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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 107 CAPÍTULO 4- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1. Introdução O presente capítulo está subdividido em três secções onde são apresentados e discutidos os resultados obtidos com a investigação realizada com vista à consecução dos objectivos definidos no ponto 1.3. do capítulo 1. Em 4.2. apresentam-se e discutem- se os dados recolhidos através de um questionário (respondido por 370 alunos do 9ºano de escolaridade, e 89 professores de C.F.Q. a leccionar o 3º Ciclo, ambos pertencentes ao CAE de Coimbra) acerca dos seus hábitos de leitura e das opiniões que perfilham sobre as eventuais potencialidades da B.D. no ensino da Química. No ponto 4.3. é apresentada uma análise dos conteúdos de Química, Ciência e Cientista incluídos em alguns livros de B.D.. No último ponto (4.4.) são apresentadas e discutidas as respostas, obtidas através de uma entrevista efectuada a oito alunos, oito professores e três investigadoras, que corporizam a interpretação/entendimento destes elementos acerca de quatro excertos de B.D. envolvendo conteúdos de Química e imagens da Ciência e dos Cientistas. 4.2. Hábitos de Leitura e Potencialidades da B.D. no Ensino da Química O primeiro ímpeto deste estudo foi conhecer a aceitação que os livros de B.D. têm actualmente, quer no que respeita a hábitos de leitura (4.2.1.) quer no que respeita a importância que lhe é reconhecida (4.2.2.), entre alunos no final da escolaridade obrigatória e entre docentes de C.F.Q. a leccionar o 3º Ciclo, para assim conhecer as preferências pelos livros de B.D por parte dos alunos e esclarecer até que ponto a utilização deste meio informal, no contexto escolar, seria ou não do agrado destes mesmos alunos (4.2.3.), tanto no caso dos que nunca utilizaram como no caso dos que já o utilizaram. Outro objectivo foi o confrontar a importância que os professores envolvidos no estudo atribuíam à B.D. enquanto recurso didáctico e as suas razões para isso com as opiniões de oito professores de C.F.Q. do CAE de Coimbra entrevistados com este propósito (ponto 4.2.4.). Por último, tentámos averiguar a percepção que os elementos participantes no estudo tinham acerca dos conteúdos curriculares de Química,

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 107

CAPÍTULO 4- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4.1. Introdução

O presente capítulo está subdividido em três secções onde são apresentados e

discutidos os resultados obtidos com a investigação realizada com vista à consecução

dos objectivos definidos no ponto 1.3. do capítulo 1. Em 4.2. apresentam-se e discutem-

se os dados recolhidos através de um questionário (respondido por 370 alunos do 9ºano

de escolaridade, e 89 professores de C.F.Q. a leccionar o 3º Ciclo, ambos pertencentes

ao CAE de Coimbra) acerca dos seus hábitos de leitura e das opiniões que perfilham

sobre as eventuais potencialidades da B.D. no ensino da Química. No ponto 4.3. é

apresentada uma análise dos conteúdos de Química, Ciência e Cientista incluídos em

alguns livros de B.D.. No último ponto (4.4.) são apresentadas e discutidas as respostas,

obtidas através de uma entrevista efectuada a oito alunos, oito professores e três

investigadoras, que corporizam a interpretação/entendimento destes elementos acerca de

quatro excertos de B.D. envolvendo conteúdos de Química e imagens da Ciência e dos

Cientistas.

4.2. Hábitos de Leitura e Potencialidades da B.D. no Ensino da Química

O primeiro ímpeto deste estudo foi conhecer a aceitação que os livros de B.D.

têm actualmente, quer no que respeita a hábitos de leitura (4.2.1.) quer no que respeita a

importância que lhe é reconhecida (4.2.2.), entre alunos no final da escolaridade

obrigatória e entre docentes de C.F.Q. a leccionar o 3º Ciclo, para assim conhecer as

preferências pelos livros de B.D por parte dos alunos e esclarecer até que ponto a

utilização deste meio informal, no contexto escolar, seria ou não do agrado destes

mesmos alunos (4.2.3.), tanto no caso dos que nunca utilizaram como no caso dos que já

o utilizaram. Outro objectivo foi o confrontar a importância que os professores

envolvidos no estudo atribuíam à B.D. enquanto recurso didáctico e as suas razões para

isso com as opiniões de oito professores de C.F.Q. do CAE de Coimbra entrevistados

com este propósito (ponto 4.2.4.). Por último, tentámos averiguar a percepção que os

elementos participantes no estudo tinham acerca dos conteúdos curriculares de Química,

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presentes nos livros de B.D. (4.2.5.) bem como, as imagens da Ciência e dos Cientistas

que, no entender destes, eram as veiculadas por este meio (4.2.6.).

4.2.1. Hábitos de Leitura de B.D.

Perante a questão “Costuma ler?”(questão II.1.- questionário dos alunos e dos

professores) colocada aos elementos participantes do estudo, 59,2% dos alunos e 37,1%

dos professores afirmaram ler B.D. (tabela 3). É entre os alunos (nível etário de 12 a 19

anos) que a leitura de B.D. encontra maior expressão, tal como era de esperar com base

nos estudos efectuados por Santos (2000) e por Freitas et al. (1997), assim como nas

estatísticas da editora que comercializa estes livros (anexo 13).

Analisando o hábito de leitura de B.D. em função do sexo (tabela 4), verifica-

se que, no que respeita ao grupo dos alunos, 58,0% das alunas e 60,4% dos alunos são

leitores de B.D..

Tabela 3. Hábito de leitura de B.D. de alunos e professores

Lê B.D. Não lê B.D. Não responde

Grupos

f % f % f %

Alunos

(nA=370) 219 59,2 149 40,3 2 0,5

Professores

(nP=89) 33 37,1 56 62,9 0 0,0

Tabela 4. Hábito de leitura de B.D. em função do sexo

Lê B.D. Não lê B.D. Não responde Grupos Sexo

f % f % f %

F

(nF=200) 116 58,0 84 42,0 0 0,0

Alunos M

(nM=169) 102 60,4 65 38,4 2 1,2

F

(nF=73) 27 37,0 46 63,0 0 0,0

Professores M

(nM=16) 6 37,5 10 62,5 0 0,0

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No tocante ao grupo dos professores, verifica-se que 37,0% das professoras e

37,5% dos professores são leitores de B.D.. O sexo não parece, portanto, ser um factor

determinante, em termos de leitura de B.D., em nenhum dos grupos participantes do

estudo.

Fazendo agora a análise da leitura de B.D. em função da idade dos alunos

(tabela 5), verifica-se que a percentagem de leitores em cada uma das classes etárias

consideradas ronda os 60% (12 aos 14 anos-61,2%; 15 a 16 anos-58% e 17 aos 19 anos-

60%), não parecendo existir uma influência da idade no hábito de leitura de B.D..

A análise do hábito de leitura de B.D. em função da idade dos professores

mostra que a leitura de B.D. parece aumentar progressivamente com a idade,

apresentado o valor de 32,1% para a classe etária mais jovem e 47,8% para a classe

mais idosa (tabela 5). Verifica-se um hábito de leitura de B.D. ligeiramente maior entre

os professores de quarenta anos ou mais. Estas percentagens são, no entanto, todas

inferiores às obtidas para o grupo dos alunos.

Relacionando agora a leitura de B.D. dos alunos com o nível de instrução dos

seus pais, constata-se (pelos dados apresentados na tabela 6) um aumento percentual dos

leitores de B.D. com o nível de instrução dos pais, sendo a percentagem mais elevada

(70,7%) na classe cujos pais possuem nível de instrução elevado e sendo os valores

percentuais muito semelhantes nas outras classes (58,9% na classe média e 57,5% na

Tabela 5. Hábito de leitura de B.D. em função da idade

Lê B.D. Não lê B.D. Não Responde

Grupos Idade em anos

f % f % f %

De 12 a 14

(n=116) 71 61,2 44 37,9 1 0,9

De 15 a 16

(n=219) 127 58,0 91 41,5 1 0,5 Alunos

De17 a 19

(n=35) 21 60,0 14 40,0 0 0,0

Menos de 30

(n=28) 9 32,1 19 67,9 0 0,0

De 30 a 39

(n=38) 13 34,2 25 65,8 0 0,0 Professores

40 ou mais

(n=23) 11 47,8 12 52,2 0 0,0

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classe baixa). Nota-se que esta tendência é também referida num inquérito efectuado à

população portuguesa por Freitas et al. em 1997.

Quanto ao número de livros de B.D. que, em média, os elementos leitores

indicaram ler por mês (II.1.1.-questionário dos alunos e II.1.2.-questionário dos

professores), observa-se, pela tabela 7, que mais de metade dos professores (51,5%)

afirmaram ler menos de um livro de B.D. e que 41,1% dos alunos afirmaram ler um

livro de B.D. por mês. De salientar que mais de um terço dos alunos parece ler dois ou

mais livros de B.D. por mês. Assim, os alunos leitores de B.D. envolvidos neste estudo

parecem ler mais livros de B.D. do que os professores leitores.

Analisando a frequência mensal de leitura de B.D. em função do sexo dos

alunos leitores de B.D. (tabela 8) nota-se que os rapazes se concentram mais em dois ou

mais livros de B.D. por mês (41,2%), enquanto que a maior concentração das alunas se

verifica na categoria um livro por mês (44,0%). Entre os professores leitores de B.D.,

constata-se que a maioria (55,6%) das professoras lê menos de um livro de B.D. por

mês, enquanto que metade dos professores lê um livro por mês.

Tabela 6. Distribuição dos alunos leitores de B.D. pelo nível de instrução dos pais

Lê B.D. Não Lê B.D. Não responde Leitura de B.D.

Nível de instrução

dos pais f % f % f %

Baixo

(nB=252) 145 57,5 106 42,1 1 0,4

Médio

(nM=73) 43 58,9 29 39,7 1 1,4

Elevado

(nE=41) 29 70,7 12 29,3 0 0,0

Tabela 7. Frequência mensal de leitura de livros de B.D. dos alunos e professores

leitores de B.D.

Menos de um livro Um livro Dois ou mais livros Não responde Grupos

f % f % f % f %

Alunos

(nA=219) 50 22,8 90 41,1 76 34,7 3 1,4

Professores

(nP=33) 17 51,5 10 30,3 6 18,2 0 0,0

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Parece, portanto, que existe uma tendência para o sexo masculino ler mais B.D., quer no

caso dos alunos quer no caso dos professores. No entanto, é necessária cautela na

análise destes resultados, uma vez que a sub-amostra de professores leitores do sexo

masculino é muito reduzida (seis).

No que respeita à frequência de leitura de livros de B.D. em função da idade

dos alunos, verifica-se que, qualquer que seja a classe etária considerada, a maior

percentagem de leitores se encontra na categoria um livro por mês e que para as

diferentes classes etárias os valores percentuais são próximos: 42,3% na classe dos 12

aos 14 anos; 39,4% na classe dos 15 aos 16 anos e 47,6% na classe dos 17 aos 19 anos.

Análise semelhante efectuada para os professores leitores, participantes no estudo,

parece indicar que enquanto professores de idades compreendidas entre 30 e 39 anos se

concentram (76,9%) em menos de um livro por mês, os professores com mais de 40

anos distribuem-se pelas três categorias de frequência de leitura consideradas. A classe

etária mais jovem apresenta percentagens de cerca de 44% para a leitura de menos de

um livro e de um livro por mês.

A análise do número de livros lidos pelos alunos em média, por mês, em

função do nível de instrução dos pais dos alunos, indica que a percentagem maior vai

para a leitura de um livro por mês, nos alunos cujos pais têm nível de instrução baixo

(42,8%) ou médio (41,9%), e de dois ou mais livros no caso dos alunos cujos pais

possuem um nível de instrução elevado (44,8%). Parece, assim, que o elevado nível de

instrução dos pais poderá conduzir a uma frequência média de leitura mensal mais

elevada.

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Aos professores, leitores não actuais de B.D. (nP=56), solicitámos (questão

II.1.1.-questionário dos professores) que nos indicassem se em alguma circunstância da

sua vida leram B.D.. A maior parte dos leitores não actuais (48,2%) aponta a

adolescência como a etapa da sua vida em que efectuaram leitura de B.D. (tabela 9). A

infância é outra fase da vida em que alguns (16,1 %) professores afirmaram ter lido

B.D.. Igual percentagem (16,1%) de professores referem ter lido “há algum tempo”,

mas não especificaram quando ou em que circunstâncias. Outras respostas (5,3%) estão

relacionadas com a disponibilidade de tempo, directa ou indirecta (por exemplo: em

tempo de férias, no ano passado, quando tinha tempo), ou com o conteúdo de B.D. (por

exemplo: se disser respeito à actualidade).

