “Wolff”. No pós-cirúrgico o animal foi medicado com tramadol a cada 12 horas e prednisona a cada 24 horas por cinco dias no período da manhã. O paciente recebeu alta hospitalar no dia seguinte à cirurgia e continuou sendo medicado com cefalotina a cada 12 horas até completar dez dias. Para evitar autotraumatismo, foi colocado um colar elizabetano. O animal teve um pós-operatório tranquilo e se recuperou bem da cirurgia. A hipospadia, apesar de não representar risco à vida do animal, pode trazer desconforto e prejudicar o bem-estar do paciente7. Como no caso descrito, a hipospadia em machos é frequentemente acompanhada de outras anomalias, como desenvolvimento anormal da uretra peniana, pênis, prepúcio e/ou escroto, sendo recomendada a intervenção cirúrgica para reduzir a exposição da mucosa8. Geralmente, o animal se recupera rápido da cirurgia. Hemorragia a partir do tecido cavernoso, vazamento urinário, infecção, seroma e deiscência são complicações pós-operatórias potenciais. Essas situações podem ser evitadas a partir do emprego de uma técnica cirúrgica asséptica com adequada redução do espaço morto, manutenção do animal quieto e calmo durante o período pós-operatório inicial, utilização de colar elizabetano, aplicação de analgesia e antibioticoterapia preventiva4. A cirurgia melhora a qualidade de vida do paciente e o salva na condição de animal de estimação, pois melhora a cosmese e minimiza a ocorrência de complicações como a dermatite induzida por urina, traumatismos e formações neoplásicas4.

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Figuras 1 e 2: Animal em decúbito dorsal antes e depois da cirurgia. A abertura do óstio uretral (sonda) ventralmente ao ânus caracteriza a hipospadia perianal acompanhada de atrofia peniana, não união do escroto e do prepúcio com grande exposição de mucosa.

Referências

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2. Hayes Jr MH, Wilson PG (1986). Hospital Incidence oh hypospadias in dogs in North America. Veterinary Record, 118: 605-606.

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4. Fossum WT et al. (2005). Cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Roca Ltda., 1390p.

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CRIPTORQUIDECTOMIA EM EQUINOS A CAMPO: ANESTESIA, PROCEDIMENTO CIRÚRGICO E IMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS

(2000 A 2010)

HORSESCRYPTORCHIDECTOMYINTHEFIELD:ANESTHESIA,SURGICALPROCEDUREANDPOST‐OPERATIVEIMPLICATIONS(2000A2010)

CAMPOS,S.B.S.74,FREITAS,S.L.R.75,SILVA,J.A.2,CAETANO,L.B.2,HELOU,J.B.2,MORENO,J.C.D.76ESILVA,L.A.F.77.

Palavras-Chave: Anestesia intravenosa total, criptorquidismo, orquiectomia. Key words: Cryptorchism, orchiectomy, total intravenous anesthesia. INTRODUÇÃO

O criptorquidismo é um achado freqüente em equinos. Geralmente só um dos testículos é afetado, podendo ficar retido na região inguinal ou abdominal (CATTELAN et al. 2004; HAFEZ & HAFEZ, 2004). O diagnostico requer exame clínico específico. O tratamento é cirúrgico, exigindo anestesia geral e, no pós-operatório, é possível ocorrerem complicações como peritonite e tétano (SILVA et al., 2008; SILVA et al., 2009). A anestesia pode ser realizada com éter gliceril guaiacol (EGG) associado a xilazina e cetamina (VIEIRA et al., 2006).

Embora a orquiectomia de cavalos criptorquidas seja preferencialmente realizada em centros cirúrgicos sob condições adequadas para se proceder ao pré, trans e pós-operatório, em muitas situações o baixo valor comercial dos animais, as limitações financeiras dos proprietários e a dificuldade para transportar os animais até os grandes centros veterinários obrigam os cirurgiões a realizar os procedimentos cirúrgicos nas fazendas de origem, locais cujas condições podem não ser favoráveis ao sucesso das intervenções. Essa realidade exige protocolos anestésicos menos onerosos, seguros e de fácil aplicação, rapidez na execução dos procedimentos cirúrgicos e a adoção de medidas pós-operatórias que promovam o mínimo de complicações.

74 Médica veterinária. Especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes Animais HV/ EV/ UFG. Mestranda em Ciência

Animal UFG. Bolsista CAPES. Avenida Genésio de Lima Brito, Qd. 139, Lote 1, casa 2, Jardim Balneário Meia Ponte,

CEP 74530-210, Goiânia, GO, Brasil. E-mail: [email protected] (autor correspondente). 75 Graduandos em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Goiás. 76 Médico veterinário. Doutor, professor de Anestesiologia do Curso de Medicina Veterinária e da Pós-graduação em

Ciência Animal, Universidade Federal de Goiás. 77 Médico veterinário. Doutor, professor de Clínica Cirúrgica Animal do Curso de Medicina Veterinária e da e da Pós-

graduação em Ciencia Animal, Universidade Federal de Goiás (Orientador).

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Esse estudo teve a finalidade diagnosticar, avaliar um protocolo anestésico, tratar cirurgicamente e analisar o pós-operatório de equinos criptorquidas em ambiente fora do centro cirúrgico.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado utilizando casuística atendida em aulas práticas de Clínica Cirúrgica Animal e durante a execução de projetos de extensão da Universidade Federal de Goiás (UFG) entre os anos de 2000 e 2010. Na pesquisa atendeu-se 30 equinos criptorquidas, inguinais ou abdominais, de diferentes raças, idades e peso corporal os quais foram tratados cirurgicamente sob anestesia intravenosa total em ambientes fora de Centros Cirúrgicos (Figura 1). Para proceder às intervenções cirúrgicas, escolhia-se um local aparentemente com menor chance de ocorrer contaminação, dando preferência a áreas cobertas por gramas, na sombra de árvores e locais com menor acúmulo de dejetos, nesse caso respeitando sempre o desnível do terreno.

O pré-operatório constou de jejum alimentar de 18 horas e hídrico de 12 horas, aplicação de 5.000 UI de soro antitetânico (Vencosat®, Vencofarma, Londrina, PR), anestesia geral, contenção em decúbito lateral, lavagem da região inguinal, escroto, pênis e prepúcio com água e sabão e higienização do campo operatório empregando iodopolvidona tópico (Riodeine®, Indústria Farmacêutica Rioqímica Ltda., São José do Rio Preto, SP). No protocolo anestésico utilizou-se 0,8mg/kg de xilazina (Sedomin®, Konig, Santana de Parnaíba, SP) por via intravenosa (EV) como medicação pré-anestésica (MPA) e indução com 0,05mg/kg de diazepam (Compaz®, Cristália, Itapira, SP), associado a 2,2 mg/kg de cetamina (Ketamina Agener®, Agener União, Embu-Guaçu, SP), administrados por via endovenosa (EV) lenta. A manutenção foi realizada por infusão contínua de 50mg/kg/h de EGG a 5% (Henrifarma®, São Paulo, SP) associado a 2,0mg/ml de cetamina e 0,5 mg/ml de xilazina (Sedomin®, Konig, Santana de Parnaíba, SP), diluídos em solução glicosada a 5% (HalexIstar Indústria Farmacêutica S.A, Goiânia, GO) e infundidos na velocidade de 2 ml/Kg/h. Na linha de incisão infiltrou-se 10mL de cloridrato de lidocaína com Epinefrina (Anestésico L Pearson®, Eurofarma, Campo Belo, SP).

Quando se tratava de criptorquidismo inguinal, o acesso ao testículo retido era feito por meio de incisão cirúrgica praticada no escroto, para não atingir grandes vasos sanguíneos presentes na região. O acesso ao testículo retido no abdome era conseguido mediante laparotomia paramediana paraprepucial. No pós-operatório imediato, aplicou-se 2 mg/kg de Cloridrato de Tramadol (Tramal®, Pfizer, Guarulhos, SP), por via intramuscular, 1,1 mg/Kg de Flunixin meglumine (Banamine®, Schering-Plough, Cotia, SP), por via endovenosa, a cada 24 horas, por três dias consecutivos, 30.000 UI/kg de benzilpenicilina benzatina, benzilpenicilina potássica e estreptomicina (Megacilin®, Agener União, Embu-Guaçu, SP), por via intramuscular, a cada 48 horas até completar quatro aplicações, higienização diária da ferida cirúrgica com iodopovidona e aplicação de repelente tópico (Spray Bactrovet Prata®, Konig, Santana de Parnaíba, SP).

Avaliou-se o tempo de recuperação, possíveis intercorrências e estimou-se os custos de cada procedimento, levando-se em consideração apenas o material de consumo, incluindo antisséptico, seringas, anestésicos, material de sutura e antibióticos. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva e comparação simples entre as ocorrências.

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RESULTADOS

O protocolo anestésico permitiu a realização dos procedimentos cirúrgicos sem que ocorresse manifestação clínica de dor pelos animais. A deambulação aconteceu em todos os equinos entre dez e 25 minutos após o término do procedimento cirúrgico, situação que pode ter contribuído para minimizar complicações pós-operatórias. Portanto, pelos resultados favoráveis, acredita-se que esse protocolo possa se constituir em alternativa viável para se usar a campo na realização de orquiectomias em equinos, especialmente de criptorquidas.

A escolha de áreas cobertas por gramas, sombra de árvores e locais com menor acúmulo de dejetos para realizar as intervenções cirúrgicas também foi importante, pois, em tese, reduziu a contaminação e consequentemente diminuiu o numero de intercorrências. De igual forma, o tempo máximo de 60 minutos para se realizar a intervenção cirúrgica, o emprego do soro antitetânico, antibioticoterapia e a higienização diária das feridas cutâneas também foram medidas importantes para o sucesso do procedimento. O cloridrato de tramadol aparentemente aliviou o desconforto decorrente da dor pós-operatória, portanto diminuindo o tempo de convalescência.

Do total de 30 animais atendidos, em 17 (5,7%) o criptorquidismo era abdominal. Destes, em dois animais (12%) ocorreu deiscência de ferida cutânea, aumentando o tempo de recuperação, sendo que em um (6%), não se respeitou o intervalo de 60 dias para utilizar o animal na lida da propriedade e no outro (6%) ocorreu falha na condução do pós-operatório.

O custo estimado de cada procedimento foi de 300 reais. Desta forma, associando esse achado às vantagens do procedimento anestésico e ao pequeno número de intercorrências, acredita-se na possibilidade de se realizar a castração de equinos criptorquidas a campo, podendo operar animais de diferentes valores zootécnicos. CONCLUSÃO

O tratamento cirúrgico de criptorquidismo inguinal e abdominal em equinos em ambiente fora do centro cirúrgico é perfeitamente exequível, mas o sucesso do procedimento depende da conclusão diagnóstica, de um protocolo anestésico seguro e viável economicamente, de um conhecimento sólido de anatomia e da condução adequada do pós-operatório.

REFERÊNCIAS

1. HAFEZ B., HAFEZ E S E (2004). Reprodução animal, 7º ed. Barueri: Manole, 313 p.

2. CATTELAN J W et al. (2004). Criptorquismo em eqüinos: aspectos clínico-cirúrgicos e determinação da testosterona sérica. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 56 (2).

3. SILVA L C L C et al. (2008). Métodos diagnósticos para o criptorquidismo abdominal ou inguinal em eqüinos. Disponível em: http://www.abraveq.com.br/artigos_ixconferencia2008/Aquivo93.pdf. Acesso em: 1 julho 2010.

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4. SILVA L A F et al. (2009). Estudo retrospectivo de fimose traumática em equinos e tratamento utilizando a técnica de circuncisão com encurtamento de pênis (1982-2007). Ciência Rural, 40 (1).

5. VIEIRA F A F et al. (1996). Éter Gliceril Guaiacol-revisão. Semina: Ciências Agrárias, 17 (1): 112-123.

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OVARIOSALPINGO-HISTERECTOMIA POR NOTES TRANSVAGINAL EM CADELAS

NOTESTRANSVAGINALOVARIOSALPINGOHISTERECTOMYINDOGS

LUZ,M.J78.;SANTOS,C.L.79;FERREIRA,G.S.1;RAMOS,R.M.1;VALE,D.F.1;BUSTAMANTE,S.R.B.80;OLIVEIRA,A.L.A.81

Palavras-chave: ovariosalpingo-histerectomia, laparoscopia, Notes.

Key Words: ovariosalpingo-histerectomy, laparoscopy, Notes.

Introdução

A videocirurgia representa uma modalidade ainda recente na cirurgia veterinária, sendo sua utilização ainda não disponível para uma grande parcela dos pacientes operados atualmente, apesar dos possíveis benefícios oriundos da sua utilização. Uma sequência lógica para a laparoscopia seria eliminar totalmente as incisões abdominais, utilizando para isto orifícios naturais, como boca, ânus ou vagina, através da técnica de Notes (Natural Orificie Transluminal Endoscopic Surgery), sendo descrita como a cirurgia sem incisões1. Este estudo teve o objetivo de avaliar a viabilidade da realização da ovário-histerectomia (OSH) através da técnica de Notes híbrida transvaginal e compará-la com a cirurgia laparoscópica com dois portais.

Materiais e Métodos

Foram utilizadas 16 cadelas subdivididas aleatoriamente em dois grupos experimentais, cada um com oito animais. Grupo 1: Notes, Grupo 2: OSHL. Todos os procedimentos foram aprovados pelo comitê de ética da Universidade sobre protocolo de número 26. No Grupo Notes, foi realizada a técnica de ovariosalpingo-histerectomia por H-Notes transvaginal. O primeiro portal de 11 mm foi introduzido na cicatriz umbilical através da técnica de Hasson. A cavidade abdominal foi insuflada com dióxido de carbono (CO2) até uma pressão de 12mmHg. O laparoscópio de 10 78 Doutorando (a) em Ciência Animal – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darçy Ribeiro – UENF -

[email protected]

79 Doutoranda Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

80 Mestrando em Ciências Veterinárias Universidad de Santo Tomás, Santiago, Chile

81 Professor adjunto Uenf

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mm e 30º foi introduzido e as estruturas abdominais visualizadas. O segundo portal, com trocarter de 11 mm, foi introduzido através do fundo da vagina, ventral à entrada da cérvix. Todo material de trabalho foi introduzido através deste portal. A cadela foi posicionada 45º para direita para visualização e ligadura dos vasos do ovário esquerdo. Após visualização do rim esquerdo, o ligamento suspensor do ovário foi visualizado e rompido por tração e o ovário suspenso e fixo na parede abdominal através de uma punção externa com agulha curva. O pedículo ovariano foi cauterizado com bisturi elétrico bipolar e o fio externo que segurava o ovário na parede abdominal foi solto e o ovário livre. O mesmo procedimento foi realizado no ovário direito. O ovário direito foi apreendido e tracionado em direção à vagina e retirado pela abertura promovida, junto com os cornos uterinos direito, corno uterino e ovário esquerdo. O corpo uterino foi também tracionado para o meio externo e feita a ligadura circular com fio nilon 2-0. O útero foi recolocado em sua posição anatômica após a ligadura. A parede muscular e a pele foram suturadas em duas camadas. No Grupo OSHL, foi realizada ovariosalpingo-histerectomia videolaparoscópica com dois portais. A técnica cirúrgica foi semelhante aos dos animais do grupo Notes, porém o segundo portal, com trocarter de 11 mm, foi inserido na linha média no terço mais caudal do abdômen, ventral ao corpo uterino, sob visualização direta através da óptica. Foram avaliados os seguintes itens: complicações, tempo cirúrgico e dor pós-operatória, através do uso da Escala de dor da Universidade de Melbourne nos tempos zero, duas, seis e 24 horas de pós-operatório, denominados respectivamente de T1, T2, T3 e T4. Para analisar o tempo cirúrgico e a pontuação de cada animal da tabela de Melbourne foi realizada análise e comparação das médias através do teste de Tukey, com 5% de confiabilidade. Para complicações ocorridas e considerações técnicas, foi utilizada a estatística descritiva.

Resultados

O acesso cirúrgico transvaginal utilizado no grupo Notes foi de fácil realização e possibilitou boa visualização e manipulação dos órgãos abdominais. Os objetos de análise, como complicações, tempo cirúrgico e avaliação da dor, são detalhados a seguir. Duas cadelas do Grupo Notes apresentaram discreto corrimento vaginal sanguinolento. O tempo cirúrgico do grupo Notes variou entre 45 a 85 minutos (média de 58,25 minutos), sendo estatisticamente semelhante ao grupo OSHL (média de 70,15, variando de 45 a 102 minutos), segundo o teste de Tukey, para p< 0,05. O escore de dor pós-operatória variou de 2,2 a 2,6 para o grupo Notes e de 3,8 a 6,5 no grupo OSHL. Houve diferença estatística no escore de dor em relação aos dois grupos avaliados. O Grupo Notes apresentou pontuação significativamente inferior ao Grupo OSHL segundo o teste de Tukey para p<0,05 na Escala de Melbourne.

Discussão

Em um estudo onde se realizou Notes transgástrica, foi encontrado tempo cirúrgico médio de 154 minutos2. Porém, segundo os autores, para a realização da gastrotomia era necessária a realização prévia de uma gastropexia. Além disso, em algumas cadelas o endoscópio saia do estômago entre o omento, causando a insuflação deste e aumentando o tempo cirúrgico de 30 a 45 minutos. O acesso transvaginal para Notes híbrida se mostrou de fácil realização. Todo o procedimento foi realizado sem nenhuma dificuldade maior causada pelo acesso escolhido. Nosso

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tempo cirúrgico pode então ser considerado pequeno quando comparado com a técnica de Notes transgástrica, utilizada para cirurgia do trato reprodutor feminino, devido à fácil inserção dos trocarteres, fácil acesso aos ovários e ao útero. Para o grupo OSHL, o tempo cirúrgico médio foi de 70 minutos, variando de 45 a 102 minutos. Foi encontrado tempo cirúrgico médio de 61 minutos em ovário-histerectomia, utilizando a técnica laparoscópica com quatro portais, o que facilita apreensão e cauterização dos pedículos ovarianos3. Em estudo semelhante, utilizando quatro portais para realização de ovário-histerectomia laparoscópica, encontraram tempo cirúrgico médio de 120 minutos. Eles atribuíram o longo tempo cirúrgico ao fato de todas as cirurgias terem sido realizadas por estudantes4. Já em outro estudo foi obtido tempo cirúrgico médio de 20 minutos para ovário-histerectomia vídeoassistida com dois portais5. Entretanto, eles utilizaram uma mesa especial que posiciona o animal em decúbito dorsal e é capaz de rotacionar o paciente para o lado direito e esquerdo. Esta técnica reduz significativamente o tempo necessário para posicionar o animal em decúbito lateral para apreensão dos ovários na parede abdominal. O grupo Notes apresentou significativamente menor escore de dor em relação aos grupos OSHL. Esse fato possivelmente está relacionado ao acesso e ao menor número de incisões abdominais, visto que em ambos os grupos Notes e OSHL foram utilizados os mesmos materiais cirúrgicos, mesmos métodos de coagulação do complexo arteriovenoso e mesmas pressões de pneumoperitôneo. Poucos são os estudos que relacionam a dor em cadelas ovário-histerectomizadas por Notes, de maneira que o presente trabalho pode ter importante contribuição. Em OSH em cadelas por via transgástrica, em 2009, foram obtidos índices na escala de Melbourne semelhantes ao que obtivemos por via transvaginal2. Ë importante ressaltar que esses índices encontrados são inferiores a três, sendo considerados pela UMPS como animais “sem dor” 6. Em 2009, foi realizada nefrectomia em uma mulher através da Notes transvaginal. Dois dias após o procedimento, utilizando uma Escala visual de dor, o escore de dor foi 1 de um total de 107. São necessários muitos estudos com Notes para se estabelecer as vias de acesso e as técnicas a serem utilizadas. Porém, ainda notamos a necessidade do desenvolver novos instrumentos para serem usados na Notes e facilitar o acesso pelas vias naturais como boca, ânus e vagina. Isso ocorrerá através da realização de mais pesquisas para que haja cada vez mais investimentos tecnológicos.

Conclusão

A técnica de Notes híbrida para ovário-histerectomia laparoscópica se mostrou viável em cães, apresentando vantagens como menor dor pós-operatória em relação à técnica laparoscópica e tempo cirúrgico semelhante em relação à OSHL.

Referências

1- McGee, M.F. et al. (2006) A Primer on Natural Orifice Transluminal endoscopic Surgery: Building a New Paradigm. Surgical Innovation 13(2): 86-93.

2- Freeman, L.J. et al. (2009) Oophorectomy by natural orifice transluminal endoscopic surgery: feasibility study in dogs. Gastrointestinal Endoscopy 69(7): 1321-1332.

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3- Malm, C.; et al. (2004) Ovário-histerectomia: estudo experimental comparativo entre as abordagens laparoscópica e aberta na espécie canina. Intra-operatória - I. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 56(4): 457-466.

4- Davison, E.B.; Moll, H.D.; Payton, M.E., (2004) Comparison of Laparoscopic Ovariohysterectomy and Ovariohysterectomy in dogs. Veterinary Surgery 33:-62-69.

5- Devitt, C.M., Cox R.E., Hailey J.J. (2005) Duration, complications, stress and pain of open ovariohysterectomy versus a simple method of laparoscopic-assisted ovariohysterectomy in dogs. Journal of the American Veterinary Medical Association 227: 921-927.

6- Hansen, B.D. (2003) Assessment of Pain in Dogs: Veterinary Clinical Studies ILAR Journal, 44(3): 197-205.

7- Kaouk, J.H. et al. (2009) NOTES Transvaginal Nephrectomy: First Human Experience. Urology, 74 (1): 5-8.

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AVALIAÇÃO HISTOMORFOMÉTRICA E DE PROPRIEDADES MECÂNICAS DE MENISCOS FRESCOS E PRESERVADOS EM GLICERINA 98%.

ESTUDO EXPERIMENTAL EM COELHOS

EVALUATIONHISTOMORPHOMETRICANDMECHANICALPROPERTIESOFMENISCUSFRESHANDPRESERVEDINGLYCERIN98%.EXPERIMENTALSTUDYINRABBITS

VILELA,L.M.82;DELCARLO,R.J.83*;SILVA,J.C.P. 84;RODRIGUES,M.C.D.85;REIS,A.M.S.4;MACHADO,D.P.D.5;ANDRADE,E.C.6

Resumo

Objetivando-se avaliar os efeitos da preservação em glicerina 98% sobre as fibras colágenas, celularidade e resistência meniscal, foram utilizados 72 meniscos, distribuídos em três grupos de igual número, sendo: MF - meniscos frescos; MG - meniscos preservados em glicerina 98% e MR - meniscos preservados em glicerina 98% seguidos de reidratação. Os meniscos frescos apresentaram maior concentração de colágeno tipo I e menor concentração de colágeno tipo III. Aqueles do grupo MG apresentaram uma redução de tamanho. A população celular dos meniscos foi semelhante nos três grupos (P<0,05). Observaram-se sinais de lise celular nos meniscos dos grupos MG e MR, entretanto houve preservação da matriz fibrocartilaginosa, mantendo assim a arquitetura tecidual. Os meniscos apresentaram resistência semelhante, com menor capacidade de deformação elástica e maior rigidez nos do grupo MG (p<0,05). Assim, meniscos preservados em glicerina, seguidos de reidratação, podem ser uma opção para transplantes com matriz colágena desvitalizada.

Palavras-chave: meniscos, aloenxertos, cartilagem articular, propriedades mecânicas.

82 Aluna de Doutorado em Cirurgia de Pequenos Animais da Universidade Federal de Viçosa (UFV);

2 Professor titular do Departamento de Veterinária (DVT) da UFV *E-mail: [email protected];

3 Professor titular do Departamento de Veterinária (DVT) da UFV;

4 Médico veterinário autônomo;

5 Residente de pequenos animais da UFV;

6 Aluna de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

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Summary

Aiming to evaluate the effects of preservation in glycerin 98% on the collagen fibers, and cellular resistance meniscal, 72 menisci were used, divided into three equal groups, namely: MF - fresh menisci; MG - menisci preserved in 98% glycerin and MR - menisci preserved in 98% glycerol followed by rehydration. The fresh menisci showed higher concentration of collagen type I and lower concentration of collagen type III. Those of MG group showed a reduction in size. The cell population of the menisci was similar among groups (P <0.05). Observed signs of cell lysis in the menisci of the groups MG and MR, however, there was preservation of fibrocartilaginous matrix, thus maintaining tissue architecture. The menisci showed resistance similar, less capability of elastic deformation and greater rigidity in the MG group (p <0.05). Thus, menisci preserved in glycerin, followed by rehydration may be an option for transplant with devitalized collagen matrix.

Key words: meniscus, allograft, cartilage, mechanical properties.

Introdução

A lesão do menisco medial geralmente está associada à instabilidade articular causada pela ruptura do ligamento cruzado cranial1. A meniscectomia total e a substituição dos meniscos por aloenxertos são procedimentos frequentemente realizados quando outras opções para reparo ou reconstrução do menisco não podem ser utilizadas2,3, com o objetivo de evitar as alterações degenerativas nas cartilagens articulares4. A substituição por aloenxerto, no caso a fibrocartilagem de menisco, apresenta como vantagem a possibilidade de utilizar em sua morfologia um tecido semelhante ao tecido que está sendo substituído3.

As técnicas de preservação influenciam na celularidade dos tecidos biológicos. Alguns autores preconizam que a viabilidade celular é um fator de melhor integração, enquanto outros dão preferência ao transplante de uma matriz de colágeno desvitalizada3. O meio mais utilizado para preservação de próteses biológicas é a glicerina 98%, que atua como eficaz protetor da integridade celular5. O enxerto preservado em glicerina deve ser imerso em NaCl 0,9% acrescida de antibiótico para garantir reidratação e prevenir contaminações6,7.

Os objetivos desse estudo foram identificar os tipos celulares, analisar a distribuição e a integridade das células; quantificar os tipos de colágeno e avaliar a disposição de suas fibras; e avaliar a resistência de meniscos frescos, preservados em glicerina 98% por 30 dias e preservados em glicerina 98% por 30 dias, seguido de reidratação em NaCl 0,9% por 12 horas.

Material e Métodos

Foram utilizados 72 meniscos mediais de 36 coelhos albinos da raça Nova Zelândia, com idade entre três e quatro meses, oriundos de abatedouro comercial. A retirada dos meniscos foi realizada sem rigores de assepsia. Os meniscos foram mensurados em seu eixo maior, acondicionados em frascos individuais, mantidos em

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temperatura ambiente e distribuídos aleatoriamente em três grupos, sendo: MF, meniscos frescos (grupo controle); MG e MR, meniscos na proporção glicerina 98%/menisco de 20:1 por 30 dias, sendo MR posteriormente reidratados em NaCl 0,9% durante 12 horas.

Para avaliação da estrutura e celularidade, foram utilizados sete meniscos de cada grupo. Após processamento histológico, o material foi corado com hematoxilina-eosina. A análise histométrica foi realizada pela contagem de 500 pontos aleatórios sobre cada região do menisco (corpo e cornos), registrando-se os pontos coincidentes sobre condrócitos e fibroblastos/fibrócitos, a distribuição, viabilidade celular e a integridade da matriz extracelular fibrocartilaginosa (arquitetura tecidual).

Para avaliação das fibras colágenas, também foram utilizados sete meniscos de cada grupo. O material foi processado e corado pelo método de picrosirius red. A partir de cada lâmina, foram registradas 15 imagens de diferentes campos, cinco de cada parte do menisco (corpo e cornos). As fibras colágenas Tipos I e III foram identificadas, quantificadas e classificadas (ordenadas ou não), utilizando-se o sistema de análise de imagens (Image Pro-Plus®4.5) com uma grade com 100 interseções sobre a imagem.

Para avaliação das propriedades mecânicas, dez meniscos de cada grupo foram submetidos à compressão em equipamento de aplicação de força com capacidade da célula de carga de 1000N a uma velocidade de 25mm/minuto até a ruptura total de cada amostra. Avaliou-se: força ao limite de elasticidade; deformação ao limite de elasticidade; tensão ao limite de elasticidade; tensão ao ponto de ruptura; módulo de elasticidade ou módulo de Young.

Para a análise estatística, as variáveis quantitativas foram submetidas aos testes de Normalidade (Lilliefors) e Homocedasticidade (Cochran) e, posteriormente, à análise de variância. Em caso de significância, foi realizado o teste de Duncan ou de Tuckey, conforme a instabilidade da variável. Metodologia aprovada pela Comissão de Ética (parecer no. 89/2007).

Resultados e Discussão

A distribuição celular apresentou-se de forma semelhante nos três grupos estudados, sendo os condrócitos as células predominantes, com maior presença nos cornos, os quais se encontravam circundados por abundante substância intersticial. Já os fibrócitos encontravam-se, principalmente na metade externa do menisco, envolvidos por matriz conjuntiva, à semelhança do observado em meniscos frescos de cães8.

A população celular (condrócitos e fibrócitos/fibroblastos) nos grupos MG e MR foi estatisticamente semelhante à densidade celular do grupo MF. À microscopia, todos os fragmentos de meniscos dos grupos MG e MR apresentaram sinais de gradativa desorganização celular (lise), caracterizada por maior condensação da cromatina nuclear e por crescente retração e perda da afinidade tintorial das fibras conjuntivas.

A glicerina 98% não foi capaz de manter a integridade celular e impedir a desorganização progressiva dos constituintes celulares, não mantendo as células viáveis. Isto difere do observado em meniscos de coelhos congelados em diferentes

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temperaturas por 30 dias, que apresentaram um percentual de viabilidade celular de 30%3.

Apesar de se preconizar o transplante de meniscos com células viáveis2, a glicerina 98% passa a ser uma opção de meio de preservação para os autores que recomendam o transplante de menisco com uma matriz colágena desvitalizada4,9.

Nos três grupos avaliados, as fibras colágenas apresentaram uma disposição circunferencial, entrelaçadas por fibras orientadas radialmente10. Essa organização contribui para a manutenção de propriedades mecânicas, como força tênsil e rigidez11. Nos grupos tratados, MG e MR, observou-se retração das fibras colágenas, com maior intensidade no grupo MG. Esta retração pode influenciar a capacidade do menisco em realizar suas funções mecânicas, que dependem de sua estrutura anatômica e composição bioquímica11.

O grupo MF apresentou percentual médio de colágeno Tipo I significativamente menor (p<0,05) que os grupos tratados - MG e MR. Resultados semelhantes aos encontrados na literatura12. Já o percentual de colágeno Tipo III no grupo MF foi significativamente maior do que nos grupos tratados (p<0,05). A maior concentração de fibras colágenas Tipo I e menor concentração de fibras colágenas Tipo III nos grupos tratados pode ser justificada pela retração das fibras de colágeno, conforme descrito por outros autores13. A reidratação realizada nos meniscos do grupo MR não foi suficiente para reverter totalmente a retração das fibras colágenas, mantendo a maior evidência das fibras tipo I nesse grupo que no grupo MF.

Após a preservação em glicerina 98%, os meniscos apresentaram-se transparentes, rígidos e diminuíram de tamanho devido à perda de água. Os meniscos em glicerina apresentaram redução (p<0,05) no tamanho em relação aos do grupo MF. A glicerina desidrata o tecido, sem alterar a concentração iônica das células, atuando como eficaz protetor da integridade estrutural do tecido5. Seis meniscos do grupo MR retornaram ao seu tamanho inicial, não havendo diferença significativa (p<0,05) quando comparados aos meniscos frescos.

A força ao limite de elasticidade foi semelhante (p<0,05) nos três grupos, assim o método de preservação não influenciou esta propriedade biomecânica. Os meniscos do grupo MG apresentaram menor capacidade (P<0,05) de deformação elástica em relação aos grupos MF e MR, que foram semelhantes. Isto comprova que a glicerina, ao desidratar o tecido, torna-o mais rígido e com menor capacidade de retornar à sua estrutura original, diminuindo a capacidade de deformação reversível quando submetido a uma força. Estes dados conferem importância à reidratação, por 12 horas, para recuperação da função fisiológica.

A tensão ao limite de elasticidade nos três grupos experimentais foi semelhante, não havendo diferença significativa entre eles. O grupo MG apresentou capacidade de suportar maior tensão no momento da ruptura que os meniscos dos grupos MF e MR, provavelmente em razão da desidratação e consequente alteração de forma e diminuição de tamanho dos meniscos, tornando-os estruturas menos elásticas, mais densas e rígidas.

Os meniscos do grupo MG apresentaram, significativamente (P<0,05), maior índice de rigidez do que os meniscos dos grupos MF e MR. Isto ocorreu, provavelmente, pela desidratação promovida pela glicerina, diminuindo a elasticidade dos meniscos.

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Conclusões

Conclui-se que meniscos preservados em glicerina 98% por 30 dias e reidratados em NaCl 0,9% por 12 horas mantêm a sua arquitetura tecidual, tamanho, percentagem e organização do seu colágeno. Também não sofrem alterações significativas no seu limite elástico, mantendo-se semelhantes aos meniscos frescos, podendo ser uma opção para transplantes de meniscos com matriz colágena desvitalizada.

Referências

1. Smith GN, et al. (2002). Severity of medial meniscus damage in the canine knee after anterior cruciate ligament transection. Osteoarthritis and Cartilage, 10(4):321-326.

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3. Reckers LJ, et al. (2005). Effects of different preservation temperatures and periods menisci cellularity in rabbits. Acta Cirurgica Brasileira. 20(6):428-432.

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5. Pigossi N (1964). Implantação de dura-máter homóloga conservada em glicerina. Estudo experimental em cães. Tese de Doutorado. Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo. São Paulo, 92p.

6. Del Carlo RJ, et al. (1999). Aloenxertos ósseos caninos diferentemente preservados. Revista Brasileira de Ciência Veterinária. 6(3):121-126.

7. Del Carlo RJ, et al. (2007). Integração de aloenxertos ósseos corticais associados ou não à células-tronco da medula óssea, proteína óssea morfogenética (BMP) e autoenxerto esponjoso em cães. Veterinária e Zootecnia, 14:204-215.

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9. Aagaard H, Jörgensen U, Bojsen-Möller F (1999). Reduced degenerative articular cartilage changes after meniscal allograft transplantation in sheep. Knee Surgery, Sports Traumatology, Arthroscopy, 7:184-191.

10. Bullough PG, et al. (1970). The strength of the menisci of the knee as it relates to their fine structure. The Journal of Bone and Joint Surgery, 52B(3):564-570.

11. Paiva VC (2006). A Correlação entre diferentes temperaturas e períodos de preservação sobre as fibras colágenas de meniscos de coelhos. Dissertação de Mestrado. Escola Paulista de Medicina, São Paulo, 48p.

12. Mcbride DG, Clancy Jr WG. Lacerações meniscais/reparação. In: Andrews JR, Timmerman LA (2000). Artroscopia: Diagnóstico e cirurgia. Rio de Janeiro: Revinter., 270-278.

13. Guimarães GC, et al. (2007). Avaliação histológica de membranas biológicas bovinas conservadas em glicerina e a fresco. Bioscience Journal. 23(3):120-127.

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PADRÃO ULTRASSONOGRÁFICO DO PARÊNQUIMA, MEDIASTINO E TÚNICAS TESTICULARES EM BOVINOS JOVENS DA RAÇA NELORE

ULTRASONOGRAPHICPATTERNOFTESTICULARPARENCHYMA,MEDIASTINUM,ANDTUNICSINYOUNGNELOREBULLS

CARDILLI,D.J.*86;TONIOLLO,G.H.87,PASTORE,A.S.88;CANOLA,J.C.89;MERCADANTE,M.A.Z.90;OLIVEIRA,J.A.91;COUTINHO,A.J.3

Palavras chaves: Touros Nelore, aparelho reprodutor, ecografia

Key-words: Nelore Bulls, reproductive tract, ecography

Introdução

O exame ultrassonográfico dos testículos é um método não invasivo e rápido. Sendo assim, é uma valiosa ferramenta para o complemento da avaliação andrológica e pode ser a técnica de maior importância em casos de desordens subclínicas1.

Segundo a literatura, o padrão ultrassonográfico do parênquima testicular é homogêneo e de ecogenicidade moderada1,2, a qual aumenta com o decorrer da idade do animal3, portanto, o parênquima testicular de animais pré-púberes é hipoecoico em relação ao de animais púberes. Desordens como tumores e processos inflamatórios são tipicamente hipoecoicos em contraste com a ecogenicidade moderada de testículos maturos4,5. Sendo assim, a identificação de tais desordens em animais pré-púberes é mais difícil devido à baixa ecogenicidade testicular nesta fase. Tais afirmações demonstram ainda mais a importância de se descrever a ecogenicidade e o padrão ultrassonográfico normal do parênquima testicular de bovinos jovens.

O objetivo deste estudo foi o de contribuir com a avaliação andrológica, determinando-se e ilustrando-se a ecogenicidade do parênquima testicular e o

86 Doutorando do Programa de pós-graduação em Medicina Veterinária, FCAV/Unesp;

87 Docente Depto. Reprodução Animal, FCAV/Unesp;

88 Médico Veterinário Autônomo;

89 Docente do Depto. de Clínica e Cirurgia Veterinária da FCAV/Unesp;

90 Pesquisador da Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho-SP;

91 Docente do Depto. de Ciências Exatas, FCAV/Unesp. *autor para correspondência: [email protected]

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padrão ultrassonográfico normal do parênquima, mediastino e túnicas testiculares em bovinos jovens da raça Nelore.

Materiais e métodos

Foram realizados exames clínicos e ultrassonográficos em testículos de 111 bovinos da raça Nelore que faziam parte de um mesmo rebanho localizado na cidade de Sertãozinho-SP (latitude -21 º 08' 16" e longitude 47º 59' 25"). Os animais foram mantidos durante todo o período de realização da pesquisa com uma dieta de 14% de proteína bruta e 63 % de energia. A avaliação teve início com os animais apresentando nove meses de idade e repetidas quando estes atingiram, respectivamente, 13 e 15 meses de idade.

Os exames ultrassonográficos foram realizados com um aparelho de ultrassom modelo Pie Medical Scanner 200C, utilizando-se transdutor linear 8 MHz. Foram realizadas varreduras eletrônicas em planos transversais e longitudinais dos testículos direito e esquerdo. As imagens selecionadas foram transferidas diretamente ao computador por meio do software Echo Image Viewer, versão 1.0, Pie Medical Equipament B.V., copyright Pie Medical (EIV).

Com o auxílio do software EIV, foram selecionadas duas regiões de interesse (RI) em cada plano de varredura dos testículos direito e esquerdo. Cada RI foi delimitada por um quadrado de 6,3 mm de lados, localizadas lateral e medialmente ao mediastino testicular em plano transversal e no pólo ventral e dorsal do testículo, excluindo-se o mediastino testicular em plano longitudinal. A ecogenicidade testicular para cada RI foi determinada automaticamente pelo software EIV, utilizando-se uma escala que variou do 0% (anecoico) a 100% (hiperecoico), sendo que os dados foram analisados pelo teste de tukey (p<0,05). A espessura do mediastino testicular, direito e esquerdo, também foi avaliada aos nove, 13 e 15 meses de idade, sempre no plano longitudinal de varredura, e os dados foram analisados pelo teste de tukey (p<0,05). As túnicas testiculares foram observadas nas imagens ultrassonográficas em plano transversal e longitudinal, e o padrão de normalidade foi descrito.

Resultados

O parênquima testicular, nos três momentos da avaliação ultrassonográfica, mostrou-se homogêneo e com baixa ecogenicidade. Os valores médios das ecogenicidades testiculares aos nove, 13 e 15 meses foram, respectivamente, 19,03%, 33,52% e 39,36%. Todos estes valores são estatisticamente diferentes entre si (p<0,05). Assim, a ecogenicidade do parênquima testicular aumentou em proporção direta com a idade dos animais.

O mediastino testicular, em plano longitudinal, apresentou-se como uma linha hiperecoica no centro do parênquima testicular, com a espessura variando de 1,3 mm a 5 mm. Em plano transversal, foi visualizado como um ponto hiperecoico no centro do parênquima testicular. Sua identificação tornou-se mais evidente com o avançar da idade, por se tornar a cada momento mais ecogênico. A espessura média do mediastino testicular aumentou com o decorrer da idade dos animais.

As túnicas testiculares apresentaram-se ao ultrassom como uma linha hiperecoica que circundou todo o parênquima testicular em plano transversal. As

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túnicas vaginais somente foram diferenciadas quando havia fluido entre elas, ou seja, a imagem caracterizou-se por uma linha anecoica entre duas linhas hipercoicas, correspondendo, respectivamente, à túnica vaginal visceral e à túnica vaginal parietal. Ttal presença de líquido foi considerada fisiológica e não um processo patológico.

Discussão

Os resultados deste estudo reforçam as afirmativas de que bovinos pré-púberes, mesmo sendo de raças diferentes da Nelore, apresentam baixa ecogenicidade testicular quando comparados com animais da mesma espécie, mas sexualmente maturos1,2.

Na medicina humana, alguns autores informaram sobre a importância clínica do conhecimento das diferenças entre as ecogenicidades do parênquima testicular de crianças e adultos, uma vez que tumores e processos inflamatórios caracterizam-se por serem hipoecoicos em relação ao parênquima testicular, e são dificilmente visualizados em contraste com a baixa ecogenicidade de testículos de crianças6. Na medicina veterinária, um trabalho relatou algumas alterações no padrão ultrassonográfico do parênquima testicular de bovinos pré-púberes da raça Nelore7. Estes relatos reforçam a importância do conhecimento sobre a ecogenicidade e o padrão ultrassonográfico normal do parênquima testicular em relação à idade dos animais, principalmente em animais jovens, os quais são o foco deste estudo.

Os túbulos seminíferos formam no mediastino uma rede, a rede do testículo (rete testis). Com o aumento da idade do animal, ocorrem importantes e consideráveis mudanças anatômicas nos túbulos seminíferos, os quais se tornam mais longos e “retorcidos”, aumentam em diâmetro e formam um lúmen8, o que pode explicar o aumento da espessura do mediastino testicular.

Estudos informaram que a presença de líquido entre as túnicas vaginais parietal e visceral pode ser normal, porém mais de 2 mm de espessura entre as túnicas pode indicar processo patológico1. Em alguns animais da raça Nelore foi encontrado líquido entre as túnicas, porém esta presença de líquido foi considerada fisiológica, já que os testículos apresentavam-se aparentemente normais à palpação e ao ultrassom.

Conclusões

O conhecimento do padrão ultrassonográfico normal do parênquima testicular de bovinos jovens da raça Nelore permite a detecção precoce de alterações testiculares e o descarte precoce destes animais para a reprodução. Desta forma, o presente trabalho apresenta uma grande contribuição para a avaliação andrológica de touros.

Referências

1. Pechman R.D., Eilts B.E. (1987). B-mode ultrasonography of the bull testicle. Theriogenology, 27: 431-441.

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2. Abdel-Razek A., Ali A.(2005). Development Changes of Bull (Bos taurus) Genitalia as Evaluated by Caliper and Ultrasonography. Reproduction in Domestic Animals, 40: 23-27.

3. Cardilli D.J. et al. (2009). Ultrasonographic study of testicular development in young Nelore bulls raised in extensive management system. Animal Reproduction, 6: 252.

4. Horstman W.G., Haluszka M.M., Burkhard T.K. (1994). Management of testicular masses incidentally discovered by ultrasound.The Journal of Urology, 151: 1263.

5. Simon S.D., Lee R.D., Mulhall J.P. (2001). Should all infertile males undergo urologic evaluation before assisted reproductive technologies? Two cases of testicular cancer presenting with infertility. Fertility and Sterility,75: 1226.

6. Hamm B.; Fobbe, F. (1994). Maturation of the Testis: ultrasound evaluation. Ultrasound in Medicine & Biology, 21: 143-147.

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8. Sisson S. Aparelho urogenital. In: Getty R. (1986). Anatomia dos animais domésticos. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan, 881-886.

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INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO DENTÁRIO NAS CARACTERÍSTICAS DO LÍQUIDO SINOVIAL DA ARTICULAÇÃO TEMPOROMANDIBULAR EM

EQUINOS

INFLUENCEOFDENTALTREATMENTONPHYSICAL,BIOCHEMICALANDCYTOLOGICALCHARACTERISTICSOFTHEEQUINETEMPOROMANDIBULARJOINTSYNOVIALFLUID

ZAMBRANO,R.S.921;LIMA,E.M.M.1;FONSECA,F.A.1;MORAES,J.M.1;ALVES,G.E.S.2;GODOY,R.F.1

Palavras chave: cavalo, dentária, odontologia

Key words: dental, dentistry, horse

Introdução

A alteração da correspondência entre os ângulos dentários e articulares pode, a médio ou longo prazo, colaborar para a ocorrência de artropatias nas articulações temporomandibulares. A análise do LS é realizada para identificar alterações citológicas e químicas de afecções inflamatórias supurativas e não supurativas, hemorragias, neoplasia ou doenças infecciosas (KIEHL, 1997). O LS reflete alterações no tecido sinovial e no metabolismo intra-articular ocasionadas pela doença (VAN PELT, 1962). Nos equinos, as alterações da ATM podem estar associadas diretamente aos problemas dentários. Porém existem poucos estudos científicos a respeito da ATM em equinos, sendo que a maioria das informações vem de comparações com estudos desta estrutura em humanos (MOLL; MAY, 2002). O objetivo deste estudo foi avaliar as características físicoquímicas e citológicas do LS da ATM em equinos com alterações dentárias, bem como o efeito do tratamento dentário sobre estas características.

Metodologia

Este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética no Uso Animal da Universidade de Brasília (CEUA-UnB), sob processo UnBDOC n˚ 29237/2009 por estar de acordo com os princípios éticos do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea). Foram utilizados 24 equinos da raça Brasileiro de Hipismo, de ambos

92 Hospital Escola de Grandes Animais/ Universidade de Brasília (UnB). Galpão 04, Granja do Torto, CEP 70636-200,

Brasília-DF. 2.Universidade Federal de Minas Gerais. Autor para correspondência: [email protected]

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os sexos, sendo 18 portadores de alterações dentárias e seis animais com ausência dessas alterações, os quais foram utilizados como controle (GC). Os animais portadores de alterações dentárias foram divididos em três grupos experimentais, com seis animais cada um (GI- de 60 a 84 meses, GII- de 85 a 120 meses e GIII- de 121 a 156 meses). O GC foi constituído por animais sem alterações dentárias, de modo que dois animais tivessem entre 60 e 84 meses, dois de 85 a 120 meses e outros dois apresentassem entre 121 e 156 meses. Para a triagem de animais portadores de alterações dentárias, os animais foram submetidos a exame odontológico. As coletas de LS da ATM foram realizadas nas articulações de ambos os antímeros de cada animal de acordo com Schumacher (2006). As amostras de LS foram imediatamente divididas em dois tubos, sendo um sem anticoagulante para dosagem de proteína total pelo método de biureto e outro tubo com anticoagulante EDTA (ácido etilediaminotetracético, sal dissódico) a 10% para as demais variáveis. Os animais foram pesados em balança digital própria para equinos. Nos animais do GC, foram realizadas pesagem e coleta do LS apenas uma vez, sendo classificado como o tempo inicial (T0), pois esses foram os animais sem alterações dentárias. Nos animais do GI, GII e GIII, foi realizada pesagem e coleta de LS antes do tratamento dentário (T0) e 60 dias (T60) após a correção das alterações, segundo técnica de Easley (2005). Foram avaliadas as características físicoquímicas (aspecto, volume, coloração, turbidez, viscosidade e proteína total - PT) e celulares do LS, sendo o aspecto, o volume e a viscosidade verificados no momento da coleta de cada amostra, como recomenda Piermattei (1997). A determinação da viscosidade foi realizada no momento da transferência do LS da seringa de coleta para os tubos de ensaio. Dessa forma, estimava-se o comprimento, em centímetros, do filamento formado pela gota após se desprender da agulha. Considerou-se a viscosidade diminuída quando o comprimento do filamento foi inferior a 5 cm, sendo atribuídos escores numéricos de 1 para viscosidade diminuída e 2 para viscosidade normal, para posterior análise estatística. O pH e a concentração de glicose foram mensurados por meio de fita Combur-test. A densidade e proteína total foram mensuradas com refratômetro. As contagens globais de hemácias e de células nucleadas foram realizadas com hematocitômetro de Neubauer. As contagens diferenciais de células nucleadas foram realizadas em lâminas de vidro coradas pela técnica de Panótico, sendo classificadas como linfócitos, grandes células mononucleares, neutrófilos segmentados e eosinófilos. As variáveis paramétricas foram comparadas entre os tempos T0 e T60 de cada grupo. Utilizou-se o teste t de Student ao nível de significância p<0,05.

Resultados e discussão

De acordo com os dados analisados, obtiveram-se poucos resultados estatísticos com significância, entre as características do LS antes e depois do tratamento dentário. Acredita-se que as alterações odontológicas encontradas nesse experimento não foram suficientes para influenciar as características físicoquimicas e citológicas do LS das articulações estudadas. As alterações encontradas nos animais dos grupos I, II e III foram ganchos, PEED, degraus e uma mordedura cruzada com angulação bem leve . Embora não tenha sido estatisticamente significativo, pôde-se notar clinicamente o ganho de peso, em conseqüência de uma melhor mastigação e uma digestão mais efetiva. Outro fator que também deve ser considerado é o tempo de 60 dias entre a primeira e a segunda coleta, que pode ter sido insuficiente para gerar alterações significantes nas características do LS. Carmalt (2005) afirma que essas mudanças não são significativas em um tempo curto quando se trata de ganho

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de peso, escore corporal, digestibilidade ou tamanho da partícula fecal, mas é importante ressaltar que o seu experimento foi feito apenas em éguas prenhas, o que remete a necessidades nutricionais muito diferentes de animais não prenhes. Os dados do presente estudo confirmam o encontrado nestes dois últimos trabalhos, pois houve ganho de peso em 75% dos animais, embora não tenha sido provado estatisticamente. Com relação às variáveis do LS, não houve diferença significativa em nenhum parâmetro analisado (viscosidade, hemácias, células nucleadas, linfócitos, macrófagos e neutrófilos segmentados) e estes se encontraram dentro da normalidade. O que se nota nos três grupos é uma correlação inversamente proporcional da densidade e proteína total comparando com o volume, sendo que à medida que o animal envelhece, o volume de LS diminui e se torna mais denso e com uma concentração maior de proteína (tabela 1), assim como observado por Viitanen et al. (2001). É importante que se lembre que animais mais velhos tendem naturalmente a modificações na estrutura das articulações e degeneração articular que poderiam também trazer modificações nos parâmetros como a proteína.

Conclusões

Alterações dentárias leves, como as encontradas neste estudo, não causam alterações físicoquímicas e citológicas no líquido sinovial.Os achados positivos como ganho de peso comprovam que a manutenção odontológica é questão de saúde no plantel. Com o envelhecimento do animal, há diminuição de volume de LS na ATM e aumento da densidade e proteína total no LS. A avaliação de citocinas talvez nos propicie os resultados necessários para comprovar a necessidade da manutenção odontológica nos equinos e sua relação com a prevenção de problemas na articulação temporomandibular de equinos.

Referências

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2. EASLEY, J. Corrective dental procedures. In: BAKER, G.J, EASLEY,J. Equine dentistry 2 ed. Ed Elsevier Saunders:Filadélfia -USA , 2005, 353P.

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Tabela 5. Apresentação dos dados de densidade, proteína total e volume de LS da articulação temporomandibular dos grupos I, II e III, evidenciando a correlação negativa entre os dois primeiros parâmetros e o terceiro. Brasília, DF, 2009.

