Caderno de TGI 1

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Marília C. de Toledo

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E S P A Ç O S D E P A S S A G E MU m s i s t e m a d e á r e a s p ú b l i c a s

M A R Í L I A C . D E T O L E D O . T G I I

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U N I V E R S I D A D E D E S Ã O P A U LO

INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO DE GRADUAÇÃO INTEGRADO 1

Caderno de apresentação de processos e desenvolvimento do projeto

CAP

EULALIA PORTELA NEGRELOS JOUBERT JOSÉ LANCHA PAULO CÉSAR CASTRAL

PAULO YASSUHIDE FUJIOKA

S IMONE HELENA TANOUE V IZIOLI

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O presente caderno tem por objetivo registrar todo o processo pelo qual se deu o desenvolvimento do projeto elaborado na disciplina de Trabalho de

Graduação Integrado 1, cursada no primeiro semestre de 2011.

O caderno é uma síntese de referências, estudos, análises, leituras nas quais se pautaram todo o trabalho, bem como pretende demonstrar e justificar o

projeto em suas mais diversas dimensões.

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Conceito______________________________________________________________________________________11

Lugar_________________________________________________________________________________________31

Projeto_______________________________________________________________________________________-45

Bibliografia____________________________________________________________________________________86

SUMÁRIO

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As pranchas desenvolvidas no decorrer da disciplina traziam referências que demonstravam preocupações

importantes no que diz respeito à discussão de espaços públicos e à inserção do objeto arquitetônico na cidade,

colocaram-se também conceitos como materialidade, o papel social da arquitetura e outras tantas variáveis que se

restringem mais ao campo disciplinar específico arquitetônico. A partir da síntese destes conceitos foi pedida a

elaboração de um objeto, processo este que se demonstrou difícil dado que muitos conceitos seriam privilegiados

em detrimento de outros. O objeto acabaria por se tornar uma representação narrativa de idéias que não

necessariamente conseguiria transmitir todos os pontos considerados importantes.

O objeto então foi elaborado a partir da idéia de que a arquitetura se constrói não a partir de conceitos, mas

sim a partir de um processo, cujo desenvolvimento conduz ao reconhecimento dos conceitos mais importantes. A

arquitetura, portanto, constrói-se a partir de procedimentos formais que carregam consigo métodos, sistemas,

opiniões, juízos, sínteses e conceitos, que justificam a obra, mas que não bastam individualmente para compreender

a arquitetura em toda sua complexidade.

Para materializar esta concepção foram utilizadas superfícies modulares que, unidas a partir de um ponto

alternado, constroem uma volumetria que pode ser rígida, ortogonal e contida, bem como pode ser desconstruída,

expandida e variável. A manipulação de um procedimento conduz a experimentação formal que tensiona

fundamentos arquitetônicos – como o equilíbrio e a volumetria – e que permite a elaborar a forma a partir dela

mesma. As diversas camadas do objeto são sempre presentes e íntegras, independentemente do resultado obtido,

e assim a variação e a experimentação depende dos gestos e não dos elementos.

PRÉ- TGI

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Com o início das atividades de TGI era necessário que se definisse o procedimento a partir do qual fosse

possível desenvolver os conceitos considerados os mais interessantes para serem trabalhados. O processo deveria

permitir a experimentação destes conceitos, mas também deveria orientar, focar e delimitar a forma pela qual eles

são desenvolvidos.

Mas em um primeiro momento foi preciso tornar mais claras, para mim mesma, quais seriam estas idéias, em

sua dimensão mais fundamental, logo foi preciso voltar a olhar as referências que eu considerava mais importantes.

Assim, foi criado um diagrama que analisava os principais pontos de interesse de cada referência e ao cruzá-las foi

possível determinar dois binômios a serem tratados. O primeiro deles era a relação entre materialidade e significado

da obra arquitetônica e o segundo era a relação entre espaços de passagem e espaços de permanência.

CONCEITOS INICIAIS

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A tectônica é então abordada a partir do viés proposto por Frampton e é, portanto, compreendida como

sintaxe da construção, enquanto desenvolvimento de uma determinada tecnologia que permite exprimir estados e

condições pelos quais objeto se mostra e se realiza. Assim a arquitetura se constrói a partir de questões colocadas

pelo próprio edifício, desde sua espacialidade até o desenho da estrutura.