Tabela 8. Frequência mensal de leitura de livros de B.D. dos alunos e professores leitores, em função

do sexo, idade e nível de instrução dos pais

Frequência mensal

Menos de um Um Dois ou mais Não responde

Características

dos

Inquiridos f % f % f % f %

F (nF=116) 31 26,7 51 44,0 33 28,4 1 0,9

Sexo

M (nM=102) 19 18,6 39 38,2 42 41,2 2 2,0

De 12 a 14 (n=71) 18 25,3 30 42,3 23 32,4 0 0,0

De 15 a 16 (n=127) 27 21,2 50 39,4 47 37,0 3 2,4

Idad

e em

anos

De 17 a 19 (n=21) 5 23,8 10 47,6 6 28,6 0 0,0

Baixo (nB=145) 34 23,4 62 42,8 46 31,7 3 2,1

Médio (nM=43) 10 23,2 18 41,9 15 34,9 0 0,0

Alu

nos

Nív

el d

e

inst

ruçã

o

dos p

ais

Elevado (nE=29) 6 20,7 10 34,5 13 44,8 0 0,0

F (nF=27) 15 55,6 7 25,9 5 18,5 0 0,0

Sexo

M (nM=6) 2 33,3 3 50,0 1 16,7 0 0,0 Menos de 30 (n=9) 4 44,4 4 44,4 1 11,2 0 0,0 De 30 a 39 (n=13) 10 76,9 2 15,4 1 7,7 0 0,0 Pr

ofes

sore

s

Idad

e em

anos

Mais de 40 (n=11) 3 27,2 4 36,4 4 36,4 0 0,0

Tabela 9. Circunstâncias da vida de leitura de B.D. (nP=56)

Li B.D.... f %

Na adolescência 27 48,2

Na infância 9 16,1

Há algum tempo 9 16,1

Quando lia histórias aos filhos 2 3,6

Outras respostas 3 5,3

Não responde 6 10,7

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Aos actuais leitores de B.D. (questão II.1.4.-questionário dos alunos e questão

II.1.3.-questionário dos professores) foi perguntado o título do último livro lido com a

finalidade de conhecer as suas preferências em termos de livros de B.D.. As respostas a

esta questão (gráfico 1) incluíram uma diversidade de títulos de B.D. que poderá estar

associada à vasta gama deste género de livros existente no mercado. Contudo, o último

livro de B.D. lido, indicado por uma maior percentagem de alunos, foi os livros do Tio

Patinhas (21,0%).

Gráfico 1. Último livro de B.D. lido pelos alunos e professores (nA=219; nP=33)

Face a este resultado podemos afirmar que esta série de livros corresponderá aos livros

de B.D. preferidos por esses mesmos alunos. Esta série de livros pertence ao grupo dos

livros de Walt Disney, que se caracteriza por ser uma publicação mensal, com um preço

actual de 1,98 euros, e é composto por histórias de personagens, como o professor

Pardal, o Pato Donald e os seus sobrinhos, a vovó Donald, os irmãos Metralhas, a Maga

Patalógika, entre outros. São histórias com um tamanho médio (de 7 a 12 páginas) e os

livros são vendidos em qualquer tipo de superfície comercial, desde quiosques a grandes

superfícies. Esta série de livros foi também os livros preferidos pelos alunos do 3º Ciclo

do Ensino Básico (7ºano) que participaram num estudo realizado por Freire (1994), mas

foi apenas a terceira opção no estudo efectuado por Magalhães e Alçada (1993) com

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

Tio

pat

inha

s

Ast

érix

Tin

tim

Maf

alda

Hip

er D

ysne

y

Cal

vin

& H

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Pato

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Món

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o

%

Alunos Professores

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3982 alunos do primeiro, segundo e terceiro ciclos do Ensino Básico. Por outro lado,

esta série de livros foi uma das mais vendidas no ano de 2002 (ano de aplicação do

questionário) em relação a outras séries de livros de B.D. da mesma editora (anexo 13).

No que concerne aos professores, a sua preferência vai para os livros do

Astérix, com 33,3% de adesão. Convém referir que nem todos estes professores se

encontravam a ler o mesmo livro. Esta colecção tem cerca de 30 livros no mercado, mas

por serem da mesma personagem da B.D. fez-se o agrupamento dos livros referidos

pelos professores. Estes livros, se comparados com os livros das figuras Disney, têm

sítios de venda mais selectos, tais como livrarias da especialidade e grandes superfícies

comerciais. No entanto, podemos encontrá-los em algumas bibliotecas municipais e

escolares. O seu preço actual é de dez euros, ou seja, muito mais elevado que o dos

livros do Walt Disney.

Os livros que ficaram em segundo e terceiro lugares, no caso dos alunos, são

os livros do Astérix (10,5%) e os do Tintim (9,6%). Surge no gráfico um conjunto de

livros Outros, com 9,1%, que inclui títulos que estavam a ser lidos apenas por um aluno,

e que abrange uma grande panóplia de nomes da B.D., tais como, Barco Perdido,

Geniozinho, Akira, Super Heróis, Dragon Ball, Garfield, Cultura Harinel, Capitão

Américo e os Vingadores, Sopa de Pedra, Capuchinho Vermelho, Branca de Neve, Zé

Carioca, Cher de Poule, Adam, Bob en Bobette, Coração de Frame, Pateta, 101

Dalmatas, Batman e Brasinha em Inglaterra é um Assombro.

Com uma distância apreciável do livro mais lido, com valores percentuais que

distam entre si entre cerca de dois a quatro por cento, os alunos leitores de B.D. indicam

outros livros de figuras do Walt Disney (que têm algumas características, ao nível de

conteúdo, semelhantes às do livro do Tio Patinhas conforme é veiculado pela empresa

que comercializa estes livros, cf. anexo 13) e os livros do Super Homem, da Mónica e

dos X-Men, Homem Aranha, da Mafalda e do Calvin & Hobbes. Os títulos dos últimos

livros como o da Magali, do Zits, do Lucky Luke e dos Três e o Preto e ainda um do 25

de Abril (um livro que retrata a história da revolução). Existe no entanto uma

percentagem elevada de alunos leitores de B.D., 19,2% que, ou não indicam o título do

último livro de B.D. lido ou indicaram um género de livros diferentes da B.D.,

nomeadamente livros de aventura. Este último tipo de resposta foi considerada

desadequada (ao que se pretendia) e portanto entendida como uma não indicação ou

uma não resposta.

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No caso dos professores, ficaram em segundo e terceiro lugar, exequo, com

valores percentuais de 9,1, os livros do Tintim e da Mafalda. Também os livros das

figuras da Walt Disney merecem alguma preferência por parte dos professores (6,1 %

para o livro do Tio Patinhas e 3,0% para a revista Hiper Disney). Com uma expressão

de 3,0 % surgem os livros do Calvin & Hobbes. Na categoria indicada no gráfico como

“Outros” estão títulos de livros de B.D. como Cristophe Colomb, a Casa Dourada de

Samarcanda, Corto Maltese e as aventuras completas de Modesty Blaise, com uma

percentagem total de 12,1 %.

Entre os professores existe uma percentagem elevada (24,2%) de indivíduos

que não indicam o título do último livro de B.D. lido. O esquecimento é a razão para

não terem fornecido esta informação.

Comparando os dados relativos aos últimos livros de B.D. lidos pelos

professores e pelos alunos verifica-se existir alguma concordância qualitativa quanto ao

género preferido de leitura da B.D., na medida em que ambos indicam os livros do Walt

Disney e Astérix como um dos últimos livros lidos, embora com percentagens dispares.

O Astérix predomina entre os professores, talvez por este grupo ter mais poder

económico e, consequentemente, maior poder de escolha, enquanto que os alunos lêem

mais livros do Tio Patinhas, talvez por serem mais acessíveis, do ponto de vista

económico.

Quando inquiridos sobre locais de leitura (questão II.1.3.-questionário dos

alunos e II.1.4.-questionário dos professores) e tendo à escolha mais de uma opção, os

alunos e os professores leitores de B.D., participantes no estudo, declararam ler

habitualmente em casa (90,9% e 97,0 %- tabela 10, respectivamente). Cerca de um

quinto dos alunos declararam ler em Outros locais, tendo mencionado locais como o ar

livre (como jardins, campo), transportes (comboio), lugares públicos (Biblioteca

Municipal e COJ-Centro de Ocupação Juvenil-existente em algumas escolas), salas de

estudo, café e sítios privados, como residências estudantis.

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Tabela 10. Locais onde alunos e professores leitores de B.D. costumam fazer este tipo de leitura

É de salientar que os alunos indicam a biblioteca da escola como o terceiro

local habitual para a leitura deste género de livros (10,5%).

Em suma, alunos e professores envolvidos no presente estudo têm diferentes

hábitos de leitura de B.D. Enquanto que cerca de dois terços dos alunos participantes no

estudo referem ler B.D., apenas um terço dos professores o faz. Contudo, a maioria dos

professores indicou já ter lido B.D.. Verifica-se, no presente estudo, que os alunos

leitores de B.D. preferem ler livros da série do Tio Patinhas enquanto, os professores

leitores de B.D. mencionam preferir livros da colecção Astérix. Também são os alunos

leitores de B.D. que mais frequentemente lêem este género de livro, ou seja, o presente

estudo indica que cerca de 70% dos alunos leitores lê um ou mais livros de B.D., em

média, por mês, enquanto que a maioria dos professores leitores refere ler menos de um

livro de B.D. por mês. No entanto, quase cem por cento dos elementos leitores de B.D.,

de ambos os grupos, envolvidos no estudo, indicam a casa como o local de leitura de

B.D. favorito. No que concerne à análise dos hábitos de leitura em função das variáveis

género, idade e nível de instrução dos pais, dos alunos leitores, verifica-se que não há

grandes diferenças a salientar, embora nos pareça que são os alunos com pais de nível

de instrução elevado que têm por hábito ler B.D. e com mais frequência (dois ou mais,

em média, por mês). Parece, também, que são os alunos leitores de B.D. do sexo

masculino que referem ler mais B.D. (dois ou mais, em média, por mês).

Casa Biblioteca da

escola Sala de estudo Na Mediateca No Autocarro Outro local Não responde Locais de

leitura

Grupos f % f % f % f % f % f % f %

Alunos

(nA=219) 199 90,9 23 10,5 5 2,3 1 0,5 11 5,0 46 21,0 2 0,9

Professores

(nP=33) 32 97,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 0 0,0 1 3,0 0 0,0

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 117

4.2.2. Importância atribuída à B.D. enquanto meio narrativo e recurso didáctico

Outro objectivo a alcançar através do questionário era compreender a

importância que todos os professores participantes na investigação atribuíam à B.D.

enquanto meio narrativo (questão II.2.-questionário dos professores) e recurso didáctico

(questão II.3.-questionário dos professores).

Cerca de 75% dos professores (gráfico 2) consideram a B.D., tanto enquanto

meio narrativo como enquanto recurso didáctico, como Muito Importante ou

Importante. Estas percentagens são muito próximas (distanciadas em cerca de três

pontos e meio percentuais), o que pode decorrer da B.D. ter reconhecimento no

domínio narrativo, pois parafraseando Antão (1997), a B.D. pode ser muito útil para

desenvolver nos leitores uma competência linguística argumentativa. Alguns

professores atribuem pouca ou nenhuma importância à B.D., quer enquanto meio

narrativo (14,6%) quer enquanto recurso didáctico (20,2%). Pequenas percentagens de

professores admitiram não ter opinião acerca da B.D., enquanto meio narrativo (5,6%) e

como recurso didáctico (3,4%).

Gráfico 2. Importância atribuída à B.D. enquanto meio narrativo e recurso didáctico (nP=89)

14,6

1,1

75,3

3,4 1,15,6

78,7

20,2

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

Muito Importante /Importante

Pouco / NadaImportante

Sem opinião Não Responde

%

Meio narrativo Recurso didáctico

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 118

Na tabela 11 apresentam-se os resultados da análise atribuída à B.D. em

função das variáveis sexo e idade dos professores.

Pese embora a reduzida dimensão do subgrupo em causa, é elevada a

percentagem (87,5%) de professores do sexo masculino que consideram a B.D. como

meio narrativo e recurso didáctico Muito Importante ou Importante. No caso das

professoras, as percentagens correspondentes são um pouco mais baixas, ou seja, de

76,7% e 72,6%, respectivamente, para o meio narrativo e para o recurso didáctico.

