Cartilha de Apresentação do XXVIII ENECS Fortaleza

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A Formação e Atuação do Cientista Social

como Instrumentos de Transformação!

O que temos estudado e onde temos atuado? Essa é a pergunta inicial que dá corpo ao tema do 28º Encontro Nacional de Estudantes de Ciências Sociais – ENECS: A formação e Atuação do Cientista Social como Instrumentos de Transformação, por entendemos que se faz fundamental, nos dias como os nossos, de precarização total da nossa formação e necessidade de se repensar o papel social de um cientista social, procurarmos debater e compreender qual o papel a ser cumprido por nós.

Para que e para quem temos nos formado e atuado? Onde está a relação entre o que a sala de aula nos proporciona e a realidade que temos encontrado no nosso mercado de trabalho? São muitas as questões colocadas, poucos os debates aprofundados sobre isso!

Antes de tudo é preciso nos debruçarmos um pouco sobre a conjuntura de nosso país e as implicações diretas em nossa formação. É preciso saber que o ensino superior no Brasil passa por uma grande reforma que procura atender as novas demandas da conjuntura econômica nacional. Os dez anos consecutivos do Partido dos Trabalhadores no executivo trouxeram elementos que devem entrar em nossa análise ao pensarmos em que educação

estamos buscando ao defendermos uma educação pública, gratuita e de qualidade.

A chamada Reforma Universitária aplicada pelo governo Lula e continuada na gestão Dilma procurou consolidar as bases de um crescimento econômico nacional que exigia uma demanda de força de trabalho especializada para dar conta da nossa dinâmica interna. Tal crescimento econômico baseou-se principalmente no fortalecimento de um mercado interno pautado no endividamento da classe trabalhadora (através de crédito e afins) e aumento do lucro da burguesia nacional. Na educação não poderia ser diferente...

Através da falácia da Educação Para Todos, o governo Lula/Dilma aplicou programas de bolsas e expansão universitária que pouco mais fizeram do que maquiar o problema geral da educação, sendo ele o escasso planejamento educacional no país e a precarização estrutural e do profissional da educação. Surgem programas como o ProUni e o FIES* que procuraram inserir no ensino superior milhares de trabalhadores brasileiros através do sistema de bolsas financiadas/crediadas pelo Estado... em universidades particulares! Assim, como quem paga a banda escolhe a música, acabou-se por criar um inchaço nas universidades particulares

não condizente com a realidade de precarização das universidades públicas brasileiras, aumentando o lucro dos empresários da educação e diminuindo a qualidade da mesma. Para fechar o pacote surge em 2010 o SISU, na tentativa de democratizar o ensino público através de um processo unificado de vestibular, que não dá conta, nem de longe de suprir as necessidades de permanência universitária para estudantes que muitas vezes deixam suas cidades natais para estudar em outras cidades e até mesmo regiões do país. Pintam-se as paredes e não se concertam as goteiras!

Mas e ai, o que a Formação do

Cientista Social tem a ver com isso?

Dentro dessa lógica geral de precarização do ensino superior, cursos de graduação em ciências sociais de todo o Brasil vem passando por um intenso processo de Reformas Curriculares que se pautam na ideia de tecnicização do ensino superior, através de Projetos Políticos e Pedagógicos cada vez mais precarizados e fragmentados, seja pela total dissociação entre bacharelado e licenciatura, seja pela divisão dos cursos pautada pelas três grandes áreas das Ciências Sociais: Sociologia, Antropologia e Ciências Políticas.

Vivemos um esvaziamento cada vez maior do conteúdo que a nós é proporcionado em sala de aula e um distanciamento cada vez maior de uma prática reflexiva, fazendo com que a nossa formação fique refém de um pragmatismo que muito pouco procura

questionar as bases estruturais da sociedade em que vivemos, justamente por não se propor a isso.

Mais do que nunca, se faz necessário uma resposta a tudo isso, mais do que nunca se faz fundamental debatermos que educação queremos para podermos dizer que sociedade queremos ter!

E me organizando posso desorganizar!

Dessa forma, convocamos a todxs estudantes de Ciências Sociais do Brasil a somar forças na luta por uma formação qualificada para uma atuação potencializada! Entendemos que é no processo formativo que encontramos a base de nossa atuação profissional futura e, enquanto estudantes de ciências sociais é preciso organização, formação e luta para intervirmos diretamente na transformação da sociedade que nos rouba o direito de aprender e ensinar, fazendo de nós espectadores desse espetáculo de horror.

Apenas através de nossa organização contínua é que poderemos fazer de nossa atuação um instrumento de transformação!

As bandeiras da ANECS e a “Formação e a Atuação do

Cientista Social como instrumentos de transformação”

estão interligadas.

Durante o ENECS Santa Maria 2012 ao debatermos sobre possíveis bandeiras que poderiam servir de mote para mobilizar os cursos pelo Brasil durante esse ano, chegamos a síntese de que duas pautas contemplariam essa demanda a nível nacional.

