Carmo Higachi Raiher 2012 Padrao-De-especializacao-no-co 7997

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Revista de Economia e Administração, v.11, n.2, 139-166p, abr./jun. 2012 139 Padrão de especialização no comércio exterior, tecnologia e crescimento econômico do Brasil Padrão de especialização no comércio exterior, tecnologia e crescimento econômico do Brasil Alex Sander Souza do Carmo Mestre em Desenvolvimento Econômico, Universidade Federal do Paraná (UFPR) Professor assistente, Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Rua José Bonifácio, 843 Órfãs CEP: 84015-450 Ponta Grossa – PR Brasil e-mail: [email protected] Hermes Yukio Higachi Doutor em Economia, Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas – IE/UNICAMP Professor associado, Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Rua Professora Izaura Torrez Cruz, 144 Jardim Carvalho CEP: 84015-550 Ponta Grossa – PR Brasil e-mail: [email protected] Augusta Pelinski Raiher Doutora em Economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Professora adjunta, Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Rua Cruz Machado, 1848 CEP: 84174-420 Castro – PR Brasil e-mail: [email protected] Resumo O objetivo deste trabalho é mostrar a existência de conexão entre o padrão de especialização produtiva no comércio exterior, o nível tecnológico e o crescimento econômico do Brasil. Busca-se identificar o padrão de especialização produtiva do Brasil no comércio exterior no período de 2000 a 2008, analisando-se as suas implicações para o crescimento econômico brasileiro e verificando-se se o mesmo é restrito pelo balanço de pagamentos. Para isso, foram estimadas as elasticidades-renda ponderadas das exportações e importações dos seto- res produtivos do país, dividindo-os em níveis tecnológicos e mensurando-se os seus pesos nas exportações/importações totais. Por fim, utilizando-se a abordagem da Lei de Thirlwall Multissetorial (LTMS), comparou-se a taxa de crescimento econômico per capita obtida via LTMS à taxa de crescimento efetiva do país. Palavras-chave: Crescimento da economia brasileira; Especialização no comércio exterior; níveis tecnológicos; Lei de Thirlwall Multissetorial.

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Padrao de Especiacizacao.

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  • Revista de Economia e Administrao, v.11, n.2, 139-166p, abr./jun. 2012 139

    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    Alex Sander Souza do Carmo Mestre em Desenvolvimento Econmico, Universidade Federal do Paran (UFPR) Professor assistente, Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Rua Jos Bonifcio, 843 rfs CEP: 84015-450 Ponta Grossa PR Brasil e-mail: [email protected]

    Hermes Yukio Higachi Doutor em Economia, Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas IE/UNICAMP Professor associado, Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Rua Professora Izaura Torrez Cruz, 144 Jardim Carvalho CEP: 84015-550 Ponta Grossa PR Brasil e-mail: [email protected]

    Augusta Pelinski Raiher Doutora em Economia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul Professora adjunta, Departamento de Economia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) Rua Cruz Machado, 1848 CEP: 84174-420 Castro PR Brasil e-mail: [email protected]

    Resumo

    O objetivo deste trabalho mostrar a existncia de conexo entre o padro de especializao produtiva no comrcio exterior, o nvel tecnolgico e o crescimento econmico do Brasil. Busca-se identificar o padro de especializao produtiva do Brasil no comrcio exterior no perodo de 2000 a 2008, analisando-se as suas implicaes para o crescimento econmico brasileiro e verificando-se se o mesmo restrito pelo balano de pagamentos. Para isso, foram estimadas as elasticidades-renda ponderadas das exportaes e importaes dos seto-res produtivos do pas, dividindo-os em nveis tecnolgicos e mensurando-se os seus pesos nas exportaes/importaes totais. Por fim, utilizando-se a abordagem da Lei de Thirlwall Multissetorial (LTMS), comparou-se a taxa de crescimento econmico per capita obtida via LTMS taxa de crescimento efetiva do pas.

    Palavras-chave: Crescimento da economia brasileira; Especializao no comrcio exterior; nveis tecnolgicos; Lei de Thirlwall Multissetorial.

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    Alex Sander Souza do Carmo, Hermes Yukio Higachi e Augusta Pelinski Raiher

    Abstract

    The goal of this paper is to show that there is a connection between the pattern of foreign trade specialization, technological level and economic growth in Brazil. The aim is to identify the pattern of specialization in foreign trade of Brazil in the period of 2000 to 2008, analyzing its implications for economic growth in Brazil and checking whether it is constrained by the balance of payments. Toward this purpose we estimated weighted income elasticities for exports and imports of the countrys productive sectors, dividing them into technological levels and measuring their weight relative to total exports/ imports. Finally, using the Thirlwall Multi- Sector Law (LTMS) approach, we compare the rate of per capita economic growth achieved through LTMS to the actual growth rate of the country.

    Keywords: Brazilian economic growth; Specialization in international trade; Technological levels; Thirlwall Multi-Sector Law.

    Submetido em 04 de abril de 2012 Aprovado em 20 de junho de 2012

    1. Introduo

    Basicamente, as teorias de crescimento econmico tm como principal ob-jetivo explicar quais so os fatores impulsionadores do crescimento, ao mesmo tempo em que visam a identificar porque os pases crescem a taxas diferentes. Para Soares (2010), duas abordagens destacam-se neste debate: a ortodoxa (neoclssica) e a heterodoxa (keynesiana, schumpeteriana). A grande diferen-a entre essas abordagens que a primeira explica o crescimento por meio de fatores associados oferta (capital fsico, trabalho, capital humano), ao passo que a segunda o faz por meio dos fatores associados demanda.

    Particularmente, na abordagem keynesiana a questo a ser respondida se preocupa com os motivos pelos quais os pases apresentam taxas de crescimento da demanda to desiguais. Assim, pondera-se que a demanda depende do con-sumo, do investimento e dos gastos governamentais, acrescentando anlise o setor externo. Julgando que a exportao o nico componente autnomo da demanda agregada, os tericos consideram a restrio no Balano de Pagamen-tos (BP) como o principal fator limitante do crescimento, e somente por meio da expanso das exportaes seria possvel aumentar a taxa de crescimento da economia sem deteriorar o BP.

    Thirlwall (1979) prope que a explicao para as diferentes taxas de cresci-mento existentes entre os pases origina-se nas restries de demanda, que, por sua vez, vinculam-se ao equilbrio no BP. Para ele, a possibilidade de ampliar as exportaes sem deteriorar a conta-corrente do BP torna-se o elemento cen-tral, o qual impulsiona uma utilizao mais adequada da capacidade produtiva instalada, a gerao de novos investimentos, o desenvolvimento tecnolgico e a continuidade do crescimento. Neste sentido, o crescimento liderado pelas exportaes e o balano de pagamentos pode restringi-lo, ficando o mesmo abaixo do potencial produtivo.

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    Com efeito, no modelo original de Thirlwall, a taxa de crescimento compa-tvel com o equilbrio externo dada pela razo entre o coeficiente de elastici-dade-renda da demanda por exportaes e importaes multiplicada pela taxa de crescimento da economia mundial. Via de regra, os produtos com elevada elasticidade-renda da demanda so os de maior valor adicionado, de origem industrial e de maior intensidade tecnolgica. Destaca-se que a exportao desses produtos possibilita ao pas o aumento da demanda frente elevao da renda mundial. Alm disso, os preos relativos tendem a ser mais favorveis aos bens de maior valor adicionado, os quais, em geral, apresentam tendncia de aumento tanto do consumo quanto de preos nos mercados internacionais.

    Destaca-se que a abordagem do crescimento sob restrio externa la Thir-lwall, no obstante ser orientada pela demanda, no negligencia a importncia dos fatores associados oferta, pois os mesmos esto embutidos na diferena entre as elasticidades-renda das exportaes e das importaes, as quais refle-tem as caractersticas no-preo dos bens e, portanto, sua estrutura produtiva (CARVALHO e LIMA, 2008).

    Recentemente, uma extenso do modelo de crescimento sob restrio externa, derivada do modelo de Thirlwall (Lei de Thirlwall original LT), foi formulada por Arajo e Lima (2007), em um arcabouo multissetorial, denominado Lei de Thirlwall Multissetorial LTMS.

    Na LTMS, a taxa de crescimento per capita de um pas igual taxa de crescimento econmico mundial multiplicada pela razo das elasticidades-renda ponderadas das exportaes e das importaes, ajustadas pelas participaes relativas dos diversos setores nas pautas de importaes e exportaes, respecti-vamente. Como se supe que os setores econmicos apresentam distintos nveis de elasticidade-renda da demanda por exportaes e importaes, uma mudana da composio setorial para aqueles com maior elasticidade-renda da demanda causaria o aumento da taxa de crescimento compatvel com o equilbrio externo.

