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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES Casa das Histórias Paula Rego Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores Tomo I Diana Rute Correia da Silva Mestrado em Museologia e Museografia 2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

Casa das Histórias Paula Rego

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

Tomo I

Diana Rute Correia da Silva

Mestrado em Museologia e Museografia

2012

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE BELAS-ARTES

Casa das Histórias Paula Rego

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

Tomo I

Diana Rute Correia da Silva

Mestrado em Museologia e Museografia

Dissertação Orientada pelo Prof. Doutor Fernando António Baptista Pereira

Coorientada pela Mestre Ana Duarte

2012

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

2

Agradecimentos

São diversos os agradecimentos devidos a todos os que permitiram e contribuíram para

a realização desta dissertação.

Antes de mais ao meu orientador, o Professor Doutor Fernando António Baptista

Pereira, cujo conhecimento me foi valioso não apenas ao longo da realização deste

estudo, mas durante todo o percurso percorrido durante os dois anos de mestrado.

Igual agradecimento é devido à minha coorientadora, Mestre Ana Duarte, que me

conduziu na descoberta de outras realidades educativas, e cuja orientação e sabedoria

me foram preciosas no decorrer desta investigação.

Às minhas colegas d’O Ateliê, Catarina Aleluia, Joana Macedo, Mariana Pinto e Susana

Pires, bem como à minha coordenadora a Dra. Adriana Pardal, o meu agradecimento

pelas horas que me permitiram de dedicação a este estudo e por toda a informação que

se disponibilizaram partilhar, a qual muito contribuiu para o enriquecimento da

investigação. Agradeço igualmente à restante equipa da Casa das Histórias Paula Rego,

em particular à Dra. Helena de Freitas pela amabilidade de me disponibilizar imagens

de acervo, tão necessárias à realização deste estudo.

Igualmente preciosa foi a contribuição de todos os seniores com quem tive a

oportunidade de contatar no âmbito deste estudo e cujo testemunho e contributo foi

fundamental para um melhor e mais profundo conhecimento da realidade cultural desta

comunidade. Não poderei deixar de agradecer àqueles que, no Centro Engenheiro

Álvaro de Sousa e no Centro de Saúde de Cascais, tão bem me souberam receber

permitindo o contato com a sua realidade, e me deram a conhecer a importância do

trabalho desenvolvido com a comunidade sénior no que respeita à sua realidade cultural.

Um agradecimento especial aos meus pais, José Carlos Silva e Maria Clara Silva, e à

minha irmã, Cláudia Silva, por toda a ajuda e apoio que me deram, e ao meu marido,

Bruno Silva, por ter contribuído com o seu olhar atento, e pelas inúmeras horas que me

permitiu dedicar a esta investigação bem como pela sua incansável generosidade nas

horas de maior cansaço.

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Resumo

A dissertação de mestrado em museologia e museografia que aqui apresentamos

pretende contribuir como fundamento para uma proposta de acção museológica, no

contexto da educação do público sénior, tendo em conta o panorama museológico actual

nacional e internacional.

Trata-se de um caso de estudo que analisa a relação entre o espaço museológico e a

comunidade sénior, avaliando in situ os residentes de uma determinada área geográfica,

o concelho de Cascais, e um espaço museal, a Casa das Histórias Paula Rego.

No entendimento desse contexto, procuraremos apresentar novas soluções que permitam

uma mediação cultural promotora de um envelhecimento ativo e de uma relação mais

próxima entre museu e comunidade.

O museu revela-se, assim, como espaço promotor do interesse e de uma autonomia

cultural, abrindo caminho para outras realidades extramuros.

Palavras-Chave:

Públicos de museus; Envelhecimento Ativo; Paula Rego; Comunidade; Museu e

Educação.

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4

Abstract

The dissertation for the master degree in museology and museography here presented is

intended to contribute as the bases for a proposal of a museal action in senior education

context, considering the current national and international museum scenery.

It’s a case study that analyses the relation between museums and their senior

community, evaluating in situ residents of a geographical area, the district of Cascais,

and a museum, the House of Stories Paula Rego.

In understanding this context we will seek to present new solutions that enable a

cultural mediation promoter of an active aging, and a closer relationship between

museum and community.

The museum reveals itself as a space promoter of cultural autonomy opening the way

for other realities outside their walls.

Keywords:

Museum publics; Active Ageing; Paula Rego; Community; Museum and Education.

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5

Índice

Tomo I

Agradecimentos 2

Resumo 3

Abstract 4

1. Introdução 11

1.1 Museu e Educação: definições e conceitos 13

1.1.1 Educação de Adultos e Educação ao Longo da Vida 15

1.1.2 Públicos Inclusivos 16

2. Os Serviços Educativos no Panorama Museológico Português 19

3. O Concelho de Cascais 24

3.1 Caracterização Sociodemográfica 24

3.1.1 Educação e Mercado de Trabalho 26

3.1.2 Turismo e Cultura 27

3.1.3 Politicas Culturais 29

4. A Casa das Histórias Paula Rego 32

4.1 Fundação Paula Rego 32

4.2 Casa das Histórias Paula Rego 32

4.3 O Ateliê 34

4.3.1 Programação 2009 – 2012 35

4.3.2 Contagens de Públicos 36

5. Programa Conversa da Treta do Centro de Saúde de Cascais 40

6. Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa 42

7. Entrevistas Semidirectivas 43

7.1 Metodologia 43

7.2 Análise dos Resultados das Entrevistas Semidirectivas 44

7.2.1 Práticas Culturais e Hábitos de Visita 46

7.2.2 Meios de Comunicação e Materiais Auxiliares 51

7.2.3 Relação com a obra de Paula Rego 53

7.2.4 Conclusões 60

8. Observação de Públicos Autónomos 62

8.1 Metodologia 62

8.2 Análise da Observação de Públicos Autónomos 63

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6

8.2.1 Caracterização dos públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego 63

8.2.2 Hábitos e comportamentos – Percurso expositivo 65

8.2.3 Museografias e Percursos 70

8.2.4 Outros elementos para uma visita – Loja e Cafetaria 75

8.2.5 Conclusões 78

9. Questões de género na perceção da obra de Paula Rego 79

10. Projeto Maiores 82

11. Conclusões Finais 85

12. Referências Bibliográficas 87

Outros documentos consultados 89

Meios de Comunicação Social 89

Diplomas Legais 89

Referências Eletrónicas 89

Índice de Gráficos

Gráfico 1: Visitantes da Casa das Histórias Paula Rego em valores absolutos 37

Gráfico 2: Número de visitantes livres da CHPR e participantes

d’O Ateliê por período semanal 37

Gráfico 3: Visitantes d’O Ateliê entre Setembro de 2010

e Setembro 2012 por grupos 38

Gráfico 4: Fluxos por grupos de visitantes d’O Ateliê 39

Gráfico 5: Visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego

autónomos e em grupo 63

Gráfico 6: Constituição dos grupos de seniores da Casa das Histórias Paula Rego 64

Gráfico 7: Grupos de visitantes da Casa das Histórias Paula Rego por tipologia 64

Gráfico 8: Género dos visitantes seniores autónomos da CHPR 65

Gráfico 9: Comportamentos no espaço expositivo da CHPR 65

Gráfico 10: Tempo médio por obra durante o percurso expositivo 66

Gráfico 11: Observação de legendas e textos de parede por visitante da CHPR 67

Gráfico 12: Materiais de apoio à exposição por sénior da CHPR 68

Gráfico 13: Tempo médio de visita às exposições da CHPR por sénior 69

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7

Gráfico 14: Obras mais vistas por sénior da CHPR 71

Gráfico 15: Obras menos vistas por sénior da CHPR 73

Gráfico 16: Obras onde os visitantes seniores da CHPR não param 75

Gráfico 17: Frequência da loja e cafetaria da CHPR por sénior 76

Gráfico 18: Número de seniores que frequentam a loja e a cafetaria da CHPR 76

Gráfico 19: Catálogos da loja da Casa das Histórias Paula Rego

consultados por visitante 77

Gráfico 20: Duração da permanência nos espaços de convívio da CHPR por sénior 78

Índice de Tabelas

Tabela 1: Visitantes escolares no total de visitantes dos museus,

jardins zoológicos, botânicos e aquários em Portugal 22

Tabela 2: Indicadores de Envelhecimento segundo os censos em Portugal 22

Tabela 3: População residente: total e por grandes grupos etários 24

Tabela 4: Número de indivíduos em idade ativa por idoso 25

Tabela 5: Caixa Geral de Aposentações: reformados/aposentados e pensionistas 25

Tabela 6: Alunos matriculados nos ensinos pré-escolar, básico e secundário 26

Tabela 7: Taxa de Emprego segundo os Censos: total e por grupo etário 27

Tabela 8: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários:

total de visitantes e visitantes escolares 28

Tabela 9: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários:

visitantes por mil habitantes 28

Tabela 10: Despesas das Câmaras Municipais em cultura e desporto 29

Tabela 11: Projeto Maiores: Tabela cronológica de atividades 83

Índice de Imagens

Imagem 1: Percursos expositivos de Mood – Innervisions e Dama Pé de Cabra 68

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8

Tomo II

Índice de Anexos

Anexo A – Oferta Pedagógica de Museus Nacionais para Público Sénior 5

Anexo B – Cronologia da Oferta Pedagógica d’O Ateliê 6

Anexo C – Guião de Entrevista a Visitantes Seniores da CHPR 8

Anexo D - Entrevistas realizadas a Visitantes Seniores da CHPR 11

Entrevista nº 1 11

Entrevista nº 2 20

Entrevista nº 3 28

Entrevista nº 4 35

Entrevista nº 5 41

Entrevista nº 6 50

Entrevista nº 7 58

Entrevista nº 8 63

Entrevista nº 9 68

Entrevista nº 10 72

Entrevista nº 11 78

Entrevista nº 12 86

Entrevista nº 13 91

Entrevista nº 14 97

Entrevista nº 15 102

Entrevista nº 16 109

Entrevista nº 17 113

Entrevista nº 18 118

Entrevista nº 19 125

Anexo E – Ficha de Observação de Públicos 129

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9

Índice de Tabelas

Tabela 11: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários:

número e visitantes – Portugal 131

Tabela 12: População estrangeira com estatuto legal de residente

em percentagem da população residente: total e por sexo 131

Tabela 13: Taxa de analfabetismo em percentagem por local

de residência à data dos Censos 2001 132

Tabela 14: População Residente com 15 e mais anos

por nível de escolaridade completo mais elevado segundo os Censos 132

Tabela 15: Taxa de desemprego segundo os Censos 2001:

total e por grupo etário 133

Tabela 16: Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros por localização geográfica

e tipo 133

Tabela 17: Proporção de hóspedes estrangeiros por localização geográfica 134

Tabela 18: Galerias de arte e outros espaços de exposição temporária:

número médio de visitantes 134

Tabela 19: População residente do sexo feminino:

total e por grandes grupos etários 135

Tabela 20: População residente do sexo masculino:

total e por grandes grupos etários 135

Índice de Imagens

Imagem 2: Folha de sala da exposição

Dama Pé de Cabra da Casa das Histórias Paula Rego 136

Imagem 3: Brochura trimestral d’O Ateliê 138

Imagem 4: Batalha de Alcácer Quibir 139

Imagem 5: Aida, Série Óperas 139

Imagem 6: Rigoletto, Série Óperas 139

Imagem 7: Falstaff, Série Óperas 140

Imagem 8: Traviata, Série Óperas 140

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10

Imagem 9: Sem título, Série Óperas 140

Imagem 10: Repugnância 141

Imagem 11: Oratório 141

Imagem 12: Jenufa 142

Imagem 13: Visitação, Agonia no Horto, Trânsito da Virgem

(Série Ciclo da Vida da Virgem) 142

Imagem 14: Macaco Vermelho Bate na Mulher 143

Imagem 15: Possessão 144

Imagem 16: Sem título [I – X] 145

Imagem 17: Dama com Pé-de-Cabra (I). Despindo a Divina Senhora 146

Imagem 18: Dama com Pé-de-Cabra (II). Cantando no Cimo do Monte 146

Imagem 19: Dama com Pé-de-Cabra (III). A Morte do Cão do Caçador 146

Imagem 20: Dama com Pé-de-Cabra (IV). Levitação 147

Imagem 21: Dama com Pé-de-Cabra (V). A Demanda 147

Imagem 22: Dama com Pé-de-Cabra (II). Elenco de Personagens 147

Imagem 23: Pillowman 148

Imagem 24: Entre Mulheres 148

Imagem 25: Amor 149

Imagem 26: Embarque 149

Imagem 27: Anjo 150

Imagem 28: Rapariga com Pássaro 150

Imagem 29: Banho Turco 151

Imagem 30: Mulher-cão 151

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11

1. Introdução

“Tenho dito e tornado a dizer que o Museu é a escola em plena actividade onde,

além da preparação dos que nele trabalham, se deve educar o público

num ensinamento permanente que abrange todas as ideias e graus de aprendizagem.”1

Partindo da premissa de que o museu é um lugar com fins educativos e aberto a toda a

sociedade, tentámos compreender em que medida os espaços museológicos funcionam

como locais de educação, seja ela formal ou não formal, escolhendo como caso de

estudo um museu de dimensão internacional e a comunidade envolvente. A Casa das

Histórias Paula Rego (CHPR) e a comunidade sénior do concelho de Cascais, foi por

nós selecionada, para realizar a nossa pesquisa.

A escolha do referido museu, bem como do público-alvo adveio da experiência

profissional por nós adquirida n’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR, a qual

permitiu neste estudo a observação contínua dos públicos e a ação do serviço de

educação.

Dessa observação resultou a necessidade de compreender se a referida oferta se estende

e adequa a todos os públicos que visitam a CHPR, tomando como público-alvo os

seniores situando-se estes públicos no extremo oposto aos públicos escolares, quando

comparados com a percentagem de visitantes participantes nas actividades promovidas

pel’O Ateliê desde a sua génese.

Inaugurada a 18 de Setembro de 2009, a Casa das Histórias Paula Rego conta desde a

sua abertura com a existência de uma equipa de serviço educativo residente, permitindo

dar resposta aos públicos inseridos nas actividades educativas bem como aos públicos

que visitam este espaço autonomamente.

No presente estudo procedeu-se à análise da oferta educativa existente desde Setembro

de 2009, avaliando a sua evolução e extensão a diferentes tipos de público.

Considerando a inexistência de uma oferta direccionada para os públicos seniores,

procurou-se analisar o perfil destes visitantes, tentando perceber as motivações das

visitas e o conhecimento que possuem do espaço museológico e da oferta cultural

existente.

1 Museu Nacional de Arte Antiga, A Obra do Dr. João de Couto no Museu Nacional de Arte Antiga. –

Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga, 1967.

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12

Para verificação das questões levantadas foram realizadas numa primeira fase,

entrevistas semidirectivas no espaço da visita, as quais foram registadas com recurso a

áudio e posteriormente transcritas e analisadas.

Numa segunda fase foi realizada uma observação de públicos onde se procurou

caracterizar o perfil dos públicos seniores autónomos, as suas motivações e hábitos de

visita bem como a sua relação com a obra de arte.

A realização deste trabalho preparatório e a sua análise, permitiu-nos concretizar uma

proposta de trabalho para este segmento de públicos, a ser implementada na CHPR.

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13

1.1 Museu e Educação: definições e conceitos

Segundo a definição adotada pelo Internacional Council of Museums (ICOM) desde a

sua fundação em 1946, o museu “é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao

serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire,

conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade

e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite”2.

A constituição portuguesa, conforme o decreto de lei nº 47/2004 de 19 de Agosto

perpetua esta definição indicando que um museu “é uma instituição de carácter

permanente com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos”3. Como finalidade

principal a lei-quadro dos museus portugueses realça a investigação, documentação,

conservação, interpretação, exposição e divulgação dos bens culturais sempre com fins

científicos, educativos e lúdicos concorrendo dessa forma para “a democratização da

cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade”4.

A função educativa é salvaguardada pelo código deontológico do ICOM o qual ressalva

igualmente o papel inclusivo do museu, indicando que estes “têm o importante dever de

desenvolver o seu papel educativo atraindo e ampliando os públicos saídos da

comunidade, localidade ou grupo a que servem. (…) Os acervos dos museus refletem o

património cultural e natural das comunidades de onde provêm. Desta forma, seu caráter

ultrapassa aquele dos bens comuns, podendo envolver fortes referências à identidade

nacional, regional, local, étnica, religiosa ou política.”5

Se o museu responder a estes requisitos de forma plena tal resultará num trabalho

integrado e dialogante de todas as suas equipas e terá como uma das suas valências

fundamentais uma equipa de serviço educativo à qual caberá a mediação cultural

criando pontes entre museografias e os seus públicos.

Sendo a educação atualmente tida como um direito de todos os cidadãos, o museu deve

desempenhar um papel fundamental neste campo.

Segundo o artigo 26º da declaração universal dos direitos humanos “toda a pessoa tem

direito à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao

2 Consultado a 20 de Agosto de 2012 em www.icom-portugal.org.

3 Diário da República, I Série-A – nº 195, 19/08/2004, Decreto-Lei nº 47/2004 de 19 de Agosto, p. 5379.

4 Idem, Ibidem, p. 5379.

5 Código Deontológico do International Council of Museums (documento eletrónico), pp. 12 - 13,

consultado a 21 de Agosto em www.icom-portugal.org.

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14

ensino elementar fundamental.”6 Contudo o significado do termo é mais lato, sendo

entendido como um “conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento

geral do corpo e do espirito”7. Neste sentido poderemos ver a educação como uma

ferramenta que pode ser usada por um indivíduo na instrução de outrem, remetendo-nos

assim para o conceito de ensino8, ou como uma ferramenta a ser usada pelo próprio

individuo na construção da sua formação.

Poderíamos aqui observar as diversas aceções da palavra educação, mas interessa-nos o

enfoque num tipo específico do termo. O da educação permanente. Este conceito

adquire uma maior visibilidade quando em 1976 na sequência da Conferência Geral de

Nairobi, é criado um acordo onde se determina o conceito de educação de adultos como

sendo uma expressão que “designa a totalidade dos processos organizados de educação,

independentemente do seu conteúdo, o nível ou o método, sejam formais ou não

formais”9 e relacionando-a diretamente com a educação permanente ao afirmar que “a

educação de adultos não pode ser considerada intrinsecamente: mas como um

subconjunto integrado num projeto global de educação permanente”10

, a qual é tida

como uma forma de educação que possibilita a formação do individuo dentro do sistema

de educação formal ou fora dele, atuando sempre como o agente da sua própria

educação. Neste sentido a educação permanente é vista como uma forma de educação

ao longo da vida, extrapolando o universo escolar e compreendendo diferentes

dimensões da vida do indivíduo e do seu desenvolvimento integral. O conceito de

educação amplia-se assim com as definições de educação formal, não formal e informal.

