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ANÁLISE COMPARATIVA: CASA ZM, CASA CT, CASA MDT E CASA FB
Implantação e Partido Formal
As quatro casas analisadas são de uso eventual e estão localizadas em cidades interioranas, em condomínios fechados e/ou
em lugares de paisagem peculiar, como campo e praia.
As características topográficas e geométricas dos terrenos – íngremes, irregulares e de grandes dimensões - em que estas
residências estão implantadas parecem ter sido determinantes na concepção de seus partidos formais, o que pode ser
demonstrado através de: a) implantação das casas nas cotas mais altas do terreno, garantindo a exploração das visuais para
o entorno e/ou para os espaços abertos configurados no interior dos lotes; b) adoção de partidos decompostos, com alas
lineares, que exploram as grandes dimensões e a geometria irregular do lote; c) acomodação das alas na topografia, gerando
arranjos em níveis. (Figuras 1 e 2)
CASA ZM CASA CT CASA MDT CASA FB Local: Itacaré -
BA
Ano: 2005
Local:
Bragança
Paulista - SP
Ano: 2008
Local: Fazenda
Boa Vista - SP
Ano: 2008
Local: Porto
Feliz - SP
Ano: 2011
Bernardes e Jacobsen Arquitetura Jacobsen Arquitetura Autores: Rafael Susin Baumann, Cristina Piccoli e Ana Elísia da Costa
Figura 1: Implantação e arranjo volumétrico. (a) Residência ZM, 2005; (b) Residência CT, 2008. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
As composições volumétricas adotadas são, na maioria das vezes, organizadas por alas lineares e perpendiculares entre si.
Recorrentemente, uma ala é posicionada paralelamente à via de acesso e sua fachada principal é tratada de modo
“hermético”, sem aberturas, buscando garantir a privacidade doméstica, O desejo de isolamento frente ao entorno também
é evidenciado pela posição dos “pátios sociais” que, internalizados, se isolam das visuais de quem passa pelas vias. Esta
estratégia é ainda reforçada pela disposição da vegetação na periferia do lote (Figuras 1, 2 e 3)
O arranjo volumétrico sugerido em planta é tensionado por alguns elementos de arquitetura que assumem uma linguagem
planar. Destacam-se os “planos-muros” que isolam as casas das ruas (Figura 3) e os planos de cobertura que interligam os
Figura 2: Implantação e arranjo volumétrico. (c) Residência MDT, 2008; (d) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Figura 3: “Fachadas-muro”. (a) Residência CT, 2008.; (b) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
volumes independentes, bem como configuram pórticos de acesso ou varandas que garantem a exploração das visuais.
(Figura 4)
O tratamento das alas é constante e garante a legibilidade dos setores: a ala social é sempre envidraçada , o que
tensiona o limite entre interior e exterior; a ala íntima é mais vedada, frequentemente misturando superfícies
envidraçadas com elementos de vedação semipermeáveis, como treliças de madeira, indicando o seu caráter
introspectivo. As alas de serviço também são tratadas com opacidade (CT e MDT) ou mimetizados ao terreno (ZM e
FB). (Figura 5)
Figura 4: Volumes e elementos de arquitetura com linguagem planar. (a) Residência ZM, 2005.; (b) Residência CT, 2008. ; (c) Residência MDT,
2008. ; (d) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Figura 5: Arranjos volumétricos e tratamentos das fachadas. (a) e (e) Residência ZM, 2005.; (b) e (f) Residência CT, 2008.; (c) e (g) Residência MDT, 2008.; (d) e (h) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: (a), (b), (c) e (d) http://www.jacobsenarquitetura.com/; (e), (f), (g) e (h) BAUMANN, Rafael, 2015.
Configuração funcional
Em todos os casos, o hall social conecta as alas independentes. Assim, este núcleo organiza as circulações e permite acesso
seletivo a todos os setores. (Figura 6)
O setor íntimo, sempre disposto no pavimento do hall de entrada, é geralmente arranjado em três faixas longitudinais: 1)
circulação periférica; 2) sala íntima e suítes, modularmente dispostas; 3) sacadas. Nesta ala, é notável que a suíte principal
ocupa a terminação longitudinal da ala, ampliando suas dimensões ao incorporar para si a faixa correspondente à circulação.