    Com efeito, a grande diferena entre a LTMS e a LT que esta ltima implica que a taxa de crescimento de um pas aumentar apenas se ocorrer o crescimen-to da renda mundial, enquanto que na verso multissetorial o crescimento de um pas pode ocorrer mesmo quando a taxa de crescimento da renda mundial se mantenha constante, porque o pas pode alterar a sua estrutura produtiva, migrando dos setores que possuem baixa elasticidade-renda da demanda para aqueles setores que possuem alta elasticidade-renda. Dessa forma, tal alterao na composio da pauta de exportaes pode proporcionar ao pas taxas de crescimento mais elevadas. Assim, a desigualdade quanto s taxas de cresci-mento entre os pases origina-se nas diferenas entre as estruturas produtivas dos mesmos (ARAJO e LIMA, 2007).

    Outra abordagem de cunho heterodoxo a evolucionista neoschumpeteriana. Conforme essa abordagem, considera-se a tecnologia como fator determinante do crescimento, desde que os setores econmicos com maior intensidade tec-nolgica apresentem: (i) maior elasticidade-renda da demanda por exportaes, (ii) maior grau de oportunidade tecnolgica, e (iii) maior potencial de gerar

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    efeitos dinmicos sobre o aprendizado tecnolgico de setores a montante e a jusante nas cadeias de produo. Logo, nesta abordagem, os pases com a es-trutura produtiva especializada em setores econmicos com maior intensidade tecnolgica apresentaro taxas de crescimento mais elevadas.

    A especializao produtiva de um pas em seu comrcio exterior pode ser avaliada atravs do conceito de eficincia ricardiana, calcada na explorao das vantagens comparativas, keynesiana (potencial de crescimento da demanda) e schumpeteriana (potencial de aprendizado tecnolgico e inovao). Particular-mente, no presente trabalho busca-se mostrar que a especializao produtiva do Brasil no comrcio exterior, concentrada em produtos da agropecuria e bens industriais de mdia/baixa e baixa tecnologia, que usa intensivamente recursos naturais e mo-de-obra barata, segue o critrio ricardiano, porm no consis-tente com o critrio de eficincia keynesiana ou schumpeteriana.

    Em vista dessas consideraes, o objetivo deste trabalho identificar se o crescimento brasileiro verificado no perodo de 2000 a 2008 consistente com a abordagem de crescimento sob restrio externa, mais especificamente, com a LTMS.

    Alm dessa introduo, esse trabalho possui outras cinco sees. Na segunda, faz-se uma reviso bibliogrfica acerca das abordagens do crescimento econ-mico nas ticas keynesiana e schumpeteriana. Na sequncia, apresentam-se os elementos metodolgicos da pesquisa. Na quarta, so apresentados os resulta-dos da estimao das elasticidades-renda das exportaes e das importaes. Na quinta, testa-se a validade da LTMS ao caso brasileiro. Por fim, na sexta, descrevem-se as consideraes finais.

    2. Abordagens acerca do crescimento econmico: ticas keynesiana e schumpeteriana

    Na tentativa de evidenciar a compatibilidade e complementaridade, sintetizam-se os aspectos bsicos das abordagens ps-keynesiana (LTMS) e evolucionista neoschumpeteriana do crescimento.

    2.1 A Lei de Thirlwall Multissetorial (LTMS)

    A LTMS (ARAJO e LIMA, 2007) estabelece que existe uma conexo entre a insero internacional, a estrutura produtiva e a taxa de crescimento da economia. Nesse sentido, Arajo e Lima (2007) mostram que, como as elasticidades-renda da demanda dos setores industriais so distintas, as taxas de crescimento dos pases tambm devero ser distintas, caso os mesmos possuam estruturas produtivas dessemelhantes. Como corolrio do modelo, os pases que concentram as suas exportaes nos setores com maior elasticidade-renda da demanda devem lograr maiores taxas de crescimento.

    Arajo e Lima (2007) desenvolvem a anlise do crescimento sob restrio externa em um contexto multissetorial, no qual a taxa de variao da demanda

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    distinta em cada setor da economia. Os autores partem da hiptese de que os fluxos fsicos e monetrios de bens atendem a trs condies: (i) condio de pleno emprego de trabalho; (ii) condio do gasto total da renda nacional; e (iii) equil-brio comercial. A condio de pleno emprego representada da seguinte forma:

    (1)

    onde ai n e ain so os coeficientes de demanda per capita do bem final i (i = 1, 2,..., n-1), sendo que o primeiro refere-se demanda estrangeira e o segundo demanda interna; ani refere-se ao coeficiente de produo dos bens de consumo, representando a quantidade de trabalho empregada em cada setor; o coefi-ciente de proporcionalidade oriundo da relao com o tamanho da populao de cada pas.

    As condies de gasto total da renda nacional e de equilbrio comercial so representadas pelas equaes (2) e (3), respectivamente.

    (2)

    (3)

    O equilbrio comercial no escrito em termos de preos, mas sim, em ter-mos de coeficientes de trabalho. Desta forma, a quantidade de bens exportados, expressa em quantidade de trabalho aplicado, deve ser igual quantidade de bens importados, tambm expressa em termos de quantidade de trabalho. Os autores demonstram que as quantidades de trabalho incorporadas continuam a regular os preos relativos dos bens ao levar em conta o preo do bem i (pi) e a taxa de salrio. No caso de p i < p1, o pas no teria vantagem comparativa na produo de i; quando ^p i > p1, ocorreria o contrrio. Neste ltimo, os autores supem que a demanda externa dada por uma funo padro de demanda por exportao.

    Assim, fazendo essas suposies, repetindo-as para as importaes, conside-rando todos os elementos em termos per capita, diferenciando os resultados em relao ao tempo, supondo que a variao dos preos ao longo do tempo entre os pases a mesma e que o crescimento da populao constante, alm de consi-derar que no h progresso tcnico, Arajo e Lima derivam a equao (4). Essa equao apresenta a estimativa do crescimento econmico, denominada de Lei de Thirlwall Multissetorial, que reflexo da estrutura produtiva presente no pas.

    (4)

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    Na equao (4), a elasticidade-renda da demanda de importaes; a elasticidade- renda da demanda de exportaes; o coeficiente de proporcio-nalidade; Uy representa a taxa de crescimento per capita do pas.

    O coeficiente de proporcionalidade mostra que, quanto menores forem as elasticidades-renda setoriais das importaes de um pas e maiores forem suas elasticidades-renda da demanda das exportaes, maior ser o benefcio para o pas em decorrncia de um aumento na demanda externa. Destaca-se que, como as elasticidades-renda setoriais das importaes e das exportaes so pondera-das por coeficientes que medem a participao de cada setor nas importaes/exportaes totais de um pas, a taxa de crescimento compatvel com o equil-brio externo (LTMS) pode se alterar na medida em que se altere a composio setorial das exportaes/importaes, mesmo que a taxa de crescimento externo no se altere ao longo do tempo.

    2.2 A abordagem evolucionista neoschumpeteriana

    Na presente subseo apresenta-se de forma sucinta a abordagem de cresci-mento evolucionista neoschumpeteriana. Nessa abordagem, as fontes fundamentais do crescimento consistem nas inovaes de processos e produtos, organizacionais e institucionais. Quando as inovaes esto ocorrendo e, com efeito, as oportu-nidades esto aumentando, surgem fortes incentivos ou vantagens econmicas para realizar os investimentos complementares em capital fsico e humano. Numa perspectiva evolucionista neoschumpeteriana, o progresso tcnico cumpre papel central no processo de crescimento, com os fatores convencionais da funo de produo desempenhando apenas funes de suporte (NELSON, 1996).

    As inovaes organizacionais constituem outra fonte fundamental de cresci-mento de longo prazo. A adoo e a difuso de novos paradigmas tecnolgicos geralmente requerem novas estruturas organizacionais, que, por sua vez, repre-sentam rupturas de rotinas consolidadas, associadas aos paradigmas anteriores. As estruturas organizacionais prvias e sua capacidade de transformao diante de novos paradigmas tecnolgicos so, portanto, elementos condicionantes do desempenho tecnolgico empresarial.

    O processo de inovao da firma naturalmente influenciado pelo ambiente institucional em que esto inseridas. Assim, os modelos evolucionistas ne- schumpeterianos consideram como terceira fonte fundamental do crescimento de longo prazo os Sistemas Nacionais de Inovao: redes de instituies nos setores privado e pblico cujas atividades e interaes iniciam, importam, modificam e difundem novas tecnologias.

