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UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
Casa das Histórias Paula Rego
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
Tomo I
Diana Rute Correia da Silva
Mestrado em Museologia e Museografia
2012
UNIVERSIDADE DE LISBOA
FACULDADE DE BELAS-ARTES
Casa das Histórias Paula Rego
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
Tomo I
Diana Rute Correia da Silva
Mestrado em Museologia e Museografia
Dissertação Orientada pelo Prof. Doutor Fernando António Baptista Pereira
Coorientada pela Mestre Ana Duarte
2012
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
2
Agradecimentos
São diversos os agradecimentos devidos a todos os que permitiram e contribuíram para
a realização desta dissertação.
Antes de mais ao meu orientador, o Professor Doutor Fernando António Baptista
Pereira, cujo conhecimento me foi valioso não apenas ao longo da realização deste
estudo, mas durante todo o percurso percorrido durante os dois anos de mestrado.
Igual agradecimento é devido à minha coorientadora, Mestre Ana Duarte, que me
conduziu na descoberta de outras realidades educativas, e cuja orientação e sabedoria
me foram preciosas no decorrer desta investigação.
Às minhas colegas d’O Ateliê, Catarina Aleluia, Joana Macedo, Mariana Pinto e Susana
Pires, bem como à minha coordenadora a Dra. Adriana Pardal, o meu agradecimento
pelas horas que me permitiram de dedicação a este estudo e por toda a informação que
se disponibilizaram partilhar, a qual muito contribuiu para o enriquecimento da
investigação. Agradeço igualmente à restante equipa da Casa das Histórias Paula Rego,
em particular à Dra. Helena de Freitas pela amabilidade de me disponibilizar imagens
de acervo, tão necessárias à realização deste estudo.
Igualmente preciosa foi a contribuição de todos os seniores com quem tive a
oportunidade de contatar no âmbito deste estudo e cujo testemunho e contributo foi
fundamental para um melhor e mais profundo conhecimento da realidade cultural desta
comunidade. Não poderei deixar de agradecer àqueles que, no Centro Engenheiro
Álvaro de Sousa e no Centro de Saúde de Cascais, tão bem me souberam receber
permitindo o contato com a sua realidade, e me deram a conhecer a importância do
trabalho desenvolvido com a comunidade sénior no que respeita à sua realidade cultural.
Um agradecimento especial aos meus pais, José Carlos Silva e Maria Clara Silva, e à
minha irmã, Cláudia Silva, por toda a ajuda e apoio que me deram, e ao meu marido,
Bruno Silva, por ter contribuído com o seu olhar atento, e pelas inúmeras horas que me
permitiu dedicar a esta investigação bem como pela sua incansável generosidade nas
horas de maior cansaço.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
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Resumo
A dissertação de mestrado em museologia e museografia que aqui apresentamos
pretende contribuir como fundamento para uma proposta de acção museológica, no
contexto da educação do público sénior, tendo em conta o panorama museológico actual
nacional e internacional.
Trata-se de um caso de estudo que analisa a relação entre o espaço museológico e a
comunidade sénior, avaliando in situ os residentes de uma determinada área geográfica,
o concelho de Cascais, e um espaço museal, a Casa das Histórias Paula Rego.
No entendimento desse contexto, procuraremos apresentar novas soluções que permitam
uma mediação cultural promotora de um envelhecimento ativo e de uma relação mais
próxima entre museu e comunidade.
O museu revela-se, assim, como espaço promotor do interesse e de uma autonomia
cultural, abrindo caminho para outras realidades extramuros.
Palavras-Chave:
Públicos de museus; Envelhecimento Ativo; Paula Rego; Comunidade; Museu e
Educação.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
4
Abstract
The dissertation for the master degree in museology and museography here presented is
intended to contribute as the bases for a proposal of a museal action in senior education
context, considering the current national and international museum scenery.
It’s a case study that analyses the relation between museums and their senior
community, evaluating in situ residents of a geographical area, the district of Cascais,
and a museum, the House of Stories Paula Rego.
In understanding this context we will seek to present new solutions that enable a
cultural mediation promoter of an active aging, and a closer relationship between
museum and community.
The museum reveals itself as a space promoter of cultural autonomy opening the way
for other realities outside their walls.
Keywords:
Museum publics; Active Ageing; Paula Rego; Community; Museum and Education.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
5
Índice
Tomo I
Agradecimentos 2
Resumo 3
Abstract 4
1. Introdução 11
1.1 Museu e Educação: definições e conceitos 13
1.1.1 Educação de Adultos e Educação ao Longo da Vida 15
1.1.2 Públicos Inclusivos 16
2. Os Serviços Educativos no Panorama Museológico Português 19
3. O Concelho de Cascais 24
3.1 Caracterização Sociodemográfica 24
3.1.1 Educação e Mercado de Trabalho 26
3.1.2 Turismo e Cultura 27
3.1.3 Politicas Culturais 29
4. A Casa das Histórias Paula Rego 32
4.1 Fundação Paula Rego 32
4.2 Casa das Histórias Paula Rego 32
4.3 O Ateliê 34
4.3.1 Programação 2009 – 2012 35
4.3.2 Contagens de Públicos 36
5. Programa Conversa da Treta do Centro de Saúde de Cascais 40
6. Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa 42
7. Entrevistas Semidirectivas 43
7.1 Metodologia 43
7.2 Análise dos Resultados das Entrevistas Semidirectivas 44
7.2.1 Práticas Culturais e Hábitos de Visita 46
7.2.2 Meios de Comunicação e Materiais Auxiliares 51
7.2.3 Relação com a obra de Paula Rego 53
7.2.4 Conclusões 60
8. Observação de Públicos Autónomos 62
8.1 Metodologia 62
8.2 Análise da Observação de Públicos Autónomos 63
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
6
8.2.1 Caracterização dos públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego 63
8.2.2 Hábitos e comportamentos – Percurso expositivo 65
8.2.3 Museografias e Percursos 70
8.2.4 Outros elementos para uma visita – Loja e Cafetaria 75
8.2.5 Conclusões 78
9. Questões de género na perceção da obra de Paula Rego 79
10. Projeto Maiores 82
11. Conclusões Finais 85
12. Referências Bibliográficas 87
Outros documentos consultados 89
Meios de Comunicação Social 89
Diplomas Legais 89
Referências Eletrónicas 89
Índice de Gráficos
Gráfico 1: Visitantes da Casa das Histórias Paula Rego em valores absolutos 37
Gráfico 2: Número de visitantes livres da CHPR e participantes
d’O Ateliê por período semanal 37
Gráfico 3: Visitantes d’O Ateliê entre Setembro de 2010
e Setembro 2012 por grupos 38
Gráfico 4: Fluxos por grupos de visitantes d’O Ateliê 39
Gráfico 5: Visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego
autónomos e em grupo 63
Gráfico 6: Constituição dos grupos de seniores da Casa das Histórias Paula Rego 64
Gráfico 7: Grupos de visitantes da Casa das Histórias Paula Rego por tipologia 64
Gráfico 8: Género dos visitantes seniores autónomos da CHPR 65
Gráfico 9: Comportamentos no espaço expositivo da CHPR 65
Gráfico 10: Tempo médio por obra durante o percurso expositivo 66
Gráfico 11: Observação de legendas e textos de parede por visitante da CHPR 67
Gráfico 12: Materiais de apoio à exposição por sénior da CHPR 68
Gráfico 13: Tempo médio de visita às exposições da CHPR por sénior 69
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
7
Gráfico 14: Obras mais vistas por sénior da CHPR 71
Gráfico 15: Obras menos vistas por sénior da CHPR 73
Gráfico 16: Obras onde os visitantes seniores da CHPR não param 75
Gráfico 17: Frequência da loja e cafetaria da CHPR por sénior 76
Gráfico 18: Número de seniores que frequentam a loja e a cafetaria da CHPR 76
Gráfico 19: Catálogos da loja da Casa das Histórias Paula Rego
consultados por visitante 77
Gráfico 20: Duração da permanência nos espaços de convívio da CHPR por sénior 78
Índice de Tabelas
Tabela 1: Visitantes escolares no total de visitantes dos museus,
jardins zoológicos, botânicos e aquários em Portugal 22
Tabela 2: Indicadores de Envelhecimento segundo os censos em Portugal 22
Tabela 3: População residente: total e por grandes grupos etários 24
Tabela 4: Número de indivíduos em idade ativa por idoso 25
Tabela 5: Caixa Geral de Aposentações: reformados/aposentados e pensionistas 25
Tabela 6: Alunos matriculados nos ensinos pré-escolar, básico e secundário 26
Tabela 7: Taxa de Emprego segundo os Censos: total e por grupo etário 27
Tabela 8: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários:
total de visitantes e visitantes escolares 28
Tabela 9: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários:
visitantes por mil habitantes 28
Tabela 10: Despesas das Câmaras Municipais em cultura e desporto 29
Tabela 11: Projeto Maiores: Tabela cronológica de atividades 83
Índice de Imagens
Imagem 1: Percursos expositivos de Mood – Innervisions e Dama Pé de Cabra 68
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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
8
Tomo II
Índice de Anexos
Anexo A – Oferta Pedagógica de Museus Nacionais para Público Sénior 5
Anexo B – Cronologia da Oferta Pedagógica d’O Ateliê 6
Anexo C – Guião de Entrevista a Visitantes Seniores da CHPR 8
Anexo D - Entrevistas realizadas a Visitantes Seniores da CHPR 11
Entrevista nº 1 11
Entrevista nº 2 20
Entrevista nº 3 28
Entrevista nº 4 35
Entrevista nº 5 41
Entrevista nº 6 50
Entrevista nº 7 58
Entrevista nº 8 63
Entrevista nº 9 68
Entrevista nº 10 72
Entrevista nº 11 78
Entrevista nº 12 86
Entrevista nº 13 91
Entrevista nº 14 97
Entrevista nº 15 102
Entrevista nº 16 109
Entrevista nº 17 113
Entrevista nº 18 118
Entrevista nº 19 125
Anexo E – Ficha de Observação de Públicos 129
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
9
Índice de Tabelas
Tabela 11: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários:
número e visitantes – Portugal 131
Tabela 12: População estrangeira com estatuto legal de residente
em percentagem da população residente: total e por sexo 131
Tabela 13: Taxa de analfabetismo em percentagem por local
de residência à data dos Censos 2001 132
Tabela 14: População Residente com 15 e mais anos
por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 132
Tabela 15: Taxa de desemprego segundo os Censos 2001:
total e por grupo etário 133
Tabela 16: Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros por localização geográfica
e tipo 133
Tabela 17: Proporção de hóspedes estrangeiros por localização geográfica 134
Tabela 18: Galerias de arte e outros espaços de exposição temporária:
número médio de visitantes 134
Tabela 19: População residente do sexo feminino:
total e por grandes grupos etários 135
Tabela 20: População residente do sexo masculino:
total e por grandes grupos etários 135
Índice de Imagens
Imagem 2: Folha de sala da exposição
Dama Pé de Cabra da Casa das Histórias Paula Rego 136
Imagem 3: Brochura trimestral d’O Ateliê 138
Imagem 4: Batalha de Alcácer Quibir 139
Imagem 5: Aida, Série Óperas 139
Imagem 6: Rigoletto, Série Óperas 139
Imagem 7: Falstaff, Série Óperas 140
Imagem 8: Traviata, Série Óperas 140
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
10
Imagem 9: Sem título, Série Óperas 140
Imagem 10: Repugnância 141
Imagem 11: Oratório 141
Imagem 12: Jenufa 142
Imagem 13: Visitação, Agonia no Horto, Trânsito da Virgem
(Série Ciclo da Vida da Virgem) 142
Imagem 14: Macaco Vermelho Bate na Mulher 143
Imagem 15: Possessão 144
Imagem 16: Sem título [I – X] 145
Imagem 17: Dama com Pé-de-Cabra (I). Despindo a Divina Senhora 146
Imagem 18: Dama com Pé-de-Cabra (II). Cantando no Cimo do Monte 146
Imagem 19: Dama com Pé-de-Cabra (III). A Morte do Cão do Caçador 146
Imagem 20: Dama com Pé-de-Cabra (IV). Levitação 147
Imagem 21: Dama com Pé-de-Cabra (V). A Demanda 147
Imagem 22: Dama com Pé-de-Cabra (II). Elenco de Personagens 147
Imagem 23: Pillowman 148
Imagem 24: Entre Mulheres 148
Imagem 25: Amor 149
Imagem 26: Embarque 149
Imagem 27: Anjo 150
Imagem 28: Rapariga com Pássaro 150
Imagem 29: Banho Turco 151
Imagem 30: Mulher-cão 151
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
11
1. Introdução
“Tenho dito e tornado a dizer que o Museu é a escola em plena actividade onde,
além da preparação dos que nele trabalham, se deve educar o público
num ensinamento permanente que abrange todas as ideias e graus de aprendizagem.”1
Partindo da premissa de que o museu é um lugar com fins educativos e aberto a toda a
sociedade, tentámos compreender em que medida os espaços museológicos funcionam
como locais de educação, seja ela formal ou não formal, escolhendo como caso de
estudo um museu de dimensão internacional e a comunidade envolvente. A Casa das
Histórias Paula Rego (CHPR) e a comunidade sénior do concelho de Cascais, foi por
nós selecionada, para realizar a nossa pesquisa.
A escolha do referido museu, bem como do público-alvo adveio da experiência
profissional por nós adquirida n’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR, a qual
permitiu neste estudo a observação contínua dos públicos e a ação do serviço de
educação.
Dessa observação resultou a necessidade de compreender se a referida oferta se estende
e adequa a todos os públicos que visitam a CHPR, tomando como público-alvo os
seniores situando-se estes públicos no extremo oposto aos públicos escolares, quando
comparados com a percentagem de visitantes participantes nas actividades promovidas
pel’O Ateliê desde a sua génese.
Inaugurada a 18 de Setembro de 2009, a Casa das Histórias Paula Rego conta desde a
sua abertura com a existência de uma equipa de serviço educativo residente, permitindo
dar resposta aos públicos inseridos nas actividades educativas bem como aos públicos
que visitam este espaço autonomamente.
No presente estudo procedeu-se à análise da oferta educativa existente desde Setembro
de 2009, avaliando a sua evolução e extensão a diferentes tipos de público.
Considerando a inexistência de uma oferta direccionada para os públicos seniores,
procurou-se analisar o perfil destes visitantes, tentando perceber as motivações das
visitas e o conhecimento que possuem do espaço museológico e da oferta cultural
existente.
1 Museu Nacional de Arte Antiga, A Obra do Dr. João de Couto no Museu Nacional de Arte Antiga. –
Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 1967.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
12
Para verificação das questões levantadas foram realizadas numa primeira fase,
entrevistas semidirectivas no espaço da visita, as quais foram registadas com recurso a
áudio e posteriormente transcritas e analisadas.
Numa segunda fase foi realizada uma observação de públicos onde se procurou
caracterizar o perfil dos públicos seniores autónomos, as suas motivações e hábitos de
visita bem como a sua relação com a obra de arte.
A realização deste trabalho preparatório e a sua análise, permitiu-nos concretizar uma
proposta de trabalho para este segmento de públicos, a ser implementada na CHPR.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
13
1.1 Museu e Educação: definições e conceitos
Segundo a definição adotada pelo Internacional Council of Museums (ICOM) desde a
sua fundação em 1946, o museu “é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao
serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire,
conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade
e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”2.
A constituição portuguesa, conforme o decreto de lei nº 47/2004 de 19 de Agosto
perpetua esta definição indicando que um museu “é uma instituição de carácter
permanente com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos”3. Como finalidade
principal a lei-quadro dos museus portugueses realça a investigação, documentação,
conservação, interpretação, exposição e divulgação dos bens culturais sempre com fins
científicos, educativos e lúdicos concorrendo dessa forma para “a democratização da
cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade”4.
A função educativa é salvaguardada pelo código deontológico do ICOM o qual ressalva
igualmente o papel inclusivo do museu, indicando que estes “têm o importante dever de
desenvolver o seu papel educativo atraindo e ampliando os públicos saídos da
comunidade, localidade ou grupo a que servem. (…) Os acervos dos museus refletem o
património cultural e natural das comunidades de onde provêm. Desta forma, seu caráter
ultrapassa aquele dos bens comuns, podendo envolver fortes referências à identidade
nacional, regional, local, étnica, religiosa ou política.”5
Se o museu responder a estes requisitos de forma plena tal resultará num trabalho
integrado e dialogante de todas as suas equipas e terá como uma das suas valências
fundamentais uma equipa de serviço educativo à qual caberá a mediação cultural
criando pontes entre museografias e os seus públicos.
Sendo a educação atualmente tida como um direito de todos os cidadãos, o museu deve
desempenhar um papel fundamental neste campo.
Segundo o artigo 26º da declaração universal dos direitos humanos “toda a pessoa tem
direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao
2 Consultado a 20 de Agosto de 2012 em www.icom-portugal.org.
3 Diário da República, I Série-A – nº 195, 19/08/2004, Decreto-Lei nº 47/2004 de 19 de Agosto, p. 5379.
4 Idem, Ibidem, p. 5379.
5 Código Deontológico do International Council of Museums (documento eletrónico), pp. 12 - 13,
consultado a 21 de Agosto em www.icom-portugal.org.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
14
ensino elementar fundamental.”6 Contudo o significado do termo é mais lato, sendo
entendido como um “conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento
geral do corpo e do espirito”7. Neste sentido poderemos ver a educação como uma
ferramenta que pode ser usada por um indivíduo na instrução de outrem, remetendo-nos
assim para o conceito de ensino8, ou como uma ferramenta a ser usada pelo próprio
individuo na construção da sua formação.
Poderíamos aqui observar as diversas aceções da palavra educação, mas interessa-nos o
enfoque num tipo específico do termo. O da educação permanente. Este conceito
adquire uma maior visibilidade quando em 1976 na sequência da Conferência Geral de
Nairobi, é criado um acordo onde se determina o conceito de educação de adultos como
sendo uma expressão que “designa a totalidade dos processos organizados de educação,
independentemente do seu conteúdo, o nível ou o método, sejam formais ou não
formais”9 e relacionando-a diretamente com a educação permanente ao afirmar que “a
educação de adultos não pode ser considerada intrinsecamente: mas como um
subconjunto integrado num projeto global de educação permanente”10
, a qual é tida
como uma forma de educação que possibilita a formação do individuo dentro do sistema
de educação formal ou fora dele, atuando sempre como o agente da sua própria
educação. Neste sentido a educação permanente é vista como uma forma de educação
ao longo da vida, extrapolando o universo escolar e compreendendo diferentes
dimensões da vida do indivíduo e do seu desenvolvimento integral. O conceito de
educação amplia-se assim com as definições de educação formal, não formal e informal.