Um fato que está bem próximo a nós é a Copa do Mundo de 2014 que será sediada pelo Brasil, já podemos acompanhar devido ao megaevento uma série de investimentos em obras de estádios, aumento da malha viária de várias cidades, a quem defenda até uma Copa humanizada, porém, essas obras estão sendo usadas como mote para fazer uma verdadeira “limpeza social”, potencializando os processos de remoções no Ceará e no Brasil, colocando para nós uma série de questões em evidência, dentre elas o próprio caráter de classe do Estado que submete todas as suas leis e concessões a serviço da burguesia que ganha em cima desses megaeventos e das remoções causadas por eles, trazendo como consequência fatalidades que atingem principalmente a classe trabalhadora.

Colocado esse exemplo, temos acompanhado processos de remoções causadas pela Copa do Mundo em Fortaleza, onde estamos vendo de perto uma verdadeira limpeza social: vinte e duas comunidades urbanas sendo removidas por conta de uma obra de mobilidade urbana colocada como necessária para o evento acontecer em Fortaleza, sendo assim um caso concreto da intervenção dos mecanismos do Estado no Ceará.

Acompanhamos também o processo dos índios Pitaguarys na cidade de Caucaia, no Ceará, por conta de uma reintegração de posse

de uma empreiteira de mineração, mostrando uma conjuntura agudizada de processos de remoções estimulada por esse movimento do mercado para o Brasil. Nesse sentido a primeira bandeira geral que é

apontada: “Contra a remoção de

comunidades rurais e urbanas” vem no sentido de entendemos que a ANECS se posiciona contra as remoções, defendendo o

ponto de vista da classe trabalhadora que é a principal afetada pela faxina social imposta pelo Estado.

Dito isso, outra pauta histórica de nosso movimento estudantil de Ciências Sociais envolve diretamente a nossa formação e

atuação: “Ciências Sociais no Ensino

Médio”. Vários registros do MECS nacional (desde 1968) nos mostram que essa é uma pauta histórica e infelizmente longe de ser solucionada. Essa bandeira vem como um estímulo a pensarmos nossa formação profissional e como ela vai se dar na prática. Devido a obrigatoriedade do ensino da Sociologia no Ensino Médio a partir do ano de 2008 nos deparamos com algumas reflexões à respeito dessa demanda. Não estaríamos fragmentando nosso conhecimento quando defendemos somente a “Sociologia” no Ensino Médio? Para além da questão linguística, será que essa demarcação não seria um resultado de uma fragmentação que nossa Ciência sofre ao sair da academia? E mais, como anda a nossa situação profissional no Ensino Médio?

No Ceará existem casos de professores de Matemática que ministram a disciplina de Sociologia, o que nos mostra que infelizmente estamos longe de dar conta dessa nossa pauta histórica.

Pensando nesse dois pilares, acumulamos que o tema “Formação e atuação dx Cientista Social como instrumentos transformação”

abarca o lado formativo do Cientista Social, entendendo a necessidade de se pensar, como anda nosso conhecimento de pesquisa e de ensino e uma de nossas áreas de aplicação que é no Ensino Médio, fortalecendo também nossa atuação profissional, demarcando o nosso local de ação para além de corporativismos, e entender como anda nossa atuação enquanto investigadores e sujeitos de uma realidade colocada e construída socialmente na tentativa de compreendemos nosso papel na sociedade capitalista na qual vivemos para que nos

tornemos finalmente “Cientistas Sociais perigosxs”!

Metodologia do Encontro

Desde o ENECS BH, em 2011, os encontros nacionais de ciências sociais tem passado por uma alteração em sua dinâmica e funcionamento dos encontros.

A ideia central é potencializar as discussões que acontecem durante ao encontro afim de que de cada encaminhando haja uma continuidade efetiva durante o intervalo de um ano que separa um encontro nacional de outro, além de uma maior participação de encontristas.

Assim, adotamos para os espaços do MECS os fragmentos do método Josué de Castro, na perspectiva de melhorarmos os nossos espaços e contribuímos da melhor forma possível na construção de um Movimento Estudantil de Ciências Sociais realmente perigoso!

Mas em que consistem os

Fragmentos do Método Josué de

Castro?

Os chamados Fragmentos do Método Josué de Castro são a base teórica do que viemos tentando aplicar na prática dos ENECS. Formulados em cima da perspectiva da indissociação entre trabalho intelectual e manual, os fragmentos procuram trazer uma abordagem a cerca da importância dos valores sociais transformadores e da totalidade do processo criativo, procurando somar as duas dimensões do trabalho, ou seja, as atividade manuais (como por exemplo, o cuidado com os espaços do encontro) e as atividades formativas (MESAS, GT's, etc) de uma forma que tais espaços não sejam totalmente separados ao longo do encontro.

Na prática, como isso funciona?

Nos espaços da Articulação Nacional de Estudantes de Ciências Sociais – ANECS, a utilização do método se deu através do mecanismo dos Nucleos de Base (NB's) que consistem na divisão de encontristas em pequenos grupos, responsáveis pela divisão das tarefas manuais e por debaterem, ao longo do encontro, os temas e as demandas que forem surgindo.

