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VIII ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PESQUISADORES EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
Londrina de 05 a 07 novembro de 2013 - ISSN 2175-960X
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CAPACITAÇÃO DE PAIS DE CRIANÇAS COM TDAH EM UM
PROGRAMA DE HABILIDADES SOCIAIS: IMPLICAÇÕES PARA
A INCLUSÃO DE SEUS FILHOS
NATÁLIA ROSOT1
MARCELA MIYUKI CAVAMURA ENDO 2
MARIANA CAROLINA BATISTA FERREIRA3
NATÁLIA GOMES SOARES4
MARGARETTE MATESCO ROCHA5
Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Introdução
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é caracterizado pelo DSM-
IV-TR (2002) como sendo um transtorno cujas principais características são a
hiperatividade, a impulsividade e a desatenção em níveis mais acentuados que a
população em um mesmo nível de desenvolvimento. Estes padrões de comportamento
devem estar presentes em pelo menos dois ambientes (casa, escola, relações sociais,
trabalho etc).
Na escola, a maioria das crianças que têm TDAH apresentam prejuízos nas interações
sociais e desempenho acadêmico que dizem respeito à execução das tarefas escolares. A
pesquisa realizada por Rodhe et al. (1999) apontou que dentre os alunos com diagnóstico
de TDAH, 87% apresentavam mais de uma reprovação de série, 48% já haviam sido
suspensos da escola ao menos uma vez e 17% tinham história de expulsão.
Comparativamente, os alunos sem esse diagnóstico apontavam somente 30% de
reprovação, 17% de suspensão escolar e 2% de expulsão.
Para ter a garantia de permanência na escola, com a eliminação de barreiras que impedem
a permanência na escola, essas crianças precisam ser atendidas a partir das ações,
seguindo os pressupostos da educação especial, que respeitem as suas especificidades e
garantam progressões para níveis mais elevados de ensino.
Dentre as diversas ações destaca-se o papel da família como componente ativo na inclusão
escolar dos seus filhos. No entanto, segundo Brasil (2004, p. 7) essa participação dos pais
atualmente ainda não pode ser caracterizada como uma parceria:
É muito comum ver famílias se movimentando, em busca de
atendimento ou mesmo frequentando serviços diferentes, sem ter noção
do que é que estão fazendo. Constata-se que a relação entre a família e
profissionais tem sido uma relação de poder do conhecimento nas
decisões do que é melhor para seus filhos. Faz-se necessário que a
família construa conhecimentos sobre as necessidades especiais de seus
1 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: [email protected] 2 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: [email protected] 3 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: [email protected] 4 Graduanda em Psicologia (UEL). E-mail: [email protected] 5 Doutora docente do Departamento de Psicologia Geral e Análise do comportamento (UEL). E-mail: [email protected]
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filhos, bem como desenvolva competências de gerenciamento do
conjunto dessas necessidades e potencialidades.
Essa constatação sugere a necessidade dos pais serem capazes de se lidar,
apropriadamente, com profissionais que interagem com seus filhos de modo a favorecer
atitudes de enfrentamento relacionadas a pedido de esclarecimentos, reivindicações de
seus direitos e formas de comunicação mais efetivas com diversos grupos com os quais
interage cotidianamente.
Considerando especificamente pais de crianças com TDAH, Bellé et al. (2009, p. 322)
demonstrou que mães de crianças com TDAH apresentam grande sobrecarga emocional
devido ao cansaço e à tensão em função dos comportamentos dos filhos, preocupação
com o futuro deles e ressentimento na família. Essa sobrecarga emocional, segundo os
autores, é decorrente da maior assistência que essas crianças demandam, às frequentes
queixas com relação aos comportamentos do filho e a responsabilização dessa mãe pela
falta de controle sobre o mesmo.
Para amenizar essa sobrecarga e desenvolver atitudes enfrentamento considera-se
importante o treinamento de habilidades sociais para que essas mães lidem melhor com
seus filhos e com outras pessoas e melhorarem a sua própria qualidade de vida,
diminuindo o estresse diário. É importante também que desenvolvam repertório para
conversar com os diversos profissionais que estão em contato com a criança e refutar
críticas sem fundamentos.