Partindo disso, pareceram-me bastante interessantes os princípios a partir dos quais Aldo Van Eyck elabora

seus projetos: através da malha reticulada que permite uma grande variação de espaços, é possível compor cheios

e vazios de forma a criar vários ambientes, usos e percepções do objeto edificado.

A MATERIALIDADE

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O percurso interessa na medida em faz com que o edifício extrapole o espaço arquitetônico e estabeleça

reais relações com a cidade, visto que é capaz de conectar lugares, direcionar fluxos, enviesar olhares e criar novas

compreensões da própria urbanidade circundante.

A circulação dos edifícios ao invés de se tornar algo “indistinto” ou meramente “intermediário” é o cerne a

partir do qual se pensam as relações espaciais, é ela que articula os mais distintos níveis do projeto, seja no que diz

respeito ao que é público e o que é privado, seja para criar espaços de estar que permitam novas esferas de

convivência em tecidos pouco qualificados da cidade. A circulação enquanto espaço de movimento pode ser

aquilo que une os processos técnicos e conceituais, a partir do qual o arquiteto elabora o projeto, e a percepção do

usuário acerca dos mesmos.

Os percursos são, portanto, para este projeto, a possibilidade de explorar os espaços “não-programados”,

extrapolar sua condição de in-between, e pensar os programas a partir das articulações espaciais por eles

permitidas.

O PERCURSO

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A referência estruturalista se mostra importante para o projeto na medida em que compreende o edifício

enquanto conglomerado de numerosos componentes, onde há a diferenciação entre blocos de uso e galerias de

circulação. Desta forma o edifício, como entidade autônoma, é entendido através de sua articulação de um

grande número de componentes arquitetônicos programáticos e isto também se aplica ao princípio de acesso

adotado, ou seja, é possível entrar pelo edifício a partir de qualquer ponto, gradualmente e em diversos estágios

.

Assim justifica-se a escolha no projeto por formas geométricas simples e sua estruturação matricial, pois

através dela são criadas relações entre os espaços de passagem e espaços de permanência, estabelecem-se

relações de transição entre usos e espaços distintos. Ela cria um código construtivo que se aplica ao projeto em sua

totalidade enquanto raciocínio estrutural que permite a delimitação dos diversos níveis do projeto.

O que é absorvido das referências estruturalistas não é a articulação das unidades para criar uma estrutura

complexa, mas sim o raciocínio que concebe o edifício a partir de uma malha reticulada que abrange as diferentes

instâncias do edifício.

A totalidade do edifício é concebida a partir da grelha e o seu preenchimento determina módulos de uso,

assim são criadas relações entre usos e circulação através do binômio “cheio/vazios”, desta maneira existe uma co-

dependência entre o espaço de permanência e o espaço de passagem, pois um forma e é formado pelo outro. O

módulo, em planta, é justamente o elemento que define o espaço programado, enquanto a sua ausência é

entendida como espaço de percurso.

A MALHA

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O projeto constitui-se de uma lógica rígida composta por espaços sólidos, mas entremeada pela circulação,

que é mais fluida e que surge a partir da percepção dos fluxos de circulação do lugar. Assim há uma requalificação

urbana através da questão dos acessos, e a circulação, em planta, tem uma lógica que se reporta à estrutura de

base que contém o conjunto, mas que em corte se descreve livremente pelo território e de acordo com as

demandas de uso.

São sobrepostos os sistemas estrutural, de uso, de circulação e de fechamento, havendo, entretanto,

relações intrínsecas entre todos.

São, portanto, realizadas subtrações dentro da totalidade da malha e criados os espaços de passagem que

podem ser entendidos das mais diversas maneiras: são rampas, escadas, elevadores, corredores, terraços,

mezaninos, átrios e até mesmo estares que se estabelecem pontualmente ao longo do trajeto.

As subtrações existem também no fechamento externo do edifício, propondo áreas de acesso ou de

abertura do edifício, e na própria volumetria como um todo como forma de demarcar eixos de circulação ou de

interferência da infra-estrutura urbana no projeto.

OS SISTEMAS

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A interferência da infra-estrutura se dá através da presença de indicadores do traçado urbano, de elementos

considerados relevantes na definição do entorno ou de eixos. A gramática do projeto estabelece-se como índice,

visto que sobrepõe na volumetria e nas camadas do edifício indicadores sobre o processo de elaboração do projeto

(através da explicitação da lógica da malha em alguns pontos), sobre as informações dadas pela própria cidade

nas cercanias, sobre os diferentes tipos de uso, graus de público e privado, sobre os percursos conectados à lógica

urbana. Enfim, há a intenção de criar uma arquitetura que parte de uma lógica rígida mas que é tensionada por

elementos externos ou internos ao projeto e que podem tanto se incorporar a malha quanto podem surgir como

uma quebra na mesma.

