CALÍOPE - posclassicas.letras.ufrj.br Caliope/Caliope 23... · lógica da obra hesiódica, e com...

188
CALÍOPE Presença Clássica ISSN 1676-3521

Transcript of CALÍOPE - posclassicas.letras.ufrj.br Caliope/Caliope 23... · lógica da obra hesiódica, e com...

CALOPEPresena Clssica

ISSN 1676-3521

CALOPE Presena Clssica

Universidade Federal do Rio de Janeiroreitor: Alosio Teixeira

Centro de Letras e Artesdecana: Flora de Paoli Faria

Faculdade de Letrasdiretora: Eleonora Ziller Camenietzky

Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicascoordenadora: Tania Martins Santos

Departamento de Letras Clssicaschefe: Anderson de Arajo Martins Esteves

OrganizadoresShirley Ftima Gomes Almeida PeanhaTania Martins SantosConselho EditorialAlice da Silva CunhaAna Thereza Baslio Vieira Arlete Jos MotaAuto Lyra TeixeiraNely Maria PessanhaShirley Ftima Gomes de Almeida PeanhaTania Martins SantosVanda Santos Falseth

Conselho ConsultivoGlria Braga Onelley (UFF)Jackie Pigeaud (Universit de Nantes Frana)Jacyntho Lins Brando (UFMG)Maria Celeste Consolin Dezotti (UNESP / Araraquara)Maria da Glria Novak (USP)Maria Delia Buisel de Sequeiros (Universidad de La Plata Argentina)Neyde Theml (UFRJ)Zlia de Almeida Cardoso (USP)

RevisoGlria Braga Onelley Shirley Ftima Gomes de Almeida PeanhaTania Martins SantosCapa e projeto grfico7Letras

Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicas / Faculdade de Letras UFRJAv. Horcio Macedo, 2151 sala F-327 Ilha do Fundo21941-917 Rio de Janeiro RJhttp://www.letras.ufrj.br/pgclassicas [email protected]

Viveiros de Castro Editora Ltda. RuaVisconde de Piraj, 580/sl. 320, Ipanema CEP. 22410-902 Rio de Janeiro / Tel. 21-2540-0076 / www.7letras.com.br / [email protected]

C158Calope: presena clssica / Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicas, Departamento de Letras Clssicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Vol. 1, n.1 (1984) Rio de Janeiro: 7Letras, 1984-. SemestralDescrio baseada no: Vol. 23 (2012)Inclui bibliografiaISSN 1676-3521

1. Literatura clssica. Peridicos brasileiros. 2. Lnguas clssicas. Peridicos brasilei-ros. I. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Ps-Graduao em Letras Clssicas. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Letras Clssicas. 08-1785. CDD: 880 CDU: 821.124

SUMRIO

apresentao ......................................................................................... 7

artigosEcos de Medeia no teatro portugus do sculo XVIII............................ 9

Carlos Junior Gontijo RosaSobre la malevolencia hacia Diodoro en la historiogrfica moderna ... 29

Csar Sierra MartnA phyxanora das Danaides em Suplicantes de squilo ...................... 47

Greice DrumondO valor mgico do olhar no captulo 35 do Livro I do Opus Agriculturae, de Paldio ........................................................ 62

Luis Augusto Schmidt TottiLatim, portugus arcaico e portugus brasileiro: conexes ................. 80

Luiz Henrique Milani Queriquelli El mito como forma de habitar el mundo. El legado de Hesodo ....... 107

Mara Cecilia ColombaniA construo do catlogo do contingente do exrcito brbaro no prodo de Persas de squilo (vv. 21-58) ...................................... 126

Ricardo de Souza NogueiraPermanncia e transformao da tragdia na dramaturgia de Jean Anouilh ......................................................... 145

Sonia Pascolati

traduesCarmen 139 de Baldricus Burgulianus .............................................. 165

Livia Lindoia Paes BarretoLivro VIII do Banquete de Xenofonte ............................................... 168

Tania Martins Santos

teses e dissertaes apresentadas ao programa de ps-graduao em Letras cLssicas / ufrj em 2012 ........................ 180

autores .............................................................................................. 181

normas editoriais para envio de trabaLhos ...................................... 183

APRESENTAO

A revista Calope: presena clssica, editada pelo Departamento de Letras Clssicas e pelo Programa de Ps-graduao em Letras Clssicas da UFRJ, apresenta-se, uma vez mais, como um dos meios de divulga-o das pesquisas de Estudos Clssicos realizadas no Brasil e no exterior e publica, em sua 23 edio, oito artigos e duas tradues.

A literatura grega contemplada nesse nmero com um artigo da autoria de Maria Cecilia Colombani, que apresenta uma leitura antropo-lgica da obra hesidica, e com quatro outros referentes ao teatro: dois trabalhos pem em relevo as peas esquilianas, Persas e Suplicantes, elaborados, respectivamente, por Ricardo de Souza Nogueira, em cujo artigo se comenta a construo do discurso trgico presente nos versos 21-58 de Persas, e Greice Drumond, que trata da questo da phyxano-ra em Suplicantes. Em dois outros artigos, a recepo do teatro grego antigo evidencia-se nos estudos de Carlos Jnior Gontijo Rosa, que enfa-tiza esse tema no teatro de Antnio Jos da Silva, dramaturgo do sculo XVIII, e de Sonia Pascolatti, cujo trabalho se centra na dramaturgia de Jean Anouilh, autor do sculo XX. A historiografia grega clssica de Herdoto e Tucdides, revisitada por Diodoro Sculo, historiador do sculo I a. C., tema do artigo de Csar Sierra Martins.

A literatura latina, por sua vez, privilegiada no artigo de Luis Augusto Schmidt Totti acerca do poder mgico do olhar no Opus agri-culturae de Paldio (Livro I, captulo 35).

Finalizando a seo de artigos, Luis Henrique Queriquelli, ao refe-rir-se importante herana do latim em vrios aspectos da lngua portu-guesa no Brasil, evidencia a valorizao do ensino da lngua latina e, por conseguinte, da lngua portuguesa.

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 7-8 7

Calope: presena clssica apresenta ainda duas tradues: a do Livro VIII de Banquete de Xenofonte, realizada por Tania Martins Santos, e a do Carmen 139, de Baldricus Burgulianus, por Lvia Lindoia Paes Barreto.

Agradecemos a todos os pesquisadores que colaboraram para mais uma edio desse peridico e desejamos que os trabalhos publicados pos-sam contribuir para a divulgao dos Estudos Clssicos.

As Organizadoras

8 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 7-8

ECOS DE MEDEIA NO TEATRO PORTUGUS DO SCULO XVIIICarlos Junior Gontijo Rosa

RESUMO

A mitologia grega e romana foi amplamente explorada pelos artistas europeus desde sua redescoberta, com o Renascimento. A repercusso dos mitos clssi-cos, no entanto, vai alm desse movimento artstico e atinge toda a arte produ-zida desde ento, at os dias atuais. Antnio Jos da Silva, dramaturgo do sculo XVIII, que representava suas peas no Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, no foge a esta influncia e utiliza, em suas peas, muitas histrias mitolgicas, entre-laando-as e atualizando-as de acordo com a tradio de escrita de seu prprio tempo. Neste trabalho, buscamos observar como o carter de Medeia foi cons-trudo em alguns textos clssicos e mantido na pea Os Encantos de Medeia, representada em 1735.Palavras-chave: personagem; Medeia; releitura; dramaturgia.

Ao falarmos da utilizao da mitologia grega na elaborao de peas dramticas no incio do sculo XVIII portugus, devemos sempre ter em vista as preceptivas e as formas de escrita vigentes, a que chamaremos de escrita antiga. E, em se falando de Antnio Jos da Silva, ainda h que se medir a influncia das releituras espanholas do mesmo mito, uma vez que as peas de Lope de Vega, Caldern de La Barca e Franciso Rojas, entre outros, tiveram grande circulao em Portugal, seja no tempo fili-pino, seja aps a Restaurao, em 1640. Importante se faz ressaltar, por-tanto, que a influncia do teatro do Sculo de Ouro espanhol ponto pac-fico de discusso entre os estudiosos do dramaturgo, e tambm que, dada a profcua produo dos poetas espanhis do perodo, difcil encontrar um mito no glosado por eles.

Na dramaturgia de Antnio Jos da Silva, se no podemos falar de uma evoluo do dramaturgo, ao menos vemos, pela linha diacrnica da representao das peas, uma verticalizao nas linhas diretrizes das preceptivas que regem a escrita do poeta,1 especialmente no que tange s questes trgicas, cmicas e tragicmicas, por meio da caracterizao

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 9

das personagens. Observa-se que Antnio Jos no foge, na constituio do carter das personagens, de uma diferenciao clara embora menos artificial entre as personagens elevadas e baixas, assim como era feita no teatro em Espanha. Mesmo que as aes principal (dos caracteres elevados) e secundria (dos caracteres baixos) corram em paralelo e se retroalimentem de forma mais fluida, v-se em todas as peas uma dis-tino clara entre a ao trgica, regida pelo galn, e a ao cmica, dos graciosos, que no apresentada em nenhum dos Argumentos das cinco peas mitolgicas escritas pelo Judeu Os Encantos de Medeia, Anfitrio ou Jpiter e Alcmena, O Labirinto de Creta, As Variedades de Proteu e O Precipcio de Faetonte.2

Como as personagens elevadas Medeia, Jaso, Proteu, Faetonte, Teseu j fazem parte de uma tradio literria, Antnio Jos man-tm, como ser demonstrado, as suas caractersticas bsicas. A atualiza-o d-se, portanto, na intriga que suporta as peas e pode ser reduzida ao jogo de encontros e desencontros de dois ou mais pares amorosos (FERRAZ, 1976, p. 559).

Ferraz lembra-nos que os processos do cmico mudam ao longo da escrita de Antnio Jos, sendo que a ao principal se adensa cada vez mais em suas peas, chegando ao ponto de Faetonte, o galn da ltima pea do dramaturgo, morrer em cena. Nas primeiras peas do dramaturgo, nomeadamente em A vida do Grande Dom Quixote de La Mancha e do Gordo Sancho Pana, no nvel de situao e de linguagem,

no seria difcil multiplicar exemplos de ambos os cmicos, predominando num o grotesco, noutro o trocadilho ou figuras de construo. Nas peas seguintes, sobretudo nas ltimas, a economia dos processos do cmico muito mais cuidada e equilibrada (aparece muito desenvolvidamente a met-fora ou outras figuras imagsticas) (FERRAZ, 1976, p. 561).

Como entendemos que todas estas transformaes nas narrativas podem ser percebidas por meio da constituio das personagens, e tam-bm que a intriga secundria espelho da intriga amorosa principal, neste trabalho caminharemos junto Medeia de Antnio Jos, para compreen-der como se deu a apreenso e atualizao do mito pelo dramaturgo.

10 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

A DRAMATURGIA DE ANTNIO JOS

Sendo a primeira pea de assunto mitolgico apresentada por Antnio Jos da Silva, Os Encantos de Medeia, representada no Teatro do Bairro Alto em maio de 1735, segue as preceptivas dramticas espanholas da tragicomdia.

A tragicomdia um gnero hbrido, j nomeado no Prlogo do Anfitrio de Plauto, pois na tal pea aparecem representados deuses e um criado. Embora j seja praticada de forma embrionria na Pennsula Ibrica desde Gil Vicente e Torres Naharro, s no sculo XVII ser reco-nhecida como gnero dramtico, assistida, apreciada e escrita por poetas de talento e posio na corte.

Embora preceptistas como Lopz Pinciano e outros j encami-nhassem, desde os anos 1500, para uma valorizao do gnero cmico (ESCRIBANO y MAYO, 1965), foi Lope de Vega, com seu Arte Nuevo de Hacer Comedias en Este Tiempo, de 1609, quem primeiro defendeu abertamente o gnero, sem inferioriz-lo em relao tragdia.