O termo Habilidades Sociais pode ser definido como sendo um conjunto de
comportamentos que são apresentados na interação com os outros de forma a maximizar
reforçadores positivos para aquela interação. Para Del Prette e Del Prette (2010) um
comportamento social somente é classificado como habilidade social quando contribui
para a competência social em uma tarefa de interação social. A importância dessas
habilidades reside no fato de que as pessoas dedicam maior parte de seu tempo se
relacionando interpessoalmente, desse modo, quando são socialmente habilidosas,
originam interações sociais satisfatórias, aumentam as chances de produzir reforçadores,
diminuindo as chances de desenvolver problemas psicológicos no futuro (CABALLO,
1997 apud BOLSONI-SILVA, 2002).
A maioria dos estudos na área de Habilidades Sociais e que enfatizam os pais ou a relação
pais-filho (com ou sem TDAH ou outros transtornos de comportamento) geralmente
focam as habilidades sociais educativas dos pais (CIA et al., 2006; BOLSONI-SILVA;
DEL PRETTE, 2002; BOLSONI-SILVA et al., 2008; PINHEIRO et al., 2006). Entretanto
o presente trabalho foi realizado enfatizando as habilidades sociais cotidianas, partindo
do pressuposto de que as mães além de lidarem com seus filhos (utilizando as habilidades
sociais educativas), também precisam lidar com outras pessoas (profissionais que
atendem seus filhos, parentes etc).
Dentre as habilidades sociais cotidianas, aquelas denominadas assertividade, saber lidar
com críticas, elogio e feedback foram as mais treinadas em diferentes programas para
pais (ROCHA; ANDRADE; DOURADO, 2011). A assertividade, segundo Del Prette e
Del Prette (1999), está relacionada a saber expressar seus sentimentos, pensamentos,
crenças e assegurar seus direitos de uma maneira adequada, direta, sincera, sem que viole
os direitos do outro. “Ao defender seus direitos e expressar seus sentimentos de maneira
contida, o indivíduo age como se estivesse demarcando seu espaço e estabelecendo até
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onde o grupo pode controlar seu comportamento” (MARCHEZINI-CUNHA;
TOURINHO, 2010, p. 298).
Saber lidar com críticas é importante, tanto para essas mães como para a população em
geral, visto que todo tipo de crítica é difícil de ser manejada, mesmo com aquelas em que
há concordância. Para essa habilidade recomenda-se ouvir atentamente a crítica
adequada, refletindo a respeito do que deve ser mudado. Com relação à crítica verdadeira,
mas inadequada, também é recomendado que ouça atentamente e reflita, mas que além
disso, peça para o interlocutor mudança de comportamento. E quanto à critica falsa
aconselha-se que a refute e esclareça ao interlocutor firmemente, sem hesitações, dando
exemplos dos seus equívocos, esperando que o interlocutor mude sua opinião (DEL
PRETTE; DEL PRETTE, 1999).
Del Prette e Del Prette (1999, p. 62) também afirmam que o feedback “operam na
manutenção ou alteração de um padrão de comportamento”, isto porque ao se pedir ou
dar um feedback a pessoa permite que a outra mude seu padrão de comportamento
conforme exige a interação. Sendo assim, o feedback exige do emissor um detalhamento
a respeito do comportamento do outro, visto que aquele deve descrever o que ele gostou
(feedback positivo) ou não (feedback negativo) no comportamento do outro. O elogio,
por sua vez, é um comentário positivo direcionado a uma pessoa ou a respeito de algo que
ela fez.
Dada importância das habilidades sociais cotidianas, este trabalho teve como objetivo
apresentar os efeitos de um programa para mães de crianças com TDAH sobre o seu
repertório de habilidades sociais cotidianas e discutir importância para a inclusão escolar
e social de seus filhos.
