CAROSO causalidade

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WAZANA, A. (2000) Pl.rysicians and the pharmaceutical industry - is a gift ever just a g1fÍ? JAMA,2B3 (3): 373-380. WEATHERALL, D. (1995) Science and the quirt art: the rlle of medical research in health care. New York: W. W. Norton & Co., Inc. l-d. ttt- it r lr ,i /--(:L l{.r.. I I ' .:.\ I .i "},lem Íudo na vida lem explicaçã0": explorações sobre causas de doenças e seus signiÍicados' Carlos Caroso Núbia Rodrigues l.laomar Almeida-Filho Causas e signiÍicados Os limites da explicação cultural, colocados na frase de um interlocutor de pesquisa2 que tomamos de empréstimo para nosso título, no que se refere às interpretações de causas para os problemas mentais, constituem o objeto de análise do pre- sente artigo. Nossa análise específica sobre as explicações das causas dos sofrimentos mentais/emocionais baseia-se na inter- pretação de dados coletados com a aplicaçáo de prototipos com- portamentais, organizados em categorias transculturais I Os estudos que realizamos têm apoio do CNPq, Processos n"" 524.250/96- (N$ e 521,225198. Participamos de um programa de pesquisa únculado ao INECOM - International Network lor Social Epidemioloigy and Community Mental Health, coordenado por Gilles Bibeau (Université de Montreal) e Ellen Corin (McGill University), do Canaclá. Na Bahia o pro- gpama é coordenado por Naomar Almeida-Filho e Carlos Caroso do Insti- tuto de Saúde Coletiva da UFBA. 2 São as palavras de um lavrador que em urrr momento de sua vida experi- Ínentou uma perturbação e loi trataclo por um terapeuta popular. 144 145

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Texdto sobre causalidade das doenças.

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  • WAZANA, A. (2000) Pl.rysicians and the pharmaceutical industry -

    is a giftever just a g1f? JAMA,2B3 (3): 373-380.

    WEATHERALL, D. (1995) Science and the quirt art: the rlle of medical research inhealth care. New York: W. W. Norton & Co., Inc.

    l-d. ttt- it

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    "},lem udo na vida lem explica0":exploraes sobre causas de doenas e seus

    signiicados'

    Carlos Caroso

    Nbia Rodrigues

    l.laomar Almeida-Filho

    Causas e signiicados

    Os limites da explicao cultural, colocados na frase deum interlocutor de pesquisa2 que tomamos de emprstimo paranosso ttulo, no que se refere s interpretaes de causas paraos problemas mentais, constituem o objeto de anlise do pre-sente artigo. Nossa anlise especfica sobre as explicaes dascausas dos sofrimentos mentais/emocionais baseia-se na inter-pretao de dados coletados com a aplicao de prototipos com-portamentais, organizados em categorias transculturais

    I Os estudos que realizamos tm apoio do CNPq, Processos n"" 524.250/96-(N$ e 521,225198. Participamos de um programa de pesquisa nculadoao INECOM

    -

    International Network lor Social Epidemioloigy andCommunity Mental Health, coordenado por Gilles Bibeau (Universit deMontreal) e Ellen Corin (McGill University), do Canacl. Na Bahia o pro-gpama coordenado por Naomar Almeida-Filho e Carlos Caroso do Insti-tuto de Sade Coletiva da UFBA.

    2 So as palavras de um lavrador que em urrr momento de sua vida experi-nentou uma perturbao e loi trataclo por um terapeuta popular.

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  • clcse^vril'iclzrs pclos pcsq.isaclorcs filiardos ao INECToN,I:r crn clib-rcntes pascs c situzr.cs. conr basc crr Lrma ieituur sirr-rplilicaclzrclos d:iclos clo rrosso ?rcLrr\/o dc pesquisa, busca.rnos arprescnta.r ci.lcrl)rctar alen.ras nocs sociopcsso;iis ,o criscurso cla causa-lirl.clc rlas cloc.as, sit*a.do a, cxplic:io rlc czrusas a par-tir rietr's pontos clc vistzi tcrico-cttrr-rer:iicos.() pr-i,eiro, r:o,sidera'clo , traclio clis.iPli,ar clhssicackrs cstuclos de carrsaliclaclc rriheico-rcligios;r, claqirclcs cluc po-de,r ser consiclc,zrclos os pri.'rlrclios c.lir a.troPoiogi:r c-la szirclc,aird. nzrs Primciras clrc.clas clo s(:c.rl. XX (Rivcrs, l g24; Ev.rrs-Pritcha.cl, l978). o st:g.rcl' analis. :rs co.c.Pcs ck' 'ar-rsasol.rjctivas, tul co'r'ro ploposto lrclos tcricos cla antr.Poloeizrrlrdiczr zrmclicanzr, a Partil cla srguncla mctaclc clo scnlci XX(Fostr::r' c r'rclcrso*, 197u). () tcrcci.r, rol)l'(,sc-.ta zr clisc.trssomais :orrtcr-npor'nca, r'ci:rr:-sr,' s nocs cla ca.usirliclzrclc it par.-tir da cxpr:rinc:ia 1;cssoal ao lcre.o cla cxpcrir.rcia cla clocna,sr--nclcr csta rctlatacla Pcla catcgoria xtfi.intcn.to. listu rltirla c:on-ig'ura-sc ct)nto rlmzt catcgoria ltroccsstral, isto . a ltar.tir clacxpc:r'inciii clo soliirrrcrrto, a pcsso,r c1r-rc soi'c c as qut: cstocm torno rlcl:r vo cl:rborando novzrs intc.1)rct:rrc:s c moclcloscxPloratririos, a ricpr:nclcr dzLs situa:r.,s alll(r sc ,lI)r'cscnti,un ao

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  • sade, doena e tratamento, tendo como referncia o quacirodas suas experincias pessoais e as referncias da sua cultura.Alm das quatro questes levantadas por Sindzingre e Zemplni(op. cit.: 1), colocamos uma quinta perglrnta que acreditamosser de especial relevncia para a busca de modelos de explica-o da doena, isto : o que e c0m0 se procura e se obthn a cura?

    Neste ponto) nos aproximamos de Kleinman e Good,quando eles reconhecem que "profundas diferenas so encon-tradas entre as culturas no que se refere organiza"o sociai e experincia pessoal (...) estruturadas diversamente como reali-dades psicolgicas, que se comunicam em uma grande diversi-dade de idiomas, relacionados a variados contextos locais derelaes de poder, interpretados e avaliados como realidadessignificativas, fundamentalmente diversas" (1985: 492). EIeschamam ateno para a nccessidade de se intensificarem osestudos antropologicos sobre o fenmeno da depresso em di-ferentes culturas, ao mesmo tempo em que buscam afastar aspossveis crticas ao relatismo, de certo modo associado a estatendncia, ao afirmarem que no suficiente saber que a de-pruso se apresenta de forma distinta nos diferentes contextosculturais, constituindo, portanto, uma categoria cultural parti-cular a cada cultura; alm e a partir dessa compreenso, deve-se buscar alcanar seu significado.