Lo trgico e cmico mezclado,y Terencio con Sneca, aunque sea

como otro Minotauro de Pasife,harn grave una parte, otra ridcula,que aquesta variedad deleita mucho;

bien ejemplo nos da naturaleza,que por tal variedad tiene belleza.

(Arte nuevo, v. 174-80).

Patrice Pavis (2008, p. 420) diz que a tragicomdia uma pea em que se abarcam a tragdia e a comdia e se define pelos critrios de per-sonagem, ao e estilo. As personagens, embora com uma distino clara entre si, so tipos pertencentes tanto classe popular quanto aristocra-cia e nobreza.3

A ao tragicmica pode ser sria e at mesmo dramtica, [mas] no desemboca numa catstrofe, e o heri no perece (PAVIS, 2008, p. 420). Assim, como podemos perceber nos textos de Antnio Jos, a ao da pea levaria a um final terrvel, mas d uma guinada no ltimo momento, con-duzindo a uma reviravolta feliz, ou, ao menos, pretensamente feliz. Em Os Encantos de Medeia, ainda com a inteno de escapar da catstrofe e da impositiva veia trgica que o final do mito de Medeia e Jaso carrega, a saber, a morte dos filhos, Antnio Jos centra a fbula em Colcos, assim

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 11

mantendo a histria no registro da comdia amorosa, com a aceitao do Rei Etas em unir em casamento Creusa e Jaso. Sobre o final pouco feliz de Medeia, comentamos a seguir.

Ao estilo esto ligadas as noes de alto e baixo, especialmente voltadas s questes da linguagem utilizada pelas personagens. Numa tra-gicomdia, deve-se apresentar tanto uma linguagem elevada e eloquente, composta de metforas e proferida pelas personagens nobres, quanto o linguajar cotidiano e rasteiro das personagens cmicas e servis.

J foi dito por Curtius (1996) que o Sculo de Ouro espanhol no foi influenciado pelas preceptivas aristotlicas. Sendo isso verdade ou no, o fato que, diferentemente dos franceses, que engessaram seus textos em possveis unidades comentadas pelo Estagirita (e tambm partindo de suas prprias teorias), os autores espanhis constroem uma nova forma teatral. Usando inseres cmicas e trgicas ao longo da pea, a tragico-mdia se mostra um gnero gil, de grande aceitao nas mais diversas camadas sociais ibricas.

notrio que, ao lermos as oito peas do Judeu publicadas no Theatro Cmico Portuguez, na ordem em que foram representadas, ficamos sur-preendidos pelo contraste entre a evoluo dramtica que apresentam e a estrutura externa que mantm quase constante (FERRAZ, 1976, p. 558).

Ferraz ainda vai mais longe quando diz que o assumir que s temos acesso a um texto ao seu sentido pela forma que ele [] no implica que recusemos a possibilidade de percebermos num texto, nomeadamente num texto dramtico, um certo esqueleto: a intriga que pode ser preenchida diferentemente pela ao (1976, p. 559).

Ao analisarmos as peas de Antnio Jos, estamos lidando com uma estrutura (forma) que se mantm constante, a saber, as intrigas amoro-sas j explicitadas como centro de sua ao dramtica. Mas, ao mesmo tempo, lidamos com o estro de um dramaturgo que reinventa dentro de um mesmo modelo a cada obra. Assim, mais do que buscar a forma de que o autor lana mo para elaborao de suas peas assunto ampla-mente estudado , entenderemos como personagens j estabelecidas no cnone literrio so adequadas sua estrutura dramtica.

No pode pois surpreender a aceitao teatral do legado mtico no que ele oferecia de inesgotvel fonte para deslumbrar os sentidos e, simultanea-mente, reorganizar o mundo atravs de uma projeco cnica assente na fbula enquanto privilegiado centro de discusso das preceptivas que, no

12 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

perdendo como ponto referencial a interpretao aristotlica, procuravam em torno de subtis diferenas fundamentar uma potica prpria (BARATA, 1991, p. 104).

Veremos, na pea de magia sobre a conquista do Velocino de Ouro, como as personagens mticas, difundidas desde a Grcia Clssica, se man-tm ou se alteram para a conformidade da verossimilhana no enredo.

No que concerne ao mito de Medeia, Pereira (1972) afirma que Sneca, com a sua tragdia Medeia, e Ovdio, no livro Stimo das Metamorfoses (v. 1-452), foram as principais fontes de inspirao s literaturas modernas (1972, p. 17). Ao analisar o entrecho da pea portu-guesa, no entanto, no podemos deixar de lado a narrativa Os Argonautas, de Apolnio de Rodes, e a Medeia, de Eurpides.

Medeia, a apaixonada

Jason, cruel Jason, louca sem tinoMedea exclama: como nhum instanteDe mim te esqueces, e do amor constante,Com que errante segui o teu destino?

Do triste irmo a morte, o velocino,Medeia, a minha mo, esta alma amanteTens em to pouca estima, que inconstanteDs a Creusa o corao indino!

Deosas! filhas da noite tenebrosa!Do Cocito sahi, a vossa friaNaquela alma empregai to aleivosa.

No sahs? pouco importa! a minha injriaS vingarei, que uma mulher zelosaQue as Frias infernais he maior Fria.(Antnio Diniz da Cruz e Silva, 1807).

Medeia uma personagem mitolgica da cultura grega que sofreu diversas alteraes em seu mito, ao longo dos sculos e das reescritas, seja na poesia pica seja na dramtica. Como tentaremos demonstrar, Antnio Jos, na pea Os Encantos de Medeia (1735), toma os caracteres do mito da feiticeira de Colcos e, emulando-os de forma esquemtica, reescreve a fbula ao gosto setecentista. Apesar de no haver muitos tratados acerca

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 13

das tcnicas ou um cdigo escrito preciso sobre como escrever comedias, os aprendizes frequentavam os corrales, aprendendo enquanto assistiam s peas. Como nos diz Prades (1963, p. 254):

los dramaturgos eran muchos, su produccin abundantsima, las represen-taciones constantes, la aficin extraordinaria, en suma, la Comedia Nueva estaba en el ambiente, de tal forma, que el dramaturgo en ciernes aprenda voluntaria e involuntariamente; para aprender bastava estar atento. [] Cualquier joven poeta que contemplase una y otra vez, comedia tras come-dia, a la dama, al galn, al gracioso, etc., que observase sus mviles habitua-les tan claros para l, hombre de su poca , poda lanzarse a emborronar, con mayor o menor fortuna literaria, los doce pliegos que ordenaba Lope.4

Entre as diversas alteraes ocorridas no mito original, quatro ver-ses se destacam, tendo chegado completas at os dias de hoje: a pea tr-gica Medeia (431 a.C.), de Eurpides, tendo como eco romano a Medeia (41 d.C.) de Sneca, o livro Stimo das Metamorfoses (8 d.C.) de Ovdio e o poema pico Os Argonautas (sc. III a.C.), de Apolnio de Rodes. Ambas as adaptaes trazem inovaes ao mito, que sero sumariamente comentadas a seguir.

H indcios de que o mito de Medeia seja muito mais antigo do que as verses aqui comentadas.

Segundo Melero (2003, p. 318), a obra teria como tema a ajuda que Medeia presta a Jaso mediante a promessa de despos-la e que, de acordo com o fragmento 399 Radt, este suposto contrato ou compromisso entre Jaso e Medeia teria ocorrido no momento da execuo da prova dos touros, e no, como nos relata Apolnio, em Os Arg. III, 1122-1130, no momento do pri-meiro encontro com ela, fato que comprovaria a existncia de uma antiga verso para o mito (NASCIMENTO, 2007, p. 28).

Apesar de a linha do tempo, para a mitologia grega, no ser cronol-gica,5 podemos perceber uma sequncia clara no mito da vida de Medeia, associando intrnseca e ciclicamente os acontecimentos de sua vida com os lugares em que ela viveu: Clquida-Tesslia-Corinto-Atenas-Clquida.

Medeia, filha do rei Eetes, de Colcos, aprendeu a utilizar as artes mgicas de Hcate na Clquida, onde era sacerdotisa do templo da deusa. Escapa de l quando se apaixona por Jaso e o auxilia a roubar o Velocino de Ouro. No caminho da fuga, de acordo com algumas verses do mito, esquarteja o irmo que a perseguia, para que o pai a perdesse de vista enquanto recolhia os pedaos do filho chacinado.

14 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

Ao chegar de volta ao pai, son, Jaso pede que Medeia lhe tire alguns anos de vida, para transferi-los ao pai. A feiticeira, ao invs disso, elabora uma poo mgica que restaura a juventude do velho rei.

Na Tesslia, ensina um recurso mgico para que as filhas de Plias transformem o pai em imortal, mas o engodo acaba pondo fim vida do rei. Medeia e Jaso, ento, fogem do pas. Chegando a Corinto, Jaso recebe a mo da nica filha do rei Creonte, a donzela Creusa. Apaixonado por ela, ou pelo poder que o casamento representaria, abandona Medeia que, por vingana, mata os filhos que teve com o heri e foge no carro do Sol para Atenas.

Em Atenas, aps tentar matar o prncipe Teseu, filho do rei Egeu, foge com os filhos, bastardos do velho basiles, de volta Clquida. L, encontra o trono do pai usurpado por Perses, irmo de Eetes. Com o filho Medeio (ou Medo), mata o usurpador e entrega o trono a este. O povo desta regio, a partir de ento, conhecido como os medos.

A pea de Antnio Jos da Silva, a narrativa ovidiana e o poema pico de Apolnio de Rodes tratam da primeira parte da vida de Medeia, ainda na Clquida, o incio de sua paixo por Jaso e o abandono da casa paterna. A tragdia euripidiana e a pea espanhola Los Encantos de Medea, escrita por Francisco de Rojas,6 tratam do fim deste relacionamento, com Medeia fugindo de Corinto no carro do Sol, em direo a Atenas. J a nar-rativa ovidiana perpassa toda a vida da feiticeira.

Pereira, ao analisar a presena do mito de Medeia na literatura portu-guesa, afirma, nesta relao frsica obscura, que, dos dois tpicos prin-cipais do mito de Medeia, a posse das artes mgicas e a paixo desvai-rada que se vinga no assassnio dos filhos, foi o primeiro que de prefe-rncia impressionou os nossos autores [portugueses] (PEREIRA, 1972, p. 36). Mas, como j nos textos antigos possvel observar, o carter de Medeia parte de seu cime patolgico (do termo grego pthos, paixo desenfreada) e, como diz a prpria Medeia, na XII Heroide, de Ovdio, em todos os eventos, eu no sei o que est funcionando na minha alma.7

Deixaremos para um porvir todo o trajeto do mito, passando pelas peas espanholas e as coletneas medievais moralizantes de mitos clssi-cos.8 Por hora, deter-nos-emos somente na caracterizao da personagem nos textos clssicos e sua transposio na pea setecentista, incio e fim de nosso recorte diacrnico da construo e recepo do mito.

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 15

Nos versos das Metamorfoses de Ovdio que narram parte da hist-ria de Medeia (VII, 1-452), podemos identificar claramente duas perso-nalidades distintas: dos versos 1-296, o poeta romano descreve a perso-nagem de forma suave. A narrativa apresenta, nos versos 11-71, um longo solilquio de Medeia, ponderando entre o amor por Jaso sem dvida encantou o meu corao (v. 28) e o dever filial pois ento irei eu abandonar a minha irm e o meu irmo, / e o meu pai, e os deuses e o solo ptrio, levada pelos ventos? (v. 51-2) ou julgas que isto um matrim-nio e encobres a tua culpa / com belas palavras, Medeia? V antes quo abominvel / ato te propes cometer e foge ao crime, enquanto podes! (v. 69-71). Percebemos uma Medeia que titubeia perante uma ao que, se por um lado desonrosa perante a sua famlia, por outro o nico ato possvel perante o risco do amado. A Medeia descrita na narrativa ovidiana aproxima-se muito daquela exposta por Apolnio de Rodes no Canto III de Os Argonautas, como veremos a seguir.