Em nossa avaliação, tal mecanismo tem proporcionado uma alteração qualitativa nos debates do encontro, ajudado inclusive, apesar de todas as dificuldades que encontramos, na mobilização e no agregar de encontristas a dinâmica do encontro.

ENECS 2013, Como vai ser?

Procurando aprimorar o método, entendendo a necessidade de acumularmos através da auto-avaliação para a construção do MECS, no ENECS 2013 foram pensadas algumas alterações na aplicação dos fragmentos do método, levando em consideração i) a realidade do encontro; ii) os sujeitos que esperamos encontrar e iii) as necessidades do encontro.

Dessa forma, todxs xs encontristas serão divididxs em QUATRO grandes grupos de trabalho, denominados BRIGADAS, que serão responsáveis pelas TAREFAS GERAIS sendo elas:

1. Alvorada/Animação 2. Controle refeições 3. Organização dos espaços gerais 4. Organização alojamentos

Assim, cada brigada ficará responsável por uma tarefa geral por dia, ao passo que as discussões sobre os temas das mesas deverão ser feitas em grupos menores, denominados NUCLEOS DE BASE (os NB's). Cada brigada se dividirá em TRÊS pequenos grupos para as discussões dos temas do encontro, devendo haver um retorno do debate para o grupo maior, afim de socializar o que tiver sido debatido. Com isso, esperamos haver uma maior participação nos debates e uma síntese qualitativa do que for debatido.

Sobre a discussão de Estatuto

Se tratando de um encontro estatutário, o ENECS 2013 deverá também ser espaço de discussão sobre a proposta de estatuto da ANECS. Contudo, tais discussões NÃO DEVERÂO SER FEITAS NEM NAS BRIGADAS NEM NOS NUCLEOS DE BASE, cabendo as REGIONAIS e as ESCOLAS tal discussão. Procuramos assim, evitar confusões entre posicionamentos e potencializar o debate tal como vem sendo construindo dentro de nossa articulação.

Contatos

Blog: enecs2013.wordpress.com

Facebook: ENECS Fortaleza

E-mail da C.O.: [email protected]

AT's: Apresentação e discussão de trabalhos acadêmicos que se relacionam com as temáticas traçadas pela Comissão Organizadora que pensou em contemplar o máximo de possíveis produções na área de Ciências Sociais e humanas. A apresentação será acompanhada por um debatedor que tenha aproximação com a temática. Os debates acumulados serão levados para os Grupos de Discussão (GD's).

GD's: Grupos de Discussão das temáticas determinadas pela Comissão Organizadora e do acúmulo dos trabalhos acadêmicos apresentados no espaço do dia anterior (AT's). A síntese do que for discutido será levada para a Plenária Final.

NB's: Núcleos de Base é um espaço onde haverão discussões, e posteriormente socialização delas, sobre as temáticas da programação do dia no encontro. O NB funciona como Tempo Estudo e Tempo Reflexivo das atividades do dia e da manutenção do encontro. Ele é pensado dentro da experiência da aplicação de uma visão do Método Josué de Castro.

Espaço auto-organizado de mulheres: Momento destinado exclusivamente para as mulheres debaterem questões relacionadas à opressão de gênero e criarem acúmulo enquanto Mulherada da ANECS.

EAR: Espaço de Articulação Regional, momento de articulação do movimento estudantil a nível regional. As propostas resultantes desse espaço serão encaminhadas para a Plenária Final.

EAR1: Espaço das regionais, para avaliação do período de um encontro a outro e de comunicação quanto ao Estatuto e as instâncias da ANECS.

EAR2: Espaço das regionais, agora para planejar sua organização no próximo período a partir das

deliberações da plenária, assim como avaliar o encontro.

EAN: Espaço de Articulação Nacional, momento de articulação do movimento estudantil a nível Nacional. As propostas resultantes desse espaço também serão encaminhadas para a Plenária Final.

EAN1: Espaço para apresentação do acumulo da ANECS nesse período, assim como debate sobre a importância de se organizar no MECS.

EAN2: Espaço para socialização da discussão de estatuto feitas a nível regional e também a nível estadual ou por escola.

EAN3: Espaço após a Plenária Final que visa a organização para o próximo período, com a reunião de todas as regionais, para que se pense a ANECS e seus organismos, ou seja, suas regionais, de maneira dialógica e não aditiva.

Culturais: Espaço temático de socialização que ocorrerá ao final das atividades diárias.

Vivência: Momento de contato com realidades importantes para xs encontristas, com visita a locais da cidade que resgatem temáticas pertinentes para nossa formação acadêmica e política.

Plenária Final: Espaço de deliberação do que foi discutido durante o encontro e de construção do estatuto da ANECS.

Mesas Redondas: Espaços onde o primeiro momento é de caráter expositivo, com a presença de pelo menos três membros para expor o conteúdo pretendido. No segundo momento deverá acontecer um debate gerando uma síntese dos conteúdos ao final. As temáticas das mesas são atravessadas pelo tema geral do encontro: A formação e a atuação do cientista social como instrumentos de transformação.

Anotações