A análise de importância atribuída pelos professores à B.D., quer como meio

narrativo quer como recurso didáctico, em função da idade dos professores, indica que

essa importância aumenta com a idade, atingindo as percentagens mais altas no

subgrupo dos professores com idades superiores a 40 anos (como meio narrativo-

91,4%; recurso didáctico-78,3%). Assim, parece existir uma maior valorização da B.D.

por parte dos professores com mais de 40 anos que participaram neste estudo. Contudo,

este resultado não se pode generalizar, uma vez, que a sub-amostra de professores

participantes no estudo é pequena. Por outro lado, é de salientar que este grupo etário é,

como constatamos na secção anterior, o que apresenta maior hábito de leitura deste

género de livros. Esta associação é compreensível, uma vez que são os indivíduos que

mais lêem, que estão mais familiarizados com este género de literatura, que mais

importância lhe atribuem.

Tabela 11. Importância da B.D. enquanto meio narrativo e recurso didáctico de acordo com a opinião dos

professores

(nP=89) Sexo Idade em anos

F (nF=73)

M (nM=16)

Menos de 30 (n=28)

De 30 a 39 (n=38)

40 ou mais (n=23)

Importância atribuída à B.D.

f % f % f % f % f % Muito Importante/Importante 56 76,7 14 87,5 20 71,4 29 76,3 21 91,4

Pouco /Nada Importante 11 15,1 2 12,5 6 21,5 6 15,8 1 4,3

Sem opinião 5 6,8 0 0,0 2 7,1 2 5,3 1 4,3 Mei

o

narr

ativ

o

Não responde 1 1,4 0 0,0 0 0,0 1 2,6 0 0,0

Muito Importante/Importante 53 72,6 14 87,6 20 71,4 29 76,3 18 78,3

Pouco /Nada Importante 17 23,3 1 6,2 7 25,0 7 18,4 4 17,4

Sem opinião 2 2,7 1 6,2 0 0,0 2 5,3 1 4,3

Rec

urso

didá

ctic

o

Não responde 1 1,4 0 0,0 1 3,6 0 0 0 0,0

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 119

Para termos conhecimento das razões da importância atribuída à B.D. como

meio narrativo e recurso didáctico, pediu-se aos professores para justificarem a sua

escolha (questões II.2.1. e II.3.1.-questionário dos professores). Na tabela 12

apresentam-se essas razões (subjacentes às justificações dadas pelos professores) para o

caso da B.D. como meio narrativo (questão II.2.1.-questionário dos professores).

Realce-se que dezanove professores (22,9%) não apresentaram nenhuma justificação.

A razão apresentada pela maioria dos docentes (39 professores em 70;

55,7%) que consideraram a B.D. Muito Importante ou Importante tem a ver com o

facto de a considerarem um meio apelativo, imaginativo e motivador:

“A motivação da imagem aliada ao diálogo é um óptimo meio de entretenimento e relaxamento.”(P7)

“É um tipo de texto bastante apelativo e sugestivo. Apela à criatividade do leitor.”(P18)

Em segundo lugar (19 professores em 70; 27,1%) surge a razão que tem a

ver com o facto de acreditarem que a B.D. faz a ligação entre a comunicação verbal e

não verbal, facilitando a compreensão de alguns conteúdos:

“Poderá ser um meio que facilite a compreensão de alguns conteúdos, uma vez que associa a palavra à

imagem, o que a torna mais atraente do que um livro apenas com texto.”(P3)

Tabela 12. Razões indicadas pelos professores para a importância atribuída à B.D. enquanto meio narrativo (f) (nP=83)

A B.D. tem uma importância enquanto meio narrativo, porque...

Muito Importante ou

Importante

(n=70 )

Pouco ou Nada

Importante

(n=13)

É um meio apelativo (atractivo visualmente) / imaginativo / motivador 39 ______

Faz a ligação entre a comunicação verbal e não verbal facilitando a

compreensão de alguns conteúdos 19 ______

Cria hábitos / capacidade de leitura (leitura fácil e descontraída) 15

Tem qualidade duvidosa com pouco conteúdo científico e linguagem elementar ______ 8

Dispersa a atenção dos alunos para as questões científicas ______ 1

Outras justificações 10 ______

Não justificam 15 4

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que uma razão.

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 120

“ Poderá constituir um meio [...] de abordar assuntos complexos, revelando-se de fácil retenção.” (P60)

Em terceiro lugar surge a razão (indicada por 15 professores em 70-21,4%)

que tem a ver com o facto de considerarem que a B.D. cria hábitos/capacidade de

leitura:

“É um meio narrativo atraente, principalmente para quem não tem hábitos de leitura (...).”(P51)

“É um bom meio narrativo para estimular os jovens para a leitura, dado que combina imagem

e uma linguagem simples e acessível.” (P67)

Estas razões apresentadas pelos docentes são semelhantes às apontadas por

Roux (1970) e Antão (1997) para a elevada Importância da B.D. enquanto meio

narrativo.

Na categoria Outras justificações incluem-se respostas que mencionam

requisitos impostos pelos professores para que a B.D. seja considerada Muito

Importante ou Importante, enquanto meio narrativo. Esses requisitos têm a ver com a

qualidade ao nível da imagem, do conteúdo e do vocabulário. A seguir apresentam-se

opiniões de dois docentes que referem algumas dessas condições:

“Poder ser importante se usada correctamente e escrita em linguagem correcta.“(P8)

“Se for apelativa em termos visuais e tiver conteúdo interessante.” (P61)

Os principais aspectos referidos pelos professores que atribuem à B.D.

Pouca ou Nenhuma importância estão associados ao facto de considerarem a B.D. um

meio narrativo com qualidade duvidosa, com pouco conteúdo científico e apresentada

em linguagem elementar:

“Linguagem muito elementar sem conteúdos científicos.”(P37)

”São utilizadas frases curtas, contendo pouca informação, informação esta que é completada com

imagens, muitas vezes de natureza subjectiva.” (P48)

As posições dos professores que participaram no estudo (nP=89) acerca da

importância da B.D. como recurso didáctico (tabela 13), foram justificadas pela maior

parte dos docentes (questão II. 3.1-questionário dos professores). Dezassete docentes

(20,0%) não apresentaram nenhuma justificação para a opinião previamente

manifestada (tabela 13).

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 121

A razão apresentada por um número mais elevado de professores para a

elevada importância da B.D. como recurso didáctico está relacionada com o facto de

considerarem a B.D. como um meio que cativa e desperta o interesse dos alunos na sala

de aula (33 professores em 67; 49,3%):

”Como meio de despertar o interesse por algum assunto para depois ser aprofundado.”(P52) “Pode ser um valioso contributo para despertar curiosidade para assuntos científicos e criar um

sentimento de admiração, entusiasmo e interesse pela ciência.” (P72)

Dezoito professores indicaram que a B.D. ajuda na compreensão dos

conteúdos, tendo apresentado alguns argumentos do tipo dos que se seguem:

“Como forma [...] de abordar alguns conteúdos dos mais complexos que levem os discentes a uma melhor

compreensão (...).”(P59)

Um professor (P22) atribui uma elevada importância à B.D. porque, segundo

ele:

“Muitas vezes a BD retrata situações quotidianas relativas a assuntos científicos, por vezes com as

chamadas concepções alternativas e por isso são um bom ponto de partida para o estudo das

mesmas.”(P22)

Tabela 13. Razões indicadas pelos professores para a importância atribuída à B.D como recurso

didáctico (f)

(nP=85)

A B.D. tem uma importância enquanto recurso didáctico, porque...

Muito Importante/

Importante

(n= 67)

Pouco /Nada

Importante

(n=18)

Desperta / cativa o interesse dos alunos / aumenta a motivação 33 _____

Ajuda na compreensão dos conteúdos (os conteúdos didácticos tornam-se

mais apelativos) 18 _____

É um bom ponto de partida para o estudo de concepções alternativas 1 _____

A aceitação depende dos docentes e discentes _____ 3

Há recursos didácticos que poderão ser mais atraentes _____ 5

Outras justificações 7 3

Não justificam 10 7

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que uma razão.

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 122

No item Outras justificações incluíram-se dois tipos de respostas:

- respostas que têm subjacentes razões equivalentes às apresentadas para o

caso da importância da B.D. enquanto meio narrativo:

“ Pode conseguir que os jovens leiam mais.”(P28)

“Adequada à vivacidade dos jovens.”(P32)

- respostas associadas a factores que condicionam, de alguma forma, a

excelência da B.D. como recurso didáctico:

“Existe pouca bibliografia adequada a este recurso.”(P37)

“Se [...] tiver qualidade em termos de conteúdo e da sua apresentação.”(P62)

As razões apresentadas pelos professores envolvidos, no presente estudo, para

a elevada importância da B.D. como recurso didáctico estão em conformidade com as

veiculadas por Roux (1970), Arques (2002) e Gonzalez- Espada (2003).

De notar que respostas semelhantes a estas (apresentadas por dois professores)

foram incluídas nas Outras justificações, a favor da Pouca ou Nenhuma Importância da

B.D. como recurso didáctico. Contudo, neste caso surgiu uma resposta que tem

subjacente uma razão diferente das anteriores:

“A ciência é uma coisa séria que implica capacidade de abstracção.” (P83)

As justificações apresentadas por cinco docentes em prol da Pouca ou

Nenhuma Importância da B.D., enquanto recurso didáctico, assentam no facto de

considerarem que existem outros recursos mais interessantes que a B.D.:

“Há outros meios muito superiores como a realização de experiências.”(P17)

“Considero que mais importante que a leitura /interpretação de um livro de BD é o visionamento de

um filme (...).” (P58)

Três professores justificam a Pouco ou Nenhuma Importância da B.D. com

base no facto de a aceitação da B.D., depender da preferência dos docentes e discentes:

“Este recurso depende da preferência do docente e dos discentes, podendo por vezes ser rejeitado

se pouco adequado à faixa etária.” (P59)

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 123

“Só será importante se os alunos já tiverem o gosto e o hábito de lerem BD, caso contrário, não será

desse modo que se interessarão pelos estudos.”(P65)

Em síntese, cerca de três quartos dos professores envolvidos no estudo

considera a B.D. um meio narrativo e um recurso didáctico Muito Importante ou

Importante. As principais razões apresentadas por estes professores para justificarem a

sua opinião assentam no facto de considerarem a B.D. um meio visualmente apelativo,

atractivo e motivador e, consequentemente, o considerarem facilitador da compreensão

de alguns conteúdos. Contudo, esta maneira de pensar é contrariada por cerca de um

quarto dos professores envolvidos no estudo. Estes afirmam que a B.D. tem pouca

importância como meio narrativo e recurso didáctico por considerarem que existem

outros recursos mais importantes que a B.D. e que a aceitação deste recurso em sala de

aula é muito discutível, devido às preferências de leitura dos alunos e professores.

4.2.3. Utilização da B.D. como recurso didáctico

Questionámos os alunos participantes no estudo quanto ao facto de, nas várias

disciplinas que compõem o seu currículo, os seus professores utilizarem a B.D. para

tratar assuntos relacionados com a disciplina que leccionam (questão II. 2.-questionário

dos alunos). Dos 367 alunos respondentes, 56,1% (nA=206) afirmaram que a B.D. já

tinha sido usada para esse fim.

A tabela 14 evidencia as disciplinas que, na perspectiva dos alunos, utilizaram

este recurso na sala de aula.

Tabela 14. Utilização da B.D. nas diferentes disciplinas que compõem o currículo do 3º Ciclo

(nA=206) Disciplinas f %

Língua Portuguesa 73 35,4

Inglês 81 39,3

Francês 98 47,6

Matemática 5 2,4

Geografia 18 8,7

Ciências Naturais 23 11,2

Educação Física 3 1,5

Educação Visual 77 37,4

Educação Tecnológica 2 1,0

História 33 16,0

Ciências Físico- Químicas 10 4,9

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 124

Mais de 35% dos alunos que já tinham participado em aulas com recurso à

B.D. afirmaram que a B.D. foi usada nas suas aulas de Línguas e de Educação Visual,

sendo a disciplina de Francês aquela que foi referida por mais alunos (47,6%). Apenas

11,2% dos alunos disseram que na disciplina de Ciências Naturais a B.D. foi usada,

sendo ainda menor a percentagem (4,9%) dos alunos que afirmaram que a B.D. foi

utilizada na aula de Ciências Físico-Químicas. É de salientar que, tal como mostramos

em 1.2.3., a B.D. para além de ser um conteúdo programático das disciplinas de Língua

Portuguesa e de Educação Visual (E.V.) é também um tema transversal entre as

disciplinas de Língua Portuguesa e de Educação Visual, de acordo com o Ajustamento

do programa de Educação Visual em vigor (DEB, 2001). Por estes factos, a

percentagem de alunos que referiu a utilização de B.D. na sala de aula de Língua

Portuguesa e Educação Visual, está aquém do que seria esperado. De facto, a

percentagem de alunos que tiveram experiências de utilização deste recurso, nessas

disciplinas, deveria rondar os 100,0%, já que é um conteúdo programático e que os

dados foram recolhidos no final do ano lectivo.