J a Medeia descrita nos versos 297-452 muito prxima quela da tragdia de Eurpides e Sneca. Vingativa, sedenta de sangue e indi-ferente aos sentimentos dos outros, ela induz as filhas de Plias a matar o pai, trocando propositalmente as ervas mgicas da poo de rejuve-nescimento a prfida filha de Eetes pe gua pura a ferver / no impe-tuoso lume, mais ervas sem quaisquer poderes. (v. 326-7). Em Atenas, j casada com o velho rei Egeu, quase envenena Teseu, filho de Egeu, pelas mos do prprio pai.

Em Os Argonautas, alm de uma pequena inferncia no incio do Canto III, Medeia participa da histria a partir do verso 250. Se, em Ovdio, a paixo de Medeia comentada como mal divino, nesta que a mais antiga verso completa do mito que chegou at nossos dias, ela verdadeiramente flechada por Eros. J em Antnio Jos, o Cupido aparece apenas nas rias cantadas por Medeia (p. 15) e Arpia (p. 54), sua criada. Assim, a fora descomunal do Amor que abrasa Medeia, antes atribuda a um deus, cada vez mais se torna caracterstica do carter des-medido da princesa.

Pequeno, [Eros] agachou-se entre os ps doprprio Jaso e ps no meio da corda do arco uma flecha,

e, esticando o arco com as duas mos, lanou-a diretamente contra Medeia,e um estupor apoderou-se da sua alma (Os Argonautas, v. 281-4).

16 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

Em vo, Medeia, resistes.Um deus qualquer se te ope, e ser espantoso se no for isso,ou, pelo menos, algo semelhante a isto, a que chamam amor.

(Metamorfoses, VII, 11-3)

Medeia e Creusa (cantando): [...]S quem vive sem Cupido

que pode descansar. (Encantos, p. 15)

Arpia (recitado): Em matria de amor, Medeia bela, necessrio haver muita cautela,

que amor assim zombando entra brincando,porm depois, chorando,faz um peito biquinhos,

que em suspiros acabam tais brinquinhos.(ria)

A Cupido, que menino,d-se o leite e no o peito;

e se acaso com efeitoquer o peito, ponha azebrepara amor se desmamar.

Mas, se acaso amor fogo,no o atice no suspiro,

porque a chama em fcil giromais se ateia no assoprar.

(Encantos, p. 54)

Tambm a descrio da dor por vezes fsica que Medeia sente, aproxima os caracteres descritos em Apolnio e Antnio Jos. Pois, se por um lado Medeia se pergunta por que me domina, miservel, esta dor? (Os Argonautas, v. 464), por outro ela sofre pelos prprios sentimentos:

Medeia: Arpia, eu venho louca de amor por Jason; pois, apenas o vi, logo me arrebatou todos os sentidos, de sorte que enlouqueo. (Encantos, p. 18, [grifo nosso]).

A loucura, que est intimamente ligada ao pthos de Medeia, no s referida textualmente na pea de Antnio Jos, como as suas prprias aes denotam este mpeto desmedido da personagem. Tanto suas mani-festaes de amor, quanto as de raiva, so extremas. Por isso, suas mgi-cas so inmeras e cada vez mais espetaculares.

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 17

Voltando aos preceitos tragicmicos, de acordo com Pavis (2008, p. 420), a tragicomdia se preocupa com o espetacular, com o surpreendente, com o heroico, com o pattico. Em se tratando das peas de Antnio Jos da Silva, podemos ver o espetacular na entrada da carruagem do Sol em O Precipcio de Faetonte e Os Encantos de Medeia, assim como nas des-cries de bosques, selvas, caadas e outros cenrios e cenas. David Ball chama de teatralidade a qualquer efeito que prenda a ateno do pblico. Alguma coisa teatral quando intensifica a ateno e o envolvimento dos espectadores (BALL, 2008, p. 59).9

Pela reduo do enredo mtico aos jogos amorosos entre as perso-nagens, percebemos que a dramaturgia de Antnio Jos aproxima-se muito mais, em termos de contedo da fbula, do texto de Apolnio de Rodes, que tambm privilegia os enredos amorosos de Medeia. A pode-rosa feiticeira brbara, em Apolnio, descrita como uma donzela sens-vel, suscetvel aos encantos do heri estrangeiro. Tambm Antnio Jos a faz extremosa:

Medeia: Se prometes corresponder-me com o mesmo amor, seguro-te que te podes chamar feliz; pois vers que por teu respeito fao mudar os montes de seu lugar, secar-se o mar, confundir todos os quatro elementos, fazendo que tudo te obedea; e at te farei senhor do clebre Velocino, para cuja con-quista em vo se tem fatigado tanto militar concurso; porque foras huma-nas o no podem conquistar, pois o defende um horrvel drago encantado; sendo este Velocino o tesouro mais rico que h no mundo. (Encantos, p. 21).

Mas, nos Encantos, como veremos, Medeia esta donzela apaixo-nada, mas j com o mpeto assassino narrado nas Metamorfoses.

Medeia (recitado)Pois v l o que dizes; no me enganes,

nem meu ardor, sacrlego, profanes,que quem te sabe dar riquezas tantas,

a morte te dar, se a f quebrantas.(canta a ria)Felice sers,

Jason, se constantete mostras amante

a tanto querer,a tanto adorar.Por isso vers,

se acaso conspirasa ser inconstante,sair desse abismo

18 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

as frias, as iras,as chamas, os raios,at que em desmaios

te veja espirar. (Encantos, p. 21-2).

Assim, h tambm na caracterizao de Medeia uma mescla do que mostrado apenas parcialmente, em autores como Apolnio de Rodes, ou separadamente, como em Ovdio. Mas, na pea de Eurpides, por exem-plo, a feiticeira demonstra o embate entre estes dois mpetos, quando pon-dera matar os filhos.

Medeia: [...] Ai! Ai! Porque fitais em mim os olhos, filhos? Porque sorri-des pela ltima vez? Ai! Ai! Que hei-de eu fazer? O nimo fugiu-me, mulhe-res, desde que vi o olhar lmpido dos meus filhos. No, eu no seria capaz. Deix-las ir, as minhas decises anteriores. Levarei desta terra os filhos, que so meus. Para que hei-de eu, para afligir o pai deles com a sua desgraa, infligir a mim duas vezes os mesmos males? No, eu no, por certo. Deix-las ir, as minhas decises. E contudo, que se passa em mim? Quero provocar o escrnio dos meus ini-migos, deixando-os sem castigo? Tenho de me atrever. Ah! Mas que vileza a minha, ter sequer admitido pensamentos de brandura no meu esprito! Ide, filhos, para casa. A quem no agradar assistir aos meus sacrifcios, consigo. O meu brao no estar enfraquecido. Ai! Ai! Mas no, meu cora-o, tu, ao menos, no fars isso. Deixa-os, desgraada, poupa as crian-as. Vivendo l conosco, eles sero a tua alegria.Juro pelos gnios da vingana, que esto no Hades, nunca acontecer que eu entregue os meus filhos aos inimigos para lhes sofrerem as insolncias. absoluta a necessidade de os matar, e, j que foroso, mat-los-emos ns, que os geramos. assim, absolutamente, e no h que fugir-lhe. E certo que com a coroa na cabea, envolta nos peplos, a noiva perecer, eu bem o sei. Mas eu sigo pelo caminho mais desgraado, e a estes vou man-d-los por um ainda pior! Quero dizer adeus aos meus filhos. Deixai-me, filhos, deixai vossa me apertar a vossa mo direita.(Medeia agarra nas mos dos filhos, beija-os e abraa-se a eles) mo to querida, boca mais cara de todas, e figura e rosto nobre dos meus filhos, gozai de felicidade, mas l; que a daqui vosso pai vo-la tirou. doce abrao, terno corpo e sopro suavssimo dos meus filhos!Ide, ide. J no estou em estado de olhar mais para vs, que sou dominada pelo mal. E compreendo bem o crime que vou perpetrar mas, mais potente do que as minhas deliberaes, a paixo, que a causa dos maiores males para os mortais. (v. 1040-81).[...]Medeia: [...] Mas vamos, arma-te, corao! Porque hesitamos e no execu-tamos os males terrveis, mas necessrios? (v. 1243).

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 19

Podemos entender, portanto, que Antnio Jos, no que concerne s escritas clssicas do mito de Medeia, elabora, em sua pea, uma grande mescla das vrias facetas da personagem, construindo um carter coerente elaborao interna do enredo de Os Encantos de Medeia, mas mantendo um referencial consistente em relao aos mitos clssicos. Isto quer dizer que a Medeia de Antnio Jos outra, porque no vemos esta distribuio dos elementos do seu carter distribudos desta forma em nenhuma outra das obras analisadas, mas, ao mesmo tempo, a mesma, pois o dramaturgo no se distancia daquilo que o pblico pode reconhecer como Medeia.

Talvez como causa desta nova elaborao, talvez como consequn-cia dela, est que Medeia , de acordo com o observado por Juana de Jos Prades (1963), uma dama, no sentido de constituio de uma persona-gem-tipo caracterstico do teatro espanhol.10

Para Prades (1963, p. 251, [grifos no original]), la dama es siempre bella, de linaje aristocrtico, dedicada exclusivamente a la consecucin de su amor por el galn, y, para lograrlo, sabr emplear audacia e insinceridad.

Medeia enquadra-se em todas as condies elencadas pela terica. Alm de ser bela e princesa No vi mais peregrina formosura! ou Bem sei que Medeia uma estrela, ambas falas de Jason , ela faz tudo, inclusive mentir e trair o pai, por amor a Jaso.

Rei: Medeia, a bom tempos vieste.Medeia: Pois que ordena Vossa Majestade de uma obediente filha?Rei: Hs-de saber que me tem causado grande susto a vinda de Jason; pois suspeito que o seu fim ser roubar-me o Velocino; e assim, j que na cincia mgica s to peregrina, quisera que penetrasses o seu desginio; e, sabido ele, buscar o remdio ao seu atrevimento e minha desconfiana.Medeia: No lhe d isso cuidado a Vossa Majestade, pois prometo brevs-simamente sab-lo, ainda que pessoalmente desa ao tenebroso reino de Pluto; e assim descanse Vossa Majestade e no se aflija nem sobressalte, que, ainda quando o Velocino no estivesse bem guardado com o drago horrvel, se necessrio fora viriam em defesa do Velocino todos os drages e serpentes da Lbia e todas as feras e monstros do Averno, para que se segure o Velocino e o teu receio.Rei: D-me os braos, Medeia, pois de ti espero todo o meu sossego. (Vai-se).[...]Medeia: Quis desvanecer-lhe o pensamento [do Rei], por que ao menos no sinta o mal antes de o padecer; pois Jason h-de ser senhor do Velocino, ainda que rompa os vnculos da natureza e os da arte. (Encantos, p. 29-30).

20 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

Rei: Basta; no quero saber mais. H homem mais infeliz! Que viesse um pirata traidor a roubar-me a joia mais singular de todo o mundo, e que minha prpria filha fosse a medianeira do meu estrago! (Encantos, p. 50).

Prades notou, nas peas estudadas por ela, sempre um nmero maior ou igual de galanes em relao ao de damas. Nos Encantos, no entanto, temos apenas um galn para duas damas. Assim, para alcanar o seu amor a Jaso, Medeia faz uso da audcia e das mentiras, de acordo com o seu carter apaixonado.