    A abordagem evolucionista neoschumpeteriana considera a tecnologia como determinante do crescimento econmico de um pas, porm reserva um papel importante para a demanda, na forma de exportaes e importaes, destacando a interao dinmica entre a mudana tcnica e o comrcio internacional (DOSI et al., 1990). Em outros termos, supe-se que os efeitos da tecnologia sobre o crescimento econmico se expressam atravs do padro de especializao e sobre

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    o dinamismo de exportaes e importaes, desde que os setores econmicos com maior intensidade tecnolgica apresentem: (i) maior elasticidade-renda da demanda por exportaes, (ii) maior grau de oportunidade tecnolgica, e (iii) maior potencial de gerar efeitos dinmicos sobre o aprendizado tecnolgico de setores a montante e a jusante nas cadeias de produo. Logo, nesta abordagem, os pases com a estrutura produtiva especializada em setores econmicos com maior intensidade tecnolgica apresentam taxas de crescimento mais elevadas.

    3. Elementos metodolgicos

    Para avaliar a relevncia da restrio externa e da estrutura produtiva bra-sileira no seu crescimento econmico, utilizou-se a abordagem keynesiana do crescimento econmico sob restrio externa, formulada a partir da LTMS. Neste sentido, essa seo apresenta: o modelo economtrico, a estratgia de estimao dos parmetros e a fonte dos dados utilizados para atingir o objetivo proposto.

    3.1 Modelo economtrico e estratgia de estimao das elasticidades

    Como fora salientado na introduo do presente trabalho, o objetivo verificar se o crescimento econmico brasileiro, no perodo de 2000 a 2008, consistente com a LTMS. Dessa forma, como o perodo de anlise extremamente curto, utilizaram-se as informaes dos 26 Estados do pas mais o Distrito Federal, para os anos de 2000 a 2008, totalizando 234 observaes. Especificamente, as funes empricas a serem estimadas possuem as seguintes caractersticas:

    ln Xjit = j ln zit + j ln cat + Cji + ujit (5)

    ln Mjit = j ln yit + j ln cat + Cji + ujit (6)

    Nessas duas equaes, i representa os Estados, t o tempo e j so os setores; os parmetros j, j, j, j representam, respectivamente, as elasticidades-renda e preo das importaes, e as elasticidades-renda e preo das exportaes do setor j; y a renda interna; z a renda mundial; ca a taxa de cambio efetiva. C um componente no observvel especfico das unidades cross-section e invariante no tempo.

    Como o banco de dados possui tanto observaes de cross-section quanto de srie de tempo, a tcnica economtrica mais indicada a de painel de dados. A principal motivao para a utilizao dessa tcnica a possibilidade do controle do componente no observvel (C), que est presente em ambas as funes. Conforme Wooldridge (2002), caso o mesmo no seja correlacionado com as variveis explicativas do modelo, tanto o modelo Pooled quanto o modelo de efeitos aleatrios (Random Effects) fornecem estimativas consistentes dos parmetros, mas, caso o componente no observvel (C) seja correlacionado com as variveis explicativas da equao, esses estimadores so inconsistentes.

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    Nessa situao, para se obter estimativas consistentes dos parmetros, deve-se utilizar o modelo de efeitos fixos (Fixed Effect). Para decidir entre os modelos de efeitos aleatrios e de efeitos fixos utilizou-se o teste de Hausman1.

    Conforme o teste de Hausman, verificou-se que o modelo mais indicado para estimar a funo das exportaes (5) o de Efeitos Fixos, enquanto que o modelo de Efeitos Aleatrios o mais indicado para estimar a funo das importaes (6).

    3.2 Fonte dos dados

    Para a construo da base de dados foram utilizadas as informaes das importaes e exportaes setoriais de cada Estado brasileiro no perodo de 2000 a 2008, sendo que essas foram obtidas no site Alice Web. Esses dados estavam em dlares e foram deflacionados por meio do Wholesale Price Index dos Estados Unidos (WPI). Destaca-se que os dados das exportaes e das im-portaes esto classificados em 99 categorias industriais, que foram agrupadas em 5 setores. Esses setores, por sua vez, foram definidos conforme os seus padres tecnolgicos em: alta tecnologia; mdia/alta tecnologia; mdia/baixa tecnologia; baixa tecnologia; e no industriais. Ressalta-se que essa definio foi baseada na metodologia desenvolvida pela OCDE2, que tambm fora utili-zada por Furtado e Carvalho (2005), Lall (2000)3, entre outros. Uma descrio detalhada dos cinco setores pode ser visualizada no Apndice 1.

    Alm dos dados das exportaes e das importaes, utilizaram-se informa-es de cmbio efetivo, PIB Estadual e PIB Mundial, obtidos no site do IPEA-DATA, ressaltando que os dois ltimos j se encontravam a preos constantes.

    4. Padro de especializao do Brasil no comrcio internacional

    4.1 Anlise da pauta brasileira de exportaes e importaes

    Na presente subseo, apresenta-se a composio da pauta de importaes e exportaes do Brasil no perodo compreendido entre 2000 a 2008, conforme os setores industriais definidos no Apndice 1.

    1 Conforme Wooldridge (2002), o teste de Hausman tem a hiptese nula de que os estimadores do modelo de efeitos fixos e do modelo de efeitos aleatrios no diferem substancialmente; nesse caso, se a hiptese nula no rejeitada o modelo mais indicado o de efeitos aleatrios. Caso contrrio, a concluso a de que o modelo de efeitos aleatrios no adequado e deve-se empregar o modelo de efeitos fixos.

    2 A OCDE reformulou nos anos de 1990 a sua classificao quanto intensidade tecnolgica das indstrias, agrupando-as em quatro grupos: alta tecnologia, mdia/alta, mdia/baixa e baixa tecnologia (MARKWALD, 2005). A classificao baseou-se num indicador de intensidade tecnolgica, estimado com base na tecnologia incorporada nos bens intermedirios e de capital utilizados nos diferentes setores industriais. Assim, os setores que incorporavam mais intensamente bens intermedirios e de capital de alta tecnologia classificavam-se no grupo alta tecnologia; medida que diminua a intensidade tecnolgica dos bens intermedirios e de capital dos setores, eles foram agrupados em mdia/alta, mdia/baixa, baixa tecnologia, sucessivamente.

    3 Lall (2000) combinou a classificao feita por Pavitt (1984) com a construda pela OECD, argumentando que a primeira mais difcil de usar porque as distines analticas no so claras e existe grande sobreposio entre as categorias, ao contrrio do que ocorre com a classificao feita pela OECD.

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    Na Tabela 1, verifica-se que o setor de alta tecnologia diminuiu a sua participao nas exportaes mdias do perodo, tendo a menor participao quando consideradas todas as indstrias juntamente com os produtos no in-dustriais; ademais, os setores que a compem, ou estagnaram sua contribuio ou reduziram-na no perodo de 2000 para 2008. Esse mesmo fenmeno ocorreu com o setor de mdia/alta tecnologia, o qual teve o segundo menor peso mdio quando considerados os diferentes nveis tecnolgicos da indstria. Ao mesmo tempo, o setor de mdia/baixa tecnologia foi o que mais contribuiu para as exportaes do pas, elevando a sua participao e a da maioria das categorias que o compem quando se faz um comparativo entre 2000 e 2008. J o setor de baixa tecnologia teve queda de participao no decorrer do perodo anali-sado, mas continuou na segunda posio no que se refere contribuio para as exportaes do pas, destacando-se que o peso do setor de baixa tecnologia, juntamente com o de mdia/baixa tecnologia, correspondeu a 55% das expor-taes mdias do pas no perodo.

    Por fim, no setor denominado de produtos no industriais, a agropecu-ria foi a categoria que dominou, com peso de 14% nas exportaes totais e representando 90% das exportaes deste setor. Ressalta-se que essa categoria teve uma participao na exportao total do Brasil superior ao setor de alta tecnologia. Em resumo, analisando-se os pesos de cada setor no total exportado, tem-se o padro de especializao do pas no comrcio exterior, o qual pautado essencialmente nos setores industriais de baixa e mdia/baixa tecnologia, em conjunto com os produtos da agropecuria.

    No caso das importaes, verifica-se que, tanto em 2000 quanto em 2008, elas se concentram sobretudo nos setores de mdia/alta, mdia/baixa e alta tec-nologia. Em mdia, considerando-se todo o perodo analisado, esses trs setores industriais atingiram 89% das importaes totais do Brasil.

    4.2 Estimao das elasticidades-renda das exportaes e importaes

    Na Tabela 2 reportam-se as elasticidades-renda e preo das exportaes e importaes brasileiras para os setores industriais4.

    Considerando-se, primeiramente, o efeito do cmbio efetivo sobre o co-mrcio exterior brasileiro, verifica-se que, no caso das exportaes, somente as categorias agropecuria e outros produtos minerais no metlicos foram influenciadas pelo cmbio; isto , em certa medida, a competitividade dessas categorias foi determinada pelo diferencial de preo. J para os demais setores, principalmente no caso dos nveis mais intensivos de tecnologia, a competiti-vidade estava baseada principalmente na qualidade. No caso das importaes, para 70% das categorias industriais o cmbio mostrou-se significativo, em que o nvel mximo de significncia alcanou 10%.