Densidade

T0 T60

Proteína total

T0 T60

Volume

T0 T60

Grupo I

1018,5 ± 2,54(12)

1019,3 ± 2,77 (12)

3,75 ± 2,54

4,41 ±0,55 (12)

0,833 ± 0,71(12)

0,85 ± 0,14(12)

Grupo II

1020,16 ± 2,76 (12)

1020,75 ± 2,49(12)

4,15

± 0,82(12)

4,47

±0,54 (12)

0,71

± 0,17(12)

0,68

± 0,15(12)

Grupo III

1026,2

± 4,76(10)

1021,66

± 0,98(5)

5,46

± 1,11(10)

4,26

± 0,54(5)

0,51

± 0,15(10)

0,4

±0,13 (5)

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TRATAMENTO DA PITIOSE EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA COM ANFOTERICINA B

TREATMENTOFPYTHIOSISINEQUINELIMBSUSINGINTRAVENOUSREGIONALPERFUSIONOFAMPHOTERICINB

DÓRIA,R.G.S.93;FREITAS,S.H.1;MENDONÇA,F.S.1;ARRUDA,L.P.1;BOABAID,F.M.94;VALADÃO,C.A.A95

PALAVRAS-CHAVE: anfotericina B, perfusão regional intravenosa, pitiose KEY WORDS: amphotericin B, intravenous regional perfusion, pythiosis

INTRODUÇÃO

A pitiose é uma doença cutânea, gastrintestinal ou multissistêmica, granulomatosa, que atinge homens e animais, causada pelo oomiceto Pythium insidiosum. Este organismo filamentoso encontra-se em ambientes aquáticos, especialmente em regiões pantanosas, com temperaturas superiores a 25º C, como o Pantanal Mato-Grossense. Em equinos, a enfermidade caracteriza-se pela formação de granulomas eosinofílicos, com a presença de massas necróticas denominadas “kunkers”. A pitiose causa prejuízos significativos na criação de equinos no Brasil, seja pela morte dos animais, pela perda de função ou pelos gastos com tratamentos. Vários métodos terapêuticos têm sido utilizados, principalmente em equinos, incluindo tratamento medicamentoso (antimicóticos), cirúrgico e imunoterápico, sendo que há dificuldade no tratamento devido às características deste oomiceto, que não apresenta esteróis de membrana, sendo, portanto, resistente à maioria dos antimicóticos1,2. Nos últimos anos, vêm sendo desenvolvidas novas técnicas de administração local e regional de antibióticos, como a Perfusão Regional Intavenosa (PRI). Esta permite alcançar altas concentrações de antibiótico no local da infecção, enquanto são mantidas as concentrações sistêmicas abaixo do grau de toxicidade do fármaco. Permitem ainda o emprego de fármacos cuja administração sistêmica, em cavalos, resultaria economicamente proibitiva3. Dessa forma, com a finalidade de oferecer aos médicos veterinários conhecimentos complementares que permitam uma alternativa aos tratamentos atuais para pitiose nos membros de equinos, objetivou-se com este estudo avaliar a técnica de PRI do membro com anfotericina B, um antimicótico4, para o tratamento de infecções por pitiose.

93 Universidade de Cuiabá, Cuiabá, Mato Grosso. Avenida Antártica, 788. Ribeirão da Ponte. 78040-500. e-mail:

[email protected].

94Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil

95Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, São Paulo, Brazil

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MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 16 equinos da raça pantaneira, que apresentavam pitiose em membro torácico ou pélvico, distalmente às articulações do cotovelo ou do joelho. Um grupo foi constituído por 12 equinos, tratados pela PRI com anfotericina B (Ganf), e outro grupo por quatro animais controles (Gc), em que se realizou PRI com Ringer lactato. Os animais foram selecionados na região do Pantanal Mato-Grossense, permaneceram alojados em piquetes livres de áreas alagadiças, mantidos em regime de alimentação à base de capim, suplementação mineral e água ad libitum. Após jejum alimentar (12h) e avaliação clínica, foi realizada anestesia geral intravenosa, mediante tranquilização com acepromazina 1% (0,1 mg/kg, IV), éter-gliceril-guaiacol (100 mg/kg, IV) e indução/manutenção anestésica com cetamina 10% (2 mg/kg, IV), associada na mesma seringa, com midazolam (0,1 mg/kg, IV). Os animais foram posicionados em decúbito lateral e procedeu-se à antissepsia com povidona-iodo e álcool 70%. Na sequência, foi realizada hemostasia preventiva, por meio de garroteamento do membro, com torniquete de borracha, na região proximal à ferida (em relação ao tronco) e excisão cirúrgica do tecido de granulação exuberante e dos “kunkers”, evitando exposição óssea ou penetração articular. Fragmentos 1cm3 foram colhidos e enviados para avaliação histopatológica e imuno-histoquímica. Na sequência, o torniquete foi lentamente afrouxado para que se realizasse a hemostasia por termocauterização. Após cinco minutos, destinados à reperfusão sanguínea do membro, o garrote de borracha foi reposicionado, padronizando-se duas voltas (360º) em torno do membro, de maneira tensa. Uma veia superficial engurgitada, localizada proximal à ferida e distal ao torniquete, foi canulada, com cateter intravenoso (20G). Após implantação do cateter, administrou-se, no Ganf, 60 mL da solução de anfotericina Bi (0,83 mg/mL), composta por 50 mg de anfotericina B (10 mL de diluente), diluída em 50 mL de solução de Ringer lactato e no Gc, 60 mL de solução de Ringer lactato. O volume total foi administrado manualmente, padronizando-se o tempo de infusão em cinco minutos, com auxílio de seringa de 60 mL e extensor de cateter (escalpe 21). O tempo total de garroteamento do membro foi de 45 minutos. No Ganf, nos casos em que “kunkers” foram observados nos dias subsequentes ao procedimento experimental, considerou-se necessária a realização, com intervalo de 14 dias, de uma reaplicação de anfotericina B pela técnica de PRI. As feridas foram fotografadas e avaliadas, considerando-se a macroscopia da lesão (tabela 1), antes do início do procedimento experimental (D0) e após sete (D7), 14 (D14), 21 (D21), 28 (D28), 35 (D35) e 60 (D60) dias. As feridas foram consideradas pequenas quando sua área atingia até 25 cm2 e grandes quando sua área ultrapassava 25 cm2.

RESULTADOS O diagnóstico pelas técnicas histoquímicas de HE e GMS dos 16 animais

utilizados no experimento foi de pitiose cutânea, confirmado pela imunomarcação positiva (LSAB) para Pythium insidiosum. No Gamf, oito equinos (66%) possuíam feridas grandes e quatro (34%) apresentavam feridas pequenas; no Gc, todos os equinos (100%) apresentavam feridas grandes. No D0, constatou-se em todos os animais feridas tipo 1 com sinais de prurido na região afetada, caracterizado por automutilação. Foi verificado que as quatro feridas pequenas (33%) e as três feridas grandes (25%) regrediram após serem submetidas à PRI única de anfotericina B, evoluindo para feridas tipo 2 no D7, feridas tipo 3 no D14 e D21, feridas tipo 4 no D28

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e feridas tipo 5 no D35. Cinco feridas grandes (42%) exigiram duas PRI de anfotericina B. Nestes casos, no D7 as feridas foram classificadas como tipo 2, sendo que em alguns pontos ainda eram evidenciados “kunkers”. Entretanto, nesse momento não era possível repetir a PRI, pois havia edema da primeira aplicação, o que dificultava a localização da veia a ser canulada; no D14 a reaplicação de anfotericina B era passível de ser realizada. Aos sete e 14 dias após a readministração de anfotericina B pela PRI (D21 e D28). eram evidenciadas feridas tipo 3 e, com 21 dias da segunda administração (D35), as feridas foram classificadas como tipo 4. No D60, as feridas foram classificadas como tipo 5. Sendo assim, sete animais (58% dos equinos) apresentaram cura da pitiose em seus membros após administração única de anfotericina B por meio da técnica de PRI, sendo que três animais apresentavam feridas grandes (37,5% dos equinos com feridas grandes) e quatro feridas pequenas (100% dos equinos com feridas pequenas). Cinco animais necessitaram de uma readministração de anfotericina B mediante utilização da técnica de PRI (42% dos equinos), sendo que todos apresentavam feridas grandes (62,5% dos equinos com feridas grandes). Todos os equinos do Gc (100%) apresentaram recrudescência da afecção, já observada no D7, caracterizada por feridas tipo R.

DISCUSSÃO

Com este estudo fica demonstrado que, independentemente das dimensões e ou estágio de evolução das feridas, a PRI com anfotericina B leva à regressão completa, sem recidivas, da pitiose em membros de equinos, mesmo não sendo possível a exérese total do tecido afetado. Evidenciou-se também que apenas a remoção cirúrgica e a termocauterização não são satisfatórias para a cura da pitiose, ficando patente nos animais não tratados com anfotericina B (Gc) recorrência dos granulomas, com secreção serossanguinolenta e “kunkers”, sete dias após o procedimento cirúrgico. Por outro lado, equinos tratados com anfotericina B, mesmo não sendo possível a completa remoção do tecido comprometido pelo “pseudo-fungo”, observou-se a cicatrização, sem recidivas, em 100% das feridas. Atualmente, a PRI é considerada um dos avanços mais importantes no manejo das infecções ortopédicas dos cavalos, pois, a administração de antibioticoterapia regional elimina de maneira eficaz infecções ósseas, intra-articulares, peri-articulares e dos tecidos perfundidos pelo fármaco5,6. Sabe-se que o tratamento das infecções causadas pelo Pythium insidiosum é complicado devido às características singulares desse agente infeccioso7. No entanto, a anfotericina B mostrou-se eficaz em 100% dos casos tratados por meio de PRI. Possivelmente, uma das explicações para a eficácia elevada desse antibiótico, aplicado por essa técnica, poderia ser a concentração tecidual elevada de anfotercina B atingida após a administração regional, que permanece por tempo prolongado3,5,6, favorecendo o contato da anfotericina B com os constituintes de membrana celular do Pythium insidiosum, dificultando a multiplicação ou mesmo inibindo processos metabólicos vitais para o patógeno e ampliando a eficácia terapêutica da anfotericina B. Embora a dose de anfotericina B administrada (50mg) tenha sido empírica, o volume perfundido de 60 mL e a duração da aplicação de 5 minutos (taxa de 12 mL/min) foram determinados com base em estudos sobre PRI em membros de equinos com antibióticos, com o intuito de não exceder a pressão no torniquete e perder o fármaco para a circulação sistêmica3,5,6,8,9. Da mesma maneira, a manutenção do torniquete por 45 minutos demonstrou efeitos positivos do ponto de vista farmacológico, por aumentar a retenção tecidual do fármaco administrado3,5,6,8,9.

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CONCLUSÃO Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a administração de

anfotericina B por PRI nos membros de equinos, em uma ou duas aplicações, associada à remoção cirúrgica e termocauterização, promove a remissão da infecção por Pythium insidiosum, constituindo-se uma alternativa terapêutica, viável e eficaz, para o tratamento de pitiose em membros de equinos, promovendo cicatrização completa das feridas.

Tabela 1. Classificação das lesões segundo avaliação macroscópica.

Tipo 1 Tecido de granulação exuberante, com ulcerações cutâneas extensas e exsudato serossanguinolento viscoso. Ao corte, tecido esbranquiçado, com fístulas que se comunicam com cavidades, as quais contém concreções brancoamareladas, de consistência firme, com aspecto de coral (“kunkers”).

Tipo 2 Tecido de granulação róseoamarelado, com tecido necrótico e ausência de secreção serossanguinolenta ou “kunkers”.

Tipo 3 Linha de epitelização nas margens da lesão; tecido de granulação rosado, plano, ausência de secreções ou “kunkers”.

Tipo 4 Epitelização parcial da lesão; tecido de granulação rosado, plano, com ausência de secreções ou “kunkers”.

Tipo 5 Ferida cicatrizada. Epitelização completa, com pelos na região da lesão.

Tipo R Ferida recidivante. Tecido de granulação exuberante vermelho escuro ou preto, secreção serossanguinolenta e “kunkers”.

O protocolo de tratamento foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa e bem-estar animal da Universidade de Cuiabá - UNIC, protocolo no 0307-177.

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REFERÊNCIAS

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ANESTESIA DE RATAS SUBMETIDAS AO TRANSPLANTE AUTÓLOGO OVARIANO PELO USO DO TRIBROMOETANOL OU ASSOCIAÇÃO DE

XILAZINA/CETAMINA

ANAESTHESIAINRATSSUBMITTEDTOOVARIANAUTOLOGOUSTRANSPLANTATIONBYUSEOFTRIBROMOETHANOLORCOMBINATIONOFXYLAZINE/KETAMINE

MACEDO,M.F.96;BEZERRA,M.B.97;BARROS,F.F.P.C.98;MATOS,M.C.3;MOREIRA,M.A.P.2,VICENTE,W.R.R.3.

Palavras-chave: tribromoetanol, xilazina, cetamina.

Key Words: tribromoethanol, xylazine, ketamine.

Introdução

A manipulação de modelos experimentais em laboratório ou biotério muitas vezes envolve procedimentos que necessitam de sedação ou mesmo anestesia para que sejam executados com a devida segurança e bem-estar dos animais (PAIVA et al., 2005). Corriqueiramente, são empregados protocolos anestésicos que associam um agente sedativo agonista de receptores α2-adrenérgicos, a xilazina, e outro dissociativo, como a cetamina (MACEDO et al., 2008; YANG et al., 1999; ERHARDT et al., 1984). Neste tipo de anestesia, os efeitos indesejáveis da cetamina (ausência de relaxamento muscular, tempo de recuperação prolongado e salivação excessiva) são minimizados quando esta substância é associada a anticolinérgicos como a atropina (XU et al., 2007), promovendo um maior relaxamento muscular e melhores parâmetros clínicos, além de características anestésicas e analgésicas desejáveis. Nos últimos anos, um hipnótico comercializado no exterior sob o nome de Avertin® (HART et al., 2001; HUTCHISON et al., 2008) passou a ser utilizado em procedimentos cirúrgicos e de rotina também em nossos laboratórios. Seu princípio ativo é o 2,2,2-tribromoetanol (TBE), adquirido sob a forma de cristais e que pode ser diluído em álcool amil-terciário ou solução fisiológica 0,9% estéril antes da administração. Sendo assim, delineou-se a presente investigação com o objetivo principal de comparar a eficácia desses agentes na anestesia de ratas submetidas ao

96 Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária, FCAV-Unesp, Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n,

Jaboticabal-SP, [email protected];

97 Departamento de Ciências Animais, Ufersa, BR 110, Km 47, Costa e Silva, Mossoró-RN;

98 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal, FCAV-Unesp, Jaboticabal-SP.

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transplante autólogo ovariano, buscando ainda estabelecer um protocolo anestésico alternativo e talvez mais eficiente que aqueles já utilizados para os mesmos procedimentos.

Metodologia

Foram utilizadas cem ratas Wistar ao longo das avaliações. Dessas, 55 foram submetidas à anestesia dissociativa composta por cloridrato de xilazina99 (10 mg/kg de peso corpóreo) e cloridrato de cetamina100 (70 mg/kg de peso corpóreo), misturados na mesma seringa e administrados por via intramuscular (IM) na face interna do membro pélvico. Outras 45 fêmeas receberam TBE101 2,5% (0,025g/ml), diluído em solução fisiológica, administrado via intraperitoneal (IP) na dose de 250mg de TBE/kg. Ambas as dosagens foram ajustadas individualmente, quando necessário, durante o procedimento cirúrgico para manutenção do plano anestésico desejado (estabilidade das frequências cardíaca e respiratória, bem como ausência de resposta ao estímulo doloroso, permitindo a realização da técnica cirúrgica). Nos períodos pré, trans e pós-cirúrgicos, os seguintes aspectos foram observados: período de latência anestésica, período de ação, analgesia no transcirúrgico, possíveis complicações e tempo para recuperação anestésica. Os dados obtidos a partir da avaliação de parâmetros qualitativos (grau de analgesia e complicações no transcirúrgico) foram expressos descritivamente. Os demais resultados foram analisados pela média (+desvio-padrão), comparados entre si por ANOVA e teste de Tukey (p<0,05).

Resultados

Não houve diferença entre os tempos médios de latência que foram de 1,5 + 0,6 minutos para o TBE (após administração IP) e de 3,3 + 2,0 minutos com a associação xilazina/cetamina (após administração IM). Observou-se que a intensidade e duração dos efeitos anestésicos foi dose-dependente para ambos os protocolos, sendo a duração do plano anestésico de até 30 minutos para o TBE e 60 minutos pela anestesia dissociativa, tempos considerados adequados à realização dos procedimentos cirúrgicos, que duraram 23,5 + 7,0 minutos. A analgesia obtida com a administração do TBE foi considerada adequada na totalidade dos procedimentos (45/45), permitindo a realização dos mesmos com tranquilidade e segurança necessários, oferecendo ainda a analgesia visceral requerida. Em contrapartida, a associação de xilazina e cetamina promoveu uma analgesia considerada adequada em 65,4% (36/55) dos animais, permitindo a execução dos procedimentos cirúrgicos. Em 34,6% (19/55) observaram-se taquipneia e resposta ao estímulo doloroso no transcirúrgico, considerando-se nestas situações o grau de analgesia obtido como ruim ou regular. Mesmo observando-se um grau de analgesia adequado na maioria dos transplantes, a associação xilazina/cetamina demonstrou que pode existir a necessidade de um ajuste na dose de 3 mg/kg de cloridrato de xilazina associados a 21 mg/kg de cloridrato de cetamina no transcirúrgico para manutenção da anestesia e 99Dorcipec,Vallée,MontesClaros‐MG.

100Dopalen,Vetbrands,Jacareí‐SP.

1012,2,2‐tribromoethanol,Sigma–Aldrich,StLouis,MO.

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analgesia, restringindo a técnica cirúrgica proposta à execução de repiques anestésicos. A recuperação anestésica ocorreu após 32 e 65 minutos na maioria dos animais anestesiados pelo TBE e xilazina/cetamina, respectivamente. Este tempo de recuperação, assim como a intensidade e duração da anestesia, foram diretamente influenciados pela quantidade de anestésicos utilizados nas doses de indução-manutenção associada à eventual sobredose necessária no transcirúrgico.

Discussão

Tradicionalmente, o tribromoetanol é um agente anestésico bastante utilizado para manipulação de animais em laboratório e para pesquisas que envolvam animais experimentais. Foram relatados (ZELLER et al., 1998) efeitos adversos potenciais do tribromoetanol (aderências fibrosas, indução de necrose e alterações inflamatórias na parede e superfície dos órgãos abdominais, além da alta taxa de mortalidade) após uma segunda administração, muito embora a causa e real incidência desses efeitos permaneçam desconhecidas. Outros estudos compararam o tempo de indução e duração dos efeitos anestésicos do tribromoetanol e outros protocolos anestésicos (GARDNER et al., 1995). Porém, são pouco descritos na literatura relatos destes mesmos parâmetros, comparando-se os efeitos do TBE e da associação xilazina/cetamina (THOMPSON et al., 2002). Tomando por base nosso objetivo, analisamos conjunta e comparativamente nossos resultados e foi possível observar que o tribromoetanol, nas condições preconizadas e testadas neste experimento, resultou em parâmetros cirúrgicos e anestésicos avaliados melhores que aqueles demonstrados após administração de xilazina e cetamina associadas, sem que fossem registrados quaisquer efeitos adversos. Dessa forma, o TBE pode ser considerado como uma alternativa adequada para este tipo de procedimento cirúrgico em que são necessárias a manutenção da imobilidade do animal, uma adequada analgesia visceral, além da segurança para a correta e precisa manipulação dos órgãos e tecidos reprodutivos; tendo ainda, uma menor ocorrência de complicações transcirúrgicas e duração dos efeitos anestésicos.

Conclusão

Concluiu-se, portanto, que o tribromoetanol atendeu integralmente aos critérios requeridos pelas técnicas empregadas no transplante ovariano e configurou-se como agente anestésico viável, válido e mais eficiente para execução deste tipo de cirurgia do que quando utiliza-se a associação xilazina/cetamina. Porém, são necessários mais estudos para estabelecer o TBE como uma alternativa de eleição a outros protocolos de anestesia dissociativa.

Aprovado pela Cebea-FCAV/Unesp, sob o protocolo n° 016320-07.

REFERÊNCIAS

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PLATAFORMA DE FORÇA NO PADRÃO ORTOSTÁTICO EM CÃES

FORCEPLATELETINORTOSTATICPATTERNINDOGS

BARBOSA,A.L.T.1,SCHOSSLER,J.E.W.1021,BOLLI,C.M.1,LEMOS,L.F.C.1,MEDEIROS,C.1

Palavras-chave: placa de força; estática; transferência de peso.

Key-words: force plate, static, weight transfer.

Introdução

A plataforma de força tem sido usada como avaliação objetiva e não invasiva da marcha normal e anormal em humanos e animais. Ortopedistas humanos têm usado a plataforma, há duas décadas, na mensuração de forças externas antes e depois do tratamento dos pacientes. Já existem vários estudos usando a plataforma de força em animais para avaliação da marcha em especialidades da medicina veterinária, como neurologia e ortopedia. Já se avaliou a função do membro antes e depois da artroplastia total do cotovelo acometido por osteoartrite severa e natural, na cirurgia de descompressão em cães com estenose lombossacra degenerativa, em afecções no ligamento cruzado cranial, e na displasia coxofemoral.

A medicina humana, além da avaliação em marcha na plataforma de força, atualmente realiza estudos estabilométricos para avaliar a postura e equilíbrio, utilizando a plataforma em padrão ortostático para esta finalidade. Porém, ao contrário da medicina humana, na veterinária o uso da plataforma se restringe à coleta de dados em marcha para análise locomotora. Desta forma, ainda não existem trabalhos utilizando a plataforma em coleta estática, ou seja, em um padrão ortostático para o enfoque na avaliação do apoio e distribuição do peso nos membros, permitindo a visualização de possível transferência.

Os objetivos deste trabalho foram: padronizar o uso da plataforma de força em coleta estática, ou seja, em padrão ortostático, para o enfoque na avaliação do apoio e distribuição do peso nos membros, permitindo a visualização de possível transferência; e testar o seu uso neste padrão como parâmetro objetivo de avaliação em pacientes ortopédicos com afecções articulares.

A metodologia foi dividida em duas etapas: Padronização e Teste da Plataforma de Força. Foi formado um Grupo Controle, constituído de seis animais adultos, saudáveis, de porte semelhante, sem histórico de problemas ortopédicos ou demais patologias que pudessem comprometer o estudo. Este grupo teve o objetivo de fornecer os parâmetros normais, encontrados em animais saudáveis, nas avaliações plataforma de força para permitir a padronização.

102 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Endereço autor principal: R. Coronel Niederauer, 795, apt 302,

Centro, Santa Maria, RS, CEP 97015121, e-mail: [email protected]

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Para o teste da plataforma em padrão ortostático, foi estabelecido um grupo tratado, constituído de 16 pacientes ortopédicos da rotina hospitalar, anteriormente submetidos à cirurgia na articulação coxofemoral: colocefalectomia e inserção de pino transacetabular após doenças em que estes métodos poderiam ser curativos. Ambos os grupos foram avaliados por avaliação clínica, avaliação do apoio na plataforma de força em padrão ortostático e exame radiográfico. No grupo tratado, a avaliação clínica se constituiu de anamnese e avaliação dos graus de claudicação. No grupo controle, a avaliação clínica foi constituída de anamnese e exame físico, somente para certificar a normalidade clínica e deambulatória destes animais.

Para avaliação do apoio, foi realizada a coleta de dados de cada animal sobre uma plataforma de força na posição ortostática (em estação), em nove posicionamentos diferentes: quatro patas, Lado Direito - D, Lado Esquerdo - E, Dianteiras - F, Traseiras - T, Dianteira Direita – DD, Dianteira Esquerda – DE, Traseira Direita – TD, Traseira Esquerda – TE. Em cada posicionamento, o animal deveria estar completamente parado durante cinco segundos para coleta dos dados. Foram realizadas três repetições em cada posicionamento, com intervalo de 30 segundos entre elas, onde o animal descia da plataforma e esta era zerada.

Os dados foram coletados através de uma plataforma de força OR6-6 AMTI (Advanced Mechanical Technologies, Incorporation, USA), nivelada ao piso, medindo 464x508x82,5 mm, equipada com placa analógica digital ADI 32, amplificador Mas-6 e software específico, localizada no Laboratório de Pesquisa e Ensino do Movimento Humano – Núcleo de Biomecânica do Centro de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Santa Maria, e operada por um profissional da área. Foi realizada estatística descritiva, teste de Kolmogorov-Smirnov, t-student, Spearman Rank Order Correlation, com nível de significância 5% (p < 0,05). Para realização destes testes foi utilizado o programa estatístico Sigmastat®.

Após verificar a normalidade dos dados da porcentagem média de peso em cada um dos posicionamentos dos animais controle, foi delimitada a média e desvio padrão por análise descritiva. A soma da média e o desvio padrão forneceram o Limite Superior, e a subtração, o Limite Inferior. Observou-se diferença significativa (p<0,05) pelo teste t-student entre o apoio dos membros torácicos e os pélvicos, sendo em torno de 63,56% do peso apoiado nos membros torácicos e 36,44% do apoio nos pélvicos. Este fato é condizente com a anatomia destes animais, já que a cabeça e tórax são as regiões mais pesadas, sendo seu apoio localizado principalmente sobre os membros torácicos.

Os dados de porcentagem de peso em cada um dos posicionamentos de cada animal do grupo tratado foram comparados ao grupo controle em uma avaliação individual, enquadrando os dados dentro dos limites superior e inferior estabelecidos. Os pacientes que possuíam valores superiores ao limite superior num determinado posicionamento foram considerados com aumento de peso sobre o membro ou membros em questão. Os pacientes que possuíam valores inferiores ao limite inferior num determinado posicionamento foram considerados com redução de peso sobre o membro ou membros em questão.

Em todos os animais avaliados onde ocorreu transferência foi possível determinar o percentual de transferência, de onde foi retirado o peso e para onde foi transferido, somente utilizando a avaliação dos posicionamentos em separado de cada membro. As avaliações nos demais posicionamentos foram utilizadas somente

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para conferência. Portanto, em estudos futuros que utilizem a plataforma no padrão ortostático, recomenda-se o uso dos posicionamentos em separado de cada membro, associado ao posicionamento com as quatro patas sobre a plataforma, como metodologia, não sendo necessários os outros quatro posicionamentos, tornando mais rápidas as avaliações sobre a plataforma de força.

Foi classificada como transferência direta aquela em que o animal reduzia o peso no membro afetado ou em ambos os membros pélvicos; e indireta quando o animal reduzia o peso nos demais membros. Os animais que apresentaram transferência de peso foram divididos por membro afetado para classificar qual o destino da transferência. Comprovou-se a transferência em ambos os grupos, sendo, no grupo com o membro direito afetado, o peso retirado do membro pélvico direito e distribuído nas dianteiras, e no grupo com o membro esquerdo afetado, o peso retirado do membro pélvico esquerdo e transferido para o lado contralateral.

Através do grupo controle foi possível padronizar o uso da plataforma de força em padrão ortostático para cães, caracterizar a distribuição do peso corporal/apoio sobre os membros em animais normais e desenvolver uma metodologia adequada para esse tipo de coleta de dados sobre a plataforma de força em animais. A plataforma de força em padrão ortostático, através da determinação da distribuição do apoio e transferência de peso, mostrou ser um método objetivo eficiente, algumas vezes mais sensível que os demais parâmetros de avaliação em pacientes ortopédicos com afecções articulares.

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AVALIAÇÃO CLÍNICA E BIOMECÂNICA PÓS-OPERATÓRIA DA ARTICULAÇÃO COXOFEMORAL EM CÃES

CLINICALEVALUATIONANDBIOMECANICHIPJOINTPOSTOPERATIVEINDOGS

BARBOSA,A.L.T.1,SCHOSSLER,J.E.W.1,BOLLI,C.M.1,LEMOS,L.F.C.1,MEDEIROS,C.103

Palavras-chave: recuperação, plataforma de força, ortopedia.

Key-words: recovery, force plate, orthopedic.

Introdução

A articulação coxofemoral em cães e gatos é a articulação mais frequentemente lesionada. O traumatismo externo é o responsável pela maioria das lesões, ocasionando luxações coxofemorais, fraturas acetabulares e fraturas de cabeça e colo femoral. As doenças degenerativas também representam uma parcela significativa das lesões que acometem a articulação coxofemoral, sendo a displasia coxofemoral e a necrose asséptica da cabeça femoral seus principais representantes.

Muitos trabalhos envolvendo avaliação da articulação coxofemoral em curto prazo têm sido realizados, como a redução e estabilização da luxação coxofemoral pela transposição do ligamento sacrotuberal, substituição do ligamento redondo por “flap” de fáscia lata autógena e reconstituição da cápsula articular usando pericárdio bovino, trazendo inovações nas técnicas cirúrgicas como uso de membranas biológicas. Porém, são poucos os estudos de análise em longo prazo para estabelecimento de um prognóstico com tempo alvo mais amplo.

O objetivo deste trabalho foi avaliar a recuperação em longo prazo dos pacientes com afecções coxofemorais de resolução cirúrgica através da associação dos parâmetros de avaliação clínica (graus de claudicação, mensuração do perímetro da coxa, exame radiográfico) e biomecânica através do uso da plataforma de força por coleta estática.

Foi realizado um estudo retrospectivo de dez anos (1998/2007) no arquivo do Hospital Veterinário Universitário da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), dos animais submetidos à cirurgia da articulação coxofemoral, com diagnóstico de luxação coxofemoral traumática, fratura de cabeça e colo femoral, ou necrose asséptica da cabeça do fêmur. Através das informações obtidas, realizou-se contato com os proprietários, sendo estabelecido um grupo de 21 animais, a ser avaliado e delimitado seu estado de recuperação.

103 Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Endereço autor principal: R. Coronel Niederauer, 795, apt 302,

Centro, Santa Maria, RS, CEP 97015121, e-mail: [email protected]

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A delimitação do estado de recuperação foi realizada através de avaliação clínica e biomecânica. A avaliação clínica constava de anamnese, graus de claudicação, perimetria da coxa e exame radiográfico. O enfoque da anamnese era: data da cirurgia, membro afetado, doença, cirurgia específica, recuperação do paciente segundo o proprietário.

Para avaliação biomecânica ou do apoio, foi realizada a coleta de dados de cada animal sobre uma plataforma de força na posição ortostática (em estação) em nove posicionamentos diferentes: quatro patas, lado direito - D, lado esquerdo - E, dianteiras - F, traseiras - T, dianteira direita – DD, dianteira esquerda – DE, traseira direita – TD, traseira esquerda – TE em uma plataforma de força OR6-6 AMTI (Advanced Mechanical Technologies, Incorporation, USA), conforme metodologia descrita por Barbosa et al. (2008). Os dados de porcentagem de peso em cada um dos oito posicionamentos de cada animal, em uma avaliação individual, foram enquadrados dentro dos limites superior e inferior estabelecidos anteriormente.

Para associar todas as avaliações já descritas e avaliar adequadamente a recuperação dos animais, foi estabelecido o parâmetro Recuperação. Este parâmetro agrupou as variáveis TF – Transferência de peso, A – Atrofia e GC – Grau de Claudicação da seguinte maneira: 0 – Recuperação Excelente – Todas as variáveis sem alteração (TF=0, A=0, GC=5); 1 – Ótima – uma variável alterada; 2- Muito Boa – duas variáveis alteradas; 3 – Razoável – Todas as variáveis alteradas, sendo T=1; 4 – Ruim – Todas as variáveis alteradas, sendo T>1.

Com relação à doença, 22,2% dos animais apresentaram fratura de cabeça e colo femoral, 27,8% necrose asséptica da cabeça do fêmur e 50% (nove cães) luxação coxofemoral traumática. A luxação coxofemoral é a mais comum em cães e gatos, sendo a origem traumática de maior frequência. Portanto, é compreensível sua grande participação neste estudo, totalizando 50% dos pacientes avaliados.

Quanto à cirurgia, 77,8% foram submetidos à colocefalectomia e 22,2% à inserção de pino transacetabular. A artroplastia total da articulação coxofemoral é atualmente utilizada em cães com displasia coxofemoral, luxação crônica após falha dos demais procedimentos indicados, fraturas de cabeça e colo femorais, necrose asséptica da cabeça e colo femorais, com resultado satisfatório de 92 a 98. Porém, para a realidade brasileira, o uso desta técnica ainda é insipiente, devido ao seu alto custo. Desta forma, na falha de outros métodos de estabilização da luxação coxofemoral, em casos de fratura ou necrose asséptica da cabeça e colo femorais, é freqüente o uso da excisão artroplástica. Isto explica o percentual tão alto desta cirurgia, quase 80%, neste estudo.

A amostra apresentou-se bastante heterogênea, com relação ao tempo após a cirurgia, pois compreendia animais desde 50 dias até sete anos de pós-cirúrgico, sendo subdivida em três grupos: T1 – menor que dois meses, T2 – de dois meses a dois anos, e T3 – maior que dois anos. 11,1% dos pacientes se enquadraram no grupo 1, 44,4% no grupo 2 e 44,4% no grupo 3. Na classificação dos Graus de Claudicação, 16,7% dos pacientes apresentaram grau III, 22,2% grau IV e 61,1% grau V. O tempo mínimo de 50 dias decorridos da cirurgia se deveu ao fato de se saber que a osteoartrose ou mudanças na articulação podem ser visualizadas radiograficamente poucas semanas após a cirurgia.

O parâmetro atrofia foi dividido em: A0 – Ausência de atrofia; A1 – Atrofia presente em apenas um dos parâmetros; A2- Atrofia presente em ambos os

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parâmetros. Um total de 22,2% dos animais não apresentou atrofia, 33,3% apresentaram somente em um dos parâmetros, sendo este o P2, e 44,4% apresentaram atrofia em ambos os perímetros.

Os animais que apresentaram transferência de peso foram divididos por membro afetado, com o objetivo de classificar qual o destino da transferência. Comprovou-se a transferência em ambos os grupos, sendo, no grupo com o membro direito afetado, o peso retirado do membro pélvico direito e distribuído nas dianteiras, e, no grupo com o membro esquerdo afetado, o peso retirado do membro pélvico esquerdo e transferido para o lado contralateral.

No parâmetro recuperação, 16,7% foram classificadas como 0, 16,7% como 1, 33,3% como 2, 16,7% como 3 e 16,7% como 4. Portanto, têm-se 66,7% dos animais avaliados com recuperação entre excelente a muito boa e 33,3% entre razoável a ruim. Dos animais com conceito ruim, dois possuíam menos de dois meses de pós-cirúrgico e um possuía cinco meses de pós-cirúrgico, portanto ainda estavam em período de recuperação cirúrgica. Dos animais classificados no conceito razoável, um apresentou complicações pós-cirúrgicas demonstradas no exame radiográfico (presença de esquírula) e necessitando de uma nova cirurgia. Os outros dois eram animais de grande porte com sobrepeso. Este atraso na recuperação parece estar associado ao excesso de peso sobre a articulação onde foi realizada colocefalectomia. Em pessoas, a obesidade é um fator de risco, pois está associada ao desenvolvimento da osteoartrite.

A avaliação da recuperação dos pacientes através da associação dos parâmetros clínico, radiográfico e biomecânico no padrão ortostático em longo prazo mostrou-se completa e eficiente. A recuperação dos animais foi muito boa, demonstrando que a maioria (70%) está com a função do membro afetado restabelecida, com algumas variações individuais, tendo sua recuperação sido classificada entre excelente e muito boa. Os animais que apresentaram classificação de recuperação de razoável a ruim não possuíam tempo suficiente para recuperação, apresentaram complicações ou tiveram sua recuperação atrasada devido à obesidade.

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CASUÍSTICA DAS LESÕES TRÁUMATO-ORTOPÉDICAS NO PERÍODO DE FEVEREIRO DE 2007 A JUNHO DE 2010 NO SETOR DE CIRURGIA

ORTOPÉDICA DE PEQUENOS ANIMAIS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DE MEDICINA VETERINÁRIA PROFESSOR FIRMINO MÁRSICO FILHO DA

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE (HUVET-UFF)

NUMBEROFCASESOFORTHOPEDICINJURIESDURINGFEBRUARY2007THEJUNE2010INTHESECTOROFSMALLANIMALSURGERYORTHOPEDICOFTHEHOSPITALUNIVERSITÁRIODEMEDICINAVETERINÁRIAPROFESSORFIRMINOMÁRSICOFILHOINUNIVERSIDADEFEDERAL

FLUMINENSE(HUVET‐UFF)

FARIA,G.A.104;CARDOSOJR,R.B.105;ROMÃO,M.A.P.106;ABBY,J.107;CASTRO,D.S.108

Palavras-chave: alterações articulares, fraturas, ortopedia.

Key words: joint changes, fractures, orthopedics.

INTRODUÇÃO

A ortopedia é a especialidade responsável pelo diagnóstico e tratamento das lesões traumato-ortopédicas na clínica médica. Dentre os atendimentos realizados na clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, os pacientes que apresentam alterações ortopédicas compõem um percentual significativo. As queixas mais comuns estão associadas a doenças articulares e a lesões causadas por acidentes, identificando-se assim frequentemente o trauma. As lesões traumáticas acometem exclusivamente o sistema musculoesquelético e raramente determinam risco à vida do paciente, a não ser que estejam associadas com hemorragias intensas. Porém,

104 MV. Mestranda do Curso de Pós Graduação em Clínica e Reprodução Animal da Universidade Federal Fluminense

(UFF), Av. Almirante Ary Parreiras, 503, Vital Brazil, Niterói / RJ; e-mail: [email protected], Tel: (21)

83566752;

105 MV. MSc. Doutorando do Curso de Pós Graduação em Clínica e Reprodução Animal da UFF;

106 Professor Associado / Radiologia Veterinária – Departamento de Clínica de Pequenos Animais / Faculdade de

Veterinária / UFF;

107 MV. Voluntária no setor de Clínica e Cirurgia Ortopédica do Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor

Firmino Mársico Filho da Universidade Federal Fluminense (HUVET- UFF);

108 MV. MSc. Voluntário no setor de Anestesiologia HUVET- UFF

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tais lesões podem acarretar perdas funcionais importantes, comprometendo a qualidade de vida do paciente. O presente estudo tem o objetivo de descrever a casuística das intervenções cirúrgicas das lesões traumato-ortopédicas ocorridas no Hospital Universitário de Medicina Veterinária Professor Firmino Mársico Filho (Huvet-UFF) durante o período de fevereiro de 2007 a julho de 2010, sendo este atendimento feito uma vez por semana, assim como relatar a espécie, raça, sexo e idade mais acometida.

METODOLOGIA

Foi realizado um estudo retrospectivo do número dos procedimentos cirúrgicos ortopédicos relatados em fichas específicas do setor de ortopedia do Hospital Veterinário Firmino Márcico Filho (Huvet-UFF) durante o período de fevereiro de 2007 a julho de 2010. Variáveis como espécie, raça, sexo e idade foram quantificadas. Para melhor organização dos dados, os traumas foram divididos em três grupos: fraturas, lesões articulares e demais alterações. As fraturas e lesões articulares ainda foram subdivididas pelo esqueleto axial e esqueleto apendicular em membros anteriores e posteriores. Os resultados foram obtidos através da análise da frequência dos procedimentos cirúrgicos, sendo expressos em porcentagem.

RESULTADOS

No presente estudo foram analisados 259 procedimentos cirúrgicos ortopédicos, representando um percentual de 20,19% de todos os procedimentos cirúrgicos realizados no Huvet-UFF durante o período de fevereiro de 2007 a junho de 2010, sendo que o setor de ortopedia realiza as suas cirurgias somente uma vez por semana. As percentagens referentes às espécies atendidas ficaram assim representadas: 94,20% (244) caninos, 5,40% (14) felinos e 0,40% (1) primatas. Em relação ao sexo dos pacientes, 50,96% (132) eram fêmeas e 49,04% (127), machos. A idade dos animais recebidos apresentava os seguintes valores: pacientes com menos de um ano de idade, 27,03% (70); entre um e cinco anos, 44,01% (114); entre seis e dez anos, 22,78% (59); e acima de dez anos, 6,18% (16). Com relação às raças, um grande grupo foi constituído para facilitar a análise sendo estas descritas a seguir: Beagle 0,38% (1), Bichon Frisé 1,16% (3), Boxer 0,77% (2), Bulldog Francês 1,16% (3), Bull Terrier 0,77% (2), Chihuahua 1,16% (3), Chow Chow 1,54% (4), Cocker Spaniel 2,32% (6), Dachshund 1,54% (4), Fila Brasileiro 0,38% (1), Fox Paulistinha 1,54% (4), Galgo Italiano 0,77% (2), Labrador 4,25% (11), Lulu da Pomerânea 0,38% (1), Maltês 1,93% (5), Pastor Alemão 0,77% (2), Pinscher 5,40% (14), Pit Bull 3,47% (9), Pointer 0,38% (1), Poodle 24,71% (64), Pug 0,38% (1), Rottweiler 2,32% (6), São Bernardo 0,38% (1), Saimiri 0,38% (1), Schnauzer 0,38% (1), Shih Tzu 1,16% (3), SRD 33,20% (86) e Yorkshire 6,95% (18). As análises referentes às lesões foram divididas em três grandes grupos, nos quais se observou: 1) grupo das fraturas, esqueleto apendicular, membros anteriores, 15,83% (41), membros posteriores 22,01% (57), esqueleto axial 6,95% (18); 2) grupo das lesões articulares, esqueleto apendicular, membros anteriores 2,32% (6), membros posteriores 50,19% (130), esqueleto axial 1,16% (3); 3) grupo das demais alterações ortopédicas, 14,28% (37). As lesões ortopédicas observadas no grupo das fraturas foram: fraturas de rádio e ulna 9,24% (27), côndilo e epicôndilo umeral 1,02% (3), úmero 2,73% (8), escápula 0,34 (1), metacarpos 0,68 (2), metatarsos 1,03% (3), fêmur 9,93% (29), tíbia e fíbula 3,77% (11), avulsão da crista tibial 0,68% (2), expostas tíbia e fíbula 1,71% (5), tipo Salter Harris 2,40% (7), pelve 3,77% (11),

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mandíbula 1,03% (3), e vértebras 1,36% (4). Já as alterações observadas no grupo das lesões articulares eram: luxação dos carpos 0,34% (1), luxação escápula umeral 1,03% (3), osteocondrose 0,68% (2), luxação sacroilíaca 1,03% (3), luxação patelar 18,83% (55), ruptura do ligamento cruzado cranial 15,75% (46), displasia coxofemoral 2,73% (8), luxação tibiotársica 0,34% (1), luxação coxofemoral 5,82% (17), lesão no menisco 0,34% (1), luxação tarsometatársica 0,34% (1) e ruptura do ligamento colateral lateral 0,34% (1). Dentro do grupo das demais alterações ortopédicas podem-se observar as seguintes entidades: fratura 1,37% (4); reajuste 0,68% (2); e retirada 3,78% (11) das próteses ortopédicas, não união; 0,34% (1) e união retardada 1,37% (4) de fraturas, necrose asséptica da cabeça femoral 1,71% (5), avulsão de plexo braquial 0,68% (2), encurtamento do tendão calcâneo 0,34% (1), trepanação 0,34% (1), biópsia óssea 0,68% (2) e doença do disco intervertebral 1,36% (4).

DISCUSSÃO

Os resultados obtidos neste estudo foram substancialmente importantes para estabelecer um levantamento estatístico dos casos cirúrgicos ortopédicos do Huvet-UFF, fornecendo assim à equipe do setor conhecimento sobre o público alcançado pelos serviços prestados. A maior percentagem em relação às espécies atendidas ficou com os caninos, o que demonstra uma maior preferência dos proprietários de pequenos animais da localidade pelos cães, ou até mesmo essa espécie ser mais propensa às lesões traumo-ortopédicas. Pouca diferença foi observada em relação à variante sexo, porém as fêmeas apresentaram um percentual maior que os machos. Em relação à idade, os animais na faixa etária de um a cinco anos foram possuidores dos maiores valores. Em explicação a essa ocorrência pode-se propor que animais nessa faixa etária estariam em idade sexual ativa e estariam mais propensos a brigas, quedas, fugas e a sofrerem lesões. A maior incidência dos pacientes SRD e Poodle também demonstram a preferência dos proprietários da localidade. Quanto às lesões traumato-ortopédicas a maior incidência das alterações articulares e fraturas nos membros posteriores está em concordância com a literatura pesquisada. Dentre as lesões articulares, as duas doenças de maior incidência foram à ruptura do ligamento cruzado cranial e as luxações patelares. A insuficiência do ligamento cruzado cranial pode apresentar causas degenerativas ou traumáticas1. A ruptura parcial do ligamento cruzado resulta em claudicação, com instabilidade mínima detectável ao joelho, já a ruptura total promove uma instabilidade completa com o movimento cranial da tíbia em relação ao fêmur e concomitante não apoio do membro acometido1, 2. As luxações patelares possuem suas origens em causas congênitas ou traumáticas. As luxações de origem congênita acometem em sua maioria cães de pequeno porte, porém também podem acometer cães maiores 1,3. Em relação às fraturas, um achado no levantamento entra em desacordo com a literatura no que diz respeito à maior incidência de fraturas em membros posteriores serem observadas na tíbia e fíbula. Segundo a análise realizada, foi observado uma maior incidência de fraturas no fêmur seguidas pelas fraturas da tíbia e fíbula. Fraturas femorais são geralmente causadas por traumas intensos 4,5, sendo os acidentes automobilísticos a causa mais comum 2,3,5. As fraturas da tíbia são principalmente resultado de trauma no qual o osso é submetido a diversas forças mecânicas e pode fraturar-se em diversos tipos de linha de fratura 3. A escassez de tecido mole aumenta a possibilidade de fraturas expostas 2,5,6. Dentre as fraturas dos membros torácicos, os ossos mais acometidos são o rádio e a ulna, estando esse dado em acordo com a literatura. As fraturas radioulnares são geralmente secundárias a traumas, principalmente aos de alta tensão. Contudo este

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tipo de fratura em cães de raça toy resultam frequentemente de saltos ou quedas 3,5,6. As fraturas de rádio-ulna são consideradas o terceiro tipo de fratura mais comum nos cães 7. Da incidência das fraturas no esqueleto axial, a fratura de pelve foi a que apresentou maior ocorrência no levantamento. Embora os ossos da pelve sejam bem protegidos pelos músculos, as fraturas nesta área são comuns 6. Em alguns relatos, este tipo de lesão responde por 20% a 25% das fraturas observadas em pequenos animais 8. Dos resultados obtidos do grupo das outras alterações ortopédicas, a retirada de prótese ortopédica ficou em maior percentual, seguida de necrose asséptica da cabeça femoral. A necrose asséptica da cabeça femoral é uma doença ortopédica de acometimento comum em animais jovens de raças caninas de pequeno porte, também denominada de doença de Legg-Perthes 1. Essa doença resulta no colapso da epífise femoral em virtude de uma interrupção no fluxo sanguíneo 3. Em algumas raças, a doença tem sido apresentada como tendo base hereditária, com um gene recessivo autossômico 9.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir com o presente estudo que o levantamento estatístico dos casos cirúrgicos ortopédicos atendidos pelo setor de ortopedia do Huvet-UFF durante o período de fevereiro de 2007 a junho de 2010 se fez muito válido. Pois foi através deste que os profissionais atuantes neste setor puderam tomar conhecimento da frequência das doenças ortopédicas ali atendidas. Do mesmo modo pôde-se constatar que a influência social do meio, no caso os proprietários, também interfere na casuística dos atendimentos em relação às variáveis espécies, raça e alterações ortopédicas.

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CORREÇÃO CIRÚRGICA DE FENDA PALATINA SECUNDÁRIA EM UM EQUINO COM USO DE MEMBRANA BIOLÓGICA

SURGICAL CORRECTION OF SECONDARY CLEFT PALATE IN A HORSE USING BIOLOGICAL MEMBRANE

ELTONBRITOEVERTON109;LUIZCARLOSRÊGOOLIVEIRA110;JOSÉRIBAMARDASILVAJÚNIOR²;LUANATEREZARAPOSODECARVALHO111;UIARAHANNAARAÚJOBARRETO¹;MAYRA

PACHECODESOUZA1;ANTÔNIOSOARESDONASCIMENTOJÚNIOR¹

Resumo Neste trabalho, foi discorrida a correção cirúrgica de fenda palatina secundária em um equino com o uso do centro tendíneo do diafragma bovino, como membrana biológica. A fenda palatina localizava-se na linha média, comprometendo o palato duro e o palato mole. A técnica utilizada mostrou-se eficiente, embora não tenha sido acompanhada de toda a evolução da reestruturação do palato do paciente. Palavras-chave: Fenda palatina; membrana biológica; correção cirúrgica Abstract In this study, we discoursed surgical correction of secondary cleft palate in a horse, using the central tendon of the diaphragm veal, as biological membrane. The cleft palate was located in the midline, involving the hard palate and soft palate. The technique was efficient, although not all followed the progress of restructuring of the palate of the patient. key words: Cleft palate; biological membrane; cleft palate

109 Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural da Amazônia. e-mail:

[email protected] 110 Professor Doutor, do Curso de Medicina Veterinária, do Centro de Ciências Agrárias, da Universidade Estadual do

Maranhão. 111 Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão.

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Introdução

O palato é uma estrutura localizada na porção dorsal da cavidade oral, responsável pela separação da cavidade nasal e orofaríngea, sendo constituída pelo palato primário, palato secundário e palato mole1. De acordo com as estruturas anatômicas envolvidas, a fenda pode ser classificada em primária se ocorrer no lábio e alvéolo; primária e secundária se envolve o lábio e o palato secundário; secundária quando ocorre somente no palato secundário, podendo ou não existir envolvimento do palato mole2. A fenda do tipo primária é facilmente diagnosticada, porque o animal nasce com uma fissura anormal no lábio superior, conhecida como lábio leporino. As secundárias, apesar de mais comuns, muitas vezes passam despercebidas por ocasião do nascimento e só são diagnosticadas quando o animal começa a apresentar alguns sinais clínicos da afecção, como escoamento de leite pelas narinas, tosse, engasgos ou espirros durante a alimentação, além das infecções do trato respiratório3. O diagnóstico da afecção é realizado mediante a inspeção direta da cavidade oral, durante o exame físico2. As principais causas para seu desenvolvimento são os fatores traumáticos, hereditários, nutricionais, mecânicos (no útero), hormonais ou tóxicos1, 3, sendo a causa hereditária a mais comum1.

Segundo Silva (2006)2 , os defeitos no palato secundário, independentemente de serem consequências de traumas, infecções crônicas, neoplasias ou alterações congênitas, só podem ser corrigidos cirurgicamente. Animais acometidos por defeito de palato secundário que não são tratados cirurgicamente geralmente são eutanasiados ou morrem. A correção cirúrgica da fenda palatina secundária tem como finalidade reconstruir a anatomia funcional, separando a cavidade oral da cavidade nasal, fazendo com que o animal se alimente normalmente, sem que haja passagem de alimentos e/ou líquidos entre as cavidades, diminuindo assim os riscos de pneumonia por aspiração e aumentando a sobrevida do animal4. A dimensão da lesão e a facilidade de acesso à região afetada é que vão determinar qual técnica cirúrgica é a mais recomendada para cada caso, pois a fenda pode variar de uma pequena abertura no palato mole até uma fissura completa desde o palato mole até a papila incisiva2. Várias técnicas são descritas para o reparo de fendas de palato duro, incluindo uma sutura simples, uma sutura com incisão relaxante, técnica de “flap” mucoperiosteal, técnicas de “flaps” bipediculares deslizantes e “flaps” sobrepostos5, além da utilização de membranas biológicas.