(Figura 7)
Figura 6: Setorização e circulação. (a) Residência ZM, 2005.; (b) Residência CT, 2008.; (c) Residência MDT, 2008.; (d) Residência FB, 2011.
Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
A disposição dos banheiros das suítes de solteiros não obedece a um regramento constante, podendo estar agrupados e
inseridos entre os quartos (ZM, CT e FB) ou internalizados entre o corredor e os quartos (MDT) (Figura 8b). Nas suítes de
casal, a disposição dos banheiros é tensionada pelo desejo de explorar as melhores visuais. Se estas ocorrem
longitudinalmente na ala, os banheiros são inseridos no extremo transversal da ala (ZM e MDT); se transversalmente, os
banheiros são deslocados, abrindo espaço para as sacadas ocuparem a terminação da ala (CT e FB). (Figura 8a)
O setor social é configurado como uma grande planta livre, onde o layout do mobiliário sugere as circulações sempre
longitudinais em relação à geometria do ambiente, podendo estas ser periféricas (ZM, CT e FB), explorando as visuais, ou
centralizadas (MDT). (Figura 9) Em contraposição, o setor de serviço é compartimentado e sempre dotado de acesso
independente, efetivado pelo exterior.
Figura 7: Setor íntimo organizado em faixas. Residência CT, 2008. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Figura 8: Setor íntimo: banheiros e sacadas. (a) Residência CT, 2008; (b) Residência MDT, 2008. Bernardes e Jacobsen Arquitetura;
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Espacialidade
Os halls das casas analisadas são ambientes que promovem tensões multidirecionais, resultantes da excessiva
disposição de aberturas para o exterior, portas internas, escadas e passagens que encaminham aos setores. Estas
tensões são também enfatizadas pelos jardins internalizados que fazem transições entre “o dentro e o fora” (FB e CT)
e pelos efeitos de dilatação vertical promovidos através de pé-direito duplo (ZM e CT) e aberturas zenitais (CT e MDT).
(Figura 10)
No setor social, as salas costumam ser espaços que promovem relações visuais abertas e dinâmicas, quer pela grande
planta livre, quer pela disposição do mobiliário ou pelas grandes superfícies envidraçadas que dilatam o espaço para
o exterior. Nas salas das casas ZM e CT, o envidraçamento de três dos seus planos verticais define múltiplos pontos
focais e tensões multidirecionais. Estas são mais intensas do que na casa FB, onde a perspectiva externa se revela
Figura 10: Hall de entrada. (a) Residência ZM, 2005.; (b) Residência CT, 2008. Arquitetura; (c) Residência MDT, 2008.; (d) Residência FB, 2011.
Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Figura 9: Circulação setor social. (a) Residência CT, 2008.; (b) Residência MDT, 2008. Bernardes e Jacobsen Arquitetura;
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
apenas na “aresta” do ambiente, através da transparência de um plano transversal e de parte de um plano longitudinal.