Conforme já vimos a educação formal carateriza-se pelo processo tradicional de ensino

conectado com a educação escolar. A educação não formal desenvolve-se a partir de

atividades que ainda que organizadas e sistemáticas, saem do âmbito da instituição de

educação extrapolando os conteúdos da educação formal, e não fornece qualquer tipo de

certificação. A educação informal distingue-se de forma mais clara da educação formal

6

Diário da República, I Série – nº 57, 09/03/1978, Declaração universal dos direitos humanos de 10 de

Dezembro de 1948, p. 491. 7 Dicionário Priberam da Língua Portuguesa consultado a 13 de Setembro de 2012 em

www.priberam.pt/ dlpo/. 8 A palavra ensino deriva do termo ensinar cujo significado é “instruir, dar lições a; dar lições de;

educar.” Dicionário Priberam da Língua Portuguesa consultado a 13 de Setembro de 2012 em

www.priberam.pt/dlpo. 9 Actas de la Conferencia General (versão espanhola), 19ª reunião da UNESCO, 26 de Outubro a 30 de

Novembro de 1976, Nairobi (documento eletrónico), p. 124. 10

Idem, Ibidem, p. 124.

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15

e da educação não formal visto que, ao contrário das duas primeiras esta nem sempre é

intencional para o educando. Trata-se de um tipo de educação que resulta de atividades

do quotidiano, sejam elas de caráter laboral ou de lazer, e embora possa ser intencional,

regra geral surge em consequência do ato desenvolvido e como tal de forma não

intencional.

O museu enquadra-se neste tipo de educação na medida em que pode ser alvo de uma

atividade de lazer e da qual resulta uma aprendizagem. Contudo o contexto museal não

se separa da educação formal e não formal, uma vez que os seus públicos incluem

indivíduos em contexto escolar e como tal em contexto de educação formal, e

indivíduos que não integrando o sistema de educação formal se deslocam ao museu com

objetivos educacionais.

1.1.1 Educação de Adultos e Educação ao Longo da Vida

O Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos elaborado pela

UNESCO em 200911

refere a importância da educação como um estímulo à autonomia

dos indivíduos. A educação ao longo da vida surge como plataforma para a criação de

condições à reflexão e à tomada de decisões, tornando os indivíduos mais aptos a

“responder adequadamente aos desafios sociais, políticos, económicos culturais e

tecnológicos com que se deparam nas suas vidas.”12

Podemos assim compreender o conceito de educação já analisado enquanto uma

constante ao longo da vida dos indivíduos e não apenas como uma etapa escolar,

tomando-se o próprio indivíduo como principal agente educativo. “Nessa proposta,

homens e mulheres são os agentes da sua própria educação, por meio de interação

contínua entre seus pensamentos e ações; ensino e aprendizagem longe de serem

limitados a um período de presença na escola, devem se estender ao longo da vida

incluindo todas as competências e ramos de conhecimento, utilizando todos os meios

possíveis”.13

No que concerne à educação de adultos é notória a abrangência do

11

Relatório Global sobre Aprendizagem e Educação de Adultos (versão brasileira). – Brasília: UNESCO,

2010 (documento eletrónico). 12

Idem, Ibidem, p. 24. 13

Recommendation on the development of adult education (documento eletrónico). – Nairobi: UNESCO,

1976, p. 2.

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16

conceito às diferentes formas de educação – formal, não formal e informal – surgindo

entre outros, o Museu como espaço privilegiado para a educação a partir da criação de

estratégias de relacionamento com os indivíduos, dentro e fora da comunidade onde se

insere. Desde a sua génese que é reconhecido ao museu um importante papel educativo,

contudo o que é necessário equacionar é, não se o museu cumpre o seu papel educativo,

mas de que forma o cumpre. É preciso avaliar os públicos que frequentam os museus,

que uso fazem dos mesmos, e que relações estabelecem com estes espaços. E os

museus, de que forma atuam enquanto agentes promotores de uma educação inclusiva,

sobretudo fora do âmbito escolar onde a escola desempenha o papel primordial de

agente educativo promotor e o museu atua enquanto agende educativo recetor.

1.1.2 Públicos Inclusivos

Nos dias de hoje torna-se imperativo questionar o que tomamos por públicos inclusivos.

No seu sentido mais circunscrito, esta tipologia de público remete-nos para os grupos

sociais que por ausência de ferramentas que os tornem aptos para a fruição e contato

pleno com a cultura, necessitam de recursos auxiliares que lhes permitam a inclusão

nessa dimensão da sociedade. A inclusão social e os seus públicos abarcam uma

dimensão muito maior da vida humana, mas a que aqui nos é útil focar é a da dimensão

cultural tentando perceber em que medida um determinado grupo social se torna num

grupo inclusivo e quais as ferramentas utilizadas pelos agentes culturais de forma a

incluir verdadeiramente estes grupos na sua realidade quotidiana.

Mas antes de nos centrarmos nos públicos inclusivos parece-nos necessário estabelecer

primeiro quem são os públicos da cultura. João Lopes, no estudo Experiência Estética e

Formação de Públicos desenvolvido no âmbito do encontro Públicos da Cultura em

200314

, propõe uma divisão abrangente dos públicos culturais classificando-os como

públicos habituais, públicos irregulares e públicos retraídos.

Os públicos habituais são classificados pelo autor como sendo um público juvenilizado,

que detém um nível de escolaridade elevado e altamente qualificado. O autor salienta

ainda que estes públicos detêm um papel ativo no universo cultural atuando como

14

AAVV, Públicos da Cultura: Actas do Encontro organizado pelo Observatório das Actividades

Culturais no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. – Lisboa: Observatório das

Actividades Culturais, 2004.

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17

intermediários culturais, conhecedores dos “cânones legítimos da criação e da

consagração culturais contemporâneas”15

. Num segundo patamar surgem os públicos

irregulares, os quais o autor classifica como sendo um público jovem, com níveis de

escolaridade igualmente elevados, mas que pelo desfasamento entre as suas habilitações

e as suas qualificações profissionais, ou por situações de cariz familiar, não se

relacionam de forma regular e continua com o universo cultural. Apesar de disporem de

todas as ferramentas necessárias à fruição cultural, esta torna-se “oblíqua ou

distraída”16

, na medida em que é um público fortemente influenciado pelo caráter

mediático e de entretenimento do espectro cultural. No último patamar encontra-se o

público retraído constituído por indivíduos com baixas habilitações literárias e baixas

qualificações. Ao contrário dos outros dois grupos, este grupo tem grande representação

tanto na camada jovem da população como na camada sénior. Mais uma vez o caráter

mediático e publicitário desempenha um papel determinante no consumo cultural. João

Lopes refere mesmo que a televisão é um dos meios que desempenha um papel maior

na relação com estes públicos, conduzindo-os ao consumo de uma cultura que classifica

como sendo do espaço doméstico, ou seja, aquela que encontra uma “divulgação

garantida na televisão”17

.

Ao considerarmos estas tipologias de público, poderíamos considerar a última como

aquela onde se enquadraria o público sénior, contudo esta situação não é algo que se

verifique na generalidade deste sector da população. Ao contrário de uma camada de

públicos como os NEE’S onde toda a população apresenta limitações face às

ferramentas de que dispõem para a sua inclusão na sociedade, o mesmo não acontece no

público sénior. Embora se verifique que os públicos mais ligados à fruição da cultura se

tratam de camadas da população maioritariamente jovens, o sénior não se encontra

excluído destas, visto que a sua autonomia cultural depende intrinsecamente de fatores

individuais, tais como o seu nível de educação ou a sua mobilidade. Nesse sentido não

podemos considerar o público sénior um público inclusivo, ou exclusivamente retraído.

Contudo fatores como a capacidade de atenção ou a memória encontram-se alterados

e/ou diminuídos devido ao processo de envelhecimento, pelo que pautar a programação

15

LOPES, João, Experiência Estética e Formação de Públicos in Públicos da Cultura: Actas do

Encontro organizado pelo Observatório das Actividades Culturais no Instituto de Ciências Sociais da

Universidade de Lisboa. – Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 2004, p. 46. 16

Idem, Ibidem, p. 46. 17

Idem, Ibidem, p. 47.

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18

para este público pela programação do público adulto, implica estar a criar atividades

que exigem um grau de concentração e desempenho idêntico ao de um grupo de público

adulto situado na camada ativa da população, lato sensu considerando os indivíduos

entre os 15 e os 64 anos de idade.

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19

2. Os Serviços Educativos no Panorama Museológico Português

No panorama museológico português, pode-se observar como a educação em museus

teve o seu impulsionador na pessoa do Dr. João de Couto sobretudo no trabalho que

desenvolveu no período de direção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) – de

1938 a 1964 – com a criação do primeiro serviço educativo cuja origem remonta ao

serviço infantil do MNAA e ao serviço de extensão escolar, dois projetos pioneiros no

âmbito da relação escola-museu. Contudo a função educativa do museu ainda que

oficialmente instituída em 1936 pelo artigo 10º do Decreto-Lei nº 27084, que previa e

recomendava que nas visitas de estudo fossem “incluídos os museus e monumentos

nacionais”18

, teve a sua génese na criação dos museus universitários ainda no século

XVIII na Universidade de Coimbra e no século XIX nas Universidades de Lisboa e do

Porto19

, destinados ao público escolar nomeadamente os estudantes universitários.

O trabalho desenvolvido entre as décadas de 30 e 60 no MNAA, fundamental, era

amplamente direcionado para o público escolar. “Sempre me preocupei com a atividade

instrutiva educativa do Museu (…) Ainda com o Dr. José de Figueiredo estabeleci o

programa de um serviço de extensão escolar que teve, durante alguns anos, efetiva

realização e produtivos resultados (…) quando assumi a direção do Museu, o serviço de

extensão escolar esmoreceu. Continuei porém a pensar que o Museu não podia deixar de

ser no futuro o centro educativo quer por si próprio quer em colaboração com as

universidades, liceus e escolas de ensino técnico, para não falar das primárias.”20

No encontro Serviços Educativos em Portugal: Ponto da Situação21

, promovido pelo

ICOM Portugal em 2011, Catarina Moura22

refere que apesar dos esforços evidenciados

18

Diário da República, I Série – nº 241, 14/10/1936, Decreto-Lei nº 27084 de 14 de Outubro, p. 1238. 19

COSTA, Maria Madalena G. F. Cardoso, Museus e educação no período do “Estado Novo”: o papel

de João Couto (1928-1964), in IDEARTE, Revista de Teorias e Ciências da Arte. – Ano VI, nº 7, 2011, p.

10. 20

Museu Nacional de Arte Antiga, A Obra do Dr. João de Couto no Museu Nacional de Arte Antiga. –

Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 1967, p. 24. 21

Consultado em www.icom-potugal.org a 27 de Setembro de 2012. 22

Catarina Moura, formada na área de Formação de Professores em Educação pela Arte, é atualmente

coordenadora do Serviço Educativo do Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado.

Colabora como convidada em Cursos de Mestrado de Museologia, Património, Educação Artística e Arte

Contemporânea em contexto educativo/ pedagógico nos museus, com a Universidade de Lisboa. Co-

orienta estágios de investigação de licenciatura e mestrado. Integrou grupos de reflexão na área dos

Serviços Educativos de Museus para o IPM. Orientou uma acção de formação no âmbito dos Serviços

Educativos para a RPM. Participou como oradora em vários congressos e seminários, publicou artigos em

revistas da especialidade. Concebeu, estruturou e coordenou os serviços educativos dos museus de José

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20

para tornar o museu num espaço educativo acessível a todos os públicos este

organizava-se “numa estrutura elitista muito hierarquizada, centrando-se principalmente

na investigação e na constituição das coleções. Rodeia-se por um círculo restrito de

conhecedores e especialistas que apreciam exposições permanentes, estáticas, sobre as

quais se constrói um discurso cristalizado. Nos grandes museus nacionais, de belas

artes, mantém-se a veneração pelo acervo que se defendia dos públicos curiosos, sem

conhecimento específico ou cultura adequada. A presença de outro público é pouco

valorizada. Escolas e crianças são tidas como um mal necessário.”23

Foi no entanto

ainda durante a década de 70 que se assistiu a uma viragem, incentivada pelo fim do

Estado Novo. Em 1969, era instalada em Lisboa a sede da Fundação Calouste

Gulbenkian (FCG), onde mais tarde viria a ser criado um serviço educativo com

monitores promotores de visitas guiadas e outras atividades à semelhança do que já

acontecia no MNAA e surgia nos museus estatais. Contudo, só na década de 80 os

serviços educativos viram a sua situação legitimada com a criação do decreto de lei nº

45/80, que considerava ser “urgente reformular a situação de todo o pessoal dos

museus”24

, decretando-se a reestruturação bem como a criação de novas categorias

divididas em pessoal dirigente, pessoal técnico superior, pessoal técnico profissional de

museografia e administrativo e pessoal auxiliar, enquadrando-se a categoria de monitor

na carreira técnico profissional, designada no artigo 23º como alguém que “colabora na

ação cultural do museu, exercendo junto do público funções de educação, animação e

informação.”25

A referida lei-quadro não visava apenas legitimar a carreira do pessoal

ao serviço dos museus, mas também a própria instituição em todos os seus planos de

atuação nomeadamente ao nível da ação cultural conforme refere o artigo 2º “Compete

aos museus no domínio da acção cultural: a) dinamizar as relações do museu com o

público, por todos os meios ao seu alcance (…) b) organizar actividades culturais por

forma sistemática e regular, em colaboração com estabelecimentos de ensino,

associações culturais e profissionais e demais entidades públicas ou privadas;”26

Apesar

Malhoa, Museu do Teatro e Museu do Chiado. É membro fundador do Movimento Português de

Intervenção Artística e Educação pela Arte e membro do GAM. 23

MOURA, Catarina, O Pulsar do Meio Século – Historial crítico sobre os Serviços Educativos dos

Museus do Estado, Actas do Encontro Comunicação do Encontro Nacional de Serviços Educativos em

Portugal: Ponto da Situação, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, 07 de Fevereiro de 2011, p. 4. 24

Diário da República, I Série – nº 67, 20/03/1980, Decreto-Lei nº 45/80 de 20 de Março, pág. 493. 25

Idem, Ibidem, pág. 497. 26

Idem, Ibidem, pág. 494.

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21

de legitimar a carreira de monitor e o papel dos serviços educativos nos museus,

continuou por resolver uma questão essencial à prática dos seus profissionais, a da

formação especializada na área a qual só viu resolução no início da década de 90 com a

criação do primeiro Mestrado em Museologia e Património pela Faculdade de Ciências

Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Apesar da aposta na legitimação

dos serviços educativos e na formação dos seus profissionais, em 1993 apenas 5 dos 10

museus dependentes do Instituto Português de Museus (IPM) eram dotados de serviço

educativo. Ainda no mesmo ano era inaugurada uma nova instituição cultural o Centro

Cultural de Belém, contudo este só viria a constituir uma equipa de serviço educativo

em 1998, situação semelhante à do Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão que

só criou um serviço de educação em 2002, 19 anos após a sua inauguração em 1983.

Algo que contribuiu nos finais da década de 90 para a criação e promoção dos serviços

educativos em Portugal foi a criação de espaços expositivos como o Pavilhão do

Conhecimento promotores do conceito de museu enquanto espaço essencialmente

educacional27

.

Ao nível autárquico verificou-se igualmente o crescimento da aposta na mediação

cultural ainda durante a década de 80 com a criação do serviço de extensão cultural do

Museu de Setúbal/Convento de Jesus em 198428

.

Embora esta aposta na educação tenha progredido e ganho novos sentidos e direções por

forma a abranger novos públicos, continua maioritariamente voltada para o público

escolar. Rui Telmo Gomes e Vanda Lourenço atestam esta realidade no panorama

museológico atual a quando de um inquérito realizado aos serviços educativos

portugueses. “Não obstante a diversidade de atividades que compõem a oferta dos

serviços educativos o número de sessões realizadas (…) privilegia largamente as

atividades vocacionadas para um público em contexto de aprendizagem formal

(escolar). O trabalho com escolas é claramente a atividade central dos serviços

educativos dos equipamentos culturais.”29

27

MARTINHO, Teresa Duarte, Apresentar a Arte: Estudo sobre monitores de visitas a exposições. –

Observatório das Actividades Culturais, 2007, Lisboa, p. 100-101. 28

DUARTE, Ana, Educação Patrimonial: Guia para professores, educadores e monitores de museus e

tempos livres. – Lisboa: Texto Editora, 1993, p. 9.

29 GOMES, Rui Telmo e LOURENÇO, Vanda, Democratização Cultural e Formação de Públicos:

Inquérito aos “Serviços Educativos em Portugal. – Lisboa: Observatório das Actividades Culturais, 2009,

p. 125.

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22

Se é um facto que a museologia nacional tem vivido um investimento crescente na

relação com os públicos, verificando-se um aumento exponencial no número de

visitantes dos museus com um crescimento de 5,348 visitantes em 1990 para 10,363 em

201030

, é também uma realidade que o público escolar representa uma percentagem

significativa e em crescimento no total de visitantes dos museus, tendo passado de

14,5% em 1994 para 21,2% em 2010 (tabela 1).

Tempo % visitantes escolares

1994 14,5

2010 21,2

Tabela 1: Visitantes escolares no total de visitantes dos museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários

em Portugal (percentagem).

Fontes: INE, PORDATA

Paralelamente é possível observarmos que a taxa de envelhecimento em Portugal,

aumentou num período de 51 anos, passando de 27,3% em 1960, para 128,6% em 2011

(tabela 2). Isto corresponde a um aumento de 4,26% face à camada infanto/juvenil [0-14

anos] que em 1960 ultrapassava a população sénior em 21,19%.

Tabela 2: Indicadores de Envelhecimento segundo os censos em Portugal (percentagem).

Fontes: INE, PORDATA

Contudo este crescimento no envelhecimento da população não tem o seu reflexo direto

no panorama museológico nacional. Analisada a oferta pedagógica dos serviços

30

Tomo II, tabela 11: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários: número e visitantes – Portugal, p.

131.

Tempo Índice de

envelhecimento

Índice de dependência

total

Índice de dependência

jovens

Índice de dependência

idosos

Índice de longevidade

1960 27,3 59,1 46,4 12,7 33,6

1970 34 61,7 46 15,6 32,8

1981 44,9 58,6 40,5 18,2 34,2

1991 68,1 50,6 30,1 20,5 39,3

2001 102,2 47,8 23,6 24,2 41,4

2011 Pro 128,6 Pro 51,6 Pro 22,6 Pro 29,0 -

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23

educativos portugueses, verifica-se a quase inexistência de uma oferta direcionada para

o público sénior.

Não sendo objetivo deste estudo analisar a oferta de todos os museus do panorama

nacional, foram selecionados aqueles dedicados à arte contemporânea e que se inserem

num panorama museológico de maior mediatismo, por serem estes os que conseguem

dessa forma estender a sua oferta a uma maior variedade de públicos, e no entendimento

do conceito de públicos retraídos onde se poderá enquadrar o público sénior.

A oferta analisada contemplou apenas a oferta regular, uma vez que atividades pontuais

ou de exceção não apresentam um caráter de continuidade que permita por si só a

criação de condições para a fidelização destes públicos.

De 6 instituições analisadas, apenas 2 possuem programação especificamente

direcionada para o público sénior, sendo este público nos restantes casos incluído na

oferta para público adulto31

.

31

Tomo II, anexo A – Oferta pedagógica para o público sénior em 7 instituições museológicas

portuguesas, p. 5.