    4 Destaca-se que quando a elasticidade-preo (cmbio efetivo) no foi significativa, estimaram-se novamente as exportaes/importaes em funo do PIB mundial/PIB brasileiro tirando a varivel cmbio.

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    Tabela 1.- Pesos das exportaes (X), das importaes (M) e do saldo: comparativo entre 2000 e 2008 e mdia para o perodo 2001/2008.

    Setores X2000X

    2008X

    MdiaM

    2000M

    2008M

    MdiaSaldoMdia

    Industria de alta tecnologia 0,114 0,071 0,087 0,244 0,193 0,224 -0.201Aeronutica e aeroespacial 0,049 0,029 0,035 0,019 0,018 0,015 0,046Farmacutica 0,004 0,004 0,004 0,025 0,025 0,028 -0,040Material de escritrio e Informtica. Equipamento de rdio, TV e comunicao

    0,053 0,033 0,043 0,165 0,115 0,142 -0,151

    Instrumentos mdicos 0,008 0,004 0,005 0,035 0,036 0,039 -0,057Indstria de mdia/alta tecnologia 0,211 0,180 0,203 0,361 0,372 0,365 -0,184

    Veculos automotores, reboques e semireboques 0,081 0,074 0,083 0,067 0,074 0,061 0,077

    Produtos qumicos, exceto farmacuticos 0,054 0,043 0,046 0,128 0,145 0,141 -0,146

    Equipamentos para ferrovia e material de transporte 0,001 0,001 0,001 0,002 0,003 0,002 -0,001

    Mquinas e equipamentos mecnicos 0,075 0,062 0,073 0,164 0,150 0,160 -0,114

    Indstria de mdia/baixa tecnologia 0,250 0,339 0,284 0,260 0,339 0,300 0,123

    Construo e reparao naval 0,000 0,007 0,003 0,000 0,000 0,001 0,007

    Borracha e produtos plsticos 0,032 0,025 0,029 0,051 0,053 0,056 -0,032Produtos de petrleo refinado e outros combustveis 0,021 0,092 0,058 0,148 0,196 0,169 -0,159

    Outros produtos minerais no metlicos 0,082 0,110 0,085 0,017 0,023 0,021 0,162

    Produtos metlicos 0,115 0,104 0,109 0,044 0,067 0,055 0,145Indstria de baixa tecnologia 0,296 0,222 0,267 0,087 0,068 0,073 0,456Produtos manufaturados e bens reciclados 0,013 0,009 0,010 0,008 0,008 0,008 0,009

    Madeiras e seus produtos, papel e celulose 0,087 0,051 0,070 0,026 0,016 0,019 0,118

    Alimentos, bebidas e tabaco 0,127 0,129 0,132 0,019 0,018 0,019 0,263Txteis, couro e calados 0,069 0,033 0,055 0,033 0,027 0,028 0,066Produtos no industriais 0,129 0,188 0,159 0,048 0,028 0,037 0,306Agrcolas 0,111 0,166 0,142 0,048 0,028 0,037 0,267Objetos de arte 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000Transaes especiais 0,018 0,021 0,017 0,000 0,000 0,000 0,039

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    Um ponto importante a considerar que, a partir de 1999, o Brasil passou a adotar o regime de cmbio flutuante. Entretanto, segundo Pires de Souza e Hoff (2011), isso no significou que as autoridades monetrias ficaram ausentes do mercado de cmbio. Na verdade, em alguns momentos especficos ao longo destes oito anos (2000 a 2008), lanou-se mo de uma poltica cambial bastante ativa, utilizando-se como instrumento no somente as intervenes no mercado de cmbio vista, como tambm a venda de ttulos indexados e swaps cambiais. Conforme o grfico ilustrado no Apndice 2, verifica-se que at 2004 a taxa de cmbio favoreceu o padro de especializao do pas no comrcio mundial, mas a partir deste ano o cmbio voltou a se valorizar, contribuindo para o aumento das importaes.

    Dessa forma, acredita-se que a poltica cambial adotada a partir de 1999 beneficiou o padro de especializao do comrcio internacional do pas apenas nos quatro primeiros anos da anlise (2000 a 2004). Nos demais anos (2005 a 2008), a mesma favoreceu a importao, sobretudo a dos produtos de alta e mdia tecnologia (considerando-se os pesos apresentados na Tabela 1). Por conseguinte, nesse perodo o cmbio indiretamente afetou as indstrias domsticas de alta e mdia tecnologia, pois os seus produtos passaram a ter maior concorrncia dos importados.

    Ainda com relao Tabela 2, direcionando-se a anlise para as elasticidades--renda das exportaes, verifica-se que, com exceo das categorias industriais aeronutica e aeroespacial e transaes especiais, as demais foram esta-tisticamente significativas no nvel de pelo menos 10%. A categoria que apre-sentou a maior elasticidade-renda das exportaes foi Material de escritrio... equipamento de rdio, TV e comunicao, seguida de Instrumentos mdicos de tica e preciso; destaca-se que ambas pertencem ao setor denominado de alta tecnologia. J as categorias com menores elasticidades-renda, significativas a 10%, foram Txteis, couro e calados e Madeiras e seus produtos, papel e celulose, ambas pertencentes ao setor de baixa tecnologia.

    Os resultados obtidos no presente trabalho sugerem que existe uma relao positiva entre a elasticidade-renda das exportaes e o nvel tecnolgico, pois se verifica que o setor de alta tecnologia apresentou a maior elasticidade-renda, se-guido da indstria de mdia/baixa, mdia/alta e de baixa tecnologia. Os resultados encontrados apontam que um aumento de 1% na renda mundial, ceteris paribus, eleva as exportaes de alta tecnologia do pas em torno de 5,31%, enquanto que as exportaes da indstria de baixa tecnologia aumentam apenas 2,77%.

    Vale destacar que os produtos da agropecuria, que pertencem ao setor ou-tros produtos no industriais, apresentaram elasticidade-renda das exportaes em patamar semelhante ao da indstria de alta tecnologia e tiveram, ao mesmo tempo, a menor elasticidade-renda das importaes. Conforme Martins (2008), a liderana de um pas num determinado segmento pode ser identificada quando esse possui elevada elasticidade-renda de exportaes e baixa elasticidade-renda de importaes. Neste sentido, os resultados obtidos no presente trabalho indicam que o Brasil efetivamente possui liderana na produo agropecuria.

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    Alex Sander Souza do Carmo, Hermes Yukio Higachi e Augusta Pelinski Raiher

    Tabela 2.- Elasticidade-renda e elasticidade-preo das exportaes e importaes brasileiras 2000 a 2008.

    Setores

    Exportaes ImportaesElast. Renda(PIB

    mundial)

    Elast. Preo

    (cmbio efetivo)

    Elast Renda(PIB

    Brasil)

    Elast. Preo

    (cmbio efetivo)

    Indstria de alta tecnologia 5,31+ - 2,23+ -

    Aeronutica e aeroespacial 0,343(0,14) -4,031

    (1,80)**-6,323

    (-2,67)*

    Farmacutica 4,187 (2,68)* -4,125(8,72) -

    Material de escritrio... equipamento de rdio, TV e comunicao

    9,115(7,44)* -

    1,686(5,25)*

    -1,407(1,71)***

    Instrumentos mdicos de tica e preciso

    8,311 (6,23)* -

    2,160(9,34)* -

    Indstria de mdia-alta tecnologia 3,53+ - 2,21+ -Veculos automotores, reboques e semi-reboques

    4,260(5,52)* -

    3,863(3,26)*

    -4,334(-3,67)*

    Produtos qumicos, exceto farmacuticos

    2,573(4,06)* -

    1,930(6,22)*

    -0.576(-1,92)**

    Equipamentos para ferrovia e material de transporte

    8,055(4,32)* -

    6,452(4,35)* -

    Mquinas e equipamentos mecnicos

    3,235(5,81)* -

    1,777(12,02)*

    -0,951(-3,70)*

    Indstria de mdia/baixa tecnologia 3,61

    + - 2,56+ -

    Construo e reparao naval 4,235(1,73)*** -4,168

    (4,32)*-6,137

    (-2,60)*

    Borracha e produtos plsticos 5,945(7,05)* -2,248

    (10,29)*-1,849

    (-4,09)*Produtos de petrleo refinado e outros combustveis

    6,682(4,08)* -

    2,870(5,06)* -

    Outros produtos minerais no metlicos

    3,153(5,14)*

    0,664(1,72)***

    2,427(8,05)*

    -1,439(-2.00)**

    Produtos metlicos 4,158(4,94)* -1,921

    (9,81)*-2,270

    (-3,66)*Indstria de baixa tecnologia 2,77+ - 1,98+ -Produtos manufaturados e bens reciclados

    2,134(2,02)* -

    1,928(5,87)*

    -3,450(-4,78)*

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    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    Destaca-se que a produo desses produtos, via de regra, no tem intensidade tecnolgica elevada, pois demanda, sobretudo, recursos naturais. Dessa forma, a liderana do Brasil na produo da agropecuria se coaduna com a eficincia ricardiana. Conforme a eficincia ricardiana, um pas possui vantagem compa-rativa na produo de determinado bem se o custo de oportunidade desse bem mais baixo do que o obtido em outros pases; ressalte-se que essa vantagem/desvantagem comparativa de custos determinada pela disponibilidade relati-va de fatores de produo. Seguindo a lgica da eficincia ricardiana, como o Brasil relativamente abundante em recursos naturais, o Brasil possui vantagem comparativa na produo agropecuria e, por conseguinte, deve se especializar na produo e exportao desses produtos.