    As maneiras de representar e pensar os fenmenos queenvolvem a vida social, inclusive os que escapam ao controle,tais como a doena, o infortnio e a morte, reproduzem res-postas culturais ao impondervel, e tm sido estudadas por an-troplogos que atuam no campo que se convencionou chamarde antropologia mdica, para os americanos, ou antropologiada doena, para os franceses. A diGrena bsica entre estesdois campos estaria no fato de o primeiro buscar entender asintcrfaces possveis entre o conhecimento popular e o conheci-mento mdico cientfico sobre a doena e suas causas, comobjctivos mais diretamente voltados execuo de programas

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    de sade para pases em clesenvolmento. O segundo campopreocupar-se-ia muito mais corn o significadda doena parao doente, de acordo com deterrninado contexto.

    Na concepo dos antroplogos mdicos norte-america-nos, a compreenso do fenmeno da doena requer que sejampensados os conceitos de health care sltstemristo , sistema de cuida-dos com a sade, e disease theorl, ou teorin da doena, para se com-preenderem melhor as explicaes apresentadas pelos indiduos,incluindo a interpretao da causalidade e a mobilizao paraa cura (Foster e Anderson,197B; Kleinman, Good, lgB0).

    Como siserna de cuidados co,m a sade entende,se um con-junto de aes associadas doena passveis de interpretaono contexto de determinado sisterna mdico. Tal como defini-do por Foster e Anderson, um "sistema de cuidados com asade uma instituio social que envolvc a interao cle certonmero de pessoas, no minimo o paciente e o curador, parapromover a mobilizao dos recursos do paciente, sua famliae a sociedade, no sentido de lazJos suportar seu problema,,(op. cit.: 37). Por outro lado, a teoria da doena corresponde explicao e s crenas que as pessoas tm sobre as doenas,suas concepes sobre causas e possibilidades na escolha dotratamento. Em outras palavras, um sistema de cuidados coma sade, associado a uma teoria da doena, constitui e integraa forma de interpretao e enfrentamento da cloena compar-tilhada socioculturalmente,

    Embora estes dois conceitos venham sendo utilizados porantroplogos de diferentes tcndr-rcias na antropologia mdica,como Kleinman (1980) e Young e Garo (tgg4), enrre outros,so considerados operacionais na medida em que enfatizam osaspectos socioculais na explicao da doena, suas causas eescolhas teraputicas. Eles do pouco destaque ao que se refereaos aspectos intersubjetivos na construo da explicao, ouseja, a maneira como o doente se v quando fala sobre sua

  • doena, e em grande medida, tambm negligenciam as dife-rentes formas de mediao entre as concepcs de causa.

    O debate da antropologia mdica americana sobre aquesto da causalidade se erigiu com base na dicotomia entreas explicaes naturalsticas e explicaes personalsticas, e selimitou a reproduzir a crtica aos antroplogos que apontavampara uma maior importncia, conferida pelos nativos, cha-ntada explicao personalstica da doena, isto , a dimenso m-gica, religiosa e sobrenatural da vida cotidiana, em detrimentoda explicao naturalstica, ou seja, a explicao que privilegia aordem natura-l das coisas. Ao postular raclicalmente tal dicotomia,os antroplogos mdicos terminaram negligenciando os aspec_tos no discurso sobre a causalidade, que esto mais voltadospara a explorao da experincia da pessoa a partir cla narra-tiva acerca da doena.

    Uma das principais preocupaes dos antroplogos m-dicos norte-americanos era demonstrar que os povos de socie-dades no-ocidentais poderiam construir um discurso objetivosobre a doena. Contudo, importante observar que tal dis-curso objetivo est carregado da subjetividade da pessoa quela, que, por sua vez, uma dentre as vrias formas de reali-zao possveis dos cdigos, representaes e comportamentosque so fornecidos pela cultura. Por um lado, Foster apontapara a dificuldade em se contrastarem teorias personalsticas comteorias naturalsticas (vide Currer e Stacey, lgg\: 74), em razodas caractersticas heterogneas e autnomas das crenas que assustentam; por outro, tenta escapar dos tradicionais modelosde etnocincia, que savam sutilmente legitimar as taxonomiasde folk, pela comparao/equivalncia com as taxonomias ci-entficas. Entretanto, esta so impe, implicitamente, umalricrarquia na qual as teorias objeuas, ou naturalsticas, seriam.rt$teriores s teorias mgtco-religio.ra.. Em outras palawas, ao sepostular csta tal capacidade dos natiuos para pensar as doenasclc rn.clo objetivo, prilegia-se a explicao naturalistca, limi-

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    tando.se, ao mesmo tempo, a capacidade interpretativa dosnariuos ao modelo mais comumente relacionado sociedadeocidental.

    Talvez a influncia mais marcante das cincias mdicasna antropologia mdica tenha sido prilegiar no discurso nati_vo sobre a doena aquilo que mais o aproxima do discursocientfico, isto , a suposta interpreta o ,iiairoda causalidade,em prejuzo de outra anlise fundamenta da na realidade sobre_natural. Esta dicotomia parte da assuno do discurso legiti_mador do conhecimento mdico sobre as causas da doena,dificultando a tentativa de vr as concepes sobre causas numap,erspqctiv4 mais integrada ao cntexto cultuial e s e*piri_cias individuais.

    A idia de causalidade emerge no mesmo contexto emque a medicina passa a ser pensada em termos cientficos(Herzlich e Pierret, lgg3:14). Uma das condies bsicas parao reconhecimento dessa cientificidade era afastar totalmente asconcepes de causalidade de origem mgico_religiosas. Amedida que os antroplogos mdicos se aproximarurrido, pra_ iticantes e postulantes de uma medicina cientfica. fo.r*'uor,)poucos assumindo seu discurso e esquecendo que tambm o (discurso cientfico est imbudo de representa sociais patti_ )culares determinada poca e determinado contexto. A este res_peito, Herzlich e Pierret (lgg3) descrevem as concepes dospraticantes mdicos de um dado perodo, cle modo a eden_ciar o carter scio-histrico presente no discurso cientfico: oar podena ser mal,igno e conupto (. . .). A idia de ar corrupto e conup_o central para o discurso mdico por vrios sculos,

    "rp..i_almente em relao s epidemias (lg9l: 77).Nota-se na categoria d.e ar conupto certa proximidade

    teoria dos miasmas, de grande importncia, dentro do discursomdico de determinado perodo, pra se entender a transmis_so de determinados tipos de doenas. Esta concepo nospermite identificar uma teoria da causalidade impregnada derepresentaes culturais.