Método
A pesquisa foi conduzida sob um delineamento pré-teste - pós-teste em três grupos de
pais sendo cada grupo controle dele próprio. O grupo denominado “G1” foi conduzido
no ano de 2010, o denominado “G2” no ano de 2012 e “G3” no ano de 2013. A ação da
variável independente foi analisada a partir da comparação das diferentes medidas
intragrupo.
1. Participantes
Participaram deste estudo 10 pais de crianças de Escolas Estaduais de um município
localizado no norte do Paraná com avaliação médica indicando diagnóstico de TDAH. A
Tabela 1 apresenta a caracterização dos participantes.
Tabela 1. Relação dos pais participantes em cada grupo.
Participantes Grupo Sexo Idade Escolaridade
P1 G3 Feminino 45 Ensino médio incompleto
P2 G2 e G3 Feminino 35 Ensino médio incompleto
P3 G2 e G3 Feminino 52 Ensino fundamental
incompleto
P4 G2 Masculino 49 Ensino superior incompleto
P5 G2 Feminino 35 Ensino médio completo
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P6 G2 Feminino 40 Ensino fundamental
incompleto
P7 G1 Feminino 59 Ensino superior completo
P8 G1 Feminino 45 Ensino superior completo
P9 G1 Feminino 31 Ensino superior incompleto
P10 G1 Masculino 37 Ensino médio completo
2. Recursos Humanos
O estudo foi conduzido pela pesquisadora e três estudantes do 3º, 4º e 5º ano do curso de
Psicologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).
3. Local de Atendimento
O atendimento ao primeiro grupo foi realizado em uma clínica-escola de uma
universidade do norte do Paraná, mas devido as dificuldades dos participantes de acesso
a clínica os grupos seguintes “G2” e “G3” foram conduzidos nas escolas em que os filhos
estudavam, geralmente, nas proximidades da residência dos participantes.
4. Instrumentos
Inventário de Habilidades Sociais – IHS-Del-Prette (DEL PRETTE, DEL PRETTE,
2001): Foi utilizado nesta pesquisa para avaliar o repertório de habilidades sociais dos
pais e, embora não específico para educadores, envolve diversas habilidades necessárias
para interações satisfatórias dos pais com pessoas significativas do ambiente da criança.
É um instrumento de autorrelato, composto por 38 itens, cada um deles descrevendo uma
situação social e uma possível reação para a qual o respondente faz uma estimativa da
frequência com que reage daquela maneira (em uma escala Likert de cinco pontos). O
teste possui estudos de análise de itens (correlação item total e índices de discriminação),
consistência interna (Alfa de Cronbach = 0.75), teste-reteste com o Inventário de Rathus
(r=0.71, p=0.01) e outros estudos indicando validade e confiabilidade da escala. Portanto,
é um teste com qualidades psicométricas consideradas satisfatórias, o qual foi aprovado
pelo Conselho Federal de Psicologia.
5. Procedimento
O procedimento foi dividido em cinco etapas:
Etapa 1 - Seleção dos participantes
Os participantes foram indicados pelas equipes das escolas. As equipes
identificavam as crianças com diagnóstico de TDAH e que faziam tratamento com
medicação. Após a identificação, foram passados os contatos dos pais aos estagiários que
entravam em contato por telefone e os convidavam a participar de uma reunião para
esclarecer os objetivos e os procedimentos da pesquisa. Para aqueles pais que aceitavam
participar era solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
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Etapa 2- Avaliação pré-intervenção.
Foi agendado um encontro em grupo para responder o instrumento IHS-Del-
Prette. Esta avaliação foi realizada pelos alunos estagiários que orientaram os
participantes como proceder para o preenchimento do inventário e ainda esclareceram as
dúvidas referentes aos enunciados das questões quando solicitado.
Etapa 3- Planejamento da intervenção
A partir da avaliação de pré-intervenção, foram priorizados os comportamentos
avaliados como menos frequentes no IHS- Del-Prette (2001) e levantados na literatura
com importantes para pais de crianças com necessidades educacionais especiais
(ROCHA; ANDRADE; DOURADO, 2011).