As membranas biológicas podem ser obtidas a partir de diferentes espécies animais e são utilizadas como material de implante para reparação de órgãos e tecidos. O emprego destas deve-se à facilidade em sua obtenção, baixos custos, preparo simples, esterilização viável, facilidade na estocagem e pouca ou nenhuma reação tecidual6, 7, 8. Na dependência do local onde são empregadas, as membranas biológicas apresentam características especificas de regeneração ou reparação tecidual, servido de arcabouço para o desenvolvimento de um novo tecido, restabelecendo a estrutura do órgão afetado ou reforçando mecanicamente a região através da deposição de tecido conjuntivo9. Atualmente, uma grande diversidade de materiais pode ser utilizada para esta finalidade, sejam eles sintéticos ou biológicos. Quanto aos substitutos biológicos, de procedência animal, muita importância se tem dado ao centro tendíneo do diafragma bovino, um biomaterial de fácil acesso, complacente e resistente. Além disso, por ser de natureza orgânica, geralmente apresenta baixa antigenicidade10.

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O estudo tem como objetivo descrever a redução de uma fenda palatina secundária de origem genética em um equino, utilizando centro tendíneo do diafragma bovino, conservado em glicerina a 98%.

Relato de caso

Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Maranhão (Uema) um equino, sem raça definida, de aproximadamente 18 meses, pesando 128 kg, apresentando fenda palatina secundária. A mesma se localizava na linha média, atingindo o palato duro e parte do palato mole, com tamanho aproximado de 15 cm (Figura 1).

Figura 1: Fenda palatina secundária em um eqüino

Os sinais clínicos apresentados pelo animal nos primeiros dias de vida foram

fluxo de leite através das narinas e, após desmame, secreção esverdeada pelas narinas e emagrecimento acentuado.

Foi feito o exame clínico da cavidade oral do animal e diagnosticada a presença de fenda palatina secundária. Após os exames, o animal passou por dieta hídrica e sólida de seis e 12 horas respectivamente. Logo após, o paciente foi encaminhado ao centro cirúrgico do Hospital Veterinário Francisco Edilberto Uchôa Lopes, da Uema, para realização da cirurgia. No protocolo anestésico foi utilizada a associação de xilazina (1 mg/ kg peso vivo, IV) e ketamina (10 mg/ kg peso vivo, IV) para indução. A intubação endotraqueal foi feita diretamente na traquéia, através de traqueostomia, sendo desfeita após a cirurgia, e para a manutenção do plano anestésico cirúrgico utilizou-se halotano (5% na indução e 2,5% na manutenção). Antes do ato cirúrgico, limpou-se cavidade oral com solução fisiológica para a remoção de sujidades presentes na cavidade. Após a limpeza, fez-se a antissepsia com solução de iodopovidine. Para a redução da fenda palatina foi utilizada membrana biológica oriunda do centro tendíneo do diafragma bovino, conservado em glicerina 98% e reidratada com solução fisiológica a 0,9 % momentos antes de sua aplicação. Foi realizada curetagem dos bordos da fenda palatina para possibilitar o contato direto do organismo animal à membrana biológica, com sutura de padrão interrompido simples, com nylon de pesca nº 0,60 (Figura 2).

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Figura 2: Correção de fenda palatina com uso de membrana biológica

No pós-operatório foram prescritos Agrovet plus (1 ml/ 10 kg/IM) e flunixin

meglumine (1 ml/ 10 Kg/IV) para controle da infecção, inflamação e dor. O regime alimentar do animal continuaria a ser o mesmo adotado no hospital veterinário, composto de ração peletizada umedecida, 200 gramas a cada três horas, até que fosse possível a retirada dos pontos, o que seria feito 14 dias depois da cirurgia. Discussão

O animal foi submetido ao pós-operatório no Hospital Veterinário, tendo recebido como alimentação ração peletizada umedecida, como descrito por SILVA (2006)2 e DUTRA (2008)5, em porções de 200 gramas a cada três horas, soro glicofisiológico (10% do peso corporal do animal, com aplicação distribuída nas 24 horas, durante três dias), não sendo observado desconforto ao ingerir a alimentação e nem a saída de conteúdo oral pelas narinas do animal. Depreende-se que a colocação da membrana biológica atingiu a meta preconizada, que seria a separação da cavidade nasal e orofaríngea, descritas por ROBERTSON (1996)¹ e CORRÊA (2008)4. Após o sétimo dia, o animal foi liberado para continuar o tratamento no domicílio do proprietário, que por sua vez não mais retornou para dar notícias de como o animal estava se comportando em relação ao resultado final da cirurgia. Conclusão

A reparação da fenda palatina secundária se faz necessária, haja vista que esta patologia pode levar a complicações respiratórias futuras, como pneumonia e posterior morte. O emprego da membrana biológica para restabelecer o defeito palatino se mostrou eficiente, embora não tenha sido acompanhada toda a evolução da reestruturação do palato do paciente após a saída do mesmo do Hospital Veterinário, devido o proprietário não ter voltado a ter contato com o cirurgião responsável pelo caso. Referências

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3. NELSON AW. Sistema respiratório superior. In: SLATTER D (1998). Manual de cirurgia de pequenos animais. Vol. 1. 2ª ed. São Paulo: Manole. 884-935.

4. CORRÊA AC (2008). Técnica de retalhos sobrepostos em fenda palatina secundária em cão – Relato de caso. Monografia. Curso de Pós-graduação em Odontologia Veterinária pela ANCLIVEPA-SP Lato Sensu. Universidade Anhembi-Morumbi. São Paulo, 22p.

5. DUTRA AT. (2008). Defeitos palatinos congênitos. Monografia. Curso de pós-graduação "lato sensu" em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais. Universidade Castelo Branco. São José do Rio Preto, 22p.

6. GUIMARÃES GC. et al. (2007). Avaliação histológica de membranas biológicas bovinas conservadas em glicerina e a fresco. Bioscience Journal. Uberlândia. v. 23, n 3:120-127.

7. GUIMARÃES GC. et al. (2008). Propriedades tensiométricas comparadas entre fragmentos do centro tendíneo do diafragma, pericárdio fibroso e peritônio parietal de bovinos não conservados e conservados em glicerina. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science. São Paulo. v. 45, suplemento: 127-135.

8. SILVA LAF. et al.(2005). Hernioplastia umbilical em bovino: emprego de implante de cartilagem auricular homóloga e avaliação clínica dos resultados. Acta Scientiae Veterinariae. n 33: 57-62.

9. FERREIRA MD. (2004). Considerações sobre membranas biológicas e seu uso em hernirrafias. Tese de conclusão de curso. Escola de Medicina Veterinária. Universidade Federal da Bahia. Salvador, 32p.

10. STELMANN UJP. et al. (2010). Utilização de pericárdio bovino como reforço da rafia do peritônio no tratamento cirúrgico de eventração em equino: relato de caso. Revista científica eletrônica de medicina veterinária. Ano VIII. n 14.

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AVALIAÇÃO MACRO E MICROSCÓPICA DE NERVOS ULNARES DE EQUINOS APÓS NEUROTOMIA E DEPOSIÇÃO DE FRAÇÃO DE CÉLULAS

MONONUCLEARES DA MEDULA ÓSSEA

MACROSCOPIC AND MICROSCOPIC EVALUATION OF ULNAR NERVE IN HORSES AFTER NEUROTOMY AND DEPOSITION BONE MARROW

MONONUCLEAR CELLS

MORAES,J.M112¹.;FARIA,A.M.¹;DEMOURA,V.M.B.D.¹;BRITO,L.A.B.¹.TOGNOLI,G.K.1133;ROSA,M.C.2;GODOY,R.F114.²

Palavras-chave: terapia celular, células tronco, nervos periféricos. Key words: cellular therapy, peripheric nerves, stem cells. Introdução

Lesões nos nervos periféricos são de ocorrência frequente e representam um dos grandes problemas econômicos e sociais na área da saúde, sendo que em veterinária é também um entrave ao bem estar animal.1 As bainhas ou tubos de silicone são os biomateriais de eleição na restauração nervosa experimental, atuando como invólucro, permitindo a formação espontânea de uma matriz de fibrina e favorecendo o crescimento de axônios, capilares e células não neurais2. As células-tronco adultas (CTA) são fontes alternativas de células para a regeneração do tecido nervoso por possuírem propriedades pluri e multipotentes de diferenciação. A medula óssea (MO) representa o melhor local para obtenção destas células, em decorrência da facilidade de colheita, por permitir o transplante autólogo, e também por não apresentar barreiras éticas.3,4 Dentre as CTA da MO incluem-se as células-tronco hematopoéticas (CTH) e células-tronco mesenquimais (CTM), porém, ainda não está claro qual destas apresenta maior plasticidade.5 Por essa razão, autores propuseram que a utilização de um conjunto de células que possam dar suporte à proliferação e à manutenção das CTA, como a fração de células mononucleares (FCM) da MO, seja melhor que o uso de um único tipo celular. O objetivo deste estudo foi avaliar a regeneração nervosa periférica de equinos com a utilização de tubos de silicone e FCM. Metodologia

O experimento foi realizado no Hospital Escola de Grandes Animais da FAV/UnB e no Setor de Patologia Animal da EV/UFG. Foram utilizados dez equinos adultos, nove fêmeas e um macho, sem raça definida e clinicamente sadios. Foram realizadas duas técnicas de regeneração nervosa: (A) técnica de utilização de tubos

112 Setor de Patologia, Escola de Veterinária - EV/UFG, Goiânia-GO; 113 Unidesc-Brasília-DF. E-mail: [email protected] 114 Hospital Escola de Grandes Animais, Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária - FAV/UnB, Brasília-DF.

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de silicone; e (B) técnica de utilização de tubos de silicone e deposição imediata de fração de células mononucleares (FCM). Os animais foram divididos em grupos de acordo com a técnica utilizada (A ou B) e o período de biópsia dos nervos ulnares, de 13 e 26 semanas do procedimento cirúrgico, a saber: Grupo I (GI): cinco animais foram submetidos à técnica A no nervo ulnar do membro direito e biopsia com 13 semanas; e Grupo II (GII): os mesmos cinco animais foram submetidos à técnica A no nervo ulnar do membro esquerdo, com biopsia às 26 semanas. Grupo III (GIII): cinco animais foram submetidos à técnica B no nervo ulnar do membro direito com biopsia às 13 semanas; e Grupo IV (GIV): os mesmos cinco animais foram submetidos à técnica B no nervo ulnar do membro esquerdo, com biopsia às 26 semanas. Foram coletadas de MO referente ao osso esterno dos cinco equinos pertencentes aos GIII e GIV. Os animais foram sedados com detomidina (40mcg/Kg/IV) e realizada anestesia local com 10 mL de lidocaína na altura da quinta esternebra, com posterior introdução da agulha modelo Jamshidi, de calibre oito e 12 cm de comprimento. Aspirava-se aproximadamente 20 mL de conteúdo da MO com auxílio de uma seringa de 60 mL contendo 0,25mL de heparina a 5000 UI/mL e 9 mL de soro fisiológico, sendo o total de 30 mL obtido na seringa. As amostras eram identificadas, acondicionadas em gelo e encaminhadas ao laboratório para isolamento da FCM conforme preconizado pela literatura.5 A MO coletada era transferida para um tubo falcon contendo a mesma quantidade de Ficoll Hypaque e centrifugado a 500 g por 30’. A FCM era, então, retirada e lavada em PBS e novamente centrifugada 500 g por 10’. O pellet obtido era resuspendido em PBS para se obter 200µl de solução para ser injetado. Após a diluição, fazia-se a contagem e viabilidade celular e posterior incubação com 2 µL de nanocristal (QD- Qtracker®655 Cell Labeling Kit, Invitrogen) a 37ºC por 45 minutos. Realizava-se neuropraxia nos dois nervos ulnares e, em seguida, os coto proximais (CP) e distais (CD) eram aposicionados dentro de um tubo de silicone de 2 cm de comprimento e 2 mm de diâmetro interno, com 5 mm de gap entre os cotos. A FCM obtida era colocada neste espaço de 0,5cm, sendo um implante autólogo. Após três e seis meses, foram realizadas as biopsias de 4 cm dos nervos direito e esquerdo, respectivamente, de cada animal e, imediatamente, fazia-se um imprint em lâminas histológicas dos nervos e dos cotos proximais e distais. Os fragmentos foram fixados por 48 horas em formol 10% tamponado e mantidos em álcool 70%, até o procedimento histológico e coloração pela técnica de hematoxilina e eosina (HE). Foram feitos cortes longitudinais nos CP e cortes transversais nos CD. Macroscopicamente, avaliaram-se as amostras quanto à ocorrência de regeneração completa entre os cotos, presença de tecido conjuntivo fibroso (TCF) e aderências entre as estruturas do feixe vásculonervoso. Microscopicamente, observaram-se a presença ou a ausência de proliferação axonal, tecido conjuntivo, infiltrado inflamatório, formação ou degeneração da bainha de mielina e ocorrência de degeneração walleriana. Foram estabelecidos escores referentes à sua presença, ausência e quantidades, sendo ausente (-), discreto (+), moderado, (++) e acentuado (+++). Resultados e discussão

Macroscopicamente, foi observada regeneração nervosa com completa formação do cabo de regeneração em todas as amostras visualizando-se TCF ao redor do tubo de silicone e aderência no feixe vasculonervoso de forma acentuada (+++). Quanto à microscopia de fluorescência, foi observada marcação verde fluorescente de cor e quantidades intensas nos três meses de biopsia e com cor e quantidades moderadas a discretas nos seis meses de biopsia em todas as porções

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nervosas avaliadas (GIII e GIV). Na histologia, não foi visualizada proliferação axonal do CP até o CD, pois apresentou processos degenerativos nos cotos em 100% das amostras analisadas. Houve apenas proliferação acentuada (+++) de tecido conjuntivo na região entre ambos locais. No entanto, houve quantidade acentuada (+++) de células de formato fibroblástico e meia lua no tecido conjuntivo entre os cotos. A degeneração walleriana (DW) e o infiltrado inflamatório foram observados em todas as amostras, porém de forma mais acentuada nos grupos de biopsia de três meses (GI e GIII) e em maior proporção no GI. Além da união entre o CP e CD, não foi observada formação de neuroma em nenhuma das amostras avaliadas, o que pode ser atribuído à técnica cirúrgica realizada.2 Com relação à reorganização de fascículos nervosos, foi verificado início de reorganização em todos os grupos, porém de maneira mais eficaz nos grupos com FCM, assim como com tempo de seis meses de biopsia. Isso indica o restabelecimento da organização do tecido conjuntivo que reveste o tecido nervoso, mesmo não visualizando axônios no cabo de regeneração, já que o tempo da regeneração do neurônio com proliferação axonal em nervo periférico varia de 250 a 300 e 456 a 486 dias para recuperação morfológica e funcional, respectivamente.6 Conclusão

A marcação com QD, por endocitose celular, foi bem sucedida, demonstrando presença de células no tecido nervoso por até seis meses após o implante de FCM, sugerindo diferenciação celular em componentes do tecido nervoso. Tanto as técnicas cirúrgicas utilizadas como os tempos de três e seis meses estipulados para biopsias foram eficazes para a formação do cabo de regeneração em todas as amostras, propiciando início de reorganização do tecido nervoso periférico com ausência de neuromas. A utilização de FCM se mostrou extremamente satisfatória, visto que os grupos experimentais obtiveram melhores resultados em relação aos grupos controle, quanto à menor DW e melhor reorganização dos fascículos nervosos. Como a regeneração nervosa periférica é lenta, não foi possível visualizar axônios íntegros nos cabos de regeneração. Protocolo do Comitê de ética no uso animal: UnBDOC nº 29213/2009 Referências

1. Kingham PJ et al. (2007) Adipose-derived stem cells differentiate into a Schwann cell phenotype and promote neurite outgrowth in vitro. Experimental Neurology, 207:267–274.

2. Delistoianov N et al. (2006) Comparação entre duas técnicas de neurorrafia do digital palmar em eqüinos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 58:.44-51.

3. Aquino JB et al. (2006) In vitro and in vivo differentiation of boundary cap neural crest stem cells into mature Schwann cells. Experimental Neurology, 198:.438–449.

4. Nie X et al. (2007) Improvement of peripheral nerve regeneration by a tissue–engineered nerve filled with ectomesenchymal stem cells. International Journal of Oral Maxillofacial. Surgery, Copenhagen, 36: 32–38.

5. Tognoli GK (2008). Autotransplante da fração mononuclear da medula óssea em úlcera corneana por hidróxido de sódio experimental em cães. Dissertação

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de Mestrado. Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 52p.

6. Mcgavin MD; Zachary JF (2009) Bases da patologia veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 1476p.

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MASTECTOMIA RADICAL A CAMPO EM VACA – RELATO DE CASO

RADICALMASTECTOMYINTHECOWFIELD–CASEREPORT

MASTECTOMÍARADICALENELCAMPODEVACA–REPORTEDEUMCASO

FLÁVIOAUGUSTOSOARESGRAÇA115,RITADECASSIAGOMESPEREIRA116,MICHELJOSÉSALESABDALLAHELAYEL117,SAULOANDRADECALDAS118,KAROLINATEIXEIRAABANCA119,MÁRCIA

FARIASROLIM120

Resumo

Relata-se um caso de mastite clinica crônica por Arcanobacterium sp. em uma vaca mestiça nulípara, de 12 anos de idade, com 480 kg, que servia de manequim para o curso de inseminação artificial da UFRRJ. Os principais sinais clínicos observados foram edema na região do úbere e exsudato purulento contínuo. Durante o curso clínico de seis meses e a implantação de protocolos antimicrobianos, observaram-se endurecimento da mama, formação de fistulas, pirexia, depressão e emagrecimento. O animal foi submetido ao tratamento cirúrgico para mastectomia total, com o objetivo de recuperação progressiva dos déficits clínicos. Foi realizada sedação com cloridrato de xilazina 2% seguido de bloqueio anestesico epidural com cloridrato de lidocaína 2% e anestesia regional dos ramos torácicos laterais direito e esquerdo. A técnica cirúrgica adotada foi a ressecção da glândula mamária total e a pele. A hemostasia foi realizada através da ligadura das artérias e veias mamárias craniais e caudais. A mais frequente intercorrência transoperatória neste tipo de procedimento é a hemorragia. A escolha da conduta terapêutica cirúrgica resultou na melhora das condições clinicas e no aumento da sobrevida.

Palavras chave: mastectomia, radical, vaca, mastite, Arcanobacterium sp

Abstract

We report a case of chronic clinical mastitis involve Arcanobacterium sp. in a cow crossbred nulliparous, 12-year-old, 480 kg, which served as a dummy for the course in artificial insemination of University Federal Rural of the Rio de Janeiro. The 115 Doutorado [email protected] – 21 94778576 - Departamento de Clínica e Cirurgia da Universidade Castelo

Branco, UCB, RJ.

116 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ – Mestrando.

117 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ – Mestrado.

118 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ-Mestrado

119 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, UFRRJ – Acadêmica de Medicina Veterinária da UFRRJ.

120 Universidade do Norte Fluminense, UENF – Mestrado

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main clinical signs were observed in the region of udder edema and purulent continuous secretion. During the clinical course of six months and the implementation of protocols antimicrobials observed hardness of the breast, the fistula formation, pyrexia, depression and weight loss. The animal was submitted to surgery for total mastectomy, with the goal of gradual recovery of clinical deficits. Was sedated with xylazine 2% followed by epidural anesthesia with lidocaine 2% and regional anesthesia for thoracic branches right and left lateral. The surgical technique used was the total resection of the mammary gland and skin. Hemostasis was performed by ligation of the mammary arteries and veins cranial and caudal. The most frequent intraoperative complications in this type of procedure is bleeding. Choice of surgical therapeutic approach resulted in improved clinical conditions and increased survival.

Key words: mastectomy, radical, cow, mastitis, Arcanobacterium sp.

Resumen

Presentamos el caso de mastitis clínica crónica Arcanobacterium sp. en una vaca mestiza nulíparas, 12-años de edad, 480 kg, que sirvió como un maniquí para el curso de inseminación artificial de UFRRJ. Los principales signos clínicos se observaron en la región de edema de ubre y purulenta continua. Durante el curso clínico de seis meses y la aplicación de antimicrobianos protocolos observó el endurecimiento de la mama, la formación de fístulas, fiebre, depresión y pérdida de peso. El animal fue sometido a cirugía para la mastectomía total, con el objetivo de la recuperación gradual del déficit clínicos. Fue sedada con xilazina 2%, seguido por la anestesia epidural con lidocaína al 2% y la anestesia regional para la derecha ramas torácicas y lateral izquierda. La técnica quirúrgica empleada fue la resección total del tumor de la glándula mamaria y la piel. La hemostasia se realizó mediante la ligadura de las arterias y venas mamarias craneal y caudal. Las complicaciones intraoperatorias más frecuentes en este tipo de procedimiento es la hemorragia. Elección del enfoque terapéutico quirúrgico permitido mejorar las condiciones clínicas y aumento de la supervivencia.

Descriptores: mastectomía, radical, vaca, mastitis, Arcanobacterium sp.

Introdução

A mastite é definida como uma inflamação da glândula mamária, geralmente causada por infecção de origem bacteriana, e com menor frequência fúngica e vírica1,

2, 3. A mastite pode ser dividida quanto a sua forma de manifestação em subclínica, responsável por aproximadamente 95% dos casos, e clínica, a qual se manifesta em torno de 5%5. Mais de 80 diferentes espécies de micro-organismos foram identificadas como agentes causadores de mastite bovina4. O Arcanobacterium pyogenes é considerado um importante causador de mastite clínica em novilhas e vacas nulíparas, a qual pode se manifestar por letargia, edema, dor no quarto afetado, formação de abscessos com fistulações, secreção purulenta e densa com odor desagradável e focos de necrose6. Dada a grande disseminação dessas bactérias no ambiente, todas as categorias animais estão sob risco: vacas em lactação, vacas secas e novilhas7. Na ausência de tratamento adequado ou de resposta a terapia antimicrobiana, uma das opções terapêuticas capaz de prorrogar a vida do animal é a mastectomia radical8.

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JornalBrasileirodeCiênciaAnimal–JBCA,v.3,n.6,suplemento,2010.

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O tratamento cirúrgico de mastite e outras desordens de glândulas mamárias em ruminantes9,10 é considerado um procedimento de potencial perda sanguínea10. A mastectomia geralmente é indicada para mastite crônica ou aguda do tipo gangrenosa9,10.

Vinte ruminantes, sendo 17 cabras e três vacas que apresentavam comprometimento do úbere com poucas complicações clinicas, foram submetidos à mastectomia radical com resultados favoráveis. 11

Relato do caso

O presente relato descreve um caso crônico de mastite clínica em uma vaca mestiça nulípara, de 12 anos de idade, pesando 480 kg, que servia de manequim para o curso de inseminação artificial da UFRRJ. Quanto ao histórico clínico, a fêmea apresentava edema na região do úbere e secreção purulenta contínua drenada através da ordenha. Nos últimos seis meses antes do procedimento cirúrgico, institui-se várias tentativas de tratamento antibacteriano sistêmico, via intramuscular, à base de oxitetraciclina 20mg/kg/3dias, penicilina 24.000 UI/kg/10dias, gentamicina 20mg/kg/3dias, florfenicol 20mg/kg/2dias e enrofloxacina 5mg/kg/3dias. Após dois meses do início do tratamento, houve a redução do tamanho e da quantidade de secreção proveniente das glândulas mamárias, mas formou-se uma fístula no úbere, na região caudomedial aos tetos posteriores que drenava continuamente material purulento com presença de sangue e odor pútrido forte. Após seis meses de tratamento, evidenciou-se um úbere endurecido, irregular e a permanência da fístula com a mesma secreção e odor de antes. Clinicamente a fêmea apresentou emaciação, pesando 350 Kg, febre recorrente, mucosas hipocoradas, anorexia, depressão devido à infecção persistente. Desta forma, optou-se pela mastectomia radical com o objetivo de propiciar bem estar e melhoria do escore corporal do animal para um futuro descarte.

Antes do procedimento cirúrgico, foi instituído jejum total de seis horas. Foi administrado 0,15mg/kg de cloridrato de xilazina a 2% via intramuscular. O animal foi colocado em decúbito laterodorsal com os membros contidos em extensão.

Após a tricotomia e antissepsia da região sacrococcígea e mamária com povidine tópico a 10%, realizou-se a anestesia epidural alta com 10mL de cloridrato de lidocaína a 2% com agulha de calibre 40 x 12 mm e anestesia dos ramos torácicos laterais direito e esquerdo12.

A técnica cirúrgica consistiu de uma incisão elíptica ao redor da glândula mamária afetada. O tecido subcutâneo foi divulsionado com tesoura de mayo ponta romba e bisturi. A dissecção plana foi iniciada entre a região lateral esquerda da glândula mamária e a pele, continuando cranialmente e caudalmente (Figura 1). A dissecção cranial foi realizada inicialmente para facilitar a separação do úbere da parede abdominal e a visualização do campo cirúrgico, assim como descrito na literatura11. A hemostasia das artérias e veias mamárias craniais e caudais foi realizada através da ligadura com fio categute cromado número dois (Figura 2).

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Figura 1. Incisão craniocaudal da região esquerda da glândula mamária e dissecção do tecido glandular mamário amplamente vascularizado.

Reduziu-se o espaço livre com sutura intradérmica contínua, utilizando fio mononylon número 2.0. A dermorrafia foi realizada com mononylon n° 2.0 com sutura em pontos em Sultan. Nas duas extremidades da ferida cirúrgica, foram deixadas duas áreas sem sutura de 3,0 cm como dreno. Foi feito curativo com povidine tópico a 10% e unguento à base de óxido de zinco, caulim e xilol. O animal ficou em estação por duas horas e 20 minutos após a cirurgia.

No pós-operatório foi utilizada antibioticoterapia à base de penicilina, associada com estreptomicina 24.000 UI/kg por via intra muscular durante dez dias consecutivos, além de analgésico e anti-inflamatório flunixin meglumine 2,0mg/kg por via intravenosa uma vez ao dia por três dias consecutivos.

Figura 2. Peça cirúrgica constituída de glândula mamária, tetas e pele retirados em bloco durante mastectomia radical em fêmea bovina.

Resultados e discussão

Durante o ato cirúrgico, foi constatada a presença de dois abscessos um que havia fistulado e outro que estava encapsulado. Foi coletado material assepticamente através de aspirado do abscesso e enviado para o Laboratório de Bacteriologia do

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Departamento de Microbiologia e Imunologia Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro com diagnóstico de Arcanobacterium sp.

Ocorreu extravasamento de pequena quantidade de conteúdo purulento e utilizou-se soro fisiológico 0,9% em temperatura ambiente no leito cirúrgico, com o cuidado de remover todo conteúdo da área cirúrgica.

Durante dez dias após a cirurgia, a região apresentava-se edemaciada, com acúmulo de líquido no tecido subcutâneo. Os espaços deixados como drenos fecharam depois de 72 horas. Os drenos foram reabertos para diminuir o volume de exsudato ainda acumulado durante a cicatrização. Os drenos deveriam ser retirados em até 72 horas devido ao risco de infecção ascendente, entretanto o acúmulo de secreção incomodava significativamente o animal durante o processo de cicatrização e consistia em meio propício ao crescimento de microorganismos.

A técnica cirúrgica utilizada mostrou-se eficiente de acordo com a literatura.

Casos semelhantes citados na literatura também ocorreram em fêmeas nulíparas11,6 .

Durante o pós-operatório o animal foi acompanhado clinicamente e não foi observada a necessidade de transfusão sanguínea. Outros autores relataram que a perda de sangue durante a mastectomia radical em caprinos foi mínima, já em bovinos era significativa11. Os pontos foram removidos com 20 dias após o procedimento cirúrgico (Fig.3).

A mastectomia radical pode ser uma conduta cirúrgica com o objetivo de proporcionar bem estar ao animal e prolongar a vida útil do mesmo e até coletas de embriões no caso de animais de valor zootécnico elevado.

Figura 3. Ferida cirúrgica com trinta dias após a mastectomia. Observa-se cicatrização completa.

Conclusões

O animal apresentou resposta favorável à conduta cirúrgica realizada e cura clínica com a mastectomia radical e antibioticoterapia sistêmica adotada. Não houve a necessidade de realizar a transfusão de sangue. A retirada do úbere não inviabilizou a utilização do animal para aulas práticas de exame ginecológico.

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AVALIAÇÃO CIRÚRGICA E LABORATORIAL DA UTILIZAÇÃO DE PERICÁRDIO HOMÓLOGO EM LESÕES POR ABRASÃO EM SEROSA DE

CÓLON MAIOR (FLEXURA PÉLVICA) DE EQUINOS

SURGICALANDLABORATORIALEVALUATIONOFTHEUSEOFHOMOLOGOUSPERICARDIUMINABRASIONLESIONSONLARGECOLONSEROSALSURFACEINEQUINES

LEIRIA,P.A.T.121,SAEMI,A.122,LANDMAN,M.L.123;PACHECO,M.3;ZOPPA,A.L.V.124

Palavras-chave: abrasão de serosa, equino, pericárdio homólogo. Key-words: serosal abrasion, equine, homologous pericardium. Introdução

As aderências intra-abdominais são complicações relativamente comuns das cirurgias abdominais dos equinos após uma intervenção cirúrgica, podendo resultar em processos obstrutivos, dor abdominal recorrente e vôlvulos1. Os avanços técnicos e farmacológicos são direcionados a minimizar o trauma e a inflamação peritoneal, aumentar o processo de fibrinólise, promover movimentação intestinal e separar tecidos potencialmente adesiogênicos durante a fase inicial de cicatrização pós-operatória1. A metodologia de indução de aderência experimental tem demonstrado resultados discrepantes entre os diferentes grupos de pesquisadores, acreditando-se ser resultado de diferentes métodos de indução, bem como diferentes critérios para a interpretação dos resultados2. Até o momento, não foi definido nenhum modelo experimental completamente efetivo2. O modelo clássico de indução de aderências em animais de laboratório baseia-se na indução das aderências através da exteriorização do ceco e conseqüente realização de abrasão de sua superfície serosa e peritônio adjacente utilizando-se gaze seca, porém ensaios onde se combinam lesão e isquemia aparentemente são mais efetivos2. Nos eqüinos, a maior parte dos estudos realizados nesta área tem o intestino delgado como segmento intestinal preferencial3. A metodologia empregada combina anestesia geral, lesão por abrasão, isquemia, ressecções e sacrifício dos animais para a conclusão do estudo, apresentando resultados variáveis. No presente trabalho foram utilizados 10 equinos, machos, SRD, entre quatro a 15 anos e peso entre 300 e 400kg, provenientes do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP. Foram incluídos no experimento os animais que não apresentaram alterações no exame físico e laboratorial prévios. Os animais foram mantidos estabulados, recebendo ração comercial três vezes por dia. Todos os animais foram vermifugados 15 dias antes do início do experimento. A membrana 121 Mestrando do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP, 122 Docente do Departamento de Cirurgia da FMVZ-USP. Av. Prof. Orlando Marques de Paiva, 87 – Butantã – SP/SP

– CEP: 05508-270 e-mail: [email protected]; 123 Aluna de graduação da FMVZ-USP. 124 Mestranda do Departamento de Patologia da FMVZ-USP.

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biológica utilizada (pericárdio equino) era proveniente do Hovet da FMVZ-USP. Após a sua coleta (pericárdio) foi lavada com água corrente, posteriormente com solução fisiológica e acondicionada em frasco de vidro estéril contendo glicerina 98% por um período mínimo de 30 dias anterior a sua utilização. No período pré-cirúrgico, foi realizada antibioticoprofilaxia utilizando-se Enrofloxaxina (5 mg/kg, IV), e anti-inflamatório não esteroidal (Flunixin-meglumine - 1.1 mg/kg, IV), além de jejum alimentar de 36 horas. Após a contenção em tronco, a veia jugular esquerda e a região da fossa paralombar esquerda foram tricotomizadas e submetidas à antissepsia com clorexidine degermante e alcoólico. O protocolo anestésico realizado consistiu de sedação com associação de xilazina 10% (0,7 mg/kg) e tartarato de butorfanol (0,04 mg/kg). Juntamente à sedação, realizou-se bloqueio nervoso regional (nervo torácico lateral esquerdo) com cloridrato de lidocaína 2% sob forma de infusão subcutânea e anestesia local na região da incisão. A laparotomia foi realizada no flanco esquerdo baixo com os animais em posição quadrupedal. Iniciou-se com incisão de pele (10 cm), tecido subcutâneo e fáscia do músculo oblíquo abdominal externo, subseqüente divulsão romba dos músculos obliquo abdominal interno e transverso abdominal (técnica de grade) e rompimento digital do peritônio, identificação e exteriorização da flexura pélvica. No ponto médio de sua exteriorização, foi induzida lesão por abrasão em superfície serosa, com dimensão de 7x7 cm, utilizando-se gaze seca estéril, gaze embebida em álcool e superfície de trabalho de uma pinça Kelly, os três materiais friccionados por 100 vezes em única direção. Na porção central da lesão, foi realizada sutura de um ponto simples com fio inabsorvível nylon no 00 para referendar a lesão. Após a indução das lesões, nos animais do grupo 1 (cinco animais), a área lesionada foi recoberta com membrana biológica de dimensão 7x7 cm, previamente hidratada e lavada com solução fisiológica, utilizando-se suturas em pontos simples com fio absorvível do tipo Poliglactina no 00. Nos animais do grupo 2 (cinco animais), o segmento intestinal exteriorizado após a criação das lesões foi lavado com solução fisiológica e reposicionado na cavidade abdominal. Em ambos os grupos as suturas dos planos musculares foram realizadas com sutura contínua, utilizando-se fio absorvível Poliglactina 910 no2. O tecido subcutâneo foi suturado em padrão contínuo utilizando-se fio absorvível Poliglactina 910 no 00 e a pele foi suturada de maneira contínua utilizando-se nylon n0 0. Todos os animais foram avaliados fisicamente através de inspeção e exame físico duas vezes ao dia durante todo o período de avaliação, bem como coleta de material para hemograma, dosagem de fibrinogênio e citologia do liquido abdominal uma vez por semana, durante quatro semanas. Decorridos 30 dias após o procedimento cirúrgico, todos os animais foram submetidos à nova laparotomia, utilizando-se mesmo acesso anterior, com o objetivo de avaliar a membrana biológica, presença de aderências e a realização de biópsia intestinal do local da lesão. A coleta do material para a realização dos exames laboratoriais (sangue, soro e líquido abdominal) foi realizada nos seguintes momentos: M0- período pré-operatório imediato, M1- sete dias pós-operatório, M2- 14 dias pós-operatório, M3- 21 dias pós-operatório, M4- 28 dias pós-operatório. A laparotomia realizada em estação, em posição mais ventral e seguindo a técnica de grade, possibilitou menor trauma cirúrgico em virtude de esta região apresentar apenas a fáscia do músculo oblíquo abdominal externo, evitando incisão de fibras musculares; realização de divulsão dos planos musculares subsequentes nos sentido de suas fibras. Por outro lado, esta abordagem ofereceu ao cirurgião menor campo operatório, por vezes determinando dificuldade de exteriorização do segmento intestinal. Durante o período pós-operatório, a evolução clínica dos animais foi satisfatória, o que demonstrou vantagem quando comparada a citação da literatura3, pois naqueles estudos os animais avaliados apresentaram grande potencial para complicações cirúrgicas e

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foram sacrificados para possibilitar a coleta eficiente dos dados3. A ferida cirúrgica apresentou leve edema e discreta sensibilidade dolorosa resolvendo-se dentro de sete dias. A retirada dos pontos foi realizada após 14 dias com cicatrização completa da ferida cirúrgica. Durante a reavaliação cirúrgica (30 dias após), utilizando-se o mesmo acesso anterior, verificou-se presença de tecido cicatricial fibroso que determinou pequena dificuldade para o acesso da cavidade abdominal. Não foram observadas aderências intra-abdominais em ambos os grupos. Sugere-se que características multifatoriais como tamanho e local da lesão, mobilidade intracavitário do segmento intestinal escolhido e integridade do peritônio estejam diretamente relacionadas à não ocorrência destas aderências. As lesões previamente realizadas foram de fácil identificação em virtude da sutura realizada em seu ponto médio. O aspecto macroscópico das lesões no grupo experimental caracterizou-se por extensa área de hiperemia com cobertura de tecido seroso; e nos animais do grupo controle, verificou-se pequeno tecido cicatricial recobrindo o material de sutura. A realização das biopsias intestinais foi realizada com facilidade bem como sua sutura. A avaliação histológica demonstrou em ambos os grupos intensa infiltração eosinofílica, presença de colágeno em fase de maturação além de evidências de intensa neovascularização. A partir da análise dos valores laboratoriais, observaram-se diferenças estatísticas significativas nos valores sanguíneos de bilirrubinas, hematócrito, monócito, uréia; e no líquido peritoneal estas diferenças foram manifestadas em proteína, densidade e número de leucócitos segmentados. Conclui-se que o protocolo proposto de indução de aderências em flexura pélvica, nestas circunstâncias, foi insuficiente, necessitando da somatória de outros fatores coadjuvantes, tais como maior extensão e número de pontos da lesão. Não foi possível avaliar a efetividade da membrana biológica na minimização das aderências intra-abdominais. O implante determinou maior reação inflamatória intra-abdominal quando comparado ao grupo controle, porém sem determinar alterações hematológicas e clínicas. Referências

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OVARIO-HISTERECTOMIA PELO FLANCO DIREITO EM GATA – RELATO DE CASO E DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA

OVARIOHYSTERECTOMYBYTHERIGHTFLANKINFELINE–CASEREPORTANDDESCRIPTIONOFSURGICALTECHNIQUE

OVARIOHISTERECTOMÍAPORELFLANCODERECHOENGATA–INFORMEDELCASOYDESCRIPCÍONDELATÉCNICAQUIRÚRGICA

TATIANA JOSEFA SCHNEIDER125; THAÍSLARISSALOURENÇOCASTANHEIRA¹;DIEGOROSCAMPDEOLIVEIRA¹;DANIELLAMATOSDASILVA126;SIMONEDOMITGUÉRIOS127.

RESUMO

A ovário-histerectomia (OH) de gatas e cadelas através de abordagem lateral pelo flanco é uma alternativa ao acesso tradicional pela linha alba. O objetivo deste artigo é relatar o acesso cirúrgico pelo flanco para realização de OH eletiva em gata e descrever a técnica cirúrgica utilizada, contribuindo assim para popularização deste procedimento. Relata-se o caso de uma gata de dois anos de idade que foi encaminhada para OH eletiva. O acesso cirúrgico à cavidade abdominal foi realizado através de incisão pelo flanco direito. Nos pedículos ovarianos realizou-se ligadura em “figura de 8” sem fio de sutura, confeccionando-se o nó com o próprio pedículo e auxílio de pinça hemostática Halsted. Não foram verificadas intercorrências cirúrgicas durante o procedimento. Conclui-se que o acesso cirúrgico pelo flanco direito é minimamente invasivo e pode ser utilizado para realização de OH eletiva em gatas.

Palavras-chave: esterilização, abordagem lateral, castração ABSTRACT

Lateral flank approach is an alternative to the conventional ventral midline approach for ovariohysterectomy (OH) in dogs and cats. The aim of this article is to report flank spay in female cat, to describe the surgical technique, and to contribute with technique popularization. A 2-year-old female cat was presented for elective OH. An incision was made in the right lateral body wall. Ovaries vessels were tied with a figure-eight knot, the vessels were tied on itself with the aid of Halsted hemostat. No surgical

125 Médico(a) veterinário(a), residente da Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário da Universidade

Federal do Paraná, Curitiba.

126 Acadêmica do curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

127 Professora doutora do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Contato: (41)3350-5731, [email protected]. Departamento de Medicina Veterinária. Universidade Federal do

Paraná, Curitiba.

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complications were observed during the procedure. In conclusion, right flank spaying is minimally invading and it can be commonly used in cats.

Key-words: sterilization, lateral approach, spaying

INTRODUÇÃO

A ovário-histerectomia (OH) de gatas e cadelas através de abordagem lateral pelo flanco é uma alternativa ao acesso tradicional pela linha média ventral1,2 . O emprego da técnica pelo flanco não é habitual em pequenos animais1,2, contudo é cada vez mais aceito, com interesse particular de médicos veterinários responsáveis por animais selvagens e programas de esterilização em abrigos de animais³. A realização de OH através da técnica cirúrgica pelo flanco é indicada em casos de desenvolvimento excessivo das glândulas mamárias devido à lactação ou hiperplasia glandular1,2,3. Nestes casos, a abordagem lateral evita complicações associadas ao acesso ventral como excesso de hemorragia de pele e tecido subcutâneo, inflamação e/ou infecção da ferida cirúrgica e drenagem de secreção mamária devido à incisão da glândula1,2. As vantagens da OH pelo flanco incluem a possibilidade de observação da ferida cirúrgica à distância, sem necessidade de contenção do animal, e a redução no risco de evisceração em casos de deiscência de sutura³. Na síntese pelo flanco há sobreposição dos músculos oblíquo abdominal externo e interno, que auxiliam na manutenção da integridade da parede abdominal, evitando assim complicações pós-cirúrgicas¹. A realização do acesso lateral para OH é contraindicada em casos de distensão uterina, devido à gestação ou piometra3,5. Em animais obesos, o excesso de tecido adiposo periovariano dificulta a localização e exteriorização dos ovários quando a abordagem pelo flanco é realizada1,2. A principal desvantagem da técnica é a exposição limitada da cavidade abdominal se surgirem complicações transcirúrgicas³.

O objetivo deste artigo é relatar a abordagem lateral pelo flanco para a realização de OH eletiva em gata, descrever a técnica cirúrgica utilizada e contribuir para divulgação desta.

RELATO DO CASO E DESCRIÇÃO DA TÉCNICA CIRÚRGICA

Uma gata de dois anos de idade, sem raça definida, com peso de 3,7kg, foi trazida ao Hospital Veterinário da Universidade Federal do Paraná-Curitiba (HV-UFPR) para realização de OH eletiva, por decisão do proprietário. No exame físico nenhuma alteração foi verificada. Como exames pré-operatórios, realizou-se hemograma, dosagem de proteínas plasmáticas totais e contagem de plaquetas, com resultados dentro dos parâmetros normais para a espécie.

A paciente recebeu como medicação pré-anestésica midazolan (0,3mg/kg, IM) associada à petidina (3mg/kg, IM) e cetamina (3mg/kg, IM). A indução anestésica foi realizada com propofol (4mg/kg, IV) e a manutenção com isofluorano em oxigênio 100% em circuito anestésico aberto. Como terapia anti-inflamatória e antibiótica profilática, utilizou-se cetoprofeno (1mg/kg SC) e cefalotina (25mg/kg SC), respectivamente.

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O animal foi posicionado em decúbito lateral esquerdo, com extensão e imobilização dos membros pélvicos na mesa cirúrgica e extensão dos membros torácicos. A preparação cirúrgica incluiu tricotomia e antissepsia com álcool 70% e PVPI da região paralombar direita, do último arco costal até a tuberosidade ilíaca e ventral aos processos transversos das vértebras lombares (Figura 1). Como referência para o acesso cirúrgico, realizou-se palpação do rim direito, iniciando a incisão cutânea ventral ao polo caudal do rim. Prosseguiu-se a incisão ligeiramente oblíqua e com extensão aproximada de 3cm (Figura 2). Realizou-se incisão e dissecção romba do tecido subcutâneo para permitir visualização do músculo oblíquo externo do abdome. Os músculos oblíquo externo e interno do abdome foram divulsionados permitindo a visualização do peritônio, no qual realizou-se incisão para obter acesso à cavidade abdominal. Com o auxílio de pinça Allis, afastou-se a parede abdominal para permitir a visualização e exteriorização do ovário e corno uterino direito (Figura 3). Rompeu-se digitalmente o ligamento suspensório do ovário e realizou-se ligadura em “figura de 8” no pedículo ovariano. Procedeu-se à ligadura com o próprio pedículo ovariano e auxílio de pinça hemostática Halsted (Figura 4 e 5). O corno uterino direito foi gentilmente tracionado para permitir palpação da bifurcação uterina e localização do corno uterino e ovário contralateral. Realizou-se ligadura e secção do pedículo ovariano esquerdo de forma semelhante à realizada no pedículo direito. Na sequência, os cornos uterinos foram tracionados para exposição do corpo uterino (Figura 6). Após dissecção romba do ligamento largo do útero, foi realizada dupla ligadura circunferencial das artérias e veias uterinas e do corpo do útero com fio ácido poliglicólico 3-0 e posterior secção. O omento foi deslocado até o coto uterino, recobrindo-o. A síntese da parede abdominal ocorreu em único plano, envolvendo a fáscia externa do músculo oblíquo abdominal externo com padrão de sutura Sultan e fio ácido poliglicólico 3-0. O subcutâneo foi aproximado com sutura contínua simples, fio absorvível sintético, ácido poliglicólico 3-0, e a pele foi aproximada com fio mononáilon 3-0 e sutura padrão Sultan (Figura 7). Após dez dias da realização do procedimento cirúrgico, a paciente retornou ao HV-UFPR para retirada da sutura e recebeu alta cirúrgica.

DISCUSSÃO

A realização de OH por abordagem lateral pode ser realizada através de acesso pelo flanco direito ou esquerdo5. No presente relato, fez-se opção pelo flanco direito com o objetivo de facilitar o acesso ao ovário direito, visto que sua posição anatômica é mais cranial que o contralateral.

A divulsão romba do tecido subcutâneo e das fibras dos músculos oblíquo abdominal externo e interno, seguida de incisão no peritônio para acesso à cavidade abdominal, demonstrou-se adequada para realização do procedimento cirúrgico1,2,5. Uma vez acessada a cavidade abdominal, o afastamento da musculatura com pinça de Allis se mostrou alternativa eficaz ao uso do afastador de Farabeuf, que é rotineiramente empregado nas laparotomias1,2,5. Não foi verificada presença de hemorragias ou complicações durante a síntese muscular.

As estruturas anatômicas para a realização da OH são facilmente localizadas pelo acesso abdominal lateral, o que demanda menor tempo cirúrgico para realização do procedimento quando comparado com o acesso mediano ventral1,2,4. O presente relato corrobora com as referências supracitadas no que se refere à fácil localização

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dos ovários, cornos e corpo uterino após acesso à cavidade abdominal. A abordagem lateral pelo flanco também facilitou a realização de ligadura em “figura de 8” sem uso de fio de sutura nos pedículos ovarianos. A ligadura em “figura de 8” com o próprio pedículo contribuiu para a redução do tempo cirúrgico e material de sutura. No entanto, esta ligadura deve ser utilizada com cautela, pois pode ser de difícil realização quando a exposição do pedículo é limitada, e não é recomendada em pedículos de grande calibre.

Os cuidados pós-operatórios à OH com abordagem lateral são os mesmos que os adotados na abordagem ventral, apesar da minimização dos riscos de evisceração. É importante ressaltar o conhecimento da técnica e seleção dos casos de forma apropriada para evitar possíveis complicações 1,2. A técnica de OH pelo flanco em gatas tem sido rotineiramente realizada no HV-UFPR em Curitiba e tem-se demonstrado de rápida realização e com resultados pós-operatórios satisfatórios.

CONCLUSÃO

O acesso cirúrgico pelo flanco direito pode ser utilizado para realização de OH eletiva em gatas, sendo minimante invasivo e de fácil execução.

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Figura 1. Preparação cirúrgica do animal. O posicionamento da paciente em decúbito lateral esquerdo e as áreas de tricotomia e anti-sepsia na região

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paralombar direita (do último arco costal até a tuberosidade ilíaca e ventral aos processos transversos das vértebras lombares).

Figura 2. Incisão cutânea ligeiramente oblíqua (seta) ventral ao pólo caudal do rim.

Figura 3. Exteriorização do corno uterino (CD), pedículo ovariano (PO) e ovário direito (OD).

Figura 4. Fixação da pinça hemostática para reparo (PR) e pinça hemostática (PL) para realização de ligadura do pedículo ovariano.

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Figura 5. Ligadura em “figura de 8” no pedículo ovariano. Visualiza-se a ligadura (seta) com o próprio pedículo, sem uso de fio de sutura.

Figura 6. Exposição do corno uterino direito (CD), corno uterino esquerdo (CE) e corpo uterino (CP).

Figura 7. Aparência da ferida cirúrgica após dermorrafia.

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CIRURGIAS ONCOLÓGICAS REALIZADAS EM PEQUENOS ANIMAIS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UFMG ENTRE 2007 E 2009

ONCOLOGICALSURGERIESPERFORMEDINSMALLANIMALSINTHEVETERINARIANHOSPITALOFUFMGBETWEEN2007AND2009

HORTA,R.S.128,LAVALLE,G.E.129,RODRIGUES,A.A.M.2,PEREIRA,L.C.2,COSTA,M.P.1

Resumo

A cirurgia é um dos métodos mais efetivos no tratamento da maioria dos tumores sólidos em cães e gatos, podendo, em muitos casos, oferecer possibilidade de cura. O objetivo desse trabalho é ressaltar a importância da intervenção cirúrgica no paciente com câncer e definir os objetivos do cirurgião durante o procedimento. Foram registrados todos os procedimentos clínicocirúrgicos realizados em cães e gatos no setor de Oncologia do Hospital Veterinário da UFMG nos anos de 2007 a 2009. As cirurgias foram dividas conforme o tipo, e a finalidade de cada procedimento foi definida conforme a função do cirurgião no tratamento do animal. Foi observado um crescimento anual médio de 28,4 % no total de procedimentos clínicocirúrgicos realizados pelo serviço de Oncologia no período estudado, sendo notado um crescimento anual de 22% no número de cirurgias. O cirurgião é essencial no tratamento tumoral moderno e sua função principal é o diagnóstico definitivo do processo neoplásico permitindo a construção do prognóstico e o planejamento terapêutico adequado com possibilidade de cura em processos de baixa malignidade e potencial metastático.

Palavras-chave: neoplasia, serviço de oncologia.

Summary

Surgery is one of the most effective methods in the treatment of most solid tumors in dogs and cats, besides that, it can, in many cases, offer the possibility of cure. The objective of this paper is to highlight the importance of surgical intervention for patients with cancer and define the goals of the surgeon during the procedure. We registered all clinical and surgical procedures performed in dogs and cats in the Oncology section of the Veterinary Hospital of UFMG from 2007 to 2009. The surgeries were divided according to type and the purpose of each procedure was defined as the function of the surgeon in the treatment of the animal. We observed an average annual growth of 28.4% in total medical and surgical procedures performed by the Oncology service 128 Aluno de graduação em Medicina Veterinária na Escola de Veterinária da UFMG – [email protected]

129 Médico veterinário do Hospital Veterinário da UFMG.

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during the studied period, and noted a 22% annual growth in the number of surgeries. The surgeon is essential in modern tumor treatment and its main function is the definitive diagnosis of neoplasms allowing the construction of prognosis and appropriate treatment planning, with possibilities of cure in cases of low malignancy and metastatic potential.

Key-words: neoplasm, oncology service.

Introdução

A cirurgia é a modalidade de tratamento mais antiga capaz de alterar de modo significativo a evolução de uma neoplasia1. A intervenção cirúrgica no paciente oncológico é um dos métodos mais efetivos no tratamento da maioria dos tumores sólidos em cães e gatos, podendo, em muitos casos, oferecer possibilidade de cura2.

A cirurgia oncológica deve seguir os princípios da cirurgia geral, mas com particularidades de acordo com o comportamento tumoral, devendo-se, sempre que possível, optar por uma excisão cirúrgica agressiva com dissecção dentro de planos teciduais macroscopicamente normais3. O cirurgião deve buscar margens de segurança amplas, de no mínimo 1-3 cm em todas as direções, inclusive na profundidade, principalmente quando se trata de tumores de mastócitos, onde a recidiva é freqüente4.

Toda amostra tecidual removida, incluindo os linfonodos regionais, deve ser acondicionada em formol 10% e enviada para análise histopatológica, a fim de definir o tipo e graduação histológica do tumor5.