Conforme já vimos a educação formal carateriza-se pelo processo tradicional de ensino
conectado com a educação escolar. A educação não formal desenvolve-se a partir de
atividades que ainda que organizadas e sistemáticas, saem do âmbito da instituição de
educação extrapolando os conteúdos da educação formal, e não fornece qualquer tipo de
certificação. A educação informal distingue-se de forma mais clara da educação formal
6
Diário da República, I Série – nº 57, 09/03/1978, Declaração universal dos direitos humanos de 10 de
Dezembro de 1948, p. 491. 7 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa consultado a 13 de Setembro de 2012 em
www.priberam.pt/ dlpo/. 8 A palavra ensino deriva do termo ensinar cujo significado é “instruir, dar lições a; dar lições de;
educar.” Dicionário Priberam da Língua Portuguesa consultado a 13 de Setembro de 2012 em
www.priberam.pt/dlpo. 9 Actas de la Conferencia General (versão espanhola), 19ª reunião da UNESCO, 26 de Outubro a 30 de
Novembro de 1976, Nairobi (documento eletrónico), p. 124. 10
Idem, Ibidem, p. 124.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
15
e da educação não formal visto que, ao contrário das duas primeiras esta nem sempre é
intencional para o educando. Trata-se de um tipo de educação que resulta de atividades
do quotidiano, sejam elas de caráter laboral ou de lazer, e embora possa ser intencional,
regra geral surge em consequência do ato desenvolvido e como tal de forma não
intencional.
O museu enquadra-se neste tipo de educação na medida em que pode ser alvo de uma
atividade de lazer e da qual resulta uma aprendizagem. Contudo o contexto museal não
se separa da educação formal e não formal, uma vez que os seus públicos incluem
indivíduos em contexto escolar e como tal em contexto de educação formal, e
indivíduos que não integrando o sistema de educação formal se deslocam ao museu com
objetivos educacionais.
1.1.1 Educação de Adultos e Educação ao Longo da Vida
O Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos elaborado pela
UNESCO em 200911
refere a importância da educação como um estímulo à autonomia
dos indivíduos. A educação ao longo da vida surge como plataforma para a criação de
condições à reflexão e à tomada de decisões, tornando os indivíduos mais aptos a
“responder adequadamente aos desafios sociais, políticos, económicos culturais e
tecnológicos com que se deparam nas suas vidas.”12
Podemos assim compreender o conceito de educação já analisado enquanto uma
constante ao longo da vida dos indivíduos e não apenas como uma etapa escolar,
tomando-se o próprio indivíduo como principal agente educativo. “Nessa proposta,
homens e mulheres são os agentes da sua própria educação, por meio de interação
contínua entre seus pensamentos e ações; ensino e aprendizagem longe de serem
limitados a um período de presença na escola, devem se estender ao longo da vida
incluindo todas as competências e ramos de conhecimento, utilizando todos os meios
possíveis”.13
No que concerne à educação de adultos é notória a abrangência do
11
Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos (versão brasileira). – Brasília: UNESCO,
2010 (documento eletrónico). 12
Idem, Ibidem, p. 24. 13
Recommendation on the development of adult education (documento eletrónico). – Nairobi: UNESCO,
1976, p. 2.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
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conceito às diferentes formas de educação – formal, não formal e informal – surgindo
entre outros, o Museu como espaço privilegiado para a educação a partir da criação de
estratégias de relacionamento com os indivíduos, dentro e fora da comunidade onde se
insere. Desde a sua génese que é reconhecido ao museu um importante papel educativo,
contudo o que é necessário equacionar é, não se o museu cumpre o seu papel educativo,
mas de que forma o cumpre. É preciso avaliar os públicos que frequentam os museus,
que uso fazem dos mesmos, e que relações estabelecem com estes espaços. E os
museus, de que forma atuam enquanto agentes promotores de uma educação inclusiva,
sobretudo fora do âmbito escolar onde a escola desempenha o papel primordial de
agente educativo promotor e o museu atua enquanto agende educativo recetor.
1.1.2 Públicos Inclusivos
Nos dias de hoje torna-se imperativo questionar o que tomamos por públicos inclusivos.
No seu sentido mais circunscrito, esta tipologia de público remete-nos para os grupos
sociais que por ausência de ferramentas que os tornem aptos para a fruição e contato
pleno com a cultura, necessitam de recursos auxiliares que lhes permitam a inclusão
nessa dimensão da sociedade. A inclusão social e os seus públicos abarcam uma
dimensão muito maior da vida humana, mas a que aqui nos é útil focar é a da dimensão
cultural tentando perceber em que medida um determinado grupo social se torna num
grupo inclusivo e quais as ferramentas utilizadas pelos agentes culturais de forma a
incluir verdadeiramente estes grupos na sua realidade quotidiana.
Mas antes de nos centrarmos nos públicos inclusivos parece-nos necessário estabelecer
primeiro quem são os públicos da cultura. João Lopes, no estudo Experiência Estética e
Formação de Públicos desenvolvido no âmbito do encontro Públicos da Cultura em
200314
, propõe uma divisão abrangente dos públicos culturais classificando-os como
públicos habituais, públicos irregulares e públicos retraídos.
Os públicos habituais são classificados pelo autor como sendo um público juvenilizado,
que detém um nível de escolaridade elevado e altamente qualificado. O autor salienta
ainda que estes públicos detêm um papel ativo no universo cultural atuando como
14
AAVV, Públicos da Cultura: Actas do Encontro organizado pelo Observatório das Actividades
Culturais no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. – Lisboa: Observatório das
Actividades Culturais, 2004.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
17
intermediários culturais, conhecedores dos “cânones legítimos da criação e da
consagração culturais contemporâneas”15
. Num segundo patamar surgem os públicos
irregulares, os quais o autor classifica como sendo um público jovem, com níveis de
escolaridade igualmente elevados, mas que pelo desfasamento entre as suas habilitações
e as suas qualificações profissionais, ou por situações de cariz familiar, não se
relacionam de forma regular e continua com o universo cultural. Apesar de disporem de
todas as ferramentas necessárias à fruição cultural, esta torna-se “oblíqua ou
distraída”16
, na medida em que é um público fortemente influenciado pelo caráter
mediático e de entretenimento do espectro cultural. No último patamar encontra-se o
público retraído constituído por indivíduos com baixas habilitações literárias e baixas
qualificações. Ao contrário dos outros dois grupos, este grupo tem grande representação
tanto na camada jovem da população como na camada sénior. Mais uma vez o caráter
mediático e publicitário desempenha um papel determinante no consumo cultural. João
Lopes refere mesmo que a televisão é um dos meios que desempenha um papel maior
na relação com estes públicos, conduzindo-os ao consumo de uma cultura que classifica
como sendo do espaço doméstico, ou seja, aquela que encontra uma “divulgação
garantida na televisão”17
.
Ao considerarmos estas tipologias de público, poderíamos considerar a última como
aquela onde se enquadraria o público sénior, contudo esta situação não é algo que se
verifique na generalidade deste sector da população. Ao contrário de uma camada de
públicos como os NEE’S onde toda a população apresenta limitações face às
ferramentas de que dispõem para a sua inclusão na sociedade, o mesmo não acontece no
público sénior. Embora se verifique que os públicos mais ligados à fruição da cultura se
tratam de camadas da população maioritariamente jovens, o sénior não se encontra
excluído destas, visto que a sua autonomia cultural depende intrinsecamente de fatores
individuais, tais como o seu nível de educação ou a sua mobilidade. Nesse sentido não
podemos considerar o público sénior um público inclusivo, ou exclusivamente retraído.
Contudo fatores como a capacidade de atenção ou a memória encontram-se alterados
e/ou diminuídos devido ao processo de envelhecimento, pelo que pautar a programação
15
LOPES, João, Experiência Estética e Formação de Públicos in Públicos da Cultura: Actas do
Encontro organizado pelo Observatório das Actividades Culturais no Instituto de Ciências Sociais da
Universidade de Lisboa. – Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 2004, p. 46. 16
Idem, Ibidem, p. 46. 17
Idem, Ibidem, p. 47.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
18
para este público pela programação do público adulto, implica estar a criar atividades
que exigem um grau de concentração e desempenho idêntico ao de um grupo de público
adulto situado na camada ativa da população, lato sensu considerando os indivíduos
entre os 15 e os 64 anos de idade.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
19
2. Os Serviços Educativos no Panorama Museológico Português
No panorama museológico português, pode-se observar como a educação em museus
teve o seu impulsionador na pessoa do Dr. João de Couto sobretudo no trabalho que
desenvolveu no período de direção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) – de
1938 a 1964 – com a criação do primeiro serviço educativo cuja origem remonta ao
serviço infantil do MNAA e ao serviço de extensão escolar, dois projetos pioneiros no
âmbito da relação escola-museu. Contudo a função educativa do museu ainda que
oficialmente instituída em 1936 pelo artigo 10º do Decreto-Lei nº 27084, que previa e
recomendava que nas visitas de estudo fossem “incluídos os museus e monumentos
nacionais”18
, teve a sua génese na criação dos museus universitários ainda no século
XVIII na Universidade de Coimbra e no século XIX nas Universidades de Lisboa e do
Porto19
, destinados ao público escolar nomeadamente os estudantes universitários.
O trabalho desenvolvido entre as décadas de 30 e 60 no MNAA, fundamental, era
amplamente direcionado para o público escolar. “Sempre me preocupei com a atividade
instrutiva educativa do Museu (…) Ainda com o Dr. José de Figueiredo estabeleci o
programa de um serviço de extensão escolar que teve, durante alguns anos, efetiva
realização e produtivos resultados (…) quando assumi a direção do Museu, o serviço de
extensão escolar esmoreceu. Continuei porém a pensar que o Museu não podia deixar de
ser no futuro o centro educativo quer por si próprio quer em colaboração com as
universidades, liceus e escolas de ensino técnico, para não falar das primárias.”20
No encontro Serviços Educativos em Portugal: Ponto da Situação21
, promovido pelo
ICOM Portugal em 2011, Catarina Moura22
refere que apesar dos esforços evidenciados
18
Diário da República, I Série – nº 241, 14/10/1936, Decreto-Lei nº 27084 de 14 de Outubro, p. 1238. 19
COSTA, Maria Madalena G. F. Cardoso, Museus e educação no período do “Estado Novo”: o papel
de João Couto (1928-1964), in IDEARTE, Revista de Teorias e Ciências da Arte. – Ano VI, nº 7, 2011, p.
10. 20
Museu Nacional de Arte Antiga, A Obra do Dr. João de Couto no Museu Nacional de Arte Antiga. –
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 1967, p. 24. 21
Consultado em www.icom-potugal.org a 27 de Setembro de 2012. 22
Catarina Moura, formada na área de Formação de Professores em Educação pela Arte, é atualmente
coordenadora do Serviço Educativo do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.
Colabora como convidada em Cursos de Mestrado de Museologia, Património, Educação Artística e Arte
Contemporânea em contexto educativo/ pedagógico nos museus, com a Universidade de Lisboa. Co-
orienta estágios de investigação de licenciatura e mestrado. Integrou grupos de reflexão na área dos
Serviços Educativos de Museus para o IPM. Orientou uma acção de formação no âmbito dos Serviços
Educativos para a RPM. Participou como oradora em vários congressos e seminários, publicou artigos em
revistas da especialidade. Concebeu, estruturou e coordenou os serviços educativos dos museus de José
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
20
para tornar o museu num espaço educativo acessível a todos os públicos este
organizava-se “numa estrutura elitista muito hierarquizada, centrando-se principalmente
na investigação e na constituição das coleções. Rodeia-se por um círculo restrito de
conhecedores e especialistas que apreciam exposições permanentes, estáticas, sobre as
quais se constrói um discurso cristalizado. Nos grandes museus nacionais, de belas
artes, mantém-se a veneração pelo acervo que se defendia dos públicos curiosos, sem
conhecimento específico ou cultura adequada. A presença de outro público é pouco
valorizada. Escolas e crianças são tidas como um mal necessário.”23
Foi no entanto
ainda durante a década de 70 que se assistiu a uma viragem, incentivada pelo fim do
Estado Novo. Em 1969, era instalada em Lisboa a sede da Fundação Calouste
Gulbenkian (FCG), onde mais tarde viria a ser criado um serviço educativo com
monitores promotores de visitas guiadas e outras atividades à semelhança do que já
acontecia no MNAA e surgia nos museus estatais. Contudo, só na década de 80 os
serviços educativos viram a sua situação legitimada com a criação do decreto de lei nº
45/80, que considerava ser “urgente reformular a situação de todo o pessoal dos
museus”24
, decretando-se a reestruturação bem como a criação de novas categorias
divididas em pessoal dirigente, pessoal técnico superior, pessoal técnico profissional de
museografia e administrativo e pessoal auxiliar, enquadrando-se a categoria de monitor
na carreira técnico profissional, designada no artigo 23º como alguém que “colabora na
ação cultural do museu, exercendo junto do público funções de educação, animação e
informação.”25
A referida lei-quadro não visava apenas legitimar a carreira do pessoal
ao serviço dos museus, mas também a própria instituição em todos os seus planos de
atuação nomeadamente ao nível da ação cultural conforme refere o artigo 2º “Compete
aos museus no domínio da acção cultural: a) dinamizar as relações do museu com o
público, por todos os meios ao seu alcance (…) b) organizar actividades culturais por
forma sistemática e regular, em colaboração com estabelecimentos de ensino,
associações culturais e profissionais e demais entidades públicas ou privadas;”26
Apesar
Malhoa, Museu do Teatro e Museu do Chiado. É membro fundador do Movimento Português de
Intervenção Artística e Educação pela Arte e membro do GAM. 23
MOURA, Catarina, O Pulsar do Meio Século – Historial crítico sobre os Serviços Educativos dos
Museus do Estado, Actas do Encontro Comunicação do Encontro Nacional de Serviços Educativos em
Portugal: Ponto da Situação, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 07 de Fevereiro de 2011, p. 4. 24
Diário da República, I Série – nº 67, 20/03/1980, Decreto-Lei nº 45/80 de 20 de Março, pág. 493. 25
Idem, Ibidem, pág. 497. 26
Idem, Ibidem, pág. 494.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
21
de legitimar a carreira de monitor e o papel dos serviços educativos nos museus,
continuou por resolver uma questão essencial à prática dos seus profissionais, a da
formação especializada na área a qual só viu resolução no início da década de 90 com a
criação do primeiro Mestrado em Museologia e Património pela Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Apesar da aposta na legitimação
dos serviços educativos e na formação dos seus profissionais, em 1993 apenas 5 dos 10
museus dependentes do Instituto Português de Museus (IPM) eram dotados de serviço
educativo. Ainda no mesmo ano era inaugurada uma nova instituição cultural o Centro
Cultural de Belém, contudo este só viria a constituir uma equipa de serviço educativo
em 1998, situação semelhante à do Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão que
só criou um serviço de educação em 2002, 19 anos após a sua inauguração em 1983.
Algo que contribuiu nos finais da década de 90 para a criação e promoção dos serviços
educativos em Portugal foi a criação de espaços expositivos como o Pavilhão do
Conhecimento promotores do conceito de museu enquanto espaço essencialmente
educacional27
.
Ao nível autárquico verificou-se igualmente o crescimento da aposta na mediação
cultural ainda durante a década de 80 com a criação do serviço de extensão cultural do
Museu de Setúbal/Convento de Jesus em 198428
.
Embora esta aposta na educação tenha progredido e ganho novos sentidos e direções por
forma a abranger novos públicos, continua maioritariamente voltada para o público
escolar. Rui Telmo Gomes e Vanda Lourenço atestam esta realidade no panorama
museológico atual a quando de um inquérito realizado aos serviços educativos
portugueses. “Não obstante a diversidade de atividades que compõem a oferta dos
serviços educativos o número de sessões realizadas (…) privilegia largamente as
atividades vocacionadas para um público em contexto de aprendizagem formal
(escolar). O trabalho com escolas é claramente a atividade central dos serviços
educativos dos equipamentos culturais.”29
27
MARTINHO, Teresa Duarte, Apresentar a Arte: Estudo sobre monitores de visitas a exposições. –
Observatório das Actividades Culturais, 2007, Lisboa, p. 100-101. 28
DUARTE, Ana, Educação Patrimonial: Guia para professores, educadores e monitores de museus e
tempos livres. – Lisboa: Texto Editora, 1993, p. 9.
29 GOMES, Rui Telmo e LOURENÇO, Vanda, Democratização Cultural e Formação de Públicos:
Inquérito aos “Serviços Educativos em Portugal. – Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 2009,
p. 125.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
22
Se é um facto que a museologia nacional tem vivido um investimento crescente na
relação com os públicos, verificando-se um aumento exponencial no número de
visitantes dos museus com um crescimento de 5,348 visitantes em 1990 para 10,363 em
201030
, é também uma realidade que o público escolar representa uma percentagem
significativa e em crescimento no total de visitantes dos museus, tendo passado de
14,5% em 1994 para 21,2% em 2010 (tabela 1).
Tempo % visitantes escolares
1994 14,5
2010 21,2
Tabela 1: Visitantes escolares no total de visitantes dos museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários
em Portugal (percentagem).
Fontes: INE, PORDATA
Paralelamente é possível observarmos que a taxa de envelhecimento em Portugal,
aumentou num período de 51 anos, passando de 27,3% em 1960, para 128,6% em 2011
(tabela 2). Isto corresponde a um aumento de 4,26% face à camada infanto/juvenil [0-14
anos] que em 1960 ultrapassava a população sénior em 21,19%.
Tabela 2: Indicadores de Envelhecimento segundo os censos em Portugal (percentagem).
Fontes: INE, PORDATA
Contudo este crescimento no envelhecimento da população não tem o seu reflexo direto
no panorama museológico nacional. Analisada a oferta pedagógica dos serviços
30
Tomo II, tabela 11: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários: número e visitantes – Portugal, p.
131.
Tempo Índice de
envelhecimento
Índice de dependência
total
Índice de dependência
jovens
Índice de dependência
idosos
Índice de longevidade
1960 27,3 59,1 46,4 12,7 33,6
1970 34 61,7 46 15,6 32,8
1981 44,9 58,6 40,5 18,2 34,2
1991 68,1 50,6 30,1 20,5 39,3
2001 102,2 47,8 23,6 24,2 41,4
2011 Pro 128,6 Pro 51,6 Pro 22,6 Pro 29,0 -
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
23
educativos portugueses, verifica-se a quase inexistência de uma oferta direcionada para
o público sénior.
Não sendo objetivo deste estudo analisar a oferta de todos os museus do panorama
nacional, foram selecionados aqueles dedicados à arte contemporânea e que se inserem
num panorama museológico de maior mediatismo, por serem estes os que conseguem
dessa forma estender a sua oferta a uma maior variedade de públicos, e no entendimento
do conceito de públicos retraídos onde se poderá enquadrar o público sénior.
A oferta analisada contemplou apenas a oferta regular, uma vez que atividades pontuais
ou de exceção não apresentam um caráter de continuidade que permita por si só a
criação de condições para a fidelização destes públicos.
De 6 instituições analisadas, apenas 2 possuem programação especificamente
direcionada para o público sénior, sendo este público nos restantes casos incluído na
oferta para público adulto31
.