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24

3. O Concelho de Cascais

3.1 Caracterização Sociodemográfica

Vila de corte, Cascais era na sua essência burgo piscatório até meados de 1870, altura

em que a vila se tornou alvo das atenções do rei D. Luís I e da rainha D. Maria Pia que

dela fizeram a sua estância balnear. Cascais começou a beneficiar de significativos

melhoramentos, como a colocação de luz elétrica em 1878 por ocasião do aniversário do

príncipe D. Carlos, tendo sido a primeira vez que se experimentara a luz elétrica no

país.32

Embora a história de Cascais não se faça apenas a partir de 1900 foi desde o

segundo quartel do século XIX que a população de Cascais viu a pacata vila de

pescadores crescer até se tornar concelho.

Situado geograficamente entre Oeiras, Sintra e o Oceano Atlântico o concelho de

Cascais com uma área de 97km2, é atualmente composto pelas seguintes freguesias:

Alcabideche, Cascais, Carcavelos, Estoril, Parede e São Domingos de Rana, sendo as

freguesias de maior densidade populacional as da orla costeira e destas as que se

encontram próximas da fronteira com o concelho de Oeiras – Parede, Carcavelos e São

Domingos de Rana. O concelho de Cascais totaliza uma densidade populacional de

2121,3 hab/km2, sendo que em 2011 a população ativa [15-64 anos] residente no

concelho era de 136,583 habitantes, face a população inativa de 32,728 habitantes no

que considera à população com idade inferior a 14 anos, e 37,305 habitantes

relativamente à população com mais de 65 anos (tabela 3).

Grandes grupos etários

Territórios Total 0-14 15-64 65+

Anos 2011 2011 2011 2011

Portugal 10556999 1567965 6957212 2031822

Continente 10042807 1480200 6604073 1958535

Cascais 206616 32728 136583 37305

Tabela 3: População residente: total e por grandes grupos etários, valores absolutos (milhares).

Fonte: INE, PORDATA

32

SOUSA, Maria José Pinto, Cascais 1900. – Lisboa: Inapa, 2003, pp. 14-18.

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25

Os valores referidos mostram a existência em 2011 de 3,7 indivíduos em idade ativa por

idoso no concelho de Cascais, muito próxima da média nacional de 3,4 indivíduos por

idoso (tabela 4).

Territórios Índice de

Sustentabilidade Potencial

Anos 2001 2011

Portugal 4,1 3,4

Continente 4,1 3,4

Cascais 4,6 3,7

Tabela 4: Número de indivíduos em idade ativa por idoso (rácio).

Fonte: INE, PORDATA.

A percentagem de reformados do concelho corresponde a 3% da média nacional, com

11780 reformados, revelando-se como um dos concelhos da área da Grande Lisboa com

uma maior percentagem de reformados e aposentados apenas antecedido pelos

concelhos de Lisboa e Sintra, e equiparado pelo concelho de Oeiras (tabela 5).

Territórios Reformados e aposentados

Pensionistas

Anos 2003 2011 2003 2011

Portugal 355097 453129 121756 138648

Continente 342147 435116 114457 130917

Grande Lisboa

127162 151805 40718 45085

Amadora 8520 10042 2670 2884

Cascais 9104 11780 3084 3496

Lisboa 64567 73416 21176 22675

Loures 8217 10425 2280 2717

Mafra 1298 2002 555 688

Odivelas 6560 8193 1808 2147

Oeiras 11231 14061 3607 3911

Sintra 12819 15935 4193 4848

Vila Franca de Xira

4846 5951 1345 1719

Tabela 5: Caixa Geral de Aposentações: reformados/aposentados e pensionistas (individuo).

Fonte: CGA/MFAP, PORDATA.

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26

Relativamente à população estrangeira residente no concelho esta era de 10,8% em

201133

, revelando-se como um dos concelhos da região de Lisboa onde mais cidadãos

solicitaram o estatuto de residência, apenas igualado pelo concelho da Amadora.

3.1.1 Educação e Mercado de Trabalho

No que concerne ao sector da educação, 4,55% da população do concelho de Cascais

segundo os censos de 2001 não apresentava qualquer nível de escolaridade34

.

Em 2010 2,96% encontrava-se a frequentar o ensino pré-escolar, 5,15% tinha o 1º ciclo

e 2,75% o 2º ciclo, enquanto o 3º ciclo era detido por 4,38% da população e o ensino

secundário por 4,03% (tabela 6). Quanto ao ensino superior, segundo os valores

apresentados pelos censos de 2011, 25,8% dos residentes em Cascais detinham o ensino

superior completo35

.

Territórios Total Educação

Pré-Escolar

Ensino Básico - 1º Ciclo

Ensino Básico - 2º Ciclo

Ensino Básico - 3º Ciclo

Ensino Secundário

Anos 2010 2010 2010 2010 2010 2010

Cascais 19,31 T 2,96 T 5,15 T 2,75 T 4,38 T 4,03

Tabela 6: Alunos matriculados no ensino pré-escolar, básico e secundário (percentagem).

Fonte: INE, GEPE/ME – Recenseamento Escolar, PORDATA.

No campo do emprego em 2001, 58,2% da população de Cascais encontrava-se

empregada, sendo que a média dos indivíduos empregados com mais de 65 anos era de

9,1% apresentando-se como a mais elevada da região de Lisboa (tabela 7), em

contraponto com a taxa de desemprego36

que no concelho de Cascais apresentava

valores de 6,9%, face à da região de Lisboa com valores de 7,6% num panorama

nacional onde a taxa média era de 6,8% de desempregados, o que posiciona Cascais

33

Tomo II, tabela 12: População estrangeira com estatuto legal de residente em percentagem da

população residente: total e por sexo, p. 131. 34

Tomo II, tabela 13: Taxa de analfabetismo em percentagem por local de residência à data dos Censos

2001, p. 132. 35

Tomo II, tabela 14: População Residente com 15 e mais anos por nível de escolaridade completo mais

elevado segundo os Censos, 132. 36

Tomo II, tabela 15: Taxa de desemprego segundo os Censos 2001: total e por grupo etário, p. 133.

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27

como um dos concelhos que apresenta menores níveis de desemprego na região de

Lisboa, antecedido apenas por Mafra, Odivelas e Vila Franca de Xira.

Grupos etários

Territórios Total 15-24 25-34 35-44 45-54 55-64 65+

Anos 2001

Portugal T 53,5 43,2 83,2 80,9 71,2 40,3 5,3

Continente T 53,5 43,3 83,4 81,2 71,4 40,4 5,3

Grande Lisboa

T 57,3 41,0 85,5 85,6 77,8 46,6 7,6

Amadora T 57,9 42,1 85,4 86,2 77,9 45,3 6,5

Cascais T 58,2 39,2 85,0 85,3 77,5 49,9 9,1

Lisboa T 50,4 36,0 82,5 84,3 78,3 47,7 8,1

Loures T 59,0 T 43,4 T 85,5 T 85,6 T 76,4 T 43,4 T 6,6

Mafra T 58,3 52,6 86,6 83,7 74,5 45,5 5,1

Odivelas T 60,8 43,2 86,6 85,9 78,9 48,2 7,9

Oeiras T 58,1 35,7 86,3 87,8 80,0 47,9 7,8

Sintra T 64,0 45,5 87,4 86,3 77,6 46,3 7,3

Vila Franca de

Xira T 60,8 44,2 87,3 86,3 75,7 39,9 4,6

Tabela 7: Taxa de Emprego segundo os Censos: total e por grupo etário (percentagem).

Fonte: INE – XII e XIV Recenseamentos Gerais da População, PORDATA.

3.1.2 Turismo e Cultura

Outra vertente fundamental e que conflui diretamente na área do mercado de trabalho, e

que se revela como um indicador indispensável à área da cultura é o setor do turismo,

sendo Cascais marcadamente um destino turístico quer a nível nacional quer a nível

internacional.

Pelo número de dormidas registadas em equipamentos hoteleiros, Cascais teve uma

afluência de 1,190,605 indivíduos em 201137

, sendo que 69% eram de nacionalidade

estrangeira38

.

37

Tomo II, tabela 16: Dormidas nos estabelecimentos hoteleiros por localização geográfica e tipo, p. 133. 38

Tomo II, tabela 17: Proporção de hóspedes estrangeiros por localização geográfica, p. 134.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

28

No que concerne aos equipamentos culturais em 2010 os museus de Cascais registaram

um total de 199,322 visitantes sendo que 56,856 eram visitantes escolares (tabela 8).

Visitantes

Territórios Total Visitantes escolares

Anos 2010 2010

Portugal 13839829 2940165

Continente 13130203 2886384

Cascais 199322 56856

Tabela 8: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários: total de visitantes e visitantes escolares

(rácio).

Fonte: INE – Inquérito aos Museus, PORDATA

Já em 2011 verificou-se uma média de 20,128,1 visitantes de galerias de arte e outros

espaços de exposições temporárias39

e os museus registaram uma média de 1006,9

visitantes por cada mil habitantes (tabela 9).

Territórios Visitantes por mil habitantes

Anos T 2010

Portugal T 1305,0

Continente T 1299,9

Cascais T 1006,9

Tabela 9: Museus, jardins zoológicos, botânicos e aquários: visitantes por mil habitantes (taxa –

permilagem).

Fonte: INE – Inquérito aos Museus, PORDATA

Quanto ao investimento feito pelos municípios na área da cultura e do desporto, Cascais

apresentava em 2010 um investimento de 12.111,4 euros, tendo sido aplicado 58,5% da

verba indicada ao património cultural, 81,5% a atividades sócio culturais e 0,4% a

recintos culturais, revelando-se como um dos concelhos da área da Grande Lisboa que

mais investiu na área da cultura e do desporto apenas antecedido pelo concelho de

39

Tomo II, tabela 18: Galerias de arte e outros espaços de exposição temporária: número médio de

visitantes, p. 134.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

29

Lisboa com um investimento de 43.737,5 euros, e pelo concelho de Sintra cujo

investimento foi de 15.170,3 euros (tabela 10).

Tabela 10: Despesas das Câmaras Municipais em cultura e desporto, valores absolutos (euro-milhares).

Fonte: INE - Inquérito ao Financiamento Público das Atividades Culturais das Câmaras Municipais,

PORDATA.

3.1.3 Politicas Culturais

No sítio da Câmara Municipal de Cascais pode ler-se que “a atividade cultural da

Câmara Municipal de Cascais desenvolve-se segundo cinco linhas estratégicas:

Património: estudo, salvaguarda e formulação e implementação de projetos de

utilização; projetos estratégicos interdisciplinares consubstanciados em Planos de

Pormenor e na definição de perímetros culturais; Gestão das Redes de Equipamentos

Culturais (Museus, Bibliotecas, Auditórios e Centro Cultural de Cascais); Apoio ao

associativismo e à consolidação do tecido cultural do concelho; Desenvolvimento de

Territórios

Actividades Culturais

Total Património

cultural Publicações e literatura

Música Artes

cénicas

Actividades sócio-

culturais

Recintos culturais

Jogos e desportos

Anos 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2010 2010

Portugal 721090,9 85382,5 71204,6 39259,6 19772,8 69857,8 45553,0 287148,3

Continente 685883,3 82267,7 69146,4 35873,0 18485,1 63190,2 44261,4 274901,1

Grande Lisboa

102304,8 18063,3 12827,7 2562,6 6229,9 6685,0 2542,7 19394,0

Amadora 3980,4 41,0 369,5 46,6 8,4 1119,2 64,8 800,5

Cascais 12111,4 1667,3 755,8 903,3 545,3 33,1 871,2 2226,7

Lisboa 43737,5 9234,0 7568,6 607,6 4791,7 2843,5 0,0 5,4

Loures 4051,4 1112,4 630,1 200,5 26,2 204,7 5,1 1413,6

Mafra 4377,7 72,5 373,4 82,1 24,0 25,1 98,8 2707,5

Odivelas 3297,6 129,4 519,0 11,6 0,0 140,9 31,8 1077,7

Oeiras 10657,0 579,8 566,1 0,0 529,3 1432,3 149,4 2447,8

Sintra 15170,3 2260,8 1140,2 238,0 217,3 735,7 1275,7 8531,6

Vila Franca de Xira

4921,5 2966,1 905,0 472,8 87,9 150,4 45,9 183,3

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Casa das Histórias Paula Rego Tomo I

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

30

iniciativas e projetos culturais locais, mas orientados para um âmbito nacional ou

internacional e de grande prestígio; Forte aposta num setor editorial diversificado que

responda às necessidades de todos os tipos de público.”40

Interessa-nos salientar este último aspeto, o qual já desde 2001 vem fazendo parte das

políticas culturais do concelho. No ano de 2000 foi criado em Cascais um programa

com a duração de 4 anos denominado Cascais-Cultura, sob a orientação de Jorge Letria,

vereador da cultura à data, que defendia três eixos de ação para Cascais “Eu defini estes

princípios: combate à sazonalidade, portanto oferta cultural o ano inteiro; definição do

perfil de públicos, um público mais tradicional/um público mais ligado à modernidade,

púbicos do interior/públicos do litoral; (…) portanto toda a programação foi feita

levando em conta estes pressupostos e uma outra coisa que foi, penso eu, o que permitiu

à Câmara acabar o mandato, em finais de 2001, com aquilo que foi mais marcante, que

foi a criação de uma rede de equipamentos.”41

O vereador completava ainda indicando

quais os motivos que conduziram à criação da referida estratégia. “A definição desta

política cultural levou ainda em consideração, desde o início, vários fatores: a

pluralidade de públicos e de gostos existentes num concelho com cerca de 200 mil

habitantes, a dicotomia litoral-interior, a notória vocação turística da região, a sua

memória histórica, o seu cosmopolitismo e a influência que a criação de uma oferta

regular tem, inevitavelmente, no tecido económico.”42

Inaugurada 8 anos depois, a Casa das Histórias Paula Rego, veio corresponder às

premissas enunciadas em 2001, enfatizando segundo o estudo Casa das Histórias Paula

Rego, Estratégias Comunicacionais e suas Implicações nos Visitantes43

, a vocação

turística da região, uma vez que o seu caráter mediático bem como o local da sua

implementação contribuíram para um aumento da afluência de público aos museus

municipais do concelho “não somente por estar inserido geograficamente próximo dos

mesmos, mas também porque a sua temática e acervo complementam os dos restantes

museus.”44

40

Consultado a 14 de Setembro de 2012 em www.cm-cascais.pt/area/cultura. 41

LIMA, Maria João e NEVES, José Soares, (co-autor), Cartografia Cultural do Concelho de Cascais. –

Observatório das Actividades Culturais. – Cascais: Câmara Municipal de Cascais, 2005, p. 77. 42

Idem, Ibidem, p. 78. 43

CARVALHO, Carla, Casa das Histórias Paula Rego: Estratégias Comunicacionais e suas implicações

nos Visitantes. Tese de Mestrado em Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação. – Lisboa:

ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, 2010. 44

Idem Ibidem, p. 67.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

31

O próprio edifício apesar de contemporâneo não deixa de evocar a dita memória

histórica quer pelo local de implementação, quer pelas correspondências com as casas

de Raul Lino45

através de uma proposta de “um novo regionalismo não pitoresco”46

aqui

projetado por Eduardo Souto de Moura47

.

45

Arquiteto português, Raul Lino (21.11.1879 – 13.07.1974) foi um defensor de uma arquitetura

tradicional, em que arte e arquitetura são produtos do homem e para os homens. Projetou ao longo da sua

vida, mais de 700 obras, de entre as quais se destacam a, Exposição do Mundo Português de 1940, a Casa

de Santa Maria, em Cascais ou a Casa dos Penedos em Sintra. Foi ainda autor de numerosos textos como

A casa Portuguesa, sobre questões inerentes à arquitetura doméstica popular. Desempenhou cargos no

Ministério das Obras Públicas e foi Superintendente dos Palácios Nacionais. Foi ainda membro fundador

da Academia Nacional de Belas Artes. 46

MILHEIRO, Ana Vaz, O Arquitetar das Casas Simples in Casa das Histórias Paula Rego –

Arquitetura. – Cascais: Casa das Historias Paula Rego, 2009, p. 17. 47

Eduardo Souto de Moura é um arquiteto português, nascido no Porto a 25 de Julho de 1952. Licenciado

em Arquitetura pela Escola Superior de Belas-Artes do Porto, em 1980, conta na sua carreira com mais de

60 edifícios projetados em Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Reino Unido e Suíça. Professor

convidado em Paris-Belleville, Harvard, Dublin, Zurich e Lausanne, recebeu vários prémios e participou

em vários seminários e conferências em Portugal e no estrangeiro. A Casa das Histórias Paula Rego,

valeu a Souto de Moura, o Prémio SECIL de Arquitectura 2010.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

32

4. A Casa das Histórias Paula Rego

4.1 Fundação Paula Rego

A Fundação Paula Rego, instituída oficialmente em Diário da República a 04 de

Setembro de 2009, surge enquanto tutela da Casa das Histórias Paula Rego e define esta

como “uma instituição que ultrapasse a noção de museu como mero local de

conservação de peças de património artístico e em que prevaleça a função dinamizadora

própria de um verdadeiro centro de irradiação cultural”48

.

O acervo da fundação é constituído pelo espólio doado pela artista ao Município de

Cascais, e é composto por 524 obras, incluindo toda a sua obra gráfica a qual ascende a

257 obras e 278 desenhos. Este acervo é ainda completado por 52 pinturas de Paula

Rego e 15 pinturas do artista Victor Willing49

em regime de comodato por um período

de 10 anos.

A fundação tem como atividade primordial a divulgação e o estudo da obra dos dois

artistas, bem como a divulgação da arte moderna e contemporânea e nesse sentido, a

promoção de atividades que contribuam para esta.

4.2 Casa das Histórias Paula Rego

Inaugurada a 18 de Setembro de 2009, a Casa das Histórias Paula Rego implementada

no espaço da Parada de Cascais, veio enriquecer a rede cultural de museus aí existente.

Segundo as palavras de Helena Sofia Silva e André Santos, “trata-se de uma das obras

mais singulares”50

do percurso de Eduardo Souto de Moura.

48

Diário da República, I Série – nº 172, 04/09/2009, Decreto-Lei nº 213/2009 de 14 de Setembro, p.

5928. 49

Pintor e crítico de arte, Victor Willing nasceu em Alexandria, em 1928. Com apenas quatro anos foi

viver para Londres, onde morreu em 1988, vítima de esclerose múltipla. Formado em pintura pela Slade

Shcool of Fine Art, foi aqui que conheceu Paula Rego com quem casou em 1959. Para além do percurso

desenvolvido enquanto pintor, Victor Willing foi um dos mais essenciais críticos da obra de Paula Rego.

Dois anos antes da sua morte, em 1986, a Whitechapel Art Gallery apresentou a primeira exposição

retrospectiva do artista, e em 2010 a Casa das Histórias Paula Rego apresentou a primeira exposição

retrospectiva em Portugal sob a curadoria de Hellmut Wohl. 50

SILVA, Helena Sofia, SANTO, André, Souto de Moura, Coleção Arquitectos Portugueses. – Quidnovi,

2011, Vila do Conde, p. 81

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

33

Edificada no espaço contiguo ao Museu do Mar Rei D. Carlos, este espaço ocupa o

espaço dos antigos courts pertencentes ao Sporting Club de Cascais, fundado em 1879 e

onde se jogaram as primeiras partidas de lawn tennis e de futebol no país51

.

A Casa das Histórias Paula Rego surge como espaço consagrado à divulgação da obra

desta artista conceituada internacionalmente, que conquanto a viver em Londres há mais

de 30 anos, viveu toda a sua infância entre o Estoril, onde ficava a casa de seus pais,

Carcavelos onde frequentou a escola St. Julians, e a Ericeira onde se localizava a casa

dos avós.