O objetivo desse trabalho é relatar a rotina no setor de Oncologia do Hospital Veterinário da UFMG no período de 2007 a 2009 ressaltando a importância da intervenção cirúrgica no paciente com câncer e os objetivos do cirurgião durante o procedimento.

Material e métodos

Foram registrados todos os procedimentos clínico-cirúrgicos realizados em cães e gatos no setor de Oncologia do Hospital Veterinário da UFMG nos anos de 2007 a 2009, que incluíram: atendimentos clínicos e retornos, sessões de quimioterapia e cirurgias oncológicas.

As cirurgias foram dividas conforme o tipo em exérese de tumor mamário por mastectomia radical, mastectomia em bloco, mastectomia simples ou lumpectomia, exérese de tumor externo (pequeno, médio e grande), exérese de tumor oral, exérese de tumor perianal, amputação de membros e cauda, esplenectomia, laparotomia e toracotomia exploratória.

A finalidade de cada procedimento foi definida conforme a função do cirurgião no tratamento: diagnóstico, extirpação tumoral, citorredução, ressecção de metástases ou paliativa.

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Resultados

O Setor de Oncologia corresponde à área de maior crescimento no Hospital Veterinário da UFMG nos últimos anos, tanto em espaço físico como em número de atendimentos clínico-cirúrgicos. Entre 2007 e 2009, foram realizados 2815 procedimentos, dentre cirurgias, sessões de quimioterapia, atendimentos clínicos e retornos. Por razões óbvias, os atendimentos clínicos e retornos corresponderam à maioria das atividades (60%). As cirurgias representaram 16% do total de serviços prestados, sendo executado um total de 535 procedimentos cirúrgico-oncológicos.

Foi observado um crescimento anual médio de 28,4 % no total de procedimentos clínico-cirúrgicos realizados pelo setor de Oncologia no período estudado. Esse crescimento é observado principalmente nas sessões de quimioterapia (56,3 %). O número de cirurgias teve um aumento relativamente menor, de 22 % ao ano (Gráfico 1).

Foi possível discriminar 12 procedimentos cirúrgicos de maior expressividade (Gráfico 2) sendo incluídos na categoria outros, cirurgias como biópsias incisionais, ablação do conduto auditivo, orquiectomia, ovariossalpingo-histerectomia, nefrectomia, maxilectomia, mandibulectomia, hepatectomia e lobectomia parciais.

A extirpação da massa tumoral foi a considerada a finalidade primária da maioria dos procedimentos cirúrgicos, correspondendo a 77 % do total de cirurgias realizadas, destacando-se a exérese de tumores mamários, externos e perianais. A remoção de tumores mamários foi responsável por 41 % do total de cirurgias oncológicas, sendo mais freqüente as abordagens mais agressivas como a mastectomia radical (16 %).

A exérese de tumores da cavidade oral pode ser considerada uma cirurgia citorredutora, pois nesses casos, é improvável a remoção completa do tumor. No entanto, as lesões que apresentaram metástases ou diagnóstico histológico compatível com a associação de quimioterapia, como por exemplo, melanoma, foram tratadas de acordo com a rotina e protocolos preconizados pelo serviço de oncologia do Hospital Veterinário da UFMG.

A cirurgia paliativa incluiu as esplenectomias e amputações, pois, nesses casos, o objetivo principal foi a melhoria da qualidade de vida do animal, reduzindo o risco de hemorragia e controlando a dor, respectivamente.

O objetivo geral de cirurgias exploratórias, como laparotomias e toracotomias, foi de diagnóstico da doença, correspondendo há apenas cerca 3 % do total de intervenções cirúrgicas. No entanto, toda ressecção tumoral resultou em diagnóstico histológico da lesão, mesmo que não fosse o objetivo inicial do cirurgião, uma vez que todo tecido com alterações de cor, consistência ou tamanho foi submetido ao exame histopatológico.

Discussão

A Oncologia representa uma especialidade de grande destaque em Medicina Veterinária e o aumento da expectativa de vida dos animais de companhia está diretamente relacionado ao aumento da incidência de neoplasias5. Um estudo baseando-se no diagnóstico da causa morte em 2000 casos apontou o câncer como a

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maior causa de morte em animais de companhia, sendo que, 45% dos cães com mais de 10 anos de idade morreram de câncer6.

Apesar dos avanços referentes à qumioterapia, radioterapia e outros tipos de tratamentos adjuvantes no combate ao câncer, a cirurgia continua sendo o principal procedimento no controle da doença local para grande parte dos tumores sólidos3.

A cirurgia citorredutora é raramente recomendada em oncologia, uma vez que, a maior parte das neoplasias malignas extirpadas parcialmente manifesta recidiva dentro de poucos meses. Na impossibilidade de se remover toda a massa, como nas neoplasias da cavidade oral, pode-se optar pela citorredução acompanhada como parte de uma abordagem multimodal envolvendo radioterapia ou quimioterapia adjuvante3.

As neoplasias mamárias representam o principal processo tumoral em cadelas e o terceiro mais prevalente em gatas1. Em geral, os tumores de mama são facilmente extirpados cirurgicamente, representando a extirpação tumoral mais frequente e também mais eficaz7.

A cirurgia paliativa é uma opção terapêutica vantajosa quando as chances de cura da doença são remotas com a simples remoção da neoplasia3. No caso dos linfomas e hemangiossarcomas esplênicos ou osteossarcomas, a remoção, respectivamente, do baço ou do membro afetado pode melhorar a qualidade de vida do paciente e aumentar a sobrevida, mas sem oferecer possibilidade de cura, uma vez que tratam-se de doenças altamente metastáticas do tecido linfático, hematopoético ou ósseo, respectivamente5.

As cirurgias eletivas de ováriossalpingo-histerectomia e orquiectomia, apesar de terem sido realizadas, em sua maioria, pelo setor de cirurgia geral, podem ser consideradas profiláticas em oncologia. A castração pode previnir a formação de neoplasias-hormônio-dependentes como os tumores de mama nas fêmeas8 e os adenocarcarcinomas perianais em machos9. A remoção de testículos criptorquídicos e lesões pré-malignas como as dermatites crônicas também previnem a progressão tumoral10. Ao contrário da medicina humana, pouco se sabe sobre a influência genética na patogenia de tumores de animais, limitando a indicação profilática de cirurgias oncológicas em medicina veterinária3.

Conclusão

O cirurgião é uma peça fundamental no tratamento tumoral moderno e sua função principal é o diagnóstico definitivo do processo neoplásico permitindo a construção do prognóstico e o planejamento terapêutico adequado, com possibilidade de cura em processos de baixa malignidade e potencial metastático. O cirurgião também deve contribuir para a melhoria da qualidade de vida do paciente e aumento da sobrevida em procedimentos que objetivam o controle da dor, alívio da distensão abdominal e prevenção de hemorragias.

Observa-se que a cirurgia é opção terapêutica, isolada ou como terapia adjuvante, em grande quantidade dos casos. O cirurgião interessado em oncologia deve conhecer o comportamento biológico de uma ampla variedade de neoplasias e estar apto a interagir com oncologistas clínicos e patologistas.

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DiscriminaçãodosprocedimentoscirúrgicosrealizadosnoHV‐UFMGentre2007a2009

16%

11%

14%

5%17%

10%

3%

1%

2%

1%

3%

0%

17%

Mastectomiaradical

Mastectomiaembloco

Lumpectomia/mastectomiasimples

Exéresedetumorexternogrande

Exéresedetumorexternomédio

Exéresedetumorexternopequeno

Exéresedeneoplasiaperianal

Exéresedetumordecavidadeoral

Amputaçãomembros/cauda

Esplenectomia

Laparotomiaexploratória

Toracotomiaexploratória

Outros

Gráficos 1 e 2: Serviços prestados no setor de Oncologia do HV-UFMG; e discriminação dos procedimentos cirúrgicos realizados entre 2007 e 2009.

Referências

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Small Animal Veterinary Association; Dublin, Ireland. 3. Slatter D (2007). Manual de cirurgia de pequenos animais. 3. ed., 2. v. Barueri:

Manole, 2713p. 4. Rogers SK (1996). Mast cell tumors. Veterinary Clinics of North American:

Small Animal Practice, 6 (1): 87-101. 5. Witthrow JS et al. (2001). Small Animal Oncology. 3. ed. Philadelfia: Saunders,

846p. 6. Bronson TR (1982). Variation in age at death of dogs of different sexes and

breeds. American Journal of Veterinary Research, 43: 2057-2059. 7. Fossum WT et al. (2005). Cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo:

Roca, 1390p.

370

536555

1461

193204

422

819

139193 203

535

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

Atendimentosclínicoseretornos

Sessõesdequimioterapia Cirurgiasoncológicas

ServiçosprestadosnosetordeOncologiadoHV‐UFMGnoperíodode2007a2009

2007

2008

2009

Total

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8. Schneider R et al. (1969). Factors influencing canine mammary cancer development and postsurgical survival. Journal of the National Cancer Institute, 43: 1249.

9. Hayes MH, Wilson PG (1997). Hormone-dependents neoplasms of the canine perianal gland. Cancer Research, 37: 2068.

10. Hayes MH, Pendergrass WT (1976). Canine testicular tumors: Epidemiologic features of 410 dogs. International Journal of Cancer, 18: 482.

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TRATAMENTO CIRÚRGICO PARA CORREÇÃO DE INSTABILIDADE VERTEBRAL CERVICAL EM UM POTRO

SURGICALTREATMENTFORCERVICALINSTABILITYINAFOAL

BEZERRA,K.B.130;FONSECAJÚNIOR,H.131;IUTAKA,A.S.132;AMBRÓSIO,A.M.133;BELLI,C.B.4;ZOPPA,A.L.V.4

Palavras-chave: cavalo, malformação vertebral cervical, tratamento cirúrgico Key-words: horse, cervical vertebral malformation, surgical treatment Introdução

A malformação vertebral cervical (MVC) é causa comum de compressão da medula espinhal cervical em equinos. Ocorre em cavalos de todo o mundo, afetando qualquer idade e raça, sendo os machos os mais acometidos. Os animais apresentam ataxia propioceptiva e fraqueza, mais acentuada nos membros posteriores, e os sinais clínicos coletivamente se referem à Síndrome de Wobbler. Tomando por base as anormalidades associadas à compressão da medula espinhal cervical, sugere-se a divisão da MVC em dois tipos patofisiológicos. O Tipo I MVC tende a ocorrer em animais jovens de até dois anos. As alterações patológicas observadas nesse tipo de malformação são estenose do canal vertebral, malformação vertebral com deformidade angular à flexão ou extensão, extensão caudal do aspecto dorsal do arco vertebral, osteocondrose dos processos articulares e alargamento da região de crescimento fiseal vertebral em direção ao canal medular. Casos do Tipo II MVC tendem a ser pacientes mais velhos e apresentam de moderado a marcante alargamento dos processos articulares vertebrais cervicais causado por osteoartrite, sem nenhuma evidência de defeitos ortopédicos de desenvolvimento como no Tipo I MVC. A razão para essa divisão é que as evidências sugerem que o trauma e a osteoartrite sejam os maiores fatores causadores no Tipo II MVC, enquanto a doença ortopédica do desenvolvimento e seus fatores genéticos sejam os processos patofisiológicos predominantes nos casos do Tipo I MVC. Com a instalação da osteoartrite, pode haver uma proliferação de tecidos moles articulares ou periarticulares com projeção e impacto sobre a medula espinhal. Isso inclui a formação de cistos epidurais e periarticulares. Tais cistos podem resultar em aparecimento súbito de sinais sem relato de injúria externa. Isso pode acontecer pelo simples preenchimento desses cistos com sangue (MAYHEW, 2009). No Brasil, os métodos de diagnóstico por imagem incluem a radiografia e a mielografia cervical, que constituem ferramentas valiosas para o diagnóstico definitivo. O exame radiológico

130 Médico veterinário residente do Hovet – FMVZ/USP. Av. Orlando Marques de Paiva, 87, Butantã – SP/SP – CEP:

05508-270 - email: [email protected]

131 Médico veterinário autônomo 132 Médico do grupo de coluna do DOT-HCFMUSP e do Instituto Vita

133 Professor doutor – FMVZ/USP

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simples é utilizado para identificar algum grau de estreitamento do canal medular (MAYHEW, 2009). A mielografia confirma ou não a compressão da medula nos locais suspeitos (REED et al., 1981) e também permite a detecção de lesões discretas (PAPAGEORGES et al., 1987). O tratamento cirúrgico da compressão medular cervical associada à MVC tem sido desenvolvido na América do Norte e Europa, porém nenhum relato brasileiro descreve tal conduta. Foi atendido no Hovet um potro macho de 18 m, BH, com sinais de ataxia e fraqueza nos quatro membros, sendo mais acentuada nos posteriores. Após avaliação clínica, foi sugerida uma compressão do canal medular na região cervical. Com o estudo radiográfico cervical, foi identificada osteoartrite da articulação entre as facetas articulares de C4-C5 e um desnivelamento entre essas vértebras. À mielografia, observou-se diminuição da coluna de contraste ventral para um tamanho menor que dois milímetros, além de constatação da relação sagital intervertebral menor que 50%, achados indicativos da presença de uma compressão do canal medular. Tendo em vista que a estabilização entre as vértebras é capaz de proporcionar remodelamento da articulação entre as facetas articulares e consequentemente do canal medular, foi proposta a correção cirúrgica para descompressão, estabilização e posterior fusão das vértebras C4 e C5. Após jejum alimentar de 12 horas, o animal recebeu amicacina (15 mg/kg, IV) e fenilbutazona (4,4 mg/kg, IV) previamente à cirurgia. O pescoço e o peito foram preparados como de rotina. Após sedação e posterior indução anestésica, o animal foi posicionado primeiramente em decúbito lateral e mantido em anestesia inalatória com isofluorano vaparizado em O2 100% e posteriormente posicionado em decúbito dorsal, com os membros anteriores levemente tracionados para trás e o pescoço em extensão máxima permitida pelo posicionamento do apoio de cabeça da mesa cirúrgica. Foram realizadas projeções radiográficas com marcadores transcutâneos para identificar a localização do sítio operatório. O pescoço foi então preparado rotineiramente para procedimento cirúrgico asséptico. A incisão de pele foi feita na linha média ventral do pescoço para posterior divulsão dos músculos subcutâneos e esternotireoideos longitudinalmente. Após exposição da traqueia, foi procedida dissecção cuidadosa para separar a carótida, nervo laringeorecorrente e tronco vagosimpático até a exposição do músculo longus colli, que recobre ventralmente a coluna cervical. A artéria carótida e os nervos adjacentes foram protegidos com compressas cirúrgicas úmidas durante todo o procedimento. Após identificação do processo espinhal ventral da vértebra cranial à articulação afetada (C4), uma Rugina Farabeuf Reta foi utilizada para separação dos tecidos musculares e exposição dos corpos vertebrais. Com utilização de uma broca cirúrgica e uma pinça Stille Luer Goiva, o processo espinhoso foi ressecado para iniciar-se a descompressão. A extremidade caudal do corpo vertebral de C4, o disco intervertebral e a extremidade cranial do corpo vertebral de C5 foram removidos com o instrumental cirúrgico, descomprimindo o canal medular. Para estabilização entre as vértebras, duas placas bloqueadas de seis furos foram posicionadas e três parafusos bloqueados e um cortical foram fixados aos corpos vertebrais de C5 e C6. O músculo longus colli e os músculos esternotireoideos foram suturados com fio de poliglactina 910 (vicryl 0) em padrão simples contínuo. O tecido subcutâneo foi aproximado com vicryl 2-0 e a pele foi suturada em padrão simples interrompido, utilizando-se fio de nylon 0. No pós-operatório imediato, o potro apresentou incapacidade de manter-se em estação e, após cinco dias, auxiliado por um mecanismo de sustentação, conseguiu manter-se em estação pela primeira vez. Tal comportamento pode estar relacionado ao edema do sistema nervoso central desencadeado pela manipulação cirúrgica intensa. A antibioticoterapia foi iniciada com amicacina (15 mg/kg, SID) durante sete dias, seguida de sulfatrimetoprim (15 mg/kg, BID) por mais 17 dias. O tratamento anti-inflamatório iniciou-se com fenilbutazona (4,4 mg/kg, SID) durante oito dias, sendo

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continuado com meloxican (0,6 mg/kg, SID) por mais 15 dias. Além disso, foi administrado dimetilsulfóxido (1 g/kg, BID) por três dias, tramadol (2 mg/kg, TID) por três dias, omeprazol (4 mg/kg, SID) por 17 dias e manitol (1,125 mg/kg) em dose única. A presença de seroma predispôs à deiscência da sutura. No sétimo dia após a cirurgia, os pontos de pele, subcutâneo e musculatura se romperam, necessitando que a ferida fosse tratada por segunda intenção. No 15º dia do pós-operatório, o potro encontrava-se em decúbito lateral, apresentando incapacidade de levantar-se sem auxílio. A ataxia passou a aumentar e a cada dia tornava-se mais difícil sua permanência em posição quadrupedal. No 22º dia o animal apresentava tetraparesia intensa, complicações das escaras de decúbito e dificuldade respiratória com prejuízo da oxigenação dos tecidos, chegando ao óbito. O exame radiográfico pos mortem mostrou afastamento da placa bloqueada em relação ao corpo vertebral de C5, além de estenose intensa do canal medular comprovada com a injeção de contraste no espaço subaracnóideo e adelgaçamento extremo da coluna de contraste ao nível de C4-C5. À necropsia identificou-se presença de fístula no músculo longus colli que comunicava o local de fixação dos implantes metálicos com o meio externo. O líquido sinovial da articulação entre os processos articulares de C4-C5 apresentava-se hemorrágico e um fragmento ósseo foi destacado, porém nenhum agente bacteriano foi isolado. Relatos norteamericanos citam a difundida utilização de implantes metálicos em forma de cesta fenestrada para a estabilização e fusão de dois corpos vertebrais adjacentes. A estabilização ventral de casos que apresentam osteoartrite dos processos articulares entre duas vértebras, em longo prazo, proporciona um remodelamento dessa articulação e aumenta o espaço antes diminuído do canal medular. A suspeita clínica de compressão ventral e sua influência na apresentação clínica desse animal fizeram com que fosse procedida a ressecção óssea e utilização de placas bloqueadas para proporcionar perfeita estabilidade entre as duas vértebras. Referências

1. Mayhew (2009). Large Animal Neurology. United Kingdom: Ed. Wiley-Blackwell, 2nd edition, 464 p.

2. Reed S, Bayly W, Traub J (1981) Ataxia and paresis in horses. Part II: Differential Diagnosis. Compendium on Continuing Education for the Practicing Veterinarian, 3: 88-99.

3. Papageorges M, Gavin P, Sande R, Barbee D D, Grant B D (1987) Radiographic and myelographic examination of the cervical vertebral column in 306 ataxic horses. Veterinary Radiology and Ultrasound, 28: 53-59.

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BLOQUEIO DO NERVO ALVEOLAR MANDIBULAR INFERIOR UTILIZANDO LIDOCAÍNA A 2%, EM GATOS

LOWERALVEOLARJAWNERVEBLOCKADEUSINGLIDOCAINE2%INCATS

NEVES,C.D.134;BERBARINETO;F.135;SILVA,E.C.136;POMPERMAYER,L.G.4;BORGES,A.B.P.137;LIMA,C.P.138;LIMA,F.B.5

RESUMO

Objetivou-se com este experimento avaliar a ação da lidocaína a 2,0% no bloqueio do nervo alveolar mandibular inferior de gatos. Foram utilizados seis animais adultos, com dois anos de idade, 3,0 ± 1,03 Kg, sem raça definida, machos ou fêmeas, do mesmo plantel. Como medicação pré-anestésica, receberam xilazina associada a cetamina (XC) e, 20 minutos depois, isofluorano como agente de manutenção anestésica. Imediatamente após, 0,5 ml de lidocaína a 2,0% foi administrado com uma agulha 25x07 em forma reta, inserida nos ângulos direito e esquerdo da mandíbula, aproximadamente 1,0cm rostral ao processo angular e 0,5cm dorsal à superfície medial do ramo da mandíbula, a fim de depositá-lo próximo ao nervo alveolar mandibular, na reentrância do forame mandibular. Decorridos 20 minutos do bloqueio anestésico e início da anestesia inalatória, foram extraídos os primeiros pré-molares inferiores, em ambas hemimandíbulas. A frequência cardíaca e respiratória, pressão arterial sistólica, saturação da oxiemoglobina, temperatura e reflexos protetores foram mensurados antes da administração da associação (XC), no momento da indução e bloqueio, no momento da extração dentária e em intervalos de 20 minutos até o final da cirurgia. O consumo de agente inalatório foi maior no grupo tratado que no controle. A frequência cardíaca, pressão arterial sistólica, frequência respiratória e saturação da oxihemoglobina apresentaram-se dentro dos parâmetros fisiológicos para a espécie no grupo tratado No entanto, no grupo controle os animais apresentaram valores mais elevados. Conclui-se que a lidocaína a 2,0%, dessensibilizou a inervação das hemiarcadas inferiores, como previsto, sem causar efeitos colaterais, minimizando o desconforto durante o procedimento de extração dentária em felinos. 134 MSc. docente do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo-Facastelo. Rua: Nicanor Marques S/N,

Vila Barbosa, CEP: 29360-000-Castelo, E.S.(28)3542-2253/(28)8112-2225. E-mail:[email protected]

135 DSc. docente do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo-Facastelo

136 Médica veterinária autônoma

137 DSc. docente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa

138 Graduandos do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Castelo-Facastelo

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Palavras-chave: felino, anestésico local, bloqueio infiltrativo.

ABSTRACT

The aim of this research was to evaluate the effect of 2.0% lidocaine in blocking the jaw inferior alveolar nerve of cats. Six adult animals was used, with 2 years of age, 3.0 ± 1.03 kg, male or female, the same squad. As premedication received xylazine combined with ketamine (XC) and 20 minutes after isoflurane as an agent of general anesthesia. Immediately after, 0.5 ml of 2.0% lidocaine was administered with a needle 25x07, inserted in the angles right and left jaw, approximately 1.0 cm rostral to the angular process and 0.5 cm dorsal to the medial surface the mandible in order to deposit it near the jaw alveolar nerve, in the recess of the jaw foramen. After 20 minutes of anesthesia and initiation of inhalation anesthesia were taken from the first pre-molars, in both mandible. Heart rate and respiratory rate, systolic blood pressure, hemoglobin saturation, temperature, protective reflexes were measured before administration of the association (XC), at the time of induction and block at the time of tooth extraction and 20 minute intervals until the end of surgery. The consumption of isoflurane was higher in the treated group than in control. Heart rate, systolic blood pressure, respiratory rate, oxyhemoglobin saturation, were within the physiological parameters for the species in the treated group, however in the control group animals showed higher values. We conclude that lidocaine 2.0%, desensitizes the nerve fibers of lower hemimandible, as planned, without causing side effects, minimizing discomfort during the procedure for tooth extraction in cats.

Key-words: cat, local anesthetic, blockade infiltrating.

INTRODUÇÃO

O controle da dor é essencial para o sucesso do tratamento odontológico em cães e gatos. Para tal, encontra-se disponível um vasto arsenal de fármacos capazes de atingir satisfatório alívio da dor causada pela intervenção odontológica1. Anestesia local é o estado de insensibilidade localizada sem alteração do nível de consciência, produzida por substâncias específicas que, colocadas em contato com o tecido nervoso, promovem o bloqueio reversível da condução do impulso nervoso1. Diversos aspectos tornam a anestesia local particularmente útil na clínica veterinária: custo reduzido; o anestesista muitas vezes pode ser o próprio cirurgião; permite que operações prolongadas sejam efetuadas com o animal em pé ,evitando os inconvenientes de uma contenção forçada ou de um decúbito prolongado; seu uso é crescente como componente das anestesias multimodais, entre outros2. A lidocaína é o anestésico local mais utilizado em medicina veterinária por seu fácil acesso, custo econômico, causar poucos efeitos colaterais, ter período de latência curto e período hábil intermediário de até quatro horas, além de ser utilizada em várias espécies1. O uso de anestésicos locais antes da produção do trauma cirúrgico minimiza a reação inflamatória tecidual por inibição dose-dependente do crescimento bacteriano e reduz a sensibilidade central à dor, proporcionando ao paciente maior conforto no transoperatório e no pós-operatório3. Procedimentos odontológicos, como restaurações dentais e exodontia, em animais de pequeno porte tornaram-se rotina na clínica-cirúrgica de pequenos animais. Esses tratamentos requerem anestesia geral e analgesia durante todo o procedimento. Os analgésicos comumente usados para

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estes procedimentos incluem opioides, agonista α-2 adrenérgicos e anti-inflamatórios não-esteroidais, que são administrados por vias parenterais. Estes fármacos podem causar efeitos indesejáveis, principalmente em felinos, pois estes apresentam deficiência da glicuroniltransferase, enzima hepática que participa das reações de fase dois (conjugação), da biotransformação das drogas. Deste modo, a anestesia regional é uma alternativa ao uso isolado de fármacos sistêmicos para controle da dor durante e após procedimentos odontológicos em felinos, uma vez que estes causam efeitos adversos mínimos4. O presente experimento teve por objetivo avaliar a utilização da lidocaína como anestésico local, em bloqueio do nervo alveolar mandibular inferior em gatos, visando a verificar as possíveis alterações sobre a dinâmica respiratória e circulatória e os efeitos benéficos para a realização da técnica cirúrgica de exérese dentária pré-molar em gatos.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram selecionados oito gatos classificados como ASA I, segundo critérios da Sociedade Americana de Anestesiologia. Apresentaram peso médio de 3,0 kg, idade de 2 anos e ambos os sexos. Foram separados aleatoriamente em dois grupos de quatro animais. Os animais do grupo 1 (G1), receberam como medicação pré-anestésica (MPA) xilazina a 2% na dose de 1mg.Kg-1 associada a cetamina a 5% na dose de 10mg/Kg-1 pela via intramuscular (M0). Decorridos 20 minutos (M1), os animais receberam instilação de lidocaína a 2,0% na faringe permitindo a intubação orotraqueal. Em seguida, foi introduzida anestesia inalatória com isofluorano, por meio de vaporizador calibrado em circuito semi-aberto de Baraka. Um volume de 0,5 ml de lidocaína a 2,0% foi administrado com uma agulha 25x5/8 em forma reta, inserida no ângulo da mandíbula direita e esquerda, aproximadamente 1,0cm rostral ao processo angular e 0,5cm dorsal à superfície medial do ramo da mandíbula, a fim de depositá-la próximo ao nervo alveolar mandibular, na iminência do forame mandibular. Após 20 minutos (M2) iniciou-se a extração dentária do 1º pré-molar inferior, em ambas hemimandíbulas. Outras duas mensurações ocorreram a cada 20 minutos. O grupo 2 (G2), recebeu o mesmo tratamento do G1, contudo foi administrada 0,5ml de solução de NaCl 0,9% como placebo ao invés de lidocaína 2,0%. Foram avaliadas temperatura corporal mensurada em graus Celsius (ºC) por meio de termômetro digital em contato direto com a mucosa retal, concentração do anestésico inalatório através da porcentagem administrada no momento da avaliação, frequência respiratória avaliada pela contagem dos movimentos do gradil costal, durante um minuto, saturação da oxihemoglobina avaliada em porcentagem, através de oximetria de pulso, pressão arterial sistólica avaliada pelo método não invasivo, através de coluna de mercúrio acoplada a um manguito pneumático colocado no terço médio do úmero, e um dopller vascular ultra-sônico, sobre a artéria braquial, frequência cardíaca avaliada pelo oxímetro de pulso, posicionado na comissura labial e analgesia avaliada inicialmente pelo pinçamento de prega mucosa, e posteriormente pelo estímulo cirúrgico e classificado como suficiente ou insuficiente para a realização da cirurgia de acordo com as alterações da frequência cardíaca, respiratória e da pressão arterial sistólica. Após a cirurgia foi administrado meloxicam 0,2% na dose de 0,1mg/Kg-1, pela via subcutânea, e enrofloxacina 2,5% na dose de 10mg/Kg-1, pela via intramuscular, em todos os animais. Realizou-se a avaliação estatística descritiva após o término da coleta dos dados. Utilizou-se média, além da relação percentual entre os momentos em cada grupo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

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A temperatura corporal dos animais declinou durante todo o período anestésico, assumindo valores aquém dos considerados pertinentes a espécie felina, entre 38,1 e 39,0ºC, visto que, estavam sob efeito de anestésicos gerais5. A hipotermia é considerada uma das complicações mais freqüentes no período pós e transoperatório, com repercussões deletérias ao organismo, como aumento no tempo de recuperação. A introdução do agente inalatório ocorreu a partir do M1 em ambos os grupos, e foi iniciada a verificação da porcentagem de oferta do anestésico a partir do M2, onde já havia estabilidade anestésica do paciente. No grupo controle (G2) não houve modificação na oferta de anestésico entre o M2 e o M3, permanecendo a concentração de isofluorano em 2,0%, contudo houve redução de 75,0% no consumo entre o M3 e o M4, chegando a 0,5%. No G1, a concentração de anestésico ofertada inicialmente foi de 0,5%, havendo aumento do consumo de anestésico inalatório entre M2 e M3 de 20%, e entre M3 e M4 de 166%, demonstrando que após, aproximadamente 40 minutos do início do bloqueio, ocorreu declínio dos níveis teciduais do anestésico local, como descrito pela literatura1 e a dor promovida pela exérese dentária estava sendo percebida pelo paciente, havendo necessidade de aumento na oferta do agente anestésico para promover analgesia suficiente. Todavia os valores absolutos deste grupo foram aquém dos apresentados pelo grupo controle (G2), permanecendo sempre abaixo de 2,0%. Há reflexo da freqüência respiratória adequada dos animais durante todo o período anestésico, os valores da saturação de oxihemoglobina permaneceram dentro dos parâmetros de referência para a espécie estudada, entre 90% e 100%, segundo6. Após a indução anestésica os animais foram mantidos em circuito semi-aberto de Baraka, com reinalação parcial de gases e fluxo de oxigênio a 100%, o que provocou aumento na SpO2, até o final das mensurações. A pressão arterial sistólica assumiu valores maiores no G2 do que no G1 quando comparados. No G1 houve declínio na variável de 41,4% no período entre M1 e M2, devido ao isofluorano que apresentou efeito depressor sobre a pressão arterial7 e ao bloqueio infiltrativo regional que dessensibilizou a área a qual haveria exérese dentária, evitando a dor. Posteriormente ao M3 houve aumento da pressão, permanecendo em ascensão até o final do período anestésico, onde o efeito do anestésico local já iniciava declínio na periferia nervosa. A freqüência cardíaca (FC) apresentou redução acentuada entre M0 e M1, em ambos os grupos, pois os animais haviam recebido xilazina e cetamina associados, os quais produzem redução na freqüência cardíaca, mesmo sendo a cetamina um estimulante da FC, contudo o G1 apresentou discreto aumento dos valores em M2 (2,7%), enquanto o G2 apresentou redução (-2,2%). A analgesia foi considerada como suficiente em todos os procedimentos de exérese dentária em ambos os grupos. O bloqueio do nervo alveolar mandibular proporcionou anestesia da região dos dentes molares, pré-molares, caninos, incisivos, pele e mucosa da bochecha e lábio inferior da face direita e esquerda da mandíbula, por dessensibilização. Acredita-se que isto ocorra em função da sua divisão após penetrar no canal mandibular fornecendo ramos para os dentes molares, caninos e incisivos, assim como pela emersão do nervo mentoniano, através do forame mentoniano, o qual inerva a região mentoniana8,9,10 e pelo fato do nervo alveolar mandibular também ser sensorial10.

CONCLUSÃO

A utilização da lidocaína como anestésico local, em bloqueio do nervo alveolar mandibular inferior em gatos, demonstrou ser eficiente, reduzindo o consumo de isofluorano, mantendo estável a pressão arterial sistólica, bem como, as freqüências

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cardíaca e respiratória, apresentando efeitos benéficos para a realização da técnica cirúrgica de exérese dentária molar em gatos.

Experimento aprovado pelo comitê de ética da Universidade Federal de Viçosa, protocolo 09/2008.

REFERÊNCIAS

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LAVAGEM PERITONEAL EM UMA ÉGUA COM PERITONITE SECUNDÁRIA A RUPTURA UTERINA – RELATO DE CASO

PERITONEALLAVAGEINAMAREWITHPERITONITISAFTERAUTERINERUPTURE–ACASEREPORT

LAVADOPERITONEALENUNEQUINOCONPERITONITISPROVOCADAPORRUPTURAUTERINA–UNESTUDIODECASO

LASKOSKI,LUCIANEMARIA139,DÓRIA,RENATAGEBARASAMPAIO140,FREITAS,SILVIOHENRIQUEDE²,ARRUDA,LAURAPEIXOTODE141,SANTOS,MARCELODINIZ142,CAMARGO,

LAZAROMANOEL²

RESUMO

A peritonite acomete frequentemente equinos após afecções gastrointestinais, sendo a principal complicação observada após cirurgias abdominais. Não raramente leva os animais a óbito e pode resultar ainda em importantes aderências abdominais. Este relato descreve um caso de peritonite em uma égua após ruptura uterina, recebendo como tratamento antibióticos sistêmicos e locais (peritônio e útero), fluidoterapia intravenosa e lavagens peritoniais sucessivas. Após a realização de cinco lavagens peritonais, houve restabelecimento dos parâmetros físicos normais do equino. Conclui-se que a lavagem peritonial apresentou resultado eficaz para a melhora clínica do paciente, sem a qual o desfecho provavelmente seria fatal. Palavras-chaves: equinos, peritonite, lavagem peritonial ABSTRACT

Frequently horses are acomited by peritonitis after episodes of acute abdomen and this is the principal consequence observed after abdominal surgeries. Death is not rare and abdominal adhesions is an important complication. This case reports a peritonitis case in a mare after utherine rupture, receiving systemic and local (peritoneus and uthero) antimicrobial treatment, intravenous fluidoterapy and

139 MSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária –

Cuiabá, MT 140 DSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária –

Cuiabá, MT. Endereço: Avenida Antártica, n. 788, casa 26. Ribeirão da Ponte – Cuiabá, MT. CEP. 78040-500. Email:

[email protected] 141 MSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Patologia Veterinária –

Cuiabá, MT 142 DSc; Universidade de Cuiabá, Faculdade de Medicina Veterinária, Departamento de Reprodução Veterinária –

Cuiabá, MT

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successive peritoneal lavages. After five peritoneal lavages, there were restablishment of the normal physical parameters of the horse. It was concluded that the peritoneal lavage presented positive results to the clinical recover of the pacient, supposing that without this treatment the final result of this case reported would be probably fatal. Keywords: horse, peritonitis, peritoneal lavage. INTRODUÇÃO

A peritonite é uma grave complicação de afecções gastrointestinais, ocorrendo por desordens entéricas ou de forma iatrogênica, frequentemente como complicação pós-cirúrgica¹. No entanto, qualquer condição que permita a entrada de agentes irritantes ou infecciosos para o meio abdominal pode predispor ao desenvolvimento da enfermidade. O estímulo para a peritonite desencadeia uma série de alterações, como liberação de histamina e outras substâncias vasoativas, resultando em vasodilatação e liberação de líquido rico em proteínas e leucócitos para a cavidade abdominal². Assim, o fluido peritonial, numa condição de inflamação, pode alterar sua quantidade, coloração e características gerais³.

Considera-se que os equinos são mais susceptíveis ao desenvolvimento de peritonite grave que as outras espécies, provavelmente por possuírem um omento menor que os demais, o qual possui papel importante na contenção da infecção4. Como grande parte dos casos de peritonite em equinos é infecciosa, os isolamentos bacterianos são frequentemente realizados. E entre os diversos microorganismos que podem ser isolados, destaque especial se dá ao encontro da bactéria Escherichia coli, por ser um habitante frequentemente encontrado no trato gastrointestinal, constituindo assim ligação da infecção com este sistema5. Este relato tem o objetivo de descrever um caso de peritonite em equino, secundária à ruptura uterina, que teve como tratamento coadjuvante lavagens abdominais sucessivas, as quais contribuíram para o retorno do quadro clínico do paciente ao normal.

RELATO DE CASO

Uma égua Paint-horse de três anos de idade foi encaminhada ao Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá ( Unic) com histórico de apatia intensa e anorexia, observadas um dia após cobertura natural assistida. O animal foi encaminhado a exame clínico, sendo observados fisicamente sinais de sepse grave, como mucosas ocular e oral congestas, frequência cardíaca e respiratória elevadas, temperatura retal de 40⁰C, motilidade intestinal ausente, turgor de pele acima de dois segundos e tempo de preenchimento capilar de três segundos. Nos exames laboratoriais, destacaram-se intensa leucopenia, hiperfibrinogenemia e aumento da fosfatase alcalina. Foram realizados procedimentos para identificar o local da infecção, sendo eles avaliação do aparelho respiratório, aparelho urinário, com coleta de urina, e também do aparelho reprodutivo. Este último apresentava cérvix dilatada e, por meio do especulo, notou-se uma região com aparência de ruptura. Foi feita palpação transvaginal, uma vez que a cérvix encontrava-se aberta, identificando o rompimento da parede uterina, sendo possível, inclusive, palpar alças intestinais por meio dessa fissura da parede uterina. Na sequência, realizou-se paracentese, sendo obtido líquido peritoneal extremamente alterado, de coloração esbranquiçada e com contagem celular acima de 40000 leucócitos/mm³, sendo necessário, para a contagem celular, diluir o material enviado. O material foi enviado para cultura, sendo

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isolado Streptococcus equi, subespécie zooepidemicus. O tratamento antimicrobiano foi realizado com enrofloxacina intravenosa por sete dias e também administração de gentamicina, intrauterina, por três dias consecutivos. Foi feita fluidoterapia para restaurar a hidratação do equino por aproximadamente cinco dias, ou quando havia necessidade, demonstrada pelo exame físico. Optou-se também por lavagem abdominal, utilizando uma sonda retal humana, introduzida no abdomen por meio de uma incisão na linha alba, quatro dedos após a cartilagem xifóide, utilizando-se uma sonda estéril para cada dia. O orifício era então suturado e reaberto no dia seguinte para nova lavagem peritonial. Foram utilizados aproximadamente oito litros de solução de ringer-lactato, contendo gentamicina e dimetilsulfóxido, quantidade máxima suportada pelo animal em questão ao dia. Após quatro dias do início do tratamento, houve melhora do quadro clinico, com redução da temperatura retal aos valores normais, retorno das mucosas à coloração rósea, bem como do tempo de preenchimento capilar a dois segundos, manutenção do turgor de pele normal sem a hidratação e retorno da ingestão normal de alimentos. Foi feita uma última lavagem peritoneal, constatando-se líquido peritoneal menos alterado. A administração de enrofloxacina foi mantida por mais três dias. Optou-se por não interferir cirurgicamente com a recuperação da ruptura uterina, apenas administrando-se gentamicina para controle infeccioso local. A égua recebeu alta clínica, recomendando-se repouso reprodutivo em torno de 12meses, sendo para esta função o prognóstico considerado como reservado.

DISCUSSÃO

Dentre os diversos sinais clínicos demonstrados por um animal acometido por infecção abdominal, estão anorexia, hipertermia, perda de peso, ausência de motilidade, constipação ou diarréia, tempo de preenchimento capilar aumentado, desidratação, aumento das frequencias cardíaca e respiratória, mucosas avermelhadas e dor abdominal, caracterizada como constrações abdominais, relutância em se movimentar e sensibilidade à pressão abdominal externa5,4,2, sinais esses que foram compatíveis com o quadro do animal deste relato. A infecção do peritônio foi associada à ruptura uterina após a constatação da mesma por palpação transvaginal e também pela cultura do material, indicando a presença de Streptococcus equi subs, zooepidemicus, sendo a bactéria mais prevalente em infecções uterinas, por isso normalmente seu achado está relacionado a este aparelho6,7.

A lavagem peritonial tem sido vista com receio por muitos clínicos e cirurgiões, pois acredita-se que a técnica possa difundir mais efetivamente infecções localizadas e assim agravar o quadro clínico do animal. Hague et al.8 demonstraram que a utilização de lavagens abdominais em equinos em posição quadrupedal fori efetiva para prevenir a aderência em animais submetidos a lesões da serosa jejunal, quando comparados a outros equinos que também foram submetidos a estas lesões, sem receber tratamento. O benefício da lavagem peritonial é de possibilitar a remoção de fibrina, toxinas e mediadores inflamatórios9. Fang et al.10 demonstraram que a lavagem peritonial pode ser realizada com solução salina, e que a mesma infundida em temperatura de 4°C apresenta melhor prevenção de aderência do que aquela administrada à temperatura ambiente. Ainda demonstraram que vários mediadores inflamatórios, como o TNF-α, podem ser reduzidos com sua utilização em temperatura reduzida. No presente realto, foi utilizada solução de ringer-lactato associado à gentamicina e dimetilsulfóxido para reduzir a infecção microbiana e também a formação de aderências. No entanto, a pesquisa de Sortini et al.¹¹ realizada em ratos

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demonstrou que a infusão somente de solução fisiológica, quando comparada à infusão de soluções antimicrobianas e antissépticas, apresenta melhor efeito na prevenção de aderências e não apresenta complicações como as demais, as quais podem levar o paciente a óbito, provavelmente por lesão química do peritônio. Não foi possível determinar a causa da ruptura uterina, pois dificilmente a cobertura natural poderia causar tal alteração em condições normais, como foi relatado à anamnese.

CONCLUSÃO

O tratamento realizado à base de sucessivas lavagens peritoneais mostrou-se efetivo em reverter o quadro clínico do animal, o qual provavelmente seria fatal sem a sua utilização.

REFERÊNCIAS 1. Schneider R K. Peritonitis. Mansman RA, MCallister ES (1992). In: Equine

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CÉLULAS-TRONCO MESENQUIMAIS COM PLASMA RICO EM PLAQUETAS NA REPARAÇÃO DE DEFEITOS CRÍTICOS EM CALVÁRIA

DE CAMUNDONGOS

EFFECTSOFMESENCHYMALSTEMCELLSWITHPLATELETSRICHPLASMAINTHEREPAIROFCRITICALDEFECTSINMICECALVARIAL

MONTEIRO,B.S.1431*;DELCARLO,R.J.1442;ARGÔLO‐NETO,N.M.1453;CARVALHO,P.H.1464;BONFÁ,L.P.4;NARDI,N.B.1475;MOREIRA,H.N.1486

Palavras-chave: terapia celular, gel de plaquetas autólogo, reparação óssea.

Keywords: cell therapy, platelets gel, bone repair.

Introdução

Novas terapias visando à reparação tecidual em regiões que apresentam difícil cicatrização, como os ossos do crânio e da mandíbula, têm utilizado a terapia celular com células osteogênicas associadas a fatores de crescimento osteoindutores e veículos biocompatíveis (Pieri et al., 2009). A plasticidade das células-tronco mesenquimais (CTM), sua habilidade de expansão in vitro e efeitos imunomodulatórios (Muraki et al., 2006), aliados às propriedades do Plasma Rico em Plaquetas (PRP), um biomaterial acelerador da formação óssea que contém proteínas sanguíneas e grande número de plaquetas liberadoras de diferentes tipos e quantidades de fatores de crescimento (FC) com características osteoindutoras que, em conjunto, influenciam positivamente a quimiotaxia, diferenciação, proliferação e ativação de diversos tipos celulares (Kasten et al, 2008a), tornam essa associação um alvo de estudos. No presente estudo, foram avaliados os efeitos da associação das CTM oriundas da medula óssea de oito camundongos C57BL/6 gfp+ e expandidas em culturas com PRP provenientes de outros oito camundongos na reparação de defeitos críticos confeccionados em calvária de 24 camundongos C57BL/6 jovens.

143 DS, Bolsita de Pós-doutorado CNPq, Profa. titular, Departamento de Veterinária (DVT), Centro Universitário Vila Velha (UVV), CEP 29101-777, Vila Velha, ES, Brasil. *Autor para correspondência: betâ[email protected].

144 DS, Prof. Titular, Pesquisador CNPq. DVT, UFV.

145 DS, Prof., DVT, Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc).

146 Estudante de Mestrado, DVT, UFV.

147 DS, Profa. Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Pesquisadora do CNPq.

148 Estudante de Mestrado, Departamento de Biologia Molecular, UFV.

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Metodologia

Os animais foram submetidos a um defeito de 6,0mm de diâmetro no osso parietal, sem lesionar as meninges. O grupo controle (GC) não recebeu tratamento e o grupo CTM/PRP (GMP) teve a falha óssea preenchida com o pellet contendo 1,0 x 107células/mL e 50,0µL de plasma em gel contendo 1,0 x 109 plaquetas. Três animais de cada grupo foram aleatoriamente escolhidos e submetidos à eutanásia nos dias dez, 30, 60 e 90 de pós-operatório para obtenção de amostras ósseas, envolvendo a região do defeito e a porção adjacente do osso receptor. O fragmento foi identificado, medido e fotografado para mensurar a área do defeito e estabelecer o percentual de reparação óssea. Na histologia foi avaliada a presença e características do tecido de preenchimento. Os resultados obtidos foram submetidos ao testes de Kolmogorov–Smirnov para verificação da distribuição de normalidade da variável percentual de reparação óssea. Foi estabelecida a média do percentual de reparação óssea em cada período avaliado e foi realizada a análise das amostras independentes mediante a aplicação do Teste t de Student com nível de rejeição da hipótese de nulidade de 5% (p≤0,05). O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Experimentação Animal (Ceea) da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e aprovado em março/2007, sob parecer número 46/2007.

Resultados

Na avaliação macroscópica, foi observada ausência de fechamento total dos defeitos em ambos os grupos e ainda que o osso formado apresentava espessura inferior ao osso receptor. Por meio da análise da variável percentual de reparação óssea, verificou-se diferença (p = 0) entre os dois grupos experimentais em todos os períodos de avaliação e que os animais do GMP apresentaram os melhores valores de reparação. Os valores desse percentual no GMP, aos dez dias, só foram observados no GC próximo ao período de 60 dias. Ainda no GMP, o percentual de reparação ocorrido do dia inicial da lesão até os dez primeiros dias foi o maior encontrado (57%) e foi diminuindo ao longo dos dias (dia 11 ao 30, 6%; dia 31 ao 60, 6%; dia 61 ao 90, 0,3%). No GC o maior percentual foi verificado entre os dias 11 e 30 (30%) e o valor observado aos 90 dias foi semelhante ao exibido aos 30 dias no grupo tratado. Na avaliação histológica, foi observada angiogênese e maior formação óssea no GMP, sobretudo aos dez dias. Independentemente do período em análise, foram observados osteoblastos cuboides enfileirando-se nas margens da nova formação tecidual e aumento da matriz óssea. No GMP, verificou-se maior quantidade de osteoblastos e organização do tecido osteoide quando comparado ao GC.

Discussão

Considerando-se que os processos de cicatrização do organismo são complexos e que necessitam de interações entre o local lesado e as células reparadoras, objetivou-se que as CTM transplantadas incrementassem o processo de reparação óssea por liberarem diferentes tipos de FC solúveis incluindo G-CSF (fator estimulador de colônias de granulócitos), GM-CSF (fator estimulador de colônias de macrófagos e granulócitos), M-CSF (fator estimulador de colônias de macrófagos), TGF-ß e diversas interleucinas, como o descrito por Bobis et al.(2006). Esses FC são

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capazes de ativar diferentes tipos celulares, incluindo células envolvidas no processo de inflamação, promovendo a diferenciação das células osteoprogenitoras, e induzir a ativação de células ósseas jovens, acarretando em formação óssea mais precoce e em maior quantidade, verificada no grupo tratado. Ademais, de acordo com dados apresentados por Ball et al.(2007), as CTM expressam elevados níveis de receptores para PDGF e VEGF, o que pode explicar, entre outros fatores, a exuberante angiogênese encontrada no GMP. Verificou-se que as CTM/PRP utilizadas como tratamento dos defeitos na porção parietal do crânio dos camundongos determinaram maior formação óssea em relação ao grupo controle, com tendência à reparação total. Contudo, ao final do período de avaliação aos 90 dias, os defeitos não estavam totalmente preenchidos. Tal característica evidencia a criação de um defeito critico na calvária do camundongo (6,0 mm), concordando com dados disponíveis na literatura que consideram críticos os defeitos com diâmetro superior a 2,7mm (Seo et al.,2008). Consequentemente, por mais que o tratamento com as células indiferenciadas e plasma em gel tenha incrementado o processo de reparação, ele não foi suficiente para prover a cura total no período avaliado. O estudo estatístico confirmou que o tratamento com a associação CTM/PRP incrementou a reparação óssea, que acarretou maior quantidade de novo tecido ósseo, sobretudo nos dez primeiros dias. Ademais, permitiu verificar que a maior taxa de reparação óssea exibida no grupo controle aos 90 dias foi semelhante à taxa do grupo tratado aos 30 dias. Por esses dados, pode-se inferir que a liberação dos fatores de crescimento, providenciada pelas CTM e pelo PRP, determinou maior ativação de receptores nas células osteoprogenitoras, maior recrutamento celular e ativação de células osteocomprometidas, com consequente maior formação de tecido ósseo. Em relação à formação óssea, os tipos celulares presentes em ambos os grupos foram os mesmos. A diferença entre os grupos foi a quantidade de células de deposição óssea, maior no GMP. Corroborando as afirmações de Kasten et al. (2008b), a adição dos fatores de crescimento do plasma resultou em efeito positivo para a maior ativação e proliferação das CTM.

Conclusão

Constatou-se que a associação das CTM derivadas da medula óssea de camundongos C57BL/6 gfp+ com gel de PRP aplicadas em defeitos ósseos críticos confeccionadas em calvária de camundongos C57BL/6 jovens contribuiu positivamente para o processo de reparação óssea.

Referencias

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2. Muraki K. et al. (2006). Assessment of viability and osteogenic ability of human mesenchymal stem cells after being stored in suspension for clinical transplantation. Tissue Engineering, 12:1711-1719.

3. Kasten P. et al. (2008a). The effect of platelet-rich plasma on healing in critical-size long-bone defects. Biomaterials, 29:3983-3992.

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6. Seo BM. et al. (2008). SHED repair critical-size calvarial defects in mice. Oral Diseases, 14:428-434.

7. Kasten P. et al. (2008b). Effect of platelet-rich plasma on the in vitro proliferation and osteogênico differentiation of human mesenchymal stem cells on distinct calcium phosphate scaffolds: the specific surface area makes a difference. Journal of Biomaterials Applications, 23:169-188.