As dimensões de público e privado partem do princípio, generalizante, que as passagens, enquanto

extensão do percurso da rua são públicas e os usos são privados, mas são criados espaços intermediários e na

medida em que a circulação se descreve surgem espaços públicos de permanência.

OS ÍNDICES

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A escolha do lugar deveria se pautar pela percepção de diferentes fluxos que demonstrassem demandas de

ligações, de criação de percursos qualificados, de equipamentos e espaços que superassem sua condição de

mero espaço de passagem. Portanto a definição de uma área se balizaria muito mais pela apreensão de espaços

de intenso movimento, de pontos de interesse que pudessem ser conectados, do que por estudos de cartas,

levantamentos de usos e outros procedimentos de olhar distanciado do arquiteto em relação à área de intervenção.

Assim a escolha se justificou na percepção de uma área que permitisse a circulação em diversos níveis, que tivesse

potencial de concentrar fluxos diversos de pedestres, que demandasse a diversificação de usos e que necessitasse

destas ligações e passagens.

Localizada no centro de Bragança Paulista, uma cidade de cerca de160 mil habitantes, a área abrange a

mas principal rua comercia da cidadel, a mais importante avenida e um terminal de ônibus interurbano e configura-

se como articulação entre os bairros mais dinâmicos e populosos da cidade. Ali temos a convergência de grandes

fluxos de pedestres, tanto de que chega ou sai do terminal quanto de quem faz compras e com um declive de,

aproximadamente 20 metros, os acessos e circulações são fragmentados e não permitem percursos que

incorporem as edificações públicas que se localizam neste lugar.

A proposta do projeto se justifica na área, pois permite a requalificação urbana a partir da ótica do pedestre e

através dos acessos e estabelece-se enquanto eixo de permanências e passagens em diversas camadas e níveis,

de acordo com as demandas, com a topografia e com os usos múltiplos existentes e possíveis.

A ÁREA

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O Mercado Municipal Waldemar de Toledo Funck encontra-se hoje sub-utilizado e seu potencial de uso,

ainda mais por sua localização, não é atingido, ele é praticamente um espaço vazio do centro, sem valor

arquitetônico ou histórico a edificação atual foi construída na década de1950 como substituição ao primeiro

mercado municipal que tinha uma participação importante no comércio local.

Já o “novo” mercado tem, enquanto espaços mais ativos de uso as atividades localizadas nas suas laterais,

que são voltadas para a rua, portanto é raro ver um grande movimento de pessoas fazendo compras em seu interior.

O MERCADO

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Entre o centro comercial da cidade e o terminal de ônibus há um desnível de 7 metros e há uma rotatória que

dificulta travessia de pedestres num ponte de alto fluxo, assim há um túnel que realiza a travessia subterrânea, mas

que é pouco utilizado, sendo ocupado por camelôs e configurando-se enquanto ponto de comércio ilegal ele é

visto pelos transeuntes como um lugar pouco seguro.

O terminal João Sólis Garcia recebe um grande número de passageiros dos ônibus municipais e também da

Zona rural, outras cidades menores da região e do sul de Minas Gerais e é um galpão bastante sucateado, encontra-

se em péssimo estado de conservação e não tem uma estrutura interna que receba os passageiros, dê informações

e seja uma área de espera. Sua área é cortada por um córrego que hoje encontra-se tamponado apenas neste

quarteirão.

O TERMINAL

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O supermercado foi incorporado à área por se localizar no eixo de circulações que o projeto propõe e porque

é um equipamento comercial que, eu acredito, é dispensável nesta área da cidade, visto que a menos de um

quarteirão de distância há outro supermercado. A área implanta-se entre duas avenidas que ligam o centro aos

bairros operários tradicionais e mais populosos da cidade e, portanto tem acesso facilitado de diversas partes do

município. Apesar de sua localização privilegiada, juntamente com os outros dois equipamentos, este

supermercado compõe um trecho de cidade que está sendo paulatinamente abandonado.