Questionados sobre se gostaram ou não da utilização da B.D. na sala de aula

(pergunta II.2.2.-questionário dos alunos), 167 alunos (81,1%) dos 206 que afirmaram

ter tido aulas com recurso à B.D., admitiram ter gostado dessa utilização. A tabela 15

sintetiza as razões das opiniões, favoráveis e não favoráveis, a essa mesma utilização

(questão II. 2.2.1.-questionário dos alunos). Note-se que há 21,9% dos alunos que não

justificaram a sua opinião.

Tabela 15. Razões indicadas pelos alunos acerca da utilização da B.D. na sala de aula (nA=206) Opinião Razões f %

A B.D. aumenta a curiosidade/atenção (torna a aula mais interessante) 80 38,8

A B.D. facilita a compreensão (com as imagens percebe-se melhor) 48 23,3

A B.D. é uma forma inovadora de aprender os conteúdos 21 10,2

O aluno gosta de B.D. 12 5,8

O aluno gosta de elaborar uma B.D. 6 2,9

Outras razões 7 3,4

Favorável

(n=167)

Não justificam 29 14,1

O aluno não gosta de B.D. 19 9,2

O aluno não gosta de elaborar uma B.D. 4 1,9

Não

Favorável

(n=39) Não justificam 16 7,8

Nota: Alguns alunos apresentaram mais do que uma razão.

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 125

Pela análise da tabela 15 constata-se que surgiram dois tipos de razões para a

opinião favorável à utilização de B.D., umas relacionadas com as características da B.D.

propriamente ditas, mais explicativas do que se pedia, e outras de cunho pessoal,

relacionadas com o gosto individual dos alunos. A razão a favor dessa utilização,

apresentada por um maior número de alunos (38,8%), reside no facto destes

considerarem que a B.D. aumenta a curiosidade/atenção na sala de aula. A comprová-lo

estão as citações que a seguir se transcrevem:

“Porque é uma forma de os alunos estarem com mais atenção à matéria.”(A89) “Porque acho que damos mais atenção a esse tipo de desenhos que neste caso se integram em

documentos.”(A119)

A razão justificativa da aceitação da B.D. na sala de aula que ficou em

segundo lugar em termos percentuais (23,3%) tem a ver com o facto dos alunos

considerarem que este meio facilita a compreensão dos conteúdos das diferentes

disciplinas:

“Porque percebo a matéria mais rapidamente, porque [nos] lembramos da imagem da BD (...).”(A22)

“Porque é uma maneira mais fácil de compreender a matéria.”(A118)

.

A forma inovadora de apresentar os conteúdos na sala de aula é a terceira

razão mais enunciada pelos alunos (10,2%):

“É uma nova maneira de aprender.”(A9) “Porque acho um modo diferente de aprender a matéria.”(A65)

Alguns alunos avançaram ainda com razões mais de cunho pessoal, que não

são propriamente explicativas, e que estão relacionadas com o gosto por esta narrativa

(5,8%) e a aptidão para o desenho (2,9%). Esta última aplica-se especificamente à

disciplina de Educação Visual, na qual os alunos referem ter de elaborar uma B.D. nesta

disciplina.

As Outras razões (3,4%) usadas para justificar as opiniões positivas face à

utilização da B.D., estão relacionadas com diversos aspectos, nomeadamente com o

facto de: ser o único tipo de leitura praticado pelos alunos, contribuir para

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 126

enriquecimento de vocabulário, tratar de assuntos actuais e poder constituir uma súmula

de muitos assuntos:

“A B.D. é a única coisa que leio.”(A59) “(...) a B.D. pode resumir muita coisa.”(A69) “Aprendi vocabulário que desconhecia.”(A191) “(...) porque falámos sobre o racismo.”(A281)

Em desfavor da utilização da B.D. na sala de aula estão factores pessoais,

nomeadamente a falta de gosto por este recurso literário (9,2%) ou por elaborar uma

B.D. (1,9%). Razão que é válida na disciplina de Educação Visual.

Quisemos também conhecer se os conteúdos de Química foram apresentados aos

alunos participantes no estudo com o recurso à B.D. (questão II.3.- questionário dos

alunos). Responderam afirmativamente 21 alunos (5,7%). Desses, apenas sete referiram

o tema de Química apresentado através de B.D. na sala de aula e, apenas cinco

explicitaram a sua opinião sobre esse facto (questões II.3.1 e II.3.2 - questionário dos

alunos). O quadro 8 apresenta os temas indicados pelos alunos e as opiniões sobre a

respectiva abordagem através da B.D..

Quadro 8. Utilização de B.D. na sala de aula de Química

Alunos Temas de Química Opinião acerca da utilização da B.D. como recurso didáctico em Química

A23 Τ Átomos Τ “É bom porque motiva os alunos”

A199 Τ Regras de Segurança no

laboratório Τ Não responde

A251 Τ Lei de Lavoisier Τ “A utilização de BD nas aulas de Química é oportuna uma vez que nos transmite um

pouco de humor e leveza ao tratar de determinadas matérias”.

A253 Τ Pressão Τ “Facilita o estudo”

A269 Τ Pressão Τ “Facilita-nos o raciocínio”

A295 Τ Regras de Segurança no

laboratório Τ Não responde

A349 Τ Regras de Segurança no

laboratório Τ “Muito fixe”

O tema referido por mais alunos (três alunos) foi o de “Regras de Segurança no

Laboratório”, seguido do tema “Pressão” (com duas referências) e de “Lei de Lavoisier” e

“Átomos” (com uma referência cada). As opiniões manifestadas acerca da utilização da

B.D. na sala de aula, são favoráveis a essa utilização (quadro 8) porque a B.D. os

motivou, ou lhes facilitou o estudo ou o raciocínio.

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 127

Os professores foram também inquiridos acerca da utilização da B.D. na sala

de aula como recurso didáctico (questão II.7.- questionário dos professores). Dos 89

elementos da sub-amostra, apenas 31 professores (34,8%) afirmaram recorrer à B.D

para leccionar conteúdos de Química nas suas aulas. Quando se pedia para indicar o

tema/conteúdo em que usaram a B.D. e a razão de ser dessa utilização (questões II.7.1 e

II.7.2, respectivamente, questionário dos professores), esse número foi ainda mais

reduzido, tendo apenas 22 (24,7%) professores revelado o(s) tema(s) de Química

apresentado(s) na sala de aula com recurso à B.D. (quadro 9).

Os professores indicam temas e conteúdos programáticos diversificados de

Química do Ensino Básico. “As regras de Segurança no Laboratório” é o conteúdo em que

mais professores utilizaram B.D. (cinco professores). Em segundo lugar surgem os

temas “Energia” e “Ácido- base” (com quatro e três professores cada, respectivamente).

Com apenas duas referências aparecem os assuntos relativos às “Reacções químicas” e à

“Introdução do estudo das soluções”. Outros temas, como “História da Química”, “Química e o

Quotidiano”, “Constituição do Átomo”, “Nós e o Mundo Material”, “Formação de Compostos

Iónicos”, “Método Científico” e “Tabela Periódica” foram apenas nomeados por um

professor. De referir que há dois professores que afirmam que já aplicaram a B.D. a

praticamente todos os temas de Química. Em Outros incluímos professores que não

mencionaram designam propriamente temas referentes à disciplina, mas antes

circunstâncias de aplicação, designadamente, introdução de temas, enunciado dos testes,

e assuntos de Ciências em geral, como cuidados ambientais.

Quadro 9. Temas de Química leccionados com recurso à B.D. (nP=22)

Assuntos de Química Professores

Regras de Segurança no Laboratório P17; P37; P39; P58; P79

Energia das reacções químicas P6; P27; P74; P82

Ácido - Base P26; P78; P87

Reacções químicas P10; P73

Praticamente todos os temas P28; P33

História da química P6

Química no quotidiano P17

Constituição do átomo P21

Nós e o mundo material P40

Formação de compostos iónicos P74

Método científico P86

Tabela Periódica P51

Outros P37; P49; P80

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que um tema.

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 128

As razões apresentadas pelos docentes para a utilização da B.D. na leccionação

destes assuntos (questão II.7.2- questionário dos professores) estão sintetizadas no

quadro 10.

A razão apontada por mais professores para terem usado este recurso na sala

de aula é a capacidade deste recurso para chamar a atenção dos alunos para o assunto

químico que se quer ensinar, a qual se traduz:

- num aumento de motivação (15 professores):

“É um instrumento que facilita e promove a motivação dos alunos.”(P40)

“Achei engraçado o modo como era exposto o tema e penso que resultou bem. A ideia é que os alunos

aprendessem através do humor.”(P49)

- na melhoria da compreensão (três professores):

“Transmite a mensagem de forma clara e é atractiva, podendo fazer com que esta chegue aos alunos de

forma significativa.”(P27)

“(...) porque os livros relacionam a Química com o meio.” (P10)

- na diversificação de estratégias usadas na sala de aula (dois professores):

“Recorri à utilização da BD na aula de Química com o objectivo da aula ser diferente do habitual

( ...). (P79)”

Os alunos e os professores, que indicaram já ter utilizado a B.D. na aula

Química, foram questionados sobre se gostariam de o fazer novamente (questão II.4-

questionário dos alunos e II.8.1.- questionário dos professores).

“Diversificação de estratégias.” (P73)

Quadro 10. Razões justificativas do uso de B.D. em termos de Química (nP=22)

Razões indicadas Professores

Cativar a atenção dos alunos/ aumento da motivação P6; P17; P21; P26; P27; P33; P37; P39; P40; P49; P51; P78; P80; P82; P86

Melhorar a percepção / compreensão dos assuntos P27; P58; P87

Diversificar os recursos P73; P79

Relacionar a química com o meio P10

Salientar aspectos em B.D. nos testes escritos P80

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que uma razão.

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 129

De acordo com a tabela 16, podemos constatar que 30 em 31 professores

(96,8%) manifestaram vontade de utilizar novamente a B.D. na sala de aula, como

recurso didáctico, e 13 dos 21 alunos (61,9%) indicaram que gostariam de utilizar

novamente este recurso para abordar assuntos de Química. Parece existir um maior

desejo de nova utilização por parte dos professores do que por parte dos alunos, embora

não se possa generalizar esta afirmação devido ao facto de as sub-amostras serem

pequenas.

A mesma questão foi colocada aos elementos que nunca utilizaram a B.D. na

sala de aula (349 alunos e 58 professores). Com as respostas obtidas elaborámos a

tabela 17 para tentar identificar a receptividade dos mesmos à eventual utilização deste

recurso.

Mais de metade dos alunos e dos professores que nunca tinham utilizado a

B.D. gostariam de a utilizar na sala de aula como recurso didáctico, sendo essa vontade

mais expressiva nos professores (82,8%). Todavia, dada a diferente dimensão dos dois

grupos, a diferença encontrada tem de ser analisada com cuidado.

Analisando a receptividade dos elementos do estudo (professores e alunos),

que nunca tinham utilizado a B.D. na aula de Química (tabela 18), à eventual utilização

Tabela 16. Vontade de utilizar novamente a B.D. como recurso didáctico, na aula de Química

Sim Não Não responde Grupos

f % f % f %

Alunos

(nA=21) 13 61,9 7 33,3 1 4,8

Professores

(nP=31) 30 96,8 1 3,2 0 0,0

Tabela 17. Receptividade de alunos e professores que nunca utilizaram a B.D. na aula, à sua

eventual utilização na aula de Química

Sim Não Não responde Grupos

f % f % f %

Alunos

(nA=349) 246 70,5 91 26,1 12 3,4

Professores

(nP=58) 48 82,8 10 17,2 0 0,0

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 130

da B.D na aula de Química, em função do sexo (tabela 18), nota-se que, entre os

estudantes do sexo feminino (70,0%), a vontade de vir a utilizar este recurso é similar à

dos alunos do sexo masculino (71,0%).