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    r5t

  • ,r)"rl

    O discurso mdico muda na medida em que mudam ascondies socio-historicas para sua produo. Neste senticlo, odiscurso mdico que explica as causas das doenas se asseme-lha ao discurso popular, na medida em que ambos so socio-culturalmente delimitados. Embora as tcnicas de cliagnosticodc doenas e de causas de doenas possam conferir maior obje-tiuidade interpretao mdica, a explicao biolgica, quandoavaliada a partir do ponto de vista dos doentes, no alcana ouno consegue responder totalmente s questes que remetems origens de uma doena: plr que eu? Por que agora? Estas ques-tes continuam a aparecer quando uma doena ocorre e re-querem uma cxplicao que transcenda o corpo individual e odiagnstico mdico. As respostas vo de encontro a urna buscapelas causas e tornam-se uma indagao pelo significado. Sem-pre tentamos relacionar as cloenas ordem do mundo e ordem social (Herzlich e Pierret, 1993: 75).

    Para quc sc possa construir uma explicao mnima parao fenmeno da doena, os indivduos no necessitam de umconhecimento mdico. Ao contrrio, preciszrm clas imagensfoqlccidas pelo seu meio sociocultura-I, o que signiica dizer qpara que as pessoas possam entencler suas doenas, no lhesbasta somente conhecer os agentes causadores, atravs clas maismodernas tcnicas cle diagnstico, Assim, a experincia dadoena no se resurre ao succsso ou insucesso desta ou daque-la forma de diagnstico ou tratamento) rrras sobretuclo Jetr4lap-arte do mundo social daqucles que a vivenciam.

    O que tentamos edenciar neste trabalho justamenteo modo pelo qual as ilessoas do significado s causas das do-enas para alm do reconhecimento objetivo e do diagnstico'ormal.. lAssim, buscamos entender significaclos da doena noplzrno das experincias pessoais que so compartilhadas social-mcntr--. Neste sentido, poder-se-ia dtzer que a teoria antropol-gir:ir sohrc a cxplicao das causas das doenas , antes cle maisnlrlir, inlr:rprctativa. O antroplogo interpreta as interpreta-

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    es das pessoas a respeito das causas de suas doenas e ascoloca no nvel mais estrito da experincia social.

    Isto no constitui uma novidade na antropologia., umavez que os antroplogos, ao lonso do sculo passado, interpre-taram experincias de aflio, doena, infortnio e morte (deRivers, 1925; Turner, l968; Douglas, 1978; Evans-Pritchard,1978; Foster e Anderson, 1978; Buchilct, 1991; Pool, 1994).Ao lado disso, tambm procuraram entender as respostas soci-almente diversas para esses fenmenos atravs dos significadosde ervas, rituais de cura, magia e feitiaria, da relao entre adoena e o sagrado ou das formas de enfrentamento da doen-a cm diferentes situaes socioculturais e histricas. Claramentepode-se ver a tendncia de muitos estudos que mostram a es-treita rclao entre os objetos de estudo da antropologia dareligio e da antropologia da doena.

    Laplantine considera que na rnaioria das vezes seja im-possvel se ,lar cm concepes de doena, sade e formas detratamento scm que se esbarre em concepes de natureza re-ligiosa e vice-versa, pois para as pessoas, muitas vezcs no huma deinio explcita sobre onde terminam as concepes ecrenas religiosas e onde comeam as concepes e crenas

    .

    rrrdicas. Em suas prprias palavras,aquilo que nos indicamos por reiigioso e o que chamamosde mdico esto estritamente ligados. De fato, o que acon-tcce na imensa maioria das prticas utilizaclas em medici-na popular: o conjunto de ritos de proteo, as pereerinaese as "agens" aos santos curandeiros, o recurso acts,,pttnsettsde .ecrets" dctcntores de lormulas eln que entram o Diabo eDeus mobilizarn signifi cados cxplicitamente religiosos (it-lico no original, 1991:214).

    Por outro lado, o mesmo Laplantine que alerta para anecessidade de se considerar que) do ponto de vista da historiadas prticas,

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  • a funo mdica, desligada da funo religiosa, assume umaautonomia relativ4 e, depois, total com relao a essa lti-;t .";";ma prtica especfica e especializada. Aeventual dimenso religiosa (da medicina), seja sob formasrdqal, seja sob uma nova forma, no absolutamentepercebida pela sociedade, tanto da parte clos que so cura-dos quanto da parte dos que curam, os quais afirmam queso apenas praticantes de uma cincia neutra e objetiva, enada mais (1991: 215).

    As duas citaes levam discusso, na antropologia, so-bre diferentes dimenses do fenmeno da doena e da cllra naperspectiva da religio ou da biomedicina. Primeiro, a inter-pretao popular, religiosa; segundo, a so acadmica ou cien-tfica. Para os mdicos e cientistas, a doena deve ser entcndidae tratada de maneira objetiva e isenta de qualquer conotaoreligiosa. Para as pessoas) contudo, a prtica mdica, seja cien-tflca ou ltopular, passvel de interpretaes que evocam ele-mentos de fe.

    O trabalho do antroplogo, portanto, investigar noos limites, mas as interfaces entre esses dois domnios. Em setratando de pesquisa antropologica) esta diferena est muitomais na nfase dada pelo pesquisador a um ou outro campodo que na realidade em si mesma. Resta, portanto, a opo deestudar as concepes, representaes e prticas em sade naperspectiva da experincia religiosa ou, ao contrrio, estudaras concepes, representaes e prticas religiosas destacandoo comportamento teraputico.

    Quando pensamos que a doena, a morte e o infortnioso passveis de anlise pela antropologia mdica, percebemosque, na maioria das vezes, tais fenmenos e suas interpretaess podem ser compreendidos se inseridos no contexto das crenasrcligiosas do grupo estudado e vice-versa. Esta questo sobreas diiculclades de separao entre o objeto da antropologiarncclic:r -- isto , o comportamento teraputico e daquelecla antropologia da religio, reduzindo, assim, o objeto da pri-

    meira a uma extenso da segunda, levantada por Foster eAnderson (1978) e Pool (1994). Os dois primeiros autores con-sideram que apesar do esforo marcante de pesquisadores, aexemplo cle Rivers (1925), cm demonstrar a necessidade de seestudar a doena e a sade como instituies sociais semelhan-tes a outras quaisquer, a antropologia mdica loi penalizadaenquanto disciplina autnoma, tendo demorado a construir umaidentidade prpria. A razo desse deslocamento estaria no fatode os trabalhos clssicos e precursores da antropologia mdicaserem, na verclacle, sobre sistemas religiosos de sociedades noocidentais (de Rivers, 1924; Evans-Pritchard, 1978; Turner,I e68).