    Todavia, na contramo da eficincia ricardiana encontra-se a abordagem da eficincia kaldoriana5. A eficincia kaldoriana assegura que as exportaes de um pas tendem a crescer de maneira tanto mais rpida e consistente, quanto mais elevados forem os seus coeficientes de elasticidade-renda. Nessa situa-o, o padro de especializao no comrcio mais eficiente quanto maior a participao relativa de exportaes de elevada elasticidade-renda da demanda internacional (MARTINS, 2008).

    A eficincia kaldoriana parte da ideia de que, quanto maior e mais veloz for a taxa de crescimento da demanda internacional pelos produtos de um pas em resposta ao crescimento da renda mundial, maior ser a chance de se obter

    5 Abordagem que parte da viso macroeconmica keynesiana. Ou seja, segue a abordagem keynesiana.

    Madeiras e seus produtos, papel e celulose

    1,977(1,50) -

    2,364(7,86)*

    -3,096(3,96)*

    Alimentos, bebidas e tabaco 3,571(9,53)* -1,430(0,95)

    1,565(1,56)

    Txteis, couro e calados 1,966(2,05)** -2,029

    (6,56)*-1,801

    (-1,94)**Produtos no industriais 4,92+ - 0,62+ -

    Produtos da agropecuria 5,505(7,73)*1,282

    (2,85)*0,624

    (1,78)*** -

    Objetos de arte, de coleo e antiguidades

    7,154(3,33)* -

    0,792(1,13)

    -4,464(2,21)**

    Transaes especiais 0,002(0,30)-5,157

    (-2,46)** - -

    Fonte: Resultados da pesquisa.Nota: * Significativo a 1%. ** Significativo a 5%. ***Significativo a 10%. + Elasticidades determinadas pela mdia ponderada das elasticidades dos setores pertencentes quele nvel tecnolgico.

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    Alex Sander Souza do Carmo, Hermes Yukio Higachi e Augusta Pelinski Raiher

    taxas de crescimento mais elevadas. Desta forma, um padro de especializao eficiente do setor industrial seria aquele baseado nas exportaes de produtos de alta elasticidade-renda. Portanto, de acordo com os dados divulgados na Tabela 2, crescimento a taxas mais elevadas poderia ser obtido se o pas intensificasse a produo e a exportao do setor de alta tecnologia, especificamente, das ca-tegorias Material de escritrio,..., equipamento de rdio, TV e comunicao e Instrumentos mdicos de tica e preciso, pois so as mesmas que obtiveram as maiores elasticidades-renda entre todas as categorias analisadas (incluindo os produtos no industriais).

    Para Kaldor (1989) o progresso tecnolgico era importantssimo na defini-o dos padres de demanda e de produo nacional; esse progresso faria com que novos produtos gradualmente substitussem os pr-existentes, e no curso desse processo de substituio a demanda por novos produtos cresceria acima da elevao geral da demanda, resultante do crescimento econmico. Como consequncia, os exportadores mais bem sucedidos penetrariam tanto nos mercados internacionais quanto nos domsticos, via substituio dos produtos existentes pelos novos. No entanto, nem Kaldor e nem os seus seguidores deram sequncia anlise das propriedades e caractersticas do progresso tecnolgico e seus impactos dinmicos sobre o padro de especializao (MARTINS, 2008); essa lacuna s foi preenchida pela abordagem schumpeteriana.

    A abordagem da eficincia schumpeteriana6 completou e deu sequncia kaldoriana, prescrevendo um padro de especializao baseado na exportao de produtos para os quais se tem elevado grau de oportunidade, apropriabilidade e cumulatividade tecnolgica. Assim, as abordagens kaldoriana e schumpeteriana no so excludentes; pelo contrrio, podem ser complementares, desde que se aceite a hiptese de vinculao entre o comrcio exterior e o progresso tecnolgico.

    Considerando-se os dados do Brasil de 2000 a 2008, como as maiores elasticidades-renda das exportaes so as dos produtos pertencentes ao setor de alta tecnologia, ento pela abordagem schumpeteriana, associada kaldoriana, a especializao mais eficiente para o Brasil, para se obter maiores taxas de crescimento, seria em produtos com intensidade tecnolgica mais avanada. Destaca-se que as firmas desse setor so as mais inovadoras, utilizam seus recursos produtivos de maneira mais eficiente, pagam salrios mais elevados e so mais bem sucedidas no objetivo de ampliar seus mercados. Adicionalmente, so as que mais crescem no comrcio internacional e seu dinamismo contribui ainda para a gerao de economias externas (spillovers) em benefcio de outros setores industriais, dinamizando de forma mais intensiva o crescimento econ-mico (MARKWALD, 2005). Contudo, essa situao muito distinta da que foi observada, pois o Brasil concentrou as suas exportaes sobretudo nos setores de mdia/baixa e baixa tecnologia (ver Tabela 1).

    No caso das importaes, as maiores elasticidades-renda foram obtidas naqueles setores que compem a indstria de alta e mdia tecnologia, os quais

    6 Que corresponde abordagem evolucionista neoschumpeteriana.

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    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    representam de forma conjunta 59% das importaes mdias do pas (ver Tabela 1). Desse modo, verifica-se que o padro de especializao no comrcio exterior extremamente perverso, tendo em vista que o Brasil concentra as suas exporta-es naqueles setores menos intensivos em tecnologia, e que possuem menores elasticidades-renda da demanda, enquanto que as importaes concentram-se nos setores de alta e mdia tecnologia, que possuem elasticidades-renda da demanda mais elevadas.

    Combinando-se os dados reportados nas Tabelas 1 e 2, podem ser obtidas as elasticidades-renda ponderadas das exportaes e das importaes, em que os ponderadores so justamente os pesos dos setores industriais na pauta comercial brasileira. A evoluo das elasticidades-renda ponderadas das exportaes e das importaes do Brasil, no perodo de 2000 a 2008, apresentada na Figura 1.

    Percebe-se que, no decorrer de oito anos, a elasticidade-renda das exporta-es se elevou de 3,78 para 4,14. Mais precisamente, a mesma cresceu de 2000 a 2003, diminuiu em 2004, e voltou a crescer a partir de 2005. J no caso das importaes, a elasticidade-renda ponderada passou de 2,22 (2000) para 2,32 (2008), mas essa elevao no foi linear, pois nos quatro primeiros anos da anlise (2000 a 2003) a mesma diminuiu, chegando ao patamar de 2,19 (2003), voltando a crescer a partir de 2004. Como se considera que as elasticidades--renda das exportaes e das importaes so constantes ao longo do tempo, o aumento observado em ambas as elasticidades foi decorrente da alterao dos pesos setoriais na pauta comercial brasileira.

    No caso da razo das elasticidades ponderadas, esta passou de 1,71 (2000) para 1,80 (2008), alterando-se muito pouco ao longo do tempo, resultado direto do saldo positivo que se teve no comrcio internacional, decorrente do aumen-to das exportaes do pas especialmente naqueles bens de baixa intensidade tecnolgica, confirmando a ausncia de mudanas no padro de especializao

    Figura 1.- Evoluo das elasticidades-renda ponderadas das importaes (M) e das exportaes (X) e da razo das elasticidades ponderadas Brasil

    2000 a 2008.

    Fonte: Resultados da pesquisa.

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    produtiva do pas. Calculando-se a razo das elasticidades-renda ponderadas de cada setor da Tabela 2, foram obtidos os seguintes resultados: 2,38 para o setor de alta tecnologia; 1,60 para o de mdia/alta; 1,41 para o de mdia/baixa; 1,40 para o de baixa tecnologia.