O SUPERMERCADO

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Há um grande número de pessoas que diariamente fazem compras na Rua Cel. Teófilo Leme que se localiza

à frente do mercado, ali concentram-se as principais lojas da cidade que tem um centro comercial extremamente

ativo. A Avenida Pires Pimentel, onde se encontra a rotatória, também tem um significativo papel comercial e liga a

cidade praticamente de ponta à ponta, tem um intenso fluxo de automóveis e entretanto sua ligação com a

Avenida Marrey Jr. (fundamental na conexão do centro com bairros operários e com a área industrial da cidade)

dificultado pelo binômio que existe ao redor do terminal.

Claramente há um eixo importante de circulação de pedestres que se encontra entre o mercado e o

terminal, mas o grande desnível de, ao todo, 21 metros e a avenida exigem que haja ligações que abranjam

diversos níveis. A solução do túnel é interessante, mas tem problemas de segurança, o que torna o espaço hostil e

cada vez mais vazio, assim há a necessidade de se criar passagens que transponham diversas dificuldades: o

desnível, as ruas e a ausência de cuidados, manutenção e uso.

OS FLUXOS

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Inicialmente foram propostos diversos programas e configurações espaciais, a malha estava a

príncipalmente sendo compreendida enquanto estrutura do objeto e não do território, assim os esforços se

concentraram a princípio na elaboração das volumetrias baseando-se nas operações formais que pudessem criar

espacialidades internas e circulações diversas. Entretanto este raciocínio mostrou que a área perdia sua dimensão

enquanto um sistema de equipamentos públicos único e se tornava fragmentada. A sequência de croquis a seguir

demonstra um pouco do desenvolvimento do projeto, pautando-se pela procura de uma lógica que pudesse

estabelecer uma totalidade urbana e arquitetônica.

AS PROPOSTAS

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De maneira a tornar a área proposta uma estrutura territorial que pudesse ser compreendida segundo uma só

lógica, o gesto projetual inicial e concreto que orientou o processo a partir daí, foi a simples sobreposição de uma

malha de 3,5m x 3,5m com o desenho da área. Esta medida se baseou em um tamanho aproximado de um box de

mercado, tomando esta unidade individualizada do projeto como um ponto de partida para criar toda a estrutura

que se impõe e que ordena a área. Assim surgiram linhas que, juntamente com a análise dos fluxos existentes, deram

diretrizes para a implantação dos novos edifícios bem como para as modificações no viário.

A SOBREPOSIÇÃO

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Seguindo a diretriz dada pela malha, bem como respondendo às observações feitas em campo, as

mudanças no viário têm por objetivo a maior conexão entre vias importantes, bem como uma maior fluidez do

tráfego que hoje encontra-se. O binário do terminal foi eliminado e a Avenida Marrey Jr. foi ligada até a Rua Cel.

Teófilo Leme, passando pela Avenida Pires Pimentel, sendo esta ligação intermediada por semáforos, a rotatória foi

eliminada e a avenida agora segue linearmente, assim ela volta a ser de tráfego mais rápido (como era antes da

construção da rotatória à cerca de 12 anos). A outra rua que margeia a lateral do mercado foi transformada em

calçadão, em uma continuação do calçadão já existente no quarteirão acima. A rua que antes pertencia ao

binário foi tornada de tráfego exclusivo de ônibus, para que haja facilidade de acesso ao terminal. As três

edificações foram demolidas.

O VIÁRIO

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O mercado foi mantido como tal, o terminal de ônibus foi associado à biblioteca municipal (que hoje se

encontra numa sub-sala da câmara municipal) e a área do supermercado foi transformada em teatro, de forma a

atender às demandas da cidade por um espaço para festivais e apresentações diversas. A cidade não conta hoje

com nenhum equipamento cultural a não ser dois pequenos museus então me pareceu óbvio trazer este tipo de

programa para o projeto. A idéia é criar um eixo a partir do qual se acesse toda a área, ainda que ele se descreva em

diversos níveis.

Uma só lógica construtiva ordena o projeto e desta forma estes usos distintos acontecem em volumetrias

específicas, mas são costurados através deste grande percurso que faz com que todos eles façam parte de uma

única concepção espacial. Os programas e a construtibilidade de cada equipamento são relativamente simples,

mas são repensados a partir dos espaços públicos de circulação, fazendo uma releitura da própria situação urbana,

propondo concepções espaciais capazes de unir usos e ao mesmo tempo dinamizá-los. A complexidade do

projeto é dada por esta linha que entremeia os espaços programados, sendo assim o projeto extrapola a lógica do

lote e amplia o percurso do pedestre, antes limitado pelos espaços físicos e infraestruturais da cidade.