Entre os professores, verifica-se que são as professoras que apresentam maior

vontade para uma eventual utilização da B.D. na sala de aula, no qual se registam

diferenças entre as percentagens obtidas para os dois subgrupos em cerca de 30%

(89,1% das professoras e 58,3% dos professores referem que eventualmente poderiam

vir a utilizar a B.D. na aula de Química). Todavia, as percentagens encontradas devem

ser analisadas com uma certa cautela devido à diferença que existe entre o número de

professores do sexo masculino e feminino.

Pelos dados apresentados na tabela 19 verifica-se que é entre os alunos mais

Tabela 19. Receptividade dos não utilizadores de B.D. à eventual utilização da B.D. na aula de Química, em

função da idade dos inquiridos Sim Não Não Responde

Grupos Idade em anos f % f % f %

De 12 a 14

(n=113) 82 72,6 28 24,8 3 2,6

De 15 a 16

(n=203) 142 70,0 54 26,6 7 3,4 Alunos

De 17 a 19

(n=33) 22 66,7 9 27,3 2 6,0

Menos de 30

(n=24) 22 91,7 2 8,3 0 0,0

De 30 a 39

(n=20) 16 80,0 4 20,0 0 0,0 Professores

Mais de 40

(n=14) 10 71,4 4 28,6 0 0,0

Tabela 18. Receptividade dos não utilizadores de B.D. à sua eventual utilização na aula de Química,

em função do sexo dos inquiridos

Sim Não Não responde Grupos Sexo

f % f % f %

F

(nF=193) 135 70,0 51 26,4 7 3,6

Alunos M

(nM=155) 110 71,0 40 25,8 5 3,2

F

(nF=46) 41 89,1 5 10,9 0 0,0

Professores

M

(nM=12) 7 58,3 5 41,7 0 0,0

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 131

novos que se sente uma maior vontade de vir a usar a B.D. na sala de aula: 12 a 14 anos-

72,6%; 15 e 16 -70,0%; 17 a 19 anos -66,7%. Contudo, tendo em conta a diferença entre

o número de elementos das diferentes classes etárias, estas diferenças têm que ser

analisadas com cuidado.

Os dados apresentados na tabela 19 revelam uma predisposição elevada dos

professores para trabalhar com a B.D., na sala de aula, em qualquer das classes etárias,

sendo maior, no entanto, nos professores mais jovens (91,7%) e decrescendo

gradualmente (80,0%, e 71,4%) nas outras classes. Esta diferença, embora deva ser

interpretada com cautela devido à reduzida dimensão dos subgrupos formados com base

na idade, pode significar que os professores com poucos anos de serviço estão mais

receptivos a aderir a este meio, pois, regra geral, anseiam sempre por proceder a

mudanças no Ensino da Química com vista a melhorar o seu desempenho e contribuir

para que os alunos possam aprender de uma maneira mais significativa .

A análise da receptividade dos alunos que nunca utilizaram este recurso à

eventual utilização da B.D. na aula de Química, em função do nível de instrução dos

pais (tabela 20) parece indicar que a vontade de utilizar este recurso aumenta com o

nível de instrução dos pais dos alunos (69,3% para os alunos cujos pais têm nível de

instrução baixo até 77,5 % para os alunos cujos pais têm nível de instrução elevado). É

de salientar que os alunos cujos pais têm nível de instrução mais elevado, são os alunos

que já apresentavam maior frequência de leitura de livros de B.D..

Tabela 20. Receptividade dos alunos não utilizadores de B.D. à eventual utilização na aula de

Química, em função do nível de instrução dos pais

Sim Não Não responde Maior utilização

de B.D.

Nível de instrução

dos pais f % f % f %

Baixo

(nB=238) 165 69,3 65 27,3 8 3,4

Médio

(nM=67) 47 70,1 17 25,4 3 4,5

Elevado

(nE=40) 31 77,5 8 20,0 1 2,5

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 132

Em suma, a maioria dos docentes e dos discentes que participaram neste

estudo gostariam de utilizar a B.D. mais frequentemente na sala de aula,

independentemente das suas características (idade, sexo e classe social).

Solicitou-se aos alunos respondentes (nA=357) (questão II.4.1- questionário

dos alunos) que apresentassem razões que justificassem o gosto, ou não, pela futura

utilização ou maior utilização da B.D. na sala de aula. Os resultados, registados na

tabela 21, apresentam as opiniões dos alunos, favoráveis e não favoráveis à utilização

futura de B.D..

No que concerne a opiniões favoráveis, o argumento mais utilizado pelos

alunos, a favor da utilização da B.D. na aula de Química, é que este meio pode facilitar

a aprendizagem, com 33,9 % de opiniões:

“A Química nem sempre é muito fácil de entender. Com o recurso à B.D. seria uma melhor forma de reter

a matéria.”(A97)

“Porque na BD as imagens ajudam a compreender e a memorizar com mais facilidade.”(A121)

Outra razão, apresentada por 119 alunos (33,3%), tem a ver com pensarem que

a utilização da B.D. aumenta o interesse pelos conteúdos:

“Seria uma maneira de nos interessarmos mais pela matéria.” (A137) “A BD é uma forma mais atraente e interessante de dar algumas matérias. É capaz de cativar a atenção

dos alunos.”(A195)

Tabela 21. Razões para uma eventual utilização de B.D. na aula de Química indicadas pelos alunos (nA=357)

Opinião Razões f %

A B.D. facilita a aprendizagem (melhor assimilação, compreensão dos

conteúdos) 121 33,9

A B.D. desperta / aumenta o interesse pela matéria 119 33,3

A B.D. contribui para diversificar os meios de aprendizagem 19 5,3

O aluno gosta de B.D. 3 0,8

A B.D. faz a ligação com o quotidiano 3 0,8

Favorável

(n=259)

Não justificam 22 6,2

O aluno não gosta de B.D. 23 6,4

A B.D. não tem nada a ver com a química 5 1,4

A B.D. agravava a dificuldade para compreender o que já é complexo 4 1,1

Outras razões 3 0,8

Não

Favorável

(n=98) Não justificam 42 11,8

Nota: Alguns alunos apresentaram mais do que uma razão.

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 133

Outros alunos consideraram, ainda, que seria útil um recurso alternativo para

os processos de ensino e aprendizagem (5,3%), tal como se ilustra com as seguintes

afirmações:

“Porque por vezes quando não percebemos aquilo que o professor nos quer transmitir, ele deveria

recorrer a outro tipo de métodos como a BD.”(A238)

“Seria um método mais divertido, agradável e, como seria diferente, mais aliciante.”(A357)

A maioria dos alunos que apresentam opiniões desfavoráveis e as justificam

indicam uma razão de carácter pessoal, relacionada com as suas preferências de leitura,

referindo não gostar de ler livros de B.D. (6,4%). Outros argumentam que a B.D. não

apresenta qualquer semelhança com a disciplina (1,4%), que iria complicar o que, de

natureza, segundo eles, já é complexo (1,1%) e que não tinham sentido qualquer

necessidade da B.D. na sala de aula (0,8%).

Aos professores participantes no estudo (nP=89) foi pedido que justificassem a

sua opinião em relação a uma eventual utilização ou maior utilização da B.D. na sala de

aula (questão II.8.1-questionário dos professores), apresentando alguns deles mais do

que uma razão. As razões apontadas estão sintetizadas na tabela 22, tanto para as

opiniões favoráveis, como para as condicionadas e como para as não favoráveis à

utilização da B.D.. Não justificaram a respectiva opinião onze (12,4%) docentes

envolvidos no estudo.

Tabela 22. Razões para uma maior utilização de B.D. na sala de aula indicadas pelos professores (nP=89)

Opinião. Razões f %

A B.D. cria uma maior motivação/capta a atenção dos alunos para a aprendizagem 37 41,6

A B.D. permite diversificar as estratégias/recursos usados na sala de aula 9 10,1

A B.D. auxilia na compreensão/ interiorização de situações problemáticas/complexas 6 6,7

A B.D. é apreciada por parte de alunos e professores 5 5,6

O questionário motivou para a utilização da B.D. em sala de aula 2 2,2

Favorável

(n=67)

Não justificam 8 9,0

Quando há B.D. com qualidade/rigor científico 13 14,6

Quando a B.D. está de acordo com os conteúdos programáticos a leccionar 8 9,0 Condicionada

(n=11) Quando a B.D. é inserida nos manuais escolares 1 1,1

Não tem conhecimentos de B.D. com assuntos de Química 3 3,4

A B.D. é um meio narrativo pobre e pouco pode contribuir enquanto recurso didáctico 2 2,2

A B.D. é um recurso didáctico que levaria tempo a analisar correctamente 1 1,1

Não

Favorável

(n=11) Não justificam 3 3,4

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que uma razão.

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 134

A razão apresentada por um maior número de professores (41,6%) a favor da

utilização ou maior utilização da B.D. na sala de aula está relacionada com o facto de

considerarem que, com este recurso, conseguem criar uma maior motivação para a

aprendizagem:

“Os alunos ficam mais motivados, no fundo há um diálogo associado à imagem.” (P26) “Motivar os alunos e cativar os seus interesses pela ciência.”(P86)

Em segundo lugar surge uma razão associada ao facto de considerarem que a

B.D. possibilita a diversificação das estratégias (10,1%):

“(...) esta pode ajudar a diversificar os recursos de ensino que podem ir de encontro aos interesses

pessoais dos alunos.” (P81) “Sempre bom experimentar novos recursos pedagógicos.” (P89)

Em terceiro lugar foi evocada uma razão relacionada com o importante papel

que atribuem à B.D. enquanto auxiliar na compreensão/interiorização de situações

problemáticas/complexas (6,7%), a qual é ilustrada pelas seguintes respostas:

“Para facilitar a compreensão de alguns conteúdos mais complexos.” (P2) “Cada vez mais os alunos revelam dificuldades na interiorização das situações problemáticas

propostas. Assim, a BD é um recurso importante.”(P33)

É curioso notar que dois professores (P11 e P75) afirmaram que o interesse

para a utilização da B.D. na sala de aula foi motivado pelo facto de serem convidados a

responder ao questionário que serviu como instrumento de recolha de dados neste

estudo:

“Inquérito/questionário levou-me a considerar essa hipótese.” (P11) “Em algumas situações já tenho sentido motivação para a utilizar como meio pedagógico e este

questionário aguçou a motivação.” (P75)

Alguns professores revelam o intuito de utilizar a B.D., mas colocam

condições como:

- existir B.D. com qualidade/rigor científico (14,6 %):

“Se houver BD feita com rigor científico (...) e só nesse caso. Penso que ao utilizar a BD nas aulas de

Química deve encarar-se este recurso didáctico sério.“(P66)

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 135

“Se a BD que me for disponibilizada for de qualidade ( ....).”(P67)

- a B.D. estar de acordo com os conteúdos programáticos a leccionar (9,0%):

“Se estiver de acordo com os conceitos a transmitir.” (P35) “Desde que o texto da BD seja coerente com o conteúdo programático.” (P38)

- a B.D. ser incluída em manuais escolares de C.F.Q. (1,1%):

“Se for inserida nos manuais escolares abordando ou ilustrando alguns conteúdos

programáticos.”(P65)

Algumas razões favoráveis à utilização de B.D. como recurso didáctico no

ensino da Química, indicadas pelos alunos e professores envolvidos no presente estudo,

estão em conformidade com os aspectos positivos realçados por estudos efectuados por

Worner e Romero (1998) e por Arques (2002) sobre a utilização de B.D. no ensino da

Física.

Contra a utilização de B.D., na sala de aula, foram avançadas razões como:

- não ter conhecimento da existência de B.D. centrada em assuntos de Química

(3,4%):

“Se conhecesse B.D. para esse fim, gostava que me informasse.” (P25) “Não, porque não existem no mercado livros onde isso aconteça.” (P76)

- considerar a B.D. um meio narrativo pobre e, consequentemente, com pouca

importância em termos de recurso didáctico (2,2%):

“Se a BD é um meio narrativo pobre acho que pouco pode contribuir enquanto recurso didáctico.”(P71)

- considerar a B.D. um recurso que exige muito tempo e cuidado de selecção

(1,1%):

“Não, porque é um recurso didáctico que levaria tempo a analisar correctamente. Poderia utilizar se já

dispusesse de B.D. [...] seleccionada.”(P69)

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 136

Aos professores que participaram no estudo (nP=89) foi perguntado (questão

II.8.2.-questionário dos professores) se existiria(m) algum(ns) tema(s) de Química para

cuja abordagem na sala de aula o uso da B.D. poderia ser particularmente útil. A

maioria dos professores (53,9%) respondentes considerou que existem alguns temas

nessas condições tendo discriminado em seguida o(s) tema(s) de Química em que

consideraram que a B.D. poderia ter essa função especial (tabela 23).