Antnio Jos, alm de trabalhar com todos os elementos que caracte-rizam uma tragicomdia ao longo de suas peras, resolve as intrigas de maneira adequada no tocante aos critrios tragicmicos, pois salva seus heris da morte iminente ou, como em O Precipcio de Faetonte, traz o protagonista da morte para um final feliz. No entanto, o verdadeiro par amoroso da pea Jaso e Creusa, que terminam juntos, com a bno do rei Eetes e como herdeiros do trono de Colcos.

Antnio Jos termina a pea como terminam as histrias de Medeia, com a neta de Hlio fugindo no carro do av ou numa carruagem puxada por drages ou cobras, ou ainda em uma nuvem. Este final completa-mente coerente para a personagem de Medeia, mas muito divergente para os outros personagens, se comparados aos seus mitos originais.11

Rei: E castigando agravos, j que Medeia, indigna filha, infiel traidora, cons-pirou contra mim, entregando a Jason o Velocino, morrer encerrada em uma torre, pois ela me ofendeu mais do que Jason.[...]Medeia: Pois antes que, pai cruel, executes o teu rigoroso intento e eu veja com meus olhos lograr-se este ingrato Jason com Creusa, desesperada vagarei pela regio do ar, j que na terra me falta socorro. (Voa Medeia em uma nuvem e canta o Coro)

Coro: Se amor um encanto,que inflamana chama

tirnico ardor,de ver no me espanto

a um peitodesfeito

a encantos de amor.Fim [da pea].

(Encantos, p. 90-1).

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 21

Antnio Jos, portanto, usa o mito de Medeia como mote em sua fbula. A forma a tragicomdia espanhola, mas o contedo o prprio mito de Medeia, que no poderia terminar num final feliz com Jaso, tanto pelo mito original quanto pela prpria moralizao da pea, tambm recurso tpico do momento histrico a que a obra pertence. Assim, dentre toda a corrupo, ou atualizao, do mito original, o dramaturgo mantm o carter de Medeia intacto, de acordo com o imaginrio de seu pblico.

De acordo com Bergson, um personagem torna-se cmico quando seus gestos so desajustados dos padres sociais estabelecidos. Esta defi-nio tem algum paralelo com a prpria definio grega de pthos. Na tra-gdia grega, um heri trgico caracteriza-se, grosso modo, por um homem justo que comete uma falha por julgar mal a sua condio no mundo. A falha, ou seja, o ato em si, realizado no mundo, chamada de hamar-ta. J o mau julgamento, ou tambm dito como o excesso de seus pr-prios limites, a hbris. Ainda explicando sumariamente, o pthos pode ser considerado uma potencializao da hbris a tal ponto que este sen-timento passa a ser parte da constituio de um carter thos. Sobre Medeia, podemos considerar que ela seria a prpria caracterizao, na cultura grega, da condio do cime.

Mas, na Grcia antiga, no so consideradas as questes de vontade e intencionalidade, ou seja, apenas aquilo que posto no mundo, reali-zado perante os homens e os deuses, conta. Portanto, o cime de Medeia, enquanto constituio do seu carter, o sentimento que permeia todas as suas aes. Para alm dos zlos setecentistas, so os prprios feitos ori-ginados deste sentimento.

Retomando a questo bergsoniana, o desajuste de sentimento cmico quando h a identificao com posterior distanciamento do obser-vador sobre o objeto observado. Assim, uma personagem patolgica, ou apaixonada, cmica quando existe uma quebra de expectativa que a distancia do espectador.

Assim, para que entendamos a feiticeira como uma personagem cmica, h que se observar o todo da pea comentada. Pois, como pude-mos demonstrar ao analisar o carter de Medeia dissociado dos outros elementos da pea, observamos que ele completamente condizente com o esprito das formas altas de mmesis do teatro antigo.

Elaborando uma intrincada relao entre cmico e trgico na pea, tipicamente ao gosto barroco da poca, Antnio Jos utiliza as grandes

22 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

qualidades dos dois gneros dramticos para causar o efeito do riso e, ao mesmo tempo, produzir um texto com as qualidades valorizadas no seu estilo de escrita. Explicamos.

O poeta, no que concerne ao gnero trgico, lana mo de toda a construo que exigida de uma pea teatral para que ela atinja a tragi-cidade, ou seja, o texto deve ser elaborado de acordo com a verossimi-lhana e a necessidade para que o espectador compreenda e aceite o des-tino do heri como uma forma de justia divina.12

Como j dissemos, o gnero cmico, segundo Bergson, calcado na quebra de expectativa,13 caracterstica usada pelo Judeu em suas peas, sendo que no a mudana brusca de atitude o que causa riso, mas o que h de involuntrio na mudana, o desajeitamento (BERGSON, 1987, p. 14).

Uma vez que concordamos quando se diz que o contedo princi-pal das peas no a intriga amorosa mas o cmico (FERRAZ, 1972, p. 560), o dramaturgo, em ltima instncia, apenas usa as muitas mgicas possveis ao carter de Medeia, a histria de amor de Jaso e Creusa e as trapalhadas dos graciosos Sacatrapo e Arpia para divertir o seu pblico. Como bem observa Pereira (1972, p. 25-6),

o drama de Antnio Jos da Silva aparece-nos assim como um travesti sete-centista heri-cmico de um velho mito, trabalhado por uma fantasia des-preocupada de verossimilhana e atenta apenas a fazer jorrar o cmico de palavras, figuras e situaes (sic).

No texto da pea de Antnio Jos, no se encontra grande referncia incerteza de Medeia. Ela sabe o mal que est causando, mas no titu-beia, ao menos textualmente. Esta, no entanto, uma possibilidade para a ao cnica. Um ator, ou mesmo um titereiro, podem acrescentar este dado de dvida nas aes fsicas da personagem, no modo como o texto dito ou na sua gestualidade em cena, alargando o espectro da alma da personagem, ou seja, tornando-a mais humana.

Sabe-se que, no teatro do Sculo de Ouro espanhol, a espetaculari-dade era fator de relevncia. Assim como podemos perceber, como bem notam os autores de Texto y representacin en el teatro del Siglo de Oro (1997), at no prprio texto teatral h referncias sua postura em cena. No de se admirar que muito mais seja deixado a cargo dos atores, uma vez que so seus prprios corpos que representam no palco o que, por si

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 23

s, j implica outro sentido ao texto dramtico. Em um processo de anlise de um texto teatral, especialmente daqueles inseridos neste perodo, no podemos ficar presos ao texto e alheios situao teatral como um todo, ou, como diz Williams (2010, p. 38), buscamos por uma considerao da pea e da encenao, do texto literrio e da representao teatral, no como entidades separadas, mas como a unidade na qual elas tm a inten-o de se transformar. Mas, se necessrio que se pense sob esta pers-pectiva, tambm verdade que no nos restam fontes para ter certeza de que estas conjecturas sejam verdades absolutas. Acreditamos, porm, que mais vale uma tentativa de completude de uma anlise, que deixe mar-gens a que outros pesquisadores a completem, do que nos prender em um modelo comprovadamente redutor do texto teatral e da cena dramtica.14

Raymond Williams, em Drama em cena (2010), desenvolve um mtodo que, segundo Luiz Fernando Ramos, na Introduo (p. 15) do mesmo livro, tambm parte do texto, mas procura extrair dele uma rea-lizao material, o espetculo, e o contexto cultural que o viabiliza. Neste mtodo, Williams aponta quatro formas de relao entre texto e cena, interessando-nos particularmente a encenao visual, em que a escrita literria prescreve uma ao que ocorre separada das falas [...] a ao cnica se torna autnoma da literatura (2010, p. 13-4). Tentando, portanto, operar nossa crtica atravs de uma leitura ativa15 das obras tea-trais. Assim, quando Williams se debrua sobre Antnio e Clepatra, de Shakespeare, define que

Shakespeare no poderia ter escrito isso [eu verei / Um menino guinchar minha grandeza, / E com ares de puta], criando propositalmente um con-traste de efeitos, se no soubesse que o drama representado o ritmo dra-mtico encenado, digamos que de maneira impessoal, por todos os meios de intensidade de voz e de movimento resultaria algo bem diferente: a poderosa rede de graciosos encantos que aqui, em ltima anlise, est alm dos personagens, mas que um artista podia imaginar e escrever e que seus atores, por meio de habilidades intencionais de fala e movimento, podiam encarnar (WILLIAMS, 2010, p. 107).

Se, como diz Pereira (1972, p. 25), Medeia , em toda a pea, a fei-ticeira, apenas humanizada pela sua sincera paixo por Jaso, gostara-mos de crer que toda a tradio literria do mito que chegou at o sculo XVIII no seria simplesmente ignorada, mas aplicada na pea de mltiplas formas. Os autores teatrais, especialmente daquele perodo, eram muito

24 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

prximos encenao, sabendo usar de seus efeitos cnicos nas compo-sies, sem a necessidade da explicitao no prprio texto dramtico.

ABSTRACT

The Greek and Roman mithology were broadly explored by European artists since their rediscovery, in the Renaissance. However, the repercussion of the classic myths goes beyond that artistic movement and reaches all the Art made ever since. Antnio Jos da Silva, 18th Century playwriter who represent his plays at Teatro do Bairro Alto, Lisbon, doesnt escape this influence and uses many mithological histories in his scripts, twining and updating according to the writ-ing tradition of his own time. In this paper, we seek to note how Medeas char-acter was built in some classic texts and its maintenance at the play Os Encantos de Medeia, staged in 1735.Keywords: Character; Medea; rereading; dramaturgy.

NOTAS1 Que h uma ntida evoluo no processo dramtico que os textos apresentam not-rio, assim como uma melhoria de todo o conjunto teatral que cada uma das peas implicava (FERRAZ, 1976, p. 557).2 Assim se justifica a dupla intriga que, longe de decorrer paralelamente intriga principal que repousa na estrutura mitolgica que se aceita, com ela estabelece uma relao complementar, mas nunca supletiva (BARATA, 1991, p. 129).3 Diferente da diviso aristotlica, em que divergem a tragdia e a comdia; esta os quer [personagens] imitar inferiores e quela superiores aos da atualidade (ARISTTELES, Potica, II, 3).4 Como tambm diz Lope de Vega, em seu Arte Nuevo, v. 387-9: Oye atento y del arte no disputes, / que en la Comedia se hallar de modo, / que oyndola, se pueda saber todo.5 Os gregos admitiam a existncia de trs tempos, ou unidades temporais, diferentes: o Ain, que seria o espao-tempo mtico, longo; Kairs, o tempo oportuno; e o Chrnos, a linha passado-presente-futuro que representa o espao-tempo de uma criao.6 Exemplo de relao imediatamente mais evidente com a pea portuguesa, dado o ttulo em comum. No nos esquecemos, no entanto, de El vellocino de oro, de Lope de Vega, e Los tres mayores prodigios e El divino Jasn, de Caldern de La Barca. As trs peas, bem como a de Rojas, tm como assunto a vida de Medeia.7 Traduo livre da sentena latina nescio quid certe mens mea maius agit.8 Especialmente as moralizaes dos mitos gregos, como o francs Ovdio Moralizado, escrito medieval sem autoria definida, a Philosofa secreta de la gentilidad (1585),