31
Tomo II, anexo A – Oferta pedagógica para o público sénior em 7 instituições museológicas
portuguesas, p. 5.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
24
3. O Concelho de Cascais
3.1 Caracterização Sociodemográfica
Vila de corte, Cascais era na sua essência burgo piscatório até meados de 1870, altura
em que a vila se tornou alvo das atenções do rei D. Luís I e da rainha D. Maria Pia que
dela fizeram a sua estância balnear. Cascais começou a beneficiar de significativos
melhoramentos, como a colocação de luz elétrica em 1878 por ocasião do aniversário do
príncipe D. Carlos, tendo sido a primeira vez que se experimentara a luz elétrica no
país.32
Embora a história de Cascais não se faça apenas a partir de 1900 foi desde o
segundo quartel do século XIX que a população de Cascais viu a pacata vila de
pescadores crescer até se tornar concelho.
Situado geograficamente entre Oeiras, Sintra e o Oceano Atlântico o concelho de
Cascais com uma área de 97km2, é atualmente composto pelas seguintes freguesias:
Alcabideche, Cascais, Carcavelos, Estoril, Parede e São Domingos de Rana, sendo as
freguesias de maior densidade populacional as da orla costeira e destas as que se
encontram próximas da fronteira com o concelho de Oeiras – Parede, Carcavelos e São
Domingos de Rana. O concelho de Cascais totaliza uma densidade populacional de
2121,3 hab/km2, sendo que em 2011 a população ativa [15-64 anos] residente no
concelho era de 136,583 habitantes, face a população inativa de 32,728 habitantes no
que considera à população com idade inferior a 14 anos, e 37,305 habitantes
relativamente à população com mais de 65 anos (tabela 3).
Grandes grupos etários
Territórios Total 0-14 15-64 65+
Anos 2011 2011 2011 2011
Portugal 10556999 1567965 6957212 2031822
Continente 10042807 1480200 6604073 1958535
Cascais 206616 32728 136583 37305
Tabela 3: População residente: total e por grandes grupos etários, valores absolutos (milhares).
Fonte: INE, PORDATA
32
SOUSA, Maria José Pinto, Cascais 1900. – Lisboa: Inapa, 2003, pp. 14-18.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
25
Os valores referidos mostram a existência em 2011 de 3,7 indivíduos em idade ativa por
idoso no concelho de Cascais, muito próxima da média nacional de 3,4 indivíduos por
idoso (tabela 4).
Territórios Índice de
Sustentabilidade Potencial
Anos 2001 2011
Portugal 4,1 3,4
Continente 4,1 3,4
Cascais 4,6 3,7
Tabela 4: Número de indivíduos em idade ativa por idoso (rácio).
Fonte: INE, PORDATA.
A percentagem de reformados do concelho corresponde a 3% da média nacional, com
11780 reformados, revelando-se como um dos concelhos da área da Grande Lisboa com
uma maior percentagem de reformados e aposentados apenas antecedido pelos
concelhos de Lisboa e Sintra, e equiparado pelo concelho de Oeiras (tabela 5).
Territórios Reformados e aposentados
Pensionistas
Anos 2003 2011 2003 2011
Portugal 355097 453129 121756 138648
Continente 342147 435116 114457 130917
Grande Lisboa
127162 151805 40718 45085
Amadora 8520 10042 2670 2884
Cascais 9104 11780 3084 3496
Lisboa 64567 73416 21176 22675
Loures 8217 10425 2280 2717
Mafra 1298 2002 555 688
Odivelas 6560 8193 1808 2147
Oeiras 11231 14061 3607 3911
Sintra 12819 15935 4193 4848
Vila Franca de Xira
4846 5951 1345 1719
Tabela 5: Caixa Geral de Aposentações: reformados/aposentados e pensionistas (individuo).
Fonte: CGA/MFAP, PORDATA.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
26
Relativamente à população estrangeira residente no concelho esta era de 10,8% em
201133
, revelando-se como um dos concelhos da região de Lisboa onde mais cidadãos
solicitaram o estatuto de residência, apenas igualado pelo concelho da Amadora.
3.1.1 Educação e Mercado de Trabalho
No que concerne ao sector da educação, 4,55% da população do concelho de Cascais
segundo os censos de 2001 não apresentava qualquer nível de escolaridade34
.
Em 2010 2,96% encontrava-se a frequentar o ensino pré-escolar, 5,15% tinha o 1º ciclo
e 2,75% o 2º ciclo, enquanto o 3º ciclo era detido por 4,38% da população e o ensino
secundário por 4,03% (tabela 6). Quanto ao ensino superior, segundo os valores
apresentados pelos censos de 2011, 25,8% dos residentes em Cascais detinham o ensino
superior completo35
.
Territórios Total Educação
Pré-Escolar
Ensino Básico - 1º Ciclo
Ensino Básico - 2º Ciclo
Ensino Básico - 3º Ciclo
Ensino Secundário
Anos 2010 2010 2010 2010 2010 2010
Cascais 19,31 T 2,96 T 5,15 T 2,75 T 4,38 T 4,03
Tabela 6: Alunos matriculados no ensino pré-escolar, básico e secundário (percentagem).
Fonte: INE, GEPE/ME – Recenseamento Escolar, PORDATA.
No campo do emprego em 2001, 58,2% da população de Cascais encontrava-se
empregada, sendo que a média dos indivíduos empregados com mais de 65 anos era de
9,1% apresentando-se como a mais elevada da região de Lisboa (tabela 7), em
contraponto com a taxa de desemprego36
que no concelho de Cascais apresentava
valores de 6,9%, face à da região de Lisboa com valores de 7,6% num panorama
nacional onde a taxa média era de 6,8% de desempregados, o que posiciona Cascais
33
Tomo II, tabela 12: População estrangeira com estatuto legal de residente em percentagem da
população residente: total e por sexo, p. 131. 34
Tomo II, tabela 13: Taxa de analfabetismo em percentagem por local de residência à data dos Censos
2001, p. 132. 35
Tomo II, tabela 14: População Residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais
elevado segundo os Censos, 132. 36
Tomo II, tabela 15: Taxa de desemprego segundo os Censos 2001: total e por grupo etário, p. 133.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
27
como um dos concelhos que apresenta menores níveis de desemprego na região de
Lisboa, antecedido apenas por Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira.
Grupos etários
Territórios Total 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65+
Anos 2001
Portugal T 53,5 43,2 83,2 80,9 71,2 40,3 5,3
Continente T 53,5 43,3 83,4 81,2 71,4 40,4 5,3
Grande Lisboa
T 57,3 41,0 85,5 85,6 77,8 46,6 7,6
Amadora T 57,9 42,1 85,4 86,2 77,9 45,3 6,5
Cascais T 58,2 39,2 85,0 85,3 77,5 49,9 9,1
Lisboa T 50,4 36,0 82,5 84,3 78,3 47,7 8,1
Loures T 59,0 T 43,4 T 85,5 T 85,6 T 76,4 T 43,4 T 6,6
Mafra T 58,3 52,6 86,6 83,7 74,5 45,5 5,1
Odivelas T 60,8 43,2 86,6 85,9 78,9 48,2 7,9
Oeiras T 58,1 35,7 86,3 87,8 80,0 47,9 7,8
Sintra T 64,0 45,5 87,4 86,3 77,6 46,3 7,3
Vila Franca de
Xira T 60,8 44,2 87,3 86,3 75,7 39,9 4,6
Tabela 7: Taxa de Emprego segundo os Censos: total e por grupo etário (percentagem).
Fonte: INE – XII e XIV Recenseamentos Gerais da População, PORDATA.
3.1.2 Turismo e Cultura
Outra vertente fundamental e que conflui diretamente na área do mercado de trabalho, e
que se revela como um indicador indispensável à área da cultura é o setor do turismo,
sendo Cascais marcadamente um destino turístico quer a nível nacional quer a nível
internacional.
Pelo número de dormidas registadas em equipamentos hoteleiros, Cascais teve uma
afluência de 1,190,605 indivíduos em 201137
, sendo que 69% eram de nacionalidade
estrangeira38
.
37
Tomo II, tabela 16: Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros por localização geográfica e tipo, p. 133. 38
Tomo II, tabela 17: Proporção de hóspedes estrangeiros por localização geográfica, p. 134.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
28
No que concerne aos equipamentos culturais em 2010 os museus de Cascais registaram
um total de 199,322 visitantes sendo que 56,856 eram visitantes escolares (tabela 8).
Visitantes
Territórios Total Visitantes escolares
Anos 2010 2010
Portugal 13839829 2940165
Continente 13130203 2886384
Cascais 199322 56856
Tabela 8: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários: total de visitantes e visitantes escolares
(rácio).
Fonte: INE – Inquérito aos Museus, PORDATA
Já em 2011 verificou-se uma média de 20,128,1 visitantes de galerias de arte e outros
espaços de exposições temporárias39
e os museus registaram uma média de 1006,9
visitantes por cada mil habitantes (tabela 9).
Territórios Visitantes por mil habitantes
Anos T 2010
Portugal T 1305,0
Continente T 1299,9
Cascais T 1006,9
Tabela 9: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários: visitantes por mil habitantes (taxa –
permilagem).
Fonte: INE – Inquérito aos Museus, PORDATA
Quanto ao investimento feito pelos municípios na área da cultura e do desporto, Cascais
apresentava em 2010 um investimento de 12.111,4 euros, tendo sido aplicado 58,5% da
verba indicada ao património cultural, 81,5% a atividades sócio culturais e 0,4% a
recintos culturais, revelando-se como um dos concelhos da área da Grande Lisboa que
mais investiu na área da cultura e do desporto apenas antecedido pelo concelho de
39
Tomo II, tabela 18: Galerias de arte e outros espaços de exposição temporária: número médio de
visitantes, p. 134.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
29
Lisboa com um investimento de 43.737,5 euros, e pelo concelho de Sintra cujo
investimento foi de 15.170,3 euros (tabela 10).
Tabela 10: Despesas das Câmaras Municipais em cultura e desporto, valores absolutos (euro-milhares).
Fonte: INE - Inquérito ao Financiamento Público das Atividades Culturais das Câmaras Municipais,
PORDATA.
3.1.3 Politicas Culturais
No sítio da Câmara Municipal de Cascais pode ler-se que “a atividade cultural da
Câmara Municipal de Cascais desenvolve-se segundo cinco linhas estratégicas:
Património: estudo, salvaguarda e formulação e implementação de projetos de
utilização; projetos estratégicos interdisciplinares consubstanciados em Planos de
Pormenor e na definição de perímetros culturais; Gestão das Redes de Equipamentos
Culturais (Museus, Bibliotecas, Auditórios e Centro Cultural de Cascais); Apoio ao
associativismo e à consolidação do tecido cultural do concelho; Desenvolvimento de
Territórios
Actividades Culturais
Total Património
cultural Publicações e literatura
Música Artes
cénicas
Actividades sócio-
culturais
Recintos culturais
Jogos e desportos
Anos 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2010
Portugal 721090,9 85382,5 71204,6 39259,6 19772,8 69857,8 45553,0 287148,3
Continente 685883,3 82267,7 69146,4 35873,0 18485,1 63190,2 44261,4 274901,1
Grande Lisboa
102304,8 18063,3 12827,7 2562,6 6229,9 6685,0 2542,7 19394,0
Amadora 3980,4 41,0 369,5 46,6 8,4 1119,2 64,8 800,5
Cascais 12111,4 1667,3 755,8 903,3 545,3 33,1 871,2 2226,7
Lisboa 43737,5 9234,0 7568,6 607,6 4791,7 2843,5 0,0 5,4
Loures 4051,4 1112,4 630,1 200,5 26,2 204,7 5,1 1413,6
Mafra 4377,7 72,5 373,4 82,1 24,0 25,1 98,8 2707,5
Odivelas 3297,6 129,4 519,0 11,6 0,0 140,9 31,8 1077,7
Oeiras 10657,0 579,8 566,1 0,0 529,3 1432,3 149,4 2447,8
Sintra 15170,3 2260,8 1140,2 238,0 217,3 735,7 1275,7 8531,6
Vila Franca de Xira
4921,5 2966,1 905,0 472,8 87,9 150,4 45,9 183,3
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
30
iniciativas e projetos culturais locais, mas orientados para um âmbito nacional ou
internacional e de grande prestígio; Forte aposta num setor editorial diversificado que
responda às necessidades de todos os tipos de público.”40
Interessa-nos salientar este último aspeto, o qual já desde 2001 vem fazendo parte das
políticas culturais do concelho. No ano de 2000 foi criado em Cascais um programa
com a duração de 4 anos denominado Cascais-Cultura, sob a orientação de Jorge Letria,
vereador da cultura à data, que defendia três eixos de ação para Cascais “Eu defini estes
princípios: combate à sazonalidade, portanto oferta cultural o ano inteiro; definição do
perfil de públicos, um público mais tradicional/um público mais ligado à modernidade,
púbicos do interior/públicos do litoral; (…) portanto toda a programação foi feita
levando em conta estes pressupostos e uma outra coisa que foi, penso eu, o que permitiu
à Câmara acabar o mandato, em finais de 2001, com aquilo que foi mais marcante, que
foi a criação de uma rede de equipamentos.”41
O vereador completava ainda indicando
quais os motivos que conduziram à criação da referida estratégia. “A definição desta
política cultural levou ainda em consideração, desde o início, vários fatores: a
pluralidade de públicos e de gostos existentes num concelho com cerca de 200 mil
habitantes, a dicotomia litoral-interior, a notória vocação turística da região, a sua
memória histórica, o seu cosmopolitismo e a influência que a criação de uma oferta
regular tem, inevitavelmente, no tecido económico.”42
Inaugurada 8 anos depois, a Casa das Histórias Paula Rego, veio corresponder às
premissas enunciadas em 2001, enfatizando segundo o estudo Casa das Histórias Paula
Rego, Estratégias Comunicacionais e suas Implicações nos Visitantes43
, a vocação
turística da região, uma vez que o seu caráter mediático bem como o local da sua
implementação contribuíram para um aumento da afluência de público aos museus
municipais do concelho “não somente por estar inserido geograficamente próximo dos
mesmos, mas também porque a sua temática e acervo complementam os dos restantes
museus.”44
40
Consultado a 14 de Setembro de 2012 em www.cm-cascais.pt/area/cultura. 41
LIMA, Maria João e NEVES, José Soares, (co-autor), Cartografia Cultural do Concelho de Cascais. –
Observatório das Actividades Culturais. – Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2005, p. 77. 42
Idem, Ibidem, p. 78. 43
CARVALHO, Carla, Casa das Histórias Paula Rego: Estratégias Comunicacionais e suas implicações
nos Visitantes. Tese de Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação. – Lisboa:
ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, 2010. 44
Idem Ibidem, p. 67.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
31
O próprio edifício apesar de contemporâneo não deixa de evocar a dita memória
histórica quer pelo local de implementação, quer pelas correspondências com as casas
de Raul Lino45
através de uma proposta de “um novo regionalismo não pitoresco”46
aqui
projetado por Eduardo Souto de Moura47
.
45
Arquiteto português, Raul Lino (21.11.1879 – 13.07.1974) foi um defensor de uma arquitetura
tradicional, em que arte e arquitetura são produtos do homem e para os homens. Projetou ao longo da sua
vida, mais de 700 obras, de entre as quais se destacam a, Exposição do Mundo Português de 1940, a Casa
de Santa Maria, em Cascais ou a Casa dos Penedos em Sintra. Foi ainda autor de numerosos textos como
A casa Portuguesa, sobre questões inerentes à arquitetura doméstica popular. Desempenhou cargos no
Ministério das Obras Públicas e foi Superintendente dos Palácios Nacionais. Foi ainda membro fundador
da Academia Nacional de Belas Artes. 46
MILHEIRO, Ana Vaz, O Arquitetar das Casas Simples in Casa das Histórias Paula Rego –
Arquitetura. – Cascais: Casa das Historias Paula Rego, 2009, p. 17. 47
Eduardo Souto de Moura é um arquiteto português, nascido no Porto a 25 de Julho de 1952. Licenciado
em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1980, conta na sua carreira com mais de
60 edifícios projetados em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Reino Unido e Suíça. Professor
convidado em Paris-Belleville, Harvard, Dublin, Zurich e Lausanne, recebeu vários prémios e participou
em vários seminários e conferências em Portugal e no estrangeiro. A Casa das Histórias Paula Rego,
valeu a Souto de Moura, o Prémio SECIL de Arquitectura 2010.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
32
4. A Casa das Histórias Paula Rego
4.1 Fundação Paula Rego
A Fundação Paula Rego, instituída oficialmente em Diário da República a 04 de
Setembro de 2009, surge enquanto tutela da Casa das Histórias Paula Rego e define esta
como “uma instituição que ultrapasse a noção de museu como mero local de
conservação de peças de património artístico e em que prevaleça a função dinamizadora
própria de um verdadeiro centro de irradiação cultural”48
.
O acervo da fundação é constituído pelo espólio doado pela artista ao Município de
Cascais, e é composto por 524 obras, incluindo toda a sua obra gráfica a qual ascende a
257 obras e 278 desenhos. Este acervo é ainda completado por 52 pinturas de Paula
Rego e 15 pinturas do artista Victor Willing49
em regime de comodato por um período
de 10 anos.
A fundação tem como atividade primordial a divulgação e o estudo da obra dos dois
artistas, bem como a divulgação da arte moderna e contemporânea e nesse sentido, a
promoção de atividades que contribuam para esta.
4.2 Casa das Histórias Paula Rego
Inaugurada a 18 de Setembro de 2009, a Casa das Histórias Paula Rego implementada
no espaço da Parada de Cascais, veio enriquecer a rede cultural de museus aí existente.
Segundo as palavras de Helena Sofia Silva e André Santos, “trata-se de uma das obras
mais singulares”50
do percurso de Eduardo Souto de Moura.
48
Diário da República, I Série – nº 172, 04/09/2009, Decreto-Lei nº 213/2009 de 14 de Setembro, p.
5928. 49
Pintor e crítico de arte, Victor Willing nasceu em Alexandria, em 1928. Com apenas quatro anos foi
viver para Londres, onde morreu em 1988, vítima de esclerose múltipla. Formado em pintura pela Slade
Shcool of Fine Art, foi aqui que conheceu Paula Rego com quem casou em 1959. Para além do percurso
desenvolvido enquanto pintor, Victor Willing foi um dos mais essenciais críticos da obra de Paula Rego.
Dois anos antes da sua morte, em 1986, a Whitechapel Art Gallery apresentou a primeira exposição
retrospectiva do artista, e em 2010 a Casa das Histórias Paula Rego apresentou a primeira exposição
retrospectiva em Portugal sob a curadoria de Hellmut Wohl. 50
SILVA, Helena Sofia, SANTO, André, Souto de Moura, Coleção Arquitectos Portugueses. – Quidnovi,
2011, Vila do Conde, p. 81
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
33
Edificada no espaço contiguo ao Museu do Mar Rei D. Carlos, este espaço ocupa o
espaço dos antigos courts pertencentes ao Sporting Club de Cascais, fundado em 1879 e
onde se jogaram as primeiras partidas de lawn tennis e de futebol no país51
.