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INFARTO ÓSSEO ASSOCIADO À OSTEOSSARCOMA: RELATO DE CASO

I N F A R C T I O N A S S O C I A T E D T O O S T E O S A R C O M A

B O N Y : C A S E R E P O R T

MORATO, G.O149.; HELOU, J.B.150; LIMA, T.B. 1; CIPÓLLI, V.M.M. 1; CANOLA, J.C. 1;

Palavras-Chave: cão, infarto ósseo, osteossarcoma

Key-Words: dog, bone infarction, osteossarcoma

INTRODUÇÃO

O ostessarcoma (OSA) é um tumor maligno de células ósseas primitivas que histologicamente é caracterizado por células mesenquimais anaplásicas1, representando aproximadamente 90% dos tumores ósseos2. A ocorrência de sarcoma intraósseo associado com infarto ósseo é uma condição rara, pouco relatada na literatura3. Pode existir uma relação de causa e efeito entre estas afecções4. A ocorrência de 13 cães apresentando sarcoma ósseo primário associado a infarto ósseo intramedular multifocal foi descrito na literatura5. Radiograficamente, os infartos ósseos caracterizam-se por apresentar área irregular e radiopacidade nas cavidades medulares6. O infarto ósseo pode manifestar-se clinicamente com dor, edema e eritema locais ou pode ser silencioso, sendo o achado de imagem acidental. Nos casos sintomáticos, febre e leucocitose também podem estar presentes, dificultando o diagnóstico diferencial com processos infecciosos7. Não há sintomatologia clínica específica, que pode ser atribuída diretamente ao infarto ósseo5. Ainda que o infarto epifisário possa ocorrer em qualquer osso, tem predileção pelo úmero e fêmur proximais7. Sobre o assunto, é descrita na literatura a ocorrência de infarto ósseo femoral após artroplastia de quadril (THA) e subseqüente desenvolvimento de osteossarcoma no local de infarto8. Os métodos de diagnóstico por imagem e avaliação histopatológica são imprescindíveis no diagnóstico. Neste contexto, a radiografia simples pode mostrar aspectos característicos da doença e contribui para

149 Departamento de Cirurgia, Escola de Veterinária, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (UNESP). E-

mail: [email protected] 150 Departamento de Medicina Veterinária, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG)

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a detecção de infartos ósseos em fases mais avançadas7. Apesar dos avanços obtidos na utilização de métodos auxiliares de diagnóstico, os recentes estudos científicos indicam que a grande maioria dos trabalhos se restringe à medicina humana. Assim sendo, o objetivo do presente relato é descrever um caso de osteossarcoma (OSA) associado a infarto ósseo no membro pélvico em cão.

METODOLOGIA

Foi atendido no Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, no setor de Cirurgia de Pequenos Animais, um animal da espécie canina, macho, 11 anos de idade, da raça Poodle, peso corporal de 8 Kg, com histórico de claudicação do membro pélvico esquerdo com evolução de três meses. Observou-se um aumento de volume na altura da articulação tibiotársica esquerda de aproximadamente 10 centímetros de diâmetro, de consistência firme, não ulcerado. Exames como hemograma e bioquímica sérica não apresentaram qualquer alteração relevante. Na sequência, o animal foi encaminhado para o exame radiográfico, observando-se intensa reação periosteal liticaproliferativa envolvendo o tarso do animal. No mesmo membro, notou-se área irregular de osteopenia, com radiopacidade trabecular medular acometendo toda a tíbia e porção distal do fêmur, sendo nítida a delimitação entre área afetada e saudável. Avaliação citopatológica (CAAF) a partir do aspirado do aumento de volume do membro pélvico revelou celularidade neoplásica maligna compatível com osteossarcoma. Optou-se por tratamento cirúrgico com amputação do membro associado à quimioterapia. Para tanto procedeu-se desarticulação coxofemural do membro, o qual foi enviado para análise histopatológica. Foram obtidos cortes tanto da região do tarso como de tíbia e fêmur. As medicações administradas no pós-operatório foram cefalexina (30 mg/kg/BID,sete dias), meloxicam (0,1 mg/kg/ SID, quatro dias) e cloridrato de ranitidina (2 mg/kg/SID, sete dias) e cloridrato de tramadol (4mg/Kg, TID,seis dias). Recomendou-se a remoção dos pontos de pele no décimo dia após o procedimento cirúrgico. RESULTADO E DISCUSSÃO

Através de avaliação histopatológica pôde-se confirmar presença de osteossarcoma na região de tarso. A imagem radiográfica obtida foi compatível com o laudo histopatológico, visto que sugeriu reação tipicamente neoplásica com intensa reação óssea liticaproliferativa, atingindo sobretudo o calcâneo do membro pélvico esquerdo, corroborando com os achados anteriormente descritos9. O tratamento foi realizado seguindo as recomendações descritas na literatura9, sendo realizada amputação do membro afetado, associada à quimioterapia. Umas das principais preocupações quanto à sobrevida de animais com membros amputados diz respeito ao estresse pós-cirúrgico. O animal em questão foi monitorado durante o pós-operatório, o qual não demonstrou estresse ou dor, adaptando-se bem à nova condição. A amputação controla o tumor primário e promove alívio da dor10, com pouca ou nenhuma redução na mobilidade e qualidade de vida, o que justifica os achados encontrados no presente estudo. A análise histopatológica das amostras obtidas de tíbia e fêmur apresentaram necrose óssea sugestiva de infarto. Em estudo realizado5, o infarto pode estar relacionado com a deposição de osteoide mal organizado proliferativo na superfície do osso endosteal. Segundo este autor, este tipo de osteoide é geralmente produzido em reação à hipóxia. Assim, a radiopacidade

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trabecular observada nos achados radiográficos corresponde às lesões proliferativas vistas na cavidade medular, corroborando como os achados descritos5. Porém, não se sabe se o infarto é um resultado direto da oclusão vascular ou resulta, em parte, da pressão de necrose, devido à proliferação de osteoide nos espaços confinados da cavidade medular. Segundo alguns autores5, o problema subjacente parece ser a fibrose e oclusão das artérias nutrientes. Esse mesmo pesquisador acrescentou que morfologicamente esta doença vascular é diferente de lesões vasculares observadas em associação com trombose, hipertensão, aterosclerose e amiloidose. Entretanto, nenhumas destas afecções estavam presentes no caso apresentado. Em casos sintomáticos de infarto ósseo, febre e leucocitose podem estar presentes7, os quais não foram encontrados no presente relato. Entretanto, sabe-se que não há alterações clínicas que podem ser atribuídas diretamente ao infarto ósseo5. Em estudo retrospectivo6, o autor relatou maior prevalência de infarto ósseo associado ao osteossarcoma nos ossos do membro pélvico. Apesar de a etiologia do infarto ósseo do presente caso não ter sido esclarecida, sabe-se que, em humanos, são lesões incomuns e ocorrem em indivíduos que sofreram trauma, embolia por gordura, anemia falciforme e, uso prolongado de corticoide5. Sobre o assunto, os pesquisadores8 afirmaram que o infarto ósseo pode ser um fator predisponente para o desenvolvimento de osteossarcoma no fêmur de cães, após o procedimento com THAS. Na literatura consultada, não foram encontrados trabalhos científicos que elucidasse sobre a etiologia de osteossarcoma associado a infarto ósseo em caninos. Finalmente o comprometimento ósseo deve-se principalmente ao efeito local direto do próprio tumor, causando agregação plaquetária e liberação de tromboxano A22,4. Sabe-se que agregação plaquetária promove a implantação de agregados celulares tumorais, podendo auxiliar na formação de uma ponte entre as células tumorais e a superfície vascular11. Contudo, no caso apresentado, não havia elementos suficientes para afirmar se houve uma relação direta de causa e efeito entre infarto e posterior desenvolvimento de sarcoma ósseo e qual destas possibilidades foram responsáveis pela claudicação e dor que o animal apresentava. REFERÊNCIA

1. Straw RC. Tumor of the skeletal system. In: Withrow SJ, MacEWEN EG (1996). Small animal clinical oncology. 2. ed. Philadelphia: Ed. WB Saunders., 287-315.

2. Nelson RW, Couto CG. Neoplasias selecionadas em cães e gatos. In: Nelson RW, Couto CG (2001). Medicina Interna de pequenos animais, 2. ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Koogan., 899-901.

3. Domson, GF et al. (2009). Infarct-associated Bone Sarcomas. Clinical Orthopaedics and Related Research, 467: 1820-1825.

4. Abdelwahab IF et al. (1998). Angiosarcomas associated with bone infarcts. Skeletal Radiol. 10: 546-551.

5. Dubielzig RR (1985). Medullary bone infarction in dogs. Disponível em: < http://www.cal.vet.upenn.edu/projects/saortho/.../53mast.htm>. Acesso em 01 de Agosto de 2010.

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7. Yanaguizawa M et al. (2008). Imaging diagnosis on the evaluation of sickle-cell anemia. Revista Brasileira de Reumatologia, 48: 102-105.

8. Little DGM et al (1999). Osteossarcoma no site do infarto do osso associada com artroplastia total do quadril em um cão. Surg Vet, 28: 54 -60.

9. Fossum TW et al. (2005). Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Ed. Roca., 1335p.

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10. Ogilvie GK. Bone tumors. In: Rosenthal RC (2001). Veterinary oncology secrets. 1. ed. Philadelphia: Hanley & Belfus, 139-147.

11. Daleck CR et al. (2002). Osteossarcoma canino revisão Rev. Educ. contin.CRMV.SP. São Paulo, 5: 233-242.

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ULTRASSOM TERAPÊUTICO E LASER DE BAIXA POTÊNCIA NO TRATAMENTO DE ABSCESSOS EM EQUINOS

THERAPEUTICULTRASOUNDANDLOWLEVELLASERINTREATMENTOFEQUINEABSCESS

MORAES,J.M.1511;HUAIXAN,L.N.1;VILLAFILHO,P.C.1;PALERMO,J.G.C.1;XIMENES,F.H.B.1;TEIXEIRANETO,A.R.1;GODOY,R.F.1

Palavras-chave: regeneração tecidual, lesões cutâneas, fisioterapia.

Key words: tissue regeneration, cutaneous lesions, physiotherapy.

Introdução

O ultrassom terapêutico (UST) e o laser de baixa potência (LBP) são formas não invasivas de tratamento, que estimulam o desenvolvimento de fibroblastos e a produção de colágeno, obtendo uma diminuição no tempo de cicatrização e aumento na força de tensão da ferida (1,2,3). O UST pode ser definido como uma onda ou pressão sonora propagativa com a capacidade de transferir energia mecânica para os tecidos. O efeito mecânico é causado pelas vibrações sônicas que causam atrito nos complexos celulares, produzindo micromassagem. O resultado é a excitação celular e aumento da permeabilidade das membranas tissulares, melhorando o metabolismo e a atividade celular (1,²,4,5). O LBP é uma radiação eletromagnética, não ionizante, monocromática, coerente e colimada, com ação principalmente nas organelas celulares, em especial nas mitocôndrias, lisossomos e membrana, gerando aumento de ATP e modificando o transporte iônico. Desta forma, o LBP acelera, em curto prazo, a síntese de ATP e, em longo prazo, a transcrição e replicação do DNA. Por estimular a angiogênese, o metabolismo e a multiplicação celular, o LBP apresenta potencial para acelerar o reparo tecidual e a multiplicação de vários tipos celulares (3,4,5,6). O tratamento de feridas nos equinos é sempre dificultoso, podendo formar tecido de granulação exuberante, o que dificulta a epitelização, requerendo uma avaliação cuidadosa, além de tratamentos diferenciados (1). Desta forma, este estudo teve como objetivo descrever o uso do UST e LBP como auxiliar na cicatrização de ferida séptica de equinos.

151 Hospital Escola de Grandes Animais, Universidade de Brasília – HVET/UnB, Brasília-DF. E-mail: [email protected]

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Metodologia

Dois equinos, machos, adultos, da raça Mangalarga Machador, foram atendidos no HVET/UnB com histórico de abscessos na região glútea (Animal A) e cervical (Animal B). Foi realizado o debridamento cirúrgico, com retirada de exsudato purulento e tecido necrótico, resultando em feridas profundas de 139,2cm² e 12,5cm² de área, respectivamente. As feridas apresentavam exsudato purulento, hemorragia, bordas eritematosas e edemaciadas e formação moderada de tecido de granulação. O tratamento medicamentoso constituiu-se de fenilbutazona (4,4mg/kg, IV, SID) por três dias. Realizava-se limpeza duas vezes ao dia com líquido de Dakin, aplicação de metronidazol líquido (5,0 mg/mL) e açúcar no interior da ferida e utilização repelente ao redor. Concomitantemente, foram instituídos o LBP por aplicação em varredura e nas bordas das feridas, e o UST em modo pulsado, pelo método direto, na presença de gel, sobre a pele tricotomizada ao redor das lesões. No animal A, foram realizadas 28 sessões em 69 dias, sendo no início feitas diariamente, passando para dias alternados a partir da 18ª sessão. Inicialmente, foram 12 sessões com o UST em frequência de 1MHz, intensidade de 0,7W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 20% por 14 minutos e LBP com varredura de 60 a 100J total na ferida e 7J/cm² nas bordas. Com o preenchimento da ferida pelo tecido de granulação e início da epitelização, suspendeu-se o LBP e modificou-se o UST para frequência de 3MHz, intensidade de 0,5W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 50% por 14 minutos, com intuito de melhorar o processo de epitelização. No animal B foram realizadas 20 sessões, diariamente. Primeiramente, cinco sessões com o UST em frequência de 1MHz, intensidade de 0,7W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 10% por 12 minutos e LBP com varredura de 80J total na ferida. Igualmente ao animal A, suspendeu-se o LBP e modificou-se o UST para frequência de 3MHz, intensidade de 0,5W/cm² e frequência de pulso de 100Hz a 20% por 12 minutos, com utilização de pomada de mucopolisacaridase misturada ao gel, com intuito de realizar fonoforese para fluidificação da fibrose exuberante existente ao redor da ferida. Em ambos os animais, conforme ocorria a retração centrípeta das feridas, diminuía-se o tempo de aplicação do UST. Fixava-se uma escala padrão de 2cm ao lado das feridas e essas eram fotografadas com câmera digital de alta resolução com intuito de acompanhar a regressão centrípeta dos bordos das feridas. As imagens foram analisadas no programa de imagens Image J, obtendo-se as áreas, em centímetros quadrados, das lesões.

Resultados

Já na primeira semana de tratamento, observou-se grande melhora clínica das feridas, apresentando bordas menos eritematosas, diminuição do edema, da exsudação e da profundidade das feridas. Após 15 sessões do animal A, a ferida teve uma redução de 76,4% do tamanho inicial, ficando com 32,8cm², e após 11 sessões do animal B houve redução de 68% da ferida, ficando com 4cm², sendo que nessa etapa ambas se apresentavam superficiais e com epitelização avançada. A utilização da pomada de mucopolisacaridase juntamente com o UST promoveu grande redução da fibrose ao redor da ferida, aprimorando a epitelização e o aspecto cicatricial final. Ao término da terapia, as feridas mediam 11,4cm² e 2,5cm², ou seja, reduziram 91,9% e 80% de seus tamanhos iniciais, respectivamente. Foram finalizadas as aplicações

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de UST mesmo sem a completa retração das feridas, pois essas se encontravam em estágio final d

e cicatrização, com boa epitelização e retração de bordas e ausência de tecido de granulação exuberante.

Discussão

Com o uso do UST e LBP, ocorreu uma rápida modulação da resposta inflamatória, promovendo uma excelente retração das bordas e epitelização tecidual. Segundo autores, estas são características da etapa de resolução da fase inflamatória ou exudativa e início da fase proliferativa, sendo que o UST e o LBP não exercem efeito anti-inflamatório, e sim aceleram o processo inflamatório e a proliferação celular durante a cicatrização (4,5). Isso de deve à uma maior estimulação da proliferação fibroblástica e transformação dos fibroblastos em miofibroblastos, com consequente formação de colágeno, proporcionando contração do tecido de granulação e uma maior força de tensão para a ferida cicatrizada. Dessa forma, a ação angiogênica associada ao incremento da atividade fibroblástica e de macrófagos parece ser o efeito mais consistente dos LBP e UST para o processo de cicatrização (4,5,6). A utilização do UST como artifício de fonoforese é método altamente eficaz e seguro de transporte transdérmico de drogas (4), como comprovado neste estudo, observando-se maior desagregação do tecido fibroso, formando um tecido cicatricial mais organizado. As alterações resultantes da ação do LBP e UST nos processos de regeneração tecidual ainda estão em fase incipiente. Portanto, os mecanismos de ação, bem como a dosagem ótima de terapia, ainda não estão completamente esclarecidos, necessitando de maiores comprovações científicas na área (4,6). As lesões em equinos geralmente são de difícil tratamento, aumentando o tempo de cicatrização e fazendo com que estas não evolucionem com perfeita reepitelização (1,2,3), inversamente ao observado neste estudo, no qual, com a utilização prematura do UST e LBP, houve rápida e excelente constituição tecidual.

Conclusão

Os bons resultados encontrados neste trabalho comprovam a eficácia terapêutica do UST e LBP para feridas sépticas de equinos.

Referências

1. Moraes JM et al. (2010). Ultrassom terapêutico como tratamento na cicatrização de feridas sépticas eqüinas. In: XI Conferência Anual da Abraveq, São Paulo. Anais..., 29: 261-262.

2. Moraes JM et al. (2009). Therapeutic ultrasound as treatment in equine wounds. In: 11th Congress of the world equine veterinary association, Guarujá. Anais….,

3. Moraes JM et al. (2009). Association of as-ga-al low level laser therapy and therapheutic ultrasound in healing of equine septic wounds. In: 11th Congress of the world equine veterinary association, Guarujá. Anais….,

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4. Prentice W.E. (2004). Modalidades terapêuticas para fisioterapeutas. Porto Alegre: Artmed Editora, 472p.

5. Levine D et al. (2008). Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos animais. São Paulo: Roca, 2008, p.95-117.

6. Rocha Júnior AM et al (2006). Modulação da proliferação fibroblástica e da resposta inflamatória pela terapia a laser de baixa intensidade no processo de reparo tecidual. Anais Brasileiro de Dermatologia, 81: 150-156.

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AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA E SEGURANÇA DO MELOXICAM COMPRIMIDO EM GATOS

E V A L U A T I O N O F E F F I C A C Y A N D

S A F E T Y O F M E L O X I C A M T A B L E T

I N C A T S

V I L L A N O V A J R , J . A . 152; P I M P Ã O , C . T . 153;

P E L I S S O N I , L . G . R . 154

B A C C H I , R . 155

M O R A E S , P . F . 156

Palavras‐chave:anti‐inflamatório,analgésico,antipirético.

K e y w o r d s : a n t i -i n f l a m m a t o r y , a n a l g e s i c , a n t i p y r e t i c .

INTRODUÇÃO

Os anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) estão entre os mais utilizados de todos os agentes terapêuticos por apresentarem efeitos antipirético, analgésico e anti-inflamatório. Atualmente, há mais de 50 diferentes Aines no mercado e ainda um fluxo contínuo de novas preparações. O grande número de novas substâncias significa que nenhuma dessas, até o momento, tem sido ideal no controle ou modificação dos sinais da inflamação, sem que haja efeitos deletérios no indivíduo1. A principal ação 152 Professor Assistente II da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. [email protected]

153 Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

154 Analista de Pesquisa e Desenvolvimento Ceva Santé Animale

155 Professora Auxiliar da Faculdade Evangélica do Paraná

156 Acadêmica de Medicina Veterinária da PUCPR

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dos Aines faz-se através da inibição das cicloxigenases e lipoxigenases. As lipoxigenases têm a função de catalisar a reação que transforma o ácido aracdônico em leucotrienos. Os leucotrienos são mediadores da inflamação e potentes broncoconstritores. As cicloxigenases convertem o ácido aracdônico em ecosanoides (tromboxano, prostaciclina e prostaglandinas PGE2, PGF2 e PGD2). Estas reações são acompanhadas pela geração de radicais livres tóxicos que são responsáveis, em parte, pela lesão tecidual que acompanha a inflamação2. A eficácia dos Aines decorre da inibição, específica ou não, da atividade das enzimas cicloxigenases; fato este que resulta no bloqueio da gênese de prostaglandinas e tromboxanos3. Os mediadores pró-inflamatórios resultantes da ação da cicloxigenase-1 (COX-1), que é a enzima constitutiva, estão representados pelas prostaglandinas relacionadas com os efeitos fisiológicos nos sistemas renal, gastrintestinal e cardiovascular2. Por outro lado, a cicloxigenase-2 (COX-2), enzima induzida, leva à formação de prostaglandinas presentes no processo inflamatório4. Dessa forma, os Aines que bloqueiam inespecificamente as cicloxigenases predispõem o surgimento de efeitos colaterais, especialmente relacionados com o trato gastrintestinal3. O meloxicam é um derivado oxicano que desenvolve uma atividade inibitória seletiva sobre a COX-2 na cascata biossintética das prostaglandinas. Em cães e em seres humanos, apresenta excelente tolerância, boa absorção digestiva e ótima biodisponibilidade; assim como longa meia vida de eliminação, o que permite sua administração em dose única diária1. Contudo, são necessários estudos em gatos a fim de determinar as particularidades farmacocinéticas e deletérias nesta espécie animal. Dessa forma, esta pesquisa teve como objetivo comprovar a segurança e eficácia do meloxican em gatos.

METODOLOGIA

Foram selecionados 19 gatos hígidos, com idade superior a seis meses, sendo 15 fêmeas e quatro machos, provenientes dos atendimentos da Unidade Hospitalar para Animais de Companhia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Após aprovação do Comitê de Ética, todos os animais foram submetidos às cirurgias de castração e receberam meloxicam na dose de 0,1mg/kg, por via oral a cada 24 horas, por um período de quatro dias consecutivos. A avaliação da eficácia, visando à confirmação da dose eficaz, foi baseada no Guideline for the conduct of efficacy studies for non-steroidal anti-inflammatory drugs do Emea (The European Agency for the Evaluation of Medicinal Products)5. Neste ensaio não foram utilizados animais como controle não tratado por razão de questões éticas de bem estar animal (não manter animais com dor sem tratamento), sendo assim o controle foi definido como o estado dos animais no dia 0. A avaliação da segurança foi baseada no Guideline for evaluation of the safety of veterinary medicinal products for the target animals do Emea5. Portanto, avaliamos antes e após a administração do meloxicam, seguindo o modelo experimental de TOBIAS7. Os animais foram mantidos em local segregado (gaiolas) para facilitar a observação de reações adversas tais como vômito, diarreia, letargia ou apatia. Todos os animais foram vermifugados uma semana antes do tratamento para evitar que reações decorrentes de verminose, tais como diarreia e vômito, fossem confundidas com efeitos adversos ao tratamento. Após ovariosalpingo-histerectomia ou orquiectomia, os animais foram avaliados duas vezes ao dia durante o ensaio; caso algum animal apresentasse alterações clínicas, este seria acompanhado até a normalização do quadro clínico. Foram colhidas amostras de sangue de todos os animais nos dias 0 (zero) e cinco do ensaio, tendo sido realizados os seguintes exames laboratoriais: hemograma, contagem de plaquetas e

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proteína plasmática; função renal (ureia e creatinina); e função hepática (colesterol total, transaminase pirúvica, albumina e fosfatase alcalina). Caso algum animal apresentasse alteração(ões) laboratorial(is), o(s) exame(s) seria(m) repetido(s) no dia dez e a cada cinco dias até a normalização ou identificação da(s) causa(s) da(s) alteração(ões), se constatada(s) que foi(foram) alheia(s) ao tratamento. Para a análise estatística dos parâmetros laboratoriais, foi utilizado o teste de t com amostra pareada. O nível de significância adotado foi 5% (α=0,05). Os cálculos foram realizados utilizando o Software estatístico GraphPad Prism version 3.00 for Windows.

RESULTADOS

Em relação aos sinais clínicos, com exceção de um animal, que apresentou efeitos colaterais ao medicamento (apatia, hiporexia, vômito e diarreia), todos os outros não apresentaram qualquer tipo de efeito colateral ao meloxicam. Todos os animais, com exceção de um, apresentaram uma boa analgesia provocada pelo meloxicam, pois seguiram alertas, com temperatura corporal dentro dos limites normais e não perderam o apetite. Outro efeito observado diz respeito à ação anti-inflamatória do medicamento, pois, dos 19 animais submetidos ao procedimento cirúrgico, nenhum apresentou edema e todos tiveram uma boa cicatrização.

DISCUSSÃO

Os principais sinais físicos observados em gatos intoxicados com os Aines são a emêse e a anorexia3. Outras alterações como a letargia, diarreia, poliúria, polidipsia, hematúria, melena e hematoquesia também são observados com frequência. O meloxicam é um Aine com seletividade maior sobre a COX-2 do que a COX-1 e tem se mostrado mais seguro em relação aos efeitos adversos quando comparado aos anti-inflamatórios mais antigos, sem ação seletiva sobre a COX-2 1. Os anti-inflamatórios não esteroidais devem ser utilizados com precaução em gatos devido à sua fraca capacidade hepática de glucuronidação, que é o principal mecanismo de metabolização e excreção para esta categoria de fármaco3.

CONCLUSÃO

O uso de meloxicam na dose de 0,1 mg/kg de peso, a cada 24 horas, durante até quatro dias em gatos castrados foi eficaz para controle da dor e teve ação antipirética e anti-inflamatória. Gerou poucos efeitos deletérios aos sistemas gastrintestinais e nenhum efeito aos sistemas hepático e renal, pois não houve diferença significativa (p>0,05) em nenhum dos parâmetros laboratoriais analisados. Apresentou ótimo efeito local ao conter e evitar a formação de edema.

REFERÊNCIAS

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BUSCA ATIVA COMO MÉTODO DE DETECÇÃO DE INFECÇÃO DO SÍTIO CIRÚRGICO NA CLÍNICA DE CÃES E GATOS DO HOSPITAL

VETERINÁRIO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

ACTIVESEARCHASADETECTIONMETHODOFSURGICALSITEINFECTIONINTHECLINICFORDOGSANDCATSVETERINARYHOSPITAL,FEDERALUNIVERSITYOFVIÇOSA

DORNAS,R.F.157,BRAGA,D.P.1,BREZINSKI,D.G.1,CORSINI,C.M.M.1,OCHOA,C.C.R.1,SEPÚLVEDA,R.V.1,BORGES,A.P.B.1

Palavras chave: busca ativa, infecção, sítio cirúrgico.

Key words: active search, infection, surgical site.

INTRODUÇÃO

A Anvisa indica a busca ativa como método de identificação de pacientes acometidos por infecção hospitalar, independentemente da notificação ou não de sua ocorrência e como método de coleta de dados para a vigilância epidemiológica. Na busca ativa, devem ser verificados como parâmetros para identificar a possível ocorrência de infecção os sinais clínicos clássicos de infecção (febre, depressão, inapetência, disfunção orgânica ou de membro), os resultados de exames laboratoriais e de imagem, o aumento da temperatura sistêmica e, na ferida cirúrgica, deve ser observada a presença de vermelhidão, edema, calor, dor ou secreção purulenta. (Roush,1999; Harari,2004; Dunning,2007).O objetivo deste estudo foi verificar o método de busca ativa como identificador de incidência de infecção do sítio cirúrgico na Clinica Cirúrgica de Cães e Gatos do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa.

MATERIAL E MÉTODOS

A população para o estudo foi constituída dos pacientes submetidos a tratamento cirúrgico na Clínica Cirúrgica de Cães e Gatos do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa (UFV), no período de 11 de maio a 11 de novembro de 2007. Os pacientes analisados, em sua maioria, receberam alta no mesmo dia do procedimento, com seus proprietários orientados ou para internação em clínica particular ou retorno no dia seguinte para manutenção dos cuidados gerais. A busca ativa foi realizada diretamente no setor de clínica cirúrgica, sendo realizada a análise do prontuário clínico para verificação ou não de consulta de retorno pós-alta. Nos casos em que a consulta pós-alta foi realizada, foram pesquisadas no prontuário do

157 Universidade Federal de Viçosa – MG. [email protected], Rua Francisco Machado 197/401 Viçosa-MG

3657000.

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paciente evidências clínicas de infecção hospitalar. Os dados clínicos descritivos da cicatrização das feridas cirúrgicas ou de possíveis sinais e sintomas de infecção são falha na cicatrização, deiscência da sutura cirúrgica, presença de secreção e introdução de um novo antibiótico (busca ativa intra-hospitalar). A busca ativa por contato pessoal foi realizada dentro da clínica cirúrgica de cães e gatos diretamente com os veterinários responsáveis. O contato telefônico foi tentado a partir do 30o dia após a cirurgia, seguindo formulário apropriado, onde foram feitas algumas perguntas relacionadas ao pós-operatório, como: recuperação do paciente, cicatrização da ferida cirúrgica, sinais de infecção, interferência do animal e utilização de outras medicações além do prescrito anteriormente. Como evidências de possível infecção, para o diagnostico definitivo de ISC foram considerados: sinais clínicos de infecção (hiperemia, edema e calor local), eliminação de secreção purulenta na ferida cirúrgica, eliminação de secreção purulenta em drenos cirúrgicos, dor evidente, abertura espontânea da ferida cirúrgica, falhas não explicadas no processo de cicatrização, prescrição de novo antimicrobiano sem justificativa que descarte infecção da ferida cirúrgica ou infecção hospitalar, depressão acentuada/apatia, inapetência, disfunção orgânica ou de membro, resultados de exames laboratoriais e de imagem com indício de infecção e o aumento da temperatura sistêmica (mais de 24 horas após a cirurgia). Os casos que não apresentaram nenhuma evidência de ISC ou anormalidades durante o processo de busca ativa foram imediatamente encerrados e considerados como não portadores de infecção do sítio cirúrgico. O registro de interferência do animal na ferida cirúrgica não foi considerado como uma evidência, devido à ausência de bibliografia que pudesse dar suporte a esta afirmação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No período de 11 de maio a 11 de novembro de 2007, a clínica cirúrgica de cães e gatos do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa registrou 365 pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos. Entretanto, para essa pesquisa, 58 pacientes foram excluídos por terem vindo a óbito durante a cirurgia ou por apresentarem inconsistências nos dados. Dessa maneira, a amostra pesquisada foi de 307 pacientes. A finalização do processo de busca ativa nos 307 casos pesquisados se deu em 162 pacientes por meio de registro de dados nos prontuários clínicos e ficha de retorno (pacientes que realizara a consulta de retorno), sendo que 25 casos foram finalizados por contato pessoal com informações dos veterinários responsáveis e por contato direto com proprietários. A busca ativa telefônica permitiu finalizar 81 casos e 39 foram fechados sem êxito na busca ativa. A busca ativa pela consulta de retorno foi feita com base na leitura e análise do prontuário clínico posterior à cirurgia e consulta de retorno. Um componente importante da busca ativa é a vigilância pós-alta, principalmente nos casos de procedimentos ambulatoriais com a avaliação da incisão cirúrgica no ambulatório de retorno (Gutiérez et al., 2004). O método empregado na busca ativa citado por Oliveira e Ciosak (2004), por meio de realização de visitas periódicas ao paciente internado com a avaliação da incisão cirúrgica, não foi realizado nesse estudo, uma vez que não existe a rotina de internação no Hospital. Nos 307 casos estudados, foi verificada a marcação de consulta de retorno ambulatorial em 267 casos (86,9%), sendo que apenas 156 pacientes (58,4 %) compareceram a essas consultas. O não comparecimento de 111 pacientes (41,6%) pode ter sido ocasionado por alguns animais terem sido encaminhados diretamente de clínicas particulares apenas para a realização do procedimento cirúrgico, tendo provavelmente realizado a consulta de retorno e

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acompanhamento nessas clínicas ou pelo fato de que muitos animais atendidos são de outros municípios. O processo de busca ativa telefônica foi planejado para ser realizado assim que se completassem 30 dias de cirurgia, entretanto em alguns casos isso não foi possível devido à não localização dos prontuários clínicos onde constavam os dados para o contato e para a verificação do comparecimento ou não na consulta de retorno. A busca ativa nos prontuários foi capaz de detectar 30 casos de ISC (88,23 % do total), a busca ativa telefônica revelou quatro casos (11,76 % do total) e por contato pessoal não foi detectado caso de ISC. Dos 30 casos de ISC detectados pela busca ativa nos prontuários, notou-se falta do registro deles no respectivo prontuário, como um diagnostico fechado realizado pelo veterinário responsável, apesar do provável conhecimento dos mesmos, uma vez que foram diagnosticados facilmente pelas informações registradas e verificadas nos prontuários clínicos. Esse procedimento adotado no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa não corrobora com a citação de Roush (1999) que salienta a comunicação imediata das infecções hospitalares como parte do processo de vigilância. A evidência mais comumente encontrada foi o registro da utilização de um novo antibiótico, diferente do profilático prescrito anteriormente, no pré ou pós-operatório. Outras evidências como deiscência espontânea da ferida (abertura), abertura da ferida cirúrgica, falha na cicatrização, eliminação de secreção purulenta, sinais de infecção local e complicações gerais no estado do paciente também foram importantes no diagnostico dos casos de ISC.

CONCLUSÕES

Com base nos resultados obtidos e nas condições da presente pesquisa, conclui-se que não há padronização no registro dos prontuários no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Viçosa e que a falta da rotina de internação prejudica o monitoramento da ferida cirúrgica, dificultando a identificação de infecções oriundas da interferência do animal ou de falhas no manejo da ferida no pós operatório.

O projeto para a realização deste estudo foi aprovado pela Comissão de Ética do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa (UFV) conforme parecer no 68/2007.

REFERÊNCIAS

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5. Oliveira, A. C., Ciosak, S. I. (2004). Infecção do sítio Cirúrgico no Segmento

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Pós Alta: impacto na Incidência e Avaliação dos Métodos Utilizados. Revista da Escola de Enfermagem- USP, 38: 379-85.

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RECUPERAÇÃO FUNCIONAL EM CÃES COM DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL SEM PERCEPÇÃO À DOR PROFUNDA SUBMETIDOS

AO TRATAMENTO CIRÚRGICO: 11 CASOS (2006-2009)

FUNCTIONALRECOVERYINDOGSWITHINTERVERTEBRALDISCDISEASEWITHOUTDEEPPAINPERCEPTIONSUBMITTEDSURGICALTREATMENT:11CASES(2006‐2009)

SANTOS,R.P.158;MAZZANTI,A.159;BECKMANN,D.V.1;BERTE,L.1;POLIDORO,D.160;BAUMHARDT,R.3;SANTOS,T.P3

Palavras-chave: paraplegia, recuperação funcional, neurologia, cão. Keywords: paraplegy, functional recovery, dog Introdução

As discopatias constituem a causa mais comum de disfunção neurológica em cães, ocasionadas pela extrusão ou protusão de material do disco intervertebral para dentro do canal vertebral, comprimindo a medula espinhal. Os sinais clínicos podem ser hiperagudos, agudos ou crônicos, variando desde hiperestesia espinhal até paraplegia e perda da percepção da dor profunda. O diagnóstico da doença do disco intervertebral (DDIV) é estabelecido através de sinais clínicos, história clínica, exame físico e neurológico, da realização de exames de imagem e da visualização do conteúdo compressivo dentro do canal vertebral. O tratamento clínico para cães com DDIV é recomendado aos pacientes somente com hiperestesia ou com deficiências neurológicas discretas. Por outro lado, o tratamento cirúrgico é indicado para pacientes com recidiva ou progressão dos sinais, paraparesia não ambulatória, paraplegia com preservação da dor profunda ou sua ausência por menos de 48h. Vários trabalhos internacionais mostram a eficiência do tratamento cirúrgico, principalmente em cães paraplégicos com DDIV. No Brasil poucos estudos foram realizados incluindo todos os graus de lesão medular, sem analisar de forma isolada os pacientes paraplégicos sem percepção à dor profunda. Diante disso, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a recuperação funcional de cães atendidos no Hospital Veterinário Universitário (HVU) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) entre os anos de 2006 e 2009, com diagnóstico de DDIV toracolombar e sem percepção à dor profunda submetidos ao tratamento cirúrgico, correlacionando a recuperação funcional com a perda da percepção à dor profunda. Foram revisados os registros neurológicos de cães com DDIV sem percepção à dor profunda atendidos entre os anos de 2006 e 2009 no HVU-UFSM. Foram incluídos somente cães com DDIV entre T3-L3, que apresentavam paraplegia sem percepção à dor profunda e que foram submetidos ao tratamento cirúrgico. A perda da percepção à dor profunda foi

158 Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV), Centro de Ciências Rurais, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Av. Roraima 1000, Santa Maria, RS 97105-900, Brasil. *Autor para correspondência: [email protected] 159 Departamento de Clínica de Pequenos Animais, Hospital Veterinário Universitário, UFSM, Santa Maria, RS. 160 Curso de Medicina Veterinária, Centro de Ciências Rurais, UFSM, Santa Maria, RS.

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determinada a partir do momento em que os pacientes cessaram os movimentos voluntários (paraplegia) até o atendimento neurológico realizado por um médico veterinário do serviço de neurologia do HVU. A ausência da percepção de dor profunda foi classificada em < 24 horas, entre 24 e 48 horas e > 48 horas. Outros critérios de inclusão foram: exame clínico e neurológico, exame radiográfico simples e contrastado (mielografia), diagnóstico de DDIV toracolombar e novo contato telefônico com os proprietários. A presença da dor profunda é mensurada pela compressão dos dígitos (periósteo) e da cauda com o auxílio de uma pinça hemostática. A dor profunda foi considerada ausente quando os animais não reagiram ao estímulo doloroso com vocalização, olhar para o local ou inquietude. A mielografia foi realizada através da injeção de contraste na cisterna lombar para confirmar o local e a suspeita clínica de compressão na medula espinhal. Todos os pacientes foram submetidos à técnica de hemilaminectomia dorsolateral associada à fenestração do disco intervertebral para descompressão da medula espinhal. A durotomia foi realizada quando necessária pelo cirurgião promover a visualização do parênquima medular. Os proprietários dos cães foram contatados através de telefonemas para a obtenção das seguintes informações: recuperação funcional após o tratamento cirúrgico, presença de disfunção urinária e/ou fecal e ocorrência de recidivas. Os animais que obtiveram a recuperação funcional retornaram ao HVU-UFSM para a realização de um novo exame neurológico. O período de recuperação pós-operatória foi definido em < 15 dias, entre 15 e 30 dias e maior de 30 dias. A recuperação funcional foi classificada como satisfatória para cães que recuperaram a habilidade de caminhar sem quedas e insatisfatória para aqueles que não recuperaram a habilidade de caminhar. A relação entre a perda da percepção da dor profunda e a recuperação funcional e entre a perda da percepção de dor profunda e o período de recuperação dos cães foi submetida à análise estatística através do teste qui-quadrado, com nível de significância igual a 5%. As raças acometidas foram: Teckel (82% [9/11]), Cocker (9% [2/11]) e cães sem raça definida (9% [2/11]). A idade média verificada foi de 5,5 anos (entre três e sete anos), e a maior parte dos cães tinha entre três e seis anos de idade. Quanto ao sexo, 45% [5/11] eram machos e 55% [6/11] eram fêmeas. Todos os cães apresentaram localização da lesão na medula espinhal na região toracolombar entre T11-L3. Como conduta no HVU, não é realizada cirurgia descompressiva da medula espinhal após a perda de percepção à dor profunda acima de 48 horas. Entre os registros médicos revisados 11 estavam de acordo com os critérios de inclusão. Foi possível determinar o lado da compressão medular durante a mielografia em 82% (9/11) dos pacientes. Nos outros dois cães não foi possível identificar o lado de compressão medular em função do edema presente, e o acesso cirúrgico foi definido com base nos achados do exame neurológico. De acordo com estudos publicados, os sinais neurológicos de 65% dos casos agudos e 89% dos casos crônicos ocorrem ipsilateralmente ao local de compressão medular. A recuperação funcional satisfatória ocorreu em 64% [7/11] dos cães. Um paciente apresentava ausência da dor profunda por mais de 48 horas e, apesar do indicativo de prognóstico desfavorável, o cão obteve recuperação funcional satisfatória após a realização do procedimento cirúrgico. Apesar disto, acredita-se ser necessária a realização de mais estudos com um grande número de pacientes com DDIV sem percepção da dor profunda acima de 48 horas e submetidos ao tratamento cirúrgico para determinar a possibilidade de recuperação funcional satisfatória nestes pacientes. O período de recuperação satisfatória foi em média de 25 dias (entre cinco e 30 dias). Dois cães apresentavam recuperação funcional insatisfatória com 180 e 210 dias de acompanhamento após a realização do procedimento cirúrgico. O período de recuperação dos cães em relação ao tempo de perda da percepção à dor profunda não foi estatisticamente significante. O retorno da percepção da dor profunda ocorreu em todos os cães com recuperação funcional

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satisfatória. Neste estudo o pior prognóstico foi estabelecido para os pacientes sem percepção da dor profunda inferior a 24 horas, já que nenhum deles recuperou sua função neurológica. Em cães com início rápido dos sinais clínicos, a extrusão repentina do núcleo pulposo causa concussão e promove compressão da medula espinhal, porém a descompressão cirúrgica não tem efeito nas lesões causadas pela concussão da medula espinhal. Além disso, a força da extrusão é suficiente para desencadear eventos bioquímicos e vasculares levando a alterações autodestrutivas com potencial para desenvolver a mielomalácia. Estatisticamente a recuperação funcional foi influenciada significativamente pela perda da dor profunda dos cães com DDIV submetidos ao tratamento cirúrgico e pode-se sugerir que cães com evolução em menos de 24 horas apresentam pior prognóstico. Em dois cães, com evolução menor de 24 horas e com suspeita de mielomalácia focal, foi realizada a durotomia durante o procedimento cirúrgico. A visualização da medula espinhal nestes dois cães reforçou a suspeita da mielomalácia focal e nenhum deles obteve recuperação funcional durante o tempo de acompanhamento (30 e 210 dias). Dois cães com recuperação funcional satisfatória desenvolveram incontinência urinária (28% [2/7]), mas isso não foi considerado problema pelos proprietários. Até o momento da realização deste trabalho, nenhum dos pacientes com recuperação funcional havia apresentado recidivas. Apenas 5% dos cães submetidos à técnica de hemilaminectomia associada à fenestração de disco apresentam recidivas. De acordo com os resultados obtidos neste estudo, o tratamento cirúrgico foi efetivo para pacientes com diagnóstico de DDIV toracolombar sem percepção à dor profunda, principalmente nos cães com duração dos sinais clínicos acima de 24 horas, estabelecendo prognóstico desfavorável para aqueles com evolução anterior a este período. REFERÊNCIAS

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USO DO SULFATO DE ATROPINA NA RESSUSCITAÇÃO DE NEONATOS CANINOS SUBMETIDOS À CIRURGIA CESARIANA – AVALIAÇÃO DO

ÍNDICE DE APGAR NEONATAL

GIMENES,A.L.L161;ROCHA,A.A.162;ANTUNES,F.163;RAMOS,R.M.2;AGUIAR,D.C.B.1;MACEIRA,T.R.S.3

Resumo

A neonatologia tem despertado o interesse de diversos médicos veterinários, principalmente daqueles que trabalham em gatis ou canis. O acompanhamento da gestante e um cuidado pré-natal adequado estão intimamente relacionados ao nascimento de filhotes sadios e à redução da mortalidade neonatal. A avaliação neonatal logo após o início da vida extrauterina é imprescindível para o sucesso em um procedimento de ressuscitação de um filhote oriundo da cirurgia cesareana. Na tentativa de minimizar a depressão neonatal e reduzir a morbidade e mortalidade nesta classe de pacientes, drogas estimuladoras das funções respiratória e cardíaca podem ser utilizadas. O sulfato de atropina é um fármaco anticolinérgico com a capacidade de aumentar a frequência e o débito cardíaco, provocar broncodilatação e aumento da frequência respiratória. O objetivo deste estudo foi avaliar a melhoria dos índices de APGAR para neonatos caninos submetidos ao procedimento de cesareana e tratados com sulfato de atropina intraperitoneal em diferentes momentos após a vida extrauterina. Foram utilizadas 64 neonatos divididos em dois grupos, um deles tratado com sulfato de atropina intraperitoneal e o outro grupo controle, sem uso de fármacos estimulantes. O índice de APGAR dos filhotes foi avaliado através da frequência cardíaca, estímulo respiratório, movimentação muscular, estímulo doloroso e coloração de mucosa. As avaliações foram feitas em três momentos: dois, cinco e dez minutos após o uso do fármaco no grupo tratado. A análise dos dados mostrou que, na avaliação aos dois minutos não houve variação entre os dois grupos quanto a melhora nos resultados. Porém aos cinco minutos, foi possível verificar que todos os parâmetros avaliados, exceto estímulo doloroso, mostravam-se melhores no grupo tratado com sulfato de atropina. Aos dez minutos após o uso do fármaco, todas as avaliações foram mais satisfatórias em neonatos tratados em relação ao grupo controle. Os resultados apresentados indicam que o sulfato de atropina agiliza a recuperação do neonato na vida extrauterina.

Palavras-Chave: Neonatos caninos, APGAR, sulfato de atropina.

161 Aluno de graduação Medina Veterinária – Universidade Estadual do Norte Fluminense.

162 Aluno de pós-graduação Ciência Animal – Universidade Estadual do Norte Fluminense.

163 Professor Associado (curso de Medicina Veterinária) – Universidade Estadual do Norte Fluminense. Av. Alberto Lamego, 2000 – Hosp. Veterinário, Campos – RJ. Email de contato: [email protected]

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Abstract

Neonatology has been claiming the interest of several veterinarian practitioners, specially those who work in kennels. The follow-up of the pregnant female and adequate prenatal care are closely related to the birth of healthy puppies and consequent reduction of newborn mortality. Neonatal assessment after the beginning of extrauterine life is essential for success in a puppy resuscitation procedure. In an attempt to minimize depression and reduce neonatal morbidity and mortality, stimulants drugs of respiratory and cardiac functions can be used. Atropine sulphate is an anticholinergic drug with the ability to increase the cardiac frequency and debit doing bronchodilation and increased respiratory frequency. The aim of this study was to evaluate the improvement of the APGAR score for newborns puppies undergoing cesarean procedure and treated with intraperitoneal atropine sulphate at different moments after extra uterine life. Sixty four neonates were divided in two groups. The first one was treated with intraperitoneal atropine sulphate, the other control group, without use stimulant drugs. The APGAR score of neonates was assessed by cardiac and respiratory frequency, muscular moviment, painful stimulation and mucous colour. The evaluations were done in three moments: two, five and ten minutes after using the drug in the treated group. Data analysis showed that the assessment at two minutes didn't present any change between the two groups. But at five minutes it was possible to verify that all parameters, except painful stimulus, improved to be better in the group treated with atropine sulphate. At ten minutes, all assessments were more satisfactory in newborns treated when compared to control group. These results presented indicate that atropine sulphate accelerates the recovery of neonate in extrauterine life.

Key-words: Canine neonates, APGAR, atropine sulphate

Introdução

Na atualidade, a neonatologia tem despertado o interesse de veterinários, principalmente dos que trabalham em procedimentos cirúrgicos que incluam os pacientes neonatos e pediátricos. A equipe de cirurgia e de anestesiologistas deve compreender as alterações fisiológicas da gestação, a farmacologia das drogas administradas no período perinatal e seus efeitos diretos e indiretos sobre o feto e o recém-nascido (SANTOS et al, 2009).

A avaliação neonatal logo após o início da vida extrauterina é imprescindível para o sucesso em um procedimento de ressuscitação do filhote. O índice de vitalidade utilizado para avaliar a condição do neonato segue uma adaptação feita para o índice APGAR comumente utilizado em humanos (VERONESI et al, 2009). Este índice permite verificar a frequência cardíaca e respiratória, a movimentação muscular, a coloração da mucosa e a responsividade a estímulos dolorosos. Em cada um dos parâmetros analisados utiliza-se um escore de pontuação entre 0 (zero) e 2, de acordo com a eficiência da característica. Após todas as avaliações, a pontuação total é somada e definido o APGAR final do neonato naquele momento. O APGAR utilizado para neonatos caninos pode ser verificado na tabela 1.

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Tabela 1. Índice de APGAR modificado para aplicação em neonatos caninos e felinos (adaptado de VERONESSI et al, 2009).

Parâmetro

Score

0 1 2

Frequência Cardíaca Ausente < 200 bat/min > 200 bat/min

Esforço Respiratório Ausente Lento e irregular Regular

Movimentação Muscular

Ausente Hipotonia Ativo

Estímulo Doloroso Ausente Movimentação Mov. e Vocal

Coloração de Mucosa Azulada Rasada pálida Rosa intenso

Na tentativa de minimizar a depressão neonatal e reduzir a morbidade e mortalidade nesta classe de pacientes, drogas estimuladoras das funções respiratória e cardíaca podem ser utilizadas. O sulfato de atropina é um fármaco anticolinérgico ou parassimpatolítico. Ele tem a capacidade de aumentar a frequência e o débito cardíaco, mas há poucos efeitos diretos sobre a pressão sanguínea. Por este motivo, seu uso tem aplicação em casos de bradicardia grave (OLIVA, 2002). Sobre o sistema respiratório, provoca broncodilatação, aumentando o espaço morto fisiológico, e produz também diminuição das secreções do organismo, incluindo as brônquicas. A freqüência respiratória tende a aumentar e redução de incidência de laringoespasmo tem sido relatada com a administração da droga (PADDLEFORD, 2001). O tratamento da bradicardia pode ser realizado com atropina (0,03 mg/kg), elevando a frequência cardíaca (LEAL, 2005). Pela dificuldade de acesso vascular à via intraperitoneal, pode ser utilizada como acesso rápido ao neonato. Este estudo objetiva avaliar a melhoria dos índices de APGAR para neonatos caninos submetidos ao procedimento de cesariana e tratados com sulfato de atropina intraperitoneal em diferentes momentos após a vida extrauterina.

Material e Métodos

Foram utilizadas 12 fêmeas caninas, bulldog inglês (n=3), bulldog francês (n=7) e pug (n=2). Destas, originaram-se 64 neonatos. Foram utilizadas somente fêmeas encaminhadas para cirurgia cesariana eletiva por solicitação do proprietário e onde a avaliação ultrassonográfica prévia não indicava sofrimento fetal. A avaliação

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feita utilizou resultados de batimento cardíaco de pelo menos três fetos em que estes indicassem índices acima de 200 batimentos por minuto.

Todas as cadelas foram anestesiadas segundo o seguinte protocolo: indução da anestesia com propofol (5mg/kg) e manutenção anestésica inalatória com isofluorano. A equipe cirúrgica e de assistentes para ressuscitação foi a mesma em todos os procedimentos, e o período máximo admitido entre o inicio da indução e a retirada do primeiro filhote foi de sete minutos, enquanto o limite máximo até a retirada do último filhote foi de 15 minutos. Neonatos nascidos após este intervalo não tiveram os dados utilizados no experimento. Após a eliminação das bolsas e anexos fetais, a face e as vias respiratórias foram limpas e desobstruídas. Os neonatos foram divididos em dois grupos de tratamento: neonatos nos quais não foi utilizado nenhum fármaco estimulante cardiorrespiratório, somente as manobras comumente realizadas para ressuscitação (GC - grupo controle) e neonatos que receberam 0,003 mg/100 gr de peso vivo, de sulfato de atropina por via intraperitoneal (GT – grupo tratado). Os filhotes foram avaliados em três diferentes momentos para cada um dos quesitos citados na tabela 1. Todas as avaliações foram realizadas em três diferentes momentos: após dois minutos de retirada do útero (M1), após cinco minutos de retirada do útero (M2) e após dez minutos de retirada do útero (M3).

A análise estatística verificou todos os parâmetros quanto ao uso ou não da atropina intraperitoneal na resposta neonatal, e os dados foram verificados pela análise de variância (ANOVA), seguidos de teste qui-quadrado. O grau de significância estabelecido foi de 5% (p<0,05), sendo todos os testes realizados pelo SAS (1996).

Resultados

Na análise dos dados aos dois minutos após uso do fármaco, o APGAR total e os parâmetros individuais não apresentaram diferença entre os grupos tratado e controle. A frequência cardíaca apresentou-se abaixo de 100 bat/min e o estímulo respiratório doloroso, enquanto a movimentação voluntária foi nula nos dois grupos. Em relação aos resultados obtidos aos cinco minutos após o uso do fármaco no grupo tratado, tanto a análise do APGAR total quanto os resultados individuais apresentaram índices de melhora nos neonatos que receberam a droga. No último momento de análise, após dez minutos de aplicação do fármaco estimulante, foi possível verificar que estatisticamente todos os parâmetros analisados mostravam-se superiores nos neonatos tratados com atropina em comparação ao grupo controle, que teria recebido somente os estímulos mecânicos de ressuscitação. O APGAR total dos neonatos tratados apresentava índice máximo de pontuação (10 pontos), enquanto os filhotes que compuseram o grupo controle apresentavam índices de APGAR total entre 5 e 6 (valor médio nas 34 observações de 5,5).