O EIXO E OS USOS

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O declive é o ponto de partida do projeto, visto que é a grande quantidade de níveis do terreno que permite a

elaboração de diversos patamares e pavimentos que se relacionam de com a cidade e ente si. Com a retirada da

rotatória há um corte que traz o arrimo de 7 metros para o novo alinhamento da avenida, de forma expandir a área

do quarteirão onde se localiza o terminal, havendo a possibilidade de criar uma edificação longitudinal capaz de

absorver o programa da biblioteca o que por sua vez possibilitou a extensão da Avenida Marrey Jr.

Já no caso do Mercado Municipal o edifício é pensado com escalonamento pra que haja acessos

intermediários diretos ao edifício, entretanto é realizado um corte que cria uma grande área subterrânea de

estacionamentos, necessários para o uso cotidiano do centro comercial, mas principalmente para o uso dos três

equipamentos que são criados. Há um átrio de circulação vertical que abrange todo o declive de 21 metros e que

dá acesso há um espaço comercial subterrâneo contíguo ao mercado.

A TOPOGRAFIA

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Em nível o pedestre acessa o eixo principal de circulação através da rua comercial, sendo esta entrada do

mercado uma forma de extensão do passeio público, assim há uma facilidade de se chegar à passarela que cruza

a avenida sem que seja necessário subir para atravessar a rua. Este eixo oferece acesso aos usos internos ao

mercado, prossegue sobre a avenida e chega até a biblioteca, descrevendo-se por seus pavimentos através de

uma série de rampas. No primeiro pavimento da biblioteca há outra passarela que liga diretamente ao segundo piso

de teatro, e assim esta linha que estabelece-se como ordenadora da circulação do projeto segue até o final. O átrio

do mercado, por sua vez, impõe-se como importante eixo de circulação vertical, sendo possível transpor todo o

desnível para acessar a passagem subterrânea que leva ao terminal e ele possibilita também que seja possível sair

dos estacionamento e chegar a todos os pavimentos do mercado. Na biblioteca também encontramos uma caixa

de circulação que conecta diretamente todos os pavimentos e no teatro, além da passarela há um segundo

acesso que acontece no térreo.

Esta nova dinâmica de circulação criada permite que os três equipamentos sejam pensados sob uma única

lógica que abrange tanto os percursos internos de cada programa, como os externos que conectam os usos como

um todo e também os percursos públicos urbanos.

CIRCULAÇÕES

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O programa do mercado permite uma abordagem quase literal da lógica matricial, assim os boxes são vistos

como um módulo e as circulações são delimitadas pela ausência do mesmo. A malha estabelece-se como plano

de piso, demarca o espaço dos boxes e como estrutura numa medida de 14m x 14m e os fechamentos externos

são pensado de maneira a tornarem claros os quadrados de 3,5m x 3,5 m.

São quatro pavimentos que se descrevem de acordo com o declive, cada um deles tem sua área interna

designada para as atividades do mercado, com boxes, e no perímetro da edificação onde há compatibilidade

entre a malha e o relevo são criadas lojas de acesso externo. O calçadão é incorporado nos restaurantes voltados

para a rua e podem abrigar pequenos estares externos para mesas.

O MERCADO ENQUANTO MALHA E USO

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A passarela corta o edifício longitudinalmente e impõe-se como rasgo na volumetria, repetindo-se nos outros

pavimentos como sistema de rampas. O eixo principal de circulação é visto como extensão do passeio publico,

assim como os acessos dos outros pavimento que acontecem como prolongamento dos patamares do calçadão.

O átrio de circulação vertical cruza todos os pavimentos e liga o edifício à passagem subterrânea que leva

diretamente ao terminal e os eixos de circulação se ramificam internamente e criam, através dos espaços vazios

entre os módulos, as circulações secundárias. O edifício de forma a partir dos percursos que são possíveis interna e

externamente ao volume edificado e é a todo momento permeado pela conexões com a cidade e com os outros

edifícios.

O edifício deixa claro o processo pelo qual se constitui: a malha estruturadora a partir do qual foi elaborada

toda a distribuição do programa, é tornada aparente através do fechamento. Já as circulações que, de certa

maneira são a forma pela qual se subverte a lógica estrutural do projeto, demarcam-se como rasgos na volumetria e

áreas de iluminação zenital, havendo uma interferência formal direta dos percursos nos espaços de permanência.