A Casa das Histórias Paula Rego surge como espaço consagrado à divulgação da obra
desta artista conceituada internacionalmente, que conquanto a viver em Londres há mais
de 30 anos, viveu toda a sua infância entre o Estoril, onde ficava a casa de seus pais,
Carcavelos onde frequentou a escola St. Julians, e a Ericeira onde se localizava a casa
dos avós.
O projecto nasceu em 2005 na sequência da doação da artista de 524 obras do seu
espólio ao município de Cascais, que propôs na sequência dessa doação a criação de um
espaço que permitisse a divulgação da sua obra.
Após a escolha do arquiteto, Eduardo Souto de Moura, seleccionou-se o local a antiga
Parada de Cascais. Desde a génese do projecto foi intenção do arquitecto respeitar o
manto verde pré-existente, transformando o edifício num negativo da paisagem. A
flexibilidade modular que se pode observar a partir do volume central do museu,
adquire especial destaque nos dois prismas piramidais que nos remontam às torres de
Raul Lino, ou às chaminés do Palácio da Vila em Sintra.
À data da sua abertura a Casa das Histórias inaugurou com uma exposição da sua
colecção centrada em acrílicos e pastéis de Paula Rego, e paralelamente uma exposição
temporária intitulada Obras de Paula Rego52
, composta por catorze pinturas da galeria
Malborough representante internacional da artista, e por quinze estudos do acervo da
CHPR.
A inauguração foi ainda marcada por uma série de iniciativas promovidas pelo serviço
educativo, que se centraram na realização de visitas guiadas em paralelo com
documentários, performances e outras atividades educativas.
51
RODRIGUES, Dalila (org), Casa das Histórias Paula Rego – Arquitetura. – Casa das Histórias Paula
Rego, 2009, Cascais. 52
Sobre esta exposição ver: RODRIGUES, Dalila (org), Obras de Paula Rego. – Cascais: Casa das
Historias Paula Rego, 2009.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
34
4.3 O Ateliê
Dentro dos moldes de funcionamento da Casa das Histórias Paula Rego, foi prevista a
criação de uma equipa de Serviço Educativo residente. Constituído inicialmente por dez
assistentes, o serviço educativo da CHPR teve por base uma formação integrada que
permitisse à equipa a conceção e realização de visitas guiadas, mas também a gestão da
programação educativa em função da adesão e inclusão dos públicos.
“Para além das visitas guiadas, dez assistentes educativos prometem responder a
qualquer questão do público”, referia uma reportagem do Diário de Noticias a quando
da inauguração53
. Foi prevista a permanência dos assistentes nas salas de exposição, de
forma a poderem dar assistência ao público que visita o espaço autonomamente, bem
como fazer a observação deste.
Interessa-nos aqui salientar as vantagens deste modelo. O facto de ser uma equipa
residente permite através da gestão e observação dos públicos – quer contextualizada
numa atividade, quer autonomamente – entrosamentos renovados com as necessidades
dos visitantes, permitindo a criação de novas realidades inclusivas.
Em 2010 a quando do primeiro aniversário da Casa das Histórias Paula Rego, numa
publicação da CHPR para o Público, a programação do serviço educativo, já então
intitulado de Ateliê, é referida como “uma programação diversificada à medida dos
diferentes públicos”54
desenhada “a partir de dois vectores principais: primeiro, o do
entendimento de que esta é um espaço vivo, de relação com os visitantes, e segundo, o
do desejo de abrir as portas da Casa a todas as pessoas e escalões etários”55
.
Atualmente a programação d’O Ateliê contempla diferentes escalões etários,
nomeadamente visitas para público escolar, familiar e adulto. Contudo as visitas para
público adulto não contemplam especificamente visitas para público sénior. No que
concerne aos públicos inclusivos, O Ateliê apresentou em Outubro de 2012, uma
proposta para públicos com necessidades educativas especiais que permite tanto a
realização de uma visita autónoma como guiada.
53
MARQUES, Marina, Com Paula Rego na sua Casa, in Diário de Noticias. – nº 51299, 17 de Setembro
de 2009, p. 49. 54 Casa da Histórias Paula Rego, Casa das Histórias 1º Aniversário, 18 de Setembro de 2010. –
Suplemento do Jornal Público, in Público, 20 de Agosto de 2010, p. 2. 55
Idem, Ibidem, p 2.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
35
4.3.1 Programação 2009 – 2012
Em 2009 no âmbito da inauguração da CHPR, coincidente com o início do ano lectivo
escolar, o serviço educativo apresenta aos públicos a seguinte programação. Três visitas
orientadas para adultos e duas visitas guiadas destinadas aos públicos infantis. As visitas
para os públicos infantis destinavam-se a crianças até aos 12 anos e as visitas para
adultos destinavam-se a públicos a partir dos 15 anos. Dada a importância e pluralidade
da obra de Paula Rego bem como do edifício desenhado por Eduardo Souto de Moura,
as visitas destinadas aos públicos adultos apresentavam três tipologias diferentes, uma
centrada no percurso artístico de Paula Rego, sendo este apresentado cronologicamente
de forma a acompanhar o circuito expositivo, outra intitulada Diálogos entre
exposições, que fazia a ponte entre as obras da coleção e as obras da Galeria
Marlborough patentes na exposição e a terceira visita dedicava-se exclusivamente ao
projeto arquitetónico. No que respeita às visitas para crianças uma centrava-se nas
crianças até aos 6 anos, propondo um percurso de exploração da obra da artista com
recurso a um objeto multissensorial, intitulado Através dos Sentidos. A outra proposta
apresentada destinava-se a públicos com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos,
e tratava-se de uma visita onde se apresentava o percurso artístico de Paula Rego em
tom biográfico com recurso a um livro que simulava o seu álbum de família. Esta visita
intitulava-se Ida e Volta.
Para além das diferentes tipologias apresentadas distinguia-se ainda os públicos em
geral, escolar e familiar, contudo as visitas apresentavam os mesmos conteúdos para as
diferentes tipologias de públicos, sendo feita a adaptação do discurso e metodologia à
faixa etária dos participantes.
Durante o ano de 2010, a programação foi sofrendo diversas alterações, em função das
necessidades dos públicos. Uma necessidade desde logo evidente era a ausência de
visitas para a faixa etária entre os 12 e os 15 anos56
. Ainda no âmbito dos públicos
juvenis foi sentida uma outra necessidade nas visitas para grupos escolares,
nomeadamente os grupos do agrupamento artístico, surgindo assim a visita Linguagens,
Técnicas e Processos que incidia como o nome refere nas técnicas utilizadas pela artista
no seu processo de criação artística.
56
Tomo II, anexo B – Cronologia da Oferta Pedagógica d’O Ateliê – Serviço Educativo da Casa das
Histórias Paula Rego, p. 6.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
36
O contato direto e permanente com os seus públicos, revela-se assim fundamental na
gestão que o serviço educativo faz desses dados para potenciar as suas atividades
dirigindo-as em função das necessidades de quem solicita os seus serviços, mas também
como elemento fulcral à percepção dos públicos autónomos e dos não públicos. Este
contato permite igualmente ao serviço educativo a perceção da reação dos participantes
às alterações na programação, permitindo assim perceber a melhor forma de rentabilizar
recursos, através da criação de tipologias de visita transversais a diversas exposições ou
através de uma amplificação da oferta ao nível da criação de modelos de visita pagos,
que tem o seu reverso em outras visitas gratuitas por forma a fazer face aos visitantes
com menos recursos económicos. O facto de se tratar de uma equipa residente originou
ainda uma cunha autoral que se refletiu no surgimento d’O Ateliê, a designação do
serviço educativo da CHPR desde 2010. No âmbito do seu desenvolvimento O Ateliê
expandiu a sua oferta às oficinas de férias e a projetos de continuidade com escolas e
outros parceiros culturais.
4.3.2 Contagens de Públicos
Para além da análise realizada em torno da atividade desenvolvida pel’O Ateliê foi
comparada a sua oferta com as tipologias de público participante nas atividades
desenvolvidas. Para tal observou-se a contagem de públicos realizada pel’O Ateliê, a
qual apresenta atualmente dados referentes ao período de Setembro de 2010 a Setembro
de 2012 verificando-se que um total de 230976 visitantes visitou a CHPR neste período,
dos quais 80% eram visitantes autónomos e 20% visitantes integrados nas atividades
d’O Ateliê (gráfico 1).
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
37
Gráfico 1: Visitantes da Casa das Histórias Paula Rego – Setembro de 2010 a Setembro de 2012 – em
valores absolutos (milhares).
Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.
No que concerne aos visitantes que vieram à CHPR no âmbito das atividades
desenvolvidas pel’O Ateliê verifica-se que 72% vêm durante a semana e 28%
integrados nas atividades de fim de semana (gráfico 2).
Gráfico 2: Número de visitantes livres da Casa das Histórias Paula Rego e participantes d’O Ateliê por
período semanal (percentagem).
Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
38
Relativamente à tipologia dos visitantes, 52% é constituído por visitantes em contexto
escolar, 20% por famílias e 8% por seniores e 21% por outros. No que concerne à
última categoria referida esta respeita a diferentes tipos de grupos, nomeadamente
grupos de língua estrangeira e outros grupos organizados. Esta amostra remete-nos para
o total de visitantes que se deslocaram à CHPR entre Setembro de 2010 e Setembro de
2012 inseridos em atividades promovidas pel’O Ateliê (gráfico 3).
Gráfico 3: Visitantes d’O Ateliê entre Setembro de 2010 e Setembro 2012 por grupos (percentagem). Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.
Se compararmos as tipologias de público que visitam a CHPR no que respeita ao seu
fluxo anual verificamos que entre Setembro de 2010 e Setembro de 2012 um dos grupos
que apresentou maiores oscilações e menores afluências de publico foi o grupo sénior
apenas seguidos pelos grupos de língua estrangeira e outros grupos. Em contraponto os
grupos escolares foram os que registaram uma maior constância no seu fluxo bem como
uma maior afluência seguidos pelos grupos familiares (gráfico 4).
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
39
Gráfico 4: Fluxos por grupos de visitantes d’O Ateliê entre Setembro de 2010 e Setembro 2012, valores
absolutos (milhares).
Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.
Importa-nos salientar no que concerne aos públicos seniores, que o facto de a CHPR
não apresentar uma oferta específica para esta tipologia de públicos pode contribuir
grandemente para quebras tão acentuadas, verificando-se igualmente que apesar da
diversidade no que respeita aos públicos que realizam atividades promovidas pel’O
Ateliê, se verifica que os públicos seniores continuam a ser minoritários, situando-se no
extremo oposto aos públicos escolares.
Um dos fatores que contribui positivamente para a realização de visitas com públicos
seniores é o trabalho desenvolvido por instituições como as Universidades Seniores, os
Centros de Dia e outras entidades direcionadas para esta faixa de público, destacando-se
no concelho de Cascais, o Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa e o Centro de
Saúde de Cascais, duas instituições promotoras de uma relação de proximidade entre os
espaços culturais do concelho e a sua população sénior.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
40
5. Programa Conversa da Treta do Centro de Saúde de Cascais
O Centro de Saúde de Cascais situado no centro da vila promove desde 2003 no núcleo
de enfermagem, o programa Conversa da Treta a partir da iniciativa do enfermeiro
Francisco Fonseca e da enfermeira Neusa Caldas, que no desempenho das suas funções
sentiram a necessidade de criar um espaço que transformasse o acolhimento ao utente
num processo menos impessoal.
O referido espaço deveria ser um local que favorecesse e privilegiasse o convívio entre
os utentes e os profissionais de saúde, com especial enfase nos utentes seniores.
Após a perceção de que a criação de um novo espaço de acolhimento ao utente não
resolveria por si as necessidades sentidas, estudou-se o desenvolvimento de um
programa complementar ao de saúde destes utentes, que fosse promotor de um
sentimento de familiaridade e pertença do centro de saúde.
O objectivo fundamental do programa passava pela criação de um projeto de
continuidade que permitisse a partir desta unidade de saúde, criar uma relação com os
restantes espaços do concelho bem como com outras áreas de atuação, combatendo por
um lado o isolamento na terceira idade e por outro gerando ferramentas para uma
autonomia física e social crescente.
Uma vez apreendida a viabilidade do projeto estabeleceu-se um programa com uma
duração de 4 horas semanais, repartidas por dois dias, e que atualmente tem lugar às
terças e quartas-feiras das 14h00 às 16h00.
Foi estabelecido que a adesão ao programa seria gratuita e de carácter voluntário, tanto
para os utentes como para os profissionais de saúde que o integram. Apesar de revestido
de uma pluridisciplinaridade é um programa que tem como foco central de acção a
realização de palestras sobre saúde. De forma complementar às palestras decorrem
ações no exterior que vão desde workshops a saídas culturais dentro e fora do concelho
de Cascais.
O programa é atualmente gerido pela Enfermeira Neusa Caldas e frequentado por cerca
de 14 seniores. As palestras são geralmente dadas por profissionais convidados que com
o decurso do programa têm vindo a estabelecer uma relação de continuidade com o
mesmo. Tal sucede com alguns dos espaços frequentados no concelho, onde o grupo
chega a realizar mais de uma saída mensal por espaço.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
41
A criação e desenvolvimento deste programa possibilitou que o convívio entre os
utentes seja promovido como uma consequência da realização destas acções, e que o
mesmo seja despoletador de uma relação social de interajuda, e criador de uma maior
autonomia desta faixa da população.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
42
6. Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa
O centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa situado no Estoril num edifício conhecido
como Casal de Monserrate, o qual remonta a meados do século XX, altura em que foi
mandado edificar pelo Engenheiro Álvaro Pedro de Sousa, ilustre que dá o nome à rua
onde o mesmo se situa e que o mandou edificar com fins de habitação.
O edifício construído nos inícios de 1950 pelo Arquiteto Porfírio Pardal Monteiro
destaca-se pela riqueza da entrada principal em Arte Deco. Salientam-se igualmente os
jardins onde se exibem painéis de azulejos e esculturas atribuídas a Leopoldo de
Almeida.
Em 1957 numa obra levada a cabo pelo arquitecto Rodrigues Lima, o edifício sofreu
ampliações e mais tarde foi cedido à Segurança Social para que dele fosse feito um
centro de dia funcionando ainda hoje como tal.
O Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa promove uma série de actividades que
decorrem no próprio centro e que procuram ir de encontro ao interesse dos seus utentes,
apresentando uma oferta bastante diversificada.
Para além das actividades que decorrem diariamente no Centro, pontualmente também
são promovidas atividades extra muros.
Segundo o guia do voluntariado do concelho de Cascais, este centro “pretende ser um
espaço de intercâmbio de vivências e conhecimentos entre pessoas de níveis etários e
sociais diferentes, numa abordagem dinâmica e solidária e tendo em vista a prevenção
na problemática do processo de envelhecimento.”57
57
Guia do Voluntariado do Concelho de Cascais, Acção Social e Saúde 2004, consultado a 12 de Agosto
em http://www.cascaisenergia.org/Files/Billeder/Agenda21/docs/Guia_do_Voluntariado.pdf.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
43
7. Entrevistas Semidirectivas
7.1 Metodologia
Entre 11 de Abril e 22 de Maio de 2012, foram realizadas entrevistas semidirectivas a
seniores residentes no concelho de Cascais, com o objectivo de perceber qual o seu
conhecimento da Casa das Histórias Paula Rego, bem como o seu interesse por espaços
e atividades de carácter cultural.
As entrevistas foram divididas em duas partes, sendo a primeira constituída por
questões que visavam perceber o perfil dos entrevistados, bem como os seus hábitos
culturais. Na segunda parte da entrevista foi avaliado o conhecimento e a relação dos
entrevistados com a CHPR e a obra de Paula Rego.
Os entrevistados foram previamente selecionados tendo em conta género, idade,
profissão e habilitações literárias, sendo privilegiada uma diversidade viável. A faixa
etária teve como mínimo os 60 anos de idade. Quanto ao género foram entrevistados
igual número de indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino.
Além dos factores já referidos, separaram-se os indivíduos em dois grupos. Um grupo
com indivíduos frequentadores de instituições ou programas promotores de actividades
culturais no concelho de Cascais, e um grupo de indivíduos não frequentador.
Relativamente às instituições estas também foram seleccionadas privilegiando a
diferença no seu campo de actuação. Nesse sentido foram contactados o centro de saúde
de Cascais, no âmbito do programa Conversa da Treta localizado na vila de Cascais e o
centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa situado no Estoril.
Primeiramente foram seleccionados seniores frequentadores destas instituições, e
posteriormente por meio destes, entrou-se em contacto com seniores não frequentadores
de nenhuma das instituições referidas, ou outras similares.
Todos os indivíduos foram previamente contactados via telefone, de forma a dar a
conhecer o estudo em curso e os seus objectivos e posteriormente combinada uma vinda
à CHPR. Este aspecto revelou-se de carácter indispensável à realização das entrevistas,
uma vez que alguns do entrevistados nunca haviam visitado o espaço.
Antes da realização das entrevistas foi sempre conduzida uma visita guiada às
exposições patentes, para que todos os indivíduos tomassem contacto com a obra da
artista, aspecto estrutural à realização da segunda parte da entrevista.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
44
Foram contactados 27 indivíduos, tendo 24 deles, respondido ao solicitado.
Em 4 dos 24 entrevistados a entrevista foi realizada através de correio electrónico após a
visita à exposição, tendo destes 4, 1 respondido. Perfez-se assim um total de 21
entrevistados.
O guião da entrevista58
é composto por 36 perguntas de resposta aberta e encontra-se
dividido em duas partes. A primeira parte composta por 17 perguntas, foca aspetos
relevantes acerca dos hábitos culturais, o conhecimento que possuem sobre a CHPR,
relação com outros espaços culturais do concelho de Cascais, bem como o
conhecimento das actividades desenvolvidas e em que medida estas integram de forma
relevante o seu quotidiano.
A segunda parte da entrevista é composta por 19 questões direcionadas para aspetos
intrínsecos à obra de Paula Rego de forma a percepcionar questões de relevo a
desenvolver numa proposta com públicos seniores. Nesse sentido foram abordados
temas como a empatia do entrevistado com as obras observadas, à sua opinião sobre os
temas abordados e sua contextualização na sociedade atual.
Durante a realização da entrevista a ordem pela qual as questões foram colocadas seguiu
o raciocínio elencado pelo entrevistado face à resposta à questão anterior.
As entrevistas59
permitiram ainda avaliar alguns aspectos paralelos fundamentais, como
questões inerentes à mediação cultural, das quais se salienta o condicionamento que a
visita guiada estabelece ao entrevistado na forma como interpreta posteriormente as
obras e na opinião que manifesta sobre a relação estabelecida com a obra observada.
7.2 Análise dos Resultados das Entrevistas Semidirectivas
Numa primeira fase da investigação foram realizadas entrevistas semidirectivas a
seniores residentes no concelho de Cascais. Os entrevistados foram selecionados
procurando reproduzir o perfil sociográfico dos seniores residentes no concelho.
58
Tomo II, anexo C – Guião de entrevista a visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego, p. 8.