Discussão

Como foi descrito por OLIVA (2002), situações de bradicardia moderada a grave possuem indicação de uso desta droga, porém sem efeitos significativos sobre a pressão arterial do paciente. Este relato concorda com os resultados verificados no

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estudo, no qual após a ação da droga sistêmica foi verificada melhora da condição cardíaca do neonato. Foi possível verificar também que, de acordo com melhoria cardíaca, a função respiratória também foi estabilizada, apresentando índices de movimentos respiratórios cada vez mais ativos e frequentes. A elevação do débito cardíaco bem como da frequência respiratória está diretamente relacionada à capacidade de irrigação e ao suprimento sanguíneo e de oxigênio em áreas centrais do organismo. A vascularização correta desses órgãos vitais pode estar diretamente relacionada ao índice de sobrevida do paciente pediátrico. O estado de consciência do filhote pode ser avaliado de acordo com a resposta que o neonato faz aos estímulos ambientais. Foi possível verificar que os animais com recuperação mais rápida apresentaram também maior vitalidade de movimentação voluntária, tentando se deslocar dentro das cubas em que foram mantidos até o fim do procedimento cirúrgico da mãe. Além da movimentação voluntária, verificou-se a resposta satisfatória na tentativa de fuga e vocalização quando submetidos a estímulos dolorosos, o que confirma ainda mais o grau de consciência e recuperação do neonato. Tem sido relatado que a bradicardia neonatal em resposta aos fármacos anestésicos usados na mãe é frequentemente causada por depressão miocárdica direta, secundária a hipóxia do músculo cardíaco, e não por mediação vagal. Por este motivo seria contra indicado o uso de fármacos que induzissem a taquicardia por ação anticolinérgica, devido ao risco de exercer efeitos adversos, exacerbando a hipóxia miocárdica (DAVIDSON, 2003). Nos resultados obtidos neste estudo não foi verificado piora da condição neonatal em pacientes tratados com o sulfato de atropina, porém mais estudos são recomendados buscando esclarecer tais posicionamentos.

Os resultados apresentados comprovam que o uso do sulfato de atropina por via intraperitoneal é indicado em situações de ressuscitação neonatal em cães oriundos de cirurgias cesarianas e onde a depressão do filhote após a retirada do útero seja significante.

Referencias Bibliográficas

1. DAVIDSON AP. Approaches to reducing neonatal mortality in dogs. Ithaca, NY: IVIS, 2003. Disponível em <http://www.ivis.org/puppies. Acesso em 10 de junho de 2010.

2. LEAL et al. Cuidados com o neonato canino e felino- revisão; MEDVEP - Revista Científica de Medicina Veterinária- Pequenos Animais de estimação. v. 3, n.10, Curitiba,2005.

3. OLIVA, V.N.L.S. Reanimação Cardiorrespiratória. In: FANTONI, D.T.; CORTOPASSI, S.R.G. Anestesia em Cães e Gatos. São Paulo: Roca, 2002, cap.34, p.362-368.

4. PADDLEFORD, R.R. Manual de Anestesia em Pequenos Animais. 2ªed, São Paulo: Roca, 2001, 423p.

5. SANTOS, D.E., GIMENES, J.N., PEREIRA, D.M., DIAS, L.G.G.G. Técnicas anestésicas para cesarianas em gatas e cadela. Rev Cie El Med Vet, ano VII, numero 12, 2009.

6. VERONESI, M.C., PANZANI, S., FAUSTINI, M., ROTA, A. An Apgar scoring system for routine assessment of newborn puppy viability and short-term survival prognosis. Theriogenology , vol. 72, 2009, 401–407.

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EFEITO TERAPÊUTICO DE DOIS PROTOCOLOS SOBRE AS LESÕES REMOTAS DERIVADAS DA SÍNDROME ISQUEMIA E REPERFUSÃO

INTESTINAL EM COELHOS

THETERAPEUTICEFFECTOFTWOPROTOCOLSONREMOTELESIONSDERIVEDFROMINTESTINALISCHEMIAANDREPERFUSIONSYNDROMEINRABBITS

ARANZALES,J.R.M.1641;RIVAS,P.C.L.1652;ALVES,G.E.S1663.

Palavras-chave: GIP, Ozônio, Isquemia e reperfusão Key words: GIP, Ozone, Ischemia and reperfusion Introdução

As lesões focais, adjacentes e distantes geradas da síndrome Isquemia e Reperfusão (I/R) têm relevância em muitas situações clinicas e cirúrgicas da rotina. A complexidade da I/R exige alternativas terapêuticas multimodais encaminhadas a prevenir ou diminuir as cascatas de eventos vasculares, celulares, bioquímicos, moleculares e enzimáticos envolvidos1. A tentativa de manter o metabolismo energético no tecido isquêmico e prevenir na reperfusão a formação de radicais livres de oxigênio (RLO), inibir a ativação de fosfolipasa A2 e prevenção da acumulação de polimorfo nucleado neutrófilos (PMNNs), tem sido alvo terapêutico em órgãos específicos submetidos a I/R 2,3,4. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito do tratamento à base de Glicose, Insulina e Potássio (GIP) e Ozônio na diminuição das lesões achadas em miocárdio, pulmão, fígado e rins derivadas de um modelo de I/R intestinal em coelhos. Metodologia

Trinta coelhos da raça Nova Zelandês com 3kg de peso aproximadamente, foram submetidos à anestesia geral e preparados para laparotomia mediana para induzir I/R no jejuno mediante obstrução arteriovenosa e mural nos extremos do segmento. Os vasos mesentéricos foram dissecados e ligados com drenos de penrose no 3; os segmentos escolhidos foram avaliados em períodos de duas e 12 horas de isquemia e reperfusão, respectivamente, contados logo após a retirada das ligaduras. O total de animais foi dividido em três grupos: Grupo 1: tratados com GIP (mistura de 30ml de glicose 5%, 10UI de insulina e 3.6ml de potássio), administrado pela via intravenosa; Grupo 2: tratados com ozônio (50µ/kg diluído em 30ml de 164 Doutorando EV/UFMG - Bolsista Capes/PEC-PG, docente EMV/Universidade de Antioquia - Medellín - Colômbia

(email: [email protected]); 165 Docente Universidade da Salle, Bogotá - Colômbia; 166 Docente EV/UFMG.

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solução salina) administrado pela via intravenosa e Grupo 0: Grupo instrumentado mas não tratado. Os tratamentos foram administrados ao final do período de isquemia. Eutanásia foi praticada após 12 horas de reperfusão para recolher amostras de miocárdio, pulmão, fígado e rins a fim de avaliar o efeito nas lesões achadas em cada grupo experimental. As amostras foram processadas segundo técnicas rotineiras, coradas pela H&E e examinadas em microscópio de luz. Os resultados foram analisados mediante estatística descritiva das lesões em os órgãos de cada grupo e através chi-quadrado (X2) na dispersão de frequência de cada grau de lesão de cada grupo em cada órgão estudado. Diferencia significativa (P<0,05) foi considerada para cada grupo de tratamento. Resultados

A avaliação histológica e a análise estatística das amostras apresentaram os seguintes dados: Miocárdio: diferencia significativa entre os grupos de tratamentos para os achados de congestão (P= 0,026), edema (P= 0) e degeneração de fibras miocárdicas (P= 0,047), sendo mais graves no grupo controle, leves no grupo tratados com ozônio e com relevante diminuição no grupo tratado com GIP. Pulmão, Fígado e Rins: Não foi evidenciado diferencia significativa na diminuição dos graus de lesão entre os grupos de tratamentos.

Discussão

Os efeitos destas duas alternativas terapêuticas sobre as lesões da I/R nos segmentos do jejuno deste modelo já foram descritos em outro trabalho5. Os órgãos de estudo em todos os grupos experimentais apresentaram alterações histopatológicas de diferente intensidade, indicando o estabelecimento da síndrome e suas consequências, embora isto não fosse correlacionado e quantificado com marcadores de lesão celular, mas o grupo controle mostrou relevantes alterações comparadas com os grupos tratados. O grupo tratado com a solução GIP mostrou melhores resultados, principalmente no miocárdio, confirmando os dados de trabalhos feitos neste órgão, uma vez que ela recupera a contração das fibras cardíacas, aumenta as fontes energéticas e a glicose anaeróbica das células miocárdicas submetidas à isquemia, fatos que argumentam a propriedade cardioprotetora de GIP6,7. O grupo do Ozônio, apesar de não mostrar significância estadística, efeitos conservadores podem estar associados à modulação de enzimas antioxidantes ou às propriedades químicas do ozônio que interferem com as etapas bioquímicas da reperfusão8. Estatisticamente a intensidade das lesões em órgãos como pulmão, fígado e rins não diminuíram significativamente entre os tratamentos, mas o análise dos dados mostrou uma tendência de graus de lesão mais intensos nos animais do grupo controle; indicando o deterioro progressivo da função destes órgãos como se descreve tanto em modelos experimentais, como em casos clínicos9. Finalmente, os diferentes graus de resposta nos tecidos avaliados mostram a natureza complexa da síndrome I/R.

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Conclusão

A solução a base de GIP só mostrou melhoria significativa estadisticamente nas lesões do coração, porém nos outros órgãos evidenciou tendência de menores lesões junto com o grupo tratado com ozônio. Trabalhos mais acurados e apoiados em marcadores bioquímicos e parâmetros de laboratório devem ser desenvolvidos para determinar os efeitos pouco evidentes em órgãos alvo da I/R. Referências Bibliográficas.

1. Carden DL, Granger DN (2000). Pathophysiology of ischemia – reperfusion injury. Journal Pathology, 190: 255 – 266.

2. Tadros T et al. (2000). Angiotensin II inhibitor DuP753 attenuates burn and endotoxin induced gut ischemia, lipid peroxidation, mucosal permeability, and bacterial translocation. Annals of Surgery, 231: 566.

3. Stefanutti G, Vejchapipat P, Williams S (2004). Heart energy metabolism after intestinal ischaemia and reperfusion. Journal Pediatric of Surgery, 39: 179-184.

4. Vinardi S, Pierro A, ParkinsonE (2003). Hypothermia throughout intestinal ischaemia-reperfusión injury attenuates lung neutrophil infiltration. Journal Pediatric of Surgery, 38: 88-92.

5. Martínez JR, Rivas PC (2007). Alternativas terapéuticas para el síndrome isquemia y reperfusión en medicina veterinaria. Revista U.D.C.A.: Actualidad y Divulgación Científica, 10(1): 103-110.

6. Angelos Mark G et al. (2002). Glucose, Insulin and Potassium (GIK) during reperfusion mediates improved myocardial bioenergetics. Resuscitation, 55 (12): 329 – 336.

7. Martin A, Luquette M, Besner G (2005). Timing, route, and dose of administration of heparin-binding epidermal growth factor-like growth factor in protection against intestinal ischemia-reperfusion injury. Journal of Pediatric Surgery, 40: 1741 – 1747.

8. Alves GES et al. (2004). Efeitos do ozônio nas lesões de reperfusión do jejuno em eqüinos. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 56 (4): 433 – 437.

9. Ozacmak V et al. (2005). Protective effect of melatonina on contractile activity and oxidative injury induced by ischemia and reperfusión of rat ileum. Life Sciences, 76: 1575 – 1588.

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AUTOMUTILAÇÃO POR SÍNDROME DA CAUDA EQUINA EM UM CÃO: RELATO DE CASO

SELF‐MUTILATIONDUETOCAUDAEQUINASYNDROMEINDOG:REPORTCASE

SOUZA,L.A167,DIAS,T.A1.,OLIVEIRA,B.J.NA¹.,SILVA,L.A.F¹.,EURIDES,D168.ALVES,L.B2.,COSTA,F.R.M2.

Palavras chave: Descompressão, doenças da coluna vertebral, laminectomia dorsal

Keywords: Decompression, spinal diseases, dorsal laminectomy

Introdução

A automutilação é considerada um distúrbio comportamental caracterizado por lambedura, mastigação e arranhadura. A lambedura excessiva faz com que o animal sinta-se melhor por meio do efeito analgésico causado pela liberação de endorfinas com diminuição da percepção da dor. Dentre as causas, têm-se as dermatopatias psicogênicas, neuropatias1, epilepsias sensoriais, mielopatias e ganglioneuropatias, assim como a síndrome da cauda equina2. Sabe-se que essa síndrome envolve distúrbios congênitos ou adquiridos, ocorrendo de forma isolada ou associada. Geralmente são responsáveis pelo estreitamento do canal vertebral lombossacro, resultando em compressão das raízes nervosas da cauda equina3. Dentre os distúrbios congênitos relacionados, estão às anomalias vertebrais e ou das raízes nervosas, ao contrário dos adquiridos, que se apresentam por estenoses do canal vertebral com origem traumática, degenerativa e/ou pós-cirúrgica, assim como pela instabilidade vertebral, luxações, subluxações, discopatias e neoplasias4. Os principais sintomas de compressão da cauda equina referem-se à irritação de fibras sensoriais provenientes dos nervos pudendo, ciático e caudais5. Dor à palpação da articulação lombossacra, paraparesias, atrofia muscular dos membros pélvicos, claudicação, paresia da cauda, perda de propriocepção e alterações viscerais como incontinências urinária e/ou fecal podem ser encontrados6. O diagnóstico da síndrome baseia-se nos sinais clínicos característicos, nos exames radiográficos simples e contrastados e nos achados da laminectomia exploratória. O tratamento preconizado é a laminectomia dorsal lombossacra, acompanhada, quando necessário, de facetectomia, foraminotomia, fenestração dorsal de discos intervertebrais e/ou estabilização vertebral4. O presente trabalho teve como objetivo relatar um quadro de

167 Universidade Federal de Goiás. Escola de Veterinária (UFG/EV). [email protected]

168 Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária (UFU/Famev). Escola de Veterinária, Campus Samambaia. Caixa postal 131 - CEP: 74001-970. Goiânia - GO

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síndrome da cauda equina caracterizada por automutilação em um cão da raça Pastor Belga.

Metodologia

Foi atendido um cão macho da raça Pastor Belga de sete anos de idade e 27kg de peso corporal, que apresentava claudicação exacerbada dos membros pélvicos acompanhada por dor durante a palpação da região lombosacra. O animal apresentava-se com um quadro de cifose além de áreas caracterizadas por constante lambedura e automutilação. O breve histórico relatado pelo proprietário teve ênfase na descrição de perseguição da cauda com mutilação, dificuldade em se levantar, subir degraus, saltar e andar “cambaleante”. Ao exame clínico, foi constatado prurido intenso, automutilação e feridas ulceradas nas regiões expostas a intensa lambedura, além da disfunção urinária e fecal caracterizadas por gotejamento de urina e relaxamento do esfíncter anal. No exame neurológico notaram-se déficits proprioceptivos conscientes, fraqueza e paresia dos membros pélvicos. Por meio da dorsoflexão da cauda e palpação da região lombosacra, o animal respondeu com reflexos de dor em virtude do aumento de sensibilidade da região devido à compressão de nervos. Foram solicitados exames radiológicos complementados por mielografia e exames laboratoriais. Por meio de radiografias simples, foram constatadas sacralização da L7, osteofitose e estenose do canal vertebral em sacral 3 (S3) - Co1 e Co1-Co2. Na epidurografia, o contraste ultrapassou com dificuldade o local de estenose. Como tratamento, optou-se pela laminectomia dorsal descompressiva do canal vertebral lombossacro, a qual foi estendida até as vértebras coccígeas e foraminotomia. O protocolo anestésico utilizado consistiu-se em pré-medicação com acepromazina (0,05mg/kg) associada com cloridrato de tramadol (2,0mg/Kg), seguida de indução por propofol (8,0mg/Kg) e manutenção por anestesia volátil composta por isoflurano. Com o animal em decúbito esternal, após ampla tricotomia e antissepsia, efetuou-se uma abordagem dorsal à coluna vertebral incisando pele, tecido subcutâneo e divulsão da musculatura até que os processos vertebrais fossem localizados e isolados. Na sequência, mediante o uso de uma pinça goiva, foi possível a remoção dos processos vertebrais da região lombosacra assim como o desgaste ósseo por meio de uma perfuratriz elétrica facilitando o acesso ao canal medular. Optou-se pela técnica de fenestração dorsal dos discos intervertebrais a fim de realizar a descompressão em L5-L6 e L6-L7. O procedimento foi realizado com auxilio de uma lâmina de bisturi número 11 e pinças odontológicas pediátricas. No pós-operatório foram recomendadas sessões de acupuntura, restrição à atividade física e retorno semanal para avaliação neurológica. Resultados

Durante o procedimento cirúrgico, lesões estenosantes encontradas mediante às laminectomias confirmaram o diagnóstico de compressão de raízes da cauda eqüina. A gravidade das lesões causadas pela automutilação encontradas na cauda tornou necessário a realização de caudectomia. A laminectomia dorsal lombossacra descompressiva associada à fenestração dos discos vertebrais e foraminotomia permitiu debelar os distúrbios sensoriais causadores de automutilação. Além disso, o quadro de paresia e ataxia dos membros pélvicos e as disfunções urinária e fecal haviam melhorado de forma satisfatória até sexta semana de acompanhamento.

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Discussão

A suspeita de que a compressão de raízes nervosas da cauda equina estava associada à automutilação foi baseada nos sintomas de dor à palpação na região lombossacra, assim como parestesias na cauda, genitália e membros pélvicos já tinham sido descritos como característicos de síndrome da cauda equina por outros autores5,6. O diagnóstico foi concluído conforme os resultados encontrados nos exames radiográficos simples e contrastados, nos quais encontrou-se os sinais típicos desta doença, como estenoses do canal vertebral, osteofitoses e sacralização da L7. A difusão interrompida do contraste na epidurografia também foi conclusiva para o diagnóstico. A síndrome de automutilação em cães e gatos, conforme citada, é erroneamente tratada como dermatopatia, esquecendo-se de que compressões e irritações das raízes dos nervos ciáticos, pudendos e caudais podem levar à automutilação dos membros pélvicos, genitália, ânus e períneo ou cauda, respectivamente7. Conclusões

Portanto, cabe ressaltar que parestesias e automutilações podem corresponder a compressões das raízes nervosas correspondentes à cauda equina, junto às outras patologias. O resultado apresentado pelo relato indica que a laminectomia dorsal lombossacra associada à fenestração dos discos vertebrais e foraminotomia cessou o quadro de automutilação e perseguição da cauda que acometia um cão da raça Pastor Belga.

Referências

1. Parker AJ. Sintomas comportamentais de afecção orgânica In: Ettinger SJ (1992). Tratado de medicina interna veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Manole, cap.16, 74-78.

2. Chrisman CL. Self-mutilation. In: Chrisman CL (1991). Problems in small animal neurology. 2.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, cap.20, 469-477.

3. Lecouter RA, Child G. Moléstias da medula espinal. In: Ettinger SJ (1992). Tratado de medicina interna veterinária. 3.ed. Rio de Janeiro: Manole, cap. 62, 655-736.

4. Fossum TW. Surgery of the lumbosacral spine. In: Fossum TW (1997). Small animal surgery. St. Louis: Mosby, cap.36, 1131-1149.

5. Prata RG. Cauda equina syndrome. In: Slatter D (1993). Textbook of small animal surgery. 2.ed. Philadelphia: Saunders, cap.77, 1094-1105.

6. Braund KG (1994). Clinical syndromes in veterinary neurology. 2.ed. St. Louis: Mosby, 476 p.

7. Leneham TM, Tarvin GB. Surgical treatment of cauda equina compression syndrome. In: Bojrab MJ (1990). Current techniques in small animal surgery. 3.ed. Philadelphia: Lea & Febiger, 629-635.

AVULSÃO DO TENDÃO CALCANEAR COMUM EM CÃO – RELATO

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DE CASO

AVULSIONOFCALCANEUSTENDONINDOG–CASEREPORT

SOUZA,L.A169.,DIAS,T.A1.,OLIVEIRA,B.J.NA¹.,SILVA,L.A.F¹.,EURIDES,D170.,MANTOVANI,M.M2,COSTA,F.R.M2

Palavras-chave: Polipropileno, Bunnell, cão

Keywords: Polypropilene, Bunnell, dog

Introdução

O aparelho locomotor é um complexo sistema incluindo músculos, tendões, segmentos ósseos e articulações, que são controlados pelo sistema nervoso central e responsáveis pela locomoção1. A força aplicada sobre os músculos é transferida para os ossos por intermédio dos tendões, promovendo a movimentação do esqueleto2. Sabe-se que, na rotina clínica cirúrgica veterinária, lesões tendíneas são frequentes, podendo ocorrer secção parcial ou total do tendão causadas por objetos perfurocortantes e responsáveis por rupturas envolvendo o tendão calcâneo comum e os flexores digitais3. Quando há perda expressiva do tecido tendíneo, torna-se necessária a enxertia de tecido mole ou o uso de próteses que fornecem suporte e orientação para migração de células e formação das fibras tendíneas4. Terapias convencionais nem sempre apresentam resultados satisfatórios, por essa razão a medicina regenerativa desponta como uma possibilidade terapêutica no tratamento de várias doenças degenerativas, para as quais ainda não há tratamento específico ou efetivo5. Tendo em vista a importância e as limitações relacionadas ao diagnóstico e o tratamento das principais enfermidades relacionadas ao aparelho locomotor optou-se por relatar um caso de avulsão do tendão calcâneo comum em um cão utilizado para pastoreio.

Metodologia

Foi atendido um cão macho da raça Border Collie, quatro anos de idade, pesando 18 Kg. O proprietário relatou que o animal era utilizado para o pastoreio e, após um dia de trabalho, apresentou dificuldade em caminhar e arrastava o membro pélvico esquerdo. No dia seguinte, foi atendido em uma clínica veterinária e, durante o exame físico do membro, o médico veterinário constatou que os sinais indicavam trauma gerado durante as atividades. Assim, foi prescrito o tratamento com 169 Universidade Federal de Goiás. Escola de Veterinária (UFG/EV). [email protected]

170 Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária (UFU/Famev). Escola de Veterinária, Campus Samambaia. Cx. postal 131. CEP: 74001-970, Goiânia – GO

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compressas de gelo, repouso e medicação anti-inflamatória composta por cetoprofeno. No décimo dia durante o retorno, o animal apresentava uma breve melhora com leve apoio do membro no solo, porém a sintomatologia ainda estava presente. Em uma nova tentativa, foi repetida a primeira prescrição com adição de fisioterapia. No décimo quinto dia, sem obter um resultado satisfatório o proprietário foi orientado a procurar o Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás. Durante o exame físico, o animal esboçava dificuldade na locomoção, marcada pela intensa claudicação do membro pélvico esquerdo. O membro apresentava-se “achinelado”, com posição mais plantígrada que o normal, sendo que durante a hiperflexão do tarso notou-se flacidez do tendão calcanear, além de o animal preservar a articulação tibiotársica hiperflexionada. Durante a palpação do tendão calcâneo comum, foi observado um ponto de ruptura na sua inserção com o tarso, permitindo reposicionamento sem tensão. Além disso, notou-se a presença de fibroplasia com consistência firme. O animal estava em bom estado geral, porém com leve atrofia da musculatura do quadríceps femoral esquerdo. O diagnóstico de avulsão do tendão calcâneo comum foi confirmado pelos achados do exame físico e radiográfico. Assim, o tratamento preconizado constituiu-se na reconstituição cirúrgica do mecanismo de Aquiles. Sob efeito anestésico e em decúbito lateral direito, incisou-se a pele na região caudolateral distal da tíbia a fim de localizar o tendão calcâneo e a tuberosidade calcânea. Uma área de intensa cicatrização marcada por frouxidão tendínea foi observada, porém não foram verificados fragmentos ósseos avulsionados e tampouco foi possível diferenciar os três tendões que compõem o mecanismo de Aquiles devido ao processo de fibrose. Na sequência, foi realizado o debridamento da extremidade distal do tendão removendo toda fibroplasia presente no coto tendíneo. Em seguida, com uma perfuratriz elétrica, realizou-se um orifício pelo qual foi ancorado o fio de polipropileno na tuberosidade calcânea. Posteriormente o fio foi passado no tendão em um padrão tipo Bunnell modificado, para depois finalizar tenorrafia. Após a sutura tendínea, não foi possível uma completa união do tendão e osso devido ao debridamento de uma grande área tomada pela fibroplasia e consequentemente o encurtamento das fibras tendíneas. Diante desse quadro, optou-se utilizar enxerto alógeno de fáscia lata preservada em glicerina 98%, na qual foi introduzida pelo mesmo orifício feito na tuberosidade calcânea de modo que a mesma fosse dividida ao meio e fixada por pontos simples isolados com fio náilon n° 2-0 substituindo o segmento tendíneo perdido. O tendão foi recoberto por tecido subcutâneo, além de sutura intradérmica realizada na pele. O membro foi imobilizado com gesso sintético por 30 dias, impedindo ampla movimentação da articulação tibiotársica. Prescreveu-se cetoprofeno e cefalexina no pós-operatório, assim como higienização da ferida cirúrgica diariamente pela abertura deixada na imobilização. Também foram recomendadas breves caminhadas, restrição de espaço livre do animal e retorno para avaliações com 15, 30, 45, 60 e 90 dias de pós-operatório.

Resultados e Discussão

A técnica de tenorrafia empregada, assim como a forma de fixação dos fios de suturas, também são utilizadas por diversos autores 6,7 , os quais concordam que, na avulsão do tendão calcâneo comum, a sutura deve ser ancorada na tuberosidade calcânea e no mínimo dois pontos de sutura devem ser inseridos no tendão. As suturas de Bunnell foram eficazes, pois permitiram uma coaptação adequada das extremidades tendíneas de forma segura e não interferiram na vascularização no local

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da sutura. Em relação ao fio, utilizou-se o náilon e o de polipropileno, que foram inertes, resistentes, de fácil passagem através dos tecidos e não absorvíveis6. Durante os retornos do animal, notou-se que o processo cicatricial foi marcado por uma intensa formação de fibrose no local da avulsão, identificada pela palpação de um nódulo firme e fixo de aproximadamente 3 cm. Após a retirada do gesso sintético aos 30 dias de pós-operatório, durante o exame físico do membro, realizou-se a hiperflexão do tarso não observando a flacidez do tendão calcanear constatada anteriormente no exame pré-cirúrgico, porém ainda preservava a articulação tibiotársica levemente hiperflexionada. Aos 45 dias o animal apresentava deambulação quase que normal, porém ainda evitava movimentos amplos e não distribuía o peso de forma igual sobre os membros pélvicos, sobrecarregando o membro contralateral da avulsão. Durante a avaliação aos 60 dias, uma grande melhora na deambulação foi constatada e, aos 90 dias, com recuperação total, o animal foi liberado para suas atividades normais que envolviam a sua utilização no pastoreio. Traumatismos contusos diretos, comumente associados a quedas, são causas frequentes de avulsão do tendão calcâneo comum7 como a descrita.

Conclusões

Considerando os resultados obtidos, é possível afirmar que o uso de fio polipropileno em suturas do tipo Bunnell modificado, associado ao enxerto alógeno de fáscia lata ancorados na tuberosidade calcânea, foi eficaz na redução de uma avulsão do mecanismo de Aquiles, pois promoveu a cicatrização do tendão e o retorno do animal a suas atividades de pastoreio.

Referências

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ANESTESIA NO PACIENTE COM TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO SUBMETIDO À CRANIOTOMIA: RELATO DE CASO

ANESTHESIAINPATIENTSWITHHEADINJURYUNDERGOINGCRANIOTOMY:CASEREPORT

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FONSECA,A.M.171;GOMES,F.A.S172;COELHO,C.M.M.173;MARTINS,S.B.1;SANTOS,K.S.1;ANDRASCHKO,M.M1.DUQUE,J.C.M.174

Palavras-chave: infusão contínua, pressão intracraniana, propofol Key words: intravenous infusion, intracranial pressure, propofol Introdução

O traumatismo cranioencefálico (TCE) constitui afecção de difícil tratamento e elevada taxa de mortalidade. Os fatores complicadores, associados à sua magnitude e aos insultos secundários, induzem mudanças fisiológicas como hipoventilação, hipóxia, taquicardia, arritmias e hipertensão intracraniana1,2,3. O conhecimento da fisiopatologia deste insulto torna-se essencial na abordagem da técnica cirúrgica e da escolha do protocolo anestésico, a fim de que os efeitos dos fármacos anestésicos no sistema nervoso central (SNC) não causem maior detrimento à homeostase do paciente, como alteração na atividade elétrica neuronal, no fluxo sanguíneo cerebral (FSC), na produção de líquido cerebrorraquidiano e na pressão intracraniana (PIC)2. A craniotomia para fins de diminuição da PIC é manobra de emergência e por vezes eficaz para impedir a progressão das lesões ao tecido nervoso3. Cabe ao anestesista a escolha do protocolo mais adequado ao paciente neurologicamente descompensado que, na maioria das vezes, também apresenta alterações cardiorrespiratórias significativas. Este trabalho descreve o procedimento anestésico aplicado em uma fêmea canina atendida no Serviço de Emergência do Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás (HV/EV/UFG), diagnosticada com TCE. A cadela, sem raça definida, com oito anos de idade e cinco quilogramas de peso, apresentava histórico de ter sido atacada por outro canino, sendo mordida na cabeça. Ainda, segundo o proprietário, o animal apresentou vômitos, convulsões e tosse após o ocorrido. Durante o exame clínico, foram observadas lesões lacerativas com secreção purulenta na região frontal do crânio, prostação, anisocoria com miose puntiforme do olho esquerdo, reflexo pupilar diminuído bilateralmente, depressão mental, taquicardia (142 bpm) e edema pulmonar agudo.

Metodologia

Perante o quadro clínico, o animal foi posicionado cefaloaclive de 30°, submetido a oxigenioterapia via sonda nasal, fluidoterapia com solução fisiológica NaCl 0,9% (10ml/kg/hora,IV) e administrado manitol (250mg/kg,IV), amoxicilina mais

171 Pós-graduanda latu sensu. Escola de Veterinária. Universidade Federal de Goiás (UFG). Rua T-62, n 1104,

Residencial Gaibu, apt.502, Setor Bueno. e-mail: angela_moni @hotmail.com 172 Professor Mestre Substituto de Clínica Médica Veterinária da UFG 173 Doutoranda em Cirurgia Veterinária -FCAV- Unesp Jaboticabal 174 Professor Doutor Adjunto de Anestesiologia Veterinária da UFG

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clavulanato de potássio (20mg/kg,IM) e succinato de metilprednisolona (30mg/kg,IV). Foram realizados exames hematológicos, os quais demonstraram trombocitose (1506 giga/L), leucopenia absoluta (5800/mm3) por eosinopenia (58/mm3) e linfopenia (290/mm3). A bioquímica sérica apresentou aumento da proteína total e da atividade enzimática da alanina aminotransferase, com valores de 9,8g/dl e 68 UI/L, respectivamente. No exame radiográfico laterolateral e ventrodorsal da cabeça, visibilizou-se perda da continuidade óssea de aproximadamente um centímetro de diâmetro na região mediana do osso frontal, com presença de esquírolas ósseas no interior do seio frontal, diagnosticando-se, radiograficamente, fratura cominuta de osso frontal. Considerando a anamnese, os exames clínicos, laboratoriais e de diagnóstico por imagem, diagnosticou-se TCE, sendo preconizada intervenção cirúrgica emergencial de craniotomia rostrotentorial lateral direita. Para realização do procedimento, a fluidoterapia foi mantida e o animal imediatamente induzido com propofol (3mg/kg), midazolan (0,1mg/kg) e fentanil (2µg/kg), concomitantemente por via intravenosa, e manutenção anestésica com infusão contínua de propofol (0,4mg/kg/min,IV) e fentanil (5µg/kg/h, IV), por bomba de infusão. O período transanestésico apresentou duração de duas horas, sendo o animal, nos 15 primeiros minutos, submetido à ventilação espontânea e, no tempo restante, à ventilação manual pelo sistema de Baraka. O animal manteve-se estável durante o período trans e pós-anestésico imediato, com frequência cardíaca média de 148 bpm e saturação de oxigênio de 98%, voltando a respirar espontaneamente dez minutos após encerrada a administração de anestésicos.

Resultados e Discussão

O animal provavelmente já apresentava injúria cerebral secundária ao ser recebido no HV, visto que a convulsão constitui um dos sinais clínicos mais comuns do processo e pode ocorrer minutos ou horas após o trauma, perpetuando e agravando o quadro4. Apesar da tomografia computadorizada e ressonância magnética serem ferramentas mais precisas para o diagnóstico4, na ausência destes recursos o exame radiográfico foi fundamental para o diagnóstico e indicação cirúrgica. O posicionamento do animal com cabeça elevada visou a facilitar a drenagem venosa e auxiliar na diminuição da PIC4. O uso de manitol baseou-se no fato de este constituir eficiente diurético de ação no SNC e incrementar o FSC, e do succinato de metilprednisolona, por este diminuir a injúria de reperfusão sanguínea nas regiões afetadas. No entanto, o uso deste último mostra-se controverso pela possibilidade de desfavorecer a recuperação do paciente3,4. O protocolo anestésico objetivou minimizar a possibilidade de agravamento do estado clínico e neurológico por aumento da PIC e isquemia cerebral. A ausência de medicação pré-anestésica, sequer opióides ou derivados, baseou-se no fato de que mesmo com efeitos mínimos no FSC e PIC, poderia ocorrer um aumento indireto na PIC devido à hipercapnia, decorrente da hipoventilação induzida pelos mesmos2,3,8,9. Além disso, refutou-se qualquer possibilidade de alteração cardiovascular, por mínima que fosse. O uso do propofol na indução anestésica deu-se em razão de sua rápida indução sem excitação. Sua associação com o benzodiazepínico visou a uma anestesia balanceada, desejando evitar depressão cardiovascular e respiratória8. A manutenção com infusão de propofol e fentanil objetivou minimizar o requerimento de anestésicos durante o período transoperatório e propiciar melhor analgesia2,6,7. Pacientes submetidos a neurocirurgias anestesiados com propofol apresentam menor FSC,

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diminuição do metabolismo, do consumo de oxigênio cerebral e da PIC, visto que anestésicos voláteis agem como vasodilatadores cerebrais3,5, 6,9. Vale ressaltar ainda que o propofol proporciona manutenção da autorregulação e maior perfusão cerebral, além de não associar-se com mudanças hemodinâmicas cerebrais significativas5,6,9. O uso do fentanil, tanto na indução quanto na manutenção, também se baseou em seus efeitos mínimos sobre o FSC e na PIC, além de incremento da analgesia7. O período trans e pós-anestésico imediato pôde ser considerado como de sucesso, visto que clinicamente atingiu os objetivos de manter a estabilidade cardiorrespiratória e hemodinâmica para realização do procedimento em sua totalidade e com tranquilidade, além de recuperação pós-anestésica de qualidade e rápida. O controle anestésico do paciente, tão prezado no presente relato, justifica-se pelo fato de que em pacientes com alterações neurológicas deve-se evitar hipóxia, hipercapnia, instabilidade respiratória e cardiovascular a fim de preservar a função neural e minimizar a isquemia no SNC2,7. Conclusão

Diante do relatado, conclui-se que o protocolo anestésico mostrou-se eficiente para anestesia em paciente com trauma cranioencefálico, podendo constituir sugestão favorável de anestesia para animais com tal alteração, mesmo em pacientes com restrita monitoração anestésica, como descrito no presente relato. Referências

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FOSFATASE ALCALINA SÉRICA X EXAMES RADIOGRÁFICOS EM LESÕES OSTEOCONDRAIS DE COELHOS TRATADAS COM CÉLULAS

MONONUCLEARES E PROTEÍNA MORFOGENÉTICA ÓSSEA

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SERUM ALKALINE PHOSPHATASE X RADIOGRAPHIC EXAMINATION IN OSTEOCHONDRAL LESIONS IN RABBITS TREATED WITH MONONUCLEAR

CELLS AND BONE MORPHOGENETIC PROTEIN

SOUZA,L.A175.,OLIVEIRA,B.J.N.A1.,EURIDES,D176.,DIAS,T.A1.,ALVES,L.B2.;

SILVA,L.A.F1.,ARRUDA,A.F.D.P2

Palavras-chave: Células-tronco, consolidação de fraturas, marcador ósseo

Keywords: Stem cells, fracture healing, bone marker

Introdução

O uso de métodos laboratoriais que permitam a avaliação do metabolismo ósseo de uma maneira confiável, rápida e prática tem sido um dos objetivos almejados pelos pesquisadores que atuam nessa área, pois o tecido ósseo apresenta uma série de características peculiares, referentes ao processo de regeneração óssea. Nesse caso, técnicas e materiais para auxiliar no reparo de grandes defeitos e métodos para acompanhar o processo cicatricial da lesão tornam-se necessários1. A taxa de formação e degradação óssea pode ser estimada por meio de marcadores bioquímicos específicos como as fosfatases alcalinas, que indicam a atividade de osteoblastos no organismo2. No entanto, o aumento da atividade sérica ocorre em condições de colestase, indução por drogas, animais em crescimento e em fêmeas gestantes, tornando necessário o uso de outros exames, como o radiográfico, para acompanhar a reparação óssea3. Este trabalho teve como objetivo avaliar a atividade sérica da fosfatase alcalina em coelhos e compará-la aos exames radiográficos após o reparo de lesões osteocondrais com aplicação intra-articular de células mononucleares autológas da medula óssea e proteína morfogenética óssea.

Metodologia

Foram colhidas 24 articulações femorotibiopatelares de coelhos em matadouro para obtenção dos enxertos. Após exposição da articulação, removeu-se uma área de 0,4cm largura x 1,0cm de comprimento sobre o sulco troclear femoral por meio de um disco diamantado acoplado á uma perfuratriz e armazenada em glicerina a 98%. Os procedimentos foram realizados em 24 coelhos adultos, machos da raça Nova Zelândia, distribuídos em grupo controle (GC), o tratado com células mononucleares da medula óssea (GCM) e o grupo que recebeu a associação de células

175 Universidade Federal de Goiás. Escola de Veterinária (UFG/EV). [email protected]

176 Universidade Federal de Uberlândia. Faculdade de Medicina Veterinária (UFU/Famev).

Escola de Veterinária, Campus Samambaia. Caixa postal 131 - CEP: 74001-970. Goiânia–GO.

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mononucleares autólogas e proteína morfogenética óssea (GCM+BMP). Sob efeito anestésico, a colheita da medula óssea (2,0 mL) foi realizada com uma agulha metálica de Rosenthal inserida no tubérculo umeral empregando uma seringa contendo 0,1 mL heparina (5000U/mL). As amostras foram acondicionadas em tubos Falcon 15 mL e diluídas (volume/volume, 1:1) em solução salina tamponada (PBS). Posteriormente, foram depositadas sobre 2 mL do gradiente de densidade Ficoll-Paque® e centrifugadas a 495 x g por 30 minutos a 15ºC. Em seguida, a fração mononuclear foi colhida e mais três lavagens a 385 x g por 10 minutos a 4ºC foram realizadas, duas com 10 mL de solução salina tamponada (PBS) e uma com meio de cultivo modificado de Dulbecco (DMEM) suplementado com soro fetal bovino a 10%. Com o animal em decúbito dorsal foi realizada uma incisão na região parapatelar lateral do membro pélvico esquerdo com incisão da cápsula articular. Com a patela deslocada medialmente mensurou-se sobre o sulco troclear femoral uma área de 0,4 cm de largura x 1,0 cm de comprimento e removida por um disco diamantado acoplado a uma perfuratriz elétrica, preservando as trócleas medial e lateral. O local foi preenchido com enxerto alógeno conservado em glicerina a 98% e, com a patela reposicionada, procedeu-se à sutura capsular, redução do espaço subcutâneo e a dermorrafia. As unidades experimentais do grupo GCM receberam a administração intra-articular de 0,5 mL com 2x106 células mononucleares e o GCM+BMP o mesmo número de células, porém associadas com 1 µg de rhBMP-2. Para o acompanhamento da fosfatase alcalina, foram colhidos por venipunção da jugular externa 2 mL de sangue no dia zero (dia do procedimento), 3o, 15o, 30o e 45o dia de PO. Em tubos sem anticoagulante as amostras foram mantidas até a completa coagulação e centrifugadas a 720 g por dez minutos para obtenção do soro e determinação da concentração sérica da fosfatase alcalina pelo método Cinético Optimizado – IFCC em analisador automático utilizando kit comercial. Além disso, foram feitos exames radiográficos no 30° e 45° dia de PO a fim de permitir o estudo comparativo entre as imagens obtidas e os perfis séricos da enzima. Utilizaram-se blocos casualizados, análise de variância em esquema fatorial e teste de Tukey (p=0,05).

Resultados

Os resultados demonstraram variações substanciais nos níveis séricos desta enzima que variaram de 10,9 a 524 U/L. Aspectos radiográficos da articulação femorotibiopatelar aos 30 dias de PO dos animais do GC apresentaram reação óssea exacerbada, rarefação do osso subcondral, perda da linha de cartilagem e presença de osteófitos nas bordas trocleares. No mesmo período no GCM e no GCM+BMP foi possível observar aspecto articular normal, porém no GCM o enxerto ainda não estava totalmente osteointegrado. Aos 45 dias de PO persistia a rarefação óssea dos côndilos femurais com espaçamento entre as trabéculas ósseas no GC e uma pequena depressão no local onde realizou o enxerto osteocondral nos animais do GCM. Já no GCM +BMP observou-se o aspecto normal da articulação, com o enxerto integrado no leito receptor e ausência de osteoartrose.

Discussão

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Valores normais da fosfatase alcalina sérica em coelhos variam entre 70 de 145 U/L4 , o que condiz com a média geral dos grupos de 88,34 U/L. Porém a discrepância nos valores pode ser explicada pela constante modificação do tecido em diferentes fases da formação do calo ósseo e possivelmente pela influência da fosfatase hepática e intestinal. Sabe-se que o calo ósseo encontra-se formado ao final da segunda ou terceira semana e a partir deste período ocorre diminuição da atividade osteoblástica2. Assim, quando se compararam as médias dos grupos em relação aos períodos avaliados não foi possível confirmar esse dado, pois os valores séricos da enzima não apresentaram diferenças estatísticas. A média do dia zero (pré-operatório) foi estatisticamente superior devido à atividade hepatobiliar apresentada após a utilização de drogas indutoras que apresentam biotransformação hepática5. O perfil destas enzimas varia durante o reparo ósseo e em função do tipo de material implantado. Neste caso o material utilizado foram as proteínas morfogenéticas ósseas que estimulam a formação óssea e ativam as células-tronco a se diferenciarem6. No entanto esperava-se que a proteína em associação com as células mononucleares estimulasse maior liberação de fosfatase, o que não foi constatado. Nos cinco momentos pré-estabelecidos, os valores séricos da enzima foram maiores nos animais do grupo GCM, seguidos pelo GC e GCM+BMP. Contudo, os achados radiográficos dos grupos tratados não condizem com os resultados séricos da enzima, pois os grupos experimentais apresentaram padrão trabecular ósseo próximo à normalidade e integração do enxerto no sulco troclear femural. Entretanto, apesar do valor numérico da média do grupo GCM ter sido superior, a análise estatística não acusou diferença significativa, devido à grande variação dos resultados e o alto coeficiente de variação o que dificultou a detecção de diferenças significativas entre as médias.

Conclusões

A variação nos níveis séricos da fosfatase alcalina de coelhos após o reparo de lesões osteocondrais com aplicação intra-articular de células mononucleares autólogas e proteína morfogenética óssea não permite recomendar o método para determinação da atividade osteoblástica. No entanto as imagens radiográficas, quando equiparadas com o perfil da ezima fosfatase alcalina, demonstraram ser achados mais fidedignos.

Ceua-UFU: 041/08 parecer N0 046/08.

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MIOTOMIA CRICOFARÍNGEA PARA CORREÇÃO DE DISFUNÇÃO ESOFÁGICA EM CÃO: RELATO DE CASO

CRICOPHARYNGEALMYOTOMYFORCORRECTIONOFESOPHAGEALDYSFUNCTIONINDOG:CASEREPORT

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SANTOS,K.S177.;GOMES,F.A.S178.;FONSECA,A.M1.;MARTINS,S.B1.;ANDRASCHKO,M.M1.;SILVA,M.S.B179.;CAMPOS,P.I.V.R.180

Palavras-chave: deglutição, esfíncter esofágico, músculo cricofaríngeo.

Key words: swallow, esophageal sphincter, cricopharyngeus muscle.

Introdução

A disfunção cricofaríngea é um distúrbio de motilidade em que o esfíncter esofágico superior (EES) não se relaxa durante a deglutição, impedindo a entrada de alimentos no esôfago1. Tal distúrbio pode ocorrer em virtude de uma lesão no nervo central ou periférico, uma doença muscular, causa iatrogênica ou idiopatia2. Disfagia, regurgitação, aspiração, tosse e refluxo nasal podem ocorrer durante a alimentação, como resultado de o alimento ser retido na faringe no ato da deglutição1, 3,4. Esses sinais clínicos são semelhantes a outros da orofaringe ou do esôfago. O diagnóstico diferencial deve incluir assincronia do músculo cricofaríngeo, fenda palatina, disfagia faríngea, hipoplasia congênita do palato mole, anomalia vascular, corpo estranho esofágico, divertículo esofágico, neoplasias e megaesôfago1. A determinação do diagnóstico definitivo requer anamnese detalhada e exame físico completo, bem como uma avaliação cuidadosa da função de deglutição. Geralmente os animais conseguem apreender uma porção de alimento normalmente, mas são incapazes de engolir. A regurgitação ocorre imediatamente após a tentativa de engolir. Os líquidos são engolidos por vezes melhor que os sólidos, mas podem estar associados com refluxo nasal. Os proprietários podem descrever falta de ganho de peso, apesar de apetite voraz1. Radiografias da região faríngea e tórax são geralmente normais, mas podem revelar sinais de pneumonia aspirativa provocada pela disfagia crônica. O contraste fluoroscópico é essencial para avaliar as fases de deglutição e observar a evolução do alimento do esôfago para o estômago1, 7. O sulfato de bário é o contraste mais comumente utilizado para avaliar as funções de deglutição. Nos casos em que se suspeita de aspiração, é aconselhado utilizar um meio de contraste à base de iodo não iônico e solúvel em água, evitando desta forma possíveis complicações com o bário inalado1, 4,7. Os achados do exame endoscópico da faringe e do esfíncter esofágico superior são normais, e não há nenhuma obstrução evidente durante a passagem do tubo de endoscópio até o estômago em cães com disfunção cricofaríngea. O diagnóstico presuntivo de disfunção cricofaríngea pode ser feito se um cão for capaz de formar um bolo e movê-lo para a faringe caudal de maneira normal, mas for incapaz de passar para o esôfago, porque os músculos cricofaríngeos

177 Médica veterinária, residente do Hospital Veterinário, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG). Rua 15 Qd. 29 Lt.25 Conjunto Riviera. [email protected]

178 Mestre professor, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás

179 Doutor professor, Instituto de Ciências Biológicas, UFG.

180 Acadêmica em Medicina Veterinária, Faculdades Objetivo, Goiânia, GO.

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não dilatam durante a deglutição1. O diagnóstico de disfunção cricofaríngea é confirmado pela resposta ao tratamento, tal como a miotomia do cricofaríngeo1, 7. A terapêutica pela intervenção cirúrgica de miotomia do cricofaríngeo almeja contribuir para a melhora da dinâmica da deglutição, permeando a obstrução causada pela não abertura da transição faringoesofágica por acesso externo ou endoscópico2.A miotomia do cricofaríngeo é um procedimento cirúrgico que consiste em cortar as fibras do músculo cricofaríngeo ou esfíncter esofágico superior, com a intenção de liberar ou melhorar a passagem do bolo alimentar pela transição faringoesofágica (TFE)2.Outro procedimento vem sendo discutido por ser menos invasivo: a aplicação de toxina botulínica no EES, buscando ter o mesmo efeito da miotomia do cricofaríngeo, ou seja, favorecer a passagem do bolo pela transição faringoesofágica2,5,6.

Relato de caso

Foi atendida no Hospital Veterinário das Faculdades Objetivo uma cadela da raça Pastor Alemão pesando 25 kg, com histórico de disfagia e regurgitação que iniciou-se após o animal ser submetido a uma ovário-histerectomia com intubação orotraqueal. Ao exame físico os sinais vitais eram normais, com reflexo de tosse positivo. O animal conseguia apreender os alimentos normalmente, porém não conseguia realizar deglutição e regurgitava. Não foi constatada nenhuma alteração neurológica. A radiografia de tórax revelou padrão pulmonar leve de pneumonia intertiscial. Pelo exame radiográfico contrastado com uso de bário visibilizou-se uma pequena área de represamento de contraste na região da laringe, sendo que o contraste passava livremente após alcançar o esôfago. Diante do histórico e dos exames realizados, determinou-se como diagnóstico presuntivo disfunção cricofaríngea, sendo o animal encaminhado para a cirurgia de miotomia cricofaríngea. O procedimento cirúrgico foi realizado com uma abordagem ventral a laringe e ao esôfago proximal. A incisão foi realizada cranial AA laringe até a região cervical média. Para a exposição da laringe, os músculos esternoioideos foram separados a fim de que a laringe fosse exposta. A laringe e o esôfago proximal foram identificados e isolados lateralmente à traqueia, juntamente com o nervo laríngeo recorrente para evitar lesões. Uma sonda orogástrica foi colocada para facilitar a identificação do esôfago. A traqueia foi então rotacionada em 180º graus para a exposição do músculo cricofaríngeo. Posteriormente o músculo cricofaríngeo foi excisionado. A laringe e o esôfago foram reposicionados. Os músculos esternoioideos e o tecido subcutâneo foram suturados com material absorvível sintético em padrão continuo simples seguido de dermorrafia com fio de nylon 2-0.

Resultados e discussões

Dois dias após a cirurgia o animal foi alimentado com pequenas porções de ração pastosa e não apresentou nenhum sinal de regurgitação ou tosse. Com 15 dias a paciente passou a se alimentar normalmente com ração seca, mostrando-se totalmente recuperada. De acordo com alguns autores2 , a disfunção cricofaríngea pode ocorrer em decorrência de alguma lesão na inervação ou na musculatura da região faríngea. No caso supracitado, o animal passou a desenvolver os sinais

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clínicos logo após ter sido submetido a um procedimento anestésico, que talvez possa ter sido causado por trauma durante a intubação. A presença de contraste corado na região da laringe no exame radiográfico torna evidente a causa de pneumonia por aspiração observada na radiografia de tórax, estando de acordo com os autores1, 2,7

que relatam que a pneumonia aspirativa pode ser um dos sinais clínicos mais comumente encontrados na disfunção cricofaríngea. Durante o procedimento cirúrgico, foram tomados os cuidados para garantir que todas as fibras musculares fossem seccionadas e o esôfago foi cuidadosamente inspecionado para a evidência de perfuração conforme descrito na literatura1.

Conclusão

Conclui-se a partir da experiência deste caso que apesar de o histórico, sinais clínicos e exames radiográficos serem fundamentais para a elaboração do diagnóstico presuntivo de disfunção cricofaríngea, o diagnóstico definitivo deu-se com o retorno do animal às suas funções normais após a cirurgia. Logo, o tratamento cirúrgico constitui alternativa para o diagnóstico definitivo desta patologia.

Referências

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3. WARNOCK, J. J.; MARKS, S. L.; POLLARD, R.; KYLES, A. E.; DAVIDSON, A. (2003). Surgical management of cricopharyngeal dysphagia in dogs: 14 cases (1989–2001). Journal of the American Veterinary Medical Association, 223: 1462-68.