O projecto nasceu em 2005 na sequência da doação da artista de 524 obras do seu

espólio ao município de Cascais, que propôs na sequência dessa doação a criação de um

espaço que permitisse a divulgação da sua obra.

Após a escolha do arquiteto, Eduardo Souto de Moura, seleccionou-se o local a antiga

Parada de Cascais. Desde a génese do projecto foi intenção do arquitecto respeitar o

manto verde pré-existente, transformando o edifício num negativo da paisagem. A

flexibilidade modular que se pode observar a partir do volume central do museu,

adquire especial destaque nos dois prismas piramidais que nos remontam às torres de

Raul Lino, ou às chaminés do Palácio da Vila em Sintra.

À data da sua abertura a Casa das Histórias inaugurou com uma exposição da sua

colecção centrada em acrílicos e pastéis de Paula Rego, e paralelamente uma exposição

temporária intitulada Obras de Paula Rego52

, composta por catorze pinturas da galeria

Malborough representante internacional da artista, e por quinze estudos do acervo da

CHPR.

A inauguração foi ainda marcada por uma série de iniciativas promovidas pelo serviço

educativo, que se centraram na realização de visitas guiadas em paralelo com

documentários, performances e outras atividades educativas.

51

RODRIGUES, Dalila (org), Casa das Histórias Paula Rego – Arquitetura. – Casa das Histórias Paula

Rego, 2009, Cascais. 52

Sobre esta exposição ver: RODRIGUES, Dalila (org), Obras de Paula Rego. – Cascais: Casa das

Historias Paula Rego, 2009.

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Casa das Histórias Paula Rego Tomo I

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

34

4.3 O Ateliê

Dentro dos moldes de funcionamento da Casa das Histórias Paula Rego, foi prevista a

criação de uma equipa de Serviço Educativo residente. Constituído inicialmente por dez

assistentes, o serviço educativo da CHPR teve por base uma formação integrada que

permitisse à equipa a conceção e realização de visitas guiadas, mas também a gestão da

programação educativa em função da adesão e inclusão dos públicos.

“Para além das visitas guiadas, dez assistentes educativos prometem responder a

qualquer questão do público”, referia uma reportagem do Diário de Noticias a quando

da inauguração53

. Foi prevista a permanência dos assistentes nas salas de exposição, de

forma a poderem dar assistência ao público que visita o espaço autonomamente, bem

como fazer a observação deste.

Interessa-nos aqui salientar as vantagens deste modelo. O facto de ser uma equipa

residente permite através da gestão e observação dos públicos – quer contextualizada

numa atividade, quer autonomamente – entrosamentos renovados com as necessidades

dos visitantes, permitindo a criação de novas realidades inclusivas.

Em 2010 a quando do primeiro aniversário da Casa das Histórias Paula Rego, numa

publicação da CHPR para o Público, a programação do serviço educativo, já então

intitulado de Ateliê, é referida como “uma programação diversificada à medida dos

diferentes públicos”54

desenhada “a partir de dois vectores principais: primeiro, o do

entendimento de que esta é um espaço vivo, de relação com os visitantes, e segundo, o

do desejo de abrir as portas da Casa a todas as pessoas e escalões etários”55

.

Atualmente a programação d’O Ateliê contempla diferentes escalões etários,

nomeadamente visitas para público escolar, familiar e adulto. Contudo as visitas para

público adulto não contemplam especificamente visitas para público sénior. No que

concerne aos públicos inclusivos, O Ateliê apresentou em Outubro de 2012, uma

proposta para públicos com necessidades educativas especiais que permite tanto a

realização de uma visita autónoma como guiada.

53

MARQUES, Marina, Com Paula Rego na sua Casa, in Diário de Noticias. – nº 51299, 17 de Setembro

de 2009, p. 49. 54 Casa da Histórias Paula Rego, Casa das Histórias 1º Aniversário, 18 de Setembro de 2010. –

Suplemento do Jornal Público, in Público, 20 de Agosto de 2010, p. 2. 55

Idem, Ibidem, p 2.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

35

4.3.1 Programação 2009 – 2012

Em 2009 no âmbito da inauguração da CHPR, coincidente com o início do ano lectivo

escolar, o serviço educativo apresenta aos públicos a seguinte programação. Três visitas

orientadas para adultos e duas visitas guiadas destinadas aos públicos infantis. As visitas

para os públicos infantis destinavam-se a crianças até aos 12 anos e as visitas para

adultos destinavam-se a públicos a partir dos 15 anos. Dada a importância e pluralidade

da obra de Paula Rego bem como do edifício desenhado por Eduardo Souto de Moura,

as visitas destinadas aos públicos adultos apresentavam três tipologias diferentes, uma

centrada no percurso artístico de Paula Rego, sendo este apresentado cronologicamente

de forma a acompanhar o circuito expositivo, outra intitulada Diálogos entre

exposições, que fazia a ponte entre as obras da coleção e as obras da Galeria

Marlborough patentes na exposição e a terceira visita dedicava-se exclusivamente ao

projeto arquitetónico. No que respeita às visitas para crianças uma centrava-se nas

crianças até aos 6 anos, propondo um percurso de exploração da obra da artista com

recurso a um objeto multissensorial, intitulado Através dos Sentidos. A outra proposta

apresentada destinava-se a públicos com idades compreendidas entre os 6 e os 12 anos,

e tratava-se de uma visita onde se apresentava o percurso artístico de Paula Rego em

tom biográfico com recurso a um livro que simulava o seu álbum de família. Esta visita

intitulava-se Ida e Volta.

Para além das diferentes tipologias apresentadas distinguia-se ainda os públicos em

geral, escolar e familiar, contudo as visitas apresentavam os mesmos conteúdos para as

diferentes tipologias de públicos, sendo feita a adaptação do discurso e metodologia à

faixa etária dos participantes.

Durante o ano de 2010, a programação foi sofrendo diversas alterações, em função das

necessidades dos públicos. Uma necessidade desde logo evidente era a ausência de

visitas para a faixa etária entre os 12 e os 15 anos56

. Ainda no âmbito dos públicos

juvenis foi sentida uma outra necessidade nas visitas para grupos escolares,

nomeadamente os grupos do agrupamento artístico, surgindo assim a visita Linguagens,

Técnicas e Processos que incidia como o nome refere nas técnicas utilizadas pela artista

no seu processo de criação artística.

56

Tomo II, anexo B – Cronologia da Oferta Pedagógica d’O Ateliê – Serviço Educativo da Casa das

Histórias Paula Rego, p. 6.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

36

O contato direto e permanente com os seus públicos, revela-se assim fundamental na

gestão que o serviço educativo faz desses dados para potenciar as suas atividades

dirigindo-as em função das necessidades de quem solicita os seus serviços, mas também

como elemento fulcral à percepção dos públicos autónomos e dos não públicos. Este

contato permite igualmente ao serviço educativo a perceção da reação dos participantes

às alterações na programação, permitindo assim perceber a melhor forma de rentabilizar

recursos, através da criação de tipologias de visita transversais a diversas exposições ou

através de uma amplificação da oferta ao nível da criação de modelos de visita pagos,

que tem o seu reverso em outras visitas gratuitas por forma a fazer face aos visitantes

com menos recursos económicos. O facto de se tratar de uma equipa residente originou

ainda uma cunha autoral que se refletiu no surgimento d’O Ateliê, a designação do

serviço educativo da CHPR desde 2010. No âmbito do seu desenvolvimento O Ateliê

expandiu a sua oferta às oficinas de férias e a projetos de continuidade com escolas e

outros parceiros culturais.

4.3.2 Contagens de Públicos

Para além da análise realizada em torno da atividade desenvolvida pel’O Ateliê foi

comparada a sua oferta com as tipologias de público participante nas atividades

desenvolvidas. Para tal observou-se a contagem de públicos realizada pel’O Ateliê, a

qual apresenta atualmente dados referentes ao período de Setembro de 2010 a Setembro

de 2012 verificando-se que um total de 230976 visitantes visitou a CHPR neste período,

dos quais 80% eram visitantes autónomos e 20% visitantes integrados nas atividades

d’O Ateliê (gráfico 1).

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

37

Gráfico 1: Visitantes da Casa das Histórias Paula Rego – Setembro de 2010 a Setembro de 2012 – em

valores absolutos (milhares).

Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.

No que concerne aos visitantes que vieram à CHPR no âmbito das atividades

desenvolvidas pel’O Ateliê verifica-se que 72% vêm durante a semana e 28%

integrados nas atividades de fim de semana (gráfico 2).

Gráfico 2: Número de visitantes livres da Casa das Histórias Paula Rego e participantes d’O Ateliê por

período semanal (percentagem).

Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

38

Relativamente à tipologia dos visitantes, 52% é constituído por visitantes em contexto

escolar, 20% por famílias e 8% por seniores e 21% por outros. No que concerne à

última categoria referida esta respeita a diferentes tipos de grupos, nomeadamente

grupos de língua estrangeira e outros grupos organizados. Esta amostra remete-nos para

o total de visitantes que se deslocaram à CHPR entre Setembro de 2010 e Setembro de

2012 inseridos em atividades promovidas pel’O Ateliê (gráfico 3).

Gráfico 3: Visitantes d’O Ateliê entre Setembro de 2010 e Setembro 2012 por grupos (percentagem). Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.

Se compararmos as tipologias de público que visitam a CHPR no que respeita ao seu

fluxo anual verificamos que entre Setembro de 2010 e Setembro de 2012 um dos grupos

que apresentou maiores oscilações e menores afluências de publico foi o grupo sénior

apenas seguidos pelos grupos de língua estrangeira e outros grupos. Em contraponto os

grupos escolares foram os que registaram uma maior constância no seu fluxo bem como

uma maior afluência seguidos pelos grupos familiares (gráfico 4).

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

39

Gráfico 4: Fluxos por grupos de visitantes d’O Ateliê entre Setembro de 2010 e Setembro 2012, valores

absolutos (milhares).

Fonte: Dados fornecidos pel’O Ateliê – Serviço Educativo da CHPR.

Importa-nos salientar no que concerne aos públicos seniores, que o facto de a CHPR

não apresentar uma oferta específica para esta tipologia de públicos pode contribuir

grandemente para quebras tão acentuadas, verificando-se igualmente que apesar da

diversidade no que respeita aos públicos que realizam atividades promovidas pel’O

Ateliê, se verifica que os públicos seniores continuam a ser minoritários, situando-se no

extremo oposto aos públicos escolares.

Um dos fatores que contribui positivamente para a realização de visitas com públicos

seniores é o trabalho desenvolvido por instituições como as Universidades Seniores, os

Centros de Dia e outras entidades direcionadas para esta faixa de público, destacando-se

no concelho de Cascais, o Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa e o Centro de

Saúde de Cascais, duas instituições promotoras de uma relação de proximidade entre os

espaços culturais do concelho e a sua população sénior.

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5. Programa Conversa da Treta do Centro de Saúde de Cascais

O Centro de Saúde de Cascais situado no centro da vila promove desde 2003 no núcleo

de enfermagem, o programa Conversa da Treta a partir da iniciativa do enfermeiro

Francisco Fonseca e da enfermeira Neusa Caldas, que no desempenho das suas funções

sentiram a necessidade de criar um espaço que transformasse o acolhimento ao utente

num processo menos impessoal.

O referido espaço deveria ser um local que favorecesse e privilegiasse o convívio entre

os utentes e os profissionais de saúde, com especial enfase nos utentes seniores.

Após a perceção de que a criação de um novo espaço de acolhimento ao utente não

resolveria por si as necessidades sentidas, estudou-se o desenvolvimento de um

programa complementar ao de saúde destes utentes, que fosse promotor de um

sentimento de familiaridade e pertença do centro de saúde.

O objectivo fundamental do programa passava pela criação de um projeto de

continuidade que permitisse a partir desta unidade de saúde, criar uma relação com os

restantes espaços do concelho bem como com outras áreas de atuação, combatendo por

um lado o isolamento na terceira idade e por outro gerando ferramentas para uma

autonomia física e social crescente.

Uma vez apreendida a viabilidade do projeto estabeleceu-se um programa com uma

duração de 4 horas semanais, repartidas por dois dias, e que atualmente tem lugar às

terças e quartas-feiras das 14h00 às 16h00.

Foi estabelecido que a adesão ao programa seria gratuita e de carácter voluntário, tanto

para os utentes como para os profissionais de saúde que o integram. Apesar de revestido

de uma pluridisciplinaridade é um programa que tem como foco central de acção a

realização de palestras sobre saúde. De forma complementar às palestras decorrem

ações no exterior que vão desde workshops a saídas culturais dentro e fora do concelho

de Cascais.

O programa é atualmente gerido pela Enfermeira Neusa Caldas e frequentado por cerca

de 14 seniores. As palestras são geralmente dadas por profissionais convidados que com

o decurso do programa têm vindo a estabelecer uma relação de continuidade com o

mesmo. Tal sucede com alguns dos espaços frequentados no concelho, onde o grupo

chega a realizar mais de uma saída mensal por espaço.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

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A criação e desenvolvimento deste programa possibilitou que o convívio entre os

utentes seja promovido como uma consequência da realização destas acções, e que o

mesmo seja despoletador de uma relação social de interajuda, e criador de uma maior

autonomia desta faixa da população.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

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6. Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa

O centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa situado no Estoril num edifício conhecido

como Casal de Monserrate, o qual remonta a meados do século XX, altura em que foi

mandado edificar pelo Engenheiro Álvaro Pedro de Sousa, ilustre que dá o nome à rua

onde o mesmo se situa e que o mandou edificar com fins de habitação.

O edifício construído nos inícios de 1950 pelo Arquiteto Porfírio Pardal Monteiro

destaca-se pela riqueza da entrada principal em Arte Deco. Salientam-se igualmente os

jardins onde se exibem painéis de azulejos e esculturas atribuídas a Leopoldo de

Almeida.

Em 1957 numa obra levada a cabo pelo arquitecto Rodrigues Lima, o edifício sofreu

ampliações e mais tarde foi cedido à Segurança Social para que dele fosse feito um

centro de dia funcionando ainda hoje como tal.

O Centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa promove uma série de actividades que

decorrem no próprio centro e que procuram ir de encontro ao interesse dos seus utentes,

apresentando uma oferta bastante diversificada.

Para além das actividades que decorrem diariamente no Centro, pontualmente também

são promovidas atividades extra muros.

Segundo o guia do voluntariado do concelho de Cascais, este centro “pretende ser um

espaço de intercâmbio de vivências e conhecimentos entre pessoas de níveis etários e

sociais diferentes, numa abordagem dinâmica e solidária e tendo em vista a prevenção

na problemática do processo de envelhecimento.”57

57

Guia do Voluntariado do Concelho de Cascais, Acção Social e Saúde 2004, consultado a 12 de Agosto

em http://www.cascaisenergia.org/Files/Billeder/Agenda21/docs/Guia_do_Voluntariado.pdf.

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43

7. Entrevistas Semidirectivas

7.1 Metodologia

Entre 11 de Abril e 22 de Maio de 2012, foram realizadas entrevistas semidirectivas a

seniores residentes no concelho de Cascais, com o objectivo de perceber qual o seu

conhecimento da Casa das Histórias Paula Rego, bem como o seu interesse por espaços

e atividades de carácter cultural.

As entrevistas foram divididas em duas partes, sendo a primeira constituída por

questões que visavam perceber o perfil dos entrevistados, bem como os seus hábitos

culturais. Na segunda parte da entrevista foi avaliado o conhecimento e a relação dos

entrevistados com a CHPR e a obra de Paula Rego.

Os entrevistados foram previamente selecionados tendo em conta género, idade,

profissão e habilitações literárias, sendo privilegiada uma diversidade viável. A faixa

etária teve como mínimo os 60 anos de idade. Quanto ao género foram entrevistados

igual número de indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino.

Além dos factores já referidos, separaram-se os indivíduos em dois grupos. Um grupo

com indivíduos frequentadores de instituições ou programas promotores de actividades

culturais no concelho de Cascais, e um grupo de indivíduos não frequentador.

Relativamente às instituições estas também foram seleccionadas privilegiando a

diferença no seu campo de actuação. Nesse sentido foram contactados o centro de saúde

de Cascais, no âmbito do programa Conversa da Treta localizado na vila de Cascais e o

centro de dia Engenheiro Álvaro de Sousa situado no Estoril.

Primeiramente foram seleccionados seniores frequentadores destas instituições, e

posteriormente por meio destes, entrou-se em contacto com seniores não frequentadores

de nenhuma das instituições referidas, ou outras similares.

Todos os indivíduos foram previamente contactados via telefone, de forma a dar a

conhecer o estudo em curso e os seus objectivos e posteriormente combinada uma vinda

à CHPR. Este aspecto revelou-se de carácter indispensável à realização das entrevistas,

uma vez que alguns do entrevistados nunca haviam visitado o espaço.

Antes da realização das entrevistas foi sempre conduzida uma visita guiada às

exposições patentes, para que todos os indivíduos tomassem contacto com a obra da

artista, aspecto estrutural à realização da segunda parte da entrevista.

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44

Foram contactados 27 indivíduos, tendo 24 deles, respondido ao solicitado.

Em 4 dos 24 entrevistados a entrevista foi realizada através de correio electrónico após a

visita à exposição, tendo destes 4, 1 respondido. Perfez-se assim um total de 21

entrevistados.

O guião da entrevista58

é composto por 36 perguntas de resposta aberta e encontra-se

dividido em duas partes. A primeira parte composta por 17 perguntas, foca aspetos

relevantes acerca dos hábitos culturais, o conhecimento que possuem sobre a CHPR,

relação com outros espaços culturais do concelho de Cascais, bem como o

conhecimento das actividades desenvolvidas e em que medida estas integram de forma

relevante o seu quotidiano.

A segunda parte da entrevista é composta por 19 questões direcionadas para aspetos

intrínsecos à obra de Paula Rego de forma a percepcionar questões de relevo a

desenvolver numa proposta com públicos seniores. Nesse sentido foram abordados

temas como a empatia do entrevistado com as obras observadas, à sua opinião sobre os

temas abordados e sua contextualização na sociedade atual.

Durante a realização da entrevista a ordem pela qual as questões foram colocadas seguiu

o raciocínio elencado pelo entrevistado face à resposta à questão anterior.

As entrevistas59

permitiram ainda avaliar alguns aspectos paralelos fundamentais, como

questões inerentes à mediação cultural, das quais se salienta o condicionamento que a

visita guiada estabelece ao entrevistado na forma como interpreta posteriormente as

obras e na opinião que manifesta sobre a relação estabelecida com a obra observada.

7.2 Análise dos Resultados das Entrevistas Semidirectivas

Numa primeira fase da investigação foram realizadas entrevistas semidirectivas a

seniores residentes no concelho de Cascais. Os entrevistados foram selecionados

procurando reproduzir o perfil sociográfico dos seniores residentes no concelho.

58

Tomo II, anexo C – Guião de entrevista a visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego, p. 8.

59 Tomo II, anexo D – Entrevistas realizadas a visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego, pp.

11-128.

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45

Apesar de se ter tentado englobar um igual número de entrevistados do sexo masculino

e do sexo feminino, os seniores do sexo masculino representam uma amostra inferior,

perfazendo-se um total 10 entrevistados do sexo masculino e 11 do sexo feminino.