Etapa 4- Intervenção
A intervenção foi realizada por meio de sessões de Treinamento de Habilidades
Sociais Cotidianas consideradas essenciais para a interação social dos pais tanto no
âmbito familiar como extrafamiliar (DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2001).
Sendo assim, as habilidades abordadas neste estudo foram divididas em duas
grandes classes: 1) habilidades de enfrentamento com risco (Fator 1 do IHS-Del-Prette)
e 2) habilidades de autoafirmação na expressão de afeto positivo (Fator 2 do IHS-Del-
Prette). A partir destas duas classes, especificam-se as seguintes habilidades, trabalhadas
ao longo do treinamento de pais: dar elogio e feedback (fator 2), assertividade e lidando
com críticas (fator 1). A Tabela 2 resume os objetivos e atividades propostas para as
sessões durante o período de 2010-2012.
Tabela 2. Descrição dos objetivos propostas nas sessões. Habilidade
treinada
Objetivos
Elogio e
Feedback
- Propor a vivência das dificuldades em observar os aspectos positivos do
desempenho do outro e descrevê-los;
- Descrever as habilidades de fornecer elogio, incentivo e feedback, bem
como suas topografias;
- Alertar para cuidados importantes no desempenho das habilidades;
- Realizar role-play das habilidades.
Assertividade
- Descrever aos participantes o conceito de “assertividade”.
- Descrever comparativamente as características das condutas classificados
como: “passivas”, “assertivas” e “agressivas”, identificá-las em situações
fictícias com múltipla escolha e desempenhá-las.
Lidar com
Críticas
-Descrever aos pais critérios para avaliar a aceitação ou não de uma crítica;
bem como formas de se lidar com críticas adequadas e com críticas
verdadeiras, mas realizadas de forma inadequada.
-Descrever formas de refutar críticas falsas ou injustas;
-Descrever comportamentos que podem parecer críticas, mas não o são;
-Apresentar instruções de como e em que momento fazer críticas;
-Treinar o comportamento de fazer e receber críticas adequadas, refutar
críticas falsas e pedir adequação para críticas inadequadas.
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Etapa 5- Avaliação pós-intervenção
Nessa fase foi utilizado o mesmo instrumento e procedimento descrito na fase de pré-
intervenção.
Tratamento de dados
Os dados obtidos por meio do inventário padronizado IHS-Del-Prette foi tratado
conforme as especificações do seu manual. A significância das alterações nos escores foi
analisada por meio do Método JT (JACOBSON; TRUAX, 1991).
Resultados
A Tabela 3 apresenta os Escores Globais e os Escores obtidos nos Fatores de Habilidades
Sociais na avaliação dos pais através do Inventário de Habilidades Sociais (IHS-Del-
Prette) nas fases pré e pós-intervenção durante o período de 2010-2012.
Tabela 3 - Escores Globais e fatoriais obtidos por meio do IHS-Del-Prette nas fases pré e
pós-intervenção.
Habilidades Sociais Cotidianas
Participantes
Enfrentamento com riscos
(F1)
Expressão de afeto
positivo (F2)
Escore Global
Pré Pós Pré Pós Pré Pós
P1 90 60 70 20 45 75
P2 1 1 03 01 25 3
P3 10 70 3 25 10 45
P4 20 65 45 55 30 40
P5 25 80 15 80 15 50
P6 20 60 10 40 75 80
P7 20 60 10 25 45 45
P8 60 95 60 97 45 65
P9 30 10 25 20 70 35
P10 15 15 20 45 55 95
Nota: Escores < 25%: necessidade de treino; Escores > 25%: bom repertório de Habilidades Sociais, porém abaixo da
média; Escores = 50%: repertório mediano; Escores > a 50%: bom repertório (acima da média) e Escores > 75%:
repertório bastante elaborado.