    De moclo semelhante, assumindo o ponto de sta deFoster e Anderson, Poola esclal'ece que

    o foco na ctiologia, e particularmente em etiologiaspersonalsticas abransentes, na etnografia mdica da Afri-ca, conduziu ofuscao da distino entre os domniosda meclicina, da magia e da religio (Pool, 1994: 1 1i)'

    O problema estaria, portanto, r:m pensar que nas sociedades'africanas no haveria explicao para a doena que no fossemgico-religiosa. A pouca nfase nos chamados sistemas natu-ralsticos de atribuio de causaliclade dava a lsa impressode que nessas sociedades, a doena e toda sorte de infortnioseram, principalmente, explicveis a partir de categorias religiosas.

    Esta viso resultou numa dicotomia: causas personalsticasesto para as doenas relacionadas espiritualidade assim comocausas naturalsticas esto para doenas fisicas ou materiais,senclo as explicaes do primeiro tipo mr:ito mais reqentesnas sociedade africanas (Pool, 1994: i09) e as do segundo, pro-

    a Poot (1994: 109-111) lazu..ra exposio das crticas mais cotnuns leitas aautores como Rivcrs, Evans-Pritchard e Turner, baseado em autores comoFoster, Yoder e olltros'

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  • duto das sociedades ocidentais. Em outras palavras, esta con_cepo permitiria dizer que os povos das sociedades no letra_das e no medicalizadas no poderiam produzir um discursosobre a doena que fosse livre de uma so mstica ou religio_sa do mundo, o que subentenderia uma incapacidade ouinapetncia cultural para a racionalizao.

    Todaa, a racionalidade mdica do Ocidente garantiriaa produo de um discurso sobre a doena baseado ..r, .urro,ob,letivas, tais como vrus, bactrias e outros agentes observveisem laboratrio, produzindo um discurso livre clas representa_es culturais/religiosas sobre a doena e suas causas. I)essaforma, no haveria lugar para as representaes cla doena queveiculem explicaes naturalsticas

    . p"rrorrulsticas ao mesmotempo; por exemplo, a concepo de que uma cloena materialpode ser provocada por um agente sobrenatural; ou, ao contrrio,que tm problema materinrpode deixar o esprito vurnerver a odasorte de males, diretamente ou indiretamente relacionados doena.

    Resumidamente, as crticas aos estudos da explicao dascausas nas sociedades aricanas dizem respeito tendncia a seprivilegiarem os aspectos mgico_religioror, o que levaria fal_sa concluso de que os africanos s conseguiriam explicar ascausas das doenas a partir de categorias sobrenaturais, nombito da feitiaria e da magia. gsta viso poderia ser vistacomo, no mnimo, restritiva dos significados atribudos e, con_seqentemente, de explicaes da doena nessas socicdades. En_tretnto, os estudos que tentaram traze lirz as explicaesnaturais para a doena podem ser igualmente restritivos, namedida em que enfatszam rm ,r.rirre.so de causao naturalque no pode ser compreendido isoladamente. I\este sentido,veilcria a pena pensar o discurso e a interpretao sobre as causasclas docnas em pelo menos trs climenses: a) uma dimensomgico-rcligiosa; b) uma dimenso natural; e c) uma dimensopcssoal.

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    Causas das perlurbaes menais e sua explicdo

    Em uma anlise restrita de alguns dados etnogrficos donosso aceryo de pesquisa, examinamos aquelas trs imensesacima mencionadas e como elas se apresentam e interagemnas narrativas sohre perturbaes merrtais, isto , em qr" il._dida uma explicao cle causa pode contribuir para a constru_o da identidade e da representao cla experincia socio_cultural de um indiduo, no contexto das relaes sociais noqual interagem as trs dimenses em causa.

    Podemos observar inicialmente que nossos interlocuto-res constroem narrativas francamente pessoais para farar sobreas_ causas de uma perturbao, uma doena ou um soJiimento.Observamos que a narrativa sobre a perturbao no se limita descrio objetiua de caractersticas, sinais e sintomas exter_nos, sobre os quais aquele que narra no exerce controle al_gum. Assim, a narrativa sobre a perturbao e suas causas antes de tudo uma intcrpretao cle uma ,itraao

    "rr;;*;";de uma experincia 1oci9pe91oal num determinado momento,que reflet -"ito ig. qu.

    " i";;;;" rem de si mesmo.Em muitos casos) tais imagens no poderiam constituir

    referenciais claros para a elucidao objetiva da perturbao ouda doena num contexto mdico_cientfico, por exemplo.IJma narrativa sobre as causas de ma perturbao fisi-ca ou mental/emocional, por exemplo, pode falar muito mais

    solrre a subjaiuidad.e da pessoa que narra do que sobre a doenapropriamente dita' Particurarmente no que se rerere aos sofri-mentos espirituais, dizer que foram p.o.r.u.lo, por um feitiono somente dizerp e s s o a deve r,

    ",*,1"1'"'1il"::ili:ffi 3,l:"ff 'ff ,:ff ;apontil causas mgico-religiosas uma forma de inte.preta_o da realidqde e dos relacionamcnros sociais a p.rr,q*narra) a plrrlir de categorias culturais disponveis

    .rr.., d.r.ri- .

    t5t

  • se perderia a identidade da pessoa Zande . Por outro lado, Bru',xaria, Orculos e Maa... revelou a impossibilidade de se tentarcompreender as noes de sade, doena e cura fora dc umcontexto cultural mais amplo, isto , isolar as concepes sobre ,'doenas do conjunto do universo social mais geral, o que inclui

    i

    CrenaSreligiosas,organzaosocia1epoitica.Desta forma, tomamos como positivo exatamente o que

    os crticos consideram negativo no trabalho de Evans-Pritchard,isto , a idia de que a interpretao das causas da doena, do.sofrimento ou do infortnio est totalmente imbricada na dasocial, havendo sempre parcelas desses discursos que so oriundasda propria experincia social que as pessoas envoldas apon-tarar (Foster e Anderson, l97B; Pool, 1994). Isto nos leva atomar como princpio explicativo das causas da doena a ideiade que sempre haver uma forma de realizao do sujeito nanarrativa e, neste sentido, as explicaes da doena dependcmrnuito mais da pessoa que a est sentindo, descrevendo e falan-do a seu respeito do quc de uma realidacle objetiua, da qualemcrsc o nmeno em questo.

    L Explicaes de causas c0m0 sorimeno da pessoa

    A inter-relao dos elementos que compem o contextosocial c cultural a que nos referimos resulta em formas de ex-plicao para as causas das perturbaes e docnas e do so-

    .frim.ento da pessoa, que podem ser colocaclas em trs categoriasmais amplas, representadas por: 1) causas relacionadas a fen-menos naturais; 2) causzrs relacionadas a fenmenos sobrenatu-rais; 3) causas relacionadas a fenmenos da da sociai da pessoa.