Os temas referidos pelos professores são muito variados (tabela 23). Doze

professores consideraram a B.D. útil para “Todos os temas”, nove indicaram a sua

importância para temas relacionados com a “Constituição da matéria”, sete para leccionar

as “Reacções químicas”, cinco para a “Tabela Periódica”, cinco para as “Regras de Segurança” e

três para a “Ligação Química”. Com apenas duas referências aparecem os temas “História

da Química”, “Símbolos Químicos” e “Noção da Mole”. Mencionados apenas por um professor

foram os temas “Ácido –Base” e “Reacções de Oxidação”. Em “Outros” estão incluídos os

professores que não indicaram temas de Química concretos, mas antes características da

aula ou aspectos relacionados com a natureza dos conteúdos, a saber: temas que

possibilitem a utilização de modelos ou analogias; no início do estudo da Química ou na

introdução ao estudo das soluções; nos temas de carácter mais abstracto; nos temas em

que é provável a existência de concepções alternativas perfilhadas pelos alunos.

Tabela 23. Temas de Química em que os professores consideraram que a B.D. é particularmente útil

(nP=48) Temas f

Todos 12

Constituição da matéria 9

Reacções químicas 7

Regras de segurança no laboratório 5

Tabela periódica 5

Ligação química 3

História da química 2

Símbolos químicos 2

Noção de mole 2

Ácido - base 1

Método científico 1

Reacções de oxidação redução 1

Outros 5

Não responderam/especificam 9

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que um tema.

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 137

Os professores foram solicitados a apresentar os motivos que os levaram a

apresentar os temas previamente referidos (questão II.8.2.1- questionário dos

professores). Dos 48 professores que indicaram o(s) tema(s), 14 (29,2%) não

justificaram a sua escolha (tabela 24).

A maior parte das razões apresentadas pelos professores são de carácter

genérico, semelhantes às anteriormente apresentadas para a integração da B.D. no

ensino da Química, não tendo, portanto, em consideração a especificidade dos temas

mencionados.

Apenas quatro professores afirmaram que os temas de Química que indicaram

estão relacionados com o facto de conhecerem B.D. com assuntos de Química, o que

possibilitaria a sua utilização na sala de aula:

“Já vi BD aplicada a alguns temas e pareceu-me bastante adequada ao conteúdo em questão.” (P2) “Porque é o que se relaciona mais com o que existe na BD, (...) ácidos e combustões.” (P80)

Em suma, apesar da grande maioria dos alunos envolvidos no estudo emitirem

opiniões favoráveis acerca da utilização da B.D. na sala de aula, nas diversas

disciplinas, a utilização deste recurso parece ser ainda uma prática pouco corrente no

ensino da Química do 3ºCiclo. Contudo, a maioria dos alunos e professores

participantes neste estudo manifestam uma grande receptividade para vir a utilizar este

recurso na sala de aula. As principais razões para esta atitude são semelhantes, para os

alunos e para os professores, e tem a ver com o facto de considerarem que a utilização

da B.D. facilitará a aprendizagem dos conteúdos, aumentará a motivação dos alunos

para o estudo da Química e possibilitará uma maior diversificação de estratégias.

Tabela 24. Razões da importância da B.D. nos temas avançados pelos professores (nP=48)

Opinião Razões f %

Conhecimento de B.D. adequada ao tema 4 8,3 Dependentes do

tema

(n=7) Outras razões 3 6,3

A B.D. facilita a compreensão de assuntos mais abstractos/complexos 12 25,0

A B.D. é uma estratégia de motivação 10 20,8

Independentes

do tema

(n=27) Vontade para utilizar novos materiais didácticos 6 12,5

Não justificam _______________________________________________ 14 29,2

Nota: Alguns professores apresentaram mais do que um razão.

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 138

Alguns professores, mencionaram temas em cujo ensino consideram que a B.D. pode

ser particularmente útil, mas têm dificuldade em justificar essa opinião com base nas

especificidade desses temas.

4.2.4. Opiniões dos docentes entrevistados acerca da importância da B.D. como

potencial recurso didáctico

Nesta secção apresentamos as opiniões, emitidas por oito docentes de C.F.Q.,

3º Ciclo, a leccionar em escolas EB 2,3 pertencentes ao CAE, sobre a utilização e a

importância da B.D. na sala de aula. Simultaneamente, referimos os comentários tecidos

por estes mesmos elementos quando foram confrontados os resultados obtidos através

de algumas das questões incluídas no questionário e que foram apresentados nos pontos

4.2.2. e 4.2.3. desta dissertação.

À excepção do professor PG, todos os outros sete professores entrevistados

atribuíram à B.D. uma elevada importância enquanto potencial recurso didáctico

(quadro 11).

As razões apresentadas por sete professores, a favor dessa menção, estão

relacionadas com o facto de considerarem que a B.D. no ensino da Química:

- contribuirá para um aumento da motivação dos alunos:

“Acho que acaba por ser mais apelativo para os miúdos. Estão habituados a ler B.D. e se abordarem a

Química pela B.D. talvez seja mais fácil terem o primeiro contacto com algumas noções de Química

(PB.)”

Quadro 11. Importância atribuída, pelos professores entrevistados, à B.D. como potencial recurso didáctico

(nP=8) Professores entrevistados Importância da

B.D. Razões

PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Motiva os alunos __ __ Muito Importante

ou

Importante porque... B. É um meio facilitador da aprendizagem __ __ __ __ __ __ __

Pouco Importante,

porque... A. É um recurso infantil __ __ __ __ __ __ __

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 139

“(...) acaba por ser uma forma agradável de apresentação, principalmente para estes miúdos que são

mais novos e que nós pretendemos que tenham uma formação de carácter científico não muito forte, mas

sim que lhes permitam encarar o dia a dia, que no fundo permita cativar a atenção deles (...).”(PE)

- poderá ser um meio facilitador da aprendizagem da Química:

“Eu recordo muitas vezes os livros de Walt Disney que lia. Sei que aprendi muita coisa relativa à

história. Sei que tinha muita importância nesse aspecto. Na Química poderá ter igual importância.”

(PA)

A pouca importância dada pelo professor PG à B.D. decorre do facto deste

docente considerar a B.D. um recurso um pouco infantil:

“Para ser sincera pouco. Também depende da idade dos alunos. Para alunos mais velhos acho que já

não. Acho que é um recurso infantil.” (PG)

Solicitámos aos professores entrevistados que tecessem um comentário acerca

do facto de cerca de 75% dos 89 professores respondentes ao questionário considerarem

a B.D. como um recurso didáctico Muito Importante ou Importante. As suas reacções

expressaram-se de três modos distintos (quadro 12).

A maioria dos professores entrevistados (cinco) considera que, a percentagem

obtida, significa que a B.D. é um recurso ao qual se poderia/deveria recorrer mais vezes

na aula de Química:

“Acho que se os professores que são de faixas etárias diferentes [emitiram essa opinião], então acho que

sim, porque não arranjar materiais didácticos contendo B.D..”(PF)

“Acho que sim, que pode ajudar a despertar o interesse para determinados assuntos. Podem ser mais

aborrecidos e a B.D. é capaz de os ajudar a acharem-nos mais interessantes.”(PD)

Quadro 12. Comentários dos professores entrevistados ao facto de cerca de 75% dos inquiridos considerarem a

B.D. um recurso didáctico Muito Importante ou Importante no ensino da Química

(nP=8) Professores entrevistados

Categorias PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Consideram a percentagem normal __ __ __ __ __ __

B. Concluem que se deveria recorrer mais vezes à B.D. __ __ __

C. Ficam surpreendidos __ __ __ __ __ __ __

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 140

Dois docentes (PE e PH) consideram a percentagem em causa normal, pois

também eles consideraram a B.D. um recurso didáctico Muito Importante ou

Importante. No entanto, o professor PH concorda com a importância atribuída à B.D.,

mas coloca algumas reservas no que diz respeito à sua aplicação no ensino da Química:

“Eu até acho que é um recurso interessante para motivar, cativar os alunos, por isso considero

importante (...).” (PE) “Também o meu conhecimento de B.D. é muito limitado. Se conhecesse melhor a Mafalda talvez fosse

melhor porque eu vejo em acções de formação o recurso à Mafalda e tem coisas muito giras. Agora no

caso da (...) Química não estou a ver.” (PH)

O professor PG mostra-se surpreso quanto à percentagem obtida,

considerando-a elevada, uma vez que, na sua opinião, não se lembra de alguém que

tenha mencionado a B.D. como um recurso a utilizar na sala de aula:

“Nas conversas que eu tenho com os meus colegas não me apercebo que eles a utilizem nas aulas.”

(PG)

Questionados acerca da utilização de livros de B.D. ou excertos de B.D. como

recurso didáctico em Química, somente um professor (PG), dos oito entrevistados,

afirmou recorrer a este meio por considerar a B.D. um recurso motivador para os

alunos (quadro 13).

O professor PG indicou que já recorreu à B.D. no 8ºano de C.F.Q. para

leccionar as “Regras de Segurança no Laboratório de Química” e justificou a sua utilização do

modo seguinte:

“Passei uns acetatos no 8ºano em Regras de Segurança nos Laboratórios de Química porque queria

uma aula diferente e queria algum interesse nos alunos.”( PG)

Quadro 13. Utilização de livros de B.D. ou excertos de B.D. no ensino da Química (nP=8)

Professores entrevistados Categorias Razões

PA PB PC PD PE PF PG PH

A. Sim, porque.. Motiva os alunos __ __ __ __ __ __ __

Nunca pensou na B.D. como um recurso didáctico __ __ __ B. Não, porque...

Não conhece B.D. com assuntos de Química __ __ __ __

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 141

Os restantes sete professores admitiram nunca ter utilizado a B.D. nas aulas de Química

por dois motivos:

- porque nunca equacionaram essa hipótese (cinco):

“É mesmo falta de hábito.” (PB) “Nunca me lembrei disso.” (PD)

“Sinceramente não sei, nunca me lembrei.”(PE) “Nunca me ocorreu [...] nunca me lembrei.” (PF)

- porque, desconhecem livros ou excertos de B.D. apropriados para o efeito

(quatro):

“A B.D. nunca utilizei porque realmente não encontro materiais que tenham esse tipo de coisas.” (PA) “Se houvesse um manual (é um exagero), mas se os livros adoptados tivessem essa vertente...” (PB) “(...) e depois não há assim B.D. com assuntos de Química, disponível, que eu possa mostrar aos

alunos.”(PD) “Também o meu conhecimento de B.D. é muito limitado.” (PH)

Questionados acerca de uma possível utilização ou de uma maior utilização

deste recurso no futuro, os professores entrevistados, mostraram-se predispostos para

usar a B.D. como recurso didáctico em Química. Contudo, seis destes professores

referem que só utilizarão a B.D. no futuro se forem elaborados e divulgados materiais

de tipo B.D. centrados em conteúdos de Química:

“Sim, desde que fosse mais divulgado não me importava. Uma vez que, nunca utilizei Banda Desenhada

porque realmente não encontro materiais que tenham esse tipo de coisas.” (PA) “(...) Com certeza que se me chegar ao conhecimento alguma publicação sobre este assunto não tenho

dúvidas nenhumas que vou aplicar. Até porque os alunos que eu dou apoio são alunos que necessitam de

uma motivação grande. ” (PC) “Talvez se encontrar algumas coisas giras, interessantes!” (PF)

Três professores (PC, PD e PE) indicam que utilizarão a B.D. no futuro, para

renovar as metodologias de ensino usadas na sala de aula e/ou para motivar os alunos:

“Porque eu tenho a impressão que na época actual, em que os miúdos estão rodeados com todos esses

mass media, e que para eles são desafios, a inovação é necessária na comunicação por escrito para

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 142

exactamente os captar. Eu estou em acreditar que perante uma B.D. bem concebida, cientificamente

correcta, é capaz o adolescente mas tenho ideia que o adolescente é capaz de ficar mais motivado, o

que é que virá a seguir, deixa ver o que é que dizem, as personagens, os intervenientes, as

expressões.”(PC) “Sem dúvida, cada vez mais, até que por acaso eu estou tentada a renovar um pouco as minhas

metodologias, agora que temos uma distribuição de tempos lectivos diferentes, e ter outras ambições em

termos de currículo e eu acho que estou tentada a alterar as minhas metodologias.” (PE)

“ Foi uma coisa que nunca me lembrei, porque pensando nisso, acho que com certeza era uma boa

estratégia para interessar os alunos.” (PD)

Foi solicitado aos professores, durante a entrevista, que fizessem um

comentário sobre o facto de cerca de 30% dos professores respondentes ao questionário

admitir ter utilizado a B.D. na sala de aula, como recurso didáctico, e cerca de 80% dos

mesmos considerar vir a utilizar ou a utilizar mais a B.D. nas aulas de Química (quadro

14).