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Como demonstrado na Tabela 3, os pais P3, P4, P5, P6, P7 e P8 apresentaram aumento
no escore referente ao Fator 1: Habilidades de enfrentamento com risco (assertividade e
lidando com críticas). Os escores iniciais dos participantes P4, P5, P6, P7 indicaram que
apesar de apresentarem as habilidades os pais se situavam abaixo da média (escore
inferior a 50% e superior a 25%) o que apontava a necessidade do treino. Após a
intervenção os escores obtidos apontaram que os participantes situaram-se acima da
média (superior a 50%), apresentando um bom repertório acerca desta habilidade
treinada. Um dos pais (P3) apresentou na fase pré-intervenção um escore que indicou
extrema necessidade para treinamento (inferior a 25%) e após a intervenção o mesmo
apresentou um escore acima da média, indicando mudança positiva. Notou-se ainda, que
o participante P8 ao iniciar o grupo apresentou um escore acima da média e na fase pós-
intervenção, observou-se uma mudança, na qual o escore obtido nesta avaliação indicou
que o mesmo desenvolveu um excelente repertório de enfrentamento (superior a 75%).
Quanto aos outros quatro pais (P1, P2, P9 e P10), P1 e P9 obtiveram redução nos escores
durante a fase pós-intervenção e P2 e P10 mantiveram a mesma pontuação nas duas fases.
Ambas as situações indicaram necessidade de encaminhamento para treinamento,
ressaltando que os participantes P2, P9 e P10 obtiveram escore inferior a 25% sugerindo
déficit significativo nesta habilidade.
Referente ao Fator 2, ou seja, as habilidades de autoafirmação na expressão de afeto
positivo (elogio e feedback), verificou-se na Tabela 3 que os pais P3, P4, P5, P6, P7, P8
e P10 apresentaram mudança positiva, sendo que os pais P3, P6, P7 e P10, na fase pré-
intervenção haviam obtido escore baixo (inferior a 25%) indicando a necessidade de
treino. Enquanto na fase pós-intervenção, os escores indicaram mudança positiva,
todavia, verificou-se que os mesmos permaneceram na faixa abaixo da média, sinalizando
que houve aquisição das habilidades, porém com necessidade de mais treinamento. Um
dos pais (P4) obteve escore na fase pré que o situou abaixo da média, já na fase pós o
escore indicou colocação acima da média (superior a 50%), sinalizando o
desenvolvimento de um bom repertório de habilidades sociais. Notou-se ainda que os pais
P5 e P8 apresentaram um escore na fase pós-intervenção que sugeriu que estes
desenvolveram um excelente repertório referente às habilidades (acima de 75%). Em
relação aos pais P1, P2 e P9, todos apresentaram uma redução nos escores na fase pós-
intervenção que indicaram deficiência no repertório destas habilidades (escore inferior a
25%) demonstrando a necessidade de encaminhamento para um novo treino destas
habilidades.
No que concerne ao Escore Global, observou-se que os pais P1, P3, P4, P5, P6, P8 e P10
que participaram do treinamento apresentaram mudança positiva, após a fase de
intervenção, sugerindo melhora não somente nos fatores abordados neste estudo, mas
também em pelo menos um dos outros três fatores: Fator 3: Habilidades de Conversação
e Desenvoltura Social; Fator 4: Habilidades de Autoexposição a Desconhecidos e a
Situações Novas; Fator 5: Habilidades de Autocontrole da Agressividade a Situações
Aversivas. A diferença observada para P1 no escore geral ocorreu devido a ganhos nesses
fatores não apresentados no estudo.
Ainda referente ao Escore Global, dois pais (P3 e P4) apesar de relatarem mudança
positiva na fase pós-intervenção, os escores ainda permaneceram abaixo da média
indicando necessidade de treino para um desenvolvimento mais eficiente das habilidades
avaliadas pelo inventário. Notou-se também que P5 e P8 obtiveram um escore na fase pré
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que os situaram abaixo da média (superior a 25%), enquanto na fase pós os escores
sugeriram uma mudança indicando que ambos os pais se encontravam acima da média
(superior a 50%), apresentando um bom repertório. Os participantes P1, P6 e P10
apresentaram um escore na fase pós-intervenção indicando que os mesmos
desenvolveram um excelente repertório referente a estas habilidades (superior a75%).