Relativamente à faixa etária, tentou-se reproduzir igual diversidade com indivíduos dos

60 aos 86 anos de idade. Segundo a escala de Neugarten60

, os idosos subdividem-se

entre os jovens idosos sendo este grupo composto por indivíduos entre os 65 e os 74

anos, idosos médios entre os 75 e os 84 anos, e os muito idosos com 85 ou mais anos. A

amostra constituída por indivíduos com menos de 65 anos que pela sua faixa etária não

integram nenhum dos subgrupos acima referidos, corresponde contudo aos públicos-

alvo, em consequência de já se encontrarem no período de aposentação.

Para além do género e idade, foram também observados aspetos como as habilitações

literárias e a área profissional.

Ainda no que concerne ao género, verificaram-se neste campo diferenças significativas,

não só no que respeita ao parecer do entrevistado sobre os temas abordados na

entrevista, mas também relativamente à perceção das questões de género na obra de

Paula Rego, campo que oportunamente aprofundaremos num capítulo exclusivamente

dedicado a este assunto.

Interessa-nos contudo salientar desde já que independentemente do género, tratando-se

este, a priori do campo que melhor permite observar uma maior diversidade de

entendimentos face ao próprio papel social de cada indivíduo, foi possível verificar

paralelamente a multiplicidade de papéis desempenhados pelos seniores, os quais se

revelam como um contributo fundamental para a comunidade, seja através da prestação

de serviços a terceiros, dentro ou fora do núcleo familiar, e que na sua maioria são

prestados de forma gratuita, seja através da partilha de conhecimento no âmbito das suas

atividades de lazer, contrariando assim o termo população inativa socialmente instituído

e aceite.

Isto conduz-nos a um outro ponto que nos parece importante desenvolver aqui. A noção

de envelhecimento bem-sucedido e de envelhecimento produtivo, abordadas por

António Simões no âmbito da publicação Nova Velhice, Um Novo Público a Educar61

.

Não iremos debruçar-nos sobre estas duas noções em profundidade, mas importa

introduzir a importância destes conceitos na medida em que ambos defendem, ainda que

60

SIMÕES, António, A Nova Velhice, Um novo público a educar. – Âmbar, 2006, Porto, p. 19. 61

Idem, Ibidem, p. 140-147.

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46

de pontos de vista diferentes a importância de ser-se produtivo na velhice, face ao grau

de satisfação e realização que isso acarreta para o indivíduo, excluindo parcial ou

totalmente atividades não produtivas, como o convívio social enquanto atividades que

concorrem para uma velhice plena.

De forma a percecionar de que forma estes conceitos de envelhecimento ativo

influenciam de forma direta a realidade dos indivíduos seniores, os entrevistados foram

selecionados de entre indivíduos que frequentam uma instituição – o Centro de dia

Engenheiro Álvaro de Sousa ou o Centro de Saúde de Cascais – e seniores que não

frequentam qualquer instituição dentro ou fora do concelho de Cascais.

Verificou-se pelas respostas dadas que a generalidade dos indivíduos,

independentemente de frequentarem ou não uma instituição para a terceira idade,

mantêm uma vida ativa repartida entre atividades de lazer e trabalho realizado para

terceiros, quer se tratem de atividades renumeradas ou não-renumeradas.

7.2.1 Práticas Culturais e Hábitos de Visita

O guião de entrevista foca aspetos que permitem a análise dos hábitos e preferências

culturais dos entrevistados, bem como a sua relação com a CHPR e com a obra de Paula

Rego, conduzindo assim à perceção das diferentes dimensões do espaço museológico e

em que medida estas confluem como promotoras de uma educação e autonomia

cultural. De acordo com as respostas dos entrevistados no que concerne aos hábitos

culturais, verifica-se que a maioria conhece os espaços culturais do concelho e que os

visita regularmente.

Conheço o Museu Condes Castro Guimarães, o Centro Cultural de Cascais, conheço

este, conheço as igrejas todas porque adoro igrejas, para mim as igrejas são museus

lindíssimos, conheço o Museu Verdades Faria. Antigamente vinha muito aqui ao teatro

Gil Vicente. Conheço aqui o Museu do Mar, Santa Marta também, é um espaço muito

bonito gosto muito de lá ir.

(Indivíduo do sexo feminino, 63 anos, residente em Carcavelos, 12º ano, aposentada

[Analista])

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47

Sim. Com bastante regularidade. Conheço quase todos.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)

Conheço a maioria dos museus do concelho. O Museu Condes Castro Guimarães, o

Museu do Mar, o Museu da Paula Rego.

(Indivíduo do sexo masculino, 81 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado

[Topógrafo])

Foi possível observar paralelamente que a maioria dos entrevistados levam um estilo de

vida ativo, revelando interesse pelo meio cultural envolvente e não se restringindo à

realidade do concelho de residência. Quanto à regularidade da prática cultural,

averiguada pela frequência com que indicam visitar museus e/ou outros espaços

culturais, esta não é necessariamente indicadora de uma relação de continuidade e

fidelização para com determinados espaços e/ou práticas culturais.

Quando questionados acerca do conhecimento que têm da Casa das Histórias Paula

Rego e sobre a frequência com que visitam o espaço a maior parte dos visitantes indicou

conhecer o museu, e os que ainda não o conheciam já tinham tomado contato com a sua

existência apesar de nunca terem visitado o espaço. Dos visitantes que já o conhecem a

maioria indicou, no entanto, visitar este museu com pouca regularidade.

É a primeira vez que a gente cá põe os pés.

(Indivíduo do sexo masculino, 84 anos, residente em Cascais, 4ª classe, aposentado

[Pescador])

Sim. Algumas vezes (…) Quando mudam as coleções ou quando há eventos que me

chamam a atenção.

(Indivíduo do sexo feminino, 60 anos, residente na Parede, 9º ano, aposentada

[Funcionária Pública])

Com muita regularidade não. Mas sempre que posso, gosto de vir cá.

(Indivíduo do sexo feminino, 80 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada

[Professora])

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48

Entre os motivos apontados para uma vinda à CHPR os entrevistados indicaram a

inauguração de novas exposições, a realização de eventos pontuais ou as saídas em

grupo organizadas pelas instituições a que estão ligados. As saídas familiares e com

amigos também foram referidas como um fator que conduz a visita ao museu, contudo

foram poucos os visitantes que referiram este tipo de saídas, quando questionados se era

habitual fazerem-se acompanhar pelo filhos ou netos. Muitos dos entrevistados

referiram a falta de tempo como uma condicionante para a realização de visitas a

espaços culturais, e alguns mencionaram questões de mobilidade face à localização

deste espaço museológico.

Uma pessoa vai acompanhando o que vai havendo não é? Se há alguma novidade,

como é o caso do Oratório, que eu vim cá para ver o Oratório. Se houver alguma

exposição que eu ache interessante e que me chame atenção, pois eu vou ver a

exposição.

(Indivíduo do sexo feminino, 64 anos, residente na Parede, Licenciada, Pintora)

Sou uma pessoa sociável e gosto de ir acompanhado desde que bem acompanhado, e

não por um chato. Mas aqui não, aqui venho muitas vezes sozinho, aqui ou a outro lado

beber um café, ler um livro.

(Indivíduo do sexo masculino, 76 anos, residente em Cascais, Licenciado, aposentado

[Advogado])

(…) frequento o Centro Engenheiro Álvaro de Sousa, e estou inscrito nalgumas

modalidades e não tenho tempo, por isso tenho que conciliar.

(Indivíduo do sexo masculino, 71 anos, residente no Monte Estoril, Licenciado,

aposentado [Historiador])

Os meus filhos agora estão grandes. Por acaso o meu filho já cá veio, mas veio sozinho

ele mais a mulher. Quando eles vieram, primeiro vim eu com o grupo. Depois é que

como eu tinha falado, eles então vieram.

(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada

[Modista])

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49

Quando questionados acerca do tipo de atividades direcionadas para o público adulto

que gostariam de ver desenvolvidas, a quase totalidade dos entrevistados revelou

desconhecer a programação existente, indicando atividades que já se realizam

regularmente na CHPR. Inclusivamente parte dos entrevistados referiram essas mesmas

atividades como sendo um fator de motivação para uma nova visita. O fator económico

também foi referido como sendo importante para a frequência de atividades promovidas

pela CHPR, contudo não foi um aspeto consensual. Em contraponto à defesa da

gratuitidade ou redução nos preços das atividades para seniores por parte de alguns

entrevistados, foi salientado por outros a importância das atividades serem pagas como

forma de valorização do acesso à cultura.

Cursos por exemplo, que não fossem caros, porque lá está, uma reformada não tem

muito dinheiro para agora gastar. E gostava muito que houvesse por exemplo, este tipo

de coisa, interpretações de quadros. (…) Escolher uma obra e um dia.

(Indivíduo do sexo feminino, 62 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada,

[Bancária])

Acho que algumas salas podem ter uma série de abordagens, que pode ser através de

uma conferência, portanto na minha ótica eu tentava potenciar…(…) fazer uma vez por

mês a sala do mês ou o tema do mês, que possibilitaria escrever nem que fosse uma

página A4 a explicitar o conteúdo, ou uma conferência ou eventualmente um pequeno

debate e as visitas desse mês, incidiriam além do percurso normal, sobretudo naquilo.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, Doutoramento, Professor

Catedrático)

Quando oferecem bilhetes para as pessoas, por causa das organizações e mais não sei

o quê, por se ser sénior, para se vir ver as exposições e acham que estão a fazer um

bom trabalho, não estão (…) Agora se fizerem um workshop sobre a forma como a

gente pode ver o museu, epá! Façam ao contrário, ensinem as pessoas a verem os

museus e cobrem os bilhetes. Sabe porquê? Porque quando a gente vem de borla a um

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sítio qualquer acha que é dono daquilo, agora quando pagamos para ir ver uma coisa

temos respeito, infelizmente é verdade.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, 12º ano, residente no Estoril, aposentado,

[Piloto de Automóveis])

Relativamente à tipologia de atividade a realizar foram indicadas atividades variadas,

que vão de encontro às preferências e aptidões pessoais de cada entrevistado. Alguns

entrevistados referiram igualmente a importância da realização de atividades de

continuidade com adultos de forma a estabelecer um elo de fidelização com estes

públicos.

A importância da forma como a mediação cultural é realizada também foi salientada,

verificando-se que a criação de propostas diferenciadas e com uma maior interação

entre o mediador cultural e o público recetor, é favorável à motivação para uma nova

vinda ao museu.

Eu já fiz aqui uma visita que terminava com a construção de uma história (…) Foi

giríssimo. Eu achei imensa graça e acho que deviam fazer isso mais vezes. Eu acho que

essas coisas são sempre muito curiosas, e foi uma visita que nunca mais se esqueceu.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Professora de

pintura)

Gostava imenso sim, de desenho. E pintura e essas coisas assim. Era uma coisa de que

eu gostava. Mas em casa, nos meus tempos assim mais livres dá-me é para escrever. E

escrevo muito em verso. Gosto mais de escrever em verso.

(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada

[Modista])

Aquilo que seria mais importante era ensinar as pessoas a verem, a ver exposições, a

ver os artistas, neste caso a partir de saber ver a Paula Rego, também se aprende a

saber ver outro artista qualquer. Eu acho que vocês deviam insistir nisso muito mais

porque é aquilo que eu noto.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentado [Piloto

de automóveis])

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Foram igualmente analisados outros fatores na relação museu/visitante, tais como a

relação com o próprio espaço arquitetónico, visto tratar-se de um edifício recente e de

arquitetura contemporânea, e também a relação com os espaços públicos do museu

(cafetaria e loja) e com o atendimento ao público, verificando-se que são fatores que

contribuem como potenciadores de uma nova visita.

Por dentro isto é muito lindo.

(Indivíduo do sexo feminino, 80 anos, residente em Cascais, 4ª classe, Varina)

Parece-me bonito e vou recomendar a outras pessoas para virem aqui.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado

[Comercial/Vendedor])

[A loja] Também está interessante e com bastantes ideias para se poder levar um

souvenir ou uma recordação sobre isto aqui também. E da outra vez também levei

qualquer coisa para dar aos meus netos.

(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada

[Modista])

Acho que a dimensão humana de um museu é fundamental. E este também tem isso.

(Indivíduo do sexo masculino, 76 anos, residente em Cascais, Licenciado, aposentado

[Advogado])

7.2.2 Meios de Comunicação e Materiais Auxiliares

Outra relação averiguada durante as entrevistas é a que o visitante estabelece com o

espaço expositivo e com os materiais auxiliares à visita. A maioria dos entrevistados

indicou estes materiais como sendo suficientes e adequados. O aspeto mais apontado foi

a necessidade de existirem mais bancos de sala ao longo do espaço expositivo.

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52

Acho que têm bastante e que estão bem documentados, acho que está adequado. Têm

informação para os nacionais e para os estrangeiros com todas as indicações.

(Indivíduo do sexo feminino, 63 anos, residente em Carcavelos, 12º ano, aposentada

[Analista])

Há ali um banco muito bom para as pessoas que chegam e esperam não é, e depois é

sempre a andar. Eu sei que há umas cadeiras que emprestam, não é? Aqui faz falta às

vezes em certas salas. Não é em todas mas pelo menos naquelas maiores. Não é um

banco daqueles de adormecer, é para a pessoa estar ali 5, 10 minutos.

(Indivíduo do sexo masculino, 81 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado

[Topógrafo])

O museu não tem cadeiras ou sofás para as pessoas se sentarem. Eu acho que na sala

maior não ficaria nada mal se tivessem ali algo onde a pessoa pudesse ficar sentada a

ver. Há necessidade disso, eu acho que sim, de se poder parar um bocadinho diante dos

quadros. E provavelmente a pressa com que as pessoas passam, se presta com certeza

com o não haver um convite a estar, a parar. Porque o parar, será um ato voluntário

mas não há aliciante nenhum para isso.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, Doutoramento, Professor

Catedrático)

De forma a perceber a importância da CHPR no circuito cultural do concelho de

Cascais, inquiriu-se os entrevistados acerca de que museus selecionariam para realizar

uma visita com pessoas que não conhecessem a região de Cascais e os seus espaços

culturais. A CHPR foi indicada por parte dos entrevistados como sendo um local

incontornável, sendo referido como fator para essa visita a obra de Paula Rego, mas

também o edifício e o caráter mediático do conjunto.

Eu iria primeiro saber se a pessoa não se iria chatear por ali ou por acolá por

imposição minha, mas por exemplo aqui o Museu da Paula Rego é uma coisa que em

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53

termos publicitários tem uma carga muito grande, como o Berardo, é a mesma coisa.

Por isso este seria uma obra emblemática e eu gostaria que a pessoa viesse cá.

(Indivíduo do sexo masculino, 66 anos, residente na Parede, 12º ano, aposentado

[Paquete])

Iria a dois. À Casa das Histórias e ao Museu Castro Guimarães. À Casa das Histórias

pela diferença, e ao Museu Castro Guimarães pelo romantismo.

(Indivíduo do sexo feminino, 60 anos, residente na Parede, 9º ano, aposentada

[Funcionária Pública])

Cascais é um espaço é complexo… Porque há muitas coisas aqui…olhe levava aqui a

conhecer a Paula Rego, ao Centro Cultural também é interessante, agora a Cidadela

desde que foi arranjada também dizem que está excelente.

(Indivíduo do sexo feminino, 71 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Pintora)

7.2.3 Relação com a obra de Paula Rego

Na segunda parte da entrevista a primeira questão colocada questiona o visitante acerca

do que mais gostou na exposição, tendo sido elencados diversos fatores, tais como a

mediação cultural, empatia ou gosto por determinada obra, ou pela temática da

exposição.

O que mais gostei foi de a ouvir explicar.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Professora de

pintura)

Gostei muito da tapeçaria «Batalha de Alcácer-Quibir [1960-1970]62

».

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado

[Comercial/Vendedor])

62

Tomo II, Imagem 4: Batalha de Alcácer Quibir, (1960-1970, Câmara Municipal de Cascais), consultar

a propósito das peças de arte observadas pelos seniores entrevistados, p. 139.

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54

Gosto da exposição. Não consigo gostar mais ou menos de uma coisa. Numa exposição

quanto a mim tudo tem de estar interligado.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentado [Piloto

de automóveis])

A diversidade de respostas revelou-se também nas questões seguintes sobre as obras

que os entrevistados gostaram mais, menos e com quais sentiram maior ou menor

empatia ou que lhes tivessem despertado alguma memória. A memória revelou-se um

aspeto central, uma vez que a maioria dos entrevistados elencou recordações pessoais

relacionando-as direta ou indiretamente com a obra de Paula Rego, demonstrando a

importância da memória na criação de relações entre a obra de arte e o observador.

Mesmo no que concerne às questões de gosto todas as respostas foram de índole

pessoal, denotando-se aqui a importância da experiência pessoal de cada entrevistado,

não sendo possível neste campo atribuir uma relação direta com determinado aspeto

museográfico da exposição que cause a mesma reação em todos os indivíduos. Mesmo

quando referida a mesma obra por mais que um individuo, os motivos são diversos,

desde a relação com questões estéticas às memórias pessoais.

Contudo, verificaram-se alguns elementos de contato, nomeadamente os pontos

elencados face às questões de proporção e de beleza.

As «Óperas [1983]63

» foram as que mais apreciei. Porque são brincalhonas, irónicas

relacionadas com fábulas. (…) Não gostava nem gosto nada daquela fase dela daquelas

figuras muito masculinas, como aquela obra a «Repugnância [2001]64». Por isso, porque

são figuras muito masculinas.

(Indivíduo do sexo masculino, 76 anos, residente em Cascais, Licenciado, aposentado

[Advogado])

63

Tomo II, Imagem 5 - 9: Série Óperas, (1983, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego

– Casa das Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte observadas pelos seniores

entrevistados, pp. 139 – 140. 64

Tomo II, Imagem 10: Repugnância (2001, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego –

Casa das Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte observadas pelos seniores

entrevistados, p. 141.

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55

Eu há ali umas mulheres desenhadas que eu não gosto. Porque não estão bem

desenhadas.

(Indivíduo do sexo masculino, 85 anos, residente na Parede, 9º ano, aposentado [Pintor

Automóvel])

Não, não. Não senti nenhuma empatia por nenhuma delas. Quer dizer sinto-me assim

um bocado tonta quando vejo os animais e as pessoas misturadas, mas isso acho que

qualquer pessoa fica. Para chegar ao grau que ela chegou teve muito trabalho. (…) O

Oratório [2008-2009]65

. Não sei se foi a que gostei mais, mas sei que foi a que mais me

marcou, mais me impressionou, e agora à entrada, como lhe disse, voltei a sentir

uma…enfim olhe não sei mais.

(Indivíduo do sexo feminino, 70 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada

[Turismo/Secretariado])

Foi a questão da desproporção. Por causa da expressão daquela figura. [Jenufa,

199566

] (…) Porque eu gosto de proporção, proporção e enquadramento.

(Indivíduo do sexo feminino, 71 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Pintora)

Para além da relação estabelecida com as obras foi também averiguado junto dos

entrevistados a forma como percecionam o percurso de Paula Rego e como classificam

o seu trabalho. A maioria dos entrevistados classifica Paula Rego como sendo uma

artista contemporânea, entendendo-se aqui o termo em diferentes aceções.

