Caderno final TGI II

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CONTRAPOSIÇÕES E ARTICULAÇÕES

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOINSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO DE SÃO CARLOS

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADONAIANE MARCON

SÃO CARLOS, 2012

À minha família,

Aos amigos,

Aos professores Francisco Sales, Givaldo Medeiros, Miguel Buzzar e Paulo Castral pela

atenciosa e paciente orientação.

INTRODUÇÃO

Este caderno vem apresentar a proposta resultante do trabalho realizado ao longo da disciplina de

TGI.LocalizadoLocalizado na cidade de São Carlos, é através da constituição de um espaço público que o projeto busca trabalhar questões resultantes da articulação de investigações no campo da linguagem arquitetônica e de leituras e percepções da

cidade.cidade.

INVESTIGAÇÕES

As primeiras reflexões partem da investigação de referências acumuladas ao longo do curso, buscando questões que viessem a despertar interesse. Desde o princípio há a vontade de trabalhar a arquitetura na escala do objeto, e dede pensar o tensionamento das relações entre forma e

materialidade.

As imagens apresentadas a seguir são decorrentes deste estudo, concluído com a produção de um objeto. O resultado foi um cubo de faces espelhadas, que buscava mostrar o efeito da operação do material na percepção do objeto, umauma vez que a reflexão dos espelhos gera uma relação em certo nível ambígua com o peso da forma

inicialmente proposta.

INVESTIGAÇÕES

Com o desenvolvimento do trabalho, houve um esforço no sentido de construir uma base de referências mais consistente, dando continuidade à investigação inicial através de projetos em que estivessem presentes as questões levantadas, bem como a busca por um aporte teórico que auxiliasse esta análise. Foi realizado então o estudo de diversas obras de diferentes momentos históricos que contemplassem, de alguma forma, a questão da ambiguidade através do uso dos materiais, sobretudo o uso da transparência.

Chega-seChega-se a duas principais obras, analisadas a partir da definição de Colin Rowe da distinção entre transparência literal e fenomenológica (ROWE e SLUTZKY, “Transparecy: Literal and Phenomenal”): a transparência literal remete a características físicas do material, à ausência de barreiras visuais; e a fenomenológica se refere a uma organização em que há a percepção simultânea de fatos distintos, onde a sobreposição de objetos possibilita a interpretação de cada um deles e da relação que estabelecem entrei si.

NasNas Adegas Dominus, dos arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron, o deslocamento do uso do material confere à pedra características que remetem a leveza, na medida em que é utilizada como vedação, sem função estrutural, configurando uma superfície translúcida. Já na fundação Cartier, de Jean Nouvel, a sobreposição do edifício, da vegetação e da cidade, refletida no vidro, faz com que o material funcione como portador de características visuais, deixando de remeter ao invisível, ao vazio, ao permeável. Ao mesmo tempo os reflexos gerados por essa organização se sobrepõem às transparências, conjugando realidade e imagem no mesmo plano, enquanto dissolvem a profundidade e osos limites do edifício. É possível pensar então na leitura das características decorrentes da manipulação e das características próprias de cada material, que assumem significados opostos, mas podem ser interpretadas simultaneamente.

INVESTIGAÇÕES

É então a partir da construção desse universo de referências e reflexões, neste momento mais voltadas ao campo da linguagem, que se constituem as primeiras ações projetuais. Buscou-se trabalhar com uma forma simples, que oferecesseoferecesse potencialidades na exploração do uso dos materiais, em um objeto que contrapõe um certo fechamento em relação à rua à constituição de um espaço em seu

interior.

ÁREA

Paralelamente às reflexões apresentadas, há um segundo ponto de partida com a investigação de áreas em que a proposta inicial pudesse se desenvolver. Chega-se então na ideia de trabalhar em algum ponto das avenidas marginais aos córregos na cidade de São Carlos.

São vias principais na organização estrutural da cidade que possuem, entretanto, uma ocupação caracterizada pela irregularidade, por espaços não ocupados, por um certo afastamento em relação à via e ao corpo d’água. Nas áreas ocupadas há o predomínio de um comércio especializado, que prioriza o uso do automóvel em detrimento do pedestre, em muitos trechos inclusive com total ausência de passeios públicos.

AoAo mesmo tempo, essa organização se limita à margem da via, criando uma espécie de “fenda”, envolta por bairros consolidados, predominantemente habitacionais, onde as relações com as edificações e com o próprio usuário, pedestre ou automóvel, se dão de forma completamente distinta.

AVENIDA COMENDADOR ALFREDO MAFFEI

VIAS E ÁREAS NÃO OCUPADAS

AVENIDA TRABALHADOR SANCARLENSE

AVENIDA COMENDADOR ALFREDO MAFFEI

AVENIDA COMENDADOR ALFREDO MAFFEI

ÁREA

A escolha da área de intervenção dentro do recorte proposto buscou elementos que possibilitassem a evolução das primeiras ações

projetuais.

SurgeSurge assim a ideia de um espaço amplo que privilegiasse a relação com o pedestre, de forma a ressaltar a percepção das características próprias da área, na medida em que funcionasse como um elemento de ligação entre a via

principal e as ruas adjacentes. principal e as ruas adjacentes.

LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DENTRO DO RECORTE PROPOSTO

VISTAS A PARTIR DA AVENIDA

VISTAS A PARTIR DO BOSQUE

ÁREA

O terreno se localiza próximo à região central da cidade, entre a Avenida Comendador Alfredo Maffei e uma pequena área de preservação denominada “Bosque das Paineiras”, onde se situava uma pedreira, em que a topografia e a localizaçãolocalização configuram uma área ”escondida”, um resquício de cidade natural a ser descoberto. Há ainda próximos à área um asilo para idosos, uma escola de ensino fundamental e médio, a unidade do Sesc na cidade e uma extensa área

não ocupada. não ocupada.