No que tange aos participantes P2, P7 e P9, estes apresentaram redução nos escores na
fase de pós-intervenção, sendo que um obteve escore inferior a 25% (déficit significativo)
e o outro obteve escore inferior a 50% (repertório abaixo da média). Já o terceiro pai (P7)
manteve a pontuação em ambas as fases, cujo percentil encontrado foi superior a 25%.
Em todos esses casos, verifica-se a relevância de retomar o treino a fim de desenvolver
de forma mais efetiva as habilidades contempladas nestes cinco fatores.
A Figura 1 apresenta a Significância Clínica e o Índice de Mudança Confiável, a partir da
aplicação do método JT, dos Escores Globais alcançados pelos pais durante a avaliação
de pré e pós-intervenção.
FIGURA 1. Dispersão das diferenças entre a pré e a pós-intervenção nos escores gerais de
habilidades sociais dos participantes
Foi possível observar na Figura 1 que os escores obtidos pelos participantes P1, P3, P4,
P5, P6, P8 E P10 indicaram que a intervenção mostrou mudança positiva confiável,
sugerindo que o treinamento se fez um meio satisfatório para desenvolver o repertório de
habilidades sociais, revelando a relevância desse programa.
Com relação a S3 e S5, os dados indicaram que ambos saíram da população clínica para
não clínica. Quanto aos pais P2 e P9, os escores de ambos sugeriram mudança negativa
confiável, bem como foi possível observar que os escores do participante P7 sinalizou
ausência de mudança, o que evidencia a necessidade de um novo encaminhamento para
o treinamento visando desenvolver essas habilidades de forma mais efetiva.
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Discussão e Conclusão
Através da interação com os pais e de suas respostas ao IHS-Del-Prette, observou-se a
carência de habilidades sociais cotidianas no repertório comportamental dos mesmos.
Dessa maneira, há maiores dificuldades para o indivíduo expressar atitudes, sentimentos
(positivos e negativos), opiniões e desejos, respeitando a si próprio e aos outros. Estas são
respostas que podem ser emitidas nos mais variados contextos, tais como ambientes
familiares, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte público, de formalidade etc.
(CABALLO, 1996). Este fato aponta para a necessidade e relevância de treinamento a
pais enfocando em habilidades como as de fazer elogio e dar feedback, ser assertivo e
lidar com críticas.
O desenvolvimento e o aperfeiçoamento das habilidades sociais cotidianas de pais de
filhos com TDAH torna-se ainda mais importante quando considera-se que famílias de
crianças com esse transtorno vivenciam uma maior sobrecarga emocional se comparadas
às famílias de crianças com desenvolvimento típico, como apontado Bellé et al. (2009) e
Johnston e Mash (2001). O treinamento de pais e mães de crianças com TDAH voltado
para habilidades sociais cotidianas mostrou-se eficaz, considerando os escores gerais
obtidos por cinco participantes.
Através dos escores do IHS-Del-Prette, pôde-se notar que o Fator 1 apresentou melhoria
na maioria dos pais. Este fator faz referência às habilidades de enfrentamento de risco,
que envolvem a assertividade e controle de ansiedade em situações como lidar com
críticas injustas e discordar de outras pessoas. Esse dado é importante visto que pais de
crianças com TDAH são, com frequência, alvos de vários juízos errôneos, inclusive por
professores que lidam essas crianças, que sugerem que os pais são responsáveis pelo
transtorno da criança e que poderiam controlar a tríade sintomática apenas através de uma
dieta e outros “tratamentos” para controle da hiperatividade e desatenção dos filhos
(NORVILITIS, SCIME e LEE, 2002). Nesses casos, é imprescindível que os pais saibam
como combinar as habilidades de responder a uma crítica e a de ser assertivo, juntamente
com o conhecimento do transtorno. Segundo Del Prette e Del Prette (2010), a habilidade
de lidar com críticas faz parte de um comportamento assertivo, apontando, portanto, esta
relação entre as duas habilidades.