É diferente. Para mim a diferença é assim: a Paula Rego faz o social, o que ela acha do

social, como ela vê o social. E você sabe que os clássicos não trabalhavam assim, os

clássicos trabalhavam para aquilo que o rei queria, para aquilo que a nobreza queria e

encomendava.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)

65

Tomo II, Imagem 11: Oratório (2008 - 2009, Marlborough Fine Art, Londres), consultar a propósito

das peças de arte observadas pelos seniores entrevistados p. 141. 66

Tomo II, Imagem 12: Jenufa (1995, Col. Virgínia e João Esteves de Oliveira), consultar a propósito das

peças de arte observadas pelos seniores entrevistados, p. 142.

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56

Eu penso que num artista contemporâneo existe mesmo numa linha mais convencional,

existe sempre uma contemporaneidade que é recuada. Portanto ela está presente e

obviamente que já o próprio conteúdo a torna muito contemporânea, e isso não seria

possível noutra altura. Tecnicamente eu acho que por vezes, ela torna-se um bocadinho

mais barroca. De resto é contemporâneo, figurativo.

(Indivíduo do sexo feminino, 64 anos, residente na Parede, Licenciada, Pintora)

Se calhar a Paula Rego se tivesse aparecido no século XVI, ou no século XVII ou no

século XVIII não seria arte. É hoje considerada uma grande artista, e é uma grande

artista, tem uma técnica aprendida e trabalhada ao longo de muitos anos e temos que

reconhecer isso. Mas naturalmente eu vou ver um quadro de Rubens, ou um quadro de

Velàzquez, que são também grandes artistas e não tem nada a ver com Paula Rego.

Não tem nada a ver com Paula Rego, não tem nada a ver com outros artistas da nossa

modernidade. Portanto, há muitas diferenças mas a arte é sempre arte.

(Indivíduo do sexo feminino, 62 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada,

[Bancária])

Não só Paula Rego é classificada como sendo uma pintora do seu tempo, cuja pintura

reflete a sociedade atual, mas também é considerado contemporâneo o modo como

aborda determinados temas, denotando-se uma relação entre o termo contemporâneo e o

termo belo associado a uma idealização da sociedade. Quando questionados sobre o que

é para si a beleza, a larga maioria dos entrevistados referiu-a como sendo algo subjetivo

e variável de individuo para individuo, mostrando dificuldades em definir o belo mas

quando questionados sobre o que consideram belo em arte, a grande maioria destacou

aspetos como a harmonia visual, cromática e de composição, e quase todos fizeram uma

associação às artes visuais em paralelo com a mimetização idealizada da realidade –

uma natureza morta, um retrato ou um modelo feminino – enquanto construção do belo.

Olha eu gosto muito de arte clássica. Gosto muito dos impressionistas, tem pintores que

são realmente…Miguel Ângelo, outros clássicos, Leonardo da Vinci que era um homem

excecional. E gosto mais de pintura do que de escultura. Gosto de escultura mas não é

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toda. Gosto dessa escultura por exemplo do Rodin. São completamente diferentes, das

esculturas do Miguel Ângelo. Gosto mas, gosto muito mais de pintura.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)

Sei lá. Uma pintura magnífica com cores extraordinárias ou um retrato da baía de

Cascais cheia de barcos lindos ou a serra de Sintra verde e cheia de vida, isso tudo é

belo.

(Indivíduo do sexo feminino, 70 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentada

[Turismo/Secretariado])

Eu gosto de ver a perfeição. Uma pintura sua por exemplo, e eu ter a pintura ao seu

lado e eu ver que é você mesma, mesmo em pormenor. E isso talvez seja a perfeição.

Porque por exemplo eu às vezes vejo aí uns pintores de rua e eles pintam umas

casinhas e tal e aquilo está bem feito, mas faltam-lhes os pormenores, aquilo não é uma

fotografia são as mãos e o pincel que estão fazendo aquilo. Isso até parece que é

utópico não é verdade, ter aqui um quadro que é exatamente igual.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, 12º ano, aposentado,

[Comercial])

De forma a percecionar onde é enquadrado o trabalho de Paula Rego nas questões do

belo, colocou-se a seguinte questão. “Teria uma pintura de Paula Rego em sua casa?”

As respostas obtidas foram equilibradas na medida em que parte dos entrevistados

respondeu afirmativamente, e cerca da outra metade respondeu negativamente. Contudo

os que responderam positivamente quando confrontados com a questão seguinte “Que

pintura teria?” afirmaram a necessidade de ponderar sobre a obra a selecionar indicando

que nem todas as obras desta artista são passíveis de se ter em casa, considerando a

natureza das mesmas como “agressiva”.

Talvez eu não comprasse uma obra da Paula Rego, em princípio. Depende, mas como

ela usa figuras humanas, talvez eu não comprasse. Dela não compraria.

O humano para ela é sempre grotesco. Eu não gosto das coisas grotescas, entendeu? É

isso. Ela torna o humano muito feio, e o humano pode até ser, mas ela exterioriza muito

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esse lado feio, esse lado menos agradável ao visual. Ela agride. (…) O lado que a gente

conhece dela é o lado do social, do massacrado. Eu não sei onde ela coloca o belo.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Enfermeira)

Não. Era capaz de me sentir um bocado nervosa. É tudo muito pesado, e para mim nas

pinturas nós temos que olhar e sentir alegria, sentir a cor. Com ela não.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciatura, Professora de

pintura)

Até teria duas. Eu tinha. A do Anjo [Agonia no Horto, 200267

], mas não lhe chamava

agonia.

(Indivíduo do sexo feminino, 80 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada

[Professora])

Algum dos desenhos. Sobretudo aqueles desenhos mais infantis. As outras não. Porque

a sensação que eu quero ter em minha casa é de serenidade e de tranquilidade, e

portanto eu poder estar sentado numa cadeira ou num sofá e em frente de mim tenho

um rosto sorridente, um rosto tranquilo ou uma paisagem que me faz repousar, porque

a nossa vida é tão agitada que se há um quadro de agressão, de violação, de mulheres

completamente contorcidas, de mulheres musculadas…para mim a mulher é feminina.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente em Cascais, Doutoramento, Professor

Catedrático)

A última questão colocada a cada um dos entrevistados procurou indagar a opinião

sobre o caráter interventivo da obra de Paula Rego na sociedade atual, verificando-se

que esta é uma questão ambígua mas que se revela profícua dada a pluralidade de

leituras que permite. Com efeito, cada entrevistado manifestou a sua opinião acerca

deste assunto de acordo com o conhecimento que possui sobre a obra da artista em

correlação com a sua própria experiência de vida e com o seu entendimento daquilo que

é a sociedade atual.

67

Tomo II, Imagem 13: Visitação, Agonia no Horto, Trânsito da Virgem (Série Ciclo da Vida da Virgem,

2002, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego)

consultar a propósito das peças de arte observadas pelos seniores entrevistados, p. 142.

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59

Não acho que ela retrate completamente não. Porque ela também vive num casulo. Ela

também muitas das coisas se calhar ela não sabe. Por exemplo o que é estar numa

fábrica a trabalhar. Nem eu. Portanto nenhum de nós tem abrangência suficiente para

retratar o mundo inteiro. Ela lê umas obras literárias, e a propósito de certas obras

lembra-se de fazer determinada coisa, ou passou um mau bocado com a mãe e a

propósito disso lembra-se de fazer, ou passou um mau bocado com o marido e a

propósito disso lembra-se de não sei quê. (…) As pessoas são aquilo que vivenciam,

acho eu.

(Indivíduo do sexo feminino, 62 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentada

[Bancária])

É capaz nalguns temas sim. Este agora que vimos do «Macaco Vermelho Bate na

Mulher [1981]68

», é uma coisa…além da violência doméstica, aquela troca de maridos

que há agora é muito atual.

(Indivíduo do sexo feminino, 68 anos, residente em Cascais, Licenciada, Professora de

Pintura)

Completamente, e de uma maneira tão escandalosa, tão real, tão verdadeira que

desperta ódios nas pessoas. As pessoas olham para os quadros dela e veem ali as suas

fortalezas e as suas fraquezas. Depende da consciência de cada um. Aí é que está. É

uma obra que não está estandardizada, aquilo que está ali a gente olha para o quadro,

e a maior parte das pessoas mesmo que não o digam sentem-se identificadas, só que

não aceitam, são pessoas que têm preconceitos. Não aceitam estar a olhar para o

espelho e ver um mau retrato deles próprios.

(Indivíduo do sexo masculino, 68 anos, residente no Estoril, 12º ano, aposentado [Piloto

de Automóveis])

68

Tomo II, Imagem 13: Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981, Col. Paula Rego, em comodato na

Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego) consultar a propósito das peças de arte

observadas pelos seniores entrevistados, p. 143.

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Em parte sim. Ela representa muito a violência e o mundo está cada vez mais violento.

Nós temos tendência para querer ver sempre o bem, o bonito mas a realidade é muito

dura. Acho que é mais fria do que aquilo que a gente gostava que fosse.

(Indivíduo do sexo feminino, 85 anos, residente na Parede, 12º ano, aposentada,

[Modista])

7.2.4 Conclusões

A partir das entrevistas realizadas, foi possível averiguar de que forma os públicos

seniores percecionam a relação com um dos espaços museológicos da sua comunidade

de residência, a Casa das Histórias Paula Rego.

Verificou-se que, apesar do conhecimento existente sobre este espaço museológico, para

o qual o seu mediatismo nos meios de comunicação locais e nacionais contribui

grandemente, a relação estabelecida com este espaço não é uma relação de

continuidade, revelando que o âmbito das visitas efetuadas à CHPR surge na sequência

de passeios esporádicos em contexto familiar ou outro, ou no âmbito de novas

exposições ou eventos pontuais.

Nesse sentido destacou-se a importância de instituições exteriores à CHPR, que no

âmbito do trabalho desenvolvido com o público sénior atuam como agentes promotores

de uma maior autonomia cultural, à semelhança do que se verifica no âmbito escolar

com o papel desempenhado pelas instituições de ensino.

Igualmente importante revelou-se o trabalho desenvolvido pelo mediador cultural na

construção de entendimentos mais latos e completos da obra de Paula Rego, mas

sobretudo no entendimento da obra de arte no seu contexto social e histórico-cultural,

fornecendo assim ferramentas aos indivíduos para que estes se possam autonomizar de

forma a encontrarem por si, motivos para a frequência do espaço cultural.

A relação estabelecida por meio da mediação com a obra de arte surge também como

mote para a função social da arte permitindo uma leitura mais ampla da sociedade e do

indivíduo, e da importância do nosso papel enquanto observadores.

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61

Segundo Mukarovsý “toda e qualquer obra de arte se assemelha à palavra”69

,

considerando-se neste sentido a obra de arte enquanto veículo de comunicação tão

essencial quanto a própria linguagem, e criando um sistema de diálogo entre artista e

observador. Para além deste diálogo fundamental à obra é igualmente necessário

considerar a relação entre individuo e grupo pois “é verdade que os receptores formam

uma colectividade e que (…) essa colectividade a que damos o nome de público entra

em relação com a arte apenas por meio dos indivíduos que a compõem”70

criando-se

assim uma relação necessária entre artista, mediador cultural e público – entendido

enquanto coletividade – e dessa forma ressalvando uma vez mais a importância do

trabalho desenvolvido com grupos, aplicando-se aqui esta realidade aos grupos de

seniores, sem esquecer, no entanto o contributo de cada um nessa mesma coletividade

por meio da sua experiência pessoal.

69

MUKAROVSKÝ, Jan, Escritos Sobre Estética e Semiótica da Arte. – Lisboa: Editorial Estampa, 1987,

p. 267. 70

Idem, Ibidem, p. 268.

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62

8. Observação de Públicos Autónomos

8.1 Metodologia

Numa 2ª fase da investigação decorrida entre 04 de Abril e 21 de Outubro de 2012, foi

desenvolvido um estudo baseado na observação de públicos a partir de uma amostra de

106 visitantes autónomos com uma idade mínima aproximada dos 65 anos de idade.

Esta observação foi realizada a partir de um guião previamente elaborado composto por

três campos de análise distintos71

.

Ao primeiro campo corresponde a análise do perfil do visitante elencando aspetos como

género, se visita o espaço sozinho ou em grupo, e a tipologia do grupo.

No segundo campo é analisado o comportamento do visitante no espaço expositivo,

nomeadamente a duração da visita, a utilização de materiais de apoio à exposição, e a

relação estabelecida com as obras expostas.

No último campo é observada a relação do visitante com os restantes espaços da CHPR,

nomeadamente a visita à loja ou à cafetaria.

Paralelamente a esta análise, os períodos de observação também contribuíram

grandemente para a percepção dos hábitos de visita. Nesse sentido a observação foi

distribuída equitativamente por períodos da manhã e da tarde, e ainda por períodos

semanais e de fim de semana.

A observação atravessou duas exposições patentes de forma a avaliar igualmente como

determinados comportamentos tipo se diversificam face à organização e tipologia de

uma exposição, aspecto passível de ser considerado a partir de alguns elementos

museográficos que transmutaram de exposição e algumas obras chave.

71

Tomo II, anexo E – Ficha de Observação de Públicos, p. 129.

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63

8.2 Análise da Observação de Públicos Autónomos

8.2.1 Caracterização dos públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego

Na sequência da observação de públicos, foram observados visitantes seniores que se

deslocaram à Casa das Histórias Paula Rego de forma autónoma. Dado o caráter não

interventivo desta análise, não foi possível caracterizar os visitantes observados ao nível

da nacionalidade, faixa etária, e relação com os visitantes que os acompanham quando

tal se verificou. No entanto, relativamente à faixa etária, só foram observados visitantes

nos quais fisicamente era possível notar encontrarem-se próximos ou acima dos 65 anos

de idade.

Dos visitantes observados, verificou-se que 95% dos indivíduos visitaram o museu em

grupo e apenas 5% o fizeram de forma autónoma (gráfico 5).

Gráfico 5: Visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego autónomos e em grupo, valores absolutos

(centenas).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

Relativamente à tipologia do grupo, esta permitiu identificar quais os visitantes que se

fazem acompanhar por indivíduos de outras faixas etárias, e os que se fazem

acompanhar apenas por outros seniores, concluindo-se, que 76% dos visitantes

observados se faz acompanhar exclusivamente por visitantes seniores, 11% por

indivíduos de outras faixas etárias, e apenas 13% vem em grupos mistos onde entre as

restantes faixas etárias se observam adultos, jovens e/ou crianças (gráfico 6).

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64

Gráfico 6: Constituição dos grupos que visitam a Casa das Histórias Paula Rego: relação seniores com

outras faixas etárias (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 101)

Na constituição do grupo, identificou-se o número de visitantes seniores, e o número de

visitantes de outras faixas etárias que o compõem averiguando que os grupos

heterogéneos são na sua maioria constituídos igualitariamente por seniores e indivíduos

de outra faixa, sendo no entanto estes grupos minoritários, visto que a maioria dos

grupos é constituído apenas por indivíduos seniores (gráfico 7).

Gráfico 7: Grupos de visitantes da Casa das Histórias Paula Rego por tipologia: grupos seniores e grupos

com diferentes faixas etárias (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 49)

No que concerne ao género, 67% dos visitantes seniores observados são do sexo

feminino e apenas 37% são do sexo masculino (gráfico 8), podendo-se observar aqui

uma correspondência com os dados nacionais relativos ao número de indivíduos por

sexo face ao total da população portuguesa com idade superior a 65 anos. Para um total

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65

de 2.031.822 indivíduos com mais 65 anos, 58% são do sexo feminino72

e 42% do sexo

masculino73

.

Gráfico 8: Género dos visitantes seniores autónomos da Casa das Histórias Paula Rego, valores absolutos

(centenas).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

8.2.2 Hábitos e comportamentos – Percurso expositivo

No que concerne aos hábitos de visita, o estudo permitiu apurar de que forma o visitante

dirige o seu percurso na visita à exposição. No caso dos visitantes que visitam o museu

em grupo, verificou-se que 98% conversam entre si durante o percurso expositivo. Para

uma amostra de 101 visitantes, 85% conversam frequentemente, enquanto no extremo

oposto 2% dos visitantes percorrem a exposição sem qualquer diálogo (gráfico 9).

Gráfico 9: Comportamentos no espaço expositivo da Casa das Histórias Paula Rego: diálogo entre

visitantes (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 101)

Já relativamente ao tempo médio de paragem durante o percurso expositivo, isto é, o

tempo durante o qual cada visitante se detém em média perante uma obra, verificou-se

72

Tomo II, tabela 19: População residente do sexo feminino: total e por grandes grupos etários, p. 135. 73

Tomo II, tabela 20: População residente do sexo masculino: total e por grandes grupos etários, p. 135.

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66

face aos visitantes observados que é na sua maioria de 0 a 2 minutos por obra. Dos 106

visitantes observados 64% despende em média 0 a 2 minutos por obra, e nenhum

visitante despendeu mais de 10 minutos, sendo que apenas 9% despenderam em média

cerca de 10 minutos e 26% entre 3 a 5 minutos (gráfico 10). Observou-se paralelamente

a relação entre a frequência de diálogo dos visitantes que se deslocam em grupo

verificando-se que nalguns casos o diálogo encetado permitiu análises mais detalhadas

das obras conduzindo a maiores tempos de paragem, contudo também se verificou o

efeito contrário. Visitantes que na sequência do diálogo encetado em grupo dedicaram

muito pouco tempo a uma observação atenta das obras expostas.

Gráfico 10: Tempo despendido em média na observação das obras durante o percurso expositivo

(percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

Entre os fatores de paragem durante o percurso expositivo para além da observação das

obras, encontram-se a leitura de legendas e textos de parede. Com efeito, de entre os

visitantes observados verificou-se que na sua maioria os visitantes se detêm em ambos

os suportes. Do total da amostra, 58% dos visitantes observam legendas e textos de

parede e os restantes 45% apenas observam legendas (gráfico 11). Apesar da

observação de públicos ter abrangido dois períodos expositivos74

, os visitantes

detiveram-se na observação de textos de parede e legendas de forma proporcional em

ambas as exposições denotando-se uma diferença de apenas 2% no que concerne à

74

A observação de públicos foi realizada entre 4 de Abril e 21 de Outubro de 2012 abrangendo as

seguintes exposições de Paula Rego: Mood de 01 de Março a 24 de Junho de 2012 e Innervisions/Dama

Pé de Cabra de 7 de Julho de 2012 a 6 de Janeiro de 2013. Paralelamente à exposição Mood esteve

patente outra exposição denominada Mar e Campo em Três Momentos com obras do artista português

Bruno Pacheco, a qual não foi alvo de observação por não abarcar obras de Paula Rego.

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67

observação de ambos os suportes tendo sido a exposição Innervisions/Dama Pé de

Cabra o circuito onde os visitantes mais se detiveram.

Gráfico 11: Observação de legendas e textos de parede por visitante da Casa das Histórias Paula Rego

(percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

Para além dos suportes referidos observaram-se igualmente o uso de outros materiais de

apoio à exposição, nomeadamente folhas de sala75

, brochuras76

e bancos portáteis ou de

sala, verificando-se que 67% dos visitantes observados não usaram qualquer material de

apoio, 14% usaram mais do que um material, 12% usou apenas folhas de sala, e apenas

7% fizeram uso dos bancos de sala (gráfico 12). No caso dos bancos, só foram

utilizados os bancos fixos disponíveis ao longo da exposição, nenhum visitante recorreu

ao uso de bancos portáteis. A tendência verificada no uso dos bancos disponíveis

contraria a necessidade indicada pelos seniores entrevistados de serem colocados mais

bancos ao longo do percurso expositivo.