    As causas relacionadas a fenmenos da natureza so aque-las cujo agente causador apontado um rus, uma bactriaou o "tempo". Esta ltima categoria pode ser interpretada tan-l.o como as estaes do ano e as intempries dirias como refe-rcntc ao aspecto externo casa e natureza, as condies de

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    nado contexto, o que leva a pessoa a fazer a seguinte pcrguntahipottica: quais os motiuos que podlnam leuar uma pessoa a anclmzn-clar um trabalho, umfeiti0, urrta ao m.gica contra a minha pessoa?

    Ne ste ponto, reconhccemos ser necessrio retornamos squestes formuladas por Sindzingrc e Zemplni (1992), paraadicionarmos um outro questionamento reconhccendo que aprocura pessoirl pelas respostas visa ao que aqui lormulamossob a lorma dc quatro princpios oricntadores, representadospela:l) descobertu do que h de errado, por assitn diler, com o doente;2) famitiarizao com a inesperada situao atraus da interpretao dos

    sinais foruecidos peLa doena; fonnuho de um discurso explicatiuosobre a doena;

    3) associao do euento funesto ou irdesqjauel a um contexto s\cioculturolmah arnplo;

    4) reconstn4;o da tr@aila ou relorno ao estrLdo inicial, idealizado, isto , condio de pessoa saudael, de ltessoa curada.

    A cura representa, portanto, uma das lorrnas de realiza-o ou atualizao de um moclelo ou ideal cle pessoa que tenhasiclo afetado pela perturbao ou cloena, que tenha sidon-raculado por uma experincia de sofitnento (vide Catoso et al'1998). Nestc sentido, a antropologia clssica tem bons exem-plos que aprcsentam de modo completo um modelo ideal depessoa, um modelo de pessoa afetado pela doena e, por fim,um modelo de pessoa atualizado aps a doena, pela experin-cia do sofrirnento e da cura. Com referncia a este aspecto, ten-tamos resgatar alguns pontos importantes que se rcfcrem construo sociocultura.l da pessoa, a partir da interpretaoclas causas dc doenas c inbrtnios no trabalho de Evans-Pritcharcl (1978).

    Ao trazer a bruxaria para o plano das relaes sociais,l,)vans-Pritchard no quis dizer que os Azande no conseguiamcnxcr{rlr as caLLSas uerdadeiras dos bnmenos, mas que os expli-(:a\/:rru scgundo dctcrminados princpios culturais, sem os quais

    158

  • saneamcnto do espao de rnoradia. Na viso das pessoas, cragcnte cie causao natur:rl tambm est intimamentc rclacio-nado s caractersticas da doena ou a certas prcclisposies doindivduo pirra contra-la. Por outro lado, pode scr entcndidocomo o tcmpo cronolgico e o desgastc biologico natural quetodos ns solremos com o clccorrcr dos anos dc r.ida. Ncsscczrso, o tcrnpo cronoigico zrlur-r cluc r-io sc pocle comb:rter oucvitzrr, sobretudo quando favorece o stirgimento dc vrias do-enas. Em con-rpensao, constitui cxcclcnte comparativo dcvalor entrc os cliltcrentcs eventos que lnzrrczrm a vida de umapessoa) e tamb:rn servc para. rnarcar a tcmporzilidacle socizrl,altcrercs no cstilo dr: vidzr, o zrdvcnto clc docnas c o cncontl'ocorn o clcscouhccido. Assim, o "tctnpo zrntiso" idcalizado c a"rnodernagcm cle hojc" csto ern mtua contradio. Encluan-lo as clocr-rras do tcmi-icl atrtigo cr:,Lm conhcciclzrs, na "ntoder-nagcm de hojc" as cloenits sro "brtrl.tas" c "cstranhas". Oontr,tdo,(r pn:ciso notal'clucr simultanearncnl.e zlo surgitncnto clc dcicn-as "brabas" c "cst.ranhas", "21 rnoclcrnagcm de ho.jc" clispcdc mclhorcs mcios para trat/r-las. O quc no cluer dizer cluecsscs rneios esto accssvcis parzr todos os que ncccssitam ougostarizrn'r de utiliz-los.

    As causas relaciorradas a lenmenos sobrctrerturais so asquc sc rclacioriam a crenas e prticas rcliuiosas, na nredjclac1n quc articulam os domnios da rnagia, da itiaria c dapossesso cm sua rclao com a vida social, o que podc screxprcsso no lraglncnto clc narrativa qLrc tomamos paracxempiificar; "A qucbra do resguardo uma docna matcrial,mas at poclc tcr sido Satans clLrc cochichou em meus ouvidoscluc cra pra cu ir torcer essa roupil, no sol, com seis semat121sdc parida. Ilu no cluvido no."

    As causas relacionadas .r ilnmcnso da rrida social dal)('ssoa poclcrn estar lisadas, em zrlguns nlomcntos, a caracters-ticrs irrclivicluL;ris c outlc.rs :rcorrtetirrrcrltos n)alcantcs na vida doirrtlir,rltro, Prr cxcrnplo, a re.ieio e a dcsiluso atnorosa, cr

    160 t6t

    fracasso econmico, a morte etc. Nesta categoria de causas re-lacionadas da social da pessoa encontramos ainda umasubcategoria que denominamos causas volitivas, isto , quedecorrcm da prpria vontade da pcssoa de cstar ou se apresen-tar doente diante de outros membros do seu grupo social, de-finida por um dos teraper.rtas locais corno doena prll)lsitada,quando ele nos cxplicava as razes para o comportamentomanaco de uma pessoa que se encontrava sob seus cuidadosteraputicos em decclrrncia cle uma crise, apresentando gran-de resistncia a scr tratada e baixo nvel dc adeso aos trata-mentos quc lhe eram aplicados.

    Contudo, no suficicnte afirmar que para os nossosinterlocutores, as pessoas quc so acometidas por sofrimentos es-pirituais, por cxemplo, causados por "agcntes mgico-religio-sos" tais como a ftitiaria ou a possesso buscam tratamentoem casos de culto aio-brasilciro ou em igrejas pentecostais. Ou,invcrtendo o cxemplo. quc urna pessoa acometida por um r0-

    .frinrcnto materi.al, causado por agentes naturais/materiais tais cornoa ao de bactcrias ou a dcgcnerao celular deve ser subme-ticla a tratamento mclico no sctor profissional.

    l'ensar clestc rnodo signiica aplicar o princpio da "ma-gia simptica, horneoptica ou imitativa", que consiste na ideiade que "o scmelhantc produz o semelhante, olr que um efeitose assemclha a sua causa" (Frazer, 1982: 34); isto pouco aiuda-ria pzrra a compreenso dos significados explcitos e implcitosnas narrativas sobre causalidade. Quando uma pessoa la so-brc causas dc doenas, ultrapassa os limites do que pode scrisica ou biologicarnente explicvel, isto , deixa dc lado osagentcs causadores concretos e procura dcsviar para outros fa-tores situacionais que no dependem de cxplicaes cientficasou que no tm implicaes teraputicas precisas. Assim, doponto de vista biomdico, ao se considerarem as dimensesczrusal e fisica da docna, uo se podc desprezar os aspectos

  • r'csjlonsvel pcla. anormzrlidade da pcssoa cloente, tal comot'xcmplificarnos na lcitura do lraemento de narrativa abaixo:"Acho que a clocna cluc ele tem, que ele trouxc dc si naquclarlocr-ra; quc clc trouxe lrrestrro, porquc cle nunca {bi uma crianirrrorrlal, nunczr! Dcscle quzrndo ele comcou a sc entcncler corr.iorrrna criana. elc scmpre bi :rssim".