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6. SCHNEIDER, I.; POTOTSCHNING, C.; THUMFART, W. F.; ECKEL. H. F. (1994). Treatment of dysfunction of the cricopharyngeal muscle with botulinum a toxin: Introduction of a new, noninvasive method. Annals of Otology, Rhinology and Laryngology, 103: 31-35.

7. PAPAZOGLOU, L. G.; MANN, F. A.; WARNOCK, J. J.; SONG, K. J. E. (2006). Cricopharyngeal dysphagia in dogs: The lateral approach for surgical management. Compendium: continuing education for veterinarians, 28: 696-704

NEFRECTOMIA VIDEOLAPAROSCÓPICA PARA TRATAMENTO DE DIOCTOFIMOSE EM CÃO – RELATO DE CASO

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LAPAROSCOPICNEPHRECTOMYFORTREATMENTOFDIOCTOPHYMOSISINADOG–CASEREPORT

DAL‐BÓ,Í.S.1811;BRUN,M.V.B.1;CHAGAS,J.A.B.1;SANTOS,F.R.1;FERRANTI,J.P.S.1;BORDIN,P.M.1;COLOMÉ,L.M.1

Palavras-chave: cirurgia renal, verme gigante renal, rim Key words: kidney surgery, gigant kidney worm, kidney Introdução

O parasitismo por Dioctophyma renale, também conhecido como verme gigante renal, tem sido descrito em várias espécies domésticas, silvestres e também no homem. No Brasil, já foi descrito em cães nas regiões sul, sudeste e norte1. O ciclo evolutivo desse nematódeo envolve um anelídeo oligoqueta (Lumbriculus variegatus) como seu único hospedeiro intermediário, o qual deve ingerir seus ovos contendo larvas. O hospedeiro definitivo infecta-se ingerindo os anelídeos ou hospedeiros paratêmicos infectados (peixes e rãs)2. Em geral, ocorre a colonização de apenas um dos rins do hospedeiro definitivo, sendo a ocorrência mais comum no rim direito, pela sua proximidade com o duodeno. O crescimento do parasito determina destruição progressiva do parênquima renal, muitas vezes preservando a cápsula renal, a qual abriga o verme e exsudato hemorrágico3. O presente trabalho relata a remoção de Dioctophyma renale por meio de nefrectomia videolaparoscópica em um cão. Relato de caso

Foi recebido no Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo (HV – UPF), um canino, SRD, macho, de um ano e seis meses de idade e 6,2kg. O histórico clínico apontou hiporexia e hematúria com dois meses de evolução, sendo tratada sem êxito com penicilina. Ao exame físico, apresentou mucosas pálidas, estado nutricional regular e abdominoalgia à palpação em região mesogástrica. Realizou-se avaliação hematológica e bioquímica (ALT, FA, albumina, uréia e creatinina), além de urinálise, ultrassonografia, radiografias abdominais simples e urografia excretora. As alterações encontradas foram: leve eosinofilia e dosagem de creatinina sérica de 1,6mg/dL. A urinálise teve como resultado urina de coloração amareloescuro, aspecto turvo, densidade baixa (1012), proteinúria (3+), presença de sangue oculto (3+), pH 6,5, aumento de celularidade (células escamosas, transicionais e caudatas), leucosúria (5 a 20 leucócitos/campo de 400x), hematúria (20 a 100 eritrócitos/campo de 400x) e presença de ovos de Dioctophyma renale (1 a 2 por campo). À ultrassonografia, constatou-se renomegalia direita, contorno renal irregular, cápsula renal delgada e pelve renal contendo estruturas semelhantes a anéis com paredes hiperecogênicas e hipoecogenicidade interna ao corte transversal. Longitudinalmente, as mesmas assemelhavam-se a fitas hiperecogênicas que se movimentavam. As demais estruturas observadas ao exame ultrassonográfico não apresentaram

181Universidade de Passo Fundo (UPF), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV), curso de Medicina Veterinária, Campus I, Passo Fundo – RS. [email protected]

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alterações. Para urografia excretora utilizou-se contraste iodado não iônico. Com essa avaliação foi possível observar ausência de filtração renal no lado direito. O paciente foi encaminhado ao bloco cirúrgico, onde foi pré-medicado com maleato de acepromazina (0,03mg.kg-1) e morfina (0,4mg.kg-1) por via IM. A indução foi realizada com diazepam (0,5mg.kg-1) e propofol (3mg.kg-1) via IV e a manutenção anestésica foi obtida com isofluorano vaporizado em oxigênio a 100% em sistema aberto (ventilação assistida), associado à infusão contínua de fentanil (20mcg.kg-1.min-1). Foi realizada anestesia epidural com lidocaína (5mg.kg-1) e morfina (0,1mg.kg-1). O animal foi posicionado em decúbito lateral esquerdo e a cavidade abdominal foi acessada a partir da introdução do primeiro trocarte (10mm) pelo método aberto, objetivando a passagem da óptica na parede abdominal direita. Instituiu-se insuflação da cavidade peritoneal com CO2 medicinal até alcançar a pressão de 12mmHg. O segundo e o terceiro trocartes (10 e 5mm) foram introduzidos pelo método fechado sob visibilização direta, formando uma triangulação. Realizou-se inspeção da cavidade peritoneal e identificação do rim acometido pelo parasitismo. O rim direito foi apreendido com uma pinça de Reddick-Olsen e os vasos renais foram dissecados utilizando-se pinça de Kelly e tesoura de Metzenbaum. Anteriormente à secção da artéria e veia renais, procedeu-se à aplicação de três clipes de titânio em cada uma dessas estruturas. O ureter foi isolado e ligado com dois clipes próximo à vesícula urinária. O rim foi então dissecado da fáscia renal e peritônio com a utilização de tesoura e coagulação monopolar. Posteriormente, o órgão foi colocado em saco cirúrgico para remoção de tecidos e retirado da cavidade abdominal através do acesso do segundo portal (ampliado em 2cm). Ao exame renal fora do campo operatório, observou-se a presença de um nematódeo (aproximadamente 50cm de comprimento), exsudato hemorrágico e destruição parcial do órgão. O pneumoperitônio foi desfeito e a celiorrafia foi realizada com poliglactina 910 2-0 em padrão Sultan. A redução do tecido subcutâneo foi feita com o mesmo fio em padrão simples contínuo. A síntese de pele foi realizada com náilon monofilamentar 4-0 em padrão simples contínuo. Como medicações pós-operatórias, foram utilizados cloridrato de tramadol (2mg.kg-1, TID, 3 dias), enrofloxacina (5mg.kg-1, BID, 10 dias), ampicilina (30mg.kg-1, QID, 10 dias) e meloxicam (0,1mg.kg-1, SID, 3 dias). O paciente recebeu alta hospitalar três dias após o procedimento cirúrgico e retornou ao hospital veterinário com dez dias de evolução pós-operatória para remoção da sutura de pele. Discussão

Geralmente o parasitismo por Dioctophyma renale é um achado incidental. A maioria dos cães acometidos pela dioctofimose em apenas um dos rins permanece assintomático, devido ao desenvolvimento de hipertrofia compensatória do rim contralateral1. O paciente do presente relato, entretanto, apresentava hematúria, algia abdominal e perda de peso progressiva, mesmo tendo apenas o rim direito parasitado. Nesse caso, o diagnóstico foi realizado primeiramente a partir da urinálise, mas os autores optaram pela realização de ultrassonografia abdominal e urografia excretora para se certificar da localização exata do nematódeo e da integridade da função renal contralateral. A exata localização do parasito determina a escolha da localização dos portais para videolaparoscopia, já que sua posição varia em função do órgão a ser manipulado. As maiores dificuldades encontradas durante o procedimento cirúrgico de devem à renomegalia, a qual dificultou a manipulação do órgão com o

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instrumental laparoscópico. Esse fato, contudo, não impossibilitou a realização do procedimento. Referências bibliográficas

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3. Brun MV. et al. (2002). Nefrectomia laparoscópica em cão parasitado por Dioctophyma renale – relato de caso. Arq. ciên. vet. zool. 5(1): 145-152.

REPARAÇÃO DE LESÕES INTERDIGITAIS EXPERIMENTAIS EM BOVINOS EMPREGANDO EXTRATO DE BARBATIMÃO A 5%

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REPAIROFEXPERIMENTALINTERDIGITALLESIONSINBOVINESUSING

EXTRACTOFSTRYPHNODENDRONBARBATIMANMARTIUS5 %

SILVA,J.A182.,MOURA,M.I183.,HELOU,J.B1.,DAMBROS,C.E.1.,FREITAS,S.L.R1.ABREU,M.P1.,SILVA,L.A.F184

Palavra chave: bovino, cicatrização, fitoterapia. Keywords: bovine, healing, phytoterapy

INTRODUÇÃO

Os bovinos hígidos apresentam a pele digital constituída pela derme envolvida por um denso arranjo celular, o estrato basal da epiderme1. A epiderme é formada essencialmente de um epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, apresentando várias camadas, a camada basal ou germinativa possuidora de intensa atividade mitótica, resultando em uma constante renovação1. O reparo tecidual constitui um conjunto dinâmico de alterações teciduais importantes na manutenção da integridade do organismo, envolvendo inflamação, quimiotaxia, proliferação celular, diferenciação e remodelação, angiogênese, maturação e reepitelização2, 3. A fitoterapia tem ganhado destaque na busca do controle de várias enfermidades que acometem os animais de produção, como a infestação por endo e ectoparasitas8. Já o extrato da casca do barbatimão é um fitoterápico com características cicatrizantes6,8. As propriedades farmacológicas mais conhecidas deste composto polifenólico são adstringente das mucosas e adjuvantes do processo cicatricial, anti-inflamatório de uso tópico, ação antidiarreica e antifúngica4,5,6. O objetivo desse estudo foi avaliar histologicamente a reparação tecidual de lesões interdigitais experimentalmente induzidas em bovinos, após tratar as feridas com extrato da casca do barbatimão (Stryphnodendron adstringens (Martius) Coville).

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido entre os meses de agosto de 2009 e junho de 2010 na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás, após apreciação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG, protocolado sob o número 149/08. Foram utilizados 24 bovinos mestiços (Zebu X Europeu) machos, com 12 meses de idade e média de 250 Kg de peso vivo, oriundos de diferentes 182 Alunos de Medicina Veterinária- Bolsista do CNPq-

183 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal- Bolsista CNPq- EV/UFG.

184 Professor de Cirurgia Animal EV/UFG

Campus II. Escola de Veterinária. Departamento de Patologia Clínica Cirurgica. CEP. 74001-970 Goiânia – Go. E-mail: [email protected].

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propriedades rurais. Os 24 animais totalizaram 96 unidades experimentais, que correspondem ao número de membros pélvicos e torácicos. Dividiram-se as unidades experimentais em grupos de acordo com o tipo de tratamento das lesões – solução de barbatimão e água, ambas em pedilúvio e de acordo com os dias das biópsias (Grupos GI e GII). Em GI as feridas foram tratadas com solução de barbatimão a 5% e em GII com água. Para melhor aproveitamento dos animais e aumento do número de unidades experimentais, cada animal fez parte dos dois grupos, sendo que os membros do lado direito foram tratados com solução de barbatimão (Grupo GI) e membros do lado esquerdo tratados com água (Grupo II). Em cada membro, no espaço interdigital induziu-se uma ferida, até a derme, com punch de um centímetro de diâmetro. Para tanto, previamente os animais foram submetidios a jejum total de 12 horas e, em seguida, sedados com 0,1mg a 0,2mg/Kg de cloridrato de xilazina, via intravenosa e anestesia local de Bier7 no membro a ser operado. Após a confecção das feridas, separou-se aleatoriamente os 24 bovinos em quatro subgrupos de seis animais. Todos os subgrupos receberam tratamento das feridas diariamente, com passagem em pedilúvio de canaleta, sendo de um lado solução de barbatimão a 5% e outro lado apenas água. Os bovinos permaneciam por 45 segundos com os dígitos emergidos nas soluções. A divisão em subgrupos fundamentou-se nos dias de colheita de material para exame histológico, que ocorreu no terceiro, sétimo, 14º e 21º apos a indução das feridas, correspondendo aos momentos M0, M1 ,M2 e M3, repectivamente. Os fragmentos colhidos eram fixados em formol tamponado a 10% por 24 horas, processados e incluídos em parafina. Os parâmetros analisados na coloração HE foram tecido de granulação, proliferação fibroblástica, neovascularização e reepitelização, classificados de acordo a intensidade em ausente, discreto, moderado e acentuado11. Os achados foram analisados descritivamente.

RESULTADOS

Na análise comparativa entre o tratamento com barbatimão e água, a variável infiltrado polimorfonuclear esteve presente em ambos os grupos nos primeiros dias de tratamento, porém diminuindo gradativamente nos animais tratados com barbatimão. Já a variável infiltrado mononuclear não esteve presente em nenhum momento de avaliação dos animais pertencentes ao GI, enquanto que, nos animais do GII, este achado iniciou-se a partir do sétimo dia de avaliação, ausentando-se aos 21 dias. Foi observada menor proliferação fibroblástica nas feridas dos animais que compuseram o GII em comparação àquelas do GI nos dias três e sete. Já no 21º dia de terapia os animais do GI apresentaram menor proliferação do que os bovinos do grupo que teve as feridas higienizadas com água (GII). O tecido de granulação esteve presente nas duas primeiras avaliações (3º e 7º dia) para ambos os grupos, mas do 14º para o 21º dia de avaliação houve diminuição progressiva desse achado até sua ausência total para o GI, no último dia de avaliação. A colagenização decorrente da síntese fibroblástica foi constatada no GI já no primeiro dia de avaliação, enquanto que em GII este processo ocorreu a partir do sétimo dia. No 14º dia de avaliação, em GI obteve escore acentuado para colagenização em uma unidade experimental, já em GII permaneceu com colagenização discreta e moderada. A reepitelização foi caracterizada por migração epitelial das bordas íntegras circunvizinhas em direção ao centro da lesão. Na visualização do tecido histológico em lâmina observou-se diferença de intensidade nos dias sete, 14º e 21º quando se comparou a variável

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reepitelização entre os grupos.

DISCUSSÃO

A seleção do coadjuvante do processo cicatricial Stryphnodendron dstringens (Martius) Coville, empregado neste estudo, fundamentou-se nas peculiaridades inerentes aos seus constituintes4,5,6,8. Ao realizar o exame histopatológico da pele colhida por meio das biopsias, verificou-se que os resultados obtidos nos dias três e sete foram condizentes como os achados descritos para a fase inflamatória do processo cicatricial6. Nesse caso, houve uma predominância de polimorfonucleares na fase inicial da cicatrização com sua posterior diminuição. Portanto, quando se comparou GI com GII, verificou-se que no primeiro ocorreu diminuição e desaparecimento mais precocemente do que no grupo GII. Assim, acredita-se que essa diminuição dos polimorfonucleares no grupo tratado com extrato da casca do barbatimão pode ser justificada pela eficácia do barbatimão como um ótimo agente adstringente das mucosas e adjuvantes do processo cicatricial5,6,8. A retração centrípeta da lesão iniciou-se no sétimo dia em GI, enquanto que em GII, apenas a partir do 14º dia. Essa retração foi caracterizada histopatologicamente pelo ínicio da reepitelização cutânea, com o processo passando para a fase proliferativa da cicatrização. Esses achados também coincidem com aumento de tecido de granulação, proliferação fibroblástica, neovascularização e colagenização, corroborando com os achados anteriormente descritos6. A reepitelização parcial foi caracterizada pela migração do epitélio das bordas íntegras das feridas em direção ao centro da lesão de acordo com resultado relatado6. Essa reepitelização foi classificada como ausente, parcial e total. O grupo GI apresentou antecipadamente processos de reepitelização parcial, chegando ao 21º dia com todas as feridas cicatrizadas. Já em GII, ao final do período de avaliação verificou-se apenas uma ferida totalmente cicatrizada. Esse achado comprova a propriedade do barbatimão com sua ação farmacológica, ou seja, cicatrizante de feridas e úlceras pela riqueza de taninos, corroborando com os achados relatados4,5,6,8.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que o uso do Stryphnodendron adstringens (Martius) Coville em pedilúvio para tratamento de lesões interdigitais apresentou características de remodelação cicatricial superiores às do grupo tratado com água.

REFERÊNCIAS

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ESTUDO RETROSPECTIVO DE 689 CASOS DE DOENÇAS OCULARES ATENDIDAS NO MUNICÍPIO DE UBERABA-MG

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ARETROSPECTIVESTUDYOF689CASESOFEYEDISEASECAREINTHECITYOFUBERABA,MG

SAMPAIO,R.L.185;LACERDA,M.S.1;REZENDE,R.S.1;REIS,F.M.M.186;PORT,A.C.M187.;CRUZ,R.L188.

RESUMO

O presente estudo teve o objetivo de verificar a prevalência das doenças oculares, determinando a espécie mais susceptível e a idade, sexo e raça mais predisponentes. Utilizou-se, para tanto, o registro dos atendimentos do serviço de oftalmologia veterinária do Hospital Veterinário de Uberaba, no período de junho de 2004 a dezembro de 2006, quando 689 exames foram realizados. As doenças foram avaliadas em relação à espécie, raça e idade. Verificou-se que a doença mais prevalente foi a ceratite ulcerativa, com 134 animais, representando 19,44% dos diagnósticos, seguida da catarata, com 97 casos (14,07%), e da ceratoconjuntivite seca, com 67 casos (9,72%). O cão foi a espécie mais prevalente, com 628 caos (91,14%). As fêmeas representaram 54% dos casos.

PALAVRAS CHAVE: oftalmologia veterinária, doenças oculares, epidemiologia

ABSTRACT

The present study had the objective to verify the ocular disorders prevalence, determining the more susceptible species, the racial, sexual and age predispositions. It was used, as research instrument, the data bank of Uberaba Veterinary Hospital, between the months of June of 2004 and December of 2006, while 689 exams were accomplished. The diseases were evaluated about the specie and sexual, race and age distribution. It was verified that the more prevalent disease was the ulcerative keratitis, with 134 animals, representing 19,44% of the exams, followed by the cataract, with 97 cases (14,07%) and the keratoconjuntivitis sicca with 67 (9,72%). The dog was the more prevalent specie, with 628 cases (91,14%). The females represented 54% of the exams.

KEY WORDS: veterinary ophthalmology, ocular disorders, epidemiology

185 Professor. Curso de Medicina Veterinária. Universidade de Uberaba–UNIUBE. Uberaba/ MG.

186 Médico veterinário autônomo.

187 Médica veterinária residente de Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais. Universidade de Uberaba–UNIUBE. Uberaba/ MG. E-mail: [email protected]

188 Médico veterinário residente de Anestesiologia. Universidade de Uberaba–UNIUBE. Uberaba/MG.

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INTRODUÇÃO A oftalmologia tem se destacado como importante especialidade da Medicina Veterinária. As recentes pesquisas, o desenvolvimento de instrumentos para o diagnóstico e o tratamento dos problemas oculares na veterinária têm estimulado profissionais a se especializarem nesta área, contribuindo para a reabilitação visual dos animais portadores das doenças do bulbo ocular e de seus anexos. O presente estudo tem como objetivo verificar a prevalência das doenças oculares que acometem os animais, determinando as espécies mais susceptíveis, as predisposições raciais, sexuais e a idade onde as mesmas se manifestam de forma mais prevalecente. Assim, pretende-se contribuir para a melhor compreensão destas doenças, permitindo estabelecer métodos de controle e orientação sobre a prevenção, diagnóstico e tratamento das mesmas.

O olho é indiscutivelmente o mais precioso e habilidoso órgão dos sentidos presente nos vertebrados. Além de ser estruturalmente complexo, o mecanismo da visão exige a participação conjunta de mecanismos físicos, químicos e biológicos para a realização de uma perfeita função visual. Desta forma, os raios luminosos incidentes na superfície ocular atravessam as lentes oculares pelo mecanismo de refração e são transformados em estímulos nervosos pela retina, sendo posteriormente codificados pelo sistema nervoso central e finalmente transformados em imagem. A sua homeostasia e, consequentemente, o seu perfeito funcionamento, levam à formação de imagem compatível com cada espécie, que em condições extremas pode definir a sobrevivência ou não dos indivíduos, bem como a sua qualidade de vida (Blogg, 1980; Slatter, 1990; Gelatt, 1999). O bulbo ocular pode ser considerado a unidade funcional do órgão da visão, que quando perfeitamente conectado ao sistema nervoso central culmina na formação da imagem. Além do bulbo, o olho é constituído por estruturas oculares anexas que desempenham diferentes e importantes funções relacionadas à defesa e adaptação da visão em condições adversas (Helper, 1989; Dyce et al., 1990).

Tanto o bulbo ocular quanto algumas de suas estruturas anexas estão contidos em uma cavidade cônica óssea denominada órbita. Esta é formada basicamente pelos ossos frontal, lacrimal, esfenóide, zigomático, palatino e maxilar, podendo existir algumas diferenças entre as espécies. A junção destes ossos forma uma fossa que separa o olho da cavidade craniana, circundando-o e protegendo-o de agentes externos, além de prover inúmeras rotas através de forames por onde passam os vasos sanguíneos e nervos envolvidos com a atividade visual. As particularidades existentes no aparelho visual das diversas espécies de vertebrados muitas vezes determinam o hábito destes animais, como por exemplo a melhor adaptação à visão noturna ou diurna (Chandler & Gillette, 1983; Schoenau & Pippi, 1993; Anderson, 1994).

O estudo do bulbo ocular e de suas estruturas anexas não só é importante para a compreensão dos mecanismos fisiológicos e patológicos inerentes a este privilegiado e importante órgão dos sentidos como também para o entendimento do comportamento e da ecologia de diversas espécies animais. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia utilizou como instrumento a base de dados do sistema de informatização do Hospital Veterinário de Uberaba, Minas Gerais. Realizou-se a

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pesquisa junto ao banco de dados eletrônico, através do diagnóstico das doenças, obtendo-se as fichas com todos os dados dos animais, entre os meses de junho de 2004 e dezembro de 2006, quando foram realizados 689 atendimentos, os quais foram analisados com relação ao diagnóstico da doença. As doenças foram então separadas e avaliadas quanto às espécies acometidas e a distribuição sexual, por raça e idade. Os dados foram submetidos à análise e apresentação na forma de percentagem, comparando cada item avaliado com o número total de atendimentos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise das informações fornecidas pelo banco de dados permitiu verificar que a doença mais prevalente foi a ceratite ulcerativa, a qual foi diagnosticada em 134 animais, representando 19,44% de todos os atendimentos, seguida da catarata, com um total de 97 casos (14,07%) e da ceratoconjuntivite seca com 67 animais (9,72%). Destacaram-se ainda o entrópio e o glaucoma, com 58 diagnósticos cada (8,41%), e as uveítes, com 53 animais acometidos (7,69%). A córnea foi a estrutura ocular mais afetada pelas doenças pesquisadas. Além da ceratite ulcerativa, a mesma apresentou dois casos de atrofia corneana, 27 casos de ceratite não ulcerativa, 24 casos de edema e 42 perfurações, totalizando 229 diagnósticos (33,23%). Os cães se destacaram como a espécie mais atendida, com 628 casos (91,14%), seguida dos bovinos com 32 e dos gatos com 22, representando, respectivamente, 4,69 e 3,19% do total de atendimentos. As fêmeas representaram 54% dos atendimentos e os machos 46%.

Como demonstrado, a superfície ocular foi a região mais acometida, visto que a mesma encontra-se na interface entre o bulbo ocular e o ambiente externo, estando portanto mais vulnerável à ação de inúmeros agentes traumáticos, o que corrobora o grande número de atendimentos relacionados à lesão da córnea (Lemp et al., 1970; Dice, 1980; Helper, 1989; Cordeiro & Krolow, 1999) .

A catarata se destacou como a segunda patologia mais prevalente e, de acordo com análise do prontuário dos pacientes, observou-se que a doença possui predisposição racial, visto que os Poodles representaram 27,5% dos atendimentos de catarata, seguidos dos cães mestiços, com 26,43% e dos animais da raça Coocker Spaniel, com 14,94 %. A idade também se mostrou fator de predisposição, visto que 50,56% dos animais acometidos estavam situados no intervalo entre 9 e 14 anos, como demonstrado por outros autores (Slatter, 1990; Schoenau & Pippi, 1993).

O glaucoma e a uveíte também apresentaram número expressivo de casos, estando ambos muitas vezes relacionados, visto que aproximadamente 35% dos casos de glaucomas foram classificados como secundários à manifestação de uveítes anteriores, como descrito por Gelatt, (1999).

CONCLUSÃO Com base nas informações obtidas mediante a análise epidemiológica dos dados, conclui-se que a oftalmologia veterinária é uma especialidade bastante representativa na clínica médica e cirúrgica, o que pode ser demonstrado pelo grande número de atendimentos. As doenças da superfície ocular são mais prevalentes, visto que as mesmas encontram-se mais expostas, o que justifica a

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grande casuística dos traumatismos atendidos na rotina da clínica oftalmológica veterinária.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990, p. 225 - 235. 7. GELATT, K.N. Veterinary Ophthalmology. Baltimore: Lippincott Williams &

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PREVALÊNCIA DAS NEOPLASIAS CANINAS, DIAGNOSTICADAS POR EXAME HISTOPATOLÓGICO, NA REGIÃO DE UBERABA

PREVALENCEOFCANINENEOPLASIA,DIAGNOSEDBYHISTOPATHOLOGYEXAM,INTHEREGIONOFUBERABA

SAMPAIO,R.L.189;COELHO;H.E.1;LACERDA,M.S.1;REZENDE,R.S1.;FARIA,J.L.M1;PORT,A.C.M190

RESUMO

As neoplasias são agregados celulares que se diferenciam dos tipos celulares originais, possuindo autonomia sobre o seu crescimento. Cada neoplasia apresenta um comportamento diferente. Sabe-se hoje que um mesmo tipo de tumor pode se manifestar de forma distinta em diferentes animais da mesma espécie. Estudos retrospectivos têm revelado um aumento na prevalência das neoplasias nos animais de companhia, o que, em parte, pode ser explicado pela maior longevidade observada nos últimos anos. Com o objetivo de contribuir para o melhor entendimento do comportamento das neoplasias na medicina veterinária, empreendeu-se este estudo, o qual consistiu no levantamento dos arquivos de exames histopatológicos do setor de Patologia Animal, do Hospital Veterinário de Uberaba, no período compreendido entre 11/02/2000 e 16/12/2005, durante o qual foram emitidos 581 resultados positivos para neoplasias em cães. Observou-se, através da análise dos dados, que o tecido mais predisposto foi o mamário, seguido do tecido cutâneo. O tumor misto mamário foi o tipo mais diagnosticado, seguido do adenocarcinoma e do adenoma, respectivamente. As fêmeas, portanto, foram mais acometidas, respondendo por 68,53 dos casos, contra 31,47% dos machos. Os cães sem raça definida foram os mais afetados, representando 51,50%, enquanto o Poodle foi a raça pura mais citada, com 9,91% dos casos. Conclui-se, com isto, que a oncologia veterinária merece destaque entre as atuais especialidades da área, visto que as neoplasias representam uma importante parcela dos problemas diagnosticados na clínica médica e cirúrgica dos cães.

PALAVRAS CHAVE: cães; neoplasia; histopatologia.

ABSTRACT

Neoplasias are “cell crowds” which differ from the original kinds because they have autonomy over their growth. Each neoplasia has a different behavior and, it is now known, that the same kind of tumor can differently be manifested in different animals from the same species. Retrospective studies have revealed an increase in the 189 Professor do Curso de Medicina Veterinária, Uniube, Uberaba-MG.

190 Médica Veterinária Residente, Universidade de Uberaba, Uniube, Uberaba-MG. E-mail: [email protected]

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prevalence of neoplasia in pets, which, in parts, can be explained by the greater longevity observed in the past few years. This study has been carried out aiming to achieve a broader understanding over neoplasia behavior in Veterinary Medicine. It consisted in a thorough research on histopathology exam files from the Animal Pathology Section, in Uberaba Veterinary Hospital, performed from 11/02/2000 to 16/12/2005. During this period, 581 results of such exams, pointed positive for canine neoplasia, and they showed through data analysis, that the mammary tissue presents a higher predisposition, followed by the skin tissue. The mammary mixed tumor was the most diagnosed kind, followed by “adenocarcinoma” and “adenoma”, respectively. Female dogs therefore, have been more affected, rating 68,53% of the cases, while affected male dogs represent 31,47% of the cases studied. Dogs with undefined breeds have been the most affected, amounting 51,50%, whereas Poodles have been the most quoted pure breed, responding for 9,91% of the cases. In conclusion, veterinary oncology deserves to be highlighted, once neoplasias represent an important share of the problems diagnosed in dog medical clinics and surgery.

KEY WORDS: dog, neoplasia, histopathology.

INTRODUÇÃO

As neoplasias são agregados celulares que se diferenciam dos tipos celulares originais, possuindo autonomia sobre o seu crescimento, o qual não mais depende de estímulos fisiológicos do organismo para a sua proliferação e diferenciação (CHRISTOPHER et al., 1994; HARTWELL & KASTAN, 1994; BARINAGA, 1998).

A variedade de tumores apresentada durante estudos retrospectivos de laudos de biópsia e resultado de citologias revela que a gênese dos tumores dos animais domésticos é bastante complexa, possuindo relações com estímulos intrínsecos e extrínsecos (FORREST et al., 1997; ROGERS, 1997; CORRÊA et al., 2006).

Em estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos de cães, BARROS et al., 2006, revelaram que 81% dos animais apresentavam apenas um nódulo na pele, enquanto que em 19% havia mais de um nódulo cutâneo. O estudo histopatológico revelou, ainda, que, em 93,1% dos casos estava presente apenas um tipo de tumor; em 5,8%, 2 tipos distintos de neoplasias; em 1,0%, foram diagnosticados 3 tipos tumorais distintos e, em 0,1%, 4 tipos tumorais não relacionados. Baseando-se nos achados deste estudo, os autores concluíram que o tecido cutâneo é um local com bastante predisposição para o aparecimento de tumores e que a região da cabeça é o sítio onde houve maior prevalência. Neste estudo, os tumores de origem mesenquimal superaram os de origem epitelial, os quais, por sua vez, superaram os de origem melanocítica.

DE NARDI et al., 2002, demonstraram, em estudo retrospectivo de 333 neoplasias, que as fêmeas são mais acometidas pela doença, representando 69,6% de todos os casos. A alta prevalência de tumores nas fêmeas em relação aos machos foi correlacionada com o elevado número de neoplasias mamárias, as quais representaram 45,64% do total de casos analisados. O mastocitoma foi o segundo tipo de tumor mais freqüente, com 11,7% dos casos, sendo que destes, 46,15% foram diagnosticados em cães da raça Boxer.

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BANDARRA et al., 1999, estudaram as características anatomoclínicas dos linfomas em cães da região de Botucatu, no estado de São Paulo, através da análise de material colhido de 34 cães portadores de linfoma maligno, dos quais 9 eram da raça Pastor-Alemão, 9 sem raça definida, 5 da raça Boxer, 3 da raça Dobermann e outros 8 cães, cada um de uma raça. De todos os animais avaliados, 68% eram machos. A idade variou de 1 a 13 anos, com média de 6,2 anos. No momento do diagnóstico, 32 animais apresentavam-se nos estádios clínicos III, IV ou V. Apenas dois foram enquadrados no estádio II. A forma anatômica mais freqüente foi a multicêntrica, diagnosticada em 31 animais. A forma tímica foi diagnosticada em dois animais, enquanto que a digestiva foi descrita em apenas um animal. Os resultados permitiram concluir que os linfomas são neoplasias mais encontradas em raças de cães de grande porte, machos, com idade acima de seis anos. A forma anatômica multicêntrica ocorreu na maioria dos linfomas e o diagnóstico tardio da doença dificultou o tratamento, resultando em estimativa de sobrevida de dois a seis meses para os animais não tratados.

Na comparação entre espécies, os tumores testiculares apresentam-se mais freqüentemente nos cães, sendo raros em outros animais. Os tipos mais freqüentes podem ser divididos em 2 grupos: tumores de células germinativas, onde se incluem os seminomas, carcinomas embrionários e teratomas e tumores das células espermáticas, representados pelos tumores das células de Sertoli e tumores das células de Leydig (GETZY et al, 1997; ROGERS, 1997; RIBEIRO et al., 2000).

Com relação aos tumores dos tecidos duros, o tipo mais comum é o osteossarcoma, o qual normalmente surge do periósteo dos ossos longos e responde por 80% dos tumores diagnosticados nos ossos e cartilagens. Segundo levantamento realizado por ANDERSON, 1996, os sarcomas ósseos representam entre 2 e 7% de todos as neoplasias diagnosticadas nos cães; porém, o prognóstico normalmente é desfavorável, pelo alto índice de metástase presente no momento do diagnóstico do tumor primário. A etiologia destes tumores ainda não é bem conhecida, mas a incidência é significativamente maior em animais de raças gigantes e o local mais freqüente de aparecimento são as extremidades de ossos longos, sendo que o terço distal do rádio encontra-se afetado em 23% dos casos e o terço proximal do úmero em 18,5%.

Tendo em vista a crescente prevalência de neoplasias nos cães, realizou-se este estudo retrospectivo, com os seguintes objetivos: a) Estabelecer o número total de neoplasias diagnosticadas através de exame histopatológico pelo setor de Patologia Animal, do Hospital Veterinário de Uberaba, no período de 11/02/2000 a 16/12/2005; b) Relacionar os resultados obtidos através da análise histopatológica com o sexo, idade e localização topográfica no animal; c) Promover um melhor entendimento sobre o comportamento das neoplasias, estimulando o estudo da oncologia veterinária, com o objetivo de diminuir o impacto dos tumores sobre a qualidade de vida dos animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a consolidação desta proposta de trabalho, foram revistos todos os diagnósticos de biópsia de cães, realizados pelo setor de Patologia Animal, do Hospital Veterinário de Uberaba, num período de 5 anos. Para tanto, pesquisou-se os

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dados dos animais e os respectivos laudos das análises histopatológicas registradas nos arquivos do setor.

Todos os registros de biópsia de cães foram transportados para uma tabela, aonde foram organizadas as seguintes informações: raça, sexo, idade, região topográfica de colheita do material e diagnóstico histopatológico.

Após a organização das informações obtidas, realizou-se o cruzamento dos dados, com o objetivo de se conhecer o perfil dos animais que apresentam neoplasia, associando os resultados dos exames histopatológicos com a predisposição racial, sexual, topográfica e a faixa etária mais acometida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo retrospectivo dos resultados das biópsias de cães revelou que, no período pesquisado, foram recebidas 581 amostras, provenientes de 563 cães com diagnóstico de neoplasia.

Observou-se durante o período pesquisado o registro de 44 tipos neoplásicos distintos. Os principais tumores diagnosticados foram aqueles provenientes de nódulos presentes nos tecidos mamário e cutâneo. O tumor misto mamário foi o tipo mais freqüentemente diagnosticado, representando 16,70% do total, com um número absoluto de 97 registros, seguido do adenocarcinoma, com 62 registros (10,67%) e do adenoma, com 46 registros (7,92%). De acordo com os registros pesquisados, 52% dos adenomas estavam localizados no tecido mamário; 29,16% no tecido cutâneo; 16,6% na glândula perineal e, em 2,08%, o material foi colhido de uma cadela sem raça definida, de 14 anos de idade, a qual apresentou adenoma distribuído pelo fígado, baço e rins. Com relação aos adenocarcinomas, a mama foi o tecido com maior prevalência, respondendo por 69,8%. Os adenocarcinomas da glândula perineal e do tecido cutâneo foram responsáveis, cada um, por 11,11% de diagnósticos, seguidos do ovário e intestino, com 3,17%, e da próstata, com 1,58%.

Ao comparar os resultados desta pesquisa com aqueles encontrados por DE NARDI et al., 2002, observou-se que os adenomas e adenocarcinomas são os tipos mais freqüentes, respondendo, respectivamente por 19,81% e 12,01% dos casos. Ainda na classificação destes autores, os tumores mistos mamários foram divididos em 2 grupos, representados pelos carcinossarcoma ou tumores mistos malignos da mama, responsáveis por 11,41% dos diagnósticos e pelos fibroadenomas ou tumores mistos benignos da mama, com 2,4%. Somados, os tumores mistos representam 13,81%.

A interpretação das informações desta pesquisa é semelhante à realizada por BARROS et al., 2006, os quais revelaram que os adenomas e os adenocarcinomas eram os tipos mais diagnosticados, representando 11,58%; e que o mastocitoma foi responsável pela maior prevalência das neoplasias cutâneas, com 20,9%.

Porém, na pesquisa de que se trata este artigo, quando foram analisadas as biópsias de todos os tecidos, o mastocitoma representou 7,2% de todos os resultados de biópsias, resultado semelhante ao comentado por GRIER et al., 1995.

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Observou-se que a população de cães mestiços, também conhecidos como sem raça definida, foi mais frequentemente acometida pelo câncer, com 51,69% dos casos, o que se explica pela maior freqüência destes animais durante o atendimento de rotina no Hospital Veterinário de Uberaba. Das raças puras, o Poodle foi o mais citado, com 9,95 %, seguido do Pastor Alemão, com 4,62 %.

As fêmeas foram mais acometidas, fato este já previsto durante a análise dos tecidos e tipos de tumores mais freqüentes, quando observou-se que o tecido mamário foi o sítio mais citado e que o tumor misto mamário o mais freqüentemente diagnosticado. Assim, as fêmeas responderam por 68,53% dos casos, enquanto que os machos, responderam por 31,47%.

Com relação à idade dos animais no momento do diagnóstico, observou-se, que a distribuição se dá na forma de uma pirâmide, onde os extremos, representados pelos animais mais jovens e por aqueles mais velhos, apresentam uma menor proporção de casos. Verificou-se um crescimento progressivo no número de diagnósticos a partir do 5º ano, com algumas pequenas variações aos 7 e 9 anos, e que o pico de manifestação se dá aos 10 anos de idade, como descrito por outros autores.

CONCLUSÃO

O presente estudo epidemiológico revelou que o tumor mamário é o principal tipo diagnosticado na espécie canina e, desta forma, torna a fêmea o sexo mais predisposto ao aparecimento de neoplasias. Os tumores cutâneos são o segundo tipo mais comum e a idade mais prevalente se concentra aos 10 anos de vida.

REFERÊNCIAS

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OSTEOSSARCOMA EXTRAESQUELÉTICO CANINO – RELATO DE CASO

CANINEEXTRASKELETALOSTEOSARCOMA–ACASEREPORT

TORRES,L.S191;BAIOTTO,G.C.192,BARROS,S.V.S.G.2,SANTOS,M.G.D.P.193

RESUMO

O osteossarcoma é a neoplasia óssea mais comum dentre os pequenos animais e é extremamente agressiva. Pode-se desenvolver tanto no sistema esquelético quanto em sítios extraesqueléticos. Osteossarcomas extraesqueléticos são raros, mas já foram descritos no tecido mamário, tecido subcutâneo, baço, intestino, fígado, rins, testículos, vagina, olho, glândula adrenal, salivar e meninges. O prognóstico associado ao osteossarcoma é reservado devido ao seu comportamento extremamente maligno e o tratamento indicado é o cirúrgico com amplas margens e tratamento adjuvante com radioterapia ou quimioterapia. O objetivo deste trabalho é relatar um caso de osteossarcoma extraesquelético em tecido mamário canino.

Palavras chave: osteossarcoma, canino, extraesquelético.

ABSTRACT

Osteosarcoma is the most common bone neoplasia in small animals and it´s extremely agressive. It´s encountered on the skeletal system or in extraskeletal sites. Extraskeletal osteosarcomas are rare, however, they have been discribed on the mammary gland, subcutaneous tissue, spleen, bowel, liver, kidneys, testis, vagina, eye, adrenal gland, salivary gland, and meninges. The prognostic associated is poor due to its extremely malignant behavior. The treatment of choice is surgery with wide margins and adjuvant treatment with radiotherapy or chemotherapy. The purpose of this study is report a case of extraskeletal osteosarcoma in the canine mammary gland.

Key words: canine, extraskeletal, chondrosarcoma.

191 Médica veterinária, residente Clínica Cirúrgica e Anestesiologia Veterinária, UVV. Endereço para contato: Rua Curupaiti, 465, Monte Alegre, Ribeirão Preto, SP, 14051-100. [email protected], (16) 8192-5760.

192 Médico(a) veterinário, mestre, professor(a) Patologia Cirúrgica, UVV.

193 Aluna graduação, UVV.

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JornalBrasileirodeCiênciaAnimal–JBCA,v.3,n.6,suplemento,2010.

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Introdução

O osteossarcoma é uma neoplasia maligna mesenquimal, na qual as células do tumor produzem matriz osteoide e são extremamente agressivas (1). O osteossarcoma é a neoplasia óssea mais comum dentre os pequenos animais, chegando a 85% de todas as neoplasias malignas originadas no esqueleto apendicular (2). O osteossarcoma pode se desenvolver primariamente, tanto no sistema esquelético quanto em sítios extraesqueléticos. Osteossarcomas extraesqueléticos são raros, mas já foram descritos no tecido mamário, tecido subcutâneo, baço, intestino, fígado, rins, testículos, vagina, olho, glândula adrenal, salivar e meninges (3, 4, 5, 6, 7, 8, 9).

Os osteossarcomas de tecidos moles ocorrem em cães idosos, mas sem predileção sexual, sendo que beagles e rottweilers têm maior predisposição. Os osteossarcomas de glândulas mamárias ocorrem em fêmeas idosas, sem raça definida, pastores alemães e poodles. O tempo de vida médio para cães com osteossarcoma mamário é de 90 dias, e a causa principal do óbito são as metástases pulmonares (62.5% dos casos) (6). Em cães, os tumores mistos malignos comumente podem produzir osteoide e condroide, no entanto estes diferem dos osteossarcomas e condrossarcomas estraesqueléticos porque possuem origem histológica bimodal (4).

O prognóstico associado ao osteossarcoma é reservado, devido ao seu comportamento extremamente maligno (5). A expectativa de vida após o diagnóstico é de três meses a um ano, sendo que menos de 20% dos cães estão vivos após dois anos mesmo quando tratados, já que quase 90% dos animais sofrem metástase pulmonar (10). O tratamento de escolha é exérese cirúrgica, buscando amplas margens e posteriormente tratamento adjuvante com radioterapia, quando disponível, ou quimioterapia, comumente usando carboplatina, cisplatina ou doxorrubicina (2, 10). Os pacientes que foram tratados com quimioterapia têm 3,6 menos chances de vir a óbito devido a complicações tumorais do que os que não tiveram tratamento (5).

O objetivo deste trabalho é relatar um caso de osteossarcoma extraesquelético em tecido mamário canino.

Metodologia

Foi atendida no Hospital Veterinário “Professor Ricardo Alexandre Hippler” do Centro Universitário Vila Velha (UVV) uma cadela sem raça definida, com 14 anos de idade e histórico de emagrecimento progressivo e prostração. Ao exame físico evidenciaram-se três nódulos em cadeia mamária direita medindo 2x2cm, 5x3cm e 20x12cm. Este último encontrava-se ulcerado, quente, aderido e de consistência firme. Segundo o proprietário, os nódulos apareceram há mais de cinco anos e tiveram crescimento lento, com crescimento mais rápido nos últimos seis meses.

Resultados

A paciente possuía sopro cardíaco sistólico grau III e não apresentou alterações ao hemograma e exames de bioquímica sérica. O exame radiográfico mostrou

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ausência de alterações cardíacas ou sinais compatíveis com metástases, não sendo possível descartar a presença de micrometástases (<0,5cm). Após avaliação eletrocardiográfica (sem alterações) e avaliação do risco cirúrgico, a paciente foi encaminhada para mastectomia radical unilateral direita e ovário-histerectomia. O tratamento pós-operatório foi realizado com enrofloxacina 5mg/kg, a cada 12 horas por sete dias, cloridrato de tramadol 4mg/kg a cada 12 horas por quatro dias e dipirona sódica 25mg/kg a cada oito horas por quatro dias, juntamente com limpeza da ferida cutânea. Houve cicatrização sem complicações e os pontos foram removidos com dez dias.

O exame histopatológico revelou um osteossarcoma mamário em um dos nódulos com proliferação tumoral desorganizada contituída por duas populações celulares distintas. A primeira constituída por células semelhantes a osteoblastos, com citoplasma eosinofílico com bordos angulares, núcleos hipercromáticos, afilados, excêntricos. A segunda constituída por células com citoplasma escasso, núcleos grandes arredondados e nucléolos evidentes. Foram encontradas com frequência células gigantes com múltiplos e grande quantidade de material eosinofílico (osteóide) sem organização trabecular.

Os outros nódulos consistiam em tumores mistos malignos possuindo hiperplasia lobular, massa tumoral constituída por grupamentos de células epitelioides organizadas eventualmente em túbulos, exibindo alto pleiomorfismo e focos de diferenciação cartilaginosa.

Foi indicada quimioterapia adjuvante, no entanto o proprietário recusou. Nos meses subseqüentes, a paciente apresentou piora clínica, com prostração, hiporexia, emagrecimento e veio a óbito quatro meses após o procedimento cirúrgico.

Discussão

O osteossarcoma é uma neoplasia maligna altamente invasiva e geralmente sua localização extraesquelética diminui a espectativa de vida do paciente (6), sendo recomendado o tratamento quimioterápico adjuvante (5), que não foi realizado neste caso pela recusa do proprietário.

O osteossarcoma é uma neoplasia altamente metastática, afetando pulmões, ossos distantes e linfonodos regionais (10). E esta neoplasia relatada teve características de malignidade, como infiltração de tecidos adjacentes, ulceração e, apesar de não visíveis aos exames radiográficos pré-cirúrgicos, não é possível excluir micrometástases. A paciente deste relato piorou seu estado geral e pode ter sido acometida por estas metástases distantes, mas infelizmente não foi feito acompanhamento radiográfico antes do óbito.

Conclusão

O osteossarcoma é uma neoplasia agressiva que deve ser tratada com cirurgia abrangendo margens amplas e tratamento adjuvante, sendo a radioterapia a melhor escolha e quimioterapia a segunda melhor escolha, esta não sendo totalmente eficaz.

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O estadiamento é importante para estabelecer um prognóstico e possibilidades de tratamento de acordo com a invasão tumoral.

O prognóstico para este tipo de neoplasia é reservado, mesmo com tratamento cirúrgico e quimioterapia adjuvante, portanto em animais em que não é feito o tratamento adequado em tempo hábil não é possível prever o tempo de sobrevida. Neste caso a remoção cirúrgica não foi suficiente como tratamento e o animal veio a óbito. O tratamento cirúrgico realizado foi de caráter paliativo para alívio dos sintomas e melhora da qualidade de vida da paciente.

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PROTEÍNA C REATIVA COMO FATOR DIAGNÓSTICO E PROGNÓSTICO EM CADELAS COM E SEM PIOMETRA SUBMETIDAS À

OVÁRIOSSALPINGO-HISTERECTOMIA C‐REACTIVEPROTEINASDIAGNOSTICANDPROGNOSTICFACTORINBITCHESWITH

PYOMETRAANDWITHOUTUNDERGOINGOVARIOHYSTERECTOMY

CAMPOS,W.N.S194;RUIZ,T195;DAHROUG,M.A.A196;JORGE, A.A1;FIGUEIREDO,L.Z.P1

MENDONÇA,A.J197;SOUZA,R.L4.

Palavras-chave: Piometra, Cadelas, Proteína C reativa.

Key-words: Pyometra, Bitches, C-reactive protein.

Introdução

A piometra em cadelas é uma patologia rotineira que ocorre geralmente na fase luteínica do ciclo estral, podendo levar a complicações sistêmicas3. O organismo animal, diante de infecções microbianas, lesões teciduais, reações imunológicas e processos inflamatórios, com o objetivo de eliminar o agente infeccioso e/ou auxiliar no reparo tecidual, desenvolve um conjunto de alterações denominado “Resposta de Fase Aguda”. Esta resposta induz a reações locais e sistêmicas, envolvendo mudanças nas funções metabólicas, endócrinas, imunológicas e alterações nos níveis de algumas proteínas plasmáticas produzidas no fígado que têm sua síntese diminuída ou aumentada durante a resposta inflamatória2. A proteína C reativa (PCR) é uma ferramenta útil na avaliação de algumas doenças agudas, tais como artrite reumatoide, pancreatite aguda e pneumonias6, podendo ser utilizada como exame complementar no diagnóstico, por ser um indicador altamente sensível e apresentar um aumento na concentração plasmática em processos inflamatórios e destruição tissular9. Objetivou-se com este trabalho avaliar os níveis séricos da proteína C reativa, bem como comparar sua concentração nos momentos pré e pós-cirúrgico, além de monitorar e comparar a evolução e a resposta terapêutica em cadelas com e sem piometra submetidas à ovariossalpingo-histerectomia (OSH).

Metodologia Foram utilizadas 37 cadelas atendidas no Hospital Veterinário da

Universidade Federal de Mato Grosso (Hovet-UFMT), distribuídas em dois grupos: grupo 1, animais com piometra (n=24), e grupo 2, animais sem piometra (n= 13). 194 Mestrado, Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Medicina Veterinária (FAMEV), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Email: [email protected].

195 Residente de Clínica cirúrgica, UFMT.

196 Programa de pesquisa clínica em doenças infecciosas, doutoranda, IPEC-FIOCRUZ.

197 Professor adjunto, Departamento de Clínica Médica Veterinária, FAMEV-UFMT.

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Todos os animais foram submetidos previamente a consulta, exame clínico detalhado, exames bioquímicos para avaliação renal e hepática e posteriormente foram submetidos ao procedimento cirúrgico de OSH, sendo que amostras de sangue foram obtidas nos três seguintes períodos: antes da cirurgia (PI), 24 horas após (PII) e sete dias após a intervenção cirúrgica (PIII). No grupo 2, foram descartados do estudo os animais que apresentassem quaisquer alterações nos exames. A dosagem da PCR foi feita pela técnica da aglutinação em látex com o uso de “kit comercial” PCRTest - doles®. Para realização da técnica, os soros foram diluídos seriadamente, até que a aglutinação não fosse mais evidenciada visualmente, comparando-se com o controle positivo. O resultado em mg/L foi obtido multiplicando-se por seis o fator da última diluição cuja aglutinação ocorreu, conforme instruções do fabricante. Os resultados dos exames foram avaliados e as cadelas que se apresentaram azotêmicas (aumento de ureia e creatinina séricas), hipovolêmicas e com indício de sepse foram submetidas à terapia corretiva prévia de quatro a seis horas antes do procedimento cirúrgico e mantidas por sete dias após a cirurgia. As variáveis foram avaliadas pela Anova (Análise de variância) não paramétrica, seguida do teste de Wilcoxon para comparação entre os diferentes tempos e grupos. As diferenças foram consideradas significativas quando P<0,05. Os dados foram analisados por meio do programa computacional Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG).

Resultados Observou-se no grupo 1 que houve diferença significativa da PCR entre o PI e

o PIII e entre o PII e PIII. No grupo 2, os valores mostraram aumento da média entre o PI e PII, embora não significativa. Entretanto, no PIII, houve queda significativa nos valores da PCR em comparação a PII. A concentração da PCR nos animais com piometra em comparação aos do grupo controle foi estatisticamente significativa (p≤0,05) em todos os períodos analisados. Importante destacar neste estudo que 100% dos animais com piometra apresentaram aumento da concentração sérica da PCR no PI, com média de 128,5 mg/dL, aproximadamente 20vezes o seu valor basal. Já no grupo 2, a média foi de apenas 4,15 no mesmo período especificado. Sendo que em PII, a média do grupo 1 foi de 146,5. Entretanto no PIII, houve expressiva queda com média de 37,76. Houve diferença significativa (p<0,05) nos três períodos de evolução clínica da doença. Fato não ocorrido nos animais do grupo 2 (p>0,05). Verificou-se, que os valores médios da PCR foram maiores para o grupo de animais com piometra em relação aos que não apresentavam tal condição clínica.