    Na tentativa de analisar a contribuio de cada setor e de cada nvel tec-nolgico na elasticidade-renda ponderada das exportaes de 2000 e de 2008, construiu-se a Tabela 3. Ressalta-se que nessa tabela as duas ltimas colunas apresentam, respectivamente, a variao na parcela da elasticidade de cada setor/nvel e quanto essa variao representou na diferena entre a elasticidade-renda ponderada das exportaes em 2000 e em 2008.

    Os setores que contriburam negativamente para a alterao da elasticidade foram: Material de escritrio e Informtica, Equipamento de rdio, TV e co-municao (-50%); Madeiras e seus produtos, papel e celulose (-20%); Txteis, couro e calados (-19%); Produtos metlicos (-13%); Mquinas e equipamentos mecnicos (-12%); Borracha e produtos plsticos (-11%); Instrumentos mdicos (-9%); Veculos automotores, reboques e semi-reboques (-9%); Produtos qu-micos, exceto farmacuticos (-7%); Produtos manufaturados e bens reciclados (-2%); Aeronutica e aeroespacial (-1.91%).

    Analisando-se os setores agrupados em nveis tecnolgicos, o setor de alta tecnologia foi o que mais contribuiu negativamente para a alterao da elas-ticidade (-60%), seguido dos setores de baixa (-40%) e mdia/alta tecnologia (-27%). Como se supe que as elasticidades-renda de cada setor no se alteram no perodo, ento, basicamente, esse efeito negativo representa a queda de participao desses nveis tecnolgicos nas exportaes brasileiras. Assim, a indstria de alta tecnologia, a qual apresenta a maior elasticidade-renda interna-cional (Tabela 2) e a qual, pela eficincia schumpeteriana, tenderia a dinamizar o crescimento econmico do pas, apresentou a maior queda de participao nas exportaes do pas.

    As categorias que contriburam positivamente para a elevao da elastici-dade-renda ponderada das exportaes no perodo foram: Produtos de petrleo refinado e outros combustveis (133%); Agrcolas (85%); Outros produtos minerais no metlicos (25%); Construo e reparao naval (9%); Alimentos, bebidas e tabaco (2%); Equipamentos para ferrovia e material de transporte (1%); Farmacutica (0,41%); Objetos de arte, etc. (0,11%). Em termos setoriais, o setor de mdia/baixa tecnologia foi o principal responsvel pelo aumento da elasticidade-renda ponderada de 2000 para 2008, contribuindo com 142%, e impulsionado principalmente pelo desempenho das categorias Produtos de petrleo refinado e outros combustveis e Outros produtos minerais no metli-cos. Isso demonstra que o peso aumentou em favor do padro de especializao j existente em 2000 (principalmente do setor agropecurio e das indstrias de mdia/baixa tecnologia), mudando muito pouco a estrutura produtiva do pas neste perodo de oito anos.

    No caso da elasticidade-renda ponderada das importaes (Tabela 4), os se-tores que mais contriburam negativamente para o aumento na sua elasticidade,

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    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    Tabela 3.- Participao setorial na elasticidade-renda ponderada das exportaes 2000 e 2008.

    SetoresElast.pond.2000

    Contrib.elast. pond.

    2000 (%)

    Elast.pond.2008

    Contrib,elast. pond.

    2008 (%)

    Difer.elast.pond.

    Contrib. para as difer.

    Indstria de alta tecnologia 0,58 15,37 0,37 8,84 -0,22 -59,93Aeronutica e aeroespacial 0,02 0,45 0,01 0,24 -0,01 -1,91Farmacutica 0,02 0,45 0,02 0,45 0,00 0,41Material de escritrio e Informtica. Equipamento de rdio, TV e comunicao

    0,48 12,78 0,30 7,36 -0,18 -49,65

    Instrumentos mdicos 0,06 1,69 0,03 0,78 -0,03 -8,77Indstria de mdia-alta tecnologia 0,73 19,40 0,64 15,36 -0,10 -27,14

    Veculos automotores, reboques e semi-reboques 0,35 9,17 0,31 7,57 -0,03 -9,27

    Produtos qumicos, exceto farmacuticos 0,14 3,65 0,11 2,69 -0,03 -7,38

    Equipamentos para ferrovia e material de transporte 0,01 0,14 0,01 0,23 0,00 1,18

    Mquinas e equipamentos mecnicos 0,24 6,44 0,20 4,87 -0,04 -11,66

    Indstria de mdia/baixa tecnologia 1,07 28,23 1,58 38,11 0,51 142,17

    Construo e reparao naval 0,00 0,01 0,03 0,76 0,03 8,63Borracha e produtos plsticos 0,19 5,05 0,15 3,63 -0,04 -11,31Produtos de petrleo refinado e outros combustveis 0,14 3,67 0,62 14,91 0,48 133,31

    Outros produtos minerais no metlicos 0,26 6,85 0,35 8,38 0,09 24,54

    Produtos metlicos 0,48 12,66 0,43 10,43 -0,05 -12,99Indstria de baixa tecnologia 0,79 20,87 0,65 15,58 -0,14 -40,12Produtos manufaturados e bens reciclados 0,03 0,74 0,02 0,48 -0,01 -2,18

    Madeiras e seus produtos, papel e celulose 0,17 4,55 0,10 2,41 -0,07 -20,12

    Alimentos, bebidas e tabaco 0,45 12,01 0,46 11,10 0,01 1,52Txteis, couro e calados 0,13 3,57 0,07 1,58 -0,07 -19,34Produtos no industriais 0,61 16,13 0,92 22,11 0,31 85,01Agrcolas 0,61 16,13 0,91 22,09 0,30 84,90Objetos de arte,.. 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,11Transaes especiais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Elasticidade Mdia 3,78 - 4,14 - 0,36 -

    Fonte: Resultados da pesquisa.

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    Tabela 4.- Participao setorial na elasticidade-renda ponderada das importaes 2000 e 2008.

    SetoresElast.pond.2000

    Contrib.elast. pond.

    2000 (%)

    Elast.pond.2008

    Contrib,elast. pond.

    2008 (%)

    Difer.elast.pond.

    Contrib.. para as difer.

    Indstria de alta tecnologia 0,54 24,16 0,45 19,31 -0,09 -87,99Aeronutica e aeroespacial 0,08 3,49 0,07 3,17 0,00 -3,84Farmacutica 0,10 4,69 0,10 4,45 0,00 -0,80Material de escritrio e Informtica. Equipamento de rdio, TV e comunicao

    0,28 12,58 0,19 8,36 -0,09 -84,95

    Instrumentos mdicos 0,08 3,40 0,08 3,32 0,00 1,60Indstria de mdia/alta tecnologia 0,81 36,60 0,85 36,80 0,04 41,33

    Veculos automotores, reboques e semi-reboques 0,26 11,63 0,29 12,34 0,03 27,90

    Produtos qumicos, exceto farmacuticos 0,25 11,15 0,28 12,05 0,03 32,06

    Equipamentos para ferrovia e material de transporte 0,01 0,64 0,02 0,86 0,01 5,90

    Mquinas e equipamentos mecnicos 0,29 13,18 0,27 11,55 -0,02 -24,52

    Indstria de mdia/baixa tecnologia 0,67 30,11 0,87 37,43 0,20 199,33

    Construo e reparao naval 0,00 0,05 0,00 0,07 0,00 0,39Borracha e produtos plsticos 0,11 5,19 0,12 5,16 0,00 4,55Produtos de petrleo refinado e outros combustveis 0,43 19,23 0,56 24,25 0,14 135,12

    Outros produtos minerais no metlicos 0,04 1,86 0,06 2,40 0,01 14,31

    Produtos metlicos 0,08 3,78 0,13 5,56 0,05 44,97Indstria de baixa tecnologia 0,17 7,78 0,13 5,71 -0,04 -40,01Produtos manufaturados e bens reciclados 0,02 0,71 0,02 0,65 0,00 -0,70

    Madeiras e seus produtos, papel e celulose 0,06 2,77 0,04 1,60 -0,02 -24,26

    Alimentos, bebidas e tabaco 0,03 1,26 0,03 1,12 0,00 -1,83Txteis, couro e calados 0,07 3,05 0,05 2,35 -0,01 -13,23Produtos no industriais 0,03 1,35 0,02 0,74 -0,01 -12,66Agrcolas 0,03 1,35 0,02 0,74 -0,01 -12,66Objetos de arte,.. 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Transaes especiais 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00Elasticidade Mdia 2,21 - 2.32 - 0,100 -

    Fonte: Dados da pesquisa.

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    Padro de especializao no comrcio exterior, tecnologia e crescimento econmico do Brasil

    entre 2000 e 2008, foram o de alta tecnologia (-88%), seguido dos setores de baixa tecnologia (-40%) e dos produtos no industriais (-13%). Desta forma, o peso das importaes dos produtos de alta tecnologia diminuiu neste perodo, enfatizando que a indstria de Material de escritrio e Informtica, Equipamento de rdio, TV e comunicao foi a que mais colaborou para esse efeito negativo (85%).