59 Tomo II, anexo D – Entrevistas realizadas a visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego, pp.
11-128.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
45
Apesar de se ter tentado englobar um igual número de entrevistados do sexo masculino
e do sexo feminino, os seniores do sexo masculino representam uma amostra inferior,
perfazendo-se um total 10 entrevistados do sexo masculino e 11 do sexo feminino.
Relativamente à faixa etária, tentou-se reproduzir igual diversidade com indivíduos dos
60 aos 86 anos de idade. Segundo a escala de Neugarten60
, os idosos subdividem-se
entre os jovens idosos sendo este grupo composto por indivíduos entre os 65 e os 74
anos, idosos médios entre os 75 e os 84 anos, e os muito idosos com 85 ou mais anos. A
amostra constituída por indivíduos com menos de 65 anos que pela sua faixa etária não
integram nenhum dos subgrupos acima referidos, corresponde contudo aos públicos-
alvo, em consequência de já se encontrarem no período de aposentação.
Para além do género e idade, foram também observados aspetos como as habilitações
literárias e a área profissional.
Ainda no que concerne ao género, verificaram-se neste campo diferenças significativas,
não só no que respeita ao parecer do entrevistado sobre os temas abordados na
entrevista, mas também relativamente à perceção das questões de género na obra de
Paula Rego, campo que oportunamente aprofundaremos num capítulo exclusivamente
dedicado a este assunto.
Interessa-nos contudo salientar desde já que independentemente do género, tratando-se
este, a priori do campo que melhor permite observar uma maior diversidade de
entendimentos face ao próprio papel social de cada indivíduo, foi possível verificar
paralelamente a multiplicidade de papéis desempenhados pelos seniores, os quais se
revelam como um contributo fundamental para a comunidade, seja através da prestação
de serviços a terceiros, dentro ou fora do núcleo familiar, e que na sua maioria são
prestados de forma gratuita, seja através da partilha de conhecimento no âmbito das suas
atividades de lazer, contrariando assim o termo população inativa socialmente instituído
e aceite.
Isto conduz-nos a um outro ponto que nos parece importante desenvolver aqui. A noção
de envelhecimento bem-sucedido e de envelhecimento produtivo, abordadas por
António Simões no âmbito da publicação Nova Velhice, Um Novo Público a Educar61
.
Não iremos debruçar-nos sobre estas duas noções em profundidade, mas importa
introduzir a importância destes conceitos na medida em que ambos defendem, ainda que
60
SIMÕES, António, A Nova Velhice, Um novo público a educar. – Âmbar, 2006, Porto, p. 19. 61
Idem, Ibidem, p. 140-147.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
46
de pontos de vista diferentes a importância de ser-se produtivo na velhice, face ao grau
de satisfação e realização que isso acarreta para o indivíduo, excluindo parcial ou
totalmente atividades não produtivas, como o convívio social enquanto atividades que
concorrem para uma velhice plena.
De forma a percecionar de que forma estes conceitos de envelhecimento ativo
influenciam de forma direta a realidade dos indivíduos seniores, os entrevistados foram
selecionados de entre indivíduos que frequentam uma instituição – o Centro de dia
Engenheiro Álvaro de Sousa ou o Centro de Saúde de Cascais – e seniores que não
frequentam qualquer instituição dentro ou fora do concelho de Cascais.
Verificou-se pelas respostas dadas que a generalidade dos indivíduos,
independentemente de frequentarem ou não uma instituição para a terceira idade,
mantêm uma vida ativa repartida entre atividades de lazer e trabalho realizado para
terceiros, quer se tratem de atividades renumeradas ou não-renumeradas.
7.2.1 Práticas Culturais e Hábitos de Visita
O guião de entrevista foca aspetos que permitem a análise dos hábitos e preferências
culturais dos entrevistados, bem como a sua relação com a CHPR e com a obra de Paula
Rego, conduzindo assim à perceção das diferentes dimensões do espaço museológico e
em que medida estas confluem como promotoras de uma educação e autonomia
cultural. De acordo com as respostas dos entrevistados no que concerne aos hábitos
culturais, verifica-se que a maioria conhece os espaços culturais do concelho e que os
visita regularmente.
Conheço o Museu Condes Castro Guimarães, o Centro Cultural de Cascais, conheço
este, conheço as igrejas todas porque adoro igrejas, para mim as igrejas são museus
lindíssimos, conheço o Museu Verdades Faria. Antigamente vinha muito aqui ao teatro
Gil Vicente. Conheço aqui o Museu do Mar, Santa Marta também, é um espaço muito
bonito gosto muito de lá ir.
(Indivíduo do sexo feminino, 63 anos, residente em Carcavelos, 12º ano, aposentada
[Analista])
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
47
Sim. Com bastante regularidade. Conheço quase todos.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)
Conheço a maioria dos museus do concelho. O Museu Condes Castro Guimarães, o
Museu do Mar, o Museu da Paula Rego.
(Indivíduo do sexo masculino, 81 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado
[Topógrafo])
Foi possível observar paralelamente que a maioria dos entrevistados levam um estilo de
vida ativo, revelando interesse pelo meio cultural envolvente e não se restringindo à
realidade do concelho de residência. Quanto à regularidade da prática cultural,
averiguada pela frequência com que indicam visitar museus e/ou outros espaços
culturais, esta não é necessariamente indicadora de uma relação de continuidade e
fidelização para com determinados espaços e/ou práticas culturais.
Quando questionados acerca do conhecimento que têm da Casa das Histórias Paula
Rego e sobre a frequência com que visitam o espaço a maior parte dos visitantes indicou
conhecer o museu, e os que ainda não o conheciam já tinham tomado contato com a sua
existência apesar de nunca terem visitado o espaço. Dos visitantes que já o conhecem a
maioria indicou, no entanto, visitar este museu com pouca regularidade.
É a primeira vez que a gente cá põe os pés.
(Indivíduo do sexo masculino, 84 anos, residente em Cascais, 4ª classe, aposentado
[Pescador])
Sim. Algumas vezes (…) Quando mudam as coleções ou quando há eventos que me
chamam a atenção.
(Indivíduo do sexo feminino, 60 anos, residente na Parede, 9º ano, aposentada
[Funcionária Pública])
Com muita regularidade não. Mas sempre que posso, gosto de vir cá.
(Indivíduo do sexo feminino, 80 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada
[Professora])
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
48
Entre os motivos apontados para uma vinda à CHPR os entrevistados indicaram a
inauguração de novas exposições, a realização de eventos pontuais ou as saídas em
grupo organizadas pelas instituições a que estão ligados. As saídas familiares e com
amigos também foram referidas como um fator que conduz a visita ao museu, contudo
foram poucos os visitantes que referiram este tipo de saídas, quando questionados se era
habitual fazerem-se acompanhar pelo filhos ou netos. Muitos dos entrevistados
referiram a falta de tempo como uma condicionante para a realização de visitas a
espaços culturais, e alguns mencionaram questões de mobilidade face à localização
deste espaço museológico.
Uma pessoa vai acompanhando o que vai havendo não é? Se há alguma novidade,
como é o caso do Oratório, que eu vim cá para ver o Oratório. Se houver alguma
exposição que eu ache interessante e que me chame atenção, pois eu vou ver a
exposição.
(Indivíduo do sexo feminino, 64 anos, residente na Parede, Licenciada, Pintora)
Sou uma pessoa sociável e gosto de ir acompanhado desde que bem acompanhado, e
não por um chato. Mas aqui não, aqui venho muitas vezes sozinho, aqui ou a outro lado
beber um café, ler um livro.
(Indivíduo do sexo masculino, 76 anos, residente em Cascais, Licenciado, aposentado
[Advogado])
(…) frequento o Centro Engenheiro Álvaro de Sousa, e estou inscrito nalgumas
modalidades e não tenho tempo, por isso tenho que conciliar.
(Indivíduo do sexo masculino, 71 anos, residente no Monte Estoril, Licenciado,
aposentado [Historiador])
Os meus filhos agora estão grandes. Por acaso o meu filho já cá veio, mas veio sozinho
ele mais a mulher. Quando eles vieram, primeiro vim eu com o grupo. Depois é que
como eu tinha falado, eles então vieram.
(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada
[Modista])
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
49
Quando questionados acerca do tipo de atividades direcionadas para o público adulto
que gostariam de ver desenvolvidas, a quase totalidade dos entrevistados revelou
desconhecer a programação existente, indicando atividades que já se realizam
regularmente na CHPR. Inclusivamente parte dos entrevistados referiram essas mesmas
atividades como sendo um fator de motivação para uma nova visita. O fator económico
também foi referido como sendo importante para a frequência de atividades promovidas
pela CHPR, contudo não foi um aspeto consensual. Em contraponto à defesa da
gratuitidade ou redução nos preços das atividades para seniores por parte de alguns
entrevistados, foi salientado por outros a importância das atividades serem pagas como
forma de valorização do acesso à cultura.
Cursos por exemplo, que não fossem caros, porque lá está, uma reformada não tem
muito dinheiro para agora gastar. E gostava muito que houvesse por exemplo, este tipo
de coisa, interpretações de quadros. (…) Escolher uma obra e um dia.
(Indivíduo do sexo feminino, 62 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada,
[Bancária])
Acho que algumas salas podem ter uma série de abordagens, que pode ser através de
uma conferência, portanto na minha ótica eu tentava potenciar…(…) fazer uma vez por
mês a sala do mês ou o tema do mês, que possibilitaria escrever nem que fosse uma
página A4 a explicitar o conteúdo, ou uma conferência ou eventualmente um pequeno
debate e as visitas desse mês, incidiriam além do percurso normal, sobretudo naquilo.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, Doutoramento, Professor
Catedrático)
Quando oferecem bilhetes para as pessoas, por causa das organizações e mais não sei
o quê, por se ser sénior, para se vir ver as exposições e acham que estão a fazer um
bom trabalho, não estão (…) Agora se fizerem um workshop sobre a forma como a
gente pode ver o museu, epá! Façam ao contrário, ensinem as pessoas a verem os
museus e cobrem os bilhetes. Sabe porquê? Porque quando a gente vem de borla a um
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
50
sítio qualquer acha que é dono daquilo, agora quando pagamos para ir ver uma coisa
temos respeito, infelizmente é verdade.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, 12º ano, residente no Estoril, aposentado,
[Piloto de Automóveis])
Relativamente à tipologia de atividade a realizar foram indicadas atividades variadas,
que vão de encontro às preferências e aptidões pessoais de cada entrevistado. Alguns
entrevistados referiram igualmente a importância da realização de atividades de
continuidade com adultos de forma a estabelecer um elo de fidelização com estes
públicos.
A importância da forma como a mediação cultural é realizada também foi salientada,
verificando-se que a criação de propostas diferenciadas e com uma maior interação
entre o mediador cultural e o público recetor, é favorável à motivação para uma nova
vinda ao museu.
Eu já fiz aqui uma visita que terminava com a construção de uma história (…) Foi
giríssimo. Eu achei imensa graça e acho que deviam fazer isso mais vezes. Eu acho que
essas coisas são sempre muito curiosas, e foi uma visita que nunca mais se esqueceu.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Professora de
pintura)
Gostava imenso sim, de desenho. E pintura e essas coisas assim. Era uma coisa de que
eu gostava. Mas em casa, nos meus tempos assim mais livres dá-me é para escrever. E
escrevo muito em verso. Gosto mais de escrever em verso.
(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada
[Modista])
Aquilo que seria mais importante era ensinar as pessoas a verem, a ver exposições, a
ver os artistas, neste caso a partir de saber ver a Paula Rego, também se aprende a
saber ver outro artista qualquer. Eu acho que vocês deviam insistir nisso muito mais
porque é aquilo que eu noto.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentado [Piloto
de automóveis])
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
51
Foram igualmente analisados outros fatores na relação museu/visitante, tais como a
relação com o próprio espaço arquitetónico, visto tratar-se de um edifício recente e de
arquitetura contemporânea, e também a relação com os espaços públicos do museu
(cafetaria e loja) e com o atendimento ao público, verificando-se que são fatores que
contribuem como potenciadores de uma nova visita.
Por dentro isto é muito lindo.
(Indivíduo do sexo feminino, 80 anos, residente em Cascais, 4ª classe, Varina)
Parece-me bonito e vou recomendar a outras pessoas para virem aqui.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado
[Comercial/Vendedor])
[A loja] Também está interessante e com bastantes ideias para se poder levar um
souvenir ou uma recordação sobre isto aqui também. E da outra vez também levei
qualquer coisa para dar aos meus netos.
(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada
[Modista])
Acho que a dimensão humana de um museu é fundamental. E este também tem isso.
(Indivíduo do sexo masculino, 76 anos, residente em Cascais, Licenciado, aposentado
[Advogado])
7.2.2 Meios de Comunicação e Materiais Auxiliares
Outra relação averiguada durante as entrevistas é a que o visitante estabelece com o
espaço expositivo e com os materiais auxiliares à visita. A maioria dos entrevistados
indicou estes materiais como sendo suficientes e adequados. O aspeto mais apontado foi
a necessidade de existirem mais bancos de sala ao longo do espaço expositivo.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
52
Acho que têm bastante e que estão bem documentados, acho que está adequado. Têm
informação para os nacionais e para os estrangeiros com todas as indicações.
(Indivíduo do sexo feminino, 63 anos, residente em Carcavelos, 12º ano, aposentada
[Analista])
Há ali um banco muito bom para as pessoas que chegam e esperam não é, e depois é
sempre a andar. Eu sei que há umas cadeiras que emprestam, não é? Aqui faz falta às
vezes em certas salas. Não é em todas mas pelo menos naquelas maiores. Não é um
banco daqueles de adormecer, é para a pessoa estar ali 5, 10 minutos.
(Indivíduo do sexo masculino, 81 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado
[Topógrafo])
O museu não tem cadeiras ou sofás para as pessoas se sentarem. Eu acho que na sala
maior não ficaria nada mal se tivessem ali algo onde a pessoa pudesse ficar sentada a
ver. Há necessidade disso, eu acho que sim, de se poder parar um bocadinho diante dos
quadros. E provavelmente a pressa com que as pessoas passam, se presta com certeza
com o não haver um convite a estar, a parar. Porque o parar, será um ato voluntário
mas não há aliciante nenhum para isso.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, Doutoramento, Professor
Catedrático)
De forma a perceber a importância da CHPR no circuito cultural do concelho de
Cascais, inquiriu-se os entrevistados acerca de que museus selecionariam para realizar
uma visita com pessoas que não conhecessem a região de Cascais e os seus espaços
culturais. A CHPR foi indicada por parte dos entrevistados como sendo um local
incontornável, sendo referido como fator para essa visita a obra de Paula Rego, mas
também o edifício e o caráter mediático do conjunto.
Eu iria primeiro saber se a pessoa não se iria chatear por ali ou por acolá por
imposição minha, mas por exemplo aqui o Museu da Paula Rego é uma coisa que em
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
53
termos publicitários tem uma carga muito grande, como o Berardo, é a mesma coisa.
Por isso este seria uma obra emblemática e eu gostaria que a pessoa viesse cá.
(Indivíduo do sexo masculino, 66 anos, residente na Parede, 12º ano, aposentado
[Paquete])
Iria a dois. À Casa das Histórias e ao Museu Castro Guimarães. À Casa das Histórias
pela diferença, e ao Museu Castro Guimarães pelo romantismo.
(Indivíduo do sexo feminino, 60 anos, residente na Parede, 9º ano, aposentada
[Funcionária Pública])
Cascais é um espaço é complexo… Porque há muitas coisas aqui…olhe levava aqui a
conhecer a Paula Rego, ao Centro Cultural também é interessante, agora a Cidadela
desde que foi arranjada também dizem que está excelente.
(Indivíduo do sexo feminino, 71 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Pintora)
7.2.3 Relação com a obra de Paula Rego
Na segunda parte da entrevista a primeira questão colocada questiona o visitante acerca
do que mais gostou na exposição, tendo sido elencados diversos fatores, tais como a
mediação cultural, empatia ou gosto por determinada obra, ou pela temática da
exposição.
O que mais gostei foi de a ouvir explicar.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Professora de
pintura)
Gostei muito da tapeçaria «Batalha de Alcácer-Quibir [1960-1970]62
».
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado
[Comercial/Vendedor])
62
Tomo II, Imagem 4: Batalha de Alcácer Quibir, (1960-1970, Câmara Municipal de Cascais), consultar
a propósito das peças de arte observadas pelos seniores entrevistados, p. 139.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
54
Gosto da exposição. Não consigo gostar mais ou menos de uma coisa. Numa exposição
quanto a mim tudo tem de estar interligado.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentado [Piloto
de automóveis])
A diversidade de respostas revelou-se também nas questões seguintes sobre as obras
que os entrevistados gostaram mais, menos e com quais sentiram maior ou menor
empatia ou que lhes tivessem despertado alguma memória. A memória revelou-se um
aspeto central, uma vez que a maioria dos entrevistados elencou recordações pessoais
relacionando-as direta ou indiretamente com a obra de Paula Rego, demonstrando a
importância da memória na criação de relações entre a obra de arte e o observador.
Mesmo no que concerne às questões de gosto todas as respostas foram de índole
pessoal, denotando-se aqui a importância da experiência pessoal de cada entrevistado,
não sendo possível neste campo atribuir uma relação direta com determinado aspeto
museográfico da exposição que cause a mesma reação em todos os indivíduos. Mesmo
quando referida a mesma obra por mais que um individuo, os motivos são diversos,
desde a relação com questões estéticas às memórias pessoais.
Contudo, verificaram-se alguns elementos de contato, nomeadamente os pontos
elencados face às questões de proporção e de beleza.
As «Óperas [1983]63
» foram as que mais apreciei. Porque são brincalhonas, irónicas
relacionadas com fábulas. (…) Não gostava nem gosto nada daquela fase dela daquelas
figuras muito masculinas, como aquela obra a «Repugnância [2001]64». Por isso, porque
são figuras muito masculinas.
(Indivíduo do sexo masculino, 76 anos, residente em Cascais, Licenciado, aposentado
[Advogado])
63
Tomo II, Imagem 5 - 9: Série Óperas, (1983, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego
– Casa das Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte observadas pelos seniores
entrevistados, pp. 139 – 140. 64
Tomo II, Imagem 10: Repugnância (2001, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego –
Casa das Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte observadas pelos seniores
entrevistados, p. 141.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
55
Eu há ali umas mulheres desenhadas que eu não gosto. Porque não estão bem
desenhadas.
(Indivíduo do sexo masculino, 85 anos, residente na Parede, 9º ano, aposentado [Pintor
Automóvel])
Não, não. Não senti nenhuma empatia por nenhuma delas. Quer dizer sinto-me assim
um bocado tonta quando vejo os animais e as pessoas misturadas, mas isso acho que
qualquer pessoa fica. Para chegar ao grau que ela chegou teve muito trabalho. (…) O
Oratório [2008-2009]65
. Não sei se foi a que gostei mais, mas sei que foi a que mais me
marcou, mais me impressionou, e agora à entrada, como lhe disse, voltei a sentir
uma…enfim olhe não sei mais.