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 25

ltima obra de Juan Prez de Moya, ou o Teatro de los dioses de la Gentilidad (1673), do P. Fr. Baltasar de Vitoria.9 Observamos, neste momento, apenas as suas mgicas operando dentro dos padres de verossimilhana estabelecidos dentro do mythos da pea de Antnio Jos. Para muito alm da discusso aqui aventada, existe o gosto do pblico setecentista pelos feitos mgicos, a questo da grandiosidade do espetculo dramtico e a possibilidade de jogos cnicos mais elaborados, pela utilizao de bonifrates nas representaes, entre outros tantos fatores envolvidos na criao teatral. Longe de ignorar a existn-cia e relevncia destes, manteremos nosso foco de discusso na caracterizao de Medeia, deixando para trabalhos posteriores as demais questes.10 De acordo com Patrice Pavis (2008, p. 410), o tipo uma personagem conven-cional que possui caractersticas fsicas, fisiolgicas ou morais comuns conhecidas de antemo pelo pblico e constantes durante toda a pea. J para Prades (1963, p. 53), o personagem-tipo establecido por un canon artstico, como elemento de una convencin literaria. 11 Jaso termina, at onde se sabe, sozinho e sem filhos. J Creusa a filha do rei Creonte, de Corinto, e, de acordo com a pea euripideana, morta pelo presente de casamento envenenado enviado por Medeia atravs de seus filhos.12 Em oposio a esta caracterstica da tragdia, utilizada por Antnio Jos da Silva (sic), est aquilo que diz Barata (1991, p. 134): Ao espectador no se pedia que se questio-nasse sobre a inexprimvel ordem que se esconde atrs da experincia humana ou os poderes pessoais e impessoais que na natureza se expressam, como assinala Leo Aylen, ou sobre o irracional na alma do homem e os excessos a que este pode, em tempera-mentos patolgicos, conduzir, como bem assinala Manuel de Oliveira Pulqurio, e que so elementos decisivos no pensamento trgico.13 Como muito bem define Souza (2011, p. 473), ainda de acordo com Bergson (1987), o efeito cmico surge tambm com quebras de expectativas (rigidez quando se espera flexibilidade), contradio (juzos que se contradizem), quiproqus (uma situao com dois sentidos diferentes), transposio de tonalidade (a troca, por exemplo, do solene para o trivial), o contraste (o que e o que deveria ser), a ironia e o humor. [] Estas seriam algumas, dentre vrias outras formas, de se obter a comicidade.14 Ou, como comenta Graham Holderness no Prefcio ao livro de Raymond Williams (Drama em cena, 2010, p. 28), h aqui uma constante insatisfao com as ferramen-tas tradicionais da anlise crtica e uma busca presciente de algum mtodo de nota-o formal que pudesse abranger os sistemas complexos de significao da produ-o teatral.15 Termo criado por Peter Reynolds para definir a leitura de textos dramticos para suas potencialidades de performance.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

ARISTTELES. A Potica Clssica. Traduo de Jaime Bruna. So Paulo: Cultrix, 2005.

26 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

BALL, David. Para trs e para frente: um guia para leitura de peas tea-trais. Traduo de Leila Coury. So Paulo: Perspectiva, 2008 [1983].

BARATA, Jos Oliveira. Utopia e realidade: os encantos de Medeia e o anel de Sacatrapo. Medeia no drama antigo e moderno: atas do colquio de 11 e 12 de abril de 1991. Coimbra: Instituto Nacional de Investigao Cientfica, 1991, p. 109-34.

BERGSON, Henri. O riso: ensaio sobre a significao do cmico. 2 edi-o. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987 [1899].

CURTIUS, Ernst Robert. Literatura europia e Idade Mdia latina. Traduo de Teodoro Cabral e Paulo Rnai. So Paulo: Hucitec/ EDUSP, 1996.

ESCRIBANO, Federico Snchez; MAYO, Alberto Porqueras. Preceptiva dramtica espaola. Madrid: Editorial Gredos, 1965.

EURIPIDES. Medeia. In: Tragdias I. Traduo de Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 2009.

FERRAZ, Maria de Lourdes. Ser e parecer na obra do Judeu. Brotria, Lisboa, v. 102, n. 5/6, maio-junho/1976, p. 552-66.

GONZLEZ, Aurelio (ed.). Texto y representacin en el teatro del Siglo de Oro. Mxico: El Colegio de Mxico, Centro de Estudos Lingsticos y Literarios, 1997.

NASCIMENTO, Dulcileide Virgnio do. A tchne mgica de Medeia no canto terceiro de Os Argonautas de Apolnio de Rodes. Tese de doutora-mento. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.

OVDIO. Metamorfoses. Traduo de Paulo Farmhouse Alberto. Lisboa: Cotovia, 2007.

PAVIS, Patrice. Dicionrio de teatro. Traduo de Jac Guinsburg e M. Lcia Pereira. So Paulo: Perspectiva, 2008.

PEREIRA, Maria Helena Rocha. Temas clssicos na poesia portuguesa. Lisboa: Verbo, 1972.

PRADES, Juana de Jos. Teoria sobre los personajes de La comedia nueva. Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 1963.

RODES, Apolnio de. Os Argonautas. Traduo de Dulcileide Virgnio do Nascimento. 2007.

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28 27

SILVA, Antnio Jos. Os Encantos de Medeia. In: Obras completas. Prefcio de Jos Pereira Tavares. Lisboa: S da Costa, 1958.

SOUZA, Jos Ailson Lemos de. A funo do humor derrisrio no conto Primeiro Amor de Samuel Beckett. Via Litterae, v. 3, n. 2, jul-dez/2011, p. 471-80.

VEGA, Lope de. Arte nuevo de hacer comedias. Madrid: Ctedra, 2006 [1609].

WILLIAMS, Raymond. Drama em cena. Traduo de Rogrio Bettoni. So Paulo: Cosac Naify, 2010.

28 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 9-28

SOBRE LA MALEVOLENCIA HACIA DIODORO EN LA HISTORIOGRFICA MODERNACsar Sierra Martn*

RESUMO

En el presente artculo tenemos la intencin de valorar la recepcin de la histo-riografa clsica en la Biblioteca histrica. Frente a la tradicional interpretacin peyorativa que atribuye a Diodoro la faceta de compilador acrtico, creemos que la Biblioteca constituye un testimonio interesante de las opiniones de su autor. A travs de las referencias explcitas a Herdoto y Tucdides, queremos contextua-lizar la obra de Diodoro en el debate historiogrfico del siglo I a.C.Palavras-chave: Herdoto; Tucdides; historiografa clsica; Biblioteca histrica.

DIODORO ANTE LOS MAESTROS DE LA HISTORIA

El ttulo de la presente reflexin enlaza con el de un conocido tratado escrito por el bigrafo Plutarco en el siglo II d. C.: Sobre la malevolen-cia de Herdoto. Los motivos que impulsaron a Plutarco a confeccionar una obra de ttulo tan hiriente no nos dejan indiferente:

, : ,

Habida cuenta de que se ha pronunciado as [Herdoto] sobre los beo-cios y corintios en particular, aunque sin excluir a ningn pueblo, consi-dero oportuno que salgamos en defensa de nuestros antepasados y de la verdad a un tiempo []

Plu. De Herod. 11

As, el beocio Plutarco consideraba que la intencin de Herdoto era tan malvola que se haca necesario presentar una correccin, a modo de defensa de la verdad y de los antepasados. Adoptando en parte el espritu de Plutarco, tenemos la intencin de abordar la Biblioteca histrica de

* Universitat Autnoma de Barcelona. rea dHistria Antiga (Proyecto HAR 2011-23572).

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 29

Diodoro de Sicilia, para salir al paso de las numerosas crticas e incluso injurias de las que es objeto an hoy da.

Cierto es que en las ltimas tres dcadas se han consolidado los estu-dios con vistas a rehabilitar la figura de Diodoro de Sicilia y su Biblioteca histrica. Parece que comienza a quedar atrs la tendencia historiogrfica que abordaba la obra de Diodoro cmo un compendio de fuentes escritas carente de profundidad analtica.2 Dicho de otra forma, hasta hace unas dcadas, Diodoro era considerado un simple epitomador que se limitaba a recoger los distintos testimonios en un amplio marco histrico y crono-lgico.3 Por ello, Diodoro fue estudiado por las fuentes que utiliz para confeccionar su Biblioteca histrica, desdeando el componente crtico original. Segn nuestra impresin, el planteamiento anterior est en vis-tas de superarse aunque todava tengamos a nuestro alcance estudios que sostienen que la obra de Diodoro es inferior a la de sus predecesores: Herdoto, Tucdides y Polibio; y a la de sus sucesores: Titi Livio, Tcito y Plutarco4. La Quellenforschung, agrupada en torno a la opinin de E. Schwartz presentada en la Pauly-Wissowa, todava no est del todo supe-rada. A decir verdad, la versin moderna que ofrece la Neue Pauly, escrita por K. Meister, recoge la lnea historiogrfica tendente a restaurar la figura de Diodoro pero el desarrollo no acaba de resultar satisfactorio, en tanto en cuanto no se toma posicin alguna y la cuestin queda mal definida.5 Todo ello cobra mayor importancia si tenemos en cuenta que aos antes el propio Meister se muestra contario al enfoque de E. Schwartz lo cual, a nuestro entender, desluce la restauracin de la Neue Pauly.6 En este sentido, creemos que Diodoro debe estudiarse por s mismo y no por las fuentes que supuestamente gobiernan su obra, ni por las impresiones his-toriogrficas que nos merezca en comparacin con otros autores.7

La anterior afirmacin cobra mayor relevancia si tenemos en cuenta que la obra de Diodoro plantea un objetivo muy ambicioso: la presenta-cin de los acontecimientos humanos desde el origen de los tiempos hasta su poca (s. I a.C.).8 Al abordar la Biblioteca histrica, debemos tener pre-sente que la historiografa griega se hallaba en una fase madura, lo cual se aprecia en el proemio (Diod. I. 1-5). Aqu, tras realizar un anlisis de la utilidad de la historia como fuente de conocimiento, virtud, justicia, exactitud y veracidad, Diodoro presenta la siguiente reflexin acerca de la historia universal:

30 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

. , [] , []

Fijando nuestra atencin en los escritores anteriores a nosotros, adoptamos en gran parte su propsito; sin embargo, no creamos que sus obras hubie-ran sido compuestas del modo ms conveniente y posible. [] la mayora describieron guerras particulares de un solo pueblo o de una sola ciudad, y unos pocos, empezando desde los tiempos antiguos, se propusieron des-cribir los hechos universales hasta su propia poca []

Diod. I. 3 1-29

El anterior pasaje saca a relucir la faceta crtica de Diodoro, mos-trando que no se limita a recoger los testimonios sino que realiza un exa-men previo de sus fuentes a nivel historiogrfico.10 Ms adelante, el autor sostiene que el fracaso de sus predecesores en la confeccin de una his-toria universal se debi a la magnitud de la empresa y aade que su obra era la primera en recoger los hechos de la humanidad (Diod. I. 3. 3). Bajo este esquema, la utilidad que Diodoro confiere a su obra radica en reco-ger todo el conocimiento histrico de su poca en una nica obra de con-sulta. As pues, debemos entender que el material historiogrfico de la poca era casi inabarcable y que la necesidad de una obra como la suya caa por su propio peso.11

Centremos ahora nuestra atencin en los autores que menciona Diodoro en su proemio. Algunos de ellos, los ms cercanos cronolgica y temticamente a la Biblioteca, podran considerarse como competido-res del propio Diodoro y, quizs por ello, no son mencionados explci-tamente por su nombre. En cambio otros autores, los ms antiguos, reci-ben un trato distinto pues constituyen una referencia ms que una interfe-rencia. Por ejemplo, los fundadores del gnero historiogrfico, Herdoto, Tucdides y Jenofonte (ss. V-IV a.C.), no proyectan la misma sombra his-toriogrfica que foro de Cime o Timeo de Tauromenio (ss. IV-III a.C.), por no hablar de Polibio (s. II a.C.). El argumento que queremos fijar es simple: los padres de la historiografa griega, en especial Herdoto y Tucdides, llegan a la poca de Diodoro tras una reflexin historiogrfica

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 31

sobre sus obras. Dicho de otra forma, Herdoto, Tucdides y Jenofonte eran historia antigua en poca de Diodoro.