    Em resumo, os resultados indicam que o padro de especializao do Brasil no comrcio internacional no se alterou no perodo de 2000 a 2008, sendo que o mesmo pautado principalmente pelos produtos da agropecuria e de mdia/baixa e baixa tecnologia, no caso das exportaes, e nos produtos de alta e mdia/alta tecnologia, no caso das importaes. Desse modo, esse padro de especiali-zao executado pelo pas coaduna com o critrio ricardiano, parcialmente com o kaldoriano, mas no com o critrio schumpeteriano, tendo em vista o fraco desempenho dos setores de alta tecnologia.

    5. Lei de Thirlwall Multissetorial: anlise descritiva e validao das estimativas

    Na seo anterior, analisou-se a composio da pauta comercial brasileira, assim como estimaram-se as elasticidades-renda das exportaes e das impor-taes. Esses dados foram utilizados para estimar a taxa de crescimento mdia do PIB e do PIB per capita do Brasil no perodo de 2000 a 2008, conforme os preceitos da Lei de Thirlwall Multissetorial (LTMS). A seguir, essas estimativas so confrontadas com as taxas de crescimento efetivas do PIB e do PIB per capita do Brasil no mesmo perodo (2000 a 2008). Com isso, possvel determinar se o crescimento econmico brasileiro foi restrito pelo balano de pagamentos. Na subseo 5.1 descrevem-se os critrios utilizados para a validao da LTMS; em seguida, na subseo 5.2 testa-se a validade da LTMS para o caso brasileiro.

    5.1 Critrios de validao da LTMS

    Conforme visto na seo 2.1, a taxa de crescimento da renda per capita esti-mada pela LTMS dada pela multiplicao da taxa de crescimento da renda per capita mundial pela razo das elasticidades-renda ponderadas das exportaes e importaes (equao 4). Para validar se o crescimento da economia brasileira no perodo de 2000-2008 foi restrito pelo balano de pagamentos, utilizam-se duas metodologias de validao.

    Inicialmente, com os dados reais do PIB per capita do Brasil (em dlares) calcula-se a taxa de crescimento mdia do perodo. Em seguida, compara-se a taxa de crescimento efetiva com a taxa de crescimento estimada pela LTMS por meio de teste t de Student de contraste de mdias. Nesse caso, determina--se o valor do teste t (7) e ele comparado ao valor crtico com n-1 graus de liberdade e nvel de significncia de 5%. A hiptese nula do teste a de que a taxa de crescimento do PIB per capita, estimada pela LTMS, no distinta da taxa efetiva do perodo.

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    (7)

    onde _X a mdia do crescimento do PIB per capita efetivo; S o seu desvio-

    -padro; n o tamanho da amostra; a taxa estimada pela LTMS.O segundo mtodo de validao a tcnica de McGregor e Swales (1985),

    via a estratgia do teste de regresso. Nesse caso, primeiramente, regride-se a taxa de crescimento do PIB per capita efetivo contra a taxa de crescimento estimada, verificando-se, na sequncia, se possvel rejeitar a hiptese nula de que a declividade e o intercepto da reta de regresso so iguais a 1 e a 0, respectivamente, pelo teste F de restries conjuntas. Para a construo da srie da taxa de crescimento estimada, obteve-se a taxa de crescimento anual do PIB per capita mundial e multiplicou-se pela razo das elasticidades-renda ponderadas das exportaes e importaes do pas, gerando-se assim uma taxa de crescimento anual estimada pela LTMS.

    Ressalte-se que, alm de ter sido feita uma estimativa da taxa de cresci-mento do PIB per capita, calculou-se tambm a taxa de crescimento do PIB do Brasil via LTMS, sendo executados os mesmos procedimentos de validao anteriormente descritos.

    5.2 Anlise de validao da LTMS

    O crescimento mdio do PIB para o perodo 2000 a 2008 foi igual a 6,41% a.a., enquanto que o estimado pela LTMS foi de 6,55% a.a.. Neste sentido, verifica-se que a taxa de crescimento obtida via LTMS foi muito prxima efetiva, superestimando-a em apenas 0,14%. J para o PIB per capita, a taxa de crescimento efetiva (mdia) no perodo analisado foi de 5,10% a.a., enquanto que a taxa de crescimento estimada pela LTMS foi de 5,19% a.a. Assim, o erro de estimao do modelo foi relativamente pequeno, apenas - 0,09%.

    Com o objetivo de validar as estimativas da LTMS, comparou-se a taxa de crescimento prevista pelo modelo e as taxas de crescimento do PIB e do PIB per capita efetivas por meio da prova t de Student de contraste entre duas mdias. Como o valor do teste t encontrado tanto para o PIB quanto para o PIB per ca-pita foram menores que o seu valor crtico (1,89), com n-1 graus de liberdade, e nvel de significncia de 5%, no se pode rejeitar a hiptese de que a taxa de crescimento do PIB e a taxa de crescimento do PIB per capita estimadas pela LTMS so semelhantes s taxas efetivas do perodo (Tabela 5).

    Alm da prova t de Student, utilizou-se um teste mais formal de valida-o, aplicando-se a metodologia de McGregor e Swales (1985). Nesse caso, regrediu-se primeiramente a taxa de crescimento do PIB efetivo contra a taxa de crescimento estimada, verificando-se, na sequncia, se possvel rejeitar a hiptese nula de que a declividade e o intercepto da reta de regresso so iguais

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    Tabela 5.- Taxas de crescimento do PIB e do PIB per capita: Lei de Thirlwall Multissetorial (LTMS) e efetiva 2000 a 2008.

    Taxa de crescimentoCrescimento mdio

    do PIB2000-2008 (%)

    Crescimento mdio do PIB per capita

    2000-2008 (%)Efetiva 6,41 5,10LTMS 6,55 5,19Erro -0,14 -0,09Estatstica t de Student -0,18 -0,10

    Fonte: Resultado da pesquisa.

    a 1 e a 0, respectivamente. Esse processo tambm foi aplicado ao PIB per capita. Em ambos os casos, conforme o teste F de restries conjuntas, no possvel rejeitar a hiptese nula (Tabela 6).

    Dessa forma, tanto por meio de teste t de Student quanto pela metodologia de McGregor e Swales (1985) no possvel rejeitar a hiptese de que a taxa de crescimento da economia brasileira no perodo de 2000 a 2008 compatvel com a LTMS.

    Tabela 6.- Teste de regresso de validade da LTMS (conforme a metodologia de McGregor e Swales (1985)).

    Varivel independenteVarivel dependente

    Crescimento PIB

    Crescimento PIB per capita

    LTMS 0,842(2,86)*0,851

    (2,72)*

    Constante 0,0089(0,44)0,0069(0,39)

    R2 0,54 0,55Teste de regresso: inclinao igual a 1 e intercepto igual a zero 0,84

    + 0,89+

    Fonte: Resultado da pesquisa.Nota: Estatstica t de Student entre parnteses. * Significativo a 5%. + p-valor da estatstica F.

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    6. Consideraes finais

    No presente trabalho buscou-se mostrar que existe uma conexo entre o padro de especializao da economia brasileira no comrcio exterior, o nvel tecnolgico e o crescimento econmico.

    Primeiramente, analisou-se o peso dos setores industriais na pauta de exportaes e importaes do Brasil no perodo de 2000 a 2008. Nesse caso, verificou-se que as exportaes concentram-se nos setores de mdia/baixa e baixa tecnologia, ao passo que as importaes concentram-se nos setores de mdia/alta e mdia/baixa e alta tecnologia.

    Em seguida, estimaram-se as elasticidades-renda das exportaes e impor-taes, tendo sido identificado que as mesmas possuem relao positiva com o nvel de intensidade tecnolgica da indstria. Nessa situao, os setores de alta intensidade tecnolgica apresentaram, em mdia, maiores elasticidades-renda da demanda por exportaes e importaes do que todos os demais setores in-dustriais, inclusive da agropecuria, com exceo apenas da indstria de mdia/baixa tecnologia no que se refere a importaes.

    Posteriormente, combinando-se essas informaes com os pesos dos setores na pauta comercial, estimaram-se as elasticidades-renda das exportaes e das importaes ponderadas. Quanto evoluo das elasticidades-renda pondera-das das exportaes, observou-se que a indstria de mdia/baixa tecnologia foi a principal responsvel pelo seu aumento de 2000 para 2008, contribuindo com 142%. Isso demonstra que o peso est aumentando em favor do padro de especializao j existente em 2000 (principalmente do setor agropecurio e das indstrias de mdia/baixa tecnologia), mudando muito pouco a estrutura produtiva do pas neste perodo de oito anos.