(Indivíduo do sexo feminino, 70 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada
[Turismo/Secretariado])
Foi a questão da desproporção. Por causa da expressão daquela figura. [Jenufa,
199566
] (…) Porque eu gosto de proporção, proporção e enquadramento.
(Indivíduo do sexo feminino, 71 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Pintora)
Para além da relação estabelecida com as obras foi também averiguado junto dos
entrevistados a forma como percecionam o percurso de Paula Rego e como classificam
o seu trabalho. A maioria dos entrevistados classifica Paula Rego como sendo uma
artista contemporânea, entendendo-se aqui o termo em diferentes aceções.
É diferente. Para mim a diferença é assim: a Paula Rego faz o social, o que ela acha do
social, como ela vê o social. E você sabe que os clássicos não trabalhavam assim, os
clássicos trabalhavam para aquilo que o rei queria, para aquilo que a nobreza queria e
encomendava.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)
65
Tomo II, Imagem 11: Oratório (2008 - 2009, Marlborough Fine Art, Londres), consultar a propósito
das peças de arte observadas pelos seniores entrevistados p. 141. 66
Tomo II, Imagem 12: Jenufa (1995, Col. Virgínia e João Esteves de Oliveira), consultar a propósito das
peças de arte observadas pelos seniores entrevistados, p. 142.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
56
Eu penso que num artista contemporâneo existe mesmo numa linha mais convencional,
existe sempre uma contemporaneidade que é recuada. Portanto ela está presente e
obviamente que já o próprio conteúdo a torna muito contemporânea, e isso não seria
possível noutra altura. Tecnicamente eu acho que por vezes, ela torna-se um bocadinho
mais barroca. De resto é contemporâneo, figurativo.
(Indivíduo do sexo feminino, 64 anos, residente na Parede, Licenciada, Pintora)
Se calhar a Paula Rego se tivesse aparecido no século XVI, ou no século XVII ou no
século XVIII não seria arte. É hoje considerada uma grande artista, e é uma grande
artista, tem uma técnica aprendida e trabalhada ao longo de muitos anos e temos que
reconhecer isso. Mas naturalmente eu vou ver um quadro de Rubens, ou um quadro de
Velàzquez, que são também grandes artistas e não tem nada a ver com Paula Rego.
Não tem nada a ver com Paula Rego, não tem nada a ver com outros artistas da nossa
modernidade. Portanto, há muitas diferenças mas a arte é sempre arte.
(Indivíduo do sexo feminino, 62 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada,
[Bancária])
Não só Paula Rego é classificada como sendo uma pintora do seu tempo, cuja pintura
reflete a sociedade atual, mas também é considerado contemporâneo o modo como
aborda determinados temas, denotando-se uma relação entre o termo contemporâneo e o
termo belo associado a uma idealização da sociedade. Quando questionados sobre o que
é para si a beleza, a larga maioria dos entrevistados referiu-a como sendo algo subjetivo
e variável de individuo para individuo, mostrando dificuldades em definir o belo mas
quando questionados sobre o que consideram belo em arte, a grande maioria destacou
aspetos como a harmonia visual, cromática e de composição, e quase todos fizeram uma
associação às artes visuais em paralelo com a mimetização idealizada da realidade –
uma natureza morta, um retrato ou um modelo feminino – enquanto construção do belo.
Olha eu gosto muito de arte clássica. Gosto muito dos impressionistas, tem pintores que
são realmente…Miguel Ângelo, outros clássicos, Leonardo da Vinci que era um homem
excecional. E gosto mais de pintura do que de escultura. Gosto de escultura mas não é
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
57
toda. Gosto dessa escultura por exemplo do Rodin. São completamente diferentes, das
esculturas do Miguel Ângelo. Gosto mas, gosto muito mais de pintura.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)
Sei lá. Uma pintura magnífica com cores extraordinárias ou um retrato da baía de
Cascais cheia de barcos lindos ou a serra de Sintra verde e cheia de vida, isso tudo é
belo.
(Indivíduo do sexo feminino, 70 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada
[Turismo/Secretariado])
Eu gosto de ver a perfeição. Uma pintura sua por exemplo, e eu ter a pintura ao seu
lado e eu ver que é você mesma, mesmo em pormenor. E isso talvez seja a perfeição.
Porque por exemplo eu às vezes vejo aí uns pintores de rua e eles pintam umas
casinhas e tal e aquilo está bem feito, mas faltam-lhes os pormenores, aquilo não é uma
fotografia são as mãos e o pincel que estão fazendo aquilo. Isso até parece que é
utópico não é verdade, ter aqui um quadro que é exatamente igual.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado,
[Comercial])
De forma a percecionar onde é enquadrado o trabalho de Paula Rego nas questões do
belo, colocou-se a seguinte questão. “Teria uma pintura de Paula Rego em sua casa?”
As respostas obtidas foram equilibradas na medida em que parte dos entrevistados
respondeu afirmativamente, e cerca da outra metade respondeu negativamente. Contudo
os que responderam positivamente quando confrontados com a questão seguinte “Que
pintura teria?” afirmaram a necessidade de ponderar sobre a obra a selecionar indicando
que nem todas as obras desta artista são passíveis de se ter em casa, considerando a
natureza das mesmas como “agressiva”.
Talvez eu não comprasse uma obra da Paula Rego, em princípio. Depende, mas como
ela usa figuras humanas, talvez eu não comprasse. Dela não compraria.
O humano para ela é sempre grotesco. Eu não gosto das coisas grotescas, entendeu? É
isso. Ela torna o humano muito feio, e o humano pode até ser, mas ela exterioriza muito
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
58
esse lado feio, esse lado menos agradável ao visual. Ela agride. (…) O lado que a gente
conhece dela é o lado do social, do massacrado. Eu não sei onde ela coloca o belo.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)
Não. Era capaz de me sentir um bocado nervosa. É tudo muito pesado, e para mim nas
pinturas nós temos que olhar e sentir alegria, sentir a cor. Com ela não.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Professora de
pintura)
Até teria duas. Eu tinha. A do Anjo [Agonia no Horto, 200267
], mas não lhe chamava
agonia.
(Indivíduo do sexo feminino, 80 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada
[Professora])
Algum dos desenhos. Sobretudo aqueles desenhos mais infantis. As outras não. Porque
a sensação que eu quero ter em minha casa é de serenidade e de tranquilidade, e
portanto eu poder estar sentado numa cadeira ou num sofá e em frente de mim tenho
um rosto sorridente, um rosto tranquilo ou uma paisagem que me faz repousar, porque
a nossa vida é tão agitada que se há um quadro de agressão, de violação, de mulheres
completamente contorcidas, de mulheres musculadas…para mim a mulher é feminina.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, Doutoramento, Professor
Catedrático)
A última questão colocada a cada um dos entrevistados procurou indagar a opinião
sobre o caráter interventivo da obra de Paula Rego na sociedade atual, verificando-se
que esta é uma questão ambígua mas que se revela profícua dada a pluralidade de
leituras que permite. Com efeito, cada entrevistado manifestou a sua opinião acerca
deste assunto de acordo com o conhecimento que possui sobre a obra da artista em
correlação com a sua própria experiência de vida e com o seu entendimento daquilo que
é a sociedade atual.
67
Tomo II, Imagem 13: Visitação, Agonia no Horto, Trânsito da Virgem (Série Ciclo da Vida da Virgem,
2002, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego)
consultar a propósito das peças de arte observadas pelos seniores entrevistados, p. 142.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
59
Não acho que ela retrate completamente não. Porque ela também vive num casulo. Ela
também muitas das coisas se calhar ela não sabe. Por exemplo o que é estar numa
fábrica a trabalhar. Nem eu. Portanto nenhum de nós tem abrangência suficiente para
retratar o mundo inteiro. Ela lê umas obras literárias, e a propósito de certas obras
lembra-se de fazer determinada coisa, ou passou um mau bocado com a mãe e a
propósito disso lembra-se de fazer, ou passou um mau bocado com o marido e a
propósito disso lembra-se de não sei quê. (…) As pessoas são aquilo que vivenciam,
acho eu.
(Indivíduo do sexo feminino, 62 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada
[Bancária])
É capaz nalguns temas sim. Este agora que vimos do «Macaco Vermelho Bate na
Mulher [1981]68
», é uma coisa…além da violência doméstica, aquela troca de maridos
que há agora é muito atual.
(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Professora de
Pintura)
Completamente, e de uma maneira tão escandalosa, tão real, tão verdadeira que
desperta ódios nas pessoas. As pessoas olham para os quadros dela e veem ali as suas
fortalezas e as suas fraquezas. Depende da consciência de cada um. Aí é que está. É
uma obra que não está estandardizada, aquilo que está ali a gente olha para o quadro,
e a maior parte das pessoas mesmo que não o digam sentem-se identificadas, só que
não aceitam, são pessoas que têm preconceitos. Não aceitam estar a olhar para o
espelho e ver um mau retrato deles próprios.
(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentado [Piloto
de Automóveis])
68
Tomo II, Imagem 13: Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981, Col. Paula Rego, em comodato na
Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego) consultar a propósito das peças de arte
observadas pelos seniores entrevistados, p. 143.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
60
Em parte sim. Ela representa muito a violência e o mundo está cada vez mais violento.
Nós temos tendência para querer ver sempre o bem, o bonito mas a realidade é muito
dura. Acho que é mais fria do que aquilo que a gente gostava que fosse.
(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente na Parede, 12º ano, aposentada,
[Modista])
7.2.4 Conclusões
A partir das entrevistas realizadas, foi possível averiguar de que forma os públicos
seniores percecionam a relação com um dos espaços museológicos da sua comunidade
de residência, a Casa das Histórias Paula Rego.
Verificou-se que, apesar do conhecimento existente sobre este espaço museológico, para
o qual o seu mediatismo nos meios de comunicação locais e nacionais contribui
grandemente, a relação estabelecida com este espaço não é uma relação de
continuidade, revelando que o âmbito das visitas efetuadas à CHPR surge na sequência
de passeios esporádicos em contexto familiar ou outro, ou no âmbito de novas
exposições ou eventos pontuais.
Nesse sentido destacou-se a importância de instituições exteriores à CHPR, que no
âmbito do trabalho desenvolvido com o público sénior atuam como agentes promotores
de uma maior autonomia cultural, à semelhança do que se verifica no âmbito escolar
com o papel desempenhado pelas instituições de ensino.
Igualmente importante revelou-se o trabalho desenvolvido pelo mediador cultural na
construção de entendimentos mais latos e completos da obra de Paula Rego, mas
sobretudo no entendimento da obra de arte no seu contexto social e histórico-cultural,
fornecendo assim ferramentas aos indivíduos para que estes se possam autonomizar de
forma a encontrarem por si, motivos para a frequência do espaço cultural.
A relação estabelecida por meio da mediação com a obra de arte surge também como
mote para a função social da arte permitindo uma leitura mais ampla da sociedade e do
indivíduo, e da importância do nosso papel enquanto observadores.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
61
Segundo Mukarovsý “toda e qualquer obra de arte se assemelha à palavra”69
,
considerando-se neste sentido a obra de arte enquanto veículo de comunicação tão
essencial quanto a própria linguagem, e criando um sistema de diálogo entre artista e
observador. Para além deste diálogo fundamental à obra é igualmente necessário
considerar a relação entre individuo e grupo pois “é verdade que os receptores formam
uma colectividade e que (…) essa colectividade a que damos o nome de público entra
em relação com a arte apenas por meio dos indivíduos que a compõem”70
criando-se
assim uma relação necessária entre artista, mediador cultural e público – entendido
enquanto coletividade – e dessa forma ressalvando uma vez mais a importância do
trabalho desenvolvido com grupos, aplicando-se aqui esta realidade aos grupos de
seniores, sem esquecer, no entanto o contributo de cada um nessa mesma coletividade
por meio da sua experiência pessoal.
69
MUKAROVSKÝ, Jan, Escritos Sobre Estética e Semiótica da Arte. – Lisboa: Editorial Estampa, 1987,
p. 267. 70
Idem, Ibidem, p. 268.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
62
8. Observação de Públicos Autónomos
8.1 Metodologia
Numa 2ª fase da investigação decorrida entre 04 de Abril e 21 de Outubro de 2012, foi
desenvolvido um estudo baseado na observação de públicos a partir de uma amostra de
106 visitantes autónomos com uma idade mínima aproximada dos 65 anos de idade.
Esta observação foi realizada a partir de um guião previamente elaborado composto por
três campos de análise distintos71
.
Ao primeiro campo corresponde a análise do perfil do visitante elencando aspetos como
género, se visita o espaço sozinho ou em grupo, e a tipologia do grupo.
No segundo campo é analisado o comportamento do visitante no espaço expositivo,
nomeadamente a duração da visita, a utilização de materiais de apoio à exposição, e a
relação estabelecida com as obras expostas.
No último campo é observada a relação do visitante com os restantes espaços da CHPR,
nomeadamente a visita à loja ou à cafetaria.
Paralelamente a esta análise, os períodos de observação também contribuíram
grandemente para a percepção dos hábitos de visita. Nesse sentido a observação foi
distribuída equitativamente por períodos da manhã e da tarde, e ainda por períodos
semanais e de fim de semana.
A observação atravessou duas exposições patentes de forma a avaliar igualmente como
determinados comportamentos tipo se diversificam face à organização e tipologia de
uma exposição, aspecto passível de ser considerado a partir de alguns elementos
museográficos que transmutaram de exposição e algumas obras chave.
71
Tomo II, anexo E – Ficha de Observação de Públicos, p. 129.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
63
8.2 Análise da Observação de Públicos Autónomos
8.2.1 Caracterização dos públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego
Na sequência da observação de públicos, foram observados visitantes seniores que se
deslocaram à Casa das Histórias Paula Rego de forma autónoma. Dado o caráter não
interventivo desta análise, não foi possível caracterizar os visitantes observados ao nível
da nacionalidade, faixa etária, e relação com os visitantes que os acompanham quando
tal se verificou. No entanto, relativamente à faixa etária, só foram observados visitantes
nos quais fisicamente era possível notar encontrarem-se próximos ou acima dos 65 anos
de idade.
Dos visitantes observados, verificou-se que 95% dos indivíduos visitaram o museu em
grupo e apenas 5% o fizeram de forma autónoma (gráfico 5).
Gráfico 5: Visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego autónomos e em grupo, valores absolutos
(centenas).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
Relativamente à tipologia do grupo, esta permitiu identificar quais os visitantes que se
fazem acompanhar por indivíduos de outras faixas etárias, e os que se fazem
acompanhar apenas por outros seniores, concluindo-se, que 76% dos visitantes
observados se faz acompanhar exclusivamente por visitantes seniores, 11% por
indivíduos de outras faixas etárias, e apenas 13% vem em grupos mistos onde entre as
restantes faixas etárias se observam adultos, jovens e/ou crianças (gráfico 6).
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
64
Gráfico 6: Constituição dos grupos que visitam a Casa das Histórias Paula Rego: relação seniores com
outras faixas etárias (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 101)
Na constituição do grupo, identificou-se o número de visitantes seniores, e o número de
visitantes de outras faixas etárias que o compõem averiguando que os grupos
heterogéneos são na sua maioria constituídos igualitariamente por seniores e indivíduos
de outra faixa, sendo no entanto estes grupos minoritários, visto que a maioria dos
grupos é constituído apenas por indivíduos seniores (gráfico 7).
Gráfico 7: Grupos de visitantes da Casa das Histórias Paula Rego por tipologia: grupos seniores e grupos
com diferentes faixas etárias (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 49)
No que concerne ao género, 67% dos visitantes seniores observados são do sexo
feminino e apenas 37% são do sexo masculino (gráfico 8), podendo-se observar aqui
uma correspondência com os dados nacionais relativos ao número de indivíduos por
sexo face ao total da população portuguesa com idade superior a 65 anos. Para um total
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
65
de 2.031.822 indivíduos com mais 65 anos, 58% são do sexo feminino72
e 42% do sexo
masculino73
.
Gráfico 8: Género dos visitantes seniores autónomos da Casa das Histórias Paula Rego, valores absolutos
(centenas).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
8.2.2 Hábitos e comportamentos – Percurso expositivo
No que concerne aos hábitos de visita, o estudo permitiu apurar de que forma o visitante
dirige o seu percurso na visita à exposição. No caso dos visitantes que visitam o museu
em grupo, verificou-se que 98% conversam entre si durante o percurso expositivo. Para
uma amostra de 101 visitantes, 85% conversam frequentemente, enquanto no extremo
oposto 2% dos visitantes percorrem a exposição sem qualquer diálogo (gráfico 9).
Gráfico 9: Comportamentos no espaço expositivo da Casa das Histórias Paula Rego: diálogo entre
visitantes (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 101)
Já relativamente ao tempo médio de paragem durante o percurso expositivo, isto é, o
tempo durante o qual cada visitante se detém em média perante uma obra, verificou-se
72
Tomo II, tabela 19: População residente do sexo feminino: total e por grandes grupos etários, p. 135. 73
Tomo II, tabela 20: População residente do sexo masculino: total e por grandes grupos etários, p. 135.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
66
face aos visitantes observados que é na sua maioria de 0 a 2 minutos por obra. Dos 106
visitantes observados 64% despende em média 0 a 2 minutos por obra, e nenhum
visitante despendeu mais de 10 minutos, sendo que apenas 9% despenderam em média
cerca de 10 minutos e 26% entre 3 a 5 minutos (gráfico 10). Observou-se paralelamente
a relação entre a frequência de diálogo dos visitantes que se deslocam em grupo
verificando-se que nalguns casos o diálogo encetado permitiu análises mais detalhadas
das obras conduzindo a maiores tempos de paragem, contudo também se verificou o
efeito contrário. Visitantes que na sequência do diálogo encetado em grupo dedicaram
muito pouco tempo a uma observação atenta das obras expostas.
Gráfico 10: Tempo despendido em média na observação das obras durante o percurso expositivo
(percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
Entre os fatores de paragem durante o percurso expositivo para além da observação das
obras, encontram-se a leitura de legendas e textos de parede. Com efeito, de entre os
visitantes observados verificou-se que na sua maioria os visitantes se detêm em ambos
os suportes. Do total da amostra, 58% dos visitantes observam legendas e textos de
parede e os restantes 45% apenas observam legendas (gráfico 11). Apesar da
observação de públicos ter abrangido dois períodos expositivos74
, os visitantes
detiveram-se na observação de textos de parede e legendas de forma proporcional em
ambas as exposições denotando-se uma diferença de apenas 2% no que concerne à
74
A observação de públicos foi realizada entre 4 de Abril e 21 de Outubro de 2012 abrangendo as
seguintes exposições de Paula Rego: Mood de 01 de Março a 24 de Junho de 2012 e Innervisions/Dama
Pé de Cabra de 7 de Julho de 2012 a 6 de Janeiro de 2013. Paralelamente à exposição Mood esteve
patente outra exposição denominada Mar e Campo em Três Momentos com obras do artista português
Bruno Pacheco, a qual não foi alvo de observação por não abarcar obras de Paula Rego.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
67
observação de ambos os suportes tendo sido a exposição Innervisions/Dama Pé de
Cabra o circuito onde os visitantes mais se detiveram.