75

Tomo II, imagem 2: Folha de sala da exposição Dama Pé-de-Cabra da Casa das Histórias Paula Rego,

p. 136. 76

Tomo II, imagem 3: Brochura trimestral d’O Ateliê, p. 138.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

68

Gráfico 12: Uso de materiais de apoio à exposição por parte dos visitantes seniores da Casa das Histórias

Paula Rego (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

É preciso considerar que o uso de bancos reflete também o tipo de visita, bem como a

duração da mesma. Nesse sentido para além do tempo médio de paragem foi igualmente

observado o tempo total de visita de cada visitante. É necessário salientar que nos dois

percursos expositivos observados se verificaram diferenças significativas, uma vez que

um percurso era mais extenso que o outro, visto englobar mais uma sala de exposição

(imagem 1).

Imagem 1: Percursos expositivos de Mood; Innervisions e Dama Pé de Cabra.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

69

Contudo em ambos os percursos os tempos médios de duração total de visita observados

na maioria dos visitantes situaram-se entre os 0 a 15 minutos77

, e os 15 a 30 minutos. Na

exposição Mood cujo percurso era mais curto, 14% dos visitantes efetuaram a visita

entre 0 a 15 minutos, 5% em 15 a 30 minutos e apenas 4% demoraram mais de 30

minutos a percorrer toda a exposição. Relativamente às exposições Innervisions/Dama

Pé de Cabra, 35% dos visitantes demoraram entre 15 a 30 minutos, 18% entre 0 a 15

minutos, quase tanto quanto os visitantes que demoraram entre 30 a 45 minutos cuja

percentagem foi de 17%. Apenas 8% dos visitantes demoraram entre 45 a 60 minutos,

tendo esta média sido bem mais elevada do que na exposição Mood, onde apenas 2%

dos visitantes demoraram esse tempo a percorrer a exposição.

No conjunto de ambos os períodos expositivos a maioria dos visitantes percorreu a

exposição num período de 15 a 30 minutos (40% dos visitantes observados), e apenas

9% dos visitantes percorreram a exposição num período de 45 a 60 minutos (gráfico

13).

Gráfico 13: Tempo médio de visita às exposições da Casa das Histórias Paula Rego por sénior

(percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

77

A maioria dos visitantes englobados na percentagem dos 0 a 15 minutos, visitaram o espaço expositivo

em 15 minutos, e apenas alguns o fizeram em 10 minutos. Nenhum visitante demorou menos de 10

minutos a percorrer o espaço expositivo.

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Casa das Histórias Paula Rego Tomo I

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

70

8.2.3 Museografias e Percursos

De forma a percecionar de que forma a museografia de uma exposição influencia o

percurso dos visitantes, foram observadas as obras onde os visitantes se detiveram mais

ou menos tempo em cada um dos dois períodos expositivos. Observou-se igualmente as

obras que não registaram qualquer paragem por parte dos visitantes. A amostra revelou-

se bastante heterogénea e à semelhança do sucedido com os seniores entrevistados, a

diversidade de obras observadas pelos visitantes revelou-se bastante significativa, pelo

que se optou por apresentar aquelas que reuniram maior número de visitantes em seu

redor, ou que contrariamente foram consecutivamente ignoradas por diversos visitantes

ao longo do percurso.

Na exposição Mood as obras mais vistas (gráfico 14) revelaram um equilíbrio ao longo

do percurso expositivo com 17% dos visitantes a deter-se durante mais tempo em frente

à série Possessão78

, e igual percentagem a deter-se em frente à obra Repugnância79

. As

outras duas obras mais vistas foram a série Sem título80

e a tapeçaria Batalha de

Alcácer-Quibir81

.

Relativamente às exposições Innervisions e Dama Pé de Cabra, a maioria dos visitantes

(38% dos visitantes observados), deteve-se na série Dama Pé de Cabra [2011-12]82

,

enquanto 13% se deteve na obra Pillowman [2004]83

, 10% em Entre Mulheres [1997]84

e 6% em Love [1995]85

.

78

Tomo II, Imagem 15: Possessão I – VII (2004, Col. Fundação Serralves – Museu de Arte

Contemporânea, Porto), consultar a propósito das peças de arte mais observadas por visitantes seniores

autónomos, p. 144. 79

Tomo II, Imagem 10: Repugnância, (2001, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego –

Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 141. 80

Tomo II, Imagem 16: Sem título [I – X], (1979 [?], Col. Fundação Paula Rego – Casa das Histórias

Paula Rego), Idem, p. 145. 81

Tomo II, Imagem 4: Batalha de Alcácer – Quibir, (1960 – 1970, Câmara Municipal de Cascais), Idem,

p. 139. 82

Tomo II, Imagem 17 – 22: Série Dama Pé de Cabra, (2011 - 2012, Marlborough Fine Art, Londres),

Idem, pp. 146-147. 83

Tomo II, Imagem 23: Pillowman (2004, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego –

Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 148. 84

Tomo II, Imagem 24: Entre Mulheres, (1997, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego

– Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 148. 85

Tomo II, Imagem 25: Amor, (1995, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das

Histórias Paula Rego), Idem, p. 149.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

71

Gráfico 14: Obras mais vistas por visitantes seniores autónomos da Casa das Historias Paula Rego

(percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

Apesar das temáticas distintas, em ambas as exposições se verificaram aspetos análogos

em termos museográficos. Tanto a série Possessão como a série Dama Pé de Cabra, se

encontravam em salas onde havia um banco de sala. Apesar de se ter verificado que só

uma minoria dos visitantes observados fez uso destes materiais, conforme referido por

um dos seniores entrevistados, “provavelmente a pressa com que as pessoas passam, se

presta com certeza com o não haver um convite a estar, a parar. Porque o parar, será um

ato voluntário mas não há aliciante nenhum para isso.”86

, ou seja a aliciante para sentar

poderá de facto ser um fator incentivador a uma maior permanência em determinada

sala ainda que não se chegue a fazer uso dos bancos disponíveis. O número de visitantes

observados que se detiveram em frente à tapeçaria Batalha de Alcácer Quibir reforça

isso mesmo, uma vez que esta se encontra num corredor de passagem junto à receção,

fora do percurso expositivo mas onde existe um banco que incentiva à paragem em

frente a esta peça.

Outro aspeto comum à maioria das obras observadas remete-nos para um determinado

período de trabalho de Paula Rego onde se enceta o uso do pastel e onde a artista se

centra cada vez mais na criação de personagens femininas que revelam comportamentos

animalescos, encetados por um corpo masculinizado, considerado muitas vezes como

grotesco por fugir aos cânones do belo, presentes na nossa sociedade. O grotesco não

86

Tomo II, anexo D – Entrevistas realizadas a visitantes seniores da Casa das Histórias Paula Rego, p. 11.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

72

surge contudo apenas nesta fase, ele está presente em diversos períodos do trabalho de

Paula Rego, conforme é visível pela percentagem de visitantes que se deteve na série

Sem título de 1979 onde se observam caricaturas diversas, remetendo-nos aqui no

entanto para uma faceta do grotesco plenamente aceite na sociedade, o da caricatura

como meio de ironização e/ou ridicularização do ser humano.

A técnica do pastel bem como o uso da cor em sua consequência e a dimensão de alguns

destes trabalhos parecem ser igualmente fatores que contribuem para uma maior adesão

dos visitantes a estas obras.

O mesmo se aplica a obras como a tapeçaria Batalha de Alcácer Quibir, que para além

das suas dimensões, revela uma outra faceta do trabalho de Paula Rego desconhecida de

muitos que é a do trabalho têxtil. O facto de se tratar de uma peça têxtil poderá também

apresentar outro fator de aproximação que é o da relação com o espaço doméstico.

Apesar da sua escala, o facto de ser uma tapeçaria executada com pontos idênticos ou

muito próximos aos de peças que se possam ter em casa, tais como tapetes ou outros

bordados torna esta peça mais apta a uma relação de proximidade com os visitantes.

Relativamente às obras onde os visitantes se detiveram menos tempo encontraram-se

relações análogas com as obras onde se detiveram mais no que concerne à exposição

Mood, com a grande maioria dos visitantes a destinar menos tempo a obras como

Possessão87

(17% dos visitantes) ou a série Sem título88

com 25% dos visitantes

(gráfico 15). A relação aqui pode ser uma vez mais museográfica em obras como esta

série de Caricaturas, visto tratar-se de um conjunto que se encontrava exposto na

primeira sala de exposição cuja configuração é a de um corredor podendo sugerir uma

ideia de continuidade contrariando assim a tendência do visitante para prolongar a sua

permanência nesta sala. Contudo ao observamos as restantes três obras onde os

visitantes menos se detiveram – Possessão, Jenufa89

e Embarque90

– verificamos a

relação ao nível da desproporção dos corpos humanos e outras figuras representadas,

bem como a masculinidade latente das figuras femininas que parecem ser um fator

87

Tomo II, Imagem 15: Possessão, (2004, Col. Fundação Serralves – Museu de Arte Contemporânea,

Porto), consultar a propósito das peças de arte menos observadas por visitantes seniores autónomos, p.

144. 88

Tomo II, Imagem 16: Série Sem título [I – X], (1979 [?], Col. Fundação Paula Rego – Casa das

Histórias Paula Rego), Idem, p. 145. 89

Tomo II, Imagem 12: Jenufa, (1995, Col. Virgínia e João Esteves de Oliveira), Idem, p. 142. 90

Tomo II, Imagem 26: Embarque, (1992, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego –

Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 149.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

73

comum, que tanto pode funcionar como atrativo ou em sentido contrário, causando uma

relação de confronto entre visitante e obra de arte.

Gráfico 15: Obras menos vistas pelos visitantes seniores da Casa das Historias Paula Rego – exposições

Mood, Innervisions, Dama Pé de Cabra (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

Nas exposições Innervisions e Dama Pé de Cabra, a relação entre obras mais vistas e

obras menos vistas não apresentou a mesma correlação à semelhança do que se

verificou na exposição Mood. Nestas houve uma obra que se destacou claramente das

restantes, registando 17% de visitantes a deterem-se menos tempo sobre ela. Anjo91

de

1998 foi das obras onde os visitantes se detiveram menos tempo, seguindo-se-lhe

Rapariga com Pássaro92

com 9% dos visitantes, Banho Turco93

com 7% dos visitantes,

e três obras da série Ciclo da Vida da Virgem, Visitação, Agonia no Horto e Trânsito da

Virgem94

, expostas com sentido de conjunto. No que concerne a Anjo, trata-se de uma

91

Tomo II, Imagem 27: Anjo, (1998, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das

Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte menos observadas por visitantes seniores

autónomos, p. 150. 92

Tomo II, Imagem 28: Rapariga com Pássaro, (1997, Col. Fundação Paula Rego – Casa das Histórias

Paula Rego), Idem, p. 150. 93

Tomo II, Imagem 29: Banho Turco, (1960, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego –

Casa das Histórias Paula Rego), Idem p. 151. 94

Tomo II, Imagem 13: Visitação, Agonia no Horto e Trânsito da Virgem, Série Ciclo da Vida da

Virgem, (1960, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego),

Idem p. 142.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

74

obra icónica do percurso de Paula Rego, que marca o trânsito entre a série Crime do

Padre Amaro e a série sobre o aborto iniciada em 1998, na sequência do referendo feito

em Portugal no mesmo ano sobre o tema. Na exposição Innervisions a mesma foi

exposta em conjunto com obras de Pedro Calapez95

, feitas propositadamente em diálogo

com Anjo a convite da Casa das Histórias Paula Rego96

. O facto destas obras se

encontrarem a meio do percurso expositivo, proporcionando um fator de surpresa ao

observador, parece-nos ser o motivo que induz à rápida paragem frente à obra Anjo de

Paula Rego. Visto serem obras visualmente distintas, torna-se necessário um

conhecimento prévio para o correto entendimento da relação criada nesta sala.

Anjo foi igualmente das obras onde mais visitantes passaram sem parar no que concerne

à exposição Innervisions, reforçando as relações já enunciadas.

Percecionou-se ainda um terceiro fator, relacionado com a curta duração da visita

realizada pela maioria dos visitantes observados. Uma larga percentagem de visitantes

parou em todas as obras, ainda que por um curto espaço de tempo. Da amostra

observada verifica-se que em ambos os períodos expositivos a grande maioria dos

visitantes pára em todas as obras, com uma percentagem de 29% na exposição Mood e

de 56% nas exposições Innervisions e Dama Pé de Cabra (gráfico 16). Relativamente

às obras onde os visitantes não param voltam-se a verificar as relações já enunciadas

anteriormente com 6% dos visitantes a não parar em obras como Anjo97

e Pillowman98

,

na exposição Mood, e em obras como Possessão99

e Jenufa100

(8% dos visitantes

relativamente a cada uma) na exposição Innervisions. Contudo neste período expositivo

verificou-se também uma percentagem relevante de visitantes que não param em

diversas obras, sendo esta de 4%, uma diferença de apenas 2% face aos visitantes que

não param nas obras acima enunciadas.

95

Artista plástico, Pedro Calapez nasceu em Lisboa em 1953, onde ainda vive e trabalha. Começou a

participar em exposições nos anos 70, tendo realizado a sua primeira exposição individual em 1982. O

seu trabalho tem sido mostrado em diversas galerias e museus tanto em Portugal como no estrangeiro.

Atualmente encontra-se representado na exposição Innervisions patente na Casa das Histórias Paula

Rego. 96

Consultado a 24 de Setembro de 2012 em www.casadashistoriaspaularego.com. 97

Tomo II, Imagem 27: Anjo, (1998, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego – Casa das

Histórias Paula Rego), consultar a propósito das peças de arte onde os visitantes seniores autónomos

observados não se detêm, p. 150. 98

Tomo II, Imagem 23: Pillowman, (2004, Col. Paula Rego em comodato na Fundação Paula Rego –

Casa das Histórias Paula Rego), Idem, p. 148. 99

Tomo II, Imagem 15: Possessão, (2004, Col. Fundação Serralves – Museu de Arte Contemporânea,

Porto), Idem, p. 144. 100

Tomo II, Imagem 12: Jenufa, (1995, Col. Virgínia e João Esteves de Oliveira), Idem, p. 142.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

75

As únicas obras que se revelaram como sendo incontornáveis nas exposições

observadas, foram as da série Dama Pé de Cabra [2011-2012]. Estas obras conjugam

uma série de fatores favoráveis à atração verificada na maior parte dos visitantes. Às

questões da dimensão, da cor, da técnica e das questões relacionadas com a proporção

na figura humana, junta-se-lhes o fator novidade visto tratarem-se de obras recentes da

artista, expostas pela primeira vez em Portugal o que lhes confere um elevado grau de

mediatismo.

Gráfico 16: Obras onde os visitantes seniores da Casa das Historias Paula Rego não param – exposições

Mood, Innervisions, Dama Pé de Cabra (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

8.2.4 Outros elementos para uma visita – Loja e Cafetaria

Para além da relação essencial com a obra de Paula Rego, paralelamente, à semelhança

do que sucedeu com os visitantes seniores entrevistados, na observação de públicos

foram também elencados outros fatores que possam contribuir para uma visita à Casa

das Histórias Paula Rego, relacionados com os espaços de convívio, nomeadamente a

loja e a cafetaria da CHPR. De forma a dar continuidade à relação com os visitantes

observados na exposição, posteriormente analisou-se quantos destes visitantes

frequentavam estes espaços. Da amostra observada foi possível verificar que a maioria

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

76

dos visitantes permanece na CHPR após a visita à exposição com 64% dos visitantes a

frequentarem outros espaços de convívio (gráfico 17).

Gráfico 17: Frequência da loja e cafetaria da Casa das Histórias Paula Rego por sénior (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 106)

Quanto aos espaços frequentados 78 % dos visitantes observados deslocaram-se à loja

da CHPR, 13% frequentaram ambos os espaços e apenas 9% frequentaram a cafetaria

(gráfico 18). Os fatores para um maior número de deslocações à loja comparativamente

à cafetaria podem ser de diversa ordem contudo um que é imediatamente assinalável é o

de obrigatoriedade de consumo. Enquanto a frequência na cafetaria implica um

consumo, logo um gasto económico, a loja permite a sua frequência sem a

obrigatoriedade de compra, fator ao qual se junta a diversidade de produtos disponíveis

entre eles os catálogos da CHPR disponíveis para consulta.

Gráfico 18: Número de seniores que frequentam a loja e a cafetaria da Casa das Histórias Paula Rego

(percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 68)

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

77

Dada a possibilidade de consulta dos catálogos por parte do público na loja da CHPR,

verificou-se de entre os visitantes seniores que se deslocaram a este espaço, quantos

consultaram os catálogos, verificando-se que 61% dos visitantes efetuam essa consulta,

demonstrando que o interesse pela obra de Paula Rego se mantém ou acresce após a

visita às exposições (gráfico 19).

Gráfico 19: Catálogos da loja da Casa das Histórias Paula Rego consultados por visitante (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 62)

O último fator a ser observado foi o da duração da permanência na loja e/ou na cafetaria

da CHPR, de forma a perceber em que medida estes dois espaços podem concorrer com

a exposição em termos de atenção do visitante, e nesse sentido qual o seu grau de

importância na motivação para uma nova visita à CHPR.

Da amostra observada verificou-se que 46% dos visitantes permanecem nestes espaços

mais de 10 minutos, face a 6% que apenas permanece até 2 minutos (gráfico 20).

Com efeito o tipo de serviço prestado numa cafetaria presta-se a uma estadia superior a

10 minutos, contudo conforme já referimos a maioria dos visitantes deslocou-se à loja e

não há cafetaria após a visita à exposição, pelo que grande parte destes permaneceu

neste espaço por mais de 10 minutos, quase tanto quanto o tempo despendido por uma

elevada percentagem de visitantes a percorrer todo o circuito expositivo.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

78

Gráfico 20: Duração da permanência nos espaços de convívio da Casa das Histórias Paula Rego por

sénior (percentagem).

Fonte: Observação de públicos seniores da Casa das Histórias Paula Rego.

(Base de Amostragem: 68)

8.2.5 Conclusões

Dos públicos seniores observados na CHPR entre 04 de Abril e 21 de Outubro de 2012,

foi possível verificar que existem diversos fatores que contribuem para a visita a este

espaço museológico, dos quais se destaca o interesse manifestado pela obra de Paula

Rego, seguido pelo interesse no próprio edifício, quer enquanto espaço arquitetónico,

quer enquanto espaço de lazer e convívio. Com efeito verificou-se a importância da

dimensão social para estes visitantes dado o número elevado de seniores que se

deslocam à CHPR em grupo, sejam estes ou não, de caráter familiar.

No que concerne à relação com a obra de Paula Rego e aos comportamentos observados

no espaço expositivo é necessário salientar a importância da museografia no sentido de

criar discursos acessíveis a todos os visitantes para que estes usufruam o melhor

possível da visita, gerando assim uma vontade por parte do visitante em regressar dada a

memória positiva que leva da visita ao museu. Dessa forma revelam-se como elementos

fundamentais os materiais de apoio à exposição e o atendimento ao público.