Os comentários apresentados pelos docentes organizam-se em torno de cinco

vectores essenciais:

- primeiro: o valor referente à utilização reflecte a realidade da utilização da

B.D. na sala de aula:

“ 30% acho até uma boa percentagem.” (PD)

“Não me causa espanto. Apenas 30% já utilizou, mais ou menos como eu, utilizou se calhar poucas

vezes. Mas acho que é normal (...). (PG)

Quadro 14. Comentários ao facto de cerca de 30% dos professores questionados utilizarem a B.D. como recurso

didáctico e cerca de 80% considerarem vir a utilizar a B.D. na aula de Química

(nP=8) Professores entrevistados

Comentários PA PB PC PD PE PF PG PH

A. A percentagem de utilização da B.D. é a esperada __ __ __ __ __ __

B. A percentagem de utilização não corresponde à realidade __ __ __ __ __

C. As percentagens obtidas são provocadas pelo questionário __ __ __ __ __

D. A percentagem referente à intenção de utilização da B.D. pode não passar de mera

intenção __ __ __ __ __ __

E. As percentagens obtidas evidenciam a necessidade de mudança dos recursos

didácticos __ __ __ __ __ __

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 143

- segundo: o valor referente à utilização de B.D. não corresponde à realidade

sendo considerado um valor baixo, por uns (PA e PB), e exageradamente alto,

por outros (PH):

“Os 30% é uma percentagem relativamente pequena. Poderia ser realmente mais divulgada.”(PA) “É uma percentagem baixa para quem utiliza porque acho que é pouco divulgada.” (PB) “ Esses 30% é exagerado. Quanto a mim, pode utilizar-se de vez em quando num acetato ou assim.

Mas, mesmo assim, parece-me muito. Na verdade, que utilize razoavelmente 10%.” (PH) - terceiro: a consciência de que, do mesmo modo que a eles (professores

entrevistados) o questionário os despertou para reflectirem acerca da

utilização da B.D. como recurso didáctico em Química, o mesmo poderá ter

acontecido aos professores respondentes ao questionário:

“(...) também nunca me debrucei sobre esse aspecto. B.D.... Nunca pensei! Eu quero realmente utilizar

B.D.?! Nunca pensei muito nisto. De facto, agora é que eu estou a pensar.” (PA) “(...) foi uma coisa de que eu nunca me lembrei. Porque com certeza pensando nisso, acho que [...] era

uma boa estratégia para interessar os alunos.” (PD) “Se calhar este questionário foi bom para os professores nesse sentido. Pelo menos para despertá-los no

sentido de usar este novo recurso. Que no meu caso nunca tinha pensado nisso.” (PF)

- quarto: a percentagem de cerca de 80% a favor de uma maior utilização da

B.D. como recurso didáctico é interpretada como podendo não passar de

meras intenções:

“ (...) 80% considera vir a utilizar, se calhar é uma intenção que não passa do questionário.”(PG) “Eu também gostava de vir a utilizar muita coisa, mas na prática não se concretiza. [...] Agora na

prática, eu vejo por mim que leio todos os dias B.D., eu vejo que é complicado arranjar uma história

adequada.” (PH) - quinto: as percentagens obtidas evidenciaram a necessidade de mudança, ao

nível dos recursos didácticos:

“Agora temos 90 minutos e convém diversificar imenso e eu acho que a grande vantagem em termos de

utilização da B.D. é a capacidade de os chamar mais à atenção e de os motivar mais.” (PE) “As pessoas estão a sentir necessidade de alguma mudança e nós não podemos estar no séc. XXI a

ensinar da mesma maneira do séc. XIX ou XX. (…) Estamos com a necessidade de deixar o ensino

tradicional e de hoje para amanhã a escola não responde exactamente ao interesse dos jovens.” (PC)

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 144

Algumas das razões apresentadas pelos professores entrevistados para

justificarem a elevada importância que atribuem à B.D. enquanto recurso didáctico são

consentâneas com as mencionadas por Roux (1970), Arques (2002) e Gonzalez -

Espada (2003).

Em suma, a quase totalidade dos professores entrevistados (à excepção de um)

considera a B.D. um potencial recurso didáctico Muito Importante ou Importante na

medida em que, segundo os mesmos, pode contribuir para motivar os alunos na sala de

aula e ser um meio facilitador da aprendizagem em Química. Contudo, apenas um dos

professores entrevistados refere já ter utilizado a B.D. na sala de aula. Os restantes

entrevistados justificam a não utilização da B.D. na sala de aula pelo facto de nunca

terem associado a B.D. a um recurso didáctico e por desconhecerem B.D. com

conteúdos científicos.

A maioria dos professores entrevistados refere que a elevada percentagem

obtida no questionário, sobre a importância da B.D. como recurso didáctico, dá

indicação que este meio se deveria utilizar mais vezes na sala de aula. Quanto à

percentagem de utilização ou maior utilização da B.D. na sala de aula (obtido no

questionário) as opiniões dos professores entrevistados encontram-se divididas: uns

referem que se trata de uma percentagem de utilização baixa e outros afirmam que a

percentagem obtida era a esperada, entre outras razões. Os professores entrevistados

referem, ainda, que a percentagem relativa à possível maior utilização da B.D. na sala

de aula pode não passar de meras intenções que não se transpõem para a prática

pedagógica.

4.2.5. Percepção de alunos e professores sobre conteúdos de Química, incluídos em

livros de B.D.

Tendo a noção que a B.D., no dia-a-dia, faz parte de uma leitura

essencialmente recreativa, quisemos (questão II.5.- questionário dos alunos) conhecer

até que ponto os alunos que lêem este tipo de livros associam o seu conteúdo ao que

formalmente lhes é ensinado nas aulas de Química. Quando inquiridos acerca deste

propósito, dos 219 alunos que efectivamente indicaram ler B.D., apenas 50 (22,8%)

associaram as histórias de B.D. que liam a conteúdos de Química ensinados nas aulas.

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 145

Quando pedimos a estes alunos (questão II.5.1-questionário dos alunos) que referissem

a história de B.D. e o(s) conteúdo(s) de Química entre os quais estabeleceram tal

ligação, somente 26 destes alunos deram uma resposta adequada (quadro 15).

O conteúdo de Química relacionado por um número mais elevado de alunos

(12) com livros lidos de B.D. é “Experiências”, não tendo, no entanto, sido especificada

qual a natureza destas. Estes alunos referiram encontrá-las em livros como o Astérix, o

Tio Patinhas (com a personagem do professor Pardal), Os Loucos, Mónica e Calvin &

Hobbes. A referência ao tema “Substâncias e Reacções Químicas” é feita por seis alunos em

relação com os livros do Astérix. Três alunos associam o tema “Átomos/Fórmulas químicas”

aos livros Super Heróis, Ghost in the Shell e X-Men. Identificados por apenas um aluno

aparecem temas de Química como: “Energia”, no livro Fantastic Four; “Constituição de um

gás asfixiante”, no Tintim; “Expansão térmica” no livro Neon Genesis Evangelion; “protões,

electrões e neutrões” num livro do pato Donald; e “Destruição Molecular” num livro do X-

Men.

Auscultámos os professores acerca do mesmo assunto (questão II.4.-

questionário dos professores), isto é, percepção sobre conteúdos de Química incluídos em

livros de B.D.. Dos 33 professores leitores de B.D., 18 (54,5%) referiram encontrar

conteúdos de Química em livros de B.D., mas apenas 12 explicitaram os temas de

Quadro 15. Percepção de alunos sobre os conteúdos de Química incluídos em livros de B.D. (nA=26)

Conteúdos de Química Livro de B.D. Alunos

Astérix A2; A5;

Tio Patinhas ( professor Pardal) A3; A4; A6; A10; A11; A59

Disney A7

Mónica A210

Os Loucos A272

Experiências

Calvin & Hobbes A209

Substâncias e reacções químicas Astérix A202; A205; A244; A251; A341; A343

Energia Fantastic Four A187

Super Heróis

Ghost in the Shell

A42

A208 Átomos/ Fórmulas químicas

X- Men A327

Constituição de um gás asfixiante Tintim A347

Expansão térmica Neon Genesis Evangelion A100

Protões, electrões e neutrões Pato Donald A124

Destruição molecular X- Men A65

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 146

química encontrados e sem mencionarem o nome do livro em que encontraram o

conteúdo em causa (quadro 16).

O assunto referido por um maior número de professores foi “Reacções químicas”,

indicado por cinco professores (P10, P44, P49, P58 e P80), seguido de “Ácidos”,

referenciados por três docentes (P78, P80 e P87). Com apenas duas indicações surgem os

temas “Ciência e Tecnologia” (P25 e P53) e “Estados físicos da matéria” (P44 e P48). Outros

assuntos, como “Substâncias químicas”, “Alquimia”, “Elementos químicos”, “Material de

laboratório” e “Energia”, foram referidos pelos professores P48, P49, P58, P77 e P21,

respectivamente.

Elementos dos dois grupos participantes no estudo, alunos e professores

leitores de B.D., mencionam que quando lêem livros de B.D. discernem, nesse contexto

informal, assuntos de Química. Para além disso, indicam encontrar nos livros de B.D.

assuntos de Química comuns, como sejam os das “Reacções Químicas”, “Substâncias” e

“Energia”.

4.2.6. Percepção de alunos e professores sobre as imagens da Ciência e dos

Cientistas veiculadas pelos livros de B.D.

Ao folhear livros de B.D. é habitual encontrar referências à ciência, ao modo

como o cientista trabalha e à sua pessoa. Ao assumirmos esta realidade, quisemos saber

qual a percepção dos alunos e dos professores envolvidos no estudo e que são leitores

de B.D., acerca das imagens da Ciência e dos Cientistas veiculadas por este tipo de

Quadro 16. Percepção dos professores sobre os conteúdos de Química incluídos em livros de B.D. (nP=12)

Assuntos de Química Professores

Reacções químicas P10; P44; P49; P58; P80

Ácidos P78; P80; P87

Ciência e tecnologia P25; P53

Estados físicos da matéria P44; P48

Substâncias químicas P48

Alquimia P49

Elementos químicos P58

Material de laboratório P77

Energia P21

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 147

livros. No que respeita à Ciência, alunos (nA=206) e professores (nP=33) respondentes

(questão II.6. e II.5.- questionário dos alunos e professores, respectivamente)

assinalaram, de entre nove opções que lhe foram fornecidas, aquela(s) que na(s) sua(s)

perspectiva(s) seria(m) a(s) mais indicada(s) para emitir a sua opinião sobre o assunto

em causa. As respostas obtidas constam do gráfico 3.

Gráfico 3. Imagens da Ciência veiculadas, de acordo com os professores (nP=33) e alunos

(nA=206) leitores de livros de B.D., nos livros de B.D.

A maioria dos alunos (54,3%) e dos professores (81,8%) leitores de B.D.

referem que ao ler este tipo de livros lhes é transmitido a imagem de uma ciência

“Mágica”. É de salientar que as segundas características mais frequentes em cada grupo

são divergentes: os professores (30,3%) têm uma ideia da ciência neste tipo de livros

como algo “Capaz de resolver os problemas da sociedade” e os alunos (37,5%) como algo

“Verdadeira”.

Quando inquiridos sobre as razões (questões II.6.1 e II.5.1-questionário dos

alunos e professores, respectivamente) que os levaram a afirmar que os livros de B.D.

veiculam uma dada imagem da Ciência, somente 45 alunos, (21,8%) e nove professores

37,5

29,8

9,1

22,1

1,4

81,8

24,230,3

0,0

17,3

25,5

54,3

13,0 12,16,13,0

9,13,0

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

Ver

dade

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Out

ra

%

Alunos Professores

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 148

(27,3%) leitores de B.D., responderam ao que era pedido. Para além disso, apesar de

alguns respondentes terem assinalado mais do que uma imagem, justificaram apenas

uma delas (tabela 25).