Discussão Com base no estudo realizado, um aspecto importante a ser considerado é a

resposta inflamatória, que está presente em infecções graves e processos inflamatórios que produzem ou liberam mediadores da inflamação podendo causar alterações sistêmicas4. O tratamento de escolha para piometra é a OSH, sendo que a terapia corretiva para deficiência de fluidos, acidose, sepse e melhora da função renal deve ser iniciada antes da cirurgia8. A PCR reflete ativação do sistema imunológico e pode ser usada para avaliar a saúde de animais1. Eckersall et al2 , em 1991, relataram em seus estudos que valores séricos da PCR em cães, baixos ou indetectáveis, são indicativos de ausência de processos patológicos. Esta observação corrobora com a verificada nos animais do grupo controle. A concentração sérica desta proteína nas

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cadelas com piometra foi quase 20 vezes maior quando comparada aos animais do grupo controle, entendendo-se que esta patologia define um quadro clínico grave e digno de atenção. Neste estudo houve aumento da concentração da PCR nas 24 horas após a cirurgia em animais de ambos os grupos, embora não tenha diferido significativamente. De acordo com Santos et al7, 2003, na recuperação cirúrgica a PCR aumenta nas primeiras quatro a seis horas, revelando picos séricos por volta das 48 a 72 horas do pós-operatório e, em cirurgias que cursam com evolução favorável, os níveis de PCR normalizam-se por volta do sétimo dia após o procedimento cirúrgico, o que corrobora com este estudo. Na vigência de complicações, os valores da PCR permanecem elevados. Poucos trabalhos relatam a associação da PCR com a piometra em cadelas1, e nenhum trabalho foi feito evidenciando a concentração deste marcador inflamatório antes e após o procedimento cirúrgico de OSH nas diferentes fases de evolução, como foi feito neste estudo. A análise laboratorial desse marcador, juntamente com os dados clínicos e exames complementares, permite avaliar a atividade de algumas doenças e monitorar a resposta terapêutica, bem como sugerir presença de infecção5.

Conclusão Análises da PCR podem ser recomendadas como exame coadjuvante para o

diagnóstico de cadelas com piometra, julgando-se pela facilidade e praticidade da realização do teste. Uma vez estabelecido o diagnóstico, determinações diárias de PCR podem ser valiosas para monitorar a evolução da doença.

Referências Bibliográficas

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Projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) da UFMT sob o protocolo nº 23108.019619 09-8.

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ESTUDO RETROSPECTIVO DOS CASOS DE ABDOMEN AGUDO EQUINO NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE GRANDES ANIMAIS - UNB/SEAPA, NO

PERÍODO DE 2001 A 2009

RETROSPECTIVESTUDYOFEQUINEACUTEABDOMENCASESATVETERINARYHOSPITALUNB/SEAPAFROM2001TO2009

SOUSA,K.E.1981;RAJÃO,M.D.1;FONSECA,F.A.1;VARANDA,L.F.O.1;XIMENES,F.H.B.1;TEIXEIRANETO,A.R.1;GODOY,R.F.1

Palavras-chave: Cavalo, Cólica, Laparotomia

Key words: Colic, Horse, Laparotomy

Introdução

Estudos de incidência de síndrome cólica e sua distribuição em relação às variáveis relativas ao equino e ao manejo constituem ferramenta de fundamental importância para o planejamento da saúde equina, uma vez que podem promover o melhor entendimento da etiologia, a adoção de intervenções mais adequadas e prevenção de novos casos. No entanto, no Brasil pouco se sabe sobre a síndrome cólica em nível populacional. Vários fatores têm sido apontados como fatores de risco para a cólica e, dentre eles, estão: quantidade e qualidade dos alimentos, idade e histórico de cólicas anteriores e de cirurgias abdominais. O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo retrospectivo dos casos de abdômen agudo equino do Hospital Veterinário de Grandes Animais da UnB/Seapa (Hvet-UnB), bem como avaliar possíveis fatores de risco associados à ocorrência de síndrome cólica, além de estabelecer a ocorrência dessa síndrome nos equinos atendidos no Hvet-UnB, no período de 2001 a 2009.

Metodologia

Foram analisados 190 prontuários clínicos de equinos atendidos no Hvet/UnB que apresentaram síndrome cólica, no período de 2001 a 2009. Os parâmetros analisados foram: sexo dos animais acometidos, idade, raça, casos recidivantes pós-cirurgia, estações do ano (estação seca e estação chuvosa), etiologia das cólicas, tipo de tratamento (clínico ou cirúrgico), desfecho dos casos e complicações pós-operatórias. Para análise de dados, foram calculadas as frequências absolutas e relativas das variáveis qualitativas e quantitativas. 198 Hospital Escola de Grandes Animais/ Universidade de Brasília (UnB). Galpão 04, Granja do Torto, CEP 70636-200, Brasília-DF. Autor para correspondência: [email protected]

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Resultados e Discussão

Neste período foram atendidos 1189 equinos. Deste total, 190 animais apresentaram síndrome cólica, representando uma prevalência de 15,98%. Essa percentagem foi superior à encontrada por White (1995), que foi da ordem de 10%. Foi constatado que do total de equinos machos (n= 690), 16,38% (n=133) apresentaram síndrome cólica, enquanto que do total de fêmeas atendidas (n=499) 15,43% apresentaram a síndrome, não havendo diferença significativa entre a ocorrência de cólica observada em diferentes sexos, o que corrobora com estudos da literatura. Em relação à idade dos animais estudados, a faixa etária com maior número de casos de síndrome cólica foi a de seis a dez anos, com 31,05% (n=59). Os animais com menos de dois anos representaram a menor parcela dos casos, 10,53% (n=20). Em 59 fichas clínicas analisadas (31,05%) não havia informações acerca da idade dos animais. A idade dos equinos também foi identificada como um fator de risco para ocorrência de síndrome cólica, de acordo com outros autores (LARANJEIRA et al., 2009; MEYER, 1995; PAGLIOSA et al., 2006). Dos 190 animais atendidos com síndrome cólica, 34,21% (n=65) eram mestiços, representando a maioria dos animais, seguidos das raças Mangalarga Marchador com 16,32% (n=31), Quarto de Milha 13,16% (n=25), Brasileiro de Hipismo 7,89% (n=15), Puro Sangue Inglês (PSI) 5,78% (n=11), Campolina 5,78% (n=11), Pônei 4,74% (n=9), Crioulo 4,21% (n=8), Puro Sangue Árabe (PSA) 3,16% (n=6), Mangalarga Paulista e Appaloosa com 1,05% (n=2) cada um e Anglo Árabe, Sela Francesa, Lusitano, Painthorse e Piquira com 0,53% (n=1) cada. No entanto não é correto afirmar que os equinos mestiços têm uma maior predisposição a desenvolverem um quadro de abdômen agudo, visto que no período estudado 50,13% (n=596) dos animais atendidos na totalidade dos casos eram mestiços. Dentre os 190 animais estudados, quatro tiveram recidiva após laparotomia, sendo que o tempo para ocorrência das recidivas variou de dois a quatro meses após a laparotomia. O resultado encontrado foi um pouco inferior ao que se pode encontrar na literatura, na qual é dito que um cavalo com histórico de cólica cirúrgica tem um risco cerca de cinco vezes maior de desenvolver um novo episódio de cólica, quando comparado a cavalos sem histórico de cirurgia abdominal. Essa divergência de resultados pode ser atribuída ao fato de que nem todos os animais atendidos com o diagnóstico de cólica retornaram ao Hvet-UnB quando diante de um novo episódio de cólica, podendo ter ocorrido o atendimento na propriedade por um veterinário particular ou mesmo o óbito do animal antes mesmo de um atendimento. Em relação às estações de seca e de chuva, a estação de seca contou com 51,20% (n=106) do total de casos (n=207) e a estação chuvosa com 48,80% (n=101). Considerando que a estação de seca no centro-oeste compreende o período de maio até outubro e o período chuvoso, de novembro a abril. Ainda há muitas controversas na literatura em relação a este dado, mas o que já se sabe é que a estação da seca afeta a qualidade do volumoso e tem sido associada com o aumento de cólica por compactação. Neste estudo, 60% (n=30) dos casos de compactação de colón maior foram evidenciados na estação seca. Dentre os casos de cólica diagnosticados, as afecções de cólon maior foram as mais expressivas, com 35,45% (n=78), seguidas das afecções gástricas com 21,36% (n=47), de um total de 220 afecções diagnosticadas. Além dos casos recidivantes (n=17), nove animais tiveram dois tipos de afecção e dois animais tiveram três tipos concomitantemente. A percentagem de 5% dos casos de cólica (n=11) não teve diagnóstico específico.

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Segundo alguns autores, geralmente os casos de cólica intestinal são menos frequentes e relacionados com a necessidade de cirurgia, principalmente as obstruções. Essas observações são contrárias às obtidas neste estudo, no qual 53,18% (n=117) foram afecções intestinais, sendo a compactação de cólon maior a mais frequente (35,45%, n=78). As afecções intestinais podem muitas vezes levar a complicações e são de difícil resolução na propriedade, necessitando de uma estrutura mais elaborada como a de um hospital. Esses fatores podem ter contribuído para que esse tipo de afecção fosse mais frequente no Hvet-UnB. Os achados do presente trabalho coincidem com os dados de Abutarbush et al. (2005), que observaram maior frequência de cólica de origem intestinal, sendo a compactação de cólon maior a afecção mais comum. Do total de casos de síndrome cólica (ntotal=207), 65,70% (n=136) foram submetidos a tratamento clínico e 33,82% (n=70) a tratamento cirúrgico. Na maioria dos casos atendidos no Hvet-UnB houve demora na busca pelo atendimento e grande parte dos animais apresentava sinais clínicos de cólica há pelo menos cinco dias. Esse tempo entre o inicio dos sinais e a busca pelo atendimento pode ter favorecido o agravamento de alguns casos, tornando-os de resolução cirúrgica. Dos casos submetidos a tratamento clínico, a grande maioria, 77,94% (n=106), obteve alta, 16,18% (n=22) foram a óbito e 4,41% (n=6) foram eutanasiados. A letalidade total (óbitos e eutanásias) observada nos casos de tratamento clínico foi de 20,59%. Em casos em que houve a necessidade de intervenção cirúrgica, 35,71% (n=25) obtiveram alta, 37,15% (n=26) foram a óbito e 25,71% (n=18) foram eutanasiados, devido principalmente a complicações cirúrgicas ou pós-cirúrgicas. A demora na busca pelo atendimento veterinário pode ser um agravante nos casos cirúrgicos, podendo ser responsável pelo grande número de óbitos e eutanásias em relação ao número de altas. A letalidade observada (óbitos e eutanásias) considerando os dois tipos de tratamento, clínico e cirúrgico, (n=207), foi de 34,78%. Altos percentuais de letalidade podem ser resultantes do fato de que os casos levados a um hospital escola normalmente já estão em estágios avançados, e as possíveis lesões no trato gastrointestinal já estão mais graves, o que pode favorecer a ocorrência de complicações durante e após o episódio de cólica. Dentre as complicações, as mais comumente observadas foram rupturas dos segmentos afetados (cólon maior, cólon menor, ceco, íleo e reto.

Conclusão

A síndrome cólica tem caráter multifatorial, sendo afetada tanto por fatores intrínsecos quanto extrínsecos. A compreensão da epidemiologia desta enfermidade é de grande relevância para o manejo do equino acometido por cólica, e os estudos a respeito dos fatores de risco associados à sua ocorrência devem ser continuados, a fim de proporcionar a possibilidade de intervenções mais eficazes.

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RUPTURA DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL EM CÃES: ESTUDO RETROSPECTIVO (2000 - 2010)

CRANIALCRUCIATELIGAMENTRUPTUREINDOGS:RETROSPECTIVESTUDY(2000–2010)

SILVA,F.S.B.199*;RAISER,A.G200;FESTUGATTO,R.2;VASCONCELLOS,J.S.P.2;LIBARDONI,R.N.2;LEMEJÚNIOR,P.T.O.2;DEGASPARI,R.2

Palavras-chave: joelho, cão, articulação, ruptura do ligamento cruzado cranial. Keywords: knee, dog, joint, cranial cruciate ligament rupture.

INTRODUÇÃO

As técnicas extracapsulares têm sido amplamente utilizadas para a reparação da ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) no cão, e a sutura fabelotibial tem se tornado uma das mais populares. Entretanto na literatura os dados a respeito das características da população portadora desta afecção são divergentes e podem variar de acordo com a população estudada. Em cães, a instabilidade do joelho decorrente da ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) é uma das mais frequentes causas de claudicação em membros pélvicos e dor na articulação1. A instabilidade articular também pode resultar em um processo degenerativo e este pode ocorrer de forma progressiva e precoce2. A ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC) tem sido identificada em todas as raças, idades e portes, entretanto sua ocorrência é descrita com maior frequência em cães jovens de raças de grande porte. A ocorrência da RLCC em cães pode-se apresentar sob duas formas: a primeira relacionada a uma alteração degenerativa do ligamento que ocorre de forma crônica, observada mais comumente em animais de pequeno e médio porte; a outra relacionada à ocorrência de um trauma agudo, geralmente associado à prática de exercícios ou de atividades mais intensas, que é observada em cães de grande porte. A ruptura ou laceração parcial é descrita como uma terceira forma de apresentação desta afecção3. A apresentação clínica da ruptura de LCC em cães varia conforme a etiologia do trauma. O diagnóstico da RLCC é realizado por meio de anamnese detalhada, avaliação criteriosa da marcha e exame físico do membro suspeito pelo teste de gaveta cranial. Este pode revelar o deslocamento craniocaudal da tíbia em relação ao fêmur. O teste de compressão tibial também pode ser realizado para o diagnóstico desta instabilidade articular. O diagnóstico da RLCC é confirmado se os resultados destes testes forem positivos4. Métodos complementares de diagnóstico também podem ser realizados, como o exame radiográfico da articulação, a ressonância 199 Programa de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), 97105-900, Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected]. *Autora para correspondência.

200 Departamento de Clínica de Pequenos Animais (DCPA), Centro de Ciências Rurais (CCR), UFSM, Santa Maria, RS, Brasil.

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magnética, a ultrassonografia, a análise do líquido sinovial e a artroscopia. A correção cirúrgica é recomendada para todos os casos de RLCC em cães, pois acelera a taxa de recuperação e potencializa o retorno a função. Existem mais de 100 técnicas descritas para a estabilização da articular do joelho que são divididas em duas grandes categorias: as extracapsulares e intracapsulares5. A técnica mais comumente utilizada é a sutura fabelotibial. Esta técnica extracapsular tem sido descrita para a correção de ruptura de LCC em cães de todos os portes como um procedimento de fácil execução e que apresenta alto grau de satisfação dos proprietários3. O presente estudo tem como objetivo caracterizar a população de cães portadores de RLCC submetidos à correção cirúrgica pela técnica de sutura fabelotibial e descrever os resultados obtidos na evolução pós-operatória. METODOLOGIA

Foram analisados os registros médicos de 21 cães com suspeita de RLCC atendidos no Hospital Veterinário Universitário (HVU) da UFSM no período entre janeiro de 2000 e abril de 2010. Estes animais apresentavam diagnóstico clínico de ruptura de ligamento cruzado cranial (RLCC) constatado pelo teste de gaveta cranial positivo, e que foram submetidos à correção cirúrgica do LCC pela técnica de sutura fabelotibial. Os dados obtidos de cada animal incluíram raça, idade, sexo, peso corporal e etiologia da RLCC. Os cães foram agrupados segundo o peso corporal entre 5,0 – 15kg; 15,1 – 35kg; 35,1 – 45kg e acima de 45kg. A etiologia foi classificada em traumática, quando da presença de trauma significativo (atropelamentos e quedas), e espontânea, quando ocorresse durante atividades corriqueiras do animal (caminhar, levantar). Foi avaliado também o intervalo entre o aparecimento dos sinais clínicos da RLCC e a correção cirúrgica (TSC). Todos os prontuários médicos foram pesquisados em relação à ocorrência de recidivas de RLCC no membro operado e/ou ocorrência de ruptura no ligamento contralateral posterior. Foi pesquisado também o histórico de ocorrência de patologias ortopédicas prévias, que pudessem interferir no quadro clínico dos animais. Na segunda etapa do estudo, os proprietários dos cães foram entrevistados por meio de telefonemas, aos quais foi solicitado que classificassem o resultado final do tratamento como satisfatório, parcialmente satisfatório e insatisfatório, segundo a função do membro durante a locomoção (ausência de claudicação, claudicação esporádica e claudicação constante, respectivamente). A terceira etapa desta pesquisa foi constituída da análise dos dados obtidos a partir dos prontuários médicos e das entrevistas com os proprietários. Os resultados obtidos nesta análise foram confrontados com os dados existentes na literatura.

RESULTADOS

Após análise dos prontuários médicos dos 21 animais que foram considerados aptos a participar deste estudo, observou-se a ocorrência de dez raças diferentes na população estudada. Os cães da raça Poodle representaram 23,8% dos animais estudados, os sem raça definida apresentaram o mesmo percentual de ocorrência. A raça Pit Bull ocorreu em 9,52% dos animais, assim como nas raças Rottweiler e Cocker, onde este percentual também foi observado. Os animais da raça Bulldogue Inglês representaram 4,76% da população estudada, assim como os da raça São

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Bernardo. Os animais das raças Cimarron, Chow-chow e Sharpei apresentaram apenas um animal cada um (4,76%). A maior prevalência foi de cães com peso corporal entre 15,1 e 35,1kg (44%) e entre 5,0 e 15kg (39%). Os cães com peso corporal acima de 45 kg apresentaram baixa ocorrência (5%) neste trabalho, assim como os cães entre 35,1 – 45 kg (12%). Na presente pesquisa, observou-se que as fêmeas (n=9; 42,85%) foram menos acometidas que os machos (n=12; 57,14%), e que 66,6% dos animais apresentaram RLCC de forma espontânea e 33,33% de origem traumática. Pode-se observar que a média de idade dos animais que apresentaram histórico de trauma foi de 4,2 anos, enquanto a idade média dos animais que apresentaram ruptura espontânea do LCC, foi de 5,3 anos. A idade média dos 21 cães avaliados (independente da etiologia) foi de 5,7 anos. O intervalo de tempo decorrido entre o aparecimento dos sinais clínicos e a correção cirúrgica da RLCC variou entre três e 90 dias, sendo que a média de tempo observada entre todos os animais foi de 19,5 dias. Quando se correlacionou o tempo de duração dos sinais clínicos ate a realização das intervenções cirúrgicas com o grau de recuperação dos animais, observou-se que o tempo médio no grupo com recuperação satisfatória foi de 18,3 dias e nos animais com recuperação considerada insatisfatória foi de 15 dias. Os resultados referentes à taxa de recidivas revelaram que apenas um animal necessitou ser submetido à nova estabilização cirúrgica articular, decorrente de um trauma no sétimo dia de pós-operatório. Ao se pesquisar o histórico de ocorrência de patologias ortopédicas prévias, constatou-se que um animal fora submetido à colocefalectomia no membro ipsilateral e outro apresentava displasia coxofemoral bilateral. A classificação do resultado final do tratamento revelou que o mesmo foi considerado satisfatório em aproximadamente 81% dos pacientes. Em 14,28% dos pacientes a recuperação foi considerada parcialmente satisfatória, e em menos de 5% a recuperação foi relatada como insatisfatória após a correção cirúrgica da RLCC. DISCUSSÃO

Corroborando com os achados deste estudo5 , a raça Poodle estava entre as raças mais acometidas pela RLCC. Citou-se2 que a RLCC ocorre com maior frequência em cães de grande porte, dado que não foi observado, pois os cães com peso corporal acima de 45 kg apresentaram baixa ocorrência (5%) neste trabalho. Já1 relatou que as fêmeas são mais acometidas pela RLCC em relação aos machos, entretanto na presente pesquisa observou-se que as fêmeas (n=9; 42,85%) foram menos acometidas que os machos (n=12; 57,14%). A idade média dos cães com RLCC espontânea foi superior à idade média dos cães com RLCC traumática, achados que se assemelham ao relatado por5 , que descreveram que as lesões de caráter traumático acometem cães em torno dos quatro anos. Já2 citou em seu estudo que a ruptura de LCC ocorre mais comumente em cães de meia idade, fato que pode ser observado neste estudo, onde a idade média dos 21 cães avaliados (independente da etiologia) foi de 5,7 anos. Acredita-se que o tempo médio para a correção cirúrgica não interferiu no resultado do tratamento, pois, como afirmaram4 , a progressão da doença degenerativa articular ocorre independentemente do tratamento realizado. Nos animais que apresentavam patologias ortopédicas preexistentes, acredita-se que as mesmas não interferiram em sua recuperação, que foi considerada satisfatória. Nenhum dos fatores descritos por1 contribuíram para a degeneração do LCC, estando relacionados às enfermidades coexistentes nos animais acima citados. Acredita-se que a técnica avaliada nesta pesquisa foi eficiente,

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tomando por base os resultados satisfatórios (81%) e o baixo grau de recidivas (5%), concordando com dado da literatura que citaram3 a técnica de sutura fabelotibial como um procedimento que obtém resultados bastante satisfatórios. CONCLUSÃO

Com a realização do presente estudo, pode-se concluir que, na população de cães estudada, a RLCC ocorre com maior frequência em machos das raças Poodle e sem raça definida, com idade média de 5,7 anos, com peso corporal entre 15 kg e 25 kg, e que em um número significativo de cães a ruptura não está relacionada com traumatismo. Pode-se concluir também que a técnica de sutura fabelotibial mostra-se efetiva para corrigir a ruptura do ligamento cruzado cranial de cães. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BARAÚNA JÚNIOR, D. et al. Técnica de interligação extracapsular fêmoro-fabelo-tibial na ruptura do ligamento cruzado cranial em cães: achados clínicos e radiográficos. Ciência Rural, v. 37, p. 769-776, 2007.

2. HULSE, D. A.; JOHNSON, A. L. Ruptura do ligamento cruzado cranial. In: FOSSUM, T. W. Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Roca, 2002. Cap. 30, p. 1058-1068.

3. JOHNSON, J.M.; JOHNSON, A.L. Cranial cruciate ligament rupture. Pathogenesis, diagnosis and postoperative rehabilitation. Vet Clin North Am: Small Anim Pract, v.23, n.4, p.717-733, 1993.

4. MOORE, K. W.; READ, R. A. Rupture of cranial cruciate ligament in dogs – part I. Comp Cont Educ Pract Vet, v.18, n.3, p.223-234, 1996.

5. MUZZI, L. A. L. et al. Ruptura do ligamento cruzado cranial em cães: fisiopatologia e diagnóstico. Clínica Vet, n. 46, p. 32-42, 2003.

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EMPREGO DO EXTRATO DA CASCA DO BARBATIMÃO NA CICATRIZAÇÃO DE LESÕES DE DERMATITE DIGITAL EM FÊMEAS

BOVINAS DE APTIDÃO LEITEIRA

E M P L O Y M E N T O F B A R K E X T R A C T B A R B A T I M A N

I N H E A L I N G O F L E S I O N S I N D I G I T A L

D E R M A T I T I S D A I R Y C O W S

FREITAS,S.L.R.201;MOURA,M.I.202;CAMPOS,S.B.S.203;SILVA,J.A.1;ABREU,M.P.1;DAMBROS,C.E.1;SILVA,L.A.F.3

PALAVRAS-CHAVE: Bovino, dermatite digital, barbatimão

KEY WORDS: Bovine, digital dermatitis, barbatiman INTRODUÇÃO

As doenças digitais comprometem o bem-estar dos animais e correm especialmente em rebanhos de aptidão leiteira manejados intensivamente, mais têm sido diagnosticadas com frequência em bovinos manejados extensivamente.

Estas enfermidades desencadeiam perdas na produção de carne e leite, além dos altos custos dos tratamentos. O tratamento de tais enfermidades é demorado e dispendioso, enquanto os produtos comerciais empregados, além de onerosos, geralmente deixam resíduos que podem acarretar danos à saúde dos animais e do homem, situação que vem motivando o emprego de produtos naturais para auxiliar à cicatrização. Dentre os produtos pesquisados, encontra-se o extrato da casca do barbatimão, que apresenta ação cicatrizante, adstringente, antidiabética, anti-inflamatória, anti-hemorrágica e antisséptica. No tratamento de enfermidades digitais dos bovinos1, obteve-se resultados satisfatórios empregando esse extrato. Embora tenham sido encontrado poucos trabalhos científicos na literatura escrita comprovando a ação do extrato do barbatimão como auxiliar da cicatrização(2; 1; 3) , 201 Acadêmico (a) de Medicina Veterinária, Escola de veterinária/UFG – Bolsista em iniciação científica – CNPq (Orientador) Campus II, Setor Samambaia, Goiânia – GO. CEP: 74001970 [email protected] 202 Doutoranda em Ciência Animal do Programa de Pós-graduação da Escola de Veterinária/UFG 203 Mestranda em Ciência Animal do Programa de Pós-graduação da Escola de Veterinária/UFG 4 Mestranda em Ciência Animal do Programa de Pós-graduação da Escola de Veterinária/UFG

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acredita-se que o tratamento cirúrgico associado à aplicação tópica desse fitoterápico e ao toalete dos estojos córneos possam ser eficazes no tratamento de lesões digitais dos bovinos. Sendo assim, objetivou-se neste estudo avaliar a ação tópica do extrato da casca do barbatimão nas formas de solução e unguento, associada ao tratamento cirúrgico e ao toalete dos estojos córneos digitais, saudáveis e doentes, na recuperação de lesões de dermatite digital em fêmeas bovinas de aptidão leiteira. METODOLOGIA

Foram empregadas nesse estudo 30 fêmeas bovinas de aptidão leiteira, em lactação ou sem bezerro ao pé, com dermatite digital, peso e idade variados. Os animais foram distribuídos em três grupos contendo dez bovinos cada um, (GI, GII e GIII), constituídos a partir do protocolo terapêutico adotado no pós-operatório. Nos bovinos distribuídos no grupo GI, pincelou-se na ferida cirúrgica extrato da casca de barbatimão (Extrato glicólico de barbatimão, Farmogral, Brasília-DF) e nos animais pertencentes ao grupo GII aplicou-se unguento (Unguento com extrato de barbatimão, Farmogral, Brasília-DF), ambos preparados a 20%. O grupo GIII não recebeu tratamento medicamentoso, mas as feridas cirúrgicas foram higienizadas em pedilúvio contendo água. O pós-operatório era realizado todos os dias. Em todos os bovinos realizou-se o toalete dos cascos saudáveis e doentes. Após remover as bandagens protetoras das feridas, no sétimo dia do pós-operatório os bovinos foram examinados, semanalmente, denominados momentos de avaliação (M1, M2, M3), totalizando três avaliações. Considerou-se como recuperado o animal que, ao término das avaliações, ou seja, 28 dias após realizar as intervenções cirúrgicas, não apresentava claudicação, recrudescimento do processo inflamatório, necrose e o processo de cicatrização tinha ocorrido em sua plenitude. Os dados não paramétricos como presença dos sinais e recuperação das lesões empregando extrato de barbatimão a 20% (grupo GI), unguento de barbatimão 20% (grupo GII) e grupo controle (grupo GIII) foram analisados descritivamente4.

RESULTADOS

Avaliando os diferentes tratamentos das feridas cirúrgicas aos sete dias após a retirada da bandagem (momento M1), um total de cinco animais foram recuperados. O extrato da casca do barbatimão (GI) recuperou três (60%) animais enquanto com o unguento (GII) a cura ocorreu em dois (40%) bovinos. Empregando apenas a água em pedilúvio (GIII), nenhum dos animais foi considerado com cura completa. Ainda considerando o momento M1, 25 animais não obtiveram sua recuperação, sendo que deste total, sete (28%) faziam parte do grupo GI, oito (32%) do grupo GII e dez (40%) do grupo controle GIII. Em M2, 14 dias após a remoção da bandagem, a aplicação do extrato da casca do barbatimão resultou na cura de sete (53,8%) animais, seguida de quatro (30,8%) animais recuperados após receber unguento como conduta pós-operatória. No grupo controle (GIII), dois (15,4%) animais tiveram a recuperação completa. No último momento de avaliação, ou seja, em M3 totalizaram 21 animais recuperados, sendo que nove (42,9%) pertenciam ao grupo GI, sete (33,3%) ao grupo GII e cinco (23,8%) ao grupo GIII ou grupo controle. Apenas nove animais no total não obtiveram sua recuperação, sendo que o grupo que mais apresentou animais não recuperados foi o controle (grupo GIII), totalizando cinco (55,5%) bovinos. O grupo GI teve apenas um (11,1%) animal não recuperado e no grupo GII três (33,3%) bovinos não se recuperaram. O grupo que recebeu o extrato da casca de barbatimão como

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tratamento pós-operatório obteve recuperação de seis (46,1%) animais a mais do que o grupo que recebeu ungüento, e estes 12 (71,4%) animais, quando comparados ao grupo controle, mostraram resultados satisfatórios do extrato de barbatimão como auxiliar da cicatrização de lesões de dermatite digital.

DISCUSSÃO

A evolução clínica satisfatória da cicatrização das lesões que receberam o extrato de barbatimão na forma de extrato ou unguento foi atribuída, em parte, à ação adstringente do tanino existente no extrato. Os taninos são responsáveis pela precipitação das proteínas do tecido lesado, formando um revestimento protetor que favorece a sua regeneração e ação antisséptica2. O barbatimão apresenta como constituintes químicos alcaloides, flavonoides, terpenos, estilbenos, esteroides, inibidores de proteases como a tripsina e taninos, sendo que a atividade farmacológica do barbatimão como cicatrizante se deve a esta riqueza destes compostos(5;6). Ficou evidenciado que apenas a água em pedilúvio não foi suficiente para recuperar as lesões nos bovinos do grupo GIII. O resultado satisfatório com o uso do extrato ou unguento de barbatimão reforça a necessidade de se utilizar sobre as lesões digitais decorrentes do tratamento cirúrgico da dermatite digital produtos com ação terapêutica. Embora o casqueamento preventivo seja o principal procedimento de manejo para ajustar as dimensões do estojo córneo digital e controlar doenças das unhas7 , é preciso associar ao procedimento o tratamento local das feridas. A utilização do extrato (GI) ou unguento de barbatimão (GII) antecipou a recuperação, possivelmente pela distribuição adequada do fitoterápico, resultando em maior contato do extrato da casca do barbatimão ou do unguento com a ferida cirúrgica, bem como devido as propriedades microbicidas e protetoras da ferida8.

CONCLUSÃO

O uso tópico do extrato da casca do barbatimão nas formas de solução e unguento, associado ao tratamento cirúrgico e ao toalete dos estojos córneos digitais, saudáveis e doentes, auxiliou na recuperação de lesões de dermatite digital em fêmeas bovinas de aptidão leiteira, sendo que a forma de solução antecipou a recuperação.

REFERÊNCIAS 1- MITIDIERO, A. M. A. Potencial do uso de homeopatia, bioterápicos e

fitoterápicos como opção na bovinocultura leiteira: avaliação dos aspectos sanitários e de produção. 2002. 119f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Centro de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Santa Catarina, FLORIANÓPOLIS.

2- EURIDES, D.; MAZZANTI, A.; BELLETI, M. E.; SILVA, L. A. F.; FIORAVANTI, M. C. S.; NETO, N. S. T.; CAMPOS, V. A.; LEMAR, R. C.; JÚNIOR, P. L. S. Morphological and morphometrical studies on tissue Repair of mice cutaneous wounds treated with Barbatiman aqueous solution (stryphynodendron Barbatiman martius)Revista da Faculdade de Zootecnia Veterinária e Agronomia de Uruguaína, v. 2/3, n. 1, p. 37-42, 1996.

3- SILVA, L. A. F.; GARCIA, A. M.; FRANCO, L. G.; ARAÚJO, I. F. L.; SOUZA, M. A.; SOUSA, J. N.; SEVERINO, S. R. Utilização do extrato da casca de barbatimão em cicatrização de feridas em éguas em comparação com outros

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tratamentos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 32, 2005. Uberlândia. Anais eletrônicos... [CD ROM], Uberlândia. 2005.

4- SAMPAIO, I.B.M. Estatística aplicada à experimentação animal. Belo Horizonte: Fundação de Ensino e Pesquisa em Medicina Veterinária, 1998. 221p.

5- VASCONCELOS, M. C. A; RODOVALHO, N. C. M.; POTT, V. J.; FERREIRA, A. M. T.; ARRUDA, A. L. A.; MARQUES, M. C. S.; CASTILHO, R. O.; BUENO, N. R. Evaluation of biological activities of the seeds of Stryphnodendron obovatum Benth. (Leguminosae)Revista Brasileira de Farmacognosia, São Paulo, v. 14, n. 1, p. 121-127, 2004.

6- OLIVEIRA, A.L.S. and FIGUEIREDO, A.D.L. Prospecção Fitoquímica das Folhas de Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (Leguminosae-Mimosoidae). Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 384-386, jul. 2007

7- MANSKE, T; HULTGREN, J.; BERGSTEN, C. The effect of claw trimming on the claw trimming on the hoof health of Swedish dairy cattle. Prev. Vet. Med, v. 54, p.113-129, 2002.

8- SOARES, S. P.; VILHOLIS, A. H. C.; CASEMIRO, L. A.; SILVA, M. L. A.; CUNHA, W. R.; MARTINS, C. H. G. Atividade antibacteriana do extrato hidroalcoólico bruto de Stryphnodendron adstringens sobre microorganismos da cárie dental. Revista Odonto Ciência, Porto Alegre, v.23, n.2, p.141-144, 200.

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EDEMA PULMONAR DE REEXPANSÃO (EPR) APÓS CORREÇÃO CIRÚRGICA DE HÉRNIA DIAFRAGMÁTICA PERITÔNEO PERICÁRDICA

EM CÃO: RELATO DE CASO REEXPANSIONPULMONARYEDEMA(RPE)AFTERSURGICALCORRECTIONOFCONGENITAL

DIAPHRAGMATICHERNIAPERICARDIALPERITONEUMDOG:CASEREPORT

HELOU, J.B204., OLIVEIRA, A.L.A205., SILVA, L.A.F1., RIBEIRO, S.N2., LUZ, M.J2., CAMPOS, S.B.C1., ABREU, M.P1

Palavra chave: cirurgia, má formação congênita, diafragma. Keyword: surgery, diaphragm, congenital malformation. INTRODUÇÃO Em felinos os defeitos diafragmáticos são comuns e apresentam maior ocorrência após traumatismo ou defeitos congênitos1. Dentre as afecções congênitas estão incluídas as hérnias diafragmáticas, peritoneopericárdicas, hiatais e pleuroperitoneais1,. Os sinais clínicos podem tornar-se aparentes em qualquer idade, mas comumente relacionam-se com alteração gastrintestinal e respiratória1,2,3. O diagnóstico é fundamentado nos sinais radiográficos, achados ultrassonográficos e cirúrgicos1,2,3. A correção deverá ocorrer logo após o diagnóstico, no intuito de evitar complicações graves como descompensação aguda e possível desenvolvimento de edema pulmonar de reexpansão no pós-operatório1. Embora o assunto já tenha sido discutido por vários pesquisadores1,2,3, alguns questionamentos ainda não foram totalmente esclarecidos. Outros aspectos como a variação entre protocolos cirúrgicos e complicações pós-operatórias também merecem ser analisados, em especial o edema pulmonar de reexpansão (EPR). Portanto, o objetivo do presente estudo é relatar os método de diagnóstico e o tratamento empregado na correção de um caso de hérnia peritoneopericárdica em um felino associado com edema pulmonar por reexpansão (EPR) no pós-operatório. METODOLOGIA Foi atendido no Hospital Veterinário (HV) da Universidade Estadual do Norte Fluminense, no setor de Cirurgia de Pequenos Animais, um animal da espécie felina, fêmea, castrada, dez meses de idade, da raça Persa, peso corporal de 2 kg e com histórico de dispneia, cianose e quadro de depressão há aproximadamente dez dias. Ao exame clínico, foram observadas mucosas cianóticas, taquipneia e dispneia, 204 Departamento de Cirurgia Animal, Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás (UFG) Estrada Goiânia Nova Veneza Km 0, Campus II, Setor Samambaia, Caixa Postal 131, CEP 74.001-970 Goiânia, GO, Brasil. E-mai: [email protected] 205 Departamento de Cirurgia, Escola de Veterinária, Universidade Estadual do Norte Fluminense “Darcy Ribeiro”.

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hipofenose das bulhas cardíacas, diminuição dos sons pulmonares, som maciço à percussão no nível mediotorácico do lado esquerdo e sem evidência clínica de trauma. Exames como hemograma e bioquímica sérica não apresentaram qualquer alteração relevante. Na sequência, o animal foi encaminhado para exame radiográfico, observando-se aumento de radiopacidade curvilínea distinta entre a silhueta cardíaca e o diafragma, aumento de tamanho do contorno cardíaco e indefinição da cúpula diafragmática. Após avaliação do quadro clínico, auscultação e fundamentação nos sinais radiográficos, confirmou-se o diagnóstico de hérnia diafragmática periotenopericárdica. A técnica cirúrgica empregada na correção seguiu as recomendações1 realizando-se a laparotomia mediana pré-retro-umbilical. Ao acessar a cavidade abdominal foi encontrado rotura do diafragma com herniação do lobo esquerdo do fígado para o interior do saco pericárdico. O fígado mostrava-se íntegro e foi reconduzido à cavidade abdominal. Os órgãos foram reposicionados anatomicamente e, o pericárdio e diafragma, suturados individualmente com fio de náilon nº 2.0, em padrão de sutura ponto simples separado. Após a aproximação do tecido subcutâneo e a redução do espaço morto com fio de náilon 3.0 em padrão de sutura Cushing, a dermorrafia foi realizada com ponto simples interrompido também empregando fio de náilon 3-0. A pressão negativa intratorácica foi restabelecida com um dispositivo intravenoso do tipo “butterfly” conectado a uma torneira de três vias e uma seringa de 20 ml. No pós-operatório imediato o animal demonstrou desconforto e na auscultação presença de estertores crepitantes difusos. Na radiografia revelou expansão parcial do pulmão, com opacidade predominando no lobo caudal direito, compatível com edema pulmonar de reexpansão (EPR). O protocolo adotado foi à administração de manitol a 20%, por via endovenosa e oxigênio nasal suplementar. O quadro clínico manteve-se estável e o animal evoluiu favoravelmente após o tratamento. RESULTADO E DISCUSSÃO

Na imagem radiográfica, a visualização da silhueta diafragmática íntegra apenas na porção dorsal do tórax e a indefinição na porção caudal do contorno cardíaco foram sinais sugestivos de HDPP. Estudos sobre ocorrência de HDDP em cães2, relataram dados radiográficos semelhante aos do presente relato. A técnica cirúrgica utilizada mostrou-se factível, rápida e eficaz, uma vez que o animal apresentou boa recuperação cirúrgica, após a resolução do EPR, sendo avaliado através de exame radiográfico do tórax1. Deve considerar como ponto favorável a recuperação do animal, o fato de apenas o lobo esquerdo do fígado fazer parte do conteúdo herniário e não apresentar sinais de desvitalização, favorecendo o prognóstico do paciente. Durante a reconstituição do diafragma e do saco pericárdico não houve necessidade de proceder à ressecção da porção distendida do mesmo, conforme relataram2. O sucesso da intervenção pode ser imputado também ao fio empregado, pois o náilon é um material de alta resistência tênsil e baixa reatividade tecidual, corroborando com os achados descritos1. As manifestações clínicas do edema pulmonar de reexpansão (EPR) surgiram imediatamente após o procedimento operatório, resultando grave insuficiência respiratória, tosse persistente, cianose, taquipnéia e presença de estertores pulmonares na auscultação. Ressalte-se que o exame radiográfico apresentou padrão pulmonar alveolar com opacidade predominando no lobo caudal direito, optando-se pela aplicação de manitol e oxigênio

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nasal suplementar. Alguns estudos preconizaram a realização do diagnóstico diferencial entre edema pulmonar cardiogênico, pneumonia, pneumonia de aspiração e estase no pulmão4. O diagnóstico do edema pulmonar de reexpansão é baseado no histórico, no quadro clínico e no exame radiográfico, fazendo parte do tratamento do EPR, oxigênio suplementar, suporte ventilatório, restrição hídrica, diuréticos e agentes inotrópicos4. Provavelmente, a recuperação do animal, esteve associada à capacidade do manitol de inativar as espécies reativas tóxicas do oxigênio, sobretudo o radical hidroxila, além de inibir a síntese de tromboxana B2, importantes mediadores na lesão inflamatória produzida pela reperfusão, conforme mencionado5. Durante a reoxigenação de pulmões cronicamente colabados libera radicais superóxido, que não podem ser removidos de forma eficaz, resultando em aumento da permeabilidade pulmonar e edema pulmonar1. Sabe-se, que o edema pulmonar por reexpansão (EPR), pode ocasionar grave hipoxemia, com danos nos pulmões e pode resultar na síndrome da angustia respiratória (SARA) e falência de múltiplos órgãos1. No presente caso, após iniciar a administração do diurético houve remissão dos sinais clínicos e a recuperação completa do animal ocorreu em dez dias. Embora no presente caso, a etiopatogenia da síndrome de edema pulmonar por reexpansão não tenha ficado esclarecida, alguns pesquisadores1,4,5, afirmaram que o problema pode ocorrer em alguns animais após grande pressão promovida no momento da recuperação da anestesia, ocasião que os pulmões colabados por longo período, durante a cirurgia são expandidos à sua capacidade normal. A técnica do cateter tipo “butterfly” acoplado a torneira de três vias utilizada para o restabelecimento da pressão negativa intratorácica não foi satisfatória para prevenção do EPR. Autores, que utilizaram esta mesma técnica não relataram complicações relacionadas6. Cabe ressaltar que o edema de reexpansão pode ocorrer, apesar dos cuidados e da aplicação de técnicas corretas, entretanto, com causa multifatorial. CONCLUSÃO O diagnóstico clínico e radiográfico de hérnia peritoneopericárdica em um felino possibilitou a adoção imediata do tratamento, sendo a recuperação satisfatória, apesar de apresentar edema pulmonar por reexpansão (EPR) como complicação pós-operatória. REFERÊNCIAS 1. Fossum WT et al. (2002). Cirurgia de Pequenos Animais. São Paulo: Ed. Roca Ltda., 1335p. 2. Cunha O et al. (2001). Peritoniopericardial hernia in a dog. Ciência Rural, 30: 899-902. 3. Hunt GB, Johnson KA. Diafragma, hérnia hiatal e pericárdio. In: Slatter D (2003). Textbook of Small Animal Surgery. 3. ed, Saunders: Ed. Philadelphia., 471-487. 4. Marsico GA et al. (2005). Reexpansion pulmonary edema. Pulmão, 15: 126-129. 5. Paterson IS, Klausner JM, Goldman G, (1989). Pulmonary edema after aneurysm surgery is modified by mannitol. Annals of Surgery, 210:796-801. 6. Bonfada AT (2005). Cirurgia torácica video assistida sem intubação seletiva com acesso modificado para sutura do esôfago caudal em cães. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 46p.

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OSTEOSSÍNTESE DE FRATURA METAFISÁRIA DISTAL EM BUGIO (ALOUATTA CARAYA) – RELATO DE CASO

OSTEOSYNTHESISOFDISTALMETAPHYSARYFRACTUREINHOWLERMONKEY(ALOUATTACARAYA)–CASEREPORT

ROCHA,A.G.206,OLIVEIRA,J.P.2072,KAWANAMI,A.E.2,MEDEIROS,R.M.1,GERING,A.P.1,CANDIOTO,C.G.2&WERTHER,K.2

Palavras-chave: fratura femoral, pino intramedular, bugio. Key words: femoral fracture, intramedulary pin, howler monkey. Introdução

O bugio, gênero Alouatta, apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo desde o México até o sul da América do Sul, no Uruguai e Argentina. São primatas robustos, com peso corporal médio entre cinco e 12 kg. Todas as espécies apresentam dimorfismo sexual, sendo os machos adultos maiores que as fêmeas, e o dicromatismo sexual está presente apenas em algumas espécies. A característica morfológica mais marcante do gênero é a presença do osso hioide bastante desenvolvido, o qual age como ressonador para o ronco ou rugido.1 Sua dieta é considerada folívorafrugívora, ou seja, composta de grande quantidade de folhas, mas também frutos.2 Segundo a Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção (Ministério do Meio Ambiente - maio 2003) apenas duas espécies estão classificadas como criticamente em perigo: Alouatta guariba guariba e A. belzebuth.

As fraturas de fêmur representam 45% de todas as fraturas de ossos longos do corpo.3 São descritas várias técnicas para reparar fraturas distais de fêmur, entre elas a inserção de um pino intramedular 4, pinos intramedulares múltiplos, parafusos “lag” 5 , pinos cruzados 6,7, além de métodos fechados como tala de Thomas modificada e bandagem simples 8.

O fêmur tem a maior incidência de não união e osteomielite de todas as fraturas, sendo a redução aberta e fixação interna as mais indicadas nas fraturas femorais 9, 10. A imobilização óssea com pino intramedular é comumente utilizada na cirurgia ortopédica veterinária 11 por seu baixo custo, facilidade de aplicação e pela vantagem biomecânica de resistir a cargas de encurtamento em qualquer direção.12 206 Departamento de Clínica e Cirurgia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal (FCAV – UNESP – Jaboticabal). Email: [email protected]. Endereço: Via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/n, FCAV, Unesp, Jaboticabal. CEP: 14.884-900. Jaboticabal – SP.

207 Departamento de Patologia Veterinária, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal (FCAV – Unesp – Jaboticabal).

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Porém, são pouco resistentes a cargas axiais ou de rotação.13 De modo ideal, o diâmetro do pino deve se aproximar 75% a 80% do diâmetro da cavidade medular 11. Em geral, quanto maior o pino intramedular melhor a estabilidade da fratura e resistência do implante.

O objetivo deste trabalho é relatar o procedimento de redução de fratura metafisária distal femoral com pino intramedular realizado em um exemplar de bugio (Alouatta caraya) recebido no Ambulatório de Animais Silvestres do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel” da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), Unesp – Campus de Jaboticabal. Material e Métodos

Foi encaminhado ao Ambulatório de Animais Silvestres do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp – Campus de Jaboticabal, um exemplar de bugio jovem.

O animal proveniente de vida livre foi avistado caindo de uma árvore. Ao dar entrada no Ambulatório, foi realizado exame físico e notou-se à palpação presença de crepitação em membro pélvico esquerdo. O animal foi então encaminhado à Radiologia do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, onde, após exame radiológico, diagnosticou-se fratura metafisária completa transversa no terço distal do fêmur esquerdo.

Optou-se então por imobilização cirúrgica. O animal foi anestesiado com cetamina (0,2 mg/kg) e midazolam (0,5 mg/kg). A indução foi realizada com etomidato (1 mg/kg), o animal foi intubado e mantido em plano 2 do estadio III de Guedel com isofluorano. Foi então realizada a osteossíntese mediante inserção normógrada de um pino intramedular de Steinmann de 4mm de diâmetro com dois pinos interfragmentares adjuntos de 1,5 mm cada. No pós-operatório, o animal recebeu tramadol (4mg/kg, BID, durante cinco dias) e associação de sulfametoxazol e trimetoprim, suspensão oral (2 mL, SID, durante dez dias). Foi realizado exame radiológico 25 dias após a cirurgia para acompanhar a evolução da consolidação óssea e no mesmo dia o animal recebeu alta médica. Os pinos não foram retirados, pois se optou pelo sepultamento dos mesmos. Resultados e Discussão

É frequente o recebimento de animais traumatizados no Ambulatório de Animais Silvestres do Hospital Veterinário “Governador Laudo Natel”, sendo necessária muitas vezes intervenção cirúrgica. A técnica de redução de fratura com uso de pinos intramedulares objetiva uma estabilização que permita o rápido apoio normal do membro afetado, principalmente em animais que apresentam maior risco de anquilose articular, desmineralização e instalação de doenças.14

A capacidade do pino em restringir a mobilidade dos fragmentos fraturados está relacionada ao seu contato com o córtex ósseo circunjacente.15 Esta capacidade pode ser aumentada com a introdução de mais de um pino.12 O canal medular teve ultrapassado o preenchimento de mais de 70%, conforme descrito por Piermattei & Flo11, com o objetivo de aumentar o contato do pino com o endósteo.16 Após a osteossíntese, o animal permaneceu com curativo e já fazia uso do membro desde a primeira semana após realização da cirurgia.

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Após confirmação do fechamento da linha de fratura mediante exame radiológico, o paciente recebeu alta e foi encaminhado Ibama para ser destinado.

Conclui-se que a utilização de pinos intramedulares múltiplos é indicada para osteossíntese em caso de fratura metafisária distal em bugio jovem (Alouatta caraya), sendo obtido com sucesso o breve retorno funcional do membro fraturado neste caso. Referências

1. Gregorin R, Kugelmeier T, del Rio do Valle R. Gênero Alouatta Lacépède 1799. In: Reis NR, Peracchi AL, Andrade FR (2008). Primatas Brasileiros. Londrina: Technical Books, p. 187-204.

2. Neville MK et al. The howling monkeys, Genus Alouatta. In: Mittermeier RA, Rylands AB, Coimbra-Filho AF, Fonseca GAB (1988). Ecology and Behaviour of Neotropical Primates. Washington: World Wildlife Fund.

3. Unger M, Montavon PM & Hein UFA (1990). Classification of fractures of the long bones in the dog and cat: Introduction and clinical application. Vet. Comp. Orthop. Trauma, 3:42-50.

4. Parker RB, Bloomberg MS (1984). Modified intramedullary pin technique for repair of distal femoral physeal fractures in the dog and the cat. Journal of American Veterinary Medical Association, 184:1259-1265.

5. Denny HR (1993). A Guide to Canine and Feline Orthopedic Surgery. 3. ed. Oxford: Blackwell Scientific Publications, 393 p.

6. Sumner-Smith G, Dingwall JS (1973). A technique for repair of fractures of the distal femoral epiphysis in the dog and the cat. Journal of American Animal Hospital Association, 9:171-174.

7. Milton JL, Horne RD, Goldstein GM (1980). Cross Pinning: A simple technique for treatment of certain metaphyseal and physeal fractures of the long bones. Journal of American Animal Hospital Association, 16:891-905.

8. Bordrieau RJ (1983). Management of Salter type-I and type-II distal femoral fractures in the dog and the cat. California Veterinarian, 4:24-27.

9. Brinker WO (1974). Fractures in Canine Surgery. Santa Barbara: Ed. American Veterinary Publications Inc., 1172 p.

10. Olmstead ML. Fractures of the femur. In: Brinker WO, Hohn RB, Prieur WD (1984). Manual of Internal Fixation in Small Animals. New York: Springer-Verlag, p. 165-175.

11. Piermattei DL, Flo GL (1999). Manual de Ortopedia e Tratamento das Fraturas dos Pequenos Animais. 3. ed. São Paulo: Manole, 694 p.

12. De Young DJ, Probst CW. Methods of internal fracture fixation. In: Slatter D (1993). Textbook of Small Animal Surgery. Philadelphia: Saunders, p.1610-1631.

13. Fossum TW (2002). Cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 794 p.

14. O’Sullivan ME et al. (1994). Experimental study of the effect of weight bearing on fracture healing in the canine tibia. Clinical Orthopaedics and Related Research, 302:273-283.

15. Nunamaker DM, Newton CD (1985). Textbook of Small Animal Orthopedics. Philadelphia: Lippincott, 1123 p.

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16. Schrader SC (1991). Complications associated with the use of Steimann intramedulary pins and cerclage wires for fixation of long bone fractures. Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, v.21, 4:687-703.