A sala da casa MDT é a que apresenta menor grau de relação com o espaço aberto, uma vez que possui um único plano
transversal envidraçado. Este plano atua como ponto focal no ambiente, como sugere o layout do mobiliário que
direciona o corpo e o olhar para o exterior. (Figura 11)
Nas circulações íntimas, de geometria comprida e estreita, é sugerida uma tensão unidirecional. Porém, há duas
variáveis que influenciam na espacialidade destes ambientes: 1) as diferentes dimensões e posições das janelas, o que
gera diferentes graus de relação com o exterior; 2) a variação de altura do pé direito dos corredores em relação aos
ambientes contíguos a ele, gerando sensações de compressão ou dilatação espacial. No primeiro caso, destaca-se que
as grandes aberturas dos corredores das casas CT e MDT tensionam visualmente a experiência espacial, su gerindo um
percurso a ser seguido pelo corpo e outro pelos olhos, estabelecendo assim uma dilatação espacial e uma tensão
multidirecional. No segundo caso, a redução do pé direto do corredor íntimo em relação ao home theater (MDT) ou em
relação ao hall com pé direito duplo (ZM) sugere uma compressão espacial nos percursos. (Figura 12)
Assim, a casa MDT, associa duas estratégias antagônicas, equilibrando os efeitos de dilat ação e compressão espacial
no percurso. Num sentido oposto, observa-se que no corredor da casa FB, sem grandes aberturas para o exterior e
sem variações significativas de alturas em relação aos ambientes contíguos, a experiência se apresenta mais estática
e unidirecional. (Figura 12)
Figura 11: Sala. (a) Residência ZM, 2005.; (b) Residência CT, 2008;(c) Residência MDT, 2008.; (d) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen
Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Os quartos são frequentemente acessados por um pequeno hall, cuja geometria promove uma leve compressão espacial
no percurso. Transposto este hall, os quartos revelam uma espacialidade estática, tensionada pelos grandes planos de
vidro que encaminham às sacadas e ao espaço aberto. Mesmo assim, configura-se um espaço com tensão unidirecional,
onde os planos envidraçados se apresentam como seus pontos focais. (Figura 13)
Considerações finais
Em terrenos amplos e de topografias íngremes, os projetos buscam a integração entre interior e exterior, o que se
evidencia principalmente através das seguintes estratégias: a) as implantações tiram partido das topografias íngremes
Figura 12: Circulação íntima. (a) Residência ZM, 2005.; (b) Residência CT, 2008.; (c) Residência MDT, 2008.; (d) Residência FB, 2011. Bernardes e
Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
Figura 13: Quarto. (a) Residência ZM, 2005.; (b) Residência CT, 2008. Bernardes e Jacobsen Arquitetura; (c) Residência MDT, 2008. Jacobsen
Arquitetura; (d) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.
dos terrenos, estando as alas posicionadas nas cotas mais altas e voltadas para as visuais de interesse; b) os arranjos
de alas lineares isoladas favorecem a configuração de pátios no interior do lote e a abertura dos ambientes para os
mesmos; c) a manipulação planar favorece a indefinição de margens dos edifícios, configurando espaços de transição
entre o interior e o exterior, como as varandas; d) o tratamento dos volumes com grandes superfícies envidraçadas
dilatam os espaços internos para o exterior.
A organização do extenso programa de necessidades se dá em alas independentes conectadas a um núcleo central. É
recorrente a resolução dos setores que estas alas abrigam: o setor íntimo se apresenta modulado pela repetição das
suítes de solteiros, estando a suíte principal disposta no perímetro da ala; o setor social se apresenta como grande
planta livre e o setor de serviços assume uma configuração compartimentada.
Porém, é no núcleo central que reside a maior experimentação projetual do escritório. Conectando as alas
independentes, esses espaços assumem alturas simples ou duplas, proporções bidimensionais equilibradas (ZM, CT e
FB) ou com comprimento maior que sua largura (MDT). (Figura 14)
Por fim, a espacialidade é condicionada principalmente pela intensidade com a qual os ambientes se relacionam com o
espaço aberto. Recorrentemente, os setores sociais possuem grandes planos envidraçados que se voltam ao exterior,
definindo assim espaços com múltiplos pontos focais de interesse e, portanto, espaços com tensões multidirecionais .
Das salas para os quartos, a passagem pelos corredores íntimos não revela um padrão constante. Mesmo que sempre
estreitos e compridos, estes ambientes estabelecem diferentes graus de abertura para o exterior, condicionando assim
diferentes espacialidades. Nos quartos de todos os casos estudados, a geometria estática revela uma tensão
unidirecional que tem como ponto focal as aberturas para o exterior e as sacadas.
Figura 14: Corte hall (a) Residência ZM, 2005; (b) Residência CT, 2008.; Planta baixa hall (c) Residência MDT, 2008.; (d) Residência FB, 2011. Bernardes e Jacobsen Arquitetura
Fonte: BAUMANN, Rafael, 2015.