    A causa principzrl, no fragmento acima, algo inerentelo sujcito. rclevantc rlotar que no h rci:rncia a urrl zrs-pecto clararriente biolgico, or-gnico, por assim dizerr. Nestescnticlo, a ciluszl prir-rcipal um trao quc caractcriza a pcssoa.Podc ser tomzrdo como urra vontade pcssoal: "Ele trouxe nelemesmo (...) clc scrrprc iri assim."

    Nurn outro ragmcnto qLrc scleciona[)os, ao contrrio,hh uma rclaro cxpicita Lnlrc o cornl)ortamento e uma anor-malid:rdc bio)uica, comr podr: sr:r visLo: "O problcma dcla n-icntal. Prolrlcma no c(rrcbro. O problcrna, diz quc o ccrc-lrro cluc no dcsenvolvcur c cntc-r dcr-r cssc problema clelzr, cleno lal:rr c no aprcndcr :r zcr na.da.." Ou: "llu zrcreclito que[- o juizo clelc clr-rc li'irco, clc rcou pcns;urclo... c no arrurnolroutrzr noiva c zrcl,rilo foi indo, bi ir-rclo..."

    l)erstacel-sc no 'iagmcnto clc rtarrativa acirna a cquiva-lncia simtrica. entrc a catc:gorizr problcrr,zr menLal, c probiematerebral. O ccrclrro totnado colno urra cntidaclc orunica bio-lgica qr"re govcrn2l o comportarnenlo. C) no-aprcnclizado dc

    .liutes c papis sociais blisicos atribudo 1lt-to a uma incapaci-rladc incrcntc pcssoa, rnzrs a uma anomalia isica e engloban-tc clo sujeito. Dicrcntcmcnte do primciro iasrncnto. aclui o(:ornportamcnto e complctamentc inclqrcndcntc cla vontadc pes-soal. "]1u acho qric lbi macunrba, porque sc no bssc, clc nolcalia assim, poca clocntc, poca bom."

    Nos dois r'agmcntos do discurso acitna, e causir printi-;xrl c apontada lcvando-sc cm considcrao uma zrnlisc rnaisqlobal cla situao. Pa.ra a pcssoa clllc narra, a pondcrao prin-t ipal cluc leva concluso sobre a "macumba" justamente ir

    13

    sr-rbjetivos (Foucault. 19t37) e imponderr,eis que so signiicati-vos parzr o doente.

    Em muitos casos, o discurso da explicao das causasganl'ra sisnificados a partir do no-reconhecimento clc causascxplcitas. No rrrro encontrarlrlos rclatos sobrc c:.rusa quc se.rsscltz1m na impossibilidaclc de sua idcntiicao atrar,s dosrncios diagnosticos cla biomcdicina. Or-rando ulna pcssoa afir-rna qr-re os mdicos c os exilmes ueqaram causas e cliagnsticos,rras a dcspeito disso o eslar doente pcrsistc, nota-sc urrn clarocsbrcl clo narraclor para singularizar suar cxpcrir'rcia. Ao mcs-mo 1empo, : possvcl pcrccber :r inapctncia cla rncclicilla pro-fissionz pari-r lidar colr csisa clintcnscl subjctiva c pcssrlzrl dot:sLar doenLe, isto . acluclcs aspectos qttc "oii soisticados aParc-lhos" no conscgucm acrir c, por L:oIISC-gLlinte, Icgitir-nar.

    2. Signos e signiicados na explicao da doena

    A cliscusso que aprcsclltalnos tonla cnt considcr:r.o osrnarcaclorcs culluriris cluc iclentiicam os comPortalncntos

    .jul-gados trnorrnzris na viso da comunidade) rcprescntaclos llorsignos, causas, eravidadc, reacs c tratamcrlltos. O objctivo r:omprccndcr os significados c as rcacs courunitrias zi clocn-ra e rlos sintrnas, isto , qucm, como c clrl quc situacs rcagc:s cliscs c quais os seus dcsclobramelltos no cotidiano das pcs-\ot\. Corno;rfiunatnos anlt riol'tncnlc, ll{ slc lll{)m('nto inlt'rt's-sarr-nos cspecificarncnte as informzres sobrc as caltszlsatribudas s docnals c suas categoriers cle contcrdo, dclinidascorno callszl pessoal, rclaciotral, crcnas c normas c relaciona-das ao tratamcltto utilizado.

    Desta lbrma ) a aatlto prhu;ipaL que constitui a erplicaorlt' rrnra cloena mental aquela quc rnais sc cvidencia 1la nar-r':rlivir rlo informantc, seja pela sua coustnciir, sc.ia pcla rela-r,rro rlrrr'(r csl:rbr:lecida collr a doena, dc maneira a toI^n1r-la

    161

  • oscilao do comportamento entre "doente" e "bom". Nestecaso, a atribuio da causa filtrada pela concepo sobre oque um comportamento aceito como mentalmente anormal.Pelo que se pode entender, o narrador elabora uma concepofatalista da doena mental de causa no mgica e, ao mesmotempo, diz: "A causa do problema dele foi esse homem quemandou fazer isso pra ele; foi no curandeiro e mandou fazeressa bruxaria pra ele", sguido de: "L no Centro falou, I noCandombl falou o esprito que baixou, que fez o trabalho dela,que tinha sido uma amiga dela, que conviveu muito tempodentro da casa dela. Que tinha feito a macumba pra ela, cominveja da maneira que ela convia, a a convncia clela dentrode casa e fez isso."

    Podemos claramente notar nos dois fragmentos de nar-rativa acima transcritos que a ao mgica tomada comoexplicao da causa a partir da reconstituio de eventos so-ciais cnrroivendo a pessoa doente. Neste sentido, a pessoa afe-tada acaba sendo, ainda que involuntariamente, coparticipanteda ao que a levou ao estado dc crise.

    A causa instrumental de uma doena aquela consideradacomo imediatamente responsvel pelo desencadeamento de umprocesso. Tomemos o exemplo abaixo, retirado de uma narta-tiva sobre o caso de uma mulher que {icara mentalmente per-turbada por ter subitamente tomado conhecimento de umassassinato, quando estava cumprindo "resguardo de pario":"Ela comeou a dizer s pessoas que icou assim do choqueque ela tomou. Ela mesma dizia que tomou choque, que escu-tou a moa chamando ele pra ir ver esse rapaz."