Tomemos como referencia la obra de Herdoto, que vio la luz en el ltimo tercio del siglo V a.C. y que caus un gran impacto historiogrfico en la Antigedad. Pues bien, en tiempos de Aristteles, Herdoto y la his-toriografa formaban un tndem indisociable (Poet. 1451b), aunque las crticas a su obra eran habituales.12 En concreto, destacamos las correc-ciones de Aristteles en materia naturalista recogidas en Generacin de los animales, rectificando las noticias de Herdoto acerca del esperma de los etopes (Gen. 736a 10) y la copulacin de los peces (Gen. 756b 5).13 Detalles al margen, la crtica ms feroz hacia la obra de Herdoto en el siglo IV a.C. viene de la mano del mdico e historiador Ctesias de Cnido, contemporneo de Jenofonte. Segn sabemos por los fragmentos de su principal obra, la Persik, Ctesias tild a Herdoto de embustero y fabu-lista en ms de una ocasin, proyectando as una imagen negativa que se contrapuso a la de su principal sucesor, Tucdides.14 Pese a que no se mencione directamente, Tucdides fue la inspiracin de grandes figuras historiogrficas, como Jenofonte y Polibio, no recibiendo grandes crticas hasta, precisamente, la poca de Diodoro.15 En cambio, es conocido que en el siglo I a.C. la recepcin de Tucdides fue favorable en lneas generales, especialmente en los crculos intelectuales ciceronianos. Entre los acad-micos actuales se han hecho clebres las impresiones de Cicern a favor de la veracidad y la solemnidad del historiador ateniense (Brut. 287) as como la opinin contradictoria sobre Herdoto, etiquetado como padre de la historia pero cuestionado respecto a su veracidad (Leg. I. 1. 5).16 Estas opiniones pueden rastrearse a travs del corpus ciceroniano pero, especialmente, en Sobre el orador, donde se exponen comentarios muy interesantes, a saber: qu el aprendizaje de la historia es una tarea obli-gada del orador, qu la historia era un gnero relativamente reciente entre la intelectualidad romana (Catn, Fabio Pctor y Pisn) y qu los griegos eran superiores en historia, con Tucdides a la cabeza (Orat. II. 51-6).17 As, Cicern parece posicionarse en la lnea de Ctesias y Aristtoles mien-tras que Tucdides copa las alabanzas de la crtica literaria. Con todo, Cicern slo representara una parte del debate puesto que existan opi-niones diametralmente opuestas, como la de Dionisio de Halicarnaso en Sobre Tucdides. Dicha obra se enfoca desde la crtica textual y se mues-tra muy incisiva con Tucdides, en particular con el supuesto desatino en

32 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

el orden de la exposicin de los sucesos, la importancia que concedi a los mismos y el esquema cronolgico utilizado.18 Sin duda, las crticas de Dionisio, tan duras como las de Ctesias a Herdoto, llegan incluso a sealar que Tucdides minti al sugerir en su prembulo (la Arqueologa; Th. I. 2-20) que la Guerra del Peloponeso fue el conflicto ms importante de la historia de Grecia y que el resto de eventos no merecan importan-cia alguna (Tuc. 19).19 No entraremos en detalles para no alargarnos en exceso pero s destacaremos sucintamente dos cuestiones: la motivacin de Dionisio al escribir el Sobre Tucdides y sus impresiones sobre el debate en torno a la figura de Tucdides. Respecto a la primera cuestin, el pro-pio Dionisio relata que el tratado fue escrito a instancias de un amigo, Quinto Elio Tubern, orador romano que tambin escribi una historia de Roma y que se enfrent a Cicern, como parte acusadora en el caso Ligario (Cic. Lig. 1).20 Segn Dionisio, la insistencia de Tubern fue el motivo principal de la revisin crtica de Tucdides (Tuc. 1. 4), lo cual nos recuerda el inters generado por la historiografa griega clsica en los crculos intelectuales romanos. La segunda cuestin que destacamos es la ventaja que Tucdides cobr respecto a Herdoto en dicho debate, lo cual recoge el propio Dionisio en Tuc. 2. 2, argumentando que su opi-nin constitua una excepcin dentro de una corriente general.

En sntesis, hemos trazado unas breves pinceladas sobre la recep-cin de Herdoto y Tucdides en el siglo I a.C., destacando la predilec-cin de los intelectuales por el historiador de la Guerra del Peloponeso. Ciertamente, la cuestin ha sido ampliamente abordada por la historiogra-fa actual, que comenta en extensin los testimonios que hemos presen-tado y otros que quizs no hemos recogido.21 Sin embargo, bajo nuestro punto de vista, en dicho debate encontramos un vaco: la aportacin de la Biblioteca histrica. Creemos que la anterior cuestin est relacionada con la tradicional forma de abordar a Diodoro, la Quellenforschung, que o bien no aprecia madurez suficiente en Diodoro para considerarlo parte del debate historiogrfico o bien interpreta que los datos referidos perte-necen a otro autor, como foro.22 Por este motivo, en las siguientes lneas nos proponemos indagar en la recepcin de la historiografa clsica en la Biblioteca histrica, partiendo del supuesto que Diodoro trasciende la figura del epitomador. Para ello, nos centraremos en analizar las referen-cias literales a Herdoto y Tucdides que aparecen en la obra de Diodoro, situando el resultado en el debate historiogrfico del siglo I a.C.23

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 33

DIODORO Y LA MENCIN EXPLCITA A HERDOTO

No hay que avanzar demasiado en la Biblioteca histrica para encon-trar la primera referencia explcita a Herdoto. En el primer libro, dedi-cado a Egipto, ya encontramos una mencin en relacin a la geografa y naturaleza del ro Nilo y sus alrededores (Diod. I. 32-42). Al respecto, Diodoro realiza una exposicin geogrfica del curso del ro y de la varie-dad de la flora y fauna colindantes, todo ello amparado en su experiencia personal24. As pues, en relacin a las crecidas del Nilo y la problemtica generada sobre sus causas en filsofos e historiadores, Diodoro comenta que algunos autores no se atrevieron a tratar el tema y otros se apartaron de la verdad. En palabras del autor, la situacin era la siguiente:

, , , , , , , , - .

Helnico, Cadmo, Hecateo, y tambin todos los de su clase, ciertamente antiguos, se inclinaron a las explicaciones mitolgicas; y Herdoto, curioso como no ha habido ningn otro, y que fue un gran experto en historia, ha intentado dar un razonamiento sobre eso, pero se nota que sigue hipte-sis contradictorias; Jenofonte y Tucdides, alabados por la certeza de sus historias, evitaron totalmente en sus escritos las tierras de Egipto; foro, Teopompo y sus seguidores se dedicaron ms que todos a este asunto y se acercaron mnimamente a la verdad.

Diod. I. 37. 3-4

El pasaje constituye un ejemplo interesante de la interpretacin que Diodoro realiza de sus fuentes. Tal como haramos nosotros, antes de abor-dar la cuestin de las causas de la crecida anual del Nilo, Diodoro realiza un estado de la cuestin donde demuestra su conocimiento de lo que se ha escrito. Para ello, se remonta hasta las referencias ms antiguas, los loggra-fos (ss. VI-V a.C.), y avanza hasta las figuras de foro y Teopompo (s. IV a.C.). De este modo, no parece que la informacin que desarrolla ms ade-lante se elabore resumiendo una sola fuente sino que se enfrenta al problema con voluntad crtica y conociendo los precedentes.25 Asimismo, es muy notable la clasificacin de los historiadores precedentes en cuatro bloques:

34 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

logografa, histori jonia (Herdoto), historiografa tica (Jenofonte y Tucdides) e historiografa post-clsica (foro y Teopompo). Lo anterior nos remite de nuevo al siglo I a.C. y su madurez en la reflexin historio-grfica, as como la importancia de la historiografa griega clsica como fundamento del conocimiento histrico. Todo ello se aprecia en el califica-tivo /mythdeis que reciben los predecesores de Herdoto y que el propio Tucdides insina en su Arqueologa en referencia a los loggra-fos y otros historiadores de su poca. As, Herdoto vendra a represen-tar el primer historiador, como sostena Cicern, diferenciado de sus pre-decesores y sucesores. En esta lnea, Jenofonte y Tucdides apuntan hacia una maduracin de la historia comenzada por Herdoto, un escaln dis-tinto, destacando la buena aceptacin de sus escritos en poca de Diodoro. Finalmente, los autores que cierran la valoracin parecen ms prximos a Diodoro cronolgica y temticamente.

Retomando las causas de la crecida del Nilo, volvemos a encontrar una referencia explcita a Herdoto (Diod. I. 38. 8). Aqu, sucintamente, se expone la opinin de Herdoto segn la cual el ro Nilo tiene de forma natural el caudal en su fase ms caudalosa pero, en invierno, el sol dis-curre por otra trayectoria, atrayendo hacia s ms humedad y reduciendo el caudal del ro. Sin duda, Diodoro muestra un conocimiento directo de la versin de Herdoto (Hdt. II. 22. 4-25), que en la Historia se expone tras valorar y desechar hasta tres teoras sobre el tema (Hdt. II. 20-2). Por tanto, al igual que hiciera Herdoto en su digresin acerca de las creci-das del Nilo, Diodoro valora las diferentes investigaciones y refuta las que considerada poco atinadas, con argumentos geogrficos, naturalistas o atendiendo a la informacin proporcionada por los habitantes del curso alto del Nilo. Por consiguiente, tras desestimar las versiones de Tales de Mileto, Anaxgoras, Eurpides, Demcrito, Enpides, Herdoto, foro y, con matices, la de Agatrquides, Diodoro llega a la conclusin de que la crecida del Nilo se deba a un fenmeno meteorolgico (el monzn) que, anualmente, tena lugar en la cabecera del ro (Diod. I. 41. 8). En este punto la Biblioteca muestra un recorrido muy interesante por el conoci-miento historiogrfico al detallar sincrnicamente las diferentes teoras recogidas por la filosofa, la etno-geografa y la historia para, finalmente, ofrecer una conclusin propia.26

No obstante, la valoracin de Diodoro sobre Herdoto presenta tantos claroscuros como la de Cicern. En el pasaje que antes analizbamos, se

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 35

presentaba a Herdoto como un gran historiador, dotado de una gran curio-sidad, aunque la veracidad era patrimonio de Jenofonte y Tucdides.27 La cuestin es compleja porque Diodoro corrige a Herdoto siempre desde el respeto hasta que aborda las leyes y costumbres de los egipcios. En esta tesitura, Diodoro seala que lo egipcios aseguraban ser los inventores del alfabeto, el estudio de los astros, la geometra y la mayora de artes, ade-ms de establecer las mejores leyes que rigieron 4700 aos (Diod. I. 69. 5). Esta preeminencia histrica y cultural del pueblo egipcio no parece que fuera del agrado de Diodoro, que no duda en atacar a los autores grie-gos, entre ellos Herdoto, que se mostraban partidarios de tal opinin:

, , .

Cuanto han elucubrado, pues, Herdoto y algunos que han compuesto los hechos de los egipcios, prefiriendo de buen grado, antes que la verdad, contar prodigios e inventar mitos con fines de seduccin, lo omitiremos y expon-dremos lo que est escrito entre los sacerdotes de Egipto en las escrituras, despus de haberlo examinado cuidadosamente.

Diod. I. 69. 7

El pasaje es duro con Herdoto pues se le acusa de malevolencia, de presentar sus investigaciones para deleite del pblico y faltar a la ver-dad, argumento que recuerda de nuevo a la Arqueologa de Tucdides.28 Realmente parece que Diodoro cambie su opinin sobre Herdoto y se acerque a la postura de Ctesias de Cnido. Sin embargo, sabemos que Diodoro no albergaba una opinin favorable de las culturas consideradas como brbaras, lo cual puede verse al inicio de la Biblioteca (Diod. I. 9. 3), cuando sostiene que las civilizaciones brbaras no eran ms antiguas que la griega, en contra de la opinin de foro.29 Teniendo este dato pre-sente, encontramos que el lugar de la Historia en el que Diodoro sita a las civilizaciones brbaras contradice la nocin de Herdoto, que alaba los logros de los pueblos no griegos.30 Frente a lo anterior, Diodoro esgrime la validez del testimonio directo, es decir, su revisin de las fuentes egipcias.31

Lo cierto es que Diodoro se muestra muy atento a la crtica interna de sus fuentes cuando, a propsito de las costumbres funerarias etopes, seala que a Ctesias le parecan falsos los datos aportados por Herdoto sobre el material utilizado para los sarcfagos etopes (Diod. II. 15. 1).