As razões apresentadas por alunos e professores têm naturezas diferentes,

consoante a imagem da ciência que consideram ser veiculada pelos livros de B.D. Desta

forma, a ideia de que os livros de B.D. dão uma imagem da ciência como algo:

-“Verdadeiro”, é apresentada apenas pelos alunos (15), é explicada com base na

ideia de que os acontecimentos são reais (11 alunos), e de que os conteúdos

científicos são verdadeiros (quatro alunos):

“Muitas situações que são referidas em B.D. acontecem na realidade.”(A189) “Nas B.D.`s a ciência é abordada em muitos sentidos com clareza e correcção o que vem justificar a

minha opinião.” (A202)

-“Impossível de acontecer”, também apresentada apenas por alunos é justificada

apenas com base na ideia de que nesses livros aparecem acontecimentos que

não acontecem na realidade:

“Com a poção mágica do Astérix vê-se que é impossível acontecer algo assim no mundo real.”(A190)

-“Mágico” é justificada com base no facto de os livros de B.D. apresentarem

acontecimentos que fazem lembrar ilusionismo/fantasia/magia:

Tabela 25. Imagens da ciência veiculadas pelos livros de B.D., de acordo com os alunos (nA=45) e professores (nP=9)

leitores de B.D. (f)

Imagens da ciência Razões Professores Alunos

Algo Verdadeiro A B.D. relata assuntos com rigor científico que de facto acontecem na

realidade.

_____ 15

Algo Impossível de acontecer Apresenta como reais, acontecimentos impossíveis de acontecer _____ 2

Algo Mágico Por vez parece ilusionismo/fantasia/magia 5 18

Utiliza truques e efeitos especiais 2 Algo Distorcido

Relatam acontecimentos de modo diferente da realidade 1 1

Algo Perigoso A Ciência é associada a situações que envolvem perigo 1 4

Capaz de resolver os problemas

da sociedade

Transmitem a ideia de que a ciência consegue encontrar soluções para

tudo

2 3

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 149

“A minha resposta é consequência de certas personagens da B.D. como o professor Pardal.”(P85) “Pois por vezes parece ilusionismo.”(P77)

“A B.D. é baseada em magia, levando um indivíduo a uma realidade que é fictícia.” (A19) “(...) nos livros que (...) li existe muita imaginação como a poção mágica do Astérix.”(A205)

-“Distorcido”, pois, de acordo com os alunos, os livros de B.D. utilizam truques

e efeitos especiais e, segundo um aluno e um professor, relatam

acontecimentos de modo diferente da realidade:

“Porque utiliza truques e efeitos especiais.”(A2)

“Por vezes a forma de apresentar as situações é feita de uma maneira pouco realista a nível do que é a

ciência.”(P58)

“Porque não mostra os factos como eles são na realidade.”(A326)

-“Perigoso” é apresentada em associação com situações que, se fossem

verdadeiras, seriam muito perigosas:

“Porque cada vez que fazem uma experiência o laboratório explode.”(A223) “Mostram reacções complexas e perigosas.” (P45)

-“Capaz de resolver os problemas da sociedade” é justificada através da ideia de que

os livros de B.D. apresentam a ciência como sendo capaz de fornecer

soluções para tudo:

“Os livros transmitem a ideia de que a ciência consegue encontrar soluções para tudo e de que basta

juntar duas substâncias para se obter o que se quer mesmo que não se saiba como.”(P48)

“Porque nas histórias que leio, a ciência cura qualquer doença ou mal (...).”(A22)

A opinião acerca das imagens dos cientistas, emanadas pelos livros de B.D.,

foi recolhida junto de 33 professores e 219 alunos, leitores actuais de B.D.. Os dados

obtidos e apresentados no gráfico 4 têm por base as respostas a essa mesma pergunta

(questões II.7. e II.6-questionários dos alunos e professores, respectivamente). Note-se

que cada sujeito da amostra poderia indicar mais do que uma característica que

considerasse, na sua opinião, adequada para traduzir o modo como as imagens dos

cientistas são transmitidas por estes livros.

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 150

Gráfico 4. Imagens dos cientistas veiculadas, de acordo com os professores (nP=33) e

alunos (nA=206) leitores de B.D., pelos livros de B.D.

Ao compararmos os dois tipos de sujeitos que participaram no estudo, alunos e

professores leitores de B.D., verificamos que predomina em ambos os grupos a ideia

que as imagens dos cientistas veiculadas pelos livros de B.D. são as de uma pessoa com

características “anormais”, como sejam “Louca” (indicada por 57,6% e 54,9% dos

professores e alunos leitores de B.D.) e “Fora da Realidade” (indicada por 51,5% e 41,3%

dos professores e alunos leitores de B.D.). De realçar que a designação de sábio-louco é

também uma designação atribuída por Pessoa (1999) a alguns cientistas na B.D.

europeia. A diferença entre os dois grupos aparece na terceira opção mais seleccionada,

onde os professores (45,5%) consideram ver na B.D. o cientista como uma pessoa

“Persistente” e os alunos (35,4%) como uma pessoa “Normal”. Na alínea “Outra” opção,

dois professores referem-se à imagem do cientista como um “Futurista” e como uma

“Pessoa crítica à sociedade”. Dois docentes referem ainda que não têm encontrado

estereótipos do cientista nestes livros e três alunos (2,4%) referem-se à imagem do

cientista na B.D. como uma pessoa “Divertida”, “Engraçada”, “Sonhadora”, “Distraída” e

“Aventureira”.

35,4

41,3

24,8

6,1

15,2

6,1

12,1

54,9

13,114,6

23,8

2,4

57,6

15,2

45,5

51,50

510

1520

2530

3540

4550

5560

65

Nor

mal

Lou

ca

Pouc

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%

Alunos Professores

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 151

Apenas 48 alunos (23,3%) e 12 professores (36,4%) justificaram a(s)

imagem(ns) de cientista (s) que consideram ser transmitida pelos livros de B.D.

(questão II. 7.1 e II.6.1- respectivamente, questionário dos alunos e professores).

Contudo, os professores e alunos apenas justificaram uma das imagens assinaladas

(tabela 26).

Tabela 26. Imagens dos cientistas veiculadas pelos livros de B.D., de acordo com os alunos (nA=48) e professores

(nP=12) leitores (f)

A imagem que, na opinião dos alunos e professores, os livros de B.D. dão

acerca do cientista, é justificada com base em uma ou mais razões. A ideia de que os

livros de B.D. apresentam o cientista como uma pessoa:

-“Normal”, é avançada apenas por alunos e justificada com base no facto de os

cientistas terem, na B.D., comportamentos e problemas normais:

“Normal, porque é alguém igual a nós.”(A225) “Os cientistas aparecem como pessoas normais com problemas normais.” (A100)

-“Louca”, é justificada com base no facto de os cientistas, na B.D., serem

apresentados com um aspecto extravagante e com atitudes estranhas e/ou

típicas de pessoa com problemas mentais:

“Eu digo louca, pois nos livros que li os cientistas são loucos como o Dr. Girassol no Tintim.”(A205) “A "imagem visual" do cientista é uma pessoa com óculos, muito despenteado e com um lab. algo

caótico.”(P53)

“Normalmente são representados por cientistas loucos de cabelo em pé e com óculos enormes.” (A356)

“Fazem cá cada experiência!” (A310)

Imagens dos cientistas Razões Professores Alunos

Pessoa Normal Têm comportamentos e problemas normais _____ 8

Os livros de B.D. afirmam que os cientistas são loucos _____ 2

Tem um aspecto visual extravagante 4 13 Pessoa Louca

Devido às suas atitudes estranhas/loucas _____ 9

Pessoa Pouco sociável Aparece sempre fechado no seu laboratório _____ 2

Pessoa Fora da realidade Vivem num mundo diferentes (laboratório) 3 6

Pessoa Persistente Não desistem sem alcançarem os objectivos 5 5

Pessoa Objectiva _____ 3

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Capítulo 4- Apresentação e Discussão dos Resultados

A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 152

-“Pouco Sociável”, só referida pelos alunos (dois), é explicada através da ideia de

que os cientistas, na B.D., não se relacionam com outras pessoas:

“Pouco sociável [...] pois está tão entretido a fazer experiências que não têm tempo para comunicar

com os outros [...].” (A209)

-“Fora da Realidade”, baseia-se no facto de a B.D. transmitir a ideia de que os

cientistas se abstraem da sociedade, vivendo apenas para o seu mundo

(laboratório):

" O cientista " da BD quase sempre surge para "inventar" poções, maquinetas...etc que nada têm a ver

com a realidade e que viola princípios e leis.” (P40)

“Porque quase todos se abstraem da sociedade para um mundo (laboratório) da ciência.”(A163)

-“Persistente”, justificada pelo facto de, na B.D. os cientistas serem

apresentados como personagens totalmente empenhadas em conseguir os

seus objectivos:

“Um cientista encontra-se sempre no seu laboratório a tentar descobrir algo novo.” (P50)

“Os cientistas sempre que falham voltam a tentar (...).”(A206)

-“Objectiva”, apresentada somente por três alunos, que a tentam justificar

através da ideia de que, nos livros de B.D. o Cientista tem os seus objectivos

bem definidos, o que significa que não entenderam o significado da palavra

“objectivo” no contexto desta pergunta.

Em suma, a maioria dos alunos leitores de B.D., participantes no presente

estudo, considera que os livros de B.D. que leram lhes transmitiu uma imagem da

Ciência como algo “Mágico”, seguido de “Verdadeiro”. Os professores leitores de B.D.,

envolvidos no estudo, consideram que a imagem da Ciência que é transmitida pelos

livros de B.D. é, com uma percentagem elevada (81,8%), algo “Mágico” e, com cerca de

30%, “Capaz de resolver os problemas”. Desta forma, parece que, para alunos e professores, a

B.D. veicula uma imagem mítica da Ciência, que revela algum cientismo, isto é, uma

visão da Ciência extremamente positiva e utilitária à semelhança do que se verificou em

outros estudos referidos no ponto 2.4 do capítulo 2 desta dissertação.

Quanto à imagem dos Cientistas transmitidas pelos livros de B.D., a maioria

dos alunos e professores leitores de B.D., envolvidos no estudo, refere que os livros de

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A Química e a imagem da Ciência e dos Cientistas na Banda Desenhada 153

B.D. lhes transmitem, imagens dos Cientistas como pessoas “Loucas”, “Fora da

Realidade”, ou seja, com características de pessoas “anormais”. As imagens que os

professores e alunos, envolvidos no estudo, mencionaram ter em relação aos Cientistas

nos livros de B.D. são semelhantes às imagens dos Cientistas referidas em alguns

estudos contemplados no ponto 2.4. do capítulo 2, do nosso trabalho. É de salientar que

o conjunto de razões que professores e alunos avançam para justificar as imagens dos

Cientistas como pessoas “Loucas” veiculadas pela B.D. é semelhante aos estereótipos

divulgados por outros trabalhos de investigação (Newton e Newton, 1992; Harrison e

Mathews, 1998; Pessoa, 1999; Carvalhinho, 2001; Rubin e Cohen, 2003).

Estes livros, com características muito próprias ao nível de enredo e de

imagens, parecem veicular imagens da Ciência e dos Cientistas condicentes para o fim a

que se destinam primordialmente (a leitura recreativa/lazer) e contrastar com as imagens

aceites pela comunidade científica (Smith, 1998; McComas, 1998). Dado que, de

acordo com Shibeci (1986), a representação da Ciência e dos Cientistas em vários meios

informais, nomeadamente na B.D., é desfavorável e distorcida, significando que é

necessário prestar atenção a este tipo de fonte informal no ensino formal.

4.3. Análise de alguns livros de B.D. do Tio Patinhas pela Investigadora

Os livros do Tio Patinhas, indicados pelos alunos participantes no estudo como

os seus livros de B.D. preferidos, foram alvo de uma análise sistemática com vista a

encontrar referências a conteúdos de Química, bem como a referências às características

da Ciência e dos Cientistas. Assim, e tal como foi descrito em 3.3. o presente estudo

centrou-se em livros do Tio Patinhas, comercializados entre os anos de 1999 e 2003,

num total de 46, ou seja, os que foram disponibilizados pela editora destes livros e os

que estavam disponíveis em superfícies comerciais.

Dos 46 livros analisados verificou-se que 41 (89,1%) continham histórias com

os assuntos acima indicados, ou seja, 27 (58,7%) com conteúdos de Química, 10

(21,7%) com referências à Ciência e 25 (54,3%) com assuntos sobre os Cientistas.