Parece-nos igualmente essencial salientar a importância do grupo para o visitante sénior,

uma vez que através da análise realizada foi possível observar que a criação de relações

de continuidade museu/comunidade poderá ser construída com base na construção de

relações entre a própria comunidade sénior, contribuindo positivamente para a visita ao

museu, conforme se verificou pelo número de visitantes seniores que visitam a CHPR

em grupo, face o número de visitantes que o fazem sozinhos.

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Casa das Histórias Paula Rego Tomo I

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

79

9. Questões de género na perceção da obra de Paula Rego

Paula Figueiroa Rego nasceu em 1935 em Lisboa. Durante a sua infância e adolescência

residiu no Estoril, dividindo o tempo entre a sua residência, Carcavelos onde estudava

na St. Julians School, e a Ericeira onde se situava a casa de seus avós. Manifestando

desde pequena uma apetência pelo desenho, com apenas 17 anos Paula Rego foi

incentivada pelo pai a prosseguir os estudos fora de Portugal que se encontrava na altura

sob o regime Salazarista. Paula Rego viajou para Londres onde ingressou na Slade

School of Fine Art a fim de estudar pintura. Foi também aqui que conheceu vários

artistas entre os quais o seu marido, Victor Willing, pintor e crítico de arte. Após a

conclusão dos estudos a artista retornou a Portugal, acompanhada de Victor Willing,

onde durante a década de 60 criaram os filhos. Contudo nunca se fixaram em Portugal,

dividindo o seu tempo entre Cascais e Londres durante a década de 60, até Paula Rego

se instalar definitivamente em Inglaterra a partir de 1976. A artista manteve sempre, no

entanto, o contato com Portugal, sobretudo através de visitas e regressos à sua casa de

família na Ericeira, a qual remete inclusivamente para diversas memórias e traços de um

imaginário evocativo da infância da artista, patentes na sua obra e que encontra reflexos

no trabalho do feminino cujo modelo privilegiado é Lila Nunes101

. Artista atualmente

reconhecida no panorama nacional e internacional, Paula Rego ganhou grande

notoriedade a partir dos anos 90 transformando-se num nome incontornável. Foi

precisamente em 1990 que Paula Rego foi convidada pela National Gallery em Londres

a tornar-se na primeira artista associada da instituição. Contando com diversos convites

de galerias e outras instituições para trabalhar inclusivamente em diálogo com as suas

coleções, a artista revela um percurso marcado pela representação do universo feminino

num diálogo permanente entre o imaginário dos contos tradicionais portugueses e o

enfoque em questões prementes e transversais às sociedades.

As suas influências são múltiplas mas importa salientar o cruzamento que todas elas

enfocam nas “lutas pelo poder subjacentes às relações entre os sexos e também entre as

gerações”102

num lugar onde a família é “o microcosmos da vida social e é sem dúvida o

101

De nacionalidade portuguesa, Lila Nunes começou por ser enfermeira de Victor Willing e após a sua

morte em 1988, tornou-se modelo de Paula Rego. 102

ROSENGARTEN, Ruth, Compreender Paula Rego in Compreender Paula Rego: 25 Perspectivas. –

Sintra: Fundação de Serralves/ Jornal Público, 2004, p. 7.

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Casa das Histórias Paula Rego Tomo I

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

80

romance familiar que sustenta todas as outras relações”103

. Desde séries como Óperas104

ou o Macaco Vermelho105

produzidas durante a década de 80 onde estas relações

surgem de forma alegórica e ironizada quer pelos seus personagens através da

personificação do ser humano na figura animal, quer pela expressividade colocada na

técnica, às figuras da década de 90 em obras como a série do Crime do Padre Amaro, de

maior comprometimento e maturidade na revelação de relações ambíguas onde a força

da mulher e a fragilidade do homem são expostas socialmente, em todas elas se debatem

as questões de género.

E estas manifestam-se de forma clara na leitura da sua obra, quer seja na observação da

figura feminina representada de forma masculinizada, quer seja na relação entre homens

e mulheres pela demarcação do poder numa política do sexo106

, onde são evidentes as

negociações de poder.

Interessa-nos a leitura deste ponto de vista sobre a obra de Paula Rego, dada a

diversidade de interpretações que esta adquire mediante o género do próprio público que

com elas se confronta. Poderíamos abordar outras múltiplas leituras mediante a faixa

etária mas centrando-nos nos públicos-alvo deste estudo, os públicos seniores, tanto nos

públicos entrevistados como nos públicos observados, foi possível denotar as diferentes

reações de indivíduos do sexo masculino e feminino a esta temática. Face à intenção de

Paula Rego de mostrar que “a mulher é uma história por contar”107

, são as mulheres

quem mais rejeita a figuração do corpo feminino e o papel da mulher na sua obra. O

mesmo sucede com os homens perante a representação do corpo masculino revelando

perplexidade e incompreensão perante a fragilidade da figura masculina representada,

em obras como Entre Mulheres108

e não denotando o poder implícito desta, em obras

103

Idem, Ibidem, p. 7. 104

Tomo II, Imagem 5 – 9: Série Óperas (1983, Col. Paula Rego, em comodato na Fundação Paula Rego

– Casa das Histórias Paula Rego, pp. 139 – 140. 105

Tomo II, Imagem 14: Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981, Col. Paula Rego, em comodato na

Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego, p. 143. 106

ROSENGARTEN, Ruth, Alimentando o Adulto Interior: Desenhos e Gravuras recentes de Paula

Rego in Compreender Paula Rego: 25 Perspectivas. – Sintra: Fundação de Serralves/ Jornal Público,

2004, p. 97. 107

POMAR, Alexandre, Amor e Crime in Compreender Paula Rego: 25 Perspectivas. – Sintra: Fundação

de Serralves/ Jornal Público, 2004, p. 94. 108

Tomo II, Imagem 14: Macaco Vermelho Bate na Mulher (1981, Col. Paula Rego, em comodato na

Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego, p. 143.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

81

como Mulher-cão109

, ou pela sua representação na forma animal como sucede em

muitas obras dos anos 80, das quais poderíamos evidenciar exemplos múltiplos, sendo

talvez a mais notável a personagem do macaco vermelho. A figura animal enquanto

figuração do sexo masculino é entendida por ambos os sexos, contrariamente ao que

macaco vermelho representa, como uma forma de diminuição do sexo masculino.

Embora esta diminuição possa estar presente em diversas obras, ela não se apresenta

como uma leitura unilateral. As obras “contam uma história, um conto universal de

amor e traição, segurança e insegurança no seio das relações familiares”110

não nos

permitindo identificar de forma generalizada um sexo forte e um sexo fraco, sendo as

personagens vítimas das suas próprias ações e nesse sentido do desenrolar da narrativa.

Esta multiplicidade de entendimentos e leituras permite através da obra de Paula Rego

rever e perceber os papéis atualmente desempenhados por homens e mulheres na

sociedade onde se inserem, na construção de um maior e melhor entendimento do eu e

do outro e das suas relações.

Pois tal como sucede na obra de Paula Rego, o indivíduo define-se a si mesmo pelas

relações que estabelece com os outros111

. E essas relações podem ser (re)vividas

mediante a memória e a relação com a imagem, verificando-se uma vez mais a

importância da obra de arte enquanto forma de linguagem. Connerton112

defende a

importância das imagens como legitimadoras de uma ordem social, e no âmbito da

memória dos grupos, as imagens do passado podem legitimar uma ordem social

presente, a partir de uma memória social comum. Neste sentido podemos observar a

obra de arte e aqui a obra de Paula Rego, como legitimadora de uma ordem social, ou

como perturbadora no nosso entendimento da sociedade e dos papéis desempenhados

por cada um, quando reveladora de realidades que tendemos a combater.

Mas como indica a própria artista a sua obra deve ser entendida como “um texto aberto,

um repertório de imagens e personagens que, embora criadas por ela em ocasiões

específicas, têm no entanto uma vida própria e mantêm-se abertas a novas

interpretações”113

.

109

Tomo II, Imagem 30: Mulher-cão (1994, Col. Fundação Paula Rego – Casa das Histórias Paula Rego),

p. 151. 110

BRADLEY, Fiona, Paula Rego, Lisboa: Quetzal Editora, 2002, p. 19. 111

LAPA, Pedro, Fabulações das muitas figuras na obra de Paula Rego in Compreender Paula Rego: 25

Perspectivas. – Sintra: Fundação de Serralves - Jornal Público, 2004, p. 15. 112

CONNERTON, Paul, Como as Sociedades Recordam. – Oeiras: Celta Editora, 1993. 113

BRADLEY, Fiona, Paula Rego, Lisboa: Quetzal Editora, 2002, p. 26.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

82

10. Projeto Maiores

No sentido de dar resposta às necessidades sentidas, foi elaborada uma proposta, com

vista à criação de atividades que encetem uma nova relação entre museu e públicos

seniores. Tomando como ponto de partida, a Casa das Histórias Paula Rego, trata-se no

entanto de uma proposta transversal aplicável a diferentes realidades museológicas.

Verificando-se a relação direta entre projetos de continuidade e a fidelização dos

públicos através da criação de hábitos culturais e da sua melhor compreensão das

coleções, propomos a elaboração de um projeto de continuidade, cuja base assenta no

trabalho desenvolvido desta forma entre a CHPR e a comunidade escolar, através de

projetos como o Projeto Anual de Escolas, adaptado à realidade da comunidade sénior.

A proposta designada de projeto Maiores poderá ter aplicação prática na programação

d’O Ateliê. As propostas aqui elencadas têm a sua génese na perceção da realidade

quotidiana dos públicos da CHPR e consequentemente na compreensão da necessidade

de fidelização do público sénior, visto tratar-se de um público em potencial crescimento,

dado o cada vez maior envelhecimento demográfico.

Os objetivos principais do projeto Maiores na Casa das Histórias Paula Rego são:

a) Compreender a obra de Paula Rego;

b) Construir um sentido de pertença face a este espaço museológico por parte da

comunidade sénior.

Ao nível de uma prática museológica generalizada um dos objetivos fundamentais é a

criação de uma relação de autonomia cultural e simultânea apropriação do espaço

museal por parte destes públicos, transformando a realidade cultural numa realidade

quotidiana e educacional para esta faixa da sociedade.

Dado ser um projeto de continuidade, o projeto Maiores poderá ter várias edições, as

quais permitirão o seguimento de participantes de edições anteriores e/ou a integração

de novos interessados.

O projeto terá um novo tema a cada edição, condutor das ações a realizar. Os temas

elencados na CHPR terão como ponto-chave a perceção dos públicos seniores da obra

de Paula Rego, de onde se destacam atualmente 3 temas:

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

83

a) Género

b) Idade

c) Família e sociedade

No que concerne à sua calendarização, o projeto Maiores será composto de 3 fases. A

primeira será pontuada por uma reunião de apresentação do projeto, aberta a toda a

comunidade sénior e seus cuidadores.

Esta terá como objectivo dar a conhecer o projeto, apresentar o tema que servirá de

mote às ações desenvolvidas, e elencar todas as etapas do mesmo. Segundo os moldes

desenvolvidos pel’O Ateliê em projetos de continuidade já decorridos, uma vez

apresentado o projeto, prevê-se a entrega de uma carta de compromisso, a qual se

pretende que funcione como elemento simbólico de uma relação de continuidade entre

museu e a comunidade.

A duração total de cada edição do projeto será semestral e contará com a realização

mínima de 1 atividade mensal e máxima de 2, perfazendo um total máximo de 12

atividades no total. Cada atividade não deverá exceder a duração máxima de 2 horas, e

terá a duração mínima de 60 minutos (tabela 11).

Tema | Questões de Género na Perceção da Obra de Paula Rego

Duração Reuniões Atividades

Reunião de Apresentação do projeto Maiores

1º mês

Visita orientada: Apresentação da colecção e projeto arquitetónico

2º mês

Visita Ateliê: As questões de género na obra de Paula Rego

3º mês

Workshop: As questões de género na sociedade contemporânea

4º mês Reunião Intercalar: Balanço do projeto e entrega de fichas de avaliação do mesmo.

Sessão de debate: Género, o observador e a arte

5º mês Ateliê de Continuidade

Ateliê de Continuidade

6º mês Reunião Final: Avaliação do Projeto. Apresentação Pública do Projeto

Tabela 11: Projeto Maiores: Tabela cronológica de atividades

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

84

Quanto à tipologia das atividades a realizar, esta não dependerá apenas das exposições

patentes e do tema de trabalho, mas de igual forma da programação da instituição

museológica, no sentido em que se tentará sempre estabelecer uma relação entre a oferta

educativa existente e as necessidades do projeto de forma a potenciar as propostas dos

serviços educativos no trabalho com a comunidade sénior.

No seu início o projeto prevê um primeiro contato com as exposições e/ou acervos, sob

a forma de visita, dando a conhecer os espólios. Na CHPR será assim apresentada a

artista e o seu percurso, bem como o edifício e o seu projeto arquitetónico a todos os

participantes (tabela 11).

No término do projeto prevê-se uma apresentação pública à restante comunidade dos

resultados obtidos, cujos protagonistas serão, além do próprio serviço educativo do

museu, os seniores que participarão neste desafio cultural e educativo.

Enquanto os projetos realizados com a comunidade escolar se desenvolvem entre o

museu e a escola, no caso dos públicos seniores eles serão desenvolvidos no espaço

museal, para firmar a fidelização ao “lugar” e a continuidade de atividades irá refletir o

trabalho desenvolvido durante o semestre (tabela 11). No âmbito escolar, os projetos de

continuidade com uma instituição museológica surgem como um espaço extracurricular

inserido na educação formal dos participantes. No caso dos públicos seniores este

assume um papel primordial na criação de hábitos e de uma autonomia cultural e social,

com um forte reflexo comunitário, que poderá estender-se às famílias dos participantes,

gerando assim outros públicos para a cultura.

Na aplicação prática à programação da CHPR a realização de um ateliê de continuidade,

vai ao encontro da programação já desenvolvida pel’O Ateliê, dirigida atualmente a

crianças em idade escolar, permitindo também um alargamento etário nesta oferta, ainda

que fora do seu contexto tradicional (as férias escolares do público infantil).

As atividades desenvolvidas independentemente da sua natureza, terão como premissa

fundamental o cruzamento entre os diversos universos adjacentes a uma coleção, e

outros universos da realidade do público-alvo: escrita, literatura, desenho, pintura,

ciência, investigação, cinema, teatro, ou outros, salientando-se a importância de uma

abordagem transversal permitindo uma multidisciplinaridade na mediação.

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Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

85

11. Conclusões Finais

A presente dissertação de mestrado teve como objetivo perceber de que forma os

indivíduos seniores se relacionam com a realidade cultural da comunidade em que se

inserem, partindo do pressuposto de que o envelhecimento demográfico é um fenómeno

em rápida expansão e nesse sentido os públicos seniores devem ser encarados como

públicos a privilegiar e a fidelizar. Um dos fenómenos que nos leva a considerar

fundamental a educação na terceira idade relaciona-se diretamente com a aposentação.

Ao chegar à aposentação o indivíduo abandona a vida ativa, podendo este período ser

entendido como tempo de lazer ou período não produtivo. Considerando o conceito de

lazer segundo a sua origem etimológica, verificámos que tendo a sua origem no verbo

latino licere cujo significado é “ser lícito, ser permitido”, entende-se assim o período de

lazer como aquele em que o indivíduo tem a possibilidade de desenvolver atividades

para seu usufruto pessoal, ou seja, que não poderia realizar dentro do período produtivo

seja este de âmbito profissional, social ou familiar. Contudo conforme vimos a

aposentação pode ser vista como um período produtivo, e o conceito de educação ao

longo da vida vem de encontro a esta mesma tendência.

Nesse sentido, e relacionando a dimensão da educação com o papel educativo do

museu, verificámos como este pode ser um agente fundamental à promoção de um

envelhecimento ativo e na criação de novos públicos enraizados na comunidade.

Considerando-se, assim, a Casa das Histórias Paula Rego verificou-se que esta reúne as

condições necessárias à fidelização destes públicos, quer pela sua dimensão mediática,

quer pela sua dimensão arquitetónica e artística. A pluralidade e transversalidade de

conteúdos adjacentes quer ao trabalho de Paula Rego, quer ao edifício projetado por

Eduardo Souto de Moura, permitem a construção de múltiplos significados a partir da

memória social dos grupos. Nesse sentido, a aposta na mediação cultural enquanto

construtora desses mesmos significados revela-se fundamental na criação de uma

relação entre o museu e os seus públicos.

Concluímos, assim, que só através do trabalho desenvolvido com as comunidades que o

envolvem, o museu pode desempenhar plenamente o seu papel educativo, sendo

fundamental uma mediação cultural conhecedora dos seus públicos e das suas

necessidades.

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Verificou-se igualmente que a criação de equipas de serviço educativo residentes como

O Ateliê, contribuem grandemente para a criação dessas relações pois a proximidade

que mantém com os públicos através do trabalho desenvolvido diariamente, permite

uma melhor análise das necessidades sentidas pelos indivíduos e a criação e adaptação

constantes das respostas mais adequadas a essas mesmas necessidades, muitas vezes a

partir do cruzamento de realidades aparentemente distintas mas que pela sua prática se

revelam passíveis de adaptação a diferentes públicos como é o caso do projeto Maiores,

que tem a sua génese num projeto escolar adaptado à realidade dos públicos seniores.

A obra de Paula Rego funciona, neste entendimento, como catalisadora à construção de

novos significados no entendimento da obra de arte, e da importância do museu na

realidade quotidiana dos seus públicos. Porque, acima de tudo, o museu é um lugar de

comunicação e a museologia deve ser encarada “como um compromisso ético e estético

que se deve levar a cabo num constante diálogo entre o museu e a comunidade.”114

114

HERNÁNDEZ, Hernandéz, Francisca, El Museo como Espacio de Comunicación. – Gijón: Ediciones

Trea, 2011, p. 334.

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Casa das Histórias Paula Rego Tomo I

Uma Proposta de Ação Educativa com Públicos Seniores

87

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Outros documentos consultados

Código Deontológico do International Council of Museums (documento eletrónico),

2009 (www.icom-portugal.org).

Folheto informativo da Casa das Historias Paula Rego – Actividades programadas.

Folheto informativo da Casa das Historias Paula Rego – Apresentação das salas.

Guia do Voluntariado do Concelho de Cascais, Acção Social e Saúde 2004 (documento

eletrónico), 2004, (www.cascaisenergia.org).

Meios de Comunicação Social

Diário de Notícias

Público

Diplomas Legais

Diário da República, I Série – nº 57, 09/03/1978, Declaração universal dos direitos

humanos de 10 de Dezembro de 1948.

Diário da República, I Série - A – nº 195, 19/08/2004, Decreto-Lei nº 47/2004 de 19 de

Agosto.

Diário da República, I Série – nº 172, 04/09/2009, Decreto-Lei nº 213/2009 de 14 de

Setembro.

Referências Electrónicas

Cascais Energia - www.cascaisenergia.org

Câmara Municipal de Cascais – www.cm-cascais.pt

Casa das Histórias Paula Rego - www.casadashistoriaspaularego.com

Diário da República Electrónico - www.dre.pt

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa - www.priberam.pt

ICOM Portugal – www.icom-portugal.org

Instituto Nacional de Estatística - www.ine.pt

International Council of Museums - http://icom.museum/

Observatório das Actividades Culturais - www.oac.pt

Pordata, Base de Dados Portugal Contemporâneo - www.pordata.pt