Gráfico 11: Observação de legendas e textos de parede por visitante da Casa das Histórias Paula Rego
(percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
Para além dos suportes referidos observaram-se igualmente o uso de outros materiais de
apoio à exposição, nomeadamente folhas de sala75
, brochuras76
e bancos portáteis ou de
sala, verificando-se que 67% dos visitantes observados não usaram qualquer material de
apoio, 14% usaram mais do que um material, 12% usou apenas folhas de sala, e apenas
7% fizeram uso dos bancos de sala (gráfico 12). No caso dos bancos, só foram
utilizados os bancos fixos disponíveis ao longo da exposição, nenhum visitante recorreu
ao uso de bancos portáteis. A tendência verificada no uso dos bancos disponíveis
contraria a necessidade indicada pelos seniores entrevistados de serem colocados mais
bancos ao longo do percurso expositivo.
75
Tomo II, imagem 2: Folha de sala da exposição Dama Pé-de-Cabra da Casa das Histórias Paula Rego,
p. 136. 76
Tomo II, imagem 3: Brochura trimestral d’O Ateliê, p. 138.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
68
Gráfico 12: Uso de materiais de apoio à exposição por parte dos visitantes seniores da Casa das Histórias
Paula Rego (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
É preciso considerar que o uso de bancos reflete também o tipo de visita, bem como a
duração da mesma. Nesse sentido para além do tempo médio de paragem foi igualmente
observado o tempo total de visita de cada visitante. É necessário salientar que nos dois
percursos expositivos observados se verificaram diferenças significativas, uma vez que
um percurso era mais extenso que o outro, visto englobar mais uma sala de exposição
(imagem 1).
Imagem 1: Percursos expositivos de Mood; Innervisions e Dama Pé de Cabra.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
69
Contudo em ambos os percursos os tempos médios de duração total de visita observados
na maioria dos visitantes situaram-se entre os 0 a 15 minutos77
, e os 15 a 30 minutos. Na
exposição Mood cujo percurso era mais curto, 14% dos visitantes efetuaram a visita
entre 0 a 15 minutos, 5% em 15 a 30 minutos e apenas 4% demoraram mais de 30
minutos a percorrer toda a exposição. Relativamente às exposições Innervisions/Dama
Pé de Cabra, 35% dos visitantes demoraram entre 15 a 30 minutos, 18% entre 0 a 15
minutos, quase tanto quanto os visitantes que demoraram entre 30 a 45 minutos cuja
percentagem foi de 17%. Apenas 8% dos visitantes demoraram entre 45 a 60 minutos,
tendo esta média sido bem mais elevada do que na exposição Mood, onde apenas 2%
dos visitantes demoraram esse tempo a percorrer a exposição.
No conjunto de ambos os períodos expositivos a maioria dos visitantes percorreu a
exposição num período de 15 a 30 minutos (40% dos visitantes observados), e apenas
9% dos visitantes percorreram a exposição num período de 45 a 60 minutos (gráfico
13).
Gráfico 13: Tempo médio de visita às exposições da Casa das Histórias Paula Rego por sénior
(percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
77
A maioria dos visitantes englobados na percentagem dos 0 a 15 minutos, visitaram o espaço expositivo
em 15 minutos, e apenas alguns o fizeram em 10 minutos. Nenhum visitante demorou menos de 10
minutos a percorrer o espaço expositivo.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
70
8.2.3 Museografias e Percursos
De forma a percecionar de que forma a museografia de uma exposição influencia o
percurso dos visitantes, foram observadas as obras onde os visitantes se detiveram mais
ou menos tempo em cada um dos dois períodos expositivos. Observou-se igualmente as
obras que não registaram qualquer paragem por parte dos visitantes. A amostra revelou-
se bastante heterogénea e à semelhança do sucedido com os seniores entrevistados, a
diversidade de obras observadas pelos visitantes revelou-se bastante significativa, pelo
que se optou por apresentar aquelas que reuniram maior número de visitantes em seu
redor, ou que contrariamente foram consecutivamente ignoradas por diversos visitantes
ao longo do percurso.
Na exposição Mood as obras mais vistas (gráfico 14) revelaram um equilíbrio ao longo
do percurso expositivo com 17% dos visitantes a deter-se durante mais tempo em frente
à série Possessão78
, e igual percentagem a deter-se em frente à obra Repugnância79
. As
outras duas obras mais vistas foram a série Sem título80
e a tapeçaria Batalha de
Alcácer-Quibir81
.
Relativamente às exposições Innervisions e Dama Pé de Cabra, a maioria dos visitantes
(38% dos visitantes observados), deteve-se na série Dama Pé de Cabra [2011-12]82
,
enquanto 13% se deteve na obra Pillowman [2004]83
, 10% em Entre Mulheres [1997]84
e 6% em Love [1995]85
.
78
Tomo II, Imagem 15: Possessão I – VII (2004, Col. Fundação Serralves – Museu de Arte
Contemporânea, Porto), consultar a propósito das peças de arte mais observadas por visitantes seniores
autónomos, p. 144. 79
Tomo II, Imagem 10: Repugnância, (2001, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego –
Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 141. 80
Tomo II, Imagem 16: Sem título [I – X], (1979 [?], Col. Fundação Paula Rego – Casa das Histórias
Paula Rego), Idem, p. 145. 81
Tomo II, Imagem 4: Batalha de Alcácer – Quibir, (1960 – 1970, Câmara Municipal de Cascais), Idem,
p. 139. 82
Tomo II, Imagem 17 – 22: Série Dama Pé de Cabra, (2011 - 2012, Marlborough Fine Art, Londres),
Idem, pp. 146-147. 83
Tomo II, Imagem 23: Pillowman (2004, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego –
Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 148. 84
Tomo II, Imagem 24: Entre Mulheres, (1997, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego
– Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 148. 85
Tomo II, Imagem 25: Amor, (1995, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das
Histórias Paula Rego), Idem, p. 149.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
71
Gráfico 14: Obras mais vistas por visitantes seniores autónomos da Casa das Historias Paula Rego
(percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
Apesar das temáticas distintas, em ambas as exposições se verificaram aspetos análogos
em termos museográficos. Tanto a série Possessão como a série Dama Pé de Cabra, se
encontravam em salas onde havia um banco de sala. Apesar de se ter verificado que só
uma minoria dos visitantes observados fez uso destes materiais, conforme referido por
um dos seniores entrevistados, “provavelmente a pressa com que as pessoas passam, se
presta com certeza com o não haver um convite a estar, a parar. Porque o parar, será um
ato voluntário mas não há aliciante nenhum para isso.”86
, ou seja a aliciante para sentar
poderá de facto ser um fator incentivador a uma maior permanência em determinada
sala ainda que não se chegue a fazer uso dos bancos disponíveis. O número de visitantes
observados que se detiveram em frente à tapeçaria Batalha de Alcácer Quibir reforça
isso mesmo, uma vez que esta se encontra num corredor de passagem junto à receção,
fora do percurso expositivo mas onde existe um banco que incentiva à paragem em
frente a esta peça.
Outro aspeto comum à maioria das obras observadas remete-nos para um determinado
período de trabalho de Paula Rego onde se enceta o uso do pastel e onde a artista se
centra cada vez mais na criação de personagens femininas que revelam comportamentos
animalescos, encetados por um corpo masculinizado, considerado muitas vezes como
grotesco por fugir aos cânones do belo, presentes na nossa sociedade. O grotesco não
86
Tomo II, anexo D – Entrevistas realizadas a visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego, p. 11.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
72
surge contudo apenas nesta fase, ele está presente em diversos períodos do trabalho de
Paula Rego, conforme é visível pela percentagem de visitantes que se deteve na série
Sem título de 1979 onde se observam caricaturas diversas, remetendo-nos aqui no
entanto para uma faceta do grotesco plenamente aceite na sociedade, o da caricatura
como meio de ironização e/ou ridicularização do ser humano.
A técnica do pastel bem como o uso da cor em sua consequência e a dimensão de alguns
destes trabalhos parecem ser igualmente fatores que contribuem para uma maior adesão
dos visitantes a estas obras.
O mesmo se aplica a obras como a tapeçaria Batalha de Alcácer Quibir, que para além
das suas dimensões, revela uma outra faceta do trabalho de Paula Rego desconhecida de
muitos que é a do trabalho têxtil. O facto de se tratar de uma peça têxtil poderá também
apresentar outro fator de aproximação que é o da relação com o espaço doméstico.
Apesar da sua escala, o facto de ser uma tapeçaria executada com pontos idênticos ou
muito próximos aos de peças que se possam ter em casa, tais como tapetes ou outros
bordados torna esta peça mais apta a uma relação de proximidade com os visitantes.
Relativamente às obras onde os visitantes se detiveram menos tempo encontraram-se
relações análogas com as obras onde se detiveram mais no que concerne à exposição
Mood, com a grande maioria dos visitantes a destinar menos tempo a obras como
Possessão87
(17% dos visitantes) ou a série Sem título88
com 25% dos visitantes
(gráfico 15). A relação aqui pode ser uma vez mais museográfica em obras como esta
série de Caricaturas, visto tratar-se de um conjunto que se encontrava exposto na
primeira sala de exposição cuja configuração é a de um corredor podendo sugerir uma
ideia de continuidade contrariando assim a tendência do visitante para prolongar a sua
permanência nesta sala. Contudo ao observamos as restantes três obras onde os
visitantes menos se detiveram – Possessão, Jenufa89
e Embarque90
– verificamos a
relação ao nível da desproporção dos corpos humanos e outras figuras representadas,
bem como a masculinidade latente das figuras femininas que parecem ser um fator
87
Tomo II, Imagem 15: Possessão, (2004, Col. Fundação Serralves – Museu de Arte Contemporânea,
Porto), consultar a propósito das peças de arte menos observadas por visitantes seniores autónomos, p.
144. 88
Tomo II, Imagem 16: Série Sem título [I – X], (1979 [?], Col. Fundação Paula Rego – Casa das
Histórias Paula Rego), Idem, p. 145. 89
Tomo II, Imagem 12: Jenufa, (1995, Col. Virgínia e João Esteves de Oliveira), Idem, p. 142. 90
Tomo II, Imagem 26: Embarque, (1992, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego –
Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 149.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
73
comum, que tanto pode funcionar como atrativo ou em sentido contrário, causando uma
relação de confronto entre visitante e obra de arte.
Gráfico 15: Obras menos vistas pelos visitantes seniores da Casa das Historias Paula Rego – exposições
Mood, Innervisions, Dama Pé de Cabra (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
Nas exposições Innervisions e Dama Pé de Cabra, a relação entre obras mais vistas e
obras menos vistas não apresentou a mesma correlação à semelhança do que se
verificou na exposição Mood. Nestas houve uma obra que se destacou claramente das
restantes, registando 17% de visitantes a deterem-se menos tempo sobre ela. Anjo91
de
1998 foi das obras onde os visitantes se detiveram menos tempo, seguindo-se-lhe
Rapariga com Pássaro92
com 9% dos visitantes, Banho Turco93
com 7% dos visitantes,
e três obras da série Ciclo da Vida da Virgem, Visitação, Agonia no Horto e Trânsito da
Virgem94
, expostas com sentido de conjunto. No que concerne a Anjo, trata-se de uma
91
Tomo II, Imagem 27: Anjo, (1998, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das
Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte menos observadas por visitantes seniores
autónomos, p. 150. 92
Tomo II, Imagem 28: Rapariga com Pássaro, (1997, Col. Fundação Paula Rego – Casa das Histórias
Paula Rego), Idem, p. 150. 93
Tomo II, Imagem 29: Banho Turco, (1960, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego –
Casa das Histórias Paula Rego), Idem p. 151. 94
Tomo II, Imagem 13: Visitação, Agonia no Horto e Trânsito da Virgem, Série Ciclo da Vida da
Virgem, (1960, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego),
Idem p. 142.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
74
obra icónica do percurso de Paula Rego, que marca o trânsito entre a série Crime do
Padre Amaro e a série sobre o aborto iniciada em 1998, na sequência do referendo feito
em Portugal no mesmo ano sobre o tema. Na exposição Innervisions a mesma foi
exposta em conjunto com obras de Pedro Calapez95
, feitas propositadamente em diálogo
com Anjo a convite da Casa das Histórias Paula Rego96
. O facto destas obras se
encontrarem a meio do percurso expositivo, proporcionando um fator de surpresa ao
observador, parece-nos ser o motivo que induz à rápida paragem frente à obra Anjo de
Paula Rego. Visto serem obras visualmente distintas, torna-se necessário um
conhecimento prévio para o correto entendimento da relação criada nesta sala.
Anjo foi igualmente das obras onde mais visitantes passaram sem parar no que concerne
à exposição Innervisions, reforçando as relações já enunciadas.
Percecionou-se ainda um terceiro fator, relacionado com a curta duração da visita
realizada pela maioria dos visitantes observados. Uma larga percentagem de visitantes
parou em todas as obras, ainda que por um curto espaço de tempo. Da amostra
observada verifica-se que em ambos os períodos expositivos a grande maioria dos
visitantes pára em todas as obras, com uma percentagem de 29% na exposição Mood e
de 56% nas exposições Innervisions e Dama Pé de Cabra (gráfico 16). Relativamente
às obras onde os visitantes não param voltam-se a verificar as relações já enunciadas
anteriormente com 6% dos visitantes a não parar em obras como Anjo97
e Pillowman98
,
na exposição Mood, e em obras como Possessão99
e Jenufa100
(8% dos visitantes
relativamente a cada uma) na exposição Innervisions. Contudo neste período expositivo
verificou-se também uma percentagem relevante de visitantes que não param em
diversas obras, sendo esta de 4%, uma diferença de apenas 2% face aos visitantes que
não param nas obras acima enunciadas.
95
Artista plástico, Pedro Calapez nasceu em Lisboa em 1953, onde ainda vive e trabalha. Começou a
participar em exposições nos anos 70, tendo realizado a sua primeira exposição individual em 1982. O
seu trabalho tem sido mostrado em diversas galerias e museus tanto em Portugal como no estrangeiro.
Atualmente encontra-se representado na exposição Innervisions patente na Casa das Histórias Paula
Rego. 96
Consultado a 24 de Setembro de 2012 em www.casadashistoriaspaularego.com. 97
Tomo II, Imagem 27: Anjo, (1998, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das
Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte onde os visitantes seniores autónomos
observados não se detêm, p. 150. 98
Tomo II, Imagem 23: Pillowman, (2004, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego –
Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 148. 99
Tomo II, Imagem 15: Possessão, (2004, Col. Fundação Serralves – Museu de Arte Contemporânea,
Porto), Idem, p. 144. 100
Tomo II, Imagem 12: Jenufa, (1995, Col. Virgínia e João Esteves de Oliveira), Idem, p. 142.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
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As únicas obras que se revelaram como sendo incontornáveis nas exposições
observadas, foram as da série Dama Pé de Cabra [2011-2012]. Estas obras conjugam
uma série de fatores favoráveis à atração verificada na maior parte dos visitantes. Às
questões da dimensão, da cor, da técnica e das questões relacionadas com a proporção
na figura humana, junta-se-lhes o fator novidade visto tratarem-se de obras recentes da
artista, expostas pela primeira vez em Portugal o que lhes confere um elevado grau de
mediatismo.
Gráfico 16: Obras onde os visitantes seniores da Casa das Historias Paula Rego não param – exposições
Mood, Innervisions, Dama Pé de Cabra (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
8.2.4 Outros elementos para uma visita – Loja e Cafetaria
Para além da relação essencial com a obra de Paula Rego, paralelamente, à semelhança
do que sucedeu com os visitantes seniores entrevistados, na observação de públicos
foram também elencados outros fatores que possam contribuir para uma visita à Casa
das Histórias Paula Rego, relacionados com os espaços de convívio, nomeadamente a
loja e a cafetaria da CHPR. De forma a dar continuidade à relação com os visitantes
observados na exposição, posteriormente analisou-se quantos destes visitantes
frequentavam estes espaços. Da amostra observada foi possível verificar que a maioria
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
76
dos visitantes permanece na CHPR após a visita à exposição com 64% dos visitantes a
frequentarem outros espaços de convívio (gráfico 17).
Gráfico 17: Frequência da loja e cafetaria da Casa das Histórias Paula Rego por sénior (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 106)
Quanto aos espaços frequentados 78 % dos visitantes observados deslocaram-se à loja
da CHPR, 13% frequentaram ambos os espaços e apenas 9% frequentaram a cafetaria
(gráfico 18). Os fatores para um maior número de deslocações à loja comparativamente
à cafetaria podem ser de diversa ordem contudo um que é imediatamente assinalável é o
de obrigatoriedade de consumo. Enquanto a frequência na cafetaria implica um
consumo, logo um gasto económico, a loja permite a sua frequência sem a
obrigatoriedade de compra, fator ao qual se junta a diversidade de produtos disponíveis
entre eles os catálogos da CHPR disponíveis para consulta.
Gráfico 18: Número de seniores que frequentam a loja e a cafetaria da Casa das Histórias Paula Rego
(percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 68)
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
77
Dada a possibilidade de consulta dos catálogos por parte do público na loja da CHPR,
verificou-se de entre os visitantes seniores que se deslocaram a este espaço, quantos
consultaram os catálogos, verificando-se que 61% dos visitantes efetuam essa consulta,
demonstrando que o interesse pela obra de Paula Rego se mantém ou acresce após a
visita às exposições (gráfico 19).
Gráfico 19: Catálogos da loja da Casa das Histórias Paula Rego consultados por visitante (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 62)
O último fator a ser observado foi o da duração da permanência na loja e/ou na cafetaria
da CHPR, de forma a perceber em que medida estes dois espaços podem concorrer com
a exposição em termos de atenção do visitante, e nesse sentido qual o seu grau de
importância na motivação para uma nova visita à CHPR.
Da amostra observada verificou-se que 46% dos visitantes permanecem nestes espaços
mais de 10 minutos, face a 6% que apenas permanece até 2 minutos (gráfico 20).
Com efeito o tipo de serviço prestado numa cafetaria presta-se a uma estadia superior a
10 minutos, contudo conforme já referimos a maioria dos visitantes deslocou-se à loja e
não há cafetaria após a visita à exposição, pelo que grande parte destes permaneceu
neste espaço por mais de 10 minutos, quase tanto quanto o tempo despendido por uma
elevada percentagem de visitantes a percorrer todo o circuito expositivo.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
78
Gráfico 20: Duração da permanência nos espaços de convívio da Casa das Histórias Paula Rego por
sénior (percentagem).
Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.
(Base de Amostragem: 68)
8.2.5 Conclusões
Dos públicos seniores observados na CHPR entre 04 de Abril e 21 de Outubro de 2012,
foi possível verificar que existem diversos fatores que contribuem para a visita a este
espaço museológico, dos quais se destaca o interesse manifestado pela obra de Paula
Rego, seguido pelo interesse no próprio edifício, quer enquanto espaço arquitetónico,
quer enquanto espaço de lazer e convívio. Com efeito verificou-se a importância da
dimensão social para estes visitantes dado o número elevado de seniores que se
deslocam à CHPR em grupo, sejam estes ou não, de caráter familiar.