Assim o edifício é resultado plástico, em diversas instâncias, do processo lógico pelo qual é gerado e tensionado de

acordo com a as diretrizes de circulação indicadas pelas urbanidade circundante.

O MERCADO ENQUANTO CIRCULAÇÃO E ÍNDICE

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A lógica estruturadora neste caso segue a mesma medida do mercado, mas ao invés de definir módulos de

uso define unidades organizacionais que determinam o layout. A malha, entretanto é rompida com a interferência

do córrego que se delimita enquanto eixo de infraestrutura urbana que tensiona a matriz.

Os usos são determinados pela divisão do edifício em duas partes, de um lado concentram-se usos mais

restritos, como o acervo da biblioteca e salas de estudo, de outro há usos mais públicos, como salas de internet livre,

café e revistarias. No térreo se concentram as atividades do terminal, com setores administrativos, venda de

passagens, balcão de informações etc.

O TERMINAL/BIBLIOTECA ENQUANTO MALHA E USO

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A circulação se divide entre rampas de circulação externa e corredores de circulação interna e em ambos

os casos ela cruza o edifício de ponta a ponta, à revelia do rasgo da volumetria. As rampas são uma extensão da

passarela que cruza a avenida e são uma costura do edifício fraturado, percorrendo o desnível desde o acesso do

mercado até o nível térreo, passando pela passarela que leva diretamente ao teatro. Assim o eixo estabelecido em

planta é seguido, mas descreve-se em diversas camadas.

Novamente o processo de constituição do edifício é deixado claro através do fechamento, as circulações

são determinadas segundo a medida modulada, mas configuram-se claramente como desenho do percurso

proposto. O córregp indica uma importante linha estruturadora enquanto interferência da estrutura urbana já

existente no projeto, embora permaneça tamponado, a demarcação de sua existência no quarteirão foi

incorporada devido à necessidade de relacionar formalmente a imposição rígida da grelha com informações

fornecidas pelas tessituras urbanas, que pudessem agregar ao projeto uma dimensão de enraizamento da proposta

com o lugar.

O TERMINAL/BIBLIOTECA ENQUANTO CIRCULAÇÃO E ÍNDICE

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A malha se aplica neste caso tanto como constituinte da casca externa que delimita o espaço do teatro

como através da definição de módulos internos que criam um espaço que pode adaptar a diversas formas de

eventos que hoje não têm espaço para acontecer na cidade. Assim a malha é o que garante a variabilidade de

arranjos espaciais que permite abrigar vários tipos de apresentações.

Todo o quarteirão é compreendido como uma extensão das atividades de teatro, de evento, de espetáculo.

A área externa conta com um pequeno palco ao ar livre que se localiza um nível abaixo do nível da praça, criando

um pequeno teatro externo. A passarela que conduz ao foyer é uma expansão da área pública que cria sob si um

espaço para exposições e o teatro tem suas possibilidades de uso ampliadas dada sua natureza modular.

O TEATRO ENQUANTO MALHA E USO

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Nos outros dois equipamentos a forte presença de desníveis faz com que haja a possibilidade de

deslocamentos horizontais e verticais em diversos sentidos, já nesta quadra o terreno tem uma declividade menor,

logo a circulação é responsável por criar estes desníveis. Assim o espaço é acessado através da passarela, criada

enquanto continuação do sistema de rampas do terminal, que atravessa a rua e chega ao foyer, há também a

possibilidade de se chegar no mesmo ponto, mas no pavimento térreo através de uma pequena rampa que vence

o desnível de 2metros do teatro em relação ao plano da praça. Internamente o segundo pavimento do foyer

conecta-se a um mezanino e uma rampa interiores que podem ser utilizados para a permanência da platéia ou

como extensão do palco.

Nesta quadra a informação pré-existente da cidade é incorporada através de uma linha paralela à diagonal

que forma o quarteirão, sendo que esta linha é o que define o desenho do bloco de apoio do teatro. Assim a rua

diagonal, que seria um ruído na lógica ortogonal da estrutura, é englobada ao projeto de forma a determinar uma

segunda estrutura que se choca com a definida pela grelha. Este bloco parte da lógica matricial, mas se distorce

quando chega ao limite do quarteirão e conta com banheiros, camarins e salas técnicas que, se fossem alocadas

internamente ao espaço do teatro limitariam a lógica modulada adaptável definida para os espaços de

apresentação.

O TEATRO COMO CIRCULAÇÃO

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