    Por sua vez, na evoluo das elasticidades-renda ponderadas das importa-es, os setores agrupados por intensidade tecnolgica que mais contriburam negativamente para o aumento na sua elasticidade entre 2000 e 2008, foram a indstria de alta tecnologia (-88%), seguida da indstria de baixa tecnologia (-40%) e dos produtos no industriais (-13%). Desta forma, o peso das impor-taes dos produtos de alta tecnologia diminuiu neste perodo, enfatizando-se que o setor Material de escritrio e Informtica, Equipamento de rdio, TV e comunicao foi o que mais colaborou para esse efeito negativo (85%).

    Os resultados obtidos no presente trabalho indicam que o padro de especia-lizao da economia brasileira no comrcio exterior, ao explorar as vantagens comparativas como recursos naturais e mo-de-obra de baixo custo, est de acordo com o critrio ricardiano, porm vai de encontro com os critrios key-nesiano e schumpeteriano, tendo em vista que os setores de alta intensidade tecnolgica, que possuem a maior elasticidade-renda da demanda e o maior potencial de aprendizado tecnolgico, possuem pequena participao na pauta de exportaes do Brasil.

    Por fim, testou-se a hiptese de que o crescimento da economia brasileira no perodo de 2000 a 2008 condizente com a LTMS. No presente trabalho,

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    utilizaram-se como critrios de validao da LTMS o teste t de Student e a me-todologia de McGregor e Swales (1985). Os resultados obtidos, considerando-se os dois critrios utilizados, confirmam que a taxa de crescimento da economia brasileira no perodo de 2000 a 2008 condizente com a LTMS.

    Assim, como o crescimento do Brasil restrito pelo Balano de Pagamen-tos, e como em termos de indstrias a de alta tecnologia foi a que apresentou a maior elasticidade-renda ponderada da exportao, seguida da indstria de mdia/alta tecnologia, o crescimento do pas a taxas mais elevadas poderia ser induzido diretamente via fomento dos setores mais intensivos em tecnologia.

    No caso da agropecuria, que apresentou elevada elasticidade-renda pondera-da das exportaes e peso significativo nas exportaes totais do pas, conforme Vicente et al. (2003), a intensidade no uso de insumos modernos substitutos da terra, como agrotxicos e fertilizantes, afeta positivamente a produtividade total dos fatores. Como esses produtos fazem parte dos setores de alta e mdia/alta tecnologia, polticas voltadas para o fomento desses setores poderiam conduzir a um crescimento mais dinmico da economia, tendo em vista que tais indstrias tambm poderiam afetar a produtividade da agricultura brasileira, por meio da produo e inovao de insumos modernos substitutos da terra, o que elevaria a produo e a exportao dos produtos da agropecuria, induzindo indiretamente o crescimento econmico do pas.

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    Apndice 1.- Classificao das categorias em setores e em nveis tecnolgicos (NT).

    NT Setores Categorias

    Ind.

    de

    alta

    tec.

    Aeronutica e aeroespacial

    Aeronaves e outros aparelhos areos, etc. e suas partes

    Farmacutica Produtos farmacuticosMaterial de escritrio...equipam. de rdio, TV e comunicao

    Mquinas, aparelhos e material eltricos,suas partes,etc.

    Instrumentos mdicos de tica e preciso

    Instrumentos e aparelhos de ptica, fotografia, etc. Relgios e aparelhos semelhantes, e suas partes

    Ind.

    de

    md

    ia-a

    lta te

    cn.

    Veculos automotores, reboques e semi-reboques

    Veculos automveis, tratores, etc. suas partes/acessrios

    Produtos qumicos, exceto farmacuticos

    Produtos qumicos inorgnicos, etc. Produtos qumicos orgnicos. Adubos ou fertilizantes. Extratos tanantes e tintoriais, taninos e derivados, etc. leos essenciais e resinoides, prods. de perfumaria, etc. Sabes, agentes orgnicos de superfcie, etc. Matrias albuminides, produtos a base de amidos, etc. Plvoras e explosivos,artigos de pirotecnia, etc. Prod. para fotografia e cinematografia. Produtos diversos das ind. qum.

    Equipam. para ferrovia e material de transporte

    Veculos e material para vias frreas, semelhantes, etc.

    Mquinas e equipamentos mecnicos

    Armas e munies, suas partes e acessrios. Reatores nucleares, caldeiras, mquinas, etc., mecnicos.

    Ind.

    de

    md

    ia-b

    aixa

    tec.

    Construo e repar. Naval Embarcaes e estruturas flutuantesBorracha e prod. plsticos Plsticos e suas obras. Borracha e suas obrasProdutos de petrleo ref. e outros combustveis

    Combustveis minerais, leos minerais, etc. ceras minerais

    Outros produtos minerais no metlicos

    Obras de pedra, gesso, cimento, amianto, mica, etc. Produtos cermicos. Vidro e suas obras. Sal, enxofre, terras e pedras, gesso, cal e cimento. Minrios, escrias e cinzas

    Produtos metlicos

    Ferro fundido, ferro e ao. Obras de ferro fundido, ferro ou ao. Cobre e suas obras. Nquel e suas obras. Alumnio e suas obras. Chumbo e suas obras. Zinco e suas obras. Estanho e suas obras. Outros metais comuns, ceramais, obras dessas matrias. Ferramentas, artefatos de cutelaria, etc. de metais comuns. Obras diversas de metais comuns.

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    Ind

    stri

    a de

    bai

    xa te

    cnol

    ogia

    Produtos manufaturados e bens reciclados

    Brinquedos, jogos, artigos p/ divertimento, esportes, etc. Obras diversas. Instrumentos musicais, suas partes e acessrios. Prolas naturais ou cultivadas, pedras preciosas, etc. Chapus e artefatos de uso semelhante,e suas partes. Guarda-chuvas, sombrinhas, guarda-sis, bengalas, etc. Penas e penugem preparadas, e suas obras, etc.

    Madeiras e seus produtos, papel e celulose

    Mveis, mobilirio mdico-cirurgio, colches, etc. Madeira, carvo vegetal e obras de madeira. Cortia e suas obras. Obras de espartaria ou de cestaria. Pastas de madeira ou matrias fibrosas celulsicas, etc. Papel e carto, obras de pasta de celulose, de papel, etc. Livros, jornais, gravuras, outros produtos grficos, etc.

    Alimentos, bebidas e tabaco

    Gorduras, leos e ceras animais ou vegetais, etc. Preparaes de carne, de peixes ou de crustceos, etc. Acares e produtos de confeitaria. Cacau e suas preparaes. Preparaes a base de cereais, farinhas, amidos, etc. Preparaes de produtos hortcolas, de frutas, etc. Preparaes alimentcias diversas. Bebidas, lquidos alcolicos e vinagres. Resduos e desperdcios das indstrias alimentares, etc. Fumo (tabaco) e seus sucedneos manufaturados. Produtos da indstria de moagem, malte, amidos, etc.

    Txteis, couro e calados

    Seda. L, pelos finos ou grosseiros, fios e tecidos de crina. Algodo. Outras fibras txteis vegetais, fios de papel,etc. Filamentos sintticos ou artificiais. Fibras sintticas ou artificiais descontnuas. Pastas, feltros e falsos tecidos, etc. Tapetes, outros revestimentos p/ pavimentos de matrias txteis. Tecidos especiais, tecidos tufados, rendas, tapearias, etc. Tecidos impregnados, revestidos, recobertos, etc. Tecidos de malha. Vesturio e seus acessrios, de malha. Vesturio e seus acessrios, exceto de malha. Outros artefatos txteis. Confeccionados, sortidos, etc. Calcados, polainas e artefatos semelhantes, e suas partes. Peles, exceto a peleteria (peles com pelo), e couros. Obras de couro, artigos de correeiro ou de seleiro, etc. Peleteria (peles com pelo), suas obras, peleteria artificial.

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    Prod

    . no

    indu

    st.

    Produtos da agropecuria

    Animais vivos. Carnes e miudezas, comestveis. Peixes e crustceos, moluscos e outros invertebrados aquticos. Leite e laticnios, ovos de aves, mel natural, etc. Outros produtos de origem animal. Plantas vivas e produtos de floricultura. Produtos hortcolas, plantas, razes, etc. comestveis. Frutas, cascas de ctricos e de meles. Caf, ch, mate e especiarias. Cereais. Sementes e frutos. Oleaginosos, gros, sementes, etc. Gomas, resinas e outros sucos e extratos vegetais. Outros produtos de origem vegetal.

    Objetos de arte.... Objetos de arte, de coleo e antiguidadesTransaes especiais Transaes especiais

    Fonte: Furtado e Carvalho (2005), adaptado pelos autores.

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    Apndice 2.- ndice da taxa de cmbio efetiva mdia: Brasil - 2000 a 2008 (1994=100).

    Fonte: IPEADATA.