No que concerne à relação com a obra de Paula Rego e aos comportamentos observados
no espaço expositivo é necessário salientar a importância da museografia no sentido de
criar discursos acessíveis a todos os visitantes para que estes usufruam o melhor
possível da visita, gerando assim uma vontade por parte do visitante em regressar dada a
memória positiva que leva da visita ao museu. Dessa forma revelam-se como elementos
fundamentais os materiais de apoio à exposição e o atendimento ao público.
Parece-nos igualmente essencial salientar a importância do grupo para o visitante sénior,
uma vez que através da análise realizada foi possível observar que a criação de relações
de continuidade museu/comunidade poderá ser construída com base na construção de
relações entre a própria comunidade sénior, contribuindo positivamente para a visita ao
museu, conforme se verificou pelo número de visitantes seniores que visitam a CHPR
em grupo, face o número de visitantes que o fazem sozinhos.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
79
9. Questões de género na perceção da obra de Paula Rego
Paula Figueiroa Rego nasceu em 1935 em Lisboa. Durante a sua infância e adolescência
residiu no Estoril, dividindo o tempo entre a sua residência, Carcavelos onde estudava
na St. Julians School, e a Ericeira onde se situava a casa de seus avós. Manifestando
desde pequena uma apetência pelo desenho, com apenas 17 anos Paula Rego foi
incentivada pelo pai a prosseguir os estudos fora de Portugal que se encontrava na altura
sob o regime Salazarista. Paula Rego viajou para Londres onde ingressou na Slade
School of Fine Art a fim de estudar pintura. Foi também aqui que conheceu vários
artistas entre os quais o seu marido, Victor Willing, pintor e crítico de arte. Após a
conclusão dos estudos a artista retornou a Portugal, acompanhada de Victor Willing,
onde durante a década de 60 criaram os filhos. Contudo nunca se fixaram em Portugal,
dividindo o seu tempo entre Cascais e Londres durante a década de 60, até Paula Rego
se instalar definitivamente em Inglaterra a partir de 1976. A artista manteve sempre, no
entanto, o contato com Portugal, sobretudo através de visitas e regressos à sua casa de
família na Ericeira, a qual remete inclusivamente para diversas memórias e traços de um
imaginário evocativo da infância da artista, patentes na sua obra e que encontra reflexos
no trabalho do feminino cujo modelo privilegiado é Lila Nunes101
. Artista atualmente
reconhecida no panorama nacional e internacional, Paula Rego ganhou grande
notoriedade a partir dos anos 90 transformando-se num nome incontornável. Foi
precisamente em 1990 que Paula Rego foi convidada pela National Gallery em Londres
a tornar-se na primeira artista associada da instituição. Contando com diversos convites
de galerias e outras instituições para trabalhar inclusivamente em diálogo com as suas
coleções, a artista revela um percurso marcado pela representação do universo feminino
num diálogo permanente entre o imaginário dos contos tradicionais portugueses e o
enfoque em questões prementes e transversais às sociedades.
As suas influências são múltiplas mas importa salientar o cruzamento que todas elas
enfocam nas “lutas pelo poder subjacentes às relações entre os sexos e também entre as
gerações”102
num lugar onde a família é “o microcosmos da vida social e é sem dúvida o
101
De nacionalidade portuguesa, Lila Nunes começou por ser enfermeira de Victor Willing e após a sua
morte em 1988, tornou-se modelo de Paula Rego. 102
ROSENGARTEN, Ruth, Compreender Paula Rego in Compreender Paula Rego: 25 Perspectivas. –
Sintra: Fundação de Serralves/ Jornal Público, 2004, p. 7.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
80
romance familiar que sustenta todas as outras relações”103
. Desde séries como Óperas104
ou o Macaco Vermelho105
produzidas durante a década de 80 onde estas relações
surgem de forma alegórica e ironizada quer pelos seus personagens através da
personificação do ser humano na figura animal, quer pela expressividade colocada na
técnica, às figuras da década de 90 em obras como a série do Crime do Padre Amaro, de
maior comprometimento e maturidade na revelação de relações ambíguas onde a força
da mulher e a fragilidade do homem são expostas socialmente, em todas elas se debatem
as questões de género.
E estas manifestam-se de forma clara na leitura da sua obra, quer seja na observação da
figura feminina representada de forma masculinizada, quer seja na relação entre homens
e mulheres pela demarcação do poder numa política do sexo106
, onde são evidentes as
negociações de poder.
Interessa-nos a leitura deste ponto de vista sobre a obra de Paula Rego, dada a
diversidade de interpretações que esta adquire mediante o género do próprio público que
com elas se confronta. Poderíamos abordar outras múltiplas leituras mediante a faixa
etária mas centrando-nos nos públicos-alvo deste estudo, os públicos seniores, tanto nos
públicos entrevistados como nos públicos observados, foi possível denotar as diferentes
reações de indivíduos do sexo masculino e feminino a esta temática. Face à intenção de
Paula Rego de mostrar que “a mulher é uma história por contar”107
, são as mulheres
quem mais rejeita a figuração do corpo feminino e o papel da mulher na sua obra. O
mesmo sucede com os homens perante a representação do corpo masculino revelando
perplexidade e incompreensão perante a fragilidade da figura masculina representada,
em obras como Entre Mulheres108
e não denotando o poder implícito desta, em obras
103
Idem, Ibidem, p. 7. 104
Tomo II, Imagem 5 – 9: Série Óperas (1983, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego
– Casa das Histórias Paula Rego, pp. 139 – 140. 105
Tomo II, Imagem 14: Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981, Col. Paula Rego, em comodato na
Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego, p. 143. 106
ROSENGARTEN, Ruth, Alimentando o Adulto Interior: Desenhos e Gravuras recentes de Paula
Rego in Compreender Paula Rego: 25 Perspectivas. – Sintra: Fundação de Serralves/ Jornal Público,
2004, p. 97. 107
POMAR, Alexandre, Amor e Crime in Compreender Paula Rego: 25 Perspectivas. – Sintra: Fundação
de Serralves/ Jornal Público, 2004, p. 94. 108
Tomo II, Imagem 14: Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981, Col. Paula Rego, em comodato na
Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego, p. 143.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
81
como Mulher-cão109
, ou pela sua representação na forma animal como sucede em
muitas obras dos anos 80, das quais poderíamos evidenciar exemplos múltiplos, sendo
talvez a mais notável a personagem do macaco vermelho. A figura animal enquanto
figuração do sexo masculino é entendida por ambos os sexos, contrariamente ao que
macaco vermelho representa, como uma forma de diminuição do sexo masculino.
Embora esta diminuição possa estar presente em diversas obras, ela não se apresenta
como uma leitura unilateral. As obras “contam uma história, um conto universal de
amor e traição, segurança e insegurança no seio das relações familiares”110
não nos
permitindo identificar de forma generalizada um sexo forte e um sexo fraco, sendo as
personagens vítimas das suas próprias ações e nesse sentido do desenrolar da narrativa.
Esta multiplicidade de entendimentos e leituras permite através da obra de Paula Rego
rever e perceber os papéis atualmente desempenhados por homens e mulheres na
sociedade onde se inserem, na construção de um maior e melhor entendimento do eu e
do outro e das suas relações.
Pois tal como sucede na obra de Paula Rego, o indivíduo define-se a si mesmo pelas
relações que estabelece com os outros111
. E essas relações podem ser (re)vividas
mediante a memória e a relação com a imagem, verificando-se uma vez mais a
importância da obra de arte enquanto forma de linguagem. Connerton112
defende a
importância das imagens como legitimadoras de uma ordem social, e no âmbito da
memória dos grupos, as imagens do passado podem legitimar uma ordem social
presente, a partir de uma memória social comum. Neste sentido podemos observar a
obra de arte e aqui a obra de Paula Rego, como legitimadora de uma ordem social, ou
como perturbadora no nosso entendimento da sociedade e dos papéis desempenhados
por cada um, quando reveladora de realidades que tendemos a combater.
Mas como indica a própria artista a sua obra deve ser entendida como “um texto aberto,
um repertório de imagens e personagens que, embora criadas por ela em ocasiões
específicas, têm no entanto uma vida própria e mantêm-se abertas a novas
interpretações”113
.
109
Tomo II, Imagem 30: Mulher-cão (1994, Col. Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego),
p. 151. 110
BRADLEY, Fiona, Paula Rego, Lisboa: Quetzal Editora, 2002, p. 19. 111
LAPA, Pedro, Fabulações das muitas figuras na obra de Paula Rego in Compreender Paula Rego: 25
Perspectivas. – Sintra: Fundação de Serralves - Jornal Público, 2004, p. 15. 112
CONNERTON, Paul, Como as Sociedades Recordam. – Oeiras: Celta Editora, 1993. 113
BRADLEY, Fiona, Paula Rego, Lisboa: Quetzal Editora, 2002, p. 26.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
82
10. Projeto Maiores
No sentido de dar resposta às necessidades sentidas, foi elaborada uma proposta, com
vista à criação de atividades que encetem uma nova relação entre museu e públicos
seniores. Tomando como ponto de partida, a Casa das Histórias Paula Rego, trata-se no
entanto de uma proposta transversal aplicável a diferentes realidades museológicas.
Verificando-se a relação direta entre projetos de continuidade e a fidelização dos
públicos através da criação de hábitos culturais e da sua melhor compreensão das
coleções, propomos a elaboração de um projeto de continuidade, cuja base assenta no
trabalho desenvolvido desta forma entre a CHPR e a comunidade escolar, através de
projetos como o Projeto Anual de Escolas, adaptado à realidade da comunidade sénior.
A proposta designada de projeto Maiores poderá ter aplicação prática na programação
d’O Ateliê. As propostas aqui elencadas têm a sua génese na perceção da realidade
quotidiana dos públicos da CHPR e consequentemente na compreensão da necessidade
de fidelização do público sénior, visto tratar-se de um público em potencial crescimento,
dado o cada vez maior envelhecimento demográfico.
Os objetivos principais do projeto Maiores na Casa das Histórias Paula Rego são:
a) Compreender a obra de Paula Rego;
b) Construir um sentido de pertença face a este espaço museológico por parte da
comunidade sénior.
Ao nível de uma prática museológica generalizada um dos objetivos fundamentais é a
criação de uma relação de autonomia cultural e simultânea apropriação do espaço
museal por parte destes públicos, transformando a realidade cultural numa realidade
quotidiana e educacional para esta faixa da sociedade.
Dado ser um projeto de continuidade, o projeto Maiores poderá ter várias edições, as
quais permitirão o seguimento de participantes de edições anteriores e/ou a integração
de novos interessados.
O projeto terá um novo tema a cada edição, condutor das ações a realizar. Os temas
elencados na CHPR terão como ponto-chave a perceção dos públicos seniores da obra
de Paula Rego, de onde se destacam atualmente 3 temas:
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
83
a) Género
b) Idade
c) Família e sociedade
No que concerne à sua calendarização, o projeto Maiores será composto de 3 fases. A
primeira será pontuada por uma reunião de apresentação do projeto, aberta a toda a
comunidade sénior e seus cuidadores.
Esta terá como objectivo dar a conhecer o projeto, apresentar o tema que servirá de
mote às ações desenvolvidas, e elencar todas as etapas do mesmo. Segundo os moldes
desenvolvidos pel’O Ateliê em projetos de continuidade já decorridos, uma vez
apresentado o projeto, prevê-se a entrega de uma carta de compromisso, a qual se
pretende que funcione como elemento simbólico de uma relação de continuidade entre
museu e a comunidade.
A duração total de cada edição do projeto será semestral e contará com a realização
mínima de 1 atividade mensal e máxima de 2, perfazendo um total máximo de 12
atividades no total. Cada atividade não deverá exceder a duração máxima de 2 horas, e
terá a duração mínima de 60 minutos (tabela 11).
Tema | Questões de Género na Perceção da Obra de Paula Rego
Duração Reuniões Atividades
Reunião de Apresentação do projeto Maiores
1º mês
Visita orientada: Apresentação da colecção e projeto arquitetónico
2º mês
Visita Ateliê: As questões de género na obra de Paula Rego
3º mês
Workshop: As questões de género na sociedade contemporânea
4º mês Reunião Intercalar: Balanço do projeto e entrega de fichas de avaliação do mesmo.
Sessão de debate: Género, o observador e a arte
5º mês Ateliê de Continuidade
Ateliê de Continuidade
6º mês Reunião Final: Avaliação do Projeto. Apresentação Pública do Projeto
Tabela 11: Projeto Maiores: Tabela cronológica de atividades
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
84
Quanto à tipologia das atividades a realizar, esta não dependerá apenas das exposições
patentes e do tema de trabalho, mas de igual forma da programação da instituição
museológica, no sentido em que se tentará sempre estabelecer uma relação entre a oferta
educativa existente e as necessidades do projeto de forma a potenciar as propostas dos
serviços educativos no trabalho com a comunidade sénior.
No seu início o projeto prevê um primeiro contato com as exposições e/ou acervos, sob
a forma de visita, dando a conhecer os espólios. Na CHPR será assim apresentada a
artista e o seu percurso, bem como o edifício e o seu projeto arquitetónico a todos os
participantes (tabela 11).
No término do projeto prevê-se uma apresentação pública à restante comunidade dos
resultados obtidos, cujos protagonistas serão, além do próprio serviço educativo do
museu, os seniores que participarão neste desafio cultural e educativo.
Enquanto os projetos realizados com a comunidade escolar se desenvolvem entre o
museu e a escola, no caso dos públicos seniores eles serão desenvolvidos no espaço
museal, para firmar a fidelização ao “lugar” e a continuidade de atividades irá refletir o
trabalho desenvolvido durante o semestre (tabela 11). No âmbito escolar, os projetos de
continuidade com uma instituição museológica surgem como um espaço extracurricular
inserido na educação formal dos participantes. No caso dos públicos seniores este
assume um papel primordial na criação de hábitos e de uma autonomia cultural e social,
com um forte reflexo comunitário, que poderá estender-se às famílias dos participantes,
gerando assim outros públicos para a cultura.
Na aplicação prática à programação da CHPR a realização de um ateliê de continuidade,
vai ao encontro da programação já desenvolvida pel’O Ateliê, dirigida atualmente a
crianças em idade escolar, permitindo também um alargamento etário nesta oferta, ainda
que fora do seu contexto tradicional (as férias escolares do público infantil).
As atividades desenvolvidas independentemente da sua natureza, terão como premissa
fundamental o cruzamento entre os diversos universos adjacentes a uma coleção, e
outros universos da realidade do público-alvo: escrita, literatura, desenho, pintura,
ciência, investigação, cinema, teatro, ou outros, salientando-se a importância de uma
abordagem transversal permitindo uma multidisciplinaridade na mediação.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores
85
11. Conclusões Finais
A presente dissertação de mestrado teve como objetivo perceber de que forma os
indivíduos seniores se relacionam com a realidade cultural da comunidade em que se
inserem, partindo do pressuposto de que o envelhecimento demográfico é um fenómeno
em rápida expansão e nesse sentido os públicos seniores devem ser encarados como
públicos a privilegiar e a fidelizar. Um dos fenómenos que nos leva a considerar
fundamental a educação na terceira idade relaciona-se diretamente com a aposentação.
Ao chegar à aposentação o indivíduo abandona a vida ativa, podendo este período ser
entendido como tempo de lazer ou período não produtivo. Considerando o conceito de
lazer segundo a sua origem etimológica, verificámos que tendo a sua origem no verbo
latino licere cujo significado é “ser lícito, ser permitido”, entende-se assim o período de
lazer como aquele em que o indivíduo tem a possibilidade de desenvolver atividades
para seu usufruto pessoal, ou seja, que não poderia realizar dentro do período produtivo
seja este de âmbito profissional, social ou familiar. Contudo conforme vimos a
aposentação pode ser vista como um período produtivo, e o conceito de educação ao
longo da vida vem de encontro a esta mesma tendência.
Nesse sentido, e relacionando a dimensão da educação com o papel educativo do
museu, verificámos como este pode ser um agente fundamental à promoção de um
envelhecimento ativo e na criação de novos públicos enraizados na comunidade.
Considerando-se, assim, a Casa das Histórias Paula Rego verificou-se que esta reúne as
condições necessárias à fidelização destes públicos, quer pela sua dimensão mediática,
quer pela sua dimensão arquitetónica e artística. A pluralidade e transversalidade de
conteúdos adjacentes quer ao trabalho de Paula Rego, quer ao edifício projetado por
Eduardo Souto de Moura, permitem a construção de múltiplos significados a partir da
memória social dos grupos. Nesse sentido, a aposta na mediação cultural enquanto
construtora desses mesmos significados revela-se fundamental na criação de uma
relação entre o museu e os seus públicos.
Concluímos, assim, que só através do trabalho desenvolvido com as comunidades que o
envolvem, o museu pode desempenhar plenamente o seu papel educativo, sendo
fundamental uma mediação cultural conhecedora dos seus públicos e das suas
necessidades.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
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86
Verificou-se igualmente que a criação de equipas de serviço educativo residentes como
O Ateliê, contribuem grandemente para a criação dessas relações pois a proximidade
que mantém com os públicos através do trabalho desenvolvido diariamente, permite
uma melhor análise das necessidades sentidas pelos indivíduos e a criação e adaptação
constantes das respostas mais adequadas a essas mesmas necessidades, muitas vezes a
partir do cruzamento de realidades aparentemente distintas mas que pela sua prática se
revelam passíveis de adaptação a diferentes públicos como é o caso do projeto Maiores,
que tem a sua génese num projeto escolar adaptado à realidade dos públicos seniores.
A obra de Paula Rego funciona, neste entendimento, como catalisadora à construção de
novos significados no entendimento da obra de arte, e da importância do museu na
realidade quotidiana dos seus públicos. Porque, acima de tudo, o museu é um lugar de
comunicação e a museologia deve ser encarada “como um compromisso ético e estético
que se deve levar a cabo num constante diálogo entre o museu e a comunidade.”114
114
HERNÁNDEZ, Hernandéz, Francisca, El Museo como Espacio de Comunicación. – Gijón: Ediciones
Trea, 2011, p. 334.
Casa das Histórias Paula Rego Tomo I
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Diário de Notícias
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Diário da República, I Série - A – nº 195, 19/08/2004, Decreto-Lei nº 47/2004 de 19 de
Agosto.
Diário da República, I Série – nº 172, 04/09/2009, Decreto-Lei nº 213/2009 de 14 de
Setembro.
Referências Electrónicas
Cascais Energia - www.cascaisenergia.org
Câmara Municipal de Cascais – www.cm-cascais.pt
Casa das Histórias Paula Rego - www.casadashistoriaspaularego.com
Diário da República Electrónico - www.dre.pt
Dicionário Priberam da Língua Portuguesa - www.priberam.pt
ICOM Portugal – www.icom-portugal.org
Instituto Nacional de Estatística - www.ine.pt
International Council of Museums - http://icom.museum/
Observatório das Actividades Culturais - www.oac.pt
Pordata, Base de Dados Portugal Contemporâneo - www.pordata.pt