36 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

En realidad, el debate esconde una confusin terminolgica pues /hyalos en poca de Herdoto haca referencia a una especia de yeso y, posteriormente, la palabra adquiri el significado de vidrio.32 Pero lo anterior no quiere decir que, en general, Diodoro no respetara la obra de Herdoto o no la creyera veraz en su conjunto. El hecho de no convenir con la percepcin de Herdoto sobre ciertos aspectos no es bice para que Diodoro lo considere una fuente histrica respetable, lo cual se demues-tra explcitamente (Diod. II. 32; IX. 20. 4) y tambin al finalizar su expo-sicin de las guerras mdicas (Diod. XI. 37. 6); donde informa de que el historiador de Halicarnaso era la referencia en dicho conflicto, que escri-bi una historia prcticamente universal en nueve libros y que sta fina-lizaba en el asedio de Sesto.

DIODORO Y LA MENCIN EXPLCITA A TUCDIDES

Lamentablemente, Diodoro no menciona a Tucdides con la misma frecuencia que a Herdoto. La causa podra estar en la visible fractura de la Biblioteca a partir de su sexto libro. Como el mismo Diodoro seala en su proemio, los primeros libros de su obra se dedican a los hechos acae-cidos en tiempos mticos y a la historia de los brbaros.33 Al finalizar stos, se aprecia un cambio de estilo, justo al abordar los hechos de Grecia, notndose una disminucin en los comentarios crticos hacia las fuentes y generando una lectura fluida. Solo encontramos referencias a autores precedentes al principio y al final de los grandes eventos que jalonan la historia de Grecia, es decir, el inicio o el final de un conflicto que marca una etapa histrica. En consecuencia, a partir del libro VI, las referen-cias explcitas a Herdoto, Tucdides se circunscriben a dichas situacio-nes pero ello no quiere decir que Diodoro modificase su actitud a la hora de utilizar sus fuentes. Pasemos a valorar la primera mencin a Tucdides en la Biblioteca34 que acaece al inicio de la exposicin de la Guerra del Peloponeso (431 a.C.):

. , , , .

Tucdides, el ateniense, tomando este ao como punto de partida de su his-toria, relat la guerra entre los atenienses y lacedemonios conocida como

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 37

Guerra del Peloponeso. Esta guerra dur de hecho veintisiete aos, pero el relato de Tucdides slo cubri veintids, en ocho libros o, segn la divi-sin efectuada por algunos, en nueve.Diod. XII. 37. 235

Como sealbamos anteriormente, las menciones literales a los his-toriadores clsicos se limitan a describir cundo comienza su obra, qu periodo abarca y cmo se divide internamente.36 Pero lo anterior no quiere decir que no podamos extraer valiosa informacin sobre la recepcin de dichos autores en la Biblioteca histrica.37 Por ejemplo, la propia deno-minacin del conflicto Guerra del Peloponeso ( /tn Peloponnesiakn) no es un trmino acuado por Tucdides, que se refiere al conflicto entre atenienses y lacedemonios.38 Al margen del anterior detalle, debemos detenernos en el acomodo de Tucdides a la Biblioteca. Segn vemos en el pasaje cabe hacerse la siguiente pregunta Fue Tucdides la principal fuente de la Biblioteca para la Guerra del Peloponeso? La Quellenforschung tiene una respuesta rpida: Diodoro sigue a Antoco de Siracusa,39 foro y Tucdides para la elaboracin del libro XII.40 De hecho, esta tendencia historiogrfica sostiene que los libros XI-XV de la Biblioteca son un compendio de la perdida Historia de foro.41 La situacin es ms compleja pues, segn vemos en el pasaje, Diodoro conoca la obra de Tucdides y, adems, barajaba las fuentes con criterio como hemos visto hasta el momento. Desde luego la presencia de Tucdides como fuente de informacin para la reconstruccin de la guerra del Peloponeso parece clara, otra cosa es su utilizacin.42 Por su parte, foro, aparece explcitamente en la Biblioteca en una nica oca-sin, a propsito de las famosas causas de la guerra del Peloponeso. Sin entrar excesivamente en detalles, Diodoro suscribe la versin de foro que atribuye a Pericles la responsabilidad de la guerra (Diod. XII. 40-1). Aparte de la anterior mencin, la influencia de foro se detecta en el pro-tagonismo de Artemn de Clazmenas en el asedio de Samos, orquestado tambin por Pericles (Diod. XII. 28).43 As pues, son pocas las evidencias directas de la influencia de foro y stas adems arrojan confusin sobre la propia utilizacin de Tucdides como fuente.44 Pensemos que Diodoro prefiere la versin de foro sobre las causas de la Guerra del Peloponeso frente a la famosa justificacin de Tucdides, ( / he alethestte prphasis/ la causa ms verdadera; Th. I. 23. 6).45 La situa-cin alcanza un cariz complejo. Por un lado, si Diodoro utiliz a Tucdides

38 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

como fuente principal para la Guerra del Peloponeso, la predileccin por la explicacin de foro debe entenderse como una eleccin personal. Por otro lado, es difcil asegurar que Diodoro siga a foro exclusivamente en el libro XII slo con una referencia explcita y otra indirecta.46 En este sentido, creemos que lo ms prudente es asumir que la Biblioteca es una fuente por s misma y que Diodoro seleccion e interpret los datos para confeccionar su obra.

EL LUGAR DE DIODORO EN LA HISTORIOGRAFA MODERNA

Los testimonios que hemos presentado rubrican el valor historiogr-fico de la Biblioteca histrica. A travs de las referencias explcitas, hemos podido comprobar que Diodoro realiz un examen previo de sus fuentes, bajo criterios que conectan con el debate que se estaba llevando a cabo en el siglo I a.C. En este sentido, Diodoro adoptara una posicin respecto a Herdoto y Tucdides cercana a la mostrada por Cicern. Segn vemos en los diferentes apuntes recogidos en los libros I y XI, Herdoto es una figura historiogrfica bien valorada en lneas generales por Diodoro aun-que ste adopte una actitud crtica en detalles etnogrficos y geogrficos. Asimismo, gracias a la Biblioteca, tenemos noticia de que Tucdides era un autor excepcionalmente bien valorado, tal y como sealan Cicern y Dionisio de Halicarnaso. Sin embargo, no debemos tomar los datos ante-riores en el sentido de que Herdoto y Tucdides se hallan resumidos en diferentes lugares de la Biblioteca. Al respecto, creemos que dicho enfo-que, propio de la Quellenforschung, es una simplificacin historiogrfica y que slo puede sostenerse cuando disponemos de suficientes datos. Para confirmar nuestro aserto, nos remitimos al sucinto anlisis que hemos realizado sobre la influencia de foro y Tucdides en el libro XII de la Biblioteca, donde sealamos que la ascendencia de foro sobre el libro XII no es tan evidente contando slo con una referencia directa y otra indirecta. Asimismo, resulta cuanto menos sorprendente que Diodoro no se adhiera a la explicacin de Tucdides sobre las causas de la Guerra del Peloponeso, lo cual redunda en la utilizacin crtica de las fuentes.

Volviendo sobre nuestros propios pasos, entendemos que Diodoro ha sido objeto de la malevolencia historiogrfica moderna y, por ello, se ha excluido con frecuencia del debate en torno a la recepcin de los his-toriadores clsicos, Herdoto y Tucdides, en el siglo I a. C. A veces,

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 39

retomando las palabras de Plutarco, debemos salir en defensa de los ante-pasados para devolverles su lugar en la Historia.

ABSTRACT

The aim of this paper is to analyze the reception of the classical historiographic tradition in Diodorus. We point out that the Library is a very useful historical source, against the common opinion according to what Diodorus was just an uncritical compiler. We contextualize the work of Diodorus in the historiograph-ical debate about the classical historians (s. I B.C.) according to his explicit ref-erences to Herodotus and Thucydides.Keywords: Herodotus; Thucydides; Classical Historiography; Bibliotheca historica.

NOTAS1 Texto griego en N. Bernardakis 1893: Plutarch. Moralia. Gregorius, v. 5, Leipzig. Traduccin de A. I. Magalln-Garca; V. Ramn-Palerm 1989: Plutarco. Sobre la malevolencia de Herdoto, Zaragoza.2 Opinin abanderada por Schwartz 1903 en su clebre artculo en la Pauly-Wissowa y que prendi con fuerza en la historiografa del siglo XX, derivando hacia la investi-gacin de las fuentes que componen la obra de Diodoro, la Quellenforschung (investi-gacin de las fuentes). Desde las inestimables contribuciones de Drews 1962; Burton 1972, p. 1-34; Sacks 1990 y Chamoux 1993, Diodoro se considera en muchos aspec-tos un autor original y crtico, que elabor un proyecto historiogrfico de gran vala para el conocimiento de la Antigedad. Vase una sntesis del debate historiogrfico sobre Diodoro en Lens-Tuero1994; Ambaglio 2008; Hau 2009, p. 171-6 y Muntz 2011, p. 574-7. 3 La concepcin de Diodoro como epitomador acrtico parte del siglo XIX con las opiniones de B. G. Niebuhr, H. Nissen y Th. Mommsen, como se encargan de sea-lar en la Der Neue Pauly (Meister 1997, p. 593), olvidando citar al respecto la con-tribucin de E. Schwartz.4 Casevitz 1991: 1.5 Nos referimos a la entrada confeccionada por Schwartz 1903 y la nueva versin de Meister 1997. Por otra parte, sabemos que la imagen negativa de Diodoro no deriva nicamente de la opinin de Schwart sino que parte, como mnimo, del siglo XIX. En Morais-Mota 2008, p. 22, se valoran ampliamente figuras como R. Laqueur (con-trario a Diodoro) o W. Spoerri (favorable a Diodoro) que no desarrollamos aqu para no extendernos demasiado.6 Meister 2000, p. 213-8.7 Vase un ejemplo de la renovada visin de Diodoro en la historiografa moderna en el reciente suplemento de la revista Dialogues dHistoire Ancienne, dedicado a