1. SESC 2. ÁREA DE INTERVENÇÃO 3. BOSQUE 4. ASILO “CANTINHO FRATERNO” 5. ESCOLA ESTADUAL PROF° SEBASTIÃO DE OLIVEIRA ROCHA 6. AVENIDA

COMENDADOR ALFREDO MAFFEI 7. RUA XV DE NOVEMBRO 8. AVENIDA SÃO CARLOS

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ÁREA

A área se encontra, de acordo com o plano diretor da cidade, na chamada “Zona 1 – Zona de Ocupação Induzida”, área dotada de infraestrutura para a qual é prevista a ocupação de áreas vazias e o adensamento, inclusive com a possível intensificação da verticalização:

“Art. 24. A Zona de Ocupação Induzida – Zona 1 é composta por áreas do território que requerem uma qualificação urbanística e que têm as melhores condições de infra-estrutura da cidade. Art. 26. A Zona de Ocupação Induzida– Zona 1 tem como diretrizes: V - incrementar o adensamento; VI - promover a ocupação de glebas e lotes vazios e de imóveis vagos e subutilizados; VI - promover a ocupação de glebas e lotes vazios e de imóveis vagos e subutilizados; Art. 180. O Poder Executivo Municipal aplicará a Outorga Onerosa do Direito de Construir na Zona de Ocupação Induzida – Zona 1 (...) nas quais o direito de construir poderá ser exercido acima do Coeficiente de Aproveitamento Básico mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário (...).”

TTrabalho então com uma hipótese de ocupação futura para esta área, com a extensão da quadrícula e ocupação residencial verticalizada em sua porção norte, enquanto proponho como diretriz a criação de um parque às margens da via, pensado como um eixo de equipamentos de cultura e lazer ligando a área de intervenção ao Sesc, bem como uma área de respiro tendo em vista o futuro adensamento.

DIRETRIZES DE OCUPAÇÃO: IMPLANTAÇÃO DO PARQUE, EXPANSÃO DAS RUAS AO NORTE

PROPOSTA

É então a partir do encontro das reflexões iniciais com os estudos da área e dos elementos nela presentes que o projeto se

desenvolve.

SurgemSurgem novas referências, enquanto outras são retomadas, e novos aspectos a serem trabalhados vêm acrescentar possibilidades ao

avanço da proposta inicial.

PROPOSTA

A princípio a implantação é pensada a partir da topografia – a construção do terreno formando espaços - e do percurso a ser constituído. É buscada uma continuidade em nível em relação às ruas, entre o quais se desenvolvem os espaços que abrigamabrigam os programas e percursos. Estes se desenvolvem em torno do átrio central, perpassando os vários níveis e estabelecendo, em diferentes momentos, contato com

os usos.

PROPOSTA

Atravessando transversalmente o edifício há, no último pavimento interno, uma ligação direta entre asilo e parque, que por sua vez também se conecta com as rampas centrais em um segundo momento. Estes dois eixos principais se sobrepõem possibilitando diferentes percursos e formas de apreensão do espaço.

ÉÉ então ao longo destes percursos que se acomodam os usos, entre espaços programáticos, estares e serviços, com usos que pressupõem certo nível de apropriação do espaço. Compõem o programa o salão, abrigando usos como exposições, festas – há uma tradição de bailes realizados no asilo – e atividades culturais em geral; ateliês destinados a cursos e oficinas direcionados tanto aos moradores do asilo e às crianças da escola quanto à população em geral; o café; o espaço livre de estar – uma praça interna- destinado em determinados momentos a atividades físicas e de lazer. AA materialidade vem reforçar a definição dos dois momentos que constituem o objeto: a pedra constituindo a base – a construção topográfica – nos muros de arrimo e fechamentos no nível mais baixo, sobre o qual se coloca o objeto formado pelas lajes de concreto, onde os painéis de madeira fazem o fechamento, estabelecendo diferentes níveis de permeabilidade com o parque e o asilo.

A estrutura se organiza a partir também de dois momentos que constituem o edifício longitudinalmente: os patamares internos se apoiam em um sistema comum de vigas e pilares em concreto protendido, enquanto o salão, em balanço, é suportado por duas vigas do tipo vierendeel em conjunto com uma laje em grelha.

IMPLANTAÇÃO COM CURVAS DE NÍVEL

AO LADO: PLANTA DE COBERTURA

AO LADO: PLANTA NÍVEL 16.2: ADMINISTRAÇÃO E ATELIÊS

AO LADO: PLANTA NÍVEL 14.4: SALÃO

AO LADO: PLANTA NÍVEL 12.6: CAFÉ

AO LADO: PLANTA NÍVEL 9.0: ESTAR

AO LADO: VISTA A PARTIR DO PARQUE COM PAINÉIS ABERTOS E FECHADOS

REFERÊNCIAS

BUCCI, A. Pedra e arvoredo. D’Art, n. 9/10, nov. 2002, São Paulo: CCSP, pp. 4-10. Republicado in: Arquitextos. Ano 4, out. 2003. [online] Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq041/arq041_01.asp>.

MEDEIROS, G. Modernidade domesticada, modernidade indócil. V!RUS, São Carlos, n. 5, jun. 2011. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/virus05/?sec=8&item=1&lang=pt>.

Prefeitura Municipal de São Carlos. Plano Diretor do Município de São Carlos, Lei nº13.691/05.

ROWE e SLUTZKY, “Transparecy: Literal and Phenomenal”, 1971.

RUBRUBY, Andreas; Ilka, Groundscapes: el Reecuentro com el Suelo en la Arquitectura Contemporânea, Ed. GG, Barcelona, 2006.

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