Considerando a habilidade assertividade, que também engloba comportamentos como o
de lidar com críticas, manifestar opinião, expressar raiva e pedir mudança de
comportamento, observou-se nos resultados pré-intervenção que os pais vieram, em sua
maioria, com um repertório deficitário nesses aspectos. Justifica-se este fato ao considerar
a complexidade da habilidade assertiva: é necessário ter uma compreensão das noções de
direitos e de cidadania, um repertório de componentes comportamentais e uma
discriminação acurada da situação, avaliando as consequências que sua expressão pode
trazer aos indivíduos envolvidos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010).
O Fator 2 que faz referência a comportamentos de autoafirmação e expressão de afeto
positivo e, portanto, engloba as habilidades de fazer e receber elogios e dar feedback.
Estas são habilidades essenciais para que os pais consigam reforçar e aumentar a
probabilidade de que comportamentos adequados voltem a acontecer. Então, por
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exemplo, pais podem elogiar, além dos comportamentos do próprio filho, o desempenho
de professores, a preocupação de parentes, o empenho e dedicação do parceiro.
Dentre essa classe de comportamentos foi verificado a dificuldade dos pais para dar
feedback. Este é um dado também apontado pela literatura, que afirma que há uma
ausência da prática cultural do feedback (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2010). Dessa
maneira, a implantação do uso do feedback no cotidiano dos pais encontra obstáculos na
falta de familiaridade com a topografia do comportamento, bem como no
desconhecimento da sua função.
Acredita-se que ensinar pais como agir de acordo com essas habilidades, favorece os seus
relacionamentos com outras pessoas com as quais interage no dia-a-dia: tanto com
aquelas pessoas relacionadas à problemática da criança, quanto àquelas alheias aos
comportamentos do filho, mas que interferem de maneira indireta nas interações da
criança (ROCHA, 2009). Uma pesquisa realizada por Bolsoni-Silva, Del Prette e Oishi
(2003) apontou que os pais da amostra que apresentavam melhor repertório de
habilidades, tinham os filhos com maior frequência de comportamentos adequados
comparados àqueles pais com um repertório mais pobre dessas habilidades, interferindo,
também, em déficits interpessoais e comportamentos desadaptativos.
Assim, quando os pais tiverem seus repertórios ampliados com o treinamento de pais
poderão estabelecer contatos mais bem sucedidos com médicos, psicopedagogos,
professores, parentes próximos e vizinhos. Segundo Rocha (2009) é comum que pessoas
que pouco conhecem sobre o TDAH critiquem o comportamento de pais e forneçam
consequências punitivas às suas ações em relação ao filho. Todas essas interferências
podem causar efeitos colaterais danosos para a interação familiar, principalmente o
isolamento social da família como apontado por Wells et al (2000) e diminuindo ainda
mais as oportunidades de aprendizagem das habilidades sociais.
O TDAH, enquanto um transtorno funcional específico (BRASIL, 2008), também exige
adaptações no contexto escolar para crianças com esse transtorno. As dificuldades de
aprendizagem e de adaptação escolar desses alunos não são decorrentes somente de um
planejamento educacional rígido e inadequado quanto aos objetivos e metodologia, mas
também da falta de interação apropriada com o professor ou com o grupo de iguais
(FRICK, 2001). Essas dificuldades, além de consequências para a criança, influenciam,
também, na relação da família com a escola, interferindo em uma relação saudável. Lake
e Billingsley (2000) apontam que conflitos nessa relação são comuns, principalmente para
pais de crianças que necessitam de uma educação especial.
Nesse sentido, o treinamento de habilidades sociais cotidianas instrumentaliza pais para
que possam atuar como agentes ativos e de maneira adequada nos contextos envolvidos
no desenvolvimento do filho.
Algumas das limitações deste estudo estão relacionadas à carência da literatura ao discutir
sobre a importância e implicações de habilidades sociais cotidianas. Além disso, a
amostra de participantes do treinamento de habilidades sociais é considerada pequena,
impossibilitando generalização destes resultados.
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Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV. Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais. 4. ed. Porto Alegre: ARTMED, 2002.
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