    Neste caso, o "choque" pode ser ambiguamente consi-derado a causa principal, pois foi o evento responsvel pelocstado ernocional do caso, mas tambm . a causa instrumen-tatl, no sentido de ter acidental e imediatamente levado ao es-taclo cle doena. Assim, a causa instrumental se difere da causaprincipal, na medida em que no depende de eventos de longa

    clurao, tal como o desentendimento entre duas pessoas queleva uma delas a "mandar uma coisa" (nesse caso, um feitio)para a outra, nem depende de caractersticas ou qualidaclesespeciais da pessoa afetada.

    Na categoria de causa hipottica, so encontradas aquelasexplicitamente mencionadas nas narrativas dos informantes,porm recebem ressalvas que denotam hesitao, i.e., colocama causa presumida como uma possibilidade, porm sem gran-de nfase na mesma.

    Nas narrativas sobre as causas das doenas podem aindaser identificadas causas afirmadas pela sua nega0. Este tipo decausa pode ser exemplificado no discurso por afirmativas taiscomo: "Ele no doente mental, eu acho que ele no doentemental porque ele no nasceu assim."

    Em algumas situaes, o informante busca legitimar suaopinio sobre a causa do problema atravs de um discurso hi-pottico de terapeutas, isto , mdicos, curadores ou outrospraticantes do setor comunitrio em sade: "O mdico falouque ele tava com o juzo barulhado", ou: "O mdico disse queno existiu assim uma causa que provocasse a depresso dele.Foi a que ele veio me dizer: 'A senhora sabe qual a doenaque ele tem-i"' Sua resposta: "Eu disse que no, que nunca medisseram. Ele disse: 'Seu filho psicomanacodepressivo'."

    Ou ainda em outro ragmento de narrativa que se referea outro caso) no qual o narrador diz: "O curador disse a mim:'Voc sofreu uma dor de ouvido com uma dor de dente quan-do tava grvida?" Eu disse: 'Sofri.' 'Quase que voc no passaa noite, n?' Eu disse: 'Foi.' EIe disse: 'Pois isso foi o despachoenterrado que voc pisou sern saber.' 'Botaram pra outra pes-soa, mas tava enterrado e eu benzi. Passei por cima, pegou emmim, mas no pegou em mim, pegou na criana na trarriga.Se eu no estivesse grvida, pegava em rnim, mas como eutava grvida, pegou na criana e ela nasceu assim. Ele me dissequeacausadisso."

    t5164

  • O s ifator e s c aus ai s ltre disp o nente s p o dem s er enten diclos comovulnerabilidade da pessoa cioena por motivos diversos, oupela hereditariedade: ,,fsso eu u.ho q,r. j vem de lamlia por_que a minha bisav, a minha avo, me de meu pai, tinha.Ento... um irmo meu tambm, j morreu afogado porquetinha epilepsia, sofria cpilepsia.J esse outro ainda no morreu.,,

    Os ifatores de agrauao so os responsveis potenciais eimediatos pela piora no estaclo .*o.iorl do caso; ,,E era ficousem marido, ficou preocupada, alm dessa doena, preocupa_du (...) o marido fugiu com or-rtra mulher pra ela trabalhar, iracriar esses iihos tudo. Trabalhar na roal euer dizer qu" uqrilofoi... agravando,,. Ou: ,,A doena, ao invs de ,.g."dir, pro_grediu. O organismo dela, eu acho assim, meclida qr. o,anos bram chegando, ela bi piorando, piorando. Ao invs ciereeredir, porque cxistem pessoas que a cloena regricle, no verdade? Mas com cla no aconteceu assim.,,

    As causas desconhecidns reflcrem_se a situaes que o infor_mante no consegue explicar, que no fazern parte de seu re_pertrio cultural. Em outras situaes, o desconhecimento dacausa pode revelar a incompreenso seguida de dificuldade outotal no-aceitao clo probiema por parte das pcssoas neleenvoldas: "E a gente no sabe nerr o que foi. eue ela jnasceu com o crebro parado assim. Ela tem at um p torto,nasceu assim, com um p torto. Nada faz, no {ala, clesde re_cm-nascida assim, quando foi crescendo no falava, apontavaassim as coisas e ia, quando a gentc no dava ela clerrubava. Agente botava uma mesa assirn, ela chegava c derrubava, prapoder pedir as coisas, na agonia de falar.l, ,,I\tringum ,ub. ,r._entender que coisa essa. E a medicina, os cxames quc trramfeitos pra ela, no deu nada. No acusou nacla.,,

    No que se rerfere busca das possveis explicaes para arlocna atravs da identificao das causas at ento inexpli_t:hv.is, o interlocutor cliz: ,,Bateu chapa, tirou radiogrufiu, trrdorlirrilir.rho, chapa de cabea, .o.ro, eletrocardiograma do

    166

    :orao, tudo direitinho e no deu nada, entendeu?,, por fim,: ;' T::' :: H. ?,,H X, il?,',"T: ? I] #,. :

    ",_, ;' ;j, **causa: "Qral csse problema, me cliga a?,,

    A falta de uma explicao p^ruidoena atravs da iden_tificao da causa pode. gerarujrio, questionamentos e expli_cao de causa no mbito da comuniade e redes sociais maisprximas: "Quando os donos de casa vai saber, o, au .ru.1soube. Ento, no caso, o pessoal dela vcio comentar: e isso, eaquilo outro. NTunca teve uma certeza por mdico: a doenadela isso; nunca teve uma cereza por macumba: a doenadela essa, e portanto fica em dd;.,,

    Um dos recursos utilizados pelos informantes em suanarrativa lanar mo das causas iJentificadas por outras pes_soas) o que refletiria mais cl.ramente o contexto coretivo noqual essas interpretaes relativas sade . _a"."^ S" m._muladas e compartilhadas, viabilizando a constituio de umainterprctao sobre causas, e uma linguagem diagnstica e te_raputica compartilhacla: ,,Tem u ,rrp"itu cle que essa misturaque ele faz intoxica ele, essa mistura de bebicla, que acontecedele pegar todo tipo de bebicla. O pessoal comenta assim, quedeve ser, esse problema deve ser proveniente dessa misturaclenrais que ele faz com bebicla,,, ou ainda: ,,A me mesma dize a av, que foi que botaram uma macumba pra ele, com raivadele, pra ele ficar com o juzo ruim." por fim, recorrer a umac-xplicao que se apresente como coerente com seu contextosociocultural: "Mas npiritual.,,

    lulta gente diz que o problema clele es-

    No e incomurrr que em algumas situaes os informan_tcs faam associao entre dois fatores causais: ,,Acho que tam_ltm a maluquice dele foi tanto dele bater aquela cabea, porcausa da epilepsia, das pancaclas na cabea.,,

    Os contedos das causas podem ser do tipo pessoal, relacional,rciativos a crenas, de origem descorhecida, relacionados ao

    167

  • tratamento e outros. Ainda que sejam considerados de menorrelevncia, contudo, so importa.ra., pu.u a compreenso dasformas de explicao da doena qr" .orrrtitr-r._ o *oaao fo-pular local.