40 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

Diodoro y la historia de Sicilia (Collin-Bouffier 2012). Tambin resulta sugerente la lectura de la reciente tesis doctoral defendida por Cynthia Cristina de Morais Mota (So Paulo, 2008), quien presenta una completa panormica de los excesos de la Quellenforschung, tendentes a minusvalorar la obra de Diodoro (vid. pp. 22-7, tesis accesible va www.teses.usp.br). 8 Una obra con vocacin universal ( /koin histora), que se inserta en la poca junto a otros nombres como Trogo Pompeyo, Nicols de Damasco y Timgenes. Vase el excelente anlisis de Momigliano 1984, p. 279 ss. y Chamoux 1993: xv-xvii.9 Texto griego en Cordiano, G.; Zorat, M. 2004: Diodoro Siculo. Biblioteca Storica I, Milano (BUR). Traduccin de Parreu, F. 2001: Diodoro de Sicilia. Biblioteca his-trica I-III, Madrid (Gredos).10 La historiografa que mantiene vivo el tradicional espritu de la Quellenforschung, sostiene que el proemio de Diodoro es una reproduccin casi literal de la introduc-cin a la obra de foro. Para rubricar su tesis, nos remiten al prlogo del libro IV de Diodoro, donde se menciona a foro en referencia a la relacin entre historiografa y mito (Diod. IV. 1). Asimismo, el hecho de que cada libro de la Biblioteca histrica comience con un proemio tambin se ha utilizado como justificacin de la influencia de foro (vase el desarrollo completo en Canfora 1999, p. 265-6). Al respecto, debe-mos sealar que para llegar a una conclusin de este tipo deberamos conocer mucho mejor la obra de foro y realizar un profundo anlisis comparativo de ambos textos, no fuera a ser que tal conexin no sea tan evidente como ya sospechaba Momigliano 1984, p. 23. En este sentido, Muntz 2011 demuestra que la supuesta influencia de Hecateo de Abdera en el libro I de la Biblioteca no puede sostenerse a la luz de los testimonios de los que disponemos. Igualmente Rubincam 1998, advierte de lo dif-cil que resulta esclarecer la forma en que Diodoro manej sus fuentes y Sacks 1990, p. 11 defiende que la acusacin de plagio parte de un prejuicio historiogrfico.11 Ntese la diferencia respecto a los proemios elaborados por los padres fundadores de la historiografa, quienes se ven abocados a defender la Historia. Vase nuestro reciente anlisis de los proemios de Herdoto y Tucdides en Sierra 2012c.12 Vase un ejemplo en Aristteles (Ret. 3. 9), donde se discute el estilo literario del proemio de Herdoto. Pese a todo, la principal y quizs ms temprana crtica a Herdoto se encuentre implcita en el proemio de Tucdides, donde se tilda de mitlogos a sus predecesores (Th. I. 22. 3). Comentario en Plcido 1986, p. 18 y Sierra 2012c: 80. 13 Los pasajes responden, respectivamente, a (Hdt. III. 101) y (Hdt. III. 93). En ambos casos, Aristteles califica a Herdoto de fabulador y mentiroso.14 Vase el fragmento F1b (15,1)-(16,2), referente a la supuesta malevolencia de Herdoto al describir la costumbre funeraria etope de enterrar a sus difuntos en un sarcfago de cristal (Hdt. III. 24), asunto sobre el que volveremos ms adelante; tambin el testimonio de Focio, quien indica que Ctesias acus a Herdoto de fabu-lista (45a5-19) y mentiroso (F 16 (57)-(62); 43b3-44a19). Fragmentos editados y tra-ducidos en la excelente compilacin de Lenfant 2004a, donde tambin hallamos un breve estudio del antagonismo entre Herdoto y Ctesias (Lenfant 2004b: xxviii-xxxii).15 Sobre los continuadores del mtodo y la obra de Tucdides vase, por ejemplo, Gabba 1981, p. 51; Momigliano 1984: 20; Nicolai 2006; Iglesias-Zoido 2011, p. 85-6.

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 41

16 Comentario en Plcido 1986, p. 18.17 El asunto es interesante y ms amplio de lo que aqu podemos mostrar pues Tucdides fue todo un referente para la retrica del siglo I a.C. Ms referencias de Cicern a la historiografa clsica y un extenso anlisis en Petzold 1972 e Iglesias-Zoido 2011, p. 88 ss. En general, sobre la autoridad proyectada por la obra de Tucdides vid. Sierra 2012c, p. 79-84.18 Tambin alab algunos rasgos de la obra de Tucdides como la supresin del ele-mento mtico y la bsqueda de la verdad (Tuc. 5. 3 y 6. 5) pero predominan los defec-tos (Tuc. 9-19). Vase un estado de la cuestin acerca de las impresiones de Dionisio en Plcido 1986, p. 18; Foster/Lateiner 2012, p. 3-4 y Sierra 2012c, p. 72.19 La opinin de Tucdides contravena la impresin general de su poca y formaba parte de una estrategia retrica (Luraghi 2000, p. 230-1).20 Sobre Tubern vase Levene 2007, p. 278.21 Aparte de las referencias que ya hemos adelantado, el debate sobre la recepcin de Herdoto y Tucdides en la Antigedad debe completarse con: Mazzarino 1983, p. 513-23, donde se discute que la predileccin por Tucdides en poca tardo republicana se debe al contexto de la Guerra civil; Meier 1987, p. 41 ss. y, en general, el nmero completo de Arethusa 1987, 20 1-2 que recoge las actas de un importante congreso sobre Herdoto titulado Herodotus and the Invention of History; y, recientemente, Hornblower 2011, p. 286-322, en alusin a la recepcin de Tucdides en el siglo I a.C. y Samotta 2012, p. 349-50, que analiza la recepcin de Herdoto y Tucdides en Roma.22 A corte de ejemplo, vanse las dursimas impresiones de Peter J. Rhodes sobre Diodoro y su faceta de historiador, rallando la calumnia, que condicionan el enfoque historiogrfico de la Biblioteca (Rhodes 1994, p. 167) y tambin las opiniones que afir-man que Diodoro conoca la obra de Herdoto slo a travs de foro o Agatrcides, cuestin recogida y combatida en Chamoux 1993, p. xxv n. 58.23 Insistimos en puntualizar que abordaremos las referencias explcitas a Herdoto y Tucdides otros trabajos abordan la contextualizacin de trminos propios de la obra de Herdoto, como la fortuna (/tykhe), en Diodoro (Hau 2009); la comparacin de personajes abordados por Herdoto y Diodoro, como Semramis (sntesis y biblio-grafa en Parreu 2001, p. 94-6); tambin hallamos trabajos que analizan la proximi-dad metodolgica de Diodoro a la etnografa clsica (Sierra 2012a); y otros realizan comparaciones textuales entre Diodoro y Tucdides en ciertos pasajes de la Historia de la guerra del Peloponeso (Lvy 2001 y Rainey 2004).24 La descripcin de Egipto recogida en Diodoro destaca por la exactitud geogrfica, la narracin en estilo directo hasta Diod. I. 32 y la inexactitud en la descripcin de los pueblos y sus costumbres. Al respecto es importante consultar la sntesis de Parreu 2001, p. 54-6 y el anlisis mucho ms profundo de Lens-Tuero/Campos-Daroca 1993, p. 137-41, quienes defienden la originalidad de los datos geogrficos y etnogrficos sobre Egipto en Diodoro frente a la tradicional Quellenforschung, que buscaba ecos de ello en Hecateo de Abdera (s. IV a.C.) y Agatrquides (s. II a.C.). Tambin se sita en esta lnea Muntz 2011.25 Por tanto, no resulta evidente afirmar que Diodoro sigue, o resume, a Hecateo de Abdera.

42 Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46

26 Nos adherimos as a la opinin de Sacks 1990, p. 110 ss. 27 Valoracin idntica en la historiografa actual (Plcido 1986, p. 17-8).28 En relacin a este pasaje, algn autor moderno ha sealado que las investigacio-nes de Diodoro son propias de: Un compilador inepto de poca de Augusto (Africa 1963, p. 254). Ni qu decir tiene que tal enfoque es absolutamente reprobable.29 Vase un anlisis en Parmeggiani 2011: 112 y, sobre la postura helenocntrica de Diodoro, es interesante Ambaglio 2008, p. 44-5.30 Herdoto fue un historiador tolerante con otras culturas (Soares 2001).31 Sobre los testimonios oculares en la obra de Diodoro vase Sacks 1990, p. 85-7.32 Herdoto recoge la ancdota en (Hdt. III. 24) y la cuestin sobre la confusin ter-minolgica se encuentra magnficamente detallada en Cordiano/Zorat 2004, p. 464 n 15. Ms detalles sobre la polmica entre Herdoto y Ctesias en referencia a las cos-tumbres etopes en Desanges 1993.33 Meister 1997, p. 592-3 y Ambaglio 2008, p. 11 ss.34 Primera mencin tras la valoracin positiva que hemos visto en Diod. I. 37. 4.35 Texto griego en C. H. Oldfather 1989: Diodorus Siculus. Diodorus of Sicily in Twelve Volumes with an English Translation, v. 4-8. Cambridge, Mass.: Harvard University Press. Traduccin de J. J. Torres-Esbarranch 2006: Diodoro de Sicilia. Biblioteca his-trica, Madrid: Gredos (BCG 353).36 La misma informacin que recoge este pasaje se vuelve a presentar en (Diod. XIII. 42. 5).37 Enlazando con la anterior referencia a Herdoto (Diod. XI. 37. 6), es interesante apreciar que en poca de Diodoro las obras de de Herdoto y Tucdides presentaban la organizacin actual. 38 Como tampoco denomin Tucdides Pentecontecia al periodo comprendido entre las Guerras mdicas y la Guerra del Peloponeso. Vid. Sierra 2012b, p. 81 n.3. Todo ello es, por tanto, fruto de la historiografa posterior.39 Historiador del siglo V a.C. que, supuestamente, pudo inspirar a Diodoro en los asuntos de Sicilia aunque tambin se baraja la opcin de Tucdides (Casevitz 1972, p. xv). Nosotros centraremos nuestra atencin en Tucdides y foro.40 Resumen de la postura de E. Schwartz en Chamoux 1993, p. xxiv.41 Vase Schwartz 1903, col. 679 y comentario en Parmeggiani 2011, p. 351.42 No es sencillo trazar la influencia de Tucdides en el libro XII de la Biblioteca aun-que se han podido aislar ciertos paralelismos (Lvy 2001 y Rainey 2004).43 Dato que relacionamos con foro gracias al testimonio de Plutarco (Per. 27).44 Tambin se extraa de ello el editor y traductor del libro XII de la Biblioteca en su versin francesa (CUF); Casevitz 1972, p. xii-xv.45 Para nosotros, el legado historiogrfico ms comentado de Tucdides. Vase un anli-sis con bibliografa en Hornblower 1991, p. 64-6 y nuestra opinin en Sierra 2012b, p. 85 ss., tambin con abundante bibliografa. Sobre la versin de foro acerca de las causas de la guerra del Peloponeso vase el excelente anlisis de Parmeggiani 2011, p. 456 ss.

Calope 23, 2012, Rio de Janeiro: p. 29-46 43

46 Coincidimos con la prudencia mostrada por Rubincam 1998 a la hora de considerar el texto de Diodoro como base para los fragmentos de autores cuya obra no se ha con-servado. Al respecto, vase tambin la excelente sntesis de Ambaglio 2008, p. 28-34 en referencia al abuso que realiz Jacoby (FGrHist) de la Biblioteca para compilar la obra de autores como Hecateo de Abdera, foro, Teopompo y otros.

BIBLIOGRAFA

AFRICA, T. W. Herodotus and Diodorus on Egypt. Journal of Near Eastern Studies 22(4), 1963. p. 254-8.

AMBAGLIO, D. Introduzione alla Biblioteca storica di Diodoro. In: AMBAGLIO, D.; LANDUCCI, F.; Bravi, L., Diodoro Siculo. Biblioteca storica. Commento storico, Milano: Vita e Pensiero, 2008. p. 3-102.

BURTON, A. Diodorus Siculus Book I. A Commentary. Leiden: Brill, 1972.

CANFORA, L. La storiografia greca. Milano: Bruno Mondadori, 1999.

CASEVITZ, M. Notice. In: Diodore de Sicile. Bibliothque Historique. Paris: Les Belles Lettres (CUF), 1972. p. xi-xxii.

______. Diodore de Sicile. Naissance des Bieux et des Hommes. Bibliothque Historique Livres I et II. Paris: Les Belles Lettres, 1991.

CHAMOUX, F. Introduction gnrale. In: Diodore de Sicile. Bibliothque Historique. Paris: Les Belles Lettres (CUF), 1993. p. vii-lxxvi, v. I.

COLLIN-BOUFFIER, S. Introduction, Dialogues dHistoire Ancienne Supp. 6, 2012. p. 9-17.

CORDIANO, G.; ZORAT, M. Diodoro Siculo. Biblioteca Storica I, Milano (BUR), 2004.

DESANGES, J. Diodore de Sicile et les thiopiens dOccident. In: Comptes-rendus des sances de lAcadmie des Inscriptions et Belles