    Na categoria de causas pessoais, isto , relacionadas vontade da prpria pessoas, podem aparecer traos fiessoais, taiscomo juqo ifraco ou personatidade; o uri d, t,iriror, hrrono, dorrnfiica: ifoco, epilepsid etc.; naturais, micrbios, germes; 'rrfUr,;ii,relativas constituio corporal da pessoa; e excessl ouJtta deprticas, como por exemplo, muito estudo, sexo em excesso ousua ausncia, entre outras.

    Ainda nessa categoria de causas pessoais, que soexplicadas pela vontade da pessoa de ficar e,/ou permanecerdoente, um terapeutu.r.f".._s. a doena propositadaao explicar ocomportamento manaco de uma paciente que se encontravasob seus cuidados teraputicos em decorrncia de uma crise.As causas @fu r"f...;_r;;;..ru0., da pessoa noseu meio pessoal, famika,zinhana, outros significativos. Entreestas aparecern a m,rte; o contexto;lamiliar, como .onte de confli_to, ausncia de pais e outras; problemas no relacionamento pessoal,que podern ser com o outro sexo ou com outras pessoas deforma geral; problemas no dlsempenho socinl, tais como problemasfinanceiros, perda de emprego e as relaes de zinha na; e aao de ouhas pessoas, que pode se dar atravs de algum ,ip, a.interferncia mgico-rerigi osa r ealizadapor meio de,,trabarhos,,,olho grosso, usura, inveja, demu.rdas t..

    , As cryt_ta! e nlrynas tambm desempenham relevante pa_pel na compreenso do modelo etiolgico explicativo da doen_

    a. Exemplos ilustrativos deste tipo de-causa so representadospelas doenas causaclas pela transgresso de nornas sociais, taiscomo quebra de regras do parentesco, incesto etc. A transgnes_so das crenas relacionam_se a quebra de obrigaes ritirais,crenas religiosas em geral, quebra de resguardo or.urt.lur,ao dc htores naturais como a lua, o ,,o o, eclipses. Os

    l8

    espntos como agentes causadores so concebidos nos seus as_pectos negativos de agentes possessores, como por exemplo aidia de sombra de morto, mo de morto, espritos maus etc. po. fim, de grande relevncia como fonte de explicao da causaodas doenas a idia de sina ou destino da pessoa, e de castigo,como sinal, chamamento, ou quebra de comportu*"rt"o,ritualmente prescritos, tais como surra de caboclos ou ,uoo ,e exus,ou castigo divino em decorrncia de transgresses comporta_mentais, falta de reconhecimento da necessidade de realizarrituais de iniciao por parte daqueles que so destinados aserem possudos pelas entidades, ou pela inobservncia de obri_gaes rituais prprias ou de outrem, recebidas como partedos encargos rituais da pessoa (de Caroso et at., lggil).

    A categoria das.causas desconhecidaspode ser ilustrada pelaincompreenso da origem da doena por parte dos interlocu_tores, que reagem com interjeies tais como ,,No seil..,,, ou afrase que adotamos como ttulo do presente artigo, que eden-cia o_s limites da explicao sociopessoal para a complexidadedos fenmenso da da. No dispondo de nenhuma explicaopara as causas, freqentemente, eles no atribuem ,rlrhr_ucausa s doenas que escapam da sua possibilidade de inter_pretao por serem doenas desconhecidas ou de causas consi- |deradas inexplicveis mediante seu repertrio de saberes

    " i..;explicaes sobre etiologia. xi importante registrar ainda que freqenteme nte o trata_mento utilizado tambm pode ser apontado como fonte relevantede explicao das causas das doenas mentais. Nesta categoriapodemos identificar duas subcategorias.

    .{primeira ,"p.rerr_tada por doenas que tm como causa a ausncia ou neglign_cia de tratamento; e a segunda por doenas que decorrem doproprio tratamento utilizado. Tanto a ausncia de tratamentocomo o prprio tratamento podem ser stos como causa outor de agravamento das cloenas. No caso claquelas doenasque resultam ou so agravadas pelo tratamento que bi utiliza_

    169

  • do, fica implcita a idia dc iatrognia, revelando ainda umaavaiiao dos proprios resuitados da teraputica utilizada.

    Comenlrios

    Em busca de lanar alguns questionamentos e apontarpara possveis maneiras de explicar causas no processo da sa_de ,/doena, utilizamos o recurso cle discutir a traclio na teo_ria antropologica da cornprcenso do tema, seguiclo da anliserestrita de fragmentos de narrativas que oferecem explicaodas causas para exemplificar a utilizao cla tcoria do, sigror,signiicados e prticas na comprecnso e explicao clo signin_cado comunitrio atribudo aos problemas comportamentais,nas quais as pessoas claramcntc recorrcm ao que l{ichter (l gB 1)dcnomina "icliomas cia perturbao,, para apresentar as razesdas perturbaes que elas experienciam, freqiientemcnte utiii-zando rrctforas c outras imagcns para dcscrever comporta_mentos concretos rclacionados docna.

    Para as pessoas corn as quais construmos uma interlo-cuo atravs da pesquisa de campo, a perturbao e a cloenaso fi'eqiientcmente vistas como nJiirnento (Rodrigues . Cu.uro,1998), categoria que vai alm clo seu valor semntico e se apre-senta como tma de construo c expresso da idcnticlacl. ,u.iul,seja no discurso da explicao cias causas, no qual o aspectoemocional o mais importzrnte para se cntender a experinciada docna, scja no seu carter funclador das trajetorias de agcntesteraputicos que lidam com as doenas e explicam ,ru, .rrur,ou na experincia sociopessoal da cloena narrada pelos nossosintcr]ocutores.

    Assim sendo, a experincia clo sofimento antes cle estar \ligacl:r ;i docna e perturbaao prop.iamente dita deve scr ir:orrsirkrrad;r cncluanto uma experincia da pessoa, conseqen_

    t70

    Icmente s podendo ser explicada e compreendida com rela_q:o ao contexto das relaes sociais do sofreclor/doente. A pessoaclue sofie necessariamente representa seu sofer para outrem,provocando um efeito que repercutc duplamente tanto sobresua prpria identidade e trajctria pessoar quanto diante crasl)essoas com as quais convive e se relaciona, muitas vezcs recfu_zindo a explicao da causa da doena ou perturbao ao so-fiimento, que podc ter como causa imediata os vrios toresque trouxemos discusso ao longo do presente artigo.

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